anÁlise da expansÃo urbana de piripiri-pi (1985 2015) · alexsandra maria vieira muniz pelas...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ (UVA) PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO (PRPPG) CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS (CCH) MESTRADO ACADÊMICO EM GEOGRAFIA (MAG/UVA) ANÁLISE DA EXPANSÃO URBANA DE PIRIPIRI-PI (1985 2015) CASSANDRA DE SOUSA CUNHA Sobral/CE 2017

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ (UVA)

    PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO (PRPPG)

    CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS (CCH)

    MESTRADO ACADÊMICO EM GEOGRAFIA (MAG/UVA)

    ANÁLISE DA EXPANSÃO URBANA DE PIRIPIRI-PI (1985 – 2015)

    CASSANDRA DE SOUSA CUNHA

    Sobral/CE

    2017

  • CASSANDRA DE SOUSA CUNHA

    ANÁLISE DA EXPANSÃO URBANA DE PIRIPIRI-PI (1985 – 2015)

    Dissertação apresentada ao Mestrado Acadêmico em Geografia da

    Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). Área de

    Concentração: Organização, Produção e Gestão do Território no

    Semiárido. Linha de Pesquisa: Dinâmica territorial: campo e

    cidade

    Orientador: Fabio Souza e Silva da Cunha

    Sobral/CE

    2017

  • AGRADECIMENTOS

    Á Deus, pelas forças que me foram dadas.

    Aos meus pais, Maria de Nazaré e Raimundo e a minha irmã, Liza, pelo incentivo,

    compreensão e palavras de apoio ao longo período de ausência que passei para o

    desenvolvimento desta dissertação.

    A Universidade Estadual Vale do Acaraú, em especial ao Mestrado Acadêmico em

    Geografia, pela oportunidade.

    Ao meu orientador, pelo aprendizado nessa jornada.

    A banca, Prof. Dr. Fabio Souza e Silva da Cunha, Profa. Dra. Virgínia Célia Cavalcante

    de Holanda e Profa. Dra. Alexsandra Maria Vieira Muniz pelas ricas considerações no

    desenvolvimento da pesquisa.

    Aos professores do MAG que de forma indireta contribuíram por essa caminhada.

    Ao IFPI, pelo apoio dado por meio da concessão de licença renumerada para realização

    dos estudos do mestrado.

    Aos colegas de turma e tantos outros que fiz nessa caminhada e pela troca de

    experiências.

    Aos colegas do laboratório, Jander e Lucas, que me ajudaram na produção dos mapas.

    Ao Felipe Farias, secretário do MAG, pela atenção e disposição.

    Aos funcionários da Prefeitura Municipal de Piripiri pela receptividade, disponibilidade,

    disposição e atenção às vezes que precisei. E a todos aqueles que sempre confiaram em mim, desde sempre.

  • Temos uma história a contar que não é apenas contra alguma coisa, mas, é por alguma coisa.

    Barack Obama

  • RESUMO

    O presente trabalho é o resultado de uma análise da expansão urbana de Piripiri-PI no

    período de 1985 a 2015 realizada com base em dados obtidos de imagens de satélites

    Landsat 5 e Landsat 8, nas características e identificação dos agentes sociais que

    influenciaram as alterações da mancha urbana, além, da avaliação sobre como a

    implantação de conjuntos habitacionais e loteamentos transformou a estrutura urbana da

    cidade ampliando seu perímetro urbano. Para tanto, se buscou compreender a produção

    do espaço da cidade de Piripiri através do levantamento de dados referentes a conjuntos

    habitacionais e loteamentos. Nesta perspectiva foram analisadas as formas de promoção,

    as características urbanísticas e suas espacialidades. Ao longo da pesquisa, foram

    realizadas leituras sobre a produção do espaço, agentes sociais e geotecnologias

    voltadas para estudos urbanos. Além do levantamento bibliográfico, foi estruturada uma

    base cartográfica a partir de dados e informações obtidos em diversos setores da

    administração pública municipal de Piripiri (secretarias de assistência social,

    infraestrutura, obras), além de órgãos com atuação federal (IBGE, CAIXA), a fim de

    compreender a realidade estudada. A pesquisa de campo foi realizada à medida que a

    pesquisa foi se desenvolvendo. Como resultado, observa-se, que a cidade de Piripiri-PI

    tem incorporado uma dinâmica de expansão urbana decorrente principalmente da

    implantação de conjuntos habitacionais e loteamentos que desempenham importante

    papel na reconfiguração socioespacial da cidade.

    Palavras chave: análise multitemporal, conjuntos habitacionais, agentes sociais, política

    habitacional, PMCMV.

  • ABSTRACT The present work is the result of an analysis of the urban expansion of Piripiri-PI in the

    period from 1985 to 2015, based on data obtained from satellite images Landsat 5 and

    Landsat 8 and in the characteristics and identification of the social agents that

    influenced the changes of the urban spot, besides the evaluation on how the

    implantation of housing estates and subdivisions transformed the urban structure of the

    city, expanding its. In order to do so, we sought to understand the production of the

    space of the city of Piripiri through the collection of data referring to housing

    complexes implemented from the housing e and lots. In this perspective the forms of

    promotion, the urban characteristics and their spatiality were analyzed. Throughout the

    research, readings were made on space production, social agents and geotechnologies

    geared towards urban studies. In addition to the bibliographical survey, a cartographic

    base was built based on data and information obtained in several sectors of the public

    municipal administration of Piripiri (social assistance, infrastructure, works), as well as

    federal agencies (IBGE, CAIXA) to understand the reality studied. Field research was

    carried out as the research developed. As a result, it can be observed that the city of

    Piripiri-PI has incorporated a dynamics of urban expansion mainly due to the

    implantation of housing estates and subdivisions that play an important role in the

    socio-spatial reconfiguration of the city.

    Key words: multitemporal analysis, housing complexes, social agents, housing policy,

    PMCMV.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Mapa localização município de Piripiri- PI ................................................... 20

    Figura 2: Estação Ferroviária na década de 1937. ......................................................... 48

    Figura 3: Estação Ferroviária Atualmente: vista do pátio interno (a) e entrada principal

    (b). .................................................................................................................................. 49

    Figura 4: Empresas do ramo de vestuário em meio a residências (a) e (b) ................... 59

    Figura 5: Centro comercial de Piripiri: Loja MACAVI (a) e Magazine Luiza (b). ...... 59

    Figura 6: Vista geral de unidades residenciais na região do Parque Recreio (a) e (b). . 69

    Figura 7: Unidades residenciais mais antigas sem calçada e sem acesso pavimentado

    até entrada da casa (a) e unidades residenciais mais recentes com calçada, meio fio e

    acesso pavimentado entre a calçada e a porta de entrada da casa (b). ............................ 71

    Figura 8: Unidade Básica de Saúde (UBS) (a) e Centro Educacional no Parque Petecas

    (b). .................................................................................................................................. 72

    Figura 9: Depósito de bebidas da Coca Cola (a) e residências adaptadas para o

    comercio em seu entorno, no Parque Petecas (b). .......................................................... 72

    Figura 10: Acesso ao Parque Petecas pela BR (a) e entrada ao residencial (b). ........... 73

    Figura 11: Acesso ao conjunto Jose Amâncio e Nova alegria pela BR 343 (a) e rua sem

    pavimentação (b). ........................................................................................................... 73

    Figura 12: Unidade Básica de Saúde (UBS) (a) e um Centro Educacional que atende ao

    conjunto Jose Amâncio e Nova Alegria (b).................................................................... 74

    Figura 13: Acesso ao Novo Jenipapeiro: ruas sem calçamento, sem esgoto (a) e mato

    no entorno (b). ................................................................................................................ 74

    Figura 14: Unidade Básica de saúde não concluída no conjunto Novo Jenipapeiro (a) e

    (b). .................................................................................................................................. 75

    Figura 15: Casas no Novo Jenipapeiro com padrões e tipologias diferenciadas a dos

    conjuntos (a) e (b). .......................................................................................................... 75

    Figura 16: Residencial Antônia flor: obras em execução com previsão de entrega para

    2017 (a) e (b). ................................................................................................................. 76

    Figura 17: Unidades residenciais com tipologia modificada do original no Parque

    Recreio (a) e (b). ............................................................................................................. 77

  • Figura 18: Unidades residenciais com tipologia modificada localizadas no Parque

    Petecas (a) e (b). ............................................................................................................. 77

    Figura 19: Casa modificada para bar no Novo Jenipapeiro (a) e comercio no Parque

    Recreio (b). ..................................................................................................................... 78

    Figura 20: Casas adaptadas para comercio no Parque Petecas (a), (b), (c), (d). ........... 78

    Figura 21: Loteamento Villa Madri: terraplanagem (a) e folder na entrada do

    empreendimento (b). Fonte: Pesquisa de campo, 2016. ................................................. 81

    Figura 22: Loteamento Jóquei Clube: acesso pela BR-343 (a) e infraestrutura de

    energia no empreendimento (b). ..................................................................................... 82

    Figura 23: Maquete virtual com a localização do shopping Piripiri Park. .................... 84

    Figura 24: Propaganda do terreno destinando ao shopping (a) e comercialização de

    lotes no entorno (b). ........................................................................................................ 85

    Figura 25: Folder de propaganda do loteamento Planalto Petecas e Loteamento Parque

    Recreio. ........................................................................................................................... 85

    Figura 26: Abertura de vias (a) e vista geral do loteamento Planalto Petecas (b). ........ 86

    Figura 27: Casas sendo construídas no loteamento Planalto Recreio (a) e (b). ............ 86

    Figura 28: Folder de divulgação do novo loteamento Planalto Petecas II. ................... 87

    Figura 29: Casas com novo padrão sendo comercializadas na área do Parque Recreio.

