apostila de portugues - pasquale cipro neto - nossa lingua portuguesa

Upload: wesley-marcelino-da-silva

Post on 06-Jul-2015

480 views

Category:

Documents


4 download

TRANSCRIPT

No ar desde agosto de 1994, o programa trata, sem preciosismos, das dificuldades lingsticas que enfrentamos ao falar o nosso idioma. O prof. Pasquale Cipro Neto examina filmes publicitrios, letras de msicas, poemas, HQ, depoimentos de personalidades e populares, artigos da imprensa, programas de TV e o que mais seja de nossa expresso lingstica. Consulte aqui a ntegra dos mdulos, organizados segundo critrios da gramtica.

1

SUMRIO:Variantes LingsticasEstrangeirismos: palavras italianas Gente (contaminao - gente/ns) Gria (panaca, babaca) Linguagem coloquial Regionalismo ("eu sarto de banda") Expresses Uso culto e uso popular dos pronomes (te/lhe) Uniformidade de tratamento (pronome tu) 03 04 05 05 06 06 07 08 08 09 10 10 11 13 13 14 14 15 16 16 17 18 18 19 20 21 22

FonologiaLeitura do alfabeto (diferenas regionais) Pronncia (circuito/gratuito/fluido) Vogais e semivogais (hiato/ditongo) Rotacismo ("pobrema"/"renegerar") Sons do "x"

OrtografiaBenvindo / Bem-vindo Hfen (prefixos) Hfen 2 (-toa) Hfen 3 (dia-a-dia) Trema/apstrofo Trema Palavras terminadas em "x" (trax, clix) Palavras terminadas em "ez" (mudez, embriaguez) Uso do "por que" Se no e seno A ss e s

timidez,

AcentuaoAbreviaturas (metro, litro, hora) Acento grave - Crase Acento grave - Crase 2 Uso do "qu"

MorfologiaContrao (embora, aguardente, daqui) Gnero (coma, libido) Formao de palavras Sufixao ("oso", "osa") Derivao imprpria ("comcio monstro") Substantivos Gnero dos substantivos (champanhe, grama, moral) Nmero dos substantivos (patins, culos) Nmero dos substantivos 2 - plural dos substantivos abstratos Nmero dos substantivos 3 (giz, gravidez) 23 24 24 24 25 26

2 Substantivos concretos e abstratos Flexo de palavras compostas (pau-de-arara, pr-dosol, bia-fria) Flexo de palavras compostas 2 (mula-sem-cabea, p-de-moleque) Flexo de grau (diminutivos) Numerais (ordinais, cardinais, etc.) Palavras Inglesas (plug, diet) Preposio (sob/sobre) Pronomes de tratamento (vossa excelncia) Pronomes: uso culto e uso popular Pronomes: uso culto e uso popular 2 Valores do tempo futuro/volio (expresso de vontade, desejo) Verbos Aspecto verbal - tempo presente e tempo futuro Grafia dos verbos (querer, pr) Uso do presente do subjuntivo (que eu faa, que eu fale) Uso do pretrito mais-que-perfeito Subjuntivo Gerndio Verbo "ter" e derivados Verbo "vir" e derivados Verbo "reaver" (defectivo) Verbos Irregulares Verbos terminados em "iar" Verbos pronominais (orgulhar-se, apaixonar-se, etc) Seja/esteja Particpio (entregue/entregado) Infinitivo (flexo) 30 31 32 32 33 34 35 36 36 37 37 37 38 38 39 39 40 41 42 42 42 43 44 45 45

SintaxeConcordncia Casos delicados de concordncia (porcentagem) Concordncia com pronome relativo e expresses expletivas Concordncia nominal: as palavras "obrigado" e "mesmo" Concordncia nominal: proibido / proibida Concordncia verbal (1) Concordncia verbal (2) Concordncia verbal (3) Concordncia do verbo "fazer" Concordncia do verbo "haver" Concordncia do verbo "haver" 2 Concordncia do verbo "ser" Orao reduzida Uso da palavra "onde" Uso das palavras "onde" e "aonde" 2 Pontuao - uso da vrgula Regncia Pronome relativo precedido de preposio Pronome relativo e regncia Regncia verbal (verbo lembrar) Regncia verbal 2 (verbos chegar e esquecer) Regncia verbal 3 - contaminao - "arrasar com" Objeto Direto Preposicionado Colocao pronominal ("eu sei que vou te amar") Colocao pronominal 2 ("Me disseram que...") Expresses Expletivas ("me", "que") 46

53 54 55 56 56

60 61 61

3

EstilsticaAliterao ("Trs tigres trituram...") Anfora (repetio de palavras) Catacrese ("embarcar" no nibus) Erro intencional Onomatopia Pleonasmo ("Sonhei um sonho") Gneros Poticos: Redondilha 62 63 64 64 65 65 66 68 69 70 70 71 72 73 73 74 75 75

Significao das PalavrasUso do dicionrio "E" com valor de "mas" Etimologia: Dias da semana Falsos cognatos (to push, to pretend) Significado de palavras pouco usadas (qui, ltex) Significado de palavras pouco usadas 2 (rezingar/ficar) Significado de palavras pouco usadas 3 (sbito, bardo, eunuco) Parnimos (cozida/cozinhada) Variao do vocabulrio (juntar/ajuntar, flauta/frauta) "Vigir" ou "viger" Duplo sentido

FICHA TCNICA: Nossa Lngua Portuguesa Realizao: TV Cultura - 1998 Contedo e assessoria: Pasquale Cipro Neto e Priscila Figueiredo Apresentao: Pasquale Cipro Neto Produo: Giseli Malafronte Assistente de produo: Snia Coutinho Direo: Vera Lucia Arguelho Adaptao dos mdulos para a Internet: Zeca Castellar Departamento de Ensino: Nadia Hatori Gerncia de Produo: Rita Okamura

Variantes LingsticasEstrangeirismos: palavras italianasVamos falar um pouco sobre comida. Mais especificamente dos nomes de alguns pratos da cozinha italiana. Todo mundo sabe que, alm do tradicional arroz e feijo, o brasileiro adora uma massa, no ? O programa "Nossa Lngua Portuguesa" foi s ruas para saber como as pessoas grafam algumas palavras muito comuns na culinria tpica da Itlia. Vamos aos resultados: Lasanha: lazanha / lasanha Nhoque: enhoque / nhioque Espaguete: spaguetti / espaguete / spaghet Muarela: mussarela / musarela / muzzarella / mussarela Falando em comida, ns vimos nas respostas uma verdadeira salada! Bem, os dicionrios registram formas aportuguesadas dessas palavras. Lasanha,

por exemplo, em italiano se escreve com "s" e "gn", ou seja, "lasagna", e em portugus com "s" e "nh". Depois vimos "nhoque". Em italiano, "gnocchi", mas, em portugus, escrevese com "nh" no comeo e "que" no final. Vimos tambm "espaguete", que em italiano se escreve "spaghetti" e vem de "spago", que quer dizer barbante. Mas o grande problema mesmo com a palavra "muarela", grafada dessa maneira pelo vocabulrio ortogrfico oficial da Academia Brasileira de Letras. Os dicionaristas no se entendem. O dicionrio Aurlio traz "mozarela". O novo Michaelis tambm grafa "mozarela", mas tolera a forma "muarela". Portugus lasanha nhoque espaguete mozarela/muarela Italiano lasagna Gnocchi Spaghetti Mozzarella

4

Uso culto e uso popular dos pronomes (te/lhe)Pronomes - uso padro e uso popularNa linguagem do dia-a-dia h uma confuso muito comum quanto ao uso dos pronomes. Ex: Voc fez o que eu te pedi? Na linguagem formal isso no seria posssvel. Voc 3 pessoa, te 2. O correto seria dizer "Voc fez o que eu lhe pedi?" s vezes o exagero maior. Veja o exemplo no nome da msica "Eu te amo voc", de Kiko Zambianchi. "Eu te amo voc" So dois os problemas nesse ttulo: a mistura do te que 2 pessoa e voc que 3; a repetio desnecessria de pronomes: Eu te amo voc". perfeitamente possvel dizer "Eu te amo a ti", j que os pronomes esto na mesma pessoa. No dia-a-dia ouve-se tambm, "Eu te disse pra voc". O correto seria "Eu te disse a ti". Mas uma forma inadequada para se falar cotidianamente. Ficaria melhor numa linguagem mais formal.

Uniformidade de tratamento (pronome tu)Na linguagem do dia-a-dia, no Brasil, comum a mistura de pronomes da 2 com pronomes da 3 pessoa, como voc (que pronome da 3 pessoa) e te ou teu (que so pronomes da 2 pessoa). Por exemplo: "Voc se enfiou onde, meu Deus? Eu te procurei, mas no te achei." O padro formal da lngua exige a uniformidade de tratamento, tudo na 2 ou tudo na 3 pessoa. Assim, o correto seria:

"Tu te enfiaste onde? Onde tu te enfiaste? Eu te procurei, mas no te encontrei." "Voc se enfiou onde, meu Deus?. Eu o procurei, mas no o encontrei." H uma cano cantada por Dick Farney, "Copacabana", que um primor quanto uniformidade de tratamento: "Existem praias to lindas, cheias de luz Nenhuma tem o encanto que tu possuis Tuas areias, teu cu to lindo Tuas sereias sempre sorrindo, sempre sorrindo. Copacabana, princesinha do mar, Pelas manhs tu s a vida a cantar E tardinha o sol poente Deixa sempre uma saudade na gente. Copacabana, o mar, eterno cantor, Ao te beijar ficou perdido de amor. E hoje vivo a murmurar. S a ti, Copacabana, eu hei de amar." Todo o texto foi escrito na 2 pessoa do singular. Tu, pronome da 2 pessoa, os possesivos e os oblquos todos na 2 pessoa e, tambm , os verbos conjugados adequadamente: "Tuas areias, teu cu to lindo... S a ti, copacabana... Tu s a vida a cantar Tu possuis..." A uniformidade de tratamento necessria na linguagem formal. Na linguagem coloquial nem sempre ela respeitada, mas seria desejvel.

5

FonologiaLeitura do Alfabeto (diferenas regionais)O tema desse mdulo o preconceito que existe contra algumas formas de falar o alfabeto no Brasil. Para ilustrar apresentado um clipe com Moraes Moreira cantando "Forr do ABC" (M. Moreira e Patinhas). "No forr do A ns vamos amar E no forr do B ns vamos beber No forr do C ns vamos comer Me de pois E no forr do F ...no forr do GU..." Nessa msica as letras do alfabeto so ditas de forma diferente em relao ao sul do pas. F chamado de F e por a vai. No est errado, algumas letras tm dois nomes. Para reforar, Luiz Gonzaga registrou o fato em um de seus sucessos, "ABC do Serto" (Z Dantas e Luiz Gonzaga). "L no meu serto pra o caboclo l tem que aprender novo ABC. O J JI o L

L o S SI mas o R tem nome de R...." Nesta letra temos o alfabeto como dito no nordeste. Esta forma est registrada nos dicionrios. Verifique. O professor termina chamando a ateno dos pais e educadores, especialmente do sul do pas, para que no tenham preconceito das crianas nordestinas que trazem a forma de falar o alfabeto da sua regio de origem. Elas esto absolutamente certas. No sul no houve preconceito quando chamavam o antigo caminho da Fbrica Nacional de Motores de FENEM. Ningum corrigia para FNM. EFE/ENE/EME. Assim, a forma nordestina de falar o alfabeto est corretssima.

6

Pronncia (circuito/gratuito/fludo)Qual a pronncia correta ? circito ou circuto gratito ou gratuto claro que os acentos nos exemplos acima no existem, foram colocados apenas para enfatizar a pronncia. E justamente a forma de pronunciar determinadas palavras que muitas vezes nos deixa atrapalhados. Quando ficamos sabendo que no correto pronunciar "circuto" e gratuto", a confuso pode aumentar ainda mais. Afinal, muito comum ouvirmos essas palavras pronunciadas assim, com nfase na letra "i". Para os gramticos, devemos sempre respeitar a pronncia culta. Uma dica simples que pode funcionar: lembre-se sempre da pronncia mais corrente da palavra "muito". Ningum fala "muto", no mesmo? E as palavras "fluido" e "fludo"? Nesse caso a histria outra, porque as duas palavras existem e tm significados diferentes. "Fluido" , por exemplo, a substncia que utilizamos nos freios dos automveis. E "fludo" particpio do verbo "fluir". fluido = substantivo fludo = particpio do verbo fluir Vamos pronncia de outra palavra. Observe o trecho da letra da cano "No serve pra mim", um antigo sucesso de Roberto Carlos regravado pelo grupo Ira: "... No quero mais seu amor, no pense que eu sou ruim. Vou procurar outro algum, voc no serve pra mim..." O pessoal do Ira pronuncia a palavra "ruim" com nfase no "i". E isso mesmo. So duas slabas: ru-im, formando um hiato. Portanto, nunca chame uma coisa ruim de "rim", porque neste caso ela fica pior!

