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ANÁLISE DE SENSIBILIDADE DE CORRELAÇÕES DE ESCOAMENTO MULTIFÁSICO Caio Borges Barcellos Dias Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientadores: Juliana Baioco e Daniel Cruz Rio de Janeiro Setembro 2019

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ANÁLISE DE SENSIBILIDADE DE CORRELAÇÕES DE ESCOAMENTO

MULTIFÁSICO

Caio Borges Barcellos Dias

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia Mecânica da Escola Politécnica, da

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientadores: Juliana Baioco e Daniel Cruz

Rio de Janeiro

Setembro 2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Departamento de Engenharia Mecânica

DEM/POLI/UFRJ

ANÁLISE DE SENSIBILIDADE DE CORRELAÇÕES DE ESCOAMENTO

MULTIFÁSICO

Caio Borges Barcellos Dias

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA MECÂNICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO

RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A

OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO MECÂNICO.

Aprovado por:

________________________________________________

Prof. Daniel Onofre de Almeida Cruz, D. Sc.

________________________________________________

Prof.ª Juliana Souza Baioco, D. Sc

________________________________________________

Prof. Fernando Pereira Duda, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

Setembro de 2019

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Dias, Caio Borges Barcellos

Análise de sensibilidade de correlações de escoamento

multifásico/ Caio Borges Barcellos Dias. – Rio de Janeiro:

UFRJ/ESCOLA POLITÉCNICA, [2019].

IX, 58 p.: il.; 29,7 cm.

Orientadores: Juliana Baioco e Daniel Cruz

Projeto de Graduação – UFRJ/POLI/ Engenharia

Mecânica, 2019.

Referências Bibliográficas: p. 56 – 58.

1. Perda de Carga 2. Offshore 3. Tubulação 4. Óleo

Pesado 5. Correlações de Black Oil I. Baioco Juliana; Cruz

Daniel. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola

Politécnica, Engenharia Mecânica. III. Simulação da Perda

de Carga em um Riser.

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Agradecimentos

Agradeço primeiramente a minha família, aqueles que sempre me motivaram a

buscar novos desafios, dar o meu máximo e por me apoiarem diariamente, vocês tornaram

toda essa jornada muito mais leve.

Gostaria de agradecer ao meu pai e minha mãe, vocês me ensinaram a ser a melhor

versão de mim e levar isso para tudo que eu faço.

Aos meus amigos, sempre presentes, trouxeram muitas alegrias durante todo esse

trajeto, mas também trouxeram muitos aprendizados, é um prazer continuar crescendo com

vocês.

Aos amigos que descobri no curso de engenharia mecânica, obrigado pela

companhia e todas as risadas durante os grandes desafios desse caminho.

A todas as pessoas que conheci quando tive a oportunidade de estudar na

Universidade de Strathclyde, o impacto que tiveram em minha vida não pode ser medido.

Aos colegas que fiz durante meu estágio, gostaria de agradecer por me acolherem

tão bem, ensinando tudo que sei sobre a indústria de petróleo e por me inspirarem a

aprender mais cada dia. Em especial queria agradecer meus chefes, vocês tiveram um

grande impacto em mim, eu espero me tornar um líder como vocês.

Finalmente, agradeço a todos do corpo docente da UFRJ que conheci durante meu

tempo de faculdade, os seus ensinamentos ficarão comigo para sempre. Em especial,

gostaria de agradecer aos meus orientadores, Juliana Baioco e Daniel Cruz, pela

disponibilidade e por me guiar enquanto desbravava novos conteúdos dessa área pela qual

me encantei, a engenharia do Petróleo.

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Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Mecânico.

ANÁLISE DE SENSIBILIDADE DE CORRELAÇÕES DE ESCOAMENTO

MULTIFÁSICO

Caio Borges Barcellos Dias

Setembro/2019

Orientador: Juliana Baioco e Daniel Cruz

Curso: Engenharia Mecânica

O petróleo é a mais importante fonte de energia da atualidade, pois é por meio dele

que se fazem possíveis inúmeras atividades. No Brasil, onde mais de 80% da produção do

óleo é proveniente de operações offshore, são necessárias enormes estruturas para

possibilitar a sua produção a milhares de metros abaixo da superfície do mar, sem trazer

riscos ao meio ambiente. O Objetivo deste trabalho é analisar as perdas de carga de um

óleo pesado dentro das tubulações submarinas, propondo uma maneira de simulá-las de

forma simplificada, através do uso de correlações de black oil. Na execução do trabalho,

dados de laboratório e de produção de um campo real foram usados para a calibração do

modelo de simulação. Foram realizados testes com diversas combinações de correlação e

seus resultados analisados, buscando identificar aquela que trazia os resultados de menor

erro. Essa combinação de correlações foi então discutida na conclusão.

Palavras-chave: Perda de carga, Offshore, Tubulação, Óleo pesado, Correlações de Black

Oil

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Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Engineer.

ANALISYS OF SENSIBILITY OF MULTIPHASE FLOW CORRELATIONS

Caio Borges Barcellos Dias

September/2019

Advisors: Juliana Baioco e Daniel Cruz

Course: Mechanical Engineering

Petrol is the most important energy source of this time, because it allows for

countless activities. In Brazil, where more than 80% of the total oil production is from offshore

endeavors, there is a necessity for huge structures to allow the production of the oil from

thousands of meters under the surface, without harming nature. This work was developed to

analyze the energy losses of heavy oil through the subsea flow lines and to propose a way to

simplify the simulation of energy loss, by the use of black oil correlations. In this work,

laboratory and field data from a real production operation were used to calibrate the

simulation model. Tests were made with a variety of combinations of correlations in order to

identify the one that had the smaller errors. The best combination was then presented and

discussed in the conclusion.

Keywords: Energy loss, Offshore, Pipes, Heavy oil, Simulation, Black Oil correlations

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1. Sumário

1. Introdução ........................................................................ 1

Exploração offshore no Brasil .................................................................1 1.1.

Motivação ...............................................................................................3 1.2.

Objetivos ................................................................................................3 1.3.

Organização do Trabalho .......................................................................4 1.4.

2. Revisão Bibliográfica ...................................................... 5

Origem do petróleo .................................................................................5 2.1.

Sistemas Petrolíferos ..............................................................................6 2.2.

Tempo Geológico ...................................................................................8 2.3.

Tipos de Rochas na Bacia de Campos .................................................10 2.4.

Escoamento em Tubulações ................................................................10 2.5.

Escoamento Monofásico Laminar e Turbulento ....................................... 11 2.5.1.

Cálculos de perda de carga .................................................................... 12 2.5.2.

Escoamento Multifásico ........................................................................14 2.6.

Regimes de Escoamento ........................................................................ 15 2.6.1.

Comportamento de Hold up .................................................................... 18 2.6.2.

Emulsões ................................................................................................ 20 2.6.3.

Propriedades dos Fluidos no Escoamento Bifásico ..............................21 2.7.

Grau API ................................................................................................. 22 2.7.1.

Análise PVT ............................................................................................ 22 2.7.2.

Correlações de Black Oil ......................................................................... 22 2.7.3.

3. Estudo de caso ..............................................................28

Introdução ao sistema petrolífero e o sistema de produção ..................28 3.1.

Características da Tubulação ...............................................................29 3.2.

Histórico de Produção do Campo .........................................................30 3.3.

Análise da perda de carga do riser .......................................................33 3.4.

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Energia Cinética ..................................................................................... 33 3.4.1.

Energia Potencial .................................................................................... 33 3.4.2.

Perdas por fricção ................................................................................... 35 3.4.3.

Dados de produção ................................................................................. 36 3.4.4.

Análise de laboratório ...........................................................................39 3.5.

4. Simulação do escoamento multifásico .......................41

Criando o modelo .................................................................................41 4.1.

Escolha das Correlações de Black Oil ..................................................43 4.2.

Correlação de Gás em Solução ( ) ............................................... 43 4.2.1.

Viscosidade de Dead Oil e Live Oil.......................................................... 44 4.2.2.

Viscosidade de emulsão ......................................................................... 51 4.2.3.

Correlação de escoamento multifásico .................................................... 52 4.2.4.

