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Antnio Flvio Barbosa Moreira

Mrcia Angela da Silva Aguiar

Isabel Carvalho Viana (Organizadores)

CURRCULO, EDUCAO INFANTIL,

ENSINO FUNDAMENTAL,

ENSINO MDIO E AVALIAO

Srie

Anais dos XII Colquio sobre Questes Curriculares, VIII

Colquio Luso-Brasileiro de Currculo e II Colquio Luso-

Afro-Brasileiro de Questes Curriculares

Recife - Pernambuco - Brasil

ANPAE: Prefixo Editorial 87987

2016

ANPAE Associao Nacional de Polticas e

Administrao da Educao

Presidente

Joo Ferreira de Oliveira

Vice-presidentes

Marcelo Soares Pereira da Silva (Sudeste)

Luciana Rosa Marques (Nordeste)

Regina Tereza Cestari de Oliveira (Centro-Oeste)

Terezinha Ftima Andrade Monteiro dos Santos Lima (Norte)

Maria de Ftima Cssio (Sul)

Diretores

Erasto Fortes Mendona - Diretor Executivo

Pedro Ganzeli - Diretor Secretrio

Leda Scheibe - Diretor de Projetos Especiais

Maria Dilnia E. Fernandes - Diretora de Publicaes

ngelo R. de Souza - Diretor de Pesquisa

Aida Maria Monteiro Silva - Diretora de Intercmbio Institucional ,

Mrcia ngela da S. Aguiar - Diretora de Cooperao Internacional

Maria Vieira da Silva - Diretora de Formao e Desenvolvimento

Catarina de Almeida Santos - Diretora Financeira

Editora

Lcia Maria de Assis, (UFG), Goinia, Brasil

Editora Associada

Daniela da Costa Britto Pereira Lima, (UFG), Goinia, Brasil

Conselho Editorial

Almerindo Janela Afonso, Universidade do Minho, Portugal

Bernardete Angelina Gatti, Universidade Federal Fluminense (UFF), Niteri, Brasil

Candido Alberto Gomes, Universidade Catlica de Braslia (UCB)

Carlos Roberto Jamil Cury, PUC de Minas Gerais / (UFMG)

Clio da Cunha, Universidade de Braslia (UNB), Braslia, Brasil

Edivaldo Machado Boaventura, (UFBA), Salvador, Brasil

Fernando Reimers, Harvard University, Cambridge, EUA

Ins Aguerrondo, Universidad de San Andrs (UdeSA), Buenos Aires, Argentina

Joo Barroso, Universidade de Lisboa (ULISBOA), Lisboa, Portugal

Joo Ferreira de Oliveira, Universidade Federal de Gois (UFG), Goinia, Brasil

Joo Gualberto de Carvalho Meneses, (UNICID), Brasil

Juan Casassus, Universidad Academia de Humanismo Cristiano, Santiago, Chile

Licnio Carlos Lima, Universidade do Minho (UMinho), Braga, Portugal

Lisete Regina Gomes Arelaro, Universidade de So Paulo (USP), Brasil

Luiz Fernandes Dourado, Universidade Federal de Gois (UFG), Goinia, Brasil

Mrcia Angela da Silva Aguiar, (UFPE), Brasil

Maria Beatriz Moreira Luce, (UFRGS), Brasil

Nal Farenzena, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Brasil

Rinalva Cassiano Silva, (UNIMEP), Piracicaba, Brasil

Sofia Lerche Vieira, Universidade Estadual do Cear (UECE), Fortaleza, Brasil

Steven J Klees, University of Maryland (UMD), Maryland, EUA

Walter Esteves Garcia, Instituto Paulo Freire (IPF), So Paulo, Brasil

XII Colquio sobre Questes Curriculares/VIII Colquio Luso-Brasileiro de Currculo/II Colquio Luso-Afro-Brasileiro de Questes Curriculares Presidentes dos Colquios

Antnio Flvio Barbosa Moreira Universidade Catlica de Petrpolis

Jos Augusto de Brito Pacheco Universidade do Minho

Comisso Organizadora Geral

Mrcia Angela da Silva Aguiar (Universidade Federal de Pernambuco) - Coordenadora

Jos Carlos Morgado ( Universidade do Minho)

Geovana Mendona Lunardi Mendes (Universidade do Estado de Sta. Catarina)

Isabel Carvalho Viana (Universidade do Minho)

Joana Sousa (Universidade do Minho)

Edilene Guimares (Instituto Federal de Pernambuco)

Comit Local

Ada Maria Monteiro Silva (Universidade Federal de Pernambuco)

Ana de Ftima Abranches (Fundao Joaquim Nabuco)

Ana Lcia Borba (Universidade Federal de Pernambuco)

Alfredo Macedo Gomes (Universidade Federal de Pernambuco)

Ana Lcia Flix (Universidade Federal de Pernambuco)

Darci Lira (Universidade Federal de Pernambuco)

Edson Francisco (Universidade Federal de Pernambuco)

Edilene Guimares (Instituto Federal de Pernambuco)

Janete Maria Lins de Azevedo (Universidade Federal de Pernambuco)

Luciana Rosa Marques (Universidade Federal de Pernambuco)

Luiz Roberto Rodrigues (Universidade Estadual de Pernambuco)

Maria Helena Carvalho (Universidade Catlica de Pernambuco)

Maria do Socorro Valois (Universidade Federal Rural de Pernambuco)

Rita Barreto Moura (SINTEPE)

Mrcia Angela da Silva Aguiar (Universidade Federal de Pernambuco)

Comisso Cientfica

Angola: Alberto Quitembo (Universidade Katyavala Bwila)

Augusto Ezequiel Afonso (Universidade de Katyavala Bwila)

Ermelinda Cardoso (Universidade de Katyavala Bwila)

Maria Alice Tavares (Universidade Katyavala Bwila)

Cabo Verde: Ana Cristina P. Ferreira (Universidade de Cabo Verde)

Bartolomeu Varela (Universidade de Cabo Verde)

Moambique: Adriano Niquice (Universidade Pedaggica de Moambique)

Angelo Jose Muria (Universidade Pedaggica de Moambique)

Hildizina Norberto Dias (Universidade Pedaggica de Moambique)

Portugal: Almerindo Afonso (Universidade do Minho)

Bento Duarte da Silva (Universidade do Minho)

Carlinda Leite (Universidade do Porto)

Fernando Ribeiro Gonalves (Universidade do Algarve)

Francisco Jos R. de Sousa (Universidade dos Aores)

Filipa Seabra (Universidade Aberta)

Jesus Maria de Sousa (Universidade da Madeira)

Jos Augusto Pacheco (Universidade do Minho)

Manuela Esteves (Universidade de Lisboa)

Maria Joo Mogarro (Universidade de Lisboa)

Maria Palmira Alves (Universidade do Minho)

Preciosa Fernandes (Universidade do Porto)

Rui Vieira de Castro (Universidade do Minho)

Brasil: Alfredo Veiga Neto (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)

Alvaro Luiz Moreira Hyplito (Universidade Federal de Pelotas)

Alfredo Macedo Gomes (Universidade Federal de Pernambuco)

Alice Casimiro Lopes (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Andr Mrcio Favacho (Universidade Federal de Minas Gerais)

Antnio Carlos Amorim (Universidade Estadual de Campinas)

Carlos Eduardo Ferrao (Universidade Federal do Esprito Santo)

Elba Siqueira de S Barreto (Universidade de So Paulo)

Elisabeth Macedo (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Eurize Caldas Pessanha (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul)

Fabiany Tavares Silva (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul)

Genylton Odilon Rego da Rocha (Universidade Federal do Par)

Ins Barbosa Oliveira (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Jefferson Mainardes ( Universidade Estadual de Ponta Grossa)

Lucola Santos (Universidade Federal de Minas Gerais)

Maria Ins Marcondes de Souza (Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro)

Mrcia Maria de Melo Oliveira (Universidade Federal de Pernambuco)

Maria Rita Oliveira (CEFET-MG)

Maria Teresa Estban (Universidade Federal Fluminense)

Marlucy Alves Paraso (Universidade Federal de Minas Gerais)

Nilda Alves (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Roberto Sidnei Macedo (Universidade Federal da Bahia)

Rosngela Tenrio (Universidade Federal de Pernambuco)

Zlia Porto (Universidade Federal de Pernambuco)

