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Web-Revista SOCIODIALETO www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 1 • Número 4 • julho 2011 APAGAMENTO DE /D/: ABORDAGEM SOCIOLINGUÍSTICA SOB A PERSPECTIVA DO GÊNERO SEXUAL Marília Silva VIEIRA (UFMS) [email protected] RESUMO: Este estudo se propõe a investigar o efeito das construções identitárias de gênero sobre a produção de quatro variáveis linguísticas, características do Português Brasileiro, no falar de Taboco-MS. Para isso, nos baseamos nas pesquisas de Labov (1972), Brandão (2007), Paiva (2008), Coates (2009), Mollica & Paiva (1991), Mollica & Mattos (1989), Aragão (1992) e Vitral (1996), utilizando o aporte teórico- metodológico da Sociolinguística Variacionista, perspectiva que orientará toda a análise. O apagamento de /d/ em grupo /ndo foi analisada a partir de fatores linguísticos e sociais e, em seguida, os dados foram submetidos ao tratamento estatístico do pacote de programas GoldVarb 2001. O objetivo geral da pesquisa é avaliar o efeito da variável gênero sobre as variantes linguísticas utilizadas por homens e mulheres. Partiremos da acepção sociológica de gênero, que é compreendido, aqui, como uma categoria dinâmica, (re)construída nas interações socias do/a falante. Sob essa perspectiva, foram analisados dados obtidos por meio de entrevistas semiestruturadas, realizadas com 16 informantes do distrito de Taboco – MS, de ambos os gêneros, agrupados/as em duas faixas etárias (15 a 35 anos e acima de 50 anos); todas/os com escolaridade até o nono ano do Ensino Fundamental. Os principais resultados revelam que o fenômeno observado caracteriza mudança em progresso. Além disso, a correlação das variáveis gênero e faixa etária aponta as pressões externas que agem sobre ambos os gêneros e, consequentemente, reconstroem o papel da mulher e do homem na sociedade. Aliadas a fatores de ordem interna da língua, essas pressões resultam na reelaboração das condutas masculina e feminina face à utilização das variantes de prestígio e daquelas que são estigmatizadas. Palavras-chave: Sociolinguística, gênero, apagamento de /d. 1. Perfil da comunidade linguística investigada Este estudo se propõe a investigar a relação entre as variáveis linguísticas e sociais e o reflexo da identidade cultural masculina e feminina no processos de Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado – Letras – UEMS/Campo Grande, v. 1, nº 4, jul. 2011 1

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APAGAMENTO DE /D/: ABORDAGEM SOCIOLINGUÍSTICA SOB A PERSPECTIVA DO GÊNERO SEXUAL

Marília Silva VIEIRA (UFMS)[email protected]

RESUMO: Este estudo se propõe a investigar o efeito das construções identitárias de gênero sobre a produção de quatro variáveis linguísticas, características do Português Brasileiro, no falar de Taboco-MS. Para isso, nos baseamos nas pesquisas de Labov (1972), Brandão (2007), Paiva (2008), Coates (2009), Mollica & Paiva (1991), Mollica & Mattos (1989), Aragão (1992) e Vitral (1996), utilizando o aporte teórico-metodológico da Sociolinguística Variacionista, perspectiva que orientará toda a análise. O apagamento de /d/ em grupo /ndo foi analisada a partir de fatores linguísticos e sociais e, em seguida, os dados foram submetidos ao tratamento estatístico do pacote de programas GoldVarb 2001. O objetivo geral da pesquisa é avaliar o efeito da variável gênero sobre as variantes linguísticas utilizadas por homens e mulheres. Partiremos da acepção sociológica de gênero, que é compreendido, aqui, como uma categoria dinâmica, (re)construída nas interações socias do/a falante. Sob essa perspectiva, foram analisados dados obtidos por meio de entrevistas semiestruturadas, realizadas com 16 informantes do distrito de Taboco – MS, de ambos os gêneros, agrupados/as em duas faixas etárias (15 a 35 anos e acima de 50 anos); todas/os com escolaridade até o nono ano do Ensino Fundamental. Os principais resultados revelam que o fenômeno observado caracteriza mudança em progresso. Além disso, a correlação das variáveis gênero e faixa etária aponta as pressões externas que agem sobre ambos os gêneros e, consequentemente, reconstroem o papel da mulher e do homem na sociedade. Aliadas a fatores de ordem interna da língua, essas pressões resultam na reelaboração das condutas masculina e feminina face à utilização das variantes de prestígio e daquelas que são estigmatizadas.

Palavras-chave: Sociolinguística, gênero, apagamento de /d.

1. Perfil da comunidade linguística investigada

Este estudo se propõe a investigar a relação entre as variáveis linguísticas e

sociais e o reflexo da identidade cultural masculina e feminina no processos de

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apagamento da oclusiva /d/ em grupo /ndo/, no distrito de Taboco, no estado de Mato

Grosso do Sul.

Taboco é um distrito localizado a 53 quilômetros da cidade de Corguinho, no

estado de Mato Grosso do Sul, e a aproximadamente 142 quilômetros da capital, Campo

Grande. Vivem no distrito cerca de 650 pessoas, numa área de 3 mil m², cuja economia

se baseia na criação de gado.

