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APICULTURA CURSO BÁSICO Esmeralda Garcia do Carmo 2. a edição: 1998 © Esmeralda Garcia do Carmo ISBN 161.763-268-396 Diagramação: Rogério Jorge Figueira Contatos com a autora: www.softservice.com/apismeralda Correspondência: Caixa Postal 1943 CEP 06890-000 São Lourenço da Serra - SP É proibida a reprodução. Todos os direitos reservados de acordo com a legislação em vigor.

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Page 1: APICULTURA - softservice.com · criou o quadro móvel, o qual fica suspenso dentro da colmeia ... criação da colmeia Langstroth em 1851. A colmeia Langstroth é considerada padrão

APICULTURA

CURSO BÁSICO

Esmeralda Garcia do Carmo

2.a edição: 1998

© Esmeralda Garcia do Carmo

ISBN 161.763-268-396

Diagramação: Rogério Jorge Figueira

Contatos com a autora:

www.softservice.com/apismeralda

Correspondência:

Caixa Postal 1943 CEP 06890-000

São Lourenço da Serra - SP

É proibida a reprodução.

Todos os direitos reservados de acordo com a

legislação em vigor.

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APRESENTAÇÃO

Este curso destina-se a todos que queiram iniciaruma criação de abelhas, porém, sem sofrerem os tãoalardeados percalços atribuídos à tal prática. É perfeitamentepossível praticar apicultura com abelhas dóceis , trabalhandocom prazer, sem incomodar os vizinhos e, com isso, aindaobter o mel, pólen e a própolis para consumo próprio oumesmo para fins comerciais.

Neste final de milênio, ao mesmo tempo em que asconquistas tecnológicas avançam aos saltos, no outroextremo existe no homem uma busca, cada vez maisgeneralizada, de tudo que o relacione, aproxime e integre ànatureza; nesse sentido a apicultura surge como uma opçãotanto profissional como prazerosa. Sendo uma atividadeecológica que não agride a natureza, promove a polinizaçãode culturas, e ainda fornece o mais precioso alimento, bemcomo outras substâncias comprovadamente medicinais, deveser difundida e praticada em larga escala.

Este curso baseia-se na convicção de que trabalharcom raças de abelhas dóceis é imprescindível para que oapicultor tenha condições de manipular seus enxames emqualquer época do ano, sejam eles populosos ou não,aplicando as mais modernas técnicas, tanto para produçãode novos enxames como para aumento da colheita de mel eoutros produtos.

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CAPÍTULO I

1.1 - UM BREVE HISTÓRICO DA APICULTURA

Pelas pesquisas arqueológicas sabe-se que asabelhas existem há pelo menos 42 milhões de anos. Quantoà apicultura, de acordo com documentos de várioshistoriadores, remonta ao ano de 2.400 a.C., no antigo Egito.Entretanto, arqueólogos italianos localizaram colmeias debarro na ilha de Creta com idade aproximada de 3.400 anosa.C. De qualquer forma até onde se tem registros, o mel jáera utilizado desde 5.000 a.C. pelos sumérios.

As maiores descobertas para o desenvolvimento daapicultura surgiram a partir de Aristóteles, mas só a partir doséculo XVII é que deu-se um considerável avanço nodesenvolvimento e aperfeiçoamento das técnicas de manejo.

Foi com o surgimento do microscópio queSwammerdam (1637-1680)desvendou o sexo da rainha (atéentão supunha-se ser um rei) pela dissecação.

Janscha descobriu em 1771 que a fecundação darainha ocorre ao ar livre. Schirach também em 1771 provouque a rainha originava-se do mesmo ovo que pode originaruma abelha operária. Francisco Huber demonstrou que asrainhas acasalam-se mais de uma vez. JohanesDzierzon confirmou em 1845 a partenogênese em abelhas,cruzando rainhas italianas com zangões cárnicos. JohanesMehring produziu a primeira cera alveolada em 1857.

Franz Von Hruschska inventou a máquina centrífugapara tirar mel sem danificar os favos em 1865.

Lorenzo Lorain Langstroth descobriu o "espaçoabelha", que nada mais é do que o vão entre um favo eoutro. Este espaço deve variar entre 6 e 9mm. A partir daícriou o quadro móvel, o qual fica suspenso dentro da colmeiapelas duas extremidades; todas estas descobertas levaram àcriação da colmeia Langstroth em 1851.

A colmeia Langstroth é considerada padrão e até hojeé a mais usada em todo o mundo. Foi a partir dela que sedeu o maior avanço na apicultura devido a facilidade nomanejo que ela proporciona.

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1.2 - APICULTURA NO BRASIL

Há no Brasil aproximadamente 80 espécies deabelhas sem ferrão. São todas nativas, porém, as que maisse prestam para a produção de mel em grandes quantidadesalém de própolis, geléia real, pólen e que realizam apolinização em grande escala foram trazidas de outrospaíses. São as abelhas do gênero Apis e espécie mellifera.

A Apis mellifera foi trazida primeiramente da Europapelos primeiros colonizadores de diferentes nacionalidades.As abelhas das raças européias adaptaram-se bem ao climabrasileiro, e favorecidas pelo inverno ameno multiplicaram-se rapidamente. Sendo uma abelha dócil e menos propensaà enxameação, favoreceu a pesquisa e o desenvolvimentode técnicas de manejo voltadas ao aproveitamento máximode sua capacidade.

Em 1.956 foi introduzida no Brasil uma abelha da raçaafricana: a Apis mellifera scutellata. Inicialmente suaintrodução justificava-se para fins de pesquisa,posteriormente esta abelha proliferou-se por todo o territórioe vários outros países.

As abelhas da raça africana são muitoenxameadoras, agressivas e pilhadoras. Estascaracterísticas não só dificultam os trabalhos práticos doapicultor, como também impõem que sejam criadas em áreasmuito extensas e devidamente cercadas (cerca viva).

O apicultor que opta pela criação de abelhas de raçaseuropéias, deve estar atento às pilhagens e invasões quesuas colmeias possam sofrer de enxames de africanas quevivem na natureza, que por serem muito enxameadoraspredominam em número de famílias. Para manter o apiárioeuropeizado é necessária a observância de certas técnicasde manejo, bem como a manutenção de rainhas européias.Hoje já existem apicultores produtores de rainhas européiasvisando suprir a demanda do precioso inseto.

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1.3 - AS ABELHAS

Uma colônia de abelhas é composta, em média, poruma rainha, centenas de zangões e dezenas de milhares deoperárias. Todos possuem funções específicas, e no casodas operárias as funções vão mudando de acordo com aidade.

DO OVO AO NASCIMENTO

O período que antecede o nascimento de uma abelhadeve ser muito bem compreendido por todo apicultor, pois écom base neste conhecimento que muitas técnicas demanejo são desenvolvidas e aplicadas.

Este período é dividido em três etapas distintas:

ovo larva puparainha 3 dias 5 dias e meio 7 dias e meio

operária 3 dias 6 dias 12 dias

zangão 3 dias 6 dias e meio 14 dias e meio

A duração destas etapas pode variar de acordo com atemperatura interna do ninho, mas é perfeitamente possívelbasearmo-nos no período médio constante no quadro acima.

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O que define o sexo da abelha é a existência ou nãode fecundação do óvulo, ou seja: quando a rainha coloca umóvulo dentro do alvéolo e comprime sua espermateca(reservatório de esperma), este óvulo será fecundado e iráoriginar abelhas do sexo feminino. Quando, após depositar oóvulo no alvéolo, a rainha não comprimir sua espermateca,este óvulo não será fecundado e portanto irá originar abelhasdo sexo masculino.

Três dias após a postura do ovo ocorre a sua eclosãoe surge a larva. As larvas são alimentadas até o terceiro diacom geléia real, do quarto dia em diante todas as larvasdestinadas a gerarem abelhas operárias passam a receberuma alimentação composta de mel, pólen e água, e somenteas larvas que irão originar rainhas continuam a receber comoalimento somente geléia real . A diferença na alimentação éum fator determinante no desenvolvimento do aparelhoreprodutor das abelhas.

Concluido o período larval, os alvéolos são cobertos ,pelas abelhas que cuidam das crias, com uma camada decera a que denominamos opérculo. Lá dentro irá tecer umcasulo onde se desenvolverá até tornar-se uma abelha enascer ao abrir o opérculo.

Etapas anteriores ao nascimento.

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A RAINHA

Cada colônia possui apenas uma mãe. Esta nasce deum ovo fecundado, numa célula maior, este berço realchama-se realeira e tem a aparência de uma casca deamendoim. Sua alimentação consiste de geléia real.

Numa colônia pequena a rainha é facilmentelocalizável por possuir um abdômen bem maior do que asoperárias e os zangões, sua cabeça é menor em relação adas operárias e, quando já foi fecundada fica mais pesada emenos ágil.

A rainha demora 16 dias para nascer, após seunascimento ela leva até uma semana para atingir amaturidade sexual, quando então realiza seu vôo nupcial.Este vôo é realizado a grande altitude e em alta velocidade,somente os zangões mais velozes conseguem alcançá-la erealizar a cópula. Durante o vôo ela solta um odor conhecidocomo feromônio que atrai os zangões, em média 8 zangõessão necessários para que a sua espermateca fique lotada,para isso ela pode realizar um ou mais vôos nupciais. Umavez fecundada ela retornará para a colmeia e de lá não sairámais, a não ser em caso de enxameação.

A espermateca é uma espécie de reservatório deesperma para toda vida, cada vez que a rainha coloca umovo de operária ela comprime sua espermateca parafecundá-lo.

Após fecundada, a função da rainha será a posturade ovos para o resto da vida, sendo que pode viver atéaproximadamente 5 ou 6 anos em condições naturais,porém, quando criadas por um apicultor é normal seremsubstituídas no segundo ano de vida, pois a postura tende adiminuir com a queda de seu vigor. Durante sua vida éalimentada com geléia real pelas abelhas, que depositam oalimento diretamente na sua boca. Quanto mais populosa fora família, maior quantidade de geléia ela receberá e maiorserá sua postura, pois esta é proporcional a quantidade dealimento que recebe.

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Antes de colocar um ovo no alvéolo, a rainha mede odiâmetro dele com as patas dianteiras, feito isto introduz seuabdômen. Se o alvéolo for de tamanho normal, elacomprimirá sua espermateca e porá um ovo fecundado doqual nascerá uma operária; se for um alvéolo maior ela nãocomprimirá sua espermateca e deste ovo nascerá umzangão.

A OPERÁRIA

Uma operária nasce após 21 dias de um ovofecundado. Ela é responsável por todas as tarefas dentro dacolmeia. Suas tarefas são definidas de acordo com suaidade:

Até 2 dias serviços internos e limpeza3 a 8 dias nutriz, acompanhante da rainha e

produtora de geléia real9 a 19 dias construtora de favos e processadora

de alimentos20 a 21 dias guardiã da família21 dias em diante

campeira até o fim da vida

A longevidade de uma operária varia de acordo com aépoca do ano .

