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UNISO Curso de Letras 1º sem/2012 Org. Prof. Roberto Samuel Sanches Literatura Brasileira 1 Apostila 1 1. Estilos de Época na Literatura Brasileira 2. Literatura Informativa e Literatura Jesuítica 3. Barroco 4. Arcadismo

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Page 1: Apostila 01

UNISO – Curso de Letras 1º sem/2012

Org. Prof. Roberto Samuel Sanches

Literatura Brasileira 1 Apostila 1

1. Estilos de Época na Literatura Brasileira

2. Literatura Informativa e Literatura Jesuítica

3. Barroco

4. Arcadismo

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Lit. Brasileira 1 – Curso de Letras – Uniso – Org. Prof. Roberto Samuel Sanches[Digite texto] Página 2

LITERATURA BRASILEIRA 1 Conteúdo Programático

1. Estilos de Época na Literatura Brasileira

2. Literatura Informativa e Literatura Jesuítica

3. Barroco

4. Arcadismo

5. Romantismo (indianismo, ultra-romantismo, poesia e prosa romântica; poesia social)

6. Realismo (Naturalismo e Parnasianismo)

7. Simbolismo

8. Pré-Modernismo

1ª.parte:

1.Estilos de Época na Lit.Brasileira

2.Literatura Informativa e Lit.Jesuítica

1. Estilos de Época na Literatura Brasileira

1.1 Quadro comparativo Lit.Portuguesa e Lit.Brasileira

1.2 Quadro dos Estilos de Época da Lit.Brasileira

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1189/1198TrovadorismoCantiga da

Ribeirinha(PaioSoares

de Taveirós)

1418 Humanis-mo(Fernão

Lopes é nomeadoguarda-mor

da Torre do Tombo)

1527

Classicismo

(ou Renasci-

mento)

Sá de

Miranda

regressa da

Itália

paraPortugal

1580Barroco(morte de Camões;

passagemde Portugal para o domínio

daEspanha

1756Arcadis-moFundação

daArcádiaLusitana

1825Roman-tismoAlmeida

Garrett escreveo poemaCamões

1865 Realis-mo/Natura-

lismo

QuestãoCoimbrã

1890SimbolismoEugênio

de Castro : Oaristos

1915Modernismo

Revista

Orpheu

Estilos de Época na Literatura (paralelo entre Lit. Portuguesa e Lit.Brasileira)

Portugal

Brasil1500

Literatura

Informativa

(Carta de

Pero Vaz de

Caminha)

Lit. Jesuítica

(Quinhentismo)

1601Barroco

BentoTeixeira: Prosopo-peia

Seiscen-tismo

1768Arcadismo

CláudioManoel daCosta: Obras

Poéticas

1836Roman-

tismo

Gonçalvesde Magalhães:

SuspirosPoéticos e Saudades

1881 Realismo/

Natura-lismo/Parna-sianismo(Machado

de Assis: MemóriasPóstumasde BrásCubasAluísio de Azevedo: O Mulato

1893Simbolis

-moCruz e Souza escreve: Missal e

Broquéis

1900 a 1920

períodoaprox.

Pré-Moder-

nismo

1922Moder-

nismoSemanada Arte Modernade São

Paulo

Introdução

Considerando a visão pedagógica de periodização, isto é, separar as formas e artifícios literários em ordem cronológica, a produção literária em cada momento (mesmo sabendo que as características de obras literárias, de pensamento, estética, produção, etc. não se separam repentinamente), vemos que a Literatura Brasileira tem seu início com as Cartas e textos informativos sobre o descobrimento da nova terra, nos anos quinhentos (Quinhentismo) até a atualidade. Tomamos por base alguns estudiosos da literatura (que constam da bibliografia, no final) que dividem a Literatura Brasileira em dois momentos ou eras.

Podemos, então, considerar que a literatura brasileira tem sua história dividida em duas grandes eras, que acompanham a evolução política e econômica do país: a Era Colonial e a Era Nacional, separadas por um período de transição, que corresponde à emancipação política do Brasil. As eras apresentam subdivisões chamadas escolas literárias ou estilos de época.

A Era Colonial abrange o Quinhentismo (de 1500, ano do descobrimento, a 1601), o Seiscentismo ou Barroco (de 1601 a 1768), o Setecentismo (de 1768 a 1808) e o período de Transição (de 1808 a 1836). A Era Nacional, por sua vez, envolve o Romantismo (de 1836 a 1881), o Realismo (de 1881 a 1893), o Simbolismo (de 1893 a 1922) e o Modernismo (de 1922 a 1945). A partir daí, o que está em estudo é a literatura brasileira contemporânea.

Obs.: além da bibliografia citada no final da apostila, o texto referência para este texto é o da História da Lit. Bras.da ABL)

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Descobrimento.do.Brasil.Francisco Aurelio.de.F.e Mello.1887

2. Literatura Informativa e Literatura Jesuítica

2.1 Literatura Informativa

Os primeiros escritos da literatura brasileira foram realizados por estrangeiros, viajantes ou

missionários falando sobre o descobrimento, sobre a terra descoberta, sobre os habitantes

brasileiros. Portanto, são documentos, textos informativos que não pertencem à categoria

do literário, mas à pura crônica histórica. É graças a esses textos apresentando as

paisagens da terra, o índio e os grupos sociais nascentes que temos uma visão das

condições primitivas de nossa cultura.

2.1.1 Pero Vaz de Caminha:

Nasceu provavelmente na cidade do Porto, em meados do séc.XV. Caminha fazia parte da

esquadra de Cabral, por ocasião da descoberta do Brasil, porque tinha sido nomeado pelo rei de

Portugal para ser escrivão na feitoria que seria erguida em Calecute, na Índia. Após o achamento do

Brasil, continuou na esquadra de Cabral e morreu ainda em 1500, durante um assalto dos mouros a

Calecute . Foi ele que escreveu a Carta sobre a descoberta da nova terra, endereçada ao rei de

Portugal, na época, D. Manuel. Ele era um homem integrado na vida do Concelho do Porto e um

burguês que havia ocupado vários cargos importantes, dentre eles, foi mestre da balança da Moeda

do Porto, tendo participado da Batalha de Toro, comandando as tropas dessa cidade. Foi também

cavaleiro das Casas de D.Afonso V, D.João I e D.Manuel I.

Caso queira conhecer mais a respeito dele:

http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/pero-vaz-de-caminha/pero-vaz-de-caminha-2.php

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A Carta de Pero Vaz de Caminha – escrita a el-rei

D.Manuel, narrando o descobrimento de uma nova terra e as

primeiras impressões da natureza e do aborígine.

