antonio carlos ferreira: novo diretor jurídico aos ... · esperem dele ética, lealdade, respeito...
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ASSOCIAÇAO NACIONAL DOS ADVOGADOS DA
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL Fev/Mar 2003 Edição 010
Antonio Carlos Ferreira:
PCS e PRX devem contemplar juniores
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Profissionais liberais No encorte Juris Tontum
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Os novos tempos processuais
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A leitura dos famosos Pág. 12
Novo diretor jurídico laIa aos advogados da CAIXA
Esperem dele ética, lealdade, respeito profissional e humano - é o que promete o novo dIretor jurídico Antonio Carlos Ferreira. Nesta primeira entrevista ao veículo dos advogados da C4/X4, o diretor diz também que os juniores estão na agenda da D/jUR, que uma de suas prioridades é suprir as carências das unidades, que havelá contato permanente com a área jurídica.
Para ouvir o diretol; o Boletim da ADVOCEF colheu sugestões entre os profissionais da área jurídica da C4/X4. Acompanhe a entrevIsta, que continua nas páginas centrais:
BOLETIM DA ADVOCEF • O que devem 05 advo!!ados esperar do novo diretor jurídico!
ANTONIO CARLOS FERREIRA -Como disse em minha mensa~em aos advo~ados quando assumi a Diretoria Jurídica da CAIXA, vou procurar imprimir à ~estão da DIJUR critérios coerentes com aqueles que sempre desejei fossem adotados na Empresa, pautados sobretudo pela ética, lealdade, respeito profissional e humano, requisitos essenciais para a construção de uma relação permanente de co nfiança e companheirismo entre os advo~ados da CAIXA e as diferentes unidades que compõem nossa área e com as quais ela se relaciona.
BOLETIM DA ADVOCEF • O senhor estava entre 05 que acredi·
taram, há dez anos, na constituição de uma entidade de ad· vo!!ados na CAIXA.. Existem hoje outras entidades, como a dos !!erentes e en!!enheiros. A ADVOCEF, consolidada, vem obtendo da Administração um
importante reconhecimento, fruto da união de seus inte!!rantes. Como o senhor a vê, hoje, e quais são as suas expeaativas quanto ao relaci· onamento!
ANTONIO CARLOS FERREIRA - As expedativas são as melhores possiveis. De fato, a corajosa e bem sucedida criação da ADVOCEF e sua consolidação e representatividade, a ponto de a iniciativa ter sido repetida por outros se~mentos da Empresa, só foram possíveis em função da condução firme e responsável de seus diri~entes. Espero, durante o tempo em que estiver à frente da DljUR, manter e aprimorar o relacionamento harmônico, respeitoso e produtivo com a ADVOCEF, bem assim com as demais entidades que representam os empre~ados da CAiXA, baseado no diálo~o permanente.
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rI +j Qij.] I !~ii ADVOCEF
Associação Nacional dos Advogados da CAIXA.
DIRETORIA EXECUTIVA Presidente Darli Barbosa (londrina) Vice-Presidente Sandra Rosa Bustelll Jesion (São Paulo) I A Tesoureiro Altair Rodrigues de Paula (londrina) 2° Tesoureiro Gilberto Gemin da Silva (Londrina) 1.0. secretário Alceu Paiva de Miranda (londrina) 2° secretário Francisco Spisla (londrina) Diretor Re2ional None Mariano Moreira Junior (Manaus) Diretor Re2ional Nordeste Leandro Cabral Morais (Natal) Diretor Re210nal Sudeste Angelo Ricardo Alves da Rocha (Vitória) Diretor Ree.ional CentroOeste Isabella Gomes Machado (Bra-5í1ia) Diretor Ree.ional Sul Ed~ar Luiz Dias (Curitiba)
CONSElHO DELIBERATIVO Titulares Domingos Simião da Silva (Belo Horizonte), Gerhard Winning Filho (Uberlândia), Roslmelre Rocha Mcauchar (Juiz de Fora), Silvio do La~o Padilha (Belo Horizonte) e Simone Solan~e de Castro Rachid (Belo Horizonte). Suplentes Luciano Palva No~ueira (Belo Horlzonte) e Umberto Parma Machado (Belo Horizonte).
CONSElHO FISCAL Titulares Davi Duarte (Porto AleQre), Glsela Ladeira Bizarra (Brasília) e Luís Fernando Miguel (Porto Alegre). Suplentes Maria dos Prazeres de Oliveira (Recife) e Paulo Ritt (Maceió).
Conselho Editorial: Darli Barbosa, Jailton Zanon da Silveira e Roberto Maia. Editor: MárIo Goulart Duarte (Reg. Prof. 4662) - E-mail: [email protected] Editoração eletrônica: José Roberto Vazquez Elmo. Tlraeem: 700 exemplares. Impressão: Promoarte. Periodicidade: bimestral.
Endereço em Brasília: SBS, Quadra 2, lote 1 - BL S sala 1205 - Edifício Emplre Center CEP 70070-100 Fone 1611 224-3020
Endereço em Londrina/PR: Rua Santa Catarina, 50 I sala 602 CEP 86.010-470 Fone (43) 3323-5899 - E-maU: [email protected] Slte: vvvvw.advocef.org.br
Discaeem Gratuita: 0800 51 02822
Editorial
As muelanfas como sina' ele avanco
Os dias vão e as vidas se estendem num curso constante, rumo às suas realizações.
Grupos distintos, em distantes realidades locais ou globais, esten: dem seus sustentáculos de poder e propõem a guerra, o ódio e a destruição, por vezes escudados em deveres ditos divinos.
Felizmente, nem tudo se resume ao belicismo e nem todos praticam a cartilha da desagregação.
No seio do país, iniciamos a divisar os primeiros passos de novas propostas que, por novas, carregam também o estigma de passíveis de desconfiança.
Em nossa atividade profissional, iniciam-se lentamente as mudanças por todos esperadas.
A nova DiretoriaJurídica, recém instalada no comando de uma área técnica essencial aos interesses da CAIXA, traz com seus integrantes a esperança de um novo curso ao tratamento de questões historicamente esqueCidas.
A defesa judicial e extrajudicial da Em presa, executada de maneira aguerrida e com enormes sacrifícios pessoais e institucionais, está a merecer a atenção e uma nova postura de seus dirigentes.
É chegada a hora de termos uma Diretoria capacitada a ouvir e fazerse ouvir, dentro e fora dos quadros técnicos. Pessoas com ousadia para demonstrar a importância da existência da área e com coragem para exigir o reconhecimento de seus integrantes. De igual forma, administradores capazes de formular propostas de funcionamento compatíveiS com a realidade vivenciada por todos quantos vislumbram na área jUrídica não um fim em si mesmo, mas caminho à plena realização das funções da CAIXA no cenário nacional.
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Almejar, ter esperanças, construir em conjunto, são prerrogativas e deveres de seres humanos comprometidos consigo mesmos e com seus ideais.
Fiquem nossos leitores com as primeiras e importantes palavras do nosso diretor jurídiCO, em entrevista exclusiva ao Boletim. De forma aberta e no estilo que tem marcado sua exitosa trajetória profissional, o Dr. Antonio Carlos fala-nos sobre algumas das principais questões de interesse do nosso quadro.
Também na linha do planejamento exigível de entidades representativas, trazemos informações e nOVidades na organização do nosso já consagrado Congresso anual. Os preparativos de sua nona edição se iniciam com uma antecedência que demonstra o grau de comprometimento dos que estão a trabalhar em prol de nossos interesses comuns .
Dent ro do projeto editorial em curso, com o propósito de aproximar cada vez mais o Boletim dos anseios e interesses da comunidade leitora, a ADVOCEF inaugura nesta edição a seção "Cena Jurídica".
Formatado como uma pequena resenha de notícias, curiosidades, fatos e frases de efeito, a seção propõe-se a compi lar informações oriundas das mais diversas fontes, com conteúdo técnico, acad~mico ou geral, sempre focando as especificidades do meio jurídico.
Bons advogados não fogem de sua responsabilidade profissional. Este o tema do encarte desta edição, para proveito e deleite de todos.
Diretoria Executiva da ADVOCEF
f'1f'VIf' IRIUIR'Ü .: ~\AIRÇ'O [)I(' 'lmn
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ADVOCEF faz reunião em londrina Para debater assuntos como a
criação de um Plano de Cargos e Salários, cobrança de honorários e vários outros de interesse dos advogados da CAIXA, a Diretoria Executiva da ADVOCEF reuniu-se em 16.03.2003, em sua sede em Londrina/PR. Além do presidente Darli Barbosa e da vice-pres idente Sandra jesiOn, compareceram: Francisco Spisla (2. 0 Secretário), Altair Rodrigues de Paula (1.0 Tesoureiro), Mariano Moreira Junior (Diretor Regional Norte), Leandro Cabral Morais (Diretor Regional Nordeste), Angelo Ricardo Alves da Rocha (Diretor Regional Sudeste), Silvio Lago padilha (do Conselho deliberativo), Davi Duarte e Gisela Ladeira Bizarra (do Conselho Fiscal), e Alfredo Ambros io Neto, convidado.
Darli Barbosa preside reunião
Entre as decisões (leia detalhes nas matérias desta página e da seguinte), f icou definida a realização do próximo Congresso da ADVOCEF em
In,erpre,afões para os honorários
Na reunião de londrina ficou definido como devem ser Interpretadas as decisões que fixam honorários do FGTS - Planos Econõmlcos. Veja caso a caso:
(a) casos de sucumbência reciproca: os honorários são devidos pela CAIXA;
(b) casos em que cada parte arcará com os honorários de seus patronos: estes são devidos pela CAIXA;
(c) casos de sucumbência reciproca com compensação: a CAIXA não pagará honorários aos advogados da parte contrária.
(d) casos em que há compensação de honorários, ou compensação e distribuição entre as partes: os honorários serão devidos pela CAIXA;
(e) casos em que os honorários são pagos proporcionalmente às respedivas sucumbências: deverão ser cobrados do fundista.
A ADVOCEF encaminhará pedido de providências ao Diretor da Área de FGTS.
Foi aulorizada também a contratação do escritório Castim &
Rabelo, para auxiliar na cobrança de honorários no Rio Grande do Norte. Com remuneração de 10% sobre o valor recebido, a empresa vai tratar prinCipalmente da elaboração de cálcu los, plani lhas, conferência, agi lização, acompanhamento - tudo referente às execuções do FGTS-Planos Econômicos.
