antiguidade oriental e clássica

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Antiguidades

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  • HISTORIA E CONHECIMENTO

    Apoio tcnico: Rosane Gomes Carpanese

    Normalizao e catalogao: Ivani Baptista CRB - 9/331Reviso Gramatical: Tnia Braga Guimares

    Edio, Produo Editorial e Capa: Carlos Alexandre Venancio

    Jnior Bianchi

    Eliane Arruda

    Dodos Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Antiguidade oriental e clssica: economia, sociedade e cultura /A629 Renata Lopes Biazotto Venturini, organizadora.-- Maring: Eduem, 2010.

    138p.: II. color. fot. (Coleo histria e conhecimento; n. 7)

    ISBN: 978-85-7628-294-5

    1. Histria antiga - Estudo e ensino. 2. Egito antigo. 3. Antiguidade oriental.- Estudo e ensino. 3. Roma antiga. A. Gregos antigos. I. Venturini. Renata LopesBiazotto, org.

    CDD 21. ed. 930

    - Copyright 2010 para o autor

    Todos os direitos reservados. Proibida a reproduo, mesmo parcial, por qualquer processo

    mecnico, eletrnico, reprogrfico etc., sem a autorizao, por escrito, do autor. Todos os direitos

    reservados desta edio 2010 para Eduem.

    Endereo para correspondncia:

    Eduem - Editora da Universidade Estadual de MaringAv. Colombo, 5790 - Bloco 40 - Compus Universitrio

    87020-900 - Maring - ParanFone: (Oxx441 3011-4103 / Fax: (Oxx44) 3011-1392

    http://www.eduem.uem.br / [email protected]

  • O Egito Antigo

    Raquel dos Santos Funar / Jlio Gralha

    INTRODUOO Egito antigo fascina desde a prpria Antiguidade. O historiador grego Herdoto

    V -de Halicarnasso (484-425 a.C.) testemunha esse encantamento (tboma, em grego):"no que se refere ao Egito, falarei em detalhe, pois em nenhum outro lugar h tantascoisas maravilhosas (pleista thomasia), nem, em todo mundo, h tantas obras de in-descritvel grandeza" (Herdoto, Histrias, 2,35). Hoje, em pleno sculo XXI, mais de8 milhes de turistas estrangeiros visitam o pas, quase todos atrados pelos vestgiosarqueolgicos do perodo faranico. No Brasil existem grupos de pesquisa sobre oEgito antigo, formam-se pesquisadores nas universidades, e o tema est sempre pre-sente na mdia, o que caracteriza uma presena egpcia muito variada e dispersa, comoconstata a estudiosa gacha Margaret Bakos, lder de um grupo de pesquisa sobre otema. Neste captulo, vamos apresentar a trajetria do Egito faranico, suas principaiscaractersticas culturais, polticas e sociais, assim como trataremos, ainda que d formabreve, da presena do Egito em nossos dias.

    Antes, convm deixar claro qual a perspectiva adotada por ns. No se pode co-nhecer o passado seno a partir de pontos de vista e pressupostos. No se pode voltarao passado tal como ele foi, e, mesmo que isso fosse possvel, no o poderamosdescrever seno com nossos olhos. Por isso tudo, bom explicitar nossa abordagem.Para ns, para estudar o passado necessrio um exerccio tanto de aproximaoquanto de distanciamento. Por um lado, como veremos, no se pode conhecer o Egitoantigo sem irmos s fontes, aos documentos. Precisamos, alm disso, de uma dose deempatia para que tentemos entender como aquela civilizao pde construir obras tomagnficas, assim como sobreviver por tantos milnios. Por outro lado, no podemosperder de vista que os egpcios antigos eram diferentes de ns, tinham especificidadesque apenas podemos tentar entender. Como enfatiza o egiptlogo britnico lan Shaw,a atrao da antiga cultura egpcia est na sua combinao de coisas exticas e fami-liares. Por isso mesmo, comeamos nosso captulo com as fontes e com a histria doestudo do Egito antigo, para., em seguida, a sim, irmos trajetria histrica, tal como

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    a interpretamos.

  • ANTIGUIDADE ORIENTALE CLSSICA: ECONOMIA,

    SOCIEDADE E CULTURALIBYA

    N

    ASAUOIARBIA

    Mapa do Egito AntigoFonte: http://imag .^googtexom.br/imgres?imguri=hmapjpg&imgrefuri=http://www.mfa.org/egypt/e^^ OK_TWTUmi_ni-vr.. - ~ - -

    QUOpRZgM:&tbnh=140&tbnw=99&prev=/images%3Fq%3Dancient%2Begypt%2Bmap%26stnrt%3D21%26om%3Dl%26hl%3Dpt-BR%26sa%3DN%26riz%3DlT4GGLL_pt-BRBR349BR349%26ndsp%3D21%26tbs%3Disch:l

    A HISTRIA DO ESTUDO DO EGITO FARANICO E AS FONTESO Egito faranico era conhecido no Ocidente, at o final do sculo XVIII, por duas

    grandes categorias de fontes: a Bblia e os textos de autores gregos e latinos. O textosagrado foi usado para o conhecimento do Egito, mas as informaes relativas vidaegpcia eram encaradas, do ponto de vista religioso, como se fossem relatados fatoshistricos, como no caso do xodo dos hebreus. Hoje, no sculo XXI, a maioria dosegiptogos considera que no h qualquer evidncia de historicidade nessas refern-cias bblicas, mas por muito tempo foram tomadas como indicaes seguras. As fontesgregas e latinas foram muito utilizadas, com destaque para Herdoto, que dedicou aoEgito todo um livro da sua obra, escrito por volta de 430 a.C, para relatar a sucessodas dinastias egpcias, desde o primeiro fara. O historiador Diodoro da Siclia (90-21

  • a.C.) e o gegrafo Estrabo (63 a.C- 24 d.C.) descreveram tambm aspectos histricos,geogrficos e culturais. Todos esses autores viveram na fase final do perodo farani-co ou aps ele, e suas informaes provinham do contato que puderam ter com osprprios egpcios daquela poca. Alm dessa limitao, como observadores externosda cultura egpcia no tinham acesso aos documentos egpcios antigos nem compre-endiam, de maneira interna, as particularidades da cultura egpcia, ainda que por con-traste informem tambm aspectos muito interessantes, como sobre a mumificao.

