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Este relatório, desenvolvido pela RPG, tem por base a informação disponibilizada pelo CRA e demais informação recolhida. Desta forma, não deve ser imputado à Consultora quaisquer responsabilidades pela qualidade, veracidade e exactidão da informação contida no presente documento. Análise das Práticas e do Quadro Regulatório Review of Regulatory Framework and Practices Manual de Governança e Substância Regulatórias Manual of Regulatory Governance and Substance A Legislação mencionada neste Manual pode ser consultada no site do CRA Julho 2016 Julho 2016 português | portuguese

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Este relatório, desenvolvido pela RPG, tem por base a informação disponibilizada pelo CRA

e demais informação recolhida. Desta forma, não deve ser imputado à Consultora

quaisquer responsabilidades pela qualidade, veracidade e exactidão da informação contida

no presente documento.

18 de Março de 2016

Elaborado pelo consultor RPG, Lda.

Análise das Práticas e do Quadro Regulatório

Review of Regulatory Framework and Practices

Manual de Governança e Substância Regulatórias

Manual of Regulatory Governance and Substance A Legislação mencionada neste Manual pode ser consultada no site do CRA

Julho 2016 Julho 2016

português | portuguese

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 ii

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 iii

Este relatório, desenvolvido pela RPG, tem por base a informação disponibilizada

pelo Conselho de Regulação de Águas e também pelas pessoas entrevistadas. Desta

forma, não deve ser imputado à Consultora quaisquer responsabilidades pela

qualidade, veracidade e exactidão da informação contida no presente documento.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 iv

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 v

Índice

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1

2 ENQUADRAMENTO LEGAL E REGULATÓRIO ........................................ 5

2.1 Nota Introdutória .................................................................................................. 5

2.2 Enquadramento Legal ......................................................................................... 6

2.3 Enquadramento Institucional ....................................................................... 22

3 ESTRUTURA DE MERCADO E DESEMPENHO DO SECTOR DA ÁGUA

.............................................................................................................................. 31

3.1 Enquadramento .................................................................................................. 31

3.2 Estrutura de Mercado ...................................................................................... 32

3.3 Desempenho do Sector .................................................................................... 40

3.4 Desafios do Sector da Água de Moçambique ........................................... 53

4 GOVERNANÇA REGULATÓRIA .................................................................. 59

4.1 Nota Introdutória ............................................................................................... 59

4.2 Governança Regulatória do CRA .................................................................. 59

4.3 Quadro-resumo da Governança Regulatória do CRA ........................... 78

5 SUBSTÂNCIA REGULATÓRIA ..................................................................... 83

5.1 Nota Introdutória ............................................................................................... 83

5.2 Substância Regulatória do CRA .................................................................... 85

6 IMPACTO REGULATÓRIO ......................................................................... 142

6.1 Nota Introdutória ............................................................................................. 142

6.2 Sustentabilidade Financeira ........................................................................ 142

6.3 Sustentabilidade Social .................................................................................. 146

6.4 Sustentabilidade Técnica e Qualidade de Serviço ............................... 150

6.5 Governança Regulatória ................................................................................ 157

6.6 Conclusões .......................................................................................................... 159

7 SÍNTESE CONCLUSIVA E PRINCIPAIS DESAFIOS ........................... 162

7.1 Síntese Conclusiva ........................................................................................... 162

7.2 Principais Desafios .......................................................................................... 163

BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................... 168

Manual de Governança e Substância Regulatórias

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Manual de Governança e Substância Regulatórias

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Índice de Figuras

Figura 1 – Sistemas sob gestão do FIPAG (CRA, 2015) 34

Figura 2 – Evolução do número de fornecedores de água privados novos (ÁguaGlobal, 2014) 39

Figura 3 – Níveis de serviço do abastecimento de água em Moçambique (com base em CRA,

2015) 42

Figura 4 – Qualidade de serviço dos serviços de abastecimento de água do FIPAG (2014) 44

Figura 5 – Indicadores de cobertura dos serviços de abastecimento de água (CRA, 2015) 47

Figura 6 – Cobertura de ligações domésticas e horas de abastecimento de água (CRA, 2015) 48

Figura 7 – Evolução do volume de água não-facturada (CRA, 2015) 48

Figura 8 – Evolução da qualidade do atendimento ao utilizador (CRA, 2015) 49

Figura 9 – Evolução das leituras reiais do contador (CRA, 2015) 50

Figura 10 – Evolução da conformidade dos parâmetros de qualidade da água (CRA, 2015) 51

Figura 11 – Nível médio de satisfação dos utilizadores (CRA, 2015) 51

Figura 12 – Evolução do IDER e suas componentes (CRA, 2015) 53

Figura 13 – Simbologia adoptada nos macroprocessos da substância regulatória do CRA 84

Figura 14 – Fluxograma da regulação directa do CRA 87

Figura 15 – Fluxograma da contratação dos ALC 88

Figura 16 – Fluxograma da regulação indirecta dos sistemas secundários 89

Figura 17 – Continuação do fluxograma da regulação indirecta dos sistemas secundários

regulados 90

Figura 18 – Fluxograma do regime de regulação dos serviços autónomos de saneamento nas

cidades dos sistemas principais 92

Figura 19 – Continuação do fluxograma do regime de regulação dos serviços autónomos de

saneamento nas cidades dos sistemas principais 92

Figura 20 – Fluxograma do regime de regulação consultiva dos sistemas não-autónomos 93

Figura 21 – Fluxograma do estabelecimento de AR entre o CRA e o FIPAG 94

Figura 22 – Fluxograma do estabelecimento de AR entre o CRA e a AIAS 95

Figura 23 – Fluxograma do estabelecimento dos QR dos sistemas principais do FIPAG 97

Figura 24 – Fluxograma do estabelecimento dos QR dos sistemas secundários da AIAS 97

Figura 25 – Fluxograma do procedimento de contrato de gestão delegada 99

Figura 26 – Fluxograma do procedimento de revisão periódica 100

Figura 27 – Fluxograma do pagamento da taxa de regulação nos sistemas principais 102

Figura 28 – Fluxograma do pagamento da taxa de regulação nos sistemas secundários 102

Figura 29 – Fluxograma do macroprocesso do reporte de informação periódica por parte das

entidades reguladas 105

Figura 30 – Continuação do fluxograma do macroprocesso do reporte de informação periódica

por parte das entidades reguladas 105

Figura 31 – Fluxograma do reporte de informação periódico dos operadores de sistemas

secundários, através do sistema TIC-RECO 108

Figura 32 – Fluxograma da recolha de informação diária junto dos utilizadores 109

Figura 33 – Fluxograma do processo do reporte de informação periódica por parte dos ALC 111

Figura 34 – Fluxograma do processo do reporte de informação periódica das CORAL 111

Figura 35 – Fluxograma do macroprocesso do reporte de informação periódica do CRA ao

Governo 114

Figura 36 – Fluxograma do macroprocesso do reporte de informação periódica do CRA ao

Tribunal Administrativo 114

Manual de Governança e Substância Regulatórias

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Figura 37 – Fluxograma do procedimento regulatório de estabelecimento de tarifas dos

serviços de abastecimento de água dos sistemas principais 119

Figura 38 – Fluxograma do procedimento regulatório de estabelecimento de tarifas dos

serviços de abastecimento de água dos sistemas secundários 122

Figura 39 – Continuação do fluxograma do procedimento regulatório de estabelecimento de

tarifas dos serviços de abastecimento de água dos sistemas secundários 122

Figura 40 – Fluxograma da regulação da qualidade de serviço 129

Figura 41 – Continuação do fluxograma da regulação da qualidade de serviço 130

Figura 42 – Continuação do fluxograma da regulação da qualidade de serviço (definição do

IDER) 131

Figura 43 – Fluxograma do tratamento de reclamações dos utilizadores dos sistemas

principais, por intermédio dos ALC 137

Figura 44 – Continuação do fluxograma do tratamento de reclamações dos utilizadores dos

sistemas principais, por intermédio dos ALC 137

Figura 45 – Fluxograma do tratamento de reclamações dos utilizadores dos sistemas

secundários, por intermédio dos CORAL 137

Figura 46 – Continuação do fluxograma do tratamento de reclamações dos utilizadores dos

sistemas secundários, por intermédio dos CORAL 138

Figura 47 – Matérias objecto de informação ao utilizador da boa prática regulatória 140

Figura 48 – Evolução das tarifas médias dos sistemas regulados pelo CRA 144

Figura 49 – Variação do rácio de cobertura dos custos operacionais dos sistemas regulados 145

Figura 50 – População e ligações de abastecimento disponíveis no sistema de Quelimane 149

Figura 51 – Distribuição de pesos dos indicadores que compõem o IQS 151

Figura 52 – Evolução da qualidade de serviço dos sistemas regulados (IQS) 152

Figura 53 – Variação da percentagem de respostas dadas às reclamações dos utilizadores 154

Figura 54 – Variação da percentagem de respostas dadas às reclamações dos utilizadores 155

Figura 55 – Nível de satisfação dos utilizadores sobre o desempenho dos sistemas (CRA, 2015)

156

Figura 56 – Paralelismo entre satisfação dos utilizadores e IDER dos sistemas (CRA, 2015) 157

Manual de Governança e Substância Regulatórias

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Índice de Quadros

Quadro 1 – Principais documentos relativos ao enquadramento legal do sector da água de

Moçambique 18

Quadro 2 – Recursos hídricos disponíveis nas bacias hidrográficas por ARA 33

Quadro 3 – Entidades responsáveis pela gestão dos sistemas do sector da água de Moçambique

33

Quadro 4 – Sistemas secundários de abastecimento de água da AIAS 37

Quadro 5 – Sistemas de saneamento de águas residuais da AIAS 38

Quadro 6 – Operadores dos serviços de abastecimento de água em Moçambique 40

Quadro 7 – Indicadores de desempenho da avaliação global da qualidade de serviço 44

Quadro 8 – Sistemas do FIPAG com melhor e pior avaliação da qualidade de serviço (2014) 45

Quadro 9 – Conjunto de indicadores de desempenho considerados no IDER 52

Quadro 10 – Síntese das observações sobre governança regulatória do CRA 78

Quadro 11 – Reporte de informação das entidades reguladas, estabelecido nos AR e QR 103

Quadro 12 – Tarifa média dos sistemas regulados pelo CRA (sistemas principais) 144

Quadro 13 – Estrutura tarifária dos sistemas regulados 147

Quadro 14 – Cobertura dos serviços de abastecimento de água principais 148

Quadro 15 – Desempenho dos sistemas nos indicadores da qualidade da água 152

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Lista de Abreviaturas e Acrónimos

AdeM – Águas de Moçambique / Águas da Região de Maputo

AdP – Águas de Portugal

AFD – Agência Francesa de Desenvolvimento

AFORAMO – Associação dos Fornecedores de Água de Moçambique

AMATI – Associação dos Fornecedores Privados de Água Subterrânea

AR – Acordo Regulatório

ARA – Administração Regional de Águas

ARA-Sul – Administração Regional de Águas do Sul

ARC – Autoridade Reguladora da Concorrência

BAD – Banco Africano de Desenvolvimento

BAQS – Boletins de Avaliação da Qualidade de Serviço

BEI – Banco Europeu de Investimento

BoPInc – Base of the Pyramid Innovation Center

BR – Boletim da República

CAPEX – Custos de Capital

CE – Concessões Empresariais

CHAEM – Centro de Higiene Ambiental e Exames Médicos

CIDA – Canadian International Development Agency

CNA – Conselho Nacional de Águas

CPAS – Conselho Provincial de Água e Saneamento

CPLP – Cooperação dos Países de Língua Portuguesa

CRA – Conselho de Regulação do Abastecimento de Água / Conselho de Regulação de Águas

DAS – Departamento de Água e Saneamento

DFID – Department for International Development

DNA – Direcção Nacional de Águas

DNAAS – Direcção Nacional de Abastecimento de Águas e Saneamento

DNGRH – Direcção Nacional de Gestão dos Recursos Hídricos

DNS – Direcção Nacional de Saúde

DPOPH – Direcção Provincial das Obras Públicas e Habitação

DSA – Departamento de Saúde Ambiental

EUA – Estados Unidos da América

FIPAG – Fundo de Investimento e Património de Abastecimento de Água

FPA – Fornecedores Privados de Água

IDER – Indicador de Desempenho das Entidades Reguladas

IFI – Instituição Financeira Internacional

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IIA – Instituto de Investigação em Águas

INE – Instituto Nacional de Estatística

INGC – Instituto Nacional de Gestão de Calamidades

IRD – International Relief & Development

ISF – Inginiería Sin Fronteras

IQS – Índice da Qualidade de Serviço

ISEF – Índice de Sustentabilidade Económico-Financeira

ISO – Índice de Sustentabilidade Operacional

IWA – International Water Association

JICA – Japan International Cooperation Agency

LNHAA – Laboratório Nacional de Higiene, Água e Alimentos

MAE – Ministério da Administração Estatal / Ministério da Administração Estatal e Função Pública

MCC – Millenium Challenge Corporation

MIC – Ministério da Indústria e Comércio

MICOA – Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental

MINAG – Ministério da Agricultura e Pescas / Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar

MINEC – Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação

MINED – Ministério da Educação / Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano

MIPAR – Manual de Implementação de Projectos de Abastecimento de Água Rural

MIREME – Ministério dos Recursos Naturais e Energia

MISAU – Ministério da Saúde

MOPH – Ministério das Obras Públicas e Habitação

MOPHRH – Ministério das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos

MZN – Metical de Moçambique

ODM – Objectivos de Desenvolvimento do Milénio

ONG – Organização Não Governamental

OPEX – Custos de Operação e Manutenção

ORIO – Facility for Infrastructure Development

PAN-CSD - Plano de Acção Nacional de Combate à Seca e Desertificação

PARP – Plano de Acção para Redução da Pobreza

PARPA – Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta

PENA-ASR – Plano Estratégico de Água e Saneamento Rural

PGD – Projectos de Grande Dimensão

PNA – Política Nacional de Águas

PNDA – Programa de Desenvolvimento de Águas

POP – Pequenos Operadores Privados

PPP – Parceria Público-Privada

PRONASAR – Programa Nacional de Abastecimento de Água e Saneamento Rural

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PSAA – Pequenos Sistemas de Abastecimento de Água

PTA – Política Tarifária de Águas

QGD – Quadro de Gestão Delegada

QR – Quadro Regulatório

SANTOLIC – Saneamento Total Liderado pela Comunidade

SAUR – Société d’Aménagement Urbain et Rural

SDC – Swiss Agency for Development and Cooperation

SNV – Organização Holandesa de Cooperação

SINAS – Sistema de Informação Nacional de Água e Saneamento

UE – União Europeia

VEI – Vitens Evides International

WSUP – Water and Sanitation for the Urban Poor

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Manual de Governança e Substância Regulatórias

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1 INTRODUÇÃO

O progresso e desenvolvimento sustentável do sector da água são tidos pelo

Governo de Moçambique como pilares-chave para a garantia do bem-estar e coesão

económica e social da população. Neste sentido, o Governo de Moçambique tem

vindo a desenvolver, ano após ano, inúmeros esforços no sentido de dotar o

Conselho de Regulação de Águas (CRA) com melhores capacidades e ferramentas,

para assegurar uma adequada actividade de regulação do sector da água em

Moçambique, centrada na defesa dos interesses dos utilizadores e na garantia da

sustentabilidade dos sistemas de abastecimento de água e de saneamento de águas

residuais. Neste contexto, insere-se o crédito (N.º IDA52900) do Projecto (N.º

P125120), da Associação Internacional de Desenvolvimento (IDA) do Banco

Mundial, que visa financiar o Projecto de Abastecimento de Água ao Grande Maputo,

cuja componente D é relativa à Assistência Técnica.

O presente Manual de Governança e Substância Regulatórias tem em conta os três

aspectos-chave da regulação (a saber, a governança, a substância e o impacto

regulatórios) e desenvolve o diagnóstico e avaliação do modelo regulatório do sector

da água vigente em Moçambique, incidindo, em particular, sobre a actividade

regulatória desenvolvida pelo CRA. O Manual identifica as interligações existentes

entre os stakeholders no sector da água de Moçambique, incluindo as vertentes da

política pública, da regulação e da prestação de serviços públicos de água.

A governança regulatória, i.e. o “como” da regulação, está directamente relacionada

com a legislação e o quadro institucional associado ao sistema regulatório e aos

processos da tomada de decisão. Por sua vez, a substância regulatória, i.e. o “quê” da

regulação, está relacionada com o contexto intelectual e técnico das decisões do

regulador nos âmbitos da regulação económica (e.g. revisão tarifária ou

contabilidade regulatória), da qualidade de serviço (e.g. indicadores de desempenho

e regulação sunshine) e da regulação social (e.g. considerações sociais e de género).

Por último, o impacto regulatório resulta da conjugação e interacção entre a

governança regulatória e a substância regulatória, e está associado ao resultado da

regulação em si (e.g. sustentabilidade financeira dos sistemas, fiabilidade das infra-

estruturas).Este Manual teve como base, numa primeira fase, a revisão e análise da

documentação relevante existente (e.g. documentação legal, relatórios, estudos,

entre outros) para uma primeira identificação das práticas regulatórias do CRA no

sector da água de Moçambique, atendendo às boas práticas da governança e

substância regulatórias, bem como a descrição do impacto regulatório resultante da

conjugação das duas.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 2

A informação recolhida foi ainda complementada com a realização de um conjunto

de entrevistas realizadas com o pessoal-chave do sector da água em Moçambique,

tendo sido desenvolvidas com o devido apoio do CRA. Neste sentido, foram

realizadas entrevistas com o Ministro da tutela e todos os quadros de chefia do CRA,

além dos principais cargos da Direcção Nacional de Abastecimento de Água e

Saneamento (DNAAS) e Direcção Nacional de Gestão dos Recursos Hídricos

(DNGRH). Este conjunto de entrevistas inclui ainda o pessoal-chave da

Administração Regional de Águas do Sul (ARA-SUL), do Fundo de Investimento e

Património de Abastecimento de Água (FIPAG), da Administração de Infra-

estruturas de Água e Saneamento (AIAS), Vitens Evides International (VEI),

COLLINS, Associação dos Fornecedores de Água de Moçambique (AFORAMO),

WaterAid, Water and Sanitation for the Urban Poor (WSUP), entre outros.

As entrevistas realizadas serviram o propósito de complementar e aprofundar o

conhecimento sobre o papel do CRA e o sector desempenho das suas funções. Assim,

permitiram identificar as práticas regulatórias do CRA, compreender melhor as

relações institucionais entre entidades intervenientes no sector da água de

Moçambique e o papel do CRA actual e potencial na promoção do seu

desenvolvimento sustentável.

As informações reportadas pelos diferentes intervenientes entrevistados e a

documentação relevante disponibilizada e pesquisada serviram de base para a

elaboração e produção do presente documento, o qual foi elaborado após a

identificação de gaps e das práticas regulatórias não documentadas pelo CRA.

O Manual de Governança e Substância Regulatórias do CRA é orientado para os

restantes stakeholders do sector da água de Moçambique e parceiros internacionais.

Com base nas boas práticas da regulação e no trabalho precedente desenvolvido

pelo consultor, o Manual compreende sete capítulos, incluindo ao presente

introdução.

O segundo capítulo incide sobre o enquadramento regulatório do sector da água de

Moçambique, o qual se encontra directamente relacionado com o quadro legal que

estabelece as metas e objectivos das políticas sectoriais. Nele são identificados os

documentos e instrumentos legais que enquadram a actuação do CRA no sector da

água de Moçambique, bem como os principais stakeholders identificados neste

sector e suas respectivas responsabilidades no progresso e desenvolvimento

sustentável do mesmo.

No terceiro capítulo, seguindo o enquadramento legal e institucional, é desenvolvida

uma breve caracterização do mercado dos serviços públicos de abastecimento de

água e de saneamento de águas residuais de Moçambique. Esta caracterização do

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 3

sector da água incide, em particular, sobre as entidades reguladas pelo CRA,

apresentando alguns indicadores estatísticos relevantes para compreender a

dimensão e papel dos sistemas na promoção da coesão social em Moçambique. Com

base nos principais números e resultados atinentes do sector da água, a descrição

do desempenho do sector da água permite a compreensão da sua evolução, fruto das

políticas sectoriais implementadas no país desde a Lei de Águas de 1991 e o Quadro

de Gestão Delegada em 1998. O capítulo é finalizado com a identificação dos

principais desafios que persistem e metas por alcançar no desenvolvimento futuro

do sector da água em Moçambique.

O quarto capítulo aborda a governança regulatória do CRA, tendo em conta as boas

práticas regulatórias identificadas e a sua implementação pelo CRA. Nele, são

explicitados treze eixos da governança regulatória considerados fulcrais para a boa

prática regulatória no geral e em particular no sector da água. Na caracterização de

cada um dos eixos identificados é realizada uma introdução ao que se considera ser

a boa prática regulatória, seguida da identificação das práticas regulatórias do CRA

e como estas contribuem ou como podem ser melhoradas para assegurar a boa

governança regulatória no sector da água de Moçambique.

O quinto capítulo do manual é relativo à substância regulatória do CRA, onde são

abordadas a qualidade e a consistência das decisões, através da identificação das

práticas regulatórias do CRA, que definem a qualidade e a robustez das decisões

regulatórias. Neste capítulo são ainda identificadas as actividades regulatórias do

CRA no sector da água, descrevendo-se os procedimentos e sequências de

actividades inerentes à actuação do CRA nas diferentes vertentes da substância

regulatória (e.g. regulação da qualidade de serviço, determinação dos níveis

tarifários e tratamento de reclamações, entre outros).

Consequência da governança e substância regulatórias do CRA, o impacto

regulatório é referido no sexto capítulo, o qual incide sobre a evolução do

desempenho das entidades reguladas em função dos procedimentos regulatórios

adoptados pelo CRA no desempenho das suas funções de regulação do sector e

identificados nos capítulos precedentes. Em particular, neste capítulo é descrito o

equilíbrio entre a sustentabilidade financeira das entidades reguladas e a satisfação

dos utilizadores dos serviços públicos da água, incluindo também a qualidade de

serviço fornecida.

O sétimo, e último capítulo, do Manual sintetiza os principais contributos do Manual

e detalha os procedimentos regulatórios do CRA ao nível da governança, substância

e impacto regulatórios. Além disso, o mesmo contempla os principais desafios do

Manual e da própria regulação do CRA com vista ao desenvolvimento sustentável do

sector da água em Moçambique.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

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O documento inclui ainda um anexo independente, relativo à principal legislação e

documentos que enquadram a actividade do CRA e o sector da água Moçambicano.

Nele, são incluídos os documentos mais relevantes da prática regulatória do CRA,

traduzidos para língua inglesa.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

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2 ENQUADRAMENTO LEGAL E REGULATÓRIO

2.1 NOTA INTRODUTÓRIA

A presente secção do Manual incide sobre o enquadramento regulatório do sector

da água de Moçambique, o qual se encontra directamente relacionado com duas

vertentes: o enquadramento legal e o enquadramento institucional do sector dos

serviços de abastecimento de água e de saneamento de águas residuais.

O enquadramento legal identifica os documentos e instrumentos legais que

enquadram a actuação regulatória do CRA no sector da água de Moçambique. A

legislação do sector da água é encabeçada pela Lei de Águas de 1991, na qual o

Governo de Moçambique estabeleceu pela primeira vez os princípios e regras para

a gestão e utilização da água, fruto de uma reflexão profunda sobre os desafios e

importância do sector para o progresso e desenvolvimento sustentável do país. De

seguida referem-se as políticas sectoriais associadas à implementação do Quadro de

Gestão Delegada (QGD) e atribuição de responsabilidades e funções aos órgãos

criados no seu âmbito.

No enquadramento legal e regulatório são ainda identificados outros documentos e

instrumentos legais, associados a pacotes legislativos emitidos pelo Governo no

âmbito de reformas políticas em diversos sectores, que, de alguma forma, têm

influência na regulação do CRA no sector da água (e.g. por motivos de articulação

com outras entidades ou regulação de outros usos da água), sendo relevantes para

o actual enquadramento legal do sector.

O enquadramento institucional permite a identificação e a caracterização dos

principais stakeholders do sector da água em Moçambique. Estes, com funções e

responsabilidades de actuação distintas, são preponderantes para o progresso e

desenvolvimento sustentável do sector da água bem como para o enquadramento

regulatório da actuação do CRA e para o entendimento do relacionamento da

entidade reguladora com os outros actores do sector da água, em particular, os

relativos aos serviços de abastecimento de água e de saneamento de águas residuais.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

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2.2 ENQUADRAMENTO LEGAL

2.2.1 A Lei de Águas e o Quadro de Gestão Delegada

Em Moçambique, até ao final da década de oitenta, as infra-estruturas de

abastecimento de água encontravam-se em elevado estado de degradação,

conduzindo a um desempenho dos serviços parco e insustentável, tanto do ponto de

vista económico como financeiro, pelos operadores dos serviços de abastecimento

de água. As dificuldades sentidas no país, devido à situação macroeconómica da

altura, assim como o afastamento entre os utilizadores e a gestão dos serviços,

resultante da política de gestão centralizada do sector da água, não permitiam o

aumento da cobertura e melhoria da qualidade dos serviços prestados.

Neste sentido, a partir da década de noventa, foi produzido um conjunto de diplomas

normativos com vista à restruturação e implementação de reformas políticas,

económicas e sociais no sector da água em Moçambique, com grande prioridade

para a descentralização de funções e recuperação e melhoria dos serviços públicos

de abastecimento de água e também dos de saneamento de águas residuais e de

drenagem de águas pluviais. As reformas propostas visavam, fundamentalmente,

aumentar a cobertura dos serviços no país, garantir o acesso de toda a população a

serviços de abastecimento de água e de saneamento de águas residuais, com

qualidade e a preços módicos, mas assegurando a sustentabilidade financeira e

económica dos sistemas através da promoção de sistemas tarifários adequados.

A responsabilidade de definição da estratégia nacional do sector da água em

Moçambique era do Ministério das Obras Públicas e Habitação (MOPH), através da

Direcção Nacional de Águas (DNA), cujo seu Regulamento Interno foi publicado pelo

Diploma Ministerial n.º 78/2001, de 23 de Maio, tendo sido mais tarde revogado

aquando da publicação do novo Regulamento Interno da DNA, a 11 de Julho de 2012.

O MOPH foi extinto pelo Decreto Presidencial n.º 1/2015, de 16 de Janeiro, que

atribuiu a responsabilidade da tutela do sector da água ao Ministério das Obras

Públicas, Habitação e Recursos Hídricos (MOPHRH). O Estatuto Orgânico do

MOPHRH foi aprovado pela Resolução n.º 19/2015, de 17 de Julho, o qual dividiu e

distribuiu as atribuições da DNA à Direcção Nacional de Abastecimento de Águas e

Saneamento (DNAAS) e à Direcção Nacional de Gestão dos Recursos Hídricos

(DNGRH).

A aprovação da Lei de Águas em 1991 (Lei n.º 16/91, de 3 de Agosto) iniciou o

processo de reformas do sector da água levado a cabo pelo Governo de Moçambique.

A Lei de Águas definiu, em primeira mão, os princípios de gestão e utilização da água

a ter em conta na implementação das reformas da água no país, sendo um

instrumento fundamental para a defesa dos interesses da população de

Manual de Governança e Substância Regulatórias

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Moçambique. Nesta Lei, foi dada particular atenção à questão da sustentabilidade

ambiental com a definição dos princípios de utilização dos recursos hídricos do país

e dos direitos e obrigações dos utilizadores das águas de domínio público.

No mesmo ano, a 14 de Novembro, foram publicados o Decreto n.º 25/91 e o Decreto

n.º 26/91, que concretizaram as primeiras reformas previstas na Lei de Águas. O

primeiro decreto definiu a composição e funções do Conselho Nacional de Água

(CNA), previsto no Artigo n.º 17 da Lei de Águas e o segundo estabeleceu cinco

Administrações Regionais de Águas (ARA), responsáveis pela gestão dos recursos

hídricos de Moçambique nas várias regiões e previstas no Artigo 18º daquela lei.

A necessidade de uma maior sistematização das linhas de acção da Lei de Águas, com

o objectivo de concretizar as metas estabelecidas para a recuperação dos serviços

públicos de abastecimento de água potável e de saneamento de águas residuais nas

zonas urbanas, peri-urbanas e rurais, foi concretizada com a publicação da Política

Nacional de Águas em 1995, aprovada pela Resolução n.º 7/95, de 23 de Agosto, na

sequência da Lei de Águas de 1991 e das reformas democráticas praticadas no país.

A Política Nacional de Águas, que estabelece os princípios gerais comuns a todos os

subsectores da água no país (abastecimento de água, saneamento de águas

residuais, drenagem de águas pluviais e recursos hídricos), veio também promover

a introdução do sector privado na prestação dos serviços públicos associados, com

o objectivo de melhorar a qualidade dos serviços prestados, aumentando a

cobertura e qualidade dos serviços prestados e recuperando os custos de

investimento e de operação e manutenção, através de receitas resultantes de uma

operação sustentável dos sistemas, e também de melhorar a capacidade de

investimento no sector da água.

Em parceria com o Banco Mundial, o Governo de Moçambique desenvolveu em 1997

um programa de restruturação do sector da água, integrado nas políticas públicas

sectoriais. O primeiro Programa Nacional de Desenvolvimento de Águas (PNDA I)

definiu a estratégia adoptada para a integração e participação do sector privado no

desenvolvimento do sector da água nos anos seguintes, no âmbito das reformas

preconizadas pelo Governo Moçambicano. Entre 1998 e 1999 foi iniciada a

preparação do Segundo Programa Nacional de Desenvolvimento de Águas (PNDA

II), para a promoção da participação do sector privado através de contratos de

concessão, cessação de exploração ou contratos de gestão, consolidando assim as

reformas dos serviços públicos de água urbanos do país em curso.

Conforme preconizado pela Política Nacional de Águas de Moçambique de 1995, o

Decreto n.º 72/98, de 23 de Dezembro, estabeleceu a institucionalização e o

enquadramento legal do QGD dos serviços de abastecimento de água, que promoveu

a integração da gestão privada no sector da água em Moçambique, tido como

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condição necessária para a melhoria da qualidade e eficiência da gestão dos serviços

públicos de água do país. Este Decreto estabeleceu os princípios e regras que

enquadram a delegação da exploração e gestão dos sistemas de abastecimento de

água a entidades de direito privado, de acordo com os PNDA, tendo sempre como

prioridade a garantia da defesa dos interesses públicos e os investimentos

necessários para o desenvolvimento dos sistemas.

As reformas institucionais adoptadas pelo Governo de Moçambique no âmbito do

QGD resultaram no estabelecimento de duas entidades públicas autónomas, que,

desde então, têm um papel fundamental no desenvolvimento do sector da água

Moçambicano, respectivamente o Fundo de Investimento e Património de

Abastecimento de Água (FIPAG) e o Conselho de Regulação de Abastecimento de

Água (CRA).

O Decreto n.º 73/98, de 23 de Dezembro, estabeleceu o FIPAG como a entidade

detentora dos sistemas de abastecimento de água das grandes cidades do país e

responsável pela gestão do património, em conformidade com o previsto pela

Política Nacional de Águas. Esta entidade foi mandatada pelo Governo como

responsável pela gestão do programa de investimentos públicos nos sistemas de

abastecimento de água que lhe fossem sendo confiados.

Ocorreram algumas revisões do diploma original, tendo as atribuições e

responsabilidades da entidade sido redefinidas em duas alturas distintas. No final

de 2010, o Decreto n.º 63/2010, de 27 de Dezembro, reviu o Decreto n.º 73/98 e

alterou o Artigo 4º do mesmo, redefinindo as atribuições e responsabilidades do

FIPAG, atribuindo ao órgão a competência necessária para garantir a gestão e

exploração transitória de sistemas de abastecimento de água ainda não concedidos

ou sob contrato de gestão. Dois anos volvidos, o Decreto n.º 7/2012, de 10 de Maio,

acrescentou ao FIPAG a competência de propor a constituição de sociedades

comerciais, fundações ou associações, cujo objecto se prenda com o serviço público

de abastecimento de água, e das quais a maioria do capital accionista seja detido pelo

FIPAG. O mesmo diploma retirou competências de gestão e exploração dos serviços

de abastecimento de água ao FIPAG previstas no Decreto n.º 73/98, promovendo a

abertura total do sector da água à iniciativa privada, ficando o FIPAG, no entanto,

responsável pela gestão e operação transitória prevista no Decreto n.º 63/2010. O

Decreto n.º 48/2012, de 28 de Dezembro, aprovou o novo Estatuto Orgânico e de

funcionamento do FIPAG, revogando o Estatuto Orgânico aprovado em 1998.

Ainda no âmbito do enquadramento legal do QGD, o Decreto n.º 74/98, de 23 de

Dezembro, estabeleceu uma entidade reguladora independente dedicada ao sector

da água, o Conselho de Regulação de Abastecimento de Água [Conselho de Regulação

de Águas (CRA) desde 2011]. Esta foi estabelecida como a entidade responsável por

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assegurar a defesa dos interesses dos utilizadores e a sustentabilidade económica

das entidades por si reguladas, através da conciliação dos interesses de operadores

e utilizadores dos serviços públicos de abastecimento de água. Esta entidade tornou-

se, desta forma, responsável pela publicação de regulamentos específicos relativos

ao funcionamento do sector da água, nomeadamente, no que concerne, à regulação

económica, técnica e social dos serviços prestados. O Diploma Ministerial

n.º 92/2002, de 12 de Outubro, aprovou o Regulamento Interno do CRA, conforme

estabelecido e previsto no Decreto n.º 74/98.

A Política Nacional de Águas foi revista e actualizada cerca de uma década mais

tarde, aquando da publicação da Resolução n.º 46/2007, de 30 de Outubro. A revisão

dos objectivos e políticas do sector da água foi efectuada à luz da evolução dos

serviços públicos de águas, fruto das reformas neste sector entretanto concretizadas

(nomeadamente, a implementação do QGD e o estabelecimento do FIPAG e do CRA),

e das novas metas mundiais definidas para o desenvolvimento sustentável

económico e social. Em particular, a revisão de 2007 estabeleceu objectivos de

médio (2015) e longo prazo (2025) para o sector da água, com foco na utilização

eficiente e gestão responsável dos recursos hídricos, na garantia de acesso universal

a água potável, segura e fiável, e no melhoramento e acesso universal aos serviços

públicos de saneamento de águas residuais. Estes objectivos procuram reduzir o

número de pessoas sem acesso aos serviços públicos de abastecimento de água e de

saneamento de águas residuais para 50%, aumentar a cobertura dos serviços de

abastecimento de água para 70%, tanto em áreas rurais como em áreas urbanas e

peri-urbanas, e garantir a cobertura mínima dos serviços de saneamento de águas

residuais de 67% em áreas urbanas e de 60% em áreas rurais. A Política Nacional de

Águas foca-se também na promoção da conservação ambiental e na redução de

vulnerabilidade do país a cheias e secas, assim como no estabelecimento de acordos

abrangentes, de gestão coordenada, para a promoção da coesão económica e social

e da integração regional de Moçambique.

A 13 de Maio de 2009, pelo Decreto n.º 18/2009, o âmbito da actividade do QGD foi

alargado também aos sistemas públicos de saneamento de águas residuais para lá

dos sistemas públicos de distribuição de água. Assim, este Decreto preconizou o

alargamento progressivo do QGD visando a restruturação dos sistemas existentes,

de forma a garantir a sua auto-sustentabilidade e a integração dos serviços de

saneamento de águas residuais. Nele foi introduzida, pela primeira vez, em

Moçambique a classificação de sistemas, conforme as suas características,

distinguindo sistemas públicos urbanos de sistemas rurais e sistemas públicos

principais de sistemas públicos secundários. No mesmo documento foi também

previsto o alargamento do mandato do CRA para a regulação de todos os sistemas

públicos de abastecimento de água e de saneamento de águas residuais. O Decreto

n.º 18/2009 estabeleceu também os Conselhos Provinciais de Água e Saneamento

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(CPAS), órgãos de consulta dos Governos Provinciais, que procuram viabilizar o

envolvimento das autoridades provinciais e locais no desenvolvimento dos sistemas

secundários e de saneamento.

A Administração de Infra-estruturas de Água e Saneamento (AIAS) foi estabelecida

pelo Decreto n.º 19/2009, de 13 de Maio, em simultâneo com a publicação do

Decreto n.º 18/2009. A AIAS foi criada como responsável pela gestão e

melhoramento dos sistemas secundários de abastecimento de água e dos sistemas

de saneamento de águas residuais do país, à semelhança do FIPAG para os sistemas

principais. O Estatuto Orgânico e o Regulamento Interno que regem a actuação desta

entidade foram aprovados, respectivamente, pela Resolução n.º 34/2009, de 31 de

Dezembro, e pelo Diploma Ministerial n.º 256/2011, de 14 de Novembro.

Após o alargamento do QGD e o estabelecimento da AIAS em 2009, foi publicado em

Boletim da República (BR) o Decreto n.º 23/2011, de 8 de Junho, que alterou a

designação do CRA para a actual denominação de Conselho de Regulação de Águas.

Este diploma reviu e clarificou os mecanismos e ferramentas legais de regulação que

legitimam a entidade reguladora, alargando as suas competências regulatórias para

a regulação de todos os sistemas públicos de abastecimento de água e de

saneamento de águas residuais, em regimes regulatórios adequados às condições

técnicas e de gestão específica dos sistemas. A entidade reguladora foi mandatada

como responsável por garantir o equilíbrio entre os interesses do Estado e dos

utilizadores, assegurando em simultâneo a qualidade dos serviços prestados e a

sustentabilidade económica dos operadores, elementos chave para o

desenvolvimento e coesão socioeconómica e para a redução da pobreza do país.

O mesmo Decreto previu a criação de um Conselho Consultivo como órgão de

consulta do CRA, com integração de diversos stakeholders do sector da água

(incluindo membros da sociedade civil) e atribuiu ao CRA o poder regulamentar

para a definição dos AR e Quadros Regulatórios (QR), instrumentos base de

regulação dos serviços públicos. Neste diploma foi também instaurado o regime de

repartição das taxas de regulação entre o CRA e o Estado, bem como a possibilidade

de delegação de competências do CRA a terceiros, excluindo as competências

exclusivas do Plenário.

Em Janeiro de 2012 foi publicada a Estratégia Nacional de Água e Saneamento

Urbano 2011-2025, cujas finalidades são garantir a continuidade da implementação

de medidas efectivas da Política das Águas e reforçar os objectivos e políticas

estabelecidas no mesmo âmbito. Esta estratégia definiu como metas de curto prazo

(2015) as relativas aos ODM, e de médio prazo (2025) a cobertura universal e a

sustentabilidade dos serviços de abastecimento de água potável e de saneamento de

águas residuais de Moçambique. Esta publicação, em consonância com a Política

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Nacional de Águas, definiu como fundamental para a sustentabilidade dos sistemas,

a separação de funções dentro do sector da água, conseguindo-se só assim o

crescimento sustentável do mesmo e a garantia de uma boa qualidade de prestação

dos serviços públicos, em conjunto com o fomento de investimentos contínuos

necessários ao desenvolvimento do sector.

O alargamento da abrangência do QGD aos sistemas públicos de água é estipulado

através de publicações em BR. Tal aconteceu por intermédio da publicação do

Diploma Ministerial n.º 67/2004, de 21 de Abril, que estendeu o QGD para os

sistemas de abastecimento das cidades de Xai-Xai, Chókwè, Inhambane e Maxixe,

passando a responsabilidade de gestão dos sistemas das autarquias locais para o

FIPAG. Mais tarde, o mesmo sucedeu para os sistemas de abastecimento de água das

cidades de Tete, Moatize, Chimoio, Manica, Gondola, Cuamba, Lichinga, Nacala e

Angoche, que também passaram a estar enquadrados no QGD a partir de 2009,

aquando da publicação dos Diplomas Ministeriais n.º 177/2009 e 178/2009, ambos

de 15 de Julho. O Diploma Ministerial n.º 237/2010, de 27 de Dezembro, identificou

em tabela os sistemas públicos secundários de distribuição de água e os sistemas

públicos de saneamento de águas residuais, cujas responsabilidades de gestão foram

transferidas das autarquias locais para a AIAS.

2.2.2 Políticas sectoriais e regulamentos do sector da água de Moçambique

Vários instrumentos legais foram definidos pelo Governo de Moçambique, que

suportam a actividade regulatória do CRA e enquadram as actividades do sector da

água. A Política Tarifária de Águas (PTA), aprovada e publicada pelo Conselho de

Ministros na Resolução n.º 60/98, de 23 de Dezembro, estabeleceu os princípios

fundamentais a considerar na definição de sistemas tarifários, com aplicação

particular nas diferentes utilizações dos recursos hídricos. As prioridades definidas

pelo documento instrumental referem-se à definição de tarifas social e

economicamente responsáveis para cada sistema tarifário, com objectivos de

recuperação dos custos de operação e manutenção (OPEX) dos sistemas a curto-

prazo e recuperação dos custos de investimento (CAPEX) a médio-prazo.

Para além do referido, o documento estabelece também os princípios fundamentais

a respeitar na definição de sistemas tarifários, promovendo a adopção de princípios

socialmente responsáveis na definição de tarifas. Nele identificam-se os princípios

do utilizador-pagador e do poluidor-pagador, os princípios da equidade, da

protecção ambiental e do uso eficiente de água, estimulando simultaneamente a

sustentabilidade dos sistemas e a gestão participativa através da descentralização

progressiva dos poderes de regulação e de gestão para as autarquias. Em suma, o

documento estabelece as bases para a definição dos sistemas tarifários referentes à

Manual de Governança e Substância Regulatórias

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água bruta, à água potável em zonas urbanas e zonas rurais, ao saneamento

convencional e de baixo custo e à água para irrigação.

Refira-se que foram promulgadas em 1999 as normas específicas relativas à

aplicação do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) aos serviços públicos de

abastecimento de água potável pelo Decreto n.º 80/99, de 1 de Novembro.

As deliberações emitidas pela entidade reguladora sobre a tarifação dos sistemas

principais são publicadas em BR. Por exemplo, com a publicação da Resolução

n.º 2/2006, de 14 de Junho, o CRA aprovou a proposta submetida pelo FIPAG relativa

às Fórmulas de Indexação das Tarifas de Água. De acordo com a Lei n.º 6/2003, de

18 de Abril, referente ao período da Vacatio Legis, quaisquer decisões publicadas em

BR entram em vigor quinze dias após publicação, excepto se for fixada uma data

específica aquando da sua publicação.

Em 2010 foram publicadas três resoluções relativas ao sistema tarifário dos

sistemas do FIPAG. A Resolução n.º 1/2010, de 18 de Agosto, apresentou e divulgou

as Tarifas Médias de Referência dos sistemas principais de abastecimento de água

propostas pelo FIPAG, e aprovadas pelo Plenário do CRA após apreciação.

A Resolução n.º 2/2010, de 22 de Setembro, visou a implementação de medidas

específicas de alívio do custo de vida para a população, através da adopção de um

mecanismo de subsídio cruzado e/ou subsídio directo da taxa de ligação domiciliária

doméstica para os sistemas do FIPAG, em particular para as populações de mais

baixo rendimento nas periferias das cidades.

A Resolução n.º 3/2010, de 27 de Outubro, veio introduzir um mecanismo de

compensação do custo da taxa de novas ligações domésticas, que gera receitas

adicionais aos operadores por via da adopção de uma tarifa especial para alguns

consumos específicos. As receitas adicionais resultam da diferença entre a tarifa

geral e a tarifa especial, permitindo assim a angariação de receitas extra às entidades

gestoras dos serviços públicos de abastecimento de água. Mais recentemente, uma

nova proposta de ajustamento das tarifas de água potável foi aprovada pela

Resolução n.º 2/2015, de 10 de Agosto, definindo novas Tarifas Médias de

Referência, específicas a cada sistema, e fixadas por categorias e escalões de

consumo.

O Regulamento dos Sistemas Públicos de Distribuição de Água e de Drenagem de

Águas Residuais actualizou a regulamentação existente na altura, datada da década

de 1940, que se encontrava desajustada da realidade e do contexto do país. O novo

regulamento, aprovado pelo Decreto n.º 30/2003, de 1 de Julho, definiu as condições

técnicas a que os sistemas públicos de água devem corresponder para assegurar um

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bom funcionamento global e assim garantir a saúde pública e segurança de todos os

envolvidos na sua operação/utilização.

