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De Pernas pro ArA inesquecível parceria
de Ankito com Grande Otelono cinema
Uma dupladinâmica
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Ankito e Otelo
nkito voltou de viagem para filmar Sai Des-
sa, Recruta com Consuelo Leandro, Má-
rio Tupiambá, Jorge Loredo, Renato Restier
e outros, em que Ankito é um recruta de um quartel no Rio de Ja-
neiro. A esposa viaja do Norte para encontrar o marido e leva con-
sigo um sobrinho. O recruta hospeda a família numa pensão, não
consegue pagar, por isso aceita a idéia do amigo de hospedar a
família provisoriamente no depósito de armas. Acabam sendo des-
cobertos e Ankito os leva para um barraco no campo de manobras,
onde acontecerá uma exibição de um novo explosivo. Imaginem a
confusão!
Quando acabam as filmagens, Alípio, que vinha enfrentando
dificuldades financeiras, viu-se forçado a negociar o contrato de
Ankito com Herbert Richers, que também estava contratando Gran-
de Otelo, que tinha acabado de sair da Atlântida.
Ankito me conta:
– Oscarito estava quase parando e Otelo foi contratado pelo
Herbert para trabalhar comigo. Diziam que o Otelo bebia muito,
faltava às filmagens. Mas falavam demais! Otelo fez mais ou me-
nos 12 filmes comigo e nunca me criou problema. Ele gostava de
beber mas era na verdade vencido pelo cansaço, provocado pelo
excesso de trabalho. Ele não recebia a produção em casa, então
diziam que ele estava bêbado. Imagine, ele trabalhava no teatro até
11h30... de lá ia para a boate Monte Carlo ou para o Casa Blanca ou
para o Freds, terminava às quatro horas da manhã. Agora eu per-
A
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gunto, quem é que agüenta deitar às cinco da manhã e acordar às
sete, para estar no estúdio às oito para começar a filmar? Fizemos o
primeiro filme juntos, Metido a Bacana, com ele fazendo todo este
sacrifício, então ele atrasava, realmente. Mas, um dia, conversando
com ele tomei conhecimento do problema, eu disse a ele que todo
mundo falava e que eu também achava que ele bebia. E ele me
responde: “Eu não bebia, eu dormia!”
Ciente disso, Ankito comunicou-se com a produção tomando para
si a responsabilidade de buscar o Otelo em casa.
Metido a Bacana conta a estória de um pipoqueiro que, por ter
uma semelhança física com um príncipe, toma o seu lugar para que
o príncipe possa brincar no Carnaval. Ankito é o Príncipe e o Pipo-
queiro, e Otelo é o empregado que faz a maior confusão para que
ninguém descubra a troca. Acho muito conveniente ilustrar o fato
de que para fazer dois personagens, a coisa na época era bem tra-
balhosa. Colocavam uma máscara tapando parte da lente e filma-
vam um personagem, então o outro lado da lente era tapado, volta-
vam o filme, e filmavam o outro personagem.
Curioso é que este filme foi dirigido por J.B. Tanko que era iugos-
lavo e mal falava o português. Renato Restier, grande amigo de
Ankito, era quem traduzia as palavras de Tanko. Otelo costumava
brincar quando Tanko parava em frente aos dois e começava a fa-
lar tentando explicar o que queria para a cena:
– Otelo concordava com tudo o que ele dizia mesmo sem enten-
der nada. E quando ele saía de perto, Otelo me perguntava daquele
jeito dele: “O que é que ele quer?” Nós riamos muito.
E, saudoso, Ankito me diz:
– Foi muito bom fazer Metido a Bacana! O filme foi feito às pres-
sas, porque a estréia foi anunciada antes de iniciarmos as filmagens.
Motivo de preocupação para os empresários foi a estréia de
Metido a Bacana coincidir com a de O Manto Sagrado. Mas a ale-
gria do cinema brasileiro venceu o clássico até então imbatível. Esse
feito valeu várias matérias em jornais e num deles a chamada foi
Ankito desbanca Charlton Heston.
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Ele me contou vários episódios acontecidos durante as filmagens
que se seguiram, mas achei interessante a forma que as coisas acon-
teceram durante as filmagens de O Pistoleiro Bossa Nova, que es-
treou três anos depois. Ele conta:
– Filmávamos no Suruí, tínhamos que chegar lá às 8 horas da
manhã. Eu tinha uma Lincoln, e o Otelo cabia direitinho no banco
de trás. Eu passava na casa dele, pegava-o, com travesseiro e co-
bertor, e ele ia dormindo no banco de trás. Quando chegávamos lá,
eu colocava o carro numa sombra e ele continuava dormindo. En-
tão eu me trocava, ia para o set de filmagem fazia as minhas marca-
ções e as dele de luz e enquadramento e só o acordava na hora de
filmar. Era o tempo de ele se trocar e tomar um café que a produção
levava pra ele. No estúdio eu passava para ele as marcações. E ele
era muito bom, eu só explicava uma vez. E assim fizemos vários
filmes juntos, sem nenhum problema.
Pistoleiro Bossa Nova conta a estória de um homem muito ner-
voso que viaja com um amigo (Otelo) em busca de sossego. Vai
parar na cidade de Desespero e é confundido com um pistoleiro
temido na cidade. Ankito representa os dois personagens. Renata
Fronzi, Renato Restier, Ana Bela, Ana Maria Nabuco, Wilson Grey,
Carlos Tovar fazem parte do elenco.
Às segundas-feiras, Ankito reunia-se com China e Affonso (co-
merciantes), Diamantino e Gusmão (capitães do exército) e Luis
Antonio (compositor de Barracão de Zinco) na boate Ranchinho do
Alvarenga, de Alvarenga e Ranchinho, e lá faziam comida, ouviam
música, dançavam e mulher só entrava acompanhada. E acabaram
por criar o Clube da Farradura. Ankito gostava muito dessas reuniões
e muitas vezes saía do clube e ia direto filmar.
Em De Pernas Pro Ar, Ankito é contra-regra de um teatro que,
depois de demitido, vai trabalhar como camelô com um amigo (Otelo),
na porta de um banco que é assaltado. Na fuga, os ladrões trope-
çam na banca e levam a mala errada, deixando o produto do roubo
na mala que Ankito e Otelo carregam e eles passam a ser persegui-
dos pela polícia porque são camelôs e pelos bandidos por estarem
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de posse do roubo. No elenco, Renato Restier, Wilson Grey, Renata
Fronzi, Jô Soares.
Pé na Tábua foi um dos filmes mais difíceis para Ankito. Parte do
filme se passava dentro de um velho ônibus (Staier 38), com proble-
ma de freio. Uma tábua devidamente presa se estendia da porta da
frente para fora do ônibus e nela o cinegrafista agachado filmava
com a câmera na mão o que acontecia lá dentro. Renata Fronzi, e
mais uma turma de figurantes, Otelo cantando e Ankito dirigindo o
ônibus. Imaginem a situação, o freio só pegava se puxasse junto o
de mão, descendo a Niemeyer que de um lado tinha um muro de
pedras e do outro, carros passando e precipício.
Ankito diz:
– Eu dirigindo de olho no cinegrafista para que não batesse nas
pedras, com problema no freio e ainda tendo que representar...
Quase na chegada o freio acabou de vez, e não deu pra fazer a
curva. Entrei pelo quintal de uma casa, as galinhas correram e as
roupas que estavam no varal acabaram penduradas no ônibus. Nin-
guém se machucou, mas a Renata quase desmaiou!
Depois de um merecido descanso para curtir a pequena Márcia,
Ankito retorna aos estúdios para mais um sucesso, É de Chuá, que
tinha no elenco, além de Ankito e Otelo, Renata Fronzi, Costinha,
Zezé Macedo, Renato Restier, Pedro Dias e outros. No filme Ankito
e Otelo são responsáveis por uma escola de samba, que é contrata-
da para alegrar uma festa na residência de um casal tido como rico,
mas que na verdade faz parte de uma quadrilha de roubo de jóias.
Ankito, comendo pipocas, acaba por engolir acidentalmente um bri-
lhante. E se dá a confusão.
Geografia difícilNosso protagonista resolve fazer nova excursão. Seleciona um elen-
co de vedetes, um grupo musical e, enquanto monta o show, Pedro
Almeida vai na frente para efetuar a venda do mesmo. Durante es-
sas viagens alguns episódios, para Ankito, são inesquecíveis. Numa
pequena cidade, fizeram um show, e quando quiseram partir para
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a cidade seguinte, tiveram uma surpresa. A próxima cidade ficava
cerca de 40 km da que eles estavam, só que não havia nenhuma
estrada que as ligassem e o trem que poderia fazer esta ligação só
passaria na quinta-feira, se passasse. O prefeito, todo solícito, arru-
mou uma gôndola (vagão aberto) para levar as Kombis, pela estrada
de ferro. Precisavam dar um jeito de colocá-las sobre as pranchas
que eram altas. Conseguiram duas tábuas, sendo que uma era me-
nor que a outra. Frozar, um dos motoristas, subiu com a primeira
Kombi, o outro motorista se acovardou e Ankito o substituiu. Na ter-
ceira Kombi, Ankito tomou o embalo e, quando já estava com parte
da Kombi sobre a prancha, uma das tábuas quebrou. Foi com muito
esforço e sorte que ele conseguiu controlar para a Kombi não cair.