Vogais e semivogais (hiato/ditongo)

Quantas slabas existem na palavra sereia. Trs. Quais so? A primeira se. A segunda rei. A terceira a. Na slaba do meio h o que se chama de ditongo (vogal e semivogal juntas), e ditongo no se separa. Neste caso, o e (de rei) a vogal e o i a semivogal. Vogal porque tem a pronncia mais forte e semivogal porque a pronncia mais fraca. Quando vogal e semivogal se encontram podemos ter ditongos crescentes e ditongos decrescentes. Descrescente quando a vogal (pronncia mais acentuada) se apresenta antes que a semivogal. o caso de se-rei-a. Crescente quando acontece o contrrio, semivogal antes de vogal, do som mais fraco para o mais forte. Temos como exemplo a palavra gua: -GUA. GUA - o a (vogal) mais forte que o u (semivogal). Outro exemplo interessante vem da palavra VASCANO - VAS-CA--NO. Esse a e esse i que vm em seqncia ficam em slabas diferentes. Quando isso acontece, temos hiato. Separao de vogais, hiato. Juno de vogais, ditongo. Em algumas palavras h muita confuso quanto separao silbica. Responda: Como se separam as slabas das palavras circuito e fluido? O correto CIR-CUI-TO , FLUIDO. Nunca cir-cu--to. Flu--do, fludo (com acento agudo no ) particpio do verbo fluir. Flui-do, fluido uma substncia gasosa ou lquida que pode, em alguns casos, ser usada em freios de carro. "Eu s sairei daqui depois que as guas tiverem fludo, tiverem escorrido. A, sim, eu irei ao mecnico colocar fluido no freio do carro".

7

Rotacismo ("pobrema"/"renegerar")Todo mundo sabe que a lngua tambm um carto de visitas. J pensou se algum chega e vai logo dizendo "pobrema" ? Complicado. No um pobrema nem um poblema... mesmo um grande problema! Afinal, a pronncia oficial, na lngua portuguesa, deve ser sempre como se grafa a palavra: pro-ble-ma. H um comercial de televiso com uma atriz muito conhecida. Ela faz uma troca de slabas, que s percebe quem presta ateno: "Se a vaca pudesse escolher um hidratante pra proteger o couro dela, era Tom Bom. Ela ia falar assim, : Tooom Booom. Tom Bom um creme que penetra e renegera cada fibra, deixando o couro vivo, macio, doidinho pra brilhar..."

A atriz Denise Fraga, que fez o comercial, nos contou que foi preciso convencer o pessoal da agncia a aceitar o renegera em vez de regenera. Foi uma brincadeira que no fim deu certo. O resultado ficou delicado e interessante. A cincia que se ocupa desse tipo de coisa, desses desvios de pronncia, a fonoaudiologia. Em depoimento ao programa, a fonoaudiloga Sandra Pela fala a respeito do problema, dessa troca de letras e slabas: "Para a produo efetiva dos sons da fala, algumas estruturas so necessrias. O ar vem dos pulmes, passa pela laringe e produz som nas pregas vocais. Esse som ento modificado no trato vocal ou na caixa de ressonncia. O trato vocal que d a caracterstica especfica de cada som. Por exemplo: se o ar sai mais pelo nariz do que pela boca, temos os sons nasais, como na pronncia das letras m e n. Se o som produzido durante o fechamento dos lbios, temos os sons das letras p e b. Quando esse mecanismo da fala est alterado, ns temos um fenmeno que conhecido, atualmente, como dislalia ou distrbio articulatrio. Antigamente era chamado de rotacismo. No caso das crianas, o problema pode ser decorrncia de um atraso no desenvolvimento e de alteraes na habilidade motora ou no comando do sistema nervoso central. No caso dos adultos, podemos pensar em trocas articulatrias dos fonemas - como falar Crudia em lugar de Cludia, ou de slabas, como no caso do comercial mencionado. A pessoa faz essa alterao muitas vezes em decorrncia do seu meio cultural." Como vimos, o problema tem explicao cientfica e h soluo para ele. A pessoa pode fazer um tratamento para aprender a empostar a voz, a pronunciar melhor as palavras. O importante que ningum seja discriminado por isso.

8

Sons do "x""Chato" com "x" ou "ch"? Claro, com "ch", essa todo mundo sabe. E "lixo"? Com "x", sem dvida, todo mundo sabe disso tambm. Mas, nessas duas palavras, o "ch" e o "x" tm som de qu? De "x", oras. Afinal, o nome da letra "xis". Assim, as letras "c" e "h" que, juntas, tm som de "x". Mas ser que a letra "x" tem sempre som de "x"? Nem sempre. Vamos ver alguns casos. Por exemplo, "mximo". Nessa palavra, o "x" tem som de "ss" (dois esses), como se tivesse sido escrita com "ss": "mssimo". Agora observe esta letra, da cano "Casa", gravada por Lulu Santos: "... Depois era um vcio, uma intoxicao me corroendo as veias, me arrasando pelo cho. Mas sempre tinha a cama pronta e rango no fogo... "

Nesta cano, Lulu Santos pronuncia corretamente a palavra "intoxicao". O "x" dessa palavra deve ser pronunciado como se fosse um "c" e um "s" juntos. Ou, como no alfabeto fontico, um /k/ e um /s/ juntos, formando o encontro consonantal /ks/. A palavra "intoxicao" deve, portanto, ser pronunciada como "intoksicao". Vamos a mais um exemplo de som do "x". Veja esse trecho da cano "Pense dance", gravada pelo Baro Vermelho: "Penso como vai minha vida, alimento todos os desejos, exorcizo as minhas fantasias, todo mundo tem um pouco de medo da vida..." Voc notou o uso do verbo "exorcizar". at uma palavra difcil de pronunciar. O "x" nessa palavra tem o mesmo som que nas palavras "exame" e "xodo", por exemplo. Nesse caso, o "x" aparece com som de "z". E h ainda mais um caso de som da letra "x": em palavras como "excesso", em que o "x" seguido de "c", o som um s, como se fosse "ss" (dois esses). Ou seja, foneticamente, "x" e "c" juntos produzem um som s, so um "dgrafo". Portanto, vimos cinco casos de sons do "x": lixo - som de "x" mximo - som de "ss" intoxicao - som de "ks" exorcizar - som de "z" excesso - som de "ss"

9

OrtografiaBenvindo/Bem-vindoDeterminadas palavras do nosso vocabulrio sempre trazem problemas nos piores momentos, no ? Uma dessas palavras "bem-vindo". Algumas pessoas escrevem "benvindo", enquanto outras grafam "bem-vindo" ou ainda "bem vindo", sem hfen. Afinal, qual a forma correta? Realmente, grande a confuso em torno da grafia correta. Em todo o Brasil, podemos notar tabuletas e placas com as trs formas exemplificadas acima. Nos dicionrios brasileiros, a grafia adotada "bem-vindo", com hfen. Portanto, nada de juntar, nada de escrever "benvindo". De acordo com o dicionrio Aurlio, "Benvindo" nome prprio, nome de homem. No caso da saudao, escreva sempre dessa forma: "bem-vindo" e "bemvinda", com hfen.

Hfen (prefixos)

10

no se usa? no hfen?

Quando se usa hfen e quando A palavra "subdelegado" tem ou

O professor Pasquale lembra que o uso do hfen segue determinadas regras. Tendo-se como exemplo a palavra "subdelegado", o prefixo "sub" s exige hfen quando a palavra seguinte, ou seja, seu radical comear com b ou r. Exemplos: sub-base, subbibliotecrio, etc... sub-raa, sub-reptcio, subreitor, etc... Assim, subdelegado no tem hfen porque a palavra delegado no comea com nenhuma das duas letras, b ou r. Para a maioria esmagadora dos prefixos, vale o hfen se o radical da palavra seguinte comear com h, r, s e vogal. Prefixos: auto extra intra semi contra infra pseudo ultra Exemplos: auto-servio, contraregra, pseudo-autor, semi-rido, extra-oficialmente, infraestrutura, ultra-humano etc. A partir dessa regra no possvel escrever com hfen as palavras: autoconfiana, contracapa, extraconjugal, infravermelho, etc. Nenhuma delas tem seus radicais iniciados por h, r, s ou vogal. Existem alguns prefixos que se enquadram numa terceira regra. So prefixos muito usados no dia-a-dia e mesmo assim erra-se bastante. O professor Pasquale sugeriu que se fizesse uma pergunta na rua e a maior parte da pessoas errou. "Como voc escreve antiinflamatrio e antiinflacionrio". Os prefixos anti, ante e sobre exigem hfen quando o radical comea com h, r e s. No o caso das palavras sugeridas ao pblico.

Hfen 2 (-toa/salrio-mnimo)Voc est com uma pressa danada e quer saber se "salrio mnimo" se grafa com hfen ou sem ele. Numa consulta ao dicionrio, voc rapidamente v "salrio-mnimo" com hfen e se d por satisfeito: vai usar a expresso com o hfen. Nada disso! Numa consulta mais atenta, voc ver que "salrio-mnimo" com hfen tem um significado diferente do que est imaginando. A expresso no significa o valor mnimo que o trabalhador brasileiro deve

receber como salrio. Nesse caso, devemos grafar sem o hfen: "salrio mnimo". "Salrio-mnimo" uma expresso popular que possui outro sentido: "Esse time salrio-mnimo" = "Esse time muito fraco, no vale nada". Quando queremos nos referir remunerao mnima dos assalariados, utilizamos as palavras "salrio" e "mnimo" no sentido bsico delas, o que no acontece na expresso com hfen, que usada para adjetivar alguma coisa. E toa, com hfen ou sem hfen? " toa" ou "-toa"? Esta outra encrenca. Veja o trecho da letra de "To seu", cano gravada pelo grupo mineiro Skank: " ...No diga que no vem me ver: de noite eu quero descansar, ir ao cinema com voc, um filme -toa no Path... No diga que voc no volta: eu no vou conseguir dormir, noite eu quero descansar, sair toa por a." A expresso aparece grafada das duas formas, com hfen e sem hfen, e com sentidos completamente diferentes. filme -toa = filme qualquer Neste caso, "-toa", que se escreve com hfen e acento indicador de crase no "a", funciona como uma expresso de valor adjetivo. No segundo caso, sem hfen, a expresso tem outro sentido: sair toa = sair sem rumo, sair a esmo De todo modo, quando for ao dicionrio tirar a dvida sobre palavras com hfen ou sem hfen, esteja atento. Muita expresses existem das duas formas e possuem significados completamente diferentes.

11

Hfen 3 (dia-a-dia)com hfen? Diga l, a expresso "dia a dia" Se voc est com um dicionrio a do lado, ou se consultar o dicionrio do computador, ter como resposta "dia-a-dia". Isso, com hfen. Mas... no se d por satisfeito, no. O uso do hfen depende do caso. Veja o texto deste anncio, de um shopping center de So Paulo, veiculado em outdoors: "O dia-a-dia das mes aqui." No anncio, "dia-a-dia" sinnimo de "cotidiano". A expresso est substantivada e grafa-se com hfen. Dia-a-dia = cotidiano "Dia a dia" pode ser sem hfen tambm, como na cano "Pacato cidado", gravada pelo Skank: "Pacato cidado, te chamei a ateno no foi toa no Cest fini la utopia mas a guerra todo dia

dia a dia no Tracei a vida inteira planos to incrveis Tramo a luz do sol Apoiado em poesia e em tecnologia Agora a luz do sol" Nesse caso, "dia a dia" no tem o sentido de "cotidiano". Quer dizer "diariamente", algo que acontece dia aps dia. A, nada de hfen. dia a dia = dia aps dia, diariamente Veja outros exemplos de "dia a dia" sem hfen: "Ela melhora dia a dia." "Ela melhora dia aps dia." "Ela melhora diariamente." A expresso "dia-a-dia", portanto, s grafada com hfen quando substantivada, quando aparece na frase como substantivo. Por essas e por outras, preste sempre ateno quando for consultar o dicionrio. Deixe a pressa de lado e leia o verbete at o final.

