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1 ANAIS do XII Ciclo de Debates em Economia Industrial, Trabalho e Tecnologia Pontif ícia Universidade Católica de S ão Paulo. Programa de Estudos Pós-Graduados em Economia Política. Grupo de Pesquisas em Economia Industrial, Trabalho e Tecnologia . XII CICLO DE DEBATES EM ECONOMIA INDUSTRIAL, TRABALHO E TECNOLOGIA Dias 12 e 13 de Maio de 2014 - PUC- SP Auditório - 117 A 8:00 - 8:30 h - Abertura Prof. Dr. Antônio Correa de Lacerda - Coordenador do PEPGEP- PUC/SP 8:30 – 12:00 h Economia do Trabalho - Coordenação Prof. Renaldo Antônio Gonsalves (PUCSP) . Maria Cristina Cacciamali, Fábio Tatei e Tânia de Toledo Lima (USP) - Determinants of Unemployment Duration for Women and Men. Patrícia Silva Gomes (PUC/SP) e João Batista Pamplona -Breve reflexão teórica da relação entre população e economia Vladimir Sipriano Camillo (ESA) - Condicionantes da desigualdade da renda do trabalho brasileira no final da primeira década de 2000: algumas evidências empíricas. Anita Kon (PUC/SP) - Economia Criativa e Trabalho no Brasil _________________________________________________________________________________________________________ Organizadores: Profª Anita Kon, e Profª Elizabeth Borelli e Equipe EITT-PUCSP Local : Pontifícia Universidade Católica de São Paulo- Rua Monte Alegre, 984 -São Paulo – SP. Tels: (011) 3670-8516 (Programa de Economia Política). 12/05/2014 - Segunda-feira 14:30 -18:00 h Economia Industrial e Tecnologia - Coordenação: Prof. Luiz Guilherme de Oliveira (UnB), Francisco Carlos Ribeiro, Flaviano Agostinho de Lima, et alii (FATEC), -A simulação criativa, criando valor e tecnologia para pequenas empresas e microempresas no Parque Tecnológico de Sorocaba. Neuza Santos Souza e Frederico Araujo Turolla (ESPM) -Análise da internacionalização de empresas multinacionais do setor de saneamento Luiz Guilherme de Oliveira (UnB) -A política de offset e o Brasil: perspectivas da construção de uma agenda de política de transferência tecnológica de defesa à luz da experiência internacional. Francisco Carlos Ribeiro, Sidney Benedito de Oliveira et alii (FATEC), Informações estratégicas e consolidação legal como estratégia de desenvolvimento industrial. O caso de Sorocaba. 13/05/2014 Terça-feira 8:30 -12:00 h Economia de Serviços e Atuária Coordenação: Prof. Luis Patricio Ortiz Flores (PUCSP/SEADE) Antônio Cordeiro Filho (PUCSP) - A previdência privada no Brasil Luis P Ortiz Flores (PUCSP/SEADE) - Aspectos Demográficos da população economicamente ativa do Estado de São Paulo Renaldo Antônio Gonsalves (PUCSP) - Variáveis que determinam a formação da taxa de juros no Brasil: Um estudo preliminar. Luis P Ortiz Flores (PUCSP/SEADE) -Semelhanças e diferenças entre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das Nações Unidas e o Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS) da Fundação Seade 14:30 -18:00 h Economia da Sustentabilidade - Coordenação: Profa. Elizabeth Borelli Luiz Daniel Cilli (IPT) e Eduardo Luiz Machado (UNIFESP) Sustentabilidade nas Instituições Financeiras: o caso do Itaú Unibanco Paula Meyer Soares (UnB), Fabio Konishi (FATEC) e Marcelo Santana (IFBA- Bahia) -Evolução da tecnologia biocombustível no Brasil: uma análise do segmento automobilístico e a sua correlação com o setor sucroalcooleiro. Luciana Schwandner Ferreira (FAU/USP) -O papel socioambiental da vegetação urbana: custos e benefícios. Elizabeth Borelli (PUC/SP) -A questão da sustentabilidade urbana na Baixada Santista. EITT 20

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Page 1: Anita Kon (PUC/SP) Luiz Guilherme de Oliveira (FATEC ... · Trabalho, Economia Industrial e Tecnologia, Economia da Serviços e Atuária e Economia da Sustentabilidade. A mesa de

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ANAIS do XII Ciclo de Debates em Economia Industrial, Trabalho e

Tecnologia

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.Programa de Estudos Pós-Graduados em Economia Política.

Grupo de Pesquisas em Economia Industrial, Trabalho e Tecnologia .

XII CICLO DE DEBATES EM ECONOMIA INDUSTRIAL, TRABALHO E TECNOLOGIADias 12 e 13 de Maio de 2014 - PUC- SP Auditório - 117 A

8:00 - 8:30 h - Abertura

Prof. Dr. Antônio Correa de Lacerda - Coordenador do PEPGEP- PUC/SP

8:30 – 12:00 h

Economia do Trabalho - Coordenação Prof. Renaldo Antônio Gonsalves (PUCSP)•. Maria Cristina Cacciamali, Fábio Tatei e Tânia de Toledo Lima (USP) - Determinants of Unemployment Duration for Women and Men.•Patrícia Silva Gomes (PUC/SP) e João Batista Pamplona -Breve reflexão teórica da relação entre população e economia•Vladimir Sipriano Camillo (ESA) - Condicionantes da desigualdade da renda do trabalho brasileira no final da primeira década de 2000: algumas evidências empíricas.•Anita Kon (PUC/SP) - Economia Criativa e Trabalho no Brasil

_________________________________________________________________________________________________________

Organizadores: Profª Anita Kon, e Profª Elizabeth Borelli e Equipe EITT-PUCSPLocal : Pontifícia Universidade Católica de São Paulo- Rua Monte Alegre, 984 -São Paulo – SP.

Tels: (011) 3670-8516 (Programa de Economia Política).

12/05/2014 - Segunda-feira

14:30 -18:00 h

Economia Industrial e Tecnologia - Coordenação: Prof. Luiz Guilherme de Oliveira (UnB),•Francisco Carlos Ribeiro, Flaviano Agostinho de Lima, et alii (FATEC), -A simulação criativa, criando valor e tecnologia para pequenas empresas e microempresas no Parque Tecnológico de Sorocaba.•Neuza Santos Souza e Frederico Araujo Turolla (ESPM) -Análise da internacionalização de empresas multinacionais do setor de saneamento•Luiz Guilherme de Oliveira (UnB) -A política de offset e o Brasil: perspectivas da construção de uma agenda de política de transferência tecnológica de defesa à luz da experiência internacional.•Francisco Carlos Ribeiro, Sidney Benedito de Oliveira et alii (FATEC), Informações estratégicas e consolidação legal como estratégia de desenvolvimento industrial. O caso de Sorocaba.

13/05/2014 – Terça-feira

8:30 -12:00 h

Economia de Serviços e Atuária – Coordenação: Prof. Luis Patricio Ortiz Flores (PUCSP/SEADE)•Antônio Cordeiro Filho (PUCSP) - A previdência privada no Brasil•Luis P Ortiz Flores (PUCSP/SEADE) - Aspectos Demográficos da população economicamente ativa do Estado de São Paulo•Renaldo Antônio Gonsalves (PUCSP) - Variáveis que determinam a formação da taxa de juros no Brasil: Um estudo preliminar.•Luis P Ortiz Flores (PUCSP/SEADE) -Semelhanças e diferenças entre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das Nações Unidas e o Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS) da Fundação Seade

14:30 -18:00 h

Economia da Sustentabilidade - Coordenação: Profa. Elizabeth Borelli

•Luiz Daniel Cilli (IPT) e Eduardo Luiz Machado (UNIFESP)• Sustentabilidade nas Instituições Financeiras: o caso do Itaú UnibancoPaula Meyer Soares (UnB), Fabio Konishi (FATEC) e Marcelo Santana (IFBA- Bahia) -Evolução da tecnologia biocombustível no Brasil: uma análise do segmento automobilístico e a sua correlação com o setor sucroalcooleiro.Luciana Schwandner Ferreira (FAU/USP) -O papel socioambiental da vegetação urbana: custos e benefícios.•Elizabeth Borelli (PUC/SP) -A questão da sustentabilidade urbana na Baixada Santista.

EITT20

Page 2: Anita Kon (PUC/SP) Luiz Guilherme de Oliveira (FATEC ... · Trabalho, Economia Industrial e Tecnologia, Economia da Serviços e Atuária e Economia da Sustentabilidade. A mesa de

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Índice

Apresentação

Economia do Trabalho e População

Maria Cristina Cacciamali, Fábio Tatei e Tânia de Toledo Lima (USP)

Determinants of Unemployment Duration for Women and Men.

Patrícia Silva Gomes (PUC/SP) e João Batista Pamplona

Breve reflexão teórica da relação entre população e economia

Vladimir Sipriano Camillo (ESA)

Condicionantes da desigualdade da renda do trabalho brasileira no final da

primeira década de 2000: algumas evidências empíricas.

Anita Kon (PUC/SP)

Economia Criativa e Trabalho no Brasil

Economia Industrial e Tecnologia

Francisco Carlos Ribeiro, Flaviano Agostinho de Lima, Francisco de Assis Toti, Luiz

Carlos Rosa, Célio Olderigi De Conti e Antonio Carlos de Oliveira (FATEC)

A simulação criativa, criando valor e tecnologia para pequenas empresas e

microempresas no Parque Tecnológico de Sorocaba.

Neuza Santos Souza e Frederico Araujo Turolla (ESPM)

Análise da internacionalização de empresas multinacionais do setor de saneamento

Luiz Guilherme de Oliveira (UnB),

A política de offset e o Brasil: perspectivas da construção de uma agenda de

política de transferência tecnológica de defesa à luz da experiência internacional.

Francisco Carlos Ribeiro, Sidney Benedito de Oliveira e Geraldo Cesar Almeida

(FATEC), Informações estratégicas e consolidação legal como estratégia de

desenvolvimento industrial. O caso de Sorocaba.

Economia de Serviços e Atuária

Antônio Cordeiro Filho (PUCSP)

A previdência privada no Brasil

Luis P Ortiz Flores (PUCSP/SEADE)

Aspectos Demográficos da população economicamente ativa do Estado de São

Paulo

Renaldo Antônio Gonsalves (PUCSP)

Variáveis que determinam a formação da taxa de juros no Brasil: Um estudo

preliminar.

Economia da Sustentabilidade Luiz Daniel Cilli (IPT) e Eduardo Luiz Machado (UNIFESP)

Sustentabilidade nas Instituições Financeiras: o caso do Itaú Unibanco.

Paula Meyer Soares (UnB), Fabio Konishi (FATEC) e Marcelo Santana (IFBA- Bahia)

Evolução da tecnologia biocombustível no Brasil: uma análise do segmento

automobilístico e a sua correlação com o setor sucroalcooleiro.

Luciana Schwandner Ferreira (FAU/USP)

O papel socioambiental da vegetação urbana: custos e benefícios.

Elizabeth Borelli (PUC/SP)

A questão da sustentabilidade urbana na Baixada Santista.

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Apresentação

O Grupo de Pesquisas em Economia Industrial, Trabalho e Tecnologia do

Programa de Estudos Pós-Graduados em Economia Política da PUC/SP, está

comemorando 12 anos de realizações de Ciclos de Debates e 20 anos de atividades.

As atividades de pesquisa desenvolvidas pelo EITT reúnem trabalhos sobre temas

relacionados às áreas que dão nome ao grupo, com o objetivo de constante

atualização da análise sobre as transformações estruturais e as questões

conjunturais pertinentes.

Durante estes 20 anos recebemos a colaboração de professores, mestrandos,

doutorandos e graduandos da PUC e de outras instituições. Estas contribuições

tomaram a forma de participação em reuniões, discussões teóricas e

metodológicas, apresentação de trabalhos em seminários e outros eventos internos

e externos à PUC, redação de textos para publicações do grupo, bem como

colaboração na organização e no apoio logístico às atividades do grupo.

Os integrantes do EITT desejam mostrar seu reconhecimento a pessoas e

instituições que colaboraram para a continuidade de suas atividades. A publicação

de livros e a organização de Ciclos de Debates tem sido possível graças ao apoio

financeiro da FAPESP, CNPq e da CAPES.

O XII Ciclo de Debates em Economia Industrial, Trabalho e Tecnologia

conta com a colaboração dos colegas especializados de várias instituições de Ensino

e Pesquisa, para o debate das recentes pesquisas nas áreas de Economia do

Trabalho, Economia Industrial e Tecnologia, Economia da Serviços e Atuária e

Economia da Sustentabilidade.

A mesa de debates sobre Economia do Trabalho, sob coordenação do Prof.

Renaldo Antônio Gonçalves (PUCSP) reúne os professores Maria Cristina

Cacciamali et alii (USP), Vladimir S. Camillo (ESA) e Anita Kon (PUC/SP), para a

discussão sobre políticas públicas e questões estruturais do mercado de trabalho

brasileiro.

Os trabalhos de pesquisas sobre Economia Industrial e Tecnologia, cujo

debate é coordenado pelo Prof. Luiz Guilherme de Oliveira (UnB) conta com

pesquisas dos professores Francisco Carlos Ribeiro, et alii (FATEC) que

apresentam duas pesquisas, Neuza S Souza e Frederico Araujo Turolla (ESPM) e

Luiz Guilherme de Oliveira (UnB) abordando as questões recentes que envolem

setores industriais estratégicos do Brasil.

Sobre Economia de Serviços e Atuária, sob coordenação do Prof. Luis

Patrício Ortiz Flores, (PUCSP/SEADE) as discussões contam com a participação

dos professores Antonio Cordeiro Filho (PUC/SP), Luis Ortiz (PUC/SP), Renaldo

A. Gonsalves (PUC/SP), que apresentarão suas recentes pesquisas.

Os debates sobre Economia da Sustentabilidade, coordenados pela Profa.

Elizabeth Borelli (PUCSP), serão apresentados pelos pesquisadores Luiz Daniel

Cilli (IPT) e Eduardo Luiz Machado (UNIFESP), Paul M. Soares (UnB), Fabio

Konishi (FATEC-SP), Marcelo Santana (IFBA) e Elizabeth Borelli, que apontam

os desafios recentes da sustentabilidade no Brasil e suas conseqüências sobre

setores econômicos específicos

O EITT espera continuar contando com a colaboração dos colegas em suas

futuras atividades.

Anita Kon

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Economia do Trabalho

DETERMINANTS OF UNEMPLOYMENT DURATION FOR WOMEN AND

MEN

Maria Cristina Cacciamali1

Fábio Tatei

Tânia de Toledo Lima

RESUMO

O artigo tem objetivo de apresentar estimativas sobre os determinantes da duração

do desemprego, segundo sexo para as regiões metropolitanas brasileiras, nos anos de

2000 e 2010. Para tanto utilizamos a base de dados da PME para os anos 1992 -2012,

que permite acompanhar um mesmo indivíduo ao longo do tempo. Dentre os resultados

encontrados, destacamos que as mulheres tendem a apresentar maior probabilidade de

desocupação perante os homens, independente do tempo de duração do desemprego. O

resultado fornece indícios para duas situações: os homens chefes de família tendem a

aceitar mais facilmente uma ocupação, mesmo aquém de sua qualificação e/ou com

salários inferiores ao desejado; e concomitantemente, as mulheres tendem a permanecer

mais tempo na situação de desemprego para cuidar da família.

Abstract

This paper aims to present the determinants of the length of unemployment by sex

in the Brazilian Metropolitan Urban Areas during the period from 2000 e 2010. This

study highlights the higher probability of unemployment for women than men,

regardless unemployment duration. This result show two behaviors: male household

heads accept more easily an occupation to provide income to their family; and women

tend to stay longer in unemployment to take care of their family.

Classificação JEL: C14, J64, J71

1 Pesquisa realizada sob os auspícios do CNPq. Maria Cristina Cacciamali. Doutor e Livre

Docente pela Universidade de São Paulo, Coordenadora do Núcleo de Estudo e Pesquisa de

Política Internacional. Estudos Internacionais & Políticas Comparadas – NESPI/USP/CNPq,

Bolsista sênior CNPq. E-mail: [email protected]; Fábio Tatei, Mestre pela Universidade de

São Paulo, pesquisador pleno do NESPI/USP/CNPq. E-mail: [email protected]; Tânia de

Toledo Lima, Mestre pela Universidade Federal de São Carlos, e membro do NESP/USP/CNPq.

E-mail: [email protected]

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1. INTRODUÇÃO

Desde os anos 1970 a participação feminina no mercado de trabalho aumentou

expressivamente, refletindo importantes transformações socioeconômicas e culturais

pelas quais o Brasil passava. Assim, tanto a expansão da economia como a deterioração

dos salários reais incentivaram a expansão feminina no mercado de trabalho, seja pelas

condições favoráveis de incorporação de um maior contingente de trabalhadores, seja

pela necessidade de complementação e manutenção da renda familiar.

Por outro lado, esse aumento da participação no mercado de trabalho se reflete,

muitas vezes, em dupla jornada de trabalho das mulheres responsáveis pelos afazeres

domésticos (Leone e Baltar, 2008). Ademais, a maior inserção das mulheres no mercado

de trabalho ocorre de maneira desigual perante os homens. O tratamento discriminatório

nas relações de trabalho se exacerba por meio dos diferenciais de salários por sexo

[Soares (2000); Biderman e Guimarães (2005); Oliveira e Rios-Neto (2006);

Cacciamali, Tatei e Rosalino (2009)], pela segregação ocupacional das mulheres em

atividades relacionadas principalmente ao setor de serviços [Oliveira (2003); King

(2009)], pelas dificuldades de acesso delas aos cargos de chefia [Bruschini e Puppin

(2004); Abreu e Meirelles (2012)] e pela elevada taxa de desemprego feminina [Barros,

Camargo e Mendonça (1997); Oliveira, Scorzafave e Pazello (2009)].

Posto isto, o objetivo do presente artigo é estimar os determinantes da duração do

tempo de desemprego nas regiões metropolitanas brasileiras, no período de 1992 a

2010, com o objetivo de verificar se as relações de gênero afetam distintamente esse

fenômeno. Este tema ainda foi pouco explorado pela literatura especializada brasileira e

ganha relevância por oferecer as bases necessárias para a concepção de políticas

públicas que visem combater as desigualdades e limitações nesse mercado.

Para tanto, aplicamos modelos paramétricos, semiparamétricos e não paramétricos

para a estimação dos determinantes aos microdados da Pesquisa Mensal de Emprego

(PME) do IBGE. A escolha dessa base de dados se deve ao fato de ela permitir a

construção de um painel de modo a acompanhar um mesmo indivíduo ao longo do

tempo, mesmo que por um período relativamente curto. Os achados encontrados

ratificam as evidências que reforçam a relevância das variáveis relacionadas ao capital

humano tanto sobre as chances de ocupação e tempo de desemprego, como para a

determinação dos salários, em uma situação sempre mais desfavorável para o sexo

feminino.

O artigo encontra-se estruturado em três seções, além desta introdução. A segunda

seção consiste de uma revisão teórica sobre a questão dos determinantes da duração do

tempo de desemprego. Na terceira seção apresentamos as estruturas das bases de dados

e os métodos que foram empregados para responder as hipóteses por nós formuladas.

Na quarta seção descrevemos e analisamos os resultados obtidos, além de contrastá-los

com aqueles que constam da literatura especializada. Por fim resenham-se as

considerações finais.

2. DETERMINANTES DA DURAÇÃO DO TEMPO DE DESEMPREGO E A

INFLUÊNCIA DESSA DURAÇÃO SOBRE OS DIFERENCIAIS DE SALÁRIOS

ENTRE HOMENS E MULHERES

A análise da duração do desemprego e de seus determinantes é objeto de diversos

estudos na literatura especializada, todavia, a questão de gênero nem sempre é

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cotejada.2 Por outro lado, cresce na literatura a presença de autores que destacam a

importância de se analisar essa questão, pelo fato de permanecer mascarada na análise

agregada.

Por exemplo, Bowers e Harkess (1979) analisaram a duração do desemprego por

sexo e idade na Grã Bretanha entre 1967 e 1973, e a partir do modelo de função de

sobrevivência estimaram a probabilidade média de saída da situação do desemprego. Os

autores observam duas situações distintas: i) na recessão britânica de 1967 a 1971, a

duração do desemprego aumenta relativamente menos entre as mulheres frente aos

homens, sobretudo para as coortes etárias mais velhas; ii) por sua vez, no período de

1972 a 1973 há redução da duração do desemprego das mulheres e dos jovens, enquanto

para os homens essa probabilidade se mantém constante. Os autores argumentam que os

menores períodos de desemprego das mulheres em relação aos homens se devem ao

aumento da participação de mulheres com maior escolaridade, assim como à maior

rotatividade feminina no mercado de trabalho naquele país.

Gonzalo e Saarela (2000) também analisaram a probabilidade de saída da situação

de desemprego segundo o sexo, para a Finlândia no ano de 1996. Os autores aplicam o

modelo de Weibull para estimar a função de risco. As estimativas mostram que os

determinantes para a saída da situação de desemprego são distintos entre homens e

mulheres de até 30 anos de idade, e tendem a se igualar para os mais velhos. Esse

comportamento decorre da estrutura de participação de homens e mulheres no mercado

de trabalho finlandês, haja vista que a principal causa para a menor participação das

mulheres no mercado de trabalho reporta-se às restrições familiares. Uma conclusão

adicional dos autores é com relação ao número de filhos, para os homens essa variável é

não significativa, enquanto que para as mulheres o aumento do número de filhos tende a

elevar o tempo da busca por uma ocupação.

Aprofundando a análise para além da duração do desemprego e da probabilidade de

sair dessa situação, Tansel e Tasci (2004) investigaram os determinantes da duração do

desemprego por sexo na Turquia em 2000 e 2001. Os autores utilizam dois modelos: a

estimação não-paramétrica por meio da função de sobrevivência de Turnbull (Turnbull,

1976), que é uma generalização do estimador de Kaplan-Meier para dados censurados; e

uma estimação paramétrica por meio do modelo de riscos proporcionais, e

especificações log-logísticas e log-normais. Os resultados são similares entre os

modelos propostos, sendo que o principal achado refere-se ao fato de que as mulheres

apresentam menor probabilidade de saída do desemprego ante os homens; essa

constatação, segundos os autores, decorre tanto da maior discriminação das mulheres no

mercado de trabalho como de sua maior participação nas atividades domésticas,

sobretudo no caso das mulheres casadas.

Por sua vez, Du e Dong (2009) examinaram as razões que determinam o maior

período de desemprego das mulheres na China urbana, a partir dos dados de uma

pesquisa domiciliar nacional realizada em 2003. Os autores investigaram a questão por

meio da estimação da função de sobrevivência com o estimador Kaplan-Meier, e da

função de risco de desemprego por meio de dois métodos de regressão por máxima

verossimilhança, considerando a distribuição Weibull. Os resultados confirmam que as

mulheres têm relativamente aos homens menor probabilidade de sair da situação de

desemprego, assim como permanecem mais tempo desempregadas. Os autores não

2 Ver, entre outros, Nickell (1979), Lancaster (1979), Foley (1997), Bivar (1993), Menezes-

Filho e Picchetti (2000), Avelino (2001) e Penido e Machado (2002).

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encontram evidências de que as mulheres supostamente realizassem menos esforços na

busca de uma ocupação vis-à-vis os homens. Mas, a estrutura do mercado de trabalho e

fatores institucionais, como, menor acesso às redes sociais, tratamento desigual nos

serviços públicos de emprego, entre outros, encontram-se entre os principais fatores que

explicam tanto o maior desemprego como os menores salários auferidos pelas

trabalhadoras chinesas.

No caso brasileiro, alguns estudos versam a respeito dos determinantes da duração

do desemprego (Menezes-Filho e Picchetti (2000); Oliveira e Camargo (2006)),

entretanto, a maior parcela da literatura sobre o tema não considera a especificidade de

cada sexo. Dentre os estudos que abordam essa questão, Barros, Camargo e Mendonça

(1997) relacionaram a probabilidade de saída do desemprego com o grau de

seletividade. Um dos exemplos para análise refere-se ao sexo, tal como o homem e

chefe de família que apresenta elevada probabilidade de saída do desemprego, devido à

baixa seletividade; enquanto as mulheres demonstraram baixa probabilidade de saída do

desemprego, pois apresentavam maior grau de seletividade, considerando baixo o custo

de busca por trabalho.

Costa e Teixeira (2008) estudaram os determinantes dos diferenciais da

probabilidade de desemprego para homens e mulheres para o caso brasileiro. Os autores

utilizam os microdados da PNAD de 1995 e 2002 para aplicar um modelo probit e a

decomposição de Oaxaca (1973) para estimar os efeitos do fenômeno da discriminação

no mercado de trabalho. Os resultados mostram que a probabilidade do desemprego

aumenta no período analisado e que, em ambos os anos, a probabilidade de desemprego

das mulheres foi superior ao dos homens. Ademais, os autores verificam que a

probabilidade de desemprego tende a ser maior entre os trabalhadores com menos anos

de escolaridade, os mais jovens e aqueles localizados nas regiões Norte e Nordeste. No

tocante a decomposição de Oaxaca, os resultados indicam que a parcela não explicada,

associada à discriminação, responde pela maior parcela do diferencial da probabilidade

de desemprego das mulheres ante os homens, todavia, essa proporção diminui entre

1995 e 2002.

Oliveira, Scorzafave e Pazello (2009), por sua vez, ampliam a análise anterior. Os

autores investigaram a evolução da estrutura de desemprego e inatividade nas regiões

metropolitanas no Brasil com os microdados da PNAD 2004, aplicando a metodologia

de Fernandes e Pichetti (1999), mas enfatizando as diferenças segundo homens e

mulheres. A probabilidade de desemprego para ambos os sexos é praticamente igual até

os cinco anos de escolaridade, depois desse nível, ela tende a ser maior para as

mulheres. As mulheres também apresentam maiores chances de desemprego perante os

homens, até os quarenta anos e nas famílias de renda mensal superior a seis salários-

mínimos. Por fim, com relação às demais variáveis, as mulheres sempre apresentam

probabilidade de desemprego superior à dos homens.

Em estudo mais recente, embora restrito ao mercado de trabalho cearense, Arruda,

Guimarães, Irffi e Castelar (2010) analisaram os determinantes de permanência no

desemprego por meio de um modelo probit a partir dos dados da PNAD 2007. Os

autores verificaram a maior probabilidade das mulheres permanecerem na situação de

desemprego, salvo no caso de os homens estarem em uma situação de desemprego

acima de 12 meses. Esses autores estimaram comportamentos distintos do desemprego

segundo sexo no Ceará, o que indica que diferenças regionais não podem ser

desconsideradas em estudos sobre o mercado de trabalho no Brasil.

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Os estudos tomados como referência nesta seção não tem a pretensão nem de

esgotar o tema nem de exaurir as estimativas sobre as diferenças de duração do

desemprego e suas implicações sobre os homens e mulheres, muito menos de correr a

vasta literatura a respeito dos diferenciais de salário por sexo3. Vale notar, todavia, que

os trabalhos resenhados confirmam que o desemprego afeta distintamente homens e

mulheres e, na maior parte das vezes, em prejuízo destas últimas. As evidencias dos

estudos em países emergentes, por outro lado, indicam a maior vulnerabilidade das

mulheres perante os homens, seja pela maior dificuldade de sair da situação de

desemprego, seja pela maior duração nessa condição. Ademais, quer se destacar

também que, em muitos países, as diferenças no comportamento do desemprego e nos

salários são validadas pela estrutura de seu mercado de trabalho que assevera em maior

ou menor grau tanto a segregação como a discriminação contra as mulheres.

3. ASPECTOS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O presente estudo visa estimar a duração e determinantes do desemprego tendo

como referencial a estimação da função de sobrevivência e da função de risco a partir de

modelos paramétricos, semiparamétricos e não paramétricos, conforme apresentado em

Menezes-Filho e Picchetti (2000).

As hipóteses a respeito da duração do desemprego e seus determinantes serão

testadas por meio dos da PME/F.IBGE para dois subperíodos: 1992 a 2000 (PME

Antiga Metodologia) e 2002 a 2010 (PME Nova Metodologia). Neste caso é importante

mencionar que a abordagem em dois períodos se deve às alterações de metodologia da

PME em 2002. Dentre as alterações, destacam-se: i) os grupos rotacionais e as criação

de variáveis, que passou de 4 (quatro) grupos rotacionais por mês na antiga metodologia

para 8 (oito) grupos rotacionais na nova metodologia; ii) criação de variáveis derivadas

tais como “indivíduo desempregado” e “procura de emprego dentro do período de 30

dias”; e iii) identificação do desalentado. O ajustamento de 4 grupos rotacionais para 8

grupos rotacionais permitiu a superação do efeito blackout (amostra completamente

trocada há cada dois anos), o que possibilitou a redução de atritos para a identificação

dos indivíduos.4

A amostra considera apenas os indivíduos identificados nas quatro entrevistas

iniciais da PME de cada domicílio, desde que essas entrevistas estivessem no mesmo

ano. Sendo assim, os critérios utilizados quanto à amostra foram: i) seleção apenas do

indivíduo que declarou estar desempregado na primeira entrevista feita pela

PME/F.IBGE no domicílio e que, além disso, obrigatoriamente assim permaneceu nas

três entrevistas consecutivas; ii) consideraram-se as quatro entrevistas transcorrendo no

mesmo ano, ou seja, o indivíduo que respondeu à PME/F.IBGE ao final de um ano e

esteve presente no painel no início do ano seguinte não ingressou na amostra. Dessa

subamostra se excluiu também o indivíduo que passou para a situação de inativo em

quaisquer das entrevistas seguintes, assim como aquele que mudou de situação de

atividade mais de duas vezes.

3 Ver, entre outros: Kassouf (1998); Soares (2000); Crespo e Reis (2004); Biderman e

Guimarães (2005); Matos e Machado (2006); Oliveira e Rios-Neto (2006); Barros, Franco e

Mendonça (2007); Cacciamali e Hirata (2005); Cacciamali, Tatei e Rosalino (2009).

4 Para maiores detalhes sobre o painel rotacional da PME, ver Ribas e Soares (2008).

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Uma vez tendo definido os modelos, a base de dados e os recortes necessários, vale

ressaltar que cada modelo foi estimado separadamente para cada região metropolitana e

para cada ano, buscando verificar possíveis diferenças entre as regiões metropolitanas.

A seguir apresentam-se, resumidamente, os modelos aplicados segundo a abordagem

econométrica considerada.

a) Caso não paramétrico:

Considerando t o tempo de duração de transição da situação de desempregado para a

mesma situação ou outra, o objetivo será calcular a função de risco e a função de

sobrevivência. A função de risco fornecerá a probabilidade de o desemprego terminar

em dado instante de tempo – neste caso o mês - , dado que o desemprego ocorreu até

aquele momento. Sendo assim, a função de risco se define como:

)(1

)()(lim)(

0 TF

tf

dt

tTdttTtPth

dt

(1)

Onde, h(t) é a função risco, t é uma variável aleatória denominada tempo de

duração, f(t) é a densidade de probabilidade da variável aleatória duração, F(t) é a

distribuição acumulada.

O cálculo da função de sobrevivência depende do método a ser estimado. No caso

do não paramétrico, o método aplicado é o de Kaplan Meier, utilizando os seguintes

dados: permanência no desemprego, responsável pela família (chefe de família) ou não

responsável, indivíduos que já trabalharam e indivíduos que procuram o primeiro

emprego, e gênero.

b) Caso semiparamétrico:

O modelo semiparamétrico permite analisar o efeito agregado de um conjunto de

variáveis covariadas sob a duração do desemprego. Sendo assim, a função de risco é

definida como:

)...exp()(),( 2211 kk XbXbXbtbXth (2)

A função de risco apresenta um termo comum a todos os indivíduos b(t) e outro que

depende das k variáveis. Todavia, o modelo também pode ser denominado como

“riscos proporcionais”, pois considera os riscos individuais como uma proporção do

risco comum. Neste caso que a única hipótese refere-se a consideração dos riscos

proporcionais, ou seja, não é feita nenhuma suposição forte a respeito da especificação

de (2). Logo, considerando dada hipótese, é possível estimar (2) pelo método de

máxima – verossimilhança.

c) Caso paramétrico:

Enquanto os modelos anteriores não consideram uma função de risco específica,

este modelo considera-a, e por isto não assume que os riscos são proporcionais. Em

concordância com esta especificação, a presente pesquisa assume como função risco a

log-logística. A escolha em dada especificação se pauta no fato de permitir uma análise

da duração condicional do desemprego sob as formas constante, crescente, e

decrescente com o tempo. Outrossim, uma vantagem do modelo paramétrico está em

poder estimar diretamente as funções de risco e de sobrevivência.

Os testes de especificação dos modelos de duração são calculados por meio da

variável aleatória construída (Z) integrada à função de risco de (0,T), cuja a distribuição

é uma exponencial com média igual a 1, como descrito abaixo:

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10

1)(

);(0

ZE

dsxsZ

T

(3)

A especificação do modelo paramétrico pode ser testada de maneira ampla, pois a

função de risco é determinada por uma distribuição exponencial. Dessa forma temos o

cálculo da função de risco integrada a seguir:

Z

Zdsxs0

);( (4)

Esta função é integrada para cada observação, por meio do modelo, sendo este capaz

de prever a possibilidade de saída do desemprego considerando as características

individuais. Neste caso, as características individuais consideradas são as mesmas do

modelo semiparamétrico. Por último, tendo estimado a equação (4), os resíduos serão

padronizados a fim de comparar a distribuição empírica dos resíduos com a teórica.

4. ESTIMAÇÃO DOS DETERMINANTES DO TEMPO DE DESEMPREGO

Iniciamos a análise do tempo de duração do desemprego a partir do estimador de

Kaplan-Meier. Trata-se do método mais simples de estimação, pois não considera a

interação das diversas variáveis explicativas, mas que serve como um sinalizador básico

para o problema que está sendo tratado.

O gráfico a seguir sintetiza essa análise ao mostrar a probabilidade de um indivíduo

continuar desocupado em cada instante do tempo. Ressalvamos que para simplificar

ainda mais a análise, consideramos aqui apenas o ano de 2010, sem desagregar a

amostra por região metropolitana, uma vez que a análise pouco difere entre os anos e

entre as regiões metropolitanas.5

Observamos, assim, que as mulheres apresentam, em média, maiores chances de

permanecer na situação de desocupação perante os homens, sobretudo para aquelas que

estão buscando emprego entre 1 a 2 anos. Esse comportamento se inverte ligeiramente

nos extremos, isto é, as mulheres com pouco tempo de procura de emprego (até 1 ano)

ou com muito tempo (acima de 3 anos) apresentam probabilidades marginalmente

menores que os homens de continuar nessa condição.

5 Por limitação de espaço apresentamos no apêndice os resultados da estimação paramétrica

dos anos de 2000 e 2010. Os interessados podem entrar em contato com os autores para obter os

resultados da estimação não paramétrica, semiparamétrica e para os demais anos do período

1992 a 2011.

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11

Gráfico 1 – Probabilidade de se manter desocupado. Função de Sobrevivência

(Estimador de Kaplan-Meier), segundo sexo. 2010.

Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da PME/F.IBGE.

Esses resultados nos indicam que dois comportamentos distintos possam estar

ocorrendo. A primeira é que a menor probabilidade de desocupação das mulheres em

períodos muito curtos ou muito longos esteja relacionada a uma redução de seu salário

de reserva pela necessidade de se conseguir algum tipo de ocupação, mesmo que aquém

de sua qualificação e/ou com salários inferiores ao desejado. Por outro lado, para o

tempo de desemprego entre 1 e 2 anos se acentuam as diferenças por sexo, sendo que as

mulheres se confrontam com piores chances de conseguir uma ocupação vis-à-vis os

homens.

Apesar de haver uma ligeira distinção nas probabilidades de saída da situação de

desemprego em 2010, nos demais anos estimados a duração nessa situação é sempre

maior para as mulheres do que para homens. É possível estimar de forma consistente

que, dada as restrições da amostra, a duração média do desemprego é de 12,3 meses

para homens e de 13 meses pra mulheres em 2010. Na realidade, esse quadro poderia

ser ainda pior caso fosse considerado o desemprego oculto pelo trabalho precário e pelo

desalento,6 apesar das estimativas indicarem que apenas no caso do desalento a taxa das

mulheres é superior ao dos homens (Vargas, 2006), reforçando o quadro de maior

pressão familiar para que as mulheres sejam responsáveis pelos afazeres domésticos.

6 Desemprego oculto pelo trabalho precário envolve os indivíduos que procuraram uma

ocupação, mas que exerceram, de forma descontínua e irregular, alguma forma de trabalho,

remunerado ou não, em atividades de parentes, ou que realizaram um trabalho recebendo em

espécie ou benefício. Desemprego pelo desalento abrange as pessoas que foram desestimuladas

a procurar um trabalho devido a baixa perspectiva de inserção no mercado de trabalho.

0.0

00.2

50.5

00.7

51.0

0

0 20 40 60tempo de desemprego (em semanas)

homem mulher

Estimador Kaplan-Meier

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12

Quadro 1 – Determinantes do tempo de duração do desemprego

Recife

Salvad

or

Belo

Horizonte

Rio de

Janeiro

São

Paulo

Porto

Alegre

2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010

Chefe -

-

-

-

-

Mulher

+ +

+ +

+

Tamanho da

família +

-

-

Anos de

estudo +

+

+ +

+

+

Idade

+

+

Trabalhou

anteriormente - + -

-

-

-

-

Meses no

ultimo empr +

+

Demitido

-

- +

+

Formal +

+

+ - +

+

Setor

industrial

Horas

semana -

Salário real

+

-

Vendas

+

Nível de

emprego +

* O quadro indica o efeito que cada variável significativa tem sobre o tempo de

duração do desemprego, sendo que (+) indica que a variável aumenta a duração e para (-

) significa que a variável dependente impacta de forma a reduzir à duração. Os

resultados são significantes sob p-valor de 1%, 5% e 10%.

Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da PME/F.IBGE.

Todavia, conforme mencionado anteriormente, a estimação não-paramétrica não

permite identificar quais fatores são responsáveis por explicar o comportamento distinto

da duração do desemprego de homens e mulheres. Para tanto é necessário a aplicação de

modelo estatisticamente mais rigoroso para a análise dos determinantes da saída da

situação de desemprego. Posto isto, nos concentraremos nos resultados do modelo

paramétrico, conforme proposto por Menezes-Filho e Picchetti (2000). A vantagem

dessa modelagem perante os modelos não paramétricos e semipamétricos é o seu maior

poder de explicação, em contrapartida ao maior rigor na especificação das hipóteses,

além da possibilidade de estimar diretamente as funções de risco e de sobrevivência.

O quadro 1 sintetiza as variáveis significativas e seus efeitos sobre a probabilidade

de desemprego por meio da estimação paramétrica, sendo que os resultados completos

podem ser conferidos no apêndice. Em geral, as diferenças entre os anos estimados

foram principalmente de significância das variáveis, sendo que o efeito marginal de

cada uma delas praticamente não se altera. Assim para ilustração dos resultados foram

selecionados apenas dois anos representativos de cada metodologia da PME.

Primeiramente chama a atenção que, em geral, os determinantes do desemprego

foram estatisticamente mais significativos nas estimações por meio da antiga PME,

considerando que ambas foram construídas de maneira similar. Esses resultados não

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13

significam uma maior debilidade da nova PME, mas apenas que para o objetivo do

presente estudo, a amostra da antiga PME se mostrou adequada, sobretudo se

considerarmos a restrição amostral adotada no estudo como assinalada na seção

anterior.

A despeito disso, destaca-se que, independente da RM ou do ano de referência, as

mulheres se defrontam com maiores probabilidades de duração da desocupação perante

os homens, corroborando sua situação de desvantagem no mercado de trabalho. Vale

ressaltar que esta maior probabilidade afeta a mulher de duas formas, primeiro através

da discriminação de gênero, segundo por meio dos anos de escolaridade, uma vez que

estas apresentaram elevação no grau de escolaridade no referente período. Sendo assim,

ambos os fatos favorecem o que Barros, Camargo e Mendonça (1997) haviam apontado,

ou seja, as mulheres demonstraram baixa probabilidade de saída do desemprego, pois

apresentaram maior grau de seletividade. Contudo, seria interessante verificar

futuramente se isto ainda ocorre devido ao baixo o custo de busca por trabalho, mesmo

depois do aumento do grau de escolaridade.

Ademais, é notório observar que mesmo a crise financeira (2008) tendo impacto do

Brasil em 2009 e de forma distinta das crises da década de 1990, conforme estudado por

Cacciamali e Tatei (2010), nota-se que a vulnerabilidade das mulheres aparenta ser

relevante ainda em 2010. Isto reforça o que Costa e Teixeira (2008) haviam encontrado

a respeito da duração do desemprego mais elevada no caso das mulheres, entretanto,

observa-se que esse comportamento não se verificava em um ano de expansão.

Outro resultado a destacar se refere aos chefes de família, que tendem a apresentar

menores probabilidades de duração do desemprego perante os demais membros da

família, resultado esperado, uma vez que estes são os principais provedores de renda na

família. Igualmente, a probabilidade da duração do desemprego é menor entre aqueles

que já trabalharam anteriormente, evidenciando a importância da experiência

profissional na probabilidade de se obter uma ocupação e as maiores dificuldades

enfrentadas por aqueles que buscam o primeiro emprego. Ambos os resultados

corroboram aqueles vistos por Menezes-Filho e Picchetti (2000), Avelino (2001), e

Penido e Machado (2002).7

No tocante à variável escolaridade verificamos que maiores anos de estudo se

refletem em maiores probabilidades da duração da desocupação. Uma hipótese para tal

resultado é a existência de escassez de postos de trabalho qualificados, de modo que

indivíduos mais capacitados possuem salários de reserva mais elevados e, portanto,

podem permanecer mais tempo fora do mercado de trabalho em busca de ofertas

compatíveis com sua qualificação. Tal padrão também é observado por Barros,

Camargo e Mendonça (1997) que constataram que a duração do desemprego é crescente

com o nível educacional.

7 Ressalta-se que o sinal positivo do coeficiente da variável “Trabalhou anteriormente” para

Recife em 2010. Esse comportamento aparenta ser um caso atípico, pois foi o único dessa

natureza entre todas as RMs e anos estimados. Assim, não se pode afirmar que esteja ocorrendo

alguma mudança no padrão ocupacional em Recife sem novas estimações para períodos mais

recentes, mas de todo modo é um resultado que se sobressaí e merece atenção caso esse

comportamento se mantenha, indicando que o mercado de trabalho em Recife esteja

momentaneamente mais propício para aqueles que buscam o primeiro emprego, representados,

em geral, por ocupações que exigem pouca qualificação.

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A duração do desemprego também tende a ser maior para os indivíduos mais velhos

(significativa em São Paulo e Porto Alegre), a despeito das maiores taxas de

desemprego entre os mais jovens. Aparentemente contraditório esse quadro reflete dois

aspectos distintos. O primeiro caso indica que os indivíduos mais velhos tendem a

enfrentar maiores dificuldades de inserção à medida que permanecem mais tempo fora

do mercado de trabalho. O segundo caso reflete, principalmente, o problema da

assimetria de informações, no qual os empregadores dispõem de poucas ferramentas

para inferir as características de produtividade dos jovens, resultado em maiores taxas

de desemprego para esse grupo (Camargo e Reis, 2005).

Nesse mesmo sentido, a duração do desemprego tende a ser maior para aqueles que

permaneceram no trabalho anterior por um longo período e cujo último emprego era

registrado (exceção de Belo Horizonte e São Paulo em 2010). Assim, os desempregados

que possuíam vínculos com setor formal tendem a buscar novas ocupações que

ofereçam, no mínimo, as mesmas condições trabalhistas e benefícios do emprego

anterior. Obviamente, tal situação ocorre apenas para aqueles que dispõem de suficiente

apoio familiar para permanecer na situação de desemprego por longos períodos. Por

outro lado, estes resultados também podem ser considerados indícios de escassez de

postos de trabalho qualificados ou de melhor qualidade, o que eleva a probabilidade de

desocupação desses indivíduos que preferem esperar por ofertas de emprego

condizentes. Em geral, esse maior tempo de procura não é possível para todos os

indivíduos, todavia, o presente estudo não visa captar as distintas condições de inserção

ocupacional, assim, seria interessante um estudo que aprofundasse essa questão.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo visou analisar os determinantes da duração do desemprego e

captar as distinções entre homens e mulheres. Para tanto, utilizamos a base de dados da

PME, a qual permite acompanhar a trajetória de um mesmo indivíduo ao longo de um

curto período de tempo. Para responder aos objetivos do estudo, os dados da PME

foram formados de modo a conter apenas os indivíduos desocupados em um dado

período e observado sua trajetória ao longo dos meses seguintes. Esse recorte é

essencial para se compreender os determinantes da duração do desemprego e dos

condicionantes para sair desse estado, entretanto, resulta em uma amostra de tamanho

bastante restrito.

O estudo seguiu as recomendações de Ribas e Soares (2008) para reduzir os

problemas de declaração incorreta e aumentar a eficácia do emparelhamento dos

indivíduos no painel da PME. Esse procedimento permitiu que fosse preparada uma

base de dados mais robusta em relação a estudos anteriores, como Menezes-Filho e

Picchetti (2001). Em relação à literatura existente, o artigo complementa a análise de

um tema relevante, mas que tem sido pouco abordada nos últimos anos. Assim, são

feitas estimativas atualizadas e que abrangem um período mais longo e com os mais

recentes dados disponíveis.

Os resultados estimados apresentaram evidências claras de que o fenômeno do

desemprego afeta o mercado de trabalho de forma mais complexa do que esperado.

Primeiramente ficou clara a importância das características pessoais, sobretudo aquelas

relacionadas ao capital humano, na determinação da duração de desemprego. A idade e

a experiência profissional tendem a apresentar comportamentos inversos sobre a

probabilidade de duração do desemprego, indicando maior restrição do mercado em

contratar trabalhadores mais velhos, mas a valorização daqueles que unem qualificação

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e experiência profissional. Estes resultados estão em consonância com estimativas

realizadas por Menezes-Filho e Picchetti (2000), Avelino (2001) e Penido e Machado

(2002) para o Brasil, que utilizaram metodologias similares,

Por sua vez, os resultados da variável “ano de estudo” mostraram que os indivíduos

mais qualificados enfrentam menores taxas de desocupação, mas aqueles que estão em

busca de emprego tendem a permanecer mais tempo nessa condição, corroborando os

achados de Barros, Camargo e Mendonça (1997). Esse resultado sugere duas situações:

o desempregado mais escolarizado não aceita qualquer tipo de ocupação e procura

postos de trabalho mais condizente com sua qualificação; e podem existir escassez de

postos de trabalho neste período.

Ademais, os resultados corroboram que as mulheres apresentam menos

oportunidades de inserção no mercado de trabalho perante os homens. Ampliando os

resultados já observados pela literatura especializada, verificamos que as mulheres

apresentam maior probabilidade de desocupação, independente do tempo de duração do

desemprego. Tal constatação indica que os homens, em geral chefes de família, tendem

a aceitar mais facilmente uma ocupação, mesmo aquém de sua qualificação e/ou com

salários inferiores ao desejado, para garantir o sustento de sua família.

A questão do desemprego de longa duração é especialmente relevante, dado que tal

situação pode ser utilizada como um sinalizador negativo para o empregador, criando-

se, assim, um círculo vicioso em que o desempregado se defronta com condições cada

vez mais inóspitas para a obtenção de trabalho. Medidas que visem maximizar as

oportunidades de empregos para esse conjunto de indivíduos devem mirar,

principalmente, a qualificação e/ou reciclagem dos trabalhadores de modo que estes

estejam aptos a responder às demandas do mercado de trabalho.

No caso das diferenças de empregabilidade entre homens e mulheres, por outro lado,

estudos mostram que o problema é mais de discriminação do que de diferenciais de

qualificação [Soares (2000); Biderman e Guimarães (2005); entre outros]. Logo,

ressalta-se a importância de ações educativas de conscientização que visem equalizar as

oportunidades de emprego por sexo, sobretudo no acesso aos cargos de chefia.

Outro problema que tende a afetar mais as mulheres do que aos homens se refere à

maior responsabilidade delas com os cuidados da família, que, nesse caso, podem

permanecer mais tempo desempregadas em busca de uma ocupação de maior

flexibilidade de horário. Essa condição já foi observada por outros estudos como, por

exemplo, Bivar (1993), que verificou a maior probabilidade de transição do emprego

para inatividade para as mulheres do que para os homens, e não raro tal transição

ocorria por conta da família. Assim, programas e ações públicas que visem reduzir o

esforço doméstico, sobretudo no cuidado de crianças, como maior acesso a creches, por

exemplo, poderiam reduzir o tempo alocado pelas mulheres em seu próprio lar e

ampliariam o leque de oportunidades de emprego.

Os resultados reforçam, assim, a necessidade de estudos que analisem mais

profundamente essa questão, sobretudo, que abordem os efeitos distintos do

desemprego sobre homens e mulheres, dado que a melhor compreensão do mercado de

trabalho permite por em prática ações e políticas públicas mais eficientes e eficazes.

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16

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Apêndice A – Estimação da probabilidade de sair da situação de desemprego

a) Recife

Variável 2000 2010 Variável 2000 2010

chefe -0,58 *** 0,06 demitido -0,09 -0,7 **

-0,14 -0,32 -0,14 -0,27

0 0,86 0,51 0,01

gênero 0 -0,24 formal 0,21 * 0,29

-0,12 -0,24 -0,12 -0,32

1 0,32 0,08 0,37

tamanho da família -0,05 -0,08 setor industrial -0,01 0,43

-0,02 -0,09 -0,16 -0,75

0,07 0,41 0,93 0,57

anos de estudo 0,04 ** 0,05 horas semana 0,29 -0,19

-0,02 -0,03 -0,27 -0,22

0,01 0,17 0,28 0,39

idade 0,01 -0,01 salário 0,06 0,01

-0,01 -0,01 -0,09 -0,02

0,11 0,63 0,54 0,82

trabalhou anteriormente -0,46 ** 0,85 *** vendas real -0,05 -0,04

-0,23 -0,28 -0,06 -0,05

0,04 0 0,43 0,45

meses no último emprego

0 0,01 nível de emprego 0,07 0,27

0 -0,01 -0,28 -0,17

0,25 0,39 0,8 0,12

constante -26,27 -4,15

-29,1 -3,14

0,37 0,19

ln_gama -0,75 -0,76

-0,05 -0,11

0 0

gamma 0,47 -0,47

-0,03 -0,05

Número de Obs 332 74

Prob > chi2 0 0,14

Page 20: Anita Kon (PUC/SP) Luiz Guilherme de Oliveira (FATEC ... · Trabalho, Economia Industrial e Tecnologia, Economia da Serviços e Atuária e Economia da Sustentabilidade. A mesa de

20

b) Salvador

Variável 2000 2010 Variável 2000 2010

chefe -0,05 0,05 demitido 0,08 -1,14 ***

-0,11 -0,27 -0,12 -0,33

0,68 0,85 0,48 0

gênero 0,1 0,59 *** formal 0,25 ** 0,14

-0,1 -0,22 -0,1 -0,38

0,32 0,01 0,02 0,7

tamanho da família 0,06 *** 0,11 setor industrial -0,16 -0,76

-0,02 -0,07 -0,14 -0,48

0 0,13 0,28 0,11

anos de estudo 0,04 ** 0,03 horas semana 0,11 -0,84 ***

-0,01 -0,03 -0,25 -0,23

0,01 0,38 0,65 0

idade 0 0,01 salário 0,04 0,06 ***

-0,01 -0,01 -0,09 -0,02

0,88 0,33 0,65 0

trabalhou anteriormente -0,38 * -0,22 vendas real -0,03 0,1 **

-0,21 -0,33 -0,06 -0,04

0,07 0,51 0,67 0,01

meses no último emprego

0 ** 0,01 nível de emprego 0 1,26 ***

0 -0,01 -0,26 -0,3

0,01 0,39 1 0

constante -8,05 -60,3 ***

-26,87 -13,39

0,76 0

ln_gama -0,8 -0,17

-0,05 -0,08

0 0,04

gamma 0,45 0,84

-0,02 -0,07

Número de Obs 356 429

Prob > chi2 0 0

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21

c) Belo Horizonte

Variável 2000 2010 Variável 2000 2010

chefe -0,22 ** -0,08 demitido 0,14 * -0,04

-0,1 -0,18 -0,08 -0,16

0,03 0,67 0,08 0,81

gênero 0,19 ** 0,2 formal 0,1 -0,24

-0,08 -0,15 -0,08 -0,17

0,01 0,19 0,22 0,16

tamanho da família 0 -0,01 setor industrial 0,13 0,11

-0,02 -0,05 -0,09 -0,24

0,86 0,91 0,14 0,63

anos de estudo 0,04 *** 0,04 * horas semana 0,11 -0,29

-0,01 -0,02 -0,12 -0,24

0 0,06 0,36 0,24

idade 0 0,01 salário -0,05 -0,01

0 -0,01 -0,04 -0,01

0,35 0,2 0,21 0,36

trabalhou anteriormente -0,37 ** 0,12 vendas real 0 -0,03

-0,16 -0,27 -0,03 -0,03

0,02 0,67 0,98 0,32

meses no último emprego

0 0 nível de emprego -0,02 0,43

0 0 -0,22 -0,34

0,19 0,5 0,92 0,2

constante -1,4 -9,01

-12,54 -9,87

0,91 0,36

ln_gama -0,79 -0,59

-0,04 -0,06

0 0

gamma 0,46 0,55

-0,02 -0,04

Número de Obs 488 208

Prob > chi2 0 0,48

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22

d) Rio de Janeiro

Variável 2000 2010 Variável 2000 2010

chefe -0,56 *** -0,16 demitido 0,1 -0,47

-0,11 -0,23 -0,1 -0,3

0 0,49 0,33 0,12

gênero 0,18 * 0,43 ** formal 0,3 *** -0,55 **

-0,1 -0,2 -0,1 -0,3

0,09 0,03 0 0,07

tamanho da família -0,05 * 0,01 setor industrial 0,07 -0,45

-0,03 -0,07 -0,14 -0,3

0,05 0,89 0,63 0,13

anos de estudo 0,02 0 horas semana -0,39 -0,14

-0,01 -0,03 -0,23 -0,24

0,1 0,93 0,1 0,54

idade 0,01 ** 0 salário -0,05 -0,04 *

0 -0,01 -0,14 -0,02

0,01 0,66 0,7 0,03

trabalhou anteriormente -0,78 *** 0,2 vendas real 0,04 0

-0,19 -0,28 -0,03 -0,05

0 0,48 0,24 0,94

meses no último emprego

0 -0,01 nível de emprego 0,34 -0,11

0 0 -0,3 -0,23

0,25 0,13 0,25 0,65

constante 5,42 35,03

-4,72 -29,53

0,25 0,24

ln_gama -0,66 -0,42

-0,05 -0,09

0 0

gamma 0,52 0,66

-0,02 -0,06

Número de Obs 545 306

Prob > chi2 0 0

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23

e) São Paulo

Variável 2000 2010 Variável 2000 2010

chefe -0,02 * -0,06 demitido 0,13 -0,25

-0,1 -0,18 -0,09 -0,19

0,83 0,73 0,16 0,18

gênero 0,05 0,31 ** formal 0,2 ** -0,29

-0,08 -0,14 -0,08 -0,2

0,57 0,03 0,02 0,14

tamanho da família 0,01 0,05 setor industrial -0,03 -0,2

-0,02 -0,06 -0,09 -0,2

0,61 0,37 0,74 0,32

anos de estudo 0,03 *** -0,01 horas semana 0 0,09

-0,01 -0,03 -0,11 -0,17

0 0,68 1 0,58

idade 0 0,01 salário -0,08 -0,02

0 -0,01 -0,06 -0,01

0,77 0,21 0,13 0,1

trabalhou anteriormente -0,79 *** -0,05 vendas real -0,01 -0,02

-0,18 -0,24 -0,03 -0,03

0 0,82 0,67 0,61

meses no último emprego

0 0 nível de emprego 0,12 -0,22

0 0 -0,16 -0,18

0,13 0,57 0,47 0,22

constante 0,78 19,39

-13,44 -17,38

0,95 0,27

ln_gama -0,67 -0,52

-0,04 -0,07

0 0

gamma 0,51 0,6

-0,02 -0,04

Número de Obs 709 364

Prob > chi2 0 0,01

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24

f) Porto Alegre

Variável 2000 2010 Variável 2000 2010

chefe -0,3 ** -0,3 demitido 0,26 ** -0,35

-0,13 -0,2 -0,11 -0,19

0,02 0,14 0,02 0,07

gênero 0,19 -0,05 formal 0,21 * -0,29

-0,11 -0,17 -0,11 -0,21

0,07 0,79 0,05 0,17

tamanho da família -0,04 * 0,12 setor industrial -0,13 0,16

-0,03 -0,07 -0,12 -0,27

0,08 0,09 0,28 0,54

anos de estudo 0,01 0,1 *** horas semana 0,01 0,32

-0,02 -0,03 -0,04 -0,2

0,55 0 0,77 0,1

idade 0,01 * 0,03 salário -0,02

-0,01 -0,01 -0,01

0,09 0 0,1

trabalhou anteriormente -0,52 ** -0,7 vendas real -0,01 0

-0,21 -0,39 -0,02 -0,02

0,01 0,07 0,69 0,99

meses no último emprego

0 *** 0 nível de emprego 0,12 -0,72

0 0 -0,09 -0,32

0 0,78 0,21 0,03

constante -8,66 43,75

-9,59 -27,04

0,37 0,11

ln_gama -0,51 -0,6

-0,04 -0,08

0 0

gamma 0,6 0,55

-0,03 -0,05

Número de Obs 574 148

Prob > chi2 0 0

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25

BREVE REFLEXÃO TEÓRICA ACERCA DA RELAÇÃO ENTRE

POPULAÇÃO E ECONOMIA

Patricia Silva Gomes8

João Batista Pamplona9

INTRODUÇÃO

Nos dias atuais os estudos que analisam o processo demográfico já não estão

mais preocupados em destacar a explosão demográfica das populações como descrito

nas previsões de Malthus, mas sim compreender o baixo crescimento populacional e o

processo de transição demográfica que muitos países estão vivenciando.

Além disso, nos últimos anos, a expectativa de vida da população aumentou e a

taxa de mortalidade declinou, gerando alterações em sua estrutura etária. A população

idosa relativa a determinado período é maior do que aquela do período anterior. Os

autores destacam que os avanços tecnológicos e civilizatórios são indiscutíveis, e, ao

mesmo tempo, são responsáveis por estas mudanças demográficas.

Os estudos sobre a estrutura da população iniciaram-se no momento que se

passou a observar um crescimento populacional expressivo. Destaca-se a teoria da

população de Malthus, que defendia que as populações não poderiam aumentar sem que

houvesse aumento dos meios de subsistência, ou seja, a consequência de um

crescimento da população maior do que os meios de subsistência seria a miséria.

No século XIX, muitos países capitalistas vivenciaram a revolução nas formas

de produção e nos meios de transporte, que também “influenciaram as migrações

internas e externas” (ALVES, 2006, p.7). O desenvolvimento econômico elevou a

produtividade per capita e, em muitos países, observou-se uma queda no ritmo de

crescimento populacional, o que representa uma contradição às previsões malthusianas.

As interpretações de Boserup (1987) e Kuznets (1974) destacam que o

crescimento populacional pode ser um incentivo para as mudanças tecnológicas, em

especial, para a produção de alimentos, e pode gerar um crescimento econômico

genuíno. Além disso, o crescimento populacional, a taxa de mortalidade, as tendências

nas taxas de natalidade e o impacto da migração internacional são influenciados pelo

crescimento econômico e, ao mesmo tempo, podem influenciá-lo, melhorando as

condições de vida das populações sem apresentar queda da taxa de crescimento do

produto per capita.

Independente do ponto de vista teórico, todas as faixas etárias das populações

possuem diferentes escolhas de consumo e diferentes capacidades produtivas. Neste

contexto, as características econômicas do país também são modificadas a partir das

mudanças demográficas de sua população. Logo, à medida que a população envelhece

suas escolhas individuais também se alteram, não sendo possível definir com precisão

um comportamento padrão. Mas, sugere-se que a partir do momento que a expectativa

de vida aumenta, os indivíduos optam por modificar suas escolhas. Além disso, o

próprio contexto institucional do país pode ser influenciado por modificações de sua

população (BLOOM; CANNING; FINK, 2010, p.584).

8 Mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

(PUC/SP). 9 Professor do Departamento de Economia e do Programa de Pós-Graduação em Economia

Política da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).

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26

Dado o envelhecimento populacional, cabe definir o que é ser idoso. Em termos

internacionais, a pessoa é considerada idosa a partir de 65 anos de idade. No Brasil, uma

grande parte dos documentos pesquisados segue a recomendação da Política Nacional

do Idoso de 1994 que “considera idoso, para os efeitos da lei, a pessoa maior de 60

anos” (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 1994, p.1). Neste caso, este trabalho segue a

idade de 60 anos como base para as declarações a respeito do idoso, portanto, todas as

vezes que esta palavra for mencionada segue-se tal recomendação.