Goiãnia, no período de 14 a 17 de agosto deste ano. O evento estará centrado nos temas referentes às alterações no Regulamento de Honorários, Estatuto Social da Associação e outros que serão propostos pela categoria. Poderão participar como representantes os advogados associados até 30 de abril ou inscritos até 15 dias após a admissão, conforme fo i comunicado às unidades por e-mai!o
Outras Informações podem ser obtidas com a Comissão Organ izadora, composta por Alfredo Ambrósio Neto, jusce lino Malta Laudares, Grey Bellys Dias Lira e Ivan Seógio Vaz Porto, todos do jURIR/GO. Te lefones: (62) 216-1536, 216-1552 e 216-1547.
Os 2% e u ue A remuneração de 2% paga à
ADVOCEF para administrar a arrecadação e rateio de honorários, prevista no artigo 30, parágrafo lodo Regu lamento de Honorários, pertence ao patrimônio da entidade. Cabe o esclarecimento, portanto, para que o percentual cobrado não seja confundido com a verba destinada ao Fundo Especial referida no parágrafo segundo do mesmo artigo. A ADVOCEF decidiu divulgar a observação, para evitar mal-entendidos.
Outras decisões da reunião de londrina: reivindicar junto à DljUR o reajuste das diárias dos advogados e a aquisição de exemplares do Novo Código Civil para as unidades jurídicas. Computador, scanner e impressora serão comprados para a sede da ADVOCEF em Brasília. Para trabalhar lá, com os colegas advogados, serão contratadas até duas estagiárias. Ficou definida tambéRl a abertura de concurso para a criação de uma bandeira para ADVOCEF.
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Normativo alterado, Cartilha
aprovada A ADVOCEF decidiu cobrar o
encaminhamento das sullestões que enviou à DljUR para alterar o Manual Normativo de Honorários. (O assunto já foi apresentado pelo presidente da ADVOCEF, na reunião com o diretor jurídiCO Antonio Carlos Ferreira). São inclusões de itens e subitens, reIlularizando, em seus detalhes técnicos e burocráticos, a cobrança de honorários nas diversas hipóteses em que são devidos. No substitutivo enviado procura-se corrillir omissões e aperfeiçoar trechos que induzem a dúvidas. Nos acordos com mutuários beneficiados com o desconto de 100%, por exemplo, a intenção é rellulamentar e padronizar os procedimentos conforme foi acordado entre a ADVOCEF e a CAIXA em 25.04.02.
Na reunião, foi aprovada a Cartilha de Orientação Sobre a Arrecadação, o Controle e o Rateio dos Honorários Advocatícios, que define o papel da ADVOCEF e das comissões de honorários na fiscalização e prestação de contas mensal. O documento será divulIlado por meio eletrônico, impresso e através do site da ADVOCEF. A versão em papel será distribuída pelo representante da Associação nas unidades.
Até que haja uma definição da catelloria, a Diretoria Executiva da ADVOCEF vai delellar a apreciação de pedidos de redução de honorários às Comissões de Honorários que assim desejarem. O valor devido não poderá ultrapassar a importância de R$ 5.000,00.
Assistência jurídica a advogados
A ADVOCEF vai auxiliar na defesa da advollada Mallda Esmeralda dos Santos, citada em inquérito do Ministério Público Federal. Mallda, Ilerente do jurídico de Manaus, emitiu parecer autorizando que a CAIXA prosselluisse na venda de um imóvel incluído em ação civi l pública. A Ilerente arllumentou que não se tratava de venda direta - proibida por liminar - mas de leilão público. Em conseqüência, o Ministério Público Federal requisitou à Polícia Federal a instauração de inquérito por crime de desobediência à ordem judicial.
Numa primeira audiência, o MPF ofereceu a oportunidade de transação (pallamento ou prestação de serviço comunitário). Como a ação tramitava no juiZado Especial, entendeu-se que não era o foro competente, sendo o feito encaminhado para apreciação pelo juiz sinllular (de Vara Federal).
Indicado para atuar no caso, o advogado Davi Duarte comentou: "O que se nota é uma arbitrariedade e exercício i1ellal da profissão, pelo membro do MPF, e tais atos precisam ser atacados para evitar novas e maiores investidas". Atendendo sua sullestão, a ADVOCEF deverá buscar a parceria da DljUR, para apresentar denúncia à Procuradoria Ileral da República.
A ADVOCEF vai também colaborar na defesa dos advollados do Distrito Federal, no Caso Serra Pelada, ressaltando junto ao Tribunal de Ética da OAB/DF a lisura dos profissionais e a injustiça de que são vítimas. Para prestar assistência, em nome da Associação, foi desillnado o advollado Leopoldo Viana Batista júnior.
I I ' Contrafé Em Itu, São Paulo, o juiz da 3" Vara Cível decidiu favor"velmente
pelo aumento das passallens de ônibus. Inconformado, o prefeito, poeta, reclamou:
Recebo a intimação Com justa indignação Ciência tenha o juiz.
Respeito devo àjustiça Não porém à mão que atiça Sentença cruel e infeliz.
Pede a Viação Itu-Avante Tarifa vil e exorbitante Rejeitando serviço melhor.
Os ônibus sempre lotados HOIários desrespeitados E o povo vivendo o pior.
Manifestou-se o promotor Parecer de extremo valor Sullerindo a conciliação.
À peça o juiz não se ateve De examiná-Ia se absteve Precipitada foi a decisão. '
O juiz seguiu a trilha Só analisou a planilha Que a viação produziu.
Prefeito não foi ouvido já o aumento descabido O conspícuo juiz deferiu.
A cassação da liminar É o recurso elementar Garante a lei afinal.
Providência já foi adotada E a sentença será reformada Se Deus quiser, no Tribunal.
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Reunião na DlJUR
Em exame a situafão dos ;uniores o trabalho elaborado pela Comis
são de Advogados juniores será analisado pela consultoria que irá rever o Plano de Cargos e Salários (PCS) da CAIXA. A informação foi dada ao presidente da ADVOCEF, Darli Barbosa, no encontro que manteve em Brasília, dia 10 de abril, com o diretor jurídico Antonio Carlos Ferreira e a diretora de Recursos Humanos, Diva de Souza Dias. A situação dos novos advogados deverá receber atenção especial também na próxima edição do Programa de Partici pação nos Resultados (PRX). Os valores diferenciados do último fo-
Reunião em Brasília: Darli .. Diva e Antonio Carios
ram estabelecidos no Acordo Coletivo em vigor, assinado com a CONTEC.
Jvst;~a através dos sociólogos Alguns aspedos positivos da globalização, como a difusão da Informação,
poderiam ser usados para auxiliar o Poder Judiciário em todo o mundo. Seria importante, por exemplo, uma Rede de juízes Democráticos Progressistas, onde os magistrados trocariam experiências, tratando de problemas comuns das diversas sociedades (a corrupção, entre eles). As sugestões são do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, que esteve em Porto Alegre em janeiro deste ano para participar do 11 Fórum Mundial de juízes e do Fórum Social Mundial. "O judiCiário é um poderoso instrumento de poder que pode ajudar a nos conduzi r a todos para outra sociedade que está em formação", afirmou. "A mudança passa primeiro, porém, pela desburocratização e democratização da própria justiça."
O judiciário precisa ser enxugado, sobrando tempo para sentenças de conteúdo analítico, que exigem maior envolvimento. Segundo Boaventura, "há situações que poderiam receber julgamento de pessoas com formações diferentes das jurídicas. Talvez, no futuro, ocorra uma interligação de competências. SOCiólogos, psicólogos e outros profissionais poderiam elaborar sentenças em determinadas ocasiões. "Não há necessidade de que sempre sejam juristas. Às vezes, as questões são complexas, como no caso de menores".
Defensor da informatização, Boaventura disse que "é preciso tirar dos tribunais o que não é conflito, as sentenças automáticas como cobrança de pagamentos". O Judiciário precisa aprofundar a sua democratização interna e aceitar reformas das leis processuais, promovendO a aceitação da diversidade. "É um aprendizado coletivo, que o judiciário também tem que fazer. Pode se ter mais criatividade para no espírito da Constituição interpretar as leis de modo que o direito à diversidade e à diferença seja reconhecido", acredita.
Sem essa transformação, emergencial, adequando-se às necessidades da sociedade contemporânea, o judiciário pode se tornar uma instituição irrelevante, com a tendência dos conflitos deixarem de ser discutidos em tribunais convencionais para serem decididos em tribunais de arbitragem. "Isso pode criar muita segmentação, uma justiça de primeira classe para cidadãos de primeira classe e uma justiça de segunda classe para cidadãos de segunda classe."
No início dos anos 70, Boaventura exilou-se no Brasil, indo morar em uma favela carioca, onde pesquisou para sua tese de doutorado. Com a Revolução dos Cravos, em 1974, ele voltou a Portugal, para lecionar na Universidade de Coimbra. Seu livro "Reconhecer para Libertar" (Editora Record) foi um dos mais vendidos durante o Fórum Mundial dejuízes, em Porto Alegre.
Com informações da Folha de São Paulo, Carta Maior e Reuters
O diretor Antonio Carlos informou que as alterações propostas para o Normativo de Honorários estão sendo estudadas pelas áreas envolvidas. Na questão dos honorários referentes aos contratos da EMGEA, a CAIXA ainda aguarda o ajuste de valores estabelecidos no acordo com a empresa. O presidente daADVOCEF comun icou ao diretor que será encaminhada à Diretoria de Fundo de Garantia a cobrança do cumprimento do acordo entre CAIXA e ADVOCEF a respeito dos honorários nos processos do FGTS·Planos Econômicos.
Aumentar as penas dos condenados auxilia no combate ao crime organizado? Não, respondeu o advogado e jornalista Hélio Bicudo à pergunta da Folha de São Paulo. O atual vice·prefeito do município de São Paulo e preSidente da CMDHSP lembrou que as novas leis penais "são duríssimas", como no caso dos crimes hed iondos, e que medidas como a diminuição da idade de responsabilidade penal ferem a Constituição. Tudo isso só servi lá, segundo o jurista, "para que adiemos ainda mais o que já deveria ter sido feito: a reforma do aparelho do Estado no setor da segurança e da distribuiÇão dajustiça".
No mesmo espaço, o procurador de justiça aposentado Luiz Antonio Fleury Filho, autor de 22 projetos, sete dos quais visam a aplicação de penas maiores e um prevê a prisão perpétua com trabalho obrigatório para crimes hediondos, respondeu obviamente "sim". O exilovernador de São Paulo criticou também os mecanismos legais que reduzem a pena e concedem regalias. "Aqu i é que a coisa pega. A nossa atual legislação, extremamente liberal, permite, por exemplo, a um assaltante condenado a seis anos de reclusão obter a progressão quando houver cumprido um sexto de sua pena." Concluiu: "Pena é pena e, para crimes graves, deve ser comprida e cumprida".
