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ANÁLISE DOS RISCOS ERGONÔMICOS EM UMA INDÚSTRIA DE BORRACHA Samuel Melo Lima (UFPI) [email protected] Amanda Thamires Ferreira Santos (UFPI) [email protected] Jacira Nathercia Viana Soares (UFPI) [email protected] Maria do Socorro Ferreira dos Santos (UFPI) [email protected] O presente estudo teve como objetivo a identificação dos riscos ergonômicos em uma Indústria de Borracha localizada na cidade Teresina-PI. A ergonomia estuda a interação das pessoas com a tecnologia, a organização e o ambiente, objetivando intervenções e projetos que visem melhorar, de forma integrada e não-dissociada, a segurança, o conforto, o bem estar e a eficácia das atividades humanas. Neste trabalho foram aplicados dois questionários a 10 operários distribuídos entre o setor de produção de piso partilhado e a copa: um nórdico de sintomas osteomusculares e um outro traçando o perfil dos funcionários, além do registro fotográfico e observação em campo. Para a análise dos resultados foram utilizados a bibliografia consultada bem como as Normas regulamentadoras que estabelecem os parâmetros mínimos para a adequação do trabalho ao homem. Foram identificados diversos riscos ergonômicos em relação as posturas incorretas, condições inadequadas no ambiente e equipamentos, e o uso irregular dos equipamentos de segurança individual, podendo ocasionar acidentes de trabalho e doenças relacionadas ao trabalho. Palavras-chave: Ergonomia, questionários, riscos ergonômicos XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

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ANÁLISE DOS RISCOS ERGONÔMICOS

EM UMA INDÚSTRIA DE BORRACHA

Samuel Melo Lima (UFPI)

[email protected]

Amanda Thamires Ferreira Santos (UFPI)

[email protected]

Jacira Nathercia Viana Soares (UFPI)

[email protected]

Maria do Socorro Ferreira dos Santos (UFPI)

[email protected]

O presente estudo teve como objetivo a identificação dos riscos

ergonômicos em uma Indústria de Borracha localizada na cidade

Teresina-PI. A ergonomia estuda a interação das pessoas com a

tecnologia, a organização e o ambiente, objetivando intervenções e

projetos que visem melhorar, de forma integrada e não-dissociada, a

segurança, o conforto, o bem estar e a eficácia das atividades

humanas. Neste trabalho foram aplicados dois questionários a 10

operários distribuídos entre o setor de produção de piso partilhado e a

copa: um nórdico de sintomas osteomusculares e um outro traçando o

perfil dos funcionários, além do registro fotográfico e observação em

campo. Para a análise dos resultados foram utilizados a bibliografia

consultada bem como as Normas regulamentadoras que estabelecem

os parâmetros mínimos para a adequação do trabalho ao homem.

Foram identificados diversos riscos ergonômicos em relação as

posturas incorretas, condições inadequadas no ambiente e

equipamentos, e o uso irregular dos equipamentos de segurança

individual, podendo ocasionar acidentes de trabalho e doenças

relacionadas ao trabalho.

Palavras-chave: Ergonomia, questionários, riscos ergonômicos

XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

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Análise dos riscos ergonômicos em uma indústria de borracha

1. Introdução

Com o avanço tecnológico e o crescimento mercadológico, as empresas estão sempre

com o desafio de acompanhar esse crescimento em busca da competitividade e sobrevivência

no mercado. Diante disso, é necessário dispor aos funcionários condições adequadas para que

possam realizar seu trabalho com conforto e segurança, adequando os processos de produção

e os postos de trabalho com a ergonomia.

A ergonomia é a adequação do trabalho ao homem, que contribui para o aumento da

qualidade de vida do funcionário, assim como a qualidade das operações industriais. Além de

ter importante contribuição para a prevenção das doenças osteomusculares relacionadas ao

trabalho (DORT), que são ocasionadas pelo comportamento do homem em atividade como

posturas incorretas, levantamento de cargas, movimentos repetitivos, dentre outros.

