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Antologia Escolar 2020 Cada CM, Cada Aluno, Uma mensagem Volume II - Memórias 1

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Antologia Escolar 2020Cada CM, Cada Aluno, Uma mensagem

Volume II - Memórias

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Cada CM, Cada Aluno, Uma mensagem

Volume II - Memórias

Antologia Escolar do Sistema Colégio Militar do Brasil

2020

Departamento de Educação e Cultura do Exército

Diretoria de Educação Preparatória e Assistencial

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Alessandra Feitosa e Mônica de CastroOrganizadoras

Cada CM, Cada Aluno, Uma mensagem

Antologia Escolar do Sistema Colégio Militar do Brasil

2020

Volume II - Memórias

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Alessandra Feitosa e Mônica de Castro (Org) Copyright@2020 por Alessandra Martins Gomes Feitosa e Mônica de Castro Guimarães Título original: Antologia Escolar do Sistema Colégio Militar do Brasil 2020 - Cada CM, Cada Aluno, Uma Mensagem Conselho Editorial: Célio Jorge Vasques de Oliveira, Daniel Reis dos Lopes, Elaine Guimarães Motta, Elias Ely Vitório, Gilberto Cardoso Os Conceitos emitidos nos textos são de exclusiva responsabilidade dos autores Capa do livro: Montagem com os trabalhos dos próprios autores presentes na Antologia

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SUMÁRIO Uma boina, uma história ..................................................................................07Aluna Marília Bezerra Lima (CMB) Meu Colégio Militar................................................................................................09Aluna Gabriela Lima Alves (CMBel)

Lembranças guardadas com carinho.......................................................11Aluna Letícia Meireles David (CMBH) Memórias das terras das Araucárias.........................................................12Aluno Hannah Wischral Mathias (CMC) Sexta-feira....................................................................................................................14Aluno Gabriel de Oliveira Furtuoso (CMCG)

A família garança....................................................................................................15Aluna Fernanda Alves de Paula (CMF) Minha experiência na família garança.....................................................17Aluna Maria Fernanda Mayrinl Magalhães (CMJF) Uma semana histórica.........................................................................................18Aluno Wesley Andrade (CMM)O meu CMR .................................................................................................................20Aluna Bruna da Silva Carrion (CMRJ) Mais que um colégio, um formador de cidadão de honra.......22Aluno Matheus Duarte Fidelis (CMRJ)O que corre em minhas veias .......................................................................23Aluno Matheus Francisco Luquini de Souza (CMS)

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Volume I I

Memórias

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Uma boina, uma história (1/2)

Al Marília Bezerra (CMB)

Quando penso em minha história no Colégio Militar, é inevitável remontar a janeiro de 2017.No dia 23, quando, às 8h, desembarquei no aeroporto de Brasília, não fazia ideia do que meaguardava. Naquele mesmo dia, adentrei ao “gigantesco e intimidador” Colégio Militar deBrasília como uma futura aluna, para realizar a matrícula, comprar os uniformes e esperar oinício das aulas.

Ah, o temido início... Tantas eram as dúvidas em minha cabeça. “Será que vou conseguirseguir todas as regras? Será que vou ter alguém com quem conversar? Será que vouconseguir acompanhar o ritmo?” Eu só pensava no testemunho do meu padrasto: na suaépoca de aluno do Sistema, até “ficar na média” era motivo de alegria, do tanto que as provaseram difíceis. Hoje, percebo que aquela aflição toda, talvez, tenha sido a chave para a minhaadaptação. Isso mesmo; contrariando todos os clichês que dizem que as personagensprincipais têm de sofrer ao chegar a uma escola nova... Eu me encaixei como uma luva. Logonas primeiras semanas, o Colégio foi tomando mais vida... fiz amigos que até hoje me sãocaros; aprendi o significado dos valores “hierarquia” e “disciplina”, e como eles ajudam naconstrução de qualquer relação formal; percebi que o leque de oportunidades diante de mimseria infinito, enquanto eu soubesse aproveitá-las; entendi a importância de saber lidar comas diferenças entre pessoas que vêm de todas as partes do Brasil e carregam experiênciasparticularmente distintas. Afinal, somos todos iguais.

