anna beatriz costa neves do amar

121
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE Aluna : Anna Beatriz Costa Neves do Amaral Habilidades em Comunicação na Pediatria . UBERLÂNDIA - MG 2012

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLNDIA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS DA SADE

    Aluna : Anna Beatriz Costa Neves do Amaral

    Habilidades em Comunicao na Pediatria

    .

    UBERLNDIA - MG

    2012

  • ii

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Sistema de Bibliotecas da UFU, MG, Brasil.

    A485h

    2012

    Amaral, Anna Beatriz Costa Neves do, 1978-

    Habilidades em comunicao na pediatria / Anna Beatriz Costa Neves do

    Amaral. -- 2012.

    121 f.

    Orientador: Carlos Henrique Martins da Silva.

    Dissertao (mestrado) - Universidade Federal de Uberlndia,

    Programa de Ps-Graduao em Cincias da Sade.

    Inclui bibliografia.

    1. 1. Cincias mdicas - Teses. 2. Pediatria - Estudo e ensino - 2. Teses. 3. Comunicao - Teses. 4. Relao mdico-paciente -

    Teses. I. Silva, Carlos Henrique Martins da. II. Universidade Federal de

    Uberlndia. Programa de Ps-Graduao em Cincias da Sade. III. Ttulo.

    3. CDU: 61

  • iii

    Anna Beatriz Costa Neves do Amaral

    Habilidades em Comunicao na Pediatria

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao em Cincias da Sade da

    Faculdade de Medicina da Universidade

    Federal de Uberlndia, como parte das

    exigncias para obteno do Ttulo de Mestre

    em Cincias da Sade.

    UBERLNDIA - MG

    2012

  • iv

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLNDIA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS DA SADE

    Orientador: Prof. Dr. Carlos Henrique Martins da Silva

    Co-orientadora : Profa. Dra. Paula Philbert Lajolo

    COORDENADORA DO PROGRAMA Profa. Dra. Vnia Olivetti Steffen Abdalah

    UBERLNDIA-MG

    2012

  • v

    Para mame Rosa,

    a melhor de todas!

    Para os irmos recebidos e escolhidos Ricardo, Fernanda, Paula, Roberta, Andr e

    Mariana; partes insubstituveis do todo.

    Para meus pequenos grandes Pedro, Luza, Jlia, Rafael e Maria Luza;

    com o amor incondicional da titia.

    Para Raphael;

    que chegou na concluso, mas em muito boa hora.

  • vi

    AGRADECIMENTOS

    Se vi mais longe foi por estar de p sobre os ombros de gigantes

    Isaac Newton

    Ao meu orientador Prof. Dr. Carlos Henrique Martins da Silva, o primeiro a acreditar no

    tema e incentivar a realizao de cada etapa deste trabalho. Obrigada por toda pacincia e

    compreenso de minhas falhas e pelo reconhecimento do meu esforo.

    minha co-orientadora Profa. Dra. Paula Philbert Lajolo Canto, amiga e irm de todas as

    horas. Sigo seus passos, pois acredito em sua competncia, dedicao e doao na amizade

    e na carreira.

    querida mestre Elizabeth Ann Rider MSW, MD, por permitir a realizao desta

    traduo, por me receber to bem em seu hospital e por compartilhar comigo grandes

    momentos de comunicao em sade.

    Profa. Dra. Marisa Philbert Lajolo por sua fundamental contribuio nos ajustes

    lingusticos, por seus questionamentos pertinentes na metodologia e por sempre incentivar

    este produto final.

    Ao Prof. Dr. Rogrio de Melo Costa Pinto, por dedicar tempo e pacincia reviso dos

    clculos estatsticos, com o cuidado de ensinar-me passo a passo do que realizamos.

    s queridas amigas Dra. Mnica ATC Cintra e Dra. Camila Philbert Lajolo pelo apoio nas

    etapas do mtodo Delphi.

    Aos grandes amigos do Hospital do Cncer em Uberlndia e HC-UFU Cludia, Bruna,

    Ida, Cadu, Ana Carolina, Thiago, Dr. Eurpedes Barra e Dra. Isabel Roscoe pelo incentivo

    desde o incio, pelo apoio na aplicao de questionrios e pela compreenso ao longo

    destes dois anos de trabalho desenvolvidos paralelamente oncopediatria.

    s amigas Cludia, Magda e Gizelli; companheiras de crditos e apoio sempre necessrio

    durante a trajetria do mestrado. Somos todas vitoriosas em nosso empenho e no excelente

    trabalho que agora finalizamos.

    Aos professores e colegas do Grupo de Qualidade de Vida da Universidade Federal de

    Uberlndia que colaboraram nas correes de metodologia e que compartilharam etapa por

    etapa os resultados desta pesquisa.

    Aos colegas estudantes da Faculdade de Medicina da UFU, aos residentes de Pediatria e

    todos os pediatras que gentilmente aceitaram responder o questionrio e emitiram opinies

    fundamentais para a adaptao cultural, com grande sensibilidade e disposio para debater

    sobre o tema.

    A todos os professores da ps graduao em Cincias da Sade e secretria Gisele de

    Melo Rodrigues, pelo apoio a todos os alunos.

  • vii

    Quem no se comunica, se trumbica.

    Jos Abelardo Barbosa de Medeiros (1917-1988).

  • viii

    RESUMO

    A qualidade da comunicao em sade associa-se a melhor adeso aos tratamentos e maior

    satisfao do paciente com o cuidado. Poucos estudos tratam da avaliao das

    competncias comunicativas dos profissionais de sade que atendem crianas e

    adolescentes. O Housestaff Communication Survey (HCS) um instrumento que avalia a

    percepo da importncia de dezesseis habilidades comunicativas especficas peditricas, a

    confiana em execut-las e o suporte institucional oferecido. Objetivos: Traduzir, adaptar

    culturalmente para o Brasil e validar o instrumento HCS, avaliar a importncia das

    habilidades comunicativas, a confiana em comunicar-se e o suporte oferecido para o

    ensino e manuteno das condies adequadas de comunicao dos participantes que

    responderam o instrumento traduzido. Mtodos: O questionrio HCS foi traduzido,

    adaptado culturalmente e validado de acordo com guidelines recomendados na literatura. A

    verso final em portugus foi aplicada a estudantes de medicina, residentes e pediatras de

    um hospital universitrio. Foram avaliados a validade de face, a confiabilidade da

    consistncia interna, a reprodutibilidade pelo teste-reteste e os dados perdidos. Resultados:

    A verso final foi respondida por 182 dos 200 participantes elegveis (taxa de resposta de

    91%). O coeficiente de confiabilidade alfa Cronbach do grupo todo foi 0,929 para a escala

    de importncia e 0,892 para a escala de confiana. O coeficiente de correlao intra-classe

    foi de 0,796 para a escala de importncia e 0,792 para a escala de confiana no teste-

    reteste. Vinte e cinco itens deixaram de ser respondidos (0,3%). Noventa e cinco porcento

    dos participantes referem que comunicar-se eficientemente com seus pacientes uma

    prioridade e 94,5% no possuam capacitaes em comunicao. Os 16 itens da escala de

    importncia foram considerados de importncia alta ou muito alta. Na escala de confiana

    menos da metade dos participantes sentem-se confiantes ou muito confiantes,

    principalmente para conversar com crianas sobre doenas graves, discutir o fim da vida

    com pacientes e familiares, interagir com pacientes ou familiares de difcil trato, lidar com

    as emoes dos pacientes e informar um diagnstico ruim. Na avaliao das escalas por

    subgrupo verificou-se que pediatras sentem-se mais confiantes que estudantes e quanto

    maior a idade, maior a confiana em executar os diferentes itens de comunicao. O

    incentivo da instituio para uma boa comunicao mdico-paciente adequado para 62%.

    Concluses: A traduo em etapas originou verso adequada para a lngua portuguesa do

    ponto de vista lingustico e tcnico. As propriedades psicomtricas foram adequadas e

    semelhantes s do questionrio original. Este instrumento pode ser utilizado para avaliao

    do ensino de habilidades em comunicao na pediatria e para destacar entre temas

    importantes quais so os de maior dificuldade de atuao e que devem ser enfatizados no

    ensino mdico.

    Palavras-chave : comunicao, pediatria, ensino.

  • ix

    ABSTRACT

    The quality of health communication is associated to better treatment adherence and

    greater degree of patient satisfaction. There are few studies on the assessment of the

    communication abilities of health professionals who assist children and adolescents. The

    Housestaff Communication Survey (HCS) is an instrument that evaluates the perception of

    the importance of 16 specific pediatric sills, the confidence for performing them and the

    institutional support offered. Objectives: Translate into Portuguese, culturally adapt it to

    Brazilian society and validate the Portuguese version of the HCS instrument, evaluate the

    importance of communication abilities, the confidence for communication and the

    institutional support offered to the respondents regarding their professional training and the

    development of communication abilities. Methods: The HCS questionnaire was translated

    into Portuguese, adapted culturally and its Portuguese version was validated, according to

    the guidelines recommended in the literature. The final Portuguese version was answered

    by medical students, pediatric residents and pediatricians of a university hospital. Face

    validity, internal consistency reliability, test-retest reproducibility and the missing data

    were assessed. Results: The final version was answered by 182 of the 200 eligible

    participants (response rate of 91%). The Cronbach's alpha reliability coefficient of the

    entire group was 0.929 for the scale of importance and 0.892 for the scale of confidence.

    The intraclass correlation coefficient was 0.796 for the scale of importance and 0.792 for

    the scale of confidence on test-retest. Twenty-five items were not answered (0.3%).