Com a nova realidade representada pelo aumento da expectativa de vida, o

próprio envelhecimento da população, as políticas de aposentadoria, pensões,

financiamento de cuidados com a saúde, o mercado de trabalho, o mercado de capitais e

o sistema econômico tendem a se adaptar. O tamanho destas alterações depende do

comportamento político e da representatividade do grupo etário (BLOOM; CANNING;

FINK, 2010, p.584).

Alguns autores argumentam que uma população com maioria de idosos está

propensa a experimentar um crescimento econômico mais lento (BLOOM; CANNING;

FINK, 2010, p.593). Para outros, uma população representada por uma maioria de

indivíduos em idade ativa pode refletir-se em um crescimento econômico maior.

Neste contexto, o objetivo principal deste trabalho é apresentar uma breve

reflexão acerca do debate teórico presente na literatura internacional dos efeitos

econômicos do envelhecimento populacional especialmente sobre o mercado de

trabalho. Neste artigo é adotada uma pesquisa bibliográfica, composta por seleção,

análise, resumo, complementação e confrontação das referências bibliográficas.

A estrutura desse documento está composta das seguintes partes, além desta

introdução e da conclusão: o item 1 aborda alguns conceitos importantes que relacionam

população, demografia e economia; o item 2 destaca as abordagens teóricas e

econômicas acerca da relação entre a população e economia; no item 3 a visão

econômica do envelhecimento é descrito, em especial os seus impactos sobre o mercado

de trabalho.

1. POPULAÇÃO, DEMOGRAFIA E ECONOMIA: Conceitos Fundamentais

Uma população é constituída por um grupo de pessoas e qualquer pessoa no

mundo está inserida em um grupo populacional, em que a dinâmica de sua população

impacta em vários aspectos de sua vida, por exemplo, no local onde ela vive e, em

muitos momentos, no transcorrer de sua vida. A ciência que estuda as populações é

denominada demografia, a qual busca registrar dados brutos que caracterizam as

populações (por exemplo, registros de nascimentos e óbitos) e transformá-los em taxas,

proporções, razões ou outros tipos de estatísticas (CAMARANO, 2005, p.111).

Em todo o mundo, dinâmicas diferentes e específicas são observadas nas

populações, e todas as populações são modificadas demograficamente a partir de seus

componentes básicos: fecundidade, mortalidade e migração (CAMARANO, 2005,

p.113).

A fecundidade é o número de nascimentos contados em um período de tempo

determinado (normalmente, calculado para cada mil pessoas). É importante destacar que

fecundidade não pode ser confundida com o termo fertilidade. Fertilidade é o potencial

reprodutivo das mulheres, ainda não concretizado em nascimentos. Acrescenta-se a esta

temática o termo natalidade que se refere à relação entre os nascimentos vivos e a

população total (CARVALHO; SAWYER; RODRIGUES, 1998, p. 20-21).

Mortalidade é o número de pessoas mortas em um período ou grupo específico,

por exemplo, o número de crianças do sexo masculino que morreram em um ano.

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27

Geralmente, utiliza-se a forma estatística de taxa, ou seja, taxa de fecundidade e/ou taxa

de mortalidade. Esta terminologia significa a razão entre uma subpopulação e o total da

população. Estas taxas também podem ser brutas ou específicas (CAMARANO, 2005,

p.113).

Migração é a contagem de pessoas que entraram (imigração) ou saíram

(emigração) de um determinado local em um período específico. Se a população for

fechada, a emigração não é considerada.

A partir destes três componentes, considera-se uma equação demográfica básica

(expressão 1):

(𝑃𝑡 + 1) = 𝑃𝑡 + (𝑁𝑡 − 𝑂𝑡) + (𝐼𝑡 + 𝐸𝑡) (1)

em que: 𝑃𝑡 é o número de pessoas da população no período 1; (𝑃𝑡 + 1) é o número de

pessoas da população no período 2; 𝑁𝑡 é o número de nascimentos da população no

período 1; 𝑂𝑡 é o número de óbitos ocorridos na população no período 1; (𝑁𝑡 − 𝑂𝑡) é o

incremento natural ou mudança natural10 no período 1; 𝐼𝑡 é o número de imigrantes da

população no período 1; 𝐸𝑡 é o número de emigrantes da população no período 1; (𝐼𝑡 +𝐸𝑡) é o saldo migratório (CAMARANO, 2005, p.113).

O total da população (𝑃𝑡 + 1) no período 2 também é chamado de balanço

demográfico (CAMARANO, 2005, p.113).

Outro indicador importante é representado pela esperança ou expectativa de vida

ao nascer, a qual refere-se ao número médio de anos que um recém-nascido pode

esperar viver, de acordo com as condições de mortalidade de sua população. Este

cálculo da expectativa de vida ao nascer é feito a partir das taxas específicas de

mortalidade de um determinado período. Existem muitas variações da esperança de

vida11: sexo, idade, raça, classes sociais e regiões. Logo, o cálculo do indicador pode ser

realizado para todos estes grupos (CAMARANO, 2005, p.118).

Causas externas, tais como, homicídios, acidentes de trânsito e de trabalho,

epidemias, saneamento básico, entre outros, são fatores que alteram as taxas de

mortalidade (CAMARANO, 2005, p.119).

As características mais básicas de uma população são idade e sexo. Cada

população apresenta uma composição etária diferente e por sexo, o que reflete na

história da dinâmica populacional daquele país, embora seja um aspecto estatístico

(CARVALHO; SAWYER; RODRIGUES, 1998, p.26). Esta estrutura etária possui

impactos sobre a demografia e as condições socioeconômicas em todos os períodos.

Uma população é caracterizada como velha ou jovem a partir da composição de pessoas

nas faixas extremas (HAUPT; KANE, 1998).

Tradicionalmente, a forma ilustrativa de representar a estrutura etária é por meio

de uma pirâmide etária por idade e sexo. Denomina-se pirâmide devido à distribuição

etária típica de regiões que vivenciaram alta fecundidade no passado. A base da

pirâmide larga ilustra uma população jovem. Com a queda da fecundidade, a base da

pirâmide se estreita formando uma tendência retangular, o que representa uma

população envelhecida (CARVALHO; SAWYER; RODRIGUES, 1998, p.26).

O movimento de alteração de altos níveis de mortalidade e fecundidade para

níveis cada vez menores é denominado transição demográfica, o qual, geralmente,

10 O termo mudança natural também é utilizado por Serban (2012, p.357) para descrever o

incremento natural. 11 Existe uma tendência generalizada, em quase todo o mundo, da taxa de mortalidade

masculina apresentar um valor sempre maior do que a taxa de mortalidade feminina

(CAMARANO, 2005, p.118).

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28

ocorre paralelamente com o processo de modernização. A literatura destaca que o

processo de transição demográfica acontece em três fases: 1º) quando é observado um

baixo crescimento populacional, ou seja, altas taxas de fecundidade e mortalidade; 2º)

quando há alto crescimento populacional, relacionado à queda na taxa de mortalidade,

com uma taxa de fecundidade constante; e, 3º) quando existe baixo crescimento

populacional, em outras palavras, a taxa de fecundidade e mortalidade são baixas

(PRESSAT, 1985; IPEA, 2005, p.69).

Um cálculo muito utilizado é a razão entre os sexos, conforme expressão (2).

Usualmente, esta razão é expressa pelo número de homens para cada 100 mulheres, o

qual varia de acordo com a idade. Esta razão entre sexos pode diminuir por meio da

mortalidade masculina em relação à feminina.

𝑅𝑎𝑧ã𝑜 𝑠𝑒𝑥𝑜𝑠 = (𝑁ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 ℎ𝑜𝑚𝑒𝑛𝑠

𝑁ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑚𝑢𝑙ℎ𝑒𝑟𝑒𝑠) 𝑥100 (2)

A razão de dependência é uma equação muito utilizada (nos artigos acadêmicos

em economia), principalmente, quando se relaciona ao mercado de trabalho, e expressa

à razão entre a população “dependente” e a população “economicamente produtiva”. A

população dependente convencionalmente é o grupo composto pelas pessoas com

menos de 15 anos de idade e com idade igual ou maior do que 60 anos. O grupo

economicamente produtivo é chamado de população economicamente ativa (PEA), o

qual é composto pelas pessoas, ocupadas e desocupadas, conforme expressão (3) (IPEA,

2005, p. 93).

𝑅𝑎𝑧ã𝑜 𝑑𝑒 𝐷𝑒𝑝𝑒𝑛𝑑ê𝑛𝑐𝑖𝑎 = (𝑃𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 ≤ 15𝑎𝑛𝑜𝑠 𝑒 ≥ 60 𝑎𝑛𝑜𝑠

𝑃𝐸𝐴) 𝑥100 (3)

A partir desta relação entre a população dependente e a PEA é possível verificar

o denominado “bônus demográfico”. Isto significa que a população está vivenciando

uma baixa razão de dependência, em outras palavras, destaca-se que uma população é

representada por uma parcela maior de pessoas ocupadas (trabalhando) ou em busca de

trabalho (desocupadas) em relação às populações denominadas dependentes. Neste

caso, há mais pessoas ativas economicamente e menos pessoas dependentes

(VASCONCELOS; ALVES; SILVEIRA-FILHO, 2008, p.12).

Uma população representada por uma maioria de participantes da população

economicamente ativa (PEA) tende a resultar em um aumento no produto per capita.

Refere-se a um benefício natural da própria distribuição etária da população que ilustra

uma baixa razão de dependência, em que pode ser observada uma tendência de maior

oferta de mão-de-obra, ou seja, uma quantidade maior de jovens participantes do

mercado de trabalho (VASCONCELOS; ALVES; SILVEIRA-FILHO, 2008, p.12).

Neste contexto, a menor taxa de razão de dependência também é verificada na

literatura como dividendo demográfico12, isto é, a população apresenta uma estrutura

etária que, se for bem aproveitada pelo poder público, pode favorecer o

desenvolvimento econômico e trazer muitos benefícios à população. Ou seja, é o

momento ideal para implementar políticas públicas devido a menor demanda sobre

recursos (VASCONCELOS; ALVES; SILVEIRA-FILHO, 2008, p.12).

12 Os termos bônus demográfico e dividendo demográfico são utilizados como sinônimos e

são destacados, respectivamente, em Wong e Carvalho (2006, p.9) e em Vasconcelos, Alves e

Silveira-Filho (2008, p.12).

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29

Os conceitos de População em Idade Ativa (PIA) e População Economicamente

Ativa (PEA) podem ser facilmente confundidos. A PIA é o número total de pessoas com

10 anos ou mais de idade13. Já a PEA é formada pelo total de pessoas ocupadas e

desocupadas, conforme o seu grupo de faixa etária. Além disso, são denominadas

inativas (ou não economicamente ativas) as pessoas que na semana de referência não

foram classificadas como ocupadas ou desocupadas (IPEA, 2005, p. 93; IBGE, 2010, p.

310; IBGE, 2012 p.4-12).

O grupo considerado ocupado é composto por aquelas pessoas que tinham um

trabalho durante o período de referência, mesmo afastadas por motivo de férias, licença,

falta. As pessoas desocupadas são aquelas que não tinham trabalho, em um determinado

período de referência, mas estavam dispostas a trabalhar, e que, para isso, tomaram

alguma providência efetiva (consultando pessoas, jornais, etc.) (IBGE, 2010, p.310).

Cabe destacar ainda que a taxa de ocupação é a relação entre o número de

pessoas ocupadas e o número de pessoas economicamente ativas (PEA) na semana de

referência (IBGE, 2010, p.312). E taxa de participação ou taxa de atividade no mercado

de trabalho é o percentual de pessoas economicamente ativas (PEA) em relação às

pessoas em idade ativa (PIA) (IBGE, 2012, p.4).

2. TEORIA ECONÔMICA E POPULAÇÃO

Thomas Robert Malthus é citado em praticamente todos os trabalhos

relacionados à população. Em 1798, ele publicou anonimamente a primeira edição do

livro “Ensaio sobre a população”. Suas convicções religiosas influenciaram fortemente

a escrita do livro que ainda originou-se da polêmica a respeito da avareza, prodigalidade

(desperdício) e perfectibilidade humana. Malthus defendia a desigualdade, pois sua

extinção socializaria a miséria entre as pessoas. Ele acreditava que a pobreza era um

problema dos pobres (ALVES, 2002, p.17).

A teoria de Malthus possui como base dois postulados: 1) que o alimento é

necessário para a existência do homem; 2) que a paixão entre os sexos é necessária e

que permanecerá aproximadamente em seu atual estágio (MALTHUS, 1996, p.246).

Não conheço nenhum escritor que tenha admitido que

nesta terra o homem, fundamentalmente, seja capaz de

viver sem alimento. [...] com relação à extinção da paixão

entre os sexos, nenhum progresso, qualquer que ele seja,

foi feito até aqui. Ela parece existir com tanto ímpeto

agora como existia há dois ou há quatro mil anos. Existem

exceções hoje como sempre existiram. Mas, essas

exceções não parecem crescer numericamente

(MALTHUS, 1996, p.246).

O primeiro postulado corresponde a uma verdade incontestável. Já o segundo

apresenta muitas implicações. Malthus considera a heterossexualidade como absoluta e

imutável em seus resultados. Ele ainda não separa relação sexual de procriação, e

desconsiderou os avanços tecnológicos e da ciência, por exemplo, os métodos

13 Em grande parte dos artigos internacionais e alguns nacionais a PIA é composta pelo

grupo de pessoas entre 15 e 60 anos. O IBGE define população em idade ativa (PIA) todas as

pessoas com 10 anos ou mais idade (IBGE, 2010, p. 310).

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anticoncepcionais. Portanto, um fator relevante sobre a taxa de fecundidade das

sociedades, em especial as atuais (ALVES, 2002, p.17).

Malthus escreveu esses dois postulados para afirmar a seguinte lei: “[...] a

população, quando não controlada cresce numa progressão geométrica. E os meios de

subsistência crescem apenas numa progressão aritmética” (MALTHUS, 1996, p.246).

(...)Tomando a população do mundo como qualquer número,

1 bilhão, por exemplo, a espécie humana cresceria na progressão

de 1, 2, 4, 8, 16, 32, 64, 128, 256, 512 etc. e os meios de

subsistência na progressão de 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10 etc. Em

dois séculos e um quarto a população estaria, para os meios de

subsistência, na proporção de 512 para 10; em três séculos, de

4096 para 13; em 2 milhões de anos a diferença seria quase

incalculável, embora a produção nesse período tivesse crescido

em larga medida... (MALTHUS, 1996, p.251).

Para fundamentar o princípio da população em sua teoria, Malthus utilizou os

dados estatísticos de crescimento da população dos EUA, a qual se duplicou em 25

anos. Em seguida, apresentou um contexto histórico da Inglaterra para descrever que os

meios de subsistência crescem no máximo em progressão aritmética (MALTHUS,

1996, p.249-250). Segundo Alves (2002, p.18), Malthus não baseou sua teoria em

nenhuma estatística confiável e as evidências das experiências dos séculos seguintes

também não confirmaram suas previsões. “Deliberadamente, o princípio malthusiano

superestima o poder de crescimento da população e subestima a capacidade de

crescimento dos meios de subsistência” (ALVES, 2002, p.18).

Em relação à primeira parte da teoria de Malthus, a respeito do crescimento

geométrico da população, baseia-se em (pre) conceitos religiosos, tais como, “crescei e

multiplicai-vos14”, contra os nascimentos fora do casamento, aborto, métodos artificiais

de contracepção, e controle de natalidade depois do casamento. A única prevenção

aceitável na visão do autor seria o adiamento do casamento (casar-se em idade mais

avançada), descrito por ele como “freio preventivo”. Neste contexto, a taxa de

natalidade diminuiria de forma voluntária (ALVES, 2002, p.18). Malthus considera

outro fator relevante se o homem não possui provisões econômicas (trabalho e salário)

para sustentar dignamente esposa e filhos deve adiar o casamento para uma época mais

propícia. Neste caso, seria considerado um bom cristão pela abstinência sexual, dada a

sua impossibilidade financeira (MALTHUS, 1996, p.8).

Quanto à segunda parte da “lei” sobre os meios de subsistência, Malthus

considerou a existência de um salário de subsistência que garantiria um equilíbrio entre

a população e o fundo de manutenção do trabalho. “Na concepção de Malthus, existe

um fundo de subsistência composto por produtos agrícolas que depende da

disponibilidade de terra e sua produtividade” (ALVES, 2002, p.19).

De acordo com Lima (2011, p.17), Malthus considera relevante três proposições

para construir seu argumento: 1) A população não pode aumentar sem os meios de

subsistência; 2) A população cresce invariavelmente onde não há meios de subsistência;

e 3) O poder superior de crescimento populacional não pode ser controlado sem

produção de misérias e sofrimentos. Ou seja, a consequência de um crescimento da

população maior do que os meios de subsistência é um grave problema de miséria.

14 Refere-se a uma citação direta da Bíblia: Genesis capítulo 19, 30-38.

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Segundo Vasconcelos, Alves e Silveira-Filho (2008, p.2), quando as condições

de vida eram favorecidas pela elevação do nível do “salário de subsistência”, ou seja, a

população crescia acima do valor de equilíbrio, eventos externos, tais como, “fome,

epidemias, guerras, ou o autocontrole da fecundidade se apresentavam como processos

que obrigatoriamente devolviam o estoque de população ao nível de equilíbrio”.

Conforme Alves (2002, p.22), Malthus considera que um aumento de salário

além do nível de subsistência incentivaria o ócio e o desperdício e seria gasto em

“bebedeira e esbanjamento15”. Ele considera que o mal existe no mundo não para criar o

desespero, mas a diligência. “A aprovação da virtude é resistir a toda tentação do mal”.

Malthus fecha sua filosofia mostrando que o aumento

do bem-estar geral da humanidade é impossível devido ao

seu princípio de população e que a riqueza e o ócio seriam

conquistas indesejadas (pelo menos para as classes

trabalhadoras), pois desestimularia a inteligência,

regrediria a mente humana ao seu nível animalesco e,

provavelmente, eliminaria os estímulos que tiraram os

seres humanos do seu estado selvagem. Homens e

mulheres estariam condenados a sofrer neste “vale de

lágrimas”, que é o planeta Terra, e o desenvolvimento

econômico e social seria uma utopia inatingível. O

crescimento desregrado da população inviabilizaria a

prosperidade e a redução da jornada de trabalho: “(...) a lei

[de população] se mostra decisiva contra a possível

existência de uma sociedade em que todos os membros

viveriam em tranquilidade, prosperidade e num relativo

ócio" (ALVES, 2002, p.23).

Entretanto, segundo Alves (2006, p.7), Malthus ignora o avanço tecnológico e o

progresso técnico. No século XIX, muitos países capitalistas vivenciaram a revolução

nas formas de produção e nos meios de transporte, que também “influenciaram as

migrações internas e externas”. O desenvolvimento elevou a produtividade per capita e,

em muitos países, observou-se uma queda no ritmo de crescimento populacional, o que

representa uma contradição às previsões malthusianas.

A visão sobre a população apresentada por Karl Marx é diferente daquela escrita

por Malthus, e ainda lhe inspirou a escrever uma crítica à teoria Malthusiana. Na teoria

da população escrita por Marx está presente a dinâmica populacional, ou seja, ela é

compreendida a partir do conjunto de relações sociais. Trata-se de uma teoria da

dinâmica populacional sob o capitalismo (VIANA, 2006, p.90).

Segundo Rosdolsky (2011, p.213), a única crítica detalhada de Marx à teoria da

população de Malthus é encontrada no livro “Grundrisse 16 ”. Refere-se à “lei de

população no capitalismo”, descrevendo a diferença desta lei em relação àquelas que

vigoravam em etapas anteriores da produção.

Marx (2011, p. 503-504) inicia a sua crítica a Malthus descrevendo que a

população não possui um limite de crescimento por meio de características externas: o

“limite é dado pelo próprio limite, ou, antes pela mesma causa que põe o limite”. Marx

15 Trata-se do (pre) conceito Malthusiano de que os pobres sempre gastam o dinheiro extra

que recebem com bebidas. 16 Exatamente entre as páginas 502-508 (ROSDOLSKY, 2011).

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quer dizer que o limite da população é dado pelas condições de produção, dentro do

processo que a população está inserida. Assim como, o “trabalho necessário e o trabalho

excedente, tomados em conjunto, constituem a totalidade do trabalho sobre uma base

dada” (MARX, 2011, p. 504).

É importante compreender a definição de superpopulação ou população

“excedente” para Marx. A partir do desenvolvimento capitalista, “aumenta-se a

velocidade das mudanças na composição orgânica do capital e na sua forma técnica, e

um número maior de ramos de produção é atingido”. Ou seja, “a população trabalhadora

ao produzir a acumulação do capital, produz, em proporções crescentes, os meios que

fazem dela relativamente uma superpopulação”, denominada por Marx um “exército

industrial de reserva” (MARX, 1980, p. 732).

(...) população trabalhadora excedente é o produto

necessário da acumulação ou do desenvolvimento da

riqueza no sistema capitalista, ela se torna por sua vez a

alavanca da acumulação capitalista, e mesmo condição de

existência do modo de produção capitalista. Ela constitui

um exército industrial de reserva disponível, que pertence

ao capital de maneira tão absoluta como se fosse criado e

mantido por ele. Ela proporciona o material humano a

serviço das necessidades variáveis de expansão do capital

e sempre pronto para ser explorado, independentemente

dos limites do verdadeiro incremento da população. (...)

As alternativas do ciclo industrial recrutam a população

excedente e se tornam os mais poderosos agentes de sua

reprodução. (MARX, 1980, p. 733-734).

Marx dirigindo-se diretamente a Malthus, observa que a “concepção

[malthusiana] 17 é inteiramente falsa e pueril”. Porque Malthus “considera a

superpopulação nas diferentes fases do desenvolvimento econômico como algo da

mesma espécie” (MARX, 2011, p. 504).

Marx descreve que Malthus relaciona duas séries naturais, complexas e

variáveis, em uma única relação. Por um lado, os meios de subsistência (reprodução

natural dos vegetais), a qual se reproduz em progressão aritmética. Por outro lado, o

crescimento populacional, que cresce em progressão geométrica. “Desse modo,

transforma as relações historicamente distintas em uma relação numérica abstrata, tirada

simplesmente do nada, que não se baseia nem em leis naturais nem em leis históricas”

(MARX, 2011, p. 504).

O imbecil subentende com isso que o aumento do ser

humano é um processo puramente natural que precisa de

limitações, controles externos para não continuar em uma

progressão geométrica. (...) Uma superpopulação de

atenienses livres convertidos em colonos é

significativamente diferente de uma superpopulação de

trabalhadores convertidos em internos de asilo de pobres.

Da mesma forma, a superpopulação de mendigos que

consome o produto excedente de um mosteiro é diferente

17 Grifo nosso.

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da superpopulação que se forma em uma fábrica. (MARX,

2011, p. 505).

Marx ainda descreve que Malthus se aproveita da história real, de reprodução do

ser humano, para aplicar seus ideais. Nas palavras de Marx, “o ser humano malthusiano,

abstraído do ser humano historicamente determinado, existe apenas em seu cérebro”

(MARX, 2011, p. 505).

“A produção dos meios de subsistência – marcada e determinada pela ação

humana como o é – aparece como limitação que ela põe a si mesma”. (MARX, 2011, p.

505). Marx observa que qualquer planta cresceria até onde existisse terra. A reprodução

só pararia quando o espaço acabasse. A planta não observaria qualquer proporção

aritmética.

Ricardo18 apud Marx (2011, p.505) explica que uma determinada quantidade X

de pessoas relacionadas a uma determinada quantidade X de meios de subsistência não

podem ser interligadas. Pois, uma determinada quantidade X de “cereais disponível é

completamente indiferente para o trabalhador se ele não tem nenhuma ocupação; que,

portanto, são os ‘meios de emprego’, e não os de ‘subsistência’, que o colocam ou não

na categoria de superpopulação”.

Na economia capitalista, os capitalistas industriais apropriam-se do trabalho

alheio, ou seja, de trabalho necessário para o processo de circulação do capital. “A

expressão ‘superpopulação’ refere-se exclusivamente as capacidades de trabalho,

população necessária, excesso de capacidade de trabalho”. Em outras palavras, “da

fração da população trabalhadora cujo trabalho necessário não é supérfluo, mas

necessário para o capital” (MARX, 2011, p. 507).

Por um lado, o capitalista, em partes, não tem custo de reprodução da classe

trabalhadora excedente. Por outro lado, se reproduz como capital excedente.

Sistematicamente, isto significa: 1) é preciso que se tenha uma população excedente

disponível para ser colocado em movimento. Isto é, se a população que o capital precisa

ficou menor, ele próprio ficou maior; 2) uma superpopulação relativa é importante ao

capital, pois ele necessita de uma reserva da população disponível para o crescimento do

capital excedente; 3) pode existir uma população excedente, entretanto não na

proporção necessária para produção acrescida. ”Em síntese, de tudo o que o processo de

muitos capitais pressupõe” (MARX, 2011, p. 508).

Por fim, Marx descreve que a teoria de Malthus só é significativa sob dois

aspectos: 1)”porque empresta uma expressão brutal ao brutal ponto de vista do capital; e

2) porque afirmou o fato da superpopulação em todas as formas de sociedade” (MARX,

2011, p. 504).

Nos últimos duzentos anos, os avanços tecnológicos e civilizatórios são

indiscutíveis. Sob o ponto de vista da teoria da população de Malthus, é possível

concluir que o autor fundamentou sua teoria em princípios conservadores, (pre)

conceituosos, e de caráter pessimista. Além de utilizar instrumentos estatísticos e

históricos tendenciosos e subjetivos. Portanto, embora a população tenha aumentado,

em todas as sociedades, este crescimento não ocorreu de forma geométrica, conforme

Malthus previu. Já os meios de subsistência, dado os avanços tecnológicos, podem ser

produzidos e/ou extraídos em progressão ampliada e não simplesmente de forma

aritmética.

18 David Ricardo (1772-1823) informações adicionais são encontradas em Lenz (1985, 81-

104).

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Entretanto, devemos esclarecer que a crítica de Marx e a construção de sua

própria teoria da população, tratam-se de uma obra incompleta. Marx fundamentou esta

teoria sob o ponto de vista dos trabalhadores e capitalistas. É importante destacar que o

capitalismo se transformou ao longo desses anos e, portanto, não é exatamente igual sob

todos os aspectos considerados por Marx (VIANA, 2006, 98).

2.1 As interpretações que inter-relacionam população e crescimento econômico

A população mundial tem sofrido profundas transformações nas últimas

décadas, proporcionando enormes repercussões em termos sociais e econômicos. Com

destaque, o processo de transição demográfica tem chamado a atenção de muitos

autores, devido à desaceleração no ritmo do crescimento populacional e às modificações

em sua estrutura etária.

Frequentemente, a literatura destaca a divisão dos autores a respeito de seus

pontos de vista da relação entre população e crescimento econômico: por um lado, as

interpretações pessimistas; e, do outro lado, as visões contrárias às pessimistas.

Malthus, apresentado anteriormente, encaixa-se exatamente na visão pessimista

a respeito do crescimento populacional e desenvolvimento econômico.

A história corrobora que a abordagem Malthusiana estava equivocada.

Principalmente, a partir da Revolução Industrial quando as populações europeias

apresentaram crescimento populacional acompanhado de crescimento econômico,

“tanto das condições de vida quanto das tecnologias de produção (agrícola ou

manufatureira)” (VASCONCELOS; ALVES; SILVEIRA-FILHO, 2008, p.5).

O fenômeno da transição demográfica iniciou-se, em especial, no continente

europeu, permitindo melhora das condições de vida acima dos salários de subsistência,

exatamente ao contrário do que a teoria Malthusiana havia previsto (SARTORIS;

SOUZA, 2004, p.5).

Coale e Hoover (1966, p.23 e p. 33), com base em estudos sobre a Índia e o

México, destacaram duas direções acerca da interação entre demografia e economia. A

primeira relaciona os efeitos do desenvolvimento econômico sobre o crescimento da

população, e a segunda relaciona os efeitos do crescimento da população sobre o

desenvolvimento econômico.

Na primeira direção, os efeitos do desenvolvimento econômico sobre o

crescimento da população são influenciados principalmente por dois determinantes do

crescimento da população: nascimentos e óbitos. A denominada teoria da “transição

demográfica” é explicada por estes determinantes (COALE; HOOVER, 1966, p. 23).

A teoria da transição demográfica em sua origem é explicada por um grupo de

pessoas que apresenta uma alta taxa de óbitos e uma relativa estabilidade na taxa de

nascimentos. A alta taxa de mortalidade é justificada por uma alimentação pobre,

condições sanitárias antigas e falta de serviços médicos (COALE; HOOVER, 1966, p.

24).

Segundo a teoria da transição demográfica, o desenvolvimento econômico

provoca uma redução da taxa de óbitos. O termo desenvolvimento econômico engloba

uma evolução, a exemplo do que ocorreu com a Revolução Industrial, trazendo

modificações em cadeia 19 . Depois de algum tempo, a taxa de natalidade também

19 Modificações de uma economia rural para uma economia com maior divisão do trabalho

(ferramentas e maquinários), economia urbanizada (mercado), transformações técnicas e

melhorias em transporte, comunicações, etc. Por consequência, desenvolvimento nas áreas:

médica, construção, infraestrutura, etc.

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declina, devido às alterações culturais e aos hábitos enraizados até manter certa

estabilidade (COALE; HOOVER, 1966, p. 24-32).

Na outra direção são destacados os efeitos do crescimento da população sobre o

desenvolvimento econômico. Os aspectos examinados para analisar os efeitos do

crescimento da população sobre o crescimento da renda per capita são: o volume da

população; a taxa de crescimento; e, a distribuição por idade (COALE; HOOVER,

1966, p. 33).

Os autores descrevem que examinar a relação direta entre o volume da

população e a renda per capita significa detectar um problema não considerado nas

análises anteriores. Ou seja, não é observado o efeito dinâmico das modificações do

volume da população sobre a taxa de crescimento (COALE; HOOVER, 1966, p. 34-37).

Segundo Paiva e Wajnmam (2005, p.306), os autores Coale e Hoover (1966)

“inovaram ao incorporar o conhecimento sobre a dinâmica demográfica nos modelos de

crescimento econômico”.

Paiva e Wajnamn (2005, p.306), e Vaconcelos, Alves e Silveira-Filho (2008,

p.7) destacam que a conclusão mais importante da obra de Coale e Hoover (1966) está

associada às análises efetuadas sobre as alterações na estrutura etária dos países (Índia e

México) sobre o processo de crescimento econômico.

Neste contexto, os pesquisadores Coale e Hoover (1966) verificaram que

mudanças na estrutura etária da população, decorrente das quedas nas taxas de

mortalidade e fecundidade, impactaram no crescimento econômico dos países (PAIVA;

WAJNAMN, 2005, p.306).

Ou seja, o aumento da razão de dependência, em especial para o grupo mais

jovem, resulta em aumento no consumo das famílias e, por consequência, diminuição da

poupança. E ainda, altera a trajetória dos investimentos públicos que estavam

direcionados para o crescimento econômico como, por exemplo, em infraestrutura,

obrigando os governos a direciona-los para gastos com as famílias, tais com, educação e

saúde. Como implicação, baixas taxas de poupança, e, consequentemente, um baixo

crescimento econômico dos países mais pobres passam a ser observados. Entretanto, um

declínio da razão de dependência resulta em baixo consumo das famílias e aumento de

poupança (VASCONCELOS; ALVES; SILVEIRA-FILHO, 2008, p.7-8).

Boserup (1987, p.7) apresenta a inter-relação entre o crescimento demográfico e

o crescimento econômico. Porém, ela parte da relação de causa na direção inversa

apresentada por Malthus. Ou seja, o crescimento populacional como variável

independente e as alterações na agricultura como fator dependente, incluindo

“desenvolvimento de padrões e técnicas de cultivo, estruturas sociais e comunidades

agrárias” (BOSERUP, 1987, p.8).

Boserup (1987, p.43 e p.136) destaca ainda que a partir de uma dada densidade

populacional gera-se um incentivo para intensificar a produção, e adotar novas técnicas

de cultivo, ferramentas específicas, fertilizantes, entre outros.

De acordo com Boserup (1981) citado por Paiva e Wajnman (2005, p.306),

“mudanças tecnológicas seriam induzidas pelo crescimento populacional”. Neste

contexto, o aumento populacional ocasiona a necessidade de aumento de investimentos

na agricultura, como alterações tecnológicas, por conseguinte, aumento da

produtividade que, por sua vez, gera crescimento econômico.

Outro argumento interessante utilizado por Boserup (1987, p.139-140)

demonstra que em "muitos países desenvolvidos com a expansão sustentada da

produção foi possível gerar excedentes para exportação”.

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Neste contexto, a autora acredita que o crescimento populacional sustentado20

não traz maiores dificuldades para a demografia e a economia, mas representa um fator

positivo para gerar inovações tecnológicas permitindo que a população tenha mais

alternativas 21 para ampliar a produção de alimentos. Portanto, o crescimento

populacional sustentado pode “desencadear um processo genuíno de crescimento

econômico” (BOSERUP, 1987, p.137-138).

Kuznets (1974, p.38) destaca que os principais movimentos das alterações

populacionais no mundo moderno são o próprio aumento populacional, declínio da taxa

de mortalidade, tendências nas taxas de natalidade e impacto da migração internacional.

Além disso, estes movimentos são resultados e, ao mesmo tempo, são influenciados

pelo crescimento econômico.

Segundo Kuznets (1974, p.38-39), o crescimento demográfico sem queda no

produto per capita pode ser em parte justificável pelo impacto do aumento populacional

sobre o crescimento econômico, devido a algumas características, tais como,

deslocamento da estrutura demográfica, o qual ocasiona aumento da população em

idade ativa; queda da mortalidade infantil, o qual diminui o custo econômico que

impede as crianças de chegarem à idade de se tornarem economicamente ativas;

diminuição das taxas de morbidez, devido aos avanços da medicina; aumento no

produto total, devido à produção de escala, controle de epidemias; e, por fim, melhores

condições de vida que contribuem com “níveis elevados de treinamento e habilidade, ou

seja, potenciais contribuintes para suprimento disponível de conhecimento útil”.

A partir de observações estatísticas efetuadas por Kuznets (1974, p.43-46), o

crescimento econômico moderno e suas pequenas variações ao longo do tempo

apresentam alguns aspectos interessantes: estabilidade no crescimento populacional;

progresso agrícola (diminuição de risco de colheitas ruins); outras possibilidades de

transportes; queda da participação da agricultura no produto total; e, aumento na

participação da indústria.

“O crescimento populacional proporcionava sustentação à elevação dos níveis de

vida, à ampliação da força de trabalho e conhecimento útil – aspecto importante que

mais tarde viria a ser chamado de capital humano”, citado por Vasconcelos, Alves e

Silveira-Filho (2008, p.6-7) a respeito da contribuição de Kuznets (1974) sobre as

abordagens teóricas dos estudos da demografia e economia.

Em resumo, o trabalho de Kuznets (1974) apresenta um fator essencial e notável

caracterizado por uma mistura de alto crescimento populacional com alto crescimento

do produto per capita (VASCONCELOS, ALVES e SILVEIRA-FILHO, 2008, p.7).

A visão Malthusiana estava equivocada, pois se provou a possibilidade da

melhora nas condições de vida, acima dos salários de subsistência. Segundo Muniz

([s.d], p.2), “Malthus não poderia prever os avanços na medicina e a revolução da

agricultura” e “não pode ser apontado como culpado por seus erros de previsão”, afinal

ele publicou seu trabalho no início do desenvolvimento industrial.

Apesar disso, a teoria Malthusiana merece destaque e “dita muitos dos aspectos

fundamentais presentes nas teorias neoclássicas de crescimento de longo prazo”, pois de

acordo com a “hipótese de crescimento constante da população – resulta em um

20 Boserup (1987, p. 138) descreve que não significa que todos os países e suas populações

apresentaram a mesma explicação para o crescimento populacional e, por fim, crescimento

econômico. 21 São destacados dois lados para estas alternativas: por um lado, intensifica-se a produção

agrícola; e, por outro lado, o aumento demográfico “facilita a divisão do trabalho, a expansão da

comunicação e da educação” (BOSERUP, 1987, p.138).

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equilíbrio de longo prazo na relação entre população e economia” (VASCONCELOS,

ALVES e SILVEIRA-FILHO, 2008, p.5).

Segundo Muniz ([s.d.], p.5) apud Coale e Hoover (1966), uma taxa de razão de

dependência alta, originada por uma fecundidade elevada, pode gerar consequências

negativas sobre o crescimento econômico do país. Pela visão macroeconômica, o

aumento populacional pode ocasionar consequências negativas na área da educação e

saúde. E pela visão Microeconômica (dentro dos domicílios), a taxa elevada de

fecundidade pode gerar diminuição da renda per capita das famílias, aumentando ainda

mais o “agravamento da desigualdade entre gêneros”.

Em contrapartida, destaca a visão de Kuznets (1974), o qual mostrou a

possibilidade de ao mesmo tempo um país apresentar alto crescimento populacional e

alto crescimento do produto per capita. Segundo Vasconcelos, Alves e Filho (2008,

p.7), o autor Kuznets (1974) parte de uma “premissa de que é o crescimento econômico

que engendra a possibilidade de crescimento populacional”.

As visões teóricas com interpretações pessimistas, orientadas por Malthus

(1996) e Coale e Hoover (1966), consideram que o crescimento populacional pode ser

um obstáculo para o crescimento econômico, ocasionando pobreza, fome e/ou baixas

taxas de poupança.

No sentido contrário à visão Malthusiana, a abordagem de Boserup (1987)

destaca que o crescimento populacional pode ser um incentivo para as mudanças

tecnológicas, em especial, para a produção de alimentos, e pode gerar um crescimento

econômico genuíno.

Corroborando com as interpretações de visões contrárias, o trabalho de

Kuznets(1974) interpreta que o crescimento populacional, a taxa de mortalidade, as

tendências nas taxas de natalidade e o impacto da migração internacional são

influenciados pelo crescimento econômico e, ao mesmo tempo, podem influenciá-lo,

melhorando as condições de vida das populações sem apresentar queda da taxa de

crescimento de produto per capita.

A interação entre demografia e economia é perceptível na maioria dos estudos

relacionados ao tema das dinâmicas populacionais, e mostrou-se um ramo

interdisciplinar na área acadêmica.

3. VISÃO ECONÔMICA DO ENVELHECIMENTO POPULACIONAL

Atualmente, os estudos a respeito do fenômeno da transição demográfica não

estão mais tão preocupados em destacar a explosão demográfica, mas sim compreender

o baixo crescimento populacional que muitos países estão vivenciando, com destaque

para as baixas taxas de fecundidade.

Junior e Costa (2006, p.12) descrevem que “a demografia é uma ciência

fundamental para o entendimento desse novo fenômeno [envelhecimento] e de seus

impactos sociais e econômicos”. Por isso, em especial no âmbito acadêmico, é de

grande importância conhecer e compreender as teorias que buscam apresentar e

justificar esta temática.

As faixas etárias possuem diferentes escolhas de consumo e diferentes

capacidades produtivas. Neste contexto, as características econômicas do país também

são modificadas a partir das mudanças demográficas de sua população. Logo, a medida

que a população envelhece suas escolhas individuais também alteram-se, entretanto, não

é possível definir com precisão um comportamento padrão. Mas, sugere-se que a partir

do momento que a taxa de expectativa de vida aumenta, os indivíduos optem por

modificar suas opções em relação as suas vidas. Além disso, o próprio contexto

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38

institucional do país pode ser influenciado por modificações de sua população

(BLOOM; CANNING; FINK, 2010, p.584).

Neste caso, o aumento da expectativa de vida, o envelhecimento da população,

as políticas de aposentadoria, pensões, financiamento de cuidados com a saúde, a

eficiência do mercado de trabalho e mercado de capitais, e todo o sistema econômico e

regional tendem a se adaptar à nova realidade presente. O tamanho destas alterações

depende do comportamento político e da quantidade representativa do grupo etário, se

houver influência do regime democrático (BLOOM; CANNING; FINK, 2010, p.584).

Esta alteração demográfica é um fator determinante do crescimento econômico.

Existem na literatura muitas intepretações econômicas dos determinantes do

crescimento econômico, algumas já destacadas neste trabalho. Alguns autores estão

preocupados com a produtividade dos setores da economia, ou seja, a realocação da

mão-de-obra da agricultura para a indústria e, mais recentemente, para os setores de

serviços. Para outros autores, a importância dada ao progresso tecnológico, ao capital

humano, às instituições e governança, às políticas macroeconômicas e do comércio, e

aos choques aleatórios. E ainda, outros pesquisadores apontam os efeitos de feedback

entre o crescimento econômico, o progresso técnico, e a acumulação de capital humano

e, consequentemente, as suas influências sobre o crescimento econômico (BLOOM;

CANNING; FINK, 2010, p.593).

3.1 Mercado de trabalho e envelhecimento

Os efeitos diretos do envelhecimento populacional ocorrem sobre a oferta de

trabalho, a qualidade do trabalho (por meio da estrutura etária e o sobre o capital

humano), a taxa de poupança, retorno marginal do capital e intensidade do capital, e o

progresso técnico e as inovações. Todos estes efeitos diretos também afetam o PIB per

capita e o crescimento do PIB no médio prazo de seus países, conforme ilustrado na

figura 1 (CARONE et al., 2005, p.8).

Já os efeitos indiretos do envelhecimento populacional ocorrem sobre as taxas de

dependência econômica e os desequilíbrios orçamentários (impostos fiscais). Este

orçamento fiscal, por sua vez, também tem impacto indireto sobre todos os efeitos

diretos do envelhecimento das populações (descritos anteriormente) e, ainda, sobre os

sistemas de pensões e de impostos22 (figura 1).

A partir da Figura 1, Serban (2012, p.359-360) apresentou os efeitos destacados

acima que foram divididos em dois grupos principais: 1) os efeitos diretos que

impactam no tamanho e na qualidade do emprego; e, 2) os efeitos indiretos que

influenciam na redução dos recursos econômicos necessários para lidar com o

envelhecimento, interferem nas decisões dos indivíduos e, ainda, exercem pressão sobre

os sistemas de educação, de seguro social e de saúde.

22 Os efeitos do envelhecimento populacional ocorrem de muitas maneiras sobre as

economias. Neste contexto, alguns aspectos não fazem parte do escopo deste trabalho, em que

informações adicionais podem ser obtidas em Carone et al. (2005).

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Figura 1 - Os efeitos do envelhecimento populacional

Fonte: Adaptado de Carone et al. (2005, p.8).

Uma variável importante é a taxa de participação no mercado de trabalho23, a

qual pode elucidar parcialmente os efeitos diretos do envelhecimento populacional

relacionados ao tamanho e à qualidade do emprego sobre o mercado de trabalho.

A proporção da população idosa que participa da força de trabalho da população

economicamente ativa varia por região de desenvolvimento e de gênero (NAÇÕES

UNIDAS, 2012, p.1). Cooke (2006, p.390) descreve que nos países desenvolvidos está

ocorrendo uma queda na participação dos trabalhadores mais velhos24 no mercado de

trabalho, em especial, os trabalhadores homens. A saída precoce do mercado de trabalho

destes trabalhadores mais velhos é um resultado indesejado, pois interfere diretamente

na antecipação dos pagamentos das pensões públicas por períodos mais longos e na

necessidade de criação de uma nova legislação para lidar com esta questão.

O envelhecimento da população é descrito por Hagemann e Nicoletti (1989,

p.78) que correlaciona às economias industrializadas com o envelhecimento, por meio

de alterações significativas no tamanho e na estrutura da população em idade ativa

(PIA). Ou seja, o efeito do envelhecimento populacional sobre o crescimento

econômico e, finalmente, sobre o bem estar. Em grande medida, esta relação é

observada pelas consequências sobre o mercado de trabalho.

O declínio da taxa de fecundidade é destacado como o primeiro motor da

modificação da estrutura etária. As justificativas de melhora nas condições sanitárias,

saúde e avanços tecnológicos são destacados, em especial, seus efeitos sobre o aumento

da expectativa de vida. Destaque também para a participação da população feminina no

mercado de trabalho ao longo da história. Segundo Machado (2009, p.4-5), o aumento

da participação feminina no mercado de trabalho deve ser considerado ao mesmo tempo

como causa e consequência das quedas de fecundidade dos países.

O segundo motor é o aumento da expectativa de vida. Este aumento expressivo

da expectativa de vida não foi previsto, nem mesmo nas projeções dos autores mais

otimistas. Os avanços tecnológicos foram significativos e ninguém poderia prever sua

interferência nestas taxas. De acordo com Bloom, Canning e Fink (2011, p.1), o número

de idosos em todo o mundo está crescendo rapidamente, não apenas em números

23 A taxa de participação ou taxa de atividade no mercado de trabalho é o percentual de

pessoas economicamente ativas (PEA) em relação às pessoas em idade ativa (PIA) (IBGE,

2012, p.4). 24 A denominação “trabalhadores mais velhos” refere-se aos trabalhadores com idade acima

de 50 anos.

Oferta de Trabalho

Qualidade do Trabalho

(Estrutura Etária +

Capital Humano)

Taxa de Poupança,

Retorno Marginal do

Capital e Intensidade

do Capital

Progresso Técnico e

Inovação

PIB per capita +

Crescimento do

PIB no Médio

Prazo

Taxa de

Dependência

Econômica

Sistemas de Pensão + Impostos

Desequilíbrios Fiscais

Envelhecimento

Populacional

Impacto Econômico Direto do Envelhecimento

PopulacionalImpacto Econômico Indireto do Envelhecimento

Populacional

Outros Efeitos

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absolutos, mas este grupo apresenta uma vida substancialmente mais saudável. Segundo

os especialistas em saúde, um fenômeno chamado de compreensão da morbidade

destaca que o aumento da duração da vida, em parte atribuído por períodos de doenças

mais curtos e em idades cada vez mais avançadas, resulta no efeito líquido de um

aumento no número de anos vividos na velhice sem problemas de saúde.

O terceiro motor corresponde ao processo de envelhecimento, devido às

alterações da estrutura etária e ao envelhecimento relacionado às taxas de variações

passadas entre nascimentos e mortes. Por exemplo, após a Segunda Guerra Mundial,

houve um grande crescimento demográfico, conhecido como “baby boom”, com grande

aumento da fecundidade. Em partes, o aumento da fecundidade vivenciado nos anos 60

somado ao declínio nas taxas de mortalidade infantil reflete na estrutura etária da

população com 60 anos ou mais nos dias atuais (BLOOM; CANNING; FINK, 2011,

p.8).

Bloom, Canning e Fink (2010, p.593) utilizam como premissa que as variações

na estrutura etária influenciam significativamente o crescimento econômico. Eles

adotam o modelo de “ciclo de vida” baseado nas necessidades econômicas e nas

contribuições das pessoas, e que estas variáveis sofrem modificações ao longo das

várias fases da vida dos indivíduos.

Segundo estes autores, o consumo tende a ser elevado para os grupos de jovens e

idosos, e mais baixo para as pessoas na faixa de idade para trabalhar. Ou seja, quando

considera-se o grupo etário com maior população, estas pessoas representam uma fase

no ciclo de vida e o crescimento econômico daquela população irá variar de acordo com

a oferta de trabalho, produtividade, consumo e poupança. A oferta de trabalho e a

poupança são mais elevados entre os adultos em idade ativa25 do que a população com

60 anos ou mais. Portanto, uma população representada por uma maioria de população

em idade ativa reflete um crescimento econômico maior. Enquanto que uma população

com maioria de idosos está propensa a experimentar um crescimento econômico mais

lento (BLOOM; CANNING; FINK, 2010, p.593).

Herrmann (2011, p.24) tem uma intepretação mais otimista e diferente da

apresentada por Bloom, Canning e Fink (2010, p.593) a respeito do envelhecimento

populacional. Ele inicia sua discussão a partir da razão de dependência, dois problemas

surgem desta razão: a falta de força de trabalho e o aumento exagerado dos custos com

pensões ou cuidados com saúde.

Segundo Herrmann (2011, p.25-26), a escassez de força de trabalho não pode ser

apenas analisada pela razão de dependência. O fato da população em idade ativa

demonstrar uma participação menor não significa baixa produtividade do mercado de

trabalho, ou seja, declínio da produção econômica. O autor acrescenta que a única

medida significativa de escassez de trabalho é a queda da taxa de desemprego. Mesmo

assim, não significa que a produtividade seja baixa, a produtividade do trabalho é uma

medida mais importante do que o tamanho da força de trabalho. Além disso, os países

possuem instrumentos para lidar com o problema da escassez de trabalhadores se for

necessário.

De acordo com Herrmann (2011, p.26), é mais apropriado, para fins

econômicos, utilizar como medida a relação de “dependência econômica”, isto é, o

número de pessoas empregadas em relação ao total da população, em vez da taxa de

dependência comum que sublinha a maioria das análises. Por meio desta medida, é

possível incluir todas as pessoas (desempregados, jovens, pessoas sem trabalho, as

25 Neste trabalho, os termos população em idade para trabalhar e/ou a população em idade

ativa (PIA) são utilizados como sinônimos.

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41

pessoas que possuem trabalho, mas ainda sofrem com a pobreza, ou seja, todos),

evitando assim a execução de políticas ineficazes para lidar com a questão do

envelhecimento populacional.

Um mercado de trabalho que possui alta relação de dependência econômica

associada à alta taxa de desemprego enfrenta maiores problemas econômicos do que um

mercado de trabalho com alta relação de dependência econômica com baixa taxa de

desemprego. Herrmann (2011, p.26) destaca que alguns países em desenvolvimento

sofrem com o mercado de trabalho com alto desemprego, em que há muitos

dependentes jovens e muitos desempregados também jovens. Enquanto que algumas

economias desenvolvidas possuem muitos dependentes idosos e pouco desempregados.

Ele ainda destaca que é mais fácil para os países lidar com a falta de mão-de-obra do

que precisar criar oportunidade de emprego para resolver o problema do desemprego.

Segundo Herrmann (2011, p.26), mesmo os países com uma dependência maior

de pessoas idosas não estão sofrendo com a falta de força de trabalho. Alguns países da

OCDE, por exemplo, possuem desempregados e inativos que podem suprir a

necessidade do mercado.

Machado (2009, p.10) acrescenta o argumento de que uma força de trabalho

mais educada aumenta a produtividade do trabalho, sendo um fator fundamental para o

crescimento econômico. A educação (ou escolaridade) da força de trabalho é um

componente positivo quando considerado seu impacto sobre as taxas de participação das

futuras coortes26 de indivíduos mais velhos.

Segundo Bloom, Canning e Fink (2010, p.606), a medida de bem estar das

famílias é o consumo e não a renda. No geral, a renda familiar cai com a aposentadoria,

enquanto que o consumo pode permanecer constante ou aumentar. Os autores destacam

que uma renda per capita menor não significa necessariamente uma diminuição de bem

estar. Pois, as populações podem ter a sua renda per capita variando de acordo com a

estrutura etária, mas o bem estar da vida seria relativamente igual.

As principais implicações descritas na literatura sugerem políticas de reinserção

da força de trabalho inativa ou desempregada, considerando que as populações possuam

uma potencial força de trabalho disponível (HAGEMANN; NICOLETTI, 1989, p.80).

Para as populações que já estão vivenciando o envelhecimento populacional,

praticamente todos os autores destacam que políticas voltadas para a manutenção ou

reinserção dos idosos saudáveis no mercado de trabalho são fundamentais para o

crescimento econômico dos países (HERRMANN, 2011, p.26).

Segundo Hagemann e Nicoletti (1989, p.80), a força de trabalho resultante do

envelhecimento da população levanta muitas perguntas sobre a mobilidade e

flexibilidade do mercado de trabalho, que pode afetar o dinamismo da economia.

Programas de reciclagem de emprego podem exercer influência sobre o

dinamismo do mercado de trabalho, mesmo com o envelhecimento populacional. Sob

esse ângulo, o baixo crescimento da população pode gerar efeitos positivos sobre o

mercado de trabalho. Pois, uma força de trabalho mais velha e experiente pode gerar

aumento de produtividade no trabalho (HAGEMANN; NICOLETTI, 1989, p.81).

Bloom, Canning e Fink (2010, p.603-604) destacam que as empresas podem ter

um papel fundamental no processo de envelhecimento populacional. Pois, se os idosos

tiverem espaço para manterem-se por mais tempo no mercado de trabalho, de forma

26 Coorte é um conceito utilizado para definir um conjunto de pessoas que possuem algum

evento em comum em um mesmo período (CARVALHO; SAWYER; RODRIGUES, 1998,

p.15).

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produtiva, isto pode significar menos recursos públicos gastos com pensões,

aposentadorias e benefícios.

As empresas não teriam qualquer perda, pois se beneficiariam de trabalhadores

mais experientes e confiáveis. Carga horária flexível, formação em novas tarefas,

programas de bem estar e recolocação em atividades menos exigentes fisicamente

(permitindo que trabalhadores mais jovens executem estas tarefas) são exemplos de

medidas que facilitam a permanência dos idosos no mercado de trabalho (BLOOM;

CANNING; FINK, 2010, p.603-604).

Destaca-se que o mercado de trabalho ainda não sinalizou esta preocupação,

mesmo nos países em que já se vivencia o envelhecimento populacional (embora se

possa encontrar um ou outro exemplo de empresas com ações nesta direção27). Segundo

Bloom, Canning e Fink (2010, p.603-604), novas formas de organizar a remuneração

destes trabalhadores serão necessárias, e o governo e os sindicatos (as instituições

interligadas neste processo) precisarão contribuir para as novas regulamentações.

Aproveitar esta força de trabalho mais velha pode significar uma vantagem

comparativa para as empresas. Além dos benefícios com ganho de produtividade, pode-

se aumentar os benefícios dos investimentos em treinamento, investimento em saúde de

todos os funcionários (que evitam custos), assim como prevenção de riscos (que

também reduz custos). Ou seja, a partir do momento que o envelhecimento populacional

diminuir a força de trabalho disponível, a resposta natural das empresas e da economia

como um todo será a de investir em equipamentos que tornem o trabalho mais produtivo

(BLOOM; CANNING; FINK, 2010, p.603-604).

Herrmann (2011, p.24) chama a atenção que cada país deve fazer uma análise

macroeconômica sobre seu próprio mercado de trabalho, a fim de facilitar a tomada de

decisão e a adoção de medidas necessárias para lidar com o envelhecimento

populacional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A interação entre demografia e economia é perceptível na maioria dos estudos

relacionados ao tema das dinâmicas populacionais o que gerou um novo ramo

interdisciplinar na área acadêmica. Por meio da integração entre a economia e a

demografia, foi possível verificar que os estudos a respeito do fenômeno demográfico

não estavam mais preocupados em destacar a explosão demográfica, mas sim

compreender o baixo crescimento populacional e o processo de transição demográfica

que muitos países estão vivenciando.

As variações na estrutura etária influenciam significativamente o crescimento

econômico. O consumo tende a ser elevado para os grupos de jovens e idosos, e mais

baixo para as pessoas na faixa de idade para trabalhar. A oferta de trabalho e a poupança

são mais elevados entre os adultos em idade ativa do que a população com 60 anos ou

mais. Portanto, uma população representada por uma maioria de população em idade

ativa reflete um crescimento econômico maior. Enquanto que uma população com

maioria de idosos está propensa a experimentar um crescimento econômico mais lento.

O envelhecimento das populações não é caracterizado pelo aumento isolado da

população mais velha e idosa, mas, também, representa o declínio da população em

idade ativa. Ou seja, a cada geração, as populações mais velhas são substituídas por

27 A Empresa BMW em 2007 instituiu um conjunto de medidas depois de verificar que a

sua força de trabalho possuiria um perfil de funcionários mais velhos em 10 anos, mais detalhes

estão disponíveis em Loch et al.(2010).

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coortes mais jovens menos numerosos. Como resultado, ter-se-ia um impacto negativo

decorrente de uma proporção cada vez menor de pessoas em idade potencial para

trabalhar.

Por outro lado, a escassez de força de trabalho não pode ser apenas analisada

pela razão de dependência. O fato da população em idade ativa demonstrar uma

participação menor não significa necessariamente baixa produtividade do mercado de

trabalho, ou seja, declínio da produção econômica.

Os impactos econômicos do envelhecimento populacional sobre o mercado de

trabalho podem ser caracterizados como efeitos diretos e indiretos. Os efeitos diretos

impactam no tamanho e na qualidade do emprego e os efeitos indiretos influenciam na

redução dos recursos econômicos necessários para lidar com o envelhecimento,

interferem nas decisões dos indivíduos e, ainda, exercem pressão sobre os sistemas de

educação, de seguro social e de saúde.

Nos países desenvolvidos está ocorrendo uma queda na participação dos

trabalhadores mais velhos no mercado de trabalho, em especial, os trabalhadores

homens. A saída precoce do mercado de trabalho destes trabalhadores mais velhos é um

resultado indesejado, pois interfere diretamente na antecipação dos pagamentos das

pensões públicas por períodos mais longos e na necessidade de criação de uma nova

legislação para lidar com esta questão.

Os mais diversos países que já estão vivenciando o envelhecimento

populacional. Assim, políticas voltadas para a manutenção ou reinserção dos idosos

saudáveis no mercado de trabalho podem ser fundamentais para o crescimento

econômico futuro destes países.

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47

CONDICIONANTES DA DESIGUALDADE DA RENDA DO TRABALHO

BRASILEIRA NO FINAL DA PRIMEIRA DÉCADA DE 2000: ALGUMAS

EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS28

Vladimir Sipriano Camillo29

Resumo

O objetivo específico é identificar alguns condicionantes da desigualdade da renda

do trabalho brasileira no final da década de 2000, especificamente para 2009. Para

atingir tal objetivo, o texto foi dividido em duas partes. Na primeira parte foi

desenvolvida (de forma sucinta) uma base teórica. Na segunda foram testadas, por meio

de regressões lineares múltiplas, algumas hipóteses sobre os condicionantes da

desigualdade da renda do trabalho. Dentre os resultados sobre os condicionantes da

desigualdade da renda do trabalho, destacam-se os hiatos salariais entre alguns níveis de

escolaridade, a rotatividade como um dos aspectos da demanda por trabalho e as

segmentações urbano-rurais, além de um tipo de discriminação por sexo controlada por

escolaridade.

Palavras-chave: rotatividade, crescimento econômico, capital humano,

segmentações e discriminação

Introdução

A queda da desigualdade da renda do trabalho no Brasil, ocorrida a partir da

primeira década de 2000, despertou uma discussão nacional sobre os seus possíveis

condicionantes. Nesse debate ainda predominam as abordagens sobre capital humano,

que em alguma medida se filiam ao modelo de Langoni da década de 1970. Contudo,

também são inseridos novos elementos teóricos e empíricos na atual discussão. Foram

selecionadas da literatura nacional algumas abordagens (sucintas) sobre a influência do

mercado de trabalho na desigualdade, tendo como perspectiva metodológica a interação

entre a oferta e a demanda por trabalho.

Na primeira parte desse artigo foi desenvolvida uma base teórica que inclui a

associação (exploratória) entre a rotatividade no mercado formal de trabalho e a

distribuição da renda do trabalho. Essa rotatividade costuma reduzir os maiores salários

e assim aproximá-los dos menores, influenciando a desigualdade da renda do trabalho.

Também foi inserido o crescimento econômico como outro elemento da demanda por

trabalho, capaz de influenciar a distribuição da renda, mas com claros indícios de que o

28 Algumas variáveis da parte teórica e da parte empírica se assemelham ao artigo de Kon e

Camillo (2013), apresentado na ABET-2013. Contudo, o conteúdo dessa base teórica e as

técnicas econométricas diferenciam-se significativamente do referido texto dos dois autores

mencionados.

29 Aluno do Programa de Estudos Pós Graduados da PUC-SP. Resultados extraídos da

pesquisa de pós doutorado do autor, supervisionada e orientada pela professora Anita Kon.

Contudo, a responsabilidade por possíveis erros e omissões é exclusiva do autor.

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crescimento econômico nacional não costuma promover a distribuição da renda do

trabalho.

Para retratar alguns aspectos da oferta de trabalho e sua correlação com a

desigualdade da renda foram selecionadas algumas abordagens sobre o capital humano,

as múltiplas segmentações e discriminações no mercado de trabalho. Os resultados dos

modelos sobre capital humano mostram que a queda da desigualdade na primeira

metade da década de 2000 está predominantemente associada aos avanços de

escolaridade dos ocupados. As segmentações no mercado de trabalho, principalmente as

segmentações entre os grandes setores econômicos e entre as áreas urbanas e rurais, são

inseridas na literatura como condicionantes da queda da desigualdade da renda do

trabalho. A discriminação, por sua vez, é inserida com resultados controversos,

aparecendo (as vezes) como pouco importante para a queda da desigualdade da renda do

trabalho e noutras vezes com peso significativo para tal queda. Aliás, é importante

considerar que as várias formas de discriminação extrapolam os limites dos mercados de

trabalho e possuem dinâmicas que ultrapassam, por vezes, a própria teoria econômica.

A opção metodológica de se tratar a demanda por trabalho interagindo com a oferta

de trabalho supõe que o mercado de trabalho atua como condicionante da desigualdade

da renda do trabalho, mas esse mesmo mercado de trabalho também interage com a

estrutura produtiva em movimento, do ponto de vista quantitativo e qualitativo 30 .

