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EURE ISSN: 0250-7161 [email protected] Pontificia Universidad Católica de Chile Chile Frey, Márcia Rosane; Wittmann, Milton Luiz Gestão ambiental e desenvolvimento regional: uma análise da indústria fumageira EURE, vol. XXXII, núm. 96, agosto, 2006, pp. 99-115 Pontificia Universidad Católica de Chile Santiago, Chile Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=19609606 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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EURE

ISSN: 0250-7161

[email protected]

Pontificia Universidad Católica de Chile

Chile

Frey, Márcia Rosane; Wittmann, Milton Luiz

Gestão ambiental e desenvolvimento regional: uma análise da indústria fumageira

EURE, vol. XXXII, núm. 96, agosto, 2006, pp. 99-115

Pontificia Universidad Católica de Chile

Santiago, Chile

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=19609606

Como citar este artigo

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Sistema de Informação Científica

Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal

Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

[99]

Tema central

Revista eure (Vol. XXXII, Nº 96), pp. 99-115. Santiago de Chile, agosto de 2006

Márcia Rosane Frey*

Milton Luiz Wittmann* *

Gestão ambiental e desenvolvimento regional:uma análise da indústria fumageira* * *

Abstract

The present study is inserted in the field of regional development and makes an analysis of the environmentalmanagement performed by the tobacco industries located in the region of Vale do Rio Pardo in the State of RioGrande do Sul (Brazil), which has the particularity of being the main tobacco producer in Brazil. It has beenrealized that the tobacco industry is recognizing the importance of the environmental aspect in its decisions and,in this way, besides the recognition in the economic context, it is showing concern about the environmentalmanaging, through initiatives that aim the preservation of the environment and the improvement of quality oflife of its employees as well as of the worker in the field, the farmer. As work methodology it was decided to doinitially a theoretical essay involving the systemic approach and the regional development, followed by a casestudy with a description of the environmental management practices of the industries that cause impact in thetobacco farmer’s activities.

Keywords: environmental managing, regional development, tobacco industry.

Resumo

O presente estudo se insere no campo de desenvolvimento regional, o qual faz uma análise da gestãoambiental praticada pelas indústrias fumageiras instaladas na região do Vale do Rio Pardo do Estado do RioGrande do Sul, que se particulariza como a principal produtora de fumo do Brasil. Constata-se que aindústria fumageira está reconhecendo a importância da questão ambiental e, nesse sentido, além de sedestacar no contexto econômico, vem demonstrando sua preocupação com a gestão do meio ambiente,divulgando iniciativas que visam à preservação do meio ambiente e à melhoria da qualidade de vida tantode seus trabalhadores como também do homem do campo, o fumicultor. Como metodologia de trabalho,adotou-se inicialmente fazer um ensaio teórico envolvendo a abordagem sistêmica e o desenvolvimentoregional, seguido de um estudo de caso, com uma descrição das práticas de gestão ambiental adotadas pelasindústrias que impactam nas atividades do fumicultor.

Palavras-chave: gestão ambiental, desenvolvimento regional, indústria fumageira.

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Márcia Rosane Frey y Milton Luiz Wittmann

1. Introdução

A preservação do meio ambiente e a gestãoambiental vêm obtendo maior importância na indústria brasileira. Os resultados da Pes-

quisa Gestão Ambiental na Indústria Brasileira, reali-zada em 1998 pelo Banco Nacional de Desenvolvi-mento Econômico e Social (BNDES), pela Confe-deração Nacional da Indústria (CNI) e pelo ServiçoBrasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas(SEBRAE), indicam que aproximadamente 85% dasmédias e grandes empresas adotam algum procedi-mento de gestão ambiental.

Outra evidência a ser considerada no Brasil é acrescente busca da certificação ambiental, por meioda ISO 14001 que, em 2003, atingiu a marca de1000 empresas certificadas, cujo crescimento se acen-tuou nos dois últimos anos. Segundo estatísticas dascertificações por região, as empresas situadas na re-gião sul do Brasil possuem 17,2% das certificações,ocupando a segunda posição, ao lado da região su-deste, que detém 60% (Revista Meio Ambiente In-dustrial, 2003).

Entretanto, os problemas ambientais enfrenta-dos atualmente não são novos, apenas a compreen-são da sua complexidade é recente. Tendo-se presen-te a preocupação de como o desgaste ambiental podeimpedir ou reverter o desenvolvimento econômico esocial, especificamente na questão do desenvolvimen-to regional, Becker (2001) ressalta que, entre osmúltiplos e complexos caminhos e descaminhos de-correntes da necessidade de tornar sustentável o de-senvolvimento, a degradação ambiental é um dosmais desafiadores. Operar de forma equilibrada como meio ambiente constitui-se numa questão primor-dial que pressiona as organizações, sejam estas públi-cas ou privadas.

Na visão de Kinlaw (1997: 19), “a maneira comoas organizações irão responder aos muitos desafiosdecorrentes desta questão vai determinar, em muito,sua situação competitiva e sua sobrevivência”. Oentendimento de Kinlaw (1997) encontra respaldoe base nos estudos sobre competitividade realizadospor Porter e Van der Linde (1999), que, ao discuti-rem a regulamentação ambiental, apontam que amaneira como as empresas respondem aos proble-mas ambientais seja, talvez, de fato um indicador-chave da sua competitividade.

As empresas, que se ajustam a esse novo ambien-te de negócios, percebem cada vez mais que, diantedas questões ambientais, há novas estratégiasconcorrenciais associadas a processos de renovaçãocontínua. Essas questões, segundo Sanches (2000),podem ser impostas por meio de regulamentaçõesambientais, oriundas de uma imagem pública nega-tiva e ou gerenciada internamente, mediante me-canismos de auto-regulação ou por ações individu-ais, assumindo uma postura pró-ativa.

Na análise de Layrargues (2000), o setor empre-sarial vem promovendo uma mudança desde o iní-cio da década de 90, quando assumiu uma atitudepositiva sobre o meio ambiente, não mais compulso-riamente, por causa da legislação ambiental e sim,por vislumbrar oportunidades de negócios ao agre-gar a variável ambiental.

O interesse pela qualidade ambiental foi reforça-do com a globalização da economia, que desenvol-veu um mercado mundial sem fronteiras, provocan-do um forte acirramento da competição empresarial,alicerçada no domínio das inovações tecnológicas quepassaram a utilizar critérios ambientais. A aberturados mercados pela globalização da economia acaboucriando a série ISO 14000, “mecanismo capaz deatuar como um fator regulador da competição,normatizador das práticas de marketing e limitadordas barreiras comerciais no mercado” (Layrargues,2000: 82).