    Ao fundo se encontra o conjunto habitacional. .............................................................. 87

    Figura 30: Comparativo do conjunto Parque Recreio (a), casas construidas (b) e do (

    loteamento) (c) ................................................................................................................ 88

    Figura 31: Folder de lançamento do loteamento Petecas II com os indicativos de

    valorização da área. ........................................................................................................ 89

    Figura 32: Loteamento Park Village: ruas asfaltadas (a) e vista dos lotes (b). ............. 90

    Figura 33: Planta dos lotes do loteamento Park Village. Em verde, lotes já vendidos. 90

    Figura 34: Localização do Condomínio Europa (a) e vista da entrada principal (b). ... 91

    Figura 35: Vista interna do condomínio: área comum com piscina. ............................. 91

    Figura 36: Proposta de venda e construção de casa no condomínio Europa. ................ 92

    Figura 37: Villa Madri: venda de um novo jeito de morar (a) e localização do

    empreendimento (b). ....................................................................................................... 93

    Figura 38: Park Village e a venda de moradia associada com natureza e vida feliz. .... 93

    Figura 39: Anuncio de venda de lotes residenciais (a) e dos loteamentos (b). ............. 94

    Figura 40: Anuncio em rede social de venda de imóvel. .............................................. 94

    file:///C:/Users/1891529/Documents/DISSERTAÇÃO%20DE%20MESTRADO_(01).docx%23_Toc481739223file:///C:/Users/1891529/Documents/DISSERTAÇÃO%20DE%20MESTRADO_(01).docx%23_Toc481739223

  • LISTA DE GRÁFICOS

    Gráfico 1: Evolução da mancha urbana de Piripiri (1985-2015) ...................................60

    Gráfico 2: População urbana de Piripiri (1980-2010) ...................................................61

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: Metas do PMCMV fase 1 .............................................................................. 40

    Tabela 2: Metas do PMCMV fase 2 .............................................................................. 41

    Tabela 3: Metas do PMCMV fase 3 .............................................................................. 42

    Tabela 4: Área (km²) e crescimento (%) da mancha urbana de Piripiri (1985-2015) ... 54

    Tabela 5: População urbana (hab.) e crescimento (%) da população urbana de Piripiri 57

    Tabela 6: Empreendimentos contratados entre o período 2009 a 2014 ......................... 68

    Tabela 7: Levantamento dos loteamentos regularizados em Piripiri ............................. 80

  • LISTA DE MAPAS

    Mapa 1: Mapa dos bairros de Piripiri-PI........................................................................52

    Mapa 2: Carta imagem da evolução urbana da cidade de Piripiri nos anos de 1985 a

    2015.................................................................................................................................54

    Mapa 3: Mapa da evolução da mancha urbana da cidade de Piripiri nos anos de 1985 a

    2015.................................................................................................................................56

    Mapa 4: Mapa da distribuição espacial dos conjuntos habitacionais.............................72

    Mapa 5: Mapa da distribuição espacial dos loteamentos...............................................84

  • LISTA DE ABREVIATURAS

    ACIPI - Associação do comercio e indústria do Piauí

    AGRINPISA- Agroindústria do Piauí

    BEP-Banco do Estado do Piauí

    BNH- Banco Nacional de Habitação

    CDL-Câmara dos dirigentes lojistas

    CREA-Conselho regional de engenharia

    CRECI- Conselho regional dos corretores de imóveis do Piauí

    CRISFAPI- Christus faculdade do Piauí

    FIESPI- Federação das indústrias do Estado do Piauí

    FGTS- Fundo de garantia por tempo de serviço

    FNHIS-Fundo nacional de habitação de interesse social

    FRIPISA- Frigorífico do Piauí

    IBGE- Instituto brasileiro de geografia e estatística

    IFPI- Instituto federal do Piauí

    NEAD-Núcleo educação a distancia

    PMCMV- Programa Minha Casa, Minha Vida

    PMP- Prefeitura Municipal de Piripiri

    PAC-Programa de aceleração do crescimento

    PNHR-Plano nacional de habitação rural

    PNHU-Plano nacional de habitação urbana

    PNH- Plano nacional de habitação

    SERFHAU-Serviço federal de habitação e urbanismos

    SIG- Sistemas de informações geográficas

    SEBRAE-Serviço brasileiro de apoio às micro e pequenas empresas

    SBPE-Sistema brasileiro de poupança e empréstimo

    SFI- Sistema de financiamento imobiliário

    SNH-Sistema nacional de habitação

    SNHIS-Sistema nacional de habitação de interesse social

    UESPI-Universidade estadual do Piauí

    UNOPAR- Universidade norte do Pará

  • SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 15

    1.1 JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 18

    1.2 OBJETIVO GERAL ............................................................................................. 19

    1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................................ 19

    1.4 CARACTERIZAÇÃO DA AREA DE ESTUDO ................................................. 19

    1.5 METODOLOGIA ................................................................................................. 20

    2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................ 26

    2.1 GEOTECNOLOGIAS APLICADAS AOS ESTUDOS URBANOS .................... 26

    2.2 A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO ............................................................. 28

    2.2.1 Agentes sociais do espaço urbano ................................................................. 31

    2.3 O USO CAPITALISTA DO SOLO URBANO .................................................... 34

    2.4 A POLÍTICA HABITACIONAL NO SÉCULO XXI ........................................... 37

    2.4.1Breve histórico do PMCMV, metas e agentes envolvidos. .............................. 39

    2.5 FORMAÇÃO DA CIDADE DE PIRIPIRI ........................................................... 43

    3 ANALISE MULTITEMPORAL ATRAVES DE IMAGENS DE SATELITE E

    AGENTES SOCIAIS NA CIDADE DE PIRIPIRI .................................................... 52

    3.1 ANALISE ESPACIAL DOS ANOS DE 1985 A 2015 .......................................... 52

    3.2 OS PROPRIETÁRIOS DOS MEIOS DE PRODUÇÃO ....................................... 58

    3.3 OS PROPRIETÁRIOS FUNDIÁRIOS ................................................................. 60

    3.4 OS PROMOTORES IMOBILIÁRIOS.................................................................. 60

    3.5 O ESTADO ........................................................................................................... 61

    3.6 OS GRUPOS SOCIAIS EXCLUÍDOS ................................................................. 65

    4 CARACTERISTICAS E ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DE PIRIPIRI:

    CONJUNTOS HABITACIONAIS E LOTEAMENTOS COMO INDUTORES DA

    EXPANSAO URBANA ................................................................................................ 67

    4.1 CONJUNTOS HABITACIONAIS: DISTRIBUIÇÃO TERRITORIAL E

    CARACTERISTICAS ................................................................................................ 67

    4.2 LOTEAMENTOS: DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL E CARACTERISTICAS ....... 79

    5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 96

    REFERENCIAS ........................................................................................................... 99

  • 15

    1 INTRODUÇÃO

    A urbanização tem sido vista no campo da geografia como um processo que

    envolve elementos econômicos, políticos, sociais e culturais. Ela não ocorre apenas

    quando a população urbana cresce em referências maiores que a população total ou

    como resultado da transferência de pessoas do meio rural para as áreas urbanas, atraídas

    pelas atividades e possibilidades econômicas, sociais e avanços tecnológicos.

    Quando selecionada a variável demográfica para pensar o crescimento das cidades

    mundiais, sendo esta a mais utilizada, constata-se que em fins do século XIX, a

    população residente em áreas urbanas, representava 1,7% da população mundial, em

    1950 esse percentual passa a representar cerca de 21% e, em 1960, sobe para 25%. Esse

    processo da urbanização ocorreu devido à expansão do capitalismo em consequência da

    Primeira Revolução Industrial como um marco no crescimento urbano pelo mundo que

    ocasionou a concentração de emprego nas cidades. “Se em todo o mundo, em 1900

    havia apenas onze cidades com mais de um milhão de habitantes, em 1920 elas eram

    vinte; em 1940, 51; em 1955, 69; e, em 1961, 80”. (SANTOS, 2012, p. 14).

    O desdobramento da industrialização ocasionou transformações na estrutura

    física, econômica e social, proporcionando um novo modelo de cidade, com inúmeras

    problemáticas urbanas: ambiente insalubre, densidade em massa e ocupação

    desenfreada. Sposito (2000) considera que a industrialização provocou um impacto

    sobre o urbano, ocasionando fortes transformações nos moldes da urbanização e em sua

    estrutura interna, produzindo novas formas sociais. Lefebvre (2006) a considera como

    característica de uma sociedade moderna, sendo um elemento indutor dos problemas

    relativos à cidade e ao desenvolvimento da realidade urbana.

    Essas transformações na estrutura urbana da cidade são resultado da dinâmica do

    homem, indispensável para a aceleração do processo de urbanização existente. No

    Brasil, o quadro de crescimento da população morando em áreas urbanas aumentou de

    81,2% em 2000 para 84,4% em 2010 (IBGE, 2011). As mudanças que ocorrem em uma

    determinada cidade amparam-se nos processos de transformações com características

    próprias, de acordo com seu momento, atributos e peculiaridades históricas que marcam

    seu desenvolvimento.

    No século XXI, o processo atual da produção do espaço, segundo Paiva (2007),

    decorre da relação estreita entre capital imobiliário e financeiro. A globalização

  • 16

    financeira e os avanços tecnológicos têm contribuído para esse ciclo imobiliário

    associado aos investimentos de capital na construção e na especulação imobiliária.

    Segundo Lucena (2014), a reprodução e expansão capitalista, não se perpetuam apenas

    nas grandes cidades e metrópoles. Com a desconcentração industrial e econômica, essa

    produção capitalista, atinge e se reflete em cidades médias e pequenas constituindo

    como espaços promissores desse movimento.

    Nesse modelo de produção, o espaço é visto como mercadoria, onde os interesses

    de diversos agentes se relacionam. Entre os agentes se destacam os proprietários

    fundiários, promotores imobiliários e o Estado como grandes responsáveis por

    beneficiar a construção de empreendimentos.