A tarefa mais desgastante para as operárias é aprodução de geléia real. Em épocas de expansão do ninho,quando existe grande quantidade de crias a seremalimentadas com geléia real, o período de vida das operáriasé de cerca de quatro semanas. Durante o inverno, quandoexistem poucas crias a serem alimentadas, se não faltaralimento estocado, pode viver até 6 meses.

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As tarefas que as operárias executam vão mudando àmedida que seus órgãos se vão desenvolvendo. Quandomuito jovem é faxineira, limpando os alvéolos. Quando suasglândulas hipofaríngeas desenvolvem-se ela passa aproduzir geléia real e torna-se nutriz. Posteriormentedesenvolvem-se as glândulas cerígenas para que possatrabalhar na construção de favos, opérculos e realeiras.Nessa época passa a receber o néctar trazido pelascampeiras e transforma-o em mel.Cada vez mais vai sendo atraída pela luz e é quando assumea função de guarda que faz seus primeiros vôos deorientação.

Como campeira vive até seus últimos dias, nesta fasecolhe o néctar com a língua (glossa).

O néctar é armazenado na vesícula melífera etransportado até a colmeia.

O pólen e a própolis são transportados nas corbículas(cestas de pólen e própolis), estas estão localizadas nastíbias das patas traseiras. O pólen é colhido com ajuda daspenugens e a própolis (resina) com auxílio das mandíbulas epenugens.

Entretanto, é preciso deixar claro que a despeito deter o seu desenvolvimento biológico como fator determinanteda divisão das tarefas; a abelha é capaz de adiantar ouretardar sua especialização em qualquer tarefaindependentemente da sua idade. Para que isto ocorra,basta que haja necessidade por parte do enxame.

O ZANGÃO

Ele nasce de um ovo não fecundado, portanto é purode raça. Seu nascimento demora 24 dias após a postura doovo.

Sendo o único macho da colmeia, é o responsávelpela fecundação das rainhas virgens. Já que esta é suaúnica função, a natureza o equipou da melhor forma possívelpara desempenhar bem esta tarefa.

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O aparelho genital do zangão possui dois testículosonde são gerados os espermatozóides. Dos testículos saemdois canais em forma de espiral, ligados cada um a umavesícula seminal. As duas vesículas se unem formando ocanal ejaculador. O canal ejaculador desemboca no aparelhocopulador, ou pênis, este tem armadura de ganchosrecurvados e alguns apêndices glandulares em forma decornos.

Como o órgão só pode ser projetado durante o vôo,pois é preciso haver contração dos músculos abdominais, éimpossível haver acasalamento dentro da colmeia.

Devido a conformação de seu aparelho copulador ozangão tem morte certa ao realizar a cópula, já que seuórgão genital é rompido e fica preso ao corpo da rainha.

O zangão possui visão e olfato excepcionais . Temdois olhos compostos com até 7 mil omatídeos cada. O olfatolocaliza-se nas antenas , através de 30 mil cavidadesolfativas.

Uma colônia promove o nascimento de zangõesquando está em franco desenvolvimento e pretendeenxamear num período próximo. Quando as condições sãodifíceis , eles são expulsos da colmeia e, caso nenhumaoutra os aceite eles acabam morrendo de fome ou frio.

Apesar de nascerem numa determinada família,frequentam outras colmeias do apiário e quando ascondições são favoráveis são bem vindos em qualquercolmeia.

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1.4 - MORFOLOGIA DAS ABELHAS

Morfologicamente uma abelha é formada por trêspartes: cabeça, tórax e abdômen.

Anatomia externa de uma abelha.

Órgãos internos de uma abelha operária.

CABEÇAA cabeça possui dois olhos compostos que situam-se

nas laterais, eles servem para enxergar à distância. E trêsolhos simples, ou ocelos, situados na parte superior, elesdestinam-se a enxergar no interior da habitação.

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Também na parte superior da cabeça estão as duasantenas. Elas contêm os órgãos olfativos e são muitosensíveis ao tato.

Na parte inferior encontra-se a boca, a qual écomposta por duas mandíbulas, duas maxilas, lábios superior, inferior e a língua. Ainda na cabeça situam-se importantesglândulas: as salivares, mandibulares e hipofaríngeas.

As glândulas salivares são as responsáveis pelatransformação do néctar em mel. As glândulas mandibularesdissolvem a cera e processam a geléia real. E ashipofaríngeas são as produtoras de geléia real.

Estas glândulas vão atrofiando-se à medida que aidade das abelhas avança.

TÓRAX

É formado por três partes, o protórax, o mesotórax eo metatórax. Sendo composto de massa muscular, comportaum par de asas e três pares de patas.

Nas patas posteriores da operária localizam-se ascestas, ou corbículas, para o transporte de pólen e própolis.

ABDÔMEN

Formado por nove segmentos, sendo que apenasseis são visíveis na operária e sete no zangão. Comportavários órgãos: estômago, intestinos, traquéias, coração e osórgãos reprodutores; na operária estão presentes ainda avesícula melífera, as glândulas cerígenas, a glândula deNasanoff e o ferrão, sendo que os dois últimos encontram-setambém na rainha.

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O estômago e os intestinos fazem parte do aparelhodigestivo, além do esôfago, da boca, da bolsa melífera, doreto e ânus.

As traquéias são os órgãos responsáveis pelarespiração, esta ocorre devido à movimentos de contração edilatação do abdômen.

O coração compreende o aparelho circulatório, o qualé formado por vasos responsáveis pela irrigação dos órgãos.O sangue da abelha chama-se hemolinfa e é incolor e frio.

A vesícula melífera serve para transportar água enéctar para a colmeia. É utilizada também para transportar omel em caso de fuga ou enxameação.

As glândulas cerígenas, localizadas entre os anéisabdominais, produzem a cera.

A glândula de Nasanoff localiza-se na parte dorsal, éela que emite o odor que permite a identificação entre asabelhas de uma mesma colônia.

O ferrão localiza-se na parte mais extrema do dorso.Na rainha ele é curvo, mais comprido e praticamente liso,podendo voltar ao seu estado normal após ser utilizadocontra suas rivais. Nas operárias o ferrão possui farpas emsentido contrário, o que faz com que ao utilizá-lo, este fiquepreso na vítima. Ao tentar se libertar, seus intestinos serãoarrancados, ocasionando sua morte.

Os órgãos reprodutores do zangão estão descritosdetalhadamente na página 10. Na rainha constituem-se dedois ovários laterais, cada um com 180 a 200 tubos quecontêm ovos em contínuo estado de evolução (ficam maioresà medida que se aproximam do orifício de saída), as trompasque se unem formando um oviduto, o qual termina na vagina.Possui um reservatório seminal, ou espermateca, onde éarmazenado o espermatóforo que contém o sêmen dozangão.

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Na operária este sistema encontra-se atrofiado. Porém, emsituações extremas (ausência da rainha, por exemplo), ele sedesenvolve parcialmente, mas sem que haja fecundaçãodestas poedeiras (operárias que põem ovos).

Alguns cientistas e pesquisadores descobriram aexistência de glândulas situadas na cabeça das abelhas ,que produzem uma substância a partir do quarto dia de idadeda larva real, chamada de "hormona juvenil". Cogita-se que adiferenciação na conformação da rainha e das operárias sejadevida não só à alimentação (à base de geléia real), mastambém ao desenvolvimento destas glândulas.

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1.5 - SISTEMAS DE COMUNICAÇÃO DAS ABELHAS

As abelhas comunicam-se por sons, cheiros e gestos.SONSAté agora não se tem conhecimento de um órgão

auditivo nas abelhas, todavia, sabe-se que são sensíveis àsvibrações de alta freqüência transmitidas através de corpossólidos.

CHEIROSCada enxame possui um cheiro próprio emitido

através da glândula de Nasanoff. É através dele que asabelhas de uma mesma família se identificam e à sua rainha.

As “abelhas guardas” que permanecem no alvado dacolmeia inspecionam o odor das campeiras que retornam dotrabalho de coleta. Esta inspeção se faz através do contatode suas antenas, onde estão seus órgãos olfativos.Entretanto, quando uma campeira proveniente de outrafamília chega carregada de néctar, é aceita apezar do seuodor ser diferente; isto ocorre porque ela está trazendoprovisões. Caso esta abelha tente entrar na colmeia que lheé estranha sem qualquer provisão, será imediatamenteexpulsa ou até mesmo morta.

Muitas vezes durante uma inspeção, vemos abelhasna entrada da colmeia com seus abdômens levantados ebatendo asas freneticamente. Estas abelhas estão emitindoum odor que induz as suas companheiras que regressam docampo à defenderem o enxame.

O cheiro é um fator de união entre os membros deuma mesma família. Todas as abelhas sabem que existeuma rainha dando continuidade ao desenvolvimento dapopulação, independentemente de terem qualquer contatodireto com ela, graças ao odor que ela transmite. As abelhasmais jovens que permanecem ao redor da rainhaalimentando-a, lambem-na com a língua e tocam-na comsuas antenas a maior parte do tempo, dessa forma absorvema substância emitida pelo corpo da rainha e transmitem-na àsoutras abelhas de boca em boca.

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GESTOS

São expressos através da dança. Tendo o sol comoreferência as abelhas executam uma dança para indicar àssuas companheiras a localização e abundância das fontes denéctar.

A dança em círculo indica que a fonte fica próxima(menos de 100 m). Se a dança for em oito significa que oalimento encontra-se a uma distância superior (mais de 100m). Quanto mais lenta a dança, mais distante é a fonte denéctar.

Comunicação e orientação das abelhas.

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1.6 - ORIENTAÇÃO DAS ABELHAS

Como as abelhas são capazes de enxergar oultravioleta, elas podem ter o sol como referência todos osdias. Tanto a localização das fontes de alimento, como a dahabitação são registradas tendo-se como referência alocalização do sol. Porém, sabe-se hoje em dia que elas sãocapazes de guiarem-se por outros meios, visto que sãocapazes de regressarem para suas habitações mesmodurante a noite.

Cogita-se, nestes casos, que as abelhas tenhamcomo referência os odores existentes próximo à habitação,bem como no trajeto que fazem.

Outrossim, quando as colmeias sofrem pequenosdeslocamentos ( até 1 m), suas operárias rapidamente seredirecionam. Caso o deslocamento seja superior a ummetro, elas não localizam a antiga habitação e voam emcírculo no local primitivo até a morte.

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CAPÍTULO II

2-1 - LOCALIZAÇÃO E INSTALAÇÃO DO APIÁRIO

A primeira providência a ser tomada quando sedecide criar abelhas é a escolha do local.

