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Caderno de ANO 1 - Edição 04/ março/2020 - Caderno especial Literatura Quenn Metsys - pintura de Erasmus Roerdam AGNES IZUMI NAGASHIMA Camila Gomes Charles Bukowski Cínthia Cortegoso Gabriele Freiria Irmâs de Palavra Papo Literário Rogério Skylab Rubens da Silva Sueli Bertolin Vagner Xavier William Blake Wilson Inacio

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Page 1: ANO 1 - Edição 04/ março/2020 - Caderno especial Literatura Caderno de · 2020. 3. 6. · Menina bonita do laço de fita (Ana Maria Machado) RIBEIRO, Odilia (bibliotecária escolar)

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Camila GomesCharles BukowskiCínthia Cortegoso

Gabriele FreiriaIrmâs de Palavra

Papo Literário

Rogério SkylabRubens da Silva

Sueli Bertolin

Vagner XavierWilliam Blake

Wilson Inacio

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EDITORIALEdição #4 Londrina –março/2020

EXPEDIENTE - Revista D-arte LondrinaDiretores de Redação : Wilson Inacio, Ronilson RonyAssessoria de Imprensa : Zeca CarvalhoSite: dartelondrina.wordpress.comEmail: [email protected]: @dartelondrina

Saudações! Apresentamos nossa 3ª edição da Revista D-arte Londrina. Lembramos a todos os leitores que a revista se apresenta de forma interativa, clicando nos ícones e links serão direcionados para as páginas e redes sociais dos artistas. Buscamos mais uma vez, de forma democrática , receber os trabalhos dos artistas, grupos, escritores, autores, pesquisadores e afins, sem qualquer pré-julgamento possibilitando que este ambiente seja plural, diversificado e livre.

Nosso projeto é independente e, para continuarmos a lançar este olhar sobre a produção artística de nossa região, criamos um canal de financiamento coletivo, onde receberemos colaborações espontâneas através deste link :

https://www.catarse.me/d_arte_revista_eletronica_de_arte_e_cultura_26a2?ref=ctrse_explore_pgsearch&project_id=105638&project_user_id=1216998

Erasmo de Roterdã via Caderno Aquarianohttp://cadernoaquariano.blogspot.com/

Caderno Aquariano se propõe a edições nas áreas da Poesia, Astrologia, Psicologia, Filosofia, Artes e saberes afins com liberdade de se transcrever as matérias publicadas.

Sempre fui atraída por refinados sábios. Desde jovem amo Erasmo de Roterdã (1466/7 -1536). Retratado por importantes artistas - Pintura de Quentin Metsys.“Ninguém pode escolher os próprios pais ou a pátria, mas cada um pode moldar sua personalidade pela educação”.

Erasmo um símbolo da nova era no panorama cultural de seu tempo. Era um tempo em que os papas acumulavam imensas fortunas, insuflava guerras, enquanto o clero mostrava muita ostentação e arrogância. Erasmo pregava o retorno aos princípios e valores originais do cristianismo; a paz fraterna. Era um educador por excelência. Sua obra universalmente conhecida e a mais célebre O ELOGIO DA LOUCURA permanece um clássico. Sátira à inversão dos valores que observava no bojo da sociedade daquela época. A ética estava no centro das suas ocupações intelectuais. Influenciou, sem dúvidas, o monge alemão Martinho Lutero, da mesma congregação que ele. Sua visão, de postura diante do mundo, inseria categoricamente o livre arbítrio de cada ser humano. Para Erasmo todos os seres humanos são capazes de diferenciar o mal do bem, o incorreto do correto, os erros das virtudes. E sempre teve abertura ao diálogo entre grupos discordantes no meio do cristianismo. Homem muito além de seu tempo; permanece atual.

Um abraço a todos que se atolam em responsabilidades e acabam tendo de ir empurrando a vida com a barriga, fiquem agora com um post que eu deveria ter feito tipo... no começo do mês, uma mente organizada, um coração enrolado, meu novo lema a partir de agora.

Já compartilhei aqui minha participação na D-ARTE LONDRINA, também comentei minha opinião, isso é algo que vai continuar acontecendo, e sobre a edição mais recente eu digo que fiquei ainda mais satisfeito, não falo isso tendo como critério a qualidade do material, o que me chamou a atenção dessa vez foi a sensação de ver uma maior inclusão social, de que os temas abordados se expandiram para um público maior e que a própria revista em si deu um espaço mais amplo para artistas diferentes se promoverem, sinceramente, é isso o que eu mais gosto na D-ARTE, há muito material bom pela internet, mas liberdade para artistas exporem trabalhos com estilos diferentes sem serem reprimidos é um tanto raro.

Antes de eu fazer um marketing maroto me promovendo quero mencionar um item que me prendeu a atenção, estou me referindo ao texto batizado de “SEM FACE”, de Edra Moraes, senti fascinação por ele, é o tipo de leitura que nos faz ter mil interpretações diferentes, e senti certa revolta, pois um personagem meu leva o mesmo nome do título, escapou um palavrão, e a figura representada no texto até se assemelha com o meu Sem Face, é... talvez eu não seja tão original quanto pensei, vida que segue. Encerrando agora com meu poema “Para Ti Alguém”, marcando presença no caderno de literatura (ou não) com um conteúdo fictício mas profundo, repleto de referências históricas, uma obra moldada com esforço, ar de mistério e uma evidente brisa filosófica, tendo como eu lírico meu precioso Caim, o Amaldiçoado, acessem a revista ou minha página no Facebook para poderem aproveitar cada verso, e lembrem se, críticas construtivas são sempre bem vindas.

&&&_F.S.Satim

Opnião

Quentin Metsys - pintura de Erasmus Rotterdam

https://www.ebiografia.com/erasmo_de_roterda/

http://cadernoaquariano.blogspot.com/2017/06/erasmo-de-roterda-flores-do-bem.html?m=1

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Inscrições gratuitas.De 05 de dezembro de 2019 a 05 de abril de 2020.

Concurso literário de poesia. Concurso Nacional Novos Poetas, Poesia Livre 2020.

Cada candidato pode inscrever-se com até dois poemas de sua autoria.

No concurso literário de poesia, Concurso Nacional Novos Poetas, Poesia Livre 2020, são aceitos todos os gêneros da poesia, incluindo prosa poética.

O concurso literário, Poesia Livre 2020, é uma iniciativa da Vivara Editora Nacional.

Para inscrever-se com os poemas é simples. Siga os seguintes passos;

1- Baixe o formulário de inscrição.

