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“O que acontece com os que morrem em Cristo? Pr. Roberto Carlos Cruvinel, ThM DD Considerações A morte é uma das duas realidades incontestáveis. A primeira é a própria vida, e uma vez definida a existência de um ser criado, (sim, porque Deus é o Criador, existe, porém não morre), é lógico depreender que ele vira a fenecer. Num certo sentido a morte (do grego: qa/natoj [thanatós – aparece 120 vezes no NT grego – significando: morte, separação da alma do corpo pela qual a vida na terra fica terminada], tem considerações escatológicas. Da realidade da morte algumas perguntas poderiam surgir. Em uma de suas obras R. C. Sproul apresenta uma lista. Vejamos: Os santos do AT tinham certeza de uma vida pessoal depois da morte? R: Parece que aos judeus do período veterotestamentário era grande essa discussão. O conceito de vida após a morte no AT (indicado pela freqüente menção da palavra Sheol ), é um tanto vago; a morte é descrita como um lugar além do túmulo para onde vão as pessoas boas e más. Vejamos as colocações de Jó (Jó 14.14 – mostra um momento de desesperança – Jó 19.25 – mostra-se confiante. Davi estava certo de ir até a criança morta (2 Sm 12.23), o que pode demonstrar a sua confiança na vida após a morte. A realidade da vida futura não era desconhecida entre os santos do AT.

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“O que acontece com os que morrem em Cristo?”Pr. Roberto Carlos Cruvinel, ThM DD

Considerações

A morte é uma das duas realidades incontestáveis. A primeira é a própria vida, e uma vez definida a existência de um ser criado, (sim, porque Deus é o Criador, existe, porém não morre), é lógico depreender que ele vira a fenecer. Num certo sentido a morte (do grego: qa/natoj [thanatós – aparece 120 vezes no NT grego – significando: morte, separação da alma do corpo pela qual a vida na terra fica terminada], tem considerações escatológicas. Da realidade da morte algumas perguntas poderiam surgir. Em uma de suas obras R. C. Sproul apresenta uma lista. Vejamos:

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Os santos do AT tinham certeza de uma vida pessoal depois da morte? R: Parece que aos judeus do período veterotestamentário era grande essa discussão. O conceito de vida após a morte no AT (indicado pela freqüente menção da palavra Sheol ), é um tanto vago; a morte é descrita como um lugar além do túmulo para onde vão as pessoas boas e más. Vejamos as colocações de Jó (Jó 14.14 – mostra um momento de desesperança – Jó 19.25 – mostra-se confiante. Davi estava certo de ir até a criança morta (2 Sm 12.23), o que pode demonstrar a sua confiança na vida após a morte. A realidade da vida futura não era desconhecida entre os santos do AT.

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Os judeus crentes do AT foram para o céu, ou havia uma “sala de espera” para eles até a morte e ressurreição de Jesus? R: A igreja Católica Romana tem a doutrina do limbo. Alguns interpretam o texto de 1 Pedro 3.19 como Jesus indo pregar aos santos do AT identificados aqui como “espíritos em prisão”, que estavam sendo mantidos cativos até que a Redenção de Cristo fosse completada. Jesus os libertou para entrarem no paraíso com ele (Ef 4.8,9). Jesus era o “primogênito dos mortos”; Ele foi primeiro ao lugar dos mortos, (seio de Abraão) e conduziu os cativos levando-os para o seu futuro de glória.

•    A Bíblia nos diz como será o céu? R: Apocalipse 21 e 22. Alguns entendem estes textos são puro

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simbolismo. Todavia, os simbolismos apontam para algo mais sublime.

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Se o céu é o destino último para o cristão, por que a Bíblia apresenta tão pouca descrição a seu respeito? R: céu (do grego ou)rano/j [uranós] – aparece 272 vezes no NT grego). É muito difícil discutir algo que nunca experimentamos, talvez seja por isso que a Bíblia use tantas analogias acerca do céu. A sublimidade do céu é algo que transcende a nossa capacidade de antecipar (1 Co 2.9). A Bíblia diz o que o céu não é ( ler Ap 21.4).

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Existem graduações no céu pelas quais, como resultado de uma vida de boas obras, um cristão tem uma posição mais alta ou uma qualidade de vida melhor do que alguém que escapa por um fio no último suspiro? R: Alguns teólogos têm o entendimento que haverá essa graduação, com base em alguns textos (Lc 19.11-27; 2 Co 5.10, 1 Co 3.14,15; Dn 12.3). A diferença nos galardões ou nos graus de satisfação no céu é em geral descrita em termos de circunstâncias objetivas. Por exemplo, podemos supor que um cristão muito fiel receberá um quarto grande na casa do Pai; um crente menos fiel receberá um quarto pequeno.

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Nós nos reconheceremos uns aos outros no céu? R: Nnhuma referência bíblica afirma especificamente que nos reconheceremos uns aos outros. Mas o ensino implícito das Escrituras é tão intenso e poderoso que não creio que não haja realmente qualquer dúvida de que seremos capazes de reconhecer uns aos outros no céu.

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Quando uma pessoa morre, para onde vão seu espírito e seu corpo até a Segunda Vinda? R. Essa colocação é chamada de Estado Intermediário. Alguns defendem que a alma fica “dormindo” ou “descansando”, baseando-se em textos como: 1 Ts, 4.13; 1 Co 15.18,20; (ler e explicar cada um destes textos). Quando o texto usa a palavra “dormem” para designar a morte dos santos, usa-a como uma figura retórica, como um eufemismo. Compare os textos de Hb 3.11,18 com relação a peregrinação de Israel à Terra Prometida e Hb 4.9-11 com relação ao “descanso” que aguarda os crentes.

Ao morrermos a alma vai estar com Deus (ler Lc 23.43 – o ladrão na cruz; Lc 16.19-31 – o rico e

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Lázaro). Ler Apocalipse 6.9-11; Mt 17.3,4.O corpo deve voltar ao pó – ler Eclesiastes 12.7; Gn 2.7.

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O que acontece com as crianças que morrem antes de poderem aceitar o evangelho? R: O NT não propõe um ensinamento explícito sobre o assunto, todavia, de acordo com minha tradição teológica, creio que as crianças que morrerem ainda pequeninas são contadas entre os redimidos. (Argumentar)

Muitas dessas perguntas apresentam um elevado grau de dificuldade para obtermos a resposta. Certo é que, Deus não diz tudo o que desejamos saber, mas diz tudo o que precisamos saber.

SPROUL, R. C. – Boa Pergunta! – págs. 183 e 184 - Editora Cultura Cristã – 1ª Edição – 1999.Sheol – Palavra hebraica que designa o lugar dos mortos. O mesmo que hades e inferno. É o lugar onde as almas dos iníquos aguardam o Juízo Final. (Dicionário Teológico – Claudionor Corrêa de Andrade – pág. 264 – CPAD – 7ª Edição – 1998).Limbo – Derivado de uma palavra germânica que significa “orla” ou “margem”, o limbo foi projetado pelos teólogos medievais como o lugar ou estado daquelas almas que, depois da morte, não se encaixavam nitidamente nem no céu nem no inferno. Havia na realidade, dois limbos. O limbo dos pais (limbus patrum) era reservado às almas dos santos do AT; a descida de Cristo ao Hades, de conformidade com o Credo, era interpretada como Seu ato de libertar essas almas e levá-las ao céu...Mais importante era o limbo das criancinhas (limbus infantum). A maioria dos bebês nascidos antes do desenvolvimento da medicina moderna morria antes de chegar a uma maturidade suficiente para cometer pecado pessoal sério...Muitos teólogos medievais, tais como Pedro Lombardo e Tomás de Aquino, consideravam o conceito agostiniano demasiadamente rigoroso e postulavam o limbo como um estado perpétuo livre das dores dos sentidos, mas sem a salvação sobrenatural e o gozo de Deus... – (Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã – vol. II - J. P. Donnelly – pág. 437 – Soc. Religiosa Edições Vida Nova – 1992).O Dr. R. N. Champlin, PhD, em sua obra “O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo”, volume 4 – págs. 599 e 600 – Editora e Distribuidora Candeia – 1995, apresenta, entre outras, a hipótese da interpretação do texto acima ser realmente o resgate dos santos do AT que aguardavam a redenção propiciada pelo Messias do ponto de vista perspectivo, ao passo que nós os cristãos hodiernos temos nossa fé fundamentada na redenção do ponto de vista retrospectivo uma vez que o Messias já veio, morreu na cruz, ressuscitou e voltará para nos buscar.

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Seio de Abraão – Uma figura de linguagem usada por Jesus na parábola de Lázaro e o rico (Lc 16.22,23), ilustrando o ‘grande abismo’ posto entre a bem-aventurança do paraíso e a miséria do hades (cf. Mt 8.11). O falecido Lázaro é descrito como alguém reclinado próximo de Abraão, na festa dos benditos, segundo a maneira judaica, que levava a cabeça de uma pessoa quase a encostar-se contra o peito de outra que estivesse reclinada mais para cima. E era nessa posição que ficava o hóspede mais favorecido em relação ao anfitrião (exemplo Jo 13.23). Reclinar-se no seio de Abraão, na linguagem talmúdica, era igual a entrar no paraíso (cf 4 Mc 13.17)...(O Novo Dicionário da Bíblia – pág. 1499 – Vida Nova – 1997). Seio de Abraão – Designação que os antigos hebreus davam ao lugar para onde iam os justos logo após a sua morte. Acreditava-se que, neste paraíso, localizado na mesma dimensão do Hades, os bons estariam a desfrutar da companhia de Deus e dos patriarcas até a ressurreição de seus corpos (Lc 16.22,23) – (Dicionário Teológico – Claudionor Corrêa de Andrade – pág. 262 – CPAD – 7ª Edição – 1998).ERICKSON, Millard J. – Introdução à Teologia Sistemática – pág. 533 – Edições Vida Nova – 1997.SPROUL, R. C. – Boa Pergunta! – pág. 189 - Editora Cultura Cristã – 1ª Edição – 1999.

O Estado Intermediário dos MortosAluno : Anísio Renato de AndradeProfessor : Pr. Marcelo Rodrigues de OliveiraPeríodo : Sexto - Curso : Bacharel em Teologia Ministerial

INTRODUÇÃO

Para onde as pessoas vão ao morrerem? Esta é uma pergunta intrigante que todos fazem em algum momento da vida. A Bíblia nos fala do juízo final, quando todos serão encaminhados para seus lugares eternos: o céu ou o lago de fogo. E antes desse julgamento ? Onde estarão os mortos ? Haverá um tipo de "sala de espera" do tribunal de Cristo ? Em busca de resposta a essa questões empreenderemos este estudo acerca do Estado Intermediário dos Mortos.

A VIDA PSÍQUICA APÓS A MORTE FÍSICA

O aspecto central no ensino neotestamentário acerca do futuro do homem é a volta de Cristo e os eventos que acompanharão essa volta: a ressurreição, o juízo final e a criação da nova Terra. Mas antes de avançarmos para considerar esse assuntos, temos de dar alguma atenção ao que normalmente é denominado de "o estado intermediário" - isto é, o estado do morto entre a morte e a ressurreição.Desde o tempo de Agostinho, os teólogos cristão pensavam que, entre a morte e a ressurreição, as almas dos homens desfrutavam do descanso ou sofriam enquanto esperavam ou pela complementação de sua salvação, ou pela consumação de sua condenação. Na Idade Média, esta posição continuou a ser ensinada, e foi desenvolvida a doutrina do Purgatório. Os Reformadores rejeitaram a doutrina do Purgatório, mas continuaram a defender um estado intermediário, embora Calvino, mais do que Lutero, tendia mais a considerar esse estado como de uma existência consciente. Em sua obra Psychopannychia, uma resposta aos Anabatistas de seu tempo, que ensinavam que as almas simplesmente dormiam entre a morte e a ressurreição, Calvino ensinou que, para os crentes, o estado intermediário é tanto de benção como de expectação - por causa disso a benção é provisória e incompleta. Desde aquele tempo, a doutrina do estado intermediário tem sido ensinada pelos teólogos da Reforma, e se reflete nas Confissões da Reforma.Entretanto, a doutrina do estado intermediário tem sido recentemente sujeita a uma crítica severa. G.C.Berkouwer retrata o ponto de vista de alguns destes críticos em seu recente livro sobre escatologia. G.Van Der Leeuw (1890-