A Carta, datada de 1º. De maio de 1500, em que Caminha anuncia o feito ao rei de Portugal,

ficou conhecida como o mais importante documento sobre a descoberta do Brasil. Considera-se que

foi levada para Lisboa por Gaspar de Lemos, comandante da nau de mantimentos da esquadra de

Cabral. Os principais caracteres que saltam à primeira leitura da Carta é o espírito observador,

ingenuidade (no sentido do tipo de realismo apresentado), e uma transparente ideologia mercantilista

batizada pelo zelo missionário de uma cristandade ainda medieval. Observe-se que tem seu valor

enquanto documento histórico. Vejamos o trecho inicial e mais alguns trechos seguintes, para

observarmos a linguagem e conteúdo:

Senhor, Posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a notícia do achamento desta vossa terra nova, que se ora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que para o bem contar e falar o saiba pior que todos fazer. Mas tome Vossa Alteza minha ignorância por boa vontade, a qual, bem certo, creia que por afremosentar nem afear, aqui não há de pôr mais do que aquilo que vi e me pareceu.Da marinhagem e singraduras do caminho não darei aqui conta a Vossa Alteza, porque o não saberei fazer e os pilotos devem ter este cuidado. E portanto, Senhor, do que hei de falar começo e digo que a partida de Belém , como Vossa Alteza sabe, foi segunda-feira, 9 de março. E sábado, 14 do dito mês, entre as 8 e 9 horas, nos achamos entre as Canárias, mais perto da Grande Canária. E ali andamos todo aquele dia em calma, à vista delas, obra de três a quatro léguas. E domingo, 22 do dito mês, às dez horas mais ou menos, houvemos vista das ilhas de Cabo Verde, isto é, da ilha de São Nicolau, segundo o dito de Pero Escolar, piloto.

(...)

[Quarta-feira, 22 de abril] E à quarta-feira seguinte, pela manhã , topamos aves, a que chamam fura-buchos. E neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra, isto é, primeiramente d’ um grande monte, mui alto e redondo; e d’outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de o Monte Pascoal e à terra a Terra de Vera Cruz! [Quinta-feira, 23 de abril] Mandou lançar o prumo, acharam vinte e cinco braças, e, ao sol-posto, obra de seis léguas da terra, surgimos âncoras em dezenove braças; ancoragem limpa. Ali ficamos toda aquela noite. E à quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e seguimos em direitos à terra e e os navios pequenos diante, indo por dezessete, dezesseis, quinze, catorze, doze, nove braças até meia légua da terra, onde todos lançamos âncoras, em direito da boca de um rio. E chegaríamos a esta ancoragem às dez horas, pouco mais ou menos. E dali houvemos vista d’ homens que andavam pela praia, de sete ou oito, segundo os navios pequenos disseram, por chegarem primeiro. Ali lançamos os batéis e esquifes fora e vieram logo todos os capitães das naus a esta nau do capitão-mor e ali falaram. E o Capitão mandou, em terra, a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E, tanto que ele começou para lá d’ir, acudiram pela praia homens, quando dous, quando três, de maneira que, quando o batel chegou à boca do rio, eram ali dezoito ou vinte. Pardos, nus, sem nenhuma cousa que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e suas setas. Vinham todos rijos para o batel e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pusessem os arcos e eles os puseram. Ali não poude deles haver fala nem entendimento que aproveitasse, por o mar quebrar na costa. Somente deu-lhes um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça, e um sombreiro preto. E um deles lhe deu um sombreiro de penas d’aves, compridas, com uma copazinha de penas vermelhas e pardas, como de papagaio. E outro lhe deu um ramal grande de continhas brancas, miúdas que querem parecer d’aljaveira, as quais peças creio que o Capitão manda a Vossa Alteza. E com isto se volveu às naus por ser tarde e não poder haver deles mais fala, por azo do mar.

(...)

A feição deles é serem pardos, maneira d’ avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma, nem estimam nenhuma cousa cobrir nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca

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disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto . Traziam ambos os beiços de baixo furados, metido por eles um osso branco de comprimento duma mão travessa e de grossura dum fuso de algodão, e agudo na ponta como furador. Metem-no pela parte de dentro do beiço e o que lhe fica entre o beiço e os dentes é feita como roque de xadrez; e em tal maneira o trazem ali encaixado, que lhes não dá paixão nem lhes estorva a fala, em comer, nem beber. Os cabelos seu são corredios e andavam tosquiados, de tosquia alta mais que de sobre-pente, de boa grandura e rapados até por cima das orelhas. E um deles trazia por baixo da solapa, de fonte a fonte para detrás, uma maneira de cabeleira de penas d’ ave amarela, que seria do comprimento d’um coto, mui basta e mui çarrada, que lhe cobria o toutuço e as orelhas, a qual andava pegada nos cabelos, pena e pena, com uma confeição branda como cera e não no era; de maneira que andava a cabeleira mui redonda e mui basta e mui igual, que não fazia míngua mais lavagem para a levantar. O Capitão, quando eles vieram, estava assentado em uma cadeira, e uma alcatifa aos pés por estrado; e bem vestido, com um colar d’ ouro mui grande ao pescoço. E Sancho de Toar e Simão de Miranda e Nicolau Coelho e Aires Corrêa e nós outros que aqui na nau como ele imos, assentados no chão por essa alcatifa. Acenderam tochas e entraram e não fizeram nenhuma menção de cortesia nem de falar ao capitão nem a ninguém. Um deles, porém, pôs olho no colar do capitão e começou d’acenar com a mão para a terra e despois para o colar, como que nos dizia que havia em terra ouro. E também viu um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e então para o castiçal, como que havia também prata. Mostraram-lhes um papagaio pardo, que aqui o capitão traz, tomaram-no na mão e acenaram para a terra, como que os havia aí. Mostraram-lhes um carneiro, não fizeram dele menção. Mostraram-lhes uma galinha, quase haviam medo dela e não queriam pôr a mão e despois a tomaram como espantados. Deram-lhes ali de comer pão pescado cozido, confeitos, farteis, mel e figo passados; não quiseram comer daquilo quase nada. E alguma cousa, se a provavam, lançavam-na logo fora. Trouxeram-lhes vinho por uma taça, mal lhe puseram a boca e não gostaram dele nada nm o quiseram mais. Trouxeram-lhes água por uma albarrada, tomou cada um eles um bocado dela não beberam; somente lavaram as bocas e lançaram fora. Viu um deles umas contas de rosairo, brancas; acenou que lhas dessem e folgou muito com elas e lançou-as ao pescoço e despois tirou-as e embrulhou-as no braço; e acenava para a terra e então para as contas e para o colar do capitão, como que dariam ouro por aquilo. Isto tomávamos nós assim por o desejarmos; mas, se ele queria dizer que levaria as contas e mais o colar, isto não queríamos nós entender, porque lhos não havíamos de dar. E despois tornou as contas a quem lhas deu. E então estiraram-s assim de costas na alcatifa, a dormir, sem ter nenhuma maneira de lhes cobrirem suas vergonhas, as quais não eram fanadas e as cabeleiras delas bem rapadas e bem feitas. O capitão mandou pôr à cabeça de cada um deles um coxim e o da cabeleira procurava assaz por a não quebrar. E lançaram-lhes um manto em cima e eles consentiram e ficaram e dormiram. (CAMINHA, Pero Vaz de. Carta a el-rei dom Manuel sobre o achamento do Brasil. Introd.atualiz.do texto de M.Viegas Guerreiro. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1974.