Coordenadores dos Painis de Comunicaes Orais

1 Currculo e ensino superior

Assis Leo IFPE

Cludia da Silva Santos Sansil IFPE

Edlamar Oliveira dos Santos IFPE

Everaldo Fernandes da Silva - CAA/UFPE

Gilvanide Ferreira de Oliveira UFRPE

Mnica Lopes Folena Arajo UFRPE

Natlia Jimena da Silva Aguiar PPGE/UFPE

2 Currculo e escola

Alcione Mainar CAA/UFPE

Eugnia Paula Bencio Cordeiro IFPE

Everaldo Fernandes da Silva CAA/UFPE

Girleide Torres Lemos CAA/UFPE

Jaileila de Arajo Santos CE/UFPE

Jos Nilton de almeida - UFRPE

Jos Paulino Filho FAFIRE

Katharine Ninive Pinto Silva CAA/UFPE

Mrcia Regina Barbosa - CE/UFPE

Natlia Belarmino - CE/UFPE

3 - Currculo e educao infantil, ensino fundamental e mdio

Alexandre Viana CAA/UFPE

Alexandre Zarias FUNDAJ

Ana Carolina Perrucci Brando CE/UFPE

Ana Karina Lira CE/UFPE

Catherine Nnive CE/UFPE

Edilson Fernandes da Silva CE/UFPE

Ester Calland de Souza Rosa CE/UFPE

Lavnia de Melo e Silva Ximenes CAP/CE/UFPE

Ldia Cerqueira CE/UFPE

Maria do Socorro Valois UFRPE

Maria Jaqueline Paes de Carvalho UFRPE

Pietro Manoel da Silva PPGE/UFPE

Rita de Cssia Barreto de Moura PPGE/UFPE

Severina Klimsa CE/UFPE

4 - Currculo e polticas educacionais

Ana de Ftima Abranches FUNDAJ

Conceio Gislane Nbrega de Sales CAA/UFPE

Denise Maria Botelho UFRPE

Denise Xavier Torres PPGE/UFPE

Gabriel Lopes de Santana CE/UFPE

Henrique Guimares Coutinho FUNDAJ

Itamar Nunes da Silva UFPB

Jos Luiz Simes CE/UFPE

Jlia Calheiros CE/UFPE

Ktia Silva Cunha CAA/UFPE

Lucinalva Atade Andrade de Almeida CAA/UFPE

Maria Jlia de Melo PPGE/UFPE

Priscilla Maria Silva do Carmo PPGE/UFPE

Tcia Cassiany Ferro Cavalcante CE/UFPE

Tlio Augusto Velho Barreto de Arajo FUNDAJ

5 - Currculo e teorias

Isabela Amblard CE/UFPE

Jos Paulino P. Filho FAFIRE

Ktia Silva Cunha CAA/UFPE

Maria Lcia Ferreira Barbosa CE/UFPE

Srgio Paulino Abranches CE/UFPE

6 - Currculo e histria social das disciplinas

ngela Monteiro PPGE/DH/UFPE

Jos Henrique Duarte IFPE

7 - Currculo e espaos no escolares

Ada Maria Monteiro Silva CE/UFPE

Clia Maria Rodrigues da Costa Pereira CE/UFPE

Maria Joselma do Nascimento Franco CAA/UFPE

8 - Currculo, formao e trabalho docente

Alcione Alves da Silva Mainar CAA /UFPE

Camila Ferreira da Silva UTFPR

Carla Patrcia Acioli Lins - CAA/UFPE

Conceio Gislane Nbrega Lima de Salles CAA/UFPE

Elian Sandra Arajo UFRPE

Emanuelle de Souza Barbosa PPGEDCOM/UFPE

Etiane Valentim da Silva Herculano CE/UFPE

Ezir Georg da Silva UFRPE

Fernanda Guarany Mendona Leite - IFPE

Gilvaneide Ferreira de Oliveira UFRPE

Isabel Carvalho Viana IE/UMINHO

Kthia Barbosa CE/UFPE

Lada B. P. Machado CE/UFPE

Lcia Carabas CE/UFPE

Maria das Graas Soares da Costa FAFIRE

Maria Julia de Melo PPGE/UFPE

Orqudea Maria de Souza Guimares CAA/UFPE

Sandra Patrcia Atade Ferreira CE/UFPE

Sucuma Arnaldo - PPGE/UFPE

Vilde Gomes de Menezes PPGE/UFPE

9 - Currculo e conhecimento escolar

Jaqueline Barbosa CAA/UFPE

Lvia Suassuna CE/UFPE

Rafaella Asfora Siqueira Campos Lima CE/UFPE

10 - Currculo e avaliao

Ana Lucia Borba CE/UFPE

Bruna Tarcilia Ferraz UFRPE

Carla Figueredo UPCEUP

Girleide Torres Lemos - CAA/UFPE

Katharine Nnive Pinto Silva CAA/UFPE

Maria da Conceio Carrilho de Aguiar CE/UFPE

11 - Currculo e culturas

Andr Ferreira CE/UFPE

Fbio da Silva Paiva CE/UFPE

Jos Carlos Morgado IE/UMINHO

Maria da Conceio Reis CE/UFPE

Maria Julia de Melo PPGE/UFPE

Michele Guerreiro Ferreira PPGE/UFPE

12 - Currculo e tecnologias

Jos Alan da Silva Pereira PPGE/UFPE

Maria Auxiliadora Padilha CE/UFPE

Simone Maria Chalub Bandeira Bezerra PGECM/REAMEC

13 - Currculo e diferena

Aline Renata dos Santos PPGE/UFPE

Celia Maria Rodrigues da Costa Perena CE/UFPE

Claudilene Maria da Silva UNILAB

Delma Josefa da Silva PPGE/UFPE

Fabiana Souto Lima Vidal CAP/UFPE

Itamar Nunes da Silva UFPB

Janssen Felipe Silva CAA/UFPE

Jos Policarpo Junior CE/UFPE

Karina Mirian da Cruz Valena Alves CE/UFPE

Marcia Maria de Oliveira Melo CE/UFPE

Rebeca Duarte UFRPE

14 - Currculo e ideologia

Edilene Rocha Guimares IFPE

Grasiela A. Morais P. de Carvalho GEPERGES/UFRPE

15 - Currculo e gesto da escola

Alice Miriam Happ Botler CE/UFPE

Lada Bezerra Machado CE/UFPE

16 - Currculo e incluso

Allene Lage CAA/UFPE

Maria do Carmo Gonalo Santos FAFICA

Maria Zlia Santana CAV/UFPE

Marlia Gabriela Menezes CE/UFPE

Coordenao de Eixos Temticos Coordenao Geral: Edilene Rocha Guimares IFPE

Coordenao dos Eixos 1 e 2 Monica Lopes Folena Arajo - UFRPE

Coordenao dos Eixos 3 e 4 Maria do Socorro Valois Alves UFRPE

Coordenao dos Eixos 5 e 6 Lucinalva Andrade Atade de Almeida CAA/UFPE

Coordenao dos Eixos 7 e 9 Orqudea Maria de Souza Guimares CAA/UFPE

Coordenao do Eixo 8 Fernanda Guarany Mendona Leite IFPE

Coordenao dos Eixo 10 a 13 - Janssen Felipe da Silva - CAA/UFPE

Coordenao dos Eixos 14 e 16 Ana Paula Abrahamian de Souza UFRPE

Sobre os Colquios de Currculo

A partir do V Colquio sobre Questes Curriculares, realizado em Portugal,

na Universidade do Minho (Fevereiro de 2002), passou a organizar-se Colquio Luso-

brasileiro sobre Questes Curriculares, resultado de uma parceria entre investigadores

portugueses e brasileiros. Desde ento, a cada dois anos, o Colquio tem-se realizado

alternadamente em Portugal e no Brasil, reunindo os mais expressivos investigadores da

rea dos dois pases. O II Colquio foi realizado na Universidade do Estado do Rio de

Janeiro (2004). O III Colquio aconteceu mais uma vez na Universidade do Minho

(2006) e o IV Colquio teve lugar em 2008 na Universidade Federal de Santa Catarina,

em Florianpolis. Em 2010, o V Colquio foi realizado em Portugal, desta vez na

Faculdade de Psicologia e de Cincias da Educao da Universidade do Porto. O VI

Colquio foi sediado na Faculdade de Educao da Universidade Federal de Minas

Gerais e o VII Colquio, em 2014, na Universidade do Minho.

Sobre a Biblioteca ANPAE

A coleo Biblioteca ANPAE constitui um programa editorial que visa a

publicar obras especializadas sobre temas de poltica e gesto da educao e seus

processos de planejamento e avaliao. Seu objetivo incentivar os associados a

divulgar sua produo e, ao mesmo tempo, proporcionar leituras relevantes para a

formao continuada dos membros do quadro associativo e o pblico interessado no

campo da poltica e da gesto da educao.

A coletnea Biblioteca ANPAE compreende duas sries de publicaes:

Srie Livros, iniciada no ano 2000 e constituda por obras co-editadas com editoras

universitrias ou comerciais para distribuio aos associados da ANPAE.

Srie Cadernos ANPAE, criada em 2002, como veculo de divulgao de textos e

outros produtos relacionados a eventos e atividades da ANPAE.

Apoios Universidade Federal de Pernambuco/CA/ PPGE/UFPE

Centro Acadmico do Agreste - UFPE

Universidade do Minho Centro de Investigao em Educao, Portugal

Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior CAPES

Associao Brasileira de Currculo ABdC

Sindicato dos Trabalhadores em Educao em Pernambuco SINTEPE

Universidades Parceiras

Universidade Catlica de Petrpolis

Universidade do Estado de Santa Catarina

Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia de Pernambuco

Universidade do Porto

Universidade de Lisboa

Universidade Pedaggica de Moambique

Universidade Cabo-Verde, (UniCV)

Universidade Katyavala Bwila, Angola

Ficha Catalogrfica

M838c

Currculo, tecnologias, conhecimento escolar, gesto da escola e

histria social das disciplinas. - Srie Anais do XII Colquio

sobre Questes Curriculares/VIII Colquio Luso-Brasileiro de

Currculo/II Colquio Luso-Afro-Brasileiro de Questes

Curriculares, Organizao: Antnio Flvio Barbosa Moreira,

Mrcia Angela da S. Aguiar, e Isabel Carvalho Viana [Livro

Eletrnico]. Recife: ANPAE, 2016.

ISBN: 978-85-87987-03-7

Formato: PDF, 950 pginas

1. Educao. 2. Currculo. 3. Anais. I. Moreira, Antnio

Flvio. II. Aguiar, Mrcia Angela da Silva. III. Viana,

Isabel Carvalho. IV. Ttulo

CDU 37.01(06)

CDD 375

Organizadores

Antnio Flvio Barbosa Moreira - Professor titular da Universidade Catlica de Petrpolis.

Doutor em Educao.

Mrcia Angela da Silva Aguiar - Professora Titular da Universidade Federal de Pernambuco.

Doutora em Educao. Brasil.

Isabel Carvalho Viana - Professora e pesquisadora do Instituto de Educao e Psicologia da

Universidade do Minho, Portugal, Doutora em Educao.

Todos os arquivos aqui publicados so de inteira responsabilidade dos autores e

coautores, e pr-autorizados para publicao pelas regras que se submeteram ao XII

Colquio sobre Questes Curriculares/VIII Colquio Luso-Brasileiro de Currculo/II

Colquio Luso-Afro-Brasileiro de Questes Curriculares. Os artigos assinados refletem

as opinies dos seus autores e no as da Anpae, do seu Conselho Editorial ou de sua

Direo.

Endereo para correspondncia

ANPAE - Associao Nacional de Poltica e Administrao da Educao

Centro de Educao da Universidade Nacional de Braslia

Asa Norte s/n Braslia, DF, Brasil, CEP 70.310 - 500

http://www.anapae.org.br | E-mail: [email protected]

Servios Editoriais

Planejamento grfico, capa e editorao eletrnica:

Carlos Alexandre Lapa de Aguiar.

Nossa pgina na Web: www.coloquiocurriculo.com.br

Distribuio Gratuita

http://www.coloquiocurriculo.com.br/

Sumrio

Apresentao

Comisso Organizadora 23

Currculo e educao infantil, ensino

fundamental e mdio

I - Processos avaliativos na educao infantil: a participao das

crianas desafiam o currculo

Adilson De Angelo

26

II - Escola Bsica: desenvolvimento curricular a partir da reforma

educacional dos anos de 1990

Aline Rabelo Marques e Fabiany de Cssia Tavares Silva

34

III - Relao famlia e escola nos textos polticos para a educao

infantil

Amanda Leal Coutinho

42

IV - Articulao curricular: um desafio

Ana Cristina Gomes da Penha 50

V - Inovaes educativas no cotidiano escolar

Ana Cristina Gomes da Penha 59

VI - O "Ensino Secundrio" catlico em Gois: o currculo para o

curso normal (1889-1957)

