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O Curso Básico Lição 3: O Poder da História – Fundamentos da Cosmovisão O que exatamente é cosmovisão, e o que ela faz? Como ela molda a cultura de uma nação, cidade ou família – como ela molda a vida de um indivíduo? Nós descobriremos as respostas para estas questões e veremos que o evangelho não é simplesmente uma mensagem de salvação, mas sim uma cosmovisão abrangente que transforma a cultura. Como cristãos, somos chamados para nos engajarmos – criarmos cultura que se alinhe com a realidade da maneira como Deus a criou – para testemunharmos a verdade. 1. Introdução Todos têm uma cosmovisão. Toda cultura tem uma "história", uma cosmovisão. Elas são poderosas porque determinam a maneira como vemos o mundo, moldam nossos valores e comportamentos e determinam o tipo de sociedade que construiremos. Em alguns casos, até mesmo a Igreja abandonou uma cosmovisão bíblica, e as consequências influenciaram tragicamente nosso entendimento da natureza da Igreja e da Grande Comissão. 2. Apresentação Assista ao vídeo 1 de 4: O Que é Cosmovisão e Qual Sua Importância? Darrow Miller explica que toda pessoa no mundo possui um "mapa" em sua mente - um mapa que diz como é o mundo. Nós chamamos isso de "cosmovisão". Nossas cosmovisões são importantes porque determinam como vivemos e que tipo de comunidades e nações construiremos. Cristãos frequentemente possuem corações "nascidos

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O Curso Básico

Lição 3: O Poder da História – Fundamentos da Cosmovisão

O que exatamente é cosmovisão, e o que ela faz? Como ela molda a cultura de uma nação, cidade ou família – como ela molda a vida de um indivíduo? Nós descobriremos as respostas para estas questões e veremos que o evangelho não é simplesmente uma mensagem de salvação, mas sim uma cosmovisão abrangente que transforma a cultura. Como cristãos, somos chamados para nos engajarmos – criarmos cultura que se alinhe com a realidade da maneira como Deus a criou – para testemunharmos a verdade.

1. Introdução

Todos têm uma cosmovisão. Toda cultura tem uma "história", uma cosmovisão. Elas são poderosas porque determinam a maneira como vemos o mundo, moldam nossos valores e comportamentos e determinam o tipo de sociedade que construiremos.

Em alguns casos, até mesmo a Igreja abandonou uma cosmovisão bíblica, e as consequências influenciaram tragicamente nosso entendimento da natureza da Igreja e da Grande Comissão.

2. ApresentaçãoAssista ao vídeo 1 de 4: O Que é Cosmovisão e Qual Sua Importância?Darrow Miller explica que toda pessoa no mundo possui um "mapa" em sua mente - um mapa que diz como é o mundo. Nós chamamos isso de "cosmovisão". Nossas cosmovisões são importantes porque determinam como vivemos e que tipo de comunidades e nações construiremos. Cristãos frequentemente possuem corações "nascidos de novo", mas suas cosmovisões podem ainda ser moldadas pelas culturas que os cercam. Precisamos nascer de novo novamente.

Questão para Discussão

Qual é a diferença entre olhar para uma cosmovisão como uma matéria acadêmica e olhar para ela como a lente através da qual examinamos e resolvemos problemas?

Estes dois processos são bem diferentes, e eu gostaria que você refletisse na diferença entre eles.

Assista ao vídeo 2 de 4: Cosmovisão Molda Nossas Vidas e Nossas Culturas

Darrow Miller explica que nossas cosmovisões moldam nossos valores e comportamentos e geram consequências nas nossas vidas, famílias e sociedades. Ele descreve como as cosmovisões se propagam pelo mundo, como são transmitidas de uma geração para outra e como se movem verticalmente pela cultura. O Evangelho não é simplesmente uma mensagem de salvação, é uma cosmovisão abrangente. Ele deve não apenas se mover pelo mundo, mas precisa penetrar e transformar a cultura. É isso o que significa discipular nações.

Questão para Discussão

O que significa o evangelho penetrar na cultura?

Assista ao vídeo 3 de 4: O Papel do Artista no Discipulado das Nações

Darrow Miller explica como ideias moldam a cultura. O processo geralmente começa com um pequeno grupo de intelectuais cujas ideias são captadas por artistas. Ao criarem filmes e músicas e escreverem histórias que incorporam as novas ideias, eles moldam os profissionais da sociedade - os educadores, líderes empresariais, economistas e políticos. Nesse ponto, as novas ideias se tornam institucionalizadas, impactando as vidas de todos na sociedade. Para discipular nações, a igreja precisa entender esse processo e encorajar artistas cristãos a desempenharem um papel profético na modelagem de suas culturas.

