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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X “MULHERES SABEM PARIR, BEBÊS SABEM NASCER”. AS DOULAS E O MOVIMENTO DE HUMANIZAÇÃO DO PARTO NO BRASIL Giovana Acacia Tempesta- UnB, Brasília, Brasil Resumo: A comunicação parte da hipótese de que as doulas mobilizam de modo singular certos conceitos e imagens presentes nos enunciados em circulação no seio do movimento de humanização do parto no Brasil, que vem ganhando força nas duas últimas décadas, por meio de um ativismo organizado sob a forma de rede, com repercussões importantes em termos de subjetividade feminina, edição de leis e normativas institucionais e produção e circulação de imagens sobre parto. As doulas estariam se engajando em uma relação diferencial de cuidado entre mulheres e, assim, “colocando em jogo” (nos termos de C. Lefort, 1978) o sentido dominante de nascer no Brasil no século XXI, ao encarnar uma relação de cooperação com a mulher grávida que visa ao seu empoderamento. Esta reflexão se vale da interlocução com doulas que atuam em Brasília, se apoia na coletânea Childbirth and authoritative knowledge (organizada por Davis-Floyd & Sargent, 1997) e se inspira em ideias de M. Strathern, D. Haraway, J. Tronto, E. Martin e G. Deleuze. Palavras-chave: Parto. Doula. Pessoa. Cuidado Em sua abordagem feminista do cuidado, Joan Tronto defende que cuidar de outrem suscita questões morais importantes, que permitem contestar a teoria moral contemporânea. Para ela, a experiência particular de cuidar de um outro específico implica capacidade de atenção, responsabilidade e compromisso, colocando em jogo a concepção de indivíduos racionais e autônomos sobre a qual se estrutura a sociedade de mercado contemporânea: Cuidar desafia a visão de que a moralidade começa quando e onde indivíduos racionais e autônomos confrontam-se mutuamente para executar as regras da vida moral. Em vez disso, nos permite ver a autonomia como um problema com o qual as pessoas têm de lidar o tempo todo nas suas relações com os iguais e com aqueles que as ajudam ou delas dependem. (TRONTO, 1997, p. 196, ênfase adicionada) O cuidar não pode ser pensado em termos de princípios ou regras morais universais, mas as questões concernentes a autonomia, autoridade e dependência que ele suscita o inserem no escopo da ética, uma vez que remetem à natureza da ligação entre o ser e o outro. Afinal, cuidar deenvolve responder às necessidades particulares, concretas, físicas, espirituais, intelectuais, psíquicas e emocionais dos outros, visão que pode ser aproximada à noção de cuidado presente na obra do filósofo Emmanuel Levinas, para quem a interpelação é uma forma de invocação, um encontro com

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

“MULHERES SABEM PARIR, BEBÊS SABEM NASCER”. AS DOULAS E O MOVIMENTO DE

HUMANIZAÇÃO DO PARTO NO BRASIL

Giovana Acacia Tempesta- UnB, Brasília, Brasil

Resumo: A comunicação parte da hipótese de que as doulas mobilizam de modo singular certos

conceitos e imagens presentes nos enunciados em circulação no seio do movimento de

humanização do parto no Brasil, que vem ganhando força nas duas últimas décadas, por meio de

um ativismo organizado sob a forma de rede, com repercussões importantes em termos de

subjetividade feminina, edição de leis e normativas institucionais e produção e circulação de

imagens sobre parto. As doulas estariam se engajando em uma relação diferencial de cuidado entre

mulheres e, assim, “colocando em jogo” (nos termos de C. Lefort, 1978) o sentido dominante de

nascer no Brasil no século XXI, ao encarnar uma relação de cooperação com a mulher grávida que

visa ao seu empoderamento. Esta reflexão se vale da interlocução com doulas que atuam em

Brasília, se apoia na coletânea Childbirth and authoritative knowledge (organizada por Davis-Floyd

& Sargent, 1997) e se inspira em ideias de M. Strathern, D. Haraway, J. Tronto, E. Martin e G.

Deleuze.

