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APOSTILA DE CRIMINOLOGIA PROF. ROBERTO BITTENCOURT OLINGER

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Page 1: APOSTILA DE CRIMINOLOGIA - Forum de Concursoscomo características da criminologia moderna: O crime deve ser analisado como um problema com sua face humana e dolorosa. Aumenta o espectro

APOSTILA DE CRIMINOLOGIA

PROF. ROBERTO BITTENCOURT OLINGER

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1. CONCEITO, CARACTERÍSTICAS, OBJETOS, MÉTODO, FUNÇÕES,

MISSÕES E CLASSIFICAÇÃO DA CRIMINOLOGIA.

A palavra Criminologia foi empregada pela primeira vez em 1883, por Paul

Topinard, e aplicada internacionalmente por Raffaele Garófalo, em sua obra

"Criminologia", de 1885.

Etimologicamente, Criminologia tem origem do latim crimino (crime) e do

grego logos (estudo, tratado), vindo a significar o ―estudo do crime‖.

No magistério de Penteado Filho, Criminologia pode ser conceituada como

―a ciência empírica (baseada na observação e na experiência) e interdisciplinar

que tem por objeto de análise o crime, a personalidade do autor do

comportamento delitivo, da vítima e o controle social das condutas criminosas‖.

―Cabe definir a Criminologia como ciência empírica e interdisciplinar, que se ocupa

do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima e do controle social do

comportamento delitivo, e que trata de subministrar uma informação válida,

contrastada, sobre a gênese, dinâmica e variáveis principais do crime – contemplado este

como problema individual e como problema social.‖ (Garcia-Pablos de Molina).

Antonio García-Pablos de Molina e Luiz Flávio Gomes (2008, p. 32) apontam

como características da criminologia moderna:

O crime deve ser analisado como um problema com sua face humana e

dolorosa.

Aumenta o espectro de ação da criminologia, para alcançar também a

vítima e as instâncias de controle social;

Acentua a necessidade de prevenção, em contraposição à idéia de

repressão dos modelos tradicionais.

Substitui o conceito de ―tratamento‖ (conotação clínica e individual) por

―intervenção‖ (noção mais dinâmica, complexa, pluridimensional e

próxima da realidade social).

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Empresta destaque aos modelos de reação social ao delito como um dos

objetos da criminologia.

Não afasta a análise etiológica do delito (desvio primário).

Distinções entre Criminologia Tradicional e Criminologia Moderna:

CRIMINOLOGIA

TRADICIONAL

CRIMINOLOGIA

MODERNA

OBJETO Estudo do crime e do

delinqüente.

Incorpora o estudo da

vítima e do controle social

ORIENTAÇÃO Orientação repressiva Orientação prevencionista

INTERVENÇÃO

Tratamento do criminoso

Intervenção no cenário do

crime (causas complexas e

múltiplas: individuais e

comunitárias)

O delito nasce na

comunidade e deve ser

enfrentado no âmbito da

comunidade

PARADIGMA

Análise etiológica – estuda

as causas/raízes da

criminalidade

Análise dos modelos de

reação ao delito (processos

de criminalização), sem

renunciar a análise

etiológica do delito (causas)

A criminologia é uma ciência do ―ser‖, ou seja, visa entender e explicar a

realidade, utilizando-se para tanto de um método empírico (indutivo) e

interdisciplinar. Empírico, pois analisa a realidade através do uso dos sentidos,

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onde os dados coletados são concretos, materialmente verificáveis (uso da

estatística) e é indutivo, pois em decorrência da observação de premissas

específicas é possível se construir uma teoria genérica capaz de explicar

determinado fenômeno. Interdisciplinar, pois faz uso do conhecimento

decorrente de diversas ciências, como a Biologia, a Psicologia e a Sociologia,

para estudar o crime, o criminosos, a vítima e o controle social.

Diferentemente do direito, caracterizado como uma ciência do ―dever

ser‖ e que se utiliza de um método lógico e dedutivo que parte de uma

premissa geral (a lei) para chegar a uma conclusão particular. Enquanto o

direito valora o fato, definindo-o ou não como algo lesivo para a coletividade, a

criminologia o analisa e explica, como um fenômeno real.

Atualmente o objeto da criminologia está dividido em quatro vertentes:

Delito – analisa a conduta antissocial, suas causas geradoras, o efetivo

tratamento dado ao delinqüente visando sua não reincidência, bem como

as falhas da profilaxia preventiva. Para a criminologia, crime é um

fenômeno social, comunitário e que se mostra como um ―problema‖

maior, necessitando entender suas múltiplas facetas.

Delinqüente – Para a Escola Clássica o criminoso era um ser que pecou,

que optou pelo mal. Para a Escola Positiva o criminoso era um ser

atávico, preso a sua deformação patológica (nascia criminoso). Para a

Escola Correcionalista o criminoso era um ser inferior e incapaz de se

governar. Por fim, para o Marxismo, o criminoso era uma vítima

inocente das estruturas econômicas. Para a Criminologia Moderna o

delinqüente não possui mais a mesma importância, ficando em segundo

plano.

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Vítima – O estudo da vítima passou por três grandes momentos

históricos: (A) ―Idade do Ouro‖ compreende desde os primórdios a

civilização até o fim da Alta Idade Média (época da justiça privada), (B)

Período de Neutralização surgiu quando o estado reivindica o

monopólio da jurisdição, (C) Redescobrimento surge após a 2ª guerra

mundial, com a revisão do papel da vítima no fenômeno criminoso

(vitimologia).

Controle social – constitui-se em um conjunto de mecanismos e sanções

sociais que buscam submeter os indivíduos às normas de convivência

social. Há dois sistemas de controle: controle social informal (família,

escola, religião, profissão, etc) com visão preventiva e educacional e o

controle social formal (polícia, Ministério público, justiça, Administração

Penitenciária, etc) o qual é mais rigoroso que o anterior e possui

conotação político-criminal.

São missões (finalidade) da Criminologia:

Compreender cientificamente o crime, incluindo todos os seus

personagens (criminoso, vítima e sociedade);

Preveni-lo;

Intervir com eficácia e de modo positivo no criminoso.

A função primordial da Criminologia é a junção de múltiplos conhecimentos

mais seguros e estáveis relacionados ao crime, ao criminoso, à vítima e ao

controle social, com o objetivo de prevenir e interferir no homem delinqüente.

Ressalte-se, que isto não significa que estamos diante de um amontoado de

números e dados acumulados, mas sim diante de conhecimento científico

decorrente de análises empíricas. Pode-se dizer com acerto que é função da

Criminologia desenhar um diagnóstico qualificado e conjuntural sobre o delito.

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Frise-se: não estamos diante de uma ciência exata, capaz de traçar regras

precisas e indiscutíveis sobre as causas e efeitos do ilícito penal.

A doutrina dominante entende que a Criminologia, bem como a divisão

adotada pela Unesco, se subdivide em dois ramos: (A) Criminologia Geral –

consistente na sistematização, comparação e classificação dos resultados obtidos

no âmbito das ciências criminais acerca do crime, criminoso, vítima, controle

social e criminalidade, (B) Criminologia Clínica – consistente na aplicação dos

conhecimentos teóricos daquela para o tratamento dos criminosos.

2. A CRIMINOLOGIA NA HISTÓRIA - A EVOLUÇÃO HISTÓRICA

DA CRIMINOLOGIA.

Não existe certeza científica quanto ao surgimento da Criminologia. Para a

maioria dos doutrinadores, o fundador da Criminologia moderna foi Cesare

Lombroso, em 1876, quando do seu livro ―O Homem Delinqüente‖. Para

outros, foi o antropólogo francês Paul Topinard, que em 1883 utilizou pela

primeira vez a expressão, Criminologia. Existem ainda os que defendem que a

Escola Clássica, através de Francesco Carrara (Programa de direito criminal,

1859), traçou os primeiros pensamentos criminológicos.

Como bem explica García-Pablos de Molina, a incerteza existe, uma vez que

o crime é um fato tão antigo como o homem e sempre preocupou e fascinou a

humanidade. Assim, o marco inicial, se com foi com a Escola Clássica, com a

Escola Positiva, ou através de Topinard, fica em segundo plano, pois

atualmente define-se duas etapas sobre o estudo do crime: a etapa ―pré-

científica‖ e a ―científica‖, cuja linha divisória foi dada pela escola Positiva.

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QUADRO SINÓTICO

INSTITUTO CONTÉUDO

Fases

Pré-cientifica

Grupo de teorias que

explicam o crime e o

criminoso por meio de

pseudociências.

Científica

Possui um método

científico claro e as

teorias desenvolvidas

são consideradas como a

gênese da moderna

criminologia. Marco

científico da

Criminologia se dá com

a publicação da obra

―L’uomo Delinquente‖,

de Lombroso, em 1876.

PRECURSORES (FASE PRÉ-CIENTÍFICA)

Conceito

Fase entendida como pré-científica da Criminologia (antecede o

Positivismo Criminológico), em que diversas investigações

criminológicas foram feitas com base no empirismo, muitas

delas atreladas às crenças e convicções populares.

Espécies Demonologia Entendida como a mãe da Criminologia,

tenta explicar o crime por meio de estudo

dos demônios, atribuindo a cada criminoso

um tipo de diabo.

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Fisionomia Segundo ela, a partir da análise das

características físicas do indivíduo, poderia

se chegar às suas qualidades e defeitos. O

feio seria proporcional à maldade.

Frenologia Ciência segundo a qual cada faculdade

mental está diretamente vinculada a uma

parte do cérebro e o tamanho de cada parte é

proporcional ao desenvolvimento da

faculdade.

Psiquiatria Tem como expoente Philippe Pinel, que após

desencarcerar mais de 50 enfermos mentais,

passou o louco a ser tratado como não um

endemoniado, e sim como um doente que

precisa tratamento. Separou enfermidade

mental da deliquência.

3. AS ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS.

O apogeu do Iluminismo ocorreu durante a revolução francesa, sendo seus

expoentes Voltaire, Montesquieu e Rousseau, os quais teceram severas críticas à

legislação criminal do século XVIII. Devida a importância de tal movimento,

necessário conhecer as principais escolas criminológicas.

3.1. Escola Clássica.

Os Clássicos partiram de duas teorias distintas: o Jusnaturalismo (direito

natural), que decorria da natureza eterna e imutável do ser humano, e o

Contratualismo (contrato social, de Rousseau), em que o estado surge a partir

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de um grande pacto entre os homens, no qual estes cedem parcela de sua

liberdade e direitos em prol da segurança coletiva.

Princípios Fundamentais:

O crime é um ente jurídico, não é uma ação, mas sim uma infração;

A punibilidade deve ser baseada no livre-arbítro;

A pena deve ter nítido caráter de retribuição, para defesa da sociedade;

O método é dedutivo: trabalha-se com normas/dogmas e daí então se

deduz.

Principais expoentes:

Cesare Bonesana, Marquês de Beccaria - Nasceu em Milão, em 1738 e

faleceu em 1794. Revolta-se contra as arbitrariedades da justiça da época.

Em 1764, aos 27 anos, apresenta a obra "Dos delitos e das penas".