A desactualização da regulamentação existente na altura e as reformas políticas

promovidas pelo Governo de Moçambique resultaram também na publicação do

Decreto n.º 15/2004, de 15 de Julho, que aprovou o novo Regulamento dos Sistemas

Prediais de Distribuição de Água e de Drenagem de Águas Residuais. Este

regulamento redefiniu as condições técnicas necessárias para garantir um

funcionamento adequado dos sistemas prediais de distribuição de água e de

saneamento para a preservação da segurança, higiene e conforto nos edifícios,

servindo também como critério de base para o seu licenciamento.

O Regulamento de Licenças e Concessões de Águas, aprovado pelo Decreto

n.º 43/2007, de 30 de Outubro, foi publicado na sequência da aprovação da

Estratégia Nacional de Gestão de Recursos Hídricos pelo Conselho de Ministros, a 21

de Agosto do mesmo ano. O documento normativo foi publicado com o objectivo de

implementar efectivamente o preconizado pela Política Nacional de Águas

relativamente à promoção da regulação da gestão dos recursos hídricos,

nomeadamente através do licenciamento ou concessão do direito de uso e

aproveitamento de águas interiores a pessoas singulares ou colectivas, públicas ou

privadas, nacionais ou internacionais autorizadas a actuar no sector da água em

Moçambique.

Este instrumento normativo determinou que é do Estado a responsabilidade da

gestão do sector das águas, através do Ministério que tutela o sector, e atribuiu aos

Governos Locais a responsabilidade de estabelecer as prioridades relativas ao

desenvolvimento de projectos estratégicos relativos ao uso da água. O mesmo

Regulamento atribuiu às ARA a responsabilidade de licenciamento ou concessão do

aproveitamento dos recursos hídricos. No âmbito da Estratégia Nacional de Gestão

de Recursos Hídricos de Moçambique, o Regulamento destacou ainda os princípios

de equidade e balanço do género no desenvolvimento e implementação de políticas

de gestão, promovendo assim o fortalecimento do papel da mulher na tomada de

decisões, planeamento, monitorização e gestão da operação e manutenção dos

sistemas de abastecimento de água.

O Modelo de Contrato de Fornecimento de Água Potável, aprovado pelo CRA na

Deliberação n.º 1/2008, de 4 de Junho, foi introduzido após realização de um

processo de auscultação pública aos utilizadores. O documento, designado por

Contrato de Adesão, estabelece as condições gerais do contrato de abastecimento de

água, definindo a relação entre os operadores e os utilizadores nos serviços públicos

de abastecimento de água. O documento é aplicado nos sistemas integrados no QGD,

desde a sua aprovação nesse ano. Em 2010, o MOPH publicou o Diploma Ministerial

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n.º 7/2010, de 6 de Janeiro, através do qual aprovou os Modelos de Licenças e

Concessões de Águas com o objectivo de uniformizar os mecanismos adoptados

pelas ARA no licenciamento e atribuição de concessões de uso privativo de águas.

O Manual de Implementação das Modalidades de Gestão dos Pequenos Sistemas de

Abastecimento de Água (PSAA) foi aprovado pelo Diploma Ministerial n.º 5/2006,

de 17 de Janeiro. O manual foi enquadrado pelo Manual de Implementação de

Projectos de Abastecimento de Água Rural (MIPAR), instrumento normativo e

regulador da implementação de projectos de abastecimento de água rural publicado

no Diploma Ministerial n.º 23/2002, de 13 de Março, que operacionaliza os

princípios estabelecidos na Política Nacional de Águas. Como tal, o manual de 2006

foi também estabelecido como um instrumento de operacionalização da Política

Nacional de Águas, desta feita com o objectivo de instrumentalizar o envolvimento

do sector de água privado na gestão de PSAA e de definir o sistema funcional de

abastecimento de água dos pequenos sistemas, tendo em conta a necessidade de um

controlo efectivo das actividades dos operadores. O manual incentivou a transição

para novas modalidades de gestão autónoma dos PSAA rurais.

Também no âmbito dos sistemas de abastecimento de água e de saneamento de

águas residuais em zonas rurais, foi aprovado o Programa Nacional de

Abastecimento de Água e Saneamento Rural (PRONASAR) com o Diploma

Ministerial n.º 258/2010, de 30 de Dezembro. Este documento, cujo propósito

principal constitui a redução do desequilíbrio existente na cobertura de serviços nas

províncias e distritos de Moçambique, propõe-se aumentar a provisão sustentável

dos serviços de abastecimento de água e de saneamento de águas residuais, através

da operacionalização e implementação de propostas delineadas no Plano

Estratégico de Água e Saneamento Rural (PENA-ASR), nos pilares estratégicos do

sector da água definidos pelo Governo nos Planos Quinquenais e no pilar do Capital

Humano do Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta II (2004-2011,

PARPA II). O PRONASAR resultou de um esforço conjunto entre o Governo de

Moçambique, os parceiros de desenvolvimento, organizações não-governamentais

(ONG) actuantes no país, os membros da comunidade e do sector privado e outras

partes interessadas.

Na sequência, e à semelhança do Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta

(PARPA), aprovado a 3 de Maio de 2011 em Conselho de Ministros, o Plano de Acção

para Redução da Pobreza (2011-2014, PARP), incide no combate à pobreza e

estabelece objectivos de desenvolvimento humano e social nos quais se encontram

a prestação de serviços associados ao sector da água. Os objectivos estabelecidos no

documento focam-se no aumento da disponibilidade e acesso ao serviço de

abastecimento de água e de saneamento de águas residuais em zonas rurais, urbanas

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e peri-urbanas, indo ao encontro do definido na revisão de 2007 da Política Nacional

de Águas.

2.2.3 Regulamentos e leis associadas ao sector da água

A Lei do Ambiente (Lei n.º 20/97, de 1 de Outubro) definiu as medidas e bases legais

necessárias para a gestão e utilização correcta dos recursos ambientais, essenciais

ao desenvolvimento sustentável do país, aplicáveis a todas as actividades públicas

ou privadas que possam ter influência directa ou indirectamente no ambiente. A Lei

do Ambiente promoveu a utilização e gestão racionais das componentes ambientais,

reforçando o papel da água no desenvolvimento sustentável do país. A mesma lei

incentivou também a igualdade e equidade de género ao acesso e uso dos recursos

naturais existentes em Moçambique.

O Regulamento sobre Padrões de Qualidade Ambiental e de Emissão de Efluentes,

aprovado pelo Decreto n.º 18/2004, de 2 de Junho, atribuiu ao Ministério para a

Coordenação da Acção Ambiental de Moçambique (MICOA) a responsabilidade de

fiscalização dos níveis admissíveis de concentração de poluentes em águas residuais

a serem descarregados em cursos de água. No documento foram estabelecidos os

parâmetros de avaliação da qualidade da água bruta, que variam de acordo com a

categoria da utilização das águas.

O Regulamento de Qualidade de Água para Consumo Humano foi estabelecido pelo

Ministério da Saúde (MISAU) pelo Diploma Ministerial n.º 180/2004, de 15 de

Setembro, no âmbito das responsabilidades que o Ministério tem no

desenvolvimento estratégico e implementação de políticas de saúde e higiene

pública no sector da água. O regulamento visa garantir o nível de qualidade da água

mínimo através da definição de parâmetros de qualidade de água e das modalidades

de realização de controlo adequadas nas diferentes etapas do sistema de

abastecimento de água, desde a captação à distribuição de água aos utilizadores.

O Governo de Moçambique aprovou o Regulamento sobre o Processo de Avaliação

do Impacto Ambiental através do Decreto n.º 45/2004, de 29 de Setembro. Este

regulamento especifica as condições de realização de avaliações de impacto

ambiental, nomeadamente em actividades públicas ou privadas com potencial

influência negativa no ambiente, incluindo projectos com características e

dimensões específicas no âmbito das infra-estruturas, designadamente sistemas

adutores, aquedutos e canais de água para consumo humano ou para indústria ou

outros usos, incluindo também instalações de tratamento de águas residuais.

Igualmente relevante para o desenvolvimento da actividade de regulação do sector

da água pelo CRA, o Regulamento para a Prevenção da Poluição e Protecção do

Ambiente Marinho e Costeiro foi publicado em BR, através do Decreto n.º 45/2006,

Manual de Governança e Substância Regulatórias

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de 30 de Novembro. Este documento estabeleceu os termos da actuação das

autoridades competentes no sentido da prevenção e mitigação da poluição

resultante das descargas de substâncias ilegais nas águas.

Hoje, sob a tutela da DNGRH, o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC)

foi estabelecido pelo Decreto n.º 38/99, de 10 de Junho, na altura subordinado ao

Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação (MINEC). Em 2006, foi aprovado

pelo Conselho de Ministros o Plano Director para a Prevenção e Mitigação das

Calamidades Naturais, elaborado pelo INGC. Mais recentemente, a Lei n.º 15/2014,

de 20 de Junho, estabeleceu o regime jurídico da gestão das calamidades, incluindo

a prevenção, mitigação dos efeitos, desenvolvimento de acções de socorro e

assistência, que prevê a execução das acções de gestão de calamidades de forma

descentralizada. Entre outros, são considerados pela lei os Planos de Gestão de

Calamidades de cheias, inundações e seca, directamente relacionados com o sector

da água.

O Instituto de Investigação em Águas (IIA) foi criado pelo Decreto n.º 41/2010, de

20 de Outubro, com o propósito de desenvolver investigação científica no domínio

da água, melhorando a capacidade do país ao nível da pesquisa e investigação

científica no sector da água e ao nível do desenvolvimento de tecnologias

necessárias para o desenvolvimento social e económico de Moçambique de forma

sustentável.

A 13 de Outubro de 2015, na 36ª Sessão Ordinária do Conselho de Ministros, foi

implementado um Decreto que, por altura da sua publicação, aprova o Regulamento

do Licenciamento de Serviços de Abastecimento de Água Potável por Fornecedores

Privados. Este Regulamento resulta dos esforços que têm sido desenvolvidos para a

implementação de um quadro legal que considera os Fornecedores Privados de

Água (FPA) e assegure a coexistência harmoniosa dos serviços públicos e privados,

para protecção dos interesses dos utilizadores dos mesmos. Esse regulamento foi

publicado pelo Decreto n.º 51, de 31 de Dezembro, de 2015, e entrou em vigor em

28 de Junho de 2016.

2.2.4 Outros documentos legais com impacto no sector da água

Outros pacotes legislativos foram emitidos pelo Governo, no âmbito de outras

reformas políticas iniciadas na década de noventa. Algumas das leis publicadas

relacionam-se indirectamente com o sector da água, sendo, no entanto, relevantes

para o enquadramento legal que se verifica hoje neste sector.

A partir do ano de 1994, o Governo de Moçambique começou a emitir diversos

pacotes legislativos que aprovaram a legislação necessária para a gradual

descentralização de funções governativas. Com a publicação destas leis, os

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 17

Municípios foram adquirindo mais competências, incluindo competências no

domínio dos sistemas de abastecimento de água e de saneamento de águas residuais.

A Lei n.º 3/94, de 13 de Setembro, definiu o quadro institucional dos distritos

municipais, dotando-os de autonomia e personalidade jurídica. A Lei n.º 9/96, de 28

de Agosto, veio institucionalizar o Poder Local, promovendo o desenvolvimento

local e a descentralização administrativa e procurando envolver os cidadãos na

resolução de problemas das comunidades locais. Um ano depois, o Governo de

Moçambique instituiu as Autarquias Locais através da Lei n.º 2/97, de 18 de

Fevereiro, e das Leis nº 7, 8, 9 e 10/97, de 31 de Maio, e promulgou a competência

dos Municípios para a realização de investimentos em sistemas de abastecimento de

água e de saneamento locais na Lei n.º 11/97, de 31 de Maio (Lei de Finanças

Autárquicas).

Estas competências dos Municípios foram mais tarde reforçadas pela Lei n.º 8/2003,

de 19 de Maio, que estabeleceu novos princípios e normas de organização,

competência e funcionamento das autarquias locais, e pela Lei n.º 1/2008, de 16 de

Janeiro, que definiu o regime financeiro, orçamental e patrimonial dos Municípios,

atribuindo a estes poderes para a realização de investimentos públicos nas áreas do

saneamento básico, incluindo sistemas autárquicos de abastecimento de água e de

drenagem de águas residuais.

Em 1999, foi publicada em Moçambique a Lei n.º 11/99, de 8 de Julho, que

regularizou, actualizou e melhorou o quadro legal existente em Moçambique

referente à resolução de conflitos, reforçando como meios alternativos ao sistema

tradicional judicial o recurso a meios de arbitragem, conciliação e mediação.

O Governo de Moçambique publicou pelo Decreto n.º 54/2005, de 13 de Dezembro,

o Regulamento de Contratação de Empreitada de Obras Públicas, Fornecimento de

Bens e Prestação de Serviços ao Estado. Este regulamento estabeleceu o regime

jurídico a ser respeitado no âmbito de contratações públicas, cujo objectivo

contemple o fornecimento de bens e prestação de serviços ao Estado, incluindo

empreitadas, serviços de consultoria e concessões ou outras delegações. O Decreto

n.º 15/2010, de 24 de Maio, reviu o regulamento anterior com o propósito de tornar

mais céleres e flexíveis os procedimentos de contratação considerados. Este decreto

foi ainda recentemente revogado pelo Decreto n.º 5, de 8 de Março, do corrente ano

de 2016, com o propósito de atribuir maior transparência e assegurar a efectiva

implementação dos procedimentos de contratação.

Dois anos mais tarde, a Política de Concorrência Moçambicana, aprovada através da

Resolução n.º 37/2007, definiu a estratégia do Governo para a regulação da

concorrência em Moçambique. Em consequência, a Autoridade Reguladora da

Manual de Governança e Substância Regulatórias

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Concorrência (ARC) foi estabelecida como uma entidade independente, responsável

pela aplicação do regime jurídico da concorrência do país, por intermédio da Lei

n.º 10/2013, de 11 de Abril. O Estatuto Orgânico da ARC foi mais tarde aprovado

pelo Decreto n.º 37/2014, dotando a entidade com poderes regulatórios, de

supervisão e sancionatórios no que respeita às matérias da concorrência de

Moçambique. O Regulamento da Lei da Concorrência de Moçambique entrou em

vigor com a publicação do Decreto n.º 97/2014, de 31 de Dezembro, estabelecendo

as regras da concorrência a aplicar no mercado Moçambicano, e dotando a ARC com

as ferramentas necessárias ao desempenho da sua actividade.

Também têm influência no enquadramento das actividades do sector da água de

Moçambique as leis que visam um maior envolvimento do sector privado em

Projectos de Grande Dimensão (PGD), Concessões Empresariais (CE) e Parcerias

Público-Privadas (PPP). A Lei n.º 15/2011, de 10 de Agosto, estabeleceu as normas

orientadoras para os processos de contratação, implementação e monitorização

destes tipos de contratos, procurando assegurar maior qualidade, eficiência e

eficácia na exploração de recursos e na provisão de bens e de serviços à sociedade.

A Lei foi reforçada pelo Decreto n.º 16/2012, de 4 de Junho, que aprovou o

Regulamento da Lei sobre PPP, PGD e CE, proposto na Lei n.º 15/2011. Nela, foram

detalhadas as competências dos órgãos envolvidos nos processos de

estabelecimento de parcerias com o sector privado, nomeadamente relativamente à

tutela sectorial e financeira dos empreendimentos.

2.2.5 Principal legislação considerada

O quadro apresentado abaixo condensa toda a legislação Moçambicana considerada

e sintetizada no presente capítulo, por categoria e ordem cronológica de publicação.

Quadro 1 – Principais documentos relativos ao enquadramento legal do sector da água de

Moçambique

DOCUMENTO LEGAL TEMA

Lei n.º 16/91, de 3 de Agosto Lei de Águas

Decreto n.º 25/91, de 14 de Novembro Composição e Funções do CNA

Decreto n.º 26/91, de 14 de Novembro Criação das ARA

Diploma Ministerial n.º 134/93, de 17 de Novembro

Estatutos da ARA-Sul

Lei n.º 3/94, de 13 de Setembro Quadro Institucional dos Distritos Municipais

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DOCUMENTO LEGAL TEMA

Resolução n.º 7/95, de 23 de Agosto Política Nacional de Água

Lei n.º 9/96, de 28 de Agosto Institucionalização do Poder Local

Lei n.º 2/97, de 18 de Fevereiro Autarquias Locais

Leis nº 7, 8, 9 e 10/97, de 31 de Maio Competências dos Municípios para o sector da água

Lei n.º 11/97, de 31 de Maio Lei de Finanças Autárquicas

Lei n.º 20/97, de 1 de Outubro Lei do Ambiente

Decreto n.º 72/98, de 23 de Dezembro Institucionalização do QGD

Decreto n.º 73/98, de 23 de Dezembro Criação do FIPAG

Decreto n.º 74/98, de 23 de Dezembro Criação do CRA

Resolução n.º 60/98, de 23 de Dezembro

Política Tarifária de Águas

Decreto n.º 38/99, de 10 de Junho Criação do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC)

Lei n.º 11/99, de 8 de Julho Arbitragem, Conciliação e Mediação

Decreto n.º 80/99, de 1 de Novembro Aplicação do IVA para o Fornecimento de Água Potável

Diploma Ministerial n.º 78/2001, de 23 de Maio

Regulamento Interno da DNA

Diploma Ministerial n.º 23/2002, de 13 de Maio

Manual de Implementação de Projectos de Abastecimento de Água Rural

Diploma Ministerial n.º 92/2002, de 12 de Outubro

Regulamento Interno do CRA

Lei n.º 6/2003, de 18 de Abril Período da Vacatio Legis

Lei n.º 8/2003, de 19 de Maio Princípios e Normas de Organização, Competência e Funcionamento das Autarquias Locais

Decreto n.º 30/2003, de 1 de Julho Regulamento para os Sistemas Públicos de Distribuição de Água e de Drenagem de Águas Residuais

Diploma Ministerial n.º 67/2004, de 21 de Abril

Alargamento do QGD: Transferência dos Sistemas de Xai-Xai, Chókwè, Inhambane e Maxixe para o FIPAG

Decreto n.º 18/2004, de 2 de Junho Regulamento sobre Padrões de Qualidade Ambiental e de Emissão de Efluentes

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DOCUMENTO LEGAL TEMA

Decreto n.º 15/2004, de 15 de Julho Regulamento para os Sistemas Prediais de Distribuição de Água e de Drenagem de Águas Residuais

Diploma Ministerial n.º 180/2004, de 15 de Setembro

Regulamento de Qualidade de Água para Consumo Humano

Decreto n.º 45/2004, de 29 de Setembro

Regulamento sobre o Processo de Avaliação do Impacto Ambiental

Decreto n.º 54/2005, de 13 de Dezembro

Regulamento de Contratação de Empreitada de Obras Públicas, Fornecimento de Bens e Prestação de Serviço ao Estado

Diploma Ministerial n.º 5/2006, de 17 de Janeiro

Regulamento para os Pequenos Sistemas / Manual de Implementação das Modalidades de Gestão dos PSAA

Resolução n.º 2/2006, de 14 de Junho Aprovação das Fórmulas de Indexação das Tarifas de Água (FIPAG)

Decreto n.º 45/2006, de 30 de Novembro

Regulamento para a Prevenção da Poluição e Protecção do Ambiente Marinho e Costeiro

Resolução n.º 37/2007, de 12 de Novembro

Política de Concorrência Moçambicana

Resolução n.º 43/2007, de 30 de Outubro

Regulamento de Licenças e Concessões de Águas

Resolução n.º 46/2007, de 30 de Outubro

Revisão da Política Nacional de Águas

Lei n.º 1/2008, de 16 de Janeiro Regime Financeiro, Orçamental e Patrimonial dos Municípios

Deliberação n.º 1/2008, de 4 de Junho Condições Gerais do Contrato de Adesão para o Abastecimento de Água

Decreto n.º 18/2009, de 13 de Maio Alargamento do QGD ao Abastecimento de Água em todos os Centros Urbanos e aos Sistemas de Saneamento

Decreto n.º 19/2009, de 13 de Maio Criação da AIAS

Diploma Ministerial n.º 177/2009, de 15 de Julho

Alargamento do QGD: Transferência dos Sistemas de Tete, Moatize, Chimoio, Manica e Gondola para o FIPAG

Diploma Ministerial n.º 178/2009, de 15 de Julho

Alargamento do QGD: transferência dos Sistemas de Cuamba, Lichinga, Nacala e Angoche para o FIPAG

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DOCUMENTO LEGAL TEMA

Resolução n.º 34/2009, de 31 de Dezembro

Estatuto Orgânico da AIAS

Diploma Ministerial n.º 7/2010, de 6 de Janeiro

Modelos de Licenças e Concessões de Águas

Decreto n.º 15/2010, de 24 de Maio

Revisão do Regulamento de Contratação de Empreitada de Obras Públicas, Fornecimento de Bens e Prestação de Serviços ao Estado

Resolução n.º 1/2010, de 18 de Agosto Ajustamento das Tarifas de Água Potável no âmbito do QGD

Resolução n.º 2/2010, de 22 de Setembro

Revisão de Taxas de Novas Ligações Domiciliárias Domésticas de água potável

Decreto n.º 41/2010, de 20 de Outubro Criação do Instituto de Investigação em Águas

Resolução n.º 3/2010, de 27 de Outubro

Mecanismo de Compensação do Custo da Taxa de Novas Ligações Domésticas

Decreto n.º 63/2010, de 27 de Dezembro

Alteração do Artigo 4º do Decreto n.º 73/98 de 23 de Dezembro

Diploma Ministerial n.º 237/2010, de 27 de Dezembro

Identificação dos Sistemas Públicos Secundários de distribuição de água e dos sistemas públicos de saneamento de águas residuais transferidos para a AIAS

Diploma Ministerial n.º 258/2010, de 30 de Dezembro

Programa Nacional de Abastecimento de Água e Saneamento Rural (PRONASAR)

Decreto n.º 23/2011, de 8 de Junho Alteração da Designação do Conselho de Regulação do Abastecimento de Água (CRA) para Conselho de Regulação de Águas (CRA);

Lei n.º 15/2011, de 10 de Agosto Implementação de PPP, PGD e CE

Diploma Ministerial n.º 256/2011, de 14 de Novembro Regulamento Interno da AIAS

Decreto n.º 7/2012, de 10 de Maio Alargamento de Competências do FIPAG

Decreto n.º 16/2012, de 4 de Junho Regulamento da Lei sobre PPP, PGD e CE

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DOCUMENTO LEGAL TEMA

Diploma Ministerial n.º 142/2012, de 11 de Julho

Revisão do Regulamento Interno da DNA

Decreto n.º 48/2012, de 28 de Dezembro

Novo Estatuto Orgânico e de Funcionamento do FIPAG

Estratégia Nacional de Água e Saneamento Urbano 2011-2025, de Janeiro de 2012

Lei n.º 10/2013, de 11 de Abril Criação da Autoridade Reguladora da Concorrência

Lei n.º 15/2014, de 20 de Junho Regime Jurídico da Gestão das Calamidades

Decreto n.º 37/2014, de 1 de Agosto Estatuto Orgânico da ARC

Deliberação n.º 6/2014, de 25 de Novembro

Revisão para a Extensão do Contrato de Cessão de Exploração Revisto do Serviço de Abastecimento de Água de Maputo

Decreto n.º 97/2014, de 31 de Dezembro

Regulamento da Lei da Concorrência de Moçambique

Decreto Presidencial n.º 1/2015, de 16 de Janeiro Extinção e Criação de Ministérios

Resolução n.º 19/2015, de 17 de Julho Aprovação do Estatuto Orgânico do Ministério das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos

Resolução n.º 2/2015, de 10 de Agosto Ajustamento das Tarifas de Água Potável no âmbito do QGD

Decreto n.º 51/2015, de 31 de Dezembro

Regulamento do Licenciamento de Abastecimento de Água Potável por Fornecedores Privados

Decreto n.º 5/2016 de 8 de Março Aprova o Regulamento de Contratação de Empreitada de Obras Públicas, Fornecimento de Bens e Prestação de Serviços ao Estado

2.3 ENQUADRAMENTO INSTITUCIONAL

2.3.1 Administração do sector da água de Moçambique

Conforme referido, actualmente o MOPHRH é o órgão do Governo com competências

sobre a aplicação das políticas públicas nos domínios das obras públicas, da

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P.027.15.R3 23

habitação, do urbanismo, da indústria da construção e dos recursos hídricos do país.

A DNAAS e a DNGRH são as estruturas orgânicas do MOPHRH responsáveis pela

definição de gestão de políticas públicas no sector da água, incluindo a definição de

estratégias e mobilização de investimentos para a gestão de recursos hídricos e de

sistemas de abastecimento de água e de saneamento de águas residuais tanto em

zonas rurais como urbanas. Estas entidades são igualmente responsáveis pela

coordenação dos diferentes intervenientes do sector da água, participando na

elaboração e produção de legislação, regulação e normas técnicas que promovem a

melhoria dos serviços públicos de abastecimento de água prestados à população e o

melhor aproveitamento e gestão dos recursos hídricos, assim como também a

descentralização das actividades do sector da água.

A DNAAS é assim a instituição do Governo Central, tutelada pelo MOPHRH, à qual

são atribuídas diversas funções concernentes aos sistemas e serviços de

abastecimento de água e de saneamento de águas residuais. Entre as onze funções

atribuídas à DNAAS, listadas no diploma normativo, incluem-se, por exemplo, a

função de propor e assegurar a implementação de políticas, estratégias, normas,

regulamentos e especificações técnicas para o abastecimento de água e para o

saneamento de águas residuais, a promoção de investimentos para a construção,

manutenção e expansão de infra-estruturas, a elaboração de normas de drenagem

de águas pluviais nos assentamentos rurais e urbanos, o estabelecimento e operação

de sistemas nacionais de informação sobre água e saneamento, e a prestação de

apoio técnico e metodológico no domínio de abastecimento de água e de saneamento

aos órgãos locais do Estado e autárquicos.

Por sua vez, a DNGRH é definida como o órgão do Ministério com responsabilidades

na formulação de propostas de políticas e estratégias de desenvolvimento,

conservação, uso e aproveitamento dos recursos hídricos das bacias hidrográficas

de Moçambique, assim como no desenvolvimento de propostas de legislação e do

quadro regulamentar sobre os recursos hídricos.

Como tal, entre outras funções, esta instituição deve garantir a disponibilidade de

água em quantidade e qualidade para os seus diferentes usos, assegurando a

participação e cooperação dos diferentes organismos envolvidos na partilha dos

recursos hídricos, bem como a fiscalização e cumprimento da legislação e

regulamentação em vigor. O planeamento estratégico para situações de calamidade

(secas ou cheias) é igualmente responsabilidade desta entidade.

A DNGRH é ainda responsável pela elaboração, implementação e monitorização dos

Planos de Bacia, os quais incidem sobre o planeamento de uso e aproveitamento,

conservação e melhoria dos recursos hídricos das bacias hidrográficas. A promoção

de investimentos necessários para assegurar a exploração sustentável dos recursos

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 24

hídricos, através da construção e manutenção de meios estratégicos para gestão,

armazenamento, protecção e transporte de água, é igualmente responsabilidade

desta instituição, entre outras funções expostas na Resolução n.º 19/2015, de 17 de

Julho.

Instituído em 1995, na sequência da Lei de Águas de 1991 e do Decreto n.º 25/91,

de 14 de Novembro que o estabeleceu, o CNA foi criado como o órgão consultivo do

Conselho de Ministros e de coordenação interministerial para a política geral de

gestão das águas, sendo responsável pela emissão de pareceres sobre aspectos

relevantes da política sectorial. Aquando do seu estabelecimento, o CNA era

composto pelo MOPH, pelo Ministério da Agricultura e Pescas (MINAG)

(actualmente dividido no Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar, e

Ministério do Mar, Águas Interiores e Pescas), pelo MINEC, pelo Ministério da

Indústria e Comércio (MIC), pelo Ministério dos Recursos Minerais e Energia

(MIREME), pelo Ministério da Administração Estatal (actualmente dividido no

Ministério da Administração Estatal e Função Pública, MAE e no Ministério da Terra,

Ambiente e Desenvolvimento Rural), pelo MISAU e pelo Ministério para a

Coordenação e Acção Ambiental (MICOA, actual Ministério da Terra, Ambiente e

Desenvolvimento Rural).

As ARA são instituições públicas dotadas de personalidade jurídica, estabelecidas

como as entidades responsáveis pela gestão e administração dos recursos hídricos,

organizadas na base de bacias hidrográficas regionais de Moçambique. Sob tutela do

MOPHRH, por intermédio da DNGRH, são responsáveis pela gestão operacional e

protecção dos recursos hídricos de Moçambique, incluindo a gestão da

monitorização da qualidade da água bruta e a gestão dos recursos hídricos

disponíveis nas bacias hidrográficas.

Entre as principais responsabilidades atribuídas às ARA, encontram-se o

planeamento, a garantia de disponibilidade e distribuição equilibrada do recurso

água da região, o controlo do uso e aproveitamento dos recursos hídricos, a

protecção do meio ambiente mediante controlo da descarga de efluentes, o

licenciamento e a concessão de uso e aproveitamento dos recursos hídricos e

imposição de taxas associadas, ou a rentabilização das infra-estruturas hidráulicas.

As áreas de jurisdição de cada uma das cinco ARA distintas existentes (do Norte, do

Centro Norte, do Zambeze, do Centro e do Sul) são definidas com base nas fronteiras

e bacias hidrográficas do país. A ARA-Sul, responsável pela gestão dos recursos

hídricos de quatro bacias hidrográficas da região Sul do país (Umbelúzi, Incomáti,

Limpopo e Save) foi a primeira das cinco ARA a ser estabelecida com a aprovação

dos seus Estatutos pelo Diploma Ministerial n.º 134/93, de 17 de Novembro.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 25

As Direcções Provinciais das Obras Públicas e Habitação (DPOPH), através dos

Departamentos de Água e Saneamento (DAS), representam o MOPHRH a nível

provincial. O planeamento local do sector da água é da responsabilidade dos

Governos Provinciais, operando sob supervisão das DPOPH, que detêm os sistemas

de abastecimento de água e de saneamento de águas residuais rurais. Os órgãos de

consulta para o sector da água dos Governos Provinciais são denominados, como já

referido, de Conselhos Provinciais de Água e Saneamento (CPAS), criados no âmbito

do estabelecimento da AIAS, para viabilizar o envolvimento das autoridades

provinciais e locais nas actividades do sector da água.

2.3.2 Serviços públicos de abastecimento de água e de saneamento de águas

residuais

Como salientado, no âmbito do QGD, estabelecido em 1998, foram criadas duas

instituições de domínio público com funções distintas, o FIPAG e o CRA. Mais tarde,

com o alargamento do QGD a todos os sistemas públicos de abastecimento de água

e de saneamento de águas residuais, a AIAS foi criada como uma entidade de

domínio público, com funções específicas nos sistemas secundários de

abastecimento de água e nos sistemas de saneamento de águas residuais, ficando o

património dos sistemas principais sob responsabilidade do FIPAG.

Estabelecido inicialmente pelo Decreto n.º 73/98, de 23 de Dezembro, o FIPAG é o

órgão responsável pela gestão dos serviços públicos de abastecimento de água das

grandes cidades do país. O FIPAG é responsável por atrair e gerir investimentos para

o desenvolvimento das infra-estruturas das principais cidades de Moçambique e por

promover uma forte parceria entre os sectores público e privado. O FIPAG tem como

objectivo garantir a sustentabilidade económica dos sistemas de abastecimento de

água através da monitorização e acompanhamento do cumprimento das obrigações

contratuais de operadores privados nos serviços de abastecimento de água por si

delegados ou com contrato de cessão de exploração, conforme se verifica no caso do

abastecimento de água à região de Maputo, assegurado pelas Águas da Região de

Maputo (AdeM), antiga Águas de Moçambique.

O FIPAG é o principal player do sector da água de Moçambique, tendo a titularidade,

e sob sua gestão, quinze sistemas principais de abastecimento de água. Estes

distribuem-se em quatro regiões, nomeadamente a Região Norte (seis sistemas, com

os sistemas de Nampula, Nacala, Angoche, Lichinga, Cuamba e Pemba), a Região

Centro (quatro sistemas, com os sistemas de Beira-Dondo, Manica, Tete-Moatize e

Quelimane), a Região Sul (quatro sistemas, com os sistemas de Xai-Xai, Chókwè,

Inhambane e Maxixe) e a Região de Grande Maputo, cujo sistema de abastecimento

de água que serve as cidades de Maputo, Matola e Boane é da responsabilidade da

AdeM, através de um contrato de cessão de exploração.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 26

Criada em 2009 pelo Decreto n.º 19/2009, de 13 de Maio, a AIAS assume o papel de

gestão do património e do programa de investimento público nas infra-estruturas

de abastecimento de água e de saneamento de águas residuais em cidades de menor

dimensão, como vilas e sedes de distritos fora da jurisdição do FIPAG, e de promoção

da melhoria dos serviços de saneamento de águas residuais. A AIAS é responsável

por promover, através da delegação a operadores privados ou a outras entidades, a

gestão operacional autónoma, eficiente e financeiramente sustentável dos sistemas

públicos secundários e de saneamento por si administrados. Em 2014,

encontravam-se sob jurisdição da AIAS cento e trinta e dois sistemas secundários de

abastecimento de água. Contrariamente à actividade do FIPAG, a base de actuação

da AIAS é efectuada em sistemas cujo investimento está associado a um grau de risco

económico muito superior.

Ao nível da regulação do sector da água de Moçambique, o CRA, inicialmente criado

pelo Decreto n.º 74/98, de 23 de Dezembro, e enquadrado pelo QGD, assume o papel

de entidade reguladora independente dos serviços públicos de abastecimento de

água potável e de saneamento de águas residuais em todos os centros urbanos de

Moçambique sob jurisdição do FIPAG e da AIAS, conforme mais tarde estabelecido

pelo Decreto n.º 23/2011, de 8 de Junho. Na sua actividade, o CRA é responsável pela

defesa dos interesses dos utilizadores e pela salvaguarda da sustentabilidade dos

operadores privados, através da regulação económica dos serviços de

abastecimento de água quanto ao regime tarifário e ao nível e qualidade do serviço,

e à regulação social, incluindo as práticas de boa governança. Assim, o CRA procura

equilibrar os interesses de todos os envolvidos no sector da água e promover um

serviço confiável, transparente, eficiente e justo.

O CRA tem como principais funções atribuídas a regulação económica do serviço

público de água, através da definição e acompanhamento do Quadro Regulatório

(QR), que compreende a fixação de tarifas e taxas de serviços assim como a definição

da qualidade do serviço prestado, a promoção da conciliação de interesses entre o

cedente e o operador, servindo de fórum de concertação pré-arbitral e com poderes

regulamentares para a aplicação de multas e outras sanções às entidades reguladas

por incumprimentos no âmbito das suas competências, e a identificação de

necessidades de desenvolvimento e expansão dos serviços, consoante as

necessidades dos utilizadores, actuais e futuros, assegurando a sustentabilidade

económica dos sistemas.

A AdeM – Águas da Região de Maputo é a uma das principais empresas responsáveis

pela prestação de serviços públicos de abastecimento de água em Moçambique,

actuando no país desde 1999, ano da sua criação. A AdeM foi inicialmente

estabelecida como Águas de Moçambique na sequência da implementação do QGD

do abastecimento de água em Moçambique. Na sua primeira constituição, a AdeM

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 27

era uma estrutura societária que integrava o consórcio francês SAUR Internacional

(Société d’Aménagement Urbain et Rural) como sócio maioritário, a Águas de

Portugal (AdP) e a MAZI – Moçambique, uma entidade que integrava um conjunto

de empresas moçambicanas. Em 2002 a AdP tornou-se sócia maioritária da

empresa, aquando da saída da SAUR do consórcio, após acordo com o Governo de

Moçambique, o CRA e o Banco Mundial. A 28 de Dezembro de 2010, foi celebrado

pelo FIPAG o Acordo de Aquisição das Acções da AdP na AdeM, tornando-se assim

uma sociedade maioritariamente detida pelo FIPAG e alterando a designação para a

actual, Águas da Região de Maputo.

A AdeM gere o sistema de abastecimento de água que serve a área metropolitana de

Maputo/Matola/Boane, sob jurisdição do FIPAG, através de um contrato de cessão

de exploração, detendo funções comerciais, financeiras e administrativas associadas

às funções de operação e manutenção do sistema de acordo com as condições do

contrato assumido perante o FIPAG. O sistema de Maputo/Matola é gerido pela

AdeM desde 1999, sendo que a vila distrital de Boane passou a ser abrangida pelo

contrato a partir de 2011. A última revisão do contrato, realizada em 2014

(Deliberação n.º 6/2014, de 25 de Novembro), prolongou o contrato de cessão de

exploração do sistema de Maputo/Matola/Boane até 2019. Estima-se que em 2015

a AdeM servia cerca de 70% da população da área metropolitana.

Os FPA ou Pequenos Operadores Privados (POP) têm também grande relevância no

abastecimento de água da população peri-urbana de Maputo, não sendo, no entanto,

ainda reguladas pelo CRA. Estes pequenos operadores têm tendência a surgir e

actuar nas regiões onde o investimento público nas infra-estruturas não tem sido

suficiente para acompanhar o crescimento das cidades nem para satisfazer as

necessidades da população. Os FPA são representados por associações de pequenos

operadores, como a Associação dos Fornecedores de Água de Moçambique

(AFORAMO) ou da Associação dos Fornecedores Privados de Água Subterrânea

(AMATI), que juntos reúnem mais de 400 FPA. Ressalve-se que têm sido

desenvolvidos alguns esforços no passado recente para enquadrar legalmente as

actividades desenvolvidas pelos POP, para protecção dos interesses dos utilizadores

dos serviços.

À semelhança da AdeM, a Vitens Evides International (VEI), consórcio entre as

empresas de serviços de abastecimento de água holandesas Vitens e Evides Water

Company, foi responsável pela prestação de serviços e gestão de infra-estruturas de

abastecimento de água de quatro cidades do sul de Moçambique (Xai-Xai, Chókwè,

Inhambane e Maxixe) de 2003 a 2008, de cinco cidades do centro de Moçambique

(Chimoio, Gondola, Manica, Tete e Moatize) entre 2006 e 2009, tendo estendido e

ampliado o contrato para oito cidades (inclusão de Dondo, Beira e Quelimane) até

final de 2012, e de duas cidades do norte de Moçambique (Nampula e Angoche)

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 28

entre 2011 e 2015. Prestou ainda assistência técnica ao FIPAG em regime de PPP,

entre 2012 e 2015.

Hoje, como parceira principal de um consórcio holandês entre a SNV (Organização

Holandesa de Cooperação), a World Waternet e BoPInc, a VEI presta apoio à AIAS

para a melhoria do acesso aos serviços de abastecimento de água e de saneamento

de águas residuais de quinze áreas peri-urbanas. Em Janeiro de 2015, a Vitens

celebrou um novo contrato de 5 anos com o FIPAG para a gestão dos serviços

públicos da cidade da Beira.

2.3.3 Outros Ministérios com responsabilidades sobre o sector da água

Para além do MOPHRH, responsável directo pelo progresso e desenvolvimento do

sector da água do país, outros ministérios do Governo de Moçambique,

nomeadamente o MISAU, o Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural

(antigo MICOA), o MIREME, o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano

(MINED), e o MINAG (antigo Ministério da Agricultura e Pescas) têm também a si

atribuídas responsabilidades, no âmbito das actividades de desenvolvimento do

sector da água em Moçambique.

A Direcção Nacional de Saúde (DNS), sob tutela do MISAU, é mandatada como a

autoridade competente para a prossecução dos objectivos delineados pelo

Regulamento de Qualidade da Água para Consumo Humano que fixa os parâmetros

da qualidade da água utilizada para fins domésticos ou industriais, incluindo

produção alimentar, desde o seu estado original (rios e outras origens) até ao pós

tratamento. Assim, conforme estipulado pelo Diploma Ministerial n.º 180/2004, de

15 de Setembro, a Direcção Nacional de Saúde é a autoridade a quem compete

assegurar o controlo da qualidade da água.

As várias competências da entidade relativas à monitorização da qualidade da água,

através de inspecções às fontes e colheitas de amostras, são distribuídas pelos

diversos departamentos, sendo exercidas pelo Departamento de Saúde Ambiental

(DSA) e pelo Laboratório Nacional de Higiene de Águas e Alimentos (LNHAA) a nível

central, pelos Centros de Higiene Ambiental e Exames Médicos (CHAEM) e

Laboratórios Provinciais de Água a nível provincial, e pelos Centros de Saúde a nível

local.

Para além do referido, o MISAU tem também responsabilidades no desenvolvimento

estratégico e implementação de políticas de saúde e higiene pública, em particular

nos serviços de abastecimento de água e de saneamento de águas residuais, no

sector da água de Moçambique.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 29

O Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural é responsável pela

monitorização da qualidade do ambiente e promoção do desenvolvimento e

utilização sustentável dos recursos naturais, nomeadamente através da

implementação do Regulamento sobre Padrões de Qualidade Ambiental e de

Emissões de Efluentes, assim como pelo desenvolvimento e implementação do Plano

de Acção Nacional de Combate à Seca e à Desertificação de Moçambique, no qual a

DNA se encontra também envolvida. Este ministério é também responsável pelo

desenvolvimento e implementação do Plano de Acção Nacional de Combate à Seca e

Desertificação (PAN-CSD) de Moçambique, iniciado pelo ainda MICOA, e no qual a

DNA se encontrava envolvida.

O MIREME desempenha também um papel importante na questão da gestão dos

recursos hídricos, sendo responsável pelo sector das energias renováveis, no qual se

inclui a energia hidroeléctrica. Já o MINED gere os serviços de saneamento de águas

residuais nas escolas, enquanto o MINAG tem sob sua responsabilidade o

abastecimento de água para irrigação na agricultura.

O Tribunal Administrativo de Moçambique é responsável pela auditoria anual das

actividades e contas do CRA, apresentadas anualmente pela entidade reguladora e

pela fiscalização das contas e contratos públicos.

2.3.4 Parceiros internacionais de desenvolvimento

Diversas Agências Bilaterais de Apoio ao Desenvolvimento desempenham um papel

importante no combate à pobreza em Moçambique nomeadamente através do

desenvolvimento de políticas, capacitação técnica de instituições e apoio ao

desenvolvimento de infra-estruturas de abastecimento de água e de saneamento de

águas residuais. As principais entidades a apoiar o desenvolvimento do sector da

água de Moçambique são a Millenium Challenge Corporation (MCC), agência

americana independente de ajuda externa, a CIDA (Canadian International

Development Agency), o DFID (Department for International Development) do Reino

Unido, a Ajuda Irlandesa (Irish Aid), a SDC (Swiss Agency for Development and

Cooperation), a ORIO (Facility for Infrastructure Development), financiada pelo

Ministério dos Negócios Estrangeiros da Holanda, a JICA (Japan International

Cooperation Agency), a Cooperação dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e a

Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD).

As ONG têm também participado activamente na supervisão dos planos e políticas

governamentais adoptadas no sector da água implementados em Moçambique, bem

como no fornecimento de assistência técnica institucional, com foco particular nas

áreas rurais, sendo importantes parceiros para desenvolvimento sustentável do

sector da água neste país. Entre as ONG envolvidas no sector da água de Moçambique

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 30

encontram-se, a título de exemplo, organizações como a Magariro, de Moçambique,

a WaterAid, a maior organização internacional a actuar no sector da água de

Moçambique, desde 1995, a espanhola ISF (Inginiería Sin Fronteras), a IRD

(International Relief & Development) dos EUA, e a WSUP (Water and Sanitation for

the Urban Poor), que tem vindo a desempenhar um papel fundamental no

desenvolvimento da regulação do subsector do saneamento de águas residuais.

O desenvolvimento do sector da água de Moçambique não seria possível sem o

essencial financiamento de cooperações multilaterais com Instituições Financeiras

Internacionais (IFI). As cooperações multilaterais com IFI representam

oportunidades de negócio e de desenvolvimento do sector da água bem como

oportunidades de concretizar parcerias internacionais para as empresas locais,

potenciando oportunidades para financiamentos de projectos de investimento,

aquisições de bens, obras e serviços através de concursos, e prestações de serviços

de consultoria e assistência técnica, essenciais ao desenvolvimento do sector da

água Moçambicano.

