ano xii - edição 141 - agosto de 2019 distribuição gratuita · informar para educar - educar...

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Inspiração A maioria das pessoas acredita que para dar o primeiro passo em busca de uma colocação no trabalho voluntario, tem que ter uma inspiração, alguns vão mais longe e dizem que há a necessidade de ter uma inspiração divina. Acho um pouco demais, com todo o respeito às crenças individuais, mas voluntariado é muito mais racional... Matéria completa: Retrospectiva: “Fulano é fascista!”, argumento pronto Nós da esquerda, a nível do discurso, costumamos nos dar razão muito facilmente. Também temos argumentos tanto fortes, quanto prontos: “Fulano é fascista!” ou “O importante é o social.” Na minha caminhada como estudante de humanas (lá se vão 16 anos), a- prendi a fazer uns exercícios que servem pra dosar essa força e a fazer circular Matéria completa: Ano XII - Edição 141 - Agosto de 2019 Distribuição Gratuita CULTURAonline BRASIL Palestras e boa música Palestras: - Cultura - Educação - Meio Ambiente - Cidadania Baixe o aplicativo Google Play no site www.culturaonlinebr.org + MATÉRIAS -Cerrado está sendo devastado mais rápido do que a Amazônia Página 3 A desigualdade no Brasil é uma forma de dominação econômica, social e cultural. Página 4 - Olhares... Página 5 - Após abolição, negro foi excluído do mer- cado de trabalho. - Escravidão moderna Página 6 - Pontos de Vista... - By By Brasil. A desconstrução da Nação Soberana. Página 7 - Descolonizar o saber e o poder Página 8 - A prova de fogo Página 9 - Página da Genha Auga Página 10 - Política Internacional Página 11 - Senhores do Mundo. A doutrina que está por trás do America First Página 12 - Algumas datas comemorativas Página 13 - O mito da caverna de Platão: a dualidade da nossa realidade. Página 14 - Por que os psicopatas chegaram ao poder Página 15 - Regressão e obscurantismo: “…e eu não me importei” Página 16 Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar Os dados, divulgados pelo IBGE em fins de julho, são alarmantes: 3% do total de crianças brasileiras de 6 a 14 anos se encontram fora da escola, o que representa quase 1 milhão de excluídos dos bancos es- colares. Se incluirmos o contingente de 4 e 5 anos e de 15 a 17, o percentual aumenta para 8%, ou seja, 3,8 milhões de crianças e adolescentes. As razões da evasão escolar precoce são muitas. As mais frequentes, porém, são a falta de interesse (falha pedagógica dos educadores), repetência, gravidez precoce e o imperativo de ingressar no mercado de trabalho para ajudar a família. A desescolaridade provoca na criança e no adolescente baixa autoes- tima, tornando-os vulneráveis a propostas ilusórias de enriquecimento e consumismo fáceis através do tráfico de drogas e outras práticas cri- minosas. O programa “Todos pela educação”, do qual participo, estabelece 5 metas até 2022, data do bicentenário da independência do Brasil: 1) 98% das crianças e jovens entre 4 a 17 anos devem estar matricu- lados e frequentando a escola; 2) 100% das crianças deverão apresentar as habilidades básicas de leitura escrita até o final da 2a. série ou 3o. ano do ensino fundamental; 3) 70% ou mais dos alunos terão aprendido o que é essencial para a série que cursam; 4) 95% ou mais dos jovens brasileiros de 16 anos deverão ter completado o ensino fundamental e 90% ou mais de 19 anos deverão ter completado o ensino médio; 5) O investimento público em educação básica deverá ser de 5% ou mais do PIB. São metas elementares e, no entanto, essenciais para qualificar as gerações futuras e permitir ao nosso país acesso ao desenvolvimen- to sustentável com justiça social. Segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho), no mundo 215 milhões de meninos e meninas trabalham para sobreviver ou complementar a renda de suas famílias. Dessas crianças, metade está expostas a condições degradantes de trabalho, como escravi- dão, servidão por dívidas, exploração sexual com fins comerciais e atuação em conflitos armados. O governo brasileiro já desenvolve intensa campanha contra a exploração sexual de crianças e o trabalho infantil. No entanto, é preciso aprimorar o combate a toda forma de violência contra crianças, em especial no âmbito familiar. Há que considerar também como violên- cia à infância a extrema pobreza e determinados conteúdos do ciberespaço, pelo qual atuam os pedófilos e disseminadores de porno- grafia. Frei Betto

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Page 1: Ano XII - Edição 141 - Agosto de 2019 Distribuição Gratuita · Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar Os dados, divulgados pelo IBGE em fins de julho,

Inspiração

A maioria das pessoas acredita que para dar o primeiro passo em busca de uma colocação no trabalho voluntario, tem que ter uma inspiração, alguns vão mais longe e dizem que há a necessidade de ter uma inspiração divina.

Acho um pouco demais, com todo o respeito às crenças individuais, mas voluntariado é muito mais racional...

Matéria completa:

Retrospectiva: “Fulano é fascista!”, argumento pronto

Nós da esquerda, a nível do discurso, costumamos nos dar razão muito facilmente. Também temos argumentos tanto fortes, quanto prontos: “Fulano é fascista!” ou “O importante é o social.” Na minha caminhada como estudante de humanas (lá se vão 16 anos), a-prendi a fazer uns exercícios que servem pra dosar essa força e a fazer circular Matéria completa:

Ano XII - Edição 141 - Agosto de 2019 Distribuição Gratuita

CULTURAonline BRASIL

Palestras e boa música

Palestras:

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- Educação

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www.culturaonlinebr.org

+ MATÉRIAS -Cerrado está sendo devastado mais rápido do que a Amazônia Página 3 A desigualdade no Brasil é uma forma de dominação econômica, social e cultural. Página 4 - Olhares... Página 5 - Após abolição, negro foi excluído do mer-cado de trabalho. - Escravidão moderna Página 6 - Pontos de Vista... - By By Brasil. A desconstrução da Nação Soberana. Página 7 - Descolonizar o saber e o poder Página 8

- A prova de fogo Página 9 - Página da Genha Auga Página 10 - Política Internacional Página 11 - Senhores do Mundo. A doutrina que está por trás do America First Página 12 - Algumas datas comemorativas Página 13 - O mito da caverna de Platão: a dualidade da nossa realidade. Página 14 - Por que os psicopatas chegaram ao poder Página 15 - Regressão e obscurantismo: “…e eu não me importei” Página 16

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

Os dados, divulgados pelo IBGE em fins de julho, são alarmantes: 3%

do total de crianças brasileiras de 6 a 14 anos se encontram fora da

escola, o que representa quase 1 milhão de excluídos dos bancos es-

colares.

Se incluirmos o contingente de 4 e 5 anos e de 15 a 17, o percentual

aumenta para 8%, ou seja, 3,8 milhões de crianças e adolescentes.

As razões da evasão escolar precoce são muitas. As mais frequentes,

porém, são a falta de interesse (falha pedagógica dos educadores),

repetência, gravidez precoce e o imperativo de ingressar no mercado

de trabalho para ajudar a família.

A desescolaridade provoca na criança e no adolescente baixa autoes-

tima, tornando-os vulneráveis a propostas ilusórias de enriquecimento

e consumismo fáceis através do tráfico de drogas e outras práticas cri-

minosas.

O programa “Todos pela educação”, do qual participo, estabelece 5

metas até 2022, data do bicentenário da independência do Brasil: 1) 98% das crianças e jovens entre 4 a 17 anos devem estar matricu-

lados e frequentando a escola; 2) 100% das crianças deverão apresentar as habilidades básicas de leitura escrita até o final da 2a. série

ou 3o. ano do ensino fundamental; 3) 70% ou mais dos alunos terão aprendido o que é essencial para a série que cursam; 4) 95% ou

mais dos jovens brasileiros de 16 anos deverão ter completado o ensino fundamental e 90% ou mais de 19 anos deverão ter completado

o ensino médio; 5) O investimento público em educação básica deverá ser de 5% ou mais do PIB.

São metas elementares e, no entanto, essenciais para qualificar as gerações futuras e permitir ao nosso país acesso ao desenvolvimen-

to sustentável com justiça social.

Segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho), no mundo 215 milhões de meninos e meninas trabalham para sobreviver ou

complementar a renda de suas famílias. Dessas crianças, metade está expostas a condições degradantes de trabalho, como escravi-

dão, servidão por dívidas, exploração sexual com fins comerciais e atuação em conflitos armados.

O governo brasileiro já desenvolve intensa campanha contra a exploração sexual de crianças e o trabalho infantil. No entanto, é preciso

aprimorar o combate a toda forma de violência contra crianças, em especial no âmbito familiar. Há que considerar também como violên-

cia à infância a extrema pobreza e determinados conteúdos do ciberespaço, pelo qual atuam os pedófilos e disseminadores de porno-

grafia.

Frei Betto

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Inspiração

A maioria das pessoas acredita que para dar o primeiro passo em busca de uma colo-cação no trabalho voluntario, tem que ter uma inspiração, alguns vão mais longe e di-zem que há a necessidade de ter uma inspiração divina.

Acho um pouco demais, com todo o respeito às crenças individuais, mas voluntariado é muito mais racional do que emocional, olhamos para o lado, percebemos a necessida-de, olhamos para nós, percebemos que podemos fazer algo, vamos lá e fazemos. Sim-ples, rápido e prático, sem muitas elucubrações e chamamentos.

Sim existem os que são tocados de forma diferenciada para uma prática, e existem prá-ticas que só pessoas muito inspiradas para realizarem, como o trabalho em penitenciá-rias, admiro e respeito muito as que fazem esta atividade, nos manicômios, tão neces-sário e realizado por uma parcela pequena, mas importante de voluntários.

Mas quero mais uma vez chamar a atenção para que não fiquemos paralisados espe-rando um chamamento, pois as oportunidades para exercer um trabalho voluntario que faça bem a você e ao próximo estão mais perto do que você imagina.

Busque na sua rua, igreja ou templo, bairro, clube, escola, prefeitura, cidade, amigos etc., tenho certeza que quando começar a falar de seu interesse um trabalho virá até você. Assim o chamamento podemos dizer que será invertido, voe fara um chamamen-to para ajuda, afinal de contas um dos principais beneficiados da prática voluntaria é você, portanto é o maior interessado na ação.

Grande parte dos trabalhos oferecidos estão muito próximo as pessoas, pois sempre ouvimos aquelas frases: “nossa como nunca percebi que aqui havia uma organização”.

Certamente você se tornará uma pessoa muito mais interessante, a partir do momento que se interessar, é a regra da reciprocidade, eu me ofereço, para ter, doar para rece-ber. Todas as crenças de alguma forma fazem este lema valer. E para os que não tem crença? Acredite em você, que você, seu tempo e talento, pode fazer a diferença na vi-da de muita gente e seja feliz.

Roberto Ravagnani

Agosto de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 2

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A Gazeta Valeparaibana é um jornal mensal gratuito distribuído mensalmente para download na web

Diretor, Editor e Jornalista responsável Filipe de Sousa - FENAI 1142/09-J

Colunistas Fixos:

Mariene Hildebrando Genha Auga Filipe de Sousa Fábio Luiz de Souza João Paulo E. Barros Callendar (datas)

Colaboradores esporádicos nesta edição:

Roberto Ravagnani Folha de São Paulo Frei Sérgio Antônio Görgen ofm Valéria Dias Matheus Silveira de Souza Boaventura de Sousa Santos Pedro Augusto Pinho Luis Pellegrini Diogo Araujo George Monbiot Adão Villaverde Frei Betto

IMPORTANTE

Todas as matérias, reportagens, fotos e demais conteúdos são de inteira responsa-bilidade dos colaboradores que assinam as

matérias, podendo seus conteúdos não corresponderem à opinião deste Jornal.

Colaboraram nesta edição Você sabe qual é a origem da pipoca? Descubra!

Ela combina com o cinema, com o sofá de casa, com parques de diversão, pracinhas, festas juni-nas e muito mais. É claro que estamos falando da pipoca, um dos petiscos mais consumidos no mundo, ideal para momentos descontraídos ou para curtir aventuras e emoções na tela. Mas vo-cê já parou pra pensar sobre a origem da pipoca?

Se você sempre quis saber onde esse delicioso aperitivo surgiu, este post poderá aju-dar. Continue lendo abaixo e descubra quem inventou a pipoca, além de outras curiosi-dades e dicas para degustar a sua. �

Quem inventou a pipoca?

Assim como diversos outros alimentos, a pipoca é mais uma dessas receitas que não tem um criador, mas sim uma origem repleta de pesquisas e mistérios. No entanto, quando falamos de lugares onde se deu a origem da pipoca, pesquisadores apontam que o alimento possivelmente

Surgiu Há Cerca De 9000 Anos Na Região Do México

. Vestígios do petisco já foram encontrados em outros países como Peru e Estados Uni-dos, e muitos acreditam que o alimento era comum aos povos nativos das Américas do Norte, Central e do Sul.

Como o milho era um importante alimento para os povos nativos das Américas, historia-dores acreditam que a pipoca apareceu por acaso, quando alguém colocou espigas in-teiras junto à fogueira , e os grãos estouraram por causa do calor. Com o tempo, algu-mas tribos passaram a separar os grãos e colocá-los em jarros de barro com areia, faci-litando o processo de estouro da pipoca.