    A moderna pesquisa sobre o Egito tem incio com o Iluminismo e com as expedi-es imperialistas ao Oriente Mdio, em particular com a viagem do Imperador francsNapoleo (1769-1821) ao Egito, entre 1798 e 1801. A obra que inaugura essa modernaegiptologia a Descrio do Egito, cujos volumes saram entre 1809 e 1829 e hojepodem ser consultados na internet, no original em francs (http://descegy.bibaex.org/). O estudioso francs Champollion (1790-1832) foi responsvel pela decifrao daescrita hieroglfica, o que permitiu, a partir de ento, o acesso a informaes de primei-ra mo, produzidas, em grande parte, pela Arqueologia. Essa disciplina nascente, queestuda a cultura material - edifcios, artefatos e vestgios biolgicos, como as mmias- comeou a desencavar j a partir dcada de 1830. As escavaes com a preocupaoem anotar os artefatos encontrados iniciaram-se no final do sculo XIX e incio doXX, com pioneiros como Flinders Petrie (1853-1942), um dos grandes inovadores naArqueologia mundial na poca. No sculo XX, as descobertas arqueolgicas multipli-caram-se, com uma infinidade de achados, cada vez mais bem documentados e estuda-dos. Nas ltimas dcadas, multiplicaram-se tambm as escavaes de assentamentos,como cidades e aldeias, o que tem fornecido dados sobre a vida quotidiana no apenasde faras e sacerdotes como tambm das pessoas comuns. As pesquisas sobre o Egitofaranico diversificaram-se, ainda, quanto aos temas de investigao. Reproduziram-setrabalhos sobre temas como as mulheres, as relaes de gnero (homens, mulheres,outras sexualidades), a religiosidade, as identidades e o corpo, para mencionar apenasalguns dos quais trataremos mais adiante, neste captulo.

    O Egito Antigo

  • ANTIGUIDADE ORIENTALE CLSSICA: ECONOMIA,

    SOCIEDADE E CULTURA

    Napoleo no Egrto, quadro de Francois-Louis-Joseph Wortteau, a Batalha das Pirmides.Fonte: htip://images.google.com.br/imgres?imguri=http://wv^v.powellhistory.com/imagesAWatteau_Pyramids_Small.PNG&imgrefuri=http://powellhistotY.wordpress.com/page/2/&usg- 6LvOT~GqrflGtJ3AJA033v^dUE=&h=670&w=830&sz=1002&hl=pt-BR8^art=40&um=l&Hbs=l&tbnid=AhAXHZGVVV5TSDM:&1bnh=116&tbnw=144&prev=/images%3Fq%3Dnapoleon%2Begypt%26start%3D21%26um%3Dl%26hl%3Dpt-BR%26sa%3DN%26rlz%3DlT4GGLLj3t-BRBR349BR349%26ndsp%3D21%26tbs%3Disch:l

    A CRONOLOGIAAntes de iniciarmos nossa caminhada, convm apresentar o quadro cronolgico

    que adotamos neste captulo. Como os estudiosos divergem sobre a cronologia egp-cia, adotaremos aqui a proposta recente de lan Shaw:

    PaleolticoEpipaleolticoNeolticoPerodo pr-dinsticoDinastia O (Naqada III)Perodo faranicoProto-dinstico (I e II dinastias)Antigo reinoPrimeiro perodo intermedirioReino mdio

    700.000-12.000 a.C.12.000-9000 a.C.5300-4000 a.C.4000-3200 a.C.3.200-3000 a.C.3000-332 a.C.3000-2686 a.C.

    2686-2181 a.C.

    2181-2055 a.C.2055-1650 a.C.

  • Segundo perodo intermedirioNovo reino

    "Hf. dinastiaPerodo ramessidaTerceiro perodo intermedirioPerodo tardioPerodo ptolomaicoPerodo romanoPerodo romano orientai ou bizantinoConquista muulmana

    1650-1550 a.C.15504069 a.C.1550-1295 a.C.1295-1069 a.C.1069-664 a.C.664-332 a.C.332-31 a.C.30a.C.-31d.C.311-642 d.C.642 d.C.

    O Egito Antigo

    Neste captulo, nossa ateno estar voltada para o Egito faranico stricto sensu,entre 3200 e 332 a.C., ainda que nos refiramos sua continuidade em poca helens-tica e romana, na medida em que os governantes eram considerados, em parte, comofaras.