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A DIJUR o que se pode esperar do novo
diretor jurídico da C41X4? Uma gestão pautada principalmente pela ética, lealdade, respeito profissional e humano, responde Antonio Carlos Ferreira, advogado da Empresa desde 1984 e, até assumir o novo cargo, gerente do jURIR/SP. Nesta entrevista ao Boletim da ADVOCEF; que teve temas sugeridos por profissionais da C4IAA em todo o país, Antonio Carlos promete contato permanente com os jurídico~ na Matriz e nos Estado~ e destaca que "o resultado da D/jUR é a soma do
, e a soma de todos,
as dificuldades dos jurídicos Regionais. Assim, ele concorda que a interiorização da justiça Federal e a criação dos juizados Especiais Federais indicam um quadro complexo a ser enfrentado. Por isso é uma de suas prioridades e já estuda, com a Diretoria de Recursos Humano~ altemativas para apontar soluções. E, em meio de tudo, adianta uma boa notícia: a C4IAA vai prorrogar por dois anos a vigência do último concurso, o que garante possíveis futuras contratações dos já habilitados.
esforço e da contribuição de cada advogado, de cada bancária e demais colaboradores lotados nas diversas unidades jurídicas".
Antonio Carlos Ferreira nasceu em São Paulo, tem 46 ano~ é casado, tem dois filhos (Felipe, de 21 ano~ e Ana luiza, de 10 anos). Ingressou na C4IAA em maio de 1979. Formou-se em Direito em 1981. Exerceu funções de confiança de assistente em diversas áreas, assistente-chefe nas antigas GERGE/SP e SUREG/CP. Foi supervisor de rede e gerente executivo operaCional na então SUARE No Ministério da Fazenda, foi chefe da Divisão de legislação Aplicada e respondeu pela Delegacia do Patrimônio da União no Estado de São Paulo. Na C4IAA, foi também gerente do extinto jurídico Regional de Campinas (por três anos) e por quase três anos esteve à frente do jURIR/SP.
O novo diretor garante que o preparo técnico do advogado da CAIAA é compaiável aos melhores da administração pública. Explica que há casos que exigem o acompanhamento de profissionais de fora, mas são exceção, para atender determinadas especialidades e também devido ao volume de trabalho. Ressalta, a propósito, que uma "ampla revisão da terceirização" é uma das prioridades da administração da C4IAA, em todos os setores.
Ninguém melhor que o próprio diretor conhece Leia a entrevista:
BOLETIM DA ADVOCEF - A <:0-municação é sempre uma preocupação imponante. Como se dará o diálo!!o entre a DlJUR. Jurídicos. advo!!adoSf
ANTONIO CARLOS FERREIRA - Sem dúvida, a comunicação franca e leal se constitui num dos principais fatores de sucesso de qualquer administração. Sob este aspecto minha preocupação é a de manter permanentemente aberto um canal eficiente de contato entre as unidades jurídicas sediadas na Matriz, as regionais e representações. Não se pode ignorar que o resultado da DljUR é a soma do esforço e da contribuiçào de cada advogado, de cada bancário e demais colaboradores lotados nas diversas unidades jurídicas. Por isso, a DljUR não pode ser infensa a receber críticas, construtivamente formuladas, a respeito de sua atuação. Serão realizadas reuniões de trabalho
periódicas com os gerentes regionais, além de encontros e seminários que possam reunir advogados que trabalham com os mesmos assuntos em diferentes unidades, visando ao necessário intercâmbio de suas experiências.
o último concurso terá vigência prorrogada por dois anos
BOLETIM DA ADVOCEF - O senhor vem de uma carreira profissional não exclusivamente Ii!!ada à área jurídica. É reconhecida a sua capacidade de administrador e conhecedor dos ne!!ócios da CAIXA. De que maneira essa experiência pode representar um !!anho na Diretoria Jurídica e em sua valoriza-
ção perante a administração! ANTONIO CARLOS FERREIRA -
É difícil fazer essa ligação, já que entendo que ganhos e valorização são sempre conseqüência de um trabalho eficiente e produtiVO realizado por toda a área, que possa ser reconhecido pela instituiÇão. Pretendo, é claro, utilizar a experiência que adquiri em atividades fora da área jurídica em sua condução, sempre que isso se mostrar possível e agregar resultados, mas reconheço também, além do conhecimento jurídico de todos, em muitos dos colegas advogados capacitação administrativa e profundo conhecimento dos negócios da Empresa. A valorização da área jurídica perante a administração, como disse anteriormente, decorre da participação de todos, realizando uma advocacia contenciosa e consultiva de qualidade e eficazes, visando, sempre, aos melhores resultados.
I'If'VIf'IRIUIR10 [' MAIRI,)O 10[' ;lmH
-
di. Antonio Carlos
Suprir as carências das unidades é uma das prioridades
BOLETIM DA ADVOCEF - Normas recentes da DlJUR definem que devem ser contratados advo!!ados terceirizados para os casos de maior relevância e complexidade, ou quando houver excesso de processos idênticos_ Essas definições Indicam que os quadro técnicos da Empresa nâo dispõem de profissionais suficientemente capacitados ou não os dispõem em número suficiente para atender às demandas! Ou há ainda outra justificativa!
ANTONIO CARLOS FERREIRA - Se~uramente o normativo mencionado não existe em função de capacitação insuficien te do advo~ado da CAIXA, cujo preparo técnico e intelectual não f i ca em nada a dever aos melhores quadros jurídicos da administração pública. Al iás, as causas de maior relevâ ncia e com plexidade são acompanhadas em sua quase total idade por advo\lados do quadro da CAIXA, sendo essa a re~ra e a mais adequada alternativa admini st rat iva . As defini ções normativas questionadas se referem, de um lado, a casos pecu liares que recomendam acompanhamento, em caráter excepcional, por profissionais especializados não encontrados na Empresa, e de outro, à ausência de condições para atender demandas num determi nado momento, em que os processos se avo lumam extraordinar iame nte. Seja como fo r, uma das ações priori tárias da nova admin istração da CAIXA é promover a ampla revisão da terceirização na empresa, onde se Incluem as atividades jurídicas.
BOLETIM DA ADVOCEF - Há limitação de pessoal e apoio administrativo para os JURIR_ Por que não se aplica às unidades jurídicas o mesmo critério de verificação de custo/ benefício
que é utilizado para os pontos-de-venda!
ANTONIO CARLOS FERREIRA - Não se pode desconhecer que os pontos-de-venda, de modo ~eral, também vêm enfrentando ~rave e an\lustiante insuficiência quantitativa de recursos materiais e humanos. Nas unidades jurídicas a situação também é aflitiva, pois, além de insuficiência quantitat iva de recursos humanos, não há o número de ca r ~os
comissionados correspondentes às necessidades e importância da área, circunstância que acarreta, muitas vezes, a transferência de empre\lados para outras unidades da Empresa. A respeito desse assunto, estamos, em conjunto com a Diretoria de Recursos Humanos, analisando al ternativas para, pelo menos, minimizar o problema.
BOLETIM DA ADVOCEF - A DIjUR recebeu recentemente equipamentos de informática, mais advo!!ados e funções, realmente necessários_ Mas os Jurídicos Re!!ionais continuam com extremas dificuldades, inclusive básicas como a falta de computadores. Há planos para eles!
ANTONIO CARLOS FERREIRA - Com toda a certeza, esta será uma das minhas preocupações priorilárias. Sendo oriundo de jurídico Re\lional e até recentemente ~erente de um deles, conheço perfeitamente suas carências e vou procu rar, no exercício da DljUR, d i ri~ir meus melhores esforços no sentido de dar às unidades jurídicas re~ i o nais condições de prestar seus serviços adequadamente.
BOLETIM DA ADVOCEF - O Poder Judiciário tem crescido como nunca nos últimos anos, com o aumento de varas federais, a interiorização da Justiça Federal, a criação dos Juizados Especiais Federais_ Enquanto no último ano foram instaladas mais de 200 JuizadOS Especiais e 26 turmas recursais, o número de advo!!ados continua esta!!nado_ Há pa!!amento de multas e pedi-
Ferreira dos de instauração de inquérito pela suposta prática de crime de desobediência de ordens judiciais, !!erando um !!rande estresse para os profissionais_ No Rio de Janeiro, por exemplo, há advo!!ados respondendo por cerca de 10_000 processos_ O senhor concorda que o quadro é Insuficiente perante a demanda! O que pretende fazer a respeito! Há previsão de novo concurso!
ANTONIO CARLOS FERREIRA - Realmente, a interiorização da just iça Federal e a criação dos juizados Especiais Federais indicam um quadro complexo a ser enfrentado pela área jurídica da CAIXA. Pretendemos expor objetivament," à direção da Empresa os reflexos desta demanda crescente de processos, definindo ações que sejam adequadas ao seu enfrenta-menta. Quanto a concurso público, a CAIXA estará prorrogando por mais dois anos a villência do último certame, \laranti ndo possíveiS futuras contra-tações dos já habilitados.
Vem aí novo Plano de Cargos
e Salários
BOLETIM DA ADVOCEF - Qual é a sua avaliação e quais são seus planos sobre o funcionamento e finalidades das REJUR! Há Intenção de criar mais Representações JurídiCas!
ANTONIO CARLOS FERREIRA - Haja vista a interiorização da j ustiça Federal, torna-se preVisível a criação de novas representações. Porém, para a implantação de uma nova REjUR é essencial a existência de condições, pelo menos razoáveis, de trabalho aos advollados que vierem a ser lotados naquela nova unidade. Não sendo possível reun ir condições míni mas de trabalho ao advo~ado, deve-se evitar a instalação de uma nova REjUR.
BOLETIM DA ADVOCEF - A CAIXA tem perdido muitos dos
novos advo!!ados, atraídos por carreiras de maior valorização. NO final do ano passado, foi apresentado à DlJUR um estudo da ADVOCEF, elaborado pela Comissão dos Advo!!ados Juniores, su!!erindo a equiparação dos salários dos advo!!ados da CAIXA com a AGU. o senhor já tem uma posição a respeito desse documento! Há perspectiva de cuno prazo para essa questão, a fim de evitar a rotatividade de mão de obra especializada e propiciar maior atrativldade a todos os profissionais da área jurídica'
ANTONIO CARLOS FERREIRA - Os novos advo~ados da CAIXA vêm revelando elevado ~abarito profissional e acentuada identificação com a Empresa. lamentavelmente, muitos deles des li ~a
ram-se da CAIXA em busca de melhores salários em outras instituições. Essa questão inte~ra a a~enda da DljUR. Por outro lado, a nova admin istração da CAIXA não desconhece a necess idade de implantação de um novo Plano de Car[los e SaláriOS e já determinou providências a respeito.