PRECISAMOS VOLUNTÁRIO (A)

REVISÃO ORTOGRÁFICA DO JORNAL

01 - Dia Nacional do Selo 05 - Dia Nacional da Saúde 09 - Dia Internacional dos Povos Indígenas 11 - Dia dos Pais 11 - Dia da Televisão 11 - Dia Internacional da Logosofia 11 - Dia do Estudante 12 - Dia Internacional da Juventude 12 - Dia Nacional das Artes 15 - Dia da Informática 15 - Dia dos Solteiros 19 - Dia Mundial da Fotografia 19 - Dia do Artista de Teatro 19 - Dia do Historiador 22 - Dia do Folclore 29 - Dia Nacional da Visibilidade Lésbica

ALGUMAS DATAS COMEMORATIVAS (Todas as Datas? Visite nossa biblioteca no site)

A melhor maneira de nos prepararmos para o futuro é concentrar toda a imaginação e

entusiasmo na execução perfeita do trabalho de hoje.

Dale Carnegie

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Agosto de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 3

Retrospectiva: “Fulano é fascista!”, argumento pronto

Nós da esquerda, a nível do discurso, costumamos nos dar razão muito facilmente. Também temos argumentos tanto fortes, quanto prontos: “Fulano é fascista!” ou “O importante é o social.” Na minha caminhada como estudante de humanas (lá se vão 16 anos), a-prendi a fazer uns exercícios que servem pra dosar essa força e a fazer circular. Acredito que isso seja pensar: controlar as intensida-des das palavras e levar a sério o princípio de não ter dogmas ou ser autoritário. Ou seja: saber onde se quer chegar, mas sempre fazer o pensamento estar em movimento. Quem se beneficiará dis-so é a ação.

Diante das duas afirmações citadas, estes exercícios de que falo levam a perguntas do tipo: o fascista é aquele que não reconhece o outro, mas, e eu, devo reconhecer o fascista? A pergunta pode pa-recer retórica, mas não a vejo assim. O que faço com a representa-ção interior e com o embate diante de alguém que não aceita o diá-logo? Eu quero dialogar com ela ou a quero calar?

Ou então: a reiteração da maior importância do social não termina por criar um interdito na abordagem dos exercícios da criação da subjetividade enquanto tarefa individual? É possível criar revolução sem que cada um dos combatentes seja sujeito? No limite, pode-mos pensar que se se imagina criar um coletivo cujos integrantes não têm conhecimento da própria individualidade (ou subjetividade) talvez o projetado seja algo impossível ou mesmo catastrófico. Quem é essa pessoa que diz: “Pertenço a este conjunto?”

Para Freud (O mal-estar na civilização), a ideologia do amor univer-sal, bastante presente na origem do nosso humanismo e da nossa esquerda (que têm bases cristãs), está equivocada por duas ra-zões. Em primeiro lugar, ao defender que a melhor atitude é a de amar a todos por regra e sem esperar nada em troca, sou injusto com o objeto (cada pessoa), pois não pergunto a ele se quer ser amado. Tiro dele(a) o direito de escolha.

Em segundo lugar, nem todos os seres humanos são dignos de a-mor. Uma posição “naturalista”, que afirmasse o contrário deste ar-gumento, estaria também justificando uma postura ideológica de piedade, que não quer assumir que cada ser humano pode come-ter erros catastróficos. (Veja-se nosso atual presidente, um ser his-tórico e não um homem inocente.)

As objeções de Freud podem parecer frias e inviabilizadoras de um humanismo, mas defendo aqui que não se trata disso. Trata-se de fazer aqueles exercícios que mencionei no começo desta crônica e ver até onde levam. Desdobrando este argumento freudiano, pode-

mos trazer à discussão algumas forças enormemente autoritárias e geradoras de neurose e inação que estão na raiz daquilo que para nós aqui interessa, ou seja, grande parte dos discursos críticos e humanistas, inclusive (ou principalmente) no Brasil atual. Posso a-menizar esta qualificação e dizer forças “inconscientemente laten-tes”, se isto fizer a nós mesmos enfrentarmos o nosso provincianis-mo esquerdista de maneira mais honesta.

Uma dessas forças inconscientes é a ideia de que a organicidade social é um fato indiscutível e que deveria ser percebido para se construir melhores formas de coletividade, sendo um defeito não a perceber. Briga-se pelo fortalecimento da ideia de que somos um único corpo, de que nossos gestos interferem na ordem de um todo e que, por isso, devemos ser responsáveis por eles. Isto, porém, é um artifício argumentativo, não uma realidade.

A possibilidade que muitas vezes não queremos ver é a de que es-te “todo” é uma soma artificial de múltiplas forças dissonantes, dife-rentes, instáveis, ora recolhidas (não-presentes), neutras, etc. For-ças estas que, em boa parte dos momentos, não querem se rela-cionar umas com as outras e devem poder não querer. Caso con-trário, não quererão. O tamanho das cidades e das formas de orga-nização é pra lá de imenso, tornando impossível sustentar ideias de corpo social uniforme.

Também pressupomos constantemente, com a ideia de justiça uni-versal tradicional, que o amor é melhor do que o desamor. Isto po-de ser visto também como nociva mistificação. No lugar de amor podem estar infinitas coisas. Dentro desta lógica, porém, um sujeito que recusa uma oferta positiva de comunicação e mostra de solida-riedade, em situações tanto sociais quanto aleatórias ou burocráti-cas, é tachado de alienado. Podemos fazer a crítica de que um su-jeito, se for digno deste nome, deve sempre poder optar se quer expressar seus desejos, sua intimidade, ou não. Para serem cons-cientemente políticos os sujeitos devem escolher.

Na infinita diversidade de possibilidade de composição de subjetivi-dade, inclusive dentro do mesmo sujeito em momentos diferentes, pode-se encontrar ausência de entrega constante ao desempenho do papel de humanista. Também todas as formas de subjetivação podem ser como que cheias de vazios e espaços tensos que sim-plesmente no momento não podem ser preenchidos.

O papel de solidariedade da esquerda brasileira tem origem cristã e isto quer dizer tudo acima mais uma coisa fundamental: a arte, esta importantíssima forma de educação, fica em segundo plano em re-lação a ações de redenção social ainda hoje no Brasil atual.

Diogo Araujo

Cerrado está sendo devastado mais rápido do que a Amazônia

Números divulgados na última semana pelo Ministério do Meio Ambiente revelam um panorama desfavorável para o segundo maior bioma brasilei-ro. O cerrado tem atualmente níveis preocupantes de desmatamento –9.483 km² anuais. Isso equivale a uma perda de quase 0,5% do total ori-ginal do bioma ao ano.

Para comparação, a Amazônia, entre 2014 e 2016, teve uma média de desmatamento de 6.400 km² ao ano. O bioma, porém, tem mais do que o dobro de área do cerrado, fazendo que o ritmo de desmatamento fique na casa de 0,1% ao ano.

Trocando em miúdos, o ritmo de destruição do cerrado é cinco vezes mais rápido do que o da Amazônia. Os dados são do Programa de Con-trole e Prevenção do Desmatamento, do Ministério do Meio Ambiente.

Apesar dos números apresentados, a meta de redução do desmatamento do cerrado foi cumprida. A ideia era reduzi-lo em 40% –baseado na mé-dia 15.700 km² de desmatamento anual do bioma entre 1994 e 2008.

Segundo o Observatório do Clima, no entanto, a meta, calculada e pro-posta em 2009, foi praticamente cumprida “por coincidência” na sequên-

cia. Ao contabilizarem o desmatamento do mesmo ano de 2009, o valor já estava na casa dos 10.000 km² de perdas anuais, próximo da marca pré-estabelecida para 2020, de 9.421 km².

Essa taxa de desmatamento equivale a cerca de 1% do bioma de cerrado remanescente e é considerada alta por ambientalistas.

CAMPEÕES

Os municípios que mais destruíram o bioma com a ocupação humana estão na região conhecida como Mapitoba (que contém envolve áreas do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia).

O município com maior índice de antropismo (mudança do bioma por a-ção humana) no triênio 2013-2015 é São Desidério (Bahia), com 337 km². O pódio dos três mais é completado, nas sequência, por outros dois mu-nicípios Baianos –Jaborandi e Formosa do Rio Preto.

Completam a lista dos dez maiores desmatadores de cerrado Uruçuí (PI), Balsas (MA), Grajaú (MA), Baixa Grande do Ribeiro (PI), Cocos (BA), Correntina (BA) e Peixe (TO), nessa ordem. Esses dez municípios res-pondem por 89% do antropismo do período, segundo o Ministério do Mei-o Ambiente.

Da redação

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A desigualdade no Brasil é uma forma de dominação econômica, social e cultural.

Pierre Bourdieu, sociólogo francês, demonstra como a concentra-ção de diferentes tipos de capitais – econômico, social e cultural – podem ser usados como forma de dominação de algumas classes sociais sobre outras.

Estão enganados aqueles que acreditam que o Brasil não ocupa os primeiros lugares nas disputas com outras nações e é um país rele-gado às posições inferiores quando o assunto é comparação inter-nacional. É só olharmos para os índices de desigualdade social e concentração de renda para vermos o Brasil ali, no topo, disparado, como um dos países mais desiguais do mundo, ocupando o primei-ro lugar quando tratamos da concentração de renda na fatia do 1% mais rico. Para quem deseja concentrar capital, pagar pouco tributo sobre renda e propriedade, ou fazer dinheiro em cima de dinheiro (juros), o Brasil parece uma ótima opção.

Mas será que o abismo social que encontramos por aqui se restrin-ge ao aspecto econômico? A desigualdade é uma mazela que atin-ge apenas a distribuição de dinheiro, ou também podemos falar em desigualdade educacional? Existe algo como desigualdade de a-cesso às políticas públicas? Desigual acesso ao transporte, ao sa-neamento básico, às políticas habitacionais? Bom, se você leitor, não mora no centro das capitais brasileiras, acredito que a última pergunta será um tanto retórica.

É evidente que o dinheiro – enquanto representação da riqueza – pode intensificar ou amenizar as demais desigualdades. Entretanto, algumas especificidades podem ser apontadas sobre o tema da de-sigualdade. Para afunilar nossa discussão em termos de educação, podemos prosseguir com as seguintes interrogações: existe ape-nas capital econômico, ou é possível falarmos em algo como capi-tal cultural? Será que apenas o capital econômico pode ser acumu-lado, concentrado e, principalmente, herdado?

Pierre Bourdieu, sociólogo francês, demonstra como a concentra-ção de diferentes tipos de capitais – econômico, social e cultural – podem ser usados como forma de dominação de algumas classes sociais sobre outras. Os indivíduos utilizam o acúmulo desses capi-tais como forma de dominação de outros indivíduos. Não é só o di-nheiro que pode ser acumulado, monopolizado ou transmitido, mas também a cultura e a educação, ou nos termos de Bourdieu, o capi-tal cultural. Esse capital é utilizado pelas classes altas, por vezes, como forma de se distinguir dos demais assalariados, daí o nome de um dos principais livros do sociólogo: A distinção: crítica social do julgamento.

É interessante observarmos que esses capitais podem ser conver-tidos entre si. Uma pessoa pode utilizar o seu capital cultural – por exemplo, diploma – para obter mais capital econômico. Do mesmo modo, é possível utilizar o capital econômico para ter acesso a um

bom capital cultural, pagando altas mensalidades em escolas ou universidade privadas de ponta.

Ao realizar uma pesquisa nas escolas da França, Bourdieu observa que algumas crianças possuíam um melhor desempenho no ensino em virtude do contato precoce que tiveram com a cultura legítima no próprio ambiente familiar. Assim, mesmo uma escola pública, universal e gratuita era incapaz de diminuir as desigualdades esco-lares, pois os estudantes traziam de casa diferentes bagagens de capital cultural, que por sua vez, eram determinantes para o de-sempenho de cada aluno. Assim, crianças que tiveram contato com a dita cultura legítima – desde o vocabulário, gosto artístico, etc – se saiam melhores que os demais estudantes. Isso não se explica pelo fato de que a cultura dessas famílias era superior, mas sim porque a estrutura escolar, embora se apresente como neutra, va-loriza um tipo de cultura específico: a cultura da classe dominante e suas frações de classe. Deste modo, a depender da organização do sistema de ensino, a escola servirá para reproduzir as desigual-dades presentes na estrutura social, motivo pelo qual Bourdieu de-nominou este livro de A reprodução.

Ao mesmo tempo que a educação pode servir para diminuir as de-sigualdades sociais e regionais, ela também pode servir para inten-sificá-las, ao reproduzir as diferenças estruturais da sociedade e aumentar a profundidade do abismo social que separa a educação para indivíduos de diferentes classes sociais. O atual governo pare-ce apostar nesta última funcionalidade da educação. Tais ideias trazem à mente uma música do Inquérito: “por que uns tem que bri-lhar e outros tem que polir?”

É óbvio que essa desigualdade educacional está entrelaçada com a desigualdade econômica, e que a última aprofunda a primeira. Em outras palavras: a desigual distribuição de riqueza aprofunda a falta de acesso à educação de qualidade, e a escassez da educa-ção de qualidade intensifica, ainda mais, a desigualdade econômi-ca. A relação aqui não é unilateral, mas dialética.

No Brasil, as desigualdades de acesso à educação e cultura come-çam pelo estado em que o indivíduo nasce: se você gosta muito de ir ao cinema, teria dificuldade para praticar esse gosto caso more no Acre, considerando que há apenas 5 salas de cinema no estado inteiro. Embora em São Paulo tenhamos a maior quantidade, em nível nacional, de salas de cinema por habitante, uma pergunta a-perta meus botões: quem são os frequentadores dessas salas? O plano de passar a tarde em uma biblioteca pública também pode ser dificultado se você estiver em Roraima, considerando que há apenas 16 bibliotecas em todo o estado.