Quantitativamente a estrutura produtiva se expande por meio do crescimento econômico

e muda qualitativamente quando há investimentos que alteram suas características

tecnológicas e sua eficiência em termos de produtividade. Também merece destaque

metodologicamente a construção de quatro modelos por meio de regressões lineares

múltiplas, com amostras cross section estaduais para 2009, gerados na segunda parte do

artigo. Esses modelos foram construídos a partir da base teórica sucintamente

desenvolvida na primeira seção do artigo. O número original de variáveis selecionadas é

relativamente elevado quando comparado com os modelos finais apresentados. Optou-

se por dois modelos de regressões Stepwise e outros dois por regressões construídas por

meio de combinações aleatórias das variáveis explicativas. Os principais resultados

econométricos obtidos convergem, em grande medida, para a literatura nacional, exceto

os referentes à rotatividade no mercado de trabalho formal.

1. Condicionantes da desigualdade da renda do trabalho no Brasil

1.1. Demanda por trabalho: rotatividade e crescimento econômico

“Conceitualmente, a rotatividade representa a substituição do ocupante de um

posto de trabalho por outro, ou seja, a demissão seguida da admissão, em um posto

específico, individual, ou em diversos postos, envolvendo vários trabalhadores

30 Kon e Camillo (2013) desenvolveram um modelo de análise fatorial, com recorte cross

section estadual para 2009, que evidencia um tipo particular e até inesperado de interação entre

alguns indicadores de demanda e oferta de trabalho. Nesse modelo os indicadores de demanda e

oferta de trabalho foram reunidos num único fator, que suporta a ideia de variações comuns e

multidirecionais. Dessa forma, a desigualdade da renda do trabalho (medida pelo índice de Gini)

associou-se ao capital humano, a rotatividade, ao salário mínimo e a mobilidade intergeracional

de renda, dentre outras variáveis. (ABET, 2013).

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(DIEESE, 2011). Essa rotatividade, para a realidade brasileira, se comporta de maneira

pró cíclica com o crescimento econômico nacional, significando que, com a aceleração

do crescimento ocorre a expansão da rotatividade. (MACEDO e CHAHAD, 1985 apud

DIEESE, 2011). A demanda por trabalho representada pela rotatividade, na primeira

década de 2000 no Brasil, superou expressivamente a demanda por trabalho gerada pelo

crescimento econômico nacional. Algumas estimativas para 2011, baseadas no

crescimento médio do período de 2005 a 2010, indicam uma demanda por trabalho que

atinge 21 milhões de empregos, distribuídos da seguinte forma: 1,7 milhão criado pela

abertura de novos postos de trabalho e 19,3 milhões gerados pela rotatividade do

trabalho (IPEA, 2011). Sendo assim, essas estimativas indicam que a rotatividade do

trabalho gerou a maior parte da demanda por trabalho em 2011.31 De 1,7 milhão de

novos empregos criados, 40% pertencem a indústria de transformação (incluindo a

construção civil) e os restantes 60% pelos serviços.32 Dos 19,3 milhões de empregos

gerados pela rotatividade, 34% estão alocados na indústria de transformação; 7% na

agricultura e 59% nos serviços.

A rotatividade está muito associada com a liberdade institucional de se demitir

no Brasil. O mercado de trabalho usufrui de uma oferta de trabalho relativamente

elevada combinada com uma flexibilidade contratual (DIEESE, 2011). Essa

flexibilidade permite manter por pouco tempo os trabalhadores empregados num

mesmo emprego, reduzindo o tempo de permanência nas empresas. Em 2009, 60% dos

empregados formais tiveram empregos por um período inferior a dois anos (DIEESE,

2011), indicando a baixa permanência dos trabalhadores num mesmo posto de trabalho,

implicando em perda de experiência. Ao recortar apenas os desligados em 2009,

percebe-se a magnitude da curta duração da permanência no emprego: 79% dos

desligados tinham contratos de trabalho a menos de dois anos (DIEESE, 2001). Os

empregados com maior tempo no emprego diminuíram entre 2000 e 2009, passando de

19,3% para 16,1%, enquanto os empregados com até dois anos de vínculos

aumentaram, de 44% em 2000 para 50% em 2009. Com a predominância de

empregados por um curto período de tempo, pode-se remunerá-los menos, pois não

terão os ganhos de permanência e experiência nos empregos. Com um número de

empregados de alta permanência em queda, torna-se possível reduzir os maiores

salários, aproximando-os (ainda que continuem distantes) dos menores salários dos

empregados menos experientes. A aproximação entre os empregados de menor tempo

no emprego com os de maior tempo, poderá ser ainda maior, pois parte significativa dos

menos experientes recebem salários próximos do salário mínimo em expansão. Essa

aproximação se intensifica quando se analisa o saldo entre os admitidos e desligados.

“Em 2007, o saldo positivo de emprego situou-se na faixa de remuneração de até dois

salários mínimos, com destaque para a faixa de 1 a 1,5, que teve um saldo de mais de 1

31 Essas estimativas do IPEA (2011) utilizam como metodologia de cálculo da rotatividade

“o emprego desocupado pela demissão”. Na literatura nacional é usual medir a rotatividade por

meio do “(...) valor mínimo observado entre o total de admissões e o total de desligamentos

anuais, comparado ao estoque médio de cada ano” (DIEESE, 2011). A OCDE calcula utilizando

a soma dos admitidos com os desligados em relação ao estoque anual (apud RAMOS e

CARNEIRO, 2002). 32 A agricultura, nessas estimativas, perderia quase três milhões de empregos. Essa

estimativa é compatível com o crescimento da produtividade total dos fatores (PTF) verificado

para a agropecuária nacional entre 1996 e 2006. Cabe uma consideração metodológica sobre

essas estimativas do IPEA: foram construídas utilizando o emprego formal na RAIS. É um

procedimento usual na literatura nacional estimar a rotatividade utilizando a RAIS.

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milhão de postos de trabalho. Para as remunerações acima de 2,0 salários mínimos o

saldo de emprego foi negativo” (NETO e COSTA, 2008). Com os salários maiores

perdendo espaços na massa salarial e os menores ganhando, espera-se distâncias

salariais menores entre os rendimentos mais elevados e os menores no emprego formal.

Algumas reduções salariais foram elevadas nos primeiros anos da década de 2000 e

ocorreram em atividades com maior remuneração média, tais como nas instituições

financeiras (redução de 35,1% em 2007), no material de transportes (redução de 27,5%)

e indústria química (queda de 19%).

Tradicionalmente a literatura costuma correlacionar o crescimento econômico a

desigualdade pessoal de renda utilizando o modelo de Kuznets. Nesse modelo “após

uma migração considerável da população rural par a região urbana, a desigualdade

passa a cair, pois grande parte da população passa a receber uma renda mais alta no

setor industrial e urbano.” (BARROS e GOMES, 2008). No modelo de Kuznets está

implícita a ideia de que as atividades industriais, depois de atingido determinado nível

de desenvolvimento, apresentarão baixa dispersão salarial, promovendo uma redução da

desigualdade de renda durante o processo de crescimento econômico subseqüente.

Dessa forma, nota-se que nas etapas iniciais do desenvolvimento econômico, o

crescimento e a desigualdade pessoal de renda se correlacionarão positivamente; depois

haverá uma etapa intermediária de inflexão da curva crescimento-desigualdade até

atingir um período no qual o crescimento e a desigualdade apresentarão correlação

negativa. Essa correlação negativa indica que o crescimento econômico distribuirá

renda, numa etapa mais avançada de desenvolvimento econômico.

Para o caso brasileiro não há muitas evidências robustas sobre a aderência do

modelo de Kuznets, provavelmente porque a estrutura produtiva nacional mantenha

uma forte polarização entre as poucas atividades mais modernas e as predominantes

atividades mais tradicionais. A estrutura produtiva da economia brasileira condiciona a

desigualdade de renda do trabalho ao criar um perfil de demanda por trabalho muito

heterogêneo. Parece razoável supor que a estrutura produtiva brasileira é polarizada: de

um lado, predominam atividades econômicas mais tradicionais, de baixa e média

intensidades tecnológicas, que demandam uma força de trabalho de menor qualificação

e de baixa remuneração; de outro lado, há poucas atividades mais avançadas, com

elevada intensidade tecnológica, que demandam um tipo de trabalho mais qualificado e

de melhor remuneração. Sendo assim, a estrutura produtiva gera uma polarização em

termos tecnológicos e salariais, mantendo elevada a dispersão salarial e a desigualdade

de renda. Na primeira década de 2000, houve uma maior demanda por trabalho de baixa

e média qualificação, expandindo seus rendimentos (embora continuem relativamente

baixos) e aproximando-os dos ocupados de maior qualificação que perderam

participação na renda do trabalho.

Essa polarização na demanda por trabalho gerada pela estrutura produtiva

nacional também está presente no seu crescimento econômico, que a expande, mas não

parece modificá-la estruturalmente em favor de uma melhor distribuição de renda.

ALMEIDA e GUILHOTO (2006) analisam a correlação entre o crescimento econômico

setorial brasileiro e suas respectivas distribuições de renda. Utilizando a matriz insumo

produto do IBGE (2002) os autores construíram estimativas para 39 setores econômicos

e concluiram “(...) que os setores que mais contribuíram para o crescimento econômico

diferem daqueles que melhoram a distribuição de renda”. Sendo assim, uma inferência

possível desse resultado é que o crescimento econômico setorial brasileiro estabelece

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um tipo de trade off com a distribuição de renda do trabalho. Outra inferência possível

desse mesmo resultado matemático diz respeito ao fato de que o crescimento econômico

nacional, no sentido macroeconômico, não distribui renda porque os seus principais

setores, do ponto de vista produtivo, são os piores sob a ótica distributiva. Ou seja: o

crescimento econômico brasileiro é estimulado por setores com elevadas dispersões

salariais que ampliam a desigualdade da renda do trabalho.

Um resultado que converge para as estimativas de ALMEIDA e GUILHOTO

(2006), refere-se ao tipo de crescimento da economia brasileira, que não se caracteriza

como favorável aos menores salários (também classificado como crescimento não pró

pobre). Nessa linha, os resultados de RESENDE et al.(2006), para a economia brasileira

da década de 1990, “apontam que nenhuma capital estadual apresentou um crescimento

do tipo pró pobre. Isto mostra o padrão perverso de crescimento do Brasil, em que

regiões que englobam a maioria da população estão apresentando um crescimento que

aumenta a desigualdade de renda”33.

1.2. Oferta de trabalho: capital humano, segmentações e discriminação no mercado de

trabalho

O capital humano foi utilizado por LANGONI (1973) para explicar a ampliação da

desigualdade da renda do trabalho entre 1960 e 1970. A escolaridade foi a principal

variável explicativa do modelo de LANGONI. A principal causa para a elevação da

desigualdade de renda foi a “(...) expansão diferenciada da demanda de mão-de-obra

que, devido à tecnologia utilizada, beneficiou desproporcionalmente os níveis de

educação mais elevados” (LANGONI, 2005). Essa demanda diferenciada ocorreu em

função do elevado crescimento econômico34 do período, liderado pela indústria que

demandou um número expressivo de trabalhadores qualificados, promovendo a

elevação dos seus rendimentos e distanciando-os dos menores. As estatísticas

descritivas de LANGONI indicam um crescimento maior das rendas dos trabalhadores

mais escolarizados (com ensino médio e curso superior). Os trabalhadores mais

experientes também obtiveram ganhos salariais acima das faixas etárias menores. Nos

resultados econométricos, para 1970, a escolaridade contribuiu, marginalmente, com

15,43% da elevação da desigualdade, enquanto a experiência do trabalhador (medida

pela idade) contribuiu com 7,74%.(LANGONI, 2005). No modelo de LANGONI

predominam as variáveis ligadas a oferta de trabalho (escolaridade e experiência), mas

supõe uma “(...) interação entre a oferta e demanda por mão-de-obra de diversas

qualificações”. Essa suposição de interação entre a oferta e a demanda por trabalho

contida no modelo de LANGONI não se ampara numa descrição mais ampla dos

indicadores sobre a demanda por trabalho. Ou seja, o modelo se apóia

predominantemente em alguns indicadores da oferta de trabalho, com algumas

suposições sobre o comportamento da demanda por trabalho.

Para a primeira metade da década de 2000, o IPEA identificou a escolaridade e a

experiência do trabalhador como determinantes importantes da queda da desigualdade

33 Talvez a baixa aderência do modelo de Kuznets ao Brasil possa ser parcialmente

explicada pelo fato da economia brasileira ainda não ter atingido a etapa de desenvolvimento

mais avançada, capaz de transferir o crescimento econômico para a distribuição mais igualitária

da renda do trabalho. 34 Há, nessa associação entre crescimento econômico e desigualdade da renda, uma certa

influência do modelo de U invertido de Kuznets.

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da renda do trabalho, com contribuições entre 24% e 40% para a escolaridade e 6,8%

para a experiência (RAMOS, 2007 e BARROS et al.,2007). Para a primeira metade da

década de 2000 há evidências empíricas indicando que a “(...) demanda no mercado de

trabalho tem sido lenta e não tem acompanhado a maior escolarização da oferta de

trabalhadores, gerando redução nas taxas de salário” (NERI, 2007). Parte dessa redução

da capacidade explicativa da escolaridade parece estar associada à redução dos hiatos de

escolaridade, decorrente da expansão, por exemplo, do número de trabalhadores com

ensino médio35.

As maiores reduções nos rendimentos médios do trabalho entre 2002 e 2009

ocorreram para os ocupados com nível médio e superior. Os resultados da renda média

do trabalho indicam que os trabalhadores menos escolarizados (sem instrução e com

fundamental completo) aproximaram-se dos mais escolarizados (com nível médio e

curso superior), em decorrência de uma interação da demanda por trabalho com a oferta

de trabalho que favoreceu mais os postos de trabalho com menor qualificação,

ampliando sua massa salarial real e sua participação relativa nos decis da distribuição da

renda do trabalho total, além de ter diminuído a participação relativa das maiores rendas

nos decis superiores. (PNAD’s de 2002 e 2009). Embora a renda média do trabalho dos

ocupados com nível médio tenha se aproximado da renda média do trabalho com nível

superior no período entre 2002 e 2009 no Brasil, ainda há diferenças expressivas entre

as rendas desses dois níveis de escolaridade.

Com relação a contribuição dos grandes setores de atividades para a queda da

desigualdade da renda do trabalho no Brasil, entre 2001 e 2005 (agropecuária, serviços

e indústria), nota-se cifras entre 12% e 17,5% (BARROS, et. al. 2007 e ULYSSEA,

2007). Nota-se que entre 2002 e 2009 os hiatos entre a renda do trabalho na

agropecuária e os outros dois setores (indústria e serviços) apresentam quedas, porque a

renda média do trabalho agrícola cresceu mais. Os hiatos entre os serviços e a indústria

mantiveram-se constantes. A redução dos hiatos entre a agricultura e os outros dois

setores talvez tenha ocorrido porque a demanda por trabalho na agropecuária pode ter se

concentrado em ocupações próximas ao salário mínimo, enquanto a demanda por

trabalho mais qualificado na indústria e nos serviços deve ter crescido pouco, fazendo

com que os seus rendimentos tenham crescido menos do que na agricultura. Sendo

assim, as rendas da agricultura com os dois setores aproximam-se, porque ocorre um

crescimento menor dos maiores rendimentos (serviços e indústria) e um crescimento

maior da agropecuária.

As diferenças de renda do trabalho entre as várias regiões brasileiras, embora

continuem relativamente elevadas, apresentaram algumas reduções na primeira década

de 2000, particularmente entre 2001 e 2005. Simulações contrafactuais para 2005

indicam que a redução das diferenças de rendimentos entre as unidades da federação

contribuíram em 7% para a queda da desigualdade da renda do trabalho total. As quedas

nas diferenças da renda do trabalho entre as regiões metropolitanas e os municípios de

pequeno e médio portes contribuíram com 12%. As reduções nas diferenças da renda

do trabalho entre as áreas urbanas e rurais contribuíram com apenas 4% para a queda da

desigualdade da renda do trabalho (BARROS et al., 2007). Entre 2002 e 2009, o hiato

entre a renda média do trabalho das áreas urbanas e rurais reduziu-se de 256% para

35 Nas PNAD’s (microdados) de 2002 e 2009 há um aumento relativo dos ocupados com

nível médio de escolaridade.

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172%, influenciado pelo aumento da renda das áreas rurais, que atingiu 46% no período,

contra 12% das áreas urbanas. (PNAD’s de 2002 e 2009).

A segmentação formal-informal está associada com a desigualdade da renda do

trabalho no Brasil. Apesar do trabalho informal não possuir uma definição estrita, é

comum na literatura nacional utilizar como parâmetros para o trabalho informal os

ocupados sem carteira e os trabalhadores por conta própria.36 Para a primeira metade da

década de 2000, alguns resultados econométricos nacionais mostram que a elevação do

hiato salarial entre os ocupados formais e informais prejudicou a queda da desigualdade

da renda do trabalho (ULYSSEA, 2007; BARROS et al., 2007). Os hiatos salariais entre

os ocupados formais (com carteira) e os informais (sem carteira e por conta própria)

diminuíram entre 2002 e 2009.37 Os ocupados com carteira apresentavam, em 2002, um

hiato salarial de 85% em relação aos ocupados sem carteira, passando para 67% em

2009. A menor redução no hiato salarial ocorreu entre os ocupados com carteira e os

ocupados por conta própria, que atingiu, em 2009, o patamar de 31%. (PNAD’s de 2002

e 2009).

Com relação a contribuição da discriminação sofrida no mercado de trabalho, a

literatura nacional costuma recortar a cor e o sexo, associando-os a queda da

desigualdade da renda do trabalho ocorrida na primeira década de 2000.38 Contudo, essa

mesma literatura mais recente apresenta alguns resultados distintos. Para parte da

literatura nacional a discriminação por cor e sexo explica uma parcela relativamente

pequena da desigualdade da renda do trabalho, embora não seja desprezível essa

parcela. Para outra parte da literatura, a discriminação por cor e sexo explica parcela

substancial da desigualdade da renda do trabalho.39 RAMOS (2007), por exemplo, ao

decompor a desigualdade da renda do trabalho, obteve resultados que indicam a baixa

capacidade da discriminação por cor e por sexo em explicar a desigualdade da renda do

trabalho nacional, sendo que a cor explicou marginalmente aproximadamente 2,0% em

36 Cacciamali entende o informal como “(...) um conjunto de formas de organização da

produção e distribuição que se estabelece nos interstícios da produção capitalista de forma

integrada e subordinada”. Nessa abordagem o trabalho informal ocupa as “brechas” deixadas

pelas atividades formais. No informal “inserem-se trabalhadores que por opção, pelas

habilidades e pela qualidade dos serviços prestados auferem relativamente altos níveis de renda

quando comparados com a média dos assalariados, como também existem indivíduos que, sem

nenhuma qualificação, não podem ser absorvidos por firmas organizadas e que findam por

receber remunerações insuficientes perante o padrão médio de vida social” (CACCIAMALI,

1991). Também o informal é concebido como “auto emprego” e nessa perspectiva “o negócio

informal é antes de tudo uma forma de criar o próprio emprego de seu proprietário”

(PAMPLONA, 2001).

37 Esses resultados são diferentes dos encontrados na literatura nacional para a primeira

década de 2000. 38 A discriminação pode ocorrer antes de se ingressar no mercado de trabalho e assumir

outras formas além da cor e do sexo. 39 Os resultados que mostram a discriminação por cor e sexo com uma capacidade

relativamente elevada na explicação da desigualdade da renda do trabalho, costumam utilizar a

técnica de decomposição de OAXACA-BLINDER. Cacciamali e Rosalino (2008), utilizando o

método de decomposição de OAXACA-BLINDER para o período de 2002 a 2006, mostraram

cifras expressivas da desigualdade salarial por cor e sexo atribuída a discriminação. “Os

resultados produzidos indicam que, entre 2002 e 2006, o mercado de trabalho brasileiro

manteve práticas de discriminação”

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2001 e 2005 e o sexo atingiu uma capacidade explicativa próxima a 4,5%. BARROS et

al. (2007) estimaram que a discriminação por cor e sexo, entre 2001 e 2005, explicaram

7% e 2% , respectivamente,da queda da desigualdade da renda do trabalho.

2. Parte empírica: modelos econométricos exploratórios

2.1.Considerações metodológicas

Foram construidos quatro modelos econométricos. Dois foram gerados por meio de

regressões Stepwise, que selecionam as variáveis explicativas mais significativas. Os

outros dois modelos foram rodados a partir de combinações aleatórias das variáveis

explicativas. As amostras selecionadas foram cross section estaduais para o ano de

2009. Naturalmente que o recorte de apenas um ano impõe limitações, pois não permite

observar o relacionamento entre as variáveis explicativas e a desigualdade da renda do

trabalho ao longo do tempo. Optou-se em incluir dois indicadores de desigualdade da

renda do trabalho principal: 1. O índice de Gini e 2. O índice de Theil. Na literatura

nacional é usual utilizar o Gini. A escolha do índice de Theil decorre do fato da

distribuição de renda do trabalho no Brasil possuir uma cauda pesada, em função de sua

concentração nos decis superiores. Essa “cauda pesada” é captada melhor pelo Theil do

que pelo Gini. A fonte dos dados é a PNAD (microdados de 2009) e a RAIS de 2009.

Os modelos foram construídos a partir da base teórica anteriormente desenvolvida. Para

facilitar a visualização desses modelos, optou-se pela formalização com suas respectivas

variáveis:

2.2.Formalização dos modelos

THEIL = f (LnRota, LnVA, LnEscSupMed, LnEscSupFund, LnEscMedFund,

LnExpCinqQua, LnExpQuaTrin, LnExpTrinVinte, LnDiscCorSup, LnDiscCorMed,

LnDiscCorFund, LnDiscSexoSup, LnDiscSexoMed, LnDiscSexoFund, LnSegSerInd,

LnSegSerAgri, LnSegIndAgri, LnSegUrbRur, LnSegComSem, LnSegComConta)

[1]

GINI = f (LnRota, LnVA, LnEscSupMed, LnEscSupFund, LnEscMedFund,

LnExpCinqQua, LnExpQuaTrin, LnExpTrinVinte, LnDiscCorSup, LnDiscCorMed,

LnDiscCorFund, LnDiscSexoSup, LnDiscSexoMed, LnDiscSexoFund, LnSegSerInd,

LnSegSerAgri, LnSegIndAgri, LnSegUrbRur, LnSegComSem, LnSegComConta)

[2]

Os quatro modelos serão estimados a partir dessas duas equações, sendo duas

regressões Stepwise e duas rodadas aleatoriamente por meio de combinações aleatórias

das variáveis que resultem em estatísticas t e F significativas a 5%. Uma síntese das

conexões causais entre as variáveis explicativas da desigualdade da renda do trabalho e

as variáveis dependentes será descrita a seguir, além das metodologias de cálculo dessas

variáveis:

2.3. Síntese teórica e metodologias de cálculo das variáveis

a) Rotatividade [LnRota]: a rotatividade é parte expressiva da demanda de trabalho na

economia brasileira, gerada pela flexibilidade no mercado de trabalho (DIEESE, 2011).

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Tradicionalmente mensurada apenas para o emprego formal, atingiu quase 50% desses

empregos em 2010. Na literatura costuma-se utilizá-la para se avaliar parte do

funcionamento do mercado de trabalho e raramente como parte da demanda de trabalho.

Contudo, ligar a rotatividade à desigualdade da renda do trabalho não é usual na

literatura nacional. Parece razoável supor que, como a rotatividade geralmente reduz os

salários dos admitidos em relação aos desligados, os maiores salários cairão mais que os

menores, aproximando-os e reduzindo a desigualdade. É paradoxal a possibilidade da

rotatividade ter contribuído com a queda da desigualdade da renda do trabalho no

Brasil, na primeira década de 2000. Utilizou-se como metodologia de cálculo a proposta

do DIEESE, que considera o menor valor entre admitidos e desligados em relação ao

estoque de empregados da RAIS. Uma vez aplicada essa metodologia, apenas efetua-se

a transformação em Ln para todas as unidades da federação. Como na literatura a

rotatividade é pró cíclica (aumenta em períodos de maior crescimento econômico),

pode-se deduzir que há a possibilidade de convivência entre crescimento econômico,

expansão da demanda por trabalho e elevada rotatividade. A fonte dos dados é a PNAD

de 2009 (microdados).

b) Crescimento econômico [LnVA]: na literatura notou-se que o crescimento econômico

nacional, ocorrido a partir de uma estrutura produtiva predominantemente heterogênea,

é capaz de criar emprego e trabalho. Caso essa estrutura se modernize tecnologicamente

e ocorra o repasse dos ganhos de produtividade para os salários, poderá ocorrer a queda

da desigualdade da renda do trabalho. Contudo, não há evidências robustas que

indiquem a possibilidade do crescimento econômico nacional ter gerado uma demanda

por trabalho capaz de equalizar os rendimentos do trabalho na década de 2000. Ao

contrário, há evidências de que as atividades produtivas com maior elasticidade

produto-emprego, são aquelas que possuem as maiores desigualdades de renda

(ALMEIDA & GUILHOTO, 2006). Para mensurar o crescimento econômico para

amostras cross section estaduais utilizou-se o valor adicionado das Contas Regionais do

IBGE (2009), transformando-os em logaritmos naturais.

c) Capital humano [LnEscSupMed, LnEscSupFund, LnEscMedFund, LnExpCinqQua,

LnExpQuaTrin, LnExpTrinVinte]: espera-se que com a expansão do capital humano,

adquirido por meio da escolaridade e experiência do trabalhador, seja possível aumentar

a produtividade do trabalho e os salários. Caso os menores salários cresçam mais que os

maiores, ao longo do tempo, poderá ocorrer uma convergência dos rendimentos,

diminuindo a dispersão salarial e a desigualdade. Para a realidade brasileira da primeira

década de 2000, nota-se uma elevação da escolaridade média dos ocupados, mas a

demanda por trabalho concentrou-se nas ocupações de baixa e média qualificações, que

dispensam qualificações muito elevadas. Ou seja, mesmo com o crescimento do capital

humano em sua forma mais clássica (escolaridade e experiência), não houve uma

demanda compatível para os todos os trabalhadores mais qualificados, surgindo um

excedente de qualificação que reduziu os maiores salários, enquanto os salários menores

sofriam elevação pelo crescimento da demanda de trabalho e pelo aumento do salário

mínimo, gerando uma aproximação entre os decis superiores e inferiores da distribuição

da renda. Para mensurar o capital humano, optou-se pelas seguintes metodologias: 1. Ln

na razão entre a renda média do trabalho principal dos ocupados com curso superior e a

renda média do trabalho principal dos ocupados com ensino médio (LnEscSupMed) ; 2.

Ln na razão entre a renda média do trabalho principal dos ocupados com curso superior

e a renda média do trabalho principal dos ocupados com ensino fundamental completo

(LnEscSupFund); 3. Ln na razão entre a renda média do trabalho principal dos

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ocupados com ensino médio e a renda média do trabalho principal dos ocupados com

ensino fundamental completo (LnEscMedFund) ; 4. Ln na razão entre a renda média do

trabalho principal dos ocupados com 50 anos e a renda média do trabalho principal dos

ocupados com 40 anos (LnExpCinqQua) ; 5. Ln na razão entre a renda média do

trabalho principal dos ocupados com 40 anos e a renda média do trabalho principal dos

ocupados com 30 anos (LnExpQuaTrin) ; 6. Ln na razão entre a renda média do

trabalho principal dos ocupados com 30 anos e a renda média do trabalho principal dos

ocupados com 20 anos (LnExpTrinVinte). A fonte dos dados é a PNAD de 2009

(microdados).

d) Discriminação [LnDiscCorSup, LnDiscCorMed, LnDiscCorFund, LnDiscSexoSup,

LnDiscSexoMed, LnDiscSexoFund]: ocupados com atributos produtivos “idênticos”

que auferem rendimentos diferentes, representam um forte indício de presença de

discriminação no mercado de trabalho. A discriminação pode ocorrer de várias formas

(todas injustificáveis), mas na literatura é comum recortá-la por cor e sexo. As técnicas

econométricas costumam medir a discriminação pelos hiatos salariais existentes entre

homens e mulheres, brancos e negros ou até mesmo cruzando o sexo com a cor

(mulheres negras versus homens brancos), mas sempre controlando esses hiatos por

meio de alguns atributos produtivos, como a escolaridade, o setor de atividade, a

posição na ocupação, etc. Os resultados empíricos desses modelos indicam presença de

discriminação no mercado de trabalho por cor e sexo, na primeira metade da década de

2000, embora tenha ocorrido um estreitamento dos hiatos salariais que a caracterizam

(CACCIAMALI, 2008 ; BARROS et. al. 2007).

Optou-se nesse estudo em estimar a discriminação por cor e sexo controlando os

diferenciais de rendimentos do trabalho por meio de níveis educacionais (superior,

médio e fundamental completo). Controlar as diferenças salariais apenas por níveis

educacionais apresenta limitações. O ideal seria controlar por um número maior de

atributos produtivos, a exemplo da técnica de decomposição OAXACA-BLINDER.

Sendo assim, utilizou-se as seguintes metodologias de cálculo (todas como proxies): 1.

Ln na razão entre a renda média do trabalho principal dos ocupados “brancos” com

curso superior e a renda média do trabalho principal dos ocupados “pardos”com o

mesmo curso superior (LnDisCorSup) ; 2. Ln na razão entre a renda média do trabalho

principal dos ocupados “brancos” com ensino médio completo e a renda média do

trabalho principal dos ocupados “pardos”com o mesmo ensino médio completo (

LnDisCorMed ) ; 3. Ln na razão entre a renda média do trabalho principal dos ocupados

“brancos” com ensino fundamental completo e a renda média do trabalho principal dos

ocupados “pardos” com o mesmo ensino fundamental completo (LnDisCorFund ) ; 4.

Ln na razão entre a renda média do trabalho principal dos “homens” com curso superior

e a renda média do trabalho principal das “mulheres”com o mesmo curso superior (

LnDisSexoSup) ; 5. Ln na razão entre a renda média do trabalho principal dos

“homens” com ensino médio completo e a renda média do trabalho principal das

“mulheres”com o mesmo ensino médio (LnDisSexoMed) ; 6. . Ln na razão entre a

renda média do trabalho principal dos “homens” com ensino fundamental completo e a

renda média do trabalho das “mulheres”com o mesmo ensino fundamental completo (

LnDisSexoFund). A fonte dos dados é a PNAD de 2009 (microdados)

e) Segmentações [LnSegSerInd, LnSegSerAgri, LnSegIndAgri, LnSegUrbRur,

LnSegComSem, LnSegComConta]: as segmentações, embora sejam conceitualmente

distintas, operam como se fossem fatores que estimulam a desigualdade da renda do

trabalho. Os grandes grupos de atividades econômicas (agropecuária, serviços e

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indústria), por natureza e estrutura interna, apresentam disparidades salariais entre si.

Tradicionalmente, o olhar teórico sobre os serviços e as atividades agropecuárias no

Brasil os coloca como de baixa produtividade e de baixos salários, responsáveis, em

grande medida, pela desigualdade de renda. Contudo, vale notar que a média da renda

do trabalho dos serviços superou a da indústria em 2009 e que a agropecuária, segundo

o Censo agropecuário de 2009, apresentou elevação da PTF (proxy da tecnologia).

Algumas evidências indicam que a segmentação entre os grandes setores econômicos

diminuiu, ajudando na queda da desigualdade da renda do trabalho nos primeiros cinco

anos da década de 2000 (BARROS et. al. 2007). A segmentação espacial também

reduziu-se, indicando mudanças nos mercados de trabalho regionais ((ULYSSEA,

2007). Análises contrafactuais indicam que a segmentação formal-informal ampliou-se

e prejudicou a distribuição da renda do trabalho (ULYSSEA, 2007). Diante desses tipos

de segmentações, foram utilizadas as seguintes metodologias de mensuração para as

proxies: 1. . Ln na razão entre a renda média do trabalho principal dos ocupados nos

serviços e a renda média do trabalho principal dos ocupados na indústria

(LnSegSerInd) ; 2. Ln na razão entre a renda média do trabalho principal dos ocupados

nos serviços e a renda média do trabalho principal dos ocupados na agricultura

(LnSegSerAgri) ; 3. Ln na razão entre a renda média do trabalho principal dos ocupados

na indústria e a renda média do trabalho principal dos ocupados na agricultura

(LnSegIndAgri) ; 4. Ln na razão entre a renda média do trabalho principal dos

ocupados nas áreas urbanas e a renda média do trabalho principal dos ocupados nas

áreas rurais (LnSegUrbRur) ; 5. Ln na razão entre a renda média do trabalho principal

dos ocupados com carteira assinada e a renda média do trabalho principal dos ocupados

sem carteira assinada (LnSegComSem) ; 6. Ln na razão entre a renda média do trabalho

principal dos ocupados com carteira assinada e a renda média do trabalho principal dos

ocupados por conta própria (LnSegComConta). A fonte dos dados é a PNAD de 2009

(microdados)

Resultados econométricos

a) Regressões Stepwise

Theil = 0,13 + 0,28LnEscSupMed + 0,28LnSegSerInd + 0,15LnSegComSem

R2 aj.= 0,72 (4,21)* (3,43)* (2,94)*

F = 23*

Breusch-Pagan = 0,20

Ramsey = 0,005

VIF (média) = 1,43

*significativo a 5%

As três variáveis mostraram-se significativas a 5%, indicando que isoladamente

influenciam a desigualdade da renda do trabalho medida pelo índice de Theil. Além de

isoladamente, as mesmas variáveis conjuntamente são significativas a 5% para explicar

a variação da desigualdade. Juntas explicam 72% da desigualdade da renda do trabalho.

Contudo, pelo teste de Ramsey, há omissão de variáveis explicativas ou alguma falha na

especificação da equação. O teste de Breusch-Pagan mostrou que o modelo é

homocedástico. Também há evidências de ausência de multicolinearidade, identificadas

pelo teste VIF (variance inflation factor).

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A variável proxy indicativa de capital humano (LnEscSupMed) apresentou a maior

estatística t e correlacionou-se positivamente com a desigualdade, indicando que a

redução no hiato de rendimentos entre os ocupados com nível superior e os ocupados

com nível médio poderá auxiliar na queda da desigualdade da renda do trabalho.

Contudo, apenas para contextualizar esse resultado com a realidade nacional, nota-se

que entre 2002 e 2009 os rendimentos dos dois níveis de ocupados caíram, sendo que

com nível superior a queda foi maior. Dessa forma, a redução no hiato de rendimentos

entre os níveis superior e médio de escolaridade pode ter ocorrido porque a renda média

dos ocupados com nível superior caiu mais do que a renda dos ocupados com nível

médio. O crescimento maior da renda do trabalho de nível médio parece associar-se ao

crescimento real do salário mínimo, uma vez que parte expressiva dos ocupados com

nível médio aufere rendimentos próximos ao mínimo ou no seu entorno. Na literatura

nacional predominam os resultados econométricos em que o capital humano é a

principal variável determinante da distribuição de renda. Entretanto, na literatura

nacional as proxies para o capital humano costumam ser diferentes das adotadas nesse

estudo.

As diferenças entre os rendimentos médios dos ocupados nos serviços e os ocupados

na indústria representadas pela variável proxy LnSegSerInd, correlacionaram-se

positivamente com a desigualdade da renda do trabalho principal e indicam que a

redução nesse hiato de renda entre os dois setores tem capacidade de reduzir a

desigualdade da renda do trabalho. Esse hiato praticamente foi mantido entre 2002 e

2009, situando-se próximo a 12%. Destaca-se que a renda média do trabalho dos

serviços na primeira década de 2000 foi maior que a renda média dos ocupados na

indústria de transformação.

A segmentação formal-informal indicada pela variável proxy LnSegComSem

correlacionou-se positivamente com a desigualdade da renda do trabalho, mostrando

que a redução no hiato salarial entre os ocupados formais e os informais poderá

contribuir para a redução da desigualdade. Apesar do crescimento expressivo do

emprego formal entre 2002 e 2009, os rendimentos médios do trabalho dos ocupados

sem carteira cresceram mais do que os rendimentos médios dos ocupados com carteira,

contribuindo para a queda das diferenças de rendimentos entre o formal e o informal.

Na literatura nacional esse tipo de segmentação formal-informal atrapalhou a queda da

desigualdade da renda do trabalho nos primeiros cinco anos da década de 2000.

Gini = 0,30 + 0,14LnEscSupFund + 0,07LnSegSerInd

R2 aj.= 0,74 (7,8)* (2,2)*

F = 38,3*

Breusch-Pagan = 0,98

Ramsey = 0,14

VIF (média) = 1,05

*significativo a 5%

Substituindo o índice de Theil pelo índice de Gini como indicador da desigualdade

da renda do trabalho principal, nota-se algumas mudanças nas principais variáveis

explicativas selecionadas pelo critério Stepwise. Contudo, outra variável proxy do

capital humano mostrou-se significativa (LnEscSupFund).Aliás, essa variável

apresentou a maior estatística t, mostrando-se com o maior poder explicativo do

modelo.Uma possível redução no hiato salarial entre os ocupados com nível superior e

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os ocupados com ensino fundamental, no modelo, reduzirá a desigualdade da renda do

trabalho, mas essa redução do hiato pode ocorrer em função da estrutura produtiva

nacional, que expandiu a demanda por trabalho menos qualificado numa proporção

maior do que a demanda pelos mais qualificados. A variável proxy da segmentação

entre os serviços e a indústria de transformação (LnSegSerInd) mostrou-se significativa

para o modelo (a exemplo do que tinha ocorrido no modelo anterior), indicando que as

diferenças dos rendimentos entre os dois setores são importantes para a queda da

desigualdade da renda do trabalho. A compreensão desse tipo de segmentação entre

serviços e indústria requer um detalhamento maior da dinâmica do setor de serviços no

Brasil. No conjunto as variáveis são significativas e alguns dos problemas

econométricos usuais nas regressões não estão presentes no modelo

(heterocedasticidade, multicolinearidade e especificação inadequada). Juntas as duas

variáveis explicativas explicaram 74% do comportamento da desigualdade da renda do

trabalho principal medida pelo Gini.

b) Regressões (combinações aleatórias das variáveis explicativas)

Theil = 0,54-0,16LnRota + 0,14LnSegUrbRur + 0,20LnDiscSexoSup+ 0,03LnVA

R2 aj. = 0,61 (-3,43)* (3,53)* (3,22)* (2,37)*

F = 10,95*

Breusch-Pagan = 0,93

Ramsey = 0,27

VIF (média) = 1,53

*significativo a 5%

Excluidos os problemas mais freqüentes nas análises de regressão

(heterocedasticidade, multicolinearidade e especificação inadequada), nota-se que o

modelo perdeu capacidade explicativa (passando dos quase 75% dos modelos anteriores

para 61% do novo modelo), mas ampliou o número de variáveis explicativas. Além de

ampliar, inseriu variáveis proxies da demanda por trabalho, representativas da

rotatividade no mercado formal do trabalho (LnRota) e do crescimento econômico

(LnVA). A rotatividade correlacionou-se negativamente com a desigualdade, indicando

que talvez sua elevação possa reduzir os maiores salários da economia brasileira e

aproximá-los dos menores, promovendo uma queda da desigualdade da renda do

trabalho principal. Os salários menores foram fortemente influenciados pelo

crescimento do salário mínimo da última década e pelo crescimento econômico nacional

predominantemente gerador de ocupações com rendimentos próximos ao mínimo.

Contudo, a variável indicativa do crescimento econômico (LnVA) apresentou uma

correlação positiva com a desigualdade, indicando que será incapaz de auxiliar na queda

da desigualdade da renda do trabalho nacional. Na literatura nacional há resultados

próximos a esse, que mostram que o crescimento da economia brasileira não costuma

distribuir renda. Essa incapacidade do crescimento econômico brasileiro em promover a

queda da desigualdade da renda do trabalho parece associar-se a estrutura produtiva

nacional que é predominantemente composta por atividades que demandam baixa e

média qualificação do trabalho e acabam estimulando uma forte desigualdade em

relação as poucas atividades mais sofisticadas tecnologicamente, que demandam menos

trabalhadores bem remunerados. O hiato entre os rendimentos dos ocupados urbanos e

rurais representado pela variável LnSegUrbRur mostrou-se significativo nesse modelo,

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sugerindo mudanças regionais nos mercados de trabalho. A discriminação salarial

presente na variável LnDiscSexoSup capta uma parcela muito pequena das múltiplas

formas de discriminação, indicando uma correlação positiva com a desigualdade e

permitindo que se admita que uma redução no hiato de rendimentos entre homens e

mulheres com curso superior poderá reduzir a desigualdade da renda do trabalho no

Brasil.

GINI = 0,58 – 0,08LnRota + 0,12LnSegUrbRur + 0,01LnVA – 0,05LnSegIndAgri

R2 aj. = 0,62 (-3,87)* (4,71)* (2,67)* (-2,54)*

F = 11,4*

Breusch-Pagan = 0,76

Ramsey = 0,66

VIF (média) = 2,59

*significativo a 5%

Nesse último modelo, nota-se que a variável proxy indicativa das diferenças de

rendimentos entre os ocupados na indústria e nos serviços (LnSegIndAgri) substituiu a

variável indicativa da discriminação salarial (LnDiscSexoSup) contida na equação

anterior. A correlação negativa entre a segmentação da indústria e a agricultura

(LnSegIndAgri) sugere que uma ampliação nessa segmentação reduzirá a desigualdade

da renda do trabalho, talvez porque a indústria possa gerar ocupações com maiores

rendimentos. O crescimento econômico representado pela variável LnVA continua

comprometendo a queda da desigualdade da renda do trabalho. A rotatividade no

mercado formal de trabalho também se correlacionou negativamente com a

desigualdade, conforme esperado teoricamente. Cabe destacar que esse indicador de

rotatividade ainda não capta com maior precisão a ideia teórica central: espera-se que a

rotatividade dos maiores salários reduza a massa salarial dos decis superiores da

distribuição de renda do trabalho; no indicador de rotatividade incluído no modelo não

há essa especificidade dos maiores salários, incluindo todos os níveis de rendimentos.

Em suma, os modelos sugerem mudanças nos mercados de trabalho no Brasil.

Mudanças regionais, na discriminação, na demanda por trabalho e no capital humano.

Talvez essas mudanças não sejam suficientemente captadas por modelos

uniequacionais. As duas regressões Stepwise excluíram as duas variáveis proxies da

demanda por trabalho (rotatividade e crescimento econômico). As outras duas

regressões (com combinações aleatórias) incluíram outras variáveis explicativas

significativas, com destaque para as representativas da demanda por trabalho

(rotatividade e crescimento econômico).

Considerações finais

A primeira década de 2000 apresenta uma queda da desigualdade da renda do

trabalho no Brasil, trazendo a necessidade de se identificar os condicionantes dessa

queda. Metodologicamente optou-se por uma tentativa de interação entre algumas

variáveis indicativas da demanda por trabalho com variáveis representativas da oferta de

trabalho. Essa opção justifica-se porque a renda do trabalho é fortemente influenciada

pela dinâmica do mercado de trabalho nacional, que depende dessa interação.

Naturalmente que os resultados obtidos não são muito robustos porque foi selecionado

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apenas um ano da primeira década de 2000, impedindo um acompanhamento dinâmico

ao longo desse período.Além dessa fragilidade, é importante destacar que a inclusão da

rotatividade nos testes ainda é experimental, uma vez que não foram encontrados na

literatura testes que a incluam, ligando-a a desigualdade da renda do trabalho. Contudo,

há na literatura nacional evidências que indicam que essa mesma rotatividade, no

mercado formal de trabalho, costuma reduzir os salários.

Os testes indicaram que o crescimento econômico não contribuiu para a queda da

desigualdade da renda do trabalho, ao contrário, ampliou a desigualdade. Esse resultado

pode ser explicado pelo fato de que as atividades produtivas que geralmente contribuem

para o crescimento econômico nacional são as mais desiguais. Ou seja, as maiores taxas

de crescimento ocorrem nas atividades com as piores distribuições da renda do trabalho,

caracterizando o crescimento nacional como desfavorável aos menores rendimentos do

trabalho. Outra possível explicação para o crescimento econômico nacional não

favorecer a distribuição da renda do trabalho, diz respeito a estrutura produtiva nacional.

Essa estrutura é predominantemente tradicional e possui poucas atividades geradoras de

empregos de maior remuneração. Sendo assim, o crescimento econômico gera mais

empregos e ocupações com rendimentos baixos e médios e poucos empregos com

maiores salários, propiciando a queda da desigualdade da renda do trabalho, uma vez

que esses menores salários se aproximam dos maiores em função da elevação do salário

mínimo e da criação de empregos e ocupações próximos a esse salário base da

economia.

A rotatividade mostrou-se significativa apenas em dois dos quatro modelos,

justamente nos modelos com variáveis explicativas combinadas aleatoriamente. A

correlação negativa entre a rotatividade e a desigualdade da renda do trabalho mostra

que enquanto a rotatividade aumenta e desigualdade cai. Essa correlação negativa pode

ser interpretada (de forma exploratória) como decorrente da redução de alguns

rendimentos pela rotatividade, promovendo uma aproximação com os menores

rendimentos e gerando uma queda da desigualdade da renda do trabalho. Vale destacar

que o indicador de rotatividade utilizado refere-se apenas ao emprego formal. A

rotatividade do emprego formal mostra que há flexibilidade no mercado formal de

trabalho no Brasil.

Nas duas regressões Stepwise dois indicadores de capital humano mostraram-se

significativos, mas não podem ser interpretados como decorrentes de um amplo avanço

produtivo e educacional, porque sugerem que houve uma aproximação dos rendimentos

dos ocupados de menor escolaridade (médio e fundamental) com os de maior

escolaridade, em função de um baixo crescimento da renda dos ocupados com nível

superior. Os ocupados de nível médio ampliam sua participação na estrutura

ocupacional. Esses resultados para o capital humano são compatíveis com uma demanda

por trabalho concentrada nos níveis medianos de escolaridade, incapaz de promover

uma expressiva modernização na estrutura ocupacional nacional. Nessas mesmas

regressões Stepwise tiveram destaque a segmentação entre os rendimentos dos serviços

e da indústria, indicando que uma redução no hiato salarial entre serviços e indústria

ajudará na queda da desigualdade da renda do trabalho. Contudo, no período de 2002 a

2009, esse hiato salarial entre os dois setores praticamente ficou inalterado. A variável

representativa da segmentação formal-informal mostrou-se significativa em um dos

modelos Stepwise, indicando que uma redução no hiato de rendimentos entre os

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ocupados com carteira e os sem carteira poderá contribuir para a queda da desigualdade

da renda do trabalho.

As mudanças regionais nos mercados de trabalho urbanos e rurais auxiliam na

compreensão da segmentação urbano-rural e sugerem que a diminuição nos hiatos de

rendimentos entre os ocupados urbanos e rurais contribuirá para a queda da

desigualdade da renda do trabalho. Para as duas variáveis dependentes (Theil e Gini) a

segmentação urbano-rural mostrou-se significativa, indicando a necessidade de se

avaliar a hipótese de integração regional entre alguns mercados de trabalho. A

segmentação entre os rendimentos da indústria e da agropecuária também mostrou-se

significativa em um dos modelos, mostrando que uma ampliação do hiato de

rendimentos entre os ocupados na indústria e na agropecuária poderá contribuir com a

redução da desigualdade de renda do trabalho, mas não pode ser interpretado como um

avanço significativo dos mercados de trabalho agropecuários no Brasil ,que ainda

mantém ocupações de baixa remuneração e forte sazonalidade do trabalho. A correlação

negativa entre a segmentação indústria-agropecuária sugere que a desigualdade da renda

do trabalho poderá cair mesmo com os rendimentos agropecuários se afastando da

indústria.A discriminação “salarial” por sexo, controlada por escolaridade (nível

superior), também mostrou-se significativa, embora o controle por escolaridade seja

insuficiente para isolar,das diferenças salariais entre homens e mulheres, o efeito

discriminação a exemplo do que faz a técnica OAXACA-BLINDER. Contudo, o

resultado para a discriminação por sexo indica que a redução das diferenças salariais

entre homens e mulheres com curso superior pode contribuir para a queda da

desigualdade da renda do trabalho. Cabe outra consideração sobre a discriminação: as

múltiplas formas de discriminação ocorrem também fora do mercado de trabalho e

ortanto precisam ser captadas por outras metodologias que vão além desse estudo.

Sintetizando os resultados teóricos e empíricos, nota-se que talvez a desigualdade da

renda do trabalho no Brasil seja multidimensional e para ser compreendida um pouco

melhor necessitará de outras ferramentas. Os indicadores da demanda por trabalho e da

oferta de trabalho que se destacaram nos modelos, além de associarem-se a

desigualdade da renda do trabalho, também trazem consigo algumas perguntas, tais

como: a rotatividade não é algo defensável em economia do trabalho e como sua

elevação poderá reduzir a desigualdade? ; o crescimento econômico nacional, além de

relativamente reduzido na última década, poderá ampliar a desigualdade da renda do

trabalho? ; a discriminação por sexo só se reduziu para os ocupados com curso superior?

; as diferenças nos rendimentos entre os ocupados na indústria e na agropecuária

mostram que os mercados de trabalho estão se integrando? Naturalmente que os

modelos são tentativas de se simplificar a realidade, mas suas limitações e restrições

também fornecem outros caminhos. Ampliar e diversificar os testes e a base teórica

serão muito úteis na compreensão desse fenômeno que possui desdobramentos sociais,

econômicos e políticos. Os resultados exploratórios apresentados são apenas uma

tentativa de se adicionar algumas “gotinhas” nesse oceano de possibilidades.

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ECONOMIA CRIATIVA E TRABALHO NO BRASIL

Anita Kon40

"...[a] gama maravilhosa de culturas que já surgiram sobre a

terra testemunha o fabuloso potencial da inventividade do

homem. Se algo sabemos do processo de criatividade cultural é

exatamente que as possibilidades do homem são insondáveis"

(Furtado 1978, p. 73).

1. Introdução

A economia criativa tem sido foco de discussões internacionais, sob o estímulo

de instituições como a UNCTAD (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o

Desenvolvimento), o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e

a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Esta

nova abordagem serve de eixo estratégico de desenvolvimento para diversos países no

século XXI, particularmente após as crises econômicas internacionais, pelo fato de

apresentar possibilidades de aproveitamento de recursos específicos das sociedades para

a geração de emprego e renda, conduzindo a novas soluções para a retomada do

crescimento.

A sociedade brasileira é reconhecida pela sua diversidade cultural e potencial

criativo, no entanto sua indústria criativa figura nas pesquisas internacionais como

estratégia de planejamento ainda em formação. A preocupação pelo aproveitamento da

potencialidade da Economia Criativa no Brasil é muito recente e oficialmente tem sido

estimulado pelas políticas públicas, a partir da criação da Secretaria da Economia

Criativa (SEC) em 2011, como agência do Ministério da Cultura (MinC), tendo como

missão:

“conduzir a formulação, a implementação e o monitoramento de políticas

públicas para o desenvolvimento local e regional, priorizando o apoio e o

fomento aos profissionais e aos micro e pequenos empreendimentos criativos

brasileiros. O objetivo é contribuir para que a cultura se torne um eixo

estratégico nas políticas públicas de desenvolvimento do Estado brasileiro”

(Brasil, 2012, p. 39).

O primeiro Plano de Gestão da Economia Criativa da SEC foi lançado para o

período de 2001 a 2014 e em fevereiro de 2012 foi instituído o Observatório Brasileiro

da Economia Criativa (OBEC), como instância responsável pela produção e difusão de

pesquisas, dados e informações sobre a economia criativa brasileira, e ainda pelo

estímulo ao debate. O Plano da SEC visa a implementação de políticas públicas

transversais dirigidas a setores do poder público, da iniciativa privada e da sociedade

civil, tendo como ponto de partida a construção de marcos conceituais e de princípios

norteadores para fundamentar a institucionalização de uma política nacional voltada

para o estímulo da indústria criativa no país.

As crises em diversos âmbitos vividas pelo país sejam sociais, econômicas,

ambientais e culturais, exprimem a necessidade de rever e reformular o modelo de

desenvolvimento até então aplicado. Como já salientava Celso Furtado em seu livro

40 Professora Titular da PUC/SP. Coordenadora do Grupo de Pesquisas em Economia

Industrial, Trabalho e Tecnologia do Programa de Estudos Pós-Graduados em economia

Política da PUC/SP.

Page 66: Anita Kon (PUC/SP) Luiz Guilherme de Oliveira (FATEC ... · Trabalho, Economia Industrial e Tecnologia, Economia da Serviços e Atuária e Economia da Sustentabilidade. A mesa de

66

“Criatividade e Dependência na Civilização Ocidental” (1978), desenvolvimento está

relacionado à ideia de Criatividade. A saída para problemas estruturais e conjuntais da

economia brasileira constitui um desafio para a inventividade que conduza à geração de

um excedente econômico que impulsione a retomada do desenvolvimento.

Este artigo apresenta uma análise do perfil da Indústria Criativa no Brasil,

mostrando seu potencial de desenvolvimento e as possibilidades de aproveitamento par

a geração de renda e emprego voltados para o impulso à retomada de crescimento no

país.

2. Conceitos e objetivos da Economia Criativa

Desde a década de 2000, vem sendo discutida internacionalmente a noção teórica

de “Economia Criativa”41, como geradora de desenvolvimento econômico, funcionando

como impulsora de economias desenvolvidas e em desenvolvimento à medida que as

economias trocam empregos altamente baseados em capacidades de operacionalizar

técnicas físicas de engenharia produtiva ou baseadas em tarefas físicas repetitivas, por

empregos que requerem capacidades intelectuais de análise e de julgamento. O

surgimento deste novo conceito de Economia Criativa foi usado inicialmente no

Relatório Australiano de 1994 Creative Nation e a noção de Indústrias Criativas

começou a ser discutida em 1997.

Estes conceitos foram posteriormente melhor desenvolvidos na Inglaterra e

refletem as mudanças que estão ocorrendo na economia global, como visto

anteriormente, em que as economias cujo crescimento é centrado na produção de bens,

passam a dar espaço para crescimento impulsionado por setores de serviços. Estas

atividades criativas abrangem empresas que exploram a propriedade intelectual

originada na criatividade, como motriz para a geração de riqueza e trabalho,

ocasionando efeitos em setores correlatos e adquirindo influência como agente de

mudanças sociais, políticas e educacionais de sua sociedade.

O termo indústria cultural é muito utilizado como representando a indústria

criativa, se refere a indústrias, que combinam a criação, produção e comercialização de

conteúdo criativo que são de natureza cultural e intangível. Seus conteúdos são

tipicamente protegidos por copyright e podem tomar a forma de um bem material ou um

serviço. As indústrias culturais, de uma forma geral, incluem atividades de imprensa,

editoras e multimídia, audiovisuais, produções fonográficas e cinematográficas e ainda

artes e desenho gráfico. O termo indústrias criativas abrange uma série mais ampla de

atividade que inclui não só as indústrias culturais, mas também toda produção cultural e

artística produzida por uma unidade individual. Assim, as indústrias criativas são

aquelas que o produto ou serviço contem um elemento substancial de conteúdo criativo

e inclui também atividades como arquitetura e publicidade (Kon, 2014).

Dessa forma, a diversidade destes segmentos não deve mais ser compreendida

apenas em seu contexto de produto a ser valorizado, mas como um ativo econômico

tangível ou intangível fundamental para uma nova compreensão do desenvolvimento,

que possibilita construir alternativas e soluções para novos empreendimentos, para um

41 Outras terminologias são aplicadas ao mesmo conceito: Indústrias Criativas; Economia da

Experiência; Economias Criativas; Economia da Criatividade; Economia Púrpura; Economia do

Significado; Cidades Criativas; Distritos criativos; e Criaticidade.

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67

novo trabalho e para novas formas de produção de riqueza, também através do efeito

multiplicador de geração de valor e trabalho que difunde para o resto da economia.

O Relatório sobre Economia Criativa da ONU mostra que durante a erupção da

crise financeira e econômica mundial de 2008, houve uma queda na demanda global e

uma contração de 12% do comércio internacional. No entanto, as exportações mundiais

de bens e serviços criativos continuaram a crescer em uma taxa média anual de 14%

desde 2002. Segundo a publicação, isto é uma confirmação de que as empresas criativas

possuem um potencial para os países em desenvolvimento que procuram diversificar

suas economias e buscam setores mais dinâmicos para participarem da economia

mundial (UN, 2010).

Para a UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development), a

economia criativa é um conceito em evolução, baseado em ativos intangíveis que tem o

potencial de gerar crescimento e desenvolvimento econômico: pode estimular a geração

de renda, criação de empregos e ganhos de exportações, ao mesmo tempo em que

promove a inclusão social, a diversidade cultural e o desenvolvimento humano.

Compreende aspectos culturais e sociais que interagem com a tecnologia, propriedade

intelectual e objetivos de turismo. É um conjunto de atividades econômicas baseadas no

conhecimento, com uma dimensão de desenvolvimento e de inter-relações em níveis

micro e macroeconômicos na economia como um todo. Consiste, dessa forma, em uma

opção factível de desenvolvimento, através da inovação, com respostas de política

pública multidisciplinar e ação interministerial. No cerne da economia criativa estão as

indústrias criativas (UNCTAD, 2011, pg. xxiv).

A criatividade pode ser definida também como o processo pelo qual as ideias são

geradas, conectadas e transformadas em coisas e produtos tangíveis ou intangíveis que

possuem valor, ou seja, criatividade é o uso de ideias para produzir novas ideias. A

ONU salienta que o debate conceitual não deve confundir criatividade com inovação,

pois são dois meios diferentes, no entanto a inovação possui um elemento de

criatividade, ou seja, criação ou renovação de algo a partir de nada ou a partir de ideias.

Na atualidade o conceito de inovação, como será visto posteriormente, tem sido

ampliado para além da natureza científica e tecnológica, envolvendo também mudanças

estéticas, artísticas e outras intangíveis (UN, 2010, p.4).

Na atualidade a definição mais citada de economia criativa é a publicada pelo

Departamento de Cultura, Mídia e Esportes (DCMS) da Inglaterra:

“those industries which have their origin in individual

creativity, skill and talent and which have a potential for wealth

and job creation through the generation and exploitation of

intellectual property” (DCMS, 1998, p.3).

Este conceito da DCMS (1998), define as indústrias criativas como as que

apresentam requisitos de criatividade, capacitação (skill, no conceito de economia

evolucionária) e talento com o potencial para a criação de empregos e riqueza, através

da exploração de sua propriedade intelectual. Uma complementação deste conceito da

DCMS foi elaborada pela National Endowment for Science, Technology and the Arts

(NESTA) também na Inglaterra, que incorpora a observação das diferenças entre setores

e no interior destes, objetivando extrair elementos comuns entre estes, com base na

forma em que o valor comercial é criado, onde está alocado este valor e,

consequentemente, como pode ser ampliado e ressaltado.

A relevância das empresas criativas pode ser visualizada pela capacidade de alguns

tipos de capital intelectual que possibilitam a tradução de talento criativo, de

informações e outras formas de comunicação em produção efetiva de novos produtos e

serviços ou novas formas de tomada de decisão. Embora as tecnologias de informação e

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68

comunicação tenham importância em todos os setores econômicos, a forma de sua

utilização é dependente da intensidade do capital intelectual de seu operador. A partir

disso, estas empresas são muitas vezes definidas como produtoras e distribuidoras de

bens e serviços que são centrados em textos, símbolos, imagens ou softwares, que

constituem um grupo específico de atividades baseadas em conhecimento, que

usualmente combinam talento criativo com tecnologia avançada, cujo produto pode ser

protegido por direitos de propriedade. Os melhores exemplos destas atividades são as

artes audiovisuais e performáticas, como música, cinema e televisão, videogames,

imprensa e rádio (Greffe, 2006).

Uma característica da economia criativa, particularmente em países em

desenvolvimento, é a alta predominância de sistemas, processos e instituições culturais

informais. Nestes países muitos trabalhadores criativos, incluindo músicos, artesãos,

artistas plásticos e outras formas de arte, bem como desenhistas gráficos e outros

profissionais trabalham em condições de informalidade. A informalidade dá forma à

política econômica das indústrias criativas embora gerem parcela considerável de renda

da economia, sua contribuição para a geração de valor adicionado é de difícil

mensuração e pode prejudicar o diagnóstico governamental para a criação de políticas

públicas adequadas.

Finalmente, é necessário observar-se que durante as duas últimas décadas, as

prioridades de crescimento têm mudado da aquisição de propriedades físicas para a

propriedade intelectual, ou seja, de ativos tangíveis para intangíveis e com a ajuda da

nova atitude em relação à ciência a ecologia criativa está se tornando uma forma

moderna de sustentabilidade, desenvolvimento e gerenciamento dos novos conceitos de

economia criativa, para a retomada da dinâmica econômica mundial, ou seja, o uso da

eco-criatividade trata os recursos naturais de modo diferente de simples consumo

mecânico, ao adotar a poupança criativa destes recursos.

A economia criativa é, portanto, a economia do intangível, do simbólico, que se

alimenta de talentos criativos, organizados individual ou coletivamente para produzir

bens e serviços criativos. Esta nova visão da economia possui dinâmica própria e, por

isso, requer a elaboração de modelos econômicos diferentes dos tradicionais. Seus

novos modelos de negócio ainda se encontram em construção, carecendo de marcos

legais e de bases conceituais adequadas e adaptadas à nova situação econômica

mundial.