Se tiver vontade de ler o texto completo, apresento, em seguida, o endereço do texto, para download. Vale a

pena lê-lo, pois é bastante interessante no sentido de perceber o primeiro contato dos portugueses com os

índios, a visão religiosa, o interesse pelo ouro e prata e pela catequização dos índios.

http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000283.pdf

Desembarque de Cabral em Porto Seguro (estudo), óleo s tela, Oscar Pereira da Silva, 1904. Acervo do Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro

2.1.2 Pero Lopes e Sousa – Foi escrivão do primeiro grupo

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colonizador, o de Martim Afonso de Sousa (1530). Escreveu

Tratado da Terra do Brasil; História da Província de Santa Cruz

a que Vulgarmente Chamam Brasil (1576).

Vejamos alguns trechos da História da Província de Santa Cruz a que Vulgarmente

chamamos Brasil:

PROLOGO AO LECTOR

A causa principal que me obrigou a lançar mão da presente historia, e sair com ella a

luz, foi por não haver atégora pessoa quea emprendesse, havendo já setenta e tantos

annos que esta Provincia he descoberta.

A causa principal que me obrigou a lançar mão da presente história, e sair com ela à luz, foi por não haver até

agora pessoa que a empreendesse, havendo já setenta e tantos anos que esta Província é descoberta.

(...)

CAPÍTULO V

DAS PLANTAS, MANTIMENTOS E FRUITAS QUE HA NESTA PROVINCIA

São tantas e tam diversas as plantas, fruitas, e hervas que ha nesta Provincia, de que se

podiam notar muitas particularidades, que seria cousa infinita escreve-las aqui todas, e dar noticia dos effectos de

cada huma meudamente. E por isso nem farei agora mençam sinam de algumas em particular, principalmente

daquellas de cuja virtude e fruito Participão os Portuguezes. Primeiramente tratarei da planta e raiz de que os

moradores fazem seus mantimentos que la comem em logar de pão. A raiz se chama mandioca, e a planta de que

se gera he de altura de hum homem pouco mais ou menos. Esta planta nam he muito grossa, e tem muitos nós:

quando a querem plantar em alguma roça cortão-na e fazem-na em pedacos, os quaes metem debaixo da terra,

depois de cultivada, como estacas, e dahi tornaõ arrebentar outras plantas de novo: e cada estaca destas cria tres

ou quatro raízes e dahi pera cima (segundo a virtude da terra em que se planta) as quaes põem nove ou dez meses

em se criar: salvo em Sam Vicente que põem tres annos por causa da terra ser mais fria.

(...)

Huma planta se da támbem nesta Provincia, que foi da ilha de Sam Thomé, com a fruita da qual se ajudam

muitas pessoas a sustentar na terra. Esta planta he mui tenra e nam muito alta, nam tem ramos senam humas

folhas que serão seis ou sete palmos de comprido. A fruita della se chama bananas. Parecem-se na feição com

pepinos, e crião-se em cachos: alguns delles ha tam grandes que tem de cento e cincoenta bananas pera cima, e

muitas vezes he tamanho o peso della que acontece quebrar a planta pelo meio. Como são de vez colhem estes

cachos, e dali a alguns dias amadurecem. Depois de colhidos cortão esta planta porque nam frutifica mais que a

primeira vez: mas tornam logo a nascer della huns filhos que brotam do mesmo pé, de se fazem outros

semelhantes. Esta fruita he mui sabrosa, e das boas, que ha na terra: tem huma pelle como de figo (ainda que

mais dura) a qual lhe lanção fora quando a querem comer: mas faz dano á saude e causa fevre a quem se

desmanda nella.

Aqui vai o endereço para download do texto completo, caso queira conhecer um pouco mais:

http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000290.pdf

2.1.3 Gabriel Soares de Sousa – Tratado descritivo do Brasil (1587) – rica fonte

de informações sobre a colônia no séc. XVI. Consta que Gabriel Soares (1540?- 1591) era

português, senhor de engenho e vereador na Câmara da Bahia, onde registrou suas

observações durante os 17 anos em que lá morou. Tendo herdado do irmão um roteiro de

minas de prata que se encontrariam junto às vertentes do Rio São Francisco, foi à

Espanha pedir uma carta-régia que lhe concedesse o direito de capitanear uma entrada

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pelos sertões mineiros. Obteve-a, mas a expedição malogrou vindo ele a falecer em 1591.

Caso queira conhecer o texto referente: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me003015.pdf

2.1.4 Ambrósio Fernandes Brandão - cristão-novo português, em Diálogos

das grandezas do Brasil(1618) escreve seis diálogos entre Brandônio, que faz as vezes do

colonizador bem informado, e Alviano, recém-vindo da Metrópole e sequioso de notícias

sobre as riquezas da terra.

Vejamos pequeno trecho que nos mostra um pouco da linguagem e conteúdo,

principalmente a grande possibilidade de se enriquecer no novo eldorado:

Brandônio – (..) Pelo que, começando, digo que as riquezas do Brasil consistem em seis

coisas, com as quais seus povoadores se fazem ricos, que são estas: a primeira a lavoura

do açúcar, a segunda a mercancia, a terceira o pau a que chamam do Brasil, a quarta os

algodões e madeiras, a quinta a lavoura de mantimentos, a sexta e última a criação de

gados. De todas estas coisas o principal nervo substância da riqueza da terra é a lavoura

dos açúcares.(...)

Caso queira conhecer mais a respeito da obra:

http://www.culturatura.com.br/obras/Di%C3%A1logos%20das%20grandezas%20do%20Brasil.pdf

Nau do Descobrimento, óleo s tela, Carlos Ballister, 1912. Acervo do Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro (SIGA

006.214). Fotografia de Paulo Scheuenstuhl

Hans Staden – aventureiro alemão, esteve no Brasil duas vezes. Na primeira, na

capitania de Pernambuco. Na segunda vez, após vários enfrentamentos com os indígenas,

naufragou próximo a São Vicente. Conseguiu salvar-se. Posteriormente, enquanto caçava,

em Ubatuba, foi aprisionado pelos índios que demonstravam intenção de devorá-lo.

Conseguiu ser resgatado por um navio francês. Na Alemanha, escreveu Duas Viagens ao

Brasil, relatando suas aventuras.

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(

2.2 A Literatura Jesuítica

Os jesuítas chegaram no Brasil em 1549, na frota de Tomé de Sousa, instalaram

colégios da Companhia de Jesus no Rio de Janeiro, Bahia e Pará. Junto à ação

catequética, desenvolveram um ensino e uma atividade literária de cunho

medievalizante. De sua produção, apenas a poesia e o teatro ostentam facetas

estéticas. Dentre eles, salientam-se o Pe. José de Anchieta e Pe.Manuel da

Nóbrega.

Padre José de Anchieta

2.2.1 Padre José de Anchieta – nasceu em Tenerife, nas Ilhas Canárias,

Espanha, em 1534 e faleceu no Espírito Santo, em 1597. Veio para o Brasil quando ainda

era noviço. Membro da Companhia de Jesus, demonstrou um zelo constante pela

conversão do gentio e logo fez sentir sua ação apostólica fundando, com Manuel da

Nóbrega um colégio em Piratininga, na cidade de São Paulo. Exemplo de vida espiritual,

religioso sensível, sua obra é constituída de prosa informativa (crônica, correspondência),

de sermões e de poesias escritas em português, espanhol e tupi guarani. Vemos ainda sua

poesia de inspiração religiosa e a poesia misto de exaltação da terra e de louvor da obra

colonizadora do português, como exemplificam dois poemas escritos em latim, um sobre a

Virgem Maria (Poema à Virgem Maria : De Beata Virgine Di Matre Maria) e outro sobre a

ação do governador Mem de Sá. Utilizava o teatro no processo de catequização dos índios

( Na festa de São Lourenço; Festa de Natal; dentre outras)

Há alguns de seus poemas, como Em Deus, meu Criador, em que a linguagem molda-se

na tradição medieval espanhola e portuguesa, em metros breves, da medida velha,

traduzindo uma visão do mundo arredia aos bens terrenos:

Não há cousa segura.