Destacam-se entre os postulados fundamentais de Beccaria:

i) somente as leis podem fixar as penas para os crimes;

ii) somente os magistrados poderão julgar os delinqüentes;

iii) a atrocidade se opõe ao bem público;

iv) os juízes não podem interpretar as leis penais;

v) deverá existir proporção entre os delitos e as penas;

vi) a finalidade das penas não é atormentar o culpado, mas impedir que

agrida de novo a sociedade e, por conseqüência, destruir a todos;

vii) as acusações não devem ser secretas;

viii) a tortura do acusado durante o processo é uma ignomínia;

ix) o réu não deve ser considerado culpado antes da sentença

condenatória;

x) não se deve exigir do réu o juramento;

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xi) a prisão preventiva não é sanção, mas apenas o meio de assegurar à

pessoa do presumível culpado e, portanto, deve ser a mais leve

possível;

xii) as penas devem ser iguais para todas as pessoas;

xiii) o roubo é filho da miséria e do desespero;

xiv) as penas devem ser moderadas;

xv) a sociedade não tem direito de aplicar a pena de morte;

xvi) as penas não serão justas se a sociedade não houver empregado

meios de prevenir os delitos;

xvii) a prevenção dos delitos é muito mais útil que a repressão penal.

Francesco Carrara - Foi, sem dúvida alguma, o artífice da escola clássica,

afirmava: Publicou‖Programma de derecho criminal‖, surgindo dois

princípios:

i) que o principal objetivo do direito criminal é prevenir os abusos por

parte da autoridade;

ii) que o crime não é uma entidade de fato, mas de direito.

3.2. Escola Positiva

Tem origem na 2ª metade do século XIX. Pode-se afirmar que a Escola

Positiva teve três fases: antropológica (Lombroso), sociológica (Ferri) e jurídica

(Garófalo). Principais expoentes:

Cesare Lombroso - Nasceu em Verona, em 6 de novembro de 1835.

Publicou em 1876 o livro ―O Homem Delinquente‖. É considerado o pai

da antropologia criminal. Lombroso traçou um perfil dos criminosos,

através de suas características fisionômicas. Dados como estrutura

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toráxica, estatura, peso, tipo de cabelo, comprimento de dedos e pernas

foram analisados.

Utilizou-se também de exames de crânios, buscando apontar o

―criminoso nato‖. Suas pesquisas foram feitas na maioria em

manicômios e prisões, concluindo que o criminoso é um ser atávico, que

nasce criminoso. Examinou o crânio de um criminoso multirreincidente –

Vilella – e encontrou uma série de anomalias, especialmente na fosseta

occipital media. Esta fosseta occipital não foi encontrada em nenhum

outro criminoso. Lombroso assim descrevia, por exemplo, o estuprador:

―o olho é cintilante, a fisionomia é delicada, os lábios e as pálpebras

volumosos; em maioria são frágeis, às vezes disformes‖. Os matadores e

os ladrões arrombadores têm cabelos crespos, crânios deformados, fortes

mandíbulas, enormes zigomas e freqüentes tatuagens; são cobertos de

cicatrizes na cabeça e no tronco‖. ―Os homicidas habituais tem olhar

vítreo, frio, imóvel, algumas vezes sanguíneo, e injetado; o nariz

freqüentemente aquilino ou mesmo adunco como o das aves de rapina,

sempre volumosos, mandíbulas grandes, orelhas longas, largos zigomas,

os cabelos crespos, abundantes e escuros. Freqüentemente a barba é

escassa, os dentes caninos muitos desenvolvidos, os lábios finos; muitas

vezes há nistágmo e a contração unilateral do rosto que mostra os dentes

caninos como uma ameaça‖.

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Inúmeras críticas foram feitas a Lombroso, justamente pelo fato da

generalização, do local dos seus estudos (buscar um perfil de criminoso

em uma penitenciária, não seria confiável, pois evidente que todos que lá

estão cometeram crimes, sendo portanto, tal perfil, equivocado), etc. Em

socorro do mestre, surgiu o pensamento de Ferri.

Lombroso também desenvolveu teses referentes as mulheres,

através da obra ―La Donna delinqüente, La prostituta e La Donna

normale‖ (1895). ―Na maneira de matar, possuem terrível superioridade

sobre o criminoso nato. Cometem o crime com crueldade requintada e

diabólica. É preciso que a vítima sofra e que ela saboreie a sua morte[...]

É a necessidade tagarelar, de tornar-se interessante que faz de toda

mulher criminosa uma imprudente nata‖.

Neomolbrosianos? Ao contrário do que se pode imaginar, a concepção

de determinação biológica não é uma absurda hipótese fruto de uma

mente maligna. No ano de 2012, a Sociedade Americana de

Criminologia, publicou mais de uma dezena de investigações

relacionadas à biologia criminal. Em 2013, o New York Times publica

matéria intitulada ―Assassinos por natureza‖, de Adrian Raine.

Retomando a formulação lombrosiana e utilizando-se da

neurocriminologia, a Autora acredita ser possível encontrar marcos

biológicos para a etiologia do crime.

Enrico Ferri – (1856-1929) Genro e discípulo de Lombroso, foi o criador

da chamada ―sociologia criminal‖. Para Ferri a criminalidade derivava

de fenômenos antropológicos, físicos e culturais. Enumerou quatro

espécies de meios de combate à criminalidade: 1) meios preventivos; 2)

meios reparatórios; 3) meios represssivos; 4) meios excluidores. Para ele

o mais eficiente meio de combate à criminalidade é través dos meios

preventivos, o qual designou de ―substitutivos penais‖.

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Rafael Garófalo – (1851-1934) Afirmou que o crime estava no homem e se

manifestava como degeneração. Criou o conceito de periculosidade.

Criou outra forma de intervenção penal – a medida de segurança.

3.3. Escola Eclética ou Crítica

Os seguidores dessa escola definem o conceito de crime conforme a escola

positiva ou fazem uma reprodução da escola clássica.

O delito é sempre um ato humano, portanto, uma atuação voluntária

transcendente ao mundo exterior.

O delito é também um ato contrário ao direito, um ato formal, que ataca um

mandato de proibição de ordem jurídica, implicando materialmente numa lesão

ou perigo.

O delito é, finalmente, um ato culpável; melhor afirmando: um ato doloso

ou culposo de um indivíduo responsável.

Segundo Turati, o crime teria como elemento principal as más condições

econômicas da sociedade, e a miséria o fator primordial da existência da

criminalidade. Tarde explica como causa do crime, as causas sociais complexas.

Alexander Lacassagne afirmou:

"O meio social é o caldo de cultura da criminalidade; o micróbio

é o criminoso, um elemento que não tem importância, senão no

dia em que acha o caldo que o faça fermentar. As sociedades têm

os criminosos que merecem."1

1 De Aragão, António Moniz Sodré. As Três Escolas Penais, 3ª ed. Saraiva: São Paulo, 1928.

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3.4. A Terceira Escola

Surgida no início do séc. XX, a Terceira Escola tentou conciliar preceitos

clássicos e positivistas. São fundamentos da terceira escola:

i) O direito penal deveria permanecer como ciência independente,

separando-se do pensamento de Lombroso, que pretendia incluí-lo na

criminologia.

ii) O grande número de causas do delito não é exclusivo da constituição

criminal do indivíduo, adotando-se a teoria da escola francesa, que

invoca o sujeito predisposto, o que irá tornar-se em delinqüente no

momento em que o meio se tornar favorável.

iii) É necessário o trabalho conjunto de penalistas e sociólogos para atingir

as reformas sociais que melhorem as condições de vida do povo,

dessa forma aceitando-se os princípios da escola francesa (exógenos).

iv) A pena é como uma coação psicológica sobre os indivíduos,

examinando-a no plano de imputáveis ou inimputáveis.

Entre aqueles que organizaram a terceira escola temos Carnevale e

Bernardino Alimena.

3.5. Escola dogmática sociológica, biossociológica de Von Liszt

Pela teoria de Von Liszt, o homem é o centro de seus estudos. Esta Escola

propôs a independência do Direito Penal, entretanto, por aceitar os princípios

da Escola Positiva (delito como fato natural e social, admitindo as causas

endógenas e exógenas) e os da Escola Clássica (delito como ente jurídico e o

livre arbítrio), veio a se tornar eclética.

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Define o delito com um fato biossocial e ambiental, mas examinado

axiologicamente como ente jurídico. A pena, apesar de ser uma grande

preocupação para essa escola, não é um fim em si mesma, mas um meio. Aceita

a multa, a prisão condicional, a pena correcional e também a absolutória.

4. TEORIAS CRIMINOLÓGICAS

Criminologia Tradicional - procurou identificar as causas do crime e como é

possível preveni-lo. Dentro dessa corrente, entre as teorias as que mais se

destacam são:

I - Teorias Ecológicas ou da Desorganização Social (Escola de Chicago) –

(1920/1940): É o berço da moderna Sociologia americana. Surge com o

crescimento desordenado da cidade de Chicago, que se expandiu do centro

para a periferia, dando origem a graves problemas sociais, econômicos e

culturais. Segundo esta teoria, a ordem social, estabilidade e integração

contribuem para o controle social e a conformidade com as leis, enquanto a

desordem e a má integração conduzem ao crime e à delinqüência. Tal teoria

propõe ainda que quanto menor a coesão e o sentimento de solidariedade entre

o grupo, a comunidade ou a sociedade, maiores serão os índices de

criminalidade.

II - Teorias da Subcultura Delinqüente - Desenvolvida pelo sociólogo Albert

Cohen (1955), esta teoria defende a existência de uma subcultura da violência,

que faz com que alguns grupos passem a aceitar a violência como um modo

normal de resolver os conflitos sociais. Mais que isso, sustenta que algumas

subculturas, na verdade, valorizam a violência, e, assim como a sociedade

dominante impõe sanções àqueles que deixam de cumprir as leis, a subcultura

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violenta pune com o ostracismo, o desdém ou a indiferença os indivíduos que

não se adaptam aos padrões do grupo. Exemplo desta teoria são as gangues de

jovens delinqüentes, que passam a aceitar os valores daquele grupo, mais do

que os valores sociais dominantes.

III - Teoria da Anomia - Uma das mais tradicionais explicações de cunho

sociológico acerca da criminalidade é a teoria da Anomia, de Merton (1938).

Segundo essa abordagem, a motivação para a delinqüência decorreria da

impossibilidade de o indivíduo atingir metas desejadas por ele, como sucesso

econômico ou status social. Esse fracasso no atingimento de suas aspirações,

leva à Anomia, ou seja, a manifestação comportamental em que as normas

sociais são ignoradas ou contornadas.

Criminologia Crítica - Ao indagar as causas do crime, a Criminologia

Crítica pesquisa a reação social, ampliando, assim, o campo de investigação

para abranger as instâncias formais de controle como fator criminógeno (as leis,

a Polícia, o Ministério Público e os Tribunais). Buscando a resposta sob o ângulo

de uma problemática maior, defende que não há outra solução para o problema

criminal senão a construção de uma nova sociedade, mais justa, igualitária e

fraterna; menos consumista e menos sujeita às vicissitudes dos poderosos.

Estuda também o papel da vítima. Principais teorias da Criminologia Crítica:

I - Teoria da Rotulação, do etiquetamento ou Labeling Approach (surge na década

de 1960) - Seus principais expoentes foram Erving Goffman e Horward Becker.

