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    O XIX Governo Constitucional prometeu, no incio do mandato, a realizao de uma

    avaliao prpria da Iniciativa Novas Oportunidades antes de tomar decises sobre as diversasmedidas que a integram.

    Sem que qualquer avaliao estivesse disponvel, o governo decidiu retirar Portugal do

    PIAAC, estudo internacional da OCDE para a medio da literacia dos adultos, que permitiria

    aferir objetivamente os progressos realizados no pas; encerrou mais de metade da rede de

    Centros Novas Oportunidades, deixando centenas de milhares de adultos sem resposta e

    milhares de profissionais no desemprego e, no caso das instituies pblicas, sem o pagamento

    das indemnizaes devidas, enquanto se prepara para encerrar grande parte dos restantes

    depois de Agosto; operou a separao entre os sistemas de educao e de formao sobre cuja

    cooperao assentou nos ltimos anos o conceito de dupla certificao; tem vindo a protelar aabertura de cursos de Educao e Formao de Adultos (EFA) e de Formaes Modulares

    Certificadas (FMC); condicionou extraordinariamente os processos de reconhecimento,

    validao e certificao de competncias (RVCC); limitou as reas da educao profissional e da

    componente profissional da EFA a um nmero ridculo e inaceitavelmente limitado s profisses

    manuais; aumentou os parmetros para o funcionamento de cursos profissionais e de turmas

    dos cursos EFA que, nomeadamente pela dimenso mnima das turmas, inviabiliza o

    funcionamento do sistema com um mnimo de qualidade e de disperso geogrfica; anunciou a

    reinveno do ensino recorrente para adultos, modalidade cuja total ineficcia e absoluta

    ineficincia h muito conhecida. Enfim, tem vindo sistematicamente ou a desmantelar, ou a

    desmobilizar por ausncia de orientaes, o sistema que tinha criado em Portugal um

    movimento de massas de regresso dos adultos aprendizagem ao longo da vida (ALV) e de

    manuteno dos jovens da escola at concluso do secundrio, como todos os organismos e

    estudos internacionais tm posto em relevo.

    Esta situao grave porque se esto a desperdiar recursos e a quebrar dinmicas de

    recuperao do atraso educativo portugus, de valorizao do ensino profissional e de reforma

    do sistema de educao e formao. Grave , tambm, o perigo de ideias preconceituosas virem

    a ser apresentadas como a proposta portuguesa para a negociao do prximo quadro de

    programao dos Fundos Estruturais da Unio Europeia, produzindo assim um efeito de longo

    prazo que impediria o pas de alcanar os objetivos da estratgia 2020. Quando o pas, pelaprimeira vez na sua histria, estava a comear a alinhar-se com padres europeus, foi-lhe

    cortado o passo e surge no horizonte a ameaa do regresso a uma poltica educativa seletiva, a

    qual constitua uma das faces de uma economia pouco produtiva, assente em trabalho intensivo

    e pouco qualificado. No aceitvel que se desperdice uma nova oportunidade para nos

    aproximarmos dos padres europeus.

    H cerca de duas semanas o governo apresentou dois estudos de avaliao assinados

    por uma equipa do Instituto Superior Tcnico, um sobre o impacto dos processos RVCC e outro

    sobre o impacto dos EFA e das Formaes Modulares Certificadas (FMC) no emprego e na

    progresso salarial. Supostamente seriam os estudos que sustentam as medidas entretanto

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    tomadas. Mas tal no o caso. Solicitmos pareceres tcnicos a especialistas em avaliao de

    polticas pblicas e o veredicto insofismvel: os relatrios no possuem consistncia nem

    credibilidade, como se pode ver em detalhe no dossier anexo.

    Como tal, consideramos que no foi cumprida a promessa, que se mentiu aosportugueses, que se desviaram as atenes dos problemas essenciais. Por tudo isso h que

    exigir do governo que assuma as suas responsabilidades.

    A ANPEFA, representante dos profissionais de Educao e Formao de Adultos, tem

    solicitado vrias vezes audincias tutela no sentido de compreender qual a poltica do

    governo. Ainda no foi ouvida. Cada ms que passa mais difcil se tornar a recuperao do

    tempo perdido.

    Decidimos, por isso, alertar a Assembleia da Repblica, os Partidos Polticos, os

    Ministros da Economia e da Educao, o Conselho Nacional da Educao, a Comisso Europeia,

    as Confederaes Sindicais do setor da Educao e a opinio pblica para a gravidade dasdecises que tm vindo a ser tomadas, para o perigo de hipotecar o futuro do pas com uma

    negociao inadequada do prximo perodo de programao e para a necessidade de retomar a

    trajetria que vinha a ser seguida e que nenhum estudo, at ao momento, veio por em causa,

    sendo pelo contrrio vrios os que a apontam como adequada no contexto complicado que o

    nosso pas atravessa.

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    Dossier tcnico

    Anlise dos Relatrios da responsabilidade de Francisco Lima

    (Instituto Superior Tcnico) sobre os impactos do sistema de

    Reconhecimento, Validao e Certificao de Competncias

    (RVCC) e dos Cursos de Educao e Formao de Adultos (EFA) e

    das Formaes Modulares Certificadas (FMC) na

    empregabilidade e nas remuneraes dos participantes.

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    Na sequncia da apresentao pelo autor, Francisco Lima (Instituto Superior Tcnico), em sesso

    organizada com a presena de membros do governo, dos relatrios em referncia, a ANPEFA

    solicitou pareceres a especialistas em avaliao de polticas pblicas a respeito dos mesmos. As

    concluses so eloquentes: Os relatrios no possuem qualquer validade tcnica e, portanto,

    no podem sustentar qualquer deciso poltica.

    Seguem-se os argumentos em que assenta esta concluso, em detalhe.

    1.A avaliao metodologicamente insustentvel e compara oque no pode, em rigor, ser comparado

    O centramento da Avaliao na comparao de desempenhos no mercado de trabalho entre

    participantes e no participantes nas diferentes modalidades, tendo como elemento de aferio

    a estimativa do efeito na empregabilidade e na evoluo das remuneraes, constitui uma

    opo metodolgica legtima. No entanto () e tomando por referncia o Estudo relativo aos

    Processos RVCC () Na metodologia adoptada os no participantes no revestem as

    caractersticas de um grupo de controlo, na medida em que existem diferenas significativas em

    matria de enquadramento profissional (os participantes pertencem, sobretudo, s

    actividades do comrcio, servios, indstrias com baixo ndice tecnolgico). Para uma avaliao

    centrada na empregabilidade e nas remuneraes, deveriam ser comparveis as condies de

    mercado de trabalho dos grupos que, inseridos em composies de sectores e de estrutura deprofisses distintas, se deparam com modalidades de recrutamento, sistemas remuneratrios e

    dinmicas de criao e sustentao de emprego com diferenas acentuadas. (E1)

    No mesmo sentido vai uma opinio manifestada num segundo parecer:

    Para o estabelecimento de comparaes com a populao alvo de RVCC optou-se por criar um

    grupo de controlo. Neste caso, o grupo de controlo deveria ser semelhante ao dos participantes

    em RVCC, tal como sugerido pela equipa de avaliao A partir do universo dos no

    participantes, procurar-se- encontrar pessoas semelhantes aos participantes, nas dimenses

    disponveis no registo da Segurana Social e num perodo anterior tomada de deciso sobre a

    participao (p. 34).