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1950), por exemplo, sustenta que após a morte somente existe uma perspectiva escatológica para os crentes: a ressurreição do corpo. Ele rejeita a idéia de que exista "algo" do homem que continue após a morte e sobre o que Deus construiria uma nova criatura. De acordo com as Escrituras, assim insiste ele, o homem morre totalmente, com corpo e alma; quando o homem, mesmo assim, recebe uma nova vida na ressurreição, isto é um feito maravilhoso de Deus, e não algo que jorre naturalmente da existência atual do homem. Por causa disso, falar de "continuidade" entre nossa vida atual e a vida da ressurreição leva ao engano. Deus não cria nosso corpo ressurreto a partir de alguma coisa - por exemplo, nosso espírito, ou nossa personalidade - mas ele cria uma nova vida do nada, de nossa vida aniquilada e destruída.Outro crítico moderno da doutrina do estado intermediário é Paul Althaus, um teólogo luterano (1888-1966). Esta doutrina, sustenta ele, deve ser rejeitada uma vez que pressupõe a existência continuada e independente de uma alma incorpórea, e por este motivo é mesclada com Platonismo. Althaus apresenta várias objeções à doutrina do estado intermediário. Esta doutrina não faz jus à seriedade da morte, uma vez que a alma parece passar incólume através da morte. Por sustentar que, sem o corpo o homem pode ser totalmente abençoado e completamente feliz, esta doutrina nega a importância do corpo. A doutrina tira o significado da ressurreição; quanto mais aumentarmos as bênçãos do indivíduo após a morte, mais diminuiremos a importância do último dia. Se, de acordo com esta doutrina, os crentes após a morte já estão abençoados e o ímpio já está no inferno, por que ainda é necessário o dia do juízo? A doutrina do estado intermediário é completamente individualista; ela envolve mais um tipo privado de bênção do que comunhão com os outros, e ignora a redenção do cosmos, a vinda do Reino e a perfeição da igreja. Em suma, conclui Althaus, esta doutrina separa o que deve estar junto : corpo e alma, o individual e o comunitário, felicidade e a glória final, o destino de indivíduos e o destino do mundo.Em resposta a estas objeções, deve ser admitido que a Bíblia fala muito pouco acerca do estado intermediário e que aquilo que ela diz acerca dele é contingente à sua mensagem escatológica principal sobre o futuro do homem, que diz respeito à ressurreição do corpo. Temos de concordar com Berkouwer que aquilo que o Novo Testamento nos fala acerca do estado intermediário não passa de um sussurro. Temos também de concordar que em lugar nenhum o Novo Testamento nos fornece uma descrição antropológica ou exposição teórica do estado intermediário. Entretanto, permanece o fato de que há evidência suficiente para nos capacitar a afirmar que, na morte, o homem não é aniquilado e o crente não é separado de Cristo. Veremos mais adiante qual é esta evidência. Nesse ponto, devemos fazer uma observação sobre a terminologia. Geralmente, é dito por cristão que a "Alma" do homem continua a existir após o corpo ter morrido. Este tipo de linguagem 'freqüentemente criticado como revelando um modo grego ou platônico de pensar. Será que isso é necessariamente assim? Deve ser admitido que certamente é possível falar da "alma" de modo platônico. É bom lembrarmos que existem divergências entre essa visão e a concepção cristã do homem.Mas, o fato de que os gregos usaram o termo alma de modo não bíblico não implica, necessariamente, que todo uso da palavra alma, para indicar a existência continuada do homem após a morte, seja errado. O próprio Novo Testamento utiliza ocasionalmente deste modo a palavra grega para a alma, psyche. Arndt e Gingrich, em seu Greek-English Lexicon of the New Testament, sugerem que psyche, no Novo Testamento, pode significar vida, alma como o centro da vida interior do homem, alma como o centro da vida que transcende a terra, aquela que possui vida, a criatura vivente, alma como aquela que deixa o reino da terra e da morte e continua a viver no Hades.Existem, pelo menos, três exemplos claros do Novo Testamento onde a palavra psyche é usada para designar aquele aspecto do homem que continua a existir após a morte. O primeiro deles encontra-se em Mt.10:28: "Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma (psyche); temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo". O que Jesus diz é o seguinte: Existe algo seu que aqueles que o matam não podem tocar. Este algo tem de ser um aspecto do homem que continua a existir após a morte do corpo. Dois exemplos mais deste uso da palavra são encontrados no livro do Apocalipse: "Quando ele abriu o quinto sele, vi debaixo do altar as almas (psychas) daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam" (6:9): "Vi ainda as almas (psychas) dos decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus" (20:4). Em nenhuma destas duas passagens a palavra almas pode se referir a pessoas que ainda estejam vivendo na terra. A referência é claramente a mártires assassinados: a palavra almas é usada para descrever aquele aspecto desses mártires que ainda existe após seus corpos terem sido cruelmente abatidos.Concluímos, portanto, que não é ilegítimo nem antibíblico usar a palavra alma para descrever o aspecto do homem que continua a existir após a morte. Devemos acrescentar que, às vezes, o Novo Testamento usa a palavra espírito (pneuma) para descrever esta aspecto do homem: por exemplo, em Lucas 23:46, Atos 7:59 e Hebreus 12:23.As escrituras ensinam claramente que o homem é uma unidade e, que "corpo e alma" (Mt.10:28) ou "corpo e espírito" (I Cor. 7:34 Tg.2:26) são inseparáveis. O homem só é completo nesta espécie de unidade psicossomática. Porém, a morte faz surgir uma separação temporária entre o corpo e a alma. Uma vez que o Novo Testamento, ocasionalmente, realmente fala das "almas " ou dos "espíritos" dos homens como ainda

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existindo durante o tempo entre a morte e a ressurreição, nós também podemos fazê-lo, desde que lembremos que este estado de existência é provisório, temporário e incompleto. Uma vez que o homem não é totalmente homem sem o corpo, a esperança escatológica central das escrituras, em relação ao homem, não é a simples existência continuada da "alma" (conforme o pensamento grego) mas é a ressurreição do corpo.Passaremos agora a investigar o que a Bíblia ensina acerca da condição do homem entre a morte e a ressurreição. Comecemos pelo Velho Testamento. De acordo com o Velho Testamento, a existência humana não finda com a morte; após a morte, o homem continua a existir no reino dos mortos, geralmente denominado Sheol. George Eldon Ladd sugere que o "Sheol é a maneira vétero-testamentária de afirmar que a morte não acaba com a existência humana."Na versão King James a palavra hebraica Sheol é traduzida diversamente como sepultura (31 vezes), inferno (31 vezes) ou cova (31 vezes). Porém, tanto na Versão American Standard como na Versão Revised Standard, Sheol não foi traduzida.Ao passo que admite que a palavra nem sempre significa a mesma coisa, Louis Berkhof sugere um sentido tríplice para Sheol: o estado de morte, sepultura ou inferno. É bem confirmado que Sheol possa significar tanto o estado de morte como a sepultura; mas é duvidoso que possa significar inferno.Geralmente, Sheol significa reino dos mortos que deve ser entendido figuradamente ou como designando o estado de morte. Freqüentemente, Sheol é simplesmente usado para indicar o ato de morrer: "Chorando, descerei a meu filho até à sepultura (Sheol)" (Gn.37:35).As diversas figuras aplicadas ao Sheol podem todas ser entendidas como se referindo ao reino dos mortos: é dito do Sheol que ele tem portas (Jó 17:16), que é um lugar escuro e triste (Jó 17:13), e que é um mostro com apetite insaciável (Pv.27:20 30:15-16 Is.5:14 Hc2:5). Quando considerarmos o Sheol deste modo, temos de lembrar que tanto o piedoso como o ímpio descem ao Sheol na morte, uma vez que ambos entram no reino dos mortos.Às vezes, Sheol pode ser traduzido como sepulcro. Exemplo claro está no Salmo 141:7: "ainda que sejam espalhados os meus ossos à boca do Sheol se lavra e sulca a terra". Entretanto, este não parece ser um significado comum do termo, e especialmente não o é porque existe um termo hebraico para sepultura, gebher. Muitas passagens nas quais Sheol poderia ser traduzido por sepultura, têm também o sentido claro se traduzirmos Sheol por reino dos mortos. Tanto Louis Berkhof como William Shedd sugerem que, às vezes, Sheol pode significar inferno ou lugar de punição para os ímpios. Mas as passagens citadas para sustentar esta interpretação não são convincentes. Um dos textos assim citados é o do Salmo 9:15: "Os perversos serão lançados no Sheol , e todas as nações que se esquecem de Deus". Mas não há indicação no texto de que uma punição está envolvida. Fica difícil crer que o Salmista esteja predizendo aqui a punição eterna de cada membro individual destas nações iníquas. A passagem, porém, tem sentido bem claro se entendermos Sheol no significado comum, referindo-se ao reino da morte. O salmista estará então dizendo que as nações ímpias, embora agora se orgulhem de seu poder, serão extirpadas pela morte.Outra passagem apresentada por Berkhof é a do Salmo 55:15: "A morte os assalte, e vivos desçam ao Sheol!" À luz do princípio do paralelismo que, geralmente, caracteriza a poesia hebraica, pareceria que a segunda linha está apenas repetindo o pensamento da primeira linha: a morte (ou desolação, na leitura marginal) virá sobre estes meus inimigos. Descer vivo ao Sheol, então significaria morte súbita, mas não implicaria, necessariamente, punição eterna.Outro texto ainda citado por Berkhof, relacionado com isto, é o de Provérbios 15:24: "Para o entendido há o caminho da vida que o leva para cima, a fim de evitar o Sheol em baixo". Mas aqui novamente se encontra o contraste óbvio entre vida e morte, a última representada pela palavra Sheol.Não foi definitivamente comprovado, portanto, que Sheol possa designar o lugar de punição eterna. Mas é verdade que já no Velho Testamento começa a aparecer a convicção de que o destino do ímpio e o destino do piedoso, após a morte, não são o mesmo. Esta convicção é expressa primeiramente na crença de que, embora o ímpio permanecerá sob o poder do Sheol, o piedoso finalmente será liberto desse poder.

A DOUTRINA DO SONO DA ALMAEsta é uma das formas em que a existência consciente da alma depois da morte é negada. Ela afirma que depois da morte, a alma continua a existir como um ser espiritual individual, mas num estado de repouso inconsciente. Eusébio faz menção de uma pequena seita da Arábia que tinha esse conceito. Durante a idade Média havia bem poucos dos chamados psicopaniquianos, e na época da Reforma esse erro era defendido por alguns dos anabatistas. Calvino chegou a escrever um tratado contra eles intitulado Psychopannychia. No século dezenove esta doutrina era propugnada por alguns dos irvingitas da Inglaterra, e nos nossos dias é uma das doutrinas favoritas dos russelitas ou dos sectários da aurora do milênio nos Estados Unidos. Segundo estes últimos, o corpo e a alma descem à sepultura, a alma num estado de sono que de fato equivale a um estado de não existência. O que é chamado ressurreição, na realidade é uma nova criação. Durante o milênio os ímpio terão uma segunda oportunidade, mas , se eles não mostrarem um assinalado melhoramento durante os cem primeiros anos, serão aniquilados. Se nesse período evidenciarem alguma correção de vida, continuarão em prova, mas somente para

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acabar na aniquilação se permanecerem impenitentes. Não existe inferno, não existe nenhum lugar de tormento eterno. A doutrina do sono da alma exerce peculiar fascínio sobre os que acham difícil acreditar na continuidade da vida consciente fora do corpo.

ESTADO DOS JUSTOS ENTRE A MORTE E A RESSURREIÇÃO

A posição das igrejas reformadas é de que as almas dos crentes, imediatamente após a morte, ingressam nas glórias dos céus. Este conceito encontra ampla justificação nas escrituras, e é bom tomar nota disto, visto que durante o último século alguns teólogos reformados calvinistas assumiram a posição de que os crentes, ao morrerem, entram num lugar intermediário e ali permanecem até o dia da ressurreição. Todavia, a Bíblia ensina que a alma do crente, quando separada do corpo, entra na presença de Cristo. Diz Paulo : "estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor", II Cor.5:8.

A CONDIÇÃO DO ÍMPIO APÓS A MORTE

As passagens que falam da condição do injusto de pios da morte não são tão numerosas quanto as que encontramos a respeito da condição do justo. Porém as que temos são suficientemente claras para que não nos reste dúvida alguma sobre o assunto. No Evangelho de Lucas lemos: "E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado. E no inferno, erguendo os olhos, estando em tormentos, viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio (Lc.16:22-23)". E no verso 26 desse mesmo capítulo: "E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá".São do apóstolo Pedro as palavras que seguem: "Assim, sabe o Senhor livrar da tentação os piedosos, e reservar os injustos para o dia do juízo, para serem castigados" (II Pd.2:9).Além dessas passagens que acabamos de citar, temos as que já consideramos em relação à condição do justo. Estas passagens, de uma maneira negativa, apoiam as outras. Destas considerações tiramos as seguintes conclusões:•    Que os ímpios no estado intermediário estão em pleno exercício de suas faculdades.

•    Que já estão sofrendo as dores do inferno, porque o ímpio, quando fecha os olhos neste mundo, os abre no inferno.

DOUTRINA CATÓLICA ROMANA O PURGATÓRIO

De acordo com a igreja de Roma, as almas dos que são perfeitamente puros por ocasião da morte são imediatamente admitidos no céu ou na visão beatífica de Deus; mas os que não se acham perfeitamente purificados, que ainda levam sobre si a culpa de pecados veniais e não sofreram o castigo temporal devido aos seus pecados - e esta é a condição da maioria dos fiéis quando morrem - têm que se submeter a um processo de purificação, antes de poderem entrar nas supremas alegrias e bem-aventuranças do céu. Em vez de entrarem imediatamente no céu, entram no purgatório.O purgatório não seria um lugar de prova, mas de purificação e de preparação para as almas dos crentes que têm a segurança de uma entrada final no céu, mas ainda não estão prontas para apossar-se da felicidade da visão beatífica. Durante a estada dessas almas no purgatório, elas sofrem a dor da perda, isto é, a angústia resultante do fato de que estão excluídas da bendita visão de Deus, e também padecem "castigo dos sentidos", isto é, sofrem dores que afligem a alma.O LIMBRUS PATRUM

A palavra latina limbus (orla, borda) era empregada na Idade Média para denotar dois lugares na orla ou na borda do inferno, a saber, o limbus patrum (dos pais) e o limbus infantum (das crianças). Aquele era o lugar onde, segundo os ensino de Roma, as almas dos santos do Velho Testamento ficaram detidas, num estado de expectativa, até à ressurreição do Senhor dentre os mortos. Supõe-se que, após sua morte na cruz, Cristo desceu ao lugar de habitação dos pais para livrá-los do seu confinamento temporário e levá-los em triunfo para o céu. Esta é a interpretação católica romana da descida de Cristo ao Hades. O Hades é considerado como o lugar de habitação dos espíritos dos mortos, tendo duas divisões, uma para os justos e a outra para os ímpios.

O LIMBUS INFANTUM

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Este seria o lugar de habitação das almas de todas as crianças não batizadas, independentemente de sua descendência de pais pagãos, quer de cristãos. De acordo com a igreja Católica Romana, as crianças não batizadas não podem ser admitidas no céu, não podem entrar no Reino de Deus, Jo.3:5. Sempre houve natural repugnância, porém, pela idéia de que essas crianças devem ser torturadas no inferno, e os teólogos católicos romanos procuraram um meio de escapar da dificuldade. Alguns achavam que tais crianças talvez sejam salvas pela fé dos pais, e outros, que Deus pode comissionar os anjos para batizá-las. Mas a opinião predominante é que, embora excluídas do céu, é-lhes destinado um lugar situado nas bordas do inferno, aonde não chegam as chamas terríveis.

