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FACULDADE PITÁGORAS DISCIPLINA: HOMEM, CULTURA E SOCIEDADE Prof. Ms. Carlos José Giudice dos Santos [email protected] www.oficinadapesquisa.com.br

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FACULDADE PITÁGORAS

DISCIPLINA: HOMEM, CULTURA E SOCIEDADE

Prof. Ms. Carlos José Giudice dos Santos

[email protected]

www.oficinadapesquisa.com.br

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Objetivos:

Ao final desta unidade, o aluno deverá ser capaz de:

1. Saber as origens da cultura humana e algumastendências modernas;

2. Saber como a cultura condiciona a visão de mundo dohomem;

3. Saber como a cultura interfere no plano biológico;

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TEXTO BASEO texto atual é um resumo comentado do livro cujareferência é mostrada abaixo:

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: umconceito antropológico. 20. ed. Rio de Janeiro:Jorge Zahar, 2006.

É importante ressaltar que este texto jamaissubstituirá o texto original. Eu poderia dizer que estetexto é uma releitura, mas seria demasiadopretensioso de minha parte poder afirmar isto.

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Da natureza da cultura ou da natureza à cultura

Ao longo da história, deparamo-nos com inúmeros estudiososque discutem um dilema: a raça humana é uma só, mas porqueos homens são tão diferentes?

Confúcio, um pensador chinês, dizia quatro séculos antes deCristo: “A natureza do homem é a mesma, são seus hábitos queos mantém separados”.

Heródoto, grande historiador grego que viveu no século IV a.C.achava estranho que o povo lício vivesse em uma sociedadematrilinear. Ele achava estranho esse costume, porque tomoucomo referência a sociedade em que ele vivia (uma sociedadepatrilinear). Sobre este assunto, ele afirmava:

Se oferecêssemos aos homens a escolha de todos os costumes domundo, aqueles que lhes parecessem melhor, eles examinariam atotalidade e acabariam preferindo os seus próprios costumes, tãoconvencidos estão de que estes são melhores do que todos os outros.

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Da natureza da cultura ou da natureza à cultura

O padre José de Anchieta (no século XVI) se surpreendeu comos costumes patrilineares dos índios da tribo Tupinambá. Nestacultura, há um respeito à linhagem que descende por parte depai. As mulheres são consideradas pouco mais que sacos ondese criam as crianças. As sobrinhas por parte de pai sãorespeitadas como filhas. Até mesmo filhos de cativas sãotratados com respeito. Filhos e filhas por parte de mãe nãopossuem este respeito. Os filhos de “fêmeas” por parte decativos viram escravos ou comida.

Michel de Montaigne, filósofo francês, observou os costumesantropofágicos dos Tupinambás, mas se revestiu de umrelativismo cultural, ao observar que aquilo que muitosconsideravam como atos de crueldade, era na verdade, parteda cultura. Ele também observou que aquilo que os europeusfaziam em nome da fé era muito mais bárbaro que o ritual deantropofagismo de nossos índios.

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Da natureza da cultura ou da natureza à cultura

Montaigne termina suas observações de forma irônica, dizendo:“Tudo isto é interessante, mas, que diabo, essa gente não usacalças”.

Ao longo da história depara-se com muitas tentativas de seexplicar as diferenças de comportamento humano. Apenas parailustrar algumas diferenças culturais modernas, podemos citar:

• O sentido do trânsito na Inglaterra;

• A culinária francesa, em que rãs, scargots e trufas (um tipode cogumelo) são considerados iguarias;

• O harakiri (suicídio ritual japonês) como forma de limpar onome da família;

• A obesidade é considerada como indicador de virilidadeentre ciganos da Califórnia (mas também é usada paraconseguir benefícios do governo na área da saúde);

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Da natureza da cultura ou da natureza à cultura

Mais exemplos:

• A carne da vaca é proibida aos hindus;

• A carne de porco é proibida aos mulçumanos;

• O nudismo é uma prática tolerada em certas praias doocidente;

• Mulheres mulçumanas de orientação xiita mal podem mostraros olhos em público;

• No interior do nordeste brasileiro, a gravidez é consideradauma enfermidade, e o ato de parir é denominado“descansar”;

• No sul do país, a palavra descansar é usada para se referir àmorte de uma pessoa (fulano descansou);

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O determinismo biológico

Ainda hoje existem crenças, sem fundamento, que atribuemcapacidades inatas às raças humanas. Por exemplo, os nórdicossão mais inteligentes que os negros; os alemães possuem muitahabilidade para a mecânica; os judeus são avarentos enegociantes; os norte-americanos são empreendedores einteresseiros; os japoneses são trabalhadores, traiçoeiros ecruéis; os ciganos são nômades por instinto; os brasileirosherdaram a preguiça dos negros, a imprevidência dos índios e aluxúria dos portugueses.