Esta escolha está subordinada à definição prévia daraça à ser explorada. Aquele que optar pela raça africanadeverá escolher uma área distante pelo menos 300 metrosde locais habitados ou de circulação de pessoas e animais.Além disso a área ocupada pelas colmeias deve ser grande obastante para proporcionar um distanciamento de 3 a 5metros entre as colmeias, não se devendo instalar umnúmero muito grande de colmeias em um mesmo local. Asabelhas africanas demoram a se aquietarem, não permitindoao apicultor inspecionar as colmeias mais próximas,dificultando dessa maneira todo o trabalho de inspeção doapiário.

Apiário com as colmeias voltadas para o leste.

Caso o apicultor escolha trabalhar com abelhas filhasde rainhas européias que são bastante dóceis, o apiáriopoderá estar a 100 metros de distância de habitações elocais de circulação. As colmeias podem ser alojadas emcavaletes coletivos com 1m a 1,5m de distância entre si.

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O número de colmeias em um mesmo local é limitadopela dimensão do pasto apícola. É aconselhável nãoultrapassar o número de 50 colmeias, para evitarsaturamento do pasto apícola.

Uma boa localização para um apiário é um terreno deárea plana ou declive suave. Assim como construímosnossas habitações voltadas para o norte ou nascente, demodo a receber luz e calor em proporções adequadas eprotegê-las do frio; as habitações das abelhas devem serinstaladas seguindo-se as mesmas regras.

O futuro apicultor deve procurar informar-se daexistência de outros apiários nas proximidades, pois nuncase deve instalar um apiário a menos de 3 km de distância emlinha reta de outro apiário já existente. Neste caso ambosiriam apresentar baixa produtividade, já que as abelhasvisitam flores num raio de 1.500 m e excepcionalmente elaspoderão se distanciar a mais de 3.000 metros.

Antes da instalação das colmeias é necessária acolocação de cavaletes para suporte das mesmas, estescavaletes podem ser adquiridos em lojas de material apícolaou o próprio apicultor poderá construí-los.

Cavalete coletivo com proteção contra formigas.

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Os cavaletes devem estar 40 a 50 cm acima do solo eenterrados pelo menos a metade desta medida. Devempossuir protetores anti-formiga, que podem ser feitos comlatas emborcadas, sendo que a parte que fica para baixo écortada de modo que fique com os bordos afiados. Todasestas medidas visam facilitar o trabalho do apicultor eproteger as colmeias de seus predadores.

Outra verificação importante a se fazer diz respeito àexistência de água potável nas proximidades. Caso sejanecessário fornecê-la, deve-se levar em conta que seja livrede resíduos tóxicos, também não deve ficar estagnada.

Uma última recomendação é quanto a existênciapróxima do apiário (2 km) de culturas que sejam pulverizadascom inseticidas e pesticidas; estes produtos podem causaruma mortandade grande de abelhas e trazer enormesprejuízos para o apicultor.

2.2 - ROUPAS E ACESSÓRIOS

Como as abelhas são insetos bastante defensivos énecessário que o apicultor utilize uma vestimenta apropriadaquando estiver no apiário. Esta vestimenta deve serresistente ao ferrão das abelhas , mas também confortável obastante para permitir liberdade de movimentos. Constitui-sede:

MACACÃO: Existem nas casas especializadasmodelos e tecidos diferentes, mas o padrão básico constitui-se de um macacão largo, de cor branca com elásticos nospunhos e na barra. É importante que seja largo para que oferrão da abelha não atinja o corpo.

BOTAS: Devem ser de borracha, branca ou outracor clara.

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LUVAS: Podem ser de couro ou borracha, masdevem ser finas para não impedir totalmente a sensibilidade.

MÁSCARA: Com visor de tela em toda volta esustentada por um chapéu de abas largas e duras.

Como se vê, a indumentária deve ser de cor clara,isto porque as abelhas possuem uma outra percepção dascores. Elas são capazes de distinguir o ultravioleta, captambem o amarelo, o azul, o violeta, o laranja, mas confundem overmelho. Além disso as cores escuras deixam-nas irritadas.

Apicultora com a vestimenta completa.

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2.3 - ACESSÓRIOS PARA O MANEJO

Algumas ferramentas são usadas em todas asinspeções e o apicultor deve tê-las sempre à mão. Elas são:

FUMEGADOR: Ele é fundamental para controlar aagressividade das abelhas. A fumaça produzida por ele deveser branca e fria, e o apicultor deve aplicá-la com moderaçãopara não produzir um efeito contrário ao desejado.

Quando as abelhas percebem a fumaça dentro dacolmeia, elas se abastecem de mel, prevendo uma possívelnecessidade de abandonar a habitação. Estando lotadas demel não conseguem dobrar o abdômen para introduzir oferrão. O produto utilizado como conbustível para oFumegador geralmente é serragem, mas pode-se utilizarfolhas secas, cascas de árvores e outros de origem vegetal.

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FORMÃO: Utiliza-se para despregar partes dacolmeia que foram soldadas com própolis, por exemplo:tampa, quadros, redutor de alvado, etc.

ESCOVA: Serve para varrer as abelhas.

ALIMENTADOR: Na apicultura racional, este é umacessório muito importante. Ele serve para que o apicultorforneça o alimento artificial , que irá sustentar a colônia emépocas de escassez de néctar. Os mais utilizados são: ococho ou Doolittle que é feito de madeira e encaixa-seperfeitamente no lugar dos quadros da melgueira. O outrochama-se Bordmann e trata-se de um vidro com a tampacheia de furos , este fica emborcado sobre uma base demadeira que permite a entrada das abelhas para chuparem oxarope, ele é colocado na entrada da colmeia.

Além disso o apicultor deve ter sempre por perto,quando fizer uma inspeção, alguns apetrechos que acabamsendo de grande valia, que são:- alguns panos limpos e úmidos para cobrir total ouparcialmente as colmeias quando abertas, para evitarsaques.- um pulverizador com água ou xarope- caixa para o transporte de quadros- gaiolas para prender rainhas- algum vasilhame para recolher cera, raspas de própolis oudetritos.

2.4 - ACESSÓRIOS PARA EXTRAÇÃO DE MEL

GARFO DESOPERCULADOR: Ele serve pararetirar o opérculo que cobre os alvéolos onde estáarmazenado o mel.

CENTRÍFUGA: É usada para retirar o mel dos favossem danificá-los para que possam ser reaproveitados.Existem centrífugas manuais e elétricas de vários tamanhos,com capacidades que variam de 2 até dezenas de favos.

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2.5 - A COLMEIA

A colmeia é a habitação da colônia , ou família, deabelhas. Na natureza as abelhas constroem seus favos emlocais escuros e protegidos da chuva, como ocos de árvorespor exemplo.

Foi o homem quem inventou a colmeia, a partir deobservações sobre a forma que as abelhas dão ao seuninho. Buscando uma maneira de manter várias colôniaspróximas uma da outra, em local de fácil acesso, e aindafacilitar o manuseio para coleta de seus produtos, foramsurgindo ao longo da história vários tipos de colmeias. Asmais primitivas eram de barro, cestos de palha, caixotes demadeira e outros.

Em meados do século passado, mais precisamenteem 1.851, Lorenzo Langstroth, através da descoberta doespaço-abelha, criou o quadro móvel, dando início àapicultura racional e produção de mel em grande escala.

Quadros móveis da colmeia Langstroth

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No sistema mobilista a colmeia possui todas as partesmóveis, ou seja, podem ser removidas ou substituídas aqualquer momento. Uma colmeia mobilista constitui-se dasseguintes partes:

ASSOALHO: É o chão da colmeia, onde ficaapoiado o ninho.

NINHO: É a câmara de crias, onde vive a colônia. Épreenchido com quadros móveis onde as abelhas constroemseus favos.

O ninho possui um alvado, que nada mais é do que aporta de entrada da habitação, ele é regulável, ou seja, pode-se aumentar ou diminuir a passagem das abelhas de acordocom as condições climáticas, ou capacidade de auto defesada colônia.

TELA EXCLUIDORA: É uma chapa de ferroperfurada, nas dimensões específicas, que permita apassagem das operárias e impeça a dos zangões e darainha. Sua função é isolar a rainha na câmara de crias eimpedir que faça postura nas câmaras de mel (melgueiras).

MELGUEIRA: É a câmara onde as abelhasdepositam o néctar. Possui aproximadamente metade daaltura da câmara de crias e é preenchida com quadrosguarnecidos de cera alveolada.

TAMPA: É o telhado da habitação, sua função éimpedir a entrada de luz , proteger da chuva e manter ocalor interno.

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Colmeia e núcleo Langstroth completos.

É aconselhável sobrepor-lhe algum tipo de telha dedimensões maiores do que as da colmeia, visando umamelhor conservação da mesma.

Colmeia protegida por telha para maior conservação.

A diversidade de modelos, tamanhos e tipos demateriais utilizados na fabricação de colmeias, é muitogrande no mundo todo. Isto se deve a diversos fatores, quevão desde as condições climáticas e ambientais de cadalugar, até seu poder sócio-econômico. Entretanto, o apicultorsabe que existe uma necessidade de padronização desteequipamento, visando uma facilidade maior na hora decomercializar seus enxames, ou mesmo, se houvernecessidade de venda do próprio apiário.

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A colmeia Langstroth é hoje a mais utilizada em todomundo. No Brasil também é a mais conhecida. Além delaexistem outros dois modelos que são bastante difundidos,porém em menor escala, nas regiões sul e sudeste doBrasil. São as colmeias Schenk e Schirmer. Com base emestudos realizados por técnicos em apicultura visando oaperfeiçoamento de equipamentos e técnicas adaptados àrealidade brasileira, a colmeia Schirmer aperfeiçoada mais osequipamentos adicionais criados por especialistas apícolasapresenta-se hoje como o modelo ideal, tanto paradesafricanização de apiários, como para produção em largaescala de enxames, rainhas e mel.

Uma das características mais importantes da colmeiaSchirmer é que nela o ninho pode se desenvolver de formaesférica como ocorre na natureza, enquanto na colmeiaLangstroth, por exemplo, o ninho fica com uma formaovalada, contrariando o comportamento natural dedesenvolvimento da colônia .

Uma outra diferença entre os dois modelos é adisposição dos quadros na colmeia. Na Langstroth osquadros são colocados na posição perpendicular ao alvado,ocasionando uma maior ventilação do ninho; sendo portantomuito apropriado o seu uso em regiões de clima quente. Jáa colmeia Schirmer tem seus quadros na posição transversalao alvado, isto facilita a manutenção do calor interno doninho; sendo seu uso mais indicado para regiões de climatemperado a frio.

