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Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto Departamento de Química Programa de Pós-Graduação em Química “Tratamento de efluentes provenientes de curtumes utilizando os processos eletroquímico e fotoeletroquímico”. Carla Regina Costa Tese apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, como parte das exigências para a obtenção do título de Doutor em Ciências, Área: Química Orientador: Prof. Dr. Paulo Olivi RIBEIRÃO PRETO - SP 2009

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Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto Departamento de Química Programa de Pós-Graduação em Química

“Tratamento de efluentes provenientes de curtumes utilizando

os processos eletroquímico e fotoeletroquímico”.

Carla Regina Costa

Tese apresentada à Faculdade de

Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da

Universidade de São Paulo, como parte das

exigências para a obtenção do título de Doutor em

Ciências, Área: Química

Orientador: Prof. Dr. Paulo Olivi

RIBEIRÃO PRETO - SP

2009

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FICHA CATALOGRÁFICA

Costa, Carla Regina Tratamento de efluentes provenientes de curtume utilizando os

processos eletroquímico e fotoeletroquímico. Ribeirão Preto, 2009.

270 p. : il. ; 30cm

Tese de Doutorado, apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto/USP – Área de concentração: Química.

Orientador: Olivi, Paulo.

1. Efluentes de curtume. 2. Ânodos dimensionalmente estáveis. 3. Diamante dopado com boro. 4. Fotoeletroquímica.

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Dedico este trabalho:

A Deus, pela saúde e disposição indispensáveis para a realização

deste trabalho e por ter me dado forças para encarar e superar com

maturidade todos os obstáculos que surgiram no seu decorrer.

Ao meu esposo Márcio, por sempre apoiar minhas escolhas pessoais

e profissionais e por ter abdicado de sua vida aqui no Brasil para me

acompanhar até a Espanha. Essa foi a maior prova de amor que você me

deu. Muito obrigada por tudo.

Aos meus pais José e Marta, os quais sempre me incentivaram a

estudar e com os quais eu aprendi a ter garra e determinação para batalhar,

de forma honesta, pelos meus sonhos e ideais. Obrigada por todos os

ensinamentos que me tornaram a pessoa que sou.

Ao meu irmão Carlos, por ser um irmão maravilhoso que sempre

torceu pela minha vitória.

A minha amiga Cristina Amaro Silvério, a qual se dedicou e lutou

incansavelmente pelo título de doutora, mas que lamentavelmente não

conseguiu conquistá-lo. Espero que você consiga superar mais este

obstáculo e dar a volta por cima.

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Agradecimentos

Ao Prof. Paulo Olivi, por ter me dado a oportunidade de trabalhar em seu grupo

de pesquisa e de aperfeiçoar os meus conhecimentos em duas áreas fascinantes da

química: a química ambiental e a eletroquímica. Obrigada pela confiança, orientação e,

sobretudo, por ter sido um orientador democrático que sempre se mostrou disposto a

ouvir minhas opiniões. Obrigada também por ter permitido que eu interagisse

cientificamente com outros grupos de pesquisa, dentro e fora do Brasil.

Aos Profs. Herenilton Paulino de Oliveira e Julien Françoise Coleta Boodts,

pelas valiosas dicas e conversas que muito contribuíram para o meu amadurecimento

científico e pessoal.

À Profa. Adalgisa Rodrigues de Andrade, a qual eu considero a primeira

responsável pelo meu interesse pela área de eletroquímica. Sempre vou me lembrar com

carinho das suas aulas de graduação, bem como daquela Gisa de cabelos negros

cacheados.

À Profa. Yassuko Iamamoto, por ter acreditado no meu potencial como

pesquisadora e por ter me incentivado a prosseguir os estudos na pós-graduação, mesmo

após saber que eu abandonaria o seu grupo de pesquisa ao finalizar o mestrado.

À Profa. Emilia Morallón e ao Dr. Francisco Montilla (Paco), por terem

orientado a parte do meu trabalho desenvolvida na Espanha. Sou muito grata à Emilia

por ter me recebido em seu laboratório e por ter me dado a oportunidade de trabalhar

com os famosos eletrodos de diamante dopado com boro (BDD). Ao Paco, o qual eu

considero o fã número 1 dos eletrodos de BDD, agradeço pelas ricas discussões que me

fizeram aprender muito sobre esses eletrodos.

A todos com os quais eu convivi na Universidade de Alicante, especialmente aos

colegas: Antonio, Carlos, Damián, Javier, Joaquin, José Miguel, Juan Manuel, Maria de

los Ángeles, Milena, Nestor, Paco, Pedro, Raquel, Raúl e Teresa.

Ao Heraldo Gallo do Instituto de Física da USP de São Carlos e ao Luciano

Andrei Montoro do Departamento de Química da Filô, pelas análises de SEM e EDX.

Ao Lourivaldo dos Santos Pereira do Departamento de Química da Filô, pelas

análises de DRX.

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Ao Prof. Evaldo L. G. Espindola e à Dra. Clarice M. R. do Centro de Recursos

Hídricos e Ecologia Aplicada da Escola de Engenharia de São Carlos (CRHEA/USP),

pelos testes de toxicidade com Daphnia similis. Gostaria de agradecer também ao

Amandio e ao Danilo, os quais sempre se mostraram dispostos a me ajudar quando

estive no CRHEA realizando os testes de toxicidade.

A todos os funcionários do Departamento de Química da Filô, os quais sempre

foram muito gentis comigo, especialmente àqueles com os quais eu tive uma

proximidade maior: André, Claudinei (Dias), Cynthia, Doralice (Dora), Isabel (Bel),

Lâmia, Losane, Luiz Carlos (Zanatto), Luiza, Maria, Mercia, Losane, Olimpia, Ricardo,

Sônia, Valdir, Vera e Wender.

Aos grandes amigos que a química me trouxe ao longo dos dez anos de estudos

no Departamento de Química da Filô: Adriano Pimenta, Aline Fernanda, Clayton

(Bigode), Cristina Silvério, Daniela, Fábio Marçal, Fernando Grine, Helder, Josimar,

Luiz Fernando (Pilão), Luiza, Márcia Eiko, Mariza Alves, Patrícia Riul, Roberta

Coteiro, Shirley e Valdir. Todos vocês estarão sempre em meu coração.

A todos os colegas do Laboratório de Eletrocatálise e Eletroquímica Ambiental

com os quais eu convivi durante os quatro anos de doutorado: André (Andrezão), Ana

Carolina (Carô), Ângelo, Aristeu, Camila, Evandro (Chicória), Élen, Émerson, Fabiana,

Fernando (Carmona), Flávio (Xicó), Franciane, Helder, Hoel, Izabel, Josimar, Juliane,

Liliane, Lívia, Luciano (Giraya), Luiza, Marlene, Paula, Sidney (Neto), Roberta,

Rodrigo (XYZ), Talita, Tânia (in memorian), Thiago (Magri) e Thiago (Santos).

A todos os professores que de alguma forma contribuíram com este trabalho:

Prof. Antonio Cláudio Tedesco, Prof. Antonio Eduardo da Hora Machado, Prof. José

Fernando de Andrade, Prof. Iouri Borissevitch, Profa. Laura Tieme Okano,

Prof. Luciano Bachmann e Prof. Osvaldo Antonio Serra.

A todos os guardas do Departamento de Química, pelos vários cafés que

inauguraram meus longos dias de trabalho aos sábados e domingos.

À Couroquimica Couros e Acabamentos Ltda, por ter fornecido as amostras de

efluentes e os reagentes de curtimento que foram utilizados neste trabalho.

À FAPESP, pela bolsa concedida para a realização deste trabalho.

À CAPES, pela bolsa PDEE de estágio de doutorando no exterior.

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O ignorante não duvida porque

desconhece o que não sabe.

(Autor desconhecido)

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vi

Sumário

CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO GERAL .......................................................................... 1

I.1 - O PROCESSO DE CURTIMENTO DAS PELES.....................................................2

I.1.1 - A estrutura da pele animal ...................................................................................... 2

I.1.2 - O processo de curtimento das peles ........................................................................ 5

I.1.3 - Conservação e armazenamento das peles ............................................................... 8

I.1.4 - A ribeira .................................................................................................................. 9

I.1.5 - O curtimento ......................................................................................................... 14

I.1.6 - O acabamento ....................................................................................................... 21

I.1.6.1 - O acabamento molhado...................................................................................... 21

I.1.6.2 - O pré-acabamento e acabamento final ............................................................... 26

I.2 - A INDÚSTRIA BRASILEIRA DE COURO E A GERAÇÃO DE

EFLUENTES ................................................................................................................... 26

I.3 - OXIDAÇÃO DE CONTAMINANTES ORGÂNICOS E TRATAMENTO DE

EFLUENTES ................................................................................................................... 33

I.4 - PARÂMETROS UTILIZADOS PARA AVALIAR A OXIDAÇÃO DE

CONTAMINANTES ....................................................................................................... 47

I.4.1 - Carbono Orgânico Total (TOC) ............................................................................ 47

I.4.2 - Demanda Química de Oxigênio (COD) ................................................................ 49

I.4.3 - Organo-Halogenados Adsorvíveis (AOX) ............................................................ 51

I.4.4 - Teste de toxicidade ............................................................................................... 53

I.4.5 - Fenóis totais .......................................................................................................... 57

I.4.6 - Cor ........................................................................................................................ 59

I.4.7 - Cromo (VI) ........................................................................................................... 62

I.5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 63

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CAPÍTULO II: OBJETIVO ............................................................................................ 71

CAPÍTULO III: DEGRADAÇÃO ELETROQUÍMICA DE EFLUENTES

DE CURTUME REAL E SINTÉTICO UTILIZANDO ELETRODOS DO

TIPO DSA® ..................................................................................................................... 73

III.1 - INTRODUÇÃO .................................................................................................... 74

III.1.1 - Ânodos Dimensionalmente Estáveis (DSA®) .................................................... 79

III.1.2 - Eficiência de Corrente ........................................................................................ 83

III.2 - PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL ................................................................ 87

III.2.1 - Preparação dos eletrodos .................................................................................... 87

III.2.1.1 - Preparação e padronização da solução precursora de estanho ........................ 87

III.2.1.2 - Preparação e padronização da solução precursora de rutênio ......................... 89

III.2.1.3 - Preparação e padronização da solução precursora de irídio ............................ 90

III.2.1.4 - Preparação e padronização da solução precursora de titânio .......................... 91

III.2.1.5 - Pré-tratamento dos suportes de titânio ............................................................ 91

III.2.1.6 - Deposição dos filmes de óxido sobre o suporte de titânio .............................. 93

III.2.1.7 - Confecção final dos eletrodos ......................................................................... 94

III.2.1.8 - Caracterização físico-química dos eletrodos ................................................... 95

III.2.2 - Coleta e caracterização de efluentes de curtume ................................................ 97

III.2.3 - Tratamento eletroquímico de um efluente de curtume real ................................ 98

III.2.3.1 - Caracterização do efluente de curtume real .................................................... 98

III.2.3.2 - Degradação eletroquímica do efluente de curtume real .................................. 99

III.2.4 - Tratamento eletroquímico de um efluente de curtume sintético ...................... 101

III.2.4.1 - Preparação e caracterização do efluente de curtume sintético ...................... 101

III.2.4.2 - Degradação eletroquímica do efluente de curtume sintético ........................ 104

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viii

III.2.5 - Cálculos de eficiência de corrente, consumo de energia e constante de

velocidade ...................................................................................................................... 106

III.3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................ 107

III.3.1 - Caracterização físico-química dos eletrodos .................................................... 107

III.3.2 - Tratamento eletroquímico do efluente de curtume real: efeito da

composição eletródica, da densidade de corrente e da adição de Na2SO4 .................... 114

III.3.3 - Tratamento eletroquímico do efluente de curtume sintético: efeito da

concentração de cloreto e da presença de sulfato .......................................................... 133

III.4 - CONCLUSÕES ................................................................................................... 146

III.5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 148

CAPÍTULO IV: DEGRADAÇÃO ELETROQUÍMICA DE UM EFLUENTE DE

CURTUME SINTÉTICO E DO CORANTE PRETO ÁCIDO 210 UTILIZANDO

BDD ............................................................................................................................... 151

IV.1 - INTRODUÇÃO .................................................................................................. 152

IV.1.1 - O modelo de Comninellis ................................................................................ 159

IV.2 - PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL .............................................................. 164

IV.2.1 - Determinação do coeficiente de transferência de massa .................................. 164

IV.2.2 - Degradação de um efluente de curtume sintético utilizando BDD .................. 167

IV.2.3 - Degradação do corante preto ácido 210 utilizando BDD ................................ 168

IV.2.4 - Cálculos de eficiência de corrente, eficiência de corrente instantânea,

consumo de energia e constantes de velocidade. ........................................................... 170

IV.3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................ 171

IV.3.1 - Tratamento eletroquímico do efluente de curtume sintético: efeito do

pH, da densidade de corrente e da natureza do eletrodo ............................................... 171

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IV.3.2 - Eletroxidação do corante AB-210 utilizando BDD na presença de íons

fosfato: efeito da densidade de corrente, pH e íons cloreto ........................................... 177

IV.4 - CONCLUSÕES .................................................................................................. 197

IV.5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 199

CAPÍTULO V: DEGRADAÇÃO FOTOCATALÍTICA E FOTOELETROQUÍMICA

DE UM EFLUENTE DE CURTUME SINTÉTICO ..................................................... 204

V.1 - INTRODUÇÃO ................................................................................................... 205

V.1.1 - A fotocatálise heterogênea ................................................................................ 205

V.1.1.1 - A fotocatálise heterogênea combinada com outros processos

oxidativos avançados ..................................................................................................... 214

V.1.2 - A fotoeletroquímica ........................................................................................... 216

V.1.2.1 - O efeito fotogalvânico .................................................................................... 217

V.1.2.2 - O efeito fotovoltaico ....................................................................................... 222

V.1.2.3 - A utilização de processos fotoeletroquímicos para a degradação de

substâncias orgânicas ..................................................................................................... 234

V.2 - PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL ............................................................... 244

V.2.1 - Tratamento fotocatalítico de um efluente de curtume sintético ........................ 244

V.2.2 - Tratamento fotoeletroquímico de um efluente de curtume sintético ................. 247

V.2.3 - Cálculos de consumo de energia e constantes de velocidade ............................ 249

V.3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 252

V.3.1 - Degradação fotocatalítica de um efluente de curtume sintético ........................ 252

V.3.1.1 - Caracterização do TiO2 suportado em uma placa de vidro e das

lâmpadas de luz negra e germicida ................................................................................ 252

V.3.1.2 - Fotodegradação do efluente de curtume sintético .......................................... 253

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x

V.3.2 - Degradação fotoeletroquímica de um efluente de curtume sintético ................ 256

V.4 - CONCLUSÕES .................................................................................................... 262

V.5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 264

CAPÍTULO VI: CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................. 268

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xi

Lista de Figuras

Figura 1.1: Estrutura da pele animal. ................................................................................. 2

Figura 1.2: A molécula de tropocolágeno e a estrutura dos principais aminoácidos que a compõe. ............................................................................................... 4

Figura 1.3: Esquema das etapas envolvidas no processamento das peles, desde a ribeira até o acabamento final...............................................................................7

Figura 1.4: (A) Representação de um fulão. (B) Introdução das peles nos fulões para que sejam processadas. (C) Bateria de fulões e operários manuseando lotes de couros recém saídos da etapa de processamento. .................................................................................. 10

Figura 1.5: Reação 1 − Formação reversível de uma ligação dissulfeto pela oxidação de dois resíduos de cisteína. Reação 2 − Redução da cistina por sulfetos inorgânicos ou orgânicos. ........................................................................................................................ 12

Figura 1.6: Composição de uma solução de sulfato de cromo típica de curtimento, 0,4 mol L−1 em Cr3+ com basicidade de 33%. .............................................. 15

Figura 1.7: Possíveis reações de complexação entre duas espécies de Cr(III) e os grupos carboxilatos da proteína colágeno (P). ......................................................... 16

Figura 1.8: Formação de ligações cruzadas a partir de complexos de cromo (P = proteína colágeno)....................................................................................................16

Figura 1.9: Taninos hidrolisáveis. ................................................................................... 18

Figura 1.10: Sistema de anel flavonóide no qual os taninos condensados são baseados. ................................................................................................................... 19

Figura 1.11: À esquerda, estrutura generalizada de dois taninos condensados, a procianidina e a prodelfinidina. À direita, unidades monoméricas dos taninos mimosa e quebracho. ....................................................................................................... 20

Figura 1.12: Representação das ligações de hidrogênio entre as substâncias polifenólicas e o colágeno...............................................................................................20

Figura 1.13: Estrutura química do corante preto ácido 210 (Color Index no. 300825 e CAS no. 99576-15-5) ................................................................................. 23

Figura 1.14: Distribuição dos estabelecimentos curtidores no Brasil por região. ........... 28

Figura 1.15: A cadeia produtiva da indústria de couro. .................................................. 29

Figura 1. 16: Produção do couro brasileiro por tipo de curtimento. ................................ 31

Figura 1.17: Ciclo catalítico da reação de Fenton.. ......................................................... 38

Figura 1.18: Representação esquemática da geração do par ecb−/hvb

+ em semicondutores e suas respectivas reações.. .............................................................. 40

Figura 1.19: Reação entre Cr(VI) e DPC em meio ácido. ............................................... 62

Figura 3.1: Reações envolvidas na eletroxidação do ácido tânico com os eletrodos Ti/TiRuO2 e Ti/PbO2, de acordo com Panizza e Cerisola . ............................. 78

Figura 3.2: Etapas envolvidas na preparação do precursor polimérico. . ........................ 81

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xii

Figura 3.3: Ilustração dos suportes de titânio utilizados para a deposição dos filmes de óxidos. ....................................................................................................... 92

Figura 3.4: Representação esquemática de um eletrodo recém preparado. ..................... 95

Figura 3.5: Representação esquemática da célula utilizada na caracterização eletroquímica dos eletrodos. ............................................................................................ 96

Figura 3.6: Célula eletroquímica utilizada nos estudos de degradação do efluente de curtume real. ............................................................................................... 100

Figura 3.7: Representação esquemática da célula filtro-prensa utilizada no tratamento eletroquímico do efluente de curtume sintético. Vistas frontal, lateral e superior da célula eletroquímica montada. ...................................................... 105

Figura 3.8: Micrografias dos filmes Ti/Ir0,01Sn0,99O2, Ti/Ir0,10Sn0,90O2 e Ti/Ru0,10Sn0,90O2 preparados pelo método de Pechini. Ampliação de (A) 500 vezes e (B) 2000 vezes. .. 109

Figura 3.9: Micrografias dos filmes Ti/Ru0,30Ti0,70O2, Ti/Ir0,15Ru0,15Sn0,70O2 e Ti/Ir0,30Ti0,30Sn0,40O2 preparados pelo método de Pechini. Ampliação de (A) 500 vezes e (B) 2000 vezes. .............................................................................................................. 110

Figura 3.10: Difratogramas de raios X dos filmes de óxidos preparados pelo método de Pechini ......................................................................................................... 111

Figura 3.11: Voltamogramas cíclicos registrados em solução de H2SO4 0,5 mol L−1, à velocidade de varredura de 50 mV s−1. .......................................................................... 113

Figura 3.12: Concentração de fenóis totais em função do tempo de eletrólise a 20 mA cm−2 para os experimentos realizados com diferentes composições eletródicas.117

Figura 3.13: TOC em função do tempo de eletrólise a 20 mA cm−2 para os experimentos realizados com diferentes composições eletródicas ................................ 117

Figura 3.14: (A) Espectro visível do efluente de curtume em função do tempo de eletrólise, para os experimentos realizados a 20 mA cm−2 com o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2. Absorbância em (B) 440 nm e (C) 600 nm em função do tempo de eletrólise a para os experimentos realizados a 20 mA cm−2 com diferentes eletrodos. ....................................................................................................................... 119

Figura 3.15: (A) Espectro UV do efluente de curtume diluído 50 vezes em função do tempo de eletrólise para os experimentos realizados a 20 mA cm−2 com o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2. (B) Absorbância em 228 nm em função do tempo de eletrólise para os experimentos realizados a 20 mA cm−2 com difrentes eletrodos. ..................... 120

Figura 3.16: Concentração de fenóis totais em função do tempo de eletrólise para os experimentos realizados com o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2 e com diferentes densidades de corrente ................................................................................................... 122

Figura 3.17: TOC em função do tempo de eletrólise para os experimentos realizados com o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2 e com diferentes densidades de corrente. .................................................................................................................... 123

Figura 3.18: (A) Espectro Vis do efluente de curtume em função do tempo de eletrólise para os experimentos realizados a 100 mA cm−2 com o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2 (B) Absorbância em função do tempo de eletrólise para os experimentos realizados utilizando o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2 e diferentes densidades de corrente ................................................................................................... 124

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xiii

Figura 3.19: (A) Espectro UV do efluente de curtume diluído 50 vezes em função do tempo de eletrólise para os experimentos realizados a 100 mA cm−2 com o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2. (B) Absorbância em 228 nm em função do tempo de eletrólise para os experimentos realizados com o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2 e com diferentes densidades de corrente. ...................................................................... 127

Figura 3.20: Porcentagem de microcrústáceos Daphnia similis imóveis após 48 h de exposição a soluções de efluente de curtume de concentração 5%, antes e após 5 h de tratamento eletroquímico utilizando diferentes eletrodos a 20 mA cm−2. ................ 131

Figura 3.21: Porcentagem de microcrústáceos Daphnia similis imóveis após 48 h e de exposição a soluções de efluente de curtume de concentrações (A) 5% e (B) 2,5%, antes e após 5 h de tratamento eletroquímico, utilizando o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2 em diferentes densidades de corrente. ................................................ 132

Figura 3.22: Eficiência de corrente (CE) em função do tempo de eletrólise: (A) para os experimentos realizados a 20 mA cm−2 e (B) para os experimentos realizados com o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2 a 20, 50 e 100 mA cm−2 . ......................... 133

Figura 3.23: Efeito da concentração de cloreto e da presença de sulfato sobre a remoção eletroquímica dos compostos fenólicos do efluente de curtume sintético durante as eletrólise realizadas a 20 mA cm−2 utilizando o eletrodo Ti/Ir0,10Sn0,90O2 e diferentes eletrólitos suporte.. ........................................................... 134

Figura 3.24: Espectros Vis do efluente de curtume sintético em função do tempo de eletrólise para os experimentos realizados a 20 mA cm−2 com o eletrodo Ti/Ir0,10Sn0,90O2 na presença de 20, 50 e 100 mmol L−1 de NaCl. ................... 139

Figura 3.25: Diminuição de (A) TOC/TOC0 e (B) absorbância relativa em 228 nm (Abs/Abs0) do efluente de curtume sintético em função do tempo de eletrólise para os experimentos realizados a 20 mA cm−2 com o eletrodo Ti/Ir0,10Sn0,90O2. ............................................................................................................. 140

Figura 3.26: (A) Remoções de TOC e COD e (B) eficiências de corrente calculadas a partir dos valores de TOC e COD em função da concentração de cloreto para os experimentos realizados a 20 mA cm−2 com o eletrodo Ti/Ir0,10Sn0,90O2. . ................... 141

Figura 3.27: Consumo de energia em função do tempo para as eletrólises realizadas a 20 mA cm−2 com o eletrodo Ti/Ir0,10Sn0,90O2. ............................................................... 145

Figura 4.1: Representação gráfica das predições do modelo de Comninellis para a COD e a ICE durante a oxidação eletroquímica de um composto orgânico.. ........... 162

Figura 4.2: Célula eletroquímica utilizada nos estudos com o eletrodo de BDD. Acima é mostrado um esquema dos constituintes dessa célula.. ................................... 165

Figura 4.3: Curvas de corrente-voltagem para a determinação de km na célula eletroquímica empregada nos estudos com BDD. . ............................................ 166

Figura 4.4: Efeito do pH sobre a remoção de (A) fenóis totais, (B) COD e (C) TOC durante o tratamento eletroquímico do efluente de curtume sintético na presença de 0,1 mol L−1 de Na2SO4 a 25 mA cm−2, utilizando um eletrodo BDD como ânodo. ......................................................................................................... 174

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Figura 4.5: Efeito da densidade de corrente sobre a remoção de (A) fenóis totais, (B) COD e (C) TOC durante o tratamento eletroquímico do efluente de curtume sintético na presença de 0,1 mol L−1 de Na2SO4 em pH =2,4, utilizando um eletrodo BDD como ânodo. ..................................................................................... 175

Figura 4.6: Efeito do material eletródico sobre a remoção de (A) fenóis totais, (B) COD e (C) TOC durante o tratamento eletroquímico de um efluente de curtume sintético na presença de 0,1 mol L−1 de Na2SO4 em pH =2,4, a 25 mA cm−2. .................................................................................................................. 176

Figura 4.7: Espectro de absorção de soluções aquosas de AB-210 50 mg L−1 em tampão fosfato 0,20 mol L−1 em diferentes condições de pH. ................................. 179

Figura 4.8: Efeito da densidade de corrente sobre a eletroxidação de 500 mg L−1 de corante AB-210 em tampão fosfato 0,20 mol L−1 (pH =6,8), utilizando BDD como ânodo. (A) COD/COD0 e (B) ICE em função do tempo de eletrólise. ....................................................................................................................... 180

Figura 4.9: Diminuição da absorbância relativa (Abs/Abs0) em 320, 460 e 600 nm para a solução de corante AB-210 500 mg L−1 em função do tempo de eletrólise para os experimentos realizados em tampão fosfato 0,20 mol L−1 (pH =6,8), utilizando BDD em diferentes densidades de corrente. ......................................................................................................................... 182

Figura 4.10: Efeito do pH sobre a eletroxidação de 500 mg L−1 de corante AB-210 em tampão fosfato 0,20 mol L−1 a 25 mA cm−2, utilizando BDD como ânodo. (A) COD/COD0 e (B) ICE em função do tempo de eletrólise....................................... 183

Figura 4.11: Diminuição da absorbância relativa (Abs/Abs0) em 320, 460 e 600 nm para a solução de corante AB-210 500 mg L−1 em função do tempo de eletrólise para os experimentos realizados em tampão fosfato 0,20 mol L−1, com ânodo de BDD a 25 mA cm−2 em diferentes condições de pH. .................................................... 184

Figura 4.12: Diminuição dos valores de COD em função da carga específica durante as eletrólises de 500 mg L−1 de AB-210 a 25 mA cm−2 utilizando BDD ............................................................................................................................... 188

Figura 4.13: (A) Remoções de COD e eficiências de corrente (CE) calculadas a partir de COD, após 1 h e (B) remoções de TOC após 5 h obtidas a partir da eletroxidação de 500 mg L−1 de AB-210 em tampão fosfato 0,20 mol L−1 a 25 mA cm−2 sobre ânodo de BDD, na presença e ausência de 0,10 mol L−1 de NaCl em diferentes condições de pH. ....................................................................... 195

Figura 4.14: Concentração de AOX durante a eletroxidação de 500 mg L−1 de AB-210 em tampão fosfato 0,20 mol L−1 a 25 mA cm−2 sobre ânodo de BDD, na presença de 0,10 mol L−1 de NaCl em diferentes condições de pH. .............. 197

Figura 5.1: Representação esquemática das bandas de valência (VB) e de condução (CB) nos materiais isolantes, semicondutores e condutores. ........................ 206

Figura 5.2: Posições das bandas de valência e de condução para alguns semicondutores, suas respectivas energias de bandgap e alguns pares redox relevantes (pH 0). ............ 207

Figura 5.3: Representação esquemática das etapas de produção do TiO2 P25 da Degussa. .................................................................................................................... 210

Figura 5.4: Esquema da célula fotogalvânica baseada na reação entre Thi+ e Fe2+. ........................................................................................................... 218

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Figura 5.5: Estrutura da: (A) tionina, Thi+; (B) semitionina, Sem+ e (C) leucotionina, Leu2+. ................................................................................................. 219

Figura 5.6: Esquema da célula fotogalvânica formada pelo sistema Ru(bpy)3

2+ − Fe3+. .......................................................................................................... 221

Figura 5.7: Estrutura do complexo Ru(bpy)32+, bpy = 2,2’-bipiridina. ......................... 221

Figura 5.8: Modelo de bandas para: (A) um semicondutor intrínseco, (B) um semicondutor extrínseco do tipo n e (C) um semicondutor extrínseco do tipo p.. ............................................................................................................................ 224

Figura 5.9: Representação esquemática da interface semicondutor-solução. . ............. 226

Figura 5.10: Tipos de região de carga espacial em um semicondutor do tipo n em função do potencial aplicado (V) com relação ao potencial de flat-band (VFB). (A) Não há região carga-espaço, (B) formação de uma camada de depleção e, (C) formação de uma camada de acumulação. ........................................... 227

Figura 5.11: Formação da zona de carga espacial na interface semicondutor/eletrólito: (A) antes do contato com o eletrólito e (B) em equilíbrio depois do contato com o eletrólito.. .............................................................. 230

Figura 5.12: Representação esquemática dos processos eletródicos fotoassistidos em: (a) um semicondutor do tipo n (SC-n) e (b) um semicondutor do tipo p (SC-p).. ...................................................................................................................... 231

Figura 5.13: Curvas de corrente vs. potencial para um semicondutor do tipo n. Curva 1: sem luz; Curva 2: com luz. ............................................................................. 231

Figura 5.14: Interface semicondutor/eletrólito: (A) após o equilíbrio com o eletrólito na ausência de luz e (B) sob iluminação. ....................................................... 233

Figura 5.15: Posições das bandas de valência (abaixo) e de condução (acima) para os semicondutores TiO2 e SnO2, suas respectivas energias de bandgap e alguns pares redox relevantes em pH 0 . ....................................................................... 241

Figura 5.16: Ilustração do princípio de separação de carga em eletrodos constituídos por SnO2 e TiO2. ....................................................................................... 242

Figura 5.17: Representação esquemática do fotorreator utilizado nos estudos de degradação fotocatalítica do efluente de curtume sintético com TiO2. .................... 246

Figura 5.18: Tubo de vidro constituinte do reator fotocatalítico: (A) vista lateral do tubo após o lixamento, sem TiO2 (acima) e com TiO2 nas paredes internas (abaixo) e (B) vista superior do tubo sem e com TiO2, respectivamente. .................... 247

Figura 5.19: Reator utilizado nos estudos de degradação fotoeletroquímica do efluente de curtume sintético: (A) lâmpada de vapor de mercúrio de alta pressão sem o bulbo, (B) ânodo de composição nominal Ti/Ru0,30Ti0,70O2, (C) malha de titânio utilizada como cátodo e (D) corpo de vidro cilíndrico contendo os eletrodos e o tubo de quartzo contendo a lâmpada. ....................................................... 250

Figura 5.20: Representação esquemática da vista superior do reator fotoeletroquímico utilizado na degradação do efluente de curtume sintético. .............. 251

Figura 5.21: Micrografias do filme de TiO2 suportado em uma placa de vidro jateada com areia. Ampliação de (A) 500 vezes e (B) 2000 vezes. .............................. 252

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Figura 5.22: Espectros de emissão das lâmpadas (A) de luz negra e (B) germicida. ................................................................................................................ 253

Figura 5.23: Espectros do efluente de curtume sintético antes e após 5 h de tratamento fotoquímico utilizando as lâmpadas de luz negra e germicida à temperatura de 31,7 ± 1,0 oC: (A) espectros na região visível (a foto mostra o efluente antes e após a fotodegradação com a lâmpada germicida) e (B) espectros na região ultravioleta do efluente diluído 100 vezes. .............................. 255

Figura 5.24: Diminuição de (A) TOC/TOC0 e (B) COD/COD0 para o efluente de curtume sintético em função do tempo para os experimentos realizados a 10 A com o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2 (processos eletroquímico e fotoeletroquímico) e utilizando uma lâmpada de vapor de mercúrio como fonte de radiação (processos fotoquímico e fotoeletroquímico). Temperatura = 42,0 ± 1,0 oC. ........................................................................................ 257

Figura 5.25: Efluentes antes e após 5 h de tratamento a 10 A com o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2 (processos eletroquímico e fotoeletroquímico) e utilizando uma lâmpada de vapor de mercúrio como fonte de radiação (processos fotoquímico e fotoeletroquímico). Temperatura = 42,0 ± 1,0 oC. ................................. 259

Figura 5.26: Consumo de energia em função do tempo para os experimentos realizados a 10 A com o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2 (processos eletroquímico e fotoeletroquímico) e utilizando uma lâmpada de vapor de mercúrio como fonte de radiação (processos fotoquímico e fotoeletroquímico). Temperatura = 42,0 ± 1,0 oC. ........................................................................................ 261

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Lista de Tabelas

Tabela I.1: Composição média de efluentes de curtumes...............................................32

Tabela I.2: Potenciais padrões de redução ( 0RE ) de alguns oxidantes em meio ácido....36

Tabela I.3: Capacidade oxidante de diversos materiais anódicos usados em processos de mineralização eletroquímica em meio ácido...................................................................44

Tabela I.4: Toxicidades agudas de diferentes efluentes industriais para Daphnia magna...............................................................................................................57

Tabela I.5: Absorções típicas de cromóforos simples isolados.......................................60

Tabela III.1: Densidades dos óxidos estudados neste trabalho.......................................94

Tabela III.2: Valores de TOC, pH e cromo total dos efluentes de curtume................... 97

Tabela III.3: Constituintes da Solução Sintética 1 (SS1). Essa solução foi preparada pela dissolução das substâncias abaixo em 1 L de água Milli-Q..........................................102

Tabela III.4: Constituintes da Solução Sintética 2 (SS2). Essa solução foi preparada pela dissolução das substâncias abaixo em 1 L de água Milli-Q..........................................103

Tabela III.5: Aplicação da equação 3.14 para corrigir a variação de volume para as eletrólises realizadas na célula filtro-prensa..................................................................107

Tabela III.6: Porcentagens atômicas, nominais e experimentais (estas ultimas determinadas por EDX) dos metais constituintes dos filmes de óxidos preparados pelo método de Pechini.........................................................................................................108

Tabela III.7: Cargas voltamétricas obtidas para as várias composições eletródicas preparadas pelo método de Pechini, calculadas a partir dos voltamogramas apresentados na Figura 3.11................................................................................................................114

Tabela III.8: Características do efluente de curtume real utilizado nos estudos de degradação eletroquímica..............................................................................................115

Tabela III.9: Remoção de fenóis totais e TOC após 5 h de eletrólise a 20 mA cm-2....116

Tabela III.10: Concentração de Cr(VI) durante as eletrólises.......................................125

Tabela III.11: Características do efluente de curtume sintético....................................134

Tabela III.12: Constantes de velocidade para a remoção de compostos fenólicos do efluente sintético durante as eletrólises realizadas a 20 mA cm−2 utilizando o eletrodo Ti/Ir0,10Sn0,90O2 em diferentes concentrações de eletrólito suporte...............................135

Tabela III.13: Concentração de AOX no final das eletrólises realizadas a 20 mA cm−2 com o eletrodo Ti/Ir0,10Sn0,90O2.....................................................................................143

Tabela III.14: Toxicidades agudas expressas em ATU (intervalo de confiança de 95%) para o efluente de curtume sintético antes e após 5 h de eletrólises a 20 mA cm−2 com o eletrodo Ti/Ir0,10Sn0,90O2 e na presença de diferentes concentrações de NaCl..............144

Tabela III.15: Energia consumida na remoção eletroquímica de compostos fenólicos do efluente de curtume sintético utilizando o eletrodo Ti/Ir0,10Sn0,90O2 a 20 mA cm−2.................................................................................................................145

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Tabela III.16: Energia consumida na remoção eletroquímica de TOC e COD do efluente de curtume sintético utilizando o eletrodo Ti/Ir0,10Sn0,90O2 a 20 mA cm−2....................................................................................................................146

Tabela IV.1: Equações que descrevem ICE e COD durante a oxidação de compostos orgânicos sobre BDD.....................................................................................................163

Tabela IV.2: Eficiências de corrente calculadas a partir de COD e TOC e consumo de energia após 4 h de eletroxidação do efluente sintético na presença de 0,1 mol L−1 de Na2SO4 (pH inicial = 2,4)..............................................................................................173

Tabela IV.3: Constantes de velocidade para a remoção de COD e absorbância em 460 nm obtidas a partir da oxidação eletroquímica de 500 mg L−1 de AB-210 utilizando ânodo de BDD................................................................................179

Tabela IV.4: Remoção de TOC em função do tempo e consumo de energia na eletroxidação de 500 mg L−1 de AB-210 utilizando ânodo de BDD.............................186

Tabela V.1: Radiação global incidente verticalmente sobre a superfície da terra.........209

Tabela V.2: Exemplos de células fotoeletroquímicas com semicondutores do tipo n e do tipo p..............................................................................................................................234

Tabela V.3: Remoções de COD e fenóis totais e consumo de energia após 5 h de fotodegradação do efluente sintético de curtume à temperatura de 31,7 ± 1,0 oC.........254

Tabela V.4: Constantes de velocidade para a remoção de TOC e COD para os experimentos realizados a 10 A com o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2 (processos eletroquímico e fotoeletroquímico) e utilizando uma lâmpada de vapor de mercúrio como fonte de radiação (processos fotoquímico e fotoeletroquímico). Temperatura = 42,0 ± 1,0 oC.........................................................................................258

Tabela V.5: Remoções de compostos fenólicos do efluente sintético após 1e 5 h de tratamento a 10 A com o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2 (processos eletroquímico e fotoeletroquímico) e utilizando uma lâmpada de vapor de mercúrio como fonte de radiação (processos fotoquímico e fotoeletroquímico). Temperatura = 42,0 ± 1,0 oC.........................................................................................259

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Lista de Siglas e Abreviaturas

4-AAP (4-Aminoantipyrine): 4-Aminoantipirina

AB-210 (Acid Black 210): Preto Ácido 210

AOP (Advanced Oxidation Process): Processo Oxidativo Avançado

AOX (Adsorbable Organic Halogen): Organo-Halogenados Adsorvíveis

BDD (Boron-Doped Diamond): Diamante Dopado com Boro

BOD (Biochemical Oxygen Demand): Demanda Bioquímica de Oxigênio

CB (Conduction Band): Banda de Condução

CE (Current Efficiency): Eficiência de Corrente

COD (Chemical Oxygen Demand): Demanda Química de Oxigênio

CONAMA: Conselho Nacional do Meio Ambiente

4-CP (4-Chlorophenol): 4-Clorofenol

CVD (Chemical Vapor Deposition): Deposição Química a partir da fase Vapor

DPC (Diphenylcarbazide): Difenilcarbazida

DSA® (Dimensionally Stable Anode): Ânodo Dimensionalmente Estável

EDX (Energy Dispersive X-Ray): Energia Dispersiva de Raios X

EC (Energy Consumption): Consumo de Energia

EC50 (Median Effective Concentration): Concentração de um contaminanteque causa

um efeito agudo a 50% dos organismos

EMATER: Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural

EMBRAPA: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

FID (Flame Ionization Detector): Detector de Ionização de Chama

HTCO (High Temperature Catalytic Oxidation): Oxidação Catalítica à Alta

Temperatura

IC (Inorganic Carbon): Carbono Inorgânico

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ICE (Instantaneous Current Efficiency): Eficiência de Corrente Instantânea

JCPDS: Joint Committee on Powder Diffraction Standards

LC50 (Median Lethal Concentration): Concentração de um contaminante que causa a

morte de 50% dos organismos

LOEC (Lowest Observed Effect Concentration): Concentração de Efeito Observado

MBTH (2-Hydrazono-3-methylbenzothiazoline): 2-Hidrazona-3-metilbenzotiazolina

NDIR (Nondispersive Infrared): Infravermelho não Dispersivo

NHE (Normal Hydrogen Electrode): Eletrodo Normal de Hidrogênio

NOEC (No Observed Effect Concentration): Concentração de Efeito não Observado

NPOC (Nonpurgeable Organic Carbon): Carbono Orgânico Não Purgável

PNP (para-Nitrophenol): p-Nitrofenol

RHE (Reversible Hydrogen Electrode): Eletrodo Reversível de Hidrogênio

SCE (Saturated Calomel Electrode): Eletrodo de Calomelano Saturado

SEM (Scanning Electron Microscopy): Microscopia Eletrônica de Varredura

TC (Total Carbon): Carbono Total

TPC (2,4,6-Trichlorophenol): 2,4,6-Triclorofenol

TOC (Total Organic Carbon): Carbono Orgânico Total

UV: ultravioleta

VB (Valence Band): Banda de Valência

Vis: visível

WCO (Wet Chemical Oxidation): Oxidação Química Úmida

XRD (X-Ray Diffraction): Difração de Raios X

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Resumo

Neste trabalho foi estudada a degradação de efluentes de curtume utilizando os

processos eletroquímico, fotocatalítico e fotoeletroquímico. Nesses estudos foram utilizados

efluentes coletados em uma indústria e soluções preparadas em laboratório que simularam

os efluentes reais. No processo eletroquímico, os efeitos do material anódico, da densidade

de corrente, da presença de íons sulfato e cloreto, da concentração de cloreto e do pH foram

avaliados. Eletrodos do tipo DSA® de diferentes composições, SnO2-Sb2O5 e BDD foram

utilizados como ânodo. A oxidação eletroquímica do corante preto ácido 210 utilizando o

eletrodo de BDD em soluções tampões de fosfato também foi estudada. A degradação

eletroquímica dos efluentes de curtume foi capaz de promover a diminuição da

concentração de fenóis totais, do TOC, da COD, da absorbância nas regiões UV-Vis e da

toxicidade para Daphnia similis. Maiores concentrações de cloreto resultaram em remoções

mais rápidas de fenóis totais, TOC e COD. Apesar disso, a redução da toxicidade do

efluente foi menor para maiores concentrações de cloreto, devido à formação de maiores

concentrações de AOX. A presença de Na2SO4 dificultou a oxidação das substâncias

orgânicas presentes no efluente. Na ausência de cloreto, os melhores resultados foram

obtidos quando BDD foi utilizado como ânodo e esses resultados não foram afetados pelo

pH. Entretanto, os melhores resultados para a degradação eletroquímica do corante preto

ácido 210 foram obtidos em solução alcalina contendo íons fosfato, provavelmente devido à

formação de espécies oxidantes a partir desses íons.

O tratamento fotocatalítico do efluente de curtume foi realizado utilizando TiO2 P25

da Degussa suportado sobre as paredes do foto-reator. Duas lâmpadas de 15 W, uma de luz

negra e a outra germicida, foram utilizadas para avaliar o efeito da fonte de radiação. A

lâmpada de luz negra não modificou as características do efluente e os resultados obtidos

com a lâmpada germicida na presença e ausência de TiO2 foram equiparáveis. O tratamento

fotoeletroquímico foi realizado utilizando uma lâmpada de vapor de mercúrio de alta

pressão de 125 W como fonte de radiação e um eletrodo de composição nominal

Ti/Ru0,30Ti0,70O2 como ânodo. O efeito dos íons sulfato e cloreto sob a eficiência do

processo fotoeletroquímico foi avaliado. Os resultados obtidos com o processo

eletroquímico na presença de cloreto foram melhores do que aqueles obtidos com o

processo fotoeletroquímico na presença de sulfato. Além disso, os resultados alcançados

com o processo fotoeletroquímico na presença de NaCl foram melhores do que os

alcançados com os processos eletroquímico e fotoquímico aplicados separadamente.

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Abstract

In this work the degradation of tannery wastewaters using electrochemical,

photocatalytic and photoelectrochemical processes was studied. Wastewaters collected in an

industry and solutions prepared in the laboratory, which simulated real wastewaters, were

used in these studies. Effects of the anodic material, current density, presence of sulfate and

chloride ions, chloride concentration, and pH on the electrochemical process were

evaluated. Different compositions of DSA®-type electrodes, SnO2-Sb2O5 and BDD were

employed as anode. The electrochemical oxidation of acid black 210 dye in phosphate

buffer solutions was also studied using the BDD electrode. The electrochemical degradation

of tannery wastewaters was able to promote the decrease in the concentration of total

phenols, TOC, COD, absorbance in the UV-Vis region, and toxicity for Daphnia similis.

However, the higher the chloride concentration in the wastewater, the lower the toxicity

reduction because of the higher AOX concentration. The presence of Na2SO4 made the

oxidation of organic compounds in the wastewater more difficult. In the absence of

chloride, the best results were obtained when BDD was used as anode, and these results

were not affected by the pH. However, the best results for the electrochemical degradation

of acid black 210 dye were reached in alkaline solution containing phosphate ions, which is

probably due to the formation of oxidizing species from these ions.