Depois de realizar o show na cidadezinha, retornaram sem mui-
ta dificuldade, pois a plataforma da estação seguinte facilitou a en-
trada das Kombis na prancha. Seguiram viagem e chegaram a Sal-
vador, hospedaram-se no Palace Hotel. Tinham sido contratados
para exibir um filme e um espetáculo no cinema e mais tarde um
show na rádio. Aconteceu que o cinema lotou e o diretor da rádio
que os havia contratado fugiu com a renda.
– Esse foi o único calote que eu levei! – conta Ankito.
Enquanto contratava um advogado da própria cidade, mandou o
seu pessoal de volta ao hotel, para arrumar as bagagens e carrega-
rem as Kombis. Quando Ankito chegou ao hotel, toda a bagagem
estava na portaria. Seu secretário o informou que não havia carre-
gado a bagagem, porque exigiram que ele pagasse antes. Ankito,
irritadíssimo, pegou uma de suas malas que estava cheia de dinhei-
ro, abriu e derramou no balcão. Disse ao gerente que não estava
acostumado a lidar com ladrões, e ordenou ao próprio que retirasse
do monte a quantia suficiente para pagar o que ele devia, e ainda
virou de costas para que o homem ficasse à vontade, o que o deixou
envergonhado. Ankito me diz, ainda com uma pontinha de mágoa:
– Como ficaram sabendo que tinham me roubado, concluíram
que eu faria a mesma coisa.
Ah! Deixem-me explicar a mala de dinheiro: como mudavam de
cidade diariamente, Ankito não tinha tempo de ir ao banco. Então
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mantinha toda a renda em malas, deixando para efetuar o depósito
quando acontecia uma folga.
Voltaram de viagem, mais um breve descanso, e novamente
Ankito entra em estúdio para novo filme. E o Bicho não Deu com
Ankito, Grande Otelo, Costinha, Paulo Goulart, Carvalhinho, Vera
Regina. Ankito é um detetive policial que persegue os bicheiros.
Ao entrar numa loja de flores reencontra um grande amigo (Otelo),
que é bicheiro. Essa condição Ankito só descobre depois, durante
uma batida policial. Na perseguição ao amigo, ele sofre um aciden-
te que o faz perder a memória. Um grito faz com que ele ora seja o
policial e ora comporte-se como bicheiro.
Em seguida, Garota Enxuta, que trazia no elenco Ankito, Gran-
de Otelo, Renato Restier, Agnaldo Rayol, Nelly Martins. A estória
gira em torno de Ankito e Agnaldo Rayol, seu irmão no filme, am-
bos tentando conseguir uma oportunidade para a filha do presi-
dente de uma empresa automobilística cantar num show em home-
nagem a seu pai. Acontece que ela é confundida com a filha do
presidente da República e de todas as formas tentam impedi-la de
se apresentar. O personagem de Ankito se apaixona pela moça,
mas o coração dela se abre para o seu irmão. Logo depois começam
a filmar Pistoleiro Bossa Nova, ao qual já me referi.
BisbilhoticeNo mesmo ano em que saiu em excursão pelo interior de São Paulo,
Ankito comprou um ônibus. Edson Campos, grande amigo de Anki-
to e companheiro de cena, desta vez foi na frente vendendo o show
e era excelente vendedor, vendia tão bem que Ankito estranhou, ao
chegar numa pequena cidade, não ver nenhuma propaganda de
seu show. A cidade estava muito parada. Hospedou o seu pessoal e
saiu, como era rotina, para conhecer o clube. No clube, havia um
empregado. Ele disse estar aguardando a sua chegada para cha-
mar o diretor social, que chegou em seguida, tristonho e abatido.
Ankito quis saber o porquê de tanta apatia. Ele explicou:
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– Minha mulher não fala comigo, o padre também não, tudo por-
que hoje é Dia de Finados e eu assinei com seu secretário um con-
trato para um show e um baile!
Ankito, que também estava perdido com as datas, assustou-se e
questionou:
– Como é que o senhor assina contrato pra fazer um baile no Dia
de Finados?
E o homem respondeu:
– Depois de assinar foi que eu percebi o que tinha feito, mas o
seu secretário me convenceu de que depois da meia-noite não é
mais Dia de Finados!
Ankito disse ao pobre homem que não precisaria se preocupar,
se ele soubesse que data era aquela, ele mesmo teria suspendido o
show. O homem queria pagar do próprio bolso, mas Ankito não
permitiu, e ficou de voltar depois de cumprir os outros contratos.
Ficou hospedado com o elenco na cidade, e à tarde recebeu um
telefonema de Edson, pedindo que ele não fizesse o show, pois es-
tava morrendo de remorsos por tê-lo vendido. Todo o elenco rumou
no dia seguinte para a próxima cidade. Terminados os contratos,
Ankito avisou por telefone ao diretor social do clube que estava
voltando e foi recebido com uma grande festa.
Em outra cidade, hospedaram-se numa pensão que não tinha
acomodação para todos, a dona da pensão, uma mulher com seus
quarenta anos de idade e cheia de atributos, deu um jeito de aco-
modar os seis músicos e o Edson num quarto. Ankito ficou sozinho
e Moacir Batista, o cantor do conjunto, que era muito enjoado, in-
sistiu para ficar sozinho também. A dona da pensão lhe deu um
quarto ao lado do seu. Era pequeno e tinha uma divisória de madei-
ra que não chegava até o teto. À noite, um barulho muito alto des-
pertou todos na pensão. Ankito, num só pulo, abriu um pouco a
porta de seu quarto e assustou-se quando do quarto da dona da
pensão saiu correndo, só de cuecas, o Moacir, seguido por um ou-
tro hóspede vestido da mesma forma. Moacir entrou no quarto dos
músicos e o outro homem no seu próprio. Nesse momento, as por-
tas dos outros quartos também se abriram e as pessoas interroga-
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ram sobre o barulho. A dona da pensão deu uma desculpa e todos
voltaram a fechar as suas portas e o silêncio voltou. Pouco mais
tarde, bateram à porta do quarto de Ankito. Era o Moacir, que con-
tou ter ouvido uns gemidos, e resolveu ver o que estava acontecen-
do no quarto ao lado, subiu no guarda-roupa e debruçou na divisó-
ria que separava os dois quartos, esta tombou, fazendo-o cair sobre
o casal que fazia amor. Num impulso, a dona da pensão, o hóspede
e o próprio Moacir levantaram a divisória e voltaram aos seus quar-
tos, isso em segundos. No outro dia, ninguém se olhava, e foi um
alívio seguir viagem, pois só então puderam rir à vontade...
De volta ao Rio para as festas de fim de ano, Ankito lembra ainda
hoje dos olhinhos da filha vendo os fogos na praia. Moravam agora
na General Artigas, no Leblon, ele, a esposa, a filha e a mãe, além
dos empregados. Ankito raramente ficava em casa, o trabalho to-
mava-lhe a maior parte do dia e, à noite, chegava cansado.
Shows... transtornos... difícil retornoOutra excursão, e muita coisa aconteceu. Chegaram a uma cidade
na divisa do Espírito Santo com Minas Gerais e o ônibus não fazia a
curva na estrada. Então Ankito mandou o motorista dar a volta com
o ônibus e esperá-lo em Governador Valadares e alugou um ônibus
pequeno para levá-los até a cidade onde deveriam fazer o show. A
cidadezinha ficava na descida da serra e nem o pequeno ônibus
descia a estrada, que tinha um precipício de um lado e pedras do
outro. Ankito alugou três táxis para levar o elenco e uma rural para
levar o órgão. Conseguiram, finalmente, chegar e teriam que voltar
na mesma noite, porque na cidade não tinha hotel. O clube era uma
casa grande e tinha uma escada. Depois de tirarem da Rural o ór-
gão, constataram que o mesmo não passava na porta, foram força-
dos a levá-lo de volta. Os músicos fariam o show, sem o órgão. Fo-
ram muito bem recebidos pelos moradores. E à noite, na hora do
show, houve um problema na usina que fornecia energia à cidade e
a luz acabou. Surgiram lampiões de todos os lados. Mas os instru-
mentos musicais eram elétricos.
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– E pela primeira vez, eu fiz um show, sem luz e sem música. E
eles acharam sensacional... – diz Ankito.
