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ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM UM MODELO HIDRODINÂMICO APLICADO A UMA REGIÃO ESTUARINA COM DOMINÂNCIA DE ÁREAS ALAGÁVEIS Tiago Dutra da Silva Rio de Janeiro Agosto de 2014

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Page 1: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E

SECAMENTO EM UM MODELO HIDRODINÂMICO

APLICADO A UMA REGIÃO ESTUARINA COM

DOMINÂNCIA DE ÁREAS ALAGÁVEIS

Tiago Dutra da Silva

Rio de Janeiro

Agosto de 2014

Page 2: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM UM MODELO

HIDRODINÂMICO APLICADO A UMA REGIÃO ESTUARINA COM DOMINÂNCIA

DE ÁREAS ALAGÁVEIS

Tiago Dutra da Silva

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-graduação em Engenharia

Oceânica, COPPE, da Universidade Federal do

Rio de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de Mestre em

Engenharia Oceânica.

Orientadores: Paulo Cesar Colonna Rosman

Maria de Lourdes Cavalcanti

Barros

Rio de Janeiro

Agosto de 2014

Page 3: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM UM MODELO

HIDRODINÂMICO APLICADO A UMA REGIÃO ESTUARINA COM DOMINÂNCIA

DE ÁREAS ALAGÁVEIS

Tiago Dutra da Silva

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO

LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA (COPPE) DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM

ENGENHARIA OCEÂNICA.

Examinada por:

______________________________________________

Prof. Paulo Cesar Colonna Rosman, Ph.D.

______________________________________________

Drª. Maria de Lourdes Cavalcanti Barros, D.Sc.

______________________________________________

Prof. Marcos Nicolás Gallo, D.Sc.

______________________________________________

Prof. Isaac Volschan Júnior, D.Sc.

______________________________________________

Profª. Iene Christie Figueiredo, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

AGOSTO DE 2014

Page 4: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

iii

Silva, Tiago Dutra da

Análise de mecanismo de alagamento e secamento em

um modelo hidrodinâmico aplicado a uma região estuarina

com dominância de áreas alagáveis/ Tiago Dutra da Silva. –

Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2014.

XII, 92 p.: il.; 29,7 cm.

Orientadores: Paulo Cesar Colonna Rosman

Maria de Lourdes Cavalcanti Barros

Dissertação (mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de

Engenharia Oceânica, 2014.

Referências Bibliográficas: p. 87-92.

1. Modelagem hidrodinâmica ambiental. 2. Áreas

alagáveis. 3. Métodos de alagamento e secamento. 4.

Método do meio poroso-rugoso. 5. Sistema estuarino de

Vitória (ES) I. Rosman, Paulo Cesar Colonna et al. II.

Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Programa

de Engenharia Oceânica. III. Título.

Page 5: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

iv

AGRADECIMENTOS

À minha família, especial à minha mãe a quem eu devo por ter conseguido chegar

até aqui.

À Edivan, por estar do meu lado durante todo o mestrado, apoiado e incentivado o

trabalho.

Ao prof. Paulo Rosman por aceitar a orientação e por todo conteúdo passado

durante a elaboração do trabalho.

Especialmente à Marise, uma destas pessoas de luz que passam pelo nosso

caminho e que guardamos muito tempo no coração.

A todos os amigos da COPPE/UFRJ, especialmente os do PENO/AECO com

quem aprendi trabalhar em equipe.

À Maria de Lourdes pela co-orientação, cooperação e incentivo ao

desenvolvimento do trabalho.

À todos os amigos especiais que passaram e que ainda se fazem presentes em

nossas vidas durante meus 10 anos de vida acadêmica.

Page 6: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

v

Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos

necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)

ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM UM

MODELO HIDRODINÂMICO APLICADO A UMA REGIÃO ESTUARINA COM

DOMINÂNCIA DE ÁREAS ALAGÁVEIS

Tiago Dutra da Silva

Agosto/2014

Orientadores: Paulo Cesar Colonna Rosman

Maria de Lourdes Cavalcanti Barros

Programa: Engenharia Oceânica

As áreas alagáveis são regiões altamente produtivas, principalmente regiões

costeiras que estão sujeitas ao alagamento e secamento periódico causado pelas marés.

Muitos métodos de alagamento e secamento têm sido incorporados aos modelos

hidrodinâmicos computacionais, sendo que todos se constituem em aproximações

teóricas que encontram algumas dificuldades para simular estes processos. Este trabalho

visa contribuir com o aperfeiçoamento da simulação dos processos de alagamento e

secamento em sistemas estuarinos costeiros, especialmente aqueles que possuem áreas

que são dominadas por extensas planícies alagáveis. O trabalho é composto por uma

proposta de modificação do algoritmo numérico do Método do Meio Poroso Rugoso

(MRP) incorporado no programa SisBaHiA®. Um teste caso é executado para avaliar a

modificiação proposta. Além disso, também foram realizados casos teste para avaliar a

influência dos parâmetros do MRP no seu desempenho em relação à conservação global

da massa no domíno. Foi aplicado ainda um terceiro caso teste onde outros métodos de

alagamento e secamento foram comparados com o MRP em relação às suas capacidades

em conversar globalmente a massa no domínio. Ao final do trabalho foi realizada uma

aplicação em um estuário com extensas áreas alagáveis, realizando-se uma simulação

dos padrões hidrodinâmicos do estuário. Os resultados obtidos na simulação foram

comparados com dados medidos e demonstraram o bom desempenho e a capacidade do

MRP em simular o processo de alagamento e secamento em sistemas estuarinos com

extensas áreas alagáveis.

Page 7: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

vi

Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)

ANALYSIS OF FLOOD AND DRYING MECHANISM IN A HYDRODYNAMIC

MODEL APPLIED TO AN ESTUARINE REGION WITH DOMINANCE OF

WETLAND AREAS

Tiago Dutra da Silva

August/2014

Advisors: Paulo Cesar Colonna Rosman

Maria de Lourdes Cavalcanti Barros

Department: Ocean Engineering

Wetlands are highly productive regions, especially coastal regions which are

subject to periodic flooding and drying process caused by tides. Many methods of

flooding and drying process has been developed and incorporated in many

hydrodynamic computational models, all of which are composed by theoretical

approaches that had some difficulties on simulating these processes. This work aims to

contribute to the betterment of themselves formulation of flooding and drying processes

in coastal estuarine systems, especially those with areas dominated by extensive

floodplains. The work consists of a proposed modification of the method of the Rough

Porous Medium Method (RPM) incorporated into the numerical algorithm of

SisBaHiA® program. A test case is executed to evaluate the proposed modification.

Moreover, test cases were performed to evaluate the influence of the parameters of

RPM in their performance in relation to the global conservation of mass in the

computational domain. It was also used a third test case where other wetting and drying

computational methods were compared to the RPM, in relation to their capacities in

global mass conservation. At the end of the work in application in an estuary with

extensive floodplains was performed, simulating the hydrodynamic patterns of the

estuary. The results obtained in the simulation were compared to measured data and

demonstrated good performance and the ability of RPM to simulate the process of

wetting and drying in estuarine systems with large floodplains.

Page 8: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

vii

SUMÁRIO

1. Introdução................................................................................................................... 1

1.1. Objetivos ................................................................................................................. 3

2. Revisão Bibliográfica ................................................................................................. 4

2.1. Áreas alagáveis costeiras ........................................................................................ 4

2.2. Métodos computacionais hidrodinâmicos de alagamento e secamento ............ 10

2.2.1. Métodos de malha móvel .................................................................................. 11

2.2.2. Métodos de malha fixa ...................................................................................... 12

2.2.3. Desempenho dos métodos de alagamento e secamento .................................... 17

2.3. Modelagem computacional hidrodinâmica em sistemas com extensas áreas

alagáveis .......................................................................................................................... 20

2.3.1. Estratégias de modelagem hidrodinâmica considerando áreas alagáveis

estuarinas ......................................................................................................................... 20

2.3.2. Aplicações em estuários com dominância de áreas alagáveis .......................... 22

3. O modelo hidrodinâmico do SisBaHiA® ................................................................. 24

3.1. Equações governantes do Modelo 2DH ............................................................... 26

3.2. Formulações numéricas dos diferentes métodos de alagamento e secamento do

SisBaHiA® ....................................................................................................................... 29

3.2.1. Formulação de alagamento e secamento do MRP e do MMP .......................... 31

3.2.2. Alterações nas equações governantes com MRP e MMP ................................. 33

4. Considerações sobre a utilização de métodos de alagamento e secamento do tipo

“porosidade artificial” na modelagem hidrodinâmica de sistemas estuarinos com

extensas áreas alagáveis................................................................................................... 34

5. Modificação numérica da formulação do método de alagamento e secamento do

meio rugoso-poroso ......................................................................................................... 36

6. Caso teste 1: avaliação da modificação na formulação numérica do método do meio

rugoso-poroso .................................................................................................................. 38

7. Caso teste 2: avaliação da influência dos parâmetros relacionados ao método do

meio rugoso-poroso ......................................................................................................... 43

8. Caso teste 3: comparação da conservação da massa do MRP com outros métodos

de alagamento e secamento ............................................................................................. 49

9. Aplicação do modelo modificado em um estuário com extensas áreas alagáveis ... 53

9.1. Caracterização do Sistema Estuarino de Vitória (ES) ...................................... 53

9.1.1. Modelagem hidrodinâmica ............................................................................... 58

Page 9: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

viii

9.1.1.1. Dados utilizados ................................................................................................ 61

9.1.1.2. Resultados da aplicação .................................................................................... 67

10. Conclusões e Recomendações .............................................................................. 85

11. Referências Bibliográficas .................................................................................... 87

Page 10: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

ix

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Diferentes tipos de ecossistemas estuarinos costeiros com áreas alagáveis: a)

manguezais; b) planícies de maré; c) marisma (pântanos salgados) e d) apicum. ........... 6

Figura 2: Zoneamento conceitual do perfil de planícies de maré em função dos quatro

níveis de maré principais: médias das preamares de sizígia (MHWS) e quadratura

(MHWN), médias das baixa-mares de quadratura (MLWN) e sizígia (MLWS) -

adaptado de GALLO, 2009. ............................................................................................. 8

Figura 3: Níveis de água em um canal de maré e na planície de manguezal durante a

enchente e a vazante (adaptado de WOLANSKI et. al., 1992). ....................................... 9

Figura 4: Perfil topográfico hipotético de um canal de maré com planícies de

manguezais em função dos quatro níveis de maré principais: médias das preamares de

sizígia (MHWS) e quadratura (MHWN), médias das baixa-mares de quadratura

(MLWN) e sizígia (MLWS). ............................................................................................ 9

Figura 5: Esquema ilustrativo do método do filme superficial (extraído de BARROS,

2012 e adaptado de JIANG & WAI, 2005). ................................................................... 12

Figura 6: Esquema ilustrativos do método da porosidade artificial original (extraído de

BARROS, 2012 e adaptado de JIANG & WAI, 2005). ................................................. 15

Figura 7: Esquema do método da porosidade artificial modificada (extraído de

BARROS, 2012 e adaptado de JIANG & WAI, 2005). ................................................. 17

Figura 8. Esquema dos métodos de alagamento e secamento. A parte cinza representa o

terreno. As espessuras das camadas equivalentes de escoamento estão exageradas para

facilitar a visualização. ................................................................................................... 30

Figura 9: Esquema ilustrativo do efeito da utilização de um fator de aceleração da onda

........................................................................................................................................ 37

Figura 10: Malha numérica utilizada e perfil geométrico longitudinal do canal lateral (a

linha superior pontilhada em azul indica o nível de preamar e a inferior ao de baixa-

mar). ................................................................................................................................ 38

Figura 11: Resultados da simulação em diferentes instantes de um ciclo de maré,

utilizando o modelo adaptado; os símbolos quadrados e triangulares representam

respectivamente os resultados de elevação e velocidade encontrados por JIANG & WAI

(2005). ............................................................................................................................ 40

Figura 12: Resultados da simulação em diferentes instantes de um ciclo de maré,

utilizando o modelo sem a modificação. ........................................................................ 42

Figura 13: a) Sistema estuarino de Vitória e b) Detalhamento da região com a maior

parte das áreas alagáveis de manguezais. ....................................................................... 57

Figura 14: Mapa da região com os contornos; os símbolos em vermelho indicam as

estações com medições de elevação do nível da superfície da água, enquanto os

símbolos em azul indicam as estações com medições de magnitude de correntes e os

Page 11: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

x

símbolos em cruz indicam as estações das medições e vento, ambos dados utilizados na

modelagem e explicitados adiante. ................................................................................. 59

Figura 15: Malha numérica de elementos finitos utilizada na aplicação: a) visão geral; b)

detalhamento 1 e c) detalhamento 2. .............................................................................. 60

Figura 16: Batimetria do sistema estuarino de Vitória (ES); os valores estão referidos ao

Nível Médio do Mar (NMM).......................................................................................... 61

Figura 17: Cotas altimétricas dos limites da topografia do modelo digital do terreno

desenvolvido para as planícies alagáveis de manguezais de Vitória (ES); os níveis se

referem ao nível médio do mar (NMM). ........................................................................ 62

Figura 18: Detalhamento da batimetria da área alagável de manguezal); os valores estão

referidos ao Nível Médio do Mar (NMM)...................................................................... 64

Figura 19: Perfis topográficos indicados Figura 18 (as figuras dos perfis foram

redimensionadas para que pudessem ter suas escalas aproximadas). ............................. 65

Figura 20: Níveis de água prescritos na fronteira aberta. ............................................... 66

Figura 21: Vazões prescritas para o Rio Santa Maria da Vitória. .................................. 67

Figura 22: Comparação dos níveis de água simulados e medidos em Maria Ortiz. ....... 68

Figura 23: Comparação dos níveis de água simulados e medidos em Caieiras. ............ 68

Figura 24: Comparação dos níveis de água simulados e medidos em Santo Antônio. .. 68

Figura 25: Comparação dos níveis de água simulados e medidos em Tubarão. ............ 69

Figura 26: Comparação dos níveis de água simulados com o modelo sem modificação e

medidos em Maria Ortiz. ................................................................................................ 69

Figura 27: Instantes de tempo utilizados na plotagem dos resultados da simulação. ..... 71

Figura 28: a) Campo vetorial de vazão e b) Isolinhas de elevação da superfície da água

para o momento de estofo de preamar. ........................................................................... 72

Figura 29:a) Campo vetorial de vazão e b) Isolinhas de elevação da superfície da água

para o momento de vazante. ........................................................................................... 73

Figura 30: a) Campo vetorial de vazão e b) Isolinhas de elevação da superfície da água

para o momento de baixa-mar. ....................................................................................... 74

Figura 31: a) Campo vetorial de vazão e b) Isolinhas de elevação da superfície da água

(mapa inferior) para o momento de enchente. ................................................................ 75

Figura 32: a) Campo vetorial de velocidades e b) Isolinhas de magnitude de velocidades

para um momento de estofo de preamar. ........................................................................ 77

Figura 33: a) Campo vetorial de velocidades e b) Isolinhas de magnitude de velocidades

para um momento de vazante. ........................................................................................ 78

Figura 34: a) Campo vetorial de velocidades e b) Isolinhas de magnitude de velocidades

para um momento de estofo de baixa-mar...................................................................... 79

Page 12: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

xi

Figura 35: a) Campo vetorial de velocidades e b) Isolinhas de magnitude de velocidades

para um momento de enchente. ...................................................................................... 80

Figura 36: magnitude de correntes na estação Maria Ortiz em um período de sizígia.

Dados medidos com magnitudes abaixo de 0,03 m/s são duvidosos, pois ficam na faixa

de erro do medidor. ......................................................................................................... 81

Figura 37: magnitude de correntes na estação Maria Ortiz em um período de quadratura.

Dados medidos com magnitudes abaixo de 0,03 m/s são duvidosos, pois ficam na faixa

de erro do medidor. ......................................................................................................... 81

Figura 38: Magnitude de correntes na estação Santo Antônio em um período de sizígia.

Dados medidos com magnitudes abaixo de 0,03m/s são duvidosos, pois ficam na faixa

de erro do medidor. ......................................................................................................... 81

Figura 39: magnitude de correntes na estação Santo Antônio em um período de

quadratura. Dados medidos com magnitudes abaixo de 0,03m/s são duvidosos, pois

ficam na faixa de erro do medidor. ................................................................................. 82

Figura 40: localização da zona de convergência barotrópica (“tombo da maré), indicada

pelo símbolo vermelho, ao longo de um ciclo de maré; a) preamar; b) vazante; c) baixa-

mar e d) enchente. ........................................................................................................... 84

Page 13: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

xii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Classificação dos métodos computacionais de alagamento e secamento

(extraído de MEDEIROS & HAGEN, 2013). ................................................................ 19

Tabela 2: Parâmetros e valores dos parâmetros selecionados para o teste. .................... 45

Tabela 3: Combinação dos valores dos parâmetros testados nas 27 simulações

executadas. ...................................................................................................................... 45

Tabela 4: Resultados obtidos no teste de avaliação da influência dos parâmetros do

MRP para as 27 simulações executadas. ........................................................................ 48

Tabela 5: Resultados dos testes comparativos de conservação da massa em diferentes

métodos de alagamento e secamento. ............................................................................. 52

Tabela 6: Tabela dos resultados da análise harmônica realizada, referente à constante

harmônica M2. ................................................................................................................ 70

Tabela 7: Tabela dos resultados da análise harmônica realizada, referente à constante

harmônica S2. ................................................................................................................. 70

Page 14: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

1

1. Introdução

Em regiões costeiras o processo de alagamento e secamento de extensas áreas

provocado pelas marés é a força motriz de várias tipologias de ecossistemas. O avanço e

recuo periódico das marés sobre regiões relativamente planas provocam alterações

ecológicas que são a base fundamental de diversos ecossistemas altamente produtivos e

importantes em todo o mundo.

Por sua vez, a modelagem computacional hidrodinâmica e de qualidade de água

que incorpore os processos que ocorrem em regiões sujeitas a alagamento e secamento

ainda é um desafio. Consequentemente, vários métodos diferentes têm sido propostos

para incorporar tais processos nos modelos hidrodinâmicos de corpos d’água rasos

(LECLERC et al., 1990; SANTOSO et al., 2011; JIANG & WAI, 2005; HENICHE et

al., 2000).