Entrei no vôlei e no judô. Fui (e ainda sou) Representante de Turma. “Fugi” da EducaçãoFísica e descobri a beleza na junção do contralto, soprano, tenor e baixo a cada nova músicaque “o Silva” nos ensinava no Coral. Fui apresentada ao mundo das simulações e nunca maisfui a mesma. Entrei no Ensino Médio e quase morri de tanto estudar. Saí do judô. Fuimonitora de matemática, tutora de um projeto voluntário e comecei a dar aulas. Distribuíflores e ganhei felicidade. Ao longo desses mais de três anos que venho usando a boinagarança, encontrei não só o meu lugar no Colégio, mas grande parte do meu “eu” em meio aessa loucura que é a vida. Hoje sei que, se eu passar um dia que seja sem cantar algumacoisa, tem algo muito errado e, por isso, não vivo sem o (meu) Coral. Sei, também, graças aoClube de Relações Internacionais, que dificilmente um dia conseguirei salvar o mundo detodos os seus problemas, mas que, ao menos debater sobre soluções e estudar a cultura e assingularidades de cada país, podem fazer uma bela diferença na minha forma de ver e

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Uma boina, uma história (2/2)

Al Marília Bezerra (CMB)

relacionar-me com todos ao meu redor. O respeito e a empatia que aprendi com os membrosdesse clube são valores que levarei para o resto da vida. E não por último, porque tenhocerteza de que aprenderei muito mais nesse um ano e meio que me resta, sei que,independentemente dos caminhos que seguir, a experiência de transmitir conhecimento eajudar os meus colegas por meio do Projeto Feynman vai ficar marcada para sempre no meuser.

Gostaria que todos tivessem a chance de se encantar e se decepcionar, sorrir e chorar, fazeramigos, aprender, odiar e amar esse, nesse e com esse Colégio Militar. Pelo menos tenhoalguns (milhares de) colegas que me entendem.

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Meu colégio militar (1/2)

Al Gabriela Alves (CMBel)Em 2015, estava muito ansiosa para fazer a prova do concurso de admissão ao Colégio Militarde Belém. Como não ficar nervosa com a possibilidade de ir para uma escola onde não se tema mínima ideia do que se vai encontrar lá? Pode ser que seja algo bom ou não. E eu realmenteencontrei um pouco dos dois.

Foi lá pela metade de 2016 que conheci as minhas primeiras amizades verdadeiras. Juntasvivenciamos momentos de alegria intensa, que extrapolavam os muros da escola, e tambémpagamos muitos micos em peças teatrais apresentadas na frente da turma, com roteiro criadona hora. Não sei por que os professores achavam que tais apresentações seriam algo muitobom de fazer, mas, pelo menos, nos rendem boas risadas até hoje.

Por muita insistência e esforço de um sargento, a banda de música foi criada em 2017. Fiqueianimada em participar, pois a música mexe com a minha alma. Queria ir além da flauta doce,que já conhecia. Porém, vi minha chance se esvair, já que não havia instrumentos suficientes,e eu não tinha como comprar. Mas foi então que algo surpreendente aconteceu! O sargentoIsrael, cansado por estar no sol tentando consertar um saxofone para que eu usasse, veio falarcomigo e me deu o instrumento. Sem dúvidas, essa é uma lembrança muito especial.

Tudo que vivo no CMBel guardo dentro de mim com muito carinho. Até os momentos queparecem não serem tão bons, como o dia em que manchei minha meia-calça numa poçad’água. No meio do caminho para o Colégio, descobri que estava com o uniforme errado e,quando chegue à escola, me tranquei no banheiro para chorar. Claro que o motivo não foi ouniforme, porém já tinha acontecido tanta coisa naquela semana (mais dentro de mim do quedentro da escola), que isso foi o estopim para me fazer colocar tudo para fora. Foi uma cenadeprimente, eu sei. Mas, para mim, foi um momento tão bom, porque eu finalmente me abripara eu mesma. Isso me aliviou bastante e me fez questionar sobre o que essa instituiçãorepresenta para a minha vida. Será que estar neste colégio foi uma decisão acertada?

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Meu colégio militar (2/2)

Al Gabriela Alves (CMBel)Com o tempo, cheguei à conclusão que o CMBel simboliza para mim o que a escrita é para aClarisse Lispector “uma dor que salva”, pois não é só o uniforme e o regime rígido que odiferencia das escolas civis, mas também as coisas que aprendemos aqui, desde as queestamos mais acostumados a ouvir o tempo inteiro, como camaradagem, espírito de corpo edisciplina, até as que vamos aprendendo sozinhos, com o tempo, por exemplo, terresponsabilidade com os nossos estudos, que a intenção conta muito, quando vemos quem sãoos nossos amigos de verdade e que a vida e as pessoas lá fora não vão pegar leve conosco oupassar a mão na nossa cabeça quando errarmos. CMBel é um verdadeiro treinamento para vida e talvez seja por isso que dói; mas ao mesmotempo salva. Como no inferno de “Entre Quatro Paredes” de Sartre, que se abrissem as portaspara mim eu não sairia jamais, mesmo com as minhas queixas e dores. E se me perguntassemqual o meu maior acerto, eu diria que foi ter pedido aos meus pais que me inscrevessem naprova daquele concurso de admissão, pois tenho muito orgulho de fazer parte da história deum colégio que já nasceu forte.

