aplicação de transferencia de massa em serraria

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EMMANUEL CARLOS ENRIQUE ROZAS MELLADO MODELO DE TRANSFERENCIA DE CALOR E MASSA NA SECAGEM DE MADEIRA SERRADA DE PINUS Tese apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Doutor em Engenharia Florestal, no Programa de Pós-graduação em Engenharia Florestal, do Setor de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Paraná. Orientador: Prof. Dr. Ivan Tomaselli CURITIBA 2007

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Transporte de massa aplicada -Fenômenos de Transporte

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  • EMMANUEL CARLOS ENRIQUE ROZAS MELLADO

    MODELO DE TRANSFERENCIA DE CALOR E MASSA NA

    SECAGEM DE MADEIRA SERRADA DE PINUS

    Tese apresentada como requisito parcial obteno do grau de Doutor em Engenharia Florestal, no Programa de Ps-graduao em Engenharia Florestal, do Setor de Cincias Agrrias da Universidade Federal do Paran. Orientador: Prof. Dr. Ivan Tomaselli

    CURITIBA

    2007

  • ii

    A minha me

    Pelo eterno amor que s me pode proporcionar

    minha adorada e amada Yasna

    pelo amor e motivao incansvel

    aos meus filhos

    Paz

    Joaqun

    Esteban

    Christian

    pelas alegrias proporcionadas

    aos meus irmos

    Mario

    Cristina

    Marco

    Sergio

    DEDICO

  • iii

    AGRADECIMENTOS

    Ao Professor Ivan Tomaselli, pela orientao, amizade, estmulo e valiosas

    contribuies.

    Ao Professor Oscar von Meien, pelas sugestes e incentivo nas etapas

    iniciais do estudo.

    Ao Co-orientador Professor Moacir Kaminski, pela pacincia, amizade e

    incansvel apoio.

    Ao Co-orientador Professor Everton Zanoelo, pela amizade e inesgotvel

    apoio na anlise numrica dos dados.

    Co-oriendatora Professora Graciela Bolzon de Muiz, pelo apoio e

    amizade durante os estudos.

    Coordenao do Curso de Ps-Graduao em Engenharia Florestal do

    Setor de Cincias Agrrias da Universidade Federal do Paran, pela aceitao no

    referido curso e apoio constante nos meus estudos.

    Universidad del Bo-Bo, que possibilitou a realizao do Curso de Ps-

    Graduao.

    Facultad de Ingeniera e ao Departamento de Ingeniera en Maderas da

    Universidad del Bo-Bo, pelo apoio e incentivo.

    Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

    (CNPq) pelos recursos financeiros outorgados para a realizao desta Tese.

    Ao Professor Mrcio Pereira da Rocha, pela amizade, pacincia e inesgotvel

    apoio durante a realizao do curso.

    Ao Professor Jorge Monteiro de Matos, pela amizade e apoio na realizao

    da coleta de dados.

    Ao Professor Rudi Arno Seitz, pelo apoio e trabalho no corte das rvores.

    Aos Professores Ricardo Klitzke e Umberto Klock, pelo apoio, compreenso

    e facilidade proporcionada durante a coleta dos dados.

    empresa Berneck Aglomerados S/A pelo material proporcionado, em

    especial ao Sr. Elias De Conti e ao Sr. Daniel Berneck.

  • iv

    Aos Funcionrios da Biblioteca de Cincias Florestais e da Madeira, da

    Universidade Federal do Paran, em especial Tnia de Barros Baggio, pela amizade

    e ajuda na procura de referncias e apresentao das mesmas.

    Ao secretrio do Curso de Ps-Graduao Sr. Reinaldo Mendes de Souza

    pela amizade e apoio durante o curso.

    Aos Funcionrios do Curso de Engenharia Florestal, em partcula aos Srs.

    Vitor Herrera, Ademir Cavalli e Antnio Perin, pelo auxlio na preparao do material.

    A todos aqueles que emprestaram sua amizade e apoio durante a realizao

    deste curso, em particular a Daniel Chies, David Teicheira de Arajo, Agrinaldo

    Rodrigues de Lima e Carla Camargo Corra.

    s pessoas que, de uma ou de outra forma, colaboraram para a realizao

    deste trabalho e tiveram seus nomes aqui omitidos.

    MUITO OBRIGADO

  • v

    SUMRIO

    LISTA DE FIGURAS.............................................................................................. VIII

    LISTA DE TABELAS................................................................................................ XI

    RESUMO................................................................................................................... XII

    ABSTRACT............................................................................................................. XIII

    RESUMEN............................................................................................................... XIV

    1 INTRODUO......................................................................................................... 1

    OBJETIVOS............................................................................................................... 2

    2 REVISO DE LITERATURA................................................................................ 3

    2.1 SECAGEM DA MADEIRA................................................................................... 3

    2.1.1 Tipos de gua Existente na Madeira................................................................. 3

    2.1.2 Movimento de gua Capilar.............................................................................. 4

    2.1.3 Movimento de gua de Impregnao................................................................ 6

    2.1.4 Cintica da Secagem da Madeira..................................................................... 14

    2.2 MODELAGEM NA SECAGEM DA MADEIRA................................................ 18

    2.2.1 Modelo Difusivo.............................................................................................. 19

    2.2.2 Modelo de Transporte...................................................................................... 24

    2.2.3 Modelo Difusivo e Modelo de Transporte....................................................... 28

    2.2.4 Foras Condutoras............................................................................................ 33

    2.3 PERFIS DE UMIDADE........................................................................................ 36

    2.4 PROPRIEDADES TERMOFSICAS DO AR...................................................... 39

    2.4.1 Presso de Vapor Saturado e Parcial da gua................................................. 39

    2.4.2 Umidade Absoluta............................................................................................ 40

    2.4.3 Frao Molar dos Componentes....................................................................... 40

    2.4.4 Viscosidade do Ar............................................................................................ 41

    2.4.5 Viscosidade do Vapor de gua........................................................................ 42

    2.4.6 Viscosidade da Mistura Ar -Vapor de gua..................................................... 42

    2.4.7 Calor Especfico do Ar..................................................................................... 43

    2.4.8 Calor Especfico do Vapor de gua................................................................. 43

    2.4.9 Calor Especfico da Mistura Ar-Vapor de gua.............................................. 44

  • vi

    2.4.10 Densidade da Mistura Ar -Vapor de gua........................................................ 44

    2.4.11 Viscosidade Cinemtica da Mistura Ar-Vapor de gua.................................. 45

    2.4.12 Condutividade Trmica do Ar.......................................................................... 45

    2.4.13 Condutividade Trmica do Vapor de gua...................................................... 45

    2.4.14 Condutividade Trmica da Mistura Ar -Vapor de gua................................... 46

    2.4.15 Difusividade Trmica da Mistura Ar -Vapor de gua...................................... 46

    2.5 PROPRIEDADES TERMOFSICAS DA MADEIRA......................................... 47

    2.5.1 Condutividade Trmica.................................................................................... 47

    2.5.2 Calor Especfico............................................................................................... 48

    2.5.3 Difusividade Trmica....................................................................................... 48

    2.6 NMEROS ADIMENSIONAIS........................................................................... 49

    2.6.1 Nmero de Prandtl........................................................................................... 49

    2.6.2 Nmero de Reynolds........................................................................................ 49

    2.6.3 Nmero de Biot................................................................................................ 50

    2.6.4 Nmero de Fourier........................................................................................... 50

    2.6.5 Nmero de Schmidt.......................................................................................... 51

    2.7 MODELOS EMPRICOS PARA ESTIMATIVA DE COEFICIENTES

    CONVECTIVOS................................................................................................... 52

    3 MATERIAIS E MTODOS.................................................................................. 62

    3.1 COLETA E PREPARAO DO MATERIAL.................................................... 62

    3.2 EQUIPAMENTO.................................................................................................. 63

    3.3 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL................................................................ 64

    3.3.1 Determinao dos Coeficientes Convectivos de Calor e Massa...................... 65

    3.3.2 Secagem em Estufa Piloto................................................................................ 71

    3.3.3 Modelo Difusivo Aplicado............................................................................... 75

    3.3.4 Determinao da Temperatura Interna............................................................. 78

    3.4 ANLISE ESTATSTICA.................................................................................... 83

    4 RESULTADOS E DISCUSSO............................................................................ 84

    4.1 COEFICIENTES CONVECTIVOS DE CALOR E MASSA............................... 84

    4.1.1 Coeficiente Convectivo de Calor..................................................................... 84

  • vii

    4.1.2 Coeficiente Convectivo de Massa.................................................................... 86

    4.2 TESTES EM ESTUFA PILOTO........................................................................... 87

    4.2.1 Tempo de Secagem.......................................................................................... 88

    4.2.2 Temperatura Interna......................................................................................... 91

    4.2.3 Efeito da Umidade no Coeficiente de Difuso Efetivo.................................... 93

    4.2.4 Variao do Coeficiente de Difuso Efetivo com a Temperatura.................... 97

    4.2 MODELAGEM..................................................................................................... 98

    4.3.1 Modelagem do Gradiente de Umidade............................................................ 98

    4.3.2 Modelagem da Perda de Umidade................................................................. 104

    4.3.3 Modelagem da Transferncia de Calor.......................................................... 109

    4.4 APLICAO DO MODELO............................................................................. 117

    5 CONCLUSES E RECOMENDAES........................................................... 123

    6 REFERNCIAS.................................................................................................... 125

    ANEXOS.................................................................................................................... 138

  • viii

    LISTA DE FIGURAS

    FIGURA 1 - VARIAO DO COEFICIENTE DE DIFUSO EFETIVO (Def)

    COM O TEOR DE UMIDADE EM DIFERENTES TEMPERATURAS............................................................................ 10

    FIGURA 2 - DIAGRAMA DAS DIVERSAS FASES DA SECAGEM

    CONVENCIONAL............................................................................ 15 FIGURA 3 - EXEMPLOS EXTREMOS DE MOVIMENTO DE UMIDADE

    UNIDIRECIONAL SEGUNDO HAWLEY (1931). AS SUPERFICIES SO a E a ............................................................. 38

    FIGURA 4 - COEFICIENTES DE TRANSFERNCIA DE MASSA PREDITOS

    VERSUS TEMPERATURA DO AR (LNHA). VALORES EXPERIMENTAIS D=2-4m/s; ?=5-6m/s; =7-8m/s ....................... 61

    FIGURA 5 - COEFICIENTES DE TRANSFERNCIA DE CALOR PREDITOS

    VERSUS TEMPERATURA DO AR (LNHA). VALORES EXPERIMENTAIS D=2-4m/s; ?=5-6m/s; =7-8m/s ....................... 61

    FIGURA 6 - RETIRADA DE AMOSTRAS (745mm) PARA OS ENSAIOS DE

    TRANSFERENCIA DE CALOR E COEFICIENTES CONVECTIVOS, E SECES PARA DENSIDADE E TEOR DE UMIDADE (25mm) ........................................................ 62

