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Uma publicação do Colégio Dante Alighieri Ano I - N o 2 Milton Michida/A2 Fotografia ISSN2238-2933 André L. Viegas e Leo Weber: Sobre as contribuições da ciência jovem Rubem Saldanha: Do feijão com algodão à inovação Roseli de Deus Lopes: O papel da escola por um mundo sustentável COLUNISTAS: Robô com Bluetooth para auxiliar resgate em catástrofes Uma amiga contra os transtornos alimentares Telhado verde beneficia meio ambiente Embalagens ecológicas feitas de biomassa Pomada pode ajudar na cicatrização de feridas de diabéticos Software busca despertar interesse pela leitura PESQUISAS: “O Brasil só será uma potência econômica se investir em tecnologia” Em entrevista exclusiva à InCiência, Secretário da Educação de SP, Herman Voorwald, exalta importância da pré-iniciação e da iniciação científica

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Uma publicação do Colégio Dante Alighieri

Ano I - No 2

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I S S N 2 2 3 8 -2 9 33

André L. Viegas e Leo Weber: Sobre as contribuições da ciência jovemRubem Saldanha: Do feijão com algodão à inovaçãoRoseli de Deus Lopes: O papel da escola por um mundo sustentável

COLUNISTAS:

Robô com Bluetooth para auxiliar resgate em catástrofes

Uma amiga contra os transtornos alimentares

Telhado verde beneficia meio ambiente

Embalagens ecológicas feitas de biomassa

Pomada pode ajudar na cicatrização de feridas de diabéticos

Software busca despertar interesse pela leitura

PESQUISAS:

“O Brasil só será uma potência econômica se investir em tecnologia”

Em entrevista exclusiva à InCiência, Secretário da Educação

de SP, Herman Voorwald, exalta importância da pré-iniciação

e da iniciação científica

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)Presidente: Dr. José de Oliveira Messina

Projeto Gráfico:Nelson Doy Júnior

Alameda Jaú, 1061 – CEP 01420-001 – SPTel.: (11) 3179-4400 – Fax: (11) 3289-9365

www.colegiodante.com.bremail: [email protected]

Uma publicação

Diretor Geral Pedagógico: Prof. Lauro Spaggiari

Créditos finais: Todas as fotos, informações e depoimentos cedidos por terceiros para publicação nesta revista somente foram utilizados após a expressa autorização de seus proprietários. Agradecemos a gentileza de todas as pessoas e empresas que, com sua colaboração, tornaram esta produção possível.

Textos:Gustavo Antonio

Comitê EditorialProfª Ms Sandra Rudella TonidandelProfª Ms Valdenice M. M. de CerqueiraFernando Homem de Montes Gustavo Antonio

Desenvolvimento do Logotipo:Thiago Xavier Mansilla Maldonado

Revisão:Luiz Eduardo Vicentin

Comitê Científico: Profª Ms Sandra Rudella TonidandelProfª Ms Valdenice M. M. de CerqueiraProfª Ms Carolina Lavini Ramos

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(Entrevista: Herman Voorwald, secretário da educação de SP )6

[(ponto de vista) - 1 André Luis Viegas e Leo Weber]12

[(ponto de vista) - 2Rubem Saldanha]14

[(pesquisa) - Tecnologia – Robô com Bluetooth pode ajudar no resgate de vítimas de catástrofes )]16

[(pesquisa) - Saúde – Uma “amiga” contra os transtornos alimentares )]20

[(pesquisa) - Sustentabilidade – “Telhado verde” com materiais reutilizáveis beneficia meio ambiente e pode gerar alimentos ]24

[(pesquisa) - Saúde – Alunos desenvolvem pomada que pode ajudar na cicatrização de feridas de diabéticos ]28

[(pesquisa) - Sustentabilidade – Embalagens ecológicas para mudas: sai o plástico, entra a biomassa ]32

[(pesquisa) - Tecnologia e Educação – “Reino da Leitura” usa tecnologia para despertar interesse por livros ]36

[(ponto de vista) - 3Roseli de Deus Lopes ]40

[(Institucional) Revista InCiência é lançada com a presença de especialistas da área ]42Reprodução: Esta revista está licenciada sob uma licença Creative

Commons CC – BY – NC, que possibilita a reprodução total ou parcial do conteúdo, desde que citadas as fontes e desde que a obra derivada não seja destinada a fins comerciais. C1: Milton Michida/A2FOTOGRAFIA / C2: Vitor Sternlicht / C3: Antônio Augusto

Martins Pereira Júnior e Stephanie Alves de Oliveira Silva / C4: Arquivo pessoal dos pesquisadores / C5: Arquivo pessoal dos pesquisadores

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Jornalista Responsável:Fernando Homem de MontesMTB 34598

Contato:Envie suas críticas e sugestões para o email:[email protected]

Diagramação:Simone Alves Machado

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{A prática da ciência reaviva o sentido do seu ensino}

Quem teve a oportunidade de ouvir, no início deste ano, os especialistas presentes no lançamento da InCiência deve ter ficado, além de emocionado com o evento, ansioso por saber quais seriam os próximos passos no rumo da expansão e continuidade da publicação. De fato, é um grande desafio garantir a produção de uma revista que, além de divulgar os excelentes trabalhos dos jovens brasileiros na área de pré-iniciação científica, dedica-se também a incentivar mais e mais estudantes a mergulhar no fascinante mundo do conhecimento científico – um mundo cheio de surpresa, inovação e criatividade. Da mesma forma, é um desafio a conquista de novos leitores, despertando-lhes sempre a curiosidade “do que será que vem por aí?”.

Ao ler as páginas do segundo número da InCiência, acreditamos que o leitor perceberá que essas expectativas estão sendo satisfeitas, pois,nesta edição, há excelentes trabalhos de jovens pesquisadores! Cabe destacar, também, as diferentes áreas de conhecimento contempladas

Profª. Coordenadora do Departamento de Ciências da Natureza do Colégio Dante Alighieri e Doutoranda em Ensino de Ciências pela Faculdade de Educação pela USP

Sandra M. R. Tonidandel

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pelos projetos relatados na publicação. Chama a atenção, ainda, que, nas fotos, os estudantes estão sempre sorrindo, felizes com o que produziram. Claro que abrir espaço para a divulgação de mais artigos científicos situa-se no plano das nossas ambições. Fiquem certos de que estamos trabalhando para isso. Entretanto, é importante reconhecer que, em um ponto, já conquistamos um resultado para lá de positivo: a excelente qualidade do material aqui reproduzido.

Reforçando e complementando o conteúdo que mostra o desenvolvimento de novas pesquisas na área de pré-iniciação, temos a honra de publicar aqui uma entrevista com o atual secretário da Educação do Estado de São Paulo, prof. Herman Voorwald, um homem da ciência, um pesquisador ligado à educação, dado que é reitor licenciado da Unesp.

Nessa entrevista, destaca-se a ideia de que a pré-iniciação científica é uma ferramenta fundamental para o pleno desenvolvimento dos jovens, cuja importância se constata não apenas para o

Profª. Coordenadora do Departamento de Tecnologia Educacional do Colégio Dante Alighieri e Doutoranda em Educação: Currículo – Novas Tecnologias pela PUC-SP

Valdenice Minatel

surgimento de novos pesquisadores em nosso país, mas também para formar profissionais capazes de resolver problemas de forma mais autônoma, mais criativa e mais inovadora. O secretário deixa claro que investir no conhecimento é imprescindível para tornar os jovens não apenas usuários de novas ferramentas, mas também geradores de tecnologias. O desenvolvimento de programas desse tipo em todas as escolas é peça-chave para que o ensino de ciências seja completo, uma vez que transforma o papel do estudante: ele deixa de ser aquele que aprende o que outros descobriram para tornar-se um investigador de conhecimentos e produtor de tecnologias, valorizando a própria capacidade de criar, pensar e agir de forma a melhorar a sociedade em que vive.

Este número da InCiência também assinala a atividade das feiras de ciências no âmbito nacional e internacional como alavanca da motivação e da idealização dos projetos de pré-iniciação. Tanto assim que a equipe de colunistas foi ampliada: há textos de profissionais ligados aos três eventos mais importantes da área para nosso país. Além de Roseli de Deus Lopes, coordenadora geral da Febrace (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia), juntam-se ao time André Luís Viegas, coordenador da Mostratec (Mostra Internacional de Ciências e Tecnologia) e Leo Weber (diretor-executivo da Fundação Liberato), que assinam um texto em parceria. Rubem Saldanha, gerente da educação da Intel do Brasil, é outro que inaugura sua participação.

Por sinal, a Intel é a grande patrocinadora da Intel-ISEF (International Science and Engeneering Fair), a maior Feira de Ciências do mundo, realizada anualmente nos Estados Unidos. A Intel-ISEF recebe a delegação brasileira composta pelos ganhadores da Mostratec e da Febrace, das quais estes saem credenciados. Os estudantes premiados nesses eventos recebem treinamento, estrutura e incentivo da Intel, de forma que possam todos embarcar para os Estados Unidos representando nosso país. Por uma analogia, podemos dizer que a Intel-ISEF são as Olimpíadas ou a Copa do Mundo da pré-iniciação científica! Poucos sabem, mas os jovens brasileiros têm feito bonito nessa mostra, melhorando ano a ano as apresentações, os trabalhos e as ideias. Esperamos que a InCiência possa inspirar aos jovens e seus professores uma participação rica e ativa!

Rubem Saldanha estreia sua coluna com um texto que provoca nossa curiosidade ao fazer um paralelo entre a inovação e a simples experiência do feijão com algodão. Segundo ele, é irrigando desde cedo o interesse do jovem pela ciência – por meio da pré-iniciação científica, por exemplo – que a escola e o professor farão brotar, mais que uma inteligência amadurecida, uma mente aberta à verdadeira inovação.

Tecnologia e transformação social são, por assim dizer, duas pontas do eixo da história. Por meio da pré-iniciação científica pode-se insuflar, nas escolas e nos jovens, as mudanças necessárias e sugeridas por Roseli de Deus Lopes em sua coluna, na qual trata da Rio+20. É também pela valorização da cultura científica no ambiente pré-universitário que os jovens podem desenvolver uma postura reflexiva, crítica, buscando olhar os problemas que atingem sua comunidade e pensando em formas, balizadas pela criatividade e pela ciência, para resolvê-los, conforme comentam os colunistas André e Leo.