    Ninety-five percent of participants reported that effective communication with their

    patients is a priority and 94.5% indicated they had no previous participation in a program

    to improve their communication skills with patients. All the 16 items of the communication

    skills studied were rated as high or very high in importance. Concerning the scale of

    confidence, half or fewer of the participants indicated they felt rather or very confident

    about more advanced skills : speaking with children about serious illness, discuss end-of-

    life issues with patients and families, dealing with the difficult patient or parent, ability

    to respond to patients emotions and giving bad news to patient and family. In the

    evaluation of the scales by subgroup, pediatricians were found to be more confident than

    students, and older respondents expressed greater confidence for performing the different

    communication items. The institutional support and incentives to the promotion of good

    physician-patient communication was found to be adequate for 62%. Conclusions: The

    translation in stages ensured an adequate Portuguese version both in the linguistic and

    technical aspects. The psychometric properties were adequate and similar to those in the

    original questionnaire. This instrument can be used for the assessment of the teaching of

    communication abilities in pediatrics and to identify the most difficult subjects that should

    be addressed as a priority in medical education.

    Keywords: communication, pediatrics, teaching.

  • x

    LISTA DE TABELAS E FIGURAS

    Figura 1 Mdias e desvios padro a cada rodada do item 11

    33

    Figura 2 Mdias e desvios padro a cada rodada do item 3

    33

    Figura 3 Mdias e desvios padro a cada rodada do item 13

    34

    Figura 4 Mdias e desvios padro a cada rodada do item 33

    34

    Figura 5 Mdias e desvios padro a cada rodada do item 29

    35

    Figura 6 Disperso dos desvios padro de cada item na primeira rodada

    35

    Figura 7 Disperso dos desvios padro de cada item na segunda rodada

    36

    Figura 8 Disperso dos desvios padro de cada item na terceira rodada

    36

    Figura 9 Disperso dos desvios padro de cada item na quarta rodada

    37

    Figura 10 Percentual de participantes que relatou as habilidades em comunicao

    como importantes e a confiana que possuem para desenvolver cada item

    (n=182)

    43

    Tabela 1 Exemplos do processo de traduo, reconciliao e retrotraduo de itens

    ou palavras do questionrio

    39

    Tabela 2 Caractersticas scio-demogrficas dos pediatras

    40

    Tabela 3 Coeficiente de confiabilidade alfa Cronbach geral e por subgrupos

    41

    Tabela 4 Percentual de participantes que relatou sentir-se confiante ou

    muito confiante em cada item de comunicao

    44

    Tabela 5 Relao entre o percentual de importncia alta/ muito alta e o de

    confiante/ muito confiante para cada item das escalas

    45

    Tabela 6 Comparaes entre as escalas de importncia e confiana

    46

    Tabela 7 Avaliao dos participantes a respeito do suporte institucional

    comunicao 47

  • xi

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ABMS - American Board of Medical Specialties

    ACGME - Acreditation Council for Graduate Medical Education

    CEP - Comit de tica em Pesquisa

    CNRM

    - Comisso Nacional de Residncia Mdica

    DP - Desvio Padro

    FAMED UFU - Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlndia

    HCS - Housestaff Communication Survey

    TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    UFU - Universidade Federal de Uberlndia

    UTI - Unidade de Terapia Intensiva

  • xii

    SUMRIO

    1. INTRODUO ......................................................................................................... 14

    2. OBJETIVOS .............................................................................................................. 19

    3. METODOLOGIA ...................................................................................................... 20

    3.1 ESTUDO ............................................................................................................. 20

    3.2 PARTICIPANTES .............................................................................................. 20

    3.3 INSTITUIO .................................................................................................... 21

    3.4 PROCEDIMENTO .............................................................................................. 22

    3.5 INSTRUMENTO DE MEDIDA .......................................................................... 23

    3.5.1 HOUSESTAFF COMMUNICATION SURVEY (HCS) ...................................... 23

    3.6 TRADUO ....................................................................................................... 23

    1 ETAPA : TRADUO INICIAL ............................................................................. 24

    2 ETAPA : RECONCILIAO DE TRADUES .................................................... 24

    3 Etapa : Retro-traduo/ Back-translation .............................................................. 24

    4 Etapa : Revisores independentes/ Mtodo Delphi .................................................. 24

    5 Etapa : Processo final de reviso e verificao gramatical ................................... 26

    6 Etapa : Pr-Teste .................................................................................................... 26

    7 Etapa : Incorporao dos resultados do pr-teste no processo de traduo. ........ 27

    3.7 PROPRIEDADES PSICOMTRICAS ........................................................................... 27

    3.7.1 Qualidade dos dados ....................................................................................... 27

    3.7.1.1 Dados Perdidos ........................................................................................ 28

    3.7.2 Confiabilidade ................................................................................................. 28

    3.7.2.1 Reprodutibilidade do teste-reteste ........................................................... 28

    3.7.2.2 consistncia interna.................................................................................. 29

    3.7.3 Validade de face .............................................................................................. 29

    3.8 HABILIDADES DE COMUNICAO ......................................................................... 29

    3.9 ANLISE ESTATSTICA .......................................................................................... 30

    4. RESULTADOS .......................................................................................................... 31

    4.1 PROCESSO DE TRADUO ..................................................................................... 31

    4.1.1 Traduo, reconciliao e retrotraduo .......................................................... 31

    4.1.2 Apontamentos da autora ..................................................................................... 31

    4.1.3 Consenso pelo mtodo Delphi modificado ......................................................... 32

    4.1.4 Pr-teste e entrevistas cognitiva e retrospectiva ................................................ 37

    4.1.5 Revises Lingusticas e verso final ................................................................... 38

    4.2 AMOSTRA ............................................................................................................. 39

    4.3 DADOS PERDIDOS ................................................................................................. 40

    4.4 CONFIABILIDADE DAS ESCALAS ........................................................................... 41

    4.5 TESTE E RETESTE.................................................................................................. 41

    4.6 ATITUDES EM COMUNICAO ............................................................................... 42

    4.7 IMPORTNCIA DAS HABILIDADES EM COMUNICAO ........................................... 42

    4.8 CONFIANA EM EXECUTAR AS HABILIDADES EM COMUNICAO .......................... 44

    4.9 SUPORTE INSTITUCIONAL ..................................................................................... 46

    5. DISCUSSO .............................................................................................................. 48

    6. CONCLUSES .......................................................................................................... 52

    7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .................................................................... 53

  • xiii

    ANEXOS ............................................................................................................................ 57

    ANEXO A : PARECER DO COMIT DE TICA EM PESQUISA DA UFU .................................. 58

    ANEXO B : PERMISSO DE TRADUO CONCEDIDA PELA AUTORA ................................... 59

    ANEXO C : HOUSESTAFF COMMUNICATION SURVEY (HCS) ............................................. 61

    APNDICES ...................................................................................................................... 62

    APNDICE A : TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ................................. 62

    APNDICE B : QUESTIONRIO SCIO-DEMOGRFICO ....................................................... 63

    APNDICE C : TRADUES, RECONCILIAO E RETROTRADUO ................................... 64

    APNDICE D: APONTAMENTOS DA AUTORA ..................................................................... 70

    APNDICE E: ETAPAS DO MTODO DELPHI ...................................................................... 73

    APNDICE G : VERSO FINAL PARA PR-TESTE .............................................................. 110

    APNDICE H : ENTREVISTA COGNITIVA E RETROSPECTIVA ............................................ 112

    APNDICE I : AVALIAO LINGSTICA PS PR-VALIDAO ........................................ 115

    APNDICE J : VERSO FINAL PARA VALIDAO ............................................................. 119

  • 14

    1. INTRODUO

    A eficiente relao mdico-paciente, o conhecimento e aprimoramento da profisso

    mdica aliados ao cumprimento de preceitos ticos e bioticos so os atuais pilares para o

    responsvel exerccio da Medicina, resgatando-se conceitos de integralidade no cuidado do

    paciente (CALLEGARI, 2010).

    Aprender a comunicar-se o primeiro passo para a re-humanizao do contato

    mdico-paciente (RAO, 2007). A adequada comunicao em sade est diretamente ligada

    empatia que o paciente tem por seu mdico desde a primeira consulta ou contato (EIDE,

    2003).Pode aumentar o envolvimento do paciente na deciso de seus cuidados, diminuir o

    referenciamento para outros especialistas bem como evitar a realizao de exames

    laboratoriais e radiolgicos desnecessrios (STEWART, 2000).

    Comunicao eficiente elemento central na adeso a tratamentos preventivos e

    curativos (DiMATTEO, 2004), proporciona melhor manejo de condies crnicas

    (GASCN, 2004) e aumento da satisfao do mdico e de seu paciente relacionada a

    qualidade do cuidado (LINZER, 2000).

    A reduo de queixas por mau atendimento por parte dos pacientes, a deciso por

    manter o seguimento de sade linear com determinado profissional (SAFRAN, 2001), bem

    como a reduo do risco de erros mdicos (DiMATTEO, 2004) tambm j foram

    amplamente avaliadas e relacionadas com o compartilhamento adequado das informaes

    entre o mdico, o paciente e seu cuidador.

    Durante a prtica mdica, o ato de comunicar ms notcias corriqueiro,

    principalmente em sub-especialidades de mais alta complexidade, e afeta tanto o mdico

    quanto o paciente. A reao a este evento varia de indivduo para indivduo de acordo com

    sexo, idade, escolaridade, religio e cultura. A compreenso da notcia pelo paciente

    tambm ser pior se este perceber seu mdico ansioso, deprimido, irritado ou pressionado

    (PTACEK, 1996).

    Define-se como m notcia qualquer notcia drstica que negativamente altere a

    viso de futuro do paciente (METHA, 2008). Estudos evidenciam que a maneira com que

    as informaes so transmitidas fator decisivo para amenizar o estresse e os

  • 15

    ressentimentos, melhorando o entendimento, a aceitao e o ajustamento familiar a nova

    situao (FALLOWFIELD, 2004).

    O mdico deve, portanto, estar apto a desenvolver uma relao sensvel, efetiva e

    de satisfao mtua com seu paciente, buscando entendimento e cuidado com empatia,

    respeito e compaixo. Tais fatores interpessoais aliam a comunicao verbal no verbal e

    associam ao ato de comunicar a troca de olhar, os elementos posturais, de voz e de

    expresso facial (DYCHE, 2007).