Na modelagem hidrodinâmica de tais regiões é importante que se represente

eficazmente os efeitos do processo de inundação e drenagem. Esses efeitos estão

relacionados às mudanças das características do escoamento nas áreas alagáveis ao

longo do ciclo de maré, que incluem o tratamento das perdas de energia devido ao atrito

do fundo e da vegetação local (MEDEIROS & HAGEN, 2013). Além disso, uma das

maiores dificuldades encontradas na modelagem hidrodinâmica computacional em

corpos d’água com áreas alagáveis está relacionada à conservação da massa, devido à

dificuldade de representar no modelo regiões onde a coluna d’água é igual ou próxima

de zero (BATTES & HORRITT, 2005).

A simulação de padrões hidrodinâmicos em corpos de água rasos que forneçam

resultados mais conservadores é de suma importância para a modelagem de algumas

propriedades destes sistemas, como a qualidade de água e transporte de sedimentos e

outros constituintes. Neste sentido, este trabalho realiza uma análise do desempenho de

um modelo hidrodinâmico acoplado a um algoritmo de alagamento e secamento,

visando o aumento da robustez e desempenho do modelo em simular satisfatoriamente

as frentes de alagamento e secamento de áreas sujeitas às oscilações da maré, com foco

em sistemas estuarinos que possuem extensas áreas alagáveis.

A análise é realizada partindo de uma modificação da formulação numérica do

modelo que inclui em seu algoritmo diversos métodos de alagamento e secamento, entre

eles o mais recente método incorporado no programa SisBaHiA®, denominado Método

Page 15: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

2

do Meio Poroso Rugoso (MPR). A formulação deste método foi proposta por BARROS

(2012) e alguns testes foram realizados por SFRENDRICH (2012).

O MRP consiste na consideração da existência de uma camada porosa rugosa

abaixo do fundo batimétrico de uma determinada área sujeita a alagamento e secamento,

onde ocorre um escoamento equivalente com alta rugosidade e porosidade. Apesar de

ter sido observado que o MRP é sensível aos diferentes parâmetros relacionados à sua

formulação (que são a espessura da camada porosa-rugosa, o fator de rugosidade e o

coeficiente de calibração da celeridade da onda), a influência destes fatores na qualidade

numérica dos resultados ainda não foi investigada de forma mais consistente.

É observado na literatura que os métodos de alagamento e secamento do tipo

“porosidade artificial” tem seu desempenho reduzido na simulação da hidrodinâmica de

corpos d’água costeiros com canais relativamente estreitos e com extensas áreas

alagáveis e também em frentes de alagamento e secamento rápidas além de que o

desempenho destes métodos é altamente dependente dos parâmetros relacionados às

suas formulações (MEDEIROS & HAGEN, 2013; NIELSEN & ALPET (2003);

USACE (2006)). Face ao exposto, surge a necessidade de elaboração de estratégias para

melhorar e avaliar a eficácia deste método na simulação hidrodinâmica de estuários, em

especial os que possuem extensas áreas alagáveis.

Testes realizados anteriormente demonstraram que a utilização do MRP em

sistemas com extensas planícies alagáveis implica na prescrição de espessuras de

camada subsuperfical porosa rugosa relativamente grandes, o que pode implicar em

algumas alterações dos padrões hidrodinâmicos. Os testes feitos preteritamente

demonstraram que a prescrição de pequenas espessuras da camada porosa rugosa nestes

sistemas provoca alterações na onda de maré que indicam estar relacionadas à

celeridade da onda na camada porosa rugosa ao se propagar em domínios que são

dominados pelas áreas alagáveis.

O MRP foi adaptado recorrendo-se a um artifício numérico para incrementar a

celeridade da onda quando o escoamento está em meio subsuperficial, ou seja, nas

células de cálculo consideradas “secas”. Espera-se que com o aumento da celeridade da

onda no meio subsuperficial, os níveis de água oscilem de forma mais realista no

domínio.

Sendo assim, a inserção do fator de calibração da celeridade da onda busca

aumentar o desempenho do modelo em termos da capacidade de simular frentes de

Page 16: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

3

alagamento e secamento em proximidade com a física que rege estes processos e

também em termos de conservação global da massa.

No estudo foram realizados três testes numéricos em um canal de maré idealizado

com batimetria variável e com uma planície alagável. O primeiro teste buscou avaliar os

efeitos do fator de calibração da celeridade daonda no MRP através da análise do

comportamento das frentes de alagamento e secamento no canal. O segundo teste

utilizou o mesmo domínio utilizando no primeiro teste e avaliou a sensibilidade do

modelo aos diversos parâmetros prescritos na formulação do MRP através de uma

análise de conservação global da massa. No terceiro teste utilizou-se a mesma

metodologia do segundo teste, entretanto foram comparados os desempenhos de

diferentes métodos de alagamento e secamento em diferentes modelos numéricos

hidrodinâmicos, em relação à capacidade destes modelos em fornecer resultados

conservadores.

Os casos teste foram realizados utilizando-se um domínio ideal com geometria

simplificada e oscilações de níveis controladas. A utilização de domínios com geometria

simplificada e condições de contorno controladas viabiliza a avaliação do desempenho

do modelo em simular satsfatoriamente as frentes de alagamento e secamento,

conservando globalmente a massa no domínio.

Por fim, foi feita uma aplicação do modelo adaptado em um estuário com extensas

áreas alagáveis, a fim de verificar o desempenho do modelo adaptado na simulação dos

padrões hidrodinâmicos em um domínio com geometria complexa e com dominância de

áreas alagáveis, onde o processo de alagamento e secamento é um fator relevante na

dinâmica geral do sistema.

1.1. Objetivos

O objetivo geral desta dissertação de mestrado é avaliar o desempenho de um

modelo hidrodinâmico com algoritmo de alagamento e secamento aplicado a sistemas

estuarinos com extensas áreas alagáveis.

Dentro deste contexto, os objetivos específicos do trabalho são:

Avaliar uma modificação no algoritmo numérico do método do meio

rugoso-poroso, inserido no programa SisBaHiA®;

Testar e avaliar o desempenho da modificação proposta no método de

alagamento do meio rugoso-poroso;

Page 17: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

4

Testar e avaliar a influência dos parâmetros relacionados ao método do

meio rugoso-poroso;

Comparar o desempenho do MRP com outros métodos de alagamento e

secamento em relação à conservação global da massa;

Aplicar o modelo adaptado em um sistema estuarino real com extensas

áreas alagáveis.

2. Revisão Bibliográfica

Neste capítulo é apresentada uma revisão bibliográfica acerca dos assuntos

pertinentes aos objetivos do trabalho e que permitam embasar teoricamente o

desenvolvimento das metodologias aplicadas. Inicialmente será feita uma abordagem

geral sobre áreas alagáveis costeiras. Uma atenção especial é dada às áreas alagáveis de

manguezais, uma vez que uma aplicação prática realizada no estudo foi feita em uma

região de manguezal. Posteriormente são descritos os principais métodos

computacionais hidrodinâmicos para simulação de mecanismos de alagamento e

secamento com uma breve revisão de trabalhos de modelagem computacional

hidrodinâmica em sistemas com extensas áreas alagáveis. Por fim são realizadas

algumas considerações sobre a utilização de métodos do tipo “porosidade artificial” na

simulação da hidrodinâmica de extensas áreas alagáveis.

2.1. Áreas alagáveis costeiras

As áreas alagáveis costeiras são regiões existentes em todo o mundo e são aquelas

que estão sujeitas ao alagamento e secamento periódico, especialmente aqueles

causados pelas marés. Estas áreas incluem manguezais, planícies de maré, marismas

(pântanos salgados) e apicum (Figura 1) e são encontradas em todos os continentes e em

todas as latitudes (WOLANSKI et. al., 2009).

As extensas áreas que estão sujeitas ao processo de alagamento e secamento

periódico provocado pela oscilação das marés são denominadas geralmente como

planícies de maré. Estas regiões especialmente as planícies de manguezais são

conhecidas por serem áreas de retenção, transformação e exportação de nutrientes e

contaminantes. Os processos biogeoquímicos que ocorrem nestas áreas são bastante

complexos e ocorrem entre o solo e a coluna d’água e ainda podem ocorrer em escala de

Page 18: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

5

tempo maior do que a escala de tempo de processos ocorridos nas águas superficiais

(ROIG, 1993).

Os estuários costeiros com áreas alagáveis possuem características

geomorfológicas que condicionam fortemente os seus padrões hidrodinâmicos e que se

caracterizam por possuírem canais de geometria variada, que geralmente são mais

profundos que o nível mais baixo atingido pelas marés e por onde a onda de maré se

propaga (RIGO, 2004).

As planícies alagáveis podem ser definidas ainda como áreas laterais aos canais de

maré que são caracterizadas por possuírem baixa declividade, estando sujeitas ao

processo de alagamento e secamento provocado pelo avanço e recuo periódico das

marés. Por esta razão estas áreas são comumente classificadas como áreas entre-marés

(intertidal areas) dominadas pela maré. Além da maré, outras forçantes também podem

atuar na dinâmica de alagamento e secamento das planícies, como a variação do aporte

fluvial no sistema, efeitos de drenagem, influência da pluviosidade, bioturbação e

ventos (RIGO, 2004).

Page 19: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

6

a)

b)

c)

d)

Figura 1: Diferentes tipos de ecossistemas estuarinos costeiros com áreas alagáveis: a) manguezais; b)

planícies de maré; c) marisma (pântanos salgados) e d) apicum1.

Nos estuários, a onda de maré avança nos canais e também sobre as planícies

alagáveis adjacentes. Os níveis de água continuam aumentando no sistema até que a

variação dos níveis atinge seu mínimo. Após o máximo os níveis caem, drenando a área

que foi previamente alagada. O período da inundação - conhecido como hidroperíodo, é

específico para cada região costeira, particularmente dentro de sistemas com canais

complexos e planícies de alagamento. O hidroperíodo define as características locais do

ecossistem e é dominado pela regularidade das marés além de poder ser influenciado

por fatores externos como afluência de água doce e condições meteorológicas de vento

e pressão, especialmente em eventos como furacões (MEDEIROS & HAGEN, 2013).

1 Extraído de:

a) http://www.aquaviews.net (Acesso em 05 de Jul. de 2014)

b) http://www.wikimedia.org (Acesso em 05 de Jul. de 2014);

c) http://www.science.kennesaw.edu (Acesso em 05 de Jul. de 2014);

d) http://www.ligiatavares.com (Acesso em 05 de Jul. de 2014).

Page 20: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

7

De acordo com KLEIN (1972) o perfil teórico de uma planície de maré pode ser

dividido em três faixas, em função de 4 níveis de marés principais que delimitam zonas

temporais de alagamento/exposição e que, portanto interferem nos principais processos

físicos que nelas acontecem (SWINBANKS, 1982; PUGH, 1987): as médias das

mínimas (MLWS) e máximas (MHWS) marés de sizígia, e as médias das mínimas

(MLWN) e máximas (MHWN) marés de quadratura. A Figura 2 apresenta uma

ilustração de tais níveis.

Os estuários com áreas alagáveis constituem ambientes importantes para a

produção primária, sendo habitat natural de diversas formas de vida e por isso a

investigação dos processos relacionados às variações dos níveis da água ocasionados

pelas marés nestes sistemas é importante. Os efeitos do avanço e recuo das marés nos

sistemas costeiros fazem com que todo o tipo de vida se adapte ao ritmo cíclico ditado

pelas oscilações da água. Organismos estuarinos migram para áreas onde encontram

tolerâncias específicas e rigorosas para condições de inundação, salinidade e tipo de

solo (WOLANSKI et al., 2009).

Muitas das vezes as planícies alagáveis são colonizadas por diferentes tipos de

espécies vegetais, que também podem influenciar na hidrodinâmica de corpos d’água

costeiros. Este é o caso das planícies de manguezais. GALLO (2009) aponta que as

planícies de maré não vegetadas geralmente apresentam dominância de enchente com

assimetrias positivas nos níveis, enquanto os sistemas com planícies de manguezais são

caracterizados como sistemas com dominância de marés vazantes e assimetria negativa.

Este efeito é ocasionado pelas baixas velocidades nas planícies de manguezal, que

geralmente são extensas, e a presença de vegetação, que causa o bloqueio do

escoamento. A grande extensão de planícies de maré como as de manguezais faz com

que estas áreas tenham geralmente mais função de armazenamento que propriamente

uma via de circulação de água (SIQUEIRA, 2007).

Page 21: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

8

Figura 2: Zoneamento conceitual do perfil de planícies de maré em função dos quatro níveis de maré

principais: médias das preamares de sizígia (MHWS) e quadratura (MHWN), médias das

baixa-mares de quadratura (MLWN) e sizígia (MLWS) - adaptado de GALLO, 2009.

As assimetrias observadas em canais de maré com planícies de manguezais têm

sido atribuídas a uma mudança de fase do sinal da maré entre a cabeça e a boca do canal

(montante e jusante respectivamente, considerando a direção de escoamento no sentido

continente-oceano). Essa mudança de fase ocorre devido à fricção do leito com as raízes

das árvores de mangue. Quando a maré alcança a preamar na cabeça do canal e já

inundou todas as planícies, a maré já está vazando na boca do canal, o que provém a

declividade da água necessária para acelerar a água de volta em direção à boca quando a

vazante começa (WOLANSKI et. al., 1992). Isso significa que a onda de maré se

propaga mais rapidamente nos canais do que nas planícies de maré, portanto o

abaixamento do nível d’água se dá primeiro nos canais e depois nas planícies

inundáveis o que gera um gradiente de declividade da linha de água e correntes fortes

durante o último estágio de vazante (DRONKERS, 1986). A Figura 3 ilustra este

processo. Nota-se que apesar dos níveis nos canais em t1 e t2 sejam os mesmos, na borda

do mangue os níveis e os gradientes da superfície da água não são iguais nestes tempos.

Page 22: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

9

Figura 3: Níveis de água em um canal de maré e na planície de manguezal durante a enchente e a vazante

(adaptado de WOLANSKI et. al., 1992).

A dominância de vazante observada nas regiões de manguezais faz com que os

processos que configuram a geomorfologia das planícies de manguezais sejam

diferentes de planícies de maré não vegetadas ou vegetadas com outras espécies.

Todavia, para estes casos o perfil teórico de acordo com os níveis característicos de

maré é diferente do perfil apresentado na Figura 2. O perfil correspondente às planícies

de manguezais pode ser visualizado na Figura 4.

Figura 4: Perfil topográfico hipotético de um canal de maré com planícies de manguezais em função dos

quatro níveis de maré principais: médias das preamares de sizígia (MHWS) e quadratura

(MHWN), médias das baixa-mares de quadratura (MLWN) e sizígia (MLWS).

Considerando o uso atual de ferramentas de modelagem computacional e dada a

importância ecológica dos sistemas costeiros alagáveis, a modelagem hidrodinâmica

ambiental destas regiões torna-se imprescindível para o avanço do conhecimento da

Page 23: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

10

dinâmica destes ambientes e uma correta gestão dos recursos naturais provenientes

destas áreas.

2.2. Métodos computacionais hidrodinâmicos de alagamento e

secamento

Esta seção apresenta uma revisão dos diferentes métodos computacionais

hidrodinâmicos de alagamento secamento utilizados atualmente. A revisão baseou-se na

literatura disponível, que apresenta os diferentes métodos de alagamento e secamento

desenvolvidos até a atualidade.

O complexo processo físico de avanço e recuo de ondas de maré sobre planícies

alagáveis apresenta um desafio não-trivial de modelagem computacional. Quando a

onda de maré avança sobre uma área previamente seca, o modelo deve adaptar-se para

incluir as novas áreas molhadas na resolução das equações governantes. Logo após,

especialmente no caso da modelagem de escoamentos regidos pela maré, o modelo deve

simular o recuo do escoamento através do secamento deste elemento e posteriormente a

reconsideração dos mesmos no domínio computacional (MEDEIROS & HAGEN,

2013).

Este tipo de desafio computacional é conhecido como “problema da fronteira

móvel” e a grande maioria dos métodos recorrem em sua formulação a adição, remoção

ou alteração das condições de escoamento de células de cálculo caso seja considerada

“seca” ou “molhada”. Dependendo da formulação, a adição ou remoção das células de

cálculo pode ser explícita, o que quer dizer que os elementos de cálculo são literalmente

ativados (se molhados) ou desativados (se secos) dentro da matriz computacional, ou

então implícita, caso as células sejam consideradas “secas” mas contém um nível d’água

virtual e ainda estão considerados no domínio computacional.

Apesar de muitas aproximações proporcionarem resultados significativos, o

processo de alagamento e secamento é um dos problemas físicos que ainda continua

sem solução adequada, sendo desafiador o desenvolvimento de novas técnicas para um

tratamento correto desses processos (BATES, 2000; MEDEIROS & HAGEN, 2013).

Estas dificuldades estão ligadas principalmente a alguns fatores como: (i) a conservação

da massa e do momentum que podem ser afetados por escoamentos fictícios entre os

elementos molhados e secos, (ii) conhecimento insuficiente da lei de atrito de fundo que

descreve o escoamento característicos das áreas alagáveis, sobre batimetria irregular que

Page 24: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

11

possui a mesma ordem de grandeza da profundidade de escoamento, e (iii) o cálculo

pode se tornar instável devido ao tratamento inadequado das pequenas profundidades de

água encontradas (BALZANO, 1998; BATES & HEVOUET, 1999; BEFFA &

CONNEL, 2001).

Uma grande variedade de modelos numéricos tem sido desenvolvida para simular

a hidrodinâmica de sistemas estuarinos costeiros em uma, duas e três dimensões. Estes

modelos adotam uma série de técnicas através da resolução das equações governantes,

discretizando o domínio e avançando os cálculos no tempo.

De acordo com BATES & HORRIT (2005), as aproximações utilizadas nos

algoritmos de alagamento e secamento podem ser divididas em 2 categorias: métodos

de malha móvel e métodos de malha fixa.

2.2.1. Métodos de malha móvel

Os métodos de malha móvel são baseados na deformação espacial das malhas

computacionais ao longo do avanço ou retrocesso das frentes de alagamento e

secamento. Os nós da fronteira da malha condicionam o posicionamento das frentes de

alagamento e secamento e por isso suas coordenadas espaciais mudam com o tempo.

Este esquema requer que nos modelos sejam consideradas 2 diferentes partes em termos

computacionais, uma para resolver as equações hidrodinâmicas e outra para a geração

da nova malha computacional (NIELSEN, 1999; JIANG & WAI, 2005; BATES &

HORRIT, 2005).

Apesar de alguns autores considerarem o método malha móvel como a descrição

mais precisa dos prolemas de fronteira móvel em modelos hidrodinâmicos, este tipo de

aproximação possui um alto custo computacional, uma vez que a malha computacional

necessita ser recalculada em cada espaço de tempo (LYNCH & GRAY, 1980;

GOPALAKRISHMAN & TUNG, 1983; BATES & HERVOUET, 2005).