Palavras-chave: Parto. Doula. Pessoa. Cuidado

Em sua abordagem feminista do cuidado, Joan Tronto defende que cuidar de outrem

suscita questões morais importantes, que permitem contestar a teoria moral contemporânea. Para

ela, a experiência particular de cuidar de um outro específico implica capacidade de atenção,

responsabilidade e compromisso, colocando em jogo a concepção de indivíduos racionais e

autônomos sobre a qual se estrutura a sociedade de mercado contemporânea:

Cuidar desafia a visão de que a moralidade começa quando e onde indivíduos

racionais e autônomos confrontam-se mutuamente para executar as regras da vida

moral. Em vez disso, nos permite ver a autonomia como um problema com o qual as

pessoas têm de lidar o tempo todo nas suas relações com os iguais e com aqueles que

as ajudam ou delas dependem. (TRONTO, 1997, p. 196, ênfase adicionada)

O cuidar não pode ser pensado em termos de princípios ou regras morais universais, mas as

questões concernentes a autonomia, autoridade e dependência que ele suscita o inserem no escopo

da ética, uma vez que remetem à natureza da ligação entre o ser e o outro. Afinal, “cuidar de”

envolve responder às necessidades particulares, concretas, físicas, espirituais, intelectuais, psíquicas

e emocionais dos outros, visão que pode ser aproximada à noção de cuidado presente na obra do

filósofo Emmanuel Levinas, para quem a interpelação é uma forma de invocação, um encontro com

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o ente enquanto rosto, donde decorre a responsabilidade que se assume perante ele: “estar em

relação com outrem face a face é não poder matar” (Levinas, 2005, p. 31).

Emprego a expressão “colocar em jogo” no sentido que lhe foi atribuído por Claude Lefort,

para quem:

O próprio de uma sociedade “histórica”, segundo nos parece, é que ela contém o

princípio do acontecimento e tem o poder de convertê-lo em momento de uma

experiência, de modo que ele figura um elemento de um debate que se processa entre

os homens. Deste modo, nela a transformação não é a passagem de um estado para

outro, mas o encaminhamento deste debate que antecipa o futuro referindo-o ao

passado. O que significa ainda dizer que o histórico não reside no acontecimento

enquanto tal ou na transformação enquanto tal, mas em um estilo das relações

sociais e das condutas em virtude do qual há colocação em jogo do sentido

(LEFORT, 1978, p. 47, ênfase adicionada).

No caso do tema que pretendo desenvolver aqui, o movimento em prol da humanização do

parto e do nascimento no Brasil,1 observamos que a conduta dos profissionais que acompanham a

mulher durante a gestação, o parto e o pós-parto imediato é elemento decisivo para a significação da

experiência do parto pela mulher. Desse modo, o tema da autonomia feminina no ciclo gravídico-

puerperal aparece como central em meio a um contexto social altamente medicalizado, como é a

sociedade brasileira.

Nesse cenário, a filosofia de trabalho das doulas2 exprime, de forma particularmente

interessante, uma pauta cultural contra-hegemônica, voltada para a efetiva transformação da

natureza da ligação entre a mulher que dá à luz e os demais envolvidos no nascimento, incluindo as

1 A humanização do parto e do nascimento integra um movimento mais amplo na área da saúde coletiva, cujas

repercussões se fazem sentir desde os anos 1980. Trata-se de “um movimento instituinte do cuidado e da valorização da

intersubjetividade nas relações” (M. C. Minayo, 2006, p. 26). Para Simone Diniz: “A humanização aparece como a

necessária redefinição das relações humanas na assistência, como revisão do projeto de cuidado, e mesmo da

compreensão da condição humana e de direitos humanos” (Diniz, 2005, p. 631-2); é “um termo estratégico, menos

acusatório, para dialogar com os profissionais de saúde sobre a violência institucional” (idem, ibidem, p. 635). O foco

desse movimento é a reapropriação feminina da experiência do parto, concebida como um evento holístico, da ordem do

imponderável. O desejo de ter um parto satisfatório, “mais natural” (Carneiro, 2014 e 2015), vem ganhando visibilidade

nas últimas décadas predominantemente entre mulheres de classe média vivendo nos grandes centros urbanos, e