Inúmeras pesquisas na área da antropologia demonstram que asdiferenças genéticas não são determinantes das diferençasculturais. Felix Keesing é um destes pesquisadores, que afirmade modo veemente: “Não existe correlação significativa entrea distribuição dos caracteres genéticos e a distribuição doscomportamentos culturais”. Para ilustrar isso, dá doisexemplos:

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O determinismo biológico

Exemplo 1: “Se transportássemos para o Brasil, logo após o seunascimento, uma criança sueca e a colocarmos aos cuidados deuma família sertaneja, ela crescerá como tal e não sediferenciará mentalmente em nada de seus irmãos de criação”.

Exemplo 2: “Se retirarmos uma criança xinguana de seu meio ea educarmos como filha de uma família de alta classe média deIpanema, o mesmo acontecerá: ela terá as mesmasoportunidades de desenvolvimento que os seus novos irmãos”.

Em 1950 o mundo se recuperava do horror do racismo nazista,e um importante documento, fruto de extensa pesquisa, foiredigido por antropólogos físicos e culturais, geneticistas,biólogos e outros especialistas, que chegaram à seguinteconclusão: “As pesquisas científicas revelam que o nível dasaptidões mentais é quase o mesmo em todos os grupos étnicos”.

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O determinismo biológico

Laraia (2006) chama a atenção para o fato da espécie humanase diferenciar anatômica e fisiologicamente através dodimorfismo sexual. Isto é fato. Entretanto, é falso considerarque diferenças de comportamento existentes entre pessoas desexo diferentes sejam determinadas biologicamente. Nestesentido, ele argumenta que “a antropologia tem demonstradoque muitas atividades atribuídas às mulheres em uma culturapodem ser atribuídas aos homens em outras”.

Assim, não existe uma divisão sexual do trabalho – esta divisãoé determinada culturalmente e não biologicamente.

Diversos exemplos ilustram este fato (carreira diplomática equadros de acesso superiores no BB, a tarefa de carregar águae de caçar de nossos índios, mulheres nas forças armadas,etc.). Até a amamentação pode ser tarefa masculina por meiodo uso de uma mamadeira.

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O determinismo biológico

A conclusão a que chegamos é que o comportamento dosindivíduos depende de um aprendizado, em um processochamado de endoculturação. Neste sentido, Laraia (2006)afirma que “um menino e uma menina agem diferentemente nãoem função de seus hormônios, mas em decorrência de umaeducação diferenciada”.

Será?

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O determinismo geográfico

O determinismo geográfico considera que as diferenças deambiente físico condicionam a diversidade cultural. Estasteorias ganharam força principalmente a partir de estudos degeógrafos do final do século XIX e início do século XX.

Diversos antropólogos se dedicaram às pesquisas para poderverificar estas teorias e chegaram à conclusão de que elasestavam erradas. Existe uma limitação da influência geográficasobre os fatores culturais.

Além disso, mostraram que é comum existir uma grandediversidade cultural em um mesmo tipo de ambiente físico.

Exemplo 1: Lapões e esquimós habitam a calota polar norte,vivendo em um ambiente geográfico semelhante, caracterizadopor um longo inverno. A flora e fauna são muito semelhantes,mas as semelhanças param por aí.

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O determinismo geográfico

Exemplo 1: Os esquimós constroem suas casas com blocos degelo cortados. Por dentro a casa é forrada com peles de animaise com o auxílio de fogo, mantém o interior quente. Assim, dentrodos iglus, não precisam usar roupas pesadas.

Quando querem se mudar, levam apenas os pertences econstroem um novo abrigo.

Os lapões vivem em acampamentos feitos com tendas de pelesde rena. O trabalho de mudança para outro local é árduo ecansativo (desarmar e secar as tendas, amarrar, etc.).

Esquimós caçam renas. Lapões criam renas.