2- Preencha o formulário de inscrição com os seus dados pessoais e os nomes dos poemas. Salve o formulário com o seu nome.

3- Envie-nos o formulário de inscrição e os poemas para, [email protected]

4- Em até 48 horas, você receberá a confirmação de inscrição realizada com sucesso.

Concurso Nacional Novos Poetas, Poesia Livre 2020.

- É uma exigência deste concurso literário de poesia, que a idade mínima dos participantes seja de 16 anos. (menores de 16 anos, apenas poderão participar com autorização dos pais).

- É uma exigência deste concurso literário de poesia, que o formulário seja preenchido de forma correta e completa.

- É uma exigência deste concurso literário de poesia, que o arquivo do formulário de inscrição, seja enviado juntamente com os arquivos contendo os poemas.

- A lista dos poemas classificados neste concurso literário de poesia, estará disponível no dia 22 de abril de 2020.

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Clube de Livro A livraria mágica de Paris

“Há mais perigo em seus olhos do que em vinte espadas”. (William Shakespeare)

A famosa livraria em Paris - “Shakespeare and Company” - é um canto épico em homenagem ao poeta, ator e dramaturgo inglês William Shakespeare, que fica numa ruazinha charmosa, bem pertinho da Notre Dame (bem, o que sobrou e está sendo restaurado dela). Numa viagem a Paris, as Irmãs de Palavra não podiam deixar de ir! É um daqueles lugares quase sagrados, que o escritor reverencia só de imaginar as figuras lendárias que já cruzaram aquela porta. Dois andares apertados, cheio de obras por todas as paredes, que sobem e descem num frenesi sem fim - de livros (livros e mais livros e mais livros). A poltrona larga de veludo é um convite para você se aconchegar. Uma escadaria de madeira te invoca a subir e encontrar ainda mais livros e, por fim, a réplica do quarto de Shakespeare, com sua cama e todo um cenário fascinante. Para leitores, livreiros, escritores e amantes da literatura é um espaço mágico – que é capaz de deslocar você do tempo e espaço em que vive e fazê-lo embarcar no mundo dos livros.

Como no romance “A livraria mágica de Paris” (Nina Georgi, 2013 - publicado no Brasil pela editora Record em 2016), em que um livreiro amalucado navega num barco-livraria pelo rio Sena até desembocar no mar, oferecendo histórias como se prescreve remédios, para curar as pessoas. Isto é, dependendo do mal que você sofre, terá que ler um determinado livro para se livrar da doença (mal de amor, um belo e esperançoso romance, por exemplo). Essa é uma metáfora preciosa - e talvez a grande responsável pelo sucesso do livro - histórias têm poder de cura. Curam o tédio, a ignorância, a prepotência, a falta de criatividade e de ânimo. Depois de uma leitura incrível, você pode até ficar mais corajoso, mais amoroso, mais romântico. Pode inclusive se tornar um amante mais vigoroso. Lendo um livro

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cheio de aventuras, você quer sair por aí e conhecer novos mundos. Ansiar por desafios. Ou pode ter vontade de aprender um novo idioma, fazer um curso, comprar uma moto ou uma casa na Toscana - que maravilha! É assim que os livros curam, as histórias pulam das páginas e tomam sua cabeça, fazendo um reboliço barulhento. Aí, quando você volta para o seu dia a dia, ah, já não é mais o mesmo. Quer mais beijos, mais conversas regadas a vinhos e risadas, quer andar a cavalo, esquiar, quer um salário melhor, quer justiça, quer dar sua opinião, quer democracia e direitos iguais. Quer dar vazão.

Porque no fundo, todo mundo é um personagem inesquecível. E os livros vão sempre te lembrar disso. O resto é história (e nós adoramos!).

Beijo das Irmãs de Palavra

“– Os livros podem fazer muitas coisas, mas não tudo. As coisas mais importantes a gente deve viver”.

(Nina Geoefi).

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QUAL LIVRO INFANTIL VOCÊ CONSIDERA FUNDAMENTAL NA EDUCAÇÃO PARA DIVERSIDADE?

Por SUELI BORTOLIN Fevereiro/2020

Finalizei a Coluna do mês passado com esta pergunta. Poderia ter consultado especialistas, sites que focam leitura para crianças, mas quis trazer a voz de alguns amigos que de uma maneira estiveram ou estão envolvidos com livros infantis. Dei um pouco de trabalho para eles, pois pedi qual livro ficaria no topo da listagem, isto é, qual escolheria em 1º. Lugar.

Percebi que a maioria teve dificuldade de apontar apenas um. Creio que isso é positivo, pois a literatura infantil de escritores bra-sileiros é riquíssima e o índice de obras de autores estrangeiros traduzidas e publicadas no Brasil nas últimas décadas, foi significa-tivo.

Então vamos às sugestões coletadas. Aviso que apresentarei em ordem alfabética por sobrenomes dos amigos, talvez tenha aí um vício de bibliotecária.

Vamos em frente:

ALMEIDA JÚNIOR, Oswaldo F. de

(bibliotecário e avô de três crianças)

A menina bonita do laço de fita (Ana Maria Machado)

ALVES, Rosemari P. dos S.

(bibliotecária escolar)

A menina bonita do laço de fita

(Ana Maria Machado)

BATISTA, Marcia

(Projeto Palavras Andantes)

O mundo no Black Power de Tayó

(Kiusam de Oliveira)

BORGES, Silvia B.

(professora Ensino Fundamen-tal)

Bom dia todas as cores

(Ruth Rocha)

BORTOLIN, Solange

(professor Ensino Fundamental)

Romeu e Julieta

(Ruth Rocha)

FARINA, Tatiane

(bibliotecária escolar)

O menino marrom

(Ziraldo)

FREIRE, Flávio

(Docente curso de Letras)

A bolsa amarela

(Lygia Bojunga Nunes)

MARTINEZ, Marisa L. C.

(bibliotecária escolar)

Romeu e Julieta

(Ruth Rocha)

OLIVEIRA, Emanuele de

(bibliotecária)

Cor da ternura

(Geni Guimarães)

PAGANINI, Marcia

(escritora)

A terra dos meninos pelados

(Graciliano Ramos)

PESTANA, Jaqueline

(professora de Educação Infan-til)

A princesa e a ervilha

(Rachel Isadora)

PRATES, Dirce X.

(professora da Educação Infantil

Menina bonita do laço de fita

(Ana Maria Machado)

RIBEIRO, Odilia

(bibliotecária escolar)

O animal mais feroz

(Dipacho)

SOUZA, Tiago de

(bibliotecário)

Flicts

(Ziraldo)

TIO, Paulo S.