3. A indústria Criativa no Brasil

O Plano de Gestão da Economia Criativa da SEC estabelece algumas categorias

culturais e setores selecionados pelo Ministério da Cultura como objetos iniciais de

estímulo das políticas públicas, como apresentados no Quadro 1.

No entanto, a indústria criativa não se resume a estes setores culturais

selecionados, mas inclui também setores de Software, Computação &Telecom, Pesquisa

& Desenvolvimento e Biotecnologia, como relevantes para a criação de renda e

emprego a partir de elementos intangíveis intrínsecos a suas atividades.

A mensuração desta indústria no Brasil ainda é incipiente e escassa desde que a

produção de dados estatísticos mais específicos ainda está na fase de discussões

conceituais e os poucos estudos existentes ainda não definiram uma metodologia que

compatibilizasse as visões diversificadas. Ainda não existe uma Conta Satélite

específica nos levantamentos do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)

para mensurar as atividades e produtos dos setores criativos. Por outro lado, também

não foi definida uma diretriz dos órgãos públicos relacionada à uniformização da

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69

classificação e enquadramento destas atividades econômicas e da força de trabalho

criativas. Algumas instituições empresariais, como a Federação da Indústria do Rio de

Janeiro (FIRJAN), ou governamentais específicas como a Fundação de

Desenvolvimento Administrativo (FUNDAP), fizeram estudos empíricos específicos

baseados em dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), da quantidade de

empreendimentos considerados criativos de acordo com a Classificação Nacional de

Atividades Econômicas (CNAE 2.0) do IBGE e informações da United Nations

Conference on Trade and Development (UNCTAD/ONU, 2012).

Quadro 1. – Categorias culturais e setores selecionados da Economia Criativa no

Brasil

Categorias Culturais Setores

Patrimônio a) Patrimônio Material

b) Patrimônio Imaterial

c) Arquivos

d) Museus

Expressões Culturais e) Artesanato

f) Culturas Populares

g) Culturas Indígenas

h) Culturas Afro-Brasileiras

i)Artes Visuais

j) Artes Digitais

Artes de Espetáculo k) Dança

l) Música

m) Circo

n) Teatro

Audiovisual, Livro, Leitura e

Literatura

o) Cinema e Vídeo

p) Publicações e mídias impresas

Criações Culturais e Funcionais q) Moda

r) Design

t) Arquitetura

Fonte: Brasil, (2012, p. 30).

As informações empíricas aqui apresentadas foram elaboradas a partir destas

fontes de dados disponíveis. No entanto, deve ser destacada que as estimativas e

análises apresentadas em sequência não representam a real dimensão, a potencialidade e

a relevância da indústria criativa brasileira. Deve ser levado em conta ainda que o alto

grau de informalidade destas atividades ainda não foi devidamente estudado e grande

parte da produção e circulação doméstica de bens e serviços criativos nacionais não

é

incorporada de forma explícita nos relatórios estatísticos. Fica em aberto, portanto,

um estudo complementar que enfoque estas ocupações e setores informais, através da

disponibilidade de dados do IBGE.

Diante do reconhecimento por alguns especialistas de que a cultura também gera

um montante não desprezível de renda, emprego e receita de exportações, uma das

primeiras estimativas de mensuração da indústria criativa brasileira foi efetuada em

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70

2004, quando o Ministério da Cultura o Ministério da Cultura solicitou um mapeamento

nacional para identificar o tamanho do setor cultural do país. Esta pesquisa coletou

informações de mais de 320.000 negócios culturais, concluindo que as indústrias

culturais eram responsáveis por 1,6 milhão de empregos, 5,7% do total de negócios e

4% da mão de obra do país de 2003-2005. Porém, a pesquisa se ressentiu da falta de

indicadores nacionais sobre a oferta, a demanda e o acesso aos produtos e serviços

culturais, o que foi uma limitação para a formulação de políticas culturais (UNCTAD,

2014).

A FIRJAN realizou um estudo empírico mais amplo, cujos resultados foram

publicados em 2008, para definir a cadeia da Indústria Criativa brasileira, visando

estimar sua relevância econômica. Esta cadeia foi definida por três esferas, a saber, o

Núcleo, composto por 12 setores líderes, cujo principal insumo é a criatividade; as

Atividades Relacionadas, envolvendo segmentos de provisão direta de bens e serviços

ao núcleo, em grande parte formado por indústrias e empresas de serviços fornecedoras

de materiais e elementos fundamentais para o seu funcionamento; e as Atividades de

Apoio, que engloba ofertantes de bens e serviços de forma mais indireta.

O estudo mostrou que em 2006 os 12 setores do Núcleo, juntamente com as

Atividades de Apoio foram responsáveis por 21,8% (7,6 milhões de pessoas) do total de

empregos formais do país, contribuindo para 16% do PIB nacional (Tabela 1).

Considerando-se apenas as atividades do Núcleo, são empregados 638 mil trabalhadores

nas atividades formais, que correspondem a 1,8% do total de trabalhadores. A Indústria

de Transformação, fornecedora de insumos e bens finais ao núcleo criativo, empregou

67% dos trabalhadores das Atividades Relacionadas. Por outro lado, os trabalhadores do

Núcleo desta cadeia são em média mais bem remunerados que a média nacional, ou

seja, 42% superior a esta média.

Tabela 1 - Indicadores de Trabalho da Economia Criativa - Brasil, 2006

Setores

Criativos

Número

de

Trabalhadore

s (em mil)

Número de

Estabeleciment

os (em mil)

Renda

do

Trabalho

Renda

por

Trabalhado

r (R$)

Trabalhador

es por

Estabeleciment

o

(R$

milhões)

Núcleo e Ativ.

Apoio

Arquitetura 3.305,

40

386,5 2.642,30 799 8,6

Moda 2.320,

90

302,6 1.513,80 652 7,7

Design 704 70,8 812,1 1.154 9,9

Software 431,9 48,5 695,3 1.610 8,9

Mercado

Editorial

371,3 52,5 408,8 1.101 7,1

Televisão 127,6 9,3 210 1.646 13,7

Filme e Vídeo 120,4 20,4 107,8 895 5,9

Artes Visuais 82,3 2,9 132,2 1.606 28,3

Música 74,5 9,3 71,1 954 8

Publicidade 54,4 6 83 1.526 9

Expressões

Culturais

44,2 9,6 32,7 739 4,6

Artes Cênicas 11,5 2,3 11,6 1.013 5

Total 7.648,40 920,8 842,68 879 8,3

Parcela sobre o

total da economia

nacional (%)

21,80

32,50 16,30 75,10 66,90

Total da

Economia Nacional

35.155

2.834 41.117 1.170 12,4

FONTE: RAIS 2006. Elaboração da FIRJAN (2008).

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71

As estimativas mostram que em 2006, a cadeia criativa total brasileira

correspondia a cerca de 16,4% do PIB nacional, dos quais o Núcleo correspondeu a

2,6%, as Atividades Relacionadas a 5,4% e as de Apoio a 8,4%. Dos setores líderes, a

Arquitetura, Moda e Design juntos representam 82,8% do mercado de trabalho criativo,

82,5% dos estabelecimentos e 73,9% da massa salarial.

A evolução da indústria criativa após 2006 foi superior à da média nacional.

Observa-se no Gráfico 1. Com remuneração e empregados crescendo acima da média,

as atividades do núcleo criativo ganharam maior representatividade na economia

nacional. Enquanto em 2006 respondiam por 2,4% do PIB, em 2009 alcançaram

participação de 2,5%. Em termos nominais, o núcleo da indústria criativa movimentou

R$ 93 bilhões na economia brasileira em 2010.

A renda média dos trabalhadores brasileiros do núcleo da indústria criativa

passou de R$ 1.663 em 2006 para R$ 2.296 em 2010, o equivalente a um

crescimento real de 13%. Para efeito de comparação, a renda média do

trabalhador brasileiro cresceu 11% nesse período. As atividades de Televisão & Rádio

continuaram como as que melhor remuneram seus empregados, com salário médio de

R$ 2.757 neste último período.

Gráfico 1 Taxa de Formalização na Economia e nos Setores Criativos, Brasil,

2006-2010

Fonte: FIRJAN (2011). Elaboração própria.

No núcleo da economia criativa formal, o número de trabalhadores n o total no

Brasil saltou de 599 mil para 771 mil entre 2006 e 2010, se elevando em média,

8,5% ao ano nesse período (ou 29% em quatro anos), ritmo mais acelerado que

o mercado de trabalho brasileiro em geral (5,8% a.a. ou 25% no período). N o

c o n t e x t o g l o b a l , os empregados no núcleo criativo representaram em 2009

1,75% do total dos trabalhadores brasileiros, ante 1,70% em 2006, elevação que

pode não ser considerada significativa ante as potencialidades da força de trabalho

brasileira, porém é necessário salientar-se que correspondeu ao período de crise

mundial, quando no Brasil em 2009 verificou-se decréscimo da evolução da economia

(Gráfico 2).

Por sua vez, a contribuição ao PIB dos setores criativos no Brasil em 2010

correspondia 2,84% do PIB global, um valor não desprezível de R$ 104,37 bilhões,

compreendendo setores de grande dinamismo econômico que geram um valor

adicionado superior a algumas atividades econômicas, como a indústria extrativa e a

indústria de produção e distribuição de energia elétrica, água, esgoto e limpeza urbana.

50

60

70

2006 2010Economia Set. Criativos

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72

Gráfico 2 Emprego formal na Economia e nas atividades criativas do Brasil,

2006-2009

Fonte: : FIRJAN (2011). Elaboração própria.

O crescimento anual do setor criativo nos anos de 2006 a 2010 não foi baixo

(6,13% ao ano) sendo maior que o crescimento médio anual do PIB (4,3%),

evidenciando a necessidade de melhor exploração de suas possibilidades, desde que

existe uma tendência deste setor ganhar maior relevância econômica na geração do PIB

(FIRJAN, 2012 p.30).

Pesquisa da FUNDAP (2011) para diagnosticar a economia criativa no

Município de São Paulo, para dados de 2009, permitiu visualizar-se primeiramente

quais atividades se destacam no núcleo de emprego formal no país e na cidade, com

base nas informações da Relação Anual de Informações Sociais – Rais do Ministério

do Trabalho e Emprego. Mostrou que algumas atividades apresentam relativamente

localmente maior concentração de emprego do que o país (Gráfico 3).

Observe-se que o segmento de I n f o r m á t i c a ( Software e Computação)

apresentou o maior saldo de contratações formais no período (86 mil novos

empregados), s i t u a n d o - s e como maior empregador do país dentre as atividades

do núcleo criativo (328 mil empregados em 2010). Por outro lado, o segmento de

Música apresentou saldo de demissões nesse período (1.300 postos de trabalho

fechados), sobretudo nas atividades de gravação de som e edição de música.

Gráfico 3 Distribuição Setorial do Trabalho Formal em Atividades e Ocupações

Criativas - Brasil e Município de São Paulo, 2009(em %)

A pesquisa mostrou ainda que a queda da representatividade no número de

unidades criativas em relação ao total de unidades locais no período de crise de 2009, se

30000

35000

40000

45000

2006 2007 2008 2009Ativ criativas Economia

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73

verificou no Brasil e em quase todas as agregações regionais de São Paulo, com exceção

do Município de São Paulo (Gráfico 4).

Gráfico 4 -Participação do Número de Unidades Locais Criativas no Total das

Unidades Locais

Brasil, Região Sudeste, Estado de São Paulo, RMSP e Município de São Paulo -

2006-2009

Fonte: FUNDAP (2011). Elaboração própria.

No que se refere ao trabalho informal, a FUNDAP, fez estimativas a partir das

informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), observando que

no Brasil, o número de empregos formais e informais nas atividades criativas, entre

2006 e 2009 passou de 87,2 milhões para 91,6 milhões, uma variação de 5% e

corresponde em 2009 a cerca de 3,5% do total do trabalho formal e informal do país,

4,7% na região Sudeste e 5,2% no Estado de São Paulo.

Gráfico 5 - Distribuição do emprego formal e informal nas atividades criativas

- Brasil e SP, 2009

Fonte: FUNDAP (2011). Elaboração própria

O Gráfico 5 permite observar adicionalmente que a representatividade do setor

Informal no Brasil é relativamente superior à de São Paulo do que nas atividades

formais reafirmando a forte concentração de trabalhadores criativos nesta região. A

análise segundo unidades da federação confirma esta concentração do Estado em

relação aos demais pesquisados (Gráfico 6). Em São Paulo a participação do trabalho

criativo na Indústria

0

1

2

3

4

Brasil Sudeste Estado SP RMSP MunicípioSP

2006 2009

0

1.000.000

2.000.000

3.000.000

Formal Informal

753.178

2454313

296.231669164

Brasil Estado de SP

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Gráfico 6 Participação de trabalhadores da indústria criativa no total do Brasil,

segundo setor econômico e unidade da federação, 2010

FUNDAP (2011). Elaboração própria.

corresponde a 27,5% do total do Brasil nestas atividades, enquanto no comércio é de

29,8% e nos serviços de 37%. Apenas no Rio de Janeiro parcela do trabalho industrial

também é relativamente inferior à dos demais setores, respectivamente de 6%, 9,5% e

13,7% 3 o contrários ocorrendo nas demais regiões. Por sua vez, observando-se

separadamente a distribuição do trabalho entre setores no total destas atividades do país,

a indústria participa com 471%, o comércio com 27,6% e os serviços com 25,2%

(Gráfico 7).

Gráfico 7 Participação de trabalhadores da economia criativa segundo setor

econômico por unidade da federação, 2010

FUNDAP (2011). Elaboração própria

Esta distribuição apresenta um padrão semelhante em todas as regiões pesquisadas,

verificando se no Ceará e em Santa Catarina a maior concentração na Indústria.

Os dados recentes mostram que as pessoas que exerciam ocupações formais nos

setores criativos em 2010 correspondiam a 8,54% dos empregos formais no Brasil,

considerando-se toda a cadeia produtiva e as ocupações formais no Núcleo dos setores

criativos correspondiam a 1,96% do total de trabalhadores formais. Por sua vez a renda

média destes trabalhadores formais no Núcleo foi de R$ 2.293,64, que situou-se 44%

acima da média da renda dos trabalhadores formais do Brasil (R$ 1.588,42). Note-se

que, para cada emprego gerado neste Núcleo há um efeito multiplicador para

os outros segmentos econômicos da cadeia produtiva., ou se ja para cada

emprego gerado no núcleo, há 4 empregos em atividades relacionadas2 ao

setor. No entanto este efeito pode ser ainda maior caso se considere o setor

informal que não entra no cômputo destas estatísticas (FIRJAN, 2011).

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

Indústria Comércio Serviços

0,0

50,0

100,0

Indústria Comércio Serviços

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75

A pesquisa da FINJAN mostra que o número de empresas que atuam no

núcleo dos setores criativos corresponde a 1,88% do total do país e se

caracterizam pela prevalência de empresas de pequeno porte, com uma média de

empregado por setor de 13,7, superior à média de 2006 que era de 8,3. O país

tem exportado a produção da economia criativa e as exportações de bens e de

serviços criativos em 2010 foram respectivamente de US$ 1,222 milhões e de

US$ 6.331 milhões, que embora em relação ao resto do mundo represente valores

pequenos, estes não são desprezíveis para o país e existe um espaço considerável

para a ampliação destas vendas ao exterior.

As estimativas mais recentes sobre o panorama do trabalho formal na economia

criativa brasileira em 2011, como visualizado na Tabela 2, mostram crescimento

considerável no número de trabalhadores e na remuneração média do trabalhador em

relação a 2006. Paralelamente ao crescimento anual do PIB do setor criativo de 2006 a

2011 de 6,13% ao ano, observa-se que o trabalho nas atividades criativas também

registrou uma evolução considerável no período, tanto no número de trabalhadores

quando na remuneração média recebida. Observa-se inicialmente que no ano de 2011,

duas novas modalidades de atividades, antes não mensuradas, foram incorporadas ao

Núcleo criativo: Biotecnologia e Pesquisa e Desenvolvimento, cuja remuneração média

é considerável, particularmente nesta última modalidade que se situa no topo dos

ganhos do trabalho.

Por outro lado, a distribuição de trabalhadores entre os segmentos teve uma

transformação relevante, desde que no ano de 2006 mais de 43% dos trabalhadores

formais se incorporavam ao grupo de serviços de Arquitetura e Engenharia e 30% em

Moda, e no período final observado, os demais serviços aumentaram relativamente sua

representatividade, ultrapassando mesmo a participação deste último grupo.

Tabela 2 Indicadores de Trabalho formal da Economia criativa do Brasil, 2006 e

2011

Trabalhadores

Remuneração média

Segmentos Número

Participação

(%) R$

Índice de

Dispersão*

2011 2006 2011 2011 2006 2011

Arquitetura & Engenharia 230.258 43,2 28,4 7.518 3,13 1,60

Publicidade 116.425 0,7 14,4 4.462 0,10 0,95

Design 103.191 9,2 12,7 2.363 0,96 0,50

Software, Comput. eTelecom 97.241 5,6 12,0 4.536 0,82 0,97

Mercado Editorial 49.661 4,9 6,1 3.324 0,48 0,71

Moda 44.062 30,3 5,4 1.193 1,80 0,25

Pesquisa & Desenvolvimento 37.251 - 4,6 8.885 - 1,89

Artes Visuais 32.930 1,1 4,1 2.195 0,16 0,47

Televisão & Rádio 26.004 1,7 3,2 2.015 0,25 0,43

Biotecnologia 23.273 - 2,9 4.258 - 0,91

Filme & Vídeo 20.693 1,6 2,6 1.661 0,13 0,35

Música 11.878 1,0 1,5 1.944 0,08 0,41

Artes Cênicas 9.853 0,2 1,2 2.767 0,04 0,59

Expressões Culturais 6.813 0,6 0,8 939 0,01 0,20

Total 809.533 100,0 100,0

0

2.234,0

0

1,00

1,00

Fonte: FIRJAN (2008 e 2012). Elaboração própria. *Dispersão em relação à média anual que

corresponde à unidade.

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76

Com relação à remuneração dos trabalhadores, além do aumento da remuneração em

termos reais para todas as modalidade, observa-se pelo Índice de Dispersão em relação à

media global destas atividades criativas, uma maior convergência em relação à média, e

as atividades de Arquitetura & Engenharia e Pesquisa& Desenvolvimento auferem

remunerações respectivamente 60% e 89% acima da média. Os serviços relacionados à

Moda, que em 2006 registravam remunerações 80% acima da média, em 2011

mostraram relativamente uma queda considerável na média, tendo em vista que o

aumento considerável de atividades e trabalhadores neste segmento se verificou de

maneira a expandir as empresas menores que produzem artigos mais populares em

regiões mais afastadas dos polos econômicos. Estes resultados revelam a dinâmica

favorável da economia criativa e as potencialidades de aumento da contribuição dos

segmentos criativos à geração de trabalho, bem como a incorporação de outros setores

criativos à cadeia criativa.

4. Considerações finais: desafios para as políticas públicas

A preocupação com o desenvolvimento de uma economia criativa mais dinâmica no

país é bem recente e as políticas públicas voltadas para o estímulo estas atividades são

bem recentes, com a criação da SEC e ainda em formulação. A contribuição da

economia criativa à geração de trabalho é patente pelas estimativas analisadas e os

desafios da dinamização destes segmentos se colocam para os formuladores das

políticas de apoio.

Inicialmente, para o efetivo conhecimento da realidade e das potencialidades desta

economia, uma das primeiras ações públicas se refere ao levantamento de dados e outras

informações da Economia Criativa no país, de modo a propiciar conhecimento mais

específico e confiável para o diagnóstico da situação e das potencialidades brasileiras,

bem como da adoção de medidas específicas de apoio. Com esta base faz-se premente a

articulação e estímulo ao fomento de empreendimentos criativos, que inclui

prioritariamente a Educação para competências criativas, além da criação de uma

infraestrutura física e regulatória que possibilite a criação, produção, distribuição,

consumo e exportação de bens e serviços criativos. Se dúvida, aspecto determinante será

a criação e adequação de marcos legais para estes setores criativos que permitam o

aproveitamento das potencialidades regionais em espaços mais afastados dos polos

econômicos do país, possibilitando maior convergência regional.

Page 77: Anita Kon (PUC/SP) Luiz Guilherme de Oliveira (FATEC ... · Trabalho, Economia Industrial e Tecnologia, Economia da Serviços e Atuária e Economia da Sustentabilidade. A mesa de

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Bibliografia

BRASIL, Plano da Secretaria de Economia Criativa. Políticas diretrizes e ações,

2011 a 2014, Ministério da Cultura, Brasília, 2012.

FIRJAN, A cadeia da Indústria Criativa no Brasil, DECON/ FIRJAN, Rio de

Janeiro, 2008.

FIRJAN, Indústria Criativa. Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil, FIRJAN,

Rio de Janeiro, 2012.

FUNDAP, Economia criativa, FUNDAP. São Paulo, 2011.

FURTADO, C. , Pequena introdução ao desenvolvimento: um enfoque

interdisciplinar, Editora Nacional (2ª edição), São Paulo, 1981.

FURTADO, Celso, Criatividade e Dependência na Civilização Industrial, Paz e

Terra, RJ,1978.

GREFFE, Xavier, Creative industries, UN / World Intelectual Property

Orbanization (WIPO), Booklet No. 3, Geneva, 2006.

KON, Anita, A Nova Economia Política dos Serviços, Editora Perspectiva, São

Paulo, 2014 (no prelo).

UNCTAD, Creative Economy a feasible development option, CREATIVE

ECONOMY REPORT 2010, Geneve, 2011.

UNCTAD, Widening Local Development Pathways, CREATIVE ECONOMY

REPORT 2013, Geneve, 2014.

Page 78: Anita Kon (PUC/SP) Luiz Guilherme de Oliveira (FATEC ... · Trabalho, Economia Industrial e Tecnologia, Economia da Serviços e Atuária e Economia da Sustentabilidade. A mesa de

78

Economia Industrial e Tecnologia

A SIMULAÇÃO CRIATIVA: CRIANDO VALOR E TECNOLOGIA PARA

PEQUENAS EMPRESAS E MICROEMPRESAS NO PARQUE

TECNOLÓGICO DE SOROCABA.

Francisco Carlos Ribeiro

Celio Olderigi De Conti

Sergio Moraes

Flaviano Agostinho de Lima

Francisco de Assis Toti

Luiz Carlos Rosa

Resumo:

O presente artigo aponta como a simulação pode criar valor ao empresário. Ao

mesmo tempo aponta como é custoso para o micro e pequeno empresário manter uma

pequena estação de simulação. Por outro lado, ao integrar a universidade, os micro

empreendedores e o poder público no parque Tecnológico de Sorocaba, implantando

estações de simulação no Laboratório da Fatec Sorocaba em seu espaço no Parque

Tecnológico, essas ações não só cumprem a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional, bem como cumpre e corrobora com os objetivos previstos em leis municipais

do que o poder público entende como uma das funções do parque Tecnológico. Ao fazê-

lo permite que os microempreendedores tenham acesso a recursos e simulação que de

outra forma seria muito difícil e permitindo-lhes agregar valor (ou diminuir custos) do

seu empreendimento.

1. Aplicando a simulação e a prototipagem para análise e viabilidade de produto.

No estudo feito por Toti et. al. (2012), como título “Influência da Orientação no

Posicionamento do Modelo 3D Prototipado por Deposição de Material Fundido-FDM”

desenvolvido no Núcleo Avançado na Área de Projetos da Faculdade de Tecnologia de

Sorocaba, apresentado no VII Congresso Nacional de Engenharia Mecânica CONEM

2012), os autores apontam que dependendo do posicionamento do modelo 3D pode-se

obter protótipos com melhor acabamento e menor tempo de construção. (Toti et. al.,

2012).

O objeto do estudo destes pesquisadores foi a prototipagem de mancal de rolamento,

por apresentar uma geometria relativamente complexa, ser bipartido e necessitar de

diversos tipos de processos para sua fabricação. (Toti et. al., 2012). A lógica subjacente

é que geometrias complexas dificultam a prototipagem, os diversos processos geram a

princípio, perdas e por ser bipartido o acabamento se torna imperativo.

Segundo apontam os autores, “

Fatec Sorocaba Fatec Sorocaba Fatec Sorocaba Fatec Tatuí Fatec Sorocaba Fatec Sorocaba

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79

O modelo 3D do mancal foi construído no software

SolidWorks® versão 2011 em arquivo prt. Posteriormente,

esse arquivo foi trabalhado a sua resolução e exportado no

formato STL para o software Catalyst EX, da máquina de

prototipagem rápida Dimension modelo SST 678. (Toti et.

al., 2012 p. 1)

Observou-se nesse estudo que conforme o posicionamento do modelo face a

seus eixos de construção consome-se menos material para a confecção do suporte,

menos tempo de prototipagem além de melhor acabamento.

Menos material utilizado na prototipagem, menos horas despendidas e melhor

acabamento representam respectivamente menores custos médios e menores custos de

retrabalho (acabamento posterior ou corretivo) que, novamente impactará o custo

médio. Portanto como podemos perceber, até a maneira que se produz um protótipo

pode influenciar na produtividade industrial.

1.2.– Simulação como experimento de produto.

A simulação criativa quer seja através de softwares como, CAD/CAE/CARP/CAM

(Computer Aided Design/Computer Aided Engineering/Computer Aided Rapid

Prototyping/Computer Aided Manufacture) bem como outros aplicativos de realidade

virtual, permite testar protótipos e produtos de maneira a evitar dispêndios com a

produção de muitos protótipos físicos e criar situações de testes, virtualmente

elaborados de maneira a economizar muito protótipos para teste que implicam gasto de

material e mão de obra e ás vezes, serviços externos de acabamento.

Segundo Valério Netto, et. al. (1998, p. 105), TEMOS QUE:

Visando buscar novas formas de obter uma melhoria organizacional e

propiciar uma modernização do sistema produtivo da empresa, a

simulação de equipamentos, treinamento de funcionários, validação do

planejamento da produção, visualização de layouts de fábricas e

protótipos de produtos estão sendo utilizados com o auxílio da realidade

virtual.

Ainda tais autores apontam que:

Na área de jogos de entretenimento encontramos muitas aplicações da

realidade virtual, mas já verificamos que empresas na área de manufatura

também têm adotado os recursos de realidade virtual como uma forma mais

acessível financeiramente de projetar o futuro ou uma maneira mais eficaz de

vender seus produtos, mais rápida de validar seus protótipos e como uma outra

forma para treinar seus funcionários, ou alunos (VALERIO NETTO et al.,

1997). A RV tem contribuído para aprimorar o desempenho de técnicas em

muitas áreas, gerando principalmente mais flexibilidade às ferramentas visuais.

(VALERIO NETTO et. al., 1998 p. 107)

Também os autores discutem o uso de simulações na manufatura

especificamente como apontado abaixo:

Alguns artigos (Intelligent Manufacturing, 1995; KREITLER et al.,

1995; Simulation Based Design, 1997) citam as vantagens e facilidades

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de se utilizar a realidade virtual na indústria, principalmente na área de

manufatura, por exemplo (EXHIBITORS, 1997):

projetar máquinas que podem ter suas propriedades

estruturais avaliadas e testadas; desenvolver uma ergonomia

funcional e confiável, sem ter que construir um modelo em escala

real;

projetar produtos que possuam design de acordo com a

preferência de cada cliente;

garantir que os equipamentos fabricados estejam dentro

das normas estabelecidas pelos órgãos governamentais; facilitar

operações remotas e controle de equipamentos;

desenvolver e avaliar processos que assegurem a

manufaturabilidade, antes de produzir o produto em escala

comercial; desenvolver planos de produção e schedules e simular

sua correção; educar funcionários em técnicas avançadas de

manufatura, com ênfase em segurança no trabalho.

Alguns trabalhos tratam de aplicações das técnicas de

realidade virtual em projetos de processos de manufatura e

aspectos importantes no desenvolvimento de produtos mais

competitivos. Outro ponto abordado é relativo à eficiência e

qualidade dos projetos desenvolvidos em RV para sistemas de

manufatura (KREITLER et al., 1995, apud VALERIO NETTO,

1998, p. 107).

1.3.O conceito de manufatura virtual.

VALERIO NETTO et. al. (1198) chama a atenção para o conceito de “manufatura

virtual” e de “prototipagem virtual”. Para eles manufatura virtual nada mais é do que a

integração de modelos computacionais que demonstram e representam a estrutura

completa de manufatura, bem como a capacidade desses sistemas projetarem com

inúmeros graus de liberdade os possíveis resultados-situações.

Por outro lado, “prototipagem virtual” mais especificadamente é apontada como

importante uma vez que a realidade virtual permite o desenho de produtos mais

competitivos ao tornar possível analisar a topologia do projeto antes mesmo da sua

construção, tolerância do material (via modelos de simulação) com visões muito

realistas. (VALERIO NETTO, 1998).

Assim, a manufatura virtual permite não só analisar e prever problemas utilizando

inclusive de estudos de probabilidade, simular planos de manutenção preditiva e

corretiva, capacitar funcionários para as mais diversas situações e prototipar

virtualmente inclusive fazendo testes virtuais cuja curva com a realidade está cada vez

mais encostada conforme avançam os softwares sofisticados e computadores com maior

capacidade de processamento.

Mas investir em realidade virtual, em manufatura virtual e em prototipagem, requer

investimentos.

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81

2. Entendendo os pré-requisitos para a simulação criativa com vistas ao Produto.

2.1. O processo.

A multiplicidade de novos processos, o crescente aumento da variedade de

produtos, a diminuição dos ciclos de vida e o aumento da competência exigida pelo

mercado são fatores que exercem pressão na necessidade de se apressar o

desenvolvimento de novos produtos nos estágios de projeto e manufatura do ferramental

necessário. Tal realidade impõe às empresas um conceito de utilização de engenharia

digital, que se caracteriza por um ambiente virtual integrado que possibilite projetar,

desenvolver, simular e gerenciar todas as informações do produto.

De um modo geral, uma automação pode ser obtida com a combinação de modelos

tridimensionais (3D) de um produto gerado no CAD (Computer Aided Design), onde o

arquivo contendo as Features (características geométricas) é transferido para a

simulação no módulo CAE (Computer Aided Enginnering), onde são avaliados por

exemplo, a resistência do produto a determinados esforços que ele possa ser submetido,

em seguida o arquivo pode ser exportado na extensão STL(Standard Triangulation

Language) para o CARP (Computer Aided Rapid Prototyping)onde o produto é

produzido por adição de material polimérico, dentre outros, que após análise e ser for

aprovado, o arquivo pode ser transferido para a etapa final que é a simulação da sua

manufatura no módulo CAM (Computer Aided Manufacture).

O desenho bidimensional (2D) de um produto com geometria complexa requer

para sua fabricação a utilização de vistas e cortes. A solução moderna e econômica é o

emprego de programas computacionais que automatizam o processo de visualização

desses componentes. Desta forma obtém-se uma visão de toda a peça do que se deseja,

podendo-se efetuar ou simular cortes localizados para observação de detalhes

dimensionais, pode-se efetuar cálculos rápidos dos volumes, etc. A visualização

tridimensional de desenhos técnicos de componentes com geometrias complexas pode

ser obtida por intermédio de softwares comerciais denominados CAD.

É recomendável salientar que a simulação do processo com o uso de programas

computacionais torna-se importante, pois evita o procedimento convencional baseado na

técnica da tentativa e erro, muitas vezes utilizados pelas empresas, situação em que uma

peça é retocada diversas vezes até que se produza um componente dentro das

especificações desejadas. Com o uso da simulação pode-se observar antecipadamente os

efeitos das diversas fases do processo.

Portanto, a combinação do desenho técnico (CAD) com o processo de simulação

(CAE) pode reduzir enormemente o custo de fabricação de um componente. Também

com isso espera-se reduzir o tempo de set-up, que é o procedimento operacional até a

produção do primeiro componente aceitável pelo controle de qualidade.

2.1.1. Potencial uso do CAD

A princípio a obtenção dos desenhos das peças a serem fabricadas levava ao uso

de pranchetas e canetas diversas para visualizar a peça. Atualmente com o uso de

sistemas computacionais de edições gráficas, dados pelos sistemas CAD, a produção e a

edição destes desenhos tornaram-se uma tarefa fácil e prática. Tais programas também

possibilitaram a visualização em 3D e a criação de modelos geométricos incorporando

solicitações térmicas ou mecânicas. Observe-se, também, que a visualização de diversos

formatos pelo projetista permite também definir seu plano de fabricação. Tudo isso

aliado a padronização gráfica que permite que vários editores gráficos interpretem um

desenho armazenado num arquivo padrão. A descrição tridimensional de um

componente num sistema CAD, dentro de tolerâncias que atingem 1/10mm, no mínimo,

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82

é fundamental para o uso destas informações para as etapas seguintes: a simulação por

um sistema CAE e a etapa de fabricação do ferramental (CAM).

2.1.2 – Uso Potencial do CAE

Nesta fase são realizadas as etapas de simulação do processo, quando se

visualizam as tensões e deformações, a análise estrutural empregando o método de

elementos finitos, a revisão de diversos aspectos relacionados.

Observe-se que na etapa de simulação são executadas operações de controle de

um projeto estabelecido preliminarmente pelo projetista na etapa de desenho (CAD).

Exemplo de necessidades do CAE. Estes são alguns exemplos da etapa de simulação.

Anteriormente tais etapas eram sempre analisadas em prolongadas e onerosas operações

experimentais. Empregando-se os módulos de simulação podemos também avaliar o

comportamento dinâmico de peças móveis.

Assim sendo, a simulação de uma peça pode determinar as condições para a sua

fabricação final, tratando de otimizar a matéria prima, tempo e ferramental neste

processo. É possível que ocorra um processo interativo entre o desenho e a simulação

até a otimização final do projeto. 42

2.2.Célula Básica para Desenvolvimento de Produto com Auxílio Computacional

2.2.1 Configuração Standard

A configuração standard descreve um módulo computacional básico que suporte

do ponto de vista de hardware e software os elementos mínimos necessários, que

configurem uma instalação operacional a ser utilizada nas operações de CAD e CAE em

uma empresa iniciante no conceito de utilização de engenharia digital. Ela se caracteriza

por um ambiente virtual integrado que possibilita projetar, desenvolver, simular e

gerenciar todas as informações do produto.

2.2.2.1 Servidor de arquivo

É aquele que armazena e disponibiliza arquivos para os outros Micros na Rede

Local. É possível configurá-lo de forma que faça exclusivamente backup de dados,

compartilhamento de arquivos ou de armazenamento de dados.

2.2.2.2 Plataforma de software

Composto de um sistema operacional bem como de todos os programas

específicos que serão necessários para que a estação opere nos moldes planejados.

2.2.2.3 Plataforma de hardware

42 Nesse estudo não entraremos na discussão do CAM. Mas se fôssemos continuar a

discussão, seria a mesma completada com a seguinte explicação: “Após a otimização do projeto

da peça (CAD) com um rigoroso acompanhamento da análise sobre o efeito das variáveis no

processo (CAE) passa-se a etapa de fabricação do componente (CAM). A construção por

intermédio de máquinas de usinagem com controle numérico (CNC) necessitam de informações

transmitidas diretamente da área de projetos onde as superfícies ou volumes foram precisamente

descritas por intermédio de modelos matemáticos via CAD 3D. Da mesma forma as máquinas

de usinagem também necessitam disponibilizar de um sofisticado sistema CAD/CAM 3D para

receber os dados e iniciar a operação de usinagem. O sistema CAD não trabalha completamente

automatizado e sempre é necessário técnicos especializados e altamente treinados”

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Uma prática muito comum em empresas é a aquisição de um servidor, que

irá armazenar todos os projetos realizados, isto poupa a necessidade de cada

máquina possuir um HD com grande capacidade.

2.2.3. Estação de trabalho 01 - para CAD. Observações.

2.2.3.1 Plataforma de software

A solução oferecida deve operar nas estações de trabalho com o seguinte

sistema operacional: Sistema Operacional Microsoft Windows 7 ou mais

recente.

2.2.3.2 Plataforma de hardware

Processador: O poder de um processador fará com que seu computador realize as

tarefas necessárias em um menor ou maior tempo. Quando se cria um objeto, por

exemplo, uma superfície, um CAD 3D realiza inúmeros cálculos para transformar a

informação inserida em um objeto tridimensional, que dependendo do processador pode

se tornar uma tarefa extremamente difícil. A partir de processadores disponíveis no

mercado pode-se classificar na seguinte ordem:

Intel i7: Dentre as opções, da linha i, este é o mais indicado para

o trabalho com um CAD 3D por já ser considerado um processador

voltado para estações de trabalhos mais sofisticadas.Caso se queira

investir um pouco mais, também se encontram disponíveis processadores

da série Xeon, que são processadores mais robustos que os i7, o que trará

um maior poder de processamento para o seu computador.

Convém observar o fato de sempre buscar processadores 64 bits, pois são

capazes de gerenciar uma maior quantidade de memória RAM.

Memória RAM: No tocante a memória RAM, a regra é quanto mais,

melhor. Nas configurações mínimas solicitadas por diversos fabricantes

está indicado que a quantidade mínima de Memória RAM é de 4GB, mas

trata-se de um valor conservador, já que este é um valor mínimo. Indica-

se pelo menos uma quantidade mínima de 8GB para que se possa

trabalhar de modo satisfatório com este software.

Disco rígido: Os diversos fabricantes de software solicitam como

requisito de sistema, aproximadamente em até 22GB, entre espaço de

instalação, atualizações e pós-instalação. Novamente estes valores são

conservadores e, portanto, pensando em termos de uso, pós-instalação e

outros recursos que são acrescentados ao longo do tempo. O ideal é pelo

menos um HD de 1TB, lembrando-se que os backups dos projetos

deverão ser realizados no servidor de arquivo.

Monitor de Vídeo: Placa de Vídeo: Em termos de placas de vídeo, os trabalhos

profissionais exigem placas mais robustas, como por exemplo, as Placas

Quadro e Tesla da Nvidia. Apesar de ser um investimento mais alto estas

placas auxiliam na hora de trabalhar com objetos tridimensionais.

Estação de trabalho 02 - para CAE

Obedece as mesmas configurações da estação de CAD, acrescida de

software mais apropriados para simulação como o Pro-Engineer.

Impressora/scanner padrão

HUB

No-break

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84

Figura 1 – Estação de Trabalho-CAD-CAE

Fonte: Elaboração própria.

2.3. Orçando a Célula Básica.

As configurações dos equipamentos de informática necessários à montagem da

célula e que deram origem a esses valores, estão constantes nos apêndices deste

artigo.

Os valores, são apresentados na Tabela 1

Tabela 1 – Elementos de Custo de Informática ELEMENTO VALO

R R$

QUANTID

ADE

VALO

R

SERV IDOR DE ARQUIVO 5.123,00 1 5.123,

00

ESTAÇÃO DE TRABALHO 11.203,0

0

2 22.406

,00

HUB 49,00 2 92,00

IMPRESSORA 799,00 1 799,00

NO-BREAK 1.086,00 2 2.172,

00

ESTAÇÃO DE TRABALHO COMPLETA

(moveis)

1.000,00 2 2.000,

00

TOTAL 32.592

,00

Fonte: Elaboração Própria. Pesquisa de Mercado.

Considerando, uma depreciação de 10% a.a. sem contar a obsolescência, temos

um custo anual para a empresa de R$ 3.259,20.

Acrescentando o custo de licenças anuais, os resultados são apresentados na Tabela 2

Tabela 2 – Elementos de Custo- Softwares.. SOLIDWORKS PROFISSIONAL 1 LICENÇA

(anual)

8.97

8,00

1 8.97

8,00

PRO-ENGINEER-AVANÇADO 1 licença (anual) 11.2

26,00

1 11.3

36,00

Fonte: Elaboração Própria. Pesquisa de Mercado.

E considerando que um projetista com plena capacidade de operar esses sistemas

custa em média R$ 4.400,00 e um assistente cadista R$ 2.000,00 mensais (ambos com

todos os encargos), o custo anual é apresentado na Tabela 3:

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Tabela 3 – Elementos de Custo para uma Célula de Simulação (Duas Estações) ELEMENTO DE CUSTO VAL

OR

DEPRECIAÇÃO DE MOVEIS E

EQUIPAMENTOS

3.259,

20

LICENÇAS ANUAIS 20.31

4,00

MÃO DE OBRA QUALIFICADA 76.90

0,00

TOTAL ANUAL 100.4

73,20

CUSTO MENSAL PARA A EMPRESA 8.372,

77

Fonte: Elaboração própria, Pesquisa de Mercado.

3. Microempresas e Pequenas Empresas em Sorocaba.

Com base nos dados de empresas divulgados pelo IBGE por meio do sistema

SIDRA, adotaremos para análise do porte das empresas em Sorocaba as referências de

faixa de pessoal ocupado definido tanto pela Oficina Estatística da Comunidade

Europeia - Eurostat (Statistical Office of the European Communities) como pela

Organização das Nações Unidas – ONU, na Recomendação 2003/361/CE, de 20 de

maio de 2003, da Comissão das Comunidades Europeias. Referida metodologia também

é adotada pelo IBGE por conta das estatísticas anuais do Cadastro Central de Empresas

CEMPRE e pode ser analisada na tabela a seguir:

Tabela 4: Classificação do Porte de Empresas pelo IBGE

Classificação Número de empregados

Microempresas 0 a 9 pessoas ocupadas

Pequenas Empresas 10 a 49 pessoas ocupadas

Médias Empresas 50 a 249 pessoas ocupadas

Grandes Empresas > 250 pessoas ocupadas

Fonte: IBGE; Tabela elaborada pelos autores.

Outra forma de classificar as empresas pelo porte pode ser encontrada no Estatuto

Nacional da Microempresa e Empresa de Pequeno Porte regido pela Lei Complementar

nº 123/2006 que assim define o porte das empresas:

Tabela 5: Classificação Nacional do Porte de Pequenas Empresas

Classificação Faturamento Anual

Microempresa R$ 0,00 a R$ 360.000,00

Empresa de Pequeno Porte R$ 360.000,01 a R$ 3.600.000,00

Fonte: Elaboração dos autores.

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Tabela 6: Sorocaba (SP): Nº de Empresas segundo a CNAE 2.0 em 2011

SETOR DE ATIVIDADE (CNAE 2.0) 0a 9peso %

0 a 910 a 49

peso %

10 a 49

50 a

249

peso %

50 a 249

250 ou

mais

peso %

> 250Total

peso %

setor

A Agric., pec., prod. florestal, pesca e aquic. 46 0,22% 4 0,2% 0 0,0% 0 0,0 50 0,2%

92% 8,0% 0,0% 0,0%

B Indústrias extrativas 10 0,05% 1 0,0% 1 0,3% 0 0,0 12 0,1%

83% 8,3% 8,3% 0,0%

C Indústrias de transformação 1.120 5,42% 416 17,8% 117 30,9% 37 0,5 1.690 7,2%

66% 24,6% 6,9% 2,2%

D Eletricidade e gás 5 0,02% 1 0,0% 0 0,0% 0 0,0 6 0,0%

83% 16,7% 0,0% 0,0%

E Água, esgoto, ativ. de gestão de resíd. e descontam. 33 0,16% 6 0,3% 0 0,0% 2 0,0 41 0,2%

80% 14,6% 0,0% 4,9%

F Construção 955 4,62% 131 5,6% 38 10,0% 3 0,0 1.127 4,8%

85% 11,6% 3,4% 0,3%

G Comércio; repar. de veículos autom. e motocicletas 9.453 45,73% 880 37,7% 73 19,3% 7 0,1 10.413 44,4%

91% 8,5% 0,7% 0,1%

H Transporte, armazenagem e correio 783 3,79% 107 4,6% 19 5,0% 4 0,1 913 3,9%

86% 11,7% 2,1% 0,4%

I Alojamento e alimentação 1.418 6,86% 200 8,6% 18 4,7% 1 0,0 1.637 7,0%

87% 12,2% 1,1% 0,1%

J Informação e comunicação 600 2,90% 34 1,5% 2 0,5% 0 0,0 636 2,7%

94% 5,3% 0,3% 0,0%

K Atividades financeiras, de seguros e serv. Relac. 327 1,58% 19 0,8% 1 0,3% 0 0,0 347 1,5%

94% 5,5% 0,3% 0,0%

L Atividades imobiliárias 367 1,78% 18 0,8% 0 0,0% 0 0,0 385 1,6%

95% 4,7% 0,0% 0,0%

M Atividades profissionais, científicas e técnicas 1.147 5,55% 77 3,3% 8 2,1% 0 0,0 1.232 5,3%

93% 6,3% 0,6% 0,0%

N Atividades administrativas e serviços complem. 1.925 9,31% 181 7,8% 53 14,0% 11 0,1 2.170 9,2%

89% 8,3% 2,4% 0,5%

O Administração pública, defesa e segurid.social 4 0,02% 1 0,0% 1 0,3% 1 0,0 7 0,0%

57% 14,3% 14,3% 14,3%

P Educação 380 1,84% 86 3,7% 17 4,5% 3 0,0 486 2,1%

78% 17,7% 3,5% 0,6%

Q Saúde humana e serviços sociais 625 3,02% 76 3,3% 20 5,3% 5 0,1 726 3,1%

86% 10,5% 2,8% 0,7%

R Artes, cultura, esporte e recreação 239 1,16% 16 0,7% 2 0,5% 0 0,0 257 1,1%

93% 6,2% 0,8% 0,0%

S Outras atividades de serviços 1.236 5,98% 81 3,5% 9 2,4% 4 0,1 1.330 5,7%

93% 6,1% 0,7% 0,3%

T Serviços domésticos 0 0,00% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0 0 0,0%

U Organismos intern. e outras inst. extraterritoriais 0 0,00% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0 0 0,0%

TOTAL POR PORTE 20.673 100% 2.335 100% 379 100% 78 100% 23.465 100,0%

88,1% 10,0% 1,6% 0,3% 100,0%

Fonte: IBGE/SIDRA - Tabela 993; Tabela elaborada pelos autores.

Ainda que se tenham outros critérios de classificação, como do BNDES há, ainda,

um grande caminho a ser percorrido que depende, em suma, da base disponível de

dados, sendo a do IBGE a de maior amplitude, mas ainda, não faz o recorte pela receita.

Considerando a classificação proposta pelo IBGE, as microempresas e empresas

de pequeno porte, aquelas com até 49 empregados, Sorocaba contava, segundo os dados

do IBGE/CEMPRE para 2011, com 23.008 unidades nesse segmento, ou 98,1% de um

total de 23.465 empresas. Dessas empresas, somente 1.690 unidades ou 7,2% do

universo pertencem ao setor industrial, sendo que 1.536 ou 90,9% são microempresas e

empresas de pequeno porte industrial.

Page 87: Anita Kon (PUC/SP) Luiz Guilherme de Oliveira (FATEC ... · Trabalho, Economia Industrial e Tecnologia, Economia da Serviços e Atuária e Economia da Sustentabilidade. A mesa de

87

Logo, é sabido que para esse grande universo de micro e pequenas empresas, em

especial quanto ao estudo deste artigo voltado ao segmento industrial, praticamente não

há possibilidades para essas empresas arcarem com gastos mensais de R$ 9.000,00 ou

R$ 108.000,00 por ano com manufatura virtual e prototipagem sendo, portanto,

fundamental a existência desse projeto no Parque Tecnológico de Sorocaba.

4. Extensão Universitária, Acesso á tecnologia e o potencial das Fatecs no Parque

Tecnológico de Sorocaba.

Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seu artigo 43,

que aponta as finalidades da educação superior, temos o inciso VII: “promover a

extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e

benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas

na instituição” (BRASIL, 1996).

A Lei Municipal 9449 de 22 de dezembro de 2010, dispõe sobre o Programa de

Incentivos para o desenvolvimento(grifo nosso) da economia solidária, turística e

tecnológica de Sorocaba, com tratamento favorecido diferenciado e simplificado aos

micro empreendedores individuais, microempresas e empresas de pequeno porte de

Sorocaba(GRIFO NOSSO).]

Nesta Lei, no seu artigo 59, temos;

Art. 59. O Poder Executivo Municipal incentivará o

desenvolvimento de incubadoras de empresas e projetos nas

modalidades tecnológicas, tradicionais, mistas, corporativas,

cooperativas e sociais, como parte de sua estratégia para

incentivar o empreendedorismo, com o objetivo de

desenvolvimento de novos negócios, trabalho e renda que

ampliem a competitividade da economia da região 43

(SOROCABA, 2010)

Ainda no mesmo diploma legal temos um capítulo específico sobre o

estímulo à inovação:

CAPÍTULO IX - DO ESTÍMULO À INOVAÇÃO

Art. 68. Para os efeitos desta Lei considera-se inovação como

a concepção de um novo produto ou processo de produção, bem

como a agregação de novas funcionalidades ou características ao

produto ou processo que implique em melhorias incrementais e

efetivo ganho de qualidade ou produtividade, resultando em maior

competitividade no mercado.

Art. 69. O Poder Executivo Municipal incentivará os esforços

inovativos dos microempreendedores individuais, cooperativas,

microempresas e empresas de pequeno porte locais, por ação

própria ou em parceria com agências de fomento, instituições

científicas e tecnológicas, núcleos de inovação tecnológica,

instituições de apoio e outros órgãos promotores da ciência,

tecnologia e inovação.44

43 Grifo nosso. 44 idem

Page 88: Anita Kon (PUC/SP) Luiz Guilherme de Oliveira (FATEC ... · Trabalho, Economia Industrial e Tecnologia, Economia da Serviços e Atuária e Economia da Sustentabilidade. A mesa de

88

Art. 70. O Poder Executivo Municipal poderá instituir

mecanismos de incentivo à inovação visando estimular os

esforços inovativos de microempreendedores individuais,

microempresas, empresas de pequeno porte e cooperativas,

visando incentivar a inserção destes no Sistema Local de

Inovação.45

Art. 71. O Poder Executivo Municipal incentivará e

coordenará à criação de parques tecnológicos e incubadoras de

empresas e outros instrumentos que estimulem 46 os esforços

inovativos de microempreendedores individuais, microempresas,

empresas de pequeno porte e cooperativas.

Art. 72. O Poder Público Municipal instituirá mediante lei

específica e em prazo apropriado medidas indutoras, normas e

comissões relacionadas à inovação e atividades afins. (Sorocaba,

2010).

A Lei Municipal nº 9892, que autorizou a constituição da empresa

pública “Empresa Municipal Parque Tecnológico de Sorocaba”, para fins que

especifica, e dá outras providências, em seu artigo sétimo aponta:

Art. 7º A Empresa Municipal Parque Tecnológico de

Sorocaba terá por objeto gerenciar, organizar e estruturar o

Parque Tecnológico de Sorocaba - PTS para promover e estimular

as atividades econômicas do Município, através do

desenvolvimento da infraestrutura, da base empresarial, da ciência

e da tecnologia do PTS, visando contribuir para o

desenvolvimento socioeconômico e ambiental de Sorocaba e da

sua população.47

E, nesse sentido as alíneas “e” e “f” deixam bem claro a conexão com o objeto

que estamos tratando, quando dispõe:

e) promover o desenvolvimento científico e tecnológico

objetivando a melhoria das condições de vida de sua população;

f) propiciar apoio financeiro e institucional a projetos e

programas voltados à sistematização, geração, absorção e

transferência de conhecimentos científicos e tecnológicos.48

(SOROCABA, 2011)

A implantação de um laboratório para simulação, com estação informatizada

para projetos de simulação CAD-CAE com acesso direto á microempresa vai ao

45 idem 46 idem 47 idem 48 idem

Page 89: Anita Kon (PUC/SP) Luiz Guilherme de Oliveira (FATEC ... · Trabalho, Economia Industrial e Tecnologia, Economia da Serviços e Atuária e Economia da Sustentabilidade. A mesa de

89

encontro dos objetivos de política industrial do município, por serem um fator de

corroboração dos objetivos constantes em Lei.

Soma-se a isso ao fato de a maioria das microempresas e pequenas empresas em

Sorocaba, não poder contar com uma estrutura de simulação que é deveras custosa para

o pequeno empreendedor.

4.1. Oportunidade para aprender a pesquisa aplicada unindo eficácia e

efetividade.

No artigo “Potencialidades e desafios dos parques tecnológicos: o caso de

Sorocaba (SP)”, Ribeiro et. al., apontam com otimismo, mas com prudência, que um

Parque Tecnológico deve prover criação e sinergia entre pesquisa, inovação e setor

produtivo. Que, a cidade de Sorocaba tem sido destacada em formar mão de obra

universitária qualificada, mas ainda em muitos casos está incipiente em pesquisa e

extensão. Daí a importância de projetos como esse de oferecer possibilidades de

simulação e acesso á empreendedores que, de outra forma não os teriam.

Ao permitir a interação universidade-pesquisa ao microempreendedor, seja

através de projetos como esse de simulação, ou seja, produzindo novas ideias, estaremos

cumprindo e ampliando as potencialidades que o poder público visualizou ao promulgar

as legislações específicas citadas neste artigo.

Ribeiro et. al. (2012, p. 123) apontam:

Sorocaba e região tem instituições universitárias com potencial

capacidade a ser desenvolvida no âmbito da pesquisa. Mas e preciso

mais.

Senão vejamos:

Sorocaba, pela qualidade das suas instituições de ensino48 por

sua vez, e uma cidade fornecedora de mão de obra para indústrias já

consolidadas. No caso de Sorocaba ainda existe carência de trabalho

intensivo na geração de ideias inovadoras e formação de mão de obra

voltada a inovação, 49.

Um Parque Tecnológico não e um condomínio de empresas.49 Se

observarmos o documento (termo de referencia) sobre Parques

Tecnológicos elaborado pela Prefeitura Municipal, o documento esta

muito mais focado em apresentar os benefícios potenciais as empresas e

instituições de ensino que ali se instalarem (em especial as empresas) do

que, um documento mais analítico sobre o processo de inovação como

um todo e que da sustentabilidade ao conceito de Parque Tecnológico.

Num primeiro momento, para maximizar recursos públicos e

capital político transformado na capacidade de implementar, pode ser

oportuno. Mas se a concepção da inovação não for a base estruturante

dele, o resultado poderá ser frustrante.

Por outro há que se distribuírem responsabilidades às instituições

universitárias. Não é possível abdicar da capacidade de gerar excelentes

quadros para as empresas locais. Mas também haverá a necessidade de

produzir pesquisa de maneira sistemática e sustentada50, que será o

amparo da produção de tecnologia de fato. Sem isso, poderá ser parque

49 Grifo nosso.

Page 90: Anita Kon (PUC/SP) Luiz Guilherme de Oliveira (FATEC ... · Trabalho, Economia Industrial e Tecnologia, Economia da Serviços e Atuária e Economia da Sustentabilidade. A mesa de

90

empresarial, centro de negócios, mas com certeza não será parque

tecnológico digno desse nome.

Esses erros não podem passar despercebidos e devem a todo custo

serem evitados por todas as lideranças que estão gerindo o processo.

E nas notas de rodapé 49 a 50 os autores ainda apontam:

48 A Faculdade de Tecnologia de Sorocaba esta, por vários

indicadores, entre as melhores do pais. Alem disso, temos a UNESP,

UFSCar e duas Universidades Comunitárias, PUC e Uniso. Essas

formam profissionais com qualidade para o mercado de trabalho. A taxa

de empregabilidade do egresso da Fatec e de 92%.

Apesar dessa tradição em formar pessoal qualificado, o

processo de pesquisa na Fatec ainda e incipiente que, por sua

própria historia, busca agora desenvolver a mesma tradição de

qualidade em pesquisa. As Comunitárias sempre se deparam com

as restrições orçamentárias (inclusive de pessoal em tempo

integral para desenvolver pesquisa) e as Universidades Publicas,

seus campi ainda se consolidam no município.50

49 Pelas limitações apontadas acima.

50 Estamos falando aqui pesquisa sustentada, desde que propicie

recursos orçamentários, ambiente, condições materiais para produzir

inovação (protótipos, processos inovadores etc.), pessoal capacitado e

fontes de financiamento e credito para que as ideias prosperem. Ou seja,

a criação de um Parque Tecnológico envolve a participação de varias

frentes de trabalho com recursos humanos mais variados. (RIBEIRO, et.

al. 2012, pp. 123-124).

Assim é uma oportunidade impar para a Universidade enfrentar seus próprios

fantasmas, obtendo soluções criativas e desenvolvendo um know-how, através de um

processo “learning by doing”, que a capacitará se deparar, enfrentar e eliminar seus

próprios fantasmas e mitos no que se refere a efetividade da pesquisa aplicada.

5. Considerações Finais.

A literatura vem demonstrando as vantagens de economia de materiais e demão

de obra, ao utilizar realidade virtual e programas simuladores, entre eles os de CAD-

CAE para analisar propriedades dos materiais e dos protótipos, analisando-os de forma

estática e dinâmica. Ao fazer isso, pode detectar problemas que só seriam descobertos

depois de despender tempo, mão de obra, materiais e em muitos casos moldes. Assim a

literatura em vários artigos reconhece as vantagens da simulação.

A Faculdade de Tecnologia de Sorocaba planeja instalar no parque Tecnológico

de Sorocaba duas estações de simulação para atendimento não só de desenho técnico

(LaBDetec) como também propiciar a pequenos e empresários acesso a simulações e

análises de protótipos. Para isso existe um quadro de professores tratando essa linha de

pesquisa, publicando e que podem colaborar com os pequenos empreendedores.

A atividade de pesquisa bem como a de extensão são funções inerentes ao ensino

superior como aponta a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seu artigo

43. Promovê-las é obrigação das instituições de ensino.

50 Grifo nosso.

Page 91: Anita Kon (PUC/SP) Luiz Guilherme de Oliveira (FATEC ... · Trabalho, Economia Industrial e Tecnologia, Economia da Serviços e Atuária e Economia da Sustentabilidade. A mesa de

91

Como pudemos constatar as microempresas e empresas de pequeno porte,

aquelas com até 49 empregados, Sorocaba contava, segundo os dados do

IBGE/CEMPRE para 2011, com 23.008 unidades nesse segmento, ou 98,1% de um

total de 23.465 empresas. Dessas empresas, somente 1.690 unidades ou 7,2% do

universo pertencem ao setor industrial, sendo que 1.536 ou 90,9% são microempresas e

empresas de pequeno porte industrial.

Uma rápida análise de configuração e custo de estações de simulação apontam

para a inviabilidade de uma pequena empresa sustentar o custo dessas estações.

Obviamente isso fica minimizado se as mesmas atuarem de forma colaborativa. Mas

para que fazê-lo e movimentar tantas se o Parque tecnológico está aí, a Universidade

precisa fazer pesquisa e extensão e o Poder Público criou toda uma legislação de

maneira a facilitar e incentivar a integração desses atores?

Desta feita, reputamos à instalação de uma célula de simulação com ao menos

duas estações muito apropriada aos objetivos de todos, gerando benefícios aos atores

envolvidos.

Referências

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional. DF 1996.

RIBEIRO, Francisco Carlos et. al. Potencialidades e desafios dos parques

tecnológicos: o caso de Sorocaba(SP). In: ANITA KON; ELIZABETH BORELLI.

(Org.). Industria, tecnologia e trabalho: desafios da economia brasileira. 1ed.são

paulo: eitt/pucsp, 2012, v. , p. 111-129.

SOROCABA. Lei Municipal 9449 de 22 de dezembro de 2010 Dispõe sobre o

Programa de Incentivos para o desenvolvimento da economia solidária, turística e

tecnológica de Sorocaba, com tratamento favorecido diferenciado e simplificado aos

micro empreendedores individuais, microempresas e empresas de pequeno porte de

Sorocaba. Sorocaba, 2010.

__________, Lei Municipal 9.892 de 28 de dezembro de 2011. Autoriza a

Constituição da Empresa Pública “Empresa Municipal Parque Tecnológico de

Sorocaba”, para fins que especifica, e dá outras providências. Sorocaba, 2011.

TOTI, Francisco de Assis et. al. Influência da orientação no posicionamento do

modelo 3D prototipado por deposição de material fundido – FDM. In: VII Congresso

Nacional de Engenharia Mecânica, CONEM – 31 jul.-03 ag. São Luis-Maranhão-Brasil.