Exemplo 2: No norte do Brasil, as tribos Kamayurá, Kalapalo,Waurá, e outras não podem caçar os grandes mamíferos, pormotivos culturais (vivem de aves e peixes); Os Kayabi, quehabitam o mesmo local, preferem justamente os mamíferos degrande porte (veados, antas, caititus, etc.).

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O determinismo geográfico

Laraia (2006) afirma que, a partir dos exemplos mostrados, nãoé possível supor que o determinismo geográfico imponha ummodo de vida semelhante a povos diferentes que habitam ummesmo ambiente geográfico.

Logo, as diferenças entre os homens não podem ser explicadasem termos das limitações do seu aparato biológico ou dascondições impostas pelo meio ambiente.

O grande legado da espécie humana é a capacidade de superarsuas próprias limitações: possuindo força física insignificante,tornou-se o mais temido dos predadores. Não possui asas, maspode voar mais alto e mais rápido que qualquer ave. Não possuiguelras ou membranas, mas conquistou os mares.

O que difere o ser humano dos outros animais é a cultura.

O que é cultura?

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Antecedentes históricos do conceito de cultura

O vocábulo germânico Kultur era usado no final do século XVIIIpara simbolizar todos os aspectos espirituais de umacomunidade.

O vocábulo francês Civilization era usado nesta mesma épocapara se referir às realizações materiais de um povo.

Foi Edward Tylor a primeira pessoa a propor um conceito decultura, em meados do século XIX, a partir do vocábulo inglêsCulture, que abrange todo um complexo que incluiconhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualqueroutra capacidade ou hábito adquirido pelo homem como membrode uma sociedade.

Laraia (2006) afirma que este conceito de cultura proposto porTylor começou a ser formalizado antes mesmo de John Locke(1632-1704), um dos expoentes do empirismo.

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Antecedentes históricos do conceito de cultura

De acordo com John Locke, a mente do homem que nasce é comouma folha em branco (ou uma caixa vazia). Entretanto o homemvem com uma capacidade ilimitada de obter conhecimento pormeio do aprendizado (o processo que hoje chamamos deendoculturação).

Vários pensadores que vieram depois de Locke abraçaram esteconceito (de que o homem não possui verdades inatas), ou seja,tudo o que o homem aprende, a partir da educação, é cultura.

Assim, cultura é, segundo Tylor (em 1871), todo comportamentoaprendido, que independe de transmissão genética.

Kroeber (em 1917) afirmou que o homem é o único ser dotado decultura, graças a duas notáveis propriedades que o diferenciamdos animais: a possibilidade de comunicação oral e a capacidadede fabricar instrumentos.

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O desenvolvimento do conceito de cultura

O inglês Edward Tylor, em 1871, procurou demonstrar que aigualdade da natureza humana pode ser estudada a partir dacomparação de raças do mesmo grau de civilização.

Ao fazer esta afirmação, Tylor mostra estar mais preocupadocom a igualdade humana do que com a sua diversidade. Istomostra também que ele acredita em estágios de evolução(talvez fruto das ideias evolucionistas de Darwin), ou seja, queseria possível estabelecer, a grosso modo, uma escala decivilização.

O principal opositor do evolucionismo foi o alemão Franz Boas,que criticou as teorias evolucionistas que se baseavam apenasem comparações simples. Ele foi um dos criadores doparticularismo histórico, segundo o qual cada cultura segue osseus próprios caminhos em função dos diferentes eventoshistóricos que enfrentou.

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O desenvolvimento do conceito de cultura

O americano Alfred Kroeber demonstrou que a cultura age sobreo homem. Em outras palavras, ele afirma que é graças à culturaque a humanidade distanciou-se do reino animal.

Em seu artigo Superorgânico (publicado em 1917), Kroeberdemonstra que o homem é um ser que está acima de suaslimitações orgânicas.

A preocupação de Kroeber é evitar a confusão entre orgânico ecultural. O homem é um ser vivo, da ordem dos primatas, e comotodo ser vivo, tem que satisfazer uma série de funções vitais,tais como alimentação, sono, respiração, atividades físicas,reprodução etc. Neste sentido ele chama a atenção para o fatodestas funções vitais serem comuns à toda humanidade, mas que amaneira de satisfazer a estas funções vitais varia muito de umacultura para outra. A variedade de maneiras de satisfazer tãopoucas funções vitais é tão grande, que ele afirma que o homem éum ser predominantemente cultural.