    Vrias recomendaes e consensos internacionais foram estabelecidos com objetivo

    de melhorar a eficincia das tcnicas de comunicao, evitando-se erros comuns como

    local inapropriado para conversas delicadas, pouca disponibilidade de tempo para tal e

    utilizao de jarges ou termos mdicos de difcil compreenso (MAUSKCH, 2008).

    A adequada comunicao em sade, prezando veracidade, privacidade, confiana e

    fidelidade entre mdicos e pacientes tema de diversos estudos que avaliam por meio de

    escalas qualitativas as habilidades comunicativas dos profissionais (REES, 2002;

    WRIGHT, 2006). Frutos destas avaliaes so as importantes contribuies compiladas em

    forma de consenso e utilizados tanto para mdicos quanto para estudantes de Medicina.

    O Consenso Kalamazoo (BAYER-FETZER CONFERENCE, 2001) e o The Four

    Habits Coding Scheme (KRUPAT, 2005), so exemplos importantes a serem citados. No

    Consenso Kalamazoo so enumeradas algumas atitudes que guiam a troca de informaes

    entre mdicos e pacientes com objetivo de facilitar a identificao dos pontos-chave do

    dilogo e as melhores atitudes a serem adotadas para cada situao. Os tpicos

    compreendem a construo da relao, abertura de discusso com valorizao das queixas

    e comentrios do paciente, resumo e entendimento das informaes, compreenso da

    perspectiva do paciente sobre sua doena, orientao de maneira clara e checagem do

    entendimento das condutas, estmulo a co-participao na tomada de decises e definio

    do prximo encontro para seguimento. Essas recomendaes so adaptadas ao ensino

    mdico de diferentes formas, seja na implementao destes tpicos em espao maior no

    currculo acadmico (NOVACK, 1997), seja em cursos psicodramticos de vivncia do

    ensino em Psicologia Mdica, oferecendo-se feedback aos alunos durante simulaes de

    situaes clnicas difceis (VAIDYA, 1999; MEIJER 2009; MAGALHES, 2009).

    Em Pediatria, a comunicao torna-se ainda mais delicada por envolver pacientes,

    pais e familiares, devendo-se ponderar o que, como, quando, quanto e a quem se deve

    informar.

  • 16

    Desde 1968, a pediatra Brbara Korsch observa que a boa relao mdico-paciente

    fator essencial para a qualidade do cuidado (KORSCH, 1968). Os pais valorizam muito

    mdicos que preocupam-se com as crenas e sentimentos de suas crianas, na tentativa de

    compreender melhor a sua perspectiva do adoecimento (STREET, 1991).

    Pais e cuidadores esperam uma vida feliz e saudvel para seus filhos. Ao receberem

    ms notcias sobre doenas graves acometendo seus filhos sentem-se culpados, descrentes

    e angustiados. O mdico pode minimizar estes sentimentos quando est seguro para

    interagir com os familiares atuando com calma e sensibilidade, de maneira equilibrada para

    no destituir a esperana em cura ou melhores prognsticos.

    A comunicao eficiente com a criana e a famlia uma das aes mais

    importantes da atuao profissional em Pediatria, especialmente no processo de

    terminalidade. Atingir a boa comunicao proporciona melhores mecanismos de expressar

    emoes e de encontrar meios para enfrentar a doena. A m notcia leva a uma tomada de

    decises familiares, por isso deve ser bem compreendida e gerar posicionamentos

    conscientes que envolvam o cuidado com qualidade (DE CAMARGO, 2007).

    As consultas peditricas requerem no s o contato com o paciente como tambm o

    envolvimento com os pais e demais familiares nas decises. necessrio entendimento da

    dinmica familiar e adaptao para o momento atual de desenvolvimento e cognio da

    criana. A aquisio de conceitos de sade e doena inicia-se entre quatro e seis anos e a

    compreenso de etiologia, preveno e cura desenvolvem-se a partir da (BREWSTER,

    1982).

    Baseado em todos estes fatores, o profissional deve atuar com integridade,

    profissionalismo e tica buscando bom relacionamento, inclusive, com todos os membros

    da equipe de sade. Trata-se de uma interveno centrada na relao, na qual todos os

    envolvidos (mdico, paciente, familiares e equipe) so participantes ativos e conduzem

    juntos as decises (RIDER, 2011).

    Necessidades psicossociais motivaram at 65% das consultas de atendimento

    primrio em pediatria e que 85% das mes de crianas na primeira infncia apreciam e no

    se negam a responder questes relacionadas aos estressores emocionais no cuidado

    (KAHN, 1999).

    Os programas de treinamento para aprimorar comunicao com crianas,

    adolescentes e seus familiares so pouco frequentes, tanto em forma de cursos de

  • 17

    capacitao ou atividades tericas quanto nas oportunidades de se observar a prtica

    mdica diria desde a graduao at a residncia mdica (PEROSA, 2008).

    Estudantes que possuem acesso a hospitais tercirios onde h uma grande

    concentrao de crianas com patologias graves como, por exemplo, pacientes com

    doenas oncolgicas, tem a oportunidade de observar experincias clnicas na

    comunicao de ms notcias que, dependendo de como so retratadas e discutidas em

    grupo, geram uma experincia prtica nica para sua formao. Estas experincias variaro

    conforme as necessidades dos pacientes e a habilidade dos preceptores que conduzem os

    atendimentos. So oportunidades diversas, menos freqentes e mais complexas que o

    universo do indivduo adulto que lida com problemas de sade, pois, nestes casos, h uma

    famlia cuidadora envolvida no processo de tomada de decises e autonomia (DUB,

    2003).

    Nos Estados Unidos, desde 1999 o Acreditation Council for Graduate Medical

    Education (ACGME) prev em seu plano de ensino que mdicos residentes devem

    aprimorar suas habilidades interpessoais de comunicao em sade. Da mesma forma, a

    American Board of Medical Specialties (ABMS), a Federation of State Medical Boards e a

    Joint Comission adicionam aos currculos a necessidade de incluir estas habilidades como

    pr-requisitos da formao completa do aluno (RIDER, 2010).

    Com o objetivo de avaliar competncias comunicativas de mdicos residentes em

    Pediatria, inclusive a maneira com que so preparados para este contato, com objetivo de

    adequar e melhorar o ensino mdico em Pediatria, o Departamento de Pediatria da Escola

    de Medicina de Harvard elaborou e validou, com respaldo de equipe de conhecedores do

    tema previamente atuante no ACGME (RIDER, 2006) o nico instrumento disponvel na

    literatura, em formato de questionrio, baseado em outros instrumentos direcionados a

    conduo de pacientes adultos (RIDER, 2008).

    No questionrio, denominado Housestaff Communication Survey, (HCS) so

    abordados temas como discusso acerca da terminalidade, lidar com paciente ou familiar

    de difcil trato, falar com a criana sobre doenas graves, lidar com diferenas culturais e

    psicossociais entre os doentes, entre outros.

    Embora vrias instituies de ensino superior brasileiras ofeream currculos

    mdicos com metodologias inovadoras de ensino-aprendizagem, a maioria ainda adota o

    modelo flexneriano, que tende a reforar a neutralidade do mdico na relao com seu

  • 18

    paciente na medida em que prioriza a doena, o conhecimento fragmentado em disciplinas,

    centrado no professor, baseado em aulas expositivas que visam primordialmente

    competncia tcnico-cientfica (PAGLIOSA, 2007). Durante a formao terica e prtica

    no h formalmente programas destinados a comunicao em sade tanto no contedo

    programtico do curso mdico quanto nos programas de residncia mdica.

    Diante da escassez de to relevante tema durante a formao do mdico geral e

    principalmente do pediatra nos currculos tradicionais brasileiros, verificar as deficincias

    de comunicao dos mdicos, tanto em formao acadmica geral quanto na sua

    especializao e durante a sua carreira como Pediatra torna-se fundamental na busca de

    melhorias de ensino e educao mdica continuada.

  • 19

    2. OBJETIVOS

    Traduzir, adaptar culturalmente para o Brasil e validar o instrumento Housestaff

    Communication Survey de avaliao de habilidades em comunicao na

    Pediatria.

    Avaliar a importncia das habilidades comunicativas, a confiana em

    comunicar-se e o suporte oferecido para o ensino bem como a manuteno das

    condies adequadas de comunicao.

  • 20

    3. METODOLOGIA

    3.1 ESTUDO

    Este um estudo transversal aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa da

    Universidade Federal de Uberlndia (UFU) em 11/06/2010 (Protocolo CEP/UFU 166/10

    Anexo A).

    Foi obtida previamente a permisso da autora do questionrio Housestaff

    Communication Survey (Dra Elizabeth Rider Anexo B) para utilizao no estudo. O

    processo de traduo, adaptao cultural e validao foi conduzido em trs etapas:

    traduo, pr-teste e validao. De julho a dezembro de 2010 foi realizado o processo de

    traduo. Em janeiro e fevereiro de 2011 o pr teste e de fev a junho de 2011 a validao.

    3.2 PARTICIPANTES

    A amostra elegvel para este estudo incluiu todos os possveis participantes da

    instituio e era composta por 200 indivduos entre mdicos assistentes, colaboradores ou

    docentes em Pediatria do Hospital de Clnicas da UFU, atuantes nos setores de Pronto

    Socorro, Enfermaria, Berrios, Ambulatrios, UTI Neonatal e Peditrica (n= 70), mdicos

    residentes em Pediatria do primeiro ao quarto ano (n=30) e estudantes do 10., 11. e 12.

    perodos da graduao em Medicina que j tivessem cumprindo estgio supervisionado

    regulamentar na Pediatria (n=100).

    No pr-teste, a verso pr-final do questionrio foi auto-aplicada, por convenincia,

    a 10 indivduos (3 mdicos pediatras, 4 mdicos residentes em Pediatria e 3 estudantes de

    medicina) .

    Para a realizao da reprodutibilidade pelo teste-reteste, 31 participantes (16

    pediatras e residentes em Pediatria e 14 estudantes de Medicina) foram convidados a

    responder novamente o questionrio traduzido aps 15 a 30 dias da primeira participao.