(ilustrador e contador de his-tórias)

Cacoete

(Eva Furnari)

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A cor de CoralineAlexandre RampazoObaxAndré NevesO príncipe atrasadoCassia Leslie e Ricardo DalaiFelpo FilvaEva FurnariDrufsEva FurnariA família gorgonzolaEva FurnariA fada que tinha ideiasFernanda Lopes de AlmeidaOlivia não quer ser princesaIan FalconerOlivia tem dois papaisMárcia LeiteFerdinando, o touroMunro LeafBulunga o rei azulPedro BlochNinguém é igual a ninguémRegina OteroVocê pode escolherRegina OteroA primavera da lagartaRuth RochaMarcelo, marmelo, marteloRuth RochaDono da bola

Ruth RochaMaria-vai-com-as-outrasSylvia OrthofGuerra dos lápisTainise SoaresDiversidadeTatiana BelinkyO livro dos sentimentosTodd ParrTudo bem ser diferenteTodd ParrO menino marromZiraldo

Inicialmente minha intenção era arrolar os títulos e seus respectivos autores e pronto, missão cumprida. No entanto, alguns amigos fizeram comentários que é enriquecedor aproveitar:

O professor Flavio Freire disse que admira “Lygia Bojunga pela diversidade de pensamentos e postura em suas obras [...] ela é uma autora que me marcou muito e ainda me influencia”

A bibliotecária Marisa Luvizutti Coiado Martinez comentou que a minha pergunta a fez perceber, com felicidade, quanto que “Ruth Rocha contribui muito com essa temática”

O bibliotecário Tiago Souza ao indicar o livro Flicts (Ziraldo) comenta que: “o livro mostra que todos temos importância e um lugar nesse mundo. Literatura boa é assim, passa o tempo e se mantém atual, faz as crianças pensarem e se divertirem, pois texto e ilustração se completam.”

A escritora Márcia Paganini divulgou o link da Fundação Telefônica (http://fundacaotelefonica.org.br/noticias/10-livros-infantis-que-abordam-a-questao-da-diversidade/), onde há a indicação de 10 livros que abordam a diversidade, sendo eles: Olívia quer ser princesa (Ian Falconer), Do jeito que a gente é (Márcia Leite), Eugênia e os robôs (Janaina Tokitaka), Flicts (Ziraldo), Tudo bem ser diferente (Todd Par), O cabelo de Lelê (Valéria Belém), Rodrigo enxerga tudo (Markiano Charan Filho), Um outro país para Azzi (Sarah Garland), Minha família é colorida (Georgina Martin) e Meu amigo Jim (Kitty Crowther).

A professora Lucinea Aparecida Rezende, que, por muito tempo, manteve um programa na UEL/FM denominado Ler para Ser, responde: “a literatura infantil não é minha praia, mas adoro Patinho feio”. Ela acrescenta que o mundo do sítio do picapau amarelo em sua diversidade pode ser amplamente explorado. [...] ainda que haja a indicação de comentários preconceituosos.

A respeito desse assunto eu quero me posicionar: há sim na obra de Lobato, o que eu denomino de palavras doloridas, então, e até por isso, deve-se discutir na escola e na família sua obra.

Finalmente o professor Rovilson José da Silva, colunista do Infohome, não indicou nenhuma obra, pois acredita que não dá para apontar uma obra específica. O fundamental é que a criança tenha contato contínuo com diversos gêneros textuais: prosa, verso, imagem etc. e que conheçam diversas culturas, diversas épocas, diversas maneiras de ser, diversos pontos de vista, diversas famílias. É preciso oferecer desde os clássicos como Monteiro Lobato, Vinicius de Moraes, Cecilia Meireles

e Mario Quintana; ou os mais atuais como Ziraldo, Ruth Rocha, Roseana Murray entre outros. Enfim, é necessário o leitor ter contato com as obras clássicas, mas também com contos tradicionais, fábulas, contos folclóricos.

O leitor deve estar pensando e você? Qual livro colocaria no topo da listagem? Teria muitas e muitas obras, mas no atual momento brasileiro responderia sem titubear: Ave alegria - Sylvia Orthof.

Peço bençãos (no sentido amplo sem apego a qualquer credo, religião, filosofia, ideologia...) a essa genial escritora e trago um trecho dessa obra:

Ave o rei negro

e o negro rei,

e a realeza de um judeu!

Ave o rei branco

e o branco rei!

Ave o rei homem,

ave a mulher,

sempre rainha!

Ave o índio,

a indiazinha!

Ave o amarelo

oriental!

Ave a igualdade racial!

Agora preciso avançar mais um pouco na idade... ao leitor infantojuvenil eu indicaria - Capitães da areia de Jorge Amado, mas paro por aqui, pois este é um assunto para próxima Coluna.

SUELI BORTOLIN

Doutora e Mestre em Ciência da Informação pela UNESP/ Marília. Professora do Departamento de Ciências da Informação do CECA/UEL - Ex-Presidente e Ex-Secretária da ONG Mundoquelê.

http://ofaj.com.br/colunas_conteudo.php?cod=1209

Não parei por aqui... para vocês perceberem como livro infantil CONTAMINA, a escritora Cássia Leslie me mandou pelo whatShapp fotos da capa de livros que na avaliação dela colaboram com a educação para diversidade, são eles: Coach! (Rodrigo Folgueira), Um nó na cabeça (Rosa Amanda Strausz), Do jeito que você é (Telma Guimarães), Gente de cor cor de gente (Mauricio Negro), O vestido da mamãe (Dani Umpi e Rodrigo Moraes), Maioria minoria (Tânia Alexandre Martinelli), Morango sardento e o valentão da escola (Julianne Moore). Não satisfeita, quando me encontrou levou estes livros e quis me emprestar. Respondi: “livros indicados por escritor... são livros que devem ser comprados”.

Caro leitor, não se assuste, não há na minha atitude nenhuma esnobação é que estávamos no último dia de um curso de especialização e sem prazo para devolvê-los me senti constrangida. Evidentemente que comprarei estes livros aos poucos, pois a condição de uma professora aposentada nesse país... (não é preciso dizer mais nada!)

Embalada nessa conversa que eu fui tecendo na rede de amigos, outros livros foram sugeridos e eu, mesmo correndo o risco de a Coluna ficar “listativa” passo a apresentá-los utilizando apenas o critério de ordem alfabética do primeiro nome do autor:

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Para as crianças internadas no hospital

ler umas histórias não fazem mal

pelo contrário só traz alegria para todo pessoal.