    Neste contexto, a cidade de Piripiri, no Estado do Piauí, como recorte espacial da

    presente pesquisa, apresenta a concentração de novas produções socioespaciais, novos

    usos e novas formas urbanas.

    No que concerne à temática da produção do espaço urbano e o movimento de

    reprodução e expansão capitalista que a cidade de Piripiri tem passado nos últimos trinta

    anos, a pesquisa tem como norte as discussões fundamentadas nas teorias de Harvey

    (1980), Lefebvre (2006), Carlos (2011). Na trajetória dos agentes sociais na produção

    urbana da cidade de Piripiri, a base para o delineamento dessa temática se aprofunda em

    Corrêa (1989). Essas discussões contribuem para o entendimento da relação entre

    sociedade e espaço como resultado das ações de agentes sociais concretos, da

    temporalidade histórica, dotados de interesses capitalistas e práticas espaciais próprias

    que produzem o espaço e a maneira como o espaço se materializa dessas relações na

    forma de um ambiente construído.

    Estudar as transformações espaciais de uma cidade e compreende-la é complexo e

    essa temática envolve não só os planejadores e gestores, mas a ação de outros agentes

    que influenciam na dinâmica do espaço urbano associado a métodos e ferramentas que

    possibilitem o monitoramento das mudanças espaciais urbanas, constituindo-se como

    instrumentos no planejamento urbano.

    O avanço tecnológico nas áreas espaciais, principalmente na área de

    Sensoriamento Remoto e Sistemas de Informação Geográfica (SIGs), aliado ao uso de

    equipamentos e sistemas de informação, desenvolvimento de produtos e serviços,

    obtenção de informações utilizadas pela sociedade e poder público possibilitou o

    registro e análise dessas transformações espaciais favorecendo o monitoramento de

  • 17

    processos de transformação ambiental e a complexidade da expansão do espaço urbano

    nas cidades.

    Foresti (1986) observa que a utilização das imagens de satélites obtidas por

    sensoriamento remoto permite visualizar e avaliar as condições ambientais urbanas

    enquanto a analise multitemporal favorece o estudo do acompanhamento e alteração da

    expansão urbana.

    Nesse contexto, a análise multitemporal mostra a dinâmica do espaço urbano

    identificando os condicionantes que influenciaram cada cenário predominante da época,

    mediante o panorama histórico, econômico e social, bem como tendências e padrões de

    crescimento bastante úteis para ações voltadas para o crescimento das cidades.

    O avanço do sensoriamento remoto se desenvolveu através da revolução de se

    observar a Terra em uma escala global e periódica e na rapidez do monitoramento dos

    fenômenos dinâmicos e das mudanças das feições terrestres (MENESES, ALMEIDA,

    2012).

    Com relação a sua definição, o sensoriamento remoto pode ser entendido como

    um conjunto de atividades que permite a obtenção de informações que compõem a

    superfície terrestre sem a necessidade de contato com os mesmos. Essas atividades

    envolvem a detecção, aquisição e análise da energia eletromagnética emitida ou

    refletida registrada pelos sensores (MORAES, 2002). Florenzano (2002) o define como

    uma tecnologia que permite obter imagens e dados que captam e registram a energia

    refletida pelos alvos na superfície terrestre e são transformados em sinais elétricos

    transmitidos para estações de recepção na Terra. Essa energia que é transmitida para os

    sensores é denominada energia eletromagnética ou radiação eletromagnética e utiliza

    como principal fonte a luz natural do sol. Os sinais enviados para essas estações são

    transformados em dados em forma de gráficos, tabelas ou imagens.

    Segundo Meneses e Almeida (2012) o sensoriamento remoto é considerado como

    uma das bem-sucedidas tecnologias de coleta de dados para o levantamento e

    monitoramento dos recursos terrestres em escala global. Sua primeira aplicação foi para

    uso militar. Foi desenvolvida uma câmara fotográfica com disparador automático em

    que pudesse fotografar toda a área a fim de ter como reconhecimento as posições e

    infraestrutura das forças militares inimigas ainda no século XIX.

    De acordo com Novo (2010), o desenvolvimento do sensoriamento remoto, se

    relaciona com o reconhecimento e defesa do terreno. Para alguns autores, ela pode ser

    dividida em dois momentos: o período de 1860 a 1960, no qual o sensoriamento remoto

  • 18

    era baseado na utilização de fotografias aéreas e o período de 1960 até os dias atuais,

    caracterizado pela multiplicidade dos sistemas sensores.

    Segundo Florenzano (2002), com o lançamento do primeiro satélite meteorológico

    da série Tiros em 1960, começaram os primeiros registros sistemáticos de imagens da

    Terra. Em julho de 1972 foi lançado o primeiro satélite de recursos terrestres o ERTS-1

    mais tarde denominado Landsat 1. Além desses satélites da série Landsat, existem

    vários outros como da série Spot.

    Segundo, Rosa (2003), o sensoriamento remoto tomou impulso no Brasil na

    década de 1960 com o projeto RADAMBRASIL, cujo objetivo era realizar um

    levantamento integrado dos recursos naturais do país, contribuindo para a

    especialização e manuseio de fotografias aéreas.

    Os satélites executam um processo continuo de tomadas de imagens da superfície

    terrestre, coletadas 24 horas, por dia durante toda sua vida util. As informações da

    superfície são coletadas por um sensor, dispositivo capaz de atender a radiação

    eletromagnética em uma determinada faixa do espectro magnético. Os satélites

    acompanham a Terra em seu movimento de translação e esse movimento faz com que

    os satélites do sensoriamento remoto cubram toda a região do globo. No Brasil, a antena

    de recepção do INPE, fica localizada na cidade de Cuiabá, que capta imagens de todo o

    território nacional desde os anos de 1970.

    Os dados obtidos por sensores remotos representados por imagens de satélites

    serviram de base para compreender a dinâmica do espaço urbano através da

    caracterização da evolução da mancha urbana de Piripiri.

    1.1 JUSTIFICATIVA

    A escolha de Piripiri como objeto da pesquisa, se justifica pela ausência de

    estudos que versem sobre as transformações do seu espaço urbano, visto que, os

    trabalhos que foram encontrados sobre a cidade são dissertações e artigos de temática

    ambiental e/ou histórica. Na perspectiva da Geografia Urbana, a pesquisa pode

    contribuir para compreender os processos que influenciaram a expansão do espaço

    urbana da cidade.

    A realidade do espaço urbano de Piripiri provocou questionamentos que se

    tornaram norteadores desta pesquisa, como por exemplo, quais as mudanças ocorridas

    nas últimas décadas que influenciaram as mudanças espaciais na cidade, quais os

  • 19

    agentes que mais atuaram nesse processo de transformação, quais os vetores de

    expansão que influenciaram o crescimento do perímetro urbano, resultando em nossos

    objetivos.

    1.2 OBJETIVO GERAL

    Realizar uma análise multitemporal da expansão urbana de Piripiri no período de

    1985-2015, com base em imagens de satélites e no levantamento de informações

    referentes a conjuntos habitacionais e loteamentos.

    1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

    a) Analisar as características e alterações da mancha urbana de Piripiri no

    período de 1985-2015;

    b) Identificar os agentes sociais do espaço urbano da cidade que fortemente

    influenciaram na produção do ambiente urbano no período de 1985-2015;

    c) Compreender as transformações e a reorganização espacial da cidade,

    através dos conjuntos habitacionais e loteamentos.

    1.4 CARACTERIZAÇÃO DA AREA DE ESTUDO

    Piripiri é um município do estado do Piauí, cuja sede localiza-se a 160 km de

    Teresina, capital do Estado, tendo acesso por meio da rodovia BR-343 (Figura 1). O

    município foi criado com a denominação de Nossa Senhora dos Remédios pela

    Resolução Provincial nº 849 de 16/06/1874, sendo desmembrado dos municípios de

    Piracuruca, Pedro II e Campo Maior. Posteriormente, pela Lei Estadual nº 570, de

    04/07/1910, a vila foi elevada à condição de cidade com a denominação de Piripiri

    (IBGE, 2015). Seu nome vem de Perypery, que significa capim, um tipo de arbusto

    encontrado perto da lagoa onde se situava a fazenda do fundador da cidade, o padre

    Domingos de Freitas e Silva. O município localiza-se na região do Meio-Norte, na

    Microrregião do Baixo Planalto Piauiense. Ele possui uma área de 1.408,934 km,

    densidade demográfica de 43,46 hab./km² e perfaz limites com Piracuruca, ao norte;

    Capitão de Campos, ao Sul; Pedro II, a leste e Barras a oeste. Em termos demográficos

    é o quarto município do Estado e reúne uma população estimada para 2016 de 62.695

  • 20

    habitantes, atrás de Teresina, Parnaíba e Picos com 847.430, 150.201 e 76.749,

    respectivamente. Situa-se a 18 km do Parque Nacional de Sete Cidades, importante

    ponto turístico do Estado. As coordenadas geográficas de sua sede são: 4º12‟00” de

    latitude Sul e 41º46‟29” de longitude Oeste e a altitude média é de 170 metros (IBGE,

    2016).

    Figura 1: Mapa localização município de Piripiri- PI Fonte: IBGE, 2015, adaptado.

    1.5 METODOLOGIA

    A proposta da análise multitemporal é mostrar a dinamicidade do processo de

    desenvolvimento histórico, permitindo identificar os condicionantes que desencadearam

    cada cenário de acordo com o panorama socioeconômico predominante em cada época.

    Inicialmente, foi feita a pesquisa bibliográfica, que além de autores já citados,

    também versam sobre dissertações de mesma temática e procedimentos metodológicos.

    Como esta pesquisa propõe utilizar imagens de satélites que possibilitem o

  • 21

    acompanhamento das transformações do espaço urbano, destacamos os seguintes

    trabalhos.

