apontamentos sobre a atividade docente na ead – o tutor como mediador de aprendizagens

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1 APONTAMENTOS SOBRE A ATIVIDADE DOCENTE NA EAD O TUTOR COMO MEDIADOR DE APRENDIZAGENS Elaine dos Reis Soeira - [email protected] Resumo: Desde o início da década, o Brasil vem investindo em ações para regular a oferta de educação a distância via internet no país, com o propósito de garantir condições mínimas de funcionamento dos cursos nas instituições credenciadas. No que tange a qualidade dos cursos, podem ser enumerados diversos fatores que podem influenciar neste processo, dentre os quais se podem destacar o marco explicativo que orienta decisões de cunho pedagógico e administrativo. No âmbito das questões pedagógicas, para a pesquisa “Mediação da aprendizagem colaborativa na EaD um estudo a partir da percepção dos tutores a distância” interessa saber sobre a atividade docentes dos tutores a distância. Assim, este artigo apresenta um conjunto de abordagens acerca da atuação dos tutores nos cursos a distância, especialmente no que tange ao papel da mediação realizada por eles. O Estudo baseia-se nas contribuições de Silva (2003, 2008), Behrens (2008), Oliveira et al (2008), Masetto (2008), Seoane Pardo e Garcia Peñalvo (2007), Bernal (2008), Quiroz (2011) e Arredondo et al (2009), visto que estes autores compartilham abordagens convergentes sobre o tema em estudo. Não se pretende esgotar a problemática da mediação tutorial, mas aclarar ideias e pontos de vistas que possam contribuir com o delineamento de diretrizes orientadoras de uma metodologia para a educação a distância, seja na modalidade semipresencial ou e-Learning. Palavras-chave: Educação a distância; Mediação pedagógica, Tutoria. Abstract: Since the beginning of the decade, Brazil has been investing in stocks to regulate the provision of distance education via the Internet in the country, in order to guarantee minimum conditions of operation of the courses at accredited institutions. Regarding the quality of the courses may be listed several factors that can influence this process, among which we can highlight the March explaining that guides decisions of pedagogical and administrative. Within the pedagogical issues for research “Mediation of collaborative learning in distance education - a study from the perception of distance tutorsinterests to know about the activity of teaching distance tutors. Thus, this article presents a set of approaches to the role of tutors in distance education, especially regarding the role of mediation conducted by them. The study is based on contributions from Silva (2003, 2008), Behrens (2008), Oliveira et al (2008), Masetto (2008), Seoane Pardo and Garcia Peñalvo (2007), Bernal (2008), Aretio (2003) , Quiroz (2011) and Arredondo et al (2009), as these authors share convergent approaches on the topic under study. It is not intended to exhaust the issue of mediation tutorial, but to clarify

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Trabalho apresentado no X Congresso Internacional de Tecnologia na Educação. Senac/PE, 2012. ISSN 1984-6355

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APONTAMENTOS SOBRE A ATIVIDADE DOCENTE NA EAD – O TUTOR COMO MEDIADOR DE

APRENDIZAGENS

Elaine dos Reis Soeira - [email protected]

Resumo:

Desde o início da década, o Brasil vem investindo em ações para regular a oferta de educação a distância via

internet no país, com o propósito de garantir condições mínimas de funcionamento dos cursos nas instituições

credenciadas. No que tange a qualidade dos cursos, podem ser enumerados diversos fatores que podem

influenciar neste processo, dentre os quais se podem destacar o marco explicativo que orienta decisões de cunho

pedagógico e administrativo. No âmbito das questões pedagógicas, para a pesquisa “Mediação da aprendizagem

colaborativa na EaD – um estudo a partir da percepção dos tutores a distância” interessa saber sobre a atividade

docentes dos tutores a distância. Assim, este artigo apresenta um conjunto de abordagens acerca da atuação dos

tutores nos cursos a distância, especialmente no que tange ao papel da mediação realizada por eles. O Estudo

baseia-se nas contribuições de Silva (2003, 2008), Behrens (2008), Oliveira et al (2008), Masetto (2008), Seoane

Pardo e Garcia Peñalvo (2007), Bernal (2008), Quiroz (2011) e Arredondo et al (2009), visto que estes autores

compartilham abordagens convergentes sobre o tema em estudo. Não se pretende esgotar a problemática da

mediação tutorial, mas aclarar ideias e pontos de vistas que possam contribuir com o delineamento de diretrizes

orientadoras de uma metodologia para a educação a distância, seja na modalidade semipresencial ou e-Learning.