Ler faz muito bem seja para sua avó

sua mãe ou seu neném.

Ler um livro é melhor coisa que tem

Eu amo tanto que não fico sem...

O livro é muito legal

Ajuda a aprender e para o cego

que não pode ver livros em braile

tem nas lojas para vender.

O livro é especial

Formas, cores e desenhos sem igual

Alegram tanto as crianças

que os pais os presenteiam

na noite de natal.

O livro é bom para todo mundo

tem de culinária de esporte e natação

E para aqueles que querem o corpo sarado

vendem o de nutrição.

Tem o livro de poesia para os apaixonados em ler

Você gosta tanto que começa

até a escrever.

Tem gente que joga o livro fora

sem querer aprender as lindas histórias

que o grande amigo esconde.

Com tantas crianças querendo ler

e escrever para no futuro alguém

na vida ser.

A IMPORTÂNCIA DO LIVRO

Camila Gomes nasceu em Londrina, em 1989. Publicou no jornal Club Poético/PR (2012), na revista literária Varal do Brasil (2013 a 2016); Olaria das Letras (2014), Letras Santiaguenses (2013 a 2016) e nos sites Recanto das Letras e Arte Brasil. Participou de exposição coletiva no Consulado do Brasil na Suíça, com o poema MULHER através de seleção da Revista Varal do Brasil, em março de 2016.

Ficou em sétimo lugar no Concurso Internacional de Poesia (Academia Giraldo/SP) em novembro de 2014; Selecionada com o poema Querida mãe no X Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus/2014 (Salvador/BA) e Menção Honrosa no V Concurso de Poesias Cidade de Ourinhos 2015.

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Resenha - As Alegrias da Maternidade,

de Buchi Emecheta

Esta resenha é sobre um livro que me conquistou e que provavelmente vai povoar minha mente com seus personagens por muito tempo. Um candidato a melhor do ano. Com assuntos muito caros ao meu coração, hoje trago o aclamado romance As Alegrias da Maternidade, escrito por Buchi Emecheta, lançado em 2018 pela Dublinense aqui no Brasil. O livro também foi enviado aos assinantes da TAG Curadoria (do clube de assinaturas TAG – Experiências Literárias)em outubro de 2017, indicado por Chimamanda Ngozi Adichie.

Nnu Ego é descendente de grandes líderes igbos, da comunidade de Ibuza, na Nigéria. Desde sempre, acalenta o sonho de ser mãe, pois só assim seria uma mulher completa, e se tivesse muitos filhos, eles a amparariam na velhice, conforme os costumes. Seu pai arranja seu primeiro casamento, mas a moça não consegue engravidar. Seu marido passa a maltratá-la e arruma uma segunda esposa, que logo tem um filho. Após algumas confusões, Nnu Ego é comprada de volta pelo pai e, em seguida, é enviada ao segundo marido, que deixou o ambiente agrícola de Ibuza para trabalhar para os brancos na grande e urbana Lagos. Lá, a protagonista vai experienciar o choque de culturas provocado pelo colonialismo inglês, as mudanças nos seus costumes ancestrais, as dificuldades de uma vida incerta, os desmandos de uma sociedade patriarcal e as “alegrias” da maternidade.

O título do livro é bastante sarcástico, já que não se trata aqui de enaltecer a maternidade como um meio de se atingir a plenitude, como é vendido até hoje para todas as mulheres. A todo momento, nos deparamos com os absurdos do patriarcado: a mulher nada mais é do que uma propriedade, ora do pai, ora do marido, ora dos filhos. Quando nasce uma mulher, pensa-se apenas no dote que será pago por ela e que será utilizado na educação dos filhos homens (mulher não precisa ir à escola). E se, ao se casar, a moça for virgem, existe uma espécie de recompensa enviada à família na forma de vinho de palma.

A mulher existe apenas para dar filhos ao marido, que pode ter quantas esposas achar necessário e conseguir sustentar, podendo inclusive herdar esposas de outros membros da família. Isso mesmo, herdar! Ao dar à luz filhos homens, a mulher garante a linhagem do marido e torna-se completa aos olhos da sociedade. À mulher cabe: colocar os filhos e o marido acima de qualquer coisa, aguentar os acessos de violência, os vícios, o abandono, a ingratidão e tudo o que aprouver ao homem, pois ela é dele uma propriedade.

E na Lagos dos anos 1920 e 1930, onde a história se passa majoritariamente, tudo fica ainda mais difícil com a presença dos brancos, impondo sua cultura nem um pouco avançada. A penúria, a inferiorização das etnias locais e a assimilação de um papel feminino nada interessante só fazem piorar a vida das mulheres nigerianas. Se antes elas contribuíam nas lavouras quando os filhos não necessitavam mais de seu seio, agora é seu dever permanecer em casa, ainda que os proventos do marido não sejam o suficiente ou que ele gaste demais com seus vícios.

Existem muitos pontos que podem ser discutidos sobre esse livro intrigante, mas vamos ficar apenas com alguns: É interessante que, em alguns textos que li por aí, a mãe de Nnu Ego, Ona, é percebida como uma mulher além de seu tempo, alguém que não aceitava imposições. Porém, eu tive uma leitura diferente. Para mim, apesar de ser dona de uma personalidade marcante, Ona era tão refém de sua cultura patriarcal quanto as outras. Ela não se casou com o amante, não porque não queria, mas porque seu pai não lhe permitia, era sua propriedade.

Nnu Ego é uma mulher incrível, forte, batalhadora, criativa, independente e que faz das tripas o coração, mas em nenhum momento qualquer dos personagens reconhece isso, nem mesmo ela, já que todos esperam dela aquele padrão machista de mulher, brilhantemente demonstrado pela autora ao se referir a ela nos títulos dos capítulos apenas por “mãe”. Quantas mulheres incríveis nós deixamos não percebemos ou não nos percebemos porque acreditamos em padrões opressores que estabeleceram para nós?

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A árvore foi Levou os galhos Da mão do menino O balão lilás, foi-se Com o vento Foi a juventude da mulher Agora, dissimulando as rugas Até as mangas da sacola Ladeira abaixo, foram Foi-se a manhã Agora o amanhã De mais a mais, um. Afinal [Gabriele Freiria]

É inacreditável como a população nativa do país é tratada como propriedade dos invasores, com toda a carga de preconceito, aculturação e desrespeito a individualidade e à liberdade do outro! É desconcertante e revoltante, ao mesmo tempo que ajuda a compreender muito do que ainda acontece nos dias de hoje.