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Lembranças guardadas com carinho

Al Letícia (CMBH)Lembro-me bem do dia em que cruzei os portões do Colégio Militar de Belo Horizonte pelaprimeira vez, depois de semanas resumidas em ansiedade e compra do material escolarsolicitado, blusas brancas lisas e um tênis totalmente preto. A “semana zero” havia começado,e eu estava animada com a ideia de que começaria 2018 em um colégio tão prestigiado emMinas Gerais. Foi uma semana muito memorável para mim, conheci pessoas incríveis, descobri uma grandevariedade de atividades extracurriculares disponíveis, como os clubes de astronomia e xadrez,os vários esportes disponíveis, como vôlei e futsal, os grêmios como a Infantaria e a Cavalaria,o mascote Nicodemus, um dos símbolos do colégio, a Sociedade Recreativa e Literária, aAssociação de Pais e Mestres, dentre outras atividades diversas. O meu primeiro ano no colégio foi maravilhoso, entrei já no 8° ano do Ensino Fundamental II efui muito bem acolhida por todos, sempre simpáticos. Foi um ano de muitas descobertas,mudanças e festas incríveis, do qual sempre vou me lembrar com muito carinho. Já no começo do ano houve uma festa para calouros, que aconteceu depois da entrega daboina, o primeiro dia de farda, que foi muito animada. Depois, já no fim do 1° trimestre,aconteceram as Olimpíadas Internas, uma semana inteira em que competimos com outrasséries, e ao fim, apresentamos uma dança e um painel feitos pelos próprios alunos, umasemana muito divertida e que exigiu muito trabalho em equipe. Havia também as formaturas às quartas, em que desfilávamos todos os alunos e grêmios coma mesma farda, sempre no padrão. E não poderia deixar de falar da Festa Junina, maisconhecida como Festa da Poeira, em que cada série vende comidas típicas em barraquinhas, edo Dia da Arte, em que os alunos apresentam seus talentos no auditório, com direito a pipoca,algodão doce e muitos momentos engraçados. A cada ano que passa vou amando mais cada pedacinho do colégio, e com toda certeza vousentir muita falta quando me formar. Aliás, tenho certeza de que todos que algum dia jápassaram ou ainda vão passar por aqui em um futuro próximo terão ótimas lembranças ememórias, que poderão ser passadas para seus filhos e até netos. Que esse pequeno textosobre minha experiência no Colégio Militar de Belo Horizonte sirva de inspiração para alguémque queira entrar no Sistema Colégios Militares do Brasil.

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Memórias das terras araucárias (1/2)

Al Hannah (CMC)Os portões cerrados prontos para dar início a uma história contada a cada dia no ColégioMilitar de Curitiba. Soam os clarins, rufam os bumbos como que começando uma marcha paradentro dos portais de uma nova fase da minha vida. Ainda sem o uniforme de aluno desfilo aolado de amigos recém conquistados que espelham ansiedade e expectativas, o ar parecerarefeito, o tempo parece não passar, o longo trajeto balizado por alunos mais antigos mefazem sonhar que logo estarei assim, vestindo garança, boina vermelha e orgulhosa de fazerparte dessa tropa. A camisa branca e a calça azul são agora o meu vestuário, nos chamam decotonetes, sinto um pouco de vergonha, mas sei que tudo isso logo se transformará emmemórias que jamais sairão de minha cabeça.

Memórias são gotas de tristezas, mas na maioria das vezes enxurradas de alegria que inundamnossos corações, por isso quando entro no Colégio todo dia olho para as araucárias quecircundam os campos, laureando os pavilhões ao fundo, os carneiros soltos enfeitando deforma bucólica a paisagem me fazem pensar quão diferente é o meu Colégio. Além disso,Curitiba é ímpar, o frio acrescenta uma atmosfera diferenciada, os alunos caminhamencorujados, com suas mãos escondidas nos bolsos, pescoços enrolados por cachecóis, muitosapenas com os olhos de fora. Nos esperando estão os monitores, muito cordiais, atentos aosnossos uniformes ou ao dever da continência quando passamos pela guarda.