O objeto de estudo deste artigo é uma indústria de borracha, especializada na

fabricação de piso de borracha partilhado e produção de E.V.A (Etileno Acetato de Vinila)

para calçados e tatames, cujo nome fantasia é Indústria de Borracha SA. A empresa está

localizada na cidade de Teresina – PI, e encontra-se no mercado há 40 anos e atualmente

possui 40 funcionários.

O estudo considerou a área biomecânica da ergonomia aplicada ao trabalho, através do

estudo dos esforços feitos pelo trabalhador, o uso da coluna vertebral, o manuseio,

levantamento e transporte de cargas, na Indústria de Borracha SA, mediante da literatura

consultada.

2 Revisão bibliográfica

2.1 Ergonomia

Segundo Couto (2002) ergonomia é o trabalho interprofissional que, baseado num

conjunto de ciências e tecnologias, procura o ajuste mútuo entre o ser humano e seu ambiente

de trabalho de forma confortável e produtiva, basicamente procurando adaptar o trabalho às

pessoas.

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Segundo a Norma Regulamentadora Brasileira n° 17, os conceitos ergonômicos foram

aplicados na indústria automobilística a partir de 1970, com o objetivo de tornar os veículos

mais confortáveis e funcionais de forma que pudesse satisfazer a sociedade, proporcionando

conforto e bem estar.

A ergonomia física, com características da biomecânica, abordando as posturas de

trabalho, manuseio de materiais e a incidência dos distúrbios osteomusculares relacionados ao

trabalho (DORT) que são lesões que afetam os músculos, tendões e nervos nas articulações do

corpo, especialmente nas mãos, punhos, cotovelos, ombros, costas e joelhos, lesões essas que

se da em decorrência do esforço ou movimentos feitos de forma repetitiva (ARAUJO, 2010).

O autor acrescenta que a fadiga causada pela constante repetição desses esforços, traumatiza

gradativamente estas partes do corpo gerando dores que vão aumentando de intensidade e,

como consequência, dificultando o desempenho do trabalhador.

2.2 Legislação

As legislações trabalhistas servem para equilibrar tudo que é relacionado ao homem e

o trabalho. As Normas Regulamentadoras - NR, relativas à segurança e medicina do trabalho,

são de observância obrigatória pelas empresas privadas e públicas e pelos órgãos públicos da

administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário,

que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT

(MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2013).

A norma regulamentadora nº 17 aborda os aspectos relacionados ao levantamento,

transporte e descarga individual de materiais, mobiliário dos postos de trabalho, equipamentos

dos postos de trabalho, condições ambientais de trabalho e organização do trabalho.

Outras normas regulamentadoras utilizadas nesta pesquisa são: nº 09 – que visa à

preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores, através da antecipação,

reconhecimento, avaliação e consequente controle da ocorrência de riscos ambientais

existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho, através do programa de

prevenção dos riscos ambientais; a nº 06 que considera os equipamentos de segurança

individuais – EPI; a nº 11 que considera o transporte, movimentação, armazenagem e

manuseio de materiais; e a nº 12 que define as referências técnicas, princípios fundamentais e

medidas de proteção e segurança do trabalho em máquinas e equipamentos.

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A legislação também contempla importantes programas definidos pela legislação

como: a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) que é definida pela NR 05; os

Programas de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) que é definido pela NR 07; e

os Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho

(SESMT).

3. Metodologia

Para a metodologia buscou-se o embasamento teórico a partir da leitura seletiva de

textos encontrados sobre a ergonomia, através de artigos, livros, legislação, dissertações, teses

e outros. O objetivo deste estudo é descritivo, pois expõe as características de uma

determinada população ou fenômeno, demandando técnicas padronizadas de coleta de dados

(PRODANOV e FREITAS, 2013), aliado a técnicas quantitativas e qualitativas.