The photocatalytic treatment of the tannery wastewater was performed with TiO2

P25 Degussa supported on the photoreactor walls. Two 15 W-lamps, a black light lamp and

a germicide lamp, were used to evaluate the effect of the radiation source. The black light

lamp did not change the wastewater characteristics, while the results obtained with the

germicide lamp in the presence and absence of TiO2 were similar. The

photoelectrochemical process was performed using a 125 W high-pressure mercury vapor

lamp as radiation source and an electrode of nominal composition Ti/Ru0.30Ti0.70O2 as

anode. Effects of sulfate and chloride ions on the efficiency of the photoelectrochemical

process were evaluated. The results obtained with the electrochemical process in the

presence of chloride were better than those obtained with the photoelectrochemical process

in the presence of sulfate. Moreover, the results obtained with the photoelectrochemical

process in the presence of chloride were better than those obtained with the electrochemical

and photochemical processes applied separately.

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Capítulo I: Introdução Geral

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Capítulo I

2

I.1 - O processo de curtimento das peles

I.1.1 - A estrutura da pele animal

A pele animal é utilizada como matéria prima na produção de artigos de couro.

Ela é vital para a sobrevivência do animal porque atua como um cobertor térmico

resistente e protetor. Sua estrutura física é responsável por suas propriedades. Em geral,

as peles dos mamíferos são compostas por uma camada central fibrosa e densa que

recebe o nome de derme, uma estreita camada externa constituída por pêlos expostos,

denominada epiderme e uma camada interna gordurosa e afrouxada que se encontra

fixada por músculos subjacentes, chamada de hipoderme ou tecido subcutâneo 1,2. Na

Figura 1.1 é apresentada a estrutura da pele animal.

Figura 1.1: Estrutura da pele animal 2.

A epiderme é constituída por camadas sobrepostas. As camadas superiores são

ricas em queratina e são constituídas por células mais velhas. As camadas mais

próximas da derme possuem células cheias de vitalidade que vão sendo empurradas em

direção às camadas superiores à medida que vão envelhecendo. Além dessas camadas, o

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Capítulo I

3

sistema epidérmico é constituído por pêlos, glândulas sebáceas e glândulas

sudoríparas 1,2,3.

A derme é a parte mais importante para o processo de curtimento, pois é ela que

será transformada em couro. Ela é composta por duas camadas com estruturas distintas.

A porção superior é a camada granular, também conhecida como flor, que é penetrada

por glândulas sebáceas e sudoríparas e também por folículos pilosos. Cada folículo

piloso encontra-se associado à região epidérmica adjacente e a uma glândula sebácea,

uma glândula sudorípara e a um músculo eretor. A camada inferior da derme é

denominada camada reticular. Essa camada apresenta uma estrutura mais simples do

que a camada granular e é composta, na maioria das vezes, por pacotes espessos de

fibras de colágeno 1,2,3.

A hipoderme é constituída por tecidos adiposos e conectivos amarelos, vasos

sanguíneos, nervos e músculos. Na linguagem dos curtidores ela é chamada de carne.

Para a produção do couro, tanto a epiderme quanto a hipoderme necessitam ser

removidas 3.

A principal proteína constituinte da pele é o colágeno. A família dessa proteína

inclui mais de vinte tipos de colágenos. Essa proteína encontra-se organizada em fibras

insolúveis de grande resistência. Uma fibra de colágeno consiste de uma tripla hélice,

chamada de tropocolágeno, com três cadeias polipeptídicas (referidas como cadeias α)

torcidas sobre si mesmas, como uma corda trançada (Figura 1.2) 4,5,6. Cada uma das três

cadeias possui uma sequência repetida de três aminoácidos, X-Pro-Gly ou X-Hypro-

Gly, onde a primeira posição, designada por X, pode ser ocupada por qualquer

aminoácido. Prolina e hidroxiprolina também ocupam a posição X com grande

frequência. A hidroxiprolina é formada a partir da prolina após os polipeptídios do

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Capítulo I

4

colágeno terem sido sintetizados. A hidroxilação é catalisada por uma enzima

específica, a prolil-hidroxilase. A reação de hidroxilação é ativada por Fe2+ e necessita

de oxigênio molecular, α-cetoglutarato e ácido ascórbico. A presença de hidroxiprolina

no colágeno é importante, pois é ela que dá estabilidade à estrutura da proteína. Na

seqüência de aminoácidos do colágeno, cada terceira posição encontra-se ocupada pela

glicina. Isso é necessário porque, em cada uma das cadeias da tripla hélice, todos os

terceiros resíduos encontram-se no interior da hélice e somente a glicina é pequena o

suficiente para acomodar-se no espaço disponível 4,7,8.

Cadeias α TropocolágenoCadeias α Tropocolágeno

CH3NCOO

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Glicina Gly

CCOO

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H

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1 2 345

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Figura 1.2: A molécula de tropocolágeno e a estrutura dos principais aminoácidos que

a compõe 7.

As três cadeias individuais do colágeno são hélices. Cada cadeia está torcida em

volta das demais em um arranjo super-helicoidal, formando um bastão rígido. O

tropocolágeno possui peso molecular de aproximadamente 300000 daltons, 300 nm de

comprimento e 1,5 nm de diâmetro. As três cadeias α são mantidas unidas por ligações

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Capítulo I

5

de hidrogênio envolvendo principalmente os resíduos de hidroxiprolina. Cada fita do

colágeno contém cerca de 800 resíduos de aminoácidos 6.

Além das ligações de hidrogênio entre os resíduos de hidroxiprolina, as fibras do

colágeno são estabilizadas por ligações cruzadas intra e intermoleculares. As ligações

cruzadas intramoleculares ocorrem entre resíduos de lisina na região N-terminal de uma

molécula de tropocolágeno. As ligações cruzadas intermoleculares ocorrem entre a

região N-terminal de um tropocolágeno e a região C-terminal de um tropocolágeno

adjacente e envolvem a formação do íon hidroxipiridínio a partir de um resíduo de lisina

e dois resíduos de hidroxilisina 7. A quantidade de ligações cruzadas em um tecido

aumenta com a idade e é por isso que a carne dos animais mais velhos é mais dura do

que a dos mais jovens 6.

Outras proteínas estão presentes na pele nativa, tais como a queratina e a elastina

(proteínas fibrosas) e a albumina e a globulina (proteínas globulares), mas estas são

removidas durante os primeiros estágios de processamento do couro, juntamente com

outros compostos como glicosaminoglicanas (polímeros lineares compostos de unidades

de dissacarídeos repetidos), proteoglicanas (macromoléculas da superfície celular ou

matriz extracelular na qual uma ou mais cadeias glicosaminoglicanas estão ligadas

covalentemente a uma proteína de membrana ou a uma proteína secretada) e

triacilgliceróis 4,7,9.

I.1.2 - O processo de curtimento das peles

O curtimento das peles animais tem a finalidade de transformá-las em um

produto inalterável e imputrescível 4. De forma geral, couro é a pele animal que passou

por processos de limpeza, estabilização e acabamento, para a confecção de calçados,

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Capítulo I

6

peças de vestuário, revestimento de mobília e de estofamentos de automóveis, bem

como de outros artigos 10.

O processo de transformação das peles em couros é normalmente dividido em

três etapas principais, conhecidas por ribeira, curtimento e acabamento 10,11. Esse último,

por sua vez, é usualmente dividido em acabamento molhado, pré-acabamento e

acabamento final 10. Na Figura 1.3 é apresentado um fluxograma contendo todas as

etapas envolvidas na fabricação do couro e os principais estágios de geração de

resíduos.

Em função da realização parcial ou total das etapas envolvidas no processo de

curtimento, os curtumes são normalmente classificados em 10:

• Curtume integrado: capaz de realizar todas as operações apresentadas na Figura 3,

desde o couro cru (pele fresca ou salgada) até o couro totalmente acabado.

• Curtume de wet-blue a: processa desde o couro cru até o curtimento ao cromo ou até

o enxugamento.

• Curtume de semi-acabamento: utiliza o couro wet-blue como matéria-prima e o

transforma em couro semi-acabado, também chamado de crust. Sua operação

compreende as etapas desde o enxugamento ou rebaixamento até o engraxe,

cavaletes ou estiramento.

• Curtume de acabamento: transforma o couro crust em couro acabado. Realiza as

operações que vão desde cavaletes, estiramento ou secagem até a etapa de estoque e

expedição. Os curtumes que processam o couro wet-blue até o acabamento final

também são incluídos nessa categoria. Figura 1.3

a Wet-blue é o nome dado ao couro após o curtimento ao cromo devido ao seu aspecto úmido e azulado.

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Capítulo I

7

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Capítulo I

8

I.1.3 - Conservação e armazenamento das peles

A qualidade do couro depende de uma série de fatores, dentre os quais podem

ser destacados os cuidados que se iniciam durante a criação dos rebanhos, como o

controle de parasitas e formas adequadas de identificação, condução, confinamento e

transporte dos animais. A partir do abate desses animais, deve-se evitar que suas peles

sejam degradadas por microorganismos para que seu processamento seja eficiente e

sejam obtidos couros de boa qualidade. Isso se consegue por meio do manuseio,

conservação e armazenamento adequados das peles 10,12.

Quando o período de tempo decorrido entre o abate e o início do curtimento é

curto – entre 6 e 12 horas, dependendo da temperatura – as peles podem aguardar sem

nenhum pré-tratamento. Ao contrário, quando as peles necessitam ser estocadas por um

tempo maior e/ou transportadas, principalmente em temperaturas altas, elas devem

passar por um pré-tratamento para serem conservadas. Esse processo de conservação

das peles é conhecido como cura. Em geral, a cura é realizada empilhando-se as peles e

intercalando camadas de NaCl entre elas. Em alguns casos, as peles podem ser imersas

em salmoura antes de serem empilhadas em camadas. A cura pode ser realizada nos

frigoríficos, por meio de intermediários (salgadores de peles) ou, ainda, nos próprios

curtumes. Após a cura, as peles podem ser armazenadas por meses até que sejam

processadas 3,10.

A pele fresca contém aproximadamente 62% de água e a pele após a cura,

aproximadamente 40%. A cura se mostra mais efetiva contra o ataque bacteriano

quando há remoção do sangue e das proteínas solúveis das peles antes destas serem

submetidas ao tratamento com NaCl. Em geral, quanto maior a quantidade de proteína

solúvel, maior é a quantidade de NaCl necessária para prevenir a ação bacteriana 5. A

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Capítulo I

9

conservação das peles também pode ser realizada por resfriamento ou secagem, mas

estes processos são menos utilizados 2,10.

As peles salgadas apresentam boa resistência aos microorganismos, porém o sal

as desidrata. Além do sal, alguns fornecedores de couros usam inseticidas e/ou biocidas

para auxiliarem na conservação das peles durante o seu estoque e transporte 9,10.

I.1.4 - A ribeira

A ribeira é uma etapa do processo de curtimento que tem como objetivo limpar e

eliminar as substâncias e as partes da pele que não irão compor o couro. Além disso,

essa etapa prepara a matriz do colágeno para reagir adequadamente com as substâncias

químicas das etapas seguintes 10.

Normalmente, os tratamentos químicos das peles, os quais são denominados

banhos, bem como algumas etapas intermediárias de lavagem são realizados em

equipamentos chamados fulões (Figura 1.4). Os fulões são cilindros horizontais

fechados, frequentemente de madeira, dotados de dispositivos para rotação em torno de

seu eixo horizontal. Eles possuem uma porta na superfície lateral para carga e descarga

das peles e para a adição de produtos químicos. Na ribeira, as etapas realizadas nos

fulões são: pré-remolho, remolho, depilação/caleiro, descalcinação/purga, píquel e

lavagens. As outras etapas da ribeira são realizadas manualmente com o auxílio de

máquinas específicas e têm como objetivo remover as impurezas aderidas à superfície

interna das peles, como gorduras, carne e apêndices (pré-descarne e descarne), bem

como ajustar as extremidades das peles (recortes) 2,10. Na Figura 1.3 são apresentados os

processos que constituem a etapa de ribeira. A seguir serão descritos cada um desses

processos. (b) (c)

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Capítulo I

10

(B) (C)(A) (B) (C)(B)(B) (C)(C)(A)

Figura 1.4: (A) Representação de um fulão2. (B) Introdução das peles nos fulões para

que sejam processadas 10. (C) Bateria de fulões e operários manuseando lotes de couros recém-saídos da etapa de processamento 10.

Pré-remolho: consiste na lavagem das peles com água com o objetivo de retirar o sal e

promover a hidratação parcial das mesmas 12.

Pré-descarne: tem por finalidade retirar os restos de gordura, carne e fibras deixados

pelo frigorífico. O resíduo produzido nessa etapa pode ser utilizado como matéria prima

para a produção de sebo 12.

Remolho: tem como objetivo devolver às peles o teor de água que tinham quando ainda

revestiam o corpo do animal. Nessa etapa, a eliminação de impurezas, proteínas e

materiais interfibrilares resulta em um couro mais maleável para ser direcionado para os

estágios seguintes 11,12.

O remolho geralmente compreende duas etapas. A primeira etapa consiste na

lavagem das peles com água por aproximadamente 1 h para remover todo lodo e sal. A

segunda etapa emprega um banho contendo bactericidas, tensoativos, hidróxido de

sódio, enzimas proteolíticas e agentes umectantes e tem como objetivo reidratar as

fibras do colágeno. Essa última etapa é limitada a 6 h porque tempos maiores podem

deteriorar as peles e afrouxar os pêlos 2.

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Capítulo I

11

Depilação e caleiro: Como mencionado anteriormente, somente a derme será

convertida em couro. Por esse motivo, os pêlos e a epiderme precisam ser separados da

derme. Para isso faz-se uso da diferença de reatividade entre a queratina (principal

proteína da epiderme) e o colágeno (principal proteína da derme) frente a soluções

ácidas e alcalinas. Em soluções alcalinas, a queratina hidrolisa mais rapidamente do que

o colágeno enquanto que, em soluções ácidas, comportamento contrário é observado.

Sulfeto reage com a queratina originando um produto que hidrolisa mais rápido em

solução alcalina do que a própria queratina. Por esse motivo, é dito que a adição de

pequena quantidade de um sal de sulfeto solúvel acelera a hidrólise da queratina 5.

A queratina é constituída principalmente pelo aminoácido cisteína 2,5. Resíduos

de cisteína são facilmente oxidados para formar um aminoácido dimérico chamado

cistina (Figura 1.5), no qual dois resíduos de cisteína encontram-se unidos por uma

ligação dissulfeto. Essas ligações estabilizam a estrutura da queratina e de muitas outras

proteínas e podem ser reduzidas pelo sulfeto (Figura 1.5) 13.

Vários são os sistemas de depilação e caleiro utilizados. O sistema mais comum

é o que emprega cal hidratada (hidróxido de cálcio hidratado) combinada com um sal de

sulfeto solúvel, o qual recebe o nome de cal-sulfeto 12. O sal mais utilizado como agente

de depilação é o Na2S, mas outros sais de sulfeto solúveis, como o NaHS, bem como

sulfetos orgânicos também podem ser utilizados. A adição de sulfato de dimetilamônio

ao banho de cal pode tornar o processo de depilação mais efetivo. Entretanto, seu uso

tem sido descontínuo porque nitrosamina, uma substância carcinogênica, pode ser

formada no processo 2. Ao final da depilação e caleiro, o pêlo liberado durante o

processo é separado das águas residuais por filtração e pode ser aproveitado como

adubo agrícola. O tempo de permanência das peles nos banhos de cal e sulfeto não pode

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Capítulo I

12

ser muito longo porque isso acarretaria na dissolução do pêlo, o que impossibilitaria sua

separação por filtração 3.

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_

Reação 1 Reação 2

Figura 1.5: Reação 1 − Formação reversível de uma ligação dissulfeto pela oxidação de dois resíduos de cisteína. Reação 2 − Redução da cistina por sulfetos inorgânicos ou orgânicos.

Descarne, recorte e divisão: Além da epiderme, a hipoderme (carne) também deve ser

removida para a confecção do couro. Assim, o processo de descarne tem como objetivo

eliminar os materiais aderidos ao tecido subcutâneo e adiposo para facilitar a penetração

dos produtos químicos que serão aplicados nas etapas posteriores. Esse processo é

realizado por uma máquina de descarnar. Em seguida, a pele obtida sofre recortes com o

objetivo de aparar e remover apêndices. Posteriormente, ela é dividida em duas partes

pela máquina de divisão: a camada superficial (camada granular da derme - flor) e a

camada inferior (camada reticular da derme - crosta ou raspa). O resíduo gerado nessa

etapa é chamado de lodo de carnaça 3,12.

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Capítulo I

13

Descalcinação e purga: A cal utilizada no processo anterior (depilação e caleiro) e

outras substâncias alcalinas devem ser removidas das peles para que estas possam ser

curtidas posteriormente 11. Na etapa de descalcinação, também conhecida como

desencalagem, são utilizadas substâncias que reagem com a cal originando produtos

solúveis que são facilmente removidos pela lavagem com água. Dessa forma consegue-

se impedir o intumescimento (inchaço) da pele desprovida de pêlo. Os reagentes

comumente utilizados nesse processo são sais amoniacais como cloreto e sulfato de

amônio e sais ácidos como o bissulfito de sódio 3.

A purga tem como objetivo limpar a estrutura fibrosa da pele por meio da ação

de enzimas proteolíticas, originando a uma pele mais fina e sedosa 3,12. Uma pele

purgada é mais permeável ao ar e à água do que uma que não foi submetida à purga.

Peles não purgadas apresentam tato áspero, o que favorece a intensificação de certos

defeitos nas operações complementares 3.

Píquel: Tem como objetivo preparar as fibras do colágeno para uma fácil penetração

dos produtos químicos que serão utilizados no curtimento. Nessa etapa ocorrem a

complementação da descalcinação, a desidratação das peles e a interrupção da atividade

enzimática 3,11,12. A operação de piquelagem é muito importante para a etapa que a

sucede, o curtimento. Uma pele não piquelada apresenta pH elevado e é capaz de

conferir aos agentes curtentes minerais uma basicidade elevada. Isso pode provocar o

sobrecurtimento das camadas externas da pele e impedir a difusão do curtente para suas

camadas mais internas, o que resultaria na contração da flor e na precipitação do agente

mineral curtente hidrolisado sobre a mesma 3. Os produtos químicos mais utilizados no

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Capítulo I

14

píquel são: cloreto de sódio, ácido sulfúrico e ácido fórmico. Sais de alumínio também

podem ser utilizados 12.

I.1.5 – O curtimento

O curtimento é a etapa onde ocorre a transformação das peles pré-tratadas na

ribeira em material estável e imputrescível 10. Nessa etapa ocorre o aumento da

estabilidade de todo o sistema colágeno, diminuindo a capacidade de intumescimento

das peles e as tornando mais resistente à degradação biológica 12. O curtimento pode ser

classificado em dois tipos principais: o curtimento mineral e o curtimento vegetal. No

primeiro, o agente curtente mais conhecido e utilizado é à base de cromo, enquanto que

no segundo, taninos são utilizados como curtentes 1,2,4,11. Esses dois tipos de curtimento

serão descritos a seguir.

Curtimento ao cromo: O curtimento ao cromo geralmente é realizado pela adição da

pele acidificada a uma solução aquosa de sulfato de cromo trivalente com basicidade

compreendida entre 30 e 50%. Soluções curtentes de sais de cromo possuem um grande

número de espécies de Cr(III) que apresentam diferenças quanto ao grau de

polimerização, à carga, ao número de ligantes aqua e hidroxo e à estabilidade do campo

ligante 14. Assim, a afinidade das várias espécies contidas nessas soluções pelos sítios de

ligação do colágeno é diferente, o que resulta em variações na labilidade cinética dessas

espécies. Uma solução de sulfato de cromo com basicidade de 33% apresenta em sua

composição aproximadamente dez complexos. As estruturas de seis dessas espécies são

apresentadas na Figura 1.6 1.

Cr(III) possui uma notável capacidade para formar complexos 2. A reação entre o

colágeno e os complexos de cromo envolve a ligação destes aos grupos carboxilatos das

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Capítulo I

15

cadeias laterais do colágeno 1,2. O grupo carboxilato pode substituir uma molécula de

água do complexo [Cr(H2O)6]3+ para formar ligações monodentadas ou formar ligações

coordenadas bidentadas com complexos binucleares (Figura 1.7). Ligações cruzadas

também podem ser formadas por dois mecanismos: pela entrada direta de dois íons

carboxilatos no mesmo complexo de cromo ou por olação, a qual envolve a formação de

uma ligação entre dois complexos com a concomitante eliminação de uma molécula

água (Figura 1.8). A reação de olação é favorecida pelo aumento da alcalinidade da

mistura reacional 1. À medida que as reações de olação avançam e que os complexos

multinucleares são formados, íons H+ são liberados e pontes de oxolação altamente

estáveis são formadas (Figura 1.8).

OH2

Cr

H2O

H2O OH2

OH2H2O

3+ 2+OH2

Cr

H2O

H2O OH

OH2H2OOH-

OH2

Cr

H2O

H2O SO4

OH2H2O

+

SO42-

9%10%

OH2

Cr

H2O

O3SO O

OH2O

H

H

OH2

Cr

H2O

OSO3

OH2

0

SO42-

11% 5%

OH-

4+OH2

Cr

H2O

OH2

OH2

OH2

Cr

H2O

H2O O

OH2O

H

H

2+

OO

OH2

Cr

O

H2O O

OH2O

H

HS

O

OH2

CrOH2

OH2

-SO42-

32%

OH2

Cr

H2O

H2O OOH2O

H

H

n = 1, 2, ...

20%

OH2

Cr OO

H

HH

H

O

O

H2O

Cr

OH2

H2O

Figura 1.6: Composição de uma solução de sulfato de cromo típica de curtimento,

0,4 mol L−1 em Cr3+ com basicidade de 33% 1.

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Capítulo I

16

P

CO O-

3+OH2

Cr

H2O

H2O OH2

OH2H2O+

CO O

P

OH2

Cr

H2O

OH2

OH2H2O

2+

+ H2O

CO O-

P+

OH2

OH2Cr

OH2 2+

SH

H2O OOH2O

O

Cr

OH2

O O

O

H SH

H2O OO

O

Cr

OH2

O O

O

H

+

OH2

OH2Cr

OH2

P

CO O

SH

H2O OOH2O

O

Cr

O

O O

O

HC

+

OH2

OH2Cr

O

P

P

CO O-

3+OH2

Cr

H2O

H2O OH2

OH2H2O+

CO O

P

OH2

Cr

H2O

OH2

OH2H2O

2+

+ H2O

CO O-

P+

OH2

OH2Cr

OH2 2+

SH

H2O OOH2O

O

Cr

OH2

O O

O

H SH

H2O OO

O

Cr

OH2

O O

O

H

+

OH2

OH2Cr

OH2

P

CO O

SH

H2O OOH2O

O

Cr

O

O O

O

HC

+

OH2

OH2Cr

O

P

Figura 1.7: Possíveis reações de complexação entre duas espécies de Cr(III) e os

grupos carboxilatos da proteína colágeno (P) 1.

P 3+

P

CO

+

C OO

CrOHHO

Cr

O -

P

CO

CrOH

O

P P

CO

Cr

O

P

Cr

OH

C OO

P

P

Olação OxolaçãoComplexação

- H2O - HCr

OH

HO

OC

Cr

O

Cr

OC O

OOC

Figura 1.8: Formação de ligações cruzadas a partir de complexos de cromo

(P = proteína colágeno) 1.

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Capítulo I

17

As velocidades de penetração dos complexos de Cr(III) no colágeno e da reação

entre eles são dependentes do pH. Por esse motivo, o processo de curtimento é iniciado

em uma condição de pH que favorece a penetração do cromo no colágeno (pH 2,5 - 3,0)

e finalizado em um pH que favorece a reação entre eles (pH 3,5 - 4,0) 4.

O curtimento ao cromo é realizado principalmente com sulfatos de cromo (III).

Caso seja necessário modificar as propriedades do Cr(III), agentes complexantes, como

o formato, podem ser utilizados. Nesse caso, a razão entre as concentrações de Cr(III) e

de ligante dependerá do efeito que se deseja obter 4. O aumento na concentração de

ligantes carboxilados faz com que os complexos catiônicos de cromo se tornem

aniônicos e com que as moléculas de água coordenadas ao metal sejam expelidas 2. A

redução da carga catiônica torna as espécies de Cr(III) menos reativas e acentua sua

velocidade de penetração no colágeno. Além disso, a complexação pode estender a

solubilidade do cromo para valores de pH em que ele precipitaria se não estivesse

complexado 4.

À medida que a solução torna-se mais alcalina, alguns aqua ligantes dos

complexos de Cr(III) são convertidos a hidroxo ligantes, os quais podem se ligar a

outros complexos por meio de pontes hidroxilas. A elevada estabilidade das pontes

hidroxilas e a forte ligação entre o cromo e ligantes carboxilados, a qual faz com que os

complexos de cromo sejam resistentes à dissociação, são as principais responsáveis pela

excelente ação curtente do cromo em comparação a outros curtentes minerais como o

alumínio, ferro, titânio e zircônio 2. Ao final do curtimento ao cromo, obtém-se o couro

semi-acabado wet blue 11.

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Capítulo I

18

Curtimento com taninos: Taninos são metabólitos secundários de natureza

polifenólica extraídos de plantas 15. Eles são solúveis em água, apresentam peso

molecular compreendido entre 500 e 3000 daltons e são capazes de formar complexos

insolúveis com proteínas, gelatinas e alcalóides 16. Eles são responsáveis pelo típico

odor do couro e, em solução, muitos deles sedimentam sob repouso 2. Eles são divididos

em dois grupos: os taninos hidrolisáveis e os taninos condensados 1,2,4,15.

Os taninos hidrolisáveis são derivados do pirogalol. Eles são ésteres do ácido

gálico ou dímeros deste com monossacarídeos, principalmente com a glicose. São

divididos em galotaninos e elagitaninos. Quando hidrolisam, galotaninos produzem

ácido gálico e elagitaninos produzem ácido elágico (Figura 1.9) 1,2,4,15.

OG

H

OGH

O

HH

H

OGGO

GO

Galotanino

HO

O

OH

OH

OH

O

HH

H

OHHO

HOH

OH

H

OH

+

Glicose Ácido Gálico

O

HH

H

OGGO

GOH

OG

H

GO

Elagitanino

O

HH

H

OHHO

HOH

OH

H

OH

+

Glicose

OHHO

HO

O OH

OHHO

OH

OHO

Ácido Hexaidroxidifênico

O

O

O

OH

OH

HO

HO

Ácido Elágico

O

OH

OH

OH

G =

OG

H

OGH

O

HH

H

OGGO

GO

Galotanino

HO

O

OH

OH

OH

O

HH

H

OHHO

HOH

OH

H

OH

+

Glicose Ácido Gálico

O

HH

H

OGGO

GOH

OG

H

GO

Elagitanino

O

HH

H

OHHO

HOH

OH

H

OH

+

Glicose

OHHO

HO

O OH

OHHO

OH

OHO

Ácido Hexaidroxidifênico

O

O

O

OH

OH

HO

HO

Ácido Elágico

O

OH

OH

OH

G =

OG

H

OGH

O

HH

H

OGGO

GO

Galotanino

HO

O

OH

OH

OH

O

HH

H

OHHO

HOH

OH

H

OH

+

Glicose

O

HH

H

OHHO

HOH

OH

H

OH

+

Glicose Ácido Gálico

O

HH

H

OGGO

GOH

OG

H

GO

Elagitanino

O

HH

H

OHHO

HOH

OH

H

OH

+

Glicose

O

HH

H

OHHO

HOH

OH

H

OH

+

Glicose

OHHO

HO

O OH

OHHO

OH

OHO

Ácido Hexaidroxidifênico

O

O

O

OH

OH

HO

HO

Ácido ElágicoO

O

O

OH

OH

HO

HO

Ácido Elágico

O

OH

OH

OH

G =

Figura 1.9: Taninos hidrolisáveis.

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Capítulo I

19

Taninos condensados constituem a segunda fonte de polifenóis do reino vegetal,

perdendo apenas para a lignina. Aproximadamente a metade da matéria seca da casca de

muitas árvores é constituída por esses taninos. Além de serem antioxidantes potentes,

possuem larga aplicação na complexação com proteínas, sendo, por isso, muito

empregados pelos curtumes 15. A estrutura dos taninos condensados é baseada no

sistema de anel flavonóide mostrado na Figura 1.10. O anel A contém pelo menos um

substituinte hidroxo e o anel C confere a ele próprio e ao anel A, reatividade para a

formação de ligações carbono-carbono com grupos substituintes. O anel B não exibe a

mesma reatividade que os anéis A e C. Os taninos condensados também são chamados

de taninos catecóis porque o anel B frequentemente contém dois substituintes hidroxo

na posição orto 4.

O

BA C

Figura 1.10: Sistema de anel flavonóide no qual os taninos condensados são baseados4.

Os taninos condensados não hidrolisam, ao invés disso, quando em solução,

formam produtos resultantes de reações de condensação, podendo originar pequenas

partículas insolúveis. Eles tornam-se vermelhos quando expostos à luz, provavelmente

devido a sua oxidação à benzoquinona. Na Figura 1.11 são apresentadas a estrutura

generalizada dos taninos condensados e as unidades monoméricas de dois destes

taninos 2,4.

Os taninos se ligam ao colágeno principalmente por meio de ligações de

hidrogênio (Figura 1.12), mas interações eletrostáticas também podem ocorrer entre

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Capítulo I

20

eles. Os taninos penetram nas fibras de colágeno mais lentamente do que os agentes

curtentes de cromo 2,4. Ao final do curtimento com taninos, obtém-se o couro semi-

acabado chamado de atanado b.

OHO

R

ROH

OH

OH

OHO

R

ROH

OH

OH

O R

OH

OH

OHHO

R

OHO

R

ROH

OH

OH

n

OHO

ROH

OH

OH

Mimosa

OHO

OH

OH

OH

Quebracho

R = H, procianidina

R = OH, prodelfinidina

OHO

R

ROH

OH

OH

OHO

R

ROH

OH

OH

O R

OH

OH

OHHO

R

OHO

R

ROH

OH

OH

n

OHO

ROH

OH

OH

Mimosa

OHO

OH

OH

OH

Quebracho

R = H, procianidina

R = OH, prodelfinidina

OHO

R

ROH

OH

OH

OHO

R

ROH

OH

OH

O R

OH

OH

OHHO

R

OHO

R

ROH

OH

OH

n

OHO

ROH

OH

OH

Mimosa

OHO

ROH

OH

OH

Mimosa

OHO

OH

OH

OH

Quebracho

OHO

OH

OH

OH

Quebracho

R = H, procianidina

R = OH, prodelfinidina

Figura 1.11: À esquerda, estrutura generalizada de dois taninos condensados, a

procianidina e a prodelfinidina. À direita, unidades monoméricas dos taninos mimosa e quebracho 4.

OOH

H

OO

OHH

H

OOOO

R4HR3HR2HRHCHCNCHCNCHCNCHCN

HO

O OH H

δ+ δ+ δ+ δ+δ- δ- δ- δ-

OOH

H

OO

OHH

H

OOOO

R4HR3HR2HRHCHCNCHCNCHCNCHCN

HO

O OH H

δ+ δ+ δ+ δ+δ- δ- δ- δ-

OOH

H

OO

OHH

H

OOOO

R4HR3HR2HRHCHCNCHCNCHCNCHCN

HO

O OH H

δ+ δ+ δ+ δ+δ- δ- δ- δ-

Figura 1.12: Representação das ligações de hidrogênio entre as substâncias

polifenólicas e o colágeno.

b Atanado é o nome dado ao couro após o curtimento com taninos vegetais.

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Capítulo I

21

I.1.6 - O acabamento

Como mencionado anteriormente e apresentado na Figura 1.3, o acabamento

pode ser divido em: acabamento molhado, pré-acabamento e acabamento final. A seguir

serão descritas cada uma dessas etapas.

I.1.6.1 - O acabamento molhado

O acabamento molhado ou pós-curtimento compreende as etapas desde o

descanso/enxugamento até o engraxe dos couros. Essas etapas visam complementar o

curtimento principal realizado anteriormente, conferindo ao couro algumas propriedades

físicas e mecânicas desejáveis, como cor, resistência à tração, impermeabilidade,

maciez, flexibilidade, toque e elasticidade 10.

Descanso, enxugamento, rebaixamento e recorte são operações físicas, enquanto

que as demais consistem de banhos químicos realizados nos fulões 10. A seguir serão

descritas as principais etapas químicas constituintes do acabamento molhado.

Neutralização: O cromo ainda é o agente curtente mais utilizado pelos curtumes, o que

se deve não somente a sua superioridade em relação a outros curtentes minerais, mas

também à menor quantidade de reagente necessária parar curtir as peles com relação ao

processo de curtimento vegetal 2,3. Ao final do processo de curtimento ao cromo, o pH

do couro wet blue situa-se abaixo do ponto isoelétrico do colágeno, o qual é 5,4 após o

processo de calagem, o que faz com que sua estrutura esteja na forma catiônica. A

neutralização, a qual é realizada com sais alcalinos, tem como objetivo promover a

redução da carga superficial do colágeno pelo aumento do pH do couro wet blue até um

valor próximo do ponto isoelétrico do colágeno. Isso é importante porque a maioria dos

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Capítulo I

22

corantes utilizados no tingimento do couro possui estrutura aniônica. Se o couro estiver

na sua forma catiônica, o corante aniônico precipitará rapidamente sobre a sua

superfície e ficará retido nas camadas superficiais. Assim, a neutralização retarda a

interação entre o colágeno e o corante aniônico, permitindo uma maior penetração deste

último no couro wet blue 1,3.

Recurtimento: O recurtimento é o tratamento do couro wet blue com uma ou mais

substâncias, com o objetivo de conferir a ele propriedades que não foram atingidas

somente com o curtimento. Assim, o recurtimento torna a estrutura do couro mais

uniforme 2,3. Nessa etapa são empregados sais de cromo, taninos naturais e/ou sintéticos,

tensoativos, dispersantes, corantes, óleos, resinas acrílicas, sais de alumínio e ácidos

orgânicos 11. Geralmente, as etapas de recurtimento, tingimento e engraxe são realizadas

sucessivamente no mesmo fulão e, por esse motivo, alguns autores não fazem distinção

entre os termos acabamento molhado e recurtimento 1,2.

A etapa de recurtimento também afeta a carga superficial do couro. Muitos dos

sintans c empregados nessa etapa são sais de naftalenossulfonatos ou de outros

sulfonatos orgânicos. Devido a sua natureza aniônica, eles ocupam muitos dos sítios

catiônicos do couro modificando, dessa forma, sua carga líquida e afetando a penetração

do corante 1.

Tingimento: A fixação do corante ocorre principalmente na superfície do couro e é

controlada pela natureza iônica deste e pelo teor de cromo que ele apresenta. Além

c Sintans são polímeros de baixo peso molecular, resultantes da condensação de fenóis com formaldeído.

Eles geralmente são sulfonados para aumentar a solubilidade em água.

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Capítulo I

23

disso, a natureza do corante e a acidez e a temperatura da solução também influenciam a

absorção e a impregnação dos corantes no couro. Grande parte dos couros produzidos

atualmente são tingidos com corantes sintéticos solúveis em água 2. Os curtidores

dividem os corantes em três classes: corantes ácidos, básicos e diretos. Os corantes

ácidos reagem com o colágeno em pH menor do que 5, enquanto que, os corantes

básicos reagem em pH maior do que 5. Esse comportamento está de acordo com a

natureza anfotérica do colágeno, que atua como base em pH menor do que 5 e como

ácido em pH maior do que 5. Os corantes diretos são ácidos ou sais extremamente

fracos. Por esse motivo, o poder de dissociação deles é muito baixo, o que dificulta sua

interação com o couro curtido com taninos. Por outro lado, o couro curtido ao cromo é

capaz de absorver rapidamente os corantes diretos da solução, mas, por causa disso,

pequenas quantidades desses corantes penetram no couro e a sua fixação acaba

ocorrendo exclusivamente na superfície 5. Na Figura 1.13 é apresentada a estrutura de

um corante ácido bastante utilizado pelos curtumes.

.

Figura 1.13: Estrutura química do corante preto ácido 210 (Color Index no. 300825 e CAS no. 99576-15-5)

Os corantes mais utilizados na indústria do couro são os aniônicos. A velocidade

e a força de fixação desses corantes no couro vão depender fortemente da carga

catiônica do colágeno. Auxiliares de tingimento aniônicos, como os sintans, protegem a

carga catiônica da superfície do couro porque competem por elas com os corantes

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Capítulo I

24

aniônicos. Detergentes não iônicos e emulsões de óleo aniônico em água favorecem a

penetração dos corantes no couro e reduzem a sua concentração na superfície 2.

O tingimento geralmente é finalizado pela adição de 1 ou 2% de ácido fórmico,

acético ou lático. Nessa etapa o sal do corante é parcialmente convertido à forma ácida,

a qual é menos solúvel do que o sal de origem. O couro tingido é resistente à lavagem, à

limpeza a seco, fricção, migração e luz 2.

Engraxe: Emulsões de óleo em água também são aplicadas ao couro. Sua aplicação

usualmente sucede o processo de tingimento, embora em alguns curtumes a aplicação

dessas emulsões são realizadas simultaneamente a dos corantes 1. Em geral, para

produzir um couro macio e flexível e aumentar sua resistência à tração e à ruptura, óleos

e graxas são incorporados a ele com o objetivo de lubrificar suas fibras 5. Embora a

lubrificação das fibras seja importante, a principal função da emulsão óleo-água é

reduzir a coesão entre as fibras durante o processo de secagem 1. Essas emulsões

geralmente são constituídas por óleo e água na razão 1:3 em volume e são aplicadas a

temperaturas relativamente elevadas (60 oC) 2.

As emulsões óleo-água podem ser aniônicas, não iônicas ou catiônicas. As

primeiras são as mais utilizadas. Quando o couro é colocado em contato com a água, ele

adquire uma carga elétrica positiva em relação à água. Por outro lado, as gotículas de

óleo suspensas em uma emulsão óleo-água possuem uma carga negativa. Quando o

couro e a emulsão óleo-água são colocados em contato, a estrutura do couro carregada

positivamente e as gotículas de óleo carregadas negativamente tendem a se neutralizar e

a emulsão é rompida, não por coalescência das gotículas, mas devido a sua condensação

na superfície das fibras do couro 1,5.

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Capítulo I

25

Nas emulsões óleo-água, as gotículas de óleo não penetram completamente no

couro, mas são acomodadas nas suas camadas mais externas. Quando óleos neutros são

usados, eles tendem a penetrar mais intensamente no couro durante a etapa seguinte de

secagem, substituindo a água perdida por evaporação. Esse tipo de penetração também

ocorre quando, ao invés de uma emulsão óleo-água, óleo ou graxa são aplicados sobre o

couro úmido. Devido à capacidade de penetração dos óleos neutros, é comum a

utilização de misturas de óleos não iônicos com óleos iônicos. Óleos catiônicos também

são usados, embora em menor frequência. Geralmente eles são combinados com os

óleos aniônicos formando emulsificantes neutros os quais penetram mais facilmente no

couro. Tensoativos não iônicos podem ser utilizados para prolongar a estabilidade do

óleo após sua carga aniônica ou catiônica ter sido neutralizada. Resinas e proteínas

também podem ser usadas para essa finalidade 1,5.

Emulsões aniônicas usualmente são preparadas a partir da mistura de óleos

sulfatados e sulfonados com óleos brutos. Emulsões catiônicas geralmente são

constituídas por óleo bruto e misturas de aminas alquiladas de cadeias longas. Os

componentes polares dessas emulsões tendem a se ligar às proteínas provavelmente por

interações íon-dipolo 1.

Acabamento hidrofóbico: Os tensoativos usados nos processos úmidos aumentam a

hidrofilicidade do couro. Isso torna o couro muito sensível à água depois da secagem,

sendo que qualquer gota de água aplicada em sua superfície é imediatamente absorvida.

Para corrigir isso e evitar o umedecimento do couro, ele deve ser tratado com

compostos químicos hidrofóbicos como silicones ou clorofluoropolímeros. Emulsões de

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Capítulo I

26

água em óleo também são empregadas. Para uma proteção permanente, o couro deve

conter de 5 a 10% de agente impermeabilizante 2.

I.1.6.2 - O pré-acabamento e o acabamento final

As operações compreendidas na etapa de pré-acabamento vão desde o cavalete

até a impregnação (Figura 1.3). Todas essas operações são mecânicas, sendo que nessa

última, produtos químicos são aplicados à superfície dos couros, manualmente ou por

meio de máquinas específicas 10. O pré-acabamento tem como objetivo selar a superfície

do couro, tornando-a mais resistente e firme. Ele também diminui os defeitos da

superfície e confere ao couro uma coloração mais uniforme. Graxas, vernizes e outros

produtos são aplicados com essa finalidade. Dispersões poliméricas, em especial

poliacrilatos, são usados para recobrir a superfície do couro e garantir que o material

seja resistente à absorção de líquidos 2.

O acabamento final envolve o conjunto de operações que confere ao couro

apresentação e aspecto definitivo. Ele compreende as operações de acabamento,

prensagem e medição apresentadas na Figura 1.3 10.

I.2 - A indústria brasileira de couro e a geração de efluentes

O setor coureiro brasileiro começou a se desenvolver no início do século XIX

com a chegada de imigrantes alemães e italianos no Rio Grande do Sul. Nessa época, o

processo de curtimento utilizado era o vegetal e a produção do couro era voltada para a

fabricação de artigos de montaria (rédeas e selas) 17. Em 1858, existiam no Brasil 32

curtumes que produziam lombilhos (conjunto para montaria que substituía a sela

comum), rédeas e outras peças de montaria. Calçados (chinelos, tamancos e botas) eram

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Capítulo I

27

produzidos a partir de aparas de couros. Nesse período, a produção do couro ainda era

muito pequena. Somente mais tarde, com o fornecimento público de energia elétrica,

tornou-se possível a produção do couro em maior escala 18.

Com a Guerra do Paraguai (1864-1870) a produção de couro aumentou

significativamente devido à alta demanda de calçados para militares, o que impulsionou

o desenvolvimento dos curtumes e resultou no surgimento das primeiras máquinas de

processamento das peles, dando início ao processo de industrialização. Após a Primeira

Guerra Mundial (1914-1918), couros e calçados começaram a ser exportados, mas a

expansão das exportações ocorreu somente após a Segunda Guerra (1939-1945), devido

ao fornecimento de coturnos para os exércitos brasileiros e venezuelanos. Na década de

80, os curtumes concentravam-se nas regiões Sul e Sudeste do país 17,18.

Atualmente, a indústria brasileira de couro é constituída por aproximadamente

450 curtumes, sendo que aproximadamente 80% deles são considerados de pequeno

porte, ou seja, possuem entre 20 e 99 empregados. As regiões Sul e Sudeste ainda

possuem o maior número de curtumes, o que faz com que a produção brasileira de couro

esteja concentrada nestas regiões (Figura 1.14). Juntas, elas são responsáveis por cerca

de 70% da produção de couro. Os principais estados produtores de couro são Rio

Grande do Sul, São Paulo, Paraná e Minas Gerais, os quais são responsáveis por 23,5%,

23,0%, 12,0% e 10,0% do volume de couro produzido, respectivamente 19.

Apesar de ser o segundo maior produtor de couros do país, atrás apenas do Rio

Grande do Sul, o estado de São Paulo lidera a exportação de couro brasileiro 10,20. Os

dados do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB) mostram que, em 2007, a

indústria brasileira do couro exportou US$ 2,19 bilhões, sendo o estado de São Paulo

responsável por quase US$ 800 milhões, seguido pelo Rio Grande do Sul que responde

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Capítulo I

28

por pouco mais que US$ 500 milhões 20. No estado de São Paulo, Franca é a cidade que

apresenta o maior número de curtumes e também é a maior produtora de calçados do

país, possuindo mais de 1000 indústrias de grande e médio porte, o que lhe rende o

título de capital brasileira do calçado masculino 21. A cidade de Jaú, também no estado

de São Paulo, é considerada a capital do calçado feminino 21.

Figura 1.14: Distribuição dos estabelecimentos curtidores no Brasil por região 19.

A cadeia produtiva do couro (Figura 1.15) começa com o setor da pecuária, o

qual se dedica à criação de gado visando principalmente a produção de leite e de carne.