Os anos passam e a entrada no portão vai ficando mais cinzenta, mas jamais esquecida, novasmemórias vão se firmando e, progressivamente, vou alimentando-me da história desseColégio. As formaturas matinais fazem parte da coleção de um livro escrito durante sete anos,entro de frente para o palanque de formaturas, lá encontro o Comandante e os professores,percebo no semblante deles que levarei um pedaço de cada um, de seus ensinamentos, de suasabedoria, meu coração aperta um pouco. Bradamos juntos :Zum Zaravalho! Mais um pouco deaperto no coração, começa a canção do CMC e meus olhos não suportam e despejam tudoaquilo que meu coração queria transbordar.

Percebo que estou no último ano, quase no fim de uma pequena história diante da grandezado Colégio, olho para o lado e vejo que vários daqueles amigos da entrada continuam ao meulado, as mudanças dos anos são visíveis nos tornamos homens e mulheres, longe daquelascrianças, mas sei que meu coração ainda admira a passagem do carneirinho Nicodemos, demarchar ao som de “Avante Camaradas”, de tropeçar em alguns sapatos que se perdem no

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Memórias das terras araucárias (2/2)

Al Hannah (CMC)no meio do caminho durante o desfile e de bradar: “Pátria, honra, dever e disciplina!”. O tempo se vai como areia escorrendo pelas mãos, este calendário está ficando com poucaspáginas, mas as memórias permanecem como pilares testemunhando como sentirei saudadesdo meu segundo lar. Lar que me adotou, ajudou na minha formação acadêmica, social e moral.Gosto da disciplina, principalmente por ser filha de militar, mas a verdade é que a organizaçãoé fundamental para a vida, e o Colégio me proporciona isso. Na Universidade sei que levareiestes conceitos, na vida com certeza usarei tudo o que aprendi nestes bancos escolares.

Neste ano de pandemia, sinto saudades de estar lá com meus amigos, das formaturas, dacomida do rancho, e meu maior temor é não ter em minhas memórias a formatura de final deano. Acredito que Deus me colocou lá e com dignidade e felicidade, colocarei meu nome nopavilhão: “Faço parte dessa história!”.

Passarei pelo portão pela última vez como aluna e guardarei em minha alma as memórias dasterras das araucárias.

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Sexta-feira

Al Furtuoso (CMCG)Toques de corneta. É a formatura que está começando? Não. Apenas o corneteiro ensaiando edá para escutá-lo dos corredores naquela manhã de sexta-feira, aliás, a primeira do ano letivoe a minha primeira como estudante do Colégio Militar de Campo Grande (CMCG). Não eraaluno novato no sistema dos colégios militares, pois vinha transferido de outro CM. Noentanto,o CMCG era novo para mim, especialmente quanto a dinâmica da formatura.

Os alunos formavam nas alas do colégio e depois se dirigiam para o pátio central. Então,naquela meiahora que precede o grande evento, desconhecendo tal procedimento, só merestava uma coisa: seguir os colegas do meu ano – na época o oitavo. Fiz isso e, claramente,deu certo. Porém, assim como a Primeira Guerra Mundial, prevista para acabar em poucosmeses e que, infelizmente, durou quatro anos, os meus desafios não encerrariam ali e seestenderiam até ao final da formatura.

Tive que enfrentar o olhar curioso e duvidoso dos colegas “veteranos”. “Quem é esse cara?”.Não me importei muito e entrei em forma. Passou alguns minutos e, enfim; o corneteiro tocoue daquela vez não era ensaio. Rompemos marcha e os alunos começaram a cantar AvanteCamaradas. A ocasião tornou-me dublador da canção até o seu fim – uma vez que no meuantigo CM não era costume cantá-la – e se estendeu, também, a Canção do CMCG. Chegamosao local de destaque. Começava então uma nova fase da guerra. Da de movimentação passeipara a de trincheiras.

Meus inimigos foram o sol e a queda da pressão sanguínea. Formaram uma aliança para,literalmente, me derrubar; porque houve um momento em que estava para desmaiar. Foidifícil; mas, por fim, sagrei-me vencedor. Não me lembro se foi dado o toque de “à vontade”.Se sim, provavelmente fui reanimado para o desfile; se não, fui atordoado, do jeito que estava.De qualquer forma, desfilei com o grupamento e minha pressão sanguínea já tinha voltado aonormal. A guerra havia terminado para mim. O armistício foi assinado quando deram ocomando de “fora de forma”. Que formatura!