Importante dizer que a autora viveu na pele muito do que é colocado em sua obra. Nigeriana, casou-se aos 16 anos e foi morar em Londres com o marido abusivo, com quem teve 5 filhos. Por insistir em entrar para a universidade, foi abandonada pelo esposo e ainda teve a paternidade de seus filhos negada. Sozinha em terras estranhas, formou-se em Sociologia e criou todas as crianças. Porém, mais tarde, uma de suas filhas resolveu ir morar com o pai, o que lhe partiu o coração. Foi aí que nasceu o romance que hoje resenhamos, de muita dor, mas de uma beleza desconcertante.

Esse é um livro que deveria ser lido por todos e todas, com um enredo angustiante, porém impossível de largar.

A complexidade da narrativa e das personagens vai aumentando, assim como é mesmo a vida, dando mais ares de realidade ao texto. Acompanhamos o desenvolvimento e o amadurecimento de uma protagonista tão maravilhosa e tão injustiçada, com um desfecho de tirar o fôlego, ao mesmo tempo em que refletimos sobre assuntos seríssimos e urgentes.

E encerro esta resenha dizendo que é necessário que tenhamos cuidado para não achar que todas as realidades são iguais, porque não são. A nossa realidade no Brasil não é a mesma de uma mulher na Nigéria, nem a da Nigéria de Nnu Ego é a mesma de hoje. Nem mesmo no Brasil temos realidades uniformes. Porém, existem temas que são sim possíveis de serem trazidos para a nossa realidade, respeitadas as proporções. Ou você, mulher, nunca sentiu como se tudo o que importasse em você fosse apenas seu útero? Eu já senti.

Boas leituras!Resenhas, listas, dicas e muito mais em: Papo Literário (https://papoliterario.com.br)

POESIANorteña A se todas as cervejas uruguaias Fossem tão boas quanto você. Naquela noite você brilhava Mais que todas as estrelas do céu! Eu gostaria de ter conhecido você Pelo menos há uns 14 anos atrás. Você é aquela princesa Dos sonhos de qualquer jovem. Conceda-me nesta noite Está última dança. Seu sorriso me encanta Quero aproveitar cada segundo Ao seu lado, Parece que estou sonhando! Você poderia ser meu Outono para sem-pre.

Vagner Xavier

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O primeiro dia (1794) William Blake

William Blake

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Nasceu a 28 Novembro 1757(Soho, Reino Unido)Morreu em 12 Agosto 1827(Soho, Reino Unido)William Blake foi um poeta, tipógrafo e pintor inglês, sendo sua pintura definida como pintura fantástica. Blake viveu num período significativo da história, marcado pelo Iluminismo e pela Revolução Industrial na Inglaterra.

O TIGRE

Tigre, Tigre, viva chamaQue as florestas da noite inflama,Que olho ou mão imortal podiaTraçar-te a horrível simetria?

Em que abismo ou céu longe ardeuO fogo dos olhos teus?Com que asas ousou ele o Vôo?Que mão ousou pegar o fogo?

Que arte & braço pôde entãoTorcer-te as fibras do coração?Quando ele já estava batendo,Que mão & que pés horrendos?

Que cadeia? que martelo,Que fornalha teve o teu cérebro?Que bigorna? que tenazPegou-lhe os horrores mortais?

Quando os astros alancearamO céu e em pranto o banharam,Sorriu ele ao ver seu feito?Fez-te quem fez o Cordeiro?

Tigre, Tigre, viva chamaQue as florestas da noite inflama,Que olho ou imortal mão ousariaTraçar-te a horrível simetria?

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SomoS

Estrela cadente que ilumina o céu escuro de lua nova,

uma piscada e já não se observa mais nada.

Não foi possível fazer o pedido de ter uma vida encantada,

o tempo esvai-se no ritmo do brilho de cada estrela iluminada.

Sol que com seus raios faz abrilhantar o coração vital de cada astro,

somos planetas em busca da órbita no meio interestelar,

em direção à luz para também espelhar

nessa vastidão do espaço e ser galáxia com anel polar.

De teorias ou conspirações, de euforias ou emoções,

somos explosão de uma colisão galáctica espetacular,

somos moléculas aglomeradas, somos células e microbiomas.

No palco do universo, todos somos um pontinho de poeira estelar.

TexTo: Agnes IzumI nAgAshImA / FoTo: WIlson shInjI goTo

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Guardo meus poemas desde os anos de 1980, quando comecei a prestar atenção nas rimas, aliterações e na linguagem, tanto na forma quanto no conteúdo dos versos. Nunca tive ímpetos de querer mostrá-los. Minha produção é lenta e a quantidade de poemas, apesar dos muitos anos, é pouca. Mas eles vão se juntando, aumentando em número e, um belo dia, a gente se pergunta: "por que não publicar?" Assim, separei o que eram poemas breves, hai-kais, aforismos e poesias visuais, de outros, mais densos. Dessa seleção, escolhi aqueles que abordam coisas aparentemente insignificantes, como a formiga de piquenique, o voo do pernilongo, a emoção da pedra, além de outros, mais ligados à linguagem. Dado o despojamento desses poemas, decidi criar este livrinho em formato de zine. Sabe aquele estilo "gosta de poesia?", quando somos abordados nas ruas? Pois é. Tipo isso. Apesar de alguns deles serem antigos, a maioria é inédita e, espero, contenham a síntese que busquei quando foram criados e, também, a atualidade que faz viva a obra no tempo. Que a leitura deste "Formiga de Piquenique e outros poemas breves" traga ao leitor momentos de prolongados sentidos.

click!

em cena

a formiga de piquenique

Som de sapo que coacha

as botas velhas

foram para o brejo

Tanque estanque

Salta o sapo

Assalto ao silêncio

retradução do famoso hai-kai de Matsuó Bashô

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O pernilongo voa

Palmas para ele

Que ele merece

último voo

a despedida da luz

nas asas do corvo

(1º prêmio no concurso de hai-kai, em comemoraçãoaos 300 anos das Sendas de Oku, de Matsuó Bashô.Centro Cultural São Paulo, 1989)

orvalho da manhã

a via láctea presa

na teia da aranha

Bicho

A palavra vem lá do nada

marca a página com a pata

e depois some no meio da mata

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emoção, isca de anzol

quando a palavra passar

vamos pescar o sol

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Entre Atenas e antenas

a mitologia do corpo

capta poemas

o sentido da arte

esse sentimento

é irrazão em dose dupla

tomado o veneno

viciei-me em cicuta

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Giro de letras

Na roleta russa da linguagem

Disparos ao acaso

A diferença entre o divino e o diabólico é apenas de um ponto de vista simbólico.