Especificamente em relação ao setor fumageiroque, segundo entendimento de Etges (2001), im-prime identidade à região do Vale do Rio Pardo comoa principal produtora de fumo do país, verifica-seque a questão ambiental tem recebido atenção nacondução dos negócios. Nesse contexto, o presente

* Professora do Departamento de Ciências Contábeis,Universidade de Santa Cruz do Sul (Brasil). E-mail:[email protected]

** Professor dos Programas de Pós-Graduação emDesenvolvimento Regional, UNISC/Programa de Pós-Graduação em Administração e Engenharia de Produção,Universidade Federal de Santa Maria (Brasil). E-mail:[email protected]

*** Enviado el 1 de marzo de 2005, aprobado el 20 demarzo de 2006.

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artigo descreve os principais procedimentos de ges-tão ambiental vinculados ao sistema integrado deprodução das indústrias fumageiras instaladas naregião do Vale do Rio Pardo, no qual inicialmenteapresenta-se um ensaio teórico envolvendo a abor-dagem sistêmica e o desenvolvimento regional. Comoprocedimento para o levantamento de dados op-tou-se pelo estudo de caso, que possibilitou lidarcom uma variedade de evidências, no qual foramutilizados a análise de documentos, entrevistas eobservações diretas.

2. Abordagem sistêmica e a gestãoambiental

A consciência, que se retrata atualmente sobre omeio ambiente e o desenvolvimento sustentável, éresultado de uma construção que passou pela contri-buição dos movimentos ambientalistas mundiais epela elaboração de um pensamento oficial do Estado.As mudanças na gestão ambiental não ficaram a mer-cê das iniciativas empresariais; estas, pelo contrário, seajustaram às novas legislações impostas pelo Estado eàs pressões da sociedade sobre esse problema, influen-ciadas pelas principais conferências internacionais so-bre o meio ambiente e pelos estudos realizados desde1970, como o Relatório do Clube de Roma-limitesdo crescimento; a Declaração de Estocolmo; o Relató-rio de Brundtland-Nosso futuro comum; a Declaraçãodo Rio; e a Agenda 21.

O pensamento sobre o desenvolvimento susten-tável tem sua base no Relatório de Brundtland-Nos-so Futuro Comum, o qual afirma que o desenvolvi-mento sustentável é aquele que “atende às necessida-des do presente sem comprometer a possibilidadede as gerações futuras atenderem suas próprias ne-cessidades” (CMMAD, 1991: 46). De acordo comBello (2001), foi no Relatório Nosso Futuro Comumque apareceu a primeira chamada para a indústriadesenvolver efetivamente sistemas de gerenciamentoambiental.

Para as empresas, segundo Maimon (1996), asvantagens do sistema de gestão ambiental sãoorganizacionais, redutoras de custos de operação,minimizadoras de acidentes e competitivas. A gestãoambiental busca, por meio de planejamentoorganizacional, encontrar novas alternativas que tor-nem as empresas mais competitivas e com menor

incidência na geração de problemas ambientais. Gran-de parte da redução do custo de operação, na gestãoambiental, é obtida a partir da eliminação de resídu-os industriais que são gerados por meio de processosineficientes e da má utilização da matéria-prima que,além de não adicionarem valor ao produto, geramdespesas quanto à sua destinação, aumentando in-clusive a taxa de risco ambiental.

O gerenciamento de sistemas ambientais dasempresas é resultado do mercado globalizado quepassou a exigir das empresas, certificados de preser-vação do meio ambiente, ressaltando que “as empre-sas que respeitam as leis e defendem a ecologia efazem algo por ela, podem conquistar os certificadosoferecidos pela norma ISO série 14000. Assim ad-quirem uma enorme vantagem competitiva, poisconseguem o respeito dos consumidores”.

O processo de implementação da série ISO14000 passa pela elaboração de Sistemas de GestãoAmbiental (SGA), previstos na NBR ISO 14001.Na opinião de Lerípio (2000: 28), esse processo seconstitui numa estratégia “para que o empresário,em processo contínuo, identifique oportunidadesde melhorias que reduzam os impactos das ativida-des de sua empresa sobre o meio ambiente, de formaintegrada à situação de conquista de mercado elucratividade”.

A ISO 14001, assim como as demais normasinternacionais de gestão ambiental, tem por objeti-vo prover as organizações com um sistema de gestãoambiental passível de integração com qualquer ou-tro requisito de gestão, de forma a auxiliá-las a alcan-çar seus objetivos ambientais e econômicos. A prin-cipal finalidade da ISO 14001 é equilibrar a prote-ção ambiental e a preservação da poluição com asnecessidades socioeconômicas da organização.

Entretanto, um dos problemas apontados comos quais as organizações se defrontam na gestãoambiental é a visão segmentada que a maioria pos-sui de si mesma. No entendimento de Andrade,Carvalho e Tachizawa (2000), as organizações de-vem adotar uma visão sistêmica, abrangente eholística, que possibilite visualizar as relações causae efeito, o início, o meio e o fim, ou seja, as inter-relações entre recursos captados, processos e valorespor elas obtidos.

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Segundo Capra et al. (1999: 88), a gestãoambiental, no seu sentido mais profundo e amplo,denominada pelos autores como gerenciamento eco-lógico, envolve a passagem do pensamento mecanicistapara o pensamento sistêmico, no qual “um aspectoessencial dessa mudança é que a percepção do mundocomo máquina cede lugar à percepção do mundocomo sistema vivo”. Para os autores, essa mudançarefere-se à percepção que as pessoas possuem da natu-reza, do organismo humano, da sociedade e, portan-to, à percepção que se tem de uma organização: “Asempresas são sistemas vivos, cuja compreensão não épossível apenas pelo prisma econômico. Como siste-ma vivo, a empresa não pode ser rigidamente contro-lada por meio de intervenção direta, porém pode serinfluenciada pela transmissão de orientações e emis-são de impulsos” (Capra et al., 1999: 88).

O enfoque sistêmico para Dias (1985) é total-mente compatível com o antigo (Gregos), no qual oconhecimento acumulado pela humanidade não eradeixado de lado, mas sim ampliado pela possibilida-de de serem descobertas relações que explicassemmelhor o funcionamento do todo. Já com Descartes,passou a predominar a especialização gerada pela frag-mentação das ciências, baseada no modelo cartesianoque privilegiava a linearidade do conhecimento; en-tretanto, hoje se estimulam a interdisciplinaridade ea transdisciplinaridade que privilegiam a integraçãode campos de estudo. Para Schoderbek, a Ciência deSistemas é composta de dois campos principais dedesenvolvimento teórico: a Teoria Geral de Sistemas,cujo pai é Ludwig von Bertalanffy, que se ocupa docrescimento e da evolução dos sistemas, e a Ciber-nética, cujo pai é Norbert Wiener, entendida como aciência do controle e da comunicação no animal e namáquina (apud Dias, 1985).

Segundo Churchman (1972), existem váriosentendimentos e definições do enfoque sistêmico.Ao discutir “sistemas”, o autor examina quatro idéiasdiferentes relativas ao enfoque sistêmico, respectiva-mente: a visão da eficiência, da ciência, do uso dossentimentos humanos e dos antiplanejadores. Em-bora o termo “sistema” tenha sido definido de váriasmaneiras, Churchman (1972: 50) afirma que todosos definidores concordam que um sistema “é umconjunto de partes coordenadas para realizar umconjunto de finalidades”.

O princípio da transdisciplinaridade, tambémpresente na teoria dos sistemas, representa, segundoSeiffert (2002), uma importante característica quevem ao encontro de necessidades que surgem ao selidar com as variáveis ambientais e seus inter-relacio-namentos com o contexto organizacional. Confor-me a autora, estudiosos da questão ambiental, comoSacks, Godart e Leff, reconhecem na abordagemsistêmica uma matriz de organização do conheci-mento interdisciplinar, necessária ao planejamento eà análise da gestão ambiental.