Os/as informantes foram selecionados/as conforme as células definidas para o

estudo, a partir da colaboração de uma pessoa conhecida na localidade em questão, a

diretora da Escola. O número de pessoas entrevistadas à proposta de Labov (1972), a

qual sugere que,em cada célula, haja, ao menos, quatro representantes: 1ª. célula: 4

mulheres - 15-35 anos; 2ª. célula: 4 homens - 5-35 anos; 3ª. célula: 4 mulheres – mais

de 50 anos; 4ª. célula: 4 homens - mais de 50 anos.

As pessoas que colaboraram com nossa pesquisa têm perfil semelhante,

característico da comunidade linguítica investigada: são falantes do PB, com

escolaridade até nono ano do Ensino Fundamental, nascidas/os em Taboco ou residentes

no local há, pelo menos, 10 anos. A idade mínima das pessoas entrevistadas foi 15 anos.

2. A variável gênero nos estudos sociolinguísticos

Ao responder à pergunta: “Os homens e as mulheres falam diferente?”,

algumas respostas, repetidas pelo senso comum, são evidentes, como “as mulheres

falam demais” e “os homens utilizam mais palavrões que as mulheres”.

Coulthard (1991), ao questionar se as mulheres realmente são faladeiras,

propõe duas explicações:

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a) as mulheres aproveitam mais seu tempo falando, ou seja, embora ela

falem menos do que os homens em interações mistas, participam de um

número maior de conversas;

b) as mulheres possivelmente falam menos do que se imagina, mas mesmo

assim são vistas como se falassem mais do que deveriam falar.

Contudo, não é essa a preocupação de uma pesquisa que se propõe a investigar

as diferenças linguísticas relacionadas ao gênero. O fator mais relevante em nosso

estudo são as discrepâncias, em relação a cada gênero, no uso das estruturas da língua.

A principal implicação quanto aos primeiros trabalhos antropológicos sobre

linguagem e gênero é que eles se limitaram ao estudo dessas diferenças em civilizações

“primitivas” e em culturas exóticas. E, ao estudar as línguas desses povos, deixaram de

lado as línguas europeias. Isso pode ser explicado pelo fato de que, para eles, a

problemática se centrava em diferenças linguísticas exclusivas de gênero.

A Antropologia explorava o estudo das formas linguísticas típicas de um e de

outro gênero. Era um estudo polarizado dos usos que faziam da língua os homens e as

mulheres. O que tem verdadeira relevância para a Linguística e, em especial, para a

Sociolinguística, é a descrição das variantes preferenciais de cada gênero; seu objetivo

vai além da listagem das palavras que somente os homens ou somente as mulheres

falam.

Por outro lado, ao questionarmos se os homens e as mulheres falam diferente,

ignoramos algumas questões que têm sido refutadas. Para Coates (2009), em primeiro

lugar, a pergunta supõe que os falantes podem ser divididos em dois grupos definidos:

“homens” e “mulheres”. Depois disso, a pergunta também supõe que há maior interesse

nas diferenças entre mulheres e homens que em suas semelhanças.

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A palavra gênero (Coulthard, 1991) foi usada primeiramente pelo gramático

grego Protágoras e deriva-se de uma palavra que significava classe ou tipo. Como

Protágoras denominou as subclasses que estudava de masculina, feminina e neutra, a

palavra gênero passou a designar classes ligadas a sexo.

Os/as sociolinguistas centraram sua atenção sobre o gênero há um tempo

relativamente recente. Coates (2009) sugere, para esse fato, três possíveis explicações:

as duas primeiras se devem à tradição dos estudos sociolinguísticos na Dialetologia e na

Sociolinguística e o terceiro se relaciona com as mudanças ocorridas em relação à

posição na mulher na sociedade.

Na Dialetologia tradicional, os informantes escolhidos eram, habitualmente,

aqueles que não tinham mobilidade social, homens, de idade madura e que viviam em

zonas rurais. Os/as sociolinguistas, cientes desta grande parcialidade na composição da

amostra, constestaram-na. Este rechaço se refletiu na seleção de informantes de zonas

urbanas no lugar de rurais e na inclusão de informantes jovens, além dos mais velhos.

Mesmo depois que os estudos sociolinguísticos passaram a trabalhar com

falantes de ambos os gêneros, os estudos que se baseavam exclusivamente em falantes

do gênero masculino permaneceram. Um exemplo é a pesquisa realizada por Labov, em

1972, com adolescentes negros, em Harlem, e o estudo de Reid, em 1976, com alunos

de Edimburgo. Foi apenas no final da década de 1980 que surgiram estudos que se

detiveram às falantes.

Com o advento da Sociolinguística, as minorias sociais de todo tipo passaram a

ser objeto de estudo, principalmente os grupos da classse trabalhadora, as minorias

étnicas e os adolescentes. Contudo, as mulheres ainda não eram vistas como um grupo

de minoria. Àquela altura, as variações linguísticas que chamavam a atenção das/os

primeiros sociolinguistas eram as relativas às classes sociais, à etnia e/ou à idade.