CONCLUSÃO

Entendemos pelas escrituras que a alma permanece viva e consciente após a morte do corpo. Nesse estado, a alma do justo já se encontra na presença do Senhor, em um lugar que normalmente denomina-se "paraíso". O ímpio, por sua vez, já se encontra em tormentos no inferno. Tais lugares são de permanência temporária, até que venha o Juízo Final.Após o juízo, os justos serão introduzidos no céu e os ímpios serão lançados no lago de fogo.

BIBLIOGRAFIA

HOEKENA, ANTHONY A. -A Bíblia e o Futuro - Editora Cultura Cristã

BERKHOF, LOUIS Teologia Sistemática - Edição : Luz Para o CaminhoLANGSTON, A B.Esboço de Teologia Sistemática - Juerp

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DOUTRINA DAS ÚLTIMAS COISAS

UNIDADE IV Matéria 1:

A MORTE 1. Definição – Nesta unidade vamos estudar escatologia. O nome parece esquisito? Escatologia é o nome dado à parte da Teologia Sistemática que estuda a doutrina das últimas coisas. Ela trata dos eventos que acontecem no fim da vida de uma pessoa e no fim da história humana. Por isso, dividimos a escatologia em pessoal e cósmica. Na primeira parte deste estudo cuidaremos da escatologia pessoal, aquela que diz respeito à vida do indivíduo. Depois, cuidaremos da que diz respeito ao fim da história. Para analisarmos a escatologia pessoal, temos que começar por um assunto desagradável, a morte. 2. A morte - O que é morte? Segundo as definições médicas usadas pela maioria dos peritos, um capelão do Centro Médico da Universidade do Sul da Califórnia distinguiu o evento da morte dois momentos, em morte clínica e morte certa. E assim definiu as duas: Morte clínica se dá quando o coração cessa de bater, a pressão sangüínea torna-se ilegível, e a temperatura do corpo cai. Em geral, diz-se que o paciente está morto quando as funções vitais cessam de vez. Morte certa é a total ausência de atividade das ondas cerebrais. Uma comissão de médicos, advogados, teólogos e cientistas na Universidade de Harvard determinou o que deveria ser "morte cerebral". Quatro critérios foram enumerados: Falta de receptividade e reação Ausência de movimentos ou respiração Ausência de reflexos Eletroencefalograma reto 109 Esta experiência, a da morte, aguarda cada pessoa no fim da jornada. É surpreendente que, sendo tão certa, haja tanta tentativa de varrê-la para baixo do tapete. É razoavelmente lógico que um estudo escatológico comece analisando a morte. O tema não é agradável, mas sua análise faz parte da Teologia. Como disse Benjamin Franklin: "Há duas coisas inevitáveis na vida: a morte e os impostos". Índios não pagam impostos, mas morrem. E os sonegadores também. Na realidade, a morte é a única certeza que se tem na vida. Segundo Kierkegaard, "o homem nasce para morrer e começa a morrer quando nasce". Com ele concorda Heidegger: "A morte é a maneira de ser que a realidade humana assume desde que passa a existir. Tão logo um homem começa a viver, já é suficientemente velho para morrer"110. A morte é o mais temido adversário da humanidade. Aguarda cada um de nós no fim de nossa experiência para uma batalha que nunca perde. Enfrentá-la tem sido motivo de muitas cogitações. Epicuro, filósofo grego materialista, disse: "A morte não nos concerne, pois enquanto vivemos, a morte não está aqui. E quando ela chega, nós não estamos mais vivos"111. Esta questão foi posta em outras palavras: "Enquanto somos, a morte não é. Quando ela é, nós não somos". Mas esta é a questão: nós sabemos o que é ser. Não sabemos o que é não ser. O que é não ser? Se eu não fosse, como seria não ser? Quando eu 109 BANE et all (eds.). Death and Ministry. New York: Seabury Press, 1975, p. 151. 110 AUBERT, Jean-Marie. E Depois...Vida ou Nada? S. Paulo: Paulus, 1995, p. 11. 111 GAARDER, Jostein. Vita Brevis. S. Paulo: Cia. das Letras, 1998, p. 143. 62 Teologia Sistemática II – EBD – Igreja Batista do Cambuí

Page 66A DOUTRINA DAS ÚLTIMAS COISAS UNIDADE IV deixar de ser, como será isso? E é isso exatamente que assusta: deixar de ser. A morte nunca pode ser racionalizada com palavras. É um espectro assustador. Por isso, a reflexão sobre ela nunca deveria ser banida de nossas cogitações. Todos nós vamos morrer. Não podemos impedir que isso aconteça. 3. Quando surgiu a morte? Tenho observado que boa parte dos comentaristas sobre a entrada do pecado no mundo declaram que a conseqüência imediata do pecado do primeiro casal foi a morte física. No entendimento deles, a Bíblia parece identificar a morte corporal, física, com a desobediência, com o pecado. Os textos de Gênesis 2.16-17, Romanos 5.12 e 6.23 seguem nesta direção. E até mesmo a morte dos animais e a degradação da natureza poderiam ser entendidas como conseqüência do pecado, como se pode depreender de Romanos 8.20-31. A experiência humana diante da morte nos mostra que ela é algo não natural para o homem. É uma agressão ao ser humano, algo não desejado por ele. Fiquemos com Hammett, por exemplo, neste ponto: "Por isso, sentimos que a morte é estranha; reclamamos contra a morte. Sentimos que não deve ser assim. A morte é um inimigo que invadiu a boa criação de Deus (1Co 15.26 e Jesus, em João 11.33 e 38: ele não somente chorou no sepulcro de Lázaro; ele estava com raiva, com indignação)"112. Mas confesso que tenho dificuldades com esta interpretação. A palavra de Deus ao casal foi enfática: "no dia em que dela comeres, certamente morrerás" (Gn 2.17). O hebraico é enfático: môt môt, como se dissesse "morrerás morrendo", ou seja, "morrerás mesmo". Mas eles comeram e continuaram vivos! Sua morte não foi física. Não caíram duros na hora. Se acreditarmos que a maldição ali foi a morte física, temos um problema: a serpente disse a

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verdade! Ela disse que eles comeriam e não morreriam. E eles comeram e continuaram vivos! Então não se pode se tratar da morte física. Ora, a vida se alimenta da morte. Por mais estranho que pareça, sem a morte não há vida. Alguém ou algo precisa morrer para que alguém ou algo viva. Em Gênesis 1.29-20, vemos que o homem deveria se alimentar de ervas e frutos de árvores e os animais de erva verde. Isso já era um tipo de morte. Os vegetais são seres vivos e seriam comidos. Eles morreriam para que animais e homens vivessem. Para que os homens e os animais vivessem, vegetais deveriam morrer. Para que houvesse vida, deveria haver morte. Todos nós nos alimentamos da vida de outros, seja frango, boi, peixe, couve, arroz, feijão, tudo é algo vivo, que morre para vivermos. No equilíbrio ambiental, os seres vivos formam uma longa cadeia que não pode ser interrompida sob o risco de serem destruídos. Exemplifiquemos: uma certa planta nascida num pântano, tem raízes que retiram do solo água e substâncias minerais (matéria inorgânica) utilizadas para o desenvolvimento de uma flor após o processo de fotossíntese que transforma a matéria inorgânica em orgânica. Essa flor conterá néctar, do qual uma borboleta se alimenta. Uma libélula vem, captura e come a borboleta. Por sua vez, a libélula é capturada por uma rã, que logo serve de alimento para uma cobra-d'água. Do alto, um gavião vê o réptil e mergulha no espaço, capturando-o e comendo-o. 112 HAMMETT, op. cit., p. 157. 63 Teologia Sistemática II – EBD – Igreja Batista do Cambuí

Page 67A DOUTRINA DAS ÚLTIMAS COISAS UNIDADE IV Dentro das cadeias alimentares os seres viventes podem ocupar três posições (ou níveis tróficos): produtores, que são os vegetais que transformam a matéria inorgânica em matéria orgânica, ou alimento, ou energia; os consumidores, que se alimentam dos vegetais e de outros animais, e os decompositores, que decompõem a matéria orgânica dos seres mortos em matéria inorgânica, permitindo que ela retorne ao meio ambiente para ser novamente utilizada. Por isso que o homem é pó e retorna ao pó. Ele volta a ser matéria inorgânica. Resumindo: a morte é necessidade para a vida. Todos os seres vivos se alimentam da vida de outro ser vivo. Se o homem e os animais se alimentavam antes da queda, já havia morte. Na realidade, para que haja vida é necessário que haja morte. 4. Os tipos de morte – Vamos procurar compreender mais a questão vendo o que a Bíblia quer dizer com a palavra “morte”. A Bíblia fala de "morte" em três sentidos: o termo pode significar a morte física, a espiritual e a eterna. (1) Física - Alude à separação entre o espírito humano e o corpo, quando do fim das atividades físicas e cerebrais: Eclesiastes 12.7. Todos passam por ela: Hebreus 9.27. A morte é universal. Ninguém foge dela. Seja rico ou pobre, intelectual ou analfabeto, todos passarão por ela. (2) Espiritual - É a situação da pessoa sem Cristo: Efésios 2.1. Por isso a pessoa precisa nascer de novo: João 3.3. Sem Cristo ela está morta, do ponto de vista espiritual. (3) Eterna - É a situação da pessoa sem Cristo após a morte física: Apocalipse 20.15. Portanto, pode-se dizer que quem só nasce uma vez (físico), passa por três tipos de morte e morre eternamente. Quem nasce duas vezes (no sentido de João 3.3) só morre uma vez (João 11.25-26) e ressuscita duas (espiritual e corporalmente). Vamos nos centrar, agora no evento da morte física. 5. O que sucede após a morte física - Voltemos ao texto de Hebreus 9.27, cujo teor já conhecemos. Ele nos permite compreender o esquema de nossas vidas: nascimento vida na terra julgamento e vida no além. Todos nascemos, vivemos e todos morreremos. Isto é óbvio. Mas surge uma questão: e depois? Há vida depois da vida? Para onde vão os mortos? 6. Para onde vão os mortos? Segundo Eclesiastes 3.20, há apenas um lugar para os mortos. O termo hebraico é xeol. O termo grego que lhe corresponde é hades. Hades significa “o invisível”, de des, "ver", e o prefixo privativo a. É o termo que designa o mundo dos mortos. Chamamos de estado intermediário. O uso da expressão nada tem a ver com o purgatório. Chama-se "estado" e não "lugar" intermediário. Esta idéia de purgatório surge no século V de nossa era, com Agostinho, foi defendida por Gregório e definitivamente incorporada à teologia católica na 25ª sessão do Concílio de Trento, que aconteceu de 1545 a 1563, em reação à Reforma. O estado intermediário não intermedeia purgatório e céu, mas sim o estado desincorporado (em que existiremos fora do corpo) e o estado glorificado (quando formos transformados, como lemos em 1Coríntios 15). É estado e não lugar intermediário, voltamos a repetir. Todos os mortos estão em estado 64 Teologia Sistemática II – EBD – Igreja Batista do Cambuí

Page 68A DOUTRINA DAS ÚLTIMAS COISAS UNIDADE IV desincorporado, existindo fora do corpo. No xeol/hades/além há um lugar para os salvos e outro p ara os perdidos. Céu e inferno estão além. Não estão aqui. Uma outra ressalva que deve ser feita é que o lugar onde os mortos estão, xeol/hades/além, é definitivo, não sendo possível passar de um lugar para outro, conforme lemos em Lucas 16.26. Pode-se alegar que temos aqui uma parábola e que firmar um ponto doutrinário nela seria uma postura imprudente. Mas pode-se alegar, em retorno, que dificilmente Jesus contaria uma história que contivesse um ponto equivocado, principalmente quando o tema central da parábola é a suficiência da Palavra de Deus em matéria de orientação para a vida eterna. Neste caso, teria havido imprudência da parte dele, o que não se pode presumir. Mas creio que uma observação de Summers sobre o estado intermediário nos ajudará mais a compreender a questão: O Novo Testamento ensina que na morte o corpo volta à terra e o espírito entra num estado de existência consciente, na bem-aventurança ou no sofrimento. O Novo Testamento também ensina que o corpo será levantado e transformado, na ocasião da ressurreição, quando Cristo voltar à terra. Se essas duas proposições são ensinadas no Novo Testamento, segue-se que há um

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estado desincorporado de existência cônscia do espírito entre os dois eventos - a morte e a ressurreição. À luz da teologia é certo haver algum tipo de vida ou de existência nesse interregno113. Para se entender bem o conceito de morte no Antigo Testamento precisamos entender o conceito de homem. Ele se compõe de dois elementos: o basar (carne ou corpo, a parte material) e nephesh (alma). Embora alguns queiram ver o ruah (espírito) como um terceiro elemento, estudiosos como Knudson, Davidson, Delitzsch, entre outros, entendem que ruah é usado como sinônimo de nephesh, tendo ambos os termos o significado de princípio vital que resulta na vida psíquica do ser humano. O que sobrevive à morte passa para o xeol. Este é visto como um lugar de esquecimento (Sl 88.12) e de silêncio (Sl 94.17, 115.17), onde há certo grau de auto-consciência e possibilidade de movimento e comunicação (Is 14.19-20). Os seus moradores podiam ter certo conhecimento do futuro (1Sm 28.13-20), embora sejam denominados de "sombras" ou de rephains, termo hebraico que designa sombras da vida terrestre. A idéia é de sobrevivência e não de aniquilamento. Aliás, no meu último livro, “Teologia dos Salmos” dedico um tópico a este assunto114. Mostro que os hebreus não tinham uma concepção bem definida de vida no além, por isso que o Antigo Testamento pouco fala sobre o assunto. Mas embora não houvesse uma bem elaborada teologia sobre a morte e a vida no além, como seria a vida depois da morte, o certo é que os hebreus criam que havia algo do lado de lá. Vejamos o que nos diz Thurman Bryant, em artigo sobre "O Corpo Celestial": Há várias expressões da idéia de sobrevivência no Velho Testamento. Gênesis 35.18 relata que Raquel morreu no nascimento de Benjamin e 113 SUMMERS, Ray. A Vida no Além. Rio de Janeiro: JUERP, 1971, p. 31. Uma observação: este é o mais completo e mais coerente livro sobre o assunto, em português. 114 COELHO FILHO, Isaltino. Teologia dos Salmos. Rio de Janeiro: Juerp, 2001, p. 91, capítulo “Nono Tema: a Morte”. 65 Teologia Sistemática II – EBD – Igreja Batista do Cambuí