Foi utilizado o registro de imagens fotográficas, observação in loco e a aplicação de

questionários, com 10 funcionários da empresa do setor de produção. O primeiro questionário

buscou coletar informações sobre sintomas e doenças ocupacionais que prejudicam a saúde

dos mesmos. O segundo foi o questionário nórdico que buscou identificar os sintomas

osteomusculares, que aborda itens relacionados a diferentes regiões anatômicas do corpo,

buscando mensurar a presença de sintomas osteomusculares (PINHEIRO, TROCOLLI e

CARVALHO, 2002). Este é um questionário validado de domínio público e é composto por

30 questões com alternativas sim ou não, onde busca trazer informações sobre a ocorrência de

sintomas como dores, desconfortos e dormências em várias regiões do corpo.

Através de uma observação criteriosa, em todos os setores da empresa, escolheu-se o

subsetor de produção de piso de borracha partilhado, por ter uma maior incidência de riscos

ergonômicos. Este setor possui 9 funcionários, com diferentes funções, onde foi observado

um grande contato dos funcionários com as máquinas, com excessivo esforço físico e sujeito a

acidentes de trabalho, justificando assim a escolha da amostra em estudo e na copa há

somente 1 funcionário, totalizando 10 funcionários.

Os dados obtidos por meio dos questionários foram tabulados e representados por

gráficos percentuais, através do excel, que é um software de planilha eletrônica que permite

criar tabelas e analisar dados, com o uso da função estatística descritiva que tem o objetivo de

organizar, resumir, analisar e interpretar observações disponíveis (LAPPONI, 2005).

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As fotografias de campo foram analisadas à luz da teoria da Análise Ergonômica, o

que permitiu elaborar conclusões acerca dos possíveis riscos aos quais os funcionários possam

estar expostos, considerando a bibliografia consultada.

4. Resultados e Discussões

Os questionários foram aplicados a 10 funcionários da Indústria SA, do setor de

produção de piso partilhado, sendo 4 são do sexo masculino e 6 do sexo feminino. A carga

horária de trabalho é de 44 horas/semanais, sendo apenas 1 hora para a refeição, que pode ser

realizada no local ou fora da empresa.

Todos os entrevistados responderam as questões, sem nenhuma recusa, porém foi

observado que alguns demonstravam receio de expor suas respostas acreditando que

pudessem ser prejudicados dentro da empresa.

4.1 Utilização dos EPI’s

A Figura 1 mostra a utilização dos EPI’s dos funcionários entrevistados. As Figuras 2

(a) mostra a utilização parcial dos EPI’s; (b) mostra funcionário sem a utilização de EPI’s.

Figura 1: Utilização dos EPI’s dos funcionários entrevistados.

Fonte: Elaborada pelos autores.

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(a) (b)

Figura 2: (a) Funcionário com a utilização parcial dos EPI’s; (b) Funcionário sem a utilização

de EPI’s.

Fonte: Elaborada pelos autores

A Figura 1 mostra que apenas 40% utilizam todos os equipamentos de proteção

individual necessários, 10% raramente utilizam e 50% utilizam parcialmente seus

equipamentos.

A Figura 2 (a) mostra um funcionário que está utilizando botas, luvas, máscara, mas

não está utilizando o protetor auricular que é muito importante para protegê-lo dos ruídos e os

óculos de segurança. A Figura 2 (b) mostra a funcionária sem utilização de EPI’s.

Segundo a Norma regulamentadora nº 06, que considera o equipamento de proteção

individual, cabe ao empregador exigir o uso, bem como orientar e treinar o trabalhador sobre

o uso adequado, a guarda e conservação. A norma também estabelece normas para o

empregado, que deve utilizá-los sempre sendo apenas para a finalidade a que se destina,

responsabilizar-se pela guarda e conservação, comunicar ao empregador qualquer alteração

que o torne impróprio para uso e cumprir as determinações do empregador sobre o uso

adequado.