Os textos ressaltam a importância de fornecer um espaço privilegiado para os jovens brasileiros: o espaço da construção do conhecimento pela ferramenta da ciência, o espaço em que os estudantes se sentem capazes de boas ideias e boas ações, em benefício não apenas deles mesmos, mas de outras pessoas e do ambiente em que vivem.

Não poderíamos, entretanto, deixar de ressaltar que os trabalhos desenvolvidos na pré-iniciação científica pelos jovens dependem do incentivo e da orientação de seus professores orientadores. O papel dos educadores, motivando e orientando, é indispensável para fazer com que os jovens deem o melhor de si em seus projetos. Aos professores orientadores, nossa homenagem.

À semelhança da primeira edição, o número dois de InCiência apresenta uma versão impressa e outra digital. Se você, jovem que trabalha com algum projeto de pré-iniciação científica, quiser ver seu trabalho publicado nesta revista, envie seu artigo por meio do endereço http://www.colegiodante.com.br/inciencia/envio/.

Uma comissão de professores-pesquisadores fará uma avaliação e dará o parecer sobre sua pesquisa. Se for aprovado, é só aguardar nosso contato!

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Antes de assumir a Secretaria da Educação de São Paulo, em janeiro de 2011, Herman Voorwald construiu uma sólida carreira acadêmica em algumas das mais conceituadas instituições de ensino do país e do exterior: graduou-se na Unesp, fez mestrado no ITA, doutorado na Unicamp e pós-doutorado no Laboratório Soete, na Bélgica. Sabe como ninguém a importância da pesquisa. Tanto que, segundo ele, o Brasil só será uma potência econômica se investir em ciência, mais especificamente na pré-iniciação científica (voltada para os alunos

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da escola básica) e na iniciação científica (para alunos de universidades).“Para mim, o mais importante para que esse país crie essa cultura da ciência e forme mestres e doutores é desenvolver no jovem o gosto pela ciência”, diz Herman Voorwald, reitor licenciado da Unesp, nesta entrevista exclusiva à InCiência, em que também falou sobre políticas públicas para educação e pesquisa, além de reafirmar seu objetivo de instaurar a Escola de Período Integral em todo o estado de São Paulo.

“A pré-iniciação e a iniciação científica são fundamentais para formarmos mais doutores”, diz Secretário da Educação de SP

Para Herman, o Brasil só será uma potência econômica se investir em ciência

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O secretário pretende implantar o modelo de período integral em todas as escolas do estado de São Paulo

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aInCiência: Secretário, como surgiu o interesse do senhor pela ciência. Houve o incentivo de algum professor ou de algum familiar?Herman Voorwald: Houve. Preciso dizer, honestamente, que minha intenção inicial era seguir Educação Física, porque gosto muito de esporte, fui um atleta quase que profissional. Mas meu pai era engenheiro químico e dizia que a engenharia seria, em muitos anos, uma profissão extremamente importante no Brasil. Meu pai já tinha essa visão do Brasil ser uma das grandes potências econômicas do mundo, e a engenharia seria importante para alavancar o crescimento do país. Por conseguinte, eu segui engenharia. InCiência: Como pesquisador há mais de 30 anos, como o senhor vê a importância da pesquisa na escola básica?Herman Voorwald:A pesquisa é importante de forma geral. Mais importante do que comprar tecnologia é desenvolver tecnologia. Esse é o grande salto deste país: é se tornar um país que invista no conhecimento. O estado de São Paulo dá exemplo nesse sentido. Tem três grandes universidades públicas, e eu sou reitor de uma delas (é reitor licenciado da Unesp), com muito orgulho, e também tem uma grande agência de fomento, que é a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), da qual eu também tenho a honra de fazer parte do Conselho Superior. Na realidade, só se construirá um país tecnologicamente independente se nós investirmos na ciência. E para isso, nós devemos começar na educação básica. É muito importante que nós tenhamos a sensibilidade de perceber que se a educação básica for sólida, se os ciclos I e II do Fundamental e o Ensino Médio derem para o jovem uma formação, quer seja para o mercado de trabalho, quer seja para a cidadania, esse jovem, quando ingressar no Ensino Superior, terá uma condição de evolução muito rápida e contribuirá, ou como profissional, ou como cientista, para o desenvolvimento do país. InCiência: E qual é a importância de uma boa pré-iniciação científica?Herman Voorwald: Eu considero que, dos programas (de pesquisa), o de iniciação científica é o mais importante. Eu orientei vários mestrados, vários doutorados, mas eu gosto demais da iniciação científica. Sou um defensor incondicional do investimento na iniciação científica. Já a pré-iniciação científica é um passo anterior, pegar o jovem da educação básica, principalmente, dos

últimos anos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio e já estimulá-lo ao gosto pela pesquisa. Isso fará com que esse menino, no momento em que estiver fazendo um curso superior, se entusiasme, continue e siga no mestrado, doutorado, pós-doutorado. Então a pré-iniciação científica e a iniciação científica são fundamentais se quisermos formar mais doutores. Esse país precisa de mais doutores, a relação de doutores por habitante é baixa. Se o Brasil quiser ser uma potência econômica, o país tem que desenvolver e dominar tecnologia, e para isso nós devemos formar gerações de profissionais que tenham conhecimento, fundamentalmente, através de programas de iniciação, mestrado e doutorado.InCiência: Como o senhor concilia a burocracia da administração pública com o incentivo à pesquisa?Herman Voorwald: Na minha vida pessoal como pesquisador, eu tenho um grupo de pesquisa chamado grupo de Fadigas e Materiais Aeronáuticos, que hoje tem 20 projetos de iniciação científica, fora os de mestrado e doutorado. Eu me encontro com esse grupo quase uma vez por semana, e nós trabalhamos em conjunto os projetos da equipe,

projetos financiados e que estão gerando conhecimento. Como secretário de estado, o entendimento que tenho da importância da ciência fez com que o programa chamado “Educação, compromisso de São Paulo”, que o governador Geraldo Alckmin lançou no final do ano passado, tivesse como um dos pilares um novo modelo de escola e uma nova carreira para o professor. Esse novo modelo é uma escola de Ensino Médio em tempo integral. Esse jovem ingressa na escola e lá permanece das 7h30 da manhã às 5 da tarde, com um corpo de professores em tempo integral, para que esse jovem possa ter uma formação que o estimule a seguir uma carreira.InCiência: Qual relação o senhor vê entre a capacidade dos alunos de inovar, de criar, com o desenvolvimento do nosso país?Herman Voorwald: Eu considero que o brasileiro é muito criativo. Eu vejo isso, enquanto pesquisador, pelos alunos que me procuram. O brasileiro tem uma facilidade de encontrar caminhos alternativos que viabilizem a solução do problema. No que diz respeito à ciência e tecnologia no cenário mundial, o Brasil tem ultrapassado países muito tradicionais. Isso se deve, sem dúvida, primeiro: a uma política de investimentos, do governo federal,dos governos estaduais, através das fundações de amparo, que têm financiado a pesquisa. Segundo, há uma preocupação das universidades em uma formação mais sólida. As universidades estão buscando os rankings internacionais, o que significa, entre outras coisas, ter uma participação mais incisiva na geração do conhecimento, e isso evidentemente é passado para os jovens que estão nas universidades. Nós estamos criando gerações de jovens que cada vez mais estão se envolvendo em atividades de ciência e tecnologia.InCiência: Como reitor da Unesp, o senhor acredita que a pré-iniciação

científica faz com que os estudantes cheguem mais maduros e preparados à universidade?Herman Voorwald: Não tenho dúvidas. Como eu disse, a pré-iniciação científica começa a desenvolver no jovem o espírito crítico. O aluno que ingressa na faculdade tem que ter esse espírito crítico, de discutir, estudar, amadurecer, enfim, se envolver com atividades outras além da sua formação clássica na faculdade. A pré-iniciação científica é o passo inicial para que depois esse jovem se sinta estimulado a se engajar em um grupo de pesquisa para fazer um trabalho de iniciação científica e, na sequência, em se entusiasmando em continuar sua carreira acadêmica, fazer mestrado, doutorado, pós-doutorado e entrar em uma faculdade como pesquisador, em um instituto de pesquisa. Para mim, o mais importante para que esse país crie essa cultura da ciência e forme mestres e doutores é desenvolver no jovem o gosto pela ciência. InCiência: Em sua opinião, como os alunos que são premiados em feiras nacionais e internacionais, como a Febrace, a Mostratec, a Intel Isef, podem ser valorizados nas universidades públicas brasileiras?Herman Voorwald: Na realidade, eu entendo o seguinte: esse jovem que foi premiado já tem outro entendimento da importância de um trabalho científico além das disciplinas tradicionais. Já é um jovem com outro perfil. Eu acho que, na realidade, a premiação servirá de estímulo para que ele dê continuidade a suas atividades de pesquisa. InCiência: Existe a possibilidade do modelo de Período Integral, até agora implantado no Ensino Médio de escolas convidadas para o projeto, tornar-se obrigatório nas escolas públicas em um curto prazo?Herman Voorwald: É fundamental que o aluno esteja em tempo integral na escola.