    Foram excludos do estudo participantes que se recusaram a preencher o

    instrumento e profissionais afastados de suas atividades habituais durante o perodo do

    estudo.

  • 21

    Questionarios com mais de 20% de itens no respondidos tambm foram excludos

    da anlise.

    3.3 INSTITUIO

    A FAMED-UFU adota o ensino mdico tradicional pelo currculo flexneriano com

    durao de seis anos, sendo dois anos de cincias bsicas, dois anos e meio de treinamento

    clnico e um ano e meio de treinamento supervisionado em servio (internato) quando os

    estudantes tero contato mais duradouro com os pacientes e seus familiares, sendo um ano

    em ambiente hospitalar e seis meses em ambiente ambulatorial.

    Durante a formao terica e prtica no h formalmente na matriz curricular

    programas destinados a comunicao em sade. Estes temas so abordados de maneira

    breve em disciplinas como tica e Psicologia Mdica durante o quarto e quinto anos da

    faculdade (stimo, oitavo e nono perodos).

    Para a Pediatria, o tempo dedicado a formao terica de 150 horas tericas e

    216 horas prticas de semiologia e puericultura (6,8% do total de horas ) mais 835 horas

    de prtica no internato (24,8% do total de horas), o que equivale a um contato com a

    disciplina em 13,3% das horas de todo curso mdico da instituio. No h disciplinas

    optativas na rea e todos os mdulos so obrigatrios a todos os estudantes. A sala de

    aula o principal local de exposio terica e os alunos so avaliados por seu

    desempenho cognitivo em provas tericas. A auto-avaliao no utilizada como

    estratgia avaliativa, nem para o aluno nem para o docente.

    J o programa de residncia mdica em Pediatria da instituio segue as

    normatizaes da Comisso Nacional de Residncia Mdica (CNRM), que atravs da

    resoluo CNE/CES no2, de 17 de maio de 2006 estabelece a formao do pediatra

    generalista em dois anos, sendo o primeiro ano com 20% de carga horria anual em

    unidade de internao, atendendo de 5 a 10 pacientes/dia, 40% de carga horria anual

    em ambulatrios de ateno primria, 10% da carga horria anual para servios de

    urgncia e emergncia e 10% da carga horria anual em neonatologia. No segundo ano,

    a unidade de internao ocupa 20%, ambulatrios 25%, urgncia e emergncia 15%,

    neonatologia 10% e cuidados intensivos 10% da carga horria anual.

  • 22

    Em ambos os anos destina-se 20% da carga horria anual para cursos tericos,

    sendo matrias obrigatrias ateno peri-natal (binmio me-feto e reanimao

    neonatal), treinamento em aleitamento materno, controle de infeco hospitalar,

    controle de doenas imunoprevenveis, preveno de acidentes na infncia e na

    adolescncia, crescimento e desenvolvimento e ateno a sade do adolescente. No h

    obrigatoriedade ou meno a comunicao em sade no contedo programtico.

    (COMISSO NACIONAL DE RESIDNCIA MDICA, 2006)

    3.4 PROCEDIMENTO

    As etapas de traduo do instrumento ocorreram em um Centro de Lingustica

    sediado na cidade de Uberlndia MG e por meios eletrnicos para realizao do mtodo

    Delphi e das correes lingusticas.

    Aps a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), os Os

    participantes responderam de forma auto-aplicada um questionrio elaborado para

    identificar variveis scio-demogrficas como idade, sexo, ocupao/ ano de curso da

    Medicina, subespecialidade peditrica, ano de graduao, ano de especializao, setor

    prioritrio de trabalho e formao com ps-graduao quando aplicveis. O questionrio

    tambm continha uma pergunta sobre capacitao em comunicao na Pediatria.

    (Apndice B)Todos os profissionais e estudantes foram abordados pessoalmente durante

    suas atividades dirias para participao, com agendamento de momento oportuno para

    auto-resposta do instrumento.

    Na traduo, adaptao cultural e validao no Brasil foi optada, com aval da

    autora, pela aplicao do instrumento, com as devidas adaptaes, no s para mdicos

    residentes como tambm para estudantes de Medicina e Pediatras por julgar-se este tema

    relevante durante todo processo de formao do profissional mdico.

    Para a realizao do pr-teste, a verso pr-final do questionrio foi auto-aplicada, ,

    a 10 indivduos (3 mdicos pediatras, 4 mdicos residentes em Pediatria e 3 estudantes de

    medicina) e, para a realizao da reprodutibilidade pelo teste-reteste, 31 participantes (16

    pediatras e residentes em Pediatria e 14 estudantes de Medicina) foram convidados a

    responder novamente o questionrio traduzido aps 15 a 30 dias da primeira participao,

    tambm por convenincia.Tanto os participantes do pr-teste quanto os participantes do

    teste-reteste foram escolhidos por convenincia.

  • 23

    3.5 INSTRUMENTO DE MEDIDA

    3.5.1 HOUSESTAFF COMMUNICATION SURVEY (HCS)

    O instrumento em lngua inglesa utilizado possui ttulo original Housestaff

    Communication Survey (RIDER, 2008) (Anexo C)

    Trata-se de um questionrio desenvolvido por membros do Institute of Ethical and

    Professionalism ligado ao Departamento de Pediatria da Harvard Medical School, baseado

    em revises de literatura e outros questionrios de comunicao em sade que foi revisado

    por conhecedores da rea para validao de face.

    O HCS conta com doze itens referentes ao suporte oferecido pela instituio durante

    a formao do residente e na prtica diria do profissional pediatra alm de dezesseis itens

    em uma escala de importncia de determinadas atitudes na prtica mdica e os mesmos

    dezesseis itens em uma escala de confiana para realizar tais atitudes.

    Os escores so distribudos em escalas de cinco pontos de Likert, que variam, para o

    suporte institucional, entre discordo totalmente e concordo totalmente, para a escala de

    importncia, entre importncia muito baixa e importncia muito alta e para a escala de

    confiana, entre nada confiante e muito confiante.

    Este instrumento foi criado primariamente para avaliar atitudes de residentes de

    Pediatria em relao comunicao em sade, a percepo que tinham da importncia

    deste tema em sua formao mdica, a confiana que possuam em suas habilidades em

    comunicao alm do suporte institucional que recebiam para aprimoramentos.

    3.6 TRADUO

    A metodologia de traduo e validao transcultural do Housestaff Communication

    Survey foi realizada de acordo com as normas internacionais de traduo de instrumentos

    (EREMENCO, 2005; ACQUADRO, 2008; BEATON, 2000), respeitando-se as seguintes

    etapas:

  • 24

    1 ETAPA : TRADUO INICIAL

    A traduo do HCS da verso de origem (ingls) para a lngua-alvo (portugus) foi

    realizada por dois tradutores (T1 e T2) profissionais bilnges, nativos da prpria lngua-

    alvo, sem formao mdica, sem conhecimento prvio dos conceitos contidos na escala, de

    forma independente e simultnea, com o objetivo de obter uma traduo com linguagem

    prxima da utilizada pela populao em geral e de destacar os significados ambguos da

    escala de origem.

    2 ETAPA : RECONCILIAO DE TRADUES

    Os tradutores trabalharam juntos, com o auxlio dos pesquisadores, para produzir

    uma verso nica da primeira traduo. Nesta reconciliao tambm foram anotadas as

    principais dificuldades em sintetizar as duas verses em uma. Com isso, foi possvel

    oferecer maior objetividade ao processo, outras possveis interpretaes, resolver qualquer

    discrepncia e assegurar compatibilidade lingustica entre as duas tradues.

    3 ETAPA : RETRO-TRADUO/ BACK-TRANSLATION

    Um tradutor nativo em regio de lngua inglesa, fluente em lngua portuguesa, sem

    envolvimento com os passos anteriores de traduo, com nvel superior e algum

    conhecimento em Cincias da Sade traduziu novamente a verso conciliada para a Lngua

    Inglesa, verificando-se aqui as principais dificuldades em retornar o questionrio ao

    formato original.

    Esta verso foi apresentada autora do questionrio original que fez apontamentos

    sobre a verso retrotraduzida antes do consenso final.

    4 ETAPA : REVISORES INDEPENDENTES/ MTODO DELPHI

  • 25

    Um comit formado por 6 participantes, dentre eles todos os tradutores, autores do

    projeto e conhecedores do tema proposto, foi convidado a analisar conjuntamente as

    tradues (1 e 2), a reconciliao, a retro-traduo, a verso original e os comentrios da

    autora, atravs da Tcnica Delphi modificada, com o principal propsito de avaliar a

    equivalncia semntica, idiomtica, experimental e conceitual entre a escala original, a

    retro-traduo e a verso alvo.

    A tcnica Delphi modificada (Delphi eletrnico para tomada de deciso) baseou- se

    na construo estruturada de questionrios por dois coordenadores, com questes

    quantitativas e qualitativas, contendo todas as etapas anteriores de traduo, comentrios

    do autor e a escala original (HSU, 2007).

    Os anexos dos questionrios foram enviados por correspondncia eletrnica (e-

    mail) para os revisores que foram solicitados a responder o formulrio em um tempo

    mximo de dez dias.

    A cada rodada foram respeitadas as principais caractersticas do mtodo: o

    anonimato dos respondentes, a representao estatstica da distribuio dos resultados, por

    meio da porcentagem de concordncia entre os revisores e a retroalimentao (feedback)

    das respostas do grupo para reavaliao nas rodadas subseqentes .

    Na primeira rodada, os revisores escolhiam a melhor entre as opes de traduo (1

    e 2) e a reconciliao, de acordo com o seu conhecimento e as observaes feitas pelo

    autor, e expressavam a sua justificativa ou sugesto quando aplicvel. A segunda rodada

    foi feita a partir das anlises dos resultados da primeira rodada e assim sucessivamente

    para as demais rodadas, para identificar convergncia e mudana nos julgamentos e

    opinies dos respondentes (HASSON, 2000).

    A mdia e o desvio padro das respostas possveis foram calculados em cada item e

    em cada rodada, para identificar as mudanas de opinio dos revisores e o grau de

    concordncia entre as rodadas. A mdia como uma medida de tendncia central representa

    a opinio do grupo do painel e o desvio padro, como uma medida de disperso, o grau de

    concordncia com o painel (GREATOREX, 2000).