Para as organizações, a visão sistêmica representauma forma de analisar o meio ambiente e definircenários prováveis de longo prazo. Conforme Capraet al. (1999), a realidade não deve ser vista apenascomo uma reunião de objetos separados, mas simcomo uma teia inseparável de relações, incluindo avida: “Os sistemas vivos compreendem organismosindividuais, sistemas sociais e ecossistemas, e consti-tuem conjuntos integrados inseridos em conjuntosmaiores, dos quais dependem. Embora possamosdiscernir partes individuais em qualquer sistema, anatureza do todo é sempre diferente da simples somadas partes. A natureza de qualquer sistema vivo, in-cluída aí a organização de negócios, deriva das rela-ções entre seus componentes e das relações do siste-ma todo com seu ambiente”.

Segundo Andrade, Carvalho e Tachizawa (2000:90), “a organização deve ser visualizada como umconjunto de partes em constante interação, consti-tuindo-se em um todo orientado para determinadosfins, em permanente relação de interdependênciacom o ambiente externo”. Na concepção de Backer(1995), desde o homo sapiens, a interação entre ativi-dade humana e o seu meio ambiente foi fator domi-nante na moldagem de um pelo outro. Entretanto,quando essa atividade, por força da sua organização,começou a denominar-se “empresa”, ela tornou-seinevitavelmente um elo essencial na cadeia de equi-líbrio do meio ambiente como um todo.

A empresa não é um sistema que possa ser sepa-rado do resto do ecossistema. Ao contrário, comocaracteriza Backer (1995), ela é o lugar de conver-gência e, muitas vezes, de conflagração das contradi-ções e dos conflitos entre grupos e pessoas com inte-resses parcialmente opostos. As contradições que sedeflagram dentro de uma organização são, na visão

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de Capra et al. (1999), sinais de sua variedade evitalidade e dessa forma contribuem para a viabili-dade do sistema, afirmando que, sem conflitos, nãohá desenvolvimento algum.

De acordo com Andrade, Carvalho e Tachizawa(2000), o enfoque sistêmico é o embasamento filo-sófico do modelo de gestão ambiental, no qual acompreensão do todo é mais importante do que omero conhecimento das partes. Nesse enfoque, aorganização é considerada como um macrossistemaaberto que interage com o meio ambiente, conver-tendo recursos em produtos, bens e serviços, em con-sonância com seu modelo de gestão, missão, crençase valores corporativos.

3. Desenvolvimento regional e gestãoambiental na fumicultura

Freqüentemente a idéia de desenvolvimento éreduzida a desenvolvimento econômico, esse enten-dido como um processo de crescimento econômico,reduzido a indicadores quantitativos como renda enível de emprego, capacidade produtiva e popula-ção. Muito se tem discutido sobre uma concepçãoalternativa de desenvolvimento, oriunda, segundoLima (1997), dos resultados insatisfatórios e das con-tradições reveladas na experiência prática e nas cons-truções teóricas sobre desenvolvimento econômico,baseado no paradigma único de crescimento, quefindaram convergindo para a concepção de desen-volvimento sustentável.

Paralelamente à concepção de desenvolvimentosustentável, tem ressurgido às discussões o conceitode região, explicada, segundo Castro (1994: 158),pela “crescente importância da escala planetária naorganização da economia, das finanças, das redes depoder que têm, paradoxalmente, reforçado a impor-tância das decisões nas escalas regionais e locais”. Emrelação às discussões em torno da conceituação deregião, Etges (2001: 351) também salienta que asmesmas vêm se acentuando ao longo da última dé-cada, particularmente no sul do Brasil onde, atravésde várias iniciativas, “a discussão da regionalização,visando à descentralização político-administrativa,através da gestão democrático-participativa do terri-tório, está na ordem do dia”.

No entendimento de Etges (2001), aconceituação de região tem duas fases distintas: a

primeira é oriunda do processo de ocupação do ter-ritório, no qual as condições físicas ou naturais prati-camente determinavam o uso do território; e a se-gunda identifica a região pelas suas marcas que seimprimem à medida que a sociedade vai se apropri-ando de determinado território. Essas marcas, se-gundo a autora, revelam o uso que foi dado e quevem sendo dado atualmente a esse território, deter-minado por interesses econômicos, sociais, políticose culturais. Theis e Renck (2002) tratam o conceitode região como uma localidade de um lugar, quecorresponde a uma área geográfica de extensãosubnacional, que apresenta um determinado graude desenvolvimento, associado à presença de umacomunidade de indivíduos e de suas atividadessocioeconômicas.

Especificamente, no que se refere à desenvolvi-mento regional, os autores afirmam “que se trata doprocesso de acumulação que tem lugar no espaço deuma dada região; em outros termos, por desenvolvi-mento regional se entende o processo localizado demudança social sustentável, que tem como propósi-to o progresso permanente de uma comunidade [ede seus respectivos membros] que vive num deter-minado espaço regional” (Theis e Renck, 2002: 5).

Considerando que o debate sobre desenvolvi-mento regional vem ocupando o meio acadêmico eos discursos de políticos, Mattedi e Theis (2002)ampliam o conceito, assumindo que o mesmo con-tém, além de um caráter objetivo, uma dimensãonormativa. Concluem que o desenvolvimento regi-onal é uma categoria interdisciplinar que favorece aaproximação de diversas áreas de conhecimento.Nesse sentido, Becker (2001), ao discutir e refletirsobre a economia política da regionalização do de-senvolvimento contemporâneo, também afirma jánão ser mais possível se fazer a análise de uma deter-minada dinâmica de desenvolvimento regional mu-nido de um único instrumental teórico-metodológicodisciplinar.

Para Becker (2001: 40), o desenvolvimento re-gional deve ser entendido como um processo detransformações econômicas, sociais e políticas, “cujadinâmica é imprimida desde ‘de dentro e por inicia-tiva própria’ dos agentes locais, manifesta nas ‘mu-danças estruturais ou qualitativas’ que um desenvol-vimento regional sofre a partir de ‘alterações

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endógenas’”. Em outros termos, descreve Becker queo processo de desenvolvimento recente, em que rei-na absoluto o modo de produção capitalista, tem nodesenvolvimento local sua forma elementar.Exemplificando, afirma que “o desenvolvimento lo-cal é a aparência singular, elementar e individualiza-da da complexa trama/rede de determinações e rela-ções que organizam e dinamizam o desenvolvimen-to contemporâneo globalizado” (Becker, 2001: 40).

Em sua análise, Becker (2001: 32) salienta anecessidade de se tornar sustentável o desenvolvi-mento regional, no qual se têm dois grandes desafi-os: os relativos ao mundo do trabalho e os decorren-tes da degradação ambiental: “Simultaneamente, tra-balho, enquanto base social do processo de desen-volvimento humano, e natureza, enquanto base na-tural do processo de desenvolvimento regional, trans-formaram-se em desafios ambientais da localizaçãodo desenvolvimento capitalista”.

Becker (2001) parte do pressuposto de que oprocesso de regionalização socioambiental do desen-volvimento capitalista é, por um lado, necessidadedo processo de globalização econômica e, por outro,possibilidade de um desenvolvimento local diferen-ciado e diferenciador.