Seguiram com os táxis e a Rural até Governador Valadares, onde
pegaram o ônibus que os aguardava.Em outra cidade, contrataram apenas o baile. Muito bem, só que
durante o baile, um homem resolveu criar caso. E cheio de atitude,
no meio do salão ordenou que Ankito fizesse o show, dizendo-se
presidente da Câmara. Ankito, com a mesma autoridade, respon-
deu-lhe:
– Eu sou o dono da companhia e não vai ter show!Ankito me diz que, se ele tivesse pedido, não haveria problemas,
ele estava ali mesmo, poderia contar umas piadas. Mas usar da au-
toridade para conseguir o que não foi combinado era inadmissível.
Eu também acho!
Em Recife, Jorge, que estava muito cansado de vender os shows,
apresentou os contratos a Ankito, deixou o carro e voltou ao Rio deavião. Quatro dias em Recife. Deu para Ankito ir ao banco, fazer as
contas com o elenco, e ainda aproveitou para presentá-lo: comprou
passagens de avião para que todos tivessem um retorno confortá-
vel. Já estava perto de acabar a temporada, quando uma das vede-
tes contou que o motorista havia passado a mão nela, e Ankito teveque mandá-lo de volta. Chegou a hora de voltarem para casa depois
de setenta dias de viagem e cento e quarenta shows.Todo o pessoal
resolveu voltar de ônibus com Ankito e vender as passagens.
Ankito contratou um motorista para vir dirigindo o ônibus e ele
viria atrás dirigindo o carro. A viagem corria bem, mas quando anoi-
teceu, Ankito começou a observar que o ônibus de vez em quandozigue-zagueava e passou à frente dele fazendo sinal para parar. O
homem explicou que tinha um problema na vista esquerda e que
tinha dificuldade de dirigir à noite. Ankito perguntou se alguém no
ônibus sabia dirigir, e um dos músicos se prontificou a dirigir o car-
ro, porque não sabia dirigir o ônibus. Então, Ankito dirigia o carro
durante o dia, e o motorista, o ônibus. À noite, o motorista descan-sava, o músico dirigia o carro e Ankito o ônibus. Duas noites e três
dias depois, Ankito começou a ter sono e parou num boteco de bei-
ra de estrada e pediu um rebite. Ele me diz:
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– Acendi!... fiquei com os olhos vidrados... não tive mais sono. A
estrada parecia onda de mar calmo...
Em Além Paraíba, o dia estava clareando e Ankito mandou que
o motorista levasse o elenco de ônibus e deixasse-o em suas casas.
Hospedou-se num hotel, tomou um litro de leite e tentou conciliar o
sono, sem êxito. Então, pegou o carro e voltou para casa. No dia
seguinte, anunciou o ônibus para vender. Ankito agora morava na
Marques Canário, e o ônibus ficava estacionado quase em frente
ao apartamento. Uns dois dias depois, ele, ao olhar pela janela, não
viu o seu ônibus.
Deu parte à polícia e foi até à Polícia Federal na Dutra, e lá ficou
sabendo que o ônibus havia passado rumo a São Paulo e o motoris-
ta ainda dera adeusinho para os guardas.
Mais ou menos seis ou sete meses depois, a polícia do Rio telefona
contando que o ônibus estava em Mairiporã. Ankito foi até lá, da
estrada avistava-se uma garagem de uma empresa de ônibus e lá
estava o ônibus ainda com a pintura original. Indagando nos arredo-
res, descobriu que o dono da empresa era irmão do delegado da ci-
dade. Procurou a delegacia do Rio e, graças à ajuda de amigos, con-
seguiu todos os documentos necessários para abrir um processo, mas
este se arrastaria por muito tempo. Então espertamente ele conven-
ceu uns amigos do jornal da TV Bandeirantes que, por sua vez, con-
seguiram autorização para usarem o carro de reportagem. Foram
para Mairiporã. Chegaram à delegacia, onde ficaram sabendo que o
delegado estava em casa. Sempre filmando a cidade, rumaram para
a casa do delegado, que ao ver o carro de reportagem se arrumou,
fez pose, ajeitou os cabelos, abriu um belo sorriso, abraçando o Ankito.
E sem desconfiar, levou-o para conversarem na delegacia. Lá Ankito
explicou sobre o roubo do ônibus e disse ao delegado que não tinha a
intenção de prejudicar ninguém, mas que, se abrisse inquérito, iria
sujar a imagem do delegado e o irmão dele poderia ser preso como
receptador, pois Ankito também tinha informações de que o irmão
do delegado comprara o ônibus e dois carros de procedência duvi-
dosa. O delegado, imediatamente, prontificou-se a levá-lo até a em-
presa e liberar o ônibus. Assim o fez, e como o irmão não estava na
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empresa, a coisa foi ainda mais fácil. Ankito mandou que seu moto-
rista levasse o ônibus e o escondesse na Vila Mariana.
No dia seguinte, Ankito foi intimado a prestar declarações, sen-
do acusado por arbitrariedade pelo dono da empresa. Ankito tinha
a assinatura do delegado, permitindo a retirada do ônibus, e depois
de muita conversa acabou vendendo o ônibus para o dono da em-
presa. Ankito me diz:
– Saí ganhando, porque eu não queria mais o ônibus e o homem
me pagou em dinheiro.
Voltando da excursão, inicia-se a filmagem de Vai que É Mole
com Ankito, Grande Otelo, Renata Fronzi, Anilza Leoni, Maria
Augusta, Renato Restier, Zeloni, Jô Soares, Aurélio Teixeira, Virgínia
Lane e grande elenco. Neste filme, Ankito e Otelo fazem parte
de uma quadrilha e regeneram-se ao receber de herança o filho
de uma parenta. Ingressam no meio artístico lançando um produto
capilar e a quadrilha a que eles pertenciam anteriormente tenta
se aproveitar.
Faço questão de fazer um rápido resumo dos filmes, para que os
leitores que não tiveram oportunidade de vê-los possam tomar co-
nhecimento dos assuntos que eles retratavam. E para aqueles que
tiveram o privilégio de ver possam lembrar da pureza com que se
retratavam os assuntos mais diversificados, muitas vezes temas
oportunos, assuntos de momento, que eram retratados com inocên-
cia. Temas puramente brasileiros, roteiros simples. Filmes que mos-
travam belíssimos musicais, contavam com a presença dos melho-
res cantores e cantoras da época. Enfim, filmes feitos para todas as
idades e classes sociais. É importante também explicar ao leitor que
quando não faço o resumo é porque não tive oportunidade de ver o
filme que se perdeu por aí, jogado em algum estúdio, provando o
descaso com as obras culturais deste país tão rico de talentos. Infe-
lizmente, nem mesmo Ankito se lembra de todos os filmes que fez.
E se hoje posso contar pra vocês que vi alguns filmes, devemos isto
a um fã e amigo, Paulo Tardin, que nos presenteou enviando pra
nós cópias de todos os filmes aqui citados, os quais fazem parte de
seu acervo pessoal.
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Ankito corre riscoE, então, iniciam-se as filmagens de Um Candango na Bela Cap,
filme que marcaria a vida de Ankito profundamente. No elenco,
Ankito, Grande Otelo, Marina Marcel, Vera Regina, Milton Car-
neiro e outros. O filme teve a direção de Roberto Farias, a estória
tem início em Brasília, onde Ankito e Vera Regina são atores de
uma boate. A casa recebe a visita de uma dupla que é um grande
cartaz artístico do Rio de Janeiro representado por Otelo e sua par-
ceira Marina Marcel. Otelo se encanta por Vera, ilude a moça com
promessas e é obrigado pela autoridade local a casar-se com ela. O
filme trata o assunto com um humor delicado. E Otelo depois de
casar traz a moça para o Rio. Ankito vem de intruso, com o aval da
companheira de trabalho, que com carinho consegue o que quer
do marido, que, por sua vez, morre de ciúmes de Ankito. Graças ao
mau-caratismo do empresário, as duplas são separadas e a estória
se desenrola de maneira leve e prazerosa para quem vê.
Neste filme, Ankito e Marina deveriam dançar no Cristo Re-
dentor. Era fim de tarde e uma nuvem se aproximava, ficaria lindo
se os dois dançassem com a nuvem servindo de cenário, então re-
solveram aguardar a aproximação da nuvem. Acabaram pegando
no sono. De repente, alguém gritou.
– Olha a nuvem!
E a correria teve início, arruma daqui... ilumina ali... e quando
finalmente a técnica estava pronta, a nuvem já havia passado e o
casal não dançou.
Um dia Ankito estava ensaiando descer de um palco num salto
mortal, o ensaio era feito para as várias marcações de luz, para as
câmeras, era repetido várias vezes. De uma cabine de luz que fica-
va meio distante, por um visor, o compadre de Ankito, Oswaldo,
vendo que no estúdio fazia muito calor, resolveu tirar os refletores e
passar para luz de serviço, isso evitaria um desgaste maior para o
próprio Ankito.