12

O trema/O apstrofoMuitos pensam que o trema no existe mais. Existe. Faz parte do sistema ortogrfico vigente e deve ser usado quando a letra U for pronunciada atonamente nos grupos QE ,QI e GE, GI. Um exemplo claro e muito conhecido a palavra CINQENTA. Veja nas cdulas de CINQENTA reais. H outra palavra muito bonita e interessante que, normalmente, as pessoas pronunciam de forma errada: QIPROQU. QIPROQU uma expresso latina que significa confuso. O trema deve aparecer no primeiro U. O segundo U no est em nenhum dos grupos que exigem esse sinal. Outro motivo de confuso o apstrofo, um sinal em forma de vrgula usado em certos casos de unio de palavras. Um exemplo do uso do apstrofo est na msica de Chico Buarque "Gota D'gua". "Deixa em paz meu coraco Que ele um pote at aqui de mgoa E qualquer desateno, faa no Pode ser a gota d'gua..." Em vez de Chico escrever gota de gua, ele preferiu gota d'gua. O apstrofo representa a juno de duas palavras: de e gua. Outra confuso no uso do apstrofo. Muita gente coloca apstrofo em pra, reduo da palavra para. No caso, no houve juno de palavra com palavra. Logo, no h por que colocar o apstrofo. O apstrofo pode ser usado de forma criativa. Por exemplo, no nome de um bar situado na rua Ea de Queirz, no bairro do Paraso, em So Paulo. O nome do estabelecimento "ENTRE N'EA". Os proprietrios criaram essa marca a partir do nome da rua e da expresso popular "entre nessa".

Resumo: sem que haja juno de palavras.

No

use

apstrofo

13

TremaTrecho da cano "Saudade de Casa", de Ivan Lins. Letra de Vtor Martins: "Quero tudo como antes: nossa casa aconchegante, eu bem dentro dos seus olhos, Seu morador. Eu tranqilo ao seu lado, Onde quer que esteja, l est O mais belo e bem cuidado amor" A letra dessa cano contm a palavra "tranqilo". De acordo com as normas ortogrficas vigentes, a letra "u" deve, sim, receber o sinal trema. O trema existe sim, no morreu nem foi abolido. Est em andamento um acordo ortogrfico para unificar a grafia da lngua portuguesa nos sete pases em que ela falada oficialmente. Se esse acordo entrar em vigor um dia, o trema desaparecer. Enquanto isso no acontece, o trema existe e deve ser usado. Veja a cano "Eu no Agento", com os Tits: "Eu vou-me embora para a ilha fazer a cabea sob o sol que irradia queimando em ritual. na batida do reggae e com o cabelo tranado, eu t livre na vida, e o que h de errado com a noite que brilha? Eu no agento, eu no agento, Eu no agento, eu no agento, de noite, de dia, mo na cabea e documento." Se voc quer escrever "agento" seguindo a norma culta da lngua, use o trema. Mesmo que parte da imprensa no use e muita gente j se tenha esquecido dele, continue usando o sinalzinho, sempre quando a letra "u" for sonora e precedida de "g" ou "q".

Formas Paralelas de palavras terminadas em "x"E o adjetivo relativo a trax? Qual o plural de trax? torxico ou torcico? Com essas perguntas o professor Pasquale inicia o programa e esclarece. O plural de trax trax: o trax, os trax. J o adjetivo torcico, com c e no com x. Mas nem todos os plurais de palavras terminadas em x seguem o mesmo modelo. Um exemplo vem da msica "Clix Bento" (letra adaptada por

Tavinho Moura da Folia de Reis do Norte de Minas Gerais) cantada por Pena Branca e Xavantinho. "... onde mora o clix bento, ... onde mora o clix bento..." Deve-se atentar para a pronncia correta da palavra clix. O x no pronunciado como na palavra trax e sim, com som de s. Clix tem uma forma paralela, clice. Nas palavras que terminam em x e tm forma paralela, o plural feito pela forma paralela. Ex: clix, clice, clices apndix ( neste caso, pronunciase o x ), apndice, apndices ndex, ndice, ndices ltex, ltice, ltices (normalmente, diz-se latx. Errado. O certo ltex).

14

Palavras terminadas timidez, embriaguez)

em

"ez"

(mudez,

Como que se escreve "chins"? Com "s" no fim, claro, e acento circunflexo no "e". E "holands" ? Mesma coisa: "s" no fim e circunflexo no "e". E quem tmido? Quem tmido possui uma propriedade que s vezes atrapalha um pouco... Uma propriedade, uma qualidade chamada... Bem, vamos ver um trecho de uma cano com o grupo Biquni Cavado: "... Se eu tento ser direto, o medo me ataca. Sem poder nada fazer, sei que tento me vencer e acabar com a mudez. Quando chego perto, tudo esqueo e no tenho vez. Me consolo (foi errado o momento talvez...), mas na verdade nada esconde essa minha timidez..." Essa msica chama-se "Timidez", exatamente o que nos interessa. Quem tmido dotado de timidez. "Timidez" no se escreve com "s", mas com "z". Trata-se de um substantivo abstrato, que, entre outras coisas, d nome de qualidade, como "honestidade" e "rapidez". O adjetivo "tmido" d origem a "timidez", substantivo abstrato. Sempre que acontece esse processo, com acrscimo de "EZ" e "EZA", usamos a letra "z".

Substantivos abstratos terminam em EZ - EZA

derivados

de

adjetivos

o caso tambm da palavra mudez, outra palavra que est na letra da cano. "Mudez", substantivo abstrato, vem de "mudo", adjetivo. Por isso, "mudez", como "timidez", escreve-se sempre com "z", de "zebra"! E o substantivo abstrato tambm serve para dar nome de estado ou situao. Vamos entender melhor com a cano "Somos quem Podemos Ser", gravada pelos Engenheiros do Hawaii: "... A vida imita o vdeo,

garotos inventam um novo ingls, vivendo num pas sedento, um momento de embriaguez. Somos quem podemos ser, sonhos que podemos ter." Nessa cano existe a palavra embriaguez. o nome de um estado, de uma situao, como "gravidez". E aquela raa de cachorro... ser "pequins" ou "pequinez" ? Bem, pequenez a qualidade de algo pequeno. Pequeno adjetivo, pequenez substantivo abstrato. Portanto, com "z". A raa do cachorro chama-se "pequins" porque originria da cidade de Pequim, na China. E, assim como "holands" e chins", grafa-se com "s" no fim e circunflexo no "e".

15

Uso do "por que"Trecho da cano "Pedacinhos" (Guilherme Arantes) : "Pra que tornar as coisas to sombrias na hora de partir? Por que no se abrir? Se o que vale o sentimento e no, palavras quase sempre traioeiras, e bobeira se enganar." Nesta cano, Arantes usa a frase "Por que no se abrir?" Esse "por que" separadssimo! Toda vez que for possvel substituir o "por que" por "por qual razo" ou "por que razo", ele deve ser escrito separado: por que no se abrir por qual razo no se abrir Veja este trecho da cano "Coisa Mais Linda", de Carlos Lyra: "... Coisa mais linda, voc assim, justinho voc - eu juro eu no sei por que voc no me quer mais..." "Eu no sei por que voc no me quer mais" equivale a dizer "eu no sei por qual razo voc no me quer mais". Sempre que essa troca for possvel, escreva "por que" separado: "por" para c, "que" para l!

Se no e senoEsta dvida foi enviada, por email, pela telespectadora Mirian Keller. Ela quer saber qual a diferena entre as palavras "seno" e "se no". Para explicar isso, vamos observar um trecho da cano "Nos Lenis desse Reggae", de Zlia Duncan: "Nos lenis desse reggae, passagem pra Marrakesh, dono do impulso que empurra o corao

e o corao, pra vida. No me negue, s me reggae, s me esfregue quando eu pedir e eu peo sim, seno pode ferir o dia todo cinza que eu trouxe pra ns dois" Esse "seno" que Zlia usou na letra deve ser escrito numa palavra s. Ele significa "do contrrio" ou "caso contrrio". seno = do contrrio / caso contrrio Exemplo: "Faa isso, seno haver problemas." "Faa isso, do contrrio haver problemas." "Faa isso, caso contrrio haver problemas." J as palavras "se" e "no" tm outro significado. "Se" uma conjuno condicional, isto , uma conjuno que indica condio. "Se no chover, irei sua casa." "Caso no chova, irei sua casa." Nesse caso, a dica simples: substitua mentalmente o "se no" por "caso no". Se for o sentido desejado, escreva "se" e "no" separadamente.

16

A ss e a sQual a forma correta? "Ela quer ficar a s." ou "Ela quer ficar a ss." O programa foi s ruas saber a opinio de algumas pessoas. De sete entrevistados, trs erraram e quatro utilizaram a forma correta: "Ela quer ficar a ss." Quando utilizamos a preposio "a", a expresso fixa, invarivel, nunca se flexiona: "Eu quero ficar a ss." "Ela quer ficar a ss." "Ns queremos ficar a ss." "Elas querem ficar a ss." E se tirarmos a preposio "a"? Nesse caso a histria muda: "ss" passa a ser apenas um adjetivo e, dessa forma, precisa concordar em nmero com o pronome ou substantivo da frase: "Eu quero ficar s." "Ela quer ficar s." "Ns queremos ficar ss." "Elas querem ficar ss." Uma dica: o "s", nesse segundo caso, equivale a "sozinho". Substitua uma palavra pela outra e veja se a frase faz sentido: "Eu quero ficar a ss." / "Eu quero ficar a sozinhos." No faz o menor sentido, no ? Mas no outro caso a substituio d certo: "Eu quero ficar s." / "Eu quero ficar sozinho." "Ela quer ficar s." / "Ela quer ficar sozinha." "Ns queremos ficar ss." / "Ns queremos ficar sozinhos." "Elas querem ficar ss." / "Elas querem ficar sozinhas."

funciona. No h como errar!

Uma

dica

simples

que

17

Abreviaturas (metro, litro, hora)No dia-a-dia percebe-se muita confuso quanto s siglas e abreviaturas. Abreviando-se, como se escreve 4 horas? com H maisculo, minsculo ou com S indicando plural? O Instituto Nacional de Pesos e Medidas, INPM, signatrio de um Acordo Internacional que define essas abreviaturas. Vejamos algumas abreviaturas reconhecidas internacionalmente por esse acordo: 1 metro 4 metros 1 litro 4 litros 1 tonelada 4 toneladas 1 quilo 10 quilos 1 hora 4 horas 1 minuto 30 minutos 1m 4m 1l 4l 1t 4t 1k 10 k 1h 4h 1 min 30 min

Se um jogo comea s 19 e 30 e se quer anotar isso de acordo com as normas internacionais, deve-se escrever 19h30min , sem ponto depois do min. Essa a forma oficial. Quanto s siglas tambm h muita confuso. Nesse momento do mdulo o professor Pasquale chama algumas ilustraes. Em uma delas aparece um carro de socorro (guincho) onde est escrito S.O.S de duas formas, com e sem pontos, SOS. Qual das duas formas correta? A forma correta com os pontos, S.O.S., sigla originria do ingls que internacionalmente significa "save our souls", salve nossas almas. No Brasil o que se adota a diferena entre sigla pura e sigla impura. Sigla pura quando todas as letras da sigla correspondem primeira letra de cada palavra do nome que se quer abreviar. Todas as letras so escritas em maisculo. Por exemplo, I.N.P.S. Temos I de Instituto, N de Nacional, P de Previdncia e S de Social. Nessa sigla cada elemento formador do nome foi abreviado pegando-se a sua primeira letra. Dersa um exemplo de sigla impura. As duas primeiras letras, De, so representantes da palavra Desenvolvimento, o r representa a palavra rodovirio, o s de sociedade e o a de annima.