As principais IFI a actuar no sector da água de Moçambique são o Banco Mundial, o

Banco Europeu de Investimento (BEI) e o Banco Africano de Desenvolvimento

(BAD), todos com impacto significativo no aumento do acesso e uso dos serviços de

abastecimento de água e de saneamento de águas residuais. As que mais têm

contribuído, têm sido, sem dúvida, as instituições ligadas ao Banco Mundial.

Também a União Europeia (UE) participa activamente na promoção do

desenvolvimento do sector da água de Moçambique através do fundo Facilidade

para a Água, que financia o Projecto para o Abastecimento de Água a Maputo. De

referir que o CRA tem beneficiado muito da cooperação com o Banco Mundial, e que

suas as contas do CRA devido a esta parceria estão sujeitas a auditoria externa, para

além da auditoria realizada pelo Tribunal Administrativo de Moçambique.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 31

3 ESTRUTURA DE MERCADO E DESEMPENHO DO SECTOR DA

ÁGUA

3.1 ENQUADRAMENTO

Segundo a mais recente estimativa pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) de

Moçambique, o país apresenta uma população de cerca de 26,5 milhões de

habitantes em 2016, embora haja estimativas que apontem para um número

superior. Considerando o último recenseamento realizado em 2007 (20,5 milhões

de habitantes), tal significa que o país teve um crescimento médio anual de,

aproximadamente, 2,82% na última década. Estima-se que 68% da população

moçambicana habita em regiões rurais, distribuindo-se a restante população pelas

cidades do território, nomeadamente em Maputo, Matola, Beira e Nampula. Segundo

o INE, a esperança média de vida à nascença é de 53,5 anos.

Moçambique é considerado uma nação de desenvolvimento baixo, e encontra-se no

“top-10” dos países mais pobres do mundo, ocupando a posição 180 no ranking das

Nações Unidas do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), em 187 países

classificados. Tem-se registado um crescimento positivo no Produto Interno Bruto

(PIB) no passado recente, com crescimentos a rondar os 7% por ano, fruto da forte

influência de projectos de grande dimensão em execução nos vários sectores do país

que têm apoiado o crescimento económico do país. O forte potencial do país no

sector mineiro, devido à disponibilidade em termos de recursos minerais como o

carvão e o gás natural, poderá também contribuir positivamente para o crescimento

económico do país nos próximos anos.

Todavia, e apesar do forte crescimento económico que se tem vindo a verificar e da

implementação de programas de combate à pobreza, mais de metade da população

moçambicana continua a viver abaixo do limiar da pobreza, com menos de 1 dólar

por dia. Mais de 80% das famílias pobres habitam nas regiões rurais do país.

O território da República de Moçambique compreende 799.380 km2, dos quais

apenas cerca de 1,6% correspondem a águas interiores, equivalente a

aproximadamente 13.000 km2. A localização geográfica de Moçambique, voltada

para o Oceano Índico, sujeita o país a um clima tropical, caracterizado por períodos

de monções e secas ao longo do ano. A grande extensão do território na direcção

Norte-Sul (o país estende-se ao longo de mais de 2.500 km) em conjunto com a sua

localização numa zona intertropical influência diferenças a nível climatérico de

região para região. Assim, enquanto os períodos de clima tropical seco se prolongam

entre quatro a seis meses nas regiões Centro e Norte do país, o clima seco prolonga-

se até nove meses na região Sul, colocando, frequentemente, em causa a

disponibilidade de água para consumo humano em algumas regiões.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 32

A orografia do país, caracterizada por faixas montanhosas nas fronteiras terrestres

(27% do território apresenta altitudes acima dos 1000 metros), conjugada com uma

extensa faixa costeira com altitudes inferiores a 200 metros (44% da área total de

Moçambique) e com o clima tropical que caracteriza o país dá origem a vários rios,

distribuídos em quinze bacias hidrográficas principais.

Mais de metade dos recursos hídricos disponíveis em Moçambique tem origem nos

países vizinhos (54%). A disponibilidade dos recursos hídricos, tendo em conta as

condições climatéricas e orografia do território, é variável de região para região,

estimando-se um escoamento superficial total de cerca de 216 km3/ano, o que

equivale a uma disponibilidade de, aproximadamente, 11.500 m3 por pessoa e por

ano, de acordo com os estudos disponíveis (ÁguaGlobal, 2014).

A precipitação anual média em Moçambique é de, aproximadamente, 1000 mm/ano,

tendo, no entanto, uma grande variação nos valores registados em diferentes anos.

A distribuição pluviométrica pelo país é variável de região para região, influenciada

também pela duração dos períodos de seca, atingindo valores entre 1000 e 2000

mm/ano na região Norte e entre 500 e 1000 mm/ano na região Sul. A região mais

seca do país, o Vale do Limpopo, na região Sul, tem uma precipitação anual média

variável entre 300 e 500 mm/ano.

A gestão e planeamento da utilização dos recursos hídricos, por parte das cinco ARA,

são fundamentais no sentido de assegurar a disponibilidade da água bruta

necessária para os diferentes tipos de uso do recurso água no país. O quadro 2

sintetiza as origens e disponibilidades médias anuais, bem como a capacidade de

armazenamento de cada uma das administrações responsáveis pela gestão da água

bruta em Moçambique.

3.2 ESTRUTURA DE MERCADO

Apesar das orientações da política sectorial da água em Moçambique para o

aumento da participação do sector privado, reforçadas no âmbito do QGD, a

titularidade, a gestão e a exploração dos serviços de abastecimento de água e de

saneamento de águas residuais no país permanecem, predominantemente,

prestados pelo sector público, ainda que nem sempre tenha sido assim.

No desenvolvimento do sector da água de Moçambique, destacam-se pela sua

dimensão e importância no sector, a participação do FIPAG e, mais recentemente, da

AIAS no sector. Resumidamente, a estrutura de mercado do sector da água em

Moçambique distribui-se, fundamentalmente pelas entidades que se apresentam no

quadro 3.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 33

Quadro 2 – Recursos hídricos disponíveis nas bacias hidrográficas por ARA

ESCOAMENTO ANUAL MÉDIO CAPACIDADE DE

ARMAZENAMENTO

Total

Origem: Moçambique (Volume útil)

Origem: Montante

ARA Sul

20,8 km3 3,8 km3 (18%)

4,07 km3 19,6% 17 km3 (82%)

ARA Centro

19,6 km3 18,4 km3 (94%)

1,88 km3 9,6% 1,2 km3 (6%)

ARA Zambeze

106 km3 18 km3 (17%)

39,2 km3 40,0% 88 km3 (83%)

ARA Centro-Norte

35,2 km3 35,2 km3 (100%)

0,059 km3 0,17% 0 km3 (0%)

ARA Norte

34,9 km3 24,9 km3 (71%)

0,026 km3 0,07% 10 km3 (29%)

TOTAL 216,5 km3

100,3 km3 (46%) 45,2 km3 20,9%

116,2 km3 (54%)

Quadro 3 – Entidades responsáveis pela gestão dos sistemas do sector da água de

Moçambique

FIPAG

Entidade titular e responsável pela gestão do património dos sistemas principais de abastecimento de água. Além disso, presta serviços de abastecimento de água às grandes cidades, com excepção das cidades de Maputo, Matola e Boane, cuja gestão é da responsabilidade da AdeM por meio de um contrato de cessão de exploração, ainda que também seja accionista desta empresa.

AIAS

Entidade titular e responsável pela gestão do património dos sistemas secundários de abastecimento de água. No âmbito do alargamento do QGD tem também sob sua responsabilidade os sistemas de saneamento de águas residuais. Responsável pela delegação dos serviços de abastecimento de água a operadores privados em pequenas cidades e vilas.

Comunid. Locais

Constituem o suporte dos serviços de abastecimento de água e de saneamento de águas residuais nas áreas rurais (e.g. iniciativa Saneamento Total Liderado pela Comunidade - SANTOLIC).

FPA e PSAA Operam principalmente em zonas periurbanas (FPA) e rurais (PSAA). Ultrapassam os 1300 (cerca de 500 FPA e 800 PSAA)1 e servem mais de 20% da população moçambicana.

1ÁguaGlobal, 2014

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 34

3.2.1 FIPAG

Conforme já referido, o FIPAG corresponde ao principal player no sector da água de

Moçambique. O FIPAG é titular e tem sob a sua gestão quinze sistemas de

abastecimento de água, distribuídos por quatro regiões (Região do Grande Maputo,

Região Sul, Região Centro e Região Norte), tendo sido integrados no âmbito do QGD

em diferentes alturas, com um potencial de população servida a rondar os 5,5

milhões de habitantes, conforme detalhado mais adiante.

A Região do Grande Maputo comporta as cidades de Maputo, Matola e Boane, que

são abastecidas pelo sistema de abastecimento de água sob gestão privada (ainda

que por uma empresa pública) da Águas da Região de Maputo, S.A. – AdeM, ao abrigo

do Contrato de Cessão de Exploração celebrado com o FIPAG, desde 1999.

A responsabilidade do FIPAG na gestão dos sistemas de abastecimento de água nas

restantes regiões compreende quatro sistemas de abastecimento de água na Região

Sul (nas cidades de Xai-Xai, Chókwè, Inhambane e Maxixe), bem como na Região

Centro do país (Beira e Dondo, Moatize e Quelimane, Manica e Tete) e a gestão de

seis sistemas na Região Norte (Nampula, Nacala, Angoche, Lichinga, Cuamba e

Pemba).

A figura seguinte apresenta a localização e ano de integração no âmbito do QGD dos

sistemas de abastecimento de água sob responsabilidade do FIPAG.

Figura 1 – Sistemas sob gestão do FIPAG (CRA, 2015)

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 35

No âmbito do QGD, os sistemas actualmente a cargo do FIPAG deveriam ter a sua

gestão sob a iniciativa privada. Todavia, a realidade demonstra que esta situação

ainda não se verifica na maioria destes sistemas. O FIPAG é o único titular do capital

social das empresas que operam nas regiões Norte, Centro e Sul do país, e é, também,

o responsável pela operação dos serviços de abastecimento de água. Nestes

sistemas, o FIPAG estabelece contratos baseados em resultados com o seu pessoal

para procurar melhorar os serviços e desempenho dos sistemas.

Na região de Maputo, a operação é realizada por meio de contratos de cessão de

exploração a operadores privados (a AdeM opera o sistema principal e o FIPAG tem

celebrados contratos de gestão com operadores privados, que actualmente operam

em dezasseis pequenos sistemas em zonas peri-urbanas de Maputo), ainda que a

AdeM à data tenha titularidade pública, cujo accionista maioritário é o próprio

FIPAG. Refira-se que a AdeM, por sua vez, celebrou com dois operadores privados,

contratos para a gestão da operação dos sistemas de abastecimento de bairros da

região de Maputo. Em particular, a EMA é responsável pela gestão do sistema do

Bairro da Liberdade, e a Machava é responsável pela gestão do sistema de Boane.

O FIPAG é o responsável pelo desenvolvimento do património dos sistemas de

abastecimento de água principais, cabendo aos operadores privados a exploração

dos serviços por tempo determinado, mediante a atribuição de contratos de cessão

de exploração dos sistemas por parte do FIPAG, desde que demonstrada a

capacitação do operador, necessária para gerir o sistema eficientemente e de acordo

com os pressupostos estabelecidos no contrato. Nestes casos, os operadores

privados são responsáveis pelo desenvolvimento das redes secundárias e terciárias

necessárias para o abastecimento da população, respeitando sempre os padrões

técnicos mínimos da regulamentação existente, bem como os parâmetros de

qualidade de serviço definidos no contrato.

3.2.2 AIAS

A criação da AIAS enquadrou-se no alargamento do QGD (com início em 2009) e no

esforço do Governo de transpor para esta entidade, à semelhança do que se verifica

no FIPAG, a capacidade de angariar e gerir os financiamentos para investimento

público nos sistemas de abastecimento de água das pequenas cidades e vilas de

Moçambique e nos serviços de saneamento de águas residuais urbanos, de modo a

expandir e melhorar a prestação destes serviços.

O Diploma Ministerial nº 237/2010, de 2 de Dezembro, identifica os sistemas de

abastecimento de água (sistemas secundários) e os sistemas públicos de drenagem

de águas residuais que serão transferidos para a AIAS no âmbito do QGD. Está

prevista a transferência gradual destes sistemas, tendo presente que até à data

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 36

(Junho de 2016) foram transferidos para a jurisdição da AIAS os sistemas de

Mocímboa da Praia (na Província de Cabo Delgado), Ilha de Moçambique, Ribaué,

Nametil (na Província de Nampula), Mocuba, Mopeia (Província da Zambézia),

Ulónguè (na Província de Tete), Caia e Nhamatanda (na Província de Sofala) e

Chibuto e Praia do Bilene (na Província de Gaza) e Moamba (na Província de Maputo.

Estima-se que, no conjunto dos sistemas referidos, existe um potencial de mercado

em termos de população de cerca 305 mil habitantes. Em 2015 estes sistemas

apresentavam ainda níveis de cobertura muito reduzidos, variando entre os 44% no

sistema de Moamba e os 5% em Nhamatanda.

O quadro 4 apresenta os 132 sistemas secundários a serem transferidos para a AIAS.

Até ao momento (Junho de 2016), apenas 3 sistemas de abastecimento de água

possuem QR assinados, dois dos quais já foram subscritos em finais de 2011,

nomeadamente o da Ilha de Moçambique e o de Mocímboa da Praia, e o sistema de

Moamba foi subscrito no início de 2016. Destes sistemas, apenas o sistema da Ilha

de Moçambique e o de Moamba possuem operador (FIPAG na Ilha de Moçambique,

desde 2012, e Collins no sistema de Moamba, desde 2016). No entanto, refira-se que

está prevista a entrada de operadores privados na exploração dos vários sistemas

da AIAS, mediante celebração de QR entre a AIAS e o CRA para esses sistemas, muitos

dos quais já estão em actividade (e.g. Ulónguè, Mopeia e Mocuba).

No quadro 5 são também apresentados os sistemas públicos de saneamento de

águas residuais cuja gestão será, no futuro, também transferida para a titularidade

da AIAS, atendendo ao âmbito do alargamento do QGD para estes sistemas. Note-se

que os sistemas de saneamento de águas residuais das cidades da Beira e de

Quelimane já se encontram sob alçada da AIAS e regulação do CRA (mas ainda com

reduzida informação disponível).

3.2.3 Pequenos operadores privados

Para além da gestão privada dos sistemas de abastecimento de água principais e

secundários referidos (grandes cidades, pequenas cidades e vilas), prevista no

âmbito do QGD, presentemente, existem diversos operadores privados, tipicamente

de pequena dimensão, a prestar os serviços de abastecimento de água em várias

regiões de Moçambique, nomeadamente em meios peri-urbanos e rurais.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 37

Quadro 4 – Sistemas secundários de abastecimento de água da AIAS

PROVÍNCIAS CIDADES VILAS

Niassa

Metangula; Marrupa; Mandimba; Insaca; Unango; Chimbonila; Malanga; Maúa; Mavago; Metarica; Mecula; Muembe; Massangulo; Nipepe

Cabo Delgado

Montepuez

Mocímboa da Praia; Chiúre; Ibo; Macomia; Mueda; Ancuambe; Balama; Mecúfi; Meluco; Muidumbe; Namuno; Palma; Nangade; Metuge; Quissanga

Nampula Ilha de Moçambique

Monapo; Ribaué; Namapa; Malema; Mutuali; Meconta; Namialo; Nametil; Moma; Mossuril; Murrupula; Nacala-a-Velha; Rapale; Nacarôa; Lalaua; Mecuburi; Memba; Liupo; Muecate

Zambézia Mocuba; Gurue

Alto Molócuè; Milange; Chinde; Luabo; Maganja da Costa; Morrumbala; Namacurra; Pebane; Gilé; Ile; Inhamssunge; Lugela; Mopeia; Namarroi; Nicoadala

Tete Ulónguè; Songo; Namayabue; Luenha; Chifunde; Furancungo; Fíngoe; Tsangamo; Zumbo; Manje; Mphende

Manica Catandica; Machipanda; Messica; Guro; Chitobe; Macossa; Espungabera; Sussundenga; Nhacolo

Sofala Gorongosa; Marromeu; Buzi; Caia; Inhaminga; Nhamatanga; Chemba; Chibabava; Machanga; Marringué; Muanza

Inhambane

Massinga; Vilankulo; Nova Mambone; Homoíne; Inharrime; Inhassoro; Morrumbene; Quissico; Funhalouro; Jangamo; Panda; Mabote

Gaza Chibuto

Bilene Macia; Mandlakazi; Praia do Bilene; Eduardo; Mondlane; Chilembene; Caniçado; Chigubo; Mabalane; Massagena; Manssingir; Chongoene

Maputo Namaacha; Manhiça; Magude; Xinavane; Marracuene; Bela-Vista; Moamba; Ressano Garcia

O crescimento da actividade destes pequenos operadores privados no serviço de

abastecimento de água para consumo humano deve-se ao facto de o investimento

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 38

público no país não ter acompanhado a evolução da procura pelos respectivos

serviços, sobretudo, atendendo ao forte crescimento demográfico verificado nas

cidades nos últimos anos, e pela consequente falta (de capacidade) de

disponibilização do serviço por parte das entidades públicas de Moçambique.

Quadro 5 – Sistemas de saneamento de águas residuais da AIAS

PROVÍNCIAS CIDADES VILAS

Niassa Lichinga; Cuamba

Metangula; Marrupa; Mandimba; Insaca; Unango; Chimbonila; Malanga; Maúa; Mavago; Metarica; Mecula; Muembe; Massangulo; Nipepe

Cabo Delgado

Pemba; Montepuez

Mocímboa da Praia; Chiúre; Ibo; Macomia; Mueda; Ancuambe; Balama; Mecúfi; Meluco; Muidumbe; Namuno; Palma; Metuge; Quissanga

Nampula Nampula; Nacala; Angoche; Ilha de Moçambique

Monapo; Ribaué; Namapa; Malema; Mutuali; Meconta; Namialo; Nametil; Moma; Mossuril; Murrupula; Nacala-a-Velha; Rapale; Nacarôa; Lalaua; Mecuburi; Memba; Liupo; Muecate

Zambézia Quelimane; Mocuba; Gurue

Alto Molócuè; Milange; Chinde; Luabo; Maganja da Costa; Morrumbala; Namacurra; Pebane; Gilé; Ile; Inhamssunge; Lugela; Mopeia; Namarroi; Nicoadala

Tete Tete Ulónguè; Songo; Namayabue; Moatize; Luenha; Chifunde; Furancungo; Fíngoe; Tsangamo; Zumbo; Manje; Mphende

Manica Chimoio; Manica Catandica; Gondola; Machipanda; Messica; Guro; Chitobe; Macossa; Espungabera; Sussundenga; Nhacolo

Sofala Beira; Dondo Gorongosa; Marromeu; Buzi; Caia; Inhaminga; Nhamatanda; Chemba; Chibabava; Machanga; Marringué; Muanza

Inhambane Inhambane; Maxixe

Massinga; Vilankulo; Nova Mambone; Homoíne; Inharrime; Inhassoro; Morrumbene; Quissico; Funhalouro; Jangamo; Panda; Mabote

Gaza Xai-Xai; Chókwè; Chibuto

Bilene Macia; Mandlakazi; Praia do Bilene; Eduardo; Mondlane; Chilembene; Caniçado; Chigubo; Mabalane; Massagena; Manssingir; Chongoene

Maputo Maputo; Matola; Boane

Manhiça; Magude; Xinavane; Marracuene; Bela-Vista; Moamba; Ressano Garcia

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 39

Por outro lado, regra geral, os serviços públicos de abastecimento de água servem

apenas os centros das grandes cidades, enquanto a taxa de cobertura por rede nas

zonas peri-urbanas (e nas zonas rurais) é bastante mais reduzida. Os fornecedores

privados de água em Moçambique nas periferias das cidades principais são, na sua

grande maioria, de pequena dimensão, estimando-se que já existam mais de 500

operadores deste tipo em Moçambique (ÁguaGlobal, 2014), sem contabilizar os

operadores individuais (e.g. carro pipa) cujo número será ainda bastante superior.

Os pequenos operadores privados asseguram a distribuição de água em redes com

ligações, na sua grande maioria, equipadas com contadores. Os sistemas operados

por este tipo de fornecedores de serviços têm um número de ligações que varia entre

as 200 e as 2500 ligações, sendo que, as redes exploradas por estes operadores têm,

em média, cerca de 3 km e 1500 ligações.

A figura seguinte representa o surgimento de novos operadores desta tipologia em

Moçambique ao longo do tempo. É possível constatar na figura que o crescimento

dos operadores privados é mais substantivo a partir de 1998, coincidente portanto

com a implementação das reformas sectoriais, designadamente a implementação do

QGD do sector da água.

Figura 2 – Evolução do número de fornecedores de água privados novos (ÁguaGlobal, 2014)

Considerando os pequenos operadores privados, conjuntamente com os mais de

800 PSAA espalhados um pouco por todo o país nas zonas rurais, verifica-se que

estes representam o abastecimento de água a cerca de 600 mil habitantes, através

de mais de 190 mil ligações domésticas estabelecidas em todo o território

moçambicano. Apesar da dispersão que se verifica neste tipo de operadores, e de

alguma incerteza nas estatísticas avançadas, em termos de número, observa-se uma

forte concentração neste mercado, onde os seis maiores fornecedores privados de

água controlam cerca de 20% do mercado.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 40

A Vitens, empresa holandesa de abastecimento de água, opera em Moçambique

desde 2004, ano em que celebrou o primeiro contrato com o FIPAG para prestar

apoio aos serviços de gestão dos sistemas de quatro cidades do sul de Moçambique,

Xai-Xai, Chókwè, Inhambane e Maxixe. Desde então, a Vitens tem vindo a apoiar o

FIPAG prestando assistência técnica no desenvolvimento dos sistemas de gestão de

abastecimento de água noutras cidades, conforme referido no enquadramento

institucional do sector da água, e, recentemente, também a AIAS no âmbito dos

serviços de abastecimento de água e de saneamento de águas residuais de quinze

áreas peri-urbanas. Note-se, no entanto, que a Vitens não é um operador em strictus

sensus.

Nas zonas rurais (que não são ainda reguladas (directamente) pelo CRA), o serviço

de abastecimento de água é frequentemente efectuado com recurso a fontes

dispersas, como furos, poços e nascentes, e pequenos sistemas de abastecimento de

água. Em muitos casos, as infra-estruturas existentes encontram-se em estado

precário e não se encontram, de todo, preparadas para satisfazer as necessidades de

água da população, quer em quantidade, quer em termos de qualidade.

O quadro seguinte apresenta os sistemas de abastecimento de água nas áreas

urbanas por operador.

Quadro 6 – Operadores dos serviços de abastecimento de água em Moçambique

OPERADORES SISTEMAS

(N.º) TERRITÓRIO

FIPAG 15 18 cidades + 3 vilas

AIAS 132 5 cidades + 127 vilas

Operadores privados de Maputo (2011)

>450

Operadores privados de vilas (2007) 7

Empresas DNA (2007) 6

Empresas municipais (2007) 13

Empresas distritais (2007) 52

(Fonte: FIPAG e Proposta de Estratégia de Abastecimento de Água Urbano e Saneamento)

3.3 DESEMPENHO DO SECTOR

Apesar do progresso verificado desde o início da implementação de reformas

sectoriais na década de noventa e da evolução nos últimos anos, a verdade é que o

sector da água em Moçambique carece ainda de grandes desenvolvimentos ao nível

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 41

do acesso aos serviços de abastecimento de água, e, principalmente, ao nível do

subsector do saneamento de águas residuais. A necessidade de desenvolvimento do

sector da água nas zonas rurais é ainda mais preponderante, que se justifica também

pela não actuação directa do CRA na regulação dos serviços de água locais. Também

por esta razão, a informação disponível sobre o acesso e qualidade de serviço nos

sistemas fora do âmbito de actuação do FIPAG, é muito escassa e difusa, não tendo

ainda o mesmo nível de tratamento daquela que é garantida e disponibilizada pelo

CRA nos sistemas do FIPAG (note-se que a regulação da qualidade de serviço dos

sistemas da AIAS não é ainda tratada da mesma forma que a dos sistemas do FIPAG,

denotando ainda reduzida informação disponível).

3.3.1 Cobertura dos serviços de abastecimento de água

As regiões cujos sistemas de abastecimento de água se encontram sob

responsabilidade do FIPAG abrangem, na sua totalidade, uma população estimada

em cerca de 5,4 milhões de habitantes, onde a região de Maputo é a mais

representativa, com cerca de 2,1 milhões de habitantes. Por outro lado, o sistema do

FIPAG de menor expressão neste domínio é o sistema de abastecimento de água de

Cuamba, o qual se localiza numa região com cerca de 107 mil habitantes. Em termos

de população servida pelo FIPAG, e no que concerne ao serviço de abastecimento de

água por rede, esta totaliza mais de 2,5 milhões de habitantes.

É estimado que o serviço de abastecimento de água por fontanário abasteça cerca

de 1,1 milhões de habitantes, o que, ainda assim, não deixa de ser bastante

representativo. Como seria expectável, o maior sistema de abastecimento de água

por rede é o da região de Maputo, com cerca de 1,4 milhões de habitantes servidos

(embora com uma taxa de cobertura que representa apenas 66%) e o sistema com a

maior população servida por fontanários é o sistema da Beira e Dondo, que serve

mais de 284 mil habitantes. No total, a população servida pelos sistemas do FIPAG,

tendo em consideração os dois tipos de serviços, é superior a 3,6 milhões. Ainda

assim, cerca de 1,8 milhões de habitantes têm de recorrer a fontes alternativas de

abastecimento de água, onde se incluem os POP.

A figura seguinte apresenta sumariamente a estimativa do nível de acesso ao

abastecimento de água da população das áreas servidas por sistemas sob gestão do

FIPAG.

Refira-se também que, em 2014, os sistemas de abastecimento de água sob a gestão

do FIPAG compreendiam uma rede de abastecimento de água com um comprimento

superior a 5,4 mil km, onde, mais uma vez, o sistema da região de Maputo era (e é)

o mais representativo, com um comprimento total superior a 1500 km. O sistema de

menor dimensão, neste domínio, dizia respeito ao sistema de Cuamba, com um

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 42

comprimento total de cerca de 35 km. O serviço de abastecimento de água por

fontanário continua a ser bastante expressivo, sobretudo, tendo em conta a

incapacidade de resposta da rede fixa às necessidades e procura de água das

populações, totalizando em 2014, nos sistemas do FIPAG, um valor superior a 2,2

mil fontanários. O sistema da região de Maputo é, uma vez mais, o sistema com maior

peso, com mais de 380 fontanários em funcionamento, enquanto o sistema de

Cuamba tinha o menor número de fontanários por território, a par do sistema de

Inhambane, ambos apresentando 23 fontanários.

Figura 3 – Níveis de serviço do abastecimento de água em Moçambique (com base em CRA, 2015)

3.3.2 Volume de água facturada e não-facturada

Na sua globalidade, os sistemas de abastecimento de água do FIPAG considerados

representam um volume superior a 86 milhões de m3 de água vendida, o que revela

uma capitação média diária de cerca de 65 litros por habitante e por dia. Embora o

sistema da região de Maputo seja o mais relevante em termos de volume de água

facturada, atingindo um valor superior a 41 milhões de m3, o sistema de Inhambane

é o que evidencia a maior capitação, estimada em cerca de 89 litros por habitante e

por dia. Pelo contrário, o sistema de Cuamba é o sistema que compreende o menor

volume de água facturada, com cerca de 274 mil m3, enquanto o sistema de Angoche

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 43

configura o sistema com menor capitação entre os sistemas do FIPAG, tendo sido

registado em 2014, um valor médio de 25 litros por habitante e por dia.

O sistema da Região de Maputo, pelas razões já apresentadas, é também o sistema

que apresenta maiores necessidades de água, tendo entrado no sistema cerca de 76

milhões de m3 de água em 2014. Por sua vez, o sistema de Cuamba apresentou um

valor de 384 mil m3 de água entrada no sistema. Atendendo aos valores

evidenciados, o sistema da região de Maputo, a par do sistema de Nacala,

compreende o sistema que evidencia um maior nível de perdas de água, com um

valor superior a 46%, enquanto o sistema de Chókwè constitui o sistema que

apresenta o menor valor de água não-facturada, alcançando um valor próximo dos

19%. Note-se que, não se conhecendo a fiabilidades destes valores, o potencial de

volume de água não-facturado é maior do que os valores apresentados, dado que os

sistemas não estão pressurizados 24 horas.

3.3.3 Volume de negócios

Em termos financeiros, os sistemas do FIPAG representaram em 2014 um volume

de negócios de 2,3 mil milhões MZN (incluindo o IVA), para um total de custos

operacionais ligeiramente superior a 2 mil milhões MZN. Esta circunstância

representa uma recuperação de custos operacionais média de 1,17. O sistema com

melhores resultados financeiros nesse ano foi o sistema de Tete e Moatize, cuja

Tarifa Média de Referência, aprovada na Resolução n.º 2/2015, de 10 de Agosto, é

de 20,89 MZN/m3, que apresentou uma recuperação de custos operacionais de valor

próximo a 1,6, enquanto o pior resultado foi registado no sistema de Cuamba, cuja

Tarifa Média de Referência é de 20,03 MZN/m3, com o valor de 0,64.

3.3.4 Qualidade de Serviço

Na sua prática regulatória, o CRA regula a qualidade de serviço dos sistemas de

abastecimento de água mediante um conjunto de indicadores de desempenho,

estruturados de acordo com diferentes categorias de objectivos de desempenho. Em

particular, o CRA avalia o desempenho dos operadores relativamente aos níveis de

acesso aos serviços, a sustentabilidade das empresas, o nível de atendimento ao

utilizador e o nível da qualidade da água fornecida. O quadro 7 resume os

indicadores considerados pela entidade reguladora na avaliação de desempenho das

entidades reguladas. Nele são também indicados os valores de referência

considerados para cada um dos indicadores de desempenho.

A figura 4 apresenta os resultados agregados dos sistemas do FIPAG em relação a

alguns dos indicadores de desempenho considerados na aferição da qualidade do

serviço. Os valores apresentados correspondem à média do desempenho dos

sistemas principais do FIPAG regulados pelo CRA em 2014.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 44

Quadro 7 – Indicadores de desempenho da avaliação global da qualidade de serviço

INDICADORES VALOR DE

REFERÊNCIA UNIDADE

ACESSO AO SERVIÇO

Cobertura ≥60 %

Tempo de distribuição ≥16 horas/dia

SUSTENTABILIDADE DAS EMPRESAS

Água não contabilizada ≤35 %

Taxa de cobrança total ≤35 %

Trabalhadores por cada 1000 ligações ≤10 (nº/1000 l)

Rácio de cobertura de custos operacionais >1,15 -

ATENDIMENTO AO CONSUMIDOR

Reclamações respondidas ≥100 %

Tempo médio de respostas às reclamações ≤14 dias

Facturação feita com base em leituras reais ≥85 %

QUALIDADE DA ÁGUA

Parâmetros controlados ≥80 %

Conformidade dos parâmetros =100 %

Figura 4 – Qualidade de serviço dos serviços de abastecimento de água do FIPAG (2014)

Os dados apresentados no quadro de baixo sintetizam, para os mesmos indicadores

de desempenho considerados na figura anterior, os sistemas do FIPAG que

apresentaram melhor e pior desempenho, respectivamente, no ano de 2014.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 45

Genericamente, e para o contexto de Moçambique, os serviços de abastecimento de

água sob gestão do FIPAG apresentam uma qualidade de serviço aceitável, apesar de

evidenciarem a necessidade de melhorias ao nível dos volumes de água não

contabilizados, de respostas às reclamações dos utilizadores dos serviços e na

conformidade das análises em relação aos parâmetros de qualidade de água

adequada para o consumo humano.

Enquanto os últimos dois indicadores traduzem a margem de melhoria ao nível da

defesa dos interesses do utilizador, o indicador relativo à percentagem de água

não-facturada reflecte a eficiência operacional dos sistemas. Por conseguinte, o

potencial de melhoria dos sistemas sobre esta matéria terá consequências não só

numa maior fiabilidade dos sistemas (maior continuidade) como também na

poupança significativa de recursos financeiros (energia e reagentes, entre outros).

Quadro 8 – Sistemas do FIPAG com melhor e pior avaliação da qualidade de serviço (2014)

INDICADORES MELHOR DESEMPENHO PIOR DESEMPENHO

ACESSO AO SERVIÇO

Cobertura 100% (Xai-Xai, Chókwè, Inhambane)

18% (Cuamba)

Tempo de distribuição 24 h/dia

(Xai-Xai, Chókwè, Inhambane, Maxixe)

12 h/dia (Nacala)

SUSTENTABILIDADE DAS

EMPRESAS

Água não contabilizada 19% (Chókwè)

47% (Nacala)

Trabalhadores por cada 1000 ligações

3 (Maputo)

17 (Cuamba)

Cobertura de custos operacionais

1,60 (Tete e Moatize)

0,64 (Cuamba)

ATENDIMENTO AO CONSUMIDOR

Reclamações respondidas 100%

(Xai-Xai, Inhambane, Maxixe, Manica, Angoche)

29% (Chókwè)

Facturação feita com base em leituras reais

100% (Xai-Xai, Chókwè, Inhambane,

Maxixe, Manica, Angoche, Lichinga)

76% (Maputo)

QUALIDADE DA ÁGUA

Conformidade dos parâmetros 100% (Maputo, Xai-Xai, Chókwè, Maxixe)

12% (Cuamba)

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3.3.5 Evolução temporal do desempenho dos sistemas

A análise da evolução temporal de alguns dos indicadores de desempenho referidos,

no período compreendido entre os anos de 2009 e 2014, permite observar o impacto

da regulação nos serviços de abastecimento de água do país, sob responsabilidade

do FIPAG.

a) Acesso ao serviço

Apesar de se ter verificado uma tendência de crescimento na evolução da cobertura

total até 2012, fruto da campanha de investimentos do FIPAG para o aumento da

capacidade de produção dos sistemas e da extensão (expansão) das redes, constata-

se que houve um ligeiro retrocesso neste indicador nos anos seguintes. A evolução

do indicador, conforme observado na figura seguinte, deveu-se, fundamentalmente,

ao aumento substantivo do número de ligações domésticas que ocorreu até 2012,

ano a partir do qual a evolução estagnou. Paralelamente, verificou-se uma tendência

negativa na cobertura de fontanários a partir de 2011, fruto desse mesmo aumento

de ligações domésticas. Dado que a população de Moçambique continuou a

aumentar de forma significativa e, por conseguinte, resultou num ligeiro decaimento

do desempenho por esse indicador.

Note-se que o indicador de cobertura de fontanários aqui considerado é

determinado a partir de uma estimativa da população servida por fontanário, o que

poderá adulterar a análise do indicador de cobertura total. Aliás, estimando a

cobertura de fontanários a partir do volume de água facturada, correspondente à

taxa de cobertura total, a taxa decresce para cerca de 50% em vez dos quase 70%

apresentados na figura.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

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Figura 5 – Indicadores de cobertura dos serviços de abastecimento de água (CRA, 2015)

O indicador de desempenho relativo ao número de horas de abastecimento de água

tem vindo também a apresentar uma tendência negativa, tendo mesmo atingido o

pico mínimo no ano de 2014, ano em que o número médio de horas de

abastecimento de água nas ligações domésticas, baseado na média ponderada dos

indicadores dos vários sistemas de abastecimento de água do FIPAG, rondou as 19,4

horas, mantendo-se acima do valor de referência de 16 horas.

Relativamente à cobertura do serviço por rede, conforme já referido, observa-se um

crescimento muito assinalável entre 2009 e 2012, tendo estagnado nos últimos

anos, em função da capacidade de realização de investimento público. A figura

seguinte apresenta a evolução dos indicadores de cobertura de ligações domésticas

e do número de horas diárias de abastecimento de água disponível entre 2009 e

2014.

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Figura 6 – Cobertura de ligações domésticas e horas de abastecimento de água (CRA, 2015)

b) Sustentabilidade das empresas

Ao nível do volume de água não contabilizada na facturação, denota-se uma

melhoria tendencial ao longo do período de análise. A única excepção prende-se com

o sistema da Beira que teve um aumento de mais de 100% face aos valores de 2013.

De qualquer modo, os resultados para o país não deixam de ser preocupantes, tendo

atingido valores superiores a 40% de água não contabilizada (perdas totais) em

2014. A figura abaixo apresentada ilustra a evolução do indicador de desempenho

relativo ao volume de água não-facturada entre os anos de 2009 e 2014.

Figura 7 – Evolução do volume de água não-facturada (CRA, 2015)

c) Atendimento ao utilizador

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Relativamente aos indicadores relativos à qualidade do atendimento ao utilizador,

tem-se verificado uma certa inconstância nos valores apresentados, conforme é

ilustrado na figura seguinte. A percentagem de reclamações respondidas, apesar de

ter apresentado bons desempenhos nos anos 2009 e 2011, tem estado

frequentemente abaixo dos 80%, com tendência negativa a partir de 2012. Em

sentido contrário, o número de dias sem resposta ao utilizador apresenta melhoria

a partir de 2012, face aos resultados dos anos anteriores, levando, em média, 5 dias

para dar resposta às reclamações atendidas.

Figura 8 – Evolução da qualidade do atendimento ao utilizador (CRA, 2015)

O número de facturas emitidas com base em leituras reais dos contadores tem tido

uma tendência crescente ao longo do tempo, mas de evolução díspar de sistema para

sistema. Enquanto o sistema da Beira apresenta valores estáveis a rondar os 95%,

os indicadores dos sistemas de Maputo e de Nampula têm apresentado

comportamentos antagónicos, conforme se verifica na figura seguinte.

O sistema de Nampula apresentou um crescimento considerável na percentagem de

facturas emitidas com base em leituras reais, para próximo dos 100% em 2014,

enquanto o sistema de Maputo, apesar de um ligeiro crescimento entre 2009 e 2010,

observou-se uma quebra significativa em 2011 e 2012, tendo recuperado um pouco

nos anos de 2013 e 2014.

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Figura 9 – Evolução das leituras reiais do contador (CRA, 2015)

d) Qualidade da água

A qualidade da água abastecida à população é avaliada em conformidade com o

estabelecido no QR de cada sistema. Assim, o número de parâmetros a avaliar,

definidos como requisitos mínimos, varia de sistema para sistema. Conforme se

pode verificar na figura seguinte, a evolução da conformidade das amostras

recolhidas nos sistemas de abastecimento de água do FIPAG tem apresentado uma

tendência decrescente, representando assim uma quebra considerável na qualidade

da água para consumo humano fornecida à população, e um cenário negativo na

promoção da saúde da população.

Contrariamente, a percentagem de parâmetros controlados tem vindo a crescer

desde 2011 até acima dos 80% em 2014, recuperando o desempenho do indicador

após a quebra verificada de 2010 para 2011.

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Figura 10 – Evolução da conformidade dos parâmetros de qualidade da água (CRA, 2015)

Em termos globais, a melhoria da qualidade de serviço no abastecimento de água de

Moçambique é percepcionada pelos seus utilizadores, sendo reflectida na avaliação

do grau de satisfação dos utilizadores com a qualidade dos serviços prestados pelos

operadores, e cujos principais resultados se apresentam na figura de baixo.

Figura 11 – Nível médio de satisfação dos utilizadores (CRA, 2015)

e) Índice de Desempenho das Entidades Reguladas (IDER)

O CRA introduziu em 2013 um método de avaliação integrada de desempenho das

entidades reguladas o qual é baseado num indicador composto por um total de doze

indicadores de desempenho. Os indicadores considerados pelo IDER são agregados

e harmonizados com o envolvimento das entidades reguladas, garantindo uma

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 52

selecção de indicadores de forma consensual, de acordo com os pareceres dos

principais stakeholders avaliados (FIPAG e AdeM).

A harmonização das contribuições dadas pelos stakeholders no processo de

composição do IDER é realizada através de uma fórmula de agregação aditiva, em

três grandes grupos de indicadores: o ISEF (Índice de Sustentabilidade e

Financeira), o ISO (Índice de Sustentabilidade Operacional) e o IQS (Índice de

Qualidade de Serviço), que é, por sua vez, composto por critérios associados a

diferentes parâmetros de análise da qualidade de serviço. O quadro seguinte

apresenta os indicadores de desempenho integrados em cada um dos índices que

constituem por último o IDER.

Quadro 9 – Conjunto de indicadores de desempenho considerados no IDER

INDICADORES UNIDADE

ISEF

Taxa de Cobrança %

Cobertura de custos operacionais %

ISO

Trabalhadores por cada 1000 ligações (nº/1000 l)

Água não-facturada (perdas totais) %

IQS

SERVIÇO AO CONSUMIDOR

Cobertura total %

Trabalhadores por cada 1000 ligações (nº/1000 l)

Tempo médio de distribuição horas/dia

QUALIDADE DA ÁGUA

Parâmetros controlados %

Conformidade dos parâmetros controlados %

ATENDIMENTO AO CONSUMIDOR

Tempo médio de resposta às reclamações dias

Reclamações por ligação (n.º /100 ligações)

Reclamações respondidas %

A análise à evolução do IDER permite verificar que, apesar de uma quebra no

desempenho global dos sistemas regulados fruto da introdução dos sistemas de

Nacala, Angoche, Lichinga e Cuamba, a regulação dos serviços de abastecimento de

água levou a um ascendente no período entre 2010 e 2012, motivado

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 53

essencialmente pela melhoria do ISO durante o mesmo período. Esta é, de resto, a

componente do IDER na qual os sistemas do FIPAG apresentam melhor

desempenho. Em contraste, observa-se uma forte quebra na qualidade de serviço a

partir de 2012. O incremento da sustentabilidade financeira representa um dos

principais desafios do sector da água de Moçambique, dado que este índice é o que

apresenta os resultados mais negativos, derivado da quebra que se tem verificado

nos últimos relativamente à recuperação dos custos operacionais dos sistemas.

A figura seguinte apresenta a evolução da avaliação integrada de desempenho das

entidades reguladas pelo CRA.

Figura 12 – Evolução do IDER e suas componentes (CRA, 2015)

3.4 DESAFIOS DO SECTOR DA ÁGUA DE MOÇAMBIQUE

O sector da água em Moçambique tem apresentado um desenvolvimento notável nos

últimos anos, onde se destacam os progressos ao nível do aumento da cobertura e

do acesso aos serviços de abastecimento de água e de saneamento de águas

residuais, os ganhos de eficiência nos sistemas, a melhoria da qualidade de serviço

prestado e a maior sustentabilidade financeira das entidades envolvidas, entre

outros desenvolvimentos de relevância.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 54

As reformas políticas e institucionais que ocorreram no sector da água contribuíram

preponderantemente para a melhoria generalizada que se verificou no desempenho

do sector da água de Moçambique, em particular depois da publicação da Lei de

Águas e a subsequente implementação do QGD. No entanto, e mesmo centralizando

a análise no uso da água para consumo humano, o sector da água enfrenta ainda

diversos e muito importantes desafios para a melhoria e consolidação dos serviços

prestados e para assegurar um adequado progresso e desenvolvimento sustentável.

a) Universalização dos serviços

O Governo de Moçambique necessita de construir as infra-estruturas que permitam

ultrapassar o gap existente entre as necessidades da população e as infra-estruturas

existentes, designadamente ao nível das desigualdades elevadas reflectidas

sobretudo entre os sistemas em zonas urbanas, peri-urbanas e rurais, e entre a

prestação de serviços de abastecimento de água e de saneamento de águas residuais.

Neste sentido, a universalização dos serviços continua a ser o tema prioritário e que

continua a gerar grande discussão no sector da água, principalmente ao nível das

referidas zonas peri-urbanas e rurais e no saneamento de águas residuais.

b) Financiamento do sector

Para assegurar uma maior equidade ao nível dos serviços nas zonas urbanas,

peri-urbanas e rurais, tanto de abastecimento de água como de saneamento de águas

residuais, é necessário promover maior e melhor investimento no sector. Existe,

portanto, o desafio de seleccionar a melhor forma de garantir o seu financiamento

(Governo, utilizadores, sector privado, entidades de apoio multilateral, entre

outros).