Esta teoria considera que as questões centrais da teoria e da prática

criminológicas não se relacionam ao crime e ao delinqüente, mas,

particularmente, ao sistema de controle adotado pelo Estado no campo

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preventivo, no campo normativo e na seleção dos meios de reação à

criminalidade. No lugar de se indagar os motivos pelos quais as pessoas se

tornam criminosas, deve-se buscar explicações sobre os motivos pelos quais

determinadas pessoas são estigmatizadas como delinqüentes, qual a fonte da

legitimidade e as conseqüências da punição imposta a essas pessoas. São os

critérios ou mecanismos de seleção das instâncias de controle que importam, e

não dar primazia aos motivos da delinqüência. Em suma, de acordo com

Penteado Filho, para o Labeling Approach a ―criminalidade não é uma qualidade da

conduta humana, mas a conseqüência de um processo em que se atribui tal “qualidade”

(estigmatização)‖.

Segundo o citado doutrinador, a sociedade define o que entende por

―conduta desviante‖, isto é, todo comportamento considerado constrangedor,

perigoso, impondo sanções àqueles que se comportarem desta forma. Ou seja,

condutas desviantes são aqueles que as pessoas de uma sociedade rotulam às

outras que as praticam.

Há duas correntes dentro da Teoria do Labeling Approach. A primeira e

mais radical sustenta que a criminalidade é apenas o etiquetamento aplicado

por delegados, promotores, juízes, ou seja, pelas instâncias formais de controle

social. A outra, menos radical, entende que o etiquetamento não se localiza

apenas no controle formal, mas também no informal, ou seja, família, escola

(―irmão ovelha negra‖, ―estudante rebelde‖, etc).

Por fim, importante destacar que a distinção existente entre a

Criminologia Positivista e o Labelling Approach, no que diz respeito aos

paradigmas de controle social do delito. Enquanto na Positivista se utiliza o

paradigma etiológico (investiga as causas da criminalidade), no Labelling

Approach, utiliza-se o paradigma de controle (investiga-se os processos de

criminalização).

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II - Criminologia Radical ou Criminologia Marxista (surge na década de 70) -

Baseia-se na análise marxista da ordem social. Considera o problema criminal

insolúvel em uma sociedade capitalista, sendo necessária a transformação da

própria sociedade, uma vez que sustenta ser o capitalismo a base da

criminalidade, na medida em que promove o egoísmo, o qual leva o homem a

delinqüir.

III - Criminologia Abolicionista (Anos 90) - apresenta a proposta de acabar com

as prisões e abolir o próprio Direito Penal, substituindo ambos por uma

profilaxia de remédios para as situações—problemas com base no diálogo, na

concórdia e na solidariedade dos grupos sociais, para que sejam decididas as

questões das diferenças, choques e desigualdades, mediante o uso de

instrumentos que podem conduzir à privatização dos conflitos, transformando

o juiz penal em um juiz civil.

IV - Criminologia Minimalista (Anos 90) – sustenta que é preciso limitar o

Direito Penal, que está a serviço de grupos minoritários, tornando-o mínimo,

porque a pena, representada em sua manifestação mais drástica pelo Sistema

Penitenciário, é uma violência institucional que limita direitos e reprime

necessidades fundamentais das pessoas, mediante a ação legal ou ilegal de

servidores do poder, legítima ou ilegitimamente investidos na função.

V - Criminologia Neo-realista (Anos 90) - Esta teoria admite que as frágeis

condições econômicas dos pobres na sociedade capitalista fazem com que a

pobreza tenha seus reflexos na criminalidade, reconhecendo, contudo, que essa

não é a única causa da atitude criminosa, também gerada por fatores como:

expectativa super-dimensionada, individualismo exagerado, competitividade,

agressividade, ganância, anomalias sexuais, machismo etc. Defende, pois, que

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só uma política social ampla pode promover o justo e eficaz controle das zonas

de delinqüência, desde que os Governos, com determinação e vontade,

compreendam que carência e inconformidade, somadas à falta de solução

política, geram o cometimento de crimes.

5. ESTATÍSTICA CRIMINAL, CIGRA NEGRA E PROGNÓSTICO

CRIMINAL.

5.1. Estatística Criminal.

Segundo Nestor Sampaio Penteado Filho, depois do século XIX, as ciências

criminais alcançaram projeção, e por tal razão começaram a se preocupar com o

estudo do fenômeno da criminalidade, levando em considerações suas causas.

Os criminólogos sustentam que, por intermédio das estatísticas criminais, pode-

se conhecer o liame causal entre os fatores da criminalidade e os ilícitos

criminais praticados.

Assim, as estatísticas criminais servem para fundamentar a política criminal

e a doutrina de segurança pública no tocante a prevenção e à repressão da

criminalidade. Todavia, necessário tomar cuidado quando da análise das

estatísticas oficias, uma vez que uma fatia significativa de delitos não são

comunicados ao Poder Público2, seja por inércia ou desinteresse das vítimas,

quer por outras causas, dentre as quais os erros de coleta e a manipulação de

dados pelo Estado3.

Por tais razões, importante diferenciar a criminalidade real da criminalidade

revelada e da cifra negra. Criminalidade real é a quantidade efetiva de crimes

perpetrados pelos delinqüentes. Criminalidade revelada é o percentual que

2 O núcleo de estudos de violência da USP calcula de apenas ⅓ dos crimes é noticiado ao Estado. 3 A Folha de São Paulo, na edição de 17/01/2005, noticia que casos de homicídio eram registrados como ―encontro e cadáver‖ ou ―morte a esclarecer‖ aduzindo o mascaramento de dados criminais.

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chega ao conhecimento do Estado. Cifra Negra é a porcentagem não

comunicada ou elucidada.

5.2. Cifra Negra.

Como já explicitado acima, são os dados da criminalidade que norteiam a

correta elaboração das normas jurídicos-penais. Mas como esses dados são

obtidos? E mais, são confiáveis?

Tais dados apenas se oficializam, em termos criminais, segundo três atos:

detecção do crime + notificação + registro em boletim de ocorrência.

Todavia, por diversas vezes esses dados não se mostram plenamente

confiáveis por uma série de fatores. Um desses fatores é a manipulação estatal,

pela qual, governantes inescrupulosos, visando benefícios eleitorais, maquiam a

realidade das estatísticas. Outro fator são as falhas que ocorrem quando do

registro da ocorrência, por falha da polícia. Por fim, inúmeros delitos não são

comunicados pelas vítimas. Inúmeras razões levam a tal causa:

i) A vítima omite o ato criminoso por vergonha ou medo (crimes sexuais);

ii) A vítima entende que é inútil procurar a polícia, pois o bem violado é

mínimo (pequenos furtos);

iii) A vítima é coagida pelo criminoso (vizinho ou conhecido);

iv) A vítima é parente do criminoso;

v) A vítima não acredita no aparato policial nem no sistema judicial, etc.

Neste contexto, surge o que denominamos cifra negra, isto é, o número de

delitos que por alguma razão não são levados ao conhecimento das

autoridades, contribuindo para uma estatística divorciada da realidade.

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Existe ainda, uma denominada cifra dourada, que segundo Eduardo Luiz

Santos Cabette ―representa a criminalidade de “colarinho branco”, definida como

práticas antissociais impunes ao poder político e econômico (a nível nacional e

internacional), em prejuízo da coletividade e dos cidadãos e em proveito das oligarquias

econômicas-financeiras‖.4

Desta feita, duas são as falhas nos dados estatísticos oficiais: a cifra negra,

que significa a ausência de dados de crimes de rua, como furtos, roubos,

homicídio, estupros, etc, e a cifra dourada, que significa a ausência de registro

dos crimes políticos, ambientais, de corrupção, etc.

As cifras negras, ou campo obscuro da criminalidade, são uma

preocupação histórica da criminologia.

5.3. Prognóstico Criminológico.

É a probabilidade do criminoso reincidir, em razão de certos dados

estatísticos coletados. Nunca haverá certeza, porque não se conhece por

completo o consciente do autor.

Os prognósticos podem ser clínicos ou estatísticos. Clínicos são aqueles

em que se faz um detalhamento dos criminosos, por meio da

interdisciplinaridade: médicos, psicólogos, assistentes sociais, etc.

Estatísticos são aqueles baseados em tabelas de predição, que não levam em

conta certos fatores internos e só servem para orientar o estudo de um tipo

específico de crime e de seus autores (condenados).

4 In: http://jus.com.br/revista/texto/9497/as-estatisticas-criminais-sob-um-enfoque-criminologico-critico. Acesso em: 20/05/2013.

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6. CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMINOSOS

As principais classificações dos criminosos foram produzidas pela Escola

Clássica. Para Lombroso, os criminosos dividem-se em:

i) Criminoso nato: influência biológica, estigmas, instintos

criminosos, um selvangem da sociedade, o degenerado (cabeça

pequena, deformada, fronte fugidia, sobrancelhas salientes, maças

afastadas, orelhas malformadas, braços cumpridos, face enorme,

tatuado, impulsivo, mentiroso, falador de gírias, etc);

ii) Criminosos loucos: perversos, loucos morais, alienados mentais

que devem permanecer no hospício;

iii) Criminosos de ocasião: predispostos hereditariamente, são

pseudocriminosos; ―a ocasião faz o ladrão‖, assumem hábitos

criminosos influenciados por circunstâncias;

iv) Criminosos por paixão: sanguíneos, nervosos, irrefletidos, usam

da violência para resolver questões passionais, exaltados.

Por seu turno, Enrico Ferri classificou os criminosos em:

i) Criminoso nato;

ii) Criminoso louco: inclui os semiloucos e fronteiriços;

iii) Criminoso ocasional;

iv) Criminoso habitual: reincidente na ação criminosa, faz do crime

sua profissão;

v) Criminoso passional.

Por fim, eis a classificação adotada por Garófalo, o qual propôs a pena de

morte sem piedade aos criminosos natos ou sua expulsão do país:

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i) Criminosos assassinos: são delinqüentes típicos, egoístas, seguem

o apetite instantâneo;

ii) Criminosos enérgicos ou violentos: falta-lhes a compaixão;

iii) Ladrões ou neurastênicos: falta-lhes probidade, atávicos as vezes.

7. VITIMOLOGIA

Vitimologia é a ciência que estuda amplamente a relação

vítima/criminoso no fenômeno da criminalidade. Para Benjamim Mendelsohn

―vitimologia é a ciência que se ocupa da vítima e da vitimização, cujo objeto é a

existência de menos vítima na sociedade, quando esta tiver real interesse nisso‖.

Por sua vez, seguindo conceito formulado pelas Organizações das

Nações Unidas, vítima são ―pessoas que, individual ou coletivamente, tenham sofrido

danos, incluindo lesões físicas ou mentais, sofrimento emocional, prejuízo financeiro, ou

tenham sido substancialmente afetadas em seus direitos fundamentais, por atos ou

omissões que representem violações às leis penais, incluídas as leis referentes ao abuso

criminoso do poder.‖

Os primeiros trabalhos sobre vítimas datam de 1901, todavia, somente a

partir da década de 40, através dos estudos de Von Henting e Benjamim

Mendelsohn, é que se começou a fazer um estudo sistemático da vítima.

Existem várias classificações com respeito às vítimas. Uma primeira, é

atribuída a Benjamim Mendelsohn, que leva em conta a participação ou

provocação da vítima. Segundo tal conjectura, elas podem ser:

i) Vítimas idéias (completamente inocentes);

ii) Vítima menos culpadas que os criminosos;

iii) Vítimas tão culpadas quanto os criminosos (ex. aborto consentido);

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iv) Vítimas mais culpadas que os criminosos (vítimas que provocam e dão

causa ao delito);

v) Vítimas como únicas culpadas (vítimas agressoras, simuladas...)

