apoio 11 ano

4
FICHA DE APOIO PORTUGUÊS 12.º ANO 1 GRUPO I A Leia com atenção o texto. 5 10 15 20 25 30 Passando dos da Escritura aos da História natural, quem haverá que não louve e admire muito a virtude tão celebrada da Rémora? No dia de um Santo Menor, os peixes menores devem preferir aos outros. Quem haverá, digo, que não admire a virtude daquele peixezinho tão pequeno no corpo e tão grande na força e no poder, que, não sendo maior de um palmo, se se pega ao leme de uma Nau da Índia, apesar das velas e dos ventos, e de seu próprio peso e grandeza, a prende e amarra mais que as mesmas âncoras, sem se poder mover, nem ir por diante? Oh se houvera uma Rémora na terra, que tivesse tanta força como a do mar, que menos perigos haveria na vida e que menos naufrágios no Mundo! Se alguma Rémora houve na terra, foi a língua de Sto. António, na qual, como na Rémora, se verifica o verso de São Gregório Nazianzeno: Lingua quidem parva est, sed viribus omnia vincit. O Apóstolo Santiago, naquela sua eloquentíssima Epístola, compara a língua ao leme da Nau e ao freio do cavalo. Uma e outra comparação juntas declaram maravilhosamente a virtude da Rémora, a qual, pegada ao leme da Nau, é freio da Nau e leme do leme. E tal foi a virtude e força da língua de Sto. António. O leme da natureza humana é o alvedrio, o Piloto é a razão: mas quão poucas vezes obedecem à razão os ímpetos precipitados do alvedrio? Neste leme, porém, tão desobediente e rebelde, mostrou a língua de António quanta força tinha, como Rémora, para domar e parar a fúria das paixões humanas. Quantos, correndo fortuna na nau Soberba, com as velas inchadas do vento e da mesma soberba (que também é vento), se iam desfazer nos baixos, que já rebentavam por proa, se a língua de António, como Rémora, não tivesse mão no leme, até que as velas se amainassem, como mandava a razão, e cessasse a tempestade de fora e a de dentro? Quantos, embarcados na nau Vingança, com a artilharia abocada e os botafogos acesos, corriam infunados a dar-se batalha, onde se queimariam ou deitariam a pique se a Rémora da língua de António lhes dão detivesse a fúria, até que, composta a ira e ódio, com bandeiras de paz se salvassem amigavelmente? Quantos, navegando na nau Cobiça, sobrecarregada até às gáveas e aberta com o peso por todas as costuras, incapaz de fugir, nem se defender, dariam nas mãos dos corsários com perda do que levavam e do que iam buscar, se a língua de António os não fizesse parar, como Rémora, até que, aliviados da carga injusta, escapassem do perigo e tomassem porto? Quantos, na nau Sensualidade, que sempre navega com cerração, sem sol de dia, nem estrelas de noite, enganados do canto das sereias e deixando-se levar da corrente, se iriam perder cegamente, ou em Sila, ou em Caribdes, onde não aparecesse navio nem navegante, se a Rémora da língua de António os não contivesse, até que esclarecesse a luz e se pusessem em vista. Esta é a língua, peixes, do vosso grande pregador, que também foi Rémora vossa, enquanto o ouvistes; e porque agora está muda (posto que ainda se conserva inteira) se veem e choram na terra tantos naufrágios. António Vieira, Sermão de Santo António, Lisboa, Oficina do Livro, 1ª edição, 2008 Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem. 1. Insira, justificadamente, o excerto na estrutura do sermão vieiriano. [20 pontos = 12+4+4] 2. Justifique a referência às naus, atendendado aos nomes que lhes são dados. [20 pontos = 12+4+4] 3. Explicite a ação de Santo António, considerando o excerto selecionado. [20 pontos = 12+4+4]

Upload: aires-vaz

Post on 10-Nov-2015

20 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

portugues

TRANSCRIPT

  • FICHA DE APOIO PORTUGUS 12. ANO

    1

    GRUPO I

    A

    Leia com ateno o texto.