Questão para Discussão

A economia e a política derivam da cultura.

O que isso significa para os cristãos, e quais as implicações disso para sua própria cultura e para os processos políticos e econômicos que ocorrem hoje?

Assista ao vídeo 4 de 4: O Evangelho Deve Penetrar e Reformar a Cultura

Darrow Miller explica que evangelismo e proclamação do evangelho não são os objetivos finais da Grande Comissão, mas sim os vitais primeiros passos no processo de discipulado das nações. O objetivo é culturas reformadas que reflitam a glória de Deus. Darrow explica que nossas culturas são um reflexo do Deus, ou dos deuses, a quem adoramos. Ele então analisa João 17:15-19, mostrando que Cristo chama a Igreja para trabalhar intencionalmente buscando impactar a cultura.

Questão para Discussão

Eu gostaria que você refletisse um pouco sobre estes três diferentes tipos de igrejas:

A igreja que se isolou da sociedade A igreja que está conformada à sociedade

A igreja que está conscientemente buscando impactar a sociedade, sendo igreja fora dos muros do prédio.

Qual é a sua igreja?

3. Leitura – veja no fim do documento

Cosmovisões em Ação no MundoDarrow L. Miller, Bob Moffitt e Scott D. Allen

4. AplicaçãoPense em um exemplo de uma cosmovisão aceita por sua comunidade que contribui para a pobreza. Compartilhe suas ideias com outra pessoa, e ouça as ideias dela também.

5. QuestionárioQuestão 1 de 10O que limitou a descoberta do Príncipe Henrique, “O Navegador”, de uma rota marítima para a Ásia pela costa africana?

A) Barreiras físicas reais que impediam seus navios de navegar adiante.B) O mapa em suas mentes.C) O mapa físico que eles levavam em seus navios.D) Nenhuma das alternativas acima.

Questão 2 de 10Qual das alternativas abaixo nossa cosmovisão NÃO determina?

A) Como vemos o mundo.B) Como resolvemos um problema de matemática.C) O tipo de nação que construiremos.D) O que vemos, e não o que há para ser visto.

Questão 3 de 10Apesar de existir uma grande variedade de filosofias e religiões no mundo, elas podem ser resumidas em uma das três categorias de cosmovisão. Qual destas alternativas NÃO é uma dessas categorias?

A) AnimismoB) TeísmoC) TaoísmoD) Secularismo

Questão 4 de 10Qual alternativa abaixo é verdadeira?

A) Hoje, nações Ocidentais são predominantemente moldadas por uma cosmovisão secular que enxerga a realidade como essencialmente física.B) Muitas nações asiáticas e africanas são moldadas por uma cosmovisão animista que enxerga a realidade como sendo essencialmente espiritual.C) A cosmovisão bíblica enxerga a realidade como um todo integrado composto de uma esfera espiritual e uma física. Ambas foram criadas por Deus, e ambas são importantes e valiosas.D) Todas as alternativas acima.

Questão 5 de 10Paulo instrui os cristãos a “não serem conformados com o mundo”. Como alguém evita ser conformado com o mundo?

A) Não indo ao cinema ou fazendo outras coisas mundanas.B) Seguindo regras cristãs.C) Tendo a mente renovada para se moldar à cosmovisão bíblica.D) Passando o tempo na igreja, realizando programas e atividades organizados pela

igreja.

Questão 6 de 10Qual alternativa a seguir o diagrama da árvore NÃO ilustra?

A) Ideias têm consequências.B) As raízes da árvore determinarão o tipo de fruto que ela produzirá.C) Existem ideias sombrias no mundo.D) Ideias são orgânicas por natureza, e elas impactam pessoas e sociedades.

Questão 7 de 10Darrow ensinou que cosmovisões se propagam de três maneiras. Qual das alternativas abaixo NÃO é uma dessas maneiras?

A) Internamente.B) Verticalmente, através das camadas da sociedade.C) Através do tempo, passando de uma geração para outra.D) Geograficamente, de uma área do mundo para outra.

Questão 8 de 10Qual afirmativa NÃO é verdade?

