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Índice de Capítulos: Dr. João de Campos www.as-abelhas.com 1. A Abelha 2. A Colméia 3. O Apiário 4. Proteção 5. Prática Básica 6. Alimentação 7. Enxames e Rainhas 8. O Mel e a Colheita 9. Outros Produtos 10. Flora Apícola 11. Inimigos 12. Sobre o texto 13. Referências citadas 14. Índice geral 1. A Abelha 1.1 Que abelhas são criadas no Brasil? A espécie de abelha mais comum, criada no Brasil e no mundo inteiro é a Apis mellifera (o seu nome científico). Também são criadas aqui algumas espécies de abelhas nativas (ou indígenas ou sem ferrão), que são menores e muito menos produtivas, mas que fornecem um tipo de mel diferente, muito apreciado por alguns. Este documento contém informações apenas sobre Apis mellifera. Para obter informações sobre abelhas nativas, consulte os grupos de discussão mencionados no item 12.9). 1.2 O que significa esse nome científico? A classificação dos seres vivos é feita em diversos níveis (reino, classe, ordem...). Ao se mencionar um determinado indivíduo, o mais comum é

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Page 1: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Índice de Capítulos: Dr. João de Campos

www.as-abelhas.com

1. A Abelha

2. A Colméia

3. O Apiário

4. Proteção

5. Prática Básica

6. Alimentação

7. Enxames e Rainhas

8. O Mel e a Colheita

9. Outros Produtos

10. Flora Apícola

11. Inimigos

12. Sobre o texto

13. Referências citadas

14. Índice geral

1. A Abelha

1.1 Que abelhas são criadas no Brasil?

A espécie de abelha mais comum, criada no Brasil e no mundo inteiro é a

Apis mellifera (o seu nome científico). Também são criadas aqui algumas

espécies de abelhas nativas (ou indígenas ou sem ferrão), que são menores

e muito menos produtivas, mas que fornecem um tipo de mel diferente,

muito apreciado por alguns.

Este documento contém informações apenas sobre Apis mellifera. Para

obter informações sobre abelhas nativas, consulte os grupos de discussão

mencionados no item 12.9).

1.2 O que significa esse nome científico?

A classificação dos seres vivos é feita em diversos níveis (reino, classe,

ordem...). Ao se mencionar um determinado indivíduo, o mais comum é

Page 2: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

usar-se apenas o gênero e a espécie. No caso, a nossa abelha comum

pertence ao gênero Apis e à espécie mellifera.

Um outro nível é usado às vezes para identificar subespécies, variedades ou

raças, como em Apis mellifera carnica. Ao final do nome científico,

freqüentemente aparece o nome do responsável pela identificação da

espécie, geralmente abreviado. Por exemplo, Apis mellifera mellifera L. (de

Linnaeus).

Quando se está fazendo referência a mais de uma espécie do mesmo

gênero, ele é escrito seguido da abreviatura spp. Por exemplo, Apis spp.

Os elementos do nome científico são palavras em Latim, ou latinizadas,

quando a palavra correspondente não existe neste idioma. O gênero é

grafado com a primeira letra em maiúscula, a espécie e subespécie, em

minúscula. Nenhum deles leva acento.

1.3 Que raças de abelhas existem?

A Apis mellifera possui diversas subespécies (raças). Algumas são

originárias da Europa e outras da África. Entre as européias mais

conhecidas, estão a mellifera, a ligustica (popularmente conhecida como

"italiana"), a carnica e a caucasica. Entre as africanas, destacam-se a

scutellata, a capensis, a monticola e a adansonii.

1.4 Que raças existem no Brasil?

No Brasil, e em quase toda a América Latina, a predominância é de uma

raça híbrida entre a A.m.scutellata e as raças européias citadas acima.

Como essa hibridização não está padronizada, ou seja, ainda há uma

enorme variedade morfológica e comportamental, não foi registrada uma

raça específica, mas essas abelhas são genericamente referidas como

abelhas africanizadas.

1.5 Como essas abelhas chegaram aqui?

Rainhas de A.m.scutellata (originalmente chamada de A.m.adansonii)

foram introduzidas no Brasil em 1956, para uma experiência de

melhoramento genético. Fora de controle, enxames abandonaram as

colméias e passaram a viver na natureza. A partir de então, enxameações

sucessivas e cruzamentos de zangões africanos com princesas européias

deram início a uma longa e impressionante ocupação do continente. Em

1990, os genes africanos chegaram à fronteira sul dos EUA, tendo

percorrido cerca de 8.000 km em 34 anos.

Ao longo do tempo, os cruzamentos deram origem a enxames híbridos,

com diferentes graus de predominância dos caracteres genéticos africanos.

1.6 As abelhas africanizadas são mais agressivas?

Sim, em intensidade variada. Há enxames excepcionalmente agressivos e

outros relativamente mansos.

A propósito, a tendência de "correção política", amplamente difundida nos

EUA e importada livremente pelo resto do mundo, caracteriza o

comportamento da abelha como defensivo, e não agressivo, porque o

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ataque seria sempre uma resposta a um estímulo externo. Na minha

opinião, isso é apenas uma confusão semântica. O intuito pode ser de

defesa, mas a ação é de agressão. Se um cachorro resolver estraçalhar

uma pessoa na rua por se sentir ameaçado, alguém diria que ele é muito

defensivo? É claro que não.

Neste texto, apenas a expressão agressividade é usada para qualificar uma

resposta de ataque.

1.7 Quando um ataque de abelhas pode ser fatal?

A literatura registra que um indivíduo hipersensível pode morrer em virtude

de uma única ferroada, mas isso é muito raro. Mais comum é morrer a

pessoa ou o animal que, impossibilitado de fugir por qualquer razão, fica

exposto a um número muito grande de ferroadas. Crianças e deficientes

físicos que estejam nas proximidades de um enxame agressor correm maior

risco. Animais amarrados ou cercados também. Apicultores bem protegidos

raramente sofrem mais do que umas poucas e inofensivas ferroadas.

Há casos registrados de morte com 100-300 ferroadas, e há um caso de

sobrevivência registrada com 2.243 ferroadas. Em geral, a dose letal

mediana (para a qual 50% das vítimas morrem) fica em torno de 19

ferroadas por quilo, para adultos [SCH92].

1.8 A apicultura pode ser considerada uma atividade perigosa?

Mexer com abelhas, sem conhecimento, pode ser considerado perigoso. A

apicultura racional, praticada com os critérios de segurança bem

conhecidos, é provavelmente uma atividade muito menos perigosa que

algumas outras profissões e passatempos. Ao longo deste texto, há várias

considerações sobre segurança. Independentemente disso, fazer um bom

curso teórico-prático é uma condição essencial à formação de um bom

apicultor.

1.9 Quantas vezes uma abelha pode ferroar?

Normalmente, uma única vez. O ferrão é uma estrutura que se parece com

um arpão e que fica cravado na vítima. Ao se desprender, a abelha deixa

para trás não apenas o ferrão, mas também o saco de veneno e parte do

seu aparelho digestivo. Enquanto o ferrão permanece cravado, o veneno

continua a ser instilado por ação involuntária (veja os itens 4.13 e 4.14). A

abelha morre em horas ou dias.

1.10 A rainha ferroa? E os zangões?

Normalmente, a rainha só ferroa outra rainha, quando em disputa pela

colméia. Ferroada de rainha em humanos é bastante rara, e, quando

acontece, geralmente é após a manipulação de outra rainha pelo apicultor.

O ferrão da rainha é mais firme que o das operárias e tem menos rebarbas,

o que quase sempre evita o seu arrancamento após a ferroada.

Zangões não ferroam porque não possuem ferrão.

1.11 Afinal, por que as abelhas ferroam?

As abelhas ferroam quando sentem que a sua própria integridade ou a de

sua família está ameaçada. Por isso, uma abelha longe de sua colméia

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nunca ataca ninguém, a menos que seja molestada diretamente, ou que

tenha saído há pouco de uma colméia atacada. Pessoas que desconhecem

esse fato assustam-se desmesuradamente quando uma abelha voa próximo

a elas, imaginando que se trata de um ataque, e não uma simples

investigação sobre a possível utilidade daquelas vestes coloridas ou daquele

perfume exótico.

1.12 As abelhas são criaturas boas?

Nem boas, nem más. São apenas insetos, que apresentam um

comportamento baseado num conjunto limitado de respostas aos diferentes

estímulos que sofrem. Abelhas não raciocinam, não planejam, não ficam de

mau ou de bom humor. Também não se afeiçoam ao apicultor nem se

acostumam a ser manipuladas. Todos esse sentimentos são próprios de

alguns vertebrados, especialmente os mamíferos, mas não de insetos.

1.13 Como as abelhas não planejam, se elas guardam mel para o

inverno?

Elas não guardam mel para o inverno, simplesmente porque a grande

maioria das abelhas que estocam o mel nunca viram e nem verão o

inverno, já que elas raramente chegam a viver dois meses na época de

forrageamento. Elas simplesmente respondem ao estímulo "secreção de

néctar nas proximidades" coletando e armazenando tudo o que podem. Do

ponto de vista da seleção natural, os enxames que assim procedem

conseguem sobreviver aos tempos difíceis e têm oportunidade de passar

seus genes adiante. Os demais simplesmente morrem, sem conseguir

perpetuar esse comportamento na espécie.

1.14 O que as abelhas reconhecem como ameaça?

Barulhos normais, como o ruído de passos e conversa raramente perturbam

as abelhas. Elas são estimuladas por vibrações fortes (de motores, por

exemplo), odores (suor, perfumes), movimento (quanto mais rápido, pior)

e cores (as escuras mais do que as claras). Pêlos em geral, cabelos e

roupas felpudas estimulam fortemente o ataque, mais ainda se forem

escuros.

Dentre os maiores estímulos, pode-se destacar o dióxido de carbono,

exalado em quantidade pelos humanos. Por essa razão, evite, sempre que

possível, respirar ou soprar próximo às abelhas.

Um detalhe interessante é que as condições ambientais parecem influir

decisivamente no comportamento mais ou menos agressivo das abelhas.

Dias nublados, úmidos e ventosos são, quase com certeza, dias de manejo

difícil (embora também haja uma boa surpresa de vez em quando).

1.15 O que são as castas de abelhas?

Casta é cada um dos tipos de abelha existentes nos enxames: rainhas,

operárias e zangões.

1.16 O que diferencia a rainha das operárias?

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Visualmente, a rainha é muito maior que as operárias. Uma rainha é

produzida pelas operárias sempre que necessário, a partir de uma larva

jovem, de operária, de até 3 dias de vida.

Três fatores determinam que uma larva comum se transformará numa

rainha, e não numa operária [WIN03]. Primeiro, a qualidade da

alimentação. Larvas de rainhas são alimentadas com geléia real, uma

mistura de secreções das glândulas mandibulares e hipofaringeanas das

operárias. Larvas de operárias são alimentadas com uma mistura

semelhante, mas com uma proporção muito menor da substância

mandibular e ainda com a adição de pólen.

Segundo, a quantidade de alimentação. As larvas de rainha não apenas

"bóiam" numa quantidade enorme de geléia real, como a ingerem com

muito mais apetite do que as larvas de operária. Isso acontece porque elas

são estimuladas pelo conteúdo maior de açúcar na geléia real do que na

comida das larvas nos primeiros dias.

Terceiro, o tamanho da célula de rainha, chamada de realeira. Ela é muito

mais ampla do que os alvéolos de operárias, e permitem um crescimento

muito maior da rainha.

Outra diferença é que a rainha é a única fêmea a acasalar e, portanto,

somente ela é capaz de pôr os ovos que gerarão novas operárias e zangões

(veja o item 1.28 abaixo).

1.17 E o que é uma princesa?

É como é chamada uma rainha muito jovem, que ainda não foi fecundada.

1.18 Como é a fecundação da rainha?

Alguns dias após o seu nascimento, a princesa faz um ou mais vôos

nupciais, nos quais copula com diversos zangões (entre 7 e 17,

provavelmente). Depois disso, retorna à colméia e nunca mais acasala. O

sêmen introduzido fica armazenado num órgão da rainha chamado

espermateca, pelo resto da sua vida reprodutiva. No momento da postura,

o óvulo que desce pela vagina será fertilizado por um espermatozóide da

espermateca, caso a rainha esteja pondo um ovo numa célula de operária,

ou não será fertilizado, caso a célula seja de zangão (que é maior que a de

operária).

1.19 Como podem os zangões nascer de ovos não fertilizados?

Trata-se de um fenômeno conhecido como partenogênese, comum também

em vespas e formigas. O indivíduo resultante não tem pai e é haplóide, isto

é, possui metade dos cromossomos de sua mãe - apenas 16. Essa situação

curiosa determina que a rainha que gerou um zangão seja o "pai genético"

das filhas desse zangão.

1.20 Qual é a função dos zangões?

Aparentemente, eles existem apenas para a procriação. Eles não defendem

a colônia (não possuem ferrão), nem coletam nada de útil para a colméia

na natureza.

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1.21 Como identificar um zangão?

O zangão é maior que as operárias e, por isso, é freqüentemente

confundido com a rainha por apicultores iniciantes. Na verdade, ele é

completamente diferente, tanto das operárias quanto da rainha. O seu

corpo é mais largo, e o abdômen termina numa forma rombuda, e não

pontiaguda. Além disso, os seus olhos compostos são muito grandes,

juntando-se no topo da cabeça.

1.22 Zangões são sempre “puros”? [1]

Talvez em razão de os zangões serem haplóides, espalhou-se a crença de

que eles são sempre de raça pura. O filho de uma rainha pura também será

puro (embora possa ter características diferentes da sua mãe), e o filho de

uma rainha mestiça poderá ser mestiço e, havendo coincidência, também

poderá até ser puro (veja item 1.23).

1.23 Os zangões irmãos são idênticos? [1]

Não necessariamente. Pode haver zangões irmãos idênticos, mas isso é

apenas uma coincidência. Ocorre que uma célula comum da rainha possui

32 cromossomos ligados dois a dois (16 pares) e os óvulos produzidos

possuem apenas 16 cromossomos, nenhum ligado a outro. Estes 16

cromossomos resultam da combinação aleatória de um dos cromossomos

do par 1, mais um dos cromossomos do par 2, e assim por diante. Como

em cada par de cromossomos a carga genética varia de um cromossomo

para outro, cada óvulo produzido – e cada zangão, por conseqüência -

carregará uma carga genética particular. Posto em números, uma rainha

pode gerar 216 = 65.536 óvulos (zangões) diferentes, considerando-se

apenas o agrupamento randômico dos cromossomos durante a meiose. Na

verdade, este número pode ser muito maior, pois há um segundo fenômeno

de variabilidade genética importante, conhecido por crossing over [ARM01].

Pela mesma razão, zangões não são idênticos à sua mãe. Uma

característica qualquer (determinada por gene recessivo) que não se

manifeste na rainha pode estar presente no zangão, se ele ficar com o

cromossomo que carrega este gene.

1.24 Qual é a função da rainha?

A rainha dá origem a todos os indivíduos da colméia, pela postura de ovos

fertilizados (para operárias) e não fertilizados (para zangões). Além disso, a

sua presença (mais precisamente os feromônios que ela produz) determina

o comportamento "normal" das demais abelhas.

1.25 Quantos ovos a rainha põe por dia?

No pico da postura, ela chega a pôr 2.000 ovos por dia.

1.26 O que acontece quando a rainha morre?

A rainha pode morrer acidentalmente, por exemplo, durante um manejo de

rotina do apicultor, ou ser morta pelas próprias abelhas, caso o seu

desempenho seja insatisfatório. Em qualquer dos casos, as abelhas, assim

que percebem a falta da rainha, tratam de produzir outra, a partir de uma

larva jovem de operária (de até 3 dias).

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1.27 E se não houver uma larva jovem?

Se não houver uma larva disponível, ou se as rainhas produzidas não

sobreviverem por qualquer motivo, o enxame não será mais capaz de

produzir uma nova rainha. Se o apicultor estiver atento, ele poderá fornecer

ao enxame uma nova rainha ou um quadro de cria, para que elas tentem

de novo, caso contrário, a colméia tornar-se-á zanganeira.

1.28 O que é uma colméia zanganeira?

É a colméia em que as abelhas, na falta da rainha, começam a pôr ovos.

Como não são fecundados, esses ovos geram apenas zangões, e a colméia

acaba extinguindo-se com a morte das operárias.

1.29 Por que as abelhas começam a pôr ovos?

Uma visão popular e antropomórfica explica que a postura das operárias é

um "esforço desesperado" de preservação da colônia, mas isso não é

verdade. Elas simplesmente passam a pôr ovos porque, sem rainha e sem

crias, interrompe-se a produção de feromônios que inibem o

desenvolvimento dos seus ovários.

Uma questão interessante é por que esse mecanismo foi preservado ao

longo da seleção natural, se ele, aparentemente, é inútil. A resposta pode

estar na subespécie africana A.m.capensis, que apresenta uma

característica interessante: os ovos não fertilizados podem produzir fêmeas

também, além de machos. Assim, uma colméia pode produzir uma nova

rainha a partir de um ovo posto por uma operária e realmente conseguir

voltar ao normal. Em freqüência muito menor, a geração de fêmeas a partir

de ovos não fertilizados ocorre também nas demais subespécies, o que

pode indicar que esse mecanismo já foi mais útil e mais eficiente no

passado.

1.30 Como saber se uma colméia está sem rainha?[2]

A ausência de ovos em época de postura normal é um forte indicativo. Mas

isso também pode significar preparação para a enxameação, se houver

realeiras no ninho. Também pode indicar a presença de uma rainha virgem,

o que pode ser presumido se forem encontradas realeiras já abertas.

Se a colméia fica sem rainha durante vários dias na época da safra, pode-

se perceber a situação visualmente, pelo acúmulo anormal de mel e pólen

no centro dos favos de cria.

Apicultores mais experientes, porém, podem suspeitar da orfandade no

instante em que abrem a colméia. O que acontece é que, à medida que

aumenta o tempo de ausência da rainha, as operárias começam a

apresentar um padrão anormal de agitação. Muitas saem voando

imediatamente, não necessariamente para atacar, num comportamento

visivelmente diferente dos enxames normais.

1.31 Como saber se uma colméia está zanganeira?

Nada mais fácil: no momento da postura, as operárias não percebem (ou

não fazem caso) se um alvéolo já tem outro ovo nele depositado. Por isso,

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os ovos vão se empilhando, e cada alvéolo acaba contendo vários deles, o

que é facilmente percebido pelo apicultor.

1

Os ovos são depositados nas paredes dos alvéolos, porque o abdômen das

operárias não alcança o fundo. A operculação das células é protuberante,

típica das de zangão. Depois de algum tempo, os zangões começam a

nascer, mas são todos pequenos, porque foram gerados em alvéolos de

operárias, que são muito menores.

1.32 Em quanto tempo uma colméia fica zanganeira?

Depende. Enquanto houver cria, aberta ou fechada, é pouco provável que

as operárias ponham ovos. Quando não houver mais rainha e crias, as

operárias começarão a pôr dentro de 14 dias, em média [WIN03].

1.33 Como identificar a rainha?

A rainha se parece com uma operária, mas é maior e tem o abdômen

proporcionalmente mais alongado. Encontrar uma rainha pode ser uma das

tarefas mais complicadas da apicultura. No capítulo 7, são mencionadas

algumas técnicas úteis.

1.34 Qual é a função das operárias?

Como o nome sugere, trabalho duro. Enquanto são jovens, dedicam-se ao

trabalho interno: limpam as células, alimentam as larvas jovens e a rainha

com substâncias nutritivas que elas mesmas secretam, alimentam as larvas

mais velhas com pólen e mel, empilham o pólen recolhido nas células,

secretam cera, constroem favos, recebem, processam e armazenam o

néctar, vedam frestas com própolis, defendem e ventilam a colméia,

operculam células. Quando mais velhas, dedicam-se, principalmente à

coleta de néctar, pólen, água e própolis. A coleta de néctar ou mel pode ser

feita também em outras colméias, especialmente as mais fracas, num

comportamento de pilhagem (saque).

1.35 Qual é a relação entre a idade das abelhas e as tarefas executadas?

Há uma grande variação na relação entre idade e atividades executadas. Há períodos de

vida preferenciais para as abelhas executarem determinadas tarefas, mas eles podem mudar

completamente em caso de necessidade. Além disso, a abelha pode executar diversas

tarefas diferentes durante um dia. Uma relação comum, em situação normal da colméia é a

seguinte [WIN03]:

Tarefa Idade (dias)

Limpeza de alvéolos 0 a 8

Operculação de cria 2 a 9

Atendimento de cria 5 a 15

Atendimento da rainha 3 a 14

Recebimento de néctar 8 a 16

Remoção de detritos 7 a 21

Compactação de pólen 8 a 19

Page 9: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Construção de favos 11 a 22

Ventilação da colméia 13 a 22

Guarda da colméia 14 a 27

Primeiro forrageamento 18 a 28

1.36 Quanto tempo vive uma abelha?

Durante a safra, uma operária africanizada vive, em média, 38 dias, sendo

23 executando tarefas domésticas e fazendo as primeiras coletas, e 15

somente forrageando. Na entressafra, a expectativa de vida aumenta, e

elas chegam a viver 5 meses ou mais em climas muito frios. Uma operária

européia chegou a viver 320 dias [WIN03].

Aparentemente, a distância total voada é um determinante muito mais

importante para a longevidade da abelha do que a sua idade. Um estudo de

Neukirch, citado em [WIN03], estabeleceu um limite teórico médio de 800

km voados, não importando se eles se acumulam ao longo de 5 ou de 30

dias.

1.37 Quantas abelhas vivem numa colméia?

O número real é extremamente variável, a cada época do ano, de colméia

para colméia. No pico da safra, por exemplo, considere as seguintes

hipóteses:

Postura diária de 2 mil ovos

Tempo de desenvolvimento ovo-adulto de 20 dias

Viabilidade de 100% da cria

Ciclo de vida de 38 dias para as operárias

Nesse caso, teoricamente, a colônia poderia crescer até chegar à população

abaixo, permanecendo em equilíbrio enquanto a postura se mantivesse.

1 rainha

algumas centenas de zangões

38 mil crias (ovos, larvas, pupas)

44 mil operárias domésticas/campeiras (até 23 dias)

32 mil campeiras

1.38 Quando as abelhas pilham as colméias vizinhas?

Geralmente quando a produção de néctar é baixa, e uma colméia vizinha

tem mel em estoque e está desprotegida por falta de operárias. Esse

comportamento freqüentemente é ativado pelo próprio apicultor que,

durante o manejo, expõe o estoque de mel das colméias à investigação das

vizinhas ou fornece alimentação artificial com xarope de forma descuidada

ou em alimentadores deficientes (veja capítulo 6).

1.39 Como as abelhas se comunicam?

Principalmente, por meio de interações químicas. Essas interações se

processam pela produção de feromônios, substâncias secretadas por

diversas glândulas que são percebidas pelo olfato. Os feromônios são o

principal meio de estimulação e coordenação de quase todas as atividades

das abelhas. Os feromônios produzidos pela rainha, por exemplo, inibem a

construção de realeiras pelas operárias, inibem o crescimento dos ovários

Page 10: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

das operárias, atraem zangões nos vôos nupciais, atraem as operárias em

geral e particularmente as nutrizes, que alimentam a rainha com geléia

real.

Feromônios de operárias estão muito ligados à defesa da colméia. A

ferroada libera um feromônio que induz outras abelhas a atacarem. Por

esta razão, é comum a ocorrência de várias ferroadas no mesmo local.

Também por isso, é conveniente a limpeza freqüente das roupas de

proteção.

Um outro feromônio de operária é o de localização, usado para atrair ou

orientar outras abelhas em direção ao alvado, água ou fonte de alimento. A

liberação desse feromônio se dá numa posição bastante familiar aos

apicultores: a abelha ergue o seu abdômen, expõe a glândula de Nasanov,

localizada próximo à extremidade, e bate as asas para dispersar a

substância.

As crias também produzem feromônios que estimulam as operárias a

atendê-las e ajudam a inibir o desenvolvimento dos ovários das operárias.

1.40 E a dança das abelhas?

Feromônios são o principal, mas não único meio de comunicação.

Interações táteis e sonoras, como o roçar de antenas ou as danças também

são muito usadas. As danças são padrões de movimento, vibração, ruído e

direção utilizados com diferentes propósitos, dos quais o mais conhecido é a

passagem de informações sobre uma fonte de alimento. Nessa dança, por

exemplo, a abelha percorre um trecho reto do favo "requebrando-se" e

depois volta ao início desse trecho num trajeto de semicírculo. Em seguida,

percorre de novo o mesmo trecho reto e volta em outro semicírculo, mas

desta vez pelo lado oposto.

Para saber a qualidade e a distância dessa fonte, as abelhas levam em

conta o entusiasmo da dançarina, o tempo gasto no trecho reto e o número

de vezes em que os passos foram executados. Já a direção da fonte é

passada como um ângulo, formado entre o trecho reto da dança e uma

linha vertical. Este ângulo corresponde ao formado pelos pontos sol-

colméia-fonte (a colméia no vértice).

Assim como o achado de alimento, o de novas casas no momento da

enxameação também é comunicado por danças. Além disso, elas também

estimulam determinadas atividades, como o forrageamento e a

enxameação [WIN03].

1.41 Como elas fazem quando o sol não está visível?

O sol pode não estar visível para nós, mas estar para as abelhas. Ocorre

que elas enxergam um espectro de luz diferente dos humanos, que não

inclui as freqüências mais baixas (próximas do vermelho), mas inclui as

mais altas, já na faixa ultravioleta. E as freqüências ultravioletas

atravessam camadas finas de nuvens, de forma que o sol permanece visível

para as abelhas mesmo em muitos dias nublados.

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Mas é possível que a visualização do sol não seja tão importante. Acontece

que as abelhas são capazes de se orientar após o pôr-do-sol e,

eventualmente, até de forragear à noite. Para isso, elas consideram a

posição exata do sol no momento, como se pudessem enxergá-lo através

da Terra ou estimar a sua posição.

1.42 Como elas informam uma posição atrás de um obstáculo?

A direção é informada como se ele não existisse. Por exemplo, uma florada

atrás de um morro é indicada na dança como se as abelhas tivessem de

atravessá-lo para chegar lá. A distância informada, porém, corresponde ao

gasto de energia necessário para alcançar o objetivo e ela, nesse caso, é

maior do que seria se não houvesse morro. Na busca, as campeiras que

assistiram a dança fazem as voltas que forem necessárias para alcançar o

destino.

1.43 A que velocidade voa uma abelha?

Em média, a 24 km/h.

1.44 Quanto tempo uma abelha leva para nascer?

Este tempo, ao contrário do que muitos imaginam, é variável.

Temperaturas altas na área de cria podem acelerar o processo, enquanto

que as temperaturas baixas retardam-no. O ciclo médio de

desenvolvimento das abelhas européias, em dias, é o seguinte:

Casta Ovo Larva Pupa Total

Rainha 3 5,5 7,5 16

Operária 3 6 12 21

Zangão 3 6,5 14,5 24

Já as africanizadas são um pouco mais precoces, a rainha nasce em 15

dias, e a operária, em 19-20 dias.

1.45 O que as abelhas comem?

Resumidamente, néctar e mel, como fonte de carboidratos, e pólen, como

fonte de proteínas, gorduras, vitaminas e minerais, além de água. As larvas

de operárias e zangões, até 4 dias de vida, são alimentadas pelas abelhas

com secreções nutritivas, produzidas pelas glândulas hipofaringeanas e

mandibulares das operárias. Após o 4º dia, a alimentação das larvas muda

para outros tipos de geléia e uma mistura de néctar, mel diluído e pólen.

Após o nascimento, durante cerca de duas semanas, a operária consome

muito pólen, pois depende dele para, nessa fase da vida, produzir as

substâncias que alimentarão as larvas e a rainha. Gradualmente, a dieta da

operária começa a mudar para néctar e mel, à medida que ela abandona o

serviço de alimentação e assume outros serviços, como a coleta de água,

néctar, pólen e própolis.

A rainha alimenta-se quase que somente de geléia real, tanto na fase larval

quanto em toda a sua vida adulta. A geléia real é um produto semelhante à

comida da larva, mas com uma proporção muito maior da secreção

mandibular e, por essa razão, mais rica em algumas substâncias nutritivas.

Page 12: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Zangões adultos são alimentados pelas operárias nos primeiros dias, e

depois se alimentam sozinhos, basicamente de néctar e mel.

1.46 Como os enxames se reproduzem?

Em algumas situações, uma colônia resolve se dividir, e a isso se dá o

nome de enxameação. Ela ocorre com freqüência durante floradas

abundantes, quando o espaço na colméia torna-se insuficiente para

armazenar o néctar que entra e a nova prole que está sendo gerada pela

rainha. Quando a rainha não produz feromônios em quantidade suficiente

para todo o enxame, a enxameação também pode ocorrer (é o que

acontece com rainhas mais velhas).

O primeiro passo do processo de enxameação é a produção de princesas.

Antes de nascerem as princesas, as operárias submetem a rainha a um

regime forçado, negando-lhe alimento e tratando-a rudemente, para que

não fique parada. Supostamente, isso serve para interromper a postura e

deixá-la mais leve para a viagem da enxameação. No dia da saída, muitas

operárias engolem o máximo de mel, para garantir a sua sobrevivência até

que uma nova morada seja encontrada, e para poderem produzir cera para

a construção dos primeiros favos. Muitas operárias, especialmente as mais

jovens, abandonam a colméia, levando junto a rainha (ou arrastando-a, em

alguns casos).

Ao abandonar a colméia, o enxame agrupa-se nas imediações, num galho

de árvore, num poste, num automóvel, onde ele achar mais conveniente.

Em seguida, abelhas batedoras saem em busca de um lugar seguro para

formar a nova colméia (em alguns casos, essa pesquisa pode iniciar antes

mesmo da saída do enxame). Elas avaliam ocos de árvores, cupins

abandonados e cavidades em rochas, além de espaços em telhados, caixas

vazias, tonéis abandonados e muitos outros. Quando uma batedora acha

um bom lugar, volta ao enxame e comunica a boa notícia dançando. Mais

abelhas aparecem para avaliar a escolha e, se ela for melhor que as

alternativas encontradas por outras batedoras, o enxame decide fazer a

nova colméia ali.

1.47 O que acontece com a colméia que perdeu um enxame? [2]

Fica com a casa, toda a cria, as reservas de pólen, parte das reservas de

néctar e mel, parte das operárias, especialmente as mais velhas, e uma ou

mais princesas ou rainhas novas, que lutarão até a morte até que só sobre

uma para comandar a colméia.

Dependendo do tamanho original do enxame e das condições da colméia,

outros enxames podem ser produzidos - os enxames secundários. Eles são

menores e podem conter uma ou mais princesas.

Numa colméia de um apiário, a enxameação representa um prejuízo certo,

uma vez que, não apenas parte do mel foi levada embora, como foi

drasticamente diminuída a força de trabalho para coletar mais. Em geral,

de colméias que enxameiam, não se consegue nenhuma produção

significativa de mel na temporada. Algumas vezes, porém, especialmente

se houver bastante espaço para crias e mel na colméia, a enxameação

Page 13: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

ocorre suficientemente tarde, para que bastante mel já tenha sido

estocado.

1.48 Por que as abelhas abandonam a colméia?

Quando as abelhas são submetidas a um nível de estresse ou privação

muito grande, elas podem abandonar a colméia e tentar a sorte em outro

lugar. Uma causa comum é o calor excessivo. Caixas com pouco espaço e

sem ventilação, quando deixadas ao sol, provocam abandono (é o caso de

caixas-isca de papelão, por exemplo). Períodos de carência alimentar muito

prolongados e ataque de formigas também. O mesmo com manejos

descuidados ou muito freqüentes.

1.49 Por que as abelhas às vezes matam a sua rainha?

Diversos fatores podem provocar a substituição da rainha. Quando ela já

não produz feromônios em quantidade suficiente, as abelhas podem

resolver trocá-la. Também quando o seu desempenho é baixo (postura

deficiente) ou o seu estoque de esperma acaba (ela só consegue produzir

zangões). Em alguns casos, as abelhas parecem culpar a rainha por algum

distúrbio maior na colméia, e liquidam-na por "peloteamento" (formam uma

bola em torno dela até sufocá-la). Em qualquer caso, o propósito parece ser

sempre obter uma rainha nova, melhor que a atual.

1.50 Como as abelhas lidam com as variações de temperatura?

A capacidade de as abelhas lidarem com variações de temperatura está

ligada ao tamanho do enxame. Uma abelha sozinha tem mínima proteção,

uma colméia numerosa pode manter o seu centro a 35 ºC, em situações

externas de extremo calor (até 70 ºC) e de extremo frio (até -80 ºC)

[SOU92].

Para resfriar uma colméia, as abelhas utilizam a evaporação da água, um

processo eficiente, porque absorve grande quantidade de calor ao ocorrer.

Elas expõem a água, na forma de películas nas suas mandíbulas ou

gotículas espalhadas pela colméia, a uma corrente de ar provocada por elas

mesmas, com o bater de suas asas. Dessa forma, conseguem sobreviver

em ambientes muito quentes, desde que haja água suficiente disponível.

Para esquentar uma colméia, as abelhas agrupam-se em torno do centro,

onde estão as crias. Quanto mais baixa a temperatura, mais apertado será

o agrupamento. As abelhas, nessa situação, assumem uma posição relativa

que força o entrelaçamento dos seus pêlos torácicos, aumentando a

capacidade de isolamento térmico das sucessivas camadas. Essas camadas

são formadas por abelhas voltadas para o centro do grupo, e há um

revezamento entre as que estão em posição mais externa e as que estão

mais ao centro.

Elas também são ajudadas pela presença de alvéolos vazios, que formam

câmaras de ar parado, que é um bom isolante. Se ainda assim a

temperatura continuar caindo, as abelhas passam a produzir calor pela

vibração da sua musculatura torácica. Nesse caso, porém, elas necessitam

ingerir quantidades maiores de mel para repor a energia perdida. Em outras

palavras, transformam-se em estufas movidas a mel.

Page 14: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

1.51 Por que o apicultor põe fumaça nas abelhas?

A principal razão é bloquear ou diminuir a resposta agressiva. Um dos

efeitos da fumaça é impedir que os feromônios de alarme sejam bem

percebidos pelas operárias, o que evita que muitas abelhas saiam da

colméia para defendê-la.

Muitos acreditam também que a fumaça dispare na colméia um

comportamento de preparação para a fuga: as operárias passariam a

engolir mel e armazená-lo na vesícula melífera, para um eventual abandono

da colméia. Isso, ocuparia as abelhas por algum tempo e alteraria o seu

comportamento de defesa, mudando de agressão para fuga. As abelhas que

engolem mel também teriam maior dificuldade para ferroar. Este efeito,

porém, não está bem documentado na literatura, e, pessoalmente, admito

sérias dúvidas sobre a sua realidade.

Outra utilidade muito importante da fumaça é a condução das abelhas.

Como elas geralmente são repelidas pela fumaça, o apicultor a utiliza para

afastar as abelhas de terminados locais, como a superfície da caixa antes

da recolocação da tampa.

1.52 A fumaça não estressa as abelhas?

Sim, bastante. Manejos muito freqüentes podem até provocar o abandono

de toda a colméia. A fumaça é quase sempre necessária, mas, por qualquer

ângulo que se examine (estresse das abelhas, contaminação de favos e

mel), sempre será preferível usar a menor quantidade possível de fumaça

numa manipulação.

1.53 Quanto pesa uma abelha?

Em média, uma abelha recém nascida (com o aparelho digestivo vazio)

pesa cerca de 65 mg (africanizada) e 83 mg (européia). Isso dá 15.000

africanizadas/kg e 12.000 européias/kg, mas não use esses dados para

calcular o peso de um enxame, pois nele, as abelhas possuem um conteúdo

intestinal variável, que pode chegar a 80% do seu peso líquido. Em média,

estima-se de 7.000 a 10.000 abelhas por quilograma.

1.54 Como a abelha coleta néctar?

A abelha suga a substância adocicada (néctar, pseudonéctar, calda, suco,

refrigerante, etc.) com a ajuda da sua prosbócide (língua). A substância é

então conduzida até uma porção do aparelho digestivo chamado de vesícula

melífera, uma espécie de antecâmara do estômago, que pode ser

amplamente distendida.

1.55 Quanto néctar a abelha pode transportar?

Em média, a carga de néctar de uma européia situa-se entre 20 e 40 mg,

podendo chegar, ocasionalmente a 80 mg. A carga média da africanizada é

um pouco menor, e a máxima pode chegar a 60 mg ou um pouco mais.

1.56 A que distância uma abelha voa para colher néctar?

O mais próximo possível. Três quilômetros é uma distância máxima

freqüentemente mencionada, mas as abelhas voarão mais do que isso se

necessário. Economicamente, quanto mais próxima do apiário estiverem as

Page 15: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

flores, melhor, pois as abelhas consumirão menos mel durante a atividade

da coleta.

Na prática, freqüentemente considera-se que a flora apícola útil ao apiário

está circunscrita num raio de 1 a 1,5 km, o que corresponde a uma área

circular de 300 a 700 hectares.

A certificação de apicultura orgânica exige que não haja cultura

convencional (não orgânica) num raio de 3 km do apiário.

1.57 Como a abelha coleta pólen?

Ela usa a língua e as mandíbulas para tirar algum pólen das anteras e

umedecê-lo. Muitos grãos também ficam presos ao seu pêlo na operação.

Depois, ela "escova" esses grãos, geralmente durante o vôo, mistura-os ao

pólen umedecido e compacta tudo na corbícula, uma reentrância existente

no seu par de pernas posterior. A medida que mais pólen vai sendo

coletado, a carga nas corbículas aumenta, e alguns pêlos são envolvidos

pelas bolotas, para que elas permaneçam firmes no lugar.

1.58 Como a abelha coleta própolis?

Com ajuda das mandíbulas e do primeiro par de patas, ela remove o

material resinoso da planta. Depois, armazena-o na corbícula, de forma

semelhante ao que faz com o pólen. Antes de usar a própolis, a abelha

ainda mistura-a com cera, numa proporção que pode chegar a 30%, para

tornar a sua consistência mais trabalhável.

1.59 Como a abelha coleta água?

Ela suga a água e armazena-a tal como faz com o néctar, na vesícula

melífera.

1.60 O que estimula as abelhas para a colheita?

Basicamente, a necessidade das abelhas, a disponibilidade de espaço na

colméia e a abundância local dos recursos. Num clima quente, por exemplo,

a necessidade de refrigerar a colméia comanda a busca de água. Em

floradas grandes, a necessidade por pólen e néctar e o espaço de

armazenamento disponível orientam a sua colheita.

Em vários estudos, observou-se que a alocação de campeiras para colheita

de um recurso específico estava relacionada à pronta aceitação deste

recurso pelas abelhas domésticas na hora da chegada da campeira. Por

exemplo, se uma campeira que coletou água é imediatamente aliviada da

sua carga na chegada à colméia, ela provavelmente voltará para buscar

mais água. Se, por outro lado, ela demora muito a conseguir livrar-se da

sua carga, ela provavelmente dirigirá seus esforços a outro produto na

próxima viagem.

1.61 Onde as abelhas guardam esses produtos?

O pólen é armazenado nos alvéolos próximos à área de cria, que é o seu

principal consumidor. O néctar é armazenado nos alvéolos que estão acima

e ao lado da área de cria e pólen. A própolis é usada diretamente no

objetivo: tapar frestas e envolver corpos estranhos que não puderam ser

Page 16: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

removidos. A água não é armazenada nos favos, mas distribuída entre

diversas abelhas jovens, que a manterão nas suas vesículas melíferas até

que ela seja necessária.

1.62 Como as abelhas produzem cera?

Operárias, normalmente entre 8 e 17 dias de idade, secretam cera na

forma de flocos, através de glândulas cerígenas, localizadas na parte frontal

do abdômen. Para produzir cera, as abelhas precisam ingerir muito mel.

1.63 Quanto mel deve ser ingerido para a produção de 1 kg de

cera?

Em média, as abelhas ingerem 8 kg de mel para produzir 1 kg de cera.

1.64 Que abelha devo criar, européia ou africanizada?

Essa pergunta é nitroglicerina na apicultura brasileira. Desconheço algum

estudo formal que tenha comparado o desempenho das duas raças no

Brasil, mas os relatos informais de apicultores que tentaram trabalhar com

européias (inclusive eu) sistematicamente indicam produtividade e

agressividade significativamente menores do que as das africanizadas.

No entanto, ainda pairam dúvidas sobre a qualidade das européias testadas

por aqui, grande parte delas proveniente de um mesmo fornecedor

brasileiro. O sucesso das européias em outros países, inclusive de clima

mais quente, como a Austrália, entusiasma muitos criadores, embora muito

mais no plano teórico do que no prático.

Por enquanto, a criação de africanizadas parece ser quase um consenso

nacional, apesar de algumas vozes contrárias. O argumento decisivo é a

rusticidade muito maior das africanizadas, que podem ser criadas sem

nenhum medicamento, o que não ocorre com as européias, em quase todo

o resto do mundo.

Uma lista parcial das vantagens e argumentos favoráveis a umas e outras

encontra-se a seguir:

Pró Africanizadas:

Estudos já confirmaram que a africanizada é uma abelha mais rústica,

menos sujeitas a doenças. Por exemplo, a podridão de cria americana,

que atinge colméias européias argentinas, nunca chegou aqui.

Talvez pelo mesmo motivo, o comportamento higiênico mais apurado,

parasitas como a varroa, que infernizam as européias, não costumam

causar maiores prejuízos às africanizadas. É verdade que o clima quente

da maior parte do Brasil é desfavorável à varroa, mas alguns estudos já

determinaram a superioridade das africanizadas em condições idênticas.

Por essa razão, é possível manter-se um apiário de africanizadas mais

natural, sem o uso de medicações, o que é uma grande vantagem. Pelo

que se sabe de outros países, essa é uma situação bastante incomum

em colméias européias, que normalmente dependem de antibióticos e

acaricidas para se manter produtivas.