Se você está entre os 75% dos alunos que frequentam a escola pública no Brasil – a maioria da população brasileira-, o município que você nascer terá grande influência na qualidade da educação que terá, considerando a disparidade de distribuição de recursos entre os municípios no país. Para citar um exemplo, em Minas Ge-rais, enquanto a cidade de Douradoquara recebe 17,7 mil reais em investimento de aluno/ano, em São João da Ponte esse valor cai para 3,5 mil reais.

Embora a solução de alguns problemas demande o esforço contí-nuo de gerações, podemos destacar medidas atuais e urgentes que devem ser tomadas (ou negligenciadas) ainda esse ano. Medi-das que garantam que a educação de qualidade – com infraestrutu-ra escolar, professores bem remunerados e material didático de ponta – não seja apenas um privilégio dos que podem pagar altas mensalidades, mas um direito público de todo indivíduo. Isso passa pelo fortalecimento de um local frequentado durante muitos anos por ¾ dos alunos no país: a escola pública.

Matheus Silveira de Souza

Agosto de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 4

Informar para educar - Educar para formar - Formar para transformar

A pobreza existe em todos os países, pobres ou ricos, mas a desigualdade social é um fenômeno que ocorre princi-palmente em países não desenvolvidos. ... No Brasil, a desigualdade social tem sido um cartão de visita para o

mundo, pois é um dos países mais desiguais.

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Agosto de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 5

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Frases sobre o Tempo

O valor das coisas não está no tempo que e-las duram, mas na intensidade com que acon-tecem. Por isso existem momentos inesquecí-veis, coisas inexplicáveis e pessoas incompa-

ráveis.

Maria Julia Paes de Silva

...

Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente

viver.

Dalai Lama

...

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o

tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de

nós mesmos.

Fernando Teixeira de Andrade

...

A saudade é o que faz as coisas pararem no Tempo.

Mario Quintana

...

Não existe nada de completamente errado no mundo, mesmo um relógio parado consegue

estar certo duas vezes por dia.

Paulo Coelho

...

Perder tempo em aprender coisas que não interessam, priva-nos de descobrir coisas

interessantes.

Carlos Drummond de Andrade

...

Se me esqueceres, só uma coisa, esquece-me bem devagarinho.

Mario Quintana

...

O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente...

Mario Quintana

...

O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenha-

mos, nisso, um dia a menos nela.

Fernando Pessoa

...

O maior erro que você pode cometer é o de ficar o tempo todo com medo de cometer

algum.

Elbert Hubbard

Olhares...

Sobre olhares, sobre pontos de vista, sobre novos olhares...

Impressionante como não conseguimos às vezes ser empáticos. Eu diria que é uma qualidade que poucas pessoas possuem. Como conseguimos achar que aquilo que aconteceu conosco é sempre pior, e o que aconteceu com o outro não foi tão ruim assim. Pessoas sofrem com coisas que acontecem e muitas vezes o que se ouve é: isso não foi “nada”, “já passou”,“ esquece”, como se aquela dor não fosse real , como se bastasse dizer – Agora passou, já foi- . Infelizmente não é assim que as coisas a-contecem, nem é assim que funcionam. Somos pessoas, seres humanos providos de sentimentos, eu até poderia dizer que alguns parecem não possuírem sentimentos, mas na verdade o próprio desprezo pela dor do outro, o fato de achar que seus proble-mas são mais relevantes e que sua dor é maior, já demonstra sentimentos: A falta de amor e a falta de alteridade.

A tolerância faz parte desse processo de nos colocarmos no lugar do outro. O perdão também. Perdoar não é algo simples, requer vontade e tem que vir do coração. Não basta querer, tem que surgir, e não devemos resistir, com certeza nos liberta de muitos sofrimentos. Sofrimentos que muitas vezes são causados por nós, pela manei-ra como encaramos alguns problemas. Conseguimos perceber melhor o que nos acon-tece quando dividimos o que nos atormenta com outras pessoas. São outros olhares sobre o mesmo problema, que nos fazem refletir sobre a maneira como estamos en-frentando aquela situação. Claro que sempre vão surgir pessoas menosprezando o que estamos sentindo, mas outras trarão respostas. Pontos de vista!

Verdades absolutas são perigosas, nada nunca é tão definitivo assim. Não po-demos é desmerecer o que o outro pensa, nem querer impor nossa opinião. Se não concordo, posso argumentar, mas não posso achar que a minha verdade é absoluta. O menosprezo do outro pelo que sentimos nos causa dor, as vezes raiva e indignação, é aí que temos que praticar a tolerância e entender que ele não está errado só porque não sente e nem vê o que eu vejo e sinto. Somos diferentes e essa diversidade nos faz ter pontos de vista diferentes. Cada um passou por experiências e aprendizados únicos, o que fatalmente nos leva a pensar de maneira única. Nossas experiências nos fazem ter atitudes, opiniões e pensamentos de acordo com nossas vivências, com nossa educação, com a cultura em que estamos inseridos. Nossa capacidade de per-ceber e compreender o outro tem a ver com a bagagem que trazemos conosco.

Podemos fazer desses embates algo bom e proveitoso, mesmo quando o que o outro me diz se distancia completamente do que penso e acredito. Tenho aí uma opor-tunidade de crescimento e aprendizado, Não é fácil ficar quieto diante daquilo que con-traria totalmente o que pensamos, mas entrar numa discussão que pode levar não só muito tempo, como também uma amizade embora, não me parece saudável.

O ideal seria fazer da diversidade de pensamentos uma oportunidade para cres-cer. Isso não quer dizer que tenho que engolir tudo quieta. É saudável a discussão. Pontos de vista diferentes nos ajudam a evoluir e a fazer as coisas de uma maneira diferente. O ponto de vista que não considero saudável é aquele que menospreza a dor do outro., que não respeita a opinião alheia. Só quem passa por algo muito difícil e dolorido sabe o que está sentindo. Quem defende suas ideias com “unhas e dentes” sabe no que acredita.

Fato é que novos olhares podem nos levar a novos caminhos, novas soluções, mas nada disso fará sentido se eu não praticar a empatia. Isso é o que nos torna hu-manos, isso é o que faz a diferença.

Como dizia o nosso querido poeta Mario Quintana,

O TEMPO É UM PONTO DE VISTA. VELHO É QUEM É UM DIA MAIS VELHO QUE A GENTE...

Mariene Hildebrando

Professora e especialista em Direitos Humanos Email: [email protected]

A vida é para nós o que concebemos dela. Para o rústico cujo campo lhe é tudo, esse campo é um império. Para o César cujo império lhe ainda é pouco, esse império é um campo. O pobre possui um império; o grande possui um campo. Na verdade, não pos-suímos mais que as nossas próprias sensações; nelas, pois, que não no que elas vê-em, temos que fundamentar a realidade da nossa vida.

Fernando Pessoa

MAIS...

O valor fundamental da vida depende da percepção e do poder de contemplação ao invés da mera sobrevivência.

Aristóteles

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Agosto de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 6

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Após abolição, negro foi excluído do mercado de trabalho.

Entre 1912 e 1920, a po-pulação negra da cidade de São Paulo perdeu postos de trabalho, foi prejudicada por leis mu-nicipais que de forma ex-plicita ou não a proibiam de exercer certas profis-sões, além de ter sido

retirada de terras onde desenvolvia a agricultura de subsistência. “Esses fatores podem ser considerados indícios de que houve uma construção ideológica gestada pelas elites que visava a exclusão do negro da sociedade brasileira”, aponta o pesquisador Ramatis Jacino, professor do ensino médio, em sua tese de doutorado pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

Lei Municipal de 1886 proibia escravos do exercício de

algumas profissões

Jacino analisou cerca de 43 mil boletins de ocorrência emitidos na cidade na segunda década após a abolição da escravatura, entre 1912 e 1920. “Com o fim da escravidão, os únicos documentos ofi-ciais que mencionavam a cor da pele e a profissão exercida eram os boletins de ocorrência da polícia”, explica. O pesquisador tam-bém analisou anúncios de jornais da época e alguns processos cri-minais.

No mestrado, que abordou o mesmo tema, a análise esteve focada na população negra que vivenciou o período pré e pós abolição. Jacino pesquisou os anos de 1872 e 1890 (datas em que houve recenseamento na cidade) e pode verificar quais profissões os ne-gros exerciam na época. A maioria eram ligadas à baixa qualifica-ção e mal remuneradas: trabalhadores domésticos, criados, ama-secas, jornaleiros, carregadores, operários da construção civil, artí-ficies, parteiras, etc, mas havia também alguns jornalistas, profes-sores e intelectuais.

Já no doutorado, sob a orientação da professora Vera Lúcio Amaral Ferlini, da FFLCH, o foco foi a primeira geração de negros que nas-ceu após a abolição. O pesquisador comparou os dois períodos e ficou surpreso ao perceber que, de 1912 a 1920, com a industriali-zação da cidade, os negros haviam perdido as ocupações que an-tes exerciam. Profissões de ama-seca, domésticas e criados come-çaram a ser exercidas por imigrantes. Isso levou a um processo de marginalização da população negra.

Exclusão legalizada

Para o pesquisador, esse processo de exclusão ocorreu devido a três fatores. O primeiro foi a promulgação de uma série de leis que proibia, de forma implícita ou explícita, que escravos exercessem certas profissões. “Em 1886, por exemplo, uma lei municipal deter-

minava que as profissões de cocheiros, aguadeiros [que carrega-vam baldes d’água], caixeiros viajantes e guarda-livros [contadores] não poderiam ser exercidas por escravos”, explica.

O segundo motivo é que muitos escravos libertos, antes da aboli-ção, se dedicavam à pecuária e à agricultura familiar de subsistên-cia em lotes de terra pela cidade. Porém, o poder público determi-nou que esses lotes deveriam ser concedidos aos chamados “homens bons”, ou seja: brancos, cristãos e pais de família. Os ne-gros – todos excluídos desse critério – foram obrigados a abando-nar as terras e a se mudar para outras regiões: as mais remotas da cidade.

O terceiro motivo é que uma série de leis gerais acabaram por mar-ginalizar os negros. A Lei de Terras, de 1850, determinava que a posse da terra seria feita mediante a compra. No Império, as terras eram divididas por meio de sesmarias e muitos posseiros eram brancos pobres, índios, caboclos e negros. Com a Lei de Terras, a maioria teve dificuldade em comprar os lotes.

Segundo o pesquisador, muitos empregadores publicavam em jor-nais anúncios de oferta de emprego. Na maioria, explicitavam a ne-cessidade de o candidato ser branco e imigrante (italiano, alemão), etc. “Em anúncios de grandes empresas da cidade, não encontrei um texto explícito sobre a cor do candidato. Entretanto, na compo-sição do quadro de funcionários, a maioria era estrangeiro e havia pouquíssimos negros”, comenta.

Mito fundador

Durante o Império (1822-1889), diz Jacino, o mito fundador do Bra-sil era representado pela união de brancos, negros e índios na luta contra os invasores holandeses, nas figuras de Antonio Felipe e Clara Camarão (índios), Henrique Dias (negro) e Matias de Albu-querque (português).

Já na República, proclamada em 1889, esse mito foi alterado pelas elites e a formação do Brasil passou a ser associada à índia Bartira e ao português João Ramalho. “É mais um indício de que a inten-ção das elites era excluir a figura dos negros da história da funda-ção do país. O índio era considerado como o “bom selvagem”; já o negro era o “mau selvagem” “, diz.

Na transição do trabalho escravo para o assalariado, intelectuais da Faculdade de Direito de São Paulo, da Faculdade de Direito do Re-cife, da Escola de Medicina na Bahia e do Instituto Histórico e Geo-gráfico Brasileiro (IHGB) foram construindo um discurso ideológico que foi apropriado pelas oligarquias de que a população negra não era adequada para o trabalho assalariado; que a miscigenação le-vava à doenças; e que os negros tinham problemas de caráter e que sua idade mental era inferior a dos brancos. “A meu ver, esse discurso tinha a intenção de branquear a sociedade. Para as elites, a sociedade moderna e capitalista que eles almejavam precisava ser branca”, finaliza.

Valéria Dias

ESCRAVIDÃO MODERNA

Cerca de 40,3 milhões de pessoas em todo o mundo foram submetidas a atividades análogas à escravidão em 2016, segundo um relatório Índice Global de Escravidão 2018, publicado pela fundação Walk Free e apre-sentado na ONU nesta quinta-feira (19). No Brasil, são quase 370 mil pessoas. No contexto do relatório, o conceito de escravidão moderna abrange um conjunto de conceitos jurídicos específicos, incluindo trabalho forçado, servidão por dívida, casamento forçado, tráfico de seres humanos, escra-vidão e práticas semelhantes à escravidão.

De acordo com o documento, 71% das vítimas são mulheres, enquanto 29% são homens. Das 40,3 milhões de pessoas afetadas, 15,4 milhões estavam em casamentos forçados, enquanto 24,9 milhões se encontra-vam em condições de trabalho escravo. A Ásia representa 62% da esti-mativa global de pessoas em regime de escravidão.

Completam o ranking dos países com maior percentual de escravidão moderna em relação à própria população a Eritreia (93 para mil), o Burun-di (40 para mil), a República Central Africana (22 para mil), o Afeganistão

(22 para mil), a Mauritânia (21 para mil), o Sudão do Sul (20,5 para mil), o Paquistão (17 para mil), o Camboja (17 para mil) e o Irã (16 para mil).

O Brasil registrou uma taxa de apenas 1,8 pessoas em condição de es-cravidão moderna para cada mil habitantes. Por outro lado, em números absolutos, o Brasil detém a segunda maior quantidade de pessoas em regime escravocrata na América do Sul, com 369 mil habitantes. Os EUA registraram 403 mil pessoas (1,3 para mil).