adquiriu os contornos de uma pauta de direitos humanos, na medida em que as ativistas jogam luz sobre o contexto de

violência institucional sistêmica contra as mulheres. 2 Doulas são profissionais que oferecem apoio físico, emocional e informacional à mulher durante a gestação, o parto e

o puerpério. O reconhecimento da importância do trabalho da doula no meio científico consolidou-se em 2013, quando

foi publicada na plataforma Cochrane – a principal fonte de informações científicas atualizadas para as/os defensores do

parto humanizado – uma extensa revisão sistemática reunindo sólidas evidências científicas sobre a importância da

presença da doula durante o trabalho de parto, indicando índices mais altos de parto vaginal, índices reduzidos de

analgesia, altos índices de satisfação das mulheres, trabalho de parto de menor duração, menores índices de cesárea e de

uso de instrumentos, alto índice de Apgar referente ao recém-nascido (Hodnett et al., 2013). A publicação assinada pela

doula brasileira Fadynha (2011) apresenta conclusões muito semelhantes.

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pessoas presentes na cena do parto, nos termos de uma “mudança cultural intencional” (cf. Davis-

Floyd & Sargent, 1997, p.12). Uma pauta cultural que dá ensejo a duras acusações contra as

mulheres, especialmente aquelas que têm condições de optar por um parto domiciliar planejado,

compreendido como o ápice do empoderamento feminino, em oposição à cesárea eletiva. Com

efeito, a bandeira da humanização do parto costuma ser criticada por diferentes atores sociais como

ideário primitivista ou como modismo elitista com conotações antifeministas.

O contraponto etnográfico com o caso de mulheres britânicas que, nos anos 1990,

desejavam engravidar sem manter relações sexuais com nenhum homem, como se recorressem à

tecnologia para negar o componente sexual (relacional) da reprodução (fenômeno chamado de

“síndrome do nascimento virgem”), joga luz sobre a argumentação aqui desenvolvida. Marilyn

Strathern (1995) dedicou-se a refletir sobre as causas do embaraço cultural provocado por essas

mulheres e o analisou à luz dos dados trobriandeses, de acordo com os quais a concepção não seria

pensada como dependente das relações sexuais. A autora propõe que o problema epistemológico

colocado por esse evento está associado à natureza construída da compreensão dos processos

naturais pelos euro-americanos, pois as novas tecnologias reprodutivas estariam desfazendo muitas

das tradicionais suposições sobre a relação entre Natureza e Cultura, especialmente a compreensão

do parentesco como construção cultural de fatos naturais (“biológicos”).

A abordagem de Strathern nos ajuda a tomar consciência sobre as convenções que

conformam nossa própria cultura, propiciando que as encaremos de forma crítica e que lancemos a

pergunta sobre o tipo de relação que as pessoas pretendem estabelecer entre si. Se, aos olhos da

medicina e da sociedade em geral, voltados para as tecnologias de saúde vanguardistas, as mulheres

britânicas que pretendiam engravidar sem ter relações sexuais desejavam relações “de menos”, aqui

as mulheres que optam pelo parto “humanizado” – que prevê nenhuma ou pouquíssimas

intervenções médicas – estariam desejando relações “demais”. Percebe-se que, em ambos os casos,

o desejo das mulheres é apontado como deslocado em relação a um ideal externo, misógino, de

comportamento feminino.

Na balança das relações, pesa o conceito de risco, em torno do qual se constitui o poder-

saber biomédico referente à gestação e ao parto. O trabalho de Lilian Chazan sobre o

entrelaçamento entre a tecnologia do ultrassom obstétrico e o processo social de subjetivação do

feto e da mulher grávida, no início do século XXI, funciona como pano de fundo para a presente

discussão. Para esta autora, a medicalização da vida e o panopticismo (nos termos de Michel

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Foucault) envolvendo a gravidez e o feto nos colocariam diante do seguinte fenômeno: ainda dentro

do útero materno, “o feto-Pessoa, generificado, consumidor, além de ‘paciente’, torna-se um ‘astro

televisivo’ em um espetáculo – literalmente – ‘pay-per-view’” (Chazan, 2007, p. 214).