    O SURGIMENTO DO EGITO FARANICOA civilizao egpcia s pode ser compreendida em seu contexto geogrfico com

    base nas transformaes ocorridas a partir do final da ltima glaciao, entre 10.000 e9.500 a.C. Antes disso, todo o norte da frica, com o que viria a ser o deserto do Saara,era uma rea frtil e ocupada pelo ser humano. O aquecimento global, que viria prfim s imensas geleiras, acarretou mudanas climticas em todo o planeta, e criaria ogrande deserto (as sahar ai kubra, em rabe, quer dizer, precisamente, "o grande de-serto"). Com isso, as populaes no tiveram como continuar no interior e foram paraa floresta equatorial, para o Mediterrneo ou para o vale do Rio Nilo, o nico rio queconseguiu persistir, mesmo quando seus afluentes deixaram de fluir. Isso s foi possvelporque o Nilo nasce na frica equatorial e suas guas no dependem dos afluentes, quesecaram e se transformaram em vales secos, chamados pelos rabes wadis ("rios"). ONilo um rio, no meio de um deserto, cujas margens so fertilizadas por cheias anuais,vindas da profundidade do continente africano. Os antigos no sabiam de onde vinhamessas guas; apenas testemunhavam esse fato admirvel, para usarmos a expresso deHerdoto, que dizia que corria um rio em meio a um imenso deserto. Por mais de milquilmetros no havia outra fonte d'gua, s o Nilo, do Mediterrneo para o interior.Isso devia impressionar os povos que ali viveram, e marcou os egpcios, como veremos.

    Quando surgiu o Egito faranico? O mais antigo documento que pode ser cha-mado de egpcio a Paleta de Narmer, datada de cerca de 3000 a.C., conservada

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  • ANTIGUODE 0RENTA CLSSC: ECONOMIA,

    SOCIEDADE CUITURA

    hoje no Museu Kgpdo do Cairo, publicada pelos escavadores em 1902. Tau-se deuma lasca de pedra de 63 cm. de altura, com ura babco-rdevq-em ambas as faces,De um lado esto dois leites de longos pescoos entrelaados, segurados por'doishomens barbados,. Eles representaram, segundo alguns, a unificao do alto e dobaixo Egita ou seja, da parre Meditennica ou Deita do Nilo, com o curso superiordo rio Nilo, at a primeira catarata. Acima aparece ura governante, Narmer coma coroa vermelha, referente ao baixo Egio. O rei participa de ma procisso comseis pessoas, dentre os quais dois ministros, em revista ao corpo de dez inimigosdecapitados. Do outro lado da paleta est uma figura maior de Narmer, agora com.acoroa branca do alto Egito, dominando um cativo. Diante do fara c sobre o ratrraaparece o deus falco Horas, que segura outro cativo, com seis papiros, que talvezrepresentem 6 mil prisioneiros. Na parte inferior esto do& homens nus, cativos ouinimigos abatidos.

    Esteio cte MormerFonte:

    Seria a paleta de Narmer a certido de nascimento do Egito faranico? Talvez sejademais dizer isso. pois os processos histricos so de longo prazo. Desde o fim da ga~dao, o Nilo atraiu populaes africanas que se assentaram e acabaram por produzir

  • um reino no'seu vale. A paleta de Narmer pode representar, plausivelmente, ao menosuma das trs hipteses seguintes:

    1. A narrativa de uma vitria militar do alto Egito sobre o baixo, o que produziu aunificao;

    2. Um ritual real comemorativo, sem base muito efetiva na realidade histrica;3. Uma cerimnia de rememorao de uma vitria efetiva anterior, do alto sobre o

    baixo Egito.

    A primeira e a terceira hipteses partem do pressuposto-de uma unificao de sul anorte, enquanto a segunda baseia-se no fato de que as narrativas nem sempre tm rela-o com os acontecimentos. Isso pode parecer estranho, mas no o se pensarmos queas saias dos escoceses foram inventadas modernamente, assim como os bandeirantes fo-ram criados em pleno sculo XX. A narrativa da vitria do alto sobre o baixo Egito pode,portanto, ser uma historieta a posteriori. No importa. Na paleta de Narmer existe, pelaprimeira vez, um relato com caractersticas egpcias: as coroas do alto e do baixo Egito,o uso de hierglifos primitivos e um esquema iconogrfico que se repetiria nos milniosseguintes. L estava Hrus (que no o Hrus filho de Isis e Osris), um dos deusesegpcios principais, ligado realeza e ao cu. Surgia o Egito faranico.

    Esse processo foi longo, durante o quarto milnio a.C.. Cidades pr-dinsticas proli-feraram de Buto, no Delta, at Qustul e Sayaa, na Nbia, ao sul. Algumas dessas cidadesevoluram para centros maiores, intercaladas por outras cidades e aldeias. O desenvolvi-mento de cada uma dependeu de sua posio em relao a matrias-primas e rotas de co-mrcio. O sistema de anotao escrita, j antes dos hierglifos, era usado na maioria dascidades, o que demonstra que comerciavam entre si. Tal sistema de escrita correspondiaquele usado, na mesma poca, na Mesopotmia (atual Iraque), assim como motivos de-corativos mesopotmicos foram comuns tanto no alto quanto no baixo Egito. Entre 3500e 3200 a.C. as cidades se desenvolviam, assim como o sistema de escrita, a cosmologiae a construo monumental, e a unificao se consolidou por volta de 3200 a.C., comoprope a egiptloga Alicia . Meza. Descobertas arqueolgicas recentes mostram que jem 3500 a.C. se usava a escrita hieroglfica, e que havia um sistema administrativo, umaarquitetura monumental e um sistema complexo de trocas econmicas.