A máscara utilizada na empresa como mostra a Figura 2 (a) são máscaras cirúrgicas

que segundo a norma da ABNT 13698:2011, não é considerada um EPI, pois não possui

certificado de aprovação. A NR 06 estabelece que a máscara adequada para este tipo de

ambiente de trabalho devem ser máscaras que contem o respirador purificador de ar com

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filtro. Este tipo de situação foi identificado em todos os funcionários, apesar de 40%

afirmarem que usam todos os equipamentos, foram registradas falhas, que mostram o uso

parcialmente.

Ao observar a Figura 2 (b) nota-se a ausência das botas, protetor auricular, máscara e

em especial as luvas, pois o trabalho é realizado em prensas que operam em altas

temperaturas, podendo ocasionar sérias queimaduras, e a utilização de ferramentas

pontiagudas podem causar cortes. Notou-se, também a ausência, da touca de cabelo,

imprescindível, para evitar que os cabelos não prendam na máquina causando um acidente e,

além disso, para evitar que os fios de cabelos caiam sobre o material podendo causar a não

conformidade do produto.

3.2 Posturas e levantamento de cargas

As Figuras 3 mostram (a) o corte do piso partilhado; (b) as seis funções das mãos

segundo Couto (2002).

Figura 3: (a) funcionário realizando o corte do piso partilhado; (b) As 6 funções das mãos.

Fonte: (a): Elaborada pelos autores; (b): Couto, 2002.

A partir da Figura 3 (a) é possível observar o processo de corte das rebarbas do piso

partilhado, e observa-se que na mão direita da funcionária, encontra-se a ferramenta de corte

que exige bastante esforço, além da ausência dos EPI’s. Nota-se que a operária está apoiada

(a) (b)

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sobre a mão esquerda e com mais evidência de força no dedo polegar. Segundo Iida (2005)

posição, em pé, é altamente fadigante porque exige muito trabalho estático da musculatura

envolvida para manter essa posição.

A Figura 3 (b) mostra as 6 funções da mãos: pinça palmar, compressão digital, pinça

lateral, pinça pulpar, compressão palmar e preensão. Para Couto (2002) dessas funções apenas

a preensão pode fazer força, os demais são movimentos voltados para a precisão, onde a

exigência de força das outras funções pode ter como consequência o aparecimento de dor.

As Figuras 4 (a) e (b) apresentam as posturas dos funcionários executando suas

funções quanto ao levantamento de cargas; (c) a postura correta para levantamento de cargas

segundo Iida (2005).

Figura 4: (a) Postura dos funcionários ao levantar uma carga; (b) Postura de dois funcionários

ao levantar os materiais; (c) postura correta para levantamento de cargas.

Fonte: (a, b): Elaborada pelos autores; (c): IIDA, 2005.

Durante as observações foram observadas constantemente posturas inadequadas

quanto ao levantamento de cargas. A Figura 4 (a) mostra o funcionário levantando uma carga

na faixa de 50 kg, a Figura 4 (b) mostra dois funcionários levantando materiais necessários

para alimentar a máquina e a Figura 4 (c) mostra a postura correta de como esses materiais

devem ser levantados segundo Iida (2005). Segundo Couto (2002) ao levantar um peso

distante do corpo, o esforço é feito pelos músculos das costas, que estão muito próximos do

ponto de apoio, e o peso, distante do corpo exerce uma sobrecarga maior que a permitida. Iida

(a) (b) (c)

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(2005) recomenda que o levantamento de cargas seja realizado sempre com a coluna na

posição vertical, usando-se a musculatura das pernas que são mais resistentes, como é

mostrado na Figura 4 (c).