    Os itens que obtiveram 100% de concordncia na primeira rodada (mesma opinio

    e total concordncia entre os revisores) no receberam aplicao da tcnica Delphi.

    O processo foi encerrado com base nos critrios predefinidos de finalizao:

    consenso mnimo de 80% de concordncia entre os revisores ou estabilidade das respostas

    atravs das rodadas (manuteno da mesma porcentagem de escolha do item pelos

  • 26

    revisores e da mdia e do desvio padro das respostas possveis) a partir da segunda

    rodada, verificada em um nmero mximo de quatro rodadas.

    Portanto, o consenso pode ser atingido completamente em cada rodada ou

    alcanado mais tarde como resultado do processo Delphi que capaz de detectar mudanas

    de opinio e concordncia dos revisores entre as rodadas. Isso contribui para a obteno

    de uma deciso final de melhor qualidade e mais confivel (GREATOREX, 2000;

    HASSON, 2000).

    5 ETAPA : PROCESSO FINAL DE REVISO E VERIFICAO

    GRAMATICAL

    Os pesquisadores e um coordenador de linguagem avaliaram discrepncias entre os

    revisores para definio da verso pr final de cada item.

    6 ETAPA : PR-TESTE

    O pr-teste tem como finalidade identificar e corrigir possveis tradues reversas

    (significado oposto ao item original) e erros de traduo (sem correspondncia ao

    significado do item em ingls), alm de propiciar neste momento a validao de face do

    contedo global do questionrio.

    Para tanto, foram selecionados por convenincia 10 sujeitos (5%) da populao do

    estudo nesta etapa. Os participantes responderam o TCLE, o questionrio demogrfico e o

    instrumento traduzido.

    A anlise qualitativa foi realizada por meio de duas breves entrevistas :

    A - Entrevista retrospectiva

    A entrevista retrospectiva teve como objetivo analisar, de forma geral, a verso pr-

    final. Os sujeitos foram questionados se: apresentaram dificuldade na compreenso dos

    itens, identificaram itens irrelevantes ou ofensivos e gostariam de acrescentar outros

    itens/tpicos/temas ou outros comentrios.

  • 27

    B - Entrevista cognitiva

    A entrevista cognitiva teve como objetivo assegurar que o significado dado a cada

    item pelo autor da escala seja o mesmo entendido pelo entrevistado. Os sujeitos foram

    solicitados a identificar, em cada item, problemas na sua interpretao e possveis

    alternativas de traduo. A entrevista cognitiva parte fundamental do processo de

    adaptao cultural do instrumento.

    7 ETAPA : INCORPORAO DOS RESULTADOS DO PR-TESTE

    NO PROCESSO DE TRADUO.

    As observaes do pr-teste foram compiladas, tabuladas e caso houvesse resposta

    maior que 20% em alteraes em cada item, este item seria modificado de acordo com a

    sugesto oferecida.

    Este instrumento foi novamente submetido a reviso lingustica para finalmente

    obtermos a verso final para validao.

    Em cada etapa do processo (traduo, pr-teste e comentrios dos avaliadores) foi

    realizado um relatrio para registrar as informaes obtidas.

    3.7 PROPRIEDADES PSICOMTRICAS

    Foram avaliadas na validao as seguintes propriedades psicomtricas: qualidade

    dos dados, confiabilidade e validade de face.

    3.7.1 QUALIDADE DOS DADOS

    A anlise da qualidade dos dados verificou o percentual de dados perdidos e a

    validade de face.

  • 28

    3.7.1.1 DADOS PERDIDOS

    Dados perdidos referem-se proporo de participantes que no completaram pelo

    menos um item da escala. Quanto menor a taxa de itens no preenchidos melhor a

    qualidade dos dados, refletindo maior aceitabilidade e compreenso das questes pelos

    participantes. A taxa de resposta igual ou acima de 80% considerada aceitvel

    (McHORNEY, 1994).

    3.7.2 CONFIABILIDADE

    A confiabilidade estima a acurcia ou preciso do instrumento (GUYATT, 1997) e

    refere-se ao grau em que os escores esto livres de erros de medida (McHORNEY, 2004).

    A avaliao da confiabilidade foi realizada por meio da confiabilidade teste-reteste e

    confiabilidade da consistncia interna.

    3.7.2.1 REPRODUTIBILIDADE DO TESTE-RETESTE

    A reprodutibilidade do teste-reteste mede a correlao entre avaliaes em dois

    pontos no tempo e refere-se a quanto os mesmos escores podero ser obtidos quando o

    instrumento aplicado mesma pessoa em ocasies diferentes (em geral, em duas

    semanas), o que permite verificar a reprodutibilidade da escala. Os sujeitos so avaliados

    com o mesmo instrumento, mas em ocasies diferentes, o que permite controlar apenas as

    varincias de contedo relacionadas amostragem de tempo. As fontes de erro presentes

    nesse tipo de estudo referem-se desateno por parte dos respondentes, s respostas

    aleatrias, a um possvel processo de aprendizagem dos examinados, dentre outros

    (RUEDA, 2008).

    A escala foi reaplicada em 31 indivduos (15 estudantes de medicina e 16 mdicos

    pediatras e residentes de Pediatria) e a confiabilidade teste-reteste verificada por meio do

    coeficiente de correlao intraclasse (CCI).

  • 29

    O CCI, uma medida de proporo de varincia que atribuda ao objeto de medida,

    foi estimado por meio da anlise de varincia considerando o modelo de um fator com

    efeitos aleatrios (One- Way Random Effects Model). Valores de CCI abaixo de 0,4 so

    considerados como pobre, entre 0,4 e 0,75, moderada para boa, e acima de

    0,75,excelente confiabilidade. (LASCHINGER, 1992).

    3.7.2.2 CONSISTNCIA INTERNA

    A confiabilidade da consistncia interna refere-se ao grau de inter-correlao entre os

    itens em uma escala, a qual mensurada por meio do coeficiente alfa Cronbach que

    afetado pelo nmero e inter-correlao dos itens, bem como pela dimensionalidade da

    escala. Coeficientes entre 0,5 a 0,7 (ou maiores) so recomendados com o propsito de

    comparar grupos (McHORNEY, 1994). O coeficiente de alfa Cronbach com intervalo de

    confiana a 95% (IC 95%) foi calculado para o total da amostra e para cada subgrupo

    (mdicos residentes, estudantes de medicina e pediatras).

    3.7.3 VALIDADE DE FACE

    A validade de rosto ou de face, realizada durante o pr-teste, uma descrio

    tcnica de julgamento realizada pelos participantes que indica se, na sua aparncia, o

    instrumento parece avaliar as qualidades desejadas e medir o conceito proposto. A validade

    de face do questionrio aqui traduzido tambm foi realizada pelo comit de especialistas

    que elaborou a verso original em ingls (RIDER, 2008; VIANA, 2008).

    3.8 HABILIDADES DE COMUNICAO

    Os escores obtidos das escalas de importncia e confiana do HCS foram

    comparados segundo o respondente (mdicos, residentes ou estudantes), o gnero e a

    idade. Os dados referentes ao suporte institucional oferecido foram descritos em

    percentuais.

  • 30

    Nas escalas de importncia e confiana, os percentuais de cada item de

    importncia alta ou muito alta foram comparados com os percentuais assinalados como

    confiante ou muito confiante.

    3.9 ANLISE ESTATSTICA

    A anlise descritiva foi utilizada para referir os dados scio-demogrficos dos

    participantes. Estes dados foram representados por estatstica no-paramtrica, uma vez

    que no apresentaram distribuio normal por meio do teste de Lilliefors.

    Os dados perdidos foram avaliados em percentual de questes no respondidas em

    relao ao total de questes possveis.

    A consistncia interna foi verificada pelo coeficiente alfa Cronbach e a

    confiabilidade do teste-reteste, pelo coeficiente de correlao Intra-Classe (CCI).

    As escalas de importncia e confiana do HCS foram comparadas em relao ao

    subgrupo (mdicos, residentes e estudantes), idade e ao gnero por meio das anlises de

    varincia (ANOVA), do Teste t e da correlao de Pearson, respectivamente. Nas mesmas

    escalas, atravs de teste binomial com duas variveis independentes, comparou-se a

    relao entre o percentual de importncia alta/ muito alta e o de confiante/ muito confiante

    para cada item das escalas .

    O nvel de significncia estatstica considerado foi p < 0,05 .

    O programa SPSS Statistics v 10.0 para Windows foi utilizado para as anlises

    estatsticas da maioria dos itens, a anlise binomial foi realizada no programa Bioestat e as

    avaliaes das etapas Delphi foram realizadas no Excell

  • 31

    4. RESULTADOS

    4.1 PROCESSO DE TRADUO

    4.1.1 TRADUO, RECONCILIAO E RETROTRADUO

    O questionrio original em lngua inglesa foi enviado aos dois tradutores bilngues

    para as primeiras tradues por meio eletrnico (e-mail).

    As duas tradues foram compiladas e reconciliadas pelos pesquisadores e por

    conhecedores da rea.

    Esta verso reconciliada foi retrotraduzida para a lngua inglesa e reenviada para

    avaliao e comentrios da autora. (Apndice 3)

    4.1.2 APONTAMENTOS DA AUTORA

    A autora fez consideraes a respeito de discrepncias entre o questionrio original

    e o retrotraduzido.

    A maioria das consideraes estavam relacionadas a semntica e no ao contedo e

    foram consideradas variaes ocorridas apenas pelo processo de retorno para a lngua de

    origem.

    Entretanto, no primeiro item referente ao suporte institucional para boa comunicao

    em sade (Learning how to communicate effectively with parents is priority for me) o

    termo original parents foi retrotraduzido para family members e a autora sugeriu que

    fosse mantida a expresso pais ao invs de membros da famlia j que a primeira

    opo bem corriqueira e adequada em Pediatria. (Apndice 4 )

    A sugesto da autora foi acatada pelo grupo de pesquisadores antes de iniciar o

    consenso pelo mtodo Delphi .

