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Ano XIII - Edição 155 - Outubro de 2020 Distribuição Gratuita NESTA EDIÇÃO - Como Nosso Petróleo Atiçou a Cobiça dos EUA; Página 4 - O Racismo Outra Vez; Página 5 - Crise Hídrica; Página 5 - A Uberização das Reticên- cias; Página 6 - Furtado e Florestan nos Devolvem a Sanidade e o Futuro; Página 7 - O Fim do Mundo e o Indis- creto Racismo das Elites; Página 8 - Como Evitar as Pandemias das Superbactérias?; Página 11 - Isolamento Prolongado: as consequências oara as crianças; Página 12 - 0 Os Guardiãs de Nossas Almas; Página 13 - Cultura Africana; Página 14 - A História dos Japoneses Escravizados e vendidos pelos Portugueses. Página 15 Teologia cartesiana quis torná-lo “transcendente”. Mas se foi Espinosa quem o compreendeu, ele é tão mundano como a natureza e seus próximos — sacrificados todos no altar do dinheiro e do poder. Eclosão do vírus denuncia este suplício CRISE CIVILIZATÓRIA Deus parece estar confinado. Pelo menos, desde que no século XVII se impôs a separação ab- soluta entre a natureza, enquanto res extensa, e os seres humanos, enquanto res cogitans. A prova da existência de deus está na mente humana, porque só ela pode conceber um ser perfei- tíssimo, infinito. Sendo imperfeita, a mente humana só é capaz de tal concepção porque alguém a inscreveu nela. Esse alguém é deus. A natureza é incapaz de uma tal concepção, e aí reside a sua incomensurável inferioridade em relação à mente própria dos humanos. . Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar O fim do confinamento de deus História da Lagoa Rodrigo de Freitas A Língua Portuguesa está espalhada pelo mundo. Na América do Sul, esse fenômeno acontece ao longo das fronteiras dos países vizinhos com o Brasil, uma vez que o idioma de Camões é lín- gua materna apenas em nosso país. No entanto, o acesso ao idioma tem crescido por causa da obrigatoriedade do seu ensino nas escolas da Argentina, do Uruguai e da Venezuela. Vale lembrar que as relações diplomáticas destes países com o Brasil, de forma geral, estão rela- cionadas ao Mercosul. Entretanto, é necessário ressaltar que o interesse pelo aprendizado da língua tem um valor estratégico e isso, certamente, está vinculado à Comunidade dos dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Um novo observador associado? A Fábula da Águia e da Galinha A globalização representa uma etapa nova no processo de cosmo- gênese e de antropogênuese. Temos que entrar nela. Não do jeito que as potências controladoras do mercado mundial querem - mercado competitivo e nada cooperativo-, apenas interessadas em nossas riquezas materiais, reduzindo-nos a meros consumido- res. Outubro! Dia de comemorar os professores Temos um dia mundial dos professores. Temos também um dia na- cional. Os dois comemorados no mês de outubro. Um dia para ho- menagear todos que se dedicam a educação, todos que trabalham com ela, todos que contribuem para o ensino. Ser professor normal- mente não é uma tarefa fácil, em tempos de pandemia .

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Page 1: Ano XIII - Edição 155 - Outubro de 2020 Distribuição GratuitaAno XIII - Edição 155 - Outubro de 2020 Distribuição Gratuita NESTA EDIÇÃO - Como Nosso Petróleo Atiçou a Cobiça

Ano XIII - Edição 155 - Outubro de 2020 Distribuição Gratuita

NESTA EDIÇÃO

- Como Nosso Petróleo Atiçou a Cobiça dos EUA;

Página 4

- O Racismo Outra Vez;

Página 5

- Crise Hídrica;

Página 5

- A Uberização das Reticên-cias;

Página 6

- Furtado e Florestan nos Devolvem a Sanidade e o

Futuro; Página 7

- O Fim do Mundo e o Indis-creto Racismo das Elites;

Página 8

- Como Evitar as Pandemias das Superbactérias?;

Página 11

- Isolamento Prolongado: as consequências oara as

crianças;

Página 12

- 0 Os Guardiãs de Nossas Almas;

Página 13

- Cultura Africana;

Página 14

- A História dos Japoneses Escravizados e vendidos

pelos Portugueses.

Página 15

Teologia cartesiana quis torná-lo “transcendente”. Mas se foi Espinosa quem o compreendeu, ele é tão mundano como a natureza e seus próximos — sacrificados todos no altar do dinheiro e do poder. Eclosão do vírus denuncia este suplício

CRISE CIVILIZATÓRIA

Deus parece estar confinado. Pelo menos, desde que no século XVII se impôs a separação ab-soluta entre a natureza, enquanto res extensa, e os seres humanos, enquanto res cogitans. A prova da existência de deus está na mente humana, porque só ela pode conceber um ser perfei-tíssimo, infinito. Sendo imperfeita, a mente humana só é capaz de tal concepção porque alguém a inscreveu nela. Esse alguém é deus. A natureza é incapaz de uma tal concepção, e aí reside a sua incomensurável inferioridade em relação à mente própria dos humanos. .

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

O fim do confinamento de deus

História da Lagoa Rodrigo de Freitas

A Língua Portuguesa está espalhada pelo mundo. Na América do Sul, esse fenômeno acontece ao longo das fronteiras dos países vizinhos com o Brasil, uma vez que o idioma de Camões é lín-gua materna apenas em nosso país. No entanto, o acesso ao idioma tem crescido por causa da obrigatoriedade do seu ensino nas escolas da Argentina, do Uruguai e da Venezuela.

Vale lembrar que as relações diplomáticas destes países com o Brasil, de forma geral, estão rela-cionadas ao Mercosul. Entretanto, é necessário ressaltar que o interesse pelo aprendizado da língua tem um valor estratégico e isso, certamente, está vinculado à Comunidade dos dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Um novo observador associado?

A Fábula da Águia e da Galinha A globalização representa uma etapa nova no processo de cosmo-gênese e de antropogênuese. Temos que entrar nela. Não do jeito que as potências controladoras do mercado mundial querem -mercado competitivo e nada cooperativo-, apenas interessadas em nossas riquezas materiais, reduzindo-nos a meros consumido-res.

Outubro! Dia de comemorar os professores

Temos um dia mundial dos professores. Temos também um dia na-cional. Os dois comemorados no mês de outubro. Um dia para ho-menagear todos que se dedicam a educação, todos que trabalham com ela, todos que contribuem para o ensino. Ser professor normal-mente não é uma tarefa fácil, em tempos de pandemia .

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A Fábula da Águia e da

Galinha

A globalização re-presenta uma eta-pa nova no proces-

so de cosmogênese e de antropogênuese. Te-mos que entrar nela. Não do jeito que as potên-cias controladoras do mercado mundial querem -mercado competitivo e nada cooperativo-, ape-nas interessadas em nossas riquezas materiais, reduzindo-nos a meros consumidores. Nós que-remos entrar soberanos e conscientes de nossa possível contribuição ecológica, multicultural e espiritual.

Percebe-se desmesurado entusiasmo do atual governo pela globalização. O presidente fala dela sem as nuances que colocariam em devi-da luz nossa singularidade. Ele tem capacidade para ser uma voz própria e não o eco da voz dos outros.

Para ele e seus aliados, conto uma história que vem de um pequeno país da África Ocidental, Gana, narrada por um educador popular, Ja-mes Aggrey, nos inícios deste século, quando se davam os embates pela descolonização. O-xalá os faça pensar.

Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro, a fim de mantê-lo cativo em casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto às gali-nhas. Cresceu como uma galinha.

Depois de cinco anos, esse homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquan-to passeavam pelo jardim, disse o naturalista: “Esse pássaro aí não é uma galinha. É uma águia”.

“De fato”, disse o homem. “É uma águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais águia. É uma galinha como as outras.”

“Não”, retrucou o naturalista. “Ela é e será sem-pre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar às alturas.”

“Não”, insistiu o camponês. “Ela virou galinha e jamais voará como águia.”

Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e, desafiando-a, disse: “Já que você de fato é uma águia, já

que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e voe!”.

A águia ficou sentada sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas.

O camponês comentou. “Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!”.

“Não”, tornou a insistir o naturalista. “Ela é uma águia. E uma águia sempre será uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.”

No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurrou-lhe: “Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe!”.

Mas, quando a águia viu lá embaixo as galinhas ciscando o chão, pulou e foi parar junto delas.

O camponês sorriu e voltou à carga: “Eu havia lhe dito, ela virou galinha!”.

“Não”, respondeu firmemente o naturalista. “Ela é águia e possui sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. A-manhã a farei voar.”

No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a água, leva-ram-na para o alto de uma montanha. O sol es-tava nascendo e dourava os picos das monta-nhas.

O naturalista ergueu a águia para o alto e orde-nou-lhe: “Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe!”.

A águia olhou ao redor. Tremia, como se expe-rimentasse nova vida. Mas não voou. Então, o naturalista segurou-a firmemente, bem na dire-ção do sol, de sorte que seus olhos pudessem se encher de claridade e ganhar as dimensões do vasto horizonte.

Foi quando ela abriu suas potentes asas. Er-gueu-se, soberana, sobre si mesma. E come-çou a voar, a voar para o alto e a voar cada vez mais para o alto. Voou. E nunca mais retornou.

Povos da África (e do Brasil)! Nós fomos cria-dos à imagem e semelhança de Deus. Mas houve pessoas que nos fizeram pensar como galinhas. E nós ainda pensamos que somos efetivamente galinhas. Mas nós somos águias.

Por isso, irmãos e irmãs, abram as asas e vo-em. Voem como as águias. Jamais se conten-tem com os grãos que lhes jogarem aos pés para ciscar.

Leonardo Boff

Outubro 2020 Gazeta Valeparaibana Página 2

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

A Gazeta Valeparaibana é um jornal mensal gratuito distribuído mensalmente em PDF para leitura e ou download na web

Diretor, Editor e Jornalista responsável Filipe de Sousa - FENAI 1142/09-J

Colaboradores Fixos:

Marcelo Goulart Mariene Hildebrando Filipe de Sousa Genha Auga Loryel Rocha

Colaboradores eventuais:

Leonardo Boff Lucas Kölln José Álvaro de Lima Cardoso George Monbiot George Monbiot Boaventura de Sousa Santos Daniel Mediavilla Ana Paula Ramos

Fontes:

Vortexmag.net

Callendar

vilipêndio

IMPORTANTE

Todas as matérias, reportagens, fotos e demais conteúdos são de inteira responsa-bilidade dos colaboradores que assinam as

matérias, podendo seus conteúdos não corresponderem à opinião deste Jornal.

Colaboraram nesta edição

LINGUA PORTUGUESA

Verbos Um dos requisitos mais importantes para falar um bom português é saber conjugar verbos de forma correta, mas aqueles mais difíceis. A Lín-gua Portuguesa pode ser mesmo muito traiçoei-ra e os verbos são uma das suas partes mais complicadas de usar e perceber. Existem vários verbos difíceis de conjugar em português, quer por serem irregulares, quer por serem pouco utilizados, quer por apresentarem uma sonoridade considerada estranha. É importante conhecer esses verbos e entender que existem algumas regras que facilitam a sua conjugação. Estes são alguns dos verbos mais difíceis de conjugar da Língua Portuguesa.

VERBO: Pôr Na minha infância eu punha açúcar no pão. Eu nunca pus açúcar no pão. Eu já pusera açúcar no pão antes de você che-gar. O verbo pôr é um verbo irregular que apre-senta diversas alterações no seu radical: ele põe, ele punha, que ele ponha, quando ele pu-ser,… Como a conjugação do verbo pôr é muito difícil, frequentemente é substituído por sinóni-mos mais simples, como colocar ou botar. É, contudo, importante conhecer a conjugação desse verbo uma vez que influencia a conjuga-ção dos verbos derivados de pôr, como dispor, repor, compor, depor,… Eles põem Eles dispõem Eles repõem Eles compõem Eles depõem Eu punha Eu dispunha Eu repunha Eu compunha Eu depunha

Quando ele puser Quando ele dispuser Quando ele repuser Quando ele compuser Quando ele depuser

O Dia Internacional da Mulher Rural é celebrado anualmente a 15 de outubro. Pretende-se, nes-ta data, sublinhar a importância que a mulher tem na comunidade em que se encontra inserida, o seu papel essencial quer na atividade agrícola, no sustento familiar ou na gestão dos recursos naturais. Enfrentando barreiras estruturais ou de discriminação social e pobreza, no acesso à educação e aos cuidados de saúde, a mulher rural representa um exemplo de vida e resistência na adversi-dade

O Dia Internacional da Mulher Rural foi proclamado através da Resolução 62/136 adotada na Assembleia Geral das Nações Unidas de 18 de dezembro de 2007.

15-Dia Internacional da Mulher Rural

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Outubro 2020 Gazeta Valeparaibana Página 3

Outubro! Dia de comemorar os professores

Temos um dia mundial dos professores. Temos também um dia nacional. Os dois comemorados no mês de outubro. Um dia para homenagear todos que se dedicam a educação, todos que trabalham com ela, todos que contribuem para o ensino. Ser professor normalmente não é uma tarefa fácil, em tempos de pandemia então, a situação ficou mais complicada ainda. O professor teve que se reinventar para se adequar a essa nova situação. Quem não dominava a tecnologia e o ensino à dis-tância teve que aprender rapidinho. O tra-balho triplicou.

As exigências que já não eram poucas au-mentaram. Todos tiveram que se qualificar mais em termos tecnológicos e aprendiza-do EAD. Tudo isso em um espaço muito curto de tempo, o que acabou gerando muita ansiedade em muitos profissionais. A profissão docente por si só já gera um estado de tensão, pois os desafios são contínuos, o objetivo é educar o aluno pa-ra a vida, para a sociedade, para se tornar um cidadão consciente de seus direitos e deveres. O professor deve fazer com que o conhecimento se transforme em uma aprendizagem que tenha algum significa-do para o aluno. O aluno aprende e o pro-fessor precisa estar aprendendo sempre também.

Necessitamos inovar e fazer da sala de aula um lugar onde a gente possa propor-cionar ao aluno uma experiência boa. On-de aprender seja prazeroso. Tudo é feito e planejado sempre pensando no aluno, tu-do converge para a aprendizagem do alu-no. A ideia aqui é tornar o aluno protago-nista de sua própria história, participante ativo do processo de aprendizagem. De-vemos levar em conta que o professor não está sozinho, não trabalha sozinho. O su-porte da escola em todos os seus aspec-tos é importante para que seu trabalho possa ser realizado com competência, pa-ra chegar até o aluno ajudando-o a se tor-nar um ser social, que interage, toma deci-sões, opina e participa ativamente da vida em sociedade. O processo de ensino-aprendizagem está sempre ocorrendo e envolve o aluno como um todo, desenvol-vendo competências e habilidades. Um

esforço conjunto deve ser feito para que todos os envolvidos na tarefa de educar trabalhem em sintonia para atingir os obje-tivos da educação, que são formar cida-dãos críticos e reflexivos, formar para a vida em sociedade, para si mesmo e para exercer plenamente a cidadania.