Tudo quanto se vê

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se vai passando.

A vida não tem dura.

O bem se vai gastando.

Toda criatura

passa voando.

.......................................

Contente assim, minh’alma,

do doce amor de Deus

toda ferida,

o mundo deixa em calma,

buscando a outra vida,

na qual deseja ser

absorvida.

Ainda fazendo parte do texto acima, vejamos um trecho em que se consolida o amor divino:

Do pé do sacro monte

meus olhos levantando

ao alto cume,

vi estar aberta a fonte

do verdadeiro lume,

que as trevas do meu peito

todas consume.

Correm doces licores

das grandes aberturas

do penedo.

Levantam-se os errores,

levanta-se o degredo

e tira-se a amargura

do fruto azedo.

E como ocorre na melhor tradição popular são os símiles mais correntes, tomados às necessidades materiais, como a nutrição, o

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calor,o medicamento, que o poeta prefere para concretizar a emoção religiosa:

Cordeirinha linda,

Como folga o povo

Porque vossa vinda

Lhe dá lume novo!

(...)

Santa padeirinha,

Morta com cutelo

Se nenhum farelo

É vossa farinha.

Ela é mezinha

Com que sara o povo,

Que com vossa vinda

Terá trigo novo.

O pão que amassastes

Dentro em vosso peito

É o amor perfeito

Com que a Deus amastes.

Pe. Manuel da Nóbrega – (português – 1517/1570). Membro da Companhia e Jesus, vem

para o Brasil em 1549, com Tomé de Sousa, primeiro governador-geral, chefiando a missão de

instalar a Ordem na terra nova. Colaborou na fundação de Salvador e do Rio de Janeiro e fundou a

cidade de São Paulo, auxiliado pelo Padre José de Anchieta. Escreveu: Cartas do Brasil; Diálogo

sobre a conversão do gentio.

Bibliografia utilizada para a 1ª. parte:

BOSI,Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1970.

CÂNDIDO, Antonio; CASTELLO,José Aderaldo.Presença da Literatura Brasileira.vol.1. São Paulo:Difusão Europeia do Livro.1968.

MOISÉS,Massaud. A literatura brasileira através dos textos.São Paulo: Cultrix, 1976.

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2ª. parte:

O Barroco – A origem da palavra Barroco é controvertida. Alguns estudiosos da língua

consideram que essa palavra está ligada a um processo mnemônico (relativo à memória)

que designava um silogismo aristotélico com conclusão falsa. Segundo outros, designaria

um tipo de pérola de forma irregular, ou mesmo uma superfície desigual, assimétrica.

No Brasil, o Barroco tem seu início em 1601, com a publicação do poema épico

Prosopopeia, de Bento Teixeira.

Durante esse período, em Portugal há o mito do sebastianismo, isto é, D. Sebastião havia

desaparecido na África e a Espanha havia consolidado a unificação da Península Ibérica.

A perda da autonomia e o desaparecimento de D. Sebastião originam em Portugal o mito

do sebastianianismo, a crença segundo a qual D. Sebastião voltaria e transformaria

Portugal no Quinto Império. O mais ilustre sebastianista foi o Padre Antonio Vieira, que

viveu parte de sua vida em Portugal e parte no Brasil.

A unificação da Península veio favorecer a luta conduzida pela Companhia de Jesus m

nome da Contra-Reforma: o ensino torna-se quase um monopólio dos jesuítas, e a

censura eclesiástica, um obstáculo a qualquer avanço no campo científico-cultural.

Enquanto a Europa vive um período de efervescência

(silogismo: dedução formal tal que, postas duas proposições, chamadas premissas, delas, por inferência, se tira uma

terceira, chamada conclusão. In Dicionário Aurélio)

Pe. Antonio Vieira

Padre Antonio Vieira

Nasceu em Lisboa, em 1608. Aos seis anos, vem para o Brasil, e mais tarde ingressa no colégio jesuítico da

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Bahia. Ordenando-se em 1634, logo alcança renome de pregador eloquente e culto. Dedicou-se à catequese e

conversão dos indígenas. Acabou voltando para Portugal e foi preso pelas idéias de fundo sebastianista.

Posteriormente vai a Roma e depois retorna ao Brasil. Morreu em 1697. Escreveu: Sermões (15 volumes);

História do Futuro; Esperanças de Portugal; Clavis Prophetarum e quinhentas cartas. Dentre os seus sermões

mais famosos estão: Sermão da Sexagésima; Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de

Holanda; Sermão de Santo Antonio. Ao menos o Sermão da Sexagésima deve ser leitura obrigatória para

alunos do curso de Letras. Os outros dois também são muito interessantes e valem a pena.

Sermão da Sexagésima – Pregado na Capela Real (Lisboa), em março de 1655, o Sermão da

Sexagésima abre a série de quinze volumes que enfeixam as peças oratórias do Padre Antonio Vieira,

e serve-lhes de prólogo, ao mesmo tempo que encerra uma teoria da arte de pregar, inspirada em

moldes conceptistas. O tema do sermão é extraído da passagem bíblica Semen est verbum Dei

(S.Lucas, VIII,2) ou seja, A Semente é a palavra de Deus. O pregador transforma em pergunta o tema

da peça: Se a palavra de Deus é tão eficaz e tão poderosa, como vemos tão pouco fruto da palavra de

Deus?

Vejamos um trecho do final do Introito:

Fazer pouco fruto a palavra de Deus no mundo pode proceder de um de três princípios: ou da

parte do pregador, ou da parte do ouvinte, ou da parte de Deus. Para uma alma se converter por

meio de um sermão há de haver três concursos: há de concorrer o pregador com a doutrina,

persuadindo; há de concorrer o ouvinte com o entendimento, percebendo; há de concorrer Deus

com a graça, alumiando. Para um homem se ver a si mesmo são necessárias três coisas: olhos,

espelho e luz. Se tem espelho e é cego não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e tem

olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo há mister luz, há mister espelho, e há

mister olhos. Que coisa é a conversão de uma alma senão entrar um homem dentro em si, e ver-se

a si mesmo? Para esta vista são necessários olhos, é necessária luz, e é necessário espelho. O

pregador concorre com o espelho que é a doutrina; Deus concorre com a luz, que é a graça; o

homem concorre com os olhos, que é o conhecimento. Ora, suposto que a conversão das almas

por meio da pregação depende destes três concursos: de Deus, do pregador, e do ouvinte; por

qual deles havemos de entender que falta? Por parte do ouvinte, ou por parte do pregador, ou por

parte de Deus? (...)