A maior agressividade das africanas é às vezes uma aliada do

apicultor, pois dificulta o roubo das colméias.

Page 17: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Diversos relatos informais de apicultores brasileiros dão conta que a

produtividade das africanizadas é, quase sempre, muito maior do que a

das européias.

Pró Européias:

São muito menos agressivas. Demoram mais a iniciar um ataque,

atacam com menos abelhas, perseguem a vítima por uma distância

muito menor e recompõem-se em um tempo muito menor do que as

africanizadas.

Têm menor propensão a enxamear.

Têm menor propensão a abandonar o ninho.

Pilham menos.

Quando um quadro é manipulado, comportam-se mais calmamente,

sem correrias frenéticas de um lado para outro. Isso facilita muito o

manejo em geral e a localização da rainha, especificamente.

São maiores e carregam cargas maiores - precisam de menos viagens

para colher a mesma quantidade de néctar, por exemplo.

Vivem mais.

Muitos países que usam apenas européias têm produtividades médias

que chegam a três ou quatro vezes a do Brasil.

2. A Colméia

2.1 O que é uma colméia?

É a casa das abelhas. Por extensão, a palavra também é usada para fazer

referência às abelhas que a habitam.

2.2 Como é uma colméia?

A colméia dita racional é uma caixa, ou um conjunto de caixas empilháveis,

dispostas sobre um fundo (ou chão) e cobertas por uma tampa (ou teto).

Geralmente, é feita de madeira. Dentro das caixas, ficam os quadros (ou

caixilhos), que são estruturas retangulares, como molduras, destinadas a

conter os favos feitos pelas abelhas.

Esse é o modelo moderno básico, mas inúmeros outros são possíveis. No

passado, as colméias eram cestos de palha emborcados. Caixas comuns,

sem quadros, também foram usados por décadas.

2.3 De que outros materiais podem ser feitas as colméias?

Há muitos anos existe no mercado internacional colméias feitas de material

sintético, como o poliuretano. Embora ocasionalmente alguém se manifeste

favoravelmente a elas, o mais comum é ouvir-se queixas e suspeitas. Seja

como for, elas parecem estar no mercado há tempo demais para ainda não

terem emplacado, já que o peso leve é um grande atrativo para os

apicultores. Talvez com a adoção de melhores tecnologias e materiais, a

colméia sintética acabe se tornando uma boa alternativa.

Mais raramente, ouve-se falar em outros materiais, como isopor ou

concreto, mas nenhum deles com resultados importantes.

Na apicultura orgânica, somente caixas de madeira são permitidas.

Page 18: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

2.4 Qual é o melhor tipo de colméia?

É difícil dizer. Hoje em dia, a apicultura mundial inclina-se para o modelo

Langstroth (ou americana), talvez nem tanto pela sua funcionalidade, e

mais pela sua popularidade. É um caso em que usar o mesmo modelo que

todo mundo é melhor porque todos os insumos, equipamentos e acessórios

disponíveis já estão padronizados e são, portanto, muito mais baratos e

facilmente encontrados. Quando não mencionado, esse texto sempre fará

referência a colméias Langstroth.

Várias alternativas ao modelo Langstroth já existiam ou foram

desenvolvidas depois que ela apareceu no Brasil. As mais importantes são a

Schenk, a Curtinaz e a Schirmer. Algumas foram projetadas para usarem as

bitolas de madeira padrão no país. Outras foram adequadas para climas

mais frios ou mais quentes. Outras são reversíveis, para que a disposição

dos quadros em relação ao alvado possa mudar de acordo com a

temperatura. Outras tiveram os seus quadros desenhados para facilitar a

desoperculação. Outras previram a unificação das dimensões, com caixas e

sobrecaixas idênticas. Quase todas têm uma ou mais vantagens em relação

à Langstroth, mas nenhuma delas foi capaz de superá-la a ponto de tornar-

se um novo padrão de fato. Portanto, se você estiver iniciando na

apicultura, compre caixas Langstroth.

2.5 O que são ninhos e melgueiras?

Ninhos (ou caixas, ou câmaras de criação) contêm os quadros que serão

usados para a postura de ovos e desenvolvimento das crias. Geralmente

são mais altas e formam o primeiro ou os primeiros andares, se a colméia

for vista como um edifício.

Melgueiras (ou sobrecaixas) são destinadas apenas à produção de mel,

para que os seus quadros não contenham também crias e pólen.

Geralmente são mais baixas que os ninhos e formam os andares mais altos

do "prédio". Alguns apicultores preferem usar apenas ninhos nas colméias,

inclusive fazendo o papel de melgueiras (os sobreninhos).

Ocasionalmente, usa-se a palavra caixa para fazer referência a um ninho ou

a uma melgueira, indistintamente. A mesma palavra pode ser empregada

no sentido de colméia - "tenho dez caixas de abelhas".

2.6 O que é melhor, melgueiras ou sobreninhos?

Sobreninhos são melhores porque permitem uma padronização de quadros

- com ninhos e melgueiras, o apicultor precisa manter estoques de dois

tamanhos de quadros e de lâminas de cera alveolada. Com sobreninhos, a

tela excluidora torna-se totalmente dispensável, porque qualquer quadro

com postura pode ser remanejado para o ninho.

Por outro lado, sobreninhos carregados de mel são pesados demais, e

praticamente inviabilizam o manejo por uma só pessoa. Os favos de ninho

também precisam ser centrifugados com muito mais cuidado, para não se

partirem. Além disso, floradas não muito intensas ou enxames não muito

fortes, que poderiam encher uma melgueira, talvez não sejam suficientes

para encher um sobreninho, dificultando a colheita.

Page 19: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

2.7 Não há uma alternativa intermediária?

Sim. Alguns apicultores usam e recomendam um tamanho intermediário de

caixa, a ser usado como ninho (2 unidades) e melgueiras. O ninho padrão

tem 24,4 cm de altura, a melgueira padrão tem 14,4 cm e essa caixa

intermediária tem 16,8 cm. Por simplificação, essas alturas são

eventualmente referidas como 24, 14 e 17 cm, respectivamente.Outros

tamanhos também são ocasionalmente testados e recomendados por

alguns apicultores.

2.8 Quanto pesam uma melgueira e um sobreninho?

Em colméias Langstroth, uma melgueira com dez quadros cheios de mel

operculado contém cerca de 11 a 12 kg de mel. Um sobreninho nas

mesmas condições contém cerca de 20 a 22 kg de mel. A caixa

intermediária contém aproximadamente 13 a 15 kg de mel.

O peso das caixas varia com o tipo de madeira empregada. Uma melgueira

de cedrinho, com dez quadros aramados e lâminas de cera alveolada pesa

em torno de 5 kg. Um ninho nas mesmas condições, pesa cerca de 8 kg.

Quando são usados menos quadros na melgueira ou no sobreninho (8 ou

9), o peso do mel é um pouco maior.

2.9 Afinal, quantos quadros devem ser usados, 8, 9 ou 10?

Dez quadros é a capacidade normal, tanto das melgueiras quanto dos

ninhos, e os espaçadores Hoffmann dos quadros são projetados para

manter a distância de 35 mm entre os centros de dois favos contíguos. Em

melgueiras e sobreninhos, porém, muitos apicultores removem um ou dois

quadros, para que os favos de mel fiquem mais largos ("gordos"). Isso

facilita muito a desoperculação com faca, economiza quadros e promove

um melhor aproveitamento da caixa, já que um ou dois espaços vazios

entre os favos são substituídos por mel. A remoção de quadros, porém, não

pode ser feita a qualquer momento (veja item 8.14).

Em relação ao ninho, não há vantagem para as abelhas em usar-se menos

de 10 quadros, porque elas não teriam o que fazer com o espaço

excedente. Os alvéolos de cria têm um comprimento padrão, adequado

para o seu desenvolvimento. No entanto, alguns apicultores recomendam a

manutenção de 9 quadros no ninho para facilitar a retirada e reposição dos

quadros durante o manejo.

É bom frisar que o transporte de caixas com menos de 10 quadros pode

acarretar muitas quebras e esmagamentos de favos e abelhas, pelas

colisões ocorridas em razão dos movimentos pendulares dos quadros.

2.10 O que são espaçadores Hoffmann?

São laterais de quadros mais largas na parte superior do que na inferior. O

seu formato diminui a área propolisada entre dois quadros contíguos,

facilitando a remoção do quadro. Ao mesmo tempo, o estreitamento curto e

arredondado dos espaçadores facilita a inserção do quadro entre os demais.

2.11 Como as abelhas sabem onde devem colocar cada produto?

Page 20: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Não sabem. O apicultor apenas aproveita a sua tendência de organizar a

colméia em camadas: primeiro crias, depois pólen, depois mel. Assim, se a

primeira caixa (a mais de baixo) estiver bem, com favos em boas condições

e com espaço sobrando, é muito provável que a rainha use esta área para

pôr seus ovos.

Eventualmente, por falta de espaço ou de condições melhores, a rainha

pode subir e fazer a postura numa melgueira. Para evitar isso, os

apicultores às vezes usam telas excluidoras.

2.12 O que é uma tela excluidora?

É uma tela larga o suficiente para deixar uma operária passar, mas não

uma rainha, nem os zangões. Com a tela posta entre o ninho e as

melgueiras, pode-se ter segurança de que não haverá quadros de cria nas

melgueiras.

2.13 Por que alguns apicultores não usam a tela excluidora?

Uma razão é porque a tela é um equipamento a mais para o apicultor

manipular. Os manejos às vezes são demorados, e quanto mais peças o

apicultor tiver de manipular, pior. Também, porque às vezes a tela parece

funcionar como uma barreira para as operárias. Elas conseguem passar,

mas simplesmente se negam a construir favos e depositar mel acima da

tela, especialmente quando o fluxo de néctar não é dos mais fortes.

Quando colocada depois que algum mel ter sido armazenado na melgueira,

zangões podem ficar presos ali e até entalarem na tela e morrerem.

2.14 Por que as abelhas constroem seus favos exatamente dentro

dos quadros?

Somente porque são induzidas a isso. No centro de cada quadro, o apicultor

coloca uma lâmina de cera alveolada, que funciona como um início do favo.

As abelhas só continuam o que já receberam começado. Quando não são

induzidas, ou quando sobra algum espaço relativamente grande numa

caixa, as abelhas constroem favos fora dos quadros. Quando o apicultor

esquece quadros sem cera alveolada, elas constroem favos atravessados,

cada um passando por dentro de vários quadros. Neste caso, arrumar a

colméia pode dar um trabalho enorme.

2.15 Por que as abelhas preenchem alguns espaços com cera e

outros com própolis?

Essa foi talvez a maior descoberta da apicultura moderna, que possibilitou o

desenvolvimento das colméias racionais. Não há uma razão conhecida, mas

segundo as observações de Lorenzo Lorraine Langstroth, em 1851, as

abelhas não fecham espaços maiores de 6,4 mm com própolis, nem

constroem favos em espaços menores que 9,5 mm. Isso permitiu definir o

espaço-abelha.

2.16 O que é o espaço-abelha?

É exatamente o intervalo de 6,4 a 9,5 mm que as abelhas sempre deixam

livre. Conhecendo essas medidas, foi possível projetar a colméia racional,

de quadros móveis, com a certeza de que as abelhas construiriam favos

Page 21: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

apenas nesses quadros, se corretamente induzidas, e não iriam colá-los

entre si e nem às paredes das caixas. Essa é a dimensão mais conhecida na

apicultura, mas há outras também importantes.

2.17 Quais são os outros espaços importantes?

Uma lista parcial, em milímetros, para abelhas européias, é a seguinte

[CUS01]:

Espaço (mm) Efeito

0 a 4 Insuficiente para passagem, geralmente é propolisado

4,3 Impede a passagem de zangão e rainha

5 Adequado para grades de coleta de pólen

5,2 a 5,4 Impede a passagem de zangão (não de rainha)

6 Mínimo espaço deixado entre dois favos contíguos de mel

9 Espaço usual entre dois favos contíguos de cria

2.18 O que é cera alveolada?

É cera derretida e estampada com hexágonos com a dimensão média dos

alvéolos. As lâminas produzidas assim são cortadas no formato dos quadros

e vendidas aos apicultores. Esta cera é fornecida às abelhas em

substituição a favos velhos ou inutilizados.

2.19 Como a cera alveolada é fixada nos quadros?

Os quadros possuem fios de arame ou nylon atravessados, geralmente no

sentido horizontal. A lâmina é soldada neles com ajuda de um pouco de

cera derretida ou, no caso de arames, pelo seu aquecimento por uma

corrente elétrica. Arames também podem ser incrustados com ajuda de

uma carretilha.

Um cuidado muito importante ao soldar a lâmina é com o alinhamento dos

alvéolos. Eles devem ficar com dois vértices opostos dos hexágonos

perfeitamente alinhados na vertical. Isso pode não acontecer se a lâmina

estiver mal cortada, no sentido atravessado (dois lados opostos alinhados

com a horizontal) ou simplesmente cortada torta. Se isso ocorrer, a lâmina

poderá ser integralmente rejeitada pelas abelhas.

2.20 É melhor soldar a lâmina encostada na barra superior?

O melhor, na verdade, é usar lâminas que aproveitem ao máximo o espaço

disponível no quadro. Isso poupará as abelhas de produzirem cera,

permitindo-lhes uma produção maior de mel. Mas quando a lâmina de cera

é menor (em altura) do que o espaço disponível no quadro, há duas

indicações de soldagem.

Quando o quadro for destinado à postura, é preferível soldar a lâmina

encostada na barra superior. O espaço que sobrará entre a lâmina e a barra

inferior normalmente não será puxado com alvéolos e, como vantagem,

facilitará a movimentação da rainha e das operárias.

Quando o quadro se destina à armazenagem de mel, o ideal é soldar a

lâmina encostada à barra inferior. Nessa situação, as abelhas puxam o favo

e estendem-no até a barra superior, promovendo um aproveitamento

integral do espaço e uma solidez muito maior do favo. Isso se reflete num

Page 22: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

armazenamento maior de mel por quadro, otimizando a função da

melgueira. Além disso, e talvez mais importante, a resistência muito maior

do favo, quando soldado em cima e embaixo, permite uma colheita e uma

centrifugação muito menos sujeitas a quebras e despedaçamentos. E isso é

especialmente importante quando se usam oito ou nove quadros na

melgueira, pois eles se tornam ainda mais pesados do que o normal.

2.21 Como se solda cera com corrente elétrica?

Primeiro, os quadros devem ser aramados. O ideal é quatro fios em quadro

de ninho e três em quadro de melgueira. O arame deve ser ancorado no

início, passado pelos furos e ancorado novamente no fim, sem cruzamentos

e amarrações intermediárias. Ele deve ficar bem esticado, mas não em

excesso, caso contrário, poderá causar deformações nas laterais do quadro.

Para arames galvanizados, use uma fonte de tensão entre 12 e 18 volts.

Para arame inox, use uma fonte entre 24 e 30 volts. Coloque a lâmina

sobre os arames (um peso em cima da lâmina, como um pedaço de tábua,

ajuda bastante). Ligue cada pólo da fonte a uma extremidade do arame e

observe a incrustação ocorrer até a metade, mais ou menos, depois

desligue os pólos.

2.22 Que fonte é essa?

Uma fonte de 12V possível é a bateria do automóvel, mas não é

recomendável. Usando-a, você pode causar curtos-circuitos que danifiquem

a bateria ou outro sistema elétrico do seu automóvel, além de descarregá-

la, naturalmente.

Se você tem experiência com ligações elétricas, o melhor é fazer o seu

próprio incrustador, adquirindo um transformador de tensão numa loja de

artigos eletrônicos. Forneça essa especificação:

Para arames galvanizados:

Tensão de entrada: 127 ou 220 volts (escolha a que corresponde à sua

rede)

Tensão de saída: 12 volts

Corrente de saída: 8 a 10 ampères

Para arames inox:

Tensão de entrada: 127 ou 220 volts (escolha a que corresponde à sua

rede)

Tensão de saída: 24 a 30 volts

Corrente de saída: 8 a 10 ampères

Para qualquer tipo de arame:

Tensão de entrada: 127 V ou 220 V (escolha a que corresponde à sua

rede)

Tensão de saída: 24 a 30 volts

Corrente de saída: 8 a 10 ampères

Em série com a entrada, ligue um dimmer para lâmpadas

incandescentes. Ao fazer a primeira incrustação, ajuste o dimmer para

que a incrustação seja rápida, mas sem provocar muito centelhamento.

Page 23: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

2.23 Que arame é melhor?

Eu prefiro arame inox. Ele é mecanicamente mais resistente, e podem-se

usar fios mais finos, que atrapalham menos a postura da rainha. É muito

mais resistente à oxidação, e tem vida útil maior. Pela sua rigidez, é mais

difícil de ser manipulado, e precisa estar num carretel para não virar uma

maçaroca. Precisa de uma tensão elétrica mais alta para incrustação, por

apresentar uma resistência elétrica maior. É mais caro, mas rende muito. O

fio de 0,3 mm de diâmetro tem cerca de 1.800 metros por quilo, e

apresenta uma resistência mecânica maior que a do arame galvanizado nº

22 (diâmetro de 0,7 mm), que ainda é muito usado.

O arame inox deve ser o do tipo rígido, usado para a confecção de molas.

Há um fio mole, mais fácil de trabalhar, mas com uma resistência mecânica

muito menor.

2.24 O arame não encrava na madeira dos quadros?

Sim, e isso acarreta uma diminuição da tensão de esticamento do arame ao

longo do tempo. Para evitar esse problema, ponha ilhoses em todos os

buracos dos quadros. No caso do fio de inox, mais fino, esse procedimento

é absolutamente indispensável.

2.25 Quadros plásticos não são preferíveis?

Os quadros plásticos, em poliestireno, compõem-se de uma moldura,

idêntica aos de madeira, e mais uma superfície alveolada, como se fosse

uma lâmina de cera. Assim, estes quadros não precisam de aramação nem

da incrustação de cera. Quando a parte alveolada é banhada com cera, a

aceitação das abelhas é normal, mas o quadro dificilmente é aproveitado

por elas quando o banho de cera não é feito.

Isso sugere dificuldades na reutilização dos quadros, e esta é de fato a

principal reclamação dos usuários. É possível que para quadros de

melgueira, que devem ser preservados tanto quanto possível, essa idéia dê

bom resultado. Mas, como no caso das caixas de poliuretano, os quadros de

poliestireno estão no mercado há tempo demais para ainda não terem se

tornado uma alternativa bem conhecida.

Na apicultura orgânica, esses quadros são proibidos.

2.26 Do que são feitos os favos?

Exclusivamente da cera secretada pelas operárias.

2.27 Como os favos são produzidos?

As abelhas que secretam cera fazem uma espécie de "cortina", umas presas

às outras pelas patas. Cada uma delas produz flocos de cera, que depois

são mascados e amolecidos com um pouco de saliva. Em seguida, são

colados e moldados na estrutura de cera que está sendo construída. No

caso do favo, a estrutura é um agrupamento de alvéolos, ou células, cuja

seção transversal é um hexágono. Esses alvéolos são dispostos lado a lado,

de forma que cada parede é compartilhada por duas células (exceto as

paredes mais externas, é claro). Eles também são dispostos fundo-contra-

Page 24: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

fundo, desencontrados, de maneira que cada favo possui duas camadas de

alvéolos, cada camada voltada para um lado.

2.28 Por que o alvéolo é hexagonal?

Essa forma otimiza a construção, pois atende da melhor forma possível o

compromisso entre economia de cera e trabalho versus a resistência

mecânica final do conjunto. Naturalmente, esta não é uma decisão racional

das abelhas; uma hipótese é que a seção hexagonal seja apenas o

resultado final da tentativa de formar vários alvéolos contíguos de seção

circular – uma forma muito mais comum na natureza.

2.29 Qual é o tamanho do alvéolo?

As européias constroem 857 alvéolos de operária em 100 cm²

(considerando-se as duas faces). A A.m.scutellata, menor, constrói 1000

alvéolos no mesmo espaço. Quando é fornecida cera alveolada às

africanizadas no padrão europeu, elas mantêm as dimensões originais da

lâmina. Alvéolos de zangão são maiores e perfazem cerca de 520 por 100

cm². Alvéolos usados para cria de operárias e armazenagem de pólen

geralmente têm as mesmas dimensões. O armazenamento de mel pode ser

feito em alvéolos de operária ou de zangão.

2.30 Quantos alvéolos há num favo?

Depende da área útil do quadro (as medidas mais rigorosas são as

externas), mas pode-se estimar, arredondando, para 7.000 alvéolos de

operária por quadro de ninho (3.500 por face), e 4.000 alvéolos por quadro

de melgueira (2.000 por face).

No caso de favo de zangão, um quadro de ninho possui cerca de 4.200

alvéolos (2.100 por face), e, um quadro de melgueira, 2.400 (1.200 por

face).

2.31 Existe cera alveolada para zangões?

É pouco comum aqui no Brasil, mas existe sim. Ela é usada principalmente

por criadores de rainhas, que precisam produzir bons zangões também.

Além disso, o uso favo de zangão na melgueira é muito usado por alguns

apicultores de outros países.

As razões é que, primeiro, a extração de mel é muito acelerada pelo

diâmetro maior dos alvéolos, o que facilita bastante o escoamento durante

a centrifugação. Segundo, um favo de zangão utiliza apenas 78% da cera

empregada num favo de operária do mesmo tamanho. Numa melgueira, a

diferença de cera pode chegar a 130 g a menos com favos de zangão, o

que, teoricamente, corresponde a cerca de 1 kg de mel economizado na

produção de cera. Em outras palavras, o uso de favos de zangão na

melgueira poderia aumentar a produção de mel em cerca de 9%.

2.32 Que cor tem o favo?

Favos recém construídos são brancos, mas vão ficando amarelados

rapidamente. Os favos de ninho escurecem muito mais que os de

melgueira, pois cada cria deixa resíduos do seu casulo e dejetos orgânicos

Page 25: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

que as outras operárias não conseguem eliminar inteiramente. Um favo de

ninho antigo chega a ser quase negro.

2.33 Por que o mel não escorre do favo?

A construção do favo é orientada pela gravidade, e ele é perfeitamente

vertical. Os alvéolos, porém, não são puxados a 90º. Eles são feitos com

uma inclinação ascendente de 9 a 14º em relação à horizontal. Isso evita

que o néctar/mel escorra logo que começa a ser armazenado no alvéolo, e

também impede que as larvas caiam da célula acidentalmente. Quando o

volume de néctar/mel armazenado atinge a borda do alvéolo, as abelhas

iniciam a sua operculação (fechamento), de forma a impedir o

escorrimento.

2.34 Como é o fundo da colméia?

É uma superfície, geralmente de madeira, com pequenas paredes nas

laterais e atrás, que servem de apoio ao ninho. A frente estende-se alguns

centímetros além do comprimento do ninho, para servir de plataforma de

pouso e decolagem das abelhas. O espaço formado entre a superfície do

fundo e o início da parede frontal do ninho é a entrada da colméia,

chamada de alvado.

2.35 Que tamanho tem o alvado?

O alvado normal tem cerca de 37 cm de largura por 1 ou 2 cm de altura. Na

prática, geralmente é usado um redutor, um pedaço de madeira que

diminui esse espaço um pouco nas estações quentes e bastante nas frias

(nas estações quentes, às vezes não é usado nenhum redutor). Alguns

fundos são reversíveis, o que significa que as paredes laterais têm alturas

diferentes de um lado e de outro. Com isso, o apicultor pode variar a altura

do alvado pela reversão do fundo.

2.36 Como é a tampa da colméia?

É uma superfície, geralmente de madeira, com paredes em duas laterais,

que ajudam no seu encaixe sobre a última caixa da colméia ou sobre a

entretampa.

2.37 O que é uma entretampa?

É um dispositivo comum em outros países, mas muito pouco usado no

Brasil. Trata-se de uma peça que serve para o fechamento superior da

colméia, mas não fica exposta, e sim protegida pela tampa, que nesse caso,

funciona também como um telhado.

Mesmo que as nossas colméias não sejam vendidas com entretampa, eu

não apenas a uso como recomendo. Uma entretampa é um dispositivo

perfeito para promover a ventilação da colméia, evitando que a grande

quantidade de vapor produzida pelo enxame condense nas partes

superiores da colméia e torne o seu ambiente insalubre, especialmente em

regiões muito úmidas ou frias.

Para fazer uma entretampa de ventilação, basta cortar uma placa de

compensado naval de 10-12 mm da mesma dimensão das caixas, e montar

sobre as suas bordas (de um lado só) ela uma espécie de moldura, com

Page 26: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

sarrafos de 1 x 2 cm. Essa moldura deve ser interrompida por cerca de 5

cm no centro de uma das laterais, de forma a criar uma janelinha. Posta

sobre a colméia, esta entretampa ficará com a janelinha acima do alvado.

Essa janela, passará a ser guardada pelas abelhas, que, no entanto,

dificilmente a usarão como alvado, talvez pela sua posição superior, que

não é a preferencial para elas. Uma vantagem adicional deste modelo é que

o espaço maior entre o topo dos quadros e o compensado permite a

colocação de alimento protéico pastoso diretamente sobre os quadros de

cria, que é o ideal.

Se alguém não quiser usar os sarrafos, pode fazer uma ventilação mais

simples, e, na minha observação, ainda mais eficiente: fure a placa no

centro com uma serra copo de 40 mm. Depois coloque um parafuso em

cada canto da placa, de forma que as cabeças se sobressaiam uns 4 mm.

Sobre esses parafusos será apoiada a tampa, garantindo espaço para a

ventilação, mas sem possibilidade de correntes de ar diretas.

Outros modelos, derivados destes, podem ser feitos para permitir a

alimentação protéica logo acima do ninho, quando houver melgueiras, ou

com um dispositivo de fechamento opcional do orifício de ventilação, o que

também é muito útil às vezes. Um modelo misto, com janela lateral e furo

superior pode ser usado simultaneamente para ventilação e suporte a

alimentadores do tipo balde (veja capítulo 6).

2.38 Que outros equipamentos podem compor a colméia?

Outros equipamentos importantes, mas de uso temporário, estão listados

abaixo. Em outros capítulos, eles são mais bem explicados.

Alimentadores, para fornecer alimentos às abelhas

Tela excluidora de alvado, para impedir a saída da rainha da caixa

(útil em colméias com enxames recém capturados)

Tela de alvado com escape invertido, que permite a entrada das

abelhas, mas não a sua saída (útil para transportes curtos ou

trabalhos de manutenção do apiário)

Tábua de escape, para remover abelhas das melgueiras antes da sua

retirada

2.39 Como se protege a colméia contra a intempérie?

De três formas: cobrindo-a com um telhado (ou impermeabilizando a

tampa), protegendo-a com algum tipo de pintura ou revestimento e

colocando-a sobre um suporte para afastá-la do chão.

2.40 Como pode ser feito o telhado da colméia?

Qualquer superfície impermeável, de 60x80 cm ou um pouco maior, pode

dar um ótimo telhado. Um pedaço de telha de fibrocimento dá uma boa

proteção. Alguns apicultores usam tonéis pequenos, cortados ao meio. Uma

alternativa mais cara mas muito bonita e durável é usar placas de

compensado naval cobertas com chapa galvanizada pintada. Em qualquer

caso, quando a colméia estiver exposta a ventos fortes, é recomendável

colocar um peso sobre o telhado.

2.41 Como se pinta uma colméia?

Page 27: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Somente as paredes externas da colméia devem ser pintadas. Cores claras

ajudam a refletir melhor as radiações do sol e manter uma temperatura

mais amena em dias quentes. Duas demãos de tinta esmalte brilhante

sobre selador, aplicados em madeira bem seca, é uma fórmula de excelente

durabilidade (o esmalte brilhante é mais resistente que o opaco). Alguns

apicultores suspeitam que a tinta esmalte e a tinta a óleo podem

contaminar os produtos da colméia com metais pesados, e recomendam

apenas tinta látex, a mesma usada para alvenaria.

Diversos fabricantes de colméias não as pintam, mergulham-nas num

preparado fervente de 70% querosene, 25% parafina, 2,5% cera de

abelhas e 2,5% breu. As caixas devem ficar em local ventilado até que o

cheiro desapareça. A durabilidade é boa, mas o processo é perigoso. Além

disso, as caixas ficam altamente inflamáveis, podendo ser completamente

destruídas por um incêndio de campo que ocorra no apiário.

Quem é certificado como apicultor orgânico não pode usar esses processos

de impermeabilização. Uma receita "ecológica", divulgada no grupo de

discussão da Apacame, é 8 litros de álcool, 1 litro de óleo vegetal e 1 kg de

própolis (pode ser a borra ou raspagem de quadros). Tudo deve ficar bem

fechado num tambor e ser mexido diversas vezes, durante um mês.

Depois, deve ser coado numa meia de nylon e usado para pintura das

caixas, em duas demãos. A pintura deve ser refeita a cada dois ou três

anos. Desconheço a eficácia desta fórmula. Já ouvi elogios e contestações

às proporções usadas.

2.42 Onde fica apoiada a colméia?

Diversos tipos de suporte podem ser usados. Com africanizadas, suportes

individuais, ou no máximo duplos, são mais recomendáveis que os

coletivos, pela sua tendência à pilhagem. Cavaletes de quatro pés, fixos ou

móveis, são muito usados. Tijolos, pedras ou o chão facilitam o ataque de

predadores e sujeitam a colméia a quedas por desequilíbrio.

Para suportes fixos, eu prefiro os de pé central, único. Eles podem ser feitos

com restos de cano galvanizado de 100 mm, encontrado em ferros-velhos

ou em secretárias de obras públicas. Com quatro pedaços de cantoneira,

faz-se um H com braço central duplo, e solda-se este braço numa

extremidade do cano, de cerca de 1 m. O fundo da colméia fica apoiado nos

braços laterais do H, bem encaixado entre as laterais das cantoneiras. A

caixa pode ficar a 40-50 cm do solo. Pintado, esse suporte tem duração

ilimitada, evita deslocamentos da colméia por pequenos esbarrões ou

vento, é muito mais fácil de aprumar a caixa e facilita o controle de

predadores, como formigas e tatus.

Uma boa alternativa ao cano galvanizado é o uso de cano de PVC de 100

mm, cheio de concreto. A parte superior pode ser fixada em um parafuso

grande, que é mergulhado numa extremidade do cano enquanto o concreto

ainda está mole.

3. O Apiário

Page 28: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

3.1 Com quantas colméias devo iniciar um apiário?

Se você não tem experiência anterior, com zero. Isso mesmo, antes de

adquirir qualquer coisa de apicultura, procure um bom curso. Depois de

fazê-lo, você terá condições muito melhores de avaliar como deverá ser o

seu início na apicultura, ou, se for o caso, até desistir da idéia.

3.2 Como eu acho um bom curso de apicultura?

Uma forma é consultando a associação de apicultores da sua região.

Na minha opinião, um bom curso é aquele que combina teoria e prática de

forma complementar. A teoria deve ser dada em vários dias, pois o assunto

é vasto e impossível de ser minimamente assimilado se ensinado em um ou

dois dias apenas. Da mesma forma, a prática deve ser feita em várias

vezes, para que os alunos possam enfrentar diversas situações diferentes

com a necessária tranqüilidade.

Alternativamente, você pode ler este texto, alguns livros e artigos, algum

curso pela Internet, o que lhe dará uma boa base teórica, e fazer alguns

dias de prática com algum apicultor amigo seu. Mas eu ainda recomendo a

primeira opção, em que a prática é conduzida pelo mesmo instrutor teórico,

o que dá uma maior solidez ao aprendizado.

Além do curso básico tradicional, há outros específicos que podem ser do

seu interesse. Antes de fazê-los, porém, procure acumular um pouco de

experiência e conhecimento, para direcionar melhor seus objetivos.

3.3 Mas, afinal, com quantas colméias geralmente se inicia um

apiário?

Cinco a dez colméias é uma recomendação freqüente na literatura, mas não

leve isso muito a sério. Você pode perfeitamente iniciar com uma única

colméia, aprender bastante com ela, divertir-se e ainda colher seu primeiro

mel. Depois, se desejar, e na medida das suas possibilidades, você pode ir

ampliando o apiário.

Como primeiro critério, adote a sua capacidade de manejo. Estime quantas

colméias você pode manter bem, considerando o seu tempo disponível e a

sua disposição. Esqueça o critério, relativamente comum no início, de

aumentar o número de colméias até igualar-se ao seu vizinho ou

impressionar seus amigos - esta é uma receita de fracasso quase garantida.

Não esqueça que você pode ser um excelente apicultor de uma colméia ou

um péssimo apicultor de 200. Na dúvida, opte sempre pela qualidade.

3.4 Onde o apiário deve ser localizado?

Há diversas variáveis envolvidas nessa escolha: segurança, disponibilidade

de flores e de água, presença de outros apiários.

3.5 A que distância de casas um apiário pode estar?

Em relação à segurança, abelhas africanizadas não podem ser mantidas em

áreas densamente populadas. Uma recomendação freqüente é que o apiário

seja mantido a 500 m de residências e criadouros. Trata-se, porém, de uma

Page 29: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

tolice. Essa distância define uma área circular completamente desabitada

de quase 80 hectares, algo impossível para a maioria dos apicultores.

Eu crio abelhas africanizadas desde 1987. Num raio de 100 a 200 m há ou

já houve casas, galinheiros e chiqueiros. Em todo esse tempo, nunca houve

caso de pessoa ou animal ferroado em conseqüência das confusões que

aprontei no apiário. É claro que isso não prova nada, mas a minha

observação (e a de muitos outros) é que a proteção mais eficiente não é a

distância, mas barreiras naturais bem fechadas, como mato nativo, um

morro ou um reflorestamento adensado (cuidado, porém, que florestas

plantadas são cortadas periodicamente).

Portanto, ao escolher o local do seu apiário, certifique-se de que há uma

boa barreira natural entre o local e as casas e galpões vizinhos. Com boas

barreiras naturais, uma distância de 100 m pode ser suficiente. De qualquer

forma, se você for iniciante em apicultura, procure ouvir a opinião de um

apicultor experiente antes de definir o local do seu apiário.

3.6 A que distância de flores e água deve ficar o apiário?

Em relação às flores, quanto mais próximo, melhor. Grosso modo,

considere que a flora apícola útil situa-se num raio de até 1.500 metros do

apiário. Não apenas a distância, mas também (e principalmente) a

quantidade de espécies apícolas e a duração, intensidade e período das

floradas são importantes na localização de um apiário fixo. Se você não tem

alternativa, só lhe resta estabelecer o apiário onde é possível e avaliar o

seu desempenho por algumas safras. Deficiências na flora apícola podem

ser compensadas com o plantio de espécies apropriadas à sua região, ao

menos parcialmente.

Em relação à água, também é interessante que ela esteja disponível em

local próximo, de fonte limpa. Às vezes, uma alternativa viável é fazer um

bebedouro para as abelhas, com água encanada pingando sobre um tanque

raso, com areia e brita para as abelhas não se afogarem.

3.7 Que distância entre apiários deve ser respeitada?

Considerando-se a área útil de coleta das abelhas em 1.500 m, três

quilômetros seria uma distância ideal. Infelizmente, este também é um

número completamente irreal para a maior parte dos apicultores. Na

prática, o que importa mesmo é a saturação do local.

Qualquer florada produz uma quantidade de néctar que pode ser total ou

parcialmente colhido pelas abelhas e outros insetos. Se o tempo permite,

mas nem todo o néctar produzido é colhido, a área está insaturada, isto é,

ela ainda admite acréscimo de colméias. Caso contrário, a área está

saturada, e o acréscimo de colméias acarretará a queda de produtividade

das demais. Essa condição não é imediatamente percebida, mas uma queda

de produção contínua por alguns anos pode ter a saturação como causa. A

saturação também pode ocorrer sem acréscimo de colméias, pela remoção

da flora apícola local, por desmatamento ou limpeza de campo.

Se você estiver iniciando, pode ir aumentando suas colméias gradualmente,

até que a produção média fique mais ou menos estável. Se ela entrar em

Page 30: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

declínio contínuo, é bom investigar as causas, mas cuidado para não culpar

a saturação muito cedo. O clima, por exemplo, é um fator altamente

determinante da produção. As ocorrência das espécies anuais e o

desempenho apícola das plantas também podem variar enormemente de

um ano para outro.

3.8 Até quantas colméias posso ter num apiário?

De novo, depende da saturação da área. Em alguns lugares, não valerá a

pena ter nenhuma; em outros, talvez seja possível manter cinqüenta

colméias. Em qualquer caso, a capacidade do local é variável, podendo

crescer ou diminuir de acordo com o que é plantado ou cortado nas

imediações.

3.9 E se a produção cair porque o meu vizinho instalou um apiário?

Essa é uma questão muito delicada. Parece-me claro que seu vizinho tem o

mesmo direito que você de ter um apiário. É como o caso do comerciante

que tem um mercado e vê um concorrente estabelecer-se a meia quadra. A

não ser que haja demanda reprimida, ambos ganharão menos do que

ganhariam se estivessem sós. O direito de ambos é garantido, mas os

resultados podem fazer um deles desistir.

No caso de apiários vizinhos, há dois caminhos possíveis: cooperação ou

competição. Você pode conversar com o seu vizinho e chegar a um acordo

com ele a respeito de quantas colméias cada um pode explorar,

considerando o potencial do local e quanto cada sítio contribui para a flora

apícola. Essa é a solução ideal, mas requer que os vizinhos tenham bom

senso e boa vontade, o que nem sempre acontece.

A alternativa, no caso de uma área saturada, é a competição: tentar fazer o

melhor manejo possível, para obter uma produtividade aceitável.

3.10 A que distância deve ficar uma colméia da outra?

Abelhas africanizadas geralmente são agressivas e pilhadoras, não devendo

ser mantidas muito próximas, para que o manejo de uma colméia não

alarme as vizinhas. Em geral, 5 m é uma distância aceitável, mas há quem

use um distanciamento muito pequeno, da ordem de 1 metro.

3.11 Que outras considerações são necessárias no planejamento

do apiário?

O mais importante é que haja um planejamento completo e cuidadoso

antes que a primeira colméia seja instalada, porque depois tudo será muito

mais difícil.

Por exemplo:

Verifique se há agricultores que usam pesticidas nas proximidades. Isso

pode ser fatal para suas abelhas ou deixar resíduos no seu mel.

O apiário deve ter acesso fácil - lembre-se de que haverá colméias a

serem levadas para lá e, espera-se, melgueiras muito pesadas a serem

retiradas.

Page 31: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

O acesso às colméias deve ser sempre por trás, nunca pela frente, pois

isso interrompe a linha de vôo delas e provoca muito mais ataques.

Um sombreamento leve é muito útil nas estações quentes. Em regiões

que possuem estações frias, árvores que perdem as folhas no inverno

são uma boa opção para arborizar o apiário. Uma boa alternativa,

especialmente nas regiões mais ao Sul, é posicionar as colméias numa

boca de mato voltadas para o Norte. Desta forma, elas receberão uma

incidência direta de sol maior no inverno e menor no verão.

Locais sujeitos a alagamento são péssimos para as abelhas, pois a

umidade dificulta a evaporação do néctar, e para o apicultor, que deve

manejar as abelhas em meio à lama.

Terrenos muito íngremes dificultam a movimentação no apiário e

sujeitam o apicultor a quedas que podem ter sérias conseqüências. O

uso de terraços pode ser uma boa solução.

É preferível que o lado dos ventos mais fortes fique protegido por

algum tipo de quebra-vento, natural, construído ou plantado.

Lembre-se que você pode querer aumentar o apiário no futuro. É

melhor já pensar numa possível ampliação e preparar toda a área de

uma vez.

Não esqueça de que você precisará de um local para abrigar os

equipamentos, as roupas e as colméias vazias.

A distância do apiário à sua casa também não pode ser grande demais,

para que o manejo possa ser feito numa freqüência mínima.

3.12 Para que lado devem ficar virados os alvados?

Uma crença comum é de que os alvados devem ser voltados para Leste, de

forma que as abelhas "comecem a trabalhar assim que o sol nasça". Pelo

mesmo raciocínio, essas abelhas devem parar de trabalhar mais cedo, já

que o sol poente estará no lado oposto ao alvado? Um trabalho realizado na

Inglaterra divulgado no plenário Apacame por Breno Freitas, da UFC,

investigou o comportamento de abelhas cujas colméias tinham o alvado

voltado para diferentes posições, e não encontrou nenhuma diferença

significativa.

Um critério bom é posicionar as colméias de forma que o deslocamento do

apicultor e de algum veículo possa se dar sempre pelos fundos das

colméias, nunca próximo às frentes. Se ainda assim houver alternativas

boas de posicionamento, considere a possibilidade de instalá-las em beira

de mato, voltadas para o Norte (veja item 3.11) ou com o alvado voltado

para o lado em que os ventos são menos intensos.

3.13 Como limpar o apiário?

Depois de habitado, a limpeza do apiário é um pouco mais complicada. Tem

de ser feita com o equipamento de proteção, pois a movimentação provoca

muita agitação nas colméias. Uma boa solução é usar as telas de alvado, de

escape invertido. Essas telas permitem a entrada das campeiras, mas não a

sua saída. Assim, o trabalho pode ser feito com mais calma, à custa do

aprisionamento temporário das abelhas.

Alguns usam herbicidas naturais, como o sal. Poucas plantas toleram uma

alta salinidade, e o apiário, ou pelo menos o entorno das colméias, pode ser

mantido limpo assim. Sem uma cobertura vegetal, porém, o solo absorve e

Page 32: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

irradia mais calor, aumentando a temperatura no apiário. E as chuvas

podem transformá-lo num lamaçal.

Uma boa ajuda pode ser o plantio de uma cobertura vegetal baixa e

agressiva, como alguns tipos de grama e trevos, de preferência que já

estejam aclimatados à região.

3.14 Posso criar animais perto do apiário?

Depende. Animais encurralados podem ser atacados e mortos se não

puderem fugir.