Para que isso aconteça é necessário sa-ber ensinar, não apenas ter o conheci-mento, e uma das maneiras de fazer isso, é a constante qualificação do docente, é a formação continuada, é investir no desen-volvimento desse profissional. Ser profes-sor requer energia, envolve relações inter-pessoais, afetos, sentimentos e preocupa-ção. Ensinar possui uma proporção que vai além do individual, e se agrega a esse processo todas as práticas em sala de au-la e fora dela, as intervenções, tudo que envolve o processo de ensino aprendiza-gem, as experiências proporcionam o de-senvolvimento do professor. Os saberes adquiridos no curso de sua vida e de sua profissão, tudo isso junto com o compro-metimento a dedicação e o cuidado com os alunos, tendo em mente que ensinar vai além do conteúdo de cada disciplina, e que dessa prática e dedicação surgirão cidadãos críticos e conscientes.

Os desafios são muito grandes e requer constante atualização do docente. As mu-danças do mundo contemporâneo aconte-cem de maneira muito rápida, exigindo que novas competências sejam desenvol-vidas para que se possa conceber um en-sino de qualidade, e isso está na habilida-de que possui o indivíduo de saber gerir conhecimentos e saberes, tomar atitudes e decidir quando necessário, levando em consideração a conjuntura presente.

Por esses e por tantos outros desafios, como por exemplo, a falta de reconheci-mento desses profissionais, os baixos sa-lários, aulas superlotadas, condições de trabalho por vezes desencorajadoras, des-respeito pela classe docente, comemorar essa data é importante, pois chama a a-tenção para essas questões, colocando em evidência o fato de que a classe do-cente precisa lutar muito ainda para ter o reconhecimento que merece. A data nos inspira a pensar na importância do profes-sor em nossas vidas e para a sociedade como um todo.

Mariene Hildebrando Professora

ALGUMAS DATAS COMEMORATIVAS

01-Dia Internacional da Música 01-Dia Nacional do Idoso 02-Dia Mundial do Sorriso 05-Dia Mundial dos Professores 07-Dia do Compositor Brasileiro 11-Dia Nacional de Prevenção da Obesidade 12-Dia das Crianças 12-Nossa Senhora Aparecida 15-Dia Internacional da Mulher Rural 15-Dia do Educador Ambiental 16-Dia Mundial do Pão 17-Dia Internacional da Erradicação da Pobreza 17-Dia da Música Popular Brasileira 17-Dia Nacional da Vacinação 20-Dia do Poeta 20-Dia Mundial da Estatística 21-Dia Nacional da Alimentação na Escola 23-Dia da Força Aérea Brasileira 24-Dia das Nações Unidas 24-Dia Mundial do Desenvolvimento da Informação 24-Dia Mundial de Combate à Poliomelite 28-Dia do Servidor Público 29-Dia Nacional do Livro 31-Dia do Saci 31-Dia Nacional da Poesia

Veja todas as datas comemorativas do mês na nossa BIBLIOTECA!

Disponível no site www.gazetavaleparaibana.com

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

Eu sou a terra, eu sou a vida. Do meu barro primei-ro veio o homem. De mim veio a mulher e veio o amor. Veio a árvore, veio a fonte. Vem o fruto e

vem a flor.

Cora Coralina

Enfeitei de folhas verdes a pedra de meu túmulo num simbolismo de vida vegetal

Cora Coralina

Morta… serei árvore, serei tronco, serei fronde e minhas raízes enlaçadas às pedras de meu berço

são as cordas que brotam de uma lira.

Cora Coralina

Bem por isso mesmo diz o caboclo: a alegria vem das tripas — barriga cheia, coração alegre. O que é

pura verdade.

Cora Coralina

Eu sou aquela mulher a quem o tempo muito ensi-nou. Ensinou a amar a vida e não desistir da luta, recomeçar na derrota, renunciar a palavras e pen-

samentos negativos.

Cora Coralina

Procuro suportar todos os dias minha própria per-sonalidade renovada, despencando dentro de mim

tudo que é velho e morto.

Cora Coralina

O Dia Mundial do Professor homenageia to-

dos os que contribuem para o ensino e para a educação da sociedade. Este dia promove todos aqueles que escolheram o ensino como forma de vida e que dedicam o seu dia-a-dia a ensinar, crianças, jovens e adultos. A mensagem do Dia Mundial do Profes-sor está na dignidade e na importância do professor na sociedade, como construtor de pesso-as. Este dia do professor, um profissional que é na prática um pilar da sociedade, é um pouco ofuscado em Portugal pela comemoração da Implantação da República, na mesma data. Origem da Data A data foi criada pela UNESCO em 1994 com o objetivo de chamar atenção para o papel fun-damental dos professores na sociedade e na instrução da população. No Brasil, este dia cele-bra-se dez dias mais tarde, a 15 de outubro.

05-Dia Mundial dos Professores

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Outubro 2020 Gazeta Valeparaibana Página 4

Como nosso petróleo atiçou a cobiça dos EUA

Pré-sal poderia abrir grande ciclo de mudanças sociais e criar, na América do Sul, contraponto ao poder de Washington. Era preciso destroçar a aventura — por meio da Lava Jato, do golpe de 2016 e do ultraliberalismo de Bolsonaro-Guedes

"Em matéria de petróleo, tudo o que a nossa imaginação sugerir é pouco em face do que po-de acontecer" (Getúlio Vargas, senador, ao de-fender o monopólio estatal de petróleo no Brasil em 1947)

O The Intercept Brasil publicou, no dia 1º de ju-lho, novos diálogos que revelam a relação ínti-ma entre a Polícia Federal brasileira e o FBI, durante as investigações da operação Lava Ja-to. Fica muito evidente que a operação funcio-nou através de uma cooperação muito estreita com as autoridades americanas, completamente à revelia da lei. A conspiração foi dirigida contra a maior empresa da América Latina, importante motor da economia nacional, que recém tinha anunciado a maior descoberta de petróleo do milênio. Mas durante o desenrolar da operação, os EUA aproveitaram para liquidar as grandes empresas brasileiras, que concorrem (concorriam) diretamente com as empresas es-tadunidenses. A Odebrecht, por exemplo, teve prejuízos que superaram os R$ 6 bilhões. O se-tor de processamento de carnes teve também uma operação específica, Carne Fraca, impondo prejuízos bilionários às empresas do setor, o que, no caso da JBS, representou um prejuízo na casa dos bilhões.

Na realidade, Sérgio Moro foi o "chefe de fato" da operação, como ficou evidente pelos vaza-mentos trazidos nas reportagens da Vaza Jato em 2019. Desde o seu início, em março de 2014, já haviam indícios de que a operação La-va Jato tinha sido arquitetada fora do Brasil, possivelmente no Departamento de Estado nor-te-americano. A Lava Jato foi o grande instru-mento do golpe arquitetado pelo imperialismo que, aliás, teve dimensão latino-americana, pois um conjunto de países na América Latina sofre-ram golpes de estado, com adaptações, claro, às realidades nacionais. Os golpes fazem parte de uma estratégia dos EUA para a região, visan-do a recuperação de um terreno político e eco-nômico perdido, principalmente na primeira dé-cada dos anos 2000.

Em 2014, já era evidente que o golpe se armava pela via da Petrobrás. Mas não era fácil tentar denunciar que a Lava Jato era basicamente uma

armação para desmontar a Petrobrás e tomar as riquezas reveladas pela descoberta da maior jazida de petróleo do milênio, o pré-sal. A força da operação Lava Jato, e o enraizamento da-quelas ideias no meio da população, dissemina-da pela grande mídia em peso, já deixava evi-dente que havia alguém muito poderoso por trás do "Mussolini de Maringá" e seu grupo: era sim-plesmente a maior força da terra, o imperialismo norte-americano.

Por que a Petrobrás foi o alvo central da opera-ção? Basicamente porque:

1-Se trata de petróleo: produto fundamental e maior causador de todos os conflitos bélicos nos últimos 100 ou 150 anos e sem substituto no curto prazo como fonte de energia e matéria-prima da indústria;

2-A Petrobrás não é uma empresa e sim uma nação amiga: é a maior companhia da América Latina, produzia em 2013, 2,6 milhões de barris de petróleo diários, tinha uma força de trabalho de mais de 100 mil trabalhadores, operava em 25 países, tinha um lucro de R$ 23,6 bilhões e era a 13ª maior companhia de petróleo do mun-do no ranking da revista Forbes. Era uma em-presa (ainda é, não conseguiram destruí-la) mai-or do que a economia de muitos países. Como já falou alguém: "a Petrobrás é uma outra na-ção. Felizmente é uma nação amiga".

Em função da descoberta do pré-sal em 2006, o governo Lula sancionou em 2010, a lei de Parti-lha, que visava uma retenção maior da renda petroleira por parte da nação brasileira. Por isso foi tão combatida pelas multinacionais do petró-leo e seus aliados dentro do país. Pelo sistema de concessão, que defendem os que tentam derrubar a Lei de Partilha, as multinacionais fi-cam com 67% do valor do petróleo extraído, em óleo, e deixam no Brasil 10% do valor dele em royalties, pagos em dinheiro, além dos impostos. No sistema de Partilha as multinacionais do pe-tróleo têm que dividir com o Brasil o petróleo re-tirado, além da Petrobrás ter a exclusividade na operação, o que evita roubos do petróleo retira-do.

Se o Brasil não fosse um país subdesenvolvido e dependente, a extração de todo o petróleo brasileiro teria que ser um monopólio do Brasil, um monopólio da Petrobrás, a exploração não teria que ser aberta às multinacionais. Todo o subsolo deveria ter esse tipo de política. Mas as multinacionais não "suportaram" nem mesmo a moderada lei de Partilha.

Para termos uma ideia, para exploração do poço de Libra, leiloado em 2013, foi montado um con-sórcio com uma participação societária de 40% da Petrobrás. Segundo os especialistas no setor (especialmente a AEPET), se a Petrobrás não tivesse participação nesse consórcio, o Estado brasileiro arrecadaria R$ 246 bilhões a menos e as áreas de Educação e Saúde perderiam R$ 50 bilhões em royalties, conforme previa a Lei. A-lém disso, se a Petrobrás fosse contratada dire-tamente, tendo 100% de participação em Libra ao invés de abrir para leilão, o Estado brasileiro

arrecadaria R$ 175 bilhões a mais.

O que explica um país, que tem uma "nação a-miga" como a Petrobrás, que é a maior especia-lista em exploração em águas profundas e ultra-profundas do mundo, abrir negócios para em-presas estrangeiras, em uma área na qual o pa-ís gastou bilhões de dólares (de dinheiro públi-co) para explorar e mapear? O fato de ser um país subdesenvolvido, ter forças armadas fra-cas, e ser subserviente aos interesses imperia-listas. Além de ter, é claro, uma burguesia extre-mamente entreguista e inimiga do povo.

A estratégia dos EUA para a América Latina é impedir o surgimento de potências regionais, especialmente em áreas com abundância de recursos naturais, como é o caso do Brasil. O modelo dos norte-americano proposto para a região é o de países com Forças Armadas limi-tadas, incapazes de defender suas riquezas na-turais, especialmente o petróleo. Só se conse-gue entender o caso da Venezuela, se compre-ender-se a estratégia do império estadunidense para a região. Eles não suportam a Venezuela, porque há mais de dez anos, este país reapare-lhou suas forças armadas e armou a população para aguentar uma invasão dos norte-americanos, se precisar.

A partir do anúncio do pré-sal pelo Brasil, em 2006, os EUA reativaram a 4ª Frota Naval, dedi-cada a policiar o Atlântico Sul e rejeitaram a re-solução da ONU que garantia o direito brasileiro às 200 milhas continentais. A proposta dos ame-ricanos, e dos entreguistas, sempre foi tirar a Petrobrás do caminho e possibilitar às multina-cionais do petróleo a apropriação dos bilionários recursos existentes no pré-sal que podem che-gar a 300 bilhões de barris de petróleo. Quando a Petrobrás anunciou o pré-sal, os críticos, bafe-jados pelas multinacionais do petróleo, diziam que o petróleo naquelas profundidades não teria viabilidade comercial. Chegaria tão caro na su-perfície, em função do custo de petróleo, que não teria viabilidade comercial. Hoje os custos de extração do barril do petróleo, do pré-sal, es-tá a US$ 5, praticamente o custo da Arábia Sau-dita que retira petróleo praticamente à flor da terra.

Os vazamentos seletivos da Lava Jato, sempre contra símbolos populares e tudo que significas-se promoção do Brasil, somado a um trabalho da grande mídia, despertaram uma reação histé-rica da classe média, que já sido verificada em outros momentos, como no golpe que levou ao suicídio de Getúlio Vargas, em 1954. Tal reação, de caráter extremamente preconceituoso e into-lerante, desferida contra tudo que pudesse su-gerir a soberania do Brasil, foi mais uma de-monstração, sem maquiagem, do caráter entre-guista da Lava Jato. Mais cedo do que alguns possam imaginar, um dia ficará claro para a mai-oria da população que a Lava Jato não passou de uma estratégia do império para desmontar a Petrobrás e tomar os imensos recursos do pré-sal, como já está fazendo.

José Álvaro de Lima Cardoso

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

O dia 1º de outubro foi instituído como o Dia Internacional da Música, em 1975, pelo International Music Council, organização não gover-namental fundada com o apoio da UNESCO em 1948, com o objetivo de levar a música a todos os setores da sociedade e promover os valores de paz e a amizade por seu intermédio

DIA INTERNACIONAL DA MÚSICA

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Outubro 2020 Gazeta Valeparaibana Página 5

O racismo, outra vez

Tal como acontece com os incêndios, dos quais só se fala quando se vê o fumo a cobrir o céu e gente desespe-rada com baldes de água na mão, o racismo só existe

quando há uma notícia para chocar e uma polémica para alimentar. Só havendo sangue e gritaria é que um assunto passa a ser de relevância nacional.

Mas se é assim que tem de ser, pelo menos que se utilizem estes mo-mentos para trazer à tona alguns fatos, momentos e acontecimentos dos quais todos nós temos conhecimento mas que, por um motivo ou outro, decidimos ignorar.

Trabalho na Urgência de um hospital público onde é rara a semana onde não se ouve um comentário do género "mas eu vim a um hospital para ser atendida por um médico preto?" ou outras belas coisas parecidas. Por vezes, são apontamentos mais dissimulados, por vezes mais desca-rados como o exemplo que dei. Por vezes basta um levantar de uma so-brancelha aquando da abertura do gabinete do médico. Os colegas de cor, de qualquer profissão que sejam, já habituados a essa reação, não fazem disso caso. Têm mais do que fazer e já é tão habitual que perde significado. E essa é a consequência mais grave: a normalização da si-tuação.

Chega a ser tão normal que um canal de televisão mete, de forma diferi-da e, portanto, sem o azar do direto, uma testemunha do assassinato do Bruno Candé a dizer algo como "ele apesar da cor que tinha, não fazia mal a ninguém". Quando ouvi isto, ia-me caindo na goela o pedaço de bife que degustava. Gente a dizer barbaridades é uma coisa, mas um canal transmiti-lo conscientemente é aberrante.

Vamos a outro exemplo. Há uns tempos andei à procura de casa para alugar. Vi cinco casas no total. Uma das conclusões a que cheguei é que arranjar casa com um tom de pele diferente do santo-imaculado-intocável branco é tarefa hercúlea. Das cinco casas, em duas disseram-me abertamente que não alugavam a "pretos e brasileiros" e outra que não estava disponível para "gente estranha". Ora, portanto, no que toca ao acesso à habitação, algo que - digamos - é essencial para se poder viver, a experiência não é igual. A montanha que se tem de subir é mai-or. A dificuldade não é só o preço da mesma, é conseguir passar a ima-gem de seriedade que um branco, em princípio, não terá de passar.