Uma sigla s pura quando todas suas letras constituintes representam a letra que inicia cada uma das palavras da forma extensa da sigla. Veja o primeiro exemplo, I.N.P.S. Dersa no se enquadra nesse conceito. O D maisculo porque inicia a sigla, o resto minsculo j que o e tambm vem de desenvolvimento, junto com o D inicial. Procure escrever as siglas e as abreviaturas segundo as normas vigentes.

18

MorfologiaContrao (embora, aguardente, daqui)Muitas palavras que ns usamos surgiram da fuso de outras. Por exemplo: voc sabia que a palavra "embora" vem da fuso de TRS outras palavras? embora = fuso de em boa hora Outros exemplos: pernalta = fuso de perna alta aguardente = fuso de gua ardente E por a vai. Uma soma muito comum a das preposies, como "de", "em" e "por" com palavras de outras classes gramaticais. Exemplos: daqui = soma da preposio de com a palavra aqui nesta = soma da preposio em com a palavra esta pelo = soma da preposio por com a palavra o A essa soma de palavras damos o nome de "contrao". Veja um trecho da letra da cano "At o fim", gravada por Chico Buarque: "... Minha mulher fugiu com o dono da venda, o que ser de mim? Eu j nem lembro pronde mesmo que vou, mas vou at o fim. Como j disse, era um anjo safado, o chato dum querubim, que decretou que eu tava predestinado a ser todo ruim..." A expresso "dum", que vem da fuso da preposio "de" com o artigo indefinido "um", perfeitamente aceita e abonada pelos dicionrios, assim como "num", que a fuso da preposio "em" com o artigo indefinido "um": Ela gosta de um rapaz esquisito. / Ela gosta dum rapaz esquisito. Ele mora em uma rua escura. / Ele mora numa rua escura. Por outro lado, algumas fuses no tm tradio na lngua, como "pronde", que tambm est na letra de Chico Buarque: Pronde mesmo que vou? / Pra onde mesmo que vou?

"Pronde" uma fuso um tanto radical. No , ao menos por enquanto, abonada ou registrada pelos dicionrios. Convm us-la somente em textos em que a linguagem utilizada com mais liberdade e evit-la nos textos mais formais. Veja as contraes mais consagradas, que podemos usar sem susto: no / na dum / duma num / numa neste / nesta daquele / daquela naquele / naquela Na dvida, consulte o dicionrio. Veja se a contrao est oficializada, se tem registro no padro formal da lngua.

19

Gnero (coma, libido)gravada por Djavan: Trecho da cano "Seduzir", "Amar perder o tom nas comas da iluso. revelar todo sentido, Vou andar, vou voar para ver o mundo. Nem que eu bebesse o mar encheria o que eu tenho de fundo..." Nesse trecho da msica de Djavan, vimos que ele usou a palavra "comas". De acordo com os dicionrios, a palavra "coma" tem vrios significados. Na letra de "Seduzir" ela foi usada com o significado de "estado de inconscincia", "estado de coma". uma palavra que pode ser masculina ou feminina, tanto faz. "O" coma ou "a" coma. No dia-a-dia costumamos acertar sempre as concordncias de gnero. No entanto, certas palavrinhas podem nos surpreender, como acontece com "d". Ns costumamos falar: "Voc no imagina a d que eu senti..." Est errado. Segundo os dicionrios, "d" uma palavra masculina. "Voc no imagina o d que eu senti." A lngua falada, do dia-a-dia, no assimila com facilidade o gnero culto de algumas palavras. Vamos ver outro caso, a palavra "libido", agora num trecho da cano "Alvio Imediato", gravada pelos Engenheiros do Hawaii: "...A Lbia bombardeada, a libido e o vrus, o poder, o pudor, os lbios e o batom..." Vamos ver de que forma essa mesma palavra utilizada na cano "Garota Nacional", gravada pelo Skank: "... Porque ela derrama um banquete, um palacete, um anjo de vestido, uma libido do cacete..." As letras das duas msicas grafaram corretamente: a libido. Nunca use "o" libido, estaria errado. uma discusso sobre gnero culto, que muitas pessoas acertam tranqilamente. Preste sempre ateno nisso.

20

Formao de palavrasSufixao ("oso", "osa")No novidade parara ningum que grafia, em portugus, uma encrenca danada. Todo mundo sabe a confuso que acontece no uso do "s" e do "x", do "x" e do "ch". Por falar em "x" e "ch", temos a uma confuso engraada. Muitas pessoas dizem, por exemplo, que na palavra "lixo" o "x" tem som de "ch". Nada disso. Na palavra "cachorro", por exemplo, o "ch" que tem som de "x", e no o contrrio! Em "lixo", o "x" tem o som dele mesmo, afinal o nome da letra "xis"! Grafia mesmo uma bela encrenca. Vamos ver a cano "Olhar 43", de Paulo Ricardo: "... perigoso o seu sorriso, um sorriso assim, jocoso, impreciso, diria misterioso, indecifrvel riso de mulher..." Ns vimos o emprego das palavras "perigoso", "jocoso", "misterioso", palavrinhas que tm o sufixo "oso". um sufixo que indica a idia de posse plena, de abundncia, de existncia em grande quantidade. bom lembrar: o sufixo "oso" sempre com "s", jamais com "z". perigoso = com muito perigo misterioso = cheio de mistrio jocoso = com muita jocosidade Veja a cano "Vitoriosa", de Ivan Lins. A letra de Vtor Martins: "... quero sua risada mais gostosa, esse seu jeito de achar que a vida pode ser maravilhosa. Quero sua alegria escandalosa, vitoriosa por no ter vergonha de aprender como se goza." Nessa cano vimos o sufixo "oso" no feminino. "Gostosa, "maravilhosa", escandalosa" etc. Sempre com "s"! E vimos tambm a palavra "goza", com "z". Mas ela no tem nada a ver com a nossa histria. "Goza" forma do verbo "gozar", com "z". Ento, cuidado! No basta que o som seja semelhante a "oso" e "osa" para colocarmos o "s". Precisamos entender o significado da palavra. Se for sufixo designando posse plena ou grande quantidade, a sim, a grafia correta com "s".

Derivao imprpria ("comcio monstro")Certamente voc j ouviu algum na TV dizendo "uma manifestao monstro" ou "concerto monstro", um "comcio monstro". Se olharmos no dicionrio, vamos conferir que monstro , primeiramente, aquela coisa que assusta, que apavora. um nome, um

substantivo. Mas veremos tambm que monstro adjetivo, com a acepo de "muito grande", "fora do comum". Quando dizemos "espetculo monstro", por exemplo, usamos a palavra monstro como adjetivo, para qualificar. Passa a significar "grande", "muito grande", "excessivamente grande". O emprego de uma palavra fora de sua classe gramatical usual tem um nome: derivao imprpria. Imprpria por qu? Porque foge da caracterstica, do padro da lngua, ou seja, voc est usando a palavra fora do padro habitual dela. Alm disso, o prprio tipo de derivao diferente. Normalmente, quando queremos fazer uma palavra derivar de outra, acrescentamos prefixos ou sufixos, como: honesto - desonesto honesto - honestidade A derivao imprpria diferente, de um tipo rico e interessante. Vamos ver agora trechos de duas canes em que aparecem exemplos de derivao. A primeira "Pobre paulista", gravada pelo Ira!: "Todos os no se agitam toda adolescncia acata e a minha mente gira e toda iluso se acaba...". A outra cano "Vou tirar voc do dicionrio", gravada por Zlia Duncan: "Eu vou tirar voc de mim assim que descobrir com quantos nos se faz um sim eu vou tirar o sentimento do meu pensamento sua imagem e semelhana vou parar o movimento a qualquer momento procurar outra lembrana". Nas duas letras, a palavra "no" utilizada como substantivo. "No" normalmente um advrbio e serve para negar verbos: "no vou", "no fao", "no digo". Nas letras que vimos, a palavra aparece como substantivo e tem de ser tratada como tal. Por isso deve fazer a flexo no plural. Ou seja, o segundo exemplo est correto e o primeiro est errado: "todos os no se agitam" - ERRADO "com quantos nos se faz um sim" - CERTO Resumindo: derivao imprpria o uso de uma palavra fora de sua classe gramatical.

21

SubstantivosGnero dos substantivos (champagne, grama, moral)Neste mdulo o professor Pasquale conta a surpresa que teve ao ouvir, em Belm do Par, uma moa dizer: "LEVEI UMA TAPA". O professor no tinha, ainda, ouvido algum se expressar dessa maneira, apesar de constar nos livros.

Uma tapa, um tapa, o tapa ou a tapa so formas corretssimas. Trata-se de uma palavra que pode ser tanto do gnero masculino como do gnero feminino. Algumas palavras causam certa estranheza. o caso de sabi. Na cano "Sabi" de Tom Jobim e Chico Buarque temos: "Vou voltar. Sei que ainda vou voltar para o meu lugar. Foi l e ainda l que eu hei de ouvir cantar uma sabi, o meu sabi". Chico Buarque usou as duas formas. Ambas corretas. Veja nos dicionrios. Mas algumas palavras no admitem duplo gnero. o caso de d. Ouve-se falar "Voc no imagina a d que eu senti". Errado. O certo seria falar " Voc no imagina o d que eu senti". D do gnero masculino. Em muitos lugares ouve-se "a champanhe". Est errado. "o champanhe" ou "o champanha". A palavra pode ser escrita com e ou com a no final, mas sempre no masculino, nunca no feminino. O professor chama a ateno para uma outra cano. "Seu Tipo" ( Duardo Dusek e Luis Carlos Ges ) c/ Ney Matogrosso. "... coloca aquele vestido tipo comprido E v se no brinca com a minha libido". Ao contrrio do que muita gente pensa, o certo a libido, como diz a canco, e no o libido. Outro problema so aquelas palavras que mudam o sentido quando o gnero alterado. o caso de "grama". No se deve confundir "o grama" com "a grama", "o moral" com "a moral". "O grama" a unidade de massa. Compram-se duzentos gramas de queijo. "A grama" o vegetal. "O moral" o estado de esprito. O time est com o moral elevado. "A moral" o cdigo de princpios de uma sociedade. Quando houver dvida quanto ao gnero de palavras no se deve arriscar. A sugesto recorrer ao dicionrio.

22

Nmero dos substantivos (patins, culos)A moada, hoje, gosta de usar patim. As pessoas falam "o patins". Patins plural. So os patins ou, ento, o patim. O mesmo erro acontece, normalmente, com a palavra culos. Duas canes ilustram bem

o problema. A primeira "Vampiro", de Jorge Mautner. A outra "Como vov j dizia", de Raul Seixas e Paulo Coelho. Em "Vampiro" a letra diz: "... Eu uso culos escuros pra minhas lgrimas esconder..." Jorge Mautner fala em culos escuros e acerta. culos plural de culo. Usamos dois culos, um culo para a vista direita e outro culo para a vista esquerda. Logo, o aparelho corretor chama-se culos. Raul Seixas diz "... quem no tem colrio usa culos escuro". Errado. Certo seria dizer culos escuros. culos plural, assim como frias. "As minhas frias" e no "A minha frias". No se deve confundir frias com fria, no singular, que a arrecadao de dinheiro de um certo perodo. Muita gente fala "o cimes". No, o cime. As cadeiras so azul-claras, as camisas azul-escuras. Neste caso a regra esta: quando tenho um adjetivo composto formado por dois adjetivos, mantenho o primeiro e mexo s no segundo. Ex: proposta luso-brasileira, sentimento luso-brasileiro cadeira azul-clara, cadeiras azul-claras

23

Nmero dos substantivos 2 - plural dos substantivos abstratos - concordncia dos verbos "existir" e "ser"Quem no se lembra daquela histria de substantivos concretos e substantivos abstratos? Todo mundo um dia estudou isso na escola, e pouca gente consegue entender por qu. Um apelo que deve ser feito de modo genrico aos professores de portugus que eles evitem ensinar aos alunos que substantivo concreto aquele que se pode pegar e que substantivo abstrato aquele que no se pode pegar. Isso uma grande bobagem. O substantivo abstrato simplesmente aquele que d o nome a alguma coisa, que designa o ato de alguma coisa. O ato de quebrar "quebra". O ato de participar "participao". O ato de vender "venda", e assim por diante. Todos esses substantivos so abstratos. Como Gilberto Gil na msica "Rebento": "Rebento, substantivo abstrato...". Por que abstrato? Porque "rebento" o ato de rebentar. Nomes de sentimento, como "amor", de estado, como "gravidez", e de qualidade, como "inteligncia", tambm so substantivos abstratos. Existe uma polmica em torno do plural dos substantivos abstratos: existe o plural dessas palavras? Bem, cada caso um caso. Voc faria plural de "raiva", por exemplo? Ou de "inveja"? So palavras que soam esquisitas no plural, mas isso no estabelece uma regra. Vamos ver um exemplo com a palavra "cime". Observe a letra da cano "Olhos nos olhos", gravada por Maria Bethnia: "...Quando voc me deixou,

meu bem, me disse pra eu ser feliz e passar bem. Quis morrer de cime, quase enlouqueci mas depois, como era de costume, obedeci...". Voc notou, a certa altura, o verso "quis morrer de cime". Muita gente por a fala "cimes". Nada contra, mas precisamos escolher: ou falamos "o cime" ou "os cimes". Nunca "o cimes". Na verdade, a forma singular "o cime" - preferencial, j que em tese o substantivo abstrato no se pluraliza, ao menos na maioria dos casos. Vamos ver outro caso, agora tomando como exemplo a cano "Voc pra mim", gravada por Fernanda Abreu: "s vezes passo dias inteiros imaginando e pensando em voc e eu fico com tantas saudades que at parece que eu posso morrer. Pode acreditar em mim. Voc me olha, eu digo sim...". A exemplo do que acontece com "cime", no so poucas as pessoas que falam "estou com uma saudades de voc". Ora, necessrio sempre concordar o substantivo com seu determinante. Se o substantivo vai para o plural, o pronome ou o artigo devem ir tambm.