    CHÃO (1998) se propôs a pesquisar as transformações ocorridas no espaço

    urbano da província Ciudad de La Habana e Habana Del Este - Cuba através de dados

    orbitais e informações temáticas dentro de um ambiente SIG, a partir da análise

    multitemporal-multiproduto através de fotografias aéreas, imagem XS-Spot e Landsat.

    RIOS (2010) utilizou imagens multitemporais para visualização das

    transformações ocorridas na cidade de Vitória-ES. Sua metodologia consistiu, dentre

    outras etapas, na aquisição e leitura de imagens, coleta de pontos, criação de banco de

    dados, georreferenciamento e tratamento de imagens. Com a integração desses dados

    permitiu estimar a dinâmica ocorrida no uso e ocupação de algumas áreas como: urbana,

    solo exposto e áreas verdes, além de identificar a forma pelo qual o espaço está sendo

    ocupado.

    BARIQUELLO (2010) identificou e analisou a expansão urbana da cidade de

    Botucatu-SP, ao longo de 48 anos, utilizando como ferramenta ArcGIS 9.3, integrando

    dados históricos, socioeconômicos e naturais aos vetores de expansão ao longo do

    tempo.

    SPERANDELLI (2010) buscou compreender a evolução do crescimento urbano,

    áreas verdes e vazios urbanos, utilizando imagens de satélites multitemporais (1962,

    1972, 1978, 1995 e 2009) da cidade de Atibaia –SP.

    Como também essa pesquisa busca compreender e identificar ação de agentes

    sociais no espaço urbano, embora haja inúmeras pesquisas referentes ao tema,

    destacamos os seguintes trabalhos.

    FAÇANHA (1998) trabalhou a evolução urbana de Teresina sob a proposta de

    identificar os agentes produtores do espaço urbano e os processos e formas espaciais

    produzidos por eles na cidade.

    LIMA (2011) teve como proposta de trabalho as transformações socioespaciais de

    Teresina, enfocando as atividades da produção imobiliária criada pelos promotores

    imobiliários conferindo na cidade as implicações da transformação urbana.

    Por sua vez, LEITE (2013) enfocou a produção do espaço urbano e a utilização de

    geoprocessamento e análise multicritério na expansão urbana de Teresina.

    A abordagem referente às políticas habitacionais, expansão urbana através de

    conjuntos habitacionais e loteamento, Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV) e

    dinâmica imobiliária se fundamentaram nas seguintes dissertações.

  • 22

    NOGUEIRA (2011) abordou a transformação da configuração espacial do

    município de Eusébio-CE através de conjuntos e loteamento fechados.

    LUCENA (2014) analisou as implicações do PMCMV, na cidade de Patos-PB,

    sob as questões de moradia.

    ALCANTARA (2013) abordou a produção do espaço a partir da dinâmica

    imobiliária, em um estudo comparativo das cidades de São Jose do Rio Preto-SP,

    Uberlândia-MG e Londrina-PR.

    SANTOS (2015) abordou em sua pesquisa a (re) produção do espaço através de

    condomínios horizontais do bairro Passaré em Fortaleza- CE.

    Em paralelo ao levantamento bibliográfico, foi feita à aquisição, tratamento de

    imagens e produção dos mapas. Para isso foram utilizadas imagens multitemporais dos

    sensores TM do satélite LANDSAT 5 e OLI do LANDSAT 8 da cidade de Piripiri-PI,

    disponíveis no catálogo de imagens do INPE. Para fazer a escolha e download das

    imagens foi necessário observar se há nuvens ou ruídos que possivelmente possam

    prejudicar a área de estudo.

    Na elaboração da análise da mancha urbana da cidade de Piripiri – PI foram

    utilizados os seguintes materiais:

    - Carta topográfica com curvas de nível com equidistância de 20 m do município

    de Piripiri, digitalizadas na escala 1:100.000;

    - Imagens de satélite Landsat-5 TM, resolução espacial de 30 m, em composição

    colorida RGB 543, de 19/08/1985;

    - Imagens de satélite Landsat-5 TM, resolução espacial de 30 m, em composição

    colorida RGB 543, de 15/08/1995;

    - Imagens de satélite Landsat-5 TM, resolução espacial de 30 m, em composição

    colorida RGB 543, de 10/08/2005;

    - Imagens de satélite Landsat-8 OLI, resolução espacial de 30 m, em composição

    colorida RGB 654, de 30/03/2015.

    - Software QGIS 2.8, utilizado para o processamento digital das imagens e para a

    edição dos mapas.

    A princípio, as imagens de satélites foram selecionadas, no site do INPE,

    tomando-se por base a área urbana do município. Após a seleção, as imagens foram

    georreferenciadas, ou seja, apoiadas em coordenadas geográficas a partir da carta

    topográfica digital para que os demais mapas pudessem estar espacialmente

    referenciados.

  • 23

    O georreferenciamento tem a função de reorganizar os pixels da imagem em

    relação a um determinado sistema de projeção cartográfica, cujo objetivo é o de

    minimizar as distorções geométricas causadas pelo movimento da Terra e do satélite,

    pela curvatura da Terra, pela largura da faixa imageada, etc., bem como por erros

    panorâmicos ou radiométricos, causados pelo tamanho dos pixels fora do nadir (visada

    na perpendicular), resultantes de falhas instrumentais e limitações próprias do processo

    de imageamento.

    Nos trabalhos de campo, as atividades foram desenvolvidas com recursos

    próprios, tendo sido realizadas em cinco períodos descritos a seguir.

    a) Em julho de 2015 foi realizado o primeiro reconhecimento de campo. Foram

    realizados registros fotográficos, marcação de pontos utilizando o GPS dos principais

    objetos e limites espaciais julgados necessários no primeiro momento. Como percepção

    inicial, foi observada a quantidade expressiva de conjuntos habitacionais e loteamentos

    na cidade que influenciou na inclinação do desenvolvimento da dissertação para essa

    temática.

    b) Entre agosto e novembro de 2015 foram feitos levantamentos de dados junto ao

    Sindicato da Construção Civil, ACIPI e CDL, SEBRAE, FIESPI, para identificação dos

    agentes sociais e a forma como eles atuaram na produção do espaço urbano da cidade.

    c) Em janeiro de 2016 foram realizados registros fotográficos e levantamento de

    dados de conjuntos habitacionais junto à CAIXA, Secretaria de Assistência Social,

    Secretaria de Obras e Secretaria de Infraestrutura da Prefeitura Municipal. Iniciou-se a

    procura de mapas e leis junto a Câmara de Vereadores e Prefeitura, além, de ligações e

    trocas de e-mails com funcionários e ex-funcionários, responsáveis pelo atendimento às

    solicitações de documentações.

    Nesse momento a dificuldade de obtenção de mapas foi sentida, pois não foram

    encontrados os anexos das leis referentes aos mapas de perímetro urbano nos órgãos

    públicos. As ligações e trocas de e-mails com funcionários e ex-funcionários, se referem

    a desenhistas ou outros profissionais que em algum momento, prestaram serviço a

    gestão municipal e que possuem em seus acervos pessoais algum arquivo ligado a

    demanda da pesquisa.

    d) Em março de 2016, as atividades foram direcionadas para o levantamento de

    dados para conhecimento da atuação de corretores, imobiliárias e construtoras junto ao

    CREA, CRECI, pesquisa em meio eletrônicos e redes sociais de vendas de imóveis,

  • 24

    fotografias e visita a cada conjunto habitacional e loteamento, ida ao Cartório para

    levantamento de loteamentos regularizados.

    e) Em junho de 2016 foi feita marcação de pontos no GPS da localização de

    conjuntos habitacionais e seus respectivos equipamentos públicos e registro fotográfico.

    Nesta pesquisa, a dinâmica espacial foi estudada sob o aspecto temporal de 30

    anos, nos interstícios dos anos de 1985, 1995, 2005 e 2015. O método que pode

    viabilizar a observação e avaliação dos elementos da paisagem foi o uso de dados

    obtidos por sensores remotos representados por imagens de satélite permitindo a

    visualização e atualização do crescimento das áreas urbanas.

    A partir de toda a metodologia aqui descrita, foi elaborada a análise do

    crescimento urbano da cidade de Piripiri para o período compreendido entre 1985 a

    2015, considerando os resultados relativos às imagens de satélites e à identificação dos

    agentes na dinâmica do espaço urbano.

    A estrutura do presente trabalho está organizada em cinco capítulos:

    O capítulo 1 consiste na Introdução, na qual é apresentada de forma geral a

    estrutura da pesquisa, conceitos, justificativa, objetivo geral e objetivos específicos,

    caracterização da área de estudo, metodologia.

    O capítulo 2 apresenta a Fundamentação Teórica, que embasa a pesquisa sobre o

    uso das geotecnologias voltadas para estudos urbanos, além de abordagens sobre as

    teorias do espaço urbano através da atuação dos agentes sociais, discussão sobre a

    política habitacional que influencia na implantação de conjuntos habitacionais na

    cidade, bem como, o solo como produto capitalista dentro da dinâmica do mercado

    imobiliário na produção de loteamentos.

    No capítulo 3, denominado Análise multitemporal através de imagens de satélite e

    agentes sociais na cidade de Piripiri, tem como ênfase proporcionar, através de mapas, a

    evolução da mancha urbana da cidade, comparando as imagens de satélites no

    interstício de 10 em 10 anos, identificando suas transformações espaciais influenciadas

    pela atuação predominante de agentes que produzem o espaço, assim sequenciados:

    proprietários dos meios de produção, proprietários fundiários, promotores imobiliários,

    Estado e grupos sociais excluídos.

    No capítulo 4, denominado Características e organização espacial de Piripiri:

    conjuntos habitacionais e loteamentos como indutores da expansão urbana têm como

    objetivo compreender a expansão da malha urbana de Piripiri, através dos conjuntos

    habitacionais e loteamentos populares como reflexos da política de habitação dos

  • 25

    últimos anos, a distribuição territorial das unidades habitacionais e da atuação dos

    promotores imobiliários na produção de loteamentos contribuindo para a reorganização

    espacial da cidade.