Aconteceu, porém, que ele virou de costas para desligar a chave
geral, exatamente no momento em que Ankito saía para o salto. Com
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a troca de luz, Ankito se perdeu no ar, e tentando não chegar ao chão
de cabeça, encolheu-se e acabou por chegar ao chão sentado. Per-
cebeu de imediato que sofreu uma lesão na coluna e, por sorte, não
permitiu que o levantassem. Ele mesmo orientou os demais para que
o colocassem sobre uma tábua, e assim o levaram para o Hospital
Álvaro Carrilho, na Praça Saens Peña. Os médicos o radiografaram,
e constataram fratura e achatamento da primeira vértebra lombar.
Havia apenas uma casquinha de osso protegendo a medula. Volta-
ram a radiografá-lo várias vezes e discutiam sobre a possibilidade de
uma cirurgia, mas Ankito não quis se submeter a nenhuma cirurgia,
ao contrário, convenceu os médicos a deixá-lo ir pra casa, já que
estava engessado e prometia ficar de repouso absoluto.
Os médicos comprometeram-se a visitá-lo diariamente, e assim
foi feito. Em casa, alguns dias depois, o gesso provocava coceira e
incomodava, Ankito mandou cortar o gesso na altura da barriga.
Com um buraco no gesso ele se coçava e podia comer melhor, já
que este não lhe apertava mais a barriga. Para facilitar o desempe-
nho sexual, ele aproveitou e cortou o gesso também na altura do
púbis. E, para completar, voltou a filmar 30 dias depois do acidente.
Chamou o primo, Abelardinho, que na época dava aulas na Escola
Nacional de Circo, para fazer as cenas mais violentas e Ankito ain-
da engessado filmou a sua parte.
Acho que Ankito foi o único a não se preocupar com a possibili-
dade de algo mais grave, pois cerca de 40 dias depois do acidente,
Álvaro o surpreende saindo de casa pilotando uma lambreta. Anki-
to me diz:
– Doutor Álvaro me deu uma bronca e eu voltei para dentro de
casa, mas, assim que ele foi embora, eu fui dar a minha voltinha de
Lambreta...
Ankito teve uma recuperação assombrosa. Sua vértebra se re-
compôs de forma a permitir que ele levasse uma vida perfeitamen-
te normal. Depois de retirar o gesso, usou ainda por alguns meses
um colete ortopédico e até o momento é saudável, graças a Deus!
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U M A D U P L A D I N Â M I C A
Novos empreendimentosEm 11 de março de 1961, Ankito inaugura um night club, Ankito’s
Bar, que ficava em Ipanema, na Visconde de Pirajá. E contava com
uma bela fachada, além da recepção de um cavalheiro fardado na
porta, uma vitrine com fotos de belas vedetes, cantores que apresen-
tavam um belo show e do acolhedor ambiente interno. No dia da
inauguração, graças a um erro na instalação do ar-condicionado, o
mesmo jogava ar quente para dentro da boate e ar frio para fora:
– Foi horrível, a boate parecia uma sauna. (Ankito me conta sa-
cudindo a camisa). A boate foi idéia do Pedro, eu e o José Sampaio
montamos um belo show. Mas um ano depois entrei em litígio com
o dono do prédio que queria muito pelo aluguel, briguei um boca-
do, mas não foi possível entrar num acordo. E fechamos a boate, e
mais uma vez perdi dinheiro.
O filme, Os Três Cangaceiros, com Ankito, Grande Otelo, Nelly
Martins, Neide Aparecida, Carlos Tovar, Átila Iório, Ronald Golias,
Wilson Grey e outros, foi um sucesso. Quando Valentina engravidou
pela segunda vez, ele pode participar um pouco mais do aconteci-
mento. E quando em 6 de setembro de 1962, Marcos Denison Pinto
nasceu, Ankito curtiu muito o filho varão. Porém, o casamento, que
já não ia muito bem, terminou em seis meses. Ele fica com a guarda
dos filhos e, então, deixa-os sob os cuidados de Zina e sai em excur-
são, para o norte do Paraná.
Em Cambará, a cantora que acompanhava a tournée adoece e
decide voltar para casa, e Silys, maestro do conjunto Birutas Boys,
apresenta a Ankito uma bela moça, normalista, e que cantava mui-
to bem, para substituir a cantora. Evanice Rebelato era menor de
idade e precisou da autorização dos pais para seguir com a turnê,
estes por sua vez, concordaram desde que o irmão da moça os acom-
panhasse, então seguiram viagem. Após o último espetáculo da
temporada, Ankito mandou-a de volta para casa e ele voltou ao Rio
com o elenco.
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U M A D U P L A D I N Â M I C A
Em uma das excursões peloBrasil, as vedetes Tânia Ilza,
Verônica Olsen, Teresa Costelo,Valentina Gody e Ivone Martins
Ônibus que levava o elenco àsexcursões pelo Brasil.
Ao lado Ankito e Edson Camposem esquetes de teatro de revista
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U M A D U P L A D I N Â M I C A
Cenas de Garota Enxuta (1959),com direção de J.B. Tanko e
produzido por Herbert Richerscom Ankito, Agnaldo Rayol,Costinha, Zequinha e outros
No filme Pistoleiro Bossa Nova(1959), com direção deJ.B. Tanko e produzido
por Herbert Richers
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U M A D U P L A D I N Â M I C A
Acima, no filme Metido à Bacana(1957), Ankito com Neli Martins.
Abaixo, no mesmo filme,com Selene Costa, no alto,
em duas cenas, comConsuelo Leandro em
Sai dessa Recruta! (1957)
Ao lado, Costinha, Ankitoe Renato Restier em
De Pernas pro Ar
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U M A D U P L A D I N Â M I C A
Cenas de É de Chuá(1958), com GrandeOtelo e direção de
Victor Lima
No alto, E o Bichonão Deu (1958), ao
lado e abaixoVai que é Mole(1960), ambos
os filmescom a direçãode J.B. Tanko
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U M A D U P L A D I N Â M I C A
Nas comédias pelo Brasile, ao lado em grande estilo,
com Teresa Costelo
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U M A D U P L A D I N Â M I C A
Ankito no filmeAngu de Caroço,
com Mara Abrantese com Manoel Vieira
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U M A D U P L A D I N Â M I C A
No filme O Grande Pintor,com Violeta Ferraz e em
duas cenas com Carlos Tovar
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U M A D U P L A D I N Â M I C A
Ankito no filme O Feijão é Nosso(1955), com direção deVictor Lima e produção
da Cinelândia Filmes
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U M A D U P L A D I N Â M I C A
Esquete dos mexicanosPakito e Pacata, com Edson
Campos e Ankito
Tenho 17 anos e, apesar da pouca idade,sou um grande fã do Ankito. Essa admiraçãonasceu não por conta a influência dos meus
pais e avós, como muitos pensam, mas de umacuriosidade nata que me levou a descobrir
um tipo de humor que eu desconhecia, e queé raro nos dias de hoje. Um humor puro e
despretensioso, queAnkito tão bem soube representar
ao longo de sua carreira.No cinema Ankito foi mais do queum palhaço sem máscara.
Foi um comediante completo, um doutorna difícil arte de fazer rir. E quando
assisto a esses filmes hoje, viajo paraaquela época e sinto saudades de um
tempo que não vivi. O talento de Ankitoé tão grande que ficará eternizado não
só nas fotografias e nos filmes,mas na memória de quem o assistiu e
de quem irá o assistir. Ankito fez e faz rir.
DANIEL MARANO
Fã de Ankito
“““““
Na telinha mágica
MarinaNovela da Rede Globo
com Ankito e grande elenco
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N A T E L I N H A M Á G I C A
Musicais e humor na TV
o retornar, recebe um telefonema de Péricles
do Amaral, oferecendo um contrato com a
TV Rio, e ele passa a fazer parte dos pro-
gramas O Riso É o Limite, Noites Cariocas e Praça Onze, e ainda o
infantil Ankito eu.
No O Riso É o Limite, seu personagem Persegonha era um faz
tudo, que tentava cumprir as tarefas que lhe eram dadas pelo pa-
trão, encarnado por Odilon Grande, mas, como sempre, Ankito ar-
mava grandes confusões, como quando lhe deram a incumbência
de colocar um quadro na parede e depois de muita trapalhada ele
coloca o quadro, mas a parede fica completamente destruída. O
pastelão era um grande sucesso. E eventualmente quando o qua-
dro pedia, participavam dele Anilza Leone, Carmem Verônica, Nélia
Paula e outras.