A etnografia elaborada por Chazan, que mostra uma adesão aparentemente unânime de

segmentos das camadas médias cariocas à cultura do ultrassom obstétrico, estimula a reflexão sobre

até que ponto o uso da tecnologia no campo da saúde cria dependência ou promove a autonomia das

pessoas. Chazan enfatiza que:

A produção da ‘necessidade’ de monitoramento encontra-se vinculada à construção

de uma ‘cultura do risco’, partilhada por todos, cujo objetivo final seria, acima de

tudo, uma “medicina sem surpresas” (Arney, 1982: 175). É, sobretudo, um conjunto

de crenças e valores compartilhados e em constante circulação na cultura. Conjugada

a melhorias efetivas para a vida e a saúde dos sujeitos concretos – proporcionadas

pela mais variada gama de dispositivos tecnológicos e diagnósticos –, é gerada

também uma ilusão de controle e saber totais sobre os fenômenos da vida e, por

conseguinte, também da morte. (CHAZAN, 2007, p. 208)

Vejamos então como, em contraposição a esse cenário, o desejo das mulheres por um parto

satisfatório e respeitoso, ou “mais natural” (de acordo com Rosamaria Carneiro, 2014), é acolhido,

legitimado e potencializado pelas doulas. Em primeiro lugar, notemos que a decisão de procurar

uma doula costuma resultar da participação prévia da mulher em grupos de apoio ao parto

humanizado, virtuais ou presenciais. Tais grupos em geral ressaltam a importância dessa

profissional para o bom andamento da gestação e o desfecho favorável do parto. Esses grupos,

muitas vezes chamados de “rodas” (quando presenciais), organizam-se em torno da convicção sobre

a aptidão da mulher e do bebê para o nascimento, o que se exprime nos seguintes enunciados:

“Mulheres sabem parir, bebês sabem nascer” e “Nosso corpo foi feito para parir” – princípio básico

desse projeto de empoderamento feminino.

Tânia Salem (2007) ressaltou o duplo papel dos grupos de apoio pré-natal, enquanto rede

de suporte emocional (psicológico) e também de solidariedade, para a configuração do “casal

grávido”, um código moral vigente nos anos 1980 entre camadas médias urbanas brasileiras. O

ideário da humanização do nascimento apresenta diversos pontos de contato com esse fenômeno

cultural, todavia não se observa no universo aqui considerado a pertinência da posição de destaque

conferida ao homem no âmbito do fenômeno do “casal grávido”, nem tampouco da ética da

indiferenciação de gênero que o caracterizou. Ao contrário, no universo aqui considerado a ênfase

recai claramente sobre as necessidades e desejos da mulher grávida.

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Para seguir a jornada do empoderamento, é fundamental que a mulher grávida tenha

informação de qualidade, isto é, ela deve buscar conhecer os direitos previstos em lei e os dados

científicos atualizados. “Empoderar” por meio da informação é um elemento-chave do trabalho das

doulas alinhadas à medicina baseada em evidências,3 em oposição às táticas de

“desempoderamento” (ou fragilização, infantilização) da mulher, por vezes empregadas pelos

profissionais de saúde desde o início da gestação, durante o acompanhamento pré-natal

convencional. A “informação” ganha ares de instituição cultural ao irmanar mulheres vivendo em

locais distantes, com estilos de vida diferentes, ao modo de uma “rede ideológica”, caracterizada

por uma profusão de espaços e identidades e pela permeabilidade das fronteiras no corpo pessoal e

no corpo político, nos termos de Donna Haraway: “A ideia de ‘rede’ evoca tanto uma prática

feminista quanto uma estratégia empresarial multinacional – tecer é uma atividade para ciborgues

oposicionistas” (Haraway, 2000, p. 84).

