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ACR 11044 CE M1160 APELAÇÃO CRIMINAL Nº 11044 CE (0007147-94.2013.4.05.8100/01) APTE : SIMONE THEOPHILO OLIVEIRA ADV/PROC : MONICA BARBOSA DE MARTINS MELLO E OUTROS APDO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL ORIGEM : 11ª VARA FEDERAL DO CEARá (PRIVATIVA EM MATéRIA PENAL) - CE RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL FLÁVIO LIMA (CONVOCADO) - Primeira Turma RELATÓRIO O DESEMBARGADOR FEDERAL FLÁVIO LIMA (Relator Convocado): Cuida-se de apelação criminal interposta por SIMONE THEOPHILO OLIVEIRA em face de sentença de fls. 240/247 que, entendendo que os bens relacionados na inicial devem permanecer constritos até ulterior deliberação, indeferiu o pedido de restituição de coisa apreendida formulado na inicial, e de agravo regimental interposto contra decisão monocrática deste Relator que indeferiu o pedido de vista dos autos, formulado pelas advogadas substabelecidas sem reservas, sob o fundamento de que o processo já estava incluído em pauta (fl. 306). Nas razões do recurso (fls. 254/279), SIMONE THEOPHILO OLIVEIRA alega, em esforçada síntese: a) que a competência para o julgamento do sequestro de bens é do juízo falimentar do Grupo Oboé, no caso, a 2ª Vara de Recuperação de Empresas e Falência do Ceará, nos termos do art. 45 da Lei nº 6.024/74; b) que parte dos imóveis gravados constituem bem de família, sendo, portanto, impenhoráveis (Lei nº 8.009/90); c) que a origem dos bens é lícita, sendo que alguns dos bens sequestrados foram adquiridos pelo casal anteriormente à constituição das empresas investigadas, não podendo ser considerados produtos nem instrumentos de crime; d) que se deve aplicar o o art. 4º, § 1º da Lei nº 9613/98, com redação anterior à Lei n º 12.683/2012, segundo o qual o juiz deverá determinar a liberação dos bens se a ação penal não iniciada no prazo de 120 dias; e) que está separada de fato de José Newton Lopes de Freitas sócio e dirigente das empresas do Grupo Oboé desde 2002, e divorciada legalmente desde 04/07/2011, com escritura pública de divórcio, ato jurídico perfeito e ratificado por sentença homologatória da 2ª Vara de Registro Público (processo nº 524463- 21.2011.8.06.0001); f) que a divisão dos bens do casal foi feita dentro dos limites da legalidade, sendo adequada a meação de José Newton Lopes de Freitas, considerando que o Grupo Oboé possui vasto patrimônio. Contrarrazões do MINISTéRIO PúBLICO FEDERAL pela manutenção da decisão recorrida (fls. 283/294). Em parecer, a Procuradoria Regional da República da 5ª Região opinou pelo improvimento do recurso, nos seguintes termos (fls. 301/304v): PODER JUDICIáRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO GABINETE DO JUIZ FRANCISCO CAVALCANTI 1

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ACR 11044 CEM1160

APELAÇÃO CRIMINAL Nº 11044 CE (0007147-94.2013.4.05.8100/01)APTE : SIMONE THEOPHILO OLIVEIRAADV/PROC : MONICA BARBOSA DE MARTINS MELLO E OUTROSAPDO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALORIGEM : 11ª VARA FEDERAL DO CEARá (PRIVATIVA EM MATéRIAPENAL) - CERELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL FLÁVIO LIMA(CONVOCADO) - Primeira Turma

RELATÓRIO

O DESEMBARGADOR FEDERAL FLÁVIO LIMA (RelatorConvocado): Cuida-se de apelação criminal interposta por SIMONE THEOPHILO OLIVEIRA

em face de sentença de fls. 240/247 que, entendendo que os bens relacionados na inicialdevem permanecer constritos até ulterior deliberação, indeferiu o pedido de restituiçãode coisa apreendida formulado na inicial, e de agravo regimental interposto contradecisão monocrática deste Relator que indeferiu o pedido de vista dos autos, formuladopelas advogadas substabelecidas sem reservas, sob o fundamento de que o processo jáestava incluído em pauta (fl. 306).

Nas razões do recurso (fls. 254/279), SIMONE THEOPHILO OLIVEIRA alega,em esforçada síntese: a) que a competência para o julgamento do sequestro de bens é dojuízo falimentar do Grupo Oboé, no caso, a 2ª Vara de Recuperação de Empresas eFalência do Ceará, nos termos do art. 45 da Lei nº 6.024/74; b) que parte dos imóveisgravados constituem bem de família, sendo, portanto, impenhoráveis (Lei nº 8.009/90);c) que a origem dos bens é lícita, sendo que alguns dos bens sequestrados foramadquiridos pelo casal anteriormente à constituição das empresas investigadas, nãopodendo ser considerados produtos nem instrumentos de crime; d) que se deve aplicar oo art. 4º, § 1º da Lei nº 9613/98, com redação anterior à Lei n º 12.683/2012, segundo oqual o juiz deverá determinar a liberação dos bens se a ação penal não iniciada no prazode 120 dias; e) que está separada de fato de José Newton Lopes de Freitas – sócio edirigente das empresas do Grupo Oboé – desde 2002, e divorciada legalmente desde04/07/2011, com escritura pública de divórcio, ato jurídico perfeito e ratificado porsentença homologatória da 2ª Vara de Registro Público (processo nº 524463-21.2011.8.06.0001); f) que a divisão dos bens do casal foi feita dentro dos limites dalegalidade, sendo adequada a meação de José Newton Lopes de Freitas, considerandoque o Grupo Oboé possui vasto patrimônio.

Contrarrazões do MINISTéRIO PúBLICO FEDERAL pela manutenção da decisãorecorrida (fls. 283/294).

Em parecer, a Procuradoria Regional da República da 5ª Região opinoupelo improvimento do recurso, nos seguintes termos (fls. 301/304v):

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EMENTA: PROCESSUAL PENAL. MEDIDAS ASSECURATÓRIAS.APREENSÃO E INDISPONIBILIDADE. ASSEGURAR RECOMPOSIÇÃO DEPREJUÍZOS PROVOCADOS POR ATIVIDADE CRIMINOSA. NÃOPROVIMENTO DA APELAÇÃO.1. As medidas assecuratórias se justificam quando há indícios de que as partesestejam tentando ludibriar a recomposição de prejuízos provocados por atividadescriminosas.2. Parecer pelo não provimento da apelação.

Inconformada com a decisão que indeferiu o pedido de vistas dos autosfora do cartório, a apelante interpôs agravo regimental (fls.309/310), argumentando quea decisão atacada ofendia o princípio do contraditório e da ampla defesa.

É o relatório.