O diabo está sempre oferecendo uma cadeira para sentar, enquanto deusestá sempre querendo fazer você se levantar.

De dia, o sol me guia

De noite, passatempo de linguagem

as estrelas leio

Quem segura emoção em brasa, faz poesia em casa.

meu siso, indeciso, não sabe: navegaré preciso.dói

Tudo muda. Até as que falam.

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ligeiramente mais quente

o beiral da janela revela

que o sol passou por ela

no ponto

dia antes:verde

dia depois:podre

noite: nem pisco

em vez de estrela

me cai um cisco

a emoção do sol: arder

a emoção do mar: ir e voltar

a emoção do vento: mudar

a emoção das gaivotas: voar

a emoção das pedras: resistir

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Cinemascope

TIVE UM SONHO VERMELHO

QUASE ACORDEI DE TANTO TÊ-LO

NÃO FOSSE UMA PINCELADA

AMARELA

TALVEZ CHEGASSE A PESADELO

TORTO

Nada que se possa fazer

Quando não há nada

que possa ser feito

Se tudo está no seu lugar

podem mandar me chamar

Daqui a pouco eu chego

errando direito

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UMBIGO

MUNDOABRIGO

BIGBANGDEUSMEU

LIVRO

Sobre o autorProfessor na Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás. Doutorado em Arte e Cultura Visual. Artista plástico com atuação em múltiplos meios. Crítico de arte durante anos, escrevendo em jorrnais de circulação diária, optou por escrever textos acadêmicos, mais densos. Cronista e poeta diletante, além de fotógrafo, quando se sente inspirado.

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Música Obscura

Morcegos voamsob o sol da manhã.Em vôo rasante,são notas numa pautacuja música só eu escuto.Pudesse você também ouviressa música obscuraque vem de longee permanece distante dos editais de cultura.

Ruínas

Meus poemas cumprem o mesmo destino

que os de um poeta esquecido

cujos versos viraram ruínas.

E ele reconhece

o que antes era seu estilo:

buracos na superfície do texto;

zigue-zagues; non-sense.

Tudo isso ele reconhece

por trás do que restou.

A ruína faz vir à tona

o que já estava implícito.

Rogério Skylab

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No calor da noite fria

Nas correspondências de Kafka à Felice,existe um poema chinês do século XVIIIque ele o transcreve assim:“Na noite fria, absorto na leiturade um livro, esqueci-me da hora de ir deitar.O perfume da cama se dissipoue minha mulher, que até então a duras penas,dominara sua ira, apaga a luze me pergunta: sabe que horas são?”Quando ela pega no sono,eu ligo novamente o abajoure continuo a ler as cartastal como Felice as lia e você me lê.No calor da noite fria.

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Agustina e o tempo

Cínthia Cortegoso

Talvez se se permitisse para a própria felicidade, Agustina não teria vivido este enredo.

Desde menina, ouvia mais que falava e sempre conquistou grandes amigas; quem sabe estas nutriam, como lema de amizade, ter alguém para desabafar e compartilhar os pormenores do sofrimento íntimo. Pode ser que, sim; pode ser que, não. Entretanto, Agustina era uma mestra em ouvir e aliviar o outro coração atribulado.

Tantas histórias guardara como segredo ao longo dos anos. Acontecimentos hilariantes, simples, bem comuns e alguns comprometedores geral e ramificadamente. O alívio era nítido no olhar de quem compartilhara sua dor; o olhar da ouvinte era sempre doce.

Tinha laço de fita no cabelo quando começou; hoje já tinha, grisalho, todo o cabelo. Também anotava, sem as amigas e as pessoas saberem, as informações de cada conversa, o motivo, o dia, o nome e o sobrenome de quem a procurava. Tudo muito organizado numa caixa, guardada, no lado direito de seu guarda-roupa. O chá e as bolachinhas feitas em casa eram sempre oferecidos.

Agustina, depois de muitos anos trabalhando em cargo administrativo, havia se aposentado, estava com mais tempo para ouvir.

Certa tarde ainda fresca e quase chegada a primavera, ela olhava pela janela da sala se certificando de que ninguém viria procurá-la. Olhou para o guarda-roupa, mas não ameaçou nenhum movimento em sua direção. Olhou-se no espelho e viu sua imagem a distância. Sentiu como se olhasse para uma estranha. Seus olhos se encheram de lágrima que logo escorreu pela face clara.

Agustina ficara imóvel um tempo irreal ou imensurável, talvez incomparável com a vida do plano terreno. Sinceramente não soube calcular o tempo em frente ao espelho; sua face não mais estava úmida.

Procurou a cadeira em frente à escrivaninha, precisava sentar-se e retornar ao seu eu. Ainda se viu pelo espelho em outro ângulo. Os olhos se encheram da lágrima da dor por sua anulação, porém, sem opção de reconstruir o passado. E se olhava a distância pelo espelho.

Um sono profundo a inebriou. Ela conseguiu passar da cadeira para a cama ligeiramente. Deitou-se de lado; uma das mãos descansou à altura do coração e a outra, embaixo do travesseiro. A respiração estava suave, mas muito definida para a dimensão dos sonhos. E Agustina foi. Caminhou com a leveza que promoveu às inúmeras almas que a procuraram, sentiu as flores amarelas entre os dedos e levitava tão naturalmente; o sopro suave visitava sua face, não sentia nem frio, nem calor, estava em paz e sorrindo.

De repente, viu-se de frente a uma também senhora, sentada. Havia uma cadeira vazia; a senhora fez sinal para que Agustina se sentasse. Ela se sentou.

E como as amigas e as pessoas que passaram por sua vida, era agora a sua vez de desabafar e aliviar o coração que tanto ouviu e afagou inúmeros outros.

Não precisou de explicação para o momento, Agustina compreendeu que deveria falar; a senhora a ouvia com calma e carinho.

Quantos acontecimentos, compartilhou, sorria, entristecia-se e voltava a sorrir, mas, pela primeira vez, concedeu a si momento de falar… de falar sobre as suas dores, alguma felicidade, as suas decepções, os seus desejos que não se realizaram, pois Agustina, durante esse tempo, anulou suas próprias realizações e escondeu-se delas. Ela, pela primeira vez, sentiu-se inteira.