Portanto, estes métodos se demonstram precisos, entretanto suas aplicações não

se estendem a domínios com geometria complexa como estuários com extensas áreas

alagáveis pois a necessidade contínua de regeneração da malha numérica faz com que a

aplicação dos modelos nestes casos se torne inviável, pois os cáculos de regeneração da

malha em domínios complexos pode se tornar extremamente oneroso em termos

computacionais (SIELECKI & WURTELE, 1970; LYNCH & GRAY, 1980; BATES &

HORRIT (2005).

Page 25: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

12

Uma abordagem mais detalhada sobre as características e aplicaçõesdos métodos

de malha móvel podem ser encontrados em GOPALAKRISHNAM (1989), ROING

&EVANS (1993), BALZANO (1998), IP et al. (1998), LAN et al. (1991), BATES

(2000), GREENBERG (2004), entre outros estudos.

2.2.2. Métodos de malha fixa

Os métodos de malha fixa têm custo computacional mais reduzido e são

amplamente difundidos. Os algoritmos de alagamento e secamento que se baseiam nos

métodos de malha fixa se encaixam de em quatro categorias principais:

i. Filme superficial

Os algoritmos de alagamento e secamento que recorrem ao método do filme

superficial especificam uma pequena camada viscosa fluida sobre a parte do domínio

computacional considerada “seca”. Isto o que permite que todos os nós elementos ou

células permaneçam no domínio computacional. Os elementos secos são modelados

conceitualmente pela redução do escoamento sem a eliminação do elemento ou nó, pois

a água permanece nos elementos secos até que os mesmos permaneçam totalmente

molhados (BUNYAN et al. 2009).

Figura 5: Esquema ilustrativo do método do filme superficial (extraído de BARROS, 2012 e adaptado de

JIANG & WAI, 2005).

z = (x, y, t)

z = – h (x, y, t)

Superfície Livre da água

surface water level

H = Profundidade da água

H >0; U = 0

Page 26: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

13

ii. Exclusão de elementos ou redução de malha

Inicialmente desenvolvido por LEENDERTESE (1970), neste método os

elementos e nós são temporariamente removidos da solução. Entretanto a localização

dos mesmos não muda se as células são “ativadas” ou “desativadas”. Quando a elevação

da água está acima da mínima profundidade de água admitida pelo modelo, a célula é

“ativada”’ na malha de cálculo. Da mesma forma, quando a elevação da superfície da

água está abaixo do valor mínimo de profundidade admitida, as células são

“desativadas”, sendo imposto valor nulo para a componente da velocidade na célula

seca. No processo de enchimento, o nível de água no contorno é determinado pela

extrapolação dos valores do nível de água das células molhadas adjacentes.

Este método pode resultar em perda ou ganho de massa quando o elemento é

removido ou restaurado ao sistema. Além disso, a eliminação de um elemento do

domínio de cálculo resulta em um contorno irregular, podendo causar problemas na

estabilidade numérica do modelo, principalmente se a malha for desestruturada, tais

como em elementos finitos.

Os métodos do tipo exclusão de elementos são largamente usados em modelagens

em diferenças finitas. Alguns dos principais pacotes computacionais utilizados para

modelagem hidrodinâmica de regiões costeiras utilizam algoritmos de redução de

malha, dentre os quais podem ser citados: MIKE 21 (DHI, 1997), TUFLOW (SYME,

1991), EFDC (Environmental Fluid Dynamics Code - (JI et al., 2001) e Delft3D-FLOW

(DELTARES, 2011).

iii. Extrapolação da profundidade

Neste conjunto de algoritmos, são dadas condições especiais nas frentes de

alagamento, que possuem papel fundamental no avanço da frente de alagamento. Na

maioria dos casos a profunidade é extrapolada das células molhadas para as células

secas, caso certas condições sejam satisfeitas. Este artifício evita a formação de zonas

com fluxos muito baixos (com colunas d’água extremamente pequenas – MEDEIROS

& HAGEN, 2013).

Nas áreas onde a coluna de água é pequena as condições de fluxo são restritivas e

a fricção causada pelo atrito com o fundo pode impedir o avanço da frente de

alagamento devido a baixa energiado fluxo. Caso as condições estabelecidas sejam

satsifeitas, a profundidade é extrapolada de uma célula molhada pra uma célula seca, e

estas novas profundidades são utilizadas para calcular as velocidades nos elemenos ou

Page 27: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

14

células que agora fazem parte do domínio Estas aproximações foram desenvolvidas e

aplicadas no pacote computacional BreZo (BEGNUDELLI et. al., 2008).

iv. Profundidade negativa2

Formulações deste tipo estão fortemente alinhados com esquemas do tipo

“porosidade artificial” (MEDEIROS & HAGEN, 2013) e são utilizados em diversos

pacotes computacionais como o SMS/RMA2 e SisBaHiA®.

Nestes métodos a superfície da água existe abaixo do fundo, permitindo que as

equações governantes sejam computadas em todo do domínio. As áreas cuja elevação

da superfície está abaixo da cota do fundo são consideradas “secas”. Uma vez que o

escoamento faz com que os níveis da superfície da água aumentem e eventualmente se

tornem positivos, ocorre o alagamento das células “secas”.

Os métodos do tipo “porosidade artificial” estão subdivididos em original e

modificado. No método original os elementos e os nós entram em um domínio cuja

capacidade de escoamento é reduzida a uma espessura restrita que é função da

profundidade da água. Isso significa assumir que exista um escoamento abaixo do fundo

batimétrico e desta forma o nível d’água pode ter valores negativos. Esta aproximação

tem a vantagem de não produzir gradientes de pressão artificial nos elementos secos,

caso algumas condições sejam satisfeitas. Entretanto, pode não haver conservação da

massa e de momentum devido a existência de um escoamento de água artificial entre os

elementos secos e molhados. A Figura 6 apresenta um esquema ilustrativo do método

da porosidade artificial original.

2 Uma vez que este trabalho está focado no aprimoramento de um algoritmo de alagameno e secamento

do tipo profunidade negativa, estes tipos de métodos são apresentados de forma mais detalhada.

Page 28: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

15

Figura 6: Esquema ilustrativos do método da porosidade artificial original (extraído de BARROS, 2012 e

adaptado de JIANG & WAI, 2005).

Alguns desenvolvimentos foram propostos para reduzir o transporte de massa

fictício produzido entre o meio líquido e o meio subsuperficial. FLATHER &

HUBBERT (1990) e IP et. al. (1998) modificaram a equação do momento adicionando

uma condutividade hidráulica no meio poroso3. A tensão do fundo foi aumentada por

HENICHE et. al. (2000), assumindo que o Coeficiente de Manning é função da

profundidade negativa. Com este método as componentes da velocidade são reduzidas,

entretanto a conservação da massa e do momento pode não ser completamente

satisfeita, a não ser que seja feita uma imposição das velocidades como zero, o que

recorre ao desenvolvimento de um gradiente de pressão artificial. Este tipo de

aproximação também conduz a outro problema relacionado à oscilação da velocidade na

medida em que a coluna d’água vai se tornando muito pequena. Uma solução para este

problema foi proposta por LEBLOND (1978), IP et. al. (1990) e JELESNIANSK et. al.

(1992), onde a equação de ondas longas sem os termos de aceleração é usada em

estuários rasos, incluindo a diferença de tempo parcial e termos advectivos. Conforme

observado por ERTURK et al. (2002), a aproximação cinemática e a importante relação

da falta de aceleração local na simulação de uma onda permanente podem ter influência

3 Condutividade hidráulica no meio poroso: parâmetro que traduz a facilidade com que a água se

movimenta através do solo (CARVALHO, 2002).

z = (x, y, t)

z = – h (x, y, t)

Superfície Livre da água

surface water level

H = Profundidade da água

H <0; U = 0

Page 29: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

16

negativa na simulação. Quando áreas mais baixas do que as planícies de maré são

incluídas no domínio, este tipo de aproximação pode reduzir a precisão do modelo.

JIANG & WAI (2005) também propuseram uma modificação no método da

porosidade utilizando os mesmos princípios que o método explicitado anteriormente,

entretanto com o uso de um domínio de espessura subsuperficial restrita de maior

precisão, utilizando uma aproximação baseada no método das “fissuras” e da

“capilaridade”. O método da porosidade modificada estabelece uma região de transição

gradual entre um elemento considerado totalmente “molhado” e um elemento

considerado totalmente “seco” e tem a capacidade de reduzir o escoamento ao

considerar uma velocidade próxima de zero nos elementos secos através de um aumento

na rugosidade do fundo batimétrico ocasionando uma redução na capacidade de

escoamento.

BARROS (2012) desenvolveu um método de alagamento e secamento do tipo

porosidade artificial denominado Método do Meio Poroso Rugoso (MPR), baseado no

método modificado proposto por JIANG & WAI (2005). Assim como os demais

métodos deste tipo, o MPR considera que a medida que a superfície da água atinge

valores próximos da cota do fundo batimétrico o fluxo passa a ocorrer em uma camada

restrita equivalente de espessura ERP (m), onde é imposto um efeito de fricção através do

incremento das tensões de fundo, que é função de um fator de rugosidade (Fr). A

transição entre um elemento “seco” e “molhado” é feita de forma gradual. O método foi

acoplado ao programa SisBaHiA®.

Alguns testes foram realizados por SFRENDRECH (2012) para comparar o

desempenho dos diferentes métodos de alagamento e secamento disponíveis no

programa SisBaHiA® (Método do Filme Superficial (MFS), Método do Meio Poroso

(MMP) e Método do Meio Poroso Rugoso (MPR). Na aplicação dos diferentes métodos

em um estuário real onde a extensão das planícies alagáveis é pequena em relação à área

dos canais, foi constatado que o MFS não reproduziu resultados satisfatórios e os

métodos do MMP e MPR produziram bons resultados, reproduzindo de forma coerente

o padrão de circulação esperado. No trabalho desenvolvido não se percebeu diferenças

nos níveis de água entre os dois métodos, o que foi associado às reduzidas dimensões

das planícies no domínio, que representeavam apenas 16% do domínio total modelado.

Page 30: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

17

Figura 7: Esquema do método da porosidade artificial modificada (extraído de BARROS, 2012 e

adaptado de JIANG & WAI, 2005).

2.2.3. Desempenho dos métodos de alagamento e secamento

O desempenho dos diferentes métodos computacionais hidrodinâmicos de

alagamento e secamento dependem de uma série de fatores. Em geral a capacidade de

um modelo com alagamento e secamento em fornecer resultados satisfatórios está

relacionada à eficiência na simulação das frentes de alagamento e secamento de forma

satisfatória e conservadora em relação à conservação local e global da massa

(MEDEIROS & HAGEN, 2013).

BATES & HORRIT (2005) relatam que nenhum método de alagamento e

secamento é ideal. Por exemplo, a inclusão e exclusão de elementos parcialmente

molhados da solução numérica pode resultar em discrepâncias na conservação da massa

e do momentum que por sua vez podem ter consequências para a estabilidade do

modelo e na simulação da hidrodinâmica em todo o domínio. Através da exclusão dos

elementos assume-se que uma barreira vertical existe no primero nó da frente de

alagamento considerado molhado. Da mesma forma, quando se assume que um nível de

água virtual pode ocorrer numa camada subsuperficial restrita abaixo do fundo

batimétrico, um determinado volume de água pode ser incluído e excluído do domínio.

Além disso, os modelos que utilizam elementos finitos e diferenças finitas podem

em geral recorrer a métodos de alagamento e secamento diferentes. Modelos que

z = (x, y, t)

z = – h (x, y, t)

Superfície Livre da água

surface water level

H = Profundidade da água

H <0

H <0

U=0

Nó seco

Nó molhado

Elementos em

transição

Page 31: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

18

utilizam diferenças finitas tendem a recorrer a métodos do tipo “exclusão de elementos”

ou “filme superficial”. Modelos que utilizam elementos finitos geralmente utilizam

métodos do tipo “profundidade negativa”, que geralmente estão alinhados às

aproximações do tipo “porosidade artificial”. A Tabela 1 apresenta uma síntese das

características dos modelos hidrodinâmicos computacionais com formulações de

alagamento e secamento mais utilizados (MEDEIROS & HAGEN, 2013).

Além do tipo de método utilizado, ao se planejar as estratégias para uma

simulação hidrodinâmica de áreas alagáveis, outras diretrizes devem ser observadas

para que se obtenha resultados satisfatórios. Muitas destas diretrizes estão ligadas à

estratégia de discretização do domínio, resolução espacial, temporal e complexidade da

geometria do domínio (NIELSEN, 1999). Estes aspectos são discutidos posteriormente.

Page 32: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

19

Tabela 1: Classificação dos métodos computacionais de alagamento e secamento (extraído de

MEDEIROS & HAGEN, 2013).

Categorias

dos

Algoritmos

Programas4 Método

Numérico5

Conservação da

Massa

Reprodução da

física

Filme

superficial

POM

FVCOM

DF, EF

Adequada, mas exige

correção após o

cálculo dos níveis de

água.

Altera a natureza da

física do fenômeno,

uma vez que

considera uma fina

camada de fluido nas

células "secas",

entretanto produz

frentes de alagamento

e secamento suaves e

realísticas.

Exclusão de

elementos

TELEMAC-

2D

EFDC

ADCIRC

Delft3D-

FLOW

MIKE 21

EF, DF, VF

Dependente do

modelo. A maioria dos

modelos conservam a

massa globalmente.

Excelente devido as

formulações de

correção da grade de

cálculo. Tende a

apresentar um melhor

desempenho na

transgressão da frente

de alagamento.

Extrapolação

da

profundidade

BreZo DF, VF

Geralmente adequada,

mas requer

procedimentos de

correção na maioria

dos casos.

Muito boa em uma

ampla variedade de

cenários de

escoamento, devido

ao avanço do

desenvolvimento das

formulações de

correção como a

relação

volume/superfície

livre

Profundidade

negativa

RMA2

SisBaHiA EF

Conserva bem a massa em frentes de

alagamento lentas. O desempenho depende da

especificação dos parâmetros de alagamento e

secamento.

4 POM – Princeton Ocean Model

FVCOM – Finity Volume Community Model

EFDC – Environmental Fluid Dynamics Code

ADCIRC – Advanced Circulation Model

RMA2 – Resources Management Associate

SisBaHiA – Sistema Base de Hidrodinâmica Ambiental 5 EF - Elementos finitos

VF - Volumes finitos

DF - Diferenças finitas

Page 33: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

20

2.3. Modelagem computacional hidrodinâmica em sistemas com

extensas áreas alagáveis

Nesta seção são expostos alguns aspectos acerca das estratégias para a modelagem

hidrodinâmica considerando o processo de alagamento e secamento em estuários. Em

seguida são revisadas as aplicações práticas em estuários com extensas áreas alagáveis e

que foram encontrados na literatura mais recente.

2.3.1. Estratégias de modelagem hidrodinâmica considerando áreas

alagáveis estuarinas

Experimentos numéricos demonstram que o processo de alagamento e secamento

possui papel fundamental na hidrodinâmica e no transporte de constituintes em estuários

costeiros. A desconsideração das planícies alagáveis na simulação computacional

hidrodinâmica em estuários com áreas alagáveis pode implicar em uma subestimação

das correntes de maré em até 50% nos canais principais dos sistemas, não capturando

satisfatoriamente a dinâmica destes ambientes (ZHENG et. al., 2003; RIGO &

CHACALTANA, 2006).

A obtenção de bons resultados nos trabalhos de modelagem hidrodinâmica

computacional com alagamento e secamento está condicionado a diversos fatores que

incluem a obtenção e tratamento de dados primários e secundários, começando pela

discretização e definição da geometria do domínio.

NIELSEN (1999) observa que para um modelo hidrodinâmico com formulações

de alagamento e secamento seja considerado robusto é necessário uma série de

características necessárias como:

Permitir que a batimetria do domínio possa ser complexa e descontínua, com a

presença de canais mais profundos e áreas mais rasas;

Zonas relativamente extensas podem se tornar “secas” ou “molhadas” e bancos

de maré podem ocorrer durante um ciclo de maré;

A conservação da massa e do momento devem ser respeitadas;

Os fluxos entre a planície alagável e os canais principais devem ser bem

simulados;

O modelo deve ser robusto para resolver escoamentos complexos em um

domínio com geometria irregular.

Page 34: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

21

O nível de coerência dos resultados a serem obtidos na modelagem de áreas

alagáveis dependerá também de outros fatores igualmente importantes como: estratégia

de discretização do domínio, resolução da malha numérica, resolução espacial da

geometria do domínio, resolução temporal da simulação e outros parâmetros

dependendo das formulações do modelo (NIELSEN, 1999).

Em termos de estabilidade e velocidade o desempenho de um modelo que utiliza

elementos finitos é largamente dependente da resolução e qualidade da malha numérica.

Algumas observações devem ser feitas como o refinamento da malha em áreas de

interesse e a diminuição da densidade da malha em áreas mais distantes das áreas de

interesse (NIELSEN, 1999).

Também é imprescindível que a geometria do domínio a ser modelado esteja bem

representada. A não representação satisfatória da complexa geometria de estuários com

áreas alagáveis - com ilhas e bancos de sedimentos pode gerar fluxos, correntes e trocas

de água não realísticos e assim prever padrões hidrodinâmicos inconsistentes (CHEN et.

al., 2008). De acordo com o nível de detalhamento e abrangência do domínio a ser

modelado, podem ser distinguidos 3 níveis de resolução de domínio, correspondentes à

modelagem de áreas alagáveis (KING, 2001):

i) Escala abrangente: é a escala de aproximação onde o regime de

escoamento geral é representado, se preocupando apenas em definir os

fluxos nos canais principais do sistema e considerando apenas a região do

sistema que é constantemente alagada, sem incluir pequenos canais e as

áreas vegetadas.

ii) Escala intermediária: nível de resolução no qual somente as principais

feições da área alagável do domínio são modeladas. A batimetria variável da

zona susceptível a inundação e secamento é incluída, mas os detalhes dos

canais locais são promediados.

iii) Escala detalhada: neste caso todos os detalhes do sistema de canais da zona

alagável são considerados no domínio de modelagem, incluindo os pequenos

canais formados a partir dos canais principais, e expostos durante o período

de baixa-mar.

A escala abrangente é possivelmente a escala de resolução da geometria mais

utilizada, tendo em vista a dificuldade de obtenção de dados topográficos de áreas

Page 35: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

22

alagáveis. Geralmente os estudos de modelagem hidrodinâmica utilizam dados de

levantamentos batimétricos que se restringem aos canais principais, pois muitas das

vezes não existem condições de navegação nas áreas laterais aos canais por serem áreas

muito rasas, o que dificulta o levantamento da geometria destas áreas.