Palavras-chave: Educação a distância; Mediação pedagógica, Tutoria.

Abstract:

Since the beginning of the decade, Brazil has been investing in stocks to regulate the provision of distance

education via the Internet in the country, in order to guarantee minimum conditions of operation of the courses at

accredited institutions. Regarding the quality of the courses may be listed several factors that can influence this

process, among which we can highlight the March explaining that guides decisions of pedagogical and

administrative. Within the pedagogical issues for research “Mediation of collaborative learning in distance

education - a study from the perception of distance tutors” interests to know about the activity of teaching

distance tutors. Thus, this article presents a set of approaches to the role of tutors in distance education,

especially regarding the role of mediation conducted by them. The study is based on contributions from Silva

(2003, 2008), Behrens (2008), Oliveira et al (2008), Masetto (2008), Seoane Pardo and Garcia Peñalvo (2007),

Bernal (2008), Aretio (2003) , Quiroz (2011) and Arredondo et al (2009), as these authors share convergent

approaches on the topic under study. It is not intended to exhaust the issue of mediation tutorial, but to clarify

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ideas and viewpoints that may contribute to the design of directives of a methodology for distance education,

either in form or blended e-Learning.

Keywords: Distance learning, teaching Mediation, Mentoring.

Introdução

A evolução das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) aliadas à popularização da Internet

transformou o cenário sócio-técnico contemporâneo, promovendo novas formas de construir, organizar,

distribuir e gerenciar conhecimento, por meio da interação com aparatos tecnológicos. Na esfera educacional,

estas transformações influenciaram o surgimento de diferentes gerações da educação a distância (EaD),

culminando na educação a distância via Internet e no e-Learning.

Moore e Kearsley (2010) sintetizam as fases da EaD tomando as tecnologias de comunicação empregadas

em seu funcionamento. Desse modo, a história da EaD pode ser subdividida em cinco gerações assim definidas:

1. A primeira geração de estudo por correspondência/ em casa/ independente

proporcionou o fundamento para a educação individualizada a distância.

2. A segunda geração, de transmissão por rádio e televisão, teve pouca ou nenhuma

interação entre professores com alunos, exceto quando relacionada a um curso por

correspondência; porém, agregou as dimensões oral e visual à apresentação de

informações aos alunos a distância.

3. A terceira geração – as universidades abertas – surgiu de experiências norte-

americanas que integrava áudio/vídeo e correspondência com a orientação face a face,

usando equipes de cursos e um método prático para a criação e veiculação de instrução

em uma abordagem sistêmica.

4. A quarta geração utilizou a teleconferência por áudio, vídeo e computador,

proporcionando a primeira interação em tempo real de alunos com alunos e instrutores a

distância. O método era apreciado especialmente para treinamento corporativo.

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5. A quinta geração, a de classes virtuais on-line com base na internet, tem resultado em

enorme interesse e atividade em escala mundial pela educação a distância, com métodos

construtivistas de aprendizado em colaboração, e na convergência entre texto, áudio e

vídeo em uma única plataforma de comunicação.” (p. 47-48).

O surgimento da quinta geração fomentou a criação dos ambientes virtuais de aprendizagem (AVA) que

servem de apoio ao ensino e através dos quais os materiais didáticos, elaborados em diversas modalidades de

linguagem, são disponibilizados para os estudantes. Além disso, estes ambientes possuem ferramentas para

comunicação e interação, síncrona e assíncrona, dos estudantes entre si e com os tutores e professores.