    Em primeiro lugar, no so explicados os critrios de seleco que suportaram a escolha dos

    indivduos includos neste grupo de controlo. Em segundo lugar, e mais importante, os grupos

    no so semelhantes. Antes pelo contrrio. O grupo do RVCC tem menor escolaridade,

    pertence a sectores econmicos menos qualificados, tem salrios mais baixos e maior

    incidncia de desemprego. Para se ter uma ideia da disparidade entre os dois grupos, refira-se

    que o grupo dos no participantes manteve exatamente a mesma percentagem de

    desempregados em 2007 e em 2011, enquanto a taxa de desemprego em Portugal evoluiu de

    7,9% no segundo trimestre de 2007 para 14% no final de 2011. Trata-se claramente de um

    conjunto de indivduos muito especial, que no comparvel, nem poder servir de grupo decontrolo, o que inviabiliza boa parte das comparaes e concluses.

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    Este problema identificado pela equipa de avaliao ao longo do documento, de tal forma que

    at justifica a incluso de um mtodo de estimao. O que no se percebe, a razo pela qual

    no se alterou o grupo de controlo logo na gnese (apresentando, j agora, os critrios de

    seleco).

    Desde logo, o diferencial entre os dois grupos to gritante que o mtodo de estimao, por um

    lado no resolve o problema e, por outro, afasta ainda mais a informao estatstica de base dos

    fenmenos teoricamente retratados e para os quais no h formas de validao/verificao

    emprica.

    Refira-se, ainda, que compreendemos o esforo em tentar solucionar o problema da falta de

    informao sobre as qualificaes de partida dos participantes na RVCC, contudo, por demais

    evidente que a extrapolao feita a partir dos sectores de actividade est muito mais ancorada

    no senso comum, no que em evidncias empricas, no dando garantias algumas de ser uma

    boa base de comparao. (E2)A tese de que a metodologia utilizada totalmente inadequada aparece ainda salientada num

    terceiro parecer:

    O estudo representa uma fraude metodolgica. Conscientemente, subverte todas as regras do

    mtodo de avaliao de impactes de uma poltica pblica. A partir apenas da anlise de

    informao secundria (duas bases de dados) o estudo visa proceder avaliao do impacto do

    RVCC na empregabilidade (acesso ao emprego e durao do desemprego) e no reconhecimento

    do valor dos diplomas pelas empresas (medido atravs da progresso salarial daqueles que

    concluram um determinado nvel de escolaridade), procedendo comparao dos participantes

    em processos RVCC com no participantes.

    Trata-se, partida, de uma metodologia tpica da avaliao de impactes. Mas essa metodologia

    exige que as caractersticas sociodemogrficas e socioprofissionais dos dois grupos (o grupo

    sob anlise, as pessoas que concluram processos RVCC) e o grupo de controlo (os no

    participantes), sejam iguais. Ora, o estudo reconhece (pp. 37) que o () grupo de participantes

    tem uma menor escolaridade do que a generalidade dos trabalhadores, isto , do que o grupo

    de no participantes. Alm disso, como se diz na pgina 57, Os dados que estamos a usar no

    resultaram de uma experincia, em que teramos um grupo de participantes e um grupo de no

    participantes iguais em termos de probabilidade de participar no RVCC () temos de recorrer

    observao do comportamento dos participantes e no participantes, sabendo que constituemgrupos distintos (). Por exemplo, existem diferenas assinalveis ao nvel da idade e experincia

    profissional. Ainda assim, o estudo faz comparaes entre grupos incomparveis e retira da

    concluses. Compara o que no pode ser comparado. Todas as concluses que retira perdem,

    assim, qualquer validade tcnico-cientfica e resultam de uma distoro fraudulenta do

    mtodo que conduz a uma viso preconceituosa da realidade. (E3)

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    2. Os Pressupostos so errados e no aderem ao estado atual doconhecimento sobre a matria em que incidem.

    NOVAS OPORTUNIDADES avaliar efeitos com ou sem apriori o ttulo geral de um dos

    comentrios recebidos. Salienta o autor, comparando os relatrios em anlise com exerccios

    anteriores:

    Os Cursos de Educao e Formao de Adultos (EFA), as Formaes Modulares Certificadas

    (FMC) e o Reconhecimento, Validao e Certificao de Competncias (RVCC) constituem

    exemplos das respostas disponveis para enquadrar um conjunto relativamente vasto de

    destinatrios-alvo e respectivas necessidades de interveno.

    Estas modalidades formativas foram sendo objecto de diversos Estudos de Avaliao 1 sob

    iniciativa de entidades com responsabilidade na gesto e no financiamento das IntervenesOperacionais. De um modo geral, esses estudos identificaram resultados, dimenses-problema

    e necessidades de correco que constam das respectivas Recomendaes, sendo disso

    exemplo a Avaliao de Impacte dos Activos Empregados Beneficirios de Aces Financiadas

    pelo FSE e a Avaliao de Operacionalizao das Formaes Modulares Certificadas (FMC).

    Os Estudos referidos enquadraram a avaliao de efeitos das medidas destinadas a adultos

    activos (empregados e desempregados) numa perspectiva ampla, compreendendo as dimenses

    desenvolvimento pessoal, das aprendizagens adquiridas e do emprego, abrangendo nesta ltima

    os resultados em matria de insero profissional, de remunerao e de progresso na carreira.

    Esta abordagem multifacetada (que segue de perto orientaes metodolgicas da OCDE, doBanco Mundial e da Comisso Europeia) afigura-se absolutamente indispensvel na medida

    em que a vocao fundadora daquele conjunto de Modalidades de Educao/Formao de

    Adultos reside nas aprendizagens como via privilegiada para proporcionar competncias aos

    destinatrios-alvo. (E1)

    O parecer de um segundo especialista diz-nos que h Pressupostos enviesados. Todo o

    exerccio de avaliao est ancorado em dois pressupostos que carecem de fundamentao.

    Neste caso, temos, por um lado, o pressuposto de que o RVCC no implica a aquisio de novos

    conhecimentos (p. 2) e, por outro, o pressuposto de que o RVCC serve [unicamente] para reduzir

    a assimetria de informao sobre a qualificao do trabalhador. Em sntese, o RVCC no formativo, como o prprio nome indica, possvel que actue essencialmente como um veculo de

    transmisso de informao sobre as competncias do trabalhador(p. 34).

    A carncia de fundamentao destes dois pressupostos est relacionada: (i) em primeiro lugar,

    com o facto dos estudos anteriores atestarem exactamente o contrrio, isto , quer a avaliao

    de 2003, quer o trabalho do Conselho Nacional de Educao de 2011, quer mesmo a avaliao

    coordenada por R. Carneiro de 2010, comprovam que o RVCC traduz-se na aquisio de novas

    1 Avaliao de Impacte dos Activos Empregados Beneficirios de Aces Financiadas pelo FSE,QUATERNAIRE/IESE - Instituto de Gesto do Fundo Social Europeu (2007),Avaliao de Operacionalizao dasFormaes Modulares Certificadas (FMC), Autoridade de Gesto do POPH/Gabinete Oliveira das Neves(2010/2011) e Avaliao Externa da Iniciativa Novas Oportunidades, Agncia Nacional para a Qualificao(ANQ)/CEPCEP-Universidade Catlica (2009/2012).

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    competncias e possui um alcance muito para alm da mera funo de informao o leque

    de efeitos que o RVCC pode vir a ter no posicionamento dos indivduos no mercado de trabalho

    bastante amplo incluindo domnios como a aquisio de e-competncias, de soft-skills,

    desenvolvimento da motivao pessoal, autoconhecimento e auto-estima, aquisio de um

    projecto/estratgia pessoal, etc.; (ii) em segundo lugar, com o facto do presente exerccio de

    avaliao estar desprovido de informao e/ou de ferramentas metodolgicas que permitam

    aferir seja l o que for sobre as competncias/conhecimentos adquiridos ou sobre o papel do

    RVCC junto dos empregadores. (E2)

    E conclui: Resultado da inconsistncia dos pressupostos e da desadequao da metodologia

    face aos objectivos temos concluses que, no s carecem de fundamentao aceitvel, como

    tambm surgem em forte oposio aos resultados das avaliaes anteriores, das quais

    deixamos dois exemplos:

    Os participantes em processos RVCC () tm uma maior probabilidade de estardesempregados e de experimentarem duraes de desemprego mais longas (p. 73) - ocarcter enviesado do grupo de controlo retira toda a solidez desta concluso.