A) A política e a economia “derivam” da cultura.B) Platão disse: “Dê-me as canções de uma nação e não importará quem escreve suas

leis”.C) Cultura não tem nada a ver com política e economia.D) Artistas têm a oportunidade de falar profeticamente à cultura.

Questão 9 de 10Qual alternativa é verdadeira?

A) A salvação deve estar conectada à transformação pessoal e social.B) A salvação é apenas pessoal e espiritual; não tem nada a ver com a sociedade.C) Verdadeiro avivamento levará à reforma.

D) As alternativas “A” e “C” são verdadeiras.

Questão 10 de 10Qual alternativa é a descrição mais precisa da igreja?

A) A igreja é um depósito de almas salvas que estão indo para o céu.B) Já que o mundo é tão cheio de maldade e pecado, os cristãos devem se desconectar, sair do mundo, e se refugiar no prédio da igreja.C) Já que Jesus quer que seu povo esteja no mundo, os cristãos devem deixar o prédio da igreja e se tornar como o mundo.D) Jesus quer que a igreja impacte o mundo; portanto, cristãos devem estar no mundo, mas não ser como o mundo. Eles devem representar o Reino de Deus no mundo.

Questionário Concluído!

6. Aprofundando-seLivro [Em Inglês] – The Worldview of the Kingdom of God [A Cosmovisão do Reino de Deus], de Scott Allen, Darrow Miller e Bob Moffitt (YWAM Publishing, 2005), é um estudo bíblico indutivo, curto e acessível que serve como um ótimo ponto de partida para estudos mais aprofundados.

Livro – Vocação: Escreva Sua Assinatura no Universo, de Darrow Miller (Publicações Transforma), é um chamado para todos os cristãos integrarem a cosmovisão bíblica profundamente em suas vidas cotidianas e vocações, e ao fazê-lo, participar plenamente no discipulado de nossas nações.

Livro – Poluição e a Morte do Homem, de Francis Schaeffer e Udo Middelmann (Editora Cultura Cristã). Neste livro inovador, Schaeffer e Middelmann reintroduzem o conceito e a importância da cosmovisão à igreja. Eles mostram aos cristãos como a mensagem bíblica é abrangente, incluindo um chamado para a igreja administrar a criação de Deus.

Livro – Calvinismo, de Abraham Kuyper, é um clássico. Kuyper foi um grande pastor, teólogo, educador e político holandês que talvez fez mais do que qualquer outro para desenvolver a ideia de uma cosmovisão bíblica. O livro contém a famosa série de palestras ministradas na Universidade de Princeton, em 1898. Também disponível em PDF a edição brasileira. (http://www.evangelicosdobrasil.com/arquivos/textos/BOOK-9hnJ.pdf)

Livro – O Universo ao Lado: Um Catálogo Básico Sobre Cosmovisão, de James W. Sire (Editora Hagnos, 4ª Ed.), é um livro simples, porém abrangente sobre cosmovisão. Sire desenvolve o conceito básico de cosmovisão e examina as cosmovisões de várias filosofias e religiões modernas. Existem disponíveis diversas edições e atualizações deste popular livro.

Livro – O Espírito do Capitalismo Democrático, de Michael Novak, analisa as diferenças entre o experimento político e econômico ocorrido na América do Sul e o que ocorreu na América do Norte. Ele argumenta que foi necessário um conjunto de valores morais, um sistema político democrático pluralista e uma economia de livre mercado para produzir a dinâmica do

desenvolvimento material que ocorreu na América do Norte.

Ensaio [Em Inglês] – A Biblical Worldview: The Wisdom of the Foolishness of God and the Strenght of the Weakness of God [Uma Cosmovisão Bíblica: A Sabedoria da Loucura de Deus e a Força da Fraqueza de Deus], de Thomas A. Bloomer, um dos principais pensadores da Jovens Com Uma Missão (Jocum), explora como o conceito de cosmovisão é estruturado na escritura da Bíblia.

Artigo [Em Inglês] – “Worldview and the Arts: A Call for Balladeers” [“Cosmovisão e as Artes: Um Chamado aos Trovadores”], de Darrow Miller, explora o papel das artes na modelagem da cultura e no discipulado das nações.