As Figuras 5 mostram (a) o local onde se encontra a balança e os materiais que são

utilizados para a fabricação dos pisos partilhados, (b) a postura de um funcionário na

realização da pesagem do material; (c) a postura do funcionário ao colocar o material no

bamburi; (d) o layout correto da balança e os materiais utilizados na pesagem segundo Iida

(2005).

Figura 5: (a) local na Indústria SA onde são armazenados os materiais e feita a pesagem; (b)

Postura do funcionário ao realizar a pesagem do material; (c) levantamento de cargas em

locais altos; (d) maneira correta do arranjo físico onde é feita armazenagem e pesagem dos

materiais.

Fonte: Elaborada pelos autores (a, b, c); (d) IIDA, 2005.

(a) (b)

(c) (d)

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A Figura 6 apresenta a organização dos equipamentos e materiais pelos funcionários.

A Figura 10 apresenta as considerações sobre a higiene do local de trabalho pelos

entrevistados.

Figura 6: Consideração sobre a organização dos materiais e equipamentos do local de trabalho

pelos entrevistados.

Fonte: Elaborada pelos autores.

Figura 7: Consideração sobre a higiene do local de trabalho pelos entrevistados.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Fonte: Elaborada pelos autores.

A Figura 6, mostra que para a organização dos materiais e equipamentos apenas 20%

consideram boa e 80% estão distribuídos entre ruim e regular. Dentre os entrevistados apenas

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(b) (a)

20% consideram a higiene do local boa, enquanto 80% estão distribuídos entre ruim, péssimo

e regular (Figura 7).

As Figuras 8 mostram (a) parte do setor de produção do piso partilhado; (b) Apoio

feito de paletes ao lado das prensas; (c) Organização de materiais necessários para a

produção; (d) Organização da mesa de corte do piso partilhado.

Figura 8: (a) local de produção do piso partilhado; (b) apoio feito de paletes; (c) Organização

de materiais dentro do setor de produção; (d) mesa de corte do setor de produção do piso

partilhado.

Fonte: Elaborada pelos autores.

A Figura 8 (a) mostra parte do setor de produção do piso partilhado, onde é visível a

falta de organização no ambiente e sujeira no ambiente; (b) mostra um apoio feito de paletes

que está em más condições podendo causar acidente; (c) mostra os materiais empilhados e

sem organização; (d) mostra a mesa utilizada para corte do material com um sapato e um

tambor em cima. Esse resultado é corroborado com as Figuras 9 e 10.

(a)

(d) (c)

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As Figuras 9 apresentam (a) as medidas corretas de uma escada, bem como

recomendações quanto a borda anti-derrapante segundo Couto (2002); (b) a escada de acesso

ao bamburi da Indústria SA; (c) o funcionário subindo a escada de acesso ao Bamburi.

Figuras 9: (a) medidas corretas de uma escada; (b) escada de acesso ao Bamburi da Indústria

SA; (c) funcionário subindo a escada de acesso ao Bamburi.

Fonte: (a) COUTO, (2002); (b, c): Elaborada pelos autores.

Segundo Couto (2002), a altura ideal do degrau de uma escada deve ser entre 16 a 18

cm, como mostra a Figura 9 (a) enquanto que o degrau da escada do bamburi da Indústria SA,

Figura 9 (b), possui 35 cm, segundo medições realizadas no local, gerando grande esforço

físico na musculatura das pernas, além de não possuir borda anti-derrapante o que pode causar

um acidente, desde modo a escada para alcance do Bamburi, está fora das normas

estabelecidas. A Figura 9 (c) mostra que o funcionário não está com o pé totalmente apoiado

no degrau, ficando uma parte fora, podendo desequilibra-se e cair. Outro ponto observado foi

à ausência da proteção do corrimão na escada, no lado esquerdo, aumentando os riscos de

acidentes.

3.3 Questionário nórdico de sintomas osteomusculares

A Tabela 1 mostra os resultados dos questionários nórdicos de sintomas

osteomusculares aplicados com os funcionários, onde foram considerados se houve dores e/ou

desconfortos nos últimos 12 meses.