Os cursos a distância, na modalidade semipresencial ou e-Learning, também demandaram o surgimento

dos tutores a distância, responsáveis pela orientação dos estudantes no desenvolvimento das atividades. Este

tutor precisa ter conhecimento técnico acerca dos conteúdos do curso, bem como, deve assumir uma postura de

mediador, orientador e colaborador do processo de ensino-aprendizagem. Visto que nem todos os estudantes

conseguem fazer uso da sua autonomia para prosseguir nos estudos, necessitando de redirecionamentos na

tentativa de que possam aprender com eficácia, reduzindo o número de desistências e reprovações.

Pensar sobre a atuação dos tutores nos cursos a distância, traz à tona uma discussão sobre os aspectos

metodológicos. Neste ponto, conforme Seoane Pardo e Garcia Peñalvo (2007) são enfáticos ao afirmarem que os

cursos oferecidos nesta modalidade “se desarrollan sin un método definido ni una estrategia adecuada” (p. 9).

Além disso, chamam atenção para o fato de que o modelo construtivista de ensino-aprendizagem, compreendido

como um marco explicativo, não pode ser confundido com um método, pois não o é. Esta confusão é muito

comum e, com frequência, torna-se bastante explícita quando o processo de planejamento e implementação dos

cursos prioriza mais um modelo comunicativo baseado na transmissão do que na construção.

Desde o ponto de Silva (2008) os estudos mostram a "obsolescência da sala de aula pedagogia centrada

de transmissão", cujo principal causa pode ser atribuída às práticas dos professores - com foco na repetição e

falta de interação - e as diversas fontes de acesso ao conhecimento além dos muros das escolas.

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Concordando com Silva (2003 e 2008), Behrens (2008) afirma que "o desafio colocado aos professores é

mudar o eixo de ensinar a escolher caminhos que levam ao aprendizado. Na verdade, é essencial que professores

e alunos estão em constante processo de aprender a aprender." (p. 73).

Diante do exposto, pretende-se apresentar contribuições de pesquisadores que apontam a necessidade do

tutor a distância atuar como um mediador do processo ensino-aprendizagem. Para organizar as argumentações a

serem apresentadas, este artigo foi dividido em quatro partes: a primeira tratará do conceito de mediação

pedagógica; a segunda parte apresentará as competências necessárias aos tutores a distância, com ênfase nas que

se relacionam diretamente com a mediação pedagógica; a terceira trará uma breve descrição da metodologia; por

fim, serão são apresentadas algumas considerações preliminares acerca do objeto de estudo, tendo em vista que a

pesquisa da qual foi feito este recorte, ainda não está concluída.

Referencial teórico

Conceituando mediação pedagógica

Antes de iniciar as reflexões sobre a mediação pedagógica, é importante situar desde qual perspectiva

teórica o conceito de mediação está sendo compreendido. Isto se faz necessário para que sejam diferenciados os

dois tipos de mediação presentes na educação a distância com suporte da Internet: a mediação pedagógica e a

mediação tecnológica1. Para efeitos deste estudo, é relevante o conceito de mediação pedagógica.

Para pensar o conceito de mediação, recorreu-se a dois representantes da vertente sociointeracionista,

Feuerstein e Vigotski.

Conforme Zanatta Da Ros (2002, p. 20) a mediação na ótica de Feuerstein

1 Preti (1996) utiliza a expressão prática mediatizada para falar sobre a mediação realizada com os recursos da tecnologia, ou do que se

poderia chamar de mediação tecnológica. Em relação à atuação docente, este autor utiliza a expressão mediação pedagógica.

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[...] é uma experiência intrapessoal, produzida por relações interpessoais. É uma

experiência, não uma confrontação de conhecimentos, por transmissão... O que medeia o

indivíduo é o fato de que ele, enquanto sujeito, interage com o outro, que é sujeito

também. Há uma reciprocidade entre os dois sujeitos, um encontro.