Advogados juniores
estão na agenda da
OUUR
BOLETIM DA ADVOCEF - Os advo!!ados contam inclusive com um reajuste salarial. Baseiam-se na constatação de que AGU, Fazenda Nacional, INSS e Procuradoria da República, por exemplo, percebem salários bem mais altos, para um serviço de mesmo nível e com uma car!!a menor de trabalho. O que o senhor acha disso, É possível informar desde já as linhas !!erais do quadro de carreira que o senhor estuda' Como fica a situação dos advo!!ados que não aderiram ao acordo'
ANTONIO CARLOS FERREIRA - Todos essas per[luntas e pretensões são bastante relevantes. Cada uma delas deve merecer a solução que as circunstâncias comportam e ao seu tempo. Creio que em
relação a cada um desses problemas, cuja solução não depende de decisão exclusiva da Diretoria jurídica, a ADVOCEF e a DljUR poderão estabelecer conversações, visando a encontrar as alternativas que melhor atendam aos interesses da CAIXA e de seus advo~ados.
BOLETIM DA ADVOCEF - A CAIXA tem respondido nos últimos tempos a uma série de questionamentos de ór!!ãos externos, em especial do Ministério Público, acerca de terceirização de atividades, incluindo as jurídicas. Como pretende a DlJUR enfrentar o crescimento das demandas técnicas sem desrespeitar recomendações e compromissos assumidos pela CAIXA'
ANTONIO CARLOS FERREIRA - Como mencionei anteriormente, a Administração da CAIXA está promovendo a ampla revisão da terceirização na Empresa e definindo uma política a propÓSito do assunto. A terceirização das atividades jurídicas não é a solução ideal, porém, é necessária como instrumento de gestão, haja vista as dimensões cont inenta is de nosso país, sua peculiaridades re[lionais, e também visa a desafo[lar as unidades jurídicas em decorrência de massificação de Iití[l ios.
BOLETIM DA ADVOCEF - Muitas condenações de processos de Juizados Especiais poderiam ser evitadas ou reduzidas se os advo!!ados tivessem maior acesso às informações das áreas técnicas responsáveis. A falta de autorização para acordos, nos Juizados, também impossibilita uma economia si!!nificativa dos valores de indenização a serem pa!!os. Como o senhor pretende solucionar esses problemas'
ANTONIO CARLOS FERREIRA - São duas questões distintas. Na primeira, há diSPOSiÇão normativa de que as áreas administrativas devem prestar os subsídios à defesa da CAIXA, e é evidente que caso isso não ocorra, ou ocorra de modo incompleto, poderá resultar em prejuízo. Os regionais, e a DljUR, se demandada, devem sempre adotar ações no sentido de destacar a importância dessas informações, e os eventuais prejuízos à CAIXA. já em rela-
ção à política de acordos nos juizados Especiais, bem como em outras instâncias, estão em curso propostas nesse sentido, com a participação da GETEN, que estarão sendo submetidas à decisão do Conselho Diretor da CAIXA.
A terceirização
será revista e terá
nova política
BOLETIM DA ADVOCEF - Na Intranet, há esclarecimentos sobre os principais tópicos do novo códl!!o Civil, que interessam às relações com os clientes na linha de frente. A GEMAC também distribuiu esse material a todos os empre!!ados. Como o senhor vê essa frente de atuação do advo!!ado na CAIXA! O senhor tem outros projetos desse tipo para aperfeiçoar a prestação de serviços Jurídicos no campo preventivo'
ANTONIO CARLOS FERREIRA -A atuação preventiva do adVO[lado da CAIXA deve ser prioritária, pois identifica possíveiS riscos jurídicos e evita lití[lIOS. O trabalho relativo ao novo Códi[lO Civil mostrou um modo muito interessante de realizá-lo, envolvendo em alguns casos advogados de \árias unidades jurídicas, além de um grupo permanente de trabalho composto por advo~ados da GEAjU e os consultores jurídicos da DIjUR. Certamente outros projetos desse tipo constarão do plano de ação da DIjUR para os próximos anos.
BOLETIM DA ADVOCEF - O senhor quer dizer al!!o mais aos advo!!ados'
ANTONIO CARLOS FERREIRA -Cabe-me convocar a todos os cole[las para a caminhada que estamos Iniciando. Nossos desafios são imensos, mas me anima a certeza de que a CAIXA poderá contar, mais uma vez, com o sent im en to de máxima solidariedade de todos que compõem a área juríd ica na realização de sua dignificante missão, visando ao combate à miséria, ao desemprego, à falta de saneamento ambiental e de habitações di[lnas. Estou contando com o empenho, profiSSionalismo e espírito público de todos os cole[las.
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Os novos
Nilson Naves, presidente do ST J
A juíza Leila Paiva, presidente do juizados Especiais Federais, explicou objetivamente como funciona o juizado Especial Federal da 3' Região: "Agora eu não coloco mais o processo embaixo do braço para estudá-lo em casa. Eu tenho 28 mil processos à minha disposição, sobre a mesa, na tela do computador". A declaração foi fe ita durante o seminário sobre os juizados Federais, em São Paulo, nos dias 10 e 11 de março. Os participantes do evento depois puderam conhecer as vantagens do processo eletrônico no Fôrum considerado modelo: economia anual de papel de aproXimadamente R$ 54 mil por Vara; valorização dos recursos hu-
tempos processuais manos, focados na atividade-fim; melhoria do atendimento; maior segurança; economia de espaço físico; tempo de tramitação do processo reduzido em 500%.
No mesmo seminário, o presidente do Superior Tribunal de justiça, Nilson Naves, destacou a existência de 237 juizados Especiais no país, além de 26 turmas recursais. Em 2002, neles foram julgados 103.682 feitos e mais de 258.213 tramitam atualmente. Mas, principalmente, o ministro referiu-se à causa do sucesso dos juizados: o aproveitamento da tecnologia. "Na verdade, nenhuma instituição que, nos dias correntes, deseje cumprir sua missão a contento pode ficar indiferente aos cam inhos abertos pelOS avanços tecnológicos", afirmou ele. A segu ir, deu exemplos de avanços obtidos no STj com recursos da informática e da Internet:
- Revista Eletrônica dajuriSprudência, página certificada que disponibillza o inteiro teor dos acórdãos no si te do STj. Não é mais necessário pedir cópias autenticadas dos acórdãos, nem redigilá-Ios.
-Malote Digital, que permite transferir ao Supremo, diariamente, via internet, informaçôes sobre processos encaminhados àquela Corte, bem como recebê-Ias dos Tribunais Regionais da I' e 4' Regiões. O procedimento eslá em
fase de implantação nas demais Regiões e nos Tribunais dejustiça.
- Sistema Push, pelo qual os advogados recebem, por via eletrôn ica, o andamento dos processos, os informativos de jurisprudência e notícias do Tribunal.
- Clipping de Lell islação, no qual é divulgado diariamente o texto integral dos principais atos oficiais publicados nos Diários dajustiça e OfiCial da União.
Advogados da CAIXA têm chamado a atenção para a importância do processo de informatização dajustiça, tema abordado na edição anterior do Boletim da Advocef. Observadores atentos de notícias como as destacadas acima, os profissionais repassam cópias entre si, na esperança de evitar que se vejam todos em pouco tempo "atropelados" pelas transformações que encaminham a modernização e a agilização da justiça. A preocupação pode ser sentida no conteúdo deste e-mail: "Ou a CAIXA, por seu órgão jurídico, acompanha desde já estas novidades, Invest indo em pessoas e estruturas para responder com eficiência e tempestiVidade estas modernizações, ou estará fadada a ser mera espedadora destes novos tempos, em prejuízo dos seus interesses como parte processual e como ente com extensa responsabilidade perante a sociedade".
Fontes: S7] e CAIXA
A Justifa de olhos abertos Quarentena para sempre Uma mulher sentada, de olhos vendados, com uma balan
ça e uma espada: esta imagem não serve mais para ajustiça, segundo a desembargadora gaúcha Maria Berenice Dias. "Ainda que venha aumentando a participação feminina nos quadros da magistratura", salientou. Na sua opinião, a justiça deve ser dinâmica, deve dispensar tratamento diferenciado a partes em posições desiguais. "A espada -se visava a representar efetividade - traduz mais a idéia de agressividade e não se compatibiliza com a postura socializante e sensível que deve ter o julgador", escreveu em artigo publicado no site Espaço Vital.
Os argumentos da desembargadora do Tribunal de justiça do Rio Grande do Sul compôem, na verdade, sua proposta de criação de uma Ouvidoria da justiça, para agilizar a prestação jurisdicional, disponível para denúncias, sugestôes e reclamações. Sugere, para ocupar o cargo, um desembargador aposentado, eleito por todos os magistrados, com mandato limitado e sem pOSSibilidade de reeleição.
Levantamento feito pelo jornal Folha de São Paulo mostra que 18 ex-ministros do Superior Tribunal de justiça e do Supremo Tribunal Federal atuam como advogados em 529 processos nos própriOS tribunais em que trabalharam. Entre as causas apontadas para a procura desses profissionais eslá o "trânsito fácil no STJ". A revista Consultor jurídico realizou uma enquete com intemautas para saber se "deve haver quarentena para o juiz aposentado atuar no tribunal de onde saiu". O resultado foi o selluinte:
Não: 10.5%; Sim, de 2 anos: 19,1%; Sim, de 4 anos: 29,6%; Sim, para sempre: 40,9%. Foram computados 2104 votos no total.
A Ordem dos Advogados do Brasil defende uma quarentena de dois anos para os ex-ministros.
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Cena Jurídica Negro no STF
A nomeação de um negro para o STF (prete~dida por Lula) não é inédita. No livro "História do Supremo TrIbunal Federal", Leda Boechat revela que o jurista mineiro Pedro Lessa, que tomou posse em 1907, era "mulato claro, brilhantíssimo, estrela de primeira g randeza". Outro ministro, Hermenegildo Rodrigues de Barros, que tomou posse em 1919, era "um dos prodigiosos produtos da miscigenação brasileira". No dia do casamento de sua filha, informa a autora, Rodrigues de Barros não atendeu aos apelos da família para faltar à sessão e não foi ao casamento.
Mulher legisladora
As mulheres compõem 50% da população brasileira mas estão representadas com apenas 8,2% na Câmara dos Deputados e 12,3% no Senado Federal.
Desordem no Judiciário
Em palestra sobre os juizados Especiais Federais, o ministro Nelson Jobim, do STF, criticou a forma desorganizada com que o Poder judiciário trata de suas questões administrativas e buroCláticas. "Se alguém nos pergunta quais os nossos custos reais, não sabemos. Não sabemos quanto custa uma sentença, um acórdão. Temos que reconhecer nossa absoluta incapacidade gerencial e administrativa", afirmou.