Page 69A DOUTRINA DAS ÚLTIMAS COISAS UNIDADE IV saiu dela a alma ou nephesh. Eclesiastes 12.7 diz que ao morrer o corpo volta para a terra, como o era, e o espírito ou ruach volta para Deus. Também, a ocasião da visita da pitonisa de Em-Dor a Saul reflete o conceito de sobrevivência após a morte. Outras passagens que afirmam a existência deste conceito são Jó 13.14-15, 19.25-27, Salmos 16, 17, 49 e 73. Há uma tradição hebraica antiga que quando o homem morre, sua alma parte do corpo, mas permanece perto dele durante três dias para partir de uma vez quando começa a decomposição. Dr. Summers acha esta tradição interessante em vista da declaração de Marta a Jesus que Lázaro jazia no túmulo já quatro dias (João 11.39)115. Sobre esta questão do espírito permanecer por três dias junto ao corpo, julgo oportuno registrar também a declaração de Kelley, segundo a qual três dias era o tempo de viagem do ruah até o xeol116. No caso de Lázaro, pode significar, também, que Maria estava dizendo que o seu ruah já estava no xeol, de onde não se regressa. Mas, independente da interpretação que se dê a esta passagem, o certo é que parece haver um desenvolvimento da idéia da vida após a vida terrena no Antigo Testamento já um pouco tardiamente, quando ele (o AT) está se encerrando. Quando o hebreu tomou ciência de seu valor como indivíduo e não apenas como participante da nação, começou a refletir também sobre seu destino eterno como indivíduo. Numa segunda etapa, começou a refletir sobre a idéia de retribuição não apenas nesta vida, mas na vida além túmulo. Por fim, a noção de comunhão com Deus aqui na terra se espiritualizou também para o âmbito da vida após a morte. Mas o certo é que a teologia judaica, antes do fim do Antigo Testamento já cria numa vida além e até mesmo numa ressurreição dos mortos para receberem seu castigo ou sua recompensa, como lemos em Daniel 12.2-3. É com o cristianismo, no entanto, graças à obra de Cristo, que a vida no além assumirá um aspecto grandioso. 7. O lugar do salvo no xeol/hades/além - O crente em Jesus, morrendo, vai para o xeol/hades/além. Num lugar próprio ao salvo. É chamado de “seio de Abraão” (Lc 16.22-23), de “paraíso” (Lc 23.43) e “campos elíseos" (literatura). São as moradas das quais Jesus disse que há muitas no céu, como lemos em João 14.2. É um lugar de glória, como lemos em Romanos 8.18. Vive-se com o Senhor para sempre, como podemos ler em Apocalipse 22.3-5. Pode-se dizer do salvo que Cristo vive com ele agora e ele viverá com Cristo depois. A palavra de Paulo em Filipenses 1.21-23 revela que a compreensão da vida após a morte é uma vida de qualidade bem superior à presentemente vivida. Deve ficar bem claro que o lugar do salvo, no xeol/hades/além é já de salvação. Na palavra de Paulo em 2Coríntios 5.7-8, morrer é estar ausente do corpo, mas presente com o Senhor. Paulo deixa transparecer que a morte de um salvo é o abandono do corpo material e uma entrada imediata na presença do Senhor. Este estado não é de inconsciência ou de sono. Pensemos nas palavras de Summers: 115 BRYANT, Thurmon. "O Corpo Celestial" in Teológica, ano 1, no. 1, p. 4. Foi uma publicação da Faculdade Teológica Batista de S. Paulo que, infelizmente, não logrou continuidade. Neste artigo, o Dr. Bryant translitera ruach em vez de ruah, como prefiro fazer. Respeito sua posição. 116 KELLEY, Page. Mensagens do Antigo Testamento Para Nossos Dias. Rio de Janeiro: JUERP, 1980, p. 90. 66 Teologia Sistemática II – EBD – Igreja Batista do Cambuí

Page 70A DOUTRINA DAS ÚLTIMAS COISAS UNIDADE IV Em Lucas 23.43 Jesus assegurou ao salteador arrependido: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso”. E em Lucas 16.22, a expressão "foi levado... para o seio de Abraão" é claramente um termo descritivo que se refere ao estado de bem-aventurança na presença de Deus. Nenhum gozo maior poderia ser contemplado por um bom hebreu do que ser recebido com um abraço no seio de Abraão, o pai da raça117. A promessa de Jesus ao ladrão, de estar no paraíso, merece uma mais acurada observação de nossa parte. O termo é uma transliteração do grego paradisos. Discutem os lingüistas se o termo é persa ou armênio. Mas no grego clássico designava um jardim ou

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parque, lugar de beleza e de recreação. Um lugar de delícias, portanto. Os tradutores da LXX o usaram para designar o jardim do Éden, em Gênesis 2.8. O termo aparece no Novo Testamento na história do ladrão na cruz, na experiência de Paulo em ter sido arrebatado (2Co 12.4) e no Apocalipse 2.7, ao se falar da árvore da vida que está no paraíso. Parece ser a idéia de uma restauração à posição original de antes da queda. Esta impressão é corroborada pela figura de Apocalipse 22.1-2, onde o termo não aparece, mas a árvore da vida, sim. Mais do que uma questão geográfica, o uso parece indicar o lugar onde Deus habita. Podemos dizer que o estado do salvo, no hades/xeol/além é um estado de consciência, um estado fixo (no sentido de que o destino final da pessoa é elaborado aqui, como lemos em Hebreus 12.7) e um estado incompleto. Incompleto porque deveremos ser revestidos do corpo celestial (2Co 5.2-4). Paulo desejava a ressurreição (Fp 3.10-11). O estado desincorporado é falho, melhor dizendo, incompleto, no sentido de que o homem, em sua inteireza, não foi devolvido ao estado original. Falta-lhe o corpo. Que ele receberá de volta, mas agora, glorificado. 8. O lugar do perdido no xeol/hades/além - Há, também, um lugar de perdição, como lemos em Lucas 16.23-25. Algumas vezes é chamado de “inferno” (tradução de hades, como em Lucas 10.15). Outros nomes que este lugar recebe: “abismo” (que é a morada de demônios, como em Lucas 8.31 e Apocalipse 9.11), “geena” (inferno de fogo, em Mateus 18.9). Vem, este último, de Gê-Hinnom, vale de Hinom, onde se ofereciam crianças a Moloque, como lemos em 2Crônicas 28.3 e 33.6. Depois, este lugar se tornou um crematório. Animais mortos e lixo eram ali queimados. Tornou-se um símbolo de julgamento, como lemos em Jeremias 7.31-32. Outro nome dado é “castigo eterno” (Mt 25.46). A situação do perdido é esta: ele vive agora sob o domínio do Maligno (2Co 4.4 e 1Jo 5.19). E viverá com ele na eternidade: Mateus 25.41. O fundamental é que o perdido está separado eternamente de Deus. Verifica-se isto em Lucas 16.23. Há um "grande abismo" separando o perdido do lugar onde Deus se encontra e há uma impossibilidade de se passar de um lado para outro. Este estado do perdido é de consciência, também. Não é um estado de sono ou de aniquilação. O episódio do rico perdido nos ensina isto. O texto de 2Pedro 2.9 permite entender que os injustos, reservados para o dia do juízo, já estão sendo castigados. 117 SUMMERS, op. cit. p, 32. 67 Teologia Sistemática II – EBD – Igreja Batista do Cambuí

Page 71A DOUTRINA DAS ÚLTIMAS COISAS UNIDADE IV 9. A ressurreição do corpo - A idéia de ressurreição corporal não é uma novidade neotestamentária. No texto já citado de Daniel 12.2-3 se vê que o conceito já estava presente, mesmo que não muito elaborado, no judaísmo posterior. O autor de Hebreus declara que Abraão, quando decidiu que deveria oferecer Isaque em sacrifício, esperava por sua ressurreição (Hb 11.19). Pode-se alegar que esta é a exegese do autor de Hebreus e não, necessariamente, o pensamento de Abraão. Em resposta pode-se dizer que o autor é profundo conhecedor do Antigo Testamento e, que se não está autorizado a falar por Abraão, por certo que tinha noção do que dizia. Mas é o Novo Testamento que ensina de maneira bem clara a ressurreição do corpo. Pensemos nestas palavras de Erb, comentando o pensamento de Kantonen em The Christian Hope: A questão da vida depois da morte tem sido argumentada como uma questão de demonstrar a imortalidade, a capacidade da alma para resistir à morte. O corpo tem recebido pouca importância [...] Mas o credo cristão não diz "creio na imortalidade da alma". Diz "creio na ressurreição do corpo". O corpo não é a antítese da alma [...] É difícil conceber um contraste mais completo que o entre Platão e Paulo a respeito deste ponto. O Novo Testamento reconhece o corpo e a alma como dois aspectos diferentes mas não antitéticos da existência humana [...] A alma não é uma parte separada do homem com substância própria 118. De forma inteligente, Erb nos traz para o campo realmente fundamental: não é a sobrevivência da alma, mas sim a questão da ressurreição do corpo a razão da esperança cristã. O homem não é uma alma aprisionada num corpo, como pensava Platão. O homem é uma unidade, como ensina a Bíblia e como os vários ensinos paulinos sobre a ressurreição deixam bem claro. Na seqüência de seu argumento, Erb começa citando Niles em Preaching the Gospel of the Ressurrection, e segue depois com suas observações: O homem não é uma alma imortal em um corpo mortal. O homem é corpo e alma - uma pessoa completa - em uma imortal relação com Deus". A morte quebra, então, uma unidade e uma integridade que devem ser restauradas com a ressurreição do corpo. O cristão não quer desfazer-se do seu corpo como se fosse algo mal. Quer tê -lo redimido e glorificado pelo mesmo poder que produziu o corpo de Cristo após a ressurreição. Como Paulo, quer que o poder da ressurreição, que agora atua por ele por meio do Espírito de Cristo, continue e complete o processo de última e final salvação: corpo e alma, o homem completo à imagem de Cristo 119. Nesta observação de Erb se entende que a ressurreição é a devolução do homem ao seu estágio de antes do pecado. É o homem vivendo como deveria viver, antes da entrada do pecado no mundo e, conseqüentemente, antes da entrada da morte no mundo. 10. A volta de Cristo - A questão da ressurreição foi abordada antes da abordagem da vinda de Cristo por sua conexão com o destino do homem, em 118 ERB, Paul. El Alfa y la Omega. Buenos Aires: Editorial La Aurora, 1968, p. 135. 119 Ib. ibidem, p. 136. 68 Teologia Sistemática II – EBD – Igreja Batista do Cambuí

Page 72A DOUTRINA DAS ÚLTIMAS COISAS UNIDADE IV seus elementos constitutivos. Vir abordar agora a volta de Cristo não significa uma falta de lógica na nossa argumentação, mas sim o ter deixado para o fim o evento indiscutível que marcará o fim da história. Muitos elementos da escatologia dependem de interpretação, como por exemplo, o milênio. Mas o retorno de Cristo é tema dado como aceito por todas as correntes escatológicas. Cristo vai voltar. Esta

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mensagem da igreja cristã está declarada, de forma muito clara, já na sua segunda pregação, como se pode ler em Atos 3.20: "e envie ele o Cristo, que já dantes vos foi indicado, Jesus". Este discurso com esta declaração se reveste de maior significado do que se fosse na primeira pregação da igreja, no dia de pentecostes. Porque o sermão pregado no dia de pentecostes, em Atos 2, foi dirigido a fiéis em geral. O segundo sermão, que afirma o retorno de Cristo, em Atos 3, foi no templo, o que provocou a reação da liderança judaica (At 4.1). O assunto da volta de Cristo é muito amplo e para facilitar seu desenvolvimento, faremos quatro perguntas, as mesmas que Hammett faz em sua apostila. Mas o raciocínio será nosso e não dele. As perguntas são: (1) O que é a volta de Cristo? (2) Quando será a volta de Cristo? (3) Por que haverá a volta de Cristo? (4) O que devemos fazer? Pensemos na primeira: o que é a volta de Cristo? Identificá-la, como fazem alguns teólogos liberais, como tendo sucedido com a vinda do Espírito Santo ou mesmo com a ressurreição de Jesus é ignorar o fato de que há cerca de 250 declarações sobre a segunda vinda de Jesus depois desses eventos. Assim como já está mencionada no segundo sermão da igreja, é também a última profecia do Novo Testamento, como se pode ler em Apocalipse 22.20. É a promessa mais repetida do Novo Testamento e ignorá-la ou recusá-la não faz sentido quando se aceita a Bíblia como ponto de partida para argumentação teológica. Esta vinda será do próprio Jesus, como os anjos disseram aos discípulos quando da ascensão (At 1.11). Não é a mesma coisa que a cristianização progressiva do mundo como a entendem alguns que também têm dificuldades em aceitar seu retorno. Será um ato histórico, visível e pessoal, do próprio Jesus (Ap 1.7). O texto de Atos 1.11 é bastante expressivo, como vimos. A ele se ajunta 1Tessalonicenses 4.16: "o Senhor mesmo". Esta expectativa é de todo o Novo Testamento. Seu retorno será para consumação do reino e para estabelecimento do juízo divino sobre toda a terra. Pensemos agora na segunda pergunta, a relativa ao quando. Esta vinda será em tempo inesperado. Ele mesmo fez questão de designá-la como a vinda de um ladrão (Mt 24.42-45). Ora, ladrão não marca hora, mas surge inesperadamente. Todas as tentativas de marcar datas para o retorno de Cristo resultaram em fracasso e no surgimento de alguma seita herética que, negando-se a morrer, precisou dar um jeitinho na sua argumentação. Um exemplo disto se vê no expediente de um exemplar antigo da revista "Despertai!": "Importantíssimo é que esta revista gera confiança na promessa do Criador sobre uma nova ordem pacífica e segura antes que a geração que 69 Teologia Sistemática II – EBD – Igreja Batista do Cambuí