Isto é racismo, do mais duro, incompreensível, primitivo e abjecto que se pode imaginar. E não é só na extrema-direita dos Venturas ou nas cai-xas de comentários dos sites da bola. Não, é um racismo no dia-a-dia, na vivência normal do quotidiano. É um racismo em coisas tão básicas como o respeito pela profissão de alguém ou na obtenção de uma casa para se viver.

Se nos EUA, onde o racismo também existe pois claro, há uns anos tive-ram um presidente negro, em Portugal todos sabemos que isso está a muitos anos de distância. Os motivos são vários e não cabem nesta pe-quena dissertação, mas vão desde o acesso à habitação, passam pelo acesso à educação e culminam na visão que a sociedade tem dessas pessoas. E aí há países que são uma lição para Portugal. Porque mes-mo um médico, com o seu curso tirado na Faculdade de Medicina de Lisboa (e não numa garagem qualquer), não é visto com os mesmos o-lhos, mesmo quando - e aqui entre nós - é bem mais competente e sério que o colega ao lado, branquinho como a cal.

O racismo existe. E está na hora de se falar dele todos os dias, em to-dos estes momentos. Está na hora destas reações começarem a fazer-se acompanhar de uma outra reação. E essa reação não pode ser só da vitima mas de todos nós. De todos nós que nunca ouviram "volta para a tua terra!". Há medo de o fazer, porque em Portugal há medo de quase tudo.

Se continuarmos a ficar calados e falarmos apenas quando há um crime hediondo para discutir na televisão, então seremos tão culpados como os que olham para seres humanos e os qualificam consoante a melanina na sua epiderme.

vilipêndio

Informar para educar - Educar para formar - Formar para trans-

Crise hídrica Colapso de abastecimento de água no Brasil é questão de tem-po, diz especialista

Segundo engenheiro sanitarista e professor da UERJ, Adacto Otto-ni, a crise de abastecimento de água no país é inevitável com a contínua degradação das bacias

hidrográficas brasileiras.

O Instituto Trata Brasil, especializado em estudos de saneamento e pro-teção ambiental divulgou uma pesquisa, revelando que o aquecimento global, o crescimento do país e o desperdício de recursos naturais pode-rão provocar um aumento da demanda por água potável no Brasil, até 2040, em 80%.

O especialista classificou a pesquisa como "preocupante", em função dos fatores opostos relatados pelo estudo.

"Ao mesmo tempo que a demanda por água está aumentando no Bra-sil, e vai aumentar ainda mais até 2040, podendo chegar em até 80% do valor atual, do outro lado os mananciais de água que vão sustentar esse abastecimento de água estão, de forma oposta, sendo cada vez mais de-gradados", alertou o engenheiro sanitarista.

O professor da UERJ apontou para o aumento do desmatamento e da poluição dos rios em todo país, o que coloca em risco o acesso à água. Para Adacto Ottoni, falta às autoridades uma visão estratégica do tema e por isso o governo somente se mobiliza para "apagar o incêndio", em vez de pensar na prevenção.

"Temos que nós preocupar seriamente com essas informações que o Instituto Trata Brasil já está projetando para que a gente possa ter políti-cas públicas adequadas no sentido de garantir a sustentabilidade no a-bastecimento de água no Brasil", disse Ottoni à Sputnik Brasil.

O engenheiro considera a degradação das bacias hidrográficas brasilei-ras um dos principais problemas relacionados ao futuro do abastecimento de água no país. Segundo ele, o estudo do Instituto Trata Brasil abordou o tema de forma indireta, ao apontar o desmatamento e o desmatamento como vilões.

Bacias Hidrográficas são áreas ou regiões de drenagem de um rio princi-pal e seus afluentes. Também pode-se dizer é um território, no qual as águas das chuvas, das montanhas, subterrâneas ou de outros rios esco-am em direção a um determinado curso d'água.

"Crise hídrica não é só falta de água. Crise hídrica é também excesso de água, como aconteceu agora no Rio de Janeiro, em janeiro deste ano, com o problema da geosmina. Tinha água sobrando e a CEDAE não con-seguia tratar a poluição. É o que está acontecendo hoje em dia. Durante o período chuvoso você coloca em risco o abastecimento porque a água fica mais suja em função da poluição da bacia hidrográfica que a chuva leva. E quando não há mais a floresta, porque a floresta segura 80% da chuva e filtra, quando chega o período de estiagem há o risco de não ter água, como aconteceu no sistema de Cantareira [em São Paulo], com 70% da bacia hidrográfica desmatada", explicou Ottoni.

Para o interlocutor da Sputnik Brasil, o colapso do sistema de abasteci-mento de água "é uma questão de tempo". Segundo ele, a sociedade, como um todo, precisa encarar o problema com ações concretas para evitar uma verdadeira crise ambiental, como a fiscalização do desmata-mento e da poluição e reutilização do esgoto.

"O grande problema do nosso país é a falta de sustentabilidade nas políti-cas públicas. Você pensar no crescimento do país sem pensar na infraes-trutura para suportar esse crescimento é a mesma coisa que dar um tiro no pé", concluiu.

Da redação

O Dia do Compositor Brasileiro é celebrado anualmente em 7 de outubro. Os compositores são as pessoas que criam músicas, seja a le-tra ou a sua melodia. Esta data é uma home-nagem aos artistas brasileiros que se imortali-

zaram como mestres da composição musical.

07-Dia do Compositor Brasileiro

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Outubro 2020 Gazeta Valeparaibana Página 6

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

A uberização das

Reticências

Elas desempregam pontos finais e vírgulas — e

se tornaram prestadoras de serviços genéricos.

Acoplam ideias não-formadas. Revelam a afli-

ção do não-concluir da Geração dos Reticentes.

Nem a linguagem escapa da rapina de nosso

tempo…

Não quero parecer um pedante de monóculo e

polainas nem ser uma versão moralista do Pro-

fessor Pasquale, mas tenho de dizer: o mundo

digital favoreceu certas aberrações de lingua-

gem entre nós.

Se eu fosse uma vogal, o uso abusivo de “vc”,

“tbm” e “blz” me incomodaria, e eu talvez até

denunciasse essa prática discriminatória que

coloca tantas boas letras sob a ameaça do de-

semprego, mas não é esse o caso. Se fosse pa-

ra ter alguma implicância com isto seria por cau-

sa da ineficiência: quem é que já ouviu alguém

dizer que conseguiu terminar aquela série da

Netflix porque deixou de usar vogais nas conver-

sas de WhatsApp? Pois é, ninguém; e apesar

disto, a economia de vogais continua. Os recur-

sos linguísticos que se deixa de gastar ali são

esbanjados num outro sinal gráfico, as reticên-

cias.

As reticências se tornaram o pau-pra-toda-obra

do universo da escrita, e têm sido prostituídas

por irresponsáveis que as tomam por pontos fi-

nais, vírgulas, ponto-e-vírgulas, travessão etc.

Ao final de uma frase: reticências. Em fim de

parágrafo: reticências. Entre duas orações no

interior de uma frase maior: reticências. Quando

termina uma frase mas se quer ainda acoplar

mais um pensamentozinho a ela, adivinha? Exa-

to, reticências de novo. O resultado é um texto

todo pontilhado… cheio de pausas desnecessá-

rias… parecendo até um exercício de

“Complete”… Como se a pessoa volta e meia

resolvesse alternar do português para o código

Morse só de farra… Um horror…

Pobre das reticências, que foram uberizadas,

tornadas prestadores de serviço genéricos cujo

emprego constante é mera ilusão de estabilida-

de. Algumas chegaram a acalentar o sonho de

trabalhar dentro de sua vocação, para expressar

aquela vagueza própria de fim de pensamento,

mas acabam por ter de transigir estoicamente

com sua condição de faz-tudo, de leva-e-traz da

linguagem. Existem até algumas reticências que

se conformam, abrem uma pessoa jurídica e a-

ceitam o jogo oportunista, dizendo que as que

se lamentam são, na verdade, preguiçosas.

Tentar convencer-se de que nasceram para isto,

no entanto, não é muito mais do que tentar fazer

de uma necessidade uma virtude.

Pobres também dos demais trabalhadores da

pontuação gráfica, que são cruelmente descar-

tados porque trabalhadores de ofício, donos de

uma destreza quase artesanal que os torna i-

naptos ao quebra-galhismo profissional requeri-

do pelo mercado desregulamentado. O pobre

ponto-e-vírgula, coitado, caiu num ostracismo

vil: é hoje mais usado como atalho para o emoji

piscando o olho do que como aquela pontuação

fidalga de outrora, que o Saramago adorava u-

sar para evitar novos parágrafos.

A rapina do nosso tempo é amplamente destruti-

va, e a linguagem não escapa dela, ainda mais

no caso das reticências, que têm um passado

glorioso.

Na literatura dos Setecentos, por exemplo, era

comum servirem como máscara que escondia a

identidade de conspiradores e conquistadores.

Eram empregadas para falar de um Conde … ou

Duque …, que sob a luz do luar saltavam jane-

las com galhardia, prontos a cair nos braços da

amante proibida. As reticências compunham o

suspense, pondo os leitores a tentar adivinhar

quem estava atrás de seu misterioso biombo.

Na época dos Românticos, então, que pompa!

Havia mergulhos contemplativos em todas as

direções e também donzelas enrubescidas le-

vando a mão ao seio e suspirando “ohs”. Adivi-

nhem quem auxiliava aqui e lá? As últimas fra-

ses do jovem Werther, aliás, estão pontilhadas

com reticências. Eis as palavras finais de seu

diário: “Elas estão carregadas… bateu meia-

noite! Assim seja, então!… Carlota, Carlota! A-

deus, adeus!” Quantas emoções equilibradas

sobre aqueles três pontos…

E o que seria dos textos teatrais sem as reticên-

cias? Perderiam as pausas dramáticas e empi-

lhariam onomatopeias de modo deselegante,

com certeza. Imagine se não houvesse reticên-

cias nas palavras de Tartufo a Elmire, quando

ele deixa ver que só foi desmascarado porque

seu amor verdadeiro por ela pusera tudo a per-

der? As reticências ali constituem a expressão

dos terremotos que ocorriam no espírito daquele

falsário cuja devoção amorosa era genuína.

Hoje, pelo contrário, se não estão sendo usadas

de modo indevido, como vimos antes, as reti-

cências estão sendo empregada em funções

pedestres ou mesmo inglórias.

Muitas delas acabam engaioladas entre parênte-

ses nalguma citação acadêmica, de modo utilitá-

rio, cumprindo a função de tão somente encurtar

textos de segunda mão. São como que gandu-

las do time reserva, um triste arremedo.

Outras são usadas para substituir listas preten-

samente longas naqueles mesmos textos digi-

tais. Exemplo: um sujeito escreve uma declara-

ção para a aniversariante. “Podia colocar muitas

das suas qualidades aqui: linda, legal, parcei-

ra…” Um olhar atento revela que as reticências

ali não escondem uma exuberante lista de adje-

tivos, mas são somente uma cortina de fumaça

para a falta deles. O mesmo ocorre com os que

dizem que “poderiam ficar horas dizendo o

quanto te amo” ou “escrever páginas e páginas

explicando o quanto você é importante”: as reti-

cências ali são um logro.

Uma última função atual das reticências é sinto-

mática de sua precarização: o uso como uma

espécie de cunha de porta do diálogo. Os men-

sageiros virtuais não têm a mesma capacidade

que as conversas pessoais de manter diálogos

simultâneos. O que pessoalmente funciona bem

pode virar uma confusão numa conversa do Te-

legram, e é por isto que é comum usar as reti-

cências ao fim de uma frase ligeiramente mais

longa para indicar que aquela linha de raciocínio

ainda não foi concluída, e vem mais texto em

seguida. O “digitando…” do WhatsApp ou as

reticências saltantes do Messenger servem para

isto, mas não dão conta do problema: é preciso

pôr o sinal gráfico lá para garantir que aquele

diálogo vai ficar aberto. Ou seja, as reticências

foram de cúmplice de paixões, de portadoras de

suspiros poéticos a peso de porta! Que ultraje!

Nesse sentido, até, as reticências podem ser

tomadas como uma espécie de termômetro da

ansiedade contemporânea. Quando alguém in-

siste em tascar uma a cada frase ou ao fim de

afirmações curtas numa conversa virtual, as reti-

cências constituem um indício de impaciência,

da necessidade de preencher o silêncio do pen-

samento, rastro de aflição quanto ao não conclu-

ir.

Ao longo desse processo, não se salvou nem o

adjetivo “reticente”. Uma pessoa reticente dei-

xou de ter o ar misterioso de alguém reservado,

tornou-se um sujeito ansioso, simplório e que

escreve mal. Não nos enganemos, a banaliza-

ção do trabalho e da linguagem é uma banaliza-

ção de nós mesmos.

Lucas Kölln

o Dia do Educador Ambiental. Profissão essa que é de extrema importância para a relação da sociedade com a natureza, criando um ambiente harmonioso e sustentável. Educação Ambiental é uma novidade da educação, já praticada em alguns países. Foi proposta em 1999 no Brasil e tem o objetivo de disseminar o conhecimento sobre o ambiente. Sua principal função é conscientizar à preservação do meio ambiente e a utilização de forma sustentável dos recursos naturais. Foi prevista por lei em 27 de abril de 1999, afirmando que “(...) é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal.” (Lei N° 9.795). A Educação Ambiental envolve ciência, ética, compromisso e atitudes e, acima de tudo, a transmissão de informações, conceitos e técni-cas necessárias que levem à reflexão e à compreensão da realidade para conscientizar sobre uma mudança correta de atitudes.

15-Dia do Educador Ambiental

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Outubro 2020 Gazeta Valeparaibana Página 7

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

Furtado e Florestan nos de-volvem a sanidade e o futuro

Curioso que estes dois homens, Celso e Flores-tan, um nordestino nascido no sertão paraibano e outro paulistano filho de lavadeira pobre e ór-fão de pai aos 7 anos, tenham nascido no mes-mo mês e ano, julho de 1920, e em sua trajetó-ria influenciado gerações de brasileiros. Deixa-ram uma obra sofisticada e variada que perma-nece atualíssima

Como se fosse uma sombria maldição já assimi-lada, o país encaminha-se para alcançar nos próximos dias a fantástica marca de 100 mil mortos pela Covid-19, mais do que a bomba atô-mica matou em Hiroshima. Com a mesma apa-rente indiferença de normalidade, assistimos a Bolsonaro manter sua rotina de tergiversações e mentiras, andar de moto e exibir para as emas palacianas o frasco de seu elixir milagroso. En-quanto o público se distrai, seu governo acelera a meta de destruir instituições e políticas públi-cas nas áreas de saúde, educação e cultura, construídas com muita luta, dedicação e traba-lho desde o fim da ditadura.

Nesta interminável viagem através de uma qua-rentena cada dia mais tensa a que estamos sub-metidos, só mesmo parando tudo para buscar energia e sanidade nas comemorações do cen-tenário de dois cidadãos brasileiros exemplares. O economista Celso Furtado e o sociólogo Flo-restan Fernandes, dois pensadores magistrais, pioneiros no estudo das desigualdades, do ra-cismo, e dos motivos do atraso da sociedade brasileira. Formuladores de um pensamento crí-tico voltado para dar sustentação às lutas soci-ais dos explorados, ao mesmo tempo em que projeta no futuro um país com democracia políti-ca e social.