A capacidade de atrair financiamento, em particular do sector privado, é outro dos

grandes desafios que o sector da água de Moçambique apresenta. O financiamento

do sector é assim, naturalmente, um ponto de grande relevância, e onde o sector

privado desempenha um papel importante, ficando o desafio de encontrar formas

alternativas de financiamento para o progresso e desenvolvimento sustentável do

sector.

Embora as questões da atractividade para o sector privado ultrapassem quase

sempre a dimensão sectorial e esteja muito associada ao risco que o próprio país

envolve, o seu sucesso depende de um conjunto diverso de factores e razões, entre

as quais a credibilidade e estabilidade do quadro regulatório. Assim, para a

dimensão dos investimentos necessários torna-se improvável que o sector de água

de Moçambique consiga atingir os patamares de desempenho pretendidos sem o

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 55

referido recurso ao sector privado, não só para a realização de investimentos, como

também para a própria gestão e exploração dos serviços de abastecimento de água

e de saneamento de águas residuais, seja qual for a modalidade do seu envolvimento.

O incremento de investimento no sector é absolutamente necessário tanto para

aumentar a cobertura e o acesso aos serviços, como também para incrementar o

nível da qualidade de serviço, onde se destaca, por exemplo, a necessidade de

melhorar a continuidade do serviço, que requer mais investimentos para aumentar

a capacidade e a robustez e resiliência das infra-estruturas e equipamentos. Os

investimentos são necessários para a construção de novas infra-estruturas mas

também o são para remodelar, reabilitar e ampliar as existentes que, fruto de uma

gestão de activos menos conseguida ao longo do tempo, se encontram em muitos

casos degradadas e em evidente mau estado.

c) Qualidade da água

Também a disponibilidade (produção de água segura) e a qualidade da água, entre

outros pontos, que afectam significativamente o bem-estar dos cidadãos e a sua

coesão económico-social do país, requerem investimentos significativos. Ao nível da

qualidade da água é, por exemplo, ainda necessário desenvolver mais esforços para

garantir a protecção das fontes de abastecimento de água e identificar novas fontes

de águas seguras. A inexistência de drenagem e do tratamento das águas residuais

assume também um papel fundamental neste desafio para o desenvolvimento do

sector da água.

d) Eficiência operacional

Um outro ponto a destacar prende-se com o necessário aumento da eficiência

operacional nos serviços de abastecimento de água em zonas urbanas bem como em

zonas peri-urbanas e rurais, em particular, em relação às perdas de água dos

sistemas. O volume de água não-facturada está relacionado, entre outras matérias,

não só com a operação e manutenção das infra-estruturas e equipamentos, mas

também com a capacidade financeira para a remodelação das redes de

abastecimento de água existentes e substituição dos contadores.

Este factor está também associado à falta de capacitação do pessoal das entidades

responsáveis pelos serviços de abastecimento de água e de saneamento de águas

residuais, designadamente para a operação e manutenção dos sistemas, a qual se

reflecte não só no indicador de perdas de água mas também noutras vertentes

igualmente relevantes, como a eficiência energética e a inexistente ou inadequada

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 56

gestão de activos, que resulta na degradação geral das infra-estruturas e

equipamentos hidráulicos do país.

e) Sustentabilidade financeira

A sustentabilidade financeira dos sistemas é também um factor a destacar. À partida,

analisando não só a disponibilidade das populações (willingness-to-pay) para pagar

pelos serviços prestados, que tem impacto nos níveis de satisfação dos utilizadores,

mas também, e não menos importante, a sua capacidade para pagar pela utilização

dos serviços prestados (tendo por base no seu rendimento líquido), os sistemas nas

zonas urbanas apresentam características que permitem normalmente a aplicação

de tarifas mais elevadas do que as aplicadas na zonas peri-urbanas e rurais.

Neste sentido, há que garantir o acesso ao serviço pelos utilizadores mais

carenciados. Na realidade, a potencialidade do subsídio cruzado nos sistemas

urbanos é muito maior e muito mais efectiva que nos sistemas peri-urbanos e rurais.

Esta matéria passa, necessariamente, pela restruturação do sistema tarifário

actualmente adoptado no país, e, também, pela implementação de mecanismos de

subsidiação mais eficientes e mais eficazes e da universalização da regulação para

estes sistemas.

f) Implementação efectiva do QGD

Em termos institucionais existem também diversos desafios, particularmente, na

necessidade de continuar a reforma legal e institucional em curso, e alargar

efectivamente os poderes de regulação do CRA a todos os sistemas de abastecimento

de água e de saneamento de águas residuais abrangidos pelo QGD, incluindo os

sistemas secundários. Reconhece-se, no entanto, que essa circunstância impõe uma

forte expansão da dimensão dos recursos do CRA, tanto financeiros como de

recursos humanos.

Os desafios existentes associados à implementação efectiva do QGD prendem-se

também com a já referida necessidade de criar condições mais atractivas (com

menos risco) para a participação do sector privado na realização de investimentos e

na gestão e exploração dos serviços, quer nas zonas urbanas, quer nas zonas

peri-urbanas e zonas rurais.

g) Qualidade de informação e capacitação de recursos humanos

Manual de Governança e Substância Regulatórias

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A atractividade do sector da água será, igualmente, tanto maior quanto mais elevado

for o grau de conhecimento sobre os sistemas de abastecimento de água e de

saneamento de águas residuais. Neste sentido, subsiste ainda a necessidade de

definir mecanismos que garantam a existência e qualidade da informação reportada.

A título de exemplo, salienta-se que um sistema dificilmente terá 100% de cobertura

de serviço, ou atingirá níveis de perdas de água reduzidos, sem um conhecimento

profundo do cadastro das infra-estruturas associadas. A operacionalização do

Sistema de Informação Nacional de Água e Saneamento (SINAS) constituirá um

desafio muito importante e que, se bem-sucedido, terá externalidades muito

positivas em todo o sector da água.

Os desafios elencados não serão possíveis de serem alcançados caso não exista um

reforço, qualificação e capacitação dos recursos humanos, tanto ao nível das

entidades gestoras, como ao nível da entidade reguladora e demais instituições

relacionadas com o sector da água em Moçambique.

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4 GOVERNANÇA REGULATÓRIA

4.1 NOTA INTRODUTÓRIA

A governança regulatória corresponde ao “como” da regulação, e refere-se ao

enquadramento legal e institucional do sistema regulatório bem como ao framework

a partir do qual são realizados os processos e procedimentos que determinam as

decisões regulatórias. Em suma, a governança regulatória define a eficácia e

eficiência da regulação, determina as entidades, acções e parâmetros que são

regulados, e envolve considerações sobre a independência, autonomia decisional e

responsabilização da entidade reguladora.

Também as entidades governamentais, que têm participação nas decisões

regulatórias, a transparência dos processos regulatórios, a previsibilidade dos

processos decisórios e os recursos e informação disponível são factores

considerados na governança regulatória. No âmbito da boa prática da governança

regulatória, são considerados um total de treze domínios que importam abordar na

caracterização da actividade regulatória do CRA no sector da água de Moçambique.

O presente capítulo aborda cada um desses domínios, caracterizando a prática do

CRA e identificando os pontos a melhorar pelo mesmo no sentido de melhorar a

governança regulatória, face ao que é tido como boa prática da regulação do sector

da água.

4.2 GOVERNANÇA REGULATÓRIA DO CRA

4.2.1 Âmbito da regulação

O âmbito da regulação deve ser claramente definido e enquadrado, tanto a nível legal

como institucional para garantir a clareza dos objectivos, poderes, funções e

responsabilidades regulatórias atribuídas à entidade reguladora, tanto para a sua

própria actuação como para os restantes stakeholders. Tal permite reduzir a

existência potencial de conflitos e incompatibilidades entre os vários actores,

prejudiciais ao bom funcionamento do sector do sector da água.

O enquadramento legal da entidade reguladora deve especificar distintamente o

propósito da sua existência e discriminar e explicitar claramente as metas que esta

deva alcançar. O grau de objectividade dos seus propósitos tem influência não só na

responsabilização, transparência e previsibilidade da regulação, mas também na

definição de prioridades (e seu contexto) por parte do regulador. Na presença de

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objectivos pouco claros, a subjectiva interpretação dos mesmos pode criar

incertezas e indefinições quanto às prioridades da actividade regulatória,

potenciando cenários de instabilidade no sector regulado.

O enquadramento legal e institucional do CRA encontra-se definido no âmbito das

reformas do sector da água iniciadas pela Lei de Águas de 1991 e enquadrado pelo

QGD, implementado em 1998. No entanto, fruto dos desafios do sector da água e

mesmo para o desenvolvimento socioeconómico de Moçambique, é considerado por

diversos stakeholders que a regulação dos serviços públicos de abastecimento de

água dever-se-á estender para lá dos sistemas públicos actualmente e efectivamente

regulados (serviços públicos urbanos de água e de saneamento de águas residuais

do país), regulando também os sistemas localizados nas zonas peri-urbanas e rurais,

conforme se verifica em outros países da região.

A melhoria dos serviços públicos em regiões peri-urbanas e rurais, e, em particular,

a regulação da actuação dos FPA, com vista à coexistência harmoniosa dos serviços

públicos e privados e o cumprimento dos níveis mínimos técnicos e de qualidade,

poderá passar pelo alargamento da actividade regulatória do CRA a estas entidades

gestoras. Contudo, para que tal seja possível, é necessário, numa primeira fase,

assegurar quadros suficientes e o equilíbrio financeiro da entidade reguladora para

que esta possa implementar uma regulação efectiva a todos os sistemas sob sua

responsabilidade.

Apesar dos largos desenvolvimentos, a actividade regulatória do CRA nos sistemas

da AIAS evidencia ainda grande margem de progressão, especialmente nos sistemas

de saneamento de águas residuais. O desenvolvimento desta vertente do âmbito da

regulação é uma das prioridades estratégicas da entidade a curto prazo. Neste

domínio será igualmente necessário garantir a conjugação dos interesses públicos e

privados, bem como assegurar uma melhor definição dos papéis das Autoridades

Locais e da entidade reguladora nos serviços de saneamento de águas residuais, e a

conjugação da gestão comunitária com a gestão profissional nas áreas rurais.

A regulação dos sistemas secundários carece ainda também da definição

metodológica (clara e transversal) para o estabelecimento de tarifas adequadas a

cada sistema de abastecimento de água. Actualmente, constatam-se grandes

disparidades na definição de sistemas tarifários dos diferentes sistemas regulados,

principalmente no que concerne à recuperação de custos operacionais. Também a

questão do reporte de informação obrigatório dos sistemas da AIAS é menos

consistente, não estando ainda bem definido (e implementado) o processo de

reporte e de monitorização da informação das entidades reguladas.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 61

A regulação do sector de saneamento de águas residuais, apesar de contemplada no

âmbito da regulação do CRA desde 2011, necessita ainda de planeamento e de uma

implementação efectiva de um quadro institucional adequado, que clarifique as

competências dos Municípios na gestão destes sistemas e que incentive a

implementação da prática regulatória.

Em suma, apesar de o âmbito da regulação do CRA estar legalmente definido e

enquadrado, na prática, a regulação do CRA, não se encontra ainda devidamente

implementada, na sua plenitude, e mesmo clarificada, havendo ainda um largo

caminho a percorrer até assegurar o funcionamento adequado dos subsectores de

abastecimento de água e do saneamento de águas residuais. Apenas quando

estiverem definidas as prioridades da actividade regulatória, os poderes, funções e

responsabilidades do CRA nos sistemas principais e secundários (e também nos

restantes), actualmente sob sua jurisdição de uma forma clara, é que se poderá

alargar novamente o âmbito da regulação do CRA às áreas rurais e peri-urbanas.

Contudo, também não se prevê a concretização da implementação da regulação dos

serviços de saneamento de águas residuais urbanas no curto prazo.

4.2.2 Estrutura organizacional

O modelo organizacional adoptado por uma entidade reguladora está relacionado

com a natureza das funções e do sector regulado. Apesar de o funcionamento de uma

estrutura organizacional estar fortemente dependente de diversos factores de

contexto do país (como o enquadramento legal, institucional e económico existente),

na regulação do sector da água é tipicamente adoptado um modelo de estrutura

organizacional que assenta na existência de um Conselho de Administração onde

todos os membros podem ou não ter funções executivas. Este órgão é responsável

pela orientação estratégica e preparação do desenvolvimento de políticas da

entidade reguladora.

A estrutura organizacional da entidade reguladora deve ser definida no seu

Regulamento Interno, através de um documento legal, o qual deve também indicar,

de forma clara, as respectivas competências. A constituição da entidade reguladora

deve compreender membros credíveis, de reputação pública, e abrangidos por

regimes de exclusividade, de impedimentos e de incompatibilidades com a posição

desempenhada. A escolha dos membros da entidade reguladora deve, portanto,

responder a critérios (e.g. técnicos), com apresentação e audiência pública dos

nomeados.

A consideração de um Conselho Fiscal com funções de fiscalização interna,

responsável por zelar pelo cumprimento da lei e dos estatutos, bem como por emitir

pareceres sobre orçamentos, relatórios de actividades e contas da entidade

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 62

reguladora é também tida como boa prática de regulação. O mesmo se sucede com a

existência de um Conselho Consultivo na estrutura organizacional, que assegure a

realização de processos regulares de consulta pública nos processos de

tomada-de-decisão.

O Plenário do CRA é o órgão deliberativo e de instância máxima da estrutura

organizacional da entidade reguladora do sector da água de Moçambique. Em

conformidade, o Plenário do CRA é sempre responsável por dar o último parecer nos

processos de tomada-de-decisão regulatórios e por emitir a deliberação final antes

da publicação da decisão ou informação ao Ministro da tutela. Note-se que o CRA é

tutelado pelo Ministro directamente e não pelo seu Ministério. O Plenário do CRA

tem previstas reuniões mensais para discussão das actividades regulatórias da

entidade reguladora, sendo, por vezes, realizadas reuniões extraordinárias em caso

de necessidade. O Secretário Executivo do CRA participa nas reuniões do Plenário,

sem, no entanto, direito de voto.

Contudo, observa-se que, apesar de prevista na legislação a existência de um órgão

de consulta do Plenário do CRA (vide Decreto n.º 23/2011, de 8 de Junho), cuja

composição integra representantes dos diversos interesses afectados pela regulação

do sector da água (incluindo membros da sociedade civil), o Conselho Consultivo

não é ainda parte efectiva da estrutura organizacional da entidade reguladora. De

facto, cinco anos passados desde a instrução de carácter vinculativo emitida pelo

Conselho de Ministros, o Conselho Consultivo não foi ainda nomeado pelo Plenário.

Na prática, tal significa que a governança regulatória do CRA, neste domínio, não

corresponde ainda ao pressuposto pelo enquadramento legal.

A legislação em vigor não considera a existência de um Conselho Fiscal ou órgão

equiparado para a estrutura organizacional da entidade reguladora. Como tal, a

inexistência de um órgão responsável pela auditoria interna das actividades e contas

não corresponde, ao que se considera ser, a boa prática da governança regulatória.

4.2.3 Princípios

Os princípios que regem a actuação da entidade reguladora devem estar articulados

com os objectivos da regulação. Estes indicam os valores que regem a actividade da

entidade reguladora na prossecução dos objectivos definidos.

Três princípios fundamentais devem ser considerados na boa prática da governança

regulatória, sem os quais o sistema regulatório nunca poderá ser eficaz e

sustentável. O princípio da credibilidade deve ser assegurado para promoção de

confiança nos investidores do sector da água, relativamente ao cumprimento de

compromissos assumidos. O princípio da legitimidade deve ser também assegurado,

para que os utilizadores e demais stakeholders possam confiar no papel da entidade

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 63

reguladora na defesa dos seus interesses. Por último, o terceiro princípio

fundamental surge como pilar basilar para os dois anteriores, ou seja, o sistema

regulatório deve primar pela transparência, para que todos os stakeholders possam

compreender e confiar no funcionamento do mesmo.

A actividade regulatória do CRA, entre outros pontos, foca-se no fomento de um

serviço universal e de qualidade, pela prática de um preço justo e que salvaguarde a

sustentabilidade das entidades gestoras. Segundo os valores e princípios defendidos

pelo CRA, a sua actividade regulatória baseia-se na participação e no pragmatismo,

bem como na consistência e confiabilidade, na prestação de contas e na

transparência. Os princípios fundamentais da boa prática regulatória encontram-se,

portanto, implícitos nos valores e princípios da entidade reguladora do sector da

água de Moçambique.

Apesar de especificado nos valores e princípios defendidos pelo CRA, e também nos

diplomas que o norteiam, observa-se que a entidade reguladora ainda não

implementa medidas que visam uma participação pública efectiva. A título de

exemplo, identifica-se que os utilizadores (ou outros stakeholders) ainda não têm a

possibilidade de comentar ou dar parecer nos processos regulatórios de

estabelecimento de tarifas, dado que não são promovidas pelo CRA consultas ou

audiências públicas para apresentação de comentários e contraditório sobre as

tomadas-de-decisão.

Considera-se também que o foco da actividade do CRA por vezes, é demasiado

disperso, o que contraria o princípio do pragmatismo promovido pela própria

entidade. Tal observação deriva do facto de alguns temas fulcrais da intervenção

regulatória, como a definição de princípios e regras de financiamento,

licenciamento, monitorização da qualidade dos serviços ou o estabelecimento de

modelos para (melhor) inclusão das populações mais carenciadas, não serem

aparentemente prioritários na prática regulatória do CRA, que, por vezes, se

traduzem em reduzidos impactos práticos no desenvolvimento e coesão do sector

da água.

Por outro lado, a aproximação que se tem vindo a verificar nos últimos anos dos

consumidores à entidade reguladora, em particular devido à descentralização de

funções através de agentes locais (ALC ou CORAL) tem contribuído para o aumento

da confiança dos consumidores no trabalho desenvolvido pela entidade reguladora.

A promoção da defesa dos interesses dos utilizadores é um eixo central dos

objectivos da regulação do CRA, sendo um efeito resultante da consistência e

credibilidade da entidade reguladora.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 64

Já a prestação de contas e a transparência da entidade reguladora é assegurada, em

particular, perante o Tribunal Administrativo e perante o Ministro da tutela e, por

consequência, junto do Governo de Moçambique. No entanto, identificam-se

algumas lacunas nos procedimentos regulatórios do CRA relativos ao princípio da

transparência, nomeadamente referentes à disponibilização pública e divulgação de

conteúdo relevante para os restantes stakeholders. A promoção e implementação

efectiva deste princípio da regulação é vital para melhorar também,

significativamente, a responsabilização e legitimidade da entidade reguladora.

Também se identifica como lacuna associada à governança regulatória do CRA,

relativa a este ponto, a inexistência de um Código de Ética e/ou Conduta que

estabeleça o conjunto de princípios e valores de ética profissional a respeitar pelos

colaboradores do CRA, e que sustente a credibilidade e legitimidade da entidade na

prática regulatória do sector.

4.2.4 Transparência

A transparência do processo regulatório é fundamental para assegurar a

credibilidade e legitimidade do sistema de regulação implementado pela entidade

reguladora. A acessibilidade de toda a informação regulatória relevante,

nomeadamente através da divulgação de documentação actualizada no website da

entidade reguladora, permite assegurar aos stakeholders as ferramentas necessárias

à verificação e entendimento dos processos de decisão que regulam o sector da água.

Por conseguinte, nenhum documento desenvolvido pela entidade reguladora deverá

ser tomado à partida como confidencial, a menos que o seu conteúdo assim o seja

considerado legalmente. A própria entidade reguladora deve, portanto, divulgar, em

antemão, os critérios e regras considerados na decisão de não-divulgação de

determinada informação. Deve ser também do conhecimento público a forma ou

local de consulta da respectiva documentação, bem como a frequência e

oportunidade da disponibilização da informação.

Dentro dos factores inerentes à transparência do processo regulatório, consideram-

se como pontos-chave, entre outros, a transparência relativa à disponibilização de

informação financeira referente à actividade da entidade reguladora, a divulgação

de atas de reuniões do Conselho de Administração, a publicação de informação sobre

o pessoal da entidade reguladora e a elaboração e divulgação de planos de

desenvolvimento estratégicos e de outros planos ou estudos que tenha desenvolvido

sobre a actividade regulatória. No âmbito da boa prática da regulação, a entidade

reguladora deve também divulgar, em local de consulta pública próprio, a

informação e legislação sectorial relevante para os stakeholders, bem como toda a

informação relativa à actividade de monitorização e supervisão do sector

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 65

(procedimentos e resultados) em termos de regulação económica, da qualidade de

serviço e social.

Como tal, toda a documentação relevante relativa a processos de tomada-de-decisão

deve ser tornada acessível para o público em geral. A transparência da entidade

reguladora sobre as políticas e regras do sector da água contribui para o bom

funcionamento do sistema regulatório e sensibiliza tanto as entidades reguladas

como os utilizadores dos serviços para a compreensão dos seus direitos e

obrigações, em termos de participação, verificação e avaliação da actividade

regulatória.

O CRA tem a transparência como um dos seus princípios básicos da regulação.

Todavia, apesar de serem divulgados publicamente os resultados da actividade

regulatória, no formato de Relatórios Anuais relativos ao desempenho das entidades

reguladas, e da legislação relevante do sector da água, uma parte da informação

referente aos processos de tomada-de-decisão do CRA são ainda mantidos

inacessíveis ao público em geral. Os critérios e regras utilizados na definição das

políticas de regulação do sector da água não são disponibilizadas (e.g.

estabelecimento de tarifas e QR), o que contribui para a não existência de ciclos de

contraditório associados à participação pública ou à revisão das decisões

regulatórias. Por exemplo, observa-se que os valores de referência dos indicadores

de desempenho acordados entre o CRA e as entidades reguladas responsáveis pela

prestação de serviços, que são do interesse comum, não são disponibilizados

publicamente.

Também se verifica que o CRA não disponibiliza diversas outras componentes

relevantes que contribuem para a transparência de uma entidade reguladora e para

a boa prática regulatória, nomeadamente os Relatórios de Contas e resultados das

auditorias externas, minutas sobre decisões do Plenário, avaliações de desempenho

do próprio CRA ou informações relativas às habilitações e competências dos

membros da entidade. Por outro lado, o CRA preocupa-se em divulgar a legislação e

informação relativa ao sector, tanto no seu website como nos Relatórios Anuais.

Contudo, a indisponibilidade do Plano Estratégico do CRA impossibilita os

stakeholders de aceder a outra informação igualmente relevante para as suas

actividades, reduzindo a transparência das suas práticas regulatórias.

De acordo com o referido anteriormente, na eventualidade de se prever a não

divulgação de determinada informação por motivos de confidencialidade, a opção

de não disponibilização deveria ser justificada e divulgada perante o público, algo

que ainda não se verifica na prática regulatória do CRA (mas que também não é

prática corrente de outros reguladores da região). Por outro lado, o CRA poderia

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 66

disponibilizar informação parcial, aquela que não fosse mais sensível, o que

permitira tornar o processo regulatório mais inclusivo e transparente.

4.2.5 Previsibilidade

A previsibilidade do processo regulatório é sinónimo de maior estabilidade e

segurança no sector regulado e garante maior solidez e confiança aos investimentos

realizados por entidades privadas, reduzindo substancialmente o risco regulatório.

O enquadramento regulatório deve, portanto, garantir a solidez e estabilidade ao

longo do tempo em relação aos princípios e regras que regem o sector da água, ou

seja, assegurar coerência entre as diferentes decisões regulatórias tomadas.

Assim, e de acordo com a boa prática regulatória, as alterações às “regras do jogo”

deverão ocorrer apenas após consulta pública extensiva, calendarizada, na qual os

stakeholders tenham oportunidade de participar efectivamente no processo

decisório antes da implementação da mudança proposta. Tais alterações, se

aprovadas, deverão ser sempre implementadas de forma progressiva e procurando

não colocar em causa eventuais direitos garantidos ou adquiridos, prevenindo, desta

forma, a desestabilização do sector da água e assegurando o equilíbrio dos

interesses dos diferentes stakeholders.

A prática regulatória do CRA não considera procedimentos de consulta ou audiência

pública. Em caso de necessidade ou proposta de alteração às “regras do jogo”, não se

encontram definidos pelo CRA os procedimentos previstos e a respectiva

calendarização referentes à boa prática regulatória. Ademais, o CRA não tem ainda

estabelecido prazos regulamentares associados a muitos dos procedimentos

regulatórios, a não ser, de forma parcial, no estabelecimento de tarifas, na

elaboração e disponibilização do Relatório anual ao Governo e no tratamento de

reclamações dos consumidores, ainda que muitas vezes estes internamente existam.

De qualquer modo, verifica-se que o CRA veio assegurar maior estabilidade aos

ciclos regulatórios com a implementação dos AR e QR, no âmbito do Decreto n.º

23/2011, de 8 de Junho, definindo à partida os principais termos e condições para a

regulação dos serviços públicos de abastecimento de água. Em particular, a definição

das matérias alvo de regulação e as responsabilidades das partes envolvidas são

perfeitamente definidas nestes documentos, assegurando maior estabilidade e

segurança ao processo regulatório e contribuindo também para uma maior solidez

e confiança dos stakeholders.

4.2.6 Consistência e proporcionalidade

A actividade regulatória deve ser desenvolvida assegurando a consistência

relativamente aos seus objectivos ao longo do tempo, e a proporcionalidade das

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 67

intervenções da entidade reguladora em relação às suas obrigações. A entidade

reguladora deve, portanto, restringir-se à mínima intervenção necessária para

assegurar o funcionamento e desenvolvimento equilibrado e sustentável do sector

da água, de acordo com os objectivos definidos para a sua actividade.

A prática regulatória da entidade reguladora deve ser sempre proporcional às

necessidades e, consequentemente, a actividade regulatória deve ser sujeita a

consulta e discussão pública para revisão periódica da relevância das actividades

desenvolvidas e métodos aplicados. O quadro regulatório e desempenho da entidade

reguladora deve também ser sujeito a auditorias de autoridades competentes, com

o objectivo de identificar eventuais necessidades de alteração aos instrumentos

legais vigentes, e correspondente publicação de conclusões e recomendações

resultantes das análises efectuadas no âmbito da auditoria.

A entidade reguladora deve também ter devidamente identificados todos os custos

associados à sua actividade regulatória, de forma a garantir a minimização dos

mesmos, tanto para seu próprio interesse como para o das entidades reguladas. Por

conseguinte, em casos que se justifiquem, a actividade regulatória poderá até ser

delegada a outras instituições ou entidades regionais/locais, devidamente

enquadradas pelo quadro regulatório vigente, mantendo-se a entidade reguladora

responsável de última instância pelo desempenho das empresas reguladas.

O CRA implementa diferentes tipos de regimes regulatórios consoante a dimensão e

características dos sistemas regulados (regime de regulação directa nos sistemas de

abastecimento de água principais do FIPAG, regulação indirecta nos sistemas de

abastecimento secundários e de saneamento de águas residuais da AIAS, e regulação

consultiva nos sistemas não-autónomos de saneamento). A intervenção da entidade

reguladora no sector da água de Moçambique é, portanto, proporcional à dimensão

dos sistemas, promovendo, quando justificável, também a participação do poder

local, mais conhecedor das diferentes realidades e necessidades locais. A celebração

dos AR e QR com as entidades reguladas contribui também para a consistência da

prática regulatória do CRA nos sistemas regulados ao longo do tempo, definindo

para cada ciclo regulatório as responsabilidades e condições da relação entre as

diferentes entidades bem como as matérias objecto de regulação.

A introdução da descentralização do poder regulatório, através da criação de

agentes locais e a celebração de acordos (Convénios de Colaboração) com as

autoridades locais, veio contribuir positivamente para a minimização dos custos da

regulação bem como para um aumento do nível de participação dos envolvidos e

monitorização dos serviços prestados pelos operadores desses sistemas. A

aproximação da actividade regulatória às realidades locais levou também a uma

maior preponderância das autoridades locais e dos utilizadores na monitorização da

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 68

qualidade dos serviços prestados pelas entidades reguladas, sendo consultados

pelos agentes locais de regulação sobre o desempenho dos operadores.

Contudo, julga-se ser ainda necessário garantir maior consistência nos

procedimentos de reporte de informação periódica dos agentes locais em sistemas

secundários da AIAS (CORAL), dado que não têm ainda obrigatoriedade de reporte

de informação ao CRA, contrariamente ao que se verifica no caso dos ALC que

actuam junto dos sistemas principais do FIPAG.

4.2.7 Integridade

A boa prática da regulação dita que tanto as entidades responsáveis pela prática da

regulação, como a actividade regulatória por elas praticada, deve ser ética, honesta

e recta. Como tal, as regras associadas à definição de valores e métodos adoptados

nos procedimentos regulatórios de uma entidade reguladora devem ser explicitadas

e certificar o profissionalismo, rigor, imparcialidade, honestidade e honradez com

que esta entidade exerce na sua actividade.

A integridade na prática regulatória diz também respeito à demonstração de

idoneidade dos membros da entidade reguladora, e, em particular, do Conselho de

Administração. Neste âmbito, a integridade deve ser igualmente assegurada através

do controlo de despesas e da assiduidade ao serviço dos membros do Conselho de

Administração.

O CRA não disponibiliza informação relativa à integridade dos seus colaboradores,

nem dos membros do Plenário nem dos membros dos diferentes departamentos da

entidade reguladora. Em especial, refere-se que as habilitações e experiência

relevante que validam a capacidade e idoneidade dos colaboradores deste

organismo deveriam ser disponibilizadas (principalmente dos membros do

Plenário), reforçando também a transparência da entidade reguladora. Observa-se

também que o CRA não disponibiliza publicamente informação relativa aos custos

de actividade da entidade, não havendo, portanto, provas sobre a execução de

controlos de despesas dos diversos departamentos, inclusive do Plenário.

A inexistência de um Código de Ética e de Conduta do CRA também contribui para a

existência de lacunas neste eixo da governança na prática regulatória do CRA.

Todavia, e apesar de o Código de Ética e de Conduta não existir, o CRA desenvolve

alguns esforços no sentido de assegurar a integridade dos seus colaboradores, pelo

menos a nível dos agentes locais de regulação, nomeadamente, através do

estabelecimento de “Termos de Referência da Contratação de ALC” e de “Requisitos

de Elegibilidade e Incompatibilidades para o Membro da CORAL”, onde são

especificados os requisitos pessoais e profissionais aos quais os candidatos devem

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 69

corresponder para serem considerados elegíveis para poderem desempenhar

funções no CRA.

Em prol da boa prática da regulação, acções de formação e de capacitação do pessoal

do CRA sobre ética e deontologia devem também ser promovidas periodicamente,

de forma a garantir a integridade, profissionalismo e rigor, que se requer para

exercer a actividade regulatória. Outra forma de garantir uma maior integridade na

prática regulatória do CRA poderá passar pela publicação de declarações de

interesse dos colaboradores, de forma a comprovar publicamente a inexistência de

possíveis ocorrências de conflitos de interesse no desempenhar de funções.

4.2.8 Clareza das regras

O enquadramento legal e institucional que sustenta o processo regulatório vigente

no sector regulado deve ser claro e específico quanto à atribuição de funções e

responsabilidades de actuação das diferentes entidades envolvidas. Assim, a clareza

das regras do “jogo” em que os stakeholders estão envolvidos, desde os princípios e

metodologias adoptados na definição de tarifas ou da regulação da qualidade de

serviço, aos incentivos ou sanções aplicados no sector da água, devem ser

assegurados através de documentos publicados atempadamente.

Os princípios, objectivos, responsabilidades, direitos, expectativas e consequências

a que os stakeholders estão sujeitos devem ser explícitos e compreensíveis,

assegurando maior previsibilidade ao desenvolvimento do sector e promovendo a

confiança dos interessados.

O Decreto n.º 74/98, de 23 de Dezembro, o qual estabelece a entidade reguladora do

sector da água de Moçambique, atribuiu as suas responsabilidades e competências

regulatórias específicas, no sentido de assegurar o equilíbrio entre a qualidade dos

serviços prestados, os interesses dos utilizadores e o desenvolvimento económico

sustentável dos sistemas de abastecimento de água. Mais tarde, o alargamento da

actividade regulatória do CRA aos sistemas de saneamento de águas residuais, pelo

Decreto n.º 23/2011, de 8 de Junho, definiu-lhe novos objectivos regulatórios e

responsabilidades. Todavia, o enquadramento legal e institucional do sector da água

de Moçambique apresenta ainda algumas lacunas relativamente à actuação do CRA,

designadamente no que concerne aos poderes regulamentares e sancionatórios e,

em particular, no subsector do saneamento de águas residuais em relação às suas

responsabilidades e interacção com as autoridades locais.

Os princípios e metodologias adoptados na prática regulatória do CRA deveriam

também ser revistos e clarificados, em particular, na definição de tarifas dos

sistemas secundários de abastecimento de água e de saneamento de águas residuais.

Tal permitiria assegurar que as tarifas se adequam aos pressupostos que sustentam

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 70

o seu estabelecimento, actualmente muitas vezes tidos como dúbios ou inadequados

pelos stakeholders.

No sentido de melhorar este aspecto da governança regulatória do CRA, o

enquadramento legal e institucional do saneamento de águas residuais necessita ser

revisto para que os serviços autónomos de saneamento de águas residuais passem

a ser definidos e considerados pela legislação vigente no país.

Os poderes regulamentares e poderes sancionatórios atribuídos ao CRA devem ser

igualmente definidos para que seja possível um controlo mais rigoroso sobre o

(in)cumprimento do mandato da entidade reguladora bem como dos pressupostos

estabelecidos nos QR ou outros documentos normativos equiparados, pelas

entidades por si reguladas.

4.2.9 Articulação regulatória

O sistema regulatório de um país é frequentemente constituído por entidades com

diferentes âmbitos de regulação, que podem actuar sobre o mesmo sector, mas com

responsabilidades regulatórias distintas. Exemplificam-se, neste caso, a

possibilidade de coexistência de entidades reguladoras da concorrência, de

protecção dos consumidores, do ambiente, ou dos recursos hídricos, que também

actuam (ou podem actuar) no sector da água, com propósitos distintos ao do

regulador económico mas que podem afectar ou influenciar a sua actividade.

O bom funcionamento de um determinado sector depende sempre do

enquadramento legal e institucional do mesmo, e de como é estabelecida a

articulação e coordenação de funções entre as diferentes entidades envolvidas. Os

stakeholders devem entender de forma clara as suas responsabilidades, no sentido

de evitar a duplicação de funções ou criação de conflitos entre as diferentes

entidades.

A compatibilização de diferentes entidades e prevenção de duplicação de funções e

de responsabilidades legais deve ser assegurada através da existência de

mecanismos legais e da criação de instrumentos de regulação coordenados, que

assegurem a harmonização e articulação entre reguladores e demais entidades.

No sector da água de Moçambique, no domínio dos serviços públicos de saneamento

de águas residuais, constata-se a atribuição de responsabilidades similares ou

sobrepostas entre as autoridades locais e ao CRA. A falta de clareza e articulação

entre estas entidades não tem contribuído para a harmonização da actividade

regulatória, contribuindo negativamente para o desenvolvimento deste subsector.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 71

Existem também alguns condicionamentos entre o CRA e o FIPAG, cuja proporção

aumentou quando o último passou a deter também responsabilidades na operação

dos sistemas de abastecimento de água, para além da gestão do património. O

conflito de interesses resultante da duplicação de funções do FIPAG, como entidade

cedente e entidade gestora, tem levado a falhas na transmissão de informação entre

as entidades reguladas e o CRA, comprometendo a eficiência dos procedimentos

regulatórios por este executados.

Como tal, é necessário que os procedimentos de reporte de informação periódica

sejam revistos, de forma a evitar possíveis desentendimentos relativos às

responsabilidades dos envolvidos na regulação do sector da água, contribuindo

assim para a optimização e garantia de qualidade da regulação dos serviços de

abastecimento de água e de saneamento de águas residuais.

Neste sentido, são estabelecidos Convénios de Colaboração entre o CRA e as

autoridades locais no âmbito da descentralização dos poderes regulatórios relativos

à regulação dos serviços de abastecimento de água, que estabelecem a coordenação

e colaboração interinstitucional entre ambas as partes, para a criação de agentes

locais de regulação. Este instrumento é um exemplo positivo de uma prática do CRA

na promoção da articulação regulatória, definindo as responsabilidades legais dos

envolvidos na regulação e supervisão da prestação de serviços associados aos

sistemas de abastecimento de água e de saneamento de águas residuais e

contribuindo também para uma maior clareza do papel do regulador na salvaguarda

da defesa dos interesses dos consumidores e da melhoria dos serviços públicos do

sector.

O sector da água de Moçambique necessita também de garantir uma maior

articulação entre as entidades responsáveis por assegurar a disponibilidade dos

recursos hídricos, em particular em alturas de crise ou catástrofes naturais (e.g.

períodos de seca). A integração do CRA nas tomadas-de-decisão sobre a gestão dos

recursos hídricos do país poderia ser uma possível solução para o problema. O CRA

passaria a ser parte activa na procura de soluções preventivas e de mitigação da

redução da disponibilidade de água bruta, em vez de apenas participar no processo

a jusante (como ocorre actualmente), quando ocorrem problemas de abastecimento

de água nos sistemas das entidades por si reguladas.

Refere-se que, apesar de ter sido aprovada a Lei da Concorrência de Moçambique

em 2007, pela Resolução n.º 37/2007 e estabelecida a ARC em 2013, não se

encontrou qualquer referência à articulação regulatória entre as duas entidades

reguladoras actuantes em Moçambique.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 72

Não existe também até à data articulação entre as associações de consumidores e o

CRA.

4.2.10 Poderes de acção

Segundo a boa prática regulatória, as competências da entidade reguladora devem

estar definidas de forma clara e enquadrar os poderes de acção da entidade

reguladora na prossecução dos objectivos da sua actuação no sector regulado,

designadamente, devem ser-lhe atribuídos vastos poderes, incluindo os

regulamentares, os executivos e os sancionatórios.

Neste sentido, devem ser atribuídos poderes à entidade reguladora para definir o

sistema tarifário das entidades reguladas, para estabelecer, alterar e monitorizar as

regras de mercado e de qualidade de serviço vigentes nos sistemas regulados, e para

responder adequadamente às necessidades e problemas de mercado. Devem-lhe ser

também atribuídos poderes que permitam o exercer de funções administrativas

normais, bem como investigar, julgar ou mediar reclamações dos utilizadores do

sector regulado e providenciar meios para a resolução de conflitos entre entidades

reguladas. A entidade reguladora deve, igualmente, deter poderes de polícia e a

autoridade necessária para exigir a prestação de informações e dados por parte das

empresas reguladas, como também para implementar e acompanhar a execução das

suas decisões regulatórias, ou, quando necessário, aplicar sanções para o

solucionamento de problemas existentes.

No âmbito da regulação dos sistemas de abastecimento de água, considera-se que os

poderes executivos do CRA estão relativamente bem definidos e em conformidade

com o que se considera ser a boa prática regulatória, apesar de haver alguma falta

de esclarecimento e definição no que concerne aos poderes regulamentares e

sancionatórios da entidade reguladora.

No entanto, ao nível do saneamento de águas residuais, a actuação do CRA carece

ainda da clarificação dos poderes regulatórios a si atribuídos, o que é evidenciado

pela existência de alguma incompatibilidade entre os municípios e o CRA neste

subsector. Tal deve-se essencialmente à falta de legislação referente à

obrigatoriedade de regulação dos serviços não-autónomos, o que resulta na

necessidade de melhorar os QR dos serviços de saneamento de águas residuais para

o adequado progresso e desenvolvimento sustentável deste segmento do sector da

água.

4.2.11 Autonomia

As melhores práticas de regulação no sector da água estão directamente ligadas às

características legais e institucionais, que enquadram a actuação da entidade

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 73

reguladora e a capacitam a actuar de forma independente. O grau de independência

atribuído à entidade reguladora, isto é, o grau de autonomia financeira, orgânica e

funcional da entidade reguladora, determinam o nível de independência do processo

da tomada-de-decisão no sector da água, evitando a imprevisibilidade dos processos

regulatórios e aumentando a credibilidade e aceitabilidade do sistema regulatório

do sector da água junto dos stakeholders. A autonomia decisória da entidade

reguladora é, igualmente, fundamental para a boa prática regulatória.

A autonomia financeira de uma entidade reguladora está directamente relacionada

com a independência do seu financiamento, que lhe confere a autonomia orçamental

e a necessária suficiência de receitas para a cobertura dos seus custos. A autonomia

financeira é normalmente assegurada através da implementação de taxas (e.g. taxas

de regulação) às entidades reguladas, que podem ou não ser repercutidas

directamente aos utilizadores.

Actualmente, o grau de autonomia financeira do CRA é tido como um dos pontos

fracos da sua governança regulatória. Existem várias razões que justificam esta

circunstância, nomeadamente, a imposição de uma retenção de 40% a favor do

Estado sobre as receitas da taxa de regulação, que até 2011 não existia, em

simultâneo com o alargamento das responsabilidades regulatórias do CRA aos

sistemas secundários de abastecimento de água e de saneamento de águas residuais,

que muitas vezes não têm a capacidade financeira para pagar a taxa de regulação.

O facto de o CRA não ter ainda regulamentado a aplicação de sanções e multas às

entidades reguladas, conferido pelo Decreto n.º 23/2011, de 8 de Junho, contribui

negativamente para a possível redução do défice da taxa de regulação. É, portanto,

vital para a recuperação da autonomia financeira do CRA, a elaboração de um

Regulamento que clarifique os direitos do CRA sobre as entidades reguladas em caso

de incumprimento do pagamento de taxas de regulação no prazo previsto

estipulado, ou então criar um sistema de subsidiação entre as entidades de forma a

garantir a sustentabilidade do CRA e equidade no pagamento por parte das

entidades reguladas.

A autonomia orgânica de uma instituição separa a estrutura organizacional da

entidade reguladora do poder e influência do Estado. A independência e

credibilidade do quadro orgânico da instituição devem ser asseguradas através de

processos de nomeação abertos, transparentes e justos, para períodos longos e não

coincidentes com ciclos políticos e alternados entre si. Para além disso, o quadro

orgânico deve ser protegido da eventualidade de demissões sem justa causa, por

vontade arbitrária de entidades governamentais, ou outros organismos.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 74

Apesar de não deter total autonomia orgânica, dado que os membros do Plenário

são nomeados pelo Conselho de Ministros para mandatos de três anos, renováveis,

o CRA acaba por deter alguma autonomia no que concerne à sua estrutura, cabendo

à própria entidade reguladora a responsabilidade de proceder à contratação e

gestão dos colaboradores, de acordo com as necessidades de recursos humanos para

o adequado desempenho regulatório da entidade reguladora e as verbas

disponíveis. Note-se que o Governo não tem poder para demitir os membros do

Plenário, a não ser na ocorrência de alguma falta grave comprovadamente cometida

pelo membro, no desempenho das suas funções ou quaisquer outras obrigações

associadas ao seu cargo. Após saída do Plenário, os indivíduos cumprem um ‘período

de nojo’ de dois anos, precavendo a existência de conflitos de interesse dentro do

sector da água.

A autonomia funcional de uma entidade reguladora deve ser assegurada através da

garantia da ausência de orientações governamentais ou supervisão política da

actividade regulatória, ou seja, a entidade deve ser sujeita apenas a um regime de

tutela de legalidade e nunca de mérito, e não deve estar sujeita a superintendência.

Por um lado, a ausência de tutela de mérito significa que os directores da entidade

reguladora não podem ser dispensados se as suas decisões ou os resultados da

regulação não agradar ao Governo. Por outro lado, a inexistência de

superintendência traduz-se pela não obrigatoriedade dos directores da entidade

reguladora terem de seguir as instruções ou directrizes do Governo ou do Ministro

que tutela o sector regulado.

Uma entidade reguladora independente ou com autonomia decisória não deverá,

portanto, ser sujeita a pressões políticas externas, não devendo ser necessária a

aprovação de entidades governamentais para a implementação e prossecução de

decisões regulatórias. Naturalmente, o mesmo se deve referir relativamente a outros

interesses externos sobre as decisões regulatórias.