    FIGURA 7 - RETIRADA DE AMOSTRA (745mm) PARA OS ENSAIOS DE

    SECAGEM E SEES PARA DENSIDADE E TEOR DE UMIDADE (25mm)........................................................................... 63

    FIGURA 8 - CMARA DE SECAGEM E TERMO-ANEMMETRO

    UTILIZADO NO ESTUDO.............. ................................................ 64 FIGURA 9 - AQUECIMENTO DAS AMOSTRAS CONTROLE

    TEMPERATURA DE BULBO MIDO EM BANHO MARIA............................................................................................... 66

    FIGURA 10 - LOCALIZAO DAS AMOSTRAS NA PILHA DE MADEIRA

    UTILIZADA PARA A REALIZAO DOS ENSAIOS................. 72 FIGURA 11 - OBTENO DAS LMINAS PARA A DETERMINAO DO

    PERFIL DE UMIDADE DAS TBUAS.......................................... 74

  • ix

    FIGURA 12 - POSIO DOS TERMOPARES PARA A DETERMINAO DA TEMPERATURA INTERNA DA MADEIRA................................. 75

    FIGURA 13 - DOMNIO DE INTEGRAO DA UMIDADE. o=VALORES

    DEFINIDOS PELAS CONDIES DE CONTORNO; X=VALORES CALCULADOS ATRAVS DA SOLUO DA EQUAO (68).......................................................................... 78

    FIGURA 14 - CMARA DE SECAGEM E DESTRIBUIO DA CARGA DE

    MADEIRA DURANTE OS ENSAIOS............................................. 79 FIGURA 15 - DISPOSIO DOS TERMOPARES NA TBUA.......................... 80 FIGURA 16 - FLUXO DE CALOR E AR SOBRE UMA TBUA DE

    ESPESSURA 2L ............................................................................... 81 FIGURA 17 - CURVAS DE SECAGEM PARA MADEIRA DE

    PINUS ELLIOTTII PARA AS TEPERATURAS TESTADAS......... 89 FIGURA 18 - GRADIENTE DE TEMPERATURA NO INTERIOR DA

    MADEIRA A 40OC............................................................................ 91 FIGURA 19 - GRADIENTE DE TEMPERATURA NO INTERIOR DA

    MADEIRA A 60OC............................................................................ 92 FIGURA 20 - GRADIENTE DE TEMPERATURA NO INTERIOR DA

    MADEIRA A 80OC............................................................................ 92 FIGURA 21 - EFEITO DA UMIDADE NO COEFICIENTE DE DIFUSO

    EFETIVO........................................................................................... 95 FIGURA 22 - EFEITO DA TEMPERATURA NO COEFICIENTE DE DIFUSO

    EFETIVO........................................................................................... 97 FIGURA 23 - DADOS EXPERIMENTAIS E DO MODELO DIFUSIVO

    PARA O GRADIENTE DE UMIDADE (TEMPERATURA DE 40oC)............................................................ 99

    FIGURA 24 - DADOS EXPERIMENTAIS E DO MODELO DIFUSIVO

    PARA O GRADIENTE DE UMIDADE (TEMPERATURA DE 60oC).......................................................... 100

    FIGURA 25 - DADOS EXPERIMENTAIS E DO MODELO DIFUSIVO

    PARA O GRADIENTE DE UMIDADE (TEMPERATURA DE 80oC).......................................................... 101

  • x

    FIGURA 26 - CURVAS DE PERDA DE UMIDADE MDIA: COMPARAO ENTRE O MODELO DIFUSIVO E OS VALORES EXPERIMENTAIS.......................................................................... 105

    FIGURA 27 - TEOR DE UMIDADE AO LONGO DO PROCESSO DE

    SECAGEM DETERMINADO POR MEIO DE DUAS METODOLOGIAS.......................................................................... 106

    FIGURA 28 - CORRELAO ENTRE O TEOR DE UMIDADE MDIO

    DA TBUA (TUT) E DAS LMINAS (TUL) PARA AS TEMPERATURAS TESTADAS..................................................... 108

    FIGURA 29 - TEMPERATURA NO CENTRO DA TBUA PARA MADEIRA COM UM TEOR DE UMIDADE MDIO DE 70,6%

    (PRXIMO A MEDULA)............................................................... 110 FIGURA 30 - TEMPERATURA NO CENTRO DA TBUA PARA MADEIRA

    COM UM TEOR DE UMIDADE MDIO DE 125,7% (PRXIMO A CASCA)................................................................... 111 FIGURA 31 - EFEITO DA VELOCIDADE DO AR NA TEMPERATURA NO

    CENTRO DA PEA PARA O TEOR DE UMIDADE INICIAL MDIO DE 70,6%........................................................................... 115

    FIGURA 32 - EFEITO DA VELOCIDADE DO AR NA TEMPERATURA NO

    CENTRO DA PEA PARA O TEOR DE UMIDADE INICIAL MDIO DE 125,7%......................................................................... 116

    FIGURA 33 - PERFIL DE UMIDADE NO MOMENTO DO APARECIMENTO

    DAS RACHADURAS NA TEMPERATURA 60OC...................... 118 FIGURA 34 - PERFIL DE UMIDADE NO MOMENTO DO APARECIMENTO

    DAS RACAHDURAS NA TEMPERATURA 80OC...................... 119

  • xi

    LISTA DE TABELAS

    TABELA 1 - EQUAES E POTENCIAIS PARA EXPLICAR O MOVIMENTO DE UMIDADE NA MADEIRA.............................. 34

    TABELA 2 - COEFICIENTES DE TRANSFERNCIA DE CALOR (hc) E

    MASSA (km) CONVECTIVOS......................................................... 53 TABELA 3 - ENSAIOS REALIZADOS P ARA OS DIFERENTES

    EXPERIMENTOS............................................................................. 65 TABELA 4 - CONDIES DE SECAGEM NO INTEROR DA CMARA........ 66 TABELA 5 - CONDIES DE AQUECIMENTO NO INTEROR DA

    CMARA.......................................................................................... 79 TABELA 6 - COEFICIENTES CONVECTIVOS DE CALOR

    DETERMINADOS NESTE ESTUDO E POR OUTROS AUTORES ........................................................................................ 85

    TABELA 7 - COEFICIENTES CONVECTIVOS DE CALOR

    DETERMINADOS NESTE ESTUDO E SEGUNDO CHILTON-COLBURN...................................................................... 86

    TABELA 8 - COEFICIENTES CONVECTIVOS DE TRANSFERNCIA DE

    MASSA DETERMINADOS NESTE ESTUDO E SEGUNDO CHILTON-COLBURN...................................................................... 87

    TABELA 9 - TEOR DE UMIDADE INICIAL, FINAL E TEMPO DE

    SECAGEM PARA AS TEMPERATURAS TESTADAS................. 88 TABELA 10 - COEFICIENTE DE DIFUSO EFETIVO PARA AS

    TEMPERATURAS DE SECAGEM TESTADAS............................ 94 TABELA 11 - COEFICIENTES DE DETERMINAO PARA AS CURVAS

    DE SECAGEM OBTIDAS POR MEIO DO MODELO E OS VALORES EXPERIMENTAIS....................................................... 105

    TABELA 12 - TEMPERATURA E TEMPO TOTAL DE AQUECIMENTO

    NO INTERIOR DA MADEIRA DE PINUS TAEDA L.................. 113

    TABELA 13 - TEOR DE UMIDADE MDIO DAS AMOSTRAS COM RACHADURAS SUPERFICIAIS .................................................. 121

  • xii

    RESUMO

    O presente trabalho tem como objetivo o uso de modelos para melhorar o controle do processo de secagem de madeira serrada, tomando como base a Lei de Fourier para modelar o fluxo de calor e a 2a Lei de Fick para o fluxo de massa. Para a avaliao do modelo de Fourier foram utilizadas tbuas de Pinus taeda L. de 46mm de espessura, submetidas s temperaturas de bulbo seco de 40oC, 60oC e 80oC e velocidades do ar de 3,5, 4,7 e 6,8 m/s. Em todos os ensaios a umidade relativa foi mantida em 100%. No caso da aplicao da 2a Lei de Fick foram utilizadas tbuas de Pinus elliottii Engelm de 36mm de espessura, submetidas as mesmas temperaturas, no entanto com uma velocidade do ar de 3,0m/s e uma umidade relativa de 40%. Os resultados dos ensaios indicaram que a relao de Chilton-Colburn permite determinar os coeficientes convectivos de calor e massa. O coeficiente convectivo de calor pode ser determinado do nmero de Nusselt, considerando um fluxo ao longo de um duto de seo retangular baseado no dimetro hidrulico. O coeficiente de difuso aumentou com a temperatura e diminuiu com o teor de umidade da madeira. A soluo do modelo de Fourier representou melhor o comportamento experimental dos dados quando o valor de Biot tendendo ao infinito considerado. Isto indica que a resistncia transferncia de calor do material bem superior que a conveco de calor do fluido na superfcie. Com base nos resultados obtidos concluiu-se, que o modelo de Fourier permite estimar com boa preciso a temperatura no centro da madeira e que o modelo difusivo, baseado na segunda Lei de Fick, permite predizer os gradientes de umidade e a taxa de perda de umidade, durante o processo de secagem. Os resultados tambm indicam que o gradiente de umidade das peas gerado pelo modelo pode ser utilizado na prtica para ajustar o processo de secagem de madeira serrada e, com base nisto, mitigar rachaduras superficiais. Este aspecto em particular pode ser explorado em mais detalhes em estudos futuros. Palavra chave : Madeira Secagem; Pinus taeda L.; Pinus elliottii Engelm.

  • xiii

    ABSTRACT

    This study was designed to develop a model to improve the control of drying process of sawnwood. The model is based on the Fourier Law, in dealing with heat transfer, and on the second Fick Law for the mass transfer. When developing the model based on the Fourier Pinus taeda L. boards, 36 mm thick, were used. For this experiment it was used temperatures of 40oC, 60oC e 80oC, and air velocities of 3.5, 4.7 and 6.8 m/s. In all trials the relative humidity was maintained at 100%. In dealing the experiments for the application of the second Fick Law 36mm thick boards of Pinus elliottii Engelm were used, and the same temperatures of the previous experiment were used. In this case air velocity was 3.0 m/s and the relative humidity was 40%. The results obtained pointed out that the Chilton- Colburn relations allows to obtain the convective values for mass and heat. The heat convective coefficient can be determined from the Nusselt number, considering the flow in a rectangular section based on a hydraulic diameter. The diffusion coefficient increase with temperature and decrease with the moisture content of the boards. The solution of the Fourier model presented a better result when the Biot value tending to infinite is considered. This points out that the limitation of heat transfer of the material is more important than the convection of heat from the air to the surface. Based on the results of this study can be concluded that the model based on the Fourier Law is a good tool to estimate internal temperature of the boards, and that the diffusion model (based on the second Fick Law) is appropriated to define the moisture gradient and to estimate the moisture contend reduction during drying. The results also pointed out that moisture gradient generated by the model has practical application, and can be used to adjust the wood drying process, and mitigate superficial checks a common defect when drying lumber. The practical applications of the model can be further explored in future studies.