Ana Maria Gonalves

65

VII - O "Projeto De Vida" desenvolvido como atividade curricular

em uma escola de ensino integral do estado de So Paulo

Ana Paula De Souza Ponso

75

VIII - Os assuntos mais abordados pelos coordenadores

pedaggicos na formao continuada e em servio dos professores

em trs escolas de ensino integral do estado de So Paulo

Ana Paula de Souza Ponso

84

IX - Poltica e prtica curricular na educao de jovens e adultos

Andria de Santana Santos e Antonio Amorim 92

X - Aproximaes de um currculo aventureiro no ensino da

geografia

Armando Peres Quintas Neto

100

XI - Quando um sentido hegemnico delimita a base curricular: um

olhar sobre a alfabetizao no PNAIC

Bonnie Axer

110

XII - Modos de subjetivao: o ver e o ver-se no caderno de

observao e registro da educao de jovens e adultos

Camila Maria Oliveira

119

XIII - Sobre a potncia das redes de conversaes com as crianas:

entre formas e foras de (re)pensar os currculos praticados na

educao infantil

Camilla Borini Vazzoler Gonalves e Nathalia Costa de Arajo

131

XIV - Currculo para o ensino mdio: tica e ou moral e cvica

Carlos Augusto Pereira de Souza 142

XV - Polticas curriculares e identidades profissionais na formao

de tcnicos em sade

Carlos Batistella

150

XVI - Educao integral em tempo integral no ensino fundamental

no Brasil: uma anlise sobre sua implementao e materializao e

materializao

Dalcinete Gomes de Souza

159

XVII - Currculo da educao infantil: musicalizao e linguagem

musical com bebs e crianas pequenas em creches e pr-escolas

Damio Rocha e Renan Rocha Gonalves

168

XVIII - Currculo da educao infantil: brinquedos e materiais para

bebs e crianas pequenas em creches e pr-escolas

Damio Rocha e Georgia Carneiro

183

XIX - Competncias gerais de matemtica: uma perspectiva

curricular no ensino fundamental

Daniela Jssica Veroneze e Arnaldo Nogaro

192

XX - Implicaes da jornada escolar ampliada no currculo da escola

de ensino fundamental

Danise Vivian

203

XXI - O currculo como prxis: o programa mais educao

possibilitando atividades no contraturno das escolas estaduais do

municpio de Rio Branco

Denison Roberto Braa Bezerra, Josenir de Arajo Calixto, Geane Reis de

Farias e Simone Maria Chalub Bandeira Bezerra

209

XXII - Prticas de iniciao cientfica com estudantes do ensino

fundamental, no clube de cincia da UFPA

Diana Gonalves dos Santos e Maria dos Remdios de Brito

219

XXIII - Os espaos para a criana: uma anlise das prticas

discursivas nos documentos oficiais da educao infantil

Diana Sueli Vasselai Simo

230

XXIV - O currculo da secretaria de educao do Distrito Federal:

construo coletiva

Edileuza Fernandes da Silva

239

XXV - A educao para a humanizao como princpio articulador

da relao docente-discente na educao de jovens e adultos

Edineide Souza S Leito e Marlia Gabriela de Menezes Guedes

248

XXVI - Desafios e possibilidades de integrao curricular em um

curso tcnico subseqente

Edna Vieira da Silva e Fabiula Tatiane Pires

258

XXVII - O currculo do ensino mdio noturno e as juventudes

esquecidas

Edvaldo Albuquerque dos Santos e Ana Maria do Nascimento Silva

267

XXVIII - O currculo do ensino mdio frente s diretrizes

curriculares nacionais

Eliane Cleide da Silva Czernisz, Marci Batisto, Isabel Francisco Barion,

Camila Aparecida Pio, Claudiane Aparecida Erram, Elaine Vieira

Pinheiro e Lorena Dominique Vilela Freiberger

276

XXIX - Sentidos e significados dos conhecimentos matemticos no

currculo integrado do PROEJA

Eliane Maria Pinto Pedrosa Marise Piedade Carvalho

283

XXX - Os prottipos de currculo da UNESCO: possibilidades e

desafios para uma poltica de reorganizao curricular no ensino

mdio da rede estadual do Cear.

Elizabete Tvora Francelino, Adriano Barros Carneiro, Alex Freitas Pires,

Francisca Salete Daniel Barros, Marta Lucas Sousa, Newton Malveira Freire,

Sueli Incio Barbosa, Joaquim Jos Jacinto e Jlio Wilson Ribeiro

291

XXXI - A emergncia da autonomia nas polticas curriculares para

educao infantil

Ellen Aguiar da Silva

301

XXXII - A infncia do currculo: o que pode o devir-criana no

currculo da educao infantil?

Erika Mariana Abreu Soares

310

XXXIII- O ensino mdio brasileiro: as finalidades curriculares e

suas implicaes no conhecimento e rendimento escolar - o caso de

uma escola pblica de Fortaleza

Euzene Mendona Barbosa Matos

316

XXXIV - Ensino mdio integrado: a experincia de implantao do

currculo integrado no Instituto Federal do sul de Minas

Fbio Brazier

330

XXXV - O que dizem os documentos curriculares nacionais do

ensino mdio sobre a oralidade?

Flvia Barbosa de Santana Arajo

339

XXXVI - Deliberao curricular e mutualidade: estudo sobre

colaborao entre participantes num projeto de investigao ao

Francisco Sousa

348

XXXVII - Dilemas extrusivos e intrusivos nas prticas docentes de

geografia nos anos iniciais

Gabriel Brasil de Carvalho Pedro

357

XXXVIII - A educao geogrfica e a formao cidad: uma anlise

dos currculos estaduais de ensino mdio

Igor Sacha Florentino Cruz

367

XXXIX - Consideraes em torno do currculo do primeiro ano do

ensino fundamental de nove anos: uma reflexo a partir dos

aprenderes e fazeres da infncia

Joane Santos do Nascimento Saturno, Conceio Gislne Nbrega Lima de

Salles e Thiago Gonalves Silva

376

XL - O currculo da educao infantil numa escola da rede jesuta

de educao

Jorge Luiz de Paula e Kely-Anee de Oliveira Nascimento

385

XLI - Currculo na educao infantil: planejamento na pedagogia de

projetos

Jos Batista de Barros

394

XLII - A organizao da proposta curricular do municpio pelo

professor: uma experincia de Itapissuma

Jos Santos Pereira, Glria Maria Alves Machado, Rilva Jos Pereira Ucha

Zlia Maria Freitas dos Santos

401

XLIII - A experincia de incluir competncia no currculo do curso

tcnico em vendas de uma escola tcnica de Rondonpolis-MT

Julianne Caju de Oliveira Souza Moraes Valdera Aparecida Cardoso

Janaina Monteiro da Silva

410

XLIV - Currculo em movimento: novos olhares analticos, em uma

perspectiva contempornea, para uma pesquisa "concluda"

Jlio Csar Gomes de Oliveira e Marcio Antonio da Silva

419

XLV - O corpo na ps-modernidade: discursos e prticas na

educao fsica no ensino mdio

Larissa Beraldo Kawashima e Evando Carlos Moreira

429

XLVI - Criaes brincantes: uma composio infantil sobre o

currculo do ensino fundamental de nove anos

Larissa Monique de Souza Almeida

439

XLVII - A pobreza no currculo e no discurso docente em

Macei/AL

Laura Cristina Vieira Pizzi, Gernura Ribeiro Ramos Neta e Mariclia

Ribeiro da Silva

449

XLVIII - Integrao das tdic no currculo do ensino fundamental:

avanos, entraves e possibilidades

Lina Maria Gonalves, Gerlane Romo Fonseca Perrier e Maria Elizabeth

Bianconcini de Almeida

457

XLIX - O tempo de ensino e aprendizagem para a formao

filosfica no ensino mdio

Livio dos Santos Wogel

466

L - O currculo da educao bsica no Brasil e sua relao com a

inovao pedaggica

Magali Maria de Lima Ribeiro

474

LI - Geografia monstro: um currculo tenebroso nos anos iniciais

do ensino fundamental

Mara Freitas de Arajo Rodrigues

488

LII - Do oficial ao real: caminhos e descaminhos do currculo de

sociologia no ensino mdio

Marcelo Sales Galdino e Priscilla Silvestre de Lira Oliveira

496

LIII - Conflitos entre a manuteno do/a infantil e o dispositivo da

antecipao da alfabetizao no currculo do primeiro ano do ensino

fundamental

Maria Carolina da Silva Caldeira

506

LIV- Entre a assepsia e a sistematizao: a construo do currculo

da educao infantil e as perspectivas de leitura e escrita

Maria Clara de Lima Santiago Cames e Cristiane Gomes de Oliveira

515

LV - Descolonizao, avanos e permanncias:a Lei 10.639/03 no

currculo do ensino fundamental

Maria de Ftima Garcia, Juliane Alves de Oliveira Costa e Maria Misaely

Lucena Arajo

523

LVI - Professora ou artista? A obra de Frida Kahlo potencializando

a materialidade do currculo aventureiro no 1 ciclo do ensino

fundamental

Maria do Rozrio Azevedo da Silva, Ana Paula de Albuquerque Melo e

Figueiredo Gustavo Vasconcelos Fonseca

531

LVII - O currculo do ensino mdio no contexto do modelo de

gesto adotado em Pernambuco a partir de 2007

Maria do Socorro Valois Alves

541

LVIII - Prticas de subjetivao de crianas em um currculo por

competncias: auto-regulao e flexibilidade

Maria Elena Ortiz Espinoza e Marlucy Alves Paraiso

550

LIX - A avaliao do spaece e as redefinies do currculo praticado

nas aulas de geografia do ensino mdio

Maria Ferreira Gomes e Lenilton Francisco de Assis

558

LX - O estado do conhecimento sobre currculo para a educao

infantil nos anos de 2005 a 2014 ?