Difícil chegar lá. Há sempre um golpe no meio

do caminho. Vindos da universidade pública, ambos veem a educação como o caminho deci-sivo para alcançar o desenvolvimento. Dois mestres que ensinaram com paixão e sabiam transmitir conhecimento. Viveram suas vidas e exerceram seus papéis sociais com coragem, desafiando os poderosos. Na linguagem futebo-lística, dois meio-campistas, ambos canhotos, destes que levam a bola de uma intermediária à outra, distribuem o jogo, desarmam o adversário e preparam a finalização.

Curioso que estes dois homens, Celso e Flores-tan, um nordestino nascido no sertão paraibano e outro paulistano filho de lavadeira pobre e ór-fão de pai aos 7 anos, tenham nascido no mes-mo mês e ano, julho de 1920, e em sua trajetó-ria influenciado gerações de brasileiros. Deixa-ram uma obra sofisticada e variada que perma-nece atualíssima. Neste momento em que a pandemia escancara a crise e o fracasso do ne-oliberalismo, suas ideias reforçam a importância da presença do Estado na economia. É funda-mental para o nosso futuro que sejam apresen-tados aos jovens pelos professores, que seus livros sejam debatidos nas escolas e universida-des.

Florestan e Celso deixaram um legado interdis-ciplinar, de natureza política, econômica e cultu-ral, fruto de embates, pesquisas e estudos trans-formados em livros e teses, sempre com um ru-mo e um sentido: a formação de uma consciên-cia crítica sobre os privilégios, o racismo e as desigualdades na sociedade. Constituem refe-rência em estudos sobre o país, traduzidos e discutidos em seminários e universidades no exterior. Aqui onde nasceram, neste governo de olavistas e rachadinhas, silêncio absoluto. Por preconceito ideológico ou ignorância, nada se falou sobre o centenário e a atualidade dos dois mestres e cientistas.

Com essa trajetória subversiva, foram duramen-te atingidos pela violência da ditadura de 1964. Criador da Sudene no governo JK e ministro do Planejamento do deposto presidente João Gou-lart, Celso Furtado teve seu nome incluído logo na primeira lista de cassados, o AI nº 1. Seu ca-minho foi o exílio. Na Universidade de Paris-Sorbonne, fez doutorado em economia. No Chi-le, lecionou e participou da fundação da Cepal, com o argentino Raul Prebish. Furtado via a in-

dustrialização como o principal meio para supe-ração do subdesenvolvimento, ao lado das refor-mas de base e do Estado.

Seu livro Formação econômica do Brasil – edi-ção comemorativa dos 50 anos, da Companhia das Letras, tem apresentação de Rosa Freire d´Aguiar, sua viúva, e reúne resenhas e artigos de economistas e historiadores. Na comemora-ção do centenário, Rosa fez a coletânea Essen-cial Celso Furtado, na Penguin/Companhia, em que destaca quatro linhas de sua obra: o pensa-mento econômico, o político, o eixo cultura/ciência e vários papers sobre formação cultural e responsabilidade de cientistas e economistas. Disponível nas versões papel e e-book, é uma excelente iniciação para quem quer conhecer o pensamento de Celso Furtado.

Para o sociólogo e professor da USP José de Souza Martins, a obra sociológica de Florestan Fernandes cobre um extenso campo da realida-de social brasileira e “constitui um dos mais den-sos retratos do Brasil, decisiva contribuição para formação de uma autoconsciência científica de nossa sociedade”. Pioneiro no estudo das desi-gualdades raciais, seu livro A integração do ne-gro na sociedade de classes, publicado em 1965, já antecipava o que agora está em pauta com o movimento Vidas negras importam: as desigualdades raciais não se resolvem automati-camente. Mudanças sociais e urbanização ace-lerada não fazem desaparecer os problemas mais agudos, ao contrário, eles se tornam mais explosivos e violentos.Suas pesquisas e análi-ses para estudar a consolidação da autocracia burguesa ao longo da formação histórica brasi-leira estão em outro clássico, A revolução bur-guesa no Brasil, de 1975, que acaba de ser lan-çado pela editora Concorrente. Florestan foi ati-vo participante da vida social e política. Um dos fundadores do PT, eleito deputado pelo partido na Constituinte. Como Celso, seu companheiro de viagem nestes 100 anos que não foram de solidão, também foi vítima da violência do Esta-do autoritário. Aposentado compulsoriamente de sua cátedra na USP em 1969, deixou o país e foi levar seus saberes para os alunos das Uni-versidades de Columbia e Yale, como professor visitante.

Álvaro Caldas

A data foi comemorada oficialmente pela primeira vez em 1992, com o objetivo de alertar a população para a necessidade de defender um direito básico do ser humano.

Antes, a 17 de outubro de 1987, Joseph Wresinski, o fundador do Movimento Internacional ATD Quarto Mundo, convidou as pessoas a se reunirem em honra das vítimas da fome e da pobreza em Paris, no local onde tinha sido assinada a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ao seu apelo responderam cem mil pessoas.

A erradicação da pobreza e da fome é um dos oito objetivos de desenvolvimento do milénio, definidos no ano de 2000 por 193 países membros das Nações Unidas e por várias organizações internacionais.

Neste dia se dá voz aos pobres e se unem esforços para acabar com a pobreza.

17-Dia Internacional da Erradicação da Pobreza

Esta data tem o objetivo de chamar a atenção de toda a comunidade sobre a importância de pensar e manter bons hábitos alimentares para as cri-anças, jovens e adultos estudantes.

Uma boa alimentação é fundamental para o desenvolvimento da capacidade cognitiva dos alunos, ajudando no rendimento escolar e proporcionando outras melhorias, como: aumento da qualidade do sono, da capacidade respiratória e a prevenção do aparecimento de doenças cardiovasculares, por exemplo.

Além disso, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 34,8% de crianças entre 5 e 9 anos estão acima do peso.

Também, segundo dados do IBGE a maioria das crianças no Brasil conta somente com esta alimentação durante todo o dia.

21-Dia Nacional da Alimentação na Escola

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Outubro 2020 Gazeta Valeparaibana Página 8

O fim do mundo e o indiscreto racismo das elites

Com ultradireita, emerge tentativa de atribuir co-lapso ambiental à superpopulação e à alta nata-lidade dos não-europeus. Rasteiro, argumento atende a interesse poderoso: defender (e até ampliar) o padrão de consumo infinito dos ricos

TERRA E ANTROPOCENO

Quando um grande estudo, publicado no mês passado, demonstrou que a população do pla-neta chegará ao máximo muito mais rapidamen-te que a maior parte dos cientistas imaginava, e em seguida começar a cair, imaginei, ingênuo, que os habitantes dos países ricos deixariam finalmente de culpar o crescimento populacional por todos os problemas ambientais. Eu me en-ganei. A tendência, na verdade, agravou-se.

Poucos dias depois, o movimento BirthStrike [“Greve de Nascimentos”] – mantido por mulhe-res que, ao anunciar sua decisão de não ter fi-lhos, tenta chamar atenção para o horror do co-lapso ambiental – decidiu dissolver-se, porque sua causa foi capturada de forma virulenta e persistente pelos obsessivos populacionais. As fundadoras explicam que haviam “subestimando o poder da crença na ‘superpopulação’, uma for-ma nova – e crescente – de negacionismo cli-mático” .

É verdade que, em algumas partes do planeta, o crescimento populacional é um grande motor de formas particulares de dano ecológico. São e-xemplos a expansão de agricultura de pequena escala sobre as florestas tropicais, o comércio de carne de caça e as pressões locais, sobre a água e a terra, das populações em busca de ha-bitação. Mas o impacto global é muito menor do que afirmam certos grupos.

A fórmula para calcular a pegada ambiental das populações é simples, mas vastamente desco-nhecida. Impacto = População x Afluência x a-cesso à Tecnologia (I=PAT). A taxa global de crescimento do consumo, antes da pandemia, era de 3% ao ano. O crescimento populacional é de 1% ao ano. Algumas pessoas inferem, por isso, que o crescimento populacional participa com 1/3 da responsabilidade pelo crescimento do consumo. Mas o crescimento populacional está concentrado entre os povos mais pobres do planeta. Na fórmula acima, seus índices para Afluência e acesso à Tecnologia são próximos de zero. O aumento do uso de recursos e das emissões de gases de efeito estufa causados pelo crescimento da população humana é uma fração minúscula do impacto provocado pelo

crescimento do consumo.

No entanto, ele é vastamente usado como uma falsa explicação para a crise ambiental. O pâni-co despertado pelo crescimento populacional permite que os grandes responsáveis pelos im-pactos do crescimento do consumo (os afluen-tes) culpem aqueles que são menos responsá-veis.

No Fórum Econômico Mundial de Davos, este ano, o primatologista Dame Jane Goodall, patro-no do grupo Population Matters (“A População Importa”) disse aos plutocratas reunidos, alguns dos quais com pegadas ecológicas milhares de vezes maiores que a média global: “Tudo isso de que estamos falando não seria um problema, se tivéssemos uma população igual à de 500 anos atrás”. Duvido que qualquer um dos que o saudaram e aplaudiram estivesse pensando: “sim, preciso urgentemente desaparecer”.

Em 2019, Goodall figurou numa publicidade da British Airways, cujos clientes produzem mais emissões de gases do efeito-estufa em um voo que muitas das populações mais pobres geram em um ano. Se tivéssemos a população de 500 anos atrás (cerca de 500 milhões), e se ela fos-se composta de usuários médios de aviões no Reino Unido, o impacto humano sobre o planeta seria provavelmente maior que o dos 7,8 bilhões de habitantes de hoje.

Goodall não propôs nenhum mecanismo para que seu sonho se tornasse real. Talvez esteja aí o segredo. A própria impotência de seu apelo é reconfortante para aqueles que não desejam mudanças. Se a resposta à crise ambiental é desejar que outras pessoas não existam, talvez valesse mais a pena simplesmente desistir e continuar consumindo.

A ênfase no crescimento populacional tem uma história sinistra. Desde que os religiosos Joseph Townsend e Thomas Malthus escreveram seus tratados no século XVIII, a pobreza e a fome têm sido atribuídas não aos salários de fome, às guerras, aos maus governos e à captura de ri-queza pelas minorias, mas às taxas de reprodu-ção dos pobres. Winston Churchill culpou, pela fome de Bengala em 1943, que ele ajudou a causar por meio da exploração maciça de arroz da Índia, o suposto hábito dos indianos a “reproduzir-se como coelhos”. Em 2013, Sir Da-vid Attenborough, também um patrono do Popu-lation Matters, responsabilizou pela fome na Eti-ópia a falsa existência de “muita gente para mui-to pouca terra”, e sugeriu que o envio de socorro alimentar era contraproducente.

Outro dos patronos do grupo, Paul Ehrlich, cujas previsões incorretas sobre fomes maciças aju-daram a provocar o pânico populacional, argu-mentou certa vez que os EUA deveriam “coagir” a Índia a “esterilizar todos os homens indianos com três ou mais filhos” condicionando o auxílio contra a fome a esta política. A proposta era si-milar ao programa brutal que Indira Gandhi mais tarde introduziu, com apoio financeiro da ONU e do Banco Mundial. Até 2011, o Reino Unido ofe-receu auxílio financeiro para ações esterilização cruas e perigosas na Índia, a pretexto de que estas políticas ajudariam a “lutar contra a mu-dança climática”. Algumas das vítimas deste

programa alegam que foram forçadas a partici-par. Ao mesmo tempo, o governo britânico des-pejava bilhões de libras e ajuda no desenvolvi-mento de projetos de extração de carvão, gás e petróleo, na Índia e em outras nações. Ele cul-pou os pobres pela crise que estava ajudando a causar.

O malthusianismo descamba facilmente para o racismo. A maior parte do crescimento popula-cional do planeta ocorre nos países mais po-bres, onde a maior parte das pessoas são ne-gras ou pardas. As potências coloniais costuma-vam justificar suas atrocidades atiçando pânico moral contra a “reprodução” dos povos “bárbaros” e “degenerados” a taxas maiores que as das “raças superiores”. Estas alegações são reavivadas hoje pela extrema direita, que pro-move teorias conspiratórias sobre a “substituição dos brancos” e o “genocídio bran-co”. Quando brancos afluentes transferem a cul-pa dos impactos ambientais que provoca para as taxas de nascimento dos negros e pardos, esta atitude reforça as narrativas racistas. Ela é inerentemente racista.

A extrema direita usa agora o argumento popu-lacional para contestar a entrada de imigrantes nos EUA e Reino Unido. Também esta é uma herança maldita: o conservacionista pioneiro Madison Grant promovia, junto com seu trabalho ambiental, a ideia de que a “raça nórdica superi-or” estava sendo superada nos EUA por “tipos raciais sem valor”. Como presidente da Liga pa-ra a Restrição das Imigrações, ele ajudou a con-ceber a nefasta Lei de Imigração de 1924.

Porém sabendo que há algum impacto ecológico real no crescimento das populações, como dis-tinguir preocupações legítimas sobre estes da-nos da tendência ao racismo? Bem, sabemos que o vetor principal da queda das taxas de nas-cimento é a emancipação das mulheres, junta-mente com seu acesso à educação. O maior obstáculo a estes processos é a pobreza extre-ma, cujos efeitos atingem desproporcionalmente as mulheres.

Por isso, uma boa maneira de aferir se as preo-cupações populacionais de alguém são legíti-mas é verificar seu histórico de luta contra a po-breza estrutural. Estes atores políticos contes-tam as dívidas impagáveis impostas aos países pobres? Eles somaram-se à luta contra a eva-são fiscal promovida pelas corporações ou con-tra as indústrias extrativas que sugam riqueza dos países mais pobres, sem deixar nada para trás? Eles se opõem à lavagem, pelos mercados financeiros, deste dinheiro roubado? Ou eles simplesmente observam as pessoas aprisiona-das na pobreza e então se queixam de sua ferti-lidade?

Logo este pânico reprodutivo desaparecerá. As nações estarão brigando pelos imigrantes: não para excluí-los, mas para atraí-los, já que a tran-sição demográfica produz, em suas populações, uma base para tributação cada vez menor e u-ma carência de trabalhadores essenciais. Até lá, deveríamos resistir à tentativas dos ricos para demonizar os pobres.

George Monbiot

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A data foi criada pela presidente Dilma e foi escolhida por ser o aniversário de nascimento da primeira compositora popular brasileira: Chiquinha Gonzaga. Ela nasceu em 1847 no Rio de Janeiro. É dela a música "Ó Abre Alas", que se tornou um hino do carnaval brasileiro.

17-Dia da Música Popular Brasileira

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Um novo observador associado?