Vídeo [Em Espanhol e Inglês] – Nesta seção, Darrow fala sobre como as ideias propagam, começando com os filósofos e intelectuais e continuando com os trovadores: os músicos, poetas, escritores. Este é um exemplo de ideias sendo disseminadas por trovadores: Em 1983, o grupo de salsa porto-riquenho El Gran Combo gravou a música “No Hago Mas Na”, que glorifica o lazer e deprecia o trabalho. Em agosto de 2011, com a taxa de desemprego em Porto Rico acima que 60% entre adultos maiores de 16 anos, El Gran Combo lançou uma nova versão intitulada “Echar Pa’lante” [“Seguindo em Frente”]. A música diz: “Qué bueno és vivir así, que bueno, con ganas de trabajar” [“Que bom é viver assim, que bom, com vontade de trabalhar”]. Um representante da banda disse: “É uma pequena contribuição que temos feito para encorajar as pessoas. Nós temos tantos problemas, especialmente jovens garotos que estão construindo sua consciência sobre a vida e o que significa ser responsável. Queremos encorajar as pessoas”. Confira as letras dessa famosa canção antes e depois (em Inglês e Espanhol).

Cosmovisões em Ação no MundoDarrow L. Miller, Bob Moffitt e Scott AllenJosie era enfermeira e trabalhava para a Peace Corps no Serabu Mission Hospital [Hospital da Missão Serabu] em Serra Leoa, uma nação na costa oeste africana. Ela havia terminado de ministrar um curso sobre microbiologia para dez alunos de enfermagem serra-leoneses. Todos haviam passado nos exames, demonstrando assim um entendimento de que vírus, bactérias e outros organismos microscópicos são as causas das doenças.

Depois de discutir os resultados do exame final, uma aluna levantou a mão e disse: “Srta. Josie, eu sei o que você nos ensinou sobre como as pessoas brancas adoecem, mas você quer saber com as pessoas realmente adoecem?”

“Como?”

“São as bruxas! Elas são invisíveis e voam à noite, mordendo as pessoas nas costas!”

Josie depois explicou: “Naquele momento, com um pesar no coração, eu percebi que – segundo os alunos serra-leoneses – eu não tinha ideia da causa das doenças. Suas avós os haviam ensinado que bruxas eram reais e que microrganismos eram aquilo no que os brancos acreditavam”.1

Josie e seus alunos de enfermagem agiam a partir de diferentes conjuntos de suposições sobre a causa da doença. Cada conjunto de suposições era parte da cosmovisão, ou “sistema de crença” do portador. Josie acreditava em uma causa física para a doença; seus alunos acreditavam em uma causa espiritual ou sobrenatural. Embora a manifestação de qualquer doença fosse a mesma, Josie e seus alunos tinham entendimentos diferentes sobre sua natureza e causa. Suas respectivas crenças eram enraizadas em cosmovisões diferentes e criaram ideias conflitantes sobre como se curar as doenças.

Assim como Josie e seus alunos de enfermagem, cada um de nós possui uma cosmovisão. Ela molda nossas escolhas e a maneira como vivemos. De acordo com o estudioso Samuel Huntington, “No fundo de nossas mentes há suposições escondidas... que determinam como nós percebemos a realidade, quais fatos analisamos, e como julgamos sua importância e seus méritos”.2

1 Josie Kornegay, membro da equipe dos Navios de Misericórdia da Jocum (YWAM Mercy Ships); entrevistada por Darrow Miller em 1994.2 Samuel P. Huntington, The Clash of Civilizations and the Remaking of World Order (New York: Touchstone, 1996), p.30. Traduzido.

Essas suposições escondidas também determinam se “aquilo no qual acreditamos é real e verdadeiro, certo e errado, bom e belo”.3 Por esta razão, entender nossa cosmovisão é algo prático e importante.

Nossas cosmovisões literalmente formam quem somos. Essas crenças estão profundamente enraizadas em nossas mentes, e desenterrá-las não é fácil. Em muitos casos, permanecemos inconscientes de sua existência ou influência até que visões alternativas a desafiem. Não obstante, uma questão crítica para qualquer seguidor de Jesus é se sua cosmovisão está enraizada na verdade bíblica ou se ela foi moldada pela cultura que o cerca.