24

Nmero dos substantivos 3 (giz, gravidez) Concordncia dos verbos "existir" e "ser"Noo de singular e de plural todo mundo tem, claro. Todos sabemos que a grande marca do plural, em portugus, a letra "s". E que o artigo que antecede um substantivo no plural tambm ganha um "s": O menino Os meninos Essa noo bsica em portugus. s vezes, no entanto, algumas palavras nos traem. Um exemplo patins. Por algum motivo virou moda falar "o patins", como se fosse o nome de uma coisa s. Na verdade, patins o plural de patim. No podemos falar "o patins" e sim "os patins" ou "o patim". Isso tem acontecido tambm com a palavra cime. Muita gente fala "o cimes". Agora, existe uma palavrinha imbatvel nessa confuso que se faz com o plural. Veja a letra da cano "O charme dos seus culos", de Roberto e Erasmo Carlos: "Gosto desse jeito discreto, especial por trs desses culos, que coisa mais sensual! Ar de executiva s vezes formal, beleza com um toque sexy, sensual Seus culos combinam at com seu cabelo eu sinceramente gosto de qualquer modelo na verdade em voc tudo fica bem mas o charme desses culos quem usa que tem

No tire esses culos Use e abuse dos culos". Voc notou que, desde o ttulo at os versos da cano, Roberto e Erasmo usaram culos no plural. Est corretssimo! culos = plural de culo E a palavra nibus, plural ou singular? as duas coisas, assim como a palavra lpis. A a histria outra: singular: o nibus / o lpis plural: os nibus / os lpis Uma palavra que deixa muita gente confusa giz. Essa palavra que termina em "z" tem o som muito semelhante ao som do "s" de lpis e a surge a confuso: ser que giz tem plural? Tem sim: o giz os gizes Alis, essa a regra: a palavra que termina em "z", em portugus, faz o plural com o acrscimo de "es": singular: a luz / a gravidez plural: as luzes / as gravidezes No caso de dvida, uma boa sada a consulta a um bom dicionrio.

25

Substantivos concretos e abstratos Adjetivos dando origem a substantivo abstratoNs aprendemos na escola algumas coisas esquisitas. Por exemplo: voc se lembra daquela histria de substantivo concreto e abstrato, quando aprendemos que "concreto a gente pega e abstrato a gente no pode pegar"? Essa histria simplesmente horrorosa! Apague-a da sua cabea! Vamos falar um pouco sobre substantivo abstrato. Uma de suas possibilidades indicar nome de qualidade. Observe um trecho da letra da cano "Amor", gravada por Ivan Lins: "... Vem afastar as assombraes arejar meus pores vem acalmar os meus vendavais meus temores, meus ais Vem e me faz cada vez mais audaz, cada vez mais capaz de acreditar que ainda posso tentar continuar..." Voc notou que o letrista Vtor Martins usou as palavras capaz e audaz. Ambas as palavras funcionam como adjetivos, dos quais saem os respectivos substantivos, que do nome s qualidades: audaz - audcia capaz - capacidade Quem audaz tem a qualidade de audcia, e quem capaz tem a qualidade de capacidade. Audcia e capacidade so substantivos abstratos, substantivos que do nome a qualidade, estado (como alegria), ao e outros valores.

26

Substantivos concretos e abstratos

Flexo de palavras compostas (pau-dearara, pr-do-sol, bia-fria)Neste mdulo o Professor Pasquale Cipro Neto trata de um assunto que sempre desperta dvidas: o plural de palavras compostas. Comea alertando para uma das regras: Em substantivos compostos com preposio no meio, varia apenas o primeiro elemento. Para exemplificar, recorre a um trecho da msica "O RANCHO DA GOIABADA", de Joo Bosco e Aldir Blanc. "Ai, so PAIS-DE SANTO, PAUSDE-ARARA, so passistas.... Os BIAS-FRIAS quando tomam umas biritas..." Exemplos: Pau-de-arara PAUS-de-arara Pr-do-sol PORES-dosol Mula-sem-cabea MULASsem-cabea Outra regra diz que, em substantivos compostos formados por substantivo e adjetivo, variam os dois elementos. Exemplos: Bia-fria BIAS-FRIAS Cavalo-marinho CAVALOSMARINHOS Capito-Mor CAPITESMORES A msica VERDE E AMARELO (Roberto e Erasmo Carlos) sugere a terceira regra: em adjetivo composto formado por dois adjetivos, varia apenas o segundo elemento. Roberto canta: "VERDE E AMARELO VERDE E AMARELO a camisa que eu visto AZUL E BRANCO tambm ..." O professor aproveita e chama a ateno para um erro de concordncia presente na letra. Camisa substantivo feminino, portanto VERDE E AMARELA a camisa que eu visto e no, VERDE E AMARELO. Quanto ao plural o correto dizer CAMISAS VERDE-AMARELAS. Outros exemplos: Proposta talo-brasileira PROPOSTAS TALO-BRASILEIRAS Clnica mdico-odontolgica CLNICAS MDICOODONTOLGICAS Camisa vermelho-escura CAMISASVERMELHO-ESCURAS

Flexo de palavras compostas 2 (mulasem-cabea, p-de-moleque)

27

Vamos relembrar. Palavra composta aquela que resulta da fuso de duas ou mais palavras. Algumas podem surpreender: "planalto", por exemplo, resultado da soma de ""plano" e "alto", e "petrleo" resulta da soma de "pedra" e "leo". "Planalto" e "petrleo" so palavras compostas, como "couve-flor" e guarda-chuva". Veja este trecho da letra de "Anjo de mim", cano de Ivan Lins e Vtor Martins: "Anjo de mim Me faz amor Abraadinho Meu corao Comeo e fim Meu pr-de-mim" Observe que o poeta Vtor Martins, autor da letra, criou a expresso "pr-de-mim". Lembra "pr-do-sol", que por sua vez aparece na cano "Lils", de Djavan: "... Raio se libertou Clareou muito mais Se encantou pela cor lils Prata na luz do amor Cu azul Eu quero ver o pr-do-sol Lindo como ele s E gente pra ver e viajar no seu mar de raio" Como fica o plural de palavras compostas, como "pr-de-mim", "pr-do-sol", "mula-semcabea", "p-de-moleque" etc? Todas essas palavras so substantivos compostos com preposio entre as duas palavras que os formam. Bem, para formar o plural, basta que se flexione apenas o primeiro elemento: mulas-sem-cabea ps-de-moleque pores-do-sol pores-de-mim Cuidado com um detalhe: o verbo "pr" tem um acento diferencial. J o plural do verbo substantivado, "pores", no leva o acento.

Flexo de grau (diminutivos)Num comercial de TV h um dilogo em que, a certa altura, a mulher diz: " azia, doutor. Mas eu j estou providenciando uma colherzinha de Gastran". diminutivo de colher = colherzinha S que, no dia-a-dia, gostamos de falar "uma colherinha", parece at mais afetivo. E "bar"? Voc diria barinh ou barzinho ? mais provvel que diga barzinho. Quando o substantivo termina em "r", a tendncia que se faa o diminutivo com o acrscimo de "zinho" ou "zinha". Colherinha, em linguagem familiar, tudo bem. Mas, gramaticalmente, o correto colherzinha. Vamos a um exemplo, a cano "Coisa bonita", gravada por Roberto Carlos:

"Amo voc assim e no sei por que tanto sacrifcio ginstica, dieta no sei pra que tanto exerccio olha, eu no me incomodo um quilinho a mais no antiesttico Pode at me beijar, pode me lamber que eu sou diettico..." Essa msica de Roberto e Erasmo Carlos foi feita para as pessoas que so, digamos, gordinhas. Quando se diz gordinho ou gordinha, usa-se o diminutivo, no caso diminutivo de um adjetivo. Claro que esse diminutivo tem um valor afetivo: gordinho uma expresso mais delicada do que gordo, que o aumentativo. Nesse caso, o diminutivo no tem necessariamente a idia do tamanho, e, sim, a idia de uma coisa um pouco mais delicada, suave, afetiva, como fez o Roberto com a palavra quilinho. Na verdade, no pode haver um quilo menor do que outro quilo. Ao p da letra, quilinho um absurdo. Claro que, na letra da msica, a palavra adquire um valor afetivo, justamente por causa do diminutivo. Vamos ver outro exemplo, a cano "Azul", gravada por Djavan: "... at o sol nascer amarelinho queimando mansinho cedinho, cedinho, cedinho Corre e vai dizer pro meu benzinho um dizer assim o amor azulzinho" Nessa cano, Djavan usa e abusa do diminutivo afetivo. Para se referir s cores, por exemplo, ele usa amarelinho, azulzinho. E recorre ao diminutivo afetivo tambm com relao ao advrbio "cedo" (cedinho) e ao adjetivo "manso" (mansinho). O diminutivo deve ser encarado de duas formas: pelo valor especfico que ele tem (de tamanho pequeno) e outros valores, como o afetivo. s vezes, quando se fala "um homenzinho", por exemplo, nem sempre esse homem pequeno. A pessoa pode usar o diminutivo no com a inteno de afeto, mas com a inteno de ofender mesmo: "um homenzinho" pode equivaler a "um homem insignificante". So vrios os valores do diminutivo. Ns vimos aqui alguns exemplos, mas h outros que podem ser utilizados na vida diria.

28

Numerais (ordinais, cardinais etc)Na vida escolar, todos ns um dia aprendemos os numerais, aquela classe de palavras que trata dos nmeros. "Um, dois, trs..." so os cardinais, que indicam quantidade. "Primeiro, segundo, terceiro..." so os ordinais, que indicam ordem. Depois temos "dobro, triplo, qudruplo...", que so os multiplicativos. Temos ainda "um meio, um tero, um quarto..." que so os fracionrios. E assim vai. Normalmente os numerais so ensinados por meio da memorizao pura e simples, a chamada "decoreba". Na verdade, existem formas mais criativas de tratar

os numerais, que tm na lngua uma expressividade muito forte. Vamos a um trecho da cano "Coraes a Mil", gravada pela cantora Marina Lima: Minhas ambies so dez, dez coraes de uma vez, pra eu poder me apaixonar dez vezes a cada dia, setenta a cada semana, trezentas a cada ms..." Esse um uso criativo do numeral. "Essa mulher dez". Por que "dez"? Porque vem de "nota dez", a nota mxima. O numeral deixa de ter valor numrico e passa a ter valor de adjetivo. No verso "minhas ambies so dez", podemos ter um duplo sentido. Elas so dez porque so maravilhosas, so valiosas. Ou so mesmo dez ambies. Em seguida, Gilberto Gil (autor da letra) comea a fazer contas na letra da msica: se so dez vezes por dia, so setenta em uma semana e trezentas em um ms. mesmo um modo criativo de utilizar os numerais, reforando o exagero para mostrar a fora da idia. A comear pela letra da msica, "Coraes a mil". Ns usamos muito essa expresso, "hoje estou a mil", ou seja, "estou a mil por hora", "estou com o gs todo."