Dispensada a revisão, o processo foi incluso na pauta de julgamento

DESEMBARGADOR FEDERAL FLÁVIO LIMARelator Convocado

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APELAÇÃO CRIMINAL Nº 11044 CE (0007147-94.2013.4.05.8100/01)APTE : SIMONE THEOPHILO OLIVEIRAADV/PROC : MONICA BARBOSA DE MARTINS MELLO E OUTROSAPDO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALORIGEM : 11ª VARA FEDERAL DO CEARá (PRIVATIVA EM MATéRIAPENAL) - CERELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL FLÁVIO LIMA(CONVOCADO) - Primeira Turma

EMENTA: PENAL E PROCESSUAL PENAL. RESTITUIÇÃO DECOISA APREENDIDA. SEQUESTRO DE BENS DA EX CÔNJUGE.INVESTIGAÇÃO EM CURSO. CRIMES CONTRA O SISTEMAFINANCEIRO NACIONAL. AGRAVO REGIMENTAL. DECISÃOQUE INDEFERIU PEDIDO DE VISTA DOS AUTOS. PROCESSOINCLUSO EM PAUTA DE JULGAMENTO. CERCEAMENTO DEDEFESA. INEXISTÊNCIA. AGRAVO IMPROVIDO. APELAÇÃO.INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. INEXISTÊNCIA. BEM DEFAMÍLIA. INOPONIBILIDADE À EXECUÇÃO EM RAZÃO DESENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA. LICITUDE DA ORIGEM DOSBENS APREENDIDOS. IRRELEVÂNCIA. RELEVANTE SUSPEITA DEFRAUDE NA PARTILHA DO CASAL. PRAZO DE 120 DIAS PARA OLEVANTAMENTO DA CONSTRIÇÃO. TERMO A QUO. TÉRMINODAS INVESTIGAÇÕES. APELAÇÃO IMPROVIDA.1. Apelação criminal interposta em face de sentença que, entendendo que osbens relacionados na inicial devem permanecer constritos até ulteriordeliberação, indeferiu o pedido de restituição de coisa apreendida formuladona inicial; e agravo regimental interposto contra decisão monocrática desteRelator que indeferiu o pedido de vista dos autos, formulado pelasadvogadas substabelecidas sem reservas, sob o fundamento de que oprocesso já estava incluído em pauta.2. Nos termos do art. 7º, §1º, 2, da Lei nº 8.906/94 (Estatuto da OAB), odireito de retirada dos autos do cartório judicial pelo causídico regulamenteconstituído, previsto no art. 7º, XV, da referida Lei, é excetuado nos casosem que, motivadamente, o magistrado vislumbrar relevante motivo de suapermanência na sede do Juízo. No caso em tela, a publicação da pautaocorreu no dia 24/03/2014, e as advogadas requereram vista dos autos em28/03/2014, data em que foram substabelecidas.3. Negar-se a retirada do processo às vésperas do julgamento em nadamacula os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório,mormente porque à parte já foram dadas as oportunidade legais demanifestação escrita, tendo apresentado todas as peças defensivas cabíveis, eporque não lhe foi negado o direito de vista no cartório judicial, nem deextração de cópia integral dos autos. Permitir a saída do processo, pelo

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contrário, implicaria em remarcar desnecessariamente a data de julgamento,numa clara ofensa ao princípio da celeridade processual (art. 5º, LXXVIII,da CF/88), além de importar em precedente que garantiria às partes seguraestratégia de procrastinação nos processos criminais. Precedente: RESP200702444827, Luis Felipe Salomão, STJ - Quarta Turma, DJE:05/10/2012.4. Agravo regimental improvido.5. Apelação. Preliminar de incompetência. O conteúdo da arguição em nadase diferencia, in essentia, da preliminar levantada no primeiro grau.Fundamentação per relationem (Itens 11 a 13 da Sentença): “A PolíciaFederal está investigando a possível prática de crimes contra o SistemaFinanceiro Nacional, de Lavagem de Dinheiro dentre outros por parte dosgestores do Grupo OBOÉ, sobressaindo o sócio majoritário JOSÉNEWTON LOPES DE FREITAS. Em regra, a decretação da falência dasempresas do Grupo OBOÉ carrearia ao juízo universal a competência paradistribuir o patrimônio da massa falida aos credores conforme as regrasconcursais da Lei Falimentar. Contudo, o presente caso trata daindisponibilidade de bens decretada em investigação diante de indícios daprática de crimes. Visa-se, a princípio, a garantir eventual reparação dedanos, pagamento de prestações pecuniárias, multas, custas, diante dapossível prática de crimes de Lavagem de Capitais”. Preliminar rejeitada.6. Tampouco merece guarida o argumento de que alguns dos imóveis daapelante, por serem bens de família, não poderiam ter sido alvo de hipotecalegal. Com efeito, o art. 3º da Lei nº 8.009/1990, que trata da do bem defamília, estabelece expressamente que “a impenhorabilidade é oponível emqualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou deoutra natureza, salvo se movido: (...) VI - por ter sido adquirido comproduto de crime ou para execução de sentença penal condenatória aressarcimento, indenização ou perdimento de bens”.7. No tocante à alegação de que não houve excesso na meação da apelante,penso que ela não resiste, à primeira análise, ao conjunto probatório dosautos. Como bem afirmou o magistrado a quo (item 22 da Sentença), “napartilha dos bens do casal, celebrada na Escritura Pública de Divórcio DiretoConsensual perante o Cartório Alencar Furtado, coube ao cônjuge varão,José Newton Lopes de Freitas, as ações da empresa OBOÉ HOLDINGFINANCEIRA S/A, a qual se encontra em liquidação extrajudicial. O valorarbitrado a tal empreendimento pelo casal (mais de oito milhões de reais)representa mais de 90% da parte de José Newton na partilha, sendo orestante em objetos de artes sem especificação. Já o cônjuge virago, SimoneOliveira Lopes de Freitas ficou com todos os bens imóveis e os objetos deartes identificados. Só esse fato já deixa evidenciado que o José Newtonficou com a parte ruim da meação e Simone Oliveira com a parte boa dafortuna do casal. Afora isso, os valores arbitrados aos imóveis que coube àSimone Oliveira estão aparentemente em dissonância com os preços