O Plenário do CRA é o órgão responsável pela deliberação final sobre os

procedimentos de tomada-de-decisão regulatórios da entidade reguladora. As

deliberações do Plenário do CRA podem estar sujeitas a aprovação formal ou tácita

do Ministro da tutela ou mesmo do Conselho de Ministros de Moçambique. Por

conseguinte, o CRA está sujeito a um regime de tutela do Governo com participação

reduzida, embora materializada através da notificação das decisões deliberativas do

Plenário ao Ministro da tutela, ou da partilha de informação ao Conselho de

Ministros, para apreciação dos resultados da regulação.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 75

4.2.12 Participação pública

A participação pública na actividade regulatória é essencial para a boa prática da

regulação e fomenta a confiança na actividade do regulador, tanto por parte dos

utilizadores como por parte das entidades reguladas. A troca de informação de

forma transparente, sujeitando as propostas e decisões regulatórias à possibilidade

do contraditório, sugestões, comentários e críticas aumenta a credibilidade do

regulador, bem como a transparência do processo e a co-responsabilização dos

envolvidos, incluindo a aceitação das decisões regulatórias, por parte das empresas

reguladas.

As melhores práticas de regulação contemplam o estabelecimento de mecanismos

de promoção da participação pública nos processos de tomada-de-decisão,

procurando assegurar o envolvimento de todas as partes interessadas. Em

conformidade, estes devem assegurar a participação efectiva dos stakeholders e

contemplar medidas para evitar a captura da regulação ou a formação de conflitos

de interesse.

Neste âmbito, diferentes formas de promoção da participação pública podem ser

adoptadas (e.g. processos de consulta formal ou informal). Em especial, referem-se

processos de consulta formal, como audiências ou consultas públicas, que na boa

prática da regulação devem apresentar um papel fulcral em todo o processo

regulatório, contribuindo, assim, para a redução da contestação da regulação e para

o aumento do conhecimento público sobre o sector da água e seus objectivos de

desenvolvimento. O nível e tipo de envolvimento público no processo regulatório

dependerão sempre do propósito desse mesmo envolvimento. Ou seja, a

participação pública deverá ser mais activa em decisões estratégicas ou relativas à

qualidade de serviços prestados, do que propriamente em decisões normativas.

Independentemente dos mecanismos e ferramentas utilizados para a promoção da

participação pública, estes devem sempre estar institucionalmente estruturados de

forma a garantir as bases necessárias para o envolvimento público no processo

regulatório. A transparência da participação pública deve ser assegurada, i.e. os

processos deverão ser inclusivos e contra o favorecimento de interesses

particulares. Devem ser elaborados e publicados documentos de consulta que

informem as partes envolvidas relativamente às responsabilidades e prazos

definidos para cada uma no processo regulatório. Tal prática assegura tempo

suficiente para os processos de consulta e garante uma plataforma para a

manifestação de dúvidas, opiniões e comentários por parte dos stakeholders. Assim,

toda a documentação referente a procedimentos de consulta pública deve ser

acessível ao público, garantindo aos stakeholders maior transparência e confiança

no processo regulatório.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 76

A existência de um órgão consultivo e de participação, representativo dos

stakeholders e estabelecido e enquadrado legalmente (e.g. Conselho Consultivo), é

também exemplo de boa prática na regulação no domínio da participação pública. A

existência de tal órgão permite a participação pública na discussão, aprovação e

tomada-de-decisão de assuntos submetidos à apreciação do Conselho de

Administração da entidade reguladora.

A consulta pública dos processos decisórios não é ainda prática corrente na

actividade regulatória do CRA devido às circunstâncias e contexto do país, dado que

os processos de democratização procedimental não são ainda adoptados. Esta é

identificada como uma potencial oportunidade para o CRA se tornar pioneiro em

Moçambique, caso promova a participação pública nos processos e actividades de

regulação do sector da água em paralelo com uma maior divulgação e publicitação

dos processos e actividades regulatórias.

A promoção da participação pública na actividade regulatória do sector da água de

Moçambique, conforme referido, deverá ser assegurada pelo CRA, dado que este

eixo desempenha um papel fulcral na boa prática da governança regulatória. A

participação dos stakeholders nos processos de tomada-de-decisão regulatórios

(apesar de previsto na legislação o Conselho Consultivo ainda foi implementado),

tanto no estabelecimento de tarifas como na definição dos indicadores de

desempenho e/ou de valores de referência associados aos pressupostos e

parâmetros definidos no âmbito dos QR, deverá ter prazos definidos, publicados e

divulgados, que assegurem o conhecimento atempado dos vários stakeholders sobre

as suas responsabilidades e direitos previstos no âmbito da participação pública na

regulação do sector da água de Moçambique, que podem e devem incluir o direito a

resposta.

A criação de grupos de voluntários a nível local para monitorização dos serviços,

para o envolvimento dos consumidores no processo regulatório e na partilha de

informação, contribuindo para a melhoria da capacidade de resposta do sector da

água às necessidades dos consumidores é também componente importante da

promoção da participação pública na actividade regulatória de um sector. Neste

sentido, o projecto TIC-RECO do CRA poderá também tornar-se um importante

passo para o fomento da participação pública na regulação dos serviços de

abastecimento de água e de saneamento de águas residuais de Moçambique.

4.2.13 Responsabilização

A actividade da entidade reguladora visa a prossecução de objectivos estratégicos

de interesse público definidos pelo Governo. As responsabilidades atribuídas à

entidade reguladora devem ser claras e objectivas e a existência de um sistema de

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 77

responsabilização ou prestação de contas (accountability) é necessária para definir

como o regulador deve ser responsabilizado pelas suas acções.

Mecanismos de responsabilização e contestação de decisões contribuem para a

verificação das actividades regulatórias da entidade reguladora. Perante o Governo,

e no cumprimento das suas funções, esta deve reportar e submeter periodicamente

o seu desempenho a auditorias externas. A responsabilização da entidade

reguladora perante os stakeholders deve também ser promovida através da

existência de mecanismos judiciais que possibilitem o controlo dos seus actos, tanto

seja através de órgãos de apelo como dos Tribunais Judiciais, bem como o controlo

financeiro e orçamental, através do Tribunal de Contas.

A existência de instrumentos e mecanismos de contestação de decisões (direito de

apelo), que possibilitem aos stakeholders, em caso de contraditório, o recurso a

entidades externas independentes, bem como a existência de um Conselho

Consultivo e de obrigações éticas e procedimentais, também contribui para a

prestação de contas da entidade reguladora e assegura maior eficiência, eficácia e

credibilidade à governança regulatória. A participação de entidades externas na

revisão do desempenho da entidade (ou no recurso a decisões da entidade

reguladora) funciona, igualmente, como medida de responsabilização e de prestação

de contas, com contribuição positiva para a melhoria da qualidade dos processos de

tomada-de-decisão do regulador.

As entidades reguladoras devem também proceder a avaliações de desempenho

internas (auto-avaliações) focadas na eficiência e eficácia dos processos e

procedimentos adoptados na actividade regulatória. No mesmo contexto, as

entidades reguladoras devem também proceder periodicamente a análises das

práticas e do quadro regulatório vigente, após revisão ou implementação de novas

medidas de regulação.

O sistema de prestação de contas do CRA carece ainda da elaboração de um Relatório

de Contas que sustente e contextualize os recursos utilizados anualmente pela

entidade no sistema de reporte de informação financeira ao Tribunal

Administrativo. A governança regulatória ao nível da responsabilização requer

também o estabelecimento e disseminação de mecanismos de responsabilização e

contestação pública de decisões, que complementem as auditorias financeiras do

Tribunal Administrativo (ou auditores externos) correntemente realizadas.

Refira-se que, relativamente a esta última, a nomeação do Conselho Consultivo

previsto no Decreto n.º 23/2011, de 8 de Junho, bem como a abertura para a

participação de entidades externas para a revisão do desempenho da entidade

reguladora, poderão contribuir para o desenvolvimento da governança regulatória

relativa à responsabilização.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 78

De contribuição positiva para o desempenho do CRA neste eixo da governança

regulatória, observa-se que a entidade realiza avaliações de desempenho internas,

em particular, relativas ao desempenho dos seus colaboradores, a nível horizontal e

vertical. As avaliações de desempenho consideram diversos critérios, tais como a

assiduidade do pessoal, a capacidade de trabalho e o cumprimento de metas,

permitindo simultaneamente a avaliação de desempenho dos chefes por parte dos

seus subordinados e a avaliação de desempenho dos colegas por pessoal da mesma

categoria. Os resultados da avaliação de desempenho, resultante da aplicação deste

modelo de avaliação, regem a progressão de carreira do pessoal do CRA, dado que

as promoções dependem directamente das notas de avaliação obtidas na escala

considerada.

4.3 QUADRO-RESUMO DA GOVERNANÇA REGULATÓRIA DO CRA

O quadro seguinte sintetiza as observações realizadas ao longo do presente capítulo,

relativamente à governança regulatória do CRA.

Quadro 10 – Síntese das observações sobre governança regulatória do CRA

Âmbito da Regulação

Apesar de legalmente definida e enquadrada, na prática, a regulação do CRA, não se encontra ainda devidamente implementada em todas a sua plenitude, e mesmo clarificada, havendo ainda um importante caminho a percorrer até assegurar completamente o funcionamento adequado dos subsectores de abastecimento de água e do saneamento de águas residuais. Apenas, posteriormente, se poderá alargar efectivamente o âmbito da regulação do CRA às áreas rurais e peri-urbanas.

Estrutura Organizacional

O Plenário do CRA é o órgão deliberativo e de instância máxima da estrutura organizacional do CRA, responsável por dar o último parecer nos processos de tomada-de-decisão regulatórios, e por emitir a deliberação final antes da publicação da decisão ou informação ao Ministro da tutela. Apesar de previsto na legislação, o Conselho Consultivo (que integra representantes dos diversos interesses afectados pela regulação do sector da água, incluindo membros da sociedade civil) não foi ainda nomeado pelo Plenário. Não é considerado um Conselho Fiscal ou órgão equiparado para a estrutura organizacional do CRA, o que não vai ao encontro do que se considera ser boa prática regulatória.

Princípios

Os princípios fundamentais da boa prática regulatória (credibilidade, legitimidade e transparência) encontram-se, implícitos nos valores e princípios do CRA pois a sua actividade regulatória baseia-se na participação e no pragmatismo, bem como na consistência e confiabilidade, na prestação de contas e na transparência. Contudo, observa-se que a entidade reguladora ainda não implementa medidas que visam uma participação pública

Manual de Governança e Substância Regulatórias

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efectiva e que o foco da actividade do CRA é, por vezes, demasiado disperso, contrariando o seu princípio do pragmatismo. Identificam-se também algumas lacunas nos procedimentos regulatórios do CRA relativos ao princípio da transparência, nomeadamente referentes à disponibilização pública e divulgação de conteúdo relevante para os restantes stakeholders.

Transparência

São divulgados publicamente os resultados da actividade regulatória (desempenho das entidades reguladas) em formato de Relatórios Anuais, os quais também divulgam outras informações relevantes sobre o sector. A legislação do sector é divulgada no website do CRA. Contudo, os critérios e regras utilizados na definição de medidas de regulação não são disponibilizados (e.g. estabelecimento de tarifas e QR), não existindo também ciclos de contraditório associados à participação pública ou à revisão das decisões regulatórias. O CRA também ainda não disponibiliza outras componentes relevantes deste eixo (e.g. relatórios de Contas, resultados de auditorias externas, minutas de decisões, avaliação do próprio desempenho ou informações sobre o pessoal da estrutura organizacional).

Previsibilidade

A definição das matérias objecto de regulação e as responsabilidades dos stakeholders são perfeitamente definidas nos AR e QR, e asseguram maior estabilidade e segurança ao processo regulatório. Contudo, o CRA não tem ainda definido procedimentos e respectiva calendarização de consulta/audiência pública para alterações às “regras do jogo”. Também não há prazos regulamentares associados a muitos dos procedimentos regulatórios, a não ser, de forma parcial, no estabelecimento de tarifas, na elaboração e disponibilização do Relatório anual ao Governo e no tratamento de reclamações dos consumidores, ainda que muitas vezes estes internamente existam.

Consistência e Proporcionalidade

O CRA implementa diferentes tipos de regimes regulatórios consoante a dimensão e características dos sistemas regulados, e, portanto, a sua intervenção no sector da água de Moçambique é proporcional à dimensão dos sistemas. Os AR e QR contribuem também para a consistência da prática regulatória do CRA ao longo do tempo, definindo para cada ciclo regulatório as responsabilidades e condições da relação entre as diferentes entidades bem como as matérias objecto de regulação. A descentralização do poder regulatório contribui positivamente para a minimização dos custos de regulação e para o aumento do nível de participação dos envolvidos e monitorização dos serviços regulados.

Integridade

A inexistência de um Código de Ética e de Conduta do CRA contribui para a existência de lacunas neste eixo da governança na prática regulatória do CRA. Todavia, o CRA desenvolve alguns esforços no sentido de assegurar a integridade dos seus colaboradores, especificando os requisitos pessoais e profissionais aos quais os candidatos devem corresponder para poder desempenhar funções no CRA. No entanto o CRA não disponibiliza publicamente informação relativa à integridade dos seus colaboradores, nem

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P.027.15.R3 80

demonstra a existência de controlos de despesas dos diversos departamentos, inclusive do Plenário. A publicação de declarações de interesse dos colaboradores poderá ser uma medida para assegurar uma melhor governança regulatória no eixo da integridade.

Clareza das Regras

A legislação existente atribuiu ao CRA as responsabilidades e competências regulatórias específicas com o propósito de assegurar o equilíbrio entre a qualidade dos serviços prestados, os interesses dos utilizadores e o desenvolvimento económico sustentável dos sistemas de abastecimento de água. Todavia, o enquadramento legal e institucional do sector da água de Moçambique apresenta ainda algumas lacunas relativamente à actuação do CRA, designadamente no que concerne aos poderes regulamentares e sancionatórios e, em particular, no subsector do saneamento de águas residuais em relação às suas responsabilidades e interacção com as autoridades locais.

Articulação Regulatória

Apesar de a ARC ter sido criada em 2013 no âmbito da Lei da Concorrência de Moçambique, não se encontrou qualquer referência à articulação regulatória entre o CRA e a ARC assim como as associações de defesa dos consumidores. Não existindo uma entidade reguladora do ambiente, o sector da água de Moçambique necessita também de garantir uma maior articulação entre as entidades responsáveis por assegurar a disponibilidade dos recursos hídricos, em particular em alturas de crise ou catástrofes naturais (e.g. períodos de seca), com a integração do CRA nas tomadas-de-decisão sobre a gestão dos recursos hídricos do país. Os Convénios de Colaboração entre o CRA e as autoridades locais definem as responsabilidades legais dos envolvidos na regulação e supervisão da prestação de serviços públicos da água, sendo um exemplo positivo de articulação regulatória no sector.

Poderes de Acção

Os poderes executivos do CRA estão relativamente bem definidos e em conformidade com o que se considera ser a boa prática regulatória (e.g. definição do sistema tarifário, estabelecimento e monitorização das regras de mercado e qualidade de serviço, funções administrativas normais, investigação, julgamento e mediação de reclamações, resolução de conflitos entre entidades reguladas, autoridade para exigir às entidades reguladas a prestação de informações e dados). Verifica-se, contudo, alguma falta de esclarecimento e definição no que concerne aos poderes regulamentares e sancionatórios da entidade reguladora, principalmente ao nível do subsector do saneamento de águas residuais.

Autonomia

O grau de autonomia financeira do CRA é tido como um dos pontos fracos da sua governança regulatória, muito devido à retenção de 40% das receitas da taxa de regulação a favor do Estado, desde 2011. O problema não permite a sustentabilidade financeira do CRA e, consequentemente, inviabiliza o adequado progresso e desenvolvimento do sector. O CRA detém alguma autonomia orgânica, gerindo os recursos humanos, de acordo com as suas necessidades. Contudo, não detém total autonomia orgânica dado

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que os membros do Plenário são nomeados pelo Conselho de Ministros, para mandatos de três anos, renováveis. Estes não podem ser demitidos pelo Governo, a não ser na ocorrência de alguma falta grave comprovadamente cometida pelo membro no desempenho das suas funções. Após saída do Plenário, estes cumprem um ‘período de nojo’ de dois anos. O Plenário é o órgão responsável pela deliberação final sobre os procedimentos de tomada-de-decisão regulatórios. As deliberações do Plenário podem estar sujeitas a aprovação formal ou tácita do Ministro da tutela ou mesmo do Conselho de Ministros.

Participação Pública

A consulta e audiência públicas dos processos decisórios não são ainda práticas correntes na actividade regulatória do CRA, podendo este tornar-se pioneiro em Moçambique neste domínio. A participação dos stakeholders nos processos de tomada-de-decisão (e.g. Conselho Consultivo, consulta / audiência pública), tanto no estabelecimento de tarifas como na definição dos indicadores de desempenho e/ou dos valores de referência deverá ter prazos definidos, publicados e divulgados que assegurem o conhecimento atempado dos vários stakeholders sobre as suas responsabilidades e direitos previstos no âmbito da participação pública na regulação do sector, que podem e devem incluir o direito a resposta.

Responsabilização

O sistema de prestação de contas do CRA carece ainda da disponibilização pública de um Relatório de Contas e Actividades que sustente e contextualize a informação submetida anualmente ao Tribunal Administrativo. A governança regulatória requer também o estabelecimento e disseminação de mecanismos de responsabilização e contestação pública de decisões, que complementem as actuais auditorias financeiras do Tribunal Administrativo (ou auditores externos). Relativamente a esta última, a nomeação do Conselho Consultivo bem como a abertura para a participação de entidades externas para a revisão do desempenho da entidade reguladora, poderão contribuir para o desenvolvimento da governança regulatória relativa à responsabilização. A realização por parte do CRA de avaliações de desempenho internas, a nível horizontal e vertical, contribui positivamente para o seu desempenho neste eixo da governança regulatória.

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5 SUBSTÂNCIA REGULATÓRIA

5.1 NOTA INTRODUTÓRIA

A substância regulatória corresponde ao conteúdo da regulação, ao “quê” da

regulação, ou seja, o contexto intelectual e técnico das decisões regulatórias. Esta diz

respeito, portanto, ao racional que fundamenta as decisões tomadas pelas entidades

reguladoras, mais ou menos explícitas, e que confere qualidade e robustez às

decisões regulatórias, quando confrontadas ou sujeitas a análise independente.

Tipicamente, sustância regulatória está associada às decisões relativas à estrutura e

níveis tarifários, padrões de qualidade de serviço, tratamento de reclamações,

reporte e disseminação de informação, entre outras matérias.

O presente capítulo aborda cada um dos nove eixos da substância regulatória

considerados relevantes no âmbito da caracterização da prática regulatória do CRA,

tendo presente o que são consideradas boas práticas regulatórias. Como tal, e neste

âmbito, são abordadas as actividades regulatórias, a definição da estrutura e dos

níveis tarifários, o papel do regulador na aprovação de novos investimentos e na

resolução de conflitos, a regulação da qualidade de serviço, o papel do regulador no

tratamento de reclamações dos utilizadores, as considerações sociais da entidade

reguladora na sua actividade regulatória e a disseminação de informação pública. Os

procedimentos e práticas regulatórias que caracterizam a qualidade e robustez das

decisões regulatórias do CRA são descritas através de fluxogramas, cujo propósito é

ilustrar, esquematicamente, a substância regulatória desta entidade que é

responsável pela regulação do sector da água em Moçambique.

Na apresentação dos macroprocessos associados à substância regulatória do CRA,

estes aparecem representados por três órgãos complementares, designadamente o

Plenário, o Secretariado Executivo e as Unidades Técnicas Regionais (UTR). Esta

divisão permite compreender melhor a interacção entre as unidades orgânicas da

entidade reguladora nos procedimentos analisados. O Plenário do CRA é o órgão

deliberativo de instância máxima da entidade reguladora, constituído por um

Presidente e dois Vogais. A este órgão são atribuídas competências para a aprovação

de actos normativos, formulação de políticas com os demais entidades

intervenientes no QGD, bem como competências de fiscalização e de gestão global

do CRA.

Ao Secretariado Executivo do CRA compete assegurar a gestão do expediente

necessário para garantir a operacionalização das deliberações e decisões do

Plenário. O Secretariado Executivo é liderado pelo Secretário Executivo do CRA e é

composto por quatro unidades orgânicas, a saber: o Gabinete de Coordenação,

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P.027.15.R3 84

Planeamento e Controlo de Gestão, o Departamento de Estudos, Mercado e

Colaboração, o Departamento de Operações e o Departamento de Serviços Gerais. O

Secretariado Executivo do CRA é responsável pela preparação prévia de todos os

processos, anteprojectos e matérias para análise do Plenário, pela coordenação da

execução de actividades do CRA e pela elaboração e publicação das decisões do

Plenário, entre outras responsabilidades.

As UTR são os escritórios regionais do Departamento de Operações do CRA, às quais

os ALC e CORAL reportam periodicamente. As UTR permitem ao CRA acompanhar e

monitorizar de perto o desempenho das entidades reguladas, de uma forma

descentralizada, com recursos distribuídos pelo país, com vista a uma melhor gestão

dos recursos disponíveis.

Os fluxogramas apresentados ao longo do capítulo são compostos por uma

sequência de diferentes processos que representam os passos percorridos nos

processos de tomada-de-decisão da actividade regulatória, protagonizados pelas

diversas entidades envolvidas, conforme apresentado na figura seguinte.

Figura 13 – Simbologia adoptada nos macroprocessos da substância regulatória do CRA

Em cada fluxograma são apresentados como “Entrada” os procedimentos ou

necessidades que motivam/justificam o processo desenrolado, e como “Saída” os

resultados finais do procedimento, sejam estes a produção de documentos ou a

concretização de objectivos regulatórios. Consideram-se como “Decisão” todas as

actividades que requeiram a validação ou aprovação, por parte de um stakeholder,

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 85

para que o processo possa prosseguir para a fase seguinte. “Interacção” corresponde

a situações em que o processo pressuponha a possibilidade de reajustes numa

determinada actividade, mediante inputs ou pareceres das entidades

correspondentes, até obtenção de validação ou aprovação da entidade responsável

pela mesma. A uma “Sequência Positiva” corresponde um resultado positivo

decorrente de uma determinada actividade (e.g. resolução de um conflito) enquanto

a uma “Sequência Negativa” corresponde a não conclusão de determinada

actividade, que resulta na prossecução de uma actividade distinta (necessidade de

recorrer a um passo intermédio no processo regulatório).

5.2 SUBSTÂNCIA REGULATÓRIA DO CRA

5.2.1 Actividades

As actividades regulatórias desenvolvidas pela entidade reguladora devem ser

caracterizadas em meios legais, definindo de forma transparente as

responsabilidades e competências da entidade reguladora no sistema regulatório do

sector da água. No âmbito do QGD implementado em 1998 e na sequência das

reformas do sector da água iniciadas pelo Governo de Moçambique com a Lei de

Águas de 1991, o Decreto n.º 23/2011, de 8 de Junho, alargou o mandato do CRA

para a regulação de todos os sistemas públicos de distribuição de água e de

drenagem de águas residuais. A ampliação e reforço das atribuições do CRA

pressupuseram o estabelecimento de regimes regulatórios adequados ajustados às

condições técnicas e de gestão específica de cada sistema.

Tipicamente encontram-se associadas à boa prática da regulação as actividades de

regulamentação, de implementação e supervisão bem como a actividade

sancionatória, e a resolução e mediação de conflitos entre stakeholders. A actividade

de regulamentação corresponde ao desenvolvimento de instrumentos normativos,

os quais permitem definir as regras do sector (e.g. estabelecimento de preços,

qualidade de serviço ou a relação entre stakeholders). Assim, a entidade reguladora

deve ser legalmente capaz de produzir e publicar documentos normativos que

governem o funcionamento do sistema regulado.

Instrumentos executivos estão associados à actividade de implementação e

supervisão da execução das regras estabelecidas (e.g. controlo de preços ou

monitorização de desempenho das entidades reguladas). A estes instrumentos

executivos devem estar associados poderes que permitam a execução de actividades

de investigação e inspecção, no âmbito da supervisão da aplicação das normas

definidas, o chamado poder de polícia. Já a actividade sancionatória está associada a

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 86

instrumentos sancionatórios da entidade reguladora, fundamentais para a

prevenção e punição de condutas impróprias, mediante a aplicação de sanções ou

multas (ou de prémios, em caso contrário), consoante o desempenho ou o

comportamento dos stakeholders envolvidos no sector regulado. A entidade

reguladora deve ser capaz de, por exemplo, aplicar coimas ou suspender licenças, de

acordo com os procedimentos administrativos definidos legalmente.

Os instrumentos normativos e executivos que regem a actividade regulatória do CRA

nos sistemas regulados definem, de forma clara, as funções e poderes da entidade

reguladora e dos seus colaboradores para a prossecução de actividades de

implementação de regras e de investigação e inspecção na monitorização do

cumprimento dos pressupostos definidos para os sistemas e serviços públicos de

abastecimento de água. Em particular, as responsabilidades do CRA e as

competências por si delegadas, no âmbito da descentralização do poder regulatório,

são explicitadas em cada um dos regimes regulatórios implementados nos

diferentes sistemas regulados, sendo as competências de cada uma das partes

envolvidas definidas nos AR, QR e Convénios de Colaboração.

As actividades relativas à aplicação de sanções pelo CRA às entidades reguladas

carecem de instrumentos apropriados que sustentem o poder regulamentar

sancionatório da entidade reguladora.

Seguidamente são descritos, em termos genéricos, os diferentes tipos de regimes

regulatórios através dos quais o CRA exerce a actividade regulatória no sector da

água. Incluem-se também as descrições das sequências de actividades associadas à

definição dos documentos instrumentais, que estabelecem o ambiente-quadro que

estabelece as matérias objecto de regulação por parte do CRA nos sistemas

regulados, bem como a relação entre as entidades titulares dos sistemas e a própria

entidade regulada. Ademais, são igualmente referidas outras actividades exercidas

pelo CRA, no âmbito da regulação do sector da água de Moçambique, com impacto

no seu desempenho, em particular na relação entre as diferentes entidades

envolvidas nas actividades dos serviços de abastecimento de água e de saneamento

de águas residuais no país.

a) Regulação directa

No caso dos sistemas principais com gestão delegada ou com serviços autónomos,

cuja gestão de património e investimento é da responsabilidade do FIPAG, o CRA

tem implementado um regime regulatório directo. Neste método de regulação, e

conforme se ilustra no fluxograma da imagem seguinte, o CRA é responsável pelo

desenvolvimento dos AR e dos QR tendo em atenção a legislação em vigor, sendo

apoiado depois na sua implementação localmente pelos ALC. O AR e os QR

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 87

celebrados entre o CRA e o FIPAG prevêem as matérias de regulação destes sistemas,

cujo cumprimento é assegurado pelo FIPAG por via contratual com as entidades

operadoras.

Figura 14 – Fluxograma da regulação directa do CRA

O cumprimento das normas regulatórias estipuladas pelo CRA nos sistemas é

monitorizado localmente pelos ALC, que têm a responsabilidade de realizar visitas

de rotina aos sistemas, obter informação periódica sobre o cenário e as condições de

prestação de serviço junto dos operadores e utilizadores e resolução de conflitos

entre utilizadores e operadores. A delegação de poderes regulatórios aos ALC é

iniciada pela celebração de um Convénio de Colaboração entre o CRA e a respectiva

autoridade local onde o sistema se localiza, o qual estabelece uma parceria entre

ambas as partes para a implementação de um regime regulatório local para

salvaguarda da defesa dos interesses dos utilizadores e para melhoria do serviço

público.

A contratação dos agentes locais é de total responsabilidade do CRA e é realizada

mediante lista de candidatos proposta pelo município. O candidato seleccionado

celebra um contrato de prestação de serviços, em regime livre, com duração de dois

anos. Após formação pelo CRA para capacitação adequada do colaborador para o

cumprimento das suas funções e obrigações como agente local do CRA, este é

alocado ao município onde o sistema se encontra para o desempenho das suas

funções. O regime regulatório vigente nos sistemas principais pressupõe ainda a

avaliação da qualidade de serviço e de desempenho dos operadores dos sistemas,

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 88

localmente pelos ALC, e a nível central pelo CRA sede. O fluxograma seguinte

evidencia o processo de contratação dos ALC.

Figura 15 – Fluxograma da contratação dos ALC

Uma cerimónia de premiação das entidades reguladas dos sistemas principais é

realizada desde 2013, a qual premeia os operadores que apresentam melhor

desempenho anual, baseado no reporte de informação periódico dos operadores ao

FIPAG e relatórios dos ALC ao CRA. Na esfera deste regime regulatório directo,

encontram-se actualmente os 15 sistemas principais sob alçada do FIPAG.

Verifica-se, contudo, que neste tipo de regime regulatório os ALC não procedem

ainda a investigações profundas junto dos operadores para averiguação de falhas no

fornecimento dos serviços públicos e a sua prevenção, actuando antes

(principalmente) de forma reactiva, na procura da resolução imediata dos

problemas que motivam a apresentação de reclamações por parte dos utilizadores.

b) Regulação indirecta

Também no âmbito do QGD, o Decreto n.º 19/2009, de 13 de Maio, criou a AIAS como

a entidade responsável pela gestão do património e investimento dos sistemas

secundários e de saneamento de águas residuais. O alargamento das competências

do CRA a estes sistemas levou à adopção de um regime regulatório indirecto para a

prossecução das suas actividades regulatórias. A descentralização do poder

regulatório, através de um regime de regulação indirecta, resultou de uma reflexão

do CRA sobre o modelo de governação da regulação adequado para o cenário de

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 89

Moçambique, tendo em conta as especificidades das condições técnicas e de gestão

de cada sistema e as limitações financeiras da própria entidade reguladora.

O CRA assegura assim a regulação dos serviços públicos de água, a custos

controlados, com o envolvimento dos Governos Locais. Desta forma, nos sistemas

secundários da AIAS regulados, as normas regulatórias através do AR e dos QR são

emitidas pelo CRA e impostas a nível local pelas CORAL, cuja responsabilidade de

nomeação é do Poder Local. O AR e os QR estabelecidos para os sistemas da AIAS

(que, neste caso, têm duração mínima de 3 anos, em vez dos 5 anos dos QR dos

sistemas principais) são sempre anexados ao Caderno de Encargos dos documentos

de contratação pública dos operadores para os sistemas secundários. As actividades

regulatórias desenvolvidas pelo CRA, no âmbito deste regime de regulação, são

ilustradas esquematicamente nos dois fluxogramas seguintes.

Figura 16 – Fluxograma da regulação indirecta dos sistemas secundários

A monitorização da qualidade de serviço e desempenho dos operadores é

assegurada localmente pelas CORAL, cujo processo de contratação para delegação

de poderes do CRA é iniciado com a celebração de Convénios de Colaboração entre

o CRA e as autoridades locais. Ao contrário do que acontece nos sistemas principais

do FIPAG, os Convénios de Colaboração estipulam que compete ao Poder Local a

designação dos membros que farão parte da CORAL, que irá assegurar a

implementação de um regime regulatório adequado às necessidades da realidade

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 90

local. A nomeação dos três indivíduos que integram a CORAL depende de validação

prévia, por parte do CRA, antes da celebração de contrato.

Figura 17 – Continuação do fluxograma da regulação indirecta dos sistemas secundários regulados

Outra actividade regulatória que difere entre os sistemas principais e secundários

regulados pelo CRA prende-se com o estabelecimento de tarifas dos serviços de

abastecimento de água dos mesmos. De facto, actualmente o CRA define uma “Tarifa

Normativa Inicial”, igual para todos os sistemas secundários da AIAS, a qual é revista

para o estabelecimento de uma tarifa base para cada sistema, após seis meses de

operação com as condições pré-estabelecidas no QR durante os quais os operadores

são responsáveis pela recolha da informação de gestão, para que a tarifa definida se

adeqúe aos custos e especificidades da operação de cada sistema.

A regulação indirecta dos sistemas secundários encontra-se ainda numa fase inicial,

pelo que ainda não existe um sistema de reporte de informação tão robusto, como o

dos sistemas principais. Actualmente os operadores dos sistemas secundários

também não são ainda alvo de medidas de incentivos, dado que ainda só há três

sistemas regulados indirectamente pelo CRA (Ilha de Moçambique, Mocímboa da

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 91

Praia e Moamba), ainda que vários outros estejam em fase de início da regulação

(Junho de 2016).

Na sequência do alargamento da regulação a todos os sistemas públicos de

distribuição de água e de saneamento de águas residuais urbanas, o CRA tem

também como actividade regulatória a regulação dos sistemas autónomos de

saneamento, embora este processo ainda se encontre numa fase bastante

embrionária. O mecanismo de regulação indirecta adoptado nestes sistemas,

designadamente através de regulação descentralizada pelas ALC/CORAL, é também

estabelecido pelos QR celebrados com a AIAS e com a autoridade local onde os

sistemas se localizam.

Estes QR, enquadrados pelo AR celebrado entre o CRA e a AIAS, estabelecem as

condições de implementação do regime regulatório que regula os serviços prestados

pela entidade responsável pelos serviços de saneamento de águas residuais às

populações locais. Em conformidade, a emissão de normas é da responsabilidade do

CRA, cabendo à autoridade local (com apoio da AIAS) a implementação das mesmas

através da entidade gestora. O cumprimento dos indicadores de desempenho é

monitorizado por parte do CRA através das CORAL, que têm responsabilidades

directas na monitorização do desempenho da entidade regulada, conforme

acordado no Convénio de Colaboração entre o CRA e a autoridade local

correspondente. O pagamento das tarifas de saneamento de águas residuais por

parte dos utilizadores é realizado através da aplicação de um percentual sobre a

factura do serviço de abastecimento de água emitida pela entidade gestora deste

serviço, a qual transfere o valor correspondente à operadora dos serviços de

saneamento de águas residuais no final de cada mês.

A conjugação da informação submetida pela autoridade local sobre as actividades

da entidade gestora, numa base periódica definida no QR, com o reporte de

informação da ALC, permite ao CRA acompanhar e avaliar o desempenho dos

serviços de saneamento de águas residuais regulados, garantindo a sua

conformidade com o estabelecido no QR. No final de cada ciclo regulatório (três

anos), os níveis de desempenho demonstrados pelas entidades reguladas são

considerados na actualização dos QR, em particular na definição de valores de

referência e de tarifas para cada sistema regulado. De acordo com o definido no QR,

mediante o desempenho da entidade gestora, o CRA poderá ainda determinar

incentivos ou penalidades a aplicar.

A actividade regulatória do CRA prestada nos serviços autónomos de saneamento

de águas residuais (actualmente apenas aplicado nos sistemas de saneamento das

cidades da Beira e de Quelimane, encontrando-se em estudo a implementação do

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mesmo tipo de regime nos sistemas de Matola e de Maputo) é resumida

esquematicamente pelas figuras seguintes.

Figura 18 – Fluxograma do regime de regulação dos serviços autónomos de saneamento nas cidades dos sistemas principais

Figura 19 – Continuação do fluxograma do regime de regulação dos serviços autónomos de saneamento nas cidades dos sistemas principais

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c) Regulação consultiva

O regime de regulação consultiva é aplicável nos casos em que o Governo Local é a

entidade titular e não possui serviços públicos de água autónomos (i.e. serviços não-

autónomos ou integrados). Neste caso, a elaboração de normas regulatórias, se

existirem, é da responsabilidade do Poder Local, sendo que o CRA apenas intervirá

na regulação dos sistemas se assim for solicitado pelo Governo Local (podendo,

inclusive, a sua participação não ser solicitada). Em suma, a actividade do CRA na

regulação destes sistemas é meramente consultiva e de carácter não vinculativo, e

as normas são emitidas e impostas localmente, não havendo qualquer

obrigatoriedade legal para a regulação. A ilustração esquemática deste regime

regulatório é introduzida pela figura seguinte.

Figura 20 – Fluxograma do regime de regulação consultiva dos sistemas não-autónomos

d) Acordos Regulatórios

O AR é definido como o instrumento base de regulação, a partir do qual se define o

QR específico a cada sistema regulado, de abastecimento de água, principal ou

secundário, ou de saneamento de águas residuais. Nele são definidos os principais

termos, condições e responsabilidades para a regulação do CRA, incluindo as

matérias de regulação a incluir nos contratos com as entidades gestoras, bem como

as obrigações do CRA e das entidades titulares em termos de matéria de regulação.

O AR entre o FIPAG e o CRA é outorgado entre as partes no âmbito do

enquadramento legal estabelecido pelos Decretos n.º 73/98, de 23 de Dezembro, e

n.º 23/2011, de 8 de Junho. O Secretariado Executivo do CRA é responsável pela

elaboração de uma proposta de AR, que é submetida para apreciação do FIPAG.

Considerando o contributo do FIPAG, o Secretariado Executivo elabora a proposta

de AR e submete o documento para aprovação do Plenário. Depois da aprovação do

AR por parte do Plenário, o documento é devolvido ao Secretariado Executivo para

elaboração do AR final, que entrará em vigor na data de assinatura. O acto de

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assinatura do AR é realizado pelo Secretário Executivo do CRA e pelo Director

Executivo do FIPAG. A aprovação do AR é publicada no BR.

A celebração do AR geral entre o CRA e a AIAS difere ao nível do enquadramento

legal. Neste caso, o AR é definido pelos Decretos n.º 19/2009, de 13 de Maio, que

criou a AIAS, e n.º 23/2011, de 23 de Dezembro, o qual alargou o âmbito da

actividade regulatória do CRA.

O prazo de vigência dos AR tem duração indeterminada. No entanto, os AR podem

ser revistos durante o período de vigência, mediante apresentação de proposta de

revisão por qualquer uma das partes envolvidas. Em caso de interesse de revisão do

AR, a submissão das propostas de modificação deve ser efectuada com uma

antecedência de seis meses em relação à data pretendida para entrada em vigor do

novo AR. Observa-se que a sequência de procedimentos para aprovação da proposta

de revisão do AR será igual à sequência de procedimentos do AR inicial.

As figuras seguintes representam as sequências de actividades e procedimentos

associados à definição dos AR para os sistemas principais do FIPAG e para os

sistemas secundários e de saneamento de águas residuais sob alçada da AIAS.

Figura 21 – Fluxograma do estabelecimento de AR entre o CRA e o FIPAG

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Figura 22 – Fluxograma do estabelecimento de AR entre o CRA e a AIAS

e) Quadros Regulatórios

Os AR estabelecem as regras gerais, termos e condições da regulação dos sistemas e

definem as matérias a considerar no estabelecimento dos QR de cada um dos

sistemas regulados. Por sua vez, os QR determinam especificamente as matérias de

regulação a considerar, nomeadamente no que se refere à qualidade de serviço, à

eficiência e ao desempenho das entidades gestoras, à definição de tarifas, taxas e

encargos por serviços, à protecção dos utilizadores e à disponibilização de

informação. Sintetizando, os QR são documentos instrumentais definidos

especificamente para cada sistema, nos quais as definições e orientações base das

matérias objecto da regulação do CRA são estabelecidas.

Os QR dos sistemas principais do FIPAG têm duração mínima de cinco anos a partir

do momento de assinatura. A proposta de QR é apresentada ao CRA pelo FIPAG, após

celebração do respectivo AR. Note-se que, na elaboração das propostas de QR, o

FIPAG pode solicitar o parecer das autoridades locais para a definição dos objectivos

de serviço, do plano de investimento e do nível de desempenho dos serviços. No

entanto, a solicitação de parecer às autoridades locais não possui cariz obrigatório.

O QR proposto pelo FIPAG é analisado pelo Secretariado Executivo, que, por sua vez,

submete a sua proposta de QR para apreciação e deliberação final do Plenário. O

Plenário do CRA é responsável por notificar o Ministro da tutela sobre a aprovação

dos QR, no momento em que transmite o aval ao Secretariado Executivo para

elaboração da versão final do QR do sistema considerado.

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Os QR tornam-se vinculativos a partir do momento de assinatura do Secretário

Executivo do CRA e do Director Executivo do FIPAG. Em última instância, o FIPAG,

como entidade titular dos sistemas, é responsável por fazer cumprir o AR e QR em

cada sistema. Como representantes locais do CRA que contribuem para a

monitorização da qualidade de serviço e do desempenho das entidades gestoras, os

ALC sempre são informados sobre as condições de operação definidas nos QR dos

respectivos sistemas.

Durante a implementação dos QR, os operadores têm o direito de solicitar a revisão

dos QR que regem a sua actividade, após um mínimo de seis meses de operação sob

as condições definidas inicialmente. A solicitação de revisão por parte dos

operadores justifica-se apenas na eventualidade de se verificarem grandes variações

face aos pressupostos definidos no QR (i.e. indicadores de desempenho, valores de

referência, metas anuais de qualidade de serviço ou requisitos de qualidade da

água).

Também qualquer uma das partes, FIPAG ou CRA, poderá solicitar a revisão dos QR

vigentes, desde que notificando a outra parte, por escrito, ao fim do segundo ano de

vigência do QR. A solicitação de revisão do QR deverá ser preparada e apresentada

à outra entidade interessada dentro de um período de três meses (noventa dias),

após a celebração do segundo aniversário de implementação do QR. A avaliação de

uma eventual proposta de revisão do QR segue o mesmo procedimento adoptado na

definição do QR inicial.

Já no caso dos sistemas secundários de abastecimento de água e dos sistemas de

saneamento de águas residuais sob alçada da AIAS, apesar de a sequência de

procedimentos para implementação de QR em cada sistema ser semelhante à dos

sistemas principais, as autoridades locais já são necessariamente consideradas no

processo. Como tal, a proposta inicial dos QR é elaborada com consulta às

autoridades locais, com foco na definição dos níveis de qualidade de serviço

esperados, planos de investimento e desempenho dos sistemas.

As figuras seguintes representam as sequências de actividades associadas à

definição e estabelecimento dos QR dos sistemas principais do FIPAG e dos QR

específicos, aplicados em cada sistema regulado da AIAS.

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Figura 23 – Fluxograma do estabelecimento dos QR dos sistemas principais do FIPAG

Figura 24 – Fluxograma do estabelecimento dos QR dos sistemas secundários da AIAS

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f) Aprovação de Contratos de Gestão Delegada

Como entidade reguladora do sector da água de Moçambique, o CRA tem a

responsabilidade de aprovação de contratos de exploração dos sistemas de

abastecimento de água realizados com operadores privados. Por norma, estes

devem respeitar os pressupostos de exploração estabelecidos no âmbito dos QR dos

respectivos sistemas.

Cabe ao FIPAG, como entidade titular das infra-estruturas de abastecimento de água

dos sistemas principais de Moçambique, gerir o programa de investimento público

dos sistemas de abastecimento de água sob sua alçada. Em conformidade com as

prioridades de desenvolvimento económico e social definidas no Programa

Quinquenal do Governo, relativas à busca de novas soluções para responder aos

desafios de desenvolvimento do sector da água, a entidade titular do sistema é a

responsável pela identificação de oportunidades de delegar os serviços, por

exemplo, através de cessão de exploração com operadores privados.

Por conseguinte, o FIPAG é responsável por iniciar o processo de contratação

pública com a preparação, planeamento e definição clara do objecto de contrato, de

forma focalizada e participativa, e com o parecer e colaboração das autoridades

locais onde os sistemas se localizam e do Plenário do CRA.

O projecto de cessão de exploração ou de outro modelo de delegação,

nomeadamente o processo de licitação e os termos da delegação, é submetido pelo

FIPAG para análise e validação do Secretariado Executivo do CRA, que, por sua vez,

é responsável pela preparação do acordo prévio do contrato e sua submissão para o

Plenário para aprovação. Após validação dos termos do contrato com o FIPAG, o

Plenário analisa a proposta de acordo prévio. Após aprovação da proposta pelo

Plenário, o CRA, através do Secretariado Executivo, procede à formalização dos

termos do QR a introduzir na celebração do contrato.

Após concurso público para selecção do operador privado, o contrato de gestão

delegada é celebrado o FIPAG e o operador privado seleccionado após aprovação do

CRA. Consequentemente, o Ministério da tutela procede à homologação do contrato.

No fim do processo de contratação, é dever do CRA informar o respectivo município

sobre o resultado do processo de gestão delegada do sistema de abastecimento de

água local.

O fluxograma da figura seguinte representa o macroprocesso da atribuição de

contrato de gestão delegada de um sistema sob regulação do CRA.