  • 32

    4.1.3 CONSENSO PELO MTODO DELPHI MODIFICADO

    Foram listadas para submeterem-se ao consenso Delphi modificado 38 afirmaes

    referentes ao questionrio original que incluam alm dos itens das escalas de importncia,

    confiana e suporte institucional, as orientaes de preenchimento do questionrio, o ttulo

    e as escalas Likert.

    Participaram do painel de consenso os trs tradutores envolvidos desde o incio do

    processo de traduo e trs mdicos com experincia em traduo, comunicao em sade

    e medicina baseada em evidncias.

    Foram realizadas quatro rodadas para obteno de consenso entre os painelistas. Na

    primeira rodada era possvel realizar sugestes de respostas, a serem avaliadas

    subsequentemente por todos os painelistas.

    Os painelistas receberam instrues de preenchimento e o questionrio original em

    lngua inglesa em todas as rodadas, alm das opes de traduo elegveis para cada item.

    Na primeira rodada de respostas (Apndice 5) oito itens obtiveram consenso de

    mais de 80% e no foram includos na segunda rodada. Nesta etapa foi dada opo ao

    painelista de sugerir, em questo aberta, uma nova verso de traduo alm das listadas no

    item. Esta sugesto deveria vir acompanhada de uma justificativa para esta mudana. Dos

    38 itens, sete receberam uma sugesto cada de reestruturao de frase e cinco itens

    receberam duas sugestes. Dois painelistas fizeram comentrios adicionais ao trmino das

    respostas, ambos referindo a dificuldade dos profissionais tradutores em sugerir mudanas

    em assuntos dos quais no dominavam tecnicamente. Dois painelistas no acrescentaram

    nenhum tipo de comentrio.

    Os itens sugeridos foram incorporados na segunda rodada de respostas e puderam

    ser escolhidos pelos demais painelistas, inclusive como a melhor verso final de consenso.

    Dos 30 itens submetidos a anlise de consenso na segunda rodada, oito atingiram

    consenso, um deles de 100%. A partir desta rodada no havia mais possibilidade de sugerir

    novas verses de traduo do item ou justificativas de escolha daquele item. O apndice 6

    contm todos os grficos e tabelas com as mdias e desvios padro de cada item em todas

    as rodadas em que foi includo, exceto os consensos em primeira rodada.

    A figura 1 exemplifica item que obteve consenso de respostas na segunda rodada. A

    diminuio do desvio padro indicativo da evoluo para consenso do painel.

  • 33

    Figura 1 : Mdias e desvios padro a cada rodada do item 11

    Vinte e dois itens seguiram para a terceira rodada de respostas com mais oito

    consensos, sendo quatro de 100%. A figura 2 exemplifica item que obteve consenso de

    respostas na terceira rodada. Nesta rodada cinco itens estabilizaram resposta desde a

    primeira rodada em 66,7% dos respondedores. As alternativas de traduo com esta

    estabilizao de resposta forma consideradas consenso e no mais listadas na quarta etapa.

    Um item apresentou discordncia desde a primeira rodada e tambm foi retirado da etapa

    seguinte para definio de consenso pela linguista (item 29).

    Figura 2 : Mdias e desvios padro a cada rodada do item 3

  • 34

    Os oito itens que seguiram para a quarta rodada dividiram-se cinco para consenso,

    quatro deles de 100% e trs mantiveram estabilizao de concordncia sem consenso de

    respostas. A figura 3 exemplifica item que obteve consenso de respostas na quarta rodada,

    enquanto a figura 4 exemplifica item sem consenso e estabilizao de resposta. A figura 5

    exemplo de item que manteve a discordncia (aumento do desvio padro ao longo das

    respostas) no decorrer do painel.

    Figura 3 : Mdias e desvios padro a cada rodada do item 13

    Figura 4 : Mdias e desvios padro a cada rodada do item 33

  • 35

    Figura 5 : Mdias e desvios padro a cada rodada do item 23

    As figuras 6 a 9 representam a disperso dos desvios padro de cada item por

    rodada. Nas rodadas do mtodo Delphi modificado, a medida em que obtinha-se

    diminuio do desvio padro entre as respostas de cada painelista possibilitou-se consenso

    na maioria dos itens a fim de refinar o processo de traduo.

    Figura 6 : Disperso dos desvios padro de cada item na primeira rodada Delphi

  • 36

    Figura 7 : Disperso dos desvios padro de cada item na segunda rodada Delphi

    Figura 8 : Disperso dos desvios padro de cada item na terceira rodada Delphi

  • 37

    0

    0,5

    1

    1,5

    2

    2,5

    0 1 2 3 4 5 6

    Mdia

    De

    svio

    Pad

    ro

    desvios padro

    Figura 9 : Disperso dos desvios padro de cada item na quarta rodada Delphi

    Nos itens com estabilizao de resposta acima de 50% foram adotadas as respostas

    de maior percentual. Para os itens com estabilizao de resposta em at 50% ou

    discordncia optou-se por consenso entre os pesquisadores e a linguista envolvida na

    prxima etapa.

    4.1.4 PR-TESTE E ENTREVISTAS COGNITIVA E

    RETROSPECTIVA

    A verso resultante das etapas do mtodo Delphi modificado foi avaliada por

    linguista com experincia em traduo que opinou sobre os itens com establizao de

    consenso, ajustou concordncias e gerou a verso traduzida para o pr-teste (Apndice 7).

    Esta verso foi anexada ao questionrio scio-demogrfico e ao TCLE e aplicada

    para dez indivduos elegveis para o estudo (5% da amostra), sendo estes trs estudantes,

    quatro mdicos residentes e trs pediatras.

    Aps responderem as questes todos participaram de entrevista cognitiva e

    retrospectiva baseada em roteiro estruturado. Em cada questo havia opo no se aplica

    para que o entrevistado optasse por considerar aquele tpico irrelevante no contexto das

    questes. (Apndice 8)

  • 38

    Durante as entrevistas do pr-teste foram apontadas 33 sugestes de modificao

    nas questes, sete para ajustes de redao para melhor entendimento.

    Para permitir que alm de residentes tambm estudantes de medicina e pediatras

    respondessem o questionrio, no item que se referia ao departamento do residente optou-

    se por inserir o termo instituio. O item 12 referente ao suporte institucional (I teach

    my medical students to show respect for their patients) no foi avaliado quando

    respondido por um estudante. Da mesma forma, o ttulo dirigia-se ao housestaff e a

    traduo necessitou ser literal para contemplar mdicos/ estudantes de medicina. As

    escalas de importncia e confiana no sofreram adaptaes neste sentido.

    Todos participantes aprovaram o layout de distribuio dos itens e entenderam o

    questionrio, as escalas de Likert e consideram os itens pertinentes para sua prtica diria.

    4.1.5 REVISES LINGUSTICAS E VERSO FINAL

    Os sete itens com sugesto de ajuste de redao foram compilados e discutidos com

    a linguista (Apndice 9) para a verso final de traduo (Apndice 10).

    Alguns exemplos dos procedimentos de traduo esto compilados na tabela 1, a

    qual diferencia termos originais, termos em portugus de acordo com os dois tradutores

    independentes (T1 e T2), termos resultantes da retrotraduo e a verso final, aps a

    tcnica Delphi, o pr-teste e a avaliao lingstica (Tabela 1).

  • 39

    Tabela 1: Exemplos do processo de traduo, reconciliao e retrotraduo de itens ou palavras do questionrio

    Original

    Traduo T1 Traduo T2 Retrotraduo (TB) Verso Final em Portugus

    answers respostas respostas responses respostas

    efectively eficientemente efetivamente effective eficientemente

    rewards requer incentiva stimulates incentiva

    housestaff residentes funcionrios clinical staff mdicos/estudantes de Medicina

    caring cuidado sensibilidade sensitivity considerao

    building rapport estabelecer relaes desenvolver inter-

    relao positiva

    establish positive

    relationships estabelecer relaes

    cultural

    awareness/

    sensitivity

    conscincia/

    sensibilidade cultural

    percepo/

    sensibilidade

    cultural

    cultural

    perceptivity/

    sensitivity

    conscincia da diversidade cultural

    e sensibilidade para lidar com ela

    4.2 AMOSTRA

    Dos duzentos indivduos convidados a participar do estudo, 182 responderam ao

    questionrio (91%): 79 (43,4%) eram estudantes da Faculdade de Medicina da UFU (idade

    mdia 25 anos; DP= 1,85), 29 (16%) mdicos residentes de Pediatria (idade mdia 27,7

    anos; DP= 2,377) e 74 (40,6%) mdicos pediatras. A maioria era do sexo feminino

    (67,6%). As caractersticas scio-demogrficas dos pediatras esto descritas na tabela 2.

    A maioria dos sujeitos (89%) eram formandos ou formados pela UFU e no

    possuam capacitaes prvias para melhorias de comunicao com os pacientes (94,5%).

    Dez participantes declararam j possuir algum contato de capacitao com o tema : quatro

    no Programa de Educao Permanente da Estratgia Sade da Famlia, quatro em

    seminrios de educao continuada e um durante sua formao de ps graduao em outra

    instituio. Um participante no referiu o local deste contato e nenhum deles descreveu

    carga horria envolvida nestas atividades.

    A taxa de resposta foi de 91% (182/200) sendo a maioria dos que no responderam

    (77%) proveniente da populao de estudantes que fazem estgios externos Universidade

    e no puderam participar na ocasio da aplicao dos questionrios. Todos os residentes

    responderam o questionrio e seis mdicos no responderam : quatro se recusaram e dois

  • 40

    estavam de frias ou licena no momento da aplicao. Dois questionrios respondidos

    foram excludos, pois havia mais de 20% de itens no respondidos em cada um deles.