Por seu turno, Hons von Henting, classifica as vítimas em:

i) 1º grupo: criminoso – vítima – criminoso (sucessivamente), na qual o

reincidente que é hostilizado no cárcere, vindo a delinqüir novamente

pela repulsa social que encontra fora da cadeia;

ii) 2º grupo: criminoso – vítima – criminoso (simultaneamente), caso das

vítimas de drogas que de usuário passa a ser traficante;

iii) 3º grupo: criminoso – vítima (imprevisível), por exemplo, linchamentos,

saques, epilepsia, alcoolismo, etc.

Fora estas classificações doutrinárias, existem ainda tipos de vítimas:

i) Vítimas natas: indivíduos que apresentam, desde o nascimento,

predisposição para serem vítimas, tudo fazendo, consciente ou

inconscientemente, para figurarem como vítimas de crimes.

ii) Vítimas potenciais: são aquelas que apresentam comportamento,

temperamento ou estilo de vida que atraem o criminoso, uma vez que

facilitam ou preparam o desfecho do crime.

iii) Vítimas eventuais ou reais: aquelas que são verdadeiramente vítimas,

não tendo em nada contribuído para a ocorrência do crime.

iv) Vítimas provocadoras: são aquelas que induzem o criminoso à prática do

crime, originando ou provocando o fato delituoso.

v) Vítimas falsas: simuladora, é aquela que está consciente de que não foi

vítima de nenhum delito, mas, agindo por vingança ou interesse

pessoal, imputa a alguém a prática de um crime contra si. Vítima

imaginária: em decorrência de anomalia psíquica ou mental,

acredita-se vítima da ação criminosa.

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vi) Vítimas voluntárias: são aquelas que consentem com o crime.

vii) Vítimas acidentais: são as vítimas de si mesmas, que dão causa ao

fato geralmente por negligência ou imprudência.

A Criminologia, ao analisar a questão criminológica, classifica a

vitimização em três grandes grupos:

Vitimização Primária Vitimização Secundária Vitimização Terciária

Processo pelo qual

uma pessoa sofre, de

modo direito ou

indireto, os efeitos

nocivos derivados do

crime ou fato

traumático, sejam

materiais ou

psíquicos.

Abrange os custos

pessoais derivados da

intervenção do sistema

legal que incrementam o

padecimento da vítima.

Ex: dor de reviver a cena

do crime perante o juiz,

perguntas de advogado

acusando-a de ser a

causadora do crime, etc

O conjunto de custos

da penalização sobre

quem a suporta

pessoalmente ou sobre

terceiros. Ex: preso que

sofre tortura ou erro

judicial.

Importante ainda destacar, que a análise da relação entre vítima e

criminoso possui repercussão no campo do Direito Penal, ao passo que na

aplicação da pena (artigo 59 do Código Penal), a participação da vítima influi na

aplicação da pena base.

8. PREVENÇÃO CRIMINAL

Entende-se por prevenção delitiva o conjunto de ações que visam evitar a

ocorrência do delito. Para alcançar o objetivo, que é a não ocorrência dos atos

criminosos e a manutenção da paz social, necessário a utilização de duas

medidas: uma indireta e outra direta.

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As ações indiretas (controle informal) devem atuar em dois entes: o

indivíduo e o meio em que ele vive. Com relação ao indivíduo, as ações devem

observar sua personalidade, caráter e temperamento, com vistas a motivar sua

conduta. Já com relação ao meio em que vive, deve ser analisado de maneira

múltipla: medidas sociais, políticas, econômicas, etc, as quais visem melhorar a

vida do indivíduo e afastar-lhe da criminalidade.

As ações diretas (controle formal) direcionam-se para a infração penal

em formação (iter criminis). Ex: atuação da polícia ostensiva, aparelhar e treinar

as polícias judiciárias para a repressão delitiva, punição efetiva de crimes

graves, medidas de cunho administrativo contra o jogo, prostituição,

pornografia, etc.

CONTROLE SOCIAL (por Alice Bianchini, Danilo Cymrot e Luiz Flávio Gomes)

CONTROLE SOCIAL

INFORMAL

CONTROLE SOCIAL

FORMAL

AGENTES Família, escola, religião, clube

recreativo, opinião pública,

etc.

Polícia, Justiça, Ministério

Público, administração

penitenciária, etc.

MOMENTO Disciplina o indivíduo por

meio de um largo e sutil

processo de socialização,

interiorizando

ininterruptamente no

indivíduo as pautas de

conduta.

Entra em funcionamento

quando as instâncias

informais do controle social

fracassam.

ESTRATÉGIAS Distintas estratégicas

(prevenção, repressão,

socialização, etc) e diferentes

modalidades de sanções

(positivas, como recompensas,

Atua de modo coercitivo

(violento) e impõe sanções

mais estigmatizantes, que

atribuem ao infrator da

norma um singular status (de

desviado, perigoso ou

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e negativas, como punições) delinqüentes).

EFETIVIDADE Costuma ser mais

efetivo, porque é

ininterrupto e

onipresente, o que

ajuda a explicar os

níveis mais baixos de

criminalidade, nas

pequenas cidades do

interior, onde é mais

forte.

O atual

enfraquecimento dos

laços familiares e

comunitários explica

em boa medida a

escassa confiança

depositada na sua

efetividade.

A eficaz prevenção do

crime não depende

tanto da maior

efetividade do

controle social formal,

senão da melhor

integração do controle

social formal e

informal.

O controle razoável e

eficaz da

criminalidade não

pode depender

exclusivamente da

efetividade das

instâncias de controle

social, pois a

intervenção do

sistema legal não

incide nas raízes do

delito.

―mais leis, mais penas,

mais policiais, mais

juízes, mais prisões

significam mais presos,

porém não

necessariamente menos

delitos‖ (Jeffery)

A prevenção pode ocorrer de três maneiras distintas:

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PREVENÇÃO CRIMINAL

Primária Secundária Terciária

Ataca a raiz do conflito

(educação, emprego,

moradia, segurança, etc).

Liga-se à garantia de

educação, saúde,

emprego, segurança e

qualidade de vida.

Destina-se a setores da

sociedade que podem

vir padecer do problema

criminal. (polícias,

assistência social, etc).

Voltada ao preso,

visando sua recuperação

e evitando a reincidência.

(laborterapia, liberdade

assistida, prestação de

serviços à comunidade,

etc).

8.1. Teoria da reação social.

A ocorrência de um crime gera uma reação social (por parte de Estado),

de forma proporcional, as quais hodiernamente ocorrem de três maneiras:

i) Modelo dissuasório: repressão por meio da punição ao agente criminoso,

mostrando a todos que o crime não compensa e gera castigo;

ii) Modelo ressocializador: intervém na vida e na pessoa do infrator, não

apenas lhe aplicando pena, mas buscando sua reinserção social;

iii) Modelo restaurador: também chamado de ―justiça restaurativa‖, procura

restabelecer o status quo ante, visando a reeducação do infrator, a

assistência à vítima e controle social afetado pelo crime. Ligada a

idéia de reparação do dano causado.

8.2. Teoria da Pena – Penologia.

É a disciplina que cuida do conhecimento geral das penas e castigos

impostos pelo Estado aos violadores das leis.

O estudo da pena conta com três grandes correntes:

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TEORIA ABSOLUTA TEORIA RELATIVA TEORIA MISTA

Entende que a pena é

um imperativo de

justiça, negando fins

utilitários, pune-se

apenas porque cometeu

o delito.

Apresenta um fim

utilitário para a pena,

sustentando que o crime

não é causa da pena,

mas a ocasião para que

ela seja aplicada. Possui

dois fins: prevenção

geral (intimidação de

todos) e prevenção

particular ou especial

(impedir o réu de novas

praticas criminosas,

intimidá-lo e corrigi-lo).

Misturam as duas

primeiras, sustentando o

caráter retributivo da

pena, acrescentando os

fins da reeducação e

intimidação.

9. FATORES SOCIAS DA CRIMINALIDADE.

Analisar a criminalidade do ponto de vista sociológico, como feito

atualmente pela Criminologia moderna, percebe-se elevados níveis de

influência na gênese delitiva. Sobre tal enfoque, correto afirmar que inúmeros

fatores externos desencadeiam um fator criminógeno. Entre estes fatores, de

acordo com as lições de Penteado Filho, podemos destacar:

9.1. Pobreza. Emprego, desemprego e subemprego.

As estatísticas criminais indicam que existe uma relação entre pobreza e

criminalidade. Evidente que tal premissa não condiciona a pobreza com a

criminalidade, tanto é, que citamos como exemplo os ―crimes de colarinho

branco‖, geralmente praticados pelas camadas mais altas da sociedade.

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Todavia, nos crime contra o patrimônio, a grande maioria dos autores de

tais infrações são semialfabetizadas, pobres, com formação moral deficitária.

Assim, as causas da pobreza – má distribuição de renda, desordem social –

latifúndios improdutivos, etc. – funcionam como fermento dos sentimentos de

exclusão e revolta social, os quais levam a criminalidade. Por fim, a repressão

policial ataca as conseqüências da criminalidade, e não suas causas.

O desemprego atual no Brasil gira na faixa de 6% da população, o que em

abril de 2013, segundo pesquisas5 realizadas, remetem a aproximadamente

1.414.000 sem ocupação. Some-se a tal índice, todos os que atuam nos chamados

subemprego ou desemprego disfarçado (―homem-placa‖, ―vendedores de balas

nos semáforos‖, etc.) os quais não possuem qualquer estabilidade, além da

baixíssima remuneração. Essa imensidão de desocupados, não deixa de ser fator

coadjuvante na escala ascendente da criminalidade.

Como contraponto a tais dados e assertivas, Luiz Flávio Gomes, aponta no

sentido que a criminalidade nada tem a ver com a pobreza, mas sim com

desigualdade. Segue artigo6 neste sentido:

Não existe relação direta entre a miséria e a violência (há países

miseráveis com baixo índice de violência não institucional e países

ricos com alto índice de violência – caso dos EUA). A mesma coisa

não se pode afirmar sobre a desigualdade, que gera sensação de

injustiça, privilégios para as classes de cima, desgraça para as

classes de baixo, funcionamento injusto da Justiça, má distribuição

da riqueza, sensação de desequilíbrio etc.

Fizemos no Instituto Avante Brasil a relação e a comparação

entre a violência (homicídios) e o índice IDH dos 20 países mais

violentos com os 20 países menos violentos do planeta. Notará o

5 http://exame.abril.com.br/economia/noticias/taxa-de-desemprego-no-brasil-sobe-a-5-8 6 Brasil será um dos 10 países mais violentos do planeta. In:

http://atualidadesdodireito.com.br/iab/artigos-do-prof-lfg/brasil-sera-um-dos-10-paises-

mais-violentos-do-planeta/

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leitor que, em regra, país menos violento tem alto índice de IDH (e

vice-versa). Claro que a regra tem exceções (mas as exceções existem

para confirmar as regras). São 187 os países examinados.