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Herman Voorwald concilia o cargo de secretário com suas atividades acadêmicas de pesquisador

Se nós quisermos dar ao aluno uma melhor formação, é importante que haja mais participação dele nas atividades da escola. A questão não é estar na escola fisicamente, a questão é termos um projeto pedagógico, garantindo que o aluno, na escola, além das disciplinas da matriz curricular, tenha as disciplinas eletivas que deem a ele a formação que julga necessária para seu projeto de vida. Não tenho dúvidas de que a escola de tempo integral é o caminho. O governador Geraldo Alckmin já sinalizou que é prioridade dele encaminhar o estado de São Paulo para que Ciclo II do Ensino Fundamental e Ensino Médio estejam em tempo integral. O Ciclo I no estado de São Paulo é municipalizado, cabe aos municípios. O Ciclo II e o Ensino Médio estão sob responsabilidade do estado. InCiência: Isso valeria também para as escolas particulares?Herman Voorwald: Essa é uma ação que julgo que será seguida. A tendência mundial é exatamente ter o jovem na instituição para que ele receba uma formação mais completa. Tenho conhecimento de muitas escolas particulares que já têm essa ação. É a tendência. Basta que a gente pense: cada hora a mais de um dia de estudo representa na semana quase um dia a mais de aula. Então, se

a criança estudar uma hora a mais por dia, ela ganha um dia na semana. Multiplique isso pelo tempo de estudo que esse jovem tem. Então é fundamental que ele tenha mais atividades dentro da instituição.InCiência: Como a pré-iniciação científica se insere nesse contexto de Período Integral?Herman Voorwald: É uma ação que eu pretendo desenvolver aqui no estado de São Paulo, nas escolas de Ensino Médio em tempo integral e depois no Ciclo II em tempo integral. Quero viabilizar o processo no contraturno com disciplinas eletivas. Mas tem que ser uma ação por adesão, porque o aluno tem que estar entusiasmado para fazer isso [projeto de pré-iniciação científica]. InCiência: Como uma revista de divulgação de pré-iniciação científica, como a InCiência, pode ser usada em ambientes escolares que já têm essa prática de pré-iniciação ou até naqueles que não têm esse tipo de projeto?Herman Voorwald: Uma das minhas maiores alegrias foi quando um artigo meu, da minha tese de mestrado, foi publicado. Eu acho que o retorno da publicação é um estímulo que só aquele que tem o artigo

publicado consegue entender. Eu considero fundamental que haja um documento que possa dar visibilidade a todo esforço de um grupo de pessoas num sentido da execução de uma proposta que deu certo. Então eu acho que não tem nada mais entusiasmante no sentido de continuidade na linha e no estímulo à ciência. Então, gosto demais das revistas de pré-iniciação científica, gosto das revistas que deem visibilidade aos resultados dos trabalhos que foram concluídos. InCiência: Em qual ramo de pesquisa o governo do estado de São Paulo mais investe atualmente?Herman Voorwald: Quem fomenta a pesquisa no estado de São Paulo é a Fapesp, uma grande fundação, que tem uma gestão muito focada. O objetivo dela é desenvolver ciência. A tendência hoje é a geração de conhecimento, a tendência hoje é inovação, essa é a palavra que está na mesa. O estado de São Paulo não tem uma diretriz única, o estado de São Paulo entende que todas as áreas são importantes, que o país tem que crescer de forma uniforme em todos os segmentos.InCiência: Como é possível criar mecanismos para que as empresas financiem as universidades brasileiras?Herman Voorwald: Na realidade, não é que elas financiem, nós temos que entender que a linguagem nem sempre é a mesma entre a academia e a iniciativa privada, e o tempo de resultado também nem sempre é o mesmo. Mas é importante que haja uma associação de interesses. O estado de São Paulo tem nas universidades públicas, estaduais e federais, e, em muitas universidades privadas, pessoas de muita competência, que têm, com atuações junto com as empresas, trabalhado no sentido da geração do conhecimento. Quer dizer, há um sentimento de que todo o conhecimento dessas instituições de ensino e pesquisa tem que ser aproveitado e tem que estar a serviço do desenvolvimento do estado. As empresas têm

que entender que existe muita competência nas universidades. E as universidades têm que entender que essa parceria é possível sem que a universidade perca a autonomia. InCiência: E como fazer para que a sociedade brasileira seja efetivamente beneficiada por essas pesquisas?Herman Voorwald: Na realidade, não há pesquisa que não seja importante. Pode ser que algo que tenha sido trabalhado não tenha uma aplicação prática hoje. Mas em função da evolução, amanhã já pode ter uma grande aplicação. Eu acho que não deve haver restrição a qualquer tipo de pesquisa. Mas, em última instância, no meu entendimento, a pesquisa tem que estar a serviço da melhor condição de vida da população. Tem que dar um retorno social para a população. As universidades têm programas de extensão universitária muito interessantes. Inclusive as universidades têm pró-reitoria de extensão universitária porque, na realidade, uma parte significativa das atividades desenvolvidas nesses projetos pode ter uma atuação muito forte nas comunidades e com a população de maneira geral. Então, qualquer que seja a pesquisa, ela sempre resultará em uma maior interação e em uma maior ação junto com a sociedade.

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Herman Voorwald foi entrevistado por alunos da oficina Dante em Foco

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Sobre as contribuições da ciência jovem

Cada ser humano tem o direito a ter uma ideia, ainda que simplificada, de como o mundo funciona. Assim argumentava o astrônomo Carl Sagan sobre a necessidade de entendimento, divulgação e universalização da ciência. Nesse aspecto, observando a realidade de nosso país, verifica-se a existência de projetos e ações em várias frentes, cuja visão de futuro e cujos objetivos passam pela ampliação do corpo científico, o que pode nos permitir um desenvolvimento em longo prazo. A essas questões soma-se a construção de uma cultura científica, o que tem sido buscado em nível pré-universitário, sendo uma realidade já consolidada em muitos locais no âmbito do Ensino Médio e Técnico, e em plena ascensão também no Ensino Fundamental. O caminho para universalização apresenta indícios de estar aberto, e esse é um fato a ser celebrado. O acesso ao método científico por parte dos alunos pré-universitários favorece, desde os primeiros contatos, as indagações, a problematização e a postura reflexiva do estudante. Escolher um tema de pesquisa passa pela percepção de que há algo inerente a esse tema que mereça ser esclarecido, investigado e possivelmente modificado. A confirmação ou não das possíveis respostas ao problema identificado, o entendimento das variáveis e limitações que envolvem a coleta de resultados significativos, as conclusões às quais o pesquisador consegue chegar conhecendo e aplicando a racionalidade do método permitem ao estudante construir sua concepção de como o conhecimento

científico pode ser gerado, quais suas regras e implicações e o que significa ser um cientista no século XXI. Mais do que isso, permite “abrir caminhos” para possibilidades e escolhas futuras, em que o estereótipo do pesquisador isolado do mundo, trancado em um laboratório ou bancada, é substituído pelo entendimento de que bom pesquisador é aquele atento e definitivamente integrado à realidade ao seu redor e suas necessidades.Entre as oportunidades que potencializam o interesse dos jovens estudantes pelo desenvolvimento de projetos de pesquisa, está, sem dúvida nenhuma, a participação em feiras científicas e tecnológicas. Recentemente, tivemos a oportunidade de integrar uma equipe que se preparava para uma grande feira de ciência jovem. Em meio a essa preparação, fomos todos – professores e jovens pesquisadores – convidados a refletir sobre alguns aspectos importantes que uma feira desse tipo potencializa. Compartilhamos com você, leitor da InCiência, algumas dessas ideias.O aprendizado que uma feira proporciona é marcante! Ser da vida um eterno aprendiz, como diz a canção, é uma escolha que leva qualquer ser humano a tornar-se melhor do que já foi. O quadro e giz podem dar lugar a banners, protótipos, pôsteres. Aprende-se muito mais quando se ensina, e os jovens pesquisadores ensinam sobre os temas que pesquisaram e o trabalho que desenvolveram

com domínio técnico que muitas vezes surpreende o próprio professor.É inegável a contribuição que cada pesquisador traz, não apenas para a sua própria formação. Há tudo aquilo que está à sua volta e que vai também sendo modificado, como a família, os colegas, o ambiente da escola. O caminho da pesquisa passa a ser visto como algo não apenas viável, mas também recompensador dos esforços.O trabalho na pesquisa mostra que há muito que resolver e que a ciência pode ser um caminho para muitas soluções. Isso não quer dizer que o caminho seja fácil. Pelo contrário. O dia a dia de quem assume o desafio da pesquisa é árduo, exige superação – que em muitos casos beira o heroísmo de alunos e professores. Por outro lado, o alcance de objetivos em situações adversas mostra que o limite é algo relativo, muitas vezes imaginário, e pode ser transposto com trabalho e dedicação.As feiras científicas, como a Mostratec – que em outubro de 2012 terá sua 27ª edição – são eventos que renovam as motivações, ventilam e abastecem as mentes de ideias, por meio das trocas que a convivência entre os diferentes pesquisadores proporciona. É dessa convivência, da percepção entre os diferentes lugares e realidades que resulta a construção de redes de relacionamento. O jovem passa a sentir-se parte de uma comunidade. Uma renovada e fundamental comunidade científica.

O convívio dos jovens com professores que acreditam no seu potencial e, de forma tão brilhante, o utilizam, produz também um sentimento de admiração, de encantamento. A responsabilidade, a dedicação, as realizações e o amadurecimento observados nos trabalhos desses pesquisadores tornam a participação em feiras científicas algo emblemático na vida de muitas pessoas. Por isso, cabe a quem já vivenciou essa experiência também multiplicar seus efeitos, mostrando a diferença que é capaz de fazer em sua realidade. E permitindo, dessa forma, que cada vez mais pessoas possam se encantar também.

*Coordenador da 27ª Mostratec**Diretor Executivo da Fundação Liberato

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*André Luís Viegas **Leo Weber

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*Por Rubem Saldanha(Pon

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Do feijão com algodão à inovação

Quem nunca fez a experiência do feijão no algodão, em um recipiente umedecido, durante os primeiros anos da escola? Em que após cinco dias, podíamos observar o nascimento das raízes do feijoeiro? Este, provavelmente, é o primeiro contato que qualquer estudante tem com a iniciação científica no ensino básico. Com essa iniciativa, mesmo que muito simples, a escola já começa a estimular o espírito científico e inovador dos estudantes. Ficar somente nela não é suficiente. Temos que avançar.Quando o adolescente ingressa no Ensino Médio, movido pela sua curiosidade crescente, ele sempre vai querer entender o porquê de tudo. Sanar essa curiosidade pelo novo, por meio do conhecimento, é provavelmente o mais importante passo para estimular esses estudantes a desenvolverem pesquisas de iniciação científica próprias. E é nessa hora que o professor precisa, mais do que nunca, estar atento para o que este jovem quer saber. Mas se engana quem acha que estou falando de estudantes fazendo explodir vulcões e realizando a eletrólise da água em mesinhas da escola. Você ficaria espantado em conhecer alguns dos projetos que estudantes de Ensino Médio estão desenvolvendo pelos rincões mais longínquos deste país. Alguns exemplos deles estão aqui na InCiência.Acredito muito que jovens são feitos, naturalmente, para quebrar paradigmas. Muitas ideias desenvolvidas por estudantes de Ensino Médio, quando fomentadas e