Maria Jaqueline Paes de Carvalho

568

LXI - Educao infantil: histrias que revelam e tecem caminhos

Maria Luisa Furlin Bampi e Virginia Georg Schindhelm 577

LXII - Conecte-se: sentindo, pensando e agindo uma experincia de

desenvolvimento de habilidades socioemocionais e de valores para

professores e adolescentes do ensino mdio

Mariana Marques Arantes Eugnia Paula Bencio Cordeiro Aurino Lima

Ferreira Adriana Dantas de Oliveira Menezes Cristiane Maria Cardoso

Soares Michele Fonsca Cmara Brasil de Oliveira Monica Lins Medeiros

586

LXIII - Currculo e infncia na educao do campo: reflexes sobre

a prtica docente

Maria Natalina Mendes Freitas

595

LXIV - Gesto flexvel do currculo do ensino da msica no ensino

bsico: um estudo de caso luso-brasileiro

Maristela de Oliveira Mosca, Anabela Pano Ramalho e Jason Desidrio

Bezerra

605

LXV - Performatividade: atravessamentos de um dispositivo de

controle na constituio de sujeitos escolares

Mirele Corra e Luiz Guilherme Augsburger

613

LXVI - Atuao das polticas curriculares para o ensino

fundamental anos iniciais

Miriam Espindula dos Santos e Maria Zuleide da Costa Pereira

621

LXVII - As polticas curriculares para educao profissional e a

organizao curricular dos cursos tcnicos de nvel mdio

Nri Emlio Soares Jnior

628

LXVIII - Mltiplos aspectos do cotidiano escolar presentes nas

imagens produzidas por crianas e jovens

Patrcia Freitas e Sergio Rocha

637

LXIX - Diferena e diversidade na educao infantil: uma reflexo a

partir da perspectiva dos estudos sociais da infncia sobre a BCNN

Patrcia Maria Ucha Simes, Jardiene Manuela Santos da Silva, Riva

Resnicke e Milena Carla monteiro de Fraga

647

LXX - Gnero e currculo na educao infantil: uma anlise da base

nacional curricular comum

Patrcia Maria Ucha Simes, Elaine Suane Florncio dos Santos, Karla

Cabral Barroca e Maria Thas de Oliveira Batista

656

LXXI - Encontros e disputas disciplinares no currculo do ensino

fundamental no colgio Pedro II

Pedro Bernardes Pinheiro e Ana Angelita Costa Neves da Rocha

665

LXXII - Reforma educativa e mudanas no currculo do ensino

mdio no estado do acre: anlises preliminares

Pelegrino Santos Verosa, Geane Reis de Farias, Josenir de Arajo Calixto,

Luciana Ferreira de Lira, Mizraiam Lima Chaves e Valdiza Ferreira Muniz

67

LXXIII - Corpo e movimento em um currculo para educao

infantil

Roberta Duarte Paula e Denise de Souza Destro

685

LXXIV - Disputas de sentido sob o significante campos de

experincias nas polticas de currculo para educao infantil no

Brasil

Rosely dos Santos Almeida e rika Virglio Rodrigues da Cunha

693

LXXV - A organizao da escola em ciclos e o ensino da escrita

alfabtica: um enfoque s mudanas pedaggicas presentes na sala

de aula

Solange Alves de Oliveira-Mendes

701

LXXVI - O currculo na EJA: as tticas dos praticantespensantes

em direo a justia cognitiva e social

Valria Campos Cavalcante Marinaide Lima de Queiroz Freitas e Paulo

Manuel Teixeira Marinho

710

LXXVII - Currculo e sexualidades na educao infantil

Virginia Georg Schindhelm e Maria Luisa Furlin Bampi 720

Currculo e avaliao

LXXVIII - Avaliao e currculo: sistematizando o debate

Adriana Bauer 729

LXXIX - Currculo e avaliao: implicaes para a tal qualidade do

ensino

Alexsandra Lima dos Santos

742

LXXX - Significaes de avaliao no Glossary of Curriculum

Terminology

Ana Angelita da Rocha

751

LXXXI - A construo das diretrizes da avaliao da/para

aprendizagem na rede municipal de ensino de Macei:

(des)construindo conceitos e concepes

Ana Patrcia Calheiros, Eliane Maria Teodoro e Paulo Marinho

760

LXXXII - A lngua estrangeira na educao bsica em Oiapoque,

AP e as contradies na avaliao do ENEM

Anderson Monteiro Andrade, Mary GonalvesFonseca e Max Silva do

Esprito Santo

769

LXXXIII - Avaliao e qualidade da educao em Moambique

Antnio Fernando Zucula 778

LXXXIV - Avaliao da aprendizagem em sala de pedagogia:

experienciando trabalho com cadernos de memrias de aulas

Celia Regina Teixeira

787

LXXXV - Avaliao educacional: as concepes veiculadas na

produo acadmica do programa de ps-graduao em educao:

currculo

Celia Regina Teixeira

796

LXXXVI - Anlise das produes acadmicas publicadas em

diferentes espaos discursivos: especificidades da avaliao da

aprendizagem

Crislainy de Lira Gonalves, Lucinalva A. A. de Almeida, Priscila M. V. S.

Magalhes, Geisa Natlia da R. Silva e Wanessa Maria da Silva

804

LXXXVII - O contexto da avaliao do ensino fundamental i no

colquio luso-brasileiro sobre questes curriculares

Daniela Schiabel e Ana Caroline de Brito Tomaz

812

LXXXVIII - O processo de formulao do sistema de avaliao da

educao bsica no Brasil

Dayse Marinho Martins

821

LXXXIX - Do elogio reclamao: prticas curriculares avaliativas

ocultas em uma sala de aula heterognea

Gisele Gomes de Almeida, Hellen Christina Justino Barros e Polyana do

Nascimento Dias

831

XC - Instrumentos avaliativos materializados no cotidiano da sala

de aula: perspectivas de avaliao da aprendizagem e currculo

Glaucia Maria dos Santos Cordeiro

840

XCI - Avaliao das escolas: enquadramento terico e conceptual

Joana Sousa 847

XCII - Currculo e avaliao: algumas implicaes das avaliaes

externasacerca das prticas curriculares no contexto escolar

Joelma Miriam de Oliveira

857

XCIII - Implicaes das polticas educacionais de avaliao nacional

na gesto escolar: o que fazer com os resultados?

Josefa Roberta Roque dos Santos e Katharine Ninive Pinto da Silva

862

XCIV - Avaliao na educao bsica: descompasso entre a teoria e

a prtica

Maria Emlia Gonzaga de Souza, Martha Elisa Santos e Gabriel Santos

Pereira

871

XCV - Prticas avaliativas em matemtica na escola bsica

Maria Isabel Ramalho Ortigo 880

XCVI - Referenciais curriculares e avaliao em matemtica: anlise

de trs documentos oficiais

Maria Joseane Santos Teixeira

890

XCVII - Avaliao generalizada, tecnologias digitais e mercado

educacional em tempos de polticas globalizadas

Marlia Segabinazzi e Viviane Grimm

899

XCVIII - A (re)produo da desigualdade de conhecimento em

quatro escolas pblicas do estado do Esprito Santo

Naira da Costa Muylaert Lima e Wellington Silva

908

XCIX - As cartas e o motivo do encontro na questo do currculo e

avaliao

Roselete Fagundes de Aviz e Maria Conceio Coppete

922

C - Poltica curricular e prticas pedaggicas: metamorfoses da

avaliao escolar

Tania de Assis Souza Granja e Maria de Lourdes Rangel Tura

931

CI - Avaliac ao externa e curri culo: possveis impactos na gesto dos

cursos de graduao da Universidade Federal de Pernambuco

Wilma dos Santos Ferreira, Edson Francisco de Andrade e Crislayne Barbosa

de Santana Lima

942

23

Apresentao

Os XII Colquio sobre Questes Curriculares/ VIII Colquio Luso-Brasileiro de

Currculo/II Colquio Luso-Afro-Brasileiro de Questes Curriculares foram realizados,

simultaneamente, nos dias 31 de agosto, 1 e 2 de setembro de 2016 na

Universidade Federal de Pernambuco, em Recife, Pernambuco/Brasil. Este

evento que se realiza, tradicionalmente, de forma alternada, em Universidades

portuguesas e Universidades brasileiras, congregou, mais uma vez,

acadmicos, estudantes de ps-graduao e profissionais da rea da educao

que investigam e debatem questes atinentes ao campo dos Estudos

Curriculares.

Ao mesmo tempo em que constitui um espao cientfico privilegiado

para a socializao de estudos e pesquisas, o evento favorece um intenso

intercmbio entre pesquisadores/as do Brasil, de Portugal e de Pases

Africanos. A riqueza, amplitude e complexidade dos temas que foram

abordados ao longo do evento contriburam para ampliar o debate necessrio

ante os problemas e desafios que as questes contemporneas trazem para o

campo do currculo. Sendo um espao privilegiado para a reflexo, discusso e

troca de experincias, a realizao simultnea destes trs colquios propiciou,

tambm, maior aprofundamento do debate entre os profissionais de Educao,

em geral, e do Currculo, em particular, de diferentes pases, com destaque para

os da Comunidade dos Pases de Lngua Portuguesa.

O tema central dos Colquios CURRCULO: ENTRE O COMUM

E O SINGULAR constituiu a referncia maior das atividades organizadas a

partir de dezesseis Eixos Temticos.

Dentre as mltiplas atividades dos Colquios destacaram-se a

apresentao e debate de mais de seiscentos trabalhos no formato de

comunicaes orais, bem como as conferncias plenrias, as discusses nas

mesas redondas, as reunies de grupos de pesquisadores e reunies poltico-

organizativas de entidades cientficas e as atividades culturais.

O evento recebeu apoio do Instituto de Educao da Universidade do

Minho, da Universidade Federal de Pernambuco, da Universidade Federal

Rural de Pernambuco, da Universidade de Pernambuco, do Instituto Federal de

24

Educao Tecnolgica, da Secretaria de Educao de Pernambuco, do

Sindicato dos Trabalhadores em Educao de Pernambuco, da CAPES, dentre

outros. Concorreu, sobremaneira, para o sucesso dessa edio do Colquio de

Currculo, o trabalho dedicado do comit cientfico, dos assessores ad-hoc e das

comisses organizadoras no Brasil e em Portugal.

Por fim, mediante a entrega destes ANAIS, a Comisso Organizadora

socializa com o pblico as comunicaes orais que foram apresentadas e

debatidas nos vrios painis, com a certeza de que mais um passo foi dado na

direo do fortalecimento do campo do currculo, ao mesmo tempo em que

novas questes educacionais desafiam os pesquisadores para a busca de

respostas que se revelam sempre provisrias.

Comisso Organizadora

25

CURRCULO E EDUCAO INFANTIL,

ENSINO FUNDAMENTAL E MDIO

26

- I -

PROCESSOS AVALIATIVOS NA EDUCAO

INFANTIL: A PARTICIPAO DAS CRIANAS

DESAFIA O CURRCULO

Adilson De Angelo GEDIN/UDESC (Brasil)

QUE EDUCAO INFANTIL, PARA QUAL CRIANA?

No contexto brasileiro, a efetivao do direito da criana pequena

educao (consagrado na Conveno sobre os Direitos da Criana, aprovada

pela Assembleia Geral das Naes Unidas, em 20 de novembro de 1989)

dialoga com as conquistas expressas na Constituio Federal (1988), no

Estatuto da Criana e do Adolescente (1990), na Lei de Diretrizes e Bases da

Educao Nacional (1996) quando pensamos na infncia mais alargada e

com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educao Infantil (DCNEI -

1999/2009) , quando tratamos da especificidade educativa da pequena

infncia. Somam-se a esse dilogo as discusses mais ampliadas sobre os

direitos das crianas, a eficcia dos servios a elas destinados e a intensidade dos

estudos e debates que nos informam das experincias que se vo desenhando

em espaos coletivos de educao e cuidado da criana pequena. (DE

ANGELO, 2012, 114)

Desde ento, o campo da Educao Infantil tem mobilizado diferentes

atores no processo de elucidao das concepes de infncia, criana, educao

e cuidado, assim como das formas em que se daro as prticas pedaggicas de

aprendizagem e desenvolvimento infantil. Os conhecimentos produzidos sobre

a educao das crianas pequenas assinalam contundentemente a marcada

importncia da relao que se estabelece entre educao e cuidado, como

principal marca desta etapa de educao. Portanto, a Educao Infantil

27

constitui-se locus da totalidade dos direitos da criana, no os reduzindo

somente ao direito educao. Poder mesmo dizer-se, com propriedade,

que o direito educao em Educao Infantil s se concretiza na exata medida

em que nos contextos educativos so mobilizados todos os outros direitos da

criana, nomeadamente, os direitos de proteo da sua integridade fsica e

psicolgica, o direito a brincar, o direito sade, o direito de ser informada, o

direito a ter voz, o direito de participar ativamente em todos os aspetos

relevantes da vida coletiva na creche e pr-escola. (CERISARA, 1999;

SARMENTO, 2015)

No movimento de se questionar que Educao Infantil, para qual

criana?, podemos dizer que inaugurar outra imagem social da criana significa

dar vazo s formas alternativas de se enderear a Educao Infantil,

considerando que j no bastam somente as dimenses ativas e participativas

das crianas nas rotinas dirias das creches e pr-escolas, mas as dimenses

polticas e de cidadania que a participao infantil nas instituies educativas

implica. (Dhalberg, Moss e Pence, 2003)

CURRCULO E PARTICIPAO INFANTIL

Confirmando algumas questes j asseguradas em documentos

anteriores, as DCNEI propem o entendimento da Educao Infantil como

primeira etapa da Educao Bsica, oferecida espaos institucionais no

domsticos de creches e pr-escolas, que educam e cuidam de crianas de zero

a cinco anos de idade, regulados e supervisionados por rgo competente do

sistema de ensino e submetidos a controle social. Toma por definio a criana

na sua condio de sujeito histrico e de direitos que, nas interaes, relaes e

prticas cotidianas que vivencia, se constri e construdo em sua identidade

pessoal e coletiva. Sendo produzida na e sendo produtora de cultura, criana

se confere, portanto, a condio de sujeito dotado de potencialidades e

percebido em sua concretude histrica como algum que brinca, imagina,

fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constri

sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura.