No contexto de desenvolvimento regional, in-clui-se na discussão a gestão ambiental no setorfumageiro. A produção do fumo, segundo entendi-mento de Etges (2001), imprime identidade à re-gião do Vale do Rio Pardo, que se particulariza frenteàs demais regiões do Estado do Rio Grande do Sul,consolidando-se como a principal produtora de fumodo Brasil. Além de se destacar no contexto econômi-co, nos últimos anos, o setor fumageiro vem demons-trando sua preocupação com a questão ambiental,divulgando iniciativas que visam à preservação domeio ambiente e à melhoria da qualidade de vida dohomem do campo e buscando a certificaçãoambiental, através da ISO 14001.

As iniciativas que vêm sendo divulgadas estãodiretamente ligadas à produção do fumo, junto aosfumicultores vinculados, como redução e elimina-ção de agrotóxicos, introdução do uso de agentes decontrole biológico, uso de cultivares resistentes àsprincipais doenças, monitoramento de resíduos depesticidas, uso de equipamentos de proteção indivi-dual (EPIs), adoção de práticas de preservação e con-

servação do solo e reflorestamento e preservação dematas nativas.

Um aspecto importante na definição de priori-dades e estratégias para a gestão ambiental, em nívelde empresa, é a identificação e a avaliação dos impac-tos ambientais causados pelas suas atividades. Paraessa finalidade, um instrumento que pode ser utili-zado é a avaliação do “ciclo de vida” dos produtos.Essa metodologia implica a avaliação dos impactosambientais gerados pelo produto da empresa em todoo seu ciclo de vida, desde os insumos que são utiliza-dos para a sua elaboração, passando pelos processosde transformação, pela distribuição, utilização e dis-posição final dos produtos. Com base nessametodologia, os impactos de uma indústria fumageiraenvolveriam desde o processo de produção do fumoem folha, no qual se verifica a aplicação de agrotóxicose seus efeitos sobre o meio ambiente e a saúde dosprodutores, a queima de madeira para secagem dasfolhas, passando pelo beneficiamento e pela fabrica-ção do cigarro, até o consumo dos cigarros e seusefeitos sobre a saúde e a disposição final dos resíduose das embalagens (Souza, 2000).

Conforme estudos realizados, vários são os moti-vos que têm conduzido as ações de gestão ambientalnas empresas. No início da década de 90, Neder,citado por Souza (2000), pesquisou organizaçõesindustriais de grande porte de todo país, nas quaisconstatou que as ações ambientais das empresas con-centravam-se na modernização dos sistemas de con-trole da poluição, como resultado das exigências daregulamentação ambiental. Em outra pesquisa reali-zada em 1998 pelo CNI/BNDES/SEBRAE, comempresas de todo o país, de todos os setores e tama-nhos, as exigências das regulamentações ambientaisainda figuram entre as principais razões da adoçãode procedimentos ambientais. No entanto, a maio-ria das indústrias de médio e grande porte, tem napolítica social da empresa uma razão mais destacadapara a melhoria da performance ambiental da empre-sa. As grandes empresas também enfatizaram que oacesso à exportação e o atendimento ao consumidoratento à preocupação ambiental são razões para aadoção de procedimentos de gestão ambiental.

Souza (2000) ratifica que as empresas não bus-cam uma melhor gestão ambiental por algum al-truísmo que possam ter, ou pela sua repentina preo-

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cupação com os problemas ambientais. Os objetivosdas empresas continuam sendo os mesmos, focadosem resultados, lucros, liderança, sobrevivência nolongo prazo, ampliação de mercado, dentre outros.Para que as empresas possam continuar realizandoesses objetivos, elas são forçadas a melhorar o seudesempenho ambiental. Souza (2000) sintetiza osprincipais condicionantes da postura ambiental emquatro fatores: a) a necessidade de reduzir custos;b) a necessidade de manter-se em dia com as regula-mentações ambientais; c) a possibilidade de melho-rar a imagem da empresa, e d) a necessidade de de-senvolver produtos mais saudáveis e de melhor qua-lidade.

Porter e Linde (1999) relacionam meio ambien-te com competitividade. Para os autores, conside-rando que a tecnologia se encontra em constanteprocesso de mudança, o novo paradigma dacompetitividade global realça a capacidade de ino-vação empresarial, entrelaçando a melhoria ambientalcom competitividade. “O progresso ambiental exigeque as empresas sejam inovadoras para aumentar aprodutividade dos recursos –e é exatamente nesseponto que se situam os novos desafios dacompetitividade global” (Porter e Linde, 1999: 395),ou seja, a competição internacional mudou nas últi-mas décadas, evidenciando, no entendimento dePorter e Linde, que melhorias na gestão ambientalsão um bom negócio.

Schmidheiny (1992), ao discutir o desenvolvi-mento sustentável como atividade empresarial em1992, indica que as empresas estão se comunicandomais abertamente com seus stakeholders. Nas pala-vras de Ben Woodhouse, elas estão começando aentender que “o grau de avaliação positiva ou nega-tiva com que uma empresa é julgada, quanto à suaparticipação na resolução das questões desustentabilidade, determinará, em larga medida, asua viabilidade em longo prazo” (apud Schmidheiny,1992: 11).

O desafio ambiental se ampliou da poluição localpara as ameaças globais. Nesse contexto, o desafioempresarial associado ao desenvolvimento sustentá-vel, no entendimento de Schmidheiny (1992), seráalcançado mediante a cooperação entre pessoas e to-das as suas diversas organizações, incluindo-se as em-presas privadas e os governos. A cooperação entre pes-

soas e organizações também é apontada por Souza(2000: 421), ao discutir a questão ambiental e asempresas, sendo que “a solução dos problemasambientais não se encontra no nível de um ou outroagente econômico apenas, mas dispersa entre todos osagentes econômicos e sociais, no mundo”. Em outrostermos, a gestão ambiental, na busca de um desenvol-vimento sustentável, parte de iniciativas de governos,ações das comunidades locais, ações multilaterais einternacionais e ações das próprias empresas.

4. Análise da gestão ambiental daindústria fumageira

Para o levantamento dos dados, tanto para oseconômicos como os relativos a práticas de gestãoambiental, recorreu-se metodologicamente a váriasevidências, como: a) análise bibliográfica e de docu-mentos, nos quais foram acessadas pesquisas especí-ficas realizadas para o setor, pela Universidade deSanta Cruz do Sul (UNISC) e pela UniversidadeFederal de Santa Maria (UFSM), Relatórios de Ati-vidades da Associação dos Fumicultores do Brasil(Afubra), Jornais Informativos do Sindicato da In-dústria do Fumo (Sindifumo), Anuários Brasileirosdo Fumo, Balanços e Relatórios Sociais e Ambientaisde empresas que os elaboram e publicam, bem comoreportagens de jornais locais; b) entrevistas com re-presentantes da Afubra e Sindifumo, dirigentes exe-cutivos de algumas empresas fumageiras e produto-res vinculados, e c) observação direta, no qual foramvisitadas algumas propriedades de fumicultores, como objetivo de verificar in loco as práticas ambientaisadotadas pela indústria fumageira, especificamenteas relativas ao Sistema Integrado de Produção (SIP),objeto de análise do presente estudo.