29

Palavras inglesas (plug, diet)Observe a letra desta cano: "Eu no pedi pra nascer eu no nasci pra perder nem vou sobrar de vtima das circunstncias Eu t plugado na vida eu t curando a ferida s vezes eu me sinto Uma mola encolhida..." Essa cano, "Toda forma de amor", foi gravada por Lulu Santos e por outros artistas. Nessa letra vemos o uso da palavra "plugado", particpio do verbo "plugar". A palavra, que at h pouco tempo no existia em portugus, comea a surgir nos novos dicionrios. Vem do ingls "plug in", verbo que quer dizer "conectar", "ligar na tomada". Nos ltimos anos, muitos artistas brasileiros, como Gilberto Gil, Tits e Moraes Moreira, tm gravado discos "unplugged". Esse prefixo "un" em ingls significa "no". Assim, o termo "unplugged", algo como "desconectado", "desligado da tomada", usado para expressar que a gravao foi feita somente com instrumentos acsticos. Para falar de outro caso desse tipo, vamos ver um trecho da cano "Coisa bonita", gravada por Roberto Carlos: "Amo voc assim e no sei por que tanto sacrifcio Ginstica, dieta no sei pra que tanto exerccio Olha, eu no me incomodo Um quilinho a mais

no antiesttico pode at me beijar, pode me lamber que eu sou diettico..." Voc j experimentou pedir num restaurante um refrigerante diettico? bem possvel que ningum saiba do que voc est falando. Mas, se voc pedir um "guaran diet", a, sim... Bem, "diettico" um adjetivo que vem de "dieta", que, por sua vez, de origem grega e significa "gnero de vida". Portanto a palavra diettico no tem nada a ver com esse uso que temos feito da palavra "diet", que nada mais do que "dieta" em ingls.

30

Preposio (sob/sobre)Voc certamente j viu em postos de gasolina, por exemplo, aquela tradicional faixa: "Sob nova direo". o tipo de faixa que sempre vemos em postos, bares, restaurantes e outros estabelecimentos comerciais. Mas algumas vezes o que est escrito : "Sobre nova direo". E agora? O programa foi s ruas perguntar qual a forma correta: "O posto est sob nova direo ou sobre nova direo?" O resultado foi timo: das seis pessoas entrevistadas, cinco acertaram. Responderam "O posto est sob nova direo". Sob = embaixo Sobre = em cima Se voc coloca o livro sobre a mesa, voc est colocando o livro em cima da mesa. Se voc coloca o livro sob a mesa, ele, ento, ficar embaixo da mesa. Sob e sobre, portanto, tm significados opostos. H uma cano interessante que fala a respeito disso. Chama-se "A mesma praa", de Paulo Miklos: "Sou do cho negro asfalto da avenida So Joo Sob o escuro manto fumaa sombra do minhoco Sob o cu cinzento de So Paulo insano e mau Brasileiro cuspido dos canhes na Hungria cigano e brbaro bastardo dos portugueses mouro feroz e brbaro desorientado dos beijos de lnguas e lugares embaralhados Da rua Apa quando desaba a Barra Funda dos prostbulos de toneladas de poeira e fuligem sobre a poesia Judeu de disfarce catlico ateu crente no candombl de todas as fugas e enfrentamentos continuo de p". Paulo Miklos utiliza as duas expresses com muita conscincia, e a diferena fica bem clara.

simples, no? Basta apenas um pouco de ateno para no confundir as duas palavras. sob = embaixo sobre = em cima

31

Pronomes excelncia)

de

tratamento

(vossa

O tema desse mdulo so os pronomes de tratamento, usados, normalmente, em situaes de cerimnia: excelncia, senhoria, etc. Quando o presidente fala em cadeia nacional, o locutor diz "Vamos ouvir a palavra do Excelentssimo Senhor Presidente da Repblica...". "Excelentssimo Senhor Presidente ..." porque o presidente Excelncia. Usa-se esse pronome de tratamento para todas as autoridades constitudas, do vereador ao presidente. Aqui vale eliminar uma confuso. Quando falar "Vossa" ou "Sua"? Ao se falar diretamente com a pessoa, usa-se "Vossa". Quando se estiver falando da pessoa, usa-se "Sua". Lembrando o exemplo acima, o locutor da Agncia Nacional anunciaria aos brasileiros "Sua Excelncia, o Presidente da Repblica ...". No caso, o locutor estaria falando do Presidente. Se estivesse falando com o presidente, o correto seria " Vossa Excelncia...". Outra confuso corrente quanto ao uso do possessivo. Qual das duas formas a seguir seria correta?: "Vossa Senhoria deve expor seu projeto" ou... "Vossa Senhoria deve expor vosso projeto". A pergunta foi sugerida s pessoas na rua. A maioria respondeu "... expor vosso projeto". Errado. Vossa Senhoria pronome de tratamento e pertence sempre 3 pessoa. Vosso seria correto se estivesse usando Vs. Ex: Vs deveis apresentar vosso projeto. H uma dica para facilitar a compreenso. Pense na palavra voc, que tambm pronome de tratamento da 3 pessoa. Como voc diria? "Voc deve expor seu pensamento" ou... "Voc deve expor vosso pensamento". A primeira alternativa a correta. Se "Vossa Senhoria" ou "Vossa Exelncia" 3 pessoa, usamos "seu" projeto ou "seu" pensamento.

Caso voc encontrasse o Presidente da Repblica perguntaria a ele: "Vossa Excelncia recebeu a carta que lhe enviei ou... a carta que vos enviei"? O correto seria "...a carta que lhe enviei". Eu enviei ao Senhor, a Vossa Excelncia, a voc. Sempre falamos de 3 pessoa, portanto, "...a carta que lhe enviei". Os pronomes de tratamento sempre esto relacionados 3 pessoa.

32

Pronomes: uso culto e uso popularNa linguagem do dia-a-dia h uma confuso muito comum quanto ao uso dos pronomes. Ex: Voc fez o que eu te pedi? Na linguagem formal isso no seria posssvel. Voc 3 pessoa, te 2. O correto seria dizer "Voc fez o que eu lhe pedi?" s vezes o exagero maior. Veja o exemplo no nome da msica "Eu te amo voc", de Kiko Zambianchi. "Eu te amo voc" So dois os problemas nesse ttulo: a mistura do te que 2 pessoa e voc que 3; a repetio desnecessria de pronomes: Eu te amo voc". perfeitamente possvel dizer "Eu te amo a ti", j que os pronomes esto na mesma pessoa. No dia-a-dia ouve-se tambm, "Eu te disse pra voc". O correto seria "Eu te disse a ti". Mas uma forma inadequada para se falar cotidianamente. Ficaria melhor numa linguagem mais formal.

Pronomes: uso culto e uso popular 2Dois amigos conversam: Amigo 1: "Faz tempo que no vejo ela". Amigo 2: "Pois eu vi ela ontem noite". H quem brinque com esse tipo de construo da frase: "Eu vi ela, tu rua, ele avenida"... No portugus falado do Brasil, na lngua do dia-a-dia, o pronome reto (eu, tu, ele, ns, vs, eles) assumiu definitivamente o papel de complemento verbal. Ns dizemos, no dia-a-dia, "faz tempo que no vejo ele", "eu vou encontrar ela amanh" e por a vai. Isso no est no padro formal da lngua portuguesa. O correto seria: "Faz tempo que eu no o vejo." "Eu devo encontr-la amanh." No padro formal, frases como "Faz tempo que no vejo ele" no so aceitas de jeito nenhum, mas so to usadas que acabam se tornando uma tendncia em outros ambientes lingsticos. Vamos a um exemplo, a cano "O astronauta de mrmore", gravada pelo grupo Nenhum de Ns: "... Sempre estar l e ver ele voltar no era mais o mesmo, mas estava em seu lugar sempre estar l e ver ele voltar o tolo teme a noite como a noite vai temer o fogo vou chorar sem medo

vou lembrar do tempo de onde eu via o mundo azul..." Voc notou o uso, por duas vezes, da expresso "ver ele voltar". O correto, pelo padro culto, seria "v-lo voltar". Essa discusso nunca vai ter fim. Na fala do dia-a-dia, no Brasil, esse uso errado j est sacramentado. Mesmo assim, coloque o pronome corretamente ao redigir um texto formal.

33

Valores do tempo futuro/volio (expresso de vontade, desejo)Voc sabe o que uma frase volitiva? Frase volitiva aquela que expressa vontade, desejo. A idia de querer, de desejar, s vezes vem expressa de uma forma sutil. Veja a letra da cano "A cura", gravada por Lulu Santos: "Existir em todo porto tremular a velha bandeira da vida acender todo o farol iluminar uma ponta de esperana...". Voc notou que a letra traz um tempo verbal, o futuro do presente, que no se usa muito no dia-a-dia, no Brasil. Ns no falamos "amanh eu farei", e, sim,"amanh eu vou fazer". Justamente pelo fato de no ser muito usado, o futuro dopresente reveste-se de um carter um pouco mais formal. No caso da cano de Lulu, tem um valor volitivo. No fundo, o que o artista est expressando o desejo de que determinadas coisas venham a acontecer. Portanto o futuro, alm de todos os seus outros valores, pode expressar desejo, que foi o que aconteceu de forma muito apropriada na letra de Lulu Santos.

VerbosAspecto verbal - tempo presente e tempo futuroQualquer gramtica da Lngua Portuguesa traz a definio do tempo verbal presente como aquele tempo que indica um fato que ocorre no momento da enunciao. Quando uma pessoa diz "Tomo banho todos os dias", ser que naquele exato momento ela est tomando banho? No. O verbo est no presente, mas sua funo indicar um fato que se repete, um presente habitual. Numa aula de histria o professor fala: "Ento, neste dia, Napoleo invade..." A forma verbal invade, que presente, no indica que naquele momento Napoleo est invadindo algum lugar. Na frase, o tempo presente do verbo invadir faz remisso a um fato que ocorreu no passado e traz esse passado mais para perto. Conclumos, ento, que os tempos verbais tm outros valores alm dos especficos. Nesse momento o prof. Pasquale refora sua explicao lembrando os Dez Mandamentos: "Amars a Deus sobre todas as coisas

No tomars seu santo nome em vo Guardars os domingos e feriados Honrars pai e me No matars No pecars contra a castidade No furtars ...." "No furtars", ao p da letra, significa que proibido furtar no futuro, apenas no futuro, o que abre a possibilidade de se entender que o ato perfeitamente aceitvel no presente. Mas, na verdade, "no furtars", que futuro, tem o valor de imperativo e, como tal, indica que proibido furtar em qualquer tempo. Ao analisar um tempo verbal no se esquea de considerar que ele pode indicar seu valor especfico ou um valor paralelo (aspecto verbal), ou seja, um valor decorrente de seu uso no idioma.

34

Grafia dos verbos (querer, pr)"Eu pus a carta no correio. " "Eu me machuquei, formou-se uma ferida e a apareceu pus." Como escrevo este'pus' do verbo pr e como escrevo 'pus' relativo a ferida? Essas so as questes que se colocam ao pblico na rua. Muita gente fica na dvida. A maioria acerta. O 'pus' da ferida com S. O 'pus' do verbo, tambm. No existe pus com z, seja verbo ou substantivo. Para esses casos deve-se esquecer a letra z. Pus, puser, puseram, pusesse, todas essas palavras so com s. Quis, quiser, quisesse, quiseram, quisemos, tambm. Todas as formas dos verbos querer, pr e derivados devem ser grafados com s: depor, propor, impor, repor, sobrepor, decompor e outros.