Os programas eram ao vivo e as trocas de roupas feitas durante
os comerciais, que duravam cerca de três minutos, não só nesse
programa, mas em todos os outros. Quando acontecia um atraso na
troca de roupa, os atores não entravam em cena. Eles abriam a cena,
fechavam em seguida e, novamente, entravam os comerciais.
No programa Praça Onze Ankito participava do quadro Café
Bola Branca, dirigido por Luís Haroldo. Fazia par com Nélia Paula e
mais três casais. É saudosamente que ele me fala sobre este qua-
dro. E foi também com saudosismo, satisfação e até emoção que
Osmar Frazão depõe sobre ele. Nas palavras de Frazão:
– Este programa tinha música com seu nome e foi sucesso car-
navalesco no ano seguinte na voz de Dalva de Oliveira, uma com-
A
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N A T E L I N H A M Á G I C A
posição de João Roberto Kelly e Chico Anísio, coreografia de Djalma
Brasil, textos de Meira Guimarães, Evaldo Ruy e outros. Faziam
parte do quadro as maravilhosas atrizes Carmem Verônica, Sonia
Mamede, depois substituída por Lady Hilda, Teresa Costelo, e Nélia
Paula, que contracenava com Ankito fechando o quadro sob aplau-
so geral. Para finalizar, dançávamos uma estonteante coreografia,
mostrando os quatro “crioulos”, eu, Antônio Carlos (Antoneco), Rui
Cavalcante e Ankito. Todos pintados de preto com a boca branca,
cheios de malandragem, mostravam que perderam suas “negas”
para um falso malandro, interpretado por Tutuca.
O programa Ankito Eu ia ao ar todos os domingos pela manhã,
tinha a direção de Antonino Seabra e participação de Nair Clarel.
Ele ficou na TV Tupi até ela acabar. E embora tivesse proposta de
contrato, não foi possível firmá-lo, porque nele não existia nenhu-
ma cláusula que o dispensasse quando este tivesse que filmar. Mas
ele, embora sem contrato, permaneceu na emissora gravando sem-
pre que podia. Gravou inúmeros quadros com Paulo Celestino,
Wilton Franco, Magda Teles e Nair Bello.
Ankito é contratado pela TV Record por um ano e lá participa de
vários programas. Um dia, enquanto fazia o Show União, dirigido
por Hélio Ansalmo, com belíssimos números musicais, interpreta-
dos por Ankito e Billy Davis, ele recebe a visita daquela mocinha
normalista que viajara com sua companhia cantando, Evanice, que
agora morava com a família no bairro de Imirim em São Paulo. Anki-
to, que está pronto para sair excursionando, comenta com a moça e
ela decide acompanhá-lo. E durante esta excursão iniciam um na-
moro. Em 1965, casam-se na Igreja Brasileira, a fim de darem uma
satisfação à família da moça.
O filme As Cariocas conta três estórias com participação espe-
cial de Ankito, José Lewgoy e Zezé Macedo. Um contrato com a
TV Bandeirantes faz Ankito mudar-se para São Paulo, para uma
bela casa no aeroporto. O programa Show do Ankito, que tinha
como estrela Marivalda, ia ao ar ao vivo, direto dos estúdios do
Morumbi, aos domingos, às 20 horas. Fez tanto sucesso que o João
Saad passou o programa para um teatro na Avenida Brigadeiro Luís
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N A T E L I N H A M Á G I C A
Antônio, teatro este com dois mil lugares, e que ainda que lotava.
Este programa durou dois anos, e é com orgulho que o filho de
Ankito, Marcos Denison Pinto, conta-me que o sucesso do progra-
ma era de assustar:
– ...papai mal podia andar nas ruas, o assédio era muito grande!
O contrato acabou e devido a problemas internos o programa
também.
O filme Sonho de Vampiro, direção de Iberê Cavalcante, é uma
sátira em que os vampiros bebem sangue de suas vítimas de canu-
dinho. Ankito me diz:
– Esse filme nós filmamos dentro do Cemitério de Boa Esperan-
ça no Rio de Janeiro. Eu fiquei no meu carro descansando e o
Oswaldo, chefe da eletricidade, chamou o Iberê e pediu dinheiro
para comprar umas velas, a fim de pedir licença para trabalharem
dentro do cemitério. O Iberê achou bobagem. E o Oswaldo disse
que não compartilharia do trabalho dentro do cemitério, ficaria do
lado de fora coordenando. Ele me disse para pedir licença antes de
entrar no cemitério, e eu pedi. Enquanto esperávamos anoitecer,
eu fiquei no carro e a técnica na capela jogando cartas. No momen-
to em que decidiram filmar, foi incrível, o céu turvou e uma venta-
nia teve início, jogando tudo no chão até o gerador parou. Depois,
com toda a cenotécnica no chão, a ventania cessou e o céu voltou a
ficar bonito, agora estrelado. Só vi o Iberê chegar perto do Oswaldo
e perguntar:
– O que é mesmo que tem que comprar?
E depois de Oswaldo acender as velas e fazer lá a reza dele é
que demos início à filmagem, que correu às mil maravilhas sem
mais nenhum incidente.
Novas atividadesPedro tinha sempre boas idéias e, como morava em Cruzeiro, pro-
curou Ankito a fim de montarem uma fábrica de estatuetas de ges-
so. O negócio parecia muito bom e lucrativo. Ankito foi a Lavrinhas,
uma cidade perto de Cruzeiro e o prefeito cedeu o prédio de uma
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N A T E L I N H A M Á G I C A
antiga escola, com isenção de impostos desde que ele desse em-
prego aos moradores locais. Negócio fechado e as meninas da ci-
dade tiveram aulas para aprenderem a pintar as estatuetas, faze-
rem as formas, etc. Ankito investiu uma grande quantia em dinhei-
ro. Ele me diz:
– Começamos o negócio de maneira errada. Fazíamos umas
estatuetas que eram umas crioulas que seguravam abajures... davam
um trabalho! E o pior é que não davam lucro, embora fossem lindas.
O dinheiro saía do bolso de Ankito e Pedro ficou a frente do ne-
gócio. Por cerca de seis meses Ankito só teve prejuízo. Até o dia em
que Pedro telefona para Ankito, dizendo ter entrado numa Casa de
Santo e que recebeu encomenda de três mil São Jorge por mês,
além de outros santos, e eles não tinham forma, nem modelo para
as meninas pintarem os santos.
– Foi a maior correria, eu tive que correr para comprar mais ma-
terial, pistolas, compressores, tintas... mas daí em diante o negócio
tomou impulso. A fábrica cresceu tanto que o Pedro não dava con-
ta, e, como eu também não tinha tempo, passamos o negócio à fren-
te. Lamento isso até hoje.
Contratado como diretor de eventos do Motel Clube de Minas
Gerais, Ankito parte para fazer as praças pelo interior, patrocinado
pelo Motel. Ele oferecia aos diretores do Rotary e do Lions Clube
das cidades por onde passava, um show com Nora Ney, Jorge
Goulart e Guimarães e Seu Conjunto, um desfile com modelos assi-
nados por Helói Woiames, dois vestidos do mesmo para leilão, tudo
sem nenhum ônus, bastando apenas que tanto Rotary, quanto Lions,
fizessem a promoção do evento e se incumbissem de vender me-
sas, ingressos e etc, ficando toda a renda para os clubes de serviço.
O interesse era apenas a promoção do Motel.
Terminada a temporada de promoções, Ankito e Sady, diretor
comercial do Motel, viajavam para fazer cobrança em certas cida-
des, onde os responsáveis por receber as mensalidades dos títulos
“esqueciam” de repassar os pagamentos ao Motel. Então, usavam
a popularidade de Ankito para uma velada ameaça de desmorali-
zação; recebiam o dinheiro, e a coisa não voltava a acontecer.
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N A T E L I N H A M Á G I C A
Filmou em seguida Ladrão de Bagdá, O Magnífico com Grande
Otelo, Anilza Leone, Monique Lafond, Milton Vilar, Fernando José
e outros. Procurado por Carlos Miranda e Orlando Miranda, Anki-
to é convidado para fazer A Torre em Concurso com o Grupo de
Teatro Botequim Ltda. Ankito aceita o trabalho, e tenta conciliar o
trabalho para o Motel e para o teatro, não podendo voltar para o Rio
com a família, já que o apartamento no Leblon estava alugado. Mais
tarde, ele pede o apartamento, desliga-se do Motel Clube de Minas
Gerais e se dedica ao teatro, até que, uma vez desocupado o apar-
tamento, ele mudaria de São Paulo para o Rio com a família.
Pedro tem a idéia de fazerem uma revista, tipo lista telefônica
local, em Campinas. Disk para o Melhor Profissional. A revista era
distribuída gratuitamente porque a publicidade pagava.
– Mais uma vez perdi dinheiro! – me diz Ankito.