    A generalidade dos resultados obtidos indica que os RVCC no tm impacto na evoluodas remuneraes do trabalho (p. 74) a incapacidade de isolar o impacto do RVCC das

    outras variveis que influenciam a evoluo dos salrios, retira toda a consistncia a

    esta concluso. (E2)

    O estudo um embuste poltico, afirma um outro especialista, sintetizando dessa forma a

    demonstrao de que os estudos, mais do que a critrios tcnico-cientficos, obedece agendapoltica de quem o encomendou. Mostra-o o facto de produzir afirmaes sem sustentao

    em nenhum elemento analtico. Por exemplo, logo na pgina 2, afirma-se a ideia, repetida ao

    longo do documento, de que o RVCC no se associa a uma componente formativa. Apenas

    produz resultados estatsticos. Replica assim, sem qualquer esforo crtico, as declaraes de

    membros do governo e dos partidos que o sustentam. Mas como pode o estudo fazer tal

    afirmao se no incide sobre a aquisio de conhecimentos ou competncias por parte dos

    participantes? Como pode ignorar as horas de formao fornecida a quase todos os

    participantes e que enriqueceram essas competncias em domnios nos quais elas se revelavam

    insuficientes? E como pode ignorar os conhecimentos cientficos hoje disponveis sobre o

    efeito de aprendizagem efetiva resultante do prprio processo de reflexividade

    autobiogrfica?

    Em que partes do estudo constam dados que permitam a insinuao de que o alargamento da

    rede de Centros Novas Oportunidades se traduziu numa lgica de competio, em vez da

    cooperao em redes locais para a qualificao que se multiplicaram pelo pas?

    Na pp. 28 anuncia-se a eminncia (sic) de reconfigurao deste modelo. Como conhecem

    os autores essa iminncia? O que contm esta frase para alm do pontap na gramtica, mais

    do que o eco de intenes do governo? (E3)

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    3.A avaliao passa ao lado do objeto que era suposto avaliarA avaliaocircunscreve os resultados e efeitos de medidas de poltica de educao/formao

    de adultos a dimenses que se situam a jusante do campo de interveno dessas medidas (a

    obteno de um emprego e/ou a melhoria das condies de integrao profissional salrio,

    progresso na carreira, ); (E1)

    Do parecer de um outro especialista consta que: Neste exerccio de avaliao assume-se, desde

    logo, o objectivo de avaliar o impacto dos processos de RVCC no mercado de trabalho (p. 2),

    descurando o facto dos objectivos matriciais da interveno pblica que acomoda o RVCC no

    estarem centrados objectivamente no mercado de trabalho. Isto , tenciona-se analisar o

    impacto de uma interveno em domnios para os quais ela no foi realmente criada. Porm,

    esta constatao no inviabiliza a realizao do exerccio de avaliao, porquanto se considera

    que uma avaliao de impacto est centrada na anlise dos efeitos de longo prazo positivos ounegativos, primrios ou secundrios, produzidos directa ou indirectamente por uma

    interveno, de forma intencional ou no.

    No entanto, para a correcta concretizao da avaliao deveriam ser acauteladas duas opes

    metodolgicas. Em primeiro lugar, e uma vez que se trata de uma avaliao de impacto, deveria

    ser assegurada a abordagem de longo prazo (por exemplo, o percurso de um participante de

    RVCC trs a cinco anos aps a obteno da certificao). Em segundo lugar, deveriam ser

    previamente clarificados os caminhos percorridos entre as realizaes e os impactos e as

    respectivas relaes causais entre os diferentes momentos, de modo a perceber quais as

    cadeias de impactos possveis quando se trata de tentar ligar RVCC com impacto no mercado detrabalho (as cadeias seriam empiricamente validadas aposteriori).

    Nenhum destes trabalhos prvios foi realizado tendo-se lanado a avaliao de impacto sem

    qualquer reflexo ou ideia sustentada sobre a forma como os elementos do sistema interagem

    uns com os outros e quais os processos inerentes obteno desse mesmo impacto. Umas das

    consequncias da falta deste trabalho prvio so a desadequao e inconsistncia dos

    pressupostos de partida, bem como da abordagem metodolgica (). (E2)

    O governo anunciou que determinaria o que fazer com a Iniciativa Novas Oportunidades depois

    de ter nas mos a sua prpria avaliao. As avaliaes anteriores no bastavam ao atual

    governo. Nem a audio que a Assembleia da Repblica efetuou, nem a avaliao realizada poruma equipa de reconhecido mrito e independncia da Universidade Catlica que a UNESCO

    publicou como exemplo a nvel mundial, nem a autoavaliao dos Centros Novas

    Oportunidades, nem os inmeros trabalhos acadmicos sobre o impacto do RVCC na literacia

    das crianas, na aprendizagem ao longo da vida, e num longo etc. Insistia-se em que a Iniciativa

    Novas Oportunidades se limitava a certificar, sem qualificar. Ao mesmo tempo que, retirando

    Portugal do estudo sobre a literacia de adultos da OCDE, se perdia o ensejo para uma

    abordagem isenta e sem sofismas dessa matria.

    Estranhamente a presente avaliao completamente omissa sobre o assunto. Por isso,

    para alm de metodologicamente fraudulenta, tambm cientificamente desonesta.

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    Diz-se no documento que o objetivo da iniciativa Novas Oportunidades o da escolarizao

    da populao, promover a valorizao social do investimento em educao e formao de

    adultos, numa tica de aprendizagem ao longo da vida e qualificar 1 milho de ativos.

    Poder-se-ia ter avaliado e colocado em questo estes objetivos, e as metas em que se

    desdobram. Mas em vez disso avalia-se o programa em funo de objetivos que no so os

    dele. Mais um erro de palmatria, imperdovel at num estudante de primeiro ano em

    qualquer disciplina de mtodos. Uma avaliao pode e deve julgar a pertinncia e coerncia dos

    objetivos do programa avaliado, mas no pode avaliar o seu impacto sem ter em conta esses

    objetivos e o domnio de poltica em que se situa. No se podem avaliar as polticas de educao

    e de qualificao apenas atravs do seu impacto no emprego.

    certo que abunda a literatura que defende a existncia de uma relao entre as qualificaes

    da populao e a produtividade da economia, ou entre as qualificaes e o estatuto profissional

    das pessoas. Mas da a afirmar que essa relao mecnica e direta vai uma enorme distncia.

    As qualificaes contam, mas no so o nico fator que afeta a evoluo do emprego e da

    remunerao do trabalho. A conjuntura macroeconmica e fatores como a estratgia das

    empresas na adaptao crise tm um papel decisivo, que o estudo omite de forma

    despudorada.

    Portugal tem, h muito, um problema estrutural de absoro pelo mercado de trabalho das

    qualificaes que produz. Essa absoro faz-se lentamente e no imediata.