No total, a organização estimou que quase 2 milhões de pessoas em toda a América estavam em 2016 em situação de escravidão – dois terços for-çados a trabalhar. O número absoluto representa apenas 5% da estimati-va global.

No número absoluto de pessoas consideradas em regimes de escravidão moderna, Índia (7,99 milhões de indivíduos estimados), China (3,86 mi-lhões), Paquistão (3,19 milhões), Coreia do Norte (2,64 milhões), Nigéria (1,39 milhões), Irã (1,29 milhões), Indonésia (1,22 milhões) e República Democrática do Congo (1,05 milhões) são os oito países acima de um milhão de "escravos".

Fonte: G1

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Pontos de Vista

Nada é eterno! Devemos nos preparar para enfrentar o fim porque nem sempre o casamento será para sempre, a es-colha de sua profissão nem sempre te levará ao sucesso, uma amizade de anos pode ser abalada e que nem tudo de-veria ser, poderia ter sido mudado.

Isso pode resultar em frustrações e cicatrizes, porém se conseguir ver isso como aprendizado, haverá como se reerguer e retomar novas buscas em prol da felici-dade.

Assim como o sol se põe, a tempestade passa...

Quantas pessoas tentam te afastar dos teus objetivos? Provavelmente muitas e, se gastar seu tempo com elas, perderá seu rumo pela provocação de quem tenta minar sua autoconfiança e, quanto mais atenção der a isso, estará alimentando quem quer tirar sua positividade.

Às vezes, mesmo quando se tenta ajudar alguém não se é apreciado, pois há quem acredita ter respostas para tudo e assim, apenas perde-se tempo e energi-a.

Dessa forma, no mínimo aprende-se que conviver é uma arte e deixar de convi-ver também, não ter medo de ser criticado é melhor que ser sacrificado pelo me-do de não ser aprovado.

Ao afastar-se daqueles quem criam conflitos é tirar uma pedra do caminho e a vida fluirá bem mais leve, pois pessoas desagradáveis vivem testando a paciên-cia dos outros, no entanto, pode-se aprender a exercitar a calma e tolerância, se estiver a fim disso, é claro!

Neutralizar gente mal resolvida te faz seguir e, ninguém é obrigado a concordar com o outro embora isso, não impede de serem amigos por ser verdadeiro e as-sertivo. Respeitar o outro não significa manter relacionamentos hipócritas, mas, afastar-se delas também é uma maneira de se respeitar e a respeitar. Melhor que fingir é refletir e fazer uma autoanálise que te levará a novos desafios e entender suas verdadeiras razões.

Nada é eterno, tudo tem sua finita existência, mesmo que alguém lhe machucar não é bom deixar sempre “a porta aberta” para quem te decepcionou. Pode-se superar o mal feito e se reconstruir e, mesmo que o machucado fique sem doer, não poderá mais entrar a hora que quiser.

Não podemos “abrir a mente” dos outros e nem elas a de ninguém o que não lhe dá o direito de fazer julgamentos, cada um é livre para viver como desejar mesmo que seja incompreensível aos seus olhos.

As pessoas não querem receitas de como viver, apenas disposição de ser olhado pelo outro, ser entendido e acima de tudo respeitado e, talvez, o segredo seja não odiar ninguém, mas, também não amar qualquer um.

A vida já te policia a cada ato e cada palavra dita ou escrita e, sempre haverá quem fique aguardando seu deslize para te desequilibrar e te fazer gritar e usar seu próprio grito para se defender. Afinal, dificilmente se represa no peito o que não cabe dentro dele próprio e, dessa forma fica cada vez mais inviável construir relacionamentos verdadeiros.

Nada irá melhorar ao apontar o dedo para o outro e sim transformar isso em um acolhedor abraço, conversar sem revidar, principalmente quando alguém só quer disseminar a discórdia.

Quando o erro não é seu, apenas relaxe e não deixe a opinião do outro incomo-dar seu interior, não deixe o “barulho” da opinião alheia impedir sua coragem de prosseguir o que é mais importante que qualquer dogma.

Evitar ir contra seus melhores pontos de vista é melhor que dar ouvidos ao que para você não parece certo. Sua intuição, criatividade devem ser valorizadas e o que te soa importante e verdadeiro é o que valerá para não deixar de ter sua pró-pria opinião. Isso não te impedirá de crescer, poderá ouvir outras opiniões mas, preste sempre mais atenção no que é mais importante para você.

Deixar de confiar na sua verdade por medo de ir contra a opinião alheia, pode ser metade da sua tristeza e a felicidade do outro.

Seja dono de seu destino e faça suas próprias escolhas. Conselhos são bem-vindos, mas não precisa seguir o que te falam porque a decisão final deve ser su-a!

Genha Auga

Agosto de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 7

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BYE, BYE, BRASIL. A DESCONSTRUÇÃO DE UMA

NAÇÃO SOBERANA

Marcos de Oliveira, Diretor de Redação do Monitor Mercantil, escreveu em sua coluna Fatos e Comen-

tários, no dia 16 de julho de 2019: “Muitas vezes, os atos de desconstrução do Brasil que vêm sendo praticados nos últimos anos são cri-ticados de forma isolada. Perde-se o “grande qua-dro”, tão valorizado pelos norte-americanos. Estes atentados recentes ao país não vêm só do Governo Bolsonaro; eles marcaram o Governo Temer e co-meçaram antes dele, no autogolpe de Dilma Rous-seff, ao terceirizar a condução da política econômi-ca. Vamos a alguns deles:

– Redução de verbas para universidades

– Cortes na pesquisa

– Mutilação do Mais Médicos

– Fim da produção, por laboratórios nacionais, de medicamentos de uso contínuo

– Acordo com a União Europeia

– Desmonte das empresas nacionais capazes de competir no exterior

– Redução da importância da Petrobras

– Entrega do pré-sal

– Fim do Fundo Soberano (o da Noruega, grande produtor de petróleo, como o Brasil, tem mais de US$ 1 trilhão)

– Ataques aos direitos trabalhistas

– Cortes nas verbas dos sindicatos (inclusive patro-nais, mantendo fortes apenas as federações que recebem recursos compulsórios via Sistema S)

– Independência do Banco Central

– Demolição do BNDES e demais bancos públicos

– E os mais óbvios: reformas da Previdência e Tri-butária, ampliando a desigualdade social

Vistos em conjunto, tem-se o quadro de um projeto destinado a tirar do Brasil qualquer capacidade de se desenvolver e exercer uma posição soberana no mundo”.

Só faltou dizer que por trás de tudo isso estão tam-bém a banca, o capital financeiro internacional, em sua trajetória para a dominação da aldeia global, e os agentes estrangeiros no judiciário e no legislativo que propõe a entrega das receitas tributárias, sob o manto do sistema de securitização da dívida públi-ca, projeto de lei complementar 459/17, de autoria do senador José Serra, várias vezes denunciado e detalhadamente explicado pela Coordenadora Na-cional da Auditoria Cidadã, auditora fiscal Maria Lu-cia Fattorelli.

Pedro Augusto Pinho

Avô, administrador aposentado

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Agosto de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 8

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Descolonizar o saber e o poder

O drama do nosso tempo é domina-ção articulada e resistência frag-

mentada. Muitas vezes, os movimentos anticapitalistas, feministas e antirracistas têm combatido uma destas formas de opressão – e fechado os olhos às outras.

Os conflitos sociais têm ritmos e intensidades que variam consoan-te as conjunturas. Muitas vezes acirram-se para atingir objetivos que permanecem ocultos ou implícitos nos debates que suscitam. Num período pré-eleitoral em que as opções políticas sejam de es-pectro limitado, os conflitos estruturais são o modo de dramatizar o indramatizável.

Os conflitos estruturais do nosso tempo decorrem da articulação desigual e combinada dos três modos principais de desigualdade estrutural nas sociedades modernas. São eles, capitalismo, coloni-alismo e patriarcado, ou mais precisamente, hetero-patriarcado. Es-ta caracterização surpreenderá aqueles que pensam que o colonia-lismo é coisa de passado, tendo terminado com os processos de independência. Realmente, o que terminou foi uma forma específi-ca de colonialismo — o colonialismo histórico com ocupação territo-rial estrangeira. Mas o colonialismo continuou até aos nossos dias sob muitas outras formas, entre elas, o neocolonialismo, as guerras imperiais, o racismo, a xenofobia, a islamofobia, etc. Todas estas formas têm em comum implicarem a degradação humana de quem é vítima da dominação colonial. A diferença principal entre os três modos de dominação é que, enquanto o capitalismo pressupõe a igualdade abstrata de todos os seres humanos, o colonialismo e o patriarcado pressupõem que as vítimas deles são seres sem plena dignidade humana, seres sub-humanos. Estes três modos de domi-nação têm atuado sempre de modo articulado ao longo dos últimos cinco séculos e as variações são tão significativas quanto a perma-nência subjacente.

A razão fundante da articulação é que o trabalho livre entre seres humanos iguais, pressuposto pelo capitalismo, não pode garantir a sobrevivência deste sem a existência paralela de trabalho análogo ao trabalho escravo, trabalho socialmente desvalorizado e mesmo não pago. Para serem socialmente aceitáveis, estes tipos de traba-lho têm de ser socialmente vistos como sendo produzidos por seres humanos desqualificados. Essa desqualificação é fornecida pelo colonialismo e patriarcado. Esta articulação faz com que as pesso-as que acham desejável a desigualdade social do capitalismo ten-dam a desejar também a continuação do colonialismo e do patriar-cado, e sejam, por isso, racistas e sexistas, mesmo que jurem não sê-lo. Esta é a verdadeira natureza dos grupos políticos de direita e de extrema direita. Se, numa dada conjuntura, as preferências ra-cistas e sexistas vêm à tona, é quase sempre para expressarem a oposição ao governo do dia, sobretudo quando este é menos pró-capitalista que o desejado por tais grupos.

O drama do nosso tempo é que, enquanto os três modos de domi-nação moderna atuam articuladamente, a resistência contra eles é fragmentada. Muitos movimentos anticapitalistas têm sido muitas vezes racistas e sexistas, movimentos anti-racistas têm sido fre-quentemente pró-capitalistas e sexistas e movimentos feministas têm sido muitas vezes pró-capitalistas e racistas. Enquanto a domi-nação agir articuladamente e a resistência a ela agir fragmentada-mente, dificilmente deixaremos de viver em sociedades capitalistas, colonialistas e homofóbicas-patriarcais. Talvez, por isso, e como se tem visto ultimamente, aos jovens de muitos países seja hoje mais fácil imaginar o fim do mundo (pelo agravamento da crise ambien-tal) do que o fim do capitalismo. A assimetria entre a dominação articulada e a resistência fragmentada é a razão última da tendên-cia das forças de esquerda para se dividirem em guetos sectários e

das forças de direita para se promiscuírem em amálgamas ideológi-cas na mesma cama do poder.

A continuidade da dominação segrega um senso comum capitalis-ta, racista e sexista que serve as forças de direita, até porque é re-produzido incessantemente por grande parte da opinião publicada e pelas redes sociais. Porque age na corrente, a direita pode dar-se ao luxo de ser indolente e transmitir a ideia de “estar ao corrente” e, quando tal não funciona, aciona a sua asa de extrema direita (tão presa ao seu tronco quanto a asa de direita moderada) para drama-tizar o discurso e provocar novas divisões nas esquerdas, sobretu-do se estas ocupam o poder de governo e estamos em período pré-eleitoral e a ausência de alternativas credíveis salta aos olhos. Pe-lo contrário, as forças de esquerda estão sempre à beira do abismo da fragmentação por terem sido treinadas no mundo eurocêntrico para desconhecer ou descartar as articulações entre os três modos de dominação. As dificuldades são ainda maiores por terem de agir contra a corrente do senso comum reacionário.

Identifico duas tarefas urgentes para superar tais dificuldades. A primeira é de curto prazo e tem um nome: pragmatismo. Se a a-gressividade do pensamento reacionário, explicitamente racista e encobertamente hiper-capitalista e patriarcal, é a que se observa e ocorre num país cujos cidadãos ainda há cinquenta anos eram víti-mas de racismo por toda a Europa dita desenvolvida e antes disso tinham sido ostracizados como brancos escuros — ou portygyes no Caribe, Havaí e EUA – se tudo isto ocorre num país cujo poder de governo é ocupado por forças de esquerda, é fácil imaginar o que será quando voltarmos (se voltarmos) a ser governados pela direi-ta. O entendimento entre as forças de esquerda tem contra si for-ças imensas, nacionais e internacionais: capitalismo financeiro glo-bal, privatarias público-privadas, Comissão Europeia, Embaixadas norte-americana e de muitos países europeus, agências da socie-dade civil supostamente promotoras da democracia, Igrejas conser-vadoras, a razão indolente da direita infiltrada há muito no PS por-tuguês contra a militância corajosa do último Mário Soares, a razão indolente do sectarismo de pequenos grupos de esquerda radical que têm sempre os dois pés no mesmo sítio para acreditarem que são firmes em vez de estáticos. Mas o que está em jogo é muito e o pragmatismo impõe-se. Quando a direita começa a defender transportes públicos e saúde pública, a esquerda no governo deve lembrar-se do que está a esquecer. A resposta à extrema-direita racista tem de ser tanto política como jurídica e judicial. Defendo há muito que as lutas jurídicas contra o senso comum reacionário só devem ocorrer depois de tais lutas terem adquirido forte densidade política. É, pois, imprudente determinar em abstrato a validade da via jurídico-judicial ou da via política.