No Brasil, progressos na criação do rebanho bovino e na qualidade da carne têm sido

alcançados graças ao apoio de algumas instituições de pesquisa (EMBRAPA e a

EMATER) e de universidades. Apesar disso, a higiene do animal ainda é muito precária

porque o pecuarista vê a venda da carne bovina como única fonte de negócio. Desde que

o couro não é considerado nas negociações entre o frigorífico e o pecuarista, este não se

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Capítulo I

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preocupa em preservá-lo como matéria-prima de qualidade para as etapas seguintes da

cadeia de produtividade. Assim, é comum encontrar nas peles animais cicatrizes de

cerca de arame farpado, marca de ferro incandescente na região nobre da pele, furos de

berne ou calcificação provocada por carrapatos, além de ferimentos provocados pelo

transporte inadequado, o que faz com que os curtumes e as indústrias calçadistas tenham

grandes perdas de matéria-prima e de insumos no processamento 18,22.

Figura 1.15: A cadeia produtiva da indústria de couro 20.

Nos frigoríficos as peles são salgadas antes de serem vendidas aos curtumes. No

Brasil, poucos frigoríficos realizam o controle de qualidade dos animais adquiridos e,

por isso, deixam de ter como fornecedores somente os criadores que oferecem animais

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Capítulo I

30

com peso mais uniforme e com couro de melhor qualidade. A mão-de-obra utilizada no

abate e no processamento das peles nos frigoríficos é numerosa, mas de baixa

qualificação. Os prejuízos provocados na qualidade do couro não afetam diretamente os

frigoríficos porque, na maior parte deles, as peles são vendidas sem que haja qualquer

avaliação ou classificação prévia do produto 18. A falta de cuidados com as peles por

parte dos pecuaristas e frigoríficos faz com que apenas 8,6% do couro brasileiro seja de

alta qualidade. Nos EUA esse índice é de 85%. Estima-se que o Brasil perca cerca de

US$ 2 bilhões ao ano nas exportações de couro devido a sua baixa qualidade 20.

Os curtumes processam as peles salgadas total ou parcialmente e abastecem as

empresas nacionais (principalmente as indústrias de calçados) e o mercado externo

(Figura 1.15) 17,18,23. Em 2007, houve um aumento nas exportações dos couros crust e

acabado, os quais responderam por 67% do volume total de couro exportado 20. Embora

a exportação do couro wet blue tenha sofrido uma redução nos últimos anos, o Brasil

continua sendo um dos maiores exportadores mundiais deste produto, o que se deve, em

parte, às rígidas políticas ambientais existentes nos países desenvolvidos. Por esse

motivo, esses países preferem pagar um sobrepreço pelos custos ambientais envolvidos

na produção do couro wet blue, para que eles possam dar continuidade ao processo de

agregação de valor a este produto 23.

No Brasil, aproximadamente 94% de todo couro produzido é curtido ao

cromo 23. Como já apresentado anteriormente, o cromo utilizado nos processos de

curtimento encontra-se no estado de oxidação III. Cr(III) possui menor mobilidade e é

menos tóxico do que o Cr(VI) 24. Apesar disso, existe uma preocupação com o descarte

de Cr(III) no ambiente porque ele pode ser oxidado a Cr(VI) 25. Ao contrário dos

contaminantes orgânicos, os quais podem ser oxidados a CO2 e H2O, os contaminantes

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Capítulo I

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metálicos são indestrutíveis. Assim, os metais potencialmente tóxicos devem ser

separados do efluente e convertidos em formas menos biodisponíveis para que possam

ser estocados com segurança. No caso do cromo, uma vez que ele esteja no estado de

oxidação III, uma das formas mais fáceis de separá-lo do efluente é precipitá-lo como

Cr(OH)3, utilizando carbonato de sódio como agente precipitante.

Figura 1. 16: Produção do couro brasileiro por tipo de curtimento 23.

Os curtumes são considerados um dos maiores geradores de efluentes contendo

contaminantes potencialmente tóxicos para os solos e as águas superficiais e

subterrâneas. A grande variedade de substâncias químicas empregadas no

processamento das peles denuncia a complexidade dos efluentes aquosos gerados por

essas indústrias. Além do cromo, várias outras substâncias orgânicas e inorgânicas

podem estar presentes nos efluentes de curtumes, tais como: taninos naturais e

sintéticos, surfactantes, óleos sulfonados, corantes, biocidas, resinas acrílicas, sulfeto,

cloreto e amônio 26. Efluentes de curtumes apresentam composições bastante variáveis e

dependentes do tipo de curtume, tipo de reagentes empregados e do tipo de pele animal

que está sendo curtida. Na Tabela I.1 são apresentados as principais constituintes dos

efluentes de curtumes, bem como o intervalo de concentração em que eles são

frequentemente encontrados nestes efluentes 27,28. Além dos elevados valores de COD e

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Capítulo I

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BOD, uma característica marcante dos efluentes de curtumes é a presença de alta

concentração de cloreto em sua composição 27,28,29,30. Isso se deve à utilização de NaCl,

o qual é frequentemente usado em quantidade muito maior do que a necessária devido

ao seu baixo valor comercial 22.

Um curtume médio processa aproximadamente 1000 peles por dia. Estima-se

que cada pele consuma em média de 500 a 700 litros de água durante o processo 22.

Assim, ao final do processo de curtimento é gerado um grande volume de efluente

aquoso contendo compostos químicos de alta complexidade e baixa

biodegradabilidade 31,32,33,34,35. Por esse motivo, esse efluente deve ser tratado para que

possa ser reaproveitado no próprio processo de curtimento das peles ou descartado nos

corpos d’água.

Tabela I.1: Composição média de efluentes de curtumes 27,28

Parâmetro Intervalo

COD (mg L−1) 180 – 27000

BOD5 (mg L−1) 210 – 4300

Fenóis totais* (mg L−1) 0,4 – 100

Óleos e gorduras (mg L−1) 49 – 620

Surfactantes aniônicos (mg L−1) 10 – 400

Sólidos suspensos (mg L−1) 925 – 36000

Amônio (mg L−1) 17 – 380

Cromo total (mg L−1) 3 – 350

Cloreto (mg L−1) 1500 – 28000

Sulfato (mg L−1) 1000 – 7000

Sulfeto 1 – 500

pH 1 – 13 * Determinados pelo método de Folin-Ciocalteu

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Capítulo I

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I.3 - Oxidação de contaminantes orgânicos e tratamento de efluentes

Durante décadas, o desenvolvimento de processos químicos industriais ocorreu

baseado somente em aspectos econômicos. Com o passar do tempo, a ocorrência de

acidentes industriais de forte impacto social mostrou que, além de atenderem aos

benefícios econômicos, os processos industriais deveriam respeitar o meio ambiente e a

segurança das pessoas que trabalham nas indústrias e das que vivem próximas a elas 36.

Aos poucos, essa cultura foi sendo difundida e mostrando que era necessário o

desenvolvimento de processos industriais alternativos menos poluentes. Apesar disso, o

desenvolvimento e a instalação de novos processos industriais não são tarefas fáceis e

podem demandar elevados investimentos 37. Por esse motivo, nos últimos anos vários

processos de tratamento de efluentes, principalmente de oxidação de substâncias

orgânicas, têm sido estudados com o objetivo de superar algumas das limitações

apresentadas pelos processos convencionais.

Dentre os métodos convencionais usados para o tratamento de efluentes

industriais, encontram-se a coagulação / floculação e o tratamento biológico. No

processo de coagulação, também chamado de tratamento primário, um agente

coagulante é adicionado ao efluente. Sais de alumínio, como Al2(SO4)3, e de ferro,

como Fe2(SO4)3 ou FeCl3, são usados como agente coagulante 3,34. Uma vez em solução,

Al3+ e Fe3+ hidrolisam, originando espécies iônicas monoméricas e/ou poliméricas que

interagem com os contaminantes do efluente e resultam na formação de partículas

coloidais que posteriormente se agregam e sedimentam 38,39. Em alguns casos, além do

agente coagulante, pode ser necessário adicionar um polieletrólito (policloreto de

dimetilamônio, por exemplo), o qual auxilia o processo de floculação, tornando mais

rápida a decantação dos flocos 3,40. Após a coagulação / floculação, a porção

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Capítulo I

34

sedimentada, chamada de lodo primário, é separada do efluente tratado. Embora esse

processo seja eficiente para remover os contaminantes das águas residuais, resultando

na diminuição de COD dos efluentes 40, ele é simplesmente um processo de

transferência de fase, no qual não há oxidação completa ou parcial dos contaminantes.

Além disso, os lodos resultantes desse processo são depositados em aterros industriais e

podem causar a contaminação do solo e das águas superficiais e subterrâneas caso

ocorra lixiviação dos contaminantes.

Contrário ao tratamento primário, o tratamento biológico é capaz de promover a

oxidaçao de contaminantes orgânicos. Os processos biológicos podem ser divididos em

aeróbios e anaeróbios. Nos processos aeróbios, O2 é o receptor de elétrons e as

substâncias orgânicas são oxidadas a CO2 e H2O. Nos processos anaeróbios, O2 está

ausente, NO3− e SO4

2− atuam como receptores de elétrons e CO2 e CH4 são os produtos

da degradação das substâncias orgânicas 41. Apesar do tratamento biológico permitir o

tratamento de grandes volumes de efluente com custos relativamente baixos, ele

também apresenta limitações. A capacidade de certos microorganismos para degradar

alguns compostos orgânicos é limitada, o que faz com que estes compostos não sejam

removidos pelo tratamento biológico 42. Alguns grupos de taninos, por exemplo,

possuem estruturas químicas complexas que são difíceis de serem degradadas pelos

microorganismos em condições aeróbias ou anaeróbias 30,43. Corantes também são

resistentes ao tratamento biológico aeróbio, o qual é capaz de remover somente 10−20%

da cor dessas substâncias 44,45. Entretando, a cor é um parâmtero que pode ser

eficientemente removido por meio da biodegradação anaeróbia 46. Apesar disso, a

remoção da cor de azo corantes pelo processo anaeróbio está relacionada à clivagem das

ligações azo (−N=N−) e à formação de aminas aromáticas, as quais podem ser mais

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Capítulo I

35

tóxicas do que os próprios corantes 44,46,47. Além dos problemas citados anteriormente,

processos biológicos são sensíveis às condições ambientais e às caracteristícas do

efluente, sendo que qualquer variação no pH, no tipo, na estrutura e na concentração do

contaminante, bem como na composição do meio, pode atrapalhar o funcionamento do

sistema biológico e inibir ou paralisar o metabolismo dos microorganismos. Além disso,

esses processos requerem um tempo longo para que os efluentes atinjam os padrões

exigidos 37,42.

Muitos dos processos estudados para degradar contaminantes orgânicos são

baseados na geração de radical hidroxila (HO●), uma espécie altamente oxidante e não

seletiva que é capaz de promover a mineralização de diversas substâncias

orgânicas 48,49,50,51. O radical HO● possui um potencial de redução padrão de 2,80 V em

meio ácido, o qual é maior que o de muitos oxidantes fortes como ozônio, peróxido de

hidrogênio, permanganato e espécies de cloro ativo (Tabela I.2). Ele pode ser produzido

por meio de reações químicas, fotoquímicas, sonoquímicas e eletroquímicas e pode

reagir com as substâncias orgânicas por adição eletrofílica (eq. 1.1), abstração de

hidrogênio (eq. 1.2) e transferência de elétrons (eq. 1.3). Os processos nos quais esse

radical é formado são chamados de processos oxidativos avançados (AOP) e têm atraído

o interesse da comunidade acadêmica e industrial.

HO● + R

R

R

R→

R

R

R

ROH (1.1)

HO● + RH → R● + H2O (1.2)

HO● + RX → RX●+ + HO− (1.3)

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Capítulo I

36

Tabela I.2: Potenciais de redução padrão ( 0RE ) de alguns oxidantes em meio ácido 50

Oxidante 0RE (V vs. NHE)

Flúor (F2) 3,03

Radical hidroxila (HO●) 2,80

Ozônio (O3) 2,07

Peróxido de hidrogênio (H2O2) 1,77

Permanganato de potássio (KMnO4) 1,67

Ácido hipobromoso (HBrO) 1,59

Dióxido de Cloro (ClO2) 1,50

Ácido Hipocloroso (HClO) 1,49

Cloro (Cl2) 1,36

Bromo (Br2) 1,09

Iodo (I2) 0,54

Um dos AOP mais simples é o que utiliza H2O2 combinado com radiação

ultravioleta (UV). Peróxido de hidrogênio é um oxidante limpo porque gera água como

subproduto da reação de oxidação, não resulta na formação de nenhum subproduto

clorado, é comercialmente disponível, pode ser facilmente estocado e é altamente

solúvel em água 49,52. Além disso, os processos nos quais ele é utilizado são

operacionalmente simples e não são limitados por transferência de massa 49. Apesar

disso, sozinho ele não é capaz de oxidar muitas substâncias orgânicas 50. Entretanto,

quando combinado com radiação UV, radicais hidroxilas são formados a partir da

quebra homolítica da ligação HO−OH (eq. 1.4). A baixa absortividade molar do H2O2

(18,6 L mol−1 cm−1 em 253,7 nm) se caracteriza como a principal desvantagem desse

processo, principalmente nos casos em que as substâncias orgânicas atuam como filtros

internos 49,53. Desde que H2O2 é consumido no processo de oxidação, ele deve ser

continuamente adicionado à solução. A adição de uma única dose de H2O2 em alta

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Capítulo I

37

concentraçao também é inviável porque, nestes casos, o próprio H2O2 pode atuar como

sequestrador de radicais hidroxilas (eq. 1.5) 54.

H2O2 + hν → 2 HO● (1.4)

H2O2 + HO● → HO2● + H2O (1.5)

A reação de Fenton é outro AOP bastante utilizado para degradar contaminantes

orgânicos 49,50,51. Nessa reação, radicais hidroxilas são formados a partir da reação entre

íons ferro e peróxido de hidrogênio (eq. 1.6 e 1.7). Desde que Fe2+ e Fe3+ participam do

mesmo ciclo catalítico, sais de Fe2+ e Fe3+ podem ser utilizados como fonte de ferro,

mas degradações mais rápidas ocorrem quando a reação é iniciada pelo Fe2+

(Figura 1.17). A combinação da reação de Fenton com radiação ultravioleta acentua a

velocidade de degradação das substâncias orgânicas, o que se deve à regeneração de

Fe2+ pela foto-redução de Fe3+, com a concomitante geração de OH● (eq. 1.8). Além de

ser necessário que o H2O2 seja continuamente reposto ao sistema reacional, o pH deve

ser rigorosamente controlado (pH ≤ 3) para evitar a precipitação do ferro e a geração de

um lodo que é indesejável para aplicações tecnológicas 49,50,51. A primeira limitação

pode ser superada pela eletrogeração in situ do H2O2 a partir da redução do O2 55,56,57. A

reação entre H2O2 gerado eletroquimicamente e íons ferro adicionados à solução recebe

o nome de eletro-Fenton e sua principal limitação é a baixa velocidade de produção do

H2O2, a qual se deve à baixa solubilidade do oxigênio em água e à baixa eficiência

faradaica do processo em condição ácida 51,58. Visando aumentar a solubilidade do ferro

até valores de pH próximos a 7, complexos de ferro podem ser utilizados 59. A

complexação do ferro também estende sua banda de absorção para a região espectral

visível, o que possibilita o uso da luz solar como fonte de radiação no processo foto-

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Capítulo I

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Fenton 60. Apesar disso, em alguns casos, a utilização de complexos de ferro pode

favorecer a formação de espécies ferro oxo de alta valência, as quais são menos reativas

e mais seletivas do que os radicais hidroxilas 51.

Fe2+ + H2O2 → Fe3+ + OH− + HO● (1.6)

Fe3+ + H2O2 → Fe2+ + HO2● + H+ (1.7)

Fe(OH)2+ + hν → Fe2+ + HO● (1.8)

Figura 1.17: Ciclo catalítico da reação de Fenton. As reações iniciadas por Fe2+ são

denominadas reação de Fenton e as iniciadas por Fe3+ recebem o nome de reação do tipo Fenton. A constante de velocidade da reação (1) é maior do que a da reação (2).

Radicais HO● também podem ser produzidos a partir do ozônio (O3) 49,50,61. Em

solução ácida (pH ≤ 4), o próprio O3 atua como oxidante e o processo é referido como

ozonização direta. Ozônio reage preferencialmente com substâncias orgânicas que

apresentam grupos funcionais específicos, principalmente com compostos insaturados

como alquenos, alquinos e aromáticos. As reações de oxidação via O3 são seletivas,

relativamente lentas (as constantes de velocidade são da ordem de 10−1 a

103 L mol−1 s−1) e não promovem mineralização dos compostos orgânicos 61. Em

soluções alcalinas (pH ≥ 9), O3 se decompõe a HO● (eq. 1.9 e 1.10) e, nesse caso, o

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Capítulo I

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processo de oxidação é denominado ozonização indireta. Quando o pH da solução está

compreendido entre 4 e 9, ambas, ozonização direta e indireta, podem ocorrer 50.

Radical HO● também pode ser gerado por meio da fotólise do O3 (eq. 1.11 e 1.12) 49.

Nesse processo também pode ser formado H2O2 (eq. 1.13), o qual é fotoliticamente

decomposto a HO● (eq. 1.4) 49. Desde que absortividade molar do O3

(3300 L mol−1 cm−1 em 253,7 nm) é muito maior que a do H2O2, a fotólise do primeiro é

mais eficiente que a do segundo para a produção de HO● 50. A baixa solubilidade do O3

em água e os problemas de transporte de massa associados a gases são as principais

limitações dos processos que utilizam O3 49. Além disso, Schrank et al. 62 mostraram

recentemente que o tratamento de um efluente de curtume com ozônio resultou na

diminuição da sua toxidade para Vibrio fischeri e Daphnia magna, mas levou ao

aumento da sua atividade estrogênica devido ao aumento da concentração de compostos

desreguladores endócrinos no efluente.

O3 + OH− → O2− + HO2

● (1.9)

O3 + HO2● → 2 O2 + HO● (1.10)

O3 + hν → O2 + O (1D) (1.11)

O (1D) + H2O → 2 HO● (1.12)

O3 + H2O + hν → H2O2 + O2 (1.13)

A fotocatálise heterogênea é um AOP no qual um semicondutor é empregado

como fotocatalisador 37,49,50. Quando um semicondutor fotoativo é submetido à radiação

com energia suficiente para superar sua energia de bandgap, ocorre a formação do par

elétron/lacuna (ecb−/hvb

+) por meio da promoção de um elétron da banda de valência

para a banda de condução (eq. 1.14, Figura 1.18). As lacunas podem oxidar as

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Capítulo I

40

moléculas de água adsorvidas no semicondutor a radicais HO● (eq. 1.15) ou oxidar

diretamente os contaminantes orgânicos por transferência de carga (Figura 1.18) 50,63,64.

Concomitantemente a esse processo, os elétrons podem reduzir moléculas de O2 a

radicais O2●− e HO2

● (eq. 1.16 e 1.17), os quais originam H2O2 (eq. 1.18) que, por sua

vez, origina radicais HO● (eq. 1.4). Os elétrons também podem reduzir diretamente

contaminantes metálicos como Ag+, Cr2O72−, Cu2+ e Fe2+. Vários semicondutores como

TiO2, ZnO, WO3, Fe2O3, CdS e ZnS podem ser utilizados em processos fotocatalíticos,

em suspensão ou imobilizados 37,63. Utilizar o semicondutor em suspensão é vantajoso

porque, nessa condição, o processo não é limitado por transferência de massa, mas nesse

caso, torna-se necessária a introdução de uma etapa adicional de filtração que permita

separar o fotocatalisador da solução tratada ao final do processo, o que pode ser

complicado em grande escala, uma vez que as partículas do semicondutor são muito

pequenas e que o volume de efluente tratado pode ser grande 65. Por esse motivo, utilizar

o fotocatalisador imobilizado sobre um substrato sólido pode ser mais

interessante 66,67,68.

Figura 1.18: Representação esquemática da geração do par ecb

−/hvb+ em semicondutores

e suas respectivas reações. CB é a banda de condução e VB é a banda de valência 37.

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Capítulo I

41

Semicondutor + hν → ecb− + hvb

+ (1.14)

hvb+ + H2O(ads) → HO●

(ads) + H+(ads)

(1.15)

O2(ads) + ecb− → O2

●−(ads)

(1.16)

O2●−

(ads) + H+ HO2●

(ads) (1.17)

2 HO2●

(ads) → H2O2(ads) + O2 (1.18)

O uso do ultra-som para a oxidação de compostos orgânicos tem recebido

atenção nos últimos anos 69. O ultra-som é uma onda sonora com frequências superiores

a 18 kHz e que, portanto, não pode ser escutado pelo ouvido humano 70. Existem duas

categorias distintas de ultra-som 70: (a) o ultra-som de alta frequência ou ultra-som

diagnóstico, cuja frequência pode estar compreendida entre 2 e 10 MHz e que é usado

principalmente para aplicações médicas, como na ultra-sonografia pré-natal, e

(b) o ultra-som de baixa frequência ou ultra-som de alta potência (power ultrasound), o

qual possui frequência entre 20 kHz e 2 MHz e é responsável pela cavitação. A

propagação de ondas acústicas em um meio líquido provoca a cavitação 71. Essa é

definida como o fenômeno que envolve a formação, o crescimento e o colapso violento

(implosão) de bolhas ou cavidades de vapor e gases à alta pressão acústica 71,72. Uma

onda sonora consiste de ciclos de compressão (pressão positiva), e expansão (pressão

negativa) 72,73. A formação e o crescimento das bolhas ocorrem na fase de expansão,

enquanto que na fase de compressão, as bolhas se contraem e implodem. O colapso das

bolhas gera espécies radicalares altamente reativas e calor 71,74,75. Sob tais condições

drásticas, espécies oxidantes são geradas pela clivagem homolítica de moléculas de

gases ou do solvente. Em solução aquosa, radicais HO● são formados (eq. 1.19 d).

d Na eq 1.19, o símbolo ))) simboliza o ultra-som.

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Capítulo I

42

H2O + ))) → HO● + H● (1.19)

A freqüência ótima para a geração de radical HO● a partir da sonólise da água

está compreendida entre 200 e 400 kHz 74. Além de reações via radical HO●, reações

termolíticas também podem ocorrer e, por isso, o local e o tipo de reação de degradação

dos compostos orgânicos por processos sonoquímicos vão depender da natureza desses

compostos 76,77,78. Substâncias voláteis são degradadas por meio de reações termolíticas

dentro das bolhas enquanto que, substâncias hidrofílicas reagirão exclusivamente com

radicais hidroxilas e outras espécies oxidantes no bulk da solução. Compostos

hidrofóbicos não voláteis e surfactantes são oxidados na interface bolha-solução por

meio de reações termolíticas ou reações com radicais HO●. Embora a sonoquímica seja

um processo de oxidação bem sucedido em escala de laboratório, somente com a

aplicação do ultra-som é difícil mineralizar todos os contaminantes presentes em uma

mistura porque a potência dissipada e o tempo necessário para que isso ocorra tornam o

processo economicamente inviável 79,80.

Um dos processos mais promissores para a oxidação de contaminantes orgânicos

é o eletroquímico. De forma geral, processos eletroquímicos apresentam algumas

características que os tornam interessantes para a prevenção e a remediação de

problemas associados à poluição. Dentre essas características encontram-se 81,82,83,84:

• Versatilidade: vários tipos de processos eletroquímicos podem ser aplicados, como

a oxidação e a redução direta e/ou indireta; a separação de fases e a concentração ou

diluição de soluções. Além disso, processos eletroquímicos mostram-se adequados

para o tratamento de diversos contaminantes e de diferentes volumes de efluente.

• Compatibilidade ambiental: nesses processos ocorre a injeção ou retirada de

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Capítulo I

43

elétrons diretamente através da superfície de um eletrodo, não sendo necessário

adicionar outros agentes químicos. O elétron é um reagente limpo e eficaz, cuja

reatividade pode ser ajustada pela escolha de um eletrocatalisador adequado.

• Eficiência energética: processos eletroquímicos geralmente requerem baixas

temperaturas quando comparados a alguns processos químicos, como a incineração.

Além disso, o potencial pode ser facilmente controlado e os parâmetros operacionais

podem ser projetados de forma a minimizar o consumo de energia.

• Custo reduzido: processos eletroquímicos são dispendiosos quando comparados a

processos biológicos. Apesar disso, as suas vantagens para o tratamento de

substâncias tóxicas e/ou persistentes, podem torná-los competitivos. Nesses casos,

os processos eletroquímicos podem ser utilizados combinados com outros processos

como uma das etapas do tratamento. Isso deve contribuir para a diminuição do custo

total do tratamento.

A oxidação eletroquímica pode ser utilizada no tratamento de efluentes que

contenham altas concentrações de substâncias potencialmente poluentes, principalmente

de natureza orgânica. Ela pode ocorrer por meio dos processos direto e indireto e sua

eficiência vai depender das condições de oxidação e da natureza do material

eletródico 28,85,86. A primeira etapa da eletroxidação de contaminantes orgânicos consiste

na oxidação das moléculas de água pelos sítios ativos do eletrodo (M), resultando na

formação de radicais HO● adsorvidos (eq. 1.20) 84,87,88. Esses radicais podem oxidar os

contaminantes orgânicos da solução (eq. 1.21) ou resultar no desprendimento de

oxigênio (eq. 1.22). Isso irá depender fortemente do tipo de interação entre HO● e o

eletrodo, sendo que quanto mais fraca a interação entre eles, menor a atividade

eletroquímica do material para a reação de desprendimento de oxigênio e maior sua

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Capítulo I

44

reatividade química para a oxidação de compostos orgânicos (Tabela I.3). O processo de

oxidação de contaminantes orgânicos via radicais hidroxilas adsorvidos no eletrodo é

denominado oxidação eletroquímica direta 83,84.

H2O + M → M(●OH)ads + H+ + e− (1.20)

R(aq) + x M(●OH)ads → x M + produtos da mineralização + y H+ + y e− (1.21)

M(●OH)ads → M + 2 1

O2 + H+ + e− (1.22)

Tabela I.3: Capacidade oxidante de diversos materiais anódicos usados em processos de mineralização eletroquímica em meio ácido 87

Eletrodo Potencial de oxidação (V)

Sobrepotencial de desprendimento de O2 (V)

Força de adsorçãoM−●OH

Capacidade oxidante do ânodo

RuO2−TiO2 (DSA−Cl2) 1,4−1,7 0,18 forte baixa

IrO2−Ta2O5 (DSA−O2) 1,5−1,8 0,25

Ti/Pt 1,7−1,9 0,30

Ti/PbO2 1,8−2,0 0,50

Ti/SnO2−Sb2O5 1,9−2,2 0,70

p-Si/BDD 2,2−2,6 1,00 fraca alta

O material usado como ânodo tem grande influência sobre o desempenho do

processo eletroquímico, bem como sobre os produtos finais de oxidação e a eficiência

de corrente 89. Dois tipos de comportamento anódico têm sido identificados

considerando a tendência da superfície do eletrodo em sofrer transformações químicas

durante o processo de oxidação. Nesse sentido, os eletrodos podem ser classificados em

ativos e não ativos 84,89.

Eletrodos ativos sofrem significantes mudanças durante o processo de oxidação

porque o elemento metálico que o constitui não está completamente oxidado e, por isso,

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Capítulo I

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pode sofrer transformações durante o processo eletroquímico. São exemplos desse tipo

de eletrodo: IrO2, RuO2, Pt e aço inoxidável. Nesses eletrodos, a polarização anódica

resulta na formação de óxidos superiores MO devido à forte interação entre o eletrodo

(M) e os radicais HO● adsorvidos na sua superfície (eq. 1.23). Óxidos superiores atuam

como mediadores na oxidação de compostos orgânicos (eq. 1.24), mas eles são menos

eficientes e mais seletivos do que os radicais HO●. Óxidos superiores também podem se

decompor a oxigênio molecular (eq. 1.25). Eletrodos ativos possuem baixo

sobrepotencial para a reação de desprendimento de oxigênio (Tabela I.3) 84,89.

M(●OH)ads → MO + H+ + e− (1.23)

MO + R → M + RO (1.24)

MO → M + 2 1

O2 (1.25)

Contrário aos eletrodos ativos, os eletrodos não ativos agem simplesmente como

poços de elétrons e não sofrem transformações durante os processos eletroquímicos.

Exemplos típicos desse tipo de material eletródico incluem os eletrodos de diamante

dopado com boro (BDD) e óxidos metálicos completamente oxidados como SnO2 e

PbO2. A fraca interação entre esses eletrodos e os radicais HO● adsorvidos faz com que

eles exibam alto sobrepotencial para a reação de desprendimento de oxigênio

(Tabela I.3) e sejam capazes de oxidar completamente os compostos orgânicos a CO2 e

H2O (eq. 1.21). Na ausência de compostos orgânicos, os radicais HO● podem reagir

entre si para formar H2O2, o qual é posteriormente oxidado a oxigênio molecular

(eq. 1.22) 84,89.

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Capítulo I

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A oxidação eletroquímica de contaminantes orgânicos também pode ocorrer por

meio de um mecanismo indireto, no qual espécies altamente oxidantes, tais como Cl2,

O3, S2O82‒, P2O8

4‒ e C2O62‒, são produzidos eletroquimicamente 83,84. Esses oxidantes

podem reagir com as substâncias orgânicas na superfície do eletrodo e no bulk do

eletrólito. A oxidação de compostos orgânicos e efluentes via espécies de cloro ativo

(cloro, ácido hipocloroso e hipoclorito) produzidas eletroquimicamente pela

eletroxidação de íons cloreto tem sido bastante estudada por diversos autores e tem se

mostrado eficiente para a remoção de COD, TOC e cor 86,90,91,92,93,94,95,96. Materiais

eletródicos que não mostram bom desempenho para a eletroxidação direta de

substâncias orgânicas podem ser eficientes para eletroxidação indireta dessas

substâncias. A eletroxidação direta do corante azul de metileno utilizando um ânodo

dimensionalmente estável (DSA®) resultou na remoção de 26% de COD após 8 h de

eletrólise, enquanto que na eletroxidação indireta mediada por espécies de cloro ativo

eletrogeradas, uma diminuição de COD de 71% foi atingida em apenas 1,5 h 97.

A eficiência dos processos eletroquímicos pode ser acentuada pela combinação

do sistema eletroquímico com a radiação ultravioleta (UV) e/ou visível (Vis). Esse

processo é conhecido como fotoeletroquímico ou fotoeletrocatalítico e basicamente

consiste na percolação da solução a ser tratada através de um reator eletrolítico que

possui um ânodo revestido com óxidos metálicos que permanece sob a incidência de

luz. A combinação de processos eletroquímicos e fotocatalíticos aplicados à oxidação de

substâncias orgânicas tem mostrado um efeito sinérgico, sendo que as velocidades de

degradação observadas são até uma ordem de grandeza maior do que aquelas resultantes

da aplicação dos processos separados 98,99,100.

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Capítulo I

47

I.4 - Parâmetros utilizados para avaliar a oxidação de contaminantes

A oxidação de substâncias orgânicas pode resultar na formação de vários

intermediários (compostos mais oxidados do que os compostos de partida) e/ou CO2 e

H2O. Geralmente, é difícil identificar todos os compostos formados nos processos de

oxidação, principalmente quando o composto de partida possui uma estrutura complexa

ou quando a amostra tratada é um efluente constituído por várias substâncias. Nesses

casos, parâmetros globais são utilizados para caracterizar as amostras de partida e para

monitorar o processo de oxidação 101. Dentre esses parâmetros encontram-se: TOC,

COD, AOX, teste de toxidade, fenóis totais e cor. Apesar de serem análises

relativamente simples, algumas dificuldades podem surgir durante a interpretação dos

valores medidos 101. A seguir serão apresentados os fundamentos básicos das análises

utilizadas na determinação de todos os parâmetros citados anteriormente e de Cr(VI).

Esses parâmetros foram utilizados para avaliar os processos de oxidação estudados

neste trabalho.

I.4.1 - Carbono Orgânico Total (TOC)

TOC é definido como a soma de todos os carbonos ligados organicamente em

substâncias dissolvidas e não dissolvidas. Para determinar a quantidade de TOC em uma

amostra, as moléculas orgânicas devem ser oxidadas a CO2, o qual é quantificado em

seguida. O CO2 pode ser medido diretamente por um analisador de infravermelho não

dispersivo (NDIR), pode ser reduzido a metano e medido com um detector de ionização

de chama (FID) ou pode ser titulado quimicamente 101.

Duas técnicas são frequentemente utilizadas para converter a matéria orgânica

em CO2. Em uma delas, chamada de Oxidação Química Úmida (WCO), a mineralização

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Capítulo I

48

da matéria orgânica ocorre na presença de persulfato e radiação ultravioleta à baixa

temperatura, após os íons carbonato e bicarbonato terem sido removidos por

acidificação e aeração. Na segunda técnica, conhecida como Oxidação Catalítica à Alta

Temperatura (HTCO), um catalisador é utilizado à temperatura de 650-900 oC. Nessa

técnica, platina suportada em óxido de alumínio ou óxido de cério são utilizados como

catalisador e a combustão da amostra ocorre sob fluxo de oxigênio constante 102,103,104.

Na técnica de HTCO, basicamente dois métodos podem ser utilizados para a

determinação de TOC: o método TC ‒ IC e o método NPOC 101,105. No método TC ‒ IC,

uma fração da amostra é diretamente injetada no tubo de combustão contendo o

catalisador e o parâmetro TC (Carbono Total) é determinado. Em seguida, uma segunda

fração da amostra é injetada em uma câmara contendo solução de ácido fosfórico ou

clorídrico, onde ela é continuamente purgada com gás. A corrente de gás que passa por

esta câmara é diretamente direcionada ao detector de CO2 sem passar pela etapa de

combustão. O CO2 medido neste momento é exclusivamente IC (Carbono Inorgânico),

o qual é definido como a fração de carbono da amostra na forma de carbonato,

bicarbonato e dióxido de carbono dissolvido. TOC é então calculado pela diferença

entre TC e IC 101.

No método NPOC (Carbono Orgânico não Purgável), a amostra é acidificada a

pH ≤ 2 usando ácido livre de carbono (ácido fosfórico ou clorídrico). Em seguida, a

amostra é purgada à temperatura ambiente com um gás isento de carbono (O2 ou N2) e o

CO2 formado durante a etapa de acidificação é removido. A medida de TC da amostra

purgada é então reportada como TOC 101. O método NPOC é mais rápido do que o

método TC ‒ IC e consome menos amostra. Entretanto, algumas substâncias orgânicas

voláteis não são detectadas por esse método porque elas são eliminadas antes da etapa

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Capítulo I

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de combustão. Além disso, esse método não é aconselhável para amostras que

espumam 105.

I.4.2 - Demanda Química de Oxigênio (COD)

COD é usada para medir o conteúdo de matéria orgânica de uma amostra

susceptível à oxidação por K2Cr2O7, um oxidante químico forte. A quantidade de

K2Cr2O7 consumida é expressa em termos da quantidade equivalente em oxigênio e,

portanto, a unidade usual da COD é mg O2 L‒1. Análises de TOC e Demanda

Bioquímica de Oxigênio (BOD) são complementares à análise de COD 101,102.

Embora a COD seja frequentemente utilizada para medir o conteúdo de

poluentes orgânicos em efluentes aquosos e águas naturais, espécies inorgânicas tais

como Fe2+, S2‒ e Mn2+ podem ser oxidadas nas condições do teste e, por esse motivo,

quando presentes em altas concentrações são interferentes. Íons Cl‒, Br‒, I‒ e NO2‒

também são interferentes porque podem ser oxidados pelo Cr2O72− a Cl2, Br2, I2 e NO3

−,

respectivamente. Íons Cl‒, Br‒ e I‒ podem ainda precipitar com Ag+, a qual é utilizada

como catalisador nas análises de COD, inibindo sua atividade catalítica 101,102.

Cl‒ frequentemente é encontrado nas águas naturais e nos efluentes aquosos.

Para eliminar a interferência desse íon, HgSO4 pode ser utilizado 101,102. Hg2+ reage com

Cl‒, formando o complexo solúvel HgCl2 (eq. 1.26) 106.

Cl‒ + Hg2+ → HgCl2 (aq) (1.26)

NO2‒ apresenta COD de 1,1 mg O2 / mg NO2

‒. Como a concentração desse íon

nas águas naturais raramente excede 1-2 mg L‒1, sua interferência é considerada

insignificante e é ignorada 101,102. Quando a quantidade de NO2‒ não pode ser

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Capítulo I

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desprezada, este interferente pode ser eliminado com ácido sulfâmico (HO.SO2.NH2), o

qual promove a redução de íons NO2‒ a N2 (eq. 1.27) 101,102,106.

HNO2 + HO.SO2.NH2 → N2 (g) + 2 H+ + SO42‒ + H2O (1.27)

Três métodos podem ser utilizados para a determinação de COD: o método do

refluxo aberto, o método do refluxo fechado com determinação titrimétrica e o método

do refluxo fechado com determinação colorimétrica 102. O primeiro método é adequado

para vários tipos de efluentes, mas apresenta como desvantagem o fato de ser necessário

um volume grande de amostra. Além disso, o volume de resíduo gerado ao final do teste

quando esse método é utilizado é maior do que nos outros dois, o que se caracteriza

como um problema, uma vez que esse resíduo é constituído por íons metálicos

potencialmente tóxicos (cromo, mercúrio e prata). Nos métodos de refluxo fechado,

menores quantidades de reagentes são utilizadas o que os torna mais econômicos e

permite diminuir a quantidade de resíduo tóxico gerado.

Durante a digestão da amostra, Cr2O72‒ oxida a matéria orgânica em meio de

ácido sulfúrico a 150 oC, sendo reduzido a Cr3+ (eq. 1.28).

Cr2O72‒ + 14 H+ 6 e‒ 2 Cr3+ + 7 H2O (1.28)

No método do refluxo aberto e no método do refluxo fechado com determinação

titrimétrica, Cr2O72- remanescente é titulado com sulfato ferroso amoniacal (eq. 1.29).

Na titulação é empregado o indicador ferroína que no ponto de viragem resulta em uma

coloração vermelha forte devido à redução do complexo FeL33+ a FeL3

2+(eq. 1.30).

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Capítulo I

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Cr2O72‒ + 6 Fe2+ + 14 H+ 2 Cr3+ + 6 Fe3+ + 7 H2O (1.29)

Forma oxidada(Azul Clara)

FeL33+ FeL3

2+

Forma reduzida(Vermelha) NN

L =

o-fenantrolina (1,10-fenantrolina)Ferroína

+ e-

- e-

Forma oxidada(Azul Clara)

Forma oxidada(Azul Clara)

FeL33+ FeL3

2+

Forma reduzida(Vermelha)

Forma reduzida(Vermelha) NN

L = NN

L =

o-fenantrolina (1,10-fenantrolina)Ferroína

+ e-

- e-(1.30)

No método do refluxo fechado com determinação colorimétrica mede-se a

absorbância na região visível do espectro. Como Cr2O72- e Cr3+ absorvem nessa região

pode-se determinar a quantidade de Cr2O72- remanescente ao final do teste medindo a

absorbância da solução em 420 nm ou determinar a quantidade de Cr3+ formado

medindo a absorbância em 600 nm e.

I.4.3 - Organo-Halogenados Adsorvíveis (AOX)

AOX é definido como a quantidade equivalente de cloro, bromo e iodo presente

em compostos orgânicos, expresso como cloreto quando determinado de acordo com o

padrão internacional 107.

Na determinação de AOX, a primeira etapa consiste na adsorção dos compostos

orgânicos halogenados e não-halogenados sobre carvão ativado 107. A extração em fase

sólida (adsorção sobre carvão ativado) pode ser realizada por meio de três processos:

por agitação sem barra magnética (shaking), por agitação com barra magnética (stirring)

ou por adsorção em coluna. Após essa etapa, os haletos inorgânicos adsorvidos são

removidos do carvão ativado pela lavagem deste com solução de NaNO3 acidificada

com HNO3. Em seguida, o carvão ativado contendo a matéria orgânica adsorvida é

e Cr2O7

2− apresenta uma absorção máxima em 440 nm e não absorve em 600 nm enquanto que Cr3+ possui uma absorção máxima em 600 nm e mínima na região de 400 nm. Por isso, nas análises de COD, Cr2O7

2− é determinado em 420 nm e Cr3+, em 600 nm.

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Capítulo I

52

completamente oxidado e os haletos presentes nos compostos orgânicos são liberados

para a solução e quantificados.

Após a etapa de adsorção da matéria orgânica sobre carvão ativado, dois

métodos podem ser usados para oxidar a matéria orgânica e quantificar os íons haletos:

(1) pirólise da amostra na presença de O2 e determinação microcoulométrica dos

haletos 102,107,108 e (2) digestão da amostra na presença de peroxodissulfato e

determinação colorimétrica dos haletos 109,110.

No primeiro método, o carvão ativado contendo a matéria orgânica é submetido

à combustão em temperatura aproximada de 950 oC sob fluxo de oxigênio constante.

Em seguida, os haletos produzidos nesse processo são determinados

microcoulometricamente utilizando prata metálica como ânodo e ácido acético como

eletrólito suporte. À medida que os íons Ag+ são produzidos pela eletroxidação do

ânodo de prata, os haletos são precipitados como AgX (X = Cl‒, Br‒ e I‒). Após a

precipitação quantitativa dos haletos, a concentração de Ag+ no eletrólito aumenta e o

ponto final da titulação é atingido, o qual pode ser identificado por meio de um par de

eletrodos indicadores polarizados. Então, a concentração de haleto pode ser calculada

por meio da lei de Faraday, considerando a quantidade de carga consumida até a

precipitação completa dos haletos 102,107,108.

No segundo método, o carvão ativado contendo os compostos orgânicos é

digerido a 120 oC por 30 min na presença de solução de peroxodissulfato de potássio.

Em seguida os haletos resultantes da oxidação da matéria orgânica são determinados

fotometricamente. O método fotométrico de quantificação de haletos é baseado na

substituição do SCN‒ do Hg(SCN)2 pelo haleto X‒ (eq. 1.31) e a subsequente reação do

SCN‒ liberado com Fe3+ em condições ácidas (eq. 1.32). Nessas condições é formado o

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complexo amarelo-alaranjado [Fe(SCN)]2+, o qual absorve em 480 nm e cuja

intensidade da cor é proporcional à concentração dos haletos 109,110.

Hg(SCN)2 + 2 X‒ → HgX2 + 2 SCN‒ (1.31)

SCN‒ + Fe3+ → [Fe(SCN)]2+ (1.32)

I.4.4 - Teste de toxicidade

A toxicidade é uma propriedade que reflete o potencial de uma substância em

causar um efeito danoso a um organismo vivo. Ela depende da concentração e das

propriedades da substância química à qual o organismo é exposto e também do tempo

de exposição 111. Tradicionalmente os testes de toxicidade aquática são utilizados para

medir os efeitos tóxicos de substâncias específicas e de águas contaminadas. Os testes

com substâncias específicas são realizados com o propósito de obter informações para

registros químicos enquanto que os testes com águas contaminadas e efluentes são

utilizados para verificar se há concordância dos valores obtidos com os padrões

permitidos. Neste último caso, as águas podem ser coletadas em pontos de descarga de

efluentes ou no próprio corpo d’água receptor 112. Dados de toxicidade são utilizados

para comparar diferentes substâncias químicas, além de permitir comparar a

sensibilidade de diferentes espécies a uma mesma substância 111. Testes de toxicidade

também são importantes na avaliação de efluentes industriais. No Brasil, esses testes já

são exigidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). No capítulo IV

da Resolução no. 357 do CONAMA, referente às condições e padrões de lançamento de

efluentes, é estabelecido nos § 1 e 2 do artigo 34 que o efluente não deverá causar ou

possuir potencial para causar efeitos tóxicos aos organismos aquáticos no corpo receptor

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Capítulo I

54

e que os critérios de toxicidade devem se basear em resultados de ensaios

ecotoxicológicos padronizados utilizando organismos aquáticos.