5. Conclusão ......................................................................55

6. Referências ....................................................................56

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Lista de Figuras

Figura 1.1: Evolução dos empreendimentos offshore na indústria de óleo e gás. [7]

..................................................................................................................................... 2

Figura 2.1: Transformação termoquímica da matéria orgânica e a geração do

petróleo. [18] ................................................................................................................ 6

Figura 2.2: Relações espaciais entre rochas geradoras, reservatórios e selantes. [18]

..................................................................................................................................... 8

Figura 2.3: Escala do tempo geológico simplificada, mostrando os éons, eras, e as

divisões de períodos, épocas e idades. [19] ................................................................. 9

Figura 2.4: A esquerda folhelhos em preto e a direita Turbiditos. [9] ............... 10

Figura 2.5: Escoamento Laminar x Turbulento. [20] ........................................ 12

Figura 2.6: Diagrama de Moody, mostrando o fator de atrito em função do Número de

Reynolds para vários valores de rugosidade. [20] ...................................................... 14

Figura 2.7: Padrões de fluxo observados em oleodutos horizontais. [21] ........ 16

Figura 2.8: Regimes de escoamento vertical em escoamento bifásico. [8] ...... 17

Figura 2.9: Esquema representando um escoamento bifásico [8] .................... 18

Figura 2.10: Emulsão de água em óleo, óleo em água e emulsões complexas (água

em óleo em água) respectivamente. [13] .................................................................... 20

Figura 2.11 Gráfico demonstrando possíveis métodos de simulação de viscosidade

de emulsão ................................................................................................................. 21

Figura 2.12 Gráfico de razão de solubilidade por pressão [22] ........................ 24

Figura 3.1: Sistema de produção encontrado na Bacia de Campos [17] .......... 29

Figura 3.2: Perfil do riser. ................................................................................ 30

Figura 3.3: Gráfico com dados históricos do Reservatório. .............................. 31

Figura 3.4: Históricos de pressão na base e no topo do riser .......................... 32

Figura 3.5: Dados de perda de carga no riser distribuídos num gráfico de pressão por

vazão liquida .............................................................................................................. 36

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Figura 3.6: Faixas de vazão selecionadas ....................................................... 37

Figura 3.7: Dados de perda de carga por BSW a baixas vazões ..................... 37

Figura 3.8: Dados de perda de carga por BSW a médias vazões .................... 38

Figura 3.9: Dados de perda de carga por BSW a altas vazões ........................ 38

Figura 3.10: Dados de laboratório plotados em um gráfico de viscosidade por pressão

................................................................................................................................... 40

Figura 4.1: Modelo criado no Pipesim.............................................................. 42

Figura 4.2: Gráficos de viscosidade por pressão ............................................. 47

Figura 4.3: Gráficos de viscosidade por pressão ............................................. 48

Figura 4.4: Gráfico de viscosidade calculada x viscosidade experimental. ...... 49

Figura 4.5: Gráfico com dados calculados e experimentais de perda de carga 52

Figura 4.6: Comparação das diferentes correlações de regime de escoamento

horizontal.................................................................................................................... 53

Figura 4.7: Comparação das diferentes correlações de regime de escoamento vertical

................................................................................................................................... 54

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1. Introdução

Exploração offshore no Brasil 1.1.

Em 1953, o governo brasileiro criou a empresa estatal PETROBRAS, com o

objetivo de descobrir petróleo em território nacional e quebrar a dependência brasileira

da importação de combustíveis. Nas primeiras duas décadas após a sua criação, o

foco da exploração e produção estava concentrado na bacia do recôncavo baiano,

mas não satisfeita com as descobertas em terra até então a PETROBRAS deu uma

guinada para o mar no fim dos anos 1960. O resultado foi à descoberta do primeiro

campo de petróleo no mar em 1968, o Campo de Guaricema, na Bacia de Sergipe-

Alagoas. [7]

Nas décadas de 1970 e 1980 a PETROBRAS realizou grandes descobertas na

Bacia de Campos, sob o mar que banha o estado do Rio de Janeiro, que foram

responsáveis por levar a produção de 100 mil para impressionantes 500 mil barris de

óleo por dia em 1984 [7]. Quanto mais fundo se perfurava na Bacia de Campos

melhores eram os resultados encontrados, e a PETROBRAS teve um papel muito

importante em desbravando esse novo horizonte, como pode ser observado na Figura

1.1 que mostra a evolução dos desenvolvimentos offshore.

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Figura 1.1: Evolução dos empreendimentos offshore na indústria de óleo e gás. [7]

Por fim, as recentes explorações no pré-sal da Bacia de Santos aumentaram

as reservas brasileiras de tal maneira que hoje o Brasil não só é autossuficiente, mas

também se tornou um grande exportador de petróleo. A ANP reportou que no fim de

2018 a produção de óleo e gás no Brasil totalizou 3,406 milhões de barris de óleo

equivalente por dia, sendo a maior parte dessa produção oriunda de operações

offshore.

O foco na exploração offshore criou uma demanda pelo desenvolvimento de

diversas novas tecnologias que eram necessárias para desenvolvimentos cada vez

mais profundos. Entre essas inovações em engenharia submarina pode ser citada a

utilização experimental de risers flexíveis durante a completação dos campos

produtores de Enchova leste e Bonito na Bacia de Campos. Chama-se de riser o

trecho suspenso do duto que conecta a unidade de exploração e produção a um

equipamento no fundo do leito marinho.

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Motivação 1.2.

Em minha experiência trabalhando na indústria de óleo e gás, desenvolvi

diversos projetos que exigiram a compreensão de todo o sistema produtivo, do

reservatório até o separador na FPSO – Floating, Production, Storadge and Offloading

Unit – e durante meus estudos encontrei um desafio interessante: de maneira simples,

simular a perda de carga em um riser de produção, onde fluía uma mistura de água e

um óleo pesado. O desafio vinha em grande parte devido à complexidade do

escoamento multifásico e do comportamento da viscosidade de uma emulsão, no caso

da emulsão de água e óleo.

Simular a perda de carga de maneira simples auxilia na criação de simulações

do sistema de produção como um todo, o que por sua vez, permite tomar decisões

bem fundamentadas sobre como maximizar a produção. Também é essencial

entender a perda de carga para garantir que as ESPs – eletric submersible pump –

funcionem dentro do seu envelope de operação, de maneira segura e estável.

Esses foram apenas exemplos, mas existem incontáveis situações onde o

prever a perda de carga tem grande valor, e quanto mais fácil o seu cálculo, mais

vantajoso é para aqueles que trabalham com o no dia a dia da produção.

Objetivos 1.3.

Este trabalho tem como objetivo encontrar uma forma simples de simular a

perda de carga de uma mistura de água e óleo dentro de um riser de produção a partir

de correlações já existentes dentro de um software de simulação de escoamento

multifásico regularmente usado dentro da indústria de óleo e gás, o Pipesim.

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As simulações realizadas serão testadas contra dados reais de produção para

que sejam definidas as melhores correlações para descrever o comportamento do

fluido.

Organização do Trabalho 1.4.

Este trabalho está organizado em 5 capítulos. O capítulo 2 apresenta uma

revisão da literatura de sistemas petrolíferos, escoamento multifásico e escoamento

bifásico de óleo e gás dentro de tubulações. Ele também entra em detalhes sobre a

perda de carga e correlações empíricas usadas para calcular propriedades de óleo. O

capítulo 3 foca em um estudo de caso em que são apresentados dados de produção

de uma operação offshore, também é analisada a perda de carga no sistema. O

capítulo 4 apresenta uma simulação do riser estudado e são apresentados testes de

diferentes correlações de black oil cujos resultados são comparados com os dados

reais. No capítulo 5 são feitas conclusões baseadas nos estudos e resultados

apresentados, e é definida a melhor combinação de correlações para simular a perda

de carga do sistema. Finalmente, são apresentadas as referências bibliográficas

utilizadas neste trabalho.

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2. Revisão Bibliográfica

A revisão bibliográfica abordará os principais conceitos que são utilizados no

desenvolvimento do trabalho. Primeiramente, são apresentados alguns conceitos

básicos sobre a formação do petróleo e sistemas petrolíferos e petróleo no contexto de

produção e exploração. Em seguida, são apresentados conceitos importantes de

escoamento multifásico e alguns conceitos mais específicos a esse trabalho como

escoamentos bifásicos de óleo e gás e suas propriedades. Por fim, são tratados de

algumas correlações empíricas usadas na indústria de óleo e gás.