Gado bovino normalmente pode ser criado, desde que não haja cercas que

impeçam a sua fuga. Nesse caso, é preferível não cercar nem mesmo o

apiário, pois se algum animal conseguir passar a cerca e derrubar alguma

colméia, provavelmente não achará a saída. Com apiário aberto,

geralmente o gado aprende a respeitar as colméias, e raramente se ouve

relatos de acidentes.

Já com gado eqüino, alguns apicultores reportam problemas. Os cavalos

parecem ter uma tendência menor de fugir sob ataque, e maior de se

agitar, escoiceando. Isso é perigoso em caso de acidente.

Animais menores podem ser mantidos à distância com o cercamento do

apiário com tela ou arame.

3.15 Posso fazer as minhas colméias?

A não ser que você seja um marceneiro, é melhor comprá-las, pois a

construção dá muito trabalho, e as dimensões devem ser exatas, para que

outros acessórios possam ser usados com elas. As dimensões estão

disponíveis na Internet e em diversos livros. Mas é preciso tomar cuidado

com as medidas: em [WIE87], por exemplo, algumas medidas não são as

oficiais.

3.16 Quanto custa uma colméia?

Uma colméia completa, com fundo, ninho, duas melgueiras, quadros

aramados e tampa custa aproximadamente o mesmo que 10 kg de mel (no

varejo). Um ninho com quadros custa por volta de 4 kg de mel, e uma

melgueira, uns 3 kg de mel.

3.17 Quantas melgueiras por colméia devo comprar?

Depende da produtividade possível na sua região, na melhor florada. O

melhor é informar-se com os vizinhos. O mínimo absoluto, me parece, são

duas melgueiras para cada colméia, pois é possível que você precise de um

ninho e uma melgueira para a postura da rainha (veja item 7.14). Se você

adotar um manejo intensivo para produção de mel, com troca freqüente de

rainhas e alimentação artificial na entressafra, e tiver uma boa flora apícola

na região, pode pensar em 3 a 5 melgueiras por colméia. Na dúvida,

compre duas melgueiras por colméia e avalie os primeiros resultados.

3.18 Preciso comprar colméias de reserva?

Page 33: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Sim, isso é muito importante. Inicialmente, tenha pelo menos uma ou duas

colméias completas de reserva. Com o tempo você vai ajustando essa

quantidade.

3.19 Como povoar o apiário?

Há diversas formas de se obter enxames para povoar o apiário. A primeira

é comprar enxames em uma loja ou de outro apicultor. Um enxame custa

cerca de 8 kg de mel.

Outra forma é capturar enxames com caixas-isca. Esse é o método mais

barato e menos trabalhoso, mas não é muito garantido.

Outra maneira é capturar enxames alojados na natureza ou em locais

indevidos. Eles podem ser encontrados em ocos, cupinzeiros velhos, vãos

de paredes duplas, caixas, barris, qualquer lugar. Esta, freqüentemente, é a

maneira mais penosa e a que exige maior experiência. Por outro lado, pode

ser também uma atividade rentável, pois há apicultores que cobram pelas

remoções - além de ficarem com o enxame.

Quando se deseja ampliar um apiário já povoado, pode-se também recorrer

à divisão de enxames.

3.20 Como é uma caixa-isca?

Um estudo do Departamento de Genética da Faculdade de Medicina de

Ribeirão Preto (USP) desenvolveu um padrão de caixa-isca que parece ser

consenso hoje no Brasil, às vezes com pequenas variações [SOA97].

Primeiro, ela deve ser de papelão (a caixa que contém caixas de sabão em

pó é boa e facilmente obtida em supermercados). Dentro, deve haver uns

cinco quadros de ninho, aramados normalmente, cada um com 1/3 de

lâmina de cera alveolada. As paredes internas devem ser "pintadas" com

uma substância atrativa, o capim-cidró/cidreira (Cymbopogon citratus),

macerado e misturado com vaselina. Um "alvado" de 10 cm² deve ser

aberto na caixa.

Para aumentar a sua durabilidade, a caixa pode ser pintada de branco ou

amarelo ou envolvida num plástico. Nesse caso, um saco de lixo de cor

clara (de 50 l) e fita adesiva são suficientes (não esqueça de cortar o saco

no local do alvado). A caixa deve ficar a 2 m de altura do solo, em boca de

mato.

Algumas variações parecem funcionar igualmente bem. A tira de cera pode

ser estreita - uma lâmina de melgueira fornece 5 tiras, o suficiente para

uma caixa-isca. Folhas de capim-cidró podem ser esfregadas na caixa, ao

invés de misturadas a vaselina. Alguns apicultores recomendam borrifar a

caixa internamente a cada 15 dias com uma mistura de capim-cidró,

própolis (pode ser a borra) e álcool comum. A caixa pode ficar mais baixa,

a 1,5 m, por exemplo, para facilitar o manuseio.

3.21 Não é melhor usar colméias vazias para atrair enxames?

Segundo o estudo mencionado acima, não. A caixa de papelão é dez a

quinze vezes mais atrativa do que as de madeira.

Page 34: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

3.22 Por que usar o Cymbopogon citratus?

Porque ele possui um odor semelhante ao feromônio produzido pela

glândula de Nasanov, que as abelhas utilizam para chamar as demais.

3.23 Quando colocar e tirar as caixas-isca?

Os períodos de enxameação coincidem com os de safra. Por isso, colocam-

se as caixas-isca no início da safra, deixando-as até o final. Em outras

épocas, sempre é possível capturar algum enxame, especialmente os que

abandonam suas colméias, mas a probabilidade é muito menor. Por via das

dúvidas, podem-se deixar algumas iscas no campo.

3.24 Quando o enxame pode ser transferido para a colméia

definitiva?

Cerca de uma semana após a captura, já deve haver favos com cria. Nesse

momento, cai o risco de o enxame abandonar a caixa após uma

manipulação, e a transferência para a colméia definitiva pode ser feita. No

entanto, eventualmente, pode-se manter o enxame na caixa-isca até a sua

transferência para o local definitivo (apiário).

A limitação mais importante para a manutenção do enxame capturado na

caixa-isca é o calor. Por se tratar de um material termicamente isolante, o

papelão pode provocar um aumento intolerável de temperatura no interior

da caixa, especialmente se ela estiver exposta ao sol da tarde. Nesse caso,

7-10 dias é, provavelmente, o máximo que um enxame agüentará ali.

Outro problema é a deterioração da caixa de papelão, que poderá acontecer

rapidamente após a entrada do enxame. A causa é que, com um alvado

pequeno e embalada num saco plástico, a ventilação da caixa torna-se

muito deficiente, e a grande quantidade de vapor gerado pelo enxame

acaba condensando-se nas paredes e encharcando o papelão.

Para evitar ou amenizar esses problemas, pode-se abrir uma fresta na

parte superior de uma lateral da caixa, sobre o alvado ou na lateral oposta.

Isso melhorará a ventilação e garantirá mais conforto ao enxame e uma

vida útil maior à caixa-isca.

3.25 Quando a nova caixa pode ser transferida para o apiário?

Se o apiário estiver a mais de 3 km, basta esperar até que o enxame esteja

bem ambientado, com as campeiras trabalhando bastante. Também é

importante que o enxame esteja bem alojado, com bons favos de cria e

quadros bem seguros, para que o transporte não os danifique.

Se o apiário estiver próximo, há três possibilidades. A primeira é na noite

seguinte ao dia de captura. Essa é a melhor opção, mas só pode ser feita se

a distância permitir um transporte manual e extremamente cuidadoso, que

não perturbe o enxame, pois ele estará em forma de cortina, construindo

os favos. Como as campeiras mal começaram a tarefa de coleta, elas ainda

não se habituaram ao novo local, e a perda no dia seguinte, por retorno ao

local da captura, será mínima.

A segunda possibilidade é mover a caixa para um local distante mais de 3

km, deixá-lo por lá duas semanas e depois transferi-lo para o apiário (há

Page 35: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

quem afirme que apenas 3 dias no local provisório são suficientes, mas eu

nunca cheguei a confirmar isso). Para isso, a colméia deve estar em boas

condições para resistir ao transporte.

Uma terceira possibilidade é a movimentação direta do local de captura

para o apiário próximo por volta do 30º dia de captura. Nesta época,

grande parte das campeiras originais já morreram ou estão próximas do

fim, enquanto que a primeira geração de abelhas novas está quase pronta

para iniciar as tarefas de coleta. Assim uma transferência para um local

próximo causa uma perda relativamente pequena de campeiras por retorno

ao local de origem, e ainda assim de campeiras velhas.

3.26 Como capturar enxames alojados?

Esse é um tópico avançado, que requer experiência no trato com as abelhas

e, muitas vezes, outras habilidades. O processo, basicamente, consiste em

remover os favos do local e transferi-los para um ninho. Cada favo deve ser

colocado no centro de um quadro sem arame, e fixado com elásticos de

prender dinheiro ou barbantes. É importante que a orientação vertical dos

favos seja preservada, ou todo o trabalho será perdido. Depois disso, as

abelhas e, especialmente a rainha, devem ser transferidas para a nova

caixa, com ajuda de uma concha ou caneca. Enquanto a rainha não for

transferida, as abelhas não permanecerão na nova casa. Ao contrário,

quando a rainha estiver lá, as abelhas restantes entrarão por conta própria.

Por fim, a nova colméia pode permanecer no local por algum tempo até que

todas as abelhas tenham se recolhido a ela. Às vezes, isso requer o

fechamento das entradas originais. Alguns apicultores colocam ainda uma

tela excluidora de alvado (ou uma tela excluidor normal, entre o ninho e o

fundo), para que a rainha não consiga fugir num primeiro momento.

Posteriormente, a caixa deve ser movida para o local definitivo, e os favos

capturados devem ser gradualmente substituídos por cera alveolada.

Há uma alternativa interessante, que não pode ser usada sempre, e de cujo

resultado não tenho confirmação. Consiste em instalar uma colméia ou um

núcleo nas proximidades do enxame alojado e forçar a passagem das

abelhas pela colméia, com a ajuda de um tubo. Naturalmente, todas as

frestas da colméia original deverão ser bem vedadas. Eventualmente, o

enxame pode adotar o novo espaço e abandonar o antigo.

3.27 Como manter informações sobre o apiário? [3]

O registro de informações sobre o apiário e as colméias pode ser muito útil

ao apicultor, especialmente ao iniciante e ao grande apicultor. Para poucas

colméias, um caderno pode ser suficiente. Para quem quiser manter dados

mais organizados e em maior quantidade, algumas planilhas eletrônicas

servirão perfeitamente. Quem preferir uma interface mais simples e um

conjunto de funções já bem definidas pode optar por um programa de

apicultura. Há vários deles disponíveis na Internet, em diversas línguas.

Alguns possuem versões para demonstração e até versões gratuitas

completas para poucas colméias. Um programa nacional, premiado no XV

Congresso Brasileiro de Apicultura, pode ser encontrado em

http://www.apissoft.com.br/.

Page 36: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

4. Proteção

4.1 Como se proteger durante o manejo?

O apicultor protege-se principalmente de duas formas: com o uso de

vestimenta adequada e o emprego de fumaça.

4.2 Como deve ser a vestimenta do apicultor?

Botas, jaleco e calças ou macacão, luvas e máscara. O ideal é que sejam

usadas apenas cores claras, de preferência o branco, pois elas estimulam

menos a agressividade das abelhas.

As botas devem ser de borracha branca, melhor se tiverem o cano firme e

estreito, que proteja até o meio da panturrilha, aproximadamente.

O macacão, ou o conjunto de jaleco e calça, pode ser feito de algodão

(brim) ou de tecidos sintéticos, como nylon ou albene. Há inúmeros

modelos, alguns ventilados, alguns com máscara integrada, alguns com

mais de uma camada. Ao fazer um curso de apicultura, você provavelmente

será apresentado a vários modelos e poderá escolher o que lhe parecer

melhor. Mas como primeira escolha, eu recomendaria um macacão de brim

branco, bem simples. É o que eu uso até hoje, e garanto que você não

jogará dinheiro fora. Ele deve ser bem folgado, pelo menos dois números

acima do seu, para evitar que fique muito esticado sobre a pele e facilite a

vida das abelhas agressoras. Por baixo do macacão, é bom usar sempre

uma camiseta de algodão e uma bermuda, para que o macacão, quando

molhado de suor, não fique colado ao corpo. Para mexer em enxames

muito agressivos, a roupa de baixo pode ser reforçada.

A máscara deve ter uma área de visão ampla, protegida por uma tela preta

(para evitar ofuscamento). De preferência, essa tela deve contornar toda a

cabeça, para permitir uma ventilação melhor. Eu uso máscaras

independentes do macacão. O modelo tradicional, feito com chapéu de

palha e tela metálica, é confortável, seguro, fresco e durável, e você pode

apostar nele sem medo. Para iniciantes, porém, o modelo de máscara

integrada ao macacão pode ser preferível, pois dá uma sensação de

segurança maior.

As luvas podem ser feitas de borracha, courvin ou couro (vaqueta). Eu

gosto das luvas de couro, que dão proteção máxima em qualquer situação,

e são muito resistentes.

Essas são as minhas preferências, certamente diferentes das de outros

apicultores. Só depois de adquirir alguma experiência, você poderá definir

bem qual é o seu conjunto ideal.

4.3 Como vestir todo esse equipamento?

Simples: as peças das extremidades devem recobrir o macacão. A máscara

(quando separada) recobre a gola, as luvas recobrem os punhos e as botas

recobrem as pernas do macacão.

4.4 Não se morre de calor?

Page 37: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Pelo menos, não muitas vezes.

Na verdade, o calor pode ser um inimigo terrível do apicultor, e ainda assim

será preferível a uma porção de ferroadas. Mas alguns procedimentos

podem diminuir um pouco o sofrimento:

Mantenha as colméias a meia-sombra no verão.

Leve água ao apiário. Se ela puder ser mantida gelada ou fresca,

melhor. Para beber, providencie um buraco na máscara, à altura da

boca, de forma que seja possível beber com um canudo. Faça uma

tampa para esse furo (com velcro, por exemplo).

Carregue dentro da máscara uma toalhinha para secar o excesso de

suor do rosto. Segure-a pelo lado de fora da máscara.

4.5 Mas as abelhas não entram pelas frestas?

No ajuste da máscara e das luvas, não devem sobrar frestas, ou as abelhas

poderão entrar. Algumas abelhas agressivas dentro da máscara não é uma

situação nada agradável de se enfrentar.

Entre o macacão e as botas, o problema é menor, porque elas raramente

descem para ferroar. Se o cano não for muito largo, as canelas e o pé serão

os locais com menor risco de serem ferroados.

4.6 O que eu faço se entrarem abelhas na máscara?

Uma saída é afastar-se bastante do apiário e tirar a máscara, mas isso

raramente é possível. Quando essa situação ocorre, o nível de ataque é

muito alto, e você acabará sendo perseguido por outras abelhas que o

impedirão de livrar-se da máscara (veja também item 4.12 abaixo).

O que eu faço é matar as abelhas que entraram com golpes rápidos,

esmagando-as contra a minha cabeça. Mas o melhor mesmo é ter muito

cuidado ao colocar a máscara, ou usar máscaras integradas ao macacão,

que impedem a entrada de abelhas (a não ser que haja um furo, é claro).

4.7 Como se proteger contra enxames muito agressivos?

Enxames hiperagressivos podem ser um problema sério. Felizmente, eles

não costumam existir em grande número no apiário. Para começar, deixe a

sua manipulação por último, para que a resposta agressiva não atrapalhe o

manejo das demais colônias. Tente fazer um manejo rápido, aplicando mais

fumaça do que de hábito. Se possível, evite dias sombrios, úmidos ou

ventosos.

Por baixo do macacão, use algo grosso, como um abrigo esportivo. Use

meias duplas e recubra-as o máximo possível com as extremidades do

abrigo e do macacão. Cuide especialmente para não deixar frestas junto às

luvas e às máscaras. Deixe qualquer equipamento furado ou descosturado

em casa.

Alguns apicultores recomendam o uso de macacões de nylon nessas

circunstâncias. O nylon é fino e não dá uma boa proteção, mas as abelhas

têm dificuldade em ferroar por não conseguirem se agarrar bem à roupa.

Page 38: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Com isso, muitas que morreriam ao ferroar um macacão de brim acabam

se salvando.

4.8 A fumaça tonteia as abelhas?

Não, ela inibe a percepção dos feromônio de alarme que são liberados pelas

abelhas quando elas se sentem ameaçadas. Há também uma teoria que

prega que a fumaça desencadeia na colméia um comportamento de

preparação para abandono, que faz com que muitas abelhas se encham de

mel, ao invés de assumir uma posição de revide à ameaça. Supostamente,

uma abelha cheia de mel teria também mais dificuldade em flexionar o

abdômen para ferroar.

4.9 Como usar a fumaça?

Aqui há duas abordagens. Eu prefiro usar o mínimo indispensável. Por isso,

preciso estar sempre com o fumegador à mão e usá-lo freqüentemente,

com pequenas fumegadas. Não há dúvida que dá mais trabalho,

especialmente quando se trabalha sozinho, mas as abelhas e os

consumidores do seu mel agradecem.

A outra abordagem é o oposto: aplicar bastante fumaça. Com isso, inibe-se

de uma vez quase toda a capacidade de resposta agressiva da colméia.

Esse método é freqüentemente usado por quem possui um número grande

de colméias e não pode perder muito tempo em cada uma delas. Na minha

opinião, se alguém não consegue cuidar direito de suas colméias, deveria

pensar em reduzir o seu número ou contratar ajudantes, não em piorar a

qualidade do manejo.

4.10 Por que a fumaça é indesejável?

A fumaça causa um transtorno geral na colméia, atrapalhando todas as

atividades. A volta à normalidade na colméia pode levar horas. Além disso,

ela impregna todo o interior da colméia, inclusive o mel que será colhido

pelo apicultor. Se você consome mel habitualmente, com certeza já provou

mel com gosto de fumaça. Ele foi extraído por um apicultor que usou

fumaça demais quando havia mel não operculado na colméia.

Mas o sabor ruim não é o pior da história. A fumaça proveniente da queima

incompleta dos restos vegetais, que é o que ocorre no fumegador, é

composta por uma quantidade muito grande de substâncias químicas

tóxicas e carcinogênicas. Hidrocarbonetos, como metano, propano e

octano, cetonas, álcoois, aldeídos, ácidos, entre outros, são produzidos no

fumegador, e parte deles é expelida junto com o vapor d'água, as cinzas e

o alcatrão que também compõem a fumaça [FIS02]. Para resumir: fumaça

é sujeira, evite-a tanto quanto possível.

4.11 Quanto tempo devo esperar para abrir a caixa após pôr fumaça?

Uma recomendação freqüente na literatura é que se coloque algumas

baforadas no alvado e se espere alguns minutos, "tempo suficiente para

que as abelhas se encham de mel". Mas admito algum ceticismo em relação

a este raciocínio. Eu nunca espero tempo nenhum e nunca encontrei

diferença quando tentei experimentá-lo.

Page 39: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Ocorre que as abelhas dispostas a atacar e ferroar normalmente compõem

um percentual muito pequeno do enxame, de algumas dezenas a poucos

milhares. Se fosse diferente, o enxame facilmente poderia se inviabilizar

pela morte de muitas adultas. Assim, para que a teoria de "encher-se de

mel" funcione, é necessário que exatamente essas poucas abelhas guardas

corram aos favos de mel, disputando-os com uma população de operárias

centenas de vezes maior. É um pouco difícil de acreditar.

A minha recomendação é fumegar três ou quatro vezes pelo alvado,

deslocar-se para trás da colméia, levantar a tampa e, a partir daí, usar o

fumegador apenas quando necessário e apenas com intensidade suficiente.

Deve-se ter cuidado especial quando há melgueira com mel desoperculado,

para não contaminá-lo.

Obviamente, há condições de exceção que precisam ser tratadas de forma

especial. Enxames excessivamente agressivos não podem ser controlados

com pouca fumaça. Em dias sombrios, a concentração de abelhas nas

colméias é maior, e a agressividade geralmente também. A presença de

vento dissipa muito rapidamente a fumaça e, conseqüentemente, os seus

efeitos. Nesses casos, um volume maior de fumaça e o seu uso com maior

freqüência é inevitável.

Da mesma forma, enxames pequenos podem muitas vezes ser manipulados

sem fumaça nenhuma, ou com quantidade absolutamente mínima. Por isso,

nunca trate da mesma forma seus enxames diferentes.

4.12 Como posso me livrar das abelhas que me perseguem?

Dentro do apiário, não é possível, você apenas deve manejá-las o mais

suavemente possível para manter a resposta agressiva no nível mais baixo

que puder.

Fora do apiário, há um método que funciona muito bem: atravesse um

mato fechado em zig-zag. Às vezes, uma ou duas entradas e saídas num

mato já despista quase todas as abelhas perseguidoras. Prevendo isso,

você pode já deixar caminhos irregulares prontos para uso.

4.13 O que fazer quando eu levar uma ferroada?

Uma recomendação repetida por quase todos os apicultores é que o ferrão

não deve ser removido com os dedos em movimento de pinça. Ele deve

apenas ser raspado rapidamente, com a ponta do formão ou mesmo da

unha (essa recomendação não é consensual, veja o item 4.14 abaixo).

Depois, se for possível, limpe ou cubra a região, para que os feromônios ali

depositados não provoquem outras ferroadas.

Se a ferroada atingir a pele através da roupa, veja se o ferrão ficou preso e

remova-o. Em seguida, aplique um pouco de fumaça no local, para

disfarçar o feromônio.

4.14 Por que devo retirar o ferrão rapidamente e sem usar os

dedos?

Porque junto com o ferrão, normalmente é deixado também o saco de

veneno. Quando isso ocorre, o veneno permanece sendo injetado por

Page 40: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

algum tempo e quanto mais rápida for a sua retirada, melhor. No entanto,

muitos acreditam que se isso for feito com os dedos, é provável que o saco

seja espremido, e o resto do veneno seja introduzido de uma só vez.

Um estudo recente, porém, contesta a hipótese de impropriedade de uso do

dedo para a remoção do ferrão [VIS03]. Para isso, foram provocadas

diversas picadas em voluntários, e variou-se o tempo (0,5 a 8 segundos) e

a forma de remoção dos ferrões (arrancamento com os dedos e raspagem).

Por fim, foram analisadas as respostas locais ao veneno injetado. A

conclusão foi que, quanto mais rápida é a remoção, menor a quantidade de

veneno injetada. Por outro lado, o método de remoção não teve nenhuma

influência na resposta e o arrancamento com os dedos não causou a injeção

de mais veneno. A explicação para isso é que o veneno de fato continua a

ser bombeado após a deposição do ferrão, mas é um sistema de válvulas

que controla o fluxo e não contrações do saco (cujas paredes nem sequer

possuem músculos) ou a sua compressão.

Resumindo, quando você for ferroado, retire o ferrão o mais rápido

possível, do jeito que der.

4.15 Como é que alguns apicultores trabalham sem proteção?

Com o tempo e a experiência, é possível dispensar alguma proteção,

especialmente as luvas. Muitos apicultores profissionais, que trabalham

com muitas colméias, acabam habituando-se às ferroadas e preferem evitar

o uso das luvas, que sempre atrapalham um pouco. Num manejo simples,

em dia favorável, você pode fazer uma experiência e ver como se sente.

Em nenhuma hipótese, porém, trabalhe sem a máscara. O pescoço e o

rosto são áreas muito sensíveis, e não vale a pena correr o risco. Uma

ferroada no olho é um acidente grave e pode deixar seqüelas que farão

você se arrepender dessa imprudência pelo resto da vida.

4.16 Então, por que há gente que trabalha sem máscara?

Talvez pelas mesmas razões que as pessoas que guiam motos sem

capacete ou que trabalham na construção civil sem EPIs: para evitar o

desconforto e por excesso de confiança. No caso da apicultura, pode haver

um componente adicional: o desejo de impressionar os amigos com uma

demonstração de coragem.

Mas, desprotegido, o apicultor não apenas corre um risco desnecessário.

Ele geralmente precisa diminuir esse risco com o uso exagerado de fumaça,

o que é pior também para as abelhas.

4.17 Então não devo fazer uma barba de abelhas também?

Faça, se quiser, mas por sua conta e risco. É perigoso com abelhas

européias e muito mais com africanizadas. Aliás, isso não é apicultura, é

apenas espetáculo.

4.18 Por que as abelhas ficam naquela forma de barba?

A pessoa coloca a rainha de uma colméia numa gaiolinha, pendura-a no

pescoço e sacode as abelhas ao lado. Em seguida, elas se agrupam em

torno da rainha.

Page 41: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

5. Prática Básica

5.1 Quais são as principais ferramentas do apicultor?

Na hora do manejo, as ferramentas essenciais são o fumegador, o formão e

o espanador.

5.2 Como é o fumegador?

É um cilindro metálico - a fornalha, acoplado a um fole. Há dois modelos

básicos, o tradicional, usado no mundo inteiro, e um modelo brasileiro,

conhecido como SC-Brasil. O modelo brasileiro é maior e mais apropriado

para se trabalhar com africanizadas, pois essas abelhas requerem mais

fumaça. Em contrapartida, o modelo tradicional geralmente pode ser

utilizado com uma só mão, enquanto que o SC-Brasil precisa de duas mãos

ou, pelo menos, de uma mão e de uma perna (ou barriga).

Diversos apicultores usam o fumegador pendurado numa lateral da caixa, e

aproveitam o "bico de pato" (um espalhador de fumaça) para fumegar o

topo dos quadros usando uma só mão. A desvantagem desse método é que

muita água com alcatrão pinga pelo bico, sujando os quadros e os favos.

5.3 Qual é o combustível ideal para o fumegador?

Há inúmeras fórmulas mirabolantes, geralmente inventadas por gente que

acredita que as abelhas devem ser narcotizadas. Não falta também quem

pense que o fumegador é um incinerador de lixo e jogue ali qualquer

porcaria que esteja à mão. Mas é preciso lembrar que a fumaça entra em

contato e deixa resíduo em toda a colméia, inclusive no mel. O melhor é

usar apenas restos vegetais bem secos, como palha (restos de roçada de

campo, por exemplo) ou maravalha de madeira bruta (restos de

aplainamento de tábuas). Cuidado para não usar restos de compensados ou

aglomerados, inclusive MDF, pois eles são produzidos com colas que, ao

queimarem, podem produzir fumaça ainda mais tóxica do que o normal.

5.4 Como acender o fumegador?

Se o combustível estiver bem seco, não haverá problema. Coloque um

pouco no fundo da fornalha e acenda com fósforo, ou, melhor ainda, com

um daqueles acendedores a gás para fogões. Espere até formar algumas

brasas, ajude um pouco com o fole. Depois vá colocando mais combustível,

pouco a pouco, e acionando o fole até que uma fumaça branca, espessa e

fria saia pela boca do fumegador. Recarregue-o com mais combustível

sempre que a fumaça começar a escurecer um pouco ou sair acompanhada

de fagulhas.

Se o combustível estiver um pouco úmido, uma pequena dose de álcool em

gel resolverá o problema.

5.5 E como reacender o fumegador?

Se sobrar combustível na fornalha de um dia para outro, não tente acender

o fumegador por cima, pois o resultado sempre será ruim. Se o combustível

velho estiver muito carbonizado, jogue-o fora. Se ainda houver uma boa

porção não queimada, despeje-o numa folha de jornal, inicie o fogo do

Page 42: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

fundo e recoloque-o aos poucos na fornalha. Depois, complete o nível com

combustível novo.

5.6 Para que serve o formão?

As abelhas tendem a propolisar todas as frestas estreitas da colméia, a

acabam assim colando todas as partes móveis da colméia. Por essa razão, a

ferramenta mais importante do apicultor é o formão, uma barra chata de

aço, dobrada em L, com as extremidades levemente afiadas (mas não

cortantes). Esse formão é usado sempre como alavanca, para levantar a

tampa, separar os quadros e descolar as caixas. Também é muito útil para

raspar restos de cera e de própolis.

5.7 Como é o espanador?

O espanador (ou escova), apesar do nome, parece-se mais com um grande

pente, porque possui apenas uma fileira de cerdas. Essas cerdas devem ser

bem macias, para removerem as abelhas sem machucá-las ou danificar os

favos. Também é importante que as cerdas sejam de cor clara, menos

irritantes para as abelhas.

O espanador deve ser passado de forma a não irritar ou machucar as

abelhas.

5.8 Há outras ferramentas úteis para o manejo?

Uma lâmina afiada (faca, canivete ou estilete) é imprescindível no dia-a-dia

do apicultor.

Um acendedor para o fumegador é necessário. Podem ser fósforos ou

isqueiro, mas o melhor é um acendedor a gás para fogões, daqueles com

uma haste comprida.

Há um tipo especial de formão, com uma extremidade em forma de "J", que

funciona muito melhor que o formão convencional na hora de retirar os

quadros.

Uma outra ferramenta, de alguma utilidade, é o pegador (sacador) de

quadros. Trata-se de uma espécie de alicate duplo, usado para retirar e

segurar os quadros que serão examinados, com mínimo risco de danificar o

favo ou machucar as abelhas. Alguns apicultores gostam do sacador, mas

outros, depois de algum tempo, acreditam que podem trabalhar muito bem

sem ele. Eu estou no segundo time.

Elásticos ou barbantes podem salvar o dia, caso você se depare com favos

tortos ou quebrados.

Outras ferramentas podem ser importantes, mas de uso muito eventual,

como alicate, martelo, arame, pregos.

5.9 Como fazer para não perder essas ferramentas?

Nada mais fácil do que perder essas ferramentas num apiário. Para evitar

isso, faça o seguinte: vá a uma ferragem e compre dois rolos de fita

isolante, um vermelho e outro amarelo. Coloque uma ou duas fitas de cada

cor em volta das suas ferramentas e nunca mais você as perderá. Se você

Page 43: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

for daltônico, escolha cores que você consegue distinguir perfeitamente no

campo, em ambiente claro e quase escuro.

5.10 Com que freqüência devo examinar as colméias?

Depende da época e do tipo de manejo. Uma inspeção rápida pode ser feita

a cada semana (ou duas, ou três), mas talvez não haja nenhum problema

se você esperar um mês ou mais. Revisões completas podem ser feitas

cerca de 2 a 4 vezes por ano.

Se você quiser usar alimentação estimulante antes da florada, o ideal será

fornecê-la com grande freqüência - dia sim, dia não, por exemplo. Se isso

não for possível, procure fornecer uma quantidade maior de xarope em

alimentadores lentos (veja o capítulo 6).

Durante a safra, há duas abordagens antagônicas. A primeira é verificar a

colméia freqüentemente para tentar conter alguma enxameação. No

entanto, o controle de enxameação não é nada trivial nem 100% garantido,

e muito melhor é fazer-se uma prevenção adequada (veja o capítulo 7).

A segunda abordagem, preferível na minha opinião, é mexer o mínimo

possível na colméia, abrindo-a poucas vezes e rapidamente, apenas para

verificar a acumulação de mel e colocar ou retirar melgueiras. Isso evita

perturbações na que podem até significar perda de mel.

De qualquer forma, independentemente da abordagem adotada, é

importante que

As colméias não sejam abertas com temperatura ambiente muito baixa, da

ordem de 10 ºC ou menos. Caso contrário, muitas crias poderão morrer.

5.11 Como é feita uma revisão completa?

Primeiro, ponha fumaça e abra a colméia, como mencionado acima. Se

houver melgueiras, avalie o seu conteúdo retirando um ou dois quadros.

Com o tempo, bastará dar uma olhada superficial e suspendê-la, para

estimar bem a quantidade de mel armazenado. Verifique se há postura na

melgueira. Faça o mesmo com todas as melgueiras e vá retirando-as até

chegar ao ninho, usando um pouco fumaça sempre que necessário. Se

houver mel desoperculado, use a fumaça lentamente, dirigindo-a apenas

para o topo dos quadros. Se estiver ventando, direcione a fumaça para o

lado da colméia que estiver recebendo o vento, diretamente na parede. A

fumaça vai subir e apenas lamber a parte superior dos quadros.

No ninho, retire cada um dos quadros e examine-os Com o tempo, você

será capaz de selecionar apenas alguns quadros bem representativos da

situação do ninho, abreviando esse trabalho. No início, ajuda bastante

remover o quadro mais vazio de uma das extremidades e pô-lo de lado,

para ampliar o espaço de trabalho. Em seguida, faça as verificações e

correções necessárias, recoloque todos os quadros, de preferência com a

mesma orientação frente-fundo original, e recoloque as melgueiras, usando

um pouco de fumaça para esmagar o mínimo de abelhas possível.

Numa revisão de rotina, verificam-se diversos pontos:

Page 44: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

O enxame está bem desenvolvido para a época?

Há reservas de mel suficientes até a próxima revisão?

O tamanho do alvado é compatível com a temperatura média da

estação e com o movimento de entrada e saída das abelhas?

A rainha está presente e a postura é adequada?

Há realeiras?

As crias estão se desenvolvendo bem?

Há espaço suficiente para aumentar a postura?

Há espaço suficiente para armazenar mais mel?

Há sinal de doença na colméia?

Há sinal de ataque de formigas, traças ou outros animais?

Há favos velhos ou quadros danificados a serem substituídos?

Há umidade condensada na colméia?

Há sinais de excesso de calor dentro da colméia?

5.12 As colméias mais fortes devem ser examinadas primeiro?

Não. Em apicultura, muitas vezes a idéia de se fazer primeiro o trabalho

mais complicado é impraticável. A razão disso é que mexer primeiro na

colméia mais difícil pode significar problemas para o manejo de todas as

outras. Isso acontece especialmente em dias desfavoráveis para o manejo,

como os nublados, úmidos e ventosos. Fazendo sempre as revisões mais

simples primeiro garante que, se você tiver de interromper o trabalho, uma

boa parte dele talvez já esteja concluída.

5.13 Por que pode ser necessário interromper o trabalho?

Uma possibilidade é começar a chover. Outra é que a agitação e a

agressividade das abelhas podem atingir um nível alto demais,

atrapalhando muito o manejo e causando um número alto de ferroadas,

além de saque generalizado e mortandade de abelhas. Isso não é comum,

mas é bom acostumar-se com a idéia de que o apicultor nem sempre

consegue fazer no apiário tudo o que foi planejado, especialmente quando a

sua experiência ainda não muito grande.

5.14 Onde ponho as caixas que vão sendo retiradas?

Quando se retira uma caixa da colméia, muitas abelhas que estavam ali

saem (caminhando) para fazer uma investigação do que houve. Quando

essa caixa é posta diretamente no solo, as abelhas que saem podem ser

pisadas pelo apicultor, atacadas por predadores ou, na melhor das

hipóteses, demorar muito para retornar à casa, já que muitas delas são

jovens que nunca voaram.

O que eu faço (e recomendo) é apoiar a caixa sobre a tampa, previamente

largada no solo. A caixa pode ficar apoiada numa lateral menor, isto é, de

tal forma que os quadros fiquem em sentido vertical ("de pé"). Fica melhor

ainda se um canto dessa lateral ficar sobre um ressalto da tampa. Essa

posição é confortável para o apicultor, evita que muitas abelhas saiam da

caixa, evita que o mel escorra e evita que os quadros se inclinem, o que

acontece quando a caixa é apoiada numa das laterais maiores.

Após recolocar as caixas, basta varrer as abelhas que estão sobre a tampa

para dentro da colméia, e a perda de abelhas é mínima.

Page 45: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

5.15 Como retirar e examinar os quadros?

Se houver muitas abelhas sobre ele, ponha um pouco de fumaça para elas

se afastarem. Depois, descole as laterais do quadro, usando o formão como

alavanca. Fica mais fácil se um quadro da extremidade tiver sido retirado

antes. A seguir, suspenda um canto do quadro com o formão e segure esse

canto com os dedos ou o quadro inteiro com o sacador de quadros. Depois

solte o outro canto com o formão e retire o quadro.

Se houver muitas abelhas sobre o favo, e você precisar ter uma visão

melhor, remova o excesso com um leve chacoalhar, bem acima do ninho.

Se precisar remover quase todas as abelhas, use seguinte manobra: segure

o quadro por um canto com uma das mãos e, com a outra mão, dê um

golpe seco, de cima para baixo, na mão que está segurando o quadro.

Dependendo da força que você usar, poderão se desprender as abelhas, os

ovos, as larvas e o néctar; muito cuidado, portanto.

Em seguida, segure o quadro pelos cantos e analise a face do favo que está

voltada para você. Se você estiver de costas para o sol, o quadro ficará

mais bem iluminado. Para analisar a face oposta, vire-o de cabeça para

baixo, girando-o com os dedos das duas mãos. Tenha cuidado para não

expor as crias muito tempo ao sol (mais de alguns poucos segundos), pois

elas são extremamente sensíveis.

Tenha muito cuidado também ao recolocar o quadro, para não esmagar

outras abelhas e, principalmente, a rainha.

Quando terminar de recolocar todos os quadros, aperte-os em direção a

uma das extremidades, para que sobre o mínimo de folga entre eles,

dificultando a propolisação das suas laterais.

5.16 Como saber se o enxame está bem desenvolvido?

Principalmente, por comparação com os demais. Mas a experiência ajuda

muito.

5.17 Como saber se há mel suficiente até a próxima revisão?

Depende da temperatura média da época, do fluxo de néctar existente ou

por iniciar, de quando será a próxima revisão e do tamanho do enxame. É

um ponto em que a experiência do apicultor é muito importante para um

bom julgamento.

Se as abelhas estiverem colhendo néctar, esse dado não é tão importante.

Caso contrário, se houver um quadro de ninho com bastante mel ou várias

coroas de mel sobre a área de cria, provavelmente você não precisará se

preocupar por uma ou duas semanas, dependendo do tamanho do enxame.

Na dúvida, sempre alimente a colméia.

5.18 Quais são os sinais de excesso de calor na colméia?

A presença de abelhas paradas no alvado, batendo as asas, significa que

elas estão forçando a ventilação da colméia. Isso é normal, desde que não

sejam muitas abelhas e que o zumbido interno (das que estão ventilando lá

dentro) não seja muito forte.

Page 46: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Um indício forte de excesso de calor é o agrupamento de abelhas do lado

de fora, formando uma "barba" perto do alvado. Embora seja às vezes

entendido (corretamente) como prenúncio de enxameação, o mais provável

é que as abelhas não estejam conseguindo refrigerar o interior da colméia

quando todas elas estão lá dentro. Para resolver esse problema

emergencialmente, podem-se colocar pequenos calços sob a tampa. Para

resolvê-lo melhor, pode-se adotar um telhado maior, de cor clara, ou

mover a colméia para um local mais sombreado. Uma boa alternativa é

usar uma entretampa para ventilação (veja item2.37).

5.19 Por que os favos de cria devem ser substituídos periodicamente?

Há duas razões principais: Uma é evitar que o favo velho se transforme

num veículo de contaminação, já que ele é sistematicamente exposto a

dejetos das larvas. A outra é impedir que o estreitamente natural do

alvéolo, provocado pelos restos de sucessivos encasulamentos, acabe

influindo no desenvolvimento das crias, resultando em adultos menores.

5.20 Quando os favos devem ser trocados?

A fórmula mais simples é substituir, numa das revisões anuais, aqueles que

estiverem totalmente escuros, de forma que não se possa ver a luz do sol

através dos alvéolos.

Outra recomendação comum é trocar-se cerca de 1/3 dos favos por ano, o

que daria, em média, uma vida útil de 3 anos por favo.

5.21 Quando devem ser colocadas as melgueiras?

No início da safra, quando a movimentação do alvado começar a crescer.

Nesse momento, interrompa a alimentação energética (veja o capítulo 6) e,

se houver quadros do ninho com "mel" feito a partir do xarope, remova-os,

centrifugue-os e devolva-os vazios à colméia. Isso é necessário por duas

razões: primeiro, se este mel estiver desoperculado, ele pode ser relocado

pelas abelhas para abrir espaço para a postura da rainha, e as melgueiras

recém postas são um ótimo destino. Segundo, se o mel estiver operculado,

ele pode bloquear o ninho, impedindo que a rainha aumente sua postura.

Veja também o capítulo 8 para maiores considerações sobre a colocação de

melgueiras.

5.22 É melhor fazer o manejo de dia ou à noite?

Isso é uma preferência bastante pessoal do apicultor. Acredito que a

maioria prefira trabalhar à luz do dia, mas há alguns que não concordam.

Quem trabalha à noite afirma que é mais fácil manejar os enxames muito

agressivos, pois as abelhas voam muito pouco. Na minha opinião, o manejo

à noite dificulta muito a inspeção visual, aumenta o risco de tropeços e

quedas e causa muito mais mortes de abelhas, pois elas tendem a cobrir a

caixa e os favos, numa atitude de defesa passiva (elas param com o ferrão

voltado para cima, de modo a evitar o contato do "atacante" com a

colméia).

A fumaça também parece ser muito menos eficaz à noite. Elas não

retornam rapidamente à colméia quando fumegadas, e permanecem

cobrindo o topo dos quadros e as paredes das caixas. Por esta razão, A

Page 47: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

quantidade de abelhas esmagadas na reposição das caixas também é muito

maior. As que voam até o apicultor agarram-se firmemente às suas vestes,

todas tentando ferroar, e só podem ser removidas com o espanador.

Uma vantagem é que o trabalho à noite é quase sempre mais fresco do que

durante o dia.

5.23 Por que as abelhas voam pouco à noite?

Na verdade, elas voam se houver luz visível. O que os apicultores fazem é

usar luz vermelha, que não é visível para as abelhas. Para isso, usam

qualquer fonte de luz comum, como uma lanterna, e cobrem-na com papel

celofane vermelho ou algo similar. Nessas condições, os objetos iluminados

por essa luz não são bem visíveis para as abelhas, especialmente se a lua

for nova ou estiver encoberta. Mesmo assim, elas conseguem fazer alguns

vôos curtos e chegar ao apicultor, que, por essa razão, não pode prescindir

do seu equipamento de proteção.