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Figura 25 – Fluxograma do procedimento de contrato de gestão delegada

Periodicamente, ao fim de cada ciclo regulatório, o CRA revê os termos do contrato,

caso tal seja vontade de ambas as entidades reguladas (FIPAG e operador) de acordo

com o apresentado no fluxograma da figura seguinte que especifica para a Águas de

Maputo. Todo o processo é acompanhado pelo CRA que irá aprovar a revisão

periódica e por um Avaliador Independente. O processo começa com a compilação

da informação por parte do operador privado e da sua submissão para o cedente que

a analisa e define orientações estratégicas para a entidade gestora. O operador

privado elabora um relatório preliminar que é submetido ao FIPAG para análise e

que depois dará origem a uma proposta de relatório final que depois é enviado

novamente ao FIPAG e ao Secretariado Executivo para validação e posterior envio

para o Plenário para aprovação. O FIPAG e o Avaliador Independente submetem

pareceres sobre a proposta de relatório final para o Secretário Executivo para ajudar

na sua validação.

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Figura 26 – Fluxograma do procedimento de revisão periódica

g) Cobrança da taxa de regulação

O Decreto n.º 23/2011, de 8 de Junho, sujeitou as entidades reguladas ao pagamento

de uma taxa de regulação ao CRA, que contribui para a recuperação dos custos

associados à actividade de regulação assegurada pelo CRA aos respectivos sistemas

(na realidade, as taxas de regulação foram inicialmente instituídas pelo Decreto

74/98, de 23 de Dezembro). Cabe assim ao CRA actuar junto das entidades reguladas

para assegurar o pagamento da respectiva taxa de regulação.

Os operadores concessionários, como é o caso da AdeM, no sistema da região de

Maputo, estão sujeitos ao pagamento de uma renda ao FIPAG, que corresponde ao

valor estipulado no contrato de cessão de exploração para que a entidade possa

utilizar e explorar o sistema do cedente, são os responsáveis pelo pagamento da taxa

de regulação.

O FIPAG (enquanto operador dos sistemas principais) deve pagar até ao quinto dia

de cada mês um valor equivalente a uma fracção mensal constante de 2% da sua

receita anual bruta em cada sistema. Contudo, caso se verifique não haver

informação histórica suficiente para estimar a taxa de regulação aplicável no início

da exploração de determinado sistema, a taxa de regulação é fixada em função da

receita média anual previsível. Em função da evolução da receita anual bruta, a taxa

de regulação é actualizada a cada dois anos, desde que a receita real seja superior à

receita média anual previsível. O valor pago pelo FIPAG ao CRA não é, portanto, igual

para todos os sistemas, variando consoante a dimensão e condições técnicas de cada

sistema, a qual determina o seu nível de receitas.

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O mesmo se aplica às empresas que operam nos sistemas secundários da AIAS,

conforme previsto nos AR e QR, e disposto no contrato com a AIAS para a exploração

dos serviços dos sistemas de abastecimento de água. Os operadores destes sistemas

são responsáveis pelo pagamento da taxa de regulação directamente ao CRA, a partir

do final do primeiro semestre de exploração. Similarmente aos operadores do

FIPAG, os operadores destes sistemas devem pagar a taxa de regulação, equivalente

a 2% da sua receita bruta, até ao quinto dia de cada mês.

Caso o CRA verifique que a entidade regulada não efectuou o pagamento dentro do

prazo previsto, o Secretariado Executivo procede ao envio de uma carta à entidade

visada solicitando o pagamento da dívida. Nesta altura, é dado um prazo para que a

entidade regulada regularize o pagamento em falta (normalmente até 30 dias após

a data limite de pagamento), que, em caso de persistência do não pagamento da taxa

de regulação, recebe um ultimato por parte do CRA para a regularização da dívida.

Em qualquer uma das situações, o Plenário do CRA é sempre informado pelo

Secretário sobre o incumprimento da entidade regulada.

Se a entidade regulada não realizar o pagamento da taxa de regulação até ao prazo

estipulado no ultimato, o Plenário do CRA tem o direito de proceder com a aplicação

de uma multa a aplicar à entidade que, segundo o Decreto n.º 23/2011, será

equivalente a 0,5% da receita média semanal, por cada sete dias de atraso, após a

data de vencimento do prazo de pagamento. No caso dos sistemas principais do

FIPAG, o Plenário do CRA pode convocar o Presidente do FIPAG para regularizar a

situação, mediante a elaboração de um memorando sobre os pagamentos em falta.

Independentemente do tempo decorrido até à facturação do pagamento da taxa de

regulação, o CRA é sempre obrigado a ceder 40% do valor efectivamente cobrado ao

Governo de Moçambique até ao décimo dia de cada mês, conforme estipulado pelo

Artigo 11º do Decreto n.º 23/2011, de 8 de Junho.

As figuras seguintes ilustram a sequência de processos e entidades envolvidas no

processo de facturação do pagamento das taxas de regulação por parte das

entidades reguladas.

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Figura 27 – Fluxograma do pagamento da taxa de regulação nos sistemas principais

Figura 28 – Fluxograma do pagamento da taxa de regulação nos sistemas secundários

h) Reporte periódico das entidades reguladas

O reporte periódico de informação por parte das entidades reguladas é tido como

uma das actividades regulatórias fundamentais para a boa prática da regulação. Em

conformidade, os AR e QR definem a periodicidade de reporte sobre padrões de

qualidade de serviço. Os AR também estabelecem as obrigações do FIPAG e da AIAS

em matéria de regulação, dando particular ênfase às obrigações de apresentação

periódica de informação e relatórios de desempenho ao CRA.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

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O quadro apresentado abaixo identifica as obrigações de reporte de informação ao

CRA das duas entidades cedentes, de acordo com o estabelecido na Cláusula 10ª dos

respectivos AR, que estabelece as obrigações das entidades em matéria de regulação,

e no apêndice dos QR, relativo a procedimentos e formato de reportagem. Refira-se,

no entanto, que a informação contida no quadro ainda não é prática corrente do CRA,

apesar de explicitada nos AR e QR. Em prol da boa prática regulatória seria adequado

o cumprimento do estipulado nestes documentos instrumentais.

Quadro 11 – Reporte de informação das entidades reguladas, estabelecido nos AR e QR

As entidades reguladas são responsáveis pela compilação de informação relevante

sobre as suas actividades de exploração nos sistemas, relativa a apresentações de

reclamações por parte dos utilizadores, a indicadores de qualidade da água e de

serviço e a custos operacionais. A informação enviada às entidades cedentes é

também directamente enviada pelos operadores aos representantes locais do CRA,

ALC ou CORAL, em conformidade com o estabelecido no âmbito dos Convénios de

Colaboração entre o CRA e as autoridades locais.

Anual

- Relatório de Actividade da Entidade Gestora AR

- Plano de Negócios QR

- Balanço de Contas e Demonstração de Resultados QR

- Plano de Investimentos QR

Mensal

- Relatório de Actividade da Entidade Gestora AR

- Indicadores de Desempenho QR

- Qualidade de Água QR

- Projecção Tarifária, taxas e outros Encargos por Serviços Complementares ao Abastecimento de Água QR

Ciclo Regulatório

- Relatório Sumário sobre os Investimentos Pprevistos durante o Período de Vigência do QR AR

- Relatório Sumário sobre a Implementação e Conclusão dos Investimentos AR

Por ocorrência

- Interrupções por Períodos Maiores que 12h por dia QR

Anual

- Relatório Sumário sobre Investimentos AR

- Relatório Sumário sobre a Implementação e Conclusão dos Investimentos Programados AR

- Relatório Sumário sobre a Exploração AR

- Plano de Negócios QR

- Balanço de Contas e Demonstração de Resultados QR

- Plano de Investimentos QR

Trimestral

- Relatório de Actividade da Entidade Gestora AR

Mensal

- Indicadores de Desempenho QR

- Custos operacionais QR

FIPAG

AIAS

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Os ALC ou as CORAL, consoante o sistema de abastecimento de água em questão, são

responsáveis por analisar a informação recebida e submeter o seu parecer às

entidades gestoras, cedentes e ao escritório do CRA a que respondem. O parecer dos

agentes locais é tido em conta pelo CRA na validação do reporte de informação das

entidades gestoras. Contudo, note-se que a regulação dos sistemas secundários

encontra-se numa fase inicial pelo que não há ainda grande consistência de

procedimentos regulatórios nestes sistemas.

Após recepção da informação, o FIPAG ou a AIAS, são responsáveis por analisar o

relatório de exploração submetido pelas entidades gestoras e validar a informação

recebida. Já contabilizando o parecer dos agentes reguladores locais, as entidades

cedentes têm até ao final de Março para submeter o Relatório Anual ao CRA-sede.

Após uma primeira revisão da informação, o Secretariado Executivo submete a

informação recebida às UTR nas quais os operadores analisados actuam para análise

e validação da informação por eles submetida. Os coordenadores das UTR são quem

verifica e valida a informação, antes de o Departamento de Estudos e Projectos do

CRA proceder ao cálculo dos indicadores de desempenho dos sistemas sob sua

regulação.

Antes da submissão da informação para apreciação e aprovação do Plenário, as

entidades reguladas são notificadas sobre os resultados da análise e discussão,

tendo direito a um período de duas semanas para apresentação de contraditório. Em

caso de recepção de contraditório, o Secretariado Executivo analisa a resposta antes

de compilar os relatórios dos sistemas regulados de cada região, e apresentar e

discutir os relatórios com o Plenário do CRA. O Plenário é responsável por efectuar

uma última análise aos relatórios, antes de aprovar a elaboração do relatório final.

O relatório é finalizado dentro do prazo limite de 30 de Junho, data em que o Plenário

do CRA deve enviar o relatório para o Ministro da tutela.

No período de 60 dias, que decorre entre a submissão do relatório ao Ministro e a

publicação no website do CRA, o Ministro da tutela aprecia e submete o relatório

para tomada de conhecimento por parte do Conselho de Ministros. Observe-se que

o Conselho de Ministros apenas se pronuncia sobre o conteúdo do relatório em casos

extraordinários.

As figuras seguidamente apresentadas representam o fluxo de processos associados

ao reporte de informação periódico obrigatório por parte das entidades reguladas,

conforme estipulado pelo CRA no âmbito do estabelecimento dos AR e QR.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

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Figura 29 – Fluxograma do macroprocesso do reporte de informação periódica por parte das entidades reguladas

Figura 30 – Continuação do fluxograma do macroprocesso do reporte de informação periódica por parte das entidades reguladas

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i) Implementação de sistema TIC para reporte periódico de informação

O CRA tem vindo a desenvolver um novo sistema baseado em Tecnologias de

Informação e Comunicação (TIC) para o reporte periódico de informação, de modo

a facilitar a execução desta actividade, mais especificamente nos sistemas

secundários de abastecimento de água. O CRA espera que este sistema prove ser um

método de agilização do processamento de informação. O projecto TIC-RECO

encontra-se neste momento em fase de experiência-piloto e é constituído por dois

subsistemas (sistema “O” e sistema “C”), que se complementam em termos de

informação, mas cujos alvos de reporte são distintos. Enquanto o primeiro é

direccionado ao reporte de informação dos operadores, o segundo é orientado para

o reporte de informação por parte de alguns utilizadores específicos (escritórios

municipais, restaurantes, etc.).

O conjunto de informações recolhido pelo sistema permite ao CRA verificar o

desempenho dos operadores de forma regular e mais eficaz, através do cruzamento

de informação actualizada. Ademais, o cruzamento da informação submetida em

ambos os subsistemas permite ao CRA conferir a fiabilidade e qualidade dos dados

submetidos, relativos à operação dos sistemas.

O sistema “O” baseia-se em dois sistemas de reporte de periodicidades distintas: um

semanal, baseado na troca de mensagens via SMS com o sistema TIC, e um mensal,

baseado no preenchimento de um formulário a partir de uma aplicação para

smartphones, especificamente desenhado para o reporte de dados operacionais de

rotina. Em paralelo à submissão electrónica da informação, os operadores

continuam a ter a obrigação de submeter relatórios periódicos em formato físico.

O sistema envia uma mensagem SMS ao operador, semanalmente, instruindo-o para

o envio de resposta. A mensagem do operador deverá corresponder ao template

descrito nas instruções, que pressupõe a submissão de oito registos relativos ao

reporte de reclamações e a dados de operação do sistema (e.g. volume de água

produzida, ocorrência de interrupções no abastecimento e testes de qualidade da

água, entre outros). Após a submissão da informação via SMS, os operadores

recebem uma resposta automática que confirma a submissão, até trinta minutos

depois do envio. No entanto, pode ocorrer que a informação submetida não esteja

perceptível para o sistema. Nesse caso, pode ser requerido que o operador proceda

com uma nova submissão de dados, ou, em último caso, o centro regional do CRA

entra em contacto com o operador, num prazo de dois dias úteis.

Quando verificada a conformidade dos dados submetidos com o template

estabelecido para o efeito, um resumo do relatório é devolvido ao operador, e uma

mensagem de correio electrónico é gerada e enviada automaticamente para a

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 107

delegação regional do CRA. Mensalmente (a cada quatro semanas), o Secretariado

Executivo recebe um resumo dos relatórios semanais, submetido pelas UTR do

Departamento de Operações.

Mensalmente, o operador também recebe do sistema uma mensagem SMS que o

alerta para o seu dever de proceder ao preenchimento e envio do relatório mensal

também relativo a dados operacionais, mas mais detalhado. O operador deve então

proceder ao preenchimento do formulário no smartphone, especialmente

desenvolvido para o propósito.

A informação submetida através dos formulários é processada automaticamente

pelo sistema, o qual produz um relatório sumário dos dados submetidos. A

confirmação do sucesso da operação é enviada por SMS ao operador, juntamente

com o relatório, que lhe é enviado por e-mail. Um resumo do relatório é também

enviado, tanto para a delegação regional do CRA como para a sede em Maputo. Este

sistema de recolha de informação funciona em modo contínuo, dado que caso o

operador não submeta alguns dados num determinado mês, os mesmos ser-lhe-ão

pedidos no mês seguinte.

O preenchimento mensal bem-sucedido do formulário de dados operacionais do

sistema permite ao operador solicitar ao CRA o código mensal, por intermédio de

SMS. Se se confirmar a submissão dos dados necessários por parte do operador, o

CRA gera o código, enviado por SMS ao operador, que lhe permite proceder à

facturação dos serviços prestados.

A figura seguinte ilustra a sequência de actividades associadas ao reporte periódico

de informação dos operadores através do novo sistema TIC-RECO.

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P.027.15.R3 108

Figura 31 – Fluxograma do reporte de informação periódico dos operadores de sistemas secundários, através do sistema TIC-RECO

O reporte de informação por parte dos operadores no sistema TIC-RECO é

complementado com a recolha de informação diária junto dos utilizadores, que

torna mais eficaz a validação da informação submetida pelos operadores. A

informação recolhida pelo Sistema “C” é transmitida aos reguladores locais, bem

como ao escritório regional do CRA.

Uma mensagem SMS, gerada automaticamente, é enviada aos utilizadores

integrados no sistema, instruindo-os relativamente ao modo de submissão da

informação requerida. Os utilizadores reportam informação básica referente à

qualidade dos serviços utilizados, nomeadamente quanto à ocorrência de

interrupções do abastecimento normal de água. Em resposta ao envio da SMS, o

utilizador recebe uma SMS de confirmação e agradecimento pela informação

reportada, a qual é enviada também à CORAL e ao escritório regional do CRA. A

partir da informação recolhida, a UTR cruza os resultados com a informação

reportada pelos operadores dos sistemas secundários.

A figura abaixo apresenta esquematicamente a sequência de processos associados à

recolha de informação junto dos utilizadores através do sistema “C” do sistema TIC-

RECO, para comparação com a informação submetida pelos operadores.

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Figura 32 – Fluxograma da recolha de informação diária junto dos utilizadores

j) Reporte periódico de informação dos ALC e CORAL

No âmbito do alargamento das responsabilidades do CRA e da descentralização da

actuação da entidade reguladora, o CRA adoptou a solução do recurso a agentes

reguladores locais (ALC nos sistemas do FIPAG e CORAL nos sistemas da AIAS). A

solução de delegação de competências adoptada, descentralizando parte da

actividade regulatória, visa a minimização do custo da regulação, simultaneamente

com a massificação da actuação regulatória em sistemas onde o CRA não está

fisicamente representado, promovendo uma regulação mais eficaz, a menores

custos.

Os ALC são os representantes locais do CRA, que desempenham actividades

localmente, em articulação com as UTR do CRA e coordenadas pelo CRA sede. Assim,

em conformidade com o estabelecido em contrato com os ALC e nos Convénios de

Colaboração com as autoridades locais, os ALC têm a responsabilidade de

acompanhar as actividades e monitorizar o prescrito nos QR dos sistemas, para além

de prestar o apoio necessário à defesa dos interesses dos utilizadores locais.

De acordo com as funções e obrigações designadas aos ALC, os agentes locais

reúnem-se com os operadores que actuam nos locais sob sua responsabilidade com

uma frequência mensal. Os ALC devem monitorizar, pelo menos uma vez por mês, a

qualidade do serviço observável nesses sistemas, podendo, para tal efeito, proceder

a visitas aos sistemas e acompanhamento das análises realizadas pelo operador à

qualidade da água. As autoridades locais e os utilizadores são também envolvidos

no processo, por motivos de validação da informação recolhida junto dos

operadores, sobretudo no que concerne a qualidade do serviço (interrupções,

pressão da água, etc.).

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 110

A informação compilada é submetida à UTR do CRA através de relatórios de

actividades mensais, nos quais são transmitidos os registos das actividades por si

desempenhadas no mês decorrido, bem como recomendações que tenham para a

promoção da melhoria dos serviços prestados pelo operador. Como definido no

Convénio de Colaboração, a autoridade local recebe também um relatório mensal

simples, a partir do qual é informada sobre as constatações e actividades do ALC.

Os coordenadores das UTR são responsáveis pela análise e validação da informação

recebida de todos os ALC sob sua alçada, e pela submissão trimestral ao CRA sede

de um relatório que contemple toda informação relevante recebida. Em caso de

dúvidas ou ambiguidades na informação analisada, o Secretariado Executivo do CRA

pode devolver o relatório às UTR, para que a informação submetida seja revista e

reenviada em definitivo. Note-se que, todavia, embora esteja prevista a submissão

de informação por parte das UTR ao CRA com frequência trimestral, na prática, esta

encontra-se a ser realizada mensalmente.

O novo quadro de regulação adoptado pelo CRA para os sistemas secundários da

AIAS baseia-se num método de regulação indirecta. Para estes sistemas, o CRA

estabelece os princípios e normas regulatórias que são implementadas localmente

pelas CORAL. As CORAL funcionam como um instrumento de descentralização que

promove uma parceria eficaz entre o CRA e as autoridades locais, contribuindo para

uma maior capacitação local e um maior impacto no desenvolvimento dos serviços

nesses locais. No entanto, os procedimentos da regulação nos sistemas secundários

não são ainda tão consistentes como nos sistemas principais, pelo que os

procedimentos de reporte de informação das CORAL não se encontram ainda

devidamente consolidados.

De forma semelhante aos ALC, as CORAL reportam mensalmente ao escritório

regional do CRA o registo das actividades regulatórias realizadas, nomeadamente as

constatações e recomendações resultantes das actividades de monitorização ao

desempenho do operador. Para além de serem submetidos aos escritórios regionais

do CRA, os relatórios mensais das actividades das CORAL são também enviados para

as autoridades locais, em conformidade com o estabelecido nos acordos de

colaboração celebrados por estas com o CRA.

Uma vez recebida a informação, a UTR do CRA analisa e valida a informação recebida

antes de compilar e submeter trimestralmente um relatório sobre as actividades

regulatórias exercidas pelas entidades locais de regulação para informação do

Departamento de Operações do Secretariado Executivo do CRA. Ressalve-se que,

actualmente, não é ainda realizada efectivamente a avaliação de desempenho dos

operadores dos sistemas secundários.

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As sequências de actividades inerentes ao reporte periódico de informação, por

parte dos ALC nos sistemas do FIPAG e das CORAL nos sistemas sob alçada da AIAS,

conforme estabelecido nos Convénios de Colaboração, são apresentadas,

respectivamente, nas figuras seguintes.

Figura 33 – Fluxograma do processo do reporte de informação periódica por parte dos ALC

Figura 34 – Fluxograma do processo do reporte de informação periódica das CORAL

k) Reporte periódico de informação do CRA

O reporte periódico de informação, por parte da entidade reguladora, faz parte das

boas práticas da regulação, promovendo a responsabilização e prestação de contas,

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 112

bem como uma maior transparência à actividade do regulador. Conforme

estabelecido no âmbito do QGD, um dos mecanismos de prestação de contas do CRA

prende-se com a submissão à apreciação do Governo de um relatório anual, onde

devem ser descritos os objectivos estratégicos e principais realizações conseguidas

durante o período anual decorrido, bem como uma súmula com as receitas e

despesas da actividade regulatória do CRA. Os relatórios anuais incluem também o

sumário do desempenho das entidades reguladas no ano decorrido, conforme os

indicadores estimados na análise da qualidade de serviço dos sistemas. O reporte

periódico do CRA ao Governo é disponibilizado ao público, o que permite assegurar

uma maior confiança por parte dos utilizadores nos serviços públicos do sector da

água.

O CRA tem também a obrigação de submeter anualmente a Conta de Gerência ao

Tribunal Administrativo. Este, se assim o decidir, pode proceder a uma auditoria

financeira, de forma a verificar a veracidade dos valores reportados pelo CRA. A

auditoria poderá corroborar os resultados apresentados e funcionar como medida

de reforço para a transparência e credibilidade da entidade reguladora e do sector

da água aos olhos dos restantes stakeholders. Por opção do CRA, os resultados

financeiros anuais não são disponibilizados publicamente.

O procedimento relativo ao reporte de informação do CRA ao Governo inicia-se com

a submissão da informação da operação dos sistemas por parte dos operadores às

entidades cedentes. Conforme será descrito no macroprocesso relativo à regulação

da qualidade de serviço, compete às entidades cedentes proceder a uma primeira

revisão e validação da informação submetida. As entidades cedentes têm como

prazo limite de submissão dos dados o mês de Março, mês a partir do qual os UTR

devem proceder, por sua vez, à verificação da informação recebida.

Com apoio dos chefes regionais do departamento, o Departamento de Operações do

CRA procede à elaboração do relatório anual, o qual, após conclusão, é entregue ao

Secretário Executivo para discussão do trabalho com o Plenário. Após aprovação do

esboço do Relatório por parte do Plenário do CRA, em finais de Abril, os operadores

são notificados sobre o início de um período de duas semanas para apresentação de

contraditório ao CRA. Findo o período de contraditório, compete ao Secretariado

Executivo analisar a informação de contraditório submetida pelas entidades visadas,

devendo o Plenário do CRA aprovar o início da elaboração do relatório final. O

Secretariado Executivo tem então até ao final do mês de Junho para o elaborar e

submeter para apreciação do Plenário, antes de este o submeter ao Ministro da

tutela entre os meses de Julho e Agosto.

O Ministro da tutela procede ao envio do documento para tomada de conhecimento

do Conselho de Ministros que, a não ser em situações extraordinárias, não se

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 113

pronuncia sobre o documento. O documento final é publicado, com acesso ao

público, pelo Secretariado Executivo, a partir do website do CRA, num prazo de até

dois meses depois da submissão do documento ao Governo.

O processo relativo ao reporte de contas anual é enquadrado pelo Cenário Fiscal de

Médio Prazo do CRA, elaborado para períodos trimestrais, entre os meses de Abril e

Junho. Semestralmente, é realizado o balanço do plano do cenário fiscal e do

orçamento, os quais incluem a previsão de receitas e despesas do CRA durante o

período de 3 anos considerado, a fim de se realizarem as medidas correctivas

necessárias para a elaboração do orçamento do ano seguinte.

Note-se que a informação financeira não é ainda contextualizada e compilada num

documento específico, dado que o CRA não elabora ainda Relatórios de Actividade e

Contas. Antes, apenas as Contas de Gerência são submetidas através de um layout

estabelecido para o efeito pelo Governo, de acordo com a informação requerida pelo

Tribunal Administrativo. No entanto, o fluxograma apresentado na presente secção

considera também a existência de um Relatório de Contas, em conjunto com as

Contas de Gerência, como medida de promoção da transparência e

responsabilização a adoptar na actividade regulatória do CRA, de acordo com as

boas práticas da regulação.

O processo de reporte ao Tribunal Administrativo é iniciado quando o Secretariado

Executivo, designadamente o Departamento de Administração e Finanças, organiza

e compila os elementos necessários para a elaboração e apresentação da Conta de

Gerência do CRA, no final do ano fiscal.

Após aprovação do Plenário, o Secretariado Executivo procede à submissão das

Contas de Gerência ao Tribunal Administrativo até ao término do mês de Março,

mediante preenchimento de um formulário tipo estabelecido especificamente para

o efeito. No caso de o Tribunal Administrativo proceder à auditoria financeira, em

princípio, esta decorre entre os meses de Abril e Maio. Aquando da elaboração

efectiva de um Relatório de Contas, os mesmos prazos deverão ser respeitados,

sendo que o documento contextualizará e suportará as Contas de Gerência

submetidas ao Tribunal Administrativo.

As contas do CRA são também sujeitas a auditoria externa, em concordância com os

acordos de apoio financeiros firmados com o Banco Mundial. Como tal, a informação

submetida ao cuidado do Tribunal Administrativo é também enviada para os

auditores externos designados. Em caso de auditoria, os resultados das auditorias

financeiras serão por fim, apreciados pelo Plenário para motivos de contraditório, e

que os terá em conta na elaboração do novo orçamento e Cenário Fiscal do CRA.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 114

As figuras seguintes reflectem as sequências de actividades realizadas pelo CRA e

demais entidades envolvidas nos processos de reporte de informação periódica

obrigatória do CRA ao Governo e ao Tribunal Administrativo de Moçambique.

Figura 35 – Fluxograma do macroprocesso do reporte de informação periódica do CRA ao Governo

Figura 36 – Fluxograma do macroprocesso do reporte de informação periódica do CRA ao Tribunal Administrativo

5.2.2 Estrutura tarifária

A regulação económica é um dos propósitos centrais da actividade das entidades

reguladoras no sector da água. Como tal, estas devem ser responsáveis pela

definição de um conjunto de regras de cálculo que defina os princípios do

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 115

estabelecimento das tarifas que irão permitir a recuperação dos custos associados à

operação dos sistemas regulados. Em conformidade, o procedimento regulatório do

estabelecimento de tarifas dos serviços de abastecimento de água e de saneamento

de águas residuais é parte fundamental da regulação económica assegurada pelo

CRA.

A estrutura tarifária descreve o modo como são cobrados os custos dos serviços de

abastecimento de água e de saneamento de águas residuais aos diferentes

utilizadores destes serviços. Os princípios associados ao estabelecimento de tarifas

devem procurar a maximização do bem-estar social e enviar os sinais correctos para

o mercado, permitindo a sua sustentabilidade financeira, social e ambiental.

Segundo a boa prática da regulação, a entidade reguladora deve também ser

responsável pela disponibilização pública da estrutura tarifária vigente.

A estrutura tarifária pode considerar componentes fixas e variáveis, consoante o

volume de água consumido, bem como diferentes tipos de utilizadores dos serviços.

Em particular, refere-se que o estabelecimento de tarifas deve considerar critérios

volumétricos para a definição de escalões, consoante o tipo de utilizador

considerado (doméstico, industrial, comercial, etc.) e reflectir os níveis de serviço

disponibilizados aos utilizadores, bem como os seus padrões de consumo e taxas de

utilização.

A consideração de diferentes tipos de utilizadores dos serviços é necessária para

assegurar tarifas equitativas e justas, sem imposição de custos adicionais a

determinadas categorias de utilizadores. No sentido de maximizar o bem-estar

social, as entidades reguladoras devem ter ainda a si atribuídas competências para,

entre outros pontos de relevância, lidar com questões relativas à subsidiação de

tarifas, cujo propósito é o da protecção dos utilizadores mais carenciados e

maximizar o acesso universal, e que permite o fornecimento de serviços a preços

adequados ou especiais, cobrindo em simultâneo os custos de funcionamento dos

sistemas.

O modelo tarifário em vigor no serviço de abastecimento de água potável em

Moçambique procura assegurar a sustentabilidade económico-financeira dos

sistemas, no sentido de garantir a cobertura de custos de operação das entidades

reguladas em função da sua eficiência. O Governo é responsável pela definição da

política tarifária vigente, enquanto o regulador é responsável pela aprovação das

tarifas e taxas de serviço específicas a cada sistema. Por conseguinte, o CRA deve

justificar as tarifas e as taxas aprovadas perante os stakeholders e, em particular, que

está em linha com programação tarifária aprovada pelo Governo

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 116

Na estrutura tarifária definida e aprovada pelo CRA, o valor da tarifa que o utilizador

paga pretende recuperar um montante correspondente à soma de duas parcelas

distintas. Uma corresponde a um valor que visa a cobertura de todos os custos de

exploração do operador e outra é uma componente relativa ao serviço da dívida das

entidades titulares dos sistemas, cujo propósito é o de sustentar a obrigação das

entidades em investir nas infra-estruturas, de forma a viabilizar o quadro de negócio

do operador dos serviços.

A tarifa do utilizador em Moçambique é escalonada e diferenciada de acordo com

escalões sociais e categorias dos utilizadores, consoante o tipo de utilizador

considerado, seja ele doméstico ou geral (comercial, público ou industrial). A

estrutura tarifária estabelecida pelo CRA procura também proteger os utilizadores

de mais baixo rendimento, com a consideração de escalões sociais que beneficiam

de um subsídio-cruzado, que visa a redução do seu valor de factura.

Verifica-se que face à alteração dos padrões de consumo, devido, sobretudo, à

extensão da rede para bairros peri-urbanos, em conjunto com o aumento dos pesos

dos escalões sociais no sector da água, tem-se vindo a colocar em causa a

efectividade do subsídio nas tarifas. Como tal, a questão da subsidiação-cruzada

deverá ser revista, estando o CRA inclusive com uma consultoria em curso para essa

finalidade. As próprias classes de utilizadores consideradas na estruturação das

tarifas poderão também ser revistas e optimizadas face às alterações dos padrões de

consumo que se têm verificado.

5.2.3 Níveis tarifários

A boa prática da regulação dita também que as entidades reguladoras devem ter as

competências necessárias para a definição ou aprovação de tarifas, salvaguardando

tanto os interesses dos utilizadores como das entidades gestoras. O regulador é

assim, normalmente, responsável pela definição da metodologia de cálculo das

tarifas, que deve procurar assegurar a sustentabilidade financeira das entidades

gestoras responsáveis pela prestação de serviços no sector da água, em simultâneo

com a coesão social da população.

Para que a regulação seja eficaz no controlo das tarifas praticadas, a publicação de

uma metodologia de estabelecimento de preços e de tarifas não é suficiente. É

também requerido que seja desenvolvido um plano de negócio coerente e

economicamente viável, baseado num plano de investimentos adequado às

necessidades que suporte o sistema de fixação de tarifas definido e que o modelo

estabelecido considere mecanismos de subsidiação de tarifas em situações em que

tal seja necessário. Acima de tudo, é necessário salvaguardar a sustentabilidade das

entidades reguladas e que todos os stakeholders envolvidos estejam familiarizados

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 117

com os métodos utilizados no estabelecimento dos níveis tarifários vigentes, para

assegurar a confiança dos actores do sector no sistema regulatório.

O regulador deve também definir o período regulatório durante o qual as tarifas

definidas estão em vigor. Similarmente, a entidade reguladora deve estabelecer as

condições em que tanto o próprio regulador como as entidades reguladas podem

solicitar a revisão dos níveis tarifários definidos.

O CRA é responsável pela aprovação dos níveis tarifários praticados pelas entidades

reguladas, tendo por base a informação dos seus custos operacionais e o parecer do

Ministério da tutela. O processo regulatório de definição dos níveis tarifários difere

consoante o tipo de sistema considerado. Todavia, contrariamente ao que se

considera a boa prática da regulação, o CRA ainda não promove a participação

pública através de consultas ou audiências públicas durante o processo de definição

dos níveis tarifários.

De seguida descrevem-se as sequências de actividades e procedimentos associados

ao processo de definição de tarifas nos diferentes sistemas de abastecimento de água

e de saneamento de águas residuais regulados pelo CRA.

a) Definição de tarifas nos sistemas de abastecimento de água do FIPAG

O processo de definição dos níveis tarifários dos serviços de abastecimento de água

dos sistemas principais inicia-se com a definição da Programação Multianual de

Tarifas, correspondente a um ciclo regulatório de cinco anos, conforme estabelecido

pelo QR destes sistemas. Antes do início de um novo ciclo regulatório, articulando

com o Governo de forma a ter em conta as políticas sectoriais vigentes, as

informações relativas aos custos de operação dos sistemas e o seu Modelo

Financeiro e Plano de Negócios, o FIPAG submete para apreciação do CRA um

Projecto de Programação Tarifária até ao final do mês de Julho.

Após recepção da proposta, o Departamento de Estudos e Projectos do Secretariado

Executivo do CRA procede à revisão e validação da proposta do FIPAG durante o mês

de Agosto. O parecer do Secretariado Executivo é submetido para aprovação do

Plenário, antes da submissão da proposta ao Ministro da tutela, normalmente em

Dezembro, para aprovação dos critérios de base e dos cenários de ajustamento

considerados.

O Ministro da tutela tem ao seu dispor cerca de dois meses para proceder à

apreciação da proposta submetida face às políticas do sector. Em caso de

necessidade o Ministro pode recorrer ao Conselho Consultivo do actual MOPHRH,

por motivos de assessoria. Após apreciação da proposta, o Ministro submete o seu

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 118

parecer para análise detalhada da proposta por parte do Conselho de Ministros para

aprovação. O processo de análise dos órgãos do Governo decorre ao longo de cerca

de três/quatro meses, com um prazo máximo até ao final do mês de Junho.

Os pareceres resultantes da apreciação dos órgãos do Governo são transmitidos ao

CRA, tendo o Plenário, no âmbito das competências a si atribuídas pelo QGD e demais

legislação sectorial, a responsabilidade de analisar os contributos recebidos e emitir

a deliberação final sobre o Programa Multianual de Tarifas. Como tal, o Plenário tem

até dia 15 de Outubro para aprovar a Programação Tarifária que vigorará durante o

novo ciclo regulatório. Os principais intervenientes, FIPAG e operadores, são

informados dos resultados da deliberação sobre a proposta e, após publicação em

BR, a nova programação tarifária é implementada, passando a ser uma das

ferramentas que rege o valor da tarifa ao longo do ciclo regulatório.

A Programação de Tarifas para os sistemas do FIPAG contempla ajustamentos

anuais de tarifas, em conformidade com o previsto pelos AR e QR dos sistemas

principais, que ocorrem anualmente ao longo do ciclo regulatório. O ajustamento

tarifário tem como base a actualização dos pressupostos do estabelecimento de

tarifas (e.g. actualização cambial e custos energéticos) e os Relatórios de Contas dos

operadores, do exercício fiscal anterior. Tal significa que os Relatórios de Contas dos

operadores funcionam como base para a justificação da necessidade ou não de

ajustamento de tarifas, em determinado ano.

O processo de ajustamento tarifário inicia-se com a submissão dos Relatórios de

Contas das entidades gestoras ao FIPAG, anualmente, entre os meses de Junho e

Julho. Depois da recepção e análise dos Relatórios de Contas, e após articulação

prévia com o MOPHRH, o FIPAG procede à elaboração de uma Proposta inicial de

Ajustamento Tarifário, que deve ser submetida para apreciação do CRA até ao final

do mês de Outubro.

O Departamento de Estudos e Projectos do Secretariado Executivo do CRA é

responsável por analisar a proposta de ajustamento anual submetida pelo FIPAG e

de transmitir o seu parecer ao Plenário, que detém o poder deliberativo sobre o

assunto. Caso o Secretariado Executivo não valide a proposta do FIPAG, esta

entidade é solicitada a apresentar contraditório, num processo interactivo que se

prolonga até validação da proposta por parte do Secretariado Executivo. Após

validação da Proposta de Ajustamento Tarifário, o Plenário analisa então o

fundamento da proposta validada pelo Secretariado Executivo e, mediante

aprovação final da proposta de sistema tarifário, notifica o Ministro da tutela sobre

a sua decisão de ajustamento. Caso o ajustamento tarifário aprovado suscite

dúvidas, o Ministro pode solicitar esclarecimentos ao Secretariado Executivo para

apoio na decisão.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 119

Finalmente, o Plenário autoriza o Secretariado Executivo a proceder à divulgação do

novo Ajustamento Tarifário, que é publicado em BR entre os meses de Dezembro e

Janeiro. O ajustamento tarifário é, por fim, implementado pelo FIPAG nos sistemas

principais, 15 dias após publicação no BR, em conformidade com a Lei n.º 6/2003,

que estabelece o período da Vacatio Legis. O CRA possui a responsabilidade de

publicitar as novas tarifas junto dos utilizadores, através da afixação de cartazes

informativos nas lojas do FIPAG.

O ciclo descrito para o ajustamento tarifário repete-se anualmente, ao longo do ciclo

regulatório, com novas avaliações de Relatório de Contas dos prestadores de

serviços entre os meses de Junho e Agosto, por parte do FIPAG. Ao fim de cinco anos,

no final de cada ciclo regulatório, é prevista uma nova revisão da Programação

Multianual de Tarifas, para aplicação no ciclo regulatório consecutivo, tendo em

conta não só as políticas sectoriais como também os Relatórios de Contas do ciclo

regulatório predecessor.

A figura abaixo apresentada representa esquematicamente a sequência de

processos associados ao estabelecimento de tarifas dos sistemas principais do

FIPAG.

Figura 37 – Fluxograma do procedimento regulatório de estabelecimento de tarifas dos serviços de abastecimento de água dos sistemas principais

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 120

b) Definição de tarifas nos sistemas de abastecimento de água da AIAS

O estabelecimento de tarifas para sistemas da AIAS é realizado para cada sistema de

forma independente, não havendo, portanto, uma programação tarifária transversal

aos sistemas da AIAS, ao contrário do que se sucede no caso dos sistemas principais

do FIPAG.

A AIAS detém a gestão do património dos sistemas sob sua alçada, pelo que

finalizados os trabalhos de investimento nos sistemas, a entidade é responsável por

lançar um concurso público para a contratação de um operador, que decorre num

período de 60 dias, ao abrigo do regulamento relativo às contratações públicas do

Decreto n.º 15/2010, de 24 de Maio.

O QR correspondente ao sistema considerado é anexado ao Caderno de Encargos do

processo de contratação. O QR estabelece os serviços mínimos que o operador terá

de respeitar, bem como o valor da Tarifa Normativa Inicial, transversal a todos os

sistemas secundários regulados pelo CRA, e aplicável durante os primeiros seis

meses de operação. Esta tarifa base é proposta pela AIAS e aprovada pelo Plenário

do CRA, que tem em conta o parecer transmitido pelo Departamento de Estudos e

Projectos do Secretariado Executivo. Correntemente, a Tarifa Normativa Inicial tem

o valor de 18 MZN/m3, estabelecida e aprovada pelo Presidente do Plenário.

Após o lançamento do concurso público para selecção do operador, a AIAS negoceia

o contrato com o melhor candidato, notificando o CRA para validação do contrato

estabelecido. O Secretariado Executivo é responsável por, em primeira mão, analisar

o contrato negociado entre a entidade cedente e o operador, antes de o submeter a

validação final por parte do Plenário. Após validação do contrato, cabe ao Ministério

da tutela homologar o contrato para a prestação dos serviços no respectivo sistema

da AIAS.

O operador contratado pela AIAS fica incumbido do registo da informação

necessária para a Revisão da Informação de Gestão, relativa aos custos de

exploração do sistema durante os primeiros seis meses de actividade. Findo este

período, a informação de gestão recolhida pelo operador é submetida para análise

da AIAS que, com base na validade dos dados, é responsável pela elaboração de uma

proposta de ajustamento tarifário para o sistema de abastecimento de água em

questão. Também os Relatórios e Contas do operador, submetidos mensalmente à

AIAS, são por si tidos em conta na elaboração da proposta de ajustamento tarifário.

A preparação da proposta de ajustamento da Tarifa Média de Referência e da

Estrutura Tarifária de cada sistema é de total responsabilidade da AIAS. Contudo,

antes da submissão da proposta de adenda do QR à entidade reguladora, a AIAS deve

articular o processo de definição da proposta de ajustamento tarifário com o

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 121

Ministério da tutela, Governos Provinciais e autoridades locais, conhecedores das

realidades locais, com o intuito de assegurar a harmonização das visões para o

desenvolvimento do sector da água nos vários municípios.

Cabe ao Secretariado Executivo do CRA, nomeadamente ao Departamento de

Estudos e Projectos, analisar a proposta submetida pela AIAS antes de submeter o

seu parecer para aprovação final da proposta por parte do Plenário do CRA. Uma vez

aprovada, a proposta é devolvida à AIAS para que a adenda do QR, assinada pelo CRA

e pela AIAS, seja incorporada no contrato com o operador, com tarifa ajustada

incluída. Nesta fase, o Ministério da tutela e o Governo Provincial são informados

pela AIAS sobre o resultado da deliberação do CRA, bem como o são o respectivo

operador e a comissão reguladora local (CORAL). Posteriormente, as tarifas são

também publicadas em jornal público com o propósito de informar os utilizadores.

O sistema tarifário dos sistemas secundários de abastecimento de água da AIAS não

é ainda publicado em BR por não haver ainda consenso sobre o que deve ser

publicado; se apenas as novas tarifas, ou o próprio QR. No entanto, caso venham a

ser publicadas em BR, à semelhança do que acontece com as tarifas dos sistemas

principais, estas deverão entrar em vigor após 15 dias da sua publicação. Por agora,

a cobrança das tarifas é implementada num prazo de 60 dias após assinatura do QR.

O operador fica obrigado a registar e compilar toda a informação relevante sobre a

operação do sistema para submissão mensal à AIAS, para análise sobre a justificação

de abertura de novo processo com vista ao reajuste tarifário no ano seguinte.

Os ajustamentos anuais às tarifas vigentes nos sistemas de abastecimento de água

da AIAS são realizados em conformidade com a fórmula de ajustamento. Esta baseia-

se na variação do Índice de Preços no Consumidor (IPC), podendo também

considerar um factor relacionado com os custos de energia reportados no Relatório

de Contas anual dos operadores.

O fluxograma apresentado nas figuras seguintes representa o processo de

estabelecimento de tarifas dos sistemas secundários de abastecimento de água sob

gestão da AIAS.

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Figura 38 – Fluxograma do procedimento regulatório de estabelecimento de tarifas dos serviços de abastecimento de água dos sistemas secundários

Figura 39 – Continuação do fluxograma do procedimento regulatório de estabelecimento de tarifas dos serviços de abastecimento de água dos sistemas secundários

c) Definição de tarifas dos serviços autónomos de saneamento

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O critério adoptado pelo CRA na definição da cobrança dos serviços públicos de

saneamento de águas residuais considera a aplicação de uma taxa,2 de valor

percentual fixo, sobre o valor do consumo de água. A regulação do subsector do

saneamento é um processo que se encontra ainda numa fase muito inicial, sendo que

em 2014 a tarifação dos serviços de saneamento de águas residuais encontrava-se

vigente em apenas duas cidades, ainda em fase de transição. O processo de

estabelecimento de tarifas dos serviços de saneamento de águas residuais carece

ainda de clarificação em relação ao papel da AIAS e dos municípios.

O processo de definição das tarifas de saneamento de águas residuais, cobradas

através da aplicação de uma sobretaxa das facturas de água, encontra-se definido no

QR de saneamento. O processo é iniciado através da apresentação de uma proposta

de taxa a aplicar sobre o valor da facturação dos sistemas de abastecimento de água

por parte da AIAS, em adenda ao QR. A proposta apresentada ao CRA resulta da

articulação e harmonização desta entidade com o Ministério da tutela e, em

particular, com as autoridades locais, responsáveis pelo serviço de saneamento de

águas residuais nos municípios. À semelhança do que acontece com as tarifas dos

sistemas secundários, também nos sistemas de saneamento de águas residuais as

taxas são definidas para cada sistema.

As taxas correspondentes à cobrança dos serviços de saneamento de águas residuais

nos municípios são definidas tendo por base duas categorias distintas de

utilizadores, definidas no QR. A tarifa de categoria “A” corresponde à sobretaxa

aplicável a todos os utilizadores residentes em zonas servidas por redes de

colectores, enquanto a tarifa de categoria “B”, de valor mais reduzido, é aplicável aos

utilizadores das zonas não servidas por essas mesmas redes. No âmbito do QR, as

tarifas são ainda subdividas noutros quatro níveis, que procuram promover a

equidade nos diferentes municípios. Estes níveis distintos equivalem a clientes

domésticos cujo consumo de água mensal é superior ou inferior a 10 m3, clientes

industriais ou clientes comerciais, públicos ou municipais.