Muitas das adeptas da humanização fazem uma reflexão crítica sobre a banalização do

recurso à tecnologia e, sobretudo, à sua imposição durante a gestação e o parto, que concorrem para

que o Brasil ocupe a segunda posição dentre os países campeões de cirurgias cesarianas em todo o

mundo, fato que a Organização Mundial de Saúde classifica como “epidemia”. A maioria dos

critérios utilizados pelos médicos para indicar cesariana são questionados ou mesmo refutados por

elas, tais como a duração da gestação (medida em número de semanas), o resultado positivo do

exame para detecção da bactéria estreptococo B, a presença de circular de cordão, o volume

reduzido do líquido amniótico, o genérico e aterrorizante “sofrimento fetal”, a presença de mecônio

no líquido amniótico, a ocorrência de cesárea anterior e a posição do feto durante a gestação e o

trabalho de parto.

A informação é empregada pelas mulheres para questionar, com propriedade,

potencialmente todos os procedimentos de rotina que têm lugar na instituição médico-hospitalar,

tais como a raspagem dos pelos pubianos da parturiente, a lavagem intestinal, o jejum, a episiotomia

(incisão cirúrgica na musculatura perineal, realizada com o objetivo alegado de favorecer a saída do

bebê), a amniotomia (ruptura artificial da bolsa amniótica), a aplicação de ocitocina sintética

(visando acelerar o período expulsivo) e de analgésicos e ainda a manobra de Kristeller (pressão

forte sobre a barriga da mulher com o objetivo de facilitar a passagem do bebê) – quando realizadas

3 Minha interlocução é com doulas que se definem como “alinhadas à medicina baseada em evidências” (que se

distinguem das “doulas na tradição”), que atuam no Distrito Federal. Algumas das ideias aqui apresentas foram

abordadas em um Manuscrito ainda não publicado.

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sem indicação clínica clara e sem o consentimento da parturiente –, práticas que geralmente

ocorrem na forma de “efeito-cascata”. Essas mulheres questionam também a obrigatoriedade de

ficar imóvel na posição horizontal, com as pernas abertas, e os sucessivos exames de toque vaginal

durante o trabalho de parto, bem como o corte imediato do cordão umbilical e a retirada do recém-

nascido da sala de parto para o banho (que resulta na remoção do verniz natural da pele), para a

aplicação de colírio de nitrato de prata e para a medição de peso e estatura, práticas cuja eficácia é

questionada e que acabam por inviabilizar a amamentação na primeira hora de vida.

Esse “pacote tecnológico”, adotado integral ou parcialmente como protocolo de rotina nas

instituições de saúde públicas e privadas no Brasil, que parece estar sendo naturalizado pelos

profissionais de saúde e também pelo senso comum, é alvo do escrutínio das ativistas da

humanização do parto e das doulas, sendo que algumas práticas recebem mais atenção do que

outras, como, por exemplo, a episiotomia, que pode trazer efeitos orgânicos e psicológicos danosos

por longo período. De acordo com várias doulas, tais intervenções muitas vezes se somam a abusos

ou atos de violência explícita e podem ser classificadas como “violência obstétrica”. Em linhas

gerais este conceito se refere a toda forma de ofensa, humilhação, constrangimento, coação,

prestação de informações distorcidas ou incompletas, negativa de atendimento de qualidade, lesão

corporal, tratamento aviltante, impedimento da entrada de acompanhante na sala de parto,

desconsideração das opiniões e solicitações emitidas pela parturiente e esterilização não solicitada

pela mulher, dentre outras. Nesse universo costuma-se afirmar que a maioria das violências

praticadas contra a mulher durante o evento do parto é justificada com o apelo à necessidade

pungente de resguardar a saúde do bebê. A abrangência do conceito indica que estamos diante de

uma modalidade de violência sistêmica, pervasiva (cf. Pulhez 2013), que recusa à mulher o estatuto

de sujeito de direitos, um estado de coisas que o movimento da humanização visa combater.

Destarte, um aspecto importante da atuação das doulas alinhadas à medicina baseada em

evidências é orientar sua cliente no processo de apropriação de conhecimentos sobre o corpo

feminino, sobre suas necessidades específicas e sobre “o sistema” (isto é, o funcionamento da

instituição médico-hospitalar). Apropriação crítica e criativa, que assume a forma de politização do

conhecimento médico, ao desvelar seus fundamentos simbólicos.

