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ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE NO SETOR DE MINERAÇÃO DO MUNICÍPIO DE PICUÍ-PB CARLOS CÉSAR DE OLIVEIRA LACERDA Universidade Estadual da Paraíba - UEPB [email protected] ADRIANO DANTAS DE BARROS Universidade Federal de Paraíba [email protected] SANDRA MARIA ARAÚJO DE SOUZA Universidade Estadual da Paraíba - UEPB [email protected] GÊUDA ANAZILE DA COSTA GONÇALVES Universidade Estadual da Paraíba - UEPB [email protected]

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ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE NO SETOR DEMINERAÇÃO DO MUNICÍPIO DE PICUÍ-PB

 

 

CARLOS CÉSAR DE OLIVEIRA LACERDAUniversidade Estadual da Paraíba - [email protected] ADRIANO DANTAS DE BARROSUniversidade Federal de Paraí[email protected] SANDRA MARIA ARAÚJO DE SOUZAUniversidade Estadual da Paraíba - [email protected] GÊUDA ANAZILE DA COSTA GONÇALVESUniversidade Estadual da Paraíba - [email protected] 

 

XVI ENGEMA 2014 1

ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE NO SETOR DE MINERAÇÃO DO MUNICÍPIO DE

PICUÍ-PB

RESUMO: O Desenvolvimento sustentável se configura como um modelo de desenvolvimento global

que busca promover o equilíbrio entre as dimensões econômica, social e ambiental. Os indicadores de

sustentabilidade por sua vez são ferramentas capazes de mensurar o nível de sustentabilidade, ou seja,

se tratam de mecanismos que auxiliam as políticas publicas na investidura em ações para se chegar a

um grau satisfatório de sustentabilidade. O objetivo deste artigo é analisar a sustentabilidade do setor

de mineração do município de Picuí/Paraíba. Para tanto, foram realizadas pesquisas bibliográficas

sobre os temas, desenvolvimento sustentável, indicadores de sustentabilidade no setor de mineração e

sustentabilidade no setor de mineração. Em seguida foi realizada a coleta de dados, por meio de uma

pesquisa de campo quantitativa, baseada no modelo ISM (Índice de sustentabilidade na mineração),

com os garimpeiros que trabalham em torno da cidade. Verificou-se em relação às palavras de Vianna

(2012), que apenas seis indicadores apresentaram resultados positivos e satisfatórios para a

sustentabilidade na mineração do município em destaque e quinze indicadores negativos e

insatisfatórios. Conclui-se, que a maioria dos indicadores que foram citados apresentaram resultados

desfavoráveis para a sustentabilidade no setor de mineração do município.

Palavras-chave: Desenvolvimento Sustentável; Indicadores de Sustentabilidade; Mineração.

ANALYSIS OF SUSTAINABILITY IN MINING SECTOR OF THE CITY OF PICUÍ-PB

ABSTRACT: Sustainable Development was established as a global development model that seeks to

promote a balance between economic, social and environmental dimensions. Sustainability indicators

in turn are tools capable of measuring the level of sustainability, that is, these are mechanisms that help

in the endowment in public policy actions to reach a satisfactory degree of sustainability. The objective

of this paper is to analyze the sustainability of the mining industry of the municipality of Picuí/Paraíba.

To this end, literature searches on topics, sustainable development, sustainability indicators in mining

and sustainability in the mining industry were conducted. After collecting data through a survey of

quantitative field, based on ISM Index (sustainability in mining) model, with miners working around

the city was held. It was found in relation to the words of Vianna (2012), only six indicators showed

positive and satisfactory results for sustainability in the mining municipality highlighted and fifteen

negative and unsatisfactory indicators. It is concluded that most of the indicators that were cited had

unfavorable outcomes for sustainability in the mining sector of the municipality.

Key Words: Sustainable Development; Sustainability Indicators; Mining.

XVI ENGEMA 2014 2

1. INTRODUÇÃO

Durante muitos anos os recursos naturais foram usados exaustivamente, em um ritmo muito

acelerado se comparado aos processos de renovação do ecossistema. Por esse motivo intensificaram-se

os problemas relacionados ao meio ambiente, ao ponto que nas últimas quatro décadas, alguns países

presenciaram os primeiros sinais das catástrofes ambientais. Desde então surgiu à necessidade de criar

acordos internacionais juntamente com o desenvolvimento de modelos e indicadores de

sustentabilidade, como forma de minimizar os danos já existentes e alcançar o desenvolvimento

sustentável. Para o setor de mineração, esse avanço foi primordial, visto que, esse tipo de indústria é

considerado como um consumidor direto dos recursos naturais e adota atividades comprometedoras

para o bem estar social do trabalhador.

Durante o período de 1983 a 1987 foram discutidos e apresentados os principais problemas

ambientais globais, a partir daí surgiu um documento chamado de Relatório de Brundtland. Segundo

esse relatório, o desenvolvimento sustentável é aquele que atende as necessidades da geração atual, sem

prejudicar a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. Suas definições orientam as

organizações sejam elas públicas ou privadas a seguirem uma gestão responsável, considerando a ética

entre todos os públicos, com o propósito único de estabelecer o desenvolvimento sustentável das

empresas e da sociedade, concentrando esforços na preservação dos recursos ambientais e humanos.