4.1. Uma descrição da fumicultura na região sul doBrasil

Dada a importância econômica do setorfumageiro na Região do Vale do Rio Pardo do Esta-do do Rio Grande do Sul, bem como nos demaisEstados da região Sul do Brasil, apresentam-se inici-almente alguns dados gerais sobre a fumicultura nessaregião, integrada pelos Estados do Rio Grande doSul (RS), Santa Catarina (SC) e Paraná (PR).

O setor fumageiro integra fortemente a economiaregional do Vale do Rio Pardo, bem como a economiada região Sul do Brasil, compreendida pelos Estados

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do Rio Grande do Sul (RS), Santa Catarina (SC) eParaná (PR), contribuindo significativamente para ageração de empregos e renda. A produção de fumodos três Estados do Sul vem evoluindo a cada safra,conforme demonstrado no Quadro 1, totalizando nasafra 2004-2005, 3 bilhões e 650 milhões de reaispara 198.040 produtores de 789 municípios, con-forme pode ser visualizado na Figura 1, proporcio-nando uma renda média bruta familiar deR$ 18.431,35. A cultura do fumo se caracteriza pelaprodução familiar e absorção maciça de mão-de-obraem pequenas propriedades, situadas em grande parteem regiões de topografia acidentada, o que dificulta amecanização (Anuário Brasileiro do Fumo, 2005).Segundo Vogt (2000), dada a sua característica deprodução, de não exigir mecanização e de necessitarapenas de uma pequena fração de terra da proprieda-de, a fumicultura torna-se, muitas vezes, a única alter-nativa de manutenção de agricultores no campo.

Outra característica da cultura do fumo é o cur-to ciclo da lavoura, que permite que a mesma terraseja ocupada com duas culturas durante o ano, ocu-pando em média 16% da propriedade, represen-tando 67% da renda familiar. É possível, após a co-lheita do fumo, o plantio do milho ou feijão desafrinha, aproveitando o resíduo da fertifização, oque resulta numa cultura com baixo custo de pro-dução.

Com o objetivo de conhecer o perfil dosfumicultores da região sul do Brasil, vem promo-vendo desde o ano de 2002, a cada biênio, um le-vantamento sócio-econômico dos seus associados.Esse levantamento é realizado pelo Núcleo de Pes-quisa Social da Universidade de Santa Cruz do Sul,por meio de uma amostra representativa, seleciona-da aleatoriamente entre os produtores associados daAfubra em cada biênio, considerando-se uma mar-

Figura 1. Municípios produtores de fumo na Região Sul.

Fonte: Afubra (2006).

Quadro 1. Evolução da produção de tabaco nas últimas safras na Região Sul do Brasil.

Safras Famílias produtoras Hectares plantados Toneladas produzidas 01/02 153.130 304.510 635.110 02/03 170.830 353.810 600.540 03/04 190.270 411.290 851.060 04/05 198.040 439.220 842.990

Fonte: Anuário Brasileiro do Fumo (2005).

PR

RS

SC

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6%10%

17%

18%8%

18%

7%

16%Açudes e áreas descanso

Mata reflorestada

Mata nativa

Pas tagens

Outras culturas

Milho

Feijão

Fum o

gem de erro da amostra de 3,5% e um nível deconfiança de 95%. Segundo os resultados do levan-tamento de 2004, a exploração das propriedadesminifundiárias, com área em média de 16,9 hecta-res, é bem diversificada, conforme pode servisualizado na Figura 2.

Em termos ambientais, uma significativa parce-la da propriedade é destinada para mata nativa ereflorestada, em média 27%, totalizando umpercentual superior ao exigido pela legislação brasi-leira, a título de reserva legal. Conforme legislação,todas as propriedades devem ter 20% de suas áreascobertas com florestas, podendo ser áreas nativas,reflorestadas, de erva-mate, de pomar, ou de qual-quer outra espécie. A área destinada ao cultivo do

fumo representa em média 16% da propriedade,sendo a maior parte ocupada por outras culturas,principalmente pelo milho e feijão.

Os levantamentos realizados nas duas pesquisasrealizadas pelo Nupes/Unisc mostram que a maioriados produtores possui uma agricultura diversifica,tendo a sua disposição 2.672.550 hectares de terra,nos quais apenas, 16% em média, é ocupada pelofumo, sendo uma boa parte destinada a outras cul-turas, como o milho, feijão, soja, mandioca ehortifrutigranjeiros, ocupando essas em média 35%da área da propriedade. Outro fato destacado pelosetor é a parceria de 39.650 famílias produtoras quenão possuem terra e trabalham em regime de parcei-ra, encontrando na fumicultura uma forma de se

Figura 2. Linhas de exploração do fumicultor na região Sul do Brasil.

Fonte: Nupes/Unisc (2004).

Quadro 2. Números gerais da fumicultura sul-brasileira safras (2003-2004 e 2004-2005).Especificação UNIDADES Safra 2003-2004 Safra 2004-2005Municípios produtores unidades 759 787Nº de propriedades unidades 152.650 158.390Famílias produtoras unidades 190.270 198.040Pessoas ocupadas unidades 799.140 831.770Nº de estufas unidades 167.090 185.810Área das propriedades hectares 2.635.250 2.672.550Cobertura florestal hectares 713.380 711.100Área com outras culturas hectares 1.510.580 1.522.230Área com fumo hectares 411.290 439.220Toneladas produzidas toneladas 851.060 842.990Preço médio do fumo R$ / Kg 4,24 4,33Valor bruto da safra de fumo R$ 3.608.494.400 3.650.146.700Valor da produção vegetal/animal R$ 1.542.190.000 1.753.535.690Valor bruto total R$ 5.150.684.400 5.403.682.390Valor bruto total por família R$ 27.070,40 27.285,81Valor/ha da produção vegetal/animal R$ 1.020,93 1.151,95Valor por hectare de fumo R$ 8.773,60 8.310,52Produtividade/fumo Kg/hectares 2.069 1.919Tamanho das propriedades hectares 17,3 16,9Fonte: Afubra (2006).

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integrarem ao meio rural (Anuário Brasileiro doFumo, 2005). No Quadro 2 podem ser visualizadosnúmeros gerais da fumicultura sul-brasileira, refe-rentes á safra 2003-2004 e 2004-2005.

Segundo dados do Sindifumo (2004), o Brasil éo maior exportador de fumo em folha do mundo,com compradores em mais de 70 países, e o segundono ranking dos maiores produtores, superado ape-nas pela China. A produção do fumo se concentranos três Estados do Sul do Brasil: Rio Grande doSul, Paraná e Santa Catarina. Entre os maiores pro-dutores de fumo do Estado do Rio Grande do Sulencontram-se os municípios de Venâncio Aires,Candelária e Santa Cruz do Sul, concentrando omaior complexo de beneficiamento de fumo domundo.

Economicamente as empresas do setor fumageirose destacam no ranking das 500 maiores exportado-ras brasileiras, o que assegurou em 2005, para SantaCruz do Sul conhecida como a capital do fumo, o

segundo lugar como município que mais exportouno Estado do Rio Grande do Sul. No Quadro 3 sãoapresentados dados gerais da evolução da produçãoe exportação do fumo na região sul do Brasil, refe-rente ao período de 1995 a 2005 e no Quadro 4 aposição das empresas fumageiras da região do Valedo Rio Pardo que estão entre as 500 maiores expor-tadores do Brasil.