    Tabela 2 : Caractersticas scio-demogrficas dos pediatras

    Caracterstica Valores numricos e percentuais

    Idade mdia (anos) (DP) 46,3 (9,2)

    Sexo feminino, n (%) 53,0 (71.6)

    Especialidade, n (%)

    neonatologista

    pediatra geral

    intensivista peditrico

    demais especialidades

    24,0 (32,4)

    19,0 (25,6)

    13,0 (17,6)

    18,0 (24,4)

    Local prioritrio de Trabalho, n (%)

    Ambulatrio

    UTI neonatal

    UTI peditrica

    Demais locais

    26,0 (35,0)

    21,0 (28,4)

    13,0 (17,6)

    14,0 (19,0)

    Tempo de formatura mdio (anos) (DP) 22,0 (9,3)

    Tempo como pediatra mdio (anos) (DP) 18,8 (9,6)

    Ps Graduao , n (%)

    mestrado

    doutorado

    16,0 (22,0)

    12,0 (75,0)

    4,0 (25,0)

    4.3 DADOS PERDIDOS

    Dos 8293 itens a serem respondidos pelo grupo de participantes, 25 itens (0,3%)

    deixaram de ser assinalados. A questo com maior perda (seis itens) foi a 12. da primeira

  • 41

    parte ( " ensino a alunos de Medicina a demonstrarem respeito por seus pacientes") a qual

    no se aplicava no caso dos alunos e deixou de ser respondida por seis mdicos residentes.

    4.4 CONFIABILIDADE DAS ESCALAS

    As escalas de Importncia e Confiana possuem avaliao por escala tipo Likert de

    5 itens. O coeficiente de confiabilidade alfa Cronbach foi calculado para cada escala e

    para cada subgrupo (estudantes de Medicina, residentes e pediatras) e est descrito na

    tabela 3 .

    Tabela 3 : Coeficiente de confiabilidade alfa Cronbach geral e por subgrupos

    Grupo Escala de Importncia Escala de Confiana

    Estudantes de Medicina 0,899 0,853

    Mdicos Residentes 0,944 0,909

    Pediatras 0,954 0,923

    Total 0,929 0,892

    4.5 TESTE E RETESTE

    No processo de validao foi realizada a aplicao do teste e reteste das escalas de

    importncia e confiana. O reteste foi aplicado a 17% da amostra (31 participantes) num

    perodo de 15 a 30 dias aps o teste. O reteste foi aplicado aleatoriamente para estudantes,

    mdicos residentes e mdicos assistentes/ docentes.

    Foi obtido o coeficiente de correlao intraclasse (CCI) para a escala de

    importncia (CCI= 0,796) e para a escala de confiana (CCI= 0,792).

  • 42

    4.6 ATITUDES EM COMUNICAO

    Os participantes referem em 95% das avaliaes que incluem entre as prioridades

    de sua formao aprender a comunicar-se eficientemente com seus pacientes.

    Noventa e oito por cento refere que as habilidades em comunicao entre mdicos/

    estudantes de Medicina e pacientes e entre mdicos/ estudantes de Medicina e demais

    profissionais da sade poderiam ser aprimoradas. Igual percentual de participantes refere

    ser importante demonstrar e ensinar alunos a demonstrarem empatia, considerao e

    respeito por seus pacientes.

    4.7 IMPORTNCIA DAS HABILIDADES EM COMUNICAO

    Todos os itens da escala de importncia foram considerados de importncia alta ou

    muito alta para os participantes, variando de 93 a 99% item a item (figura 10).

    O item avaliado com maior escore (99%) foi a habilidade de se comunicar de forma

    eficaz com os pacientes e o item de menor percentual (93%) foi a conscincia da

    diversidade cultural e sensibilidade para lidar com ela.

  • 43

    Figura 10: Percentual de participantes que relatou as habilidades em comunicao como importantes e a confiana que possuem para desenvolver cada item (n=182)

    0 20 40 60 80 100

    Capacidade para conversar com crianas sobre doenas graves

    Capacidade para discutir o fim da vida com pacientes ou familiares

    Capacidade de interagir com pacientes ou familiares de difcil trato

    Capacidade de lidar com as emoes dos pacientes

    Capacidade de informar o paciente de um diagnstico ruim

    Capacidade de perceber suas prprias reaes frente aos pacientes

    Habilidade para entrevistar adolescentes

    Capacidade de entender aspectos psicossociais do cuidado com o paciente

    Conscincia da diversidade cultural e sensibilidade para lidar com ela

    Capacidade de compreender a perspectiva dos pacientes sobre suas doenas

    Habilidade para entrevistar crianas

    Capacidade de estabelecer relaes com os pacientes

    Habilidade de se comunicar de forma eficaz com seus pacientes

    Habilidade para entrevistar familiares

    Capacidade de demonstrar empatia e considerao para com os pacientes

    Capacidade de ouvir o paciente

    Importncia alta/ muito alta Confiante/ muito confiante

  • 44

    Tabela 4 : Percentual de participantes que relatou sentir-se confiante ou muito confiante em cada item de

    comunicao

    Confiante/

    muito confiante (%)

    Capacidade para conversar com crianas sobre doenas graves 22,7

    Capacidade para discutir o fim da vida com pacientes ou familiares 28,0

    Capacidade de interagir com pacientes ou familiares de difcil trato 36,8

    Capacidade de lidar com as emoes dos pacientes 47,8

    Capacidade de informar o paciente de um diagnstico ruim 47,8

    Capacidade de perceber suas prprias reaes frente aos pacientes 58,2

    Habilidade para entrevistar adolescentes 59,9

    Capacidade de entender aspectos psicossociais do cuidado com o paciente 60,4

    Conscincia da diversidade cultural e sensibilidade para lidar com ela 67,0

    Capacidade de compreender a perspectiva dos pacientes sobre suas doenas 67,1

    Habilidade para entrevistar crianas 69,2

    Capacidade de estabelecer relaes com os pacientes 82,4

    Habilidade de se comunicar de forma eficaz com seus pacientes 85,2

    Habilidade para entrevistar familiares 85,7

    Capacidade de demonstrar empatia e considerao para com os pacientes 90,0

    Capacidade de ouvir o paciente 90,1

    4.8 CONFIANA EM EXECUTAR AS HABILIDADES EM

    COMUNICAO

    Dos dezesseis itens avaliados, mais de 60% dos participantes avaliaram-se

    confiantes ou muito confiantes em executar nove deles (figura 10).

    Nos demais itens metade ou menos dos participantes sentem-se confiantes ou muito

    confiantes, principalmente para conversar com crianas sobre doenas graves, discutir o

    fim da vida com pacientes e familiares, interagir com pacientes ou familiares de difcil

    trato, lidar com as emoes dos pacientes e informar um diagnstico ruim (tabela 4).

    Atravs de teste binomial com duas variveis independentes verificou-se a relao

    entre o percentual de importncia alta/ muito alta e o de confiante/ muito confiante

    para cada item das escalas (tabela 5). Os dados evidenciam que todos os itens possuem

  • 45

    diferena estatisticamente significativa entre o percentual de importante/ muito

    importante em relao ao percentual de confiante/ muito confiante.

    Tabela 5 : Relao entre o percentual de importncia alta/ muito alta e o de

    confiante/ muito confiante para cada item das escalas

    Item Importncia alta /

    Muito alta n (%)

    Confiante/

    Muito Confiante n (%) p

    1 181 (99,4) 155 (85,2) < 0,0001

    2 177 (97,2) 122 (67,1) < 0,0001

    3 179 (98,4) 164 (90,1) 0,0007

    4 178 (97,8) 87 (47,8) < 0,0001

    5 169 (92,9) 110 (60,4) < 0,0001

    6 178 (97,8) 164 (90) 0,0021

    7 174 (95,6) 106 (58,2) < 0,0001

    8 168 (92,8) 150 (82,4) 0,0045

    9 171 (94) 67 (36,8) < 0,0001

    10 175 (96,2) 126 (69,2) < 0,0001

    11 176 (96,8) 156 (85,7) 0,0002

    12 176 (96,7) 109 (59,9) < 0,0001

    13 178 (97,8) 51 (28) < 0,0001

    14 172 (94,6) 41 (22,7) < 0,0001

    15 169 (92,8) 122 (67) < 0,0001

    16 178 (97,8) 87 (47,8) < 0,0001

    Os resduos da anlise de varincia apresentaram distribuio normal (teste de

    Kolmogorov-Smirnov). Procedida, ento, anlise univariada ANOVA e o Teste de Tukey

    para verificar diferenas nos escores mdios das escalas de importncia e confiana entre

    os grupos de mdicos, alunos e residentes.

    Verificou-se que existe diferena estatisticamente significativa entre as escalas de

    confiana de alunos e mdicos, sendo os mdicos mais confiantes em executar

    determinadas aes que os alunos (F = 4,33, p= 0,015), no havendo diferenas entre as

    escalas de importncia e entre alunos e residentes e mdicos e residentes.

  • 46

    Para verificar influncias do gnero nas respostas das escalas de importncia e

    confiana realizou-se o Teste t o qual verificou diferena estatisticamente significante nas

    respostas das escalas de importncia para o sexo feminino (p=0,001) sem diferenas nas

    escalas de confiana.

    A anlise das escalas em relao a idade se deu atravs da correlao de Pearson, a

    qual demonstrou no haver diferenas na escala de importncia, mas para a escala de

    confiana h uma tendncia a concluir que quanto maior a idade, mais confiante se torna o

    profissional (r=0,211, p= 0,002) (tabela 6).

    Tabela 6 : Comparaes entre as escalas de importncia e confiana por subgrupo, gnero e idade

    Importncia

    Confiana

    mdia p mdia p

    Subgrupo

    Mdicos 4,58

    3,75

    a

    (ANOVA/

    Tukey) Estudantes 4,57

    0,491 3,54

    b 0,015

    Residentes 4,67

    3,55

    a, b

    Gnero

    valor p valor p

    (Teste t) Masculino 4,45

    0,001

    3,69

    0,238

    Feminino 4,65 3,60

    Idade

    r

    p r p

    (Correlao de Pearson) - 0.063

    0,201 0,211 0,002

    a, b : valores seguidos pela mesma letra no diferem estatisticamente pelo Teste de Tukey

    4.9 SUPORTE INSTITUCIONAL

    Na populao avaliada, 62% referiu que a instituio que trabalham ou estudam

    incentiva boa comunicao entre mdico e paciente e mais de 80% referiu receber

    feedback positivo de suas relaes com os pais de pacientes e com os demais membros da

    equipe de sade (tabela 7).