    O ANTIGO REINO E O PRIMEIRO PERODO INTERMEDIRIOAs duas primeiras dinastias (3000-2686 a.C.) no so muito bem documentadas,

    ao menos diante da abundncia dos documentos das dinastias seguintes (III a VI. de2686 a 2181 a.C.). Os tmulos reais caracterizaram o perodo, a partir da Pirmide deDegraus, atribuda a Imhotepc. o primeiro arquiteto e construtor dessas sepulturas

    O Egito Antigo

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  • ANTIGUIDADE ORIENTALE CLASSE. ECONOMIA,

    SOCIEDADE E CUTURAmonumentais. Sua pirmide em Sacara, paca o rara Djoser {t. 2640 a.Q. segue asconstrues de mastabas (sepulcros paniculares no formato trapezoidal) e das pir-mides de Quops, Qufren e Miqucrinos, faras cia IV Dinastia (2613-2494 aC.)- Taismonumentos eram completados por esttuas, relemos, mobilirio e vasos com o sm-bolo da potncia centralizado-rio seu auge, mostrando o Fara como Deus vivo e todo-poderoso. Na morte, o rei brilha com ioda a sua potncia, poder to bem simbolizadopeas pirmides enortnes. Isso muda com as dinastias seguintes (V e VI 2494-2181a.C), com o crescente predomnio do culto solar ao deus Rt em Helipolis, ao norte.Os templos passaram a ter maior dimenso, como o impressionante templo solar deNevesere, em Abo Gurab, em eiopolis. Pouco s pouco, o poder das autoridadeslocais aumentou, como testemunha o gradual aumento do nmero de mastabas parti-culares, com a indicao; na VI dinastia (2345-2181 :tC), da fragmentao do poder.As dinastias seguintes (Vl-XI 2181-2055 a.C.) foram caracterizadas como primeiro'perodo infmiedro, o qual testemunhou 3 fragmentao poltica, com lderes emdisputa, assim como com a entrada de lbios, semitas.

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    diviso dava-se, grosso modo, entre o baixo e o mdio Egto, sob controle t go-vernantes de Heradipolis, peno do osis Paiumt e os tebanos, no alto Egto, Ao norte.

  • comeava um processo de retomada do Delta e de revalorizao da cidade de Mnis, Es'rt Antigorestabelecendo-se os contatos com a cidade de Biblos, no atual Lbano. Floresceu emHeraclipolis uma literatura mais filosfica e voltada para a tica, como o clssico Di-logo do desesperado com sua alma, que descreve o drama interior de um homemdesiludido, incapaz de compreender sua poca e as prprias ideias contraditrias. Porisso pensa em suicidar-se, e sua alma acaba por duvidar da eficcia dos ritos funerriose o aconselha a fugir dessa falta de esperana e a entregar-se farra. Outra grandeobra, em pleno perodo intermedirio, foi Instrues ao filho Meneara, que afirmaque Deus deu as plantas e os animais aos seres humanos. Apresenta-se, nesse caso, anoo de um Deus pessoal, em oposio s mltiplas manifestaes divinas que sem-pre dominaram a religiosidade egpcia. Algumas passagens demonstram bem essa ticapessoal: "se conduza bem, quanto estiver vivo. Acalme os aflitos, no oprima a viva,no arranque ningum de seu pai, no mate, no bata ou prenda ningum. Assim, aterra estar em ordem. A vingana apangio apenas de Deus".

    O crescente poder dos chefes locais levou, tambm, difuso das prticas mortu-rias. Ao poder ultracentralizado no fara segue-se a apropriao, por parte das eliteslocais, de modo que as antigas tradies, voltadas apenas para o Rei, foram adaptadaspara uso privado. Difundiram-se igualmente os escritos particulares e os hierglifoscursivos, nos prprios sarcfagos.

    Ao norte de Abidos, cidade santa do deus Osris, o predomnio estava com os te- , -t 4banos, cujos governantes se apresentavam como faras. Mentuhotepe I Nebehepetre l ' - . - , T /v'^

    * * j .(2055-2012) conseguiu reunificar o alto e o baixo Egito, a partir de Tebas, com forte * < * , influncia de elementos nbios. Seu nome revela tanto sua base em Tebas quanto seudomnio sobre todo o territrio, pois significa "o deus tebano Mentu est satisfeito" e "unificador das duas terras". Iniciava-se um novo perodo de unidade, mas os poderes ;' ' flocais p assaram a ser, de alguma forma, acomodados. " /'

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    O MDIO REINO ^O novo perodo iniciou-se com o grande reinado de Mentuhotepe I, mas apenas

    a partir da XII Dinastia (1985-1795) a estabilidade poltica foi-se firmando e o poderdos nobres locais foi controlado. Embora o poder viesse do alto Egito, houve maiorateno parte norte do reino, como quando o governo se mudou para el-Lxete,perto de Mnfis, durante o perodo daXI dinastia. Os faras dessa dinastia cuidaramda construo de canais nas cercanias da nova capital, com grande desenvolvimentoagrcola de Faium. Outras cidades do norte foram objeto de ateno, como Heipolis,onde foram construdos obeliscos. Tebas no foi deixada de lado, e o culto ao deuslocal Amon foi fortalecido. Particular ateno foi dada ao domnio do sul profundo.

  • E CLSSICA: ECONOMIA,SOCIEDADE OKJURA

    da alia Nbia au Sudo, cpm a tonsrruo de lori.es e feitorias at acima da t:rcd.r;icatarata, bem ao sul.