Contra os bancos
O judiCiário discrimina as instituições financeiras, que, para ganhar uma causa, necessitam "de forte argumentação". No seu preconceito, os juízes às vezes nem ouvem a defesa dos bancos. As declarações são de advogados, em matéria do jornal Valor Econômico. Eles se mostraram preocupados com o artigo 927 do Novo Código Civil. segundo o qual quem conduzir uma atividade de risco que afete terceiros deve responder objetivamente por isso. Embora o artigo não faça menção aos bancos, os especialistas acreditam que deve ser usado contra as Instituiçôes. "É um desafio na lei ao conceito do risco e pode aumentar bas-
tante o número de disputas entre inyestidores e bancos", dissejosé Eduardo Carneiro Queiroz, do escritório Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey jr Quiroga.
Teledefesa 1
Em uma semana, em São Paulo, uma média de4.818 policiais usam 1.774 veículos, percorrendo 267 mil qUilômetros para realizar 7.151 escoltas de presos aos tribunais. Os dados são do jornalista Gilberto Dimenstein, da Folha de São Paulo. Ele informa que para enfrentar o problema experimenta-se na capital paulista uma sala de audiências virtual. na qual o preso pode ser acompanhado de seu advogado e o juiz faz o interrogatório pelas câmeras, vendo tudo pelos monitores. Há advogados alegando que a novidade dificulta o direito de defesa. "O que me parece mais uma reação à nOVidad e tecnológica do que apego aos direitos civis", comentou o jornalista.
Teledefesa 2
Quando juiz de Direito em São Paulo, em 1996, Luiz Flávio Gomes realizou os primeiros teleinterrogatórios do país - dois no mesmo ano. Seu depOimento ao Boletim da ADVOCEF: "Eram crimes patrimoniais. Não tinha videoconferência na época, fiz o interrogatóri o na base do modem by modem. Não via o rosto do acusado, ele não me via. Só se via na tela as perguntas. Fiz muitas perguntas sobre o caso e todas foram respondidas. O réu estava na presença do seu advogado e lá havia um escrevente meu. Logo, tudo foi dito livremente." Concluiu o jurista: "Continuo firme na minha crença. Avante."
Obras preservadas
o STj e o Senado vão editar grandes obras na coleção "História do Direito Brasileiro", em um programa para a preservação da memória nacional e de aprox imação do cidadão com o Legislativo. Entre os livros do Direito Civil já estão definidos "Direito das Coisas", de Clóvis Bevilacqua, "Instituições de Direito Civil Brasileiro", de Lourenço Trigo Loureiro, e "Consolidação das Leis Civis", de Augusto Teixeira de Freitas.
Entre os do Direito Penal. estão "Estudos de Direito", de Tobias Barreto, e "Código Penal dos Estados Unidos do Brasil", de Antônio José da Costa.
Os seis mais
Seis juristas brasi leiros aparecem na lista "Best Private Practice Lawyers", publicada pela revista The International Who 's Who of Internat ional Tax Lawyers. Nela, constam 333 advogados de 38 países. Para compor a relação, a revista pesquisa no mercado internacional durante seis anos. Os brasileiros são: Abel Simão Amaro, Paulo Barros Carvalho, Condorcet Pereira d Rezende, Luciana Rosanova Galhardo, Ives Gandra Martins e Alberto Xavier.
Pesquisa 1
Opções mais votadas para o combate à violência, segundo oSjuízes ouvidos pela Associação dos Magistrados do Brasil: cumprimento efetivo das leis (96,6%); evitar a entrada de armas e celulares nas prisões (96%); combate ao narcotráfico e ao crime organizado (95,8%); aparelhamento da poliCia com m elh or t ecnologia (95 ,2%); Interligação de bancos de dados das instituições judiciais, policiais e penitenciárias (94,7%).
Pesquisa 2
As maiores causas (la violência, segundo os juízes, são a má distribuição de renda, a corrupção na administração pública, a ineficiência do sistema prisional e o excesso de processos. Entre as causas legais e judiciais, foram apontados o despreparo do Legislativo para formular leis e a falta de efetivação da Lei de Execução Penal. A morosidade no julgamento de processos foi a quinta causa
ais votada.
Pelas dívidas
Líderes do PMDB e PFL na Câmara garantiram ao presidente do 51j Nilson Naves que apóiam e tentarão aprovar logo o projeto que cria 183 varas federais no país. Os polítiCOS gostaram de saber que as instituições tornarão mais eficiente a execução das dívidas judiciais em favor da União.
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Ensaio Haikai, prática zen na poesia
coaxar de sapos festa na noite insônia com m{lsica
Esta pequena poesia é um haikai. É um poema tradicional japonês de dezessete sílabas, primeiro e terceiro versos em redondilha menor (cinco sílabas) e o segundo em redondilha maior (sete sílabas). Esta métrica, rígida, bem no estilo oriental, não é obrigatória, mas pode ser seguida, embora as características da língua e escritajaponesa tenham peculiaridades que não se transferem para a nossa, como por exemplo, palavras que expressam emoções e que nós usamos como sinais (admiração: !, dúvida: ... etc).
Em japonês, o haikai não tem rima, mas sim uma intensa relação entre as palavras, uma conversa entre elas. Os temas são sempre concretos mas uma segunda leitura normalmente pode demonstrar um sentimento. Ele es1á sempre presente mas não fala de si mesmo. São as coisas, a paisagem, a natureza e, principalmente, as quatro estações do ano que falam, denunciam, sugerem o sentimento.
O haikai é, na verdade, uma síntese, um registro, uma constatação. Costumo dizer que ele é um retrato, uma fotografia bem tirada. E forma, juntos com outras artes, um caminho
Pérolas da Internet
zen. De fato, \árias artes orientais são práticas zen, como o ikebana (arranjo f loral), o kendô (arte da espada), as artes marciais, o jardim, o kiu-dô (arco e flecha) etc. O haikai. como todas as outras artes, nos ensina a sermos O
instrumento, o veículo. Nada poderá ser bem feito por nós, se não for feito em nós, primeiro.
O haikai originariamente era uma brincadeira de cortesãos, al~o como as trovas, ou repentes. E floresceu com todo vi~or no século XVII com Baschô, um dos mais prolíficos representantes dessa arte, que teve como alunos Busson, Issa, Shiki. Ele tinha sido samurai e quando se tornou um mon~e zen o haikai passou a ser prática zen. Dizia: "Quando o espírito es1á embebido de haikai, o sentimento interior se funde com as coisas exteriores para determinar a forma do verso e tão bem que o objeto é apreendido tal qual ele se apresenta, sem que a visão própria crie a menor diver~ência" Na maior parte, os haikai eram escritos em diários, muitas vezes de via~em, tendo ao lado um desenho ou pintura, quase sempre feito pelo próprio poeta.
No Brasil, Gui lherme de Almeida foi dos primeiros a cultivar essa forma de expressão poética completa. Temos, também, outros como MáriO
Francisco Spisla (*)
Quintana, Helena Kolody, o ~rande Paulo leminski, Alice Ruiz, Ricardo Silvestrin et alii. E Millôr Fernandes com um estilo um pouco diferente, mais humorístico, mas nem por isso fora do espírito.
Em meu livro Infinito Findo estão selecionados al~uns, inclusive com pinturas de autoria de Gelson Amaral, que ~anhou o Prêmio Shell, do ano passado, de cenografia. E um deles foi selecionado no IX Concurso Nacional de Poesias Helena Kolody:
floresta queimada pintura surrealista? natureza morta
E como comecei. assim termino corn outro de minha autoria:
caçando vaga-lumes o menino aprisionou o infinito na ~arrafa
(') Francisco Spisla é advogado da C4IM em
londrina e 2. o Secretário da ADVOCEF. Tem 43 anos. Poeta, contista e ator, já
publiCOU um livro de poemas, Infinito Findo, e prepara outro,
só com haikais e figuras.
O caso dos charutos incendiados Te ndo comprado uma caixa de
charutos raros, um advo~ado de Charlotle, Carolina do Norte (EUA), contratou uma apólice de seguro contra incêndiO e outros riscos. Após fumar todo o estoque, o advo~ado foi à se~uradora e pediU indenização, declarando que os charutos foram perdidos "numa série de pequenos incêndios".
Como a se~uradora se ne~ou a pa~ar, o advogado moveu um processo contra a empresa - e ganhou. Na sentença, o juiz aceitou a acusação de reivindicação frívola mas salientou que a apólice de seguro fora contratada com uma empresa que concordou que os charutos eram asse~u""'eis. A companhia
também os havia asse~urado contra fogo, sem definir no entanto o que seriaconsiderado "fo~o inacei1ável". Por isso, estava obrigada a pagar a reivindicação. A se~uradora desistiu da apelação e pagou US$ 15 mil para0 advo~ado.
Momentos após receber o cheque, o advo~ado foi preso, a mando da companhia de se~uro, por 24 casos de incêndios culposos premeditados. De acordo com o site Consultor Jurídico, "com sua própria reivindicação de se~uro e ajurisprudência do caso anterior sendo usada contra ele mesmo, o advo~ado foi j ul~ado culpado por incendiar intencionalmente a sua propriedade coberta por se~uro. Ele foi condenado a 24 meses na prisão e a pa~ar US$ 24 mil de multa".
Fonte: Consultor jurídico, que observa ser a história lenda urbana criada na década de 60, na Internet desde 7996.
Dize-me o que lês Na seção "O que estou lendo: publicada semanal
mente" a revista Veja revela o que andam lendo personalidades da vida nacional. Conheça algumas dessas leituras, com a avaliação dos próprios leitores" como o presidente do Supremo Tribunal Federal e do então presidente da República Fernando Henrique Cardoso. O período pesquisado é de agosto de 2002 a março de 200].
Fernando Henrique Cardoso" ainda presidente da República" em setembro do ano passado, lia "100 Discursos Históricos", de Carlos Figueiredo (Leitura):
"O livro contém um discurso feito por Péricles há cerca de 2400 anos. O primeiro" na história" que menciona a palavra democracia. "
Marco Aurélio Mello, preSidente do Supremo Tribu; nal Federal" lia "Todo Poder às Mulheres - Esperança de Equilíbrio para o Mundo", de Marco Aurélio Dias da Silva (Best Seller):
"Revela o papel e o tratamento diferenciado a mulher nas diversas sociedades no correr dos anos. "
Modesto Carvalhosa, advogado, lia "Em Busca de Novo Modelo"" de Celso Furtado (Paz e Terra):
"Traz uma profunda reflexão sobre a crise contemporânea no Brasil e no mundo e aponta os caminhos que países como o nosso devem seguir para retomar o desenvolvimento. "
Tânia Alves, atriz, lia "Memórias de Uma Gueixa", de Arthur Golden (lmago).