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praticados no mercado; só a título de exemplo, um apartamento situado emSão Paulo/SP, além de se presumir não valer R$ 27.758,91 (fl. 10, item 13)e/ou R$ 46.264,84 (fl. 10, item 10), muito dificilmente poderia ter o mesmovalor de uma vaga de garagem (fl. 10, itens 11 e 12), donde se conclui queprovavelmente os valores foram subestimados”.8. Ademais, ainda que confirmada por sentença homologatória, a partilhadecorrente do divórcio não é oponível ao juízo penal, quando este, de possede elementos probatórios que confirmam a materialidade e levantam razoávelsuspeita sobre a autoria de crime, decreta a indisponibilidade dos bensnecessários ao ressarcimento do dano causado. Como já decidiu estaPrimeira Turma, “todos os bens procedentes de atividade criminosa estãosujeitos a seqüestro e futuro confisco, em caso de condenação. A existênciade meação de cônjuge não legitima patrimônio proveniente de atividadecriminosa” (ACR 200981000007844, Desembargador Federal FranciscoCavalcanti, TRF5 - Primeira Turma, DJE - Data::08/03/2010 - Página: 111).9. A hipótese de licitude da origem dos bens constritos, levantada pelaapelante, é irrelevante para o caso. É bem verdade que o art. 4º, § 2º, da Leinº 9.613/98, com redação anterior à Lei nº 12.683/2012, dispunha que “ojuiz determinará a liberação dos bens, direitos e valores apreendidos ouseqüestrados quando comprovada a licitude de sua origem”. Todavia, a novaredação da referida Lei dispõe que, mesmo comprovada a origem lícita,deve-se manter “a constrição dos bens, direitos e valores necessários esuficientes à reparação dos danos e ao pagamento de prestações pecuniárias,multas e custas decorrentes da infração penal”. Com efeito, “ainda quecomprovada a legítima e lícita propriedade da parte requerente quanto aosvalores e bens reclamados, não tem esta o condão de impor, por si só, arestituição destes” (ACR 200883000154506, Desembargador FederalMarcelo Navarro, TRF5 - Terceira Turma, DJE - Data: 20/09/2012 –Página: 650), porquanto é “irrelevante a proveniência lícita dos bensconstritos” (ACR 200670000102378, Eloy Bernst Justo, TRF4 - OitavaTurma, DE 20/06/2007).10. O prazo de 120 dias para o ajuizamento da ação penal, constante do art.4º, § 1º, da Lei de Lavagem de Dinheiro (Lei nº 9.613/98), deixou de existir,em vista das alterações implementadas pela Lei nº 12.683/2012, que osuprimiu. É certo que essa supressão do prazo de 120 dias não significouautorização à manutenção de medidas assecuratórias e a processamento doinquérito, por tempo indeterminado ou excessivo. Todavia, antes damodificação do texto legal, já havia entendimento no sentido de que o prazode 120 dias, então vigente, apenas deveria ser contado a partir do momentoem que o inquérito estivesse concluído. Neste sentido: “se a investigaçãoainda não foi encerrada, seria precipitado restituir dinheiro apreendido sob asuspeita de ser objeto de crime de lavagem.” (TRF3, 2T, ACR 31681, Rel.Des. Federal Nelton dos Santos, j. em 31.03.2009); “Não é de se considerarvencido o prazo a que alude o § 1º do art. 4º da Lei nº 9.613/98, que é de

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120 dias, pois ainda se encontram inconclusas as diligências requeridas peloMinistério Público Federal, em ordem a não se poder iniciar a contagem dolapso temporal” (STF, Pleno, Inq-QO 2248/DF, rel. Min. Carlos Britto, j.25/5/2006, DJU 20/10/2006, p. 49). Outros precedentes: TRF2, 1TEspecializada, HC 6464, Rel. Des. Federal Maria Helena Cirne, j. em15.07.2009; TRF3, 5T, ACR 41204, Rel. Des. Federal Luiz Stefanini,Julgamento: 27.02.2012.11. Apelação improvida.

VOTO

O DESEMBARGADOR FEDERAL FLÁVIO LIMA (RelatorConvocado): Como ensaiado no relatório, cuida-se de apelação criminal interposta porSIMONE THEOPHILO OLIVEIRA em face de sentença de fls. 240/247 que, entendendo que osbens relacionados na inicial devem permanecer constritos até ulterior deliberação,indeferiu o pedido de restituição de coisa apreendida formulado na inicial, e de agravoregimental interposto contra decisão monocrática deste Relator que indeferiu o pedidode vista dos autos, formulado pelas advogadas substabelecidas sem reservas, sob ofundamento de que o processo já estava incluído em pauta (fl. 306).

Nas razões do recurso (fls. 254/279), SIMONE THEOPHILO OLIVEIRA alega,em esforçada síntese: a) que a competência para o julgamento do sequestro de bens é dojuízo falimentar do Grupo Oboé, no caso, a 2ª Vara de Recuperação de Empresas eFalência do Ceará, nos termos do art. 45 da Lei nº 6.024/74; b) que parte dos imóveisgravados constituem bem de família, sendo, portanto, impenhoráveis (Lei nº 8.009/90);c) que a origem dos bens é lícita, sendo que alguns dos bens sequestrados foramadquiridos pelo casal anteriormente à constituição das empresas investigadas, nãopodendo ser considerados produtos nem instrumentos de crime; f) que a divisão dos bensdo casal, feita com escritura pública de divórcio - ato jurídico perfeito e ratificado porsentença homologatória da 2ª Vara de Registro Público (processo nº 524463-21.2011.8.06.0001) -, foi feita dentro dos limites da legalidade, sendo adequada ameação de José Newton Lopes de Freitas, considerando que o Grupo Oboé possui vastopatrimônio.

Ab initio, conheço dos recursos, visto que estão presentes seuspressupostos de admissibilidade intrínsecos (cabimento, legitimidade, interesse e ausênciade fato extintivo e impeditivo do direito de recorrer) e extrínsecos (tempestividade eregularidade formal).

Preliminarmente, cumpre rejeitar o agravo regimental interposto.

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É que nos termos do art. 7º, §1º, 2, da Lei nº 8.906/94 (Estatuto daOAB), o direito de retirada dos autos do causídico regulamente constituído, previsto noart. 7º, XV, da mesma Lei, é excetuado nos casos em que, motivadamente, o magistradovislumbrar relevante motivo de sua permanência na sede do Juízo. Transcrevo (grifosmeus):

Art. 7º São direitos do advogado:[...]XV - ter vista dos processos judiciais ou administrativos de qualquer natureza, emcartório ou na repartição competente, ou retirá-los pelos prazos legais;[...]§ 1º Não se aplica o disposto nos incisos XV e XVI:[...]2) quando existirem nos autos documentos originais de difícil restauração ouocorrer circunstância relevante que justifique a permanência dos autos nocartório, secretaria ou repartição, reconhecida pela autoridade em despachomotivado, proferido de ofício, mediante representação ou a requerimento daparte interessada;

No caso em tela, a publicação da pauta ocorreu no dia 24/03/2014, e asadvogadas requereram vista com retirada dos autos em 28/03/2014, aduzindo que nãotiveram tempo hábil de se inteirar sobre o mérito recursal. Todavia, desde o peticionado,as causídicas tiveram tempo suficiente para obter informações sobre o processo (trezedias antes do julgamento), não lhes sendo negado, em nenhum momento, o direito devista no cartório judicial, nem de extração de cópia integral dos autos.