Page 73A DOUTRINA DAS ÚLTIMAS COISAS UNIDADE IV viu os sinais de 1914 EC desapareça"120. Alguns outros processos redundaram em situações ridículas, como o chamado alinhamento dos planetas 121. As palavras de Jesus em Mateus 24.36 devem servir de advertência: "Daquele dia e hora, porém, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, senão só o Pai". A expressão tão absoluta tem escandalizado muita gente por Jesus alegar sua ignorância sobre o assunto. Marcos a repete (13.32) e Lucas a omite. Porém, como disse Mussner: "Mas justamente a 'força' desta frase nos assegura a sua autenticidade. Esta frase não pode ser considerada como fruto da comunidade primitiva"122. Esta é uma declaração sobre a qual pairam poucas dúvidas a respeito da autenticidade: vem dos lábios de Jesus. Ele mesmo não sabia a hora de seu retorno. Qualquer pessoa que alega sabê-la está se pondo acima dele, o que é, no mínimo, um pouco estranho. Se Jesus não sabia, como é que um pregador pode dizer que sabe? Pensemos agora na terceira pergunta, a relativa ao porquê. A resposta é simples: para consumação de todas as coisas. Na primeira vinda, ele realizou a obra de expiação. Na segunda, ele a consumará: "assim também Cristo, oferecendo-se uma só vez para levar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para a salvação" (Hb 9.28). Deve-se entender "salvação", aqui, como a sua consumação, para a glorificação. Esta vinda de Jesus trará a nossa glorificação: "Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos que quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque assim como o é, o veremos" (1Jo 3.2). Vemos aqui uma parte do porquê: para a nossa glorificação. Mas há outra parte, ainda, a se considerar: para a salvação do poder da morte e da corrupção material de nosso corpo. Isso não sucederá pela transmigração da alma nem pela visão platônica da fuga da alma em sair do corpo, mas pela ressurreição. A este respeito devemos ler 1Coríntios 15.53-55. Seremos livres do poder da morte. Foi por isto que o Pr. Martin Luther King. Jr, Prêmio Nobel da Paz em 1964, e assassinado em 1968, pediu que na sua lápide houvesse a inscrição: "Enfim livre, graças ao Deus Todo-Poderoso, enfim, livre"123. Será a nossa liberdade do poder da morte e do poder do pecado. Será o momento em que deixaremos de viver no "ainda não", o momento contingente da vida cristã, e entraremos no "já", a plenitude das bênçãos dos filhos de Deus. 120 "Despertai!", 22 de agosto de 1985, vol. 66, num, 16, página 2, no expediente da revista. Nas edições atuais, a revista suprimiu esta observação. Afinal, quem viu os acontecimentos de 1914 deve ter hoje, 2001, no mínimo 87 anos. Mais uma vez as testemunhas de Jeová mudam sua doutrina escatológica por terem falhado em uma previsão. 121 Veja, por exemplo, OLSON, Lawrence. O Alinhamento dos Planetas. Rio de Janeiro: CPAD, 1980. A vendagem do livro foi tanta que o exemplar que tenho é da 4ª edição. O livro foi recomendado pelo Conselho de Doutrina da Convenção Geral das Assembléias de Deus e chega ao ponto de mostrar o satélite artificial norte-americano, Skylab, que se desmantelou no espaço e caiu sobre a Terra como sinal da segunda vinda de Cristo. O alinhamento dos planetas, um evento cósmico que aconteceu em 1982, foi um dos maiores "besteiróis" evangélicos do Brasil, chegando a criar um clima de histeria, alegando-se que cidades como Santos e Rio poderiam ter ondas de 2 metros de altura. No dia seguinte, o jornal "O Estado de S. Paulo" publicou um artigo intitulado "Viu, o mundo não acabou!". A postura evangélica foi bastante satirizada. Em tempo: A CPAD retirou o livro de circulação. 122 MUSSNER, Franz. O Que Jesus Ensina Sobre o Fim do Mundo? S. Paulo: Edições Paulinas, 1990, p. 48. 123 KING JR., Martin Luther. O Grito da Consciência. Rio de Janeiro: Editora Expressão e Cultura, 1966, na Nota do Editor. 70 Teologia Sistemática II – EBD – Igreja Batista do Cambuí

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Page 74A DOUTRINA DAS ÚLTIMAS COISAS UNIDADE IV Ainda podemos acrescentar aqui mais uma razão, a terceira, ao porquê. Será para a sua vitória final. No primeiro advento, ele veio e sofreu nas mãos dos pecadores (At 2.23). Agora voltará como Senhor e será reconhecido por todos. Valha-nos aqui, novamente, o texto de Apocalipse 1.7. Todos hão de reconhecê-lo e hão de saber que ele é aquele diante de quem todo joelho deve se dobrar (Fp 2. 9-11). Ele tomará "vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo" (2Ts 1.8). Ele será glorificado nos seus e será admirado pelo seu povo (2Ts 1.10). A distinção que dispensacionalistas (pessoas que dividem a história da revelação em épocas, que elas chamam de “dispensações”) tentam fazer entre parusia e epifania, perde o sentido aqui. Sua vinda será um apocalipsis, uma revelação. Será uma parusia, termo usado para a chegada de um rei. E será uma epifania, termo usado para a manifestação de uma divindade. 11. O juízo - A volta de Cristo será também o momento do juízo. Revelará, então, muito do que está escondido na vida das pessoas e no próprio mundo. Conforme 1Coríntios 4.5, quando ele vier "trará à luz as coisas ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações e então cada um receberá de Deus o seu louvor". O texto, é verdade, parece aludir ao juízo para galardão dos crentes, como também em 2Coríntios 5.10. Mas ele julgará definitivamente os perdidos, como se pode ler em Apocalipse 20.11-15 e no conhecido texto de Mateus 25.31-46. Sobre este juízo, pensemos nas palavras de Berkouwer: A igreja cristã não declara somente o retorno de Cristo. Tanto o Credo dos Apóstolos como o Credo Niceno claramente afirmam que ele virá como juiz dos vivos e dos mortos. Isto é uma reflexão verdadeira daquilo que o próprio Novo Testamento ensina. Paulo escreveu que Cristo “há de julgar os vivos e mortos, pela sua vinda e pelo seu reino” (2Tm 4.1). Ele foi ordenado por Deus para executar esta tarefa (At 10.42). Deus determinou um dia que o mundo será julgado por ele, com justiça (At 17.31). Ele executará este juízo como Filho do homem diante de quem todos hão de comparecer para ser julgados (Jo 5.22 e 27 e 2Co 5.10)124. 12. Como proceder - Fica definido no ensino de Jesus que há apenas dois lugares onde a pessoa pode passar a eternidade. Na parábola contada em Mateus 25.31-46, ou a pessoa está do lado direito ou do lado esquerdo. Do lado direito, os salvos. Do lado esquerdo, os perdidos. Não há uma coluna do meio. Na história do rico e Lázaro (Lc 16.19-31), também há dois lugares, um de gozo e outro de condenação, e não se passa de um para o outro. Depois da morte vem o juízo (Hb 9.27) e o destino final da pessoa é decidido pela sua postura aqui na terra diante de Cristo, como lemos em João 3.14-16 e 5.24. Quem não crê, morre em seus pecados, como lemos em João 8.24. Quem crê, vai para o paraíso, como lemos na história do ladrão salvo na cruz, em Lucas 23.43. A atitude certa que se deve tomar é a do ex-cego de nascença: "Creio, Senhor! E o adorou." (Jo 9.38). O seguidor de Jesus é chamado à vigilância, como inúmeras palavras de Jesus nos mostram, entre elas a parábola das bodas (Mt 22.1-14), a parábola chamada equivocadamente de "das virgens" (porque o que está em foco não é a 124 BERKOUWER, G. C. The Return of CHRIST. Grand Rapids: William B. Eerdmans Publishing Company, 1972, p. 155. 71 Teologia Sistemática II – EBD – Igreja Batista do Cambuí

Page 75A DOUTRINA DAS ÚLTIMAS COISAS UNIDADE IV virgindade ou não das acompanhantes da noiva, mas a subitaneidade da chegada do noivo) em Mateus 25.1-13, a dos talentos (Mt 25.14-30). Sua palavra para todos nós é "Vigiai, pois, porque não sabeis nem o dia nem a hora" (Mt 25.13). Para o seguidor de Jesus, a atitude a tomar foi bem descrita nas palavras de Hoekema: A ênfase mais comum é que nossa expectação, pela volta do Senhor serve como um incentivo para um viver santo. Assim, ouvimos Paulo dizer, em Romanos 13, que a proximidade dessa volta deveria nos motivar a expulsar as obras das trevas e vestir as armas da luz; a não fazer provisão para a carne, mas conduzir-nos a nós mesmos, convenientemente como em pleno dia (vs. 12-14)125. Alguns, na igreja de Tessalônica, queriam que a iminente volta de Cristo servisse de pretexto para o ociosidade. "Plantar para quê, se Cristo pode voltar a qualquer momento?", seria seu raciocínio em termos atuais. Paulo foi duro: "... se alguém não quer trabalhar, também não coma" (2Ts 3.10). A volta de Cristo não pode ser pretexto para atitudes incorretas, como a inatividade e o imobilismo social, geralmente fruto de alienação. Deve ser, sim, estímulo para um viver santo. A Igreja deve viver na esperança da volta do seu Senhor, mas sem com isto escatologizar toda a sua atividade, caindo num inativismo, já que o Senhor vem a qualquer momento. 13. Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira - Transcrevo, agora o item XVIII- MORTE, da Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira: Todos os homens são marcados pela finitude, de vez, que em conseqüência do pecado, a morte se estende a todos (1). A Palavra de Deus assegura a continuidade da consciência e da identidade pessoais após a morte, bem como a necessidade de todos os homens aceitarem a graça de Deus enquanto estão neste mundo (2). Com a morte está definido o destino eterno de cada homem (3). Pela fé nos méritos do sacrifício substitutivo de Cristo na cruz, a morte do crente deixa de ser tragédia, pois ela o transporta para um estado de completa e constante felicidade na presença de Deus. A esse estado de felicidade as Escrituras chamam “dormir no Senhor” (4). Os incrédulos e impenitentes entram, a partir da morte, num estado de separação definitiva de Deus (5). Na Palavra de Deus encontramos claramente expressa a proibição divina da busca de contato com os mortos, bem como e negação da eficácia de atos religiosos com relação aos que já morreram. (1) Romanos 5.12, 6.1; 1Coríntios 15.21, 26, Hebreus 9.27; Tiago 4.14 (2) Lucas 16.19-31 e Hebreus 9.27 (3) Lucas 16.19-31; 23.39-46, Hebreus 9.27 125 HOEKEMA, Anthony. A Bíblia e o Futuro. S. Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1989, p. 168. 72 Teologia Sistemática II – EBD – Igreja Batista do Cambuí

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Page 76A DOUTRINA DAS ÚLTIMAS COISAS UNIDADE IV (4) Romanos 5.6-11 e 14.7-9; 1Coríntios 15.18-20; 2Coríntios 5.14-15; Filipenses 1.21-23; 1Tessalonicenses 4.13-17, 5.10; 2Timóteo 2.11; 1Pedro 3.18; Apocalipse 14.13 (5) Lucas 16.19-31; João 5.28-29 (6) Êxodo 22.18; Levítico 19.31, 20.6, 27; Deuteronômio 18.10; 1Crônicas 10.13; Isaías 8.19 d 38.18; João 3.18 e 3.36 e Hebreus 3.13. 73 Teologia Sistemática II – EBD – Igreja Batista do Cambuí

ESCATOLOGIA – A DOUTRINA DAS ÚLTIMAS COISAS

A) A Morte Física Corresponde ao momento em que o corpo físico se separa do espírito (alma). Para o crente, a morte física já não tem um valor de castigo. Agora representa uma transição para presença de Deus Rom.8:10; 14:8 .- O corpo corruptível volta à sua natureza (pó) e o espírito a Deus Eclesiastes 12:7 .- O espírito/alma do homem é imortal II Timóteo 1:10 .

B) O Estado Intermediário Este é intervalo de tempo entre a morte física e o momento da ressurreição. É um estado em que a Bíblia afirma que tanto “justos” como “ímpios” estão consciente, embora em situações diferentes.

“Justos” “Ímpios”Na presença de CristoII Cor.5:1-8; Luc.23:43

Estão aprisionadosI Pedro 3:19

Estão com DeusHeb.12:23; Ecles.12:7

Estão em consciente tormentoLucas 16:23

Entram no Paraíso, ao morrerLucas 23:43

Estão sob castigoII Pedro 2:9

Estão vivos e conscientesI Tes.5:10; Luc.23:43;  

Em descanso e abençoadosApoc.6:9-11  

Neste estado, embora tanto “justos” como “ímpios” estejam conscientes, a alegria dos primeiros e o sofrimento dos últimos ainda não são completos. Só com a ressurreição, de ambos, é que se atingirá essa plenitude.

C) A Segunda Vinda de Cristo Será uma vinda visível, literal e imprevisível. Todavia, alguns sinais indicarão a sua proximidade. Ligue cada texto à sua explicação:Mateus 24:30   A sua volta está para muito breve.

I João 2:18   Ninguém sabe quando será a sua volta.Marcos 13:32   A segunda vinda de Cristo será visível.