Sendo pois certo que a palavra divina não deixa de frutificar por parte de Deus, segue-se, que ou

é por falta do pregador, ou por falta dos ouvintes. Por qual será? Os pregadores deitam a culpa

aos ouvintes, mas não é assim. (...)

Supostas estas duas demonstrações; suposto que o fruto e efeitos da palavra de Deus, não fica,

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nem por parte de Deus, nem por parte dos ouvintes, segue-se por conseqüência clara que fica por

parte do pregador. E assim é. Sabeis, cristãos, por que não faz fruto a palavra de Deus? Por culpa

dos pregadores. Sabeis, pregadores, por que não faz fruto a palavra de Deus? Por culpa nossa.

Fica agora para você ler o texto integral:

Sermão da Sexagésima:

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1745

Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda:

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1742

Sermão de Santo Antonio:

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=17349

Gregório de Matos Guerra

Gregório de Matos Guerra - nasceu na Bahia em 1633. De família de boas condições financeiras,

estudou com os jesuítas, na cidade natal. Formou-se em Direito em Coimbra. Depois de viver algum tempo em

Lisboa, retorna ao Brasil. Na Bahia, levou vida boêmia e indisciplinada. Advogado de poucas causas,

improvisava versos cantando com viola, caçoando de muita gente, inclusive de autoridades. Mesmo assim

casou-se, teve filhos e a proteção de alguns bispos e governadores. Provavelmente, para evitar maiores

problemas que um deles o exilou em Angola, de onde voltou em 1695, indo para Recife, onde morreu no ano

seguinte. Sua obra permaneceu inédita durante bom tempo, sendo reunida apenas em 1881 sua primeira

coletânea satírica. Sua poesia satírica, pitoresca e saborosa, tem uma força poderosa e crítica pessoal e social,

um admirável senso do pitoresco, entrando pela irreverência e obscenidade. Sua capacidade de fixar num

lampejo os vícios, os ridículos, os desmandos, num verso nervoso e saliente, faz dele um dos maiores satíricos

da poesia brasileira. Daí muito chamarem-no de o Boca do Inferno.

Mesmo assim, sua poesia lírica é, talvez, superior, com alguns momentos da mais alta poesia. O jogo de

palavras que ele tão bem soube trabalhar na poesia satírica, torna-se na lírica a pesquisa das emoções raras, o

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desvendamento das contradições, busca da unidade sobre a diversidade, tentativa de pacificar ou desvendar as

antinomias. A isso se junta o senso vivo do pecado, o desejo de perdão e uma ânsia comovedora de pureza,

para dar à sua obra um vigoroso refinamento.

Ao Governador Antonio de Sousa de Meneses,

Chamado vulgarmente o “Braço de Prata”

Sor Antonio de Sousa de Meneses,

Quem sobe ao alto lugar, que não merece,

Homem sobe, asno vai, burro parece,

Que o subir é desgraça muitas vezes.

A fortunilha, autora de entremezes,

Transpõe em burro heroi que indigno cresce;

Desanda a roda, e logo homem parece,

Que é discreta a fortuna em seus reveses.

Homem sei eu que foi Vossenhoria

Quando o pisava da fortuna a roda;

Burro foi ao subir tão alto clima.

Pois alto! Vá descendo onde jazia,

Verá quanto melhor se lhe acomoda

Ser homem em baixo do que burro em cima.

Ao braço do Menino Jesus de Nossa Senhora das Maravilhas, A quem infieis despedaçaram

O todo sem a parte não é todo;

A parte sem o todo não é parte;

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Mas se a parte o faz todo, sendo parte,

Não se diga que é parte, sendo o todo.

Em todo o Sacramento está Deus todo,

E todo assiste inteiro em qualquer parte,

E feito em partes todo em toda a parte,

Em qualquer parte sempre fica o todo.

O braço de Jesus não seja parte,

Pois que feito Jesus em partes todo,

Assiste cada parte em sua parte.

Não se sabendo parte deste todo,

Um braço que lhe acharam, sendo parte,

Nos diz as partes todas deste todo.

A Jesus Cristo Nosso Senhor

Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,

Da vossa alta clemência me despido;

Porque, quanto mais tenho delinquido,

Vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto pecado,

A abrandar-vos sobeja um só gemido:

Que a mesma culpa, que vos há ofendido,

Vos tem para o perdão lisonjeado.

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Se uma ovelha perdida e já cobrada

Glória tal e prazer tão repentino

Vos deu, como afirmais na Sacra História:

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,

Cobrai-a; e não queirais, Pastor divino,

Perder na vossa ovelha a vossa glória.

Vocabulário:

Despido: despeço./sobeja: é necessário/ cobrada: recuperada/ Sacra História: as Sagradas Escrituras.

Buscando a Cristo

A vós correndo vou, braços cruzados,

Nessa cruz sacrossanta descobertos,

Que, para receber-me, estais abertos,

E, por não castigar-me, estais cravados.

A vós, divinos olhos, eclipsados

De tanto sangue e lágrimas abertos,

Pois para perdoar-me, estais despertos,

E, por não condenar-me, estais fechados.

A vós, pregados pés, por não deixar-me,

A vós, sangue vertido, para ungir-me

A vós, cabeça baixa, para chamar-me.

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A vós, lado patente, quero unir-me,

A vós, cravos preciosos, quero atar-me,

Para ficar unido, atado e firme.

Exercício:

1) Faça um resumo da Lit. Informativa e da Lit. Jesuítica citando os principais características, autores e obras;

2) Faça um resumo do Barroco no Brasil, citando as principais características, autores e obras;

3) Faça uma análise-interpretativa do poema a seguir, citando autor, explicando seu conteúdo e forma (incluindo

escansão):

4)

Descreve o que era naquele tempo

a cidade da Bahia

A cada canto um grande conselheiro,

Que nos quer governar cabana e vinha;

Não sabem governar sua cozinha,

E podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um bem frequente olheiro,

Que a vida do vizinho e da vizinha

Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,

Para o levar à praça e ao terreiro.

Muitos mulatos desavergonhados,

Trazidos sob os pés os homens nobres,

Posta nas palmas toda a picardia,

Estupendas usuras nos mercados,

Todos os que não furtam muito pobres:

E eis aqui a cidade da Bahia.

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2ª. parte:

ARCADISMO ou Neoclassicismo

A game of hot cockles. De Fragonard

Exemplifica como a vida natural ganhou projeção no séc. XVIII

Prega a vida simples e natural. A natureza, fonte de pureza, é objeto de contemplação. No século XVIII as

formas artísticas do Barroco já estão desgastadas. Combate-se a mentalidade religiosa criada pela Contra-

Reforma, nega-se a educação jesuítica praticada nas escolas, valoriza-se o estudo científico e as atividades

humanas num verdadeiro retorno à cultura renascentista. Um dos seus objetivos é restaurar o equilíbrio por

meio da razão.

Fugere urbem (fuga da cidade): influenciados pelo poeta latino Horácio, os árcades defendiam o bucolismo

como ideal de vida, isto é, uma vida simples e natural, junto ao campo, distante dos centros urbanos. Esse

princípio era reforçado com o pensamento do filósofo francês, Jean-Jacques Rousseau, segundo o qual a

civilização corrompe os costumes do homem, que nasce naturalmente bom.