Para Vigotski, conforme os estudos de Oliveira (1993), a interação mediada ou mediação, significa a

intervenção intencional de um elemento intermediário numa relação, para garantir a produção de sentidos e,

consequentemente, a aprendizagem.

Com significativas produções relacionadas à temática da mediação pedagógica, Gutierrez e Pietro (1994)

afirmam que

é de fundamental importância diferenciar com clareza um modelo pedagógico, cujo

sentido é educar, de um modelo temático, cujo propósito é ensinar. Este último dá ênfase

aos conteúdos como chave de todo processo; trata-se de passar informação, de verificar

assimilação da mesma e de avaliar a retenção por parte do estudante. Há sistemas

educativos organizados dessa maneira e docentes que apenas concebem a educação como

transmissão de conhecimentos. (p. 61)

No intuito de superar o paradigma tradicional, Gutierrez e Pietro (1994) seguem enfatizando que “[...] a

mediação pedagógica ocupa um lugar privilegiado em qualquer sistema de ensino-aprendizagem. [...] o docente

é quem deveria atuar como mediador pedagógico entre a informação a oferecer e a aprendizagem por parte dos

estudantes”. (p. 61)

Além disso, esses autores ainda afirmam que

A mediação pedagógica parte de uma concepção radicalmente oposta aos sistemas de

instrução baseados na primazia do ensino como mera transferência de informação.

Entendemos por mediação pedagógica o tratamento de conteúdos e das formas de

expressão dos diferentes temas, a fim de tornar possível o ato educativo dentro do

horizonte de uma educação concebida como participação, criatividade, expressividade e

relacionalidade. (p. 62)

Também é possível encontrar outra definição para mediação pedagógica, conforme Masetto (2008), a

qual é entendida como

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[...] a atitude, o comportamento do professor que se coloca como um facilitador,

incentivador ou motivador da aprendizagem, que se apresenta com a disposição de ser

uma ponte entre o aprendiz e sua aprendizagem – não uma ponte estática, mas uma ponte

“rolante”, que ativamente colabora para que o aprendiz chegue aos seus objetivos. [...] (p.

145)

Ao discutir sobre mediação pedagógica, outro ponto relevante é a dialogicidade do processo, pois, sendo

a mediação entendida como processo de interação, essencialmente humano, que leva à construção do

conhecimento não pode prescindir do diálogo para acontecer. Desse modo, Freire e Shor (2008) são convidados

a contribuir com tal discussão. Para eles

[...] o diálogo deve ser entendido como algo que faz parte da própria natureza histórica

dos seres humanos. É parte do nosso progresso histórico do caminho para nos tornarmos

humanos. [...] o diálogo é uma espécie de postura necessária, na medida em que os seres

humanos se transformam cada vez mais em seres comunicativos. O diálogo é o momento

em que os humanos se encontram para refletir sobre sua realidade tal como a fazem e re-

fazem. Outra coisa: na medida em que somos seres comunicativos, que nos comunicamos

uns com os outros enquanto nos tornamos mais capazes de transformar nossa realidade,

somos capazes de saber que sabemos, que é algo mais do que só saber. (p. 122)

Quando se pensa na mediação pedagógica e nas suas implicações, surge um grande questionamento

acerca dos tutores a distância, a quem se delega a responsabilidade pela mediação dos estudantes. Estes

profissionais estão preparados para o desempenho desta função? Suas formações e experiências anteriores – em

especial oriundas do ensino presencial – são suficientes para que as habilidades já construídas possam ser

transpostas para o ensino a distância?

Buscar respostas a estas questões remete à definição de um conjunto de competências e práticas que

caracterizam a mediação pedagógica, ao mesmo tempo em que põe em cheque a formação recebida por estes

profissionais ou a falta desta.