Além do aspecto das exportações, de acordo comAfubra (2004), o setor fumageiro presta importantecontribuição social, envolvendo mais de 2,4 milhõesde pessoas no seu processo, dos quais 37,7% refe-rem-se a empregos diretos na lavoura, 1,7% na in-dústria e 60,6% são ocupações que de alguma for-ma estão vinculadas ao setor, como transportadores,fabricantes e distribuidores de insumos agrícolas efornecedores de matéria-prima.

A fumicultura compõe um grupo muito homo-gêneo, principalmente pelo fato das empresas ado-tarem o sistema integrado de produção, único na

Quadro 3. Produção e exportação de fumo no sul do Brasil (1995-2004).

Safras Área Toneladas Toneladas Faturamentoplantada produzidas exportadas Mil US$/FOB(hectares)

1995 206.392 341.304 231.780 732.3921996 229.470 402.159 258.270 985.8711997 268.909 543.203 306.155 1.056.6041998 265.812 403.346 291.125 960.5941999 268.388 548.760 334.306 894.7902000 251.328 527.750 340.000 857.0002001 252.365 504.728 414.552 962.9322002 305.551 636.871 471.991 1.066.5932003 361.712 600.325 465.473 1.130.7002004 411.290 851.060 587.915 1.488.1072005 439.220 842.990 610.000* 1.600.000*

* EstimativaFonte: Afubra (2006).

Quadro 4. Posição das principais empresas fumageiras no ranking brasileiro das exportações (2005).

Posição Empresa US$ (milhões)37º Universal Leaf Tabacos Ltda. 502,2754º Aliance One 362,4863º Souza Cruz S.A. 298,81

116º CTA –Continental Tobaccos Alliance S.A. 161,30188º Meridional de Tabacos Ltda. 89,56278º Brasfumo –Indústria Brasileira de Fumos Ltda. 59,90307º KBH&C Tabacos Ltda. 54,14329º A.T.C –Associated Tobacco Company (Brasil) Ltda. 48,97366º Premium Tabacos do Brasil 43,66429º Philip Morris Brasil Ind. e Com. Ltda. 35,66

Fonte: Borowsky (2006).

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Gestão ambiental e desenvolvimento regional: uma análise da indústria fumageira

fumicultura, em termos mundiais. Entretanto, quan-do se faz referência ao setor, há empresas com ativi-dades diferenciadas, identificando-se aquelas queproduzem e beneficiam o fumo, aquelas que apenasproduzem o fumo e estão ligadas a uma beneficiadorae empresas que também fabricam o cigarro.

Neste conjunto, o complexo fumageiro do Valedo Rio Pardo, com base no cadastro de fumicultoresda Afubra, é formado por aproximadamente 30empresas, sendo a maioria de pequeno porte, pro-dutoras de fumo para as empresas maiores,beneficiadoras e exportadoras. Apenas duas empre-sas são cigarreiras, respectivamente a Philip MorrisBrasil Ind. e Com. Ltda. e a Souza Cruz S.A. As maisexpressivas, estão associadas ao Sindifumo, entidaderepresentativa das empresas do setor, identificadasno Quadro 5. A sede ou matriz dessas empresas con-centra-se nos municípios de Santa Cruz do Sul,Venâncio Aires e Vera Cruz. Dada a característicaexportadora do setor, a questão ambiental tem rece-bido a atenção das empresas, fato esse, atestado pelabusca crescente da certificação ambiental pela ISO14.001, conforme demonstrado no Quadro 5, noqual se verifica que 50% das empresas mais expressi-vas do setor, já obtiveram a referida certificaçãoambiental.

Além da certificação ambiental, o Sindifumo,como entidade representativa das empresasfumageiras, envolve-se em questões sociais eambientais que afetam o setor. Em parceria comAfubra, o Sindifumo desenvolve ações que estimu-

lam o reflorestamento e a preservação das matas na-tivas em propriedades rurais envolvidas no cultivode fumo e mantém um programa de coleta itinerantede embalagens de agrotóxicos pelos municípios gaú-chos produtores de fumo. Com essa integração In-dústria/Sindifumo/Afubra, o setor fumageiro, nosúltimos anos, vem reforçando sua política de preser-vação ambiental.

4.2. Política ambiental da indústria fumageira

Uma das particularidade do setor é o processovinculativo do fumicultor com a indústria fumageira,já que esta exerce influência direta sobre a produçãoprimária do fumo, através do sistema integrado deprodução. Muitas das iniciativas, junto aofumicultor, visam à preservação do meio ambiente,reforçando a importância da gestão ambiental dosetor. Na Figura 3 pode-se visualizar a dimensão dosistema integrado de produção de fumo, baseadoem sete princípios, que inclui desde planejamentodas safras, assistência técnica e financeira, uso deinsumos de alta qualidade, garantia de compra totalda safra contratada, levantamentos de custos e nego-ciação de preço, programas de responsabilidade so-cial e procedimentos de preservação ambiental.

O sistema integrado na fumicultura teve sua ori-gem por volta de 1918, quando a empresa SouzaCruz instalou uma de suas subsidiárias no municí-pio de Santa Cruz do Sul (Vogt, 2000). Conformeestudos do autor, esse processo de integração verticalentre produtor e agroindústria consolidou-se no fi-nal dos anos 60, quando a fumicultura registrou um

Quadro 5. Principais empresas fumageiras da região do Vale do Rio Pardo.

Empresas fumageiras CertificaçãoISO 14001A.T.C. –Associated Tobacco Company (Brasil) Ltda.BRASFUMO –Indústria Brasileira de Fumos Ltda.CTA –Continental Tobaccos Alliance S.A.DIMON do Brasil Tabacos Ltda. XINTAB –Indústria de Tabacos e Agropecuária Ltda.Industrial Boettcher de Tabacos Ltda.Kannenberg & Cia. Ltda. XKBH&C Tabacos Ltda. XMeridional de Tabacos Ltda. XPhilip Morris Brasil Ind. e Com. Ltda. XSouza Cruz S.A. XSul América Tabacos S.A.Universal Leaf Tabacos Ltda.Premium Tabacos do Brasil X

Fonte: Dados da pesquisa.

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aumento significativo na região Sul do Brasil, com aampliação do parque industrial e com o incrementoda produção e exportação de fumo.

No que se refere à política ambiental vinculadaao sistema integrado de produção, o setor fumageirovem atuando: a) na redução da quantidade deagrotóxicos em lavouras de fumo; b) no recolhimen-to de embalagens de agrotóxicos; c) na orientaçãosobre o correto uso, manejo e a conservação do solo edos recursos hídricos; e d) no fomento ao refloresta-mento e incentivo à preservação das matas nativas.Esses procedimentos, objeto de análise deste estudo,possuem impacto direto na produção do fumo, noqual o produtor, e neste caso, caracterizado pela agri-cultura familiar, está condicionado ao padrãotecnológico e ambiental da indústria com o qualpossui vínculo.