Uso do presente do subjuntivo (que eu faa, que eu fale)Na linguagem do dia-a-dia no Brasil comum se ouvir frases como estas: "Voc quer que eu compro?" "Voc quer que eu sirvo?" "Voc quer que eu fao?" Isso no padro formal da lngua inaceitvel e a razo muito simples. Quando algum diz "Voc quer que eu...", o ato que vem em seguida, representado por um verbo, ainda no aconteceu, hipottico. Algum est lhe perguntando se voc quer algo e esse algo depende de voc. Portanto, existe a o modo da dvida, da suposio, da hiptese e esse o valor do subjuntivo. Logo, o correto seria dizer: "Voc quer que eu compre?" "Voc quer que eu sirva?" "Voc quer que eu faa?" A cano "Pra que discutir com madame" de Haroldo Barbosa e Janet de Almeida, no programa interpretada por Moraes Moreira e Pepeu Gomes, ilustra muito bem o bom uso do tempo subjuntivo. "... Madame no gosta que ningum sambe..."

A letra significa que "madame no gosta que ningum sambe" agora ou no futuro, sob qualquer hiptese. importante saber que o presente do subjuntivo tem terminaes fixas. Para os verbos que terminam em AR ( falar, pensar, sambar, andar, cantar etc.), a vogal temtica E. Portanto, ...que eu fale, ...que eu pense, ...que eu sambe etc. Para os verbos terminados em ER e IR ( correr, beber, dormir, dirigir etc.), a vogal temtica A. Logo, ...que eu corra, ...que eu beba, ...que eu durma,...que eu dirija etc. Lembra-se, tambm, que a vogal temtica se mantm em todas as pessoas, da primeira ltima. Assim, que eu sambe, que tu sambes, que ele sambe, que ns sambemos, que vs sambeis, que eles sambem. A exceo fica por conta do verbo ESTAR que termina em AR mas faz o presente do subjuntivo com a vogal temtica A: Ela quer que eu esteja (nunca, ...eu esteje). Neste caso, a vogal temtica A fica at o fim - que eu esteja, que tu estejas, que ele esteja etc.

35

Uso do pretrito mais-que-perfeitoTodo mundo estudou, na escola primria e no primeiro grau, os tempos verbais (presente, passado e futuro). No passado, ou pretrito, encontramos o Pretrito Imperfeito, o Pretrito Perfeito e o Pretrito mais-queperfeito. Por que esses nomes? Muita gente acha que Pretrito mais-que-perfeito tem esse nome porque mais perfeito, perfeitssimo. No verdade. Vamos estudar um exemplo. "Quando o rbitro apitou, a bola j entrara." Esse entrara o Pretrito maisque-perfeito. Significa tinha ou havia entrado. "Quando o arbitro apitou (pretrito perfeito), a bola j tinha, j havia entrado, a bola entrara (pretrito mais-que-perfeito). O pretrito perfeito acontece num momento determinado do passado: "...o rbitro apitou ...". O pretrito mais-que-perfeito acontece antes do pretrito perfeito, "... a bola j entrara." Uma letra de Gilberto Gil ilustra bem o caso desse tempo verbal, "Super-Homem - A Cano". " ... que at ento se resguardara... ... quem dera, pudesse todo homem compreender Oh! Me, quem dera..." "Minha poro mulher que at ento se resguardara...", tinha, havia se resguardado. Esse fato - havia se resguardado - anterior a outro. Na seqncia, a letra diz "...quem dera...". Dera , tambm, pretrito mais-queperfeito, usado com outro valor. necessrio lembrar que os tempos verbais podem ser usados no lugar de outro, fora de seu uso comum. Ex: como se fora/ como se fosse

Fora pretrito mais-queperfeito, fosse imperfeito do subjuntivo. "Quem dera" a mesma coisa que "eu gostaria, tomara". No entanto, "dera" mais-queperfeito, ao p da letra, mais velho que o perfeito ou fato ocorrido antes de outro.

36

SubjuntivoQual destas formas a correta? "O que voc quer que eu fao" ou "O quer voc quer que eu faa" Na linguagem do dia-a-dia, na linguagem corrente, no muito comum o uso da forma "faa". mais comum ouvirmos "o que voc quer que eu fao"... "o que quer que eu digo"... "voc quer que eu compro..." "voc quer que eu vou l..." e assim por diante. Esta forma pode ser usual, mas, na lngua formal, no padro culto, o correto : "Voc quer que eu v?" "O que voc quer que eu faa?" "O que voc quer que eu diga?" "O que voc quer que eu compre?" Trata-se do modo subjuntivo, usado quando desejamos expressar hiptese, dvida, possibilidade, probabilidade, suposio, especulao. O grupo Paralamas do Sucesso usa o subjuntivo na cano "La Bella Luna": "...Por mais que eu pense, que eu sinta, que eu fale, tem sempre alguma coisa por dizer..." "Por mais que eu pense" indica que estou me referindo a uma situao que pode acontecer, que talvez venha a acontecer ou que acontece com freqncia. Com frases como "Por mais que eu fale...", "por mais que eu sinta...", eu me refiro a fatos que no so reais no momento, mas so uma hiptese, tm uma probabilidade de acontecer. Por isso a cano usa corretamente o modo subjuntivo. Portanto: Modo subjuntivo adequado idia de dvida, hiptese, possibilidade, probabilidade, especulao, suposio.

GerndioVamos falar um pouco sobre o gerndio. Se formos s gramticas, vamos descobrir que o gerndio uma das formas nominais do verbo. Por que "formas nominais"? Porque quando o verbo pode atuar como nome. No caso do gerndio, que aquela forma que termina em -ndo (falando, bebendo, partindo, correndo etc), sabemos que ele pode ser usado como se fosse um adjetivo. Por exemplo: gua fervendo (gua que ferve)

O gerndio usado basicamente para que se d a idia de algo em processo de execuo, em curso, de algo que dura. H uma diferena entre o uso brasileiro e o uso portugus. O brasileiro exagera no uso do gerndio, talvez por influncia da lngua inglesa. Alis, est na moda uma coisa horrorosa: "O senhor poderia estar enviando um fax para ns amanh". Por que no dizer "O senhor pode enviar um fax para ns amanh" ? uma moda exagerada essa do gerndio com trs verbos, um cacoete muito esquisito. Em Portugal no se usa esse tipo de coisa. L, em vez de "Estou correndo", diz-se "Estou a correr". Vamos a uma cano de Gonzaguinha, "Explode corao", em que ele usa o gerndio de forma extremamente contundente e interessante: "... Eu quero mais me abrir e que essa vida entre assim como se fosse o sol desvirginando a madrugada quero sentir a dor dessa manh nascendo, rompendo, rasgando tomando meu corpo e ento eu chorando, sofrendo, gostando, adorando, gritando feito louca alucinada e criana eu quero meu amor se derramando no d mais pra segurar explode corao!". Voc viu na letra da cano os versos "Como se fosse o sol / Desvirginando a madrugada". Em Portugal seria "Como se fosse o sol / A desvirginar a madrugada". O gerndio d a idia da coisa em processo de execuo: o sol durante o processo de desvirginar. Isso acontece tambm com os outros verbos no gerndio usados por Gonzaguinha: nascendo, rompendo, rasgando, tomando, chorando, sofrendo, gostando, adorando, gritando, derramando. Esse recurso utilizado no texto de Gonzaguinha d a idia de que tudo est em processo de execuo. Essa a funo bsica do gerndio em portugus.

37

Verbo "ter" e derivadosNeste mdulo discute-se a questo dos verbos compostos ou derivados. Precisamente, a famlia do verbo ter. difcil algum errar a conjugao do verbo ter, seja no presente, no passado ou no futuro. Mas, quando se trata de conjugar os verbos derivados de ter, os verbos compostos, j no h tanta facilidade. Na rua as pessoas comprovam isso. Foi proposta a seguinte questo: Qual a forma correta de se falar: Se a mquina reter o carto ou... Se a mquina retiver o carto. A maioria errou. O correto "Se a mquina retiver o carto." O verbo reter um dos tantos filhos da famlia do verbo ter: deter, reter, entreter, obter, conter, abster, etc. Logo:

mesma coisa: "Quando eu tiver", "Se o goleiro tiver sorte". Ningum diz: "Quando eu ter", "Se o goleiro ter sorte." Assim , "Se a mquina retiver o carto." "Se voc mantiver a calma." "Se a me entretiver a criana." "Se os deputados se abstiverem de votar." Para a conjugao dos verbos derivados do verbo ter o raciocnio simples. Apoie-se no verbo ter, na primeira pessoa do singular do presente do indicativo: Eu tenho. A, fica fcil: Eu detenho, eu mantenho, etc... Depois s seguir esta linha de conjugao.

eu tenho eu retenho eu mantenho eu detenho eu obtenho eu contenho No futuro do subjuntivo a

38

Verbo "vir" e derivadosNeste mdulo o professor Pasquale discute a conjugao de certos verbos derivados ou, como tambm so conhecidos, verbos compostos. De incio sugere a seguinte pergunta ao pblico na rua: "A polcia interviu ou a polcia interveio?" O correto "A polcia interveio". O verbo "intervir" deriva do verbo vir. No presente do indicativo a conjugao do verbo vir "Eu venho Tu vens Ele vem..." Como o verbo "intervir" derivado, sua conjugao feita a partir do verbo vir. "Eu intervenho Tu intervns Ele intervm..." O gramtico e professor Napoleo Mendes de Almeida refora a tese. Afirma: "A conjugao dos verbos compostos deve seguir a conjugao dos verbos simples. O verbo deter, por exemplo. A pessoa no deve dizer "Ele deteu". Sim, "Ele deteve". Assim, deve-se dizer: - "Se a polcia intervier" (no futuro) e no "Se a polcia intervir". - "Eu s comprarei se o preo convier" e no "...se o preo convir". "Eu comprei porque o preo conveio" e no ".. o preo conviu". Para conjugar verbos como intervir, convir, provir, etc. devemos nos basear sempre no verbo vir. Ele base de toda a famlia.

Verbo "reaver" (defectivo)H certos verbos que so complicados quanto ao uso. Um deles o verbo reaver, que significa possuir outra vez, recuperar. O professor Pasquale prope perguntas ao pblico: "Eu reavi o dinheiro ou eu reouve o dinheiro" "Ele reaveu ou ele reouve" "Se eu reaver ou se eu reouver"

"Eles reaveram ou eles reouveram". As respostas so absolutamente desencontradas e o motivo simples. O verbo reaver defectivo, sua conjugao absolutamente irregular. O presente do indicativo incompleto, h apenas duas formas: ns reavemos, vs reaveis. Como as demais formas no existem, aconselhvel usar sinnimos como, por exemplo, o verbo recuperar. J no pretrito perfeito existem todas as formas. (Alis, no existem verbos sem o pretrito perfeito). Se reaver fosse verbo regular seria "eu reavi". Como irregular, apresenta-se assim: Eu reouve Ns reouvemos Tu reouveste Vs reouvestes Ele reouve Eles reouveram A 2 pessoa do singular do pretrito-perfeito gera a raiz de todos os tempos derivados. Basta tirar as trs ltimas letras ( reouveste - ste ) que se encontra a raiz "reouve". reouve + sse = reouvesse ( Imperfeito do Subjuntivo) reouve + ra = reouvera ( Mais-que-perfeito) reouve + r = reouver ( Futuro do Subjuntivo )

39

Verbos IrregularesVerbos terminados em "iar" O saudoso Adoniran Barbosa cantava uma cano em que dizia: " que de um relgio pro outro as hora vareia". Ele tinha o jeito dele, "as hora vareia", com uma linguagem bem popular. S que "as hora" no "vareia", todo mundo sabe que as "horas variam". A hora varia As horas variam O verbo "variar" termina em iar e regular, ou seja, segue um determinado modelo, um determinado paradigma, como esses exemplos: anunciar - anuncia denunciar - denuncia reverenciar - reverencia policiar - policia E o verbo "incendiar", como fica? Ser que est certa a frase "Voc incendia meu corao"? Vamos ver o quer diz a letra da cano "Voc pra mim", gravada por Fernanda Abreu: "... Um segredo inviolvel de uma paixo inflamvel mas que nunca incendeia nem em noite de lua cheia..." Essa a forma correta, "incendeia", do verbo incendiar - que no regular, no segue a conjugao padro. Vamos a mais alguns exemplos de verbos irregulares terminados em iar: mediar - medeia ansiar - anseia remediar - remedeia incendiar - incendeia

odiar - odeia Uma maneira de memorizar esses verbos o nome "Mario": As letras iniciais das cinco palavrinhas formam a palavra "Mario": mediar, ansiar, remediar, incendiar e odiar. um pequeno truque para facilitar a memorizao desses verbos irregulares.