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CAPÍTULO III

3.1 - COMO INICIAR A CRIAÇÃO

Agora que o futuro apicultor já definiu o local dainstalação de seu apiário, providenciou a instalação doscavaletes, adquiriu o equipamento necessário e asvestimentas apropriadas, é chegada a hora de adquirir asabelhas.

A partir deste momento é que começa a interagirdiretamente com estes seres alados e um mundo de fatosnovos desvendam-se para o apicultor.

CAPTURANDO ENXAME EM CUPINZEIRO

Existem várias maneiras de adquirir colônias deabelhas. Em regiões onde existam muitos enxames vivendona natureza é possível capturá-los diretamente no local ondeestejam instalados ou através de caixas-isca. A captura nolocal (ocos de árvores, cupinzeiros, etc.) necessita uma sériede cuidados por parte do apicultor. Normalmente estesenxames constituem-se de abelhas africanas, as quais sãobastante defensivas, além disso, em alguns locais podemexistir além das abelhas algum animal peçonhento. Portanto,é imprescindível que as pessoas envolvidas na capturadestes enxames estejam com a indumentária de apicultorcompleta e o fumegador deve estar previamente aceso esempre à mão.

O apicultor vai precisar de uma enxada, ou outraferramenta que considerar mais apropriada, para abrir o localaté alcançar os favos da colônia. Além disso é necessário terà mão numa operação como esta:

1 colmeia vaziaalguns quadros com cera alveoladaalguns quadros vaziosbarbanteborrifador contendo xaropefacavassoura para varrer abelhas 28

Inicia-se o trabalho aplicando fumaça dentro dahabitação. Em seguida abre-se o local com uma enxada, ououtra ferramenta que seja apropriada às dificuldades que olocal ofereça. Ao atingir os favos, sempre com o auxílio dafumaça, procede-se à transferência dos mesmos para acolmeia vazia. Com a faca corta-se os favos e com obarbante amarra-se os mesmos aos quadros vaziosintroduzindo-os na colmeia. Os favos com crias devem seralojados no centro, e aqueles com alimento (mel e pólen),nas extremidades da colmeia. Após a transferência de todosos quadros com crias e da maior parte com alimento, destrói-se os vestígios da antiga habitação e instala-se a colmeia nomesmo local a fim de recolher o maior número possível decampeiras até o entardecer, que é quando elas encerramsuas tarefas de coleta. Ao final do dia basta tapar a entradada colmeia com um pedaço de espuma e fazer suatransferência para o apiário.

É claro que para o apicultor iniciante esta tarefa, queaparentemente pode ser fácil, é na verdade um tanto difícil,pois é preciso saber diferenciar, por exemplo, um favo decrias operculadas de outro com alimento operculado. Aidentificação do estado geral de cada favo é muito importantena hora de acomodá-los na colmeia, exigindo um pouco detreino visual das diferentes condições de cada favo.

É aconselhável ao iniciante que capture seu primeiroenxame com a ajuda de alguém que possa orientá-lo.

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CAPTURANDO ENXAME VOADOR

Uma outra maneira de iniciar a criação é a captura deenxames voadores. Caso o apicultor tenha a sorte de avistarum enxame em pleno vôo, para fazê-lo pousar basta jogarpara o alto um punhado de terra ou areia. Depois é sóprovidenciar a colmeia e recolher o enxame antes quelevante vôo novamente. Guarnecer a colmeia com quadroscom cera alveolada e instalá-la no local definitivo. Feito isto anova família deve receber xarope e água através dealimentadores para que as abelhas construam seus favos e arainha inicie a postura.

Um enxame voador pode ser localizado na maioriadas vezes num galho de árvore. É importante salientar queum enxame nestas condições não tem crias para proteger enem reservas de mel. Portanto o uso da fumaça é contraindicado nesta situação. Com um borrifador cheio de xaropepulveriza-se as abelhas para que fiquem calmas, esteprocedimento serve também para mantê-las pousadasenquanto suas asas estiverem úmidas. Enquanto isto, seucompanheiro deve segurar a colmeia vazia, ou com apenasparte de seus quadros, bem embaixo do enxame para quevocê, com um golpe preciso no galho da árvore, despeje asabelhas na colmeia.

Agora basta colocar os quadros que foram retiradosanteriormente, o alvado já deve estar fechado com tela ouespuma, colocar a tampa e transportá-la para o localdefinitivo. Esta família deve ser alimentada com xarope eágua nos primeiros dias para estimular a postura da rainha.

Nos dois casos acima, o alvado só deverá ser abertoapós três dias, pois após este período a rainha já terá feitopostura e, havendo crias as abelhas não abandonarão olocal. Enquanto estiverem presas na colmeia, esta deve estarcom tela de ventilação e a tampa um pouco elevada para quehaja circulação de ar.

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As maneiras descritas até aqui, para adquirir oprimeiro enxame, são menos onerosas, porém, maistrabalhosas e incertas.

COMPRANDO ENXAMES CONSTITUÍDOS

A melhor forma de iniciar uma criação, com abelhasmansas, produtivas e com rainha prolífera, é comprandocolônias ou núcleos de algum apicultor idôneo.

Estas famílias são criadas em colmeia ou núcleomobilista, depois de formadas ficam em observação até queseja comprovada a eficiência de postura da rainha e amansidão de sua prole.

Um núcleo possui a metade do tamanho de um ninho,portanto, contém uma família menor.

Os enxames adquiridos dessa maneira, seja umnúcleo ou colônia, devem conter pelo menos dois favos comprovisões (mel e pólen), e três favos com crias abertas efechadas (operculadas). As abelhas aderentes devem ser emnúmero suficiente para agasalhar as crias existentes.

Caso o comprador resida a uma distância muitogrande do local da compra, o transporte deverá ser feitodurante a noite para evitar super aquecimento do ninho, comconseqüente morte das crias e também de abelhas em casode desabamento de favos.

Enxames já constituídos e com crias não precisamficar aprisionados, portanto, o alvado destas colmeias ounúcleos deverá ser aberto assim que estejam instaladas emlocal definitivo.

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3.2 - COMO CONDUZIR A CRIAÇÃO

Resolvida a questão de como adquirir os primeirosenxames é chegado o momento de aprender a cuidar dosmesmos.

Para que o apicultor possa familiarizar-se com otrabalho de criação e dominar as diversas técnicas demanejo é imprescindível uma vivência. Esta vivência só seconsegue ao longo do tempo, pois, apesar da grandeimportância do conhecimento teórico só com a vivênciaprática é que se descobre as muitas nuances sutis queenvolvem a arte de criar abelhas.

É recomendável que se comece com um pequenonúmero de enxames, no máximo cinco, e amplie este númerona mesma proporção que aumente o domínio da técnica porparte do apicultor.

Se o novo apicultor puder freqüentar um cursoprático, terá mais facilidade para empregar seusconhecimentos no próprio apiário, obterá inclusive uma idéiamais clara das verdadeiras condições em que sedesenvolvem as atividades de um apicultor, podendo, emalguns casos, desistir de levar adiante a iniciativa porconstatar ser incompatível com sua pessoa, evitando dessamaneira o trabalho de montar e depois vender o apiário.

Neste curso abordaremos as técnicas básicas paracondução de uma pequena criação, visando proporcionar oconhecimento necessário para um posterior aprofundamentodo assunto.

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3.3 - VISITA DE INSPEÇÃO

Uma visita de inspeção deve ser feita sempre em diaclaro, sem chuva e com temperatura acima de vinte graus; omelhor horário é entre dez e dezesseis horas.

Após vestir-se com a indumentária apropriada épreciso acender o fumegador , munir-se do formão e davassourinha. É sempre bom ter à mão uma colmeia vazia,alguns panos úmidos e vários quadros com cera alveolada.

Ao chegar ao apiário devemos respeitar o silêncio e atranqüilidade do ambiente, falando em tom baixo e nãoexecutando movimentos bruscos. Procurar inspecionar cadacolmeia no mínimo espaço de tempo, para não interromperas atividades das abelhas por muito tempo; evitar oesmagamento de abelhas com gestos delicados e precisostambém é muito importante.

O apicultor deve se aproximar da colmeia sempre portrás para não interromper a linha de vôo das abelhascampeiras. O fumegador deve ser acionado algumas vezesaté que a fumaça se torne branca e fria, só então fumega-seduas a três vezes o alvado. Ao perceber a fumaça, todas asabelhas passam a abastecer-se de mel pois a fumaça éidentificada como um sinal de perigo, com seus estômagoscheios de mel torna-se difícil dobrar o abdômen paraintroduzir o ferrão.

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Visita de inspeção - Apicultora aplicando fumaça no alvadoda colmeia

Após alguns minutos abre-se a tampa com o auxíliodo formão, enquanto isto o ajudante deve aplicar fumaçahorizontalmente sobre o ninho para fazer as abelhasdescerem para os favos.

Verifica-se o estado dos favos, a existência dealimento (mel e pólen) e o tamanho da esfera do ninho decrias. Os quadros depois de inspecionados devem serdevolvidos na mesma posição em que se encontravam, poisa rainha descreve uma trajetória durante a postura de seusovos que dá uma forma redonda ao ninho. A disposição dosquadros de uma colmeia em condições normais é a seguinte:os quadros com alimento ficam nas laterais, do centro paraas laterais desenvolve-se o ninho.

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Favo de crias operculadas, com abelhas aderentes.

3.4 - ALIMENTAÇÃO DE ESTÍMULO

Ao concluir a revisão e constatar que a postura darainha é regular (sem falhas), os quadros estão todos embom estado (são claros e bem construídos) e existe espaçopara expansão do ninho (quadros vazios com cera alveoladaou quadros com favos construídos e vazios), é hora defornecer alimento estimulante.

Sendo uma colônia adquirida recentemente de outroapicultor, esta deve possuir por volta de três favos com crias,dois com alimento e abelhas em número suficiente paracobrir três a quatro favos. Uma família deste porte precisaser alimentada artificialmente por algum tempo para aceleraro seu desenvolvimento. A alimentação artificial consiste dexarope feito com açúcar branco refinado ou cristal, água esal, na proporção de 10 kg de açúcar para 10 litros de águafervida (para evitar fermentação), e uma colher de sopa rasade sal.

O apicultor que optou pelo sistema de cochosalimentadores deve colocar sobre o ninho uma telaexcluidora, e sobre ela uma melgueira com alguns cochoscheios de xarope, e por fim a tampa da colmeia. . O alvadodeve ficar com a menor abertura, porque uma famíliapequena tem dificuldade para manter a temperatura internada habitação, bem como para se defender .

