“a nasa não é inacessível” · É o que afirma o ex-estudante da uel e, hoje, pesquisador da...

1
“A NASA não é inacessível” É o que afirma o ex-estudante da UEL e, hoje, pesquisador da Agência Aeroespacial Norte-americana Ivan Gláucio Lima: de estagiário a pesquisador da NASA para ser membro externo da banca de defesa de seu doutorado. A pesquisado- ra aceitou e a tese de Ivan foi bem recebida, o que favoreceu a idealização e, posteriormente, a apresentação de um projeto de pós-doutorado. O período de espera pela resposta do projeto de pós-doutorado também proporcionou a Ivan Lima a experiência de se tornar colega de trabalho de seus antigos professores. Ele retornou à UEL para atuar como docente, no Centro de Ciências Biológicas, antes de seguir para o Centro Ames de Pesquisas da NASA, onde começou seu estágio em agosto de 2011. Com o fim do pós-doutorado, o pesqui- sador aproveitou as férias de 2015 para visitar o Brasil, depois retornou à NASA em um novo projeto, como cientista visi- tante contratado pela empresa USRA. Em passagem por Londrina no final do ano passado, ele aproveitou para divulgar um concurso realizado anual- mente pela NASA para alunos de 12 a 18 anos. Em uma palestra aberta ao público e com grande participação de graduandos do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), que repassariam as informa- ções aos estudantes de Ensino Funda- mental e Médio das escolas onde atu- am, Ivan Lima resumiu toda sua carrei- ra em uma informação principal: a NASA não é tão inacessível quanto se pensa. Ele considera essencial que os estudantes brasileiros saibam disso. Por já ter sido um desses alunos, fascinado por astronomia e com um imaginário e uma idealização sobre as instituições de referência na área, ele se anima ao dizer que quando chegou na NASA achou o funcionamento mui- to mais familiar do que imaginava. “Apesar das técnicas mais avançadas e equipamentos mais sofisticados, em termos básicos o andamento do traba- lho nos laboratórios é muito semelhan- te ao que ele já conhecia”, diz. Por isso, ele quer evidenciar aos brasilei- ros que a NASA é mais acessível do que se pensa e a divulgação do con- curso voltado a crianças e adolescen- tes é uma boa maneira de começar essa desmistificação. Atualmente, Ivan trabalha em dois experimentos que serão realizados em órbita para testar os efeitos de diferen- tes níveis de gravidade no processo biológico. Essas pesquisas são funda- mentais para saber se o que conhece- mos da biologia funciona da mesma forma em outros planetas, o que poderá propiciar, por exemplo, o desenvolvi- mento de agricultura espacial e outras práticas essenciais para missões espa- ciais tripuladas a longo prazo. Ele ainda pretende participar de no- vas missões para explorar os efeitos de ambientes extraterrestres, mas como projeto futuro, outra área que o atrai é a investigação dos mecanismos de re- sistência à radiação. O foco das pes- quisas para o desenvolvimento de célu- las humanas sadias mais resistentes à radiação é melhorar a sobrevida dos astronautas, que sofrem os efeitos da radiação espacial. “Mas esse tipo de pesquisa poderia, posteriormente, be- neficiar o público em geral, pois o co- nhecimento pode ser aplicado, por exem- plo, a tratamentos médicos que utilizam a radioterapia, como é o caso do trata- mento de alguns tipos de câncer”, diz o pesquisador. PERFIL *ISABELA DE CLARET N atural da cidade de Marília, no inte- rior de São Paulo, Ivan Gláucio Paulino Lima sempre foi fascinado por astronomia e astrobiologia e, como ele costuma dizer, “calhou” de chegar ao melhor lugar do mundo para desenvol- ver pesquisas nessa área - a NASA, Agência Aeroespacial Norte-america- na. Apesar da fala despretensiosa, o atual cargo de Ivan não é nenhuma coincidência, ele tem uma longa trajetó- ria de trabalho até o Universities Space Research Association (USRA), em- presa que presta serviços para a NASA e pela qual ele é contratado atualmente. Ivan é formado em Biologia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), onde também fez o mestrado em Genética e Biologia Molecular, sob a orientação da professora Márcia Cristina Furlaneto. Seguiu para o doutorado, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e, como parte do programa de bolsa, também estudou durante um ano na Inglaterra. Na tese, Ivan analisava a condição de sobrevivência de micro- organismos resistentes a ambientes ex- traterrestres simulados e foi um contato que estabeleceu nesse período que o aproximou da agência aeroespacial nor- te-americana. Ele soube que a pesquisadora da NASA, Lynn Rothschild, estava no Bra- sil participando de um congresso e apro- veitou a oportunidade para convidá-la *Estagiária do curso de Jornalismo da UEL na COM

Upload: others

Post on 08-Jul-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: “A NASA não é inacessível” · É o que afirma o ex-estudante da UEL e, hoje, pesquisador da Agência Aeroespacial Norte-americana Ivan Gláucio Lima: de estagiário a pesquisador

“A NASA não é inacessível”É o que afirma o ex-estudante da UEL e, hoje, pesquisador da Agência Aeroespacial Norte-americana

Ivan Gláucio Lima: de estagiárioa pesquisador da NASA

para ser membro externo da banca dedefesa de seu doutorado. A pesquisado-ra aceitou e a tese de Ivan foi bemrecebida, o que favoreceu a idealizaçãoe, posteriormente, a apresentação de umprojeto de pós-doutorado.