De acordo com essa nova concepção de desenvolvimento, os setores produtivos já existentes

devem se enquadrar nas normas propostas pelo modelo de sustentabilidade, procurando chegar ao

equilíbrio social, econômico e ambiental. O Setor de mineração, por exemplo, é uma das atividades

mais antigas e contínuas existente no ramo de exploração natural. Considerada pelo IBRAM (2012),

destaque no crescimento econômico do Brasil, chegando a participar com 3% a 4% do PIB nacional, ou

seja, a mineração é indispensável para a economia, mas também tem seus pontos negativos, em muitos

casos ainda são utilizadas técnicas ultrapassadas e executadas sem nenhum planejamento técnico e

ambiental, promovendo desta forma impactos naturais irreversíveis da região explorada, além dos

problemas relacionados ao trabalho humano, que vão desde a ausência de direitos trabalhistas até a

ocorrência de graves acidentes.

A proposta oferecida pelos projetos mundiais como o Relatório de Brundtland, RIO-92,

Agenda 21 e Rio+20, seria a possibilidade de utilizar novos mecanismos que proporcionem um melhor

aproveitamento dos recursos minerais e reduzam os impactos provenientes da exploração. Assim como,

o investimento em procedimentos, a fim de implementar as políticas de desenvolvimento local e

regional.

Para impulsionar o processo de relação entre mineração e meio ambiente surgiram ferramentas

capazes de mensurar o grau de sustentabilidade, a exemplo, os indicadores de desenvolvimento

sustentável, propostos pelos modelos nacionais e internacionais de medidas socioambientais. Através

destes, é possível coletar informações precisas, de alta relevância para a construção de um documento

de sustentabilidade. De acordo com Santos Junior (2005), os principais modelos adotados seriam o

modelo GAIA, criado por Lerípio em 2001, o Ecological footprint method, desenvolvido por

Wakernagel em 1996, o Dashboard of sustainability, proposto pelo Consultative group on sustainable

development indicators em 1999, o índice de sustentabilidade Dow Jones, criado por Dow Jones Index

e o Sustainable grop em 1999.

Para Viana (2012), alguns grupos de mineradoras tem adotado o Global Reporting Initiativi

(GRI) como modelo para a execução do relatório de sustentabilidade. No entanto, Viana afirma que na

elaboração da Agenda 21, foi sugerido que cada região mineradora construísse seus próprios

XVI ENGEMA 2014 3

indicadores, pois muitos desses modelos, assim como o GRI não estão adaptados a todas as

regiões, principalmente quando se trata de pequenos municípios.

No Seridó Paraibano ou precisamente na microrregião do Curimataú encontra-se o município de

Picuí, conhecida popularmente pela sua grande capacidade produtora de minérios. A exploração nessa

região já perdura muitos anos, desde a segunda guerra mundial, com a extração de minérios para a

fabricação de armamento bélico. Desde o inicio até hoje, são utilizadas técnicas rudimentares para a

extração e escoamento do minério, procedimentos considerados desgastantes tanto para o meio

ambiente quanto para os próprios garimpeiros.

A partir destas considerações, visa-se responder a seguinte pergunta: Qual a situação da

sustentabilidade no setor de mineração do município de Picuí? Este estudo tem como objetivo principal

analisar a sustentabilidade no setor de mineração do município de Picuí-PB. Para analisar a

sustentabilidade no setor de mineração do município de Picuí, foram aplicados cinquenta questionários

em alguns garimpos do entorno da cidade, contendo questões baseadas nos indicadores do modelo ISM

(Índice de Sustentabilidade na Mineração), proposto pelo autor Viana (2012), usado como base teórica

para o desenvolvimento deste trabalho.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. Desenvolvimento Sustentável

De acordo com relatos históricos, a preocupação com os problemas relacionados á

sustentabilidade passaram a existir a partir do final do século XVIII, quando Thomas Malthus por meio

de estudos direcionados a área, conseguiu apontar previsões a cerca das possíveis catástrofes que

viriam a ocorrer entre o meio ambiente e sociedades futuras. Nessa mesma linha de trabalho e

observações, Jared Diamond tentou explicar através da obra “Colapso”, a causa do desaparecimento

das antigas civilizações que existiram na terra há centenas de anos, como os Vikings e a antiga

civilização polinésia. Tal preocupação em desvendar a história desconhecida desses povos, sobrepõe o

interesse em prever o que poderia ocorrer com a humanidade. Visto que, essas antigas civilizações

foram vítimas da insustentabilidade, e consequentemente foram extintas (VIANA, 2012).

Após esses acontecimentos iniciou-se um contínuo estudo sobre o tema, o qual se intensificou

por muitos anos e ajudou a fundamentar o conceito de sustentabilidade que se tem hoje. Embora tenha

sido muito discutido, foram nas últimas quatro décadas que a sustentabilidade alcançou o ápice. Nesse

período surgiram os primeiros acordos internacionais sobre o assunto, onde foram debatidos

mundialmente projetos e modelos de caráter sustentável, com a intenção de combater as causas e

minimizar os danos já visíveis ao meio ambiente. Segundo o Ministério do Meio Ambiente (2009), os

primeiros estudos voltados para a análise do cenário socioambiental do planeta iniciaram-se por volta

de 1968, com a criação do clube de Roma, a fim de encontrar soluções para os problemas provenientes

do alto crescimento demográfico, considerado como o principal responsável pela exaustão dos recursos

não renováveis. Para Santos Junior (2005, p.23).

Na busca do atendimento de suas necessidades, a humanidade exigiu demais dos recursos

naturais. Sendo estes recursos finitos, chegará o dia em que nada mais haverá para recuperar,

sejam floresta, animais, petróleo, carvão ou água. Nada disso restará para seus descendentes.

Com esta percepção, lentamente se tem tentado reverter este quadro.

Os projetos mundiais de desenvolvimento sustentável surgiram com esse propósito, tentar

reverter este quadro de crescimento econômico criado pelos seres humanos. Inicialmente, mudando a

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mentalidade global e adotando práticas de conscientização voltadas ao atendimento das

necessidades sociais e ambientais do planeta.