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O ativismo político do movimento feminista trouxe mudanças profundas, não

só em relação ao direitos que as mulheres adquiriram frente aos homens, mas também

em relação ao tratamento destinado a elas pela ciência.

A publicação de Language and Woman’s Place, de Robin Lakoff (1975) foi um

marco para a Linguística. Mesmo criticado por sua falta de evidências empíricas e por

sua generelidade, não se pode negar seu caráter transcendente, uma vez que a obra foi o

ponto de partida para a investigação linguística da fala feminina. Surpreendemente, os

estudos sobre a fala dos homens aludem a um período não muito antigo, pois os

conceitos de homem e pessoa foram, muito tempo, tratados como intercambiáveis.

Para Lakoff, à medida que crescem, os meninos passam por uma fase de fala

rude, o que não é estimulado nas meninas, já que isso foge ao ideal de “dama” que se

espera de uma mulher. A linguista afirma também que, a partir dos dez anos, as crianças

começam a se separar em grupos de mesmo gênero e já se podem observar as duas

linguagens – a masculina e a feminina. Com o tempo, a tendência é a de que os meninos

abandonem sua forma linguística original, aquela desenvolvida no contato com suas

mães e com as mulheres que os rodeiam.

Mas o que acontece se uma menina deixa de falar como uma dama? Segundo

Lakoff (1975) , “ela está perdida se o fizer, e perdida se não o fizer”. Se ela não utiliza

uma linguagem feminina, é ridicularizada por não seguir os padrões; se ela utiliza essa

linguagem, também é ridicularizada e acusada por não pensar claramente, por não

conseguir discutir nenhum assunto de forma séria.

A “linguagem das mulheres” - definida por Lakoff (1975) tanto como a

linguagem restrita ao uso das mulheres quanto a linguagem usada para se fazer

referência a elas – nega-lhes formas de expressão mais fortes, levando-as a expressar-se

de forma trivial. No plano da referência, a mulher é vista como um objeto – sexual ou

de qualquer outra natureza – mas não como uma pessoa com seus gostos e

particularidades.

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Quando introduz o conceito de performatividade, Austin (1993 apud

Ostermann & Fontana, 2010) o define como uma categoria de elocuções novas e

distintas, que não têm valor de verdade, pois não descrevem o mundo, mas agem sobre

ele. Para exemplificar essa asserção, a autora cita a frase “É uma menina”, dita por uma

parteira, como um pronunciamento que motiva o processo pelo qual um bebê começa a

se tornar uma menina. Isso se explica pelo fato de que performativos agem pela força da

citação:

Gênero, então, é tido como performativo porque, como ocorre com a clássica elocução “É uma menina”, elocuções de gênero não são nunca meramente descritivas, mas prescritivas, exigindo que a endereçada aja de acordo com as normas vinculadas a gênero e, além disso, que crie um gênero apropriado em cada ato culturalmente percebido que ela realizar, desde a maneira como penteia seu cabelo até a maneira como caminha, fala ou sorri. (OSTERMANN & FONTANA, 2010 p.122)

Desde a publicação da obra de Lakoff (1975), as/os linguistas passaram a

abordar o tema do idioma e do gênero sob perspectivas diferentes: o enfoque do déficit,

o enfoque do domínio, o enfoque da diferença e o enfoque dinâmico ou de construção

social. Embora a maioria dos/as estudiosos/as atuais prefiram o enfoque dinâmico, os

outros três ainda são empregados.

O enfoque do déficit caracterizou os primeiros estudos sobre linguagem e

gênero. Ele define a linguagem das mulheres como débil, frágil e deficiente. De forma

implícita, este enfoque supunha que elas deveriam aprender a falar comos homens se

não quisessem ser vistas como seres tão frágeis e submissos.

O enfoque do domínio vê as mulheres como um grupo oprimido e as

diferenças linguísticas entre elas e os homens são definidas como resultado da

dominação masculina e da subordinação feminina. Segundo esse enfoque, todos os/as

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participantes do discurso, tanto os homens como as mulheres, colaboram para perpetuar

o domínio masculino e a opressão feminina.

O enfoque da diferença baseia-se na ideia de que as mulheres e os homens

pertencem a subculturas distintas. A percepção de subculturas femininas e masculinas

distintas na década de 1980 pode ser consequência da resistência das mulheres ao

tratamento que lhes era dado. Nesse modelo, a fala delas é examinada fora de um

modelo de opressão, de modo que as estratégias linguísticas femininas assumam sua

autenticidade.

O quarto enfoque − dinâmico – enfatiza os aspectos dinâmicos da interação.

Os investigadores que adotaram esse modelo seguiram uma perspectiva de construção

social. A identidade de gênero não é mais uma categoria social estabelecida, mas passa a

ser vista como um construto social. West e Zimmerman (1987 apud COATES, 2009)

dizem que os falantes exercem o gênero; não pertencem a ele, simplesmente.