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A família garança (1/2)

Al Fernanda (CMF)Dia 24 de junho. Hoje faz exatamente 2 anos e 11 meses que ela partiu. Aqui, deitada na camaem que dormia, recordo-me com dor dos seus últimos dias. No entanto, não apenas sofrimentoeu guardo dessa época. Levo na alma também a gratidão.

Entrar no CMF foi o melhor que me aconteceu. Acredito que foi Deus que me colocou ali, poissabia que aquele colégio, um dia, iria muito me ajudar. Em 2017, descobri que minha mãeestava, infelizmente, com câncer. Nunca pensei que encontraria, na minha escola, as forças deque precisava. Essas memórias que me vêm à mente falam sobre o que há de melhor noCasarão: os valores militares de espírito de corpo e camaradagem!

No primeiro mês pós-diagnóstico, eu, meu pai e minha mãe tentávamos manter as esperanças.Meus pais, que viviam da venda de queijo coalho, tiveram que parar os negócios. O dinheiro,que já não era muito, estava parando de entrar. Não sei, até hoje, como amigos e professoresdescobriram a situação. Doações vinham de todas as partes, até dos mais distantes. Lembro-me, com imensa gratidão do Sub Tenente Pedrosa, que um dia me viu na escola e me ajudou.Como ele, que nem me conhecia, teve tanto companheirismo com minha família?

No segundo mês, minha mãe participou de suas últimas atividades na escola. Ela me viureceber a medalha de terceiro lugar do sétimo ano. Que orgulho sentiu! Recordo-me comfelicidade de seus olhos brilhando para mim. Em maio, no terceiro mês, ocorreu, no CMF, o diadas mães. O coral, do qual eu fazia parte, cantou “Trem-bala”. Todas as mães se emocionaramcom a homenagem que o colégio preparou. Obrigada, Casarão, por ter proporcionado umúltimo Dia das Mães mais que perfeito!

No quarto mês, tudo se complicou. O tratamento não surtiu efeito. Naquele tempo, eu faziaAtletismo com o professor Américo Ximenes, que percebeu minha tristeza em um dos treinos.Ele nutria enorme carinho pela minha mãe, que sempre deu muito apoio às competições.Lembro-me de cada uma que participei pela escola: campeonatos cearenses, jogos escolares,Desafio Unifor... Tantos! Ao final da aula, ele foi visitá-la. Muitas mães de colegas meustambém passaram a ir à nossa residência diariamente, dando apoio e demostrandocamaradagem. Incrível como os valores que aprendemos na escola passam até para os pais!Naquele mês, meus professores também me davam muita força. A escola havia se tornado meuporto seguro. No dia 24 de julho de 2017, ela faleceu. A tristeza que sinto e senti não pretendo

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A família garança (2/2)

Al Fernanda (CMF)colocar nestas linhas. Na missa de sétimo dia, senti na alma não solidão, mas gratidão. Nádia,atual presidente do CPA, preparou a cerimônia e ainda treinou o coral para cantar no dia.Aquela singela homenagem me confortou. “O que seria de mim sem esse colégio?”, eupensava.

Depois de tudo, percebi que havia formado uma segunda família: a Família Garança. Acreditohoje que o melhor de fazer parte do CMF não é a chance de viver os Jogos da Amizade, osesportes ou os clubes. O melhor de tudo é aprender a cultuar os valores do Exército e fazerlaços eternos. Assim como eu, tenho certeza de que minha mãe, Angelita, lá de cima, é grata atodos do CMF tanto quanto sou!

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Minha experiência na família garança

Al Fernanda Mayrink (CMJF)Eu tinha dez anos quando fiz o concurso de admissão do colégio que, sem eu imaginar, setornaria minha segunda casa. Minha mãe sempre me conta que, no dia da prova, ela ouviu ummilitar dizer, referindo-se a mim: “olha aquela pequenininha ali!”, e foi para essa pequenininhaque minha mãe falou “vai, leãozinho!”. E eu fui, sem olhar para trás, dando início à melhorcoisa que já aconteceu na minha vida.