Um dos primeiros e mais importantes projetos mundiais foi o Relatório de Brundtland, também

chamado de nosso futuro comum, proposto pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e

Desenvolvimento, chefiado pela primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland. A partir desta

nova modalidade de desenvolvimento, designou-se que a excelência das sociedades atuais e futuras

seria alcançada através do equilíbrio das forças sociais, econômicas, e ambientais. Este relatório

chamou a atenção para uma nova postura ética, concedida a todos os públicos, principalmente a política

adotada pelos países industrializados, ressaltando os riscos do uso excessivo dos recursos naturais e as

dificuldades de suporte dos ecossistemas. Segundo Viana (2012, p.31) “... eventos críticos de poluição

e o alto padrão de vida dos países desenvolvidos fizeram ressurgir a sensação de insustentabilidade,

pois esse padrão de vida irresponsável estaria ocorrendo, egoisticamente, à custa das futuras gerações”.

Após cinco anos da apresentação do Relatório de Brundtland, ocorre no Brasil a Conferência

das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92, sediada no Rio de Janeiro,

com a presença de mais de 170 países, encontro que ficou conhecido mundialmente pela grande

repercussão em torno da nova concepção de desenvolvimento, impulsionado pelo novo clima de

cooperação internacional. Segundo Guimarães e Fontoura (2012), foram adotadas convenções como a

da biodiversidade, pautada para o uso sustentável dos recursos biológicos e a divisão equitativa dos

benefícios oferecidos pelos recursos energéticos, além da convenção de mudanças climáticas,

estabelecida com intuito de diminuir a emissão de poluentes. Segundo Cordani, Marcovitch e Salati

(1997), a conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento a Rio-92 deu

continuidade aos projetos a favor da sustentabilidade mundial. Durante a sua realização foram

assinados importantes acordos globais, como: a Convenção do Clima e da Biodiversidade, a Agenda

21, a Declaração do Rio para Meio Ambiente e Desenvolvimento, e a Declaração de Princípios para

Florestas.

De acordo com Silva (2012), foram fundamentados dois importantes documentos durante a

realização da Rio-92, foram eles, a Agenda 21 caracterizada pela sua participação direta nas decisões

tomadas pela comissão, com o propósito de criar sociedades sustentáveis capazes de conciliar métodos

de preservação ecológica, justiça social e competência econômica, considerando o crescimento

populacional. Já a carta da Terra, surge com a missão de desenvolver novas parcerias globais, visando

à promoção de formas sustentáveis de vida, assumindo um modelo ético compartilhado em meio à

plenitude ambiental, a democracia e a uma cultura pacífica.

Posteriormente foram criadas duas conferências com intenção de avaliar o cumprimento dos

procedimentos e compromissos intitulados pela Rio-92, são elas a Rio+5 sediada em Kyoto em 1997 e

a Rio+10 realizada em Johanesburgo em 2002, ambas voltadas para a analise dos resultados obtidos

através das novas práticas sustentáveis (SILVA, 2012).

Para Santos Junior (2005), foi através dessas duas últimas conferências que as empresas

passaram a mostrar um maior interesse em participar das discussões e decisões a cerca das práticas

sustentáveis propostas pela Rio-92. Ou seja, foi nesse período que o conceito de sustentabilidade

alcançou o seu maior auge, chamando a atenção dos governos, sociedades e das organizações privadas

ou públicas. Ressaltando a importância de se construir um mundo socioambiental equilibrado.

Para Viana (2012), todas essas conferências realizadas desde a década de 1970, representaram

um passo primordial para a promoção de mudanças vinculadas ao novo processo de desenvolvimento.

Porém, de acordo com o autor supracitado, muitas das medidas e abordagens adotadas pelas

conferências internacionais, não demonstram tanta transparência e exatidão, ao ponto de tornar a

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sustentabilidade um conceito universal. É necessário nestas condições, destacar as

metodologias que buscam aprofundar a avaliação em torno do desenvolvimento sustentável,

especialmente aqueles que utilizam os indicadores de sustentabilidade como forma de adquirir e avaliar

informações referentes aos aspectos sociais e ambientais.

2.2. Indicadores de Sustentabilidade no setor de mineração

Uma vez que o desenvolvimento sustentável passou a fazer parte do sistema de políticas

mundiais, percebeu-se a necessidade de utilizar mecanismos capazes de medir o nível de desempenho

das economias, principalmente em relação à erradicação da pobreza, desenvolvimento social,

preservação ambiental e emissão de poluentes. Nesse contexto surgem os modelos de sustentabilidade,

com o intuito de estabelecer indicadores capazes de identificar os possíveis níveis de desenvolvimento

socioambiental.

Os modelos internacionais de sustentabilidade passaram a atuar intensamente como ferramentas

de mensuração dos níveis de desenvolvimento sustentável, assim como os próprios indicadores

propostos por tais modelos. Segundo Silva e Cândido (2010, p.58) “Indicadores são ferramentas

constituídas por uma ou mais variáveis que, associadas através de diversas formas, revelam

significados mais amplos sobre fenômenos a que se referem...”. Para Silva, Correia e Cândido (2010), os indicadores de sustentabilidade são instrumentos

utilizados pelos principais modelos de medidas, nacionais e internacionais, que permitem analisar os

impactos das sociedades sobre o meio ambiente. Ou seja, são ferramentas das mais variadas

modalidades utilizadas na coleta de informações sobre fenômenos complexos.

Para cada setor da economia existem variados tipos de indicadores, predeterminados a fim de

definir as condições reais de cada área. No setor de mineração, esses indicadores representaram um

grande avanço para o desempenho da atividade, tal como para o desenvolvimento do relatório de

sustentabilidade, seguindo os parâmetros estabelecidos por cada modelo.