VALERIO NETTO, Antonio et. al. Realidade virtual e suas aplicações na área de

manufatura, treinamento, simulação e desenvolvimento de produto. Gestão e

Produção. v.5, n.2, p. 104-116, ago. 1998. Disponível em:

http://www.scielo.br/pdf/gp/v5n2/a02v5n2 Acesso em: 07;04;2014

Page 92: Anita Kon (PUC/SP) Luiz Guilherme de Oliveira (FATEC ... · Trabalho, Economia Industrial e Tecnologia, Economia da Serviços e Atuária e Economia da Sustentabilidade. A mesa de

92

ANÁLISE DA INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS

MULTINACIONAIS DO SETOR DE SANEAMENTO Neusa Santos Souza51

Frederico Araujo Turolla52

Resumo

Este artigo trata da internacionalização de firmas pertencentes à indústria de

saneamento básico, atividade tipicamente monopolista em que o Estado, responsável

pelos serviços, pode delegar o direito de sua exploração através de concessões públicas

ou outras formas de parceria público-privada. O objetivo geral desta pesquisa é

confrontar as características de internacionalização das empresas saneamento básico

com aquelas previstas nas abordagens e modelos selecionados de Negócios

Internacionais. Foram selecionadas a abordagen de Upsalla e a Teoria dos Custos de

Transação, sendo que o referencial teórico utiliza elementos da teoria institucional e da

Economia Industrial, considerando as falhas de mercado específicas presentes nessa

indústria. A pesquisa é de caráter qualitativo, ancorada na técnica de análise

documental. As empresas selecionadas são: Veolia, Suez, Agbar, FCC, United Utilities,

ACEA, RWE, Saur, Cascal e Biwater, que correspondem às dez maiores do mundo e

respondem por cerca de um quinto do fornecimento mundial de água. As proposições

verificadas dizem respeito ao padrão de internacionalização, que na indústria do

saneamento, é definido mais em função de janelas de oportunidade específicas e não

conforme o padrão de Uppsala; e que a necessidade de conhecimento dos mercados

locais dos países hospedeiros torna relevante a conjugação de competências de natureza

político-institucional com competências técnicas específicas. As proposições foram

confirmadas e, com isto, a análise aponta para a inadequação de alguns pressupostos dos

modelos teóricos dominantes e para a necessidade de elaboração teórica para suportar a

análise dos processos de internacionalização destas empresas.

Palavras-Chave: Internacionalização. Saneamento. Água. Abordagens.

Analysis of internationalization of water sector multinational companies

Abstract

This work deals with the internationalization of firms belonging to the basic

sanitation industry, a typically monopolist activity in which the State, held responsible

for the services, may delegate the rights to exploration through public service

concessions or other forms of public-private partnership. The general objective of the

research is to compare the characteristics of the internationalization of sanitation firms

with those foreseen by the selected International Business approaches and models.

There were selected the Uppsala and the Transaction Costs Theory, the theoretical

references having used elements of institutional theory and Industrial Economics, taking

the specific market failures of this industry into account. This is a qualitative research,

based in documental analysis. Firms selected were: : Veolia, Suez, Agbar, FCC, United

Utilities, ACEA, RWE, Saur, Cascal and Biwater, which correspond to the ten largest in

the world and they are responsible for roughly one fifth of the world water supply.

Propositions verified are related to the pattern of internationalization, which in the

51 Economista, Mestre e Doutoranda em Administração de Empresas pelo PMDGI –

Programa de Mestrado e Doutorado em Gestão Internacional da ESPM. 52 Economista, Mestre e Doutor em Economia de Empresas pela FGV. Vice-Coordenador

do PMDGI – Programa de Mestrado e Doutorado em Gestão Internacional da ESPM.

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93

sanitation industry is defined more upon specific windows of opportunity and not

following the Uppsala pattern; and that the need for knowledge of local markets in host

countries makes relevant the conjunction between political-institutional competences

with specific technical competences. Propositions were confirmed and, against that

background, the analysis suggests inadequacy of some assumptions of dominant

theoretical models and the need of further theoretical elaboration so as to provide

support to the internationalization process of this kind of firm

Keywords: Internacionalization. Sanitation. Water. Approaches.

1. Introdução Nas últimas décadas do século XX, nota-se uma intensificação do processo de

internacionalização de empresas de vários segmentos econômicos, dando origem as

EMNs (empresas multinacionais) voltadas para a operação nos mercados de

telecomunicação, energia, saneamento e outros. Segundo Michalet (1983), pode-se

definir a firma multinacional como uma grande empresa que possui ou controla

subsidiária de produção em outro país que não o de origem. O objeto de pesquisa deste

trabalho é a internacionalização de firmas pertencentes à indústria de saneamento

básico.

Na abordagem típica da Economia Industrial, a indústria do saneamento básico se

caracteriza por elevados custos fixos e pela elevada necessidade relativa de capital

técnico específico, em consequência destas características o setor tem sua produção

dividida entre a eficiência produtiva e a eficiência alocativa, o que enseja a configuração

de monopólio natural. Adicionalmente, apresenta baixo incentivo ex ante ao

investimento, gerando sub-atendimento da demanda em diversas áreas, o que acarreta

importantes externalidades negativas em relação à saúde pública, meio ambiente e

outros aspectos.

Diante desse contexto, pode-se entender o setor de saneamento básico como uma

atividade econômica tipicamente monopolista, monopólio este exercido pelo Estado, ao

qual cabe delegar às empresas o direito de explorar estes serviços, através de concessões

públicas ou de outras formas de parceria público-privada. O investimento neste setor é

elevado inclusive por demandar constantes investimentos em obras de melhoramento.

O estudo foi realizado a partir de um recorte que contempla as maiores empresas

deste segmento no mundo, segundo o ranking da Pinsent Mansons (2010).

Considerando o critério número de clientes, a amostra selecionada equivale a dez

empresas, que representam o atendimento de aproximados 370 milhões de domicílios

no mundo. Considerando-se que o mundo conta com aproximados 1,7 bilhões

domicílios atendidos com água segundo dados do PNUD (2011), estas empresas têm

uma representatividade aproximada de 20% do fornecimento de água no mundo,

número expressivo numa indústria que está no início do seu processo de

internacionalização.

O objetivo geral desta pesquisa é confrontar as características de

internacionalização das empresas saneamento básico com aquelas previstas nas

abordagens e modelos selecionados de Negócios Internacionais.

O problema de pesquisa é relativo à adequação das abordagens estabelecidas de

Negócios Internacionais na explicação das idiossincrasias do percurso de

internacionalização das firmas da indústria de água e saneamento básico.

As abordagens de Negócios Internacionais estabelecidas e relevantes para o

setor de infraestrutura são, por exemplo, as que foram definidas por Sarkar, Cavusgil e

Aulakh (1999), para descrever a internacionalização no setor de infraestrutura no

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94

contexto específico do setor de telecomunicações. Esses autores escolheram o modelo

de Upsalla (JOHANSON e VAHLNE, 1977, 1995) e a Teoria dos Custos de Transação

(WILLIAMSON, 1975; 1985) como base para a análise da internacionalização de

infraestrutura de telecomunicações, mas indicaram a importância das idiossincrasias

setoriais que não são adequadamente explicadas pelas abordagens selecionadas.

Nesse estudo optou-se por uma pesquisa de caráter qualitativo ancorada na

técnica de análise documental. A pesquisa inicia-se com um levantamento da literatura

sobre internacionalização de empresas, ou seja, uma pesquisa bibliográfica. No passo

seguinte tratou-se da realização de uma análise documental, com objetivo de identificar,

analisar e compreender os variados documentos disponíveis sobre a indústria de

saneamento, a fim de traçar um caminho de internacionalização. A técnica de análise de

conteúdo foi, assim, utilizada de forma sistemática como meio de descrição dos

conteúdos dos documentos observados.

2. Referencial teórico de internacionalização

Além das teorias que embasam as principais abordagens de Negócios

Internacionais, em particular a abordagem econômica e a abordagem comportamental. É

ainda relevante, no contexto deste trabalho, a consideração sobre o ambiente

institucional e a governança das organizações.

2.1 Instituições, organizações e internacionalização

Tanto a internacionalização das empresas quanto o desenvolvimento do setor de

saneamento são altamente influenciados pelo ambiente institucional e pelas

considerações organizacionais. Uma proposta de classificação dessas duas dimensões e

de apresentação

Figura 1. Esquema do campo da Nova Economia Institucional

Fonte: Oliveira e Turolla (2013), baseado em Farina, Azevedo e Saes (1997),

adaptado pela autora.

AMBIENTE INSTITUCIONAL

ESTRUTURA DE GOVERNANÇA

INDIVÍDUO

Governança condiciona

comportamentos individuais .

Organizações procuram estrategicamente alterar as regras do jogo.

Preferências

Regras de comportamento, constituições de empresas, direitos de propriedade, contratos entre outros.

Page 95: Anita Kon (PUC/SP) Luiz Guilherme de Oliveira (FATEC ... · Trabalho, Economia Industrial e Tecnologia, Economia da Serviços e Atuária e Economia da Sustentabilidade. A mesa de

95

do relacionamento entre instituições, organizações e indivíduos pode ser encontrada em

Farina, Azevedo e Saes (1997), conforme a Figura 1.

Os itens a seguir detalham os elementos superiores da figura, notadamente o

ambiente institucional e a estrutura de governança.

2.1.1Ambiente Institucional

O ambiente institucional, por meio da teoria institucional, propicia elementos

relevantes de explicação da decisão de expansão da firma para novos mercados,

incluindo tanto os elementos determinantes da internacionalização quanto propondo que

a decisão do modo de entrada é conseqüência das pressões isomórficas do ambiente

interno e externo (DIMAGGIO e POWELL, 1983).

Esta teoria sustenta uma nova visão para a decisão do modo de entrada,

baseando-se nos critérios de legitimidade, os quais afirmam que as organizações tendem

a imitar umas às outras, pois, elas encontram-se numa competição não apenas por

recursos e clientes, mas por poder político e legitimidade institucional (DIMAGGIO e

POWELL, 1983). Sendo assim, a organização enfrenta uma dupla pressão de

conformidade: uma proveniente do país alvo da expansão, buscando legitimidade com o

ambiente externo, e outra da própria empresa, evidenciado pelas preferências e por

práticas internas que obtiveram sucesso (ROSENZWEIG e SINGH, 1991).

As exigências informacionais e institucionais necessárias para atingir mercados

eficientes são rigorosas, em função da racionalidade instrumental que os players detém,

podendo conduzir a modelos equivocados, assim a arbitragem e o feedback

informacional considerados os que corrigem os modelos e punem os comportamentos

desviantes, conduzindo os players sobreviventes ao modelo correto (FOGEL, NORTH,

1993).

2.1.2 Organizações e Internacionalização

Buckley e Casson (1976, 1998) apontaram que tanto a teoria do poder de

mercado quanto a teoria do ciclo do produto 53 focavam apenas na opção entre

exportação e investimento direto no exterior. Por outro lado, a abordagem da

internalização, ou da integração, diz respeito à decisão da firma de realizar suas

atividades da sua cadeia de produção dentro da empresa. A internalização que se origina

na pesquisa de Coase (1937), identificou outras opções estratégicas para as empresas:

licenciamento, franchising ou franchise bidding (doravante, franquia) e subcontratação.

Aqueles teóricos favoráveis a teoria da internalização defendem a existência de

um melhor modo de entrada ou estabelecimento da firma no estrangeiro, de acordo com

a configuração dos custos de transação da empresa e dos mercados escolhidos. O

enfoque é o das transações entre as unidades produtoras, baseado na literatura de custo

de transação (Williamson, 1975 e 1979), assim a tomada de decisão da firma sobre

quando internalizar (governança hierárquica) ou usar o mercado, num dos modelos

contratuais vigentes é dependente da análise de custo versus benefício. Assim a empresa

segue internalizando até que os custos superem os benefícios.

53 Teoria do ciclo de vida do produto, Vernon (1966), mostra o ciclo de vida do produto e o

investimento internacional. Vermon mostrou que as vantagens competitivas que haviam

permitido às empresas competir com sucesso nos EUA, em um estágio inicial do ciclo de vida

do produto, eram as mesmas vantagens que permitiam às empresas multinacionais norte-

americanas penetrar com sucesso nos mercados estrangeiros.

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96

A abordagem dos custos de transação tem sua origem no artigo The Nature of

The Firm, de Ronald Coase (1960), e foi posteriormente discutida por Oliver

Williamson (1985). A abordagem dos custos de transação consiste na análise não

diretamente relacionada à atividade produtiva em si, mas aos contratos e aos custos de

coletar informações, de negociação e estabelecimento de contratos, garantindo que os

termos contratuais se concretizem. Assim, quanto maior for o custo na busca de

informação, menores os problemas decorrentes do fechamento de um contrato e vice-

versa.

Os custos de transação são divididos em ex ante: relacionados à coleta de

informações, principalmente na elaboração do contrato, aos mecanismos que fornecem

o cumprimento do contrato, além de salvaguardas e em ex post: relacionados à má

adequação às condições contratuais. A presença de custos de transação constitui um

determinante tanto da integração vertical, conhecida na literatura como governança

hierárquica, quanto da internacionalização das firmas que evitariam assim os custos de

transação presentes no mercado (WILLIAMSON, 1985).

Um tipo importante de imperfeição do mercado é a presença de custos

associados às transações feitas nele, como os custos de encontrar fornecedores, negociar

contratos, monitorar as obrigações contratuais, lidar com a incerteza quanto aos preços

futuros e assim por diante. Outro tipo de imperfeição refere-se às dificuldades clássicas

de se transacionar conhecimento e informação. A firma também incorre em um custo de

oportunidade ao usar transações de mercado, por não explorar vantagens oligopolistas

no país estrangeiro. Finalmente, existem custos associados com a intervenção do

governo nas transações internacionais, como cotas, tarifas, controle de preços, impostos

diferenciados e outros. Nesta situação a firma escolhe internalizar certas atividades que

pela hierarquia tem os custos mais baixos que os custos de transação que seriam

incorridos se ela usasse o mercado como mecanismo de coordenação (COASE, 1937;

WILLIAMSON, 1975).

2.2 Abordagem comportamental

A abordagem comportamental considera o processo de internacionalização como

dependente de atitudes, percepções e comportamento dos tomadores de decisão, que por

sua vez seriam orientados pela busca de redução de risco nas decisões sobre como e

onde expandir a firma. Essa linha foi desenvolvida na Universidade de Uppsala, um

modelo construído a partir de estudos de casos em grandes empresas suecas, nos anos

1970.

A hipótese básica do modelo de Uppsala é que a falta de conhecimento é um

importante obstáculo para desenvolver operações em mercados de outros países e o

conhecimento necessário para estas atividades pode ser adquirido principalmente na

condução de tais operações (JOHANSON e VAHLNE, 1977).

Desta forma quando se conhece melhor as operações em determinado mercado

externo, a empresa investe e compromete maiores recursos neste mercado, a

internacionalização é, portanto um processo gradual, resultante de decisões

incrementais, representados pelos quatro estágios a seguir: 1) atividades de exportação

não regulares; 2) exportação via agentes de exportação; 3) estabelecimento de uma

subsidiária de vendas no exterior; 4) estabelecimento de uma unidade de produção no

exterior (JOHANSON e VAHLNE, 1977). Esta sequência é conhecida como cadeia de

estabelecimento.

O gestor da empresa não conhece perfeitamente todas as opções de mercado à

disposição antes de experimentar o mercado em questão (JOHANSON e VAHLNE,

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1990). O modelo assume que existem informações disponíveis a respeito dos custos

envolvidos antes que a empresa escolha qual mercado e qual estrutura adotar. Baseia-se

na racionalidade limitada dos agentes Simon (1965), na sua visão a organização é um

sistema de decisão onde a pessoa participa de forma racional e consciente, escolhendo

entre as alternativas para maximizar vantagens, ainda que com as mesmas informações

disponíveis cada empresa por ser única reaja ao ambiente de forma distinta. O processo

de internacionalização atenua os custos durante o processo de aprendizagem à medida

que as atividades se desenvolvem no exterior (JOHANSON e VAHLNE, 1990).

Em 2006 os autores Johanson e Vahlne revisitaram o modelo de Uppsala

substituíram o conceito chave da teoria original, liability of foreignness, relativo a

distância psíquica,por outro outsidership, construção da confiança, criação do

conhecimento e desenvolvimento do relacionamento por meio de novos

conhecimentos,tornando-se o último o mais relevante, pois é o que determina a

incerteza, afora isto a essência do modelo revisitado permanece.Conforme Eden (2009,

p. 1409, apud TUROLLA, 2007), “o outsidership em relação à rede causa, ao invés de

distância psíquica, a raiz de incerteza e precipita o processo de internacionalização”.

3. O setor de infraestrutura

Conforme Turolla (2007) a indústria de infraestrutura possui uma peculiaridade

que a torna fundamental para o desenvolvimento econômico de qualquer país, qual seja,

sua capacidade de gerar externalidades positivas de várias naturezas, incluindo ganhos

de eficiência para a economia como um todo e vantagens sociais. No caso do setor de

saneamento, as externalidades são notórias. A insuficiência do saneamento está

associada ao desperdício de oportunidades preciosas de redução da pobreza, aumento da

inclusão social e promoção do desenvolvimento econômico.

O setor de infraestrutura caracteriza-se fundamentalmente pela presença de

custos fixos elevados em capital específico (BID, 1997). Tais custos produzem um

dilema econômico entre eficiência produtiva e alocativa, enquanto a especificidade de

capital produz sub-incentivo ao investimento.

A importância relativa dos custos fixos faz com que o conjunto de vetores de

produção relevante recaia sobre a faixa em que o custo médio é declinante. Economias

de escala dessa natureza, quando consideradas em um contexto de monoprodução,

identificam, conforme Baumol (1986), um monopólio natural.

Um monopólio natural surge quando existe a possibilidade de explorar

economias de escala ao longo de um intervalo muito grande de produção. Como

resultado esta escala de eficiência ótima torna-se muito elevada à proporção da demanda

do mercado total do produto ou serviço presente em cada país estrangeiro, organizando

suas operações num local ao invés de uma lógica global, (BONARDI, 2004).

Dada a estrutura de monopólio natural, a maior eficiência produtiva pode ser

conseguida através da operação de um produtor único. Entretanto, as distorções

alocativas resultantes do poder de monopólio precisam ser controladas através de algum

mecanismo (TUROLLA, 2007).

Modernamente, costuma-se usar um conceito mais amplo que o de monopólio

natural, que é o de sub-aditividade de custos, como tratado por Braeutigam (1989).

Neste conceito, a redução de custos com o aumento da produção pode advir do rateio

entre dois ou mais serviços, ou seja, se admite economias relacionadas à multi-

produção. Trata-se do conceito mais amplo que o de monopólio natural, onde não há

necessidade de economia de escala global, bastando que uma firma produza um vetor y

de produtos com custo menor que o somatório dos custos de um conjunto de firmas

(TUROLLA, 2007).

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Por sua vez, a especificidade do capital tem impacto, principalmente, no

incentivo ao investimento, na medida em que reduz fortemente o valor de revenda dos

ativos após a sua construção ou aquisição. O efeito é ainda mais grave por se tratar de

um setor com volume de investimento requerido bastante superior à média dos demais

serviços públicos. Corrales (1998) reporta estudo do Banco Mundial que aponta uma

relação de ativos necessários para gerar um dólar anual de faturamento como sendo 3-4

em telecomunicações e 7 em rodovias e 10-12 para saneamento. Assim, quando o

investimento é feito pela iniciativa privada, há elevada incerteza em relação à

rentabilidade futura do projeto, que pode ser irreversivelmente comprometida pela

eventual entrada de um concorrente. Adicionalmente, no caso de propriedade privada

dos ativos, o poder de barganha entre o proprietário privado e o governo pode mudar

radicalmente após o investimento ser feito (TUROLLA, 2007).

De acordo com Guasch, Laffont e Straub (2007) cenários típicos são um

governo, local ou regional, decidir de forma unilateral por cortar tarifas ou não honrar

os aumentos acordados durante uma campanha de reeleição para assegurar o apoio

popular. Outra é no cenário de uma nova administração, a decisão de não honrar o

aumento de tarifas

estabelecido no contrato de concessão firmado pelas administrações anteriores.

Empresas em setores regulados enfrentam um grande dilema quando vão se

expandir para o exterior. Por um lado há o estabelecimento teórico e a recomendação de

internacionalização gradual, um modelo de internacionalização assim minimiza riscos e

diminui as incertezas, (Johanson e Vahlne, 1977; Chang, 1994; Rivoli e Salorio, 1996;

Guill´en,2002; Vermeulen e Barkema, 2002), e permite superar a chamada liability of

foreignness (HYMER, 1976; KOSTAVA e ZAHEER, 1995).

Por outro lado a natureza regulada desta indústria pede um grande

comprometimento de recursos e rápida entrada em mercados estrangeiros. Esta situação

é devido a três razões: primeiro estas indústrias tendem a ser altamente concentradas e

elas exibem características de monopólio. Segundo a entrada pode ser restringida pelo

Governo, freqüentemente sob um sistema de licenças. Terceiro o Governo pode possuir

parte significativa da indústria. Algumas das empresas mais ativas em setores regulados

em expansão no exterior são monopólios em que o Estado tem ou teve uma participação

de controle (DOH, TEEGEN e MUDAMBI, 2004).

Nestas circunstâncias os concorrentes estrangeiros enfrentam dificuldades por

comprometer grandes somas de recursos e estabelecer operações de forma rápida,

quando e onde surgir à oportunidade, na forma de aquisições em oposição ao

investimento greenfield, construção de planta industrial no exterior, (Sarkar et al,1999).

Assim regulado, este mercado de natureza oligopolista gera grandes vantagens (DOH et

al, 2004; KNICKERBOCKER,1973).

Conforme Sarkar (1991), as empresas desta indústria seguem uma assimetria

estratégica em que procuram defender a posição do seu país de origem, impedindo as

rivais de competir em condições equitativas e prosseguindo entrada no mercado

estrangeiro, até que ocorra a desregulamentação. Considerando que a

desregulamentação ocorre no tempo em graus diferentes de país para país, empresas em

setores regulados tendem a seguir uma estratégia multidoméstica de expansão

internacional, ou seja, elas ao escolherem um mercado para entrar o fazem em função de

circunstâncias específicas (SARKAR, 1999).

Eliminando-se pelo critério de eficiência produtiva a possibilidade de

competição direta, a obtenção de eficiência alocativa requer o emprego de competição

pelo direito à franquia para servir um determinado mercado, conforme conceito

competição estabelecido por Demsetz (1968), ou ainda um mecanismo de regulação. Na

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prática é possível combinar as duas alternativas, com a realização de leilões pela

franquia e o estabelecimento de mecanismos de regulação.

3.1 Estratégia de entrada

A empresa que busca desenvolver uma operação internacional fora do seu

entorno geográfico deve escolher o melhor modo de entrada. Variadas pesquisas

relacionadas à entrada em mercados estrangeiros mostraram que há pouco entendimento

por parte da firma com relação à estratégia de análise de custos e benefícios com relação

à decisão de como iniciar sua operação no exterior. No entanto os modos de entrada são

distintos especialmente no que diz respeito às suas relações de custos e benefícios

(ANDERSSON e GATIGNON, 1986).

Quadro 1. Características dos principais de contratos de privatização Tipo de Contrato/

Características

O&M54 Lease BOOT;55

Concessã

o Plena

Asset

Sale56

Duração 2-5 até 10 anos 10 - 15 e

até 25 anos

10 – 30 e até

95 anos

20 – 30 anos Perpétuo

Cliente Governo ou

Municipio

Varejo Governo ou

Municipio

Varejo Varejo

Fluxo de Caixa Taxa fixa

por serviço

Sujeito ao

risco de

mercado

Pago na

conclusão

Sujeito ao

risco de

mercado

Sujeito ao

risco de

mercado

Risco de construção Não se aplica Não se

aplica

Alto Baixo Muito

baixo

Risco regulatório Não se

aplica

Médio Baixo Alto se há

volatidade

política

Muito alto

Propriedade Pública Pública Pública Pública Privada

Investimento Pública Pública Privada Privada Privada

Operação Pública Privada Privada Privada Privada

Recebimento de

tarifa

Pública/privada Privada Pública Privada Privada

Fonte: BIRD (2002).

De acordo com Kogut (2002), o modo de entrada é uma das decisões mais

importantes para a estratégia de crescimento internacional da firma no mercado

estrangeiro, pois esta escolha define o grau de controle que a firma terá sobre a

atividade no exterior e o grau comprometimento de recursos que a firma assume. A

economia globalizada e a rapidez dos acontecimentos tanto econômicos quanto nos

sistemas políticos, fazem com que a empresa análise melhor a questão da vantagem

54 O&M - Operação e Manutenção. A empresa do setor privado opera e mantém os ativos

existentes para um determinado período de tempo, mas não está envolvida no desenvolvimento

desses ativos ou de novas instalações. 55 BOOT - Build-Operate-Transfer. Uma forma de concessão, nesta estratégia de entrada a

firma é contratada para construir uma instalação, geralmente de grande porte, para em seguida

transferir a propriedade para o patrocinador do projeto, que normalmente é o país sede ou

entidade pública. 56 Asset Sale – Venda de Ativos, também conhecido como modelo britrânico. A privatização

completa de serviços de utilidade pública através da venda direta de seus bens e uma licença de

exploração para os acionistas ou para uma empresa do setor privado.

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competitiva, transmissão de tecnologia, conhecimento e a localização (Anderson e

Gatignon, 1986), com objetivo de compreender a eficácia da escolha do modo de

entrada no exterior.

Empresas multinacionais como as destacada neste estudo costumam valer-se de

investimento direto estrangeiro - IDE, esta estratégia garante um alto controle do

negócio no exterior, ao mesmo tempo em que o comprometimento da empresa com a

operação no exterior é igualmente alto. O IDE possui 2 formatos: participação no capital

e empréstimos intercompanhias.

A participação no capital que representa os ingressos de moeda e as conversões

externas em investimeno estrangeiro direto, considerando-se os valores destinados aos

programas de privatizações relacionados com aquisição, subscrição, aumento de capital,

total ou parcial do capital social de empresa residentes. Empréstimos intercompanhias

compreendem os créditos concedidos pelas matrizes, seadiadas no exterior, as suas

subsidiárias ou filiais estabelecidas no país.

Os tipos principais de IDE são o investimento greefield, fusão, e aquisição. Com

relação ao nível de propriedade no IDE, o controle da propriedade por ser total ou

parcial. As possibilidades variam entre joint venture, participação acionária,

investimento direto integral e consórcios. Notadamente no setor de infraestutura em

saneamento básico prevalece o formato joint venture, seguido de consórcio e

participação acionária.

O quadro resume as características dos principais tipos de contrato do setor de

água e saneamento básico. O contrato do tipo O&M é a operação que envolve menor

risco para ambas as partes, enquanto o lease acarreta maior envolvimento de ambas as

partes se comparado ao O&M, este contrato está sujeito pelo menos aos riscos de

mercado e a dependência de regulação. Os contratos do tipo BOOT são concessão para

construção, portanto, enquanto investimento e operação são privados enquanto a

propriedade e o recebimento de tarifa são públicos, esta combinação resulta em alto

risco de construção, o fato de ser um dos contratos de mais longo prazo potencializa os

riscos, embora sejam os tipos mais utilizado de contrato identificado nesta pesquisa.

A concessão plena é um contrato de alto risco e que está sujeito ao marco

regulátório, por fim o asset sale é o mais radical dos tipos de contrato e também o

menos utilizado. Destaca-se a questão da perpetuidade, observa-se que ocorrem revisões

a cada 25 anos em média, permite que propriedade, investimento, operação e

recebimento de tarifas sejam privados.

A hipótese de Johanson e Vahlne (1977) analisa as empresas que se

internacionalizam de forma gradual, ou seja, iniciando atividades por meio de

exportação, seguido por joint-ventures e operação própria no exterior. A empresa

demonstra um crescente nível de comprometimento de recursos no exterior que

acontece à medida que se tornam mais experientes e ou detêm maior conhecimento

sobre o mercado que estão atuando. Nota-se assim que o comprometimento financeiro

da empresa é um fator que está relacionado ao sucesso da internacionalização das

empresas, assim o comprometimento de recursos cresce à medida que diminui a

distância psíquica entre os mercados (JOHANSON e VAHLNE, 1977; ROOT, 1994).

O tamanho da firma é uma variável considerada nos estudos que tratam da

decisão de escolha do modo de entrada, de acordo com Buckley e Casson, (1976), pois

demonstra a capacidade das empresas de assumir os custos da operação no estrangeiro.

Ainda, o tamanho da firma determina o nível de absorção dos riscos e o grau de

comprometimento de recursos financeiros. Empresas grandes estão mais aptas a

estabelecer modos de entrada com domínio completo da propriedade e ou partilhadas no

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formato de joint-ventures (TERPSTRA e YU, 1988; AGARWAL E RAMASWANI,

1992).

A teoria institucional, numa abordagem sociológica, amplia a explicação com

relação à decisão do modo de entrada em novos mercados sugerindo que a decisão do

modo de entrada é resultado das pressões isomórficas do ambiente interno e externo

(DIMAGGIO e POWELL, 1983; MEYER e ROWAN, 1977; SCOTT, 1995) apontando

que o ambiente institucional determina o grau de controle da propriedade da empresa.

Nesta teoria a decisão do modo de entrada, deve-se os critérios de legitimidade, ou seja,

as organizações tendem a imitar umas às outras, pois estão em competição por recursos

e clientes, assim imitam para inovar e não perder espaço de mercado, ao poder político e

a legitimidade institucional (DIMAGGIO e POWELL, 1983). Desta forma a empresa

tem a pressão de conformidade originária do país alvo da estratégia de expansão, a

pressão pela busca da legitimidade junto ao ambiente externo, e por fim a pressão da

própria empresa, evidenciada por preferências e práticas internas que já tenham

alcançado êxito (ROSENZWEIG e SINGH, 1991).

O modo de entrada na indústria de saneamento básico reflete o previsto em

Buckley e Casson, (1976) e Williamson (1985), nesta indústria a necessidade de diluir

custos e ganhar escala, impulsiona a firma para realização de grandes investimentos no

exterior, que ocorrem predominantemente com aquisição e fusão, a firma internacional

é guiada pela janela de oportunidade criada no ambiente institucional do país de destino,

para tanto a variável tamanho da firma é determinante na sua capacidade de assumir

riscos no exterior.

3.4 Proposições do estudo

A indústria do saneamento possui características idiossincráticas, notadamente

falhas de mercado, que têm influência sobre os padrões de comportamento dos agentes

setoriais e a dinâmica da indústria, notadamente nos processos de internacionalização.

Como apontam Sarkar, Cavusgil e Aulakh (1999) para o setor de telecomunicações, a

internacionalização das firmas de saneamento têm características singulares, sendo que,

como foi mostrado nas seções anteriores, as falhas de mercado subjacentes são, no setor

de saneamento, ainda mais marcantes que em telecomunicações. Estas especificidades

levam à proposição das seguintes afirmações, que serão avaliadas com base no estudo

do caso das mais importantes empresas internacionalizadas de saneamento no mundo.

Proposição 1A: em função das falhas de mercado e custos de

transação que constituem importantes idiossincrasias do setor, a

sequência de internacionalização das firmas da indústria de saneamento

básico não segue o padrão sequencial de Uppsala.

Proposição 1B. O padrão de internacionalização, na indústria do

saneamento, é definido mais em função de janelas de oportunidade

específicas do que na escolha sequencial de mercados com aumento

sequencial do comprometimento com mercados internacionais a partir da

redução concomitante do risco subjacente.

A teoria dos custos de transação indica que a negociação de operações

internacionais em infraestrutura envolve elevados custos de transação, tanto de natureza

ex ante quanto ex post, assim como uma proporção bastante elevada de ativos

específicos nos projetos de investimento. A irreversibilidade dos investimentos e o

longo período de sua recuperação são falhas de mercado típicas, afetando tanto as

decisões de adjudicação de contratos de infraestrutura quanto às decisões e negociações

bilaterais ao longo da vida do contrato e nos períodos de sua renovação.

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Proposição 2A. A entrada em mercados internacionais de

saneamento envolve um elevado grau de conhecimento dos mercados

locais dos países hospedeiros. As características institucionais

idiossincráticas são relativas tanto às diferenças entre as jurisdições

nacionais quanto aos elementos culturais e políticos do ambiente

subnacional dos municípios ou regiões em que se realiza o investimento

direto estrangeiro em saneamento.

Proposição 2B. O sucesso na adjudicação de um contrato de

saneamento, nas suas mais variadas formas, implica uma conjugação de

competências de natureza político-institucional com competências

técnicas específicas. As primeiras incluem o capital de relacionamento

político do operador interessado e a observância de regras, formais e

implícitas, bastante específicas ao local de destino. As últimas se referem

ao potencial de eficiência operacional com que um operador pode contar

a partir de seus recursos estabelecidos nas operações atuais e que podem

ser transferidas para o novo ambiente operacional em que deseja se

estabelecer através de investimento direto ou de outras formas de

internacionalização.

4. Metodologia

O recorte deste estudo contempla as empresas mais importantes deste segmento,

no mundo, segundo o ranking da Pinsent Mansons (2010), sendo elas, respectivamente:

Veolia, Suez, Agbar, FCC, United Utilities, ACEA, RWE, Saur, Cascal e Biwater.

O critério utilizado para considerar a sua importância relativa, conforme Pinsent

Mansons (2010), as maiores empresas do cenário mundial, no que tange às atividades de

saneamento básico, é número de clientes atendidos, excluindo-se as empresas não

internacionalizadas57. A análise qualitativa dos dados, que se deu por meio da técnica de

análise de conteúdo, na proposição da busca da construção do caminho de

internacionalização percorrido pelas empresas selecionadas da indústria de saneamento

básico.

O percurso de internacionalização considera: a) região de atuação; ano de início

da operação; c) estratetégia de entrada; d) características contratuais. Os aspectos

contratuais referem-se a) ruptura ou renegociação contratual; b) mercado aberto ou

regulado; c) garantias governamentais; d) lobby; e) bid rigging58.

O recorte que contemplou as maiores empresas deste segmento, no mundo,

considerando o critério de número de clientes. A amostra selecionada equivale as

seguintes 10 empresas: Veolia, Suez, Agbar, FCC, United Utilities, ACEA, RWE, Saur,

Cascal e Biwater, que representavam o atendimento de aproximados 370 milhões de

57 Note-se, por exemplo, que Sabesp não está incluída no ranking por não ter sido

considerada internacionalizada. Essa empresa já possuía operações internacionais mas, na data

base do ranking, atuava fora do país basicamente em consultoria técnica, sem operar

diretamente sistemas no exterior. 58 Bid rigging (anilhamento de propostas): expressão que equivale em português a cartel de

licitação, relaciona-se ao fato de as empresas dividirem sua participação nos processos de

concessão, alternando vencedores para preservar posições de interesse conjunto dos

participantes do cartel.

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clientes no mundo em 2010, considerando-se que em 2010 o Planeta contava com

aproximados 1,7 bilhões domicílios atendidos com água tratada, segundo dados do

PNUD (2011), nesse sentido, um quinto do fornecimento mundial de água é realizado

pelas empresas selecionadas, número expressivo numa indústria que está que teve o

auge da internacionalização no fim do século XIX.

Quadro 1. Ranking das maiores empresas do mundo

Posição Empresa Milhões de clientes País de origem

01 Veolia 121,97 França

02 Suez 111,49 França

03 Agbar 29,69 Espanha

04 FCC 27,34 Espanha

05 United

Utilities

24,03 Inglaterra

06 ACEA 14, 945 Itália

07 RWE 18, 265 Alemanha

08 Saur 12,97 França

09 Cascal 4, 524 Inglaterra

10 Biwater 0,5 Inglaterra

Fonte: adaptado pela autora de: PNUD (2011).

5. Análise e discussão dos resultados

Em primeiro lugar, entre as dez mais importantes empresas internacionalizadas

de saneamento, o processo de entrada não segue uma linha incremental de redução de

risco à la Uppsala, portanto confirmando a proposição 1A. Na mesma linha,

identificamos que as empresas investem em mercados estrangeiros segundo as janelas

de oportunidade disponíveis nesses mercados, o que confirma a proposição 1B.

Em segundo lugar, verifica-se que a entrada em mercados internacionais de

saneamento envolve elevado grau de conhecimento dos mercados locais dos países

hospedeiros. Para reduzir o custo desse conhecimento, verificamos o estabelecimento

preemptivo de escritórios de representação e a realização de missões de relacionamento

junto a países-alvo. No caso de algumas firmas estudadas, o escritório do operador no

país de destino é estabelecido muito antes da adjudicação ou aquisição no país. Em boa

medida, o estabelecimento desse escritório é um investimento no conhecimento de

mercados locais, sendo que este conhecimento envolve muito mais a busca de parceiros

e o mapeamento das variáveis político-institucionais relevantes do que propriamente a

inspeção dos aspectos técnicos da operação pretendida. Confirma-se, assim, a

proposição 2A.

Adicionalmente, as competências políticas necessárias são obtidas,

principalmente, por intermédio de parcerias locais. Operações sem parceiros locais

apresentam propensão elevada a renegociações contratuais na linha das que foram

identificadas por Guasch, Laffont e Straub (2007). Assim, a proposição 2B se mostra

relevante neste contexto da indústria de saneamento.

Entre os aspectos gerais que podem ser observados na pesquisa, pode-se

mencionar a importância do caráter multiutility na propensão à internacionalização,

assim como na trajetória do processo de internacionalização. The Economist (2004)

destaca que as três maiores empresas da indústria de saneamento pelo critério

multiutility e que atingiram uma fase de excelência, associando atividades elétricas, de

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gás natural, de água e de saneamento, são: Suez, Veolia e RWE, pertencentes à amostra

selecionada neste estudo.

6. Considerações finais

As abordagens teoricas de origem comportamental, entre elas a mais

significativa é o modelo de Uppsala, não se ajustam de forma plena à

internacionalização das empresas de água e saneamento básico, pois a seqüência de

passos não obedece à menor distância psíquica. O motivo para esta falta de aderência

está nas falhas de mercado do setor de saneamento e nas respostas típicas a essas falhas,

previstas nas teorias de origem econômica, no segmento da organização industrial e na

teoria dos custos de transação. Estas últimas apresentam maior aderência quando se

analise o processo de internacionalização deste segmento. Em particular, a presença de

custos fixos elevados em ativos altamente específicos leva a um tradeoff entre eficiência

alocativa e produtiva, exigindo regulação ou competição pelo mercado, além de

contratos muito longos. Com isto, a entrada de novas empresas se dá, principalmente,

nos períodos de renovação contratual, que constituem janelas de oportunidade limitadas

no tempo. Não há, portanto, mercados disponíveis para entrada baseada em escolha

estratégica de mercados-alvo, o que leva as empresas a não obedecerem à seqüência

típica de passos de Uppsala. O mesmo se observa para as demais teorias de origem

comportamental.

Analisando as trajetórias de internacionalização de 10 empresas: Veolia, Suez,

Agbar, FCC, United Utilities, ACEA, RWE, Saur, Cascal e Biwater observa-se que as

empresas não seguem o gradualismo em termos de etapas seqüenciais, e também não

segue a premissa da empresa de procurar países com menor distância cultural. A análise

aponta para a inadequação de alguns pressupostos dos modelos teóricos dominantes e

para a necessidade de elaboração teórica para suportar a análise dos processos de

internacionalização destas empresas.

A leitura conjunta das duas linhas teóricas de institucionalismo: econômica e

sociológica demonstra maior poder explicativo com relação à decisão do modo de

entrada das organizações empresariais nos países anfitriões, especialmente na estratégia

de internacionalização das empresas de infraestrutura em água e saneamento básico, se

observa que o poder de explicação da decisão dos modos de entrada é maior quando a

teoria institucional é testada em conjunto com a teoria dos custos de transação, assim

podemos concluir que ambiente interno e externo impactam na decisão do modo de

entrada. O processo de internacionalização das empresas de água e saneamento básico é

melhor explicado pelo conjunto formado pela abordagem econômica do custo de

transação e a abordagem sociológica prevista na teoria institucional.

Por outro lado, a analise da internacionalização do conjunto das empresas

representadas neste estudo sugere que os conhecimentos políticos-institucionais são de

alta relevância e que a entrada nos mercados não pode se dar com base apenas em

conhecimentos técnicos específicos. A conjugação dos dois elementos é necessária para

a internacionalização bem sucedida, o que fica patente no elevado número de casos de

quebras contratuais e de fracasso na entrada em países estrangeiros, particularmente em

países latino-americanos. Este aspecto reforça a importância da teoria institucional e da

Economia de Custos de Transação, como diretamente sugerido por Williamson (1985),

na análise de internacionalização das empresas de saneamento. Nessa linha, a

abordagem da internacionalização de empresas de infraestrutura deve incluir elementos

Page 105: Anita Kon (PUC/SP) Luiz Guilherme de Oliveira (FATEC ... · Trabalho, Economia Industrial e Tecnologia, Economia da Serviços e Atuária e Economia da Sustentabilidade. A mesa de

105

de colusão entre concorrentes, corrupção e troca de favores, que estão fortemente

relacionados às competências político-institucionais mencionadas.

Embora sem conclusões firmes, estes resultados ensejam interessantes questões

de pesquisa futura acerca da dinâmica de formação de multiutilities, assim como sobre a

interação entre os diversos segmentos de serviços públicos no portfolio de um operador.

É possível que as economias de escopo intersetoriais desempenhem papel relevante,

assim como o aprendizado institucional obtido em um setor regulado seja relevante na

formação de economias de aprendizagem que criam vantagens para a operação de

outros setores.

Finalmente, é importante notar que a pesquisa sobre internacionalização de

empresas é bastante limitada, e ainda mais limitada no tocante às empresas de

saneamento básico. Essa dissertação procurou contribuir com a análise da trajetória e

das especificidades principais das mais importantes empresas internacionalizadas de

saneamento no âmbito mundial, à luz das principais abordagens e teorias dominantes de

Negócios Internacionais, como o apoio das teorias econômicas e sociológicas.

Desdobramentos interessantes desta pesquisa poderiam ser realizados, por exemplo,

com o tratamento mais detalhado dos casos aqui trabalhados, ou com a proposição de

abordagens quantitativas para o estudo do fenômeno aqui analisado.

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111

A POLÍTICA DE OFFSET E O BRASIL: PERSPECTIVAS DA CONSTRUÇÃO

DE UMA AGENDA DE POLÍTICA DE TRANSFERÊNCIA TECNOLÓGICA

DE DEFESA À LUZ DA EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL

Luiz Guilherme de Oliveira59

Resumo O objetivo deste trabalho é subsidiar a formulação de políticas públicas

relacionadas a transferência de tecnologia através de mecanismos de offset. Como

objetivos específicos procuramos observar e comparar a experiência internacional da

“política de offset ” a partir de alguns países selecionados e traçar um fio condutor de

“boas práticas” de “políticas de offset” a partir da experiência internacional.

Introdução

Este trabalho busca descrever e contextualizar a questão da “política de offset” no

Brasil. Para isso, destaca-se a importância estratégica da agenda tecnológica para o setor

de defesa nos países, em especial os países de desenvolvimento tardio e de importante

relevância econômica (ex. Brasil). Dois aspectos importantes, e complementares, da

indústria de defesa no Brasil devem ser ressaltados: i) o papel da indústria de defesa no

Brasil, como destaque o potencial exportador desta indústria, ii) a necessidade de

autonomia tecnológica para o setor de defesa considerando a agenda de defesa nacional.

Neste contexto verifica-se o histórico e a trajetória da indústria de defesa no país e a

utilização da política de offset, destaque para o setor aeronáutico, como mecanismo de

indução tecnológica.

Metodologia

Inicialmente buscou-se uma perspectiva histórica dos números de produção do

setor de defesa no Brasil e no mundo. As fontes e dados são diversos sendo observados:

i) dados secundários a partir de trabalhos de pesquisadores no Brasil, do Stockholm

International Peace Research Institute (SIPRI) e do Institute of War and Peace da

Universidade de Columbia (SIWPS); ii) dados primários a partir do Ministério da

Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Ministério do Desenvolvimento Indústria e

Comércio (MDCI) e Ministério da Defesa (MD). A ideia é contextualizar a trajetória da

indústria, e do mercado de defesa no Brasil. Posteriormente, estes números irão auxiliar

a análise do peso deste setor na balança comercial brasileira, o objetivo é deixar claro a

importância econômica do setor para o país.

Na sequência, buscaremos um histórico da “política de offset” no Brasil, a partir

de final da década de 60. O objetivo desta etapa é buscar mapear a trajetória da

utilização da “política de offset” ao longo das últimas cinco décadas, a fim de se buscar

localizar a existência, ou não, de uma lógica na utilização deste instrumento, offset, para

o desenvolvimento do parque industrial e tecnológico de defesa no país.

59 Professor da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CEAG. O autor agradece

os comentários e contribuições da Profa. Susan Elizabeth M.C. de Oliveira, Prof. Eduardo

Freitas e do pesquisador Luciano Souza. Erros ou equívocos são de responsabilidade do autor.

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112

Na seção seguinte, a experiência internacional, o objetivo é observar de que

maneira alguns países selecionados lidam com a agenda “política de offset”. Para a

seleção dos países serão considerados aspectos relacionados a importância do países no

contexto de transferência ativa de tecnologia. Inicialmente pensou-se em buscar os

países inseridos no bloco de países emergentes sob a descrição de BRICS (Brasil,

Rússia, China, Índia e África do Sul) entretanto, constatou-se que a maioria destes

países são pouco ativos na agenda de transferência tecnológica via política de offset.

Desta forma, buscou-se elencar alguns países que possuem papel relevante na agenda

“política de offset”, também buscou-se países que, embora não sejam grandes players no

segmento de transferência tecnológica, possuem uma tradição neste tipo de ação

(Estados Unidos, Canadá, Itália, Suécia, Reino Unido, Índia e Espanha). Por fim, foi

verificado, brevemente, de que maneira a discussão da “política de offset” esta sendo

analisada no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Esgotada a observação dos países selecionados foi construída uma matriz para

comparação das “políticas de offset” adotadas por estes países. As variáveis foram

selecionadas após a fase de coleta de dados. As bases de dados selecionadas foram:

Organização Mundial do Comércio (OMC), Orgãos de Estado do países selecionados

(Estados Unidos, Canadá, Itália. Suécia, Reino Unido, Índia e Espanha), dados

secundário do Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI) e do Institute

of War and Peace da Universidade de Columbia (SIWPS).

Na última seção são tratados as conclusões do trabalho.

Mercado internacional de defesa

O comércio internacional de equipamentos de defesa atingiu o pico em 1982,

com US$ 46,4 bilhões transacionados. Com o declínio da União Soviética e fim da

guerra fria, houve uma significativa redução dos investimentos na área de defesa, com

as exportações reduzindo-se para US$ 17,9 bilhões em 2002. A partir de então tem

havido um reaparelhamento das forças armadas em diversos países, com as exportações

atingido um valor de US$ 30 bilhões em 2011, um aumento de 55,75% em comparação

a 2002. Conforme pode ser observado na Figura 1, os aviões sempre representaram uma

parte significativa do comércio internacional no segmento defesa, tendo correspondido à

52,71% do montante transacionado em 2011.

Figura 1 – Comércio internacional de equipamentos de defesa

Dados originais: (SIPRI, 2012). Valores expressos em US$ à preços constantes de 1990.

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Uma característica dos produtos e equipamentos de defesa é que estes não se

restringem a um setor específico, portanto não podem ser facilmente identificados a

partir de classificações normalmente utilizadas no comércio internacional, como o

Harmonized System Code, ou a Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM). Também

deve ser considerado algumas idiossincrasias relacionadas entre a metodologia utilizada

pelo MDIC e pelo SIPRI60.

Figura 2 – Balança comercial brasileira – equipamentos relacionados ao

segmento de defesa

Fonte: MDIC (2012)

Obs: dados de 2012, referentes ao período de 01 à 09/2012.

Historicamente, é possível constatar que o Brasil ocupou uma posição de

destaque entre os países produtores de equipamentos de defesa61. Atualmente, o quadro

apresentado indica que a exportação de armas e munições saltou de US$ 60 para US$

292 milhões de 1997 à 2011, com um crescimento de 274,13%, mantendo um saldo

positivo significativo. Os equipamentos de radar foram aqueles que representaram

60 Comparando dados do MDIC, referentes à exportação e importação, com os dados do

SIPRI, observa-se diferenças significativas. Como os dados do MDIC são os dados estatísticos

oficiais referentes ao comércio exterior brasileiro, foi realizada uma análise destes dados, nas

classificações relacionadas ao segmento de defesa, a partir dos códigos NCM: 93 - armas e

munições, suas partes e acessórios; 8526 - Aparelhos de radiodetecção e de radiossondagem

(radar), aparelhos de radionavegação e aparelhos de radiotelecomando; 8710 - Veículos e carros

blindados de combate e suas partes; 8805 - Aparelhos e dispositivos para lançamento de

veículos aéreos; aparelhos e dispositivos para aterragem de veículos aéreos em porta-aviões e

aparelhos e dispositivos; e 8906.10 - Navios de guerra. Ressalva-se que não foi analisada a

destinação dos equipamentos importados ou exportados, podendo os mesmos serem utilizados

para fins civis. Mas, como a correlação destes equipamentos com o segmento de defesa é

relevante, optou-se por avaliar estes dados, que são mais precisos que os levantamentos feitos

por instituições como o SIPRI (nos levantamentos utilizados pelo SIPRI, existem vários

critérios, como o uso para o exercício da função de Defesa Nacional).

61 O Brasil já foi o 8º maior exportador mundial de equipamentos de defesa (ABDI, 2010).

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maiores impactos na importação, impulsionados pelo Sistema de Vigilância da

Amazônia (SIVAM). Para os demais equipamentos os números são relativamente

baixos, tanto na importação quanto na exportação.

Na NCM não são segmentados aviões para uso civil ou de defesa, a

diferenciação dá-se pelo tipo de motorização: hélice, turboélice ou turbojato; e pelo

peso: inferior à 2t, entre 2t e 7t, entre 7t e 15 t e acima de 15t. O valor total de

exportação dos segmentos analisados como relacionados com o setor de defesa, entre 01

e 09/2012 foi de US$ 323 milhões, de um total de 180,5 bilhões exportados pelo país,

correspondendo à 0,18%.

Histórico da política de “offset tecnológico” no Brasil

O histórico da política de offset tecnológico no Brasil remonta aos anos 1950,

quando a Aeronáutica adquiriu aviões Gloster Meteor TF-7 e F-8 ingleses. Naquela

ocasião, a compensação foi do tipo comercial, com o Brasil entregando algodão ao

Reino Unido.

Em 1974, a Aeronáutica utilizou mais uma vez o offset na aquisição aviões F-

5E. Desta feita, a compensação foi do tipo “transferência de tecnologia” ou “offset

tecnológico”, materializada pela instalação de uma linha de produção e montagem de

estabilizadores verticais e de pilones das aeronaves F-5E pela Embraer. Nesse processo,

algumas tecnologias importantes, tais como materiais compostos (honeycomb bonding),

de tratamentos térmicos e de usinagens especiais foram absorvidas pela empresa e,

posteriormente, usadas nos projetos das aeronaves nacionais EMB-Xingu e EMB-120

Brasília.

Em 1976 foi ativado o Centro Integrado de Defesa e Controle do Tráfego Aéreo

- Cindacta I, à empresa francesa Thomson. Nessa operação, a aeronáutica empregou

offset do tipo “compensação comercial”, por meio da qual a França adquiriu 41

aeronaves Xingu, para a força aérea daquele país.

Em 1979, o Ministério da Aeronáutica, juntamente com a empresa brasileira

Aeromot, entabularam negociações com as empresas Boeing, americana, e Airbus,

europeia, para que as poltronas das aeronaves vendidas ao Brasil fossem produzidas

pela empresa Aeromot. Para tanto, as empresas estrangeiras deveriam transferir a

tecnologia de produção dessas poltronas, incluindo processo de fabricação e

treinamento, o que se caracterizou como “offset tecnológico”.

Ao longo dos anos 1970 e 1980, o Centro Tecnológico da Aeroespacial (CTA),

por intermédio do seu Instituto de Fomento e Coordenação Industrial (IFI),

implementou diversas ações de “offset tecnológico”, visando principalmente a

fabricação de componentes de aeronaves no país, incluindo motores. Essa ação

favoreceu o desenvolvimento de inúmeras empresas do setor aeroespacial.

Em 1988 o Exército Brasileiro adquiriu 52 helicópteros, sendo 36 AS 365K-

Pantera e 16 HB 350L1-Esquilo, ambos os modelos fabricados pela empresa francesa

Aeroespatiale. A compensação incluída como offset contemplou o seguinte: exportação

de 50 aviões Tucano da Embraer para a França, em valor superior a US$100 milhões;

exportação de máquinas agrícolas; transporte das aeronaves por empresas brasileiras;

modernização da empresa Helibrás (fabricante de helicópteros); instalação da empresa

Turbomeca de manutenção de turbinas; realização de capacitação de pilotos, instrutores,

mecânicos de voo, de elétrica, de aviônica, de estruturas, de motores, de hidráulica e de

inspetores, dentre outros itens.

Em 1992, o contrato de aquisição de aeronaves MD-11 pela Varig contemplou o

“offset tecnológico” de transferência de tecnologia para fabricação, pela Embraer, de

conjuntos de flaps, incluindo o treinamento necessário. O contrato contemplou,

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também, offset comercial, com a venda de aviões EMB-120 Brasília para os Estados

Unidos da América.

Em 1991 e 1992, O Ministério da Aeronáutica aprovou a sua Política de

Compensação Comercial, Industrial e Tecnológica, bem com a Diretriz 360-1, que

regulava a política de compensação comercial. Esses documentos possibilitaram a

inclusão de offset em praticamente todos os projetos posteriores da Aeronáutica, tais

como: modernização dos aviões F-5BR; aquisição de aeronaves de caça (F-X);

aquisição de aeronaves de transporte (CL-X); aquisição de aeronaves de patrulhamento

marítimo (P-3BR); aquisição de sistemas e sensores; e a modernização das aeronaves

A-1M.

Em 27 de dezembro de 2002, foi aprovada a Política de Compensação

Comercial, Industrial e Tecnológica do Ministério da Defesa, por intermédio da Portaria

Normativa n.º 764/MD, que, com isso, passa a assumir a coordenação estratégica das

compensações em benefício da indústria de defesa, a partir das importações de sistemas

e equipamentos pelas Forças Armadas.

As experiências recentes sobre “offset tecnológico” tem se pautado pelas ações

de readequação de equipamentos de uso das três forças.

Em 2008, o Exército Brasileiro (EB) decidiu desenvolver e fabricar uma nova

Viatura Blindada de Transporte de Pessoal Média de Rodas (VBTP-MR), tendo sido

escolhida, após licitação, a empresa italiana Iveco. Como “offset tecnológico”, a viatura

deverá ser desenvolvida e fabricada no Brasil, em conjunto com pessoal do próprio

Exército. Para isso, uma nova linha de montagem foi instalada na cidade de Sete

Lagoas-MG. Dessa forma, espera-se que a tecnologia seja transferida para o Brasil.

Em 2011, o EB adquiriu um conjunto de rádios de comunicações de campanha

da empresa Harris e, como “offset tecnológico”, contemplou a transferência de

tecnologia por meio da montagem dos equipamentos em instalações do Centro de

Comunicações e Guerra Eletrônica do Exército (CComGEx), além de treinamento do

pessoal do próprio Exército em técnicas de fabricação e manutenção dos rádios.

A Marinha do Brasil vem conduzindo o projeto de aquisição de um submarino

nuclear francês da classe Scorpene. O contrato previu como “offset tecnológico” a

transferência de tecnologia de construção de submarinos, por meio de capacitação e

desenvolvimento conjunto.

Disciplinas da Organização Mundial do Comércio acerca de offset

A Organização Mundial do Comércio (OMC), no Artigo XVI do Acordo de

Compras Governamentais62 (ACG) proíbe, como regra geral, o uso de offsets63. O

Acordo, no entanto, abre duas importantes exceções a esta proibição, autorizando a

prática de offset nos seguintes casos:

i) Tratamento especial e diferenciado para países em desenvolvimento. Segundo

o Artigo XVI:2 do ACG, países em desenvolvimento podem negociar, no momento de

seu acesso ao Acordo, condições para o uso de offsets, garantindo que só serão usados

como qualificação para participar do processo de compra, e não como critério para

concessão de contratos;

62 The Agreement on Government Procurement (GPA), art. XVI(1) n.7, Apr. 15, 1994,

Marrakesh Agreement Establishing the World Trade Organization, Annex 4(b) 1994 disponível

em [ http://www.wto.org/english/docs_e/ legal_e/gpr-94_02_e.htm. 63 A definição de offset que consta no Acordo é a de que “offsets em compras

governamentais são medidas usadas para encorajar o desenvolvimento local ou aperfeiçoar as

contas de balanço de pagamentos por meio de conteúdo doméstico, licença de tecnologia,

requisitos de investimentos, comércio recíproco ou requisitos similares”.

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ii) Compras governamentais relacionadas à segurança nacional, ou para fins

de defesa, como explicitado no Artigo XXIII:164.

É comum o entendimento da comunidade internacional sobre a permissão sob o

ACG da prática de offset para o setor de defesa. É importante ressaltar, no entanto, que

o ACG, apesar de emanado da Rodada Uruguai, é um acordo plurilateral (não fazendo

parte do “single-undertaking” da Rodada), sendo que o Brasil não é signatário do

Acordo65.

Política de offset “ofertante”

Iniciativa internacional para limitar os efeitos adversos do offset em compras do

setor de defesa

Em 2004, o governo dos Estados Unidos estabeleceu um grupo de trabalho

interministerial para iniciar um processo de diálogo com outros países e organismos

internacionais para discutir os impactos adversos do offset em compras do setor de

defesa. Esta iniciativa tem como principais objetivos: (i) promover o entendimento

global sobre como os diferentes tipos de offset impactam a base industrial; (ii) encorajar

o desenvolvimento de princípios globais para limitar os impactos negativos dos offsets;

e (iii) encorajar os países a dar o máximo de flexibilidade para o cumprimento dos

requisitos de offset.

Desde 2007, o grupo de trabalho vem adotando uma abordagem em duas vias

paralelas:

1) engajamento de outros países provedores de offset que possuam visões

similares às americanas para construir consenso e avançar objetivos comuns, para

alavancar esforços conjuntos de provedores de offset com demandantes de offset;

2) engajamento bilateral com países demandantes de offset para encorajar a

flexibilização de demandas de offset. O grupo de trabalho também busca o engajamento

de organizações multilaterais, assim como o diálogo contínuo com a Agência Europeia

de Defesa (EDA), a Comissão Européia (EC), e a Organização do Tratado do Atlântico

Norte (OTAN).

Estados Unidos e Offset

A política do Governo dos Estados Unidos sobre offset no comércio de

produtos de defesa considera que o offset seja uma prática “economicamente

ineficiente e distorciva ao comércio 66 ”, e proíbe qualquer Agência do governo

americano de encorajar, entrar diretamente em, ou comprometer firmas americanas em

qualquer arranjo de offset em conexão com a venda de artigos ou serviços de defesa

para governos de outros países. No entanto, na prática, as empresas dos Estados Unidos

argumentam que na realidade do mercado de empresas competindo em processos

internacionais de defesa, os offsets são geralmente necessários para a concretização da

venda.

64 “Nada neste acordo deve ser interpretado como impedindo uma parte de tomar qualquer

ação ou de não divulgar as informações que considere necessárias para a proteção dos seus

interesses essenciais de segurança relacionados com a aquisição de armas, munições ou material

de guerra, ou para compras indispensáveis à nacional segurança ou para fins de defesa

nacional”. 65 Atualmente, o acordo possui 41 países signatários. 66 Defense Production Act Amendments of 1992 (Pub. L. 102-558, Title I, Part C, §123)

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117

Segundo dados do “16th Relatório sobre Offset no Comércio de Defesa”,

elaborado pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos, durante o período de

1993 a 2010, 52 empresas americanas reportaram terem participado de 763 contratos de

offset relacionados à exportação de artigos e serviços de defesa, no valor de US$ 111

bilhões, com 47 países. Os acordos de offset associados aos contratos responderam por

78 bilhões.

União Europeia e Offset

Em agosto de 2011 entrou em vigor na União Europeia uma Diretiva sobre

Compras Governamentais de Defesa. A diretiva visa trazer para a égide do Acordo da

União Europeia o comércio no setor de defesa. Apesar da Diretiva não usar

explicitamente o termo “offset”, guias publicados pela CE atestam que offsets não

seriam permitidos em compras realizadas segundo as regras da Diretiva. Se um Estado-

membro pretender impor obrigações de offset na aquisição de artigos de defesa, terá de

invocar o artigo 346 do Tratado da União Europeia (exceção de segurança nacional).

Considera-se que entrada em vigor da Diretiva, possa potencialmente reduzir o uso de

offset na Europa.

Ademais, a Agência Europeia de Defesa (EDA), em 2009, estabeleceu um

“Código de Conduta para Offset”, assinado por todos seus membros, exceto a Romênia.

Este Código se aplica quando um membro invoca o Artigo 346 do Tratado da União

Europeia, situação em que a diretiva sobre compras governamentais de defesa deixa

de ser aplicada. Segundo o Código, os offsets requeridos ou aceitos por Estados

membros não poderão exceder o limite do valor do contrato (limite de 100% para

offset). Além disso, prevê que os offsets deverão ter um peso inferior nos editais de

licitação (ou usados como critérios subsidiários naquelas ofertas de mesmo peso), para

assegurar que a decisão de compra seja baseada na melhor solução disponível, que traga

maiores vantagens econômicas. Por fim, o Código dispõe que os Estados-membros

permitirão que os licitantes internacionais selecionem seus parceiros ou receptores do

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offset dentro do país comprador, propiciando uma competição justa e aberta dentro das

cadeias de fornecedores. Apesar do Código ser não-vinculante, segundo a EDA seus

membros geralmente adotam as disposições estabelecidas pela Agência.

Política de offset “demandante”

A análise sobre a política de offset foi estruturada a partir da verificação das

práticas adotadas pelos países selecionados 67 (ver quadros 1 a 3). As variáveis

consideradas estão organizadas da seguinte forma: Quadro 1 – base legal, autoridade

responsável, objetivos e período de execução; Quadro 2 – exigências, multiplicadores,

offset direto/indireto, atividades elegíveis; Quadro 3 – setores elegíveis, seleção de

receptores, monitoramento.