    Por outro lado, como evidente, h muito que no h, no mercado de trabalho, qualquer

    notcia positiva para os trabalhadores. Esse , segundo vrios estudos, um dos motivos da

    mobilizao da populao na adeso INO, com o objetivo de melhorar as oportunidades numcontexto cada vez mais agreste e ameaador e que tem vindo a assumir, no ltimo ano,

    contornos extremamente gravosos. Se o estudo revela, apesar de tudo, que se registaram com

    a INO alguns efeitos positivos junto de certos grupos; se os salrios tm vindo a cair no pas a

    um ritmo muito maior do que o que o estudo verifica entre os trabalhadores menos qualificados

    e mais idosos que frequentaram o RVCC, ento existe motivo para retirar concluses opostas s

    que so avanadas.

    Seria importante que uma equipa independente tivesse acesso s mesmas bases de dados para

    testar de forma mais rigorosa e isenta esses mesmos efeitos. Provavelmente os impactos so

    muito melhores do que o que seria de esperar face s condies que se tm criado no pas. (E3)

    4.A avaliao no considera as variaes de contextoUm outro tema presente em todas as interpretaes aponta para a ilegitimidade de se realizar a

    avaliao de impactos de uma medida de educao e formao no mercado de trabalho sem

    considerar os devidos elementos de contexto.

    De facto, a avaliao valoriza a estimao de impactos particularmente sensveis (emprego e

    remuneraes) a variaes de contexto, as quais se mostram sobretudo, relevantes em

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    conjunturas depressivas do mercado de trabalho, como a que temos atravessado desde meados

    da dcada anterior.

    No tocante comparao da condio perante o trabalho antes e depois do RVCC, aanlise da distribuio dos diferentes estados no mercado de trabalho parece serapenas atribuvel passagem pelos processos RVCC. Sucede, porm, que a condio

    perante o trabalho fortemente medeada pela evoluo do mercado de trabalho em

    situao de crise e desemprego crescentes, elementos explicativos chave que no so

    tomados em conta. O argumento segundo o qual a crise e o desemprego afectariam da

    mesma forma participantes e no participantes, no encontra eco na literatura. Tudo

    indica que o processo RVCC/NO teria muito provavelmente dado lugar a maior

    empregabilidade na ausncia de crise do mercado de trabalho, muito especialmente

    para os menos qualificados, principais destinatrios-alvo da Medida.

    Em matria de remuneraes, o exerccio efectuado no contempla o fenmeno dadepresso das remuneraes que acompanha o reingresso dos desempregados nomercado de trabalho. Com efeito, tendo a amostra de participantes maior peso de

    desempregados, o perodo durante o qual estiveram envolvidos nos processos RVCC/NO

    prolonga o perodo de interrupo da trajectria de trabalho, num contexto de crise de

    oportunidades proporcionadas pelo mercado de trabalho. Os efeitos da depresso das

    remuneraes no reemprego ps-processo RVCC deveriam, assim, ter sido

    considerados na comparao com os no participantes que se mantiveram em maior

    percentagem empregados.

    O controle das condies especficas do mercado de trabalho constitui uma tensopermanente da metodologia de estudo e frequentemente resolvida com hipteses

    e/ou restries bastante redutoras. A ttulo de exemplo:

    - a remunerao resume os atributos do trabalhador, os quais so consideradosfixos desde 1 ano antes da participao (os ponderadores da regresso utilizada

    so os mesmos antes e aps o processo RVCC);

    - a remunerao um indicador perfeito de qualificaes, numa perspectiva quese afasta de todos os contributos tericos da Economia da Educao e da

    Qualificao do Trabalho e que em contexto de crise econmica no recolhe

    evidncias (maiores e novas qualificaes no so validadas pelo mercado de

    trabalho, como sucede com as qualificaes superiores universitrias e

    politcnicas, frequentemente sub-remuneradas). (E1)

    Sobre o mesmo tema, titula um outro perito: Incapacidade de isolar o impacto do RVCC.

    O exerccio de avaliao procura avaliar o impacto dos processos de RVCC no mercado de

    trabalho (p. 2), no entanto, no h informao, nem forma, de isolar o impacto especfico do

    RVCC no mercado de trabalho, de todos os outros elementos que tambm tm (alguns de

    modo muito mais expressivo) a capacidade de influenciar os domnios analisados. Ou seja, a

    abordagem utilizada interpreta a evoluo de um fenmeno to complexo como o desemprego

    tendo como nico factor explicativo a existncia ou no do RVCC.

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    Por outro lado, no h igualmente instrumentos que permitam identificar/medir as relaes

    causa-efeito entre a obteno da RVCC e a situao no profisso/remunerao e o

    desemprego. Consequentemente, as anlises esto suportadas, no s por relaes causais no

    testadas empiricamente, nem verificadas na realidade, como recorrem a pressupostos

    enviesados, como referido anteriormente.

    Acrescente-se, ainda, para reforar a inpcia da metodologia no momento de isolar o impacto

    do RVCC, que o exerccio de avaliao, no momento de avaliar o percurso dos participantes na

    RVCC, no incorporou, por exemplo, os elementos de evoluo macro e micro econmicos do

    perodo em analise, no mbito do qual, a ttulo de exemplo, a taxa de desemprego nacional

    quase que duplicou (facto que, como lgico, no poder ser explicado pela interveno do

    RVCC). (E2)

    Um terceiro especialista cita o estudo: A observao de uma pessoa no mesmo momento do

    tempo em dois estados distintos com e sem RVCC seria a situao ideal para a avaliao. Adiferena entre estes dois estados, na durao do desemprego ou na remunerao, mediria o

    efeito do processo RVCC (). Como se pudssemos controlar as variveis macro e

    microeconmicas que afetam o emprego, o desemprego e os salrios da mesma maneira que se

    controla o ambiente de uma experincia laboratorial (ainda por cima num quadro em que o

    mercado de trabalho sofreu as turbulncias de todos conhecidas). No legtimo comparar as

    trajetrias das pessoas sem levar em linha de conta a evoluo do mercado de trabalho.

    Diz-se ainda na pgina 33: Uma alternativa, ainda que invivel no presente, seria ter um

    conjunto de pessoas elegveis, por exemplo, para um processo RVCC de 3 ciclo do ensino bsico

    e inscrever aleatoriamente metade do grupo em processos de RVCC, mantendo a outra metadecomo grupo de controlo.Como se fosse possvel e legtimo decidir sobre opes que cabem a

    cada um e determinar que uma parte de um grupo de pessoas fica de fora de uma poltica s

    para servir uma experincia! Parece comdia, mas as consequncias podem ser trgicas. (E3)

    5. Dois relatrios, dualidade nas opes metodolgicasUm dos peritos ouvidos pela ANPEFA chama a ateno para a possibilidade de existir uma dupla

    inteno nos dois relatrios: denegrir todas as medidas de educao e formao de adultos

    desenvolvidas nos ltimos 12 anos, mas prioritariamente destruir a imagem do sistema de

    RVCC. As declaraes da Secretria de Estado do Ensino Bsico e Secundrio durante a

    apresentao dos estudos sustentam esta hiptese. Disse ela que os custos com o RVCC

    tinham sido 1.800 milhes de Euros. Ora, desse valor apenas 17,61% foram investidos nos

    Centros Novas Oportunidades, tendo 60,58 % sido utilizados nos cursos de Educao e

    Formao de Adultos e 21,82% nas Formaes Modulares Certificadas. Houve, pois, um m-f

    evidente nas declaraes da Secretria de Estado. (E3)

    Nota o mesmo perito que, quando se compara o relatrio relativo aos EFA e FMC com o que

    respeita ao RVCC so evidentes e notrias as diferenas de tratamento de algumas variveis. D

    vrios exemplos:

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    Na pp iii do relatrio EFA/FMC, face desigualdade notria dos grupos de participantese no participantes, o mtodo aplicado para determinar o impacto da formao

    procura selecionar, entre o grupo de no participantes, trabalhadores em igual situao

    de desvantagem e com caractersticas demogrficas semelhantes s dos participantes .