De várias maneiras, nossas cosmovisões funcionam como um par de óculos para a mente. Nós os usamos o tempo todo e eles moldam e dão cor a tudo que vemos. Eles voltam nossa atenção a certos assuntos enquanto filtram outros. A cosmovisão de Josie voltava sua atenção para as causas físicas da doença – os organismos microscópicos que afetam negativamente a vida da célula de um corpo humano. Ao mesmo tempo, sua cosmovisão tendia a filtrar possíveis causas espirituais para a doença. Enquanto isso, a cosmovisão de seus alunos serra-leonenses de enfermagem fazia o oposto.

Ao crescermos e nos desenvolvermos, outras pessoas nos transmitem suas suposições sobre a realidade. Nossas crenças são moldadas por influências de pais, amigos, professores, mentores e modelos de comportamento. A cultura na qual vivemos também influencia nossa cosmovisão, a qual absorvemos, ao vivermos nossas vidas cotidianas, a partir de fontes como a televisão e o rádio, aquilo que lemos, a música que ouvimos e até mesmo nossas conversas com outras pessoas.

As Grandes Questões da Vida

Cosmovisões são extremamente importantes, em parte por nos ajudarem a responder “às grandes questões da vida”. Por exemplo: Deus existe? Se sim, como Ele é? Ou estamos sozinhos em um universo impessoal? Quem sou eu e qual o propósito da minha vida? Como eu deveria entender o mundo natural à minha volta? Há um propósito para a história, ou ela é insignificante? A história está indo a algum lugar e, se sim, aonde? O que acontece depois que eu morrer? Por que há tanta dor e sofrimento no mundo? O interessante é que em qualquer lugar do mundo, as grandes questões da vida são basicamente as mesmas. No entanto, as respostas variam tremendamente. Isso porque elas são fundamentadas em diferentes suposições sobre a vida.

Ideias Geram Consequências

3 Charles Colson e Nancy Pearcey, Now How Shall We Live (Wheaton, Ill.: Tyndale House Publishers, Inc., 1999), p.13. Traduzido.

Um dos propósitos deste estudo é lhe dar uma oportunidade – talvez a primeira – de examinar sua própria cosmovisão. Nós esperamos que você tire seus óculos de cosmovisão, pegue-os um pouco e examine-os cuidadosamente. Este é um exercício poderoso – um dos mais importantes que você jamais fará! Sua cosmovisão não é simplesmente um conjunto de ideias flutuando em sua cabeça, sem impacto no resto da sua vida. Ao contrário, sua cosmovisão determina em grande parte como você vive, como você age em sua família, o papel que você desempenha em sua comunidade e o tipo de sociedade e nação que você cria com outros.

Podemos comparar uma cosmovisão com as raízes de uma árvore. Não podemos vê-las. Elas ficam debaixo da terra. No entanto, elas determinam o tipo de fruto que a árvore produzirá. Jesus usou essa analogia para nos alertar sobre os ensinamentos de falsos profetas.

Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura, colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons frutos, e toda árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos, nem a árvore má dar frutos bons. Toda árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis (itálico adicionado) – Mateus 7:15-20.

A verdade objetiva está gravada nas páginas da Bíblia e revelada na ordem criada. No entanto, Jesus nos alerta de que mentiras também existem, e são frequentemente sutis e difíceis de serem detectadas. Elas chegam através de “falsos profetas”, que “vêm vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores”. Jesus também nos ensina que há uma conexão direta entre ideias falsas (as raízes) e o resultado ou consequência dessas ideias falsas na vida cotidiana (o fruto). Se nossas raízes são formadas de acordo com a verdade, o fruto de nossas vidas refletirá essa verdade e será bom, uma adição positiva ao nosso mundo. Por outro lado, se nossas vidas crescem a partir de raízes formadas por mentiras, nosso fruto pode ser apenas igual, sem valor e útil apenas para ser descartado.

Assim como quem olha para a árvore não vê as raízes, aqueles que observam nossas vidas cotidianas e nossas ações não podem ver nossa cosmovisão. Como as

raízes de uma árvore frutífera, nossa cosmovisão está debaixo da superfície de nossas vidas. Porém, assim como as raízes da árvore, nossa cosmovisão produz o fruto que tem a mesma característica dela própria. As coisas que valorizamos, as decisões que tomamos e nossas ações diárias refletem e crescem das suposições que temos sobre as grandes questões da vida.

Em resumo, nossa cosmovisão produz um certo tipo de fruto, ou consequências, em nossas vidas cotidianas. Uma cosmovisão saudável – baseada na verdade bíblica – produz consequências produtivas. Essas consequências não afetam apenas as nossas próprias vidas, mas também as vidas das pessoas ao nosso redor. Este é mais um motivo para analisarmos nossa cosmovisão com cuidado.