Quadro 1

No que diz respeito a base legal é possível verificar que todos os países

selecionados, a exceção da Itália, possuem um marco legal específico para a agenda

relacionada à offset. Em alguns casos (ex. Canadá e Reino Unido) o marco legal busca

convergir com a política industrial do país. Chama a atenção o fato da autoridade

responsável pela política de todos os países citados, exceção do Canadá, vincularem

suas políticas de offset com seus Ministérios da Defesa, por vezes atuando em

convergência outros departamentos vinculados a políticas industriais e tecnológicas,

como exemplo é possível destacar o Reino Unido na relação entre Ministério da Defesa

e Departamento de Comércio e Investimento. A proximidade entre os ministérios de

defesa e a agências de fomento industrial fica clara ao se observar os objetivos descritos

pelas políticas que focam essencialmente o fortalecimento da indústria local de defesa

através de acesso a tecnologias, ou ainda via acesso à novos mercados externos. No

tocante ao período do contrato, na maioria dos casos, com exceção da Índia, é

respeitado o período de vigência do contrato.

Quadro 1 – Comparativo de Políticas de Offset – países selecionados (parte 1)

Canadá Espanha Índia Itália Reino Unido Suécia

Base legal Política

Industrial e de

Benefícios

Regionais para

Grandes Projetos

da Coroa

(Industrial and

Regional

Benefits Policy

for Major Crown

Projects -1986)

Diretiva do

Secretario de

Estado de

Defesa

Revised Defense

Offset

Guidelines

(2012), anexo ao

Defence

Procurement

Procedure ,

publicado em-

2011

Não há

política de

offset formal.

Diretivas

internas da

Secretaria

Geral de

Defesa.

Offsets

aplicados em

cada licitação

caso a caso.

Política de

Participação da

Indústria

(Industry

Participation

Policy - 2003),

revista de

acordo com a

Estratégia

Industrial de

Defesa (2007).

Lei de

Compras

Governamentais;

Programa de

Participação

Industrial

(Industrial

Participation

Programme -

1999).

Autoridade

responsável

Ministério da

Indústria

(Industry

Canada) em

conjunto com

agencias de

desenvolvimento

Ministério da

Defesa

(National

Armaments

Director)

com o apoio

da Agência

Ministério da

Defesa (Ministry

of Defense –

Defense Offsets

Management

Wing e

Acquisition

Ministério da

Defesa

(Diretor

Nacional de

Armamentos)

Ministério da

Defesa

(Ministry of

Defense -

responsável pela

política ) e

Departamento

Ministério da

Defesa (FMV).

O Ministério é

obrigado a

consultar as

Forças Armadas

para decidir

67 Canadá, Espanha, Índia, Itália, Reino Unido e Suécia.

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119

regional de

Cooperação

Industrial

(uma

empresa

pública,

liderada pelo

Secretário de

Estado para

Defesa,

possuindo

também

representação

do Ministério

da Ciência e

Tecnologia) .

Wing) do Comércio e

Investimento

(Department of

Trade and

Investment -

Defense and

Security Group

- responsável

pela

implementação).

sobre a

aplicação do

offset em

processos

licitatórios de

defesa

específicos.

Objetivos Desenvolvimento

industrial de

longo prazo;

desenvolvimento

de pequenas

empresas;

desenvolvimento

regional

Desenvolver

uma base

industrial de

defesa

competitiva;

Incentivar e

consolidar a

segurança

nacional de

oferta e todo

o ciclo de

vida; suporte

logístico e

manutenção

de principais

sistemas

militares;

Desenvolver

os setores

industriais

estratégicos

de defesa.

Desenvolver a

indústria de

defesa indiana,

por meio de (i)

incentivo ao

desenvolvimento

de empresas

competitivas a

nível

internacional;

(ii) aumento da

capacidade de

pesquisa,

desenvolvimento

e design,

relacionada a

produtos e

serviços de

defesa; (iii)

encorajar o

desenvolvimento

de setores

sinérgicos, como

o setor

aeroespacial

civil e o setor de

segurança

interna.

Manter e

fortalecer a

capacidade,

conhecimento

e potencial de

exportação da

base

industrial de

defesa

italiana.

Incentivar a

criação de

trabalho e

oportunidades

de negócios

para empresas

do reino unido e

assegurar seu

acesso a

mercados

externos por

meio do

estabelecimento

de parcerias de

longo prazo

com empresas

estrangeiras.

Apoiar a longo

prazo a

proteção de

interesses

básicos de

defesa e

segurança da

Suécia.

Assegurar a

participação da

indústria

doméstica

manufatureira.

Promover a

transferência de

tecnologias

avançadas à

indústria de

defesa.

Aumentar as

exportações de

produtos,

sistemas e

tecnologias

avançadas

suecas

relacionadas a

defesa.

Período de

execução

Geralmente o

período do

contrato.

Geralmente o

período do

contrato.

Pode ser

prorrogado por

até dois anos

apos a conclusão

da execução do

contrato

principal.

Negociado

caso a caso

Geralmente o

período do

contrato.

Geralmente o

período do

contrato.

Fonte: Elaboração do autor

Quadro 2

Ao se verificar as exigências é possível constatar que existe uma variação de

30% a 100% do contrato, em alguns casos (Canadá e Espanha) abre-se espaço para

redução destes percentuais. Na questão dos multiplicadores existe uma maior

diversidade de posições, o Canadá direciona a ação nas relações entre Universidade e

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Institutos de Pesquisa com um teto de 5%. Já a Espanha geralmente não utiliza, a Índia

e a Itália, por sua vez, assumem uma postura mais agressiva. A Itália foca três aspectos

(i) tecnologia já possuída pela indústria doméstica, (ii) tecnologia parcialmente possuída

pela indústria doméstica, (iii) tecnologia é totalmente nova. O Reino Unido não

considera a questão. A Suécia por sua vez busca observar questões focadas na

necessidade das forças e no fomento a pequenas e médias empresas e em atividades de

P&D. No que toca a questão de offset, direto e indireto, não existe divergências visto

que todos os países selecionados consideram sua adoção. Nas atividades elegíveis é

verificado que, de forma geral, são considerados co produção, assistência técnica,

marketing e atividades de P&D. Aqui chama a atenção, novamente, o caso da Suécia

que considera transferência de tecnologia e know-how, cooperação/ colaboração em

tecnologia e P&D, compra de produtos e serviços de defesa, investimentos que

aumentem a competitividade da indústria de defesa, atividades que colaborem para

maior acesso a mercados para produtos suecos.

Quadro 2 – Comparativo de Políticas de Offset – países selecionados (parte 2) Canadá Espanha Índia Itália Reino

Unido

Suécia

Exigência

s

Normalm

ente 100% do

valor do

contrato;

somente o

valor de

conteúdo

canadense é

computado;

obrigatoriame

nte novas

atividades

econômicas;

distribuição

regional de

benefícios é

importante;

causalidade

deve ser

comprovada;

recentemente,

60% da

transação de

offset deve ser

identificada

antes da

assinatura do

contrato.

Geralmente

100% do valor

do contrato.

Pode ser

negociada uma

redução.

Normalmente,

30% do valor do

contrato. O

Defense Acquisition

Council poderá

estabelecer

patamares

superiores ou

aceitar a não

aplicação de offset

em casos especiais.

Dete

rminado

por

negociaç

ão,

girando

em torno

de 75% a

100% do

valor do

contrato.

Não há

uma

porcentagem

pré-

estabelecida,

mas até o

limite de

100% do

valor do

contrato.

Licitantes

propõe o nível

que será

negociado.

Mínimo

de 100% do

valor do

contrato.

Offsets não são

requeridos de

empresas de

países que não

possuem uma

política de

offset.

Multiplicad

ores

Geralmen

te usado

somente em

relação a

atividades de

offset

envolvendo

universidades

canadenses ou

institutos de

Geralmente

não são

utilizados.

Multiplicador

de 1.5 é permitido

nos casos em que

micro, pequenas e

médias empresas

são parceiras

indianas de offset.

Nos casos de

aquisição de

tecnologia pela

a)

tecnologi

a já

possuída

pela

indústria

doméstic

a (1);b)

tecnologi

a

nenhum Normalme

nte não são

aplicados.

Podem ser

considerados

para P&D não

ligada ao

contrato, e que

seja

desenvolvida

Page 121: Anita Kon (PUC/SP) Luiz Guilherme de Oliveira (FATEC ... · Trabalho, Economia Industrial e Tecnologia, Economia da Serviços e Atuária e Economia da Sustentabilidade. A mesa de

121

pesquisa, no

valor máximo

de 5%.

Defense Research

and Development

Organization, um

multiplicador de até

3 poderá ser

adotado.

parcialm

ente

possuída

pela

indústria

doméstic

a (2); c)

tecnologi

a é

totalment

e nova

(3)

na Suécia, para

a participação

de pequenas e

médias

empresas, e

em apoio a

áreas

prioritárias

para as Forças

Armadas.

Direto/indireto Ambas

categorias são

aceitas, mas

preferência

pelo offset

direto

Ambas

categorias são

aceitas, mas há

preferência pelo

offset direto

(geralmente

precisa ser 60%

do compromisso

de offset).

Proporção

requerida varia

de contrato para

contrato.

Ambas

categorias são

aceitas.

Amb

as

categoria

s são

aceitas.

preferênc

ia pelo

offset

direto.

Benefícios

diretos, assim

como

propriedade

intelectual

indireta são

aceitáveis.

Ambas

categorias são

aceitas.

Atividades

elegíveis

Participação

direta de

empresas

canadenses na

produção e

sustentação do

equipamento

objeto de

licitação;

outras

compras

diretas através

de setores

industriais;

transferência

de tecnologia

e colaboração;

marketing e

assistência à

exportação.

Coprodução

(licenças e

patentes);compr

as de produtos e

serviços

domésticos;

colaboração em

P&D; provisão

de

equipamentos,

ferramentas e

software;

gerenciamento

técnico,

relacionado à

produção e

suporte logístico

integrado.

a) Compra direta de

produtos ou

serviços de

empresas indianas,

seguindo uma lista

de produtos

elegíveis; b)

Investimento

externo direto em

joint ventures com

empresas indianas;

c) Transferência de

tecnologia para

manufatura,

manutenção de

produtos ou

fornecimento de

serviços elegíveis;

d) investimento em

espécie em

empresas indianas

para fornecimento

de equipamentos ;

e) fornecimento de

equipamentos ou

transferência de

tecnologia para

instituições

governamentais; f)

Aquisição de

tecnologia pela

Defense Research

and Development

Organization.

Participa

ção no

desenvol

vimento,

produção

e

assistênci

a do

equipame

nto sendo

comprad

o.

Transferê

ncia de

tecnologi

a de

interesse

do

Ministéri

o.

Contratos para

o

desenvolvime

nto ou

produção de

equipamentos

de defesa.

Contratos

relacionados a

P&D no setor

de defesa;

Transferência

de tecnologia;

assistência de

marketing.

Transferência

de tecnologia e

know-how;

cooperação/

colaboração

em tecnologia

e P&D;

compra de

produtos e

serviços de

defesa;

investimentos

que aumentem

a

competitividad

e da indústria

de defesa;

atividades que

colaborem

para maior

acesso a

mercados para

produtos

suecos.

Fonte: Elaboração do autor

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122

Quadro 3

Quanto aos setores elegíveis é verificado que o foco central dos países é a área

de Defesa. No que se refere à seleção de receptores o processo fica ao critério dos

li.citantes, sempre seguindo os requisitos anteriores (exemplo: exigências, objetivos,

etc). O monitoramento fica por conta das agências de fomento responsáveis envolvidas

no processo.

Quadro 3 – Comparativo de Políticas de Offset – países selecionados (parte 3) Canadá Espanha Índia Itália Reino Unido Suécia

Setores

elegíveis

Pode ser

direcionado a

todos os setores

de alta

tecnologia:

defesa,

aeroespacial,

automotivo,

tecnologia da

informação.

Preference

for defence

or civil with

a suitable

dual-use

technology

content.

Defesa Defesa Somente defesa Somente

defesa (desde

2004)

Seleção de

receptores

Industry Canada

e agências de

desenvolvimento

regional

trabalharão com

licitantes para

identificar

potenciais

empresas

canadenses, mas

os licitantes tem

liberdade para

escolher, tendo

como base

imperativos de

mercado e de

negócio.

Licitantes

tem total

liberdade

para

escolher

parceiros e

fornecedores

domésticos.

Licitantes tem

liberdade para

escolher o

parceiro

indiano, desde

que este

parceiro não

tenha sido

previamente

barrado a

realizar

negócios com o

Ministério da

Defesa.

Licitantes

tem liberdade

para escolher

parceiros na

indústria

doméstica de

defesa.

Licitantes

podem

escolher as

empresas do

Reino Unido

com quem irão

estabelecer

atividades de

offset.

Espera-se

que o

licitante

selecione a

opção de

melhor custo-

benefício ao

escolher

parceiros ou

fornecedores

suecos.

Monitoramento Avaliação anual

conduzida pela

Industry Canada

de contratos com

compromissos

de offset ativos

Reuniões

periódicas

entre

licitante e a

Agência de

Cooperação

Industrial.

Licitantes

devem fornecer

relatórios

semestrais ao

Defense Offset

Management

Wing

(DOMW),

seguindo um

formato pré-

estabelecido.

Se necessário,

o DOMW

poderá realizar

uma auditoria

para verificar o

nível de

implementação.

Contractors

are required

to submit bi-

annual

progress

reports to the

MoD.

Devem

submeter

relatórios

semestrais.

Licitantes

devem

entregar

relatórios

anuais de

progresso.

Fonte: Elaboração do autor

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123

Melhores práticas

O quadro 4 busca listar as melhores práticas, entre as que foram apresentadas,

pelos países selecionados. As variáveis listadas são as mesmas presentes nos quadros 1,

2 e 3. É importante ressaltar que a seleção destas “melhores práticas” foi baseada em

critérios que buscou observar: 1) uma interação e penetração do setor de defesa na

adoção do offset, 2) convergência das políticas compensatórias com o desenvolvimento

tecnológico local a partir das relações entre Universidade/Institutos de

Pesquisa/Empresas locais, 3) construção de políticas a partir de sintonias entre

ministérios e secretarias industriais e tecnológicas.

Quadro 4 – Melhores práticas

Países Práticas

Base legal Reino Unido Política de Participação da

Indústria (Industry Participation

Policy - 2003), revista de

acordo com a Estratégia

Industrial de Defesa (2007).

Autoridade responsável Todos bastante semelhantes Inter ministerial com foco

especial em defesa

Objetivos Todos bastante semelhantes Fortalecer a Base Industrial

de Defesa

Período de execução Todos bastante semelhantes Período do contrato

Exigências Suécia Mínimo de 100% do valor

do contrato. Offsets não são

requeridos de empresas de

países que não possuem uma

política de offset.

Multiplicadores Suécia Normalmente não são

aplicados. Podem ser

considerados para P&D não

ligada ao contrato, e que seja

desenvolvida na Suécia, para a

participação de pequenas e

médias empresas, e em apoio a

áreas prioritárias para as Forças

Armadas.

Direto/indireto Todos bastante semelhantes Ambas categorias são

aceitas.

Atividades elegíveis Suécia Transferência de tecnologia

e know-how; cooperação/

colaboração em tecnologia e

P&D; compra de produtos e

serviços de defesa;

investimentos que aumentem a

competitividade da indústria de

defesa; atividades que

colaborem para maior acesso a

mercados para produtos suecos.

Setores elegíveis Todos bastante semelhantes Preferencialmente Defesa

Seleção de receptores Todos bastante semelhantes A critério dos licitantes

Monitoramento Todos bastante semelhantes Agências de fomento

responsáveis envolvidas no

processo

Fonte: Elaboração do autor

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124

Em que pese uma forte similaridade nas formas de atuação entre os países é

possível afirmar que o “modelo sueco” tem uma maior sinergia com os critérios

adotados para a seleção de “melhores práticas”. Pesam a favor deste modelo o fato de se

buscar uma forte interação entre pequenas e médias empresas, em convergência com as

necessidades das forças. Este processo busca desconcentrar os investimentos dos

grandes grupos nacionais e pulverizá-los em empresas de base tecnológica de pequeno e

médio porte. Também deixa claro a importância da transferência de tecnologia e know

how para as empresas participantes.

Alguns casos, exemplo da Índia, deixam bastante claro suas opções tecnológicas

estratégicas para aquisição de tecnologias através de offset (ver caixa 1). Este tipo de

opção política, de deixar explícito o apoio e a necessidade da adoção de mecanismos de

suporte para o setor de defesa, é bastante interessante a partir do momento em que deixa

claro para a sociedade quais as intenções do Estado com a adoção de mecanismos de

indução para o desenvolvimento tecnológico do setor de Defesa.

Caixa 1: Lista de tecnologias críticas para o setor de Defesa na Índia, sujeitas a aquisição via

offset

1. MEMs based sensors, actuators, RF devices, Focal plane arrays.

2. Nano technology based sensors and displays.

3. Miniature SAR & ISAR technologies.

4. Fiber Lasers Technology.

5. EM Rail Gun technology.

6. Shared and Conformal Apertures.

7. High efficiency flexible Solar Cells technology.

8. Super Cavitations technology.

9. Molecularly Imprinted Polymers.

10. Technologies for Hypersonic flights (Propulsion,

Aerodynamics and Structures).

11. Low Observable Technologies.

12. Technologies for generating High Power Lasers.

13. High Strength, High-modulus, Carbon Fibers, Mesophase

pitch-based fiber, Carbon Fiber Production Facility.

14. Pulse power network technologies.

15. THZ Technologies.

Referencias bibliográficas

ABDI – AGÊNCIA BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL. Estudos

Setoriais de Inovação: Base Industrial de Defesa. Brasília: ABDI/IPEA, 2010.

SIPRI – STOCKHOLM INTERNATIONAL PEACE RESEARCH INSTITUTE. SIPRI

Yearbook 2012: Armaments, Disarmament and International Security. Oxford: Oxford

University Press, 2012

OMC – The Agreement on Government Procurement (GPA), art. XVI(1) n.7, Apr. 15,

1994, Marrakesh Agreement Establishing the World Trade Organization, Annex 4(b) 1994

disponível em http://www.wto.org/english/docs_e/ legal_e/gpr-94_02_e.htm

EUA – Defense Production Act Amendments of 1992 (Pub. L. 102-558, Title I, Part C,

§123), 2000.

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125

CONSOLIDAÇÃO LEGAL E BUSINESS INTELLIGENCE COMO

FERRAMENTAS DE POLÍTICA INDUSTRIAL.

Francisco Carlos Ribeiro

Sidney Benedito de Oliveira**

Geraldo Cesar Almeida***

Resumo: O presente artigo aponta como a criação de diretrizes de política

industrial fruto da consolidação legal bem como a Business intelligence podem ser

ferramentas para aumentar a credibilidade das políticas públicas e diminuir custos de

transação. Tais ferramentas podem aumentar a credibilidade dos agentes públicos ao

transmitir mais claramente ao empreendedor o marco regulatório da política industrial

local e ao mesmo tempo que o poder público pode informá-lo de dados fundamentais

para a instalação de empreendimentos ou mesmo para avaliação da sua rejeição.

Palavras-Chave: política Industrial, política pública, business intelligence,

administração pública.

1. A intencionalidade e a política pública.

Uma política pública pressupõe intencionalidade. Mesmo que seja focada nos

problemas e não em suas soluções possíveis, ou através da construção da agenda via

advocacy coalition, ou por abordagem neoinstitucionalista, enfim a política pública

pressupõe uma intencionalidade.

Segundo Celina Souza (2006, p. 36):

A política pública é abrangente e não se limita a leis e regras.

A política pública é uma ação intencional, com objetivos a

serem alcançados.

A autora sobriamente aponta também a abrangência de uma política pública. Seu

caráter holístico mesmo quando utilizados a abordagem por soluções disponíveis (teoria

da lata de lixo).

Celina Souza aponta:

Disso pode-se concluir que o principal foco analítico da

política pública está na identificação do tipo de problema que a

política pública visa corrigir, na chegada desse problema ao

sistema político (politics) e à sociedade política (polity), e nas

instituições/regras que irão modelar a decisão e a implementação

da política pública (2006, p. 40).

Dessa maneira, uma política pública que visa partir de um estágio, estabelecer

correções ou implementações fruto de uma agenda, seja a sua inclusão por pressão

política ou por próprio gerenciamento estatal pressupõe um conjunto de diagnósticos do

atual estágio de uma demanda, do que se pretende atingir, dos recursos materiais e

FATEC - Faculdade de Tecnologia de Sorocaba ** UNISO - Universidade de Sorocaba e Secretaria de Desenvolvimento Econômico e

Trabalho de Sorocaba *** Secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho de Sorocaba - SEDET

Page 126: Anita Kon (PUC/SP) Luiz Guilherme de Oliveira (FATEC ... · Trabalho, Economia Industrial e Tecnologia, Economia da Serviços e Atuária e Economia da Sustentabilidade. A mesa de

126

humanos necessários, e no tempo de sua implementação. Corroboram para a sua

avaliação as análises de eficiência, eficácia e efetividade.

2. A Credibilidade de uma política pública. A questão institucional-legal.

Segundo aponta Souza:

O elemento credibilidade das políticas públicas também

ganhou importância, ou seja, a prevalência de regras pré-

anunciadas seria mais eficiente do que o poder discricionário de

políticos e burocratas, contido nas políticas públicas. O fator

credibilidade passou a ser fundamental para políticas comoa

monetária, mas também influenciou o novo desenho das políticas

públicas em várias outras áreas. A credibilidade baseia-se na

existência de regras claras em contraposição à discricionariedade

dos decisores públicos e burocratas, a qual levaria à

inconsistência68 (2006, p. 35).

Segundo aponta o mestre do Direito Administrativo Helly Lopes Meirelles,

(2012, pp. 125-126):

A atividade discricionária encontra plena

justificativa na impossibilidade de o legislador catalogar na lei

todos os atos que a prática administrativa exige. O ideal seria que

a lei regulasse minuciosamente a ação administrativa, modelando

cada um dos atos a serem praticados pelo administrador; mas

como isto não é possível, dada a multiplicidade e diversidade dos

fatos que pedem pronta solução ao Poder Público, o legislador

somente regula a prática de alguns atos administrativos que reputa

de maior relevância, deixando o cometimento dos demais ao

prudente critério do administrador.

Mas, embora não cuidando de todos os aspectos

dos atos relegados à faculdade discricionária, o legislador

subordina-os a um mínimo legal, consistente na estrita

observância, por parte de quem os vai praticar, da competência,

da forma, da finalidade e dos princípios do regime jurídico

administrativo, deixando o mais à livre escolha do agente

administrativo.

Essa liberdade funda-se na consideração de que só

o administrador, em contato com a realidade, está em condições

de bem apreciar os motivos ocorrentes de oportunidade e

conveniência da prática de certos atos, que seria impossível ao

legislador, dispondo na regra jurídica – lei – de maneira geral e

abstrata, prover com justiça e acerto. b Só os órgãos executivos é

que estão, em muitos casos, em condições de sentir e decidir

administrativamente o que convém e o que não convém ao

interesse coletivo. Em tal hipótese, executa a lei vinculadamente,

quanto aos elementos que ela discrimina, e discricionariamente,

quanto aos aspectos em que ela admite opção.

Mesmo quanto aos elementos discricionários do

ato há

68 Grifo nosso

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127

limitações, impostas pelos princípios gerais do Direito e pelas

regras da boa administração, que, em última análise, são preceitos

de moralidade administrativa.

Daí dizer-se, com inteira propriedade, que a

atividade discricionária permanece sempre sujeita a um duplo

condicionamento: externo e interno. Externamente pelo

ordenamento jurídico a que fica subordinada toda atividade

administrativa (...) internamente, pelas exigências do bem comum

e da moralidade administrativa.

Celso Antonio Bandeira de Mello, em seu Curso de Direito

Administrativo aponta que “Com efeito, a discricionariedade não é a instauração de uma

‘liberdade de conduta’ propriamente dita” (2012, p. 979) 69. Tal afirmação deriva da

natureza da administração pública. Na administração pública, portanto na gestão da rés

pública, Meirelles bem aponta:

Na administração pública não há liberdade e nem vontade

pessoal. Enquanto na administração particular é licito fazer tudo

que a lei não proíbe, na Administração Pública só é permitido

fazer o que a lei autoriza. A lei para o particular significa ‘pode

fazer assim’; para o administrador público significa ‘deve fazer

assim’(MEIRELLES, 2012 p. 89).

Isto posto, é função do legislador e reduzir ao máximo o poder discricionário do

agente administrativo. Para que o mesmo não, de posse de lacunas na lei, lacunas acima

do razoável, use essa discricionariedade de forma arbitrária e não necessariamente ao

interesse público.

Assim, quando estamos falando de atitudes de governo as regras, não só as leis, mas

as diretrizes de governo devem ser claras, tendo em vista os preceitos da legalidade, da

moralidade administrativa, da impessoalidade, da publicidade e da eficiência.

Portanto, a credibilidade de políticas públicas está condicionada ao interesse público

pactuado. Portanto como apontou Souza:

A credibilidade baseia-se na existência de regras claras em

contraposição à discricionariedade dos decisores públicos e

burocratas, a qual levaria à inconsistência70 (2006, p. 35).

E interesse público pactuado é agir segundo uma agenda, com regras claras e

objetivos bem definidos que caracterizem o agir em prol da comunidade, em prol do

interesse público.

3. O emaranhado de Leis e a cortina de fumaça.

Ainda que seguindo os princípios da legalidade, da moralidade, da

impessoalidade, da publicidade um emaranhados de legislações que, mesmo carregado

69 A discricionariedade e seus efeitos danosos para administração (falando tecnicamente

quando: quando a discricionariedade se confunde com arbitrariedade, ou ainda quando

desvinculada do interesse público) é assunto de suam relevância. Bandeira de Mello dedica um

capítulo inteiro (o de número XIX intitulado “Discricionariedade Administrativa e Controle

Judicial” no seu livro Curso de Direito Administrativo). 70 Grifo nosso

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128

de interesse público, se não funcionarem de maneira orgânica, causa mais uma cortina

de fumaça e prejudica a credibilidade das intenções da administração pública e de

possíveis políticas públicas.

3.1. O exemplo da Agricultura e da Política Agrícola e d a Política Industrial

Uma consulta á legislação municipal com a palavra agricultura, retornaram 28

atos entre Decretos e Leis. Usando a palavra agricultura, à época retornaram mais 22.

Quando escrevemos a palavra política agrícola, à poça retornaram apenas quatro atos

que diziam respeito apenas a nomeação e alteração dos membros do Conselho

Municipal de Agricultura.

Desta forma, o Conselho Municipal de Agricultura, com o incentivo da

Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho (SEDET) elaborou uma minuta

de diretrizes para a Política Agrícola Municipal.

Da mesma maneira isso vem ocorrendo com a questão da Política Industrial do

Município. Pesquisamos sobre a Legislação com a palavra industrial, temos 257 atos.

Ao usar a palavra indústria, sobe para 649 atos. Se acrescentarmos à pesquisa uma

pesquisa sobre Tecnológico, temos 263 atos. Mas se entrarmos com a expressão política

industrial, ela retorna zero.71

Assim esse conjunto de Leis, obviamente muitas delas nada ligadas a política

industrial uma vez que a busca se deu por palavras, mas a fixação de um marco

regulatório, fruto de uma Lei sobre Diretrizes de Política Industrial, traçando um marco

consolidado avocando as leis existentes que promovem a política industrial, permite não

só direcionar melhor a prática de uma política pública, no caso as políticas agrícolas e

industriais, bem como aumentar a credibilidade e diminuir os custos de transação dos

empreendedores na medida em que permite uma visualização mais clara das

intencionalidades e das ferramentas de política industrial que o Poder Público de

Sorocaba dispõe.

3.2.A Nova Política Industrial e a necessidade de uma “alinhamento legal”

Segundo Baptista (1997, p. 127) aponta que “política industrial positiva significa

a introdução de uma postura estratégica orientada por metas na economia política

pública.” (grifo meu).

Como ao pesquisar no site não se retorna nenhum elemento com a expressão

“política industrial”, mas retorna-se significativo volume de itens para os termos

indústria, industrial e tecnológica, estamos trabalhando a partir do princípio que o

município tem diversas leis que promovem a política industrial, mas não tem, de fato,

uma política industrial legalmente consolidada e articulada apesar da miríade de leis que

aportam sobre indústria e inovação no município.

Suzigan e Silva, no texto “Política Industrial do Governo Lula” (2010, p. 21-

22), apontam que:

O papel da Política Industrial assume, assim, caráter estratégico

como instrumento de estímulo ao desenvolvimento do país. Uma de suas

tarefas centrais é a de coordenação de esforços públicos e privados em

71 Lamentavelmente houve um problema técnico no site da Prefeitura, no hipertexto

legislação. Por enquanto, o hipertexto tem remetido á busca da legislação no site da Câmara

Municipal, limitando sobremaneira a pesquisa, pois não conseguimos levantar, a partir de então,

os decretos do Poder executivo. Isso impediu uma atualização mais precisa. Os dados são

respectivos são do início de 2013.

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129

direção aos interesses maiores do país. Os países avançados não abriram

mão de exercer suas políticas industriais. Os agentes produtivos, que

precisam tomar decisões cruciais como investir e inovar em um ambiente

permeado de incertezas quanto aos resultados futuros de suas decisões,

são parte integrante desse esforço de construção (que é permanente) de

uma nação que se pretenda soberana.

Crescentemente, requer-se de uma política industrial a capacidade

de coordenar o todo (cada vez mais complexo), ao mesmo tempo em que

considera as especificidades da realidade em suas várias dimensões

(setorial, tecnológica, financeira, organizacional, institucional, regional),

apoiada em uma perspectiva dinâmica de longo prazo. 72 Também se

requer, frente à necessidade de maior seletividade, que o acesso aos

instrumentos de política seja acompanhado de uma maior exigência de

cumprimento de contrapartidas.

Também os mesmos autores apontam:

De acordo com os documentos oficiais, a PITCE

(consubstanciada em um conjunto de 57 medidas distribuídas em 11

programas de política) propunha-se articular três planos distintos: 1)

Linhas de ação horizontais (inovação e desenvolvimento tecnológico;

inserção externa; modernização industrial; ambiente

institucional/aumento da capacidade produtiva); 2) Opções estratégicas

(semicondutores, software, bens de capital e fármacos); 3) Atividades

portadoras de futuro (biotecnologia, nanotecnologia, biomassa/energias

renováveis). Eram dois os macroprogramas mobilizadores: I) Indústria

forte (visando fortalecer e expandir a base industrial brasileira); II) Inova

Brasil (visando aumentar a capacidade inovadora das empresas). Um

plano de ação que explicitava como objetivos o aumento da eficiência da

estrutura produtiva, o aumento da capacidade de inovação das empresas

brasileiras e a expansão das exportações. Esta seria a base para uma

maior inserção do país no comércio internacional, estimulando os setores

onde o Brasil teria maior capacidade ou necessidade de desenvolver

vantagens competitivas e abrindo caminhos para inserção nos setores

mais dinâmicos dos fluxos de troca internacionais.

Tratava-se de uma política governamental construída a partir de

uma visão da complexidade da estrutura produtiva do país e apoiada na

percepção de que os diversos setores e cadeias produtivas desempenham

papéis diferenciados na dinâmica do desenvolvimento, em termos de

geração e difusão de inovações, competitividade e dinamismo

internacional e atendimento das necessidades básicas da população, e que

se refletem na sua posição no desenho da política. Pode-se dizer que a

PITCE representa, assim, um esforço de conceber uma política industrial

e tecnológica contemporânea, em uma perspectiva de longo prazo, com

ênfase na dimensão da inovação e da agregação de tecnologia aos

produtos brasileiros. (SUZIGAN; SILVA, 2010, p. 7-8)

E mais à frente:

Em 12/05/2008, um novo programa de promoção à indústria

brasileira é lançado pelo governo federal, com maiores pretensões no

72 O grifo é nosso não dos autores.

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130

sentido de sua abrangência, profundidade, articulações, controles e

metas, ampliando o número de setores e os instrumentos de incentivo em

relação à PITCE. 73 Entre os avanços, há a preocupação em definir

objetivos e estabelecer metas, fortalecer a coordenação entre diferentes

instituições do governo e o diálogo com o setor privado, dentro de uma

visão sistêmica voltada à construção da competitividade de longo prazo

dos mais diversos setores da economia brasileira.

Batizada de Política de Desenvolvimento Produtivo – PDP e

apoiando-se em diversos tipos de medidas (tributária/fiscal,

financiamento, poder de compra por parte do governo, aprimoramento

jurídico, regulação e apoio técnico), a nova política tem como objetivo a

sustentação de um longo ciclo de desenvolvimento produtivo, apoiado no

investimento, na inovação, na competitividade das empresas e na

ampliação das exportações. 74 Entre outros instrumentos, o novo

programa propõe a desoneração de diversos setores produtivos

correspondente a uma renúncia fiscal de R$ 21,4 bilhões entre 2008 e

2011 (Tabela 2). (SUZIGAN; SILVA, 2010, p. 11)

Ao observar, então, a Política de Desenvolvimento Produtivo, como sinônimo da

nova política industrial, temos os seguintes destaques:

O Complexo Automotivo, a Indústria de Bens de Capital (sob encomenda e

seriados), a Indústria Naval e de Cabotagem, a Indústria Têxtil e de Confecções, o

complexo de Couro75, Calçados e Artefatos, o setor de Higiene Pessoal, Perfumaria e

Cosméticos, o setor de Madeira e Móveis, Plásticos, o Complexo Produtivo do

Biodiesel, a Agroindústria76, a Construção Civil e o Complexo de Serviços são os

sistemas produtivos enquadrados nesta categoria de programas, cuja abrangência será

ampliada no tempo, com a inclusão de outros setores.

Além do mais, o segmento da Agroindústria, portanto, é um dos ramos de

qualquer política industrial. E não se faz agroindústria sem agricultura. A Lei Municipal

nº 9449, de 22 de dezembro de 2010, que dispõe sobre o Programa de Incentivos para o

Desenvolvimento da Economia Solidária, Turística e Tecnológica de Sorocaba, com

tratamento favorecido, diferenciado e simplificado aos micros empreendedores

individuais, microempresas e empresas de pequeno porte de Sorocaba e dá outras

providências, traz em seu artigo 69, o seguinte:

Art. 69. O Poder Executivo Municipal incentivará os esforços

inovativos dos micro empreendedores individuais, cooperativas,

microempresas e empresas de pequeno porte locais, por ação própria ou

em parceria com agências de fomento, instituições científicas e

tecnológicas, núcleos de inovação tecnológica, intuições de apoio e

outros órgãos promotores da ciência, tecnologia e inovação. (PMS, 2010)

E no seu artigo 92, temos:

Art. 92. Do total dos recursos financeiros repassados pelo FNDE,

no âmbito do PNAE, no mínimo 30% (trinta por cento) deverão ser

utilizados na aquisição de gêneros alimentícios diretamente da

73 Idem 74 O grifo é nosso não dos autores. 75 Idem 76 Idem

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131

agricultura familiar e do empreendedor familiar rural 77 ou de suas

organizações.

Assim, cremos que uma política industrial não pode prescindir de uma política

agrícola consistente. Após ter uma política agrícola clara e consolidada como um

arcabouço jurídico é possível reunir num documento jurídico, unificando as leis sobre

política industrial do município, tendo as disposições referentes à agroindústria

vinculadas a política agrícola do município de maneira coerente. Em Sorocaba as

diretrizes de política agrícola estão em fase de finalização.

4. Business Intelligence e sua aplicação como ferramenta para a Política

Industrial.

Dentro de uma perspectiva de modernização da gestão pública o desenvolvimento

de novas tecnologias de informações tem sido uma constante no processo de

gerenciamento do setor público, segundo Han & Kamber (2001) business intelligence é

definido como o campo de estudo interdisciplinar, ligado à tecnologia da informação e

tem como objeto de estudo a elaboração de sistemas de informação computacionais

responsáveis por organizar grandes volumes de dados e facilitar a descoberta de

relações entre os dados estudados.

Para outro autor, Elmasri & Navathe as ferramentas de Business Intelligence

devem oferecer interfaces que facilitem ao usuário o entendimento das relações entre os

dados descritivos visando prover melhores informações para a tomada de decisão.

Assim, o B.I. tem uma ligação com a vertente tecnológica da gestão do conhecimento

auxiliando a ajudar tanto nos processos descritivos quanto nos normativos de

inteligência.

Dentro desse contexto observa-se a necessidade de informações e modernização

da gestão no setor público tanto nas esferas federal, estaduais e municipais. Com a

implantação da Lei de Responsabilidade Fiscal houve uma mudança estrutural no

regime fiscal introduzindo conceitos como o de responsabilidade na gestão pública,

harmonizando diferentes normas para a organização e o equilíbrio das finanças

governamentais.

A complexidade e distorções dos tributos e a multiplicidade de legislações tem

estimulado a chamada guerra fiscal entre Estados e Municípios. Nota-se também a

inexistência de neutralidade na alocação de investimentos. Alguns municípios oferecem

inclusive imóveis para estabelecimento da planta de fabrica além das isenções de

tributos de sua competência.

No entanto, temos que levar em conta as teorias da localização industrial para

compreender os processos de decisão. O oferecimento de área pode em muitos casos ser

irrelevante. Mas é bom notar a existência dessa prática.78

Diante do exposto o município de Sorocaba inicialmente desenvolveu um B.I.

business intelligence que permite a comparação dos indicadores econômicos entre os

municípios que apresentam estruturas semelhantes de população, infraestrutura e

vocação industrial, bem como a estrutura financeira de arrecadação que é

disponibilizado pela receita federal, tal ferramenta não tem a intenção de ampliar a

guerra fiscal, mas sim proteger o parque industrial instalado.

77 Grifo nosso. 78 Quanto a isso ver RIBEIRO, F. C.. O Plano Diretor e as Teorias da Localização. Revista de

Estudos Universitária (Sorocaba), Sorocaba, v. 25, n.2, p. 09-30, 1999.

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132

Essa ferramenta é utilizada para mensurar e comparar o desempenho entre os

municípios, diagnosticar por meio de quais ações o município tem obtido melhor

desempenho no que se refere a arrecadação tributária. Outro aspecto se refere a

legislação de incentivos fiscais e fomento para o setor empresarial de inovação e

tecnologia de informação que se encontra em desenvolvimento criando uma sinergia

entre a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho e a Empresa Municipal

Parque Tecnológico.

A secretaria vem trabalhando também no desenvolvimento de um simulador que

permita comparar a renuncia fiscal das empresas beneficiadas pela Lei municipal de

incentivo fiscal, em relação ao valor adicionado gerado pela empresa, em especial a cota

referente ao ICMS que retorna a municipalidade no desenvolver de suas atividades

principal e intermediária.

É objeto de estudo o aprofundamento na produção de informações que

possibilite mensurar o impacto indireto da empresa no desenvolvimento das atividades

sociais e ambientais praticado no município pelas empresas, bem como analisar o

impacto econômico proporcionado pela massa de salários injetados na economia local.

É fundamental também desenvolver o conceito de elasticidades para a política

industrial. O conceito de elasticidade arrecadação, o conceito de elasticidade emprego,

o conceito de elasticidade de valor adicionado. Ao sabermos isso, poderemos tipificar,

esse segmento tem alta elasticidade em geração de emprego), portanto intensa em mão

de obra, outra intensa em valor adicionado, outra em arrecadação. Enfim o BI também

permite compor essas informações de maneira a que eu sabendo as estimativas e

elasticidades de cada tipo de empresa, consiga inclusive planejar quais os segmentos

demos incentivar e quais queremos evitar dada as saturações.

5. O município de Sorocaba e a indústria Sorocabana. Uma avaliação econômica.

O Produto Interno Bruto de Sorocaba vem tendo um crescimento médio 12,20%

ao ano, ao passo que o crescimento do PIB no Brasil no mesmo período foi de 11,44% e

de São Paulo 11,16%. Se, descontar-se a inflação do período, para uma aproximação de

preços constantes, tem-se que a taxa média anual de inflação foi 5,28%, tem-se então

um crescimento médio do PIB para Sorocaba de 6,57, no Brasil de 5,85 e de São Paulo

de 5,59.

Gráfico 1: Evolução do PIB a preços correntes de Sorocaba

Fonte: SEADE. Elaboração própria.

Gráfico 2: PIB Brasil a preços correntes. Elaboração Própria.

8.002,61 9.243,59 10.161,75 11.913,72 13.046,65 14.143,60 16.124,77 17.911,98

0,00

10.000,00

20.000,00

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

PIB-SOROCABA em milhões de reais

PIB

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133

Fonte: IBGE

Gráfico 3: PIB do Estado de São Paulo a preços correntes (milhões de reais).

Fonte: SEADE. Elaboração Própria

Gráfico 4 – INPC – Inflação anual.

Fonte: IBGE. Elaboração Própria.

Pode-se perceber que o crescimento econômico de Sorocaba foi maior do que do

Estado de São Paulo e do Brasil no período 2004-2011.

1.941.498,002.147.239,00

2.369.484,002.661.344,00

3.032.203,003.239.404,00

3.770.085,004.143.013,00

0,00

1.000.000,00

2.000.000,00

3.000.000,00

4.000.000,00

5.000.000,00

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 (1) 2011 (1)

PIB BRASIL MILHÕES DE REAIS

PIB

643.487,49726.984,04

802.654,61902.784,27

1.003.015,191.084.353,49

1.247.595,931.349.465,14

0,00

500.000,00

1.000.000,00

1.500.000,00

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

PIB SÃO PAULO (milhões de reais)

PIB São Paulo

6,13

5,05

2,81

5,16

6,48

4,11

6,476,08

0

2

4

6

8

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

INPC

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134

Ao olhar o crescimento de empresas no município, no mesmo período tem-se

que o número de empresas em Sorocaba cresce 4,87% ao ano, ao passo que no Brasil o

crescimento de empresas foi de 3,56 % e no Estado de São Paulo foi de 4,26%.

Percebe-se então, que a taxa de criação de empresas em Sorocaba é maior que no

Brasil e maior do que no Estado de São Paulo como um todo.

Também, pode ser verificada a composição em 2007, do valor adicionado em

Sorocaba.

Grafico 5: Número de Empresas em Sorocaba.

Fonte: IBGE. Elaboração Própria.

Gráfico 6: Número de empresas. Brasil.

Fonte: IBGE. Elaboração Própria.

19.077 19.890 20.607 22.04623.767 24.199

0

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

30.000

2006 2007 2008 2009 2010 2011

NUMERO DE EMPRESAS SOROCABA

4.305.578 4.420.3454.607.261

4.846.6395.128.568 5.129.205

3.500.000

4.000.000

4.500.000

5.000.000

5.500.000

2006 2007 2008 2009 2010 2011

NUMERO DE EMPRESAS BRASIL

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135

Gráfico 7: Número de Empresas no Estado de São Paulo

Fonte: IBGE. Elaboração Própria.

Se observarmos agora a participação do Valor Adicionado, ao longo da série

histórica, veremos que também Sorocaba tem uma participação um pouco maior na

indústria e uma participação ínfima no setor agropecuário.

Gráfico 8: Participação dos setores agropecuário, industrial e de serviços no valor

adicionado de Sorocaba ao longo dos anos

Fonte: SEADE. Elaboração Própria.

Gráfico 9: Participação percentual dos setores, agropecuário, industrial e de

serviços no valor adicionado do Estado de São Paulo ao longo dos anos.

Fonte: SEADE. Elaboração própria.

1.325.217 1.361.017 1.438.200 1.530.486 1.609.005 1.632.446

0

500.000

1.000.000

1.500.000

2.000.000

2006 2007 2008 2009 2010 2011

NÚMERO DE EMPRESAS ESTADO DE SÃO PAULO

63,34 64,73 65,29 64,18 65,28 61,3 62,33 62,52

0,09 0,08 0,08 0,08 0,1 0,11 0,15 0,14

36,58 35,19 34,63 35,73 34,61 38,59 37,52 37,34

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

PARTICIPAÇÃO DOS SETORES NO VALOR ADICIONADO-SOROCABA

Serviços Agricultura Indústria

63,99 66,46 67,71 68,41 69,03 69,34 69,05 70,46

2,18 1,84 2,16 1,97 1,45 1,62 1,87 2,1133,83 31,7 30,14 29,62 29,52 29,04 29,08 27,43

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

PARTICIPAÇÃO DOS SETORES NO VALOR ADICIONADO - SÃO PAULO

Serviços Agricultura Indústria

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Gráfico 10: Participação dos setores no valor adicionado do Brasil ao longo dos

anos.

Fonte: IBGE. Elaboração Própria.

Como é possível perceber a participação média da agropecuária no valor

adicionado de Sorocaba é 0,10% do PIB ao passo que a média do Estado representa

1,9% e no Brasil representa 5,79%

É possível observar que o setor de serviços, em Sorocaba a média de

participação no valor adicionado é de 63,62%, contra 68,05% do Estado e 65,96% do

país. Portanto, tem-se menor participação no valor adicionado nos serviços quando

comparados ao Estado e ao país.

É bom notar, agora, que a participação média da indústria no valor adicionado,

em Sorocaba é de 37,34% ao passo que no Estado de São Paulo é de 30,04 e no país é

de 28,00%.

Essa diferença, por si só já justificaria uma preocupação com a política industrial

do município de Sorocaba. Soma-se a isso, que Sorocaba tem, agora, o Parque

Tecnológico de Sorocaba e junto com ele, toda uma legislação de incentivo à inovação

tecnológica.79.

6. Considerações Finais

Uma política pública pressupõe intencionalidade. Portanto, parte de um diagnóstico,

do que se pretende alcançar, do estabelecimento das metas, dos recursos materiais e

humanos para atingi-las. Também o prazo a ser atingindo, (prevendo inclusive

cronogramas) e depois a avaliação da sua eficácia, eficiência e efetividade. Uma política

pública terá mais credibilidade quanto mais claras forem as regras, demonstrando não

ser discricionária e sim de procedimentos legais e regulamentares, mas também tendo

em vista a transparência e o atendimento do interesse público.

Uma miríade de Leis que incentivam a indústria é melhor do que a ausência

delas. Mas a legislação principal e marginalia não sendo acessada de forma sistêmica e

orgânica não só dificulta a avaliação de eficácia, efetividade e eficiência, bem como não

79 Vide Ribeiro et. al. “Potencialidades e desafios dos parques tecnológicos: O caso de

Sorocaba in KON. Anita; BORELLI, Elizabeth “Indústria, Tecnologia e Trabalho: Desafios da

economia brasileira. São Paulo:EEIT-PUC, 2012.

6,9 5,7 5,5 5,6 5,9 5,6 5,3 5,5

30,1 29,3 28,8 27,8 27,9 26,8 28,1 27,5

63 65 65,8 66,6 66,2 67,5 66,6 67

0

20

40

60

80

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

PARTICIPAÇÃO DOS SETORES NO VALOR ADICIONADO-BRASIL

Agricultura

Indústria

Serviços

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contribui como ferramenta que pode influenciar positivamente a ação de

empreendedores uma vez que a linearidade dos benefícios fiscais e outros não se

apresentam clara, havendo um esforço adicional para conhecer e compreender a miríade

de Leis disponíveis.

Assim traçar uma diretriz consolidada avocando as leis já existentes instituindo

uma diretriz para a Política Industrial Municipal permite evitar custos de transação aos

empreendedores e limpando a cortina de fumaça gerada pelo acumulado de Leis, mas

que, embora guardando conexões entre si, não se apresentam de maneira cristalina ao

empreendedor que terá de fazer uma busca legislativa para entender a quantidade e o

que versam as Leis que beneficiam a indústria.

A Business Intelligence, por sua vez, ajuda aos empresários a captar outras

variáveis importantes que independem da ação do poder público local. Elementos como

custos de logística entre outros são vitais na escolha de instalação de uma empresa. O

poder público tendo esses dados não só facilita os entendimentos para o progresso de

uma política industrial municipal como também consegue avaliar o que tipo de empresa

deseja e o que se quer evitar na sua localidade. Há que se pensar nisso enquanto

gestores público. Assim a criação de Diretrizes para uma Política Industrial Municipal,

avocando as demais leis existentes fazendo um todo orgânico aumentaria a credibilidade

dos gestores públicos e eliminaria custos de transação. Ainda que a credibilidade dos

atuais gestores seja alta.

Referências ELMASRI, R. NAVATHE, S.B. Fundamentals of database systems. 3ed.

Addison-Wesley, 2000.

HAN, J. KAMBER, M. Data mining: concepts and techniques. Morgan

Kaufmann Publishers. 2001

MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 29ª ed.

São Paulo, Malheiros Editores, 2012.

MEIRELLES. Helly Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 38ª. ed. São Paulo,

Malheiros Editores, 2012.

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EXTERIOR. Política de Desenvolvimento produtivo. Brasília, 2008. Disponível em

http://www.pdp.gov.br/paginas/conheca_pdp.aspx?path=Conhe%C3%A7a%20a%20PD

P. Acessado em 01 fev. 2014

SOUZA, Celina. Políticas Públicas. Uma revisão da Literatura. Sociologias, Porto

Alegre, ano 8, nº 16, jul/dez 2006, p. 20-45. Disponível em

http://www.scielo.br/pdf/soc/n16/a03n16 acessado em 21 abr. 2014

SUZIGAN, Wilson; SILVA, Ana Lúcia Gonzalves da Silva. Política Industrial do

Governo Lula. Texto para Discussão IE/UNICAMP Nº 181. Campinas: Unicamp-IE,

2010. Disponível http://jornalggn.com.br/sites/default/files/documentos/texto181.pdf

em 01/02/2014

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Economia de Serviços e Atuária

A PREVIDÊNCIA PRIVADA NO BRASIL, NA AMÉRICA LATINA E NO

MUNDO COMO UMA DAS GRANDES ALTERNATIVAS ECONÔMICAS

PARA FINANCIAMENTO DE DESENVOLVIMENTO.

Antonio Cordeiro Filho80

Resumo

Este artigo objetiva identificar e mostrar quais as contribuições da Previdência

Privada na Economia do Brasil e fazer comparações com outros países da

América Latina e de outros continentes como forma de financiamento do

desenvolvimento para o governo, as empresas e as Entidades financeiras. Para

entender a Previdência Privada é necessário ir mais fundo na pesquisa

relativamente a Previdência Pública e Regimes próprios de Servidores Públicos.

O volume de recursos econômicos abrangidos pelos dois Sistemas nos leva a

necessidade de análise e suas consequências.

Trata-se de uma pesquisa exploratória, ampla e com o objetivo de aprimorar

novas ideias e tendências a respeito de movimento dos capitais, poupança e riscos,

apresentando ao final do artigo, alternativas e observações que possam ser de grande

utilidade ao leitor. A Introdução se inicia com as perguntas de quanto é a ocupação

econômica desses capitais da Previdência Privada atualmente – hoje um número

percentual - considerável do volume do PIB brasileiro e de outros PIB’s mundiais

como veremos adiante. A Economia, o giro de recursos e muitos projetos de

desenvolvimento para governos, principalmente aqueles de infraestrutura estão nesse

contexto econômico e financeiro. Não se pode deixar de comentar também que muitos

recursos da Previdência Complementar, também estão em Aplicações de Risco, na

associação com novos projetos, inovações, tecnologias e investimentos de risco em

empresas que necessitam de capital. Tudo isso com referência naquilo que é o

embrião gerador principal de tudo isso: a seguridade.

Abstract // summary This article aims to identify and show what are the contributions of private

pension plan in Brazil's economy and make comparisons with other countries of Latin

America and other continents as a way of financing for development for the

Government, companies and financial entities. To understand the private pension

plan is necessary to go deeper into research for Public Welfare and own Schemes

of public servants. The volume of economic resources covered by two systems leads

to need for analysis and its consequences. This is an exploratory research, wide and

with the goal of enhancing new ideas and trends regarding movement of capital,

savings and risks, showing at the end of the article, alternatives and observations

which may be useful to the reader. The introduction begins with the questions of

80 Tem graduação/Ciências Atuariais/PUC-SP. - Mestre:Administração de Empresas.

Defesa: tema "Desenvolvimento das pequenas e médias empresas na área de Prestação de

Serviços em Saúde Suplementar" (maio/2006). Titulação: Doutor com TESE em Saúde

Suplementar e Pública em 07/02/2012.

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how much the economic occupation of these capitals of private pension plan

currently – today a considerable number percentage-GDP volume and other world's

GDP as we will see below. The economy, turning resources and many development

projects for Governments, especially those of infrastructure are in this economic and

financial context. One can't help but comment that many features of the

supplementary pension plan, are also at risk Applications, in association with new

projects, innovations, technologies and risky investments in companies that require

capital. All this with reference to what is the main generator of embryo it all: security.

Introdução

Nem tudo pertence à natureza e nada aconteceu por acaso. Nas palestras

realizadas sobre Previdência e sempre que se dá start de inicio ao tema a

pergunta para a plateia, sala de alunos ou auditório é: “Por quê se desenvolvem

mecanismos de proteção às pessoas?” E para quê?

Esse questionamento que, nos dias de hoje, parece muito simples de responder,

vem de muito tempo. É uma pergunta para reflexão de todos, inclusive ao leitor deste

artigo. Será que eu protejo alguém ou alguém está me protegendo? Sempre fui

protegido.

Muitos e muitos anos atrás, quando descobriram que praticando a agricultura

seria possível se manter mais tempo num local e quem sabe viver ali - criando

animais e plantando - a necessidade da proteção tomou outro rumo.

As pessoas morriam muito cedo e trabalhavam até – em média – até falecer ou

ficar doente com 35 a 40 anos no máximo. 81 Havia um esforço físico muito

grande e a própria pessoa tinha que encontrar ou fabricar as ferramentas para reduzir

esse grande desgaste.

Com o passar do tempo, quando começa a ser gerada a Economia Monetária e

surge o dinheiro é que aparecem as especializações das pessoas, as vocações das

profissões e torna-se necessário criar artefatos, mas ainda os afazeres da agricultura

provoca um esforço muito pesado, desgastante.

Nessa viagem do tempo vão surgindo os elementos que deram origem a Revolução

Industrial. Jovens alunos de Colégios e Faculdades - em muitas das vezes –

imaginam que essa revolução apareceu de repente. Enganam-se. Ela foi lenta e

dolorosa para as pessoas da época. O que será descrito daqui em diante refere-se ao

Ocidente, Europa, que definiu o comportamento de muitas sociedades nos últimos

300 anos. É importante saber que o Oriente e a Ásia são outros contextos bem

diferentes.

A Europa e principalmente a Inglaterra, região do Reino Unido, tinham grande

influência econômica sobre muitas outras regiões ou países do que conhecíamos

como Ocidente. Resumidamente, enquanto o campo produzia os alimentos iniciavam-

se também aglutinações de pessoas. Essas aglomerações deram origem a

urbanizações e nelas surgem as vilas de trabalho. Na realidade, fábricas! Onde

pessoas trabalhavam 12, 14 até 18 horas / dia. Muito tempo depois já no final do

século XIX surgiram os motores a vapor e daí muitas fábricas de artefatos. Esses

locais eram próximos de fábricas e rios navegáveis. Essas fábricas começaram a

existir e os donos das fábricas davam também habitação – vilas operárias inglesas –

81 Ver OIT – Organização Internacional do Trabalho - História do Trabalho

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140

como modelo Europeu para desenvolvimento e exemplos deste artigo. As famílias

saíam do campo para trabalhar em regiões urbanas e precisavam de habitações.

Eram casas onde não havia nenhum espaço para plantar. Conhecidas pela

história como as Vilas Inglesas. Algumas até copiadas para o Brasil no começo do

século XX. Era a urbanização chegando na Europa. Na medida do desenvolvimento

econômico mais fábricas e mais casas para operários.

As Vilas eram de propriedade dos donos da fábrica e o operário que por algum

motivo, seja doença, invalidez ou outras causas parava de trabalhar, tinha que deixar

a habitação para dar lugar a outro operário. Ou seja, parou de trabalhar? Estava fora da

habitação.

É difícil imaginar, mas naquela época era a forma de se pensar. Não havia

espaço físico para aquilo que não fosse o trabalho na fábrica. Não havia nas Vilas

outra forma de sobrevivência. Nenhuma plantação.82

O conceito de que o trabalho enobrece a vida das pessoas é algo que vem dos

nossos avós e tataravós, mas naquela época não se pensava de forma humanitária.

Os conceitos de humanismo viriam bem depois. Há quem diga que atualmente não

é nada diferente. Que existe uma pressão do sistema para que o trabalhador seja

dependente do patrão ou da empresa.

É o caso então de perguntarmos se hoje, em pleno século XXI somos livres.

Um aluno, certa vez, num questionamento respondeu que talvez, tenhamos - nos

dias atuais - o nosso tempo expropriado na frente de um computador. Assim

mesmo, a pergunta que não cala é se estamos protegidos?

Há uma empresa na Escócia que se denomina “Scottish Widows”

, em

Edimburgo, cuja tradução é “Viúvas Escocesas”. Em março de 1812, alguns

escoceses proeminentes se reuniram nos quartos Royal Exchange de café em

Edimburgo. Eles estavam lá para discutir a criação de "um fundo geral para garantir

provisões para viúvas, irmãs e outros parentes do sexo feminino" de detentores de

fundos a fim de que eles não seriam mergulhados em pobreza sobre a morte do

fundholder durante e depois das Guerras Napoleônicas. Scottish Widows Fundo e Life

Assurance Society abriu em 1815 como o primeiro escritório de vida mútuo da

Escócia.

Essa empresa surgiu para homenagear algo triste e verdadeiro que foram as

mulheres que se tornaram viúvas dos seus maridos que trabalhavam nas minas de

carvão e desciam a centenas de metros por um tosco elevador. Iam muito cedo

descendo cavernas de minas de carvão e muitos deles não voltavam ao final da

tarde, mortos por gases das minas, excesso de calor, doenças que desconheciam e

outras morbidades da época.

Uma delas era a tuberculose que acometia grande parte da população. Essa

doença no Brasil ainda tem grande incidência nos dias de hoje.83 Outra doença do

final do século XIX e início do século XX era o Saturnismo. Doença provocada por

aspiração de gases e contato manual de material contendo chumbo. O chumbo –

82 Nos resquícios brasileiros da época surge a Vila Maria Zélia. Há muitas outras vilas,

muitas já destruídas pelo tempo e pelo abandono. Como exemplo, entre 1872 e 1940, a

população da cidade de São Paulo cresceu de 31 mil para 1,3 milhão de habitantes. O

grande contingente era formado por imigrantes: espanhóis, portugueses e, principalmente,

italianos que deixaram a condição de pobreza em sua terra natal para buscar novas

oportunidades no Brasil. Naquela época, São Paulo dava os primeiros passos no seu processo

de industrialização. 83 Há um bom controle de doença atualmente no Brasil. São registrados ainda 70.000

casos/ano. (OMS, 2013).

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141

na época - por ser um elemento muito utilizado nas fábricas, principalmente para

modelagens, foi um grande vilão de doenças fabris.

O que então as fábricas na Grã-Bretanha faziam com seus operários? Quais

eram as regras? Ficou doente? Não pode mais trabalhar? Está fora das turmas de

trabalho. Saia da casa onde mora. Morreu na mina? A viúva era obrigada a deixar a

casa onde morava com filhos e suas tralhas e iam morar onde fosse possível.

O conceito já existente no século XX do Papa Pio XII de que: “A pessoa humana é

o fim da economia, ao mesmo tempo, que é seu mais importante motor.”84

É algo

muito recente.

Dessa forma a história da proteção às pessoas no Brasil acompanhou, com

certo atraso, esses conceitos humanitários que começavam a se espalhar na

América. Mas quem deveria proteger as pessoas naquele século XVIII da Grã-

Bretanha? Quais as saídas existentes na época? Quem deveria resolver? A Igreja

poderia ajudar? O Estado? Que Estado existia onde o humanismo poderia estar

presente? Os donos de fábrica poderiam demitir, ou afastar do trabalho, todas as

pessoas que ficavam doentes? Havia pelo menos um dia de descanso do operário?

Pedir de volta a casa onde ele mora para colocar outro operário? Havia nessa época

alguma proteção ao trabalho?85 6

As raízes da Previdência

As raízes de Previdência estão na própria etimologia da palavra. A previdência

vem do latim previdentia, é a antevidência, ou seja, a qualidade ou ato de: "

previdente (do latim: previdente) que prevê; que é cauteloso, prevenido, precavido,

prudente" (Ferreira, 2001:1146).

A palavra previdência esta intimamente associada à raiz do verbo prevenir (do

latim: Praevnire ), que significa:

"vir antes; tomar a dianteira; dispor com antecipação;

preparar; chegar antes, adiantar-se ou antecipar-se; realizar

antecipadamente, acautelar-se; precaver- se; premunir-se ou

dispor de maneira que evite (dano, mal) " (Ferreira, 2001:

1146).

