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Foi descoberta a mais antiga representação do apóstolo Paulo que se tem conheci- mento, que remonta ao final do século IV. Esta ima- gem de Paulo veio a público em 19 de ju- nho passado nas escavações que estão em andamento em uma catacum- ba intitulada a Santa Tecla, que fica na "via Ostiense", que leva de Roma ao mar, perto da Basílica onde está sepultado o corpo do Apóstolo. Limpando com raios laser a sinu- osidade em torno de um cubículo, os arqueólogos viram voltar à luz uma rica decoração como afresco. No centro da volta, apareceu a imagem do Bom Pas- tor com, ao redor, em quatro círculos, as imagens de Paulo – bem preservada – de Pedro e, provavelmente, de outros dois apóstolos. Os arqueólogos, em dois amplos artigos no jornal da Santa Sé, forneceram todos os detalhes da descoberta; todavia, há um elemento que impressiona mais do que outros, e diz respeito aos motivos que levaram a representar o apóstolo Paulo assim como o vemos neste afresco e depois em muitos outros sucessivos: com o aspecto de um filósofo, o olhar pensativo, a cabeça alta, a calvície incipiente e a barba aguçada. Com efeito, em uma recente mostra de arte dedicada a São Paulo em uma sala dos Museus Vaticanos, fo- ram expostas as cabeças esculpidas em época romana de dois filósofos – um dos quais provavelmente é Plo- tino – que apresentam fortes semelhanças com as antigas representações de Paulo, a partir daquela que foi descoberta agora. A mesma questão se põe para o Apóstolo Pedro, representado tradicional- mente com o penteado curto, volumoso e cândi- do, com o rosto amplo e o olhar decidido, com a barba também ela curta e cheia. E assim para os outros protagonistas da história sacra. A arte dos retratos era muito difusa entre os artistas gregos e romanos. Mas na cultura hebraica, as imagens humanas eram interditadas e, portanto, era impen- sável que Paulo e outros se fizessem retratar. So- mente mais tarde, a Igreja aceitou representar os personagens da fé cristã. Mas como representar Pedro e Paulo, os príncipes dos Apóstolos, as co- lunas fundamentais da Igreja? Deste modo, foram conferidos aos protoapóstolos os semblantes dos protofilósofos. Assim, Paulo, calvo, com barba, ar sério e absorvido de intelectu- alidade, recebeu a face de Platão ou talvez de Plo- tino, enquanto o semblante de Aristóteles foi dado ao pragmático e terrestre Pedro, que tem a tarefa de guiar nas insídias do mundo a Igreja que profes- sa e combate. Se assim foi, a Igreja dos primeiros séculos não teve, portanto, nenhuma timidez em atribuir aos apóstolos, e em especial a Paulo, o aspecto do filósofo, nem em propagar, estudar, proclamar o seu pensamento na sua inteireza, cer- tamente não fácil de ser compreendido e aceito. O mesmo pode ser dito dos Padres da Igreja. Em uma fase do Cristianismo em expansão, em uma fase em que a transmissão da fé cristã aos gentios estava em pleno desenvolvimento, a Igreja jamais pensou em atenuar ou amansar a própria mensagem para torná-la mais aceitável aos homens do tempo. O arcebispo Gianfranco Ravasi, Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, ao destacar que “perto do extraordinário rosto de Paulo está o de Pedro, menos preservado, mas sugestivo, sinal daquela concordia apostolorum tão querida pela Igreja do século IV”, definiu o evento “extraordinário”, porque sela de modo inesperado e surpreendente as iniciativas que marcaram o Ano Paulino há pouco concluído. DESCOPERTA A MAIS DESCOPERTA A MAIS DESCOPERTA A MAIS DESCOPERTA A MAIS ANTIGA IMAGEM DE SÃO ANTIGA IMAGEM DE SÃO ANTIGA IMAGEM DE SÃO ANTIGA IMAGEM DE SÃO PAULO PAULO PAULO PAULO A representação do Apóstolo dos Gentios foi encontrada a poucos metros do seu Túmulo, nas catacumbas de Santa Tecla Dezembro 2009 Ano 3, N° 8

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Foi descoberta a mais antiga representação do apóstolo Paulo que se tem conheci-mento, que remonta ao final do século IV. Esta ima-gem de Paulo veio a público em 19 de ju-nho passado nas escavações que estão em andamento em uma catacum-ba intitulada a