Origem do petróleo 2.1.

A formação do petróleo se dá através de uma sequência de processos que

necessitam da interação de três elementos: Matéria orgânica, sedimentos e condições

termoquímicas apropriadas. A matéria orgânica marinha é geralmente originada de

microrganismos e algas e para que ela se transforme em petróleo. Ela não pode sofrer

oxidação, por isso os sedimentos que são depositados com a matéria orgânica devem

possuir baixa permeabilidade, inibindo assim a circulação de água no seu interior. [18]

O tipo de hidrocarboneto gerado é definido pela intensidade do processo

térmico atuante sobre ela, como pode ser observado na Figura 2.1. Essa

transformação da matéria orgânica é dividida em quatro fases:

- Diagênese – Após a deposição bactérias iniciam a decomposição da matéria

orgânica, gerando metano biogênio, e em sequência com o aumento da pressão e

temperatura a matéria é convertida em querogênio - matéria orgânica amorfa com C,

H e O.

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- Catagênese – O incremento de temperatura divide as moléculas de

querogênio em moléculas menores gerando hidrocarbonetos líquidos e gás.

- Metagênese – O aumento subsequente da temperatura leva à quebra dos

hidrocarbonetos e à sua transformação em gás leve

- Metamorfismo – Caso o aumento de temperatura e pressão continue, o

hidrocarboneto gerado se degrada em uma transformação que resulta em grafite, gás

carbônico e um resíduo de gás metano.

Figura 2.1: Transformação termoquímica da matéria orgânica e a geração do petróleo. [18]

Sistemas Petrolíferos 2.2.

Um sistema petrolífero é um modelo que engloba todos os elementos e

processos geológicos necessários para a formação e acumulação de óleo e gás. A

rocha que deu origem ao petróleo recebe o nome de rocha geradora, e ele deve

migrar para outra onde se acumula, dita reservatório. Existem diversas maneiras que

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essa migração pode se dar, a explicação mais comum diz que a água nas rochas

geradoras levaria o óleo consigo durante os processos de compactação. Outra

explicação propõe que um microfraturamento das rochas geradoras facilitaria o fluxo

através do seu interior de baixíssima permeabilidade. [18]

A expulsão da rocha geradora recebe o nome de migração primária, e quando

o óleo que passa pela rocha reservatório é interceptado e contido por uma armadilha

geológica dá-se o nome de migração secundária. As rochas reservatório podem ter

diversas origens e características, mas é essencial que ela tenha uma alta porosidade

– espaços vazios no seu interior – para permitir o acúmulo dos hidrocarbonetos.

Após combinação de condições de geração, migração e reservatório, para que

se dê a acumulação de petróleo, é necessário que uma armadilha para interromper a

migração do petróleo para áreas de menor pressão e evitar que ele oxide e se

degrade, perdendo suas propriedades. A rocha que compõe a armadilha recebe o

nome de rocha selante e ela limita o tamanho do reservatório, suas características

principais são a impermeabilidade e a plasticidade. Duas classes de rocha que são

comumente encontradas como selantes são: os folhelhos e os evaporitos (sal).

Um sistema petrolífero então é descrito pelo conjunto de rocha geradora,

reservatório, selante e uma trapa. A Figura 2.2 mostra um exemplo de como um

desses sistemas pode se apresentar.

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Figura 2.2: Relações espaciais entre rochas geradoras, reservatórios e selantes. [18]

Tempo Geológico 2.3.

Para tratar de assuntos como a deposição de rochas que aconteceram há

milhões de anos atrás (Megaannum - Ma) foi criada a escala de tempo geológico, que

representa a linha de tempo desde a formação da terra até o presente, divida em

éons, eras, períodos, épocas e idades, que se baseiam em grandes eventos

geológicos na história do planeta. A Figura 2.3 representa uma versão simplificada da

escala de tempo geológico.

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Figura 2.3: Escala do tempo geológico simplificada, mostrando os éons, eras, e as divisões de

períodos, épocas e idades. [19]

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Tipos de Rochas na Bacia de Campos 2.4.

De acordo com o Sumário Geológico da Bacia de Campos publicado pela ANP

em 2017, as principais rochas geradoras dessa bacia sedimentar são folhelhos.

Folhelho é o nome uma rocha sedimentar clássica, que pertence a família rochas

argilácea. Eles são compostos por grãos do tamanho da argila que formam lâminas

finas e paralelas, podendo conter grãos de outros minerais. [2]

As rochas reservatório nessa região são na sua maioria túrbiditos. Essa é

classificação dada para depósitos sedimentares originados por correntes de turbidez

submarina, responsáveis por levar grandes quantidades de sedimento para o fundo do

mar. As rochas selantes mais comuns são os folhelhos, podemos ver exemplos das

rochas citadas na Figura 2.4.

Figura 2.4: A esquerda folhelhos em preto e a direita Turbiditos. [9]

Escoamento em Tubulações 2.5.

Para desenvolver o estudo é necessário um entendimento de como funciona o

escoamento de fluidos dentro de uma tubulação. No caso da produção de petróleo é

necessário entender como é o escoamento monofásico e multifásico, escoamentos

turbulentos e laminares. A direção do fluxo em relação ao campo gravitacional e suas

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influências nos regimes de escoamento. Finalmente, deve-se entender como as

propriedades do fluido influenciam o comportamento do escoamento. Nesse trabalho,

assumimos que o fluido em questão tem comportamento Newtoniano, que de acordo

com Economides (1993), é apropriado para a maior parte dos fluidos de

hidrocarbonetos. [8]

Escoamento Monofásico Laminar e Turbulento 2.5.1.

Escoamentos monofásicos podem ser caracterizados como laminar ou

turbulento de acordo com o valor de um grupo adimensional, o número de Reynolds. O

número de Reynolds apresenta a relação entre as forças de inercia, que pesam para

manter o movimento do fluido na direção do fluxo, e as forças de arrasto, que tendem

a frear o movimento do fluido. Para escoamentos em tubos circulares a sua equação

é:

(2.2)

Onde é o número de Reynolds, é a massa específica do fluido, é a sua

viscosidade absoluta, D é o diâmetro interno da tubulação e V é a velocidade média do

fluido no escoamento. Quando o escoamento é laminar, as partículas do fluido

percorrem trajetórias bem definidas e paralelas entre si. Escoamento turbulento, por

outro lado, é caracterizado por movimentos irregulares, onde as componentes de

velocidades das partículas são aleatórias nas três dimensões do escoamento. A

condição de escoamento laminar ou turbulento tem uma forte influência na perda de

carga e no perfil de velocidade dentro do tubo. A Figura 2.5 representa a diferença

entre esses dois tipos de escoamento.

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Figura 2.5: Escoamento Laminar x Turbulento. [20]

A transição de laminar para turbulento em tubos circulares geralmente acontece

quando o numero de Reynolds é igual a 2100, mas ele pode variar dependendo de

outros fatores como a rugosidade do tubo.

Cálculos de perda de carga 2.5.2.

Perdas de carga em uma distância L, de um fluido monofásico pode ser obtido

solucionando a equação do balanço de energia mecânica, que em forma diferencial é

(2.3)

Onde é a pressão, é a velocidade, é a densidade, é a gravidade, é a

elevação, é o fator de fricção de Darcy, D é o diâmetro da tubulação e é o

trabalho.

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13

No caso de fluidos incompressíveis ( = constante), e quando não existem

bombas, compressores ou turbinas na tubulação, essa equação pode ser integrada,

resultando em

(2.4)

Para fluidos se movendo da posição 1 para posição 2, referentes a e . Os

três termos a direita da equação são as contribuições da energia potencial, energia

cinética, e atrito para a perda de energia total

(2.5)

, a perda de carga por mudança de energia potencial. Ela contabiliza a

mudança de pressão causada pelo peso da coluna de fluido (coluna hidrostática). Em

caso de tubulações horizontais, ela será zero. A partir da equação 2.5

(2.6)

, a perda de carga por mudança de energia cinética. Ela contabiliza a

perda de carga que resulta da mudança de velocidade do fluido entre a posição 1 e 2.