Com base nessas afirmações, procurou-se destacar alguns modelos de sustentabilidade baseados

na realidade do setor mineral. De acordo com Santos Junior (2005), os principais modelos adotados

seriam:

O modelo GAIA, criado por Lerípio em 2001, que trata-se da junção de vários métodos,

focados no desenvolvimento de práticas sustentáveis aplicados à produção.

Fundamentado na Análise do Ciclo da Vida (ACV), Emissão Zero (ZERI), Sistema de

Gestão Ambiental (SGA) e Gerenciamento de Processos (GP). Esse método é composto

por três fases, que são a sensibilização, conscientização e capacitação.

O Ecological footprint method, desenvolvido por Wakernagel em 1996, é um modelo

que associa a quantidade de recursos disponíveis ao máximo de indivíduos suportado

pelo ecossistema, nele são considerados os nível de consumo dos recursos naturais e sua

capacidade de renovação.

O Dashboard of sustainability, proposto pelo Consultative group on sustainable

development indicators (CGSDI) em 1999, este modelo trabalha com a junção de

indicadores, sendo eles de caráter econômico, social e ambiental voltados para o âmbito

organizacional.

O índice de sustentabilidade Dow Jones, criado por Dow Jones Index e o Sustainable

grop em 1999, é utilizado constantemente pelas empresas que desempenham as

melhores ações voltadas para a sustentabilidade do território norte americano.

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Para Viana (2012), alguns grupos de mineradoras tem adotado o Global Reporting Initiativi

(GRI) como modelo para a execução do relatório de sustentabilidade. Porém, mesmo estando

diretamente relacionado aos fatores sociais, econômicos e ambientais coorporativos, este método não

está totalmente adaptado ao território brasileiro, principalmente quando se trabalha com a mineração

nos pequenos municípios, nesse caso o GRI se torna uma ferramenta incompleta, pois não abrange

todas as modalidades socioambientais.

Por esta razão, o autor supracitado desenvolve um modelo chamado de Índice de

Sustentabilidade na Mineração (ISM), que trata-se de um modelo criado a partir do estudo de modelos

internacionais, juntamente com a elaboração de pesquisas direcionadas ao setor mineral brasileiro. De

uma forma geral, esse estudo foi realizado com o propósito de analisar a sustentabilidade das

minerações dos municípios, procurando caracterizar os aspectos públicos, meio ambiente, bem estar do

empregado, fornecedores e clientes, ou seja, todas as variáveis que competem a comunidade que está

em avaliação.

2.3. Sustentabilidade no setor de mineração

Não é de hoje que a raça humana faz uso dos recursos naturais, acredita-se que há muitos anos

desde a origem da humanidade os recursos minerais já eram utilizados pelos homens para as mais

variadas funções, como: ferramentas de trabalho, instrumentos de caça, material de construção e até

como objetos de adoração. Portanto, não é por acaso que as atividades relacionadas à mineração sejam

consideradas as mais antigas e contínuas que já existiram, elas já perduram milhões de anos, e

representam uma variável de extrema importância para o desenvolvimento das sociedades (VIANA,

2007).

Durante séculos, esse tipo de atividade representou o intenso crescimento socioeconômico de

muitos países, passando a ser cobiçado pelas grandes potencias mundiais. Em nível nacional o setor de

mineração também demonstrou um ritmo acelerado de crescimento, assim como afirma a engineering

and mining journal (2012, p.3), “Em 2008, a mineração constituiu quase 2% do PIB do Brasil, uma

soma de US$ 23,95 bilhões. O crescimento do setor é fenomenal e estima-se que a mineração vai

atingir cerca de US$ 46,44 bilhões em 2014”.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Mineração IBRAM (2012), foi a partir do ano 2000

que a procura por minerais passou a se intensificar, demonstrando elevados índices de crescimento a

cada ano, impulsionado pelo valor da produção. O Brasil, por exemplo, em uma década apresentou

resultados significativos, calcula-se que no ano de 2014 devido os processos de urbanização e do

crescimento econômico mundial, a produção mineraria brasileira (PMB) cresça entre 2% a 5%.

Os minérios representam hoje um importante composto para a maioria dos produtos que

satisfazem as necessidades dos seres humanos, como: eletrodomésticos, automóveis, cosméticos,

produtos farmacêuticos, enfim, os minerais se tornaram uma matéria prima indispensável para o

progresso das sociedades, sendo assim, se torna complicado atuar de forma sustentável em meio a uma

atividade extremamente importante para a economia. Mas não é impossível, visto que, possíveis

soluções estão sendo estudadas, a fim de torna a mineração uma atividade mais sustentável no que diz

respeito à proteção ambiental, diminuição dos impactos ao meio ambiente, melhorias nos padrões de

qualidade ambiental e otimização da qualidade de vida no trabalho.

Como já foi mencionado, apesar de oferecer resultados satisfatórios em relação à rentabilidade

econômica, o setor de mineração também deixa suas marcas, às vezes irreversíveis no meio natural,

XVI ENGEMA 2014 7

sem contar que se mal manejado esse tipo de atividade pode oferecer muitos riscos a saúde

dos garimpeiros, como também comprometer a vida social e digna dos mesmos. Vianna (2012)

exemplifica essa questão, tomando como enfoque um dos maiores desastres que envolveu acidente de

trabalho na mineração, ocorrido na mina de ouro e cobre de San José no Chile em 2010, fato que

chocou toda a população do país causando uma grande repercussão mundial.