Santa Tecla, que fica na "via Ostiense", que leva de Roma ao mar, perto da Basílica onde está sepultado o corpo do Apóstolo. Limpando com raios laser a sinu-osidade em torno de um cubículo, os arqueólogos viram voltar à luz uma rica decoração como afresco. No centro da volta, apareceu a imagem do Bom Pas-tor com, ao redor, em quatro círculos, as imagens de Paulo – bem preservada – de Pedro e, provavelmente, de outros dois apóstolos. Os arqueólogos, em dois amplos artigos no jornal da Santa Sé, forneceram todos os detalhes da descoberta; todavia, há um elemento que impressiona mais do que outros, e diz respeito aos motivos que levaram a representar o apóstolo Paulo assim como o vemos neste afresco e depois em muitos outros sucessivos: com o aspecto de um filósofo, o olhar pensativo, a cabeça alta, a calvície incipiente e a barba aguçada. Com efeito, em uma recente mostra de arte dedicada a São Paulo em uma sala dos Museus Vaticanos, fo-ram expostas as cabeças esculpidas em época romana de dois filósofos – um dos quais provavelmente é Plo-tino – que apresentam fortes semelhanças com as antigas representações de Paulo, a partir daquela que

foi descoberta agora. A mesma questão se põe para o Apóstolo Pedro, representado tradicional-mente com o penteado curto, volumoso e cândi-do, com o rosto amplo e o olhar decidido, com a barba também ela curta e cheia. E assim para os outros protagonistas da história sacra. A arte dos retratos era muito difusa entre os artistas gregos e romanos. Mas na cultura hebraica, as imagens humanas eram interditadas e, portanto, era impen-sável que Paulo e outros se fizessem retratar. So-mente mais tarde, a Igreja aceitou representar os personagens da fé cristã. Mas como representar Pedro e Paulo, os príncipes dos Apóstolos, as co-lunas fundamentais da Igreja? Deste modo, foram conferidos aos protoapóstolos os semblantes dos protofilósofos. Assim, Paulo, calvo, com barba, ar sério e absorvido de intelectu-alidade, recebeu a face de Platão ou talvez de Plo-tino, enquanto o semblante de Aristóteles foi dado ao pragmático e terrestre Pedro, que tem a tarefa de guiar nas insídias do mundo a Igreja que profes-sa e combate. Se assim foi, a Igreja dos primeiros séculos não teve, portanto, nenhuma timidez em atribuir aos apóstolos, e em especial a Paulo, o aspecto do filósofo, nem em propagar, estudar, proclamar o seu pensamento na sua inteireza, cer-tamente não fácil de ser compreendido e aceito. O mesmo pode ser dito dos Padres da Igreja. Em uma fase do Cristianismo em expansão, em uma fase em que a transmissão da fé cristã aos gentios estava em pleno desenvolvimento, a Igreja jamais pensou em atenuar ou amansar a própria mensagem para torná-la mais aceitável aos homens do tempo. O arcebispo Gianfranco Ravasi, Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, ao destacar que “perto do extraordinário rosto de Paulo está o de Pedro, menos preservado, mas sugestivo, sinal daquela concordia apostolorum tão querida pela Igreja do século IV”, definiu o evento “extraordinário”, porque sela de modo inesperado e surpreendente as iniciativas que marcaram o Ano Paulino há pouco concluído.

DESCOPERTA A MAIS DESCOPERTA A MAIS DESCOPERTA A MAIS DESCOPERTA A MAIS ANTIGA IMAGEM DE SÃO ANTIGA IMAGEM DE SÃO ANTIGA IMAGEM DE SÃO ANTIGA IMAGEM DE SÃO

PAULOPAULOPAULOPAULO

A representação do Apóstolo dos Gentios foi encontrada a poucos metros do seu Túmulo, nas catacumbas de Santa Tecla

Dezembro 2009

Ano 3, N° 8

Pàgina 2 Boletim da Basílica Papal de São Paulo fora dos Muros

PROSSEGUE A SÉRIE “OS RETRATOS DOS PAPAS”

S. ANACLETO (80-92) e S. CLEMENTE I (92-99)

Medalhões posicionados, a 12 metros de altura, na parede leste do Transepto, terceiro e

quarto à direito para quem olha a abside.

A Basílica Papal de São Paulo Fora dos Muros é cofre de tesouros de arte e de arquitetura de grande prestígio. No Boletim deste mês, prosseguimos em ilustrar "Os retratos dos Papas". A célebre série dos grandes "medalhões", iniciada pelo Papa Leão I Magno (440-461) e refeita por Pio IX, prossegue até hoje e é única no mundo.