Este encaminhamento pressupe alguns movimentos de ruptura com

polticas e prticas pedaggicas que historicamente tomaram a criana como

objeto de tutela, que precisa ser conduzida, governada, ajuizada, vigiada pelos

adultos, estes, sim, os nicos detentores dos saberes, com poder de governar os

tempos e de determinar as possibilidades de ser criana (BATISTA, 1998).

28

preciso levar em conta que o processo de intensificao das aes

das crianas relativas aos contextos sociais e naturais, no sentido de ampli-los e

diversific-los, sobretudo atravs das interaes sociais, da brincadeira e das

mais variadas formas de linguagem e contextos comunicativos, exige considerar

as crianas como ponto de partida e de chegada, inseridas, como no poderia

deixar de ser, no mbito de uma infncia determinada (ROCHA, 2010). Ou

seja, orienta-se elaborao de vivncias educacionais-pedaggicas que tornem

possveis s crianas a apropriao de elementos significativos de sua cultura, a

par e passo com a apropriao ou a construo de novos conhecimentos, sendo

necessria a observao das aes infantis, individuais e coletivas, acolhendo

suas perguntas e suas respostas, buscando compreender o significado de sua

conduta.

Exige-se, portanto, a garantia do desenvolvimento e da aprendizagem

das crianas a partir da diversificao das experincias prximas e cotidianas,

em direo apropriao de conhecimentos no mbito mais ampliado e plural,

sem finalidade cumulativa ou com carter de terminalidade em relao

elaborao de conceitos (ROCHA, 2010, p. 13).

Como poderamos, ento, pensar a questo do currculo na Educao

Infantil levando em conta todas as questes anteriormente apresentadas? Que

sentido se tem conferido a esse termo nos saberes e fazeres da Educao

Infantil no contexto em que nos encontramos? Aqui, somos desafiados a

assumir o que orientam as DCNEI:

Art. 3 O currculo da Educao Infantil concebido

como um conjunto de prticas que buscam articular as

experincias e os saberes das crianas com os

conhecimentos que fazem parte do patrimnio cultural,

artstico, ambiental, cientfico e tecnolgico, de modo a

promover o desenvolvimento integral de crianas de 0 a 5

anos de idade. (BRASIL, 2009, p. 19)

Como se faz notar, apregoa-se a vivncia de prticas com as crianas que

se efetivam nas relaes sociais que elas estabelecem com os seus pares e

tambm com os adultos, e que integram a construo de suas identidades. Da

decorre a exigncia de que as vivncias que se efetivam no cotidiano da

Educao Infantil sejam conferidas de intencionalidade pedaggica,

responsavelmente planejada e frequentemente avaliadas. Exigncia que se

estende tambm concepo de currculo como um conjunto de prticas que

29

possam articular as experincias e os saberes das crianas com os

conhecimentos que fazem parte do patrimnio cultural historicamente

construdo.

Nas suas experincias de aprendizagem, as crianas precisam ser

reconhecidas e desafiadas em suas possibilidades criativas. necessrio que se

tenha sempre em conta que h todo um mundo que se descortina e se

apresenta a elas repleto de perguntas. Nas suas especificidades e interesses

singulares, em busca de respostas, elaboram hipteses e sentidos pessoais sobre

si mesmas, sobre as coisas e sobre o mundo.

Pensar na problematizao ou na elaborao de conceitos em

Educao Infantil no significa defender um currculo pautado no mero ensino

de contedos, na perspectiva da escolarizao. Alis, somos contundentemente

informados pelas DCNEI (art. 11) da necessidade de rompimento com essa

perspectiva de antecipao de contedos que sero trabalhados no Ensino

Fundamental (BRASIL, 2009, p. 12). Trata-se de pensar como orientar o

trabalho junto s crianas de at trs anos em creches e como garantir prticas

junto s crianas de quatro e cinco anos que se articulem, mas no antecipem

processos do Ensino Fundamental (BRASIL, 2009, p. 2).

A mais completa traduo desta diretriz s ser plenamente possvel

mediante um posicionamento poltico e pedaggico acerca do currculo para a

Educao Infantil que possa provocar um cotidiano de situaes agradveis,

estimulantes, que desafiem as crianas (na interao entre elas, com os adultos e

com o mundo) a se expressarem e a se comunicarem nas diferentes linguagens.

Que possibilite a emerso da criana como sujeito do direito criao e

organizao de pensamentos e ideias, ao desejo de conviver, brincar e trabalhar

em grupo, possibilidade de mediar e resolver problemas e conflitos, ao acesso

e apropriao dos saberes historicamente construdos pela humanidade e que

circulam em nossa sociedade.

PARTICIPAO INFANTIL E AVALIAO

Na tarefa de se pensar as aes e metas no que tange a aprendizagem e

o desenvolvimento das crianas, ficam algumas questes: como enderear

prticas que respeitem os direitos das crianas, sobretudo no que tange sua

participao efetiva no planejamento, no desenvolvimento e na avaliao dos

cotidianos educativos? Como se efetivam os processos avaliativos das crianas,

no que se refere ao seu desenvolvimento e a sua aprendizagem? Que lugar elas

30

so desafiadas a ocupar nos processos que refletem sobre suas aprendizagens e

conquistas?

A construo de possveis respostas a estas questes requer que se leve

em conta que, conforme as realidades nos informam, as instituies de

Educao Infantil, sob a tica da garantia de direitos, so responsveis por criar

procedimentos para avaliao do trabalho pedaggico e das conquistas das

crianas. Tambm preciso considerar a feitura de um discurso que aponta

direo de como se deve pensar a prtica para e com e as crianas,

reconhecendo-as como sujeitos de direitos. Direitos de participao, inclusive!

Nessa perspectiva, avaliao deve ser tomada como ferramenta de

reflexo sobre a prtica pedaggica na busca de melhores caminhos para

orientar as aprendizagens das crianas, sem violentar os direitos infantis

(ALVES, 2011). Ela deve perpassar todo o contexto de aprendizagem,

tornando possvel uma reflexo sobre as atividades propostas e o modo como

foram realizadas, as instrues e os apoios oferecidos s crianas individual e

coletivamente, a forma como o profissional docente respondeu s

manifestaes, s interaes e aos agrupamentos das crianas, o material

oferecido e o espao e o tempo garantido para a realizao das atividades.

Ainda tomando como referncia as DCNEI, importante recordar

que, conforme estabelecido na Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional

- LDBN n 9.394/96 (BRASIL, 1996), a avaliao na Educao Infantil dever

ter a finalidade de acompanhar e repensar o trabalho realizado. Assim se

expressa tal diretriz:

Art. 10. As instituies de Educao Infantil devem criar

procedimentos para acompanhamento do trabalho pedaggico e para avaliao

do desenvolvimento das crianas, sem objetivo de seleo, promoo ou

classificao, garantindo: I - a observao crtica e criativa das atividades, das

brincadeiras e interaes das crianas no cotidiano; II utilizao de mltiplos

registros realizados por adultos e crianas (relatrios, fotografias, desenhos,

lbuns etc.); III - a continuidade dos processos de aprendizagens por meio da

criao de estratgias adequadas aos diferentes momentos de transio vividos

pela criana (transio casa/instituio de Educao Infantil, transies no

interior da instituio, transio creche/pr-escola e transio pr-

escola/Ensino Fundamental); IV - documentao especfica que permita s

famlias conhecer o trabalho da instituio junto s crianas e os processos de

desenvolvimento e aprendizagem da criana na Educao Infantil; V - a no

reteno das crianas na Educao Infantil (BRASIL, 2009, p. 22).

31

Como se pode observar, as diretrizes acima descritas no fazem aluso

participao das crianas nos processos avaliativos, muito embora oriente a

utilizao de mltiplos registros realizados por adultos e crianas.

Verifica-se, portanto, nos documentos oficiais, o enfraquecimento da

participao das crianas nos processos que se vinculam sua educao como

um direito. A defesa dos direitos das crianas de serem consultadas e ouvidas,

de exercerem sua liberdade de expresso e opinio, e o direito de tomarem

decises em realidades que lhes dizem respeito diretamente, perde eminente

fora quando se trata das questes da avaliao.

Ter-se-ia diludo a ideia da criana como sujeito de direito

participao? Perpetua-se, ento, ideia de que a avaliao no pode se construir

como espao democrtico?

Fica a sensao de que a defesa da criana como sujeito de participao

nas estratgias da ao pedaggica fica relegada somente ao planejamento da

ao docente. Romper com concepes e prticas de avaliao inadequadas de

verificao da aprendizagem com vistas promoo ou a reteno das

crianas na Educao Infantil pressupe adotar como princpio educativo, nas

creches e pr-escolas, a construo de outros olhares e de outras escutas em

relao s crianas. Significa tom-las como ator ativo e criativo, como um

sujeito e cidado de potenciais, direitos e responsabilidades, com sua prpria

inclinao e poder para aprender, investigar e se desenvolver como ser humano

em uma relao ativa com outras pessoas (MOSS, 2002, p. 243). Uma criana

que pode ser parte ativa no processo de criao de conhecimento, que em

interao com o mundo ao redor tambm ativa na construo, na criao de

si mesma, de sua personalidade e de seus talentos; uma criana que se constitui

protagonista sobre o seu prprio processo de aprendizagem e tendo o direito

de interpretar o mundo (Id. ib.).

As reflexes advindas da consolidao da Pedagogia da Educao

Infantil (ROCHA, 2001, 2010; CERISARA, 2004) tem-se mostrado

fundamentais na defesa de que possvel a construo de prticas pedaggicas

menos centradas nos pontos de vista dos adultos, uma vez que legitima a voz

das crianas, alm de consider-las sujeitos de suas prticas.