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    Passando dos da Escritura aos da Histria natural, quem haver que no louve e admire muito a virtude to celebrada da Rmora? No dia de um Santo Menor, os peixes menores devem preferir aos outros. Quem haver, digo, que no admire a virtude daquele peixezinho to pequeno no corpo e to grande na fora e no poder, que, no sendo maior de um palmo, se se pega ao leme de uma Nau da ndia, apesar das velas e dos ventos, e de seu prprio peso e grandeza, a prende e amarra mais que as mesmas ncoras, sem se poder mover, nem ir por diante? Oh se houvera uma Rmora na terra, que tivesse tanta fora como a do mar, que menos perigos haveria na vida e que menos naufrgios no Mundo! Se alguma Rmora houve na terra, foi a lngua de Sto. Antnio, na qual, como na Rmora, se verifica o verso de So Gregrio Nazianzeno: Lingua quidem parva est, sed viribus omnia vincit. O Apstolo Santiago, naquela sua eloquentssima Epstola, compara a lngua ao leme da Nau e ao freio do cavalo. Uma e outra comparao juntas declaram maravilhosamente a virtude da Rmora, a qual, pegada ao leme da Nau, freio da Nau e leme do leme. E tal foi a virtude e fora da lngua de Sto. Antnio. O leme da natureza humana o alvedrio, o Piloto a razo: mas quo poucas vezes obedecem razo os mpetos precipitados do alvedrio? Neste leme, porm, to desobediente e rebelde, mostrou a lngua de Antnio quanta fora tinha, como Rmora, para domar e parar a fria das paixes humanas. Quantos, correndo fortuna na nau Soberba, com as velas inchadas do vento e da mesma soberba (que tambm vento), se iam desfazer nos baixos, que j rebentavam por proa, se a lngua de Antnio, como Rmora, no tivesse mo no leme, at que as velas se amainassem, como mandava a razo, e cessasse a tempestade de fora e a de dentro? Quantos, embarcados na nau Vingana, com a artilharia abocada e os botafogos acesos, corriam infunados a dar-se batalha, onde se queimariam ou deitariam a pique se a Rmora da lngua de Antnio lhes do detivesse a fria, at que, composta a ira e dio, com bandeiras de paz se salvassem amigavelmente? Quantos, navegando na nau Cobia, sobrecarregada at s gveas e aberta com o peso por todas as costuras, incapaz de fugir, nem se defender, dariam nas mos dos corsrios com perda do que levavam e do que iam buscar, se a lngua de Antnio os no fizesse parar, como Rmora, at que, aliviados da carga injusta, escapassem do perigo e tomassem porto? Quantos, na nau Sensualidade, que sempre navega com cerrao, sem sol de dia, nem estrelas de noite, enganados do canto das sereias e deixando-se levar da corrente, se iriam perder cegamente, ou em Sila, ou em Caribdes, onde no aparecesse navio nem navegante, se a Rmora da lngua de Antnio os no contivesse, at que esclarecesse a luz e se pusessem em vista.

    Esta a lngua, peixes, do vosso grande pregador, que tambm foi Rmora vossa, enquanto o ouvistes; e porque agora est muda (posto que ainda se conserva inteira) se veem e choram na terra tantos naufrgios.

    Antnio Vieira, Sermo de Santo Antnio, Lisboa, Oficina do Livro, 1 edio, 2008

    Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

    1. Insira, justificadamente, o excerto na estrutura do sermo vieiriano. [20 pontos = 12+4+4]

    2. Justifique a referncia s naus, atendendado aos nomes que lhes so dados. [20 pontos =

    12+4+4]

    3. Explicite a ao de Santo Antnio, considerando o excerto selecionado. [20 pontos = 12+4+4]

  • FICHA DE APOIO PORTUGUS 12. ANO

    2

    B Leia o poema de Florbela Espanca.

    AMAR!

    Eu quero amar, amar perdidamente!

    Amar s por amar: Aqui... alm...

    Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...