A Língua Portuguesa está espalhada pelo mun-do. Na América do Sul, esse fenômeno aconte-ce ao longo das fronteiras dos países vizinhos com o Brasil, uma vez que o idioma de Camões é língua materna apenas em nosso país. No en-tanto, o acesso ao idioma tem crescido por cau-sa da obrigatoriedade do seu ensino nas esco-las da Argentina, do Uruguai e da Venezuela. Vale lembrar que as relações diplomáticas des-tes países com o Brasil, de forma geral, estão relacionadas ao Mercosul. Entretanto, é neces-sário ressaltar que o interesse pelo aprendizado da língua tem um valor estratégico e isso, certa-mente, está vinculado à Comunidade dos Paí-ses de Língua Portuguesa (CPLP). Não por acaso, Argentina e Uruguai são Obser-vadores Associados da CPLP. A categoria é atri-buída desde 2005 àqueles que, mediante apro-vação unânime dos Estados-membros de pleno direito da organização intergovernamental, e-,diante das restrições estatutárias, não colecio-nam totais condições de se tornarem membros efetivos. Aos interessados em conquistar o posto cabe-lhes partilhar os princípios orientadores da C-PLP, tais como:(i) promover as práticas demo-cráticas; (ii)exercer boa governação; (iii) respei-tar os direitos humanos; (iv) apoiar os objetivos da organização multilateral. As candidaturas de-vem ser devidamente fundamentadas pelos prin-cípios e objetivos da CPLPe apresentadas ao Secretariado Executivo da mesma que, após apreciação pelo Comitê de Concertação Perma-nente, as encaminha para o Conselho de Minis-tros, o qual, por fim, tem a missão de recomen-dar a decisão a ser tomada pela Conferência de Chefes de Estado e de Governo ─ protocolo vi-gente desde 2010. É pertinente explicar que a-pesar da direção das atividades da entidade ser feita pelo Secretário Executivo, o órgão máximo de tomada de decisões é a Conferência dos Chefes de Estado e Governo, composta pelos Presidentes dos Estados-membros efetivos da CPLP. Algumas funções desse órgão: definir e orientar a política geral e as estratégias da C-PLP; criar instituições necessárias ao bom fun-cionamento da CPLP; eeleger o Secretário Exe-cutivo da entidade. O encontro das principais lideranças nacionais acontece de dois em dois anos sendo que as decisões da conferência são tomadas por consenso. Aos Observadores Associados é permitido parti-cipar, sem direito a voto, das Conferências de Chefes de Estado e de Governo, bem como das reuniões do Conselho de Ministros. Qualquer Estado-membro poderá, caso o julgue oportuno, solicitar que uma reunião tenha lugar sem a par-ticipação dos Observadores.A qualidade de Ob-servador Associado poderá ser retirada, tempo-rária ou definitivamente, sempre que verificadas inconsistências às condições de sua conces-

são.A decisão final caberá ao órgão que decidiu a respectiva admissão, com base em proposta do Secretariado Executivo e após apreciação pelo Comitê de Concertação Permanente. Assim, um ano após a criação da categoria, o XIº Conselho de Ministros, reunido em Bis-sau,recomendou a atribuição da supracitada ca-tegoria à Guiné Equatorial (hoje Estado-membro de pleno direito) e à República de Maurício. De lá para cá, são detentores do título: Senegal em 2008; Geórgia, Namíbia, Turquia e Japão, em 2014; Hungria, República Checa, Eslováquia e Uruguai, em 2016; Luxemburgo, Andorra, Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte, Argentina, Chile, França, Itália, Sérvia e Organi-zação de Estados Ibero-Americanos para a Edu-cação, a Ciência e a Cultura (OEI), em 2018. Atualmente, há, portanto, 19 Observadores As-sociados.

A novidade é que em julho passado, o governo paraguaio solicitou ao Secretariado Executivo da CPLP a adesão à categoria. O anúncio foi feito por António Rivas Palácios ao intervir na confe-rência "Diálogo Estratégico II" sobre o tema "Forças e Fraquezas da Ibero-América Perante a Crise", integrado no X Encontro Triângulo Es-tratégico: América Latina, Europa e África, orga-nizado pelo Instituto para a Promoção da Améri-ca Latina e Caribe (IPDAL). Além de Palácios, o encontro virtual reuniu o Presidente do IPDAL, Paulo Neves; o Ministro dos Negócios Estran-geiros de Portugal, Augusto Santos Silva; a Se-cretária-Geral Ibero-americana, Rebeca Gryns-pan; e o Vice-Presidente Fundação Euro-América, José Ignacio Salafranca. A intenção, segundo Rivas Palácios, é aprovei-tar as excelentes relações políticas entre Portu-gal e Paraguai para criar possibilidades de in-vestimento no continente, o que faz da CPLP o "melhor caminho" para o investimento paraguaio

em África, onde se quer afirmar, disse o chefe da diplomacia paraguaia.A CPLP, sem dúvida, é uma plataforma política, econômica e cultural para chegar a África, para fazer acordos de as-sociação e alianças econômicas. Recentemente, tem ocorrido um fortaleci-mento das relações entre Paraguai e Portugal. Em abril de 2019, o Secretário de Estado de Internacionalização de Portugal, Eurico Brilhante Dias, reuniu-se com autoridades nacionais e também com representantes do setor privado. A missão governamental portuguesa em solo sul-americano teve como motivação o fortalecimentodo fluxo do comércio bilateral e de cooperação entre o Paraguai e Portugal. As principais áreas debatidas foram: turístico, tecnológico, competitividade industrial, infraestrutura e modernização administrativa. Em uma mesma perspectiva de aproximação empresarial, Paraguai e Brasil ─ maior economi-a da CPLP ─mantém contatos sobre um possí-vel livre comércio de produtos automotivos.O ministro da Economia do Brasil, Paulo Guedes, e a ministra da Indústria e Comércio do Para-guai, Liz Cramer, firmaram em dezembro último entendimentos políticos que permitirão(futuramente, se assinado) o avanço das negoci-ações do Acordo Automotivo entre os dois paí-ses.“Entre as linhas principais que deverão constar do futuro Acordo Automotivo bilateral, estabeleceu-se que Brasil e Paraguai concede-rão mutuamente, como regra geral, livre comér-cio imediato para produtos automotivos”. No tocante à aspiração do Paraguai em ser a-ceito como Estado Observador Associado da CPLP, o governo daquele país fundamenta o pedido na intenção de: aumentar e aprofundar a cooperação com os países membros das CPLP em diversas áreas; contribuir a reforçar o multi-lateralismo e o trabalho coletivo em favor dos interesses e necessidades comuns; incentivar a proximidade e o intercâmbio cultural com os paí-ses lusófonos; e promover a valoração da língua portuguesa, a terceira língua mais falada no Pa-raguai, depois do espanhol e o guarani. De modo que o estabelecimento da categoria Observador Associado contempla as diretrizes aprovadas em 2016 para que o avanço da coo-peração econômico-empresarial seja, de fato, prioridade para a CPLP. Segundo António Men-donça, Professor de Economia do ISEG, em Lis-boa, isso vai ao encontro do pensamento econô-mico global que contempla a existência de espa-ços alargados de identidade coletiva como fun-damental para produzir centralidades e dinâmi-cas de atração e fixação de interesses econômi-cos. Sob este ângulo, a organização multilateral tem se mostrado capaz de atrair por meio da concertação político-diplomática e da coopera-ção internacional cada vez mais interessados em seguir os princípios por ela determinados. Marcelo Goulart Geógrafo

Outubro 2020 Gazeta Valeparaibana Página 9

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A data celebra uma das invenções mais enriquecedoras do ser humano: o livro!

O livro pode ser uma fonte inesgotável de conhecimento, transportando os leitores para os lugares mais espetaculares da imaginação humana, além de informar e ajudar a diversificar o vocabulário das pessoas.

Os livros surgiram há centenas de anos e, desde então, continuam maravilhando as gerações com contos fantásticos e registrando os principais a-contecimentos da história da humanidade.

Uma boa atividade para ser realizada no dia do livro é visitar a biblioteca da sua cidade e conhecer as histórias que ela preserva e os clássicos da O Dia do Livro surgiu em homenagem à fundação da Biblioteca Nacional do Livro, em 1810, pela Coroa Portuguesa. Na época, D. João VI trouxe para o Brasil mi-lhares de peças da Real Biblioteca Portuguesa, formando o princípio da Biblioteca Nacional do Brasil (fundada em 29 de outubro de 1810).

29-Dia Nacional do Livro

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Outubro 2020 Gazeta Valeparaibana Página 10

O fim do confinamento de deus

Teo log ia car tes iana q u is t o rná- lo “transcendente”. Mas se foi Espinosa quem o compreendeu, ele é tão mundano como a natu-reza e seus próximos — sacrificados todos no altar do dinheiro e do poder. Eclosão do vírus denuncia este suplício

CRISE CIVILIZATÓRIA

Deus parece estar confinado. Pelo menos, des-de que no século XVII se impôs a separação absoluta entre a natureza, enquanto res exten-sa, e os seres humanos, enquanto res cogitans. A prova da existência de deus está na mente humana, porque só ela pode conceber um ser perfeitíssimo, infinito. Sendo imperfeita, a mente humana só é capaz de tal concepção porque alguém a inscreveu nela. Esse alguém é deus. A natureza é incapaz de uma tal concepção, e aí reside a sua incomensurável inferioridade em relação à mente própria dos humanos. Com a demonstração da existência de deus ficou pro-vada a impossibilidade da co-existência com ele no mesmo mundo. Deus é do “outro mundo”, o seu “reino não é deste mundo”. Deus é a trans-cendência.

Assim começou o confinamento de deus. Se até então já era difícil comunicar directamente com ele, daí em diante tornou-se impossível. Só os místicos o conseguiriam fazer, e sempre com altos custos pessoais. No mesmo processo em que deus foi humanizado, foi também desnatu-ralizado e, com ele, os seres humanos que o conceberam. E como não conseguem ser mente sem ser corpo natural, ao mesmo tempo que provaram a existência de deus, os seres huma-nos deixaram de o entender e deixaram de se entender entre si. Assim se desumanizaram. A humanização de deus redundou na desumaniza-ção dos seres humanos. O homo economicus (o homem económico) do capitalismo nascente, tal como o quase contemporâneo homo lupus ho-mini (o homem lobo do homem) de Hobbes, são a expressão desta desumanização do humano. O ser competitivo, centrado no seu interesse individual, é um ser anti-social que vê nos seme-lhantes (nunca iguais) potenciais inimigos, e que só faz filantropia se dela resultar benefício pró-prio.

A incompreensão abissal do ser divino permitiu aos humanos dizer de deus tudo o que queriam e consoante as conveniências. A teologia sofreu então uma transformação qualitativa. Passou a tentar resolver o mal-entendido cartesiano, mul-tiplicando as mediações que humanizavam fal-samente deus. As ficções do “deus feito homem” ou o “corpo de deus” foram levadas ao paroxis-mo. O nazareno cruxificado do século XVIII bar-roco é um espetáculo visceral de primeira or-dem, o espetáculo de um corpo cuja máxima exaltação é a mortificação e a morte. A econo-mia da morte, em que o colonialismo e a escra-vatura prosperavam, encontrava nessas ima-gens um espelho cruel e um consolo desespera-do. A exuberância das imagens escondia eficaz-

mente as ficções teológicas. Escondia sobretudo as consequências trágicas dessas ficções, tal como muito antes as tinha vivido o jovem naza-reno, ao concluir na cruz que nenhuma ambu-lância divina o viria salvar e afastar dele aquele “cálice”.

O confinamento do deus cartesiano a partir do século XVII foi fundamental para que em nome dele se pudessem cometer as maiores atrocida-des. O jovem nazareno que morrera na cruz pa-ra “salvar o mundo” era agora invocado para jus-tificar a imensidão das mortes de escravos e de povos originários para “salvar a economia”. Con-finado, deus estava limitado à tele-presença. A presença real passou a ser dos intermediários, missionários, pastores, catedrais. Tal como hoje os entregadores de comida por aplicação ou a-plicativo (os motoboys e as motogirls) não esco-lhem os restaurantes pela qualidade da comida, mas pelo valor da remuneração por entrega, os intermediários passaram a servir a comida espi-ritual consoante as prebendas que recebiam. Não o faziam por opção, faziam-no por necessi-dade. Serviam os senhores da terra que se ser-viam deles para consolidar o seu domínio.

Mas estaria o deus verdadeiramente confinado? Sendo infinito em todos os seus atributos, é im-possível imaginar outro confinamento que não seja um acto originário, um auto-confinamento. Por outro lado, é um absurdo pensar que um ser infinito se confine. E é também impossível imagi-nar um motivo divino para o auto-confinamento. Medo de ser contaminado? Não é imaginável que deus corresse o perigo de ser contaminado por seres tão infinitamente inferiores, até por-que, segundo a teologia cartesiana, os humanos não têm sequer o nanotamanho do vírus para poder contaminar deus. Medo de contaminar? É um absurdo pensar que o deus cartesiano te-messe contaminar. Sendo infinito, tudo está con-taminado e, simultaneamente, purificado por ele. A hipótese mais credível é que os teólogos, eles sim, tivessem medo que deus contaminasse o mundo. Talvez soubessem que a desnaturaliza-ção de deus era uma imposição tão forte e tão frágil quanto todas as outras imposições huma-nas. Para a consolidar tiveram que recorrer a múltiplas artimanhas arquitetónicas, pictóricas, sermónicas, teológicas que enganassem todos aqueles que não beneficiavam com o suposto confinamento de deus. Tais artimanhas foram as máscaras usadas eficazmente para suposta-mente proteger deus dos humanos, mas que realmente funcionavam para permitir aos huma-nos realizar livremente os seus negócios sem incorrer no risco que correram os “vendilhões do templo”. Podemos, pois, concluir que deus não esteve confinado durante todos estes séculos. Esteve em toda a parte – como lhe competia. Apenas esteve ausente do discurso humano so-bre ele. Ou melhor, o discurso predominante dos humanos sobre ele destinou-se a criar e a justifi-car a sua ausência. Afinal, onde esteve deus durante estes séculos? Sugerirá esta pergunta, em si, que deus deu algum sinal de que a teolo-gia que nos impuseram chegou ao fim?

As chagas do nazareno do século XXI

No século XVII ocorreu uma grande clivagem nas reflexões sobre deus. À teologia cartesiana, que expus acima, opôs-se radicalmente a teolo-gia espinosista. Enquanto, para Descartes, deus é tão produto da mente humana quanto trans-cendente, para Espinosa deus é a infinitude de tudo o que existe, a substância, a natureza. “Deus sive Natura”. Deus, ou seja, a natureza, disse Espinosa. Não se trata da natureza des-

qualificada de Descartes (“natura naturata”) mas da natureza qualificante de tudo, a energia vital infinita que anima o mundo e a vida (“natura na-turans”) e de que os seres humanos dependem em toda a sua finitude. Neste sentido, a nature-za não nos pertence, nós é que pertencemos à natureza. Deus não é personalizável (como se fosse um humano potenciado ao infinito). Nem transcendente. Deus é deste mundo e de todos os outros mundos possíveis. Para Espinosa, só assim se pode dizer com verdade que deus é infinito e omnipresente. Distinguir entre aqui e além, dentro e fora, é a limitação própria dos humanos. Deus é a imanência do mundo e os seus infinitos atributos são os que explicam as limitações dos humanos. E não o contrário.

Para Espinosa, a humanização dos humanos não está na sua desnaturalização, mas, pelo contrário, na sua naturalização qualificante. Ora o capitalismo, o colonialismo e o patriarcado fo-ram os motores modernos da desnaturalização. A natureza foi cartesianamente desqualificada para que o capitalismo a transformasse num re-curso natural incondicionalmente disponível para os seres humanos. E foi igualmente desqualifi-cada para que o colonialismo e o patriarcado transformassem em recurso humano subjugável e espoliável todos os seres humanos considera-dos radicalmente inferiores por supostamente estarem mais próximos da natureza, fossem e-les negros, indígenas ou mulheres. Em suma, fossem eles corpos racializados e sexualizados. No mundo cartesiano, a desnaturalização de alguns só foi possível à custa da naturalização das grandes maiorias.