De acordo com o autor e estudioso James Sire, “Uma cosmovisão é um mapa da realidade; e como qualquer mapa, ela pode corresponder ao que realmente existe em determinado local, ou pode ser [muito] incorreta. O mapa, obviamente, não é o mundo em si, mas apenas uma imagem dele, mais ou menos precisa em alguns lugares, distorcida em outros. Ainda assim, todos nós carregamos um mapa em nossa mente e agimos com base nele. Todo o nosso pensamento o pressupõe. A maior parte de nossa experiência se adapta a ele”.4

Apenas um mapa descreve a realidade precisamente como ela é. Este “mapa” é a cosmovisão bíblica. O mundo inteiro é do Senhor. Ele criou tudo. Amar a Deus com toda a nossa mente significa entender tudo à luz da verdade de Deus revelada nas Escrituras. Significa “entender as ordenanças de Deus para toda a criação, para o mundo natural, para nossas sociedades, para os negócios, para as escolas, para o governo, para a ciência e para as artes”.5 Significa desenvolver uma cosmovisão bíblica, e esta é uma jornada recompensadora e enriquecedora para um discípulo de Cristo.

O Impacto da Cosmovisão na Sociedade

Em cada sociedade há uma cosmovisão dominante compartilhada pela maioria. No entanto, isto não significa que cada pessoa na sociedade adere igualmente a essa cosmovisão dominante. Sempre há pessoas que aderem crenças minoritárias. Mesmo assim, a cosmovisão

4 James Sire, How to Read Slowly (Wheaton, Ill.: Harold Shaw, 1978), pp. 14-15. Traduzido.5 Colson e Pearcey, p. 34. Traduzido.

dominante de uma sociedade tende a exercer a maior influência na modelagem de sua cultura e de suas instituições. Ela determina quais coisas a sociedade valoriza ou não. Ela é evidente através das instituições educacionais, políticas, sociais, religiosas, legais e econômicas. Ela também ressoa através da mídia e da cultura popular.

A cosmovisão dominante de nossa sociedade nos influencia profundamente. Frequentemente não percebemos isso até viajarmos e visitarmos outra sociedade. Então começamos a entender – algumas vezes com espanto – o quão firmemente aderimos à cosmovisão dominante de nossa sociedade.

Cosmovisões em Movimento

Cosmovisões estão sempre em movimento. Elas se propagam através dos oceanos e ao redor do mundo. Um exemplo clássico é a propagação do Cristianismo. Jesus ordenou seus discípulos para serem “minhas testemunhas em Jerusalém, e em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra” (Atos 1:8). De Jerusalém, o Cristianismo se espalhou por todos os continentes e quase todas as nações da terra.

Cosmovisões geralmente surgem nas mentes de intelectuais, filósofos e teólogos. A partir daí, artistas e músicos as ilustram. (É dito que, se você quer saber como a próxima geração viverá, estude a arte e a música de hoje). Cosmovisões então se propagam para outras pessoas educadas ou profissionais, como professores, advogados, pastores, jornalistas e políticos. Por fim, elas podem se tornar “institucionalizadas” em forma de leis, políticas de governo e currículos educacionais. Ao continuarem penetrando na cultura, elas acabam afetando o comportamento cotidiano e o estilo de vida do povo.

Cosmovisões também se propagam pelo tempo, de uma geração a outra. Elas passam dos pais para os filhos. No Velho Testamento, Deus instruiu os pais de sua nação escolhida, Israel, que ensinassem rigorosamente seus mandamentos revelados e leis de geração a geração. Isso garantiria que o verdadeiro conhecimento de Deus não seria perdido ou esquecido (Dt. 4:1-10).

Uma Diversidade de Cosmovisões

Ao longo da história tem havido – e continuará a haver – uma ampla diversidade de cosmovisões. Neste estudo, organizamos essa diversidade

em três categorias gerais de cosmovisão.