Chambers & Trudgill (1993) afirmam que as diferenças relacionadas ao gênero

ocorrem na fala desde a infância. Em uma pesquisa sobre a pronúncia do /r/ pós-

vocálico em Edimburgo, ele atestou um padrão de diferenciação, inclusive na fala de

crianças.

Além disso, demonstraram que, no inglês britânico, as mulheres utilizam

formas de prestígio com mais frequência do ques os homens, ao passo que eles

valorizam as variantes não-padrão. Isso pode ocorrer por duas possíveis razões

(Monteiro, 2000):

a) A posição social subordinada das mulheres exige delas um comportamento que

assegure, ao menos, seu status linguístico.

b) As mulheres e os homens são avaliados por critérios opostos: eles, pelo que

fazem; elas, pelo que aparentam.

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As diferenças linguísticas decorrentes do gênero existem porque a língua,

como fenômeno social, está intrinsicamente relacionada às atitudes sociais. Homens e

mulheres são socialmente diferentes, já que a sociedade lhes impôs papéis distintos e

lhes cobra comportamentos distintos. A língua reflete as diferenças de gênero, que são

consequências de diferenças sociais.

que há pressões sociais sobre os/as falantes para que eles usem as formas de

prestígio, ligadas às classes dominantes. Essas pressões são mais visíveis na fala da

mulher, em virtude da consciência que ela tem do seu status. Esse fato também está

associado à expectativa de que ela tenha um comportamento sempre correto.

Da mesma forma que se espera das mulheres uma linguagem mais polida,

parece normal que os homens sejam rudes e até mesmo obscenos linguisticamente. A

fala é a materialização dessas imposições sociais: mulheres e homens falam de formas

distintas porque adotam as variantes e as identidades linguísticas que julgam mais

adequadas a seus sexos.

À medida que os estudos sobre linguagem e gênero postulam o

conservadorismo e a transgressão como marcas respectivamente femininas e

masculinas, é questionável a existência de um quadro inverso (conservadorismo

linguístico na fala masculina e transgressão na fala feminina), o qual sinalizaria

evidências da personalidade feminina em alguns homens e de um perfil masculino no

comportamento de algumas mulheres.

A esse respeito, Coulthard afirma:

Um estudo com adolescentes em Reading, Inglaterra, mostrou que as meninas “más”, aquelas cujo comportamento era mais parecido com o dos meninos, tinham uma gramática não padrão mais próxima à dos meninos do que a das “boas” meninas. Neste caso, então, se poderia

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empregar o grau de desvio do padrão na fala como um indicador confiável de comportamento social (COULTHARD, 1991, p.45)

Os homens utilizam as variantes estigmatizadas devido à necessidade que

possuem de serem solidários ao grupo a que pertencem, uma prova de sua

masculinidade (prestígio encoberto, Labov, 1972). As variantes estigmatizadas têm a

função de garantir a identidade do indivíduo em relação ao grupo de que faz parte pois,

se ele quer integrar o grupo, deve partilhar suas peculiaridades linguísticas, além de suas

crenças e atitudes. Assim, as formas linguísticas do grupo passam a ter um prestígio

particular, embora sejam estigmatizadas pela comunidade linguística como um todo.

Um fator que deve ser questionado é o valor que a variante inovadora tem na

sociedade, pois sua incidência pode indicar a instauração de uma forma de prestígio ou

de uma forma estigmatizada. Quando uma variante socialmente prestigiada se

implementa na língua, as mulheres geralmente são as responsáveis por essa mudança.

Em contrapartida, quando uma forma desprovida de prestígio surge, os homens é que

assumem a liderança e as mulheres adotam uma postura mais conservadora.

O fato de a mulher ser mais conservadora linguisticamente aponta para alguns

papéis que lhes são atribuídos e para a conduta que lhe é cobrada, como a educação

das/os filhas/os. Como é ela a responsável por repassar as normas de comportamento a

seus/suas filhos/as, inclusive as linguísticas, a mulher sente a necessidade de apresentar-

se como modelo. Para Labov (1972), a sensibilidade feminina face à variação linguística

decorre de sua influência nas primeiras fases de aquisição da linguagem da criança.

O controle do fator gênero como categoria de análise em uma pesquisa

sociolinguística remete à construção das identidades masculina e feminina na fala,

quando se considera que ser mulher e ser homem são aquisições sociais dinâmicas e

constantes, resultantes de fatores externos à estrutura da língua.

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3. Apagamento de oclusiva /d/

O apagamento da oclusiva dental /d/ no grupo “ndo” é o resultado da

assimilação do fonema /d/ pelo fonema /n/ e consiste em duas variantes: presença da

oclusiva dental, quando o indivíduo a pronuncia no final de palavras, como em

“andando” e “comendo”; e a ausência da oclusiva, ou seja, o apagamento do fonema,

em variantes como “andano” e “comeno”.

No distrito de Taboco, registrou-se a realização das duas variantes:

/ndo/ - “andando, comendo”

/no/ - “andano, comeno”

Segundo Melo (1946), a assimilação da oclusiva também foi observada no

Italiano central e meridional. Mollica e Mattos (1989), que analisaram o fenômeno sob a

perspectiva da Sociolinguística Variacionista, acrescentam que o apagamento da

oclusiva é uma variante comum no estágio atual das línguas de origem latina, inclusive

para dialetos crioulos e para o Espanhol.