Em seguida vai a São Paulo, para participar das filmagens de
Guerra É Guerra, a única pornochanchada de sua carreira. Ele re-
presenta um velhinho que é míope e que, durante uma relação se-
xual, perde os óculos e à procura dos óculos apalpa a mulher intei-
ra. Eu lhe pergunto:
– Você ficou nu?
E ele me responde:
– Eu não. Usei um cuecão.
No ano seguinte ficou ocupado com as filmagens de O Pequeno
Polegar Contra o Dragão Vermelho, o qual não sabemos o porquê,
não foi lançado até hoje.
O cômico nas novelasConvidado por Herval Rossano, Ankito vai para a TV Globo, para
participar da novela Gina. Seu personagem é um motorista de praça,
dono de um velho carro que lhe dá o que fazer, é flamenguista doen-
te e tem um filho que torce para outro time, motivo de muitos aborre-
cimentos entre os dois. A novela passa de época e Ankito passa a ser
dono de uma concessionária Volkswagem. Ele me diz, saudoso:
– Gostei muito de fazer novela com o Herval.
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N A T E L I N H A M Á G I C A
Perguntei a ele se existe alguma diferença entre o que era feito
nas novelas antigamente e agora:
– Acho estranho, uma novela sendo dirigida por quatro ou cinco
diretores e tendo também vários autores. Antigamente, o Herval
dirigia e o autor escrevia.
Mais uma vez percebo em seu semblante um ar nostálgico. E ele
me diz:
– Tenho muito carinho e admiração pelo Herval, ele é um grande
profissional.
Ainda na TV Globo, fez parte do show A Festa É Nossa com
Agildo Ribeiro, outra pessoa muito querida.
Trabalhou na Herbert Richers, fazendo dublagem por pouco tem-
po, pois, novamente pelas mãos de Herval Rossano, Ankito volta a
TV Globo para participar da novela Marina, em que seu persona-
gem é o instrutor de hipismo do personagem de Edson Celulari.
Como em Gina, foi para fazer uma participação de oito dias e aca-
bou ficando oito meses.
Ele conta que ele, o Edson e outros atores ficaram em treina-
mento na hípica por um mês e meio, e durante toda a novela nin-
guém montou a cavalo.
Em A Sucessora, sua participação foi menor, ele representava
um ator super-representado, canastrão, que era citado como fazendo
parte da companhia de Procópio Ferreira.
No Sítio do Pica-Pau Amarelo, foi o Soldadinho de Chumbo e o
Curupira. Ele conta que as gravações do Curupira eram na Cinédia,
no meio do mato. Ankito era o Curupira e vestia apenas uma tanga
e Paulo Figueiredo encarnava Ajuricaba, e ambos sofreram muito
com os ataques dos mosquitos.
– Ao cair da tarde, então, os mosquitos faziam festa. A produção
passava quase o tempo todo espirrando repelente. Outro incômodo
eram os pés virados para trás. Mas foi muito gratificante participar
desse trabalho.
Em Carga Pesada foi o palhaço Poema dirigido por Milton Gon-
çalves. Foi muito elogiado por um monólogo dramático que fez na
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N A T E L I N H A M Á G I C A
chuva, quando Antonio Fagundes e Paulo Figueiredo brigavam na
lama, iluminados pelos faróis dos caminhões por causa da filha do
palhaço (Lisa Vieira).
– Foi muito bonito. Os faróis iluminavam a minha figura vestido
de palhaço.
No seriado O Bem Amado, ele era o dono do cinema da cidade
que exibia filmes pornôs. O filme Bububu no Bobobó, tinha no elenco
Colé, Carvalhinho, Silveirinha, Silva Filho, Nélia Paula, Mara Rúbia,
Angela Leal e outros. Não era filme pornô, mas era proibido. Mar-
cos Farias foi o produtor e diretor. Na Televisões, fez um programa
humorístico, dirigido por Detto Costa. No quadro com Ankito, ti-
nha o Gibi e o Rony Cócegas.
Hélcio Caetano Drumont, que estava montando o Bandeirantes
Camping Club, em Penedo, convida Ankito para ajudá-lo nesse novo
empreendimento. Ele aceita e passa a ser o diretor comercial do
Camping. Era bom ver a coisa crescer, Ankito e Hélcio eram amigos
e trabalharam muito. Um episódio medonho marcou essa época. No
Camping, existia uma área proibida. Pois eles já tinham notado que
todas as vezes que chovia, a água que vinha das cachoeiras
encanavam ali. Então fizeram uma cerca de arame farpado coloca-
ram tabuletas e ainda avisavam pessoalmente para não armarem
barracas naquele local. Aconteceu um temporal em Penedo e o
córrego das cachoeiras transbordou. Em meio a toda movimenta-
ção para ajudar com as barracas, Ankito avista um homem que gri-
tava e apontava para onde não deveria estar montada nenhuma
barraca, onde estava um bercinho que já boiava próximo a cerca.
Ele precipitou-se até a cerca com a agilidade que tinha e conseguiu
alcançar o bercinho, antes que este tombasse. Ele me diz:
– Foi assustador... não sei como consegui...
Em 1982, morre a filha de Ankito e Eny, ela deixa três filhas –
Mônica, Andreia e Paula, que hoje estão casadas e já fizeram de
Ankito bisavô. A vida pessoal de Ankito também já não ia muito
bem. Ele e Eva se separam. Ele vende o apartamento do Leblon e
vai morar no Retiro Feliz temporariamente.
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A convite de Júlio Bressani, Ankito faz o filme Memórias de Brás
Cubas, em que Luís Fernando Guimarães, representa seu sobrinho.
– Foi engraçado contracenar com o Luís Fernando. Muitas ve-
zes nas cenas mais sérias, o Luís caía na risada com as minhas
micagens e éramos obrigados a repetir a cena. Algumas vezes, o
Bressani me pedia para não fazer determinada coisa, porque, do
contrário, não conseguiríamos filmar. Enfim, foi um filme de suces-
so, não só pelo teor da estória, mas também pela maravilhosa dire-
ção do Bressani. E naturalmente pelo carisma e competência do
Luís Fernando, né?
Em seguida é convidado a fazer a peça O Mágico de Oz, com
direção de Fernando Berditchevsky, no Plataforma 1. Ankito me diz:
– O meu mágico na peça tinha um encanto único junto aos adul-
tos e crianças. É como costumo dizer, tem que ter verdade. E deve-
se fazer humor adulto dirigido às crianças, senão fica aquela coisa
de tatibitate que não convence ninguém.
Logo depois ele participou do filme Escorpião Escarlate e de
O Beijo, com a Maitê Proença, além da mini série Tudo ou Nada.
Na TV Tupi:Sossega Leão comNair Bello, Ankito e
Darlene Glória
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N A T E L I N H A M Á G I C A
Cena do filme Bububu noBobobó (1980), Ankito
com Silva Filho
Em Um Sonho de Vampiros(1969), dirigido por IberêCavalcanti. Ao lado, em
Guerra é Guerra, filme de1976, com Helena Ramos
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N A T E L I N H A M Á G I C A
No filme Os Três Cangaceiros,com o assistente de direção
e Neide Aparecida.Abaixo com Neide eo diretor Victor Lima
Ankito e Grande Oteloem Ladrão de Bagdá, oMagnífico (1975) e com
o elenco do filme
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N A T E L I N H A M Á G I C A
Acima, Mara Rúbia e Ankitono filme Bububu no Bobobó
Ankito na novelaGina, da TV Globo
No alto, o Curupira doSítio do Picapau Amarelo,
na TV Globo.Ao lado, no quadroCafé Bola Branca,
do Programa Praça Onze,da TV Rio. Com AntônioCarlos, Osmar Frazão,
Rui Cavalcantee Ankito
Meu primeiro filmecomo profissionalfoi com o Ankito.
Ele sempre foi um ótimocolega e sempre pronto
a colaborar. Graças a umacarona para uma
filmagem, tomei pavorde motocicleta.
Ele, acostumado a fazerO Globo da Morte, já se
pode imaginar comopilotava uma moto.
Sempre tive muito carinhoe respeito pelo profissional.
ANILZA LEONI
Atriz e ex-vedete
“““““
141D E N I S E C A S A I S L I M A P I N T O � A N K I T O M I N H A V I D A . . . M E U S H U M O R E S
P A R C E R I A P A R A S E M P R E
Parceriapara sempre
União celebradaAnkito e Denise na
cerimônia de casamento
143D E N I S E C A S A I S L I M A P I N T O � A N K I T O M I N H A V I D A . . . M E U S H U M O R E S
P A R C E R I A P A R A S E M P R E
Ele e eu
nkito volta a morar em Copacabana e é con-
vidado a fazer a revista Tem Pimenta na
Abertura, no Teatro Rival, eu também. Um
amigo, não sabemos até hoje com que intenção, dizia-me que Ankito
só falava em mim, e dizia a Ankito a mesma coisa, despertando as-
sim o interesse de um para o outro. E assim começamos a namorar.