Ela será zero se o fluido for incompressível, exceto quando a sessão transversal da

tubulação muda. A partir da equação 2.5

(2.7)

, a perda de carga por fricção. A perda de carga por fricção é obtida a

partir da equação de Darcy–Weisbach,

(2.8)

Onde é o fator de fricção de Darcy. Em um escoamento laminar, o fator de

fricção é uma função do numero de Reynolds,

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14

(2.9)

Onde k é o comprimento das protuberâncias no interior do tubo. O fator de

fricção pode ser obtido através do ábaco de Moody, representado na Figura 2.6.

Figura 2.6: Diagrama de Moody, mostrando o fator de atrito em função do Número de Reynolds

para vários valores de rugosidade. [20]

Escoamento Multifásico 2.6.

Escoamento multifásico – o fluxo simultâneo de duas ou mais fases de um

fluido – acontece na maioria das operações de produções de petróleo, em poços

produtores de óleo, produtores de gás e em alguns tipos de poços injetores. Durante a

produção, quando a pressão cai abaixo do ponto de bolha – é a combinação de

pressão e temperatura onde a primeira bolha de vapor se forma em um líquido que é a

combinação de dois ou mais componentes – o gás se desprende do líquido e daquele

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ponto em diante o escoamento se torna bifásico de gás e líquido. No caso de sistema

com produção considerável de água, o escoamento de óleo-água-gás também pode

ser considerado bifásico, onde uma das fases é liquida e a outra é gasosa.

Regimes de Escoamento 2.6.1.

As características do escoamento multifásico dependem muito da distribuição

das fases dentro da tubulação, que por sua vez depende da direção do fluxo em

relação à gravidade. Regimes de escoamento são características qualitativas para

descrever a distribuição das fases. A Figura 2.7 ilustra diferentes padrões de

escoamento dentro de uma tubulação horizontal. Alguns fatores que tem grande

influência no padrão do fluxo são as velocidades do líquido e do gás e a proporção de

gás/líquido. Em escoamentos com uma pequena relação gás/líquido e velocidades

muito altas de líquido, é comum observar o fluxo com bolhas dispersas (regime 1).

Para baixas velocidades de líquido e gás, um fluxo estratificado liso ou ondulado

(regimes 2 e 3) é esperado. Quando o líquido tem uma velocidade intermediária,

ondas rolantes de líquido se formam (regime 4). Com o aumento da velocidade do

líquido, as ondas crescem e formam tampões (regime 5) ou um fluxo de golfadas

(regimes 6 e 7). Para velocidades de gás muito altas, o fluxo anular é observado

(regime 8).

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16

Figura 2.7: Padrões de fluxo observados em oleodutos horizontais. [21]

Em escoamentos bifásicos verticais, onde o fluxo está indo contra a gravidade,

os regimes são divididos em 4 grupos: bolha, golfadas, transição ou caótico e anular.

Eles acontecem progressivamente com o aumento da vazão de gás, dada uma vazão

liquida. A Figura 2.8 mostra esses regimes e as regiões aproximadas onde eles

acontecem como uma função das velocidades superficiais do líquido e do gás.

A seguir uma breve descrição dos quatro tipos de fluxo:

Bolha: Bolhas de gás dispersas em uma fase contínua de líquido

Golfadas: Com o aumento da vazão de gás, as bolhas se unem formando

bolhas maiores, chamadas bolhas de Taylor, que eventualmente ocupam uma sessão

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transversal completa do tubo. Entre as grandes bolhas de gás encontram-se golfadas

de líquido com bolhas menores dispersas.

Transição ou caótico: O aumento da vazão de gás resulta em bolhas instáveis

que colapsam resultando em um fluxo caótico, muito turbulento com ambas as fases

dispersas.

Anular: O gás passa a ser uma fase contínua e o líquido flui na forma de gotas

dispersas no núcleo central de gás. A parede do tudo é coberta por um filme líquido.

Figura 2.8: Regimes de escoamento vertical em escoamento bifásico. [8]

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Comportamento de Hold up 2.6.2.

Nos escoamentos de duas fases, o espaço da tubulação ocupado por uma das

fases geralmente difere da proporção da vazão volumétrica dessa fase. Um exemplo

disso pode ser observado na situação em que existe um escoamento de duas fases, α

e β, onde α é menos densa que β, como mostrado na Figura 2.9. Geralmente no

escoamento descrito a fase mais leve (α) se move mais rapidamente que a fase mais

densa (β). Nesse fato, chamado de hold up, a fração do volume ocupado pela fase

mais densa será maior que a fração da vazão volumétrica da fase com menor

densidade entrando na tubulação – o fluido mais denso é segurado na tubulação em

relação à fase mais leve.

Figura 2.9: Esquema representando um escoamento bifásico. [8]

O hold up líquido , é definido como a fração do espaço de um segmento de

um tubo ocupado por um líquido em um dado instante, ou seja

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19

(2.10)

É necessário determinar o hold up do líquido para calcular informações do

escoamento como: a densidade da mistura, velocidade do gás e do líquido,

viscosidade efetiva e a transferência de calor. Em casos de escoamentos irregulares,

o hold up do líquido muda em função do espaço e do tempo e deve ser calculado pela

sua média no tempo.

O hold up do líquido não pode ser calculado analiticamente, para isso, é

necessário usar correlações empíricas, que são funções de variáveis como

propriedades do líquido e do gás, regime de escoamento, geometria da tubulação e

inclinação.

O hold up do gás, , por sua vez é calculado pela expressão 2.11

(2.11)

Outro parâmetro usado para descrever o escoamento bifásico é a fração

volumétrica de entrada de cada fase, λ, definido como

(2.12)

e

(2.13)

Onde e são as vazões volumétricas de cada fase. As frações

volumétricas de entrada e também são chamadas de hold up sem

escorregamento

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Emulsões 2.6.3.

Emulsão é a mistura de dois líquidos imiscíveis, onde um encontra-se na

disperso na forma gotículas fase interna na fase externa (fase continua). Para o caso

de emulsões em sistemas petrolíferos, um líquido é aquoso e o outro é óleo cru.

Emulsões num campo de produção de petróleo podem ser separadas em três

grandes categorias: água em óleo (A/O), óleo em água (O/A) e múltiplas ou emulsões

complexas. A Figura 2.10 mostra esses três tipos de emulsão.

Figura 2.10: Emulsão de água em óleo, óleo em água e emulsões complexas (água em óleo

em água) respectivamente. [13]

Em sistemas de óleo e água com BSW baixo, o óleo geralmente é uma fase

continua. Com o aumento do BSW é chegado um ponto onde uma inversão de fase

acontece e a água se torna a fase contínua. Esse é o ponto crítico de inversão de fase

e ele normalmente ocorre entre 55% e 70% BSW. A viscosidade da emulsão

geralmente alcança o seu máximo logo antes do ponto de inversão. A viscosidade de

emulsões pode ser múltiplas vezes maior que a viscosidade de qualquer um dos

líquidos que a compõe, como pode ser observado na Figura 2.11 Gráfico

demonstrando possíveis métodos de simulação de viscosidade de emulsão.

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Figura 2.11 Gráfico demonstrando possíveis métodos de simulação de viscosidade de emulsão

Propriedades dos Fluidos no Escoamento 2.7.

Bifásico

Propriedades de escoamentos multifásicos podem ser definidas por três

métodos básicos:

Medição direta: é o método mais preciso geralmente feita pela análise PVT em

laboratórios especializados, é o mais caro dos três.

Determinação através de correlações: como a Black oil, tem um nível de

precisão razoável, bastante usada para óleos normais e pesados.

Modelo composicional: Adequada para óleos leves e gás.

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Grau API 2.7.1.

Criado pelo American Institute of Petroleum (API), o Grau API é uma escala

que mede a densidade de líquidos derivados do petróleo e é obtido pela seguinte

equação 2.1:

(2.1)

Para Petróleos com graus API maior que 30 são considerados leves; entre 22 e

30 graus são médios; abaixo de 22 graus API são pesados; com grau API inferior a 10,

são petróleos extrapesados. Quanto maior o grau API, maior o valor do produto no

mercado.