    Por fim, no Capitulo 5, apresentamos as considerações finais, em que realizamos

    uma reflexão acerca do conhecimento produzido, revisão de alguns conceitos e dados

    apresentados durante a pesquisa.

  • 26

    2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

    2.1 GEOTECNOLOGIAS APLICADAS AOS ESTUDOS URBANOS

    Com o avanço das geotecnologias, o estudo voltado para o monitoramento do

    espaço urbano das cidades ganhou destaque dentro do sensoriamento remoto,

    permitindo a geração de imagens que discriminam com maior precisão os elementos da

    superfície terrestre. A importância do mapeamento do crescimento urbano através de

    imageamento multitemporal é imprescindível para análise do entendimento das

    ocupações urbanas e seu planejamento.

    A cobertura multitemporal das imagens proporciona um acompanhamento da

    mancha urbana e dos problemas ambientais decorrente de sua expansão, atualização da

    malha urbana e interpretação da tendência do crescimento (FORESTI, 1988).

    Segundo Kurkdjian (1993 apud Souza, 2012) as aplicações de sensoriamento

    remoto para análise no espaço urbano ocorrem em duas linhas: a) uma delas é a relação

    do sistema urbano com o meio físico que lhe envolve, e está associada a estudos de

    geologia, geomorfologia, sentido de expansão urbana, adensamento urbano, entre

    outros; b) a outra linha é o espaço intraurbano que envolve informações que são

    capazes de identificar o tipo de uso do solo, vazios urbanos, sistema viário,

    regularização fundiária, áreas verdes, entre outros.

    Pisani, Zmitrowicz (1992) consideram a utilização das imagens de satélites como

    fundamentais no processo de planejamento e detecção dos limites urbanos, pois

    permitem a abrangência de grandes áreas e auxiliam no desenvolvimento da

    infraestrutura urbana e conservação da paisagem. As técnicas de leitura e

    acompanhamento das mudanças urbanas podem ser acompanhadas e verificadas por

    meio da periodicidade das passagens dos satélites, possibilitando a identificação da

    abertura de novos loteamentos, características do solo, vazios urbanas, vegetação, entre

    outras mudanças físicas, tornando mais eficiente à atuação de responsáveis pelo

    planejamento urbano e controle da ocupação urbana.

    Lombardo, Machado (1996) confirmam que as técnicas de sensoriamento remoto

    constituem instrumentos significativos nos estudos urbanos, os quais requerem uma

    atualização e ordenação dos dados para o planejamento territorial, visualizados através

    de mapas temáticos.

  • 27

    Na análise da evolução da mancha urbana as imagens de satélite são

    imprescindíveis, oferecendo a vantagem de atualização, devido ao dinamismo da

    expansão dos limites urbanos. Neste contexto, a cobertura temporal das imagens

    espaciais permite um monitoramento da mancha urbanizada mostrando uma informação

    global e atualizada do tecido urbano e sua tendência de crescimento (LOMBARDO,

    MACHADO, 1996).

    Florenzano (2002) afirma que o processo da urbanização tem provocado impactos

    negativos na qualidade de vida da população e as técnicas de sensoriamento remoto

    contribuem para uma análise e elaboração que possa subsidiar o planejamento urbano

    do uso do solo das áreas urbanas.

    Malta (2004) afirma que com a resolução do sensor TM, aumentou sensivelmente

    o uso de imagens orbitais para aplicação no planejamento urbano e regional, favorecida

    pela possibilidade de reconhecimento do ambiente regional e as relações entre o

    ambiente natural e construído. A alta frequência temporal das imagens permite e

    favorece detectar as mudanças e evolução das áreas urbanas.

    Carvalho (2010) considera o uso de geotecnologias como ferramenta de análise da

    gestão urbana e tomada de decisões, uma vez que o urbano é dinâmico e em constante

    transformação e as tecnologias auxiliam no seu acompanhamento.

    Segundo Souza (2012), a interpretação de uma imagem depende dos processos de

    Reflexão, Absorção, Transmissão e como elas são representadas nas imagens.

    Conhecendo o comportamento espectral das imagens é possível optar como

    metodologia de análise da imagem, a interpretação visual, entendendo que:

    As técnicas de interpretação permitem incorporar outros elementos além dos

    dados espectrais, como a forma, brilho, cor, textura, localização, analise de

    contexto, assim como também, o conhecimento que o analista possui da área

    de estudo. Por essa razão, procura-se selecionar imagens das faixas do

    espectro que melhor contraste apresente entre o urbano e as outras coberturas.

    (SOUZA, 2012, p. 4-5).

    Sousa (2015) afirma que as geotecnologias são consideradas como um suporte

    tecnológico para o trabalho no processo de planejamento e organização, aliando o

    mapeamento dos problemas urbanos com informações físicas, demográficas,

    geográficas, topográficas e de infraestrutura com a gestão urbana.

    No rápido processo de expansão urbana das cidades brasileiras, surge a

    importância de técnicas de acompanhamento e surgimento de novas áreas. Segundo

    Alves et al. (2009), com a utilização de técnicas convencionais de obtenção de dados

  • 28

    como levantamento de campo e monitoramento aerofotogramétrico tradicional, o estudo

    de áreas urbanas se torna oneroso, por isso é imprescindível a utilização das imagens de

    satélites, pois proporciona repetitividade, visão sinótica e cobertura de áreas externas.

    Com o avanço das tecnologias e desenvolvimento de novos sensores, se aperfeiçoa a

    obtenção de imagens e precisão de informações e dados.

    Os avanços tecnológicos e a produção de imagens favorecem os diversos usos,

    juntamente com a tecnologia de Sistemas de Informações Geográficas (SIGs),

    possibilitando seu uso nos estudos urbanos, intraurbanos, entre outros.

    A dinâmica inerente ao espaço urbano impõe a necessidade de trabalhar com

    uma visão sistêmica de conjunto. A representação de elementos espaciais que

    se interligam e ao mesmo tempo são identificáveis individualmente, traz

    consigo a valorização da cartografia temática como elemento de comunicação

    visual das análises e das propostas para as questões urbanas. A representação

    cartográfica é resultado de processos e síntese de dados retratando a realidade

    e favorecendo diagnósticos e intervenções (MOURA, 1994, p.51).

    A confrontação dos resultados obtidos nos estudos de áreas urbanas, segundo

    Fuckner (2007), permite definir padrões espaciais de crescimento. A integração entre os

    condicionantes físicos e as variáveis econômicas refina a interpretação dos padrões de

    crescimento urbano, podendo ocorrer de forma compacta ou dispersa.

    2.2 A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO

    O processo de produção e reprodução do espaço urbano está ligado

    intrinsecamente ao próprio desenvolvimento da sociedade. Ela o produz e o domina,

    apropriando-o. O espaço deixa de ser apenas objeto e passa a ser fruto do efeito da ação

    da sociedade. Ele é dinâmico, é ao mesmo tempo causae razão, reflexo determinante dos

    agentes sociais que o produzem.

    Assim, o espaço é objeto e condição das relações de produção e ao mesmo tempo

    se materializa de acordo com a necessidade e características da reprodução da

    sociedade, explicitando como uma afirmação da pratica capitalista. Essa tradução do

    espaço vai consentir a reprodução do espaço social como necessidade do modo de

    produção capitalista em sua fase de realização. As necessidades da sociedade em face de

    sua produção e reprodução se transferem para a produção do espaço.

    Compreender o conceito de espaço é compreender o processo de produção e

    reprodução mútua entre sociedade e espaço. Lefebvre (1972, p. 39.)

  • 29

    Quem diz «produção» diz também «reprodução», simultaneamente física e

    social: reprodução do modo de vida. «A maneira por que se manifesta a vida

    dos indivíduos reflecte com grande exatidão o que eles são. O que eles são

    coincide assim com a sua produção quer com o que produzem quer com a

    maneira por que o produzem.

    Harvey (1980) esclarece que cada forma de atividade social define seu espaço e

    qualquer tipo de teoria que conduza para o estudo da cidade está intimamente ligada aos

    processos sociais e a forma social que ela assume e a maneira como o espaço é encarado

    pode ter influencias profundas nos processos sociais, necessitando, portanto, de uma

    sensibilidade para lidar com os processos sociais e elementos das formas espaciais.

    Segundo Lefebvre (2006), seu conceito não pode ser estático, vazio e passivo,

    como determinante nas relações de produto-produtor, ele dá suporte as relações

    econômicas e sociais, resultado de forças produtivas, de estruturas, de relações, de

    propriedade entre outras.

    Discutir o conceito de espaço é complexo, mas parte-se do pressuposto que o

    mesmo é fruto da produção da sociedade, onde cada tempo e cada ação apresentam

    particularidades. Seu conteúdo é alterado continuamente e a estrutura de organização

    está ligada a produção do seu próprio espaço urbano.

    Carlos (2011) define que o espaço é um produto social onde as relações

    econômicas, sociais e políticas se materializam no decorrer de seu processo histórico. O

    espaço em um mundo capitalista passa a ser reproduzido de acordo com os imperativos

    de acumulação e lucro, tornando-se mercadoria na articulação e dinâmica no processo

    de expansão do mundo globalizado, permitindo sua continuidade, produção e

    reprodução.

    É importante compreender que a noção de produção do espaço é resultado de

    ações de agentes sociais concretos e históricos, voltado para interesses e

    estratégias inseridos na temporalidade e espacialidade da formação sócio

    espacial capitalista. A análise espacial da cidade, no que se refere ao processo

    de produção, revela a indissociabilidade entre espaço e sociedade, na medida

    em que as relações sociais se materializam em um território real e concreto, o

    que significa dizer que, ao produzir sua vida, a sociedade produz/reproduz

    um espaço através da prática sócio espacial. A materialização do processo é

    dada pela concretização das relações social produtoras dos lugares, esta é a

    dimensão da produção/reprodução do espaço, passível de ser vista, percebida,

    sentida, vivida. (CARLOS, 2007, p.20)

    O processo de compreensão da produção do espaço urbano nos remete a

    consideradas práticas e influencias em variados níveis de produção e reprodução de

    sujeitos materializando suas ações em seu tempo e espaço.