    Diz ainda o relatrio na pp 2: O mtodo aplicado procura selecionar, entre o grupo de

    no participantes, trabalhadores em igual situao de desvantagem e com

    caractersticas demogrficas semelhantes aos participantes. Avana na pp 26 que Os

    grupos so emparelhados nestes estratos (matching), excluindo-se os no participantes

    que se encontrem em estratos sem participantes em formao profissional.

    Ora, sendo a base de dados dos no participantes a mesma, porque no se fez o mesmo

    no estudo do RVCC, tentando minorar os efeitos da desigualdade de partida?

    O etudo refere a pginas 35: Quando o trabalhador se encontrava inicialmentedesempregado, quatro trimestres antes, quando se mede a remunerao de partida, oefeito associado FMC negativo, no perodo mais recente (perodo B), entre 1,9% (para

    as mulheres) e 2,2% (para os homens). No de esperar que a FMC esteja associada a

    uma penalizao na remunerao. Nesta transio em particular existir um terceiro

    fator que estar relacionado com a frequncia de uma FMC e a condio de desemprego

    que leva ao efeito negativo. Baixas qualificaes e uma posio de desvantagem no

    mercado de trabalho sero os candidatos provveis. A questo : porque razo neste

    caso se procura um terceiro fator, e no caso do RVCC no? Porque razo no caso da FMC

    no lgico atribuir-lhes a causa do desempenho menos conseguido, ao contrrio do

    que se faz para o RVCC?

    Enquanto no estudo dos RVCC se fala da articulao destes processos com os EFA e asFMC, possibilitando a construo de percursos flexveis, no estudo dos cursos EFA isso

    totalmente omisso. Porqu? S se encontra uma explicao: tentar ocultar que a

    flexibilidade resultante da combinao das diversas medidas de educao e formao

    de adultos uma das caractersticas fortes do sistema, em parte responsvel pelo

    sucesso onde outras medidas, como o ensino recorrente, falharam rotundamente.

    Na pgina 14 est escrito: combinou-se o perodo do 1 trimestre de 2005 ao 2trimestre de 2011. Depois, na pp 16, j se diz que A caracterizao feita no momento

    da inscrio na modalidade formativa e cobre o perodo em que se regista a maioria das

    inscries (1 trimestre de 2008 ao 2 trimestre de 2011. Por que que no estudo do

    RVCC se ficaram por 2010? Se fossem a 2011 mudavam os resultados? Afinal qual o

    perodo? E no h dados depois do 2 trimestre de 2011?

    Um exemplo mais da dualidade de critrios. A idade mdia dos participantes em FMC de 39 anos e considerada prxima dos no participantes, 41 anos (pp16). Porm, no

    estudo RVCC, uma diferena de dois anos era considerada relevante. Dois pesos e duas

    medidas? (E3)

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    6. Notas soltas sobre estudos de m notaTer ficado clara, nas pginas anteriores, a parcialidade e a invalidade dos estudos

    encomendados pelo governo equipa do IST liderada por Francisco Lima. Nos prximos

    pargrafos abordaremos alguns detalhes que reforam os argumentos j expostos, ilustrando-os

    com pormenores ou com aspetos parciais ainda no referidos.

    6.1. Desconhecimento das matrias substantivas da educao eformao de adultos

    Na pgina 6 apresenta-se o RVCC como uma nova metodologia comea a serdesenvolvida atravs dos Centros RVCC. S pode ser propositada a omisso das

    orientaes internacionais, do que se passa nos outros pases e das recomendaes

    relativas ao reconhecimento e certificao de competncias no formais e informais

    presentes em documentos oficiais da EU e da OCDE! (E3)

    urge desencadear um novo estudo que permita, atendendo ao novo flagelo dodesemprego e necessidade de reestruturao do nosso tecido empresarial e

    redireccionamento para novos mercados, perceber quais os impactos desta Iniciativa,

    com destaque em particular para a vertente de reconhecimento, validao e certificao

    de competncias (no presente relatrio) na empregabilidade e na relao com o

    mercado de trabalho, diz-se no relatrio sobre os RVCC. Pergunta-se: s o RVCC que

    deve ser avaliado pelos impactos no emprego? Ficaro todas as medidas de qualificao

    (ensino regular, exames, ensino superior, etc.) sujeitas ao mesmo critrio? E o ensino

    recorrente, que apresentado como alternativa apesar de se conhecer a ineficcia do

    modelo, nalgumas das avaliaes de que foi objeto mostrou contribuir para o emprego?

    Esperam os responsveis polticos pela educao e pela formao ser avaliados pelo

    andamento do mercado de emprego? Demitir-se-o dos seus cargos e abandonaro as

    suas polticas se o desemprego aumentar ainda mais? (E3)

    A base de dados da Segurana Social s tem dados at 2010 (limitao apenas referidonum dos relatrios, porque no outro vai-se at ao segundo trimestre de 2011). Masporque que a base de dados do SIGO no utilizada at atualidade nos aspetos que

    no implicam comparao? At ao Vero de 2011 eram produzidos relatrios mensais. E

    agora, porque no h informao publicada? A questo : quando comeou o discurso

    do governo a ter um impacto negativo na procura de qualificaes? (E3)

    A Bibliografia muito limitada. No se citam vrias teses de doutoramento que tiveramo RVCC como objeto, nem o estudo de Luclia Salgado sobre o impacto do RVCC na

    literacia emergente nas crianas, nem, sequer, os vrios documentos internacionais

    (Cedefop, Comisso, OCDE) em que a INO referida. (E3)

    referida no estudo sobre o RVCC uma srie de concluses da avaliao coordenadapor Roberto Carneiro. Afirma-se que a avaliao do IST a primeira que mede efeitos

    reais e no opinies, como se os registos estatsticos fossem mais reais do que o que as

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    pessoas pensam. O que permite afirmar que a opinio das pessoas uma pior

    aproximao realidade do que a anlise de bases de dados muito limitadas quanto aos

    objetivos da poltica avaliada e sua complexidade? De qualquer forma, o que se refere,

    embora de modo truncado e parcial, contradiz de forma categrica afirmaes de

    membros do governoque disseram do estudo de Roberto Carneiro que s identificava

    como ganho a autoestima. Fica alis claro como era compreensiva, relevando os ganhos

    em todos os domnios de conhecimentos, atitudes e competncias dos adultos

    abrangidosE tambm, alm dos ganhos do eu, os ganhos na vida profissional (32%). De

    caminho, desvaloriza-se de forma completamente inaceitvel uma varivel pessoal,

    social e at econmica como a confiana das pessoas nas suas prprias capacidades,

    como se esse no fosse um produto dos mais importantes de qualquer processo de

    aprendizagem.