Com efeito, negar-se a retirada do processo em nada macula os princípiosconstitucionais da ampla defesa e do contraditório, mormente porque à parte já foramdadas as oportunidade legais de manifestação escrita, tendo apresentado todas as peçasdefensivas cabíveis. Permitir a saída do processo, pelo contrário, implicaria em remarcardesnecessariamente a data de julgamento, numa clara ofensa ao princípio da celeridadeprocessual (art. 5º, LXXVIII, da CF/88), além de importar em precedente que garantiriaàs partes segura estratégia de procrastinação nos processos criminais.

Nestes termos decidiu o Col. Superior Tribunal de Justiça (grifos meus):

PROCESSUAL CIVIL E ESTATUTO DA ADVOCACIA. RECURSO ESPECIAL.VISTA DOS AUTOS PELO NOVO PATRONO DA PARTE. DIREITO DOADVOGADO. PLEITO DE RETIRADA DOS AUTOS, PELO PRAZO DE 5DIAS, PARA ANÁLISE, APÓS PEDIDO DE DIA PARA JULGAMENTO DORECURSO. POSSIBILIDADE DO INDEFERIMENTO, TENDO EM VISTA APRESENÇA DE CIRCUNSTÂNCIA RELEVANTE, CONSOANTE PREVISTONO PARÁGRAFO 1º, 2, DO ARTIGO 7º DO ESTATUTO DA ADVOCACIA EDA OAB (LEI 8.906/94). ANULAÇÃO DE ATO QUE NÃO ACARRETOUPREJUÍZO À PARTE. DESCABIMENTO.1. O acórdão recorrido consigna que foi deferida vista no cartório, pois"quando o petitório de vista dos autos foi apresentado, o processo em epígrafejá estava em vias de inclusão em pauta para julgamento por determinaçãodeste relator, não havendo, portanto, fundamento legal para o intento do

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procurador das apelantes, isto é, para a retirada dos autos pelo advogado",portanto fica nítido haver circunstância relevante a possibilitar oindeferimento da retirada dos autos, no moldes da ressalva prevista noparágrafo 1º, 2, do artigo 7º do Estatuto da Advocacia e da OAB (Lei8.906/94). 2. Ademais, as recorrentes não demonstram, objetivamente, prejuízodecorrente do fato de não ter sido possibilitada a retirada dos autos do cartório,mostrando-se inviável a decretação da nulidade do acórdão recorrido. 3. Recursoespecial não provido.(RESP 200702444827, LUIS FELIPE SALOMÃO, STJ - QUARTA TURMA, DJEDATA:05/10/2012)

Com essas considerações, nego provimento ao agravo regimental.

Ao recurso de apelação.

Como prejudicial de mérito, a apelante aduz que a competência para ojulgamento do sequestro de bens é do juízo falimentar do Grupo Oboé, no caso, a 2ªVara de Recuperação de Empresas e Falência do Ceará, nos termos do art. 45 da Lei nº6.024/74. Observo, entretanto, que o conteúdo desta arguição em nada se diferencia, inessentia, da preliminar levantada no primeiro grau.

Com efeito, com base no princípio constitucionalmente consagrado daceleridade processual, tem-se adotado com mais frequência nos últimos tempos achamada fundamentação per relationem, ou seja, tem sido plenamente admitido que oJuízo ad quem motive suas decisões com a transcrição, como razão de decidir, dosfundamentos empregados pelo Juízo a quo e mesmo dos trazidos à baila em parecer doMinistério Público, como fiscal da lei. Neste sentido, o seguinte precedente do SupremoTribunal Federal:

EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - INOCORRÊNCIA DECONTRADIÇÃO, OBSCURIDADE OU OMISSÃO - PRETENDIDO REEXAMEDA CAUSA - CARÁTER INFRINGENTE - INADMISSIBILIDADE -INOCORRÊNCIA DE CONSUMAÇÃO, NA ESPÉCIE, DA PRESCRIÇÃOPENAL - INCORPORAÇÃO, AO ACÓRDÃO, DAS RAZÕES EXPOSTAS PELOMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - MOTIVAÇÃO “PER RELATIONEM” -LEGITIMIDADE JURÍDICO-CONSTITUCIONAL DESSA TÉCNICA DEFUNDAMENTAÇÃO - DEVOLUÇÃO IMEDIATA DOS AUTOS,INDEPENDENTEMENTE DA PUBLICAÇÃO DO ACÓRDÃO, PARA EFEITODE PRONTA EXECUÇÃO DA DECISÃO EMANADA DA JUSTIÇA LOCAL -POSSIBILIDADE - EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS.[...] Reveste-se de plena legitimidade jurídico-constitucional a utilização, peloPoder Judiciário, da técnica da motivação “per relationem”, que se mostracompatível com o que dispõe o art. 93, IX, da Constituição da República. Aremissão feita pelo magistrado - referindo-se, expressamente, aos fundamentos (defato e/ou de direito) que deram suporte a anterior decisão (ou, então, a pareceres doMinistério Público ou, ainda, a informações prestadas por órgão apontado comocoator ) - constitui meio apto a promover a formal incorporação, ao ato decisório,da motivação a que o juiz se reportou como razão de decidir. Precedentes.(AI-AgR-ED 825520, Rel. Min. Celso De Mello, STF).

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Reputando suficientes os fundamentos elaborados pelo douto magistradode piso quanto à incompetência da Justiça Federal, reproduzo-os aqui, adotando-oscomo próprios:

9. A primeira questão posta pela autora diz respeito à incompetência deste Juízo, oque não deve prosperar.10. Em julho de 2012, no incidente n. 0006157-40.2012.4.05.8100, este Magistradodecretou a busca e apreensão nos domicílios de SIMONE OLIVEIRA LOPES DEFREITAS (SIMONE THEOPHILO OLIVEIRA), JOSÉ NEWTON LOPES DEFREITAS e no Cartório do 1º Ofício de Notas da Comarca de Pacatuba/Ce, AlencarFurtado (para apreensão dos Livros ns. 028, 029, 030), assim como aindisponibilidade de 25 bens móveis e imóveis de SIMONE OLIVEIRA LOPES DEFREITAS (SIMONE THEOPHILO OLIVEIRA), dentre os quais ações societárias.11. A Polícia Federal está investigando a possível prática de crimes contra oSistema Financeiro Nacional, de Lavagem de Dinheiro dentre outros por parte dosgestores do Grupo OBOÉ, sobressaindo o sócio majoritário JOSÉ NEWTONLOPES DE FREITAS.12. Em regra, a decretação da falência das empresas do Grupo OBOÉ carrearia aojuízo universal a competência para distribuir o patrimônio da massa falida aoscredores conforme as regras concursais da Lei Falimentar.13. Contudo, o presente caso trata da indisponibilidade de bens decretada eminvestigação diante de indícios da prática de crimes. Visa-se, a princípio, a garantireventual reparação de danos, pagamento de prestações pecuniárias, multas, custas,diante da possível prática de crimes de Lavagem de Capitais.14. Não se está diante de execução de sentença penal, com a efetiva expropriaçãode bens. Bem assim, não foi determinada a venda antecipada das coisas tornadasindisponíveis. Tem-se uma medida assecuratória do processo penal.15. Desta feita, como se trata de medida cautelar penal relativa a crime da searafederal, ratifico a competência deste Juízo, ao tempo em que mais uma vez ressaltonão ter sido determinada a alienação judicial dos bens constritos.