Análise PVT 2.7.2.

A análise de comportamento de fases PVT é um estudo laboratorial do

comportamento do óleo cru a variações de pressão e temperatura. Ela deve ser

realizada em amostras de fluidos representativas do reservatório e devem ser

coletadas na primeira oportunidade possível, preferencialmente durante a perfuração

do poço de exploração. São importantes para validar propriedades de teste de poço e

garantir uma interpretação significativa. A partir desses estudos é possível avaliar qual

o impacto das variações de pressão e temperatura na composição química e nas

propriedades dos fluidos como: densidade, viscosidade, pressão de saturação, razão

gás-óleo, compressibilidade, fator de encolhimento, dentre outros e, portanto,

caracterizar o óleo e o gás em cada condição específica de pressão e temperatura.

Correlações de Black Oil 2.7.3.

Desde o inicio dos anos 1940, engenheiros dos Estados Unidos descobriram a

importância de desenvolver correlações empíricas para as propriedades PVT. A

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abordagem black oil é largamente utilizada na prática e grande maioria dos estudos de

reservatório adota esta modelagem, por permitir uma análise mais rápida e barata.

Correlações black oil foram desenvolvidas especificamente para sistemas de

óleo/gás/água e são muito usadas para prever o comportamento das fases no fluxo de

um poço de petróleo. Quando calibradas para situações específicas, elas podem

produzir dados de comportamento de fases precisos, a partir de um mínimo de dados

de entrada.

As quantidades de cada fase são definidas em condições de stock tank,

enquanto propriedades em outras pressões e temperaturas são calculadas através

das correlações. Entre as principais propriedades para determinar o comportamento

dos hidrocarbonetos, temos a razão de solubilidade (P,T), que é usada para calcular

a quantidade de gás dissolvido em uma temperatura e pressão específica:

O Volume de gás dissolvido em óleo (na condição de stock tank) é dado pela

equação:

(2.14)

Onde é o volume de óleo. O volume de gás livre (na condição de stock tank),

por sua vez é dado por

(2.15)

Onde GOR – gas-oil ratio – é a fração de gás dissolvido em óleo.

Em condição de stock tank . O ponto de bolha (T) pode ser

encontrado calculando a pressão em que todo o gás está dissolvido em óleo.

, como mostra o gráfico na Figura 2.12

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Figura 2.12 Gráfico de razão de solubilidade por pressão [22]

Para pressões abaixo do ponto de bolha o óleo é saturado (saturated), ou seja,

gás não é mais capaz de se dissolver no óleo a essa pressão e temperatura. Para

pressões acima do ponto de bolha, não existe fase de vapor e o óleo é chamado de

subsaturado (undersaturated). Pressões acima da pressão de stock tank ( ) o óleo

contem gás dissolvido e é chamado de live oil. Óleo na pressão de stock tank é

conhecido como dead oil.

As correlações de black oil são usadas para calcular as propriedades

apresentadas na Tabela 2.1:

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Tabela 2.1: Propriedades dos fluidos bifásicos óleo/gás

Propriedade Nom.

Razão de solubilidade

Fator volume de formação

Densidade relativa do gás dissolvido

Viscosidade do óleo saturado

Viscosidade do gás

Pressão e Temperatura pseudo-críticas

Fator de compressibilidade

Tensão superficial

Programas de simulação de escoamento multifásico como o PIPESIM possuem

diversas opções de correlações para calcular essas propriedades, como:

Para a Razão de solubilidade ( ) e o ponto de bolha ( : Lasater,

Standing, Vasquez and Beggs, Kartoatmodjo and Schmidt, Glasø , De Ghetto et al, or

Petrosky and Farshad.

Para o fator volume de formação ( ): Standing, Vasquez and Beggs,

Kartoatmodjo and Schmidt.

No cálculo das viscosidades de dead oil e live oil: Beggs and Robinson,

Glasø, Kartoatmodjo, De Ghetto, Hossain, Petrosky, Elsharkawy, Chew and Connally,

Khan or Bergman

Viscosidade da mistura oleo-água: Woelflin, Brinkman, Vand, Richardson,

Levinton and Leighton or Brauner and Ulman

O desenvolvimento das equações de cada correlação se dá através de testes

em laboratório com muitas amostras de óleo. As características do óleo usado

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determinam faixas de grau API, temperatura e viscosidades recomendadas para

garantir resultados significativos. A Tabela 2-2 mostra as faixas de aplicação para

algumas correlações.

Tabela 2.2: Faixas de aplicação para correlações de Black oil. [1]

Correlação de Petrosky and Farshad ( e ):

A correlação de Petrosky e Farshad contêm equações para estimar ponto de

bolha, gás em solução, fator volume de formação de óleo, e fator de compressibilidade

para óleo do golfo do México. A correlação foi desenvolvida a partir de amostras

tiradas de regiões produtoras de petróleo offshore no Texas e Louisiana. Os autores

dizem que essas correlações fornecem resultados melhores do que outras correlações

feitas na mesma região como aquelas publicadas por Standing, Vazquez e Beggs,

Glaso e Al-Marhoun.

A fórmula para o gás em solução é:

[(

)

]

(2.16)

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Onde A(T) é uma função da temperatura do fluido e do °API e C é uma

constante de calibração incluída no software Pipesim

(2.17)

Quando um ponto de calibração é disponibilizado pelo usuário, então C é

calculado para garantir que o ponto de calibração fornecido seja uma solução da

equação de gás em solução. Quando não é fornecido nenhum ponto de calibração o

Pipesim usa C=1.

A Pressão do ponto de bolha para uma determinada temperatura é a pressão

quando todo o gás está dissolvido, ou seja o gás em solução é igual ao GOR e pode

ser determinado a partir da solução para a equação do gás em solução

(2.18)

Correlação de Hossain et al - Viscosidade do óleo ( )

A correlação de Hossain et al. para dead oil viscosity é valida apenas para

óleos pesados (10 < API < 22.3) e a fórmula da viscosidade de dead oil é:

(2.19)

(2.20)

(2.21)

Correlação de Richardson - Viscosidade da emulsão ( )

A correlação de Richardson calcula a viscosidade da emulsão em ambos os

lados do ponto de inversão com a fórmula:

(2.22)

Onde é a viscosidade da fase contínua e é a fração do volume da fase

dispersa. k é uma constante que pode ser fornecida pelo usuário. Os valores padrão

são 3.3 e 6.6.

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3. Estudo de caso

O presente capítulo busca caracterizar os sistemas de produção de petróleo em

águas profundas na Bacia de Campos, incluindo algumas características físicas e

propriedades do fluido do sistema estudado. Também serão apresentados os dados

de produção que servirão de parâmetro de comparação para as simulações.

Introdução ao sistema petrolífero e o 3.1.

sistema de produção

Para entender o sistema de produção, devemos começar observando o seu

sistema petrolífero. Assumindo que o campo analisado é similar a outros na sua região

e considerando que ele está localizado na Bacia de Campos, podemos inferir que seu

sistema petrolífero é seguinte:

De acordo com o sumário geológico da ANP, a principal rocha geradora da

bacia são folhelhos da idade Barremiano/Aptiano (~120 Ma). Existe uma grande

diversidade de rochas reservatório nessa bacia, mas a maior parte do óleo produzido

tem origem em turbiditos do Cretáceo Superior (60 a 100 Ma) e Paleógeno (30 a 60

Ma). Os principais selos da Bacia de campos são folhelhos de idade Aptiano (~120

Ma) e Turoniano (~10 Ma) [2].

O óleo produzido nesse reservatório é considerado pesado, com 16° API,

semelhante a outros óleos produzidos na mesma região, como no campo de Marlim,

cujo óleo apresenta densidades entre 17° e 21° [16].

Considerando que esse é um reservatório grande, múltiplos poços foram

perfurados e completados para escoar a produção. Tais poços são interligados por

tubulações e manifolds sobre o leito do mar e porque nesse caso os poços não são

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capazes de fluir naturalmente, sua produção é bombeada através de ESPs, que dão a

energia necessária para o líquido subir pelo riser para o FPSO, chegando com uma

pressão que seja segura para os equipamentos na superfície, geralmente entre 5bar e

15 bar. Na Figura 3.1 podemos ver um exemplo de um sistema semelhante ao

descrito.