"Descreve o universo das gueixas com lirismo e poesia" sem deixar de mostrar o sofrimento dessas mulheres,
que" muitas vezes, são vendidas ainda na infância. A história nos faz acreditar no milagre do amor. "
Amyr Klink" navegador, lia "O Último Lugar da Terra", de Roland Huntford (Companhia das Letras):
"O livro mostra como uma expedição com poucos recursos, liderada pelo norueguês Roald Amundsen" venceu o grupo do inglês Rober.t Scott apOiado por uma nação muito mais rica" na luta pela conquista do Pólo Sul. As lições de organização e humildade são bem interessantes. "
José Renato Nalini" preSidente do Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo, lia "O Ocidente e sua Sombra", de Gilberto de Mello Kujawski (Letraviva):
"É uma instigante reflexão sobre o Ocidente e sua cultura. Mostra como a modernidade se caracteriza também pelo efêmero e pelo descartável. Reflete sobre como a busca de resultados imediatos confunde o prazer com felicidade. "
Mauro Marcelo, delegado especialista em crimes eletrônicos, lia "Mentes Criminosas & Crimes Assustadores", dejohn Douglas e Mark Olshaker (Ediouro):
"Analisa crimes que abalaram a SOCiedade americana e as investigações da polícia inglesa sobre jack" o Estripador. Um dos autores é um ex-agente do FBI que criou a unidade de análise de criminosos violentos. "
Marcelo Noschese, diretor da Louis Vuitton no Brasil, lia "A Lanterna na Popa", de Roberto Campos (Topbooks):
"Interessante panorama do Brasil. das relações internacionais e da diplomacia. Perfeito painel para entender o histórico econõmico do país desde o pós-guerra até os dias de hoje. "
Edmundo Bontempo, gerente-geral da Seagram do Brasil, lia "jack Definitivo - Segredos do Executivo do Século", dejack Welch (Editora Campus):
"Descreve as mudanças feitas pelo autor na General Electriç quando era seu principal executivo" para reduzir o peso da burocracia e tomar a empresa mais humana e eficiente. "
Antonio Kehdi Neto
No juris Tantum encartado nesta edição do Boletim da Advocef, o advogado da CAIXA Antonio Kehdi Neto examina a atividade dos profissionais liberais" categoria cada vez mais importante no país. Interessado na área da responsabilidade civil, Antonio chama a atenção para as características especiais desses trabalhadores "que, inserindo-se nas normas do Código do Consumidor, têm asua responsabilidade ainda pautada no pressuposto da culpa (subjetiva), contrariamente às demais atividades regulamentadas pelo referido diploma legal". Em seu estudo" Antonio Kehdi Neto pretende demonstrar "que a regra (não objetivação
da responsabilidade dvil dos profissionais liberais) não pode ser interpretada de modo absoluto".
Natural de Franca (SPl, Antonio Kehdi tem 35 anos. Concluiu o curso de Direito em 1990" na Universidade Estadual Paulista (UNESP), onde é mestrando em Direito das Obrigações. É especialista em Direito Processual Civil pela Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP).lngressou na CAIXA em 1989. Na área jurídica desde 1992, trabalha hoje na REjUR de Ribeirão Preto/ SP. Até o ano passado exerceu também a atividade de professor de Direito Constitucional na UNIFIAN (Faculdades IntegradasAnhangüera).
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RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PROFISSIONAIS L.BERAIS
1. Generalidaaes De capital importância na atualidade são
as atividades desenvolvidas pelos profissionais liberais, tais como médicos, dentistas, advogados, enQenheiros, arquitetos, fisioterapeutas, fonoaudiólo~os, psicólogos, veterinários, enfermeiros com formaçao universitiria, economistas, farmacêuticos, contabilistas, elc.
Tal qual ocorre nos demais segmentos, a atividade dos profissionais liberais, nos últimos tempos, tem crescido de forma vertiginosa, contribuindo para isso a proliferacão de cursos superiores em nosso país, ao mesmo tempo tornando mais acessível aos interessados a obtenção de vagas nas diversas universidades hoje existentes.
Assim, a exemplo do que ocorre nos campos dos mais diversos setores da econom ia, o que se tem visto é a massificação das atividades dos profissionais liberais, o que, na seara da responsabilidade civil, tem um ref lexo de exlremo vulto.
Por profissional liberal, na definição de De Plácido e Silva 1, se deve entender o titular de toda profissão que possa ser exercida com autonomia, isto é, livre de qualquer subordinacão a um patrão ou chefe. Tratase, se~undo o autor, de expressão usada para desi~nar toda profissão, em regra de natureza inteledual, que se exerce fora de todo espírito especulativo, revelada pela independência ou autonomia do trabalhador que a exerce.
No campo da responsabilidade civil. quandO se tratava de violação praticada por profissionais daquela estirpe, o dever de reparação sempre derivou da norma inserta no arti~o 159 do Códi~o Civil de 1.916, que cedeu passo ao arti~o 186 da Lei n' 10.406, de 10 de janeiro de 2.002 - novo CódiQo Civil - hoje em vigor. Isso, não apenas na seara das profissões objeto dessas considerações, como ainda nos demais ramos de atividade, inclusive dos prestadores de serviços em geral, gênero do qual faz parte a espécie dos profissionais liberais.
Portanto, o fundamento da responsabilidade civil daqueles profissionais sempre se assentou na existência de culpa em sentido amplo, abrangidos o dolo, consistente na vontade deliberada de praticar o ato ilícito, e a culpa em seu campo estrito, levando-se em conta a existência do quaisquer dos institutos que compõem o trinômio imprudência, ne~li~ência e imperícia.
Com o advento do Códi~o de Defesa do Consumidor houve uma grande revolucão no âmbito da responsabilidade civil. pois que o referido diploma acabou por inverter o seu fundamento, passando da teoria subjetiva, calcada na culpa, para a objetiva, decorrente do risco da atividade profissional.
1 VocabuláriO JurídiCO, va I. 111, p.467/468
Or. Antonio Kehdi Neto (0)
JURIS TANTUM
A\~VOCEf ASSOCIAÇÃO NACIONAL
DOS ADVOGADOS DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
Fev/Mar 2003 - Edição 010
Assim, o chamado fornecedor de produtos e servicos, que naquele Codex assume mais de u~a feição, passou a responder objetivamente pelos danos causados aos consumidores, isto é, ainda que não tenha a~ido com culpa.
A par dessÇl inovação legal, tem-se Que aquele CódiQo, ao traçar a responsabilidade civil dos profissionais liberais, deixou-os de fora daquela alteração, pois que o pará~rafo 4° de seu arti!ao 14 veio assim dispor: "A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificacão de culpa." Infere-se, pois, que nesse ~pedo o Código de Defesa do Consumidor manteve o fundamento subjetivista.
Assim é que, suportando o dano, aí entendido o de ordem material e o de cunho moral (dano extrapatrimonial), cabe ao lesado comprovar não somente a ação ou omissão ilícita do ofensor, das quais tal prejuízo foi originado (nexo de causalidade), mas também a culpa do autor da ofensa, sem o que não há que se falar no dever de reparação.
Porém, à vista da inovação trazida pelo Códi!ao do Consumidor, Que evoluiu para o campo da responsabilidade sem culpa, é de se inda~ar se o le~islador andou bem, ao permanecer no campo da teoria subjetiva para o caso dos profissionais liberais.
Com efeito, embora as relações desses profissionais com a sua clientela, via de regra, se verifique na base da fidúcia, v.g. o caso do paciente que procura pelo médico da família, ou do cliente que busca os serviços do advogado de sua confiança, é imperioso conside· rar que o aumento da SOCiedade de consumo, a massificação dos contratos e a evolução tecnológica contribuíram para o incremento das atividades exercidas pelos profiSSionais liberais, e por isso questionamos se a permanênCia do referido prestador de serviços no campo da responsabilidade subjetiva
foi medida de acerto por parte do le~islador do Códi~o de Defesa do Consumidor.
A doutrina mais autorizada não tem dúvida em enquadrar a relação do profiSSional liberal com o seu cliente dentro do contexto daquele diploma consumerista. Afinal, se assim não fosse, por certo que não teria o Códi~o um dispositivo espeCial, reservado ao referido profiSSional, talo caso do parágrafo 4° de seu arti~o 14.
No entanto, não obstante o aumento Si!} nificativo do número daqueles profissionais, o avanco tecnoló!aico, principalmente no campo da medicina, e a proliferação das sociedades de consumo, aQiu bem o legislador, ao manter aquele tipo de responsabilidade dentro de uma sistemática que é embasada no critério da necessária e antecipada prova de que tenha havido, pelo prestador do serviço, o dolo ou a culpa.
Com efeito, is~o se justifica porque os profissionais liberais, que mantêm com seus clientes um vínculo de natureza essencialmente contratual, eis que decorrente de um acordo de vontade entre as partes, quando atuam nessa condição (de profissionais liberais), entabulam avenças cujo conteúdo encerra uma obri~ação de "meio" e não obrigação de "resultado" .
Nesse prisma, entende-se que o médico, por exemplo, contratualmente, não está obrigado a curar o seu paciente, ou seja, não está adstrito à obtenção do resultado buscado, e que deu ensejo à realizaçâo do tratamento. Ainda no caso, é evidente que deverá o médico ser o mais diligente possível no trato da questão para com o seu paciente, envidando todos os esforcos e períCia técnica para real izar o que lhe foi pedido pelo seu contratante. Isso, porém, não significa que o referido profissional haverá, necessariamente, de obter o resultado buscado pelo paciente, eis que a ciência médica, conquanto hoje altamente evoluída, está sujeita a inúmeras vicissitudes, as quais poderão frustrar aquele desiderato, sem que por isso se possa falar em culpa do profissional.
2. Obrigaçãa de meio e obrigação de resultado
Conforme já salientado, existe vinculo jurídico entre o profissional liberal e o seu cliente, o qual assume uma feição nitidamente contratual.
No caso do méd ico, por exemplo, Maria Helena Diniz 2 é taxativa, ao afirmar a natureza contratual da responsabilidade daquele profissional, por haver entre ele e o paciente um contrato, que se apresenta como uma obri!aação de meio, já que não comporta o dever de cura do paciente, porém de prestar~lhe os cuidados conscienciosos e atentos, consoante os progressos da medicina.
2 Curso de Direito Civil Brasileiro, vaI. 7, p.250
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E assim também o advo~ado. o contador, o veterinário, etc. Evidente que estes prestadores de sel'Viços são obriQ,ados a aQir com extrema diligência e acuidade no desempenho de suas atividades, de forma a cumprir a sua parte no contrato.