Encerrada a temporada continuei trabalhando em teatro, e um
dia tivemos a idéia de trabalharmos juntos. Deu certo, houve um
entrosamento e fizemos Elas Querem o que Ele Te m, patrocinado
pela Brigitte Blair, no Teatro Serrador. A peça era uma mistura; na
primeira parte, esquetes, na segunda parte uma comediazinha, es-
crita por Ankito. No elenco, o nosso cupido, Luís Pimenta, Serginho,
Regina Pimentel, Ankito e eu.
A peça era boa, e nos divertíamos muito. Com a participação no
programa Sem Censura a casa lotava.
Fui com Ankito para o Hotel Glória para acompanhar a filma-
gem de O Diabo na Cama, com Maximo Tarantine.
E continuamos a trabalhar juntos; Deu Viado na Cabeça, tam-
bém escrita por Ankito, tinha no elenco nós, Cristina Amaral e o
marido Edson Sereti – casal gente boa! Foi ótimo privar com eles.
Tornamo-nos bons amigos. E durante esse trabalho realizamos gran-
des façanhas. Ankito lembra que, no Teatro Artur Azevedo, no bair-
ro de Campo Grande, nós trabalhávamos com medo dos morcegos.
Quando os refletores acendiam, os morcegos ficavam doidos, voa-
vam em todas as direções, e o Ankito em cena sem se abalar grita-
va pra mim:
A
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– Abaixa aí que lá vêm eles...
Era engraçado porque eu, sem cerimônia, abaixava no palco, en-
quanto o público se escangalhava de rir. Isso aconteceu durante
toda a temporada.
Nessa época também conhecemos uma figura muito querida,
que nos foi apresentada pela Cristina, a camareira e amiga Maria.
Excelente profissional, conversava muito mas não perdia o momento
das trocas de roupa. Ela nos acompanhou durante um bom tempo.
– Um teatro que deixou saudade foi o Teatro Armando Gonzaga,
em Marechal Hermes, muito bem administrado na época – lembra
Ankito.
Fizemos pequenas viagens, e a peça era um sucesso. Fazíamos
teatro popular, íamos aonde nos chamavam. Lembro que apresen-
tamos a peça num velho cinema, que não tinha luz no palco, que
era de cimento, e não tinha camarim. Edson improvisou um cama-
rim e uma lâmpada num pedaço de pau, bem na frente do palco. Ao
recordarmos eu e Ankito chegamos à conclusão de que o espetá-
culo foi maravilhoso. Pois, diante da precariedade de cenário e re-
cursos, contamos apenas com o nosso talento e com toda a graça e
malícia do grande Ankito, que não poupou improvisos. Aquele pe-
daço de pau com uma lâmpada no meio da boca de cena foi um
prato cheio para as piadas e gozações. Mesmo nós do elenco não
conseguíamos nos conter e o público delirava. Encerramos a tem-
porada dessa peça lamentando muito. Mas dela ficaram os bens
mais preciosos desse plano, a amizade de Edson, Cristina e Maria.
Partimos então para uma nova experiência, trabalharmos ape-
nas os dois. Ele escreveu A Inflação Arroxa e o Povo Afroxa e divi-
diu comigo o palco. Deu muitíssimo certo. A peça era sátira políti-
ca. E fazíamos um número juntos, depois ele sozinho, depois eu
sozinha e voltávamos a fazer outro esquete juntos, até terminarmos
em cena eu de porta- bandeira do Grêmio Recreativo Escola de
Samba Unidos da Inflação e ele de passista. Tínhamos um excelen-
te sonoplasta, Luis Antonio Eugênio e um secretário muito bom,
Fernando Marins. Fizemos todo o circuito do SESC e várias cida-
des contando com a divulgação do Edson Seretti e do Mar Junior.
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O doloroso é que perdi um tio no dia da estréia e a peça havia
sido escrita uns três dias antes, mas, como todo brasileiro, deixa-
mos para decorar na última hora. Com a morte do meu tio, não deu
para ler o texto. Ankito, muito abalado, nem pensou nisso. Bem, ao
voltarmos do enterro diretamente para o teatro, eu disse a Ankito:
– Filho, segura o texto, porque eu não decorei...
E ele me respondeu:
– Eu também não!
No teatro estávamos meio inseguros e avisamos ao sonoplasta o
ocorrido e a dificuldade que teríamos em dar as deixas, tínhamos
lido a peça apenas no dia que esta ficara pronta. Mas um bom pro-
fissional tem que ser respeitado. Ankito conta:
– O Luís Antônio era o único que sabia o texto, pois tinha estu-
dado a fim de desempenhar bem o seu trabalho e ele, com toda
experiência e sensibilidade, não perdeu nenhuma intercessão.
Mesmo quando contávamos uma piada apenas parecida com a que
tinha no texto, ele soltava o som correspondente ao que ele havia
lido. E quando não dizíamos a piada, ele pulava a interferência que
deveria ter entrado e, assim, ficamos em cartaz um ano e meio e a
sonoplastia nunca falhou. Quando encerramos a temporada, resol-
vemos ler o texto e descobrimos que nunca fizemos o texto real.
Além de nos entendermos muito bem em cena, nossa vida pes-
soal era tranqüila.
Alguns comerciais para a televisão renderam a Ankito o prêmio
de melhor ator de comerciais. Depois de premiado, ele nunca mais
foi convidado a fazer comerciais. Não entendo a mentalidade dos
profissionais deste país. Sempre que Ankito fala neste assunto quase
morre de tanto rir.
Fomos então convidados a fazer, com a Brigitte Blair, no Teatro
Serrador, a peça Elas Querem É Poder. Vivemos bons momentos,
durante este trabalho.
Na minissérie, Engraçadinha, ele foi um guru.
Ankito também escreve a peça Ela Nua... Ele Duro. No mesmo
esquema da inflação, apenas nós dois. Iniciávamos o espetáculo
juntos num esquetão, depois nos revezávamos em cena, ora fazen-
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do monólogos engraçados, ora cantando, até finalizarmos, os dois
em cena num esquetão. Nessa peça, o que chamava a atenção era
que, no esquete final, eu, vestida com babydoll fio dental, sentava
na cara de Ankito. O teatro vinha abaixo.
Inauguramos o Teatro SESC de Engenho de Dentro, atendendo
a um convite do amigo Evandro. Ninguém queria fazer temporada
neste teatro, porque ele ficava muito escondido. Fizemos sucesso.
Encerramos a temporada e fomos convidados a continuar. Depois
dessa prorrogação outra companhia ocupou o teatro, mas logo fo-
mos convidados a voltar. Para encurtar a conversa, os colegas de
teatro passaram a chamar o mesmo de Teatro do Ankito, pois ne-
nhuma companhia fazia temporada de sucesso, como a nossa:
– Este teatro nos traz boas recordações e muita saudade... – re-
vela Ankito.
Fizemos todo o circuito do SESC, muitos outros teatros, faculda-
des, viajamos, voltamos ao SESC Engenho de Dentro. E então des-
cansamos um pouco.
Ankito resolve escrever e montar uma comédia Quem Ó... na
Minha Mulher, o tipo de comédia que vale a pena ser montada.
Mais uma vez contamos com a divulgação de Mar Junior, que mais
tarde foi substituído pelo Lobo, outro excelente divulgador. No elen-
co, Ankito, eu, Suely Suzuki, Eduardo Jadel, Márcia Souto Maior e
Kleber Brandão:
– Um elenco perfeito – afirma Ankito.
Sem sombra de dúvidas, os personagens pareciam ter sido es-
critos para cada um dos atores, a representação era impecável, o
tipo de trabalho gratificante. Trabalhamos com essa peça por qua-
se um ano, ao mesmo tempo em que fazíamos o infantil O Caçador
e os Fantasmas, também escrita por Ankito e montada com o mes-
mo elenco. Então, em quase todos os teatros que íamos, apresentá-
vamos o infantil e o adulto. Isso fazia com que o elenco ficasse mais
tempo junto, o que nos levava a uma amizade saudável. Quem Ó...
na Minha Mulher foi apresentada até em Escola de Samba (Boêmi-
os de Inhaúma), onde um caibro fixado no centro da boca de cena
também passou a fazer parte do espetáculo.
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Viajávamos os seis numa Marajó, que Ankito dirigia. Imaginem
os seis passageiros, bagagem dos seis e mais móveis de cena, figu-
rinos, som e luz. Era muito divertido!