    Key word: Wood - Drying; Pinus taeda L.; Pinus elliottii Engelm.

  • xiv

    RESUMEN El presente trabajo tiene como objetivo el uso de modelos para mejorar el control del proceso de secado de madera aserrada, tomando como base la Lei de Fourier para modelar el flujo de calor y la 2 Lei de Fick para el flujo de masa. Para evaluar el modelo de Fourier fueron utilizadas tablas de Pinus taeda L. de 46mm de espesor, sometidas a las temperaturas de bulbo seco de 40C, 60C y 80C y velocidades del aire de 3,5, 4,7 e 6,8 m/s. En todos los ensayos la humedad relativa fue mantenida en 100%. En la aplicacin de la 2 Lei de Fick fueron utilizadas tablas de Pinus elliottii Engelm de 36mm de espesor, sometidas a las mismas temperaturas, sin embargo con una velocidad del aire de 3,0m/s y una humedad relativa de 40%. Los resultados de los ensayos indicaron que la relacin de Chilton-Colburn permite determinar los coeficientes convectivos de calor y masa. El coeficiente convectivo de calor puede ser determinado del nmero de Nusselt, considerando un flujo a lo largo de un ducto de seccin rectangular basado en el dimetro hidrulico. El coeficiente de difusin efectivo aumenta con la temperatura y disminuye con el contenido de humedad de la madera. La solucin del modelo de Fourier represent mejor el comportamiento experimental de los datos cuando el valor de Biot tiende a infinito. Esto indica que la resistencia a la transferencia de calor del material es bien superior que la conveccin de calor del fluido en la superficie. Con base en los resultados obtenidos se concluye, que el modelo de Fourier permite estimar con buena precisin la temperatura en el centro de la madera y que el modelo difusivo (2 Lei de Fick) permite predecir los gradientes de humedad y la tasa de perdida de humedad, durante el proceso de secado. Los resultados tambin indican que el gradiente de humedad de las piezas generado por el modelo pueden ser utilizados en la prctica para ajustar el proceso de secado de la madera aserrada, y con esto reducir las rajaduras superficiales. Este aspecto en particular puede ser explorado en mas detalle en estudios futuros. Palabra clave: Secado - Madera; Pinus taeda L.; Pinus elliottii Engelm.

  • 1

    1 INTRODUO

    A secagem um dos processos mais importantes para a indstria madeireira.

    A madeira, para a maior parte de seus usos necessita ser seca. Este processo demanda

    grandes investimentos e um consumo elevado de energia, resultando em custos altos.

    Isto explica o grande interesse em se buscar formas eficientes de secar a madeira. O

    objetivo dos pesquisadores sempre reduzir o teor de umidade o mais rpido possvel,

    sem provocar defeitos que possam afetar o uso final da madeira.

    Para melhorar a secagem necessrio ter um perfeito entendimento dos

    processos fsicos envolvidos na transferncia simultnea de calor e de massa. Durante

    a secagem da madeira, calor transferido para a superfcie e da superfcie para o

    centro da pea. A resistncia ao calor na superfcie representada pelo coeficiente

    convectivo de calor, e a resistncia conduo do calor para o interior da madeira,

    pela condutividade trmica da madeira.

    A transferncia de calor traz como conseqncia a perda de umidade, com o

    movimento de gua do centro para a superfcie, atravs de mecanismos de capilaridade

    e difuso; e da superfcie da madeira para o ar pela evaporao. A resistncia para a

    evaporao da gua depende do coeficiente convectivo de massa e da difuso no

    interior da madeira.

    A utilizao de modelos matemticos para simular a secagem da madeira

    uma das alternativas adotadas para melhorar os programas de secagem, permitindo

    diminuir os custos, a energia, o tempo e os defeitos de secagem. Modelos que

    descrevem adequadamente os processos de transferncia de calor e de massa serviram

    de base para estudar processos industriais complexos, facilitar os ensaios

    experimentais e explicar os mecanismos fsicos que esto envolvidos.

    O modelo de difuso foi uma primeira tentativa para descrever e quantificar a

    secagem da madeira. Posteriormente, foram desenvolvidos os modelos que

    consideraram o transporte simultneo de calor e massa. As maiores vantagens de se

    usar modelos matemticos so: a sensibilidade dos modelos ao mudar os parmetros

    de secagem; a soluo pode ser generalizada para diferentes espcies e a relao entre

    a madeira, a gua e a temperatura podem ser mais bem analisadas.

  • 2

    Neste estudo utilizou-se o modelo difusivo por ser um modelo simples para a

    determinao do coeficiente de difuso efetivo, que considera o movimento de

    umidade acima e abaixo do ponto de saturao das fibras, o gradiente de umidade e a

    curva de perda de umidade durante o processo de secagem convencional. O modelo de

    Fourier foi utilizado para predizer o tempo de aquecimento da madeira durante o

    processo de aquecimento.

    Os seguintes objetivos foram estabelecidos para o estudo:

    a.- Objetivo geral

    Contribuir para o conhecimento dos processos de transferncia de calor e

    massa durante a secagem artificial de madeira serrada.

    b.- Objetivos especficos

    Avaliar e validar a aplicabilidade de modelos matemticos para melhorar o

    entendimento sobre o processo de secagem artificial de madeira serrada, considerando

    como base:

    A Lei de Fourier para predizer o tempo de aquecimento.

    A Lei de Fick para determinar o coeficiente de difuso efetivo e predizer os

    gradientes de umidade e a curva de perda de umidade.

    O estudo foi baseado em madeira de Pinus e, para atender os objetivos

    estabelecidos, as seguintes atividades foram desenvolvidas:

    Determinao dos coeficientes convectivos de calor e massa.

    Determinao da temperatura interna e do gradiente de umidade durante o

    processo de secagem em diferentes condies.

    Avaliao da adequao dos modelos de transferncia de massa e calor para

    estimar temperaturas internas, gradientes de umidade e taxa de secagem.

    Anlise de aplicao do modelo nos gradientes de umidade, quando ocorrem

    as rachaduras superficiais na madeira serrada.

  • 3

    2 REVISO DA LITERATURA

    2.1 SECAGEM DA MADEIRA

    A madeira um material higroscpico que mantm relaes dinmicas com a

    gua do meio ambiente, em funo do seu prprio teor de umidade, da umidade

    relativa e da umidade do ambiente, podendo ceder ou adquirir gua ao meio. Na

    madeira, de uma forma bastante simplificada, pode-se considerar que a gua se desloca

    das regies de alto para as de baixo teor de umidade. Na forma lquida e como vapor,

    movimenta-se pelas aberturas naturais da madeira e atravs das paredes celulares.

    Basicamente a secagem da madeira consiste na remoo da umidade de sua superfcie,

    ao mesmo tempo em que ocorre o movimento da gua do interior para esta superfcie.

    Do ponto de vista fsico, a secagem pode ser definida como um balano entre a

    transferncia de calor do ar para a superfcie da madeira e a transferncia de massa do

    interior para a superfcie e desta para a corrente de ar.

    2.1.1 Tipos de gua Existente na Madeira

    Existem dois tipos de gua na madeira: gua livre ou capilar, localizada nos

    lumes celulares e espaos intercelulares, retidas por foras capilares, e gua de

    impregnao ou higroscpica, que se encontra nos espaos submicroscpicos da

    parede celular, ligada por foras fsico-qumicas.

    No processo de secagem, a primeira gua a ser removida a gua livre contida

    nas cavidades celulares (lumes das clulas), que se encontra retida por foras capilares,

    que so apreciavelmente menores do que as foras que mantm a gua de impregnao

    existente na parede celular (SKAAR, 1972). A retirada da gua capilar ocasiona

    apenas uma perda de peso na madeira, isto ocorre quando a madeira se encontra a

    teores de umidade superiores ao ponto de saturao das fibras (PSF) (KOLLMANN,

    1959), o ponto em que os lumes celulares da madeira esto vazios e apenas as paredes

    celulares possuem gua.

    Segundo SKAAR (1972), o ponto de saturao das fibras varia normalmente

    entre 25 e 35% de umidade em relao ao peso seco do material, com um valor mdio

  • 4

    de 28%. O ponto de saturao das fibras de grande importncia prtica, uma vez que

    as variaes dimensionais da madeira se manifestam apenas abaixo deste.

    A gua de impregnao encontra-se nos espaos submicroscpicos da parede

    celular e a sua sada afeta a maioria das propriedades fsicas e mecnicas da madeira.

    Por esta razo, variaes no teor de umidade abaixo do PSF tm grande importncia na

    utilizao da madeira. A gua de impregnao dentro do intervalo de 6 a 28%

    adsorvida em camadas polimoleculares ligadas por foras eltricas polares

    (KOLLMANN, 1959). Abaixo deste teor de umidade (0 a 6%), encontra-se a gua de

    adsoro fsico-qumica, aderida s interfaces entre as molculas de celulose e

    hemicelulose por foras de valncias secundrias (Van der Waals e pontes de

    hidrognio).

    2.1.2 Movimento de gua Capilar

    O movimento da gua capilar, tambm denominado movimento de umidade

    acima do ponto de saturao das fibras, o mecanismo de transporte predominante

    baseado na ao da fora capilar e segue a lei de Hagen-Poiseuille (KOLLMANN;

    CTE, 1968; PLUMB et al. 1984). Este movimento capilar envolve, durante a

    secagem, o deslocamento da gua (ou outro lquido) pelo ar, na estrutura porosa da

    madeira.

    Num capilar cheio, o movimento da gua capilar produzido pelas diferenas

    em tenso devido s foras existentes na superfcie do menisco dentro do capilar. Esta

    tenso T, num menisco balanceado dentro de um capilar de raio, r pode ser

    determinada atravs da equao 1.

    Esta equao no considera as diferenas na presso do ar existente dentro do

    capilar (KOLLMANN; CTE, 1968).

    r2

    r2

    HTCsr

    rsr =

    == 1

  • 5

    Onde:

    TC: tenso capilar (g/cm2) H: altura a que o lquido sobe no capilar (cm) r: densidade do lquido (g/cm3) s: tenso superficial do lquido (g/cm) r: raio do capilar (cm).

    Estabelece-se por esta equao que a tenso capilar diretamente proporcional

    tenso superficial da interfase ar-gua e inversamente proporcional ao raio da

    curvatura.