Algumas outras estratégias podem ser observadas no planejamento da utilização

de modelos computacionais com formulações de alagamento e secamento em sistemas

estuarinos costeiros (NIELSEN, 1999):

Alinhar os elementos da malha numérica ao longo das linhas de contorno e/ou

linhas de fluxo;

Planejar com antecedência a lógica de avanço e recuo da linha de costa;

Manter uma solução contínua do domínio;

Planejar adequadamente o período de simulação;

Proporcionar refinamento suficiente do domínio de forma que minimize as

variações internas de massa;

Minimizar a súbita mudança de área entre elementos adjacentes na malha

numérica;

Não violar a suposição de declive suave da geometria do terreno, imposta na

solução do equema numérico;

Evitar cantos e elementos angulosos nos limites da linha de costa.

Vale ainda ressaltar que a qualidade dos resultados da modelagem hidrodinâmica

de áreas alagáveis depende também da disponibilidade de dados medidos e boas

definições das condições de contorno prescritas o modelo.

2.3.2. Aplicações em estuários com dominância de áreas alagáveis

Dentro do contexto exposto anteriormente, diversos estudos têm sido

desenvolvidos nos últimos anos para a simulação computacional de padrões

hidrodinâmicos de estuários que possuem consideráveis áreas alagáveis, incorporando

na modelagem as áreas sujeitas ao alagamento e secamento.

Um estudo da circulação do sistema estuarino de Great Bay nos Estados Unidos

foi realizado por ERTURK et al. (2002). Utilizou-se no estudo um modelo 2DH

descrito por IP et. al. (1998, apud ERTRURK et al., 2002), que recorre a um método de

Page 36: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

23

alagamento e secamento do tipo “profundidade negativa”. As simulações demonstraram

a interação das planícies alagáveis com a hidrodinâmica do sistema e sua influência nas

correntes residuais e de transporte e ainda forneceu resultados conservadores em relação

ao processo de alagamento e secamento das planícies.

ZHENG et al. (2003) examinaram o processo de alagamento e secamento das

áreas entre-marés do estuário do rio Satilla nos Estados Unidos através de um modelo

tridimensional. A importância do processo de alagamento e secamento nos escoamentos

residuais no estuário foi ressaltada. Experimentos numéricos realizados no estudo

ignorando o processo de alagamento e secamento indicaram que a desconsideração das

áreas alagáveis no domínio de modelagem pode subestimar as correntes residuais em até

50%.

Uma versão do software NASIR (Numerical Analyzer for Scientific and Industrial

Requirements) que utiliza um método de diferenças finitas foi avaliada por YAZDI et

al. (2008). O trabalho analisou a eficiência do modelo em simular a circulação de um

canal com planícies de manguezais e batimetria variável. Foram obtidos bons resultados

com pouca discrepância dentre os resultados e os dados medidos, demonstrando a

eficiência do modelo em simular o escoamento em canais de maré com geometria

complexa.

A hidrodinâmica da região norte da foz do Rio Amazonas, a qual tem presença de

planícies de maré, foi investigada por GALLO (2009) considerando diversas forçantes

físicas principais que determinam a hidrodinâmica do estuário. As medições e

modelagens realizadas demonstraram que naquela região as planícies de maré não têm

influência na magnitude dos harmônicos de maré no canal principal, entretanto,

possuem papel relevante na dissipação de energia e geração de áreas preferenciais para

a deposição de sedimentos.

Uma bateria de testes e aplicações com um modelo hidrodinâmico com

formulações de alagamento e secamento foram realizadas por SANTOSO (2011). O

trabalho comparou os resultados numéricos com resultados analíticos e revelou a

capacidade inerente do modelo proposto por CASULLI & CHENG (1992 apud

SANTOSO, 2011) em simular coerentemente a frentes de alagamento e secamento

inclusive em um estuário real. O método de alagamento e secamento utilizado no

modelo é do tipo “exclusão de elementos”.

Page 37: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

24

Bons resultados foram obtidos por YIN et al. (2011) ao simular os níveis e

correntes de maré no estuário de Zhanjiang na China utilizando o modelo SMS/RMA2.

O método de alagamento secamento incorporado no modelo reproduziu

satisfatoriamente a dinâmica intermitente da exposição das zonas entre-marés que

existem no estuário. Os resultados indicaram boa concordância com os dados medidos e

refletiram as características hidrodinâmicas no estuário de Zhanjiang.

Um modelo de qualidade de água acoplado a um modelo hidrodinâmico 2DH com

formulações de alagamento e secamento do programa SisBaHiA® foi desenvolvido e

avaliado por BARROS (2012). A autora ainda fez uma aplicação em um estuário real

com extensas planícies de manguezais.

Outros métodos de alagamento e secamento incluídos no pacote computacional do

SisBaHiA® foram testados e comparados entre si por SFRENDRECH (2012). Os testes

indicaram que dentre os métodos disponíveis no SisBaHiA os métodos do meio poroso-

rugoso e do meio poroso tiveram os melhores resultados quando comparados com dados

medidos.

O modelo RMA2 também foi utilizado por SANTHYANATHAN & THATTAI

(2013) para reproduzir a circulação no estuário de Pichavaram na Índia. A região

estudada possui extensas planícies de manguezais em uma complexa rede de canais e

bancos de maré. Os resultados obtidos demonstraram uma pronunciada assimetria de

maré, com dominância de vazante, que foi associada à fricção das áreas de manguezal

que provocam a assimetria através do retardo nas correntes de maré durante a enchente.

HORSTMAN (2013) utilizou o modelo de diferenças finitas DELFT3D para

investigar tridimensionalmente a influência da vegetação na perda de momento e na

dinâmica sedimentar de uma região de manguezais.

3. O modelo hidrodinâmico do SisBaHiA®

O sistema de modelagem adotado para o desenvolvimento deste estudo foi o

Sistema de Base Hidrodinâmica Ambiental – SisBaHiA®, que se constitui em um

sistema profissional de modelos computacionais sob registro da Fundação Coppetec,

órgão gestor de convênios e contratos de pesquisa da COPPE/UFRJ – Instituto Luiz

Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (COPPE) da Universidade

Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Page 38: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

25

O SisBaHia® foi desenvolvido pela Área de Engenharia Costeira e Oceanográfica

da COPPE/UFRJ desde 1987, quem vem continuamente atualizando o sistema com

novas versões contemplando ampliações de escopo e aperfeiçoamentos feitos através de

várias pesquisas acadêmicas (FEITOSA, 2007; ARENTZ, 2009; BARROS, 2012;

ROSENHAGEN, 2013), além de projetos de pesquisa.

O modelo numérico computacional hidrodinâmico implementado no SisBaHiA

faz parte dos modelos numéricos da linhagem FIST (Filtered in Space and Time), e é

otimizado para corpos d’água naturais com escoamentos pouco sensíveis à

baroclinicidade vertical. O modelo realiza a modelagem da turbulência baseada em

técnicas de filtragem semelhantes às empregadas na Simulação de Grandes Vórtices.

O SisBaHiA® resolve as equações completas de Navier-Stokes, considerando a

aproximação de águas rasas (aproximação de pressão hidrostática), a aproximação de

Boussinesq, e considera a água um fluido incompressível.

Os modelos hidrodinâmicos do SisBaHiA® podem ser resolvidos em três

dimensões com campo de velocidades tridimensional (módulo 3D), ou em duas

dimensões, através de dados de elevação da superfície livre e com velocidades de

correntes promediadas na vertical, fornecendo apenas a distribuição horizontal (módulo

2DH).

Corpos d´água costeiros como estuários possuem profundidades verticais com

ordens de grandeza menores que sua largura e comprimento (x3>> x2 ≈ x1), ou seja, suas

dimensões verticais (x3 e u3) são muito inferiores às suas dimensões horizontais (x1, x2, e

u1, u2). Desta forma, torna-se aceitável trabalhar com dados promediados na vertical,

obtendo-se resultados em planta, considerando que as variações verticais ocorridas

nestes corpos d’água são pequenas. Portanto, para a completa resolução do campo de

escoamento são utilizados dados de elevação (ζ) e de velocidades (u1 e u2) promediadas

na coluna d’água.

Informações mais detalhadas sobre a formulação matemática das equações

utilizadas no SisBaHia® podem ser encontradas em ROSMAN et. al. (2014).

Page 39: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

26

3.1. Equações governantes do Modelo 2DH

A seguir são apresentadas as equações governantes do módulo 2DH (promediado

na vertical) do modelo hidrodinâmico implementado no SisBaHia. Maiores detalhes

podem ser encontrados na Referência Técnica do SisBaHiA® em ROSMAN et. al.

(2014).

As três equações necessárias para determinar as três incógnitas de circulação

hidrodinâmica em um escoamento 2DH integrado na vertical, (ζ, U, V), são resumidas

abaixo. Pode-se comparar a descrição dos termos nesse item com uma descrição

semelhante para o escoamento 3D (ver ROSMAN et. al., 2014) para obter:

Equação de quantidade de movimento 2DH para um escoamento integrado na

vertical, na direção x:

0

0

0 0

ˆˆ ( )ˆ1 ( )

2

1 12Φsen Σ

xyxx

xyS B E xxx x x

HU H HV g g

y x x H x y

SS UV q

H H x

U U

y H

Ut x

(1)

Equação de quantidade de movimento 2DH para um escoamento integrado na

vertical, na direção y:

0

0

0 0

ˆ ˆˆ ( ) ( )1

2

1 12Φsen Σ

xy yy

yx yyS B E

y y y

H HV HV g g

y y y H x y

S S VU q

H H x y H

V VU

t x

(2)

Equação da continuidade (do volume) integrada ao longo da vertical:

h UH VH

qt x y

(3)

Utilizando a equação de quantidade de movimento na direção x como exemplo, a

seguinte tabela explica o significado de cada termo nas equações (1) e (2).

Evidentemente, o significado dos termos semelhantes na equação de quantidade de

movimento na direção y é o mesmo.

U

t

Representa a aceleração local do escoamento 2DH, i.e.,

em uma dada posição, a taxa de variação temporal da

quantidade de movimento média na vertical por

unidade de massa. Em escoamentos permanentes, esse

termo é igual a zero.

Page 40: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

27

U UU V

x y

Representa a aceleração advectiva do escoamento 2DH,

i.e., em um determinado instante, representam o

balanço dos fluxos advectivos médios na vertical, por

unidade de área, de quantidade de movimento na

direção x, por unidade de massa. Em escoamentos

uniformes, esses termos são iguais a zero.

gx

Representa a variação da pressão hidrostática na

direção x (gradiente de pressão), devido à declividade

da superfície livre na direção x. Conforme indicado

pelo sinal negativo, este termo força escoamentos de

lugares onde o nível de água é mais alto para onde o

nível de água é mais baixo.

2

Hg

x

Representa a variação da pressão hidrostática na

direção x (gradiente de pressão), devido às diferenças

de densidade 0ˆ / da água na direção x. Conforme

indicado pelo sinal negativo, este termo força o

escoamento de lugares com maior densidade para

locais com menor a densidade.

( )1 ( ) xyxx

o

HH

H x y

Representa a resultante das tensões dinâmicas

turbulentas 2DH no escoamento i.e., em um

determinado instante, representam o balanço dos fluxos

difusivos médios na vertical, por unidade de área, de

quantidade de movimento na direção x, por unidade de

massa. Por exemplo, esses termos são responsáveis

pela geração de vórtices horizontais em zonas de

recirculação.

0

1 xyxxSS

H x y

Representa o efeito das tensões de radiação devido a

ondas de curto período capazes de gerar correntes

litorâneas. Tais termos só tem efeito relevante quando

as ondas estão em águas relativamente rasas, e.g.,

quando a profundidade local é inferior a 10% do

comprimento da onda.

2 sen V

Representa a aceleração de Coriolis decorrente do

referencial estar se movendo com a rotação da Terra.

Esse termo é irrisório próximo ao equador, i.e. em

baixas latitudes, e pouco relevante em corpos de água

relativamente pequenos como a Baía de Guanabara, por

exemplo.

1 S

x

oH

Representa a tensão do vento na superfície livre por

unidade de massa. Se o vento estiver na mesma direção

do escoamento, esse termo irá acelerar o escoamento;

se estiver oposto, irá retardar o escoamento.

1 B

x

oH

Representa a tensão de atrito no fundo atuante no

escoamento 2DH por unidade de massa. Conforme

indicado pelo sinal negativo, esse termo sempre tende a

desacelerar o escoamento. É sempre oposto ao

escoamento.

1 E

x

oH

Representa a tensão de atrito devido a efeito de

estruturas inseridas no campo de escoamento 2DH por

Page 41: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

28

unidade de massa. Conforme indicado pelo sinal

negativo, esse termo sempre tende a desacelerar o

escoamento. É sempre oposto ao escoamento.

P E I

q

Uq q q

H

Representa efeitos na quantidade de movimento

devidos a variações de massa em função dos fluxos,

por unidade de área, de precipitação qP, evaporação qE

e infiltração qI.

Para a equação da continuidade 2DH:

P E I

q

h UH VH

t x y

q q q

Evidentemente, possui o mesmo significado da equação

semelhante no módulo 3D. Entretanto, reescrevendo a

equação da continuidade do volume da forma que está

escrita à esquerda, pode-se observar que a altura da coluna

de água (ζ+h) varia no tempo como resultado dos fluxos

efetivos através da coluna de água nas direções x e y

respectivamente, HU

x

e

HV

y

, e do balanço dos fluxos de

precipitação qP, evaporação qE e infiltração qI, por unidade

de área.

Como exemplo, considere-se o caso de escoamento permanente e uniforme na

direção x em um canal largo e longo, sem a ação do vento e de fluxos através da

superfície livre e do fundo. A partir das explicações dadas acima, observa-se que a

equação de quantidade de movimento 2DH para um escoamento integrado na vertical na

direção x (equação x) ficaria reduzida a:

1

0 B

x

o

gx H

A tensão de atrito no fundo é calculada através da seguinte expressão:

B

i o iU [i = 1,2]

Substituindo esta definição de tensão de atrito no fundo, obtêm-se:

2 2 2

h h hU U C H U C H U C Hx x x

Page 42: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

29

Em escoamento permanente e uniforme, em canal largo e longo, a declividade da

superfície livre é aproximadamente a mesma que a do fundo (I), ou seja, Ix

. Além

disso, o raio hidráulico do canal é aproximadamente igual à profundidade média da

seção transversal, ou seja,

HH R . Dessa forma, utilizando também a relação entre os

coeficientes de Chézy, Manning e Darcy – Weisbach, o resultado anterior pode ser

escrito como:

16

ChézyManning

Darcy-Weissbach

8hh h h h h

R gU C H U C IR U IR U IR

x n f

Essas são as conhecidas equações de Chézy, Manning e Darcy – Weisbach para

escoamento permanente e uniforme em canais com superfície livre. Observa-se que

essas equações são, na verdade, formas simplificadas das equações de Navier–Stokes,

que por sua vez, são nada mais nada menos do que a segunda lei de Newton escrita em

um referencial Euleriano.

3.2. Formulações numéricas dos diferentes métodos de alagamento e

secamento do SisBaHiA®

A descrição das formulações numéricas dos diferentes métodos de alagamento e

secamento encontradas no SisBaHia pode ser encontrada na Referência Técnica do

SisBaHiA® (ROSMAN et. al., 2014) e está apresentada a seguir.

No SisBaHiA®, a modelagem com áreas que podem sofrer alagamento e

secamento em função da variação no nível de água pode ser feita por dois métodos:

MRP = Método Rugoso-Poroso.

MMP = Método de Meio Poroso.

Na Figura 8 os dois métodos estão esquematizados. Os dois primeiros são muito

similares, pois consideram que existe uma faixa de meio poroso abaixo da superfície do

terreno, ou do fundo quando coberto de água, através do qual ocorre um fluxo restrito

de água. Porém, não se trata de uma simulação de escoamento em meio poroso

propriamente, mas um efeito equivalente, no qual a água que estaria distribuída em toda

a espessura do meio poroso é forçada a escoar por uma camada equivalente com

pequena espessura e grande rugosidade. No meio poroso, a camada equivalente de

Page 43: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

30

escoamento é limitada acima pelo nível da água no interior do meio, que é uma

incógnita do problema, e tem uma espessura típica da ordem de 5% a 20% da altura de

variação esperada para o nível da água no domínio de modelagem.

Nesta camada equivalente de escoamento subsuperficial imerso no meio poroso, a

altura da rugosidade equivalente, geradora da resistência que restringe o escoamento, é

tipicamente de 1 a 5 vezes a espessura da camada, portanto é um fluxo fortemente

restrito.

Na Figura 8 nota-se a diferença entre o MRP e o MMP. No MRP, um dado local é

afetado por efeitos de escoamento subsuperficial apenas quando a altura da coluna de

água acima do fundo for inferior à espessura da camada de escoamento equivalente no

meio poroso. E, só ocorre fluxo em toda a espessura da camada rugosa – porosa quando

a cota do NA estiver abaixo da cota do terreno. O MMP, também conhecido como

marsh porosity ou thin slot method é adotado em vários modelos de elementos finitos6.

Em tal método, a camada equivalente de escoamento restrito está sempre plenamente

presente e é adicionado ao escoamento no meio fluido existente em locais em que o NA

está acima da cota do fundo.

Figura 8. Esquema dos métodos de alagamento e secamento. A parte cinza representa o terreno. As

espessuras das camadas equivalentes de escoamento estão exageradas para facilitar a

visualização.

Experimentos numéricos, feitos em áreas de variação de maré com manguezais,

mostram que os resultados dos métodos MRP e MMP são similares, porém o MRP tem

a vantagem de não interferir na celeridade de propagação de onda. Com o MMP ocorre

6 Por exemplo, modelos da família SMS-RMA:

http://www.scisoftware.com/products/sms_details/sms_details.html

NA – Superfície Livre

NA – Meio Poroso

MRP Espessura da camada equivalente

de escoamento no meio poroso

MMP Espessura da camada equivalente

de escoamento no meio poroso

Page 44: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

31

um pequeno aumento na celeridade de propagação de ondas, por conta da profundidade

adicionada pela camada equivalente. No esquema da Figura 8, a linha pontilhada

vermelha representa a batimetria efetiva considerada pelo MMP. Ressalta-se que a parte

da linha pontilhada sob a linha de NA - Meio Poroso sobe e desce em função da

variação do NA, porém a parte que fica sempre abaixo do fundo do meio líquido, não

varia no tempo, exceto na borda de transição junto ao batente da linha de água na

margem.