  • 47

    A disponibilidade de tempo para interagir com os pacientes adequada para 51%,

    mas somente 7,7% refere ter disponveis treinamentos formais em tcnicas eficazes de

    comunicao.

    Tabela 7 : Avaliao dos participantes a respeito do suporte institucional comunicao

    Concordo/

    Concordo

    totalmente

    Sou

    indiferente

    Discordo/

    Discordo

    totalmente

    Recebo feedback construtivo referente a meu relacionamento

    com os pais de meus pacientes 87,3 2,8 9,9

    Recebo feedback construtivo referente a meu relacionamento

    com os demais membros da equipe 81,1 6,7 12,3

    A instituio na qual trabalho ou estudo incentiva uma boa

    comunicao entre mdico e paciente 62,4 8,3 29,3

    Disponho de tempo adequado para interagir com meus

    pacientes 51,0 4,0 45,0

    Recebo treinamento formal em tcnicas eficazes de

    comunicao com pacientes 7,7 3,9 88,4

  • 48

    5. DISCUSSO

    A traduo em etapas do HCS, de acordo com as normas internacionais de

    traduo de instrumentos e associada a tcnica Delphi modificada, possibilitou alcanar

    verso adequada para a lngua portuguesa do Brasil tanto do ponto de vista lingustico

    quanto do ponto de vista tcnico. A mincia neste processo preservou sentido e contedo

    originais, minimizando possveis falhas na validao atribuveis a tradues pouco

    rigorosas (BEATON, 2000).

    Todas as etapas contriburam para a verso final. As adaptaes lingsticas foram

    realizadas tanto durante as rodadas Delphi quanto aps as sugestes dos participantes do

    pr-teste fornecidas nas entrevistas retrospectiva e cognitiva.

    Entre as sugestes de mudana, o item 15 das escalas de importncia e confiana

    (Cultural awareness/ sensitivity) foi o que mais gerou dvidas e necessitou de

    acrscimos de termos em portugus para que fosse melhor compreendido. Este item ilustra

    que no processo de traduo deve-se atentar ao fato de que a mera traduo literal pode

    deixar a afirmao sem sentido em outro idioma, reforando a necessidade tanto da

    adaptao cultural quanto lingstica prevista neste processo (LAUFFS, 2008).

    A mincia de cada etapa ocupou um tero do tempo previsto no cronograma para

    realizao do estudo. No final, chegou-se a uma verso final para validao adaptada para

    ser respondida no s por residentes de pediatria, mas tambm por estudantes de medicina

    e pediatras que, segundo a autora, no perdeu em contedo quando comparado ao texto

    original.

    As adaptaes culturais durante o pr-teste foram realizadas em apenas 7 itens com

    poucas modificaes de redao. Durante esta etapa, a validade de face foi obtida atravs

    dos dados das entrevistas cognitiva e retrospectiva. A facilidade nos ajustes pode ser

    resultante do fato de que o questionrio possui linguagem tcnica conhecida e utilizada da

    mesma forma em ingls e em portugus tanto pelo estudante de medicina quanto pelo

    residente e medico pediatra. Os termos pacientes ou familiares de difcil trato ou

    discutir o fim da vida so bons exemplos destes termos tcnicos.

    Os questionrios de pr-teste, bem como os questionrios respondidos no reteste

    foram solicitados aos participantes por convenincia. O principal motivo para esta conduta

  • 49

    foram as constantes trocas de estgios que os estudantes realizaram no perodo de coleta de

    dados, o que torna o acesso ao participante que est em atividade externa universidade

    menos possvel. Esta limitao pode ser considerada FONTE DE VIES POREM pouco

    relevante, a medida em que os demais itens de rigor da traduo, das entrevistas cognitivas

    e retrospectivas e da avaliao das propriedades psicomtricas da validao foram

    rigorosamente seguidos.

    A confiabilidade da consistncia interna das escalas de importncia e confiana da

    verso traduzida foi excelente tanto para o grupo total quanto para os subgrupos de

    estudantes, residentes e pediatras e estes valores foram semelhantes aos do questionrio

    original (RIDER, 2008).

    O nmero de dados perdidos foi bastante pequeno e o coeficiente de correlao

    intraclasse foi adequado nas avaliaes de teste-reteste tanto para a escala de importncia

    quanto para a escala de confiana. Apesar destes dados no terem sido avaliados no estudo

    original, podem somar-se no intuito de validar esta traduo.

    Embora tenha havido uma excelente taxa de resposta (91%), o subgrupo de

    estudantes de medicina foi o que mais deixou de responder aos questionrios, o que pode

    gerar diferenas de percepo entre os respondedores e no respondedores do questionrio

    nesta categoria.

    A diferena estatstica entre as mdias dos escores nas escalas de confiana obtidos

    para estudantes e mdicos, sendo os mdicos mais confiantes em executar determinadas

    aes que os estudantes, associado a tendncia de correlao positiva entre a idade e os

    escores obtidos na mesma escala refora o conceito de que as experincias clnicas durante

    os anos de prtica mdica sobressaem-se a uma adequada formao para comunicao em

    sade (WRIGTH, 2000).

    A maioria dos participantes considerou todas as habilidades de comunicao como

    muito importantes ou importantes para sua prtica clnica diria. Entretanto, a confiana

    em executar as habilidades menor para todos os itens, principalmente nas questes mais

    delicadas de comunicao, como abordagem de terminalidade e comunicao de ms

    notcias. Este apontamento coincidente com o estudo original (RIDER, 2008) e deve ser

    associado a concluses obtidas por Kaufman et al (2000) ao apontar que, ao longo dos

    anos, estudantes de medicina consideram-se mais confiantes em relao a temas mais

    bsicos de comunicao, mas a confiana no se altera quando se observam temas de

    maior complexidade. Detectar esta dificuldade pode ser decisivo para enfatizar alguns

  • 50

    tpicos durante os cursos de formao do estudante e do mdico em comunicao, sempre

    com abordagem dos itens mais bsicos, mas enfatizando os temas mais complexos.

    Uma parcela significativa de participantes neste estudo afirmou receber suporte

    institucional adequado para comunicar-se tanto com o paciente e seus familiares quanto

    com os demais membros da equipe de sade, alm de referirem disponibilidade de tempo

    suficiente para interagir com os pacientes. Este resultado diverso do estudo original e

    pode justificar-se pelo fato de que a nossa instituio possui formao prioritariamente

    assistencial, com estmulo s discusses de casos principalmente durante as visitas s

    enfermarias. Tempo suficiente associado superviso adequada so importantes

    diferenciais de atendimento (DOSANJH, 2001).

    No h um modelo nico definido como a melhor maneira de ensinar o mdico a

    comunicar-se, mas estudos futuros podem aliar o uso deste questionrio a implementaes

    dos conceitos de comunicao em sade em formato de cursos, simulaes de situaes

    clnicas difceis entre outros, tanto no currculo mdico quanto nas residncias de pediatria

    e nos cursos de educao mdica continuada para pediatras. Esta associao permitiria

    observar se a percepo de importncia e confiana dos itens compatvel com a

    performance e a atitude daquele indivduo frente a situaes reais ou simuladas

    (CALHOUN, 2010).

    No Brasil, as diretrizes curriculares nacionais dos cursos de graduao estabelecem

    um perfil para o mdico brasileiro a ser formado: formao generalista, humanista, crtica

    e reflexiva; capacitado a atuar pautado em princpios ticos, no processo sade-doena em

    seus diferentes nveis de ateno, com aes de promoo, preveno, recuperao e

    reabilitao sade, na perspectiva da integralidade da assistncia, com senso de

    responsabilidade social e compromisso com a cidadania, como promotor da sade integral

    do ser humano (VEIGA, 2006). Para atingir esse perfil, o estudante deve desenvolver

    competncias e habilidades relacionadas ateno sade, com possibilidade de tomada

    de decises. Deve ser preparado para a busca ativa e avaliao crtica de informaes e

    para o processo de educao permanente (BRASIL, MINISTRIO DA EDUCAO,

    2001).

    A qualidade da relao com o paciente peditrico e seus familiares afeta todos os

    aspectos do cuidado. As habilidades comunicativas, apesar de serem passveis de

    ensinamento, no acontecem separadas da humanizao do mdico, de seu

    profissionalismo e de sua capacidade de ouvir, engajar-se e expressar confiana ao

  • 51

    indivduo fragilizado em seu processo de doena (BRANCH, 2009). Neste contexto

    tornam-se indispensveis as melhorias curriculares em todas as etapas de aprendizado tanto

    para questes bsicas como para as mais complexas da comunicao em sade.

    Estudos futuros permitiro avaliar se a percepo de importncia e confiana dos itens

    compatvel com a performance e a atitude daquele indivduo em situaes reais ou

    simuladas.

  • 52

    6. CONCLUSES

    6.1. A verso em portugus do Brasil do HCS apresentou propriedades psicomtricas adequadas, sendo um instrumento confivel e vlido para avaliar as habilidades de

    comunicao na Pediatria.

    6.2. Todas as habilidades de comunicao foram consideradas de importncia alta ou muito alta e devem, portanto, ser abordadas de igual maneira no ensino de

    Pediatria.

    6.3. A confiana em executar atitudes como conversar com crianas sobre doenas graves, discutir o fim da vida com pacientes e familiares, interagir com pacientes e

    familiares de difcil trato, lidar com as emoes dos pacientes e informar um

    diagnstico ruim se eleva a medida que o indivduo tem mais idade e mais tempo

    como mdico.

    6.4. A instituio participante do estudo assegurou maior suporte a seus estudantes, residentes e mdicos para comunicarem-se com os pacientes e seus familiares em

    relao ao estudo original, provavelmente por priorizar atividades assistenciais.

  • 53

    7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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