    Amar! Amar! E no amar ningum!

    Recordar? Esquecer? Indiferente!...

    Prender ou desprender? mal? bem?

    Quem disser que se pode amar algum

    Durante a vida inteira porque mente!

    H uma Primavera em cada vida:

    preciso cant-la assim florida,

    Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

    E se um dia hei de ser p, cinza e nada

    Que seja a minha noite uma alvorada,

    Que me saiba perder... pra me encontrar...

    http://cdn.luso-livros.net/wp-content/uploads/2013/04/Sonetos-Completos.pdf (consultado em janeiro de 2015)

    Responda, de forma completa e bem estruturada, aos itens que se seguem.

    4. Comprove a desorientao do sujeito potico, justificando a sua resposta com elementos

    textuais pertinentes. [20 pontos = 12+4+4]

    5. Explique o sentido do segundo terceto, referindo a expressividade do eufemismo a presente. [20 pontos = 12+4+4]

    GRUPO II

    Leia o texto.

    5

    10

    15

    SE ESTS A LER ESTAS PGINAS PORQUE ESTS VIVO. No quero enganar ningum. Sobretudo, no me quero enganar a mim prprio. Detesto

    perder tempo. Sempre confiei nos livros. Viajar interpretar. Duas pessoas vo ao mesmo pas e, quando regressam, contam

    histrias diferentes, descrevem os naturais desse pas de maneiras diferentes. Uma diz que so simpticos, a outra diz que so antipticos. Uma diz que so tmidos, a outra diz que no se calam durante um minuto.

    Isto radicalmente verdade em relao Coreia do Norte. O secretismo e as enormes idiossincrasias1 desta sociedade fazem com que o olhar do

    visitante seja muito conduzido por aquilo que leu em livros antes de chegar. Ao faz-lo, parece-me, acaba por procurar na paisagem exemplos do que j sabe. Por isso, a interpretao que cada um faz depende dos livros que leu.

    Para quem procure esclarecimento, os guias norte-coreanos so de pouca utilidade. Sabem de cor todos os nmeros e datas, mas falham na descrio de outros dados tambm objetivos: a histria da guerra da Coreia, o desenvolvimento do pas, as qualidades dos lderes, etc. Se as questes no lhes interessam, mudam de assunto ou respondem qualquer coisa s para despachar.

  • FICHA DE APOIO PORTUGUS 12. ANO

    3

    20

    25

    30

    35

    Quando se escondem tanto, estimula-se a imaginao na mesma medida. O crebro prope hipteses para as perguntas que no so respondidas. essa a natureza do crebro.

    Alm disso, a intensa extravagncia da lgica a que se chegou na Coreia do Norte faz com que essa mesma extravagncia, comprovada em inmeros casos, seja seguida em muitos outros que esto por comprovar.

    Se a imparcialidade sempre impossvel, na Coreia do Norte mais impossvel ainda. s vezes, parece que ningum tem toda a informao. Ningum. No existe um nico

    indivduo que detenha toda a informao sobre o que se passa de facto. Nem de um lado da fronteira, nem do outro, nem os guias, nem os servios secretos, nem o lder.

    Com frequncia, senti que apenas me restava o papel de testemunha alucinada, tentando distinguir a realidade real da realidade retrica apenas atravs do instinto.

    No foi por acaso que escolhi reler D. Quixote na Coreia do Norte. Como ele, basta-me ser fiel verdade que conheo e em que acredito. Na vida, talvez seja

    sempre assim. A sinceridade salva-nos perante ns prprios. Se estou a escrever estas palavras porque estou vivo. Quase no topo da colina Moran, no parque Moranbong, depois da curva ao longo do muro de

    pedra, estava toda a gente a danar. De amplo sorriso, gente de todas as idades, vestida com a melhor roupa, a danar. Muitas

    mulheres de vestido tradicional, muitos homens com aquele conjunto que Kim Jong-il2

    costumava usar, espcie de fato-de-macaco, calas e casaco com um fecho frente, muitas crianas tambm. Todos a danarem, cada um para seu lado, dessincronizados. Os estrangeiros que viajavam comigo tambm estavam l no meio, a danar com eles. Os mais tmidos, encostados ao tronco de rvores, recebiam convites sucessivos de coreanos que se aproximavam a sorrir, lhes esticavam a mo e os tentavam levar para o meio da dana.