A proposta final da AIAS é submetida para análise do Departamento de Estudos e

Projectos do CRA. Novamente, e à semelhança do procedimento de definição de

tarifas dos serviços de abastecimento de água para os sistemas secundários, a

proposta de taxa de saneamento de águas residuais apenas é submetida para

apreciação do Plenário do CRA sob condição de validação e emissão de parecer sobre

a proposta por parte do Secretariado Executivo. O resultado da deliberação do

Plenário é finalmente comunicado ao Secretariado Executivo que, em caso de

2 Rigorosamente, estas taxas correspondem a tarifas, dado que o seu valor depende da utilização do serviço.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 124

necessidade de reajuste da proposta, procede à realização dos ajustes necessários e

submete de novo a proposta (reajustada) para apreciação final do Plenário.

Aquando da aprovação final da proposta de taxa de saneamento, o Plenário informa

o Ministério da tutela sobre a decisão tomada e concede o aval para integração das

taxas definidas nos QR dos serviços de saneamento de águas residuais, assinados

pelo Secretário Executivo, Director Executivo da AIAS e Presidente do Conselho

Municipal a que o serviço pertence. Por fim, as tarifas definidas para o ciclo

regulatório são implementadas pelas autoridades locais, através dos serviços

autónomos municipais de saneamento, entrando em vigor sessenta dias após a

assinatura formal do QR. A divulgação das tarifas praticadas aos utilizadores é da

responsabilidade do Poder Local. Sempre que durante o ciclo regulatório é realizada

uma actualização de taxa, é efectuada uma adenda ao QR inicial.

5.2.4 Novos investimentos

Os investimentos do sector das infra-estruturas denotam, tipicamente, custos muito

elevados, de longa duração e irrecuperáveis (sunk costs). O risco associado a tais

investimentos é consequentemente muito elevado, resultante das incertezas quanto

à procura, custos de operação ou evolução tecnológica, o que, por sua vez, funciona

como barreira à entrada de investidores privados no sector da água.

A actividade de regulação deve, portanto, estar também associada ao controlo e

aprovação de investimentos de entidades reguladas (e de investidores privados) em

infra-estruturas novas ou existentes, de forma a garantir a segurança dos

investimentos realizados e o desenvolvimento sustentável do sector da água.

Saliente-se que os recursos financeiros são escassos, pelo que fazer investimentos

num determinado local implica a não realização em outros e como os investimentos

serão sempre pagos e desejavelmente pelos utilizadores, a sua definição deve ser

efectuada com parcimónia, isto é, os investimentos devem ser ‘used’ e ‘useful’.

A prática regulatória do CRA denota ainda algumas insuficiências ao nível da

definição sobre quem possui a responsabilidade de aprovação de investimentos ou

da sua gestão no sector da água de Moçambique, algo que tem vindo a gerar alguns

conflitos. Apesar de a obrigação de emissão de pareceres e recomendações sobre a

planificação de investimentos nos sistemas de abastecimento de água estar prevista

nos AR, na realidade, o CRA não realiza na sua plenitude a desejada verificação

formal da necessidade de investimentos nos sistemas. Aliás, apenas a AdeM submete

no âmbito das suas obrigações estabelecidas no contrato de cessão o seu plano de

investimentos.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 125

Como resultado, as responsabilidades do CRA associadas ao controlo e aprovação de

novos investimentos no âmbito dos AR e QR são ainda limitadas e, por vezes, dúbias

para as entidades reguladas. O CRA deve clarificar os stakeholders sobre se é

efectivamente responsável ou não pela aprovação dos planos de investimentos e de

negócios das entidades reguladas.

5.2.5 Qualidade de serviço

A regulação da qualidade de serviço é um dos focos principais da actividade

regulatória, com o objectivo de supervisionar e melhorar a qualidade do serviço

prestada ao utilizador final. A qualidade de serviço, e, em particular, no caso do

sector da água, não diz apenas respeito à quantidade, qualidade ou pressão da água

fornecida, mas também à relação dos fornecedores com os utilizadores dos serviços

e ao desempenho dos fornecedores para com a sociedade (por exemplo, o número

de ligações) e para com o ambiente (e.g. poluição).

A acção do regulador é fundamental para assegurar o equilíbrio do binómio

preço/qualidade. Se tal não fosse, a procura dos utilizadores, por preços reduzidos,

em paralelo com a abertura do mercado a investidores privados, e, portanto, maior

concorrência no sector da água, poderia levar ao descuramento em relação à

qualidade do serviço prestado. Em sentido contrário, quanto maior for a qualidade

de serviço, mais elevados tendem a ser os preços, podendo, no entanto, ameaçar a

capacidade de pagamento dos utilizadores. Logo, por um lado, é função do regulador

assegurar o equilíbrio necessário ao serviço universal com qualidade adequada em

defesa dos utilizadores, e, por outro lado, deve ser assegurado o equilíbrio

necessário para a gestão e desenvolvimento sustentável dos sistemas, em defesa dos

interesses das entidades gestoras e da promoção do desenvolvimento do sector da

água, no geral.

Como boa prática, neste âmbito, a entidade reguladora deve ser responsável pela

definição dos padrões mínimos de qualidade de serviço a que os utilizadores têm

direito e que as entidades reguladas têm de respeitar no exercício das suas funções,

com risco de perdas financeiras, sanções ou perda de licença. O estabelecimento de

níveis mínimos de desempenho previne a redução da qualidade do serviço prestado

aos utilizadores, na busca das entidades reguladas pela redução dos custos

operacionais, de forma a aumentar os respectivos lucros.

Dois métodos de regulação da qualidade de serviço são geralmente considerados na

regulação do sector da água. O método directo consiste na inclusão de um parâmetro

representativo da qualidade do serviço nas equações das fórmulas de regulação

económica. Neste caso, este parâmetro, ou índice de qualidade, é considerado nas

fórmulas de cálculo dos preços a praticar. Consequentemente, a entidade gestora

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 126

tem liberdade na gestão da qualidade de serviço prestada, desde que garanta os

limites mínimos definidos, tendo em conta a sua interacção com os preços

praticados e o limite de preços definido.

Na abordagem indirecta, reconhecida como uma das formas de regulação mais

eficazes para a promoção e estímulo do aumento da qualidade de serviço (mesmo

sem poder coercivo), a entidade reguladora deve assegurar a publicação formal de

regras e directrizes de níveis de serviço que garantam o seu conhecimento público,

bem como a publicação periódica e sistemática de relatórios sobre o desempenho

das entidades reguladas e eventualmente até da sua publicitação e discussão

pública. A publicação de informações sobre o desempenho das entidades reguladas

também estimula a qualidade de serviço ao permitir a comparação de desempenho

entre entidades gestoras. O regulador deve ainda promover a melhoria da qualidade

de desempenho, através do reconhecimento do bom desempenho das entidades

reguladas, nomeadamente através da utilização de incentivos de desempenho, por

exemplo, por atribuição de prémios. O estabelecimento de indicadores de

desempenho quantificáveis é uma das soluções para o acompanhamento da

evolução da actividade das entidades reguladas e uma forma de incentivo para a

promoção da sua melhoria do desempenho quando os seus resultados são

reflectidos em benefícios tarifários.

As regras definidas para a regulação da qualidade de serviço devem ser de

conhecimento público. Estas devem não só incluir os padrões mínimos de qualidade

de serviço expectáveis, como também a periodicidade de revisão dos mesmos, a

forma de monitorização da qualidade do serviço, e as sanções aplicáveis pela

entidade reguladora em caso de não cumprimento dos acordos estabelecidos, entre

outros aspectos de relevância. A informação pública deve também permitir aos

utilizadores estabelecer os fundamentos para a formulação e apresentação de

reclamações junto da entidade reguladora.

O CRA implementa na regulação da qualidade de serviço a abordagem indirecta

atrás referida. Conforme estabelecido no âmbito dos QR, as entidades reguladas

devem proceder ao reporte periódico de informação ao CRA durante o ciclo

regulatório. A informação recebida pelo CRA é posteriormente submetida a uma

análise cujo propósito é o de estimular a melhoria do desempenho das entidades

gestoras, em termos de qualidade de serviço, através da identificação dos pontos

fortes e fracos de cada sistema regulado. Tal é realizado através do cálculo de um

conjunto de indicadores estabelecidos para o efeito. Contudo, o CRA ainda não

partilha o racional considerado na definição dos indicadores e/ou dos seus valores

de referência, não correspondendo ao que se considera ser as melhores práticas da

regulação.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 127

O processo de regulação da qualidade de serviço inicia-se após a assinatura do QR

específico de cada sistema que, no contexto do AR, estabelece o acordo entre o CRA

e a entidade cedente relativo às matérias objecto de regulação. Nos sistemas

principais, o FIPAG é requerido a apresentar relatórios mensais de actividade das

entidades gestoras, bem como um relatório anual, em Março. Já a AIAS, nos sistemas

secundários, apresenta apenas um relatório sumário da actividade, não havendo

ainda um procedimento organizado e eficiente estabelecido para o reporte de

informação relativa à qualidade de serviço de sistemas secundários sob regime de

regulação indirecta.

Observa-se que à data (Julho de 2016) apenas o sistema secundário da Ilha de

Moçambique tem uma regulação da qualidade de serviço semelhante à dos sistemas

principais, por ser um sistema operado pelo FIPAG. Tal deve-se a um acordo

estabelecido entre a AIAS e o FIPAG, fruto do interesse turístico da ilha, que levou à

necessidade de se encontrar um operador experiente para assumir e assegurar a

gestão adequada daquele sistema.

Os dados referentes aos indicadores de desempenho definidos pelo CRA são

recolhidos e enviados pelos operadores para as entidades cedentes que, numa

primeira instância, num processo de validação dos dados, verificam a necessidade

de ajustes à qualidade dos mesmos. Note-se que, no caso de sistemas, cuja gestão se

encontra ainda sob o encargo do FIPAG ou da AIAS, a própria entidade é responsável

por uma auto-avaliação dos dados recolhidos.

Os serviços prestados e a qualidade da água dos sistemas de abastecimento são

também monitorizados pelos agentes locais do CRA, os quais têm o direito de

receber directamente a informação submetida pelos operadores ao FIPAG, por

motivos de comparação da informação. Por sua vez, a respectiva autoridade local

tem também o direito a ser informado mensalmente pelos ALC ou CORAL sobre o

desempenho dos serviços públicos. Observe-se que, apesar do seu envolvimento na

regulação da qualidade de serviço, as autoridades locais e os ALC/CORAL não se

encontram representadas nos fluxogramas apresentados mais adiante, sendo antes

apresentados mais adiante nos macroprocessos de reporte periódico de informação.

Os departamentos regionais do FIPAG são responsáveis pela recolha, validação e

compilação dos dados enviados pelos operadores dos sistemas sob sua jurisdição,

antes do envio da informação ao CRA-sede, anualmente. É importante observar que

este tem sido um ponto de discordância entre as duas entidades, que tem vindo a

causar alguma entropia no sector da água. Tem-se vindo a verificar que a informação

enviada pelo FIPAG não corresponde, muitas vezes, aos dados reportados pelos

operadores. As alterações e discrepâncias verificadas têm levado a que os

operadores não se revejam nos dados recolhidos. O CRA, como entidade reguladora,

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 128

pretende que os operadores lhe transmitam a informação da operação dos sistemas

directamente, considerando que não existe a necessidade do fluxo de informação

passar em primeiro lugar pelo FIPAG sede.

Após verificação e validação da informação, o Secretariado Executivo do CRA

procede ao cálculo de indicadores de desempenho com vista à classificação e

interpretação dos pontos fortes e fracos de cada sistema regulado, bem como a

análise da sua evolução. Esta apreciação envolve o processamento de dados e a

interpretação dos resultados para cada sistema. Após período de contraditório das

entidades gestoras, os dados recolhidos e análises realizadas, que resultam nos

indicadores de desempenho dos sistemas, são, por fim, consolidados. Os resultados

da avaliação efectuada aos dados submetidos são então aglomerados, publicados e

divulgados anualmente, sob o formato de Boletins de Avaliação da Qualidade de

Serviço (BAQS).

Note-se que também neste ponto, em particular, se tem verificado algum conflito

entre as duas entidades, fruto das discrepâncias entre os dados dos operadores e a

informação transmitida pelo FIPAG. Por vezes, após a primeira análise e o

tratamento de dados por parte do CRA, o FIPAG submete dados não concordantes

com os anteriores durante o período de contraditório, o que obriga a nova análise

da informação, por parte do CRA, tornando o processo pouco eficiente.

O Plenário do CRA é responsável pela aprovação final dos resultados da avaliação do

desempenho das entidades reguladas antes da elaboração final do relatório por

parte do Secretariado Executivo. O documento final do Relatório Anual ao Governo

é enviado pelo Plenário ao Ministro da tutela até ao final do mês de Junho. Por sua

vez, o Ministro da tutela partilha o Relatório com o Conselho de Ministros para

informação do Governo sobre o desempenho anual do sector da água, podendo este,

após apreciação do documento, solicitar quaisquer informações relativas ao

documento ao CRA. Sessenta dias após a submissão do Relatório ao Governo, o

documento é divulgado publicamente pelo Secretariado Executivo aos restantes

stakeholders do sector da água através do website da entidade reguladora.

Desde 2013, por iniciativa do CRA, para além da publicação dos resultados obtidos

através da análise dos dados dos padrões de qualidade de serviço, os resultados da

avaliação do desempenho anual das entidades reguladas resultam na premiação

daquelas com melhor desempenho. Mediante a análise dos resultados anuais de

desempenho dos operadores, o Secretariado Executivo apresenta ao Plenário uma

proposta justificada dos operadores a premiar. A organização da “Cerimónia Anual

de Premiação das Entidades Gestoras do Abastecimento de Água” é da

responsabilidade do Plenário. A cerimónia tem como objectivo incentivar a melhoria

do desempenho das entidades gestoras, tanto na gestão dos sistemas como na

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 129

qualidade do serviço prestada aos utilizadores. O próprio Ministro da tutela é

convidado a participar na cerimónia de entrega de prémios aos operadores.

Todavia, a efectividade do método de benchmarking promovido pelo CRA para

comparação dos operadores, e utilizado como promotor da sua qualidade de

desempenho pode ainda ser melhorado, dado que, na verdade, as entidades

reguladas consideradas no método de avaliação se encontram sob responsabilidade

da mesma entidade (FIPAG).

Os fluxogramas apresentados nas figuras seguintes resumem a actividade do CRA

no eixo de qualidade de serviço da substância regulatória.

Figura 40 – Fluxograma da regulação da qualidade de serviço

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P.027.15.R3 130

Figura 41 – Continuação do fluxograma da regulação da qualidade de serviço

A selecção e definição inicial dos indicadores utilizados no desenho do indicador

composto para a realização da análise integrada do desempenho e evolução do

sector (IDER), é responsabilidade do Secretariado Executivo do CRA. Para uma

selecção consensual dos indicadores a considerar, o CRA promove o envolvimento

das entidades reguladas na definição do indicador composto, nomeadamente o

FIPAG e a AdeM.

Após a selecção dos indicadores de desempenho relevantes, o Secretariado

Executivo normaliza os indicadores através da técnica de normalização “Min-Max”

(baseada na utilização de valores mínimos e máximos) e de acordo com as metas de

desempenho estabelecidas nos QR das entidades reguladas. A contribuição do FIPAG

e da AdeM é também considerada aquando da atribuição de pesos dos indicadores,

mediante ponderação e agregação das importâncias relativas dos indicadores de

desempenho seleccionados, segundo as opiniões de peritos de cada entidade. Por

meio de uma fórmula de agregação aditiva, as contribuições dadas pelo FIPAG e pela

AdeM ao CRA são harmonizadas, através da criação de três grupos de indicadores

compostos.

Os três conjuntos de indicadores base estabelecidos são relativos à sustentabilidade

económica e financeira (ISEF), à sustentabilidade operacional das empresas (ISO), e

à qualidade de serviço (IQS). A integração ponderada destes três grupos de

indicadores, também mediante agregação aditiva, estabelece o Índice de

Desempenho das Entidades Reguladas (IDER). O Plenário do CRA é responsável por

validar e aprovar os indicadores de base desenvolvidos para a análise integrada do

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 131

desempenho dos operadores no final de todo o processo, apresentada na figura

seguinte. Posteriormente, a sua aprovação é comunicada ao FIPAG e à AdeM.

Figura 42 – Continuação do fluxograma da regulação da qualidade de serviço (definição do IDER)

Note-se que, em paralelo à análise dos dados recolhidos pelas entidades gestoras de

cada sistema, o CRA realiza também avaliações periódicas sobre o grau de satisfação

dos utilizadores em relação à qualidade dos serviços prestados pelos operadores,

bianualmente. Esta iniciativa, de cariz não obrigatório, pretende identificar e

atender as necessidades actuais e futuras dos utilizadores em relação aos serviços

públicos prestados.

Esta análise visa a avaliação da satisfação dos utilizadores dos serviços públicos de

água relativamente à qualidade da água fornecida, o número de horas de

abastecimento de água, a pressão da água, o atendimento ao utilizador e a percepção

geral dos utilizadores sobre a qualidade dos serviços fornecidos. Esta abordagem de

avaliação da qualidade dos serviços permite também fazer um paralelismo entre a

percepção subjectiva dos utilizadores e o nível de qualidade dos serviços prestados

pelas entidades reguladas, conforme medido pelos indicadores de desempenho.

5.2.6 Resolução de conflitos

A entidade reguladora deve ter poder de actuar na resolução de conflitos entre

stakeholders através de mecanismos de conciliação, mediação ou arbitragem,

devendo, inclusive, ter poder para tomar decisões vinculativas, sem possibilidade de

recurso a entidades externas.

Note-se, contudo, que a utilização desta alternativa de resolução de conflitos, sem

recurso ao sistema judicial, surge como válida apenas em casos de diferendos

comerciais, nos quais não estejam implícitos interesses de terceiros (e.g. utilizadores

dos serviços). Em conflitos que envolvam directa ou indirectamente políticas

públicas nos quais o Estado está necessariamente envolvido, os mecanismos de

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 132

resolução de conflitos das entidades reguladoras não serão passíveis de ser

utilizados. Tais casos devem ser explicitados de forma clara na lei, no sentido de

prevenir conflitos sobre a jurisdição entre tribunais e a entidade reguladora.

O CRA detém efectivamente responsabilidades não deliberativas na resolução de

conflitos entre as entidades cedentes e as entidades gestoras, mediante um modelo

de resolução alternativa de litígios baseado na arbitragem, suportado pelo Decreto

n.º 11/99, de 8 de Julho. Não foram, no entanto, encontradas referências a este

aspecto da substância regulatória que permitam sustentar ou avaliar a actividade do

CRA neste domínio, apesar de a resolução de conflitos estar prevista no âmbito dos

AR.

Nos AR em particular, está explicito que as partes integrantes do acordo devem

procurar a resolução de qualquer conflito existente resultante de diferentes

interpretações ou (in)cumprimento do estipulado no AR, mediante resolução

amigável ou de acordo com a legislação de arbitragem vigente. Tanto no caso dos

sistemas do FIPAG como da AIAS, quaisquer resultados dos processos de resolução

de conflitos são comunicados ao ministério da tutela, o MOPHRH.

O papel do CRA como mediador na resolução de conflitos está também patente no

Estatuto Orgânico do organismo, o qual explicita que o CRA tem as competências

necessárias para servir de mediador na procura de soluções para a promoção da

conciliação de interesses entre as entidades cedentes e as entidades gestoras,

sempre que solicitado por ambas as partes.

Contudo, ressalva-se que para assegurar a boa prática regulatória, o CRA deveria

explicitar publicamente os procedimentos a adoptar por qualquer uma das partes

na ocorrência de um conflito de interesses e eventualmente regulamentar o seu

procedimento de actuação.

5.2.7 Reclamações

Apesar de, a priori, se pretender que as entidades reguladas resolvam por si mesmas

as possíveis reclamações por parte dos utilizadores, em muitos casos a própria

entidade reguladora é chamada a intervir no tratamento de reclamações. Como um

dos objectivos centrais da regulação, a defesa dos interesses dos utilizadores

pressupõe a existência de procedimentos de reclamação dos utilizadores dos

serviços públicos.

A participação da entidade reguladora na resolução de conflitos entre utilizadores e

entidades reguladas é fundamental para assegurar a defesa dos interesses dos

utilizadores, pois, caso contrário, o recurso a meios judiciais, por parte dos

utilizadores, levaria à sua desistência face aos custos elevados dos procedimentos

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 133

judiciais. A boa prática da regulação recomenda o fácil acesso dos utilizadores a

plataformas de apresentação de reclamações, sendo dever da entidade reguladora

servir de intermediária no processo.

A entidade reguladora deve também manter um registo histórico das reclamações

apresentadas, por tipo de reclamação (e.g. erros de facturação, interrupções de

serviço, etc.) e comparar os seus registos de reclamações com os registos das

entidades reguladas, com publicação periódica dos resultados, contribuindo, assim,

para a promoção da transparência e credibilidade do sistema perante o público.

Mesmo quando as reclamações são improcedentes, este registo é positivo, pois ajuda

a identificar áreas com potencial melhoria de funcionamento.

O CRA, como entidade reguladora, e em conformidade com as boas práticas de

substância regulatória, tem o dever de lidar com as reclamações apresentadas,

servindo de mediador na resolução de conflitos entre operadores e utilizadores.

Consequentemente, a eficiência e eficácia do tratamento de reclamações dos

utilizadores resultam no aumento da confiança destes na entidade reguladora e no

sector da água em geral.

Entre outros, indicadores como o número de reclamações recebidas, o número de

reclamações tratadas ou o tempo médio de resposta a reclamações podem servir de

base para a avaliação da qualidade do serviço prestado neste âmbito, por parte da

entidade reguladora. A celeridade do processo de resolução de reclamações dos

utilizadores é fundamental para o bom funcionamento do sector da água, dado que

contribui para o aumento da confiança dos utilizadores nos serviços públicos

prestados pelos operadores e na actuação da entidade reguladora.

O procedimento regulatório adoptado pelo CRA dita que, em caso de insatisfação

com o serviço prestado pelos operadores dos serviços públicos de água regulados,

os utilizadores devem em primeira instância apresentar a sua reclamação

directamente aos prestadores de serviço. As entidades reguladas são assim

requeridas a disponibilizar contactos para esse propósito. Após submissão de

reclamação, os operadores devem notificar o utilizador num prazo máximo de 48

horas se irão proceder às diligências necessárias para a resolução do conflito.

Na situação de o operador dar seguimento ao requerimento do utilizador dentro

desse prazo, este tem então um prazo máximo de 14 dias para a apresentação de

resposta à reclamação ao reclamante. Caso o operador não satisfaça a solicitação do

utilizador no prazo definido, aquele tem então o direito de recorrer à entidade

reguladora para prosseguir com a apresentação da reclamação.

A apresentação de recurso ao CRA, por parte dos utilizadores, requer um

comprovativo de apresentação prévia de reclamação, bem como uma prova de não

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 134

obtenção de resposta satisfatória do operador. Na prática, o procedimento de

apresentação de reclamação ao CRA, por parte dos utilizadores, varia consoante se

trate dos sistemas principais e secundários ou da AdeM, em Maputo. Tal deve-se à

maior proximidade dos delegados locais do CRA (ALC ou CORAL) aos sistemas

principais ou secundários, que não o de Maputo, onde se localiza a sede do CRA.

O CRA disponibiliza aos utilizadores quatro formas alternativas para apresentação

de apelo. Assim, um utilizador insatisfeito pode recorrer ao apoio do ALC ou da

CORAL para auxílio na redacção da reclamação e sua consequente formalização,

pode endereçar uma carta directamente ao CRA sede, apresentar recurso via correio

electrónico, ou preencher um formulário de reclamações disponibilizado em local

próprio no website da entidade reguladora.

No caso dos serviços públicos de abastecimento de água dos sistemas principais e

secundários, prevê-se que em primeiro lugar os utilizadores apresentem recurso ao

CRA, por intermédio dos representantes locais. Os ALC são responsáveis pela

mediação da resolução da reclamação junto do operador, mantendo o reclamante

informado sobre os procedimentos adoptados. Em caso de necessidade, os ALC ou

as CORAL têm a possibilidade de recorrer à respectiva UTR para emissão de parecer

e esclarecimento de dúvidas no processo de mediação da resolução do conflito. No

entanto, tal procedimento é opcional, sendo que os ALC/CORAL podem resolver a

situação de conflito sem recorrer ao parecer da UTR. Nessa situação, os ALC/CORAL

deverão apenas dar conhecimento à UTR sobre a sua decisão na resolução do

processo.

Caso se entenda de imediato que o cliente tem razão, o processo dá-se por finalizado

após submissão de instruções ao operador, para que este possa tomar as medidas

necessárias para solucionar o problema. Tanto os ALC como as CORAL deverão

notificar a respectiva UTR sobre a sua deliberação. Por outro lado, se se verificarem

existir motivos para a existência de um conflito entre as partes, o qual necessite

consenso, os ALC ou CORAL prosseguem com o processo de mediação da situação

junto dos operadores.

Já no caso dos clientes da AdeM, a reclamação é apresentada directamente ao CRA

na situação de resposta insatisfatória por parte da AdeM ou mesmo por ausência de

resposta dentro do prazo previsto. O procedimento é semelhante ao tomado pelos

ALC ou CORAL, na circunstância dos sistemas principais e secundários, i.e. caso o

CRA considere que o cliente tem total razão na apresentação da reclamação, o CRA

instrui a AdeM para que a entidade proceda à adopção das medidas necessárias para

a solução do conflito. Caso se verifique que é necessário proceder para a mediação

do processo, ambas as partes são notificadas.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 135

Um exemplo de uma situação em que o CRA dá por concluído o processo de

tratamento de reclamações sem proceder à sua mediação é quando, por ausência de

leituras por parte do operador, o utilizador é confrontado com um valor de factura

elevado, por não consideração de escalonamento do consumo total. Nesta situação,

torna-se evidente para o CRA que o conflito existente é exclusivamente da

responsabilidade do operador e, portanto, o utilizador tem o direito de pagar o

volume de água consumido, de acordo com a tabela tarifária vigente. Em

conformidade, o CRA instrui o operador a proceder ao escalonamento do volume

mensal consumido, como deveria ter ocorrido em primeira mão.

A partir do momento em que o regulador considere necessário proceder a mediação,

o prestador de serviços em questão é requerido a submeter uma posição formal e

apresentar uma solução razoável num prazo máximo de 5 dias. Caso o operador

reporte, dentro do prazo previsto, os resultados da mediação do agente local junto

do operador são transmitidos ao utilizador num prazo máximo de uma semana (5-7

dias). Se na deliberação do regulador a resposta do operador for considerada como

satisfatória, o processo dá-se por encerrado, sendo o seu resultado registado pelo

operador e pelo agente local do CRA. Este último tem o dever de transmitir os

resultados do processo no seu reporte periódico à sede do CRA.

No caso dos sistemas principais e secundários, se o utilizador não ficar satisfeito com

a solução encontrada, tem a possibilidade de proceder à submissão do assunto ao

Secretariado Executivo do CRA, para que este actue em conformidade com o seu

pedido. O Secretariado Executivo do CRA poderá ser também solicitado a participar

no processo, se o ALC ou a CORAL considerar que o operador não tomou as medidas

necessárias para discutir e responder à solicitação dentro do prazo definido.

Se após deliberação sobre a posição formal submetida pelo operador a entidade

reguladora não tiver ainda chegado a uma solução satisfatória aos olhos do

utilizador, o CRA deverá marcar com o utilizador uma visita ao local num prazo de

48 horas, notificando o operador sobre a visita com uma antecedência de 5 dias. Por

último, após recolha da informação necessária para a deliberação no decorrer da

visita ao operador, o CRA tem ao seu dispor um prazo de 5 dias para análise das

circunstâncias da apresentação de reclamação e tomar uma posição em relação à

resolução do conflito entre o utilizador e o operador.

O resultado da deliberação final da mediação do conflito é, por fim, indicado tanto

ao utilizador como ao operador. O resultado final é registado pelo CRA e a

informação recolhida serve para avaliação futura do desempenho da entidade

regulada relativamente ao atendimento ao utilizador. Na incapacidade de obtenção

de um consenso na resolução do conflito entre operador e utilizador, o utilizador

tem o direito de, em última instância, proceder ao reencaminhamento da reclamação

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 136

para instâncias judiciais, e procurar a resolução do diferendo em julgamento nos

tribunais.

Em prol da boa prática regulatória, o CRA deveria manter e tornar público o registo

histórico dos tratamentos de reclamações, tanto do resultado dos processos de

mediação como da motivação dos utilizadores para a apresentação de reclamações.

Tal prática contribuiria para a prevenção e mitigação das principais causas,

contribuindo também para a transparência e credibilidade da actividade regulatória

perante os stakeholders.

Observa-se também que, apesar de as entidades reguladas terem prazos específicos

para a realização de determinadas actividades associadas à resolução de

reclamações, o mesmo não acontece para o CRA. Como tal, o CRA deve

complementar a divulgação dos procedimentos relativos ao tratamento de

reclamações do seu website com a divulgação dos prazos previstos para a sua

actuação em cada uma das fases do tratamento de reclamações, contribuindo assim

para uma maior celeridade nos processos de tratamento de reclamações, factor

fundamental para o bom funcionamento do sector da água.

As figuras seguintes apresentam esquematicamente os procedimentos regulatórios

da resolução de reclamações dos utilizadores, tanto para os utilizadores dos serviços

públicos dos sistemas principais e secundários como dos da AdeM. Note-se que,

conforme referido, os prazos apresentados para actuação por parte do CRA não se

encontram ainda implementados, apesar de serem sustentados pelo estudo sobre o

quadro de regulação para os sistemas secundários urbanos, elaborado pela parceria

Nathan Associates & AustralCOWI para o CRA, em 2011.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 137

Figura 43 – Fluxograma do tratamento de reclamações dos utilizadores dos sistemas principais, por intermédio dos ALC

Figura 44 – Continuação do fluxograma do tratamento de reclamações dos utilizadores dos sistemas principais, por intermédio dos ALC

Figura 45 – Fluxograma do tratamento de reclamações dos utilizadores dos sistemas secundários, por intermédio dos CORAL

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 138

Figura 46 – Continuação do fluxograma do tratamento de reclamações dos utilizadores dos sistemas secundários, por intermédio dos CORAL

5.2.8 Social

A boa prática de regulação deve ter em conta as necessidades das populações mais

carenciadas. Tal pode ser efectuado, por exemplo, através da promoção do acesso

universal e equitativo, e da definição de preços de serviços suportáveis por todos os

utilizadores (até determinado nível). Essencialmente, é indispensável para a boa

prática regulatória ter em conta a capacidade e disponibilidade de todos os

utilizadores para pagar pelos serviços prestados, incluindo a população mais

carenciada ou com necessidades especiais.

Como tal, e apesar de as questões relativas aos subsídios ou subsidiação cruzada

serem de responsabilidade do Governo, a entidade reguladora deve desempenhar

um papel activo na protecção da população mais desfavorecida. A sua actuação,

neste sentido, pode ser realizada, por exemplo, através da definição de tarifas

progressivas e diferenciadas entre escalões e tipos de utilizadores, que assegurem a

eficiência do sistema de subsidiação em vigor e que promovam o acesso universal

dos serviços de abastecimento de água e de saneamento de águas residuais.

Desta forma, o CRA trabalha também em parceria com algumas ONG no sentido de

definir modelos de regulação que protejam os interesses das populações de menor

rendimento, compreendendo mecanismos de subsidiação adequados às realidades

do país. O escalonamento tarifário vigente no sector da água considera tarifas

especiais para os utilizadores de menor rendimento. No entanto, o escalonamento

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 139

dos utilizadores pode ainda ser optimizado e o sistema de subsidiação-cruzada

necessita de ser revisto. Tal deve-se às alterações que se têm vindo a verificar nos

padrões de consumo nos sistemas regulados e na estrutura social da população nos

últimos anos.

5.2.9 Disseminação de informação

A disseminação de informação pública na plataforma digital da entidade reguladora

deve ser realizada periodicamente e de forma sistematizada, de acordo com os

princípios de prestação de contas e transparência da entidade reguladora.

Consequentemente, a entidade estará a assegurar a promoção da defesa dos

interesses dos utilizadores dos serviços públicos. A partilha de informação relevante

sobre o desempenho do sector regulado é também fundamental para o aumento da

credibilidade e de competição por comparação no mesmo, e contribui positivamente

para o aumento da confiança dos utilizadores bem como para a melhoria da

qualidade dos serviços públicos prestados.

O aumento da participação pública nos processos de tomada-de-decisão é também

positivamente influenciado pela disseminação de informação, sendo dever de uma

entidade reguladora informar atempadamente os stakeholders sobre os temas e

decisões em discussão. Neste âmbito, a divulgação pública dos procedimentos e

calendarização dos processos de tomada-de-decisão deve também ser assegurada.

A informação disponibilizada serve como base para a apresentação de contraditório

em relação a decisões regulatórias e, simultaneamente, legitima o processo

regulatório e reduz a exposição do utilizador a possíveis assimetrias de informação

relativas ao desempenho e resultados dos operadores. Desta forma, conclui-se que

todos os documentos relevantes para o funcionamento do sistema regulatório,

elaborados pela entidade reguladora, e desde que não protegidos por regimes de

confidencialidade (conforme definido por lei), devem ser disponibilizados para

consulta pública.

Este eixo da substância regulatória do CRA pode ainda melhorar, designadamente

no que concerne o último ponto referido, relativo à disseminação de informação

referente aos processos de tomada-de-decisão. A comunicação ao utilizador

aumenta a transparência e credibilidade da entidade reguladora e do próprio sector

da água, contribuindo para um ambiente de confiança nos serviços de abastecimento

de água e de saneamento de águas residuais e sentido de responsabilização das

entidades reguladas. Também a previsibilidade do processo regulatório é

positivamente influenciada pela disponibilização de informação ao público,

garantindo maior estabilidade e segurança aos investimentos realizados no sector

da água.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 140

A melhoria do desempenho do CRA, neste domínio, da substância regulatória, está

também dependente da melhoria de aspectos relativos à governança regulatória,

incluindo à promoção da participação pública na discussão e tomada-de-decisão.

Apenas quando a governança regulatória da entidade contemplar a participação

pública efectiva nos procedimentos regulatórios, é que a disseminação de

informação poderá também incluir a divulgação dos procedimentos e

calendarização dos períodos de consulta e audiência públicas e apresentação de

contraditório dos stakeholders, em participar, no processo regulatório, relativo à

definição de tarifas dos serviços de abastecimento de água e de saneamento de águas

residuais.

A figura seguinte apresenta esquematicamente a informação que o CRA já

disponibiliza publicamente no seu website, bem como informação que se sugere que

venha a ser disponibilizada no futuro, fruto da revisão das boas práticas regulatórias

de outras entidades reguladoras do sector, e em prol do progresso e

desenvolvimento do sector da água e melhoria da substância regulatória e

transparência (governança regulatória) do CRA.

Figura 47 – Matérias objecto de informação ao utilizador da boa prática regulatória

• Legislação em vigor• Regulação económica (características e princípios das tarifas)

• Simulação de cálculo do valor referente ao consumo de água

• Direitos e deveres dos utilizadores

• Procedimentos de apresentação e tratamento de reclamações

• Educação sobre o uso racional da água

• Educação ambiental

MATÉRIAS

OBJECTO DE

INFORMAÇÃO

AOS

UTILIZADORES

• Justificação das tomadas-de-decisão/deliberações do CRA

• Actas de reuniões

• Regulamentos do sector e calendarização de disseminação de informação

• Mecanismos de consulta pública de procedimentos regulatórios

• Códigos de conduta

• Procedimentos de monitorização e vistoria às entidades reguladas

• QR (valores de referência dos indicadores)

• Relatórios de Contas

• Informação de gerência/informação contabilística

• (...)

MATÉRIAS

PASSÍVEIS DE SER

OBJECTO DE

INFORMAÇÃO

AOS

UTILIZADORES

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P.027.15.R3 141

Manual de Governança e Substância Regulatórias

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6 IMPACTO REGULATÓRIO

6.1 NOTA INTRODUTÓRIA

O impacto regulatório corresponde aos resultados obtidos pela conjugação da

governança e substância regulatórias da entidade reguladora. O impacto regulatório

deve reflectir o equilíbrio dos interesses dos stakeholders, tanto das entidades

reguladas como dos utilizadores dos serviços públicos, incidindo em particular

sobre o nível de cobertura dos serviços, a eficiência operacional, as tarifas

praticadas, a coesão económica e social, a eficiência de recuperação de custos, o

cumprimento de contratos ou o desenvolvimento do sector. Em suma, o impacto

regulatório está directamente associado à sustentabilidade financeira das entidades

reguladas e à sustentabilidade social dos serviços e também à qualidade de serviço

prestada.

Seguidamente são apresentados um conjunto de métricas e indicadores de

desempenho que procuram reflectir o impacto regulatório da actividade do CRA no

sector da água de Moçambique nas suas várias dimensões, tanto financeira, como

social e técnica e de qualidade de serviço.

Note-se, no entanto, que embora a actividade regulatória também actue junto dos

sistemas da AIAS, e se acredite que o impacto regulatório seja relevante neste

segmento (sobretudo nas cidades secundárias), por falta de informação disponível,

não foi possível analisar o desempenho dos sistemas da AIAS da mesma forma e, por

conseguinte, o impacto regulatório neste segmento, de acordo com as métrica e

indicadores de desempenho desenvolvidos pelo CRA. Por essa razão, os resultados

relativos ao impacto regulatório são analisados, principalmente para os sistemas

sob titularidade do FIPAG.

6.2 SUSTENTABILIDADE FINANCEIRA

6.2.1 Estrutura tarifária

Os princípios associados à definição da estrutura tarifária dos serviços públicos de

água regulados pelo CRA procura não só maximizar o bem-estar social, mas também

garantir a sustentabilidade financeira das entidades reguladas, enviando a

mensagem correcta para o mercado (utilizadores). As componentes fixas e variáveis

bem como as diferentes categorias de utilizadores devem reflectir e ter em

consideração a elasticidade do consumo e os níveis de serviço disponibilizados e

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 143

também os padrões de consumo e taxas de utilização serviços por parte dos

utilizadores.

A estrutura tarifária actualmente em vigor em Moçambique, apesar de procurar

assegurar a sustentabilidade económico-financeira dos sistemas, não permite a

optimização das receitas obtidas e, por conseguinte, não maximiza o progresso e o

desenvolvimento dos serviços prestados por falta de capacidade das entidades

reguladas, em termos financeiros, para assegurar os gastos de exploração e o nível

de investimentos necessários. A não optimização das receitas, através de uma

estrutura tarifária mais adequada, tem também um impacto negativo na

atractividade do sector da água para o investimento privado, reduzindo assim a

capacidade de investimento disponível.

6.2.2 Nível tarifário

A evolução dos valores médios tarifários, resultante dos ajustamentos realizados às

tarifas cobradas aos utilizadores e aprovados pelo CRA, tem contribuído

positivamente para o incremento das receitas das entidades reguladas, o que se tem,

igualmente, reflectido na melhoria do indicador de recuperação de gastos, no

sentido de promover a sustentabilidade financeira das entidades gestoras.

Analisando a evolução da tarifa média dos sistemas regulados e para os quais

existem registos históricos dos serviços de abastecimento de água, nomeadamente

em relação aos volumes e valores facturados, verifica-se que a prática regulatória do

CRA tem permitido uma evolução gradual crescente das tarifas. Esta evolução dos

valores da tarifa média nos sistemas torna-se particularmente evidente, observando

a variação percentual que ocorreu entre 2009 e 2014, conforme apresentado no

quadro seguinte, a preços correntes.

O aumento da tarifa média não permite por si só aumentar o rácio de cobertura dos

custos operacionais. Por isso, o CRA analisa também os Relatórios de Contas das

entidades reguladas, e daí ser fundamental estes registarem os pesos das diferentes

componentes da exploração do sistema nos custos totais de operação do serviço de

abastecimento de água. Os custos operacionais dos sistemas, entre outros,

dependem dos custos de produção de água potável, dos custos da energia eléctrica

e dos produtos químicos utilizados no tratamento da água e da mão-de-obra

utilizada na gestão dos sistemas.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 144

Quadro 12 – Tarifa média dos sistemas regulados pelo CRA (sistemas principais)

REGIÃO SISTEMA TARIFA MÉDIA (MZN/m3) VARIAÇÃO (%)

2009 2014 2009- 2014

Sul

Maputo 16,11 29,73 +84,5%

Xai-Xai 14,06 21,57 +53,4%

Chókwè 14,31 22,94 +60,3%

Inhambane 14,68 23,90 +62,9%

Maxixe 12,94 25,84 +99,7%

Centro

Beira e Dondo 16,90 28,41 +68,1%

Manica 17,09* 21,95 +28,5%

Tete e Moatize 16,35* 21,67 +32,5%

Quelimane 12,84 25,43 +98,1%

Norte

Nampula 15,09 25,40 +68,3%

Nacala 20,51* 22,55 +9,9%

Angoche 17,91* 19,30 +7,8%

Pemba 15,33 26,26 +71,3%

Lichinga 17,45* 22,77 +30,5%

Cuamba 16,51* 20,94 +26,9%

*2010 (primeiros dados disponíveis)

O aumento da tarifa média dos sistemas ao longo do tempo é apresentado, por

região, na figura seguinte.

Figura 48 – Evolução das tarifas médias dos sistemas regulados pelo CRA

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 145

As tarifas aprovadas pelo CRA têm por objectivo assegurar (ou, pelo menos, tender

para) a sustentabilidade financeira das entidades reguladas, dado que o seu

estabelecimento tem por base a cobertura integral de custos operacionais, em

simultâneo com a procura do serviço universal do abastecimento de água. Contudo,

e como é possível verificar no conjunto de gráficos apresentados na figura seguinte,

o rácio de cobertura de custos ao longo dos anos é bastante variável. Todavia, a

partir de 2012, na generalidade dos sistemas verificou-se um aumento do

desempenho das entidades reguladas ao nível da recuperação de custos, por via do

sistema tarifário, que poderá ter resultado do incentivo do CRA, implementado nos

QR nos sistemas do FIPAG a partir de 2012 e do acompanhamento local da operação

dos sistemas por agentes de regulação locais.

Figura 49 – Variação do rácio de cobertura dos custos operacionais dos sistemas regulados

6.2.3 Investimentos / Cobertura dos serviços

Conforme observado, os sistemas da Região Sul são aqueles que, em média,

registaram uma maior variação da tarifa média do serviço. Estes sistemas

correspondem também aos que apresentam uma maior taxa de cobertura do serviço

de abastecimento de água, considerando a cobertura de serviço assegurada através

de ligações domésticas por rede e também por fontanários.

Tal poderá ser explicado pelo facto de a obtenção de maiores receitas possibilitar a

realização de novos investimentos e, simultaneamente, o aumento da cobertura dos

serviços, permitindo mais receitas e maior capacidade de realização de novos

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 146

investimentos, gerando assim um ciclo positivo. A realização de novos

investimentos potencia também o incremento do número de habitantes com acesso

aos serviços públicos de abastecimento de água, com efeitos positivos que se

reflectem no aumento da coesão e sustentabilidade social, conforme observado mais

adiante.

6.3 SUSTENTABILIDADE SOCIAL

6.3.1 Estrutura tarifária

A actividade regulatória do CRA pretende garantir o desenvolvimento sustentável

do sector da água, com vista à obtenção de um serviço universal, a um preço módico,

equitativo e inclusivo. Como tal, o impacto regulatório do CRA, ao nível da estrutura

tarifária vigente em Moçambique, contempla um mecanismo de subsidiação cruzada

para a protecção dos utilizadores mais carenciados, conforme referido no capítulo

anterior. Os princípios de base na definição da estrutura tarifária estão estabelecidos

na Política Tarifária de Água e a evolução dos padrões de consumo dos utilizadores

dos diferentes sistemas estabelecem a base para a definição dos blocos de consumo

considerados na estrutura tarifária vigente.