Tampouco merece guarida o argumento de que alguns dos imóveis daapelante, por serem bens de família, não poderiam ter sido alvo de hipoteca legal. Comefeito, como bem lembrou o magistrado de piso, a Lei nº 8.009/1990, que trata da dobem de família, estabelece expressamente não ser possível opor a impenhorabilidadedessa classe de bens à execução, quando tratar-se de produto de crime, ou quando ogravame for necessário para o ressarcimento de dano causado por ato criminoso,confirmado por sentença condenatória transitada em julgado. In verbis:

Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil,fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido:(...)VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentençapenal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.

No tocante à alegação de que não houve excesso na meação de SIMONE

THEOPHILO OLIVEIRA, penso que ela não resiste, à primeira análise, ao conjunto probatóriodos autos. Ressalto aqui os fundamentos da decisão vergastada:

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21. Não é viável o levantamento das restrições na presente fase das investigações,diante da dúvida existente quanto à legitimidade da escritura pública de divórciodireto consensual de JOSÉ NEWTON LOPES DE FREITAS e SIMONEOLIVEIRA LOPES DE FREITAS, pois indícios apontam para uma provávelsimulação entre os consortes com o fim de liberar o patrimônio de possívelexecução.22. Na decisão combatida analisei a questão, in verbis (fls. 153/160):15. Como bem frisou o representante ministerial, na partilha dos bens do casal,celebrada na Escritura Pública de Divórcio Direto Consensual perante o CartórioAlencar Furtado, coube ao cônjuge varão, José Newton Lopes de Freitas, as açõesda empresa OBOÉ HOLDING FINANCEIRA S/A, a qual se encontra emliquidação extrajudicial. O valor arbitrado a tal empreendimento pelo casal(mais de oito milhões de reais) representa mais de 90% da parte de JoséNewton na partilha, sendo o restante em objetos de artes sem especificação. Jáo cônjuge virago, Simone Oliveira Lopes de Freitas ficou com todos os bensimóveis e os objetos de artes identificados. Só esse fato já deixa evidenciado queo José Newton ficou com a parte ruim da meação e Simone Oliveira com aparte boa da fortuna do casal. Afora isso, os valores arbitrados aos imóveis quecoube à Simone Oliveira estão aparentemente em dissonância com os preçospraticados no mercado; só a título de exemplo, um apartamento situado em SãoPaulo/SP, além de se presumir não valer R$ 27.758,91 (fl. 10, item 13) e/ou R$46.264,84 (fl. 10, item 10), muito dificilmente poderia ter o mesmo valor deuma vaga de garagem (fl. 10, itens 11 e 12), donde se conclui queprovavelmente os valores foram subestimados. Existem, portanto, indícios depropósito do casal de burlar as conseqüências da intervenção no grupo OBOÉ.23. A autora proclama que não houve excessos na partilha de bens, pois opatrimônio do casal considerado foi o do ano de 2002, quando da separação de fato,e não no ano de 2011, quando foi formalizado o divórcio, e que os bens que lhecouberam foram adquiridos antes da criação das empresas OBOÉ (1998), algunsforam provenientes da herança de seus pais e outros comprados na constância daconvivência marital (de 1971 a 2002).24. Contudo, tais alegações não merecem por ora guarida.25. A uma, porque não é verossímil que um casal permaneça quase 10 anosseparados de fato e na iminência - cerca de 60 dias antes - da decretação da falênciado Grupo OBOÉ, do qual o cônjuge JOSÉ NEWTON LOPES DE FREITAS é ocabeça, resolvam se divorciar e quase todo o patrimônio fique com a postulante,contra quem a princípio não recairiam os efeitos da falência.26. A duas, porque pesam em desfavor da predita escritura contundentesindícios de falsidade expostos no Laudo Pericial (fls. 198/211), também devendoser relembrado o valor dissonante da realidade arbitrado aos imóveis,explicitamente minorados.

Ademais, ainda que confirmada por sentença homologatória, a partilhados bens também não é oponível ao juízo penal, quando este, de posse de elementosprobatórios que confirmem a materialidade e levantem razoável suspeita sobre a autoriade crime, decreta a indisponibilidade dos bens necessários ao ressarcimento do danocausado. Como já decidiu esta Eg. Primeira Turma (destaquei):

PROCESSUAL PENAL. MEDIDA CAUTELAR. SEQUESTRO (ART. 4º DA LEINo 9.613, DE 3 DE MARÇO DE 1998). EMBARGOS DE TERCEIRO.RESTITUIÇÃO DE COISAS APREENDIDAS. ORIGEM LÍCITA. NÃO

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COMPROVAÇÃO. (...) Todos os bens procedentes de atividade criminosa estãosujeitos a seqüestro e futuro confisco, em caso de condenação. A existência demeação de cônjuge não legitima patrimônio proveniente de atividadecriminosa. 4. A liberação dos bens sem a certeza acerca de sua origem lícitainviabilizaria, em eventual condenação dos réus, o cumprimento do queestabelecem o art. 91, II, do Código Penal, e art 7º, I, da Lei no 9.613, de 3 demarço de 1998. 5. Apelação improvida.(ACR 200981000007844, Desembargador Federal Francisco Cavalcanti, TRF5 -Primeira Turma, DJE - Data::08/03/2010 - Página::111.)

Julgo que a hipótese da origem lícita dos bens constritos, levantada pelaapelante, é irrelevante para o caso. É bem verdade que o art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.613/98,com redação anterior à Lei nº 12.683/2012, dispunha que “o juiz determinará aliberação dos bens, direitos e valores apreendidos ou seqüestrados quando comprovadaa licitude de sua origem”. Todavia, a nova redação da referida Lei dispõe que, mesmocomprovada a origem lícita, deve-se manter “a constrição dos bens, direitos e valoresnecessários e suficientes à reparação dos danos e ao pagamento de prestaçõespecuniárias, multas e custas decorrentes da infração penal”.

Em que pese a impossibilidade de retroação da referida Lei, por se tratarde norma processual heterotópica, cumpre ressaltar que a Lei nº 12.683/2012 externouna própria Lei o sentido que a doutrina e a jurisprudência já extraiam do texto legalmodificado, porquanto a interpretação majoritária considerava que o levantamento dogravame sobre os bens de origem lícita só poderia ocorrer nos limites do valor a serressarcido, por aplicação subsidiária dos arts. 134 e 137 do CPP. Com efeito, tratando arespeito das medidas assecuratórias previstas na Lei nº 9.613/98, ensinam Pacelli eFischer (grifei)1:

(...) algumas providências acautelatórias podem ser tomadas no curso dainvestigação ou mesmo do processo principal.