Embora muitas empresas e os próprios órgãos públicos venham investindo em práticas

sustentáveis pautadas para uma extração mineral legal, ou seja, respeitando os limites do ecossistema,

como as vegetações locais, os recursos hídricos e a paisagem natural em si, é necessário entender a

abrangência do conceito de sustentabilidade na mineração. De acordo com Barreto (2000), o principal

desafio do desenvolvimento sustentável não é apenas a recuperação das áreas atingidas pelos processos

de extração mineral, mas a integração de melhorias no sistema social.

Além de está voltado para a preservação do meio ambiental, o desenvolvimento sustentável na

mineração procura agregar mais valor aos aspectos sociais, proporcionando melhores condições de

trabalho nos garimpos e salários dignos para o trabalhador. De forma geral procura-se reverter o

pensamento negativo que se tem da mineração, principalmente através do oferecimento de benefícios

sociais, como projetos e programas vinculados a minimização da pobreza e desenvolvimento da

educação local.

3. METODOLOGIA

Para atingir o objetivo de analisar a sustentabilidade no setor de mineração do município de

Picuí-PB optou-se por uma pesquisa descritiva e exploratória. Descritiva, pois descreve as

características de uma população e do meio onde a mesma interage e exploratória (GIL, 2008), que

fornece dados, sobre a sustentabilidade no setor de mineração no município de Picuí, localizada na

microrregião do Seridó Oriental paraibano ou na microrregião do Curimataú.

Quanto aos meios, a pesquisa é caracterizada como bibliográfica, pois foram abordados os

temas desenvolvimento sustentável, indicadores de sustentabilidade na mineração e sustentabilidade no

setor de mineração, bem como modelos, em destaque o ISM (Índice de Sustentabilidade na

Mineração). Trata-se também de uma pesquisa de campo quantitativa, pois foram aplicados

questionários com trabalhadores dos seguintes garimpos: Águas belas, Auto do Urubu, Cova do Negro,

Mari preto, Serrote do tigre e Tanque do caboclo que se encontram em torno da cidade.

Para o desenvolvimento do questionário utilizou-se a escala de Likert de 1 a 5 onde 1 é discordo

totalmente e 5 concordo totalmente, contendo questões das três dimensões. O instrumento de coleta dos

dados partiu do modelo ISM (Índice de Sustentabilidade na Mineração) proposto por Viana (2012),

onde foram desenvolvidas vinte e uma perguntas fechadas e uma aberta, baseadas nos 70 indicadores

do modelo em destaque. A estrutura do questionário sucedeu-se da seguinte forma: oito questões da

dimensão econômica, sete questões da dimensão social, seis questões da dimensão ambiental e uma

questão aberta, voltada para a opinião do respondente sobre as três dimensões.

Fizeram parte do estudo, 50 garimpeiros sendo uma amostra não probabilística por

acessibilidade de um total de 200 que atuam na área, dos que trabalham por conta própria ou empresas

mineradoras aos que fazem parte da COOPICUÍ MINERAÇÃO (Cooperativa dos mineradores de

Picuí). Para tabulação e análise dos dados foi utilizado o Microsoft Excel 2010. Levando em

consideração a metodologia abordada, a análise e discussão dos resultados foi dividida em três blocos

complementares: O primeiro bloco é a caracterização da comunidade de Picuí-PB, o segundo

corresponde ao perfil dos respondentes e o terceiro bloco são as análises das dimensões.

XVI ENGEMA 2014 8

4. ANÁLISE DE RESULTADOS

4.1. Caracterização da comunidade de Picuí-PB

O município de Picuí está localizado no Seridó Oriental Paraibano, cerca de 203 km da capital

João Pessoa. Segundo dados do IBGE, o município abrange uma área de 661,658 km², contendo uma

população estimada de 18.597 habitantes (senso 2013). A típica cidade de interior tem sua economia

voltada na renda gerada pelos empregos públicos estaduais e municipais, além das atividades agrícolas,

da pecuária e do extrativismo mineral. A economia do município conta ainda com benefícios

provenientes de políticas federais de assistencialismo e das pensões e aposentadorias concedidas pela

previdência social.

Figura 01: Mapa da Paraíba destacando o município em análise.

Fonte: IBGE, 2014.

Segundo Souza e Lima Sobrinho (2013), geologicamente o município de Picuí faz parte da

Província Pegmatítica da Borborema, importante província mineral privilegiada por suas riquezas. A

formação geológica do município apresenta na sua totalidade rochas ígneas ou metamórficas, estrutura

caracterizada pelo predomínio do embasamento cristalino.

São encontrados vários tipos de minerais nessa região, como: a Tentalita, Columbita, Berílio,

Caulim, Calcário, Calcedônia, Mica, Feldspato, Albita, Albita-prego, Quartzo róseo e branco,

Paralelepípedos, Granitos, Urânio entre outros. Minerais que garantem o sustento de vários cidadãos

Picuienses e que requerem uma atenção especial, por se tratar de um ativo econômico para o município.

4.2. Perfil dos respondentes

Verificou-se que do total de 50 respondentes, 100% são do sexo masculino. Com relação à faixa

etária, constatou-se uma diferença mínima de 6% entre os trabalhadores com idade entre 18 e 40 anos e

40 e 65 anos, ambos representando 50% e 44% respectivamente. Do total dos respondentes apenas 6%

apresentam idade inferior a 18 anos.

No que se refere à escolaridade verificou-se que 82% dos respondentes possuem apenas o

ensino fundamental incompleto. Em relação aos outros níveis de instrução, 2% afirmam possuir o

XVI ENGEMA 2014 9

ensino fundamental completo, em seguida tanto o ensino médio completo quanto o

incompleto apresentam 6% e por fim 4% representam os graduados.