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O xarope vai estimular a construção de favos e apostura de ovos. Para uma colônia pouco populosa não éaconselhável fornecer muito xarope de uma vez, porque asabelhas não conseguem construir rapidamente novos favos etransferem o alimento para a esfera do ninho, atrapalhando apostura da rainha. Neste caso o apicultor deve fornecê-lo emdoses menores a intervalos regulares; introduzindo um oudois cochos na câmara de crias no lugar dos quadros, ouatravés do alimentador bordman. Se o tempo estiver quente,estes alimentadores devem ser abastecidos duas vezes porsemana, caso não seja possível, pelo menos uma vez porsemana.

Colmeia equipada com dois alimentadores Bordman

Após umas cinco semanas já é possível suspender aalimentação artificial porque a família já estará em francaexpansão. Caso a temperatura ainda esteja elevada, oalvado poderá ficar com a maior abertura, pois esta família játerá condições de defender-se, além disso, com o aumentoda população a temperatura interna da câmara fica maior,fazendo-se necessária uma maior ventilação.

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CAPÍTULO IV

4.1 - DESAFRICANIZANDO UM ENXAMECAPTURADO

Caso o enxame tenha sido capturado na naturezarecebe um tratamento diferente, pois é preciso primeiro fazera substituição dos favos que foram amarrados aos quadros,por favos novos construídos a partir de cera alveolada. Alémdisso, é necessário substituir sua rainha por uma rainhaeuropéia, já que os enxames que vivem na natureza sãopredominantemente de africanas.

Supondo que esta colônia seja de abelhas africanas,é necessário que o apicultor forneça quadros com favosconstruídos por abelhas européias antes de substituir arainha. Isto se deve ao fato de as abelhas africanasconstruírem alvéolos menores do que os construídos pelaseuropéias, tornando difícil para a rainha européia introduzir oseu abdômen neles.

SUBSTITUIÇÃO DE FAVOS INDESEJÁVEIS

Para substituição de favos e rainhas indesejáveis éaconselhável o uso do núcleo com fundo móvel e suarespectiva melgueira, por serem de tamanho reduzido. Nafalta deste equipamento pode-se utilizar ninho e sobre-ninhoseparados por uma tela excluidora e uma melgueira.

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O apicultor deve proceder da seguinte maneira: Acolmeia onde está alojada a colônia é afastada para o lado e,em seu lugar é colocado um núcleo, este núcleo éabastecido com favos construídos por abelhas européias.Desses favos, obrigatoriamente, um deverá conter criasnovas (ovos e larvas). As abelhas que estão na colmeia sãodespejadas neste núcleo juntamente com a rainha. Parafacilitar o trabalho tira-se dois ou três favos do centro donúcleo para abrir espaço e depois recoloca-os. Coloca-seuma tela excluidora por cima do núcleo onde foramdespejadas as abelhas, e sobre a tela é colocado um outronúcleo onde ficarão os favos velhos que possuam crias,acima deste núcleo é colocado uma melgueira de núcleocom cochos abastecidos com xarope.

Com a tela excluidora entre as duas câmaras denúcleo a rainha fica impossibilitada de passar para a câmarasuperior onde estão os favos velhos com as crias e passa afazer a postura de seus ovos na câmara inferior onde estãoos novos favos. As abelhas nutrizes (mais jovens) sobempara agasalhar e alimentar as crias e tratam de puxarrealeiras para criar uma nova rainha, já que a outra ficou nacâmara inferior. Uma parte das nutrizes permanece nacâmara inferior devido à existência de um favo com crias,estas abelhas não puxarão realeiras pois estão emcompanhia da mãe, a qual é alimentada para que realizepostura.

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Após uma semana deve ser feita uma revisão nacâmara superior para destruir todas as realeiras e, após maisduas semanas todas as crias desta câmara terão nascido. Éfundamental que seja respeitado o prazo de sete dias paradestruição das realeiras. Porque as abelhas preferem puxarrealeiras de larvas com três dias de idade, ou seja, seis diasapós a postura do ovo. Isto ocorre porque a partir do quartodia de idade larval a alimentação deixa de ser à base degeléia real, e esta mudança na alimentação modifica odesenvolvimento morfológico da abelha. Portanto, após setedias não existirão mais larvas com idade para tornarem-serainhas. Desta maneira, praticamente elimina-se todas aspossibilidades das abelhas criarem sua própria rainha. Salvoalgumas exceções, dependendo de condições específicas,em que elas puxam realeiras de emergência usando larvasde quatro ou cinco dias de vida. Contudo, estas larvas nãooriginarão boas rainhas.

SUBSTITUIÇÃO DE RAINHAS INDESEJÁVEIS

Como foi dito anteriormente, três semanas após acolônia ter sido transferida para o núcleo, o apicultor já poderetirar o núcleo superior juntamente com os favos velhos .Nesta ocasião deve abrir o núcleo inferior onde está a rainha,localizá-la e eliminá-la. Caso tenha dificuldade em localizá-la, leve o núcleo a uma distância de uns cinco metros e deixeum assoalho no local original. As abelhas campeiras, quesão em número maior, retornarão ao local original e nonúcleo ficará um número bem menor de abelhas , o quefacilitará a tarefa nem sempre fácil de localizar a rainha.

Depois é só recolocar o núcleo no lugar original,sobre ele uma tela excluidora e sobre esta uma melgueira denúcleo com cochos abastecidos com xarope.

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Após uma semana abre-se novamente a colmeia ounúcleo e elimina-se todas as realeiras puxadas, nestaocasião deve ser introduzida uma rainha européia fecundada,presa em uma gaiola Miller, que será libertada pelas abelhas(as abelhas comem o alimento sólido que é usado para vedara gaiola) no máximo em quatro dias. Os cochos sãoreabastecidos e o conjunto é tampado novamente, estafamília deve ser visitada somente após trinta dias, para que arainha não seja morta pelas africanas. Este período énecessário para que haja substituição da prole africana pelaprole européia.

No trabalho de substituição de rainhas africanas poreuropéias, pode haver alguns enxames com grau deagressividade maior que outros, neste caso os enxamesapós serem orfanados devem receber imediatamente arainha européia presa na gaiola Miller (com as entradasvedadas por algum tampão), permanecendo assim por setedias completos. Assim as abelhas não se tornarãozanganeiras (operárias que poem ovos) ocorrência muitocomum entre abelhas africanas quando orfãs. A geléia realque sobrar será destinada a ela, tornando mais fácil suaaceitação após a sua libertação. Caso queira orfanar oenxame sem ter a rainha européia na hora, deve-se capturara rainha africana e prendê-la em um bob (do tipo de cabelo)com as laterais fechadas com espuma plástica e colocá-laentre os favos de cria ou, se o enxame for populoso, nofundo da colmeia. As abelhas, sentindo a presença da rainhanão se tornarão zanganeiras e procurarão libertá-la a todo ocusto, mesmo querendo puxar muitas realeiras.

Este método é conhecido como Demaree e éapropriado para outras finalidades além da desafricanização,como veremos no tópico sobre controle da enxameação.

Este é um método aparentemente simples desubstituição de favos e introdução de rainhas, entretanto, ocomportamento da abelha africana dificulta seu sucesso logona primeira tentativa. É preciso uma vivência maior parapoder aplicá-lo.

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QUANDO O ENXAME CAPTURADO É BOMCONSTRUTOR:

É bom saber que é possível capturar enxames quenão possuam as características predominantes da raçaafricana. Principalmente em regiões onde exista algumapicultor que crie abelhas européias, portanto, que produzazangões europeus, encontra-se muitas vezes enxames comprole mestiça que possuem características predominantesdas européias. Em geral, estes enxames são bonsconstrutores, ou seja, constroem seus favos com alvéolos dedimensões apropriadas para o tamanho do abdômen derainha européia.

Neste caso, o apicultor não necessita ter um outroenxame de abelhas filhas de rainha européia para fornecer-lhe os favos na hora de fazer a substituição dos favos queforam retirados do cupinzeiro. Basta deixar na câmarainferior, onde ficará a rainha,um único favo retirado docupinzeiro contendo ovos e larvas , completar a colmeia comquadros contendo cera alveolada e fornecer xarope emquantidades apropriadas para o tamanho do enxame, istoestimulará a construção dos novos favos . O restante dosfavos velhos fica na câmara superior, afastados da rainhapela tela excluidora, até nascerem todas as crias nelescontidas. O favo velho que ficou na câmara inferior deve serafastado, um pouco a cada revisão, para um dos lados dacomeia até que não exista nenhuma cria nele, quandofinalmente poderá ser eliminado.

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DESAFRICANIZANDO ATRAVÉS DA DIVISÃOSIMPLES

Outra maneira de desafricanizar um enxamecapturado é através da divisão simples, ou seja: quandodividimos um enxame em dois, de uma família populosafazemos duas famílias fracas. Famílias de abelhas quandopouco populosas aceitam mais facilmente uma nova rainha.Neste caso, o ideal é fazer a introdução da rainha européiana parte da família que perdeu as campeiras, porque asabelhas campeiras são as mais velhas e portanto, maisrelutantes em aceitar uma nova mãe. Após aceita a novarainha, a parte da família que havia ficado com as campeirase a antiga rainha, deverá ser orfanada e unida, pelo métododo jornal, à parte que recebeu a rainha européia.

O método de divisão simples é descrito maisdetalhadamente no ítem 4.2 que trata do controle daenxameação, a técnica para unir duas famílas está descritamais adiante no ítem 5.2.

4.2 - CONTROLANDO A ENXAMEAÇÃO NATURALATRAVÉS DA ENXAMEAÇÃO ARTIFICIAL

Agora o apicultor possui colônias com rainhaseuropéias que dentro de pouco tempo, caso recebamalimentação de estímulo e as condições externas sejamfavoráveis, estarão super populosas. Quando isto ocorrer, éprovável que o apicultor encontre um número maior deabelhas na entrada da colmeia. Esta ocorrência é conhecidaentre os apicultores como "barba".

Quando as abelhas formam uma "barba" na entradada colmeia e esta barba persiste durante dia e noite é sinalque devem estar se preparando para enxamear por falta deespaço. Quando ocorre uma enxameação natural, em tornode 50% da família juntamente com a rainha abandona ahabitação em busca de um novo local para estabelecer novaresidência.

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Antes da enxameação são puxadas uma ou maisrealeiras, para que o restante da família que permanece nacolmeia não fique órfã.

Na apicultura racional a enxameação natural causaprejuízo para o apicultor, não só pela perda de parte doenxame, como também pela perda de uma ótima rainha.

Existem diversos métodos para controlar aenxameação natural; porém, a maioria é de difícil execuçãopara o apicultor iniciante. Devendo-se experimentá-lossomente quando houver, por parte do apicultor, domínio econhecimento do comportamento e da biologia das abelhas.

DIVISÃO SIMPLES

Para o apicultor iniciante, o método de divisão artificialde famílias é o mais simples. Porque além de controlar aenxameação, também promove o aumento do número defamílias do apiário, sem que seja necessário capturá-las nanatureza.