É recomendável que o efeito tóxico de uma amostra seja avaliado para mais de

uma espécie representativa da biota aquática, de preferência pertencentes a diferentes

níveis tróficos da cadeia alimentar 113,114,115. Apesar disso, por razões práticas e

econômicas, muitas vezes os testes de toxicidade são realizados com uma única espécie

de organismo-teste 113. Em princípio, qualquer espécie aquática pode ser utilizada em

testes de toxicidade 116. Entretanto, as espécies utilizadas devem apresentar as seguintes

características 102,111,117: seletividade constante e elevada aos contaminantes, elevadas

disponibilidade e abundância, uniformidade e estabilidade genética nas populações,

representatividade de seu nível trófico, significado ambiental em relação à área de

estudo, ampla distribuição e importância comercial e, facilidade de cultivo e adaptação

às condições de laboratório. Além disso, devem ser utilizadas espécies cuja fisiologia,

genética e comportamento sejam bem conhecidos, o que pode facilitar a interpretação

dos resultados. Dentre as espécies utilizadas em testes de toxicidade encontram-se: a

bactéria luminescente Vibrio fischeri; as algas Chlorella vulgaris, Scenedesmus

subspicatus e Pseudokirchneriella subcapitata; microcrústáceos de água doce do gênero

Daphnia (Daphnia magna e Daphnia similis) e Ceriodaphnia (Ceriodaphnia dúbia e

Ceriodaphnia silvestrii); o microscrustáceo de água salgada Artemia salina e os peixes

Danio rerio e Pimephales promelas 118.

Os testes de toxicidade podem ser classificados em agudos e crônicos. Esses

testes diferem-se na duração e nas respostas finais que são medidas. Os testes de

toxicidade aguda são utilizados para medir os efeitos de agentes tóxicos sobre espécies

aquáticas durante um curto período de tempo em relação ao período de vida do

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Capítulo I

55

organismo-teste. Eles têm como objetivo estimar a dose ou concentração de um agente

tóxico que seria capaz de produzir uma resposta específica mensurável em um

organismo-teste ou população, em um período de tempo relativamente curto, geralmente

de 24 a 96 h 114. Os efeitos tóxicos medidos em testes de toxicidade aguda incluem

qualquer resposta exibida por um organismo-teste ou população resultante de um

estímulo químico. Normalmente, o efeito medido em estudos de toxicidade aguda com

organismos aquáticos é a letalidade ou alguma outra manifestação do organismo que a

antecede, como, por exemplo, o estado de imobilidade. Os testes de toxicidade aguda

permitem que valores de EC50 f e LC50

g sejam determinados por vários métodos

estatísticos computacionais. Geralmente os valores de concentrações efetivas e letais

são expressos em relação a 50% dos organismos porque estas respostas são mais

reprodutíveis, podem ser estimadas com maior grau de confiabilidade e são mais

significativas para serem extrapoladas para uma população. No ambiente aquático,

efeitos agudos provocados por agentes tóxicos nos organismos podem resultar de

aplicações inadequadas de agrotóxicos, de acidentes ambientais e de situações em que

efluentes industriais não tratados são lançados nos corpos d’água

receptores 102,111,112,114,116,117.

Testes de toxicidade crônica são realizados para medir os efeitos de substâncias

químicas sobre espécies aquáticas por um período que pode abranger parte ou todo o

ciclo de vida do organismo-teste. O fato de uma substância química não produzir efeitos

tóxicos sobre organismos aquáticos em testes de toxidade aguda não indica que ela não

seja tóxica a eles. Testes de toxicidade crônica permitem avaliar os possíveis efeitos

f EC50 (Concentração Efetiva Média): concentração de amostra que causa um efeito agudo (imobilidade, por

exemplo) a 50% dos organismos no tempo de exposição e nas condições do teste. g LC50 (Concentração Letal Média): concentração de amostra que causa mortalidade de 50% dos organismos no

tempo de exposição e nas condições do teste.

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Capítulo I

56

tóxicos de substâncias químicas sob condições de exposições prolongadas a

concentrações sub-letais, ou seja, concentrações que permitem a sobrevivência dos

organismos, mas que afetam suas funções biológicas tais como reprodução,

desenvolvimento de ovos, crescimento e maturação, dentre outras. Os resultados obtidos

em testes de toxicidade crônica são geralmente expressos como NOEC h ou LOEC i,

mas também podem ser expressos como EC50. O lançamento contínuo de efluentes

aquosos tratados nos corpos d’águas pode provocar efeitos crônicos, uma vez que os

organismos são expostos a certos contaminantes, mesmo em baixas concentrações,

durante longos períodos de tempo 102,111,112,114,116,117.

Os resultados dos testes de toxicidade para substâncias específicas são

comumente expressos em mg L‒1, enquanto que para efluentes ou águas contaminadas,

os resultados são expressos em %. Os valores numéricos de toxicidade aguda e crônica,

expressos como LC50, EC50, NOEC e LOEC, exprimem uma relação inversa à

toxicidade, ou seja, menores valores numéricos indicam maiores toxicidades 114. Para

facilitar a comparação e fazer com que esses parâmetros exprimam uma relação direta

com a toxicidade, eles podem ser transformados em unidades tóxicas aguda (ATU) ou

crônica (CTU) pelas seguintes equações 114,119:

ATU EC100

=50

ou ATU 50LC

100= (1.33)

CTU NOEC

100= ou CTU

LOEC100

= (1.34)

h NOEC (Concentração de Efeito não Observado): maior concentração de agente tóxico que não causa efeito

deletério estatisticamente significativo nos organismos no tempo de exposição e nas condições do teste. i LOEC (Concentração de Efeito Observado): menor concentração de agente tóxico que causa efeito deletério

estatisticamente significativo nos organismos no tempo de exposição e nas condições do teste.

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Capítulo I

57

Dessa forma, quanto maior o valor numérico em unidade tóxica, maior será a

toxicidade da amostra. Na Tabela I.4 são apresentados valores de LC50 em % e ATU

para Daphnia magna em diferentes efluentes industriais 52. Os resultados indicam a

seguinte sequência crescente de toxicidade: efluente (3) < efluente (4) < efluente (5) =

efluente (6) < efluente (2) < efluente (1) < efluente (7).

Tabela I.4: Toxicidades agudas de diferentes efluentes industriais para Daphnia magna 119

Efluente Origem do Efluente LC50 – 48 h (%) UTA – 48 h

1 Hospital (1) 0,4 ± 0,2 250,0

2 Hospital (2) 33,2 ± 6,6 3,0

3 Fabricante de materiais para escritórios e escolas 70,8 ± 15,2 1,4

4 Fabricante de peças para automóveis 54,5 ± 5,3 1,8

5 Fabricante de produtos de higiene 51,0 ± 11,4 2,0

6 Companhia farmacêutica 49,1 ± 10,3 2,0

7 Indústria Têxtil 0,2 ± 0,1 500,0

I.4.5 - Fenóis totais

Compostos fenólicos e polifenólicos são comumente encontrados em efluentes

de muitas indústrias, tais como: indústrias petroquímicas e refinarias de petróleo;

indústrias farmacêuticas, de pesticidas, de tintas e de corantes; indústrias de papel e

celulose e curtumes 80. Efluentes industriais podem conter em sua composição

compostos fenólicos de diferentes naturezas e estruturas, o que impossibilita a

quantificação de cada um deles. Por esse motivo, os métodos mais utilizados para

quantificar os compostos fenólicos são aqueles tradicionalmente empregados na

quantificação do fenol. Quando esses métodos são usados para a determinação de

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Capítulo I

58

compostos fenólicos, estes compostos são referidos como fenóis totais 27 ou índice de

fenóis 120.

Três métodos colorimétricos são frequentemente utilizados na determinação de

compostos fenólicos: (a) o método da 4-aminoantipirina (4-AAP), (b) o método de

Folin-Ciocalteu e (c) o método da 2-hidrazona-3-metilbenzotiazolina (MBTH).

4-AAP reage com fenol na presença de ferricianeto em meio ácido, formando

um composto de coloração marrom avermelhado que absorve em 490 nm. Esse é um

método bastante sensível para a determinação de fenol, mas a 4-AAP não reage com

fenóis p-substituídos a não ser que o grupo substituinte seja um halogênio, uma

carboxila, um ácido sulfônico, uma hidroxila ou uma metoxila. Além disso, um grupo

nitro na posição meta é capaz de inibir a reação e um grupo nitro na posição orto pode

até bloquear a reação 121.

O método de Folin-Ciocalteu se baseia na reação entre os ácidos

tungstofosfórico e molibdofosfórico (3H2O.P2O5.13WO3.5MoO3.10H2O e

3H2O.P2O5.14WO3.4MoO3.10H2O) e os grupos hidroxilas aromáticos presentes nas

substâncias fenólicas, em solução alcalina. Nessa reação, os ácidos tungstofosfórico e

molibdofosfórico são reduzidos originando produtos que absorvem em 700 nm.

Qualquer substância capaz de reduzir o reagente de Folin-Ciocalteu é interferente. São

exemplos de substâncias interferentes, proteínas, substâncias húmicas, frutose, aminas,

hidrazina, cloreto de hidroxilamina, Fe(II), Mn(II), NO2‒, CN‒, HSO3

‒, SO32‒ e

S2‒ 102,121.

MBTH reage com fenóis em meio ácido ou alcalino na presença de um agente

oxidante. Fe3+ e [Fe(CN)6]3− são frequentemente utilizados como oxidantes em meio

ácido e alcalino, respectivamente, e os maiores rendimentos para o produto colorido são

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Capítulo I

59

alcançados em pH 8-10. O máximo de absorção dos produtos de reação varia entre 495

e 610 nm, dependendo da estrutura do composto fenólico 122.

Quando a concentração do fenol é determinada pelos métodos apresentados

anteriormente, o resultado obtido deve ser o mesmo. Por outro lado, quando a

concentração de fenóis totais em uma mistura complexa contendo compostos fenólicos

e polifenólicos de diferentes naturezas é analisada por esses métodos, resultados

diferentes podem ser obtidos desde que a estrutura do composto fenólico pode ter

influência sob a reação. Por esse motivo, na análise de fenóis totais é importante

especificar o teste utilizado.

I.4.6 - Cor

Quando uma molécula absorve radiação ultravioleta ou visível, ela sofre uma

mudança na sua configuração eletrônica de valência. Nas moléculas orgânicas, os

elétrons de valência ocupam os orbitais σ, π e n e podem ser excitados para os orbitais

desocupados σ* e π*, os quais se encontram frequentemente próximos, em termos de

energia, dos orbitais ocupados 123. A energia característica de uma transição e o

comprimento de onda da radiação absorvida por uma molécula são propriedades de um

grupo de átomos presente nessa molécula, o qual é denominado grupo cromóforo.

Mudanças estruturais no grupo cromóforo podem causar modificações na energia e na

intensidade de absorção da molécula, mas é difícil predizer como se dará a mudança na

absorção quando a estrutura do cromóforo for modificada 124. Nos espectros UV-Vis,

quatro tipos de transições eletrônicas são contabilizados: σ → σ*, n → σ*, π → π* e

n → π*. Dessas transições, as mais importantes são n → σ* e π → π*, porque elas

envolvem alguns grupos funcionais característicos e comprimentos de onda facilmente

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Capítulo I

60

acessíveis 123. Na Tabela I.5 são apresentadas as transições e os comprimentos de onda

de absorção de alguns grupos cromóforos 124.

Tabela I.5: Absorções típicas de cromóforos simples isolados 124

Classe Transição λmáx (nm)

R−OH n → σ* 180

R−O−R n → σ* 180

R−NH2 n → σ* 190

R−SH n → σ* 210

R−C=C−R π → π* 175

R−C≡C−R π → π* 170

R−C≡N n → π* 160

R−N=N−R n → π* 340

R−NO2 n → π* 271

R−CHO π → π*

n → π*

190

290

R2−CO π → π*

n → π*

180

280

R−COOH n → π* 205

R−COOR n → π* 205

R−CONH2 n → π* 210

A cor é um parâmetro importante na caracterização de efluentes industriais. Ela

deve ser removida antes que eles sejam lançados nos corpos d’água para evitar a

supressão dos processos fotossintéticos naturais, o que afetaria todo o sistema aquático.

A cor da água ou de um efluente (cor verdadeira) é aquela observada após a remoção da

turbidez. Quando a cor de uma amostra é medida sem a remoção da turbidez, ela recebe

o nome de cor aparente. Dentre os métodos usados para a remoção de turbidez

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Capítulo I

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encontram-se a filtração e a centrifugação. A filtração leva a resultados que são

reprodutíveis em diferentes laboratórios. Entretanto, alguns procedimentos de filtração

podem remover parte da cor verdadeira. A centrifugação evita a interação das

substâncias responsáveis pela cor com os materiais dos filtros, mas os resultados obtidos

variam com a natureza da amostra e com o tamanho e a velocidade da centrífuga 102.

O método da platina-cobalto é um método padrão para a medida da cor. Nesse

método, a cor de uma amostra é determinada por comparação com a cor de soluções de

diferentes concentrações de uma mistura de cloroplatinato de potássio, K2PtCl6, e

cloreto de cobalto(II), CoCl2.6H2O. Uma solução que contém 1,246 g L−1 do primeiro e

1,000 g L−1 do segundo apresenta cor de 500 unidades. Esse método é adequado para a

medida da cor de água potável e de águas nas quais a cor é devida a materiais que

ocorrem naturalmente. Ele não é aplicável a muitos efluentes industriais que apresentam

coloração intensa 102.

O método mais simples para a medida da cor de uma amostra consiste em

registrar o seu espectro e determinar o valor de absorbância em um ou mais

comprimentos de onda característicos de cada amostra. A cor de uma amostra é

normalmente associada à absorção na região espectral visível (400-800 nm), mas isso

nem sempre é válido. O azo corante preto ácido 210 (AB-210), por exemplo, apresenta

três bandas de absorção bem definidas nas regiões de 320, 460 e 600 nm. Durante os

estudos de eletroxidação do AB-210, o qual será apresentado no capítulo IV desta tese,

foi observado que a solução de corante ainda apresentava cor quando as bandas em 460

e 600 nm haviam sido completamente removidas. Entretanto, completa remoção da cor

da solução foi observada quando a absorbância em 320 nm atingiu o valor zero.

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Capítulo I

62

I.4.7 - Cromo (VI)

Cr(VI) pode ser determinado pelo método colorimétrico da difenilcarbazida

(DPC). Em meio ácido, Cr(VI) e DPC participam de uma reação de oxi-redução, na

qual Cr(VI) é reduzido a Cr(II) e DPC é oxidada a difenilcarbazona (Figura 1.19). Em

seguida, Cr(II) e difenilcarbazona formam um complexo de coloração violeta que

absorve fortemente em 540 nm. Sais de Mo(VI) e de mercúrio podem reagir com a

DPC, mas a cor resultante do produto formado entre eles é menos intensa do que aquela

produzida na reação entre Cr(VI) e DPC e, por isso, altas concentrações daqueles metais

são toleráveis 102.

Figura 1.19: Reação entre Cr(VI) e DPC em meio ácido 106.

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Capítulo I

63

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Capítulo I

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Capítulo I

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Capítulo I

67

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80 GOGATE, P. R. Treatment of wastewater streams containing phenolic compounds using hybrid techniques based on cavitation: a review of the current status and the way forward. Ultrasonics Sonochemistry, v. 15, p. 1-15, 2008.

81 RAJESHWAR, K.; IBANEZ J. G. Environmental Electrochemistry – Fundamentals and Application in Pollution Abatement. San Diego: Academic Press, 1997.

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Capítulo I

68

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Capítulo I

69

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Capítulo I

70

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123 HARVEY, D. Modern analytical chemistry. USA: Mc Graw Hill, 2000. 124 PAVIA, D. L.; LAMPMAN, G. M.; KRIZ, G. S. Introduction to spectroscopy – a guide

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Capítulo II: Objetivo

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Capítulo II

72

II - Objetivo

Este trabalho teve como objetivo estudar a aplicação dos processos

eletroquímico, fotocatalítico e fotoeletroquímico no tratamento de efluentes de curtume

para compará-los quanto à eficiência de degradação, diminuição da toxicidade do

efluente e consumo de energia. Os efeitos do material anódico, da densidade de

corrente, da natureza e concentração do eletrólito suporte, do pH e da radiação incidente

sobre o eletrodo foram investigados.

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Capítulo III: Degradação eletroquímica de efluentes de curtume real e sintético utilizando eletrodos do tipo DSA®

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Capítulo III

74

III.1 - Introdução

A escolha de um processo de tratamento de efluente depende de diversos fatores

como a eficiência do processo, o custo e a compatibilidade ambiental. Além disso, as

características do efluente devem ser consideradas para a escolha do melhor processo de

tratamento. Desde que os efluentes gerados pelos curtumes geralmente apresentam

elevada condutividade devido ao seu alto conteúdo salino (Tabela I.1), o processo

eletroquímico pode ser adequado para o tratamento desses efluentes.

Alguns1 trabalhos2 da3 literatura4 apresentam5 a6 aplicação7 do processo eletroquímico

ao tratamento de efluentes de curtume 1-8. Szpyrkowicz et al. 1 utilizaram os eletrodos

Ti/Pt e Ti/Pt/Ir (porcentagem molar: 60% de Pt e 40% de Ir) no tratamento de efluentes

provenientes de diferentes etapas da estação de tratamento de um curtume: efluente

bruto após o tratamento primário (E1); efluente após tratamento aeróbio (E2); efluentes

E1 e E2 combinados na razão 2:3 (E3) e efluente final depois do tratamento aeróbio,

nitrificação e desnitrificação (E4). A célula eletroquímica utilizada nesse estudo possuía

dimensões de 350 x 100 x 50 mm. Dentro dessa célula foram rearranjados dois pares de

eletrodos ânodo-cátodo, sendo que a distância entre os eletrodos era de 5 mm e cada um

possuía uma área de 1 dm2. Quando o eletrodo Ti/Pt foi utilizado para tratar o efluente

E4, a concentração de íons NH4+ diminuiu de 24,2 mg L−1 para 2,2 mg L−1 depois de

10 min de eletrólise à densidade de corrente de 2 A dm−2. Quando a mesma composição

eletródica foi utilizada para tratar o efluente E2, o qual continha uma concentração

inicial de NH4+ de 150 mg L−1, completa eliminação desse íon foi obtida em 40 min de

eletrólise à densidade de corrente de 2 A dm−2 e em 30 min a 3 A dm−2. Em se tratando

do efluente E1, o qual possuía alta concentração de substâncias orgânicas, foram

necessários 40 min de eletrólise a 4 A dm−2 para remover completamente 125 mg L−1 de

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Capítulo III

75

NH4+. O eletrodo Ti/Pt/Ir também se mostrou bastante eficiente para a oxidação de

NH4+, inclusive na presença de alta concentração de compostos orgânicos. Com esse

eletrodo, 125 mg L−1 de NH4+ foram completamente removidos do efluente E1 após

22 min de eletrólise à densidade de corrente de 3 A dm−2. Nas mesmas condições,

aproximadamente 20% de NH4+ foi oxidado utilizando o eletrodo Ti/Pt. Em relação à

remoção de COD, o eletrodo Ti/Pt mostrou-se mais eficiente, promovendo uma redução

de aproximadamente 70% no efluente E2 em 30 min de eletrólise à densidade de

corrente de 3 A dm−2, enquanto que para o efluente E1 essa redução foi próxima de 60%

em 40 min a 4 A dm−2. Quando o eletrodo Ti/Pt/Ir foi utilizado, a remoção de COD foi

menor do que 10%. O eletrodo Ti/Pt/Ir mostrou maior eficiência para a remoção de

NH4+ e menor eficiência para a remoção de COD. Esse comportamento foi atribuído à

oxidação direta dos íons NH4+ nesse eletrodo e pôde ser confirmado pelo fato de que,

nos tempos finais de eletrólise, as concentrações de cloreto nos efluentes tratados foram

maiores quando o eletrodo Ti/Pt/Ir foi utilizado, indicando que esse material é melhor

para a eletroxidação direta dos contaminantes do efluente. Esses resultados sugerem que

as espécies de cloro ativo geradas eletroquimicamente a partir dos íons cloreto foram as

principais responsáveis pela oxidação dos contaminantes orgânicos do efluente e, desde

que o eletrodo Ti/Pt mostrou-se melhor para a geração dessas espécies, melhores

resultados de remoção de COD foram obtidos quando esse eletrodo foi utilizado.

Em outro trabalho, Szpyrkowicz et al. 7 apresentaram voltamogramas cíclicos

registrados para o eletrodo Ti/Pt/Ir (porcentagem molar: 70% de Pt e 30% de Ir) em

uma solução de NaCl 5,500 g L−1, antes e após a adição de um efluente bruto de

curtume. Os voltamogramas foram registrados no intervalo de potencial de −1,5 a 1,8 V

vs. SCE. Nesse intervalo de potencial, as reações de desprendimento de oxigênio e

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Capítulo III

76

hidrogênio também ocorrem. Em ambos os voltamogramas observou-se um pico

catódico em ≈ 1 V, o qual é atribuído à redução da fração de cloro gasoso que

permanece adsorvida na superfície do eletrodo. Nesses voltamogramas não há evidência

de nenhum processo relacionado à oxidação direta dos contaminantes. Voltamogramas

cíclicos registrados para os eletrodos Ti/RhOx-TiO2 e Ti/Pd-Co na presença de NaCl

mostraram comportamento análogo ao observado para o eletrodo Ti/Pt/Ir 8. Esses

resultados suportam a hipótese de que, na presença de cloreto, o mecanismo indireto é o

principal responsável pela eletroxidação dos contaminantes do efluente.

Szpyrkowicz et al. 5 também investigaram a utilização dos ânodos Ti/PbO2 e

Ti/MnO2 no tratamento eletroquímico de um efluente de curtume. As eletrólises

resultaram na remoção da cor do efluente. Além disso, a formação de espuma contendo

sólidos suspensos foi observada. Quando o eletrodo Ti/MnO2 foi utilizado à densidade

de corrente de 0,2 A dm−2, a remoção da cor foi de ≈ 91%. Resultados equiparáveis a

esse foram obtidos com o eletrodo Ti/PbO2 à densidade de corrente maior do que

0,67 A dm−2 e com o eletrodo Ti/Pt à densidade de corrente maior do que 5,56 A dm−2.

O ânodo Ti/Pt mostrou-se mais eficiente para a remoção de COD e NH4+. Quando esse

eletrodo foi utilizado à densidade de corrente de 1 A dm−2, as eficiências para a remoção

de COD e NH4+ foram, respectivamente, 0,802 kg h−1 A−1 m−2 e 0,270 kg h−1 A−1 m−2.

Com o ânodo Ti/PbO2, as maiores eficiências para a remoção de COD e NH4+ foram

obtidas à densidade de corrente de 0,67 A dm−2. Nessa condição a eficiência foi cinco

vezes menor para a remoção de COD e treze vezes menor para a remoção de NH4+ do

que as eficiências obtidas com o eletrodo Ti/Pt. Com o ânodo Ti/MnO2, as melhores

eficiências para a remoção de COD e NH4+ foram obtidas à densidade de corrente de

0,204 A dm−2. Nessa condição as remoções de COD e NH4+ foram, respectivamente, 24

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Capítulo III

77

e 30 vezes menor do que aquelas obtidas com o eletrodo Ti/Pt. Nesse estudo a formação

de tetracloroetano foi observada, a qual foi atribuída à reação entre as espécies de cloro

ativo geradas eletroquimicamente e os contaminantes orgânicos do efluente.

Panizza e Cerisola 6 estudaram a oxidação eletroquímica de dois efluentes de

curtume sintéticos. Um desses efluentes (S1) tratava-se de uma solução simplificada

constituída somente por ácido tânico e dois sais inorgânicos (1,50 g L−1 de ácido tânico,

7,00 g L−1 de NaCl e 8,00 g L−1 de Na2SO4). A segunda solução sintética (S2) simulou

um efluente de curtume real após o tratamento biológico. Essa solução foi preparada

com ácido tânico, NaCl e Na2SO4 nas mesmas concentrações que na solução S1, além de

2,00 g L−1 de NH4Cl, 0,10 g L−1 de H2S e 0,05 g L−1 de tensoativos. As eletrólises

foram realizadas em uma célula em fluxo com um único compartimento, sob condições

galvanostáticas. Ti/PbO2 e Ti/TiRuO2 foram utilizados como ânodo e foram escolhidos

como representantes dos eletrodos não ativos e ativos, respectivamente. Como cátodo,

foi utilizado um eletrodo de aço inoxidável. Ambos os eletrodos, cátodo e ânodo,

tinham a forma de um quadrado com área geométrica de 25 cm2 e a distância entre eles

era de 0,5 cm. Esse estudo mostrou que ambos os eletrodos foram capazes de oxidar o

ácido tânico nas primeiras duas horas de eletrólise a 600 A m−2. O eletrodo Ti/PbO2

resultou em uma remoção mais rápida de COD do que o eletrodo Ti/TiRuO2, o que foi

atribuído às diferenças nos mecanismos de oxidação entre os dois eletrodos. Quando o

eletrodo Ti/TiRuO2 é utilizado, o mecanismo de oxidação direta é insignificante em

soluções contendo cloreto e os contaminantes orgânicos são removidos exclusivamente

pela reação com as espécies de cloro ativo eletrogeradas. Por outro lado, quando

Ti/PbO2 é utilizado, os poluentes orgânicos são removidos pelo mecanismo de oxidação

indireta via espécies de cloro ativo, mas também por meio da oxidação direta via

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Capítulo III

78

radicais hidroxilas adsorvidos na superfície do eletrodo. Por esse motivo, a velocidade

de remoção de ácido tânico foi maior quando Ti/PbO2 foi utilizado como ânodo

(k = 0.9342 h−1 a 600 mA cm−2, pH 6,5 e 20 oC) do que quando Ti/TiRuO2 foi utilizado

nas mesmas condições de eletrólise (k = 0.7515 h−1 a 600 mA cm−2, pH 6,5 e 20 oC). Na

Figura 3.1 são apresentadas as principais reações que ocorrem nas zonas de reação

anódica e química, quando os eletrodos Ti/TiRuO2 e Ti/PbO2 são utilizados.

Figura 3.1: Reações envolvidas na eletroxidação do ácido tânico com os eletrodos Ti/TiRuO2 e Ti/PbO2, de acordo com Panizza e Cerisola 6.

A estabilidade do eletrodo e a energia consumida no processo de oxidação

devem ser avaliadas e consideradas na escolha do material eletródico para aplicações

industriais. Os resultados apresentados por Panizza e Cerisola 6 mostraram que o

consumo de energia para remover 100% de COD foi ≈ 40 kWh m−3 quando o eletrodo

Ti/TiRuO2 foi utilizado, mas foi superior a 120 kWh m−3 com o eletrodo Ti/PbO2. Além

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Capítulo III

79

disso, quando Ti/PbO2 foi utilizado, constatou-se que o efluente foi contaminado com

íons chumbo durante as eletrólises. A erosão de Pb4+ dos eletrodos de PbO2, além de

representar um sério problema ambiental devido à alta toxicidade do chumbo, resulta na

diminuição do tempo de vida do eletrodo. Essas características fazem do eletrodo

Ti/TiRuO2 um material mais interessante do que o Ti/PbO2 para o tratamento de

efluentes de curtume em escala industrial. No tratamento do efluente S2 com o eletrodo

Ti/TiRuO2, completa oxidação do ácido tânico, do íon sulfeto e dos tensoativos foi

atingida depois de 2 h de eletrólise a 600 A m−2, pH 10 e temperatura de 40 oC. Nessas

condições, nitrogênio amoniacal foi totalmente removido depois de 3 h de eletrólise e

COD, depois de 6 h.

Os resultados apresentados anteriormente sugerem que processos eletroquímicos

são capazes de oxidar eficientemente os contaminantes contidos em efluentes de

curtumes. Apesar disso, o desempenho de outros materiais eletródicos deve ser avaliado

com o objetivo de buscar atingir melhores resultados no tratamento desses efluentes e

contribuir para a compreensão dos mecanismos envolvidos nesses processos.

III.1.1 - Ânodos Dimensionalmente Estáveis (DSA®)

Eletrodos DSA® recebem este nome por serem óxidos insolúveis e não sofrerem

alterações nas suas dimensões (tamanho) à medida que eles são utilizados 9. Esses

eletrodos têm sido estudados e desenvolvidos desde 1969. Entre 1968 e 1976, o grupo

de pesquisa De Nora investigou a utilização dos eletrodos DSA® como

eletrocatalisadores para as reações de desprendimento de cloro e oxigênio 10. Na

indústria de cloro-soda, eletrodos DSA® substituíram os ânodos de grafite, os quais

eram consumidos no processo e, por isso, necessitavam constantemente de ajustes

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Capítulo III

80

dimensionais. Eletrodos DSA® são constituídos por um suporte metálico, geralmente

titânio, sobre o qual é depositada uma camada de óxido eletricamente condutor de

poucos micrômetros de espessura. A deposição do óxido é realizada pela decomposição

térmica de um precursor adequado dissolvido em água ou em solventes orgânicos. A

solução contendo o precursor é mecanicamente espalhada sobre o suporte, o qual é, em

seguida, calcinado a uma determinada temperatura 9.

Um dos métodos de preparação de filmes de óxidos consiste na decomposição

térmica de precursores poliméricos, também conhecido como método de Pechini ou

método de Pechini-Adams 11. Esse método é baseado na habilidade que certos ácidos

hidroxicarboxílicos apresentam de formar quelatos com diversos cátions metálicos.

Inicialmente ocorre a complexação entre o ácido orgânico e o cátion metálico de

interesse e, em seguida, a reação de poliesterificação do quelato formado com um álcool

poli-hidroxilado. Ao final do processo obtém-se uma matriz polimérica na qual os

cátions metálicos encontram-se fortemente incorporados e homogeneamente

distribuídos. A decomposição térmica dessa matriz polimérica leva à obtenção do óxido

de interesse. As etapas reacionais envolvidas nesse processo são apresentadas na

Figura 3.2. A principal vantagem desse método é que ele permite obter filmes

uniformes, com superfícies homogêneas, além de possibilitar um controle eficiente da

composição12 dos13 filmes 12-14. Além disso, alguns trabalhos reportam que os eletrodos

Ti/RuO2 e Ti/IrO2 apresentam maiores tempos de vida e maiores áreas

eletroquimicamente ativas quando preparados pelo método de Pechini 15.

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Capítulo III

81

CH2CO

HOC CH2 C

O

OH

OH

COHO

+ Mn+ + CH2 CH2 OHHO

H+-

-H2O

-Mn+

+CH2CO

HOC CH2 C

O

OH

OH

COO

CH2 CH2 OHHO

CH2CO

OC CH2 C

O

O

OH

COO

CH2 CH2CH2CH2HO OH

R-

Mn+

R O CH2 CH2 OH + CH2 CH2HO O R

HOCH2CH2OH-

R O CH2 CH2 O R

Formação do complexo

Esterificação

Polimerização

CH2CO

HOC CH2 C

O

OH

OH

COHO

+ Mn+ + CH2 CH2 OHHO

H+-

-H2O

-Mn+

+CH2CO

HOC CH2 C

O

OH

OH

COO

CH2 CH2 OHHO

CH2CO

OC CH2 C

O

O

OH

COO

CH2 CH2CH2CH2HO OH

R-

Mn+

R O CH2 CH2 OH + CH2 CH2HO O R

HOCH2CH2OH-

R O CH2 CH2 O R

CH2CO

HOC CH2 C

O

OH

OH

COHO

+ Mn+ + CH2 CH2 OHHO

H+-

-H2O

-Mn+

+CH2CO

HOC CH2 C

O

OH

OH

COO

CH2 CH2 OHHO

-Mn+

-Mn+

+CH2CO

HOC CH2 C

O

OH

OH

COO

CH2 CH2 OHHO

CH2CO

OC CH2 C

O

O

OH

COO

CH2 CH2CH2CH2HO OH

R-

Mn+

R O CH2 CH2 OH + CH2 CH2HO O R

HOCH2CH2OH-

R O CH2 CH2 O R

Formação do complexo

Esterificação

Polimerização

Figura 3.2: Etapas envolvidas na preparação do precursor polimérico. No exemplo acima, ácido cítrico é o ácido hidroxicarboxílico e etilenoglicol é o álcool poli-hidroxilado.

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Capítulo III

82

Eletrodos do tipo DSA® consistem de uma mistura de óxidos de metais de

transição. Alguns dos óxidos constituintes dessas misturas atuam como

eletrocatalisadores (RuO2, IrO2, Co3O4), enquanto que outros são aditivos introduzidos

com o objetivo de melhorar a seletividade e a estabilidade do material eletródico (TiO2,

SnO2, Ta2O5, ZrO2, CeO2) 9.

RuO2 and IrO2 são eletrocatalisadores ativos para a reação de desprendimento de

cloro, sendo o primeiro mais ativo do que o segundo 7. Apesar disso, IrO2 é

anodicamente mais estável do que RuO2 16. RuO2 é insolúvel até certo valor de

potencial. À medida que óxidos de alta valência (RuO3 e RuO4) são formados sobre os

sítios superficiais, o eletrodo começa a ser gradativamente dissolvido 17. Quando IrO2 e

RuO2 são constituintes da mesma mistura de óxido, IrO2 impede a dissolução anódica

do RuO2, deslocando a formação do RuO3 e do RuO4 para potenciais mais positivos.

Apesar disso, a presença de IrO2 diminui a atividade eletrocatalítica do RuO2 18.

TiO2 é um componente típico dos eletrodos DSA®. Desde que o suporte desses

eletrodos é frequentemente titânio, TiO2 é introduzido para oferecer melhor adesão dos

filmes de óxido sobre o suporte metálico. TiO2 pode existir principalmente em duas

formas cristalinas: a anatase e a rutila. Em muitos casos, TiO2 puro é obtido na forma

anatase. Entretanto, nos filmes de óxidos constituídos por TiO2 e RuO2 ele aparece na

forma rutila, mesma forma assumida pelo RuO2, devido ao fenômeno de isomorfismo 9.

SnO2 é usado como aditivo nos eletrodos industriais para aumentar sua

seletividade para a reação de desprendimento de cloro. Ele tem sido investigado como

um substituto do TiO2 e como uma matriz a ser dopada com óxidos catalíticos de metais

de transição 9. SnO2 é capaz de promover a completa oxidação de substâncias orgânicas

e por isso é um material eletródico promissor para a remoção dessas substâncias de

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Capítulo III

83

efluentes industriais 19. A condutividade e o tempo de vida útil do SnO2 são acentuados

por meio de sua dopagem com Sb2O5. Este é um dopante interessante para o SnO2

porque ele não altera a estrutura cristalina do SnO2, o que se deve à similaridade entre

os raios iônicos do Sn4+ (0,69 Å) e do Sb5+ (0,71 Å) 14,20.

Eletrodos comerciais nunca são constituídos por um único óxido. Em geral eles

são constituídos por uma mistura de óxidos, na qual cada um dos óxidos constituintes

possui uma função bem definida: eletrocatalisador, promotor de estabilidade,

intensificador de seletividade, etc. Geralmente uma mistura de óxidos é empregada para

evitar o uso de grandes quantidades de óxidos eletrocatalisadores caros e para modular

as propriedades do eletrodo. O efeito de cada óxido vai depender das suas estruturas

cristalina e eletrônica e do grau de interação entre os componentes da mistura 9,18.

A eletrocatálise é uma área que desperta o interesse da comunidade acadêmica e

industrial. O termo eletrocatálise se refere aos efeitos que os materiais eletródicos

exercem sobre a velocidade das reações eletródicas. Esses efeitos podem ser primários e

secundários. Os efeitos primários são aqueles que envolvem a interação dos reagentes,

produtos e/ou intermediários com a superfície do eletrodo. Ligações são formadas e

quebradas devido a um efeito direto sobre a energia de ativação da etapa determinante

da velocidade da reação. Efeitos secundários estão relacionados à estrutura diversificada

da dupla camada elétrica. Se não fossem os efeitos secundários, a velocidade de uma

reação seria independente do material eletródico 17,18.

III.1.2 - Eficiência de Corrente

A eficiência de corrente (CE) é um parâmetro importante para caracterizar os

processos eletroquímicos. Ela é definida como a fração da corrente utilizada para que a

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Capítulo III

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reação de interesse ocorra 21. Quando a reação de interesse é a oxidação de uma ou mais

substâncias orgânicas em solução aquosa, a CE é definida de acordo com a eq. 3.1.

total

org

I

I=CE (3.1)

onde Iorg é a corrente utilizada para a oxidação das substâncias orgânicas da solução e

Itotal é a corrente aplicada ao sistema eletroquímico.

A CE para a oxidação de substâncias orgânicas é frequentemente calculada a

partir dos valores de COD, a qual é expressa em mg de O2 por litro de solução. A reação

de desprendimento de oxigênio (eq. 3.2) é a principal reação paralela à oxidação das

substâncias orgânicas em meio aquoso. Desde que a corrente é proporcional à massa de

oxigênio produzida na reação, CE pode ser expressa de acordo com a eq. 3.3.

2 H2O → O2 + 4 H+ + 4 e− (3.2)

total2O

org2O

total

org

m

m=

I

I=CE (3.3)

A massa de O2 correspondente à fração orgânica da solução que foi oxidada

( org2Om ) é relacionada à COD e ao volume de solução (V) pela equação abaixo:

V×)COD-COD(=m t0org2O (3.4)

onde COD0 e CODt são a Demanda Química de Oxigênio nos tempos 0 e t,

respectivamente.

A massa total de O2 ( total2Om ) pode ser calculada considerando que toda corrente

aplicada ao sistema eletroquímico foi utilizada para a produção de O2 (eq. 3.2). Assim,

temos que:

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Capítulo III

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F

It8=

O mol 1

O g 32 × It ×

F

elétron mol 1×

elétrons mol 4

O mol 1=m

2

22total2O (3.5)

onde F é a constante de Faraday, I é a corrente aplicada e t é o tempo de eletrólise.

Substituindo as equações 3.4 e 3.5 na eq. 3.3, obtemos a eq. 3.6 22.

It8

COD -CODFV =CE t0 (3.6)

onde COD0 e CODt são a Demanda Química de Oxigênio (g L‒1) nos tempos 0 and t (s),

respectivamente; I é a corrente aplicada (A); F é a constante de Faraday

(96487 C mol‒1) e V é o volume de solução (L). CE é um parâmetro adimensional e

seus valores estarão compreendidos entre 0 e 1, ou, entre 0 e 100% quando expressos

em porcentagem.

A Eficiência de Corrente Instantânea (ICE), é calculada por uma equação

semelhante à eq. 3.6, mas considerando a derivada da curva COD vs. t (eq. 3.7) 23.

t

COD

8I

FV=ICE -

d

d (3.7)

Uma aproximação da eq. 3.7 é dada pela eq. 3.8, onde CODt e CODt+t são a

Demanda Química de Oxigênio nos tempos t e t + t, respectivamente 22. Essa

aproximação só é válida quando intervalos de tempo curtos são considerados.

tΔI8

COD - CODFV =ICE tΔ+tt (3.8)

A CE calculada a partir dos valores de COD indica a eficiência do processo

eletroquímico para a oxidação de átomos de C, N e S presentes em diferentes estados de

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Capítulo III

86

oxidação nos compostos orgânicos e também para a oxidação de substâncias

inorgânicas oxidáveis que podem estar presentes nos efluentes industriais.

Teoricamente, supondo que a oxidação total dos compostos orgânicos tenha ocorrido, a

razão entre os valores de COD e TOC é 2,67, a qual corresponde à razão entre as

massas molares do oxigênio molecular (32 g mol−1) e do átomo de carbono

(12 g mol−1). Na prática, essa razão pode variar de 0, quando a matéria orgânica é

bastante resistente à oxidação ao dicromato (piridina, por exemplo), até 6,33 para o

metano ou ainda, até valores superiores quando substâncias inorgânicas redutoras estão

presentes na solução ou no efluente 24. Apesar disso, uma razão COD/TOC próxima de

2,67 é frequentemente encontrada para vários efluentes aquosos 25. Assim, a CE pode

ser calculada a partir dos valores de TOC de acordo com a eq. 3.9.

It8

TOC - TOC2,67FV =CE t0 (3.9)

onde TOC0 e TOCt são o Carbono Orgânico Total (g L−1) nos tempos 0 e t (s),

respectivamente.

Para exemplificar a diferença entre as eficiências de corrente calculadas a partir

de COD e TOC, vamos considerar a eletroxidação do álcool benzílico em solução

aquosa. Se o álcool benzílico for oxidado a benzaldeído e ácido benzóico, mas não a

CO2, a CE calculada a partir da eq. 3.6 será diferente de zero e dependerá das

concentrações de cada composto formado no processo de oxidação, mas a CE calculada

a partir da eq. 3.9 será igual a zero porque o TOC da solução terá se mantido constante,

já que não houve formação de CO2. Uma vez que a oxidação de compostos orgânicos

nem sempre resulta na sua mineralização, remoções de COD mais rápidas do que de

TOC são geralmente obtidas e, portanto, as eficiências de corrente de oxidação

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Capítulo III

87

(calculadas a partir de COD, eq. 3.6) são maiores do que as eficiências de corrente de

mineralização (calculadas a partir de TOC, eq. 3.9).

III.2 - Procedimento experimental

III.2.1 - Preparação dos eletrodos

Seis composições eletródicas foram preparadas e caracterizadas para

posteriormente serem aplicadas ao tratamento eletroquímico de efluentes de curtume.

São elas: (1) Ir0,01Sn0,99O2; (2) Ir0,10Sn0,90O2; (3) Ru0,10Sn0,90O2; (4) Ru0,30Ti0,70O2;

(5) Ir0,15Ru0,15Sn0,70O2 e (6) Ir0,30Ti0,30Sn0,40O2. Esses materiais eletródicos foram

preparados pelo método de Pechini.

III.2.1.1 - Preparação e padronização da solução precursora de estanho

O citrato de estanho foi utilizado na preparação da solução precursora de

estanho. Esse sal foi sintetizado a partir do ácido cítrico (C6H8O7.H2O - Merck) e do

cloreto de estanho (SnCl2.2H2O - Merck) na proporção molar 1:2 26. Inicialmente

preparou-se 250 mL de solução de ácido cítrico 0,25 mol L−1. Em seguida essa solução

foi transferida para um béquer e, sob agitação magnética, o cloreto de estanho foi

lentamente adicionado, obtendo-se uma solução turva esbranquiçada. Após 2 h de

reação, a turbidez da solução já havia diminuído significativamente. Então, uma solução

de NH4OH (Merck) aproximadamente 2 mol L−1 foi adicionada até ser atingido pH 3. À

medida que a solução de NH4OH foi adicionada, o citrato de estanho foi precipitando.

Posteriormente, o sólido de cor branca obtido foi filtrado a vácuo, lavado duas vezes

com 100 mL de água desionizada e em seguida foi seco em estufa a 75 oC por 24 h. A

reação envolvida nesse processo é indicada pela eq. 3.10.

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Capítulo III

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2 SnCl2.2H2O + C6H8O7.H2O + 4 NH4OH → C6H6O8Sn2 + 8 H2O + 4 NH4Cl (3.10)

C

CH2

C

CH2

C

O

OH

OH

C O

OH

O

HO

H2O.

C

CH2

C

CH2

C

O

O SnOH

O

C O

Sn

O

O

HO

Para preparar a resina precursora de estanho, ácido cítrico (C6H8O7.H2O -

Merck) e etilenoglicol (C2H6O2 - Mallinckrodt) foram utilizados na razão 50%:50% em

massa. A quantidade de citrato de estanho empregada foi a necessária para se obter a

proporção de 1 mol de estanho para 3 mols de ácido cítrico. Primeiramente o ácido

cítrico foi dissolvido no etilenoglicol a 65 oC sob agitação magnética. Após a dissolução

do ácido, a temperatura foi elevada a 90 oC e nesse ponto o citrato de estanho foi

adicionado. A temperatura foi rigorosamente controlada de forma a não exceder 95 oC.

Após a adição de todo citrato de estanho, HNO3 concentrado (Quimis) foi adicionado

gota a gota até a completa dissolução do sal. Observou-se um intenso desprendimento

de NO2 e um acentuado aumento da viscosidade da solução, obtendo-se, assim, a

solução precursora de estanho de cor amarelada.

A concentração de estanho na solução precursora foi determinada por

gravimetria. Para isso, 1 g da solução foi precisamente pesado em um cadinho e

submetido à calcinação a 550 oC por quatro horas. Em seguida, o cadinho contendo o

produto da calcinação foi deixado em um dessecador até atingir a temperatura ambiente.