A estrutura tarifária definida pelo CRA sofreu alterações em 2009, quando se

adoptou a eliminação gradual dos escalões de consumo domésticos mais elevados,

face ao aumento do peso dos escalões de menor consumo, ao nível do perfil de

consumo. Nessa mesma revisão da estrutura tarifária, também o consumo mínimo

mensal foi ajustado de 10 m3 para 5 m3, fruto da elevada representatividade da

população de baixo rendimento, que tinha um peso superior a 50% no volume

consumido, procurando desta forma, com tarifas mais baixas, alcançar o maior

número de utilizadores possíveis. Foi possível também com esta alteração aumentar

a arrecadação sem onerar os encargos médios para os utilizadores dos serviços de

abastecimento de água.

À luz da alteração dos padrões de consumo de água, derivada da evolução

demográfica registada no passado recente em zonas peri-urbanas, as classes e

escalões de utilizadores actualmente considerados na estrutura tarifária, binomial

(tarifa fixa e variável), identificados no quadro seguinte, deverão ser novamente

revistos e melhorados para assegurar a efectividade da subsidiação cruzada dos

escalões sociais.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 147

Quadro 13 – Estrutura tarifária dos sistemas regulados

CATEGORIA DE

UTILIZADOR CARACTERÍSTICAS DA ESTRUTURA TARIFÁRIA

Consumo doméstico

Escalonado em blocos de consumo (<5 m3, 5-10 m3, >10 m3)

- Tarifa fixa comum aos três blocos

- Tarifa variável, crescente com o consumo mensal

Baixo-rendimento Tarifa subsidiada (social) sobre os consumos em fontanários públicos

Comércio/Público

Consumo mínimo de 25 m3 por mês

- Tarifa fixa

- Tarifa variável uniforme

Industrial

Consumo mínimo de 50 m3 por mês

- Tarifa fixa

- Tarifa variável uniforme

Apesar de o escalonamento tarifário vigente considerar tarifas especiais para os

utilizadores de menor rendimento, observa-se que mesmo as populações de menor

rendimento não têm direito a consumo de sobrevivências nem a ligações gratuitas.

A adopção de um sistema de subsidiação cruzada que assegure uma redistribuição

de recursos, de tal modo que seja possível a protecção das populações abaixo do

limiar da pobreza, poderá resultar numa estrutura tarifária que preveja consumos

quase gratuitos para estas populações, assegurando assim o aumento da

acessibilidade dos serviços públicos da água em Moçambique a toda a população. A

disponibilização de serviços públicos da água suportáveis por todos os utilizadores

terá um importante impacto no desenvolvimento socioeconómico do país.

Também os custos de novas ligações dos sistemas regulados têm preços máximos

definidos pelo CRA (4900 MZN/ligação nos sistemas da AIAS e 2000 MZN/ligação

nos sistemas do FIPAG), que os utilizadores podem pagar a prestações, e cujo

objectivo é o de estimular a adesão dos utilizadores aos sistemas, principalmente em

zonas peri-urbanas.

6.3.2 Cobertura

A evolução da cobertura nos vários sistemas é algo inconstante e deriva

essencialmente da variação demográfica e de capacidade de resposta (capacidade

de investimento) às necessidades da população, por parte da entidade responsável

pelo sistema. A variação da cobertura dos sistemas regulados é apresentada no

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 148

quadro seguinte (a região Sul que contém sistemas com taxa de cobertura estimada

em 100%).

Quadro 14 – Cobertura dos serviços de abastecimento de água principais

REGIÃO SISTEMA COBERTURA TOTAL (%) VARIAÇÃO (%)

2009 2014 2009- 2014

Sul

Maputo 36% 66% +83,3%

Xai-Xai 75% 100% +33,3%

Chókwè 81% 100% +23,5%

Inhambane 100% 100% +0,0%

Maxixe 65% 87% +33,8%

Centro

Beira e Dondo 68% 90% +32,4%

Manica 21%* 66% +214,3%

Tete e Moatize 54%* 93% +72,2%

Quelimane 71% 71% 0,0%

Norte

Nampula 57% 50% +0,0%

Nacala 41%* 32% +9,9%

Angoche 33%* 38% +7,8%

Pemba 75% 84% +34,3%

Lichinga 23%* 29% +30,5%

Cuamba 16%* 18% +26,9%

*2010 (primeiros dados disponíveis)

A título de exemplo, refira-se o sistema de Quelimane, o qual apresentava uma taxa

de cobertura do serviço de abastecimento de água de 71% em 2009, tendo uma

evolução positiva do indicador até 2011, ano em que atingiu uma cobertura

estimada em 81%. Contudo, atendendo ao aumento da população na área de

intervenção do sistema, que não foi acompanhado pelo aumento correspondente do

número de ligações por rede (houve inclusive um decréscimo do número de ligações

nos últimos dois anos), a taxa de cobertura registada, em 2014, foi equivalente à que

se registava cinco anos antes.

A situação descrita é ilustrada na figura seguinte e realça a necessidade do

planeamento adequado dos investimentos e, por isso, da realização do plano

estratégico para o sector da água de Moçambique, onde os investimentos

necessários são previstos e efectuada a sua priorização, procurando para dar

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 149

resposta, entre outros objectivos, às necessidades de acesso e às mudanças

demográficas do país (os dados relativos ao número de ligações em 2014 não se

encontram disponíveis).

Figura 50 – População e ligações de abastecimento disponíveis no sistema de Quelimane

6.3.3 Cobertura em zonas peri-urbanas e rurais

O desenvolvimento do sector da água de Moçambique nas zonas peri-urbanas e

rurais é um dos objectivos sectoriais do país, indo também ao encontro dos ODM.

Contudo, este é ainda um dos principais desafios, e um assunto que carece de maior

discussão entre os stakeholders.

O CRA deverá ter um papel relevante no seu desenvolvimento, mas a contenção da

actividade regulatória do CRA derivada da perda de autonomia financeira não

contribui para o que é pretendido pelo MOPHRH. As ONG actuantes no território têm

encetado esforços relevantes para o desenvolvimento dos serviços nestas regiões,

com a realização de estudos e de investimentos para o desenvolvimento dos mesmos

e participação comunitária na gestão dos sistemas. À partida, este será um dos

desafios a ter em conta na implementação da actividade regulatória em zonas peri-

urbanas e rurais. Será necessário encontrar meios adequados para conjugar a gestão

comunitária com a gestão profissional e, simultaneamente, garantir a definição do

papel das autoridades locais nestes sistemas.

Em suma, para assegurar a coexistência dos serviços público e privado, e o

cumprimento de níveis mínimos de qualidade e técnicos nos sistemas localizados

em zonas peri-urbanas e rurais, é necessário ainda assegurar o equilíbrio financeiro

da entidade reguladora e, em simultâneo, iniciar a discussão sobre o alargamento da

regulação a estes sistemas com o envolvimento dos stakeholders relevantes,

incluindo as comunidades locais.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 150

6.3.4 Regulação dos serviços de saneamento de águas residuais

Apesar de contemplado no Decreto n.º 23/2011, de 8 de Junho, no âmbito do

alargamento das funções e responsabilidades do CRA, a regulação dos serviços de

saneamento de águas residuais em Moçambique encontra-se ainda numa fase muito

embrionária, carecendo ainda do planeamento adequado de um quadro

institucional do subsector do saneamento, não havendo ainda previsões para a

existência de regulação efectiva destes sistemas a curto-prazo (cinco anos).

O progresso e desenvolvimento do subsector do saneamento de águas residuais

carecem também de investimentos elevados para que possa responder

adequadamente às necessidades da população. A necessidade de avultados níveis de

investimento para o desenvolvimento destes sistemas irá, previsivelmente, levantar

problemas na definição de tarifas e da sua estrutura, pelo que o envolvimento de

todos os stakeholders relevantes será fundamental para a resolução desta

problemática.

A AIAS, como entidade responsável pelos sistemas secundários e de saneamento de

águas residuais, terá um papel preponderante neste domínio. Actualmente a

actuação da entidade é feita de forma reduzida no subsector do saneamento de

águas residuais, mas a sua actividade deverá ir além da instalação de sanitários

públicos, criando condições para a fiscalização e garantia do cumprimento de

critérios de higiene e de saneamento nestes sistemas.

Apesar de embrionário, existe já um modelo de QR definido para os serviços de

saneamento de águas residuais. No entanto, um novo modelo deverá ser estudado

no futuro próximo fruto da complexidade da regulação dos municípios e da

existência de conflitos de interesse derivados da autonomia que os municípios

detêm na prestação destes serviços. Apesar de já existirem alguns serviços

autónomos de saneamento, estes não estão ainda definidos em concreto na

legislação, o que ilustra a necessidade do enquadramento institucional adequado do

subsector do saneamento de águas residuais.

6.4 SUSTENTABILIDADE TÉCNICA E QUALIDADE DE SERVIÇO

6.4.1 Qualidade de serviço

Apesar de ter apenas entrado em vigor como prática regulatória do CRA a partir de

2013, a consideração do IDER e a estimativa do desempenho neste indicador

composto dos sistemas regulados em anos anteriores é possível a partir dos dados

recolhidos no âmbito da regulação da qualidade de serviço praticada pelo CRA. Um

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 151

dos indicadores base que compõem o IDER é de particular relevância para a análise

do impacto regulatório do CRA na qualidade de serviço, o IQS.

A estimativa do IQS agrega dados também considerados nos BAQS, relativos à

qualidade do serviço ao utilizador. Assim, no que concerne ao serviço ao utilizador,

o IQS agrega a cobertura total do serviço na região do sistema, o tempo médio de

distribuição diária e a percentagem de facturação baseada em leituras reais.

Também os indicadores de qualidade de serviço relativos ao atendimento dos

utilizadores também são considerados, em termos de número de reclamações por

ligação, tempo médio de resposta das entidades reguladas aos utilizadores e a

percentagem total de reclamações respondidas. A qualidade da água, outro factor

relevante no que respeita à qualidade do serviço prestado pelas entidades reguladas,

é também considerada através da percentagem de parâmetros controlados e da

percentagem de parâmetros em conformidade com o estipulado nos respectivos QR.

Note-se que o indicador composto tem em consideração os diferentes pesos

atribuídos pelo CRA, pelo FIPAG e pela AdeM, aos diferentes indicadores que o

compõem. Dos indicadores de desempenho referidos e considerados no IQS, o

indicador de maior peso é relativo à conformidade dos parâmetros controlados na

qualidade da água, que tem um peso superior a 1/5 (22,8%) no cálculo do IDER. O

peso relativo dos indicadores considerados no IQS é apresentado na figura seguinte.

Figura 51 – Distribuição de pesos dos indicadores que compõem o IQS

Observa-se que os sistemas regulados da Região Sul são aqueles que apresentam, na

sua generalidade, melhor qualidade de serviço. Refira-se também que o sistema da

região de Maputo tem apresentado melhorias significativas no que toca à qualidade

do serviço desde 2011. Os sistemas localizados na Região Centro apresentaram uma

9,94%

10,50%

8,62%

2,44%

3,58%

5,07%

15,73%

44,12%

IQS

Cobertura

Tempo distribuição

Leituras reais

Reclamações

Tempo de resposta

Reclamações respondidas

Parâmetros controlados

Conformidade parâmetros

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 152

quebra significativa em 2013 do nível da qualidade do serviço prestado, tendo, no

entanto, apresentado bons resultados em 2012, logo após a entrada em vigor dos

QR. Nos sistemas regulados da Região Norte observa-se uma quebra geral no nível

da qualidade de serviço a partir de 2012, excepto no sistema de Angoche, que

contraria a tendência observada nestes sistemas. As tendências de evolução dos

sistemas neste indicador base do IDER encontram-se apresentadas no conjunto de

gráficos da figura seguinte.

Figura 52 – Evolução da qualidade de serviço dos sistemas regulados (IQS)

Fruto do elevado peso dos indicadores relativos à qualidade da água dos sistemas,

que no total têm um peso de cerca de 3/5 no IQS, verifica-se que a maioria dos

sistemas, que apresentam um desempenho reduzido na qualidade da água, tem

associados fracos desempenhos, no que concerne à percentagem de parâmetros de

qualidade controlados e, em particular, na conformidade dos parâmetros

controlados com o estipulado no âmbito nos QR. A tabela seguinte apresenta a

percentagem de parâmetros controlados, de acordo com os níveis de qualidade da

água exigidos, dos sistemas regulados.

Quadro 15 – Desempenho dos sistemas nos indicadores da qualidade da água

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 153

REGIÃO SISTEMA

Parâmetros controlados (%)

Conformidade dos parâmetros controlados (%)

2009 2010 2011 2012 2013 2014

Região Sul

Maputo 100% 78% 76% 90% 100% 100%

88% 92% 90% 92% 97% 100%

Xai-Xai 100% 100% 100% 100% 100% 100%

100% 100% 100% 100% 100% 100%

Chókwè 100% 100% 100% 100% 92% 100%

100% 100% 100% 100% 91% 100%

Inhambane 100% 100% 100% 100% 100% 100%

100% 100% 100% 100% 100% 99%

Maxixe 100% 100% 100% 100% 100% 100%

100% 100% 100% 98% 100% 100%

Região Centro

Beira e Dondo 52% 52% 58% 71% 72% 80%

100% 99% 69% 93% 62% 67%

Manica - - 18% 100% 41% 80%

- 100% 70% 100% 11% 59%

Tete e Moatize - - 18% 55% 66% 92%

- - 70% 100% 68% 87%

Quelimane 48% 70% 55% 64% 64% 72%

100% 100% 70% 100% 100% 60%

Região Norte

Nampula 45% 39% 52% 82% 83% 88%

98% 99% 100% 56% 52% 74%

Nacala - - 17% 71% 56% 75%

- 100% 100% 96% 77% 75%

Angoche - - 17% 34% 92% 100%

- 100% 100% 92% 96% 99%

Pemba 21% 30% 52% 81% 64% 84%

100% 100% 100% 100% 65% 83%

Lichinga 17% 16% 33% 40%

100% 100% 100% 33% 40%

Cuamba 17% 17% 22% 26%

100% 100% 50% 22% 12%

Manual de Governança e Substância Regulatórias

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6.4.2 Reclamações

A percentagem de reclamações respondidas e resolvidas pelas entidades reguladas

é um dos indicadores de desempenho que traduz o nível de desempenho das

entidades reguladas relativamente ao atendimento prestado aos utilizadores dos

serviços públicos da água. Também neste indicador são observadas grandes

oscilações ao longo do período analisado, o que vem demonstrar a necessidade de

uma regulação mais eficaz, por parte do CRA, junto dos operadores.

O facto de as reclamações não serem atendidas dentro do prazo previsto justifica e

implica, portanto, a intervenção dos agentes locais de regulação junto das entidades

reguladas para defesa dos interesses dos utilizadores, no sentido de fomentar a

resposta das reclamações apresentadas e de servirem de mediadores no processo

consequente de procura da resolução do conflito. Em 2014, dos quinze sistemas

regulados analisados, apenas quatro operadores responderam a todas as

reclamações apresentadas pelos utilizadores dos seus serviços (Inhambane, Maxixe,

Manica e Angonche). Contudo, não está disponível o número de reclamações que

foram apresentadas às respectivas entidades gestoras.

Figura 53 – Variação da percentagem de respostas dadas às reclamações dos utilizadores

O valor de referência estipulado para que o utilizador obtenha da entidade regulada

a primeira resposta à reclamação apresentada, e de acordo com o processo

regulatório de resposta às reclamações, é de catorze (14) dias. Em média, todos os

operadores dos sistemas regulados respondem aos reclamantes dentro do prazo

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 155

definido para o procedimento. Contudo, no sistema de Maputo, esta circunstância

apenas começou a acontecer após 2012.

Apesar da melhoria verificada neste indicador de desempenho, esta melhoria está

também (directamente) relacionada com a redução do número de reclamações

atendidas verificada a partir do mesmo ano. O mesmo se observa nos sistemas da

Região Norte, que, na sua generalidade, se registaram tempos médios de resposta

inferiores a anos anteriores. A figura seguinte demonstra a evolução do tempo

médio de resposta registado nos sistemas regulados entre 2009 e 2014.

Figura 54 – Variação da percentagem de respostas dadas às reclamações dos utilizadores

6.4.3 Satisfação dos utilizadores dos serviços públicos de água

A defesa dos interesses dos utilizadores dos serviços públicos do sector da água é

um dos principais propósitos da actuação do CRA em Moçambique. A percepção dos

utilizadores sobre a qualidade dos serviços prestados pelas entidades reguladas é,

por isso, um eixo importante na avaliação do impacto regulatório do CRA. A

realização de inquéritos junto dos utilizadores não é ainda prática recorrente (nem

obrigatória) do CRA, tendo, no entanto, já sido realizados alguns esforços pela

entidade para a avaliação do grau de satisfação dos utilizadores em alguns dos

sistemas regulados.

A primeira avaliação do grau de satisfação dos utilizadores foi realizada em oito

sistemas das três regiões: Maputo, Xai-Xai e Inhambane (Região Sul), Beira e Dondo,

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 156

Tete e Moatize e Quelimane (Região Centro) e Nampula e Pemba (Região Norte).

Nesta avaliação foram inquiridos um conjunto de 4347 utilizadores dos vários

sistemas, tendo-se verificado algumas disparidades na satisfação dos utilizadores

dos vários sistemas analisados.

Conforme se observa na figura seguinte, que apresenta o grau de satisfação dos

utilizadores consultados, em apenas três dos sistemas avaliados mais de 60% dos

utilizadores se consideram satisfeitos (nível de serviço bom, pelo menos) com o

nível de qualidade dos serviços prestados pelas entidades reguladas. Inclusive, em

dois dos sistemas avaliados (Nampula e Pemba), mais de metade da amostra da

população inquirida não considera sequer que o serviço prestado é de “bom” nível.

Do topo para a base, a figura ordena também os sistemas de acordo com os

resultados do grau de satisfação dos utilizadores (até ao nível bom).

Figura 55 – Nível de satisfação dos utilizadores sobre o desempenho dos sistemas (CRA, 2015)

Pode ser argumentado que o nível de satisfação dos utilizadores sobre os serviços

prestados pelas entidades reguladas possa ser considerado subjectivo. Contudo,

verifica-se que, no geral, o resultado da avaliação do índice de desempenho das

entidades reguladas (IDER), através da metodologia de análise integrada com um

indicador composto, encontra paralelo com o índice de satisfação dos utilizadores,

conforme é ilustrado na figura abaixo.

5%

11%

3%

9%

4%

22%

6%

33%

30%

37%

47%

42%

47%

51%

77%

51%

17%

32%

36%

23%

37%

16%

17%

14%

32%

15%

9%

21%

7%

11%

17%

5%

5%

0% 25% 50% 75% 100%

Pemba

Nampula

Beira e Dondo

Tete / Moatize

Maputo

Quelimane

Inhambane

Xai Xai

Muito bom Bom Mais ou menos Mau Muito mau NS/NR

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Figura 56 – Paralelismo entre satisfação dos utilizadores e IDER dos sistemas (CRA, 2015)

6.4.4 Sistemas secundários e sistemas de saneamento de águas residuais

Observe-se que, não obstante a recente expansão da actividade regulatória do CRA

aos sistemas sob alçada da AIAS, designadamente os sistemas secundários de

abastecimento de água e os sistemas de saneamento, estes sistemas não têm ainda

sidos avaliados, por falta de dados operacionais dos respectivos serviços. Conforme

já referido, tal impossibilita a análise do impacto regulatório nestes sistemas, apesar

de a regulação do CRA contribuir para a melhoria da sustentabilidade das entidades

reguladas e a defesa dos interesses dos utilizadores, mediante os QR que definem as

matérias objecto de regulação.

Nos QR dos serviços de abastecimento de água e de saneamento de águas residuais

de sistemas da AIAS são estipulados níveis mínimos de desempenho (ou valores de

referência) que as respectivas entidades gestoras se comprometem a cumprir

aquando da celebração de contrato. Todavia, ao contrário dos sistemas de

abastecimento de água do FIPAG, não é possível avaliar os indicadores de

desempenho apresentados anteriormente.

6.5 GOVERNANÇA REGULATÓRIA

Nampula

Beira e Dondo

Quelimane

Maputo

Pemba

Tete / Moatize

Inhambane

Xai-Xai

Satisfação geral IDER

11 0,5 0 0,5

Manual de Governança e Substância Regulatórias

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6.5.1 Transparência do sector

No cumprimento do seu mandato de regulação do sector das águas de Moçambique,

o CRA tem vindo a desenvolver medidas de promoção da transparência das

actividades desenvolvidas, não só por si mas também pelas entidades reguladas.

Estas medidas, que se expressam nos Relatórios Anuais disponíveis publicamente,

disponibilizados no website da entidade reguladora desde 2009, permitem aos

interessados aferir o impacto regulatório do CRA no sector da água e a evolução da

qualidade de serviço.

Apesar de, como referido no subcapítulo relativo à disseminação de informação,

parte da documentação potencialmente relevante sobre a prática regulatória do CRA

não ser disponibilizada integralmente, os Relatórios Anuais são um meio de

divulgação sobre as principais acções do CRA na regulação do sector da água no ano

precedente e explicitam as pretensões da entidade reguladora para o

desenvolvimento do sector a curto-prazo.

Há, contudo, ainda espaço a melhorar na prática regulatória do CRA neste âmbito da

regulação, nomeadamente no que se refere à disponibilização pública dos AR e QR

que definem as matérias objecto de regulação e que são, portanto, umas das

principais ferramentas da regulação do CRA no sector da água de Moçambique.

6.5.2 Participação Pública

A ausência de procedimentos de promoção da participação pública nos processos de

tomada-de-decisão regulatórios é considerada uma das principais fraquezas da

prática regulatória do CRA. A existência de processos oficiais de consulta ou

audiência pública que permitisse o contraditório das partes interessadas, incluindo

dos próprios utilizadores dos serviços públicos da água seria sinónimo de maior

transparência, credibilidade e legitimidade da regulação do CRA no sector da água

de Moçambique.

A promoção efectiva da participação pública requer, no entanto, quebrar a inércia

existente em Moçambique nos processos de democratização procedimental. Uma

maior divulgação e publicitação dos processos e actividades de regulação do CRA

junto dos stakeholders sobre diversos temas da regulação, desde o estabelecimento

de tarifas à definição de indicadores de desempenho e valores de referência, é

necessária para assegurar o conhecimento atempado dos vários stakeholders sobre

os seus direitos e obrigações no envolvimento público nas tomadas-de-decisão do

sector.

Apesar de a participação pública não ser ainda efectivamente promovida, o CRA tem

desenvolvido em conjunto com outras entidades actuantes no sector (ONG), com

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 159

impacto positivo, acções de auscultação junto dos utilizadores para avaliar a

disposição dos mesmos para pagar pela utilização dos serviços, cujos resultados têm

impacto directo na definição de tarifas.

6.6 CONCLUSÕES

A actividade regulatória do CRA tem tido claramente um impacto positivo no

desenvolvimento do sector da água de Moçambique. O mesmo é observável na

evolução dos indicadores de desempenho dos serviços de abastecimento de água,

tanto na sustentabilidade financeira das entidades reguladas, como na melhoria da

sustentabilidade social, designadamente ao nível da cobertura dos serviços, e na

qualidade dos serviços prestados.

Todavia, verifica-se que o enquadramento regulatório do CRA, que condiciona a

governança e a substância regulatórias da entidade reguladora, tem influência

directa no seu impacto regulatório no sector da água. A perda de autonomia

financeira com a introdução da taxa de retenção sobre as receitas do CRA derivadas

da taxa de regulação, ou a falta de definição sobre os podres sancionatórios do CRA,

têm causado alguns constrangimentos ao progresso e desenvolvimento sustentável

do sector da água, fruto de alguma inconsistência na prática regulatória do CRA (e.g.

falta de pagamento da taxa de regulação, por parte de algumas entidades reguladas,

conjugada com a incapacidade de impor sanções em caso de incumprimento).

A regulação dos sistemas secundários de abastecimento de água, e principalmente,

dos sistemas de saneamento de águas residuais necessita ainda de grandes

desenvolvimentos, desde a implementação efectiva dos QR à monitorização do

desempenho das entidades responsáveis pela prestação dos serviços.

Apesar de a descentralização dos poderes regulatórios do CRA ter contribuído

positivamente para a optimização dos custos de regulação, é ainda necessária maior

capacitação técnica, económica e contabilística do pessoal responsável pela

regulação do sector da água, e assegurar uma maior organização e maior volume de

dados sobre os sistemas regulados para potenciar o desenvolvimento da qualidade

dos serviços.

A participação dos utilizadores na recolha de dados e o reporte periódico (semanal

ou mensal), que o CRA se encontra a desenvolver (sistema TIC-RECO) trará

certamente benefícios aos intervenientes no sector da água, e, em particular, aos

utilizadores dos serviços.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 160

A regulação do sector da água de Moçambique beneficiará o desenvolvimento do

sector se for assegurada uma maior articulação entre os stakeholders, que possibilite

a redução de conflitos (e.g. municípios e CRA nos sistemas de saneamento não-

autónomos) e uma maior coordenação entre as entidades envolvidas (e.g.

transmissão de informação entre FIPAG e CRA). Contudo, o contexto político e

socioeconómico que se verifica no país poderá dificultar a curto prazo a

implementação de novas Leis de Base referentes a um Quadro de Regulação dos

Serviços Públicos e dos Serviços de Abastecimento de Água e Saneamento de Águas

Residuais, que assegure um melhor relacionamento entre stakeholders do sector e,

consequentemente, uma melhor governança regulatória do CRA, necessariamente

com impacto regulatório positivo no sector.

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7 SÍNTESE CONCLUSIVA E PRINCIPAIS DESAFIOS

7.1 SÍNTESE CONCLUSIVA

O Manual de Governança e Substância Regulatórias representa o produto principal

da Revisão do Quadro e das Práticas Regulatórias, inserido no crédito (N.º

IDA52900) do Projecto (N.º P125120) da IDA/Banco Mundial, que financia o

Projecto de Abastecimento de Água ao Grande Maputo.

O presente documento pretende ser uma ferramenta de base para a melhoria futura

dos procedimentos regulatórios do CRA e de informação para os restantes

stakeholders no país, bem como para parceiros internacionais. Com a identificação e

descrição do que é considerado boa prática nos principais eixos da governança e

substância regulatórias, o Manual serve de suporte à identificação das práticas de

regulação do CRA e identificação dos pontos a melhorar, bem como para o desenho

e definição de metas a alcançar no sector da água de Moçambique.

O primeiro passo de elaboração do Manual de Governança e Substância Regulatórias

do CRA consistiu na elaboração de uma revisão documental, a qual incidiu sobre o

enquadramento regulatório do CRA, nomeadamente o enquadramento legal e

institucional.

Os principais documentos e instrumentos legais que regem as actividades do sector

da água de Moçambique foram identificados no enquadramento legal, que incidiu,

em particular, na legislação de Moçambique que enquadra a prática regulatória do

CRA, nomeadamente a Lei de Águas e o QGD, as políticas sectoriais e regulamentos

vigentes no sector da água de Moçambique, bem como outros documentos legais de

relevância, que exercem aí influência e directa ou indirectamente sobre a actividade

regulatória do CRA.

O enquadramento institucional do sector da água em Moçambique identificou os

principais stakeholders do sector da água Moçambicano e as respectivas funções no

seu desenvolvimento, com destaque para as entidades efectivamente responsáveis

pela prestação dos serviços de abastecimento de água para consumo humano e dos

serviços de saneamento de águas residuais no país, nas quais se incluem o MOPHRH,

o CRA, o FIPAG, a AIAS, as diversas entidades financiadoras, entre outras.

Ao nível da estrutura de mercado e desempenho do sector da água em Moçambique,

uma breve caracterização da realidade socioeconómica bem como das

características geográficas e territoriais do país, permitiu enquadrar a identificação

da estrutura de mercado dos serviços públicos de água, decorrente da

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 163

implementação do QGD a partir de 1998. O desempenho geral do sector da água de

Moçambique foi igualmente abordado, permitindo assim obter uma visão geral

sobre o seu funcionamento através dos principais indicadores de desempenho no

país, com a identificação dos sistemas com melhores e piores desempenhos nos

mesmos, em 2014, último ano com dados disponíveis.

A análise da evolução temporal do desempenho dos sistemas regulados precedeu a

identificação de alguns dos principais desafios com que o sector da água de

Moçambique se depara, presentes e futuros, os quais requerem uma maior

capacitação das entidades envolvidas e uma regulação mais eficiente e eficaz,

identificando pontos a melhorar na regulação do CRA, com vista ao cumprimento

das metas definidas para o sector.

A identificação das boas práticas de regulação e o cruzamento das mesmas com a

prática regulatória do CRA permitiu realizar um “diagnóstico” sobre a prática

regulatória do CRA em termos de governança e substância regulatórias. A descrição

da prática regulatória do CRA nestes dois domínios da regulação foi elaborada com

base nas entrevistas realizadas ao pessoal-chave do sector da água de Moçambique

e do CRA, e na documentação existente e disponibilizada pela entidade reguladora.

Na substância regulatória em particular, a definição das sequências de

procedimentos regulatórios e práticas de regulação do CRA, realizada em estreita

colaboração com elementos-chave desta entidade, permitiu estabelecer a base

necessária para uma melhor compreensão por parte dos restantes stakeholders,

sobre o sistema regulatório vigente, bem como das suas motivações, propósitos e

desafios.

A análise do impacto regulatório da actividade do CRA no sector, que resulta da

conjugação da governança e substância regulatórias da entidade reguladora

focou-se avaliação e evolução da sustentabilidade financeira, social e técnica, e na

qualidade de serviço prestado pelas entidades reguladas incluindo as suas práticas

de governança, isto é da eficácia da regulação.

A disponibilização pública do presente documento permitirá reforçar a

transparência, a responsabilização e credibilidade da entidade reguladora dos

serviços públicos da água de Moçambique.

7.2 PRINCIPAIS DESAFIOS

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 164

O Manual de Governança e Substância Regulatórias será uma ferramenta

disponibilizada para todos os stakeholders, no sentido de apresentar a actuação do

CRA na regulação do sector da água em Moçambique, incluindo também as boas

práticas ainda não aplicadas (mas que são um objectivo) e os desafios futuros,

compreendendo os subsectores do abastecimento de água potável e de saneamento

de águas residuais.

Conforme descrito no documento, apesar do papel muito meritório para o sector da

água em Moçambique, a actuação do CRA carece ainda de progressos relevantes,

sobretudo, de alargamento do âmbito da regulação aos sistemas de abastecimento

secundários e, principalmente, dos sistemas de saneamento de águas residuais. De

facto, a maioria dos pontos fracos identificados na realização das entrevistas bem

como na revisão da documentação de suporte prendem-se com a (ainda) reduzida

eficácia da regulação do CRA nestes sistemas.

A falta de enquadramento legal do subsector do saneamento de águas residuais e

indefinição existente sobre as responsabilidades dos diversos intervenientes no

desenvolvimento dos sistemas nestes serviços do país (e.g. autoridades locais e CRA)

faz com que a regulação destes sistemas se encontre em fase ainda muito precária, a

necessitar de grandes esforços de planeamento, financiamento e desenvolvimento.

Apesar de já ter sido estabelecido um QR para os serviços autónomos de

saneamento, os elevados investimentos necessários previstos para o

desenvolvimento deste subsector poderá levar à necessidade de revisão do QR e dos

pressupostos base utilizados na definição de tarifas para estes serviços.

A regulação indirecta dos sistemas secundários de abastecimento de água da AIAS

necessita também de melhor definição de alguns dos procedimentos regulatórios,

nomeadamente ao nível da definição de tarifas (em particular da Tarifa Normativa

Inicial) e do reporte e análise de informação e dos indicadores de desempenho. De

facto, ao contrário do que se sucede nos sistemas do FIPAG, cujo desempenho é

avaliado anualmente, os sistemas da AIAS ainda não são sujeitos a avaliação de

desempenho consistente pelo CRA, também devido à menor capacidade das

entidades gestoras em recolher toda a informação necessária e com a mínima

qualidade.

Existe, no entanto, a expectativa de que a implementação efectiva do novo sistema

TIC-RECO para recolha de dados operacionais dos sistemas regulados possa ser um

passo importante para uma maior fiabilidade dos dados recolhidos nos sistemas. A

recente descentralização de funções de monitorização aos ALC/CORAL, apesar de

ainda necessitar de melhorias ao nível da uniformização de procedimentos e

alocação de recursos, tem igualmente contribuído para uma maior eficiência da

regulação do CRA nos sistemas de abastecimento de água.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

P.027.15.R3 165

Um outro factor identificado para melhoria da governança regulatória do CRA

prende-se com a promoção efectiva da participação pública nos processos de

tomada-de-decisão. Apesar de previsto na legislação, o CRA ainda não tem nomeado

um Conselho Consultivo, o qual deverá integrar diversos stakeholders, incluindo

membros da sociedade civil. A necessária introdução de procedimentos

calendarizados de consulta ou audiência públicas é identificada como um dos

principais desafios à melhoria da prática regulatória do CRA. Refira-se que a

inexistência de tradição da participação pública em processos de decisão do CRA

pode causar constrangimentos na implementação efectiva do modelo regulatório.

A recuperação da autonomia financeira do CRA é identificada também como um dos

principais desafios à evolução da actividade regulatória do CRA. O constrangimento

causado pela retenção de 40% das receitas provenientes da taxa de regulação por

parte do Estado, conjuntamente com a expansão da regulação aos sistemas de

abastecimento de água secundários e de saneamento de águas residuais, os quais,

tipicamente, não têm capacidade para pagar a respectiva taxa, torna evidente que

esta situação necessita ser revista. A falta de definição da regulamentação existente

sobre os poderes sancionatórios do CRA é também vista como uma fraqueza do

sistema regulatório vigente.

Apesar de ter sido demonstrado que o Plenário do CRA é responsável pela

deliberação final nos principais procedimentos regulatórios de tomada-de-decisão,

o facto de este estar sujeito, por vezes, a aprovação formal ou tácita do Ministro da

tutela reduz o nível de independência que uma entidade reguladora deve ter

atribuído. Uma maior autonomia decisória do CRA seria proveitosa para a sua

credibilidade e menor risco regulatório, pois reduziria o nível de pressões políticas

sobre o CRA, principalmente em momentos de contexto socioeconómico e político

com alguma instabilidade.

Aponta-se também como factor preponderante para a melhoria da prática

regulatória do CRA a importância da capacitação técnica do pessoal do CRA para

garantir maior integridade, profissionalismo e rigor que se requer para uma prática

eficaz da regulação. De facto, a maior capacitação dos colaboradores do CRA e a troca

de experiências entre agentes locais (ALC/CORAL) poderá ter um impacto positivo

e decisivo para o desenvolvimento dos serviços nos sistemas de abastecimento de

água e de saneamento de águas residuais. A boa prática da regulação pressupõe

também a existência de um Código de Ética e de Conduta que garanta a integridade

dos membros da entidade reguladora, ou a publicação de declarações de interesse

dos colaboradores, prevenindo a ocorrência de conflitos no desempenhar de

funções no sector.

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Note-se também que a disponibilização pública de outra documentação relevante

sobre a regulação do sector da água por parte do CRA, a par deste Manual, e em

conformidade com a boa prática da regulação, permitirá aumentar

consideravelmente a transparência da actividade regulatória do CRA, e

consequentemente a sua credibilidade e legitimidade perante os stakeholders.

O aumento da confiabilidade e atractividade do sector da água poderá ser um factor

fundamental para a atracção do investimento do sector privado, que é considerado

como absolutamente necessário para a prossecução dos objectivos sectoriais

definidos não só pela Lei das Águas mas também pelo QGD, que enquadra todo o

sector da água de Moçambique.

O desenvolvimento económico do país e, em particular, do sector da água levará a

que, mais tarde ou mais cedo, o CRA expanda a actividade regulatória aos sistemas

rurais e peri-urbanos. A inclusão dos pequenos operadores privados no âmbito da

regulação do CRA incrementará, incontornavelmente, os desafios do CRA para uma

regulação efectiva do sector da água.

O CRA tem assim o desafio de, a curto/médio prazo, melhorar os procedimentos

regulatórios relativos à boa governança e substância regulatórias, de forma a

assegurar o cumprimento do Plano Estratégico 2015-2020 do CRA. Além disso, a

elaboração de um Plano Director de Desenvolvimento da Regulação de (Médio)

Longo Prazo poderá representar um contributo com vista à identificação de soluções

a adoptar para assegurar a compatibilidade entre a melhoria dos procedimentos

regulatórios do CRA e o alcance de metas de desenvolvimento do CRA e do próprio

sector da água em Moçambique.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

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Decreto n.º 26/91, de 14 de Novembro – Criação das ARA;

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Resolução n.º 7/95, de 23 de Agosto – Política Nacional de Águas;

Lei n.º 9/96, de 28 de Agosto – Institucionalização do Poder Local;

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Leis nº 7-10/97, de 31 de Maio – Competências dos Municípios para o sector

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Lei n.º 11/97, de 31 de Maio – Lei de Finanças Autárquicas;

Lei n.º 20/97, de 1 de Outubro – Lei do Ambiente;

Decreto n.º 72/98, de 23 de Dezembro – Institucionalização do QGD;

Decreto n.º 73/98, de 23 de Dezembro – Criação do FIPAG;

Decreto n.º 74/98, de 23 de Dezembro – Criação do CRA;

Resolução n.º 60/98, de 23 de Dezembro – Política Tarifária de Águas;

Decreto n.º 38/99, de 10 de Junho – Criação do Instituto Nacional de Gestão

de Calamidades (INGC)

Lei n.º 11/99, de 8 de Julho – Arbitragem, conciliação e mediação;

Decreto n.º 80/99, de 1 de Novembro – Aplicação do IVA para o

fornecimento de água potável;

Diploma Ministerial n.º 78/2001, de 23 de Maio – Regulamento Interno da

DNA;

Diploma Ministerial n.º 23/2002, de 13 de Maio – Manual de

Implementação de Projectos de Abastecimento de Água Rural;

Diploma Ministerial n.º 92/2002, de 12 de Outubro – Regulamento Interno

do CRA;

Lei n.º 6/2003, de 18 de Abril – Período da Vacatio Legis;

Lei n.º 8/2003, de 19 de Maio – Princípios e normas de organização,

competência e funcionamento das autarquias locais;

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Decreto n.º 30/2003, de 1 de Julho – Regulamento para os Sistemas

Públicos de Distribuição de Água e de Drenagem de Águas Residuais;

Diploma Ministerial n.º 67/2004, de 21 de Abril – Alargamento do QGD:

transferência dos sistemas de Xai-Xai, Chókwè, Inhambane e Maxixe para o

FIPAG;

Decreto n.º 18/2004, de 2 de Junho – Regulamento sobre Padrões de

Qualidade Ambiental e de Emissão de Efluentes;

Decreto n.º 15/2004, de 15 de Julho – Regulamento para os Sistemas

Prediais de Distribuição de Água e de Drenagem de Águas Residuais;

Diploma Ministerial n.º 180/2004, de 15 de Setembro – Regulamento de

Qualidade de Água para Consumo Humano;

Decreto n.º 45/2004, de 29 de Setembro – Regulamento sobre o Processo

de Avaliação do Impacto Ambiental;

Decreto n.º 54/2005, de 13 de Dezembro – Regulamento de Contratação de

Empreitada de Obras Públicas, Fornecimento de Bens e Prestação de

Serviço ao Estado;

Diploma Ministerial n.º 5/2006, de 17 de Janeiro – Regulamento para os

Pequenos Sistemas / Manual de Implementação das Modalidades de Gestão

dos PSAA;

Resolução n.º 2/2006, de 14 de Junho – Aprovação das Fórmulas de

Indexação das Tarifas de Água (FIPAG);

Decreto n.º 45/2006, de 30 de Novembro – Regulamento para a Prevenção

da Poluição e Protecção do Ambiente Marinho e Costeiro;

Resolução n.º 37/2007, de 12 de Novembro – Política de Concorrência

Moçambicana;

Resolução n.º 43/2007, de 30 de Outubro – Regulamento de Licenças e

Concessões de Águas;

Resolução n.º 46/2007, de 30 de Outubro – Revisão da Política Nacional de

Águas;

Lei n.º 1/2008, de 16 de Janeiro – Regime financeiro, orçamental e

patrimonial dos Municípios;

Deliberação n.º 1/2008, de 4 de Junho – Condições gerais do Contrato de

Adesão para o Abastecimento de Água;

Decreto n.º 18/2009, de 13 de Maio – Alargamento do QGD ao

abastecimento de água em todos os centros urbanos e saneamento;

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Decreto n.º 19/2009, de 13 de Maio – Criação da AIAS;

Diploma Ministerial n.º 177/2009, de 15 de Julho – Alargamento do QGD:

transferência dos sistemas de Tete, Moatize, Chimoio, Manica e Gondola

para o FIPAG;

Diploma Ministerial n.º 178/2009, de 15 de Julho – Alargamento do QGD:

transferência dos sistemas de Cuamba, Lichinga, Nacala e Angoche para o

FIPAG;

Resolução n.º 34/2009, de 31 de Dezembro – Estatuto Orgânico da AIAS;

Diploma Ministerial n.º 7/2010, de 6 de Janeiro – Modelos de Licenças e

Concessões de Águas;

Resolução n.º 1/2010, de 18 de Agosto – Ajustamento das Tarifas de Água

Potável no âmbito do QGD;

Resolução n.º 2/2010, de 22 de Setembro – Revisão de Taxas de Novas

Ligações Domiciliárias Domésticas de água potável;

Decreto n.º 41/2010, de 20 de Outubro – Criação do Instituto de

Investigação em Águas;

Resolução n.º 3/2010, de 27 de Outubro – Mecanismo de compensação do

custo da Taxa de Novas Ligações Domésticas;

Decreto n.º 63/2010, de 27 de Dezembro – Alteração do Artigo 4º do

Decreto n.º 73/98 de 23 de Dezembro;

Diploma Ministerial n.º 237/2010, de 27 de Dezembro – Identificação dos

sistemas públicos secundários de distribuição de água e dos sistemas

públicos de saneamento de águas residuais transferidos para a AIAS;

Diploma Ministerial n.º 258/2010, de 30 de Dezembro – Programa Nacional

de Abastecimento de Água e Saneamento Rural (PRONASAR);

Decreto n.º 23/2011, de 8 de Junho – Alteração da designação do Conselho

de Regulação do Abastecimento de Água (CRA) para Conselho de Regulação

de Águas (CRA);

Lei n.º 15/2011, de 10 de Agosto – Implementação de PPP, PGD e CE;

Diploma Ministerial n.º 256/2011, de 14 de Novembro – Regulamento

Interno da AIAS;

Decreto n.º 7/2012, de 10 de Maio – Alargamento de competências do

FIPAG;

Decreto n.º 16/2012, de 4 de Junho – Regulamento da Lei sobre PPP, PGD e

CE;

Manual de Governança e Substância Regulatórias

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Diploma Ministerial n.º 142/2012, de 11 de Julho – Revisão do Regulamento

Interno da DNA;

Decreto n.º 48/2012, de 28 de Dezembro – Novo Estatuto Orgânico e de

funcionamento do FIPAG;

Lei n.º 10/2013, de 11 de Abril – Criação da Autoridade Reguladora da

Concorrência;

Lei n.º 15/2014, de 20 de Junho – Regime jurídico da gestão das

calamidades;

Decreto n.º 37/2014, de 1 de Agosto – Estatuto Orgânico da ARC;

Deliberação n.º 6/2014, de 25 de Novembro – Revisão para a Extensão do

Contrato de Cessão de Exploração Revisto do Serviço de Abastecimento de

Água de Maputo;

Decreto n.º 97/2014, de 31 de Dezembro – Regulamento da Lei da

Concorrência de Moçambique;

Decreto Presidencial n.º 1/2015, de 16 de Janeiro – Extinção e Criação de

Ministérios;

Resolução n.º 19/2015, de 17 de Julho – Aprovação do Estatuto Orgânico do

Ministério das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos;

Resolução n.º 2/2015, de 10 de Agosto – Ajustamento das Tarifas de Água

Potável no âmbito do QGD;

Estratégia Nacional de Água e Saneamento Urbano 2011-2025, de Janeiro

de 2012;

Decreto n.º 51/2015, de 31 de Dezembro – Aprova o Regulamento do

Licenciamento de Abastecimento de Água Potável por Fornecedores

Privados;.

Decreto n.º 5/2016, de 8 de Março – Aprova o Regulamento de Contratação

de Obras Públicas, Fornecimento de Bens e Prestação de Serviços ao Estado.

Manual de Governança e Substância Regulatórias

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