Sob o prisma da Sociolinguística Variacionista, este estudo pretende mostrar

que o apagamento da oclusiva dental /d/ não pode ser considerado um vulgarismo ou

marca de um falar roceiro, mas um índice da instabilidade e da heterogeneidade do

sistema linguístico, condicionada por fatores sociais, como o gênero do/a falante.

A exemplo de Mollica e Mattos (1989), levantamos algumas variáveis,

dependentes e independentes que consideramos relevantes para o apagamento da

oclusiva /d/ no grupo “ndo”. Na elaboração das hipóteses, foram considerados

elementos de ordem estrutural e social.

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3.1.Variável dependente

A variável dependente diz respeito à realização ou não do fonema oclusivo

dental no grupo “ndo”.

a) [ndo] – “sempri abrindo as porta” 1

b) [no] - “foi cabanu aquela::”

3.2.Variáveis estruturais

Ao investigarmos o apagamento da oclusiva /d/, partimos do pressuposto de

que o contexto é um dos principais fatores para o seu condicionamento. Por isso, foram

consideradas as variantes estruturais: classe morfológica, extensão do vocábulo,

contexto fonético-fonológico seguinte e contexto fonético-fonológico precedente.

I) Classe morfológica

Para verificar se as formas de gerúndio são realmente as mais afetadas pelo

apagamento da oclusiva, conforme sinalizaram Mollica e Mattos (1989), testamos a

variável classe morfológica, especificada abaixo:

a) Verbo no gerúndio – “eu fiquei trabaianu cum eli”

b) Conjunção – “memu quanu num tem festa”

1 Trechos dos inquéritos de nossa pesquisa.

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II) Extensão do vocábulo

Avaliamos também a hipótese de o tamanho do vocábulo ser proporcional à

ocorrência de apagamento da oclusiva /d/ no grupo “ndo”:

a) Dissílabo – “quandu eu era mais jovem”

b) Trissílabo – “nois tamu mudanu”

c) Polissílabo – “é::dependenu u tipu di violência”

III) Contexto fonético-fonológico precedente

Essa variável analisa as vogais que se encontram em posição imediatamente

anterior ao grupo “ndo”. O intuito é verificar, a exemplo de Mollica e Mattos (1989), a

hipóstese de que a vogal baixa favorece o apagamento de /d/:

a) Vogal baixa central /a/ - “que qui ela tava passanu mal”

b) Vogais anteriores médias /e, ɛ/ - “toma tereré::tanu im casa”

c) Vogal anterior alta /i/ - “eu fui correnu pra casa”

IV) Contexto fonético-fonológico seguinte

Nessa variável serão observados os elementos posteriores ao grupo “ndo”, um

fator que tem sido relevante em fenômenos fonético-fonológicos do PB. O objetivo é

saber se o apagamento do /d/ é maior quando o grupo “ndo” é seguido de fonemas com

traços fonético-fonológicos parecidos.

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Abaixo, os contextos observados em nosso corpus em posição posterior ao

grupo /ndo/:

a) Pausa (#) – “mais já tá sainu #”

b) Consoante oclusiva dental /t,d/ - “um cuidanu du otru”

c) Consoante alveolar /n,r,l/ - “qui já tá crianu nessi ritmu”

d) Consoante nasal /m/ - “si eu vissi uma pessoa passando mal?”

e) Consoane fricativa alveolar /s,z/ - “castigu... dependenu sim”

f) Consoante oclusiva velar /k,g/ - “purque quando cresci”

g) Consoante fricativa labiodental /f,v/ - “aí quandu foi na”

h) Consoante bilabial /p,b/ - “qui si passanu pur certu tipu di coisa”

i) Consoante fricativa palatoalveolar /ʒ, ʃ/ - “ela podi fica sabenu já... né?

j) Vogais anteriores /i, e, ɛ/ - “aques quandu ela passava aqueis ditadu”

k) Vogais posteriores /u, o, ͻ/ - “adolescenti aí xinganu us mais velhu”

l) Vogal central /a/ - “eu achu qui cunversanu amigavelmente”

4. Variáveis sociais

A atuação de fatores sociais em fenômenos de variação e mudança constitui a

coluna dorsal da Sociolinguística. Na escolha das variáveis sociais de nossa pesquisa,

buscamos estabelecer a relação entre o gênero da/o falante e o contexto linguístico que

condiciona as variáveis, a fim de averiguar sua possível influência sobre os fenômenos

estudados na comunidade de Taboco – MS.

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Paiva (2008) adverte que utilizar apenas uma variável social para traçar o perfil

de uma comunidade é uma generalização que padece de evidências empíricas. Cientes

disso, aliamos à variável gênero, o elemento faixa etária das/os informantes.

Não podemos esquecer também que o caráter dos resultados obtidos se deve,

de modo significativo, ao nível de escolaridade dos/as informantes que, em nossos

envelopes de variação, atua como variável fixa (nono ano do Ensino Fundamental).