4.2.1. Redução da quantidade de agrotóxicosem lavouras de fumo

Em termos de redução de agrotóxicos, pode-secitar a eliminação do uso do Brometo de Metila,prejudicial à camada de ozônio. Acordos ambientais

fixaram o ano de 2010 como o ano em que oBrometo de Metila, utilizado em inúmeras outrasculturas agrícolas na esterilização dos solos para aprodução de mudas, deve deixar de ser produzidocomercialmente. O Brasil reduziu esse prazo para2005 e o setor fumageiro do Sul do Brasil resolveuantecipar esse prazo em dois anos, encerrando o usodo produto em 2003. Para substituir o Brometo deMetila, o setor fumageiro desenvolveu tecnologiasalternativas, como o sistema Float e, mais recente-mente, o “Leito de Substrato”. Segundo declaraçõesdivulgadas pelo setor, o fumo é uma das culturas deinteresse econômico que menos utiliza agrotóxicos,resultado de um intenso trabalho para reduzir a quan-tidade de ingrediente ativo, tanto na produção demudas como na própria lavoura.

A opção preferencial deverá ser o sistema Float,em que o cultivo é feito em bandejas de isopor comsubstrato mantidas sobre uma fina lâmina de água.Esse método já vem sendo utilizado pelafumicultura nacional nas últimas seis safras e, em2003, já abrange 90% da área produtiva (AnuárioBrasileiro do Fumo, 2003). Dada a adoção em lar-

Figura 3. Sistema integrado de produção.

Fonte: Adaptado Sindifumo (2004).

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ga escala do sistema Float, o próprio setor vem bus-cando, desde já, alternativas para o destino dasbandejas de poliestireno expandido (EPS), maisconhecido como isopor. A durabilidade das ban-dejas é de cinco anos. O setor fumageiro tambémestá buscando parceria com a Abrapex, a associaçãobrasileira que congrega 12 empresas produtorasdessas bandejas, para estabelecer um programa dereaproveitamento das embalagens de EPS. Já exis-tem iniciativas de reciclagem de EPS para a produ-ção de concreto leve.

A alternativa mais recente que vem sendoimplementada é o cultivo sobre “Leito de Substrato”que consiste na produção das mudas em materialfeito a partir da casca do pinus compostada, resí-duo da indústria de celulose, o qual dispensa douso de bandejas de isopor, cujo método vem sendotestado com sucesso há mais de cinco anos. Tanto osistema Float de produção de mudas, utilizado porquase 90% dos produtores, como o “Leito deSubstrato”, eliminam completamente o uso doBrometo de Metila.

Uma outra iniciativa é a produção de fumo semagroquímicos, também conhecido como fumo eco-lógico. O programa é uma parceria entre oSindifumo, a Afubra, a Fundação Gaia e a Univer-sidade de Santa Cruz do Sul. O objetivo é desenvol-ver estudos para testar alternativas de produção defumo Virgínia em comparação aos procedimentosconvencionais, com o propósito de reduzir ou até deeliminar agroquímicos no cultivo do fumo, visandoà obtenção de um produto quimicamente mais lim-po. A experiência teve inicio na safra 2001-2002,sendo que na segunda safra 2002-2003 já foramavaliados os primeiros resultados. Aspectos agronô-micos indicam que é possível produzir o fumo comvolume e qualidade, porém, economicamente, a pro-dução sem agroquímicos ainda é inviável, uma vezque demanda mais mão-de-obra no controle de er-vas daninhas e na aplicação de volumes ampliadosde fertilizantes orgânicos, cuja disponibilidade é li-mitada (Sindifumo, 2002). A expectativa é que se-rão necessários mais experimentos para se chegar aoproduto desejado, em níveis razoáveis de custo e deemprego de mão-de-obra (Anuário Brasileiro doFumo, 2003).

4.2.2. Recolhimento de embalagens deagrotóxicos

A legislação ambiental, em 1999, passou a obri-gar os fabricantes a darem destino final para as em-balagens vazias de agrotóxicos, por meio dereciclagem ou incineração. Os comerciantes, e nessecaso as indústrias fumageiras, devem receber as em-balagens dos produtos devolvidos pelos agriculto-res, que estão obrigados, por lei, a devolverem osrecipientes ao comerciante ou a um local credenciadopara o recebimento, logo após a utilização do produ-to. Com o rigor da legislação ambiental, referente àdestinação das embalagens vazias de agrotóxicos, osetor fumageiro se defrontou com o problema dacarência de empresas receptoras dessas embalagensno Rio Grande do Sul. Conforme levantamento re-alizado pelo setor, teve-se conhecimento de umaúnica empresa do gênero já licenciada pela Funda-ção Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM) paraoperar no Estado, a Cinbalagens, com sede em PassoFundo, tendo sido estabelecido um acordo para orecebimento, de forma regular, das embalagens gera-das na região fumicultora dos Vales do Rio Pardo eTaquari, a contar do mês de outubro de 2000.

O programa é desenvolvido pelo Sindifumo emtodos os municípios produtores de fumo do RioGrande do Sul, com o apoio da Afubra, do Consór-cio Intermunicipal de Recebimento de EmbalagensVazias de Agrotóxicos (Cinbalagens) e do InstitutoNacional de Processamento de Embalagens Vazias(INPEV). A coleta de embalagens é restrita às emba-lagens que recebem a tríplice lavagem e é realizada deforma itinerante em todos os municípios produtoresde fumo, em local, data e horários previamente esta-belecidos junto aos produtores e às prefeituras, comampla divulgação regional. Na primeira etapa doprograma, foram recolhidas 510 mil embalagens,sendo que na segunda etapa, referente ao período de11/2002 a 04/2003, o número de embalagens re-colhidas aumentou para 600 mil. O aumento, se-gundo o Sindifumo (2002), se deve à adesão denovos produtores e ao grande número de embala-gens de agroquímicos de outras culturas. O recolhi-mento de embalagens de agrotóxicos não se restrin-ge às embalagens de produtos utilizados apenas nacultura do fumo. Dada a diversificação da agricultu-ra desenvolvida pelos fumicultores, o maior númerode embalagens refere-se a produtos utilizados em

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outras culturas, incluindo-se também embalagensutilizadas por outros produtores.

4.2.3. Orientação sobre o correto uso, manejo econservação do solo e dos recursoshídricos

O preparo e manejo do solo para a instalação econdução da cultura do fumo também vem sofrendotransformações. Durante as décadas de 70 e 80 pre-dominava o preparo intensivo do solo. No início dadécada de 90 começou a ser introduzido aos poucos oCultivo Mínimo, evoluindo para o Sistema de Plan-tio Direto (SPD). O Cultivo Mínimo é uma fase in-termediária entre o preparo convencional e o SPD. OSistema de Plantio Direto vem sendo incentivado pelaindústria, dadas as suas vantagens econômicas eambientais em comparação com o cultivo convencio-nal, que ainda predomina. Entre as principais vanta-gens relacionadas à questão ambiental, o SPD auxiliano controle da erosão dos solos, melhora ano após anoa fertilidade e a estrutura dos solos, melhora a qualida-de da água e melhora o equilíbrio biológico do solo,favorecendo o desenvolvimento de inimigos naturaisde pragas e doenças. O Cultivo Mínimo e o Sistemade Plantio Direto são recomendados, principalmente,para regiões com declividade, nas quais é comum oplantio do fumo, mas onde a erosão é acentuada. Es-sas práticas, além das vantagens ambientais, diminu-em consideravelmente o gasto com mão-de-obra, oque significa diminuição de custos.