    SIAU (1971) considera o fluxo atravs dos capilares como uma funo do raio

    do capilar quarta potncia. As leis que modelam as foras capilares consideram ainda

    que quanto maior o raio do capilar, maior a trao da coluna de gua no mesmo e,

    em conseqncia disso, menor a tenso capilar, o que resulta numa reduo do fluxo.

    O fluxo capilar aproximadamente 50 vezes maior no sentido longitudinal

    que no sentido transversal (radial e tangencial). Nesta direo existe um menor nmero

    de pontoaes e uma menor presena de substncias que possam obstruir a livre

    passagem da gua.

    De acordo com BRAMHALL e WELLWOOD (1976) o fator mais importante

    que afeta o fluxo capilar a permeabilidade da madeira, sendo este fluxo inversamente

    proporcional a esta propriedade fsica. No obstante, o fluxo de massa no um

    componente significativo no movimento total da umidade em madeiras pouco

    permeveis (BRAMHALL, 1976b).

    No entanto, a temperatura da madeira tambm afetaria este movimento, pois,

    nas altas temperaturas a viscosidade da gua reduzida, provocando um movimento

    mais rpido da gua capilar. Segundo SIAU (1971) o fator limitante durante a secagem

    da madeira freqentemente a remoo da gua capilar retida em forma lquida nas

    cavidades celulares. Baixas temperaturas devem ser freqentemente utilizadas durante

    as etapas inicias da secagem devido ao risco de defeitos associados remoo rpida

    da gua a altas temperaturas, tais como rachaduras superficiais, empenamentos ou

    colapso em madeiras propensas a este defeito.

  • 6

    De acordo com SPOLEK e PLUMB (1981), o movimento da gua livre na

    direo tangencial pode ocorrer por dois possveis caminhos: a gua livre pode se

    mover do lenho inicial para o tardio, ou diretamente a superfcie atravs do lenho

    inicial. Entretanto, no transporte radial, a gua livre tem que se movimentar atravs das

    regies do lenho inicial e lenho tardio.

    2.1.3 Movimento de gua de Impregnao

    O movimento da gua higroscpica corresponde perda de gua abaixo do

    ponto de saturao das fibras, que geralmente considerado como um fenmeno de

    difuso. De acordo com BRAMHALL (1976b), o processo de difuso muito

    importante na secagem de todas as madeiras (permeveis e pouco permeveis). Em

    espcies pouco permeveis, onde o fluxo capilar dificultado, a secagem ocorre

    predominantemente por difuso. Este fenmeno, de modo geral, um processo que

    envolve o movimento espontneo de um material para outro, desde uma zona de maior

    concentrao para uma de menor concentrao, num esforo de alcanar o equilbrio,

    permitindo assim reduzir o gradiente de umidade.

    No caso da madeira, a difuso pode envolver o movimento de um gs ou

    vapor entre os espaos celulares, ou de um lquido atravs da parede celular da

    madeira (STAMM, 1964).

    A diferena entre o movimento capilar e o de difuso que este ltimo um

    processo lento (RASMUSSEN, 1961) e considerado complexo, porque ocorre

    simultaneamente difuso de vapor atravs das cavidades celulares, e difuso de gua

    higroscpica nas paredes celulares da madeira (KOLLMANN; CTE, 1968; DROIN

    et al. 1988a).

    Segundo BRAMHALL et al. (1978), o movimento de difuso pode ocorrer

    por trs caminhos diferentes, dependendo do estado e o local em que se encontra a

    gua na madeira. Este movimento pode ser por difuso de vapor, difuso de gua

    higroscpica e como uma combinao de ambos.

    A gua no estado de vapor movimenta-se atravs do fenmeno de difuso.

    Neste processo, as molculas de vapor de gua movimentam-se de forma

  • 7

    desorganizada em todas as direes, desde uma regio de alta concentrao para uma

    regio de baixa concentrao, diminuindo assim o gradiente de concentrao existente

    entre elas. A velocidade deste movimento proporcional ao gradiente de presso de

    vapor existente entre as duas regies. Este gradiente de presso de vapor faz com que o

    vapor de gua movimente-se atravs das cavidades celulares, das cmaras de

    pontoaes, da abertura da membrana e dos espaos intercelulares (CECH; PFAFF,

    1977).

    O movimento por difuso de gua higroscpica atravs das paredes celulares

    devido existncia de um gradiente de umidade entre duas regies. Este gradiente de

    umidade entre as paredes mais externas e internas das clulas se desenvolve medida

    que a umidade comea a evaporar das paredes das clulas prximas superfcie da

    pea de madeira, absorvendo estas ltimas por estarem mais secas, a umidade das

    paredes mais midas, resultando num fluxo de gua das clulas internas da madeira

    para as externas.

    O gradiente de presso de vapor entre estas duas regies tambm

    responsvel pela concretizao deste mecanismo. No entanto, a difuso da gua

    higroscpica um processo sensivelmente mais lento que o processo de difuso de

    vapor.

    Durante a secagem da madeira, tanto a difuso de gua higroscpica como a

    difuso de vapor de gua, ocorrem simultaneamente. Ao ser deslocada desde o centro

    da madeira at a superfcie, grande parte desta umidade passa atravs das paredes

    celulares pelo processo de difuso da gua higroscpica, que evapora dentro das

    cavidades celulares e passa por sua vez atravs do lume pelo mecanismo de difuso de

    vapor. Na continuidade da sua migrao para a sua superfcie, a gua no estado de

    vapor nos lumes adsorvida por outra parede celular, passando atravs dela por

    difuso de gua higroscpica, e assim sucessivamente, at atingir a superfcie da pea.

    De acordo com YAO (1966), alguns dos fatores que influenciam a difuso de

    umidade so os mtodos de medio, teor de umidade, densidade, estrutura da madeira

    e temperatura. Este autor indica que os valores do coeficiente de difuso so

    aproximadamente 10% maior na desoro que na absoro.

  • 8

    De acordo com HART (1966) citado por GALVO e JANKOWSKY (1985),

    a difuso de vapor de gua de 10 a 1.000 vezes maior que a difuso da gua

    higroscpica nas paredes celulares. Entretanto, a difuso de vapor de gua em

    temperaturas abaixo do ponto de ebulio tem menor contribuio no processo de

    secagem devido ao pequeno nmero de aberturas que ligam as clulas entre si. Dessa

    forma, apesar da facilidade de difuso do vapor de gua atravs das aberturas naturais

    da madeira, a maior parte deste movimento para o total de gua movimentada pode ser

    desprezada nas condies normais de secagem.

    Segundo LANGRISH e WALKER (1993), quando a madeira est verde, o

    coeficiente de difuso de vapor nos lumes em torno de 10 vezes maior que o

    movimento da gua nas paredes celulares. No obstante, quando a madeira est em 5%

    do teor de umidade, o coeficiente de difuso do vapor nos lumes da ordem de 1.000

    vez maior que a gua na parede celular. A diferena menor quando o teor de umidade

    da parede celular aproxima-se do PSF e maior quando se aproxima de 0%, j que a

    parede celular oferece maior resistncia difuso que os lumes.

    evidente que a difuso transversal essencialmente determinada pelo

    movimento da umidade atravs da parede e pela espessura da parede atravessada por

    unidade de distncia (densidade da madeira). Segundo CHOONG (1965), SIAU

    (1971), AVRAMIDIS e SIAU (1987), o coeficiente de difuso transversal aumenta

    com o teor de umidade da madeira em todas as temperaturas, enquanto o coeficiente

    de difuso longitudinal diminui com o aumento do teor de umidade em todas as

    temperaturas. Os efeitos do teor de umidade na difuso radial so muito pronunciados,

    mas no coeficiente tangencial permanecem essencialmente constantes com o teor de

    umidade (SKAAR, 1958 citado por DROIN et al. 1988a).

    ROSEN (1976), trabalhando com madeira de alburno de Liriodendron

    tulipifera L, concluiu que uma relao exponencial do tipo D=1,71x10-4exp[-0,133M]

    (D em cm2/s e M em %), pode ser usada para descrever a dependncia do coeficiente

    de difuso longitudinal durante a absoro abaixo do ponto de saturao das fibras.

    Segundo BRAMHALL (1979a), o coeficiente de difuso aumenta em forma

    exponencial em relao ao teor de umidade. Da mesma forma para KIRK et al. (1985),

  • 9

    o coeficiente de difuso mdio aumenta exponencialmente com o teor de umidade no

    intervalo higroscpico, entretanto acima deste intervalo o coeficiente de difuso

    provavelmente constante.

    DROIN-JOSSERAND et al. (1989) considerou a difusividade dependendo do

    teor de umidade numa forma exponencial, sendo que o valor do coeficiente de difuso

    tangencial igual ao radial (D=1,5x10-6exp[0,0228M]).

    SIMPSON e LIU (1991) concluram que o coeficiente de difuso aumenta

    com o teor de umidade no intervalo entre 0 e 18% e pode ser descrito como uma

    funo exponencial. Posteriormente, SIMPSON (1993) encontrou que o coeficiente de

    difuso aumenta aproximadamente em forma exponencial com o teor de umidade entre

    6 e 30%, a 43oC.

    De acordo com SIMPSON e LIU (1997), o coeficiente de difuso depende do

    teor de umidade, aumentando com o acrscimo deste e tende a ser constante a partir do

    PSF. Da mesma forma para HUKKA (1999) o coeficiente de difuso efetivo aumenta

    com o teor de umidade at o PSF e deste ponto permanece constante para as diferentes

    temperaturas (Figura 1). Entretanto, LIU et al. (2001), encontraram que o coeficiente

    de difuso aumenta com o acrscimo da temperatura abaixo do PSF, elevando-se

    drasticamente entre o teor de umidade de 5% a 10%, e, aumenta levemente deste

    ltimo valor at o teor de umidade de 35%.

    YEO et al. (2002b), que realizaram ensaios de secagem com trs espcies de

    madeira diferentes (Quercus rubra L., Pinus spp.e Acer saccharum) a uma

    temperatura de 30oC e uma umidade relativa 25%. Estes autores tambm encontraram

    resultados semelhantes dependendo da espcie e da direo considerada (longitudinal,

    radial ou tangencial). Eles identificaram que o coeficiente de difuso longitudinal para

    as trs espcies permanece constante desde o teor de umidade mximo (madeira verde)

    at 30% e posteriormente diminui at o teor de umidade de equilbrio. Quando a

    madeira apresenta acima do PSF um coeficiente de difuso constante, indica que o

    movimento de umidade por ao capilar. O coeficiente de difuso na direo

    transversal para cada espcie, exceto para a direo radial da madeira de Acer

    saccharum, decresce desde verde (acima de 100%) at o teor de umidade de equilbrio.