4.1.Gênero

Em seus estudos, Labov trata o sexo apenas como um fator condicionador e

não faz a distinção de sexo e gênero. Para Severo:

nessa tradição, o gênero é visto como o sexo biológico, sendo que não são feitas considerações acerca da construção social do gênero. O gênero é controlado da mesma forma que a escolaridade, a idade ou a classe social – importam, apenas, na medida em que são passíveis de serem estatisticamente medidos (2010, p.44).

Como já discutido no capítulo 1 (tópico 1.2), não se podem tratar como

categorias unívocas os termos sexo e gênero. Em nosso estudo, não tomamos como

referência para a análise dos dados quaisquer diferenças biológicas ou anatômicas entre

homens e mulheres, mas a atuação de elementos sociais que os levam a agir e,

principalmente, falar, segundo o que é convencionalmente considerado como feminino e

masculino. Por isso, nossa perspectiva é a do gênero, e não a do sexo.

Nesta pesquisa, controlamos a variável gênero com o objetivo de averiguar o

desempenho linguístico de mulheres e homens, testando a hipótese de que a mulher

utiliza mais frequentemente as variantes padrão e tende a utilizar menos as formas

linguísticas inovadoras, se estigmatizadas.

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4.2. Faixa etária

A variável faixa etária tem atuado de modo muito produtivo nos estudos

sociolinguísticos. Para Tarallo (2010), a correlação desse fator com as variantes

linguísticas pode sinalizar duas realidades: 1) estabilidade, quando não há nenhuma

correlação entre a faixa etária e os fenômenos linguísticos observados; 2) mudança em

progresso – quando a ocorrência da variante inovadora é mais frequente entre os jovens

e decresce na faixa etária mais avançada.

As pessoas entrevistadas pertencem a duas faixas etárias distintas:

a) 1ª faixa etária – 15 a 35 anos – adolescentes e adultas/os;

b) 2ª faixa etária – 50 anos ou mais – adultas/os e idosas/os;

Partimos da hipótese de que as pessoas da primeira faixa etária utilizam com

maior frequência as formas não padrão pelo fato de atuarem, em sua maioria, no

mercado de trabalho e estarem expostas, portanto, a redes sociais mais densas.

4.3.Nível de escolaridade

Com base no estudo do inglês falado em Nova Iorque, Labov (1966) ressalta a

influência da varível nível de escolaridade em relação ao uso das variantes inovadoras.

O linguista concluiu que os/as falantes menos escolarizados/as usavam mais as formas

não padrão, ao passo que as variantes padrão ocorriam de modo mais constante na fala

das pessoas mais escolarizadas. Essa é a tendência que tem sido encontrada na maior

parte dos trabalhos quantitativos.

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Segundo Votre (2004), as formas de prestígio são preteridas pela gramática

Gramática Tradicional (base dos estudos de língua materna nas escolas), a qual impõe

um ideal linguístico e atua como reguladora das formas de prestígio.

Na comunidade linguística que investigamos, houve uma certa dificuladade em

encontrar informantes, principalmente na faixa etária jovem, com escolaridade

rudimentar. Taboco é um distrito relativamente próximo à capital, o que tem contribuído

para o ingesso dos/as habitantes da região em cursos universitários, tanto na modalidade

presencial como nos cursos a distância.

A seleção dos/as informantes representou um pequeno impasse, já que não foi

possível encontrar um número significativo de indívíduos da segunda faixa etária

(acima de 50 anos) que tivesse curso superior e nem um número satisfatório de falantes

jovens, com mais de 15 anos, com escolaridade rudimentar. Diante dessa dificuldade,

decidimos selecionar informantes que tivessem uma média de escolaridade comum às

duas faixas etárias e que pudessem retratar a identidade linguística do local.

5. Discussão dos dados

Em nosso corpus, verificamos uma alta produtividade da assimilação da

oclusiva /d/ na comunidade estudada, o que corrobora as conclusões de Lemle (1974) e

Mollica & Mattos (1991) sobre o estudo dessa variável no PB. É interessante observar

que o apagamento do fonema independe da faixa etária e do nível de escolaridade das/os

falantes, ocorrendo de modo quase sistemático.

Em relação aos fatores internos, a literatura Sociolinguística aponta serem os

verbos gerundiais, principalmente o gerúndio enfático (“tá entendendo?”), os ambientes

em que mais se observa o apagamento da oclusiva, característico de formas como “inu”,

“comenu”, “sabenu”.

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O gráfico abaixo mostra a porcentagem de ocorrências da variável na

comunidade estudada:

Gráfico 1

Apagamento de /d/: percentual de ocorrências

O gráfico sintetiza a realidade fonético-fonológica da variável observada, em

que a porcentagem majoritária das ocorrências é de apagamento da oclusiva. De um

total de 485 ocorrências, 386 dizem respeito à variante inovadora, ao passo que 99

aludem à forma padrão.

Isso sinaliza que a variante inovadora convive com a variante de prestígio no

contexto linguístico da comunidade.