A segunda tarefa é de longo prazo e consiste em descolonizar o saber científico e popular e o poder, tanto social como cultural e po-lítico. Esta tarefa é particularmente difícil em Portugal por duas ra-zões. Em primeiro lugar, a última fase da descolonização do coloni-alismo português ocorreu há muito pouco tempo (1961-1975). As feridas coloniais estão ainda tão abertas e fundas que, tal como as crateras produzidas pela mineração a céu aberto, parecem parte integrante da paisagem. O longo ciclo colonial está inscrito na car-ne do país até ao mais íntimo tutano. Um país com tanta falsa es-perança histórica sente-se agora dominado por tanto falso medo de ser menos europeu que a Europa desenvolvida que sempre recolo-nizou o colonialismo português para maior benefício dela. Por sua vez, os países que nasceram da luta anticolonial contra Portugal tiveram o privilégio de sofrer o menor ônus neocolonial. Todos sem exceção se afirmaram orgulhosamente socialistas e não apenas independentes. Foram, porém, rapidamente postos na ordem pelo capitalismo financeiro global. Sucederam-se lideranças que querem esquecer a violência e rapina colonialistas para melhor ocultarem a violência e a rapina que elas próprias vão exercendo contra as su-as populações.

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A prova de fogo

Algum tempo atrás o renomado cientista brasileiro Rogério Cézar Cerqueira Leite, em artigo na Folha de São Paulo (Desvendando Moro, 11/10/2016), escreveu comparando o moralismo punitivista de Moro com o de outro personagem da história universal, o frade dominicano Jerônimo Savonarola, também moralista e fanatizado por sua ideia própria de mudar os costumes de Florença e de fazer justiça, no final do século XV, segundo suas próprias convicções pessoais. O artigo do professor Cerqueira Leite teve enorme repercussão e levou o então juiz Sérgio Fernando Moro a questionar a Folha co-mo permitira publicação de tal tipo de artigo, classificado pelo ma-gistrado como difamatório.

Pois bem, a analogia proposta pelo professor Cerqueira Leite ainda rende. Savonarola se colocava como a voz do próprio Deus, acima do bem e do mal. Nada o alcançava, e cercado de um grupo sectá-rio que o seguia, quando chegou ao poder máximo em Florença, pontificava e punia.

Quando Florença foi invadida pela França, Savonarola colocou-se ao lado do rei da França.

Quando o rei francês se foi, restou desemprego, miséria e a econo-mia de Florença quebrada. As cidades vizinhas e o Papado em Ro-ma, desafiados pelo poderoso frade, cortaram negócios com Flo-rença e com seus comerciantes. O povo começou sentir na pele as consequências e a colocar em Savonarola as culpas das desgra-ças, da fome, das falências, do desemprego e a cobrar soluções.

Dizia-se ele, porém, profeta com mensagens diretas de Deus e daí viria sua autoridade e por isto fazia suas próprias leis. Desafiava em seus sermões que, se assim não fosse, que Deus o fulminasse.

Apareceu então um frade franciscano, frei Francisco de Puglia, que desafiou Savonarola a uma Prova de Fogo, as famosas “ordálias”, populares na época medieval. Ambos atravessariam uma fogueira, especialmente preparada, e se Savonarola fosse mesmo represen-tante direto de Deus, as chamas não lhe causariam qualquer dano.

O franciscano dizia saber que morreria assado nas chamas, mas que desmascararia a falsa aura de santidade do moralista.

Savonarola amarelou. Não topou a prova. Disse que isto seria colo-car Deus à prova e que jamais o faria.

Mas um confrade seu, do mesmo convento, topou a ordália em seu nome.

Marcaram o dia e a praça da cidade lotou para ver quem passaria

incólume sobre a fogueira, armada e preparada para que os dois entrassem nela ao mesmo tempo com igual intensidade de fogo.

O representante de Savonarola veio com um hábito (veste religio-sa) velho. Os franciscanos não aceitaram. Poderia ser um hábito encantado e à prova de fogo, que expressaria a santidade do hábi-to e não do frade. Enfim, os dois de hábitos novos: o dominicano de branco e o franciscano com o marron.

Aí o dominicano agarrou-se a um crucifixo para cruzar o fogo. Os franciscanos também não aceitaram. Teria que ser sem nenhum objeto que pudesse dar qualquer proteção. O dominicano, por fim, quis entrar no fogo segurando o Santíssimo Sacramento, a hóstia consagrada. Longo debate teológico se estabeleceu e os francisca-nos também vetaram o uso da eucaristia, símbolo divino, que não poderia ser usado numa querela entre vis mortais.

Assim o dia foi passando entre uma desculpa e outra e nada dos dois se jogarem ao fogo. Por fim, o franciscano escafedeu-se e su-miu da cidade. O povo ficou frustrado e revoltado, mas exigiu do dominicano que fosse sozinho ao fogo e provasse a santidade de Savonarola.

Enquanto este arrumava novas desculpas, um enorme temporal abateu-se sobre a cidade.

A massa popular considerou aquilo um castigo divino e a culpa re-caiu sobre Savonarola. Pouco a pouco sua força moral foi esvane-cendo até que foi condenado pelo Papa e entregue à justiça da ci-dade. Tropas cercaram o convento exigindo que Savonarola se en-tregasse. Ele e mais dois frades, fiéis a ele, foram presos, tortura-dos e condenados à morte. O moralista punitivista acabou vítima de seu próprio método. O que fez com tantos, fizeram com ele.

Sérgio Moro está em sua Prova de Fogo, desafiado à conta gotas pelas revelações de Greenwald. Passará pela prova de fogo?

Caso não passe, espera-se que os avanços civilizatórios ocorridos entre os séculos XV e o XXI, que não se aplicaram aos persegui-dos, se apliquem ao perseguidor – seja julgado por um juiz natural, isento e transparente com presunção de inocência; com amplo di-reito à defesa, com paridade de armas entre defensor e acusador e sem jogo combinado entre juiz e acusação; sem prisão arbitrária como tortura psicológica para arrancar confissões forjadas e sem celeridade artificial; não seja preso antes de trânsito em julgado e possa recorrer até última instância; sem condução coercitiva e sem vazamentos de conteúdos cobertos pelo sigilo judicial; que não se-ja condenado sem provas e possa usufruir de habeas corpus se concedido; possa conceder entrevistas e possa recorrer em liberda-de – enfim, que não padeça o Sérgio Fernando do que padeceu o Jerônimo e padeceram e padecem os hoje perseguidos pelo inqui-sidor de Curitiba.

Há outro vivendo uma provação duríssima, jogado por ele, em sua fúria moralista perseguidora, numa masmorra solitária há mais de ano, condenado sem provas. Pelo visto, sem desconhecer a dor e o sofrimento do cárcere, este está se saindo bem melhor e com mais dignidade e altivez que o Savonarola do Brasil do século XXI.

Para este, mais fácil buscar analogias em Ghandi e Mandela.

Cada qual com o espelho que merece.

Frei Sérgio Antônio Görgen ofm Frei Franciscano, autor de “Em Prece com os Evangelhos”.

Agosto de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 9

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Descolonizar o saber e o poder

A segunda decorre do fato de os processos de independência te-rem ocorrido como uma dupla revolução: nas então colónias, a re-volução da independência, e em Portugal, a revolução da democra-cia do 25 de Abril de 1974. Os mesmos militares que sustentaram o regime colonial no seu último período, participaram na guerra dita

de pacificação e certamente cometeram as atrocidades correspon-dentes, são também os heróis de que muito nos orgulhamos por terem aberto o caminho às independências sem peias neocoloniais e pela democracia que nos devolveram em Portugal. Passará ainda algum tempo para que as feridas se exponham, e assim possam ser eficazmente curadas.

Boaventura de Sousa Santos

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Agosto de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 10

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Fada Vampiro

Era uma vez, um reino num lugar bem dis-tante e perto da aldeia

de uma cidade pequena chamada “Viraluz”. Os habitantes desse povoado adoravam participar das festas do reinado e contribuí-am para o progresso da aldeia e do rei que ali vivia com sua única filha, uma linda moça cobiçada pelos rapazes e bem cuidada pelo pai.

No entanto, surgiu uma “fadinha vampira” – com vestimen-ta e aparência de fada, porém, os dentes eram iguais a de um vampi-ro e que rondava por lá aterrorizando a todos e, por conta do medo que se instalou no lugar, ninguém mais visitava o castelo onde todos viviam muito felizes e, assim, já não idolatravam esse reinado e exigiam que o rei tomasse providências ou se afastariam dali e deixariam de produzir e movimentar a economia da aldeia e abandonariam definitivamente o lugar.

Desesperado o rei resolveu agir e, teve a ideia de prometer a sua bela filha a princesa, formosa e rica em casamento, a quem capturasse a “fada vampi-resca”.

Eis que após o anúncio dessa proposta, dois rapazes que eram rejeita-dos pelas moças da aldeia por serem grosseiros e bastardos se apresentaram e se ofereceram para capturar a fada.

Ficaram dias à espreita na espera do aparecimento da fada, que já sa-bendo dos planos para sua captura, transformou-se em um soldado valente em-punhando uma espada mágica e seguiu à procura dos dois irmãos.

O mais moço passou o dia todo bebendo e na espera que seu irmão cumprisse o trato feito para apenas partilhar da recompensa e, como era bonito, acreditava que certamente a princesa não iria querer se casar com o irmão feio e desengonçado e dessa forma ganharia a causa sem nenhum trabalho.

Eis que então surge a fada (disfarçada de soldado), oferecendo ao ir-mão mais velho a espada mágica que mataria a fada e em troca só queria que após o casamento ele o colocasse no castelo como soldado do rei. Feito o acordo e certo da vitória, lançou mão da espada e foi de encontro ao irmão que se encon-trava caído de tão bêbado, aproveitou-se da fragilidade dele e o matou com a es-pada pensando em ficar como herói e com a princesa sem ter que compartilhar nada com ninguém e menos ainda de ter que correr o risco dela não o escolher por sua feiura e, justificaria a morte dele, como feito da “fada vampiro”.

Saiu então em busca da fada e logo a encontrou, oportunamente dis-traída, lançou a espada nela pelas costas e certo de sua morte inevitável...

Acontece que ao atingir a fadinha ela se transformou em um lindo prín-cipe quebrando um feitiço que uma bruxa havia lançado sobre ela e, nisso, pela maldade do rapaz a espada virou um morcego enorme que agarrou os dois ir-mãos levando-os para longe dessa história e, para os que moram lá hoje, dizem que tudo isso não passou de boato.

Lá longe, a bruxa malvada deu muita risada e não se importou que a fada tivesse um final feliz, afinal ela ganhou dois rapazes fortes e que não iriam servir para mais nada.

Colocou-os no caldeirão com uma pitada da asa do morcego que lhe trouxera as presas e, feliz cantarolava enquanto mexia o caldo feito de rapazes incapazes que só serviria mesmo para dar uma boa e suculenta sopa.

E assim, nessa fake history, a bruxa acaba fazendo uma boa ação, os rapazes foram punidos e a “fadinha vampira” libertou-se do feitiço e fez a aldeia e o reino todo feliz.

Moral dessa história: Nem sempre o feitiço vira contra o feiticeiro #boato...

Genha Auga Jornalista MTB: 15.320

PAI!

PAI CONSTRÓI O ALICERCE DA VIDA DOS

FILHOS.

SERENAMENTE OS GUIA PELAS MÃOS

PARA QUE NÃO FUJAM DO BOM CAMINHO.

ATENTO SABE PUNIR SEM AGREDIR,

FIRME NO OLHAR E GRANDE NA COMPREEN-

SÃO.

PAI TEM OLHOS DE RESPONSABILIDADE

FAZ DOS FILHOS ORGULHO DA SOCIEDADE,

EXEMPLO NO TRABALHO, NÃO FALHA,

NÃO SE DESOBRIGA DA MISSÃO.

LUTA PELOS QUE CONCEBEU,

MANTÉM AQUECIDO O CORAÇÃO,

PAI É PRESENÇA CONSTANTE,

ABRAÇO APERTADO E AMIGO,

OLHAR NUNCA DISTANTE,

MÃOS FIRMES, CAMINHA COM A PROLE.

PAI TEM SORRISO E LUZ QUE FASCINA,

AO PAI DEVE-SE AGRADECER,

POR DAR A CONDIÇÃO DE VIVER,

SER FELIZ PELOS FILHOS FELIZES.

NO DIA A DIA UM ORIENTADOR,

MOSTRA O CAMINHO DO BEM COM MAGIA,

ENTREGA-OS PARA A VIDA PELA SORTE E FÉ,

QUE SEJAM ABENÇOADOS E PROTEGIDOS.

ESPERAM TÊ-LOS SEMPRE POR PERTO,

QUE UM DIA OS FILHOS, LHES DEVOLVAM

VITORIOSOS,

TODO ESSE AMOR E AGRADECIDOS!

Genha Auga

PRECISA-SE VOLUNTÁRIO (A)

Revisão de textos do jornal.

Homenagem a uma Mãe que também é Pai.

Esse texto é para você, que sozinha carrega a mai-or das responsabilidades, a mais elevada das mis-sões.

Você que é mulher, mãe e pai, que mesmo sozinha não fugiu da responsabilidade e sempre colocou a felicidade do seu filho em primeiro lugar, merece todos os elogios, todas as homenagens.

Você é mulher guerreira, corajosa, uma força da na-tureza, pois você não se diminuiu e assumiu os dois grandes papeis do teatro da vida, mãe e pai. Você é essência que ilumina, que orienta. Você é colo, sor-riso e palavra de conforto. Você é exemplo de vida, autoridade que educa.