Figura 3.1: Sistema de produção encontrado na Bacia de Campos [17]

Características da Tubulação 3.2.

A tubulação estudada está dividida em duas sessões: a primeira, horizontal,

onde a tubulação corre sobre o leito marinho (flowline), possuindo uma extensão de 7

km e a segunda, vertical (riser), que sobe por quase 2 km até o navio. Essa sessão

possui o perfil apresentado na Figura 3.2, onde o eixo X é distância horizontal e o eixo

Y é a distancia vertical em metros. Os detalhes das tubulações podem ser

encontrados na Tabela 2.1

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Figura 3.2: Perfil do riser.

Tabela 3.1: detalhes da tubulação.

Histórico de Produção do Campo 3.3.

O campo em questão possui diversos medidores multifásicos que permitem

monitorar a produção de água, óleo e gás dos poços. Medidores de pressão e

temperatura na base e no topo do riser, que possibilitam o monitoramento da perda de

carga real. Baseado nessas informações pode-se analisar seus dados para entender

como ele se comportou no passado e sua situação atual.

Como muitas das informações usadas são propriedades da empresa, por

questões de sigilo, os gráficos terão valores numéricos nos eixos X e Y omitidos,

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exceto pelos valores de BSW ( basic sediment and water ) que representa a vazão de

água sobre a produção total. Não obstante, ainda podemos analisar as tendências do

campo e tirar conclusões a respeito do seu histórico e situação atual.

Figura 3.3: Gráfico com dados históricos do Reservatório.

A Figura 3.3 apresenta cinco dados medidos desde o início da vida do campo:

Water rate (produção diária de água), Oil Rate (produção diária de óleo), GOR – Gas

Oil Ratio (produção de gás por volume de óleo), LIQ (produção liquida diária), BSW

average (média diária do BSW).

Podemos observar que no início da vida do campo a produção de óleo

representa 100% da produção líquida, isso indica que os poços perfurados nesse

campo foram bem planejados, demorando até que começassem a produzir água.

Depois dos primeiros anos, é de se esperar que a produção de óleo diminua, enquanto

o reservatório é depletado. O desenvolvimento da produção de água com o passar do

tempo é estável, pode-se ver um aumento do BSW e um aumento da produção diária

enquanto a produção total liquida se mantem estável ou aumenta ligeiramente.

Além dos hidrocarbonetos, é muito comum a produção de água em

reservatórios. A água produzida pode ter sua origem em acumulações de água

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(aquíferos) ou pode ser devido à água injetada em poços que visam aumentar a

recuperação de óleo.

Pela análise do gráfico, percebe-se que a produção de gás nesse campo é

estável, pois o GOR se mantem na mesma faixa desde o início da sua vida. Sobre a

produção líquida, é interessante comentar que durante toda a vida do campo ela não

varia drasticamente, isso geralmente acontece, pois os equipamentos desse sistema

são planejados para uma determinada capacidade produção. Voltando a atenção para

o período de tempo mais recente, percebe-se que existe uma tendência por um ligeiro

aumento. Possíveis explicações para isso são: otimizações, mudança ou instalação de

novos equipamentos e perfuração de novos poços.

O próximo passo é analisar os dados de pressão medidas na base e no topo do

riser. A. Figura 3.4 não inclui valores nos eixos X e Y para manter as informações da

empresa protegidas.

Figura 3.4: Históricos de pressão na base e no topo do riser

Primeiramente, percebe-se a instabilidade das pressões no início da vida do

campo, mas essa instabilidade não afeta os equipamentos na unidade de produção

por que existem sistemas para garantir que a o líquido que chega ao separador

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(primeiro equipamento que recebe a produção no FPSO) esteja na pressão adequada,

como pode ser visto nas medições do FPSO Turret Pressure. Eventualmente as

pressões estabilizam e pode-se observar uma clara tendência: a perda de carga

aumenta com o tempo, chegando a crescer em mais de 30%. Existem alguns motivos

para esse aumento, que serão explicados na próxima seção.

Análise da perda de carga do riser 3.4.

A perda de carga no riser segue a função descrita na equação (2.8) de perda

de carga em tubulações, discutida no item 2.5.2.

Nessa seção será discutida participação de cada termo da equação acima para

a perda de carga total.

Energia Cinética 3.4.1.

A produção desse reservatório é constituída de uma mistura de um óleo pesado

e água, dois líquidos incompressíveis. Apesar do diâmetro da tubulação variar, essa

mudança é muito pequena.

A partir dessas duas constatações, de acordo com o item 2.6.2, pode-se

concluir que a participação da energia cinética é muito baixa e por isso ela será

desconsiderada nessa análise.

Energia Potencial 3.4.2.

As perdas geradas pela mudança em energia potencial são consequência da

coluna hidrostática e seguem a equação (2.6).

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Essa equação é uma função da gravidade (constante), altura (constante) e da

densidade (variável). Como observamos no gráfico durante a vida do campo a

quantidade de água produzida muda com o passar do tempo, e como a água e o óleo

têm densidades diferentes, a densidade do líquido também irá mudar de acordo com a

seguinte equação

(3.1)

Onde é a densidade do líquido, é a densidade da água produzida e é

a densidade do óleo. A densidade da água pura vale 1.0, quando tem sais dissolvidos

pode chegar até 1.3. Nesse caso, vamos assumir uma densidade e a

densidade do óleo pode ser obtida a partir do seu grau API através da equação (2.1)

(3.2)

Substituindo os valores, temos:

(3.3)

O cálculo da densidade de uma mistura gás/líquido necessita do conhecimento

do Liquid Hold up, que será considerado mais para frente nas simulações. Por

enquanto, deve-se focar na correlação entre as perdas por mudança de energia

potencial e o BSW. Como a densidade da água é maior que a do óleo, a densidade da

mistura, e consequentemente a perda de carga, aumenta linearmente com a o

aumento da produção de água. O que em parte, explica o que foi observado no

gráfico. Os valores de densidade do líquido a partir do BSW podem ser encontrados

na Tabela 3.2

Tabela 3.2: Densidades da mistura líquida em diferentes BSWs

BSW 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%

0.96 0.97 0.99 1.00 1.01 1.02 1.04 1.05 1.06

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Perdas por fricção 3.4.3.

As perdas por fricção seguem a equação de Darcy (2.7)

(3.4)

Nesse caso, a distância L e o diâmetro da tubulação D são constantes,

enquanto a velocidade do fluido e o fator de fricção de Darcy podem variar. A perda de

carga é diretamente proporcional à velocidade, que por sua vez varia linearmente com

a vazão do sistema, portanto podemos inferior que aumento da vazão resultará em um

crescimento das perdas por fricção.

O fator de fricção de Darcy, no caso de escoamentos turbulentos, será uma

função do número de Reynolds e da rugosidade do tubo. A rugosidade de um tubo

pode variar com o seu uso e o tempo, mas para simplificar, será considerada uma

constante, enquanto o número de Reynolds mudará com o BSW, pois ele depende

tanto da viscosidade como da densidade da mistura. A relação da densidade com o

BSW já foi discutida no item 3.4.2. No caso da viscosidade, existe um crescimento

com o BSW até alcançar seu máximo, geralmente entre 55% e 70% de BSW, onde

ocorre o ponto de inversão e a mistura passa de uma emulsão de água em óleo para

uma de óleo em água. O numero de Reynolds é inversamente proporcional a

viscosidade e como o fator de fricção é inversamente proporcional ao número de

Reynolds, a perda de carga deve ser diretamente proporcional a viscosidade.

No caso das perdas por fricção, espera-se que ela aumente com a vazão. Caso

a vazão seja constante, o aumento do BSW resulta no aumento das perdas chegando

ao seu máximo logo antes do ponto de inversão, a partir deste ponto elas diminuem.

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Dados de produção 3.4.4.

Agora que estão claros quais fatores mais influenciam a perda de carga, os

dados de produção podem comprovar se a análise teórica da perda de carga estava

correta. O gráfico na Figura 3.5 mostra a perda de carga no eixo Y e a vazão no eixo

X, enquanto a cor dos pontos indica a faixa de BSW. Novamente os eixos não

apresentam valores propositalmente.