Com relação à cor ou raça, 56% dos respondentes declaram-se brancos, enquanto que 44%

declaram-se pardos.

Verificou-se que 70% dos respondentes, ou seja, a maioria da amostra da pesquisa é constituída

por trabalhadores que se declaram casados. Resultado que se justifica pelo fato da atividade ser

composta praticamente por pessoas que necessitam de uma renda para sustentar a família. Apenas 30%

dos respondentes se declaram solteiros.

A respeito do cargo exercido, muitos dos respondentes afirmam desempenhar várias funções

dentro do garimpo, no entanto, como forma de filtrar as informações considerou-se a atividade

desenvolvida constantemente por cada um. Nesse sentido 44% afirmam ser classificadores, ou seja, que

separam os minerais de acordo com a especificação de cada um, 34% são marteleiros, que fazem a

extração do minério através da ação manual com marreta ou com martelo pneumático, 12% são

detonadores, responsáveis pela execução da explosão, como forma de dividir as pedras brutas em

pedras menores, 6% são encarregados, cada encarregado é responsável por formar sua equipe de

trabalho e gerencia-la, por fim 4% afirmam ser representantes dos garimpeiros.

4.3. Análise das dimensões

4.3.1. Dimensão Econômica

No que se refere à Dimensão Econômica verificou-se a partir do Gráfico 1, que 98% dos

respondentes dentre os que concordam totalmente e os que concordam, consideram que os minerais são

importantes para o desenvolvimento do município. Do total dos respondentes 94%, considerando os

que concordam totalmente e os que concordam, afirmam que a mineração pode ser considerada uma

fonte de renda. Por outro lado, embora considerem a mineração uma importante fonte de renda, apenas

36% dos respondentes afirmam que a renda do trabalhador dá para suprir as necessidades da família.

Já, 48% dos respondentes nem concordam nem discordam sobre o questionamento, o que acaba

reforçando a ideia em relação à existência de salários abaixo da média e a ausência de renda fixa.

Apesar de representar um importante aliado econômico para o município, alguns dos fatores

referentes ao mercado dos produtos minerais apresentam irregularidades, principalmente no que se

refere à ausência de um mercado formal. Nesse contexto aproximadamente 74% dos respondentes

confirmaram a existência de um mercado clandestino, em que pessoas chamadas de atravessadores,

dominam esse mercado e compram a produção de muitos garimpos a preços abaixo do mercado,

diminuindo ainda mais o lucro para o trabalhador.

Os respondentes foram questionados a respeito da presença de profissionais da área

acompanhando os trabalhos de mineração. Assim como está explicito nos resultados, 80% dos

respondentes discordam totalmente que existe esse tipo de suporte em campo e apenas 18% entre os

que concordam totalmente e concordam, afirmam que os garimpos recebem suporte de um profissional

da área, em grande parte os trabalhadores contam com a sorte e com a experiência dos garimpeiros

mais antigos, apenas nas grandes mineradoras pode ser encontrado esse tipo de recurso.

Para 76% dos respondentes nem pesquisas são realizadas visando à melhoria da atividade.

Talvez por falta de planejamento ou organização os recursos necessários para a implementação da

atividade não estejam chegando ao setor e dessa forma acaba comprometendo a produção e

impossibilitando um trabalho digno para os garimpeiros.

XVI ENGEMA 2014 10

Como pode ser claramente observado, os que levam mais desvantagens acabam

sendo os garimpeiros, que trabalham muito por uma renda mínima, enquanto que os donos das jazidas

ou atravessadores conseguem manter a extração sem nenhum tipo de regularização, sem pagamentos de

impostos e obtendo ganhos maiores. Em um dos questionamentos os próprios respondentes em um total

de 84% afirmam que é importante a arrecadação de impostos, desde que reflita na regularização da

atividade e traga benefícios para o setor.

Por esse motivo questionou-se em relação à arrecadação para a CFEM (Compensação

Financeira pela Exploração de Recursos Minerais), nesse caso, 76% dos respondentes afirmaram não

existir esse tipo de imposto no garimpo em que trabalha, pois está incorporado as áreas legalizadas.

Segundo o DNPM, os recursos arrecadados da CFEM são distribuídos da seguinte forma: 12% vão para

a União (DNPM, IBAMA e MCT), 23% para o Estado produtor e 65% para o município de onde foi

extraído o mineral. Ou seja, se não existe essa arrecadação, tanto o município quanto os trabalhadores

estão deixando de receber esse benefício. Esses dados são apresentados no Gráfico 01 a seguir:

Os resultados referentes à dimensão econômica contradizem com a visão de Viana (2012), para

ele a mineração precisa promover a equidade intra e intergeracional de formas diferentes. Na

perspectiva da geração atual, garantindo o bem estar socioeconômico no presente, promovendo

crescimento e melhor distribuição da renda, minimização da pobreza, redução da exclusão e aumento

do emprego. Já na perspectiva das gerações futuras, a mineração pode ser sustentável se promover o

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bem estar dessas gerações, a partir do uso sustentado das rendas, racionalizando o uso de

matérias-primas e insumos. De acordo com o autor mencionado o poder público da região deve manter

a fiscalização da atividade e direcionar os recursos como a CFEM e outras rendas em benefício prático

para os garimpeiros e município.

Em comparação com as palavras do autor e os resultados da pesquisa, a mineração do município

de Picuí não está sendo economicamente sustentável, a ausência do poder público local como agente

regulador acaba transtornando ainda mais a situação e acarretando o surgimento de mercados

clandestinos e a desvalorização da mão de obra do garimpeiro. Sem contar que não existe um controle

sobre a entrada de impostos, nem estudos direcionados a viabilidade futura da atividade.