O apicultor vai precisar de uma colmeia vazia, comquadros contendo cera alveolada, assoalho e tampapróprios.

Deve fumegar o alvado da colmeia habitada, abrir suatampa e retirar todos os favos com ovos e larvas, deixandoapenas um na colmeia matriz; estes favos são colocados nacolmeia vazia. Deverá transferir também um ou dois favoscom crias operculadas, e metade da provisão de alimento.Quando for feita a transferência dos favos contendo crias,deverá levar o maior número possível de nutrizes paraalimentá-las e aquecê-las, porém, tomando o cuidado de nãotransferir a rainha junto. Completa-se a colmeia matriz comquadros contendo cera alveolada. A outra completa-se comfavos contendo mel e pólen.

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A colmeia matriz onde encontra-se a rainha, émantida no local primitivo, a outra é transferida para um locala cinco metros de distância , no mínimo. Devido à memóriageográfica das abelhas (veja no ítem 1.6 em orientação dasabelhas), quando fazemos a divisão do enxame, as abelhascampeiras que são as mais velhas da família, ficam vivendono mesmo local onde antes viviam. Estas abelhas têm maisdificuldade em aceitar uma nova mãe, por este motivo arainha deve permanecer na mesma colmeia que elas até quepossa ser substituida.

As abelhas que foram transferidas, ao perceberem aausência da mãe logo começarão a puxar realeiras. Se oapicultor pretende manter seu apiário europeizado, deveintroduzir uma rainha européia fecundada, em uma gaiolaMiller com as passagens fechadas com pequenas rolhas.Fazer uma revisão nesta colmeia sete dias após a divisão, edestruir todas as realeiras. Nesta ocasião deve desobstruiras passagens da gaiola onde encontra-se a rainha para queseja libertada pelas abelhas.

A família matriz deve receber alimentação de estímuloaté que sua câmara de crias esteja completa, o que podeocorrer num período de um mês, dependendo inclusive defatores externos (temperatura, chuvas, etc.), que podemprejudicar o seu desenvolvimento.

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AUMENTO DO ESPAÇO

Uma outra forma bastante simples de controlar aenxameação é a sobreposição de um segundo ninho sobre acâmara que está congestionada. Para isto, basta retirar atampa da colmeia populosa e em seu lugar colocar umacâmara vazia com quadros contendo cera alveolada e cobrir tudo com atampa. As abelhas rapidamente constroem os favos e arainha expande sua postura para a câmara superior.Contudo, este processo só impede a enxameação por ummês, ou pouco mais; devendo o apicultor , após este período,proceder à divisão desta família.

MÉTODO DE DESPEJO

Se o apicultor possui várias colônias, pode recorrer àdistribuição de todos os favos com crias da colônia populosaentre as demais colônias menos populosas do apiário. Comisso, ele diminui a força da família mais populosa e fortaleceas mais fracas. É aconselhavel fornecer alimento artificialpara a família que perdeu suas crias, isto estimula aconstrução dos favos novos nas lâminas de cera alveoladaque elas receberam em troca das crias.

Na aplicação deste método deve-se tomar todo ocuidado para não transferir nenhuma abelha nos favos decrias, pois isto seria morte certa para ela devido àidentificação pelo cheiro ( veja no ítem 1.5 em sistemas decomunicação das abelhas). Querendo transferir algumasabelhas nutrizes juntamente com as crias, é necessáriopulverizá-las com xarope para facilitar sua aceitação. Asabelhas da outra colmeia irão lamber o xarope que foipulverizado nas abelhas introduzidas e seus cheiros seunificarão. Só assim serão aceitas.

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MÉTODO DE DEMAREE

Para o apicultor que já possui alguma experiênciaexiste a opção do método de Demaree. Este método foicriado pelo apicultor norte-americano Demaree em 1892.Através dele pode-se controlar a enxameação mantendo-se oenxame sempre populoso. Este método é também muito útilna desafricanização de enxames (vide desafricanizando umenxame).

Providencia-se uma nova câmara de crias para ondeserão transferidos todos os favos de crias da colôniapopulosa. Deixa-se no ninho da colônia populosa apenas umfavo contendo ovos e larvas de até três dias de idade.Completa-se o espaço deixado pelos favos retirados, comquadros contendo folhas de cera alveolada, permanecendo arainha nesta câmara. Sobre o ninho é colocada uma telaexcluidora e sobre a tela coloca-se a outra câmara com ascrias retiradas do ninho inferior. Os favos contendo alimentosão colocados na câmara superior onde estão as crias, feitoisto tampa-se o conjunto. As abelhas jovens (nutrizes)passarão para a câmara superior para agasalhar as crias.Como a rainha está na câmara inferior, portanto longe doalcance delas, elas iniciarão na câmara superior um processode puxada de realeiras.

Para que o apicultor não perca a rainha que ficouembaixo deverá fazer uma revisão após sete dias completos.Ao cabo de mais duas semanas, ou seja, 21 dias após ascrias terem sido separadas da rainha, todas as abelhas dacâmara superior terão nascido, então poderá repetir aoperação desde o princípio.

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Método Demaree

Este é também um método bastante prático par dividirum enxame. Neste caso, o apicultor ao fazer a revisão apóso sétimo dia, coloca a câmara superior sobre assoalhopróprio e afasta-a a cinco metros de distância da câmarainferior.

Querendo manter o apiário europeizado basta destruirtodas as realeiras e introduzir uma rainha européia presa emuma gaiola Miller para ser libertada posteriormente pelasabelhas.

Para a aplicação do método de Demaree é precisosaber avaliar corretamente a força populacional do enxame.Quando este método é aplicado em condições desfavoráveispode provocar a regressão do desenvolvimento do enxame,ao invés de ajudar no fortalecimento do mesmo.

O apicultor só deve recorrer a este método, quando aesfera do ninho ocupar, no mínimo, dois terços dacapacidade da colmeia. Além disso deverá haver abelhasnutrizes em número suficiente para agasalhar estas crias, ascondições climáticas têm que ser favoráveis - comtemperatura amena ou quente - e deverá ser fornecidoalimento estimulante em cochos.

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CAPÍTULO V

5.1 - QUANDO SOBREPOR AS MELGUEIRAS

É importante que o apicultor compreenda que umafamília numerosa produz muito mais que duas famíliasfracas. Sendo assim, deve estar atento ao calendário dasprincipais floradas da região onde encontra-se instalado seuapiário. A multiplicação e o fortalecimento das colônias,através da alimentação de estímulo, deve ser feita com pelomenos 60 dias de antecedência da principal florada.

Quando inicia-se a instalação das melgueiras énecessário interromper o fornecimento de xarope para queas abelhas não o transfiram para as melgueiras. Deve-seintroduzir uma melgueira de cada vez. Somente quando aanterior estiver com 50% de sua capacidade ocupada pormel e havendo o prosseguimento da florada, é que seintroduz a seguinte. Para saber se a melgueira está cheia ésó verificar se o mel já está sendo operculado. Entre o ninhoe a primeira melgueira deve-se interpor uma tela excluidorapara que a rainha não faça postura nos favos da melgueira.

Quando nas melgueiras os favos apresentarem 90 a100% dos alvéolos operculados, o apicultor pode retirá-los esubstituí-los por favos vazios, ou colocar outra melgueiravazia entre o ninho e a primeira melgueira e assimsucessivamente até que a florada se encerre.

É aconselhável não revisar o ninho durante a coletados favos das melgueiras, ou substituição de seus favos.Porque as abelhas ficam muito mais defensivas aoperceberem que estão sendo saqueadas. Entretanto,havendo suspeita de enxameação, pela persistência de“barba”, deve-se revisá-la para eliminar as realeiras e darmais espaço ao enxame.

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5.2 - UNIÃO DE FAMÍLIAS POUCO POPULOSAS

Muitas vezes pode ocorrer de o apicultor nãoconseguir preparar suas colônias em tempo de alcançar aflorada. Neste caso ele deve unir as famílias menospopulosas para conseguir mais famílias fortes, hajam vistaque só as famílias bastante populosas são produtivas.

Para unir duas famílias distante uma da outra, usa-senormalmente o método do jornal.

O apicultor já sabe que uma colônia possui apenasuma rainha. Portanto, na união de duas colônias é precisoafastar uma delas. Caso haja constatado que uma dasrainhas apresenta queda de vigor, ou seja, baixa postura deovos, deverá eliminá-la em proveito do outro enxame e suarainha .

Primeiramente, abre-se a colmeia mais fraca, semprecom auxílio do fumegador, e localiza-se a rainha que sedeseja eliminar. Feito isto, abre-se a outra colmeia e sobreela coloca-se duas folhas de papel jornal lambuzadas, dosdois lados, com mel ou água. Sobre o jornal é colocada acolmeia ( sem o assoalho ) que ficou órfã, e sobre ela, atampa.

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As abelhas da colmeia superior que ficaramaprisionadas passam a roer o jornal, e as abelhas da colmeiainferior fazem o mesmo. Enquanto isto, seus odores semisturam e ambas se aceitam sem que haja nenhum tipo deconflito.

Após um dia, o apicultor poderá transferir todos osfavos com crias da colmeia superior para a colmeia inferior;mantendo a partir daí, todas as abelhas numa única colmeia.

O trabalho de união deve ser feito sempre ao final datarde para que as abelhas da câmara superior não morramsufocadas. Se for feito durante o dia, as colmeias unidasdeverão receber uma cobertura superior.

A florada não sendo imediata, esta nova famíliapoderá receber alimento de estímulo para que a rainhaintensifique sua postura.

5.3 - ABELHAS ZANGANEIRAS

Muitas vezes o apicultor inexperiente ao manusearsua colmeia, acaba esmagando a rainha sem percebê-lo, ouentão, provoca o seu peloteamento pelas outras abelhas. Asabelhas que ficaram órfãs, tratam de puxar realeiras a fim decriar uma nova rainha. Porém, a jovem princesa ao realizarseu vôo nupcial acaba servindo de alimento à algumpassarinho, ou outro predador qualquer. Neste caso acolônia ficará órfã e sem condições de puxar uma novarealeira, por não existirem mais favos com ovos ou larvas.

Vejamos um outro exemplo: o apicultor desejasubstituir uma rainha, e o faz seguindo as técnicasapropriadas para tal. Assim mesmo as abelhas poderão nãoaceitar a mãe intrusa e tratarão de eliminá-la, relegando-a aoostracismo até que esteja morta. Supondo que todas asrealeiras tenham sido destruídas pelo apicultor durante aoperação, esta colônia ficará órfã.

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Quando uma colônia fica órfã por mais de umasemana, sem que haja possibilidade de criar uma novarainha; algumas abelhas tornam-se zanganeiras na tentativade salvar a colônia da extinção. Como isto ocorre: estasabelhas desenvolvem seus ovários e passam a realizar apostura de ovos, porém estes ovos não são fecundados eirão originar somente zangões.