orientadas, se tornam projetos altamente inovadores. Isso porque os jovens não têm a visão viciada dos adultos. Tomem, por exemplo, o ganhador do Intel ISEF de 2012, Jack Andraka. Um jovem de 15 anos que desenvolveu um método de detecção de câncer de pâncreas em estágio inicial com 90% de precisão. Ou então, o jovem brasileiro Leonardo Bodo, 17, que descobriu uma substância com efeito antibiótico em teias de aranha. São jovens de Ensino Médio que visualizaram um problema na sua comunidade ou uma oportunidade de pesquisa e foram atrás. É muito importante a escola assumir seu papel e, ao lado dos professores, estimular seus estudantes. Pensando em longo prazo, os jovens que iniciam projetos científicos no Ensino Médio adquirem uma maturidade que os tornam bem mais preparados que os demais, já que pensam, agem e escrevem de maneira científica desde cedo. E, quando ingressam na universidade, têm a oportunidade de elevar seus projetos a outro patamar, transformando-os em pesquisas aplicadas para resolver os problemas da sua região, país e, quem sabe, do mundo inteiro, em um ritmo muito mais acelerado do que o dos colegas que não tiveram esta oportunidade desde cedo. Logicamente, não é somente incentivar professores no Ensino Médio que vai fazer com que nos tornemos um país líder em pesquisa e desenvolvimento. É necessário

investir muito. Países que têm uma longa tradição de investimento em pesquisa científica apresentam, invariavelmente, um PIB (Produto Interno Bruto) muito mais alto do que países que não investem. Mas é possível virar o jogo, como mostra a Coreia do Sul. O PIB per capita coreano, em 1976, girava em torno de 3 mil dólares. E o seu investimento em pesquisa na época era menor que 0,5% do PIB. Em 20 anos, os coreanos aumentaram o seu investimento para mais de 3%, o que elevou o PIB per capita do país para impressionantes 28 mil dólares, enquanto o PIB per capita brasileiro ficou em torno de 10 mil dólares, com um pouco mais de 1% do PIB investido em pesquisa (dados da OCDE e da MCT de 2007).Com tudo isso, podemos observar a importância dos diversos tipos de incentivo que são necessários quando se pensa em pesquisa e inovação em um país. Começa no feijão com algodão e passa tanto pela pré-iniciação científica ainda no Ensino Médio quanto pelos grandes investimentos públicos

e privados na pesquisa e desenvolvimento do país. E o resto, é só deixar na mão de jovens brilhantes, como estes que têm seus artigos na InCiência. Jovens que “suam o cérebro” para fazer a diferença, crescer e se tornar a raiz da inovação.

*Gerente de Educação da Intel Brasil

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Vitor Martes Sternlicht conseguiu a difícil proeza de juntar o “bom”, o “barato” e o “útil” em seu projeto de pré-iniciação científica desenvolvido no GEETec (Grupo de Estudos Experimentais em Tecnologia) do Colégio Dante Alighieri. Valendo-se de materiais, ao mesmo tempo, de baixo custo e de alta tecnologia, como um shield (placa) de Bluetooth, o aluno do 9º ano produziu um robô que explora e mapeia ambientes. Não bastasse isso, o protótipo tem como um de seus principais objetivos exercer uma utilidade nobre: ajudar em resgates de vítimas de catástrofes, desabamentos e incêndios, mapeando locais a que o ser humano não consegue ter acesso por questões físicas. “A ideia é possibilitar o mapeamento de qualquer ambiente inacessível a uma pessoa por um simples protótipo robótico, que pode ser adaptado para resistir a condições extremas, como o frio de grandes geadas, o calor de monumentais incêndios, a ausência de gás oxigênio, e muitas outras”, afirma Vitor no relatório da pesquisa “Navegação em

ambientes desconhecidos por robô móvel autônomo baseado em plataforma Arduino com Linguagem C”, vencedor de quatro prêmios na última Febrace (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia).O projeto consiste em um robô de 17 cm x 17 cm, baseado na plataforma Arduino com linguagens de programação C e C++. O protótipo conta com dois motores (de corrente contínua com caixa de redução), sensores (de fotodiodo (luz) e de ultrassom, por exemplo) e um chassi mecânico. Mas seu pioneirismo está mesmo na utilização do Bluetooth, tecnologia de transmissão de dados sem fio, nesse caso, do robô para o computador da pessoa que faz o monitoramento. De acordo com levantamento de pesquisas realizadas nessa área, o trabalho de Vitor apresenta pela primeira vez o uso do Bluetooth para a comunicação em um sistema de mapeamento brasileiro.O robô faz a exploração dos ambientes utilizando o método de decomposição em células adjacentes (ou seja, a divisão do

Robô com Bluetooth para ajudar no resgate de vítimas de catástrofes

espaço livre do local em regiões simples), que fornecem, cada uma, diferentes dados, como luminosidade ou presença de obstáculos. A trajetória inicial desenvolve-se para leste, com o protótipo se movimentando a oeste ao retornar para explorar as áreas que não haviam sido mapeadas na primeira varredura. O mapeamento é feito pelo robô com uma placa Arduino comandada por um microcontrolador ATMega 328, em parceria com outro software executado em um computador com Windows. A comunicação entre os dois se dá em tempo real pelo sistema de Bluetooth, cuja van-tagem é exatamente eliminar o limite de memória, permitindo que ambientes muito maiores sejam explorados, além de possibilitar o armazenamento de dados para análise posterior. Do computador, o usuário poderá visualizar o mapeamento em uma interface simples, que reproduz graficamente, em 2D, o ambiente explorado. As situações das células, das linhas e das paredes são ilustradas por cores,

o que facilita o entendimento do usuário. Há ainda opções para abrir e salvar mapas, conferir a posição do robô e informações sobre o processo de exploração, botões para iniciar e interromper a conexão e um histórico de comunicações (que arquiva as mensagens enviadas e recebidas).

Preço baixo e melhoriasInovador na tecnologia, o projeto de Vitor tem outro grande trunfo: o preço. Quando comparado com produtos similares, o trabalho do aluno do Dante apresenta um valor relativamente baixo (R$ 1.055,70)

– o segundo mais barato, o Lego NXT, custa aproximadamente R$ 2.500,00. Entre os objetivos do trabalho, Vitor destaca justamente a utilização do robô como uma alternativa barata de ferramenta de ensino para conceitos de eletrônica e programação em escolas públicas. “O Vitor consegue desenvolver um trabalho complexo com materiais baratos. Ele mostra a possibilidade de se fazer alta tecnologia com baixos custos,

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Interface é simples para possibilitar a fácil compreensão do mapa e das atividades do robô pelo usuário

Munido de sensores, robô pode ajudar em resgates de vítimas de catástrofes, desabamentos e incêndios

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Com seu projeto, Vitor (centro) recebeu quatro prêmios na última Febrace

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o que é importante para a democratização da robótica”, diz a professora Valdenice Minatel, coorientadora do estudante no projeto. A conclusão da primeira etapa do projeto obteve êxito: o mapeamento foi realizado e os dados gerados podem ser usados para construir um simples mapa gráfico ou até para o desenvolvimento de outras plataformas de mapeamento mais complexas. O uso do Bluetooth é outra característica importante, pois elimina o limite de armazenamento de informações. Mesmo assim, Vitor ainda pretende aprimorar o trabalho. Entre as melhorias planejadas estão o desenvolvimento de outros sensores (como os de temperatura ou radiação, que podem ser instalados de acordo com o objetivo proposto) e a capacidade de analisar mapas e traçar rotas (como um GPS), permitindo, por exemplo, que o robô percorra o caminho mais curto até algum ponto determinado pelo usuário, desviando de obstáculos, depois de mapear o ambiente. Além disso, pretende disponibilizar o mapeamento para tablets. “O trabalho está caminhando bem e o que foi feito até agora já é uma vitória, já foi muito

Sobre o Pesquisador

Vitor Martes Sternlicht não conhece o significado da palavra acomodação. Além das aulas regulares do 9º ano, o estudante participa da High School (curso com disciplinas de escolas americanas), do time de basquete do Colégio e dos projetos Cientista Aprendiz, Dante em Foco e GEEtec. Foi nesse último que, com a orientação do pesquisador Rodrigo da Silva Viana e da professora Valdence Minatel Melo de Cerqueira, Vitor desenvolveu o robô que mapeia ambientes.

A ideia surgiu durante a Olimpíada de Robótica da Escola de 2010. “Durante as férias, comecei a pesquisar e, no primeiro semestre de 2011, fui cuidando da parte de programação. A partir do meio do ano, comecei a trabalhar no robô mesmo”, diz ele, que foi premiado na Febrace 2012 com quatro prêmios (3º lugar em Ciências Exatas e da Terra, Intel Excellence in Computer Science Award, e vagas na International Sustainable World Project, nos EUA, e na XX International Conference of Young Scientists (ICYS), na Indonésia).

Na verdade, todas as obrigações de Vitor estão relacionadas à sua paixão pela tecnologia. Tanto que, em seus momentos de folga, o estudante tem como hobby justamente mexer com conceitos de programação. “Não sei precisar a data, mas faço robótica desde pequeno”, diz o estudante, que pretende cursar faculdade de engenharia ou ciência da computação.

Além das melhorias que planeja realizar no projeto do robô que mapeia ambientes, Vitor tem três ideias de pesquisas: duas relacionadas ao trabalho anterior (encontrar um bioindicador ou construir uma máquina que consiga encontrar pessoas no meio de desabamentos a certa distância e criar um

aplicativo para Android) e um em parceria com Antonio Lino, no Cientista Aprendiz, para desenvolver um moto perpétuo (gerador de energia).

Projeto de Vitor tem como um de seus trunfos o baixo preço quando comparado a produtos similaresproveitoso. Além das inovações técnicas,

pude usar o trabalho para melhorar meu conhecimento nas linguagens C e C++. Mas é um projeto que pode ser melhorado de infinitas formas e tenho muito trabalho pela frente para viabilizar o uso do robô no cotidiano”, afirma Vitor Martes.