    Foi nesse perodo que o culto w deus Osris expandiu-se e ioraou~se mais univer-sal Nos sculos anteriores ele tinha posio secundria oo panteo egpcio, com umadivindade agrcola ligada ao rio Nilo e ao cultivo do cereal. Como protetor do nononomo' (diviso adrainistrati? egpcia), Osris comeou a absorver outras divindadesfunerrias, corno Socris de Mnfis e Queniamentiou de Abidos, e passou a ser o prin-cipal deus funerrio, ligado imortalidade da alma. Sen remo est nn necrpoes,cie onde preside o desti.no dos humanas, soluciona o problema da. morte e preparao defumo pari a ressurreio. Com a assistncia de 42 jute divino^ ele preside1 ojulgamento das almas, enquanto Anubis se entrega de pes-las. Osris teria, sido a.primeira mmia, "Para sempte belo* um dos seus eptetos.

    Osins, juiz dos mortos

    =1l3&fbnwsiia&pr^^

  • Alm da ascenso social das classes governantes, difundiu-se o costume de construiresteias votivas, o que testemunha uma maior difuso da prosperidade. A literatura tam-bm se tornou mais popular, com o desenvolvimento da fico, como no caso da novelaHistria de Sinuhe, uma narrativa de apelo universal que retrata a trajetria do que po-deramos chamar de um filho prdigo. Sinuhe, um funcionrio real, v-se envolvido emuma intriga de palcio e foge para o Lbano, onde passa por diversas aventuras, at re-tornar ao Egito e ser reabilitado: "rejuvenesci muitos anos, pude fazer a barba, tive meuscabelos penteados. Minha pobreza ficou no estrangeiro, minhas roupas velhas voltarampara os andarilhos do deserto e me vesti com bom' linho, fui ungido com azeite fino,voltei a dormir em cama". Final feliz para um romance que, at hoje, nos traz deleite.

    O SEGUNDO PERODO INTERMEDIRIO E O NOVO REINOCostuma-se designar como segundo perodo intermedirio (1650-1550) o sculo

    que testemunhou a diviso do reino em trs, com trs dinastias contemporneas:

    O Egito Antigo

    XV Dinastia (hicsos)XVI Dinastia (hicsos menores)XVII Dinastia (Tebas) -

    1650-15501650-15501650-1550

    No Delta reinavam os reis asiticos denominados hicsos, ou "reis pastores", comodizem as fontes posteriores. Esses povos, vindos do Oriente, parecem originar-se degrupos semitas, embora tenham adotado ttulos, costumes e demais aparatos egp-cios. Exerciam influncia no Sinai e na Palestina e dominavam, de forma indireta, osgovernantes egpcios ao sul. Em Tebas seguia uma dinastia egpcia com controle sobreo alto Egito, mas com uma poltica de submisso, maior ou menor, aos hicsos. Aindamais ao sul, a Nbia e o Sudo estavam sob domnio de um governante autnomo emCuxe, mas tambm submetido aos hicsos. Esses povos orientais introduziram umasrie de novidades, como novos mtodos de fiao com o uso do tear vertical, novosinstrumentos musicais (lira, alade, obo, pandeiro), novas espcies de bovinos e decavalos, alm da azeitona e da rom. A generalizao do uso do bronze, tanto emarmas quanto em objetos de uso quotidiano, tambm foi resultado do domnio hic-so. As escavaes da cidade capital dos hicsos, Avaris (atual TelI el Daba), fornecerammuitas informaes preciosas, como a descoberta de pinturas murais no estilo usadoem Cnossos, na ilha de Creta, assim como evidncias do contato desses povos com oOriente, na forma dos mais antigos documentos cuneiformes encontrados no Egito.Essas pesquisas arqueolgicas, levadas adiante pelos austracos, comearam na dcadade 1960 e tm produzido novas descobertas a cada ano.

  • sITIGUIDADE ORIENTALTLSSICA: ECONOMIA,.OCIEDADE E CUtfURA

    A retomada da centralizao deu-se, uma vez mais. de sul a norte, a partir da XVJildinastia (1550-1295 a.C.), com a tomada de Avaris por Amsis, por volta de 1550. Opoder tebano manifestou-se, nesse processo de unificao, peia imposio do cultoa Amon, seu deus tutelar em Tebas. em contraposio ao patrono dos hicsos, o deusSet. Terras, servos, pastos e gado foram postos disposio dos templos de Amon.Multiplicaram-se os monumentos oficiais em que se apresentam o fara com sua es-posa, me ou mesmo av. As rainhas passaram a ter prerrogativas de corregncia,algo pouco comum no mundo antigo. Ahmes-Nefertari (cerca de 1540 a.C.) recebeu ottulo de "segundo profeta do deus Amon". Os matrimnios consanguneos na famliareal generalizaram-se, com o casamento entre irmos, meio-irmos ou outros paren-tes, de modo a garantir a pureza do sangue real. Tutms I (15244518) inaugurou, namargem esquerda de Tebas, a ocidente, uma nova forma de inumao real, ao escavara primeira tumba no que viria a se tornar o Vale dos Reis. Instalou tambm, na atualDeir el Medineh, uma aldeia de construtores dos hipogeus reais, chamados de "servi-dores do lugar de Maat", deus que julga os mortos. Restaurou o comrcio com Punte,a sudeste, assim como as relaes diplomticas com Chipre e demais localidades doMdio Oriente, como a Anatlia (Turquia) e a Mesopotmia (Iraque).