Ou seja, a Educao Infantil como um espao e um tempo que valha

por si mesmo, que tenha seu foco nas relaes pedaggicas, no cuidar e educar

e no direito das crianas, considerando-as como atores sociais. Um espao e um

tempo [...] para a ampliao do repertrio vivencial e cultural das crianas a

partir de um compromisso dos adultos, que se responsabilizam por organizar o

32

estar das crianas em instituies educativas que lhes permitam construir

sentimentos de respeito, troca, compreenso, alegria, apoio, amor, confiana,

solidariedade, entre tantos outros. Que lhes ajudem a acreditar em si mesmos e

no seu direito de viver de forma digna e prazerosa (CERISARA, 2004).

ENTO... (?!)

importante se ter em conta que os processos que envolvem a

avaliao das crianas presentes nas instituies de Educao Infantil esto em

constante movimento, tendo como elementos estruturais a observao, o

planejamento, o registro, a anlise avaliativa e a sua partilha e o replanejamento

das aes educativas propostas. Ponderando a dimenso polissmica que a

palavra avaliao pode ter, no se pode perder de vista neste estudo que nos

processos pedaggicos, incluindo a os avaliativos, no h neutralidade, pois as

escolhas feitas estaro sempre vinculadas s trajetrias humano-profissionais, a

posicionamentos polticos e pedaggicos.

Sobre a possibilidade de participao infantil nos contextos educativos,

incluindo a os seus processos de planejamento, execuo e avaliao das

diferentes vivncias, temos conscincia de que este movimento no se

apresenta como uma mera estratgia pedaggica nem um modismo, mas

advinda de uma renovada concepo da infncia como gerao constituda por

sujeitos activos com direitos prprios (no mais como destinatrios passivos da

aco educativa adulta) e um eixo de renovao da escola pblica, das suas

finalidades e das suas caractersticas (SARMENTO, TOMS, SOARES, 2007,

p. 197).

Ouvir as crianas no interior das instituies uma condio para a

garantia dos direitos infantis e para um dilogo justo, de compartilhamento do

poder (MOSS, 2002). Considerar a criana como ator social, permitir que sua

voz se faa ouvir condio fundamental para a conhecermos e

compreendermos como se constituem e se organizam estas apreenses,

construes e significaes, ao mesmo tempo em que passamos a perceb-la

para alm de nossas certezas pr-estabelecidas configuradas em uma lgica

adulta.

33

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS BATISTA, Rosa. A rotina do dia a dia da creche: entre o proposto e o vivido. Florianpolis, SC. Dissertao (Mestrado em educao) Universidade Federal de Santa Catarina, 1998. BRASIL. Ministrio da Educao e Cultura. Secretaria de Educao Bsica. Diretrizes curriculares nacionais para a Educao Infantil; Resoluo CNE/CEB 5/2009. Dirio Oficial da Unio, Braslia, 2009a. CERISARA, Ana Beatriz. Educar e cuidar: por onde anda a educao infantil?. In: Revista Eletrnica PERSPECTNA. Florianpolis, n. 17, n. Especial, p. 11 - 21, jul./dez. 1999, p. 11-22. DAHLBERG, Gunilla; Moss, Peter; Pence, Alan (2003). Qualidade na Educao da Primeira infncia: perspectivas ps-modernas. Porto Alegre. Artes Mdicas. DE ANGELO, Adilson. Educao Infantil e currculo: contribuies freirianas ao debate. In: Dialogia, So Paulo, n. 16, p. 113-125, 2012. MOSS, Peter. Reconceitualizando a infncia: crianas, instituies e profissionais. In: MACHADO, Maria Lcia de A. (Org.). Encontros e desencontros em educao infantil. So Paulo: Cortez, 2002. p. 235-248. ROCHA, E. A. C. Diretrizes Educacionais-Pedaggicas para a Educao Infantil In: Diretrizes educacionais pedaggicas para educao infantil / Prefeitura Municipal de Florianpolis. Secretaria Municipal de Educao. Florianpolis: Prelo Grfica& Editora Ltda., 2010. P. 12. SARMENTO, Manuel Jacinto; FERNANDES, Natlia; TOMS, Catarina. Polticas pblicas e participao infantil. In Educao, Sociedade & Culturas, n 2. Porto: Edies Afrontamento Lda.2007. p.183-206 SARMENTO, Manuel Jacinto. Para uma agenda da educao da infncia em tempo integral assente nos direitos da criana. In ARAJO, Vnia Carvalho de (Org.). Educao Infantil em jornada de tempo integral: dilemas e perspectivas. Vitria: Edufes, 2015.

34

- II -

ESCOLA BSICA NO INTERIOR DOS

CONTORNOS DO DESENVOLVIMENTO

CURRICULAR A PARTIR DA REFORMA

EDUCACIONAL DOS ANOS DE 1990

Aline Rabelo Marques (Observatrio de Cultura Escolar, UFMS)

Fabiany de Cssia Tavares Silva (Observatrio de Cultura Escolar,

UFMS)

NOTAS INTRODUTRIAS

Este texto apresenta parte de resultados de pesquisa apresentado no

relatrio de concluso do curso de Mestrado em Educao, que em seus limites,

recupera anlises sobre a instituio da Educao Bsica no Brasil e sua relao

com o desenvolvimento curricular, mais especificamente, os contornos da

Escola Bsica brasileira (conceito e organizao).

Como norteadores das anlises, elencamos algumas questes, a saber:

quais as compreenses de Escola Bsica nos contornos do desenvolvimento

curricular organizado a partir da reforma educacional dos anos de 1990? Qual o

conceito e que tipo de organizao foi impressa em documentos curriculares

oficiais? Quais os contornos do desenvolvimento curricular no perodo de 1998

a 2013?

Tomamos por objeto para responder a esses questionamentos, um conjunto de

documentos curriculares nacionais, publicados entre os anos de 1998 a 2013:

Parmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental (PCN),

Referencial Curricular Nacional para a Educao Infantil (RCNEI) e as

Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN). Esses documentos esto propostos

35

em contexto nacional, desenhando as proposies para a Escola Bsica, que se

deram a partir de contornos especficos do desenvolvimento curricular,

organizadas em documentos curriculares propostos em finais dos anos de 1990

e comeo dos anos 2000.

Todavia, compreendemos que as inauguraes articuladas nessas

dcadas tiveram bases legais lanadas em documentos de anos anteriores, o que

justifica recuperaes histricas e conceituais de discusses para alm do

recorte temporal delimitado. Sobretudo, discusses tecidas na Constituio

Federal de 1988 e na Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional de 1996.

Entre os resultados, destacamos a centralidade das noes/concepes/ideias

de Escola Bsica que foram organizadas, as quais ressignificam discursivamente

os processos de escolarizao.

Os contornos da Escola Bsica brasileira, a partir de concepes

inauguradas e/ou reformuladas em documentos/relatrios de grandes reunies,

foram articulados por organismos internacionais a partir dos anos de 1990. E os

documentos produzidos traduziram a noo/conceito de Educao Bsica, que

serviu de matriz de referncia para a articulao em territrio nacional.

O CONCEITO DE EDUCAO BSICA NO INTERIOR DOS

DOCUMENTOS CURRICULARES

O conceito Educao Bsica inaugurado no campo educativo brasileiro

com a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDBEN), n 9.394/96,

sancionada em 20 de dezembro de 1996, no que diz respeito aos nveis e

modalidades de Educao e Ensino no Pas, constituda como um dos nveis

que dariam forma a Educao Escolar.

Conforme o Artigo 21 inciso primeiro: A educao escolar compe-

se de: I - educao bsica, formada pela educao infantil, ensino fundamental e

ensino mdio; II - educao superior. (BRASIL, 1996, p. 11). Diante disso,

definiu-se que a Educao Bsica, parte da Educao Escolar, estaria

subdividida em trs etapas de formao sequenciadas, Educao Infantil,

Ensino Fundamental e Ensino Mdio.

Para alm da Educao Escolar, a LDBEN (1996) lanou contornos

para diferentes modalidades de ensino, a saber: Educao Especial, Profissional,

36

Indgena, no Campo e Ensino a Distncia. Contudo, investigamos

especificamente as etapas da Educao Infantil e Ensino Fundamental1 .

A exposio desta Lei corroborou a ligao entre a Educao Bsica e a

necessidade das instituies escolares, que contaria com etapas de ensino

obrigatrias, as quais encontrariam na escola espao privilegiado de efetivao.

A escola, para alm desse privilgio, assumiu o monoplio da concretizao dos

projetos educativos, visto que a LDBEN no previa outro espao de relaes

educativas formais.

No Artigo 22, foram dados os fins da Educao Bsica. A educao

bsica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formao

comum indispensvel para o exerccio da cidadania e fornecer-lhe meios para

progredir no trabalho e em estudos posteriores. (BRASIL, 1996, p. 11). A

partir das finalidades enunciadas, algumas relaes foram estabelecidas entre a

Educao Bsica e a cidadania, o mercado de trabalho e os estudos posteriores.

Em verdade, antes de ter sido inaugurada no campo educativo, com a

publicao da LDBEN, o conceito de Educao Bsica havia sido apresentado,

no campo jurdico, na Constituio Federal de 1988.

No texto da Constituio, o termo apareceu em 16 (dezesseis)

momentos distintos, referindo-se ao dever do Estado, ao regime de

colaborao, a profissionais da educao bsica, porcentagem de aplicao da

Unio e dos entes federados, fonte adicional de financiamento, distribuio

de cotas estaduais e municipais (Artigo 212 pargrafo 6), a projetos de lei

relativos organizao da seguridade social, universalizao da educao

bsica, ao financiamento da educao bsica, a princpios basilares do ensino, a

competncias dos entes federados, entre outros.

No entanto, definir como funo da Unio realizar os delineamentos

necessrios educao nacional no foi privilgio da Constituio de 1988, pois

na Constituio Federal de 1946 ficou definido que competia Unio [...]

legislar sobre [...] d) diretrizes e bases da educao nacional. (BRASIL, 1946, p.

1).

Esta e outras duas definies, definir a educao como direito de todos

e adotar princpios de obrigatoriedade e gratuidade para o ensino primrio,

foram vitais para que se comeasse, desde 1946, a vislumbrar uma organizao

1 Possveis apontamentos de outras modalidades, nveis e da etapa do Ensino Mdio podero ser feitos se julgarmos contribuir na compreenso do objeto desta pesquisa.

37

e instalao de um sistema nacional de educao como instrumento de

democratizao da educao pela via da universalizao da escola bsica.

(SAVIANI, 2000, p. 6)2.

O delineamento jurdico organizado no texto constitucional e nos

demais documentos legais teve por funo assegurar o direito educao, tendo

em vista seu carter fundamental de natureza social. Quando falamos em

carter fundamental, nos referimos a direitos inerentes vida humana, pautados

na liberdade, na igualdade e, especialmente, na dignidade.