Então, ele foi pesado até ser obtida massa constante. Essa determinação foi realizada em

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Capítulo III

89

triplicata. O produto obtido foi o SnO2, de cor levemente bege. A concentração de Sn

determinada foi da ordem de 10−4 mol de Sn / g de resina.

Antimônio foi adicionado à solução precursora de estanho na quantidade de

2,0% em mol em relação ao número de mols de estanho. Sb2O3 (Riedel-de Haën) foi

utilizado como fonte de antimônio. Ele foi dissolvido na solução precursora de estanho

à temperatura de 60 oC sob agitação magnética. Algumas gotas de HNO3 concentrado

(Nuclear) foram adicionadas para auxiliar a dissolução. A solução foi aquecida até ser

observada a completa dissolução do Sb2O3.

III.2.1.2 - Preparação e padronização da solução precursora de rutênio

Para preparar a solução precursora de rutênio, ácido cítrico (C6H8O7.H2O -

Merck) e etilenoglicol (C2H6O2 - Mallinckrodt) foram utilizados na razão 50%:50% em

massa. Também foi utilizada uma solução de cloreto de rutênio (III) hidratado (Aldrich)

de concentração 0,164 mol L-1 preparada em HCl (Vetec) 1:1 (v:v). Primeiramente, o

ácido cítrico foi dissolvido no etilenoglicol a 65 oC sob agitação magnética. Após a

dissolução do ácido, a temperatura foi elevada a 90 oC e nesse ponto a solução de

cloreto de rutênio foi adicionada em quantidade suficiente para se obter a proporção de

1 mol de rutênio para 3 mols de ácido cítrico. A temperatura foi rigorosamente

controlada de forma a não exceder 95 oC. A mistura foi mantida sob aquecimento até

eliminação completa do HCl, monitorada pelo seu odor característico. Ao final desse

processo foi obtida a solução precursora de rutênio de cor avermelhada.

A concentração de rutênio na solução precursora foi determinada por

gravimetria de acordo com o procedimento descrito no item III.2.1.1. O produto obtido

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Capítulo III

90

após a calcinação foi o RuO2, de cor preta. A concentração de Ru determinada foi da

ordem de 10−4 mol de Ru / g de resina.

III.2.1.3 - Preparação e padronização da solução precursora de irídio

Para preparar a solução precursora de irídio, ácido cítrico (C6H8O7.H2O - Merck)

e etilenoglicol (C2H6O2 - Mallinckrodt) foram utilizados na razão 50%:50% em massa.

Em um béquer contendo 20 mL de HCl (Vetec) 1:1 (v:v), foram adicionados 1,20 g de

cloreto de irídio(III) tri-hidratado (Acros). Essa solução foi mantida sob aquecimento e

agitação magnética. Para garantir a completa solubilização do sal, foram adicionadas 13

gotas de H2O2 30% (Synth). O H2O2 tem a função de oxidar Ir3+ a Ir4+ facilitando a

solubilização do sal, uma vez que o último é mais solúvel em água do que o primeiro.

Em outro béquer, o ácido cítrico foi dissolvido no etilenoglicol a 65 oC sob agitação

magnética. Em seguida a temperatura foi elevada a 90 oC e nesse ponto a solução de

cloreto de irídio preparada anteriormente foi adicionada. A razão molar entre irídio e

ácido cítrico foi de 1:3. A temperatura foi rigorosamente controlada de forma a não

exceder 95 oC. A mistura foi mantida sob aquecimento até a eliminação completa do

HCl. Ao final desse processo foi obtida a solução precursora de irídio de cor marrom

esverdeada.

A concentração de irídio na solução precursora foi determinada por gravimetria

de acordo com o procedimento descrito no item III.2.1.1. O produto obtido após a

calcinação foi o IrO2, de cor preta. A concentração de Ir determinada foi da ordem de

10−4 mol de Ir / g de resina.

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Capítulo III

91

III.2.1.4 - Preparação e padronização da solução precursora de titânio

Para preparar a solução precursora de titânio, ácido cítrico (C6H8O7.H2O -

Merck) e etilenoglicol (C2H6O2 - Mallinckrodt) foram utilizados na razão 1:4 em mol.

Em um béquer dissolveu-se todo o ácido cítrico em metade do volume de etilenoglicol a

65 oC – Solução A. Em seguida a temperatura foi elevada e mantida a 80 oC. Em outro

béquer foram misturados, à temperatura ambiente, o restante do etilenoglicol, o

isopropóxido de titânio (C12H28O4Ti - Acros) e HNO3 concentrado (Synth) – Solução B.

O isopropóxido de titânio foi utilizado em quantidade suficiente para se obter a

proporção de 1 mol de titânio para 4 mols de ácido cítrico. A razão molar entre HNO3 e

Ti foi de 3,5:1. Posteriormente a solução B também foi aquecida até 80 oC e a ela foi

adicionada a solução A. Nessa etapa a temperatura foi rigorosamente controlada de

forma a não ultrapassar 85 oC. A mistura foi mantida sob aquecimento e agitação

magnética até não se observar desprendimento de bolhas e formação de espuma. Ao

final desse processo foi obtida a solução precursora de titânio de cor levemente

amarelada.

A concentração de titânio na solução precursora foi determinada por gravimetria

de acordo com o procedimento descrito no item III.2.1.1. O produto obtido após a

calcinação foi o TiO2, de cor branca. A concentração de Ti determinada foi da ordem de

10−4 mol de Ti / g de resina.

III.2.1.5 - Pré-tratamento dos suportes de titânio

Placas de titânio foram utilizadas como suporte para os filmes de óxidos. As

dimensões e os dois modelos de placa utilizados na preparação dos eletrodos são

apresentados na Figura 3.3. O modelo 1, que conta com uma área geométrica total de

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Capítulo III

92

2 cm2 (os filmes de óxidos foram depositados nos dois lados do suporte), foi utilizado

para a caracterização eletroquímica das diversas composições e para os ensaios

preliminares de oxidação do efluente de curtume real. O modelo 2, que conta com uma

área geométrica de 44,79 cm2 (os filmes de óxidos foram depositados somente em um

dos lados do suporte), foi utilizado no reator do tipo filtro-prensa, nos estudos de

oxidação do efluente de curtume sintético.

1 cm

1 cm

SuporteHaste

1 cm1 cm

1 cm

1 cm

SuporteHaste

9,45 cm

8,65 cm

4,0

cm

4,8

cm 0,40 cm

0,40 cmSuporte

Haste

9,45 cm

8,65 cm

4,0

cm

4,8

cm 0,40 cm

0,40 cm

9,45 cm

8,65 cm

9,45 cm

8,65 cm

4,0

cm

4,8

cm 0,40 cm

0,40 cmSuporte

Haste

Modelo 1 Modelo 2

Figura 3.3: Ilustração dos suportes de titânio utilizados para a deposição dos filmes de óxidos.

Além desses suportes, os filmes de óxidos também foram depositados em placas

de dimensões 1 cm x 1 cm e 0,5 cm x 1,0 cm (somente em um dos lados). A primeira

placa contendo o depósito de óxido foi submetida à análise de Difração de Raios X

(XRD) e a segunda, às análises de Microscopia Eletrônica de Varredura (SEM) e

Energia dispersiva de Raios X (EDX).

Os suportes de titânio foram submetidos aos seguintes pré-tratamentos:

1) Jateamento com granalha de aço: Todos os suportes de titânio, com exceção

daqueles destinados à deposição de óxidos para análise de XRD, foram submetidos

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Capítulo III

93

a esta etapa de tratamento. Ela tem como objetivo aumentar a rugosidade do suporte

de titânio possibilitando uma melhor aderência do filme de óxido sobre o mesmo.

2) Imersão em água desionizada em ebulição durante 30 min: Essa etapa tem como

objetivo remover as impurezas presentes no titânio.

3) Ultra-sonicação em isopropanol (CH3CHOHCH3 - Mallinckrodt) durante 30 min:

Essa etapa permite eliminar as impurezas orgânicas.

4) Imersão em solução de HCl (Vetec) 20% (v) em ebulição por 5 min: Essa etapa tem

como objetivo remover o ferro remanescente da etapa 1.

5) Imersão em solução de ácido oxálico (H2C2O4 - Synth) 10% (m) em ebulição por

20 min: Essa etapa visa remover a camada de TiO2 que se forma sobre o titânio

metálico.

III.2.1.6 – Deposição dos filmes de óxido sobre o suporte de titânio

Partindo-se das soluções precursoras de estanho, rutênio, irídio e titânio,

misturas precursoras foram preparadas levando-se em consideração as frações molares

dos metais esperadas nas misturas de óxidos (composições nominais). As misturas

precursoras muito viscosas foram diluídas com etilenoglicol para facilitar a etapa

posterior de pincelamento e evitar o esfarelamento dos filmes de óxidos.

Uma vez preparadas, as misturas precursoras foram pinceladas sobre os suportes

de titânio previamente tratados. Após o pincelamento, os suportes foram mantidos em

estufa a 120-130 oC por 5 min (etapa na qual ocorre a polimerização da mistura

precursora na superfície do suporte). Em seguida, o suporte foi calcinado a 450 oC e

fluxo de oxigênio de 5 L min−1 por 5 min. Essas etapas foram repetidas até se obter a

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Capítulo III

94

massa de óxido desejada. Após isso, o eletrodo foi calcinado por 1 h, na temperatura e

fluxo de oxigênio mencionados anteriormente.

A massa de óxido a ser depositada no substrato foi calculada considerando uma

espessura nominal de 2 m (com exceção do filme destinado à analise de XRD, cuja

espessura considerada foi de 10 m). Dispondo-se da área geométrica dos suportes, das

densidades dos óxidos formados e da fração molar de cada óxido, a massa a ser

depositada no suporte (m) foi calculada por meio da seguinte equação:

∑ )ρ×X(×A×e=mn

1=i ii (3.11)

onde e é a espessura do filme, A é a área do suporte na qual será depositada o óxido, Xi

é a fração molar do óxido i, i é a densidade do óxido i e n é o número de óxidos

constituintes (nesse trabalho n = 2 ou n = 3). Na Tabela III.1 são apresentadas as

densidades dos óxidos estudados neste trabalho.

Tabela III.1: Densidades dos óxidos estudados27 neste28 trabalho 27-29

Óxidos Densidade (g cm−3)

SnO2 6,95

RuO2 7,05

IrO2 11,70

TiO2 rutila 4,23

III.2.1.7 - Confecção final dos eletrodos

Após a calcinação por 1 h, a haste do suporte metálico (Modelo 1 - Figura 3.3)

foi lixada para retirar a camada de óxido de titânio formada durante o processo de

calcinação. Após a remoção da camada de TiO2, um contato elétrico foi estabelecido

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Capítulo III

95

entre um fio de cobre e a haste do eletrodo por meio de pontos de solda. A outra

extremidade do fio de cobre foi soldada a um fio de cobre de espessura maior. Após

isso, o eletrodo foi embutido em um tubo de vidro de modo a deixar exposto somente o

filme de óxido. Posteriormente as extremidades do tubo foram vedadas com cola de

silicone. Na Figura 3.4 é apresentada uma ilustração de um eletrodo recém preparado.

...

Fio de cobre Cola de siliconeCola de silicone

Contato elétrico Filme de óxido

...

Fio de cobre Cola de siliconeCola de siliconeCola de siliconeCola de silicone

Contato elétrico Filme de óxido

Figura 3.4: Representação esquemática de um eletrodo recém preparado.

III.2.1.8 - Caracterização físico-química dos eletrodos

A morfologia e a composição dos filmes de óxidos foram analisadas por SEM e

EDX utilizando um microscópio eletrônico de varredura da Zeiss DSM 940 acoplado a

um microanalisador de raios x Link Analytical QX 2000. Análises de SEM também

foram realizadas utilizando um microscópio eletrônico de varredura da Zeiss modelo

EVO 50. Os filmes também foram submetidos à análise de XRD nos difratômetros de

raios X Rigaku D/Max 2500 PC e SIEMENS D5005, ambos utilizando radiação Kα do

Cu, equipados com um monocromador de grafite.

Voltamogramas cíclicos das seis composições eletródicas preparadas foram

registrados em solução de H2SO4 (Merck) 0,5 mol L−1 utilizando um

potenciostato/galvanostato da Autolab PGSTAT30 acoplado a um microcomputador. O

eletrodo de referência utilizado foi o eletrodo reversível de hidrogênio (RHE). Como

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Capítulo III

96

contra-eletrodos foram utilizados dois fios de platina platinizada enrolados em espiral.

Antes dos experimentos a solução de H2SO4 foi desaerada com nitrogênio

A célula eletroquímica utilizada na caracterização eletroquímica dos eletrodos

tem capacidade de 250 mL e é composta por um corpo central destinado ao eletrodo de

trabalho que conta com uma entrada para o sistema de desaeração. Além do

compartimento central, a célula conta ainda com três compartimentos separados: um

compartimento do tipo Luggin é destinado ao eletrodo de referência e os outros dois

compartimentos laterais, separados por placas de vidro sinterizado, são destinados aos

contra-eletrodos. Na Figura 3.5 é apresentada uma ilustração dessa célula.

Figura 3.5: Representação esquemática da célula utilizada na caracterização eletroquímica dos eletrodos.

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Capítulo III

97

III.2.2 – Coleta e caracterização de efluentes de curtume

O curtume que cedeu os efluentes para este trabalho foi a Couroquimica Couros

e Acabamentos Ltda. Ele está localizado na cidade de Franca e trata-se de um curtume

de acabamento que processa o couro wet-blue até o acabamento final. Por esse motivo,

os principais contaminantes presentes nos efluentes gerados por esse curtume são

orgânicos. Esse curtume submete seus efluentes ao tratamento primário. A estação de

tratamento primário conta com três tanques: o tanque de equalização, o tanque de

decantação e o tanque de aeração. O tanque de equalização é o primeiro a ser ocupado

pelo efluente. Nesse tanque se dá a homogeneização entre os distintos efluentes gerados

durante o processo de curtimento. Após ser equalizado, o efluente segue para o tanque

de decantação onde se dá o processo de coagulação. Posteriormente, o lodo primário é

separado da água residual e esta é então transferida para o tanque de aeração, onde

permanece até o seu descarte. A água residual pode ser reutilizada no processamento de

couros com cores escuras. Para as análises preliminares, efluentes foram coletados nos

três tanques da estação de tratamento. Os valores de TOC, pH e cromo total obtidos

para esses efluentes são apresentados na Tabela III.2.

Tabela III.2: Valores de TOC, pH e cromo total dos efluentes de curtume

Efluente Tanque de coleta TOC (mg L−1) pH Cr total (mg L−1)

1 Tanque de decantação

(antes do tratamento primário)342,0 4,6 13,0

2 Tanque de aeração 568,8 7,1 0,2

3 Tanque de equalização 263,3 3,7 12,7

4 Tanque de equalização 1023,0 8,0 1,5

5 Tanque de equalização 1005,0 4,0 49,8

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Capítulo III

98

Como pode ser observado pela Tabela III.2, os efluentes apresentam

características bastante distintas. As características do efluente dependem do tipo de

couro que está sendo processado, bem como do tanque, do dia e do horário de

realização da coleta. Embora os efluentes 4 e 5 apresentem diferentes concentrações de

cromo total e diferentes valores de pH, eles possuem valores de TOC semelhantes.

Esses dois efluentes foram coletados por volta da 14:00 h de dois dias distintos.

Segundo os funcionários do curtume, esse é o horário em que frequentemente se dá o

descarte do efluente mais crítico no tanque de equalização. O efluente 5 foi utilizado

nos estudos de degradação eletroquímica.

III.2.3 - Tratamento eletroquímico de um efluente de curtume real

III.2.3.1 - Caracterização do efluente de curtume real

O efluente 5 (Tabela III.2), o qual foi submetido ao tratamento eletroquímico, foi

caracterizado quanto aos seguintes parâmetros: TOC, fenóis totais, espectro UV-Vis

entre 200 e 800 nm, cromo total, cromo (VI), cloreto, condutividade e pH. Testes de

toxicidade aguda com Daphnia similis também foram realizados.

TOC foi medido em um analisador de carbono orgânico TOC-VCPN da

Shimadzu. Fenóis totais foram quantificados pelo método de Folin-Ciocalteu 30 e

Cr(VI), pelo método da difenilcarbazida 30, usando um espectrofotômetro da Hewlett

Packard modelo 8452A. Espectros UV-Vis foram registrados em um espectrofotômetro

da Varian modelo Cary 50 Conc. Cromo total foi determinado por absorção atômica

usando um espectrômetro de chama da Shimadzu modelo AA-680 e uma lâmpada de

cátodo oco para cromo (Hamamatsu Photonics K.K.) operando em 357,9 nm com uma

fenda de 0,5 nm. Cloreto foi quantificado por titulação potenciométrica com uma

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Capítulo III

99

solução de AgNO3 0,1 mol L−1 usando um eletrodo indicador fio de prata combinado

acoplado a um pHmetro/potenciômetro da Minipa modelo 207. Medidas de

condutividade foram realizadas em um condutivímetro Orion modelo 105A+ da Thermo

Electron Corporation e o pH foi medido com um eletrodo de pH acoplado a um

pHmetro da Qualxtron modelo 8010.

Testes de toxicidade com Daphnia similis foram realizados para determinar a

concentração efetiva média capaz de imobilizar 50% dos organismos em um período de

tempo de 48 h (EC50) 31. Esses testes foram realizados em recipientes de 30 mL de

capacidade. Para o efluente inicial, foram utilizadas quatro réplicas por concentração,

sendo usados em cada recipiente-teste 10 mL de solução-teste e cinco organismos com

idade compreendida entre 6 e 24 h. As concentrações-teste foram 5,00%, 2,50%, 1,25%,

0,63% e 0,32% e foram preparadas com água de diluição a. Depois de 48 h de exposição

a 23 ± 1 oC, a porcentagem de organismos imóveis foi registrada e a EC50 foi estimada

estatisticamente pelo método trimmed Spearman-Karber 32.

III.2.3.2 - Degradação eletroquímica do efluente de curtume real

As eletrólises do efluente 5 (Tabela III.2) foram realizadas em uma célula de um

único compartimento de 50 mL de capacidade (Figura 3.6), à temperatura ambiente e

sob agitação magnética. Os eletrodos de trabalho utilizados foram os de composições

nominais: Ti/Ir0,01Sn0,99O2, Ti/Ir0,10Sn0,90O2, Ti/Ru0,10Sn0,90O2, Ti/Ru0,30Ti0,70O2,

Ti/Ir0,15Ru0,15Sn0,70O2 e Ti/Ir0,30Ti0,30Sn0,40O2. Como eletrodo de referência foi utilizado

o Eletrodo Reversível de Hidrogênio (RHE) e como contra-eletrodos, dois fios de

platina platinizada em forma de espiral. As eletrólises foram realizadas em modo

a Água de diluição: água extraída de um poço e filtrada para remover partículas em supensão, cuja dureza

encontra-se compreendida no intervalo de 40 a 48 mg L−1 como CaCO3 e o pH entre 7,0 e 7,6.

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Capítulo III

100

galvanostático utilizando o potenciostato/galvanostato Autolab PGSTAT30 acoplado a

um microcomputador, à densidade de corrente de 20 mA cm−2 e em intervalos de tempo

de 1, 3 e 5 h. Os parâmetros avaliados durante as eletrólises foram: TOC, fenóis totais,

espectro UV-Vis, Cr(VI) e pH b. Para avaliar a influência da densidade de corrente no

tratamento proposto, eletrólises também foram realizadas a 50 e 100 mA cm−2

utilizando o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2. O efeito da condutividade do meio também foi

avaliado. Para isso uma eletrólise foi realizada na presença de 0,1 mol L−1 de Na2SO4 à

densidade de corrente de 100 mA cm−2 utilizando o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2.

Figura 3.6: Célula eletroquímica utilizada nos estudos de degradação do efluente de

curtume real.

b Para as eletrólises realizadas a 20 mA cm−2, o pH permaneceu constante ao longo do tempo

(pH inicial = 4.0). Para as eletrólises realizadas com o o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2 a 50 e 100 mA cm−2 na ausência de Na2SO4 e a 100 mA cm−2 na presença de Na2SO4, o pH atingiu os valores de 4,7, 4,9 e 4,5, respectivamente, após 5 h de eletrólise.

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Capítulo III

101

Testes de toxicidade com Daphnia similis também foram realizados para os

efluentes tratados eletroquimicamente por 5 h utilizando os seguintes eletrodos e

densidades de corrente: Ti/Ir0,15Ru0,15Sn0,70O2 a 20 mA cm−2, Ti/Ir0,30Ti0,30Sn0,40O2 a

20 mA cm−2 e Ti/Ru0,30Ti0,70O2 a 20, 50 e 100 mA cm−2. O procedimento foi análogo ao

realizado para o efluente inicial, mas foram utilizadas três réplicas por concentração.

Para eleminar a influência do Cr(VI) formado e das espécies de cloro ativo

remanescentes após as eletrólises, foram adicionados 24 L de solução de Na2SO3

1,0 mol L−1 para cada 1 mL de efluente tratado. A quantidade de Na2SO3 adicionada foi

calculada considerando a completa oxiidação de Cr(III) a Cr(VI) e de Cl− a hipoclorito.

Desde que em nehuma das eletrólises Cr(III) foi totalmente oxidado a Cr(VI),

considera-se que um excesso de Na2SO3 foi adicionado. Uma solução controle foi

preparada em água de diluição (24 L de solução de Na2SO3 1,0 mol L−1 para cada

1 mL de água de diluição) e submetida aos testes de toxicidade. Os resultados foram

expressos como porcentagem de organismos imóveis em uma determinada

concentração.

III.2.4 - Tratamento eletroquímico de um efluente de curtume sintético

III.2.4.1 - Preparação e caracterização do efluente de curtume sintético

O efluente sintético foi preparado com 30 reagentes, baseando-se em algumas

receitas de recurtimento cedidas pela Couroquimica Couros e Acabamentos Ltda.

Inicialmente, duas soluções sintéticas foram preparadas. Na Tabela III.3 e na

Tabela III.4 são apresentadas as massas de todos os reagentes utilizados na preparação

dessas soluções pela ordem de adição na solução. Uma vez preparadas, essas soluções

foram filtradas em um filtro de placa de vidro sinterizado da Kimax 60 M.

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Capítulo III

102

Tabela III.3: Constituintes da Solução Sintética 1 (SS1). Essa solução foi preparada pela dissolução das substâncias abaixo em 1 L de água Milli-Q

N.o Produtos Massa (g)

1 Formiato de sódio (s) - OXIQUIM 0,634

2 Miltopan DBE SPP-20 (s) - COGNIS 0,041

3 Beije Duacouro MN (s) – A CHIMICAL 0,030

4 Bicarbonato de sódio (s) - BICARBONATO 0,100

5 Castanho Duacouro. MFR (s)- A CHIMICAL 0,032

6 Extrato de quebracho (s) - MARK 0,300

7 Relugan D (s) - BASF 0,300

8 Cinza Sellasolido CLL (s) - TFL 0,003

9 Preto Duacouro BA (s) - A CHIMICAL 0,052

10 Basyntan LB-2 (s) - BASF 0,250

11 Castanho Duacouro RL (s) - A CHIMICAL 0,041

12 Extrato de castanheiro (s) - MARK 0,300

13 Tancurt NA-85 (s) - TANQUÍMICA 0,301

14 Castanho Duacouro. NGB (s) - A CHIMICAL 0,191

15 Tancurt D-920 (s) - TANQUÍMICA 1.204

16 Preto Duacouro MK (s) - A CHIMICAL 0,554

17 Extrato natural de acácia (s) - SETA NATUR N 0,954

18 Ácido fórmico (l) - BASE QUÍMICA 1,524

19 Busan 1086 (l) - BUCKMAN 0,032

20 RSU 100 (l) - DISSOLTEX 0,353

21 Dissogras CTE (l) - DISSOLTEX 0,162

22 Tanicor PSL-BR (l) - CLARIANT 1,355

23 Leukotan 1028 (l) - CORIUM QUÍMICA 0,606

24 Leukotan 1084 (l) - CORIUM QUÍMICA 1,405

25 Preto Dermacarbon AF (l) - CLARIANT 0,033

26 Sedaflor STF (l) - COGNIS 0,273

27 Densotan A (l) - BASF 0,012

28 Sellasol NG (l) - TFL 0,321

29 Derminol Licker L-198 (l) - CLARIANT 0,203

30 Derminol Licker AS-1-BR (l) - CLARIANT 1,550

s: sólido, l: líquido

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Capítulo III

103

Tabela III.4: Constituintes da Solução Sintética 2 (SS2). Essa solução foi preparada pela dissolução das substâncias abaixo em 1 L de água Milli-Q

N.o Produtos Massa (g)

1 Formiato de sódio (s) - OXIQUIM 1,267

2 Miltopan DBE SPP-20 (s) - COGNIS 0,081

3 Bicarbonato de sódio (s) - BICARBONATO 0,200

4 Relugan D (s) - BASF 0,600

5 Tancurt NA-85 (s) - TANQUÍMICA 0,602

6 Tancurt D-920 (s) - TANQUÍMICA 2,407

7 Extrato natural de acácia (s) - SETA NATUR N 1,908

8 Ácido fórmico (l) - BASE QUÍMICA 3,047

9 Busan 1086 (l) - BUCKMAN 0,064

10 RSU 100 (l) - DISSOLTEX 0,706

11 Dissogras CTE (l) - DISSOLTEX 0,324

12 Tanicor PSL-BR (l) - CLARIANT 2,709

13 Leukotan 1028 (l) - CORIUM QUÍMICA 1,211

14 Leukotan 1084 (l) - CORIUM QUÍMICA 2,810

15 Sedaflor STF (l) - COGNIS 0,546

16 Densotan A (l) - BASF 0,023

17 Sellasol NG (l) - TFL 0,641

18 Derminol Licker L-198 (l) - CLARIANT 0,406

19 Derminol Licker AS-1-BR (l) - CLARIANT 3,100

s: sólido, l: líquido

Duas considerações foram levadas em conta na preparação das soluções SS1 e

SS2: (1) produtos contendo cromo não foram utilizados na preparação da solução, uma

vez que o objetivo principal deste trabalho foi estudar a degradação dos constituintes

orgânicos do efluente; (2) a SS1 possui em sua composição pelo menos um

representante de cada classe mencionada a seguir: tanino natural e sintético, corante,

óleo sulfonado, tensoativo, microbiocida, resina acrílica, ácido e sal.

O efluente sintético foi preparado pela mistura das soluções SS1 e SS2. Para

cada 100,0 g de efluente foram adicionados 1,5 g da SS1, 14,6 g da SS2 e 83,9 g de

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Capítulo III

104

água Milli-Q. A caracterização do efluente sintético foi realizada de acordo com os

procedimentos descritos no item III.2.3.1. Para a caracterização desse efluente, análises

de COD também foram realizadas pelo método colorimétrico do refluxo fechado,

utilizando um bloco digestor da Hach e um espectrofotômetro da Hewlett Packard

modelo 8452A.

III.2.4.2 - Degradação eletroquímica do efluente de curtume sintético

O tratamento eletroquímico do efluente de curtume sintético foi realizado em

uma célula filtro-prensa de um único compartimento (Figura 3.7). As eletrólises foram

realizadas em condições galvanostáticas, à densidade de corrente de 20 mA cm−2 por

5 h, usando um potenciostato/galvanostato Autolab PGSTAT30 acoplado a um booster

de corrente (BRTS10A) e a um microcomputador. Um eletrodo Ti/Ir0,10Sn0,90O2 e uma

placa de aço inoxidável foram usados como ânodo e cátodo, respectivamente.

A preparação do eletrodo Ti/Ir0,10Sn0,90O2 foi apresentada no item III.2.1. Os

eletrodos utilizados na célula filtro-prensa apresentam uma área total de 44,79 cm2

(Modelo 2 - Figura 3.3), mas apenas 14 cm2 entram em contato com a solução

eletrolítica. A distância entre o ânodo e o cátodo foi de 0,6 cm. O efluente (145 mL) foi

estocado em um reservatório de vidro e mantido sob agitação magnética e à temperatura

ambiente (≈ 25 oC). Ele foi recirculado pela célula eletrolítica por uma bomba

peristáltica da Cole-Parmer acoplada a um controlador de rotação Masterflex, a um

fluxo de 152 mL min−1.

NaCl e Na2SO4 foram utilizados como eletrólito suporte nas seguintes

concentrações: (a) Na2SO4 100 mmol L−1, (b) Na2SO4 100 mmol L−1 e NaCl

20 mmol L−1, (c) Na2SO4 100 mmol L−1 e NaCl 50 mmol L−1, (d) NaCl 20 mmol L−1,

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Capítulo III

105

(e) NaCl 50 mmol L−1, (f) NaCl 100 mmol L−1, (g) NaCl 200 mmol L−1 e (h) NaCl

500 mmol L−1.

Figura 3.7: Acima, representação esquemática da célula filtro-prensa utilizada no tratamento eletroquímico do efluente de curtume sintético 33: (A) placa de aço; (B) placa de Teflon, (C) borracha para impedir o vazamento de solução; (D) cátodo (placa de aço inoxidável); (E) espaçador de borracha; (F) espaçador de Teflon e (G) ânodo (Ti/Ir0,10Sn0,90O2). Abaixo, vistas frontal, lateral e superior da célula eletroquímica montada.

Durante as eletrólises, alíquotas de efluente foram coletadas em intervalos de

tempo de 1 h. Essas amostras foram submetidas às seguintes análises: fenóis totais,

espectro UV-Vis entre 200 e 800 nm e TOC. A fim de calcular as constantes cinéticas

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Capítulo III

106

para a remoção de fenóis, amostras foram coletadas a cada 15 min nos casos em que

houve uma rápida diminuição na concentração desses compostos. Análises de

toxicidade, COD, condutividade e pH foram realizadas somente para os efluentes

iniciais e finais (após 5 h de tratamento). Análises de AOX também foram realizadas

para os efluentes tratados na presença de NaCl, utilizando um analisador de AOX da

Analytik Jena modelo multi X 2000. Antes dos testes de toxicidade com

Daphnia similis, Na2SO3 (J. T. Baker) foi adicionado às amostras a fim de eliminar as

espécies de cloro ativo remanescentes após o tratamento eletroquímico. A quantidade de

Na2SO3 adicionada foi calculada considerando que todo Cl− foi oxidado a ClO−. Depois

da adição de Na2SO3, o pH das amostras foi ajustado entre 7,5 e 8,5, usando soluções de

NaOH 0,1 e 1,0 mol L−1.

III.2.5 - Cálculos de eficiência de corrente, consumo de energia e constante de velocidade

As eficiências de corrente foram calculadas de acordo com as equações 3.6 e

3.9. O consumo de energia (EC) foi calculado em in kWh m−3 de acordo com a eq. 3.12.

V 1000

UIt= EC (3. 12)

onde U é o potencial médio de célula durante a eletrólise (V), I é a corrente aplicada

(A), t é o tempo de eletrólise (h) e V é o volume de efluente (m3).

A constante de velocidade (k) para a remoção de compostos fenólicos do

efluente sintético foi calculada de acordo com a eq. 3.13.

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Capítulo III

107

[ ][ ]

*

0

kt- =Fenóis

Fenóisln (3.13)

onde [Fenóis] e [Fenóis]0 são as concentrações de compostos fenólicos totais nos

tempos t* (h) e 0, respectivamente e t* é o tempo corrigido de acordo com a eq. 3.14,

considerando a variação de volume causada pela amostragem. O método utilizado para

a correção do volume foi o descrito por Choo et al. 34 para reações de primeira ordem.

2 ≥n para tΔV

V+t=t n

1-n

o*1-n

*n

(3.14)

Nos experimentos com a célula filtro-prensa, a eletrólise foi iniciada com

145 mL de efluente e a cada 1h, 3,5 mL de efluente foram coletados. Na Tabela III.5 é

ilustrada a aplicação da eq. 3.14 para essa condição de amostragem.

Tabela III.5: Aplicação da equação 3.14 para corrigir a variação de volume para as eletrólises realizadas na célula filtro-prensa

n tn-1 (h) Vo (mL) Vn-1 (mL) Δtn (h) tn* (h)

2 1 145 141,5 1 2,02

3 2 145 138,0 1 3,07

4 3 145 134,5 1 4,15

5 4 145 131,0 1 5,26

III.3 - Resultados e discussão

III.3.1 - Caracterização físico-química dos eletrodos

As composições reais (composições experimentais) dos filmes de óxidos foram

determinadas por EDX. Os resultados obtidos são apresentados na Tabela III.6. Eles

mostram que há boa concordância entre as composições nominais e experimentais, o

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Capítulo III

108

que indica que o método de Pechini permite controlar de maneira eficiente a

composição dos filmes de óxidos.

Tabela III.6: Porcentagens atômicas, nominais e experimentais (estas últimas determinadas por EDX) dos metais constituintes dos filmes de óxidos preparados pelo método de Pechini

Filmes de óxidos Composição

Nominal (%) Experimental (%)

Ir0,01Sn0,99O2* Ir Sn Ir Sn

1,00 99,00 1,72 98,28

Ir0,10Sn0,90O2* Ir Sn Ir Sn

10,00 90,00 10,86 89,14

Ru0,10Sn0,90O2* Ru Sn Ru Sn

10,00 90,00 9,24 90,76

Ru0,30Ti0,70O2 Ru Ti Ru Ti

30,00 70,00 26,66 73,34

Ir0,15Ru0,15Sn0,70O2* Ir Ru Sn Ir Ru Sn

15,00 15,00 70,00 18,68 14,98 66,34

Ir0,30Ti0,30Sn0,40O2* Ir Ti Sn Ir Ti Sn

30,00 30,00 40,00 31,34 25,71 42,94

*estes filmes também contêm Sb na razão de 2,0% em mol com relação ao Sn.

O aspecto morfológico dos filmes de óxidos pode ser observado nas

micrografias apresentadas na Figura 3.8 e na Figura 3.9. Todas as composições

apresentam aspecto homogêneo de barro rachado, típico dos filmes de óxidos

preparados por decomposição térmica. Esse tipo de morfologia confere alta área

superficial aos eletrodos. Os filmes Ti/Ir0,01Sn0,99O2 e Ti/Ir0,10Sn0,90O2 apresentam

estrutura mais compacta e com poucas trincas. Para as demais composições, um número

maior de trincas é observado.

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Capítulo III

109

Figura 3.8: Micrografias dos filmes Ti/Ir0,01Sn0,99O2, Ti/Ir0,10Sn0,90O2 e

Ti/Ru0,10Sn0,90O2 preparados pelo método de Pechini. Ampliação de (A) 500 vezes e (B) 2000 vezes.

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Capítulo III

110

Figura 3.9: Micrografias dos filmes Ti/Ru0,30Ti0,70O2, Ti/Ir0,15Ru0,15Sn0,70O2 e

Ti/Ir0,30Ti0,30Sn0,40O2 preparados pelo método de Pechini. Ampliação de (A) 500 vezes e (B) 2000 vezes.

Análises de XRD foram realizadas para se obter informações sobre a estrutura

cristalina dos filmes de óxidos. Os difratogramas dos vários óxidos são apresentados na

Figura 3.10. As posições dos picos referentes a cada óxido foram atribuídas de acordo

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Capítulo III

111

com os padrões JCPDS. Nesses óxidos, SnO2 encontra-se na forma cassiterita e IrO2,

RuO2 e TiO2, na forma rutila. Devido à baixa concentração de IrO2 no material de

composição Ti/Ir0,01Sn0,99O2, não foi possível atribuir os picos referentes àquele óxido

para esta composição. Em alguns difratogramas foi possível observar alguns picos

referentes ao titânio metálico do suporte. Embora os filmes para as análises de XRD

tenham sido preparados com uma espessura nominal de 10 m, é possível que os raios

X atinjam o suporte metálico por meio das trincas presentes nesses filmes.

Figura 3.10: Difratogramas de raios X dos filmes de óxidos preparados pelo método de

Pechini: (──) SnO2, (──) IrO2, (──) RuO2, (──) TiO2 e (──) Ti.

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Capítulo III

112

Na Figura 3.11 são apresentados os voltamogramas cíclicos registrados para as

seis composições eletródicas em solução de H2SO4 0,5 mol L−1. Todos os eletrodos

apresentaram o perfil voltamétrico esperado em solução de H2SO4. SnO2 e TiO2 são

óxidos metálicos em estados de oxidação mais elevados que não sofrem transições

redox. Por outro lado, RuO2 e IrO2 sofrem transições redox no intervalo de potencial em

que os voltamogramas foram registrados. As composições Ti/Ru0,10Sn0,90O2 e

Ti/Ru0,30Ti0,70O2 apresentam picos anódicos em 1,16 e 0,81 V, respectivamente, os

quais podem ser atribuídos à transição Ru(III)/Ru(IV). As composições Ti/Ir0,01Sn0,99O2

e Ti/Ir0,10Sn0,90O2 apresentam um pico anódico em 1,10 V e a composição

Ti/Ir0,30Ti0,30Sn0,40O2, em 0,89 V, os quais podem ser atribuídos à transição

Ir(III)/Ir(IV). Os valores de potenciais reportados por Pourbaix para as transições

Ru(III)/Ru(IV) e Ir(III)/Ir(IV) são respectivamente 0,930 e 0,926 V 35. No entanto, a

diferença entre esses valores e os valores de potenciais observados nos voltamogramas

da Figura 3.11 é justificada pelo fato de que os valores reportados por Pourbaix se

referem a potenciais termodinâmicos e por isso eles podem sofrer variações em função

das características específicas de cada eletrodo.

A partir dos voltamogramas cíclicos também é possível obter uma medida

relativa da área eletroquimicamente ativa do eletrodo, desde que o número de sítios

ativos superficiais é proporcional à carga voltamétrica (q*). A carga voltamétrica pode

ser calculada por meio da integração da parte anódica do voltamograma (e considerando

a velocidade de varredura em que ele foi registrado) em um intervalo de potencial onde

o solvente não é decomposto eletroquimicamente. É importante conhecer a área

eletroquimicamente ativa do eletrodo para diferenciar os fatores intrínsecos dos fatores

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Capítulo III

113

geométricos quando diferentes materiais eletródicos ou diferentes métodos de

preparação desses materiais estiverem sendo comparados 18.

Figura 3.11: Voltamogramas cíclicos registrados em solução de H2SO4 0,5 mol L−1, à

velocidade de varredura de 50 mV s−1.

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Capítulo III

114

Os valores de q* apresentados na Tabela III.7 indicam a seguinte sequência

crescente de área eletroquimicamente ativa: Ti/Ir0,01Sn0,99O2 < Ti/Ru0,10Sn0,90O2 <

Ti/Ir0,15Ru0,15Sn0,70O2 ≈ Ti/Ir0,10Sn0,90O2 < Ti/Ru0,30Ti0,70O2 < Ti/Ir0,30Ti0,30Sn0,40O2.

Tabela III.7: Cargas voltamétricas obtidas para as várias composições eletródicas preparadas pelo método de Pechini, calculadas a partir dos voltamogramas apresentados na Figura 3.11

Eletrodos q* / mC

Ti/Ir0,01Sn0,99O2 19,0

Ti/Ir0,10Sn0,90O2 33,3

Ti/Ru0,10Sn0,90O2 29,6

Ti/Ru0,30Ti0,70O2 67,8

Ti/Ir0,15Ru0,15Sn0,70O2 32,7

Ti/Ir0,30Ti0,30Sn0,40O2 82,6

III.3.2 - Tratamento eletroquímico do efluente de curtume real: efeito da composição eletródica, da densidade de corrente e da adição de Na2SO4

Na Tabela III.8 são apresentados os resultados de caracterização do efluente de

curtume de acabamento utilizado nos estudos de degradação eletroquímica. Os

principais constituintes dos efluentes gerados por esse curtume são de natureza

orgânica. Os parâmetros avaliados durante o tratamento eletroquímico foram TOC,

fenóis totais, absorbância e toxicidade. Sais contendo sulfeto e amônia, os quais são

facilmente reconhecidos pelos seus odores característicos, não são utilizados pelos

curtumes de acabamento e, portanto, não se encontram presentes nos efluentes gerados

por esses curtumes. O efluente analisado também apresentou cromo e cloreto em sua

composição. A presença de cromo era esperada porque ele é utilizado pelos curtumes de

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Capítulo III

115

acabamento. Íons cloreto são provavelmente remanescentes de etapas de curtimento

anteriores, realizadas por outros curtumes.

Tabela III.8: Características do efluente de curtume real utilizado nos estudos de degradação eletroquímica

Parâmetro Valor

TOC (mg L−1) 1005,0

Fenóis totais (mg L−1) 47,3

Absorbância 440 nm – efluente não filtrado 0,742

Absorbância 440 nm – efluente filtrado 0,323

Absorbância 600 nm – efluente não filtrado 0,433

Absorbância 600 nm – efluente filtrado 0,165

Absorbância 228 nm – efluente diluído 50 vezes 1,343

EC50 Daphnia similis – 48 h (%) 2,25

Cromo total (mg L−1) 49,8

Cromo (VI) (mg L−1) n.d.

Cloreto (mg L−1) 787,0

Condutividade (mS cm−1) 6,1

pH 4,0

n.d.: não detectado (Cr(VI) < 0,09 mg L−1)

A cor do efluente, a qual foi relacionada à absorção da amostra na região Vis,

deve-se principalmente à presença de corantes. O efluente também apresentou sólidos

suspensos, o que foi confirmado pelas diferenças entre os valores de absorbância na

região Vis obtidos com o efluente filtrado e não filtrado. Esse efluente também absorve

na região UV devido à presença de compostos que contêm duplas ligações conjugadas,

tais como compostos aromáticos.

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Capítulo III

116

Nos testes de toxicidade com Daphnia similis, o efluente apresentou um valor de

EC50 de 2,25%. Quanto menor o valor de EC50 em porcentagem, mais tóxico é o

efluente, o que indica que o efluente analisado é altamente tóxico para Daphnia similis.

Os eletrodos de composição Ti/Ir0,01Sn0,99O2, Ti/Ir0,10Sn0,90O2, Ti/Ru0,10Sn0,90O2,

Ti/Ru0,30Ti0,70O2, Ti/Ir0,15Ru0,15Sn0,70O2 e Ti/Ir0,30Ti0,30Sn0,40O2 foram utilizados no

tratamento do efluente de curtume real (Tabela III.8), em modo galvanostático e à

densidade de corrente de 20 mA cm−2. Nessa condição, todos os eletrodos foram

capazes de reduzir a concentração de compostos fenólicos no efluente. A Figura 3.12

apresenta a concentração de fenóis totais em função do tempo de eletrólise. Os eletrodos

de composição Ti/Ru0,30Ti0,70O2 e Ti/Ir0,15Ru0,15Sn0,70O2 foram os mais eficientes para a

oxidação dos compostos fenólicos. Com relação à remoção de TOC (Figura 3.13), todos

os eletrodos mostraram-se pouco eficientes. Após 5 h de eletrólise a 20 mA cm−2, os

eletrodos Ti/Ru0,30Ti0,70O2 e Ti/Ir0,15Ru0,15Sn0,70O2, que foram os mais eficientes para a

remoção de compostos fenólicos, também foram os melhores para a remoção de TOC

(Tabela III.9).

Tabela III.9: Remoção de fenóis totais e TOC após 5 h de eletrólise a 20 mA cm-2

Eletrodos Remoção de fenóis totais (%) Remoção de TOC (%)

Ti/Ir0,01Sn0,99O2 69,3 10,5

Ti/Ir0,10Sn0,90O2 65,5 10,6

Ti/Ru0,10Sn0,90O2 57,7 11,0

Ti/Ru0,30Ti0,70O2 82,6 14,3

Ti/Ir0,15Ru0,15Sn0,70O2 80,4 14,2

Ti/Ir0,30Ti0,30Sn0,40O2 72,1 12,7

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Capítulo III

117

0 1 2 3 4 50

10

20

30

40

50

Tempo (h)

Fen

óis

tota

is /

mg

L-1

Figura 3.12: Concentração de fenóis totais em função do tempo de eletrólise a

20 mA cm−2 para os experimentos realizados com as seguintes composições eletródicas: (──) Ti/Ir0,01Sn0,99O2, (──) Ti/Ir0,10Sn0,90O2, (──) Ti/Ru0,10Sn0,90O2, (──) Ti/Ru0,30Ti0,70O2, (──)Ti/Ir0,15Ru0,15Sn0,70O2 e (──) Ti/Ir0,30Ti0,30Sn0,40O2.