Uma família zanganeira está condenada à extinção.Se o apicultor intervir logo no começo, ainda será possívelaproveitar um certo número de operárias através da uniãodesta colônia, pelo método do jornal, com uma outra maispopulosa.

As abelhas da colônia populosa tratarão de eliminaras zanganeiras e incorporar as demais às tarefas do dia-a-dia.

Para identificar uma família zanganeira é precisosaber distinguir a postura dos ovos das operárias.Normalmente são encontrados mais de um ovo em cadaalvéolo, estes ovos são menores que os de uma rainha, nãosão depositados exatamente no centro do alvéolo e apostura não segue uma trajetória regular. Quando as crias jáestão operculadas , seus opérculos são bastante salientespor serem de zangões.

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CAPÍTULO VI

6.1 - GENÉTICA DAS ABELHAS

É fundamental que o novo apicultor conheça como sereproduzem geneticamente as raças de abelhas, paraentender o por quê das dificuldades de desafricanização.

Retornando às teorias de Johann Mendel ( 1822-1884), fundador da genética , poderemos observar o seguinte: os filhos de pais da mesma raça serão de raça idêntica à de seus pais. Por exemplo:

Entretanto, se cruzarmos duas raças diferentes seusfilhos herdarão os genes (palavra grega que significaportador) do pai e da mãe. Assim:

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Agora se cruzarmos dois indivíduos mestiços teremos:

Como vemos, a probabilidade do filho destecruzamento ser mestiço é duas vezes maior, do que a depertencer a uma das raças que originaram a mestiçagem deseus pais.

Com relação à genética da abelha é preciso saberque neste caso existe a influência da partenogênese.

A partenogênese é um processo que ocorre emcertas plantas e animais, onde a reprodução independe dafecundação do óvulo.

No processo de reprodução das abelhas estefenômeno ocorre na reprodução dos zangões. Os zangõessão haplóides, ou seja, possuem a metade do número decromossomos característicos da sua espécie. (As abelhasoperárias e rainhas têm 32 cromossomos. Os zangões têmapenas 16.). Portanto, seus espermatozóides sãogeneticamente idênticos. Em outras palavras: como a rainhanão fecunda o óvulo que irá originar um zangão, este iráportar somente os caracteres da raça de sua mãe. Por issose diz que o zangão é sempre puro de raça.

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Veja o exemplo:

O cruzamento de uma rainha européia ( filha de pai emãe europeus ), com um zangão de raça africana ( filho demãe africana ) irá originar abelhas femininas ( operárias erainhas ) mestiças e zangões europeus puros, porque oóvulo que dá origem ao zangão não é fecundado, portantonão recebe as características do pai.

O que se conclui é que: com rainhas européias purasé possível produzir somente zangões europeus puros. Equando estes zangões são em grande número - para isto énecessário que haja muitas rainhas européias - irão fecundaras rainhas africanas existentes na região e estas rainhasproduzirão prole mestiça.

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Exemplo: Uma rainha de raça africana (filha de pai emãe africanos ) quando fecundada por um zangão europeu(filho de mãe européia ) irá originar prole feminina ( operáriase rainhas ) mestiça e prole masculina africana.

Se a rainha filha deste cruzamento ( rainha mestiça )for fecundada por zangões europeus irá originar 50% deprole feminina ( operárias e rainhas ) mestiça e 50%européia. Os zangões filhos desta rainha serão 50%africanos puros e 50% europeus puros.

Mas, levando-se em consideração que existe umapredominância de zangões africanos, em virtude dopredomínio da raça, o que ocorre na esmagadora maioria davezes é a africanização.

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Veja: se a rainha mestiça for fecundada por zangõesafricanos, sua prole feminina será 50% mestiça e 50%africana, e a prole masculina 50% africana e 50% européia.

Quando o apicultor compreende perfeitamente oprocesso de reprodução das abelhas, fica muito mais fácildeterminar e estabelecer métodos de controle da raça a serexplorada.

A explicação acima é simplificada e genérica visandouma maior facilidade de compreensão do assunto. Éimportante deixar claro que no cruzamento de doisindivíduos, podem ocorrer fenômenos que alteram atransmissão dos caracteres de uma geração a outra, levandoao surgimento de diferentes tipos de mestiçagemdependendo da predominância deste ou daquele caráter.

A genética da abelha ainda não foi exaustivamenteestudada, tornando difícil o desenvolvimento deste temadentro dos parâmetros propostos por este trabalho. Alémdisso, vivemos no Brasil uma realidade distinta daquela vividapela esmagadora maioria dos outros países, em decorrênciada introdução de raças com características tão díspares.Este fato por si só, já transforma cada apicultor em umobservador e pesquizador em potencial.

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CAPÍTULO VII

7.1 - AS ABELHAS COMO AGENTESPOLINIZADORES

A apicultura está diretamente relacionada àagricultura. Isto é um fato incontestável.

Nos países onde existe esta consciência por parte deagricultores e órgãos governamentais o apicultor recebeinúmeros benefícios para que, através da locação daspróprias colmeias, promova a polinização de vastas culturas.

As abelhas são os agentes polinizadores maisimportantes e mais eficazes do mundo. Isto porque,diferentemente de outros insetos e pássaros, as abelhasvisitam sempre a mesma espécie de flores, enquanto durar aflorada.

Muitas espécies vegetais têm sua produçãomultiplicada quando são polinizadas pelas abelhas. Outras,só produzem se houver polinização.

Isto tudo sem contar que a polinização cruzadamelhora sensivelmente a qualidade dos produtos ( frutos,sementes, etc. ).

O apicultor que pretende alugar suas colmeias parapolinização, deve manejá-las de tal forma que estas estejamcom força populacional suficiente para conseguirem cobriruma vasta área. Estas colônias devem ter dois terços doninho coberto de crias e ausência ou pequeno estoque depólen.

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Outro cuidado, muito importante por parte doapicultor, diz respeito à data da instalação das colmeias naárea a ser polinizada. A instalação não deve anteceder aflorada e nem ser posterior ao auge da mesma, ou seja, ascolmeias devem ser transferidas para o local antes que aflorada esteja compacta, exatamente no início.

Além da desinformação generalizada e do descaso oudesinteresse de órgãos governamentais, um outro fator quecontribui para que a nossa agricultura não esteja unida àapicultura é a predominância, hoje em dia, da abelha de raçaafricana. Devido à agressividade desta abelha é grande onúmero de agricultores que se recusam a tê-las em suasáreas de cultivo, mesmo em prejuízo da sua própriaprodução.

Esta é mais uma razão para que cada vez maisapicultores se dediquem à criação de abelhas de raçasdóceis. Podendo com isto, abrir mais esta frente de trabalho,bem como contribuir para a melhora da produção agrícolaem nosso país.

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7.2 - OS PRODUTOS DAS ABELHAS

Todas as pessoas que iniciam uma criação deabelhas têm em vista, primeiramente, a obtenção de seusprodutos.Estas pessoas descobrem , com o tempo, que a principalfunção da abelha na natureza é a polinização. É importantenotar que a belha não sai da colmeia com a intenção derealizar a polinização e sim em busca do néctar das plantaspara transformá-lo em mel para alimentar a família. Naverdade a polinização se dá casualmente quando ao pousarde flor em flor transportando em seus pelos o pólen, que é oelemento fecundante das plantas. Portanto, é em troca damatéria prima nescessária para a manutenção da própriaespécie, que as abelhas promovem a multiplicação das maisdiversas espécies vegetais.

Este é um exemplo de sincronia existente entre omundo vegetal e animal.

O MEL

O apicultor que aprendeu a criar abelhas utilizandotécnicas racionais apropriadas para obtenção de mel, poderáusufruir dos benefícios deste produto, que bem poderia serdescrito como ouro líquido graças à sua riqueza denutrientes e propriedades terapêuticas.

Primeiramente vejamos o quê transforma o néctar emmel: são as enzimas diastase, invertase e glicose-oxidase.Estas enzimas são produzidas pelas glândulas salivares dasabelhas. Suas funções vão desde a inversão da sacarose emglicose e quebra do amido até a ação antibacteriana. O melcontém ainda: ácidos, aminoácidos, minerais e vitaminas. Aocontrário de outros adoçantes é um alimentoverdadeiramente protéico e energético.

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Devido à presença de glicose em sua composição, omel tende a cristalizar à temperaturas muito baixas. Méisprovenientes de certas espécies vegetais possuem umabaixa taxa de glicose podendo jamais cristalizarem-se.

O mel armazenado pelas abelhas, nos alvéolos dosfavos, é desidratado até atingir um grau de aproximadamente17% de umidade. Quando isto ocorre, as abelhas operculamos favos, ou seja, cobrem-nos com uma fina camada de cerapara que o mel não absorva a umidade do ar.

O mel é higroscópico (absorve a umidade do ar ), isto,aliado ao fato de possuir certas leveduras em suaconstituição faz com que fermente facilmente sob certascondições. Portanto, é aconselhável mantê-lo sempre emrecipientes bem fechados para sua maior conservação.

Como extrair o mel

Os favos contendo mel devem ser retirados somentequando estiverem 90% operculados . Ao retirar os favosdeve-se escová-los completamente para retirar as abelhas.Estes favos devem ser transportados para um cômodofechado para que as abelhas não sejam atraídas pelo seucheiro durante o trabalho de extração do mel. Outra opção érealizar o trabalho durante a noite.

A primeira coisa a fazer é retirar o opérculo que cobreos alvéolos dos favos. Para isso basta apoiar o quadro emum recipiente onde cairá o opérculo, segurá-lo com uma dasmãos e com um garfo ou faca desoperculadora deslizarsobre o favo em toda a sua extensão até que todos osalvéolos estejam abertos.

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Depois de desoperculados, os favos são introduzidosna centrífuga um a um de acordo com a disposição ecapacidade do equipamento. Feito isto, basta girar amanivela para que ocorra a centrifugação. Após sercentrifugado dos favos, o mel deverá ficar em repouso paradecantar . Os restos de cera, pedaços de abelhas e pólentendem a ficar na superfície. Caso queira, ainda poderá filtrá-lo antes que seja embalado.

O PÓLEN

O pólen é o alimento protéico das abelhas, ele éfundamental na alimentação das crias. É rico em proteínas,minerais , vitaminas e hormônios. É usado terapeuta eprofiláticamente para combater ou evitar diversas doenças,tais como: hipertensão arterial e disfunções gastro-intestinais.

Como coletar o pólen

A coleta do pólen deve ser feita somente quandohouver uma florada polinífera. O apicultor percebe istoquando ao fazer uma revisão encontra favos contendograndes quantidades de pólen, ou então, quando observa noalvado da colmeia a entrada de um número muito maior decampeiras carregadas de pólen. Em geral, cerca de doisterços.