Vejamos:

De acordo com os dados divulgados pela UNODC (Escritório

para assuntos de Drogas e Crimes da ONU) os países com os

maiores índices de violência estão localizados principalmente na

África e América Central: Honduras (120º no IDH), El Salvador

(107º no IDH), Costa do Marfim (168º no IDH), Venezuela (71º no

IDH), Belize (96º no IDH), Jamaica (85º no IDH), Guatemala (133º no

IDH), São Cristóvão e Nevis (72º no IDH), Zâmbia (163º no IDH) e

Uganda (161º no IDH), Malauí (170º no IDH), Lesoto (158º no IDH),

Trinidad e Tobago (67º no IDH), África do Sul (121º no IDH),

Colômbia (91º no IDH), Congo (142º no IDH), República Centro

Africana (180º no IDH), Brasil (85º no IDH), Etiópia (173º no IDH) e

Santa Lúcia (88º no IDH). O melhor IDH é o 67º (Trinidad e

Tobago). Somente 8 estão abaixo da colocação de número 100.

Países mais violentos, em regra contam com baixo índice de IDH.

Os vinte países com as menores taxas de homicídio estão em sua

maioria na Europa e na Ásia: Palau (52º no IDH), Hong Kong (13º

no IDH), Cingapura (18º no IDH), Islândia (13º no IDH), Japão (10º

no IDH), Brunei Darrusalam (30º no IDH), Noruega (1º no IDH),

Áustria (18º no IDH), Eslovênia (21º no IDH), Omã (84º no IDH),

Suíça (9º no IDH), Emirados Árabes (41º no IDH), Espanha (23º no

IDH), Alemanha (5º no IDH), Estados Federados da Micronésia

(117º no IDH), Vanuatu (124º), Qatar (36º no IDH), Nova Zelândia

(6º no IDH), Dinamarca (15º no IDH), respectivamente.

Países com alto índice de IDH contam com menos violência.

Dois países apenas com IDH acima de 100.

A relação entre baixo índice de IDH, mais violência, e alto índice

de IDH, menos violência, está constatada. Essa pode ser uma

excelente pista para as políticas públicas de prevenção da

Page 32: APOSTILA DE CRIMINOLOGIA - Forum de Concursoscomo características da criminologia moderna: O crime deve ser analisado como um problema com sua face humana e dolorosa. Aumenta o espectro

criminalidade. E um excelente antídoto para a trampa de que só

com repressão se resolve esse problema. O Brasil, que ocupava até

pouco tempo a 20ª posição no ranking dos países mais violentos,

agora passou para o 18º lugar. Em breve (se as mortes continuarem

no ritmo atual) chegaremos ao rol dos 10 países mais violentos do

planeta.

Ambas as teses analisadas, seja da pobreza, seja da desigualdade, servem

para demonstrar a incidência de tais fatores – como coadjuvantes – nos índices

de criminalidade.

9.2. Meios de comunicação. Habitação.

Penteado Filho aponta outros dois fatores que podem influenciar na

criminalidade. Atualmente os meios de comunicação, com ênfase para

televisão, possuem grande alcance junto a população. A televisão, geralmente

com discursos fáceis, banalizando o sexo e a violência em todos os horários,

presta verdadeiro desfavor à população, ao passo que sua missão deveria ser o

de repassar valores éticos da pessoa humana e da família, conforme preconiza a

Constituição Federal, em seu artigo 221, IV.

Outro fator de grande importância é a questão da habitação. A proliferação

de favelas, cortiços, casas de tapera, de pau a pique, etc., propiciam a

promiscuidade, o desaparecimento de valores, desrespeito ao próximo, fazendo

com que os que lá residem, por muitas vezes, se aproximem da prostituição, do

tráfico de drogas, dos crimes contra o patrimônio e contra a vida.

9.3. Crescimento Populacional.

O crescimento populacional desordenado ou não planejado figura como

fator delitógeno. O aumento das taxas criminais por áreas geográficas é

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proporcional ao crescimento da respectiva densidade demográfica

populacional, conforme estudos da Escola de Chicago.

9.4. Preconceito.

Penteado Filho sustenta que preconceito é a idéia negativa pré-concebida.

Discriminação é o preconceito em ação. A doutrina da superioridade racial é

cientificamente falsa, moralmente condenável, socialmente injusta e perigosa.

Não existem desculpas para a discriminação racial. A discriminação entre as

pessoas por motivos de raça, cor ou origem étnica é um obstáculo às relações

amistosas e pacíficas entre as nações, sendo capaz de perturbar a paz entre os

povos e a harmonia de pessoas vivendo lado a lado.

A abolição da escravatura deixou marcas indeléveis nos descendentes da

diáspora africana, os quais até hoje encontram dificuldades de acesso a

pirâmide social e econômica. Com a abolição, verificaram-se três conseqüências:

a migração, a favelização e a instalação da criminalidade.

9.5. Educação.

A educação e o ensino são fatores inibitórios da criminalidade. A educação

informal (família e sociedade) e a formal (escola) assumem relevância

indisfarçável na modelagem da personalidade humana.

10. CRIMINOLOGIA CLÍNICA.

Criminologia clínica é a ciência que, valendo-se dos conceitos, princípios e

métodos de investigação médico-psicológicos (e sociofamiliares), ocupa-se do

indivíduo condenado, para nele investigar a dinâmica de sua conduta

criminosa, sua personalidade, seu ―estado-perigoso‖ (diagnóstico) e suas

perspectivas de desdobramentos futuros (prognóstico) para, assim, propor

estratégias de intervenção, com vistas à superação ou contenção de uma

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possível tendência criminal e a evitar a reincidência (tratamento). Importante

registrar que seu objeto primordial é o exame criminológico.

11. AS MODERNAS TEORIAS ANTROPOLÓGICAS

Inegável que a Criminologia possui raízes históricas nos estudos

antropológicos, ligados à antropometria (estudo das características corporais e

sua relação com a criminalidade). Embora recusada a teoria dos criminosos nato

formulada por Lombroso, os estudos antropológicos modernos herdaram um

pouco daquela análise positivista. As divisões que seguem derivam de

Penteado Filho.

A) Endocrinologia

Desde o século XX foram realizados estudos visando associar o

comportamento humano criminógeno com os processos hormonais ou

endócrinos patológicos ou ainda com certas disfunções glandulares internas.

Tal idéia surgiu com a noção de que homem, que essencialmente é um ser

químico, poderia com qualquer alteração hormonal, modificar seu

comportamento e personalidade.

Di Tullio aponta as conclusões dos estudos endocrinológicos:

Notas de hipertireoidismo e de hipersuprarrenalismo em delinqüentes e

homicidas e sanguinários constitucionais;

Distireoidismo nos criminosos ocasionais impulsivos;

Distireoidismo e dispituitarismo (diminuição da combustão orgânica)

nos criminosos contra a moral e os bons costumes;

Hipertireoidismo nos delinqüentes violentos;

Dispituitarismo nos ladrões, falsificadores e estelionatários.

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B) Genética e hereditariedade

Os avanços na engenharia genética causaram inúmeras questões atinentes à

hereditariedade criminal, renovando, de certo modo, a corrente do atavismo

(produto da regressão, não da evolução das espécies).

Pablo de Molinas e Luiz Flávio Gomes revelam que dois dados estatísticos

foram comprovados:

1º) Percentual de indivíduos unidos por consangüinidade entre doentes

mentais, e;

2º) Presença de um fator hereditário degenerativo ou doentio muito superior

em delinqüentes do que em não criminosos (hereditariedade pejorativa).

Importante ressaltar que nem todos os dados biológicos podem ser

atribuídos a hereditariedade, pois existem fenômenos como ―mutações

genéticas‖ e ―rebeliões contra a identidade‖.

Nas pesquisas sobre carga hereditária há preferência sobre os estudos de:

Famílias criminais (famílias com descendentes criminosos) as

investigações não demonstraram que a degeneração transmitida por

via hereditária, era causa de criminalidade;

Gêmeos – os primeiros estudos relevaram maior incidência de casos

criminais em gêmeos idênticos e menor incidência nos bivitelinos;

Adotados – analisou-se a interação dos filhos adotados com os pais, e

conclui-se que os filhos biológicos de criminosos cometem mais

crimes que os adotados. Conclui-se ainda que o comportamento

criminal se apresenta de forma mais evidente nos filhos adotados

que possuem pais biológicos com antecedentes criminais do que em

razão do convívio com pais adotivos criminosos.

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Malformações cromossômicas – demonstram que as disfunções eram

diagnosticadas em virtude do excesso de cromossomos ou de um

defeito na composição dos gonossomos ou cromossomos sexuais.

12. Psicopatologia Criminal.

Em medicina legal, sob a rubrica da psicopatologia criminal ou

psicopatologia forense, dois grandes ramos da ciência médica se envolvem:

1ª) A Psicologia Criminal – que tem por objeto de estudo a personalidade

―normal‖ e os fatores que podem influenciá-la, quer sejam de ordem biológica,

do meio ambiente ou social, e;

2ª) A Psiquiatria Criminal – que tem por objeto de estudo os transtornos

anormais da personalidade, isto é, doenças mentais, retardos mentais,

demênciais, esquizofrenias e outros transtornos, de índole psicótica ou não.

12.1. Distúrbios Mentais e crime

O CID-10 descreve dez tipos de transtornos específicos de personalidade,

são eles7:

Transtorno da Personalidade

Paranóide

Padrão de desconfiança suspeitas, de modo

que os motivos dos outros são interpretados

como malévolos; Nesse tipo de transtorno, o

paciente desenvolve uma supervalorização de

si mesmo, apresentando grande dificuldade de

consideração e respeito ao outro;

É um padrão de distanciamento dos

relacionamentos sociais, com uma faixa restrita

7 Fonte: http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_1403/artigo_sobre_criminologia

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Transtorno da Personalidade

Esquizóide

de expressão emocional; é caracterizado pela

dificuldade ou incapacidade de experimentar

prazer, frieza emocional, afetividade

distanciada, capacidade limitada para

expressar os sentimentos, preferência por

atividades solitárias. Geralmente são vistos

como indivíduos excêntricos, esquisitos;

Transtorno da Personalidade

Esquizotípica

É um padrão de desconforto agudo em

relacionamentos íntimos, distorções cognitivas

ou da percepção de comportamento

excêntrico;

Transtorno da Personalidade

anti-social

É um padrão de desconsideração e violação

dos direitos dos outros; O indivíduo é

considerado mentiroso, enganador e

impulsivo, sempre procurando obter

vantagens sobre os outros;

Transtorno da Personalidade

Bordeline

É um padrão de instabilidade nos

relacionamentos interpessoais, auto-imagem e

afetos, bem como de acentuada impulsividade;

Há a indiferença e insensibilidade diante dos

sentimentos alheios, atitude persistente de

irresponsabilidade e desprezo por normas,

regras e obrigações sociais estabelecidas; São

capazes de cometer crimes cruéis, embora

jamais vistas pelos portadores desta forma,

razão pela qual é um dos transtornos mais

estudados pela psiquiatria;

É um padrão de excessiva emotividade e busca

de atenção; é caracterizado pela dramatização,

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Transtorno da Personalidade

Histriônica

teatralidade e expressão exagerada de

emoções. Apreciação por outros e por

atividades em que seja o centro das atenções;

Transtorno da Personalidade

Narcisista

É um padrão de excessiva emotividade e busca

de atenção;

Transtorno da Personalidade

Esquiva

É um padrão de inibição social, sentimentos de

inadequação e hipersensibilidade a avaliações

negativas; O indivíduo é exageradamente

tímido, muito sensíveis a críticas, evitando

atividades sociais ou relacionamentos com

outros;

Transtorno da Personalidade

Dependente

É um padrão de comportamento submisso e

aderente, relacionado a uma necessidade

excessiva de proteção e cuidados; O indivíduo

possui dificuldades para tomar decisões,

necessitam que os outros assumam a

responsabilidade de seus atos;

Transtorno da Personalidade

Obsessivo-Compulsiva

É um padrão de preocupação com

organização, perfeccionismo e controle.