O período de espera pela respostado projeto de pós-doutorado tambémproporcionou a Ivan Lima a experiênciade se tornar colega de trabalho de seusantigos professores. Ele retornou à UELpara atuar como docente, no Centro deCiências Biológicas, antes de seguirpara o Centro Ames de Pesquisas daNASA, onde começou seu estágio emagosto de 2011.

Com o fim do pós-doutorado, o pesqui-sador aproveitou as férias de 2015 paravisitar o Brasil, depois retornou à NASAem um novo projeto, como cientista visi-tante contratado pela empresa USRA.

Em passagem por Londrina no finaldo ano passado, ele aproveitou paradivulgar um concurso realizado anual-mente pela NASA para alunos de 12 a18 anos. Em uma palestra aberta aopúblico e com grande participação degraduandos do Programa Institucionalde Bolsa de Iniciação à Docência(PIBID), que repassariam as informa-ções aos estudantes de Ensino Funda-mental e Médio das escolas onde atu-am, Ivan Lima resumiu toda sua carrei-ra em uma informação principal: aNASA não é tão inacessível quanto sepensa. Ele considera essencial que osestudantes brasileiros saibam disso.

Por já ter sido um desses alunos,fascinado por astronomia e com umimaginário e uma idealização sobre asinstituições de referência na área, elese anima ao dizer que quando chegouna NASA achou o funcionamento mui-to mais familiar do que imaginava.“Apesar das técnicas mais avançadase equipamentos mais sofisticados, emtermos básicos o andamento do traba-lho nos laboratórios é muito semelhan-te ao que ele já conhecia”, diz. Porisso, ele quer evidenciar aos brasilei-ros que a NASA é mais acessível doque se pensa e a divulgação do con-curso voltado a crianças e adolescen-tes é uma boa maneira de começaressa desmistificação.

Atualmente, Ivan trabalha em doisexperimentos que serão realizados emórbita para testar os efeitos de diferen-tes níveis de gravidade no processobiológico. Essas pesquisas são funda-mentais para saber se o que conhece-mos da biologia funciona da mesmaforma em outros planetas, o que poderápropiciar, por exemplo, o desenvolvi-mento de agricultura espacial e outraspráticas essenciais para missões espa-ciais tripuladas a longo prazo.

Ele ainda pretende participar de no-vas missões para explorar os efeitos deambientes extraterrestres, mas comoprojeto futuro, outra área que o atrai éa investigação dos mecanismos de re-sistência à radiação. O foco das pes-quisas para o desenvolvimento de célu-

las humanas sadias mais resistentes àradiação é melhorar a sobrevida dosastronautas, que sofrem os efeitos daradiação espacial. “Mas esse tipo depesquisa poderia, posteriormente, be-neficiar o público em geral, pois o co-nhecimento pode ser aplicado, por exem-plo, a tratamentos médicos que utilizama radioterapia, como é o caso do trata-mento de alguns tipos de câncer”, diz opesquisador.

PERFIL

*ISABELA DE CLARET

Natural da cidade de Marília, no inte-rior de São Paulo, Ivan Gláucio

Paulino Lima sempre foi fascinado porastronomia e astrobiologia e, como elecostuma dizer, “calhou” de chegar aomelhor lugar do mundo para desenvol-ver pesquisas nessa área - a NASA,Agência Aeroespacial Norte-america-na. Apesar da fala despretensiosa, oatual cargo de Ivan não é nenhumacoincidência, ele tem uma longa trajetó-ria de trabalho até o Universities SpaceResearch Association (USRA), em-presa que presta serviços para a NASAe pela qual ele é contratado atualmente.

Ivan é formado em Biologia pelaUniversidade Estadual de Londrina(UEL), onde também fez o mestrado emGenética e Biologia Molecular, sob aorientação da professora Márcia CristinaFurlaneto. Seguiu para o doutorado, naUniversidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ) e, como parte do programa debolsa, também estudou durante um anona Inglaterra. Na tese, Ivan analisava acondição de sobrevivência de micro-organismos resistentes a ambientes ex-traterrestres simulados e foi um contatoque estabeleceu nesse período que oaproximou da agência aeroespacial nor-te-americana.

Ele soube que a pesquisadora daNASA, Lynn Rothschild, estava no Bra-sil participando de um congresso e apro-veitou a oportunidade para convidá-la

*Estagiária do curso de Jornalismo daUEL na COM