Aurea mediocritas (vida medíocre materialmente, mas rica em realizações espirituais): idealização de uma vida

pobre e feliz no campo, em oposição à vida luxuosa e triste na cidade.

Ideias iluministas: defesa do uso da razão, em contraposição à fé cristã, combate ao absolutismo.

O nome Arcadismo evoca o nome de uma região da Grécia (Arcádia), em que se localizou convencionalmenge o

modelo ideal de vida rústica e evoca a associação em que se reuniram os reformadores, a Arcádia Lusitana,

fundada em 1756, nos moldes da famosa Arcádia Romana, criada em Roma em 1690 e à qual os portugueses

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estiveram ligados, inclusive pela proteção que lhe deu D.João V. Mais remotamente, provém do romance

pastoral de Sannazaro, Arcádia (1504), no qual a vida campestre é idealizada como verdadeiro estado de

poesia, o que levou os escritores setecentistas desta corrente a se denominarem pastores, adotando

pseudônimos poéticos. O movimento preconizava a busca da natureza por meio da valorização dos

sentimentos, da clareza nas ideias, imitação estrita dos antigos escritores gregos e romanos. Há um desejo de

simplicidade intelectual, baseado na influência do racionalismo filosófico e de simplicidade afetiva. Os novos

escritores vão-se preocupar com assuntos mais imediatos e concretos que aqueles dos poetas barrocos: a

melhoria do homem pela instrução, a busca da harmonia social pela obediência às leis da natureza, a procura

da felicidade na terra por meio da prática do bem e da sabedoria.

Sendo assim, tanto a busca da simplicidade formal, quanto a da clareza e eficácia das ideias se ligam, nos

árcades, ao valor dado à natureza, como base da harmonia e da sabedoria. Surgem, então, os temas bucólicos

(que visam representar a inocência e a sadia rusticidade dos costumes rurais, sobretudo dos pastores).

Utilizam-se de pseudônimos, chamando-se de pastores e tratando suas personagens femininas de pastoras.

Os árcades procuravam obter o equilíbrio expressional atribuído aos clássicos antigos e codificado pelos

teóricos dos séculos XVI e XVII. Por isso são chamados de neoclássicos e seu movimento de Neoclassicismo.

Esteticamente, os árcades buscaram utilizar a ordem direta, tiveram predileção pelo verso branco (sem

rima), simplicidade na linguagem, abandono do termo rebuscado, singeleza no vocabulário.

Embora tenham conservado o hábito da perífrase (ou circunlóquio= rodeio de palavras), combateram as

formas mais extremas de inversão sintética (hipérbato= ordem inversa da sentença), atenuaram o exagero da

comparações e o uso da antítese (oposição entre palavras ou ideias), combateram o trocadilho (jogo de

palavras semelhantes no som e diferentes na significação, e que dão lugar a equívocos; uso de expressões

ambíguas)

Os gêneros

Foi no lirismo que os poetas árcades se exprimiram melhor, entendendo-se por lírica a poesia que representa

um ponto de vista subjetivo, seja manifestando estados da alma, seja descrevendo fatos ou celebrando feitos

que o poeta encara de um ângulo de vibração pessoal, como se a experiência descrita filtrasse através do

próprio Eu. As modalidades que se apresentam são: soneto, ode, elegia, écloga, a canção sob diversas

modalidades.

Soneto: forma poética que se apresenta em dois quartetos e dois tercetos.

Ode: significava primitivamente, canto, ou canção. No início (séc.V a.C.) consistia num canto monódico, executado pelo

próprio poeta, acompanhado de um instrumento de cordas, a lira. Nessa época estruturava-se em versos cuja medida

variava de acordo com os efeitos musicais e emocionais pretendidos, organizado em quartetos. Essa forma passou por

várias alterações até chegar na ode moderna, utilizada por José Régio, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade,

dentre outros.

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Elegia: é um poema em que se exprimem sentimentos tristes e melancólicos, por exemplo, para celebrar episódios

fúnebres, como a morte de alguém.

Écloga (ou égloga): de origem latina (Virgílio), constituía um poema longo, dialogado ou não, e destinado a celebrar a

beleza e a felicidade da vida campestre. Confundia-se, às vezes, com o idílio, de ascendência grega (Teócrito), que tendia a

ser uma composição curta, capaz de abrigar outros assuntos que não os bucólicos. A égloga encontrou cultores entusiastas

nos séculos XVI e XVII (Bernardim Ribeiro, Rodrigues Lobo, Camões, Cristóvão Falcão, Sá de Miranda e outros). O idílio foi

cultivado no séc. XVIII, por Bocage, Filinto Elísio e outros

Canção: por sua proximidade com a música, deve encerrar um sentimento vibrante, onde transpareça amor, paixão ou

mesmo ódio e vingança, mas onde se sinta que pulsa a alma do poeta. Um pouco depois de seu aparecimento, tinha forma

fixa que posteriormente foi sendo alterada, passando por várias formas até chegar nos dias de hoje.

Tiradentes Esquartejado. Pedro Américo. 1893

ARCADISMO NO BRASIL

O Arcadismo brasileiro concentrou-se, principalmente, em Vila Rica (hoje Ouro Preto), Minas Gerais. Seu

aparecimento teve relação direta com o crescimento urbano verificado no séc. XVIII nas cidades mineiras, cuja

vida econômica girava em torno da extração de ouro. Muitos dos escritores árcades mineiros tiveram

participação direta no movimento da Inconfidência Mineira. Haviam chegado de Coimbra, influenciados pelas

ideias enciclopedistas, independência dos Estados Unidos e também sonhavam com a independência do Brasil.

Os principais escritores do período: Tomás Antônio Gonzaga, Alvarenga Peixoto e Cláudio Manuel da Costa.

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O Arcadismo teve seu início em 1768 com a publicação das Obras Poeticas, de Cláudio Manuel da Costa e seus

autores destacam-se principalmente na lírica: Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e Silva

Alvarenga; na épica: Basílio da Gama, Santa Rita Durão e Cláudio Manuel da Costa; e na sátira: Tomás

Antonio Gonzaga.

Cláudio Manuel da Costa

CLAUDIO MANUEL DA COSTA (1729-1789) – também conhecido pelo pseudônimo pastoral de

Glauceste Satúrnio, nasceu em Mariana, Minas Gerais e, depois de estudar no Brasil, com os jesuítas, formou-

se advogado, em Coimbra. No Brasil, em Vila Rica, exerceu carreira de advogado e de administrador. Sua

carreira literária teve início com a publicação das Obras Poéticas. Acusado de envolvimento com a

Inconfidência Mineira, foi preso e encontrado morto na cadeia, sob a alegação oficial de suicídio.

Seus sonetos

A seguir, incluímos 3 sonetos de Cláudio Manuel da Costa:

II Leia a posteridade, ó pátrio Rio, Em meus versos teu nome celebrado; Por que vejas uma hora despertado O sono vil do esquecimento frio: Não vês nas tuas margens o sombrio, Fresco assento de um álamo copado; Não vês ninfa cantar, pastar o gado Na tarde clara do calmoso estio.