Dignos de notas, outros transtornos, como os psicóticos (esquizofrenia), de

humor e de ansiedade:

Esquizofrenia e outros transtornos psicóticos (DSM – IV)8

Transtorno Sintomas

É uma perturbação que dura pelo menos 6

meses e inclui pelo menos um mês de

8 Fonte: http://www.psicnet.psc.br/v2/site/dicionario/registro_default.asp?ID=409

Page 39: APOSTILA DE CRIMINOLOGIA - Forum de Concursoscomo características da criminologia moderna: O crime deve ser analisado como um problema com sua face humana e dolorosa. Aumenta o espectro

Esquizofrenia

sintomas da fase ativa (isto é, dois, ou mais,

dos seguintes: delírios, alucinações, discurso

desorganizado, comportamento amplamente

desorganizado ou catatônico, sintomas

negativos). Esta seção também inclui

definições para os subtipos de Esquizofrenia

(Paranóide, Desorganizado, Catatônico,

Indiferenciado e Residual).

Transtorno

Esquizofreniforme

Caracteriza-se por um quadro sintomático

equivalente à Esquizofrenia, exceto por sua

duração (isto é, a perturbação dura de 1 a 6

meses) e ausência da exigência de um declínio

no funcionamento.

Transtorno Esquizoafetivo

É uma perturbação na qual um episódio de

humor e sintomas da fase ativa da

Esquizofrenia ocorrem juntos e foram

precedidos ou seguidos por pelo menos 2

semanas de delírios ou alucinações sem

sintomas proeminentes de humor.

Transtorno Delirante

Caracteriza-se por pelo menos um mês de

delírios não-bizarros sem outros sintomas da

fase ativa da Esquizofrenia.

Transtorno Psicótico Breve

É uma perturbação psicótica com duração

maior que 1 dia e remissão em 1 mês.

Transtorno Psicótico

Compartilhado

É uma perturbação que se desenvolve em um

indivíduo influenciado por outra pessoa com

um delírio estabelecido de conteúdo similar.

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Transtorno Psicótico

Devido à uma condição

médica Geral

Os sintomas psicóticos são considerados uma

conseqüência fisiológica direta de uma

condição médica geral.

Transtorno Psicótico

Induzido por Substância

Os sintomas psicóticos são considerados uma

conseqüência fisiológica direta de uma droga

de abuso, um medicamento ou exposição a

toxina.

Transtorno Psicótico Sem

Outra Especificação

É incluído para a classificação de quadros

psicóticos que não satisfazem os critérios para

qualquer dos Transtornos Psicóticos

específicos definidos nesta seção ou de uma

sintomatologia psicótica acerca da qual

existem informações inadequadas ou

contraditórias.

Transtorno de Humor9

Transtornos Sintomas

Transtorno Depressivo

Maior

Caracteriza-se por um ou mais Episódios

Depressivos Maiores (isto é, pelo menos 2

semanas de humor deprimido ou perda de

interesse, acompanhados por pelo menos

quatro sintomas adicionais de depressão).

Transtorno Distímico

Caracteriza-se por pelo menos 2 anos de

humor deprimido na maior parte do tempo,

acompanhado por sintomas depressivos

adicionais que não satisfazem os critérios para

9 Fonte: http://www.psicologiamsn.com/2011/01/transtornos-de-humor.html

Page 41: APOSTILA DE CRIMINOLOGIA - Forum de Concursoscomo características da criminologia moderna: O crime deve ser analisado como um problema com sua face humana e dolorosa. Aumenta o espectro

um Episódio Depressivo Maior.

Transtorno Depressivo

Sem Outra Especificação

É incluído para a codificação de transtornos

com características depressivas que não

satisfazem os critérios para Transtorno

Depressivo Maior, Transtorno Distímico,

Transtorno de Ajustamento com Humor

Deprimido ou Transtorno de Ajustamento

Misto de Ansiedade e Depressão (ou sintomas

depressivos acerca dos quais existem

informações inadequadas ou contraditórias).

Transtorno Bipolar I

É caracterizado por um ou mais Episódios

Maníacos ou Mistos, geralmente

acompanhados por Episódios Depressivos

Maiores.

Transtorno Bipolar II Caracteriza-se por um ou mais Episódios

Depressivos Maiores, acompanhado por pelo

menos um Episódio Hipomaníaco.

Transtorno Ciclotímico

É caracterizado por pelo menos 2 anos com

numerosos períodos de sintomas

hipomaníacos que não satisfazem os critérios

para um Episódio Maníaco e numerosos

períodos de sintomas depressivos que não

satisfazem os critérios para um Episódio

Depressivo Maior.

Transtorno Bipolar Sem

É incluído para a codificação de transtornos

com aspectos bipolares que não satisfazem os

critérios para qualquer dos Transtornos

Bipolares específicos definidos nesta seção (ou

Page 42: APOSTILA DE CRIMINOLOGIA - Forum de Concursoscomo características da criminologia moderna: O crime deve ser analisado como um problema com sua face humana e dolorosa. Aumenta o espectro

Outra Especificação sintomas bipolares acerca dos quais há

informações inadequadas ou contraditórias).

Transtorno do Humor

Devido a uma Condição

Médica Geral

É caracterizado por uma perturbação

proeminente e persistente do humor,

considerada uma conseqüência fisiológica

direta de uma condição médica geral.

Transtorno do Humor

Induzido por Substância

Caracteriza-se por uma perturbação

proeminente e persistente do humor,

considerada uma conseqüência fisiológica

direta de uma droga de abuso, um

medicamento, outro tratamento somático para

a depressão ou exposição a uma toxina.

Transtorno do Humor

Sem Outra Especificação

É incluído para a codificação de transtornos

com sintomas de humor que não satisfazem os

critérios para qualquer Transtorno do Humor

específico, e nos quais é difícil escolher entre

Transtorno Depressivo Sem Outra

Especificação e Transtorno Bipolar Sem Outra

Especificação (por ex., agitação aguda).

A ansiedade é um estado emocional de apreensão, uma expectativa que algo

ruim aconteça, acompanhada de várias reações físicas e mentais desfavoráveis.

Podem ser assim classificados:

Transtornos de Ansiedade10

Transtornos Sintomas

10 Fonte: http://www.psicosite.com.br/cla/d_ansiedade.htm

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Transtorno de Pânico Sem

Agorafobia

Ataques de Pânico recorrentes e inesperados.

Pelo menos um dos ataques foi seguido pelo

período mínimo de 1 mês com uma (ou mais)

das seguintes características:

(a) preocupação persistente acerca de ter

ataques adicionais

(b) preocupação acerca das implicações do

ataque ou suas conseqüências (p. ex., perder o

controle, ter um ataque cardíaco, enlouquecer)

(c) uma alteração comportamental significativa

relacionada aos ataques.

Transtorno de Pânico Com

Agorafobia

Ataques de Pânico recorrentes e inesperados.

Pelo menos um dos ataques foi seguido pelo

período mínimo de 1 mês com uma (ou mais)

das seguintes características:

(a) preocupação persistente acerca de ter

ataques adicionais

(b) preocupação acerca das implicações do

ataque ou suas conseqüências (p. ex., perder o

controle, ter um ataque cardíaco, enlouquecer)

(c) uma alteração comportamental significativa

relacionada aos ataques.

Agorafobia Sem Histórico de

Transtorno de Pânico

Presença de Agorafobia relacionada ao medo de

desenvolver sintomas tipo pânico (p. ex.,

tontura ou diarréia)

Medo acentuado e persistente, excessivo ou

irracional, revelado pela presença ou

antecipação de um objeto ou situação fóbica (p.

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Fobia Específica

ex., voar, alturas, animais, tomar uma injeção,

ver sangue).

A exposição ao estímulo fóbico provoca, quase

que invariavelmente, uma resposta imediata de

ansiedade, que pode assumir a forma de um

Ataque de Pânico ligado à situação ou

predisposto pela situação. Nota: Em crianças, a

ansiedade pode ser expressada por choro,

ataques de raiva, imobilidade ou

comportamento aderente.

O indivíduo reconhece que o modo é excessivo

ou irracional. Nota: Em crianças, esta

característica pode estar ausente.

A situação fóbica (ou situações) é evitada ou

suportada com intensa ansiedade ou

sofrimento.

A esquiva, antecipação ansiosa ou sofrimento

na situação temida (ou situações) interfere

significativamente na rotina normal do

indivíduo, em seu funcionamento ocupacional

(ou acadêmico) ou em atividades ou

relacionamentos sociais, ou existe acentuado

sofrimento acerca de ter a fobia.

Em indivíduos com menos de 18 anos, a

duração mínima é de 6 meses.

Medo acentuado e persistente de uma ou mais

situações sociais ou de desempenho, nas quais o

indivíduo é exposto a pessoas estranhas ou ao

possível escrutínio por terceiros. O indivíduo

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Fobia Social

teme agir de um modo (ou mostrar sintomas de

ansiedade) que lhe seja humilhante e

vergonhoso. Nota: Em crianças, deve haver

evidências de capacidade para relacionamentos

sociais adequados à idade com pessoas que lhes

são familiares e a ansiedade deve ocorrer em

contextos que envolvem seus pares, não apenas

em interações com adultos.

A exposição à situação social temida quase que

invariavelmente provoca ansiedade, que pode

assumir a forma de um Ataque de Pânico ligado

a situação ou predisposto por situação. Nota:

Em crianças, a ansiedade pode ser expressa por

choro, ataques de raiva, imobilidade ou

afastamento de situações sociais com pessoas

estranhas.

A pessoa reconhece que o medo é excessivo ou

irracional. Nota: Em crianças, esta característica

pode estar ausente.

As situações sociais e de desempenho temidas

são evitadas ou suportadas com intensa

ansiedade ou sofrimento.

A esquiva, a antecipação ansiosa u o sofrimento

na situação social ou de desempenho temida

interferem significativamente na rotina, no

funcionamento ocupacional (acadêmico), em

atividades sociais ou relacionamentos do

indivíduo, ou existe sofrimento acentuado por

ter a fobia.

Page 46: APOSTILA DE CRIMINOLOGIA - Forum de Concursoscomo características da criminologia moderna: O crime deve ser analisado como um problema com sua face humana e dolorosa. Aumenta o espectro

Em indivíduos com menos de 18 anos, a

duração é de no mínimo 6 meses.

Transtorno Obsessivo-

Compulsivo

Pensamentos impulsos ou imagens recorrentes

e persistentes que, em algum momento durante

a perturbação, são experimentados como

intrusivos e inadequados e causam acentuada

ansiedade ou sofrimento.

Os pensamentos, impulsos ou imagens não são

meras preocupações excessivas com problemas

da vida real.

A pessoa tenta ignorar ou suprimir tais

pensamentos, impulsos ou imagens, ou

neutralizá-los com algum outro pensamento ou

ação.