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Vitor foi orientado por Rodrigo da Silva Viana (com ele na foto) e por Valdenice Minatel

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Ideia de Vitor é disponibilizar o mapeamento também para tablets

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Bianca Spina Papaleo, de 16 anos, escolheu como tema de seu trabalho de pré-iniciação científica um problema de saúde que atinge muitos adolescentes de sua faixa etária: os transtornos alimentares. E, com um projeto dividido em três partes, a aluna da 2ª série do Colégio Dante Alighieri e do programa Cientista Aprendiz propôs uma iniciativa inovadora no combate a essas graves doenças. No trabalho “Transtornos alimentares: reconhecimento de padrões compor-tamentais e contribuições para novas abordagens na tutoria de jovens”, Bianca planejou não só entender e identificar comportamentos que mostrem predisposição a transtornos alimentares, como também fornecer importantes informações para as equipes pedagógicas das escolas lidarem melhor com alunos com distúrbios mentais. Além disso, por meio da figura da

“Amiga Terapeuta”, pretende instituir um adolescente treinado por especialistas, que tenha conhecimentos para apoiar aqueles que apresentem indícios de enfermidades como anorexia e bulimia. “O projeto nasceu do meu interesse pela área de transtornos alimentares, uma vez que eu queria encontrar um meio de ajudar pacientes com transtornos, diminuindo seu sofrimento e solidão, e, ao mesmo tempo, descobrir mais sobre o assunto”, afirma Bianca, fazendo questão de frisar que os transtornos estudados são distúrbios mentais, contrariando a ideia errônea que muitas pessoas têm de que esses problemas não passam de manias ou de um estilo de vida escolhido pelo adolescente.Tanto isso é verdade, que a anorexia nervosa (caracterizada pela distorção da imagem corporal, pelas práticas recorrentes de dietas radicais ou jejuns intensos, pela busca pela

Uma “amiga” contra os transtornos alimentares

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magreza extrema e pelo medo mórbido de engordar) pode causar paradas cardíacas, anemia, prejuízos à coagulação sanguínea, além de consequências psicológicas, como sintomas de depressão, tristeza, desânimo e tentativas de suicídio. Problemas parecidos são atribuídos à bulimia nervosa, doença constituída por episódios de compulsão periódica (como as ingestões seguidas, dentro de um período de até 2 horas, de uma quantidade de comida muito maior do que o normal), acompanhada de um sentimento de culpa e falta de controle, gerando comportamentos compensatórios para prevenir ganho de peso. Perante os graves problemas que os transtornos alimentares podem causar, Bianca defende a necessidade de uma rápida identificação dos sintomas das doenças. Assim, a primeira fase de seu trabalho teve como objetivo justamente compreender quais são os padrões da personalidade de pessoas com transtornos do tipo. Respaldada pelos conhecimentos de Ana Paula Gonzaga, responsável pelo CEPPAN (Clínica de Estudos e Pesquisas em Psicanálise da Anorexia e Bulimia do Hospital das Clínicas da USP), Bianca elaborou e aplicou questionários – primeiramente, a 180 alunos do Dante e, posteriormente, a outros 60 estudantes (30 de outra escola particular e 30 de uma escola pública) –, a fim de identificar padrões de comportamento que indicassem uma tendência potencial de desenvolver um transtorno alimentar.O questionário abordava os seguintes tópicos: o perfeccionismo; ser filho único ou primogênito; a competitividade entre irmãos; faixa de idade dentro da adolescência e escola particular x escola pública, contendo perguntas como “possui insatisfação cor-poral? Sente-se envergonhado do quanto come perto dos outros? Tem o costume de fazer dietas radicais/jejuns”?Em seguida, Bianca cruzou e analisou os resultados dos questionários, chegando à conclusão de que algumas características estão fortemente presentes em adolescentes

com possibilidade de desenvolver transtornos alimentares: perfeccionismo, ser filho único ou primogênito (devido à autocobrança para agradar aos pais); ter 11 anos ou possuir entre 14 e 16 anos (períodos que marcam, respectivamente, as primeiras mudanças no corpo dos adolescentes e as entradas na fase adulta e na vida sexual, além da pressão pré-vestibular) e estudar em escolas particulares (em virtude dos padrões socio-culturais desses jovens e por a família cobrá-los mais em razão de ter altas expectativas para o futuro).

Próximos passosVencedora de três prêmios na Febrace (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia) 2012, Bianca está motivada para dar sequência ao trabalho. Na segunda etapa do projeto, a estudante pretende iniciar um programa de “formação” de professores. O procedimento, prioridade da aluna no momento, consistirá em reuniões com professores, orientadores e funcionários interessados em participar da iniciativa, com o objetivo de ampliar a percepção da equipe pedagógica para os comportamentos sinalizadores de algum distúrbio mental. Ainda nesta fase, será definido o modelo dessa “intervenção” na escola.

Projeto de Bianca pretende ajudar pacientes com transtornos, diminuindo o sofrimento e a solidão dessas pessoas

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A longo prazo, o objetivo de Bianca é a implantação do projeto “Amiga Terapeuta”, que visa combater uma das principais decorrências dos transtornos alimentares: o isolamento social, que pode ocorrer pelo fato de os encontros com amigos muitas vezes envolverem comida, além de o problema de saúde, por si só, já tornar a convivência com os colegas mais difícil. A estudante afirma que, inicialmente, o projeto trabalharia apenas com jovens que tenham alta ou média probabilidade de desenvolver um transtorno alimentar (que seria identificado pelas equipes), como forma de prevenção e intervenção antes do agravamento da doença. Além disso, seria feita uma ponte entre a equipe multidisciplinar (de psicólogos, psicanalistas, psiquiatras, nutricionistas e endocrinologistas especialistas no assunto) e a escola, a família e os amigos do paciente, de modo a aconselhar sobre como devem agir em relação ao transtorno e sobre como podem ajudar da maneira correta.

A possibilidade de trabalhar na área da psicologia, ajudando milhares de pessoas que sofrem com transtornos alimentares sempre despertou o interesse de Bianca Spina Papaleo. Assim, a estudante chegou ao programa Cientista Aprendiz com seu tema de pesquisa já definido. Hoje, em seu terceiro ano de projeto, a aluna da 2ª série do Ensino Médio do Dante pode comemorar os primeiros resultados de seu trabalho, orientado pelas professoras Rita Maria Saraiva de Barros e Sandra Tonidandel. Tanto que, na Febrace 2012, Bianca conquistou três prêmios: terceiro lugar em Ciências Humanas, Certificate of Award Achievement in Research in Psychological Science (certificado oferecido pela American Psychological Association) e o prêmio “Um futuro mais inteligente”, oferecido pela IBM.

Sobre a PesquisadoraAlém das atividades regulares da escola e do Cientista Aprendiz, Bianca acha tempo para participar da High School, da oficina Dante em Foco, de aulas de Espanhol, dança e canto. Mas a agenda cheia não é capaz de tirar a empolgação da estudante. “Quando você faz um projeto por livre e espontânea vontade, você faz com amor. Então, não vai ser a falta de tempo que me fará largar o trabalho. Enquanto puder, continuarei fazendo esse projeto sobre transtornos alimentares”, diz Bianca, que sempre gostou da área de humanas, mas que pretende cursar engenharia de produção ou engenharia química fora do Brasil.

Bianca conquistou três prêmios na Febrace 2012

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Bianca aplicou questionários a estudantes a fim de identificar padrões de comportamento que indicassem uma tendência potencial de desenvolver um transtorno alimentar

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Bianca explica seu projeto para estudantes durante a Febrace 2012

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Com o crescente desenvolvimento tecnológico e o avanço da industrialização nos grandes centros urbanos, a busca por soluções sustentáveis que minimizem o impacto ambiental tem sido o foco das atenções de pesquisadores. Nesse sentido, os estudantes Antônio Augusto Martins Pereira Júnior e Stephanie Alves de Oliveira Silva elaboraram o trabalho “Montagem de um telhado verde com a utilização de materiais de baixo custo”, no qual propuseram uma alternativa: um sistema de “telhado verde” construído com materiais reutilizáveis. Além disso, testaram um incremento à técnica, com a inovadora possibilidade de se produzirem alimentos a partir das plantas da cobertura vegetal.Segundo os autores do projeto, o mecanismo do “telhado verde” já é muito difundido em

países como Alemanha, Áustria e Noruega, mas ainda não encontra a mesma receptividade no Brasil. Construída necessariamente sobre telhas de fibrocimento (amianto), a cobertura viva (ou ainda, cobertura vegetal, telhado vivo, ecotelhado ou biocobertura) consiste na técnica de aplicação de solo e vegetação sobre coberturas de edifícios devidamente impermeabilizadas.Entre os benefícios gerados pela utilização de “telhados verdes” estão: conforto térmico e acústico para ambientes internos; controle do escoamento de águas da chuva no telhado; aumento da retenção da água pluvial no local, contribuindo para evitar enchentes; redução da poluição e da emissão de carbono; diminuição do efeito da ilha de calor urbana e queda da temperatura do micro e do macro ambiente externo.

“Telhado verde” com materiais reutilizáveis beneficia meio ambiente e pode gerar alimentos

A ideia dos estudantes ao elaborar o projeto foi desenvolver um sistema, viável e barato, que ao mesmo tempo trouxesse benefícios ao meio ambiente e à população de baixa de renda (com a produção de alimentos orgânicos). “O nosso projeto é de grande relevância socio-ambiental, dado que possibilita a reutilização de materiais que seriam descartados no meio ambiente e proporciona todos os benefícios do telhado verde convencional para a sociedade de baixa renda, além da pequena produção de alimentos orgânicos, sem nenhum tipo de agrotóxico”, afirmam os autores, que também buscaram outra inovação ao utilizar, no plantio, a técnica de compostagem (processo biológico pelo qual restos orgânicos, como papel, folhas, estrume e restos de comida, são transformados em adubo).

CustoQuando falam em materiais reutilizáveis e de baixo custo, os autores do projeto se referem a garrafas pet (utilizadas como recipientes

para o plantio do vegetal), embalagens tetrapack (para reflexão da radiação solar), manta de bidim ou um tecido poliéster (a fim de possibilitar o escoamento da água de uma garrafa pet para outra sem que a terra deslize entre elas) e rebite ou arame calibre 16 (para unir as garrafas).O uso desses elementos – que, no telhado verde, neste trabalho em específico, se integraram a mudas de vegetais Sedum e a mudas de batata-doce (Ipomoea batatas) e amendoim (Arachis hypogaea L) – faz com que o projeto seja viável pelo preço aproximado de R$ 16,00/m2, enquanto as empresas especializadas na construção de telhados verdes cobram, em média, R$ 75,00/m2.