    Diz o estudo: O RVCC tem a particularidade de atribuir um nvel de escolaridade semimplicar a aquisio de novos conhecimentos no decorrer do processo de certificao(pp1); depois: A natureza inovadora do modelo e da metodologia em que assenta o

    processo de RVCC tende a fazer olhar para o mesmo com alguma desconfiana e a

    procurar estabelecer comparaes com as aprendizagens que so realizadas no ensino

    dito regular () (pp. 22) E ainda: O RVCC no se sustenta na aquisio de

    aprendizagens, mas antes no seu reconhecimento. (idem). Estas afirmaes esto

    totalmente desatualizadas em relao ao que se sabe hoje sobre os mecanismos de

    aprendizagem, quer de crianas quer, principalmente, de adultos. Os autores nunca

    ouviram falar do efeito cognitivo da reflexo sobre aquilo que se aprendeu e aquilo que

    se fez? Gera-se mais conhecimento. Alm disso, ao RVCC associaram-se milhes de

    horas de formao complementar (no apenas EFA e FMC). Como podem manter-se na

    falcia do mero reconhecimento ou, o que o mesmo, da mera certificao? De resto,

    h alguma dvida sobre a atribuio de certificados a quem demonstre possuir os

    conhecimentos, as atitudes e as aptides profissionais requeridas em referenciais

    exigentes e adequados aos padres nacionais e europeus relativos a cada um dos nveis

    de qualificao? Uma nota sobre uma afirmao incrvel: A inovao gera desconfiana,

    e nada mais do que isso? (E3)

    Escreve-se na pp 23: o valor de um produto corresponde ao preo que estamosdispostos a pagar para o adquirirmos. No preciso ser economista para saber que

    h, para alm do valor de troca, o valor de uso. E h vrios fatores a afetar o preo deum produto. Desde logo, a relao entre a procura e a oferta. Ora, em matrias como a

    qualificao, se no h procura imediata, faz sentido acabar com a oferta? Quais as

    consequncias de longo prazo se fosse seguida a lgica de abandonar a qualificao, ou

    a educao, por escassez da procura imediata? Que preo teramos de pagar no futuro,

    quando formos confrontados com a necessidade de qualificaes que levam dcadas a

    produzir? No se pode avaliar a educao e a formao como se de uma mera

    mercadoria se tratasse. (E3)

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    6.2. As proxis que visam atenuar os erros metodolgicos de baseso inadequadas

    A hiptese de a data de registo na Segurana Social capturar a entrada no mercado detrabalho, constitui um pressuposto arriscado dada a precariedade que tem

    caracterizado a participao dos adultos de baixas qualificaes no mercado de trabalho

    nos ltimos anos. (E1)

    A abordagem da idade e experincia como proxy para a finalizao de estudos, noconsidera elementos dinmicos com peso (perodos de interregno entre o fim da

    escolaridade e o incio da experincia profissional, interrupo da experincia de

    trabalho,). Era importante ter considerado a existncia destas possveis

    descontinuidades, atenuando a inconsistncia das hipteses. (E1)

    A considerao do sector de actividade como proxy das qualificaes de partida(limitao, alis, reconhecida pelo Estudo) superada pela agregao de sectores com

    capital intensivo e de baixa intensidade em capital. Mas esta opo tem como

    consequncia juntar qualificaes distintas e de reas funcionais muito diferentes, ou

    seja, com potencial de estruturao do emprego e com padres de remunerao

    bastante hetergenos. (E1)

    Na pp 42 reconhece-se que no h informaes sobre as qualificaes de partida daspessoas que integram as bases de dados. Utiliza-se como proxios setores de atividade.

    Queproxi esta, num mercado de emprego como o nosso, segmentado no em funo

    dos setores, mas das empresas, mesmo dentro de um mesmo sector? Um trabalho srio

    teria de incluir, pessoa a pessoa, a varivel qualificao (E3)

    6.3. Indicadores construdos sem rigor Ressalva idntica ( do setor de atividade como proxy das qualificaes de partida)

    deve ser feita para a durao do desemprego, uma varivel que dispe na amostra de

    um n de observaes/trimestres muito pequeno para ajustar uma Survival. Sendo os

    participantes desempregados em maior percentagem, partida, a crise do mercado de

    trabalho tenderia a reforar esta sua situao, com maior probabilidade relativamente

    aos no participantes. A contra anlise que o Estudo tenta fazer com as caractersticas

    dos trabalhadores (pg. 55) no se mostra inequvoca nos resultados. (E1)

    No Anexo Tcnico e no tocante aos logaritmos da sobrevivncia ao desemprego: faltamindicadores importantes da qualidade global [p.e., Hosmer-Lemenoshov; nvel de

    significncia do Qui-quadrado; e testes de Wald para os coeficientes (odds)].

    As regresses estimadas para as remuneraes apresentam, em todos os casos

    (homens, mulheres, TCO, independentes) testes muito baixos da qualidade dos

    ajustamentos (R quadrado e R quadrado ajustado, especialmente). Em face do elevado

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    n de observaes, tal no seria de esperar, o que pode indiciar estarmos em presena

    de um Modelo pouco apropriado face natureza original dos dados que foram

    processados pelo Estudo. (E1)

    No primeiro perodo do ponto 3.2 (metodologia) diz-se que A observao de umapessoa no mesmo momento do tempo em dois estados distintos com e sem RVCC

    seria a situao ideal para a avaliao. A diferena entre estes dois estados, na durao

    do desemprego ou na remunerao, mediria o efeito do processo RVCC. (pp. 33). No

    d para acreditar. Os autores julgam mesmo que uma pessoa pode estar e no estar

    com RVCC ao mesmo tempo, ou trata-se de distrao? abaixo da lgica da batata!

    Alm disso, no se considera que a pessoa pode ser a mesma, mas o mercado de

    emprego no , pelo que, como j se disse, a comparao espria se no se levarem

    em linha de conta os fatores que afetam a evoluo desse mercado. (E3)

    No ponto 5.2. sobre o Mtodo de Estimao (pp. 80), escreve-se: A sua aplicaorequer que seja observvel um conjunto de variveis no perodo antes da participao

    que sirva para aumentar a comparabilidade com o grupo de no participantes. No caso

    em estudo, o conjunto dessas variveis limitado. Porm o estudo segue como se nada

    fosse. Arranjam-se umas frmulas matemticas mgicas e anulam-se os desvios. E

    tudo passa a ser estimado. E de estimativas tiram-se concluses to assertivas como se

    tivesse havido observao direta da realidade. A INO foi acusada de trabalhar para as

    estatsticas. Mas isto nem sequer respeitar as estatsticas e a realidade que elas

    traduzem. O mtodo contorcionista para chegar concluso encomendada. Esta a

    triste realidade do estudo em anlise. (E3) A concluso geral de que os trabalhadores por conta de outrem que participam em

    processos RVCC so oriundos essencialmente de setores da indstria de menor

    intensidade tecnolgica e dos servios de menos intensidade de conhecimento, quando

    comparados com os no participantes nos processos RVCC (pp45). Ento, como podem

    ser comparados com os grupos em termos de exposio ao desemprego (e sua

    durao) e de progresso salarial? (E3)

    6.4. Falta de validao emprica das afirmaes e concluses Intimamente ligada incapacidade de isolar o impacto do RVCC e de verificao das

    relaes causais est a falta de validao emprica dos resultados. Na sua essncia, o

    exerccio de avaliao est suportado na anlise de duas bases de dados, carecendo

    claramente de base emprica e de instrumentos de auscultao junto dos actores

    relevantes no processo (desde logo, trabalhadores e empregadores) e de quantificao

    de resultados no terreno, que nos permita validar em termos quantitativos e

    qualitativos as reais relaes causais referidas anteriormente.

    Na verdade, s com o recurso s bases de dados nada podemos saber sobre o impacto

    efectivo da obteno do RVCC no domnio da empregabilidade ou dos salrios, como

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    desde logo referido pela equipa de avaliao nas paginas 33-34 A mera observao de

    um aumento salarial ou a obteno de um emprego em menos de seis meses para uma

    pessoa com um RVCC no permite medir o efeito do processo de certificao. O seu

    desempenho no mercado de trabalho pode advir das suas competncias e no de possuir

    um grau de ensino reconhecido. Ou seja, no sabemos se a alterao de remunerao ou

    aumento de empregabilidade devido a algo que o trabalhador j possua (e era

    reconhecido pelos empregadores) ou se ao RVCC em suma, ser necessrio isolar o

    RVCC das outras variveis, algo que no foi feito nem a metodologia utilizada o permite

    fazer. E este problema no se resolve com a criao de um grupo de controlo, desde

    logo, porque no se conhecem as variveis que influenciam o comportamento deste

    (por exemplo, no sabemos se estes indivduos, no participantes no RVCC, tero

    adquirido formao/competncias noutros contextos).