Para coletá-lo basta colocar na entrada da colmeiaum coletor de pólen. Este coletor nada mais é que umapequena caixa com tela nas dimensões apropriadas quepermitem a passagem das abelhas, porém, retém o pólen desuas cestas (corbículas). As bolotas de pólen caem nabandeja que serve de fundo para a caixa coletora. O coletornão deve permanecer no alvado por períodos muitoprolongados porque as abelhas necessitam armazenar umacerta quantidade de pólen para a família. Períodos de trêshoras por dia são ideais.

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Depois de retirar o coletor deve-se proceder àsecagem do pólen para sua conservação. Para isto énecessário o uso de uma estufa apropriada. Pode-setambém guardá-lo fresco na geladeira.

A PRÓPOLIS

A própolis constitui-se de resina vegetal que écoletada de certas árvores pelas abelhas com auxílio de suasmandíbulas.

Estudos feitos por pesquizadores russos revelaram que a própolis é elaborada a partir de:

resinas e bálsamos - 55%cera - 30%óleos voláteis - 10%pólen - 5%

Na colmeia é utilizada para vedar espaços inferioresao utilizado pelas abelhas (espaço-abelha que é entre 6 e 9mm), vedar frestas, para soldar componentes , reduzir oalvado quando a temperatura diminui, impermeabilizar acolmeia internamente e mumificar algum invasor morto queelas não consigam retirar de dentro da colmeia; impedindoque haja putrefação.

Terapeuticamente ela é bactericida, cicatrizante,antiinflamatória, anestésica e principalmente antibiótica.

Como coletar a própolis

Para coletar pequenas quantidades basta raspar atampa, laterais dos quadros, do ninho e da melgueira a cadarevisão. Própolis de melhor qualidade e maior quantidadepode ser obtida da seguinte forma: colocar pequenos calçosentre a tampa e o ninho para que as abelhas propolisem, istosó deve ser feito quando a família é forte e a temperaturaestiver diminuindo; no término do verão.

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Para o preparo do extrato da própolis basta que estaseja dissolvida em alcool de cereais na proporção de 1/3 deprópolis bruta (raspada) para 2/3 de álcool. A mistura deveser agitada de vez em quando e, após um mês já é possíveldistinguir a borra que fica acomodada no fundo do recipientee o extrato escuro acima dela. Esse extrato deve serarmazenado em vidro de cor escura.

A CERA

A cera é produzida pelas abelhas através dasglândulas cerígenas que estão situadas em seu abdômen. Asabelhas precisam consumir grandes quantidades de mel paraque possam produzir a cera. Em média na proporção de 7 kgde mel para 1 kg de cera. Ela é utilizada basicamente naconstrução dos favos.

Na indústria é utilizada na composição de diversosprodutos, bem como na cosmetologia e farmacologia por suaação emoliente.

Para aproveitar as sobras de cera e os favos velhos,o apicultor deve derreter tudo com água fervente, filtrar oexcesso de detritos e deixar decantar em uma vasilha deboca larga, colocada numa posição levemente inclinada, istofacilitará a retirada do bloco quando a cera solidificar. Apósum dia verificará que a água ficou no fundo da vasilha, osresíduos contidos nos favos ( restos de pólen, de abelhas,etc.) no meio e o bloco de cera na superfície. Agora bastaescorrer a água e raspar a camada de resíduos com umafaca ou formão.

Havendo grande quantidade a cera poderá servendida diretamente para a indústria; em pequenasquantidades poderá ser trocada por lâminas de ceraalveolada em lojas de produtos apícolas, ou em associaçõesde apicultores.

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GELÉIA REAL

A geléia real é secretada pelas glândulashipofaringeanas situadas na cabeça da abelha.

É usada para alimentar as larvas com até três dias. Étambém o alimento da rainha durante toda a sua vida. Ériquíssima em proteínas, vitaminas, minerais, enzimas,hormônios e outras substâncias que têm ação direta naregeneração de células.

A geléia real vem sendo utilizada cada vez mais notratamento de diversas doenças. Como por exemplo:doenças respiratórias, vasculares e câncer entre outras.

Como coletar a geléia real

Para coletar a geléia real existem diversas técnicas.A mais simples e ao alcance de qualquer apicultor

consiste em orfanar uma colônia populosa. Para isto não énecessário tirar a rainha da colmeia, basta prendê-la em umagaiola do tipo Miller. Sendo uma colônia populosa elas logosentirão falta da rainha fazendo postura nos favos do ninho etratarão de puxar muitas realeiras. Após três dias abre-se acolmeia e ter-se-á inúmeras realeiras. Nesta ocasião deve-seretirar todas as larvas que estão nas realeiras e guardá-lasem um frasco escuro. Logo após, com o auxílio de umaseringa, um conta-gotas ou uma pinça esterilizada retira-setoda a geléia real que está no fundo das realeiras. Estageléia também é armazenada em um frasco escuro.

Terminado o trabalho de extração da geléia e daslarvas, destrói-se completamente todas as realeiras e abre-se as passagens da gaiola para que a rainha seja libertadapelas abelhas em poucas horas. Após quatro dias faz-seuma nova revisão para ter-se certeza que as abelhas nãopuxaram outras realeiras, porque caso o façam , pode-seperder uma boa rainha.

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Havendo novas realeiras, faz-se a coleta de larvas egeléia real, destruindo-se todas as realeiras em seguida.

Querendo coletar uma quantidade um pouco maior,basta manter a família orfã por oito dias e fazer a primeiracoleta 3 dias após a orfanação, a segunda coleta deverá serfeita 3 dias após a primeira e a terceira coleta, 2 dias após asegunda. Nesta data a rainha deverá ser restituida presa emuma gaiola Miller com as passagens vedadas por pastacandi.

Os frascos com as larvas e a geléia real devem serarmazenados em geladeira e consumidos em doses mínimasdiárias.

Pesquisas recentes demonstraram que a larva daabelha é um alimento muito protéico e energético, podendoser consumido da mesma maneira que a geléia real.

APITOXINA OU VENENO DE ABELHA

A apitoxina é produzida pela “glândula do ácido”. Estaglândula está ligada, por um tubo, ao saco de veneno.

Apesar da glândula que produz o veneno serdenominada de glândula do ácido ; o veneno não é ácido esim alcalino. Descobertas recentes afirmam que o veneno éconstituído não só de ácido fórmico, mas também porenzimas e peptídeos.

A principal utilização profilática e terapêutica daapitoxina se dá na prevenção e tratamento dos diversostipos de artrite e doenças circulatórias. Recentemente foidescoberto que a apitoxina possui um tipo de molécula compropriedades capazes de proteger contra radiações. Masainda serão necessárias muitas pesquisas até que seconfirme o uso da apitoxina , ou de algum produto que acontenha, no tratamento e prevenção a radiações.

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Como coletar a apitoxina

A apitoxina é coletada para uso em laboratórios.A melhor maneira de coletar o veneno da abelha é

instalando um coletor no alvado da colmeia. O coletor éformado por fios esticados sobre um recipiente liso efechado. Estes fios são ligados a algum tipo de bateria, equando as abelhas encostam neles recebem um choque quefá-las soltar o veneno, sem que com isso sobrevenha a suamorte.

7.3 - COMO AGIR EM CASO DE FERROADAS

A apitoxina em doses elevadas pode levar à morte,isto depende do grau de tolerância do indivíduo. Os efeitospodem não passar de dores fortes por alguns minutos após apicada. Mas em caso de alergia pode provocar prostração echoque anafilático.

Nos casos leves basta a aplicação de uma pomadaanestésica, ou anti-histamínica no local. Pode-se tambémingerir duas drágeas de Fenergam.

Em casos mais graves, para evitar-se um reaçãotóxica que possa ser fatal, deve-se aplicar injeçõessucessivas de Fenergam (uma ampola de 2 cm3), Coramina-Cafeína (uma ampola de 1 cm3) e Adrenalina Aquosa (umaampola de 1 cm3). Estas injeções devem ser aplicadasdiretamente no músculo . Se a quantidade de ferroadas formuito grande usa-se Gluconato de Cálcio injetável à 20%.

Estas recomendações são de autoria do Dr. GASTONROSENFELD e já foram amplamente divulgadas em várioslivros e trabalhos sobre apicultura no Brasil.

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BIBLIOGRAFIA

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· Aprenda a Criar Abelhas - Editora Três - · D’Almeida, J.E. Carvalho - Abelhas Manual Prático do

Apicultor - Livraria Popular Francisco Franco - Lisboa - 1983

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Editora Agropecuária - Porto Alegre - 1985 Wiese,· Wiese, Helmuth - Novo Manual de Apicultura - Livraria e

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abelhas - Nobel - S.Paulo - 1986· Schirmer, Lenhart Robert - Abelhas ecológicas - Nobel -

S.Paulo - 1986···

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ÚLTIMAS PALAVRAS

Caro leitor, o presente trabalho teve por objetivocolocá-lo em contato com a vida das abelhas e orientá-lo navia de uma exploração racional da apicultura, através dacriação de abelhas de raças dóceis.

Temas como: criação e fecundação de rainhas,técnicas específicas para obtenção dos produtos das abelhasem grande escala, bem como polinização dirigida não foramincluídos porque fogem ao objetivo deste trabalho.

A partir do momento em que os temas aquiabordados tenham sido plenamente assimilados, serápossível avançar um pouco mais e, só então, partir para aexploração comercial.

É fundamental que você pratique, leia bastante,pesquise e discuta com outras pessoas do universo apícolapara que se mantenha sempre atualizado.

Não houve pretensão alguma em tornar este textoabsoluto. Hajam visto a forma simples e, até certo ponto,resumida na abordagem dos temas.

Espero ter cumprido o objetivo que era: despertar achama cósmica do auto-conhecimento através do estudo eobservação dos seres que vivem em total equilíbrio com anatureza.

ÍNDICE

Capítulo IUm breve histórico da Apicultura 03Apicultura no Brasil 04As abelhas 05Morfologia das abelhas 11Sistemas de comunicação das abelhas 15Orientação das abelhas 17

Capítulo IILocalização e instalação do apiário 18Roupas e acessórios 20A colmeia 24

Capítulo IIIComo iniciar a criação 28Como conduzir a criação 32Visita de inspeção 33Alimentação de estímulo 35

Capítulo IVDesafricanizando um enxame capturado 37Controlando a enxameação natural através daenxameação artificial

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Capítulo VQuando sobrepor as melgueiras 48União de famílias pouco populosas 49Abelhas zanganeiras 50

Capítulo VIGenética das abelhas 52

Capítulo VIIAs abelhas como agentes polinizadores 57Os produtos das abelhas 59Como agir em caso de ferroadas 66Bibliografia 67