Você é tudo em uma pessoa só, às vezes esque-cendo ou negligenciando seus próprios interesses em favor de outros, pois seu coração é maior que o universo e nele vive um amor infinito e incondicio-nal.

Desconheço a autoria

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O Chile

Dizem por aí que o Chile está a alguns anos de se tornar um país desenvolvido. Se isso for mesmo verdade, então o Chile é um obvio exemplo a ser seguido por seus vizinhos. De qualquer forma, o IDH do Chile é 0.843, e o PIB per capta do Chile é acima de US$25 mil, é o melhor posicionado na América Latina, atualmente.

Se o Chile realmente se tornar um país desenvolvido, quebra-se o mito em que muitos acreditam, de que um país que foi colônia de exploração nunca vai conseguir se tornar desenvolvido, ou seja, pode-se ter esperanças! O Chile teve uma ditadura militar, a de Au-gusto Pinochet, entre 1973 e 1990, que removeu do governo um presidente socialista, o Salvador Allende, o que evidencia que o Chile também é alvo do imperialismo dos Estados Unidos. Se o Chile realmente se desenvolver em breve, então o imperialismo dos EUA não está impedindo o Chile de se desenvolver, então é possí-vel sim ser país desenvolvido debaixo do imperialismo norte-americano. Colonialismo e imperialismo estrangeiro não prende ne-nhum país ao subdesenvolvimento eterno, pelo que parece, há mais detalhes que impendem um país de se tornar desenvolvido. E tais detalhes certamente são internos, já que não são externos.

Desde a redemocratização do Chile, foi respeitada a alternância de partidos no governo nacional. O Chile não teve só governantes ne-oliberais, a Michele Bachelet é esquerdista e foi presidente do Chile duas vezes, entre 2006 e 2010, e entre 2014 e 2018. Os presiden-tes que assumiram no Chile pós-ditadura militar não acabaram com todos os programas de políticas públicas do governo anterior. Tam-bém, a burocracia no Chile existe, mas não é um país muito buro-crático. Mas o modelo de capitalização da Previdência chileno pre-judicou os aposentados. Isso significa que o Chile cometeu um er-ro, e não que tenha feito tudo errado. Mas o Chile é exportador de commodities, exporta cobre e uma possível queda do preço do co-bre pode prejudicar o Chile. A Austrália e a Nova Zelândia são ex-portadoras de commodities, o Canadá é exportador de commoditi-es, a Rússia é exportadora de commodities, é uma forma de se ob-ter dinheiro. Quando se está na época das “vacas gordas”, aí que

se tem que investir na diversificação da economia para que, quan-do chegar a época das “vacas magras”, se tenha outras opções.

Não é que o Chile não tenha tido nenhuma crise política, mas é evi-dente que tem uma democracia madura, mais estável que a de al-guns vizinhos seus. É claro que o Chile passa por períodos de re-cessão, de contração do ciclo econômico, em que o crescimento é reduzido e a economia estagna. É claro que no Chile ainda há po-breza! Mas o desempenho do Chile no que se refere a IDH e renda per capta tem sido melhor do que a dos seus vizinhos. Diferente dos que se passa em países próximos, no Chile, tanto a direita quanto a esquerda evoluíram, se aprimoraram e, os chilenos são bastante conscientes dos seus direitos como cidadãos, embora possam melhorar mais.

Para um país deixar de ser subdesenvolvido e se tornar desenvolvi-do, não é um processo rápido. Requer tempo, persistência, um pla-no de governo à um prazo bem longo, muitos problemas não se re-solvem instantaneamente e nem em poucos anos. Enquanto per-corre o caminho, governos podem tomar decisões equivocadas, os mercados podem tomar decisões desastrosas, crises vindas de fora podem prejudicar a economia, mas se as pessoas que têm o poder de fazer as coisas acontecerem tiverem realmente compromisso com a nação, mesmo demorando, conseguem chegar lá.

Se o Chile vai mesmo se tornar um país desenvolvido, quem viver, verá. Contudo, o que é certeza, é que sociedades cujos indivíduos ficam indignados quanto veem que os seus concidadãos que esta-vam em má situação socioeconômica passam a prosperar, e rea-gem combatendo as políticas públicas de bem-estar social com a finalidade de fazê-los voltar ao estado de má situação, nunca vão chegar lá! País desenvolvido não é país que tem um PIB gigantes-co, pois o Produto Interno Bruto é apenas uma medida de fluxo de produção, não leva em consideração a distribuição de renda. País desenvolvido, atualmente, é um país que tem os setores terciário e quaternário predominando em sua economia, e o Índice de Desen-volvimento Humano e a renda per capta são elevados, além de ter uma população cuja média é bem escolarizada.

João Paulo E. Barros

Agosto de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 11

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Estados Unidos e Irã

Os Estados Unidos e o Irã têm tido uma relação hostil desde a Re-volução Islâmica do Irã, em 1979. Nessa divergência, não é um conflito “bem contra o mal”, é uma divergência ideológica entre dois países em que nenhum dos dois é o “herói”. Os Estados Unidos têm tentado sufocar economicamente o Irã. O presidente Barack Obama fez um acordo nuclear com o Irã, no qual outros países também participam, com o objetivo de melhorar as relações entre os dois países, mas Donald Trump abandonou o acordo e decidiu reprimir o Irã.

Aqui, temos que levar em consideração uma variedade de deta-lhes. O Irã é um Estado teocrático, um Estado regido por religião. No Irã, a religião oficial é o Islã xiita. O ponto de vista religioso fun-ciona assim. Nem sempre evidências irrefutáveis são apresenta-das. Não se baseia em empirismo como a ciência, se baseia em fé e dogmas. Está escrito no cânon sagrado, é a palavra de Deus e não se duvida dela, não se contesta, apenas se crê e se aceita. E, não há como todas as religiões estarem certas ao mesmo tempo, se elas creem de forma diferente entre si! Apesar disso, em todas as religiões, há pessoas moderadas, flexíveis, que toleram opiniões diferentes, e há pessoas radicais, autoritárias, extremistas, que não admitem discordâncias de seu ponto de vista. E ambos os tipos de comportamento também existem fora das religiões, no meio laico, principalmente no meio político. Dentro do Islã, há dois grandes grupos principais, que são os xiitas e os sunitas. As divergências entre os dois grupos são tão grandes que a Arábia Saudita, onde

há um Estado teocrático islâmico sunita, prefere ser aliada dos Es-tados Unidos do que o Irã. Tanto o Irã quanto a Arábia Saudita se-guem a Sharia, a lei islâmica. Mas a interpretam de forma diferente. Os EUA são um Estado laico.

Um ponto louvável da parte o Irã é que é o Irã é um país em que os interesses nacionais têm primazia sobre os interesses potências estrangeiras. Agora, se o regime iraniano é ou parece ser desagra-dável aos olhos de quem não é muçulmano, é outra discussão. Já faz tempo que os Estados Unidos e o Irã trocam “rosnar de dentes” entre si. O território iraniano é grande e montanhoso, é um território mais difícil de se atacar do que os territórios do Iraque e do Afega-nistão. E o Irã tem forças armadas muito bem equipadas. Mesmo que um drone norte-americano tenha sido derrubado pelo Irã, navi-os petroleiros atacados no Golfo de Omã, não bastaram para co-meçar uma guerra. O presidente Donald Trump fez uma escolha (sair do acordo nuclear com o Irã) e escolhas têm consequências. Contudo, dificilmente os Estados Unidos e o Reino Unido atacarão o Irã da mesma forma que atacaram o Iraque e o Afeganistão na década passada, é provável que os americanos e os iranianos fi-quem na guerra “por procuração”, por enquanto, usando de tercei-ros países (como a Síria e o Iêmen) como campo de batalha. Num futuro próximo, pode acontecer de o Irã entrar em guerra direta contra Israel ou contra a Arábia Saudita, estes dois últimos repre-sentando o lado dos Estados Unidos. Mas desta vez, por hora vão ficar na troca de acusações e na guerra “por procuração”, provavel-mente.

João Paulo E. Barros

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Agosto de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 12

Senhores do Mundo. A doutrina que está por trás do America First

A crença de ser a melhor nação do mundo, a mais justa, a que foi escolhida por Deus, foi a força que moveu a política expansionista norte-americana. Quando, em 1969, um astronauta fincou a ban-deira norte-americana na Lua, seu gesto ainda espelhava essa crença que permanece viva no inconsciente coletivo do grande país do Norte.

No século 19, a Doutrina do Destino Manifesto (em inglês: Manifest Destiny) era um conjunto de ideias extremamente difundido entre os habitantes dos Estados Unidos. Essa doutrina dizia que os colo-nizadores americanos deveriam expandir o seu domínio da Améri-ca do Norte, até onde pudessem chegar. Expressava a crença de que o povo americano fora eleito por Deus para civilizar o continen-te, e se assentava sobre um conjunto (o “manifesto”) de três temas fundamentais: A virtude especial do povo americano e suas institui-ções; a missão dos Estados Unidos de redimir e refazer o oeste à imagem da América agrária; o destino irresistível – já que designa-do por Deus – para cumprir esse dever essencial de conquista e domínio.

Essa doutrina impulsionou todo o processo de colonização da Amé-rica do Norte, e está muito bem representada na pintura American Progress, de John Gast, feita em 1872. O tema da pintura é justa-mente o “Destino Manifesto” da nação, na vertente interpretativa que foi chamada de “Espírito da Fronteira” (em inglês: Spirit of the Frontier). A obra mostra uma cena popular de pessoas se dirigindo para o Oeste, guiados e protegidos por uma entidade mística à qual foi dado o nome de Colúmbia (simbolizando a América vestida com uma toga romana de modo a representar o republicanismo clássi-co).

Ajudadas pelas mais modernas tecnologias existentes na época (armas de fogo, ferrovias, telégrafo, etc) tais hordas colonizadoras pouco a pouco expulsaram e eliminaram do seu caminho tudo aqui-lo que, na época, era considerado obstáculo perigoso à expansão (indígenas, bisões, lobos, etc). É importante observar que Colúm-bia, no quadro de John Gast, traz consigo a “luz” do Sol nascente, e com ela ilumina os territórios conquistados à medida que avança em direção ao oeste ainda envolvido pela obscuridade.

Como os cruzados medievais, os americanos justificaram os mas-sacres que perpetraram como “missões divinas”. Na foto, a atriz Hazel Down (1891-1988) posa vestida com a bandeira americana.

A cena, e tudo aquilo que ela representa, permanece profundamen-te gravada no inconsciente coletivo dos norte-americanos. É nessa doutrina que tem raízes a “America First”, referindo-se a uma políti-ca externa nos Estados Unidos que enfatiza o nacionalismo ameri-cano, o nacionalismo econômico e o unilateralismo, na rejeição de políticas internacionalistas. É a atual política oficial da administra-ção do presidente Donald Trump.

Missão divina

Como diz a jornalista italiana Maria Leonarda Leone, na vida o im-portante é estar convencido de alguma coisa, e os norte-americanos sempre estiveram convencidos da sua “missão divina”. Convencidos, como disse um século atrás o presidente Woodrow Wilson, de ser “a nação mais justa, mais progressista, mais honrá-vel e mais iluminada do mundo”. Convencidos de serem portadores de uma ideologia boa e sadia; convencidos de dever exportar para o mundo todo a sua própria ideia de democracia. Diz Maria Eduar-da Leone, “com estes e outros pressupostos similares, há pelo me-nos cem anos os Estados Unidos dominam a cena mundial. Porque é isso que, desde as suas origens, eles são: um império”.

Livres e autodeterminados: os primeiros a se definirem assim fo-ram, em 1787, os “pais fundadores” dos Estados Unidos, seguidos, um quarto de século depois, por uma outra voz ilustre, Thomas Jef-ferson. Segundo ele, que foi o terceiro presidente dos Estados Uni-dos, ao expandir o seu domínio para todo o território da América do Norte os americanos estavam criando um “império da liberdade”.

Maria Leonarda explica que tudo começou quase dois séculos an-tes, no início do século 17, “quando especuladores londrinos, católi-cos, puritanos, quakers e membros de outras seitas cristãs come-

çaram a chegar à América do Norte provenientes da Inglaterra. Mu-lheres com toucas e coifas apertadas, homens com roupas escu-ras, todos extremamente determinados, fundaram passo a passo as 13 colônias que, no final daquele século, pertenciam à Inglater-ra. Em 1783, sete anos após a Declaração de Independência, con-seguiram se livrar definitivamente das amarras que os mantinham ligados à mãe pátria.”

Para muitos historiadores modernos, no entanto, a própria guerra pela independência já seria uma primeira grande expressão da vontade imperial dos Estados Unidos. Segundo essa leitura da his-tória, os colonos queriam se separar da Grã-Bretanha porque, con-trariando as ordens do rei, George III, queriam criar assentamentos nas terras situadas a noroeste. A região compreendida entre as ca-deias montanhosas dos Allegheny-Apalaches e o rio Mississippi era habitada por nativos americanos muito aguerridos, e os ingleses, que tinham acabado de concluir a guerra dos sete anos com a França, não queriam se empenhar em um outro conflito. “A guerra de 1775-1783 não teria sido, portanto, uma guerra pela indepen-dência, mas sim pela conquista de mais territórios na América”, afir-ma o historiador italiano Stefano Luconi: “Como um tipo de pecado original, esse desejo expansionista caracterizou toda a política ex-terior dos Estados Unidos”.