Uma prática que sofreu significativos avanços éa tecnologia de cura do tabaco, realizada em estufas.A preocupação do setor foi reduzir a mão-de-obrapor parte do produtor e diminuir o consumo delenha como fonte de energia para a cura. Outra al-ternativa que vem sendo testada é a substituição dalenha pelo carvão mineral, cujas práticas seguem ospadrões tecnológicos de cada indústria, que indivi-dualmente desenvolvem suas pesquisas.

Recentemente, em relação à preservaçãoambiental, os recursos hídricos também estão rece-bendo a atenção do setor fumageiro. O Sindifumo ediversas outras entidades assinaram um protocolode cooperação técnica com o objetivo de somar es-forços para buscar alternativas para a melhoria daqualidade da água, do uso, manejo e da conservaçãodo solo e das condições socioambientais de proprie-dades e microbacias hidrográficas.

4.2.4. Fomento ao reflorestamento e incentivo àpreservação das matas nativas

Um dos problemas ambientais apontados para osetor é a emissão de gás através da queima de lenha nacura do tabaco. São utilizados nos três Estados do Suldo Brasil, em média, 1,8 milhão de toneladas de le-nha por safra para a cura do tabaco. Para amenizar esseproblema, o setor fumageiro, numa ação conjunta doSindifumo e da Afubra, vem desenvolvendo projetosde reflorestamento junto aos produtores.

Com base no estudo realizado pela Universida-de de Santa Maria, solicitado pelo Sindifumo, comapoio da Afubra, a fumicultura quebrou mais umparadigma ambiental. O projeto “Quantificação decarbono e dos nutrientes em florestas de eucaliptode diferentes idades” avaliou a capacidade de seqües-tro e de armazenamento de carbono pela floresta deeucalipto. Segundo resultados da pesquisa, a quan-tidade de carbono lançada na atmosfera pela culturado fumo é menor do que o gás capturado pelas árvo-res do reflorestamento (Hoppe, Schumacher eWitschoreck, 2003). Esse seqüestro de carbono é aatividade das plantas de retirar, através da fotossíntese,o gás carbônico da atmosfera e acumulá-lo na formade biomassa.

O estudo realizado pela Universidade Federalde Santa Maria estimou a existência de um estoquemédio de 7,6 milhões de toneladas de carbono nasflorestas de eucalipto das pequenas propriedades deprodutores de fumo. Equivale a dizer que as áreasreflorestadas no Sul do Brasil seqüestram em um anoo volume de carbono que a fumicultura, através daqueima de lenha na cura do fumo, leva oito anospara produzir (Anuário Brasileiro do Fumo, 2003).O plantio de florestas de crescimento rápido, comoo eucalipto, tem se mostrado como uma alternativaviável para o “seqüestro de carbono” excedente naatmosfera.

Segundo dados divulgados pelo Sindifumo(2002), o eucalipto é a espécie mais utilizada emreflorestamento no mundo, detendo o Brasil a mai-or área plantada, com aproximadamente 50% daárea mundial. Nas pequenas propriedades dosfumicultores, o reflorestamento de eucalipto ocupa,em média, de um a três hectares. Especificamenteem termos ambientais, as florestas de eucalipto sãograndes produtoras de biomassa que as tornam ex-

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Gestão ambiental e desenvolvimento regional: uma análise da indústria fumageira

celentes sumidouros de carbono atmosférico, ame-nizando a pressão sobre as matas nativas remanes-centes (Hoppe, Schumacher e Witschoreck, 2003).

Além dessas práticas direcionadas diretamenteao cultivo do fumo, o setor fumageiro vem realizan-do e apoiando projetos de “educação ambiental”.Alguns projetos são ações conjuntas do setor e ou-tros são específicos de cada indústria, visando, noentanto, objetivos comuns, direcionados a melhorara qualidade de vida e saúde da população, através deações que promovam a cidadania, o desenvolvimen-to sustentável, a preservação e recuperação do meioambiente.

5. Considerações finais

A globalização da economia e os novosparadigmas ambientais aumentaram o comprometi-mento das empresas com a questão ambiental, comoé o caso do setor fumageiro, no qual novas exigênciasestão sendo implementadas, desde leis provenientesdos Estados e protocolos internacionais, como tam-bém exigências de clientes que passam a exigircertificações de qualidade ambiental.

Especificamente na questão ambiental referenteao setor fumageiro, tem-se um grande paradoxo. Deum lado há um produto final “cigarro” prejudicial àsaúde, cada vez mais controlado e de uso restrito, ede outro, há um processo de produção cada vez maislimpo e ambientalmente correto, reforçado pelomercado internacional que passa a exigir atestadosde que as empresas, os processos e os produtos pos-suam méritos de gestão ambiental.

Independentemente de algumas indústrias pos-suírem padrão tecnológico próprio na questãoambiental, dado o sistema integrado de produção,verificam-se ações conjuntas, com o fumicultor,como o programa de recolhimento de embalagensde agrotóxicos e o fomento ao reflorestamento eincentivo à preservação das matas nativas. As práti-cas ambientais, disseminadas pelo sistema integra-do de produção, como a adubação verde, o plantiodireto e a produção de fumo de forma ecológica,sem uso de produtos químicos, vêm despertando ointeresse dos fumicultores, o que evidencia a suaconscientização e preocupação com o meio ambi-ente.

Em termos de política ambiental do sistema in-tegrado de produção do fumo no Brasil, a maiorconquista foi o compromisso assumido pelo setorfumageiro do Sul do Brasil de não mais comercializaro Brometo de Metila, agente agressivo à camada deozônio, desde o início de 2004, eliminando assim,seu uso na fumicultura. Dessa maneira, os produto-res vinculados passaram a adotar, de maneira inte-gral e definitiva, formas alternativas e menos preju-diciais ao meio ambiente, como o sistema Float deprodução de mudas e o sistema “Leito de Substrato”,em fase experimental.

Por meio do sistema integrado de produção, basepara a relação da indústria com o produtor, verifica-se que práticas ambientais, como o manejo e a pre-servação dos recursos naturais, são difundidas numgrande contingente de agricultores, num total de198.040 produtores, na sua maioria donos de pe-quenas propriedades, distribuídos por 787 municí-pios nos três Estados da região Sul do País, conformeestimativas da safra 2004-2005. Nesse contexto,mesmo que a política ambiental, presente como umdos princípios do sistema integrado de produção, seconfigure como uma estratégia para que as empresaspossam dar prosseguimento às suas operações, man-tendo-se competitivas, por outro lado, essa políticacontribui para a qualidade de vida e para o desen-volvimento sustentável.

Salienta-se ainda, na questão ambiental, aintegração de duas entidades distintas da classe, oSindifumo, que representa as indústrias, e a Afubra,que representa os interesses dos fumicultores. As duasentidades buscam modelos de produção sustentá-veis, com respeito à natureza, através de ações con-juntas voltadas para a preservação do meio ambientee à melhoria da qualidade das comunidades.

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