A pessoa reconhece que os pensamentos,

impulsos ou imagens obsessivas são produto de

sua própria mente (não impostos a partir de

fora, como na inserção de pensamentos)

Transtorno de Estresse Pós-

Exposição a um evento traumático no qual os

seguintes quesitos estiveram presentes:

a pessoa vivenciou, testemunhou ou foi

confrontada com um ou mais eventos que

envolveram morte ou grave ferimento, reais ou

ameaçados, ou uma ameaça à integridade física,

própria ou de outros;

a resposta da pessoa envolveu intenso medo,

impotência ou horror, Nota: Em crianças, isto

pode ser expressado por um comportamento

Page 47: APOSTILA DE CRIMINOLOGIA - Forum de Concursoscomo características da criminologia moderna: O crime deve ser analisado como um problema com sua face humana e dolorosa. Aumenta o espectro

Traumático desorganizado ou agitado.

O evento traumático é persistentemente

revivido em uma (ou mais) das seguintes

maneiras:

(1) recordações aflitivas, recorrentes e intrusivas

do evento, incluindo imagens, pensamentos ou

percepções. Nota: Em crianças pequenas,

podem ocorrer jogos repetitivos, com expressão

de temas ou aspectos do trauma.

(2) Sonhos aflitivos e recorrentes com o evento.

Nota: Em crianças podem ocorrer sonhos

amedrontadores sem um conteúdo

identificável.

(3) Agir ou sentir como se o evento traumático

estivesse ocorrendo novamente (inclui um

sentimento de revivência da experiência,

ilusões, alucinações e episódios de flashbacks

dissociativos inclusive aqueles que ocorrem ao

despertar ou quando intoxicado). Nota: Em

crianças pequenas pode ocorrer reencenação

específica do trauma.

(4) Sofrimento psicológico intenso quando da

exposição a indícios internos ou externos que

simbolizam ou lembram algum aspecto do

evento traumático.

(5) Reatividade fisiológica na exposição a

indícios internos ou externos que simbolizam

ou lembram algum aspecto do evento

Page 48: APOSTILA DE CRIMINOLOGIA - Forum de Concursoscomo características da criminologia moderna: O crime deve ser analisado como um problema com sua face humana e dolorosa. Aumenta o espectro

traumático.

Esquiva persistente de estímulos associados

com o trauma e entorpecimento da reatividade

geral (não presente antes do trauma), indicados

por três (ou mais) dos seguintes quesitos.

(1) esforços no sentido de evitar pensamentos,

sentimentos ou conversas associadas com o

trauma;

(2) esforços no sentido de evitar atividades,

locais ou pessoas que ativem recordações do

trauma;

(3) incapacidade de recordar algum aspecto

importante do trauma;

(4) redução acentuada do interesse ou da

participação em atividades significativas;

(5) sensação de distanciamento ou afastamento

em relação a outras pessoas;

(6) faixa de afeto restrita (p. ex., incapacidade de

ter sentimentos de carinho);

(7) sentimento de um futuro abreviado (p. ex.,

não espera ter uma carreira profissional,

casamento, filhos ou um período normal de

vida).

Sintomas persistentes de excitabilidade

aumentada (não presentes antes do trauma),

indicados por dois (ou mais) dos seguintes

Page 49: APOSTILA DE CRIMINOLOGIA - Forum de Concursoscomo características da criminologia moderna: O crime deve ser analisado como um problema com sua face humana e dolorosa. Aumenta o espectro

quesitos:

(1) dificuldade em conciliar ou manter o sono;

(2) irritabilidade ou surtos de raiva;

(3) dificuldade em concentrar-se;

(4) hipervigilância;

(5) resposta de sobressalto exagerada

A duração da perturbação (sintomas dos

Critérios B, C e D) é superior a 1 mês.

A perturbação causa sofrimento clinicamente

significativo ou prejuízo no funcionamento

social ou ocupacional ou em outras áreas

importantes da vida do indivíduo.

Transtorno de Estresse

Agudo

Exposição a um evento traumático no qual

ambos os seguintes quesitos estiveram

presentes:

(1) a pessoa vivenciou, testemunhou ou foi

confrontada com um ou mais eventos que

envolveram morte ou sérios ferimentos, reais ou

ameaçados, ou uma ameaça à integridade física,

própria ou de terceiros.

(2) a resposta da pessoa envolveu intenso medo,

impotência ou horror.

Enquanto vivenciava ou após vivenciar o

evento aflitivo, o indivíduo tem três (ou mais)

dos seguintes sintomas dissociativos:

(1) um sentimento subjetivo de anestesia,

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distanciamento ou ausência de resposta

emocional;

(2) uma redução da consciência quanto às coisas

que o rodeiam (p. ex., ¨estar como em um

sonho¨);

(3) desrealização;

(4) despersonalização;

(5) amnésia dissociativa (i. é, incapacidade de

recordar um aspecto importante do trauma).

O evento traumático é persistentemente

revivido no mínimo de uma das seguintes

maneiras: imagens, pensamentos, sonhos,

ilusões e episódios de flashbacks recorrentes,

uma sensação de reviver a experiência, ou

sofrimento quando da exposição a lembranças

do evento traumático.

Acentuada esquiva de estímulos que provocam

recordações do trauma (p. ex., pensamaentos,

sentimentos, conversas, atividades, locais e

pessoas).

Sintomas acentuados de ansiedade ou maior

excitabilidade (p. ex., dificuldade para dormir,

irritabilidade, fraca concentração,

hipervigilância, resposta de sobressalto

exagerada, inquietação motora).

A perturbação causa sofrimento clinicamente

significativo ou prejuízo no funcionamento

social ou ocupacional ou em outras áreas

Page 51: APOSTILA DE CRIMINOLOGIA - Forum de Concursoscomo características da criminologia moderna: O crime deve ser analisado como um problema com sua face humana e dolorosa. Aumenta o espectro

importantes da vida do indivíduo e prejudica

sua capacidade de realizar alguma tarefa

necessária, tal como obter o auxílio necessário

ou mobilizar recursos pessoais, contando aos

membros da família acerca da experiência

traumática.

A perturbação tem duração mínima de 2 dias e

máxima de 4 semanas, e ocorre dentro de 4

semanas após o evento traumático.

A perturbação não se deve aos efeitos

fisiológicos diretos de uma substância (p. ex.,

droga de abuso, medicamento) ou de uma

condição médica geral, não é mais bem

explicada por um Transtorno Psicótico Breve,

nem representa uma mera exacerbação de um

transtorno preexistente do Eixo I ou Eixo II.

Ansiedade e preocupação excessivas

(expectativa apreensiva), ocorrendo na maioria

dos dias pelo período mínimo de 6 meses, com

diversos eventos ou atividades (tais como

desempenho escolar ou profissional).

O indivíduo considera difícil controlar a

preocupação.

A ansiedade e a preocupação estão associadas

com três (ou mais) dos seguintes seis sintomas

(com pelo menos alguns deles presentes na

maioria dos dias nos últimos 6 meses). Nota:

Apenas um item é exigido para crianças.

(1) inquietação ou sensação de estar com os

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Transtorno de Ansiedade

Generalizada

nervos à flor da pele;

(2) fatigabilidade;

(3) dificuldade em concentrar-se ou sensações

de ¨branco¨ na mente;

(4) irritabilidade;

(5) tensão muscular;

(6) perturbação do sono (dificuldades em

conciliar ou manter o sono, ou sono

insatisfatório e inquieto).

O foco da ansiedade ou preocupação não está

confinado a aspectos de um transtorno do Eixo

I; por exemplo, a ansiedade ou preocupação não

se refere a ter um Ataque de Pânico (como no

Transtorno de Pânico), ser envergonhado em

público (como na Fobia Social), ser

contaminado (como no Transtorno Obsessivo-

Compulsivo), ficar afastado de casa ou de

parentes próximos (como no Transtorno de

Ansiedade de Separação), ganhar peso (como

na Anorexia Nervosa), ter múltiplas queixas

físicas (como no Transtorno de Somatização) ou

ter uma doença grave (como na Hipocondria), e

a ansiedade ou preocupação não ocorre

exclusivamente durante o Transtorno de

Estresse Pós-Traumático.

A ansiedade, a preocupação ou os sintomas

físicos causam sofrimento clinicamente

significativo ou prejuízo no funcionamento

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social ou ocupacional ou em outras áreas

importantes da vida do indivíduo.

A perturbação não se deve aos efeitos

fisiológicos diretos de uma substância (droga de

abuso, medicamento) ou de uma condição

médica geral (p. ex., hipertireoidismo) nem

ocorre exclusivamente durante um Transtorno

do Humor, Transtorno Psicótico ou Transtorno

Global do Desenvolvimento.

12.2. Psicopatia e Psicopatologia

A psicopatia é caracterizada pela extremada insensibilidade aos sentimentos

alheios, que o leva a uma acentuada indiferença afetiva, podendo como via de

conseqüência assumir um comportamento delitivo. É bem verdade que o

portador da psicopatia não é um doente, na acepção da palavra, no entanto ele

vive à margem da normalidade emocional e comportamental. Suas principais

características são: charme superficial, superestima, tendência ao tédio,

mentiroso contumaz, manipulador, ausência de culpa ou remorso,

insensibilidade afetiva, indiferença, descontrole comportamental,

impulsividade, ausência de objetivos reais a longo prazo, irresponsabilidade e

incapacidade de aceitar os próprios erros, promiscuidade sexual, transtornos de

conduta na infância, etc.

Já a psicopatologia possui maior incidência nas vítimas e criminosos. Dentre

os possíveis transtornos, destaque para os de ansiedade: Transtorno obsessivo-

compulsivo (TOC), estresse pós-traumático, estresse dissociativo, etc.

13. Exame Criminológico

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De acordo com as lições de Penteado Filho, denomina-se exame

criminológico o conjunto de pesquisas científicas de cunho biopsicossocial do

criminoso para levantar um diagnóstico de sua personalidade e, assim, obter

um prognóstico criminal.

Tem por objetivo detalhar a personalidade do delinqüente, sua

imputabilidade, periculosidade, sensibilidade à pena e a probabilidade de sua

correção. Segundo Renato Marcão, ―o exame criminológico é realizado para o

resguardo da defesa social, e busca aferir o estado de temibilidade do delinqüente”.

O exame criminológico deve ser pautado pela atuação multidisciplinar:

médicos, psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, advogados, etc.

Subdivisões do exame criminológico11:

Exame Morfológico Análise somática, medidas e proporções

do corpo humano, massa corporal,

óssea, etc.

Exame Funcional Análise clínica, neurológica e

eletroencefalográfica.

Exame Psicológico Nível mental do criminosos, grau de

agressividade, etc.

Exame Psiquiátrico Diagnose de doenças mentais.

Exame Moral

Análise ética do ensino-aprendizagem.

Imorais (desrespeitam as normas) e

amorais (não assimilam as normais).

Exame Social Análise das condições de vida e do

meio social.

11 Fonte: Penteado Filho, Nestor Sampaio. Manual Esquemático de Criminologia. São Paulo:

Saraiva, 2010.

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Exame Histórico Reconstrução da interação familiar

vivida (anamnese)

14. O estudo das doenças psiquiátricas e a relevância criminológica das

diversas anomalias, alterações, transtornos e doenças psíquicas.