(a) (b) (c)

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De acordo com os resultados apresentados pela Tabela 1, sobre o questionário nórdico

de sintomas osteomusculares nos últimos 12 meses, foi observado que os membros que mais

apresentaram desconforto pelos funcionários foram os ombros, com afirmação de 70% dos

funcionários, a região lombar com 50%, a região dorsal com 50%, tornozelos e/ou pés com

50% e os antebraços com 40%. Esses membros condizem com as posturas mencionadas

anteriormente, pois de acordo com as funções registradas diante do processo de produção do

piso partilhado mostraram que há maior utilização de força nos braços e ombros no

levantamento de cargas e no processo de corte das peças, bem como as posturas constantes de

baixar e levantar causam dores na região lombar e dorsal. As dores no pés\tornozelos podem

estar associadas à ausência de pausas durante o trabalho, sendo que o trabalho é executado em

pé durante todo o turno.

Tabela 1: Porcentagem da periodicidade dos sintomas considerando os últimos 12 meses

segundo o questionário nórdico de sintomas osteomusculares.

Fonte: elaborada pelos autores.

A Tabela 2 mostra os resultados dos questionários nórdicos de sintomas osteomusculares

aplicados com os funcionários, onde foram considerados se houve dores e/ou desconfortos

nos últimos 7 dias.

Em caso afirmativo

Membro Não (%) Sim (%)

Membro

esquerdo

(%)

Membro

direito

(%)

Ambos

(%)

Ombro 30 70 0 0 100

Cotovelo 100 0 - - -

Antebraços 60 40 0 25 75

Punhos/mãos/dedos 80 20 0 50 50

Pescoço 80 20 - - -

Região Dorsal 50 50 - - -

Região Lombar 50 50 - - -

Quadris e/ou coxas 90 10 - - -

Joelhos 90 10 - - -

Tornozelos e/ou pés 50 50 - - -

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Tabela 2: Porcentagem da periodicidade dos sintomas considerando os últimos 7 dias segundo

o questionário nórdico de sintomas osteomusculares.

Em caso afirmativo

Membro Não (%) Sim (%)

Membro

esquerdo

(%)

Membro

Direito

(%)

Ambos

(%)

Ombro 90 10 0 0 100

Cotovelo 100 0

Antebraços 80 20 0 50 50

Punhos/mãos/dedos 100 0

Pescoço 90 10 - - -

Região Dorsal 80 20 - - -

Região Lombar 70 30 - - -

Quadris e/ou coxas 100 0 - - -

Joelhos 90 10 - - -

Tornozelos e/ou pés 70 30 - - -

Fonte: elaborada pelos autores.

A Tabela 2 mostra que nos últimos 7 dias considerando os resultados do questionário

nórdico de sintomas osteomusculares que os sintomas mais frequentes foram dores nos

pés/tornozelos com 30% dos funcionários, 30% na região lombar, 20% na região dorsal e

20% nos antebraços. Pode-se observar que os desconfortos são nas mesmas regiões que

exigem mais esforço dos funcionários na execução da função e que são os mesmos membros

que sofreram desconfortos\dores nos últimos 12 meses como visto na Tabela 4.1. Como não

há o rodízio de atividades na indústria e os funcionários afirmaram está muito tempo na

mesma função, esses sintomas podem ser ocasionados pela repetitividade dos movimentos

durante muito tempo, devido à permanência longa na mesma função, ressaltando também que

a falta de instrução sobre as posturas corretas a serem executadas colaboraram com os índices.

A Tabela 3 apresenta os resultados obtidos relacionados a problemas como dor e\ou

desconforto nos últimos 12 meses, onde foi necessário evitar as atividades, segundo o

questionário nórdico de sintomas osteomusculares aplicados com os funcionários.