Esta naturalização desqualificante de seres hu-manos foi o produto de uma ignorância fatal em que vivemos desde o século XVII, a ignorância de que se alimentaram o capitalismo, o colonia-lismo e o patriarcado. Os dois últimos existiram antes do capitalismo, mas foram reconfigurados por este para se transformarem em fontes de trabalho altamente desvalorizado (da escravatu-ra aos auto-escravos informais ou uberizados) ou não pago (a economia submersa do cuidado quase totalmente a cargo das mulheres). E deus? É impossível imaginar um jovem nazare-no espinosista. Mas se fosse possível, o sofri-mento humano injusto e inabarcável que a natu-ralização desqualificante causou e continua a causar em tanto ser humano (escravatura, lim-peza étnica, racismo, sexismo, homofobia) seri-am chagas infligidas na humanidade. E o des-matamento industrial das florestas, a contamina-ção dos rios, a mineração a céu aberto, o frac-king seriam igualmente chagas desta vez infligi-das na mãe terra. Em conjunto, tais chagas constituiriam uma imensa e permanente crucifi-xão. Um segundo e muito mais doloroso calvá-rio.

A pandemia do coronavírus é primeira notícia teológica do século XXI. Será que o anúncio i-naugural do Evangelho de S. João “e o verbo fez-se carne” terá de ser substituído pelo anún-cio crepuscular “e o verbo fez-se vírus”?

Como quer que seja, uma nova teologia se a-nuncia. Parte de uma proposição nova, a propo-sição 37 da Primeira Parte da Ética de Espino-sa. Pode formular-se de muitas maneiras nas diferentes línguas e cosmovisões do mundo e, à maneira espinosista, pode ser seguida de de-monstrações, explicações, axiomas, escólios ou corolários. No mundo ainda eurocêntrico a pro-posição pode formular-se assim.

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Outubro 2020 Gazeta Valeparaibana Página 11

Como evitar as pandemias de superbactérias

Resistência de microor-ganismos a antibióticos cresce a cada dia e já causa 700 mil óbitos por ano. Uso indevido de medicamentos e de-sinteresse de farma-cêuticas para o investi-mento em inovação constante elevam risco de mais uma crise a-

nunciada

CRISE CIVILIZATÓRIA

Quatro anos atrás, a Assembleia Geral das Nações Unidas assinou uma declaração para coordenar os Estados-membros em face de uma grande ameaça à saúde. Até a primeira metade do século XX, a principal causa de morte no mundo eram as infecções por vírus e bactérias. As vacinas ajudaram os primeiros e os antibióticos reduziram drasticamente a letali-dade das últimas. Mas, como advertiu Alexander Fleming, um dos criado-res desses medicamentos, desde que a penicilina passou a ser usada as bactérias começaram a se adaptar para sobreviver. Hoje, a resistência aos antibióticos é uma ameaça que cresce a cada dia e contra a qual os especialistas já alertam há algum tempo, como aconteceu com a grande pandemia.

Todos os anos, cerca de 700.000 pessoas morrem de infecções causa-das por bactérias resistentes aos medicamentos disponíveis e a previsão é que esse número cresça gradualmente nos próximos anos. Jesús Ro-dríguez Baño, porta-voz da Sociedade Espanhola de Doenças Infeccio-sas e Microbiologia Clínica (SEIMC), afirma que, nos hospitais, “ter bacté-rias resistentes a muitos antibióticos antes era uma raridade e agora é frequente”.

O uso indevido desses medicamentos pela população, nos hospitais ou com os animais, é a principal causa de que os microrganismos os tolerem melhor. Quando um tratamento é finalizado antes da hora ou se toma um antibiótico quando não é necessário, a bactéria sobrevive depois de ter tido contato com o fármaco e sai reforçada para ocasiões posteriores, como se tivesse recebido um treinamento. Rodríguez Baño lembra que, durante esta crise do coronavírus, em países como o Reino Unido e Es-panha, “entre 70% e 80% dos pacientes com covid-19 recebem antibióti-cos, embora aqueles que têm infecção bacteriana ao entrar não superem 5% e cheguem apenas a 15% durante a internação”.

Além disso, a globalização está facilitando a disseminação das resistên-cias, que podem ser intercambiadas entre bactérias. Em um estudo re-cente observou-se como uma proteína que oferece às bactérias resistên-cia aos antibióticos e foi detectada pela primeira vez em um hospital de Nova Delhi (Índia) em 2008, atravessou os limites da cidade e em poucos anos chegou a mais de 100 países. Em 2013, apareceu inclusive em a-mostras de bactérias coletadas no arquipélago ártico de Svalbard.

Rafael Cantón, chefe do Serviço de Microbiologia do Hospital Universitá-rio Ramón y Cajal, em Madri, assinala diferenças entre a rápida expansão de uma pandemia como a do SARS-CoV-2 e o impacto na saúde global que o surgimento de resistências pode ter. “A dispersão de uma bactéria multirresistente é possível, mas as dinâmicas de dispersão e as possibili-dades de controle tornam o processo mais lento”, explica.

Acordos como o da ONU e os planos nacionais de combate às bactérias super-resistentes mostram que há consenso internacional sobre a exis-tência do problema e sua importância, mas a complexidade de algumas medidas e o próprio surgimento da covid-19 estão retardando sua imple-mentação. Apesar de o problema do uso excessivo de antibióticos ter si-do identificado, a SEIMC, que estima que uma em cada duas prescrições de antibióticos na Espanha é inadequada, denunciou há dois anos que não há investimento para formar na aplicação de fármacos que, ao con-trário de outros medicamentos, como os antitumorais, são prescritos por todos os médicos. “Agora as pessoas estão trabalhando mais na covid-19 e muitos especialistas não têm tempo para isso, mas assim como temos de compatibilizar as cirurgias com o tratamento da covid-19, temos que torná-lo compatível com um bom uso dos antibióticos”, diz Rodríguez Baño.

Outro ponto fundamental na guerra contra as bactérias é manter o arma-mento atualizado. Até os anos sessenta, mais de 20 novos tipos de anti-bióticos foram desenvolvidos, mas desde então a inovação neste campo diminuiu drasticamente. Para as empresas farmacêuticas, os antibióticos são pouco rentáveis. Ao contrário dos remédios que são sucesso de ven-das, como os medicamentos contra o câncer, que podem ser usados por longos períodos, ou as estatinas, que são prescritas durante metade da vida, os antibióticos são usados por alguns dias e seu uso deve ser limita-do ao máximo, dificultando a recuperação do investimento. Cantón co-menta que em alguns casos, inclusive depois de o antibiótico ter sido cri-ado, “alguns foram retirados do mercado porque se o pagamento fosse feito por paciente tratado a empresa não fechava as contas”. Para resol-ver essa situação, muitos países estão tentando criar outras formas de pagamento que incentivem a inovação sem a necessidade de que o me-dicamento criado seja usado com muita frequência, durante muito tempo, ou em muitas pessoas para que haja retorno financeiro.

Em julho, cerca de 20 das principais empresas biotecnológicas e farma-cêuticas do mundo lançaram o Fundo de Ação AMR, uma iniciativa com a qual pretendem desenvolver entre dois e quatro antibióticos inovadores durante a próxima década. Por enquanto já fizeram um investimento de um bilhão de dólares (cerca de 5,39 bilhões de reais) e buscarão investi-mentos e incentivos por parte de Governos e organizações internacionais como o Banco Europeu de Investimentos e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Em um relatório de 2016, a OMS estimou que até 2050, se nenhuma me-dida for tomada, as superbactérias resistentes provocarão cerca de 10 milhões de mortes, mais do que o câncer, número que as colocaria como a primeira causa de morte global. Ao contrário do surgimento de um novo vírus mortal, essa ameaça mundial crescerá gradualmente e ainda há tempo para mitigar seus efeitos.

Daniel Mediavilla

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CONTINUAÇÃO

CRISE CIVILIZATÓRIA Proposição: a naturalização car-tesiana de tanto ser humano, provocada pela dominação ca-pitalista, colonialista e patriar-cal, ocorreu de par com a natu-ralização cartesiana de toda a vida não humana, e redundou num sacrifício imenso no altar global dos ídolos do dinheiro e do poder. Demonstração: tal como a vida humana é uma ínfi-ma parte da vida não humana do planeta, o sacrifício da vida não humana foi imensamente mais vasto, mas foi ocultado com êxito pelo pensamento do-minante ao serviço dos ídolos. Explicação: o sacrifício da vida

não humana não encontrou ou-tra forma de ser conhecido e denunciado senão contagiando com as suas chagas os altares e os ídolos. Axioma: O vírus é apenas a prova mais convin-cente neste século da existên-cia de deus. Corolário I: um deus desconfinado é um perigo fatal para os ídolos do dinheiro e do poder. Corolário II: um deus desconfinado é finalmente um consolo eficaz e perene pa-ra a mãe terra e para todos a-queles que, por estarem mais próximos dela, foram juntamen-te condenados com ela, os con-denados da terra de Franz Fa-non.

Boaventura de Sousa Santos

A data homenageia o Saci-Pererê, figura mitológica do imaginário folclórico bra-sileiro. O Dia do Saci foi criado com o intuito de ajudar a valorizar o folclore nacional, ao invés do Dia das Bruxas (Halloween), que é celebrado no mesmo dia e que na-da tem a ver com a cultura do Brasil. Origem do Dia do Saci Com o objetivo de fazer resistência à cultura norte-americana, a Comissão de Educação e Cultura elaborou o Projeto de Lei Federal nº 2.479, de 2013, que institui o 31 de Outubro como sendo o Dia do Saci. No entanto, em São Paulo, a Lei nº 11.669, de 13 de Janeiro de 2004, já oficiali-zava o dia 31 de Outubro como Dia do Saci no estado. Várias outras cidades também já decretaram leis que oficializam a data, com o mesmo intuito de reforçar a cultura e folclore nacional. De acordo com a lei: “Entendemos que a comemoração anual do “Dia do Saci” permitirá um contato sistemático com a variedade e a beleza das tradições do País, de modo a forta-lecer o processo de consolidação da identidade nacional bem como a auto-estima do povo brasileiro". Outra data que também celebra o Saci-Pererê, assim como todos os outros per-sonagens míticos da cultura brasileira é o Dia do Folclore.

31-Dia do Saci

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Isolamento prolongado: as consequências psíquicas para

as crianças

Do medo da morte à saudade dos amigos, pas-sando pela exposição excessiva às telas e pela falta de atividades físicas, os muitos desafios da quarentena

Nossas crianças estão em casa há quase seis meses e, apesar de haver rumores sobre o re-torno às aulas, não há certeza alguma ou deci-sões governamentais e/ou coletivas que nos transmitam o mínimo de segurança e estabilida-de, necessárias para a confiança no retorno. Por conta disso, precisamos olhar com atenção para a saúde psíquica delas. Esse olhar é fundamen-tal para evitar ou minorar sofrimentos psicológi-cos agudos. Nesse sentido, algumas questões importantes precisam ser consideradas: Quais os afetos que estão circulando nesses tempos pandêmicos, principalmente no seio das famí-lias, e como os adultos estão lidando com eles? Qual o impacto sobre as crianças do distancia-mento, por tanto tempo, do convívio social? Quais os efeitos psicológicos do afastamento da escola? E, por fim, quais os efeitos psíquicos do confinamento prolongado que provoca a escas-sez de atividades físicas, contato com outras crianças, com a natureza e o aumento da expo-sição às telas de TV, celular e computador?

Podemos começar com algumas perguntas diri-gidas aos pais: De que forma nós, adultos, esta-mos atravessando a pandemia? Como estamos lidando com os afetos envolvidos: medos, inse-guranças e limitações (de liberdade, de ir e vir, de saúde e de sobrevivência)? O que estamos transmitindo sobre essas dificuldades para os nossos filhos? Como imaginamos que as crian-ças estão reagindo, elas cujo arcabouço psíqui-co ainda está em formação?

Portanto, a primeira reflexão que gostaríamos de provocar diz respeito à sobrecarga emocional das crianças. Em algumas situações, pelo fato de não estar apresentando um sintoma evidente ou tido como patológico, concluímos que a cri-ança está bem. Entretanto, nem sempre o que não conseguimos perceber deixa de existir e provocar seus efeitos. Convidamos nossos inter-locutores a um exercício simples: vamos pensar no custo psíquico que está sendo para nós, a-dultos, lidar com a realidade sem adoecer men-talmente. Não resta dúvida que estamos reali-zando um esforço grande. Podemos, portanto, concluir que as crianças também estão sofren-do, mesmo as que não estão externalizando es-se sofrimento através de sintomas psicológicos.

Muitos de nós estão sofrendo com perdas signi-ficativas, que vão desde o emprego até mem-bros da família e amigos. Não há como não pas-sar os sentimentos aí envolvidos para as crian-

ças. Elas, certamente, serão atingidas. Blindá-las contra as perdas e contra essas dores não só é impossível, como não é recomendado. Ao tentarmos apartar nossos filhos das perdas da vida, acabamos por apartá-los da própria vida, pois esta comporta perdas inevitavelmente. Quando procuramos evitar a todo custo o sofri-mento deles, o que acabamos por conseguir é criar filhos imaturos e incapazes de transformar as inevitáveis frustrações da vida em algo positi-vo e/ou construtivo. Desaparelhamos nosso fi-lhos para poderem crescer com os erros, os tro-peços e os desapontamentos da vida.

Ainda com relação aos afetos, é importante res-saltar que o medo faz parte do processo de es-truturação psíquica do humano e é parte inte-grante da infância. Ele começa inominável e as crianças, à medida que vão se desenvolvendo, colocam cara, corpo e palavras nele: é o mons-tro debaixo da cama ou dentro do armário, o fantasma atrás da porta, o medo do escuro. O medo, com o passar dos anos, normalmente, vai arrefecendo e dando lugar a um sentimento de maior segurança e autonomia diante dos desafi-os da vida. Entretanto, o que estamos vendo no momento é um retorno de medos já superados e muitas crianças estão buscando um conforto extra junto aos pais. Através de comportamen-tos que podem soar como “regressivos”, como por exemplo, demandar mais presença, mais colo, voltar a procurar a cama dos pais na ma-drugada, as crianças buscam a retomada da se-gurança perdida.

Bom, se pensarmos que estamos aprendendo a conviver com um inimigo invisível e desconheci-do, que provoca medo e insegurança, é possível supor que essas dúvidas estejam atingindo as crianças. Cabe a nós, adultos, atuarmos como curadores das informações que são passadas aos nossos filhos, procurando proporcionar não um escudo protetor, mas um filtro que leve em consideração sua condição de seres em desen-volvimento.

A pandemia deixou exposto o que todos nós, de alguma forma, sabemos: que somos mortais. O fato de sabermos de nossa finitude, no entanto, não nos capacita a lidar com esse fato. Passa-mos a vida tentando contornar a morte, criando meios de lidar com ela e maneiras de nos co-nectarmos com a vida, apesar da certeza da fini-tude. A pandemia causada por um vírus mortal atingiu em cheio nossas ferramentas para driblar o medo da morte.

Dessa forma, é importante falar com nossos fi-lhos sobre a morte, falar com o devido cuidado para não assustá-los ainda mais, mas também visando a não deixar silencioso o assunto que está em nossas mentes, agora de forma mais concreta que nunca. Conversar fazendo uso de palavras acessíveis para a criança e atinentes ao seu universo pode dar um importante e ne-cessário contorno para a angústia. Livros que falem sobre perdas, morte e luto podem ser mui-to interessantes. A literatura, com seus elemen-tos narrativos e imagéticos contribui no processo de simbolização. Através de uma história conta-da a criança pode se conectar com sentimentos penosos que, quase sempre, busca evitar.