O passeio naquela dimensão chegara ao fim, ela precisava retornar para o mundo físico e aproveitar o tempo que ainda lhe restava na presente existência para valorizar-se e ser para si o que somente os outros, por enquanto, haviam sido para ela.

Por meio de um suspiro profundo, Agustina estava de volta à sua cama, à sua vida, com o diferencial de, possivelmente, ter compreendido que tudo se inicia pelo próprio eu.

Conto

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ContoAgustina e o tempo

Cínthia Cortegoso

Talvez se se permitisse para a própria felicidade, Agustina não teria vivido este enredo.

Desde menina, ouvia mais que falava e sempre conquistou grandes amigas; quem sabe estas nutriam, como lema de amizade, ter alguém para desabafar e compartilhar os pormenores do sofrimento íntimo. Pode ser que, sim; pode ser que, não. Entretanto, Agustina era uma mestra em ouvir e aliviar o outro coração atribulado.

Tantas histórias guardara como segredo ao longo dos anos. Acontecimentos hilariantes, simples, bem comuns e alguns comprometedores geral e ramificadamente. O alívio era nítido no olhar de quem compartilhara sua dor; o olhar da ouvinte era sempre doce.

Tinha laço de fita no cabelo quando começou; hoje já tinha, grisalho, todo o cabelo. Também anotava, sem as amigas e as pessoas saberem, as informações de cada conversa, o motivo, o dia, o nome e o sobrenome de quem a procurava. Tudo muito organizado numa caixa, guardada, no lado direito de seu guarda-roupa. O chá e as bolachinhas feitas em casa eram sempre oferecidos.

Agustina, depois de muitos anos trabalhando em cargo administrativo, havia se aposentado, estava com mais tempo para ouvir.

Certa tarde ainda fresca e quase chegada a primavera, ela olhava pela janela da sala se certificando de que ninguém viria procurá-la. Olhou para o guarda-roupa, mas não ameaçou nenhum movimento em sua direção. Olhou-se no espelho e viu sua imagem a distância. Sentiu como se olhasse para uma estranha. Seus olhos se encheram de lágrima que logo escorreu pela face clara.

Agustina ficara imóvel um tempo irreal ou imensurável, talvez incomparável com a vida do plano terreno. Sinceramente não soube calcular o tempo em frente ao espelho; sua face não mais estava úmida.

Procurou a cadeira em frente à escrivaninha, precisava sentar-se e retornar ao seu eu. Ainda se viu pelo espelho em outro ângulo. Os olhos se encheram da lágrima da dor por sua anulação, porém, sem opção de reconstruir o passado. E se olhava a distância pelo espelho.

Um sono profundo a inebriou. Ela conseguiu passar da cadeira para a cama ligeiramente. Deitou-se de lado; uma das mãos descansou à altura do coração e a outra, embaixo do travesseiro. A respiração estava suave, mas muito definida para a dimensão dos sonhos. E Agustina foi. Caminhou com a leveza que promoveu às inúmeras almas que a procuraram, sentiu as flores amarelas entre os dedos e levitava tão naturalmente; o sopro suave visitava sua face, não sentia nem frio, nem calor, estava em paz e sorrindo.

De repente, viu-se de frente a uma também senhora, sentada. Havia uma cadeira vazia; a senhora fez sinal para que Agustina se sentasse. Ela se sentou.

E como as amigas e as pessoas que passaram por sua vida, era agora a sua vez de desabafar e aliviar o coração que tanto ouviu e afagou inúmeros outros.

Não precisou de explicação para o momento, Agustina compreendeu que deveria falar; a senhora a ouvia com calma e carinho.

Quantos acontecimentos, compartilhou, sorria, entristecia-se e voltava a sorrir, mas, pela primeira vez, concedeu a si momento de falar… de falar sobre as suas dores, alguma felicidade, as suas decepções, os seus desejos que não se realizaram, pois Agustina, durante esse tempo, anulou suas próprias realizações e escondeu-se delas. Ela, pela primeira vez, sentiu-se inteira.

O passeio naquela dimensão chegara ao fim, ela precisava retornar para o mundo físico e aproveitar o tempo que ainda lhe restava na presente existência para valorizar-se e ser para si o que somente os outros, por enquanto, haviam sido para ela.

Por meio de um suspiro profundo, Agustina estava de volta à sua cama, à sua vida, com o diferencial de, possivelmente, ter compreendido que tudo se inicia pelo próprio eu.

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Aiko e Cinza à mesa das existências

Cínthia Cortegoso

Ele não conhecia a boa vida nem imaginava uma diferente da que levava; porém, tinha um desejo: fazer uma refeição pelo menos uma vez, com mesa posta rodeada de uma família ou de seres que o amassem e que ele, reciprocamente, o sentisse.

Esse desejo se despertou quando Aiko completara seus treze anos nas ruas de Kanazawa, província de Ishikawa, localizada no litoral do Mar do Japão. O menino vivia pelas ruas mais simples e sem a família que tanto sonhara. É o tipo de situação que, de repente, ocorre, e simplesmente já é.

O nome Aiko traz em sua significação o que ele era em sua essência: criança amorosa. De certa forma, poderia ser imensamente contraditório, mas se sabe que o amor pode ser presenciado de múltiplas maneiras e ocasiões. E Aiko, mesmo sozinho, ou melhor, com um gato acinzentado, era feliz e fazia quem com ele estivesse, por algum momento, também muito feliz.

A sua valorização era sensível quanto à natureza. E numa sexta-feira de primavera, o menino se encontrava num dos cuidados e maravilhosos parques, como é comum em todo o Japão, e sua mão ainda pequena e delicada tocava carinhosamente nas folhas, ainda com mais cuidado, nas flores que da planta floresciam.

Quanto respeito e amor! Reverenciava as “pequeninas”, assim como as chamava. Encantadoramente as admirava. Seu gato Cinza, realmente era o nome, observava seu companheiro em total silêncio; tanto um aprendia com o outro.

E naquela tarde, o sol tão brilhante se irradiava como ouro, com seus raios amarelo-ouro, pelo parque. O menino anotava informações. Desde tenra idade, aprendera a ler e a escrever, talvez trouxera a bagagem de outro tempo. Conhecia importantes histórias; admirava o movimento do vento, a sua variação, dinâmica; silenciava, respeitosamente, ao perceber a montagem do céu para, com a chuva, aguar a terra.

Aiko não guardava para si as anotações, mas as entregava em forma de pergaminho para o porteiro de um laboratório renomado em sua cidade.