    Consequentemente temos inmeras concluses que no esto comprovadas em termos

    empricos, nem, acima de tudo, ser possvel antever e compreender os fundamentos

    subjacentes a estes processos. (E2)

    Os estudos so baseado na comparao de duas bases de dados.No h produo dequalquer informao primria. O exerccio fica totalmente limitado pelas caractersticas

    das bases de dados e pelas dificuldades em cruz-las. (E3)

    Entre os participantes A proporo de desempregados aumenta com o grupo etrio, de3,5% (na coluna Total) no grupo dos 15 aos 24 anos at 9,3% no grupo dos 45 aos 65

    anos (pp 47). Para alm de se incluir uma faixa (de 15 aos 18 anos) que no elegvel, o

    que isso mostra que os mais velhos, sendo em mdia menos qualificados, esto mais

    expostos ao desemprego. Alis, o desemprego gera procura de qualificaes, razo pelaqual o peso dos desempregados nos CNO rondava, entre 2008 e 2011, 40% (mesmo

    antes das medidas do IEFP de encaminhar todos os desempregados para os CNO). Na

    pp. 52 conclui-se que o desemprego aumentou menos para os mais qualificadoso que

    explica duas coisas: que as pessoas da INO, menos qualificadas, esto mais expostas;

    que por terem conscincia das desvantagens, se mobilizaram para a qualificao. No

    so legtimas quaisquer outras concluses. (E3)

    Atente-se na diferena entre o grupo de 25-34 anos e 45-64: ao fim de oito trimestres(dois anos) 75% dos trabalhadores do grupo 45-64 ainda permanece no desemprego,

    mas apenas pouco mais de 25% dos trabalhadores do grupo 25-34 a permanecem (pp

    56). Concluso lgica: so fatores como a idade e provavelmente a qualificao a ela

    associada o que faz a diferena. A qual se agrava num contexto de grande crise no

    mercado de emprego como o atual. (E3)

    6.5. Distores nada ingnuas e politicamente comprometidas Quando se fala do RVCC antes da INO d-se destaque ao papel do Jri. Depois de 2005

    desaparecem as referncias aos avaliadores externos. Porqu? (E3)

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    Em virtude das campanhas publicitrias mudou o pblico: Estes novos candidatos certificao distinguem-se do pblico-alvo tpico dos Centros RVCC. Tendo abandonado

    recentemente o ensino, com o secundrio incompleto por incapacidade de concluso

    (pp. 15). Mas a mdia de idades de 38 anos! E so raros os casos entre os 15 e os 24,

    como se diz mais frente. Nesta passagem, os autores limitam-se a repetir mais uma

    das atoardas dos detratores a acusao totalmente infundada de que o RVCC serviria

    como via mais fcil de concluso do secundrio por parte de alunos que abandonam o

    ensino formal , apesar de ser frontalmente contrria s prprias verificaes do

    estudo. (E3)

    Associa-se a criao de uma nova modalidade de concluso do secundrio (o DL357/2007) necessidade de os CNO se concentrarem na procura dos menos qualificados

    (pp. 16). Ora, a modalidade no nova. De facto havia o precedente de um despacho de

    Manuela Ferreira Leite que o 357/2007, na prtica, se limitou a atualizar. E os CNO no

    so envolvidos nisso, a no ser no eventual encaminhamento. Alm disso, o volume no significativo face aos clientes do CNO, pelo que no representa nenhum alvio. (E3)

    O estudo deixa uma insinuao: desconhecendo-se ainda se sacrificando o ltimodos princpios enumerados na Carta de Qualidade: Rigor, exigncia e eficincia no

    desenvolvimento de todos os processos de qualificao e certificao, bem como na

    gesto do Centro Novas Oportunidades. (pp. 16). Se desconhecem, o que leva os

    autores a falar de um putativo sacrifcio da qualidade a no ser a tentativa

    demaggica de levantar a suspeio e o descrdito sobre a qualidade do trabalho dos

    Centros, sem qualquer evidncia para apontar? Trata-se de pura demagogia. O contrrio

    da cincia. (E3)

    Nos anos seguintes, viria a consolidar-se publicamente a marca Novas Oportunidades,sendo porm desvirtuada a sua conceptualizao inicial A INO passou a ser associada

    apenas ao RVCC (pp. 16) No havendo estudos consolidados e desenvolvidos

    especificamente nesta matria, capazes de aprofundar o nascimento e consolidao

    desta marca, acredita-se que este fenmeno ter sido gerado, em grande medida, pelas

    sucessivas campanhas publicitriasque se focaram essencialmente no processo de

    reconhecimento, validao e certificao de competncias (pp. 17). Novamente os

    autores retiram concluses baseadas emestudos que no existem! E omitem a

    campanha dirigida aos jovens para dizer que h mais profisses na tua escola, a

    campanha dirigida concluso do secundrio, a campanha dirigida aos empresrios,que so alis a maioria. Se algum responsvel de alguma distoro no sentido de

    associar a INO apenas ao RVCC foram precisamente os crticos que permanentemente

    apresentaram a Iniciativa como se se limitasse certificao de competncias. (E3)

    Na pp. 28 diz-se que a metodologia da avaliao da Universidade Catlica integrou arealizao de 6 focus-group e 13 entrevistas aprofundadas (num total de 50 entrevistas)

    e 40 estudos de caso. mentira. Pura e simplesmente. A avaliao envolveu um

    trabalho muito mais vasto, incluindo, alm dos elementos referidos, inquritos (vrios,

    alguns a amostras representativas da populao portuguesa, e sobre vrios temas), a

    autoavaliao de toda a rede de Centros, entre outros elementos omitidos. (E3)

    As pessoas inscritas que desistiram ou que obtiveram certificaes parciais soexcludas da base de dados (pp. 31). Assim, como se testa a crtica do facilitismo? O

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    volume de desistncias (2/3) justifica a crtica de facilitismo, ou a de dificuldade

    excessiva? (E3)

    6.6. Erros que se repetem no relatrio sobre os cursos EFA e as FMCVejamos agora alguns exemplos de erros presentes no relatrio sobre os RVCC que se repetem

    no relatrio sobre os EFA e as FMC.

    As anlises apresentadas na pp iii permitem concluir que os cursos EFA estoassociados a um aumento da probabilidade de transio do desemprego para o

    emprego, aps a concluso do curso. () A inscrio numa Formao ModularCertificada tem um efeito de reduo da durao do desemprego; os resultados

    apontam para uma relao positiva entre a evoluo da remunerao e a concluso de

    um curso EFA. Prossegue o relatrio na pp 2: Os resultados apontam para um efeito

    positivo da frequncia de um EFA ou FMC quando o trabalhador passa por uma

    experincia de desemprego. O efeito dos cursos EFA mais forte quando os cursos

    incluem uma componente de formao tcnica. Depois ainda se diz que Os resultados

    (Quadro 11) indicam que a concluso de um curso EFA est associada a um aumento da

    remunerao (em 4%) no caso dos homens, face sua situao oito trimestres antes,

    quando se encontravam desempregados. O efeito no significativo para as mulheres

    (pp 32). Ora, se os efeitos so positivos (ainda que a conjuntura seja to m como , e

    embora no se compreenda porque que h uma diferena entre homens e mulheres,

    quando a formao do mesmo tipo, o que em nada preocupa os avaliadores),

    porque est parada a aprovao de cursos EFA e das FMC? Qual o sentido de reduzir a

    componente profissional dos cursos EFA (como alis dos Cursos Profissionais) a um

    conjunto de 13 reas das profisses manuais, incluindo o setor primrio, mais 3

    respeitantes a hotelaria e turismo e proteo do ambiente? Portugal vai regredir em

    termos setoriais, para uma economia meio agrcola meio da segunda revoluo

    industrial? Abandona-se a qualificao de trabalhadores nos setores dos servios? Ou

    esses setores ficam reservados para algumas elites? (E3)

    Como vo funcionar os cursos EFA de dupla certificao com turmas com o mnimo de

    entre 26 e 30 alunos (mnimo de 20 nas FMC), o que torna a qualidade pedaggica

    invivel? Se se pretende encher turmas s para as estatsticas, os resultados vo ser os

    contrrios, porque nestas condies os cursos no vo funcionar e verificar-se- uma

    grande quebra na procura. Isto se chegar a haver oferta, porque entretanto a Comisso

    Ministerial de Coordenao do Quadro de Referncia Estratgica Nacional decidiu

    suspender todos os atos administrativos e de gesto, o que quer dizer que no vo

    poder abrir os cursos pelos quais esto espera, inscritos, dezenas de milhares de

    pessoas.