É impossível falar do sexto ano sem mencionar o querido Sargento Gomes, sempre tãocarinhoso e atencioso com os alunos. Outra pessoa que ganhou um espaço no meu coração é oCoronel Luna Freire, cujos ensinamentos vão me acompanhar pelo resto da vida.Especialmente no sexto ano, quando nós, alunos, estamos confusos e ansiosos, é essencialencontrar profissionais tão incríveis e prestativos, que nos dão força e aconchego.

Ao longo da minha caminhada como aluna do CMJF, eu tive a alegria de integrar a Legião deHonra, com a qual aprendo cada vez mais a importância da empatia e do altruísmo. Tambémfui muito feliz nas aulas de teatro – minha grande paixão – com o professor Manoel. Muito meorgulho por estar em um colégio que proporciona as mais diversas oportunidades a seusalunos por meio dos vários clubes que, sem dúvidas, contribuem para forjar os líderes doamanhã.

Em mais de cinco anos, eu entendi a importância de valores já ensinados pela minha família,como honestidade e camaradagem. Entendi como é gratificante obter um resultado positivoem algo pelo que batalhamos. E mais do que isso, eu aprendi que nada é mais honroso do queatuar a favor de um bem maior.

Integrar a família garança é abrir portas para ser um cidadão louvável e mais consciente, quebusca sempre fazer o certo e pensar no bem coletivo – haja vista que jamais esqueceremos ocolégio militar e os valores nele aprendidos. Não há como descrever meu orgulho em fazerparte dessa história tão linda, orgulho esse que fica evidente em cada olhar de admiração querecebo ao andar fardada na rua.

Meu colégio é minha segunda casa, é onde eu me sinto realizada e plenamente feliz. Entrar noCMJF foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido, e o mundo seria melhor se todostivessem a oportunidade de viver ao menos um pouco dessa experiência.

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Uma semana histórica (1/2)

Al Wesley Andrade (CMM)Um divisor de águas na vida do aluno é sua entrar no Colégio Militar. Seja concursado ouamparado, a emoção e a vontade de fazer parte desta instituição são inimagináveis. Apósentrar pro CM, você passa por variadas experiências, enfrentando os mais complicadosdesafios, mas esses sete anos, certamente ficarão na memória de quem entrou marchando coma “farda cotonete”. O meu ano de ingresso foi 2015. Tinha apenas dez anos e estava realizandoum sonho meu e de minha mãe, que também estudou no Colégio Militar de Manaus.

Anos se passaram... memórias e aventuras foram surgindo... mas nenhuma foi tão marcantequanto as de viagens pelo colégio. Uma das melhores experiências que um aluno do SCMBpode ter é representar a instituição em feiras, eventos e olimpíadas nos quatro cantos doBrasil. E foi dessa forma que tive a oportunidade de viajar três vezes pelo colégio. Mas aviagem para o Desafio Global do Conhecimento, em 2019, foi a que mais marcou a minha vidacomo aluno.

Era início de outubro. Estava na delegação que representou o CMM no Desafio da Matemática,tendo sido escolhido, após uma árdua seletiva interna. A realização da prova, logo no primeirodia, acabou sendo a parte mais difícil daquela semana, mas, após as quatro horas de intensoesforço, tive a oportunidade de aproveitar todos os momentos que o DGC proporciona.

Pude ter contato com alunos de outros colégios, com outros pensamentos, com outrasculturas. Encontros e reencontros com amigos que eu só falava pelo celular. A festa, asformaturas, as conversas no dormitório... tudo fez com que essa semana fosse especial não sópara mim, mas para todos que a vivenciaram. Além disso, o enriquecimento culturalproporcionado pelo city tour em Brasília é algo para se exaltar, tendo sido aquele um dos diasmenos tensos da viagem, quando todos tivemos a oportunidade de relaxar e aproveitar oaprendizado também das visitas.

Passada já uma semana de atividades e tensão pelos resultados, finalmente chegava a hora...Era sexta-feira. Acabava essa semana e todos estávamos ansiosos para trazer vitórias para ocolégio. No geral, o Colégio Militar de Manaus foi um dos melhores, tendo ganhado prêmiosincríveis, mas até hoje eu me lembro do grande momento, que foi o anúncio do resultado deMatemática.

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Uma semana histórica (2/2)

Al Wesley Andrade (CMM)Para surpresa de muitos, o CMM ficou em segundo lugar geral, tendo superado colégios comtradição na competição. Comemoramos muito e tive um dos momentos de maior entusiasmoda minha vida, acompanhado de uma conversa incrível com alunos do IME, que falarampalavras que ficarão para sempre no meu coração e na minha memória. Aquilo fará essasemana ser lembrada por toda minha vida como a melhor que tive com a farda garança.