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O desenvolvimento do conceito de cultura

Kroeber afirma que o homem, como membro do reino animal,participa de um processo evolutivo junto com outras espécies, queprecisam superar a competição por alimentos e por espaço, alémde resistir às variações climáticas e a fenômenos da natureza.

A espécie humana conseguiu sobreviver com um equipamentofísico muito pobre. Não temos a velocidade do antílope, a forçade um tigre, o tamanho de um elefante, a acuidade visual de umlince, as asas de uma águia ou a capacidade de nadar de umgolfinho, mas nós superamos todos estes animais sempraticamente nenhuma mudança anatômica.

As mudanças evolutivas da natureza geralmente implicam emperdas para se conseguir um ganho. A baleia, por exemplo, é umdescendente remoto de carnívoros terrestres. Perdeu as pernaspara correr, garras para segurar, pelos (substituídos por umacamada de gordura), orelhas e ganhou um corpo cilíndrico, comnadadeiras e um novo poder: percorrer os oceanos.

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O desenvolvimento do conceito de cultura

O homem, ao contrário da baleia, não precisa transformar osbraços em nadadeiras em um longo processo evolutivo. Ohomem não precisou se modificar para ganhar os mares e osares. Todo ganho do homem é acumulativo. Em outras palavras,o homem criou o seu próprio processo evolutivo. Quando ohomem supera o orgânico, liberta-se da natureza.

Kroeber dá um exemplo interessante: ele propõe que umcachorrinho recém nascido seja entregue aos cuidados de umagata que acabou de parir. Veremos que o cachorrinho, semnunca ter ouvido um cachorro, jamais aprenderá a miar. Ele vailatir sem que ninguém o ensine a fazer isso. Se alguém pisar emsua pata, a resposta instintiva mais provável será uma mordida,como fazem os cachorros, ao contrário de sua mãe adotiva, quevai arranhar ou dar uma patada como defesa. Ao ficar feliz, ocachorro vai abanar o rabo e não enrolar, como fazem os gatos.

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O desenvolvimento do conceito de cultura

Ao contrário, se tomarmos um bebê francês e entregá-lo a umcasal de chineses logo após o seu nascimento, que língua elefalará quando ficar adulto?

Segundo Laraia (2006), a partir destes dois exemplos,chegamos ao ponto em que a cultura mais contraria opensamento leigo. É comum nós ouvirmos algo assim: “Meu filhotem jeito para a música. Puxou do avô, que era músico”.

Esta ideia ganhou força a partir de teorias como a de CesareLombroso, célebre criminalista italiano que procurouestabelecer uma relação entre a aparência física de umindivíduo e a tendência para apresentar um comportamentocriminoso. Teorias deste tipo tiveram grande receptividadepopular e foram até ensinadas como verdades científicas emalguns cursos de direito. O perigo de teorias deste tipo é afácil associação com discriminação racial e/ou social.

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O desenvolvimento do conceito de cultura

Eis aqui a afirmação mais contundente de Kroeber: o homem é oresultado do meio cultural em que ele foi socializado”.

Para comprovar isso, ele propõe alguns argumentos interessantes:por exemplo, um aluno mediano do ensino médio de hoje possuimais conhecimento do que Aristóteles. No entanto ele não possuinem um décimo do intelecto do grande grego que tantoinfluenciou o pensamento ocidental.

Continuando o raciocínio, ele afirma que cem Aristóteles na épocadas cavernas contribuiriam muito menos que doze esforçadosmedíocres do século XX. Arquimedes na era do gelo não teriainventado nem armas nem o telégrafo. Se Bach tivesse nascido noCongo ao invés da Saxônia, não teria composto nem mesmo umfragmento de coral ou sonata. Assim, não basta a natureza criarindivíduos inteligentes (o que ela faz com frequência), mas devecolocar ao alcance destes indivíduos os meios necessários paraque eles possam desenvolver sua criatividade.

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O desenvolvimento do conceito de cultura

Laraia (2006) dá alguns exemplos que reforçam a tese deKroeber. Santos Dumont não teria inventado o avião se nãotivesse saído da cidade de Palmira e ido para Paris, onde tevecontato com todo o conhecimento acumulado da civilizaçãoocidental. Albert Einstein não teria desenvolvido a Teoria daRelatividade se tivesse nascido em uma vila do Himalaia e tivesselá permanecido.

Mesmo de ficássemos privados de gênios como Santos Dumont ouAlbert Einstein, chegaríamos ao avião ou à Teoria da Relatividadea partir de outras pessoas, talvez mais tarde.