S. ANACLETO (80S. ANACLETO (80S. ANACLETO (80S. ANACLETO (80----92)92)92)92) Era provavelmente de origem grega, como indica o nome A-nacleto, forma latinizada correspondente ao adjetivo grego anèncletos, ou seja, "irrepreensível", nome usado frequente-mente para os escravos. É recordado também como Cleto, e algumas fontes atribuíram erroneamente uma existência sepa-rada a Cleto e a Anacleto. Também do seu pontificado temos pouquíssimas notícias e, além do mais, legendárias, como a-quela segundo a qual teria erigido no local do túmulo de São Pedro um monumento, primeiro núcleo da futura basílica vati-cana, e aquela de que teria ordenado vinte e cinco presbíteros. Também a notícia do seu martírio é legendária. Festa, 26 de abril.Festa, 26 de abril.Festa, 26 de abril.Festa, 26 de abril.

S. CLEMENTE I (92S. CLEMENTE I (92S. CLEMENTE I (92S. CLEMENTE I (92----99)99)99)99) Era romano e talvez liberto do cônsul Tito Flávio Clemente, primo do imperador Domiciano, que foi justiçado por ter se convertido ao Judaísmo e com o qual foi erroneamente iden-tificado. As fontes antigas concordam em colocá-lo em rela-ção direta com os apóstolos Pedro e Paulo. Talvez é possível reconhecê-lo no Clemente mencionado por São Paulo como um de seus colaboradores (em Filipenses 4,3). Presbítero, foi certamente o principal expoente da Igreja romana. Se-gundo uma tradição sem confirmação nas fontes mais anti-gas, teria morrido mártir. É certamente legendária a notícia de um seu exílio na Criméia, onde teria sido afogado com

uma âncora no pescoço. Do seu papel em Roma, sabemos pouquíssimo. A única notí-cia certa é que foi redator e, talvez, o autor de um importante texto escrito em torno de 96, a Primeira Carta de Clemente, endereçada à Igreja de Corinto, em que pede a rein-tegração de alguns presbíteros que haviam sido destituídos. Esta carta é o primeiro do-cumento que testemunha uma intervenção da Igreja de Roma em questões externas e teve grande difusão, até ser considerada, em alguns momentos, como um livro do No-vo Testamento. A tradição quer que a igreja de São Clemente em Roma tenha sido construída no local em que se encontrava a sua casa. Festa, 23 de novembroFesta, 23 de novembroFesta, 23 de novembroFesta, 23 de novembro.

Pàgina 3 Boletim da Basílica Papal de São Paulo fora dos Muros

Quando nos aproximamos do baldaquino da Basílica de São Paulo Fora dos Muros, se tem uma fortíssima imagem visual: o altar hoje se apóia sobre o próprio túmulo de Paulo, que foi tra-zido à vista dos peregrinos na última escavação realizada por ocasião do Ano Paulino. Ou seja, a eucaristia é celebrada "sobre" o corpo do Apóstolo, sobre o sarcófago que preserva as suas relíquias. Não há maneira mais expressiva de afirmar que a fé da Igreja é a fé apostólica, que a nossa fé está radicada na fé dos apóstolos que conheceram o Senhor. A eucaristia que Paulo celebrou e as nossas celebrações são o mesmo e único sacrifí-cio. Mas não só: Paulo, junto aos outros apóstolos, aparece nos mo-saicos da abside para representar a igreja do céu que, junto à igreja peregrina na terra, é a única Igreja que compreende o céu e a terra. Esta dimensão vertical da Igreja – e da vida e da histó-ria – caracteriza a fé cristã. A Igreja não compreende simples-mente o "nós" horizontal, daqueles que hoje acreditam espalha-dos em todos os lugares da terra, mas compreende juntamente o “nós” vertical, abraçando todos aqueles que acreditaram antes da nossa geração e, em primeiro lugar, os próprios apóstolos do