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Tabela 3: Porcentagem da periodicidade dos sintomas, onde foi necessário evitar as atividades

considerando os últimos 12 meses segundo o questionário nórdico de sintomas

osteomusculares.

Em caso afirmativo

Membro Não (%) Sim (%)

Membro

esquerdo

(%)

Membro

direito

(%)

Ambos

(%)

Ombro 90 10 100 0 0

Cotovelo 100 0

Antebraços 100 0

Punhos/mãos/dedos 80 20 50 50 0

Pescoço 90 10 - - -

Região Dorsal 70 30 - - -

Região Lombar 90 10 - - -

Quadris e/ou coxas 100 0 - - -

Joelhos 100 0 - - -

Tornozelos e/ou pés 90 10 - - -

Fonte: elaborada pelos autores.

A Tabela 3 mostra que houve ausência no trabalho de 10% por desconforto/dores nos

ombros, 20% nos punhos/mãos/dedos, 10% no pescoço, 30% na região dorsal, 10% na região

lombar e 10% nos tornozelos e/ou pés. Dos resultados apresentados apenas 1 funcionário

sofreu um acidente lesionando o dedo, os demais não sofreram acidentes na indústria podendo

ser associado os sintomas afirmados por eles, às atividades que estão executando.

A empresa não possui o registro nos Serviços especializados em Engenharia e em

Medicina do Trabalho (SESMT), que segundo a Norma Regulamentadora nº 04, tem a

finalidade de promover a saúde e promover a integridade do trabalhador no local de trabalho.

O SESMT associa o número de empregados do estabelecimento com os riscos expostos

dentro da atividade, buscando prevenir os funcionários dos acidentes ou danos a saúde dos

mesmos. O SESMT deve possuir todos os dados de acidentes ocorridos, no qual para este

estudo não foi possível analisar esses dados, a fim de relacionar aos resultados obtidos com os

sintomas osteomusculares sentidos pelos funcionários.

Na indústria, em estudo, existe a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA),

que segundo a Norma Regulamentadora nº 05 que tem como objetivo a prevenção de

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XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção

Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

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acidentes e doenças decorrentes do trabalho, de modo a tornar compatível permanentemente o

trabalho com a preservação da vida e a promoção da saúde do trabalhador. A CIPA é

composta por representantes entre os empregados bem como um representante entre os

empregadores. Foi observado que também há falhas nesse sistema dentro da empresa, os

representantes da CIPA pouco sabem qual o objetivo e o que devem fazer na comissão, a

única atividade executadas pelos membros é observar quando os EPI’s estão quase em falta e

encaminharem para os seus superiores os pedidos para repor o estoque.

4. Conclusão

Nesta pesquisa foram identificados vários riscos aos quais estão as posturas

inadequadas na execução das atividades, onde não há o rodizio de tarefas, pausa para o

descanso, nem a ginastica laboral, havendo um índice considerado de fadiga e desconfortos na

região dorsal, região lombar, pés/tornozelos, antebraços e ombros. O uso dos equipamentos de

segurança individual é inadequada, com a maioria dos funcionários sem utilizar seus

equipamentos, correndo riscos de acidentes e problemas de saúde devido ao uso indevido ou

ausente, bem como alguns dos equipamentos utilizados estão inadequados para o tipo de

função.

O ambiente de trabalho não se adequada quanto a disposição dos materiais e a

estrutura do local, bem como para o levantamento de cargas e armazenagem dos materiais,

pois não há um estudo do layout na empresa e não há práticas ergonômicas. A empresa não

possui o registro no SESMT, PCSMO e os membros CIPA da empresa desconhecem as

informações necessárias para uma comissão eficiente.

Deste modo a empresa precisa proporcionar aos funcionários melhores condições de

trabalho, segurança e meios de prevenção dos sintomas osteomusculares, promovendo

programas de atividades e métodos educacionais de conscientização do uso dos EPI’s

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Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

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