0 1 2 3 4 5

860

880

900

920

940

960

980

1000

TO

C /

mg

L-1

Tempo / h

Figura 3.13: TOC em função do tempo de eletrólise a 20 mA cm−2 para os

experimentos realizados com as seguintes composições eletródicas: (──) Ti/Ir0,01Sn0,99O2, (──) Ti/Ir0,10Sn0,90O2, (──) Ti/Ru0,10Sn0,90O2, (──) Ti/Ru0,30Ti0,70O2, (──) Ti/Ir0,15Ru0,15Sn0,70O2 e (──) Ti/Ir0,30Ti0,30Sn0,40O2.

Tempo / h

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Capítulo III

118

A remoção da cor do efluente foi avaliada por meio dos espectros registados

entre 400 e 800 nm em função do tempo de eletrólise. Na Figura 3.14(A) são

apresentados os espectros obtidos para as eletrólises realizadas com eletrodo de

composição Ti/Ru0,30Ti0,70O2 a 20 mA cm-2. Um comportamento análogo foi obtido

para as outras composições eletródicas. Para comparar o desempenho das seis

composições eletródicas para a remoção da cor do efluente, curvas de absorbância em

440 e 600 nm em função do tempo foram construídas (Figura 3.14). A composição

Ti/Ru0,30Ti0,70O2 mostrou-se superior às demais quando avaliada quanto à diminuição da

absorbância em 440 nm, mas em 600 nm os valores de absorbância não variaram

significativamente de uma composição para outra.

Espectros do efluente diluído 50 vezes também foram registrados na região

espectral UV (200-400 nm). Esses espectros permitem avaliar a remoção dos compostos

orgânicos que absorvem nessa região, principalmente os que contêm duplas ligações

conjugadas. Esse é o caso dos compostos aromáticos, os quais absorvem na região UV

devido às transições * 36. Na Figura 3.15 são apresentados os espectros UV

obtidos quando o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2 foi utilizado a 20 mA cm−2 e as curvas de

absorbância em 228 nm vs. tempo de eletrólise para todas as composições eletródicas

utilizadas. O comprimento de onda 228 nm foi escolhido devido à presença de uma

banda bem definida nessa região espectral. Outra banda pode ser observada em 279 nm,

entretanto, neste comprimento de onda foram obtidos valores de absorbância similares

para todos os eletrodos. O eletrodo Ti/Ir0,15Ru0,15Sn0,70O2 apresentou o melhor

desempemho para a degradação dos compostos orgânicos que absorvem em 228 nm.

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Capítulo III

119

0 1 2 3 4 50,10

0,15

0,20

0,25

0,30

0,35

(B)

Tempo / h

Abs

orbâ

ncia

em

440

nm

400 500 600 700 8000,0

0,1

0,2

0,3

0,4

Tempo / h 0 1 3 5

Comprimento de onda / nm

(A)

Abs

orbâ

ncia

0 1 2 3 4 50,00

0,03

0,06

0,09

0,12

0,15

0,18

Abs

orbâ

ncia

em

600

nm

Tempo / h

(C)

Figura 3.14: (A) Espectro visível do efluente de curtume em função do tempo de

eletrólise, para os experimentos realizados a 20 mA cm−2 com o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2. Absorbância em (B) 440 nm e (C) 600 nm em função do tempo de eletrólise a para os experimentos realizados a 20 mA cm−2 com os seguintes eletrodos: (──) Ti/Ir0,01Sn0,99O2, (──) Ti/Ir0,10Sn0,90O2, (──) Ti/Ru0,10Sn0,90O2, (──) Ti/Ru0,30Ti0,70O2, (──) Ti/Ir0,15Ru0,15Sn0,70O2 e (──) Ti/Ir0,30Ti0,30Sn0,40O2.

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Capítulo III

120

200 250 300 350 4000,0

0,3

0,6

0,9

1,2

1,5

Tempo / h 0 1 3 5

0 1 2 3 4 50,7

0,8

0,9

1,0

1,1

1,2

1,3

1,4

(B)

Tempo / h

Abs

orbâ

ncia

em

228

nm

Comprimento de onda / nm

(A)

Abs

orbâ

ncia

Figura 3.15: (A) Espectro UV do efluente de curtume diluído 50 vezes em função do

tempo de eletrólise para os experimentos realizados a 20 mA cm−2 com o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2. (B) Absorbância em 228 nm em função do tempo de eletrólise para os experimentos realizados a 20 mA cm−2 com os seguintes eletrodos: (──) Ti/Ir0,01Sn0,99O2, (──) Ti/Ir0,10Sn0,90O2, (──) Ti/Ru0,10Sn0,90O2, (──) Ti/Ru0,30Ti0,70O2, (──) Ti/Ir0,15Ru0,15Sn0,70O2 e (──) Ti/Ir0,30Ti0,30Sn0,40O2.

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Capítulo III

121

Os resultados apresentados anteriormente mostraram que, dentre as composições

eletródicas utilizadas no tratamento eletroquímico do efluente de curtume a

20 mA cm−2, Ti/Ru0,30Ti0,70O2 e Ti/Ir0,15Ru0,15Sn0,70O2 foram os mais eficientes para a

remoção de fenóis totais, TOC e cor. O eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2 foi o mais eficiente

para a remoção da absorbância em 440 nm e o eletrodo Ti/Ir0,15Ru0,15Sn0,70O2

apresentou o melhor desempenho para a degradação dos compostos orgânicos que

absorvem em 228 nm.

Os dois eletrodos com os quais foram alcançados os melhores resultados de

degradação do efluente de curtume são constituídos por 30% de eletrocatalisador e

apresentam RuO2 em suas composições. Do ponto de vista fundamental, era esperado

que o eletrodo Ti/Ir0,30Ti0,30Sn0,40O2, o qual possui maior área eletroquimicamente ativa

(Tabela III.7), apresentasse o melhor desempenho. Entretanto, o fato dos melhores

resultados terem sido atingidos com os eletrodos Ti/Ru0,30Ti0,70O2 e

Ti/Ir0,15Ru0,15Sn0,70O2, principalmente com este último, deve-se provavelmente à

atividade catalítica intrínseca de cada um desses materiais.

O efeito da densidade de corrente no tratamento eletroquímico do efluente de

curtume também foi investigado utilizando o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2. A variação na

concentração de fenóis totais e TOC em função do tempo de eletrólise para os

experimentos realizados a 20, 50 e 100 mA cm-2 são apresentados na Figura 3.16 e

Figura 3.17, respectivamente. Após 1 e 3 h de eletrólise, maiores densidades de corrente

resultaram em maiores remoções de fenóis (Figura 3.16), mas depois de 5 h de

eletrólise, as concentrações de fenóis totais obtidas foram semelhantes, atingindo 82,6%

a 20 mA cm−2, 78,5% a 50 mA cm−2 e 83,9% a 100 mA cm−2. Em relação à remoção de

TOC, maiores remoções foram obtidas com maiores densidades de correntes em todos

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Capítulo III

122

os intervalos de tempo (Figura 3.17). Depois de 5 h de eletrólise, a remoção de TOC foi

de 14,3%, 31,3% e 40,5% a 20, 50 e 100 mA cm−2, respectivamente.

Na2SO4 foi adicionado ao efluente de curtume para avaliar a influência da

condutividade do meio sobre o tratamento eletroquímico. A adição desse sal no efluente

resultou em um aumento de condutividade de 6,1 para 20,3 mS cm−1. O tratamento

eletroquímico do efluente na presença de Na2SO4 utilizando o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2

a 100 mA cm−2, resultou em remoções de fenol e de TOC de 81,7% (Figura 3.16) e

25,7% (Figura 3.17), respectivamente, após 5 h de eletrólise. A remoção de fenol a

100 mA cm−2 na presença de Na2SO4 foi similar à obtida a 50 mA cm−2 na ausência

desse sal e a remoção de TOC quando Na2SO4 estava presente foi menor do que aquelas

obtidas a 50 e 100 mA cm−2 na ausência do sal, mas maior do que a atingida a

20 mA cm−2.

0 1 2 3 4 50

10

20

30

40

50

Tempo / h

Fen

óis

tota

is /

mg

L-1

0 1 2 3 4 50

10

20

30

40

50

Tempo / h

Fen

óis

tota

is /

mg

L-1

Figura 3.16: Concentração de fenóis totais em função do tempo de eletrólise para os

experimentos realizados com o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2 e com as seguintes densidades de corrente: (──) 20 mA cm−2, (──) 50 mA cm−2, (──) 100 mA cm−2 e (──) 100 mA cm−2 na presença de 0,1 mol L−1 de Na2SO4.

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Capítulo III

123

0 1 2 3 4 5

600

700

800

900

1000

TO

C /

mg

L-1

Tempo / h0 1 2 3 4 5

600

700

800

900

1000

TO

C /

mg

L-1

Tempo / h

Figura 3.17: TOC em função do tempo de eletrólise para os experimentos realizados

com o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2 e com as seguintes densidades de corrente: (──) 20 mA cm−2, (──) 50 mA cm−2, (──) 100 mA cm−2 e (──) 100 mA cm−2 na presença de 0,1 mol L−1 de Na2SO4.

Na Figura 3.18 são apresentados os espectros registrados na região Vis para as

amostras de efluente obtidas a partir das eletrólises realizadas com o eletrodo

Ti/Ru0,30Ti0,70O2 a 100 mA cm−2 e as curvas de absorbância dessas amostras em 440 e

600 nm vs. tempo para os experimentos realizados com esse eletrodo em diferentes

densidades de corrente. As eletrólises realizadas a 50 e 100 mA cm−2 resultaram em

remoções de absorbância em 600 nm mais rápidas do que aquela realizada a

20 mA cm−2. Entretanto, um aumento nos valores de absorbância em 440 nm foi

observado depois de 3 h de eletrólise a 50 e 100 mA cm−2. Esse comportamento não foi

observado para as eletrólises a 20 mA cm−2. O aumento dos valores de absorbância em

440 nm pode ser atribuído à presença de cromo no efluente. Cr(III) apresenta uma

absorção máxima em 600 nm, enquanto que Cr(VI) absorve fortemente na região de

400 nm 30. O aumento dos valores de absorbância em 440 nm concomitantemente à

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Capítulo III

124

diminuição dos valores em 600 nm pode ser um indicativo de que Cr(III) está sendo

oxidado a Cr(VI). A fim de confirmar essa hipótese, análises de Cr(VI) foram

realizadas. Os resultados são apresentados na Tabela III.10.

400 500 600 700 800 9000,0

0,1

0,2

0,3

0,4

Tempo / h 0 1 3 5

(B)

Tempo / h

Abs

orbâ

ncia

Comprimento de onda / nm

(A)

Abs

orbâ

ncia

440 nm

600 nm0 1 2 3 4 5

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

0,35

Figura 3.18: (A) Espectro Vis do efluente de curtume em função do tempo de eletrólise

para os experimentos realizados a 100 mA cm−2 com o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2 (B) Absorbância em função do tempo de eletrólise para os experimentos realizados utilizando o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2 e as seguintes densidades de corrente: (──) 20 mA cm−2, (──) 50 mA cm−2, (──) 100 mA cm−2 e (──) 100 mA cm−2 na presença de 0,1 mol L−1 de Na2SO4.

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Capítulo III

125

Tabela III.10: Concentração de Cr(VI) durante as eletrólises

Condição de eletrólise Cr(VI) / mg L−1

1 h 3 h 5 h

Ti/Ir0,01Sn0,99O2 a 20 mA cm-2 n.d. n.d. 3,9

Ti/Ir0,10Sn0,90O2 a 20 mA cm-2 n.d. 5,8 9,3

Ti/Ru0,10Sn0,90O2 a 20 mA cm-2 n.d. n.d. n.d.

Ti/Ir0,15Ru0,15Sn0,70O2 a 20 mA cm-2 n.d. n.d. n.d.

Ti/Ir0,30Ti0,30Sn0,40O2 a 20 mA cm-2 n.d. n.d. n.d.

Ti/Ru0,30Ti0,70O2 a 20 mA cm-2 n.d n.d n.d

Ti/Ru0,30Ti0,70O2 a 50 mA cm-2 n.d. 0,4 16,8

Ti/Ru0,30Ti0,70O2 a 100 mA cm-2 n.d. 15,6 25,1

Ti/Ru0,30Ti0,70O2 a 100 mA cm-2 * 0,1 2,0 17,8

n.d.: não detectado (Cr(VI) < 0,09 mg L−1) *na presença de Na2SO4 0,1 mol L−1

Cr(VI) não foi detectado nos efluentes obtidos após o tratamento a 20 mA cm−2,

exceto quando os eletrodos Ti/Ir0,01Sn0,99O2 e Ti/Ir0,10Sn0,90O2 foram utilizados

(Tabela III.10). Embora Cr(III) não tenha sido oxidado a Cr(VI) nas eletrólises

realizadas a 20 mA cm-2 com o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2, Cr(VI) foi detectado nas

eletrólises realizadas com este eletrodo a 50 e 100 mA cm−2. Na presença de Na2SO4,

Cr(VI) também foi detectado. Embora Cr(VI) tenha sido detectado depois de 1 h de

eletrólise a 100 mA cm−2 na presença de Na2SO4, nos demais intervalos de tempo a

concentração de Cr(VI) foi maior para as eletrólises realizadas a 100 mA cm-2 na

ausência de Na2SO4.

Na Figura 3.19 são apresentados os espectros UV do efluente diluído 50 vezes

em função do tempo de eletrólise para os experimentos realizados com Ti/Ru0,30Ti0,70O2

a 100 mA cm−2 e as curva de absorbância em 228 nm em função do tempo de eletrólise

para os experimentos realizados com esse eletrodo em diferentes densidades de

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Capítulo III

126

corrente. As bandas em 228 e 279 nm diminuem em função do tempo, indicando que os

compostos que absorvem nestas regiões são degradados pelo processo eletroquímico. O

aumento da densidade de corrente resultou em mais rápidas degradações desses

compostos. A diminuição no valor de absorbância em 228 nm para a eletrólise realizada

a 100 mA cm−2 na presença de Na2SO4 foi similar àquela obtida a 50 mA cm−2 na

ausência desse sal.

A oxidação dos constituintes orgânicos do efluente de curtume, verificada pela

diminuição dos valores de fenóis totais, TOC e de absorbância, pode ser atribuída: (1) à

oxidação direta dos componentes do efluente no eletrodo pelos radicais hidroxilas da

superfície ou pelos óxidos superiores e (2) à oxidação indireta dos componentes do

efluente por agentes oxidantes intermediários formados em reações paralelas, por

exemplo, pelos íons ClO− formados a partir de íons Cl− 37. A degradação efetiva dos

contaminantes é baseada no processo eletroquímico direto e depende principalmente da

reação com os radicais HO● da superfície do eletrodo 2.

Eletrodos do tipo DSA possuem elevada atividade catalítica para a reação de

desprendimento de cloro. Em solução aquosa, a reação de desproporcionação do cloro

formado na superfície dos eletrodos DSA origina ácido hipocloroso e íon hipoclorito

de acordo com as equações 3.15 e 3.16 8. A concentração de cada espécie de cloro ativo

em solução depende da temperatura e do pH 38. Abaixo de pH 5 e acima de pH 10, mais

de 99% das espécies de cloro ativo estão na forma de HClO e ClO−, respectivamente 39.

Cl2 + H2O HClO + H+ + Cl− (3.15)

HClO H+ + ClO− (3.16)

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Capítulo III

127

0 1 2 3 4 50,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

Tempo / h

Abs

orbâ

ncia

em

228

nm

Tempo / h

(B)

200 250 300 350 4000,0

0,3

0,6

0,9

1,2

1,5

1,8

Tempo / h 0 1 3 5

Comprimento de onda / nm

(A)

Abs

orbâ

ncia

Figura 3.19: (A) Espectro UV do efluente de curtume diluído 50 vezes em função do

tempo de eletrólise para os experimentos realizados a 100 mA cm−2 com o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2. (B) Absorbância em 228 nm em função do tempo de eletrólise para os experimentos realizados com o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2 e com as seguintes densidades de corrente: (──) 20 mA cm−2, (──) 50 mA cm−2, (──) 100 mA cm−2 e (──) 100 mA cm−2 na presença de 0,1 mol L−1 de Na2SO4.

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Capítulo III

128

Embora as espécies de cloro ativo possam atuar como mediadoras no tratamento

de efluentes, elas não são capazes de promover a completa oxidação dos constituintes

orgânicos à água e dióxido de carbono 2. Além disso, as reações entre essas espécies e as

substâncias orgânicas podem produzir compostos organoclorados 40. De fato, a

formação de compostos organoclorados foi observada durante a oxidação eletroquímica

do fenol na presença de cloreto utilizando um eletrodo DSA 41.

Os resultados obtidos neste trabalho indicaram que a degradação dos

contaminantes orgânicos presentes no efluente de curtume ocorrem por meio dos

mecanismos direto e indireto. A diminuição dos valores de TOC ao longo do tratamento

evidencia a ocorrência de oxidação direta, enquanto que o forte odor característico de

espécies de cloro ativo, verificado durante as eletrólises, indica que a oxidação indireta

também ocorre.

A adição de Na2SO4 ao efluente de curtume resultou em uma oxidação mais

lenta das espécies orgânicas quando comparada com as eletrólises realizadas na mesma

densidade de corrente na ausência desse sal. Observou-se também que o potencial do

eletrodo assumiu um valor menor durante a eletrólise na presença de Na2SO4. Uma vez

que a densidade de corrente aplicada nos dois casos foi a mesma, é possível que a

presença dos íons SO42− tenha favorecido a reação de desprendimento de oxigênio e

inibido a formação das espécies de cloro ativo e a oxidação direta e indireta dos

compostos orgânicos. Embora as espécies de cloro ativo não sejam capazes de

promover a mineralização das substâncias orgânicas, é provável que os produtos

originados nessas reações sejam mais facilmente mineralizados pelos processos de

eletroxidação direta. Além disso, radicais Cl●, os quais também são capazes de

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Capítulo III

129

mineralizar as substâncias orgânicas, podem ser formados no processo de

eletroxidação 42.

RuO2 e IrO2 são eletrocatalisadores ativos para a reação de desprendimento de

cloro, sendo o primeiro mais ativo do que o segundo 7. No caso das eletrólises realizadas

a 20 mA cm−2, somente os eletrodos contendo irídio e estanho foram capazes de

promover a oxidação de Cr(III). Isso pode ser explicado pela competição entre as

reações de oxidação de Cl− e Cr(III) a menores densidades de corrente, o que não foi

observado com os eletrodos contendo irídio e rutênio ou somente rutênio como

eletrocatalisador. O eletrodo Ti/Ir0,30Ti0,30Sn0,40O2 também não foi capaz de oxidar

Cr(III) a Cr(VI) a 20 mA cm−2, indicando que a maior quantidade de irídio e/ou a

presença de titânio no eletrodo pode inibir a oxidação de Cr(III) em densidades de

corrente menores. A presença de Na2SO4 no efluente fez com que a concentração de

Cr(III) oxidada durante a eletrólise fosse menor do que na ausência desse sal. Cr(VI)

não foi detectado quando as eletrólises foram realizadas a 20 mA cm−2 com o eletrodo

Ti/Ru0,30Ti0,70O2, mas foi detectado nas eletrólises realizadas com este eletrodo a 50 e

100 mA cm−2. Esses resultados indicam que a oxidação do Cr(III) a Cr(VI) depende da

composição do material eletródico e da densidade de corrente aplicada.

A oxidação de Cr(III) a Cr(VI) é uma desvantagem do processo eletroquímico,

desde que Cr(VI) é mais tóxico do que Cr(III). Entretanto, essa desvantagem pode ser

facilmente contornada pela utilização de um agente redutor capaz de reduzir Cr(VI) a

Cr(III). Sulfito de sódio (Na2SO3) e seus análogos bissulfito de sódio (NaHSO3) e

metabissulfito de sódio (Na2S2O5) são os redutores mais indicados neste caso porque,

além de promoverem a redução de Cr(VI) produzindo sulfato como subproduto

(eq. 3.17) 43, eles são utilizados no processamento das peles 44. Ao final do processo,

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Capítulo III

130

Cr(III) pode ser precipitado como Cr(OH)3 usando Na2CO3 43. Além de promover a

redução de Cr(VI), Na2SO3 pode ainda reduzir as espécies de cloro ativo remanescentes

(eq. 3.18).

Cr2O72− + 3 SO3

2− + 8 H+ → 2 Cr3+ + 3 SO42− + 4 H2O (3.17)

ClO− + SO32− → Cl− + SO4

2− (3.18)

Além de promover a oxidação direta e indireta dos contaminantes do efluente, o

processo eletroquímico também pode levar à agregação de contaminantes por

eletroflotação, provocada pelos gases hidrogênio e oxigênio gerados a partir da

eletrólise da água 37,45. É possível que este processo tenha ocorrido durante o tratamento

eletroquímico do efluente de curtume porque foi observada a formação de pequena

quantidade de sólidos suspensos.

Na Figura 3.20 são apresentados os resultados dos testes de toxicidade

realizados com os efluentes resultantes do tratamento eletroquímico utilizando os

eletrodos Ti/Ru0,30Ti0,70O2, Ti/Ir0,15Ru0,15Sn0,70O2 e Ti/Ir0,30Ti0,30Sn0,40O2 a 20 mA cm−2.

Esses resultados mostram que o tratamento eletroquímico foi capaz de diminuir a

toxicidade do efluente de curtume. Os resultados obtidos a 20 mA cm−2 resultaram em

uma diminuição de toxicidade de 53,3%, 40,0% e 66,7% (para as soluções de efluentes

diluídas 20 vezes) com os eletrodos Ti/Ru0,30Ti0,70O2, Ti/Ir0,15Ru0,15Sn0,70O2 e

Ti/Ir0,30Ti0,30Sn0,40O2, respectivamente.

A solução controle de Na2SO3 apresentou uma toxicidade inexpressiva. Esse

resultado indica que os resultados do teste de toxicidade não foram afetados pela

presença desse sal, desde que as concentrações de Na2SO3 nos efluentes tratados são

menores que na solução controle porque ele foi consumido nas reações de redução do

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Capítulo III

131

Cr(VI) e das espécies de cloro ativo. Além disso, esse resultado sugere que Na2SO3 é

um bom agente redutor para ser utilizado em testes de toxicidade com Daphnia similis e

para ser utilizado em uma etapa posterior ao tratamento eletroquímico de efluentes de

curtumes.

Na2SO3

Ir30Ti30Sn40 20

Ir15Ru15Sn70 20

Ru30Ti70 20

Inicial

0 20 40 60 80 100

Ti/Ir0,15Ru0,15Sn0,70O2

Ti/Ir0,30Ti0,30Sn0,40O2

Ti/Ru0,30Ti0,70O2

Solução controle Na2SO3

Efluente inicial

Organismos imóveis (%)

46,7 %

60,0 %

33,3 %

6,7 %Na2SO3

Ir30Ti30Sn40 20

Ir15Ru15Sn70 20

Ru30Ti70 20

Inicial

0 20 40 60 80 100

Na2SO3

Ir30Ti30Sn40 20

Ir15Ru15Sn70 20

Ru30Ti70 20

Inicial

0 20 40 60 80 100

Na2SO3

Ir30Ti30Sn40 20

Ir15Ru15Sn70 20

Ru30Ti70 20

Inicial

0 20 40 60 80 100

Na2SO3

Ir30Ti30Sn40 20

Ir15Ru15Sn70 20

Ru30Ti70 20

Inicial

0 20 40 60 80 100

Na2SO3

Ir30Ti30Sn40 20

Ir15Ru15Sn70 20

Ru30Ti70 20

Inicial

0 20 40 60 80 100

Na2SO3

Ir30Ti30Sn40 20

Ir15Ru15Sn70 20

Ru30Ti70 20

Inicial

0 20 40 60 80 100

Ti/Ir0,15Ru0,15Sn0,70O2

Ti/Ir0,30Ti0,30Sn0,40O2

Ti/Ru0,30Ti0,70O2

Solução controle Na2SO3

Efluente inicial

Organismos imóveis (%)

46,7 %

60,0 %

33,3 %

6,7 %

Figura 3.20: Porcentagem de microcrústáceos Daphnia similis imóveis após 48 h de

exposição a soluções de efluente de curtume de concentração 5%, antes e após 5 h de tratamento eletroquímico utilizando diferentes eletrodos a 20 mA cm−2.

Na Figura 3.21 são apresentados os resultados dos testes de toxicidade

realizados com o efluentes resultantes do tratamento eletroquímico com o eletrodo

Ti/Ru0,30Ti0,70O2 em diferentes densidades de corrente. Esses resultados mostram que a

toxicidade do efluente tratado a 50 mA cm−2 foi menor do que a 20 mA cm−2. No

entanto, o efluente resultante da eletrólise realizada a 100 mA cm−2 mostrou-se menos

tóxico do que o resultante do tratamento a 20 mA cm-2, mas mais tóxico do que o

tratado a 50 mA cm−2. Desde que a remoção de fenóis totais, TOC e compostos

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Capítulo III

132

orgânicos insaturados foi maior a 100 mA cm−2, a maior toxicidade do efluente obtido

nesta condição deve-se, provavelmente, à formação de compostos organoclorados, a

qual pode estar sendo favorecida nessa condição de densidade de corrente.

Na2SO3

Ru30Ti70 100

Ru30Ti70 50

Ru30Ti70 20

Inicial

0 20 40 60 80 100

Na2SO3

Ru30Ti70 100

Ru30Ti70 50

Ru30Ti70 20

Inicial

0 20 40 60 80 100

33,3 %

10,0 %

46,7 %

6,7 %

Organismos Imóveis (%)

20 mA cm-2

Na2SO3 (controle)

Efluente inicial

50 mA cm-2

100 mA cm-2

60,0 %

13,3 %

0 %

0 %

6,7 %

(A) (B)

Organismos Imóveis (%)

Na2SO3

Ru30Ti70 100

Ru30Ti70 50

Ru30Ti70 20

Inicial

0 20 40 60 80 100

Na2SO3

Ru30Ti70 100

Ru30Ti70 50

Ru30Ti70 20

Inicial

0 20 40 60 80 100

Na2SO3

Ru30Ti70 100

Ru30Ti70 50

Ru30Ti70 20

Inicial

0 20 40 60 80 100

33,3 %

10,0 %

46,7 %

6,7 %

Organismos Imóveis (%)

20 mA cm-2

Na2SO3 (controle)

Efluente inicial

50 mA cm-2

100 mA cm-2

60,0 %

13,3 %

0 %

0 %

6,7 %

(A) (B)

Organismos Imóveis (%)

Figura 3.21: Porcentagem de microcrústáceos Daphnia similis imóveis após 48 h de exposição a soluções de efluente de curtume de concentrações (A) 5% e (B) 2,5%, antes e após 5 h de tratamento eletroquímico, utilizando o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2 em diferentes densidades de corrente.

Na Figura 3.22 são apresentados os valores de CE, calculados a partir do TOC

(eq. 3.9) em função do tempo de eletrólise. Os valores de CE obtidos para as eletrólises

realizadas a 20 mA cm−2 diminuíram em função do tempo, exceto para os experimentos

realizados com o eletrodo Ti/Ir0,15Ru0,15Sn0,70O2. Com este eletrodo, o valor de CE foi

de 28,8%, 38,5% e 31,9%, respectivamente depois de 1, 3 e 5 h de eletrólise. Os

eletrodos Ti/Ir0,01Sn0,99O2, Ti/Ir0,10Sn0,90O2, Ti/Ru0,10Sn0,90O2 e Ti/Ir0,30Ti0,30Sn0,40O2

apresentaram elevados valores de CE depois de 1 h de eletrólise, o que indica que neste

intervalo de tempo tais eletrodos foram mais ativos para promover a mineralização dos

contaminantes e menos ativos para a reação de desprendimento de oxigênio. Quando

Ti/Ru0,30Ti0,70O2 foi utilizado a 20 e 100 mA cm−2, os valores de CE diminuíram em

função do tempo. A 50 mA cm−2, a CE foi de 21,6% depois de 1 h e atingiu 28,1%

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Capítulo III

133

depois de 5 h. A 100 mA cm−2 e na presença de Na2SO4, CE foi 9,1% depois de 1 h e

atingiu 11,6% depois de 5 h. Esses resultados mostram que os valores de CE diminuem

com o aumento da densidade de corrente porque maiores densidades de corrente

favorecem a oxidação de Cr(III) e, principalmente, a reação de desprendimento de

oxigênio. Na2SO4 também favorece a reação de desprendimento de oxigênio desde que

menores valores de CE foram atingidos na sua presença.

Figura 3.22: Eficiência de corrente (CE) em função do tempo de eletrólise: (A) para os

experimentos realizados a 20 mA cm−2 e (B) para os experimentos realizados com o eletrodo Ti/Ru0,30Ti0,70O2 a 20, 50 e 100 mA cm−2 (*eletrólise realizada na presença de Na2SO4).

III.3.3 - Tratamento eletroquímico do efluente de curtume sintético: efeito da concentração de cloreto e da presença de sulfato

O eletrodo de composição Ti/Ir0,10Sn0,90O2 foi utilizado no tratamento

eletroquímico do efluente de curtume sintético, cujas características são apresentadas na

Tabela III.11.

A Figura 3.23 mostra a variação da concentração de fenóis totais em função do

tempo para as eletrólises realizadas na presença de diferentes eletrólitos suportes. A

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Capítulo III

134

remoção dos compostos fenólicos do efluente sintético seguiu uma cinética de primeira

ordem e apresentou um comportamento típico de reação controlada por transporte de

massa.

Tabela III.11: Características do efluente de curtume sintético

Parâmetro Valor

TOC (mg L−1) 932 ± 18

COD (mg L−1) 3087 ± 45

Fenóis totais (mg L−1) 190 ± 5

Absorbância em 228 nm (efluente diluído 100 vezes) 0,99 ± 0,04

pH 3,3 ± 0,1

0 1 2 3 4 50,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

[Fen

óis]

/[F

enói

s]0

Tempo / h

Figura 3.23: Efeito da concentração de cloreto e da presença de sulfato sobre a

remoção eletroquímica dos compostos fenólicos do efluente de curtume sintético durante as eletrólises realizadas a 20 mA cm−2 utilizando o eletrodo Ti/Ir0,10Sn0,90O2 e os seguintes eletrólitos suporte: (──) NaCl 20 mmol L−1, (─▼─) NaCl 50 mmol L−1, (─∆─) NaCl 100 mmol L−1, (─+─) NaCl 200 mmol L−1, (──) NaCl 500 mmol L−1, (──) Na2SO4 100 mmol L−1, (─▲─) Na2SO4 100 mmol L−1 e NaCl 20 mmol L−1 e (─◊─) Na2SO4 100 mmol L−1 e NaCl 50 mmol L−1.

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Capítulo III

135

Todas as curvas ln([Fenóis]/[Fenóis]0) vs. tempo de eletrólise apresentaram

coeficientes de correlação R maiores do que 0,99, exceto a curva obtida quando

100 mmol L−1 de Na2SO4 foi utilizado como eletrólito suporte. Nesse caso, o R obtido

foi de 0,92. Os valores de k, os quais são apresentados na Tabela III.12, refletem a

contribuição das reações de eletroxidação direta e indireta dos compostos fenólicos. É

evidente pelos valores de k que a remoção desses compostos do efluente depende da

concentração de cloreto, sendo que quanto maior a concentração deste íon no efluente,

mais rápida é a remoção dos compostos fenólicos. Uma remoção mais lenta foi obtida

para a eletrólise realizada na presença de 100 mmol L−1 de Na2SO4. Nessa condição, a

remoção de fenóis foi somente 29,8% após 5 h de eletrólise, enquanto que nas

eletrólises realizadas na mesma concentração de Na2SO4, na presença de 20 e

50 mmol L−1 de NaCl, a remoção de fenol foi de 87,5% e 95,2%, respectivamente, no

mesmo intervalo de tempo.

Tabela III.12: Constantes de velocidade para a remoção de compostos fenólicos do efluente sintético durante as eletrólises realizadas a 20 mA cm−2 utilizando o eletrodo Ti/Ir0,10Sn0,90O2 em diferentes concentrações de eletrólito suporte

Eletrólito suporte k (h−1)

NaCl 20 mmol L−1 0.60

NaCl 50 mmol L−1 0.72

NaCl 100 mmol L−1 0.97

NaCl 200 mmol L−1 1.34

NaCl 500 mmol L−1 3.00

Na2SO4 100 mmol L−1 0.08

Na2SO4 100 mmol L−1 e NaCl 20 mmol L−1 0.40

Na2SO4 100 mmol L−1 e NaCl 50 mmol L−1 0.55

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Capítulo III

136

Os resultados apresentados na Tabela III.12 mostram também que a presença de

sulfato inibe a remoção dos compostos fenólicos desde que os valores de k obtidos para

as eletrólises realizadas na presença de cloreto são maiores do que aqueles obtidos nas

eletrólises realizadas com a mesma concentração de cloreto e na presença de sulfato.

Esse comportamento está de acordo com aquele observado nas eletrólises do efluente de

curtume real realizadas após a adição de Na2SO4, confirmando que a presença deste sal

inibe a oxidação dos compostos orgânicos.

Análises de pH do efluente sintético, realizadas antes e após 5 h de tratamento

eletroquímico, podem explicar o efeito dos íos SO42−. Nas eletrólises realizadas na

presença de 100 mmol L−1 de Na2SO4, na presença e ausência de 20 mmol L−1 de NaCl,

o pH do efluente se manteve constante. Entretanto, um aumento do pH de 3,3 para 4,7

foi observado quando a eletrólise foi realizada na presença de 20 mmol L−1 de NaCl e

na ausência de Na2SO4. Quando o efluente foi tratado na presença de 50 mmol L−1 de

NaCl, com e sem Na2SO4, o pH também aumentou para 4,3 e 6,0, respectivamente. Nas

eletrólises realizadas com 100, 200 e 500 mmol L−1 de NaCl, valores de pH próximos

de 7,0 foram atingidos. No ânodo, várias reações podem ocorrer concomitantemente: a

reação de desprendimento de cloro, a eletroxidação direta de compostos orgânicos e a

reação de desprendimento de oxigênio. No cátodo ocorre a reação de desprendimento de

hidrogênio. Desde que as eletrólises do efluente foram realizadas em uma célula com

um único compartimento, seria esperado que os íons H+ produzidos no ânodo pela

reação de desprendimento de oxigênio (eq. 3.2) fossem consumidos no cátodo pela

reação de desprendimento de hidrogênio (eq. 3.19) e que, portanto, o pH do efluente

premanecesse constante. Em algumas condições de eletrólito suporte o pH aumenta

porque a reação de desprendimento de oxigênio é desfavorecida. Nessas condições, a

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Capítulo III

137

quantidade de H+ produzida no ânodo não é suficiente para manter o pH constante. Esta

característica é acentuada na ausência de sulfato e pelo aumento da concentração de

cloreto no efluente.

2 H+ + 2 e− → H2 (3.19)

Durante as eletrólises, espectros do efluente sintético foram registrados na região

Vis a fim de avaliar a eficiência do processo eletroquímico para a remoção da cor desse

efluente. As eletrólises realizadas na presença de NaCl, com ou sem Na2SO4,

mostraram-se eficientes para a remoção da cor do efluente. Entretanto, quando a

eletrólise foi realizada na presença de Na2SO4 apenas, a cor do efluente permaneceu

intensa, sofrendo uma alteração de verde para marrom. Embora maiores concentrações

de cloreto tenham resultado em remoções mais rápidas da cor, não foi possível

comparar os valores de absorbância da região Vis porque, além da cor, esses valores

refletiram a turbidez do efluente. Maiores concentrações de sal no efluente resultaram

em maiores turbidez e, consequentemente, em maiores valores de absorbância na região

Vis (Figura 3.24).

Na Figura 3.25(A) é apresentada a variação nos valores de TOC/TOC0 em

função do tempo de eletrólise obtida nas diferentes condições de eletrólito suporte. A

remoção de TOC do efluente também foi dependente da concentração de cloreto, sendo

que maiores concentrações de cloreto resultaram em diminuições mais rápidas de TOC.

O aumento da concentração de cloreto no efluente também resultou em remoções mais

rápidas de COD (Figura 3.26(A)). A diminuição de COD foi mais acentuada do que a

de TOC, indicando que o tratamento eletroquímico foi capaz de promover a oxidação

das substâncias, porém nem todas foram mineralizadas e continuaram em solução em

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Capítulo III

138

estados bastante oxidados. As eficiências de corrente (CE) calculadas a partir de COD e

TOC apresentaram perfis similares aos obtidos para a remoção de COD e TOC

(Figura 3.26(B)).

Espectros do efluente diluído 100 vezes também foram registrados na região UV

para avaliar a oxidação dos compostos que absorvem nesta região. Uma banda em

228 nm similar àquela observada para o efluente real (Figura 3.15) foi observada para o

efluente sintético. Quanto maior a concentração de cloreto no efluente, mais rápida a

diminuição dos valores de absorbância relativa em 228 nm (Figura 3.25(B)). A adição

de Na2SO4 ao efluente dificultou a oxidação dos compostos orgânicos que absorvem

nesse comprimento de onda, desde que menores remoções de absorbância foram obtidas

na presença deste sal. Na presença de Na2SO4 apenas, não houve mudança significativa

nos valores de absorbância em 228 nm.

O fato das remoções de fenóis totais, absorbância em 228 nm, TOC e COD

aumentarem com o aumento da concentração de cloreto no efluente indica que a

degradação dos compostos orgânicos deve ser causada pelas espécies de cloro ativo

geradas eletroquimicamente. Contrário ao cloreto, sulfato é um eletrólito suporte inerte

nas condições de eletrólise estudadas e, por isso, nenhuma espécie oxidante é formada a

partir dele. Assim, a presença de sulfato no efluente favorece a eletroxidação direta dos

contaminantes orgânicos. A remoção de compostos fenólicos e a diminuição de

absorbância em 228 nm obtidas para a eletrólise realizada na presença de Na2SO4 e

ausência de NaCl foram menores do que nas demais condições estudadas.

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Capítulo III

139

400 500 600 700 8000,0

0,5

1,0

1,5

2,0

Ab

sorb

ânci

a

Comprimento de onda / nm

0 h1 h2 h3 h4 h5 h

NaCl 100 mmol L-1

400 500 600 700 8000,0

0,5

1,0

1,5

2,0

0 h1 h2 h3 h4 h5 h

NaCl 20 mmol L-1

Ab

sorb

ânci

a

Comprimento de onda / nm

400 500 600 700 8000,0

0,5

1,0

1,5

2,0

Ab

sorb

ânci

a

Comprimento de onda / nm

0 h1 h2 h3 h4 h5 h

NaCl 50 mmol L-1

0 h1 h2 h3 h4 h5 h

0 h1 h2 h3 h4 h5 h

0 h1 h2 h3 h4 h5 h

Ab

sorb

ânci

aA

bso

rbân

cia

Ab

sorb

ânci

a

Comprimento de onda / nm

Comprimento de onda / nm

Comprimento de onda / nm

20 mmol L−1 NaCl

50 mmol L−1 NaCl50 mmol L−1 NaCl

Comprimento de onda /nm

Comprimento de onda /nm

100 mmol L−1 NaCl

Comprimento de onda /nm

Ab

sorb

ânci

aA

bso

rbân

cia

Ab

sorb

ânci

a

Figura 3.24: Espectros Vis do efluente de curtume sintético em função do tempo de

eletrólise para os experimentos realizados a 20 mA cm−2 com o eletrodo Ti/Ir0,10Sn0,90O2 na presença de 20, 50 e 100 mmol L−1 de NaCl.

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Capítulo III

140

0 1 2 3 4 50,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

Ab

s /A

bs 0 (

228

nm

)

Tempo / h

0 1 2 3 4 50,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

TO

C /

TO

C0

Tempo / h

(B)

(A)

Figura 3.25: Diminuição de (A) TOC/TOC0 e (B) absorbância relativa em 228 nm

(Abs/Abs0) do efluente de curtume sintético em função do tempo de eletrólise para os experimentos realizados a 20 mA cm−2 com o eletrodo Ti/Ir0,10Sn0,90O2: (──) NaCl 20 mmol L−1, (─▼─) NaCl 50 mmol L−1, (─∆─) NaCl 100 mmol L−1, (─+─) NaCl 200 mmol L−1, (──) NaCl 500 mmol L−1, (──) Na2SO4 100 mmol L−1, (─▲─) Na2SO4 100 mmol L−1 e NaCl 20 mmol L−1 e (─◊─) Na2SO4 100 mmol L−1 e NaCl 50 mmol L−1.

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Capítulo III

141

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

Concentração de cloreto / mmol L-1

5002001005020

Efi

ciên

cia

de

corr

ente

TOC COD

0

10

20

30

40

50

60

70

Concentração de cloreto / mmol L-1

5002001005020

Rem

oção

/ %

TOC COD

(A)

(B)

Figura 3.26: (A) Remoções de TOC e COD e (B) eficiências de corrente calculadas a

partir dos valores de TOC e COD em função da concentração de cloreto para os experimentos realizados a 20 mA cm−2 com o eletrodo Ti/Ir0,10Sn0,90O2. Tempo de eletrólise: 5 h (exceto para a eletrólise realizada com 20 mmol L−1 de NaCl. Neste caso, o tempo de eletrólise foi de 5,2 h).

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Capítulo III

142

As espécies de cloro ativo podem reagir com as substâncias orgânicas via três

mecanismos 25: adição a duplas ligações (eq. 3.20), substituição para formar compostos

N-clorados (eq. 3.21) ou C- clorados (eq. 3.22) e oxidação por transferência de elétrons

(eq. 3.23). Os dois primeiros mecanismos resultam na formação de compostos

organoclorados.

CR1

H

C R2

H

+ HClO → C CR1

H

OH

R2

H

Cl

(3.20)

R N H

H

+ HClO → R N Cl

H

+ H2O (3.21)

R C CH3

O

+ 3 HClO → R C OH

O

+ CHCl3 + 2 H2O (3.22)

RCHO + HClO → RCOOH + H+ + Cl− (3.23)

Para avaliar a formação de compostos organoclorados durante o tratamento

eletroquímico do efluente de curtume na presença de cloreto, análises de AOX foram

realizadas. Os resultados são apresentados na Tabela III.13. O aumento na concentração

de cloreto no efluente resultou na formação de maiores concentrações de AOX. Para as

eletrólises realizadas na presença de cloreto e sulfato, menores valores de AOX foram

obtidos quando comparados àqueles obtidos para as eletrólises realizadas na mesma

concentração de cloreto e na ausência de sulfato.

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Capítulo III

143

Tabela III.13: Concentração de AOX no final das eletrólises realizadas a 20 mA cm−2 com o eletrodo Ti/Ir0,10Sn0,90O2

Eletrólito suporte AOX (mg L−1)

NaCl 20 mmol L−1 144,0

NaCl 50 mmol L−1 160,0

NaCl 100 mmol L−1 196,0

NaCl 200 mmol L−1 232,0

NaCl 500 mmol L−1 212,0

Na2SO4 100 mmol L−1 e NaCl 20 mmol L−1 62,0

Na2SO4 100 mmol L−1 e NaCl 50 mmol L−1 128,0

Embora compostos organoclorados tenham sido formados no tratamento

eletroquímico do efluente de curtume, observou-se uma diminuição da toxicidade para

todas as amostras de efluente tratado submetidas aos testes de toxicidade com

Daphnia similis. Os resultados desses testes são apresentados na Tabela III.14. O

aumento na concentração de cloreto resultou no aumento da toxicidade inicial do

efluente. A maior remoção de toxicidade foi atingida com a eletrólise realizada na

presença de 50 mmol L−1 de NaCl. Embora menores remoções de fenóis totais, TOC e

COD tenham sido atingidas nessa condição de eletrólito suporte, a menor toxicidade do

efluente tratado nessa condição se deve à menor concentração de AOX produzida

durante a eletrólise (Tabela III.13). Além disso, diferentes quantidades de Na2SO3,

proporcionais à concentração inicial de cloreto, foram adicionadas em cada condição e

maiores concentrações desse sal podem contribuir para aumentar a toxicidade do

efluente tratado.