  • 10FIGURA 1 - VARIAO DO COEFICIENTE DE DIFUSO EFETIVO (Def) COM O TEOR DE

    UMIDADE EM DIFERENTES TEMPERATURAS

    FONTE: Adaptado de HUKKA (1999).

    Entretanto, CHOONG e SKAAR (1972); AVRAMIDIS e SIAU (1987);

    DRION et al. (1988a); MOUNJI et al. (1991); SDERSTRM e SALIN (1993);

    CHEN et al. (1994 e 1995); SIAU e AVRAMIDIS (1996); LIU e SIMPSON (1997);

    FOTSING e TCHAGANG (2005), dentre outros autores, tm determinado ou

    considerado o coeficiente de difuso como constante.

    CHEN et al. (1996) descrevem uma alternativa no destrutiva para avaliar o

    coeficiente de difuso dependente do teor de umidade usando curvas de secagem.

    Indicam que, dependendo do intervalo de teor de umidade e condies de secagem, a

    predictibilidade da remoo de umidade durante a secagem pode ser melhorada

    usando-se o coeficiente de difuso dependente do teor de umidade (seja este constante

    ou apresentando uma relao linear com o teor de umidade).

    Segundo BIGGERSTAFF (1965), a temperatura um fator crtico sobre o

    efeito do coeficiente de difuso, pois aumenta de forma exponencial. A relao entre a

    temperatura e o coeficiente difuso de umidade atravs da madeira geralmente

    expressa pela equao de Arrhenius (YAO, 1966), a qual representada a seguir:

  • 11

    D = Do exp (-E/RTk) 2

    Onde:

    D: coeficiente de difuso, temperatura absoluta Tk. Do: uma constante ou o coeficiente de difuso calculado desde o logaritmo de D em 1/T=0, (fator de freqncia). R: constante dos gases. E: energia de ativao.

    De acordo com YAO (1966) a energia de ativao (E) para a difuso da

    umidade atravs da madeira considerada a energia requerida para que as molculas

    de gua pulem de um nvel de energia para outro.

    BRAMHALL (1979c), SKAAR e SIAU (1981) consideram o coeficiente de

    difuso como sendo dependente da temperatura, relacionando-o com uma equao do

    tipo Arrhenius. FERNANDEZ e HOWELL (1997) consideraram no seu modelo que a

    difusividade da gua de impregnao expressa por Arrhenius, sendo que o

    coeficiente e a energia de ativao da gua de impregnao dependem do teor de

    umidade. A energia de ativao desta gua proporcional entalpia de vaporizao

    (SIAU, 1984).

    SIMPSON e LIU (1997) utilizaram a expresso matemtica de SIMPSON

    (1993) que demonstrou que o coeficiente de difuso para Quercus rubra pode ser

    representado por D = Aexp(-5.280/T)exp(BM/100), T temperatura absoluta, M teor de

    umidade em %; A e B coeficientes determinados experimentalmente (A: 12,9 e 14,8 e

    B: 2,32 e 2,48 para uma velocidade do ar de 1,5m/s e 5,1m/s, respectivamente).

    De acordo com KANG e HART (1997), a maioria dos estudos que relacionam

    difuso de umidade e temperatura foi realizada antes dos anos 70. Os mesmos autores

    aplicaram a equao de Arrhenius para considerar o coeficiente de difuso dependente

    da temperatura. Segundo CHRUSCIEL et al. (1999), a variao da resistncia da

    transferncia de massa global uma funo da temperatura do ar relacionada com a lei

    de Arrhenius.

    O ltimo regime de secagem comea quando a difuso da gua higroscpica

    controlada segundo a difuso de Fick. O parmetro que afeta este regime de secagem

  • 12

    o coeficiente de difuso. Para muitos materiais higroscpicos, o coeficiente de difuso

    assumido como sendo do tipo Arrhenius, com a temperatura como primeiro

    parmetro de influncia (MORN, 2001).

    A presena das pontoaes e a condio da membrana da pontoao no

    influenciam muito a difuso. As pontoaes somente se tornam importantes em teores

    de umidade muito baixos e para madeiras com alta densidade, onde o coeficiente de

    difuso muito pequeno, e as paredes das clulas so espessas. As pontoaes

    desempenham um papel insignificante: se no ocorresse difuso atravs delas, o

    coeficiente de difuso transversal seria reduzido em apenas 10%. Se a membrana da

    pontoao fosse removida inteiramente, o coeficiente de difuso aumentaria em trs

    vezes (STAMM, 1967b citado por LANGRISH; WALKER, 1993).

    O estado das pontoaes um fator menor na difuso. Por exemplo, o cerne de

    uma madeira pouco impermevel levar para secar, do PSF at um teor de umidade de

    equilbrio, virtualmente o mesmo tempo que uma madeira altamente permevel

    (alburno), tendo ambas mesma densidade bsica (LANGRISH; WALKER, 1993).

    Segundo SIAU (1971), a massa especfica, a permeabilidade e a temperatura

    influenciam o processo de difuso. Da mesma forma DROIN et al. (1988a), indicam

    que a taxa de transporte de umidade est relacionada com a umidade relativa do

    ambiente, a temperatura, o tipo de madeira, a velocidade do ar ambiente, a presena de

    gradientes de concentrao na madeira e o teor de umidade. O efeito da temperatura

    um importante parmetro para o coeficiente de difuso e, geralmente, este aumenta

    com a temperatura. Da mesma forma, a direo estrutural tambm afeta o movimento

    de gua higroscpica. O coeficiente longitudinal aproximadamente de duas a quatro

    vezes maior que o coeficiente transversal a uma umidade de 25%, e de 50 a 100 vezes

    maior, a uma umidade de 5%. J a difuso no sentido radial cerca de 17 a 25% maior

    que na direo tangencial. A velocidade do processo de difuso do interior para a

    superfcie das tbuas afeta diretamente a velocidade de secagem (BROWN; BETHEL,

    1975).

    O fluxo de gua ocorre longitudinalmente e transversalmente e apesar de ser

    10 a 15 vezes mais rpido ao longo da gr a maior parte da gua evaporada pelas

  • 13

    faces transversais a esta, isto porque a distncia envolvida menor. Em termos

    simples, a secagem ocorre da superfcie para o interior, evaporando inicialmente a

    umidade superficial e posteriormente a interna. Deste modo, a secagem um processo

    essencialmente de movimento de umidade das camadas internas para a periferia da

    madeira (CECH; PFAFF, 1977).

    O movimento de gua abaixo do ponto de saturao das fibras, quando

    considerado num estado constante, governado pela primeira Lei de Fick, que tem

    uma forma matemtica anloga s Leis de Darci e Fourier (SIAU, 1971). A primeira

    Lei de Fick estabelece que o fluxo de umidade proporcional ao gradiente de

    concentrao na direo do fluxo, onde a constante de proporcionalidade o

    coeficiente de difuso.

    Os valores calculados teoricamente pela equao da Lei de Fick representam

    aproximadamente o dobro dos valores experimentais no sentido longitudinal e trinta

    vezes no sentido tangencial da madeira, uma vez que o fluxo no constante nem no

    espao nem no tempo. Discrepncia que segundo TOMASELLI (1974), atribuda ao

    fenmeno de difuso impedida, que ocorre nas aberturas minsculas das membranas

    das pontoaes, cujo dimetro menor do que o caminho livre mdio das molculas

    de gs (vapor de gua) para que ocorra fluxo sem turbulncia.

    No entanto, o fluxo por difuso na madeira considerado um fluxo varivel no

    espao e no tempo, representado pela segunda Lei de Fick aplicada ao fluxo transiente.

    No obstante, esta simples denominao da equao diferencial para a difuso

    corresponde na verdade combinao da Lei de Fick com a equao de continuidade

    (BABBITT, 1977).

    Ao contrrio do movimento capilar, o movimento de gua por difuso

    complexo, principalmente devido a uma integrao existente entre o movimento de

    gua por difuso nas cavidades celulares (lumes de clulas) e ao movimento da gua

    higroscpica na parede celular. De acordo com STAMM (1964), os coeficientes de

    difuso para madeira podem ser obtidos, na prtica, de trs maneiras diferentes:

    determinao dos gradientes de umidade formados na madeira sob condies

  • 14

    controladas, medio da taxa de passagem de gua atravs da madeira em estado

    estacionrio e determinao da taxa de secagem.

    2.1.4 Cintica da Secagem da Madeira

    De acordo com SIMPSON (1991), a gua na madeira normalmente se

    movimenta de zonas de maior teor de umidade para as de menor teor de umidade,

    podendo ser considerada em duas fases: movimento de gua do interior para a

    superfcie e remoo de gua desde a superfcie.

    Para JANKOWSKY (1995), SAHIN e DINCER (2002), a secagem da madeira

    um processo trmico complexo no qual ocorre simultaneamente transferncia de

    calor e massa. O deslocamento de uma corrente de ar pela superfcie da madeira

    caracteriza a secagem por conveco. A energia da corrente de ar aquecido

    transferida para a superfcie da madeira para aumentar a temperatura do slido e da

    umidade presente, promovendo a vaporizao da gua ali existente. A transferncia de

    umidade ocorre quando esta migra para a superfcie desde o interior da madeira e da

    ao ar circundante, no estado de vapor de gua. Simultaneamente, parte da energia

    recebida pela superfcie provocar o aumento da temperatura nessa regio, dando

    incio ao transporte de calor da superfcie para o centro da pea.

    De acordo com VILLIERE (1966), HART (1977), MOYNE e MARTIN

    (1982), JANKOWKY (1995), SANTOS (2003), no processo de secagem convencional

    pode-se distinguir trs diferentes fases caracterizadas pela variao na taxa de secagem

    e que determinam a curva caracterstica de secagem do material (Figura 2).

    a) Primeira fase da secagem

    Segundo BRAMHALL (1975), a taxa de evaporao durante a primeira fase

    da secagem da madeira quando a sua superfcie est acima do ponto de saturao das

    fibras, proporcional diferena de temperatura entre o ar e a superfcie da madeira e

    tambm proporcional diferena de presso de vapor entre o ar e a superfcie desta. A

    presso de vapor de uma superfcie mida no corresponde presso de vapor de

  • 15

    saturao na temperatura de bulbo mido, mas sim presso de saturao

    temperatura do ponto de orvalho, que um valor menor.

    FIGURA 2 - DIAGRAMA DAS DIVERSAS FASES DA SECAGEM CONVENCIONAL

    FONTE: Adaptado de VILLIERE (1966)

    De acordo com SIAU e AVRAMIDIS (1996), o primeiro estgio na secagem

    da madeira, acontece quando a superfcie est bem acima do ponto de saturao das

    fibras, ocorrendo fluxo capilar. Isto corresponde ao perodo de secagem constante, no

    qual a taxa de perda de umidade constante e a temperatura da superfcie saturada

    corresponde temperatura do bulbo mido do secador.