No âmbito da economia brasileira Previdência Pública já tem um sentido mais

amplo. Trata-se daquela previdência que permite amealhar para o futuro um valor

a mais daquilo que o trabalhador receberá do Instituto do governo lá pela época de se

aposentar. As pessoas sabem quanto tempo pode durar a nossa

84 Papa Pio XII (Papa entre 1939 a 1958) apud Almiro (1978, p. 35).

85 Como complemento: O descanso semanal remunerado aconteceu só em 1927. No

Japão, até 1994 não havia descanso semanal. Não há férias no Japão. A Ásia inteira tem

formas diferentes. Nos EUA também não tem férias. As férias são negociadas com os

Sindicatos e depende do tempo de casa. Na Rússia, há direitos a doze dias de férias no Verão.

No passado poderia ter direito a férias a serem trocadas por trabalho voluntário na Sibéria

aposentadoria? Em média o dobro do tempo de nossa infância. Já algum dia pensou nisso?

Normalmente quando se é jovem somos indiferentes para essas observações.

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O futuro para os jovens de hoje

O resultado de aulas ou palestras sobre previdência com jovens é muito

interessante. Quando possível a pergunta básica: “quem é que acha que vai morrer nos

próximos 35 anos?”.

A pergunta choca inicialmente. Uns olham para outros para saber se alguém

tem coragem de dizer que não passará dos 50 ou 55 anos. Nem querem pensar

nisso! A faixa média de idades dos alunos de Graduação é de 18 a 22 anos. Nos

cursos de pós-graduação essa pergunta provoca em um ou outro jovem mais

atirado que levanta a mão. Não se sabe se é para brincar e provocar risos ou

porque realmente tem certeza de que não estará vivo nesse tempo todo.

Normalmente quando se comenta sobre aposentadoria se pensa em futuro. O

futuro será cinza com certeza por causa das cãs de nossas cabeças e com certeza

também será feminino porque as mulheres é que serão maioria como já são

atualmente. 7

Tais fatos todos sabemos.

Esse futuro também será pequeno, muito pequeno em relação aos espaços de

nossos avós, pais e de nós mesmos que estamos lendo este artigo agora. Imóveis

serão menores, carros serão minúsculos em relação aos SUV atuais. Nos

supermercados haverão mais opções de compras menores. Coca Cola “tamanho”

família tenderá a extinção. Será muito grande e vai se estragar muito

rapidamente. O tempo será de refrigerantes menores. Produtos em embalagens de

menor quantidade.

O futuro para os jovens de ontem

Quando nos referimos à previdência sempre passa pela cabeça o longo prazo. A

previdência em si, não importa qual sua origem, tipo, se privada, pública, aberta

fechada ou outros modelos de países nos retorna o assunto atualíssimo que é a

longevidade. Há países que estão envelhecendo muito rápido. Muitos deles entraram

em processo de crescimento vegetativo negativo.

Em partes da Europa há mais cadeiras de rodas do que carrinhos de bebê.

Pessoas acima de 65 anos na China são 165 milhões. Essa quantidade de pessoas

é mais numerosa do que a população atual da Rússia, em torno de 150 milhões e

vivem na zona rural. Por estimativas, no meio deste século a população do Japão

terá se reduzido a metade da atual e quase um terço dela terá mais do que 65 anos.

(MIT – AgeLab – Plano Internacional de Ação sobre o Envelhecimento da ONU).

O envelhecimento das populações ao longo do tempo

Em 1950 a população com mais de 60 anos era em torno de estimativa pelo

MIT – AgeLab em 54 milhões. Estimou-se também que em 2050 será de 247

milhões. Acrescente-se que em 1950 a estimativa de pessoas com mais de 80 anos

era de três milhões e por projeções demográficas e estudos de longevidade atual,

se estima também que em 2050 será de 58 milhões. Desse total, uns 10 milhões com

mais de 80 anos e o resto com média de 100 anos (MIT – AgeLab – Plano Internacional

de Ação sobre o Envelhecimento da ONU).

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O futuro poderá ser também financeiramente apertado

Há um pesquisador de nome Jan H. Tamerus, que foi Diretor Atuarial do

PGGM, que sugere algumas novas ideias para Entidades de Previdência, tais como

uma indexação mais realista e estudos que considerem a longevidade projetada

com taxas de juros estruturalmente decrescentes conforme o país evidentemente.

Nesses estudos ele sugere também que se considere nesses estudos a volatilidade

dos mercados e uma inflação mais próxima da realidade, mais realista. Um modelo

complexo que deverá ser monitorável ano a ano.

Onde estão de fato as raízes da Previdência

Apesar de todo o conhecimento do que acontecia na Europa em finais do

século XIX e início do século XX e mais especificamente nas Regiões da Grã-

Bretanha a situação social e econômica das populações era de muitas dificuldades

e, com o aumento demográfico da época – urbanização - a proteção às pessoas

tornou-se um problema de saúde pública e de descaso com aqueles não favorecidos.

Com o tempo os conceitos de humanismo já parcialmente disseminado, algumas

leis tentaram ajudar a mitigar o sofrimento das pessoas e principalmente dos

trabalhadores, esposas e filhos. Todo esse processo proporcionou sementes que

deram origem a necessidades de proteção das pessoas e consequentemente da

Previdência estrangeira, inicialmente na Inglaterra. Mesmo antes da revolução

industrial, a Inglaterra foi considerada a pioneira na assistência aos pobres. Estava na

Lei.

Em 1601 “Poor Law”86 objetivou a instituição de um esquema assistencial para

atender aos pobres onde foi instituído um imposto sobre os chefes de família.

O tempo passou e o corporativismo medieval - como o imaginamos devido às

leituras nos livros de história e filmes - foi diminuindo. Esse corporativismo

medieval tinha criado legiões de “sem casa”, de famintos e de doentes. A rainha

Isabel I tentou mitigar os problemas com um sistema assistencial, servindo-se das

paróquias que foram instituídas como unidades básicas, que cobravam impostos, a

chamada taxa dos pobres.

Posteriormente foi promulgada a Nova Lei dos Pobres (New Poor Law), mas

sem que tivesse resolvido o problema a população inglesa – grande parte dela –

proletários – viviam às custas do Estado. Para as pessoas da época, na Inglaterra,

era muito difícil sair da situação de miséria e fome, pois a inércia de antigas decisões

do Reinado dizia também que os proletários deveriam se manter no mesmo

domicílio. Enfim, o consenso das elites que se utilizavam de mão de obra na época,

era de que algo deveria ser feito.

Foi constituída então a formação de um fundo, alimentado com as contribuições

pagas pelos funcionários públicos, de onde saiam as pensões de aposentadoria para o

funcionário contribuinte. Entretanto a consciência nacional, despertada pelos

intelectuais absorve a idéia de que, de fato, pertence ao Estado à responsabilidade

de Bem Estar Social, mas os passos foram lentos.

Deveria ser um Estado Providência? Deveria caber a sociedade definir, se a

função social do Estado deveria ser exclusivamente, a de garantir a

86 Lei dos pobres. A Lei dos Pobres 1601: Primeira Lei Assistencialista e Política de Bem

Estar Social. http://www.webartigos.com/artigos/a-lei-dos-pobres-1601-primeira-lei-

assistencialista-e-politica-de-bem-estar- social/101885/#ixzz2zIObJhMc

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sobrevivência, ou se tal função deveria ser de garantir o bem estar básico de todo

cidadão. Restava saber a definição do que é “bem estar básico”.

O parlamento Inglês em 1908 promulgou a Lei de Pensões de Velhice (Old-Age

Pension Act), que proporcionava aos maiores de 70 anos uma pensão máxima de

pouco mais de 25 pences. Outros Old-Age Pension-Act existiram. Com o passar

dos anos o sistema foi aperfeiçoado, até que em 1942, com aceitação do Plano

Beveridge, foi desenhado um sistema de seguros sociais, sendo o sistema de ajuda

aos pobres, substituído por um sistema nacional de assistência. Essa foi,

poderíamos denominar como a primeira semente da Previdência no mundo Ocidental.

A colaboração Francesa na Proteção às Pessoas

A França também teve seu partido positivo nessa história da proteção às

pessoas. Encontramos na historia previdenciária da França a maior riqueza que

temos como antiga referencia. Em 1788 um matemático Francês Duvillard - ele era

também um sociólogo estudioso - e se preocupou, lutando para encontrar através

do seguro, esquemas sociais de ajuda aos pobres e concebeu um folheto de

propaganda que foi chamado de Prospectus. Foi ele quem criou uma das primeiras

tábuas de mortalidade com as características que temos até os dias de hoje. As

pressões de elites e de proletários e intelectuais eram crescentes. Nasceram os

meios corporativos, sobretudo nas associações profissionais. A revolução francesa

ao mesmo tempo em que apoiava o direito irrestritivo de associação também

condenava toda a forma da associação profissional, mas a pressão era muito forte. 87

Várias foram as sementes e esta pode ser considerada como a segunda semente.

Foi assim aceita a concepção do Estado-Providencia, cuja primeira manifestação

real, se bem que modesta, foi à criação, no ano de 1801, do Departamento de

Beneficência para Ajudar os Necessitados. A sociedade, principalmente a burguesia,

não se intimidou com a lei contra o direito da associação nem com a condenação

do seguro e do mutualismo e continuaram a atuar na clandestinidade.

Não se deve esquecer que a consciência da burguesia antes da Revolução

Francesa, perante o sofrimento e a miséria dos proletários pelos desmandos e

egoísmo das elites, era a de que só a fraternidade, a solidariedade e a filantropia

seriam capazes de minorá-los. Chega de associações e filantropia. Era a hora das

leis.88 13

Começa um despertar e a terceira semente começa a dar sinais de que quer

brotar. A primeira Caixa de Poupança popular foi constituída em 1818, que objetivava

a formação de uma poupança e apoio da ajuda mutua, já que os seus associados

pertenciam a todas as classes sociais. Havia a insensibilidade dos governos em

relação à questão social. Essa poupança popular foi firmada como uma solução

previdenciária, ocupando a mutualidade voluntária, pouco a pouco, o espaço que

deveria ser preenchido pelo Estado. Era tudo novidade.

87 O próprio Napoleão Bonaparte reconheceu, em 1802 a associação Filantrópica de Paris

e autorizou, em 1813 a constituição de uma associação de socorros mútuos formada por

mineiros. 88 A Lei Chapelier, de 17 de junho de 1791 denunciava como imoral toda forma de

seguro e de mutualismo, foi a grande responsável pelo insucesso do seguro de vida em todo o

século XIX.

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E outras sementes começaram também a dar resultados. Isso abriu caminho

para operação dos seguros de vida. Proporcionando pensões aos inválidos do trabalho

e as viúvas dos empregados mortos no trabalho, particularmente a custo zero, já

que os custos do plano era suportado pela própria folha dos salários. Assim a

“seguridade” chegou aos esquemas privados de segurança social dos trabalhadores.

O movimento privado continuava, gerando concorrência entre as seguradoras.

Com a constituição, em 1890 da Ligue Nationale De La Prevoyance Etdela, que

estudou cientificamente a previdência e mostrou o que ela custa para a instituição

e os vários caminhos que poderia seguir dali em diante.

A quarta semente pode ser representada pela entrada dos Estados Unidos no

assunto previdenciário. Na verdade os Estados Unidos, cujo sistema de previdência

social só foi criado, pelo Social Security Act em 1935, oferecem referencia do

maior interesse no campo da instituição da Previdência ou Seguridade. Como

ilustração pode ser citado o primeiro fundo de pensão publico suportado pela

Administração Publica, data de 1857 e foi instituído na cidade de Nova York para os

membros de seu corpo de policia.

Outras semeaduras aconteceram. O primeiro fundo de pensão privado

suportado pelo empregador data de 1875 pela empresa American Express

Company. O primeiro fundo de pensão suportado em conjunto

proporcionando-lhes trabalho ou quer assegurando-lhes os meios de existência

àqueles que não se encontram em “estado de trabalhar”.

E no Brasil como tudo aconteceu?

Enquanto na Europa já se falava e se discutia formas de Seguridade Social,

embora pífias para análise nos dias de hoje, no Brasil colonial as Misericórdias é que

existiam sob a manta da Igreja Católica e algum auxílio das Províncias. O Brasil tem

uma longa história previdenciária – já comparada com referenciais europeus e

americanos - que começam ainda nos tempos coloniais. Tanto em estruturas

privadas como em estruturas governamentais observa-se que, na medida, na índole

do povo brasileiro, tem lugar destacado a preocupação com a segurança do porvir.

Essas preocupações nasceram por razões lógicas, nos primeiros anos da

colonização, tendo levado à instituição de uma verdadeira rede de

Misericórdias,8916 e continuando depois com as instituições de socorros mútuos,

cuja forma mais evoluída se traduziu na constituição dos Montepios.

Atribui-se a Brás Cubas a instituição do primeiro Montepio (organização por

iniciativa popular) no Brasil, no mesmo ano em que fundou a misericórdia de

Santos. Segundo o historiador Dr. Ernesto Pereira dos Reis, Brás Cubas, depois de

constituir a Santa Casa, em 1543, instituiu um plano de pensão para os seus

empregados. Este esquema previdenciário foi depois copiado e instituído para os

funcionários das Casas de Misericórdia de Salvador e Rio de Janeiro e outros locais.

89 Proteção à brasileira. Quando o frei Tomé de Souza aportou no Brasil como primeiro

governador-geral, no ano de 1548, já o núcleo populacional de Olinda tinha constituída a primeira Misericórdia, no ano de 1539. Contestada como sendo a primeira, pois os registros apontam para a de Santos criada por Brás Cubas no ano de 1543, como sendo a primeira. A verdade é que, quer em Olinda ou em Santos, quando o governador-geral veio para o Brasil já existia uma casa de Misericórdia. Há no Brasil, atualmente, até 2014 – mais de mil entidades. Só em São Paulo, até 2011 eram 398 Santas Casas de Misericórdia.

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O embrião da previdência está na realidade nos Montepios – o nome de Montepio

– vem do italiano Monte di Pietà, chamado no plural Montes Pios, que eram

instituições de caridade e sociedades privadas de ingresso voluntário, para

fornecer empréstimos de pequena escala em condições mais favoráveis que as do

mercado em troca de uma promessa.

Nesse local os pobres poderiam obter uma quantidade de recursos – dinheiro -

penhorar seus pertences para satisfazer as suas necessidades mais básicas que

pudessem usufruir no futuro, como o de ser subsidiado em caso de doença, prisão ou

impossibilidade de ganhar, e o de deixar uma pensão após a morte para sua família.

Já eram formas de se tentar encontrar caminhos alternativos de proteção às pessoas.

Por outro lado, num passado recente, os empréstimos de recursos com juros era

proibido pela igreja. Esquema nascido no século XV, na Itália, por iniciativados

franciscanos, como forma de combater a Usura. A Usura era proibida pela Igreja,

bem como a cobrança de juros. Esse dogma moral acabou caindo por terra. Sabe-se

que a origem dos Montepios deu-se através de um italiano presbítero

franciscano Marcos de Montegallo que teria sido beatificado precisamente por ter

criado Montes-Pios em várias cidades, por essa altura.

Naquele tempo, essa prática não era permitida aos cristãos e apenas quem dela

fazia uso eram apenas os judeus, pois sua religião assim permitia. A palavra

"monte" já se referia uma caixa pública de dinheiro, para atender às necessidades

financeiras ou de obras públicas, e a ela foi acrescentado o nome da "misericórdia

(di Pietà)" de outros tipos de financiamento cumprindo caridade e solidariedade.

O Brasil e a proteção às pessoas – breve resumo

1543 – Santa Casa de Misericórdia de Santos foi considerado o primeiro Fundo de

Previdência caracteristicamente Fechado estabelecido no País. Somente em 1835

foi criado o Mongeral que até os dias atuais está em pleno funcionamento, embora

tenha passado por todos os planos econômicos e as dificuldades políticas e

financeiras do Brasil, em todos esses anos que se passaram.

Os demais fundos criados foram: 1889 – Fundo de Pensão dos Trabalhadores da

Oficina Régia; 1893 – Caixa dos Empregados da Casa da Moeda; 1904 – a Caixa dos

Funcionários do Banco do Brasil e em 1913 – GBOEX (Exército) para atender os

oficiais que iam para a Reserva. Observa-se que a maioria deles tinham relações

com o governo.

Muitos outros apareceram daí em diante. Tudo isso continuou, de uma forma ou

de outra até final de 1970 onde houve o total descrédito desses Fundos. A inflação

corroia todos os valores e os investimentos de muitos e muitos anos de participantes de

planos e fundos de Bancos viraram pó, à exceção dos Fundos das empresas estatais.

Por exemplo, em 1970 foi criado o Petros – Fundo fechado de Previdência dos

Funcionários da Petrobrás.

A 2ª. Fase da Previdência no Brasil foi marcada pela Lei Eloy Chaves e Caixas de

Aposentadorias e Pensões. O Decreto Lei 4.682 de 1923 implantou no Brasil a

Previdência Social. Nesse fértil período foram criadas as “caixas de aposentadoria

e pensões” para os empregados das empresas ferroviárias com os benefícios de

aposentadoria por invalidez, aposentadoria ordinária - atualmente aposentadoria por

tempo de contribuição - a pensão por morte e a assistência médica.

Com o passar do tempo os benefícios foram estendidos aos empregados das

empresas portuárias, serviços telegráficos, de água, energia, transporte aéreo, gás,

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mineração, até atingir 183 caixas de aposentadoria e pensão. Posteriormente foram

unificadas na Caixa de Aposentadoria, Pensões dos Ferroviários e Empregados em

Serviços Públicos. (Funenseg, 2007, p. 8 e 15 e CVG, 2008, p. 5).

A uniformização da legislação e unificação administrativa marcou uma fase

importante da Previdência no Brasil, com a Lei 8.212/91, a Previdência Social passa a

assegurar aos seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de

incapacidade, idade avançada, desemprego involuntário,encargos de família e

reclusão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente (Funenseg, 2007,p.

8).

Em outra fase destacam-se os Institutos de Aposentadorias e Pensões dos

Marítimos criados em 1933, iniciando a organização dos institutos com

abrangência nacional, em seguida dos Comerciários e Bancários, Industriários,

criando uma Caixa Única de Aposentadoria e Pensões dos Ferroviários e Empregados

em Serviços Públicos em 1953.

Em 1960 foi promulgada a “Lei Orgânica da Previdência Social”, a revolução de

1964 fez o Presidente Marechal Humberto Castello Branco criar o INPS Instituto

Nacional da Previdência Social (1974), o General Ernesto Geisel promulgou o Estatuto

do Trabalhador Rural (FUNRURAL), criou o Ministério da Previdência e Assistência

Social, desmembrado do Ministério do Trabalho; implantou a Consolidação das

Leis da Previdência Social (1976) e criou o SINPAS Sistema Nacional da

Previdência e Assistência Social (1977) (Funenseg, 2007, p. 8 e 15 e CVG, 2008, p. 5).

Affonso Almiro (1978, p.35) confirmou a extraordinária repercussão alcançada

no Brasil, dos estudos e debates sobre a previdência supletiva, demonstrando o

amadurecimento do empresariado nacional, das suas responsabilidades sociais, frente

ao desenvolvimento econômico.

Dentro desta realidade econômica, se estruturou e desenvolveu a previdência

supletiva, completando e fortificando a previdência social, direito inalienável do

trabalhador e dever imperativo do Estado moderno.

No governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso foi efetuado a reforma

constitucional e através da Emenda Constitucional 20 de 1998 modificou a

Previdência Social e estabeleceu normas de transição. Foi definido que a seguridade

social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes

públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à

previdência e à assistência social (CVG, 2008, p. 6)..

As mudanças propostas

começaram a ser implantadas pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Troca da aposentadoria por tempo de serviço por tempo de contribuição, extinção

das aposentadorias proporcional e por idade, alteração do regime financeiro,

alteração da base e da alíquota de Contribuição, cobrança de contribuição dos

funcionários públicos inativos, aplicação do Fator Previdenciário para cálculo da

aposentadoria.

Os tipos de aposentadoria assegurados pela Previdência Social são:

Aposentadoria por Idade, todo trabalhador que contribuiu para a Previdência

Social por 180 meses e tenha 65 anos, no caso dos homens, e 60 anos, no caso das

mulheres, tem direito a se aposentar. Para os trabalhadores rurais, a idade mínima é

reduzida: 60 anos para os homens e 55 anos para as mulheres.

Aposentadoria por Invalidez, trabalhador considerado incapacitado

definitivamente para o trabalho pela perícia médica do Instituto Nacional do

Seguro Social (INSS), por motivo de doença ou de acidente, depois que o

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trabalhador se inscreveu na Previdência Social. O aposentado por invalidez

precisa passar pela perícia médica a cada dois anos.

Aposentadoria por Tempo de Contribuição, o homem deve comprovar, pelo

menos, 35 anos de contribuição e a mulher, 30 anos. Os professores têm esse tempo

reduzido em cinco anos.

Aposentadoria Especial, benefício concedido ao trabalhador empregado, avulso

e contribuinte individual filiado à cooperativa que tenha trabalhado em condições

prejudiciais à saúde ou à integridade física. Para ter direito, o trabalhador deve

comprovar o tempo de trabalho, a exposição efetiva a agentes nocivos físicos,

biológicos, químicos ou associação desses agentes prejudiciais por 15, 20 ou 25

anos, conforme o caso.

A proteção social tomava corpo de seguridade conforme a Constituição, faltava

todavia, dar regulamentação a Previdência privada.

A Previdência Privada – Brasil

O tempo passou, a inflação destruiu todos os tipos de poupança e era necessário

criar mecanismos para atrair novamente os recursos do público para os Fundos de

Investimentos. Aplicações de recursos em quaisquer planos estavam sem

credibilidade. Eram necessários marcos regulatórios. Um deles relativamente a

Previdência privada foi o primeiro alicerce em 1977 – Lei 6.435 de 1977 – que

formalizou a atividade de Entidades Privadas de Previdência Complementar no

Brasil, criando as seguintes entidades:

Abertas

Os planos dessas entidades são acessíveis a qualquer pessoa, mediante o

pagamento de contribuições periódicas por parte do participante ou de uma só vez

(BRASIL, SPC, Lei Complementar nº 109, 2001). Este tipo de plano pode ser

comprado em seguradoras e bancos por pessoas físicas, os chamados planos

individuais, ou por pessoas jurídicas, denominado também como planos coletivos.

Em resumo, as Entidades Abertas (Com fins lucrativos: Seguradoras) e as Sem

fins lucrativos chamados Montepios. Entidades Fechadas Fundos Multipatrocinados e

os Fundos Exclusivos. Tudo ainda, na época, muito confuso e difuso. Muitas foram as

tentativas de fazer essa estrutura crescer. Nas décadas de 70 e 80 economicamente o

Brasil não estava bem. A inflação destruía qualquer tipo de poupança da população e

das empresas. As pessoas desacreditavam da Previdência Complementar e quaisquer

outros tipos de aplicações. É óbvio. Muito dinheiro poupado por pessoas nessas

últimas três décadas 60, 70 e 80 tornou-se pó.

Aposentadoria e pessoas idosas têm grande grau de correlação e isso se

aplica na economia. Havia uma desconfiança generalizada dos mais velhos para

as novas gerações.

O Estatuto do Idoso veio para proteger a pessoa idosa e preservar as condições

mínimas de atendimento nas entidades governamentais e não governamentais. A

renda da Previdência Social é utilizada para substituir a renda do trabalhador

contribuinte quando ele perde a capacidade para o trabalho, seja por doença,

invalidez, idade avançada, morte e desemprego involuntário, ou mesmo a

maternidade e a reclusão. Neste mesmo período também foram criados os

Conselhos de Previdência Social, unidades descentralizadas do Conselho Nacional de

Previdência Social.

Maria da Glória Chagas Arruda (2004), mestra em Direito Previdenciário,

analisou em 2002, a Previdência Privada fundamentada no sistema de seguridade

social, como relação de consumo e os comandos do Código de Defesa do

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Consumidor vigente desde 1990, identificando o consumidor com o participante e

beneficiário da previdência privada, assim como a entidade aberta de previdência com

a figura do fornecedor.

A previdência privada aberta tem o mesmo objetivo da seguridade social, que é o

de proporcionar o bem-estar aos indivíduos e, por conseqüência, a toda

coletividade, todavia, com exceções, é claro, trata-se apenas de mais um tipo de

aplicação financeira.

Fechadas

É necessário defini-la. A Previdência é fechada quando acessíveis

exclusivamente aos empregados de um grupo de empresas ou de uma só

empresa, as quais são denominadas patrocinadoras. As entidades sem fins

lucrativos, assistenciais, educacionais ou religiosas foram equiparadas às empresas,

podendo seus planos incluir seus empregados. Elas têm critérios próprios e muitas

são estatais.

Os planos desenhados para elas são específicos para cada entidade. Há a

criação de Estatutos e os planos têm os seus Regulamentos. Atualmente, todas

devem ser enquadradas na LC 109/2001 e suas normas posteriores. Há aquelas que

ainda mantêm os Planos chamados de “Benefícios Definidos”, mas há também

outros Planos como os de Contribuição Definida, Variáveis e os Mistos.

Deve existir patrocínio de uma empresa. São denominadas Patrocinadoras. Por

exemplo, o Fundo de Pensão Petros que é dos funcionários da Patrocinadora

Petrobrás e suas coligadas. A saída de patrocínio não é algo simples. Vejamos alguns

modelos:

Entidade UniPatrocinada - EFPC com apenas um patrocinador ou um instituidor,

normalmente com um único plano de benefícios aplicável a todos os participantes. Na

nova legislação recebem a denominação de Patrocinador Singular e Plano Comum.

Entidade Multipatrocinada e UniPlano - EFPC com vários patrocinadores ou

instituidores, mas com apenas um plano de benefícios, compartilhado de forma

solidária entre esses patrocinadores ou instituidores. É definida pela nova legislação

de Plano Comum e Multipatrocinada. É usual em conglomerado empresarial,

quando um único plano é oferecido a todos os trabalhadores do conglomerado, mas

tem diversas pessoas jurídicas patrocinando.

Entidade Multipatrocinada e Multiplano -EFPC com mais de um patrocinador

ou instituidor e mais de um plano de benefícios, para diversos grupos de

participantes. A nova legislação a define como Multiplano e Multipatrocinada.

Neste caso poderá haver diversos planos e vários patrocinadores sob guarida de

uma entidade multipatrocinada. Administração única para vários planos específicos,

um para cada conglomerado ou empresa patrocinadora.

As várias complementares - As Complementares foram regulamentadas pelo

Decreto 81.240/78, que definiu como "sociedades civis ou fundações criadas com o

objetivo de instituir planos privados de concessão de benefícios complementares ou

assemelhados aos da Previdência Social, acessíveis aos empregados de uma empresa

ou de um grupo de empresas, as quais são denominadas Patrocinadoras". As entidades

sem fins lucrativos, assistenciais, educacionais ou religiosas foram equiparadas às

empresas, podendo seus planos incluir seus empregados e os religiosos que as

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servem. Até os Regimes Próprios de Servidores podem ter uma Previdência

Complementar, cujo Patrocínio é do Ente federativo. É o caso, por exemplo, da

Prevcom de São Paulo.

Especificidades das Entidades de Previdência.

Fundos de P Pensão: Denominação popular para Entidade Fechada de Previdência Complementar.

Sociedade sem fins lucrativos, constituida por uma Empresa ou por uma Entidade

de classe Sindical, cujo objetivo principal seja a concessão de benefícios de caráter

previdenciário, tendo como receita as contribuições dos participantes e se for o

caso das empresas Patrocinadoras. Os Fundos de Pensão podem ser Fundações e

também não tem fins lucrativos.

A Patrocinadora, que constitui a entidade fechada de previdência privada e

realiza contribuições em favor dos empregados, pode ser pública – no caso de

empresas públicas, sociedades de economia mista ou fundações vinculadas à

Administração Pública – ou privada. No caso de várias patrocinadoras, diz-se que

o fundo é multipatrocinado e exige-se a celebração de convênio de adesão entre elas

e a entidade de previdência.

As entidades fechadas têm como finalidade a administração e execução de

planos de benefícios de natureza previdenciária, sendo-lhes vedada a prestação

de quaisquer serviços que não estejam no âmbito de seu objeto.

Assim, a partir da Lei Complementar nº 109, ficou vedada a prestação de

serviços sociais, que pela legislação anterior não era proibida. Estão sob a égide

da LC 109/2001. Houve um período que poderíamos chamar de transição das

reformas. Como regra de transição, as entidades fechadas que, na data da

publicação dessa lei complementar, prestavam a seus participantes e assistidos

serviços assistenciais à saúde, podem continuar a fazê-lo, desde que seja

estabelecido um custeio específico para os planos assistenciais e que a sua

contabilização e o seu patrimônio sem mantidos em separado em relação ao plano

previdenciário. A Lei Complementar nº 109 também inovou ao trazer regras mais

detalhadas sobre a administração das entidades fechadas, que devem manter

estrutura mínima composta por Conselho Deliberativo, Conselho Fiscal e Diretoria

Executiva.

Outra inovação consistiu na exigência de representação dos participantes e

assistidos nos Conselhos Deliberativo e Fiscal, assegurado a eles, no mínimo, um

terço das vagas. Os membros do Conselho Deliberativo ou do Conselho Fiscal

devem atender aos seguintes requisitos: Comprovada experiência no exercício de

atividades nas áreas financeira, administrativa, contábil, jurídica de fiscalização ou

de auditoria; Não ter sofrido condenação criminal transitada em julgado; Não ter

sofrido penalidade administrativa por infração da legislação da seguridade social ou

como servidor público.

As entidades fechadas não podem solicitar concordata e não estão sujeitas a

falência, mas somente a intervenção ou liquidação extrajudicial.São previstas na

Lei Complementar nº 109 as modalidades de planos de benefícios, que podem

ser de Benefício Definido, Contribuição Definida e Contribuição Variável. As

definições foram normatizadas pela Resolução CGPC nº 16, de 22 de

novembro de 2005. O que é o CGPC?

O Conselho de Gestão de Previdência Complementar foi um órgão integrante

do Sistema Financeiro Brasileiro que era vinculado ao Ministério da Previdência

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Social e possuia a função de normatizar e coordenar as atividades das Entidades

Fechadas de Previdência Complementar (conhecidas como fundos de pensão).

Também cabia ao CGPC julgar, em última instância, os recursos interpostos contra

as decisões da extinta Secretaria de Previdência Complementar - SPC. Em Março

de 2010 o CGPC foi extinto e em seu lugar foram criados o Conselho Nacional de

Previdência Complementar (CNPC) e a Câmara de Recursos da Previdência

Complementar (CRPC).

Os tipos de Planos nas Entidades Fechadas

Benefício Definido - Foram conceituados pelo artigo 2º da Resolução CGPC nº

16, da seguinte forma: “Entende-se por plano de benefício de caráter

previdenciário na modalidade de Benefício Definido aquele cujos benefícios

programados têm seu valor ou nível previamente estabelecidos, sendo o custeio

determinado atuarialmente, de forma a assegurar sua concessão e manutenção

(BRASIL Resolução CGPC nº 16, 2005). Os planos de Contribuição Variável estão

conceituados pelo artigo 4º da Resolução CGPC nº 16, da seguinte forma:

“Entende-se por plano de benefícios de caráter previdenciário na modalidade de

Contribuição Variável aquele cujos benefícios programados apresentem a

conjugação das características das modalidades de contribuição definida e benefício

definido.”( BRASIL Resolução CGPC nº 16, 2005).

Discussão: Qual a diferença entre o BD e o CD ?

No mundo Real

Hoje em dia, quase a totalidade dos Planos de Previdência Complementar são

oferecidos nas modalidades de Contribuição Definida ou de Contribuição Variável,

porque neste caso, o risco de não se acumular o valor esperado fica com o

participante do Plano, e não com a empresa que oferece o benefício, como ocorre

quando o plano de previdência é oferecido na modalidade de Benefício Definido.

Claro que tais Planos geram longas discussões, pois:

“O artigo 5º determina que na fase de acumulação

não haverá incidência de imposto de renda na fonte, no

caso de rendimentos pagos por instituições financeiras,

ou pago em separado, no caso de aplicações em bolsa e

assemelhadas, o que resulta na não tributação dos

rendimentos e ganhos auferidos na fase de acumulação.

Trata-se de demanda histórica do sistema de previdência

complementar e que torna a acumulação de recursos

por meio destes produtos totalmente livre de impostos, a

exemplo do que se verifica em outros países, sendo

este mais um incentivo à formação de poupança

previdenciária de longo prazo.” (José Roberto Carreta,

2005.)

Outro aspecto muito discutido e objeto de Decisão do STF é a probabilidade de

Penhora.

Planos coletivos - No caso de plano coletivo, o plano fica restrito a um grupo

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exclusivo de participantes, podendo ser de funcionário de uma empresa, um grupo de

sócios. Estes planos serão denominados como averbados ou instituídos.

Plano averbado - No plano Averbado a empresa tem o papel de facilitador,

repassando as contribuições à Seguradora. A vantagem de um plano averbado é na

viabilização para os funcionários da compra de um plano de previdência com

condições privilegiadas, normalmente não disponíveis para pessoas físicas.

Isso significa melhores fundos e menos despesas de gestão ou administração que

traduz em maior rentabilidade dos investimentos. Porém, devido à falta de

contribuições da empresa, fica muito reduzida a adesão por parte dos

funcionários. No Instituído a empresa participa, total ou parcialmente, no custeio do

fundo. O mais comum nesse caso é o pagamento e a contribuição simétrica da

empresa, igualando até um patamar cada depósito feito pelo funcionário. Os planos

têm cada qual suas características próprias, mas muitos aspectos em comum, que

são os seus Institutos.

Alguns institutos

Portabilidade - Instituto pelo qual participante, após a cessação de seu vínculo

empregatício com o patrocinador, ou associativo com o instituidor, antes da

aquisição do direito a benefício pleno e desde que cumpridos os requisitos

regulamentares, desliga-se do plano de benefícios, transferindo os recursos

financeiros correspondentes ao seu direito acumulado para outro plano operado por

entidade fechada ou aberta de previdência complementar

Auto Patrocínio- Instituto que faculta ao participante, em caso de perda parcial

ou total da contribuição de seu patrocinador, manter a contribuição ao plano e

assumir a contribuição do patrocinador em relação à parcela reduzida. Desse modo,

o participante terá assegurado o recebimento futuro do benefício nos níveis

anteriormente pactuados.

Benefício proporcional Diferido - Instituto pelo qual o participante, após a

cessação de seu vínculo empregatício com o patrocinador, ou associativo com o

instituidor, e tendo cumprido a carência, opta por receber o benefício, em valor

proporcional ao tempo em que permaneceu contribuindo para o plano, na data

prevista para início do recebimento, ou seja, a partir do momento em que se tornar

elegível, conforme previsto originalmente no regulamento.

Resgate - Instituto que faculta ao participante receber, quando do seu

desligamento do plano, o valor das reservas constituídas. Neste caso algumas

variações existem conforme o plano. No mínimo, o valor do resgate deverá

corresponder à totalidade das contribuições vertidas pelo participante ao plano,

descontadas as parcelas de custeio administrativo que, na forma do regulamento e do

plano de custeio, sejam de sua personalidade. Todo plano de previdência possui um

regulamento, que é o Contrato de Natureza Civil, onde constam os direitos e

obrigações das entidades, patrocinadores, participantes e assistidos. O regulamento

define as regras de contribuição, os benefícios oferecidos e as condições de acesso

aos benefícios. Os planos de benefícios estão divididos em diversas modalidades,

cada qual com a sua particularidade.

Tipos de Benefícios Básicos - Aposentadoria, pensão, morte, rendas vitalícias ou

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temporárias, pecúlio por morte e pagamento único; pecúlio por invalidez e

pagamento único.

Mas o que é Complementar?

Vamos entender tudo como “seguridade”. Não confundir com “assistência”. O

termo “Complementar” pode significar gestão do setor privado, mas pode apresentar–

se como obrigatoriedade para a comunidade assalariada por ramo profissional ou por

empresa. Em geral, o regime Complementar integra o sistema nacional de

seguridade social, assegurando pagamentos suplementares às oferecidas pelo regime

geral de previdência social. Em pesquisas que se faz pelo mundo os conceitos e os

conteúdos integrantes dos seguros sociais e Complementares nos distintos países não

são uniformes.

Variáveis que afetam os Benefícios

Estrutura da política de cargos e salários, esquema montado para promoções,

política de crescimento dos salários, políticas de contratação e demissão,

políticas deelegibilidade para aposentadoria, benefícios previstos na entrada

Benefícios previstos na saída ; Rotatividade na empresa. Todos esses

elementos estão na Legislação das EFPC. A legislação obriga ao monitoramento

Atuarial. Por isso as “Reavaliações Atuariais” são obrigatórias todos os anos.

Essas avaliações é que fornecem a análise do Equilíbrio Econômico Financeiro

do Plano. Os conhecimentos básicos dos aspectos jurídicos, administrativos e

atuariais também são ferramentas desse trabalho. Ter a visão técnica e jurídica

sobre todas as ferramentas que são utilizadas na Previdência Privada – seja fechada

ou seja aberta. Daí as consultorias nacionais e até internacionais. Essas noções

básicas resumidamente são: O que é Atuária, o que é um Regime Financeiro, como

se aplica, conhecimentos do Regime Geral de Previdência, Regime Próprio – RPPS

– dos Servidores, Base Legal, Regime dos Militares, como financiar, tábuas de

mortalidade, salário de benefício, Fator Previdenciário, expectativa de vida, tipos

de planos, período de diferimento, período de contribuição, período de percepção,

recebimento de rendas, o que é elegibilidade e outras regras ou institutos.

Quem pode dar Laudos técnicos

Contador não é Atuário e não pode fornecer Laudos em casos de Previdência,

Saúde Suplementar, Seguros e Capitalização.

As fases da Previdência

Os princípios são aqueles que estão na Constituição atual e se referem de

forma genérica. Necessário foi estabelecer leis e critérios. Como foram essas fases ?

Houveram muitos ajustes?Como funcionavam os Montepios até 1970 ?

A primeira fase da Previdência:

Montepios e Caixas de Socorro. O primeiro Montepio surgiu em 1835.

Montepio Geral dos Servidores do Estado (Mongeral). Ainda na primeira fase: A

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Lei no. 3.397 de 1888 criou a ‘Caixa de Socorro’ para os trabalhadores das estradas

de ferro estatais. Em 1889, foi regulamentado um Montepio para os funcionários

dos Correios e um fundo de pensão para os empregados das Oficinas da

Imprensa Régia.

A segunda fase da Previdência:

A 2ª. Fase da Previdência no Brasil foi marcada pela Lei Eloy Chaves e Caixas de

Aposentadorias e Pensões. (Dec.Lei 4.682 de 1923 implantou no Brasil a

Previdência Social. Criação das ‘caixas de aposentadoria e pensões’ aos

empregados das empresas ferroviárias com benefícios de aposentadoria por

invalidez, aposentadoria ordinária (atualmente aposentadoria por tempo de

contribuição), a pensão por morte e a assistência médica. Ainda na segunda fase,

posteriormente os benefícios foram estendidos aos empregados das empresas

portuárias, serviços telegráficos, de água, energia, transporte aéreo, gás, mineração,

até atingir 183 caixas de aposentadoria e pensão. Posteriormente foram unificadas na

Caixa de Aposentadoria, Pensões dos Ferroviários e Empregados em Serviços

Públicos.

Numa terceira fase:

Na 3ª. Fase destacam-se os Institutos de Aposentadorias e Pensões dos Marítimos

criados em 1933. Tal fato deu início a organização dos institutos com abrangência

nacional, em seguida dos Comerciários e Bancários, Industriários, criando uma Caixa

Única de Aposentadoria e Pensões dos Ferroviários e Empregados em Serviços

Públicos em 1953.

Aqui começa a nascer o INSS e muito depois em 1991 a Seguridade:

Em 1960 foi promulgada a “Lei Orgânica da Previdência Social”, todavia, a Lei

“Orgânica da Seguridade Social” foi em 24 de julho de 1991, competindo ao poder

público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, dando mais forma a

seguridade geral e a assistência, com base em princípios de:

I - universalidade da cobertura e do atendimento;

II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações

urbanas e rurais;

III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços IV -

irredutibilidade do valor dos benefícios;

V - eqüidade na forma de participação no custeio;

VI diversidade da base de financiamento;

VII -caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, com a

participação da comunidade, em especial de trabalhadores, empresários e

aposentados.

Podemos ainda dizer que aconteceu uma quarta fase:

A uniformização da legislação e unificação administrativa marcou a 4ª. fase da

Previdência no Brasil, com a Lei 8.212/91, a Previdência Social passa a

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assegurar aos seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo

de incapacidade, idade avançada, desemprego involuntário, encargos de família e

reclusão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente.

Dentro da realidade de 1977 criou-se a possibilidade de desenvolver os estudos

para uma Previdência Supletiva. Aí, dentro das situações do INPS começou a

nascer o INSS. Muitas mudanças aconteceram. A Lei 8.213/91 determina que

todo acidente do trabalho ou doença profissional deverá ser comunicado pela

empresa ao INSS. (Criação das AR’s – obrigatórias). Obrigatoriedade da criação

das Cipas, Exames médicos obrigatórios entre outras obrigações das empresas.

E depois? Neo-liberalismo?

No governo do Presidente F.H.C. foi efetuada a reforma constitucional através

da Emenda Constitucional 20 de 1998 modificou a Previdência Social e

estabeleceu normas de transição. Foi definido que a seguridade social

compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da

sociedade. Destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à

assistência social. Dentro desse período de transição, iniciaram-se as articulações

para montar os Regimes Próprios dos Servidores Públicos já previstos em artigo

constitucional.

O RGPS – Regime Geral de Previdência Social

É necessário conhecer um pouco do Regime Geral da Previdência Social, seus

objetivos, para, em seguida, concluir a necessidade da complementação ou da

Previdência Privada. Como funciona e seus objetivos gerais.

Objetivos gerais da Previdência Social:

No mundo

Suprir as necessidades básicas de sobrevivência aos que se tornam incapazes para

o trabalho (ou seus dependentes), temporária ou definitivamente.

No Brasil:

A Constituição Federal de 1988 “ampliou” este conceito para “seguridade

social”, combinando três grandes sistemas: Previdência Social, Saúde e

Assistência Social.

O Direito a Previdência Social

No Brasil, o direito à Previdência Social, é garantido pela Constituição Federal,

em seu artigo 201, que exige: filiação obrigatória, caráter contributivo, e equilíbrio

financeiro-atuarial.

Regimes Previdenciários brasileiros:

Regime Geral de Previdência Social – RGPS, administrado pelo INSS (desde

1966); Regimes Próprios de Previdência Social para Servidores Públicos Civis

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– RPPS (mais antigos), Regime de Previdência Social dos Militares. Outras:

Congressistas, Judiciário. Base legal: Artigo 201 da Constituição Federal e

outras. leis 8.212/91 e 8.213/91.

Segurados:

Todos os trabalhadores civis e seus dependentes, exceto os servidores públicos

efetivos, vinculados a Regimes Próprios – RPPS - Regime financeiro- atuarial:

Repartição Simples – simples divisão do “caixa” entre os segurados onde existe

o conhecido “pacto de gerações”. As contribuições dos atuais trabalhadores

ativos pagam as despesas com os atuais aposentados e pensionistas. Evoluiu, desde

o início, para “regime de caixa”.

São previstas três fontes de financiamento:

Empregador -

20 % da Folha de Pagamentos (portanto, contribuição sobre a remuneração

integral), mais contribuição variável de 1% a 3%, para acidentes de trabalho e mais

uma contribuição para aposentadorias especiais, se for o caso.

Empregado - Contribuição proporcional à remuneração (8%, 9% ou 11%), só até o

teto, atual de dez salários mínimos.

União - Nunca contribuiu, mas tem assumido o déficit (assim como se apropriou, no

passado, dos recursos excedentes).

Salário de Benefício (aposentadoria) - Média dos 80% dos maiores salários de

contribuição(corrigidos pelo IGP-M), a partir de julho/94 (início do Plano Real),

limitado ao teto e aplicado o fator previdenciário, que é um “redutor” que

combina tempo de contribuição com idade e expectativa de vida (com base nas

Tábuas Biométricas do IBGE).

O fator previdenciário, cuja equação é abaixo apresentada, foi instituído em 1999

(FHC) pela Lei 9.876. O Fator Previdenciário é, na verdade, um redutor de

proventos de aposentadoria criado com o objetivo de desestimular o trabalhador a

se aposentar cedo. De fato, quanto menor é a idade e menor o tempo de

contribuição, menor será o valor do provento a receber. Observe-se que

previdência complementar – não é “social”.

Onde: f = Fator Previdenciário;

TC = Tempo de contribuição;

ES = Expectativa de sobrevida no momento da aposentadoria;

Id = Idade no momento da aposentadoria;

a = alíquota de contribuição fixada em 0,31 [20% + 11%]

Características dos Regimes Próprios

Breve histórico dos RPPS Historicamente, as relações do funcionalismo com os entes estatais se

originam no séc. XIX, com a formação do Estado brasileiro. Tais relações eram

f T

c a I

1 d Tc a

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157

vistas como pro labore facto - os cargos eram considerados doações do soberano,

sendo, em geral, vitalícios e a remuneração integral da atividade era convertida,

automaticamente, em proventos de inatividade. Não havia a “aposentadoria”, como

é hoje: o servidor nunca deixava de ser servidor apenas passava à inatividade, em

algum momento, sem perda salarial.

Os funcionários, proporcionalmente, não eram muitos e os entes estatais

adotavam uma estrutura administrativa híbrida, com contratações sem concurso

para funções temporárias ou interinas.

Houve mudanças no funcionalismo:

Não havia contribuição para a aposentadoria e os benefícios eram concedidos,

estendidos e ampliados sem avaliações de longo prazo. Na realidade não havia

critério técnico. A sociedade foi mudando com inovações nas políticas de gestão,

mas a previdência dos servidores até recentemente (1998), não acompanhou tais

mudanças.

Porque surgiu o RPPS?

Resumindo, a Constituição Federal de 1988 permitiu que os entes estatais

constituíssem seus regimes previdenciários próprios, mas isto não gerou de

imediato, nenhum movimento dos entes estatais (especialmente as prefeituras), no

sentido de construírem (ou “revitalizarem”) seus RPPS. Pagavam

asaposentadorias e benefícios com o dinheiro dos impostos comprometendo os

investimentos. E deviam muitos recursos ao INSS.

O início da crise: Mas, nos anos 80, havia uma grave crise econômica e uma das

formas de os municípios enfrentar foi encarar de frente o endividamento junto ao

INSS. Em 1989 Collor elege-se Presidente colocando como um dos principais

responsáveis pela crise, o próprio governo, que ele chamava de funcionários marajás

e apoiado nas teses neoliberais de estado mínimo resolveu tomar decisões

econômicas.

Muitos dos RPPS mais antigos apresentavam um “rombo” atuarial da ordem de

três ou quatro orçamentos de seu ente estatal. Era necessário dar um ponto final de

longo prazo para essa situação.

Saída para a crise: Entre outras medidas, Collor começou a cobrar as dívidas ao

INSS dos Estados e Municípios, fazendo aprovar a Lei 8.212/91 que permitia reter o

FPM e FPE (São fundos repassados aos municípios e estados pelo governo federal).

Diante da pressão, uma saída encontrada pelos municípios foi criar (ou reativar)

seus RPPS. Com isto passavam de devedores a “credores” do INSS, em razão da

compensação previdenciária. O Regime de RPPS começou a ser regulado na forma

abaixo e dentro do Regime Financeiro-Atuarial necessário ao caso. O profissional,

ao elaborar o estudo atuarial deve em conjunto com o Executivo do ente estatal,

definir o regime financeiro-atuarial.

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Base legal

Os entes estatais - União, Estados e Municípios - tem autonomia para constituir

seus regimes previdenciários, para servidores . A Constituição Federal de 1988

“reconhece” a existência dos RPPS: Art. 40 assegura previdência para servidores.

Art. 149, § 1° permite aos entes estatais recolher contribuições previdenciárias e

Art. 201, § 9° institui a contagem recíproca e compensação financeira.

O que é contagem recíproca? A maioria das aposentadorias são concedidas em

função do tempo de contribuição (em geral, 35 anos para homens e 30 anos para

mulheres). Para isso, a Constituição (no § 9º do artigo 201) assegura que todo

tempo de contribuição ou trabalho seja computado, não importando para qual

regime foram recolhidas as contribuições.

Planos de Benefícios no RPPS

Benefício definido As contribuições são definidas pelo Atuário em função do valor

e do momento em que começarão a ser pagos os proventos de aposentadoria, valor

este definido “a priori”.

Contribuição definida A contribuição é definida pelo segurado - em função de suas

posses e interesses - e o valor do provento dependerá dos recursos acumulados à época

ou seja, o “risco” do investimento é assumido pelo segurado para salários que

ultrapassam o teto do RGPS.

Profissão do futuro: O Consultor Previdenciário

No exterior já é comum a figura do consultor previdenciário, mas no Brasil esse

profissional é o que dá entrada na aposentadoria.

Questões do tipo: “tenho 50 anos de idade e 35 anos de tempo de contribuição.

Peço a aposentadoria agora ou aguardo mais cinco anos e aumento meu

benefício em torno de 35%? Que efeito acontecerá em meu benefício

complementar?” Algumas rupturas vão acontecendo por fatores sociais que se

apresentam como, por exemplo:

A longevidade:

Em partes da Europa há mais cadeiras de rodas que carrinhos de bebê. Pessoas

acima de 65 anos na China (165 milhões) são mais numerosas que toda a população

da Rússia e vivem na zona rural. No meio desse século a população do Japão terá se

reduzido a metade da atual e quase 1/3 terá mais do que 65 anos. Não só o mundo

desenvolvido envelhece. O sudeste do Brasil e partes da África tem o mesmo perfil

demográfico de envelhecimento que a Europa. Em 2025, 57% da população acima

dos 80 anos estará vivendo nas regiões mais pobres do mundo e em 2050 serão 70% (

MIT – AgeLab e Plano Internacional de Ação sobre o Envelhecimento – ONU).

Como sabemos quando o País está envelhecendo?

O índice de envelhecimento de uma população é apresentado como a relação

entre o número de pessoas com 60 anos ou mais e o de jovens, com menos de 20 anos.

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Segundo a ONU uma população está envelhecendo quando 7% de seus habitantes

têm mais de 65 anos.

Brasil: Flex Seguridade: o que é? É uma solução que traz consigo a quebra de velhos paradigmas surgidos em face da

interpretação do antigo marco regulatório do Regime, a lei nº 6.435, de 1977. A partir

da Emenda Constitucional nº 20, de 1998, os princípios que norteiam o Regime são bem

claros e permitem visões bem mais amplas e flexíveis do que antes e precisam ser vistos

pela ótica da inovação.

Tendências Latino Americanas na Previdência:

Outros países

O que acontece com os sistemas previdenciários? Na Inglaterra e na Austrália –

não é compulsória a aposentadoria e no Chile de 10 milhões em idade de trabalho, 3,5

milhões estão em período produtivo o que fornece 35% das pessoas. O estresse dos

sistemas previdenciários é mundial. O que de fato está acontecendo? Está havendo

uma exposição dos sistemas previdenciários implementados por alguns países latino

americanos. Fato interessante e que questiona os demais países da América Latina,

podendo fazer comparações ao longo do tempo.

Um deles é o modelo chileno - O modelo chileno teve seu sistema amplamente

reproduzido em todo o mundo, sendo sua divulgação efetuada pelos formuladores

políticos que projetaram sua composição, de formação neoliberal. A principal

característica deste modelo é a delegação total da geração de renda para

aposentadoria ao setor privado, mantendo-se o Governo como regulador e órgão

pagador dos beneficiários do antigo regime, cujos direitos de aposentadoria foram

adquiridos antes de 1981. O objetivo principal de sua implementação foi a

contenção do gasto público em Previdência e o incremento da poupança nacional,

tendo sido parcialmente atingidos. Sua aprovação, de cunho forçado, ocorreu durante

o regime militar de Augusto Pinochet e foi imposta à sociedade sem consultas prévias.

Dentre as reformas efetuadas na América Latina, Mesa-Lago (2003) destaca as dos

seguintes países: Peru, Colômbia, Argentina, Uruguai, México e Bolívia. A reforma

no Peru ocorreu no governo de Alberto Fujimori, no final da década de 1980.

Naquele período, o país estava em uma situação de desordem econômica geral,

com o sistema público de previdência beirando o colapso. O governo tentou então

efetuar uma reforma estrutural, baseada no modelo chileno cuja reestruturação

ocorrera em 1981, porém não obteve aprovação parlamentar.

O Poder Executivo foi então investido de amplos poderes para formular um

conjunto de normas que reestruturassem o sistema e, em 1991, foi apresentado um

novo projeto, cujo fundamento estava baseado nas idéias de privatização do modelo

chileno. Devido às eleições para Assembléia Constituinte que ocorreriam em 1992,

no entanto, o Governo voltou atrás em alguns pontos, deixando de fora da

obrigatoriedade de adesão ao novo sistema para as Forças Armadas e o funcionalismo

público.

Com critérios confusos e contraditórios com os do sistema público, o sistema

privado somente passou a funcionar de fato a partir de 1995/96, quando as

características das duas modalidades foram equiparadas(MESA-LAGO, 2003).

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Colômbia A Colômbia instituiu em 1991 a Seguridade Social como sendo

responsabilidade exclusiva do Governo. Já para a Previdência Social, foram

propostas três modalidades: uma exclusivamente pública, com sugestões de ajustes

a serem efetuados de forma urgente, uma exclusivamente privada baseada no modelo

chileno e uma mista. Com uma concentração de políticos liberais à frente de

importantes cargos no Estado, como o Ministério das Finanças e o Banco Central, foi

encaminhado ao Congresso um projeto ancorado no sistema privado.

Uruguai No Uruguai a crise previdenciária em meados de 1980 já tomava proporções

mais severas do que nos outros países latinos, tornando a reforma iminente. No

entanto, foi também o país que teve as maiores dificuldades em aprová-la efetuando

várias tentativas, iniciadas ainda no regime militar, e concretizando sua reforma

somente em 1995, no segundo governo de Julio Sanguinetti. Em 1985, tentou-se um

acordo para redução do valor real das contribuições, porém o Governo foi derrotado

pela oposição, aliada a grupos de interesse, sindicatos e comissões de aposentados.

O Governo efetuou nova tentativa de reforma em 1987, cuja aprovação foi

revogada em 1989 através de um referendo popular com percentual de 82% de votos

contrários. No período 1991/92 foram efetuados três novos projetos, sugerindo

sistemas mistos, com diferentes proporções, porém todos foram rejeitados no

Congresso. Em 1995 os partidos políticos tradicionais, Blanco e Colorado,

formalizaram um acordo político e finalmente conseguiram aprovar o projeto de

reforma previdenciária, passando este a vigorar a partir de 1996.

Neste modelo, embora tenha excluído a polícia e os militares, os contribuintes na

sua integralidade foram divididos em dois segmentos por idade e em três

segmentos por renda, preservando os direitos dos segurados mais antigos. Em 1996 e

1999 houve novas tentativas de anular as reformas implementadas porém, ambas

foram rejeitadas. Em 1999, 51% dos segurados permanecia no esquema antigo.

Argentina Na Argentina o sistema público de Previdência também estava com sérias

dificuldades no início da década de 1990 e necessitava de reformas urgentes. Porém,

ao contrário de outros países latinos cujas reformas foram esquematizadas por

Governos militares, na Argentina a reforma foi iniciada no Governo democrático de

Carlos Menem. O novo ministro para assuntos internacionais, Domingo Cavallo,

providenciou um estudo técnico fundamentado nas reais necessidades da população

argentina e levou à discussão da sociedade um novo sistema previdenciário, que

seria composto por um segmento público, com garantia de renda básica, e um

segmento privado, a ser utilizado como complemento. O projeto foi apresentado em

1992 e aprovado em 1994, após diversas modificações e concessões efetuadas a

alguns segmentos de trabalhadores organizações trabalhistas e, em 1999, 78% dos

segurados estavam filiados ao mesmo (MESA-LAGO, 2003). Atualmente na

Argentina a Previdência está totalmente estatizada.

México No México o Partido da Revolução Institucionalizada (PRI) esteve no poder de

1920 a 2000 com um modelo de gestão política que aliava Governo, trabalhadores

e empregadores. Na década de 1990, após a crise da dívida externa da década

anterior e com uma inflação acentuada, o Instituto Mexicano de Seguridade Social

(IMSS), segmento previdenciário oficial, enfrentava uma crise acentuada, com uma

relação contribuinte/beneficiário chegando à proporção de um por um. Em 1990, o

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Banco Mundial juntamente com algumas instituições internas, formulou um novo

projeto para a Previdência, baseado no modelo chileno, mas sem copiá-lo

integralmente.

O novo projeto foi rejeitado pelo IMSS que propôs uma reforma paramétrica.

Em 1992 foi aprovado o Sistema de Poupança para a Aposentadoria (SAR) um

sistema de poupança privada compulsório, com gerenciamento do setor privado e

financiado por contribuições dos empregadores9. Mesmo com a reforma, a crise do

sistema oficial continuou acentuada e, em 1995, foi proposta uma reforma estrutural

cuja aprovação ocorreu em 1996 e entrou em vigor a partir de 1997.

Destacam-se no novo modelo a adesão compulsória, embora tenha se permitido

aos participantes a opção de escolha no momento da aposentadoria por um dos dois

regimes; a exclusão da aposentadoria por idade pelo IMSS; a manutenção dos

privilégios de alguns grupos, notadamente servidores públicos e militares e a

introdução de múltiplas gerenciadoras de investimento, tanto públicas como

privadas. Sendo de caráter obrigatório, em 1999 100% dos segurados participavam

deste regime (MESA-LAGO, 2003).

Bolívia Na Bolívia a crise previdenciária começou ainda na década de 1970 e acentuou-

se na década seguinte. Em 1991 o Governo propôs uma reforma estrutural, mas

a proximidade das eleições gerou seu arquivamento. Já em 1993, o presidente

eleito Gonzalo Sánchez de Losada encaminhou novo projeto, baseado nas reformas

estruturais adotadas no Chile e com apoio das Instituições Financeiras Internacionais

(IFIs). Sua aprovação no Congresso foi imediata apesar de protestos da sociedade

civil e algumas associações de aposentados e pensionistas que não possuíam, no

entanto, força política enquanto oposição. A reforma boliviana se aproxima da

chilena, diferindo em alguns tópicos, como a não garantia de uma pensão mínima

pelo Estado, a transferência compulsória de todos os segurados para o novo regime e

a manutenção de somente duas administradoras para os novos fundos de pensão.

Países desenvolvidos Sob as mesmas condições fundamentais o mercado de previdência privada

tem crescido consistentemente ao longo das últimas décadas em diversos países

desenvolvidos e, particularmente em um país em desenvolvimento, o Chile.

Nestes países a proporção entre Ativos / PIB chega a 85% nos EUA, 120% na

Holanda e 50% no Chile. Constituí-se a previdência privada em uma importante

ferramenta de alavancagem da poupança interna, bem como em impulsora dos

mercados de capitais.

Nos Estados Unidos, os ativos totais chegam a quase US$ 9 trilhões,

distribuídos entre planos dos três níveis de governo e do setor privado. Praticamente

todo o funcionário de qualquer empresa norte-americana tem acesso a uma das

diversas modalidades disponíveis.33

Nos últimos oito anos, o patrimônio dos fundos

de pensão cresceu três vezes e o dos fundos abertos, mais de seis vezes. Ainda

assim, os ativos previdenciários são pequenos no Brasil, comparados aos de países

desenvolvidos - na Holanda, superam os 130% e na Grã-Bretanha, 80% do PIB,

com média de 75% do PIB nos países- membros da OCDE.

Outros dados relevantes: projeções – Brasil e comparações O volume de recursos acumulado nos fundos de previdência privada deve

passar dos atuais 21% para 52% do PIB brasileiro, em 2020. A previsão é da

consultoria Keyassociados e foi calculada com base no ritmo de crescimento dos

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fundos de VGBL na última década, que superou 19% ao ano, dos fundos fechados

(10%) e do PIB (3,6%). Apesar da expectativa, ainda se trata de uma proporção

consideravelmente inferior à verificada em países como Austrália (90%), Estados

Unidos (72%) e Chile (64%), segundo dados da OCDE. A Keyassociados é

parceira da Mongeral Aegon no primeiro produto do mercadobrasileiro de previdência

baseado em conceitos de sustentabilidade (Keyassociados – por Marina Rossi – acessado

em 18/04/2014).

Outras Variáveis importantes As megatendências e os Fundos de Pensão Há um relatório desenvolvido pela KPMG (“The Future State 2030)

sobre o

futuro do Estado, que apresenta e detalha as nove megatendências globais que vão

exigir a atenção dos governos em todo o mundo, nas próximas duas décadas. Ao

divulgar o trabalho a consultora não correlaciona qualquer delas com nenhum

segmento em particular, mas chama a atenção para o fato de que logo as duas

primeiras têm um impacto direto com os fundos de pensão: Mudanças

demográficas e ascensão das classes sociais, enquanto uma terceira, urbanização

acelerada, é referida mais tarde.

As três alimentam uma relação direta com o nosso sistema, de vez que

especialmente o aumento da longevidade faz naturalmente crescer a demanda por

planos complementares e, da mesma forma, a melhoria no padrão de vida e

consequentemente o desejo de conservá-lo na aposentadoria. A presença de mais

gente nas cidades amplia o mercado de trabalho e, em decorrência, a massa

potencial de participantes.