3.2.1. Formulação de alagamento e secamento do MRP e do MMP

A idéia básica na técnica de considerar alagamento e secamento pelo Método

Rugoso – Poroso, MRP, e pelo Método do Meio Poroso, MMP, é presumir a ocorrência

de escoamento subsuperficial em meio poroso. Em tais métodos, na medida em que o

nível de água ζ baixa e se aproxima da cota do fundo, o escoamento deixa o meio

totalmente fluido, entra em uma zona de transição até passar a ocorrer totalmente na

camada equivalente de escoamento imersa no meio poroso. A Figura 8 mostra um

esquema dos métodos. A seguir apresenta-se a formulação do MRP e do MMP.

Para o MRP– Método Rugoso – Poroso são definidos os seguintes

parâmetros:

Espessura da camada porosa - rugosa: ERP

Fator de rugosidade: Fr

No MRP, define-se para cada ponto a cota superior da zona de transição (zTS):

( , ) ( , )TS RPz x y h x y E (4)

Considerando a situação do escoamento e efeitos da camada rugosa – porosa,

define-se uma batimetria com porosidade hP (x,y,t) e uma amplitude da rugosidade

equivalente com porosidade εP da seguinte forma:

Caso 1: escoamento em meio fluido: ζ > zTS

( , ) ( , )

( , ) ( , )

P

P

h x y h x y

x y x y

(5)

Caso 2: escoamento em transição: –h ≤ ζ ≤ zTS

( , )

( , )( , )

P RP

RPP RP

RP

h x y E

x y rEx y h rE

E

(6)

Caso 3: escoamento em meio poroso rugoso: ζ < –h

Page 45: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

32

( , )

( , )

P RP

P RP

h x y E

x y FrE

(7)

Note que no MRP, a batimetria e a amplitude da rugosidade em meio fluido, caso

1 acima, não são afetadas pela camada equivalente de escoamento no meio poroso.

Para o MMP – Método do Meio Poroso são definidos os seguintes

parâmetros:

Espessura do meio poroso: ERP

Espessura da zona de transição de meio: EP

Permeabilidade no meio poroso: p

O parâmetro “permeabilidade” acima não é o tradicional empregado em mecânica

dos solos, usa-se “permeabilidade” como valor indicativo da fração de volume do meio

pelo qual ocorre o escoamento. O meio fluido tem p = 1.0, em meio poroso de

sedimentos usuais adota-se p entre 0.001 e 0.1. Na zona de transição a permeabilidade

varia linearmente entre 1.0 no meio fluido e p no meio poroso. Com os parâmetros

acima, são definidos:

Cota superior da zona de transição: ; 0.952 2 1

T TTS P

E E ph E p

p

(8)

Cota inferior da zona de transição: TI TS TE (9)

No MMP, em função da situação do escoamento que determina a espessura da

camada rugosa – porosa, também se define uma batimetria com porosidade HP e uma

amplitude da rugosidade equivalente com porosidade HP:

P Ph H (10)

max ,

PP

H

h

(11)

Porém, como a espessura da camada porosa equivalente é sempre incluída, é

necessário definir primeiro a altura da coluna de água com porosidade HP, da seguinte

forma:

Caso 1: escoamento em meio fluido: ζ > ζ TS

12 2

T TP P TS

E EH p h E p

(12)

Caso 2: escoamento em transição: ζTI ≤ ζ ≤ ζ TS

21

2 2

TITP P

T

pEH p h E

E

(13)

Page 46: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

33

Caso 3: escoamento em meio poroso: ζ < ζ TI

2

TP P

EH p h E

(14)

Para estimar valores adequados para os parâmetros p, EP e ET considere:

p = A permeabilidade tem valor usual entre 0.001 e 0.1, sendo mais comuns

valores < 0.05.

ET = A espessura da zona de transição para corpos de água naturais tem

valores usuais entre 0.3 e 0.8 m, sendo recomendável > 0.4 m. Deve-se

também considerar que normalmente ET < EP/3.

EP = A espessura do meio poroso deve ser tal que a mínima altura efetiva de

coluna de água, Hp, para escoamento em meio poroso, i.e. caso 3, seja ao

menos 50% maior que a amplitude da rugosidade equivalente do fundo,

ε, no local mais raso. Para estimar, suponha a mínima cota de água

esperada (ζ = ζmin) na equação (14) aplicada ao local com o menor valor

de h. EP deve ser pelo menos 3ET.

Além da condicionante para H > 1.5ε mencionado acima, os parâmetros devem

ser tais que a cota superior da zona de transição seja ζTS < – h + 0.9ET. Para isso

recomenda-se:

1. Dados ET e EP 0.4

0.9

T

P T

Ep

E E

2. Dados ET e p 0.4 0.9

P T

pE E

p

3. Dados EP e p 0.4 0.9

PT

pEE

p

Na interface do SisBaHiA® há um quadro que faz as verificações acima,

facilitando ao usuário estimar valores adequados.

3.2.2. Alterações nas equações governantes com MRP e MMP

Com as opções de alagamento e secamento no MPR e no MMP, a altura da coluna

de água, H, que aparece nas equações de continuidade e quantidade de movimento passa

a ser computada como:

PH h (15)

Page 47: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

34

Além da modificação acima, note que no caso do MPR, quando o escoamento

passa a incluir uma fração subsuperficial, na medida em que o ζ desce ou sobe, igual

parcela de água é adicionada ou subtraída da coluna de água pelo fundo da coluna de

água. Desta forma, a equação da continuidade resulta em:

Fluxo peloFundo Poroso

p

MP

h UH VHq

t x y t

4. Considerações sobre a utilização de métodos de alagamento e

secamento do tipo “porosidade artificial” na modelagem

hidrodinâmica de sistemas estuarinos com extensas áreas alagáveis

Assim como os demais métodos de alagamento e secamento, o do tipo

“porosidade artificial” possui várias implicações. A inserção de uma camada líquida

subsuperficial faz com que um determinado volume líquido seja “emprestado” ou

“adicionado” ao domínio, podendo desta forma ser alterados os prismas de maré do

domínio modelado.

Para conceituar fisicamente os efeitos citados, considere um modelo

hidrodinâmico genérico com formulações de alagamento e secamento do tipo

“porosidade artificial” que permite o rebaixamento da superfície da água abaixo do

fundo batimétrico, onde ocorre um fluxo subsuperficial restrito a uma camada viscosa

nas células de cálculo que estão consideradas “secas”. O escoamento em meio

subsuperficial está sujeito a uma altura de coluna d’água (H) fixa, que corresponde à

espessura da camada subsuperficial prescrita.

Analisando a seção transversal de um canal de maré com planícies laterais sujeitas

ao processo de alagamento e secamento onde a parte mais profunda do canal se mantém

permanentemente alagada, considere ainda que a hidrodinâmica deste sistema seja

dominada pela variação provocada pelas marés. A onda de maré se propaga pelo

sistema com celeridade c=√𝑔𝐻. Desta forma, percebe-se que a velocidade com que a

onda se propaga no meio é dependente da altura da coluna d´água local.

Uma vez que no meio subsuperficial a altura da coluna d´água é fixa, a celeridade

da onda de maré por sua vez será constante. Diferentemente de sua celeridade no meio

Page 48: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

35

subsuperficial, a onda de maré não se comporta da mesma forma no canal que não está

sujeito ao secamento e alagamento, que tem a altura da coluna d’água variável.

A consequência deste fenômeno é que devido á extensão das áreas sujeitas a

alagamento e secamento, a propagação da onda de maré no domínio é dominada pelas

áreas alagáveis, fazendo com que onda de maré seja deformada e os níveis da superfície

livre da água não oscilem de forma realista. Tem-se ainda que uma vez que existem

duas regiões próximas sujeitas a propagação de uma onda a qual se propagará com

velocidades diferentes nas duas regiões, haverá um desnível na superfície da água entre

o meio subsuperficial e o meio vizinho. Este desnível faz com que haja um gradiente de

pressão artificial que pode provocar um aumento no de campo de velocidades no meio

subsuperficial e ocasionar um fluxo artificial de massa entre o meio poroso rugoso e o

meio líquido.

Uma das formas de contornar este problema é aumentar a espessura da camada

rugosa porosa (ERP), de forma com que a celeridade da onda na área alagável e nos

canais sejam similares. Entretanto, este artifício pode implicar na modificação da

hidrodinâmica, dependendo da proporção entre a área alagável e a área de canais,

principalmente nas velocidades em condições de maré de sizígia, quando a amplitude

das oscilações dos níveis de água é maior e há o alagamento e secamento de toda a

extensão das áreas alagáveis.

NIELSEN & APELT (2003) ao realizar testes concluiram que os parâmetros

relacionados aos métodos que consideram camadas porosas subsuperficiais

influenciaram fortemente os resultados encontrados. BARROS (2012) utilizou uma

espessura da camada subsuperficial de 3.5 m ao realizar testes em um estuário real.

ERTURK et al. (2002) utilizou uma espessura da camada subsuperficial de 1.0 m ao

simular a hidrodinâmica de um estuário com extensas áreas alagáveis.

SIQUEIRA (2007) realizou testes utilizando o Método do Meio Poroso (MMP) e

verificou que em sistemas com extensas áreas alagáveis este método reduz os níveis

verticais de maré, porém não o suficiente para que oscilem em torno do nível médio ao

longo de todo o canal utilizado nos testes. A onda de maré apresentou comportamento

em desacordo com a física que rege a hidrodinâmica de corpos d’água com áreas

alagáveis pois os níveis de água não oscilaram em torno do nível médio da maré.

Page 49: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

36

5. Modificação numérica da formulação do método de alagamento

e secamento do meio rugoso-poroso

Conforme explicitado anteriormente, a aplicação do MPR em domínios com

extensas áreas alagáveis tem demonstrado que em determinados casos é necessário

prescrever um valor de espessura da camada porosa rugosa relativamente alto, de forma

com que os níveis no domínio possam oscilar de forma mais realista. A prescrição de

pequenos valores de EPR influencia na amplitude da oscliação do nível da água no

domínio, o que parece ter relação com a capacidade da onda se propagar no meio

subsuperficial e definir o avanço e o recuo das frentes de alagamento.

Além disso, observa-se através de testes a formação de um desnível na superfície

livre da água ao longo da planície de alagamento. Este desnível pode provocar um efeito

de fluxo artificial de massa entre o meio subsuperficial e o meio líquido, diminuindo a

capacidade do modelo em conservar a massa globalmente.

Sendo assim, avalia-se neste item uma modificação na formulação numérica do

método do meio poroso-rugoso, que tem o intuito de melhorar o desempenho do

modelo. Espera-se que a modificação pretendida tenha efeitos na simulação da oscilação

dos níveis da água de forma mais conservadora em relação ao balanço global de massa

em domínios complexos com extensas áreas alagáveis.

Esta modificação consiste na inserção de um fator de aceleração que permita

calibrar a celeridade da onda no meio rugoso poroso. A utilização deste fator tem o

intuito de acelerar a taxa de variação da elevação da superfície da água (𝜕𝜁

𝜕𝑡) na camada

porosa rugosa. O fator de aceleração visa permitir que a oscilação da superfície livre da

água seja dominada pelos níveis no canal de maré quando as planícies estão secas, além

de eliminar o gradiente de elevação da superfície água no meio poroso-rugoso. Com

isso pode-se especificar menores espessuras da camada porosa rugosa sem que haja

instabilidades numéricas.

Considerando a equação da continuidade mostrada em (3), a taxa da variação da

superfície da água pode ser definida como:

i

i

Huq

t x

(16)

O artifício numérico utilizado consiste na multiplicação do termo da direita da

equação por um fator de calibração da celeridade da onda (cc). Este fator é função da

diferença entre a cota da superfície livre da água (ζ) e a cota do fundo (h) mostradas na

Page 50: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

37

Figura 9. Sendo assim, a variação dos níveis da superfície da água em meio poroso-

rugoso, fora da zona em transição, ou seja, quando ζ<h, a variação do nível da água será

definida por:

( ) 1 i

i

Hucc h q

t x

(17)

Através deste artifício tem-se que quanto maior os valores de cc, menores serão os

desníveis na superfície livre da água no meio poroso em relação ao meio líquido

vizinho. Desta forma, este fator pode ser usado para eliminar o desnível formado no

meio subsuperficial e diminuir os fluxos artificiais de massa entre os meio

subsuperficial e o meio líquido adjacente. O esquema a seguir (Figura 9) apresenta uma

ilustração esquemática do perfil do efeito de aceleração da onda.

É importante ressaltar que este artifício não modifica as equações do movimento e

do transporte de massa e constitui-se apenas num artifício numérico com a adição de um

multiplicador do termo que define a taxa de oscilação da superfície livre da água no

meio poroso rugoso. Desta forma, a inserção do fator de aceleração da onda não altera

as formuções fundamentais do modelo, provocando apenas o efeito de pretendido que

consiste na eliminação do desnível da superfície livre da água em meio subsuperficial.

Figura 9: Esquema ilustrativo do efeito da utilização de um fator de aceleração da onda.

Cota do fundo batimétrico (-h)

Superfície livre da água

H = Profundidade da àgua (MRP)

z = (x, y, t)

z = – h (x, y, t)

Cota da superfície livre da água no meio poroso-rugoso (ζ)

ERP sem cc

ERP com cc

Page 51: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

38

6. Caso teste 1: avaliação da modificação na formulação numérica

do método do meio rugoso-poroso

Os efeitos da inserção de cc nas formulações numéricas do método do meio

rugoso-poroso foram avaliados através da análise do comportamento da frente de

alagamento ao longo do eixo transversal de um canal com batimetria variável e com

planícies alagáveis. Para isso recorreu-se à utilização de um domínio ideal elaborado

por LECLERC (1990) e utilizado em diversos trabalhos como HENICHE et al., 2000;

JIANG & WAI, 2005; GALLO, 2009; GOURGE et al., 2009; BARROS, 2012 e

SFRENDRECH, 2012. O domínio consiste em um canal com 500 metros de

comprimento e 25 metros de largura. Ao longo do eixo longitudinal o canal possui

batimetria que varia de 0 m junto a fronteira aberta à 1.4 m na borda da planície

alagável. A densidade da malha numérica utilizada é maior na plataforma alagável

permitindo um maior detalhamento do comportamento das variáveis analisadas na área

sujeita a alagamento e secamento. A malha composta por 260 elementos finitos e 1113

nós de cálculo e a geometria do domínio podem ser observados na Figura 10.

Figura 10: Malha numérica utilizada e perfil geométrico longitudinal do canal lateral (a linha superior

pontilhada em azul indica o nível de preamar e a inferior ao de baixa-mar).

Na fronteira aberta foram prescritos níveis de elevação da superfície da água (ζ)

de acordo com uma onda com amplitude de 1.5 m e período de 1 hora (3600 segundos),

de acordo com a equação:

Page 52: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

39

2

1.0 0.75cos3600

t

(18)

Os testes foram realizados para um período de simulação de 3600 segundos,

totalizando um ciclo de maré e com passo de tempo Δt=5s.

ROSMAN et. al. (2014) indica que a espessura estabelecida para o meio poroso-

rugoso deve variar de 5% a 20% da amplitude esperada de variação do nível d’água no

domínio. Desta forma, considerando uma variação total de nível de água de 1.5 m, deve-

se utilizar uma espessura (ERP) entre 0.075m e 0.225m. Portanto, utilizou-se no teste

uma espessura média da variação sugerida do meio rugoso poroso (ERP) de 0.15 m.

A rugosidade equivalente de fundo prescrita foi de 0.03 m. As condições iniciais

estabelecidas foram do tipo “a frio”, com ζ=1.75m e ui=0m/s e neste teste foram

realizadas duas simulações, uma com o modelo adaptado (utilizando cc=1.0) e outra

sem o modelo adaptado (o que equivale a prescrever cc=0.0). O algoritmo do MRP

incorporado no SisBaHiA® permite ao usuário impor velocidades residuais nulas no

meio poroso rugoso. Assim, nos testes as velocidades em meio subsuperficial foram

definidas como nulas (ui=0), de forma análoga ao algoritmo de JIANG & WAI (2005).

Os resultados do modelo adaptado foram comparados com os resultados de

JIANG & WAI (2005) que realizaram o mesmo teste com outro modelo hidrodinâmico

com formulações de alagamento e secamento do tipo “porosidade artificial”.

Os resultados dos testes de avaliação dos efeitos de da inserção de cc nas

formulações do MRP podem ser observados através da análise dos perfis longitudinais

de elevação e magnitude de correntes. A Figura 11 adiante apresenta os padrões

hidrodinâmicos em diferentes momentos de um ciclo de maré, permitindo uma análise

espaço-temporal das frentes de alagamento e secamento.

Page 53: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

40

Figura 11: Resultados da simulação em diferentes instantes de um ciclo de maré, utilizando o modelo

adaptado; os símbolos quadrados e triangulares representam respectivamente os resultados de

elevação e velocidade encontrados por JIANG & WAI (2005).

Page 54: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

41

Através dos resultados pode-se observar o efeito pretendido com a modificação

das formulações do MRP, ou seja, devido aos efeitos da inclusão do fator de aceleração

da variação dos níveis da superfície livre da água em meio poroso rugoso, não é

observado o gradiente na elevação da superfície livre da água no meio subsuperficial.

Os efeitos da moficação nas formulações do modelo são visíveis principalmente quando

comparados com os resultados obtidos por JIANG & WAI (2005) e também aqueles

obtidos pelo modelo sem a adaptação na formulação (Figura 12).

Os efeitos pretendidos com a modificação são mais visíveis no tempo t =30min,

que coincide com o instante de baixa-mar. Os níveis da água no meio subsuperficial

estão quase horizontais e alinhados com os níveis da água no meio líquido, enquanto

pode ser observado o desnível da superfície no do perfil obtido por JIANG & WAI

(2005) e também com o perfil obtido com a simulação sem a modificação das

formulações do modelo (Figura 12).

É importante observar ainda que apesar do nível da água ter oscilado mais

rapidamente no meio subsuperficial, a modificação do modelo não influenciou o nível

da superfície livre da água no meio líquido. Os níveis da água na área que não está

influenciada pelo alagamento ou secamento coincidem com os perfis comparados em

todos os tempos de simulação analisados.

A Figura 12 a seguir apresenta os perfis obtidos com os resultados da mesma

simulação anterior, utilizando o modelo hidrodinâmico de alagamento e secamento sem

a modificação, o seja, prescrevendo cc=0.0. A diferença da modificação do modelo é

visível através da observação dos desníveis artificiais da superfície da água formados no

meio subsuperficial.

Page 55: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

42

Figura 12: Resultados da simulação em diferentes instantes de um ciclo de maré, utilizando o modelo sem

a modificação.