  • 30

    Esses níveis correspondem aqueles da pratica sócio espacial real (objetiva e

    subjetivamente) que ganha sentido como produtora dos lugares, encerrando

    em sua natureza um conteúdo social dado pelas relações sociais que se

    realizam num espaço tempo determinado, como um processo de produção,

    apropriação, reprodução da vida, da realidade e do espaço em seu

    descompasso, portanto, fundamentalmente em suas contradições.

    (CARLOS,2007, p. 64)

    A produção do espaço numa sociedade capitalista é consequência de agentes

    sociais com suas influencias particulares e dotados de interesse materializando os

    processos sociais na forma do ambiente construído. Correa (2014, p. 44), afirma “que os

    processos sociais e agentes sociais são inseparáveis, elementos fundamentais da

    sociedade e de seu movimento”.

    Diante disso, o espaço materializado como produto da sociedade capitalista, se

    torna fragmentado e articulado, com forma e conteúdo distintos, representando a

    complexa estrutura social que a erigiu. Nesse contexto, Correa (1989, p.11) afirma que:

    O espaço urbano capitalista – Fragmentado, articulado, reflexo,

    condicionante social, cheio de símbolos e campo de lutas – é um produto

    social, resultado de ações acumuladas através do tempo, e engendradas por

    agentes que produzem e consomem espaço. São agentes sociais concretos, e

    não um mercado invisível ou processos aleatórios atuando sobre um espaço

    abstrato. A ação destes agentes é complexa, derivando da dinâmica de

    acumulação de capital, das necessidades mutáveis de reprodução das relações

    de produção, e dos conflitos de classe que dela emergem. A complexidade da

    ação dos agentes sociais inclui práticas que levam a um constante processo de

    reorganização espacial que se faz via incorporação de novas áreas ao espaço

    urbano, densificação do uso do solo, deterioração de certas áreas, renovação

    urbana, realocação diferenciada da infraestrutura e mudança coercitiva ou

    não, do conteúdo social e econômico de determinadas áreas da cidade.

    No que consiste o espaço urbano em sua fragmentação e articulação, Correa

    (1989, p. 6) enfatiza que:

    Cada uma de suas partes mantém relações espaciais com as demais, ainda

    que de intensidade muito variável. Essas relações manifestam-se

    empiricamente através de fluxos de veículos e de pessoas associadas a

    operações de carga e descarga de mercadorias, aos deslocamentos

    quotidianos entre as áreas residenciais e os diversos locais de trabalho, aos

    deslocamentos menos frequentes para compras no centro da cidade ou nas

    lojas de bairro, às visitas aos parentes e amigos.

    Entender esses agentes e suas ações no espaço urbano é um desafio, pois agem

    associados em constante produção e mediante uma temporalidade, se articulam dentro

    do processo de acumulação capitalista, com intensas e constantes produções e

  • 31

    reproduções continuadas, com novas práticas socioespaciais ocasionando transformação

    no modo de vida. Para Carlos (2007, p. 41):

    O que significa, neste contexto, que as relações sociais ocorrem fora dos

    limites estreitos da produção de mercadorias e do processo de trabalho (sem,

    todavia, negá-la) para enfocar a vida em todas as suas dimensões (aquela que

    se desenvolve ligando momentos e lugares como a casa, a rua, o bairro)

    criando uma trama de relações como trama dos lugares onde se destaca uma

    rede articulada que liga as práticas sócios espaciais e é assim que a produção

    do espaço se realiza enquanto produção ininterrupta da vida.

    A atuação de agentes sociais no universo capitalista de fazer e refazer a cidade

    constitui com diferentes usos da terra articulada e fragmentada, para Correa (1989), o

    espaço urbano “como esse conjunto de usos da terra, e em realidade, a organização

    espacial da cidade, ou simplesmente, o espaço urbano que aparece assim fragmentado”.

    Essa articulação e fragmentação do espaço, as partes fragmentadas do espaço

    mantendo relações entre si, é a tradução dos processos sociais refletidas através do

    movimento da própria sociedade, de sua estrutura urbana e se materializam nas formas

    espaciais. Formas essas que são socialmente produzidas pelos agentes sociais concretos.

    Correa (1989) afirma que a produção do espaço urbano capitalista deve ser

    analisada como um produto social, ou seja, existem agentes sociais concretos que

    produzem e consomem espaços na cidade. Os agentes sociais do espaço urbano são os

    proprietários dos meios de produção, os proprietários fundiários, os promotores

    imobiliários, o Estado e os grupos sociais excluídos.

    A identificação desses agentes é de grande importância para que se possa

    compreender a atuação e articulação entre eles e a materialidade que se processa através

    das formas espaciais. Estudo complexo quando nos inclinamos ao espaço urbano da

    cidade de Piripiri, pois faltam registros, documentações e pesquisas sobre a referida

    cidade. Entendê-la e interpretá-la através das ações de seus agentes é um exercício, com

    oposições e contratempos.

    2.2.1 Agentes sociais do espaço urbano

    A interpretação que devemos ter sobre a atuação dos agentes sociais deve ser

    cautelosa, antes de analisá-los são necessárias algumas considerações, conforme alerta

    Corrêa:

  • 32

    Em primeiro lugar, a ação destes agentes se faz dentro de um marco jurídico

    que regula a atuação deles; (...) em segundo lugar, convém apontar que, ainda

    que possa haver diferenciações nas estratégias dos três primeiros agentes,

    bem como conflito entre eles, há, entretanto, denominadores comuns que os

    unem: um deles é a apropriação de uma renda da terra. (...) em terceiro lugar,

    é necessário ressaltar que a tipologia apresentada é muito mais de natureza

    analítica do que efetivamente absoluta. (...) em quarto lugar, é importante

    notar que as estratégias que esses agentes adotam variam no tempo e no

    espaço, e esta variabilidade decorre tanto de causas externas aos agentes,

    como de causas internas, vinculadas às contradições inerentes ao tipo de

    capital de cada agente face ao movimento geral de acumulação capitalista e

    dos conflitos de classe...” (CORRÊA, 1989, p.12-13).

    A partir das ações dos agentes sociais o espaço urbano é produzido, reforçado por

    suas materialidades e construção da paisagem ajustado aos interesses e necessidades

    como:

    Campos cultivados, estradas, represas e centros urbanos com ruas, bairros,

    áreas comerciais e fabris, mas também pleno de significados diversos, como

    aqueles associados a estética, status, etnicidade e sacralidade. (CORREA,

    1989, p. 44)

    A ação dos agentes caracterizadas pelas estratégias e práticas que concernem suas

    atividades reflete assim no espaço urbano. A terra urbana se torna objeto de interesse

    comum a vários agentes, como os proprietários dos meios de produção, promotores

    imobiliários, o Estado e outros. Compreender a ação de cada um dos agentes é de

    grande importância para compreensão do espaço urbano da cidade.

    Os proprietários do meio de produção são os industriais e as grandes empresas

    comerciais que se alocam em áreas propiciando a atuação de suas atividades,

    incorporando áreas cada vez mais amplas em diferentes setores, comandando a vida

    política e econômica da cidade. Segundo Correa (1989, p. 15), “a ação desses agentes

    modela a cidade, produzindo seu próprio espaço e interferindo decisivamente na

    localização de outros usos da terra”.

    Outro agente produtor do espaço urbano são os proprietários fundiários, eles como

    proprietários da terra se articulam com o Estado no interesse do processo de

    transformação do espaço rural em urbano, com o objetivo de valorizar suas terras.

    Atuam no sentido de obterem a maior renda fundiária de suas propriedades,

    interessando-se em que estas tenham o uso que seja o mais remunerador

    possível, especialmente uso comercial ou residencial de status. Estão

    particularmente interessados na conversão da terra rural em terra urbana, ou

    seja, tem interesse na expansão do espaço da cidade na medida em que a terra

    urbana é mais valorizada que a rural. [...] Como se trata de uma demanda

    solvável, é possível aos proprietários tornar-se também promotores

  • 33

    imobiliários; loteiam, vendem e constroem casas de luxo. Criam-se assim

    bairros seletivos em setores de amenidades. (CORRÊA, 1995, p. 16 – 18).

    Os promotores imobiliários promovem uma dinâmica no mercado imobiliário da

    cidade, são esses agentes que tomam as decisões de localização, qualidade do prédio,

    tamanho das unidades, construção do imóvel, comercialização, entre outras. Essa

    atuação, com manifestações e interferências de diversas formas, ocasiona no espaço

    urbano da cidade uma segregação característica de uma sociedade capitalista e

    consequentemente origina diversos tipos de agentes desde as grandes incorporadoras

    até os pequenos proprietários que constroem, produz e vende imóveis.

    Correa (1989) afirma que embora exista atuação concomitante desses diversos

    tipos de agentes na cidade, eles possuem suas particularidades:

    Há desde o proprietário fundiário que se transformou em construtor e

    incorporador, ao comerciante prospero que diversifica suas atividades

    criando uma incorporadora, passando pela empresa industrial, que em

    momentos de crise e ampliação de seus negócios cria uma subsidiaria ligada

    a promoção imobiliária. Grandes bancos e Estados também atuam como

    promotores imobiliários (CORREA, 1989, p. 20-21).

    Correa (1989) aborda que as estratégias das ações desses agentes partem para

    atender a demanda solvável, assim, os promotores imobiliários produzem imóveis de

    luxo, com área de lazer, especificamente para parte da população que possui recursos

    necessários para compra desses imóveis, promovendo um significativo rebatimento

    espacial, valorizando áreas da cidade e atraindo outros investidores.