Infelizmente, Eduardo Jadel adoece e se despede do elenco, Suely
Suzuki também se despede. No lugar de Eduardo entra Guga Gallo,
e, no lugar de Suzuky, entra Bebel. Ambos excelentes atores e ami-
gos. Ankito lembra que fizemos temporada em Niterói, onde mora-
vam o Guga e a Bebel. Então, fazíamos o infantil e, depois de pas-
sarmos na padaria, íamos todos para a casa do Guga, tomávamos
café e comíamos sanduíches de mortadela:
– Aqueles sanduíches eram os mais deliciosos. Sim, porque eram
servidos com muito amor pela esposa do Guga – lembra Ankito,
com saudade.
Curtimos muito a temporada. Depois cada um seguiu seu cami-
nho e Ankito e eu fomos convidados a inaugurar o Teatro Calouste
Gulbenkian, com a peça Ela Nua... Ele Duro. Excelente temporada,
a administração do teatro era de responsabilidade de Magno, que
sabia o que fazia, além de ser gentil e amável. Conhecemos nesta
época o empresário Roberto Carlos Gomes, e com ele realizamos
uma nova temporada com a velha peça Ela Nua... Ele Duro, que,
além de nos dar muito prazer de fazer, nos dava também um bom
retorno financeiro. Para divulgar este trabalho, Ankito foi com o
Roberto no Programa do Clodovil, onde foi muito bem recebido.
Roberto inventou o Teatro Ziembinski, digo “inventou” porque
ele forrou a volta do teatro, que era de grade, com panos e conse-
guiu fazer com que o espaço ficasse parecido com um teatro. Tra-
balhamos lá e foi bom.
– É sempre muito bom ver o começo de um teatro e participar
disto – diz Ankito.
Paramos com o teatro, porque o Ankito resolveu fazer televisão.
Ele idealizou o programa Os Três Birutas e o realizou na TV Rio.
No elenco ele, eu e Luís Pimenta. Ankito era um cientista (Profes-
sor Kiki) que só inventava o que já havia sido inventado. Um relógio
informava ao professor o nome do inventor, a origem da invenção e
o ano que isso ocorrera. Nelson Wagner emprestava a sua voz ao
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Relogildo. Ao papagaio, que respondia pelo nome de Papagaildo,
cabia a gozação em cima do professor. A voz era de Marlus Renato.
Eu e o Pimenta éramos os assistentes, Geninha e Lelé, que acháva-
mos o professor o máximo. O professor também fazia umas pesqui-
sas meio doidas como aquela de entrar num sarcófago para saber
como se sentia uma múmia, e causava uma grande confusão pro-
vocando medo e desespero nos assistentes. As brincadeiras eram
educativas, como a Trilha do Saber, em que as crianças jogavam
um dado e de acordo com a numeração caminhavam na trilha res-
pondendo às perguntas feitas pela Geninha. Dava-se oportunidade
a crianças que tinham seus números para mostrar, além de rece-
bermos companhias de teatro e dança para divulgarem seus traba-
lhos. O programa era bom, e o levávamos na raça. José Vallusi e
Antonio Dias escreviam o programa, Beto Azevedo era o produtor.
O diretor era Roberto Mauro. O programa tinha audiência, mas aca-
bou por falta de estrutura.
Comemoramos 60 anos de carreira do Ankito no Teatro João
Teotônio, mais uma vez com a peça Ela Nua... Ele Duro. Enquanto
isso, Ankito fez algumas participações em programas como Show
da Angélica, Sob Nova Direção, Carga Pesada e outros.
Retiro FelizEncerramos temporada e resolvemos nos mudar para o sítio, que
tem o nome de Sítio Retiro Feliz, mas, na verdade, é uma pequena
chácara, onde temos um pomar e um recanto de paz. Fica na Bai-
xada Fluminense, no município de Belford Roxo. Um lugarejo
bucólico, onde os pássaros cantam livremente e chegam a entrar
em nossa casa sem receio. Viemos para passar uns meses, mas,
diante da tranqüilidade do lugar, fomos ficando.
Um ano depois de nos mudarmos para cá, Ankito começou a
fazer animação de bailes de carnaval de rua, promovidos pela pre-
feitura. Optou por animar o Carnaval de Inhaúma e foi sempre muito
gratificante, já que isso se repetiu por pelo menos três anos. Era
muito legal, eu e Zina íamos junto e ela curtia muito, mesmo
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sentadinha no palco, perto da banda, enquanto que eu me esbaldava,
levantando a galera.
A prefeitura do Rio promove uma temporada no Teatro Carlos
Gomes com os grandes comediantes brasileiros, e Ankito é convi-
dado a fazer uma temporada de um mês ao meio-dia com ingressos
a preços popularíssimos. Ele aceita e mais uma vez Ela Nua... Ele
Duro volta à cena. Ah! Lembrei! Nessa peça tinha um número de
platéia que eu fazia. Era muito engraçado, e nessa temporada a
peça tinha que começar e acabar na hora certa, pois as pessoas
aproveitavam o horário de almoço para assistir. E diariamente eu
deixava o Ankito nervoso, pois eu me entretia conversando com a
platéia e ele nervoso batia o pé com força na coxia, para me lembrar
de parar. Uma vez ele não agüentou e entrou em cena para me
dizer que o povo tinha que voltar ao trabalho.
Quando encerramos a temporada, o administrador Aderbal
Júnior disse a Ankito que se ele tivesse uma nova peça poderia
voltar dali a um mês. Ele então escreve a peça Ele e Ela, mais ou
menos no mesmo esquema da outra, e a gente estréia no mês se-
guinte. Ankito aproveitou o play-back das músicas da outra peça e
escreveu paródias novas, isso nos deixou muito inseguros e na es-
tréia eu não conversei, entrei para cantar com o papel com letra da
música na mão. E isso deu margem a muita gozação do Ankito. A
segunda temporada também foi muito boa.
Esse foi o meu último trabalho em teatro. O Ankito continuou
fazendo participações em programas de televisão. Em 17 de maio
de 1996, falece Zina, aos 90 anos de idade, plenamente lúcida e
sem nenhuma razão aparente, apenas uma dor na perna e 18 dias
em coma que culminaram em falência múltipla de órgãos.
Viajamos eu, Ankito e minha mãe. Ankito teve vontade de rever,
em Guaratinguetá, os amigos Pedro e seu irmão João, e passamos o
Natal hospedados na casa deles. Foi um bonito Natal, conheci toda
a família de ambos e nos demos muito bem. Na volta, paramos em
Penedo, hospedamo-nos no Hotel Halloween, como de costume, e
procuramos os amigos Edson Seretti e Cristina Amaral. Estávamos
bem mais tranqüilos quando retornamos, mas logo tomamos um
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susto, Ankito teve uma hemorragia de próstata e foi internado, fi-
quei com ele no hospital e até que os exames nos dessem certeza
de que não havia malignidade, estávamos em desespero. Mas gra-
ças a Deus, em dez dias estávamos de volta à nossa casa, com oAnkito já operado e saudável, e com uma aparência muito melhor
que a minha.
Logo depois de ele ter se recuperado, recebemos um telefonema
de um senhor que se dizia fã do Ankito. Ele o atendeu no telefone e
conversaram muito, combinaram de se conhecerem pessoalmente,
e alguns dias depois, recebemos a visita de Juvenal Galeno, Juquinhae Zanone. Foi uma visita muito agradável, e uma grande amizade
teve início. Passamos a nos visitar.
Em nove de abril de 1999, eu e Ankito nos casamos. Nosso casa-
mento foi realizado no cartório de São João de Meriti, onde fomos
acolhidos com muito carinho por todos, casamo-nos às 12h30 sepa-
rados dos demais. Adivinhem quem foram as testemunhas? Galenoe a esposa Ruth, muitíssimo querida. Vários amigos comparece-
ram. Na cerimônia que lembrou um rito religioso, pois meu pai me
conduziu até ele, Ankito estava muito nervoso, e só relaxou, quan-
do chegamos ao Instituto Histórico de São João de Meriti, onde
fizemos uma pequena comemoração. Foi lindo! Vivemos marital-mente por 15 anos e estamos a seis casados, 21 anos de uma união
sólida e feliz.
Já enfrentamos muitas dificuldades, já vencemos preconceitos.
Mas nada nos abateu. Muito pelo contrário, a cada problema, nos-
sa união se faz mais forte. Vivemos um para o outro, as pessoas até
se assustam quando não estamos juntos, e isso acontece muito es-poradicamente. Gostamos de estar de mãos dadas, gosto de tirar a
espinha do peixe para ele e ele cuida de mim quando estou doente.
Se me aborreço, brigo, e ele faz o mesmo, mas não ficamos de cara
feia ou de mal um com o outro, no mesmo instante agimos como se
nada tivesse acontecido, a raiva passa e muitas vezes não voltamos
ao assunto. Minha família o adora. Camila e Milena Casais ele viunascer e são as sobrinhas queridas, que fazem com ele o que que-
rem. Marcia tem dois filhos, Tatiana e Conrado, já adultos. Tatiana
dará à luz em breve a uma criança e já sabemos se tratar de um