6. Alimentação

6.1 Como deve ser alimentada a colméia?

Por estranho que pareça, este é um dos assuntos mais polêmicos da

apicultura nacional. Há dúzias de fórmulas, das mais simples às mais

sofisticadas, cada uma defendida com unhas e dentes por seus

simpatizantes. Também há diversas formas de fornecer o alimento e, de

novo, há defensores fervorosos de um ou outro modelo. As próximas

questões esclarecem alguns pontos básicos da alimentação artificial, como

tipos, fórmulas e modos de fornecimento.

6.2 O que é alimentação artificial?

Alimentação artificial é o fornecimento de substâncias nutritivas para as

abelhas. A alimentação pode ser de subsistência, quando não houver

provisões suficientes na colméia para garantir a sua manutenção, ou

estimulante, para induzir o crescimento da colméia antes de uma florada.

Além disso, a alimentação artificial pode ser protéica (para substituir o

pólen) ou energética (para substituir o mel).

6.3 Quando deve ser fornecida a alimentação de subsistência?

Quando não houver reservas suficientes até a próxima florada. Ela

normalmente não é necessária quando o apicultor deixa uma boa

quantidade de mel para as abelhas, mas isso nem sempre é feito, já que,

economicamente, o mel vale muito mais que o açúcar. Além disso, há méis

de cristalização rápida que não podem ser deixados na colméia,

especialmente em climas frios, sob pena de as abelhas não conseguirem

consumi-lo mais tarde.

Após a colheita, o início de uma entressafra longa (mais de dois meses) é

um bom momento para fornecer a alimentação de subsistência. Uma

possibilidade interessante é adiar um pouco o fornecimento, até que o

enxame se reduza naturalmente, inclusive com a expulsão dos zangões.

Nesse momento o xarope pode ser fornecido em quantidade grande o

Page 48: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

suficiente para toda a entressafra. Ou, ao contrário, essa alimentação pode

ser fornecida aos poucos, de acordo com a percepção do apicultor.

O fornecimento de uma só vez reduz o trabalho, mas aumenta o risco de

perda de alimento por deterioração, caso as abelhas não o aceitem ou

demorem muito a recolhê-lo. Enxames pequenos, especialmente, têm

dificuldade em esvaziar os alimentadores grandes.

6.4 Como é a alimentação energética de subsistência?

O xarope (substituto do mel) deve ser mais concentrado do que na

alimentação estimulante, para que as abelhas não precisem gastar muita

energia na sua desidratação.

Como xarope, alguns recomendam uma mistura de açúcar refinado comum

em água, num proporção alta, como 2:1 (em peso), por exemplo. Isso

significa 2 kg de açúcar em 1 l de água, ou um xarope com concentração de

açúcar de 67%. Aquecer a água facilita bastante a mistura.

Outra proporção interessante é 1,5:1 (açúcar:água). Ela pode ser obtida

enchendo-se um recipiente até a metade com água e completando-se com

açúcar. Produz um xarope com concentração de 60% de açúcar.

Outros recomendam o uso de açúcar invertido. Outros ainda, especialmente

quem produz mel orgânico, recomendam apenas o fornecimento de mel.

6.5 A alimentação de subsistência não pode ser sólida?

Alguns apicultores fornecem açúcar puro ou cândi às abelhas. Não é a

melhor opção, pois exige que elas dissolvam o alimento antes de consumi-

lo (num período frio isso pode ser muito difícil). Além disso, o açúcar puro

muitas vezes é rejeitado por elas.

Uma alimentação pastosa, mista, energético-protéica, é uma alternativa

possível.

6.6 O que é cândi?

É uma mistura de açúcar com mel. Para prepará-lo, peque uma porção de

açúcar confeiteiro e vá acrescentando mel e amassando até formar uma

massa flexível, que seja o mais seca possível, sem se esfarelar. É um tipo

alimento muito usado em transporte e introdução de rainhas.

6.7 Quando deve ser fornecida a alimentação estimulante?

Cerca de sessenta dias antes de uma florada intensa.

Uma consideração importante sobre a alimentação estimulante é que ela

deve simular um fluxo de néctar na colméia e, portanto, deve ser fornecida

freqüentemente. Nesse aspecto, as recomendações mais comuns para

alimentadores rápidos vão de três a sete vezes por semana. Para

alimentadores lentos, o fornecimento semanal ou ainda mais espaçado

pode ser suficiente.

6.8 Quanto deve ser fornecido de alimentação estimulante?

Page 49: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Depende do tamanho do enxame. Cerca de 800 ml em dias alternados já

dão uma resposta boa, mas o melhor é observar a acumulação do xarope,

permitindo-a, mas não em excesso. Se essa acumulação for muito grande,

vários quadros do ninho ficarão cheios de xarope, e a rainha não poderá

fazer a postura. Essa é uma situação chamada de bloqueio do ninho, e leva

a colméia, quase certamente, à enxameação.

Uma alternativa provavelmente melhor é alimentar as abelhas liberalmente,

removendo os favos repletos de xarope sempre que necessário. Com isso, o

espaço para a rainha estará garantido, ao mesmo tempo em o estímulo é

máximo.

6.9 Como evitar o bloqueio do ninho?

Os quadros cheios de xarope devem ser removidos e substituídos por

outros com favos vazios (em bom estado) ou lâminas de cera alveolada. Os

favos com xarope podem ser distribuídos às colméias fracas, ou

centrifugados, para que o seu conteúdo possa ser devolvido à colméia sob

forma de mais alimento estimulante.

Uma alternativa possível, mas bem menos interessante, é deixar os favos

por um dia a cerca de 100-200 metros do apiário, para que o xarope neles

estocado volte a simular néctar para todas as colméias. Nesse caso, não

apenas as suas colméias, mas todas as da região serão beneficiadas.

6.10 Como é a alimentação estimulante?

O xarope deve ser menos concentrado do que na alimentação de

subsistência, para simular o néctar, que possui, em média, uns 30-35% de

açúcar.

Para obter um xarope com aproximadamente 35% de açúcar, faça uma

mistura na proporção de 4:7,5, por exemplo, 4 kg de açúcar em 7,5 l de

água. Isso dá 11,5 kg de xarope, que ocupam uns 10 litros. Como a

mistura é pouco saturada, ela pode ser feita facilmente com água fria e um

pouco de agitação.

Da mesma forma que na alimentação de subsistência, há quem recomende

o uso de açúcar invertido ou mel, mais diluídos.

6.11 Como calcular as proporções de açúcar e água?

A densidade do açúcar é 1,59, o que significa que cada quilograma contribui

com 0,63 litros num xarope. Com este dado, você pode calcular qualquer

proporção, mas eu vou facilitar-lhe a vida.

Para produzir cerca de 10 litros de xarope (200 ml a mais ou a menos), use

a tabela abaixo. Para volumes diferentes, apenas corrija as quantidades dos

ingredientes na mesma proporção.

Ingredientes Xarope

Água

(l)

Açúcar

(kg)

Peso

(kg)

Volume

(l)

Açúcar

(%)

Equivalente

em mel (kg)

A evaporar

(l)

8,5 2,5 11 10,1 23 3 8

Page 50: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

8 3,5 11,5 10,2 30 4,3 7,2

7,5 4 11,5 10 35 4,9 6,6

7 4,5 11,5 9,8 39 5,5 6

6,5 5,5 12 10 46 6,7 5,3

6 6 12 9,8 50 7,3 4,7

5,5 7 12,5 9,9 56 8,5 4

5 8 13 10 62 9,8 3,2

4,5 9 13,5 10,2 67 11 2,5

As colunas de ingredientes referem-se às quantidades a serem misturadas.

O peso do xarope é apenas ilustrativo, pois os alimentadores têm suas

medidas em litros. A coluna "Açúcar (%)" indica a concentração do xarope.

O peso equivalente em mel corresponde ao que sobra do xarope após a sua

desidratação até o patamar de 18%. A coluna "A evaporar" mostra quanta

água deve ser retirada do xarope para que as abelhas possam armazená-lo

com 18% de umidade. A tabela foi ajustada para volumes e pesos de

ingredientes que fossem múltiplos de 0,5.

6.12 O que é açúcar invertido?

É um açúcar comum, sacarose, quebrado ("invertido") em açúcares mais

simples, a frutose e a glicose. Há uma fórmula que se tornou popular no

país, após a divulgação de alguns estudos de Sílvio Lengler, da UFSM.

Trata-se de uma mistura de 5 kg de açúcar comum, 1,7 l de água e 5 g de

ácido tartárico, tudo fervido por 40-50 min em fogo baixo [LEN99]. Eu

tenho algumas reservas em relação a essa fórmula. Primeiro, ela consome

muito tempo e combustível para ser feita. Segundo, há estudos que

atestam que soluções de sacarose são mais atrativas para as abelhas do

que as de frutose e glicose. Terceiro, é sabido que determinada

concentração de HMF em xaropes, acima de 30 ppm, pode ser prejudicial às

abelhas. Não conheço a concentração de HMF no açúcar invertido, mas o

processo de obtenção sugere que ele deve estar presente.

Indagado a respeito disto, Lengler afirmou já estar ciente deste perigo e já

ter corrigido a sua fórmula para que o tempo de fervura fosse, no máximo,

3 minutos. Segundo um pesquisador austríaco, esse tempo limitaria a

formação de HMF a 30 ppm, evitando problemas para as abelhas [LEN03].

Permanece a minha dúvida se, nesse tempo, é possível de fato ocorrer a

inversão de uma quantidade significativa de sacarose, ou se o resultado

será quase idêntico a uma solução comum de sacarose em água.

Por outro lado, o açúcar invertido é mais resistente à fermentação que a

solução se sacarose, e pode ser administrado em volumes maiores sem que

se estrague antes de as abelhas poderem colhê-lo.

6.13 O que HMF?

É uma sigla que corresponde a hidroximetilfurfural, uma substância

produzida pela desidratação da frutose em meio ácido, numa velocidade

que varia diretamente com a temperatura. O mel (e muitos outros produtos

comestíveis) possui HMF, e o seu nível elevado é um indicativo de

superaquecimento (cada 10ºC a mais aumenta a velocidade de produção de

HMF 4,5 vezes), longa estocagem ou falsificação.

Page 51: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

6.14 Mel velho pode ser usado na alimentação artificial?

Depende. Se ele for estocado em temperaturas baixas, o nível de HMF deve

permanecer baixo; caso contrário, o mel velho pode até matar o enxame.

Na dúvida, não o utilize.

6.15 Como resolver o problema de fermentação do xarope?

De duas formas: a primeira, quimicamente, acrescentando um preservativo

de alimentos. Por exemplo, sorbato de potássio (1 grama por litro de

xarope) ou benzoato de sódio (1,5 gramas por litro de xarope). O açúcar

invertido também é menos propenso à fermentação.

A segunda forma é deixando que as próprias abelhas cuidem disso, tal

como cuidam do néctar. Para tanto, é preciso fornecer quantidades

modestas de xarope de cada vez, em alimentadores individuais rápidos.

6.16 Deve-se acrescentar sal ao xarope?

Na minha opinião, não há porquê. Se o argumento é deixar o xarope mais

parecido com o mel no seu conteúdo nutritivo, não é a adição que um único

composto mineral que vai fazer alguma diferença. Por outro lado, se a

quantidade de sal for grande, o xarope poderá matar o enxame. Por

exemplo, uma proporção de apenas 0,125% (ou seja, 14 mg de sal em 10

litros de xarope a 30%) já pode causar disenteria e mortalidade nas

abelhas [BAR77].

6.17 Como o xarope é fornecido?

Há vários tipos de alimentadores, coletivos e individuais. Os coletivos

facilitam o fornecimento, mas provocam lutas e até pilhagens entre as

colméias, se o alimentador não estiver a uma distância razoável do apiário.

Também fornecem alimento a todos os insetos da região, além das suas

abelhas. Como se não bastasse, os enxames fortes, que não precisariam de

alimentação, serão os que coletarão mais xarope, em detrimento dos

menores. Alguns apicultores ainda os usam, e até o recomendam, mas eu

não os acho aceitáveis.

Já os alimentadores individuais atendem uma única colméia cada um, e são

muito mais eficientes. Eles podem ser externos ou internos.

6.18 Por que os alimentadores coletivos provocam pilhagem?

Quando uma fonte de alimento é encontrada nas proximidades das

colméias, especialmente em época de carência, há uma boa probabilidade

de as abelhas começarem a pilhar umas às outras. A provável razão disso é

que recursos muito próximos da colméia são comunicados através de uma

dança circular, que não informa distância e direção [WIN03]. As abelhas

que assistem à dança saem depois para fazer uma pesquisa nas imediações

da colméia, e pode ocorrer de algumas acharem uma colméia vizinha bem

provida antes da fonte de alimento comunicada.

Em pouco tempo, principalmente em apiários com colméias próximas,

muitas delas, às vezes todas, tornam-se saqueadas e saqueadoras. Para o

apicultor, é uma situação completamente indesejável, pois a morte de

muitas abelhas, talvez de algum enxame mais fraco, é certa. No caso do

Page 52: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

alimentador coletivo, depois de algum tempo, dependendo da resistência

nas colméias, ele pode acabar sendo conhecido por todas as campeiras, e a

pilhagem acabará.

O mesmo problema ocorre com manejos demorados durante a entressafra

e com a devolução de melgueiras após a extração de mel, especialmente

quando deixadas ao ar livre.

6.19 Como são os alimentadores individuais externos?

Os alimentadores de alvado são, em geral, menores e mais sujeitos a

saque, por ficarem mais expostos, mas são mais fáceis de fornecer às

abelhas, pois não exigem a abertura da colméia.

O alimentador Boardman é o mais conhecido, um vidro com tampa furada

que se encaixa e pinga sobre uma plataforma de madeira encaixada no

alvado. As abelhas da colméia têm acesso privilegiado ao xarope, mas

muitos saques ocorrem assim mesmo. Como os furos têm de ser pequenos,

para que o xarope não saia mais rapidamente do que as abelhas podem

colhê-lo, o Boardman acaba sendo um alimentador lento, que assim

favorece ainda mais o saque e a fermentação do xarope. Hoje, existem

plataformas que suportam uma garrafa PET de 2 litros.

Um modelo modificado do Boardman tem um desempenho melhor. Ao

contrário de pingar sobre uma superfície de madeira, ele tem a saída de

xarope mergulhada num cocho raso, como um bebedouro de aves. Isso

evita o escorrimento do xarope e acelera o seu consumo pelas abelhas.

Para mim, o melhor modelo de alimentador de alvado é o cocho. A Apivac,

Associação de Apicultores do Vale do Carangola (MG), comercializa um

desses alimentadores, feito em ABS. Trata-se de um recipiente que fica

pendurado à frente do alvado, preso por um suporte metálico facilmente

adaptável. Sobre a boca do alimentador, corre uma tampa que forma um

túnel de acesso ao alimento. Dentro do cocho, há um flutuador para as

abelhas não se afogarem, mas isso não é suficiente: as paredes devem ser

lixadas internamente, com lixa grossa, para que elas possam subir sem

dificuldade. O cocho admite cerca de 1,5 litro e é esvaziado em poucas

horas por um enxame médio. Quando carregado no final da tarde, ele é

encontrado vazio pela manhã, evitando quase completamente o saque. A

sua recarga é muito rápida, bastando levantar a tampa e despejar o

xarope. Mesmo que haja abelhas lá dentro, elas não se afogarão se o

flutuador estiver presente e as paredes bem lixadas.

6.20 Como são os alimentadores internos?

Há dois tipos principais. Um é o Doolittle, um cocho estreito, que substitui

um quadro da colméia. Não é muito prático porque a sua colocação envolve

manipulação do ninho, o que, além de trabalhoso, pode ser prejudicial às

abelhas quando a temperatura é muito baixa.

O outro modelo é o de cobertura. É um recipiente de mesmas dimensões

que as caixas, apenas mais baixo, e é colocado sobre elas. As abelhas

entram no alimentador para remover o xarope por dentro da colméia, o que

não dá muita margem a saques. É um alimentador rápido pela sua

Page 53: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

construção, mas que geralmente aceita volumes grandes de xarope, que

pode fermentar se não for quimicamente tratado. Também é um

alimentador que, freqüentemente, não chama a atenção das abelhas e pode

ser rejeitado. Dependendo da sua construção, também pode provocar

grande mortandade por afogamento.

6.21 E os alimentadores de balde?

Estes podem ser internos ou externos. Trata-se de alternativa barata ao

alimentador de cobertura, e é feito com um recipiente plástico furado, como

um balde de mel de 5 kg. Ele pode ser apoiado numa entretampa furada

(veja o item 2.37) e colocado dentro da colméia, protegido por um ninho

vazio, ou fora, devidamente imobilizado para não voar com o vento.

Para construí-lo, basta fazer alguns furos na tampa com uma agulha

incandescente. Depois, o balde deve ser emborcado sobre os quadros do

ninho (apoiado em sarrafos ou na entretampa). Ao emborcar o balde, é

possível que o xarope escorra por alguns instantes; por esta razão, é

recomendável que ele seja comprimido antes de ser virado (para expulsão

de uma parte do ar) ou que seja virado longe da colméia, para não

encharcar as abelhas nem provocar saques.

Há variações deste modelo, inclusive usando garrafas PET.

6.22 O "mel" produzido com essa alimentação pode ser

consumido?

O que as abelhas produzem com essa alimentação é um produto útil para

elas, mas não é mel. Se for produzido higienicamente, sem aditivos tóxicos,

ele pode ser consumido pelas pessoas, mas o seu sabor pouco lembrará o

de algum mel legítimo. Aliás, esse produto é popularmente chamado de

"mel expresso" e é eventualmente usado para incrementar a produção de

forma fraudulenta.

6.23 Quando deve ser fornecida a alimentação protéica?

Em relação à alimentação protéica (substituição do pólen), geralmente não

se diferencia subsistência de estímulo, exceto em relação à quantidade

fornecida. Durante a entressafra, o consumo protéico normalmente é

menor, pois poucas ou nenhuma cria está sendo gerada. No entanto,

quando o enxame começa a se desenvolver, por estímulo artificial ou

natural, a escassez de pólen pode ser um fator limitante, causando um

grande atraso no aumento populacional. Se não houver fonte de proteína

disponível, nenhum tipo de estimulação à base de xarope funcionará, pois

as abelhas jovens não terão como produzir as substâncias nutritivas para

alimentar as crias e a rainha.

Uma outra situação em que a alimentação protéica é obrigatória ocorre

quando há uma florada de pólen tóxico na região. Um exemplo disso é a

floração do barbatimão e do falso-barbatimão (Stryphnodendron spp. e

Dimorphandra mollis), comum principalmente na região Sudeste [CIN02].

As flores dessas plantas produzem pólen tóxico, que causa alta mortalidade

nas crias da colméia. Nesse caso, o recomendado é que a alimentação

protéica inicie pelo menos 15 dias antes da florada, e seja mantida durante

todo o seu período.

Page 54: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

6.24 Como é a alimentação protéica?

Diversas fórmulas já foram testadas, com misturas em proporções variadas

de farinha de soja, de milho e de trigo, levedo de cerveja, pólen, leite em

pó. Atualmente, há duas fórmulas populares disponíveis comercialmente: a

farinha, da Apivac, e o Pólemel (o acento extravagante é de

responsabilidade do fabricante - a Avesul).

Ambos têm boa reputação, embora suspeite-se de que o Pólemel poderia

ter a sua fórmula melhorada, se o fabricante suprimisse a lactose da sua

composição. Este açúcar, encontrado no leite, é freqüentemente citado na

literatura com tóxico para as abelhas. Por outro lado, a farinha da Apivac

me parece ser menos atrativa para as abelhas do que o Pólemel.

6.25 Como a alimentação protéica é fornecida? [2]

Em alimentadores internos ou coletivos. Os internos devem ser de

cobertura, de forma que o produto fique o mais próximo possível das crias.

O Pólemel é fornecido no próprio saco em que é vendido, aberto (uma

janela grande, na face superior do saco) e deve ser deixado próximo à área

de cria, diretamente sobre os quadros do ninho ou logo abaixo deles. Para

deixá-lo sobre os quadros, é preciso colocar sobre o ninho um "extensor",

que pode ser um quadro feito com sarrafos de 1 x 2 cm, ou uma

entretampa, ou até uma tela excluidora, dependendo do tipo de moldura

usado, pois normalmente não há espaço suficiente.

Mas uma maneira muito mais rápida e menos estressante para as abelhas é

fornecê-lo pelo alvado. Para isso, deve-se usar o lado alto do fundo

reversível, ou aumentar a altura das suas paredes com sarrafos, até que o

saco possa ser introduzido pelo alvado. Caso as abelhas depositem própolis

nessa entrada, basta removê-la com a ajuda do formão. Outra alternativa é

levantar a colméia inteira pelo alvado, usando o formão como alavanca,

introduzir o saco de Pólemel, e baixá-la novamente (antes, porém, deve-se

usar um pouco de fumaça para afastar as abelhas do fundo da colméia e

evitar esmagamentos).

Um detalhe importante é que, se o Pólemel for posto longe dos quadros de

cria (num alimentador de cobertura, por exemplo), há uma boa

probabilidade de as abelhas rejeitarem-no.

Já a Apivac recomenda o fornecimento da sua farinha num alimentador

coletivo, cujo modelo ela explica a quem quiser fazê-lo ou vende a quem

preferir comprá-lo pronto.

7. Enxames e Rainhas

7.1 Como se movimenta uma colméia para um lugar próximo?

Este pode ser um problema mais complicado do que parece à primeira

vista. Acontece que as abelhas campeiras memorizam a localização da sua

colméia, e quando ela é movida, as abelhas não aprendem imediatamente a

nova localização. Como resultado, muitas campeiras (talvez a grande

maioria), ao saírem da colméia recém movida, acabam voltando ao local

original e perdendo-se.

Page 55: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Para evitar esse problema, há duas soluções eficazes: mover a colméia

para longe, esperar duas semanas, e movê-la de volta ao local definitivo.

Durante esse tempo, pelo menos a maioria das campeiras já morreu ou

esqueceu seus pontos de referência, e não voltará ao local original.

Outra solução é mover a colméia cerca de um metro de cada vez, com a

freqüência possível para o apicultor (1, 2, 3 vezes por semana, etc.) Com

isso, as abelhas nunca chegam a se perder, pois conseguem identificar sem

problemas a sua colméia, se ela estiver muito próxima do local original.

Para usar esse método, um cavalete móvel é muito útil.

Uma outra solução recomendada por alguns é garantir a ventilação da

colméia com uma tela, e fechar completamente o alvado com palha ou

serragem molhada, para que as abelhas percebam a mudança.

Infelizmente, tão freqüente quanto a recomendação dessa técnica são os

relatos do seu insucesso.

Quando a colméia a ser movida para um local próximo tiver sido ocupada

recentemente por um enxame voador, haverá dois momentos bons para

movê-la diretamente para o local definitivo – na primeira noite e por volta

do 30º dia (veja item 3.25).

7.2 O que fazer com as campeiras que voltam ao local de origem?

Quando não há alternativa para a movimentação curta de uma colméia,

pode-se tentar um reaproveitamento das campeiras perdidas. Para isso, é

preciso recolhê-las em um núcleo durante o dia e sacudi-las à tardinha na

colméia deslocada. Há relatos de apicultores que repetiram esse

procedimento por poucos dias, e as campeiras não retornaram mais ao

local original.

7.3 A partir de que distância as abelhas não voltam mais ao local original?

Considerando-se a distância de vôo útil de 1,5 km, o transporte da colméia

para além de 3 km não deve produzir um retorno significativo de

campeiras.

7.4 Como se movimenta uma colméia para um lugar distante?

Distâncias grandes, que requerem o uso de um veículo, exigem a fixação

das partes móveis da colméia e uma boa ventilação para as abelhas. A

fixação pode ser feita com sarrafos e pregos ou grampos, de forma que

nenhuma caixa, fundo ou tampa deslize sobre os demais. As melgueiras

devem ser removidas, especialmente se tiverem mel, pois este pode vazar

e afogar as abelhas. Para segurar somente a tampa, um elástico desses de

prender carga em motocicleta (extensor) pode resolver.

A ventilação pode ser proporcionada por uma tela de alvado de escape

invertido, se o tempo total for pequeno (2 a 4 horas, no máximo) e a

temperatura não for muito alta, ou por uma tela plástica fixada no lugar da

tampa. Eu prefiro montar a tela numa moldura e depois pregar a moldura

na caixa. Apicultores de Santa Catarina, que trabalham com polinização de

Page 56: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

macieiras, relatam que o uso de escape invertido dispensa completamente

a tela superior, desde que as caixas sejam alinhadas no sentido da

carroceria do caminhão, isto é, com os alvados virados para a frente, de

forma a melhorar a ventilação.

A colméia deve ser fechada para transporte no momento em que o mínimo

de campeiras estiver fora. Isso pode se dar ao anoitecer ou mesmo durante

o dia, com uso da tela de alvado com escape invertido, cerca de 1h30min

após a sua colocação.

As colméias não podem ficar em ambiente quente demais. O vento, durante

o deslocamento, também pode matar as crias e até as adultas. Quadros

com muito mel podem se quebrar e causar o afogamento das abelhas.

Muita vibração e quadros soltos podem causar o seu esmagamento.

Como os movimentos horizontais mais bruscos e freqüentes ocorrem na

direção do deslocamento, por acelerações e freadas, recomenda-se que as

colméias sejam alinhas da mesma forma. Em outras palavras, o lado mais

comprido das colméias deve ficar paralelo à lateral, com o alvado voltado

para a frente ou para os fundos do veículo. Dessa forma, os favos

dificilmente sofrerão o movimento de pêndulo, que pode ser fatal para

muitas abelhas e para a rainha.

7.5 Como se faz a divisão de um enxame?

Há várias técnicas. A idéia básica é, a partir de uma colméia, formar duas

ou três menores. Um critério possível é o do equilíbrio das colméias

resultantes, que é obtido pela divisão aproximadamente justa das

quantidades de cria, pólen e operárias. Os quadros são separados de

acordo com o seu conteúdo e postos em outras caixas. As novas colméias

são depois completadas com outros quadros, com lâmina de cera, favos

vazios ou favos com cria, mel ou pólen de outras colméias. Os seus alvados

devem ser diminuídos ao máximo.

Se uma das colméias for movida para um local próximo, ela deverá ficar

com o mínimo de mel possível, dando preferência ao que estiver

operculado. Isso vai diminuir a possibilidade de saque pelas ex-

companheiras. Após alguns dias, essa colméia (e a outra também, se

necessário) deve receber alimentação, em alimentador interno ou externo

de consumo rápido. Para dificultar a pilhagem, o xarope deve ser fornecido

à noite e em pequenas quantidades. Alimentação protéica também é muito

importante nessa fase.

7.6 O que fazer com a rainha numa divisão?

Uma prática recomendável é capturar a rainha antes de se proceder à

divisão, tanto para protegê-la quanto para reintroduzi-la numa colméia

certa. Quando o enxame é muito grande e a identificação da rainha é muito

difícil, pode-se usar o seguinte método para dividir uma colméia em duas:

1. Se houver melgueiras, deve-se removê-las, cuidando para que a

rainha não esteja nelas. Deixá-las fechadas por enquanto;

2. Tirar metade os quadros do ninho original e transportá-los, sem

abelhas, para o novo ninho;

Page 57: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

3. Completar os dois ninhos com novos quadros;

4. Pôr uma tela excluidora sobre o ninho original e o ninho novo sobre

a tela excluidora;

5. Fechar a colméia e aguardar algum tempo (30 minutos).

6. Remover o ninho superior e formar com ele a nova colméia (está

será a colméia sem rainha).

7. Redistribuir as melgueiras e mover a nova colméia ao seu local de

destino. Cuidado neste ponto: o enxame movido pode tornar-se alvo

de pilhagem severa, com as abelhas tentando levar o seu mel de

volta ao local de origem. Uma saída possível é manter as duas

colméias lado a lado, de forma que as campeiras confundam os

alvados.

Na nova colméia, o apicultor pode introduzir uma rainha nova, ou deixá-la

com cria e provisões suficientes para que possa produzir a sua. Caso ele

opte pela produção natural de rainha, e se a separação das duas colméias

resultantes for pequena, a colméia órfã provavelmente ficará melhor no

local original, abastecida por todas as campeiras. A colméia com a rainha

antiga perderá as campeiras, mas terá capacidade quase imediata de

reposição.

7.7 O que fazer se houver saque entre as colméias?

Este problema é especialmente grave no final das safras, quando as

populações estão fortes, mas não há mais néctar para colher. Nesse caso,

um simples manejo mais demorado pode levar todas as colméias a

entrarem em conflito. Isso ocorre porque abelhas de todas as colméias

descobrem as provisões da colméia vítima e avisam as suas parceiras. No

entanto, como a comunicação das abelhas não é muito precisa, as colegas

tentam recolher qualquer possível fonte de mel nas imediações, o que inclui

as colméias que não haviam sido abertas. Como resultado, têm-se todas as

colméias tentando saquear quase todas as demais. Eventualmente, as mais

fracas acabam sucumbindo.

Uma vez iniciado o saque, pará-lo é muito difícil. Quando o enxame é

pequeno e suas provisões são grandes (pode acontecer com colméias sem

rainha há bastante tempo), a destruição do enxame é quase certa. Fechar a

colméia imediatamente e carregá-la para mais de 3 km pode ser a única

saída.

Temporariamente, a pilhagem pode ser interrompida com o uso de escapes

invertidos em todas as demais colméias do apiário, mas essa é uma solução

emergencial, apenas para dar tempo ao apicultor realizar outros

procedimentos. Quando os escapes forem retirados, se tudo permanecer

como antes, o saque recomeçará.

Uma tentativa que pode funcionar para enxames médios ou grandes que

estejam sob ataque é a fumegação pesada. O apicultor deve postar-se ao

lado da colméia e fumegar abundantemente a região frontal ao alvado, sem

deixar a fumaça entrar na colméia. Isso deve ser feito por vários minutos,

sempre tentando repelir as saqueadoras, até que o movimento diminua

bastante. Depois disso, muitas vezes o enxame agredido consegue se

reorganizar e acabar com a pilhagem.

Page 58: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

O melhor é sempre evitar a pilhagem, reduzindo o tempo de manejo ao

máximo nas entressafras. Quando isso não for possível (no caso de troca de

rainhas, por exemplo), podem-se colocar escapes invertidos em todas as

colméias, aguardar algum tempo e só depois iniciar o manejo, tornando a

colocar os escapes nas caixas já manipuladas e só retirando todos ao final

do procedimento.

Um dispositivo freqüentemente recomendado na literatura é a tela anti-

pilhagem, que é colocada à frente do alvado para enganar as abelhas

saqueadoras. A entrada é por cima da tela, mas só as moradoras locais, já

acostumadas, se dão conta. As saqueadoras tentem por algum tempo e

depois desistem. Eu não tenho experiência com o uso desta tela e nunca

consegui encontrar algum apicultor que a usasse e tivesse alguma opinião a

respeito.

7.8 Para que serve uma união de enxames? [3]

Enxames são unidos, principalmente em duas ocasiões: por necessidade,

quando um deles está fraco demais ou perdeu a rainha (e a chance de

produzir uma nova), ou para aumento de produção.

Pelo menos em tese, um enxame grande deve produzir mais do que dois

médios. A razão disso é que cada colméia requer um determinado número

de operárias para trabalhos internos, que não varia muito com o aumento

da população. Numa união, é como se todas as operárias ocupadas com o

trabalho interno de uma das colméias fosse liberada para a coleta. É uma

quantidade muito significativa: numa colméia de 15.000 a 30.000 abelhas,

entre 60 e 80% da população (11 a 18 mil indivíduos) cuida dos trabalhos

internos. Numa colméia de 60.000 abelhas essa quantidade se mantém,

mas se torna muito menos significativa percentualmente (20 a 30%)

[AMB92].

7.9 Então é melhor unir o máximo possível de enxames?

Em tese sim, mas é preciso tomar alguns cuidados. Uma união que resulte

num enxame grande demais pode acarretar dois problemas: dificuldade de

manejo para o apicultor e aumento do risco de enxameação (pela

desagregação for falta de feromônio de rainha em quantidade suficiente).

Na prática, talvez o melhor seja unir cada 3 ou 4 enxames pequenos, e

cada 2 médios.

7.10 Qual é o melhor momento para fazer-se a união? [3]

Em caso de necessidade, a qualquer momento. Para aumento da produção,

o melhor é no início de uma grande florada.

Uniões durante a entressafra só devem ser feitas para salvar algum

enxame sem rainha ou pequeno demais. Os enxames muito pequenos às

vezes demoram demais a se desenvolver, mesmo quando bem

alimentados. Provavelmente, a pequena quantidade de operárias seja um

fator limitante para o cuidado e o aquecimento da cria, impedindo uma

postura abundante da rainha, ou inviabilizando o seu desenvolvimento. Isso

acontece muitas vezes com enxames resultantes de divisões de outros; no

entanto, enxames capturados (de enxameações naturais) muitas vezes não

apresentam a mesma dificuldade de desenvolvimento, mesmo quando

Page 59: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

pequenos. É possível que essa diferença seja explicável pelo fato de que as

enxameações naturais priorizam o abandono das abelhas mais jovens e,

portanto, mais aptas a cuidar das crias.

Fora essas duas situações (enxames muito pequenos ou sem rainha), não

há nenhuma vantagem em se fazer uniões na entressafra. Ao contrário,

quanto mais enxames houver, maior será o número de rainhas no apiário e

maior será a quantidade de cria disponível no início da próxima safra. Só

então, quando a postura de todas as rainhas tiver sido estimulada com

alimentação energética e protéica, e houver bastante néctar disponível,

podem-se unir todos os enxames pequenos e médios e preservar os que

conseguiram crescer o suficiente para garantir uma boa colheita.

7.11 Como unir os enxames sem diminuir o número de colméias?

Durante o período de safra, um apiário menor e mais produtivo é mais

vantajoso sob os aspectos de rendimento e mão-de-obra empregada. No

entanto, é importante que o apicultor consiga repor pelo menos o mesmo

número de enxames que foram subtraídos do apiário pelas uniões. Para

isso, há duas alternativas.

Primeiro, a divisão ao final da safra. Todas as colméias fortes podem ser

divididas, de forma a manter a lotação original do apiário. Nesse momento,

podem ser adquiridas boas rainhas para os novos enxames. No entanto, é

preciso ficar atento para o fato que no final da safra, freqüentemente é

difícil encontrar rainhas à venda, especialmente se na sua região a safra é

um pouco atrasada em relação às demais. Por outro lado, divisões de

enxames que não sejam muito grandes podem resultar em frustração. Isso

ocorrerá se os enxames resultantes forem muito pequenos, de modo que

possam abandonar a colméia ou demorarem demais a se recuperar, mesmo

sendo alimentados abundantemente,

Outra forma, na minha opinião muito melhor, é compensar as perdas das

uniões com capturas de enxames, instalados na natureza ou com caixas-

isca. Isso é preferível porque, ao mesmo tempo em que preserva a força de

todos os seus enxames, ainda remove enxames da natureza que

posteriormente fariam concorrência aos seus. Além disso, é comum

conseguir-se capturas durante a safra, num período de maior

disponibilidade para aquisição de rainhas. Outra razão é que enxames

capturados em caixas-isca freqüentemente se desenvolvem muito melhor e

mais rapidamente do que aqueles produzidos por divisão.

Na prática, podem-se combinar as duas formas acima, quando as capturas

não ocorrerem em quantidade suficiente. Trabalhando dessa forma,

teremos um apiário do tipo "sanfona", com mais colméias na entressafra e

menos colméias na safra.

7.12 Qual é o roteiro de um apiário "sanfona"?

No início da safra (florada grande e duradoura), unir os enxames

segundo o critério de tamanho: 2 médios, 3 ou 4 fracos, tentando

equilibrar a força dos enxames resultantes e preservar as rainhas

melhores e/ou mais jovens.

Page 60: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Também no início da safra, preparar e distribuir as caixas-isca para

as capturas.

À medida que as capturas forem ocorrendo, as novas colméias

podem ser colocadas ao lado das produtivas, em suporte ou cavalete

duplo. Isso facilitará bastante uma eventual união no futuro.

Aos poucos, as colméias capturadas poderão ter as suas rainhas

substituídas por outras adquiridas de um bom produtor.

No final da safra, após a última colheita, é hora de fazer as divisões

(apenas as possíveis e necessárias), substituir as rainhas do restante

das colméias novas e providenciar alimentação para todas as

colméias que precisarem. (Note que apenas as colméias novas

recebem rainhas novas). Muito cuidado com o manejo neste

momento: é o período crítico para pilhagem das abelhas (veja o item

7.7).

Durante a entressafra, as colméias devem ser mantidas bem

alimentadas. Dois meses antes da nova safra, as colméias (pelo

menos as menores) devem receber alimentação estimulante,

energética e protéica.

No início da próxima safra, recomeça o ciclo.

7.13 Mas, afinal, como se faz uma união?

A união é um procedimento relativamente simples:

Primeiro, abra a colméia com a rainha mais antiga ou mais fraca. Se

houver melgueiras, ponha-as de lado, fechadas e com o mínimo de

abelhas dentro. Cuidado para a rainha não ficar numa delas.

Elimine a rainha e feche a colméia.

Faça o mesmo em todas as colméias com rainhas antigas ou fracas.

Mais para o final da tarde, reabra estas colméias e cubra-as com

uma folha de jornal. Alguns apicultores preferem usar um sanduíche

de jornal e mel, mas eu não vejo vantagem. Pelo contrário, mel com

tinta de jornal não parece muito apropriado para as abelhas.

Em seguida, sobre cada uma destas colméias orfanadas, coloque

uma colméia que possui rainha nova, e, sobre esta, as melgueiras

retiradas no início.

Aguarde uma semana e faça um rearranjo nos ninhos, de forma a

deixá-los prontos para a safra.

Quando o apicultor trabalha rotineiramente com união de enxames,

suportes ou cavaletes duplos facilitam muito o trabalho, já que as colméias

unidas já estarão lado a lado. Além disso, evitam a perda de campeiras,

pois as da colméia deslocada entrarão automaticamente na colméia unida.

7.14 Com quantos ninhos deve ficar uma colméia?

Tratando-se de ninho Langstroth normal, com altura de 24 cm, e

considerando o uso de melgueiras para a colocação de mel (quem só usa

ninho e sobreninho não se preocupa com esse problema), há duas

correntes de pensamento. Uma delas prega o uso de dois ninhos. Os

argumentos a favor desta idéia incluem um espaço amplo para a rainha e

um controle de enxameação mais simples, pela reversão dos ninhos

(passando o de cima para baixo).

Page 61: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

A outra corrente recomenda o uso de apenas um ninho. A idéia aqui é

simplificar o manejo, usando uma caixa a menos. Ao mesmo tempo, a

probabilidade de as operárias depositarem mel nas melgueiras durante um

fluxo de néctar não muito grande, especialmente quando se usa tela

excluidora, parece ser maior quando apenas um ninho é usado.

A minha opção é por um único ninho. A idéia de a rainha precisar de dois

ninhos inteiros para a postura é discutível. Considere, por exemplo, uma

excelente rainha, que chegue à média de postura de 2.500 ovos por dia

durante a safra. Se cada favo de ninho receber 5 mil ovos em média (cada

um possui 7 mil alvéolos), o máximo possível de cria aberta e fechada da

colméia ocupará apenas dez quadros (porque o ciclo médio de

desenvolvimento das africanizadas é de 20 dias), ou seja, um único ninho.

Na prática, situações como esta são bastante raras, e dificilmente uma

colméia chega a dez quadros de cria por si só.

Por outro lado, quando o manejo é cuidadoso, com troca freqüente de

rainha e alimentação estimulante, ou quando a florada é intensa e longa, o

enxame pode se desenvolver muito. Neste caso, a intensa atividade

durante a safra pode provocar a ocupação de vários favos do ninho com

mel e pólen, forçando a postura da rainha em caixas superiores (ou a

enxameação, caso não haja espaço disponível). Embora isso dê a muitos

apicultores a falsa impressão de uma postura excepcional, a conclusão é a

mesma para as duas interpretações: se a rainha for confinada a um único

ninho (por uma tela excluidora), a probabilidade de enxameação aumenta

muito.

Assim, quando se usa um só ninho, é importante não colocar a tela

excluidora diretamente sobre ele. Os apicultores que não usam a tela

freqüentemente tem cria na primeira melgueira, e passam a considerá-la

como parte do ninho (pelo menos os quadros com cria, já que os demais

podem ser colhidos normalmente). Quem usa a tela, pode colocá-la acima

da primeira melgueira, com razoável segurança de que não faltará espaço

para a postura.

7.15 O que fazer com um ninho bloqueado por mel?

Algumas vezes, as próprias abelhas tratam de transferir às melgueiras o

mel ali armazenado, se houver espaço disponível e, especialmente, se a

rainha não puder usar os favos logo acima do ninho, pela presença de tela

excluidora ou favos de mel operculados. Também por essa razão, é

importante que o apicultor remova os favos que estiverem cheios de

alimentação artificial no início da safra, ou ela pode acabar nas melgueiras

colocadas posteriormente.

De qualquer forma, embora não seja aconselhável perturbar as abelhas

durante a safra, o apicultor pode aliviar o bloqueio por mel de um ninho.

Para isso, os favos devem ser removidos, centrifugados e devolvidos à

colméia, de preferência um a cada 3 dias ou mais. Isso abre espaço para a

rainha e é preferível à simples troca de um favo com mel por um quadro

com cera alveolada, pois as abelhas iniciam a deposição de néctar nos

alvéolos logo que eles começam a ser puxados, antes que a rainha possa

efetuar a postura. Contrariamente, quando é fornecido um favo puxado, a

rainha pode usá-lo imediatamente, e garantir o seu espaço (não significa

Page 62: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

que vá fazê-lo de fato, mas as chances são maiores). Se muitos favos

puxados forem fornecidos de uma só vez, a rainha possivelmente não terá

tempo de apossar-se de todos antes que a deposição de néctar inicie.