    Mnfis voltou a ser valorizada com uma residncia do fara Tutms I. A ascenso darainha Hatexepsute (1508-1458 a.C.) ao trono demonstra o poder das mulheres egp-cias. Ela adotava todos os ttulos faranicos com o uso das terminaes no feminino,o que no pouco se considerarmos que, em portugus, quase no se usam algunstermos de poder no feminino, como "presidenta" ou "apstola". Hatexepsute, umadas cinco mulheres que reinaram no Egito, deixou geraes de egiptlogos fascina-dos por ela, que foi descrita como "pacifista" por uns mas como masculinizada poroutros. Os monarcas que a sucederam adotaram uma agressiva poltica de expansomilitar, resultado da formao de um exrcito profissional, tanto em direo ao sulquanto na Palestina e at mesmo na Sria. Estabeleceram-se guarnies egpcias, mas aestratgia principal consistia na sua aliana com os rgulos locais. A administrao doreino estava nas mos do fara, que indicava os chefes militares, civis e sacerdotais. Ossacerdotes do culto de Amon eram os mais fortes aliados do poder real. Uma intensapoltica de construes tambm se consolidou, com tumbas reais, templos e capelas,e ocorreu o gigantismo na arquitetura, como em Lxor.

    O reinado de Amenfis IV (1352-1336 a.C.) marcou a iniciao de um tipo de cultoa um deus nico, Aton. Esse pode ser considerado um dos perodos mais discutidosda histria egpcia. Amenfis IV introduziu, logo no incio do seu reinado, o culto aodisco solar (aton), uma divindade mais abstrata do que a maioria dos deuses egpcios,com formas de animais. Construiu monumentos religiosos a Aton em diversos lugares

  • e iimdou uma oova capitai real, quetaton ("horteonte de atoo), hoje Tell el Arnarna. Ahistoria de Aquerutton conhecida, mais pela Arqueologia moderna1 do que pelos docu-mentos antigos, pois seus sucessores restauraram o culto a Amou c aos outros deuses eretiraram m referncias brma. singular de monotesmo intradto&f pelo fara (paraboa parte dos egiptiogos no seria um monotesmo, mas algo bem prximo). Suaesposa Neerit foi mortateada por um busto seu, de rara betera, conservado hoje cmBerlim, adio a erou confiscao de bens dos sacerdotes de Araon, e os se-guidores de Atoo parece terem sido recrutados entre a* classes ascendentes. Ifemptosimportames de Atoo foram estabelecidos era Mnfis e licitopoii^. com santurios denorte a sul do Eglto. Com a morte do fara subiu ao trono Tutancan (depois, Tuan-cimn), (|ue logo restaurou os oC)s tracldonats.

    O Egte Ar*g

    AkencrtnFonte: hp

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  • CLSSCA: ECONOMIA,SOCIEDADE

    NferfiHfonte Mlp://im

  • os 62 anos de reinado de Ramss II, que assinalaram o pice do poderio e da culturaegpcios, estabeleceram um perodo longo de paz, o que permitiu que Ramss II fossecultuado em vida, pelas pessoas comuns, como um grande deus. A partir da XX dinas-tia (1186-1069) iniciou-se um processo de encolhimento do imprio, com o exrcitopassando a recrutar mercenrios, com a perda das possesses asiticas e com rebeli-es no mdio Egito, ao final do perodo. A redao do livro dos Mortos assinalou apassagem para preocupaes mais espirituais, que no dependiam do poder militar.

    O TERCEIRO PERODO INTERMEDIRIO E A POCA TARDIASucederam-se dinastias paralelas e divises com o governo de lbios (945-715 a.C,)

    e de nbios (747-656 a.C.), at a restaurao da unidade, pelo fara nbio Shabaka, nofinal do sculo VIII a.C. O domnio etope estendeu-se at o Delta, tendo fomentado arestaurao de templos egpcios, mas logo os assrios viriam a dominar o vale do Nilo(657-653 a.C.), com apoio de parte dos egpcios insatisfeitos com o domnio nbio. Per-turbaes na Assria permitiram que o fara egpcio Psamtico I, da XXVI Dinastia (664-525 a.C.), expulsasse os assrios e restabelecesse um reino, a partir de Sas, no Delta,inaugurando o que ficou conhecido como Renascimento Sata. Para fazer frente aos l-bios, que haviam dominado o trono no norte, empregou soldados mercenrios gregos:jnios, crios e ldios. Os governantes satas investiram no comrcio, com a fundao defeitorias em Milsios, Dafne e Nucratis. Como dependiam dos gregos que trouxeramao Nilo, a dinastia nem sempre encontrou apoio entre os nativos egpcios, o que facili-tou o domnio persa (525-404 a.C.). As ltimas dinastias de faras egpcios (XXVIII-XXX,404-343 a.C.) foram seguidas de novo domnio persa (343-332 a.C.). Em seguida, foiestabelecido um reino egpcio com governantes macednicos, da famlia dos ptolo-meus (332-30 a.C.), cujos reis eram considerados como faras, embora houvesse umadiviso entre a administrao grega e as seculares instituies egpcias. A ltima rainhamacednica, Clepatra VII Philopator, pode ser considerada a ltima governante egp-cia apresentada como um fara, ainda que os imperadores romanos (30 a.C. a 311 d.C.)tambm tenham se representado dessa forma. Uma caracterstica importante da histriaegpcia desde o incio do primeiro milnio a.C. foi a existncia de um substrato egpciopoderoso, em termos culturais, com o domnio poltico de povos estrangeiros que sedirigiram ao vale do rio Nilo. Pode-se afirmar que at o triunfo do Cristianismo, nosculo IV d.C., a religiosidade, a lngua e os costumes milenares egpcios continuaramdominantes. A vida camponesa foi ainda mais persistente, como lembra Ciro FlamarionSantana Cardoso: "a verdade, porm, que a existncia das comunidades e sua ligaocom o controle da irrigao persistiram no Egito tanto quanto o sistema de irrigao portanques ou bacias, ou seja. at o sculo XLX depois de Cristo".