4.3.2. Dimensão Social

De acordo com os dados do Gráfico 02 quanto à segunda Dimensão, verificou-se um grau de

discordância de 100% em relação aos garimpeiros que contribuem com a previdência social.

Obviamente nenhum dos entrevistados contribui com esse tipo de seguro, o que torna a atividade ainda

mais insustentável para os trabalhadores, logo, problemas de saúde, acidentes de trabalho ou até a

própria velhice podem comprometer a prática da atividade e afastá-los do trabalho sem nenhuma

seguridade.

Ainda a respeito da situação trabalhista dos garimpeiros, nenhum dos respondentes afirmou

trabalhar com carteira assinada. Infelizmente pessoas nessas condições perdem todos os direitos

básicos de um trabalhador, como, salário fixo nunca inferior ao estabelecido pela categoria, 13° salário,

seguro desemprego entre outros direitos.

Prevendo melhorar a situação dos trabalhadores, há mais ou menos quatro anos surgiu a

COOPICUÍ MINERAÇÃO (Cooperativa dos Mineradores de Picuí), com a ideia de capacitar os

trabalhadores do setor e criar um modelo socioeconômico capaz de manter o equilíbrio entre o

desenvolvimento econômico e o bem estar social. No entanto, verificou-se que 84% dos respondentes

discordam totalmente e apenas 2% concorda totalmente em relação à existência de cursos direcionados

aos garimpeiros, ou seja, que buscam a capacitação daqueles profissionais. Torna-se clara a deficiência

desse setor e a falta de compromisso da cooperativa.

Embora tenha alcançado uma estrutura satisfatória em relação ao tamanho do município, a

maioria dos respondentes em um total de 68% entre os que discordam totalmente e os que discordam

admitiram que não existem órgãos que representam os trabalhadores do setor, muitos deles alegam que

ultimamente a cooperativa não tem dado atenção como deveria, pois seu objetivo quando criada era de

oferecer suporte aos garimpeiros, principalmente em relação ao controle do preço do produto extraído,

visando acabar com o mercado clandestino, melhorar as condições e a renda do trabalhador.

Logo, quando questionados se as condições de trabalho são adequadas, 48% dos respondentes

discordam totalmente e apenas 20% concordam em relação a esse aspecto. De acordo com os

resultados obtidos no ato da pesquisa, uma boa parcela dos trabalhadores relatam que não dispõe de

condições de trabalho adequadas e 60% afirmam que ainda utilizam procedimentos ultrapassados de

extração, sem nenhuma segurança.

Segundo alguns comentários não existem locais para refeições nem para descanso, tudo é

improvisado sem nenhum tipo higiene e comodidade. Durante a visita nos garimpos foi constatado que

um mínimo de trabalhadores utilizam equipamentos de segurança e a maior parte não dispõe nem do

essencial, como, botas, luvas, óculos e capacetes.

Embora a escassez de recursos predomine há muitos anos, um total de 66% dos respondentes

dentre os que discordam totalmente e discordam declaram ocorrer poucos acidentes de trabalho. O

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mínimo de ocorrências referentes a essa questão pode ser justificado pelo fato de muitos

garimpeiros dominarem muito bem a atividade, e por apresentarem experiência e prática alcançadas

durante os trabalhos no garimpo.

O abandono social, caracterizado pela ausência de direitos trabalhistas, salários dignos,

condições de trabalho adequadas, representação e capacitação, formam um aglomerado de fatores

essenciais para a ocorrência de conflitos, o que torna a atividade mineraria do município de Picuí ainda

mais insustentável e consequentemente divergente em relação à visão de Viana (2012, p.113), em que o

autor diz: ...evidencia-se que uma mineração sustentável é também aquela que não da ensejo a conflitos

socioambientais significativos e não sofre outras restrições de qualquer espécie, que possam

inviabilizar ou tornar muito dispendiosa a continuidade das atividades no curto, médio ou longo

prazo. Assim, a inexistência de conflitos e outras restrições à atividade mineraria é pressuposto

primordial de sua sustentabilidade; é condição necessária, embora não suficiente, para que ela

se desenvolva ao longo dos anos e possa proporcionar às partes envolvidas os benefícios que

dela se esperam.

De acordo com as palavras do autor supracitado, para que haja sustentabilidade na mineração é

necessário que exista um controle para coibir a ocorrência de conflitos. Ou seja, é primordial a presença

de órgãos regulamentadores que ofereçam suporte a atividade mineraria e conduza toda a classe.

XVI ENGEMA 2014 13

4.3.3. Dimensão Ambiental

Conforme os dados apresentados no Gráfico 03 verificou-se que existe um equilíbrio entre as

áreas de extração legalizadas e ilegais, nesse contexto um total de 36% dos respondentes discordam

totalmente e discordam em relação a afirmação, 24% nem concordam nem discordam e um total de

40% dentre os que concordam totalmente e concordam afirmam trabalhar em áreas legais. É

importante destacar que algumas das regiões onde ocorreram as entrevistas dispõe de um documento

legal para a extração mineral, principalmente as maiores mineradoras. Já em relação aos pequenos

garimpos são visíveis as irregularidades.

Procurou-se destacar a importância da aplicação das multas ambientais no que se refere à

irregularidade da atividade. Nesse contexto constatou-se que 36% dos respondentes discordam

totalmente no que diz respeito à viabilidade das multas ambientais como agente construtivo, enquanto

que 30% concordam totalmente. Vale salientar que alguns dos garimpeiros mesmo com um baixo nível

de instrução mostraram-se informados sobre a necessidade das multas para o controle da extração

mineral.