Na Constituio Federal de 1988, a educao passou a ser mencionada

como primeiro direito fundamental de ordem social. Art. 6 - So direitos

sociais a educao, a sade, a alimentao, o trabalho, a moradia, o lazer, a

segurana, a previdncia social, a proteo maternidade e infncia, a

assistncia aos desamparados, na forma desta Constituio (EC n26/2000 e

EC n64/2010). (BRASIL, 1988, p. 20). A educao, dessa forma, ficou

circunscrita como um dos direitos universais bsicos, passando a ser vista como

uma das questes de carter nacional.

A democratizao da educao como bem social pblico requeria a

[...] organizao de uma educao pblica democrtica no mbito nacional.

(SAVIANI, 2000, p. 7), o que justificava o texto constitucional ao atribuir

Unio e aos entes Federados, responsabilidades diante da organizao da

educao nacional.

A Constituio de 1988 anunciou em seu artigo 205 que a educao,

direito de todos e dever do Estado e da famlia, ser promovida e incentivada

com a colaborao da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,

seu preparo para o exerccio da cidadania e sua qualificao para o trabalho.

(BRASIL, 1988, p. 136). A seguridade do direito educao se daria na

perspectiva de garantia do acesso aos processos democrticos, traduzidos pela

cidadania ativa e no preparo dos sujeitos para o mercado de trabalho. Questes

que tratamos, particularmente, nos pargrafos que trataram da distribuio de

conhecimentos, organizada nos documentos curriculares nacionais.

2 Especialmente no conjunto dessas trs definies, o campo educativo nacional conquistou no espao jurdico a possibilidade de constituir as bases da Educao Bsica. A concretizao desta possibilidade exigiu a formulao das Leis de Diretrizes e Bases da Educao Nacional, a primeira em 1961 e a segunda em 1996.

38

O desafio no se limitou erradicao do analfabetismo, pois foram

destacados alguns outros pontos considerados crticos e possveis obstculos

para o xito de estratgias de desenvolvimento da Educao Bsica, a saber:

qualidade e heterogeneidade da oferta, efetividade e relevncia do ensino,

magistrio (formao e gesto, livro didtico, apoio ao educando,

financiamento, integrao vertical dos sistemas de ensino, continuidade e

sustentao das polticas educacionais e da gesto dos sistemas e das unidades

escolares).

Nos Parmetros Curriculares Nacionais para as sries iniciais, a

Educao Bsica teria por funo [...] garantir condies para que o aluno

construa instrumentos que o capacitem para um processo de educao

permanente. (BRASIL, 1997, p. 28).

Concordamos com o exposto, por entender que uma Educao Bsica

calcada em princpios democrticos e de cidadania extrapolaria os limites de

uma etapa de ensino ou uma modalidade, mas ofereceria condies de um

pleno desenvolvimento para o decorrer de toda vida dos sujeitos e no somente

durante sua trajetria escolar.

J a verso dos PCN para as sries finais do Ensino Fundamental

afirmou que a Educao Bsica teria por finalidade desenvolver o educando,

assegurar-lhe a formao indispensvel para o exerccio da cidadania e fornecer-

lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores. (BRASIL,

1998, p. 41).

Ao articular o conceito de Educao Bsica, o Referencial Curricular

para a Educao Infantil reafirmava como sua finalidade de existncia o

desenvolvimento integral da criana at seis anos de idade. (BRASIL, 1998, p.

11), previsto para acontecer em parceria entre instituies de Educao Infantil

e as famlias das crianas.

Nos Subsdios para Diretrizes Curriculares Nacionais Especficas da

Educao Bsica de 2009, a Educao Bsica [...] corresponde a um direito

social e a um requisito fundamental para o pleno desenvolvimento da pessoa

como indivduo, cidado e sujeito social. Inclui trs etapas que se sucedem: a

Educao Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Mdio. (BRASIL, 2009,

p. 3).

[...] para ser cidado, isto , para participar ativamente da vida da cidade, do mesmo modo que para ser trabalhador produtivo, necessrio o ingresso na cultura letrada. E sendo essa um processo formalizado, sistemtico, s pode

39

ser atingida atravs de um processo educativo tambm sistemtico. A escola a instituio que propicia de forma sistemtica o acesso cultura letrada, reclamado pelos membros da sociedade moderna. (SAVIANI, 2000, p. 3).

Nas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educao Bsica

(2013), no tocante Educao Bsica,

relevante destacar que, entre as incumbncias prescritas pela LDB aos Estados e ao Distrito Federal, est assegurar o Ensino Fundamental e oferecer, com prioridade, o Ensino Mdio a todos que o demandarem. E ao Distrito Federal e aos Municpios cabe oferecer a Educao Infantil em Creches e Pr-Escolas, e, com prioridade, o Ensino Fundamental. Em que pese, entretanto, a autonomia dada aos vrios sistemas, a LDB, no inciso IV do seu artigo 9, atribui Unio estabelecer, em colaborao com os Estados, o Distrito Federal e os municpios, competncias e diretrizes para a Educao Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Mdio, que nortearo os currculos e seus contedos mnimos, de modo a assegurar formao bsica comum. (BRASIL, 2013, p. 7, grifo do autor).

O esforo de universalizao do Ensino Fundamental pressupunha que

todos os indivduos fossem alfabetizados e tivessem oportunidade, ainda que

mnima, de ir escola e acessar conhecimentos considerados necessrios.

NOTAS FINAIS

Em tese, a reorientao curricular buscou prticas, mais consequentes,

com a garantia do direito educao.Se de um lado, as proposies reformistas

cooperaram com a seguridade do direito educao por meio da

democratizao dos processos de escolarizao, ao menos da etapa do Ensino

Fundamental, de outro, no promoveram grandes mudanas com a adoo de

novas prticas.

A funo da educao a partir das reformas educacionais dos anos de

1990 continuou a mesma, perseguindo a promoo de mobilidade social, uma

formao para a cidadania, equidade e democracia.

Ancorados na Teoria Crtica do Currculo, entendemos que a educao

torna-se condio para a emancipao dos sujeitos, o que pressupe conceb-la

a partir de princpios democrticos, que assegurem o acesso indiscriminado a

todos, priorizando a qualidade, prioritariamente, a qualidade da escola pblica.

40

No questionamos os princpios de democracia, cidadania e qualidade

que, hipoteticamente, sustentam o conceito de Escola Bsica delineado nos

documentos. Todavia, questionamos as finalidades da educao esboada a

partir destes princpios, uma vez que entendemos que a democracia prev uma

liberdade para alm da liberdade de consumo. A cidadania no se limita

participao nas relaes produtivas e espordicas manifestaes eleitorais.

No estabelecimento dessas relaes consolidou seu sentido de urgncia

diante de demandas individuais e coletivas, uma vez que havia potencial de

desenvolvimento dos sujeitos e da nao, por exemplo. As escolas passaram a

ser consideradas indispensveis formao de sujeitos desenvolvidos,

produtivos, que saberiam exercer sua cidadania e teriam condies de seguir

progredindo nas diferentes etapas e modalidades do sistema educativo.

A inaugurao da educao bsica ressignificou os objetivos atribudos

educao nacional, uma vez que o projeto educativo nacional no se resumiu

ao nvel da Educao Bsica, mas apenas para este nvel foi previstas etapas de

ensino obrigatrio, o destaque se deu nela e a partir dela. A no obrigatoriedade

de todas as etapas pressups que nem todos chegariam ao fim da Educao

Escolar, isto , ao Ensino Superior. Assim, as finalidades atribudas Educao

Bsica seriam as de carter comum aos sujeitos.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS BRASIL. Constituio (1946). Constituio dos Estados Unidos do Brasil: Texto Constitucional promulgado em 18 de Setembro de 1946. Disponvel em: . Acesso em: 14 set. 2015. ______. Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional. Lei nmero 9394, 20 de dezembro de 1996. Disponvel em: . Acesso em: 12 ago. 2015. ______. Ministrio da Educao e do Desporto. Secretaria de Educao Fundamental. Parmetros curriculares nacionais: introduo aos parmetros curriculares nacionais. Braslia: MEC/SEF, 1997a. 126p. ______. Ministrio da Educao e do Desporto. Referencial Curricular Nacional para a Educao Infantil. Braslia: MEC/SEF, 1997b. 126p.

41

______. Ministrio da Educao e do Desporto. Secretaria de Educao Fundamental. Parmetros curriculares nacionais terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: introduo aos parmetros curriculares nacionais. Braslia, DF: MEC/SEF, 1998c. 174 p. ______. Ministrio de Educao e do Desporto. Referencial curricular nacional para educao infantil. Braslia, DF: MEC, 1998d. ______. Ministrio da Educao. Resoluo CNE/CEB n 01/1999, de 7 de abril de 1999. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educao Infantil. DirioOficial da Unio, Braslia, Sesso 1, 1999. Disponvel em: . Acesso em: 12 jan. 2015. ______. Subsdios para Diretrizes Curriculares Nacionais Especficas da Educao Bsica. Diretrizes Curriculares Nacionais Especficas para a Educao Infantil. Braslia: MEC/SEB, 2009f. Disponvel em: . Acesso em: 29 jan. 2016. ______. Parecer CNE/CEB n 7/2010.Trata das Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educao Bsica. Braslia: aprovado em 07/04/2010f. Disponvel em: . Acesso em: 29 jan. 2016. ______. Ministrio da Educao. Secretaria de Educao Bsica. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educao Bsica. Diretoria de Currculos e Educao Integral. Braslia: MEC, SEB, DICEI, 2013. 562p. SAVIANI, Dermeval. A nova lei da educao (LDB): trajetria, limites e perspectivas. 6. ed. Campinas: Autores Associados, 2000.

42

- III -

RELAO FAMLIA E ESCOLA NAS POLTICAS DE

CURRCULO PARA EDUCAO INFANTIL.

Amanda Leal Coutinho PROPED - UERJ (Brasil)

INTRODUO

Ao longo da minha formao profissional, pude observar a dificuldade

que professores e gestores encontram para manter a parceria que precisam para

contriburem com o desenvolvimento social, cultural, psquico, emocional e

cognitivo de nossos alunos. Cada indivduo formado por um somatrio de

experincias que o constituem e pelo qual compreendem e atuam no mundo

em que vivem.

Em pesquisa ao portal do Ministrio da Educao disponibilizado em

consulta on-line para o acesso, encontramos documentos que trazem para

Educao Infantil discusses da poltica ainda pouco exploradas. Elaborado

pelo Ministrio de Educao e a Secretaria de Educao Bsica e publicado

em 2006, selecionamos o documento: Poltica Nacional de Educao Infantil: pelo

direito das crianas de zero a seis anos Educao (2006)para iniciarmos nossa

discusso. Esse documento aponta diretrizes, objetivos, metas e estratgias para

a rea poltica, buscando contribuir para um processo democrtico de

implementao das polticas pblicas para as crianas de 0 a 6 anos no Brasil

(BRASIL, 2006, p. 4). Partindo do princpio de que o aprofundamento da

excluso social gera um panorama de discriminao e negao dos direitos das

crianas que precisa ser combatido com uma poltica que promova a incluso,

combata a misria e coloque a educao de todos no campo dos

direitos (BRASIL, 2006, p.5).