5.1. Extensão do vocábulo

Verificamos se a extensão do vocábulo interfere na assimiliação da oclusiva /d/

no grupo /ndo/:

Tabela 1

Apagamento de /d/: Extensão do vocábulo

Extensão do vocábulo Apagamento de /d/ % de /no/Dissílabo 106/209 50%Trissílabo 156/167 94%Polissílabo 100/108 93%

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Os dados revelam que a extensão do vocábulo é uma variável produtiva em

relação ao apagamento de /d/. Os resultados ratificam nossa hipótese de que o tamanho

do vocábulo é proporcional ao apagamento da oclusiva, conforme o que Mollica e

Mattos (1989) haviam apontado.

A esse respeito, Votre (1994) afirma que enunciados longos tendem a perder

segmentos fônicos em virtude da “dificuldade de processamento e/ou do princípio de

economia ou lei do menos esforço”.

5.2.Contexto fonético-fonológico precedente

Tabela 2

Contexto fonético-fonológico precedente Apagamento de /d/ % de /no/Vogal baixa central /a/ 229/334 68%

Vogais anteriores médias /e, ɛ/ 92/105 88%Vogal anterior alta /i/ 41/45 92%

Apagamento de /d/: Contexto fonético-fonológico precedente

Os dados mostram que as vogais anteriores médias e altas são as que mais

favorecem o apagamento da oclusiva, refutando nossa hipótese de que a vogal baixa

central seria a condicionadora da variável.

5.3.Contexto fonético-fonológico seguinte

O contexto seguinte tem sido apontado por Callou (1990) como grande

favorecedor dos fenômenos de variação fonético-fonlógica. Esta variável analisa todos

os segmentos imediatamente subsequentes ao grupo /ndo/:

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Tabela 3

Apagamento de /d/: contexto fonético-fonológico seguinte

Contexto fonético-fonológico seguinte Apagamento de /d/ % de /no/Pausa 78/95 82%

Consoante oclusiva dental /t,d/ 31/42 74%Consoante alveolar /n,r,l/ 44/53 84%

Consoante bilabial /m/ 12/13 92%Consoante fricativa alveolar /s,z/ 3/11 27%

Consoante oclusiva velar /k,g/ 24/30 80%Consoante fricativa labiodental /f,v/ 9/11 82%

Consoante oclusiva bilabial /p,b/ 24/29 83%Consoante fricativa palatoalveolar /ʒ,ʃ/ 3/6 50%

Vogais anteriores /e,ɛ, i/ 60/111 55%Vogais posteriores /o, ͻ, u/ 31/35 88%

Vogal central /a/ 38/48 80%

Os dados apontam sete das doze variáveis como mais significativas para a

ocorrência da variante inovadora, entre elas, as consoantes alveolares (84%), as quais,

se comparadas com os outros segmentos da tabela, são as que apresentam a maior

semelhança fonética com a oclusiva /d/.

5.4. Classe morfológica

A variável classe morfológica foi a primeira a ser considerada no estudo de

Mollica e Mattos (1989), mostrando ser bastante significativa em relação à

produtividade da variante inovadora.

Tabela 4

Apagamento de /d/: Classe morfológica

Classe morfológica Apagamento de /d/ % de /no/

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Verbo no gerúndio 297/326 92%Conjunção 65/158 42%

A tabela mostra a confirmação de nossa hipótese, ao revelar as formas

gerundiais como grandes favorecedoras do apagmento de /d/. Isso pode ser explicado

pelo fato de o grupo /ndo/ ser uma desinência nestas formas, a qual é afixada ao tema do

verbo e está, portanto, mais suscetível ao apagamento do que as formas que são,

originalmente, presas ao verbo.

Por outro lado, na conjunção “quando”, o grupo /ndo/ pertence ao vocábulo, o

que contribui para a retenção da oclusiva /d/.

5.5. Faixa etária

Para Tarallo (2010), o comportamento da variante inovadora em relação à faixa

etária pode indicar duas direções: a estabilidade do fenômeno ou a existência de uma

mudança linguística em curso.

Em nossa pesquisa, detectamos um comportamento semelhante das/os jovens

(75%) e das/os idosas/os (75%) quanto à variante em questão, o que simboliza a

estabilidade da forma no sistema linguístico.

Esse é um resultado inesperado, já que não refuta nem comprova nossa

hipótese de que as/os jovens apagariam mais a oclusiva nos grupos /ndo/. O equilíbrio

da variante nas duas faixas etárias nos leva a perceber a generalidade do fenômeno, bem

como seu caráter não estigmatizado na comunidade linguística estudada.

Tabela 5

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Apagamento de /d/: Faixa etária

Faixa etária Apagamento de /d/ % de /no/15-35 anos 163/218 75%+50 anos 199/268 75%

5.6. Gênero

Nossa hipótese é de que os homens lideram o uso das variantes inovadoras, em

função de sua necessidade de mostrar solidariedade ao grupo, o que foi reiterado por

Mollica & Mattos (1989), em estudo realizado no Rio de Janeiro.

Tabela 6

Apagamento de /d/: gênero

Gênero Apagamento de /d/ % de /no/Masculino 182/229 80%Feminino 180/255 70%

Os indicadores numéricos referentes à variável gênero mostram que os homens

tendem a apagar o /d/ com mais frequência que as mulheres, ou seja, os homens tendem

a utilizar mais formas como “elis tão recebenu” e “aquela pessoa tava falanu a

verdade”.