Teísmo. Embora a palavra possa ter outros significados, neste estudo ela significa a crença em um Deus que é o criador todo-poderoso do universo físico. De acordo com o teísmo, a realidade é composta de ambas as realidades física e espiritual. O universo físico existe, assim como o Deus que o criou e o sustenta, o qual tem uma existência real independente dele. Da mesma maneira, a vida humana é uma inseparável combinação de um corpo físico e um espírito. O teísmo contrasta com o naturalismo no fato de que seus proponentes acreditam que Deus existe, e contrasta com o animismo no fato de que há apenas um Deus criador todo-poderoso, ao invés de muitos espíritos controlando eventos. O Judaísmo, o Islamismo e o Cristianismo são as três principais religiões do mundo que aderem a esta crença geral.

Secularismo. O secularismo (por vezes referido como naturalismo, cientificismo ou materialismo) engloba um conjunto de crenças que negam ou ignoram a existência da realidade espiritual. De acordo com o secularismo, o universo físico é tudo o que existe. Não há Deus, ou deuses, e espíritos dentro dos seres humanos. Todos os fenômenos no mundo podem ser explicados por leis definidas pela ciência (ou princípios) que governam o universo físico e por combinações de probabilidades e interações de matéria. O secularismo de hoje é a cosmovisão dominante em grande parte do Ocidente industrializado.

Ganhou supremacia através da aceitação geral da teoria da evolução natural do botânico britânico Charles Darwin (1809 – 1882). O secularismo sustenta as fés modernas do cientificismo e do pós-modernismo.

Animismo. Também chamado de panteísmo, o animismo é um conjunto de crenças que enxerga o mundo repleto de (ou animado por) seres espirituais. Existem incontáveis deuses, demônios e anjos. Na verdade, de acordo com o animismo, a realidade suprema é fundamentalmente espiritual. A linha que separa a realidade física da espiritual é muito fraca ou inexiste, com espíritos habitando rochas, árvores e outros elementos da natureza. Os deuses do animismo podem ser expressados como forças impessoais ou como seres pessoais, até mesmo antropomórficos. Suas ações são frequentemente arbitrárias e imprevisíveis. O animismo sustenta muitas religiões antigas como o Shinto, no Japão e o Hinduísmo, na Índia e ainda é dominante em sociedades menos industrializadas como na África, América Latina e Ásia. Além disso, elementos do movimento moderno da Nova Era no Ocidente também adotaram alguns conceitos animistas.

Apesar de ser importante entender essas três categorias de cosmovisão diferentes como sendo distintas umas das outras, é comum que pessoas e sociedades combinem elementos de cada uma. Tipicamente, uma dessas categorias será dominante em uma cultura; no entanto, provavelmente haverá elementos de todas as três evidentes até certo grau. No Ocidente industrializado, por exemplo, o naturalismo é a cosmovisão dominante, apesar de que o Cristianismo continua a exercer uma influência. Semelhantemente, as crenças animistas adotadas por alguns aderentes do movimento da Nova Era estão exercendo uma influência cada vez maior. Além disso, muitos europeus hoje estão redescobrindo e adorando os mesmos deuses pagãos que seus antigos ancestrais adoraram.

Teísmo Bíblico

Embora haja uma diversidade de crenças entre os povos do mundo, a Bíblia declara que há apenas uma realidade verdadeira. Se este é o caso, então pode haver apenas uma cosmovisão que reflete a verdade. O desafio para nós é entender essa cosmovisão e ordenar nossas vidas de acordo com ela.

Essa cosmovisão verdadeira – a cosmovisão bíblica – é a revelação de Deus para nós por meio das Escrituras e da criação. A Bíblia nos ensina que essa cosmovisão está na verdade embutida nos corações de todas as pessoas (Rm 2:14-16), embora a natureza caída da humanidade reduza sua presença.

Quando nossas mentes adotam a cosmovisão bíblica, começamos a enxergar o mundo como ele realmente é – da maneira como Deus o criou e o sustenta. Ao acreditarmos e agirmos com base nela, nossas vidas manifestam uma subsistência saudável e frutífera, o que será bom não somente para nós, mas também para nossas famílias, comunidades e sociedades.

A Bíblia ensina que a natureza humana não é perfeita, mas caída. Por causa da natureza humana caída, sem a ajuda de Deus não podemos enxergar

claramente a verdadeira realidade. O naturalismo, o animismo e algumas formas de teísmo são distorções da realidade que nos impedem de enxergar toda ela. Ou elas nos permitem enxergar apenas uma porção do que é real, ou distorcem a porção que podemos enxergar. Geralmente, elas fazem ambos. A cosmovisão bíblica, em contraste, nos permite enxergar tudo o que é real. Quando a “vestimos”, podemos entender Deus como Ele realmente é – e nós mesmos e a criação da maneira como fomos feitos para ser.