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O meu CMR (1/2)

Al Bruna Carrion (CMR)O barulho da fita adesiva, ao cabo de dois anos em uma cidade, sinaliza o começo de uma novamudança, longos sete dias empacotando minhas coisas para uma nova aventura, o início deum novo ciclo. O coração doendo, antecipadamente, de saudade de amigos que ainda estão domeu lado, mas a esperança, crescente no peito, de poder reencontrar amigos de infância nopróximo Colégio Militar, torna tudo mais fácil. Uma viagem de carro, pelo nosso belo país, trouxe-me até aqui. Pelo retrovisor, vejo minhaantiga cidade afastar-se; pelo para-brisa, o próximo destino: minha primeira vez morando noNordeste. A divulgação da lista das salas vira motivo de ansiedade e, mesmo não sendocolocada na sala que desejamos, a experiência na turma é inesquecível, os novos laços criadose o conhecimento adquirido, tão únicos da escola militar, tornam-se a minha base. O tempo passa tão rápido. Já estamos em abril e começamos com os preparos para os JogosInternos, aquela emoção de torcer por uma arma ou pelo próprio ano; representando emquadra os valores de equipe, respeito e força tão ensinados pela Instituição. As atividadesextraclasses representam um momento de folga da rotina pesada de estudos. Eu já frequentei,por exemplo, aulas de teatro, natação, basquete, pentatlo, jornalismo e simulações daOrganização das Nações Unidas. Em julho, alunos destaques de todo o Sistema de Colégio Militar do Brasil, encontram-se nosJogos da Amizade - um momento de competições das mais diversas modalidades esportivas eartísticas, e, também, a possibilidade de reencontrar amigos de outras cidades. A nostalgiatoma conta de mim ao lembrar-me dos momentos em quadra, e o orgulho que senti ao vestir acamisa do CMR em formaturas. Enxergar na arquibancada a vibração da torcida, umsentimento contagiante que instiga a continuar lutando. Acredito que isso ultrapasse oslimites dos jogos, pois vejo em meus professores e colegas os principais entusiastas pelasminhas vitórias, bem-estar e futuro. Restam-me seis meses no Colégio Militar e a dor da saudade já bate na porta. É pior que atristeza de ouvir a fita adesiva embalando caixas a cada dois anos. Porque eu sei que, daquipara frente, serei eu contra o mundo. Carrego comigo sete anos no SCMB - o capítulo maismarcante do livro da minha vida - vestindo a farda da qual sinto tanto orgulho, gritando ZumZaravalho no maior tom possível, dedicando-me aos estudos e sendo apoiada por uma grandeequipe de profissionais. E hoje percebo que sou o que sou em virtude do esforço da Instituição

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O meu CMR (2/2)

Al Bruna Carrion (CMR)e conto com uma força para lutar por novas conquistas, com honestidade e responsabilidade,graças ao Colégio Militar.

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Mais que um colégio, um formador de cidadão de honra

Al Fidelis (CMRJ)Ao longo de todos esses anos, o Colégio Militar vem mantendo, de modo exemplar, areputação de ser uma instituição geradora de profissionais qualificados, líderes de caráter e,principalmente, cidadãos de bem para ajudar o nosso país a avançar em direção a um futuromelhor. Eu tive a oportunidade de estudar em dois Colégios Militares, o de Manaus e o do Riode Janeiro, e pude perceber que apesar de pertencerem ao mesmo sistema, cada um tem algoque o torna diferente e único. Nos meus primeiros dias, tive algumas dificuldades, principalmente com as formaturas sob ocastigador calor do Sol, mas acredito que seja normal no início. Para mim, as formaturas sãodemonstrações de determinação, pois mesmo com as pernas trêmulas, cabeça doendo e quasenão se aguentando mais de pé naquele intenso calor, continuamos ali, em pé e focados.Observo essas características principalmente nos mais novos, que mesmo não aptosfisicamente ainda, continuam se esforçando ao máximo. Eu acho essa capacidade desuperação muito bonita. Antes de ser aluno do Colégio Militar do Rio de Janeiro (CMRJ), me impressionei com agrandeza da Casa de Thomaz Coelho. Agora que já sou aluno há algum tempo, me impressionocom o equilíbrio em relação á valorização dos esportes e dos estudos, poucas escolasproporcionam tantas oportunidades, tanto na esfera desportiva, quanto na área intelectual. Hádiversas olimpíadas para podermos testar o nosso conhecimento, há também as olimpíadasorganizadas pela Sessão de Educação Física, que são muito bem organizadas, aliás. Além detodas essas coisas, existe também os Jogos da Amizade (JA), que é um evento no qual osColégios Militares de todo o Brasil se juntam para realizarem competições esportivas e, alémdisso, temos oportunidades de conhecer alguns dos maiores centros militares do Brasil, comoa AMAM, por exemplo. Com a vivência que venho tendo no CMRJ, percebi que o sucesso que eu almejo só depende domeu esforço, pois a escola me proporciona todo o alicerce para que eu evolua como aluno, metorne um bom profissional e um cidadão que contribua para a evolução da nossa sociedade. Zum Zaravalho!