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Turvo banhando as pálidas areias Nas porções do riquíssimo tesouro O vasto campo da ambição recreias. Que de seus raios o planeta louro Enriquecendo o influxo em tuas veias, Quanto em chamas fecunda, brota em ouro. XIV Quem deixa o trato pastoril amado Pela ingrata, civil correspondência, Ou desconhece o rosto da violência, Ou do retiro a paz não tem provado. Que bem é ver nos campos transladado No gênio do pastor, o da inocência! E que mal é no trato, e na aparência Ver sempre o cortesão dissimulado! Ali respira amor sinceridade; Aqui sempre a traição seu rosto encobre; Um só trata a mentira, outro a verdade. Ali não há fortuna, que soçobre; Aqui quanto se observa, é variedade: Oh ventura do rico! Oh bem do pobre! XLVI Não vês, Lise, brincar esse menino Com aquela avezinha? Estende o braço; Deixa-a fugir; mas apertando o laço, A condena outra vez ao seu destino? Nessa mesma figura, eu imagino, Tens minha liberdade; pois ao passo, Que cuido, que estou livre do embaraço, Então me prende mais meu desatino. Em um contínuo giro o pensamento Tanto a precipitar-me se encaminha, Que não vejo onde pare o meu tormento. Mas fora menos mal esta ânsia minha, Se me faltasse a mim o entendimento, Como falta a razão a esta avezinha. Veja abaixo um endereço para conhecer mais sobre o autor:

http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/claudio.html#SONETOS

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Tomás Antonio Gonzaga

Tomás Antonio Gonzaga (1744-1810)

Considerado como o mais popular dentre os poetas árcades, no Brasil, Gonzaga nasceu em Porto-

Portugal e veio ainda menino para o Brasil, residindo na Bahia. Posteriormente cursou Direito em

Coimbra, lá tomando contato com as ideias iluministas e árcades.

Em Vila Rica exerceu a função de ouvidor da cidade, iniciando sua atividade literária e suas relações

amorosas com Maria Doroteia de Seixas, uma jovem de 16 anos, que aparece em seus versos com

o pseudônimo de Marília.

Em 1789 foi preso, acusado de participar da Inconfidência. Ficou encarcerado no Rio de Janeiro e,

em 1792 foi exilado para Moçambique. Apesar do sofrimento no cárcere, o que transparece em seus

textos, conseguiu casar-se na África, enriquecendo e envolvendo-se na política local. Apesar da

contenção de sentimentos pregada durante o período, sua poesia é mais emotiva. Em vez de uma

mulher idealizada, como a Nize, de Cláudio Manuel da Costa, a Marília de Gonzaga mostra-se mais

humana, próxima ao real.

Gonzaga cultivou a poesia lírica, reunida na obra Marília de Dirceu, e a poesia satírica, reunida nas

Cartas Chilenas, poema anônimo e incompleto cuja autoria lhe foi atribuída.

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Poesia Lírica:

Marília de Dirceu

PARTE I

Lira I

Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, Que viva de guardar alheio gado; De tosco trato, d’ expressões grosseiro, Dos frios gelos, e dos sois queimado. Tenho próprio casal, e nele assisto; Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; Das brancas ovelhinhas tiro o leite, E mais as finas lãs, de que me visto. Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela! Eu vi o meu semblante numa fonte, Dos anos inda não está cortado: Os pastores, que habitam este monte, Com tal destreza toco a sanfoninha, Que inveja até me tem o próprio Alceste: Ao som dela concerto a voz celeste; Nem canto letra, que não seja minha, Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela! Mas tendo tantos dotes da ventura, Só apreço lhes dou, gentil Pastora, Depois que teu afeto me segura, Que queres do que tenho ser senhora. É bom, minha Marília, é bom ser dono De um rebanho, que cubra monte, e prado; Porém, gentil Pastora, o teu agrado Vale mais q’um rebanho, e mais q’um trono. Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela!

(...)

Caso queira ler a obra completa, aqui vai o endereço: http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/TomasAntoni

oGonzaga/mariliadedirceu.htm

Obra Satírica:

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CARTAS CHILENAS Poema satírico, incompleto, que circulou pela cidade de Vila Rica, entre 1787-1788. Depois da Inconfidência essas Cartas nunca mais apareceram pela cidade, o que fez supor que seu autor fosse um dos poetas árcades. Um especialista português, após estudos estilísticos, atribuiu a autoria a Tomás Antonio Gonzaga. As Cartas satirizavam os desmandos administrativos e morais de Luís da Cunha Menezes, governador da capitania de Minas, entre 1783 e 1788. Fanfarrão Minésio é o pseudônimo do governador; chilenas equivale a mineiras; Santiago equivale a Vila Rica. O autor das Cartas é identificado como Critilo, e seu destinatário, como Doroteu. A seguir, alguns fragmentos da Carta 2ª., em que Critilo narra a seu amigo Doroteu o comportamento de Fanfarrão Minésio na cidade de Santiago.

CARTA 2ª

Em que se mostra a piedade que Fanfarrão fingiu no princípio do seu governo, para chamar

a si todos os negócios.

(...)

Apenas, Doroteu, o nosso chefe

As rédeas manejou, do seu governo,

Fingir-nos intentou que tinha uma alma

Amante da virtude. Assim foi Nero.

Governou aos romanos pelas regras

Da formosa justiça, porém logo

Trocou o cetro de ouro em mão de ferro.

Manda, pois, aos ministros lhe deem listas

De quantos presos as cadeias guardam,

Faz a muitos soltar e aos mais alenta

De vivas, bem fundadas esperanças.

Estranha ao subalterno, que se arroga

O poder castigar ao delinquente

Com troncos e galés; enfim ordena

Que aos presos, que em três dias não tiverem

Assentos declarados, se abram logo

Em nome dele, chefe, os seus assentos.

Aquele, Doroteu, que não é santo,

Mas quer fingir-se santo aos outros homens,

Pratica muito mais, do que pratica

Quem segue os sãos caminhos da verdade.

Mal se põe nas igrejas, de joelhos,

Abre os braços em cruz, a terra beija,

Entorta o seu pescoço, fecha os olhos,

Faz que chora, suspira, fere o peito,

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Lit. Brasileira 1 – Curso de Letras – Uniso – Org. Prof. Roberto Samuel Sanches[Digite texto] Página 27

E executa outras muitas macaquices

Estando em parte onde o mundo as veja.

Assim o nosso chefe, que procura

Mostrar-se compassivo, não descansa

Com estas poucas obras: passa a dar-nos

Da sua compaixão maiores provas.

(...)

Caso queira ler o texto integral, aqui vai o endereço:

http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/TomasAntonioGonzaga/mariliadedir

ceu.htm

Poesia Épica:

Basílio da Gama

BASÍLIO DA GAMA (1741-1795)

Nasceu em Tiradentes (Minas Gerais). Estudou em colégio jesuíta (Rio de Janeiro). Completou seus estudos em

Portugal e Itália, no período em que os jesuítas foram expulsos dos domínios portugueses. Na Itália, Basílio

construiu sua carreira literária, conseguindo um grande feito: ingressou na Arcádia Romana e assumiu o

pseudônimo literário de Termindo Sipílio.