Tutoria e mediação pedagógica – novos desafios, novas competências

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As discussões sobre a relevância da ação dos tutores têm se tornado mais comum à medida que o ensino a

distância vem reunindo um número de estudantes tão grande quanto o ensino presencial. A urgência em pensar

sobre a atividade desenvolvida por estes profissionais torna-se ainda mais necessária quando se pensa no fato de

que estes profissionais são o principal vínculo dos estudantes com a instituição e a reverberação das suas ações

pode ser decisiva para o sucesso e permanência dos estudantes no curso. (Oliveira et al, 2008)

De acordo com Oliveira et al (2008), a partir dos estudos de Giannasi et al, pode se dizer que

[...] a tutoria é uma das tarefas mais complexas da prática docente nessa modalidade de

ensino, exigindo diferentes competências para o desempenho das funções de tutor, tais

como: competências técnicas, pedagógicas, comunicacionais, de iniciativa e criatividade,

gerenciais, sociais, profissionais, entre outras. (p. 184)

Bernal (2008), Arredondo et al (2009) e Quiroz (2011) compartilham de concepções semelhantes. Para

eles, a atividade docente desempenhada pelos tutores também se organiza e diferentes conjuntos de ações, que

vão desde os aspectos técnicos até os pedagógicos e à interação social, nos diferentes momentos dos cursos.

Quiroz (2011, p. 121) embasado em Barberá et al (2001) apresenta uma sistematização das “[...] tareas

Del tutor, como moderador em el desarrollo de la discusión online, em três etapas: planificación, intervención

em el desarrollo y cierre. [...]”. É importante ressaltar que todas estas etapas são interdependentes e que o tutor

deverá mediar as situações que ocorrerem, buscando as melhores estratégias de aprendizagem para construção do

conhecimento.

Complementando a afirmação acima, Oliveira et al (2008) explica que

a função da tutoria é um dos principais fatores que determinam a qualidade da formação

num ambiente virtual de aprendizagem. O papel de orientador e guia por parte do tutor

assume um maior protagonismo na educação on-line e se faz necessário uma formação

especifica neste campo. Para isso, o tutor precisa: assegurar a participação dos alunos e

criar, cuidar e prover a existência de comunidades virtuais de aprendizagem que podem

se constituir em um lócus de diferentes aprendizagens, respeitando os diversos modelos

de aprendizagem dos aprendentes. (p. 184)

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Concordando com diversos pesquisadores das práticas pedagógicas no ensino a distância, Oliveira et al

(2008) menciona o tutor como um agente essencial no âmbito da educação a distância, uma vez que ele vai

mediar as ações pedagógicas de interação entre professores, alunos, conteúdos e

ambientes. Sua atuação estará a serviço da facilitação do processo de ensino-

aprendizagem, visando a concretização dos princípios de autonomia e aprendizagem,

contribuindo para a criação, nos ambientes online, de espaços colaborativos de

aprendizagem. Independente dos recursos tecnológicos que utilize, é essencial que possa

proporcionar aos alunos, a interação e integração com a proposta pedagógica do curso.

(185)

Masetto (2008) contribui com o debate sobre a mediação pedagógica no contexto da EaD, afirmando que,

conforme Perez e Castillo (1999), “a mediação pedagógica busca abrir um caminho a novas relações do

estudante: com materiais, com o próprio contexto, com outros textos, com seus companheiros de aprendizagem,

incluindo o professor, consigo mesmo e com o futuro”. (MASETTO, 2008, p. 145).

Corroborando os pressupostos apresentados acima, Silva (2008) defende a importância da mediação

porque

A aprendizagem não se dá a partir da récita do professor. Isto requer, portanto,

modificação radical em sua autoria em sala de aula presencial e online. O professor não

se posiciona como o detentor do monopólio do saber, mas como aquele que dispõe teias,

cria possibilidades de envolvimento, oferece ocasião de engendramento, de

agenciamentos e estimula a intervenção dos aprendizes dos aprendizes como co-autores

da aprendizagem. O tratamento dessa postura comunicacional tem no conceito de

interatividade uma agenda comunicacional alternativa à Pedagogia da transmissão. (p.