Ainda na sexta à tarde, no parque, o menino anotou incontáveis observações como se preenchesse um longo relatório. Também desenhava algumas flores visualizadas e registrava as informações necessárias. Quando percebera, já era o horário para o fechamento dos portões. Os guardas do lugar o conheciam e tinham muito apreço por ele.

– Boa tarde, Aiko!

– Boa tarde, senhor guarda do parque! Bom descanso e até amanhã! – assim o menino se despedia.

Normalmente, as pessoas voltam para casa no fim de tarde, começo da noite; no entanto, Aiko não tinha uma família para esperá-lo e nem uma casa comum para retornar. Muito se ouve que a vivência padrão é a mais provável de se encontrar, porém, não quer dizer a única forma adequada para se viver.

E Aiko retornava para sua grande flor, assim ele nomeava sua casa. Uma construção com tudo o que se pudesse imaginar de reciclável. Aiko e Cinza já estavam a uns dez passos para chegarem ao lar quando um forte clarão abrilhantou os olhos do gato e os do menino. O animal levou um grande susto e se escafedeu pelo espaço encontrado. O menino parou, extasiado, com a surpresa do que lhe poderia suceder.

Talvez durara de cinco a dez segundos aquele brilho, um significativo tempo para determinado e imprevisto acontecimento.

Quando o menino foi capaz de abrir os olhos… não acreditava no que estava em sua frente.

Dois quadros se punham diante do olhar juvenil: o da esquerda trazia a imagem de um ancião ocidental, com barba e cabelos longos brancos, túnica de cor clara, chapéu com formato de cone e tantos vidros de vários tamanhos sobre uma mesa, os quais o homem administrava num trabalho de grande necessidade e responsabilidade.

O quadro do lado direito exibia a imagem de um homem oriental voltado para uma mesa repleta de aparelhos, microscópios, computadores de alta precisão para o trabalho desenvolvido. O homem vestia um jaleco longo e branco, estava com os cabelos curtos e com a barba feita. Demonstrava habilidade no manuseio de seu material.

Aiko atentava-se aos dois. Começou a associar o segundo ao primeiro. E nos dois, um gato cinza.

“Seria a sequência?”, questionava-se o menino.

Refletia, estupefato, procurando compreender a significação das duas telas no tempo. Era fenomenal.

Esqueceu-se de si e de seu redor. Queria insaciavelmente entender tudo aquilo. E tão familiar, eram os olhos.

Conto

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Pôde mais uma vez reparar com observância o quadro da direita e depois o outro.

Com a mesma rapidez que se construiu a imagem também deixou de ser. E estava de volta o cenário simples da rua japonesa. Com a calmaria presente, o gato Cinza veio se aproximando, atento, do menino companheiro.

Aiko percebeu o animal, um pouco desconcertado, mas retomando a ação comum. O menino, maravilhado, ainda se encontrava na mesma posição na calçada, onde tudo sucedera.

Buscou uma vez mais os quadros; porém, já não eram visíveis aos olhos; eles existiam no tempo e na vida. Dimensões simultâneas e distintas.

Restou, então, a entrada para casa.

– Venha, Cinza. Vamos, meu amigo!

O menino olhou para o céu e quantas estrelas havia. Respirou fundo e foi para o lar.

Como conhecia a construção de sua casa, abriu com cuidado a porta, mas antes de abri-la totalmente, percebeu uma claridade incomum. E abriu, com calma, a porta do lar.

Parados à entrada, o menino e o gato, de bocas abertas, se deslumbraram com o cenário: uma mesa posta com todos os detalhes dignos de um sonho agora realizado.

Em cada extremidade da mesa havia um homem. O lado esquerdo estava ocupado pelo ancião; o direito, pelo jovem homem oriental. Aiko sentou-se ao meio da mesa: entre um e outro. Cinza deitou-se no chão, ao lado do menino.

Na sexta-feira à noite, Aiko realizou o grande desejo. E os três possuíam o mesmo olhar: do que foi, do que é e do que pode vir a ser.

A responsabilidade com a vida é, incontestavelmente, imprescindível, pois há muito por fazer para o progresso. O futuro sempre aguarda, mas depende da conduta do presente. E o espírito é eterno com sua multiplicidade de existência.

Cá estou parado no trânsito e aguardando o semáforo abrir. Apressado, atarefado, afinal de contas, pensando nas contas e, nas pessoas que nos desapontam. Pela janela observo um senhor sentado à beira da calçada, numa mesa vermelha, tomando uma “gelada”. Camisa-vermelho-sangue, chapéu ,cigarro de palha. De um olhar distante, pernas cruzadas, sem a mínima pressa numa manhã de inverno, como se o seu tempo posse eterno.

Em certos momentos da vida, realmente se faz necessário desacelerarmos... pouco importa se será uma freada brusca ou repentina, o importante é não colidirmos. Procurar saber em qual tempo se está , seja nas palavras proferidas, nos gestos, nos olhares, ou até mesmo quanto tempo pode durar um sorriso.

Desacelerar é : esvaziar-se, mente, corpo, alma. Assim podemos nos encher da alegrias, das boas coisas, de amigos, de boas ideias e novos ideais. Nossa vida é feita de fases, tal qual um semáforo. A vantagem é de podermos colorir a maneira que desejarmos , sinal livre, sinal verde.

Existe uma vida a frente, portanto, ajuste o seu tempo, o seu motor interno e faça da sua mente o seu “GPS”. Nossa mente é a bússola que dá norte ao coração... Deixe-me ir, pois, já estão buzinando!

Wilson Inacio

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Charles Bukowski

O pássaro azul

há um pássaro azul em meu peito quequer sairmas sou duro demais com ele,eu digo, fique aí, não deixareique ninguém o veja.há um pássaro azul em meu peito quequer sairmas eu despejo uísque sobre ele e inalofumaça de cigarroe as putas e os atendentes dos barese das merceariasnunca saberão queele estálá dentro.há um pássaro azul em meu peito quequer sairmas sou duro demais com ele,eu digo,fique aí, quer acabarcomigo?quer foder com minhaescrita?quer arruinar a venda dos meus livros naEuropa?há um pássaro azul em meu peito quequer sairmas sou bastante esperto, deixo que ele saiasomente em algumas noitesquando todos estão dormindo.eu digo, sei que você está aí,então não fiquetriste.depois o coloco de volta em seu lugar,mas ele ainda canta um pouquinholá dentro, não deixo que morracompletamentee nós dormimos juntosassimcom nosso pacto secretoe isto é bom o suficiente parafazer um homemchorar, mas eu nãochoro, evocê?(Tradução: Paulo Gonzaga)

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