Em 1767 voltou ao Rio de Janeiro, onde foi preso, acusado de ter amizade com jesuítas. Preso, foi levado a

Lisboa, onde livra-se da prisão ao fazer um poema à filha do Conde de Oeiras, futuro Marquês de Pombal. A

seguir escreve O Uraguai, considerado a melhor produção no gênero épico do arcadismo brasileiro. Seu tema é

a luta de portugueses e espanhois contra índios e jesuítas do atual Rio Grande do Sul, que não queriam aceitar

as decisões do Tratado de Madri.

O URAGUAI

CANTO PRIMEIRO Fumam ainda nas desertas praias Lagos de sangue tépidos e impuros Em que ondeiam cadáveres despidos, Pasto de corvos. Dura inda nos vales O rouco som da irada artilheria.

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MUSA, honremos o Herói, que o povo rude Subjugou do Uraguai, e no seu sangue Dos decretos reais lavou a afronta. Ai tanto custas, ambição de império! E Vós(1), por quem o Maranhão pendura Rotas cadeias(2), e grilhões pesados, Herói, e irmão de Heróis(3), saudosa, e triste Se ao longe a vossa América vos lembra, Protegei os meus versos. Possa em tanto Acostumar ao voo as novas asas, Em que um dia vos leve. Desta sorte Medrosa deixa o ninho a vez primeira Águia, que depois foge à humilde terra, E vai ver de mais perto no ar vazio O espaço azul, onde não chega o raio.

............................................................................. CANTO QUARTO Salvas as Tropas do noturno incêndio, Aos povos se avizinha o grande Andrade, Depois de afugentar os Índios fortes, Que a subida dos montes defendiam, E rotos muitas vezes, e espalhados Os Tapes cavaleiros, que arremessam Duas causas de morte em uma lança, E em largo giro todo o campo escrevem. Que negue agora a pérfida calúnia(4) , Que se ensinava aos bárbaros gentios A disciplina militar, e negue Que mãos traidoras a distantes povos Por ásperos desertos conduziam O pó sulfúreo, e as sibilantes balas, E o bronze, que rugia nos seus muros. ................................................................

[1] O Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Francisco Xavier de Mendonça Furtado; foi governador e capitão-

general das Capitanias do Grão Pará e Maranhão; e fez ao Norte do Brasil o que o Conde de Bobadela fez da

parte do Sul: encontrou nos Jesuítas a mesma resistência, e venceu-a da mesma sorte (Obs.: esta nota e as

seguintes dão do próprio autor do poema).

[2] Os Índios lhe devem inteiramente sua liberdade. Os Jesuítas nunca declamaram contra o cativeiro destes

miseráveis racionais, senão porque pretendiam ser só eles os seus Senhores.

[3] Em uma só Família achou o Rei três irmãos dignos de repartirem entre si todo o peso do Governo.

[4] Os Jesuítas, que hoje negam altamente a verdade dos fatos tão evidentes, faziam em outro tempo

ostentação disto mesmo.

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Lit. Brasileira 1 – Curso de Letras – Uniso – Org. Prof. Roberto Samuel Sanches[Digite texto] Página 29

Inter-relação do Arcadismo com outras linguagens:

Um exemplo de texto e música contemporânea que tem tema relacionado com o Arcadismo , fuga para lugares

distantes, com a presença da natureza, temas bucólicos é o caso da música do Gilberto Gil:

Exercício:

Eu, Marília, não fui nenhum vaqueiro

fui honrado pastor da tua aldeia;

vestia finas lãs e tinha sempre

a minha choça do preciso cheia.

Tiraram-me o casal e o manso gado,

nem tenho a que me encoste um só cajado.

Para ter que te dar, é que eu queria

de mor rebanho ainda ser o dono;

prezava o teu semblante, os teus cabelos

ainda muito mais que um grande trono.

Agora que te oferte já não vejo,

além de um puro amor, de um são desejo.

Se o rio levantado me causava,

levando a sementeira, prejuízo,

eu alegre ficava, apenas via

na tua breve boca um ar de riso.

Tudo agora perdi; nem tenho o gosto

De ver-te ao menos compassivo o rosto

..........................................................

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Ah! minha bela, se a fortuna volta,

Se o bem, que já perdi, alcanço e provo

por essas brancas mãos, por essas faces

te juro renascer um homem novo,

romper a nuvem que os meus olhos cerra,

amar no céu a Jove e a ti na terra!

............................................................

Se não tivermos lãs e peles finas,

podem mui bem cobrir as carnes nossas

as peles dos cordeiros mal curtidas,

e os panos feitos com as lãs mais grossas.

Mas ao menos será o teu vestido

Por mãos de amor, por minhas mãos cosido.

...............................................................

Nas noites de serão nos sentaremos

cos filhos, se os tivermos, à fogueira:

entre as falsas histórias, que contares,

lhes contarás a minha, verdadeira.

Pasmados te ouvirão; eu, entretanto,

ainda o rosto banharei de pranto.

Quando passarmos juntos pela rua,

nos mostrarão co dedo os mais pastores,

dizendo uns para os outros: - Olha os nossos

exemplos de desgraça e sãos amores.

Contentes viveremos desta sorte,

até que nos chegue a um dos dois a morte.

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Lit. Brasileira 1 – Curso de Letras – Uniso – Org. Prof. Roberto Samuel Sanches[Digite texto] Página 31

Vocabulário:

casal: sítio, pequena propriedade rural

choça: habitação humilde

cosido: costurado

Jove: pai dos deuses na mitologia romana, conhecido também como Júpiter.

Tomando por base o poema acima, responda às questões:

1. Nome do autor:

2. O poema pode ser dividido em duas partes: a primeira trata de uma experiência real, vivida no passado

e no presente; a segunda envolve os planos para o futuro.

2.1. Identifique as estrofes que compõem cada uma delas

1ª.parte:

2ª. parte:

2.2 Apresente as características do eu lírico:

2.3 Que tipo de vida levava o eu lírico, na primeira parte? Como se sentia?

2.4 Que tipo de vida idealiza, na segunda parte?

3. O poema, apesar de apresentar alguns traços diferentes dos prescritos pela orientação árcade, está

ligado a essa tradição. Retire do texto exemplos de bucolismo, pastoralismo, aurea mediocritas e

elementos da cultura Greco-latina.

4. O Arcadismo veicula valores e ideias da classe que o produz e o consome: a burguesia.

1.1 Destaque do poema os versos relativos a duas situações em que fica clara a preocupação

econômica e material do pastor Dirceu, indício da ideologia burguesa.

1.2 Destaque das duas últimas estrofes valores próprios da moral burguesa da época.

2. Gonzaga é considerado um poeta inovador pelo fato de não se prender muito às regras do Arcadismo.

Um exemplo desse procedimento é a introdução de experiências pessoais em sua poesia. Supondo que

o pastor Dirceu seja o próprio Gonzaga, responda:

2.1 O que teria ocorrido a Dirceu, a ponto de fazê-lo perder os bens e a felicidade de viver?

2.2 O ideal clássico de aurea mediocritas é para Gonzaga apenas um tema literário tradicional? Por

quê?

(Referência bibliográfica do exercício: CEREJA, William; COCHAR, Thereza.

Literatura Brasileira.São Paulo: Atual, 2009)

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