Uma outra técnica interessante é a reversão de caixas. Uma vez que a

rainha esteja fazendo a maior parte da postura na caixa superior, esta pode

ser trocada de lugar com o ninho (mesmo sendo uma melgueira). Neste

caso, porém, é preciso verificar se o ninho possui espaço para postura, e

não apenas mel operculado, o que funcionaria como uma forte barreira

para a rainha voltar a usá-lo.

7.16 Como reforçar uma colméia com cria sem uni-la a outra?

É preciso retirar quadros com cria de algumas colméias e colocá-los na

colméia necessitada. Alguns apicultores, ao invés de apenas estimular os

enxames ou uni-los, adotam a tática de manter colméias criadeiras e

colméias produtivas. As colméias produtivas recebem cria das outras,

aumentando rapidamente a sua população e, dessa forma, a sua

produtividade.

7.17 Como é uma colméia criadeira?

É uma colméia da qual não se obtém nada a não ser crias. Ela deve ter uma

boa rainha e receber farta alimentação energética e protéica, inclusive

durante a safra. Nessas condições, ela é capaz de gerar pelo menos dois

quadros completos de cria por semana (cerca de 12 a 14 mil crias). Quando

a cria está madura, prestes a nascer, uma parte é transferida para outro

enxame (produtor), e outra parte é deixada na colméia criadeira para

reposição das abelhas que forem morrendo. A cria aberta não deve ser

transferida, para não sobrecarregar a colméia produtiva com mais trabalho.

7.18 Como evitar a enxameação?[2]

Não existe método garantido. Há diversos deles propostos na literatura,

alguns bastante complicados, quase todos exigindo verificação muito

freqüente da colméia para a destruição de realeiras e ampliação do espaço

de postura e armazenagem de mel. Às vezes, parece preferível ter algumas

enxameações no apiário do que usar um desses métodos propostos.

Uma boa prevenção me parece o único caminho aceitável contra a

enxameação. A troca anual de rainhas é um procedimento que ajuda a

evitá-la, além de contribuir para uma maior produtividade do enxame. A

manutenção de espaço de sobra na colméia, tanto para a postura quanto

para a armazenagem de mel, desde o início da safra, também é uma boa

prática. Também o são os manejos rápidos e infreqüentes e a manutenção

das colméias com boa ventilação e em ambiente sombreado (ou com

telhados amplos, de cor clara). Quando todos esses elementos estiverem

presentes, a enxameação ainda será possível, mas ela provavelmente

ocorrerá mais tarde, permitindo que o enxame armazene mel suficiente

para ser colhido pelo apicultor.

7.19 O que fazer se houver realeiras no enxame? [2]

Basicamente, há duas razões para haver realeiras no enxame: morte da

rainha ou enxameação. No primeiro caso, as realeiras devem ser

Page 63: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

preservadas; no segundo, elas podem ser removidas se a rainha velha

ainda está presente.

A inspeção dos favos pode ajudar a identificar a causa das realeiras. Muitas

vezes (não sempre), um número grande de realeiras, localizadas nas

bordas dos favos, são indícios de enxameação. Por oposição, poucas

realeiras, localizadas nas faces dos favos, indicam reposição de rainha

morta.

A esses sinais, deve-se acrescentar uma análise da cria. Rainhas prestes a

enxamear param a postura por poucos dias. Portanto, realeiras fechadas

com crias jovens podem indicar enxameação. Já realeiras fechadas e

somente crias operculadas pode ser sinal de reposição de rainha.

De qualquer forma, é importante notar que a eliminação das realeiras na

ausência da rainha velha (morta ou já enxameada) pode ser fatal para o

enxame. O ideal, portanto, é que o apicultor sempre se certifique da

presença da rainha antes de remover as realeiras.

7.20 O que fazer com as realeiras removidas? [2]

Elas podem ser destruídas ou, se forem procedentes de um bom enxame e

estiverem operculadas, podem ser aproveitadas em outras colméias ou

núcleos.

Se a decisão for pela destruição, as que estiverem desoperculadas poderão

ser guardadas num recipiente limpo para que a geléia real seja retirada e

consumida, (nem que seja para matar a curiosidade dos familiares e

amigos).

7.21 Como aproveitar as realeiras em outras colméias? [2]

Realeiras retiradas de um enxame com boas características podem ser

introduzidas em colméias previamente orfanadas ou núcleos criados para

tal. No entanto, há um momento mais adequado para isso, que é por volta

do décimo dia de construção da realeira, quando ela está fechada e a

incubação ainda levará cerca de dois dias para se completar. Como o

apicultor não pode estimar a idade de uma realeira "achada", o método não

é muito garantido.

Por essa razão, a opção por núcleos pode ser mais interessante: se a

introdução da realeira não der certo, o prejuízo com a perda de um núcleo

é muito menor do que com a perda de uma colméia.

Para fazer um núcleo, pegue dois ou três quadros de cria em diferentes

estágios e mais dois ou três quadros de provisões, todos com abelhas

aderentes. Esses quadros podem ser procedentes de colônias diferentes,

mas nenhum deles pode vir com a rainha. Os quadros serão postos numa

caixa pequena (com volume de meio ninho) ou mesmo num ninho inteiro,

dividido ao meio por uma tábua separadora.

Para fazer a introdução da realeira, tanto numa colméia orfanada quanto

num núcleo, recorte-a cuidadosamente do quadro da colméia-mãe e fixe-a

entre as barras superiores de dois quadros da caixa de destino, com o

Page 64: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

máximo cuidado para não danificar a realeira. Depois, feche o núcleo e não

mexa nele por cerca de duas semanas. Dependendo das condições

climáticas, durante esse tempo a princesa já deverá ter nascido e

acasalado.

Antigamente, era recomendada a introdução da realeira num protetor do

tipo "West", uma gaiolinha no formato de um cone de mola. Hoje, ele é

considerado dispensável.

7.22 Por que a introdução de uma realeira pode não dar certo? [2]

Vários motivos podem impedir que de uma realeira resulte uma rainha

fértil. O primeiro é pela inviabilidade da pupa, já que ela pode estar morta

dentro da realeira, ou ter sido lesada durante a manipulação. Por esta

razão, introduzir pelo menos duas realeiras em cada núcleo ou colméia

pode ser uma boa idéia.

Outro motivo é a falta de zangões na região. Após uma entressafra

relativamente longa, a probabilidade de haver zangões em alguma colméia

próxima é muito pequena. Nesse caso, a princesa pode nascer saudável,

mas não encontrar seus pares para acasalar.

Da mesma forma, condições climáticas muito adversas podem retardar

bastante os vôos nupciais ou ocasionarem a morte da princesa.

7.23 Como se acha a rainha?

Com sorte ou muita paciência. O método principal é remover cada quadro e

verificar cuidadosamente as duas faces. Lembre-se que a rainha tentará

esconder-se no ponto mais escuro, num canto, talvez por baixo das

operárias. Olhe algumas vezes as duas faces, não desista logo. Se achar

que ela não está mesmo ali, devolva o quadro à colméia (ou, melhor ainda,

ponha-o num ninho vazio, previamente colocado ao lado) e passe para o

próximo quadro.

Um método mais drástico é peneirar as abelhas. Primeiro, desloque a

colméia para o lado e ponha uma vazia no seu lugar. Remova os quadros

do ninho antigo e examine cada um para tentar achar a rainha neste

momento. Se não for possível, sacuda-o e passe-o para o novo ninho sem

abelhas aderentes. Quando terminar, ponha sobre o novo ninho uma tela

excluidora e, sobre esta, uma melgueira vazia. A seguir, despeje todas as

abelhas do ninho original dentro dessa caixa vazia, de maneira que elas

tenham de passar pela tela excluidora para chegar aos seus favos. Então,

ponha fumaça para forçar a descida das operárias e tente achar a rainha,

que deverá estar passeando sobre a tela excluidora ou numa parede da

melgueira.

Outro método que às vezes dá resultado é pôr bastante fumaça no alvado,

antes de abrir a colméia. Com isso, há uma boa chance de que a rainha

afaste-se dele o máximo possível, e talvez você a encontre no lado de baixo

da tampa, assim que abrir a colméia. Naturalmente, trata-se de um método

condenável pelo próprio abuso de fumaça (veja item 4.10) e ele não

funcionará se houver uma tela excluidora. Também é especialmente danoso

se houver melgueiras, pois o mel pode ser contaminado pelo excesso de

Page 65: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

fumaça, e a rainha pode se esconder numa melgueira, ao invés de subir até

a tampa.

7.24 Durante as revisões é preciso sempre enxergar a rainha?

Não. A presença da rainha pode ser percebida pela presença de ovos.

Mesmo quando a postura cessa completamente na entressafra, o apicultor

experiente pode perceber a presença da rainha pelo comportamento mais

pacífico (menos agitado, para ser mais exato) das operárias. Na verdade,

há muito poucas ocasiões em que realmente é necessário achar a rainha.

7.25 Quando se deve substituir a rainha? [2]

A melhor época de troca é dois a três meses antes da próxima safra, mas

isso nem sempre é possível, já que muitos criadores de rainhas também

passam por uma entressafra de produção. Se isso ocorrer, vale a pena

procurar por produtores de outras regiões do país, já que a diversidade

climática e as safras e entressafras são bastante distintas no Brasil.

Junto com a consideração de antecedência da próxima safra, outra que

pode ser útil é o final da safra corrente. Como o fim de safra é uma ocasião

de grande agitação na colméia, pela grande quantidade de abelhas

presentes e pelo final do fluxo de néctar, muitas vezes é preferível esperar

algum tempo (um mês, mais ou menos) para efetuar a troca da rainha.

Assim, as populações serão menores, facilitando a manipulação das

colméias e a procura pela rainha antiga.

Por outro lado, se o apicultor quiser fazer divisões das colméias, o ideal é

aproveitar o momento de população máxima, que ocorre no final da safra.

Embora a divisão não seja o método ideal para multiplicação de enxames,

ele facilita grandemente a introdução de rainhas novas (veja o item 7.6).

7.26 Com que freqüência a rainha deve ser substituída? [2]

Uma recomendação comum é que ela seja trocada anualmente. A razão

disso é que uma rainha jovem é mais produtiva e menos propensa a

enxamear. Há quem troque as rainhas a cada seis meses e a cada dois

anos ou mais, mas a periodicidade anual me parece ser a ideal,

considerados os aspectos práticos e econômicos.

Num estudo citado em [SAN93], foi medida a produção de 36 colméias,

metade delas com rainhas de um ano, metade com rainhas de dois anos.

As colméias com rainhas mais jovens produziram quase 40% a mais de mel

do que as mais velhas – 141 kg contra 102 kg, respectivamente.

7.27 Como substituir uma rainha?

De duas formas: adquirindo uma rainha de um fornecedor e introduzindo-a

na colméia ou forçando as abelhas a produzirem uma nova. Para forçar as

abelhas a produzir uma rainha, basta eliminar a antiga e deixar na colméia

pelo menos um quadro com ovos e cria nova. Deixe a colméia fechada por

7 a 10 dias e depois verifique a presença de realeiras. Se não houver

nenhuma fechada ou em desenvolvimento, forneça mais um quadro com

cria nova ao enxame. Se falhar de novo, una o enxame a outro antes que

ele se torne zanganeiro. Essa técnica de ser usada apenas quando houver

zangões nas colméias, para garantir a fecundação da princesa.

Page 66: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Para adquirir uma rainha, entre em contato com um fornecedor com boas

referências. Se não conhecer nenhum, pergunte em algum grupo de

discussão. Alguns fornecedores recomendam a eliminação da rainha antiga

com 24 a 48 horas de antecedência, para que as operárias percebam a sua

ausência e aceitem melhor a nova. Outros, no entanto, não vêem utilidade

nisso e recomendam a introdução da rainha nova no mesmo momento da

eliminação da antiga, o que simplifica bastante a operação. Depois da

introdução, a colméia deve permanecer fechada por uma semana, pelo

menos.

7.28 Como as rainhas são vendidas? [2]

Salvo solicitação diferente, elas são vendidas fecundadas, testadas (já em

postura), e marcadas na cor do ano. São enviadas pelo correio numa gaiola

de transporte, junto com algumas operárias acompanhantes e uma porção

de cândi.

Essa gaiola pode ser usada para se fazer a introdução, embora muitos

manuais recomendem o uso de gaiolas de introdução específicas.

7.29 Como é uma gaiola de introdução? [2]

O modelo mais simples é um rolinho de tela metálica (ou um daqueles bobs

de cabelo), fechado com madeira numa ponta e dois pedaços de jornal na

outra, presos com um elástico. Na madeira, põem-se dois preguinhos, para

pendurar o rolo entre dois quadros do ninho (que devem ser afastados um

pouco um do outro). O jornal será roído aos poucos pelas operárias, dando

tempo a que elas se conheçam antes da liberação definitiva da rainha.

Uma gaiola mais sofisticada é a Müller, que possui um ou dois túneis a

serem preenchidos com cândi. Um túnel longo (às vezes o único) serve de

saída para a rainha, assim que as abelhas removem todo o cândi. O túnel

pequeno tem um estreitamento que não permite a saída da rainha, mas dá

acesso mais rápido ao interior da gaiola para algumas operárias de cada

vez. Supostamente, é uma gaiola com aceitação mais garantida da nova

rainha (eu nunca percebi diferença), e especialmente recomendada no caso

da introdução de uma rainha européia numa colméia africanizada.

A própria gaiola de transporte é o meio mais simples para fazer a

introdução. De acordo com vários autores, as acompanhantes devem ser

retiradas para a introdução. No entanto, diversos apicultores têm testado

com sucesso a introdução da rainha junto com as acompanhantes na gaiola

de transporte, o que representa uma boa economia de trabalho.

Quem prefere remover as acompanhantes só pode usar a gaiola de

transporte se ela tiver malha larga, que permita que as abelhas da colméia

possam alimentar a rainha através dos furos. O buraco por onde saíram as

acompanhantes deve ser fechado com uma tampa (batoque), enquanto que

o buraco que fica do lado do cândi deve ser liberado (cuidado para não

esquecer dele, ou a rainha ficará presa).

7.30 Como as acompanhantes são retiradas da gaiola de transporte?

Page 67: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

O melhor é fazer isso num ambiente fechado, a prova de abelhas. Assim, se

alguma rainha sair voando, ela poderá ser recapturada.

Uma maneira relativamente eficiente é tirar a tampa da gaiola e sacudi-la

com cuidado dentro de um saco plástico. Quando a rainha sair, segure-a

gentilmente numa dobra do saco e sacuda o resto das acompanhantes.

Depois, induza a rainha a entrar na gaiola de introdução.

7.31 Como a gaiola deve ser colocada na colméia? [2]

Uma recomendação comum é que ela seja pendurada entre dois quadros de

cria, com cuidado para não obstruir os orifícios de ventilação e acesso ao

cândi. Eu não gosto dessa forma porque ela exige a retirada (temporária)

de um quadro do ninho ou o sacrifício de uma parte das crias, pela

proximidade dos seus alvéolos com a gaiola.

A alternativa é deixar a gaiola deitada sobre as barras superiores dos

quadros. Também aqui é preciso garantir que as demais abelhas terão

acesso suficiente à tela, para alimentá-la (caso as abelhas acompanhantes

tenham sido retiradas), e ao cândi, para libertá-la. Também é preciso

providenciar um extensor para o ninho, de forma que a gaiola não seja

esmagada pela tampa ou pela primeira melgueira (veja comentário sobre

extensores no item 6.25). Alternativamente, a gaiola pode ser colocada no

fundo da colméia, com a tela para cima, se houver espaço.

7.32 O que é "cor do ano"?

É a cor da tinta usada para pintar o tórax da rainha, para identificar o seu

ano de nascimento (último dígito):

1 e 6 - branca

2 e 7 - amarela

3 e 8 - vermelha

4 e 9 - verde

5 e 0 - azul

É difícil imaginar uma utilidade real para isso. Talvez seja bom para algum

apicultor com muitas colméias, que troque apenas uma parte das rainhas a

cada ano e não registre quais colméias receberam rainhas novas. Situação

meio rara, eu imagino. Na prática, a vantagem mesmo é que uma rainha

pintada é mais fácil de ser encontrada do que uma não pintada.

7.33 Como as rainhas são produzidas para venda?

A produção de rainhas para venda é um campo bastante específico da

apicultura, cheio de minúcias e conduzido por uma pequena parte dos

apicultores. Apenas para dar uma idéia do processo (ou de um deles), aqui

vão os detalhes básicos.

Primeiro, o apicultor seleciona as colméias que fornecerão as larvas

segundo seus critérios preferidos - produtividade, mansidão,

comportamento higiênico, tolerância a doenças, baixa tendência à

enxameação, entre outros. Das colméias selecionadas, são extraídas larvas

jovens, que são "enxertadas" em cúpulas. Essas cúpulas podem ser de

plástico ou cera, e são fixadas em grupos (20, 30, 40, ...) num quadro

Page 68: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

modificado. Este quadro é colocado em seguida numa colméia forte, que

pode ter sido previamente orfanada ou não, dependendo do método

escolhido. Essa colméia, se alimentada abundantemente, conseguirá

garantir o desenvolvimento de todas, ou quase todas as larvas enxertadas.

Após cerca de dez dias do enxerto, as realeiras são distribuídas a núcleos

(mini-colméias) previamente orfanados, onde as princesas nascerão, farão

seus vôos nupciais e iniciarão a postura, para somente depois serem

vendidas.

7.34 Quanto custa uma rainha?

Varia bastante de acordo com o fornecedor, mas fica entre 1 e 2 kg de mel,

em média.

7.35 O que fazer se a rainha morrer?

Uma solução é adquirir outra rainha e tentar uma nova introdução. Outra

possibilidade é deixar as próprias abelhas produzirem a sua rainha. Neste

caso, deve haver um quadro com ovos e larvas jovens disponível, além de

alimento suficiente (especialmente pólen ou um substituto).

7.36 O que fazer se o enxame ficar zanganeiro? [2]

Se a colméia não aceitar outra rainha ou não conseguir produzir uma nova,

ela poderá tornar-se zanganeira. É sempre melhor intervir antes que isso

aconteça, mas caso essa situação ocorra, há algumas tentativas que podem

ser feitas. A introdução de uma nova rainha freqüentemente falha, mas

pode ser tentada se houver disponibilidade de rainha.

Uma técnica possivelmente útil para enxames zanganeiros que ainda

estejam fortes é sacudir todos os favos a uma boa distância do local

original da colméia, para eliminar as poedeiras. Supostamente, por estarem

mais pesadas e talvez desorientadas por dedicarem-se apenas à postura,

elas não voltariam para a colméia. Depois, a colméia é remontada no local

original, sem os favos de cria. Assim, apenas com as operárias normais, o

enxame tem uma probabilidade maior de aceitar a rainha nova.

Outra idéia é a troca de lugar de uma colméia zanganeira com outra

normal, forte. Nesse caso, é preciso remover os favos zanganeiros e

acrescentar favos com postura boa e jovem, para que as operárias não

zanganeiras, inclusive as da colméia normal que estarão entrando,

produzam uma nova rainha.

No entanto, antes de se experimentar alguma forma de recuperação do

enxame zanganeiro, é preciso avaliar a sua viabilidade. Enxames nessa

situação, quando são encontrados, freqüentemente apresentam um número

muito pequeno de operárias, muitas delas poedeiras, e não justificam

esforços maiores na sua preservação individual. Além disso, nenhum desses

métodos é garantido, o que valoriza ainda mais a ações preventivas para

que a colméia não chegue a essa situação.

A opção, então, é a união da colméia zanganeira com uma normal, com a

eliminação dos favos que estiverem cheios de ovos das operárias, para que

não nasçam mais zangões. Mesmo que o número de campeiras da colméia

Page 69: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

zanganeira não seja muito grande, ao menos as provisões de mel, pólen e

favos não serão perdidas.

7.37 O que fazer se o enxame morrer?

Se o enxame morrer ou abandonar a colméia, sobrará uma porção de favos

cheios de crias e alimento. Em pouco tempo, estará tudo em processo de

decomposição, atraindo uma porção de traças, formigas e forídeos (um tipo

de mosca, muito pequena e rápida), que aproveitarão para ali depositar

seus ovos e transformar tudo num cenário de filme de terror.

Nessa situação, há pouco a fazer. Remova a caixa logo. Lave e derreta os

favos menos comprometidos. É possível derreter todos os favos, mas o

processo será trabalhoso e, para os mais sensíveis, verdadeiramente

nojento. Se você não se importar em ficar coando teias cheias de fezes e

vermes cozidos, jogue tudo num latão com água quente. Caso contrário,

enterre ou queime os favos em pior estado.

Depois, limpe bem as caixas, os quadros e os demais equipamentos

atingidos.

8. O Mel e a Colheita

8.1 O que é o mel?

Segundo o Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal

(DIPOA), do Ministério da Agricultura, mel é "o produto alimentício

produzido pelas abelhas melíferas, a partir do néctar das flores ou das

secreções procedentes de partes vivas das plantas ou de excreções de

insetos sugadores de plantas que ficam sobre partes vivas de plantas, que

as abelhas recolhem, transformam, combinam com substâncias específicas

próprias, armazenam e deixam madurar nos favos da colméia".

Em outras palavras, é uma substância produzida pelas abelhas a partir de

secreções de plantas (o néctar) ou de determinados insetos (o

pseudonéctar) e da adição de algumas substâncias por elas mesmas

produzidas (enzimas, por exemplo), desidratada e armazenada nos favos

da colméia.

8.2 O que é o néctar?

Néctar é uma solução de açúcares (principalmente sacarose, glicose e

frutose) em água em proporção que varia de 3 a 87%, embora grande

parte dos néctares esteja na faixa de 30-40%. Ele contém ainda diversas

outras substâncias complexas, em pequenas quantidades, que determinam

o seu aroma, sabor e características nutritivas (e tóxicas, em alguns casos).

O néctar é produzido no nectário, um órgão presente em muitas plantas,

freqüentemente (mas não sempre) nas suas flores.

8.3 O néctar pode ser produzido fora das flores?

Sim, nos chamados nectários extraflorais. Enquanto os nectários florais

ajudam na reprodução das plantas, atraindo insetos e outros animais que

acabam acidentalmente polinizando as flores, acredita-se que os nectários

Page 70: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

extraflorais ajudem a proteger as plantas. Por exemplo, uma planta

rasteira, quando carregada de formigas coletoras de néctar, tem menor

probabilidade de ser consumida por algum animal herbívoro que passe por

perto.

8.4 O que é melato?

Melato, também chamado de pseudonéctar, é uma substância doce

produzido por alguns insetos que vivem em plantas, como cochonilhas e

pulgões. Esses insetos sugam a seiva elaborada das plantas em busca de

açúcar e quanto o tem em abundância, excretam o excesso. No Brasil, a

norma vigente considera melato também o néctar extrafloral, embora os

textos clássicos tendam a diferenciar uma coisa de outra.

O mel de melato é normalmente mais escuro e menos ácido do que o mel

de néctar, e possui menos frutose e glicose e mais maltose e outros

açúcares complexos. Em alguns lugares, especialmente na Europa, o mel

de melato é muito valorizado; em outros, porém, ele é considerado de

segunda linha.

8.5 Quando o mel está pronto para ser colhido?

Assim que o favo for operculado, o mel estará "maduro" para ser colhido.

Antes disso, ele é chamado de mel "verde", significando que a sua umidade

ainda está muito alta. Como a operação de colheita é trabalhosa, os

apicultores muitas vezes preferem esperar o final da safra para fazê-la de

uma única vez, mas nada impede que o mel seja colhido aos poucos.

Aliás, a permanência do mel na colméia por longo tempo pode levar à sua

reidratação, pois o mel é um produto altamente higroscópico, isto é, ele

tende a absorver água rapidamente quando exposto a um ambiente úmido.

Esse fenômeno pode acontecer mesmo com mel totalmente operculado,

pois a cera é permeável à umidade.

8.6 Por que a umidade é ruim para o mel?

Um alto percentual de umidade favorece a fermentação do mel,

inutilizando-o para o consumo.

8.7 Qual é o percentual de umidade seguro para o mel?

Um percentual de 17% é tido como muito seguro [CRA83]. Até 19%, o mel

é razoavelmente seguro, a partir daí o risco de fermentação começa a ser

significativo. O Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade do Mel, do

MAPA/SDA/DIPOA, admite umidade máxima de 20%. As diretrizes do IBD

(Instituto Biodinâmico) para mel orgânico admitem, no máximo, 18% de

umidade.

8.8 Como é medida a umidade do mel?

Com um instrumento chamado refratômetro. No entanto, esse controle

geralmente é feito apenas por grandes compradores (entrepostos,

exportadores) e não pelos próprios apicultores.

8.9 Como retirar umidade do mel?

Page 71: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Há desumidificadores disponíveis no mercado, mas eles são destinados a

grandes produtores ou entrepostos. Para pequenas quantidades de mel,

alguns apicultores recomendam a manutenção das melgueiras num

ambiente seco por um dia ou dois antes do seu processamento.

Para remover umidade do ambiente, pode-se usar um desumidificador

doméstico ou, se a temperatura for baixa, até um aquecedor de banheiro,

destes com resistência elétrica e ventilador, pode ser muito eficiente. Um

higrômetro comum pode ser usado para medir a umidade do ambiente. A

tabela abaixo, extraída de [CRA83], mostra os valores de equilíbrio de

umidade, quando o mel é deixado exposto por tempo suficiente (URA =

umidade relativa do ar, UM = umidade do mel).

URA (%) UM (%)

50 15,9

55 16,8

60 18,3

65 20,9

70 24,2

75 28,3

80 33,1

O tempo de chegada ao ponto de equilíbrio depende muito da superfície do

mel que está exposta e da sua agitação. Quanto maior for a superfície,

mais rapidamente esse equilíbrio será atingido. Por outro lado, se o mel

estiver em repouso e a umidade do ar for muito baixa, a desidratação

rápida da sua superfície pode formar uma crosta isolante, o que atrasará

bastante a continuação do processo.

Uma suspeita (desconheço algum estudo que a confirme ou negue) é que a

centrifugação do mel, se realizada num ambiente seco, pode ajudar a

remover parte da sua umidade, em razão da exposição de uma superfície

grande (milhões de gotas, escorrimento pela parede da centrífuga) a uma

ventilação forçada (produzida pelo rotor da centrífuga).

8.10 Em que condições o mel pode ser colhido? [2]

Normalmente, são colhidas as melgueiras que possuem todos ou quase

todos os favos totalmente operculados. Favos desoperculados contém “mel

verde”, isto é, mel que ainda não atingiu o nível de umidade ideal (ao redor

de 18%). Como um nível alto de umidade está associado a um grande risco

de fermentação, a colheita de favos desoperculados deve ser evitada, pelo

menos em quantidade significativa.

Uma boa idéia é preparar as melgueiras e redistribuir os quadros na revisão

anterior à colheita, de forma a já deixar as melgueiras prontas no topo das

colméias. Dessas melgueiras, procura-se remover o máximo possível de

abelhas, para elas chegarem vazias ao local de processamento. As

melgueiras são então empilhadas, fixadas e transportadas.

8.11 Com que freqüência o mel deve ser colhido? [2]

Page 72: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

O mais comum é fazer-se uma colheita de melgueiras cheias, tão logo elas

estejam em número significativo no apiário. Se a florada continuar, outras

colheitas podem ser necessárias.

No entanto, há uma corrente que prega que, quanto mais freqüente for a

retirada do mel, mais mel será produzido. Nesse caso, o ideal seria colher

com freqüência apenas os favos totalmente operculados, devolvendo-os

vazios logo em seguida. A lógica por trás dessa idéia é que, percebendo a

falta de mel, mais abelhas se dediquem à coleta de néctar, tornando a

colméia mais produtiva neste aspecto. Não há dúvida que aumenta muito o

trabalho, pois a colheita e a extração envolvem uma porção de

procedimentos de preparação e conclusão, que teriam de ser repetidos

muitas vezes nessa técnica.

Além disso, um número excessivo de colheitas pode prejudicar o

desempenho da colméia, pelo excesso de estresse induzido. Um estudo

canadense, conduzido por Tibor Szabo e citado em [SAN93], investigou o

impacto de três variáveis na qualidade e na quantidade do mel produzido: a

idade da rainha, o número de melgueiras colocadas e a freqüência de

retirada do mel. No que diz respeito à freqüência de colheita, o estudo, que

foi realizado em 36 colméias, obteve a produção de 142 kg com duas

colheitas, 116 kg com quatro colheitas e 106 kg com uma colheita. Por este

resultado, pode-se presumir que duas colheitas por safra é o número ideal.

8.12 Quantas melgueiras devem ser colocadas no início da safra?

[2]

Também aqui há alguma polêmica. Grande parte dos apicultores

recomenda a colocação progressiva das melgueiras, adicionando a seguinte

apenas depois de alguns quadros da atual já estarem cheios. Um dos

motivos seria evitar um desequilíbrio térmico da colméia com o aumento

súbito e elevado de espaço vazio.

Outros apicultores defendem que as melgueiras, em número suficiente para

acumular uns 30-50 kg de mel, devem ser colocadas todas de uma só vez,

mas com um detalhe importante: todos os quadros devem ter favos

puxados, e não cera alveolada. Isso evitaria em parte o desequilíbrio

térmico e facilitaria a imediata deposição de néctar, ao mesmo tempo em

que estimularia as abelhas a trabalhar mais, pela percepção de tantos favos

vazios [AMB92]. No caso de melgueiras com cera alveolada, o

empilhamento de mais de uma não traz nenhum benefício.

Na pesquisa mencionada no item 8.11, o número de melgueiras adicionadas

no início da safra não teve influência significativa na produção. No entanto,

o experimento usou muitas melgueiras empilhadas por colméia, da ordem

de cinco a quinze, e é possível que o número de melgueiras empilhadas não

faça diferença somente a partir de determinado patamar. Por outro lado, o

mesmo estudo concluiu que um número maior de melgueiras estava

associado a uma umidade menor do mel colhido, um resultado de grande

interesse para o apicultor.

Assim, a opção pela colocação de um grande número de melgueiras, com

favos puxados, no início da safra, tem a minha total simpatia. E ela é bem

ilustrada pela recomendação "empilhe as melgueiras no início da safra e vá

Page 73: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

pescar", atribuída ao pesquisador Tibor Szabo, do Canadá. Um outro estudo

conduzido por ele chegou à conclusão que manejos freqüentes na colméia

durante a safra podem acarretar a perda (não-acúmulo, na verdade) de até

3,8 kg de mel, devido às perturbações causadas. Como esse estudo foi

efetuado com européias, pode-se imaginar que talvez o impacto nas

africanizadas seja ainda maior, dado o tempo de recuperação muito maior

destas.

8.13 Onde deve ser colocada uma nova melgueira?

Aqui também há discussão. Parte dos apicultores acredita que uma nova

melgueira deve ser colocada logo acima do ninho (e abaixo das já

existentes), para diminuir o trânsito desde o recebimento do néctar até a

sua armazenagem.

Já outros entendem que o resultado dessa técnica não compensa o trabalho

de remoção das melgueiras existentes para a colocação da nova. E, além

disso, uma melgueira vazia logo acima do ninho em plena safra, pode

estimular a rainha a pôr ovos ali, caso não haja tela excluidora [AMB92].

8.14 Como colocar melgueiras com 8 ou 9 quadros?

A idéia de se usar melgueiras com 8 ou 9 quadros ao invés de 10 permite

um melhor aproveitamento do espaço da caixa, economia de quadros e a

produção de favos mais profundos, o que facilita muito a desoperculação,

embora eles sejam mais frágeis e sujeitos a quebras e esmagamentos

durante o transporte (veja item 2.9).

Para usar essa técnica, o melhor é começar com a produção de 10 favos

normais, a partir de lâminas de cera alveolada. Se forem usados menos

quadros com lâminas, eles não podem ser espaçados além do normal, ou as

abelhas construirão favos intermediários, entre as lâminas. Alguns

apicultores iniciam com nove quadros agrupados e vão separando-os à

medida que os favos vão sendo puxados, mas isso não funciona direito,

porque as abelhas podem finalizar os favos centrais antes mesmo de

começar a puxar os da extremidade.

Depois da primeira centrifugação, os quadros já podem ser devolvidos em

número menor nas melgueiras. As abelhas então apenas depositarão mel e

estenderão os alvéolos até atingir o espaço normal entre dois favos de mel

(6 a 9 mm).

8.15 Como as abelhas são retiradas das melgueiras?

A maneira mais simples é pela varredura dos quadros. Cada um deles é

sacudido e depois varrido, de forma que as abelhas aderentes caiam dentro

ou próximo da colméia. Depois o favo é levado para uma caixa auxiliar, que

fica a maior parte do tempo fechada na parte superior e inferior. Esse

método é demorado, trabalhoso e muito estressante para as abelhas.

Em outros países, é comum o uso de substâncias repelentes que são

colocadas logo abaixo da tampa e forçam as abelhas a se deslocarem para

baixo, permitindo a remoção de melgueiras inteiras. Aqui no Brasil, eu

nunca soube que isto fosse utilizado.

Page 74: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Outra forma bastante usada lá fora para remover as abelhas é por meio de

um soprador, que é muito mais rápido e eficiente que a vassourinha. Nunca

vi nenhum específico a venda por aqui, mas já soube de alguns apicultores

que usaram algumas improvisações: a saída de um aspirador de pó, um

soprador de folhas ou um compressor de ar.

A técnica que eu prefiro é a que emprega a tábua de escape. Essa tábua

deve ser introduzida logo abaixo das melgueiras a serem colhidas, com 48

horas de antecedência. Por essa tábua, as abelhas saem da melgueira e

dificilmente conseguem voltar, o que transforma a colheita num verdadeiro

passeio. A tábua de escape deve ser a que possui um buraco grande do

lado de cima e uma tela montada sobre sarrafos (em triângulo, geralmente)

do lado de baixo. É muito fácil fazê-la, procure na Internet (é conhecida

também como "Québec board"). Evite, porém, o infame "escape-abelha",

um dispositivo metálico que funciona (muito mal) como uma válvula de

abelhas.

Essa técnica tem a desvantagem de exigir duas viagens ao apiário, e

dificilmente pode ser empregada por quem possui muitas colméias. Mas é,

sem dúvida a mais confortável para abelhas e apicultores. Um detalhe

importante é que a tábua de escape não pode ficar muitos dias na colméia,

ou as abelhas acabarão conseguindo achar o caminho de volta à melgueira.

A tábua de escape também é menos eficaz quando há mel desoperculado

nas melgueiras e, muito especialmente, cria aberta ou fechada.

8.16 Como as melgueiras devem ser transportadas?

Essa é uma preocupação importante, tanto em relação à segurança das

pessoas, quanto à integridade dos favos. Melgueiras cheias são muito

pesadas e deslizam facilmente umas sobre as outras. Para evitar esse

problema, você pode utilizar dois pedaços de cantoneiras metálicas

(alumínio é melhor) em cantos opostos da pilha, e amarrá-las em pelo

menos dois pontos. As pilhas amarradas devem a resistir aos solavancos,

curvas e freadas.

Lembre-se que um acidente com melgueiras não significa apenas mel

perdido. A chegada de uma nuvem de abelhas em poucos minutos pode

transformar qualquer lugar num ambiente assustador. Por isso, as

melgueiras devem ser transportadas, sempre que possível, diretamente do

apiário a um lugar inacessível às abelhas. Caso aconteça um acidente,

procure lavar rapidamente o mel e remova o que for possível para um lugar

fechado. Mesmo melgueiras em bom estado não devem ser deixadas ao ar

livre por muito tempo.

Quando o caminho for muito ruim, é preciso considerar também a

possibilidade de quebra dos favos, especialmente quando eles são usados

em quantidade inferior à máxima (8 ou 9 na Langstroth). Para diminuir o

risco de quebra, alinhe as melgueiras, de forma que a sua lateral maior

fique no mesmo sentido que o veículo. Isso evitará o movimento de

pêndulo dos quadros nas freadas e arrancadas.

8.17 Como é feita a desoperculação dos favos?

Page 75: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

O método manual é com faca e garfo. A faca deve ser do tipo "serrote de

pão", com um serrilhado bem largo e afiado. O quadro é mantido quase na

vertical, apoiado numa lateral pequena, e a faca é passada logo abaixo da

cobertura, de forma a remover as tampas sem prejudicar demais os

alvéolos, para que o favo possa ser reaproveitado. Essa operação pode ser

feita numa mesa desoperculadora ou mesmo sobre um recipiente largo,

como uma bacia, que recolha a cera retirada e o mel que escorre. Quando a

temperatura ambiente está alta demais, porém, a cera dos favos pode

amolecer, e a faca não a cortará direito.

Alguns apicultores usam uma faca especial de desoperculação que é

aquecida eletricamente, o que ajuda a cortar a cera. Outros usam uma faca

metálica comum aquecida em água quente. Nesse caso, é preciso secá-la

antes de cortar o favo, para não adicionar água ao mel. As duas técnicas

têm críticos ruidosos: a faca aquecida eletricamente elevaria demais a

temperatura do mel com que entrasse em contato. A faca aquecida em

água quente esfria rapidamente e ainda aumenta a sujeira do ambiente,

distribuindo de pingos de mel e água por todo lado. Normalmente, o serrote

de pão funciona tão bem, que não consigo descobrir nenhuma vantagem

em usar essas geringonças.

Como a faca normalmente não é suficiente para fazer um trabalho completo

(a não ser com favos gordos e perfeitos), o passo seguinte é o acabamento.

Para isso, o quadro deve deitado (com as faces na horizontal), apoiado na

mesa desoperculadora ou num recipiente que recolha o mel que escorre.

Utiliza-se então o garfo desoperculador nas duas faces, introduzido-o por

baixo da cobertura e levantado com cuidado para não ferir muito os

alvéolos.

Há algumas outras ferramentas de desoperculação, como um rolete cheio

de pontas, mas não são muito populares. Há também desoperculadores

motorizados, com escovas ou lâminas que removem os opérculos, mas eles

normalmente se destinam a grandes produtores ou entrepostos.

8.18 O que é uma mesa desoperculadora?

Basicamente, é um tanque com um apoio para os quadros, um fundo

inclinado para facilitar o escorrimento do mel e uma saída, por onde o mel

passa para ser filtrado. Há modelos com telas que aparam a cera removida

e já fazem uma pré-filtragem do mel.

8.19 Quanto custa uma mesa desoperculadora?

Uma pequena, para 20 quadros, em inox, custa aproximadamente o mesmo

que 40 kg de mel (no varejo). A esse preço talvez precise ser adicionado o

de uma torneira de corte rápido, dependendo do modelo da mesa e do

esquema de trabalho do apicultor na extração. Uma torneira dessas, em

latão, custa cerca de 5 kg, e, em inox, cerca de 13 kg.

8.20 O que é uma torneira de corte rápido?

É uma torneira em forma de tubo, com uma tampa que fecha com um

movimento de guilhotina. Ela é chamada assim porque interrompe o fluxo

de mel imediatamente, evitando fios e pingos.

Page 76: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

8.21 Como é feita a centrifugação dos quadros?

Os quadros são colocados numa centrífuga, na posição vertical. Eles ficam

apoiados no "cesto" da centrífuga, que gira junto com o eixo. Inicialmente,

a velocidade da centrífuga deve ser pequena, pois os favos estão pesados

de mel e podem romper-se com facilidade. No decorrer da centrifugação, o

mel vai sendo extraído, os favos vão ficando mais leves e a velocidade pode

ser aumentada gradualmente, até que os respingos de mel na parede

interna da centrífuga cessem.

Numa centrífuga radial, o processo é exatamente assim, mas numa

centrífuga facial ele é muito mais crítico e envolve pelo menos uma fase a

mais, a reversão dos quadros.

8.22 O que são centrífugas radial e facial?

Os nomes se referem à posição em que os quadros são colocados no cesto.

Na centrífuga radial, eles ficam alinhados com o raio, ou seja, quando

vistos de cima, os quadros lembram fatias de um bolo redondo. Na facial,

os favos ficam com uma face voltada para a parede da centrífuga e a outra

para o eixo. Na posição facial, a centrifugação só consegue remover o mel

da face que está voltada para a parede, e por isso o quadro deve ser

virado, pelo menos uma vez, para que o resto do mel seja extraído.

Na centrífuga radial, a reversão não precisa ser feita. Embora nela haja

também uma face privilegiada de cada favo, a inclinação natural dos

alvéolos garante que ambas as faces serão igualmente esgotadas.

A centrífuga facial requer um cuidado maior na operação, pois os favos

sofrem uma força perpendicular sobre sua face, que é muito frágil.

8.23 Como centrifugar favos quebrados?

Os favos quebrados devem ser desoperculados do jeito que for possível e

depois amarrados ao quadro. Essa amarração pode ser feita com fio de

nylon ou de arame fino. O fio deve ser amarrado a uma extremidade do

quadro e depois enrolado sobre ele em ida e volta, formando assim uma

espécie de rede de proteção ao favo.

Com uma boa amarração, o favo geralmente poderá ser centrifugado sem

problemas. Em caso de dúvida, deixe-o para o final e faça uma

centrifugação só dos quebrados, mais lenta e cuidadosa.

8.24 Por que a centrífuga vibra?

A centrifuga vibra quando o seu centro de massa não coincide com o eixo

de rotação. Em outras palavras, quando o cesto está desequilibrado, com

mais peso de um lado do que de outro. Quando o desequilíbrio é grande, a

centrífuga pode até se mover ("dançar"), se não estiver com os pés fixados

no chão.

Para evitar a vibração ou diminuí-la muito, basta prestar atenção ao

carregar a centrífuga, colocando quadros de peso semelhante em posições

exatamente opostas. É claro que isso só é possível quando a capacidade de

quadros da centrífuga é par, o que, felizmente, é a configuração mais

comum.

Page 77: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Outra possibilidade é carregar a centrífuga de qualquer jeito e, antes de

começar a girá-la, suspender um pouco um dos cantos. Se a distribuição de

peso estiver desequilibrada, o cesto vai girar até encontrar uma posição

preferencial. Se isso ocorrer, basta redistribuir os quadros até que o cesto

não tenda mais a ficar numa determinada posição quando o canto for

erguido.