    Outra estratégia da ação desses agentes é a busca de suporte por parte do Estado

    para a viabilidade de construções para atender as camadas populares, tornando solvável

    a produção de residências para satisfazer a demanda não-solvável. As estratégias de

    atuação desses agentes criam e reforçam a segregação residencial com os promotores

    agindo de forma desigual característica da sociedade capitalista.

    Nesse contexto, o Estado é agente importante na produção do espaço urbano de

    uma cidade. Segundo Correa (1989), ele atua na organização espacial da cidade e sua

    atuação tem sido complexa e variável tanto no tempo como no espaço, refletindo a

    dinâmica da sociedade da qual é parte constituinte.

    Para Corrêa (1989), o Estado atua como grande industrial, promotor imobiliário,

    proprietário fundiário ao mesmo tempo como agente regulador do uso do solo urbano,

    com criação de leis, normas de zoneamento, código de obras e outros no que se refere

    ao espaço urbano. E no momento mais perceptível de atuação, é quando observamos a

  • 34

    implantação de serviços básicos, como calçamento, abastecimento de água e luz,

    parques, sistema viário, coleta de lixo, etc.;

    O Estado possui diversas possibilidades de atuação no espaço urbano, nesse

    sentido Correa (1989) afirma que a atuação do Estado é marcada pelo conflito de

    interesses da sociedade de classes, criando condições, realizações e reprodução da

    sociedade capitalista, isto é, condições que viabilizem o processo de acumulação das

    classes sociais.

    Já os grupos sociais excluídos, que também agem na produção do espaço urbano,

    com diferenças sociais ao acesso de bens e serviços produzidos socialmente, reflexo da

    sociedade capitalista, esses grupos criam estratégias de ocupação e vida nas cidades.

    A produção do espaço urbano reflete na expansão territorial da cidade,

    incorporando novas áreas a malha urbana, de acordo com as ações de todos esses

    agentes, aonde vão se revelando as segregações socioespaciais, sendo a habitação, um

    dos exemplos desse acesso seletivo.

    Nesse contexto Correa (1989), afirma que a produção do espaço urbano dos

    grupos sociais excluídos é uma forma de resistência, tornando-se agentes modeladores,

    produzindo seu próprio espaço independentemente e a despeito de outros agentes.

    Assim, as transformações na estrutura urbana da cidade são reflexos do interesse

    de diversas classes sociais, fruto da produção e reprodução da sociedade capitalista, se

    materializando em novas formas, novas espacialidades e novas dinâmicas urbanas

    independentes da dimensão da cidade.

    A discussão sobre os agentes sociais e espaço urbano se fundamenta na teoria

    defendido por Correa (1989), onde o define como produto social, resultado das ações

    dos agentes sociais que modificam e configuram o ambiente urbano no fazer e refazer a

    cidade.

    2.3 O USO CAPITALISTA DO SOLO URBANO

    Segundo Oliveira e Barcellos (1987) com o desenvolvimento do capitalismo, o

    urbano aparece como o lugar em que se concentram as atividades de produção e

    circulação de mercadorias, constituindo-se, portanto, em condição necessária para o

    avanço do processo de acumulação. Nessa produção de mercadorias, o capital, então,

    apropria-se dos efeitos da aglomeração de modo a se valorizar em melhores condições.

  • 35

    Lahorgue (2002) entende que a sociedade atual se fundamenta na produção de

    mercadorias, isto é, os bens que são produzidos por condições determinadas necessitam

    serem vendidos para que ocorra o ciclo da mercadoria e o capital possa se reproduzir e

    se valorizar.

    Nesse contexto, segundo Harvey (2005), o Estado assegura o funcionamento do

    modo capitalista de produção. Ele se apresenta com um papel relevante na configuração

    do espaço urbano. Sua atuação tende a privilegiar os interesses das diferentes frações do

    capital, provendo a infraestrutura necessária ao processo de acumulação, em detrimento

    das demandas relativas dos meios responsáveis pela reprodução da força de trabalho. Na

    economia capitalista, o solo representa uma mercadoria tendo seu valor estabelecido

    partir do seu valor de uso e de troca, o valor de uso é determinado pela sua utilidade

    enquanto o valor de troca é conferido pela possibilidade de compra e venda transmitidas

    pela mercadoria. Conforme Maricato (1997)

    [...] de um lado estão os usuários da cidade, os trabalhadores, aqueles que

    querem da cidade condições para tocar a vida: moradia, transporte, lazer, vida

    comunitária, etc. Esses vêem a cidade como valor de uso. Do outro lado estão

    aqueles para quem a cidade é fonte de lucro, mercadoria, objeto de extração

    de ganhos. Esses encaram a cidade como valor de troca [...] (MARICATO,

    1997, p. 44).

    Gottdiener (2010) percebe a ação especial do Estado junto aos interesses dos

    agentes imobiliários na produção do espaço, dentro de uma lógica de globalização

    contribuindo para o crescimento das cidades.

    O processo de valorização do solo urbano se torna um negócio lucrativo seguindo

    a lógica do lucro. O uso do solo é guiado pela dinâmica de mercado, criando ou

    reforçando diferentes áreas da cidade, alvo dos promotores imobiliários. Resulta,

    portanto, em uma segregação residencial, fruto de uma cidade capitalista, uma vez que

    estão diretamente relacionados com o mercado imobiliário, venda e comercialização de

    empreendimentos, influenciando na expansão de determinadas áreas da cidade

    promovendo a especulação imobiliária.

    Segundo Singer (1979), o Estado fornece uma estrutura básica para valorizar o

    espaço urbano, através de ações e regulamentações como financiamento, oferta de

    serviços, melhoria em equipamentos urbanos e acesso a moradias, proporcionando a

    valorização dessa área. Na medida em que o poder público dota essas áreas de serviços

    públicos, ele desvia para esta zona demandas de empresas e moradores que

  • 36

    anteriormente, devido à falta do serviço em questão, davam preferência a outras

    localizações.

    As obras de infraestrutura alimentam a especulação imobiliária e dificulta a

    democratização do acesso à terra. “Os proprietários de terra e capitalistas das atividades

    de promoção imobiliária e construção são um grupo real de poder e definição das

    realizações orçamentarias anuais. ” (ARANTES, VAINER, MARICATO, 2002, p.

    157).

    Na dinâmica do mercado imobiliário a inovação e o uso de novas características,

    materiais, localização, são instrumentos para proporcionar ao empreendimento um

    atrativo a mais, materializando um produto habitacional diferenciado agregando valor

    de mercado ao imóvel e promovendo na área ocupada um novo padrão e status

    diferenciado de moradia, provocando uma alteração do ambiente urbano, produzindo e

    reproduzindo novos espaços.

    De acordo com essas estratégias, observa-se a articulação de diversos serviços

    para que o capital se valorize e que haja a reconfiguração do espaço geográfico através

    de investimentos do setor privado na atuação do ambiente construído a fim de obterem

    êxito em seu empreendimento. Essa incerteza na aquisição do imóvel por parte da

    população futura, segundo Campos, Candido (2001), é um elemento fundamental da

    dinâmica imobiliária, pois, induz os capitalistas a determinadas estratégias espaciais de

    atuação.

    A especulação imobiliária é uma dessas estratégias de valorização do capital.

    Segundo Campos, Candido (2001) é uma forma pela qual os donos da terra recebem

    uma renda transferida dos outros setores produtivos da economia, especialmente através

    de investimentos públicos na infraestrutura e serviços urbanos. Um loteamento de terras

    proporciona uma reconfiguração do espaço urbano, altera o preço da terra, valoriza

    determinadas áreas da cidade reforçando a segregação espacial. Segundo Singer (1979,

    p.23), “o uso do solo na economia capitalista é regido pelo mecanismo de mercado, no

    qual se forma o preço desta mercadoria „sui generis‟ que é o acesso à utilização do

    espaço”. O solo urbano adquire um valor de uso e de troca, se transforma em

    mercadoria, com seu modelo de uso, gerenciados pelos diversos tipos de agentes que

    atuam na cidade.

    Segundo Gonçalves (2002), o processo de especulação se alimenta de acordo com

    as expectativas criadas em torno de um dado território. Atitude percebida, quando se há

    melhorias em determinadas áreas e essas passam a ser mais atraentes e ocupadas por

  • 37

    uma parcela da população que possui maior estrutura monetária que outras, resultado da

    acumulação de capital imprescindível para a acumulação do meio urbano.

    Segundo Pagani, Alves, Cordeiro (2015), as mudanças no uso do solo urbano vão

    depender dos horizontes especulativo que se desenvolve em torno de condições reais ou

    atuais de ganhos ou de expectativas em curto e longo prazo. Essa mudança determina

    um novo padrão de ocupação, diferenciando o novo produto imobiliário do atual

    existente dentro da dinâmica imobiliária.

    Segundo Melazzo (2013), a lógica e a estratégia de mercado podem ser percebidas

    com as movimentações que os agentes imobiliários fazem dentro da cidade. Esse fluxo

    de transação está relacionado tanto ao uso, localização e preço dos imóveis tanto com as

    características da área de acordo com as mudanças que estão ocorrendo devido a

    reconfiguração do espaço urbano. Portanto, essa dinâmica imobiliária é o processo de

    valorização de capitais que agem sobre a cidade e seus objetos na busca permanente e

    crescente de sua valorização.

    Os agentes, suas particularidades e a dinâmica imobiliária que age na cidade,

    influencia na sua reconfiguração socioespacial. Melazzo (2013) ainda reforça que todas

    essas transformações se deve a conjuntura econômica e financeira presente em diversas

    escalas como ampliação do crédito, ampliação dos subsídios via FGTS, Programa

    Minha casa, Minha Vida; abertura de capitais particulares nas bolsas de valores, Fundos

    Imobiliários, entre outros.