Não se admite que, a pretexto da permanência desses profissionais no campo da responsabilidade subjetiva, possam eles desempenhar seu mister de forma inadvertida e sem o mínimo de precaução. Não é razoável. por exemplo, tolerar-se a perda de prazo [njustlficada pelo advogado, eis que desse modo estaria caraderlzada manifesta negligência no desempenho do mandato que lhe fora outorgado pelo seu cl iente.
Frise-se. em contrapartida, que o advogado não está, efetivamente, obrigado a atingir o resultado buscado, o qual deu ensejo à propositura da ação judicial em favor de seu constituinte. Até porque, esse desiderato não está a depender de seu exclusivo alvedrlo. eis que o julg,amento da causa é ato privativo da autoridade judiciária, que poderá ou não acolher a pretensão por ele deduzida em prol do outor~ante do mandato.
Em ~e ral, a obtenção dos resultados desses serviços estão sempre na dependência de circunstâncias alheias ao empenho, à competência e à vontade do profissional, de sorte que não seria razoável exi~i r do mesmo uma completa garantia de perfeição daqueles resultados.
No caso das obrigações de meio, tipicamente atribuídas aos profissionais liberais, não é dever do prestador de serviço a consecução do resultado para o qual fOi contratado, mas tão somente exercer O seu labor com perícia, nele empreendendo o ~rau máximo de zelo, boa vontade e tlroeinlo.
já nas chamadas obrl~ações de resu[tado, que no campo de atuação dos profissionais liberais são poucas, não basta ao profissional atuar com diligência, CUidado e perícia, porquanto a obtenção do resultado é dever do mesmo, sem o que poderá estar caraderlzado o dever de reparação do dano causado ao tomador do serviço.
Com efeito, tratando-se também de uma relação de ordem contratual. na seara das obrigações de resultado (caso da cirur~ ia estética/cosmética) o profissional, ao deixar de cumprir o contrato, não atingindo o resultado almejado, fica obriga· do a responder por este ou, se for o caso, a reparar o dano que causou ao tomador do serviço.
Nesse passo, quando a relação contratual encerra uma obrigação de resu[tado, é dever do profissional [o~rar o atlngimento do Intento para o qual foi contratado, sob pena de responder na órbita c[vil pelos danos ocasionados ao seu cliente.
Em suma, nas prestações de serviços praticadas por profissionais liberais há duas espécies de obrigações, as que são de meio, em sua maciça maioria, e as que são de resultado.
Dependendo de onde se insere a obrigação, adotar-se-ão regimes jurídicos diversos, no que respeita à atribuição de responsabilidade aos profissionais.
3. Enquadramento das atividades prestadas eelos profissionais
liberais no código de defesa do consumidor
Tal como já argumentado, os serviços prestados pelos profissionaIs liberais inserem-se na regulamentação do diploma consumerista, encerrando, portanto, típica relação de consumo.
O profissional liberal é, assim, verdadei ro fornecedor de serviços, estando caraaerizado pelo prOfundo conhecimento técnico e especialização quanto à sua atividade. Desse modo, não se há de encontrar maiores dificuldades para se inserir o re ferido profiss ional na definição de fornecedor que nos dá o artigo 3° do Código do Consumidor.
Em contrapartida, o tomador dos serviços, o chamado cliente, se subsume no preceito Insculpido no arti~o 2° daquele mesmo Codex,
Por isso, não há dúvida de que a espé· cie da atividade do profissional liberal se insere no gênero prestação de serviços, que hoje encontra azo no Código de De· fesa do Consumidor. Até porque, conforme argumentado, caso não se t ratasse de uma típica relação de consumo, por certo que não teria o referido diploma reservado especial dispositivo aos profissionais IIbera[s (art [go 14, pará~rafo 4°), sobretudo se formos pensar que no campo da responsabilidade civi l. pelo menos quanto ao profiSSional liberal. nenhuma Inovação adveio com o diploma consumerlsta.
Segui ndo esse raciocínio, não fosse a Intenção do legislador daquele Códi~o in· serlr em seu contexto as atividades prestadas pelos profissionais liberais, e certamente não teria ele feito qualquer menção a tais prestadores de serviços.
4. Natureza dos serviços prestados eelo
profissional liberal e responsabilidade
No caso dos profissionais liberais. assume especial relevo a verificação do pressuposto culpa na apuração de responsabilidade pelos danos por eles provocados aos seus clientes.
A idéia de responsabll[dade é bastante antiga e, conjuntamente com a de reparação, se confunde com a própria idéia de direito, conforme a história tem nos mostrado.
Os princípios de não lesar a ninguem e de recompor o equilíbriO, através da reparação do dano causado ao ofendido, ja·
mais ficaram ausentes do direito ao longo dos tempos.
De uma visão objetiva da responsabilidade civil, reinante nos primórdios da civilização, passou-se a uma ótica essencialmente subjetivista, de sorte a se exi~ir a presença da culpa ou do dolo quando se tratava de imputar responsabilidade a outrem.
No campo da responsabilidade civil, o artigo 159 do Código Civil hoje revo~ado ganhou especial destaque, e nele se encontrava a pedra de toque para a imputação de responsabilidade na maior parte das relações jurídi cas vivenciadas pelo nosso direito, dentre as quais a do profissionalliberal e seu cliente.
Porém, o advento do Código do Con· sumidor, sem embargo de não ter alterado o fundamento da responsabilidade daquele profissional. ainda calcado na presença da culpa, passou a ser o diploma regente da relação por ele mantida com o tomador dos serviços, ni tidamente uma relação de consumo.
O Código do Consumidor, diversamente do re~ime do Código Civil hoje revo~a·
do, inst ituiu a responsabi lidade objetiva do fornecedor de produtos e serviços nas chamadas relações de consumo, deixando de fora os profiss ionais liberais. Temse, pOiS, que para estes últimos, sem a prova da cu lpa, não há dever de reparação.
Já se disse que o fundamento da manutenção dos profissionais no campo da responsabilidade decorrente da culpa (cu[· pa em sentido estrito ou dolo) reside no fato de exercerem eles, via de re~ra, obrigações de melo e não de resultado, cujas diferenciações já foram feitas alhures.
No entanto, mais um fator merece ser menCionado, O qual ve io contribuir para a prevalência da responsabilidade subjetiva dos referidos profissionais. A verdade é que os profissionais liberais prestam serviços personalizados, os quais, na lição de Fábio Ulhoa Coelho l , normalmente "não possuem qualquer elemento empre· sarial que justifique se <oeitar de exploração de atividade e<onômi<a oro eanizada de tal forma que possibilite a distribuição de perdas entre os seus <lIentes diretos".
Para o referido autor 4 , a natureza dos serviços prestados pelo profissional liberai é Intultu personae, o que implica na indispensável con fiança do consumidor na pessoa do prestador de tais serviços, fator este que, Inclusive, motiva a escolha do profissional e a celebração do contrato com o mesmo.
Com efe ito, se m a presen ça da pessoa[id ade na relação prestador/ tomador dos serviços, não há, no escól io do festejado Jurista, como prevalecer oca· ráter subjetivo da responsabilidade civil do profissional liberal. Ass im, na consecução de serviços típicos do profissional liberal.
) O EmpresárIo e 05 DireItos do Consumidor. p.98 4 Op. Clt., p. 98
'~NTUM • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • porém, sob atividade empresarial, onde impera a estr i ta im pessoa li dade e a inexistência do elemento confiança do tomador para com o prestador, a apuração da responsabilidade pelos danos causados no desempenho da atividade do profissional se dá prescindindo-se do elemento culpa.
De outra parte, na hipótese de estar presente a confiança do cliente para com o profissional, não há como se abstrai r a culpa na at ividade de apuração e imputação de responsabilidade, ainda que o serviço seja prestado por pessoa j uridica, v.g. as sociedades de advogados, de médicos, dentistas, etc.
Portanto, ao Que se infere. para efeito de se perqui rir O fundamento da responsabilidade civil do profissional liberal, a doutrina nos fornece mais de um caminho a ser percorri do. O primeiro, verifi car se se trata de obrigação de meio ou de resu ltado, demandando, na primeira hipótese, a presença da culpa, nos termos do arti~o 14, pala~rafo 4", do Código do Consumidor, e, na segunda hipótese, prescindindo daquele elemento, pois que assim estar-se-á configurada a responsabilidade objetiva, pela qual o profissional deverá responder pelo dano decorrente do fato de não ter atin~ido a final idade específi ca para a qual foi contratado. O segundo caminho a ser explorado reside na apuração da existência ou não do carâter de pessoalldade e confiança ent re o tomador e o prestador dos serviços. Presentes tais requ isitos, tem-se por inequívoca a aplicação do arti go 14, parágrafo 4", do Cód i~O de Defesa do Consumidor, jamais podendo ser responsabilizado o profissional, sem que tenha ele labo rado com culpa ou dolo. Inexistentes aqueles pressu postos, mo rmente cons iderando que neste caso o desempenho da atividade se darâ sob o enfoque empresarial, mister Institu ir-se regime j urídico diverso, eis que assim o profissional responderá obJetivamente, portanto independentemente de culpa.
S. Insuficiência da teoria da culpa na
apuração da responsabilidade civil
dos profissionais liberais
Segundo Oscar Ivan Prux S , em brilhante artigo, denominado "Um Novo Enfoque Quanto à Responsabilidade Civi l do Profissional liberal", a teor ia da culpa não pOde ser aplicada em todos os casos de responsabilidade civil de ordem pessoal dos prof issionais liberais. Segundo o autor, "nas obrll!ações de resultado ela se mostra inadequada, e nas a$!,ressôes aos direitos dos consumidores que são perpetradas através de con·
S Revista de Direiro do Consumidor nO 19, p.20S
dutas e práti cas de mercado lna ofer· ta, na propaeanda eneanosa, na cobrança de dívidas, no uso de práti· cas e cláusulas abusi"as, etc., ela se revela, além de Inadequada, quase Impenlnente".
Ass im, caso O profissional liberal veicu le propaganda enganosa, v.g. O advogado que se auto-promove sob o falso arQumento de jamais ter perdido uma causa, não poderá se eximir da obrigação de reparar os danos praticados, sob o escudo da responsabilidade subjetiva.
S. Ônus da prova
Tendo o Códl~o de Defesa do Consumidor preconizado o carater objetivo da responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços, com exceção dos profissionais li berais, houve mani festa Inovação no que respeita à distribuição do ônus da prova em processos que tenham por objeto uma relação de consumo.
A regra é a atri buição do ônus da prova a quem alega. Assim, quanto à comprovação dos fatos constitutivos de seu direito, ao autor incumbe aquele ônus, nos termos do artigo 333, I, do Código de Processo Civil.