8.25 O que move a centrífuga?

Há centrífugas manuais, movidas por uma manivela, e elétricas, movidas

por um motor. As motorizadas podem ter controle de velocidade manual ou

automático.

8.26 Quanto custa uma centrífuga?

Tomando o preço do mel no varejo como parâmetro, uma centrífuga radial

manual em inox para 8 quadros custa cerca de 50 kg, para 12 quadros, uns

65 kg, e para 16 quadros, uns 75 kg.

Centrífugas motorizadas em inox para 12 quadros custam cerca de 160 kg,

e para 20 quadros, uns 230 kg, aproximadamente.

Esses preços não incluem a torneira de corte rápido.

8.27 A centrifugação dos favos é demorada?

Depende principalmente da temperatura ambiente. Grosso modo, a 30 ºC,

o mel flui três vezes mais rápido do que a 20 ºC, e dez vezes mais rápido

do que a 15 ºC. Também por essa razão, vale a pena aquecer o ambiente

antes do processamento do mel.

Um teor de umidade baixo, por sua vez, aumenta a viscosidade do mel e

dificulta o seu fluxo.

Quando o favo centrifugado tem alvéolos de zangão, o tempo de extração

diminui bastante, pela facilidade maior de escorrimento do mel.

8.28 Como extrair o mel sem a centrífuga?

Sem uma centrífuga, o processamento do mel complica-se bastante. Nesse

caso, normalmente há três alternativas para o favo: deixar o mel escorrer,

espremê-lo ou guardá-lo inteiro (ou em pedaços).

Deixar o mel escorrer é o procedimento ideal, porque permite o

reaproveitamento posterior do favo. No entanto, só pode ser feito em

recipientes grandes (os favos devem deixados com uma face voltada para

baixo, e depois a outra). Também é um procedimento demorado, e o mel

pode acabar absorvendo umidade do meio por higroscopia. Aumentar a

temperatura do ambiente e desumidificá-lo (com um aquecedor de

banheiro, por exemplo) vai acelerar o processo e diminuir o risco. Mesmo

assim, só é uma fórmula viável para uma colheita muito pequena.

Espremer o favo é uma maneira perfeita de inutilizá-lo para as abelhas e

obter um mel cheio de impurezas. No entanto, se for a única solução

possível, tente fazê-lo da forma mais higiênica possível.

Page 78: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

A terceira alternativa, favos inteiros, pode ser preferível ao seu

esmagamento. Infelizmente, ela só é possível se o quadro não tiver sido

aramado. Assim, se você não possui centrífuga, não conhece ninguém que

possua e não está pensando em adquirir uma, é bom prever esse problema

antes de preparar e colocar as melgueiras. Nesse caso, a melhor opção é

adquirir formas especiais e adaptá-las nos quadros das melgueiras. Outra

saída, é usar quadros inteiros sem arame (veja o item 8.33).

8.29 O que fazer com as melgueiras após a extração?

Elas devem ser devolvidas às abelhas, que limparão todos os resíduos de

mel e deixarão os favos prontos para serem usados novamente ou

guardados até a próxima safra.

Há duas formas de devolver as melgueiras: empilhando-as em zig-zag a

uns 100 metros do apiário, ou devolvendo-as às colméias. A primeira forma

resulta em muitas brigas, mortes e, talvez, pilhagem. Também pode

facilitar a transmissão de doenças entre as colméias. Além disso, não

apenas abelhas, mas diversos outros insetos aparecem para comer o mel

ou depositar ovos nos favos.

A segunda forma é mais trabalhosa e exige mais cuidado, mas dá um

resultado muito melhor. Para isso, a devolução deve ser feita em horário

calmo das abelhas (final da tarde, noite ou amanhecer), com as caixas bem

limpas por fora, para não estimular os saques.

Uma alternativa interessante é devolver todas as melgueiras a umas poucas

colméias, de forma a minimizar a perturbação no apiário. Esse

procedimento é especialmente recomendável para a última colheita da

safra.

8.30 O que é feito do mel após a centrifugação?

Primeiro, o mel deve ser passado por uma peneira fina. A seguir, o ideal é

deixá-lo decantando por alguns dias e só depois embalá-lo. Naturalmente, a

segunda etapa só é possível com decantador.

8.31 O que é um decantador?

É um tanque com tampa e torneira. O mel é deixado nele por alguns dias

(uma semana, por exemplo), para que as impurezas que sobraram da

filtragem se depositem no fundo ou subam à superfície (junto com as

bolhas de ar). Depois desse período, o mel é passado para as embalagens

através da torneira, que deve ser de corte rápido. Como essa torneira se

localiza um pouco acima do fundo, o mel que passa por ela é o mais puro

possível, exceto bem no final, é claro.

8.32 Quanto custa um decantador?

Um para 100 kg custa cerca de 40 kg de mel, mais a torneira.

8.33 É possível produzir mel em favo?

É claro que sim. Podem-se usar fôrmas especialmente feitas para serem

encaixadas nos quadros de melgueira - geralmente três por quadro. No

Page 79: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

centro dessas formas é colocado um pedaço de cera alveolada, que será

puxado, enchido e operculado normalmente pelas abelhas. Após a colheita,

basta desencaixar as fôrmas e embalá-las. É um processo muito mais

simples e limpo que a centrifugação, mas possui um público alvo bastante

restrito. No preço final do produto deve ser considerada também a cera que

foi produzida e estará sendo vendida junto.

Alguns apicultores, na falta de fôrmas, usam quadros comuns, sem arames.

Após a colheita, retiram o favo do quadro, cortando-o pelas beiradas,

dividem o favo em três ou mais pedaços, deixam-nos escorrer por algum

tempo e depois embalam-nos. Não fica com uma apresentação tão boa

quanto os favos enformados.

8.34 Como o mel deve ser armazenado?

Em recipientes próprios para produtos alimentícios, hermeticamente

fechados. Em relação à temperatura de armazenagem, o ideal é que ela

esteja abaixo de 11 ºC, pois nessa faixa a probabilidade de fermentação é

baixa e a formação de HMF é muito lenta, assim como a destruição das

enzimas presentes no mel.

A faixa ideal de temperatura para a cristalização do mel é de 10 a 18 ºC,

especialmente, 14 ºC.

A faixa ideal de temperatura para a fermentação do mel é de 11 a 21 ºC.

A partir de 21 ºC a produção de HMF se acelera, junto com o escurecimento

do mel. Cada 10 ºC a mais de temperatura aumentam a velocidade de

produção de HMF em cerca de 4,5 vezes. Por exemplo, um aumento que

leva 100 dias para ocorrer a 30 ºC, leva apenas 20 dias a 40 ºC, 4 dias a

50 ºC e 1 dia a 60 ºC [CRA83].

8.35 O HMF é prejudicial à saúde humana?

Não na proporção encontrada no mel. A sua presença, acima de

determinado nível, é apenas um indicativo de má qualidade do mel, por

adulteração, superaquecimento ou longa estocagem.

8.36 As enzimas são benéficas à saúde humana?

Não há evidências disso, embora muitos apicultores refiram-se a elas como

grandes vantagens do mel. As enzimas são responsáveis pela

transformação de substâncias doces colhidas na natureza em mel, e a sua

ausência também é um indicativo de má qualidade do produto.

8.37 Como o mel é adulterado?

Ele pode ser misturado a outras substâncias doces, como açúcar invertido,

por exemplo. Um outro tipo de adulteração é feito com o fornecimento de

xarope às abelhas e colheita do que as abelhas estocam, como se fosse

mel. Em alguns casos, isso é vendido como "mel expresso", o que, na

minha opinião já embute uma tentativa de engodo (pois não é mel),

embora seja sutilmente diferenciada da denominação simples de "mel".

8.38 Há um modo simples de descobrir se o mel é adulterado?

Page 80: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Não. Quando a adulteração é grosseira, qualquer pessoa com razoável

experiência de consumo de mel pode suspeitar da sua qualidade, mas não

acredite em testes populares, como o do palito de fósforo.

A melhor forma de não adquirir mel adulterado é encontrar um fornecedor

confiável. Para o apicultor, é importante não apenas produzir da maneira

correta, mas informar muito bem seus consumidores, de forma a conquistar

a sua confiança e aumentar a sua capacidade de discernimento.

8.39 É possível identificar a origem floral de um mel? [3]

No caso de méis monoflorais, há alguns parâmetros pré-definidos, que

variam conforme a espécie de origem. Várias análises são necessárias, em

conjunto, para a comprovação da condição de monofloral de um mel. Por

exemplo, análise de cor, análise de contagem e identificação dos grãos de

pólen presentes (análise polínica ou melissopalinológica), análise da

condutividade (cujo resultado depende da quantidade de minerais

presentes no mel), análise do espectro de açúcares (a proporção de glicose,

frutose, maltose, etc.).

No caso de méis multiflorais, no entanto, a identificação precisa das fontes

é muito difícil. Uma determinada cor pode resultar de inúmeras misturas

diferentes de néctar, assim como a condutividade e o espectro de açúcares.

Já a análise polínica é, por natureza, pouco confiável. Muitas plantas que

produzem néctar em abundância não têm o seu pólen coletado pelas

abelhas (nem acidentalmente), enquanto outras possibilitam uma

contaminação pesada do néctar. Além disso, outras contaminações

polínicas podem ocorrer dentro da própria colméia, pela manipulação do

néctar e do pólen pelas abelhas, ou mesmo fora dela, provocadas pelo

apicultor durante a colheita e extração do mel.

8.40 Por que o mel cristaliza?

O mel é uma solução supersaturada de açúcar, o que significa que há mais

açúcar dissolvido na água do normalmente seria possível manter-se. Isso

faz da solução uma mistura instável, e ela, ocasionalmente, pode retornar à

estabilidade através da cristalização. Isto ocorre com a perda de água da

água por parte da glicose, que se transforma em monoidrato de glicose e

toma a forma de cristal.

Entretanto, nem todo mel cristaliza. Como o açúcar responsável pela

cristalização é a glicose, a relação entre a sua quantidade e a de água no

mel é que determina se o mel cristalizará ou não. Por exemplo, de acordo

com um estudo citado em [WHI92], uma relação glicose/água de 1,58 (por

exemplo, um mel com 17% de umidade e 27% de glicose) não cristalizará,

enquanto outro, com relação de 1,98, provavelmente cristalizará até a

metade do recipiente. Uma relação de 2,16 deve provocar uma cristalização

total e mole, enquanto outra, de 2,24, deve provocar uma cristalização

total e dura.

8.41 Como ocorre a cristalização?

A cristalização, além da relação glicose/água, depende da presença de

"núcleos" para iniciar-se. Os núcleos podem ser impurezas microscópicas,

grãos de pólen, partículas de cera, bolhas de ar ou cristais incipientes. O

Page 81: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

processo, após se desencadear, prossegue até que o ponto de equilíbrio da

solução seja atingido ou até que o mel seja exposto a uma temperatura

imprópria à cristalização.

Quando a proporção de glicose no mel é baixa, os cristais depositam-se no

fundo do recipiente, formando um agrupamento mais sólido e grosseiro. Na

superfície, forma-se uma mistura mais rica em frutose e água, que é muito

mais propensa à fermentação que a forma líquida original. Por essa razão,

uma cristalização grosseira e parcial do mel está freqüentemente associada

a um início de fermentação. Já quando a proporção de glicose é alta, a

cristalização forma uma espécie de rede, imobilizando os outros

componentes do mel e levando a mistura a um estado semi-sólido, com

uma consistência mais homogênea. Nesse caso, como não há separação de

uma parte mais líquida, o risco de fermentação não cresce.

A velocidade de cristalização depende da quantidade de núcleos existentes,

e por isso, um mel que tenha sido perfeitamente filtrado e previamente

aquecido (para que até os menores cristais sejam desfeitos) demorará

muito mais a cristalizar. Além disso, a velocidade depende também da

temperatura de armazenagem do mel. Temperaturas abaixo de 10 ºC e

acima de 21 ºC inibem ou retardam bastante a cristalização. A temperatura

de 14 ºC é a ideal para a cristalização.

8.42 Como descristalizar o mel?

A descristalização do mel deve ser feita com o aumento da temperatura.

Quanto mais alta for a temperatura, mais rápido será a descristalização.

Altas temperaturas, porém, destroem muitas propriedades do mel, e devem

ser rigorosamente evitadas. Industrialmente, o mel é aquecido por pouco

tempo a temperaturas entre 60 e 70 ºC, aproximadamente, para inativar os

fermentos existentes (e evitar uma futura fermentação), para expelir

pequenas bolhas de ar e derreter os cristais microscópicos, que

posteriormente serviriam de núcleos para a cristalização, e para permitir o

bombeamento do mel e a sua filtragem sob pressão.

No uso doméstico, porém, recomenda-se que o derretimento do mel

cristalizado seja feito numa temperatura mais baixa (cerca de 40 ºC), em

banho-maria, por exemplo, com agitação freqüente.

De qualquer forma, melhor que superaquecer o mel ou descristalizá-lo, é

transformá-lo em mel cremoso, que facilita o seu consumo de todas as

formas possíveis.

8.43 O que é mel cremoso?

É um mel que foi induzido a uma cristalização fina e homogênea. Essa

indução é puramente mecânica, a baixa temperatura e sem adição de

nenhuma substância, o que preserva todas as qualidades do mel. O mel

cremoso possui a consistência que o nome indica e o aspecto parecido com

o do doce de leite, embora mais denso.

O mel cremoso é muito fácil de ser manuseado com colher e espátula, pois

escorre lentamente, não despedaça pães e bolos e dissolve-se facilmente

Page 82: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

em líquidos. Ele também é mais estável que o mel comum e não forma

cristalizações parciais e grosseiras.

8.44 Como se produz mel cremoso?

Há várias receitas disponíveis na Internet e em livros de apicultura. Eu

adotei com sucesso uma receita dinamarquesa, divulgada pela Swienty

(http://www.swienty.com). Ela inclui uma etapa de superaquecimento do

mel para remoção de bolhas e derretimento de cristais que eu não sigo,

nem sinto falta. A versão simplificada que uso é a seguinte:

1. Induzir um início de cristalização num pote de mel. Para isso, o ideal

é deixar o mel descansando a uma temperatura de 14 ºC. Não sendo

possível, tente o mais próximo disso - colocar o mel no refrigerador e

retirá-lo diversas vezes, pode ser uma boa alternativa. Depois,

espera-se que apareçam os primeiros cristais visíveis (isso pode levar

de dias a meses). Quanto maior a relação glicose/água, mais fina e

mais rápida será a cristalização.

2. Depois de aparecerem os primeiros cristais, deve-se bater o mel com

uma batedeira quatro vezes por dia, durante 15 minutos, com os

batedores de bolo (aqueles em forma de mola). Para isso, eu ligo a

batedeira a um temporizador (facilmente encontrado em lojas de

eletrônica), e fixo-a sobre a tampa do pote. As hastes dos batedores

passam por pequenos furos, previamente feitos na tampa.

3. Em dois dias, mais ou menos, o mel adquire uma aparência de

xampu. Neste momento, ele deve ser passado para os potes

definitivos. Esses potes, então, devem ser deixados em repouso

numa temperatura o mais próxima possível de 14 °C. Em uma

semana ou duas, o mel já terá atingido a consistência definitiva.

4. Após a produção do primeiro mel cremoso, todos os demais podem

ser feitos a partir de pequenas porções dele como "semente". Para

isso, basta misturar cerca de 10% de mel cremoso ao mel líquido e

iniciar o processo a partir do item 2 acima.

8.45 Quem comprará mel cremoso?

No Brasil, a ignorância sobre o mel é apavorante, e chega a haver regiões

em que ele só pode ser vendido líquido, em garrafas, pois o mel cristalizado

é considerado adulterado ou impróprio para alimentação. Por enquanto, o

mel cremoso é raro e, não duvido, de pequena aceitação no mercado. Para

produzi-lo e vendê-lo, a única alternativa é propaganda e boa informação,

especialmente no ponto de venda. Sem isso, a probabilidade de que as

pessoas achem que você pôs farinha no mel ou qualquer outra bobagem,

pode apostar, é muito grande.

8.46 Qual é a densidade do mel?

A densidade do mel, a 20ºC, com 18% de umidade, é cerca de 1,42. Isso

significa que, nessas condições, 1 litro de mel pesa 1,42 quilos, em média.

8.47 Mel cura a gripe? [1]

Page 83: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Não, mel não cura gripe. Ele também não cura câncer nem é bom para a

tosse. Há muita pesquisa sobre as propriedades terapêuticas do mel, e

alguns indícios mais concretos de que ele pode auxiliar no tratamento de

úlceras, ferimentos e queimaduras, em razão da sua atividade

antimicrobiana.

Algumas substâncias antioxidantes também estão presentes no mel, e

alguns estudos sugerem que ele pode trazer alguns benefícios à saúde pela

proteção das células ao ataque dos chamados radicais livres [SCH03]. As

conclusões ainda não são definitivas e esse respeito, mas alguns resultados

são realmente promissores.

De resto, há muito mais folclore em relação ao emprego medicinal do mel

do que evidências obtidas em estudos científicos. É claro que se você for

suscetível ao efeito placebo, poderá imaginar alguma melhora da sua

doença se tiver bastante fé. Faça o teste: na próxima vez em que estiver

gripado prepare a seguinte receita:

3 colheres de chá de mel

1 colher de chá de manteiga sem sal

1 ou 2 tampas de conhaque ou outro destilado

Esquente por alguns segundos no microondas ou em banho-maria e

misture bem. Beba quente e vá dormir. Não cura nada, mas é tão

bom...

Atenção: não tente fazer isso se você tem qualquer um dos

ingredientes proibido na sua dieta.

8.48 A quantas bananas equivale 1 kg de mel?

Alguns autores fazem comparações desse tipo, mas elas não têm o menor

sentido à luz do que se sabe hoje sobre nutrição. Quando o mel é

comparado favoravelmente com outros alimentos, geralmente o critério

adotado é o da quantidade de energia fornecida por peso. Por esse critério

simplista, um consumidor poderia, com justiça, concluir que é muito mais

vantajoso adoçar o leite com açúcar comum, que possui 4 kcal/g (contra

3,04 kcal/g do mel), ou que é muito mais interessante passar manteiga (9

kcal/g) no pão ao invés de mel.

Na verdade, o alto teor calórico do mel mais depõe contra o seu consumo

do que a favor. Quando se mencionam propriedades nutritivas,

micronutrientes são muito importantes do que a energia fornecida pelo

alimento.

8.49 E o mel não é cheio de vitaminas e minerais?

Sim, de fato o mel possui algumas vitaminas e diversos minerais, mas em

quantidades muito pequenas. Só para dar uma idéia, se alguém quisesse

suprir 30% da ingestão diária recomendada de qualquer vitamina ou

mineral presente no mel, teria de comer entre 1 e 6 kg por dia, o que seria

um completo despropósito.

8.50 Mas então, para que comer mel?

Page 84: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Por que as pessoas comem manteiga ou bebem café? Pelas suas

propriedades medicinais? Pelas suas características nutritivas? É claro que

não. É porque são produtos acessíveis, de sabor agradável e que se

harmonizam com diversos outros alimentos. Como eles, o mel é um

produto delicioso e ainda mais versátil.

Mas o mel não é e nunca será considerado um alimento básico. É um

alimento complementar, e, como tal, excepcional. Na minha opinião, não há

porque perder tempo com fantasias e exageros a respeito do mel. Alguns

autores fazem comparações esdrúxulas e divulgam o mel como remédio.

Depois, lamuriam-se quando a população o consome com a mesma

freqüência que o chá de losna.

Em certos aspectos, o mel é muito semelhante ao vinho. Ambos possuem

infinitos sabores possíveis, e cada safra de cada região produz exemplares

únicos. Assim, em cada pote, ou em cada garrafa, há uma surpresa, e

quase sempre muito agradável.

Infelizmente, muitas pessoas acham caro um pote de mel que levará um ou

dois meses para ser consumido das mais diversas e deliciosas formas. No

entanto, pagam o mesmo valor por uma garrafa de vinho, que será bebida

em uma única refeição. Mesmo reconhecendo todas as diferenças entre os

produtos e seus respectivos apreciadores, acho que esse fato indica um

certo desequilíbrio de comportamento. E uma razão importante é o enorme

desconhecimento da origem e das características do mel por parte da

população. O mesmo não acontece com o vinho, que é muito melhor

divulgado no Brasil do que o mel.

8.51 Diabéticos podem comer mel?

O mel é fundamentalmente uma mistura de carboidratos, e como tal deve

ser tratado pelo diabético. Não há evidências de que o mel seja mais ou

menos seguro para os diabéticos, e o seu eventual consumo deve ser

combinado com o médico e considerado com a mesma cautela dispensada

aos demais carboidratos.

8.52 Bebês podem comer mel?

Bebês de até um ano de idade não devem comer mel. A razão disso é que o

mel pode conter esporos da bactéria que causa o botulismo (Clostridium

botulinum), que podem germinar e se desenvolver no aparelho digestivo

dos bebês. A contaminação do mel pode ocorrer na natureza, e a

observação cuidadosa dos aspectos sanitários na colheita, extração e

envase não é garantia de que o mel está livre de esporos.

A freqüência de contaminação é baixa (menos de 5% das amostras no

Canadá, por exemplo [BAR99]). No entanto, o botulismo é uma doença

grave, que até mesmo causar a morte, e esse fato justifica plenamente a

ausência de mel na dieta dos bebês [SAN92].

8.53 Qual é o consumo de mel no Brasil?

Esse é um dado bastante incerto. Encontra-se em livros, revistas e Internet

valores que variam de dez vezes - 70 a 700 gramas por pessoa e por ano.

Quem trabalha com dados oficiais tende a divulgar valores menores, talvez

Page 85: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

porque grande parte da produção não seja registrada. Muitos apicultores

produzem apenas para consumo próprio e da família ou amigos. Talvez

uma pesquisa por amostragem pudesse dar uma idéia bastante realística da

situação nacional, mas não consta que uma estatística assim já tenha sido

produzida.

8.54 Qual é a produção de mel no Brasil?

Uma estimativa encontrada freqüentemente é 35-40 mil toneladas em

2002.

8.55 Qual é a produção de mel por colméia no Brasil?

A média histórica considerada é de um pouco menos de 20 quilos de mel

por colméia por ano. Uma pesquisa informal, realizada no grupo de

discussão da Apacame, em 2003, revelou uma produtividade média de 22,3

kg/colméia no ano de 2002, em 37 apiários de diversas regiões do país.

Um manejo bem feito ajuda bastante a obter-se uma produtividade maior,

mas a flora apícola disponível, provavelmente, é o fator decisivo. Há relatos

de produtores com médias de 50-60 kg/colméia/ano, ou até mais.

Descartados possíveis exageros e folclores, é muito provável que sejam de

apicultores que migram as suas caixas uma ou mais vezes por ano ou têm

à sua disposição um pasto apícola excepcional, como florestas de eucalipto,

por exemplo.

8.56 O que é mel orgânico?

É um mel produzido segundo normas específicas que, ao menos

supostamente, qualificam-no como um produto isento de contaminações

químicas e biológicas indesejáveis.

8.57 Como se produz mel orgânico?

Para produzir um mel que possa receber o título de "orgânico", o apicultor

deve passar por um processo de certificação. Isso é feito por algumas

empresas nacionais (como o IBD - http://www.ibd.com.br/) e estrangeiras

(como a IMO). Elas enviam inspetores que analisam tecnicamente as

condições do apiário e sugerem adequações para a conversão do apiário

convencional em orgânico. Atendidas suficientemente todas as exigências, e

passado certo período de carência (funcionando como orgânico), a empresa

certificará o apiário. Essa certificação dá ao apicultor o direito de usar um

selo especial (próprio de cada empresa certificadora) no seu produto,

identificando-o como orgânico perante os consumidores.

Para garantia da manutenção da qualidade, a empresa certificadora repete

a inspeção pelo menos uma vez por ano, com ou sem aviso prévio.

8.58 Quais são os critérios exigidos para o mel orgânico?

No site do IBD pode-se baixar os seus critérios de certificação orgânica.

Para a apicultura, há diversas exigências, como a proibição do uso de

pesticidas no apiário e imediações, obrigatoriedade de aquisição de insumos

de outras empresas certificadas, proibição de lavouras de manejo

convencional num raio de 3 km do apiário, critérios para alimentação

artificial e extração do mel, proibição de determinados medicamentos e

Page 86: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

outros. Em especial, como para todos os produtos orgânicos, é importante

a manutenção de registros de manejo, produção e identificação dos lotes, a

fim de garantir a rastreabilidade do produto.

Alguns dos critérios são exóticos ou inexplicáveis, como a permissão de

acrescentar "chá de camomila" e "sal" à alimentação artificial das abelhas.

Mas isso não surpreende tanto quanto qualificar a presença de HMF como

"acidez" do mel, o que também é feito. Um dos critérios é virtualmente

impraticável: o raio de 3 km sem lavouras convencionais (isso dá uma área

de quase 3 mil hectares). O que ocorre, por relatos de apicultores

certificados, é que este critério é basicamente decorativo, não sendo

cobrado com o rigor que o texto sugere e em que alguns consumidores

provavelmente crêem.

Para o consumidor, o mel certificado tem um apelo de garantia que o

convencional não possui. Essa garantia está longe de ser absoluta, pois há

infinitas oportunidades de fraude no processo, mas parece certo que entre

dois méis desconhecidos, aquele que for certificado terá uma probabilidade

maior de ser isento de impurezas e contaminações indesejáveis.

8.59 O que é hidromel?

É uma bebida alcoólica fermentada, provavelmente das mais antigas na

história da civilização. É feito a partir de uma mistura de mel e água, com a

possível adição de fermentos e substâncias que favorecem o seu

desenvolvimento. Na Internet, pode-se achar inúmeras receitas de

hidromel, bem como em muitos livros, como [CRA83].

9. Outros Produtos

Pólen

9.1 O que é o pólen?

É a célula reprodutiva masculina das plantas floríferas. Ele é produzido

pelas anteras e deve alcançar o estigma da flor (a porção terminal do seu

órgão reprodutivo feminino, o gineceu) para que ocorra a fecundação e a

posterior formação de sementes. Este processo é chamado de polinização,

e ele ocorre muitas vezes com a ajuda de agentes externos, como o vento,

a chuva e animais que se alimentam do pólen ou do néctar, como as

abelhas. Em comparação com o néctar, o número de espécies que produz

pólen é muito maior.

9.2 Como as abelhas ajudam na polinização?

Quando a abelha pousa numa flor, para colher néctar ou pólen, grãos de

pólen ficam presos nos seus pêlos. Em razão do movimento da abelha, os

grãos podem ser levados ao estigma da mesma flor ou de outra. Essa ação

da abelha é involuntária, e a polinização, um resultado acidental.

9.3 Como o pólen é armazenado pelas abelhas?

Page 87: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

As bolotas de pólen trazidas pelas campeiras são empilhadas nos alvéolos

logo acima da área de cria. Ao pólen, são adicionadas algumas secreções

glandulares e uma fina cobertura de mel, formando o alimento básico das

larvas e abelhas jovens (chamado por alguns de "pão de abelha").

9.4 Como o apicultor coleta o pólen?

O que é coletado, na verdade, são as bolotas trazidas pelas campeiras, não

o que é depositado nos alvéolos. Para essa coleta, empregam-se

armadilhas, chamadas de caça-pólen.

Basicamente, o caça-pólen é constituído por uma grade e uma gaveta. As

abelhas passam apertadas pela grade e acabam perdendo a bolota de

pólen, que cai dentro da gaveta. As abelhas não têm acesso à gaveta, que

é protegida por uma tela mais fina.

Há dois modelos básicos de caça-pólen, o de alvado e o interno. O de

alvado é colocado na frente da entrada da colméia, tem uma capacidade

menor e deve, portanto, ser esvaziado mais freqüentemente. O interno é

posicionado entre o fundo da colméia e o ninho e tem uma capacidade

maior.

9.5 Por quanto tempo o caça-pólen pode ser deixado na colméia?

É preciso considerar que o pólen é um produto de extremo valor para as

abelhas. Sem ele, não é possível alimentar as larvas mais velhas e as

abelhas jovens que, por sua vez, dependem dele para produzir as secreções

hipofaringeanas e mandibulares que alimentam as larvas jovens e a rainha.

Some-se a isso o fato de as abelhas não estocarem pólen em grandes

quantidades, como fazem com o mel, e se terá uma limitação muito forte

para o tempo de permanência do caça-pólen na colméia. E essa limitação é

tanto maior quanto mais eficiente for o caça-pólen.

Um estudo realizado em Botucatu (SP) [FUN98], identificou uma redução

de cerca de 10% na área de cria de operárias e de 4% na área de cria de

zangões, quando um caça-pólen era utilizado num esquema com

alternância de sete dias (sete dias com, sete dias sem), em comparação

com colméias de controle (sem caça-pólen). O estudo foi realizado nos

meses de agosto a dezembro de 1996, e cada colméia produziu, em média,

1,5 kg de pólen em quatro meses.

É claro que diferentes resultados serão obtidos em épocas e locais

diferentes. O importante é que o apicultor interessado em produzir pólen

observe atentamente a resposta dos enxames e, a partir daí, desenvolva

um esquema que garanta ao mesmo tempo uma boa produtividade e uma

boa manutenção do enxame.

9.6 Como é o beneficiamento do pólen?

Inicialmente, caso o pólen não possa ser secado imediatamente, ele deve

ser congelado. A etapa de secagem é a mais importante. O pólen possui de

18 a 25% de umidade, um nível que deve ser reduzido até cerca de 3%,

para impedir o desenvolvimento de fungos e fermentos. A limpeza do

pólen, manual ou mecanizada também é muito importante. Por fim, a

Page 88: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

armazenagem deve ser feita em recipiente hermeticamente fechado, para

que não haja nenhuma contaminação.

9.7 É possível produzir mel e pólen na mesma colméia?

Sim, mas nenhum dos produtos de forma otimizada. Quando um produto

falta na colméia, um número maior de abelhas passa a buscá-lo na

natureza. Ao usar-se o caça-pólen, muitas abelhas provavelmente deixarão

de colher néctar para colher pólen, o que resultará numa produção do mel

inferior à capacidade do enxame em condições normais. O mesmo acontece

com a produção de própolis.

9.8 O pólen é um alimento completo para os humanos?

Não, ele é deficiente em algumas vitaminas, por exemplo. Também possui

uma porção relativamente alta de matéria indigerível por humanos, a

celulose.

Apesar disso, o pólen pode ser considerado um excelente alimento. Para

manter o mesmo raciocínio apresentado em relação ao mel, se alguém

quiser suprir 30% da sua necessidade diária de algumas vitaminas e

minerais, precisará consumir de 6 a 100 g de pólen. Quem ingerir 100 g de

pólen estará, em média, consumindo 246 kcal e 24 g de proteínas. Em 100

g de carne bovina há 385 kcal e 23 g de proteína. No caso de frango frito,

100 g correspondem a 165 kcal e 25 g de proteína. O pólen, porém supera

esses alimentos amplamente no conteúdo de vitaminas e minerais.

9.9 O pólen pode ser consumido por qualquer pessoa?

A princípio sim, mas estudos identificaram que 12 a 33% das pessoas

experimentaram algum tipo de problema ao ingerir pólen, especialmente no

que se refere às funções gastrintestinais. Na dúvida, inicie comendo

quantidades bem pequenas e observe o resultado.

9.10 Para que o pólen pode ser usado como remédio?

O pólen também é freqüentemente apresentado como panacéia universal, o

que obviamente não é. No entanto, há alguns efeitos já estudados e bem

documentados do pólen. O principal é o seu efeito sobre a prostatite.

Diversos estudos identificaram redução da inflamação, do desconforto e da

patologia de pacientes que sofriam de inflamação prostática benigna. Em

qualquer caso, porém, procure sempre um médico antes de adotar qualquer

tratamento.

Um dos problemas do pólen em relação ao seu uso terapêutico é que, como

ele raramente tem origem monofloral, cada amostra possui sua composição

química particular. Por essa razão, a variabilidade quantitativa de seus

componentes é muito grande, chegando à ordem de 500% ou até mais.

Isso dificulta a prescrição de uma dosagem terapêutica específica.

Própolis

9.11 O que é a própolis?

Própolis é uma substância resinosa, coletada pelas abelhas em uma grande

variedade de plantas, especialmente em brotos de árvores. Dentro da

Page 89: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

colméia, essa substância é manipulada pelas abelhas e misturada a um

pouco de cera a fim de adquirir propriedades mecânicas adequadas ao seu

futuro uso. Tal como o pólen e o mel, a própolis é uma substância de

composição variável, por provir das plantas disponíveis na região de cada

colméia. No entanto, essa variabilidade não é tão grande quanto se poderia

esperar; alguns estudos mostram uma razoável similaridade entre amostras

de origens bastante diferentes.

9.12 Para que as abelhas utilizam a própolis?

Para vedar frestas que permitam a entrada de frio ou inimigos naturais,

para "envernizar" o interior da colméia e assim repelir outros insetos e

inibir o desenvolvimento de alguns microrganismos, para recobrir corpos

estranhos que não possam ser retirados da colméia, como animais mortos,

para impermeabilizar a colméia e para reforçar partes frágeis da colméia,

entre outros.

9.13 Como o apicultor coleta a própolis?

Para produzir própolis, o apicultor cria frestas na colméia ou insere algum

elemento que induza as abelhas a cobri-lo de própolis. Uma maneira

simples é levantar a tampa por meio de pequenos calços. Outra é introduzir

uma tela plástica abaixo da tampa. Há ainda dispositivos especiais, de

maior facilidade de uso e rendimento. Entre os dispositivos disponíveis, há

vários que usam melgueiras com paredes externas especiais, que permitem

a abertura progressiva de frestas, por meio de barras ou janelas

deslizantes. Um exemplo desse tipo é modelo Pirassununga [CON98].

9.14 É possível produzir mel e própolis na mesma colméia?

Sim, mas nenhum dos produtos de forma otimizada (veja item 9.7). A

despeito disso, o coletor Pirassununga, acima mencionado, foi desenvolvido

exatamente para proporcionar a produção dupla nas melgueiras - própolis

nas laterais e mel no centro.

9.15 Por quanto tempo pode ser mantido o coletor de própolis?

Por tempo indeterminado, desde que o enxame esteja suficientemente

alimentado e forte. Segundo [CON98], um enxame forte leva cerca de 30

dias para produzir 600 gramas de própolis, mas isso, é claro, varia muito

com o tipo de flora local, as condições do enxame e a sua tendência mais

ou menos propolisadora.

9.16 Como a própolis é beneficiada?

Primeiro, deve ser feita a limpeza manual da própolis, para eliminação de

lascas de madeira (oriundas da raspagem), pedaços de abelhas e resíduos

vegetais. Em seguida, ela deve ser classificada segundo o padrão de

mercado vigente. Uma classificação simplificada, apresentada em [ESP02],

é a seguinte: de primeira qualidade, própolis em grandes flocos ou tiras; de

segunda, própolis granulada; de terceira, própolis pulverizada.

9.17 Como a própolis é armazenada?

Algumas substâncias presentes na própolis evaporam-se ou degradam-se

com facilidade. Por isso, é importante que a própolis seja armazenada em

recipientes hermeticamente fechados, como vidros e plásticos atóxicos.

Page 90: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Após embalada, a própolis deve sofrer um resfriamento intenso (um dia no

freezer, por exemplo), a fim de esterilizar possíveis ovos de traça. Depois

disso, os recipientes devem ser guardados em local fresco, seco e escuro,

sem necessidade de refrigeração [ESP02].

9.18 Como a própolis é comercializada pelo apicultor?

Bruta ou sob a forma de extrato alcoólico ou aquoso.

9.19 Quais são as propriedades da própolis?

A própolis possui diversas propriedades terapêuticas e biológicas, muitas

delas já bem estudadas e compreendidas. Por exemplo, ela apresenta

atividades antibiótica, anti-inflamatória, anestésica, antioxidante e

cicatrizante, entre outras.

9.20 Qual é a dosagem de própolis a ser usada em cada caso?

Naturalmente, aquela que for indicada por um profissional de saúde

habilitado.

Embora ocorra com alguma freqüência, não acho aceitável que apicultores,

pelo simples fato de recolherem própolis ou outros produtos, arroguem-se o

direito de preparar drogas e prescrevê-las aos seus clientes como se

fossem farmacêuticos e médicos. Embora essa atitude possa parecer

perfeitamente natural às pessoas inclinadas à automedicação e aos

tratamentos caseiros, ela não me parece compatível com a postura ética

que se esperaria de um apicultor sério. E mais do que isso, temo que ela

prejudique também a apicultura em si, ao associá-la, injusta e

erroneamente, a uma forma de curandeirismo.

Cera

9.21 O que é a cera?

Cera é uma substância produzida pelas glândulas cerígenas das operárias

com idade em torno de 14 dias. Para produzir a cera, as abelhas convertem

o açúcar consumido sob forma de mel, num processo de baixa eficiência -

cerca de 8 kg de mel precisam ser consumidos para a produção de 1 kg de

cera.

9.22 Qual é a cor da cera?

Branca, como pode ser visto nos favos recém produzidos. A cor amarela ou

marrom de alguns favos resulta da impregnação da cera com própolis,

resíduos de pólen e outras impurezas. Os favos de cria antigos têm uma cor

ainda mais escura, por conta dos restos de casulo e dejetos deixados pelas

larvas.

9.23 Para que as abelhas usam a cera?

Para construir os favos e para misturar à própolis, a fim de obter uma

substância com melhores propriedades mecânicas.

9.24 Quanta cera há numa colméia?

Cada favo de ninho completo possui cerca de 100 g de cera. Para cada kg

de mel maduro, operculado, são gastos 55 g de cera.

Page 91: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

9.25 Qual é a vantagem de se fornecer cera à colônia?

Pelos dados acima, uma melgueira com 11 kg de mel possui uns 600 g de

cera. Para produzir 600 g de cera, as abelhas devem consumir cerca de 5

kg de mel. Em outras palavras, se um enxame produz uma melgueira cheia

sem receber nenhuma cera, o mesmo enxame produzirá quase uma

melgueira e meia (uns 40% a mais, na verdade) se lhe forem fornecidos

favos inteiros e vazios. Se lhe forem fornecidas lâminas alveoladas, a perda

de mel será menor, mas ainda assim significativa. Por essa razão, alguns

apicultores incluem os favos de melgueira entre os bens mais valiosos do

apiário, e tratam-nos com extremo cuidado.

9.26 Como preservar os favos de forma natural?

Essa é uma questão ainda não muito bem resolvida na apicultura. Favos

são delicados, ocupam muito espaço e são muito atrativos para roedores e

insetos, particularmente as traças de cera. Os favos mais sujeitos a ataques

são os usados para cria e para pólen; os usados apenas com mel são bem

menos suscetíveis. Favos de ninho, porém, raramente são armazenados,

apenas substituídos e derretidos.

Em relação aos quadros de melgueira (entendido como aqueles usados

apenas para mel), uma recomendação básica é que eles sejam devolvidos

às abelhas após a extração, para que elas removam todos os resíduos de

mel e deixem-nos suficientemente secos para a posterior armazenagem.

Dependendo das condições climáticas (sem excesso de frio e umidade), as

melgueiras podem ser deixadas nos enxames mais fortes, que se

encarregarão de protegê-los contra as traças.

Se as melgueiras tiverem de ser removidas, a melhor medida para evitar a

infestação por traças de cera é o tratamento térmico. O congelamento de

favos por 4,5 horas a -7 ºC ou por 2 horas a -15 ºC mata todos os estágios

da traça de cera. Note que esse tempo deve ser contado a partir do

momento em que os favos atingiram essas temperaturas, e não do

momento em que eles foram colocados no freezer. Na prática, o melhor é

deixar os favos no freezer por 24 horas. Depois, os favos devem ser

guardados em ambiente seco e isolado, para que não ocorram novas

infestações. Se as próprias melgueiras forem usadas para armazenagem

dos favos, o ideal é que elas também sejam congeladas, pois elas também

podem conter ovos de traças, especialmente as muito propolisadas.

Cuidado com a manipulação dos favos logo após o congelamento, pois eles

se tornam extremamente frágeis e quebradiços.

Uma alternativa para a armazenagem é fazê-la em ambiente arejado e bem

iluminado (mas sem exposição ao sol). Lembre-se de que, se os favos

estiverem afastados uns dos outros, todas as faces receberão uma

iluminação melhor. Essas condições são muito desfavoráveis ao

desenvolvimento das larvas, e os favos acabam sendo rejeitados pelas

traças. Se, adicionalmente, os favos puderem ser isolados do ambiente por

telas mosquiteiras (num armário de tela, por exemplo), tanto melhor.

Quando nada disso for possível, deve-se, pelo menos, empilhar as caixas

com algum isolante entre elas, como folhas de jornal. Isso evitará que uma

infestação numa caixa se propague às outras.

Page 92: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

9.27 Há produtos químicos seguros para a preservação de favos?

[3]

O Bacillus thuringiensis, uma bactéria fatal para lepidópteros, como a traça

de cera, pode ser utilizado para preservação dos quadros. Ele é

explicitamente permitido na apicultura orgânica. No Brasil, uma variedade

do B. thuringiensis é vendida sob o nome comercial de Dipel, e empregada

para a pulverização da soja. Num estudo realizado na Universidade Federal

de Lavras [BRI04], o Dipel exerceu um controle eficiente da lagarta, tanto

por pulverização quanto por imersão dos quadros, usando soluções do

produto em água em várias proporções (9,43 g de Dipel para100 ml de

água, por exemplo).

Já em relação a produtos químicos para preservação de favos, mantenho

aqui a minha posição de evitá-los sempre que possível. A título de

informação, porém, vão aqui algumas informações sobre o

paradiclorobenzeno (PDB). Trata-se de uma substância muito empregada,

no Brasil, como desodorizante de vasos sanitários e repelentes de traças

domésticas. O PDB é aprovado para uso em muitos países desenvolvidos,

mas aqui no Brasil é muito pouco usado e visto com desconfiança pela

maioria dos apicultores. É um contaminante importante da cera em outros

países, e é terminantemente proibido na apicultura orgânica.