    KRISCHER (1956) citado por BRAMHALL (1975) observou que, durante

    este estgio, a taxa de evaporao foi proporcional diferena psicromtrica entre a

    temperatura de bulbo seco e bulbo mido. Isto ocorre porque a taxa de transferncia de

    calor proporcional diferena de temperatura entre o ar e a superfcie da madeira.

    Como a temperatura na superfcie da madeira corresponde temperatura de

    bulbo mido durante este primeiro estgio, todo o calor (calor sensvel) conduzido

    madeira usado para evaporar a umidade da superfcie desta, causando diminuio de

  • 16

    sua temperatura. Desta forma, a taxa de evaporao proporcional diferena

    psicromtrica, independentemente da temperatura de bulbo seco. Como a superfcie da

    madeira est saturada, a presso de vapor parcial em sua superfcie igual presso de

    vapor de saturao na temperatura de bulbo mido. Parte da energia recebida pela

    superfcie provocar o aumento da temperatura nessa regio, iniciando a transferncia

    de calor para o centro da pea. Os parmetros do escoamento exterior definem o

    processo de secagem, os quais so a temperatura, o estado hdrico do ar, e

    especialmente a velocidade deste. Desta forma as camadas limites trmicas e mssicas

    so as que governam a transferncia de calor e de massa.

    Quando as condies externas so severas, com temperatura elevada e/ou

    umidade de equilbrio baixa, a fase do perodo de velocidade de secagem constante

    nem sempre observvel, devido ao curto espao de tempo no qual subsiste. Depois

    de um certo tempo, a velocidade de difuso da gua proveniente do interior da madeira

    diminui, enquanto a velocidade de evaporao permanece constante. Atingir-se-,

    ento, o momento em que o filme de gua superfcie no poder ser mais mantido

    (nessa regio alcana-se o ponto de saturao das fibras). Neste momento, inicia-se a

    segunda fase (ponto C na Figura 2), denominada taxa decrescente.

    b) Segunda fase da secagem

    A segunda fase comea logo que a umidade na superfcie passa abaixo do

    ponto de saturao das fibras, enquanto a zona interior ainda contm gua livre (ponto

    C-H da Figura 2). Desta forma, a madeira atinge um teor de umidade no qual a linha

    de evaporao se desloca em direo ao centro da pea.

    A umidade da madeira no ponto de transio do perodo constante para o

    perodo decrescente denominada teor de umidade crtico (KOTOK et al. 1969). A

    vaporizao da gua presente na superfcie gerar um gradiente de umidade,

    principalmente no sentido da espessura, dando incio movimentao da gua do

    interior at a superfcie por difuso, que tambm influenciada pelo fluxo de calor que

    ocorre no sentido inverso.

  • 17

    A transferncia interna da gua ocorre nas fases de lquido, de vapor e como

    gua higroscpica. Na fase lquida fundamentalmente um fenmeno de capilaridade,

    sendo afetado pela estrutura anatmica da madeira. As outras fases so basicamente

    um fenmeno difusivo, influenciado pelas condies termodinmicas do fluxo de ar e

    pelas caractersticas da prpria madeira. A taxa de secagem decresce e depende cada

    vez mais das propriedades fsicas do material.

    Quando a madeira seca um pouco, sua temperatura comea a subir acima da

    temperatura de bulbo mido e teoricamente no alcanar um estado de equilbrio at

    que a madeira no chegue ao teor de umidade preestabelecido. A quantidade de calor

    transferido diminuir exatamente na mesma proporo que o diferencial de diminuio

    de temperatura entre ar-madeira. De qualquer modo, a taxa de evaporao de umidade

    da madeira agora no estar exatamente na mesma proporo que a taxa de

    transferncia de calor, como no caso da madeira mida, porque a temperatura da

    madeira est mudando, requerendo, alm do calor latente de vaporizao o calor de

    umectao da gua de impregnao.

    c) Terceira fase da secagem

    O estgio final, que corresponde terceira fase mantendo-se a taxa

    decrescente, se inicia quando o material est no domnio higroscpico e a linha de

    evaporao da gua se restringe ao centro da pea. Nela no h mais gua livre no

    material e a taxa de secagem regulada pelas caractersticas deste material, at que o

    teor de umidade de equilbrio seja alcanado, sendo que a velocidade de secagem

    tende assintticamente a zero (ponto H-E da Figura 2). As caractersticas do ar

    (temperatura, umidade relativa e velocidade) j no tm uma influncia marcante. A

    velocidade de evaporao depende, ento, da umidade mdia da madeira e, em certa

    medida, da temperatura em que se encontra a prpria madeira. Tambm a velocidade

    do ar parece no ter j qualquer ao direta.

    A secagem acima de 100oC diferencia-se daquele indicado anteriormente

    (convencional). De acordo com HANN (1965) citado por TOMASELLI (1981) existe

    um movimento paralelo ao de capilaridade, que ocorre na primeira fase da secagem e

  • 18

    que corresponde ao de expanso de bolhas de ar existentes no interior dos lumes

    criando presses interiores e com isto o aparecimento de um fluxo hidrodinmico.

    2.2 MODELAGEM NA SECAGEM DA MADEIRA

    Um modelo matemtico compreensvel permitir completar o conhecimento

    sobre a secagem da madeira, sendo necessrio descrever o aspecto fsico no qual o

    modelo est baseado. Deste ponto de vista, vrios processos esto envolvidos na

    secagem da madeira tais como: transferncia de calor atravs da camada limite,

    conduo de calor na madeira, fluxo de gua livre e gua de impregnao, evaporao

    de gua da superfcie da madeira, transferncia de calor latente com difuso e

    evaporao de molculas (BRAMHALL, 1979a).

    A utilizao de modelos matemticos para simular a secagem da madeira um

    meio j reconhecido para melhorar os programas de secagem, permitindo diminuir os

    custos, a energia, o tempo e os defeitos de secagem (HALL, 1987). Os modelos que

    descrevem adequadamente a transferncia de calor e massa durante a secagem podero

    ser usados para estudar processos industriais complexos, facilitar os ensaios

    experimentais e explicar os mecanismos fsicos que esto envolvidos nestes processos

    de transferncia. As reas de aplicao incluem a secagem, a soro de umidade sob

    condies ambientais adversas e a interpretao do fenmeno visco-elstico

    (AVRAMIDIS et al. 1994).

    A maior parte dos modelos matemticos tem sido empricos, isso quer dizer

    que os modelos podem representar a relao causa-efeito sem estarem baseados nos

    fenmenos envolvidos no processo. O fenmeno pode ser representado por uma

    equao diferencial ordinria ou uma equao diferencial parcial, que podem ter uma

    soluo analtica, como por exemplo, logartmica ou exponencial ou uma soluo

    numrica (diferenas finitas, elementos finitos e volumes finitos).

    As solues numricas so mais populares (HALL, 1987) porque as equaes

    resultantes so muito complexas e como indicado por SILVA, (2000), independentes

    do tipo de modelo; a soluo est sujeita aos coeficientes de transporte de umidade

    como tambm s tcnicas numricas escolhidas.

  • 19

    De acordo com PLUMB et al. (1984), para testar e validar um modelo

    matemtico so necessrias as seguintes informaes experimentais: distribuio da

    temperatura e da umidade como uma funo do espao e do tempo dentro da madeira,

    perda de umidade lquida em funo do tempo, propriedades do ar (temperatura,

    velocidade e umidade relativa) e fluxo de calor na superfcie da madeira. Destas, a

    medio do teor de umidade como uma funo do espao e do tempo talvez seja a

    mais difcil das medies requeridas.

    As trs maiores vantagens de usar modelos matemticos so: a sensibilidade

    dos modelos, que podem ser facilmente avaliados ao mudarem os diferentes

    parmetros da secagem; a soluo que pode ser generalizada para diferentes espcies

    de madeiras, e a relao entre a madeira, a gua e a temperatura podem ser analisadas

    (GUI et al. 1994).

    2.2.1 Modelo Difusivo

    Na madeira, os modelos desenvolvidos tm sido baseados em mecanismos

    aproximados, nos quais a descrio macroscpica do fenmeno de transferncia deriva

    das Leis de Fourier e de Fick. Na rea de modelagem da madeira, o modelo de difuso

    representa a primeira tentativa de descrever e quantificar a secagem, sendo a taxa de

    difuso da gua de impregnao o produto de um coeficiente de difuso e uma fora

    condutora.

    Segundo KIRK et al. (1985), a difuso controla o movimento de umidade

    abaixo do ponto de saturao das fibras durante a secagem. Deste modo, a secagem

    pode ser modelada com preciso como um fenmeno de difuso. Isto aplicvel ao

    movimento de umidade envolvendo somente a gua higroscpica e vapor de gua, ou

    incluindo tambm a gua livre, sendo verdadeiro para uma madeira moderadamente

    impermevel (folhosas), onde o fluxo de massa da gua livre restrito.

    O modelo difusivo pode ser utilizado para determinar o coeficiente de difuso,

    os perfis de umidade e a taxa de secagem. Os primeiros modelos matemticos para

    representar a secagem foram desenvolvidos por LEWIS (1921), SHERWOOD (1929)

    e NEWMAN (1931), citados por HALL (1987).

  • 20

    No pensamento clssico, a fora condutora para a difuso um gradiente de

    concentrao que, tradicionalmente corresponde ao gradiente de teor de umidade. De

    qualquer modo, o modelo de difuso utilizado para descrever o movimento de

    umidade global na madeira, sendo inadequado em certas circunstncias. Este modelo

    assume que o movimento da gua provocado por um gradiente de concentrao total

    de umidade. No obstante, a gua na madeira existe, normalmente, em trs fases: gua

    lquida, gua higroscpica e vapor de gua e em cada uma existem diferentes foras

    condutoras.

    Uma soluo analtica da equao de Fick possvel quando a difusividade

    considerada constante e o teor de umidade de equilbrio na superfcie alcanado

    quase que instantaneamente logo do incio da secagem. Durante um curto perodo de

    tempo, a quantidade de umidade transferida pequena, e a concentrao de umidade

    pode ser considerada constante. Assim, a difusividade determinada por uma

    constante e definida a concentrao de umidade na madeira.

    BUI et al. (1980), utilizaram o mtodo numrico por diferenas finitas para

    resolver a equao diferencial parcial para a difuso em madeira tangencial de Populus

    sp durante a secagem, considerando como foras condutoras o teor de umidade e a

    umidade relativa. No inicio, o teor de umidade uniforme e a superfcie da madeira

    est em equilbrio com o ambiente de secagem. Estes pesquisadores concluram que o

    coeficiente de difuso pode ser determinado pelos gradientes de umidade

    experimentais e que o teor de umidade e a umidade relativa so foras condutoras

    vlidas para a equao de Fick na secagem isotrmica. Entretanto, o coeficiente de

    difuso determinado a partir do teor de umidade foi maior que aquele que considera a

    umidade relativa.