Em sua análise sobre as metáforas científicas sobre os corpos das mulheres, ancoradas no

imaginário do sistema de produção capitalista, Emily Martin afirma que o parto é uma experiência

profunda e intensa, que envolve sentimentos íntimos e a percepção de forças poderosas do mundo

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(Martin, 2006, p. 249). Observo que muitas das mulheres que divulgam seus relatos de parto

(humanizado ou não) na internet realmente desejam ter essa experiência, que encerra um senso de

completude desafiador: “Aqui talvez estejam seres humanos integrais, com todas as suas partes

inter-relacionadas, engajados naquilo que talvez seja a única forma de trabalho verdadeiramente

inalienado agora disponível para nós” (op. cit., p. 256). A autora demonstrou como as novas

tecnologias pré-natais (dentre as quais a ultrassonografia) estariam criando novas normas para os

padrões de produção de bebês, além de novas expectativas padronizadas para o crescimento e o

desenvolvimento fetal, ao tempo em que os direitos do feto passam a sobrepujar os direitos da

mulher. Este processo histórico corresponderia a um movimento de apagamento da mulher da cena

do parto, apoiado em imagens depreciativas sobre o corpo da mulher, que resultaria em seu repúdio

completo na “linha de produção de bebês perfeitos” (Martin, 2006, p. 227-232).

Porém as adeptas do parto humanizado se recusam a atuar como máquinas inseridas na

linha de produção hospitalar e reafirmam sua completude enquanto sujeitos conectados a outros

significativos – neste caso, outras significativas – durante o ciclo gravídico-puerperal. Como lutar

sozinha contra “o sistema” é batalha inglória, elas se unem e se apoiam mutuamente e aprendem a

confiar umas nas outras, com o intuito – suponho eu – de transformar uma relação de cuidado em

uma relação de apoio entre mulheres, com repercussões éticas genuínas, como se verá adiante.

Articulados à informação que conduz à tomada de consciência sobre uma realidade

opressora, as emoções, as sensações e os ritmos corporais são outros elementos manejados pelas

doulas. Escutemos as palavras de uma doula que atua em São Paulo:

[As doulas] Auxiliam os corpos das mulheres a se manifestarem em sua plena

potência. Tocam, movimentam, respiram junto. Existe, neste ofício, um querer

subjetivo. O de cuidar do campo, da atmosfera de cada parto, para que a trama,

trançada até ali, seja com fios de confiança, firmeza, segurança e amor. (...) Uma

doula precisa amar o que faz. E ouso dizer, amar a pessoa a quem está

acompanhando. Mesmo que esse amor nasça no momento do parto. Ela aprende a

conectar seu coração e seu olhar para conseguir abrir caminhos com toques,

manobras ou palavras. Doula pode ser filtro, blindagem e veículo. Pode ser colo,

abraço e conforto. Pode também ser o silêncio, ou dizer o indizível. A doula cava

com você a sua coragem e assiste, marejada, sua vitória. (Depoimento da doula

Maíra Duarte transcrito em AZEVEDO & BELTRÃO, 2016, p. 58; 107)

Não vejo obstáculo para interpretar o amor a que a doula faz alusão como uma expressão da

noção de apoio, tal como a vimos entendendo até aqui, e que amplia ou tensiona a noção de

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cuidado, tal como caracterizada por Tronto. A fim de desnaturalizar e expor o lastro ético (e

político) do trabalho das doulas, cito o seguinte trecho da fala de uma doula que atua em Brasília e

milita pela transformação da assistência ao parto a partir da crítica ao modelo heteronormativo,

racista, classista e gordofóbico predominante: “As pessoas acham que a gente trabalha por amor,

por isso não precisa receber dinheiro. Não estou dizendo que a gente não trabalha com amor, mas

não podemos trabalhar só por amor”. As iniciativas atuais em torno da profissionalização da

doulagem não são isentas de contradições. Pode-se perceber neste enunciado a ênfase na distinção

conceitual entre afeto e remuneração, explicitando-se que o desejo autêntico de apoiar outra mulher

durante a gestação, o parto e o pós-parto é vivido como vocação profissional orientada