O PDB só pode ser usado em favos limpos, sem resíduos de mel ou pólen.

Ele é usado numa proporção de 100 g para cada pilha de 5 ninhos ou 8

melgueiras. O PDB sublima (passa do estado sólido para o gasoso), e o seu

gás mata a traça em todos os estágios, exceto os ovos. Por essa razão, ele

deve ser reaplicado periodicamente. Como o gás é mais pesado que o ar, o

PDB deve ser colocado sobre a caixa de cima, logo abaixo da tampa, e

todas as frestas devem ser fechadas. O gás pode contaminar a cera, e por

isso os favos precisam ser arejados por alguns dias antes de retornarem às

colméias.

Atenção: nunca use naftalina para preservar equipamento apícola. Ela deixa

mais resíduos na cera, e há diversas referências na literatura sobre a sua

toxidade para as abelhas.

9.28 Como se produz cera?

Quantidades relativamente pequenas são produzidas a partir do

derretimento dos favos velhos que foram substituídos e também dos

opérculos que resultaram da extração do mel.

Se o objetivo principal for a produção de cera, as colônias deverão ser

alimentadas abundantemente com xarope, a fim de estimular a produção

dos favos. Por exemplo, considere a produção de uma melgueira cheia de

mel operculado, a partir de dez quadros que tenham apenas uma pequena

tira de cera alveolada para orientação inicial das abelhas. Neste caso, é

preciso fornecer à colônia cerca de 15 litros (= 19 kg) de xarope, na

proporção de 12,6 kg de açúcar para 6,4 litros de água. Posteriormente,

esses favos serão centrifugados e derretidos, resultando,

aproximadamente, em 11 kg de "mel" mais 600 g de cera. Esse "mel"

extraído será então diluído e devolvido às abelhas como xarope, para a

produção de mais cera.

Page 93: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Já a cera produzida pode ser derretida, a fim de ser vendida bruta ou

processada. Um processamento possível, extremamente importante para a

apicultura, é a laminação e estampagem da cera, para produção de lâminas

alveoladas.

Outra utilidade possível para esse método é a produção de favos completos,

para uso na safra de mel.

9.29 A produção de cera é rentável?

Parece não haver muita gente produzindo cera, talvez pela quantidade de

trabalho necessário, mas ela pode ser rentável, sim. Um quilo de cera

laminada pode valer mais de 20 kg de açúcar, mas precisa de apenas 6,5

kg (o equivalente aproximado de 8 kg de mel) para ser produzida. E o

melhor é que ela depende apenas de alimentação artificial, não de floradas.

Chuvas não atrapalham, porque toda a atividade é interna, mas o frio pode

inibir a produção de cera.

9.30 Como se derretem favos de mel? [3]

Um equipamento relativamente eficiente para derreter favos de mel limpos

e opérculos é o derretedor solar, que pode ser comprado ou feito em casa.

Para isso, basta fazer uma caixa de madeira rasa, com tampa de vidro

duplo (procure esquemas de construção na Internet). No fundo, pode ser

improvisada uma bandeja para recolher a cera derretida (um funileiro

poderá fazê-la com chapa galvanizada). Os quadros ficam apoiados sobre a

bandeja, um pouco acima do fundo. A caixa deve ser posicionada inclinada,

sempre com a tampa de vidro diretamente voltada para o sol. O calor do

sol eleva a temperatura dentro da caixa a mais de 80 ºC, bem acima do

ponto de fusão da cera.

Quando o volume de cera é maior, um derretedor a vapor pode ser uma

boa solução. Um modelo compacto bastante usado é o que emprega um

tonel de 200 litros. Esse tonel é dividido ao meio, ficando a "caldeira" na

parte de baixo e os favos a serem derretidos na parte de cima. A sua

descrição textual não é simples, mas a montagem pode ser feita por

qualquer serralheiro, e podem-se encontrar esquemas na Internet.

Os pedaços de cera obtidos por estas formas de derretimento podem ser

novamente derretidos para formarem um bloco - o mesmo vale para

pedaços de favos e opérculos, se o apicultor não tiver os equipamentos

referidos acima. Para tanto, basta colocá-los num recipiente com água

quente, mexer um pouco até o derretimento completo e depois deixar a

mistura esfriar. Como a densidade da cera (0,95) é menor do que a da

água, ela ficará na superfície e, ao se solidificar, formará um bloco

flutuante. Porém, é preciso tomar cuidado com o recipiente usado - se

houver algum estreitamento na sua boca, o bloco de cera não poderá sair

inteiro. Depois de retirado o bloco, deve-se raspar o seu fundo para

remover as eventuais impurezas que restaram.

Favos com mel fermentado devem ser lavados antes, ou a cera poderá

absorver o odor durante o derretimento.

Page 94: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

9.31 Que tipo de recipiente deve ser usado para derreter a cera? [3]

Conforme [BOG04], recipientes de aço comum, alumínio, zinco e cobre não

devem ser usados, para não escurecerem a cera. Materiais que contenham

chumbo também não devem ser empregados para não contaminar a cera.

O aço inox, também aqui, é o material mais indicado.

9.32 Como se derretem favos de cria? [3]

Os favos de cria têm restos de casulos nos alvéolos, que são tecidos pelas

larvas antes do seu fechamento. Além disso, têm uma cera impregnada por

impurezas e, por isso, mais escura.

Qualquer uma das formas acima mencionadas pode ser usada para derreter

favos de cria, mas a cera precisa ser filtrada enquanto estiver derretida a

fim de que as impurezas mais grosseiras sejam separadas. Quando a cera

for derretida em água quente, a mistura pode ser passada por uma peneira

para outro recipiente. Para tanto, um pedaço de tela metálica fina ou um

saco de aniagem funcionam muito bem. No caso do derretedor solar, os

quadros devem ficar sobre uma tela que retenha os casulos das crias (o

que diminui a eficiência desse equipamento e aumenta o tempo do

processo). No derretedor a vapor, normalmente já há uma tela para

filtragem das impurezas.

9.33 Como purificar a cera? [3]

Qualquer filtragem da cera em equipamento caseiro dificilmente conseguirá

limpar a cera convenientemente. Quando for derretida em água quente, o

processo pode melhorar bastante se a cera filtrada for mantida líquida pelo

maior tempo possível. A razão disso é que, líquida e em repouso, a cera

sofre um processo de decantação em que os detritos mais pesados

afundam e os mais leves flutuam. Assim que o bloco de cera esfria, a maior

parte das impurezas pode então ser facilmente raspada da sua superfície.

Quem prefere números mais exatos, pode tomar como ideal a permanência

da cera derretida em água a 75-80 ºC por 8 horas, no mínimo [BOG04].

Quando isso não for possível, é recomendável que, pelo menos, o

resfriamento da cera seja atrasado o máximo possível, envolvendo o

recipiente com material isolante (panos, jornal) e deixando-o no ambiente

mais aquecido que houver.

9.34 Há meios químicos para processar a cera? [3]

Certamente, e a literatura registra alguns, como o uso de água oxigenada

para o branqueamento da cera. Eles podem ser utilizados industrialmente e

até em ambiente doméstico. No entanto, devido ao perigo de contaminação

da cera, parece-me que o melhor é evitá-los sempre que possível.

Uma questão importante é o derretimento da cera em água dura (com

excesso de minerais). Neste caso, pode ser produzida uma emulsão de

água e cera. Para evitar o problema, em primeiro lugar, a temperatura da

água deve ser mantida abaixo de 90 ºC. Uma alternativa é acrescentar 2-3

gramas de ácido oxálico para 1 kg de cera e 1 litro de água [BOG04] (o

ácido se ligará ao cálcio e evitará a formação da emulsão, além de ajudar a

clarear a cera).

Page 95: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

9.35 Como se retira a cera dos quadros sem arrebentar os

arames?

O melhor jeito é deixar os quadros ao sol por algum tempo. Em seguida,

usar uma espátula com delicadeza para remover os favos. É um bom

momento para raspar a própolis acumulada, que também estará amolecida

pelo calor.

9.36 O que fazer com a cera derretida?

Ela pode ser usada em troca por lâminas alveoladas. Dependendo da

qualidade da cera derretida, os produtores de lâminas atribuem-lhe um

valor bastante variável, entregando entre 60 e 85% do peso da cera bruta

em lâminas.

9.37 Qual é a temperatura de fusão da cera?

Entre 62 e 64 ºC. A partir de 50 ºC, no entanto, a cera já amolece

significativamente, e a resistência mecânica de um favo diminui muito.

Geléia Real

9.38 O que é geléia real?

É uma substância produzida pelas operárias jovens para alimentação da

rainha, desde o estágio de larva. Essa substância inclui secreções

mandibulares e hipofaringeanas das abelhas.

Embora o alimento das crias jovens também seja freqüentemente chamado

de geléia real, ele é diferente, possuindo uma proporção muito menor de

secreção mandibular. Por essa razão, a geléia real contém algumas

substâncias, como o ácido pantotênico e a biopterina, em quantidades

muito maiores que a comida de cria.

9.39 Quantos anos a mais vou viver se comer geléia real?

Se comer apenas geléia real, provavelmente você vai viver quase 3 mil

anos. A conta é simples: uma rainha, que só se alimenta de geléia real,

pode chegar a viver 5 anos, ou 40 vezes a média de uma operária.

Portanto, se você tomar a nossa média de vida como 70 anos, e multiplicá-

la por 40...

Calma, é só uma brincadeira. A rainha de fato vive mais, mas há um

problema básico nessa conta. A comparação feita é entre a expectativa de

vida máxima da rainha com a média das operárias. Operárias podem viver

muito mais do que isso se forem mantidas presas e alimentadas. No

hemisfério norte, por exemplo, algumas colméias passam seis meses semi-

enterradas na neve, e não sofrem baixas significativas se estiverem

saudáveis e tiverem alimento suficiente (ou seja, nas mesmas condições da

rainha).

Além disso nada garante que os mesmos efeitos causados nas rainhas pela

geléia real também ocorram em mamíferos. Aliás, muitos deles é melhor

mesmo que não ocorram - imagino que ninguém esteja atrás de ovários

hipertrofiados, por exemplo. Na apicultura, como de resto em outras áreas

Page 96: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

de conhecimento, não é raro encontrarem-se argumentações baseadas em

analogias estapafúrdias como esta.

9.40 Mas a geléia real é um bom alimento?

A geléia real possui uma composição variada, com carboidratos, proteínas,

gorduras, algumas dessas com uma composição molecular bastante

peculiar. Também possui algumas vitaminas e minerais (quase todos em

quantidades menores do que no pólen), além de outras substâncias

(esteróides, fenóis, etc.).

Diversas pesquisas atribuem benefícios variados à ingestão de geléia real,

mas estudos mais elaborados, com protocolos de duplo-cego, ainda podem

ser necessários para se chegar a um grau aceitável de certeza [SCH92a].

Segundo [MUR02], no entanto, já há evidências de que a geléia real pode

ser eficiente como estimulante ou para tratamento distúrbios neurológicos,

endócrinos, digestivos e hematopoiéticos (formadores de células

sangüíneas).

9.41 Em que mais a geléia real pode ser usada?

A geléia real possui propriedades cosméticas e antimicrobianas que são

aproveitadas largamente na indústria de cosméticos, especialmente sob a

forma de cremes tópicos.

9.42 Quanto vale a geléia real?

Varia muito, mas uma relação possível é a de um quilo de geléia real para

40-45 kg de mel.

9.43 Como se produz geléia real?

Da mesma forma que se produz rainhas, mas com a interrupção do

processo. Basicamente, é feita a orfanação de um enxame forte, seguida do

enxerto de larvas de 12 a 36 horas num quadro com cúpulas artificiais, que

é introduzido na colméia. Três dias depois, o quadro é recolhido, as larvas

descartadas e a geléia real retirada. Cada cúpula fornece entre 200 e 300

mg de geléia.

9.44 Como a geléia real é armazenada?

Protegida da luz, em ambiente refrigerado, inclusive congelada. Ela

também pode ser desidratada (por liofilização).

Veneno

9.45 O que é o veneno?

O veneno, ou apitoxina, é um produto sintetizado pelas glândulas de

veneno das operárias e da rainha. É basicamente composto por uma ampla

mistura de enzimas, proteínas e outras moléculas menores.

9.46 Quanto veneno possui uma abelha?

Operárias em fase de guarda ou forrageamento possuem entre 100 e 150

g (milionésimos de grama). Rainhas possuem, em média, 700 g.

Page 97: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

9.47 Como o veneno atua?

Ele é injetado pelas abelhas, com o auxílio do ferrão, nos seus predadores

(reais ou presumidos). Algumas de suas substâncias causam dor, enquanto

outras provocam uma reação alérgica de intensidade variável, que depende

do porte e da sensibilidade da vítima.

9.48 Como evitar uma reação alérgica ao veneno?

Evitando abelhas. Fora isso, um médico pode prescrever-lhe medicamentos

antialérgicos para serem usados após as ferroadas e diminuir a reação, ou

submetê-lo a uma dessensibilização. Mas isso, normalmente, só é feito em

caso de sintomas mais graves do que simples reações locais.

9.49 Como se extrai o veneno das abelhas?

Por meio de um equipamento composto por uma tela metálica e uma

membrana. A tela metálica é carregada eletricamente, o que provoca um

pequeno choque nas abelhas e leva-as a ferroar a membrana e depositar ali

o veneno. A membrana cede o suficiente para que o ferrão não seja

arrancado, evitando assim a morte da abelha.

Pela pequena quantidade de veneno de cada abelha, o rendimento é muito

baixo - um grama é obtido a partir de 100.000 ferroadas. E o processo de

estimulação acaba estressando muito o enxame, que se torna

hiperagressivo. Por essas razões, o valor do veneno é muito alto.

9.50 Quanto vale o veneno?

De 35-55 dólares por grama no mercado internacional, o mesmo que 3 a 5

gramas de ouro.

9.51 Para que serve o veneno?

O veneno ainda é objeto de muito pesquisa no mundo inteiro. O seu uso

nos tratamentos de dessensibilização é prática corrente. Diversas pesquisas

também apontam para uma possível utilidade no tratamento de artrite

reumatóide, uma doença degenerativa das articulações, muitas vezes

acompanhada por dor intensa.

10. Flora Apícola

10.1 O que é considerado flora apícola?

Um conjunto de plantas de interesse para as abelhas. Normalmente, essas

plantas são classificadas como nectaríferas ou poliníferas, mas as boas

produtoras de própolis também podem ser incluídas. Outras plantas que

devem integrar a flora apícola são aquelas que não se enquadram

propriamente em nenhum dos tipos acima, mas são hospedeiras habituais

de insetos que produzem um pseudonéctar (melato) que é colhido pelas

abelhas e transformado em mel.

10.2 Como saber qual é a flora apícola de uma região?

Impossível dizer sem examiná-la. Cada região possui sua vegetação

própria, plantada ou nativa, adaptada às condições de solo, clima, topologia

Page 98: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

e ecologia. Uma região distante poucas dezenas de quilômetros de outra

pode ter flora apícola predominante bastante diferente.

Para conhecer as plantas principais, pode-se perguntar a um apicultor

experiente da região, ou observar cuidadosamente a atividade das abelhas

por um ou dois anos.

10.3 O que é o calendário apícola?

No que diz respeito à flora, o calendário determina os ciclos de floração da

região por espécie. Em geral, muitas plantas florescem ao mesmo tempo,

criando períodos de abundância de alimento que podem resultar em

colheita para o apicultor. Esses períodos são chamados de safras. Em

contrapartida, os períodos em que a quantidade de alimento disponível para

as abelhas é escassa ou nula são chamados de entressafras.

No Brasil, o número de safras e os seus períodos de ocorrência são

bastante variáveis. Duas safras por ano, uma maior e outra menor ocorrem

em muitas regiões.

10.4 Como descobrir o calendário apícola de uma região?

Da mesma forma que a flora apícola - perguntando ou observando. Aqui

também, grandes variações podem existir entre regiões próximas,

especialmente se a diferença de altitude entre elas for significativa. Os

livros, por exemplo, definem a época de floração numa faixa ampla, de

dois, três ou mais meses. Um leitor desavisado pode imaginar que a

floração se estende por todo esse intervalo, mas, na verdade, este é

apenas o período provável da sua ocorrência.

Aliás, a mesma região pode apresentar variações significativas no seu

calendário apícola, de um ano para outro, por conta de fenômenos

climáticos. O que se consegue, na verdade, é apenas uma média, mas que

já é muito importante para o apicultor.

10.5 Por que o calendário apícola é importante?

Porque ele determina grande parte do manejo. Alimentação artificial, troca

de rainhas e substituição de quadros, por exemplo, são atividades típicas

da entressafra, e todos guardam uma relação temporal importante com a

safra.

10.6 Quanto dura em média uma florada?

Depende muito da espécie e do tipo de plantio. A família Myrtaceae (dos

eucaliptos) floresce por um ou dois meses, às vezes mais. A Asteraceae

(assa-peixes, vassouras, carquejas) também tem uma florada longa, e uma

espécie sucede a outra, cobrindo um período longo. A Brassicaceae (canola,

nabo, couve) pode florescer por mais de dois meses. A Rutaceae (citros)

tem uma floração curta, de cerca de duas semanas. Muitas outras espécies,

talvez a maioria, têm uma floração relativamente curta, de alguns dias a

duas semanas.

10.7 Floradas curtas são inúteis para as abelhas?

Page 99: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Depende do momento de ocorrência. Uma florada curta, mesmo com bom

volume de néctar e concentração de açúcar, não pode ser aproveitada pelas

abelhas enquanto o enxame ainda não se desenvolveu o suficiente. Essa é

a principal razão do sucesso dos apicultores que estimulam corretamente as

suas abelhas com alimento na entressafra: elas conseguem aproveitar bem

as primeiras floradas.

Depois de o enxame estar bem desenvolvido, naturalmente ou por

intervenção do apicultor, qualquer florada que seja atrativa para as abelhas

é útil.

10.8 Quais são as melhores plantas apícolas?

Essa é uma das perguntas mais feitas na apicultura. Há uma variedade

enorme de plantas apícolas, mas há também um problema básico: plantas

de excelente desempenho numa região podem se tornar más produtoras

em outra. Por essa razão, diversos estudos chegam a conclusões

aparentemente incompatíveis ou mesmo conflitantes.

Na prática, é preciso recorrer a informações de inúmeras fontes e extrair

delas algum consenso sobre espécies mais úteis.

10.9 A flora apícola de uma região pode ser melhorada?

Sim. O plantio de espécies melíferas que tenham bom desempenho numa

região pode resultar em grande melhora da flora apícola. Uma abordagem

recomendada é o plantio de espécies arbóreas perenes, consorciadas com

espécies herbáceas ou arbustivas anuais, para ganho a curto, médio e

longo prazos.

A questão econômica, porém, não é tão clara. Por exemplo, alguns estudos

identificaram espécies com altos potenciais melíferos, da ordem de 200 a

1.000 quilos por hectare. Mas este é um potencial teórico, calculado a partir

de estimativas do número médio de flores por hectare durante uma safra e

do volume e da concentração média de açúcar do néctar produzido por

cada flor. Não custa lembrar que, para que este néctar seja recolhido, é

preciso haver condições climáticas adequadas. Também, muitas vezes há

uma enorme variação no desempenho das plantas de um ano para outro. E

como se não bastassem essas incertezas, nada impede que um pasto

apícola cuidadosamente cultivado seja aproveitado entusiasticamente por

todos os demais enxames da região, sejam eles naturais ou alojados em

colméias de outros apicultores.

Uma alternativa indiscutivelmente boa do ponto de vista econômico, é o

aproveitamento das culturas comerciais, especialmente as voltadas para a

produção de frutas, como os citros, ou grãos, como o girassol ou a canola.

10.10 Como saber o que deve ser plantado?

Este é um tema delicado, do ponto de vista ecológico. Muitos ecologistas

recomendam que apenas as espécies nativas (ou exóticas há muito

aclimatadas) sejam plantadas, a fim de evitar um possível desequilíbrio

ecológico. É uma posição cautelosa, mas a multiplicação artificial e maciça

de uma espécie nativa também pode causar algum desequilíbrio. Isso é

especialmente importante em grandes vazios demográficos e áreas de

Page 100: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

preservação ambiental, onde uma planta invasora poderá se alastrar

livremente antes que o seu dano seja percebido.

Uma lista de espécies locais de interesse apícola pode ser obtida com os

apicultores mais experientes da região, especialmente os mais inclinados

para este assunto (não são muitos, infelizmente). Naturalmente, a região

considerada não precisa se restringir às vizinhanças do apiário; ela pode

compreender, por exemplo, os estados geograficamente próximos.

E uma boa alternativa sempre será uma seleção pessoal do apicultor, a

partir da observação cuidadosa e muita leitura.

10.11 Que critérios definem uma boa planta nectarífera?

Basicamente, três: quantidade, qualidade e disponibilidade do néctar

produzido. No que diz respeito a néctar floral, os fatores levados em

consideração são, principalmente, os seguintes:

Duração da floração;

Confiabilidade (previsibilidade) da floração;

Volume de néctar produzido por planta;

Concentração de açúcar do néctar;

Acessibilidade da abelha ao nectário;

Qualidade do mel produzido, consideradas as suas

propriedades organolépticas (aroma, sabor, textura, aspecto,

etc.).

Há autores que também incluem a abundância regional como um critério

para qualificação de planta nectarífera. Na minha opinião, isso é um

equívoco, pois confunde a avaliação individual de cada planta com a sua

participação relativa no conjunto da flora apícola regional, que são pontos

bem diferentes.

Alguns desses fatores não são mensuráveis senão em laboratório, mas são

percebidos pelo nível de atratividade que as flores exercem nas abelhas e

pela produção destas.

Ou seja, de forma mais simples, uma boa nectarífera é aquela que floresce

intensamente, todos os anos (ou sempre que plantado), atrai muitas

abelhas e dá um mel saboroso.

10.12 Há plantas de floração imprevisível?

Sim. Muitas espécies perenes apresentam grandes variações de um ano

para outro. É o mesmo processo que ocorre com as frutíferas, para as

quais, sem manejo adequado (raleio dos frutos), os anos de abundância

precedem os de escassez. Os eucaliptos, por exemplo, reconhecidos

mundialmente como uma excelente fonte de néctar e pólen, são

notoriamente pouco confiáveis. A espécie robusta, muito difundida no Brasil

e responsável por colheitas abundantes na região sul, é uma das mais

confiáveis, com florações fortes e repetidas.

10.13 Que critérios definem uma boa planta polinífera?

Page 101: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

A flora polinífera é muito mais abundante do que a nectarífera, e, talvez por

esta razão, receba menos atenção. É comum encontrar-se plantas

qualificadas como boas produtoras de pólen, mas não estimativas de

produtividade por espécie, por exemplo.

Do ponto de vista da necessidade alimentar das larvas de abelha, porém,

sabe-se que há polens muito melhores que outros. O primeiro dado

importante é que o total de proteína no pólen deve ser igual ou superior a

20%, mas ele, por si só, não significa muito. Um estudo realizado por

DeGroot em 1953 determinou as quantidades mínimas de 10 aminoácidos

que devem estar presentes na proteína do pólen para que as larvas possam

aproveitá-la integralmente. Por exemplo, a proteína presente num pólen

deve conter no mínimo 4% do aminoácido isoleucina. Se tiver apenas 3%,

segundo DeGroot, as larvas só conseguirão digerir 3/4 da proteína total.

Nesse caso, se o volume total de proteína for de 24% e todos os demais

aminoácidos estiverem dentro do mínimo necessário, a proteína digerível

para as larvas será de apenas 18%, o que é um valor insuficiente.

Um exemplo desta situação é o que ocorre com a alfafa, que provoca um

enfraquecimento do enxame pela intensa colheita de néctar sem um o

pólen de qualidade suficiente para manter as crias [STA96]. Já o pólen da

Corymbia (ex-Eucalyptus) maculata é tido como um dos melhores polens

para as abelhas na Austrália. Sementes dessa árvore são facilmente

encontráveis no Brasil, por exemplo, no site do IPEF (http://www.ipef.br/).

10.14 Que critérios definem uma boa planta propolífera?

Menos informações ainda se têm sobre plantas propolíferas. Uma referência

freqüente à Baccharis dracunculifolia (vassoura, alecrim) afirma que ela

produz a própolis verde, um tipo especialmente procurado e valorizado

pelos compradores internacionais.

10.15 Como identificar uma planta?

Uma vez que se tenha observado uma planta de interesse, o primeiro passo

é fazer uma pesquisa como os moradores locais para descobrir o seu nome

popular. Com o nome popular, pode-se descobrir a espécie com uma

simples consulta à Internet (via Google - http://www.google.com.br/ - ou

outro buscador). Não é garantido, pois o mesmo nome popular às vezes é

usado para inúmeras espécies completamente diferentes.

Não conseguindo o nome popular, pode-se recorrer a herbários de

universidades ou Jardins Botânicos. Biólogos que fazem trabalho de campo,

como os que trabalham na preparação de relatórios de impacto ambiental

(RIMAs), têm vasto conhecimento sobre a vegetação regional, e podem

ajudar.

Uma alternativa é a pesquisa bibliográfica própria. Os livros de Harri

Lorenzi, do Instituto Plantarum (http://www.plantarum.com.br/), por

exemplo, são abrangentes, e as espécies são muito bem descritas e

fotografadas. Em especial, veja [LOR00] e [LOR02].

11. Inimigos

Page 102: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

11.1 Quais são os inimigos das abelhas? [3]

Há vários. Microorganismos causadores de doenças de cria e de adultos,

parasitas internos, externos e sociais, substâncias tóxicas, predadores e

outras pragas (referências em [ESP02], [GON02], [PER03], [SAM98],

[SAN99], [SHI92], [WIE87]).

No que diz respeito ao Brasil e às abelhas africanizadas, os principais

problemas são as substâncias tóxicas e o vandalismo ou roubo. Em relação

às doenças e parasitas em geral, as africanizadas apresentam uma

resistência maior que as européias. Em parte, essa resistência tem origem

orgânica, como no caso da característica SMR (de Suppress Mite

Reproduction), freqüentemente encontrada nas africanizadas, que impede a

reprodução da varroa nos alvéolos de cria. No caso das doenças, a maior

resistência das africanizadas provavelmente se deve a um comportamento

higiênico mais desenvolvido, que as leva a remover os cadáveres mais

rapidamente e com maior eficiência, diminuindo assim a chance de

alastramento da infecção.

Ao mesmo tempo, essas abelhas têm forte tendência de abandonar

completamente o ninho quando enfrentam algum tipo de perturbação mais

forte, deixando para trás todos os organismos indesejados. Esse tipo de

comportamento ajuda no controle de parasitas, que chegam a devastar

fortes colônias de européias, mas raramente fazem o mesmo com

africanizadas.

Nos países que criam abelhas européias, três pragas são responsáveis pela

maior parte dos prejuízos: a podridão americana, a varroa e o besouro da

colméia.

Na África, os criadores de Apis mellifera scutellata têm sofrido nos últimos

anos com um caso grave de parasitismo social da A.m. capensis [GON02].

11.2 Como são classificados esses inimigos?

Há varias classificações possíveis. Uma delas, muito citada, é por fase da

vida da abelha em que ela é atingida. Por exemplo, as principais doenças

de cria são as seguintes:

Podridão européia (ou CPE - Cria Pútrida Européia)

Podridão americana (ou CPA - Cria Pútrida Americana)

Cria ensacada

Cria ensacada brasileira

Cria giz

Já as principais doenças de adultos são estas:

Nosemose

Disenteria

Envenenamento

Fome e frio

E há também os parasitas e outras pragas:

Page 103: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Varroa

Acarapis woodi (doença chamada de acariose)

Aethina tumida (besouro da colméia)

Apis mellifera capensis

Traças de cera

Formigas

11.3 Podridão européia?

Agente: bactéria Melissococcus pluton.

Sintomas: larvas mortas, amareladas ou marrons. Cheiro ácido forte.

Favo de cria com poucos alvéolos operculados em meio a muitos vazios

ou com larvas mortas.

Contágio: as abelhas adultas contaminam as larvas ao alimentá-las.

Prejuízo: significativo, quando a colônia não tem alimento suficiente.

Ocorrência no Brasil: relativamente comum.

Controle: uma alimentação abundante, energética e protéica,

geralmente resolve o problema. Se ele persistir, uma opção é substituir a

rainha para tentar mudar o perfil de tolerância à doença da colônia.

Observação: essa doença pode ser tratada com Terramicina, mas essa

não é a melhor escolha (veja o item 11.20 abaixo)

11.4 Podridão americana?

Agente: bactéria Paenibacillus larvae

Sintomas: crias operculadas (pré-pupa/pupa) mortas, opérculos

perfurados. Larvas marrons que, quando esmagadas com um palito,

adquirem uma consistência viscosa e provocam a criação de um "fio" no

momento em que o palito é removido.

Contágio: fácil, através de mel e pólen contaminados com os esporos

da bactéria. A transmissão se dá por pilhagem de colônias infectadas,

transferência de favos de alimento pelo apicultor e até mel extraído que

é recolhido pelas abelhas (essa forma proporciona a "importação" da

doença de outros países, junto com méis contaminados).

Prejuízo: muito grande, podendo devastar apiários.

Ocorrência no Brasil: ainda não detectada.

Controle: colméias suspeitas devem ser imediatamente isoladas e ter

uma amostra enviada a análise de laboratório. Como esta doença ainda

não foi identificada no Brasil, não existe uma diretriz nacional sobre o

que fazer se o resultado for positivo. O melhor talvez seja adotar o

critério mais radical, usado por diversos países, que é o da destruição

completa das abelhas e de todas as partes da colméia. Para isso, remova

primeiro todos os quadros e queime-os durante o dia. À noite, feche a

Page 104: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

colméia e mate as abelhas com um inseticida. Essa parte é

especialmente difícil para o apicultor, mas ele deve lembrar que a

sobrevivência de todos os demais enxames está em jogo. No dia

seguinte, queime as caixas, fundo, tampa e as abelhas mortas. O fogo é

necessário porque os esporos do P. larvae suportam temperaturas de até

150 ºC. Alguns países e estados americanos admitem a esterilização do

equipamento ao invés da sua destruição, mas os meios não são

facilmente encontráveis no Brasil ou são muito perigosos (irradiação beta

e gama, mergulho em parafina a 160 ºC, fervura em solução de soda

cáustica).

11.5 Cria ensacada?

Agente: vírus (SBV, de Sacbrood Virus, sem nome científico)

Sintomas: crias parcialmente operculadas em meio a outras totalmente

operculadas ou já emergidas. Pré-pupas mortas, com cor variando do

amarelo ao marrom-escuro, especialmente com a extremidade da

cabeça mais escura que o resto do corpo. Indivíduos mortos podem ser

facilmente removidos dos alvéolos, mas, quando agarrados por uma

pinça, tomam a forma de um saquinho (daí o nome).

Contágio: provavelmente através das abelhas adultas, ao alimentar as

larvas.

Prejuízo: pouco significativo, podendo passar despercebido em

enxames fortes.

Ocorrência no Brasil: desconhecida (veja item 11.6).

Controle: a manutenção de enxames fortes, com bastante alimento é

suficiente.

11.6 Cria ensacada brasileira?

Agente: pólen do barbatimão (Stryphnodendron spp.)

Sintomas: similares aos da cria ensacada (descritos acima)

Contágio: pelas abelhas adultas, ao alimentar as larvas com o pólen.

Prejuízo: grande, com enfraquecimento ou morte de muitos ou todos os

enxames do apiário.

Ocorrência no Brasil: muito freqüente na região Sudeste. Possível em

outras regiões onde exista esta planta.

Controle: alimentação com suplemento protéico pelo menos 15 dias

antes do início da florada do barbatimão. Manutenção dessa alimentação

durante todo o período da florada.

11.7 Cria giz?

Agente: fungo Ascosphaera apis

Page 105: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Sintomas: larvas rígidas, aparentando mumificação. Podem ser

facilmente removidas do favo com uma sacudida.

Contágio: pelas abelhas adultas, ao alimentar as larvas com pólen

contaminado com o fungo.

Prejuízo: moderado em enxames mais suscetíveis.

Ocorrência no Brasil: já detectado, mas ainda não relevante.

Controle: manutenção de enxame forte e substituição freqüente da

rainha.

11.8 Nosemose?

Agente: protozoário Nosema apis

Sintomas: abelhas incapazes de voar, desorientadas no chão da

colméia, com tremores, com asas em posição anormal e abdômen

inchado.

Contágio: pelas fezes das abelhas adultas contaminadas, quando

depositadas dentro da colméia (por impossibilidade de realizar os vôos

higiênicos).

Prejuízo: grande em climas temperados, pequeno nos demais.

Ocorrência no Brasil: existente, mas atualmente pouco relevante.

Controle: manutenção de enxame forte e substituição freqüente da

rainha. Esterilização eventual dos equipamentos por imersão em água

quente.

11.9 Disenteria?

Agente: más condições alimentares e sanitárias

Sintomas: presença de matéria fecal marrom ou amarelada na colméia,

abelhas com movimentos lerdos e abdomens inchados. Mortandade de

abelhas.

Causas: alimento fermentado, alimento com impurezas (como as

presentes no açúcar mascavo e melado de cana), alimento com alto teor

de HMF (mel velho, açúcar invertido), excesso de umidade na colméia.

Prejuízo: de pequeno a muito grande, podendo acabar com o enxame.

Ocorrência no Brasil: geral.

Controle: eliminação das causas.

11.10 Envenenamento?

Agente: inseticidas

Page 106: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Sintomas: mortandade súbita de adultas dentro da colméia ou redução

drástica do enxame (mortandade no campo).

Causas: aplicação de inseticidas em culturas vegetais no raio de ação

das abelhas. Fungicidas e herbicidas normalmente não matam as

abelhas, ainda que possam deixar resíduos nos produtos coletados.

Prejuízo: Muito grande, podendo devastar o apiário.

Ocorrência no Brasil: geral.

Controle: escolha prévia do local do apiário, conhecimento prévio da

rotina de pulverização das culturas vizinhas, remoção das colméias antes

das pulverizações, alimentação abundante durante e após as

pulverizações.

11.11 Fome e frio?

Agente: falta de alimento energético

Sintomas: Morte ou forte redução do enxame, com abelhas adultas

mortas dentro dos alvéolos, as cabeças voltadas para o fundo.

Causas: falta de alimento energético (mel, néctar, xarope),

especialmente na entressafra e em clima frio, quando o consumo de mel

é aumentado para a geração de calor. É importante salientar que

qualquer enxame normal só morrerá de frio se não tiver mel suficiente a

disposição.

Prejuízo: Grande, com possível perda do enxame.

Ocorrência no Brasil: principalmente nas regiões frias (Sul) ou

naquelas em que as entressafras são severas e longas.

Controle: Alimentação artificial com xarope ou mel deixado na colméia

em quantidade suficiente para a entressafra.

11.12 Varroa?

Agente: ácaros Varroa destructor e Varroa jacobsoni (talvez outros)

Sintomas: presença de muitas larvas (especialmente de zangões) com

ácaros - vistos a olho nu como pontos marrons, do tamanho de uma

cabeça de alfinete. Os ácaros estão presentes nos adultos também, mas

não são tão facilmente identificáveis.

Um teste simples de ser feito é o seguinte: recolher uma porção de

abelhas adultas (500-1000 abelhas) num vidro, adicionar água e sabão

líquido a 4% (ou álcool etílico ou isopropílico a 70%) e agitar bem.

Depois, coar as abelhas e verificar a presença de varroas no líquido.

Prejuízo: muito grande em climas temperados e abelhas européias,

menor em climas tropicais e abelhas africanizadas.

Page 107: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Ocorrência no Brasil: existente, mas ainda não especialmente

relevante. Exige observação.

Controle: manutenção de enxames fortes, bem alimentados.

Substituição da rainha em caso de infestação acentuada. O controle

químico, com fluvalinato, é permitido e usado em outros países, mas não

disponível nem recomendado por grande parte dos apicultores no Brasil.

Observação: existe um inseto (Braula coeca) que é praticamente

inofensivo às abelhas, mas muito parecido com a varroa. Ele se aloja no

tórax das operárias e da rainha, às vezes em grupos. Uma diferença

perceptível é que ele possui 3 pares de patas, que se estendem para o

lado do corpo, enquanto que a varroa, um aracnídeo, possui 4 pares,

que se estendem para frente.

11.13 Acariose?

Agente: ácaro Acarapis woodi

Sintomas: imprecisos, muito semelhantes aos de outras doenças:

enxame anormalmente reduzido, abelhas arrastando-se com asas

desconjuntadas. A confirmação só pode ser feita em laboratório.

Prejuízo: grande, se não tratado.

Ocorrência no Brasil: existente, mas atualmente irrelevante.

Controle: manutenção de enxames fortes, bem alimentados, com

rainha nova.

11.14 Besouro da colméia?

Agente: coleóptero Aethina tumida

Descrição: fêmeas adultas deste besouro são atraídas pelo mel e

podem entrar na colméia ou pôr ovos em favos expostos ao ar livre. As

larvas, de pouco mais de 1 cm, alimentam-se de mel e de crias vivas,

infestando qualquer tipo de favo. O mel, fermentado pelas fezes das

larvas, é repudiado pelas abelhas. Poucos indivíduos adultos podem

causar pesadas infestações.

Prejuízo: muito grande na América do Norte, com exterminação de

enxames. Na África, esse besouro raramente cria problemas para os

enxames de Apis mellifera scutellata, embora a sua convivência seja

comum.

Ocorrência no Brasil: ainda não encontrado.

Controle: difícil. Verificação cuidadosa e pronta eliminação de favos

infectados. Manutenção de enxames fortes. Prevenção por exposição

mínima dos favos durante o manejo e colheita de mel.

11.15 Apis mellifera capensis?

Agente: abelha A.m. capensis

Page 108: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Descrição: operárias da abelha capensis invadem colméias de A.m.

scutellata (só dela) e passam a competir com a rainha, pondo ovos e

produzindo feromônio de rainha. Esta acaba morrendo, atacada pelas

invasoras ou vítima de desnutrição por falta de atendimento das suas

operárias. Os ovos postos pelas capensis, apesar de não fecundados,

produzem novas fêmeas poedeiras, o que acaba desorganizando a

colméia de tal modo a inviabilizá-la.

Prejuízo: muito grande na África do Sul, com grande exterminação de

enxames.

Ocorrência no Brasil: ainda não identificada.

Controle: muito difícil. Prevenção por isolamento das duas espécies.

11.16 Traças de cera?

Agente: Galleria mellonella (traça maior) e Achroia grisella (traça

menor)

Descrição: indivíduos adultos põem ovos no interior da colméia ou em

favos guardados, especialmente os mais escuros. As larvas alimentam-se

de cera e formam túneis cheios de fezes e fios de seda nos favos, que se

tornam inaproveitáveis para as abelhas. Em infestações pesadas, as

larvas chegam a destruir a madeira dos quadros e das caixas.

Prejuízo: insignificante ou inexistente em enxames médios e fortes;

importante em enxames fracos. Possivelmente grande em favos

armazenados.

Ocorrência no Brasil: geral.

Controle: manutenção de enxames fortes. Enxames fracos devem ser

protegidos por redução do alvado e vedação das frestas das colméias.

Favos escuros (especialmente os de ninho) devem ser derretidos tão

logo sejam retirados da colméia. Favos claros devem ser guardados,

preferencialmente, em ambiente claro, seco e arejado. O congelamento

dos favos a -15 ºC por 2 horas destrói todas as fases das traças (ovos,

larvas e adultos).

Observação: em alguns países o paradiclorobenzeno (PDB) é uma

substância química aprovada para controle da traça em favos

armazenados. No Brasil, recomenda-se sempre evitar procedimentos que

possam deixar resíduos indesejáveis na colméia e nos seus produtos.

11.17 Formigas?

Agente: diversas espécies de formigas

Descrição: as formigas costumam atacar repentinamente e causar

grandes danos, devorando as crias, o mel, o pólen e provocando um

grande estresse na colméia.

Page 109: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Prejuízo: destruição dos favos e abandono dos enxames.

Ocorrência no Brasil: geral.

Controle: manutenção da colméia em posição elevada em relação ao

solo. Uso de cavaletes com proteção contra formigas, como lã ou estopa

embebida em óleo, arandelas com óleo, cúpulas invertidas (de garrafas

PET, por exemplo). Limpeza do terreno e combate das formigas

predadoras nas imediações do apiário.

11.18 Como se pode confirmar uma suspeita de doença?

Enviando uma amostra de favo, crias e/ou adultas para análise num

laboratório. Isso especialmente necessário no caso de suspeita de podridão

americana, que é a doença apícola mais importante.

11.19 A quem e como se deve enviar as amostras?

Antes de enviar amostras a algum lugar, entre em contato com alguma

autoridade ligada à área de sanidade apícola. Por exemplo, existe oComitê

Científico Consultivo em Sanidade Apícola - CCCSA, instituído pela Portaria

nº 09, de 18 de fevereiro de 2003, da Secretaria de Defesa Agropecuária,

do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Seus

membros podem ser contatados pelos seguintes e-mails (para formar os

endereços, junte as palavras em negrito com o caráter "@" entre elas):

Aroni Sattler (UFRGS/Porto Alegre/RS) - aronisattler em yahoo.com.br

Dejair Message (UFV/Viçosa/MG) - dmessage em mail.ufv.br

David de Jong (USP/Ribeirão Preto/SP) - ddjong em fmrp.usp.br

Dulce Schuch (MAPA/Porto Alegre/RS) dmtschuch em yahoo.com

11.20 Por que não tratar as doenças com remédios?

Medicamentos sempre oferecem o risco de, se mal usados, contribuírem

para a seleção de cepas resistentes dos organismos que estão sendo

combatidos. Além disso, eles contaminam os produtos da colméia e não

têm sido necessários no Brasil. A maior resistência da abelha africanizada

em relação à européia permite que muitas doenças sejam tratadas com a

simples adoção de medidas sanitárias simples e/ou substituição da rainha -

e conseqüente alteração do perfil genético da colméia em cerca de dois

meses. Essa alteração genética é uma tentativa de criar um enxame com

resistência orgânica maior ou comportamento higiênico mais apurado, o

que é perfeitamente possível com a aquisição de rainhas africanizadas

selecionadas.