    O modelo de difuso , usualmente, empregado para espcies impermeveis,

    onde a secagem muito lenta. Na secagem de conferas, devido sua forma simples, o

    modelo de difuso freqentemente usado durante o desenvolvimento das tenses de

    secagem (MORN, 1989; SALIN, 1989; PUIGGALI et al. 1993 citados por PANG,

    1997).

  • 21

    KIRK et al. (1985) modelaram a secagem da madeira de Quercus rubra de

    acordo com a segunda Lei de Fick. No modelo, formularam as seguintes hipteses: o

    teor de umidade a fora condutora; o coeficiente de difuso um valor constante

    acima do ponto de saturao das fibras; e a desse valor abaixo do PSF, existe

    equilbrio entre o teor de umidade na superfcie da madeira e o filme de ar adjacente

    superfcie, e o movimento de umidade desde o filme para a corrente de ar ocorre por

    transferncia da massa do filme. O modelo foi aplicado a trs casos prticos: cmara

    de secagem convencional com temperatura pr-determinada e umidade relativa

    programada; secador solar onde a temperatura e a umidade relativa so variadas em

    ciclos cada 24h durante o processo de secagem; cmara de secagem convencional com

    uma taxa de secagem mxima pr-determinada. Concluiu-se que do ponto de vista

    prtico e quantitativo, o modelo trabalha muito bem e revela informaes acerca do

    processo de secagem: proporciona resultados para vrios tipos de condies; til para

    desenvolver e avaliar programas especialmente quando se controla a mxima taxa de

    secagem ou os mximos gradientes de umidade; e pode ser adaptado a outras situaes

    de secagem.

    DROIN et al. (1988a), utilizaram o modelo difusivo para modelar a cintica de

    absoro de umidade no sentido longitudinal em madeira de Pinus silvestris. O modelo

    considera a transferncia de umidade no interior da madeira, controlada por difuso, e,

    tambm, a transferncia desta do ambiente para a superfcie da madeira. Eles

    concluram que os valores tericos e experimentais esto em concordncia, validando

    o modelo proposto. A difusividade foi considerada constante durante o processo de

    absoro, entretanto o modelo capaz de usar uma difusividade dependente da

    concentrao. O modelo pode ser usado para qualquer tipo de absoro, especialmente

    no caso da absoro transversal como foi realizado por DROIN-JOSSERAND et al.

    (1988b). Os mesmos autores em 1989, considerando um modelo difusivo

    tridimensional, inferiram que o modelo permite obter a cintica de absoro de

    umidade em amostras de diferentes formas, alm de permitir calcular os perfis de

    concentrao de umidade.

  • 22

    EL KOUALI e VERGNAUD (1991) utilizaram uma soluo analtica em

    diferenas finitas do modelo difusivo para descrever o processo de absoro e

    desoro de gua acima e abaixo do ponto de saturao das fibras na direo

    tangencial, em madeira de Pinus silvestris. Estes autores concluram que a difuso

    transiente com uma difusividade constante permite descrever no somente o processo

    de absoro, mas tambm o processo de desoro com difuso de gua atravs do

    slido e sua evaporao desde a superfcie. Da mesma forma MOUNJI et al. (1991),

    estudaram o transporte de umidade bi-dimensional (radial-tangencial) acima e abaixo

    do ponto de saturao das fibras em madeira de Pinus sylvestris. Considerou no estudo

    uma transferncia de umidade controlada por difuso com um valor constante igual no

    sentido radial e tangencial. Eles concluram que o modelo permite avaliar

    completamente o processo com o perfil de umidade desenvolvido atravs da seo

    transversal da madeira em qualquer tempo, podendo predizer a cintica de absoro

    quando a madeira imersa em gua e a cintica de soro quando exposta ao ar.

    SIMPSON e LIU (1991) determinaram a dependncia do coeficiente de

    difuso em madeira de Populus sp. sobre o teor de umidade entre 0 e 18%, a uma

    temperatura de 43oC, utilizando o mtodo das diferenas finitas para resolver a

    equao de difuso. Estes autores concluram que o coeficiente de difuso aumenta em

    forma exponencial com o teor de umidade. O mesmo resultado foi encontrado para

    Quercus rubra entre um teor de umidade de 6 e 30%, mesma temperatura por

    SIMPSON (1993).

    CHEN et al. (1995) utilizaram uma tcnica de otimizao e a soluo terica

    geral de Newman para avaliar o melhor par de coeficientes de difuso e de emisso

    superficial para determinar como a variao do coeficiente de difuso com o teor de

    umidade, afeta a preditibilidade da curva de secagem.

    No ano seguinte, CHEN et al. (1996), utilizaram uma tcnica numrica no

    destrutiva para avaliar o coeficiente de difuso dependente do teor de umidade por

    meio de curvas de secagem, encontrando que possvel predizer o movimento de

    umidade durante todo o processo de secagem.

  • 23

    HUNTER (1996) utilizou a segunda lei de Fick para o movimento de umidade

    sob ao de foras capilares em madeira de Liriodendron tulipifera, determinando o

    coeficiente de difuso capilar (1,12x10-11 kg/m s Pa).

    SIMPSON e LIU (1997) determinaram os coeficientes de transferncia de

    umidade interna e externa, atravs de uma tcnica de otimizao e os resultados foram

    comparados com a soluo de equao da difuso por diferenas finitas, resultando

    numa adequada concordncia entre as curvas de secagem experimentais e calculadas

    acima do ponto de saturao das fibras.

    LANGRISH e BOHM (1997) estudaram o movimento interno de umidade em

    trs espcies de madeiras duras da Austrlia acima do ponto de saturao das fibras,

    utilizando um modelo difusivo com foras condutoras baseadas nos gradientes de

    umidade e na presso parcial de vapor da gua. Encontraram que os valores so mais

    bem ajustados quando usado o teor de umidade como fora condutora ao invs da

    presso parcial de vapor da gua.

    PORDAGE e LANGRISH (1999) utilizaram o modelo de difuso para

    determinar o efeito de diferentes velocidades do ar na secagem de madeiras duras

    australianas. Estas madeiras tm alta densidade e, portanto, o movimento de transporte

    de umidade controlado pelo mecanismo de difuso. As velocidades do ar utilizadas

    para a simulao foram 0,05 m/s, 0,5 m/s e 2,0 m/s. Estes autores concluram que

    parece no ser benfico reduzir a velocidade abaixo de 0,5 m/s durante a pr-secagem.

    Entretanto, no final da secagem, h um pequeno ganho no aumento da velocidade do

    ar em at 2,0 m/s. O uso do coeficiente de transferncia de massa para analisar a

    resistncia na camada limite mais apropriado que o uso do coeficiente de emisso

    superficial, que varia atravs do processo. Isto ocorre porque a taxa de transferncia de

    massa desde a superfcie no diretamente proporcional diferena entre o teor de

    umidade na superfcie e o teor de umidade de equilbrio.

    HUKKA (1999) utilizou madeira verde de Pinus sylvestris e Picea abies para

    determinar os coeficientes de difuso efetivo e de transferncia de massa, obtidos a

    partir dos perfis de umidade da madeira que foram determinados durante a secagem.

    Os clculos de ambos os coeficientes so baseados usando o modelo difusivo. Os

  • 24

    resultados mostraram que o procedimento empregado um mtodo adequado para

    obter valores numricos para os coeficientes internos e externos de transferncia como

    funo do teor de umidade da madeira e da temperatura. Estes coeficientes so

    aplicveis em todo o intervalo de umidade entre o estado verde e seco em temperaturas

    entre 20oC e 80C, cobrindo todo o processo de secagem da madeira.

    LIU et al. (2001) aplicaram o modelo difusivo para determinar o coeficiente

    de difuso em madeira de 25mm de espessura de Quercus rubra, com um teor de

    umidade inicial de 35,9%, teor de umidade de equilbrio de 5,5% e uma temperatura

    de 43,4oC (valores correspondentes a SIMPSON, 1993). Como resultado do ajuste do

    modelo, pode-se obter os gradientes de umidade, curva de secagem (teor de umidade

    como funo do tempo) e a variao do coeficiente de difuso com o teor de umidade

    em diferentes tempos.

    2.2.2 Modelo de Transporte

    A transferncia de calor e massa deveria ser analisada como um processo

    acoplado, sem deixar de considerar a transferncia de massa induzida por um gradiente

    de temperatura (efeito Soret), que pode consideravelmente contribuir ao fluxo total de

    umidade (DEGROOT; MAZUR, 1962, PRIGOGINE, 1961, FOSTER; OKOS, 1978,

    citados por AVRAMIDIS et al. 1994).

    Vrios modelos para o transporte simultneo de calor e massa em meios

    porosos podem ser encontrados na literatura (LUIKOV, 1966, WHITAKER, 1977

    citados por PLUMB et al. 1984). Estes modelos podem, de maneira satisfatria, ser

    aplicados madeira sempre que os coeficientes de transportes estejam disponveis.

    Numerosos modelos tm sido desenvolvidos para detalhar o fenmeno de

    transporte e simular o processo de secagem na madeira. Eles so baseados somente no

    processo de transporte ou baseados tanto no processo de transporte como nas

    propriedades fsicas da madeira. O modelo de transporte na secagem considera

    transferncia de calor e umidade, sendo a umidade; a gua livre, gua de impregnao

    e vapor de gua, cobrindo um amplo intervalo das propriedades da madeira e

    condies de secagem. De qualquer forma, os modelos de transporte so geralmente

  • 25

    complexos e contm numerosas frmulas matemticas, que limitam sua aplicao

    prtica.

    De acordo com TREMBLAY et al. (2000a), duas categorias de modelos para a

    secagem da madeira podem ser identificadas: um modelo baseado na energia potencial

    e outro modelo em multicomponente. Na primeira categoria, as trs fases da gua na

    madeira (gua livre, gua impregnao e vapor de gua) so caracterizadas pelo

    potencial de umidade (LUIKOV, 1966, LIU; CHENG, 1991, GUI et al. 1994,

    FORTIN et al. 2001, DEDIC et al. 2003, dentre outros); a segunda categoria foi

    proposta por WHITAKER (1977) citado por TREMBLAY et al. (2000a), porque as

    relaes de conservao de energia e massa so escritas para gua lquida, vapor de

    gua e para a mistura de gases (vapor de gua mais ar). Um conjunto de equaes

    macroscpicas so ento obtidas, onde o fluxo dos diferentes componentes descrito

    usando diferentes coeficientes de transporte e foras condutoras, proporcionando uma

    descrio compreensvel do mecanismo envolvido durante a secagem. No obstante,

    resulta num grande conjunto de equaes, requerendo o conhecimento dos coeficientes

    de transporte, foras condutoras e outros parmetros fsicos de difcil obteno

    (PLUMB et al. 1985, STANISH et al. 1986, CHEN; PEI, 1989, TURNER, 1996,

    PANG, 1996b, 1997, PERR; TURNER, 1999, NIJDAM et al. 2000, SOUZA;

    NEBRA, 2000, dentre outros autores).