E isso não há de se espantar, na medida em que, em tais hipóteses, a presença doselementos informativos (na fase preliminar) ou de prova (na fase do processo)presentes ao juízo criminal permite maior visibilidade da responsabilidade civil.(...)A especialização da hipoteca significa a incidência do ônus real sobre o imóvelpertencente ao indiciado (ou acusado, se já houver ação penal), com o objetivode garantir a recomposição patrimonial do dano, prestando-se também aopagamento das custas e demais despesas processuais.

José Paulo Baltazar Júnior, por sua vez, ainda de possa da antiga redaçãoda Lei nº 9.613/98, ensinava2:

1 PACELLI, Eugênio, FISCHER, Douglas. Comentários ao Código de Processo Penal e sua Jurisprudência - 4ª Edição. São Paulo: Atlas, 2012, pg. 283.

2 BALTAZAR JÚNIOR, José Paulo. Crimes Federais. 8. ed. rev. atual. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2012, p. 842

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(...) nada impede a aplicação subsidiária do CPP, ou mesmo do DL 3.240/41, demodo que a constrição recaia também sobre o produto do crime (CPP, art. 125) eaté mesmo sobre o conjunto de seu patrimônio (CPP, arts. 134 e 137), consideradoo valor do arbitramento da responsabilidade, incluindo o prejuízo causado, bemcomo as despesas processuais e o valor provável das penas pecuniárias (CPP, arts.135 e 140).

No mesmo sentido, a jurisprudência se posicionava afirmando que “sãorequisitos para o deferimento da cautelar prevista no artigo 134 do Código de ProcessoPenal a certeza da materialidade delitiva e, no que tange à autoria, a existência deindícios suficientes que gerem graves suspeitas contra o acusado”, sendo “irrelevante aproveniência lícita dos bens constritos” (ACR 200670000102378, Eloy Bernst Justo,TRF4 - Oitava Turma, DE 20/06/2007).

Assim também julgou este Egrégio Tribunal (destaques acrescidos):

PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO ASSOCIADA A EMBARGOS DETERCEIRO, EXTINTOS SEM JULGAMENTO DE MÉRITO, QUE OBJETIVOU,PELA TERCEIRA VEZ, LEVANTAMENTO DE BENS E VALORESRELATIVOS A SEQUESTRO JUDICIAL. RAZÕES RECURSAIS QUE NÃODEMONSTRAM A INEXISTÊNCIA DE VÍNCULO ETIOLÓGICO ENTRE OSBENS E HAVERES RECLAMADOS E SUA PROVÁVEL AQUISIÇÃODERIVADA DE PRÁTICAS CRIMINOSAS. INVESTIGAÇÃO POLICIALDENOMINADA "OPERAÇÃO ZEBRA" (CONTRABANDO, FORMAÇÃO DEQUADRILHA, LAVAGEM DE DINHEIRO, ETC.). ORIGEM DUVIDOSA DENUMERÁRIO, EM ESPÉCIE, APREENDIDO EM AERONAVE (R$ 753.200,00).PUGNA-SE, AINDA, PELA DESONERAÇÃO DE DOIS AUTOMÓVEIS DEMARCA MASERATI QUATTROPORTE E PORSCHE CAYENNE, ALÉM DEAPARTAMENTO SITO NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO-SP E DAAERONAVE DE MARCA CESSNA AIRCRAFT, C500. IMPÕE-SE MANTER ADENEGAÇÃO DA RESTITUIÇÃO, NA ESTEIRA DE JULGADOS DESTA 3ªTURMA EM RECURSOS DE PARTES E CAUSA PETENDI IDÊNTICAS. 1.Importa notar que a ação penal correlata a este feito, em que foram aplicadasreprimendas de alto patamar (objeto da ACR nº 8290-PE), versa sobre condutas deelevada culpabilidade, e que geraram enormes prejuízos ao Erário Público - privadodos tributos devidos em virtude das transações financeiras efetuadas - e ao SistemaFinanceiro Nacional como um todo, haja vista a insegurança econômica advindados delitos apurados. Nessa circunstância, ante a gravidade dos crimes, é deinteresse público que os sentenciados sejam privados, como medida cautelar, daposse dos bens e valores objeto de seqüestro judicial, como meio de salvaguarda daordem legal. 2. Não se desincumbiu a parte apelante do ônus de infirmar o interessepúblico, inato à persecução penal, ou mesmo, ainda durante o curso do inquéritopolicial associado, de manutenção da apreensão dos bens e valores, como prescreveo art. 118, do CPP. 3. Também não foi convincentemente afastada pela parterecorrente, a possibilidade de estar a constrição em causa imbricada a eventual penade perdimento dos bens e valores, prevista no art. 91, II, 'b', do Código Penal, acasoefetivamente comprovada a origem ilícita de sua obtenção, sanção esta a depender,ainda, do devido processo legal, pelo que deve-se manter a cautelar decretada, parafins de assegurar, se o caso, o devido ressarcimento de valores aos cofres do erário.4. Ainda que comprovada a legítima e lícita propriedade da parte requerentequanto aos valores e bens reclamados, não tem esta o condão de impor, por si

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só, a restituição destes, se não for cabível em razão do interesse processual e,ainda, não se comprovando a origem lícita de sua aquisição. Inteligência do art.4º, parágrafo 2º, da Lei nº 9.613/98. 5. Mantida a alienação judicial antecipadados bens, nos termos dos arts. 120, parágrafo 5º c/c o 137, ambos do CPP, além daRecomendação nº 30, do Conselho Nacional de Justiça - CNJ, adotando-se, aqui, omesmo entendimento observado quando do julgamento, por esta 3ª Turma, doMSTR nº 102865-PE e da ACR nº 7700-PE, em tudo assemelhados ao presenteapelo, a partir da parte recorrente e da similitude do objeto tratado em ambos osfeitos. 6. Apelação improvida.(ACR 200883000154506, Desembargador Federal Marcelo Navarro, TRF5 -Terceira Turma, DJE - Data::20/09/2012 - Página::650.)

Destarte, considerando a elevada suspeita de fraude na partilha dapropriedade do casal, fortalecida pelo Laudo do perito e pela falta proporção entre osbens divididos, bem como a irrelevância da origem lícita deles para sua constrição,porquanto visam ao ressarcimento dos danos causados às vítimas, sobretudo o Estado,pelos crimes em estado de investigação, é de se negar a sua restituição, independente dacomprovação da origem dos bens, nos termos dos arts. 134 e 137 do CPP.

Sobre a questão do lapso temporal transcorrido desde o início dasinvestigações e do deferimento da medida assecuratória, devem ser tecidas algumasconsiderações adicionais.