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    Acrescente-se que nada justifica o encerramento dos EFA escolares nas escolas pblicas,

    dado que eles produziam resultados positivos (ainda que, do ponto de vista do mercado

    de trabalho, compreensivelmente, possam ser menos visveis do que os de dupla

    certificao), praticamente sem despesas adicionais para as escolas.

    Consta da pp ii que Os participantes nos cursos EFA so mais novos, em mdia, e detmuma menor experincia profissional do que os no participantes () Tal implica que

    entraram mais cedo no mercado de trabalho e que detm menor nvel de escolaridade

    (); na pp iii acrescenta-se que Os participantes recebem remuneraes menores que

    os no participantes e a diferena tem-se mantido constante ao longo do tempo. (de

    680 para 538, de 935 para 794, de 825 para 635 conforme os grupos

    considerados); notrio que os participantes constituem um grupo em desvantagem no

    mercado de trabalho, tanto pela incidncia do desemprego como pelas baixas

    remuneraes; E ainda a pgina 2: Adicionalmente, os participantes diferem dos noparticipantes nas suas caractersticas demogrficas e laborais.A fraude metodolgica

    caracterstica do relatrio sobre o RVCC repete-se: nem os grupos so comparveis, nem

    se controlam as variveis de contexto, nomeadamente a evoluo do emprego, do

    desemprego e das remuneraes do trabalho. Os mtodos de estimao economtrica

    que se diz utilizar para superar o primeiro dos problemas (quanto ao segundo, nunca

    considerado) so remendos que acabam por no resolver o problema de base. Diz-se na

    pp23: A avaliao de impacto da participao nos cursos EFA e nas FMC conseguida

    pela comparao entre os participantes e os no participantes. Sem um ponto de

    comparao no possvel determinar o efeito da formao. () os no participantes

    servem de grupo de controlo. A literatura cientfica sobre a avaliao em causa extensa e prope diversas abordagens ao problema. As questes centrais tm a ver com

    as razes que levam uma pessoa a decidir participar ou no na formao e a

    comparabilidade entre participantes e no participantes que da resulta. Na situao

    ideal, as pessoas deveriam ser distribudas aleatoriamente pelo grupo de participantes e

    no participantes, como numa experincia controlada. Como tal no possvel, h que

    encontrar uma alternativa para tornar os grupos comparveis. Primeiro: no s a

    probabilidade que conta. A primeira condio do mtodo a similitude dos grupos, que

    devem ser iguais em todas as variveis menos a que est a ser testada. isso que diz a

    literatura. Note-se que estamos sempre a encontrar alternativas para suprir lacunas de

    mtodo. Neste estudo foram mais longe do que no do RVCC para suprir as lacunas,

    criando segmentos mais equiparados aos participantes, mas ainda assim fica-se tudo

    pela estimao e pela aproximao grosseira, quando no h manipulao pura e

    simples da informao.

    A idade de entrada no mercado de trabalho e os anos de experincia profissional socalculados a partir da data da primeira inscrio na Segurana Social. Quando

    considerada em conjunto com a idade, serve como proxy do nvel de escolaridade,

    admitindo que a maioria das pessoas entra no mercado de trabalho aps terminar a

    frequncia do sistema de ensino regular (pp. 15). Revela-se aqui uma ignorncia

    confrangedora. Desconhece-se a irregularidade atual da transio da escola para omercado de trabalho. E principalmente esquecem-se fenmenos de grande dimenso,

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    como as retenes e o abandono escolar precoce, que tornam esta proxy anedtica.

    (E3)

    Na pp. 6-7 diz-se que Os mesmos viriam, porm, a sofrer alteraes, ajustando-se, emfuno de algumas lacunas que foram sendo detetadas, quer no modelo curricular quer

    na sua arquitetura ou funcionamento, conforme recordado no prembulo do despacho

    n 3447/2010 () Estas lacunas ou dificuldades viriam a ser solucionadas com a

    entrada em vigor do despacho n 26401/2006, de 29 de dezembro, alterado pela

    portaria n 817/2007, de 27 de julho. Fica-se assima saber que as lacunas que foram

    sendo identificadas e recordadas num despacho de 2010 viriam a ser solucionadas num

    despacho de 2006, alterado por uma portaria de 2007. Que o estudo fraudulento, j

    tnhamos visto. Mas que nem se dessem ao trabalho de evitar ausncias de rigor e erros

    lgicos to bsicos como estequem poderia acreditar? (E3)

    Trata-se de uma resposta que, para j, ter de ficar pelas sensaes e percees (pp12). Isto , ficam-se pelo livre arbtrio e pelas impresses. E com base nelas que ogoverno decide? (E3)

    A disperso regional dos participantes nas duas formaes maior do que a dispersodos no participantes (PP. 17). Porque no se retira a concluso bvia: a capilaridade

    da rede de agentes, CNO, entidades formadoras, etc., produzia um efeito que contraria

    a desvantagem das zonas mais desertificadas? (E3)

    A informao sobre as qualificaes dos trabalhadores poderia ser capturada pela suaprofisso e posio dentro da empresa. Como no existe tal informao na base de

    dados, recorre-se ao setor de atividade das empresas (pp.18). Como se viu no

    relatrio sobre o RVCC, a segmentao em Portugal no se faz pelos setores de

    atividade, mas sim pelo perfil empresarial. Como no h informao, os autores

    inventam-na. (E3)

    6.7. Inadequao das qualificaes da equipa responsvel Equipa responsvel pelos estudos constituda por um especialista em gesto,

    macroeconomia, mtodos quantitativos de investigao e microeconomia e dois

    especialistas em engenharia informtica ou matrias afins. Nenhum dos membros

    possui currculo relevante nem no campo da avaliao, nem no campo da educao.

    No se compreendem os critrios de escolha. No h nenhum especialista, sequer, em

    educao, quanto mais em educao de adultos. Por isso no percebem a correlao

    entre qualificaes e empregabilidade, nem o que se aprende com o mtodo auto-

    biogrfico, nem uma srie de outras matrias que seriam importantes.

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    7. Notas finaisPrimeira nota final: tratando-se de uma avaliao, que recomendaes so feitas? Melhorar

    os aspetos apontados pelo relatrio do CNE, eles prprios j reconhecidos pela ANQ no

    balano da 1 fase da INO (que o trabalho refere)? Ou os autores apenas foram pagos para

    descredibilizar, no para sugerir fosse o que fosse? (E3)

    Segunda nota final: a ANPEFA agradece a disponibilidade dos especialistas que colaboraram

    na organizao deste dossier, reservando os seus direitos de autor e identidade.