Ainda sobre importantes recursos psíquicos que se encontram prejudicados com a pandemia e que, por isso, precisam ser vistos com atenção nesses tempo pandêmicos, há o afastamento do ambiente público e do convívio presencial com praticamente todos que compunham o repertório

social da criança. As queixas de saudades dos amigos, dos professores e do ambiente escolar têm sido recorrentes nos lares. A escola, que se constitui, juntamente com a família, num dos dois pilares da sociabilização infantil, sofre um questionamento sobre a data para o retorno de suas atividades presenciais. É nesse espaço que as crianças podem conviver com diferentes olhares e etiquetas comportamentais, diferentes “sotaques emocionais”, que são importantíssi-mos para a ampliação do repertório psíquico em formação. A criança, ao frequentar o ambiente escolar, sai do restrito convívio familiar, onde o “amor incondicional”, os laços emocionais, as expectativas e os limites parentais costumam dar o tom. Visando ao enriquecimento do reper-tório psíquico infantil, as interações sociais ex-trafamiliares são fundamentais por se tratarem de relações que não são permeadas exclusiva-mente pelas questões amorosas dos envolvidos. Esses outros olhares engendram outras formas de comunicação e trocas, provocam desloca-mentos subjetivos e ampliam o escopo psíquico das crianças e adolescentes.

Na escola, as relações ocorrem de formas varia-das, impulsionando a convivência com a alteri-dade, elemento tão importante para a formação de sujeitos. Como disse a psicanalista francesa Françoise Dolto, “uma criança tem necessidade de outras crianças para vacinar-se contra a a-gressividade da vida em comunidade, e para estruturar-se.”

Outro aspecto para o qual consideramos impor-tante chamar atenção diz respeito às demais interações sociais que ficaram empobrecidas e escassas, acontecendo basicamente através das telas. Embora concordemos com o fato de que o excesso de exposição a eletrônicos não é recomendado – aliás, para o que podemos reco-

mendar o excesso? – estamos sendo levados a rever as recomendações de tempo e frequên-cia do uso de telas. Não apenas porque o pró-prio ensino está se dando através de platafor-mas digitais, como também pelo fato de que os jogos eletrônicos e as redes sociais foram, com a pandemia, alçados à categoria de únicas opor-tunidades de um mínimo de interação social com os pares e com o mundo. Nesse contexto, como restringir seus usos à temporalidade ante-rior à da pandemia? Por outro lado, vemos tam-bém que as telas viraram o “refúgio” dos pais (o que já era muito criticado anteriormente) e um certo “refúgio” também para as crianças. Como disse o escritor Julian Fuks, “apelamos como nunca (às telas), a qualquer ficção que distraia a criança de sua clausura, que a afaste de sua tristeza – extrapolando a presença do que é a-lheio a seu mundo particular, alienando a crian-ça de sua própria intimidade.”

No sentido de evitar os excessos, acreditamos que a curadoria do uso das telas faz parte do exercício da parentalidade. No entanto, essa tarefa, que nunca foi simples, ficou ainda mais complexa. Envolve dosagem de tempo, monito-ramento, orientações, conversas, diálogos, ne-gociações e… renegociações dos limites impos-tos, conversas, monitoramento, orientações… tudo isso precisa ser mantido e sustentado pelos pais diuturnamente. Lembrando sempre que in-cluir a criança na formulação desses contratos aumenta a efetividade dos mesmos. Quando a criança é ouvida e participa da elaboração das regras, o nível de adesão ao contrato é maior.

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Outubro 2020 Gazeta Valeparaibana Página 12

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Outubro 2020 Gazeta Valeparaibana Página 13

CONTINUAÇÃO

Isolamento prolongado: as consequências psíquicas para

as crianças

Por fim, gostaríamos de abordar um outro efeito negativo do confinamento prolongado: a falta de atividade física, que gera, entre outras, questões de ordem psicomotora. As crianças, com o gasto de energia drasticamente reduzido, estão fican-do “mais agitadas” e ansiosas dentro de casa. Dependendo de como está a rotina dessas cri-anças, onde moram, se vivem numa casa cheia e sem espaço, vão apresentar maiores ou me-nores dificuldades. Elas se revelam em altera-ções do sono e do apetite, letargia ou agitação, falta de motivação e ansiedade. A criança preci-sa se movimentar, o uso do corpo é fundamental para dar contorno às suas angústias, por se tra-tar de uma forma de vinculação energética. Cri-anças com mais necessidade de explosão, ex-pansão, estão mais hiperativas, mais “coladas” também, demandando maior presença dos pais. O acúmulo de energia corporal/psíquica pode trazer mais pedidos de colo, de contato corporal, manhas mais exageradas, muitos pedidos de dormir junto, pedidos esses que se juntam ao medo, gerando uma demanda de atenção ainda maior, já que esse é o afeto que mais está circu-lando.

Devemos ter em mente que estamos vivendo uma situação excepcional e situações excepcio-nais demandam saídas excepcionais. Não dá, nesse momento, para ficarmos fixados em saí-

das que funcionavam antes e que podem não mais funcionar. Temos que estar atentos e man-ter um diálogo acolhedor e atencioso com nos-sos filhos, lembrando que isso deve ser feito nu-ma linguagem acessível à criança. Nas palavras do psicólogo Alexandre Coimbra Amaral, “muito comum é sentir que há algo funcionando mal em alguma dimensão da vida, mas as palavras ain-da não surgiram para nomear claramente o que vivemos. Há um alento sublime quando a pala-vra finalmente chega para dar forma ao que an-tes era apenas uma sensação. A palavra é a moldura das experiências humanas. Por meio dela colocamos nome e adjetivo àquilo que vive-mos.”

Nossa tutoria nestes tempos pandêmicos deve ser mais cuidadosa e atenta. Falar com as crian-ças é a peça chave para ajudar em sua saúde mental. Antes de pensar em procurar um profis-sional, experimente mobilizar os recursos “naturais” que temos para enfrentar o sofrimen-to: a palavra compartilhada, o afeto e a compre-ensão, a empatia e a tolerância. Não esqueça de usar a sabedoria própria, que buscamos em nossas experiências, genealogias e relações. Estamos numa encruzilhada e nenhuma das sa-ídas é plenamente eficaz. Temos que escolher as menos perniciosas e agir de forma a garantir o máximo de segurança possível para todos: crianças, adolescentes e pais. Olhar para as cri-anças e observar o que elas nos transmitem é uma maneira de nos aproximarmos delas.

Quando isso não é suficiente, quando mesmo assim a angústia permanece, considere um se-

gundo critério, a emergência de sintomas: ideias fixas e circulares, queixas recorrentes, fobias, empobrecimento ou ausência do brincar, ansie-dades, mudança no sono e no apetite, apatia, isolamento. Tudo o que foi alterado para mais ou para menos nas próprias funções psíquicas: humor, atenção, sono, alimentação, excreção, vitalidade. Nem toda forma de sofrimento requer tratamento, mas o sofrimento mal tratado, nega-do ou não reconhecido evolui para a formação de sintomas.

Acreditamos, assim como muitos vêm apontan-do, que é perfeitamente possível extrair impor-tantes aprendizados da situação que estamos vivendo. Podemos tirar lições como: empatia, autocuidado, cuidado com o outro, saber lidar com o tédio, com “o nada para fazer”, manejar frustrações. A partir daí, quem sabe, seja possí-vel extrair resultados não só positivos como até criativos. Mas, isso só será possível com olhar atento, cuidadoso e acolhedor e fazendo a pala-vra circular.

Carolina Cunha Ribeiro – Psicóloga graduada pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ). Mestre em Políticas Públicas e Formação Hu-mana pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), com pesquisa em medicaliza-ção da infância. Psicanalista com especialidade em crianças e adolescentes.

Lícia Carvalho Marques – Psicóloga graduada pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ), Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-RJ, Psi-canalista e Psicóloga do Poder Judiciário – RJ.

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Os guardiães da nossa alma

Um sonho cristaliza-se em ideia e, depois, em arte para, em seguida, o afeto se servir dela. Por isso é preciso morrer o artista para nascer o fascista, mas se a arte não morre, ela sempre nos socorre nos momentos de fúria de uma fe-roz tirania.

Não há forma melhor de penetrar na história que não seja pela arte, porque ela traz movi-mento, poetiza a criação, influencia a civilização tão amesquinhada pela instituição. Essa coisa, no Brasil, grosseira que nos mantém como colô-nia para servir às grandes potências.

Mas estão aí, Pixinguinha, João da Baiana e Donga, três reis de um mesmo reinado. Esses são os nossos nobres, puros, que seguiram o movimento da sociedade e mantêm-se como matéria viva de nossa alma como natureza bru-ta da nobreza popular, intactos, riquíssimos de alma e arte, sustentando a essência de um vas-to universo criativo nos quatro cantos do país.

Quando escrevo este texto, ouço a obra prima de Pixinguinha e João Pernambuco, executada pelo conjunto de Choro Galo Preto, num dos clássicos da música brasileira, "Estou Voltando".

Que país do mundo pode gozar de uma parceria tão extraordinária quanto essa, num duelo de poesias sonoras numa mesma obra entre dois gênios da nossa arte musical?

O Brasil é isso e será eternamente isso, pois já foi escrito nas partituras, nas artes plásticas, na literatura, nas artes cênicas, mas sobretudo na cultura popular que mostra uma nação inteira protagonista de sua própria arte viva como Villa Lobos que tanto bebeu nessa fonte de sabedori-a, criatividade e autonomia.

Como disse o grande Milton Santos, "a alma profunda de um país não morre jamais, por mais que mude suas paisagens".

Por tudo isso os reacionários acham que essa arte brasileira precisa ser segregada nas quatro linhas de nossas instituições que, se já vinha, através de um fio colonialista, abraçada a um pensamento tecnocrata dos neoliberais, depa-rou-se com um gás asfixiante pelas telas do neo fascismo fanático que pôs no cargo máximo da República a própria face do fisiologismo cruel de nossas classes dominantes que sempre foram antinacionais e, consequentemente, antipovo.

Mas o Brasil não afrouxa o cerco contra essa equitação vampírica do sistema financeiro que deu garupa ao genocida que "comanda a na-ção". Sistema financeiro, vejam só, que, através de políticas de espertos, ergue institutos e fun-dações com milionárias verbas saídas dos co-fres públicos através de restituição fiscal para se apresentarem para a mesma sociedade que massacra pela fome e miséria como pais das letras e das artes.

Quando a tempestade passar, e vai passar, to-do o procedimento que, bem arquitetado, produ-ziu um fenômeno antiartístico dentro das institui-ções culturais públicas, através de um pensa-mento privado, tem que ir ao chão, numa verda-deira revolução, pois estaremos na reconstitui-ção institucional de nossa arte, de nossas ciên-cia, de nossas letras e de nossa indústria sem-pre amparados emocionalmente pelos guardi-ães de nossa alma.

Carlos Henrique Machado Freitas

Antônio Carlos de Andrada (governador de Minas, pouco antes de estourar a revolução de 1930): “Façamos a revolução antes que o povo

a faça”.

* * *

Pedro Ferreira da Silva: “A família é uma co-muna dentro de uma sociedade que condena o

comunismo”.

* * *

Groucho Marx: “Acho que televisão é muito educativa. Todas as vezes que alguém liga o

aparelho, vou para a outra sala e leio um livro”.

* * *

Ferreira de Almeida: “Atleta é um indivíduo que é forte demais para trabalhar”.

* * *

Lula (num comício pelas eleições diretas, em 1987): “Se disputasse uma eleição, os votos do

Sarney não dariam para encher um penico”.

* * *

Jules Lévy: “O ventre é a primeira sala de es-pera”.

* * *

Paulo Leminski: “A vida não imita a arte. Imita um programa ruim de televisão”.

* * *

Cid Cercal: “A ignorância das ignorâncias é a ignorância da própria ignorância”.

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Outubro 2020 Gazeta Valeparaibana Página 14

Cultura africana: história, tradições e curiosidades

A África foi o berço da humanidade e aqui se desenvolveram grandes civilizações. Descubra um pouco mais sobre a cultura africana e suas tradições.

A cultura africana inclui uma ampla variedade de expressões artísticas, crenças, rituais e costu-mes de várias culturas. Tanto na antiguidade quanto hoje, neste vasto continente, existiram simultaneamente grandes e poderosas civiliza-ções, além de pequenas tribos tradicionais.

Na África, nasceram as primeiras civilizações do mundo, de modo que sua bagagem cultural é de extrema importância para toda a humanidade.

No século 18 a África começou a receber influ-ência colonizadora da Europa. Esse fenômeno significou que certos elementos (como uma se-gunda língua ou uma religião) se tornaram domi-nantes em várias culturas que, até então, eram muito diferentes entre si.

No entanto, algumas particularidades de vários grupos sobreviveram à colonização e ainda so-brevivem, dando a este continente uma ampla variedade de formas de expressão e pensamen-to.

Civilizações antigas da África

Foi na África que se desenvolveu uma das prin-cipais culturas da Era Antiga: o Egito Antigo, às margens do rio Nilo (nordeste da África).

Foi essa cultura que criou uma das primeiras formas de escrita na história da humanidade, bem como o muralismo e a arquitetura monu-mental geralmente associadas à arte mortuária que até hoje continua sendo estudada por cien-tistas de todo o mundo. Um exemplo disso são suas famosas pirâmides.

Juntamente com a cultura egípcia, outras cultu-ras como a Kush (antiga Núbia), que tinha uma população principalmente branca (semelhante à caucasiana), se desenvolveram na África antiga e foram posteriormente colonizadas pelo Egito.

Religiões indígenas africanas

Desde o surgimento das primeiras civilizações africanas, se desenvolveram religiões politeístas (com vários deuses) e animistas (alma e consci-ência são atribuídas a objetos, principalmente da natureza).

Hoje, mais de 100 milhões de africanos seguem crenças transmitidas por muitas gerações, base-adas no culto aos ancestrais e no animismo.

Em geral, essas religiões têm uma concepção do espiritual como um mundo dividido. Por um lado, o benéfico e benevolente é geralmente composto pelos espíritos dos ancestrais e por certas forças da natureza.

Por outro lado, o que é prejudicial e hostil é constituído por espíritos que não apenas devem

ser temidos, mas também podem ser solicita-dos, através de ofertas, com o objetivo de preju-dicar os inimigos.

Islã e Cristianismo

Tanto o cristianismo quanto o islamismo vieram para a África de outros continentes. A religião influenciou vários aspetos da cultura africana, com muitos rituais pagãos a serem adaptados à nova realidade religiosa.

Cristandade: chegou à África no século I dC e desde o século IV existe no Egito, Eritreia, Etió-pia e Sudão. O maior número de conversões ocorreu durante o período colonial.

Islamismo: chegou ao continente a partir do Me-diterrâneo no século VII, graças às conquistas muçulmanas que se espalharam pelo norte da África. Atualmente, existem mais de 290 milhões de seguidores do Islã na África.

Cultura africana: Música

A música tradicional africana é executada em grupo, em alguns casos para fins rituais. Em muitas línguas africanas, o tom dá um significa-do particular ao que é dito. Portanto, tanto o canto quanto a música com instrumentos podem transmitir significados além das palavras.

Entre os instrumentos mais populares estão a bateria, o alaúde, a flauta, os sinos e a trombeta.

Cultura africana: Dança

Os dançarinos africanos geralmente incluem u-sam máscaras, fantasias e pintura corporal. Nas culturas africanas, a dança está sempre associ-ada à música. Também pode ter uma função ritual.

Nesses casos, os dançarinos incluem máscaras, fantasias, pintura corporal e muitos outros recur-sos visuais para transmitir um sentimento ou pa-ra representar um evento mitológico.