De logo, sublinhe-se que o prazo de 120 dias para o ajuizamento da açãopenal, constante do art. 4º, § 1º, da Lei de Lavagem de Dinheiro (Lei nº 9.613/98) - "Asmedidas assecuratórias previstas neste artigo serão levantadas se a ação penal não foriniciada no prazo de cento e vinte dias, contados da data em que ficar concluída adiligência" -, deixou de existir, em vista das alterações implementadas pela Lei nº12.683/2012, que o suprimiu.

É certo que essa supressão do prazo de 120 dias não significouautorização à manutenção de medidas assecuratórias e a processamento do inquérito,por tempo indeterminado ou excessivo. Parece mais ter sido resultado de ponderaçõessobre a complexidade inerente à macrocriminalidade, de modo que persistem íntegras asrazões antes sustentadas, agora com mais força (por conta da alteração legislativa), queimpõem leitura flexível, fundada no princípio da razoabilidade, do tempo exigível para afinalização dos procedimentos inquisitivos e a propositura da ação penal.

Havia entendimento, inclusive, no sentido de que o prazo de 120 dias,então vigente, apenas deveria ser contado a partir do momento em que o inquéritoestivesse concluído, in verbis:

O prazo de 120 dias de que trata o parágrafo primeiro, do artigo 4º, da Lei9.613/98, deve ser contado a partir do momento em que o inquérito estejaconcluído.(TRF2, 1T Especializada, HC 6464, Rel. Des. Federal Maria Helena Cirne, j. em15.07.2009)

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A jurisprudência manifesta-se no sentido de que o prazo de 120 (cento e vinte) diasprevisto no § 1º do art. 4º da Lei n. 9.613/98 não é peremptório, sendo que odispositivo deve ser interpretado de acordo com a razoabilidade e a complexidadedo feito, havendo ainda precedentes no sentido de que esse prazo apenas teminício após encerradas todas as diligências investigatórias”(TRF3, 5T, ACR 41204, Rel. Des. Federal Luiz Stefanini, j. em 27.02.2012);

2. Se a investigação ainda não foi encerrada, seria precipitado restituir dinheiroapreendido sob a suspeita de ser objeto de crime de lavagem. 3. 'Não é de seconsiderar vencido o prazo a que alude o § 1º do art. 4º da Lei nº 9.613/98, que éde 120 dias, pois ainda se encontram inconclusas as diligências requeridas peloMinistério Público Federal, em ordem a não se poder iniciar a contagem do lapsotemporal' (STF, Pleno, Inq-QO 2248/DF, rel. Min. Carlos Britto, j. 25/5/2006,DJU 20/10/2006, p. 49(TRF3, 2T, ACR 31681, Rel. Des. Federal Nelton dos Santos, j. em 31.03.2009).

Do voto exarado pelo Ministro Carlos Britto, na Questão de Ordem noInquérito nº 2248/DF, extrai-se:

[...] não é de se considerar vencido o prazo a que alude o § 1º, do art. 4º, da Lei nº9.613/98, que é de 120 dias. Isso porque, nos termos do parecer da ProcuradoriaGeral da República, ainda se encontram inconclusas as diligências por elarequeridas, em ordem a não se poder iniciar a contagem do lapso temporal.

Improcedente, destarte, a alegação de decurso do lapso temporal máximopara a indisponibilidade dos bens, vez que ainda estão pendentes, por motivo razoável,os atos de investigação.

Com essas considerações, nego provimento à apelação.

É como voto.

DESEMBARGADOR FEDERAL FLÁVIO LIMARelator Convocado

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APELAÇÃO CRIMINAL Nº 11044 CE (0007147-94.2013.4.05.8100/01)APTE : SIMONE THEOPHILO OLIVEIRAADV/PROC : MONICA BARBOSA DE MARTINS MELLO E OUTROSAPDO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALORIGEM : 11ª VARA FEDERAL DO CEARá (PRIVATIVA EM MATéRIAPENAL) - CERELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL FLÁVIO LIMA (CONVOCADO) -Primeira Turma

EMENTA: PENAL E PROCESSUAL PENAL. RESTITUIÇÃO DE COISAAPREENDIDA. SEQUESTRO DE BENS DA EX CÔNJUGE. INVESTIGAÇÃOEM CURSO. CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL.AGRAVO REGIMENTAL. DECISÃO QUE INDEFERIU PEDIDO DE VISTADOS AUTOS. PROCESSO INCLUSO EM PAUTA DE JULGAMENTO.CERCEAMENTO DE DEFESA. INEXISTÊNCIA. AGRAVO IMPROVIDO.APELAÇÃO. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. INEXISTÊNCIA.BEM DE FAMÍLIA. INOPONIBILIDADE À EXECUÇÃO EM RAZÃO DESENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA. LICITUDE DA ORIGEM DOS BENSAPREENDIDOS. IRRELEVÂNCIA. RELEVANTE SUSPEITA DE FRAUDE NAPARTILHA DO CASAL. PRAZO DE 120 DIAS PARA O LEVANTAMENTODA CONSTRIÇÃO. TERMO A QUO. TÉRMINO DAS INVESTIGAÇÕES.APELAÇÃO IMPROVIDA.1. Apelação criminal interposta em face de sentença que, entendendo que os bensrelacionados na inicial devem permanecer constritos até ulterior deliberação,indeferiu o pedido de restituição de coisa apreendida formulado na inicial; e agravoregimental interposto contra decisão monocrática deste Relator que indeferiu opedido de vista dos autos, formulado pelas advogadas substabelecidas sem reservas,sob o fundamento de que o processo já estava incluído em pauta.2. Nos termos do art. 7º, §1º, 2, da Lei nº 8.906/94 (Estatuto da OAB), o direito deretirada dos autos do cartório judicial pelo causídico regulamente constituído,previsto no art. 7º, XV, da referida Lei, é excetuado nos casos em que,motivadamente, o magistrado vislumbrar relevante motivo de sua permanência nasede do Juízo. No caso em tela, a publicação da pauta ocorreu no dia 24/03/2014, eas advogadas requereram vista dos autos em 28/03/2014, data em que foramsubstabelecidas.3. Negar-se a retirada do processo às vésperas do julgamento em nada macula osprincípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório, mormente porque àparte já foram dadas as oportunidade legais de manifestação escrita, tendoapresentado todas as peças defensivas cabíveis, e porque não lhe foi negado o direitode vista no cartório judicial, nem de extração de cópia integral dos autos. Permitir asaída do processo, pelo contrário, implicaria em remarcar desnecessariamente a datade julgamento, numa clara ofensa ao princípio da celeridade processual (art. 5º,LXXVIII, da CF/88), além de importar em precedente que garantiria às partes