Dessa forma, confirmamos não só a nossa hipótese, mas também os postulados

referentes aos comportamentos feminino e masculino acerca da variação, preconizados

pela literatura sociolinguística.

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5.7. Gênero e Faixa etária

Além de analisar os dados quanto ao gênero dos/as falantes, observamos

também a ocorrência da variante inovadora na fala de homens e mulheres das duas

faixas etárias consideradas em nossa pesquisa. Nosso objetivo é saber se o

comportamento linguístico (e ideológico) de mulheres e homens tem sofrido alguma

alteração significativa entre uma geração e outra.

Gráfico 2

Apagamento de /d/: Gênero e Faixa etária

A análise do gráfico nos permite reiterar a premissa do conservadorismo

linguístico feminino. É interessante notar que, na faixa etária mais avançada, há uma

diferença bem mais consistente no uso da variante inovadora. Isso nos remete, sem

dúvida, a uma nova postura da mulher na sociedade, a partir da sua emancipação no

mercado de trabalho, o que a fez participar de redes linguísticas e sociais diversificadas

e, consequentemente, portar-se de forma mais semelhante ao homem na seleção das

variantes.

6. Conclusão

A Teoria da Variação rompeu a concepção de imanência linguística que se

baseava em uma língua unitária e ignorava desde as diferenças linguísticas no plano

diastrático até as diferenças linguísticas regionais, baseando-se na concepção da língua

como um instrumento circunscrito à função comunicativa.

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Ao considerar a língua como uma estrutura sujeita a variações, a

Sociolinguística elimina as concepções de falante ideal e de comunidade linguística

homogênea. Além disso, ela trabalha com o levantamento rigoroso dos registros da

língua oral, de modo a descrever a variável e traçar o perfil de cada uma de suas

variantes à luz de fatores estruturais e sociais. Depois de elucidados os fatores que

favorecem a ocorrência das variantes, é preciso, ainda, confirmar se elas constituem

casos de variação ou de mudança.

A análise dos dados estatísticos obtidos ajudará o/a pesquisador/a a descobrir

se as variantes apontam para uma variação estável (coexistência de duas ou mais formas

no sistema linguístico) ou para uma mudança em progresso (disputa entre as variantes

até que apenas uma delas permaneça no sistema linguístico).

Cientes de que o uso de formas inovadoras não ocorre devido a desleixos na

pronúncia, idiossincrasias ou a causas aleatórias, mas pela ação de elementos estruturais

e sociais, nossas hipóteses em relação à ocorrência das variantes analisadas em Taboco-

MS foram:

a) a assimilação da dental /d/ no grupo /ndo/ é uma variável linguística

condicionada por fatores linguísticos e sociais, entre eles, o gênero do/da

falante.

b) o fenômeno assimilação da dental/d/ constitui um caso de mudança em

progresso, Labov (1972);

c) as mulheres ainda são mais conservadoras linguisticamente que os homens,

mesmo tendo atribuições sociais novas - como trabalhar fora e sustentar

financeiramente a casa - e, por isso, ainda lideram o uso de variantes padrão.

A análise dos dados de nossa pesquisa nos permite confirmar nossas hipóteses,

de modo que:

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a) os fatores estruturais levantados se mostraram responsáveis pela ocorrência

da respectiva variável a que se ligaram. Por outro lado, vimos que o gênero

do/a falante condiciona o apagamento de /d/ e que a diferença percentual de

uso da forma estigmatizada por parte de mulheres e homens é de 10;

b) a variável faixa etária é neutra em relação ao apagamento de /d/, pois as

duas faixas etárias apresentam exatamente o mesmo percentual de utilização

da forma inovadora /no/: 75%;

c) a análise da variável gênero atrelada às duas faixas etárias de nossa pesquisa

(15-35 e +50) revela diferença significativa em relação ao apagamento

de /d/: a diferença percentual de uso da forma /no/ entre mulheres e homens

é de 52%, com os homens sendo os líderes da mudança linguística;

d) de modo geral, na comunidade linguística estudada, as mulheres também são

mais sensíveis linguisticamente que os homens e preferem a forma de

prestígio que à forma estigmatizada.

A confirmação de nossas hipóteses não esgota, contudo, a análise de fatores

sociais e, em especial, do gênero do/a falante em relação ao uso das formas linguísticas

inovadoras. É importante levar sempre em conta que os resultados refletem o perfil da

comunidade estudada e da relevância (em termos de prestígio e de estigma) que as

variáveis selecionadas representam para os/as falantes desta localidade.

Em estudos posteriores, possível trabalhar com uma maior estratificação da

escolaridade dos/as informantes e, ainda, agregar à análise, a variável classe social,

desde que o perfil da comunidade estudada comporte a seleção e/ou a divisão dessas

variáveis para compor as células sociais da pesquisa.

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Recebido Para Publicação em 30 de junho de 2011.Aprovado Para Publicação em 22 de julho de 2011.

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