Senhor. Por isso, desde a antiguidade, a Igreja valorizou a tradição da peregrinação ao túmulo dos apóstolos, dos mártires e dos santos, para que cada geração acolhesse a fé das gerações que a prece-deram e pedisse sua intercessão do céu. O primeiro testemunho explícito da veneração do túmulo de Paulo na "via Ostiense" remonta ao historiador Eusébio de Cesaréia, que viveu no período do Imperador Constantino que, na sua, “Storia ecclesiastica” afirma: «Narra-se que Paulo foi decapitado por Nero, e que Pedro foi crucifi-cado em Roma; e o confirmam ainda os monumentos marcados com os nomes de Pedro e de Paulo, visitados ainda hoje nos cemitérios da cidade de Roma”. Além disso, também Gaio, um eclesiástico que viveu nos tempos do Papa Zeferino, em um seu es-crito contra Proclo, chefe da seita dos Montanistas, fala dos lugares onde foram depositados os res-tos sagrados dos referidos Apóstolos, e assim se expressa: “Eu posso mostrar-te os troféus dos A-póstolos. Se quiseres visitar o Vaticano, ou a via Ostiense, encontrarás os troféus dos fundadores desta Igreja”. O testemunho de Gaio, relatado por Eusébio, nos leva assim aos anos 199-217, mas a tradição do túmulo do apóstolo remonta à idade neotestamentária. Gaio utiliza o termo “troféus” para indicar as sepulturas de Pedro e Paulo, na colina Vaticano e na via Ostiense. Se o termo passou a indicar a primeira solenidade arquitetônica daqueles sepulcros, não se deve esquecer que ele indicava, na ori-gem, a “vitória” trazida em Cristo pelos dois apóstolos mártires. Eles haviam obtido, como diz 2 Tm 4,8, a «coroa da justiça» preparada pelo Senhor para «todos os que tiverem esperado com amor a sua Aparição».

SÃO PAULO, A BASÍLICA A ELE DEDICADA E OS FUNDAMENTOS

DA IGREJA.

A Basílica de São Paulo é rica de obras que testemunham

a missão da Igreja.

Via Ostiense, 186Via Ostiense, 186Via Ostiense, 186Via Ostiense, 186

00146 ROMA00146 ROMA00146 ROMA00146 ROMA

Telefono : 06 698 80 800

Telefax : 06 698 80 803

e-mail : [email protected]

Basílica Papal de

São Paulo fora dos

Muros

“Não mais eu, mas Cristo

vive em mim” Gal 2, 20

O site, que fornece informações atualizadas sobre serviços disponibilizados e so-

bre o calendário das celebrações e das peregrinações, permite interagir com o

anúncio de evento e as reservas de celebrações, peregrinações e visitas com guias

na Basílica de São Paulo Fora dos Muros.

O extraordinário candelabro pascal, obra de Niccolò d’Angelo e Pietro Vassaletto, esculpido entre o final do século XII e o início do XIII e que sobreviveu ao terrível incêndio do século XIX da Basílica, carrega inscritos, ainda perfeitamente legí-veis, alguns versos que louvam o triunfo de Cristo, que doa aos seus os frutos da salvação: «A árvore dá fruto. Eu sou uma árvore que dá luz. E dons. Anuncio ale-gria em um dia de festa. Cristo ressuscitou. E eu ofereço esses dons». Também os apóstolos, representados logo abaixo sob o Cristo Pantocrator, entra o Glória, tendo como antifonários os dois anjos que estão em volta do Etimasia, ou seja, do trono sobre o qual se erige régia a cruz vitoriosa. O anjo que está à direita da Etimasia entoa o hino, tendo impressa as palavras «Gloria in excelsis Deo», e o anjo à esquerda lhe responde com as palavras «et in terra pax hominibus bonae voluntatis». Os apóstolos seguem, à direita e à esquer-da, prosseguindo o canto. Aos corais angélicos e à primeira geração apostólica se une o gesto do papa Honó-rio III (1216-1227), prostrado aos pés do Cristo. É a parte artisticamente mais bela do mosaico; de fato, somente na parte central inferior se manteve a obra originá-ria, enquanto o restante foi completamente refeito depois do incêndio do século XIX, mesmo que em plena adesão com o modelo iconográfico precedente. Paulo VI, no seu primeiro discurso aos bispos do Concílio, em setembro de 1963, assim se expressou, manifestando a unidade da Tradição, que, unânime, dirige todo o seu louvor ao Cristo: «Parece-nos que Ele próprio se nos apresenta ao nosso olhar enlevado e perdido na majestade característica do Panto-crator das vossas Basílicas, Irmãos das Igrejas orientais, e também das ocidentais. Nós vemo-nos figurados nesse ado-rador humílimo, o nosso predecessor Honório III, que — representado no esplêndido mosaico da abside da Basílica de S. Paulo fora dos muros, pequeno e quase aniquilado por terra — beija o pé a esse Cristo de gigantescas dimensões, em atitude de mestre real a dominar e a abençoar a assembleia recolhida na mesma Basílica, isto é, a Igreja».

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