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Capítulo III

144

Tabela III.14: Toxicidades agudas expressas em ATU (intervalo de confiança de 95%) para o efluente de curtume sintético antes e após 5 h de eletrólises a 20 mA cm−2 com o eletrodo Ti/Ir0,10Sn0,90O2 e na presença de diferentes concentrações de NaCl

Concentração de cloreto

(mmol L−1)

Condutividade do efluente (mS cm−1)

EC50 antes do tratamento

(ATU)

EC50 depois do tratamento

(ATU)

Redução da toxicidade

(%)

0 0,7 141

(106 – 185) _ _

50 7,0 141

(116 – 172) 30

(15 – 62) 78,7

100 13,5 151

(122 –185) 85

(67 – 109) 43,7

500 56,3 200

(161 – 250) 119

103 – 139) 40,5

A condutividade do efluente é um fator importante para o processo de

tratamento eletroquímico. Quanto maior a condutividade do efluente, menor a queda

ôhmica através da célula eletroquímica e maior a eficiência energética do processo. A

Figura 3.27 mostra que o consumo de energia aumentou linearmente em função do

tempo de eletrólise e que maiores concentrações de cloreto no efluente resultaram em

menores consumos de energia. Na Tabela III.15 e na Tabela III.16 são apresentados os

principais resultados de remoção de fenóis totais, TOC e COD em comparação com o

consumo de energia. Esses resultados mostram que maiores concentrações de cloreto

resultaram em remoções mais rápidas de fenóis totais, TOC e COD com menor

consumo de energia.

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Capítulo III

145

0 1 2 3 4 50

10

20

30

40

50

60

70

Con

sum

o d

e en

ergi

a / k

Wh

m-3

Tempo / h

Figura 3.27: Consumo de energia em função do tempo para as eletrólises realizadas a

20 mA cm−2 com o eletrodo Ti/Ir0,10Sn0,90O2: (──) NaCl 20 mmol L−1, (─▼─) NaCl 50 mmol L−1, (─∆─) NaCl 100 mmol L−1, (─+─) NaCl 200 mmol L−1, (──) NaCl 500 mmol L−1, (──) Na2SO4 100 mmol L−1, (─▲─) Na2SO4 100 mmol L−1 e NaCl 20 mmol L−1 e (─◊─) Na2SO4 100 mmol L−1 e NaCl 50 mmol L−1.

Tabela III.15: Energia consumida na remoção eletroquímica de compostos fenólicos do efluente de curtume sintético utilizando o eletrodo Ti/Ir0,10Sn0,90O2 a 20 mA cm−2

Eletrólito suporte Tempo de eletrólise (h)

Remoção de fenóis totais (%)

Consumo de energia (kWh m−3)

NaCl 20 mmol L−1 5,2 96,3 70,3

NaCl 50 mmol L−1 4,0 100,0 39,9

NaCl 100 mmol L−1 3,0 100,0 25,4

NaCl 200 mmol L−1 3,0 100,0 23,7

NaCl 500 mmol L−1 2,0 100,0 13,8

Na2SO4 100 mmol L−1 5,0 29,8 40,2

Na2SO4 100 mmol L−1 e NaCl 20 mmol L-1

5,0 87,5 39,1

Na2SO4 100 mmol L−1 e NaCl 50 mmol L-1

5,0 95,2 39,0

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Capítulo III

146

Tabela III.16: Energia consumida na remoção eletroquímica de TOC e COD do efluente de curtume sintético utilizando o eletrodo Ti/Ir0,10Sn0,90O2 a 20 mA cm−2

Concentração de cloreto

(mmol L−1)

Tempo de eletrólise

(h)

Remoção de TOC

(%)

Remoção de COD

(%)

Consumo de energia

(KWh m−3)

20 5,2 14,8 16,5 70,3

50 5,0 20,8 21,0 51,0

100 5,0 27,8 34,5 43,9

200 5,0 33,6 49,5 40,8

500 5,0 44,6 60,8 36,0

III.4 - Conclusões

No tratamento eletroquímico do efluente de curtume real, os valores de TOC

diminuíram em função do tempo de eletrólise, mas a remoção máxima atingida foi de

apenas 40,5% depois de 5 h a 100 mA cm−2. Embora a remoção de TOC tenha sido

pouco eficiente nas condições de eletrólises estudadas, todos os eletrodos utilizados na

degradação do efluente mostraram-se capazes de remover eficientemente os compostos

fenólicos, a absorbância na região UV-Vis e a toxicidade do efluente. Para as eletrólises

realizadas a 20 mA cm−2, os melhores resultados foram obtidos com os eletrodos

Ti/Ru0,30Ti0,70O2 e Ti/Ir0,15Ru0,15Sn0,70O2. Eletrólises realizadas com o eletrodo

Ti/Ru0,30Ti0,70O2 a 50 e 100 mA cm−2 resultaram em maiores remoções de TOC do que

as eletrólises realizadas a 20 mA cm−2. Entretanto, naquelas condições, Cr(III) foi

oxidado a Cr(VI) e menores eficiências de corrente foram atingidas. A oxidação de

Cr(III) a Cr(VI) mostrou-se dependente da composição eletródica e da densidade de

corrente aplicada.

A concentração de cloreto influenciou o tratamento eletroquímico do efluente de

curtume sintético, sendo que maiores concentrações de cloreto resultaram em mais

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Capítulo III

147

rápidas remoções de compostos fenólicos, TOC, COD, compostos com duplas ligações

conjugadas e cor. Maiores eficiências de corrente e menores gastos de energia também

foram obtidos quando maiores concentrações de cloreto foram utilizadas. O aumento na

concentração de cloreto no efluente também resultou na formação de maiores

concentrações de AOX. Apesar disso, testes de toxicidade realizados com Daphnia

similis mostraram que a toxicidade do efluente tratado em diferentes concentrações de

cloreto foi menor do que a do efluente inicial.

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Capítulo III

148

III.5 - Referências bibliográficas 1 SZPYRKOWICZ, L.; NAUMCZYK, J.; ZILIO-GRANDI, F. Electrochemical treatment of

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3 VIJAYARAGHAVAN, K.; RAMANUJAM, T. K.; BALASUBRAMANIAN, N. In situ hypochlorous acid generation for treatment of tannery wastewaters. Journal of Environmental Engineering, v. 124, p. 887-891, 1998.

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11 PECHINI, M. P.; ADAMS, N. Method of preparing lead and alkaline earth titanates and niobates and coating method using the same to form a capacitor. U.S. Patent no. 3330697, 1967.

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13 XU, Y.; YUAN, X.; HUANG, G.; LONG, H. Polymeric precursor synthesis of Ba2Ti9O20 Materials Chemistry and Physics, v. 90, p. 333-338, 2005.

14 SANTOS, A. L. Investigação das propriedades eletroquímicas de eletrodos de Sn(1-x)RuO2: Aplicação para a eletrooxidação de benzoquinona. 2003. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, SP, Brasil.

15 FORTI, J. C.; OLIVI, P.; DE ANDRADE, A. R. Characterisation of DSA-type coatings with nominal composition Ti/Ru0.3Ti(0.7-x)SnxO2 prepared via a polymeric precursor. Electrochimica Acta, v. 47, p. 913-920, 2001.

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Capítulo III

149

16 GUERRINI, E.; CHEN, H.; TRASATTI, S. Oxygen evolution on aged IrOx/Ti electrodes

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27 CRC Handbook of chemistry and physics, 76 ed., 1995-1996. 28 The Merck Index: An encyclopedia of chemicals, drugs, and biologicals, 12 ed., 1996. 29 Catálogo da Acros, 2002-2003. 30 AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION, AMERICAN WATER WORKS

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31 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Ecotoxicologia aquática - Toxicidade aguda - Método de ensaio com Daphnia spp - Cladocera, Crustácea. ABNT - NBR 12713, Rio de Janeiro, Brazil, 2004.

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Capítulo III

150

33 COTEIRO, R. D.; de ANDRADE, A. R. Electrochemical oxidation of 4-chlorophenol

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34 CHOO, W. L.; JEFFREY, M. I.; ROBERTSON, S. G. Analysis of leaching and cementation reaction kinetics: correcting for volume changes in laboratory studies. Hydrometallurgy, v. 82, p. 110-116, 2006.

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44 PACHECO, J. W. F. Curtumes. São Paulo: CETESB, 2005. 45 CHEN, G. Electrochemical technologies in wastewater treatment. Separation and

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Capítulo IV: Degradação eletroquímica de um efluente de curtume sintético e do corante preto ácido 210 utilizando BDD

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Capítulo IV

152

IV.1 - Introdução

Nos últimos anos, grande atenção tem sido dada à utilização de diamante dopado

com boro (BDD) aplicado à oxidação eletroquímica de compostos orgânicos refratários

e/ou 1 potencialmente 2

1 tóxicos -3. Contrário aos materiais anódicos convencionais que

apresentam limitações como a rápida perda de atividade (grafite), liberação de íons

tóxicos (PbO2), tempo de vida limitado (SnO2) e a impossibilidade de resultar na

completa oxidação de compostos orgânicos (IrO2), BDD é um material com

características excepcionais 4. O diamante possui muitas propriedades tecnologicamente

interessantes como extrema dureza, elevada resistência elétrica, alta condutividade

térmica, alta mobilidade de elétrons e lacunas, transparência óptica, baixo coeficiente de

expansão térmica, baixa fricção, elevada velocidade de propagação do som,

compatibilidade biológica e é quimicamente inerte. Embora ele seja um isolante, a

dopagem com boro lhe confere condutividade elétrica significativa, tornando-o 5

adequado 6 para 7 aplicações 8

5 eletroquímicas -9

BDD é um eletrodo não ativo que tem se mostrado mais eficiente para a

oxidação de contaminantes orgânicos do que outros eletrodos

.

10,11

3

. Esse comportamento

é devido aos radicais HO● produzidos a partir da oxidação da água, os quais

provavelmente estão envolvidos nos mecanismos de oxidação que ocorrem na superfície

do diamante . Geralmente, a eficiência de mineralização é baixa quando eletrodos

convencionais são utilizados para a oxidação anódica 2. De fato, Ti/BDD apresentou

melhor desempenho para a oxidação de fenóis p-substituídos do que Ti/SnO2-Sb e

Ti/SnO2-Sb/PbO2. Entretanto, a concentração de radicais HO● detectada na célula

quando Ti/BDD foi utilizado como ânodo foi similar àquela obtida quando Ti/SnO2-Sb

foi utilizado e menor do que a obtida utilizando Ti/SnO2-Sb/PbO2. Isso indica que a

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Capítulo IV

153

maior capacidade de mineralização dos ânodos de BDD não deve estar relacionada à

quantidade de radicais HO● produzida, mas ela pode ser explicada considerando a

existência de diferentes tipos de radicais HO● 11.

SnO2 e PbO2 também são eletrodos não ativos, mas, contrário ao BDD, eles

apresentam fortes propriedades de adsorção. Os radicais HO● se adsorvem fortemente

sobre esses eletrodos e permanecem confinados nas suas superfícies. Esse tipo de

radical HO● pode facilmente resultar na geração de oxigênio molecular, o que explica a

menor eficiência do SnO2 e PbO2 para a oxidação de compostos orgânicos. Por outro

lado, a interação entre o BDD e os radicais HO● é tão fraca que esses radicais são

considerados como quasi livres e podem ser transferidos para as vizinhanças da

superfície do eletrodo 11,12

12

. Esse tipo de radicais HO● tem alto poder de oxidação e, na

ausência de compostos orgânicos, pode reagir com outro radical HO● e formar H2O2, o

qual é posteriormente oxidado a oxigênio molecular ,13

10

. Assim, a fraca interação entre

radicais HO● e BDD faz com que esse eletrodo apresente baixa atividade eletroquímica

para a reação de desprendimento de oxigênio ,12. O potencial para reação de

desprendimento de oxigênio sobre o eletrodo Si/BDD em solução de H2SO4 0,5 mol L−1

é aproximadamente 2,3 V vs. NHE, maior do que sobre PbO2 e SnO2 7.

Além do desempenho catalítico, o tempo de vida é outra característica

importante que deve ser considerada na escolha do material eletródico para aplicações

práticas. Nesse caso, a utilização de eletrodos de BDD também é vantajosa porque ele é

altamente resistente à corrosão em soluções ácidas e alcalinas e ele apresenta tempo de

vida mais longo do que outros materiais 11,14,15. Em solução de H2SO4 3,0 mol L−1 e à

densidade de corrente de 500 A m−2, o eletrodo Ti/BDD apresentou um tempo de vida

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Capítulo IV

154

de 386 h enquanto que, nas mesmas condições, os tempos de vida dos eletrodos

Ti/SnO2-Sb e Ti/SnO2-Sb/PbO2 foram 20 e 115 h, respectivamente 11.

Cloro molecular pode ser produzido pelo ânodo de BDD a partir de eletrólito

contendo cloreto. Entretanto BDD não o material mais adequado para a reação de

desprendimento de cloro. De fato, o eletrodo DSA®, o qual é muito utilizado na

indústria de cloro-soda, apresenta um potencial para a reação de desprendimento de

cloro muito menor do que o eletrodo de BDD: no primeiro o potencial é de 1.0 V,

enquanto que no segundo é de 1,9 V vs. SCE 16. A eletroxidação de compostos

orgânicos 17 e 18 efluentes 19 mediada 20 por 21 espécies 22 de 23 cloro 24 ativo 25 tem sido estudada 26 por 27

vários 28

16 autores e tem se mostrado eficiente para a remoção de COD, TOC e cor -29

17

.

BDD apresentou melhor desempenho do que DSA® para a eletroxidação direta do azul

de metileno: a remoção de COD foi quase 100% depois de 8 h de eletrólise com BDD e

atingiu somente 26% quando um eletrodo DSA® foi utilizado. Por outro lado, na

presença de cloreto, a remoção de COD atingida depois de 1,5 h de eletrólise foi de 54%

com BDD e 71% com DSA®. Com ambos os eletrodos a degradação do azul de

metileno foi significativamente mais rápida e energeticamente mais eficiente na

presença de cloreto . Entretanto, a principal desvantagem da eletroxidação mediada

por cloro ativo é a geração de compostos organoclorados, o que tem sido reportado por

alguns autores 22-24.

Alguns estudos com BDD têm demonstrado que ele também é adequado para a

eletrossíntese de outros oxidantes inorgânicos como peroxodissulfato (S2O82−) 30,

perxodifosfato (P2O84−) 31,32 e percarbonato (C2O6

2−) 33, os quais são produzidos a partir

de fosfato, sulfato e carbonato, respectivamente. Da mesma forma que as espécies de

cloro ativo, esses agentes oxidantes podem participar da oxidação de compostos

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Capítulo IV

155

orgânicos na região próxima à superfície do eletrodo e/ou no bulk do eletrólito. Em cada

caso, a quantidade de oxidante eletrogerado dependerá das características do eletrólito

suporte, como pH e concentração, e das condições de operação, como densidade de

corrente e temperatura 3,30-33. A eletrogeração de S2O82−, P2O8

4− e C2O62− a partir do

eletrólito suporte é uma propriedade interessante do eletrodo de BDD porque essas

espécies são agentes oxidantes fortes que podem ser aplicadas para degradar compostos

orgânicos. Além disso, elas são oxidantes mais limpos do que as espécies de cloro ativo

porque não resultam na produção de compostos organoclorados.

Os peroxossulfatos são derivados dos ácidos peroxomonossulfúrico e

peroxodissulfúrico. Ambos são poderosos agentes oxidantes com potenciais de redução

padrão de 1,81 e 2,08 V, respectivamente. A eficiência do processo de eletrossíntese do

peroxodissulfato é fortemente dependente do material eletródico empregado como

ânodo. Em princípio, qualquer material com elevado sobrepotencial para a reação de

desprendimento de oxigênio poderia ser utilizado na sua produção. Entretanto, muitos

materiais, principalmente PbO2 e SnO2, podem ser atacados pelo oxidante gerado.

Platina tem sido o material eletródico mais utilizado para a produção de S2O82−. Apesar

disso, eletrodos de platina apresentam como desvantagem o fato de ser necessário o uso

de aditivos para aumentar o rendimento do processo. Esses problemas desaparecem

quando eletrodos de diamante são utilizados porque eles permitem que S2O82− seja

eletrossintetizado com grande eficiência sem a necessidade de adicionar qualquer

reagente no meio reacional e, além disso, eles não são quimicamente atacados por

nenhum dos componentes do eletrólito. A eficiência faradaica do processo de

eletrossíntese de S2O82− aumenta com a concentração de H2SO4 e com a densidade de

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Capítulo IV

156

corrente aplicada, mas diminui com o aumento da temperatura, devido à decomposição

do peroxodissulfato a oxigênio (eq. 4.1) 30,34

S2O82− + H2O → 2 HSO4

− +

.

21

O2 (4.1)

O peroxodifosfato também é um agente oxidante potente ( V) 2,07 =E0R , estável

em soluções neutras ou básicas à temperatura ambiente, mas que se decompõe a

peroxomonofosfato em soluções ácidas (eq. 4.2) e a pirofosfato quando aquecido

(eq. 4.3). Esse oxidante também é frequentemente produzido utilizando eletrodos de

platina, mas da mesma forma que na eletrossíntese de S2O82−, maiores rendimentos só

são obtidos na presença de aditivos, como fluoreto ou tiocianato, o que não é necessário

quando eletrodos de diamante são utilizados. Os maiores rendimentos na produção

eletroquímica de P2O84− são obtidos em soluções alcalinas e em temperaturas

baixas 31,32,34.

H4P2O8 + H2O → H3PO5 + H3PO4 (4.2)

P2O84− → P2O7

4− + 21

O2 (4.3)

A denominação percarbonato inclui dois tipos de compostos: peroxocarbonato

(C2O62−), o qual contém o grupo C−O−O e carbonato peroxoidratado (Na 2CO3-H2O2), o

qual contém moléculas de peróxido de hidrogênio inseridas na estrutura do sal de

carbonato. A primeira forma do percarbonato pode ser produzida eletroquimicamente

utilizando eletrodos de diamante. A eficiência do processo é afetada pela densidade de

corrente e temperatura 33,34.

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Capítulo IV

157

Geralmente, filmes de diamante são sintetizados por deposição química a partir

da fase vapor (CVD) 7,9,35

35

. O método CVD baseia-se na deposição de um filme de

diamante sobre um substrato sólido, sob condições termodinamicamente metaestáveis, a

partir da ativação de uma fase gasosa introduzida em um reator . No começo, a síntese

de diamante por CVD era realizada exclusivamente sobre substratos de diamante pela

decomposição térmica de gases contendo carbono (CH4 ou CO) a temperaturas entre

600 e 1200 oC. A velocidade de crescimento dos filmes de diamante por esse processo

era 0,01 µm h−1, muito baixa para ser de importância comercial. Além disso, o material

era frequentemente contaminado com carbono e interrupções eram necessárias para

remover o grafite acumulado. Essa remoção era realizada com hidrogênio à temperatura

superior a 1000 oC e pressão superior a 50 atm.

Em meados de 1970, Derjaguin e Fedoseev reconheceram o papel crucial do

hidrogênio atômico na remoção de depósitos de grafite e sintetizaram diamante sobre

substratos diferentes do diamante, a velocidades de deposição comercialmente práticas

(> 1 µm h−1) 7. Isso foi um marco histórico no desenvolvimento de técnicas CVD de

síntese de diamante. No início de 1980, Matsumoto et al. revelaram os detalhes da

síntese dos filmes de diamante de alta qualidade sobre substratos de Si e Mo usando o

método do filamento quente para ativação da fase gasosa 7. As condições de deposição

foram: a concentração de metano foi de 1% em hidrogênio, a temperatura do substrato

estava compreendida entre 700-1000 oC, a temperatura do filamento foi de

aproximadamente 2000 oC, a pressão gasosa total foi de 13-133 mbar e o tempo de

reação foi de 3 h. Desde então, novos métodos de ativação dos gases foram

desenvolvidos, como: plasma, microondas e descarga DC 7. Qualquer que seja o método

utilizado, a temperatura do substrato deve ser mantida entre 700 e 1200 oC durante a

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Capítulo IV

158

síntese e o gás precursor deve estar diluído em um excesso de hidrogênio. Ao final do

processo é obtido um filme de diamante policristalino, cuja morfologia dependerá das

condições de crescimento empregadas. A velocidade de crescimento é um dos principais

fatores a ser considerado, desde que a qualidade (quantidade de carbono sp3) do filme

gerado diminui com o aumento da velocidade de crescimento. Assim, é evidente que o

principal desafio das técnicas de síntese do diamante é o aumento da velocidade de

crescimento dos filmes para tornar o processo economicamente viável, mas sem

possibilitar que este aumento resulte na diminuição da qualidade dos filmes 9.

Atualmente, as velocidades de crescimento dos filmes de diamante são da ordem de 0,1

a 1000 µm h−1, demonstrando uma boa perspectiva dos filmes de diamante para

aplicações industriais 7.

A dopagem dos filmes de diamante com boro pode ser atingida pela adição de

B2H6 ou B(OCH3)3 à corrente de gás de alimentação, ou depositando boro em pó nas

bordas do substrato, antes que ele seja introduzido na câmara de CVD. A concentração

típica de agente dopante utilizada na síntese do diamante encontra-se compreendida no

intervalo de 500 a 8000 mg dm−3. Concentrações inferiores resultam na formação de um

filme de diamante com alta resistividade e concentrações superiores destroem a

estrutura do diamante, formando um material com péssimas características

eletroquímicas. A relação em peso entre boro e carbono empregada na produção de

eletrodos de diamante dopado com boro varia entre 10−6 a 2 x 10−2.

A escolha do substrato é outro fator importante na síntese dos eletrodos de

diamante. Um substrato tem a função de favorecer o fluxo de corrente até o eletrodo

depositado e servir de suporte mecânico. Os materiais utilizados com essa finalidade

devem apresentar boa estabilidade química e eletroquímica, alta resistência mecânica,

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Capítulo IV

159

baixo coeficiente de expansão térmica e boa condutividade térmica e elétrica. Além

disso, seu custo não deve ser elevado. Os substratos metálicos apresentam todas essas

características, mas eles apresentam uma grande tendência a sofrer ataques por parte do

hidrogênio no processo de síntese dos filmes de diamante.

Atualmente, silício é o material mais empregado como substrato para os filmes

de diamante porque atende a maioria dos requisitos citados anteriormente. Apesar disso,

a utilização de filmes de BDD suportados em silício talvez represente a principal

limitação para o uso desses filmes em processos industriais em grande escala, desde que

silício é um substrato muito frágil. Nessa perspectiva, titânio, o qual é utilizado como

suporte para os eletrodos DSA®, é um material atrativo como substrato 36

11

. Apesar de

alguns trabalhos na literatura mencionarem o uso de eletrodos Ti/BDD , sabe-se que a

diferença entre os coeficientes de expansão térmica do diamante (0,8 x 10−6 K−1 à

temperatura ambiente) e do titânio (8,5 x 10−6 K−1 à temperatura ambiente) é a principal

responsável pela pobre aderência do diamante no substrato de titânio 37

IV.1.1 - O modelo de Comninellis

. Apesar disso,

desde que os melhores resultados de oxidação de substâncias orgânicas são obtidos com

BDD, ele serve como um material de referência na avaliação do desempenho de outros

materiais eletródicos que possam vir a ser aplicados para o tratamento de efluentes em

escala industrial.

O grupo do Prof. Christos Comninellis elaborou um modelo matemático que é

capaz de predizer o valor de COD e de ICE durante a eletroxidação de substâncias

orgânicas em solução aquosa quando BDD é utilizado como ânodo. Esse modelo

assume que os radicais HO● eletrogerados a partir da oxidação das moléculas de água

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Capítulo IV

160

(eq. 4.4) são intermediários da oxidação de substâncias orgânicas (reação principal,

eq. 4.5) e da reação de desprendimento de oxigênio (reação lateral, eq. 4.6).

BDD + H2O → BDD(●OH) + H+ + e− (4.4)

x BDD(●OH) + R(aq) → x BDD + produtos da mineralização + y H+ + y e− (4.5)

x BDD(●OH) → BDD + 2 1

O2 + H+ + e− (4.6)

O modelo de Comninellis foi desenvolvido para sistemas em batelada sob

recirculação assumindo as seguintes suposições: (a) a adsorção de compostos orgânicos

na superfície do eletrodo é negligenciável; (b) todos os compostos orgânicos têm o

mesmo coeficiente de difusão; (c) a mineralização eletroquímica dos compostos

orgânicos é uma reação rápida controlada por transporte de massa desses à superfície do

ânodo, ou seja, a velocidade da reação de mineralização não depende da natureza

química dos compostos no eletrólito; (d) o eletrólito, na célula eletroquímica e no

reservatório, está bem misturado; (e) o volume de eletrólito no reservatório (VR) é muito

maior do que na célula eletroquímica (VE); (f) a oxidação dos compostos orgânicos por

outros agentes oxidantes (Cl2, H2O2, O3, S2O82−, P2O8

4− ou C2O62−) não é considerada.

Sob essas condições, a relação entre a densidade de corrente limite e a COD é dada pela

seguinte equação:

)COD(Fk4=)(i mlim tt (4.7)

onde ilim(t) é a densidade de corrente limite (A m−2) em um determinado tempo t, F é a

constante de Faraday (C mol−1), km é o coeficiente de transferência de massa na célula

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Capítulo IV

161

eletroquímica (m s−1) e COD(t) é a COD (mol m−3) da solução eletrolítica no tempo t.

De acordo com a densidade de corrente aplicada (iappl), é possível identificar dois

regimes operantes:

(i) iappl < ilim: a cinética da reação é controlada por transferência de carga, ICE é 100%

e a velocidade de remoção de COD é constante, ou seja, COD diminui linearmente

com o tempo (Figura 4.1);

(ii) appl > ilim: a cinética da reação é controlada por transferência de massa. Reações

secundárias, tais como a reação de desprendimento de oxigênio, começam a ocorrer

resultando em uma diminuição de ICE em função do tempo. Nesse caso, a

diminuição de COD com o tempo tem um comportamento exponencial

(Figura 4.1).

Na Figura 4.1, tc é o tempo crítico. Ele corresponde ao instante em que o

processo deixa de ser controlado por transferência de carga e passa a ser controlado por

transferência de massa. Na Tabela IV.1 são apresentadas as funções matemáticas de ICE

e COD de acordo com o modelo proposto por Comninellis. Detalhes sobre essas

equações podem ser obtidos na referência 12.

Quando iappl > ilim, o balanço de massa em uma célula eletroquímica em fluxo

(do tipo filtro-prensa) pode ser expresso de acordo com a eq. 4.8.

R

mCODCODV

Akdt

d−=

(4.8)

onde A é a área do ânodo (m2), km é o coeficiente de transferência de massa na célula

eletroquímica (m s−1), VR é o volume do reservatório (m3), COD é a Demanda Química

de Oxigênio (mol m−3), and t é o tempo (s).

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Capítulo IV

162

CO

DIC

E

Tempo

Tempo

COD0COD0

0

1

0tc

COD(tc)

(I)

(I)

(II)

(II)

Figura 4.1: Representação gráfica das predições do modelo de Comninellis para a COD (acima) e a ICE (abaixo) durante a oxidação eletroquímica de um composto orgânico. Em (I), a cinética da reação é controlada por transferência de carga (iappl < ilim). Em (II), a cinética da reação é controlada por transferência de massa (iappl > ilim).

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Capítulo IV

163

Tabela IV.1: Equações que descrevem ICE e COD durante a oxidação de compostos orgânicos sobre BDD

iappl ICE COD

iappl < ilim ICE(t) = 1 COD(t) = COD0 ( tVAkα

-1R

m )

iappl > ilim ICE(t) = exp (αα-1

+tV

Ak-

R

m ) COD(t) = αCOD0 exp (αα-1

+tV

Ak

R

m )

A equação que descreve COD em função do tempo quando iappl > ilim é obtida a

partir da integração da eq. 4.8 de t = tc a t e de COD = αCOD0 a COD(t). Nesse caso, a

equação obtida é válida a partir de tc para eletrólises que foram iniciadas em uma

condição controlada por transferência de carga (iappl < ilim) e que após certo intervalo de

tempo passou a ser controlada por transferência de massa (iappl > ilim). Se a eletrólise é

iniciada a uma densidade de corrente maior que ilim, condição em que todas as

eletrólises deste trabalho foram realizadas, a eq. 4.8 deve ser integrada de 0 a t e de

COD0 a COD(t). Essa integração leva à obtenção da eq. 4.9.

−= t

VAkexpt

R

m0 COD)COD(

(4.9)

ICE pode ser calculada combinando as equações 4.9 e 4.10 a

dtd

IFV COD4ICE −=

.

(4.10)

a A eq. 4.9 difere da eq. 3.7 apenas nas unidades de COD. Na eq. 4.9, COD deve ser expressa em

mol m−3, enquanto que na eq. 3.7, ela deve ser expressa em g L−1.

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Capítulo IV

164

IV.2 - Procedimento experimental

IV.2.1 - Determinação do coeficiente de transferência de massa

Os experimentos de degradação eletroquímica utilizando BDD foram realizados

em uma célula filtro-prensa similar à mostrada na Figura 4.2. Um eletrodo de Si/BDD

(fornecido e sintetizado pela Adamant Technologies, Suíça) e uma placa de aço

inovidável foram utilizados como ânodo e cátodo, respectivamente. Ambos os eletrodos

possuíam área geométrica de 20 cm2 e a distância entre eles era de 1,4 cm. Para facilitar

a utilização do eletrodo de BDD na célula filtro-prensa, um contato elétrico foi

estabelecido entre Si/BDD e uma placa de aço inoxidável usando uma pasta de prata.

Todos os experimentos foram realizados utilizando 250 mL de solução, os quais foram

recirculados nessa célula por uma bomba centrífuga da Sanso, modelo PMD-211, à

velocidade de fluxo de 90 L h−1. A temperatura da solução foi mantida em em

30 ± 3 oC.

O coeficiente de transferência de massa (km) foi determinado por meio da

técnica de corrente limite de difusão utilizando soluções constituídas por misturas

equimolares de ferricianeto de potássio (K3[Fe(CN)6)].3H2O - Merck) e ferrocianeto de

potássio (K4[Fe(CN)6)].3H2O) - Merck) com concentrações compreendidas no intervalo

de 0,010 a 0,075 mol L−1 na presença de NaOH 0,1 mol L−1. Cada solução (250 mL) foi

recirculada na célula a um fluxo constante (90 L h−1). A diferença de potencial aplicada

entre o cátodo e o ânodo foi gradativamente aumentada e os valores de corrente foram

registrados. Na Figura 4.3 são apresentadas as curvas de corrente vs. potencial de célula

obtidas para as várias concentrações de [Fe(CN)6]3− e [Fe(CN)6]4− uitilizadas.

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Capítulo IV

165

Saída de solução

Entrada de solução

Figura 4.2: Célula eletroquímica utilizada nos estudos com o eletrodo de BDD 38. Acima é mostrado um esquema dos constituintes dessa célula. Apesar de serem mostrados dois distribuidores e um separador (arranjo em que o compartimento anódico é separado do catódico), nos estudos realizados neste trabalho, a célula foi montada com um único distribuidor e sem separador (arranjo com um único compartimento). Além disso, uma malha de titânio é mostrada como ânodo. No lugar dessa malha foi utilizado um eletrodo de BDD de 5 cm x 4 cm (placa contínua).

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Capítulo IV

166

0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,50,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

0,35

0,00 0,02 0,04 0,06 0,080,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

Corr

ente

limite

/ A

[Fe(CN)6]3+ + [Fe(CN)6]4+ / mol L-1

Corr

ente

/A

Potencial de célula / V

Figura 4.3: Curvas de corrente-voltagem para a determinação de km na célula

eletroquímica empregada nos estudos com BDD. As curvas são referentes às seguintes concentrações equimolares de [Fe(CN)6]3− e [Fe(CN)6]4−: (─■─) 0,010 mol L−1, (─●─) 0,025 mol L−1, (─▲─) 0,050 mol L−1 e (─▼─) 0,075 mol L−1. Acima é mostrada a dependência da corrente limite com a concentração de [Fe(CN)6]3− + [Fe(CN)6]4−.

Na célula contendo [Fe(CN)6]3− e [Fe(CN)6]4−, as reações indicadas pelas

equações 4.11 e 4.12 ocorrem no cátodo e no ânodo, respectivamente 39

[Fe(CN)6]3− + e− → [Fe(CN)6]4− (4.11)

.

[Fe(CN)6]4− → [Fe(CN)6]3− + e− (4.12)

À medida que o potencial de célula aumenta, a corrente do processo redox

[Fe(CN)6]3−∕[Fe(CN)6]4− também aumenta até atingir um patamar onde ela não varia

significativamente com o potencial aplicado. A altura desse patamar é proporcional à

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Capítulo IV

167

concentração de espécies de ferro em solução e é chamada de corrente limite do

processo redox para o par [Fe(CN)6]3−∕[Fe(CN)6]4−. Se o potencial de célula é elevado

ainda mais, a corrente aumenta bruscamente devido à reação de oxi-redução do

eletrólito ou do solvente 38. A relação entre km, corrente limite (Ilim) e concentração de

[Fe(CN)6]3−∕[Fe(CN)6]4− é dada pela eq. 4.13 38,39.

[ ]+3+2

lim

m Fe/FeI

nFA1

=k (4.13)

onde n é o número de elétrons envolvidos na reação redox (para

[Fe(CN)6]3−∕[Fe(CN)6]4−, n = 1), F é a constante de Faraday, A é a área do eletrodo e

Ilim/[Fe2+/Fe3+] é o coeficiente angular da reta mostrada na Figura 4.3. O valor de km

determinado para a célula eletroquímica foi de 1,4 x 10−5 m s−1.

IV.2.2 - Degradação de um efluente de curtume sintético utilizando BDD

O efluente de curtume sintético foi preparado de acordo com o procedimento

descrito no item III.2.4.1, mas sem os reagentes Leukotan 1028 e Densotan A. Ele foi

caracterizado quanto aos seguintes parâmetros: TOC, COD e fenóis totais. TOC foi

determinado em um analisador da Analytik Jena micro N/C. COD foi analisada pelo

método colorimétrico do refluxo fechado usando o teste em cubeta para COD

Spectroquant® (Merck), um bloco digestor Stuart Scientific, e um espectrofotômetro

Spectroquant® Nova 60. Fenóis foram medidos utilizando o teste em cubeta para fenol

(método da MBTH) e o mesmo espectrofotômetro descrito anteriormente.

As eletrólises do efluente de curtume sintético foram realizadas em condições

galvanostáticas por 4 ou 5 h utilizando uma fonte Blausonic DC. Na2SO4 0,1 mol L−1

foi utilizado como eletrólito suporte em todas as eletrólises. Alíquotas de efluente foram

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Capítulo IV

168

coletadas a cada 1 h para serem analisadas. Os efeitos do pH, do material anódico e da

densidade de corrente foram investigados. As eletrólises foram realizadas nas seguintes

condições: (a) Si/BDD, 25 mA cm−1 e pH 2,4; (b) Si/BDD, 25 mA cm−1 e pH 7,3;

(c) Si/BDD, 25 mA cm−1 e pH 12,0; (d) Si/BDD, 50 mA cm−1 e pH 2,4; (e) Si/BDD,

100 mA cm−1 e pH 2,4; (f) Ti/SnO2-Sb, 25 mA cm−1 e pH 2,4 e (g) Ti/Ir0,10Sn0,90O2-Sb,

25 mA cm−1 e pH 2,4.

Os eletrodos Ti/SnO2-Sb e Ti/Ir0,10Sn0,90O2-Sb foram preparados pelo método de

decomposição térmica de solução etanólica de sais precursores 40

IV.2.3 - Degradação do corante preto ácido 210 utilizando BDD

. Os sais precursores

foram: cloreto de irídio (III) hidratado da Aldrich, cloreto de estanho (IV) penta-

hidratado da Aldrich e cloreto de antimônio (III) da Fluka.

A degradação eletroquímica do corante preto ácido 210 (AB-210) foi realizada

em soluções tampões fosfato utilizando o eletrodo de BDD. O corante preto ácido 210,

o qual é vendido no Brasil com o nome comercial de Preto Duacouro MK (A Chimical)

foi fornecido pela Couroquímica Couros e Acabamentos Ltda. H3PO4 (Merck),

Na2HPO4 (Panreac), NaH2PO4.H2O (Merck) e Na3PO4.12H2O (Merck) foram utilizados

no preparo das soluções tampões.

As soluções tampões fosfato (0,50 mol L−1) foram preparadas a partir dos

seguintes reagentes: (a) tampão fosfato pH 1,9 ± 0,1: H3PO4 0,25 mol L−1 e

NaH2PO4.H2O 0,25 mol L−1; (b) tampão fosfato pH 6,8 ± 0,1: NaH2PO4.H2O

0,20 mol L−1 e Na2HPO4 0,30 mol L−1 e (c) tampão fosfato pH 11,7 ± 0,1: Na2HPO4

0,25 mol L−1 e Na3PO4.12H2O 0,25 mol L−1.

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Capítulo IV

169

As soluções do corante submetidas às eletrólises foram preparadas na presença

de 0,20 mol L−1 de tampões fosfato. Cada 250 mL de solução foi preparado pela mistura

de 125 mg de corante, 100 mL de tampão fosfato 0,50 mol L−1 e água, resultando em

uma concentração de corante de 500 mg L−1. NaCl (0,10 mol L−1) também foi

adicionado a algumas soluções.

A célula utilizada nas eletrólises, bem como as condições de fluxo, temperatura

e os equipamentos utilizados foram descritos anteriormente. Um eletrodo Ag/AgCl/KCl

sat. foi utilizado como referência. A fim de avaliar a influência da densidade de

corrente, pH e íons cloreto na eletroxidação de 500 mg L−1 de AB-210 sobre BDD, na

presença de 0,20 mol L−1 de tampão fosfato, eletrólises foram realizadas nas seguintes

condições: (a) 25 mA cm−2 e pH 6,8 ± 0,1; (b) 50 mA cm−2 e pH 6,8 ± 0,1;

(c) 100 mA cm−2 e pH 6,8 ± 0,1; (d) 25 mA cm−2 e pH 1,9 ± 0,1; (e) 25 mA cm−2 e

pH 11,7 ± 0,1; (f) 25 mA cm−2, pH 1,9 ± 0,1 e NaCl 0,10 mol L−1; (g) 25 mA cm−2,

pH 6,8 ± 0,1 e NaCl 0,10 mol L−1 e (h) 25 mA cm−2, pH 11,7 ± 0,1 e NaCl

0,10 mol L−1. Uma eletrólise também foi realizada em solução de NaOH (Merck)

0,20 mol L−1 a 25 mA cm−2, para comparar os resultados com aqueles obtidos na

presença de íons fosfato. Amostras foram coletadas a cada 1 h por um período total de

5 h. Para calcular as constantes de velocidade para a remoção de COD e absorbância, as

eletrólises acima foram repetidas e alíquotas foram coletadas a cada 10 ou 15 min

durante 1 h.

As análises de COD e TOC foram realizadas como descrito no item IV.2.2.

Espectros UV-Vis foram registrados entre 200 e 800 nm utilizando dois

espectrofotômetros: um espectrofotômetro Heλios γ da Thermo Electron Corporation e

o outro da Shimadzu modelo UV-2401 PC. O pH de todas as soluções foi ajustado em

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Capítulo IV

170

6,8 ± 0,1 com uma solução 0,50 mol L−1 de tampão fosfato (pH 6.8 ± 0.1), antes dos

espectros serem registrados. Para as eletrólises realizadas na presença de cloreto,

análises de AOX foram realizadas utilizando o teste em cubeta para AOX

Spectroquant® (Merck) e o mesmo bloco digestor e espectrofotômetro utilizados nas

análises de COD.

IV.2.4 - Cálculos de eficiência de corrente, eficiência de corrente instantânea, consumo de energia e constantes de velocidade.

As eficiências de corrente média e instantânea foram calculadas, a partir de

COD, de acordo com as equações 4.14 e 4.15.

It8COD -COD

FV =CE t0 (4.14)

tCOD

8IFV

=ICE -d

d

(4.15)

onde COD0 e CODt são a COD (g L‒1) nos tempos 0 and t (s), respectivamente, I é a

corrente aplicada (A), F é a constante de Faraday (96487 C mol‒1), V é o volume de

solução (L) e dCOD/dt é a derivada da curva COD vs. t obtida com o programa

Microcal Origin®, considerando um decaimento exponencial de primeira ordem.

A eficiência de corrente a partir de TOC foi calculada de acordo com a eq. 4.16.

It8TOC - TOC

2,67FV =CE t0 (4.16)

onde TOC0 e TOCt são o TOC (g L−1) nos tempos 0 e t (s), respectivamente.

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Capítulo IV

171

O consumo de energia (EC) foi calculado em kWh m−3 de acordo com a

eq. 4.17.

V 1000UIt

= EC (4. 17)

onde U é o potencial médio de célula durante a eletrólise (V), I é a corrente aplicada

(A), t é o tempo de eletrólise (h) e V é o volume de efluente (m3).

As constantes de velocidade para a remoção COD e absorbância em 460 nm do

efluente sintético foram calculadas de acordo com as equações 4.18 e 4.19,

respectivamente.

*tk- =COD COD

ln COD0

(4.18)

*tk- =Abs

Abs ln nm 460-Abs

0

(4.19)

onde COD e COD0 são as COD nos tempos t* (h) e 0, respectivamente, Abs e Abs0 são

os valores de absorbância em 460 nm e t* é o tempo corrigido considerando a variação

de volume causada pela amostragem de acordo com o método descrito por Choo et al. 41

IV.3 - Resultados e Discussão

para reações de primeira ordem.

IV.3.1 - Tratamento eletroquímico do efluente de curtume sintético: efeito do pH, da densidade de corrente e da natureza do eletrodo

O efluente de curtume sintético utilizado nos estudos de degradação com BDD

apresentou uma concentração de fenóis totais média de 73 ± 2 mg L−1, um COD médio

de 2366 ± 28 mg L−1 e um TOC médio de 756 ± 6 mg L−1.

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Capítulo IV

172

Na Figura 4.4 são apresentadas curvas de diminuição de fenóis totais, COD e

TOC em função do tempo para as eletrólises do efluente sintético com BDD em três

diferentes condições de pH. Observa-se que a variação do pH não afetou

significativamente a remoção de fenóis totais, COD e TOC. O pH do efluente se

manteve constante para as eletrólises realizadas em pH 2,4 e 7,3, mas diminuiu para 7,6

depois de 5 h de eletrólise quando a eletrólise foi iniciada em pH 12,0. Os potenciais de

célula foram similares para as três condições.

Na Figura 4.5 pode ser observado o efeito da densidade de corrente sobre o

tratamento eletroquímico do efluente de curtume sintético com BDD. À medida que a

densidade de corrente aumenta, as velocidades de remoção de fenóis totais, COD e TOC

também aumentam. A 100 mA cm−2, as remoções de fenóis totais e TOC foram de

100% e 98% após 3 e 4 h de eletrólise, respectivamente. O pH do efluente permaneceu

constante durante as eletrólises realizadas a 25 e 50 mA cm−2, mas aumentou para 11,2

após 5 h de eletrólise a 100 mA cm−2.

Na Figura 4.6 são apresentadas as curvas de fenóis totais, COD e TOC em

função do tempo obtidas a partir da eletroxidação do efluente sintético a 25 mA cm−2,

com diferentes materiais eletródicos. Como pode ser observado, Si/BBD foi o eletrodo

que apresentou o melhor desempenho, seguido pelo Ti/SnO2-Sb. Apesar do bom

desempenho do eletrodo Ti/SnO2-Sb, após 4 h de eletrólise ele sofreu desativação. O

baixo tempo de vida desse eletrodo impossibilita seu uso para aplicações industriais.

Mudanças pouco significantes ocorreram quando o eletrodo Ti/Ir0,10Sn0,90O2-Sb

foi aplicado ao tratamento eletroquímico do efluente sintético, confirmando que

eletrodos do tipo DSA® não são bons para a oxidação direta de substâncias orgânicas,

principalmente porque apresentam baixo sobrepotencial para a reação de

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Capítulo IV

173

desprendimento de oxigênio. Apesar disso, como apresentado no capítulo III desta tese,

os resultados obtidos com esse tipo de eletrodo podem ser significativamente

melhorados na presença de cloreto.

Na Tabela IV.2 são apresentados os valores de CE e de energia consumida após

4 h de eletrólise nas diferentes condições estudadas. Embora o aumento da densidade de

corrente resulte em remoções mais rápidas de COD e TOC, os valores de CE diminuem

porque maiores densidades de corrente favorecem a reação de desprendimento de

oxigênio. Além disso, o consumo de energia aumenta com o aumento da densidade de

corrente. As eficiências de corrente aumentaram na seguinte ordem: Ti/Ir0,10Sn0,90-Sb <

Ti/SnO2-Sb < Si/BDD. Ti/Ir0,10Sn0,90-Sb foi o eletrodo que resultou no menor gasto de

energia em kWh m−3, mas, desde que ele foi pouco eficiente para a oxidação das

substâncias orgânicas do efluente, a energia foi gasta na geração de oxigênio. Assim, a

melhor relação custo-benefício foi alcançada com o eletrodo Si/BDD.