Montagem Com esses materiais em mãos, os pesquisadores montaram o “telhado verde”. O sistema foi constituído por fileiras de garrafas pet, que continham aberturas de 8 cm x 8 cm em seus centros – onde foram plantadas as mudas. Entre os frascos,

O sistema é instalado sobre uma telha de fibrocimento, em que cada fileira de garrafas fica localizada em uma depressão da superfície

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Sobre os Pesquisadores

Colegas no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Antônio e Stephanie entraram para a área de pesquisa científica com a intenção de contribuir para a sociedade em questões que envolvessem sustentabilidade e acessibilidade. E acreditam ter atingido esse objetivo com o projeto “Montagem de um telhado verde com a utilização de materiais de baixo custo”, agraciado com os prêmios da Editora USP e da revista InCiência, além de ter sido credenciado para a Feira Nordestina de Ciências e Tecnologia .

“A ideia desse projeto surgiu da vontade de proporcionar benefícios, tecnologia e conscientização ambiental para a população de baixa renda, geralmente excluída”, explicam os estudantes, que foram orientados pela professora Rosane Resende Leite na pesquisa. Atualmente, Stephanie, técnica em Turismo e Lazer, cursa Direito na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), enquanto Antônio está no quarto módulo do curso técnico em edificações no CEFET-MG e pretende estudar Engenharia Ambiental.

Apesar do envolvimento com outras atividades, os dois seguem trabalhando no projeto do ecotelhado. “Estamos aprimorando o projeto para ampliar o seu expoente de melhoria para a sociedade e para o meio ambiente, sempre em prol da eco-eficiência. Essas melhorias incluem a possibilidade de novas culturas no telhado, maior divulgação do projeto, criação de um blog e instalação da estrutura em mais casas”, afirmam.

Stephanie e Antônio elaboram uma cartilha e um blog direcionados à população contendo o passo-a-passo da montagem do sistema

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O telhado verde pode produzir alimentos, o que seria de grande valia para comunidades carentes

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se uma manta de bidim. Esse sistema foi instalado sobre uma telha de fibrocimento, em que cada fileira de garrafas ficou localizada em uma depressão da superfície.

ProtótiposOs pesquisadores optaram por utilizar três protótipos durante o desenvolvimento do trabalho. O primeiro, chamado de protótipo-piloto, teve a intenção de verificar se os materiais escolhidos serviriam efetivamente para construir o ecotelhado. Um mês após essa análise, elaborou-se o protótipo I, em que foram plantadas mudas de batata-doce (Ipomoea batatas), planta de alta adaptabilidade e fácil cultivo. Essa primeira versão, além de não exigir manutenção periódica, pode resistir a situações de extrema seca.

Por fim, no protótipo II, constituído por mudas de amendoim (planta resistente ao sol e à escassez de água e que também poder ser consumida), os pesquisadores tentaram diminuir ainda mais o custo do projeto: partindo do pressuposto de que muitas pessoas não têm condições financeiras para adquirir uma rebitadeira (usada para afixar os rebites), utilizaram arame para unir as garrafas, e a manta de bidim foi substituída por outro tecido de poliéster. Durante a primeira semana após o plantio, em todos os protótipos, as mudas foram regadas duas vezes. No período seguinte, porém, a rega dos vegetais ocorreu apenas uma vez por semana. Do protótipo I, após o quarto mês de cultivo, colheu-se aproximadamente 1 kg de batatas. Já o protótipo II, depois

de três meses, proporcionou 250 g de amendoim aos pesquisadores. Ou seja, o projeto atingiu seu objetivo, pois tanto trouxe benefícios ambientais (como o reuso da água e de garrafas pet), como produziu alimentos. “A estrutura sustentável de telhado verde é viável, eficiente e econômica, podendo ser instalada em qualquer tipo de construção que utilize telhas de fibrocimento. Por tal motivo, concluiu-se que esse sistema será de grande valia para comunidades carentes, pois, além possibilitar os diversos benefícios de uma cobertura vegetal, pode gerar alimentos”, afirmam os autores Antônio e Stephanie, que, esperançosos quanto à popularização do telhado verde, ainda elaboram uma cartilha e um blog direcionados à população contendo o passo a passo da montagem do sistema.

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Em seu projeto de pré-iniciação científica, Renata Colla Thosi e Walter Von Söhsten Xavier Lins resolveram testar, em laboratório, a eficiência de uma substância proveniente da medicina popular. Os alunos da 2ª série do Ensino Médio do Colégio Dante Alighieri trabalharam com a planta Bauhinia fortificata (popularmente conhecida como pata-de- vaca) na elaboração de uma pomada com elementos que podem ajudar na cicatrização de feridas de diabéticos. Em longo prazo, o produto teria chances de surgir como uma alternativa viável e barata no mercado farmacêutico brasileiro, uma vez que não usa insulina animal, mas sim uma substância de origem vegetal.O projeto de Renata e Walter, intitulado “Pomada à base do extrato da planta

Alunos desenvolvem pomada que pode ajudar na cicatrização de feridas de diabéticos

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Bauhinia fortificata: avaliação da estabilidade e eficácia na cicatrização de lesões cutâneas de animais diabéticos”, mostra sua grande relevância quando levamos em conta os dados a respeito do diabetes no mundo atualmente. Segundo informações presentes na própria pesquisa, 246 milhões de pessoas sofrem com a doença. Até 2025, esse número deve chegar a 380 milhões. No Brasil, aproximadamente 5,2% da população adulta (acima de 18 anos) têm diabetes, de acordo com informações de 2007.Diante desse panorama, Renata e Walter resolveram abordar um aspecto específico do diabetes: a dificuldade no processo de cicatrização de feridas em indivíduos que possuem a doença. Aproximadamente 15% de todos os pacientes terão, em algum

Pomada de procedência vegetal seria mais acessível à população, economicamente falando

momento, lesões de difícil cicatrização, mesmo realizando um tratamento insulínico e um minucioso controle diabético. A doença, além de acarretar amputações não traumáticas (que não resultam de acidentes: de carro, de trabalho, por exemplo) nos pacientes diabéticos, gera um problema de saúde pública, devido a fatores como alto custo hospitalar, infecções, incapacidade física, redução da produtividade, perda da independência e diminuição da qualidade de vida.Para tratar do problema, os dois alunos recorreram a um procedimento típico do uso popular, a partir da observação de que a Bauhinia fortificata é a planta mais utilizada no Brasil como remédio natural antidiabético – suas folhas são utilizadas para se fazer o chá. O efeito hipoglicemiante (capacidade de diminuir a taxa da glicose do sangue) em nosso organismo é dado pela insulina. No

entanto, em diabéticos essa atividade está prejudicada, uma vez que a insulina aparece em pequenas e insuficientes quantidades em seu organismo, dificultando a reposição de certos tecidos cruciais no processo de cicatrização humana. No chá da pata-de-vaca, o provável responsável por esse mesmo efeito hipoglicemiante é o componente químico kampferol, já identificado em estudos anteriores.Hipótese e desenvolvimento da pomada Antes do trabalho de Walter e Renata, outras pesquisas já haviam verificado que o processo de cicatrização de lesões de ratos diabéticos era acelerado pelo uso de creme enriquecido com insulina animal, sugerindo que esta participa dos eventos celulares e moleculares na reconstituição do tecido. Contudo, a inovação dos alunos do Dante, que também fizeram experimentos com ratos, foi justamente trabalhar com uma pomada de procedência vegetal, cuja obtenção e fabricação são mais fáceis, rápidas e baratas do que a de origem animal – assim, um eventual remédio com base vegetal seria mais acessível à população, economicamente falando. “A nossa hipótese de investigação é verificar se é possível desenvolver e avaliar a estabilidade de uma pomada à base de extrato de Bauhinia forficata, bem como avaliar sua eficácia em acelerar o processo de cicatrização de ratos diabéticos, uma vez que, popularmente, essa planta já é utilizada como hipoglicemiante. Portanto, poderá ter um efeito tópico positivo na aceleração [da cura] das lesões cutâneas de animais diabéticos”, afirmaram os alunos no relatório da pesquisa. Assim, com o desenvolvimento do trabalho, Renata e Walter fizeram a extração, a separação de frações e a identificação do flavonoide kampferol nas folhas da Bauhinia fortificata.Em seguida, desenvolveram duas pomadas, um gel e uma emulsão. O primeiro creme

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Sobre os PesquisadoresQuando lhe sugeriram o tema diabetes para seu projeto de pesquisa no programa Cientista Aprendiz, Walter Von Söhsten Xavier Lins lembrou-se de uma história que sua mãe, formada em medicina, contava a respeito do caráter medicinal do chá da planta Bauhinia fortificata, a famosa “pata-de-vaca”, para o tratamento de diabetes.

Em parceria com Renata Colla Thosi, Walter associou a ideia da “pata-de-vaca” a uma pesquisa já existente sobre uma pomada para lesões de diabéticos composta de insulina animal. Assim, sob a orientação das professoras Mara Cristina Pane e Sandra Tonidandel, a dupla planejou a elaboração de um creme a partir da insulina vegetal.

Com seis prêmios no currículo (ver na matéria), a pomada passa por mais um período de testes. “Dando certo a pomada, gostaríamos de patenteá-la, porque, além de gerar lucro, seria algo comercialmente barato, que poderia ajudar grande parte da população”, diz Walter, que pensa em cursar faculdade de Engenharia Elétrica.

Já sua companheira de trabalho, Renata, está decidida a prestar Medicina. “Pensava em fazer medicina e entrei no Cientista Aprendiz para trabalhar com um tema ligado à saúde para ver se era mesmo o que queria. E o projeto só me motivou ainda mais a querer fazer medicina”, diz. apresentou baixa estabilidade e acabou

descartado. Já a segunda pomada, que era hidrófila (miscível em água), apresentou evoluções. “Mudamos a base e melhoramos a estabilidade”, diz Renata. Os alunos enviaram para a Unicamp a pomada hidrófila, o gel, a emulsão e as bases, que acabaram redirecionados à USP para avaliações. Segundo Renata, a fase de testes não se encerrou, mas os resultados obtidos até o momento são animadores. Caso se confirme a eficácia da pomada no processo de aceleração da cicatrização de feridas de animais diabéticos, a intenção da dupla é patentear o projeto – Walter ressalva, porém, que para isso serão necessários mais baterias de testes. De qualquer forma, enquanto aguardam os resultados, Renata e Walter já podem comemorar a conquista de seis distinções: medalha de ouro na categoria Ciências Exatas e da Terra na Mostra Paulista de Ciências e Engenharia (MOP) de 2011; primeiro lugar em Destaque Inovação; segundo lugar em Ciências da Saúde e terceiro lugar em Rigor Científico na Febrace 2012, competição

em que também conquistaram o direito de participar da Genius Olympiad, na Oswego State University of New York (SUNY), nos EUA. Nesse evento, realizado de 24 a 29 de junho de 2012 na cidade de Oswego, Renata e Walter foram avaliados por seis professores da Universidade, que lhes atribuíram a medalha de bronze (terceiro lugar) na categoria “Genius Science”.