    Jos Lus Peixoto, Dentro do segredo uma viagem na Coreia do Norte, Lisboa, Quetzal Editores, 2014, pp. 61-63.

    GLOSSRIO 1 idiossincrasias: comportamentos especficos de uma pessoa ou de um grupo. 2 Kim Jong-il: chefe de Estado, ditador, que, de

    1994 a 2011, exerceu as funes de Lder Supremo da Repblica Popular Democrtica da Coreia do Norte, de Secretrio-

    Geral do Partido dos Trabalhadores da Coreia cargos mximos de mbito militar e poltico da nao coreana.

    1. Selecione, para responder a cada item (1.1. a 1.7.), a nica opo que permite obter uma

    afirmao adequada ao sentido do texto. [35 pontos 7 itens x 5 pontos cada]

    1.1. Quando duas pessoas visitam o mesmo pas vo

    (A) ter histrias iguais para contar.

    (B) visitar os mesmos locais.

    (C) passar pelas mesmas experincias.

    (D) experienciar tudo distintamente.

    1.2. As opinies sobre os norte-coreanos ou sobre algum pas que visitamos so

    condicionadas

    (A) por aquilo que se leu sobre o assunto.

    (B) pela experincia de vida do visitante.

    (C) pelo que se observa no local visitado.

    (D) pela bagagem cultural do turista.

    1.3. Na opinio do autor, os guias norte-coreanos

    (A) esto sempre prontos a responder s questes dos turistas.

    (B) esquivam-se a todo o tipo de questes, sorrindo.

    (C) fogem s questes de natureza poltico-econmica coreana.

    (D) so muito conhecedores da histria do seu pas.

  • FICHA DE APOIO PORTUGUS 12. ANO

    4

    1.4. Em No quero enganar ningum (l. 1) utiliza-se um

    (A) pronome indefinido.

    (B) verbo copulativo.

    (C) adjetivo qualificativo.

    (D) nome comum.

    1.5. O constituinte destacado em Sempre confiei nos livros (l. 2) desempenha a funo sinttica

    de

    (A) complemento direto.

    (B) complemento indireto.

    (C) sujeito.

    (D) complemento oblquo.

    1.6. A orao destacada em a outra diz que no se calam durante um minuto (ll. 5-6)

    classifica-se como subordinada

    (A) adverbial consecutiva.

    (B) substantiva completiva.

    (C) substantiva relativa.

    (D) adjetiva relativa restritiva.

    1.7. O processo de formao do termo destacado em o olhar do visitante (l. 8), designa-se de

    (A) composio morfolgica.

    (B) composio morfossinttica.

    (C) derivao por converso.

    (D) derivao por parassntese.

    2. Responda aos itens a seguir apresentados. [15 pontos 3 itens x 5 pontos cada]

    2.1. Indique o referente do pronome pessoal presente em Se as questes no lhes interessam (ll. 14- 15).

    2.2. Indique a funo sinttica do grupo sublinhado em Se a imparcialidade sempre impossvel

    (l. 21).

    2.3. Registe e classifique a orao subordinada presente em s vezes, parece que ningum tem

    toda a informao (l. 22).

    GRUPO III (50 pontos = 30 + 20)

    H quem considere perigoso visitar pases com regimes totalitrios ou com religies

    fundamentalistas. Porm, alguns defendem que s o contacto com essas realidades permitir ter uma

    viso correta sobre essas questes.

    Num texto bem estruturado, com um mnimo de 200 e um mximo de 300 palavras, desenvolva

    uma reflexo sobre a afirmao apresentada.

    Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mnimo, a dois argumentos e ilustre cada um

    deles com, pelo menos, um exemplo significativo.