    O Egito Antigo

  • JTIGUIDADE ORIENTALLSSICA: ECONOMIA,OCIEDADE CULTURA

    A ESCRITA EGPCIAA escrita hieroglfica constitui um dos aspectos mais intricados dessa civilizao.

    Apenas no sculo XIX foi possvel decifr-la, graas a uma inscrio em trs lnguas,a Pedra da Roseta, por obra e arte do estudioso francs Francois Champollion (.1790-1832). No sabemos quando a escrita hieroglfica deixou de ser usada, mas isso deveter ocorrido na Antiguidade tardia, a partir do sculo IV d,C., ou, mais provavelmen-te, com a conquista muulmana (640 d.C.). A lngua egpcia foi decifrada a partir docopta, idioma usado ainda hoje na Igreja crist egpcia. Sua decifrao, em 1822, porChampollion foi seguida do conhecimento de outra escrita egpcia, o demtico, em1829, por Thomas Young. A lngua egpcia, que africana segundo alguns linguistas,teria origem na parte meridional do deserto do Saara e no norte da floresta tropical,bem no centro do continente. O idioma tem parentesco com outras lnguas originriasda frica, como o hebraico e o rabe.

    Das trs formas bsicas da lngua egpcia, a hieroglfica a mais antiga, podendoser atestada por volta de 3500 a.C. A forma cursiva da escrita hieroglfica o hiertico,que tambm bem antiga e usada com frequncia em papiros. Tal forma parece terdesaparecido, ou seu uso foi reduzido consideravelmente por volta de 650 a.C. Nessemomento ocorreu o aparecimento do demtico, durante o reinado do fara Psam-tico I, da 26a dinastia (conhecida como dinastia Saita - cidade de Sais, no Norte doEgito). Tal fornia, cursiva, mais recente, e parece estar mais prxima da lngua faladana poca pelos egpcios. Essa lngua/escrita possui como predecessora a lngua egpciatardia (a hieroglfica com mais signos, e a hiertica), e como sucessora a lngua copta,que possui caracteres gregos e elementos do demtico, conforme James H. Jonhson,do The Oriental Institute - University of Chicago. O Copta, ainda utilizado no Egito,foi importante para se ter uma certa ideia de como se pronunciar as palavras nos textoshieroglficos, uma vez que a escrita egpcia no possua vogais. Apesar da existnciado Hiertico e do Demtico, a escrita hieroglfica continuou sendo usada em esteias,papiros, tumbas e templos. Ao que parece, o conhecimento sobre a escrita egpcia de-sapareceu aps a invaso do Templo de Filae, por cristos, por volta do sculo V da eracrist. Foram necessrios 13 sculos para que as "pedras" voltassem a "falar". O grandedesafio moderno tem sido traduzir esses textos. Como lembra a egiptloga britnicaPenlope Wilson, "a habilidade na traduo dos textos egpcios antigos consiste em en-contrar um ponto de equilbrio, de modo que o ritmo e a estrutura das frases possamser em parte mantidos, sem que se perca a compreenso imediata".

    A origem da escrita ignorada. Alguns autores consideram que ela seria autcto-ne, outros que derivaria da escrita cuneiforme da Mesopotmia ou da Sumcria (IVe III milnios a.C.). Arquelogos alemes com pesquisas em Abidos, no Alto Egito,

  • propuseram, na dcada de 1990, que os hierglifos j estavam em uso por volta de3500 a.C., tanto com ideogramas quanto com fonogramas. Os hierglifos compreen-diam ideogramas e sinais fonticos. Os ideogramas so smbolos usados como repre-sentaes diretas de algo, como "cu" e "homem". Os fonemas representam o som oua parte de uma palavra pronunciada; por isso, assim como no caso da escrita chinesa,escrever era, ao mesmo tempo, uma representao artstica. Possua, ainda, um carterreligioso, sagrado mesmo, pois a maioria dos egpcios considerava as palavras comotendo um poder fsico real, como se fosse mgica. Por esse motivo eles chamavam suaescrita tMedju-Netjer, ou seja, "Palavra dos deuses", o que de certa forma foi mantidopelos gregos, milhares de anos depois, os quais a chamaram "escrita sagrada" (esse o sentido de "hierglifo").

    Desde o incio dos estudos egiptolgicos, a partir da dcada de 1820, surgiram dis-cusses sobre a divergncia entre os dados provenientes dos textos e as informaesfornecidas pela Arqueologia, na forma de edifcios, pinturas, vasos cermicos e umainfinidade de objetos. O egiptiogo australiano David 0!Connor - arquelogo e pro-fessor em Yale - refleta sobre tais questes de maneira muito apropriada:

    "Os dois tipos de evidncia - textos e cultura material - so complementares. Oregistro arqueolgico contm informao histrica apenas indiretamente refletida noregistro textual e vice-versa. A interpretao de cada um deles , com frequncia, cor-rigida e ampliada pela referncia outra".