Page 56: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

43

7. Caso teste 2: avaliação da influência dos parâmetros

relacionados ao método do meio rugoso-poroso

Este teste parte do princípio de que os resultados de modelagem hidrodinâmica

obtidos utilizando-se o MPR são sensíveis aos diferentes parâmetros estabelecidos nas

formulações do método. Estes parâmetros são: espessura da camada porosa-rugosa

(ERP), Fator de rugosidade (Fr) e Fator de Calibração da Celeridade da Onda (cc),

apresentados anteriormente. Analisando fisicamente os efeitos produzidos por cada

parâmetro, faz-se as seguintes observações:

ERP: este parâmetro está relacionado diretamente ao volume de água que será

armazenado no domínio sujeito ao alagamento e secamento; quanto maior este

valor, maior será o volume armazenado no meio poroso-rugoso; em domínios

com extensas áreas alagáveis, este parâmetro pode influenciar na celeridade de

propagação da onda sobre as planícies alagáveis;

Fr: o fator de rugosidade possui a função de restringir o escoamento, através do

incremento da rugosidade equivalente de fundo; com isso, a função deste

parâmetro é restringir o fluxo através de um efeito friccional equivalente e por

isso este parâmetro pode diminuir o fluxo de massa artificial entre o meio

líquido e o meio subsuperficial;

cc: o fator de aceleração da celeridade da onda pode aumentar a precisão dos

resultados em relação à conservação da massa, uma vez que o fator reduz o

gradiente da elevação da superfície da água em meio poroso rugoso.

Tomando em consideração que os parâmetros relacionados possuem relação com

a capacidade armazenamento de água na camada subsuperficial considerada no MPR,

uma investigação da relação dos parâmetros com a capacidade de conservação global da

massa do método pode ser realizada através da análise do prisma de maré de um

domínio idealizado, ou seja, do volume de água que flui para fora ou dentro do domínio

durante meio ciclo de maré (vazante ou enchente).

A estimação do prisma de maré ideal (real) de um domínio com geometria

complexa torna-se inviável, uma vez que ferramentas como as curvas cota×volume

fornecem volumes que se referem a níveis horizontais em todo o domínio, enquanto as

variações da superfície livre da água em um domínio com dimensões longitudinais

maiores que o comprimento de onda da maré incidente, são irregulares espacialmente

no domínio.

Page 57: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

44

Torna-se necessário desta forma, a utilização de um domínio com geometria

simples e dimensões reduzidas. Além disso, a onda de maré incidente deve ter

comprimento longo o suficiente para que os níveis de elevação da superfície da água

variem de forma quase horizontal em todo o domínio. Com isso, utilizou-se para os

testes de avaliação dos parâmetros relacionados ao método do meio rugoso-poroso o

canal lateral idealizado por LECLERC et. al. (1990), descrito no item anterior e que está

apresentado na Figura 10.

Considerando uma onda de maré com altura de 1.5 m, período de 43200 segundos

e considerando ainda que esta onda se propaga de obedecendo a equação c= √𝑔ℎ, onde

a c é a celeridade da onda (em m/s), g a aceleração da gravidade (em m/s²) e h a

profundidade da coluna d’água, tem-se o comprimento da onda de maré no canal

idealizado com 500 m longitudinalmente de aproximadamente de 113147.0 m. Desta

forma, utilizando-se um período de onda de 43200 segundos, tem-se um comprimento

de onda significativamente maior que os 500 m de comprimento do canal utilizado nos

testes. Isso faz com que os níveis da água no domínio oscilem de forma quase

horizontal, permitindo uma comparação dos prismas de maré simulados e o prisma

presumido - que consiste no volume do canal entre a cota 1.75 e 0.25 m (indicados pelas

linhas pontilhadas azuis na Figura 10). O volume presumido existente entre essas duas

cotas no domínio é de 14593.75 m³.

Portanto, considerando as observações relacionadas acima, foram utilizados níveis

da superfície da água simulando uma onda de maré com mesma amplitude da onda de

maré utilizada no teste anterior, porém mais longa com um período de 12 horas (43200

s) na fronteira aberta, de acordo com a equação:

2

1.0 0.75cos43200

t

(19)

As condições iniciais estabelecidas foram do tipo “a frio”, com ζ=1.75m e

ui=0m/s.

A análise consistiu na comparação dos prismas de maré considerando diferentes

espessuras da camada rugosa-porosa (ERP), Fator de rugosidade (Fr) e Fator de

Calibração da Celeridade da Onda (cc), com o prisma presumido. Para cada parâmetro

foram selecionados 03 diferentes valores que se diferem entre si em magnitude. Na

escolha dos valores dos parâmetros testados, procurou-se estabelecer variações em uma

faixa justificável, de acordo com as faixas de valores recomendadas pela Referência

Técnica do SisBaHiA® (ROSMAN et. al., 2014).

Page 58: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

45

Tabela 2: Parâmetros e valores dos parâmetros selecionados para o teste.

Valores Espessura da Camada porosa

rugosa – ERP (m)

Fator de

rugosidade

(Fr)

Fator de aceleração

da celeridade da

onda (cc)

Recomendados

De 5% a 15% da oscilação dos

níveis de água (0.075 à 0.225 m

no caso do teste)

De 1.0 a 5.0 De 1.0 a 2.0

Testados

0.1 1 0.0

0.2 3 1.0

0.5 5 2.0

Para se estimar a combinação dos diferentes fatores em detrimento de um prisma

de maré ideal, os fatores foram combinados entre si, sendo que foram realizadas um

total de 27 simulações de acordo com a tabela.

A análise dos resultados foi feita tomando-se como parâmetros as diferenças entre

os prismas simulados e os prismas de maré obtidos em cada teste. Sendo assim, os

fatores puderam ser avaliados de acordo com o desempenho de cada teste em conservar

a massa globalmente.

Utilizou-se nas simulações um passo de tempo Δt=25 s. Foi simulado um ciclo de

maré, sendo que para a obtenção do prisma de maré utilizou-se os dados de vazão na

fronteira aberta do domínio relativos à vazante do ciclo de maré simulado.

Tabela 3: Combinação dos valores dos parâmetros testados nas 27 simulações executadas.

Teste ERP (m) Fr cc

1 0.1 1 0

2 0.1 1 1

3 0.1 1 2

4 0.1 3 0

5 0.1 3 1

6 0.1 3 2

7 0.1 5 0

8 0.1 5 1

9 0.1 5 2

10 0.2 1 0

11 0.2 1 1

12 0.2 1 2

Page 59: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

46

Teste ERP (m) Fr cc

13 0.2 3 0

14 0.2 3 1

15 0.2 3 2

16 0.2 5 0

17 0.2 5 1

18 0.2 5 2

19 0.5 1 0

20 0.5 1 1

21 0.5 1 2

22 0.5 3 0

23 0.5 3 1

24 0.5 3 2

25 0.5 5 0

26 0.5 5 1

27 0.5 5 2

Os 27 testes foram executados com êxito e os resultados a serem comparados se

referem à diferença relativa ao prisma presumido, ou seja, o erro relativo ao prisma

presumido como real. Para a análise, foi feita uma tabela com os resultados dos testes, e

as linhas da tabela foram organizadas em ordem crescente, de acordo com os valores da

diferença relativa. Isso permite uma análise da relação dos parâmetros com o

desempenho de cada simulação em relação a resultados mais conservadores.

Todos os prismas obtidos tiveram diferenças positivas em relação ao prisma

presumido, ou seja, os prismas de maré foram superestimados. A Tabela 4: apresenta os

resultados obtidos para cada teste realizado.

Analisando os resultados, observa-se claramente que o parâmetro que tem maior

relação com as diferenças de massa calculadas é o fator de calibração da celeridade da

onda. Os maiores valores de diferença entre os prismas simulados e o prisma presumido

foram encontrados quando prescreveu-se valores de cc iguais a 0.0. As menores

diferenças foram observadas para valores de cc entre 2.0 e 1.0.

A espessura da camada-rugosa porosa utilizada também parece ter relação com os

prismas de maré encontrados. As menores diferenças encontradas foram aquelas obtidas

com a prescrição dos menores valores de ERP, demonstrando a influência da espessura

no volume de água que é adicionado e removido do domínio.

Page 60: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

47

O fator de rugosidade da camada porosa-rugosa não demonstrou ter influência

significativa com os prismas de maré obtidos, indicando que a influência deste

parâmetro é menor que os outros investigados.

Os resultados do teste realizado através das 27 simulações demonstraram que

dentre os 3 parâmetros testados o fator de calibração da celeridade da onda em meio

rugoso-poroso possui uma maior influência na capacidade de conservação da massa do

método do meio poroso-rugoso. Isto demonstra que a modificação realizada nas

formulações do método conduziu para um melhor desempenho do mesmo em relação à

conservação global da massa, quando se considera áreas sujeitas a alagamento e

secamento no domínio.

A espessura da camada porosa-rugosa também apresentou influência na

conservação global da massa, sendo que conforme deduzido anteriormente, as menores

espessuras prescritas implicam em uma melhor conservação da massa.

Uma vez que sem o gradiente da elevação da superfície na água no meio

subsuperficial poroso rugoso reduz o fluxo de água entre a parte do domínio

considerada “seca” e a parte considerada “molhada”, pode-se dizer que o modelo é

capaz de preservar a massa de uma forma global.

Page 61: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

48

Tabela 4: Resultados obtidos no teste de avaliação da influência dos parâmetros do MRP para as 27

simulações executadas.

Teste ERP (m) Fr cc

Prisma

obtido

(m³)

Diferença

Relativa

(m³)

Diferença

percentual

3 0.1 1 2 15294.6 700.8 4.8%

6 0.1 3 2 15295.6 701.8 4.8%

9 0.1 5 2 15311.7 717.9 4.9%

2 0.1 1 1 15662.4 1068.6 7.3%

15 0.2 3 2 15665.9 1072.1 7.4%

5 0.1 3 1 15672.5 1078.7 7.4%

18 0.2 5 2 15672.7 1078.9 7.4%

12 0.2 1 2 15674.6 1080.8 7.4%

8 0.1 5 1 15767.3 1173.6 8.0%

24 0.5 3 2 15770.7 1177.0 8.1%

21 0.5 1 2 15771.3 1177.5 8.1%

27 0.5 5 2 15775.9 1182.1 8.1%

14 0.2 3 1 16162.7 1569.0 10.8%

11 0.2 1 1 16171.2 1577.5 10.8%

17 0.2 5 1 16205.6 1611.9 11.0%

23 0.5 3 1 16328.9 1735.2 11.9%

26 0.5 5 1 16329.2 1735.5 11.9%

20 0.5 1 1 16329.2 1735.5 11.9%

7 0.1 5 0 16599.0 2005.3 13.7%

25 0.5 5 0 17932.9 3339.1 22.9%

22 0.5 3 0 17943.5 3349.8 23.0%

19 0.5 1 0 17950.8 3357.0 23.0%

16 0.2 5 0 18377.3 3783.6 25.9%

4 0.1 3 0 18481.3 3887.6 26.6%

1 0.1 1 0 18647.3 4053.5 27.8%

10 0.2 1 0 18759.7 4166.0 28.6%

13 0.2 3 0 18760.8 4167.1 28.6%

Os resultados mostram que assim como relatado por outros autores como

NIELSEN (1999), NIELSEN & ALPET (2003), BARROS (2012) e MEDEIROS &

HAGEN (2013) em relação aos métodos do tipo “porosidade artificial”, o desempenho

do MRP é sensível aos parâmetros determinados em suas formulações.

Page 62: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

49

8. Caso teste 3: comparação da conservação da massa do MRP com

outros métodos de alagamento e secamento

O desempenho do MRP em relação à conservação global da massa será

comparado com outros métodos de agalamento e secamento, aplicando o teste realizado

no caso teste 3 utilizando-se outros métodos de alagamento e secamento.

Para isso, a simulação realizada no caso teste 3 foi realizada utilizando-se outro

método de alagamento e secamento disponível no SisBAHia®, o Método do Meio

Poroso (MMP). Além disso, além deste método o teste foi realizado utilizando-se os

modelos DELFT3D-FLOW e SMS/RMA2, que se constituem atualmente nos dois

sistemas computacionais mais utilizados comercialmente para simulação da

hidrodinâmica de corpos d’água naturais.

SisBaHia

Os métodos de alagamento e secamento contidos no SisBaHiA® foram

apresentados seção 4.2. Neste teste foram utilizaodos 2 métodos disponíveis no

programa: o Método do Meio Poroso-Rugoso e o Método do Meio Poroso.

No MRP utitlizou-se um valor de ERP de 0.1 m, o fator de calibração (cc) igual a

2.0 e o fator de rugosidade (Fr) igual a 1.0.

Em relação aos parâmetros do MMP utilizados neste teste, prescreveu-se os

valores sugeridos pelo próprio programa SisBaHia®, que é calculado considerando a

batimetria do domínio e as oscilações do nível da água esperados, da seguinte forma:

Permeabilidade: 0.03;

Assimetria: 0.3;

Espessura do meio poroso (EMP): 2.84 m;

Espessura de transição (ET): 0.3 m;

Delft3D-FLOW

O DELFT3D-FLOW constitui-se num pacote computacional hidrodinâmico

desenvolvido pela empresa Deltares e é atualmente um dos sistemas computacionais

mais utilizandos no mundo para simulação de corpos d’água costeiros. Este sistema

utiliza como estratégida de discretização do domínio uma malha numérica composta por

diferenças numéricas. O método de alagamento e secamento disponível no sistema

constitui-se no Método da Exclusão de Elementos. Neste modelo o processo de

Page 63: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

50

alagamento e secamento é explícito e representado através da remoção de pontos de

cálculo da malha numérica quando este ponto se torna “seco” a medida que o nível da

água desce e adicionando este ponto de cálculo quando a maré faz com que o nível da

água aumente. De acordo com DELTARES (2011) o algoritmo de alagametno e

secamento implementado no Delft3D-FLOW é eficiente e acurado para regiões

costeiras, embaiamentos costeiros estuários e rios.

O método de alagamento e secamento implementado no Delft3D-FLOW inlcui

apenas um parâmetro relacionado, definido como “depth threshold” (δ – em metros),

que representa a altura mínima da coluna d’água para que uma célula de cálculo seja

considerada “seca” ou “molhada”, ou seja, se a célula será excluída ou reinserida no

domínio. Desta forma, uma célula de cálculo é inundada se a diferença e entre a

superfície da água e o fundo batimétrico em determinado ponto de cálculo (ou seja, a

altura da coluna d’água) é maior que o valor de δ imposto.

Sendo assim, ao se desligar uma célula de cálculo considerada “seca” há a

retenção de um determinado volume de água que é devolvido ao domínio quando a

célula é considerada “molhada”. Portanto, o volume retido em uma célula considerada

“seca” é proporcional ao parâmetro δ. Maiores esclarecimentos podem ser encontrados

em DELTARES (2011).

No teste prescreveu-se um valor de δ padrão, pré-definido no programa de 0.1 m.

Este valor é razoável considerando a altura da variação esperada dos níveis de água no

domínio utilizado nos testes que é de 1.5 m.

SMS/RMA2

O SMS/RMA2 é um pacote de modelagem baseado nas equações hidrodinâmicas

de águas rasas, sendo que o RMA2 é um modelo numérico bi-dimensional integrado na

vertical através do método de elementos finitos com o método de resíduos podnerados

de Galerkin. A integração no espaço é realizada pelo método de Gauss e as derivadas

temporais são substituídas pela aproximação não linear de diferenças finitas. O sistema

foi desenvolvido pelo Laboratório de Hidráulica Costeira do Corpo de Engenheiros do

Exército dos Estados Unidos (USACE, em inglês).

No RMA2 é possível utilizar dois diferentes métodos de alagamento e secamento.

O mais utilizado deles constitui-se no método Marsh Porosity. Este método é

considerado do tipo “porosidade artificial”, onde a superfície livre da água pode oscilar

Page 64: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

51

abaixo do fundo batimétrico. Sendo assim há a existência de um fluxo subsuperficial em

uma zona subsuperficial de baixa porosidade.

O método permite que os elementos tenham uma transição gradual do fluxo

aplicando a o conceito da existência de uma zona de transição na redução da porosidade

da camada subsuperficial na medida que a altura da coluna d’água em determinado nó

se aproxima de zero. Esta técnica permite que o elemento diminua sua capacidade de

armazenar massa. Isso melhora o cálculo da fronteira de alagamento e secamento na

simulação hidrodinâmica de áreas alagáveis.

O método Marsh Porosity possui 3 parâmetros: Espessura da camada

subsuperficial (hB), profundidade a qual o escoamento se reduz (hR) e a fração ativa

mínima na camada porosa subsuperficial (P). No teste utilizou-se os valores padrões

sugeridos por KING (2000) que são:

hB: 1.5 m;

hR: 0.67 m.

P: 0.04

Maiores esclarecimentos acerca do modelo e do método Marsh Porosity podem

ser encontrados em USACE (2006), NIELSEN (2000) e NIELSEN & ALPET (2003).

Análise a ser realizada consiste na comparação dos prismas obtidos com os quatro

métodos utilizados e o desempenho de cada um em relação à conservação da massa

pode ser avaliado através da diferença absoluta entre os prismas obtidos nos testes e o

prisma de maré presumido. Os resultados permitem uma comparação da eficiência do

MRP com os diferentes métodos utilizados neste teste em relação à capacidade destes

métodos em conservar globalmente a massa no domínio.

Os resultados obtidos nos testes realizados para a comparação de diferentes

métodos de alagamento e secamento em relação à sua capacidade de conservar

globalmente a massa no domíno são apresentados na Tabela 5. Os resultados são

apresentados em função do prisma de maré obtido em cada teste, da diferença do prisma

relativa ao prisma de maré real presumido e esta diferença em termos percentuais.

Page 65: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

52

Tabela 5: Resultados dos testes comparativos de conservação da massa em diferentes métodos de

alagamento e secamento.

Programa Método

Prisma

obtido

(m³)

Diferença

relativa

(m³)

Diferença

percentual

SisBaHiA Meio Poroso Rugoso 15294.6 700.9 5%

Meio Poroso 14991.6 397.9 3%

Delft3D-flow Exclusão de Elementos 14295.5 -298.3 -2%

SMS/RMA2 Marsh porosity 13943.8 -649.9 -4%

Os resultados relativos às diferenças dos prismas de maré obtidos nos testes em

relação ao prisma presumido demonstram que as diferenças relativas percentuais na

variam de 2% à 5% de acordo com os métodos testados. O melhor resultado encontrado

foi através do Métdodo da Exclusão de Elementos (MEE), que fornece resultados com

diferenças relativas da ordem de 2%.