Walter e Renata também apresentaram seu projeto na Genius Olympiad, nos EUA

Walter e Renata comemoram, com a orientadora Sandra Tonidandel, os quatro prêmios recebidos na Febrace 2012

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Renata e Walter receberam o bronze na categoria “Genius Science” na Genius Olympiad, nos EUA

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Embalagens ecológicas para mudas: sai o plástico, entra a biomassa

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No momento em que a sociedade busca alternativas ecologicamente viáveis para as mais diversas atividades, Ana Gabriela Person Ramos, Graziele Cristine da Silva e Tatiane Cipriano Florido, da Etec Conselheiro Antonio Prado (Etecap), de Campinas, decidiram pesquisar um tema diretamente ligado à sustentabilidade. No projeto “Embalagens ecológicas para mudas”, as estudantes abordaram a possibilidade de substituir o plástico por resíduos de biomassa na produção de embalagens para mudas. Apesar de sua grande utilidade, o plástico apresenta inúmeros problemas para o meio ambiente, como o longo tempo

necessário para sua decomposição – pode chegar a quinhentos anos. Além disso, em alguns casos há a liberação da dioxina, substância tóxica para o meio ambiente, que surge quando o plástico não pode ser reciclado e tem que ser incinerado. Falando propriamente de seu uso em embalagens para mudas, o material prejudica o solo e o crescimento da raiz, enovelando-a, o que provoca um alto índice de mortalidade após o plantio. Tentando minimizar o prejuízo para o meio ambiente, as autoras da pesquisa cogitaram a utilização da biomassa para fabricar embalagens ecológicas. A biomassa é constituída principalmente de substâncias

de origem orgânica, como lenha, bagaço de cana-de-açúcar, resíduos florestais, resíduos agrícolas, casca de arroz, excrementos de animais, entre outras. As vantagens de sua utilização como embalagem para mudas são inúmeras, tais como: reaproveitamento dos resíduos; rápida decomposição, fazendo com que a embalagem não prejudique o solo e não gere lixo; as mudas podem ser transplantadas sem a retirada da embalagem, pois, ao se decompor, a biomassa torna-se fornecedora de nutrientes para a planta e, com a rápida decomposição, evita-se o enovelamento da raiz. “Para substituir o plástico de forma ecológica, nada melhor do que aproveitar resíduos de biomassa, proporcionando, assim, a solução de dois importantes problemas ambientais: o descarte de resíduos de biomassa (lixo orgânico) e a produção excessiva de plástico. A biomassa é renovável e ainda serve de substrato (suporte) para as plantas quando decomposta no solo”, afirmam as autoras do projeto. Entretanto, elas fazem a ressalva de que, apesar de ser vantajoso em termos ambientais, o uso da biomassa como embalagem de mudas apresenta um custo bem mais alto (R$ 3,00 em média) em relação às embalagens plásticas (R$ 0,10). A pesquisaComo as próprias pesquisadoras ressaltam no projeto, a ideia de se utilizar biomassa como embalagem para mudas não é novidade – já existem fábricas especializadas nesse nicho de mercado. Entretanto, o projeto de Ana Gabriela, Graziele e Tatiane inova na massa usada para dar liga ao invólucro. Além disso, as mudas que são plantadas nas embalagens conseguem absorver os nutrientes que a biomassa proporciona quando se inicia o processo de decomposição.Assim, partindo dessa hipótese de se utilizarem resíduos de biomassa para desenvolver embalagens compostáveis (ou seja, que passem pela compostagem, processo de transformação de restos orgânicos em adubo), as pesquisadoras

montaram, em formato de vasos, embalagens de jornal e de resíduos de biomassa (bagaço de cana, casca de coco verde, serragem, palha de arroz, sementes, casca de ovo, casca de banana) agregados à cola, argila, amido ou amido tratado para dar a liga. Depois de prontas, as embalagens tiveram seus procedimentos de decomposição analisados em duas composteiras. Em uma delas, o processo foi verificado após cinco

As estudantes receberam o prêmio Jovem Cientista das mãos da presidente Dilma Rousseff

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Preocupadas com os problemas ambientais gerados pelo plástico, as pesquisadoras propõem o uso de biomassa nas embalagens

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Sobre as Pesquisadoras

Quando recebeu a ligação informando que seu projeto havia conquistado o primeiro lugar do prêmio Jovem Cientista, uma das integrantes do grupo formado por Ana Gabriela, Graziele e Tatiane desligou o telefone achando que não passava de um trote. Contudo, ao receber uma segunda ligação, ela pôde comemorar juntamente com as outras duas colegas.

“No começo, achávamos que era impossível ganhar, pois havia muitos projetos inscritos, do Brasil inteiro”, explicam as pesquisadoras, que receberam o prêmio Jovem Cientista 2011 diretamente das mãos da presidente Dilma Rousseff. Além dessa honraria, a pesquisa das estudantes, orientada pela professora Erica

meses e depois de dez meses. Nesse último período, as embalagens de jaca verde, bagaço de cana e cola e as de fibra de coco e cola se decompuseram totalmente. Já na composteira dois, as embalagens com amido tratado e fibra de coco, casca de banana e palha de milho apresentaram elevado grau de decomposição. Por outro lado, as embalagens de jaca madura e cola e as de resíduo com amido puro se decompuseram antes de submetidas ao teste de compostagem. Já as com os agentes ligantes de argila e calcário não apresentaram estágio de decomposição significativa em dez meses de análise. Logo, as pertencentes a esses três grupos se mostraram inviáveis como embalagens de mudas – ou por não resistirem tempo suficiente antes de serem enterradas, ou por não fornecerem substrato para as plantas pela demora na decomposição, respectivamente. De um modo geral, as embalagens que apresentaram melhores resultados foram as de resíduo e cola e resíduo e amido tratado, sendo essas últimas as mais resistentes.Diante dos resultados apresentados, as pesquisadoras concluíram que o objetivo foi alcançado. “A produção de embalagens

a partir de resíduos de biomassa é uma alternativa fácil e viável em substituição ao plástico, com a vantagem de que não gera lixo, é renovável e limpa, podendo promover mudanças no hábito populacional e sensibilizar ambientalmente. Além disso, pode representar uma alternativa em comunidades de baixa renda, que muitas vezes recolhem lixo para revenda, fomentando assim a prática do artesanato e da recuperação de resíduos orgânicos”, afirmam Ana Gabriela, Graziele e Tatiane. Educação ambientalAlém do experimento com biomassa, o projeto também tinha entre seus objetivos específicos promover a conscientização ambiental, sensibilizando os estudantes em relação às questões como geração e descarte de lixo. Dessa forma, durante a festa junina da escola em que as pesquisadoras estudavam, a Etecap, em 2011, foi realizada uma exposição das embalagens na “barraca do Meio Ambiente”, em que os visitantes podiam responder a um questionário a respeito do projeto ecológico.

Pesquisadora Tatiane faz o primeiro teste de moldagem com a massa

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e As respostas exaltaram a importância da pesquisa e deram sugestões sobre como melhorá-la. “É muito importante que as pessoas estejam conscientes dos problemas que o plástico traz. Então, pretendemos conscientizar pelo menos aquelas pessoas que conhecem o nosso projeto, pois aí estaremos satisfeitas com o resultado de tanto trabalho e saberemos que valeu a pena”, afirmam as pesquisadoras.

Gayego Bello Figueiredo Bortolotti, também ficou com o primeiro lugar em Ciências Agrárias na Febrace 2012, ocasião em que ainda ganhou o prêmio da revista InCiência.

Enquanto se preparam para os vestibulares, as três estudantes continuam trabalhando no projeto. “Pretendemos aperfeiçoá-lo ainda mais, pois faltam muitas análises e pesquisas para que o projeto realmente esteja concluído. Essas análises que ainda estão faltando serão muito importantes para o aprimoramento das embalagens”, dizem as pesquisadoras, que pensam em patentear o trabalho.

Pesquisadoras fizeram embalagens com os mais diversos tipos de materiais

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Orientadas pela professora Erica Bortolotti – a segunda da direita para esquerda – as três pesquisadoras também brilharam na Febrace

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Em um país que já se caracteriza pelo baixo índice de leitores, como o Brasil, a expansão da internet e das novas formas de tecnologia em geral pode acentuar o desinteresse pelos livros. Entretanto, três jovens da ETEC Jorge Street, de São Caetano do Sul, criaram um projeto para tentar reverter essa situação. Edson Junior Barbosa, Gabriel Pimenta Lima e Keyla Maria Barbosa dos Santos desenvolveram o software (programa de computador) “Reino da Leitura”, que aparece como uma alternativa por utilizar a tecnologia justamente a favor da leitura. Segundo dados do Censo de 2010, realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia

“Reino da Leitura” usa tecnologia para despertar interesse de jovens por livros

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e Estatísticas), o Brasil tem cerca de 14 milhões de analfabetos. A preocupação do projeto de Edson, Gabriel e Keyla recai em um caso especial, o dos chamados “analfabetos funcionais”, adultos que sabem assinar o nome, porém não conseguem interpretar o que leem. Um dos objetivos do “Reino da Leitura” é justamente evitar a proliferação dessa dificuldade, investindo, para isso, no incentivo à leitura dos jovens. O foco do projeto está nas crianças, principalmente nas que se enquadram na faixa etária entre sete e dez anos, pelo fato de, para os pesquisadores, ser essencial incutir nos jovens o interesse pela leitura ainda no começo da vida escolar.