    O Egfto Antigo

    Pedra de RosetaFonte: http://images.google.com.br/imgres?imguri=http://vmAV.earth-history.com/Egypt/ images/Ro-settaStone.gif &imgrefuri=http://www.earth-history.com/Egypt/rosetta-stone-1ranslation.htm&usg= uw5sNlqK5V6P5CeqXpDu22uZKRA=&h=576&w=483&sz=:no&hl=pt-BR&start=2&um=l&itbs^1&tt)nd=:5eH2M7E-slgTZM:&tbnh=134&tbnw=112&prev=/images%3Fq%3Drosena%2Bstone%26um%3D1%26hl%3Dpt-BR%2sa%3DN%26rlz%3DlT4GGLL p-BRBR349BR349%26tbs%3Disch:l

  • ANTIGUIDADE ORIENTALCLSSICA: ECONOMIA,SOCIEDADE E CULTURA

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    UMA CIVILIZAO AFRICANAPor longa tradio, o estudo do Egito, desde o incio do sculo XIX, esteve ligado

    expanso imperialista ocidental. Por isso, muitas vezes passou despercebido que a civi-lizao egpcia tenha se desenvolvido na frica e que seu povo falasse uma lngua afri-cana. Ainda no incio do sculo XX o pioneiro da Arqueologia do Egito Antigo, FlindersPetrie (1853-1942) - um britnico racista e conservador - no admitia que a civilizaoegpcia fosse autctone, mas falava em uma invaso de uma raa superior vinda... daEuropa! Isso comeou a mudar com o movimento de descolonizaco, a partir do finalda Segunda Guerra Mundial (1939-1945), e, mais particularmente, com os movimentospelos direitos civis e contra o racismo. O estudioso senegals Cheikh Anta Diop (1923-1986), um dos grandes intelectuais africanos anticolonialistas, explicitou que os "egp-cios eram negros", o que continua sendo um debate no meio acadmico. Ainda queos egpcios, assim como outros povos da Antiguidade, no se definissem por critriosde cor da pele e, portanto, nunca tenham sido chamados de negros, no cabe dvidade que sua populao era, em sua maioria, africana, mas no necessariamente negra, ehouve sempre, como vimos neste captulo, a entrada de povos da frica subsaariana novale do Nilo. No final do sculo XX, o estudioso Martin Bernal (1937) publicou o livroA Atena Negra, no qual apontou a importncia das tradies e dos costumes africanospara as civilizaes mediterrneas posteriores, como a grega e a romana, por interm-dio do Egito faranico. O reconhecimento do carter africano da civilizao egpcia tanto maior no contexto brasileiro, tendo em vista que parte da nossa populao possuiancestralidade africana e que a cultura brasileira deve muito herana afra.

    MULHERES, RELAES DE GNERO E SEXUALIDADEOutro tema que resulta das transformaes sociais das ltimas dcadas refere-se ao

    papel da mulher e da sexualidade. Os movimentos pelos direitos das mulheres vmdesde o sculo XIX, com a busca do direito de voto - no Brasil, s obtido na dcada de1930 - e com o reconhecimento das prerrogativas femininas quanto ao seu corpo. Tudoisso levou, nas ltimas dcadas, histria das mulheres, das relaes entre os gnerose da sexualidade. Isso no poderia deixar de afetar a egiptologia. Multiplicaram-se asegiptlogas e novas descobertas foram feitas. J no antigo reino as mulheres ocupavamalguns cargos administrativos, e muitas mulheres da famlia real tiveram proeminncia.Mais do que isso, como propugna a egiptloga Lynn Meskell (1998), "a sexualidade fe-minina, na sua fertilidade (gravidez), est representada nas cenas tumulares, e as quali-dades sexuais das mulheres eram um atributo buscado na vida ps-morte, tanto quantoservidores e comida". Tambm outras sexualidades tm sido estudadas, tendo em vistaque homens castrados ou eunucos constituam uma categoria social, assim como temas

  • antes pouco mencionados, como a infncia. Tudo isso tem renovado o campo dos es- E9^ Antigotudos do Egito Antigo. O papel da mulher significativo na perpetuao da linhagem,e isso pode ser verificado no que consideraramos como sobrenome. De modo geral,as assinaturas nas tumbas do nfase me como se fosse algo como: "fulano filho dasenhora da casa fulana". Alm disso, o divrcio era algo institudo, e no Egito greco-romano os contratos definem claramente as clusulas e penalidades.

    A RELIGIOSIDADETalvez a religiosidade dos antigos egpcios seja o aspecto de sua cultura cujo inte-

    resse tenha sido mais persistente. J os antigos gregos surpreendiam-se com os deu-ses, sacerdotes, mitos e rituais egpcios, e essa admirao se manteve nas percepesposteriores de romanos e dos modernos ocidentais. Sociedades secretas, como a Ma-onaria, a Ordem Rosacruz e a Ordo Templ Orientis (OTO) - sobretudo com leisterCrowley - inspiraram-se no Egito Antigo, e em pleno sculo XXI ainda h intenso inte-resse por esse tipo de religiosidade. Os egpcios no distinguiam, de maneira clara, omundo natural do sobrenatural, na medida em que divindades e humanos interagiamno plano social e fsico. A fertilidade ocupava um lugar de destaque, tanto nos relatosmticos quanto nas representaes e festivais. Algumas divindades representavam ofalo, em clara referncia reproduo, assim como Osris era o deus da ressurreio.Como deus dos mortos e da vida ps-morte, ele uma das mais antigas divindadesegpcias, tendo surgido ligado fertilidade, agricultura e inundao anual do rioNilo. Foi associado ressurreio e vida eterna. J mumificado, fecundou sua esposa,a deusa sis, que gerou Hrus. A mumificao dos mortos associou-se a Osrs e suapromessa de vida eterna.

    Os egpcios, em geral, acreditavam na vida eterna, que poderia ser garantida pelapiedade tida pelos deuses, pela preservao do corpo por meio da mumificao e pela

    t ' imanuteno de um enxoval funerrio. Acreditavam em aspectos vitais que mantinham '< ,a vida, na forma de manifestaes da alma, sob os nomes de ka, ba e akh, essenciais

    fpara a sobrevivncia humana, tanto antes quanto depois da morte. As mais antigas ,- !,