D) A Ressurreição Neste momento, os crentes que estiverem vivos serão arrebatados e os seus corpos transformados I Cor.15:51; I Tes.4:16,17; Fil.3:21 . A ressurreição, ou seja a reunião entre os espíritos/almas que estavam no estado intermediário com o seu corpo (transformado), acontecerá para todos: salvos e perdidos I Tes.4:16,17; Actos 24: 15; Apoc.20:12-13 , podendo não ser simultâneas.- A primeira ressurreição é a dos salvos Apoc.20:1-6 .- A ressurreição dos salvos dá início a um período de mil anos

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de reinado de Cristo, juntamente com os seus.- Durante este período, satanás está aprisionado.- A “segunda morte” é a morte eterna dos perdidos.E) O Juízo Final Este é o momento do cumprimento final de toda a Justiça de Deus, em que revelará os actos de todos os homens e retribuirá justamente Mateus 25:31-46; Actos 17:31; Rom.2:16; II Cor.5:10; Heb.9:27,28 . Ligue cada texto à sua explicação:

João 5:22,27   Será revelado o “justo juízo” de Deus.Rom.2:5,6   Os perdidos serão julgados pelas obras.

Apoc.20:11-15   Os que crêem em Jesus não serão julgados.João 3:18   O Juiz será o próprio Jesus Cristo.

F) O Estado Final dos Justos e dos ÍmpiosA bíblia faz as seguintes referências para descrever estes estados:Estado final dos Salvos Estado final dos Perdidos

Vida eternaMateus 25:46

Fogo eternoMateus 25:41

GlóriaII Coríntios 4:17

Poço do abismoApocalipse 9:2,11

DescansoHebreus 4:9

TrevasMateus 8:12

ConhecimentoI Coríntios 13:8-10

TormentoApocalipse 14:10,11

SantidadeApocalipse 21:27

Castigo eternoMateus 25:46

ServiçoApocalipse 22:3

Sob a ira de DeusRomanos 2:5

LouvorApocalipse 19:1

Segunda morteApocalipse 21:8

ComunidadeHebreus 12:23

Banidos da face do SenhorII Tessalonicenses 1:9

Comunhão com DeusApocalipse 21:3

Pecado eternoMarcos 3:29

“Porque agora vemos como por espelho, em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei plenamente, como também sou plenamente conhecido.” I Cor.13:12

CAPÍTULO VIPRÉ-MILENISMO DISPENSACIONALISTA

1. ORIGEM:O pré-milenismo tem suas origens na Igreja Primitiva. Durante os séculos I a III o pré-milenismo era a interpretação da Igreja Primitiva. O pré-milenismo contava também com o apoio da autoridade patrística, pois muitos pais da Igreja defenderam o pré-milenismo: Papias, Irineu(170), Justino Mártir(150), Tertuliano, Hipólito, Metódio, Comodiano e Lactâncio. A Igreja Primitiva acreditava que os mil anos de Apocalipse seria introduzido de modo escatológico e futurista. Este reino era retratado de modo bastante vívido, o que deu origem ao quiliasmo1, uma doutrina intensamente imaginativa sobre o milênio. "O quiliasmo foi bastante popular durante o período de perseguição da Igreja, quando parecia improvável que a igreja fosse bem sucedida no seu esfôrço de ganhar o mundo para Cristo mediante a pregação do evangelho. Se a igreja deveria ser vitoriosa, teria que ocorrer alguma reviravolta dramática, cataclísmica e sobrenatural do curso dos eventos".2A esperança da volta de Cristo para o estabelecimento do seu reino, deu aos cristãos dos primeiros séculos força suficiente para resistirem as perseguições. Apesar disso, muitos estavam esmorecendo, por isso Deus deu à João as revelações do

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apocalipse, para que lhes servisse de conforto e esperança. Que esperança teriam se as profecias apocalípticas fossem entendidas apenas espiritualmente, excluindo o fato de que Cristo voltaria para por fim as perseguições? Interpretando Apocalipse de forma literal, não teriam os cristãos incorrido em êrro, e Deus não estaria dando esperanças falsas? É evidente que o milênio foi corretamente interpretado pelos cristãos primitivos, e com tal esperança fizeram resistência ao Império. Tal resistência fez com que o cristianismo fosse finalmente aceito por Constantivo no século IV. A suposta conversão de Constantino e o término das perseguições fizeram os cristãos reverem seus conceitos sobre o milênio. É claro que muitos cristãos se mantiveram fiéis à interpretação literal do milênio, recusando a interpretação da Igreja oficial baseada no método alegórico de Orígenes. Somente após a reforma o pré-milenismo voltou a ganhar força, isto porque os reformadores voltaram a enfatizar o método literal de interpretação das Escrituras, embora eles próprios tenham recusado a crença em um milênio literal. Entretanto o pré-milenismo nunca deixou de existir. Em toda a história da Igreja cristã sempre houveram homens que defenderam com suas vidas essa doutrina.Recentemente o pré-milenismo tem recebido a atenção de homens de reconhecido saber teológico, autoridades bíblicas e comentaristas de renome. Homens como o calvinista Johann Heinrich Alsted (1588-1638), o anglicano Joseph Mede (1586-1638), J. H. Bengel, Issac Newton, Joseph Priestley, Edward Irving(1782-1834), J.N. Darby(1800-1882)3,W. E. Blackstone, James Hall Brooks, G. Campbell Morgan, H. A. Ironside, Henry Moorhouse, D. L. Moody (1837-1899), A. C. Gaebelein, C. I. Scofiel, C. H. Mackintosh, William Kelly, F. W. Grant e muitos outros.

2.DESCRIÇÃO:A volta de Cristo está dividida em duas fases, sendo a 1ª de forma secreta - o arrebatamento da Igreja - e a segunda de forma visível "porque todo olho o verá"(Ap.1:7). Na 1ª vinda Jesus também veio em duas fases: na primeira Ele veio de forma visível para o seu povo Israel (Jo.1:11); na segunda Ele veio de forma secreta para a Igreja, através do Espírito Consolador (Jo.14:18-23). Na 2ª vinda ocorre uma inversão, pois primeiro o Senhor se manifestará secretamente apenas para a Igreja (na 1ª fase), e depois se manifestará visivelmente à Israel (Is.52:8; Mt.23:39; 24:27,30; Zc.12:10; At.1:11; Zc.14:4,9).Desse modo os pré-milenistas crêem que a volta de Cristo (2ª fase) será precedida de certos sinais, como a pregação do evangelho à todas as nações (Mt.24:14; Ap.7:4; 14:1; 11:3; 14:6; Is.66:19; Veja Cl.1:6; 1:23; ITs.1:8) no período entre a 1ª e a 2ª fase da 2ª vinda, o qual a Bíblia chama de tribulação (Mt.24:21). Também haverá apostasia, guerras (Zc.14:13; Ap.6:3,4), fome (Ap.6:5), terremotos (Mt.24:29; At.2:19,20) e a manifestação do Anticristo (Mt.24:24; Ap.13:1-10) e do Falso Profeta (Ap.13:11-18), os quais juntamente com Satanás (o Dragão - Ap.12:9), formarão a "trindade satânica" (Ap.16:13), que enganarão as nações (Ap.13:13,14; IITs.2:9,10). Somente depois da manifestação do Anticristo, o "Homem da Iniquidade"(IITs.2:3) é que Jesus voltará, juntamente com os seus santos (Zc.14:5; Jd.14) para estabelecer o seu reino(Ap.11:15-18; Zc.14:9; Mt.25:34; 26:29). Durante a tribulação o evangelho será anunciado, mas a salvação será concedida com muitas tribulações, pois os santos que estiverem na terra serão perseguidos (Mt.24:13,22; Ap.13:7-10). A volta de Cristo será seguida de um período de paz e justiça antes do fim do mundo. Jesus reinará na terra(Jr.23:5; Zc.14:9) pessoalmente como Rei dos reis (Ap.19:16; Sf.3:15; Zc.14:16). Ele estabelecerá um reino judaico, no qual Davi será Co-regente (Mq.5:2; Is.24:21-23; veja Ap.12:7; Ez.37:24-28; compare 20:33-35 com Ap.12:6,13,14). Neste tempo o tabernáculo de Davi será restaurado (At.15:16; Zc.6:13), e o próprio Jesus será ao mesmo tempo Rei, Sacerdote e Profeta (Mq.5:2; Zc.6:13).Este reino não será estabelecido pela conversão de indivíduos durante um longo período de tempo, mas virá subitamente e com irresistível poder (IITs.1:7,8; Is.66:15,16). Os judeus que ficarem vivos, o Israel remanescente (Rm.11:5,26; Mq.5:7,8; Mq.2:12,13 Sf.3:13; Zc.13:1,8,9) se converterão e se tornarão sacerdotes do reino (Ex.19:6; Mq.4:1,2; Ob.21). A natureza participará das bençãos mileniais produzindo abundantemente (Is.30:23-26; 66:25). Este reino durará mil anos, e durante este tempo Satanás será aprisionado. Os salvos serão ressuscitados para reinarem com Cristo (Ap.20:1-4,6). Depois dos mil anos os mortos não crentes serão ressuscitados(a 2ª ressurreição) para serem julgados e condenados (Ap.20:5).Este tipo de milenismo é chamado de dispensacionalista porque considera a era do milênio como sendo a última dispensação4 criada por Deus, e faz nítida distinção entre Israel e Igreja. Atualmente vivemos na Dispensação da Graça ou a Era da Igreja. No milênio teremos a Dispensação do Reino ou a Era do Milênio.

3. AS DUAS RESSURREIÇÕES:O pré-milenismo defende que haverá duas ressurreições em etapas diferentes. A 1ª ressurreição ocorrerá antes do milênio, e esta tem várias fases; a 2ª acontecerá depois do milênio, e será apenas para os perdidos. Essa maneira de interpretar exige que o verbo grego ezhsan (ezêsan = viveram) usado em Ap.20:4,5 seja entendido no sentido literal. Interpretar o primeiro "viveram"(v.4) como sendo espiritual (novo nascimento), e o segundo "viveram"(v.5) como sendo literal (ressurreição corporal) é algo que foge à boa hermenêutica. Ladd também refuta a interpretação espiritual, citando as palavras de Henry Alford: "Se, numa passagem onde duas ressurreições são mencionadas, onde algumas psychai ezêsan primeiro, e o resto dos nekroi ezêsan só no final de um período específico depois dos primeiros, se uma passagem como essa a primeira ressurreição pode ser entendida como uma ressurreição espiritual com Cristo, enquanto que a segunda significa ressurreição literal, dos sepulcros, então acabou-se

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toda a significação da linguagem, e a Escritura é anulada como testemunho definitivo sobre qualquer coisa".5 A interpretação literal deve ser adotada para as duas ocorrências do verbo. O grego ezhsan (ezêsan = viveram), pode de fato ser interpretado no sentido espiritual, como em Jo.5:25 e Ef.2:1-6, mas também é usado nas Escrituras com o sentido literal. Em Ap.2:8 e 13:14 o mesmo verbo é empregado para se referir à ressurreição corporal de Cristo e da besta. Portanto Ap.20:4,5 não deve ser interpretada de forma análoga a Jo.5:25, de modo nenhum.Há ainda outras referências bíblicas que tratam da ressurreição, que, examinadas acuradamente, hão de demonstrar a existências de duas ressurreições literais. O Dr. Pentecost, em seu livro Eventos do Porvir argumenta a este respeito com incrível habilidade. Vejamos o que ele tem a dizer sobre o assunto:

3.1 A Ressurreição para a Vida:"A ressurreição para a vida. Há um número de passagens que ensinam esta parte distintiva do programa da ressurreição."'...e serás bem-aventurado, pelo fato de não terem eles com que recompensar-te; a tua recompensa, porém, tu a receberás na ressurreição dos justos'(Lc.14:14)."'Para o conhecer e o poder da sua ressurreição e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte; para de algum modo alcançar a ressurreição dentre os mortos' (literalmente: a ressurreição, a dentre os mortos) (Fp.3:10,11)."'Mulheres receberam, pela ressurreição, os seus mortos. Alguns foram torturados, não aceitando seu resgate, para obterem superior ressurreição'(Hb.11:35)."'Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele os mil anos'(Ap.20:6)."Estas referências mostram que há uma parte do programa da ressurreição que se chama 'a ressurreição dos justos', 'a ressurreição de entre os mortos', 'uma ressurreição superior', 'a ressurreição da vida', e a 'primeira ressurreição'. Estas frases sugerem uma separação; uma ressurreição de uma parte daqueles que estão mortos, ressurreição que deixa alguns mortos... Blackstone disse:'Agora, se Cristo vem ressuscitar os justos mil anos antes que os ímpios, seria natural e imperativo, chamar a primeira ressurreição uma ressurreição de, ou dentre os mortos, visto que o resto dos mortos ficaram para trás... isto é exatamente o que cuidadosamente se faz na Palavra... Consiste no uso que se faz, no texto grego, das palavras... (ek nekron)'."'A ressurreição ...nekron (...dos mortos), se aplica a ambas as classes, porque todos serão ressuscitados. Mas a ressurreição ...ek nekron (...de entre os mortos), nenhuma vez se aplica aos ímpios. Esta última expressão se usa 49 vezes, a saber: 34 vezes para expressar a ressurreição de Cristo, de quem sabemos que foi ressuscitado dentre os mortos; 3 vezes para expressar a suposta ressurreição de João, que, como cria Heródes, foi assim ressuscitado dentre os mortos; 3 vezes para expressar a ressurreição de Lázaro, que também foi ressuscitado dentre os mortos; 3 vezes se usa figuradamente, para expressar vida espiritual dentre os mortos por causa do pecado (Rm.6:13; 11:15; Ef.5:14). Se usa em Lc.16:31 'ainda que ressuscite alguém dentre os mortos'; e em Hb.11:19, a fé de Abraão em que Deus podia ressuscitar a Isaque 'dentre os mortos'."'E as restantes 4 vezes se usa para expressar uma ressurreição futura dentre os mortos, a saber, Mc.12:25 '...quando ressuscitarem de entre os mortos...'', Lc.20:35,36 '...a ressurreição dentre os mortos...', At.4:1,2 '...a ressurreição dentre os mortos...'"'E em Fl.3:11 ... a tradução literal é a ressurreição para fora de entre os mortos, construção peculiar da linguagem que inclui a idéia de que esta é uma ressurreição de entre os mortos."'Estas passagens claramente mostram que está por efetuar-se uma ressurreição de entre os mortos; isto é, que parte dos mortos serão ressuscitados, antes que todos sejam ressuscitados. Olshausen declara que a 'a expressão seria inexplicável se não se derivasse da idéia de que de entre a massa dos mortos alguns se ressuscitarão primeiro'.6 "Esta ressurreição, geralmente chamada a primeira ressurreição, também pode ser chamada a ressurreição da vida... (Jo.5:29)".7