Figura 3.5: Dados de perda de carga no riser distribuídos num gráfico de pressão por vazão

liquida

Observando-se as cores dos pontos no gráfico é possível ver a influência do

BSW na perda de carga. Vermos os pontos claros (valores baixos de BSW)

majoritariamente na metade inferior do gráfico e pontos mais escuros no topo. Isso

mostra como valores baixos de BSW estão relacionados com menores perdas de

carga. Como foi discutido no item 3.4.2, isso acontece devido ao peso reduzido da

coluna hidrostática e viscosidades de emulsão menores, mais próximas à viscosidade

do óleo. Também se pode ver um aumento da perda de carga com o aumento da

vazão que é explicado pelo aumento da velocidade do fluxo e consequentemente

aumento das perdas por fricção.

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Ao escolher uma vazão e fixa-la, se torna mais fácil observar os fenômenos

resultantes da mudança de conteúdo de água na emulsão. Para isso três faixas de

vazão foram selecionas como mostra a figura e os dados foram usados para plotar

novos gráficos de perda de carga x BSW.

As faixas de vazão 1, 2 e 3, que podem ser observadas na Figura 3.6 foram

selecionadas e os dados contidos nelas foram usados para plotar os gráficos nas

Figuras: Figura 3.7, Figura 3.8 e Figura 3.9.

Figura 3.6: Faixas de vazão selecionadas

Figura 3.7: Dados de perda de carga por BSW a baixas vazões

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Figura 3.8: Dados de perda de carga por BSW a médias vazões

Figura 3.9: Dados de perda de carga por BSW a altas vazões

Em todos os gráficos vê-se um padrão se repetindo, o aumento do BSW resulta

em maiores perdas de carga, até um ponto onde esse comportamento se inverte, esse

é o ponto de inflexão e nas três curvas ele se localiza entre os valores de 50% e 60%

de BSW. Tanto as perdas por energia potencial quanto perdas por fricção têm sua

participação no perfil dessas curvas. O peso da coluna hidrostática aumenta

linearmente com a variação de BSW, contribuindo linearmente com a perda de carga

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total. As perdas por fricção são muito influenciadas pelo comportamento da emulsão.

A viscosidade da mistura água em óleo aumenta quanto maior a vazão de água, até o

ponto onde ela é máxima, a partir de então a emulsão se torna óleo em água e tanto a

viscosidade como a perda de carga diminuem rapidamente.

A água produzida não tem nenhum valor comercial, então imaginasse que o

aumento do BSW é sempre ruim, mas a redução da perda de carga pode possibilitar o

aumento da vazão liquida e consequentemente a quantidade de óleo produzido. Esse

cenário pode ser visto, por exemplo, em sistemas onde bombas são usadas como

método de elevação artificial, e será discutido em mais detalhes na conclusão.

Análise de laboratório 3.5.

Como em grande parte das operações comerciais de produção de petróleo,

durante a perfuração de poços de exploração no reservatório em questão, algumas

amostras foram coletadas e enviadas para laboratórios, onde através de testes PVT,

muitas informações sobre o óleo foram aferidas. Essas informações podem ser usadas

diretamente em simulações, mas nesse estudo elas serão usadas para calibrar a

simulação usando correlações de black oil.

Um dos testes realizados foi o estudo da influência da pressão na viscosidade

do óleo cru. O fluido, inicialmente na pressão de stock tank é pressurizado até

condições semelhantes a do reservatório, e durante esse processo são feitas diversas

medições da sua viscosidade. A viscosidade na condição inicial também é conhecida

como viscosidade de dead oil e o desenvolvimento da viscosidade é chamado de

viscosidade de live oil. O gráfico a seguir mostra o comportamento dessas

viscosidades em duas temperaturas diferentes: 32,22°C e 56,66°C. Novamente os

dados reais de viscosidade foram ocultados para manter o sigilo da informação.

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Figura 3.10: Dados de laboratório plotados em um gráfico de viscosidade por pressão

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4. Simulação do escoamento multifásico

Este capítulo irá entrar em detalhes a respeito da simulação do riser feita no

software Pipesim. Começando pela criação do modelo, e então, será discutido como

foram feitas as escolhas das correlações de black oil, as correlações de regime de

escoamento e de viscosidade da emulsão.

Os dados gerados pela simulação foram comparados com uma seleção de

pontos apresentados na Figura 3.9, todos com vazão semelhante e valores de BSW

variando entre 0% e 70%.

Criando o modelo 4.1.

A Figura 4.1 mostra o riser modelado no programa Pipesim, para criar esse

modelo é necessário conhecer informações da geometria da tubulação como o seu

diâmetro interno, espessura da tubulação, rugosidade, material e distribuição no

espaço, a Tabela 2.1 mostra algumas dessas informações.

Também é necessário informar a temperatura no ambiente e a condutividade

do tubo para permitir o programa simular as trocas de calor de maneira adequada, já

que a temperatura do fluido tem uma grande influência nas suas propriedades.

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Figura 4.1: Modelo criado no Pipesim

Como a flowline e o riser leva a produção do leito marinho até a superfície, ele

começa no fundo do mar onde a temperatura é de aproximadamente 3°C em um

ambiente aquoso até a superfície onde a temperatura se eleva à 26°C, eventualmente

mudando de meio quando fica suspenso no ar por uma pequena fração do seu

comprimento.

Durante a criação desse modelo, informações como a composição do óleo

produzido e a presença de parafina na produção foram incluídas. No caso, não foi

considerada nenhuma produção de parafina.

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Escolha das Correlações de Black Oil 4.2.

Correlação de Gás em Solução ( ) 4.2.1.

Para definir a correlação mais adequada criou-se uma tabela com as

informações conhecidas do óleo como °API, GOR, massa específica do óleo, massa

específica da água, massa específica do gás, pressão e temperatura de reservatório.

Usando as equações das correlações disponíveis no software compararam-se os

valores obtidos com valores experimentais de conhecidos para diversas

combinações de pressão e temperatura. A Tabela 4.1 mostra os erros no cáculo de

em relação a combinação de P e T. Os valores foram omitidos para preservar o sigilo

da informação.

Tabela 4.1: Erro do gás em solução por correlação e ponto (P,T)

As três melhores correlações foram usadas para testar o ponto de bolha , os

resultados podem ser observados na tabela 4.2.

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Tabela 4.2: Erro do ponto de bolha por correlação e ponto (P,T)

A que apresentou os melhores resultados foi a de Petrosky e Farshad.

Viscosidade de Dead Oil e Live Oil 4.2.2.

Existem diversas correlações de black oil e testar todas pode ser trabalhoso, e

muitas vezes elas podem não ser adequadas para o fluido estudado. Por isso algumas

correlações foram selecionadas a partir das suas faixas de aplicação apresentadas na

tabela para testar os valores de viscosidade. Como foi informado anteriormente, o óleo

produzido desse reservatório tem 16 °API, essa informação foi usada para escolher as

correlações apropriadas.

As seguintes correlações marcadas de verde na Tabela 4.3 foram selecionadas

para serem testadas.

Tabela 4.3: correlações escolhidas para serem testadas

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Uma vez selecionadas as correlações, criou-se um novo modelo no Pipesim,

dessa vez muito mais simples, apenas uma tubulação de 1m de comprimento sem

troca de calor, pois o objetivo era apenas entender como a viscosidade variava em

função da temperatura e da pressão. Nesse caso, o input era o líquido na entrada da

tubulação, cujas temperaturas e pressões eram as mesmas dos testes PVT,

mostrados no gráfico da Figura 3.10: Dados de laboratório plotados em um gráfico de

viscosidade por pressão.

O Pipesim por sua vez calculava as viscosidades do óleo para cada uma

dessas combinações (Pi,Tj) e era possível acessar essas informações no relatório

resultante da análise do sistema. Como foram selecionadas diversas correlações de

dead oil e live oil, todas as combinações foram testadas, totalizando 20 simulações.