Nesse contexto, escolhemos pesquisar, tendo por base a abordagem do

ciclo de polticas de Stephen Ball, como a relao famlia-escola representada

nas polticas curriculares brasileiras para a Educao Infantil em documentos

43

oficiais e a sua contribuio para o processo de formao pessoal, emocional e

social, contrapondo s ideias descritas no documento: Poltica Nacional de

Educao Infantil: pelo direito das crianas de zero a seis anos Educao

(BRASIL, 2006).

RELAO FAMLIA E ESCOLA NAS POLTICAS DE CURRCULO

DA EDUCAO INFANTIL

As famlias, cujas configuraes tambm se modificam ao longo dos

anos, cada vez mais buscam nos espaos urbanos, a creche como espao de

educao e cuidado para os seus filhos, por diferentes motivos. No caso das

creches e pr-escolas pblicas, o motivo mais frequente aquele que envolve a

necessidade de trabalho de seus pais, causando uma grande procura s

instituies municipais direcionadas primeira infncia. Vivemos em uma

sociedade em constante transformao, o que afeta diretamente as interaes

que estabelecemos com o ambiente e com os outros nossa volta.

O conjunto desses fatores movimentou a sociedade civil e os rgos

governamentais para que o atendimento s crianas de zero a seis anos fosse

reconhecido na Constituio Federal de 1988. A partir de ento, a Educao

Infantil em creches e pr-escolas passou a ser, ao menos do ponto de vista

legal, um dever do Estado e um direito da criana (artigo 208, inciso IV). O

Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA), de 1990, tambm apontam para o

direito da criana a essa necessidade (BRASIL, 1998, p. 11).

Em 1998, atendendo s determinaes da Lei de Diretrizes e Bases da

Educao Nacional (LDB - Lei 9.394/96), pela primeira vez na histria do

pas, se estabelece que a Educao Infantil passa a ser a primeira etapa da

Educao Bsica. O atendimento s crianas de zero a seis anos de idade torna-

se dever do Estado, com garantia de atendimento gratuito em creches e pr-

escolas, organizando-se em propostas polticas em todos os estados brasileiros.

Ao longo do processo histrico de desenvolvimento da Educao

Infantil foram construdos textos curriculares que legitimaram um novo

projeto-poltico social para as creches e pr-escolas. A produo desses

documentos se configurou em um movimento de negao s prticas

curriculares vigentes, a fim de legitimar o discurso da mudana e da nova

poltica curricular, assim como dos novos ideais de educao que se

pretende implementar (LOPES, 2004).

44

Entendemos o territrio de produes de documentos de orientao e

referenciais curriculares como um campo de lutas polticas onde diferentes

comunidades disciplinares atuam nas polticas de currculo e produzem novos

sentidos no jogo poltico, inclusive, pela introduo de suas interpretaes, de

forma hbrida, em documentos curriculares (LOPES; MACEDO, 2011,

p.50). Compreendemos o currculo como prtica discursiva, prtica de

significao, de construo de sentidos. O currculo, ento, segundo Lopes e

Macedo (2011),

(...) constri a realidade, nos governa, constrange nosso comportamento, projeta nossa identidade, tudo isso produzindo sentidos. Trata-se, portanto, de um discurso produzido na interseo entre diferentes discursos sociais e culturais que ao mesmo tempo, reitera sentidos postos por tais discursos e os recria (p. 41).

Nos apoiamos tambm nos estudos culturais em dilogo com os

grupos sociais e culturais, uma negociao que se d em contextos de assimetria

de poder e que precisam ser reconhecidos como tal (LOPES & MACEDO,

2011, p. 192). Sendo o currculo escolar um texto poltico, no poderia deixar

de considerar os estudos culturais e articular economia, poltica e cultura,

entendendo as complexidades e mltiplos sentidos do binmio educao e

cultura alm das polissemias, desacordos e ressignificaes existentes, como a

questo das diferenas e da imposio de valores.

Hall (1997), quando escreve sobre identidade e subjetividade, destaca

que o impacto das revolues culturais sobre as sociedades globais e a vida

cotidiana local, no final do sc. XX, nos conduz a compreenso da relevncia

da cultura na construo da subjetividade, da prpria identidade e da pessoa

como ator social. O autor define identidade no apenas como a constituio do

ser individual, mas, para ele:

...a identidade emerge, no tanto de um centro interior, de

um eu verdadeiro e nico, mas do dilogo entre os

conceitos e definies que so representados para ns

pelos discursos de uma cultura e pelo nosso desejo

(consciente ou inconsciente) de responder aos apelos

feitos por estes significados, de sermos interpelados por

eles, de assumirmos as posies de sujeitos construdos

para ns por alguns dos discursos (HALL, 1997, p. 8).

45

Sendo os movimentos interculturais compreendidos como um campo

de debate, identificamos que os processos de aprendizagem tambm

desenvolvem hibridismos e ambivalncias na construo de identidades,

atuando com temticas transversais de cultura, de etnia, de geraes, de gnero

e de movimento social gerando possibilidades de transformao e de criao

cultural.

A construo da sociedade se d pela interao e pela ao de dar

significado ao mundo em que vivemos. No h, porm, uniformidade nesse

processo, j que cada pessoa se apropria dos novos conhecimentos de forma

diferente e baseada nas suas estruturas cognitivas, na sua realidade e nos

conhecimentos previamente estabelecidos; possibilitando, assim, uma infinidade

de ressignificaes.

Esse conjunto de ideias mobiliza a prtica escolar e a formao dos

sujeitos, que atuaro nessa sociedade, de forma conservadora ou

transformadora.

No caso da Educao Infantil, devemos considerar que a relao entre

famlias e escola imprescindvel para a formao pessoal e social dos sujeitos,

considerando a faixa-etria dos alunos desse segmento e a relevncia dessa

parceria na primeira infncia. Compreendemos tambm que as dificuldades e os

conflitos que permeiam essas relaes no surgem apenas no contexto da

prtica, mas em outras dimenses.

Dessa forma, no havendo estruturas fixas e centradas, a ordem social

s pode ser criada por relaes hegemnicas precrias. [...] Toda e qualquer

representao provisria da sociedade ou de qualquer outro fenmeno social

sempre apenas uma parte limitada da possibilidade de significao (LOPES;

MACEDO, 2011, p.253). O currculo resultado de lutas polticas e embates

por significaes que constroem o que viria ser justia, equidade, transformao

social e identidade.

SENTIDOS ATRIBUDOS RELAO FAMLIA E ESCOLA NO

TEXTO POLTICO SELECIONADO

Se a famlia a primeira organizao social em que a criana est

exposta, ao chegar creche e pr-escola, a criana necessita da cooperao e

parceria desses dois grupos sociais em que est inserida para construir as bases

emocionais, sociais e individuais necessrias ao seu desenvolvimento integral.

46

Por meio da explorao que faz no contato com outras pessoas e na

observao daqueles com quem convive, a criana constri sua prpria

aprendizagem sobre o mundo, sobre si mesma e passa a comunicar-se com ele

atravs das diferentes linguagens e inteligncias. Esses avanos dependem tanto

das interaes socioculturais como da vivncia de experincias nos primeiros

ncleos de sociedade que esto inseridos, desde a famlia at a comunidade

escolar. Porm, que espao essa famlia encontra para interagir e contribuir com

a Escola e seu Currculo no processo de conscincia e aprendizado dessas

crianas? Como os documentos oficiais estimulam essa parceria?

A partir do documento Poltica Nacional de Educao Infantil(2006),

encontramos em sua definio inicial o compromisso de contribuir para um

processo democrtico de implementao das polticas pblicas para as crianas

de 0 a 6 anos (BRASIL, 2006,p.4) e atravs de construes coletivas tem por

objetivo propiciar o cumprimento do preceito constitucional da

descentralizao administrativa, bem como a participao dos diversos atores

da sociedade envolvidos com a Educao Infantil na formulao de polticas

pblicas (BRASIL, 2006, p.4). Para isto, a promoo do crescimento e do

desenvolvimento saudvel das crianas na instituio educativa passa por suas

necessidades de afeto, alimentao, segurana, integridade corporal e psquica

durante o tempo que permanecem na instituio para assim,

desenvolverem a sua identidade em busca da autonomia atravs de

relaes inter/intrapessoais no processo de socializao e enriquecimento de si

prprio.

A dificuldade na interao famlia-escola e a ideia de uma escola que

prepare para o mundo contemporneo se reflete na centralidade que este

elemento tem na produo de polticas curriculares. Elemento esse que

observamos a partir da anlise minuciosa do documento, que a todo momento

enuncia a necessidade de complementao de deveres entre Estado e famlia na

garantia dos direitos infantis.

Ao Estado, portanto, compete formular polticas, implementar programas e viabilizar recursos que garantam criana desenvolvimento integral e vida plena, de forma que complemente a ao da famlia. (BRASIL, 2006, p.4)

O texto poltico faz um breve panorama histrico e descreve que a

partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional a Educao Infantil

ganhou uma dimenso mais ampla no sistema educacional, qual seja: atender

47

s especificidades do desenvolvimento das crianas dessa faixa etria e

contribuir para a construo e o exerccio da sua cidadania (BRASIL, 2006, p.

10). Nessa nova dimenso proposta articula-se tambm com a valorizao do

profissional que atua com essa faixa-etria alm da necessidade de uma

proposta pedaggico-curricular especfica para a rea.

Uma resposta a essas questes foi dada pela prpria LDB (art.12 e 13), ao incumbir as instituies de Educao Infantil de elaborar as propostas pedaggicas com a participao dos professores. Dessa forma, a Lei reconheceu, ao mesmo tempo, a ao pedaggica de professores, construda no cotidiano das instituies de Educao Infantil, juntamente com as famlias e as crianas. (BRASIL, 2006, p. 12)

Posteriormente aponta as Diretrizes da Poltica Nacional de Educao

Infantil (BRASIL, 2006 p.17) aonde reitera que a Educao Infantil tem

funo diferenciada e complementar ao da famlia, o que implica uma

profunda, permanente e articulada comunicao entre elas (BRASIL, 2006, p.

17), alm de objetivos de fortalecimento das relaes entre escola e famlia e

metas de programas de orientao e apoio aos pais com filhos entre 0 e 6

anos, oferecendo, inclusive assistncia financeira, judiciria e de suplementao

alimentar nos casos de pobreza, violncia domstica e desagregao familiar

extrema (BRASIL, 2006, p. 21).

O documento finaliza, ento, recomendando que os profissionais da

instituio, as famlias, a comunidade e as crianas participem da elaborao, da

implementao e da avaliao das polticas pblicas (BRASIL, 2006, p. 27).

CONSIDERAES FINAIS

As polticas so, portanto, sistemas simblicos: formas de representar e

legitimar decises