    PLUMB et al. (1985), apresentaram um modelo de transferncia de calor e

    massa, considerando os mecanismos de transporte de umidade por difuso e

    capilaridade durante a secagem da madeira, incluindo a transferncia de calor na

    superfcie. Eles assumiram que toda a evaporao ocorre na superfcie durante a

    primeira fase do processo de secagem e que o transporte capilar do lquido na

    superfcie domina acima do PSF. Estes autores concluram que a taxa de secagem

    controlada pela difuso para baixa permeabilidade do lquido, enquanto o coeficiente

    de transferncia convectivo domina em altas permeabilidades. Alm de o modelo

    predizer razoavelmente bem a taxa de secagem e os perfis de umidade.

    STANISH et al. (1986), desenvolveram um modelo fundamental para o

    processo de secagem da madeira que considerou a migrao tanto do ar como da gua.

  • 26

    Eles subdividiram a gua em vapor de gua, gua livre e gua de impregnao. Sua

    importante contribuio foi considerar o transporte de cada fase como no sendo

    necessariamente por difuso. Eles assumiram que o movimento da gua lquida pode

    ser descrito pela Lei de Poiseuille. O movimento do ar e vapor de gua foi descrito

    pela soma das contribuies da Lei de Poiseuille e a difusso, seu argumento central

    foi tratar a migrao da gua de impregnao como um processo de difuso molecular.

    O modelo matemtico teve as seguintes hipteses: o transporte de massa e

    energia so unidirecionais, e a umidade pode existir como gua livre, gua

    higroscpica e vapor de gua, que coexistem em equilbrio termodinmico; se a gua

    livre est presente na madeira, as fases vapor e gua higroscpica se mantm saturadas

    temperatura local; na ausncia de gua livre, a concentrao de gua de impregnao

    na madeira e de vapor obedecem s isotermas de soro temperatura local; a

    migrao da gua de impregnao ocorre por difuso molecular e o fluxo difusivo

    proporcional ao gradiente de potencial qumico; a permeabilidade efetiva do slido,

    para o gs e o lquido, varia com a saturao relativa dos espaos vazios dentro do

    slido; as propriedades fsicas e de transporte podem variar no espao e no tempo.

    Para NELSON (1991), as distribuies da temperatura e da umidade na

    madeira exposta a um gradiente de temperatura, podem ser modeladas

    satisfatoriamente com mtodos termodinmicos.

    CLOUTIER et al. (1992) citados por TREMBLAY et al. (2000a), utilizaram o

    gradiente do potencial da gua como fora condutora num modelo isotrmico.

    AVRAMIDIS et al. (1994), descrevem a transferncia de calor e massa na

    madeira sob condies transientes baseada nos princpios de irreversibilidade

    termodinmica (no isotrmicos). Estes autores concluram que o modelo prediz a

    transferncia de calor e umidade atravs da madeira no intervalo higroscpico, assim

    como tambm o modelo prediz o fenmeno de difuso trmica durante os primeiros

    estgios da desoro, resultando numa adequada simulao da curva de desoro e da

    mudana de temperatura.

    Um modelo matemtico bidimensional foi desenvolvido por PANG (1996b),

    para simular a transferncia de umidade e calor na espessura e largura da madeira de

  • 27

    Pinus radiata. O modelo baseado nas propriedades fisiolgicas da madeira antes e

    durante a secagem. O autor considerou: o movimento de gua livre por capilaridade

    (fluxo obtido pela Lei de Darcy); o movimento de vapor de gua por gradientes de

    presso parcial de vapor (fluxo expressado pela Lei de Darcy); e o movimento de gua

    abaixo do PSF, utiliza o potencial qumico da gua como fora condutora. Ele conclui

    que o modelo predisse adequadamente o perfil de teor de umidade durante a secagem e

    que pode ser ampliado para predizer o desenvolvimento das tenses de secagem.

    SOUZA (1994), SOUZA e NEBRA (2000) desenvolveram um modelo

    unidimensional de transporte simultneo de calor e massa aplicado e desenvolvido

    para a secagem da madeira (cavacos), sendo fundamentado no trabalho de KAYIHAN

    (1982) e STANISH et al. (1986). Os autores adotaram os seguintes mecanismos de

    transporte de massa: a gua livre migra por capilaridade (Lei de Darcy); a gua

    higroscpica, devido a um gradiente de potencial qumico; e a difuso de vapor devido

    ao gradiente de presso parcial de vapor de gua. Foram compatibilizados os

    mecanismos de transporte de massa de gua livre e de gua higroscpica. Estes autores

    consideram as seguintes hipteses: fluxo unidimensional e no h contrao; trs

    espcies da gua coexistem em equilbrio termodinmico local no interior do cavaco

    (gua livre, gua de impregnao e vapor); a gua de impregnao faz parte da matriz

    slida e no ocupa os interstcios existentes na madeira, sendo estes ocupados pela

    gua livre; existe equilbrio termodinmico local em todos os pontos da partcula;

    vapor de gua e gua de impregnao esto em equilbrio segundo as isotermas de

    soro e se mantm em estado saturado enquanto existir gua livre; o processo de

    secagem ocorre devido evaporao interna e externa partcula; a gua de

    impregnao s evaporada dentro da partcula aps a extino da gua livre. Os

    autores concluram que o modelo teve um bom comportamento quando comparado

    com os dados experimentais da literatura, recomendando-o para a secagem de outros

    materiais porosos.

    WIBERG et al. (2000), estudaram a transferncia de calor e massa durante a

    secagem de alburno acima do PSF com temperaturas entre 60oC e 80oC. Foi assumido

    que durante a secagem um primeiro regime controlado pela transferncia de calor

  • 28

    para a frente de evaporao at que ocorra a saturao irredutvel (PSF). Estes autores

    concluram que a secagem de alburno a baixa temperatura controlada pela

    transferncia de calor quando existe perda de gua livre desde o interior para a frente

    de evaporao.

    PANG et al. (2001), apresentaram um modelo modificado e estendido para

    simular o processo de secagem, o resfriamento e o recondicionamento. Os fenmenos

    de transferncia considerados no resfriamento e no condicionamento so diferentes do

    processo de secagem de madeira.

    DEDIC et al. (2003), apresentaram um modelo tridimensional baseado nas

    equaes de LUIKOV para descrever o processo de transporte de calor e massa na

    secagem convectiva de madeira de Fagus moesiaca. O transporte tratado nas trs

    direes anatmicas da madeira: radial, tangencial e longitudinal; e considera o teor de

    umidade acima e abaixo do PSF. As condies dos ensaios foram: temperaturas de

    45oC a 90oC, umidade relativa de 50% e 72% e velocidade do ar de 1,0 m/s, 2,0m/s e

    3,0m/s. Eles concluram que os resultados so consistentes e com aceitvel preciso

    em relao aos valores experimentais obtidos em laboratrio, recomendando utilizar o

    modelo em futuros trabalhos para amostras no isotrpicas.

    2.2.3 Modelo Difusivo e Modelo de Transporte

    PANG (1997) comparou o modelo de difuso e o modelo de transporte (forma

    similar ao modelo de LUIKOV, 1966). Os coeficientes de transferncia nestas

    equaes so derivados do modelo de transporte e so funo do teor de umidade, da

    temperatura, das propriedades da madeira (densidade, permeabilidade e difusividade

    da gua de impregnao), e das propriedades do ar (densidade e viscosidade do

    lquido, densidade e viscosidade do vapor).

    O modelo de difuso pode ser uma forma simplificada do modelo de

    transferncia quando o efeito do gradiente de temperatura desprezvel. O modelo de

    difuso aplicvel para casos onde o gradiente de temperatura pequeno comparado

    ao gradiente do teor de umidade. Em outros casos, ou onde a temperatura da madeira

    de interesse, o modelo de transporte seria mais apropriado.

  • 29

    O modelo de difuso assume que a migrao da umidade no material por

    difuso devido a um gradiente de umidade. Usando a segunda Lei de Fick, o modelo

    de difuso unidimensional :

    =

    x

    MD

    xtM

    3

    Onde:

    M: teor de umidade local (kg/kg) t: tempo de secagem (s). x: coordenada na direo da secagem (m) D: coeficiente de difuso devido a um gradiente de teor de umidade (m2/s).

    O coeficiente de difuso (D) usualmente determinado experimentalmente e

    varia com a temperatura, teor de umidade e densidade da madeira. Usando o

    coeficiente determinado experimentalmente, o modelo de difuso pode predizer o teor

    de umidade na madeira durante a secagem. Entretanto, extrapolaes do coeficiente

    para condies fora da extenso experimental podem resultar em erros significativos

    nas predies do modelo (ROSEN, 1987 citado por PANG, 1997). Portanto,

    extensivos ensaios so necessrios para cobrir um amplo intervalo de condies de

    secagem e as variveis da madeira (permeabilidade, densidade, alburno, cerne).

    O processo de secagem da madeira pode ser interpretado como uma

    transferncia simultnea de calor e massa, com equilbrio termodinmico local em

    cada ponto na madeira. No modelo baseado no transporte de PANG (1996b), foram

    considerados o movimento de cada fase da umidade e as propriedades fsicas da

    madeira.

    Estas equaes so respectivamente:

    xJ

    HxT

    kxt

    Tc vwwmap

    -

    =

    r 4

  • 30

    xJ

    tM

    a

    =

    - r

    5

    Onde:

    Cp: calor especfico da madeira (J/kg K). ra: densidade bsica da madeira (kg/m

    3). T: temperatura (K). t: tempo de secagem (s). x: coordenada na direo da secagem (m). km: condutividade trmica da madeira mida (J/m K). Hwv: calor de vaporizao da gua (J/kg). Jv: fluxo de vapor de gua (kg/m

    2s). J: fluxo total de umidade (kg/m2s). M,: teor de umidade local (kg/kg).

    Para resolver estas equaes, cada termo do fluxo de umidade deve ser

    avaliado (gua lquida, gua de impregnao e vapor de gua). O movimento de vapor

    de gua conduzido por gradientes de presso de vapor e, o fluxo pode ser expresso

    pela lei de Darcy.

    A difuso da gua de impregnao ocorre somente quando as paredes das

    clulas esto abaixo do PSF e o potencial qumico usado como fora condutora,

    permitindo desta forma representar este fluxo de umidade (STANISH et al. 1986).

    Para o equilbrio term