Em alguns tipos de dança da cultura africana, os gestos também têm um significado por meio de uma complexa codificação.

Línguas africanas

Na África, existem mais de 1.300 idiomas dife-rentes, alguns dos quais podem ser agrupados em famílias de idiomas que se diversificaram ao longo dos séculos.

No entanto, houve processos de uniformidade, como os Bantu, que se espalharam pela África subsaariana e impuseram sua língua, ou como as colonizações inglesa e francesa que impuse-ram uma segunda língua.

Atualmente, os idiomas mais falados são o ára-be e o suaíli, usados por 120 milhões de falan-tes. Mesmo para aqueles em que estes idiomas não são as suas línguas maternas, eles são u-sados como uma “língua franca” para se comu-nicar com habitantes de outras regiões

Cultura africana: Trajes

A roupa tradicional africana é caracterizada pelo uso de cores vivas. Em geral, os povos africa-nos tradicionais usam o algodão como fibra têx-til. O fio de algodão é fabricado em teares de madeira.

Alguns artesãos têxteis, como os nigerianos, alternam as cores dos fios e conseguem dese-nhos geométricos em suas roupas. Em outras regiões, como a Costa do Marfim, tiras de tecido

são fixadas e pintadas com pigmentos obtidos das plantas.

Em diferentes culturas, a forma e a cor das rou-pas marcam a pertença a um grupo ou classe social. Além disso, certas peças de vestuário são usadas para eventos especiais. Em todos os casos, cores brilhantes como vermelho, ama-relo e verde são as mais comuns. Hoje em dia, gente de todo o mundo associa as cores garri-das à cultura africana.

Cultura africana: Pinturas rupestres

Na África, há pinturas rupestres (pintadas em rochas), com cerca de 12 mil anos. As pinturas mais antigas são encontradas no sul da Argélia e mostram cenas de caça com animais selva-gens, enquanto na Somália, Namíbia e África do Sul podem ser encontradas pinturas mais recen-tes, entre 5.000 e 3.000 a.C.

A arte rupestre é uma das primeiras manifesta-ções culturais da humanidade. Portanto, seu es-tudo nos permite aprender mais sobre os costu-mes e crenças das primeiras sociedades.

Cultura africana: Pintura corporal

Os africanos podem decorar todo o rosto e cor-po em alguns minutos.

Algumas culturas africanas decoram seus cor-pos e rostos com pinturas ousadas e coloridas. Para isso, eles usam vários pigmentos que ob-têm da terra e das plantas.

Apesar dos muitos detalhes, suas técnicas têm em consideração sobretudo a rapidez, pois é uma arte efêmera que pode ser apagada em pouco tempo. Portanto, eles podem decorar to-do o rosto e corpo em alguns minutos.

Cultura africana: Tatuagens

As tatuagens são outra maneira de decorar o corpo, mas permanentemente. O registro mais antigo de uma tatuagem vem do Egito, na mú-mia de Amunet. Essas tatuagens antigas eram feitas com tinta e representavam características da personalidade do tatuado.

Atualmente, vários grupos étnicos africanos u-sam cicatrizes ornamentais, ou seja, o desenho é feito através de um corte na pele profundo o suficiente para deixar uma cicatriz duradoura. Em outros casos, um objeto também é inserido para dar volume à pele.

Tradições africanas curiosas

As tradições são uma parte fundamental da cul-tura africana, tal como qualquer outro povo do planeta. Algumas dessas tradições podem pare-cer estranhas ou curiosas para quem não está familiarizado com África. Conheça algumas.

Seqüestro da noiva

Na tribo Latuka do Sudão, quando um homem quer se casar com uma mulher, ele a sequestra. Os membros mais velhos de sua família vão pe-dir a mão ao pai da menina em casamento e, se o pai concorda, ele bate no pretendente como um sinal de aceitação da união. Se o pai não concordar, no entanto, o homem pode se casar à força com a mulher de qualquer maneira.

Cerimônia de Khweta

Esta cerimônia da África Austral é praticada por várias tribos e é a maneira pela qual as crianças demonstram sua masculinidade.

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Outubro 2020 Gazeta Valeparaibana Página 15

CONTINUAÇÃO

CULTURA AFRICANA

Quando são maiores de idade, os meninos são enviados para passar vários dias ou se-manas na cabana da circuncisão durante o inverno. Lá são submetidos a rigorosos testes e rituais, muitas vezes perigosos, como a dan-ça contínua até a exaustão e a circuncisão.

Coloque um preço na noiva

Lobola é uma tradição antiga e controversa da África Austral, na qual as famílias dos noivos negociam a quantia que o noivo deve pagar pela noiva. Todas as negociações devem ser feitas por escrito, não por telefone nem pesso-almente. As duas famílias não podem sequer se falar até que as negociações estejam com-pletas.

Cuspa suas bênçãos

Os membros da tribo Massai no Quênia e na Tanzânia cospem como uma forma de bên-ção. Os homens cospem nos recém-nascidos e os guerreiros massais também cospem nas mãos antes de apertar a mão de um ancião.

Salto do touro

Na tribo Hamer da Etiópia, para demonstrar sua masculinidade, as crianças pequenas de-vem correr, pular e aterrissar nas costas de um touro. Eles fazem isso várias vezes, e ge-ralmente nus.

O noivo usa um véu

Os tuaregues de Ahaggaren, na Argélia, fa-zem parte de um grupo de tuaregues de lín-gua berbere. Em sua cultura, os homens usam lenços na cabeça quase o tempo todo. No en-tanto, eles podem remover o véu quando esti-verem com a família ou durante uma viagem.

As mulheres têm suas próprias casas

Na tribo Gio, na Costa do Marfim, cada mulher tem sua pequena casa em que vive com seus filhos até que tenham idade suficiente para sair. As crianças nunca moram com os pais.

As mulheres não podem chorar os idosos

No sudoeste do Congo, os Suku homenagei-am os ancestrais e anciãos da tribo, quando morrem, com um ato realizado em uma clarei-ra da floresta. Eles carregam presentes e ofer-tas lá, mas as mulheres são proibidas de parti-cipar.

Filhos criados por seus tios

Quando os meninos atingem os 5 ou 6 anos de idade numa tribo do norte de Angola, os Songo, eles são enviados por sua mãe para viver com seus tios. Isso ocorre porque os

chefes herdam sua posição através das linha-gens maternas.

A riqueza é medida por vacas

Na tribo Pokot no Quênia, a riqueza é medida pelo número de vacas que uma família possui. A maioria das pessoas Pokot são “pessoas do milho” ou “pessoas da vaca”, o que significa que é o que cultivam em suas terras, mas to-das as pessoas Pokot medem sua riqueza em vacas. O número de mulheres com quem um homem pode se casar é determinado pelo nú-mero de vacas que ele possui.

Viver com animais

O povo massai, no Quênia e na Tanzânia, tem políticas rígidas contra a matança de animais selvagens. Eles mantêm gado e animais de fazenda, mas não tocam em animais selva-gens. De fato, cada clã está associado a uma espécie selvagem, que geralmente vive perto deles e a trata como um membro do clã.

Protetor solar vermelho

Os Himba, do norte da Namíbia, cobrem a pe-le com uma mistura de manteiga e gordura ocre (para se protegerem do sol), um pigmen-to natural da terra que contém óxido de ferro. Por esse motivo, o povo Himba parece ter um tom de pele vermelho.

Vencer o pretendente

A tribo Fulani vive em muitos países da África Ocidental e segue uma tradição chamada Sharo. Sharo acontece quando dois jovens querem se casar com a mesma mulher. Para competir pela namorada, eles se batiam. Os homens devem evitar os sinais de dor e quem sofre os golpes sem mostrar sinais de dor é quem pode tomá-la como esposa.

Limpeza completa

O povo Chewa é um dos maiores grupos indí-genas do Malawi mas vive nem toda a África Central e Austral. Quando uma pessoa morre, uma tradição familiar é levar o corpo para a floresta, cortar a garganta e colocar água no corpo para limpá-lo. Eles fazem isso apertan-do o estômago do cadáver até que o que sai do ânus saia transparente e limpo.

Alongamento labial

Quando uma menina se torna adolescente na tribo Surma do Sudão do Sul, começa o pro-cesso de alongamento labial. As meninas têm todos os dentes inferiores removidos para a-

brir espaço para colocar uma placa no lábio, que aumenta de tamanho a cada ano.

Fonte: vortex mag Da redação

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A história dos japoneses escraviza-dos por portugueses e vendidos pelo

mundo há mais de 400 anos atrás

Em 1585, um menino japonês de oito anos de ida-de foi raptado e vendido como escravo a Rui Pérez, um comerciante português que atuava em Nagasa-ki. O menino, que ficou conhecido como Gaspar Fernandes, nasceu em Bungo (atual província de Oita, no sul do Japão) e foi o primeiro de cinco es-cravos asiáticos que Pérez adquiriria nos anos se-guintes.

Pesquisadores acreditam que o menino tenha sido raptado por outro japonês, pois era comum que os próprios japoneses capturassem pessoas para ven-der aos portugueses na região. Junto à família de Pérez, Gaspar passou a atuar como um serviçal. Ele aprendeu português e espanhol e acabou leva-do com a família para Manila, nas Filipinas, onde Pérez foi perseguido e condenado por praticar o judaismo em segredo.

O comerciante foi enviado ao México para ser jul-gado pela Inquisição e acabou morrendo dois dias antes de atracar no porto de Acapulco.

Em 2013, o pesquisador português Lúcio de Sousa, professor da Universidade de Estudos Estrangeiros de Tóquio, concluiu o quebra-cabeças da vida de Gaspar e outros escravos japoneses de Pérez ao descobrir um documento nos Arquivos Gerais da Nação no México.

"Passei um mês no México, pesquisando horas por dia, até que o registro do transporte do Gaspar e outros escravos caiu nas minhas mãos. Eu sabia que não estava apenas atrás de um simples docu-mento, eu estava lidando com a vida de pessoas que existiram de verdade, foram exploradas e es-quecidas", revelou à BBC News Brasil.

Gaspar foi um entre milhares de crianças, adultos, homens e mulheres capturados no Japão entre o fim do século 16 e o início do século 17. As vítimas eram raptadas nas camadas mais desfavorecidas da sociedade, depois eram acorrentadas e empur-radas aos navios. Os japoneses acabavam força-dos a deixar o país e suas famílias para sofrer abu-sos e torturas em terras estrangeiras.

Ana Paula Ramos

Este dia foi instituído em 1991 pela ONU - Organização das Nações Unidas, e tem como objetivo sensibilizar a sociedade para as questões do envelhecimento e da necessidade de proteger e cuidar a população mais idosa. A mensagem do dia do idoso é passar mais carinho aos idosos, muitas ve-zes esquecidos pela sociedade e pela família.

No Dia Internacional do Idoso decorrem várias iniciativas para a população idosa, nomeadamente palestras, sessões de atividade física e workshops de artes manuais.

Existem 600 milhões de pessoas com mais de 60 anos no mundo. Em 2025 este número será o do-bro.

A população brasileira está envelhecendo e, segundo projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pode chegar a 19 milhões de pessoas com mais de 80 anos em 2060. Outros

já falam que esse numero poderá ser atingido já em 2020,

01-Dia Nacional do Idoso

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História da Lagoa Rodrigo de Freitas - Rio de Janeiro

A lagoa mais famosa do Rio de Janeiro conta com um passado que está diretamente ligado às memórias do País

A lagoa mais famosa do Rio de Janeiro conta com um passado que está diretamente ligado às memórias do País.

No início da colonização do Brasil, a região onde hoje fica a Lagoa Rodrigo de Freitas deixou os portugueses interessados. Aquela área, conhe-cida pelos índios nativos como “Sapopenipã”, apresentava terras de boa qualidade para o plantio da cana-de-açúcar. Já a Lagoa era cha-mada de “Capopenipem”, que significa “lagoa das raízes chatas”

Com mais de meio século de tradição no merca-do imobiliário do Rio de Janeiro, a Sergio Castro Imóveis – a empresa que resolve contribui para a valorização da cultura carioca

Logo após a expulsão dos franceses, foi instala-do o Engenho Del Rei pelo Governador Antonio Salema na região da Rodrigo de Freitas. Os por-tugueses chamavam a área de Lagoa dos So-cós, pois havia muitas dessas aves por lá.

Já no século seguinte, em 1660, as terras foram adquiridas por Rodrigo de Freitas Castro e Mel-lo, que ao voltar para Portugal deixou a área de herança para seu filho Rodrigo de Freitas. Daí veio o nome: Lagoa Rodrigo de Freitas.

Contudo, chamar de “lagoa” não é tão correto assim.

Tecnicamente falando, o termo é outro, como destacam alguns especialistas:

“Trata-se então, da Laguna Rodrigo de Freitas. Mas por que ‘laguna’ e não ‘lagoa’? A diferença é que laguna mantém comunicação com o mar através de um canal. É uma área deprimida, lo-calizada na foz oceânica dos rios e formada por água salobra ou salgada. Esses ambientes lagu-nares são verdadeiros corpos d’água isolados, formados pelas oscilações dos níveis de maré nos períodos glaciais e interglaciais associados aos climas globais e, que estão sempre em transformação” contou a geógrafa Sonia Gama em entrevista ao jornal O Globo.

Uma providência que modificou um pouco o ce-nário da Rodrigo de Freitas foi tomada com a chagada da Família Real Portuguesa.

“No início do Século XIX, D. João VI, ao se transferir para o Brasil, teve como primeira provi-dência a construção de uma fábrica de pólvora para que seu exército e sua marinha pudessem proteger a cidade de possíveis invasões france-sas.

O local escolhido para a construção da fábrica foi em terras que circundavam a Lagoa, já então denominada ‘Rodrigo de Freitas’. Para que esta construção pudesse ser realizada D. João VI indenizou a família Rodrigo de Freitas e nesse mesmo ano a fábrica foi construída. Em 1826 a fábrica de pólvora construída por D. João VI ex-plodiu e foi então transferida para a Raiz da Ser-ra no caminho que D. Pedro II fazia para chegar a Petrópolis, e passou a chamar-se Fábrica da

Estrela” informa o instituto de pesquisa Rio de Janeiro Aqui.

Com o passar dos séculos, a produção de cana-de-açúcar passou a render menos lucros e mui-tas dessas fazendas se tornaram pequenas chá-caras. A região da Rodrigo de Freitas foi um desses casos.

Na década de 1970, a especulação imobiliária chegou com força na área da Rodrigo de Freitas e partes da Lagoa foram aterradas para a cons-trução de prédios residenciais.

“Os aterros não foram uma novidade. Eles já aconteciam desde 1808. Nesse processo todo, mais da metade da Lagoa Rodrigo de Freitas foi aterrada” afirma o historiador Maurício Santos.

Após uma série de protestos, inclusive de mora-dores e arquitetos como Oscar Niemeyer e Lu-cio Costa, a Lagoa Rodrigo de Freitas e sua or-la, em 1975, durante a gestão do prefeito Mar-cos Tamoyo, foram tombadas pelo patrimônio histórico.

Nesse período, foi proibida qualquer alteração na linha do espelho d’água restringindo assim as construções na área em torno da Lagoa. A área da margem seria utilizada para a construção de área de lazer para a população.

Nos anos 1990, foi iniciado um trabalho para tentar despoluir a Lagoa. Nessa mesma década, a Rodrigo de Freitas passou a receber a famosa árvore de natal, que já virou um cartão postal carioca, assim como a própria Lagoa.

Da redação

Outubro de 2016 ÚLTIMA PÁGINA

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