politicamente, não como prática filantrópica. Existe um dilema em torno da melhor maneira de

profissionalizar o cuidado feminino, que se expressa por meio de questionamentos de amplo

escopo: como reconhecer o valor social desse serviço sem “desumanizá-lo”? Como atribuir valor

monetário a uma relação simultaneamente profissional e afetiva, que acolhe o imprevisível e o

incontrolável da experiência humana? Outrossim, tais questionamentos sinalizam a preocupação,

partilhada por muitas doulas, em não permitir que sua atuação seja entendida como impulso

feminino automático, apolítico e irrefletido.

Em artigo onde aponta contradições inerentes à atuação das doulas, Soraya Fleischer (2005)

indica que elas podem funcionar como repositório da memória do parto, algo importante para que a

mulher possa integrar essa experiência à sua subjetividade de maneira positiva. A partir de dados

etnográficos preliminares, estou propondo que estamos diante de um projeto de coletivização

feminina da construção e da apropriação subjetiva da experiência do parto, que se traduz pelo termo

sororidade, e que visa à ressignificação da sensação de dor durante o parto, bem como à

transformação da relação entre as mulheres e a instituição médico-hospitalar.

A atuação das doulas ecoa algumas premissas centrais da crítica feminista direcionada ao

conhecimento científico. De acordo com Margareth Rago (1998), refutando a mitologia científica

misógina, o pensamento feminista supera a ideia do conhecimento como um processo meramente

racional, na medida em que as mulheres incorporam a dimensão subjetiva, emotiva e intuitiva ao

processo do conhecimento, questionando as divisões corpo/mente e sentimento/razão. Assim, a

mudança de conduta (cf. Lefort, op. cit.) que parece estar se processando sob a bandeira da

humanização concerne ao tensionamento do conceito de cuidado durante o parto, que está se

deslocando para o conceito de apoio, o qual implica um laço simétrico, horizontal, respeitoso. A

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capacidade de acolher uma mulher enquanto sujeito singular e completo supõe uma disponibilidade

para a conexão, uma atitude de abertura radical para o outro, que requer um tipo de habilidade

delicada, em alguma medida intuitiva, associada a uma postura contestadora em relação à

biomedicina – o que pode ser categorizado como “tecnologia de relações” ou “tecnologia leve”, nos

termos de Emerson Merhy (2002). Desse modo, a relação de dependência se converteria idealmente

em uma relação de interdependência entre sujeitos plenos.

Com efeito, a apropriação da medicina baseada em evidências e a sensibilização para a

riqueza simbólica e a complexidade existencial do evento do nascimento podem ser interpretadas

como táticas empregadas pelas doulas com o objetivo de construir ou fortalecer um outro tipo de

“conhecimento autorizado” (cf. Davis-Floyd & Sargent, 1997), isto é, de legitimar uma outra

linguagem, uma outra lógica ou uma outra filosofia de vida, articulada a um outro conjunto de

práticas e valores – e a uma outra modalidade de tecnologia –, para circunscrever a experiência do

parto, com possíveis repercussões para as experiências mais amplas de maternidade e feminilidade.

O discurso e as práticas singulares das doulas desestabilizam em alguma medida a hegemonia do

paradigma tecnocrático, em nome da construção de um outro paradigma, reputado como mais

respeitoso, seguro e saudável. Tal paradigma, que corresponde a uma filosofia de vida distintiva,

fundamenta-se em um princípio simbólico feminino, holístico, que implica a aceitação daquilo que

não pode ser controlado ou conformado a padrões universais. Tudo indica, pois, que estamos diante

de uma possibilidade concreta de transformação da vivência e do imaginário social sobre o parto,

que desloca ou relativiza certas concepções cristalizadas, como a de dor de parto.