Tabela IV.2: Eficiências de corrente calculadas a partir de COD e TOC e consumo de energia após 4 h de eletroxidação do efluente sintético na presença de 0,1 mol L−1 de Na2SO4 (pH inicial = 2,4)

Condição de eletrólise Eficiência de corrente Consumo de

energia (kWh m−3) COD TOC

Si/BDD, 25 mA cm−2 0,73 0,66 50,0

Si/BDD, 50 mA cm−2 0,46 0,39 131,2

Si/BDD, 100 mA cm−2 0,22 0,21 407,2

Ti/SnO2-Sb, 25 mA cm−2 0,49 0,48 43,6

Ti/Ir0,10Sn0,90-Sb, 25 mA cm−2 0,05 0,02 40,0

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Capítulo IV

174

0 1 2 3 4 50,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

TOC/

TOC 0

Tempo / h

0 1 2 3 4 50,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

COD/

COD 0

Tempo / h

0 1 2 3 4 50,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

[Fen

óis]/

[Fen

óis] 0

Tempo / h

(B)

(A)

(C)

Figura 4.4: Efeito do pH sobre a remoção de (A) fenóis totais, (B) COD e (C) TOC

durante o tratamento eletroquímico do efluente de curtume sintético na presença de 0,1 mol L−1 de Na2SO4 a 25 mA cm−2, utilizando um eletrodo BDD como ânodo: (──) pH =2,4, (──) pH =7,3 e (─▲─) pH = 12,0.

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Capítulo IV

175

0 1 2 3 40,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

[Fen

óis]/

[Fen

óis] 0

Tempo / h

0 1 2 3 40,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

COD/

COD 0

Tempo / h

0 1 2 3 40,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

TOC/

TOC 0

Tempo / h

(B)

(A)

(C)

Figura 4.5: Efeito da densidade de corrente sobre a remoção de (A) fenóis totais,

(B) COD e (C) TOC durante o tratamento eletroquímico do efluente de curtume sintético na presença de 0,1 mol L−1 de Na2SO4 em pH =2,4, utilizando um eletrodo BDD como ânodo: (─ ─) 25 mA cm−2, (──) 50 mA cm−2 e (─▲─) 100 mA cm−2.

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Capítulo IV

176

0 1 2 3 40,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

TOC/

TOC 0

Tempo / h

0 1 2 3 40,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

[Fen

óis]/

[Fen

óis] 0

Tempo / h

0 1 2 3 40,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

COD/

COD 0

Tempo / h

(B)

(A)

(C)

Figura 4.6: Efeito do material eletródico sobre a remoção de (A) fenóis totais, (B) COD e (C) TOC durante o tratamento eletroquímico de um efluente de curtume sintético na presença de 0,1 mol L−1 de Na2SO4 em pH =2,4, a 25 mA cm−2: (──) Si/BDD, (──) Ti/SnO2-Sb e (─▲─) Ti/Ir0,10Sn0,90O2-Sb.

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Capítulo IV

177

IV.3.2 - Eletroxidação do corante AB-210 utilizando BDD na presença de íons fosfato: efeito da densidade de corrente, pH e íons cloreto

Preto ácido 210 (AB-210) é um corante com três grupos azo (−N=N−) em sua

estrutura (Figura 1.13) que é bastante utilizado no tingimento de couros. Na Figura 4.7

são apresentados os espectros UV-Vis obtidos a partir da solução de AB-210 em três

diferentes condições de pH. Nessa figura, três bandas bem definidas podem ser

observadas nas regiões de 320, 460 e 600 nm, cujas intensidades e/ou λmáx são afetados

pelo pH. Quando o pH aumenta de 1,9 para 6,8, não há mudanças significativas nas

bandas em 320 e 600 nm, mas a intensidade da banda em 460 nm diminui. Em pH 11,7,

a banda em 460 nm é similar àquela observada em pH 1,9, mas as bandas em 320 e

600 nm são mais intensas do que aquelas em pH 1,9 e 6,8. Além disso, quando o pH

aumenta de 6,8 para 11,7, ocorre um alargamento da banda na região de 600 nm e é

observado um deslocamento batocrômico de seu λ máx de 600 para 629 nm. Esse

comportamento espectral do AB-210 é reversível, desde que as soluções de corante

preparadas em pH 1,9 e 11,7 apresentaram espectros similares depois do pH ser

ajustado em 6,8. O efeito do pH sobre o espectro de absorção do corante deve-se às

diferentes formas assumidas por ele em solução aquosa, as quais apresentam diferentes

propriedades espectrais. Em valores de pH muito baixos, os grupos amina e hidroxil do

corante estão todos protonados (R2−NH3+, R3−NH2

+−R4, R5−OH). À medida que o pH

aumenta, esses grupos começam a ser gradualmente desprotonados a partir do grupo

ácido mais forte (com menor pKa) para o grupo ácido mais fraco (com maior pKa). Em

valores de pH altos, o corante encontra-se completamente desprotonado (R1−SO3−,

R2−NH2, R3−NH−R4, R5−O−).

Durante a oxidação eletroquímica do corante AB-210, a diminuição dos valores

de absorbância em 320, 460 e 600 nm foi avaliada. Embora a cor de uma solução seja

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Capítulo IV

178

frequentemente associada à absorção na região visível, foi observado para as soluções

de AB-210 que quando os valores de absorbância em 460 e 600 nm atingiam zero, a

solução ainda apresentava cor, mas completa ausência de cor foi observada quando o

valor de absorbância em 320 nm foi igual a zero. Desde que o cromóforo azo simples

isolado apresenta um λmáx em 340 nm devido às transições n → π* 42

A

, é provável que a

banda em 320 nm seja devida a estes grupos e que o deslocamento de λmáx de 340 para

320 nm seja causado pelos grupos substituintes R1 e R2 (R1−N=N−R2). Embora 320 nm

seja o melhor comprimento de onda para avaliar a remoção da cor para as soluções do

corante AB-210, cálculos cinéticos foram realizados para λ = 460 nm porque a

diminuição dos valores de absorbância nesse comprimento de onda seguiu uma cinética

de primeira ordem em todas as condições de eletrólise estudadas.

Figura 4.8 mostra a variação de COD e ICE em função do tempo durante a

oxidação eletroquímica do corante AB-210 em tampão fosfato em diferentes densidades

de corrente. Uma solução de AB-210 500 mg L−1 apresenta uma COD média de

273 ± 6 mg L−1 e um TOC médio de 122 ± 3 mg L−1. A densidade de corrente limite

inicial para essa solução na célula eletroquímica utilizada, calculada pela eq. 4.7, foi

4,6 mA cm−2. Desde que em todas as eletrólises realizadas para o corante AB-210 a

densidade de corrente aplicada excedeu a densidade de corrente limite, elas foram

controladas por transferência de massa. A diminuição de COD nas soluções de corante

seguiu uma cinética de primeira ordem, comportamento típico de reações controladas

por transferência de massa (Figura 4.8(A)). O aumento da densidade de corrente

resultou em remoções mais rápidas de COD e, consequentemente, maiores constantes

de velocidade foram obtidas (Tabela IV.3). ICE também diminuiu exponencialmente

em função do tempo e, desde que maiores densidades de corrente favorecem a reação de

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Capítulo IV

179

desprendimento de oxigênio, menores valores de ICE foram obtidos em cada instante de

tempo à medida que a densidade de corrente aumentou (Figura 4.8(B)).

200 300 400 500 600 700 8000,0

0,3

0,6

0,9

1,2

600

320

Abso

rbân

cia

Comprimento de onda / nm

pH = 1,9 ± 0,1 pH = 6,8 ± 0,1 pH = 11,7 ± 0,1

460

Figura 4.7: Espectro de absorção de soluções aquosas de AB-210 50 mg L−1 em

tampão fosfato 0,20 mol L−1 em diferentes condições de pH.

Tabela IV.3: Constantes de velocidade para a remoção de COD e absorbância em 460 nm obtidas a partir da oxidação eletroquímica de 500 mg L−1 de AB-210 utilizando ânodo de BDD

Condição de eletrólise kCOD (h-1) kAbs-460 nm (h-1)

pH 1,9 ± 0,1, 25 mA cm-2 0,27 (R = 0,999) 0,49 (R = 0,991)

pH 6,8 ± 0,1, 25 mA cm-2 0,30 (R = 0,996) 0,32 (R = 0,999)

pH 6,8 ± 0,1, 50 mA cm-2 0,47 (R = 0,999) 0,89 (R = 0,998)

pH 6,8 ± 0,1, 100 mA cm-2 0,78 (R = 0,999) 1,86 (R = 0,996)

pH 11,7 ± 0,1, 25 mA cm-2 0,83 (R = 0,997) 2,28 (R = 0,993)

pH 12,9 ± 0,1, 25 mA cm-2 em 0,20 mol L-1 NaOH* 0,33 (R = 0,999) 0,95 (R = 0,999)

pH 1,9 ± 0,1, 25 mA cm-2 com 0,10 mol L-1 NaCl 1,44 (R = 0,999) 9,53 (R = 0,994)

pH 6,8 ± 0,1, 25 mA cm-2 com 0,10 mol L-1 NaCl 1,30 (R = 0,999) 2,61 (R = 0,990)

pH 11,7 ± 0,1, 25 mA cm-2 com 0,10 mol L-1 NaCl 1,20 (R = 0,999) 1,09 (R = 0,999)

* Todas as eletrólises, exceto esta, foram realizadas na presença de 0,20 mol L−1 de tampão fosfato. R são os coeficientes de correlação obtidos a partir da regressão linear de ln(COD/COD0) vs. t* e ln(Abs/Abs0) vs. t*.

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Capítulo IV

180

0 1 2 3 4 50,00

0,04

0,08

0,12

0,16 Densidade de corrente / mA cm-2

25 50 100

ICE

Tempo / h

0 1 2 3 4 50,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0Densidade de corrente / mA cm-2

25 50 100

COD/

COD 0

Tempo / h

(A)

(B)

Figura 4.8: Efeito da densidade de corrente sobre a eletroxidação de 500 mg L−1 de

corante AB-210 em tampão fosfato 0,20 mol L−1 (pH =6,8), utilizando BDD como ânodo. (A) COD/COD0 e (B) ICE em função do tempo de eletrólise.

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Capítulo IV

181

A absorbância relativa da solução de corante em 320, 460 e 600 nm também

diminui em função do tempo de eletrólise e diminuições mais rápidas foram obtidas a

densidades de correntes mais altas (Figura 4.9). Os valores de constantes de velocidade

para a remoção da absorbância em 460 nm são apresentados na Tabela IV.3. As

diminuições de absorbância em 460 e 600 nm são mais rápidas do que em 320 nm.

Depois de 2 h de eletrólise a 100 mA cm−2, os valores de absorbância em 460 e 600 nm

atingem zero, enquanto que em 320 nm, esse valor só é atingido depois de 3 h.

A Figura 4.10 mostra a variação de COD e ICE em função do tempo durante a

eletroxidação do corante AB-210 em tampão fosfato a 25 mA cm−2, em diferentes

condições de pH. Os valores das constantes de velocidade (Tabela IV.3) e o perfil das

curvas na Figura 4.10(A) mostram claramente que a velocidade de remoção de COD em

pH 1,9 é similar à velocidade em pH 6,8, mas é muito maior a pH 11,7. Neste pH, ICE

inicial é maior do que 0,4 enquanto que, em pH 1,9 e 6,8, ICE assume valores iniciais

menores do que 0,2 (Figura 4.10(B)). Depois de 1,5 h, ICE em pH 11,7 torna-se menor

do que aqueles obtidos nas demais condições.

Com relação à diminuição dos valores de absorbância em função do tempo,

comportamentos similares foram observados em 320 nm para as eletrólises realizadas

em pH 1,9 e 6,8 (Figura 4.11). Entretanto, quando os valores em 460 e 600 nm são

avaliados, a absorbância diminui levemente mais rápida em pH 1,9 do que em pH 6,8.

Para os três comprimentos de onda, a remoção de absorbância é mais eficiente em

tampão fosfato com pH 11,7.

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Capítulo IV

182

0 1 2 3 4 50,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0Densidade de corrente / mA cm-2

25 50 100

Abs/A

bs0

Tempo / h

320 nm

0 1 2 3 4 50,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0Densidade de corrente / mA cm-2

25 50 100

Abs/A

bs0

Tempo / h

460 nm

0 1 2 3 4 50,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0Densidade de corrente / mA cm-2

25 50 100

Abs/A

bs0

Tempo / h

600 nm

Figura 4.9: Diminuição da absorbância relativa (Abs/Abs0) em 320, 460 e 600 nm para

a solução de corante AB-210 500 mg L−1 em função do tempo de eletrólise para os experimentos realizados em tampão fosfato 0,20 mol L−1 (pH =6,8), utilizando BDD em diferentes densidades de corrente.

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Capítulo IV

183

0 1 2 3 4 50,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5 pH = 1,9 ± 0,1 pH = 6,8 ± 0,1 pH = 11,7 ± 0,1

ICE

Tempo / h

0 1 2 3 4 50,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0 pH = 1,9 ± 0,1 pH = 6,8 ± 0,1 pH = 11,7 ± 0,1

COD/

COD 0

Tempo / h

(A)

(B)

Figura 4.10: Efeito do pH sobre a eletroxidação de 500 mg L−1 de corante AB-210 em

tampão fosfato 0,20 mol L−1 a 25 mA cm−2, utilizando BDD como ânodo. (A) COD/COD0 e (B) ICE em função do tempo de eletrólise.

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Capítulo IV

184

0 1 2 3 4 50,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0 pH = 1,9 ± 0,1 pH = 6,8 ± 0,1 pH = 11,7 ± 0,1

Abs/A

bs0

Tempo / h

320 nm

0 1 2 3 4 50,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0 pH = 1,9 ± 0,1 pH = 6,8 ± 0,1 pH = 11,7 ± 0,1

Abs/A

bs0

Tempo / h

460 nm

0 1 2 3 4 50,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0 pH = 1,9 ± 0,1 pH = 6,8 ± 0,1 pH = 11,7 ± 0,1

Abs/A

bs0

Tempo / h

600 nm

Figura 4.11: Diminuição da absorbância relativa (Abs/Abs0) em 320, 460 e 600 nm para a solução 500 mg L−1 de AB-210 em função do tempo de eletrólise para os experimentos realizados em tampão fosfato 0,20 mol L−1, com ânodo de BDD a 25 mA cm−2 em diferentes condições de pH.

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Capítulo IV

185

A eletrólise realizada em pH 11,7 e a 25 mA cm−2 também mostrou melhor

desempenho para a remoção de COD e absorbância em 460 nm do que aquela realizada

em pH 11,7 e a 25 mA cm−2. A constante de velocidade para a remoção de COD na

primeira condição é um pouco maior do que na segunda e a remoção de absorbância em

460 nm é muito mais rápida na primeira condição (Tabela IV.3). Entretanto, completa

remoção de absorbância é atingida em 320 nm depois de 3 h de eletrólise em pH 6,8 e a

100 mA cm−2, enquanto que em pH 11,7 e a 25 mA cm−2 isso acontece somente depois

de 4 h.

A partir as curvas de COD vs. tempo para as eletrólises realizadas em pH 6,8 e a

100 mA cm−2 (Figura 4.8(A)) e em pH 11,7 e a 25 mA cm−2 (Figura 4.10(A)), observa-

se que a COD não atinge zero, mas ela permanece constante após 3 h de eletrólise.

Além disso, os valores de COD na primeira condição são levemente maiores do que na

última (a partir de 3 h de eletrólise). É provável que esse comportamento seja devido à

produção de H2O2, o que pode ocorrer quando BDD é utilizado como ânodo. De fato,

H2O2 foi detectado quando BDD foi utilizado na eletroxidação de ácido clofíbrico 43.

Durante eletrólises de 100 mL de soluções contendo 179 mg L−1 de ácido clofíbrico, em

pH 3,0 e a 25 oC, a concentração de H2O2 atingiu 0,5 mol L−1 após 2 h a 33 mA cm−2, e

aproximadamente 1,0 mol L−1 depois de 4 h a 100 mA cm−2. Em ambas as condições,

estas concentrações de H2O2 permaneceram constantes até 7 h de eletrólise. A presença

de H2O2 na solução pode influenciar as análises de COD porque Cr2O72− é capaz de

oxidá-lo a oxigênio molecular de acordo com a eq. 4.20 44. Um mol de H2O2 apresenta

uma demanda de oxigênio teórica de 16 g 45

3 H2O2 + Cr2O72− + 8 H+ → 3 O2 + 2 Cr3+ + 7 H2O (4.20)

.

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Capítulo IV

186

Análises de TOC também foram realizadas para avaliar o efeito da densidade de

corrente sobre a mineralização do AB-210. Na Tabela IV.4 são apresentadas as

percentagens de remoção de TOC em função do tempo, bem como o consumo de

energia para as várias condições de eletrólise estudadas. Em pH 6,8, maiores densidades

de corrente levaram a maiores remoções de COD com mais altos gastos de energia.

Além disso, nesse pH e à densidade de corrente de 100 mA cm−2, completa remoção de

TOC foi atingida depois de 3 h de eletrólise. Para as eletrólises realizadas a

25 mA cm−2, a remoção de TOC obtida depois de 5 h em pH 1,9 foi levemente maior do

que a obtida em pH 6,8, mas em pH 11,7, 100% de remoção de TOC foi atingida no

mesmo intervalo de tempo. Além do bom desempenho da eletrólise em pH 11,7 para a

remoção de TOC e dos demais parâmetros avaliados, ela foi energeticamente mais

eficiente do que as outras condições.

Tabela IV.4: Remoção de TOC em função do tempo e consumo de energia na eletroxidação de 500 mg L−1 de AB-210 utilizando ânodo de BDD

Condição de eletrólise Remoção de TOC (%) Consumo de energia no fim

da eletrólise (kWh m−3) 1 h 3 h 5 h

pH 1,9 ± 0,1, 25 mA cm-2 17,9 47,8 70,7 72,0

pH 6,8 ± 0,1, 25 mA cm-2 25,5 51,0 64,6 59,0

pH 6,8 ± 0,1, 50 mA cm-2 27,7 74,0 96,8 166,0

pH 6,8 ± 0,1, 100 mA cm-2 46,3 100,0 − 288,0

pH 11,7 ± 0,1, 25 mA cm-2 30,1 68,7 100,0 53,0

pH 12,9 ± 0,1, 25 mA cm-2 em 0,20 mol L-1 NaOH* 17,2 40,2 60,3 50,0

pH 1,9 ± 0,1, 25 mA cm-2 com 0,10 mol L-1 NaCl 42,2 56,8 67,8 64,0

pH 6,8 ± 0,1, 25 mA cm-2 com 0,10 mol L-1 NaCl 21,6 52,6 60,3 55,0

pH 11,7 ± 0,1, 25 mA cm-2 com 0,10 mol L-1 NaCl 24,6 62,1 73,8 52,0

* Todas as eletrólises, exceto esta, foram realizadas na presença de 0,20 mol L−1 de tampão fosfato.

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Capítulo IV

187

A fim de melhor compreender o efeito dos íons fosfato sobre a oxidação

eletroquímica do corante AB-210 utilizando BDD, uma eletrólise foi realizada na

ausência de fosfato. As curvas de COD vs. carga específica para a eletrólise realizada

em solução de NaOH 0,20 mol L−1 a 25 mA cm−2 e para as outras eletrólises realizadas

na mesma densidade de corrente são apresentadas na Figura 4.12. Os valores de COD

obtidos a partir da eletrólise realizada em NaOH coincidiram com os valores teóricos

obtidos a partir do modelo de Comninellis. Nessa condição, a constante de velocidade

para a remoção de COD foi levemente maior do que aquelas obtidas em tampões fosfato

com pH 1,9 e 6,8, mas muito menor do que aquela obtida em tampão fosfato com

pH 11,7. A constante de velocidade de remoção de absorbância em 460 nm em solução

de NaOH também foi maior do que as obtidas em tampões fosfato com pH 1,9 e 6,8 a

25 mA cm−2, mas menor que a obtida em tampão fosfato com pH 11,7 (Tabela IV.3). A

remoção de TOC em função do tempo para a eletrólise realizada em solução de NaOH a

25 mA cm−2 mostrou um perfil similar àqueles observados em tampões fosfato pH 1,9 e

6,8 na mesma densidade de corrente, mas o consumo de energia no primeiro caso foi

menor (Tabela IV.4).

A eletrólise realizada em tampão fosfato 0,20 mol L−1 a pH 11,7 mostrou o

melhor desempenho para a oxidação de AB-210 e os resultados de remoção de COD

foram melhores do que aqueles previstos pelo modelo de Conmninellis. Isso indica que

espécies reativas formadas a partir dos íons fosfato devem participar do mecanismo de

oxidação do corante e que condições alcalinas devem favorecer a produção dessas

espécies. Tem sido relatado na literatura que peroxodifosfato (P2O84−) pode ser

eletroquimicamente produzido sobre ânodo de BDD e que bons rendimentos são

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Capítulo IV

188

somente obtidos em soluções fortemente alcalinas (o intervalo de pH ótimo está

compreendido entre 12 e 13) 3,31,32.

0 2 4 6 8 100

50

100

150

200

250

300

0 2 4 6 8 100,00

0,04

0,08

0,12

0,16

0,20

ICE

Carga específica / Ah L-1

Carga específica / Ah L-1

COD

/ mg

L-1

Figura 4.12: Diminuição dos valores de COD em função da carga específica durante as

eletrólises de 500 mg L−1 de AB-210 a 25 mA cm−2 utilizando BDD:

(■) tampão fosfato 0,20 mol L−1, pH 1,9, (●) tampão fosfato 0,20 mol L−1,

pH 6,8, (▲) tampão fosfato 0,20 mol L−1, pH 11,7 e (♦) solução de NaOH

0,20 mol L−1, pH 12,90. A linha em verde representa a predição do modelo

proposto por Comninellis.

Weiss et al. 32 observaram, a partir de voltamogramas cíclicos registrados a

100 mV s−1 utilizando BDD como eletrodo de trabalho em soluções de fosfato

0,20 mol L−1, o aparecimento de um pico de oxidação muito próximo daquele devido à

reação de desprendimento de oxigênio. Um aumento no tamanho do pico e um

deslocamento em direção a potenciais menores ocorrem à medida que a solução de

fosfato torna-se mais alcalina. Desde que quatro formas de fosfato podem existir em

solução aquosa (H3PO4, H2PO4−, HPO4

2− e PO43−) e que sua especiação depende do pH

da solução (pKa1 = 2,16, pKa2 = 7,21 e pKa3 = 12,32 46), as mudanças causadas pelo pH

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Capítulo IV

189

nos voltamogramas do BDD podem ser atribuídas à eletrogeração de espécies diferentes

de radicais fosfato (eq. 4.21, 4.22 e 4.23).

H2PO4− → H2PO4

● + e− (4.21)

HPO42− → HPO4

−● + e− (4.22)

PO43− → PO4

2−● + e− (4.23)

Embora os potenciais de redução dos radicais fosfato não sejam precisamente

conhecidos, evidências experimentais mostram que eles podem diferir

significativamente. Tem sido reportado que PO42−● oxida I− ( 0

rE (I2/I−) = 0,54 V),

HPO4−● também pode oxidar Br− ( 0

rE (Br2/Br−) = 1,07 V) e H2PO4● pode até oxidar Cl−

( 0rE (Cl2/Cl−) = 1,36 V) 46,47. Esses resultados sugerem que os potenciais de redução dos

radicais fosfato aumentam na ordem PO42−● < HPO4

−● < H2PO4●, ou seja, H2PO4

● é m

oxidante mais forte do que HPO4−●, o qual é mais forte do que PO4

2−● 48

32

. Isso é

consistente com os resultados obtidos a partir dos voltamogramas cíclicos com BDD em

soluções de fosfato desde que a eletrogeração de PO42−● (eq. 4.23) ocorre em um

potencial menor do que aqueles onde HPO4−● (eq. 4.22) e H2PO4

● (eq. 4.21) são

produzidos .

De acordo com Cañizares et al. 3, a eletroxidação de fosfato sobre BDD pode

ocorrer por dois mecanismos: a oxidação direta sobre a superfície do ânodo (equações

4.21, 4.22 e 4.23) e a oxidação mediada por radicais hidroxilas (equações 4.24, 4.25,

4.26). Ambos os mecanismos levam à formação de radicais fosfato, os quais podem se

combinar entre si para formar peroxodifosfato (eq. 4.27). As constantes de velocidade

para as reações entre radical HO● e H3PO4, H2PO4− e HPO4

2− são 2,6 x 106 L mol−1 s−1

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Capítulo IV

190

(eq. 4.24), 2,2 x 106 L mol−1 s−1 (eq. 4.25), and 0,8 x 106 L mol−1 s−1 (eq. 4.26),

respectivamente 49

3

. Desde que a produção de peroxodifosfato é favorecida em meio

alcalino (condição na qual o radical PO42−● predomina) e que a constante de velocidade

para a formação de PO42−● a partir da reação entre HPO4

2− e o radical HO● é menor do

que a velocidade das reações que originam os outros radicais fosfato, é provável que a

oxidação de fosfato ocorra principalmente via oxidação direta sobre BDD. Ainda de

acordo com Cañizares et al. , a oxidação direta é o mecanismo predominante quando o

potencial anódico é menor do que 3,95 V vs. Ag/AgCl, o que ocorre em todas as

condições estudadas neste trabalho (potencial anódico compreendido entre 2,6 e 3,6 V

vs. Ag/AgCl), indicando que esse é o mecanismo que predomina nas condições

estudadas.

H3PO4 + HO● → H2PO4● + H2O (4.24)

H2PO4− + HO● → H2PO4

●/HPO4−● + HO−/H2O (4.25)

HPO42− + HO● → HPO4

−●/PO42−● + HO−/H2O (4.26)

PO42−● + PO4

2−● → P2O84− (4.27)

Considerando que os radicais fosfato estejam envolvidos no mecanismo de

oxidação do corante AB-210 e que estes radicais sejam produzidos pelo mecanismo de

oxidação direta, é provável que as mudanças causadas pelo pH na eficiência de

oxidação do corante seja devido às diferenças nas propriedades de adsorção das várias

espécies de radical fosfatos. A diminuição no tamanho do pico à medida que o pH

diminui, observada por Weiss et al. 32 a partir dos voltamogramas cíclicos, ajuda a

suportar essa hipótese. Se H2PO4● e HPO4

−● se adsorverem fortemente sobre a

superfície do BDD, a oxidação do corante ocorrerá principalmente na região próxima à

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Capítulo IV

191

superfície do eletrodo. Além disso, desde que radicais fosfato são menos reativos e mais

seletivos do que radicais HO●, a formação deste último seria inibida. Nesse caso, uma

remoção de COD inferior à prevista pelo modelo de Comninellis seria esperada

(Figura 4.12). Por outro lado, radicais PO42−● parecem se adsorver mais fracamente

sobre BDD do que H2PO4● e HPO4

−●. Por causa disso, além de reagir na região próxima

ao eletrodo, PO42−● pode reagir no bulk do eletrólito e pode ainda resultar na produção

de P2O84− com alto rendimento.

PO42−● ( 0

rE = 2,50 V) e P2O84− ( 0

rE = 2,07 V) são fortes agentes oxidantes

capazes de degradar compostos orgânicos 50

48

. Esse comportamento torna-os interessantes

para a oxidação de contaminantes orgânicos e para o tratamento de efluentes. Da mesma

forma que os radicais HO●, radicais fosfato podem reagir com compostos orgânicos por

três mecanismos: abstração de hidrogênio a partir de compostos orgânicos saturados,

adição eletrofílica a compostos insaturados e oxidação por transferência de elétrons ,50.

PO42−● tem um potencial de redução menor do que o do radical hidroxila em condições

ácidas ( 0rE = 2,80 V ). Entretanto, a eficiência de um oxidante não depende somente do

seu potencial de redução. Embora radical HO● seja um poderoso oxidante para reações

de transferência de elétrons, geralmente ele não reage com compostos orgânicos por

meio desse mecanismo, mas por um mecanismo de adição. Isso ocorre porque a ligação

formada na adição estabiliza o estado de transição. Quando HO● é adicionado a

benzenos substituídos, por exemplo, radicais hidroxiciclohexadienil são formados.

Nesse caso, os produtos de reação são tipicamente aqueles originados da dimerização ou

desproporcionação desses radicais. A heterólise da ligação C−OH dos radicais

hidroxiciclohexadienil levaria à formação dos produtos de transferência de elétrons (o

cátion radical e o ânion hidróxido). Entretanto, uma vez que o grupo OH− é um péssimo

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Capítulo IV

192

grupo de saída, a heterólise espontânea é muito lenta e os produtos de transferência de

elétrons seriam observados somente em condições muito ácidas, onde a protonação do

grupo –OH o converteria em –H2O+, o qual é um excelente grupo de saída 51

A eficiência de uma reação depende da reatividade de todas as espécies que

participam dela. Assim, para explicar o melhor desempenho do processo de oxidação

eletroquímico do corante AB-210 em solução alcalina contendo fosfato, a reatividade do

corante também deve ser considerada. Como descrito anteriormente, a forma assumida

pelo corante AB-210 em solução aquosa depende do pH. As diferentes formas do

corante, além de apresentarem propriedades espectrais diferentes, podem diferir

significativamente quanto as suas reatividades. Durante a oxidação do 2,4,6-

triclorofenol (TCP) pelo H2O2 catalisada por uma ferro-tetrassulfoftalocianina, completa

conversão do TCP foi atingida em pH 7 e 8, enquanto que pobres conversões foram

obtidas em pH 5 e 6 no mesmo intervalo de tempo

.

52. Desde que TCP tem um pKa de

6,2, os autores sugeriram que o melhor desempenho do processo em pH 7 e 8 deve-se à

presença de 100% do TCP na forma fenolato. Essa forma é mais oxidável do que o

fenol, o qual predomina em pH menor do que 6,2. Geralmente, as constantes de

velocidade entre radicais fosfato e compostos orgânicos aumentam na seguinte ordem:

PO42−● < HPO4

−● < H2PO4●. Entretanto, na reação com a glicina (H2NCH2CO2H),

PO42−● apresentou uma constante e velocidade de 2,6 x 107 L mol−1 s−1 em pH 12,7

enquanto que H2PO4● apresentou uma constante menor do que 105 L mol−1 s−1 at pH

4.5 53. Desde que PO42−● reage com H2NCH2CO2

− e H2PO4● com +H3NCH2CO2

−, é

provável que a primeira forma da glicina seja mais reativa do que a última forma.

Recentemente, Murugananthan et al. 54 observaram que durante a eletroxidação do

bsifenol A com BDD, conversões mais rápidas desse composto foram obtidas em

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193

solução alcalina, condição em que bisfenol A está na forma fenolato. Assim como TCP,

glicina e bisfenol A, a forma assumida pelo corante AB-210 em solução alcalina deve

ser mais reativa do que as outras formas.

O efeito de íons cloreto sobre a eletroxidação do corante AB-210 sobre BDD em

tampão fosfato também foi avaliada. Na Figura 4.13(A) são apresentadas as remoções

de COD e os valores de CE obtidos depois de 1 h de eletrólise a 25 mA cm−2 na

presença e ausência de NaCl. Para as eletrólises realizadas na ausência de cloreto,

maiores remoções de COD e maiores valores de CE foram obtidos em maiores valores

de pH. Por outro lado, quando cloreto estava presente no eletrólito, os melhores

desempenhos foram obtidos em menores valores de pH.

A oxidação anódica de cloreto resulta no desprendimento de cloro. Em água,

cloro desproporciona rapidamente formando HClO e ClO− 20. Desde que HClO é mais

eletrofílico do que ClO−, o primeiro é mais reativo para as reações de adição e

substituição eletrofílica. Nessas reações, o átomo de Cl no HClO comporta-se como Cl+,

o qual é atacado pelo nucleófilo com o qual ele reage 55,56

BDD apresenta alto sobrepotencial para a reação de desprendimento de cloro, o

que se deve provavelmente à pobre adsorção dos átomos de cloro sobre a sua

superfície

. HClO é também mais reativo

do que ClO− para as reações de transferência de elétrons.

6. Entretanto, íons Cl− reagem com radicais HO● para gerar HOCl●−

(eq. 4.28), o qual se decompõe a radicais Cl● (eq. 4.29) 57,58. Esses radicais também

podem ser produzidos a partir da oxidação de íons Cl− pelos radicais H2PO4● (eq.

4.30) 59

57

. Na presença de excesso de ions Cl−, radicais Cl● são imediatamente

sequestrados, formando radicais Cl2●− (eq.4.31) ,59. Como os radicais HO● e os radicais

fosfato, Cl● e Cl2●−, principalmente o primeiro, reagem com as substâncias orgânicas

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Capítulo IV

194

por abstração de hidrogênio, adição a alquenos e alquinos e oxidação por transferência

de elétrons 60

HO● + Cl−

.

HOCl●− (4.28)

HOCl●− + H+ Cl● + H2O (4.29)

H2PO4● + Cl− → Cl● + H2PO4

− (4.30)

Cl● + Cl− Cl2●− (4.31)

Desde que HClO é um oxidante mais eficiente do que ClO−, a eletroxidação de

compostos orgânicos na presença de cloreto apresenta melhor desempenho em

condições ácidas do que em condições alcalinas, principalmente com relação à remoção

de cor 28. Durante a eletroxidação de AB-210 sobre BDD na presença de cloreto, quanto

menor o valor de pH, mais rápida foi a remoção de absorbância em 460 nm

(Tabela IV.3). Além disso, a diminuição dos valores de absorbância em 460 nm foi mais

rápida na presença de íons cloreto do que na sua ausência, exceto em pH 11,7.

Embora espécies de cloro ativo (Cl2, HClO e ClO−) sejam capazes de oxidar as

substâncias orgânicas, resultando em rápidas diminuições de COD e absorbância, elas

não são capazes de mineralizar esses compostos. Por outro lado, radicais cloro (Cl● e

Cl2●−) podem resultar na mineralização dos compostos orgânicos e a formação desses

radicais depende da concentração de cloreto e do pH. Na eletroxidação de AB-210 na

presença de cloreto, mais de 97,0% de COD foi removido depois de 2 h de elétrolise,

em todas as condições de pH. Entretanto, depois de 5 h de elétrolise, TOC ainda era

detectado e as remoções deste parâmetro haviam sido menores do que àquelas obtidas

na ausência de cloreto (Figura 4.13(B)).

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0,00

0,10

0,20

0,30

0,40

0,50

0,60

0

20

40

60

80

100

120

CE

pH 1,9 6,8 11,7

Rem

oaçã

o de

CO

D / %

com cloreto

sem cloreto

(A)

0

20

40

60

80

100

120

pH 1,9 6,8 11,7

Rem

oção

de T

OC

/ %

com cloreto

sem cloreto(B)

Rem

oção

Figura 4.13: (A) Remoções de COD e eficiências de corrente (CE) calculadas a partir de COD, após 1 h e (B) remoções de TOC após 5 h obtidas a partir da eletroxidação de 500 mg L−1 de AB-210 em tampão fosfato 0,20 mol L−1 a 25 mA cm−2 sobre ânodo de BDD, na presença e ausência de 0,10 mol L−1 de NaCl em diferentes condições de pH.

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Capítulo IV

196

Reações de adição e substituição entre compostos orgânicos e espécies de cloro

ativo e/ou radicais cloro são as principais responsáveis pela formação de compostos

organoclorados. Na Figura 4.14 são apresentadas as concentrações de AOX em função

do tempo de eletrólise obtidas na presença de cloreto em diferentes condições de pH.

Em pH 1,9, a rápida remoção de TOC depois de 1 h de eletrólise (Tabela IV.4) ocorre

concomitantemente à formação de alta concentração de AOX, indicando que radicais

cloro devem participar da oxidação do corante nesta condição. Embora a produção de

espécies de cloro ativo compete com as reações em que radicais fosfato são gerados,

radicais Cl● também podem ser formados a partir da ração com H2PO4● (eq. 4.30), a

forma de radical fosfato que predomina em soluções com pH < 5,7. Após 3 e 5h de

eletrólise, a remoção de TOC aumentou levemente (Tabela IV.4), enquanto que a

concentração de AOX permaneceu praticamente constante (Figura 4.14). Isso indica

que os compostos organoclorados inicialmente produzidos podem ser resistentes à

oxidação. Em pH 6,8, a concentração de AOX aumentou até 3 h de eletrólise e diminuiu

depois de 5 h enquanto que em pH 11,7, ela atingiu um valor máximo de 1 h, o qual

diminuiu com o tempo de eletrólise. Nessas condições de pH, as concentrações de AOX

foram menores do que aquelas em pH 1,9 porque as espécies de cloro presentes nessas

soluções são menos reativas nessas condições de pH. Esses resultados mostram que a

cinética de formação de AOX depende do pH e que, embora compostos orgânicos sejam

formados durante a eletroxidação do corante AB-210, eles são degradados no próprio

processo.

Os consumos de energia para as eletrólises realizadas usando tampão fosfato

0,20 mol L−1 e NaCl 0,10 mol L−1 como eletrólito suporte foram menores do que

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Capítulo IV

197

aqueles para as eletrólises realizadas na presença de tampão fosfato 0,20 mol L−1

apenas.

0

20

40

60

80

100

120 pH = 1,9 ± 0,1 pH = 6,8 ± 0,1 pH = 11,7 ± 0,1

Tempo / h

AOX

/ mg

L-1

1 3 5

Figura 4.14: Concentração de AOX durante a eletroxidação de 500 mg L−1 de AB-210

em tampão fosfato 0,20 mol L−1 a 25 mA cm−2 sobre ânodo de BDD, na presença de 0,10 mol L−1 de NaCl em diferentes condições de pH.

IV.4 - Conclusões

Nos estudos de eletroxidação do efluente de curtume sintético, os melhores

resultados foram obtidos quando Si/BDD foi utilizado como ânodo e esses resultados

não foram afetados pelo pH inicial do efluente. Ti/SnO2-Sb também mostrou bom

desempenho, mas após 4 h de eletrólise ele sofreu desativação. As remoções de COD,

TOC e fenóis totais, principalmente as duas primeiras, foram pouco significativas com o

eletrodo Ti/Ir0,10Sn0,90O2-Sb.

A eletroxidação do corante AB-210 com ânodo de BDD na presença de tampão

fosfato 0,20 mol L−1 em diferentes condições de pH também foi investigada.

Considerando as eletrólises realizadas a 25 mA cm−2 na presença de tampão fosfato

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Capítulo IV

198

como eletrólito suporte, os melhores resultados foram obtidos em pH 11,7. Nessa

condição, os valores de COD em função da carga específica foram maiores do que

aqueles obtidos a partir do modelo proposto por Comninellis e maiores remoções de

TOC e cor também foram atingidas com menor consumo de energia. O melhor

desempenho obtido para a oxidação de AB-210 em pH 11,7 deve-se provavelmente aos

radicais fosfato e ao íon peroxodifosfato, os quais são agentes oxidantes fortes que

podem ser eletrogerados sobre BDD com bons rendimentos, principalmente em

condições alcalinas. Eletrólises realizadas na presença de tampão fosfato e NaCl

resultaram em remoções mais rápidas de COD do que aquelas realizadas na ausência de

cloreto. A remoção de cor foi mais rápida em pH 1,9 e 6,8 quando cloreto estava

presente, mas em pH 11,7, a cor foi removida mais rapidamente quando cloreto não

estava presente. Remoções de TOC na presença de cloreto foram menores do que na

ausência deste íon. Além disso, compostos organoclorados (medidos como AOX) foram

detectados em todas as condições de eletrólise realizadas na presença de NaCl, mas

esses compostos começaram a ser degradados nas próprias eletrólises.

Esses resultados mostram que BDD é o melhor material eletródico para a

oxidação direta de substâncias orgânicas e que, além do cloro, ele é capaz de eletrogerar

outras espécies oxidantes a partir do eletrólito suporte, como radicais fosfato e

peroxodifosfato, as quais podem degradar eficientemente substâncias orgânicas, sem

resultar na formação de compostos organoclorados.

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Capítulo IV

199

IV.5 - Referências bibliográficas

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Capítulo IV

201

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39 QUIROZ, M. A.; MARTÍNEZ-HUITLE, U. A.; MARTÍNEZ-HUITLE, C. A. Mass transfer measurements in a parallel disk cell using the limiting current technique. Journal of the Mexican Chemical Society, v. 49, p. 279-283, 2005.

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Capítulo IV

202

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O capítulo 5 não está disponível.

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Capítulo VI: Considerações Finais

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Capítulo VI

269

VI - Considerações finais

Os resultados apresentados nesta tese mostram que o processo eletroquímico é

capaz de oxidar eficientemente os contaminantes orgânicos presentes em efluentes

industriais desde que as condições sejam convenientemente escolhidas. Eletrodos do

tipo DSA® mostram bom desempenho somente quando cloreto está presente na solução

a ser tratada. Desde que efluentes de curtumes apresentam altas concentrações desse íon

na sua composição, eletrodos do tipo DSA® poderiam ser utilizados no tratamento

eletroquímico desses efluentes. Um dos obstáculos para que a eletroxidação via espécies

de cloro ativo seja aplicada ao tratamento de efluentes industriais é a formação de

compostos organoclorados. Embora a formação desses compostos tenha sido observada

nas oxidações eletroquímicas realizadas na presença de cloreto, a toxicidade aguda do

efluente diminuiu mesmo quando altas concentrações de AOX foram detectadas. Deve-

se considerar que AOX inclui substâncias químicas de diferentes estruturas, que podem

conter diferentes números de átomos de cloro e que, portanto, podem apresentar

diferentes perfis toxicológicos. Além disso, o fato da toxicidade aguda ter diminuído

não significa que esse efluente não tenha toxicidade crônica. Embora a formação de

compostos organoclorados seja uma desvantagem da eletroxidação indireta mediada por

cloreto, este trabalho mostrou que os compostos organoclorados formados na eletrólise

podem ser degradados no próprio processo.

Sem dúvida nenhuma, BDD é o melhor material eletródico que existe

atualmente para a eletroxidação direta de substâncias orgânicas. A vantagem de

eletroxidação direta é que compostos organoclorados não são formados. Outra

característica bastante interessante dos eletrodos de BDD é que, ao contrário de outros

materiais eletródicos, eles são capazes de produzir, além do cloro, outros oxidantes a

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Capítulo VI

270

partir do eletrólito suporte, como o peroxodifosfato, com altos rendimentos. Esses

oxidantes podem ser aplicados para a degradação de compostos orgânicos.

A fotoeletroquímica é uma técnica promissora para o tratamento de efluentes

desde que ela apresenta melhor desempenho, em termos de degradação de substâncias

orgânicas, do que os processos fotoquímico e eletroquímico aplicados de forma

independente. Apesar disso, os custos associados ao processo fotoeletroquímico são

mais altos, o que pode inviabilizar sua aplicação para fins industriais. Esse problema

poderia ser superado se energia solar pudesse ser utilizada como fonte de radiação ao

invés de uma lâmpada.

Os custos dos processos eletroquímico e fotoeletroquímico também poderiam ser

reduzidos se esses processos fossem utilizados em uma etapa que antecedesse ou

sucedesse outro processo de tratamento, por exemplo, o tratamento biológico. Assim, se

um efluente possui substâncias recalcitrantes em sua composição, mas que não são

tóxicas aos microorganismos, o processo eletroquímico (ou fotoeletroquímico) poderia

ser utilizado após o tratamento biológico. Por outro lado, se o efluente é tóxico para os

microorganismos, o tratamento eletroquímico (ou fotoeletroquímico) poderia ser

aplicado antes do tratamento biológico para remover a toxicidade do efluente e permitir

que, em seguida, ele seja tratado biologicamente.

Cabe salientar ainda que o tratamento eletroquímico só é economicamente

vantajoso se o efluente apresentar elevada carga orgânica. Caso contrário, a eficiência

faradaica do processo será muito baixa. Em outras palavras, a energia estará sendo gasta

para gerar oxigênio. Em se tratando de efluentes com baixa concentração de compostos

orgânicos, os processos oxidativos avançados tradicionais devem ser mais eficientes.

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