Considerando esse dado e contando com as diversas possibilidades tecnológicas existentes, Edson, Gabriel e Keyla criaram um software que, por meio de personagens e jogos, incentiva a criança a ler. “A culpa pela falta de interesse nos livros pode ser atribuída a vários fatores. Alguns ficam traumatizados por uma leitura forçada, outros não têm estímulo, outros apenas trocam os livros por tecnologia. O objetivo principal é desenvolver um software que consiga, de uma forma lúdica, incentivar a criança a ler, instigando-a a buscar nos livros o que a televisão e a tecnologia nunca poderão suprir: ‘o poder da imaginação’”, explicam os autores do projeto. PesquisasAlém da fundamentação teórica e da procura por softwares similares ao pretendido, os autores do projeto realizaram pesquisas com grupos específicos para saber quais assuntos e fatores atraem o interesse da criança para a leitura. Foram entrevistados bibliotecários (para esclarecer o que mais chama a atenção dos pequenos quando estão em contato com os livros, quais as reações mais comuns e que obras causam normalmente pouco interesse), as mães de crianças e, obviamente, as próprias crianças. Com embasamento teórico e prático, além de conhecimentos técnicos sobre informática – tais como linguagem de programação (Visual Basic 2008) e editores de imagem (Photoshop e Corel Draw) –, os pesquisadores começaram a desenvolver o software. Personagens e JogosVoltado para a fase conhecida como “idade dos contos de fadas”, período em que a criança é extremamente suscetível à fantasia e se identifica com o ambiente mostrado nas histórias, o “Reino da Leitura” tem como grande trunfo, segundo seus idealizadores, apresentar personagens próprios, que participam dos jogos educativos propostos no programa.

A pesquisa conquistou o primeiro lugar na área de informática da feira de tecnologia da ETEC Jorge Street

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Todos os personagens, de alguma forma, encontram o caminho para o “Reino da Leitura”. Nanda é uma garota levada que, ao ser colocada de castigo pela mãe em um quarto, descobre um baú cheio de livros. Gui troca o videogame por histórias de magos e dragões. Já a mimada Monique esquece seu gosto pelo consumo ao se deparar com uma nova diversão: contos de fadas e romances. A garota Nick e o fã de futebol Rodrigo deixam o preconceito contra a leitura de lado e tornam-se leitores assíduos. A intenção é que as crianças se identifiquem com as personagens por meio das dificuldades que cada uma delas tem com relação à leitura. “Quando a criança se identifica com o problema, estabelece uma conexão. Assim, quando a personagem encontrar a solução, a criança pode ficar estimulada a seguir pelo mesmo caminho. E o vínculo de amizade entre aquela personagem escolhida pela criança fica cada vez mais aparente, pois durante os jogos é esta personagem que dá dicas quando a tarefa está difícil

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Sobre os Pesquisadores“Um país se faz com homens e livros”. Foi essa frase de Monteiro Lobato que inspirou e norteou o projeto de conclusão de Edson, Gabriel e Keyla no curso técnico de informática. Os estudantes viram no ensinamento do consagrado escritor justamente a essência do objetivo que tinham de transformar a sociedade por meio da educação. Aproveitaram para unir o útil ao agradável, juntando a essa meta o amor que sempre tiveram pela leitura.

“Essa frase do Monteiro Lobato foi de grande importância, pois nos motivou e nos mostrou que o Brasil só será plenamente desenvolvido quando seus cidadãos cultivarem o hábito da leitura. Os livros são agentes transformadores da sociedade e nosso trabalho visa exatamente incentivar as crianças, que são o futuro do país, e torná-las, desde cedo, amantes dos livros, para que possam transformar a sociedade e fazer do Brasil o ‘país do agora’”, afirmam

ou parabeniza usando o nome da própria criança quando esta acerta as respostas”, explicam os pesquisadores. Os jogos são essenciais no projeto. Brincadeiras como “Escrevendo sua história”, “Jogo da Forca”, “Jogo da Memória”, “Jogos das Tirinhas” e o quiz de perguntas têm objetivos específicos, mas, no geral, visam despertar na criança a capacidade de interpretar textos e figuras, bem como desenvolver seu potencial de leitura e de escrita. Outro elemento fundamental para o “Reino da Leitura”, o layout do programa foi desenvolvido com o uso de cores alegres e vivas, além de o castelo pelo qual a criança é conduzida durante os jogos ter um aspecto acolhedor, animado e familiar, a fim de prender a atenção do usuário. O trabalho foi apresentado para uma banca examinadora na ETEC Jorge Street (onde os pesquisadores faziam um curso técnico de informática) e, em seguida, na feira de

tecnologia da instituição (conquistando o primeiro lugar na área de informática). Nas avaliações, o layout foi elogiado, enquanto melhorias foram sugeridas nos jogos e nas animações. Diante dos acertos e dos problemas apre-sentados, os pesquisadores ainda pretendem promover melhorias, principalmente nas animações, já que estas são fundamentais na estética e no resultado final de todo trabalho. Além disso, já desenvolveram parte de um site para divulgar o “Reino da Leitura”. “Há a possibilidade de patentearmos o projeto e já estamos providenciando para que ele possa cumprir sua função social. Foi uma oportunidade incrível para nós, mas é preciso ainda muito investimento. Temos consciência de que esse foi apenas o primeiro passo e ainda falta uma longa jornada”, afirmam Edson, Gabriel e Keyla.

Jogos educativos e personagens que se identificam com o usuário são os trunfos do software

os pesquisadores, orientados no trabalho pela professora Márcia Cristina dos Santos Ferreira.

Premiados com o primeiro lugar na área de informática na feira de Ciências e Tecnologia na ETEC Jorge Street , em São Caetano do Sul-SP, e com o prêmio InCiência na Febrace 2012, os três estudantes seguiram caminhos diferentes: Keyla estuda na Faculdade de Direito de São Bernardo; Gabriel se esforça para entrar em Engenharia Química na USP; enquanto Edson sonha com o curso de Ciências da Computação.

Contudo, os três continuam unidos pelo amor à leitura. “Nós amamos a leitura desde crianças e a vemos até hoje como algo mágico, capaz de transformar o mundo e você mesmo. Por isso, tínhamos que mostrar isso a todos”, explicam os pesquisadores.

Arquivo pessoal dos pesquisadores

Arquivo pessoal dos pesquisadores

Para realizar o projeto, Edson, Gabriel e Keyla Maria se inspiraram na frase de Monteiro Lobato: ‘Um país se faz com homens e livros’

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*Por Roseli de Deus Lopes

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O papel da escola na busca por um mundo sustentável

Um tema relevante para os leitores da InCiência é o da sustentabilidade, ainda mais em ano de Rio+20, conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada na cidade do Rio de Janeiro, em junho.Em atividades preparatórias e durante a Rio+20, as três dimensões da sustentabilidade - a econômica, a ambiental e a social - foram amplamente discutidas por chefes e representantes de estados e pela sociedade civil. Ao final da conferência, foi publicado o documento “O Futuro que Queremos”, aprovado pelos 188 estados-membros, em que renovam o comprometimento pelo desenvolvimento sustentável e pela promoção de um futuro econômico, social e ambientalmente sustentável para nosso planeta e para as gerações presentes e futuras.Recomendo a leitura cuidadosa desse documento para que possamos acompanhar e cobrar o cumprimento dos compromissos ali firmados e para que cada um possa identificar qual a responsabilidade que lhe cabe para a construção da sustentabilidade.Muitos dos atuais problemas econômicos, ambientais e sociais exigem mudanças de hábitos de consumo e em relação ao meio ambiente. Assim, o caminho para a sustentabilidade requer, além de ações de caráter emergencial para combate à miséria em alguns países, prioridade absoluta para a Educação e para a democratização do acesso à informação qualificada.

A educação, em todos os níveis, deve propiciar equidade para que os diferentes talentos aflorem e se desenvolvam; deve formar indivíduos críticos e protagonistas, conscientes de seus papéis na sociedade, comprometidos com o desenvolvimento sustentável e capazes de identificar e resolver problemas. É preciso educar as crianças e os jovens para que adquiram e cultivem bons modos; para que possam ser agentes de transformação capazes de reeducar e provocar mudanças de hábitos naqueles que já não mais frequentam as escolas.Além disso, hoje, tão fundamental como dar acesso à água potável e à eletricidade, é dar acesso à informação qualificada. Indivíduos com boa formação na escola e que têm acesso a dados e notícias de qualidade, se tornam capazes de converter informação em conhecimento, aplicando-o para identificar e resolver problemas.Para construir o futuro que queremos, econômico, social e ambientalmente sustentável, é preciso que cada um faça a sua parte, atuando como produtor e como consumidor de forma consciente e com responsabilidade social e ambiental. E, para atingir esse objetivo, tudo começa na escola!

*Coordenadora Geral da Febrace (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia)

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Revista InCiência é lançada com a presença de especialistas da área

O Colégio Dante Alighieri realizou, em 9 de fevereiro, um encontro de importantes incentivadores da pesquisa científica no Brasil. O motivo foi o lançamento da primeira edição da revista InCiência, publicação semestral voltada para o estímulo à pré-iniciação científica e tecnológica.Participaram do evento, realizado no auditório Miro Noschese, o Secretário da Educação de São Paulo, Herman Voorwald, a presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), profa. dra. Helena Nader, a coordenadora da Febrace (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia), profa. dra. Roseli de Deus Lopes, o gerente de educação da Intel Brasil, Rubem Saldanha, a vice-diretora da Escola Estadual Andrônico de Melo, Rosângela Chiari, e o coordenador pedagógico de Ensino Fundamental II e do Ensino Médio do Colégio Bialik e assessor do Colégio Giordano Bruno, Rogério Giorgion. A mediação ficou por conta da coordenadora do Departamento de Ciências da Natureza do Dante e responsável pelo programa Cientista Aprendiz, profa. Sandra Tonidandel, coidealizadora da revista.Também estiveram presentes o presidente do Colégio Dante Alighieri, dr. José de Oliveira Messina, o diretor geral pedagógico

da Escola, prof. Lauro Spaggiari, e a coordena-dora do Depar-tamento de T e c n l o g i a E d u - c a c i o n a l e do GEETec (Grupo de Estudos Experimentais em Tecnologia), profa. Valdenice Minatel, coidealizadora da InCiência.Sobre a InCiênciaLevando em conta que a pesquisa científica no Brasil tem mais destaque no nível superior e na pós-graduação, a revista InCiência pretende dar espaço para a divulgação de trabalhos de alunos dos ensinos Fundamental e Médio do todas as escolas brasileiras, e não só do Colégio Dante Alighieri.Os jovens que trabalham com pré-iniciação científica e quiserem participar da publicação precisam enviar seus artigos para [email protected] comissão de professores-pesquisadores avaliará o trabalho. Caso a pesquisa seja aprovada, os responsáveis pela revista entrarão em contato com o aluno-pesquisador para publicar o artigo na InCiência.

Convidados debateram sobre a importância do ensino de ciências nas escolas42 43

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