Dessa forma, busca-se um melhoramento genético com a extinção das

características ruins em relação às doenças. O retorno deste procedimento

é um gasto menor em manejo e nulo em remédios, mas, principalmente, o

privilégio de se recolher produtos absolutamente naturais, sem

contaminantes químicos de nenhuma espécie.

11.21 Como evitar o roubo e o vandalismo?

Esse é um problema difícil. Por representar um perigo a pessoas e animais,

o apiário necessariamente deve ser localizado a uma certa distância de

Page 110: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

casas e galpões, o que o torna um alvo fácil para ações criminosas. Há

muito pouco o que fazer sem investir muito.

A primeira tentativa é ocultar da melhor forma possível o apiário da vista de

populares. O uso de cores discretas nas colméias, telhados e suportes pode

ajudar.

Alguns apicultores sugerem adotar equipamentos especiais, como fundos

(chãos) de colméias com furos grandes, ou tampas integradas com telhados

pesados. A idéia é que as colméias não possam ser carregadas sem que as

abelhas ataquem os ladrões. Isso pode funcionar na primeira vez, mas

dificilmente dará resultado numa segunda tentativa.

A montagem de armadilhas nas imediações do apiário é defendida por

alguns, mas é preciso considerar muito bem as possíveis conseqüências.

Armadilhas que causem dano físico ao invasor podem motivar a

responsabilização criminal do apicultor. Armadilhas que apenas assustem

ou que provoquem ruídos altos ou ativem sirenes talvez possam ser

usadas.

Não há local 100% seguro, mas o conhecimento e uma boa relação com os

vizinhos também ajudam. Um pouco de mel presenteado na colheita pode

angariar aliados vigilantes.

12. Sobre o texto

12.1 A quem se destina esse texto?

Ao escrever as perguntas e respostas eu tive sempre em mente a figura

típica do iniciante, com muita vontade de aprender e quase nenhum

conhecimento. Mas em todo o texto, eu evitei dar apenas as respostas

fáceis, as soluções únicas ou somente os entendimentos mais populares.

Embora não tenha me aprofundado nos assuntos, já que algumas

perguntas precisariam ser respondidas por um curso ou por um livro

inteiro, muitas respostas mencionaram vários enfoques diferentes. Isso me

faz supor que mesmo apicultores experientes possam encontrar algumas

novidades neste texto, se decidirem gastar algumas horas na sua leitura.

12.2 Em que o autor se baseou para escrever este texto?

Três livros formam a base teórica e conceitual deste texto. O primeiro é

"The Hive and the Honey Bee", editado por Joe Graham em 1992. Este livro

foi originalmente escrito por Lorenzo Langstroth em 1853, para divulgar ao

mundo a sua descoberta do espaço abelha e as experiências com as

colméias de quadros móveis, que mudariam a apicultura para sempre.

Langstroth publicou algumas revisões do seu livro até 1885, quando confiou

a continuação do seu trabalho à família Dadant. Diversas revisões foram

publicadas desde então, e, em 1946, foi editada a primeira versão com

múltiplos autores. Novas edições continuam a ser publicadas de tempos em

tempos, as últimas em 1963, 1975 e 1992, sempre escritas por diversos

autores.

Page 111: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

A última edição foi escrita por 33 especialistas e traz uma visão atual e

abrangente da apicultura, embora pouco profunda em muitos pontos,

notadamente nas questões práticas e na apicultura com africanizadas. Para

fazer referências a este livro, eu optei por citar os autores dos capítulos,

que são independentes, e não o livro inteiro.

O segundo livro base é "O Livro do Mel", de Eva Crane (1980), publicado

pela editora Nobel em 1985 (2ª edição). O título resume perfeitamente o

livro - são poucas as informações, técnicas ou históricas, que não se pode

encontrar nele.

O terceiro livro é "A Biologia da Abelha", de Mark Winston (1987), publicado

pela editora Magister em 2003. Apesar da defasagem entre a publicação do

original e a da tradução, este é um livro atual e extremamente

interessante. A sua publicação ocorreu durante a redação deste texto, e foi

responsável por uma ampliação significativa no seu conteúdo.

Afora esses livros, várias publicações foram imprescindíveis em algumas

respostas. Todas elas estão referenciadas no capítulo 13).

A parte prática foi principalmente baseada na minha experiência pessoal.

Eu crio abelhas desde 1987, sempre poucas colméias (menos que doze).

Embora alguns apicultores meçam a experiência pelo número de colméias

manejadas, eu sou de opinião que menos colméias possibilitam um trabalho

mais cuidadoso.

Não obstante, a minha experiência particular foi consideravelmente

enriquecida pelas discussões que acompanho e participo na Internet desde

1999, especialmente no Plenário Apacame

(http://www.grupos.com.br/grupos/apacame-plenario, movido em

03/fev/2004 para http://br.groups.yahoo.com/group/APACAME-Plenario).

Ao final de 2003, este grupo produzia cerca de 1.500 mensagens por mês,

muitas delas com informações, dicas e relatos de grande interesse.

12.3 Por que há tão poucas citações nas respostas?

A minha intenção não foi fazer um trabalho acadêmico, justificando cada

afirmativa feita. Eu coloquei referências (abreviadas) nas respostas apenas

quando imaginei que o que estava sendo escrito poderia provocar alguma

incredulidade ou contrariedade no leitor. Naturalmente, a minha capacidade

de julgamento é limitada, e eu posso ter feito muito mais afirmações

polêmicas do que suponho. De qualquer forma, se for necessário, acredito

que eu possa fornecer uma ou mais referências confiáveis para a maior

parte do que está escrito, pelo menos.

12.4 O que é considerada uma "referência confiável"?

Basicamente, a referência que eu considero ideal consiste num texto que se

aprofunda na investigação de um tema, ou se apóia num estudo com o

mesmo princípio. É o tipo de texto que divulga as conclusões favoráveis e

desfavoráveis ao desejo do autor com o mesmo destaque, que sustenta

essas conclusões com a cautela e as ressalvas necessárias e que esclarece

as prováveis falhas e limitações dos estudos que as suportam.

Page 112: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Nenhum desses textos é correto por definição, uma vez que a ciência,

felizmente, não segue uma doutrina dogmática. Mas eles devem ser

suficientemente claros e honestos para permitir comprovação ou

contestação nos mesmos termos.

12.5 Por que há tão poucos livros brasileiros na bibliografia?

Infelizmente, não há muitos livros sobre apicultura sendo escritos ou

revisados no Brasil, e grande parte do que existe já está bastante defasado.

Além disso, muita coisa escrita no passado, ainda que extremamente

importante na sua época, tinha às vezes um enfoque mais motivacional do

que técnico, freqüentemente valendo-se de aspectos emocionais ou

religiosos para fundamentar alguns assuntos. Como você pode perceber

pela leitura deste texto, eu prefiro uma abordagem mais científica.

A atual geração de pesquisadores brasileiros é competente e produtiva,

como atestam os inúmeros artigos publicados em congressos e revistas

nacionais e estrangeiros. Infelizmente, a produção científica não tem se

traduzido na edição de livros, seja por carência de incentivo material, seja

por falta de uma cultura nesse sentido. A meu ver, só as peculiares

condições brasileiras já justificariam a produção de várias obras de peso.

12.6 Quem colaborou na redação deste texto?

Afora os autores citados, inúmeras pessoas colaboraram, ainda que

inadvertidamente. Os apicultores e pesquisadores que emitem suas

opiniões no grupo da Apacame me ajudaram muito a conhecer novas

técnicas e conceitos, e formar opinião sobre muitos assuntos. Como o

volume de informações é extenso e caótico, não me atrevi a mencioná-los

nominalmente, sob pena de cometer esquecimentos imperdoáveis. Mas

muitos foram importantes e, ao ler este texto, certamente reconhecerão

suas próprias dicas.

Uma menção especial, porém, deve ser feita a Silvio Wiltuschnig. Ao saber

que eu estava preparando este documento, ofereceu-se para criar o

logotipo e efetivamente o fez, com grande talento. O seu belo trabalho

encontra-se no início deste documento.

12.7 Você repassou dicas sem testá-las?

Em alguns casos, sim. Mas sempre tentei deixar bem claro no texto o grau

de confiança que elas me inspiram. As técnicas que eu testei e aprovei (de

minha autoria ou de outrem) foram explicitamente recomendadas. As que

me pareceram sensatas e possivelmente úteis, mas não chegaram a ser

testadas, foram simplesmente mencionadas ou sugeridas como idéia.

Algumas vezes também me referi de forma neutra a práticas comuns,

apenas para deixá-las registradas, por não possuir elementos para um

julgamento mais qualificado. Também contestei algumas práticas, sempre

tentando deixar claro o que não funcionou nas minhas experiências ou que

tipo de ressalva hipotética eu tenha a respeito.

12.8 Por que não há nada sobre...?

A apicultura é um assunto vasto. Um dos livros em que me baseei para

escrever este texto possui 1.300 páginas e, sob alguns aspectos, é bastante

Page 113: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

incompleto. O que está exposto neste texto é uma parte ínfima da

apicultura, embora os assuntos tratados, a meu ver, sejam de interesse

freqüente dos apicultores e iniciantes. Isso não quer dizer que novas

perguntas não possam ser acrescentadas, à medida que me ocorrerem ou

que forem sugeridas por leitores. Um texto publicado na Internet tem

exatamente essa vantagem: pode ser atualizado a qualquer instante, ao

contrário de um trabalho impresso.

Alguns temas, porém foram deixados de lado de propósito ou tratados mais

superficialmente do que se poderia esperar. O primeiro é a apiterapia, que

eu considero um assunto separado da apicultura (embora muitos pensem

diferentemente).

Outro é a flora apícola, que é apresentada aqui quase que de forma

puramente conceitual, sem as tabelas de plantas que alguns leitores talvez

desejassem. Como foi mencionado naquele capítulo, não existe uma fonte

de dados suficientemente confiável e abrangente sobre esse tema no Brasil,

embora haja iniciativas pessoais ou locais, que podem ser encontradas na

Internet e em boa parte dos livros citados na bibliografia.

Já o negócio apícola foi praticamente ignorado. Essa área pode ser de

grande interesse a um iniciante, mas ela tem algumas características

especiais: é muito variável, ainda não está bem normatizada e as

informações sobre ela são escassas e imprecisas.

12.9 Há outros grupos de discussão além do Plenário Apacame?

Sim. Sobre assuntos gerais, há um ainda incipiente, mas mais bem

organizado e administrado que o Plenário Apacame, que é o Fórum

Apicultura (http://www.apicultura.com.br). Ele é dividido em dois níveis,

básico e avançado, sendo que o nível básico é de participação livre,

enquanto o avançado requer registro.

Um grupo exclusivo sobre plantas de interesse apícola é o Florada Apícola

(http://br.groups.yahoo.com/group/florada_apicola, ex-

http://www.grupos.com.br/grupos/floraapicola).

Outro grupo, sobre negócios apícolas, é o Apis Negócios

(http://br.groups.yahoo.com/group/Apis_negocios/, ex-

http://www.grupos.com.br/grupos/floraapicola).

Para os interessados em abelhas sem ferrão (nativas), há o BEEBR

(http://panda.fat.org.br/mailman/listinfo/beebr) e o Abena

(http://br.groups.yahoo.com/group/abena/), grupos de discussão

específicos sobre este tema.

12.10 Os valores expressos em kg de mel não estão errados?

Se ainda não estão errados, provavelmente o estarão no futuro. A intenção

foi apenas dar uma idéia do valor dos bens apícolas em comparação ao seu

principal produto. A relação que utilizei foi baseada em preços vigentes em

2003, de algumas lojas que anunciam na Internet. Não há nenhuma ligação

direta entre os preços dos equipamentos e o do mel. É verdade que quando

o mel está bem valorizado, a demanda pelos equipamentos tende a

Page 114: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

aumentar, e o seu preço também, mas essa relação é indireta e não

necessariamente linear.

12.11 Por que não há figuras neste texto?

Eu não tentei fazer um manual de apicultura, apenas um texto de fácil

acesso, especialmente para os iniciantes. É o tipo de texto popularizado na

Internet pelo acrônimo FAQ (de Frequently Asked Questions). Incluir

imagens nele significaria perder um tempo enorme, obtendo-as

pessoalmente ou negociando o direito de reprodução das que estivessem

disponíveis, e isso sempre esteve fora dos planos.

12.12 Então terei de ler outros livros também?

Sem dúvida nenhuma. Este texto, como foi mencionado em outros

capítulos, não substitui nenhum um bom livro de apicultura. Tampouco é

substituto de um bom curso teórico-prático. É apenas uma leitura inicial,

complementar, ou uma fonte de consulta eventual para apicultores de

todos os níveis.

12.13 É melhor imprimir este texto ou acessá-lo na Internet?

Se você desejar fazer uma leitura completa, a versão impressa

provavelmente será mais confortável. No entanto, consultas eventuais

poderão ser feitas na Internet com a grande vantagem da atualização. Só

durante o período de redação deste texto, houve respostas reescritas três

ou quatro vezes, por conta de novos dados a que eu tinha acesso.

12.14 Quais são as condições de uso deste texto?

Basicamente, as que estão previstas na Lei 9.610/98, que rege os direitos

autorais (http://www.mct.gov.br/legis/leis/9610_98.htm).

Adicionalmente, você pode distribuir este texto livremente, desde que para

fins puramente educacionais e, em nenhuma hipótese, comerciais. A

distribuição do texto, se ocorrer, deve garantir a sua originalidade e

integralidade (o texto deve estar completo e não pode ser modificado).

Preferencialmente, ele deve ser divulgado pelo endereço do site (http://...).

Não é permitido manter cópias parciais ou totais deste texto em outros

sites.

Você pode citar esse texto livremente e reproduzir pequenos trechos

(alguns parágrafos, por exemplo) em um trabalho, desde que a origem e o

autor sejam claramente mencionados.

Se houver qualquer dúvida em relação ao uso deste texto, por favor entre

em contato comigo.

12.15 Como contatar o autor?

Sobre questões relacionadas à apicultura, é mais interessantes fazê-las ao

Plenário Apacame (veja item 12.2). Assim, se eu não tiver tempo ou não

estiver disponível para discuti-las, é muito provável que você encontre

outros apicultores interessados no assunto.

Page 115: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Mensagens privadas podem ser enviadas a jbacampos, em yahoo.com.br

(para formar o endereço de e-mail junte as duas expressões em negrito por

um "@").

Deixo de antemão meus agradecimentos por quaisquer comentários ou

sugestões que me sejam enviados, sabendo que, eventualmente, não

conseguirei fazê-los pessoalmente.

12.16 Por que os e-mails não são escritos normalmente neste

texto?

Porque há programas que varrem as páginas da Internet em busca de

endereços do tipo "alguem@algumlugar". Uma vez encontrados, estes

endereços são anexados a uma lista e vendidos para empresas que fazem

propaganda pela Internet - os spammers.

12.17 O que significam os números entre colchetes? [2]

As numerações à direita das perguntas informam em qual data o item foi

atualizado pela última vez. Na pergunta deste item, por exemplo, o número

[2] indica que essa resposta foi atualizada pela última vez na versão de

14/05/2004. No início este documento há um índice (“Histórico de

Atualizações”), onde o número de cada versão está associado à sua data de

publicação.

Esse sistema foi adotado para facilitar a identificação das últimas alterações

do texto. Um leitor que acesse este documento esporadicamente pode

pesquisar quais foram as atualizações feitas desde a última vez em que ele

foi lido. Para isso, basta mandar localizar as ocorrências de cada um dos

números que lhe interessam. No Internet Explorer, por exemplo, basta

teclar Ctrl-F, digitar o número da versão entre colchetes, e seguir clicando

no botão “Localizar” para achar todas as atualizações desta versão.

Como esse sistema só foi implantado em 30/04/2004, a versão base foi

considerada a de 15/04/2004. Nenhuma pergunta da versão base é

numerada, enquanto todas as perguntas que sofreram atualização ou foram

incluídas desde então têm o seu número de versão (entenda-se como

atualização uma alteração importante no seu conteúdo; meras correções

gramaticais ou ajustes de forma não se enquadram como atualização).

Entre a publicação inicial, em 20/01/2004, e a publicação da versão base,

inúmeras atualizações foram publicadas, mas elas não ficaram registradas.

12.18 Há “merchandising” neste texto?

Não. Eu evitei, sempre que possível, mencionar marcas ou nomes

comerciais. Com isso, deixei de me referir a excelentes fabricantes e

fornecedores de produtos e equipamentos, que podem ser facilmente

descobertos nos grupos de discussão sobre apicultura. No caso da

alimentação protéica, porém, foram mencionados dois produtos disponíveis

no mercado, pois a sua produção caseira não é trivial. Ambos possuem prós

e contras, e, embora eu tenha deixado clara a minha preferência, ela não

se deveu a nenhuma forma de pagamento ou compensação, mas às minhas

observações pessoais, enriquecidas por muitos comentários de outros

apicultores.

Page 116: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

Isso não significa que o site não possa ser patrocinado no futuro. Mas, caso

venha a ocorrer, qualquer propaganda será claramente identificada como

tal e totalmente independente do texto.

12.19 Como achar um assunto neste texto?

Se você quiser usar os índices de assunto (no início) ou de perguntas (no

final), pode simplesmente clicar sobre um item para vê-lo mostrado na tela.

Para retornar ao índice, clique no botão “Voltar” (seta para esquerda) do

seu navegador.

Se não quiser usar os índices, você pode usar a função de procura do seu

navegador. Por exemplo, no caso do Internet Explorer, aperte a

combinação de teclas <Ctrl-F> para abrir a janela “Localizar”. Nela, digite a

palavra desejada e depois clique no botão “Localizar próxima”.

12.20 Devo acreditar piamente em tudo que está escrito aqui?

Obviamente, não. Embora eu tenha feito o máximo esforço para expor aqui

informações e opiniões corretas e equilibradas, estou pronto a modificar

qualquer uma delas tão logo seja convencido do contrário, com dados e

argumentos melhores do que aqueles a que tive acesso originalmente. O

conhecimento, felizmente, evolui, e muita coisa escrita aqui pode se tornar

obsoleta de um dia para o outro. Conseqüentemente, não ofereço nenhum

tipo de garantia sobre qualquer coisa que tenha sido escrita neste texto.

Assim, sugiro que todas as dicas, informações e opiniões deste texto (e de

todos os outros) sejam sempre analisadas com um ceticismo positivo,

aquela desconfiança saudável que leva as pessoas a verificarem os dados

em outras fontes, a refazerem experiências, a levantarem dúvidas,

raciocinarem, contestarem e argumentarem. É o que eu normalmente faço

e o que mais recomendo a todos.

12.21 Tudo parece muito complicado. Devo desistir da apicultura?

Ainda não. Se você leu todo esse material sem ter experiência prévia, é

normal que a quantidade de informações o tenha assustado um pouco. No

entanto, lembre-se que inúmeras gerações de apicultores criaram abelhas

em caixas comuns de madeira e cestos de palha sem que qualquer dos

conceitos e técnicas abordados aqui fossem conhecidos. E, sim, eles

colheram mel.

Portanto, se o seu objetivo é apenas se divertir um pouco e tirar algum mel

para a família, nem de longe imagine que vai precisar usar todas as

informações deste texto. Antes de desistir da idéia de se tornar um

apicultor, faça uma última tentativa: procure um bom curso teórico-prático

e comprove pessoalmente que os prazeres da apicultura sempre superam

as suas dificuldades.

13. Referências citadas

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Honey Bees. Disponível em

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[BRI04] BRIGHENTI, C.F. et al. Eficiência do Bacillus thuringiensis var. kurstaki no

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[LOR02] LORENZI, H. Árvores Brasileiras. Nova Odessa: Instituto Plantarum,

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[SCH92] SCHMIDT, J.O. Allergy to Venomous Insects. In: GRAHAM, J.M. (ed.) The

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[SCH92a] SCHMIDT, J.O.; BUCHMANN, S.L. Other Products of the Hive. In: GRAHAM,

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[SHI92] SHIMANUKI, H. et al. Diseases and Pests of Honey Bees. In: GRAHAM, J.M.

(ed.) The Hive and the Honey Bee. Hamilton: Dadant & Sons, 1992.

[SOA97] SOARES, A.E. Caixas Iscas e Enxameação em Abelhas Africanizadas.

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[SOU92] SOUTHWICK, E.E. Physiology and Social Physiology of the Honey Bee. In:

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[VIS03] VISSCHER, P.K.; VETTER, R.S.; CAMAZINE, S. Removing Bee Stings.

Disponível em http://bees.ucr.edu/stings.html, 2003.

[WHI92] WHITE JR., J.W. Honey. In: GRAHAM, J.M. (ed.) The Hive and the Honey

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[WIE87] WIESE, H. Nova Apicultura. Porto Alegre: Livraria e Editora Agropecuária,

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[WIN03] WINSTON, M.L. A Biologia da Abelha. Porto Alegre: Magister, 2003.

14. Índice geral

1. A Abelha 1.1 Que abelhas são criadas no Brasil?

1.2 O que significa esse nome científico?

1.3 Que raças de abelhas existem?

1.4 Que raças existem no Brasil?

1.5 Como essas abelhas chegaram aqui?

1.6 As abelhas africanizadas são mais agressivas?

1.7 Quando um ataque de abelhas pode ser fatal?

1.8 A apicultura pode ser considerada uma atividade perigosa?

1.9 Quantas vezes uma abelha pode ferroar?

1.10 A rainha ferroa? E os zangões?

1.11 Afinal, por que as abelhas ferroam?

1.12 As abelhas são criaturas boas?

1.13 Como as abelhas não planejam, se elas guardam mel para o inverno?

1.14 O que as abelhas reconhecem como ameaça?

1.15 O que são as castas de abelhas?

1.16 O que diferencia a rainha das operárias?

1.17 E o que é uma princesa?

1.18 Como é a fecundação da rainha?

1.19 Como podem os zangões nascer de ovos não fertilizados?

1.20 Qual é a função dos zangões?

1.21 Como identificar um zangão?

1.22 Zangões são sempre “puros”? [1]

1.23 Os zangões irmãos são idênticos? [1]

1.24 Qual é a função da rainha?

1.25 Quantos ovos a rainha põe por dia?

1.26 O que acontece quando a rainha morre?

1.27 E se não houver uma larva jovem?

1.28 O que é uma colméia zanganeira?

1.29 Por que as abelhas começam a pôr ovos?

1.30 Como saber se uma colméia está sem rainha?[2]

1.31 Como saber se uma colméia está zanganeira?

Page 120: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

1.32 Em quanto tempo uma colméia fica zanganeira?

1.33 Como identificar a rainha?

1.34 Qual é a função das operárias?

1.35 Qual é a relação entre a idade das abelhas e as tarefas executadas?

1.36 Quanto tempo vive uma abelha?

1.37 Quantas abelhas vivem numa colméia?

1.38 Quando as abelhas pilham as colméias vizinhas?

1.39 Como as abelhas se comunicam?

1.40 E a dança das abelhas?

1.41 Como elas fazem quando o sol não está visível?

1.42 Como elas informam uma posição atrás de um obstáculo?

1.43 A que velocidade voa uma abelha?

1.44 Quanto tempo uma abelha leva para nascer?

1.45 O que as abelhas comem?

1.46 Como os enxames se reproduzem?

1.47 O que acontece com a colméia que perdeu um enxame? [2]

1.48 Por que as abelhas abandonam a colméia?

1.49 Por que as abelhas às vezes matam a sua rainha?

1.50 Como as abelhas lidam com as variações de temperatura?

1.51 Por que o apicultor põe fumaça nas abelhas?

1.52 A fumaça não estressa as abelhas?

1.53 Quanto pesa uma abelha?

1.54 Como a abelha coleta néctar?

1.55 Quanto néctar a abelha pode transportar?

1.56 A que distância uma abelha voa para colher néctar?

1.57 Como a abelha coleta pólen?

1.58 Como a abelha coleta própolis?

1.59 Como a abelha coleta água?

1.60 O que estimula as abelhas para a colheita?

1.61 Onde as abelhas guardam esses produtos?

1.62 Como as abelhas produzem cera?

1.63 Quanto mel deve ser ingerido para a produção de 1 kg de cera?

1.64 Que abelha devo criar, européia ou africanizada?

2. A Colméia 2.1 O que é uma colméia?

2.2 Como é uma colméia?

2.3 De que outros materiais podem ser feitas as colméias?

2.4 Qual é o melhor tipo de colméia?

Page 121: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

2.5 O que são ninhos e melgueiras?

2.6 O que é melhor, melgueiras ou sobreninhos?

2.7 Não há uma alternativa intermediária?

2.8 Quanto pesam uma melgueira e um sobreninho?

2.9 Afinal, quantos quadros devem ser usados, 8, 9 ou 10?

2.10 O que são espaçadores Hoffmann?

2.11 Como as abelhas sabem onde devem colocar cada produto?

2.12 O que é uma tela excluidora?

2.13 Por que alguns apicultores não usam a tela excluidora?

2.14 Por que as abelhas constroem seus favos exatamente dentro dos quadros?

2.15 Por que as abelhas preenchem alguns espaços com cera e outros com própolis?

2.16 O que é o espaço-abelha?

2.17 Quais são os outros espaços importantes?

2.18 O que é cera alveolada?

2.19 Como a cera alveolada é fixada nos quadros?

2.20 É melhor soldar a lâmina encostada na barra superior?

2.21 Como se solda cera com corrente elétrica?

2.22 Que fonte é essa?

2.23 Que arame é melhor?

2.24 O arame não encrava na madeira dos quadros?

2.25 Quadros plásticos não são preferíveis?

2.26 Do que são feitos os favos?

2.27 Como os favos são produzidos?

2.28 Por que o alvéolo é hexagonal?

2.29 Qual é o tamanho do alvéolo?

2.30 Quantos alvéolos há num favo?

2.31 Existe cera alveolada para zangões?

2.32 Que cor tem o favo?

2.33 Por que o mel não escorre do favo?

2.34 Como é o fundo da colméia?

2.35 Que tamanho tem o alvado?

2.36 Como é a tampa da colméia?

2.37 O que é uma entretampa?

2.38 Que outros equipamentos podem compor a colméia?

2.39 Como se protege a colméia contra a intempérie?

2.40 Como pode ser feito o telhado da colméia?

2.41 Como se pinta uma colméia?

2.42 Onde fica apoiada a colméia?

Page 122: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

3. O Apiário 3.1 Com quantas colméias devo iniciar um apiário?

3.2 Como eu acho um bom curso de apicultura?

3.3 Mas, afinal, com quantas colméias geralmente se inicia um apiário?

3.4 Onde o apiário deve ser localizado?

3.5 A que distância de casas um apiário pode estar?

3.6 A que distância de flores e água deve ficar o apiário?

3.7 Que distância entre apiários deve ser respeitada?

3.8 Até quantas colméias posso ter num apiário?

3.9 E se a produção cair porque o meu vizinho instalou um apiário?

3.10 A que distância deve ficar uma colméia da outra?

3.11 Que outras considerações são necessárias no planejamento do apiário?

3.12 Para que lado devem ficar virados os alvados?

3.13 Como limpar o apiário?

3.14 Posso criar animais perto do apiário?

3.15 Posso fazer as minhas colméias?

3.16 Quanto custa uma colméia?

3.17 Quantas melgueiras por colméia devo comprar?

3.18 Preciso comprar colméias de reserva?

3.19 Como povoar o apiário?

3.20 Como é uma caixa-isca?

3.21 Não é melhor usar colméias vazias para atrair enxames?

3.22 Por que usar o Cymbopogon citratus?

3.23 Quando colocar e tirar as caixas-isca?

3.24 Quando o enxame pode ser transferido para a colméia definitiva?

3.25 Quando a nova caixa pode ser transferida para o apiário?

3.26 Como capturar enxames alojados?

3.27 Como manter informações sobre o apiário? [3]

4. Proteção 4.1 Como se proteger durante o manejo?

4.2 Como deve ser a vestimenta do apicultor?

4.3 Como vestir todo esse equipamento?

4.4 Não se morre de calor?

4.5 Mas as abelhas não entram pelas frestas?

4.6 O que eu faço se entrarem abelhas na máscara?

4.7 Como se proteger contra enxames muito agressivos?

4.8 A fumaça tonteia as abelhas?

4.9 Como usar a fumaça?

Page 123: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

4.10 Por que a fumaça é indesejável?

4.11 Quanto tempo devo esperar para abrir a caixa após pôr fumaça?

4.12 Como posso me livrar das abelhas que me perseguem?

4.13 O que fazer quando eu levar uma ferroada?

4.14 Por que devo retirar o ferrão rapidamente e sem usar os dedos?

4.15 Como é que alguns apicultores trabalham sem proteção?

4.16 Então, por que há gente que trabalha sem máscara?

4.17 Então não devo fazer uma barba de abelhas também?

4.18 Por que as abelhas ficam naquela forma de barba?

5. Prática Básica 5.1 Quais são as principais ferramentas do apicultor?

5.2 Como é o fumegador?

5.3 Qual é o combustível ideal para o fumegador?

5.4 Como acender o fumegador?

5.5 E como reacender o fumegador?

5.6 Para que serve o formão?

5.7 Como é o espanador?

5.8 Há outras ferramentas úteis para o manejo?

5.9 Como fazer para não perder essas ferramentas?

5.10 Com que freqüência devo examinar as colméias?

5.11 Como é feita uma revisão completa?

5.12 As colméias mais fortes devem ser examinadas primeiro?

5.13 Por que pode ser necessário interromper o trabalho?

5.14 Onde ponho as caixas que vão sendo retiradas?

5.15 Como retirar e examinar os quadros?

5.16 Como saber se o enxame está bem desenvolvido?

5.17 Como saber se há mel suficiente até a próxima revisão?

5.18 Quais são os sinais de excesso de calor na colméia?

5.19 Por que os favos de cria devem ser substituídos periodicamente?

5.20 Quando os favos devem ser trocados?

5.21 Quando devem ser colocadas as melgueiras?

5.22 É melhor fazer o manejo de dia ou à noite?

5.23 Por que as abelhas voam pouco à noite?

6. Alimentação 6.1 Como deve ser alimentada a colméia?

6.2 O que é alimentação artificial?

6.3 Quando deve ser fornecida a alimentação de subsistência?

6.4 Como é a alimentação energética de subsistência?

Page 124: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

6.5 A alimentação de subsistência não pode ser sólida?

6.6 O que é cândi?

6.7 Quando deve ser fornecida a alimentação estimulante?

6.8 Quanto deve ser fornecido de alimentação estimulante?

6.9 Como evitar o bloqueio do ninho?

6.10 Como é a alimentação estimulante?

6.11 Como calcular as proporções de açúcar e água?

6.12 O que é açúcar invertido?

6.13 O que HMF?

6.14 Mel velho pode ser usado na alimentação artificial?

6.15 Como resolver o problema de fermentação do xarope?

6.16 Deve-se acrescentar sal ao xarope?

6.17 Como o xarope é fornecido?

6.18 Por que os alimentadores coletivos provocam pilhagem?

6.19 Como são os alimentadores individuais externos?

6.20 Como são os alimentadores internos?

6.21 E os alimentadores de balde?

6.22 O "mel" produzido com essa alimentação pode ser consumido?

6.23 Quando deve ser fornecida a alimentação protéica?

6.24 Como é a alimentação protéica?

6.25 Como a alimentação protéica é fornecida? [2]

7. Enxames e Rainhas 7.1 Como se movimenta uma colméia para um lugar próximo?

7.2 O que fazer com as campeiras que voltam ao local de origem?

7.3 A partir de que distância as abelhas não voltam mais ao local original?

7.4 Como se movimenta uma colméia para um lugar distante?

7.5 Como se faz a divisão de um enxame?

7.6 O que fazer com a rainha numa divisão?

7.7 O que fazer se houver saque entre as colméias?

7.8 Para que serve uma união de enxames? [3]

7.9 Então é melhor unir o máximo possível de enxames?

7.10 Qual é o melhor momento para fazer-se a união? [3]

7.11 Como unir os enxames sem diminuir o número de colméias?

7.12 Qual é o roteiro de um apiário "sanfona"?

7.13 Mas, afinal, como se faz uma união?

7.14 Com quantos ninhos deve ficar uma colméia?

7.15 O que fazer com um ninho bloqueado por mel?

7.16 Como reforçar uma colméia com cria sem uni-la a outra?

Page 125: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

7.17 Como é uma colméia criadeira?

7.18 Como evitar a enxameação?[2]

7.19 O que fazer se houver realeiras no enxame? [2]

7.20 O que fazer com as realeiras removidas? [2]

7.21 Como aproveitar as realeiras em outras colméias? [2]

7.22 Por que a introdução de uma realeira pode não dar certo? [2]

7.23 Como se acha a rainha?

7.24 Durante as revisões é preciso sempre enxergar a rainha?

7.25 Quando se deve substituir a rainha? [2]

7.26 Com que freqüência a rainha deve ser substituída? [2]

7.27 Como substituir uma rainha?

7.28 Como as rainhas são vendidas? [2]

7.29 Como é uma gaiola de introdução? [2]

7.30 Como as acompanhantes são retiradas da gaiola de transporte?

7.31 Como a gaiola deve ser colocada na colméia? [2]

7.32 O que é "cor do ano"?

7.33 Como as rainhas são produzidas para venda?

7.34 Quanto custa uma rainha?

7.35 O que fazer se a rainha morrer?

7.36 O que fazer se o enxame ficar zanganeiro? [2]

7.37 O que fazer se o enxame morrer?

8. O Mel e a Colheita 8.1 O que é o mel?

8.2 O que é o néctar?

8.3 O néctar pode ser produzido fora das flores?

8.4 O que é melato?

8.5 Quando o mel está pronto para ser colhido?

8.6 Por que a umidade é ruim para o mel?

8.7 Qual é o percentual de umidade seguro para o mel?

8.8 Como é medida a umidade do mel?

8.9 Como retirar umidade do mel?

8.10 Em que condições o mel pode ser colhido? [2]

8.11 Com que freqüência o mel deve ser colhido? [2]

8.12 Quantas melgueiras devem ser colocadas no início da safra? [2]

8.13 Onde deve ser colocada uma nova melgueira?

8.14 Como colocar melgueiras com 8 ou 9 quadros?

8.15 Como as abelhas são retiradas das melgueiras?

8.16 Como as melgueiras devem ser transportadas?

Page 126: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

8.17 Como é feita a desoperculação dos favos?

8.18 O que é uma mesa desoperculadora?

8.19 Quanto custa uma mesa desoperculadora?

8.20 O que é uma torneira de corte rápido?

8.21 Como é feita a centrifugação dos quadros?

8.22 O que são centrífugas radial e facial?

8.23 Como centrifugar favos quebrados?

8.24 Por que a centrífuga vibra?

8.25 O que move a centrífuga?

8.26 Quanto custa uma centrífuga?

8.27 A centrifugação dos favos é demorada?

8.28 Como extrair o mel sem a centrífuga?

8.29 O que fazer com as melgueiras após a extração?

8.30 O que é feito do mel após a centrifugação?

8.31 O que é um decantador?

8.32 Quanto custa um decantador?

8.33 É possível produzir mel em favo?

8.34 Como o mel deve ser armazenado?

8.35 O HMF é prejudicial à saúde humana?

8.36 As enzimas são benéficas à saúde humana?

8.37 Como o mel é adulterado?

8.38 Há um modo simples de descobrir se o mel é adulterado?

8.39 É possível identificar a origem floral de um mel? [3]

8.40 Por que o mel cristaliza?

8.41 Como ocorre a cristalização?

8.42 Como descristalizar o mel?

8.43 O que é mel cremoso?

8.44 Como se produz mel cremoso?

8.45 Quem comprará mel cremoso?

8.46 Qual é a densidade do mel?

8.47 Mel cura a gripe? [1]

8.48 A quantas bananas equivale 1 kg de mel?

8.49 E o mel não é cheio de vitaminas e minerais?

8.50 Mas então, para que comer mel?

8.51 Diabéticos podem comer mel?

8.52 Bebês podem comer mel?

8.53 Qual é o consumo de mel no Brasil?

8.54 Qual é a produção de mel no Brasil?

Page 127: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

8.55 Qual é a produção de mel por colméia no Brasil?

8.56 O que é mel orgânico?

8.57 Como se produz mel orgânico?

8.58 Quais são os critérios exigidos para o mel orgânico?

8.59 O que é hidromel?

9. Outros Produtos 9.1 O que é o pólen?

9.2 Como as abelhas ajudam na polinização?

9.3 Como o pólen é armazenado pelas abelhas?

9.4 Como o apicultor coleta o pólen?

9.5 Por quanto tempo o caça-pólen pode ser deixado na colméia?

9.6 Como é o beneficiamento do pólen?

9.7 É possível produzir mel e pólen na mesma colméia?

9.8 O pólen é um alimento completo para os humanos?

9.9 O pólen pode ser consumido por qualquer pessoa?

9.10 Para que o pólen pode ser usado como remédio?

9.11 O que é a própolis?

9.12 Para que as abelhas utilizam a própolis?

9.13 Como o apicultor coleta a própolis?

9.14 É possível produzir mel e própolis na mesma colméia?

9.15 Por quanto tempo pode ser mantido o coletor de própolis?

9.16 Como a própolis é beneficiada?

9.17 Como a própolis é armazenada?

9.18 Como a própolis é comercializada pelo apicultor?

9.19 Quais são as propriedades da própolis?

9.20 Qual é a dosagem de própolis a ser usada em cada caso?

9.21 O que é a cera?

9.22 Qual é a cor da cera?

9.23 Para que as abelhas usam a cera?

9.24 Quanta cera há numa colméia?

9.25 Qual é a vantagem de se fornecer cera à colônia?

9.26 Como preservar os favos de forma natural?

9.27 Há produtos químicos seguros para a preservação de favos? [3]

9.28 Como se produz cera?

9.29 A produção de cera é rentável?

9.30 Como se derretem favos de mel? [3]

9.31 Que tipo de recipiente deve ser usado para derreter a cera? [3]

9.32 Como se derretem favos de cria? [3]

Page 128: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

9.33 Como purificar a cera? [3]

9.34 Há meios químicos para processar a cera? [3]

9.35 Como se retira a cera dos quadros sem arrebentar os arames?

9.36 O que fazer com a cera derretida?

9.37 Qual é a temperatura de fusão da cera?

9.38 O que é geléia real?

9.39 Quantos anos a mais vou viver se comer geléia real?

9.40 Mas a geléia real é um bom alimento?

9.41 Em que mais a geléia real pode ser usada?

9.42 Quanto vale a geléia real?

9.43 Como se produz geléia real?

9.44 Como a geléia real é armazenada?

9.45 O que é o veneno?

9.46 Quanto veneno possui uma abelha?

9.47 Como o veneno atua?

9.48 Como evitar uma reação alérgica ao veneno?

9.49 Como se extrai o veneno das abelhas?

9.50 Quanto vale o veneno?

9.51 Para que serve o veneno?

10. Flora Apícola 10.1 O que é considerado flora apícola?

10.2 Como saber qual é a flora apícola de uma região?

10.3 O que é o calendário apícola?

10.4 Como descobrir o calendário apícola de uma região?

10.5 Por que o calendário apícola é importante?

10.6 Quanto dura em média uma florada?

10.7 Floradas curtas são inúteis para as abelhas?

10.8 Quais são as melhores plantas apícolas?

10.9 A flora apícola de uma região pode ser melhorada?

10.10 Como saber o que deve ser plantado?

10.11 Que critérios definem uma boa planta nectarífera?

10.12 Há plantas de floração imprevisível?

10.13 Que critérios definem uma boa planta polinífera?

10.14 Que critérios definem uma boa planta propolífera?

10.15 Como identificar uma planta?

11. Inimigos 11.1 Quais são os inimigos das abelhas? [3]

11.2 Como são classificados esses inimigos?

Page 129: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

11.3 Podridão européia?

11.4 Podridão americana?

11.5 Cria ensacada?

11.6 Cria ensacada brasileira?

11.7 Cria giz?

11.8 Nosemose?

11.9 Disenteria?

11.10 Envenenamento?

11.11 Fome e frio?

11.12 Varroa?

11.13 Acariose?

11.14 Besouro da colméia?

11.15 Apis mellifera capensis?

11.16 Traças de cera?

11.17 Formigas?

11.18 Como se pode confirmar uma suspeita de doença?

11.19 A quem e como se deve enviar as amostras?

11.20 Por que não tratar as doenças com remédios?

11.21 Como evitar o roubo e o vandalismo?

12. Sobre o texto 12.1 A quem se destina esse texto?

12.2 Em que o autor se baseou para escrever este texto?

12.3 Por que há tão poucas citações nas respostas?

12.4 O que é considerada uma "referência confiável"?

12.5 Por que há tão poucos livros brasileiros na bibliografia?

12.6 Quem colaborou na redação deste texto?

12.7 Você repassou dicas sem testá-las?

12.8 Por que não há nada sobre...?

12.9 Há outros grupos de discussão além do Plenário Apacame?

12.10 Os valores expressos em kg de mel não estão errados?

12.11 Por que não há figuras neste texto?

12.12 Então terei de ler outros livros também?

12.13 É melhor imprimir este texto ou acessá-lo na Internet?

12.14 Quais são as condições de uso deste texto?

12.15 Como contatar o autor?

12.16 Por que os e-mails não são escritos normalmente neste texto?

12.17 O que significam os números entre colchetes? [2]

12.18 Há “merchandising” neste texto?

Page 130: Apicultura Perguntas %26 Respostas Al

12.19 Como achar um assunto neste texto?

12.20 Devo acreditar piamente em tudo que está escrito aqui?

12.21 Tudo parece muito complicado. Devo desistir da apicultura?

13. Referências citadas

14. Índice geral

Copyright 2004 João Batista de Abreu Campos