3.2 A Ressurreição para a Condenação: "A ressurreição para condenação. A Escritura prediz outra parte do programa de ressurreição que trata com os perdidos. É a segunda ressurreição, ou a ressurreição da condenação."'...e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juizo'(Jo.5:29)."'Os restantes dos mortos não reviveram até que se completassem os mil anos...'(Ap.20:5)."'Vi um grande trono branco e aquele que nele se assenta, de cuja presença fugiram a terra e o céu, e não se achou lugar para eles. Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, postos em pé diante do trono... Deu o mar os mortos que nele estavam. A morte e o além entregaram os mortos que neles havia...'(Ap.20:11,12,13)."Porquanto a primeira ressurreição se efetua antes que comece o reinado de mil anos (Ap.20:5), 'os mortos' a que se refere Ap.20:11,12 só podem ser aqueles que ficaram para trás na ressurreição de entre os mortos e são aqueles que serão

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ressuscitados para a condenação. A segunda ressurreição, melhor definida como a ressurreição da condenação, inclui a todos os que serão ressuscitados para a condenação eterna. Não é a cronologia o que determina quem está incluído na segunda ressurreição, mas sim o destino dos ressuscitados".8

3.3 O Tempo das Ressurreições:"Há várias passagens que geralmente se usam para ensinar a falsa doutrina de uma ressurreição geral. A primeira destas está em Dn.12:2,3, onde o profeta escreve:"Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno. Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos conduzirem à justiça, como as estrelas sempre e eternamente."Nenhuma distinção quanto ao tempo parece haver aqui e, portanto, se conclui que se ensina uma ressurreição geral. Tregelles habilmente comenta sobre esta passagem:"'Eu não duvido que a tradução correta deste versículo é... E muitos dentre os que dormem no pó da terra ressuscitarão, estes ressuscitarão para a vida eterna, mas os outros (o resto dos que dormem, aqueles que não ressuscitam neste tempo) para vergonha e horror eterno. A palavra que na Versão Autorizada em Ingles traduz duas vezes alguns, nunca se repete em nenhuma outra passagem da Bíblia Hebraica, no sentido de tornar distributivamente qualquer classe geral que haja sido previamente mencionada; isto é suficiente, eu creio, como garantia para que apliquemos a primeira vez a todos os que ressuscitam, e a segunda, a massa dos que dormem, àqueles que não ressuscitam neste tempo. É claro que não é uma ressurreição geral, mas sim muitos dentre; e só tomando as palavras neste sentido, obteremos alguma informação acerca do que sucederá aos que continuam dormindo no pó da terra'. "Esta passagem tem sido entendida pelos comentaristas judaicos no sentido que se há mencionado. Claro que estes homens, que têem o véu em seus corações, não são guia algum quanto ao uso do Antigo Testamento, mas são uma ajuda quanto ao valor gramatical e lexicográfigo de orações e palavras. Dois dos rabinos que comentaram sobre este profeta foram Saadiah Haggaon (no século X de nossa era), e Aben Ezra (no século XII); este último foi um escritor de habilidades peculiares e precisão mental. Ele explica este versículo da seguinte maneira:"'...sua interpretação é: aqueles que ressuscitam serão para a vida eterna, e aqueles que não ressuscitam serão para vergonha e horror eterno...'9 "Deve-se concluir que o profeta está afirmando o fato da ressurreição e a universalidade da ressurreição, sem afirmar o tempo específico no qual terão lugar as partes da ressurreição."Uma segunda passagem frequentemente usada para sustentar a idéia de uma ressurreição geral é Jo.5:28,29. O Senhor disse:"Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão; os que tiverem feito o bem para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juizo."Se afirma que o uso que fez o Senhor da palavra 'hora' requer uma ressurreição geral tanto dos salvos como dos não salvos. Sem dúvida, esta palavra não implica necessariamente tal programa geral de ressurreição. Harrison escreve:"'Deve-se admitir, sem dúvida, que a linguagem não demanda coincidência nas ressurreições. O uso da palavra (hora) em Jo.5:25 permite sua extensão a um largo período. O mesmo é verdade em Jo.4:21,23. Jesus está falando no estilo dos profetas do Antigo Testamento, que agrupavam, sem diferenciação de tempo, os eventos que eles vislumbravam no distante horizonte da história. O mesmo método se encontra nos discursos escatológicos de Jesus, nos Evangelhos Sinópticos, onde a predição da queda de Jerusalém com suas consequências, dificilmente pode desarrolar-se da descrição do mui distante evento que está relacionado com a Grande Tribulação. Algo paralelo, ainda que em uma categoria diferente, é a maneira inclusiva em que Jesus fala da vivificação espiritual e física em uma só declaração. Um exemplo é Jo.5:21'.10 "O Senhor, nesta passagem, está ensinando a universalidade do programa da ressurreição e as distinções dentro deste programa, mas não está ensinando o tempo no qual as várias ressurreições terão lugar. Achar que esta passagem assim não ensina é perverter sua intenção original."Em Apocalipse 20:4-6 se declara mui bem que as duas partes do programa da ressurreição estão separadas por um intervalo de mil anos. (...) Se observa que a primeira parte deste versículo 5, mas os restantes dos mortos não reviveram até que se completassem os mil anos, é uma declaração entre parêntesis, que explica o que sucede aos que são deixados nos domínios da morte quando se cumpre a primeira ressurreição na segunda vinda de Cristo. Esta passagem ensina que transcorrerão mil anos entre a primeira ressurreição, a ressurreição da vida, e a ressurreição do resto dos mortos, a qual, segundo Apocalipse 20:11-13, é a ressurreição da condenação. A única maneira de se olvidar do evidente ensino desta passagem, é espiritualizando-a, de modo que a passagem não fale de ressurreição física, mas sim da bem-aventurança das almas que estão na presença do Senhor. Acerca desta interpretação, escreve Alford:"'...não posso consentir que se tergiversem a estas palavras seu claro sentido e lugar cronológico na profecia, devido a qualquer considerações de dificuldade, ou qualquer risco de abusos que a doutrina do milênio pode trazer consigo. Os que viveram próximo dos apóstolos, e toda a Igreja, durante trezentos anos, a entenderam em seu claro sentido literal... Se a primeira ressurreição é espiritual, então a segunda também é, na qual eu suponho que ninguém será tão tolo para sustent e muitos dos melhores expositores modernos, eu em verdade sustento e recebe como um artigo de fé e esperança.11

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"Deve-se concluir que, ainda que não há nenhuma revelação clara no Antigo Testamento com respeito a relação de tempo das duas partes do programa de ressurreição, o Novo declara que a ressurreição da vida e a ressurreição do juizo estão separadas por um lapso de mil anos."12

3.4 O Programa da Ressurreição:"O apóstolo Paulo nos dá uma amostra dos eventos do programa da ressurreição em I Co. 15:"'Porque assim como em Adão todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo. Cada um, porém, por sua própria ordem: Cristo, as primícias; depois os que são de Cristo, na sua vinda. E então virá o fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo o principado, bem como toda potestade e poder.'(ICo.15:22-24)."Que há uma divisão no programa da ressurreição se sugere na frase, 'cada um, porém, por sua própria ordem (v.23). A palavra ordem (tagma = tagma), de acordo com Robertson e Plummer 'é uma metáfora militar: companhia, tropa, patrulha ou bando. Devemos pensar em cada corps ou corpo de tropa que vem em sua própria posição e devida ordem...'13 As partes da ressurreição são como os batalhões em marcha em um desfile de triunfo bem organizado...'"Nesta ordem de sucessões do desfile da ressurreição, Cristo é reconhecido como o líder da batalha ou 'primícias' da colheita, que promete uma grande abundância de frutos semelhantes que seguirão no tempo designado da colheita. Esta fase do programa da ressurreição se cumpriu no tempo da ressurreição de Cristo, e marca o começo de todo este programa da ressurreição."Um segundo grupo se introduz com a palavra 'logo'. Esta palavra (epeita = epeita) significa um lapso de tempo de duração não designada. Edwards comenta: 'Ele não disse que um evento segue ao outro imediatamente... Há uma amplitude aqui para cobrir o lapso de tempo entre a ressurreição de Cristo e a ressurreição dos que são de Cristo na sua vinda'."Tem havido diferença de opiniões quanto a quem são os do segundo grupo. alguns tomam a expressão os que são de Cristo (oi tou cristou = hoi tou Christou) e a fazem sinônimo da expressão em Cristo (en to cristo = en to Christo) do versículo 22. Este último seria a expressão técnica que declara a relação dos santos com Cristo nesta era presente. Portanto, se conclui que esta é uma ressurreição da Igreja que se menciona em I Ts.4:16. Este ponto de vista se apóia em referência à palavra vinda (parousia), que com frequência se aplica ao arrebatamento da Igreja. Paulo estaria assim declarando que o segundo grande grupo do desfile da ressurreição seria o daqueles que hão de ressuscitar nesta era presente, no arrebatamento da Igreja. Podem declarar, ademais, os que sustentam este ponto de vista, que Paulo não menciona aqui a ressurreição dos santos da tribulação, nem dos santos do Antigo Testamento. Sem dúvida, porquanto Paulo está dissertando sobre o programa da ressurreição, pareceria estranho que aqueles grupos importantes fossem omitidos. Seria melhor tomar o ponto de vista alternativo da que a expressão os que são de Cristo é uma referência técnica a todos os redimidos, tanto da Igreja, como do período do antigo Testamento, e o período da tribulação, todos os quais serão levantados na vinda de Cristo. A palavra vinda, pois, seria tomada em seu mais amplo sentido, que é aplicado ao segundo advento com todo o seu programa, e não ao arrebatamento somente. Desta maneira Paulo estaria dizendo que o segundo grande grupo seriam os santos de todos os tempos, que serão ressuscitados, porque pertencem a Cristo e que isto se cumpriria no tempo da segunda vinda."Há um vigoroso debate entre os expositores quanto ao significado da expressão então virá o fim (v.24). Alguns crêem que a palavra ressurreição deve agregar-se à ela (então virá o fim da ressurreição), de maneira que Paulo está falando do cumprimento do programa da ressurreição, com aressurreição de todos os mortos não salvos ao final dos mil anos. Outros crêem que aqui não há nenhuma referência aos não salvos, mas sim que Paulo ensina que a ressurreição será seguida do fim desta era presente (então virá o fim desta era), como em Mateus 24:6,14; Lucas 21:9. O problema se resolve mediante a interpretação da relação entre os dois usos da palavra 'todos' no versículo 22. São coextensivos ou não?O primeiro ponto sobre a questão sustêm que o 'todos' que em Adão morrem não são os mesmos 'todos' que em Cristo serão vivificados. Os defensores desta posição interpretam que o versículo ensina que todos os que estão em Adão morrem, a ressurreição que se descreve aqui inclui somente os salvos que estão 'em Cristo', e 'o fim', portanto, deve referir-se ao fim desta era. Harrison resume os argumentos sobre esta posição quando escreve: "'A interpretação do versículo 22, que geralmente se cita para sustentar esta construção, considera que o segundo (pantes = todos) é coextensivo com o primeiro. O todos é universal em ambos os casos. É precisamente neste ponto onde começam as dificuldades para obstruir este ponto de vista. Como temos observado... a palavra zwopoihqhsontai (zoopoiethesontai ) é um termo demasiado forte, demasiado complexo espiritualmente, para aplicá-lo a todos os homens. O termo natural para uma classe de ressurreição que incluiria a todos seria (eghrestai = egeresthai). As palavras em Cristo não podem ter uma significação menor do que têem as palavras em outras partes. Se refere a mais íntima e potente relação de salvação com Cristo. Os incrédulos não estão classificados como tais. Meyer e Godet estão no caminho errado ao supôr que (em Cristo) tem aqui um sentido diluído que permite sua aplicação a todos os incrédulos. Tal aplicação requereria (dia christou) em vez de (en christo). Uma segunda dificuldade é o fato de que toda a discussão ao largo do capítulo tem em mente somente os crentes. Pelo menos nada se disse definitivamente sobre qualquer outro. Em terceiro lugar, o contexto imediato não é favorável. Paulo concentra a atenção de seus leitores em Cristo como as Primícias dos mortos cristãos. Tanto a palavra (aparch = aparche = primícias) como o verbo (koimaw = koimao = dormir) correspondem só aos crentes. Cristo não é as primícias dos outros, já que necessariamente teriam que ser completamente semelhantes a Ele em sua ressurreição. Logo,