40

Verbos pronominais (orgulhar-se, apaixonar-se etc) redundante dizer que o Brasil grande e por isso tem muitos falares diferentes. Em pases menores, como Portugal e Itlia, por exemplo, os falares variam, em alguns casos, de cidade para cidade. H muita diferena de sotaque e at de vocabulrio. O nosso mineiro tem um hbito muito particular em relao ao verbo com o pronome, o chamado verbo pronominal. H uma cano que, apesar de no ser de um mineiro, ilustra o caso: Cordo, de Chico Buarque. "... ningum , ningum vai me sujeitar/ Arrancar do peito a minha paixo/ Eu no, eu no vou desesperar..." Ningum diz "naquele momento eu desesperei". Dizemos "naquele momento eu me desesperei", "desesperei-me". Os mineiros tm o hbito de comer o pronome oblquo. Em entrevista, Fernando Brant diz: "Eu formei em direito, mas advogado eu no sou. Freqentei a faculdade, formei ...". Correto seria dizer "Eu me formei em direito...". bom lembrar que so pronominais os verbos a seguir: orgulhar-se apaixonar-se dignar-se arrepender-se queixar-se Por outro lado, no so pronominais os verbos abaixo, que, normalmente, so tratados como tal: confraternizar (Os atletas confraternizam. errado dizer "Os atletas se confraternizam") simpatizar ( Eu simpatizo com ela . errado dizer "Eu me simpatizo com ela") deparar (Eu deparei com fulano... errado dizer "Eu me deparei com fulano ...) No utilize o pronome quando ele no existir. Use-o sempre quando o verbo o exigir.

Seja/EstejaMuitas pessoas tm dvida sobre o uso das expresses "seja" e "esteja". H quem troque por "seje" ou "esteje"... uma dvida fcil de entender, porque acontece com freqncia quando conjugamos o presente do subjuntivo. o tempo verbal que usamos em frases como "ela quer que eu fale...", "ele quer que eu beba...", "ela quer que eu

permita..." Existe um esquema simples que podemos utilizar na conjugao desse tempo: Verbos terminados em "AR" - a conjugao termina em "E". Verbo falar - "Ela quer que eu fale..." Verbos terminados em "ER" e "IR" - a conjugao termina em "A". Verbo fazer - "Ela quer que eu faa..." Verbo permitir - "Ela quer que eu permita..." No caso de "seja", trata-se do presente do subjuntivo do verbo "ser". Lulu Santos utilizou a expresso na cano "Assim Caminha a Humanidade": "Ainda vai levar um tempo Pra fechar o que feriu por dentro, Natural que seja assim"... O grupo Baro Vermelho tambm utiliza a expresso na cano "O Poeta Est Vivo": "Se voc no pode ser forte, Seja pelo menos humana"... Nas duas canes a expresso utilizada corretamente, j que os verbos terminados em "ER" levam a vogal bsica "A" no presente do subjuntivo. Mas - e o verbo "estar"? O certo, pela regra, que a vogal bsica seja "E", mas isso no acontece. O verbo "estar" uma exceo. A frase correta, quando usamos o verbo "estar" no presente do subjuntivo, "ela quer que eu esteja..." e no "esteje..." Ento no esquea: Verbo ser - SEJA Verbo estar - ESTEJA

41

Particpio (entregue/entregado)Voc lembra o que particpio? So formas como "falado", "beijado", "bebido", "esquecido"... e por a vai. H verbos, muitos verbos, que tm dois particpios. Na hora de escolher entre um e outro, aparece a confuso. Dois exemplos: o verbo salvar tem dois particpios, salvo e salvado. O verbo entregar tambm: entregado e entregue. O Nossa Lngua Portuguesa foi s ruas perguntar qual a forma correta : "Eu havia entregado o pacote." ou "Eu havia entregue o pacote." Das oito pessoas entrevistadas, quatro acertaram: "Eu havia entregado o pacote". Este o que as gramticas chamam de particpio longo, que termina em ADO ou IDO . O particpio longo usado quando o verbo auxiliar ter ou haver. Os particpios curtos, como "salvo" e "entregue", so usados quando o verbo auxiliar ser ou estar. Portanto: Particpio longo: "Eu havia entregado o pacote." "O rbitro tinha expulsado o jogador" "Ele foi condecorado por ter salvado a moa." Particpio curto: "O pacote foi entregue."

"O jogador foi expulso." "A moa foi salva, e isso lhe valeu uma condecorao". Claro que essa regra vale apenas para verbos que tm dois particpios. Nos verbos com um nico particpio, no h escolha. O verbo fazer, por exemplo, tem um s particpio. Por isso a gente no ouve por a pessoas dizendo "eu tinha fazido a comida", mas apenas "eu tinha feito a comida". Cuidado com o verbo chegar: apesar de muita gente dizer "Eu tinha chego", para a lngua culta o particpio desse verbo "chegado". Em situaes formais, diga e escreva sempre "Eu tinha chegado".

42

Infinitivo (flexo)Observe essa frase: "Ns precisamos lutarmos para podermos vencermos os jogos que vamos disputarmos, do contrrio no iremos nos classificarmos." Muito estranha essa frase, no? Lendo em voz alta, chega a soar mal. Claro que um exemplo exagerado, mas o que queremos mostrar a excessiva preocupao que algumas vezes podemos ter com a flexo do verbo no infinitivo. Vamos ver um trecho da cano "Belos e Malditos", gravada pelo Capital Inicial: "Belos e malditos, feitos para o prazer, os ltimos a sair, os primeiros a morrer..." "Os ltimos a sair" ou "os ltimos a sarem"? "Os primeiros a morrer" ou "Os primeiros a morrerem"? Nesse caso, a dica simples: sempre que o infinitivo for precedido por preposio (que, no caso , "a"), desnecessrio flexionar o verbo. "Os veculos esto proibidos de circular." "Foram obrigados a ficar." Vamos a outro exemplo, a cano "H Tempos", gravada pelo Legio Urbana: "...Tua tristeza to exata, e o hoje o dia to bonito. J estamos acostumados a no termos mais nem isso..." O correto, do ponto de vista formal, "no ter". Mas h quem defenda que a poesia permite esse tipo de liberdade. No caso, o plural - "no termos" - serviria para enfatizar, realar a idia do autor. Em um texto potico, tudo bem, at possvel. Num texto formal, nunca flexione o infinitivo precedido de preposio.

SintaxeConcordncia

"Cabe dez"... "falta vinte"... "sobrou trinta"... "as mina"... "teus cabelo da hora"... "eu quero vinte po"... "isso custa cinco real"... No novidade para ningum que o brasileiro, quando fala, no d muita importncia concordncia. A nenhum tipo de concordncia! Cometer erros de concordncia na fala do cotidiano muito comum, mas no texto formal necessrio que a concordncia esteja absolutamente rigorosa. Vamos a um trecho da cano "Msica Urbana", do Capital Inicial: "Tudo errado, mas tudo bem. Tudo quase sempre como eu sempre quis. Sai da minha frente, que agora eu quero ver. No me importam os seus atos, eu no sou mais um desesperado. Se eu ando por ruas quase escuras, as ruas passam" Voc notou como o letrista fez a concordncia: "no me importam os seus atos". Os atos no tm importncia, portanto eles no importam. A concordncia est correta, o que exigvel ao menos na lngua formal. desejvel que a gente acerte a concordncia no cotidiano tambm. Basta concordar verbo e sujeito. "Atos" est no plural, ento bvio que o verbo tambm deve estar no plural: "importam". Acerte a concordncia voc tambm.

43

Casos delicados de concordncia (porcentagem)s vezes a concordncia verbal nos prega uma pea. Para ilustrar, o "Nossa Lngua Portuguesa" foi at a rua e formulou algumas perguntas ao pblico. "Pedro ou Paulo ser ou sero o prximo presidente da Repblica?" A maioria das pessoas acerta. "Pedro ou Paulo ser ...". Somente um dos dois ser o prximo presidente da Repblica - o ou que aparece na orao excludente, indica a excluso de Pedro ou de Paulo da cadeira de Presidente da Repblica. Logo, o verbo fica no singular. Contudo, se algum perguntar sobre sua preferncia musical, a resposta poder ser: Tom ou Caetano me agradam. O ou presente nesta orao no excludente, logo o verbo assume o plural. Outra pergunta: 40% dos eleitores preferiram ou preferiu 40% dos eleitores preferiram. A expresso que vem depois do percentual est no plural ( eleitores ) e a no h outra opo. 40% do eleitorado preferiu ou preferiram. Muita gente acertou. O termo que vem depois do percentual singular, logo o verbo tambm fica no singular. A forma correta "40% do eleitorado preferiu".

"40% preferiu ou preferiram". Nesta frase no h nada depois da expresso percentual. Ento vale o nmero 40, que plural. "40% preferiram, 1% preferiu".

44

Concordncia expletivas

com

pronome

relativo

e

expresses

Voc j deve ter ouvido muita gente falar "no foi eu". Acham que o "foi" vale para qualquer caso. No bem assim. Para ilustrar essa questo o professor Pasquale busca referncia na msica "Foi Deus que fez voc", de Luiz Ramalho. "... Foi Deus que fez o cu... Foi Deus que fez voc... Foi Deus..." "Foi Deus que fez". Porque "foi"? Porque Deus 3 pessoa, Deus igual a "ele" e "ele foi". Agora, no cabvel dizer "Eu foi". Logo, "no foi eu" est errado. O correto "no fui eu", "no fomos ns". O verbo que vem depois da palavra "que" tambm deve concordar com a palavra que vem antes. Portanto, "Fui eu que fiz" (eu fui, eu fiz),"Fomos ns que fizemos", "Foram eles que fizeram". Outra coisa que voc no deve confundir o caso da expresso expletiva " que", que fixa. A cano "S ns dois", de Joaquim Pimentel, pode ilustrar muito bem. " S ns dois que sabemos o quanto nos queremos bem S ns dois que sabemos S ns dois e mais ningum..." A expresso " que" fixa. Nunca diga "So nessas horas que a gente percebe". O correto dizer "Nessas horas que a gente percebe" ou " nessas horas que a gente percebe". " que" uma expresso de realce, fixa e fcil de ser percebida. Pode, tambm, ser eliminada. Veja os exemplos: "S ns dois que sabemos" "S ns dois sabemos" " nessas horas que a gente percebe" - Nessas horas a gente percebe". A expresso " que", expletiva, pode ser perfeitamente eliminada sem prejuzo da estrutura frasal.

Concordncia "mesmo"

nominal:

as

palavras

"obrigado"

e

"Eu mesma fiz essa bolsa", assim que se fala? possvel, mas necessrio fazer a concordncia. Quando quem fala homem deve dizer "eu mesmo". Se for mulher, "eu mesma"

Voc, referindo-se a uma mulher, deve dizer "voc mesma", "ela mesma". No plural e havendo pelo menos um homem, "ns mesmos". Havendo s mulheres "ns mesmas". A concordncia deve ser feita quando necessrio agradecer. O homem diz "Obrigado". A mulher, "obrigada".

45

Concordncia nominal: proibido/ proibidaUma pessoa vai a um edifcio comercial, a um ambiente mais formal, e v ali uma tabuleta: " proibido a entrada" Pouco depois, ao entrar no prdio ao lado, a pessoa depara-se com outra tabuleta: " proibida a entrada" Uma confuso, no ? O programa foi s ruas consultar algumas pessoas e perguntou quais eram as formas corretas: "No permitido a entrada" ou "No permitida a entrada" " proibido a entrada" ou " proibida a entrada" Houve empate no nmero de respostas certas e erradas, o que mostra que a confuso mesmo grande. Vamos a alguns exemplos para esclarecer essa questo: A sopa boa Sopa bom A cerveja boa Cerveja bom Quando se generaliza, quando no se determina, no se faz a concordncia, usa-se o masculino com valor genrico, com valor neutro. Portanto: Sopa bom / bom sopa Cerveja bom / bom cerveja Entrada proibido / proibido entrada Entrada no permitido / No permitido entrada Se no existe um artigo ou uma preposio antes de "entrada", se no h nenhum determinante, o particpio passado dos verbos "proibir" e permitir" deve ficar no masculino. Mas, se houver algum determinante, o verbo deve, ento, concordar com a palavra "entrada". Veja as formas corretas: proibido entrada proibida a entrada N