83)

Silva (2008) complementa sua argumentação afirmando que “na sala de aula interativa, a aprendizagem

se faz com a dialógica que associa emissão e recepção como pólos antagônicos e complementares na co-criação

da comunicação e da aprendizagem.” (p. 84)

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A partir das contribuições de Silva (2008) acerca do professor frente às demandas da cibercultura,

entende-se que as mudanças na prática pedagógica não estão restritas ao sistema presencial de ensino, podendo

ser transpostas para a educação a distância.

Para Mauri et al (2010)

[...] Tutorial atividade é concebida como mediadora da atividade do aluno. Esta

mediação, o professor realiza a depender das TIC é percebida como a capacidade do

professor para prestar ajuda, e entre suas principais características é o grau de

ajustamento desse auxílio à atividade construtiva do aluno, que se destaca nas trocas

mútuas entre o professor e o aluno. (p. 125)

Frente ao exposto, suspeita-se que grande parte dos referenciais utilizados pelos tutores para construírem

sua prática docente, para os cursos via Internet, são oriundos das suas experiências acadêmicas e profissionais,

ainda que estas tenham ocorrido, prioritariamente ou exclusivamente no ensino presencial. Talvez seja este um

dos maiores desafios dos tutores à distância, já que nem todos têm acesso à cursos de formação, que deem conta

da construção das bases de uma metodologia adequada para os cursos a distância, principalmente os que contam

com a mediação tecnológica.

Metodologia

As reflexões e aportes teóricos apresentados neste artigo são fruto de uma pesquisa bibliográfica, que

teve o intuito de encontrar estudos e pesquisas que denotem a preocupação em refletir sobre o papel do tutor na

educação a distância, com ênfase na competência da mediação.

O estudo não se encontra completo e, como anteriormente, faz compõe uma pesquisa mais ampla que

investiga a percepção de tutores a distância sobre a mediação da aprendizagem colaborativa.

Considerações finais

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Este trabalho não tem o objetivo de apontar uma série de atribuições que o tutor a distância precisa

desempenhar, tampouco colocar sob sua responsabilidade todo o sucesso ou fracasso do ensino a distância. Por

outro lado, não se pode negar que, à medida que a EaD expande-se, novas práticas vão surgindo, com vistas à

otimização dos resultados. Além disso, há preocupações em relação ao desenvolvimento da autonomia dos

estudantes, lançando luzes sobre a figura do tutor, principal ligação entre os estudantes, o ambiente virtual e a

instituição.

Deparar-se com a necessidade de pôr em prática todas essas competências inerentes ao mediador, torna-

se um desafio conjunto, tanto para os tutores quanto para os conteudistas e designers.

Isto porque, se os conteudistas e designers não levarem em consideração os pré-requisitos para que a

mediação possa ocorrer no ambiente, tais como: adequação das atividades propostas, formas de apresentação dos

materiais didáticos, recursos disponíveis, será mais difícil para os tutores concretizarem a contento os objetivos

esperados. Do mesmo modo, de nada adiantará um material didático bem elaborado e um ambiente virtual

repleto de ferramentas interativas, se o tutor não estiver preparado para aproveitar este potencial. Assim, o

trabalho coletivo e interativo precisa começar dentro da própria estrutura organizacional da educação a distância.

Em resumo, as observações feitas sobre a importância dos tutores na mediação do ensino-aprendizagem

ressaltam a necessidade de repensar toda a estrutura da educação a distância, de modo que todos os profissionais

envolvidos, de fato, trabalhando sob o enfoque interacionista, favorecendo o diálogo, interatividade e construção

colaborativa do conhecimento, a realidade ainda tão procurados nas experiências brasileiras.

Por fim, pretende-se criar um espaço para discutir não apenas a prática dos tutores a distância, mas

também, a sua formação e a sua identidade, questões que muitas vezes não são priorizadas.

Referências

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