Muitos dos trabalhadores reconhecem que essa atividade causa danos irreversíveis ao meio

ambiente, em um dos questionamentos um total de 62% entre os que concordam totalmente e os que

concordam, afirmam que o impacto visual é um problema para a mineração e que realmente deveriam

ser tomadas medidas cabíveis para melhorar o aspecto devastador deixado pelas ações extrativas.

Pouco está sendo feito para inibir os efeitos desastrosos da extração mineral, 88% dos

respondentes discordam totalmente em relação à existência de projetos de recuperação direcionados as

áreas degradadas, valor considerado muito elevado se comparado à preocupação em tornar a atividade

sustentável. Nesse mesmo sentido, 56% dos respondentes discordam no que se refere à existência de

órgãos que buscam o aproveitamento dos rejeitos, apenas uma parcela de 36% somados os que

concordam totalmente e ao que concordam afirmam haver a preocupação em aproveitar essa parte dos

minerais, segundo eles são poucos os minerais que compensam esse tipo de trabalho.

Logo, verificou-se que um total de 82% dos respondentes discordam totalmente em relação ao

oferecimento de incentivo por parte do governo visando a preservação ambiental. Resultado que se

resume na ausência de iniciativas do governo em conscientizar e possibilitar a classe de mineradores a

seguirem um crescimento de forma sustentável.

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Os resultados da Dimensão Ambiental por sua vez acabam contrariando a visão de Viana (2012,

p. 134), em que o autor diz:

É necessário, portanto, dotar o setor ambiental, no âmbito da União, dos estados, do Distrito

Federal e dos municípios, de recursos humanos e materiais que lhe permitam desempenhar sua

missão com efetividade e eficiência. Também é preciso fortalecer o setor mineral e cobrar dele

– tanto do governo quanto do setor produtivo – uma atitude mais proativa na direção do

desenvolvimento sustentável, tomando como exemplos as iniciativas nacionais e internacionais

e as empresas de mineração que já estão em estágio mais avançando quanto a essa temática.

Segundo palavras do autor mencionado, a população em geral deve reivindicar, em relação à

cobrança de iniciativas voltadas ao fortalecimento do setor ambiental. Deve-se, portanto, cobrar dos

órgãos públicos e do próprio setor mineral alternativas viáveis para o ecossistema, de forma que ele

possa se recuperar e perpetuar-se, como forma de garantir a satisfação das gerações futuras.

Por fim, percebe-se que para alcançar um nível satisfatório de sustentabilidade é imprescindível

que as condições exigidas por cada dimensão sejam satisfeitas, nesse caso é importante que sejam

utilizados indicadores de sustentabilidade como ferramentas de mensuração. Neste trabalho além de se

basear nos indicadores propostos por Viana (2012), uma pergunta aberta foi direcionada aos

respondentes, como uma maneira de se conseguir conteúdo para a criação de novos indicadores de

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sustentabilidade.

Os principais resultados referentes à identificação de novos indicadores para o município foram

descritos da seguinte forma: pagamento em dia falta de maquinário, falta de apoio/ incentivo,

organização dos pequenos garimpeiros/ conscientização, liberação das áreas de extração/ facilitar a

extração por parte do governo, falta de uma cooperativa que realmente atue na área, comprador certo

para o minério, interesse da prefeitura para comprar a produção, vantagens trabalhistas/ proteção

trabalhista, falta de uma representação, fiscalização rigorosa, possibilidade de se agregar valor aos

minerais.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo teve como objetivo analisar a sustentabilidade no setor de mineração do

município de Picuí, destacando os resultados referentes à visão dos garimpeiros no que diz respeito às

dimensões, econômica, social e ambiental. Observou-se que do total dos respondentes, todos são do

sexo masculino, em sua maioria casados, com idades que variam entre 18 e 65 anos. Em relação ao

nível de escolaridade grande parte dos respondentes possui apenas o ensino fundamental incompleto.

Conclui-se, que a maioria dos indicadores que foram citados apresentaram resultados

desfavoráveis para a sustentabilidade no setor de mineração do município. Logo, os indicadores que

apresentaram um maior percentual de concordância quanto aos aspectos positivos foram: a importância

da mineração para o desenvolvimento do município, a renda do trabalhador e o suprimento de suas

necessidades, a importância da arrecadação de impostos e a mineração como fonte de renda isso no que

diz respeito à dimensão econômica, em relação à dimensão social, ausência de acidentes de trabalho, já

na dimensão ambiental apenas o indicador áreas de extração legalizadas.

Na avaliação das mesmas dimensões os resultados encontrados com relação aos aspectos

negativos foram: a falta de um mercado formal para a venda dos minerais, a falta de profissionais da

área acompanhando os trabalhos de mineração, a ausência de pesquisas visando à melhoria das

atividades, a falta de arrecadação para a CFEM, isso na dimensão econômica, quanto à dimensão social

destaca-se a ausência de alguns fatores, tais como: contribuição com a previdência social, condições de

trabalho adequadas, utilização de equipamentos de segurança, órgãos que representem os trabalhadores,

trabalho com carteira assinada e capacitação para os trabalhadores, já na dimensão ambiental faltam,

projetos de recuperação direcionados a área degradada, órgãos que buscam o aproveitamento dos

rejeitos, oferecimento de incentivo por parte do governo visando à preservação ambiental, aplicação de

multas como agente construtivo e por último o impacto visual, considerado pela maioria dos

mineradores como um problema para a mineração.

Contudo, verificou-se que os resultados referentes às três dimensões contradizem com a visão

do autor Vianna (2012). Para tanto, torna-se viável a investidura em um novo estudo sobre o tema,

visando à avaliação dos níveis de sustentabilidade para a mineração do município.

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