De acordo com os especialistas, parece que oligofrênicos e psicopatas são os

dois grupos que entram mais freqüentemente em conflito com o ordenamento

penal. Todavia, necessário se fazer referência aos outros transtornos.

14.1. As Oligofrenias (“retardo mental”)

A relevância do retardo mental depende de sua maior ou menor gravidade.

O retardo mental leve representa 85% dos retardos mentais. O Q.I. gira em

torno de 50-55 e 70. O retardo mental moderado representada 10% dos retardos

mentais. O Q.I. situa-se entre 35-40 e 50-55. São pessoas adestráveis, capazes de

aprender hábitos de higiene e segurança, adaptando-se bem à vida em

comunidade, mas só podem realizar funções muito simples. O retardo mental

grave costuma constituir cerca de 3% a 4% do total dos retardos mentais e o Q.I

oscila entre 20-25 e 35-40. Os que sofrem somente podem aprender a falar e a

realizar tarefas elementares, o desenvolvimento da linguagem é mínimo e não

são capazes de escrever. Por último, o retardo profundo, representa 1% e 2% do

total dos retardos mentais, afeta um Q.I. inferior a 20 ou 25. Estes necessitam de

vigilância e assistência permanentes, e a capacidade de delinqüir é diminuta.

Nos graus ―moderado‖ e ―leve‖ detecta-se o maior índice e variedade da

criminalidade. Particular interesse do ponto de vista criminológico tem os casos

fronteiriços de retardo mental (boderline). Aqueles que se encontram nesta zona

costumam se envolver em delitos contra as pessoas, contra a liberdade sexcual e

contra a segurança.

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O delito que o oligofrênico mais comente é o roubo: mal elaborados e de

escassa quantia e significação. Envolve-se também em crimes de estupro e

pedofilia, por serem freqüentemente vítimas de zombaria e menosprezo.

Destaca-se ainda o incêndio, devido o fascínio com o fogo.

14.2. O “delirium” e as “demências”

Os crimes mais freqüentemente associados ao delirium são os delitos contra

as pessoas, sobretudo lesões, inclusive homicídios.

Quanto a demência, o conflito com o ordenamento penal se produz,

sobretudo, no início da doença (abusos sexuais, agressões, agressividade verbal,

pequenos furtos, etc).

O homicídio por ciúmes é um dos delitos mais comum durante a velhice,

provavelmente pela propensão à paranóia que sofre a terceira idade. Em

seguida, os crimes sexuais, geralmente intrafamiliares.

14.3. Transtornos relacionados com o consumo e dependência do álcool e

drogas.

a) Álcool – Importante fator criminógeno. Provoca transtornos somáticos,

psíquicos e sociais. O perfil da delitogênese depende da natureza aguda

ou crônica da intoxicação. Na aguda, o comportamento delituoso

explica-se pela exaltação da vitalidade unida ao descontrole psicomotor.

Na crônica, a ampla deterioração das atividades sociais e familiares, gera

os crimes sexuais, fraudes, agressões e delitos de omissão. Nas

alucinações alcoólicas geram delitos violentos contra suposto inimigos.

b) Outras toxicomanias – Produz duas espécies de delitogênese: a

instrumental – para a obtenção e financiamento da droga (furtos, roubos,

fraudes, falsificação de receitas médicas, prostituição), e a induzida –

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causada pelos efeitos direitos da própria droga (crimes contra a vida e

integridade, delitos contra a liberdade sexual, suicídios, etc)

14.4. Esquizofrenia

É a doença mental por excelência. Incapacita o sujeito para valorar a

realidade e para governar retamente sua própria conduta, já que implica em um

leque de disfunções cognoscitivas e emocionais, que podem afetar a percepção,

a linguagem e a comunicação, a organização comportamental, a afetividade, o

pensamento, a vontade, a motivação e a atenção, o que causa a deterioração de

sua atividade social e laboral. O esquizofrênico rompe com sua própria

identidade.

Os esquizofrênicos não infringem significativamente a lei penal. Todavia,

seus crimes atemorizam pela atrocidade e crueldade. Ocorrem sem motivação e

historicidade. Jamais se mostram arrependidos. O esquizofrênico delinqüe só,

sem cúmplices. Os mais graves contra a vida costumam ser obra dos

esquizofrênicos.

14.5. O transtorno delirante ou paranóia.

O transtorno delirante é menos freqüente que a esquizofrenia. Afeta mais a

mulher que o homem. Seu começo situa-se perto dos 40 anos. A periculosidade

nem sempre é fácil de ser percebida ou detectada a tempo.

A paranóia caracteriza-se pelo delírio. São características sua falta de senso

de humor, seu receio para com os demais e sua hostilidade. O paranóico não

parece e nem se sente doente. Sua inteligência pode ser superior a média,

embora a serviço do delírio. Costuma ser bom trabalhador, embora frio e

distante. Bom pai, embora rígido e autoritário. Esposo os esposa fiel, embora

ciumento e desconfiado. Os delitos do paranóico são frios e premeditados,

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reflexivos. São usuais a injúria, desacatos e resistência a autoridade, os de

acusação e denúncia falsa e os delitos contra a vida.

14.6. Os transtornos bipolares e as depressões.

O transtorno bipolar tem inicio ao redor dos 30 anos. A fase depressiva

constitui grande risco da prática de suicídio, cabendo citar ainda o ―suicídio

ampliado‖ pelo qual o depressivo depois de matar seus entes queridos, põe fim

na sua vida. Mata-os por amor para salvá-los das grandes ruínas que anuncia o

delírio.

A fase de depressão maníaca (euforia, irritabilidade, exaltação, sentimentos

de grandeza, incremento das atividades sexuais, sociais e laborais) é mais

delitógena. Constata-se delitos como homicídio, lesões fraudes, delitos sexuais.

14.7. Transtornos de ansiedade (neuroses)

As neuroses não são doenças. A neurose é um transtorno menor.

Diferentemente da psicose, a neurose não provoca uma ruptura da

realidade. Inicia-se durante a infância. A angústia constitui seu núcleo

fundamental, a partir do qual emergem outros fenômenos psicopatológicos:

irritabilidade, fobias, inquietude, déficit de atenção e concentração.

As neuroses são transtornos quantitativos. Não há, pois, neuróticos e não

neuróticos, mas pessoas com auto ou baixo nível de neuroticismo.

Insegurança, sentimento de culpa e inferioridade, de frustração e

ansiedade, são traços do neurótico.

As neuroses costumam exibir limitada delitogênese. Não entre

facilmente em conflito com a lei penal, pois sua insegurança, angustia e

instabilidade conspira contra ele. É mais autoagressivo.

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14.8. Transtornos sexuais

As parafilias são os transtornos de maior relevância médico-legal e

criminológico. Geralmente associada com um déficit insuperável de

estabelecer relações afetivas adultas e maduras com pessoas do sexo oposto

e freqüentemente vão acompanhadas de sentimentos de culpa e vergonha.

Das parafilias, e pela sua delitogênese, destacam-se:

A pedofilia (desejo intenso e recorrente de manter relações sexuais

com impúberes, tanto do tipo homossexual como heterossexual).

O pedófilo geralmente comente crimes de abusos sexuais de

crianças, pornografia infantil e corrupção de menores.

O sadismo, como o masoquismo, provêm de uma patologia

―erotização da dor‖. Não existe angustia nem complexo de culpa.

O sádico se vê implicado geralmente em delitos de agressão

sexual, lesões e crimes contra a vida.

O exibicionismo – não se sentem angustiados, nem culpáveis. Usa

precauções para não ser detido e obtém mais prazer quanto maior

for o escândalo de sua conduta e perigo que assume ao realizá-la.

O voyeurismo (observador curioso) possui menor intensidade e

por isso não constitui uma atividade patológica.

O fetichismo é relativamente freqüente, sobretudo no homem,

inclusive em homossexuais, que obtêm excitação e satisfação com

objetos, isto é, descartando a relação genital.

A necrofilia, grave transtorno sexual, é excepcional. É a excitação

de um indivíduo por cadáver.

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Como síntese, cabe afirmar que os transtornos sexuais de maior interesse

criminógeno dão-se no homem, a faixa mais conflitiva corresponde à década

dos vinte anos. Os delitos mais cometidos são as agressões sexuais.

14.9. Transtornos no controle dos impulsos

Tem todos eles em comum a dificuldade de resistir a um impulso, a uma

motivação ou a uma tentação de levar a caba um ato prejudicial para o próprio

sujeito ou a terceiros. Experimento uma sensação de tensão ou ativação antes de

realizar a conduta, experimentado prazer, gratificação ou liberação do

momento de levá-la a cabo, com ou sem posterior sentimento de culpa,

arrependimento ou autorreprovação.

A cleptomania caracteriza-se por uma dificuldade recorrente para

resistir ao impulso de roubar objetos que não são necessários para o

uso pessoal ou por seu valor monetário. Não há planejamento, nem

cúmplices. Não utiliza o que subtrai porque não necessita, nem tem

especial valor, devolve-o inesperadamente ou acumula. Trata-se de

transtorno mais comum nas mulheres.

A piromania é uma padrão de comportamento que leva a provocar

incêndios por puro prazer, gratificação ou liberação da tensão. O

pirômano executa múltiplos incêndios sempre de forma deliberada e

meticulosa, muito elaborados. Exibe notória fascinação pelo fogo e

sua parafernália. Mais comum em homens.

O jogo patológico (ludopatia) pode ser caracterizado pela

persistência e recorrência do comportamento de apostar em jogos de

azar. Altera a vida pessoal, familiar e profissional do doente. Mais

usual em homens. Significativa porcentagem tenta condutas

suicidas.

14.10. As psicopatias ou transtornos de personalidade

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Existem dois traços distintivos da personalidade psicopática: uma

incapacidade de responder emocionalmente em situações nas que esperaria

uma resposta tratando-se de um indivíduo normal, e uma irresistível tendência

de atuar impulsivamente. De tais características derivam outras secundárias:

agressividade, ausência de sentimento de culpa, etc.

Uma personalidade psicopata não se restringe ao assassino em série. Um

psicopata pode ser uma pessoa simpática e de expressões sensatas que, não

obstante, não vacila ao cometer um crime quando lhe convém e, tal como

explicado acima, fá-lo-á sem sentir culpa pela sua ação.

Extremamente difícil comprovar a relação psicopatia-criminalidade. A

discussão científica sobre o problema segue aberta. Na população em geral, as

taxas dos transtornos de personalidade podem variar de 0,5% a 3%, subindo

para 45-66% entre presidiários.

Do ponto de vista penal existe o dilema, amplamente discutido, sobre se

uma personalidade doente é imputável, especialmente se é de origem psicótica.

Mesmo que se trate de uma personalidade doente (exemplos: pessoas sádicas,

violadoras, etc.) há tendência para sustentar que há uma punição

correspondente, dado que, mesmo doente, a pessoa mantém consciência dos

seus atos e pode evitar cometê-los.

O direito penal usa como formas de classificar a capacidade mental do

agente: entendimento por parte do agente se o ato que ele cometeu é ilegal e se

mesmo sabendo que é ilegal, consegue se autodeterminar, ou seja, consegue não

cometer o ato.

Os psicopatas, no entanto, muitas vezes conseguem entender que seus atos

são errados, porém não conseguem se autodeterminar com relação ao seu

entendimento, ocasionando com isso os crimes bárbaros, podendo os psicopatas

tornarem-se assassinos em série.

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