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O que corre em minhas veias (1/2)

Al Matheus Luquini (CMS)Nasci em uma pequena cidade embrenhada na Floresta Amazônica, São Gabriel da Cachoeira.Lá, acostumei-me a aproveitar minha própria companhia e brincar só, em meu universoparticular. Embora não fosse muito sociável ou comunicativo, sempre fui cirativo e enxergueio mundo de maneira única. Esporadicamente, ia visitar meu pai no Batalhão de Infantaria deSelva, onde ele servia, e me lembro bem de sentir-me pertencente àquele lugar, como se meusangue fosse verde- oliva.

Tinha pouco mais de treze anos, quando, radiante, meu pai anunciou nossa transferência paraSalvador, capital baiana. Senti um turbilhão de emoções: felicidade por sua conquista, mas,por outro lado, medo em seu estado puro por não saber se conseguiria me adaptar à vida emuma metrópole e à rotina no Colégio Militar de Salvador (CMS). Em questão de meses,partimos para o novo lar. Era minha primeira vez fora da Amazonas e ainda que a saudadeapertasse, aquele era o começo de uma nova fase da vida.

Logo verifiquei que meus temores eram verdadeiros. Senti dificuldades em acompanhar osconteúdos, posicionando-me nas aulas de forma tímida e reservada, tendo receio de tirardúvidas e ser considerado incapaz por colegas. Afinal, todos ali se conheciam e se respeitavamhá anos. Assim evitava contatos com outros alunos e até mesmo monitores. Todos os dias,porém retornava pra casa pensativo e questionava o porquê de não ser envolta pela mesmasensação calorosa que sentia no quartel do meu pai.

Entretanto, à medida que as semanas passavam, a farda parecia, cada vez mais, parte do meucorpo e fui me tranquilizando, todavia, sem desvencilhar-me da timidez. Em meu silêncio,aprendi a escutar com atenção. E foi pro isso que, quando um grupo de alunos do 3º ano foi naminha sala anunciar que haveria simulação de Modelo das Nações Unidas (MUN) em que oClube de Relações Internacionais (CRI) participaria, fui o único aluno da minha série a escutá-los e me inscrever.

Embora o nervosismo estivesse preste a me dominar, um instinto não me deixou desistir e,vestindo um terno emprestado, iniciei aquela que seria a experiência que mudaria minha vida.Eu era o delegado mais nervoso de toda MUN, estava em um comitê repleto de veteranos, mascom o poder atribuído a mim por representar uma nação inteira, ainda que fosse maisfragilizado da conferencia, experimentei uma segurança que nunca havia sentido antes e

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O que corre em minhas veias (2/2)

Al Matheus Luquini (CMS)defendi seus posicionamentos, fui laureado com minha primeira menção honrosa.

Naquele exato momento, eu estava me tornando outra pessoa. Os aplausos, assovios e olharesorgulhosos que recebi daqueles que, posteriormente, seriam meus primeiros amigos e irmãos,representaram bem mais que um mero pedaço de papel. Quando a delegação bradou “ZumZaravalho” para celebrar a solenidade, percebi que havia ganhado uma segunda família, naqual eu tinha voz, imagem e valor.

O engajamento com as simulações dentro do Sistema Colégio Militar do Brasil e com oseventos de Salvador, a bela terá que aprendi a chamar de lar, me moldou em alguémconfiante, determinado e seguro, além de ter aberto horizontes para que eu me tornasse umlíder e me desenvolvesse na áreas acadêmica e esportiva. Destarte, passei a considerar o“Nobre Cadinho” como um lar, o “Zum Zaravalho” como um símbolo de união e reconheci quenas minhas veias corre uma bela mistura de sangue vermelho garança e verde-oliva.

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