Vale observar que o cálculo da viscosidade de live oil é uma função da

viscosidade de dead oil, e durante as contas algumas correlações de dead oil

calculavam valores acima da faixa permitida pela correlação de live oil que tinha sido

selecionada. Por isso, 5 das 20 combinações receberam um alerta e foram

consequentemente desconsideradas na hora de definir a melhor combinação. Foram

elas:

1 - (D) Beggs and Robinson X (L) De Ghetto et all (Heavy Oils)

2 - (D) Hossain et al X (L) Kartoatmodjo and Schimidt

3 - (D) User Data X (L) Kartoatmodjo and Schimidt

4 - (D) Hossain et al X (L) De Ghetto et all (Heavy Oils)

5 - (D) User Data X (L) De Ghetto et all (Heavy Oils)

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No caso 2 da lista acima, a correlação de dead oil (D) usada, Hossain, calculou

um valor de viscosidade superior a 1000 cP e a correlação de live oil (L),

Kartoatmodjo and Schimidt, só aceita viscosidades entre 5 e 682 cp.

Uma vez em posse de todas as viscosidades calculadas, foram plotados 2 tipos

de gráficos para auxiliar na visualização dos dados. No primeiro, foram agrupadas

todas as combinações com a mesma correlação de live oil, então 2 gráficos foram

plotados, um com todas as viscosidades a 32,2 °C (90 °F) e outro com todas as

viscosidades a 56,6°C (134 °F). Em cada um desses gráficos era plotado uma curva

para cada correlação de dead oil e uma curva para os dados experimentais. As figuras

apresentam os gráficos em questão. Os valores de viscosidade não foram informados

nos gráficos para preservar o sigilo da informação.

Com essa análise já é possível ver quais correlações mais se aproximaram dos

dados experimentais. É interessante comentar, que a viscosidade dos dados

experimentais no ponto onde T=32,2 °C e P=15 psi era anormalmente elevada, e isso

ficou evidente quando nenhuma correlação calculou uma viscosidade que se

aproximasse dela, por isso nas comparações numéricas dos resultados, esse ponto

não foi considerado. Conversando com especialistas, foi sugerido que esse ponto

pode não ser representativo da viscosidade real e sim uma anomalia.

O segundo tipo de gráfico plotado, presente na Figura 4.4, tem os valores de

viscosidade calculadas ( ) no eixo Y e os valores de viscosidade experimental ( ) no

eixo X. Assim cada ponto plotado é par ordenado ( ( ) ( )). Quanto mais

próximo da linha preta, melhor é o resultado da simulação.

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Figura 4.2: Gráficos de viscosidade por pressão

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Figura 4.3: Gráficos de viscosidade por pressão

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Figura 4.4: Gráfico de viscosidade calculada x viscosidade experimental.

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Para definir qual das combinações mais se aproximou dos dados

experimentais calculou-se o erro relativo com a equação 4.1:

|

| (4.1)

E o desvio padrão com a equação 4.2

√∑ ̂

(4.2)

Onde ̂ , , e são, respectivamente, o valor experimental e calculado da

viscosidade, o número de pontos e o número de parâmetros. O desvio padrão de cada

combinação pode ser encontrado na Tabela 4.4 e a Tabela 4.5 mostra o desvio padrão

sobre a média de todos os erros.

Tabela 4.4 Desvio padrão relativo aos dados de laboratório por combinação.

Tabelas 4.5 Erro relativo aos dados de laboratório por combinação.

Tirando as combinações que usavam input do usuário e aquelas que

apresentaram erros em relação a faixa de viscosidade trabalhada, a combinação que

obteve os melhores resultados foi a correlação de dead oil e live oil de Hossain.

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Viscosidade de emulsão 4.2.3.

Para entender a influência que a viscosidade de emulsão tem no resultado final

da simulação, primeiro, foram escolhidas correlações de regime de escoamento

arbitrariamente, e então algumas correlações de viscosidade de emulsão foram

testadas contra os dados experimentais mostrados no gráfico, mantendo os inputs

iguais. As correlações de regime escolhidas foram Beggs & Brill Revised tanto para o

escoamento vertical como o horizontal.

Um dos inputs necessários é o ponto de inversão e pela análise feita dos

gráficos das Figuras: Figura 3.7, Figura 3.8 e Figura 3.9, concluiu-se que esse ponto

era entre 50% e 60% de BSW, portanto, o ponto de inversão escolhido foi 55%.

Calculando o erro relativo, foram encontrados os resultados exibidos na tabela,

onde as correlações usadas foram:

1 -Pipesim Original Woelflin 1942 Loose Emulsion

2 -Brinkman 1952

3 -Vand 1948, Vand coeficientes

4- Richardson 1958

Tabela 4.6: Erros das correlações de viscosidade

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Todas elas apresentaram resultados muito semelhantes e isso fica ainda mais

claro quando observamos o gráfico da Erro! Fonte de referência não encontrada.5.

Figura 4.5: Gráfico com dados calculados e experimentais de perda de carga

Devido a essa conclusão, qualquer uma das correlações poderia ser escolhida

para representar o fluido, mas a correlação de viscosidade de emulsão de Richardson

foi escolhida, pois além de ter resultados adequados, o usuário pode alterar valores de

coeficientes, permitindo um maior refino do resultado final.

Correlação de escoamento multifásico 4.2.4.

Existem correlações de regime de escoamento horizontal e vertical, as duas

influenciam a perda de carga total no sistema estudado, já que ele tem seções de

tubulação na horizontal e na vertical.

Começou-se então variando a correlação de perda de carga horizontal e

mantendo a mesma correlação vertical que tinha sido usada anteriormente. Dessa

vez, as seguintes correlações de regime de fluxo horizontal foram testadas:

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Beggs and Brill Revised

Baker Jardine Revised

Duckler, AGA & Flaanagan

Lockhart & Martinelli

Mukherjee & Brill

Oliemans

O gráfico da mostra as correlações plotadas. E fica evidente como a mudança

de correlações influência a perda de carga, com exceção da correlação de Mukherjee

& Brill, todas as outras tem o mesmo perfil, mas estão deslocadas verticalmente.

Figura 4.6: Comparação das diferentes correlações de regime de escoamento horizontal

Para o próximo teste, a correlação de Beggs and Brill Revised para

escoamento horizontal foi fixada enquanto as correlações de escoamento vertical

eram testadas. Os resultados foram exibidos no gráfico da Figura 4.7.

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Figura 4.7: Comparação das diferentes correlações de regime de escoamento vertical

Finalmente, a Tabela 4.7 apresenta os erros de dos resultados obtidos no

último teste das correlações verticais.

Tabela 4.7: Erros obtidos variando a correlação de regime de escoamento vertical

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5. Conclusão

A partir das informações de dados de produção apresentadas e os resultados

dos testes realizados, esse estudo não encontrou nenhuma combinação de

correlações que se adequa perfeitamente a curva de perda de pressão para todos os

valores de BSW. Entretanto, ao observar a Tabela 4.7 percebe-se que para certas

faixas de BSW existem correlações que obtiveram um erro muito baixo, como é o

exemplo da correlação de Beggs e Brill Revised quando existe uma parcela maior de

água na produção.

Vale ressaltar, os dados reais apresentam variações significativas para

produções com a mesma vazão e BSW, como pode ser observado na Figura 3.9.

Portanto, mesmo que fosse encontrada uma combinação de correlações que se

adequasse perfeitamente aos pontos selecionados, ela apresentaria erros quando

fosse usada na prática.

Também é importante lembrar que os dados de produção não são uma

representação impecável da realidade, visto que os próprios medidores possuem erros

inerentes, principalmente os medidores multifásicos responsáveis pela medição de

BSW, dado complexidade da tarefa realizada por eles.

Dessa forma, com o intuito de simplificar a simulação de perda de carga,

conclui-se que dividir a análise para faixas de BSW, permite obter resultados

satisfatórios. Finalmente, a partir dos dados produção coletados nesse sistema de

produção, as melhores correlações encontradas foram:

Correlação de razão de solubilidade e ponto de bolha: Petrosky et al

Correlação de dead oil e live oil: Hossain

Correlação de viscosidade de emulsão: Richardson

Correlação de regime de escoamento horizontal: Beggs & Brill Revised

Correlações de regime de escoamento vertical: o Quando 0% < BSW < 26%: Hagaedon & Brown

o Quando 26% < BSW < 70%: Orkiszewski

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