Os indígenas norte-americanos pagaram a conta dessa marcha ir-refreável em direção ao oeste. Quando ela finalmente terminou, nas praias do oceano Pacífico, os norte-americanos já não tinham uma fronteira a ser conquistada e ultrapassada. Mas o gosto da vi-tória territorial agora estava profundamente arraigado em suas al-mas inundadas pelo sentimento do destino manifesto. Que fazer? “A coisa mais óbvia, naturalmente”, explica Maria Leonarda: “Transpor a fronteira mais à frente”. Segunda ela, nessa corrida infi-nita para o horizonte, passo a passo os norte-americanos alcança-ram o espaço planetário, “guiados pelo espírito resoluto do capitão Achab, o caçador da baleia branca Moby Dick do romance de Her-man Melville”.

A expansão continua

No século 19, o destino manifesto estava no apogeu: os norte-americanos prosseguiram na caça a novos território. Começaram pela Louisiana (1803), continuaram com a Flórida (1819), depois o Texas (1845) e o Oregon (1846), depois entraram no México (1846-1848) e em Cuba, teatro da guerra hispano-americana de 1898.

Ao mesmo tempo, crescia no país um sentimento de xenofobia que até hoje determina posturas grotescas como as do atual governo Trump no trato dos imigrantes ilegais. Para os historiadores, isso deriva diretamente da influência exercida desde o início pelo coloni-zadores ligados a seitas cristãs, notadamente os puritanos. “Antes de desembarcar no litoral de Massachusetts em 1630, o líder puri-tano John Winthrop incitou seus correligionários a edificar no Novo Mundo uma “cidade sobre a colina”, ou seja a transformar o assen-tamento que estavam fundando em um exemplo no qual o resto da humanidade deveria se inspirar com vistas à própria regeneração espiritual”, conta o historiador Stefano Luconi: “Deus se tornou a autoridade à qual os norte-americanos recorreram para legitimar o seu expansionismo”.

Uma missão em nome de Deus

Assim, os americanos justificaram a guerra que lhes permitiu tomar do México toda a sua região setentrional (os atuais estados da Cali-fórnia, Utah, Novo México e Arizona) com a teoria do destino mani-festo, segundo a qual a Divina Providência designou que o controle da América do Norte fosse deles, para que nela pudessem difundir a democracia e as suas próprias instituições. “Inclusive o extermí-nio das populações nativas, que no início do século 18 os puritanos consideravam criaturas demoníacas, além de estar ditado por ra-zões de segurança se inspirava no convite bíblico para andar, se multiplicar e ocupar a Terra. Um princípio que serviu para legitimar o genocídio de inteiras populações pagãs”, ressalta Luconi.

Um racismo evidente (e de qualquer modo não limitado à América do Norte) que se manifestou e de muitos modos ainda se manifesta em relação a todos aqueles povos etiquetados como não-brancos e, enquanto tais, considerados inferiores e não civilizados.

Luis Pellegrini

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Origem do Dia Internacional dos Povos Indígenas O Dia Internacional dos Povos Indígenas foi instituído pela Organi-zação das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO, em 23 de dezembro de 1994, através da resolução 49-/214. O primeiro Dia Internacional dos Povos Indígenas foi comemorado em 9 de agosto de 1995, marcando o início da primeira década in-ternacional dos indígenas (1995 a 2004). Em 2007, comemorando a segunda década internacional dos indí-genas, foi aprovada a Declaração das Nações Unidas sobre os Di-reitos dos Povos Indígenas. ´ Entre alguns dos principais pontos da Declaração sobre os Direitos dos Povos Indígenas, destaca-se: - A inserção dos indígenas na Declaração Internacional dos Direitos Humanos; - Direito à autodeterminação, de caráter legítimo perante todas as entidades internacionais; - Os indígenas não podem ser removidos de seus territórios de mo-do forçado; - Direito à utilização, educação e divulgação dos seus idiomas pró-prios; - Direito à nacionalidade própria; - Direito de exercer suas crenças espirituais com liberdade; - Garantia e preservação da integridade física e cultural dos povos indígenas; O Estado deve auxiliar as comunidades indígenas a manterem os seus direitos básicos. Além do Dia Internacional dos Povos Indígenas, no Brasil ainda se comemora o Dia do Índio, em 19 de abril.

A data tem o objetivo de conscientizar a sociedade brasileira sobre a importância da educação sanitária, despertando na população o valor da saúde e dos cuidados para com ela. O Dia da Saúde também serve para homenagear e recordar a vida e o trabalho de Oswaldo Cruz, um dos principais responsáveis pe-las erradicações de perigosas epidemias que acometiam o Brasil no final do século XIX e começo do século XX.

Origem do Dia Nacional da Saúde O Dia Nacional da Saúde foi oficializado e inserido no calendário oficial brasileiro através do Decreto de Lei nº 5.352, de 8 de novem-bro 1967, do Ministério da Saúde e da Educação e Cultura.

O principal objetivo desta data é focar na educação e conscientiza-ção dos jovens sobre a responsabilidade que assumem como re-presentantes do futuro do planeta. O Dia Internacional da Juventude foi criado, originalmente, através da resolução 54/120, por iniciativa da Organização das Nações U-nidas (ONU), em 1999, como consequência da Conferência Mundi-al dos Ministros Responsáveis pelos Jovens, em Lisboa, Portugal. A Assembleia Geral da ONU decretou o ano de 2010 como “Ano Internacional da Juventude”, período em que foram debatidos diver-sos assuntos relacionados com o tema “Diálogo e Compreensão Mútua”. Atualmente, por meio do Programa Mundial de Ação para a Juven-tude, a ONU incentiva ações políticas e diretrizes que ajudam a a-poiar a melhoria na qualidade de vida dos jovens de todo o mundo.

A data celebra as atividades artísticas, que podem abranger diver-sas áreas, como o teatro, o cinema, a literatura, o circo, a pintura e etc. A lista pode ser mesmo bastante grande! De acordo com a legislação brasileira, o artista é o profissional que

"cria, interpreta ou executa obra de caráter cultural de qualquer na-tureza, para efeito de exibição ou divulgação pública, através de meios de comunicação de massa ou em locais onde se realizam espetáculos de diversão pública". O artista usa de toda a sua imaginação, criatividade e talento para emocionar, chocar ou mesmo registrar momentos importantes da história da humanidade. A arte nasceu com o homem e permane-cerá após a sua morte.

O principal objetivo desta data é homenagear os profissionais que se dedicam a estudar e conhecer sobre a história das civilizações e comunidades.

Origem do Dia do Historiador A criação do Dia do Historiador foi oficializada a partir do Decreto de Lei nº 12.130, de 17 de dezembro de 2009. A escolha do dia 19 de agosto é uma homenagem a data de nasci-mento de Joaquim Nabuco (1849 - 1910), um dos historiadores mais icônicos do país, responsável por ser um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Joaquim também ficou conhecido por ser um dos maiores abolicionistas do país. Aliás, Nabuco é o autor da célebre frase: “A escravidão permanece-rá por muito tempo como a característica nacional do Brasil”.

Folclore é a cultura de um povo, o conjunto das tradições cultu-rais dos conhecimentos, crenças, costumes, danças, canções e lendas dos indivíduos de determinada nação ou localidade. O termo folclore se originou através de um neologismo criado pelo britânico William John Thoms (1803-1885), que uniu as palavras inglesas folk (que significa “povo”) e lore (que quer dizer “conhecimento”). Assim, folclore ganha o significado literal de "conhecimento do po-vo" ou"aquilo que o povo faz". A base da cultura do povo brasileiro vem da mistura de povos que fizeram o Brasil. Inclui as numerosas tribos indígenas, os portugue-ses, os diversos povos africanos que foram trazidos escravizados, além de um sem-número de imigrantes como alemães, italianos, japoneses que vieram para o país. Além disso, estudiosos como Câmara Cascudo, Mário de Andrade, Hekel Tavares, Inezita Barroso e muitos outros recolheram estórias e cantigas, documentaram práticas medicinais que fazem do folclo-re brasileiro uma fonte inesgotável de inspiração.

O Dia do Folclore Brasileiro foi definido oficialmente através do Decreto de Lei nº 56.747, de 17 de agosto de 1965, aprovado pelo Congresso Nacional. A partir de então, conforme definia a lei, o dia 22 de agosto passou a ser celebrado como o Dia do Folclore em todo o país. A data foi escolhida porque em 22 de agosto de 1846, o pesquisa-dor britânico William John Thoms usou esta palavra pela primeira vez num artigo. Em 1947 foi criada a Comissão Brasileira de Folclore e, posterior-mente, as comissões estaduais. Em 1951 se realiza por primeira vez, no Rio de Janeiro, o 1º Congresso Brasileiro de Folclore, even-to que acontece a cada dois anos.

Callendar

Agosto de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 13

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ALGUMAS DATAS COMEMORATIVAS

09 - Dia Internacional dos Povos Indígenas

05 - Dia Nacional da Saúde

12 - Dia Internacional da Juventude

VISITE NOSSO SITE - Lá verá todas as datas comemorativas

22 - Dia do Folclore

19 - Dia do Historiador

12 - Dia Nacional das Artes

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O mito da caverna de Platão: a dualidade da nossa realidade.

À medida que crescemos, as dúvidas, as inconsistências, as perguntas, nos ajudam a tirar essas vendas dos olhos que, muitas vezes, nos im-

pedem de ver a realidade como ela é.

O Mito da caverna de Platão nos permitiu entender como o filósofo percebia o mundo. Uma relação entre o mundo físico e o mundo das ideias que criam uma realidade repleta de luzes e sombras. Por um lado, temos a realidade como ela é. Por outro lado, nos en-contramos em uma realidade ficcional onde nossas crenças e ilu-sões desempenham um papel importante. No entanto, antes de mergulharmos neste universo, não deveríamos saber o que o mito da caverna nos diz?

No mito, encontramos homens que, desde o nascimento, estão a-correntados ao fundo de uma caverna. Deste lugar, eles podem ver apenas uma coisa: uma parede. Eles nunca foram capazes de sair e nunca foram capazes de olhar para trás para saber a origem das correntes que os prendem. No entanto, há uma parede atrás deles e, um pouco mais adiante, um incêndio. Entre a parede e o fogo estão homens carregando objetos. Graças ao fogo, as sombras dos objetos são projetadas na parede e os homens acorrentados po-dem vê-los.

Eu via imagens que eram apenas mentiras e falsas realidades. Mas como eu poderia olhar para elas se, desde criança, essa é a única realidade que tenho visto?

Uma realidade ficcional

Esses homens sempre viram a mesma coisa desde que nasceram; eles não sentiram nem a necessidade nem a curiosidade de se vi-rar e ver o que refletia essas sombras. Mas era uma realidade en-ganosa e artificial. Essas sombras os distraíram da verdade. No en-tanto, um desses homens ousou olhar para trás e ver além das coi-sas.

No começo, ele se sentiu perdido e perturbado, especialmente a luz que ele via na parte de trás (o fogo). Ele começou a duvidar. Ele pensara que as sombras eram a única coisa que existia quando não era. Toda vez que ele andava, suas dúvidas o faziam tentado a retornar ao seu mundo de ilusões.

Apesar de tudo, com paciência e determinação, ele continuou seu avanço. Acostumando-se pouco a pouco a esse mundo tão desco-nhecido para ele. Sem ser vencido pela confusão ou ser enganado pelos caprichos do medo, ele saiu da caverna. Mas quando ele cor-reu de volta para contar aos seus companheiros, eles o cumpri-mentaram com uma zombaria. Um desprezo que refletia a incredu-lidade dessas pessoas na história do aventureiro.

É curioso ver como a visão oferecida pelo mito da caverna pode ser transposta para as notícias. Esse modelo que todos seguimos e por

causa do qual, se sairmos do caminho que nos ditam, começamos a ser julgados e criticados. Considere que aceitamos muitas verda-des absolutas sem parar por um momento para questioná-las, sem perguntar se o mundo está realmente próximo ou distante dessa realidade.

Por exemplo, pensar que o erro é uma falha pode afetar o fato de que abandonamos qualquer projeto com o menor contratempo. No entanto, se não nos deixar levar por essa idéia, desenvolveremos nossa curiosidade e o erro deixará de ser um demônio cheio de ne-gatividade. Assim, a mudança de perspectiva não apenas nos im-pedirá de temê-la, mas também nos fará aprender com esses erros quando os cometermos.

Sair da caverna é um processo difícil

No mito da caverna, o homem que decide libertar-se das correntes que o aprisionam toma uma decisão muito difícil; o segundo, em vez de ser bem visto por seus companheiros, é rapidamente toma-do como um ato de rebelião. Algo mal visto e que poderia tê-lo em-purrado para abandonar essa tentativa. Quando este homem final-mente decide, ele começa a seguir este caminho sozinho, para ir além dessa parede e do fogo, o que o faz duvidar ao mesmo tempo em que ele o cega. Dúvidas o atacam, ele não pode mais distinguir o verdadeiro do falso.

Ele deve se livrar de crenças que há muito o habitam. Idéias que não são apenas enraizadas, mas também a base da árvore de su-as crenças. No entanto, como ele se move em direção à saída da caverna, ele percebe que o que ele acreditava não era verdade. Então, o que resta dele? Ele deve convencer aqueles que zombam dele de que existe uma liberdade à qual podem aspirar se decidi-rem abandonar o aparente conforto em que vivem.

O mito da caverna retrata a ignorância como a realidade que se tor-na desconfortável quando nos tornamos conscientes de sua pre-sença. Diante da menor possibilidade da existência de outra visão do mundo, a história nos revela que a nossa inércia nos leva a des-truí-la porque a consideramos uma ameaça à ordem estabelecida.

As sombras não são mais projetadas, a luz deixou de ser artificial e

o ar já está acariciando meu rosto.