    Esse uso do solo como condição de valorização do capital e o mercado imobiliário

    atuante e atrativo até para empresas de outros Estados, vai estar presente na cidade de

    Piripiri, materializado na produção, comercialização de lotes e imóveis presente na

    cidade. A atuação dos agentes envolvidos vai influenciar na ampliação e reconfiguração

    do espaço urbano.

    2.4 A POLÍTICA HABITACIONAL NO SÉCULO XXI

    A iminente necessidade de se resolver os problemas habitacionais que perduravam

    por longas décadas, era o desafio do governo Lula (2003-2010). A nova gestão aspirou

    expectativas para a institucionalização da política habitacional. O projeto moradia,

    coordenado pelo então presidente através do Instituto Cidade, organização não

    governamental lançado em 2002 em paralelo ao PNH, Plano Nacional de Habitação,

  • 38

    previa o acesso das populações com medias e altas rendas através do SBPE1e SFI

    2 e

    direcionar os recursos do FGTS, Fundo de garantia por tempo de serviço, para a

    população de menor renda, na intenção de reverter a lógica governamental dos governos

    anteriores.

    O Projeto Moradia visava à construção de projetos de desenvolvimento que

    associassem o enfrentamento da questão social, ao crescimento econômico e geração de

    empregos. Propôs a criação do Sistema Nacional de Habitação, SNH, que atuaria sob a

    coordenação de um novo ministério, o das Cidades. O controle social seria exercido

    pelo Conselho Nacional das Cidades e a criação de órgãos nos Estados e Municípios,

    aos quais seriam responsáveis em gerir fundos de habitação, concentrariam recursos

    para subsidiar a baixa renda. Era necessário o barateamento ao acesso à terra e o

    combate a especulação de imóveis ociosos, preocupação perceptível no governo na

    orientação de se resolver a problemática de habitação no país não só com construção de

    casas, mas também a necessidade de se resolver a questão fundiária, aspecto ainda

    presente na atualidade.

    O Ministério das Cidades, criado em 2003, representou o surgimento de um novo

    ciclo, possibilitando a superação da instabilidade política. Foi criado com quatro

    secretarias adicionais: Habitação, Saneamento, Mobilidade Urbana e Programas

    Urbanos, buscando enfrentar os conflitos sociais e as questões urbanas. Em 2003, foi

    realizada a 1º Conferência Nacional das Cidades consolidando as bases de atuação do

    governo e propondo a criação do conselho nacional de habitação, instalado em 2004.

    Devido à crise econômica e escassez de recursos as propostas do projeto moradia

    não poderiam ser implementadas de imediato, ainda prevalecendo a visão bancária da

    Caixa Econômica Federal, sem alterações na concessão do crédito. Em 2005, foi

    instituído o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social, (SNHIS) exigindo dos

    Estados e Municípios a criação de uma estrutura institucional, com fundo, conselho e

    plano de habitação, para que tivessem acesso aos recursos federais. O SNH, Sistema

    Nacional de Habitação, tinha como objetivo a centralização de programas e projetos

    1SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo) é uma carta de credito que utiliza recursos

    próprios para facilitar aos clientes a aquisição de imóveis. Nesta opção, o cliente pode possuir outros

    imóveis em seu nome, não há limite de renda e o financiamento pode ser feito dentro ou fora do Sistema

    Financeiro de Habitação. 2 SFI (Sistema Financeiro Imobiliário) rege os financiamentos imobiliários que ocorrem fora das regras

    do SFH no país. A principal fonte de recursos do SFI são os grandes investidores institucionais, que

    possuem expressivos ativos, não só no Brasil, como em outros países: fundos de pensão, fundos de renda

    fixa, companhias seguradoras, bancos de investimento.

  • 39

    destinados à habitação de interesse social e receberia recursos do FNHIS3, fortalecendo

    a municipalização desse projeto.

    No contexto da habitação, o governo também deu respaldo para as classes medias

    nesse período. Através da lei nº 10.931/2004, deu uma segurança jurídica ao mercado e

    garantiu o financiamento de imóveis através dos recursos da poupança. Isso favoreceu a

    iniciativa privada a investir nesse mercado de menor renda, tornando um atrativo para a

    indústria da construção civil. Segundo Bonduki (2009) em um quadro favorável da

    economia, essas medidas geraram uma elevação de R$ 2,2 bilhões para R$ 27 bilhões,

    entre 2002 e 2008, no investimento em habitação do SBPE, Sistema Brasileiro de

    Poupança e Empréstimo. Nesse período, o mercado imobiliário passou a investir em

    compra de terrenos e as incorporadoras se tornaram grandes proprietárias de terras.

    Nesse contexto em 2007 o governo federal lançou o Programa de Aceleração do

    Crescimento, PAC, vinculado ao Ministério do Planejamento com atuação autônoma ao

    SNHIS, Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social, como uma proposta de

    estimular e acelerar a economia do pais, com o direcionamento de recursos para a

    habitação, saneamento, planejamento urbano e construção de melhorias de transporte.

    A partir de 2008, o governo ampliou a concessão de créditos para financiamentos

    de habitações pelos Bancos Públicos como medida de precaução diante da crise

    econômica que atingia outros países, manteve os investimentos previstos no PAC, e em

    2009, lança o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV).

    2.4.1Breve histórico do PMCMV, metas e agentes envolvidos.

    O PMCMV foi elaborado em 2009 pela medida provisória nº459, posteriormente

    convertida na lei 11.977 de 9 de julho de 2009, com o objetivo de criar mecanismos e

    objetivos para produção de novas unidades habitacionais, requalificação de imóveis

    urbanos e à produção ou reforma de habitações rurais. A meta de contratação inicial do

    PMCMV era a construção de 1 milhão de moradias na área urbana (Tabela 1), sendo

    400 mil destinadas a beneficiários com renda familiar até 3 salários mínimos, para a

    qual está previsto subsídio integral, e o restante para famílias inseridas em duas faixas

    de renda (3 a 6 e 6 a 10 salários mínimos), correspondendo a cada uma delas um tipo de

    3 o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social – FNHIS, de natureza contábil, com o objetivo de

    centralizar e gerenciar recursos orçamentários para os programas estruturados no âmbito do SNHIS,

    destinados a implementar políticas habitacionais direcionadas à população de menor renda.

  • 40

    modalidade de financiamento de produção da habitação. (CARVALHO, STEPHAN,

    2016)

    O programa, criado no âmbito do Ministério das Cidades, tinha como prática a

    consonância com empresas privadas, na destinação de recursos para a materialização da

    produção habitacional para famílias de baixa renda, de 0 a 10 salários mínimos, como

    um tipo de ação para a crise econômica que perdurava na época e consequentemente

    tentar alavancar a economia com incentivos para a indústria da construção civil. Com

    isso, o planejamento do governo era de estimular o emprego no setor da construção e

    tentando direcionar o setor imobiliário para o atendimento da demanda habitacional de

    baixa renda. O programa foi dividido em dois subprogramas para melhor

    operacionalização: uma foi o programa nacional de habitação rural, PNHR4, e o

    programa nacional de habitação urbana, PNHU5. O PMCMV era voltado para a

    unidades já prontas com características pertinentes a lógica do construtor, segundo

    Bonduki (2009), esse fato se refletia em um maior quantitativo de recursos do programa

    para a faixa de renda menos elevada.

    Tabela 1: Metas do PMCMV fase 1

    RENDA FAIXA DO PMCMV META DE CONTRATAÇAO

    ATE 1.395 FAIXA 1 400.000

    ATE 2.790 FAIXA 2 400.000

    ATE 4.900 FAIXA 3 200.000

    TOTAL DE UH 1.000.000

    Fonte: Bonduki, 2009, adaptado pela autora, Cassandra de Sousa Cunha.

    Em 2011, com a eleição de Dilma Rousseff, deu-se a continuidade ao programa.

    Depois de atingida a meta de um milhão de unidades contratadas, foi lançada a segunda

    fase do programa, PMCMV2 (Tabela 2), formalizada pela medida provisória 512/2010

    e convertida na lei 12.424 de junho de 2011.

    Nessa fase a previsão de financiamento era de R$ 125,7 bilhões e promessa de

    mais 2 milhões de moradias nos quatros anos seguinte da aprovação da lei:

    4O PNHR tem como finalidade subsidiar a produção ou reforma de imóveis aos agricultores familiares e

    trabalhadores rurais cuja renda familiar anual bruta não ultrapasse R$ 60.000,00 (sessenta mil reais), por intermédio de operações de repasse de recursos do Orçamento Geral da União ou de financiamento habitacional com recursos do FGTS. (Decreto nº 7.499, de 16 de junho de 2011.) 5O PNHU tem por objetivo promover a produção ou aquisição de novas unidades habitacionais, ou a

    requalificação de imóveis urbanos. (Decreto nº 7.499, de 16 de junho de 2011.)

    http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEC%207.499-2011?OpenDocumenthttp://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEC%207.499-2011?OpenDocument

  • 41

    Uma das novidades na segunda etapa do MCMV é que o limite de renda dos

    beneficiados pelo programa subiu de R$ 4.650 para R$ 5 mil. As faixas

    começam com famílias que ganham uma renda mensal de até R$ 1.600; de

    até R$ 3.600; e de até R$ 5 mil. Das duas milhões de casas previstas até

    2014, 1,2 milhão será para famílias que ganham até R$ 1.600 por mês. Para

    famílias com renda de até R$ 3.100, a meta é contratar 600 mil habitações. Já

    com renda até R$ 5 mil, serão 200 mil unidades. Além disso, o governo

    atendeu a reivindicação das construtoras e ampliou o valor médio das

    moradias para a população de mais baixa renda, que passou de R$ 42 mil a

    R$ 55 mil. (OBSERVATORIO DAS METROPOLES, 2011)

    É nítida a alteração das metas do PMCMV 2 aumentando os recursos e o número

    de unidades habitacionais da faixa, com o propósito de corrigir a contradição existente

    entre o déficit habitacional e