Comparando o Método do Meio Poroso Rugoso (MPR) com os demais métodos,

observa-se que seu desempenho em relação à conservação global da massa é semelhante

aos demais. Erros de conservação da massa em torno de 5% podem ser considerados

pequenos, tendo em vista as implicações contidas em todos os métodos de alagamento e

secamento.

Observa-se que nos MEE e no Método Marsh Porosity as diferenças nos prismas

foram negativas, ou seja, o prisma de vazante foi reduzido, enquanto nos demais

métodos utilizados no SisBaHiA os prismas foram aumentados. É de esperar que

Métodos de alagamento e secamento como o MEE onde as células de cálculo são

retiradas explicitamente forneçam prismas subestimados, já que um certo volume de

massa é retirado no domínio na medida que as células de cáculo são desligadas no

processo de secamento (vazante). Este volume é proporcional à altura da coluna d’água

utilizada como referência para exclusão/inserção das células de cálculo (δ). No Método

Marsh Porosity apesar de ser prescrita uma espessura de camada subusperficial

relativamente grande, suas formulações incluem efeitos de redução da capacidade desta

camada armazenar massa, de modo que este volume armazenado também seja

relativamente pequeno.

Os resultados dos testes realizados demonstram que o MPR tem em relação à

conservação global da massa desempenho equivalente aos demais métodos de

alagamento e secamento utilizados e comparados nos testes.

Page 66: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

53

9. Aplicação do modelo modificado em um estuário com extensas

áreas alagáveis

Como última etapa deste trabalho será realizada uma aplicação do modelo de

alagamento e secamento adaptado em um estuário com extensas áreas alagáveis,

incluindo no domínio modelado as áreas sujeitas ao alagamento e secamento periódico

causado pela oscilação das marés.

O domínio utilizado consiste no sistema estuarino da cidade de Vitória (ES) e foi

utilizado por apresentar características desejáveis para que se sejam alcançados os

propósitos deste trabalho, ou seja, possui canais relativamente estreitos margeados por

extensas áreas alagáveis. Sendo assim, neste sistema as áreas sujeitas ao alagamento e

secamento periódico provocado pelas marés possuem dimensões relativamente

significativas quando comparadas à área dos canais do sistema que estão

permanentemente alagados. Isto faz com que no sistema estuarino de Vitória (ES) o

processo de alagamento e secamento seja um fator importante na dinâmica do sistema.

O domínio computacional considerado na modelagem cobriu todo o sistema estuarino,

incluindo os canais principais, canais de maré de segunda ordem e as planícies

alagáveis.

De acordo com RIGO (2004), considerando as classificações típicas observadas

na literatura por diversos autores, o estuário de Vitória (ES) é enquadrado como um

estuário relativamente raso e bem misturado. Com isso, um modelo hidrodinâmico

computacional 2DH pode descrever satisfatoriamente os padrões de circulação no

sistema. Além disso, estes tipos de modelos fornecem um melhor desempenho

computacional.

9.1. Caracterização do Sistema Estuarino de Vitória (ES)

Dentre os tipos geomorfológicos mais comuns, o sistema estuarino de Vitória

(ES) pode ser considerado um estuário do tipo planície costeira (MIRANDA et al.,

2002) e está localizado na região metropolitana de Vitória (ES), onde vivem cerca de

1.7 milhões de habitantes. Este sistema se estende a leste do município de Vitória, ao

norte do município da Serra e a oeste do município de Cariacica e possui uma das

maiores áreas de florestas de mangue localizadas em área urbana do Brasil. Sua

Page 67: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

54

extensão total é de aproximadamente 18 km², representando 20% da área total de

manguezais do Espírito Santo (FONSECA, 2005).

Imagens de satélite da região e um detalhamento das áreas de manguezal podem

ser visualizados na Figura 13. Considerando sua geomorfologia, o sistema estuarino

pode ser compartimentado em três setores:

Setor leste-oeste: Canal de Acesso ao Porto - este eixo de aproximadamente 9 km

de comprimento é a região que vai desde a embocadura da baía de Vitória até a

região da Segunda ponte, e que compreende basicamente o canal de acesso ao porto

de Vitória e também as maiores profundidades do seu canal central;

Setor sudoeste-nordeste: Baía de Vitória – engloba a região que vai desde a

Segunda ponte até o estuário do rio Santa Maria da Vitória, este eixo possui também

aproximadamente 9 km de comprimento; é a região comumente designada como

baía de Vitória; a parte mais profunda do canal central deste trecho tem

aproximadamente 6 metros;

Canal da Passagem: canal que liga a baía do Espírito Santo à baía de Vitória e que

circunda a região onde está a maior parte dos manguezais do sistema estuário,

estando mais sujeita à ação das planícies de maré em sua hidrodinâmica; sua largura

é de aproximadamente 80 m, com menor largura de 35 m sob a Ponte da Passagem;

as profundidades neste canal variam entre 1.0 e 7 m.

É importante também citar a região denominada como baía do Espirito Santo, que

consiste no corpo d’água que recebe a drenagem do sistema estuarino de Vitória e

possui uma maior influência das ondas oceânicas, e que também faz parte do domínio

modelado.

A Figura 13 apresenta um mapa da região com a indicação das principais feições

do sistema estuarino da Baía de Vitória.

A hidrodinâmica do sistema estuarino de Vitória (ES) é dominada pela oscilação

astronômica e meteorológica das marés. De acordo com RIGO (2004), as marés da

região são classificadas como micromarés com altura menor que 2 m. Também se

classificam como semidiurnas, com desigualdades diurnas.

O principal rio contribuinte do estuário é o rio Santa Maria da Vitória, que possui

vazão média anual de 15.7 m³/s. Outros rios contribuintes são os rios Bubu, Marinho,

Page 68: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

55

Aribiri e Formate. Estes rios possuem bacias contribuintes relativamente pequenas, e a

soma de suas vazões destes rios não ultrapassa 3 m³/s (os rios estão indicados na Figura

14).

Como exemplificação da extensão das áreas alagáveis do sistema estuarino de

Vitória, considerando a área que começa pela foz do rio Bubu até o estreitamento do

Canal da Passagem, área a qual se constitui na região que recebe a influência direta das

planícies de manguezais, temos que 62% da área constitui-se em planícies alagáveis e

38% da área é formada pelo espelho d’água formado pelos canais que ficam

permanentemente alagados. Isso faz com que – conforme explicitado anteriormente, o

alagamento e secamento periódico das extensas planícies de manguezal seja um

fenômeno importante neste sistema. CARMO (1987) relata que o manguezal do sistema

estuarino de Vitória pode ser classificado como ribeirinho nas porções próximas aos

canais e como de bacia na sua parte mais interna.

Os levantamentos no manguezal realizados por RIGO (2004) indicaram a

presença de vários pequenos canais que não aparecem nas fotos aéreas, pois são

cobertos pela copa das árvores. Estes canais são rasos, e geralmente estão

completamente secos na baixa-mar. Os maiores canais, visíveis nas fotos aéreas, têm

profundidade suficiente para manter uma lâmina d’água mesmo nas menores baixa-

mares de sizígias. A altimetria do manguezal indica que na borda dos maiores canais a

cota está entre –0.2 e –0.4 m (NMM) e que a cota das regiões mais afastadas dos canais

principais é cerca de –1.0 m (NMM).

O volume de água aportado pelo rio Santa Maria durante meio ciclo de maré,

tomando-se como base os valores médios mensais apontados por SANTOS (1994) varia

entre 180103 e 580103 m³. Comparando-se estes valores com os prismas de maré

calculados para a baía de Vitória em diversas estações, verifica-se que o aporte de água

do rio Santa Maria é pequeno, para a maior parte da baía de Vitória, durante a maior

parte do tempo. Isso leva a uma classificação desta região estuarina como “dominada

pela maré” (RIGO, 2004; WELLS, 1995).

A hidrodinâmica do sistema estuarino de Vitória (ES) foi estudada por RIGO

(2004), que relata que os padrões de circulação é resultado da interação da maré com

região dos manguezais, responsável pela mudança no comportamento das correntes ao

longo do ciclo de maré. O autor cita ainda que as correntes nos canais do manguezal

Page 69: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

56

apresentam dominância de vazante, que tem as maiores velocidades na primeira metade

da vazante, principalmente por causa dos níveis em que o manguezal se desenvolve em

relação ao NMM.

Uma das feições hidrodinâmicas identificadas em estudos anteriores por RIGO &

SARMENTO (1993) é a existência de uma região no Canal da Passagem onde acontece

o encontro da maré, quando esta se propaga ao redor da Ilha de Vitória. Esta região foi

designada como “Zona de Convergência Barotrópica” ou “Tombo da Maré” e se

localiza no Canal da Passagem, na porção adjacente à UFES. Nesta área, durante a maré

enchente as velocidades são nulas e em suas adjacências o escoamento se dirige para

esta região vindo dos dois sentidos do canal, promovendo desta forma o enchimento do

manguezal. Quando se inicia o período de vazante o escoamento se inverte e esta região

de velocidades nulas se desloca para o norte, em direção à desembocadura do Rio Santa

Maria da Vitória, o que faz com que o escoamento em todo o Canal da Passagem seja

em direção ao sul (RIGO, 2004).

Page 70: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

57

a)

b)

Figura 13: a) Sistema estuarino de Vitória e b) Detalhamento da região com a maior parte das áreas alagáveis de manguezais.

Page 71: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

58

9.1.1. Modelagem hidrodinâmica

Contornos do domínio e malha numérica

Os contornos do sistema estuarino foram definidos através da utilização de imagem

obtida do aplicativo Google Earth® (Figura 14). Foram incluídas nos domínios dos modelos

os contornos das regiões da baía do Espírito Santo, canal de acesso ao porto, baía de Vitória e

canal da Passagem, e as regiões de manguezais adjacentes. Os contornos extraídos foram

processados e editados através do programa Surfer®, gerando-se o mapa base mostrado na

Figura 14, utilizado no processo de modelagem.

Para a discretização do domínio foi elaborada uma malha composta por elementos

quadrangulares biquadráticos de 9 nós cada um. Na malha foram incluídas as áreas de

manguezais sujeitas a alagamento e secamento.

A malha utilizada possui 3949 elementos finitos, e foi composta de forma a se evitar

elementos com grandes distorções geométricas e significativas diferenças de tamanho entre

os elementos vizinhos, a fim de contribuir para um melhor desempenho numérico da

simulação pretendida e boa qualidade dos resultados. A densidade dos elementos foi

intensificada nas áreas de mangues e junto aos canais localizados nestas áreas, de forma a

diminuir os efeitos associados aos erros de natureza numérica.

Page 72: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

59

Figura 14: Mapa da região com os contornos; os símbolos em vermelho indicam as estações com medições de

elevação do nível da superfície da água, enquanto os símbolos em azul indicam as estações com

medições de magnitude de correntes e os símbolos em cruz indicam as estações das medições e vento,

ambos dados utilizados na modelagem e explicitados adiante.

Page 73: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

60

a)

b)

c)

Figura 15: Malha numérica de elementos finitos utilizada na aplicação: a) visão geral; b) detalhamento 1 e c) detalhamento 2.

Page 74: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

61

9.1.1.1. Dados utilizados

Batimetria dos canais principais

Para a aplicação foram utilizados dados batimétricos provenientes de dois

levantamentos distintos. Um dos levantamentos foi realizado entre 1999 e 2000 por

RIGO (2001), abrangendo a região interna no entorno da Ilha de Vitória, desde a ponte

de Camburi até a Cinco Pontes, o que compreendeu toda a extensão do canal da

Passagem e seus principais canais laterais. O segundo levantamento foi realizado em

2002 na região entre a Ilha das Caieiras e a desembocadura do rio Santa Maria pelo

Grupo de Engenharia Ambiental e Recursos Hídricos (GEARH) da Universidade

Federal do Espírito Santo (UFES). Para a região da Baía do Espírito Santo e parte

externa da baía de Vitória foram extraídos dados da carta náutica da baía de Vitória,

como ilustrado na Figura 16.

Figura 16: Batimetria do sistema estuarino de Vitória (ES); os valores estão referidos

ao Nível Médio do Mar (NMM).

Page 75: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

62

Topografia das áreas alagáveis

Como estratégia de resolução da geometria das planícies alagáveis, optou-se por

elaborar um modelo digital do terreno com nível de resolução intermediário, por não se

dispor de dados primários com a variação espacial da topografia de manguezal. De fato,

em geral as variações da topografia de áreas de borda de lagos, estuários e pântanos são

suaves, entretanto podendo haver irregularidades topográficas distribuídas

espacialmente, dependendo da escala utilizada. Esta estratégia também foi utilizada por

HOLTERMANN (2007) que aplicou um modelo hidrodinâmicos com áreas alagáveis

de manguezais desenvolvendo um modelo topográfico do terreno baseado na distância

das planícies aos canais principais.

O modelo digital do terreno das planícies alagáveis de manguezal foi

desenvolvido a partir de dados de altimetria sugeridos por RIGO (2004). Através de

medições em 13 seções transversais a alguns canais do manguezal da baía de Vitória até

a região fora da influência da maré, o autor concluiu que a borda dos maiores canais

localizados na região de mangue, possuem cota em torno de -0.2 e -0.4 m (NMM), e nas

regiões mais afastadas dos canais a cota altimétrica é de aproximadamente -1 m

(NMM). Estes dados serviram para estimar a altimetria das demais áreas de manguezal

adjacentes.

Figura 17: Cotas altimétricas dos limites da topografia do modelo digital do terreno

desenvolvido para as planícies alagáveis de manguezais de Vitória (ES); os

níveis se referem ao nível médio do mar (NMM).

Recorrendo-se ao programa Arcgis®, foi gerada uma grade de pontos de 30 metros

de espaçamento, compreendendo a área de manguezais, a partir dos contornos da linha

de costa e de limites de manguezais elaborado e fornecido por RIGO (2004). Através de

Page 76: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

63

aferição visual, observou-se que a delimitação dos manguezais coincide com a

delimitação realizada por PASSOS et al. (2007) que utilizou imagens orbitais e recorreu

às técnicas de sensoriamento remoto para detecção da vegetação do manguezal de

Vitória.

Através de ferramenta específica do Arcgis®, foram calculados a distância de cada

ponto da grade ao canal principal mais próximo, e à linha de costa (limite entre mangue

e terra). Para cada ponto da grade gerada foi calculada uma cota altimétrica levando-se

em consideração os valores sugeridos por RIGO (2004), ponderando-se a distância dos

pontos em relação aos canais principais e à linha de costa, de acordo com a seguinte

equação:

1 0.8Dc

ZDc Da

(20)

Onde Z é a cota altimétrica em metros (NMM), Dc é a distância do ponto à linha

de costa mais próxima em metros e Da é a distância do ponto ao ponto ao canal

principal mais próximo em metros.

O modelo topográfico gerado pode ser visualizado na Figura 16, e um

detalhamento demarcado pelo polígono de linha preta é apresentado na Figura 18. É

possível observar que no limite entre o mangue e os canais principais a cota altimétrica

é de 0.2 metros (NMM), e no limite entre o mangue e o continente a cota altimétrica é

de 1 metro (NMM). É possível observar ainda através das isolinhas batimétricas, que a

topografia gerada tem forma de bacia, e apresenta um nítido padrão de drenagem

fluindo para os canais principais, como é esperado nestes tipos de sistemas.

Page 77: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

64

Figura 18: Detalhamento da batimetria da área alagável de manguezal); os valores estão referidos ao

Nível Médio do Mar (NMM).

Alguns perfis transversais da topografia das áreas alagáveis indicados na Figura

18 podem ser visualizados na Figura 19. Os perfis permitem observar que a topografia

das áreas alagáveis são suaves e estão representando o domínio de forma satisfatória.

Page 78: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

65

Figura 19: Perfis topográficos indicados Figura 18 (as figuras dos perfis foram redimensionadas para que

pudessem ter suas escalas aproximadas).

Rugosidade equivalente de fundo

A rugosidade equivalente do fundo é um parâmetro importante da modelagem,

uma vez que é responsável pelo cálculo das tensões de fundo e é o principal parâmetro

ajustável responsável pela calibração das tensões turbulentas verticais do modelo

utilizado. Por não se disponibilizar de dados referentes à composição do fundo da região

estudo, foi utilizado o valor de rugosidade equivalente de fundo de 0.01 m para as

regiões dos canais, por representar um valor equivalente médio, após constatar-se que a

prescrição de valores entre 0.005 e 0.02 m de rugosidade equivalente de fundo não

provocaram no geral significativas diferenças nos resultados dos níveis de água e

velocidade das correntes.

Apesar de a avaliação da influência da vegetação de manguezal na hidrodinâmica

não fazer parte deste trabalho, foi utilizado o valor de rugosidade equivalente de fundo

Page 79: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

66

de 0.1 m, de nas planícies alagáveis forma a se representar os efeitos do atrito das raízes

das árvores de mangue.

Dados primários de marés, correntes e ventos

Os dados de níveis de água e de correntes utilizados para a calibração dos

modelos foram medidos pelo GEARH/UFES, e fornecidos para a elaboração deste

estudo. Os dados fornecidos e utilizados neste trabalho foram medidos entre 26 agosto e

29 de setembro de 2002 em 4 estações indicadas Figura 14, sendo elas: Tubarão, Santo

Antônio, Maria Ortiz e Ilha das Caieiras. Na estação de Maria Ortiz os dados foram

medidos até o dia 13 de Setembro de 2002. Para a calibração de níveis de água foram

utilizados os dados de Tubarão, Santo Antônio, Maria Ortiz e Ilha das Caieiras. Por sua

vez, para a calibração de magnitude de correntes foram utilizados os dados medidos em

Santo Antônio e Maria Ortiz.

Os dados de vento inseridos nos modelos são provenientes de estações RAMQAr

(Rede Automática de Monitoramento da Qualidade do Ar) Carapina, Ibes, Enseada do

Suá e Cariacica, com dados horários de direção e magnitude de ventos.

Condições de contorno e iniciais

Na fronteira aberta foram prescritos os valores de elevação medidos na estação

Tubarão (indicada na Figura 20), que dentre as estações de medição de níveis de água é

a que mais se aproxima da fronteira aberta do domínio. As elevações prescritas podem

ser visualizadas na Figura 20.

Figura 20: Níveis de água prescritos na fronteira aberta.

Também foram prescritas vazões de água nos rios Bubu e Santa Maria da Vitória.

Para o rio Bubu foi prescrita vazão constante de 3m³/s, e no Rio Santa Maria da Vitória

foram prescritas vazões variáveis, provenientes de dados de vazão fornecidos. As

vazões prescritas estão representadas no gráfico na Figura 21.