O mundo está cheio de evidências de pessoas que desenvolveramteorias semelhantes sem nunca terem tido algum tipo de contato.

Por exemplo, Santos Dumont e os irmãos Wright (avião), Newtone Leibniz (cálculo integral), Juan Jose & Fausto d’Elhuyar (tungsten) e Peter Woulfe (wolf rahm) com o tungstênio.

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O desenvolvimento do conceito de cultura

Algumas teorias e invenções semelhantes surgem em locais ecivilizações diferentes, e a explicação é mais simples que aintervenção de extraterrestres (por exemplo, pirâmides no Egito eno México). Alguns tipos de problemas possuem limitações dealternativas. Assim, uma construção está limitada pelas formasgeométricas, e o número de formas geométricas é limitado.

As contribuições de Kroeber para a ampliação do conceito de culturapodem ser sintetizadas em oito ideias, a saber:

1. A cultura, mais do que a herança genética, determina ocomportamento do homem e justifica as suas realizações.

2. O homem age de acordo com os seus padrões culturais. Osinstintos foram parcialmente anulados durante o processoevolutivo.

3. A cultura é o meio de adaptação aos diversos ambientesecológicos. Em vez de modificar o seu aparato biológico, o homemmodifica o seu equipamento superorgânico.

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O desenvolvimento do conceito de cultura

4. Em decorrência da afirmação anterior, o homem foi capaz deromper as barreiras das diferenças ambientais e transformoutoda a terra em seu hábitat.

5. Adquirindo cultura, o homem passou a depender muito mais doaprendizado do que agir através de atitudes geneticamentedeterminadas.

6. Como já era do conhecimento da humanidade desde o Iluminismo,é o processo de aprendizagem (ou socialização, educação,endoculturação) que determina o seu comportamento e a suacapacidade artística e profissional.

7. A cultura é um processo acumulativo, resultante de toda aexperiência histórica das gerações anteriores. Este processopode limitar ou estimular a ação criativa do indivíduo.

8. Os gênios são indivíduos altamente inteligentes que têm aoportunidade de utilizar o conhecimento existente a seu dispor ecriar um novo objeto ou uma nova técnica. (continua...)

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O desenvolvimento do conceito de cultura

8. Nesta classificação (de gênios) podem ser incluídos o primeirohomem que produziu fogo através do atrito com a madeira seca;ou o primeiro homem que fabricou a primeira máquina capaz deampliar a força muscular, o arco, a flecha, etc. São eles gênios damesma grandeza de Einstein ou Santos Dumont. Sem as suasprimeiras invenções ou descobertas, hoje consideradasmodestas, não teriam ocorrido as demais. E pior do que isto,talvez nem mesmo a espécie humana teria chegado ao que é hoje.

O fato da cultura ser determinante no comportamento do homemnão significa que perdemos todos os instintos. A criança, ao nascer,busca o seio materno e instintivamente, faz com a boca o movimentode sucção. Mais tarde, ao movimentar os seus membros, conseguiráproduzir sons. Entretanto, muito mais cedo que qualquer outraespécie, tudo o que fizer não será determinado pelos instintos e simpelos padrões culturais. É comum surgirem perguntas como: Ondefica o instinto de conservação? O instinto materno? O instinto filial?O instinto sexual?

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O desenvolvimento do conceito de cultura

Como falar em instinto de conservação com as façanhas doscamicazes e dos homens bombas islâmicos?

Como falar em instinto maternal com episódios culturais deinfanticídio em algumas etnias? Aliás, a autora Elisabeth Badinterdemonstra em sua pesquisa que o suposto “instinto materno” foi umcomportamento aprendido.

Como falar em instinto filial diante dos rituais esquimós?

Como falar em instinto sexual a partir de inúmeros casos de jovensque cresceram em um ambiente puritano e não sabiam como procederem relação a pessoas do outro sexo.

Outro ponto é a cultura como algo acumulativo. Tanto o homem comoo chipanzé, nosso parente próximo, possui capacidade de observaçãoe invenção. Porém, sem a possibilidade da comunicação, cadaobservação ou descoberta feita por um indivíduo chipanzé nãobeneficia a sua espécie, pois nasce e acaba com ele. Assim acomunicação é um processo cultural.

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FIM DA MATÉRIA DA PRIMEIRA PROVA

A APOSTILA CONTINUA... DEPOIS DA PROVA!