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também, os mortos não cristãos não dormem. Eles morrem. Uma quarta dificuldade se apresenta no uso não natural e sem precedentes de (telo = télos), que esta construção requer. A palavra significa fim no sentido absoluto de terminação. Ocasionalmente se usa no sentido de propósito ou finalidade. Mas seu uso como o equivalente de um adjetivo (fim da ressurreição)'."Este mesmo ponto de vista é o que sustenta Vine, o qual disse:"'...como Adão é a cabeça da raça natural e, em virtude desta relação natural com ele, a morte é a sorte comum dos homens, assim também pela razão de que Cristo é a Cabeça da raça espiritual, todos os que possuem relação espiritual com Ele serão vivificados. Não há idéia alguma sobre a universalidade da raça humana, em comparação da segunda declaração com a primeira. Que os incrédulos estão em Cristo é algo completamente contrário ao ensino da Escritura... portanto, só os que chegam a ser novas criaturas e possuem vida espiritual, e estão assim em Cristo, em sua experiência de vida presente, estão incluídos no todos da segunda declaração, e serão vivificados'."Desta maneira, de acordo com este ponto de vista, Paulo tem em mente duas grandes etapas no programa da ressurreição: a ressurreição de Cristo, e a ressurreição de todos os que são de Cristo, que incluiria os santos da igrjea, os santos da tribulação, e os santos do Antigo Testamento, que serão levantados no tempo da segunda vinda, ressurreição que seria seguida do fim desta era."Há, ainda, alguns que, ao interpretar esta passagem, entendem que Paulo está incluindo o fim do programa da ressurreição em seu ensino. Por conseguinte a expressão 'em Cristo', se entenderia como instrumental, por Cristo. Robertson e Plummer dizem: "'Paulo estava pensando em uma terceira ordem (tagma), aqueles que não são de Cristo, que seriam ressuscitados dos mortos num tempo antes do fim...''."Feinberg escreve: 'O contexto nos fala de ressurreição, e se refere a ressurreição final segundo um número de comentaristas. Com estes últimos estamos de acordo. O apóstolo está mostrando que haverá várias etapas definidas na ressurreição dos mortos. Primeiro Cristo, as primícias; segundo os que são de Cristo em sua vinda; terceiro a ressurreição final de todos os incrédulos'."Pridham declara a ordem assim: '...o apóstolo está distribuindo a grande obra da ressurreição, como uma manifestação do poder divino, em três atos grandemente definidos e separados: 1. A ressurreição do Senhor Jesus; 2. O despertamento de todos os santos em sua vinda; 3. A desocupação final de todos os sepulcros ao término da administração do Reino do Filho, quando os mortos não incluidos na primeira ressurreição serão ressuscitados, tanto pequenos como grandes, para juízo diante de Deus'."Porquanto a palavra fim (télos), em seu uso básico, se refere ao fim de um ato ou de um estado e tem a ver com a terminação de um programa seria preferível entender que Paulo está incluindo a ressurreição final, no desfile dos grupos que aqui se descrevem. "Deve-se observar uma vez mais que Paulo está prevendo um intervalo de tempo entre a ressurreição dos que são de Cristo e o fim, seja este o fim da era ou o fim do programa da ressurreição. Vine disse: '...a palavra que se traduz então não é (tote = tóte), imediatamente logo, mas sim (eita =eita = depois), que indica ordem cronológica, logo, depois de um intervalo, como por exemplo em Mc.4:17,28 e os versículos 5 e 7 de ICo.15. O intervalo que se indica aqui, no versículo 24, é aquele durante o qual o Senhor reinará em seu Reino Milenário de justiça e paz.''"

4. PROFECIAS DO ANTIGO TESTAMENTO:O método de interpretação utilizado no pré-milenismo dispensacionalista é o histórico-gramatical. Isto significa que as palavras devem ser entendidas em seu sentido histórico e gramatical; devem ser entendidas literalmente. Se este método é empregado na interpretação de doutrina, história e outras partes da Bíblia, porque às profecias deveriam ser entendidas alegoricamente? O método de interpretação literal simplifica e facilita o entendimento das Escrituras, além de incorporar toda a Bíblia à elaboração de um sistema de teologia.A literalidade das Escrituras deve ser sustentada como único e mais legível método de interpretação bíblica. Quando a Bíblia usa "pedra" ela quer dizer pedra e não "pau". Se Deus quisesse dizer "pau" teria usado este termo, ou um sinônimo (madeira), mas não o fez porque Deus não é Deus de confusão e, portanto, disse exatamente aquilo que pretendia dizer. Portanto a literalidade deve ser sustentada em todos os textos onde sua aplicação for possível, inclusive às profecias. Deve-se excluir a interpretação literal somente em casos absurdos, como por exemplo João 10:9. É claro que Jesus não é uma porta, com ferrolhos e fechadura, mas sim o Mediador que oferece aos homens o acesso a Deus. Esta passagem, portanto, deve ser entendida alegóricamente ou espiritualmente.Se o alegorismo for sustentado, cria-se uma amplitude de possíveis interpretações, e a Escritura perde a sua autênticidade. Por exemplo, "pedra" pode ser interpretado de diferentes maneiras, se à ela for aplicado o método alegórico. Pedra pode ser "pau", como pode ser "ferro", e assim por diante.É claro que não excluimos a existência da interpretação espiritual, mas ressaltamos a predominância da interpretação literal sobre o espiritual.

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4.1 Cumprimento Pleno:Como se explicam aquelas profecias do Antigo Testamento que foram aplicadas com sentido espiritual pelo Novo Testamento? Deve-se proclamar, em alto e bom som, que todas elas, com excessão de uma, tiveram seu cumprimento literal no tempo do Antigo Testamento. É o caso, por exemplo de Isaías 7:14 que predisse o nascimento de uma criança que serviria como sinal para o rei Acaz. Esta profecia cumpriu-se no século VIII antes de Cristo. " Mateus, porém, achando um sentido mais completo e profundo no versículo e também ajudado pelas traduções do grego parthenos ou virgem na LXX (versão grega do A.T.), como também o nome Emmanuel, argumenta que o nascimento de Jesus é o cumprimento daquilo que o profeta havia dito (Mt.1:23)". Um estudo meticuloso das profecias nos mostrará que não são poucas as ocorrências desse tipo. Este fenômeno da interpretação profética recebe o nome de "sensus plenior (sentido mais completo além do literal), no qual o N.T. vê um cumprimento básico e mais profundo que Deus queria comunicar".É óbvio que somente aos escritores do N.T., que foram movidos pelo Espírito Santo, foi dada a autoridade de fazer tais "reinterpretações" do texto literal do A.T. O que se verifica hoje, entre os defensores da interpretação alegórica, é um verdadeiro abuso do uso do sensus plenior, quando aplicam profecias do A.T. que dizem respeito ao Israel literal, à Igreja, no sentido espiritual. É o caso, por exemplo de Os.11:1, que históricamente se refere ao povo de Israel no Egito, mas no N.T. foi aplicado a Jesus Cristo (Mt.2:15).Um outro exemplo de sensus plenior é encontrado em Ml.4:5 referente a vinda de Elias. O Senhor aplicou esta profecia a João Batista (Mt.17:10-13). Entretanto, se considerarmos a literalidade das profecias, então devemos entender que o profeta Elias deverá vir pessoalmente antes do retorno de Jesus. Observe que Jesus afirma isto ao aplicar a profecia de Malaquias a João Batista: "Então Jesus respondeu: De fato Elias virá e restaurará todas as cousas."(Mt.17:11). Esta interpretação parece concordar com Ap.11:3-12 onde são mencionadas as duas testemunhas.Uma passagem bastante interessante encontra-se em Hebreus 7, onde o autor faz a interpretação do nome Melquisedeque. Podemos notar na passagem em aprêço que ele faz primeiramente a interpretação histórico-gramatical: "...para o qual também Abraão separou o dízimo de tudo, primeiramente se interpreta rei de justiça, depois também é rei de Salém, ou seja rei de paz."(Hb.7:2). Conforme Gn.14:18, Melquisedeque era rei de Salém, mas este não é o sentido gramatical do nome hebraico, mas sim a interpretação de um fato histórico, que foi aplicado ao sacerdócio de Jesus Cristo. O que ocorre é uma interpretação secundária do nome Melquisede, porque em Cristo "a justiça e a paz se beijaram" (Sl.85:10).Melquisedeque era um rei, humano e mortal, que viveu nos tempos de Abraão. Contudo sua figura foi aplicada ao Senhor Jesus. De maneira semelhante a Bíblia aplica o nome de Israel - o povo de Deus - ao Messias (Is.49:3). Esta aplicação é teologicamente compreensível. O que está em foco nesta passagem é a grande doutrina da substituição, ensinada pelo N.T., na qual Jesus substituiu o seu povo, e por quem foi sacrificado(Is.53:4,5,11; Jo.11:50-52; Jo.12:23-28). No que se refere a Israel (Jacó, Is.41:8;48:20) ser chamado de servo, e Jesus igualmente em Is.53:11, deve ser notado e ressaltado que no texto de Isaías o Servo de Jeová é chamado de Justo: "o meu servo, o Justo..."(Is.53:11). Outras profecias que tratam de Jesus como Servo, apresentam também uma ou mais de suas qualidades como Messias. É o caso de Is.42:1. Outra passagem que nos convém comentar, frequentemente usada pelos defensores do alegorismo, é a de Jeremias 31:33,34. Dizem eles que esta profecia dada à Israel foi interpretada pelo autor de Hebreus como se referindo à Nova aliança promulgada com o sangue de Cristo, a favor da Igreja (Hb.8:8-12). Ora, o que ocorre aqui, é o mesmo fenômeno encontrado, por exemplo, em Os.11:1, cuja passagem bíblica se refere tanto a Israel, no passado, como a Cristo em sua época. A profecia de Jeremias se aplica, no presente, à Igreja (Hb.10:14-18), mas, num tempo ainda vindouro, ao povo de Israel (Hb.8:8-12). Nesse tempo, para a nação de Israel, a ordem de Arão será substituida pela ordem de Melquisedeque (Hb.7:11-19; Hb.9:11-15; Is.66:20-23; Mq.4:2).Turner apresenta as três interpretações para o Novo Pacto:"O Dr. J. N. Darby, dos 'Irmãos', ensina que a Igreja tem uma relação com o sangue de Jesus Cristo que é a base para toda a ação de graça da parte de Deus. Mas não vê senão um só 'Novo Pacto' na Bíblia: o de Jeremias e o do Novo Testamento também. Considera que o evangelho não é um pacto, mas uma revelação da salvação de Deus. Que não participamos da letra do Novo Pacto porque é com Israel, e será estabelecido no milênio; porém, como ele é alicerçado no sangue de Cristo, podemos em espírito gozar de bençãos semelhantes, pelo mesmo sangue."Outra interpretação é a do Dr. C. I. Scofield, na qual ele ensina que o Novo Pacto em Jeremias é com a casa de Israel, e será cumprido através da sua benção no futuro, mas que também tem uma aplicação em referência aos crentes de hoje. É chamado o conceito da aplicação dupla. Como o sangue de Cristo é o sangue do Novo Pacto, e na comunhão participamos do cálice em memória dele(ICo.11:25), crê-se que nós, crentes, beneficiamo-nos do Novo Pacto, como concidadãos dos santos e membros da família de Deus (Ef.2:19), e não como membros da cidadania de Israel (Ef.2:12)."A terceira interpretação é a mais simples, chamada a dos dois pactos, e conhecida por ser proposta pelo Dr. L. S. Chafer. Diz que o Novo Pacto de Jeremias 31 é com a casa de Israel, e será estabelecido no porvir. Há também um outro Pacto Novo em o Novo Testamento, que foi celebrado com a Igreja, e se está cumprindo todos os dias. Este conceito demanda uma divisão de todas as passagens neo-testamentárias entre aquelas que se referem ao pacto com Israel, isto é, o de Jeremias, e aquelas que fazem menção ao evangelho e à Igreja. Geralmente classificam-se como segue: Mt.28:26; Mc.14:24; Lc.22:20; ICo.11:25; IICo.3:6; Hb.8:6; Hb.9:15; Hb.10:29 e Hb.13:30 falam do Novo Pacto com a Igreja. Rm.11:26,27; Hb.8:7-13 e

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Hb.10:16 referem-se ao Novo Pacto com Israel; enquanto que Hebreus 12:24 simplesmente diz que Jesus é o Mediador do novo pacto por meio do seu sangue, que é mais eficaz do que o de Abel, sem designar qual pacto. é razoável considerar que ambos os pactos são mencionados, sendo que os dois dependem do sacrifício expiatório de Jesus Cristo."

4.2 Cumprimento Parentético:O cumprimento parentético é outro fenômeno que devemos sempre considerar na interpretação das profecias. Algumas profecias agrupam num só conjunto diversas previsões, sendo algumas contemporâneas ao tempo do profeta que as proclamou, ou próximas ao seu tempo, e outras para o tempo futuro. Verifica-se, nesse caso, um lapso de tempo, um parêntesis, entre o cumprimento de uma previsão e outra. A este tipo de cumprimento é dado o nome de parentético.Encontramos um exemplo de cumprimento parentético em Isaias 61:1,2. No versículo 1 até a primeira parte do versículo 2, até onde lemos "o ano aceitável do Senhor", encontramos uma previsão da 1ª vinda de Jesus, sendo que o restante do versículo, só terá cumprimento por ocasião da 2ª vinda de Jesus. Quando o Senhor leu este trecho na sinagoga de Nazaré, Ele o fez com muita habildade (Lc.4:18,19). Note que Jesus não prosseguiu na leitura do profeta. Ele leu apenas até onde sabia que a profecia iria se cumprir. Depois Ele fechou o livro (Lc.4:20). O restante da profecia de Isaías: "o dia da vingança do nosso Deus"(Is.6l:2b), e a restauração de Sião (Is.6l:3-7), ficaram para o futuro. Aqui temos um caso típico de cumprimento parentético, pois há um parêntesis de tempo mui longo entre o cumprimento da primeira porção da profecia e o da segunda.Um outro exemplo de cumprimento parentético é encontrado em Joel 2:28-32. O apóstolo Pedro aplicou esta profecia à descida do Espírito Santo, no dia de pentecoste (At.2:16-21). Ao ler o livro de Atos, todos concordam que já estamos vivendo os últimos dias. Porém ninguém é tolo o suficiente par afirmar que a parte desta profecia, onde diz que o sol se converterá em trevas e a lua em sangue, já se cumpriu. Tal previsão está para o futuro (At.2:19-21; Mt.24:29; Ap.6:12).Uma profecia de grande importância para demonstrar de vez esse ponto de vista, é a profecia das Setenta Semanas de Daniel. Esta profecia será estudada, detalhadamente, em nosso próximo capítulo.