O Povo Perece por Falta de Conhecimento

Todo cristão entra em um processo vitalício de remoção da cosmovisão falsa e adoção da visão de Deus do mundo – a cosmovisão bíblica. Essa renovação da mente é fundamental no processo de santificação. Este processo de “remoção” e “adoção” requer que ganhemos um entendimento mais profundo da cosmovisão bíblica e que vivamos de maneira cada vez mais consistente com ela.

Somente à medida em que indivíduos ou sociedades removem cosmovisões falsas e adotam a visão de Deus, é que experimentarão vida, liberdade e cura da maneira como Deus planejou. Cosmovisões falsas levam à escravidão, empobrecimento, corrompimento e, finalmente, morte.

Não deve haver nada mais importante para o cristão do que a grande jornada de abandonar o engano e abraçar a realidade, porque nas palavras do pastor e professor Dallas Willard, “As pessoas morrem por falta de conhecimento, porque apenas o conhecimento garante acesso à realidade; e a realidade não se ajusta para acomodar nossas falsas crenças, erros ou hesitações em ação”.

Willard continua:

Podemos fracassar em conhecer por não querermos conhecer – porque o que seria conhecido nos exigiria acreditar e agir de maneiras contrárias às que desejamos... A rejeição e subsequente perda do conhecimento uma vez possuído é algo curioso e trágico de se observar em indivíduos e sociedades. O fato de possuirmos conhecimento e estarmos vivendo de acordo com ele é um importante indicador do bem-estar ou da aflição futura.

[No Velho Testamento], o conhecimento de Deus e de seus caminhos era o único recurso essencial dos israelitas. Se conformar de maneira prática àquele conhecimento os manteve em harmonia com a realidade que importava... [Mas] onde as pessoas não querem conhecer a Deus, Ele geralmente as permite viver sem Ele – pelo menos por um tempo. Quando o desejo entra em conflito com a realidade, cedo ou tarde a realidade vence. Uma sociedade é como

qualquer organismo vivo; sua existência contínua depende da correta integração de suas partes em um todo. Essa integração não pode ocorrer se a sociedade for organizada em torno de ignorância e ilusão, e se a qualidade moral dos cidadãos cair abaixo de um certo nível.

De maneira simples, a cosmovisão consiste nas suposições mais gerais e básicas sobre o que é real e o que é bom – incluindo suposições sobre quem somos e o que devemos fazer... não há nada mais prático do que nossa cosmovisão, porque ela determina a orientação de tudo mais quanto pensamos e fazemos. Além disso, a cosmovisão é inevitável. Todos possuem uma cosmovisão... [Ela] é uma necessidade biológica dos seres humanos, porque agimos, seja de maneira consciente ou não, com relação a um todo (um “mundo”). Nossa “visão” desse todo determina o que devemos fazer para lidar com ela ou omiti-la em nossas ações dia após dia, hora após hora. Ela dita o que contaremos ou não como recursos e o que reconheceremos como perigos. Determina nossas metas e nossos meios e, finalmente, a qualidade de nossas vidas e o tipo de pessoa que nos tornaremos. Nossa cosmovisão é simplesmente nossa orientação geral na vida. Você não pode optar por não ter uma cosmovisão. Você apenas pode tentar possuir uma que condiz mais fielmente com a realidade... O que é verdade para indivíduos nesse aspecto também é verdade para grupos individuais e até mesmo sociedades ou nações inteiras. A cosmovisão... reside fora de nossa consciência no momento da ação, embutida em nosso corpo e no ambiente social, incluindo nossa história, linguagem e cultura. Ela irradia por nossas vidas em forma de suposições embutidas, em pensamentos muito profundos para serem expressados por palavras.

O que assumimos como real e o que assumimos como valioso governará nossas atitudes e ações. Ponto final. Pelo fato da cosmovisão ser tão influente, ela também é perigosa. Na cosmovisão é onde mais precisamos ter conhecimento.6

__________________________________________________________________Esta leitura foi extraída do conteúdo dos capítulos 1 e 2 do livro The Worldview of the Kindgom of God, pp. 15-38. Traduzido.

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6 Dallas Willard, Knowing Christ Today: Why We Can Trust Spiritual Knowledge (New York, NY: HarperCollins, 2009), pp. 39-41. Traduzido.

análises.