Eu gostaria de ressaltar que as imagens mobilizadas pela doula no excerto transcrito acima –

filtro, blindagem, veículo, colo, abraço, conforto, silêncio e comunicação do indizível – nos levam a

cogitar que a possível fragilidade deste momento de vida e, alternativamente, a força transcendente

que a mulher pode experimentar durante o trabalho de parto, constituem efeitos de relações, não

atributos intrínsecos a estados ou a um gênero, aproximando-se do conceito de afecção, tal como

formulado pelo filósofo Baruch de Espinosa (cf. G. Deleuze, 2002). Estou sugerindo que o

diferencial da tecnologia de relações empregada pelas doulas é o compromisso em promover o

“bom encontro”, ao maximizarem a capacidade agentiva da mulher que vai dar à luz, o que resulta

em alegria. Contrariamente, as situações de “violência obstétrica” podem ser concebidas como

“mau encontro”, aquele que destrói parte das relações que constituem um corpo, diminuindo sua

potência de agir.

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Ao realçarem a potência feminina contida no ato de parir, as doulas não apenas fazem elogio

ao poder de gerar e nutrir a vida, como também dão a ver a beleza do projeto de saúde de mulheres

que se recusam a ser tratadas como objeto de políticas de saúde misóginas. Essas mulheres agem

como sujeitos de sua própria vida e desejam mudar os parâmetros éticos do mundo onde seus filhos

e filhas crescerão, encarnando uma forma de criação e manutenção de relações sociais que envolve

as pessoas numa trama de interdependências mútuas e que deve ser analisada em suas dimensões

simbólica, histórica, moral, ética, afetiva, política, psicológica e estética, configurando uma

modalidade culturalmente diferenciada de constituição de relações (cf. Strathern, 2006).

Para concluir, gostaria de recuperar uma frase do obstetra Michel Odent que se tornou

lema do movimento em prol da humanização do parto: “Para mudar o mundo é preciso mudar a

forma de nascer”. Esta frase de alguma forma encontra eco no pensamento da saúde coletiva, que

propõe a construção de um outro marco ético, “humanizado”, articulado a um novo projeto de

sociedade (Diniz, 2005, p. 635), e permite compreender que aquilo que está em disputa, para além

do controle médico sobre as capacidades criativas femininas envolvidas no parto, é o modelo de

relação que norteia o conceito de cuidado. Se, para ser considerada humanizada, a relação deve

pressupor sujeitos completos implicados em uma interação horizontal, percebemos que aquilo que

se quer transformar, de uma forma mais radical, é o fundamento assimétrico, autoritário e por vezes

violento da noção de cuidado, estreitamente ligada à ideia de risco, que predomina na assistência à

mulher durante a gravidez e o parto prestada pelo sistema médico-hospitalar brasileiro. Desse

modo, pode-se aventar que o modelo de relação encarnado pelas doulas se constitui como uma

alternativa pertinente para nortear a reelaboração do conceito de cuidado (e todas as práticas,

imagens e modelos organizacionais e gerenciais a ele associados) a partir do balanceamento do

conceito de risco com conceitos como interdependência, abertura, confiança, potência, beleza,

movimento, alegria e vida, em consonância com o princípio da integralidade na assistência, um dos

pilares do Sistema Único de Saúde (SUS).

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“WOMEN KNOW HOW TO GIVE BIRTH, BABIES KNOW HOW TO BE BORN.” THE DOULAS AND THE

HUMANIZING MOVEMENT OF CHILDBIRTH IN BRAZIL.

Abstract: The communication starts from the hypothesis that the doulas mobilize in a singular way

certain concepts and images present in the humanization movement of childbirth in Brazil, which

has been gaining strength in the last two decades, through an organized activism in the form of a

network, with important repercussions in terms of female subjectivity, institutional laws and

regulations and also the production and circulation of images on childbirth. Doulas would be

engaging in a differential relationship of care among women, and then “putting in play” (Claude

Lefort, 1978) the dominant sense of being born in Brazil in the XXI century, by embodying a

cooperative relationship with the pregnant woman that aims at their empowerment. This reflection is

based on the interlocution with doulas that work in Brasilia (Brazil), is based on the collection

Childbirth and authoritative knowledge (Davis-Floyd & Sargent, 1997) and is inspired by ideas of

M. Strathern, D. Haraway, J. Tronto, E. Martin and G. Deleuze.

Key-words: Childbirth. Doula. Person. Female empowerment