Nossa condição humana pode impedir-nos de nos livrar deste mun-do de sombras, mas podemos pelo menos fazer um esforço para tornar essas sombras cada vez mais distintas. O mundo perfeito e icônico das idéias pode ser uma utopia para a nossa natureza, mas isso não significa que renunciar à nossa curiosidade é melhor do que confiar no conforto do que conhecemos hoje (ou o que nós a-cho que sabemos).

Quando crescemos, dúvidas, inconsistências e perguntas nos aju-dam a remover as vendas que às vezes tornam a vida muito mais difícil do que realmente era.

Fonte: nospensees.fr

Agosto de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 14

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SENSO COMUM Porque refutar um senso comum pode ser algo incomodo? Primeiramente porque o senso comum tende a se enraizar em nós, como se fosse nosso próprio senso também, nos induzindo a pensar e a agir como coparticipes da visão de mundo que ele abraça e carrega, e em segundo lugar, porque ele pode e deve ter seduzido também nossos amigos, amores e conhecidos, fora toda uma multidão que ten-de a defende-los como correto e verdadeiro, porque também eles o percebem como parte de suas ideias, conceitos e visões deste mun-do.

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Agosto de 2019 Gazeta Valeparaibana Página 15

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Por que os psicopatas chegaram ao poder

Há uma dimensão pouco exami-nada no avanço das lógicas neoli-berais. Um sistema que estimula competição, disputa e rivalismo produzirá “líderes” brutais e sem empatia. Eleger gente generosa e sensível requer uma nova demo-cracia

Quem, em seu juízo perfeito, po-deria desejar esse trabalho? É quase certo que acabará, como descobriu Theresa May, em fra-

casso e execração pública. Procurar ser primeiro-ministro britânico, hoje, sugere ou confiança imprudente ou fome insaciável de poder. Talvez necessitemos de uma ironia como a de Groucho Marx: al-guém louco o suficiente para candidatar-se a essa função deveria ser desqualificado para concorrer.

Alguns anos atrás, a psicóloga Michelle Roya Rad listou as caracte-rísticas de uma boa liderança. Entre elas figuravam justiça e objeti-vidade, desejo de servir à sociedade e não a si mesmo, falta de in-teresse em ser famoso e ocupar o centro das atenções, resistência à tentação de esconder a verdade ou fazer promessas impossíveis. Por outro lado, um artigo publicado no Journal of Public Manage-ment & Social Policy (Jornal de Gestão Pública e Política Social) listou as características de líderes com personalidade psicopata, narcisista ou maquiavélica. Elas incluem: tendência à manipulação dos outros, disposição em mentir e enganar para alcançar seus ob-jetivos, falta de remorso e sensibilidade, desejo de admiração, a-tenção, prestígio e status. Quais dessas características descrevem melhor as pessoas que estão competindo para ser “governantes” no mundo contemporâneo?

Na política, vê-se em todo lado o que parece ser a externalização de déficits ou feridas psíquicas. Sigmund Freud afirmou que “os grupos assumem a personalidade do líder”. Penso que seria mais preciso dizer que as tragédias privadas dos poderosos tornam-se as tragédias públicas daqueles que eles dominam.

Para algumas pessoas, é mais fácil comandar uma nação, mandar milhares para a morte em guerras desnecessárias, separar crian-ças de suas famílias e infligir sofrimentos terríveis do que processar sua própria dor e trauma. Aparentemente, o que vemos na política, em todos os cantos, é uma manifestação pública de profunda an-gústia privada.

Essa talvez seja uma força particularmente forte na política britâni-ca. O psicoterapeuta Nich Duffell escreveu sobre “líderes feridos”, que foram separados da família na primeira infância para ser envia-dos ao colégio interno. Eles desenvolveram uma “personalidade de sobrevivente”, aprendendo a reprimir seus sentimentos e projetar um falso eu, caracterizado pela demonstração pública de compe-tência e autoconfiança. Sob essa persona está uma profunda inse-gurança, que pode gerar necessidade insaciável de poder, prestí-gio e atenção. O resultado disso é um sistema que “sempre revela pessoas que parecem muito mais competentes do que realmente são”.

O problema não está confinado a estas paragens. Donald Trump ocupa a cadeira mais poderosa do planeta, e ainda assim parece roer-se de inveja e ressentimento. “Se o presidente Obama tivesse

feito os acordos que fiz”, afirmou há pouco, “a mídia corrupta os consideraria incríveis… Para mim, apesar do nosso recorde em e-conomia e tudo o que fiz, não há crédito!”. Nenhuma riqueza ou po-der parece capaz de satisfazer sua necessidade de afirmação e se-gurança.

Penso que deveria ser necessário a qualquer um que quisesse par-ticipar de uma eleição nacional passar por uma formação em psico-terapia. A conclusão do curso seria a qualificação para o cargo. Is-so não mudaria o comportamento de psicopatas, mas poderia evi-tar que, ao exercer o poder, certas pessoas impusessem sobre os outros suas próprias feridas profundas. Fiz dois cursos: um influen-ciado por Freud e Donald Winnicott, outro cuja abordagem tinha foco na compaixão de Paul Gilbert. Considero os dois extremamen-te úteis. Penso que quase todo mundo se beneficiaria desses trata-mentos.

A psicoterapia não iria garantir uma política mais gentil. A abertura admirável de Alastair Campbell ao falar sobre sua terapia e saúde mental não o impediu de comportar-se – quando desempenhou as funções de assessor político e porta-voz de Tony Blair – como um valentão desbocado, que intimidava as pessoas a apoiar uma guer-ra ilegal, em que centenas de milhares de pessoas morreram. Tan-to quanto sei, não demonstrou remorso por seu papel nessa guerra agressiva, que cabe na definição de “crime internacional supremo” do tribunal de Nuremberg.

O problema, na verdade, é o sistema no qual essas pessoas com-petem. Personalidades tóxicas prosperam em ambientes tóxicos. Aqueles que deveriam ser menos confiáveis para assumir o poder são justamente os que mais provavelmente vencerão. Um estudo publicado no Journal of Personality and Social Psychology sugere que o grupo de traços psicóticos conhecido como “domínio sem medo” está associado a comportamentos amplamente valorizados nos líderes, tais como tomar decisões ousadas e sobressair-se no cenário mundial. Se assim for, nós, por certo, valorizamos as carac-terísticas erradas. Se para alcançar o sucesso no sistema é neces-sário ter traços psicopatas, há algo errado com o sistema.

Para pensar uma política eficiente, talvez fosse útil trabalhar de trás para frente: primeiro decidir que tipo de gente gostaríamos que nos representassem e depois criar um sistema que as levasse ao pri-meiro plano. Quero ser representado por pessoas ponderadas, conscientes de si e colaborativas. Como seria um sistema que pro-movesse essas pessoas?

Não seria uma democracia puramente representativa. Esse tipo de democracia funciona com o princípio do consenso presumido: você me elegeu há três anos, então presumo que consentiu com a políti-ca que estou para implementar, não importa se na época eu a men-cionei ou não. Ela recompensa os líderes “fortes e determinados” que tão frequentemente levam suas nações à catástrofe. Um siste-ma que fortaleça a democracia representativa com democracia par-ticipativa – assembleias de cidadãos, orçamento participativo, co-criação de políticas públicas – tem mais possibilidades de recom-pensar os políticos sensíveis e atenciosos. A representação propor-cional, que impede governos com apoio minoritário de dominar a nação, é outra salvaguarda potencial (embora não seja garantia).

Ao repensar a política, é preciso desenvolver sistemas que incenti-vem gentileza, empatia e inteligência emocional. É preciso nos des-vencilhar de sistemas que encorajem as pessoas a esconder sua dor e dominar os outros.

George Monbiot

O que é Psicopatia?

Psicopata é um indivíduo clinicamente perverso, que tem personalidade psicopatica, com distúrbios mentais graves.

Um psicopata é uma pessoa que sofre um distúrbio psíquico, uma psicopatia que afeta a sua forma de interação social, muitas vezes se comportando de forma irregular e anti-social. Em sentido mais amplo, uma psicopatia é uma doença causada por uma anomalia orgâni-ca no cérebro. Em sentido restrito, é um sinônimo de psicose (doença mental de origem neurológica ou psicológica).

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Regressão e obscurantismo: “…e eu não me importei”

“Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista.

Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, por-que, afinal, eu não era social-democrata.

Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afi-nal, eu não era sindicalista.

Quando levaram os judeus, eu também não me importei, porque, afinal, eu também não era judeu. Quando eles me levaram, não ha-via mais quem protestasse”.

Com estes versos o pastor luterano alemão, Martin Niemöller, em meados de século passado, revela o espírito e a fenomenologia da alma humana, afetada por tempos obsessivamente regressivos e exaltadamente obscurantistas.

Neste momento, quando o governo brasileiro publica a mais autori-tária e restritiva medida contra os direitos civis, desde o famigerado Ato Institucional nº 5, editado pelo presidente-ditador Costa e Silva, em 1968, qual seja, a portaria 666/2019. Iniciativa do Ministério da Justiça, dá fortes sinais que o ataque aos direitos e conquistas, ao Estado Democrático Constitucional e a lógica do entreguismo irão se amplificar, e que tal medida relança um novo patamar de ofensi-vidade para um governo cuja conduta não tem sido o rigor constitu-cional.

Aliás iniciativa típica de governo despótico, porque especialistas em direito constitucional já afirmam que ela é ilegal e inconstitucional, uma vez que não é competência do Ministério da Justiça legislar sobre matéria que entra em conflito com Lei Federal e Constituição.

E causa espanto que associado a esta medida, talvez seja muita coincidência, em meio as investigações de suspeitos dos ainda não bem explicados “ataques de hackers a telefones de autoridades” – que está mais para uso de engenharia em redes sociais para che-gar aos conteúdos – sem a conclusão dos resultados, o ministro da justiça vem a público vinculá-los aos vazamentos de mensagens de procuradores. Aqueles que o site The Intercept Brasil, o jornal Fo-lha de São Paulo e a revista Veja, vêm publicando desde junho.

No mínimo, em meio as investigações, é precipitada e soa como pura tentativa de ameaça e intimidação a tão cara liberdade de im-prensa – que muitos pregam, mas não praticam – a virulenta e ile-gal interferência. De onde se pode aliás deduzir, a seguinte suspei-ta, como as investigações estão em sigilo pela PF, de duas uma, ou ele blefa, o que não seria minimamente razoável, para um Minis-tro de Estado, ou furou o sigilo, que todos sabemos a gravidade que isto significa.

Não contente, os arroubos do executivo do ministério foram mais longe, por iniciativa nada republicana passou a sentenciar que as informações seriam destruídas. Não fosse a própria PF, que é sua subalterna na estrutura ministerial, dizer que material não pode ser descartado sem que o MP seja ouvido e autorize, estaríamos frente a mais um brutal ataque ao Estado de Direito Constitucional. E quem deveria dar exemplo e estar na linha de frente na sua defesa, parece que de forma desesperada e despótica, busca criar um cli-ma para implementar a portaria autoritária que ele mesmo produ-ziu.

O exercício das funções públicas de Estado pressupõe a observân-cia permanente de alguns requisitos que dão a real dimensão e sig-nificado de atuação do gestor público. Aqui vale a máxima, “se co-nhece o verdadeiro Quadro de Estado, não só pelo seu discurso, mas por sua prática quando está no poder”. Que requer condutas não abusivas, de isonomia, de transparência na sua atuação, pres-tação de conta de seus atos, prudência e moderação na sua ativi-dade e não interferência em processos investigativos que tenha in-teresse direto. Tudo isto e outras coisas mais que vêm ocorrendo, configuram sérias transgressões e podem levar à improbidade, u-ma vez que atentam contra os princípios da Administração Pública.

Parece ser até compreensível para muitos estes despropérios, pois situação revela que ao perceber sua reputação indo para o ralo, não hesita em utilizar o aparato do ministerial para interferir de for-ma injustificável no andamento de investigações. Configurando u-ma violação ao funcionamento das instituições no âmbito da Ordem Democrática, sobretudo quando um órgão que conduz um inquérito e tem autonomia par tal, que tem que seguir protocolos rigorosos e tem controles externos através de leis, sofre tal interferência e inti-midação.

Fica evidente que República está absolutamente contaminada pela lógica arbitrária da estratégia de “os fins justificarem os meios”.

E como se não bastasse tudo o que fizeram nos últimos dois anos no país, rasgando a Constituição e ferindo de morte o Estado De-mocrático de Direito Constitucional, últimos episódios evidenciam total ausência de escrúpulo para atingir seus objetivos.

E fica o alerta dos versos do pastor luterano alemão, quando dos tempos regressivos e obscurantistas em meados do século passa-do. Que de forma parafraseada podem ser interpretados na forma que segue: “ou se interdita este brutal ataque à democracia e às prerrogativas de direitos individuais, salvaguardadas constitucional-mente, ou amanhã depois, não haverá mais ninguém para protestar ou lhe defender, quando chegar a sua vez”.

Adão Villaverde

Agosto de 2019 ÚLTIMA PÁGINA

NAZISMO

O nazismo, ou Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, foi um partido da extrema-direita que surgiu na Alemanha em 1920. O partido surgiu escorado em ideais nacionalistas e extremistas que eram bastante difundidos na Alemanha desde o século XIX, entre os quais estavam o antissemitismo.

O surgimento do nazismo aconteceu logo após a Primeira Guerra Mundial em um momento em que a Alemanha estava arrasada e hu-milhada após esse conflito. A crise econômica e as duras imposições do Tratado de Versalhes fortaleceram o discurso nacionalista e extremista difundido por certas parcelas da sociedade alemã.