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segura estratégia de procrastinação nos processos criminais. Precedente: RESP200702444827, Luis Felipe Salomão, STJ - Quarta Turma, DJE: 05/10/2012.4. Agravo regimental improvido.5. Apelação. Preliminar de incompetência. O conteúdo da arguição em nada sediferencia, in essentia, da preliminar levantada no primeiro grau. Fundamentação perrelationem (Itens 11 a 13 da Sentença): “A Polícia Federal está investigando apossível prática de crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, de Lavagem deDinheiro dentre outros por parte dos gestores do Grupo OBOÉ, sobressaindo osócio majoritário JOSÉ NEWTON LOPES DE FREITAS. Em regra, a decretaçãoda falência das empresas do Grupo OBOÉ carrearia ao juízo universal a competênciapara distribuir o patrimônio da massa falida aos credores conforme as regrasconcursais da Lei Falimentar. Contudo, o presente caso trata da indisponibilidade debens decretada em investigação diante de indícios da prática de crimes. Visa-se, aprincípio, a garantir eventual reparação de danos, pagamento de prestaçõespecuniárias, multas, custas, diante da possível prática de crimes de Lavagem deCapitais”. Preliminar rejeitada.6. Tampouco merece guarida o argumento de que alguns dos imóveis da apelante,por serem bens de família, não poderiam ter sido alvo de hipoteca legal. Com efeito,o art. 3º da Lei nº 8.009/1990, que trata da do bem de família, estabeleceexpressamente que “a impenhorabilidade é oponível em qualquer processo deexecução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo semovido: (...) VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução desentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens”.7. No tocante à alegação de que não houve excesso na meação da apelante, pensoque ela não resiste, à primeira análise, ao conjunto probatório dos autos. Como bemafirmou o magistrado a quo (item 22 da Sentença), “na partilha dos bens do casal,celebrada na Escritura Pública de Divórcio Direto Consensual perante o CartórioAlencar Furtado, coube ao cônjuge varão, José Newton Lopes de Freitas, as açõesda empresa OBOÉ HOLDING FINANCEIRA S/A, a qual se encontra em liquidaçãoextrajudicial. O valor arbitrado a tal empreendimento pelo casal (mais de oitomilhões de reais) representa mais de 90% da parte de José Newton na partilha, sendoo restante em objetos de artes sem especificação. Já o cônjuge virago, SimoneOliveira Lopes de Freitas ficou com todos os bens imóveis e os objetos de artesidentificados. Só esse fato já deixa evidenciado que o José Newton ficou com a parteruim da meação e Simone Oliveira com a parte boa da fortuna do casal. Afora isso,os valores arbitrados aos imóveis que coube à Simone Oliveira estão aparentementeem dissonância com os preços praticados no mercado; só a título de exemplo, umapartamento situado em São Paulo/SP, além de se presumir não valer R$ 27.758,91(fl. 10, item 13) e/ou R$ 46.264,84 (fl. 10, item 10), muito dificilmente poderia ter omesmo valor de uma vaga de garagem (fl. 10, itens 11 e 12), donde se conclui queprovavelmente os valores foram subestimados”.8. Ademais, ainda que confirmada por sentença homologatória, a partilha decorrentedo divórcio não é oponível ao juízo penal, quando este, de posse de elementosprobatórios que confirmam a materialidade e levantam razoável suspeita sobre a

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autoria de crime, decreta a indisponibilidade dos bens necessários ao ressarcimentodo dano causado. Como já decidiu esta Primeira Turma, “todos os bens procedentesde atividade criminosa estão sujeitos a seqüestro e futuro confisco, em caso decondenação. A existência de meação de cônjuge não legitima patrimônio provenientede atividade criminosa” (ACR 200981000007844, Desembargador Federal FranciscoCavalcanti, TRF5 - Primeira Turma, DJE - Data::08/03/2010 - Página: 111).9. A hipótese de licitude da origem dos bens constritos, levantada pela apelante, éirrelevante para o caso. É bem verdade que o art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.613/98, comredação anterior à Lei nº 12.683/2012, dispunha que “o juiz determinará a liberaçãodos bens, direitos e valores apreendidos ou seqüestrados quando comprovada alicitude de sua origem”. Todavia, a nova redação da referida Lei dispõe que, mesmocomprovada a origem lícita, deve-se manter “a constrição dos bens, direitos e valoresnecessários e suficientes à reparação dos danos e ao pagamento de prestaçõespecuniárias, multas e custas decorrentes da infração penal”. Com efeito, “ainda quecomprovada a legítima e lícita propriedade da parte requerente quanto aos valores ebens reclamados, não tem esta o condão de impor, por si só, a restituição destes”(ACR 200883000154506, Desembargador Federal Marcelo Navarro, TRF5 -Terceira Turma, DJE - Data: 20/09/2012 – Página: 650), porquanto é “irrelevante aproveniência lícita dos bens constritos” (ACR 200670000102378, Eloy Bernst Justo,TRF4 - Oitava Turma, DE 20/06/2007).10. O prazo de 120 dias para o ajuizamento da ação penal, constante do art. 4º, § 1º,da Lei de Lavagem de Dinheiro (Lei nº 9.613/98), deixou de existir, em vista dasalterações implementadas pela Lei nº 12.683/2012, que o suprimiu. É certo que essasupressão do prazo de 120 dias não significou autorização à manutenção de medidasassecuratórias e a processamento do inquérito, por tempo indeterminado ouexcessivo. Todavia, antes da modificação do texto legal, já havia entendimento nosentido de que o prazo de 120 dias, então vigente, apenas deveria ser contado apartir do momento em que o inquérito estivesse concluído. Neste sentido: “se ainvestigação ainda não foi encerrada, seria precipitado restituir dinheiro apreendidosob a suspeita de ser objeto de crime de lavagem.” (TRF3, 2T, ACR 31681, Rel.Des. Federal Nelton dos Santos, j. em 31.03.2009); “Não é de se considerar vencidoo prazo a que alude o § 1º do art. 4º da Lei nº 9.613/98, que é de 120 dias, poisainda se encontram inconclusas as diligências requeridas pelo Ministério PúblicoFederal, em ordem a não se poder iniciar a contagem do lapso temporal” (STF,Pleno, Inq-QO 2248/DF, rel. Min. Carlos Britto, j. 25/5/2006, DJU 20/10/2006, p.49). Outros precedentes: TRF2, 1T Especializada, HC 6464, Rel. Des. FederalMaria Helena Cirne, j. em 15.07.2009; TRF3, 5T, ACR 41204, Rel. Des. FederalLuiz Stefanini, Julgamento: 27.02.2012.11. Apelação improvida.

ACÓRDÃO

PODER JUDICIáRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃOGABINETE DO JUIZ FRANCISCO CAVALCANTI

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Vistos e relatados os presentes autos, DECIDE a Primeira Turma do TribunalRegional Federal da 5ª Região, por unanimidade, negar provimento à apelação e ao agravoregimental, nos termos do relatório e voto anexos, que passam a integrar o presente julgamento.

Recife, 10 de Abril de 2014 (Data do julgamento)

DESEMBARGADOR FEDERAL FLÁVIO LIMARelator Convocado

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