Page 80: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

67

Figura 21: Vazões prescritas para o Rio Santa Maria da Vitória.

A simulação foi executada com condições iniciais do tipo “a quente”,

prescrevendo-se valores de u, v e ζ obtidos após a execução da simulação de alguns

ciclos de maré, iniciada com condições do tipo “a frio”. O maior passo de tempo testado

que permitiu obter estabilidade numérica foi de 20 segundos e este foi o valor utilizado

na simulação.

Parâmetros relacionados ao processo de alagamento e secamento

Os valores dos parâmetros de alagamento e secamento do MRP prescritos na

simulação foram ERP=0.5 m, Fr=1.0. Após alguns testes, este foram os menores valores

destes parâmetros que forneceram estabilidade numérica na simulação.

Após verificação do melhor valor de cc para obtenção de resultados mais

realísticos de níveis de água o valor de cc=1.25 demonstrou fornecer os melhores

resultados.

9.1.1.2. Resultados da aplicação

Comparação dos níveis de água simulados e medidos

Uma avaliação qualitativa primária do desempenho do modelo pode ser realizada

através da comparação dos dados de níveis de água simulados com os mesmos dados

medidos. As figuras adiante apresentam as oscilações de níveis da superfície livre da

água obtidas na simulação com os dados das diferentes estações onde foram realizadas

as medições.

Page 81: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

68

Figura 22: Comparação dos níveis de água simulados e medidos em Maria Ortiz.

Figura 23: Comparação dos níveis de água simulados e medidos em Caieiras.

Figura 24: Comparação dos níveis de água simulados e medidos em Santo Antônio.

Page 82: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

69

Figura 25: Comparação dos níveis de água simulados e medidos em Tubarão.

Pode-se observar que os dados de elevação da superfície da água simulados são

bastante semelhantes entre si. A comparação visual dos dados simulados e medidos em

campo permite verificar uma coerência entre os resultados obtidos e medidos, inclusive

em relação aos níveis de água simulados e medidos em Maria Ortiz, estação que está

localizada na área de maior influência das áreas alagáveis de manguezais.

Para permitir melhor uma ilustração da diferença do desempenho do modelo

adaptado na simulação da hidrodinâmica do sistema estuarino de Vitória (ES),

apresenta-se na Figura 26 uma comparação dos dados medidos com os dados obtidos na

simulação utilizando-se o modelo prescrevendo-se cc=0.0 (ou seja, simulando o efeito

do modelo sem o fator de aceleração da celeridade da onda). Observa-se que os

resultados obtidos com o modelo adaptado são significativamente mais coerentes que os

obtidos com o modelo sem a utilização do fator de aceleração.

Figura 26: Comparação dos níveis de água simulados com o modelo sem modificação e medidos em

Maria Ortiz.

Para serem analisadas as diferenças entre os níveis da água medidos e simulados,

uma análise das componentes harmônicas foi realizada através do Módulo de Análise e

Page 83: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

70

Previsão de Marés implementado no SisBaHiA®. Os módulos implementados no

SisBaHiA® foram elaborados a partir das rotinas propostas por M. Foreman do Institute

of Ocean Sciences, British Columbia. Tais rotinas também constitu-em a base do

sistema TOGA utilizado pela Universidade de Honolulu - Hawaii para o controle de

qualidade dos dados do programa GLOSS (Global Sea Level Observing System) que é

gerenciado pelo IOC (Intergovernmental Oceanographic Commission) com o patrocínio

da UNESCO. Acredita-se, atualmente, que esse conjunto de rotinas é o mais largamente

utilizado em todo o mundo para a análise e previsão de dados de marés (ROSMAN et.

al., 2014).

Os resultados estão apresentados nas tabelas a seguir. Para efeitos de análise,

foram observadas as características dos harmônicos M2 e S2 que constituem nas duas

componentes harmônicas com maior amplitude, e por isso tem maior influência na maré

em Vitória.

Tabela 6: Tabela dos resultados da análise harmônica realizada, referente à constante harmônica M2.

Estação Medido Simulado Diferença relativa percentual

Amplitude Fase Amplitude Fase Amplitude Fase

Caieiras 0.52 99.9 0.48 111.3 8% -11%

Maria Ortiz 0.51 106.3 0.49 108.9 4% -2%

Santo Antônio 0.51 96.5 0.48 96.7 6% 0%

Tubarão 0.47 87.0 0.48 87.0 -2% 0%

Tabela 7: Tabela dos resultados da análise harmônica realizada, referente à constante harmônica S2.

Estação Medido Simulado Diferença relativa percentual

Amplitude Fase Amplitude Fase Amplitude Fase

Caieiras 0.29 120.2 0.27 129.6 7% -8%

Maria Ortiz 0.29 133.5 0.25 131.5 14% 1%

Santo Antônio 0.29 115.7 0.27 114.5 7% 1%

Tubarão 0.27 104.6 0.27 104.6 0% 0%

As diferenças das amplitudes e fases dos harmônicos M2 e S2 encontradas são

consideradas baixas, principalmente na estação Tubarão, que está localizada na baía do

Espírito Santo, longe da influência das áreas alagáveis. As estações Caieiras, Santo

Antônio e Maria Ortiz apresentaram as maiores diferenças tanto nas amplitudes quantos

nas fases das constantes harmônicas.

Com o intuito de viabilizar uma análise espaço-temporal da simulação do

processo de alagamento e secamento no sistema estuarino de Vitória (ES) realizada com

Page 84: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

71

o modelo hidrodinâmico adaptado, são apresentados a seguir mapas com os campos

vetoriais de vazão juntamente com as isolinhas de elevação da superfície da água. Os

mapas são apresentados numa sequência temporal iniciando pela preamar, vazante,

baixa-mar e enchente, para um período de sizígia, quando toda a extensão das áreas de

manguezais sofre alagamento e secamento. Os níveis de maré se referem à estação

Maria Ortiz. A Figura 27 ilustra os diferentes níveis utilizados para ilustra a

modelagem. O limite das regiões com vetores e sem vetores indica a localização da

frente de alagamento ou secamento, ou seja, o limite entre a área alagada e a área

“seca”.

Figura 27: Instantes de tempo utilizados na plotagem dos resultados da simulação.

Page 85: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

72

a)

b)

Figura 28: a) Campo vetorial de vazão e b) Isolinhas de elevação da superfície da água para o momento

de estofo de preamar.

Page 86: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

73

a)

b)

Figura 29:a) Campo vetorial de vazão e b) Isolinhas de elevação da superfície da água para o momento de

vazante.

Page 87: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

74

a)

b)

Figura 30: a) Campo vetorial de vazão e b) Isolinhas de elevação da superfície da água para o momento

de baixa-mar.

Page 88: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

75

a)

b)

Figura 31: a) Campo vetorial de vazão e b) Isolinhas de elevação da superfície da água (mapa inferior)

para o momento de enchente.

Page 89: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

76

No momento de preamar observa-se através dos vetores e das isolinhas de nível

que 100% da área de manguezal está alagada. Os vetores de vazão são bem fracos, pois

no momento próximo ao estofo da maré as velocidades são quase nulas. No período de

vazante os vetores estão apontados para os canais centrais, demonstrando que as

planícies de mangue estão secando. No momento de vazante ilustrado, 29% das

planícies de mangue estão secas. As isolinhas de vazante mostram que os níveis estão

quase perpendiculares à direção do canal, mostrando o sentido do mecanismo de

“esvaziamento” das planícies.

Quando a maré está no estofo de baixa-mar, as vazões são fracas e os níveis da

superfície da água estão baixos em quase toda a extensão da região do manguezal. No

momento de maré de meia enchente 41% das planícies estão inundadas e observa-se que

os vetores estão apontados em direção ao interior das planícies de manguezais. As

isolinhas de elevação da superfície demonstram um padrão de propagação da onda que

segue perpendicularmente ao canal principal.

Campos de velocidade e comparação de magnitude de correntes simuladas

e medidas

Uma vez que os níveis da superfície de água obtidos na simulação estão de acordo

com os dados medidos, pode ser realizada uma análise das correntes geradas pela

oscilação de maré. Os mapas com os campos de velocidades e as isolinhas de magnitude

das velocidades obtidos com o resultado da simulação são apresentados nas figuras

adiante. Para apresentação do campo de velocidades, os vetores foram plotados somente

no nó central dos elementos para que a imagem não se apresente visualmente carregada.

Na preamar, a magnitude das velocidades no domínio é bem fraca, principalmente

nas planícies alagáveis. As velocidades nos canais são um pouco superiores às áreas

adjacentes. No momento de meia vazante é quando são observadas as maiores

magnitudes de correntes. É possível observar que os vetores de velocidade apontam das

planícies de manguezal em direção aos canais centrais. As magnitudes nos canais

centrais são significativamente maiores. No momento de baixa-mar há uma diminuição

da magnitude das velocidades, sendo que é possível observar que as mesmas são bem

pequenas nas regiões alagáveis. Em enchente os vectores de velocidade estão em

direção quase perpendicular às áreas de manguezais e espacialmente a magnitude dos

campos de velocidade aumentam, mas ainda tendem a ser menor que no momento de

Page 90: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

77

vazante. Os campos de velocidade apontam que a dominância das correntes no sistema

estuarino de Vitória (ES) é de vazante, conforme constatado por RIGO (2004).

a)

b)

Figura 32: a) Campo vetorial de velocidades e b) Isolinhas de magnitude de velocidades para um

momento de estofo de preamar.

Page 91: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

78

a)

b)

Figura 33: a) Campo vetorial de velocidades e b) Isolinhas de magnitude de velocidades para um

momento de vazante.

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79

a)

b)

Figura 34: a) Campo vetorial de velocidades e b) Isolinhas de magnitude de velocidades para um

momento de estofo de baixa-mar.

Page 93: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

80

a)

b)

Figura 35: a) Campo vetorial de velocidades e b) Isolinhas de magnitude de velocidades para um

momento de enchente.

A comparação temporal da magnitude das correntes de marés simuladas e

medidas podem ser visualizadas nas figuras adiante, que apresentam a magnitude das

correntes simuladas e das correntes medidas nos períodos de sizígia e quadratura,

Page 94: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

81

respectivamente nas estações de Maria Ortiz e Santo Antônio. Destaca-se que dados

medidos com magnitudes abaixo de 0,03m/s são duvidosos pois ficam na faixa de erro

do medidor.

Figura 36: magnitude de correntes na estação Maria Ortiz em um período de sizígia. Dados medidos com

magnitudes abaixo de 0,03 m/s são duvidosos, pois ficam na faixa de erro do medidor.

Figura 37: magnitude de correntes na estação Maria Ortiz em um período de quadratura. Dados medidos

com magnitudes abaixo de 0,03 m/s são duvidosos, pois ficam na faixa de erro do medidor.

Figura 38: Magnitude de correntes na estação Santo Antônio em um período de sizígia. Dados medidos

com magnitudes abaixo de 0,03m/s são duvidosos, pois ficam na faixa de erro do medidor.

Page 95: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

82

Figura 39: magnitude de correntes na estação Santo Antônio em um período de quadratura. Dados

medidos com magnitudes abaixo de 0,03m/s são duvidosos, pois ficam na faixa de erro do

medidor.

A comparação da magnitude das velocidades medidas com as velocidades obtidas

na simulação aponta que os resultados obtidos nas duas diferentes estações são

qualitativamente satisfatórios, principalmente em relação à estação Santo Antônio, onde

foram obtidos os melhores resultados, especialmente no período de sizígia.

É possível observar que as velocidades em Maria Ortiz são bem pequenas, não

ultrapassando 0.06 m/s. Esta magnitude de velocidade está abaixo da sensibilidade do

medidor de correntes utilizado, o que pode indicar uma má qualidade dos dados de

velocidade medidos em Maria Ortiz. Diferentemente, em Santo Antônio as velocidades

das correntes de maré observadas em um período de sizígia chegam a 0.9 m/s.

Em Maria Ortiz a variação da magnitude das velocidades reproduzidas na

simulação acompanhou em geral os picos de vazante, entretanto é possível observar que

outros picos de velocidades foram reproduzidos entre as enchentes e vazantes. Estas

variações podem estar associadas aos fatores numéricos e também às baixas velocidades

das correntes no canal da Passagem neste ponto de medição. Considerando o período de

sizígia mostrado na Figura 36, a diferença das médias entre as velocidades medidas e

simuladas é de 39%. No período de quadratura as velocidades simuladas foram

superiores às medidas nesta estação. As diferenças das médias entre as velocidades

medidas e simuladas em Maria Ortiz demonstram que a magnitude das velocidades

simuladas em quadratura foi 135% superior à medida. Em Santo Antônio, as diferenças

entre as velocidades médias são menores, sendo 15% no período de sizígia e 24% no

período de quadratura.

É importante observar que apesar de a modelagem não ter reproduzido a

magnitude das correntes de forma excelente, suas fases foram suficientemente bem

Page 96: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

83

reproduzidas, permitindo que o comportamento geral do escoamento no canal da

Passagem fosse bem reproduzido.

O comportamento hidrodinâmico geral da convergência barotrópica deste canal

apresentado por RIGO & SARMENTO (1993) e também discutido por RIGO (2004) foi

bem reproduzido pelo modelo, sendo que a dinâmica desta zona é determinada pela

geometria do manguezal. A Figura 40 apresenta um detalhamento com a indicação da

localização da zona de convergência dentro do ciclo de maré considerado para

apresentação dos resultados espaciais da aplicação.

A aplicação realizada obteve resultados satisfatórios na simulação os padrões de

circulação hidrodinâmica do sistema estuarino de Vitória (ES), considerando o processo

de alagamento e secamento das extensas planícies de manguezais existentes. Na

simulação, observou-se que as áreas secas e molhadas variaram marcadamente com a

oscilação semidiurna da onda de maré. Boa parte da área das planícies de manguezal foi

inundada 2 vezes ao dia. Durante o período de maré de sizígia, a água cobriu todo a

planície. Os níveis de elevação da superfície da água apresentaram boa concordância, e

o comportamento espacial da superfície da água o longo do ciclo de maré simulado

apresentaram também resultados qualitativamente consideráveis, demonstrando que as

modificações propostas na formulação numérica do método de alagamento e secamento

atingiram o objetivo pretendido em melhorar os resultados obtidos na simulação

hidrodinâmica de sistemas com extensas áreas alagáveis.

As velocidades foram reproduzidas espacial e temporalmente de forma

satisfatória, apesar de terem sido observadas algumas diferenças da magnitude com os

dados medidos. Entretanto é importante ressaltar que no modelo digital do terreno

inserido no modelo não foram resolvidos os detalhes da geometria das planícies de

manguezais. Apesar de na modelagem computacional executada a topografia das

planícies alagáveis tem gradientes suaves e uma constante rugosidade equivalente de

fundo constante no domínio, a topografia das planícies variam de local para local em

estuários reais e a rugosidade do fundo varia com o tempo, dependendo dos níveis de

água.

CHEN et al. (2008) relata que a não resolução da complexa geometria dos canais

e das planícies de maré, um modelo pode gerar fluxos e trocas de massas d’água não

realísticos. Este pode ser um apontamento da razão para as diferenças encontradas entre

os dados de velocidade medidos e simulados.

Page 97: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

84

a)

b)

c)

d)

Figura 40: localização da zona de convergência barotrópica (“tombo da maré), indicada pelo símbolo

vermelho, ao longo de um ciclo de maré; a) preamar; b) vazante; c) baixa-mar e d) enchente.

Page 98: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

85

10. Conclusões e Recomendações

Os resultados encontrados neste trabalho indicam que o MPR após a modificação

proposta em sua formulação numérica é capaz de simular o processo de alagamento e

secamento causado pelas marés de forma mais eficaz. Os resultados apontaram que a

utilização de um fator de aceleração (cc) da oscilação vertical dos níveis de água no

meio poroso rugoso aumentou a capacidade de conservação global da massa em torno

de 25%.

Os testes realizados em um domínio idealizado indicaram que a prescrição de

valores de cc > 0.0 foi responsável pelo melhor desempenho em relação a conservação

global da massa. O valor com melhor desempenho foi cc=2.0. Seguido do fator de

aceleração a espessura da camada porosa-rugosa foi o parâmetro que apresentou a

segunda maior correlação com o desempenho do modelo. As menores espessuras

apresentaram resultados mais conservadores em relação ao fluxo de massa global no

domínio. A relação do fator de rugosidade (Fr) da camada porosa-rugosa não ficou clara

nos testes realizados, sendo que os resultados encontrados variaram de forma aleatória

em relação a este parâmetro.

Os testes comparativos do MRP com outros métodos demonstrou que com

exceção do MFS, a capacidade do MRP em conservar globalmente a massa é similar

aos outros métodos comparados.

Considerando os resultados obtidos neste trabalho, ao se utilizar o MRP na

simulação hidrodinâmica computacional de estuários com áreas sujeitas a alagamento e

secamento, especialmente naqueles onde há a dominância das áreas alagáveis em

relação à área dos canais permanentemente molhados, melhores resultados podem ser

obtidos utilizando-se valores de cc entre 1.0 e 2.0 e a espessura da camada porosa

rugosa (ERP) a ser prescrita deve ser a menor possível, de forma que não cause

instabilidades numéricas no modelo. Desta forma, pode-se obter oscilações de níveis

d´água mais realísticos no domínio.

A aplicação do modelo em um estuário com geometria complexa, dotado de

canais relativamente estreitos e rodeados por extensas áreas alagáveis forneceu

resultados bastante satisfatórios. Foram consideradas as áreas alagadas periodicamente

pelas marés e os padrões de circulação hidrodinâmica reproduzidos demonstram

bastante realísticos e tiveram considerável concordância com dados medidos. A

Page 99: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

86

aplicação desenvolvida no trabalho demonstrou que a modificação numérica aplicada

foi capaz de tornar o MRP em um método de alagamento e secamento eficiente com

bons resultados na simulação dos processos relacionados ao alagamento e secamento de

sistemas estuarinos com extensas áreas alagáveis.

Ressalta-se que a topografia das áreas alagáveis utilizada na aplicação do modelo

foi desenvolvida idealmente, com base em um dado secundário de referência. Desta

forma, sugere-se como continuidade deste trabalho a obtenção de dados da topografia

dos manguezais, e a reaplicação do modelo para investigação do impacto da complexa

geometria estuarina nas marés, correntes residuais e processo de troca de massas d’água,

etc. Além disso os processos de sedimentação que ocorrem nas planícies alagáveis

podem ser incorporados no modelo hidrodinâmico.

Page 100: ANÁLISE DE MECANISMO DE ALAGAMENTO E SECAMENTO EM …

87

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