Porém, esse do~ma não é absoluto, e há multo vinha encontrando algumas exceções, como nos casos das leis sobre Acidentes do Trabalho, de Acidentes Ferroviários, Nucleares, etc., inclusive no anti~o Cód l~o Civil, em seus artigos 1.528,1.529 e 1.546 - nos dois primeiros casos as regras foram repetidas pelo novo CódiQO, com pequenas alterações -, de modo Que nessas hipóteses o réu é quem tinha o ônus de desconstituir as alegações do autor.
No caso do Código do Consumidor não fo i diferente, e a par da instituição da responsabil idade objetiva, hipótese em que o fornecedor deverá responder pelos prejuízos acarretados ao consumidor, Independentemente de culpa, o aludido diploma, em seu artl~o 6", VIII, previu a possibilidade de se Inverter o ônus probandi. carreando-o intei ramente ao fo rnecedor no âmbito de um litígio.
Estatui o aludIdo disposit ivo que, dentre outros, constituem-se em direItos do consumidor, "a facilitação da defesa de seus direitos, InclUSive com a In· versão do ônus da prova, a seu fa"or, no processo cj"n, quando, a cri· térlo do juiz, for verossímil a alel!ação ou quando for ele hipossuficiente, sel!undo as rel!ras ordinárias de ex· periência" _
Referida norma encontra seu fundamento na ampla deFesa e no contrad itório, pr incíp ios tais que foram eri gidos em garantias constitucionais, nos termos do artigo 5°, LV, da Carta Maior.
Ainda sem se arredar dos preceitos constitucionais, urge verificar que a preconizada inversão do ônus da prova também encontra assento no artigo 170, V, da referida Carta. Afinal, o escopo de se faci-
litar a deFesa do consumidor somente é alcançado através da apl icação de medidas desse jaez_
Na verdade, todo esse aparato, colocado à disposição do consumidor, visa a obtenção do necessário equilíbri o nas relações de consumo, em especial dentro de um processo judicial. Porém, ao se utilizar o consumidor das regras ord inárias da processualísti ca, fica, senão impossível, mas bastante diFíc il a obtenção desse tão buscado equilíbrio. Não é preciso multo esforço para se vislumbrar o grau de dificuldade que encontrará o cidadão comum do povo, o consum idor mediano, quando se vê ele d iante de um conflito com uma empresa m ult i nacional, dotada não somente de um poderio econômico in finitamente superior ao de seu contendor, mas também bri lhantemente assistida por uma equipe de advo~ados altamente espeCializada, afora inúmeras outras vantagens que o caráter de sumariedade deste trabalho não nos permite aqui arrolar.
Por isso, cabe ao fornecedor, a parte mais forte da relação, jJ ri ncipalmente porque detém as in fo rmações e demais espeCificações técnicas sobre o produto ou serviço, o f ie l cumprimento do dever de Info rmar, de se utllizar dos meIos de publicidade, através de lin~ua~em clara e acessíve l. de expor as qualidades de seu prOduto ou serviço, enfim, de dotar aquele vínculo mantido com o consum idor da mais absoluta transparênc ia. Em virtude disso, muitas vezes o fo rnecedor é quem se encarregará de, diante de eventuallití~i o, produzir toda a prova suficiente para elid ir a pretensão do consumidor.
Portanto, a inversão do ônus da prova se rve Justam ente para mi ni mizar as gri tantes diferenças existen tes entre as partes (fornecedor/consumidor), buscando o g rau máximo de equilíb ri o nessa relação_
Tra tando acerca da m até r ia ora enfocada, Nelson Nery Junior 6 argumenta que a previsão de inversão do ônus da prova é "aplicação do princípio constitucional da Isonomia, pois o consumidor, como pane reconhecldamen· te mais fraca e vulnerável na relação de consumo ICOC 4° 1), tem de ser tratado de forma diferente, a fim dI' que seja alcançada a Il!ualdade real entre os paníclpes da relação de con· sumo".
Também o artl~o 38 do Código do Consumidor t rata da matéria ora abordada, preceituando que "o ônus da prova da veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária cabe a quem as patrocina". Como numa relação de consumo a comunicação publicitári a ou Informação é de t itularidade do fornecedor, que é quem tem interesse na divulgação de seu produto ou serviço, sem dúvida que é ele o destinatári o específiCO da supra mencionada norma.
6 Código de ProcessO Civil Comenrado, p.1658
No entanto, a regra da inversão do ônus da prova não é absoluta, eis que o artigo 60 , VIII, exi~e, para tanto, a verossimilhança das aleg,ações do consumidor, ou que seja ele hipossuficiente.
Aliás, cumpre esclarecer que parte da doutrina assegura que o fato de ter o legislador inserido no dispositivo a partícula "ou" não significa que se dalá a referida inversão quando verificadas uma ou outra das hipóteses. Antes, é mister que na relação aqueles dois requisitos se mostrem presentes de modo simultâneo.
Enquanto isso, Nelson Nery Júnior 7
afirma que tais hipóteses são alternativas, como, segundo ele, indica claramente a conjunção ·ou ". De qualquer modo, os fatos narrados pelo consumidor deverão ser verossímeis, isto é, deverão estar imbuídos de um juízo de probabilidade, não se admitindo meras conjecturas ou suposições, marcadas pela absoluta incerteza. Por outro lado, quanto à hipossuficiência do artigo 60 ,
VIII, ensina o aludido autor 8 tratar-se não só da dificuldade econômica, mas também da dificuldade técnica do consumidor em poder desincumbir-se do ônus de provar os fatos constitutivos de seu direito. Assim, a deficiente assistência por advogado, quando nâo seja possível ao consumidor aprimorá-Ia, configura hipossuficiência.
Ainda no escólio daquele jurista 9, a inversâo do ônus da prova opera-se ope judicis, ou seja, por obra da autoridade judiciária, e não ope legis, tal como ocorre na distribuição do ônus da prova contida no artigo 333 do Código de Processo Civil. Conclusão disso, é que a inversão do ônus probandi encerra uma regra de juízo, cabendo ao julgador verificar se estão ou não presentes os requisitos legais para que se leve a efeito tal inversão. Assim, somente nâo se dalá tal inversão na hipótese de não existir quaisquer daqueles pressupostos. Caso contrário, ainda que presente apenas um deles, é dever do juiz carrear o ônus da prova inteiramente ao fornecedor. A expressão "a critério do juiz", inserta no artigo 60
, VII1 , não Significa poder discricionário para inverter ou não o ônus. Significa, segundo Wilson Carlos Rodycz 10, "que o juiz utilizará seus critérios para aferir a presença daqueles requisitos". Por isso, presentes tais pressupostos, a inversão será deferida. Caso contlário, o juiz não a deferilá.
Invertido o ônus, o fornecedor, no caso o de serviços, que é o objeto desse trabalho, somente não será responsabilizado quando provar: a) que, tendo prestado o
7 Op. cit., p. 1658 8 Op. cit., p. 1658 9 Op. cit., p. 1658 10 A Inversão do 6nus da Prova no juizado Especial, www.direitobancariO.com.br
serviço, o defeito inexiste; b) a culpa exclusiva do consumidor ou terceiro. É isso que determina o artigo 14, parágrafo 30 ,
do Código de Defesa do Consumidor. Sobre tais excludentes de responsabi
lidade, ensina-nos Maria Antonieta Zanardo Donato 11 que são elas numerus clausus, não se admitindo, assim, o elastecimento do elenco taxativo inserto na lei consumerista.
No caso do profissional liberal, é verdade que o Código do Consumidor manteve-o no campo da responsabilidade subjetiva, cumprindo ao tomador do serviço a demonstração de que o mesmo não empregou a diligência e a prudência a que se encontrava adstrito. Afinal, via de regra, presta ele uma obrigação de meio e não de resultado. Aliás, quando se esti diante de uma obrigação de resultado, ensina-nos Oscar Ivan Prux 12 que, lia im· posição de que o devedor (no caso o fornecedor' obtenha para o credor (que é o consumidor de seus serviços, um resultado perfeitamente determinado, conduz a que se aplique o princípio da inversão do ônus da prova com conseqüências para os envolvidos (consumidores e fornecedores) ". Depreende-se, por isso, a possibilidade de se inverter aquele ônus (da prova), ainda quando o prestador do serviço seja um profissional liberal, o que ocorre quando se encontra ele jungido a uma obrigaçâo de resultado, v.g. a do cirurgião plástiCO (cirur~ia estética), a do médico radiologista, a do engenheiro, quando eslá a confeccionar o projeto (planta) para a construção de um prédio, etc.
Com efeito, quando se está diante da inversão do ônus da prova, a discussão sobre o cumprimento ou não da obrigação dirige-se ao fato de o resultado cont ratado ter ou não sido obtido, o que auxilia na obtenção do equilíbrio da relação, facilitando a posição do tomador do serviço. Assim, nas obrigações de resultado, é dever do prestador demonstrar que o serviço foi realizado a contento, e que foi obtido o resultado previamente combinado entre as partes. Tratase de aplicar a regra do artigo 14, parágrafo 30 , do Código do Consumidor.
Isso, porém, não si~nifica que nas obrigações de meio não possa haver a inversão do ônus da prova, de forma a carreálo exclusivamente ao prestador do serviço. Sem se desgarrar da posição adotada pelO Código, contemplando a teoria subjetivista da responsabilidade do profissional liberal, em situações especiais, no escólio de Oscar Ivan prux 13, ao prestador do serviço incumbe aquele
11 Proteção ao Consumido/; Conceito e Extensão, p. 224 12 Op. cit., p. 209 1] Op. Cil., p. 205
ônus, como acontece quandO veicula ele uma propaganda enganosa, quando exerce abusivamente medidas de cobrança contra seus clientes, quando insere nos contratos celebrados cláusulas consideradas abusivas, etc. Aliás, nesses casos, assim como no caso de produtos ou serviços viciados, o referido autor prega a responsabilização do profiSSional liberal pelo critério subjetivo, porém, com presunção de culpa, critério pelo qual, segundo ele, se obtêm resultados práticos idênticos ao da responsabilidade objetiva.
A dificuldade de provar a culpa do profissionalliberal fica, assim, minimizada, diante da pOSSibilidade de se aplicar a regra do artigo 60 , VIII, do Código de Defesa do Consumidor, invertendo o ônus da prova, quando se está diante de situações tais quais as elencadas no parágrafo anterior, e sem se olvidar da necessidade de estarem presentes a verossimilhança das alegações do consumidor ou a sua patente hipossuficiência técnica, cultural e econômica.
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SILVA, De Plácido e - VocabuláriO jurídico, 2. Edição, Rio de janeiro: Forense, 1990. VaI. 111
14 Op. cit., p. 215
(' ) Advogada da CAIXA em Ribeirão Preta/ SP
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