A previsão é de que no ano de 2030 teremos no mundo mais de 1 bilhão de

pessoas com mais de 65 anos, fruto não só da maior longevidade mas também das

menores taxas de natalidade. Quando isso acontecer, e talvez até antes disso, os

sistemas de pensão e saúde estarão sob severa pressão, tendo a sua solvência colocada

em teste.

Por sua vez, estudo do BID aponta que a maior parte dos países da América

Latina e do Caribe ainda tem populações relativamente jovens, o que permite fazer

as reformas agora ou, ao menos, não deixar muito para depois. Segundo o estudo,

6,8% da população da região tinha mais de 65 anos em 2010. Mas as estimativas

apontam que em 2050 essa taxa será de 19,8%, ou 140 milhões de pessoas.

A região passará a ter 3,2 pessoas em idade ativa para cada idoso quando

chegar 2050, contra 9,6 em 2010. Nesse período, a cada ano o número de idosos

aumentará em 2,6 milhões. Assim, a população com mais de 65 anos representará entre

23% e 27% do eleitorado, dependendo do país. Em 2010, esse índice ainda era de 10%

em média (“O Futuro do Estado em 2030” (“The Future State 2030), desenvolvido pela

KPMG em 17/03/2014).

Redução das taxas de natalidade e aumento da longevidade O que os leitores fariam para tentar melhorar, a longo prazo, a situação geral

econômica, social e consequentemente um “Welfare State” mais convincente?

O Bônus demográfico

Por definição o Bônus Demográfico é um fenômeno que ocorre em um período de

tempo no qual a estrutura etária da população apresenta menores razões de dependência

(menos idosos, crianças e adolescentes) e maiores percentuais de população em idade

economicamente ativa, possibilitando que as condições demográficas atuem no sentido

de incrementar o crescimento econômico e a melhoria das condições sociais dos

cidadãos do país.

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As relações de dependência

de 0 a 15 anos e acima de 65 anos >> Infância e Velhice Período Produtivo

Período pré-produtivo Período pós-produtivo

Velhice // Populações dependentes.

Qual é o nível de dependência do brasileiro? O perfil brasileiro de dependência é comparável ao de Índia e Indonésia na

Ásia, ao de México e Perú na América, ao da África do Sul, na África, a

nenhum país europeu.

Comparações de custeio: custo das pensões dos idosos e o PIB:

Alemanha: 16,0% de idosos gasta 12,5% do PIB

França 16,0% de idosos gasta 13,5% do PIB

Itália: 17,5% de idosos gasta 17,5% do PIB

Estados Unidos: 13,0% de idosos gasta 8,0% do PIB

Argentina: 10,0% de idosos gasta 4,1% do PIB

Chile: 7,0% de idosos gasta 6,0% do PIB

E no Brasil? Regime geral no Brasil: consome quase 10% do PIB entre: aposentados em

geral. Tudo isso considerando o Regime Geral, ou seja, Estados, Municipios e

União, e gerando um déficit em torno de 4,5 % do PIB valores esses cobertos por

impostos - orçamento do governo.

A média nem sempre funciona: As reformas têm vetores políticos, econômicos e sócio-culturais. Em 2002 fez -

se um levantamento de que o mundo produz 36 trilhões de dólares, que divididos

por 6,2 bilhões de pessoas, daria uma renda per - capital de 5.800 dólares por

pessoa. Será?

Ainda no Brasil:

Já somos 200 milhões de habitantes. Vejamos nosso período produtivo

Infância de 0 a 15 anos = mais de 52 milhões (improdutivo)

Maior que 65 anos = mais de12 milhões (improdutivo)

Sobram perto de 130milhões (tirando a informalidade e o desemprego) = em torno de

2,5 a 2,6 pessoas sendo sustentadas por 1 pessoa ativa. (quase 3) (IBGE)

Brasil de hoje - Abril / 2014 – Considerações finais.

Não nos surpreendemos com mais de 250 bilhões de ativos em previdência.

Com isso, o setor atingiu a participação recorde de 7% do Produto Interno Bruto

(PIB), segundo a Brasilprev, empresa de previdência do Banco do Brasil. A Brasilprev

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164

projeta que o setor vá chegar a R$ 1 trilhão em ativos em 2018 Brasilprevi – Jornal do

Comércio – acessado em 18/04/2014).

Os mais otimistas já estão fazendo planos para 2019. Até 2019, o mercado de

previdência privada aberta tende a atingir 14% do Produto Interno Bruto (PIB)

brasileiro, ao somar R$ 1 trilhão em ativos em gestão de Entidades. No atual

momento, o setor corresponde a 7% do PIB e deve fechar 2012 com R$ 328 bilhões

em ativos, um crescimento de 22% contra o último ano. Os dados são projeções da

Brasilprev (Sex - 07 de Dezembro de 2012 - 08:49 DCI Online/SP

A ascensão de novas pessoas para a Classe C, que agora representa 53% da

população, foi apontada pela Brasilprev como uma das causas positivas para a

expansão do mercado. Estudo realizado pela companhia em sua carteira de clientes

revelou que, até setembro de 2012, a Brasilprev somou 409 mil planos de previdência

complementar aberta com a classe C, o que representa 23% dos planos da

companhia. Osvaldo Nascimento, da Fenaprevi, prevê um crescimento de mais de

30% ao ano na previdência privada brasileira a partir de 2013 e 2014 (Brasil Previ –

e Fenaprevi – acessado em 18/04/2014).

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Page 167: Anita Kon (PUC/SP) Luiz Guilherme de Oliveira (FATEC ... · Trabalho, Economia Industrial e Tecnologia, Economia da Serviços e Atuária e Economia da Sustentabilidade. A mesa de

167

ASPECTOS DEMOGRÁFICOS DA POPULAÇÃO ECONOMICAMENTE

ATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Luis P. Ortiz Flores 90

I Introdução

As estatísticas sobre a população economicamente ativa (PEA) 91 , são de muita

utilidade no esclarecimento de importantes aspectos da vida econômica e social e na

formulação de medidas encaminhadas a assegurar seu melhoramento.92 Servem de base

para formular programas de desenvolvimento econômico e social, possibilitando avaliar

a melhor utilização desses recursos, bem como as mudanças que poderiam ocorrer em

essas circunstâncias.

Nações Unidas define a oferta de mão-de-obra como o número potencial de

trabalhadores disponíveis para a produção de bens e serviços econômicos de uma

sociedade. Seu volume depende das condições demográficas, econômicas e sociais

imperantes em elas, num momento determinado. O número de pessoas que poderiam

participar na atividade econômica é determinado pelo tamanho da população e sua

estrutura segundo sexo e idade. Por sua vez, estas características estão relacionadas

pelas tendências das variáveis demográficas: fecundidade, mortalidade e migração.93

Também exercem influência no tamanho da população economicamente ativa outros

fatores econômicos, como o desenvolvimento econômico da área, a organização da

economia.

No Estado de São Paulo, nas últimas décadas, em torno de 55% da população de 10

anos e mais foram consideradas economicamente ativas. Entre os homens, essa

proporção tem se mantido praticamente constantes em 70%; enquanto que, entre as

mulheres registra-se um significativo incremento: passa de 30% em 1980, para 52%, em

2010. Nesse período, a esperança de vida aos 10 anos de idade aumentou 4,8 anos entre

os homens e, 5,6 anos entre as mulheres, aumentando ainda mais o diferencial por sexo

da mortalidade, em favor das mulheres.

Este trabalho faz parte de um projeto mais amplo, que tem por finalidade estudar

relações entre a mortalidade e as atividades econômicas da população de São Paulo.

Neste primeiro documento, se analisam aspectos demográficos da população

economicamente ativa (PEA), utilizando como fonte dos dados os Censos

Demográficos de 2000 e 2010, realizados pelo IBGE e, as estatísticas de óbitos do

Sistema de Estatísticas Vitais da Fundação SEADE.

II. Taxas de Atividade Masculina e Feminina

Uma medida do nível de participação dos trabalhadores na atividade econômica é a

taxa de participação geral e, outra são as taxas especificas por sexo e idade. Essas são

medidas básicas que possibilitam o conhecimento do aproveitamento da mão-de-obra

90 Professor Titular do Departamento de Atuária e Métodos Quantitativos/FEA/PUCSP e

Analista de Projetos da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados – SEADE. 91 População Economicamente Ativa (PEA) - É composta pelas pessoas de 10 a 65 anos de

idade que foram classificadas como ocupadas ou desocupadas na semana de referência da

pesquisa. 92 Elizaga, J. C. e Mello, R. Aspectos Demográficos de la Mano de Obra em America Litina.

CELADE, Série E. nº 9, 1971. 93 Nações Unidas. Princípios y recomendaciones relativas a los censos de población. Nieva

York, Departamento de Asuntos Económicos y sociales, 1970.

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168

pelas forças produtivas de um país ou região. A participação masculina e feminina nas

atividades econômicas reflete, em grande medida, ou grau de desenvolvimento da

região, participação que está influenciada pelo período que o indivíduo fica na escola, a

atividade previdenciária e outros.

Para ilustrar a situação no Estado de São Paulo, a Tabela 1 mostra as Taxas Brutas

de Atividade (TBA), calculadas relacionado a população ativa com a população total,

nas datas censitárias de 2000 e 2010. Assim, temos um quadro comparativo da

dependência econômica da população total em relação à economicamente ativa,

desagregada por sexo.

Nota-se que, em 2000 a participação masculina já supera 50%, enquanto que a

feminina representa menos de um terço, mostrando que o grau de dependência da

população inativa em relação à ativa é maior entre as mulheres que nos homens. Nos 10

anos seguintes registra-se um incremento de mais de 40% na participação feminina,

alcançando uma TBA de 45%, já entre os homens, esse aumento é bem mais modesto,

chegando a menos de 20% e, a TBA praticamente atingindo 60%. Com esse aumento

diferencial por sexo, mais intenso entre as mulheres que nos homens, se reduz a

diferença de participação na atividade econômica entre os sexo, passando de 1,6 a favor

dos homens, em 2000, para 1,3 em 2010.

Na tabela 1, também são mostradas as Taxas Globais de Atividade (TGA),

calculadas como a proporção da população economicamente ativa com respeito à

população de 10 anos e mais. Embora esta taxa também este afetada pela distribuição

por idade da população, ao igual que a taxa bruta, nos dá informação mais apurada

sobre a parcela da população ativa em relação à potencialmente ativa em idade de

trabalhar.

Podemos notar que, no ano 2000, ao eliminar o desvio ocasionado pela população

menor de 10 anos, a TGA masculina, que supera os 62%, é bem maior que a feminina.

No período 2000-2010, em parte como reflexo das mudanças ocorridas na estrutura

etária da população paulistana, se registra um acentuado aumento na taxa feminina

(mais de 38%), bem maior que o registrado na população masculina, (11%). Dessa

forma, em 2010, a diferença entre os sexos se reduz, mas ainda assim as taxas

masculinas são 30% superiores às femininas.

Tabela 1

Estado de São Paulo

Taxas de Aitvidade Brutas e Globais segundo Sexo

2000 e 2010

Sexo Taxas de Atividade (%)

2000 2010 2000 2010

Homens 51,2 59,5 62,3 69,3

Mulheres 31,6 45,7 37,9 52,5

Total 41,2 52,4 49,8 60,6

Fonte: IBGE - Censos Demográficos de 2000 e 2010

Brutas Globais

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169

III. Taxas Específicas de Atividade

Segundo a idade de trabalhar, a atividade econômica se distribui de forma

diferencial entre homens e mulheres. As taxas especificas de atividade por sexo e idade,

representam a proporção de pessoas ativas em uma faixa etária determinada, por sexo,

pelo total de pessoas dessa faixa etária. Trabalhando com essas taxas reduzimos os

desvios que se introduzem por conta das diferentes estruturas por idade da população e,

ao calculara-as por sexo, eliminamos as diferenças de níveis entre homens e mulheres.

Os níveis de participação masculina nas atividades econômicas são

sistematicamente mais elevados que os das mulheres, isto acontecendo para todas as

idades ativas, em 2000 e 2010. Entretanto, enquanto nesse período a participação

masculina apresenta uma queda de mais de 3%, a feminina mostra uma acentuado

aumento, superando os 9% (Tabela 2).

Devemos ter presente que o comportamento diferencial dos níveis de participação

masculina e feminina nas atividades econômicas, em grande parte está relacionado com

fatores sociais e econômicos, tanto ou mais importantes que as alterações demográficas

ocorridas na população de São Paulo, nos últimos anos.

Nas duas datas censitárias, a maior participação masculina ocorre entre as idades 30

– 39 anos, enquanto que entre as mulheres é entre 25 – 34 anos. Em 2010, nos homens,

entre os 30 e os 44 anos, a taxa de atividade supera os 90%. Por sua vez, as taxas de

atividades dos mais jovens (menores de 20 anos), idades mais diretamente relacionadas

com a estrutura econômico-social e as políticas governamentais, registram uma queda

nas taxas de participação, tanto entre os homens como entre as mulheres, mais

acentuada no sexo masculino (Gráfico 1).

Uma parte significativa da redução dessas taxas nessas idades, possivelmente é

produto do crescimento econômico ocorrido nesse período, criando entre os jovens

maiores possibilidades educacionais e previdenciárias.

Entre os homens, a variação dessas taxas continua sendo negativa até os 45 anos,

enquanto que entre as mulheres essa variação positiva é cada vez mais intensa ao se

avançar na idade, passando de 60 % entre as de 60 anos e mais.

Tabela 2

Estado de São Paulo

Taxas especificas de participação por sexo segundo Idade

2000 e 2010

2000 2010 Variação 2000 2010 Variação

Total 71,7 69,3 -3,5 48,0 52,5 9,3

10 a 14 7,7 5,2 -32,1 5,3 4,3 -18,5

15 a 19 63,0 48,7 -22,7 49,9 41,5 -16,8

20 a 24 90,3 83,2 -7,9 69,7 71,9 3,1

25 a 29 94,2 89,2 -5,3 68,3 75,4 10,4

30 a 34 95,1 91,0 -4,3 66,8 74,6 11,6

35 a 39 94,5 91,2 -3,6 66,0 73,1 10,8

40 a 44 92,8 90,4 -2,6 62,7 70,7 12,8

45 a 49 88,3 88,5 0,2 55,2 65,7 19,0

50 a 59 73,8 77,9 5,7 37,9 50,6 33,5

60 a 69 44,9 49,7 10,8 14,3 23,4 63,9

70 ou mais 16,6 19,7 18,8 4,1 7,4 81,4

Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 2000 e 2010.

Grupos de

Idades

Homens Mulheres

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170

Entre as mulheres, uma parte considerável do aumento das taxas de participação

deve ser creditado à acentuada redução das taxas de fecundidade, ocorrida no Estado

nos últimos anos. Efetivamente, desde os anos 60 a fecundidade em São Paulo vem

diminuindo acentuadamente. Estima-se que o número médio de filhos por mulher, em

2010 de 1,7, seja praticamente a metade do registrado em 1980; durante os anos 90, esse

índice se manteve praticamente constante, para voltar a diminuir durante a década de

2000. Em 2010, a fecundidade da mulher paulista caracteriza-se por apresentar nível

reduzido (1,7 filho por mulher) e estrutura etária mais dilatada, com as maiores taxas

entre as idades 20 e 29 anos.

Outro dado que aponta nessa direção se refere a idade média das mulheres que

tiveram filhos, que mostra que entre 2000 e 2010 passou de 25,9 anos para 27,1 anos,

refletindo a queda da proporção de mães adolescentes (menos de 20 anos) e das de 20 a

24 anos; no outro extremos, registrasse um aumento das proporções de mães acima dos

30 anos.

No período analisado a fecundidade das adolescentes retomou a tendência de

redução, enquanto que a correspondente às mulheres acima de 30 anos permaneceu

praticamente constante.

IV. Número de anos de Vida Ativa: Brutos e Líquidos

No estudo da população economicamente ativa, uns dos aspectos mais importante é

conhecer a duração média da vida ativa de uma geração. Ou seja, conhecer o número

médio de anos que se espera que um indivíduo permanecerá em atividade, na hipótese

de que as taxas de participação não se modificaram nesse período.

Uma forma de acompanhar essa geração é calcular o número bruto de anos de vida,

indicador fortemente influenciado pela idade de entrada e saída da atividade econômica

do indivíduo e pelas taxas de atividade nessas idades. A mortalidade somente incidiria

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

90,0

100,0

10 a 14 anos 15 a 19 anos 20 a 24 anos 25 a 29 anos 30 a 34 anos 35 a 39 anos 40 a 44 anos 45 a 49 anos 50 a 59 anos 60 a 69 anos 70 anos ou mais

Taxa

s d

e at

ivid

ade

(po

r m

il)

Grupos de Idades

Gráfico 1Taxas de Atividade segundo sexo. 2000 e 2010

Homens 2000 Homens 2010 Mulheres 2000 Mulheres 2010

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171

após a idade limite de saídas. Assim, este indicador, reflete, então, a permanência e

integração da população na PEA, em ausência de mortalidade.

Por sua vez, o número líquido de anos de vida ativa, representa o número médio de

anos economicamente ativos de uma geração que em atividade sofresse também os

efeitos da mortalidade. A diferença entre anos de vida ativa brutos e líquidos é similar à

registrada entre as taxas bruta e líquida de reprodução, como medidas de fecundidade e

renovação da população.

Em São Paulo, em ausência de mortalidade, em média um trabalhador do sexo

masculino ficaria em atividade praticamente 45 anos, em um potencial máximo possível

de 70 anos, se todas as pessoas fossem economicamente ativas dos 10 aos 80 anos.

Entre as mulheres, esse número chega somente 28 anos, em 2000 e, aumenta para 31

anos, em 2010 (tabela 3).

Entretanto, ainda com esse aumento da participação feminina, o número de anos

brutos de atividade masculina é 30% maior que a participação feminina, fato que ilustra

as enormes dificuldades da mulher para se incorporar ao mercado produtivo.

É interessante notar o fato de se ter estimado em 44 anos a permanência dos homens

na atividade econômica, enquanto a previdência social estabelece esta permanência em

35 anos. Esta diferencia pode sugerir que uma parcela significativa da PEA não tenha

sido beneficiada pelo seguro social durante toda a vida ativa ou em parte dela. Além

disso, é possível que um parcela deste segmento tenha retornado a atividade econômica

depois da aposentadoria. Na prática esta permanência é menor pelo efeito redutor da

mortalidade, que na maioria dos casos ocorre antes do termo do período de atividade

econômica. Esta redução é maior para os homens pelo fato de a mortalidade masculina

ser mais elevada que a feminina, isto acontecendo especialmente a partir dos 10 anos de

idade. Para a população feminina, a diminuição da vida ativa não chega a 1 ano.

Por idade a situação é bastante diferencial segundo o sexo. Tomemos, por exemplo,

a situação do grupo de idades 30 a 39, onde as taxas de participação masculinas e

femininas são mais elevadas: em média, um trabalhador do sexo masculino deste grupo

etário ficará 9,1 anos em atividade, dentro dos 10 anos possíveis, enquanto que as

mulheres, nesse mesmo grupo etário ficaram somente 7, 4 anos (Tabela 3).

Este tipo de análise se completa, introduzindo os efeitos diferenciais da mortalidade,

por idade e sexo, isto é, o “número líquido de anos de vida ativa”. Aqui, estamos

levando em conta a influência da mortalidade, sendo que o efeito redutor desta variável

na atividade será dado pela diferença entre os dois indicadores: vida bruta e vida

líquida.

Para estimar os anos liquido utilizamos as Tábuas de Mortalidade, construídas

segundo sexo, para o Estado de São Paulo, centradas nos anos de 2000 e 2010, O índice

resultante, que contempla a variável mortalidade, é diretamente comparáveis com a

esperança de vida (e0) da Tábua de Mortalidade.

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172

Combinando adequadamente as taxas especificas de atividade (nAx), com as funções

da Tábua de Mortalidade (lx e nLx), obtemos o número de sobreviventes

economicamente ativos nas diversas idades e as pessoas economicamente ativas da

população estacionária. Posteriormente, obtemos a população estacionária

economicamente ativa acumulada (Tx), isto é, o número de anos de vida ativa restante

desde cada idade até o fim da coorte. Finalmente, dividindo estes resultados pelos

respectivos sobreviventes, obtemos o número médio de anos ativos esperados à idade

considerada, isto é, o número líquido de anos de vida ativa (ea)0

10. As tabelas 4 e 5

ilustram esses cálculos para homens e mulheres, respectivamente.

.Nos últimos anos, a vida media da população paulista tem aumentado

consideravelmente. Estima-se que nos últimos 30 anos, a esperança de vida ao nascer

aumentou 8,4 anos, sendo 3,5 na última década, chegando há 75,1 anos. Entre 2000 e

2010, o ganho foi maior na população masculina, que passou de 67,2 anos para 71,5

anos, incremento de 4,3 anos. Na população feminina, esse aumentou foi de 2,4 anos, ao

avançar de 76,2 para 78,6 anos. Assim, a diferença de número de anos entre homens e

mulheres, em favor destas últimas, diminuiu de 9 anos, em 2000 para 7,1 anos, em

2010.

Tabela 3

Estado de São Paulo

Número Bruto de Anos de Vida Ativa por Sexo

2000 e 2010

2000 2010 2000 2010

10 a 19 3,6 2,7 2,9 2,3

20 a 29 9,2 8,6 6,9 7,4

30 a 39 9,5 9,1 6,6 7,4

40 a 49 9,1 9,0 5,9 6,8

50 a 59 7,4 7,8 3,8 5,1

60 a 69 4,5 5,0 1,4 1,6

70 e + 1,7 2,0 0,4 3,1

Total 44,9 44,1 28,0 33,7

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000 e 2010.

Número Bruto de Anos de Vida Ativa

Homens Mulheres

Grupos

de Idades

(anos)

Tabela 4

Estado de São Paulo - 2010

Número Liquido de anos de vida ativa - Homens

Grupos de

idade nAx lx nLx nAx * lx Tx (ea)0

x

10 a 19 26,8 98.366 975.585 26.178.575 377.362.807 38,4

20 a 29 86,2 96.751 957.455 82.553.122 351.184.232 36,3

30 a 39 91,1 94.740 930.570 84.739.107 268.631.110 28,4

40 a 49 89,5 91.374 879.885 78.757.620 183.892.003 20,1

50 a 59 77,9 84.603 783.940 61.095.441 105.134.383 12,4

60 a 69 37,2 72.185 360.925 13.432.269 44.038.942 6,1

70 e + 19,7 62.961 1.553.442 30.606.674 30.606.674 4,9

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.

Fundação Seade. Tábuas de Mortalidade . 2000 e 2010

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173

A tabela 6 sintetiza esses resultados. Comparando o número de anos brutos e

líquidos, temos uma medida da influência da mortalidade no número de anos

potencialmente ativos. Se examinamos, primeiro a situação para o sexo masculino

podemos notar que o efeito mortalidade reduz significativamente o tempo de

permanência na vida ativa: 6,5 anos em 2000 e, 5,3 anos, em 2010. Já entre as mulheres,

a redução no número de anos na ativa por conta da mortalidade é bem menor: chega a

1,5 anos em 2000 e, é praticamente nula em 2010.

Estes resultados estão fortemente influenciados pela elevada sobremortalidade

masculina que se registra nas idades adultas. O gráfico 2 ilustra esse fato, mostrando

que entre os 20 e 29 anos de idade a mortalidade masculina é quase 4 vezes maior que

feminina. Em termos de esperança de vida aos 10 anos de idade, os homens registram

8,2 anos a menos que as mulheres (Tabela 6).

Por sua vez, quando comparados os anos líquidos de vida ativa com a esperança de

vida ao início da atividade econômica (10 anos), podemos ter uma estimativa dos anos

potencialmente inativos, permitindo-nos avaliar o grau de utilização da mão-de-obra,

segundo sexo.

Podemos observar que a inatividade potencial masculina aos 10 anos, aumenta de

20,3 para 23,8 anos; enquanto que a feminina registra uma redução de 41,2 para 38,6

anos, mas que ainda resulta ser 60% superior à masculina.

Estes resultados possibilitam inferir o tempo não dedicado à atividade econômica,

motivado pelo retiro profissional, seja pela aposentadoria, voluntária ou não, seja pela

entrada mais tarde no mercado de trabalho. A tendência de aumento para os homens

pode estar relacionada com a elevada urbanização que se registra no Estado e, ao

processo de industrialização que vem ocorrendo nos últimos anos. Uma consequência

desse processo pode ser observada no fato de que os homens têm entrado mais tarde e

saído mais cedo da atividade econômica.

Já as mulheres, ainda que registram uma diminuição no número de anos de

inatividade potencial, apresentam uma perda significativamente mais elevada do que a

masculina (38,6 contra 23,6 anos), pela soma do efeito do retiro profissional precoce,

que ocorre pelo casamento ou pela fecundidade, com os fatores que afetam também a

população masculina.

Tabela 5

Estado de São Paulo - 2010

Número Liquido de anos de vida ativa - Mulheres

Grupos de

idade nAx lx nLx nAx * lx Tx (ea)0

x

10 a 19 22,9 98.666 983.855 22.552.359 305.973.005 31,0

20 a 29 73,7 98.105 977.460 72.045.192 283.420.646 28,9

30 a 39 73,9 97.387 966.280 71.388.806 211.375.454 21,7

40 a 49 68,3 95.869 941.500 64.318.441 139.986.648 14,6

50 a 59 50,6 92.431 888.300 44.918.797 75.668.207 8,2

60 a 69 15,9 85.229 426.145 6.793.265 30.749.410 3,6

70 e + 7,4 78.827 3.230.615 23.956.144 23.956.144 3,0

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.

Fundação Seade. Tábuas de Mortalidade . 2000 e 2010

Page 174: Anita Kon (PUC/SP) Luiz Guilherme de Oliveira (FATEC ... · Trabalho, Economia Industrial e Tecnologia, Economia da Serviços e Atuária e Economia da Sustentabilidade. A mesa de

174

V. Considerações finais

Os dados analisados mostram que, nas últimas décadas a participação masculina na

atividade econômica tem permanecido praticamente constante, enquanto que a feminina

quase dobra. Ainda assim, as taxas masculinas são sistematicamente maiores que as

femininas, em todas as idades.

A elevada mortalidade masculina faz com que uma parcela considerável do tempo

de permanência na atividade econômica seja perdida. Entre as mulheres, os reduzidos

níveis de mortalidade não afetam de forma significativa sua participação na atividade

econômica.

Para compreender melhor essas relações, se faz necessário mensurar o impacto da

variação da mortalidade por causas especifica de morte, no tempo que a população

paulista permanece na atividade.

Tabela 6

Estado de São Paulo, 2000

Efeito da Mortalidade na Vida Ativa

2000

Brutos

(1)

Liquidos

(2)

Homens 44,9 38,4 58,75 6,5 20,3

Mulheres 28,0 26,4 67,63 1,5 41,2

2010

Brutos (1)Liquidos

(2)

Homens 44,1 38,8 62,62 5,3 23,8

Mulheres 31,3 31,0 69,65 0,3 38,6

Fonte: IBGE - Censos Demográficos de 2000 e 2010.

Fundação Seade. Tábuas de Mortalidade de 2000 e 2010

(1) - (2)Sexo e10 0 (3)

Sexo

Número de Anos de

e10 0 (3)

Número de Anos de

(3) - (2)

(3) - (2)(1) - (2)

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

10 a 19 anos 20 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos 50 a 59 anos 60 a 69 anos

Prop

orçã

o

Grupos de Idades

Gráfico 2Sobremortalidade masculina

2010

2000

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175

VI. Bibliografia

ELIZAGA, J. C. e MELLO, R. Aspectos Demográficos de la Mano de Obra em

America Litina. CELADE, Série E. nº 9, 1971.

IBGE, Censos Demográficos 2000 e 2010. |Fundação IBGE

NAÇÕES UNIDAS. Princípios y recomendaciones relativas a los censos de

población. Nieva York, Departamento de Asuntos Económicos y sociales, 1970.

WALDVOGEL Bernadette Cunha, B., FERREIRA, C.E de C., YAZAKI, L.M.,

Perillo, S., Aranha, V. Mudanças nos componentes da dinâmica demográfica paulista. .

SPDemográfico. Ano 12. N 3. Outubro, 2012.

YAZAKI, L,M, Estatísticas de nascimentos: mães mais velhas e crescimento

desenfreado de cesáreas em São Paulo. SPDemográfico. Ano 13. N 2. Março, 2013.

Page 176: Anita Kon (PUC/SP) Luiz Guilherme de Oliveira (FATEC ... · Trabalho, Economia Industrial e Tecnologia, Economia da Serviços e Atuária e Economia da Sustentabilidade. A mesa de

176

Economia da Sustentabilidade

SUSTENTABILIDADE NAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS: O CASO DO

ITAÚ UNIBANCO

Luiz Daniel Cilli (IPT)

Eduardo Luiz Machado (UNIFESP)

RESUMO

A preocupação com o meio ambiente nas instituições financeiras ainda é uma

característica recente. A crescente pressão de stakeholders externos levou a mudanças

na política ambiental das empresas, como a publicação e divulgação de relatórios de

sustentabilidade. O objetivo deste trabalho é realizar uma análise crítica da

sustentabilidade no Itaú Unibanco por meio da avaliação de indicadores das três

dimensões (ambiental, social e econômica), no período de 2008 a 2010. Para tanto,

aplicou-se modelo de referência simplificado contendo 50 indicadores, baseado na

proposta de Delai (2006). Como resultado, considerando-se os indicadores passíveis de

comparação 2008 foi o ano melhor avaliado, seguido por 2010, e por último, 2009.

Sugere-se adoção de um relatório padronizado, único, que englobe de forma consistente,

clara e concisa as três dimensões, possibilitando a comparação dos dados analisados ao

longo do tempo.

Palavras chave: Instituições Financeiras; Sustentabilidade; Relatório de

Sustentabilidade; Modelo de Avaliação da Sustentabilidade.

SUSTAINABILITY IN FINANCIAL INSTITUTIONS: THE CASE OF ITAÚ

UNIBANCO

ABSTRACT

The concern with the environment in financial institutions is still a recent

feature. The increasing pressure from external stakeholders led to changes in

environmental policy of companies like publication and dissemination of sustainability

reports. The goal of this study is to accomplish a critical analysis of sustainability in

Itaú Unibanco through the evaluation of indicators of the three dimensions

(environmental, social and economic) from 2008 up to 2010. To this purpose, it was

applied simplified reference model containing 50 indicators, based on the proposal of

Delai (2006). As a result, considering the comparable indicators, 2008 was the year best

rated, followed by 2010 and finally, 2009. It is suggested the adoption of a single

standardized report, which gathers in a consistent, clear and concise way, the three

dimensions, allowing the comparison over time.

Keywords: Financial Institutions; Sustainability Assessment; Sustainability

Reporting; Model of Sustainability Assessment.

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1 INTRODUÇÃO

O presente artigo pretende abordar a questão da sustentabilidade nas instituições

financeiras, realizando uma análise crítica no caso do Itaú Unibanco. Essa análise

compreenderá uma avaliação das atividades/ações desenvolvidas por esta instituição

quanto ao tema, perante seus diversos stakeholders. É importante diferenciar dois

conceitos chaves: sustentabilidade e desenvolvimento sustentável.

Para Silva Júnior (2006), a questão ambiental nas instituições financeiras ainda é

uma característica bastante tímida e o tema meio ambiente aparentemente não faz

sentido, uma vez que as atividades destas instituições não são diretamente relacionadas

aos impactos ambientais mais usualmente conhecidos.

Porém, segundo FEBRABAN et al. (2008), há uma crescente preocupação das

instituições financeiras em inserir este tema em suas práticas. Esta preocupação deve-se,

principalmente, pela pressão exercida pelos diferentes stakeholders a favor da

sustentabilidade, ocasionando uma mudança de visão em que as estratégias passaram a

alinhar os interesses econômicos, sociais e ambientais.

Segundo Mattarozzi e Trunkl (2008), o conceito de sustentabilidade nas

instituições financeiras remete à necessidade destas integrarem a perspectiva sustentável

à sua própria missão e estratégias, adotando critérios socioambientais além dos

econômico-financeiros.

Segundo Tosini (2006), o sistema financeiro, um dos principais agentes do

desenvolvimento econômico, não pode ficar à margem dos problemas ambientais, pois

além da consciência da sociedade, o arcabouço legal em relação ao meio ambiente

também atinge estas instituições.

Neste contexto, observam-se algumas mudanças na atuação das instituições

financeiras, principalmente quanto à sua transparência e responsabilidade em relação ao

tema ambiental. Alguns exemplos são a publicação dos relatórios de sustentabilidade e

dos balanços sociais, a comercialização de fundos de investimentos socialmente

responsáveis, a divulgação de sua política de sustentabilidade, a adoção aos Princípios

do Equador, entre outros.

Almeida (2007) ressalta que o tema altera e dificulta o ambiente de negócios

para todas as empresas; porém, por outro lado, novas oportunidades surgirão por

intermédio da mitigação de impactos ambientais ou substituição de serviços, sendo

inovação e tecnologia detentoras de papel chave nesse processo.

Justifica-se este trabalho, diante do exposto acima, em que se espera verificar a

qualidade das informações disponibilizadas nos relatórios de sustentabilidade para

avaliação da sustentabilidade na instituição financeira Itaú Unibanco, nos anos de 2008

a 2010.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O objetivo desta seção é contextualizar os principais conceitos relacionados ao

tema deste artigo. Para isto foi abordada a questão ambiental, o desenvolvimento

sustentável e a sustentabilidade, a sustentabilidade nas instituições financeiras e, o

modelo de Delai.

2.1 A Questão Ambiental

A degradação ao meio ambiente é um tema discutido há tempos. Porém,

somente nas últimas décadas o assunto começa a tomar proporções preocupantes.

Page 178: Anita Kon (PUC/SP) Luiz Guilherme de Oliveira (FATEC ... · Trabalho, Economia Industrial e Tecnologia, Economia da Serviços e Atuária e Economia da Sustentabilidade. A mesa de

178

Para Dias (2009), nos últimos 300 anos, o desenvolvimento tecnológico da

humanidade foi inigualável, o que gerou uma incrível capacidade de produção e de

controle de elementos naturais. Em contrapartida, foi também o período no qual o

homem gerou os meios que podem levar a humanidade à extinção.

Segundo Sachs (2008), o ritmo da atividade econômica humana foi ampliado

oito vezes desde 1950 e, possivelmente, serão mais seis vezes até 2050. Tal crescimento

está causando uma destruição ambiental nunca prevista nos estágios anteriores da

história da humanidade.

Porém, segundo Dias (2009), a conscientização ambiental ocorreu ao longo da

segunda metade do século XX, devido aos problemas de contaminação do meio

ambiente, desencadeando grande número de normas e regulamentos internacionais, bem

como a criação de órgãos responsáveis por aplicar tais normas e regulamentos.

Recentemente, inicia-se a mudança de atitude nas organizações do setor privado e

público da economia, que passam a considerar de forma mais contundente à questão

ambiental.

Segundo Oliveira (2007), em relação ao meio ambiente, a preocupação mundial

caminha para um novo estilo de desenvolvimento combinando eficiência econômica,

justiça social e prudência ecológica.

Existe uma relação entre a classe social e a conscientização ambiental. Em todo

o mundo há consumidores engajados com a causa ambiental os quais aceitam pagar

mais caro por um produto ecologicamente correto e repudiam um produto que possa

causar danos ambientais em qualquer momento de sua cadeia produtiva, mesmo com

diferenças no preço. Nos países em desenvolvimento, embora exista um crescimento

sobre esta conscientização, ela ainda ocorre em menor escala, pois, em função da

desigualdade social, muitos consumidores não têm a opção de escolher um produto

ecologicamente correto.

O exemplo citado demonstra não ser possível implantar uma cultura de

conscientização ambiental se o indivíduo e/ou instituição não possuírem uma situação

econômica positiva e estável, bem como se estes não estiverem inseridos na sociedade,

tendo condições de participar e/ou decidir qual o melhor caminho tomar. Por isso, deve-

se tratar a questão ambiental juntamente com a social e econômica.

É cada vez mais claro o papel de toda a sociedade para a melhoria ambiental de

um país ou até mesmo do mundo, não bastando uma atuação particular ou local. É

necessário o envolvimento da população, empresas públicas e privadas, organizações

não governamentais (ONG), escolas, universidades e governo.

2.2 Desenvolvimento Sustentável e Sustentabilidade

Segundo van Bellen (2007), o conceito de desenvolvimento sustentável provém

de um histórico de reavaliação crítica na relação entre a sociedade civil e o meio natural.

Por isso, existe uma variedade de abordagens que tentam explicar o conceito de

desenvolvimento sustentável e sustentabilidade.

Neste artigo, são utilizados os seguintes conceitos:

Desenvolvimento sustentável é “aquele que atende às necessidades do

presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem

suas próprias necessidades” (CMMAD, 1991, p.46);

Sustentabilidade é “uma característica de um processo ou estado que pode

manter-se indefinidamente” (IUCN; UNEP; WWF, 1980).

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179

É crescente a preocupação da sociedade com a questão ambiental, uma vez que a

existência da primeira se deu como dependente da utilização (conservação) dos recursos

naturais. Algumas considerações sobre o tema merecem destaque:

Para Sachs (2008), a capacidade do mundo de combinar o crescimento

econômico em longo prazo com a saúde ambiental é amplamente discutida,

porém a atividade humana atual não é sustentável. Se não houver uma rápida

mudança, as limitações do ambiente derrotarão as aspirações globais de

prosperidade.

Para FEBRABAN et al. (2008), embora o tema sustentabilidade esteja em

foco das principais agendas mundiais das últimas décadas, ele sempre

acompanhou a humanidade, juntamente com o crescimento populacional e

aumento do consumo de recursos naturais.

Para Louette (2007), o desenvolvimento sustentável tornou-se uma fórmula

para expressar a necessidade de manter o equilíbrio entre as dimensões

econômica, social e ambiental.

Para Woltmann e Araújo (2007), o desenvolvimento sustentável é divulgado

pelo planeta como uma forma racional de prover qualidade de vida equânime

e socialmente justa, permeando as gerações.

Para Nahuz (2011) o conceito da sustentabilidade representou uma resposta

da ONU ao questionamento expresso em 1972 (Estocolmo), sobre a

sobrevivência do planeta face à demanda da sociedade em relação ao meio

ambiente. Posteriormente, quando da II Conferência das Nações Unidas sobre

Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano, realizada em 1992, no Rio de

Janeiro (Rio 92), o conceito foi popularizado.

Percebe-se que a questão ambiental, bem com a sustentabilidade e

desenvolvimento sustentável devem ser observados também pelas instituições

financeiras, uma vez que estas podem promover o crescimento econômico da sociedade

em suas regiões de atuação.

2.3 Sustentabilidade nas Instituições Financeiras

Para Tosini (2006), as instituições estão expostas a riscos que podem trazer

prejuízos relevantes, comprometer a saúde financeira e sua própria continuidade. Ainda

segundo a autora, o risco ambiental para as instituições financeiras é o risco de dano ao

meio ambiente causado por qualquer atividade econômica.

Já para a Defesa Civil é a “possibilidade de dano, enfermidade ou morte

resultante da exposição de seres humanos, animais ou vegetais a agente ou condições

ambientais potencialmente perigosas” (DEFESA CIVIL, 2004).

É possível dizer que as duas definições de risco ambiental se completam, pois as

atividades econômicas podem propiciar a exposição a agentes ou condições ambientais

potencialmente perigosas, caso não sejam devidamente geridas.

Segundo FEBRABAN et al. (2008), devido à competitividade acirrada, as

organizações se preocupam cada vez mais com questões relacionadas ao meio ambiente

e à sociedade.

Esta ideia é ratificada por Silva Júnior (2006), que entende que as organizações

devem lançar mão de alguns diferenciais para que possam conquistar a simpatia e a

fidelidade de seus clientes atuais e futuros. Devido a isto, as ações ambientais e sociais

adotadas por alguns bancos, em breve, serão obrigatórias a todos eles.

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A inserção do conceito de sustentabilidade nos negócios impõe um novo

paradigma, entre os fatores econômicos, sociais e ambientais das organizações, segundo

Tabet (2007), e, para Sousa (2006), as empresas precisam avaliar corretamente em que

ponto estão e em que ponto querem chegar ao que diz respeito à responsabilidade social

e desenvolvimento sustentável.

Para Tachizawa (2005), as organizações que integrarem as decisões estratégicas

à questão ambiental conseguirão vantagens competitivas e incremento nos lucros a

médio e longo prazos. “A gestão ambiental e da responsabilidade social, para um

desenvolvimento que seja sustentável econômica, social e ecologicamente, precisa

contar com executivos e profissionais nas organizações, públicas e privadas, que

incorporem tecnologia e produção inovadora, regras de decisão estruturadas e demais

conhecimentos sistêmicos exigidos no contexto em que se inserem” (TACHIZAWA,

2005, p.26).

Esty e Winston (2008) citam que os líderes ambientais que veem os negócios

sob a ótica do meio ambiente encontram oportunidades de reduzir custos e riscos além

de aumentar a receita. Essas estratégias geram um novo tipo de vantagem competitiva

sustentável chamada de ecovantagem: utilização de um processo ecologicamente

correto para gerar lucro, obtendo vantagens monetárias diretas, como a utilização de

matéria prima sustentável, até vantagens indiretas, como melhoria na visibilidade da

marca.

2.4 O Modelo de Delai

Segundo Delai e Takahashi (2008), o modelo de mensuração da sustentabilidade

foi elaborado seguindo-se dois estágios: a definição do método de desenvolvimento e o

desenvolvimento do sistema propriamente dito, com base na utilização das oito

iniciativas de mensuração da sustentabilidade para o desenvolvimento do modelo

proposto:

Indicadores de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações

Unidas (Comissão para Desenvolvimento Sustentável da ONU);

Dashboard da Sustentabilidade;

Barômetro da Sustentabilidade;

Global Reporting Initiative (GRI);

Métricas de Sustentabilidade da Instituição dos Engenheiros Químicos da

Inglaterra (IChemE);

Índice Dow Jones de Sustentabilidade (DJSI);

Índice Triple Bottom Line (TBL);

Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial.

Conforme Delai e Takahashi (2008), no primeiro estágio definiu-se o método de

desenvolvimento do sistema e o conjunto de categorias de análise para comparar as oito

iniciativas acima. O sistema foi dividido em quatro fases: a definição do conceito

sustentabilidade, a definição do conteúdo do sistema, o processo de mensuração e a

melhoria contínua.

Segundo Delai (2006), a estrutura do sistema apresenta hierarquia de quatro

níveis: dimensão (social, ambiental e econômica), temas (assuntos prioritários

relacionados a cada dimensão), subtemas (matérias prioritárias de cada tema), e os

indicadores propriamente ditos.

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181

O modelo proposto por Delai (2006) é originalmente composto de 151

indicadores, dos quais 35 pertencem à dimensão ambiental, 25 à econômica e 91 à

social.

Para Delai e Takahashi (2008), o modelo padroniza e esclarece conceitos e

termos utilizados entre os sistemas analisados, e deve ser utilizado como o passo inicial

para o desenvolvimento de sistemas de mensuração da sustentabilidade da performance

organizacional.

3 MÉTODO DE PESQUISA

O método inicial a ser utilizado neste artigo é o indutivo, com o qual se espera

chegar a uma conclusão sobre quais as melhores práticas em relação à sustentabilidade

em cada ano, a partir da análise crítica dos indicadores do Itaú Unibanco.

Os procedimentos metodológicos para elaboração deste trabalho são:

I. pesquisa bibliográfica específica sobre o assunto;

II. caracterização do objeto de estudo;

III. identificação das práticas adotadas pelo Itaú Unibanco;

IV. sistematização dos dados obtidos;

V. análise e comparação dos indicadores;

VI. considerações finais e recomendações.

No item I, efetuou-se pesquisa bibliográfica a partir da consulta de livros,

artigos, dissertações e teses. Para caracterizar o objeto de estudo e identificar as práticas

adotadas (itens II e III), utilizou-se como base o Relatório Anual de Sustentabilidade

2008 do Itaú Unibanco Banco Múltiplo S.A.

A sistematização dos dados obtidos (item IV) e a análise e comparação (item V)

foram realizadas a partir de uma simplificação efetuada pelo autor do modelo proposto

por Delai (2006) em sua dissertação de mestrado.

Na realização da simplificação/adaptação proposta foram selecionados os 50

indicadores mais relevantes à aplicação em instituições financeiras, ou seja, aqueles que

podem ser diretamente relacionados a tais instituições, sendo 11 pertencentes à

dimensão ambiental, 8 à econômica e 31 à social. Procurou-se manter o percentual de

cada dimensão em relação ao modelo original, bem como selecionar os indicadores

mais relevantes ao objeto de estudo.

Com base nas informações obtidas nos itens II e III foi aplicado o modelo

simplificado para avaliar a sustentabilidade no Itaú Unibanco para o ano base 2008 e

comparados com os anos base 2009 e 2010.

A partir dos resultados obtidos foram efetuadas as considerações ao trabalho em

questão (item VI).

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182

4 RESULTADOS DA PESQUISA

A seguir são apresentados os resultados obtidos por meio da aplicação do

modelo simplificado para mensuração da sustentabilidade na instituição pesquisada.

4.1 O Itaú Unibanco94

Em 03 de novembro de 2008, surgiu o Itaú Unibanco, provido da associação

entre o Itaú e o Unibanco e, em 18 de fevereiro de 2009, ocorreu a aprovação pelo

Banco Central do Brasil. A associação das duas instituições financeiras possibilitou ao

Itaú Unibanco se tornar o maior banco privado do Hemisfério Sul e um dos 20 maiores

do mundo em valor de mercado.

A visão do Itaú Unibanco é “Ser o banco líder em performance sustentável e em

satisfação de clientes” (ITAÚ UNIBANCO HOLDING S.A.; 2010a, p. 11).

Segundo o relatório anual de sustentabilidade 2008, o Itaú Unibanco foi criado

com a visão de se tornar líder do sistema financeiro no hemisfério sul, ocupando, em

dezembro de 2008, a 12ª posição no ranking mundial em valor de mercado e a primeira

posição na América Latina, de acordo com a Bloomberg. Segundo o relatório anual de

sustentabilidade de 2010, no final de dezembro de 2010, o Itaú Unibanco ocupava a 10ª

posição.

O Itaú Unibanco atua em mercados internacionais como Europa, Estados

Unidos, Ásia, América Latina e Caribe. No Brasil, está presente em mais de 1100

municípios. Suas prioridades são:

Consolidar liderança no mercado brasileiro;

Integrar operações de Itaú e Unibanco, buscando sinergias e ganhos de escala;

Expandir-se internacionalmente, com ênfase no mercado da América Latina.

4.1.11 A Sustentabilidade no Itaú Unibanco

Segundo o Relatório Anual de Sustentabilidade do Itaú Unibanco 2008,

“sustentabilidade é a manutenção dos negócios no curto, médio e longo prazos, para

uma entrega perene de valor às partes interessadas”.

No final de 2008 foi publicada a Política de Sustentabilidade do Itaú Unibanco,

tendo por objetivos:

Ratificar o compromisso com a busca pelo desenvolvimento sustentável;

Evidenciar as diretrizes que permeiam a estratégia e a gestão junto a todas as

partes interessadas;

Promover inovações, revisões e adequações nos negócios com base nos

conceitos de sustentabilidade.

As premissas da instituição são:

conscientização e engajamento de todos os colaboradores com a

sustentabilidade;

comprometimento da liderança com a evolução do tema na organização;

cultura organizacional alinhada aos valores e princípios do Itaú Unibanco;

94 As informações sobre o Itaú Unibanco foram obtidas segundo Itaú Unibanco Banco Múltiplo

S. A. (2009), Relatório Anual de Sustentabilidade 2008; algumas informações complementares

foram obtidas segundo Itaú Unibanco Holding S. A. (2010) e Itaú Unibanco Holding S. A.

(2011), Relatórios Anuais de Sustentabilidade de 2009 e 2010 respectivamente.

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183

aprimoramento contínuo das práticas de governança corporativa;

postura ética e transparente;

cumprimento das leis e regulamentos.

Segundo IFC (2011), em junho de 2011, o Itaú Unibanco foi reconhecido como

o banco mais sustentável do mundo, sendo vencedor do FT/IFC Sustainable Finance

Awards, principal prêmio global para a Responsabilidade social e ambiental do setor

bancário e de investimentos. A edição de 2011 obteve um recorde de 187 inscrições de

161 instituições em 61 países.

Conforme Ideia Sustentável (2011), este é um dos reconhecimentos mundiais

mais relevantes na área da sustentabilidade, que há cinco anos elege as instituições

financeiras focadas no desenvolvimento sustentável. Em 2009 e 2010, o Itaú recebeu o

prêmio na categoria Banco Mais Sustentável da América Latina e de Mercados

Emergentes.

4.2. Modelo Simplificado de Delai

O objetivo desta seção é descrever e aplicar o modelo simplificado para

mensuração da sustentabilidade na instituição foco da pesquisa, a partir das informações

obtidas no tópico anterior, sistematizar, analisar e comparar os resultados obtidos. Para

seleção dos 50 indicadores aqui cotejados, identificaram-se os mais relevantes à

aplicação em instituições financeiras, uma vez que o modelo original foi elaborado com

base em oito iniciativas para mensuração da sustentabilidade e nem sempre os

indicadores são passíveis de aplicação em instituições financeiras. Procurou-se

selecionar aqueles possíveis de serem relacionados à atividade financeira e que podem

(e poderiam) ser divulgados em seus relatórios de sustentabilidade. Ressalta-se que

nesta etapa não foi verificado se tais indicadores estão presentes nos relatórios de

sustentabilidade do objeto de estudo. Abaixo são descritos os indicadores selecionados:

Dimensão Ambiental:

• Eficiência do uso de materiais;

• Proporção do consumo de matérias-primas recicladas;

• % dos produtos recicláveis;

• Definição específica de indicadores que mensurem a sua eficácia e efetividade

de acordo com as práticas de cada empresa;

• % do habitat preservado ou restaurado;

• Matriz energética;

• Eficiência energética;

• Monitoramento da cadeia de custódia;

• Impacto nos mananciais;

• Emissões de gases estufa;

• Emissões de gases que afetam a camada de ozônio.

Dimensão Econômica:

• Estudo regular da percepção do investidor e feedback dos resultados;

• Média de capital investido;

• Taxa de retorno;

• Gastos com pesquisa e desenvolvimento;

• Vendas Líquidas;

• Custos;

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184

• Lucro antes dos impostos;

• Estrutura organizacional para gerenciamento de crises.

Dimensão Social:

• Inspeções em relação a práticas de responsabilidade social e sustentabilidade;

• Treinamentos, cursos, palestras ou reuniões sobre práticas de responsabilidade

social e sustentabilidade;

• Taxa de retenção;

• Participação de mercado;

• Clientes satisfeitos;

• % de reclamações atendidas pelo SAC;

• Inovações implantadas em razão da interferência do ouvidor e/ou do serviço de

atendimento a consumidores / clientes;

• Contribuições a campanhas político-partidárias;

• Cobertura dos códigos de conduta e anticorrupção e suborno;

• Encontro com stakeholders;

• Cumprimento da lei;

• % lucro líquido investido em ações sociais;

• Investimento em projeto social próprio;

• Investimento em infraestrutura;

• Resultados das ações sociais;

• Salários e benefícios pagos;

• Média salarial em relação ao mercado;

• Bonificações por resultados - tipos;

• Taxa de retenção de funcionários;

• % de satisfação dos funcionários;

• Total de empregos;

• Razão empregos indiretos e diretos;

• Empregos gerados;

• Acidentes - geral;

• Gastos com prevenção;

• Média de horas de treinamento por funcionário;

• Representatividade do investimento em treinamento em relação ao total de

salários e benefícios;

• Média de horas de desenvolvimento por funcionário;

• Proporção do faturamento investido em desenvolvimento de funcionários;

• Relação entre o investimento em educação e o investimento em treinamento;

• Endosso a acordos internacionais.

Efetuada a seleção dos indicadores, aplicou-se o modelo proposto.

4.2.1 A aplicação do modelo proposto

Para aplicação do modelo proposto utilizou-se como base os Relatórios de

Sustentabilidade dos anos de 2008 a 2010 em meio físico (publicação impressa) e em

meio eletrônico, disponível no site do Itaú Unibanco.

Dos 50 indicadores selecionados para avaliar a sustentabilidade no Itaú

Unibanco foram identificados 31 para o ano base 2008, 26 para 2009, e 28 para 2010,

conforme quantificados na tabela 1.

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185

Tabela 1: Quantidade de indicadores identificados

Dimensã

o

Modelo

Proposto

200

8

2

009

20

10

Ambienta

l 11 08 0

7 08

Econômic

a 08 05 0

5 05

Social 31 18 1

4 15

Total 50 31 2

6 28

Fonte: Cilli, 2012

A descrição dos indicadores identificados em cada um dos anos avaliados, bem

como seus resultados, e os indicadores não identificados com suas justificativas podem

ser encontrados em Cilli (2012).

Abaixo consta a relação dos indicadores que foram utilizados na comparação

entre os três anos:

Dimensão Ambiental:

Proporção do consumo de matérias-primas recicladas;

Definição específica de indicadores que mensurem a sua eficácia e efetividade

de acordo com as práticas de cada empresa

% do habitat preservado ou restaurado;

Matriz energética;

Eficiência energética;

Impacto nos mananciais;

Emissões de gases estufa;

Emissões de gases que afetam a camada de ozônio;

Dimensão Econômica

Estudo regular da percepção do investidor e feedback dos resultados;

Média de capital investido;

Taxa de retorno;

Custos;

Estrutura organizacional para gerenciamento de crises.

Dimensão Social

Inovações implantadas em razão da interferência do ouvidor e/ou do serviço

de atendimento a consumidores / clientes;

Encontro com stakeholders;

Cumprimento da lei;

% lucro líquido investido em ações sociais;

Investimento em infraestrutura;

Salários e benefícios pagos;

Média salarial em relação ao mercado;

Taxa de retenção de funcionários;

% de satisfação dos funcionários;

Total de empregos;

Empregos gerados;

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186

Acidentes – geral;

Média de horas de treinamento por funcionário;

Representatividade do investimento em treinamento em relação ao total de

salários e benefícios;

Média de horas de desenvolvimento por funcionário.

Na comparação entre os três anos, observa-se que os indicadores econômicos

são os principais para as instituições financeiras. Os 5 deles encontrados nos relatórios

foram os mesmos para os três anos pesquisados e todos os indicadores foram passíveis

de comparação.

Já os indicadores ambientais tiveram uma pequena variação quantitativa entre os

três anos. Foram identificados 8 em 2008 e 2010 e 7 em 2009. 7 deles estavam

presentes nos três anos; destes, um não foi passível de comparação: eficiência - uso de

materiais. Um indicador quantificado no relatório de 2008 não foi quantificado em 2009

e 2010: proporção do consumo de matérias-primas recicladas. Outro foi incorporado no

ano de 2010: % do habitat preservado ou restaurado. Tal mudança talvez ocorra em

razão de a reciclagem de matérias-primas não ser mais uma vantagem tão significativa

entre as instituições financeiras, enquanto que a proteção de habitats pode ser

considerada uma ecovantagem, principalmente para a imagem da instituição.

Os indicadores sociais mostraram a maior variação entre os três anos. Desses, 12

foram encontrados nos três anos pesquisados. Dessa parcela, 3 não foram passíveis de

comparação: contribuições a campanhas político-partidárias, resultados das ações

sociais e endosso a acordos internacionais - este último apresentou o mesmo resultado

nos 3 anos. Outros 3 foram encontrados nos anos de 2008 e 2010: investimento em

infraestrutura, salários e benefícios pagos, e empregos gerados. 2 indicadores foram

encontrados nos anos de 2008 e 2009: acidentes - geral e média de horas de treinamento

por funcionário. Um indicador foi encontrado somente no ano de 2008:

representatividade do investimento em treinamento em relação ao total de salários e

benefícios. Tal fato explica-se devido à ausência do quadro “principais indicadores de

desempenho econômico, social e ambiental”, quadro Ibase no ano de 2009 (4

indicadores) e a diferença de padrões entre os relatórios, onde alguns dos dados

encontrados em 2008 tiveram sua forma de quantificação diferenciada em 2010,

impedindo sua comparação (3).

Na comparação entre os três anos, 2008 é iniciado com 31 indicadores, caindo

para 26 em 2009 e aumentando para 28 em 2010.

Em linhas gerais, considerando-se os indicadores passíveis de comparação entre

os três anos, verificaram-se melhores resultados para o ano de 2008, seguido de 2010 e,

por último, 2009.

Na dimensão ambiental verificaram-se melhores resultados para o ano 2008,

seguido por 2009 e 2010; na dimensão econômica, melhores resultados para 2010,

seguido por 2008 e 2009 e; para a dimensão social, melhores resultados para 2008,

seguido por 2010 e 2009. Para chegar-se a tais resultados, comparou-se cada um dos

indicadores entre os três anos e efetuou-se um ranking, sendo o 1º para o melhor

resultado e o 3º para o pior resultado. Com isso, contou-se a quantidade de resultados

por ano (1º, 2º e 3º) para definir qual o ano vencedor na classificação geral e por

dimensão (ambiental, econômica e social). A tabela 2 demonstra a quantidade e

resultado dos dados comparados.

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187

Tabela 2: Quantidade e resultado dos indicadores comparados por dimensão

2008 2009 2010

Ranking 1º 2º 3º Total 1º 2º 3º Total 1º 2º 3º Total

Ambiental 3 3 1 7 3 2 1 6 2 1 4 7

Econômica 2 0 3 5 1 3 1 5 2 2 1 5

Social 8 4 3 15 3 4 4 11 4 6 2 12

Total 13 7 7 27 7 9 6 22 8 8 7 24

Fonte: Cilli, 2012.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar de extensa pesquisa realizada por Delai (2006) utilizando-se de oito

iniciativas para elaboração do modelo de referência proposto, verificou-se predomínio

de indicadores sociais, equivalendo a 60% do total. Em virtude do exposto, o modelo

simplificado utilizado na presente pesquisa mantém esta porcentagem.

A utilização de relatórios de sustentabilidade permite ter uma ideia do

engajamento da instituição com o tema. No entanto, devido à falta de padronização

entre os relatórios dos anos de 2008, 2009 e 2010, a análise de informações é

dificultada. Além disso, como tais relatórios são destinados aos stakeholders, seu valor

científico/acadêmico é questionável.

Ao analisar os indicadores divulgados nos relatórios de sustentabilidade,

selecionados na aplicação do modelo proposto ou não, verifica-se que a dimensão

ambiental está se tornando mais importante ao longo dos anos. Tal mudança é

observada na divulgação dos impactos causados por suas atividades, como por exemplo,

a emissão estimada de CO2, no aumento dos investimentos ambientais, na proteção de

áreas ambientais, entre outros, ressaltando-se o fato de as atividades destas instituições

não serem diretamente relacionadas aos impactos ambientais mais usualmente

conhecidos.

Alguns indicadores, como o consumo de materiais, ainda precisam ser

estruturados para divulgação, uma vez verificada falta de padronização entre os três

relatórios analisados.

Outros, como a destinação de resíduos, está relativamente bem estruturada,

sendo foi possível usá-la como dado para comparar os três anos. Ainda assim, nota-se

uma melhoria na apresentação dos dados, tomando por base o relatório de 2010, no qual

também foram divulgadas informações separadas sobre resíduos perigosos e não

perigosos, bem como o método de disposição de tais resíduos.

A dimensão social, divulgada principalmente pelas ações realizadas por meio de

suas fundações e institutos também precisa ser estruturada. O resultado das ações

sociais, por exemplo, não estava padronizado. Em outros casos, a ausência de

indicadores entre os relatórios dos três anos dificultou uma avaliação mais precisa

como, por exemplo, a ausência do quadro Ibase no ano de 2009.

Referente à dimensão econômica, ela apresentou melhor estrutura e

padronização, embora alguns indicadores não tenham sido identificados e outros foram

obtidos de relatórios específicos (demonstrações contábeis). Todos os itens

identificados puderam ser comparados. Certamente, essa comparação só se tornou

Page 188: Anita Kon (PUC/SP) Luiz Guilherme de Oliveira (FATEC ... · Trabalho, Economia Industrial e Tecnologia, Economia da Serviços e Atuária e Economia da Sustentabilidade. A mesa de

188

possível pelo fato de a dimensão econômica ser o foco principal de uma instituição

financeira.

Com o exposto acima, são necessários estudos aprofundados em parceria com a

instituição. Pesquisadores precisam ter acesso às informações em suas fontes e não

somente às informações públicas, possibilitando assim uma consistência maior e,

consequentemente, a identificação de todos os itens do modelo. Com isso, seria possível

uma conclusão fidedigna da situação da instituição quanto ao tema sustentabilidade.

Uma alternativa sugerida é a adoção de um relatório integrado, conforme

proposto pela iniciativa Accounting for Sustainability (2012) e pelo International

Integrated Reporting Comitee (2011) onde seja adotado um padrão de relatório que

utilize e relacione em um documento único, as informações financeiras e não

financeiras, permitindo então a comparação entre os anos e outras instituições,

financeira ou não.

Conforme pesquisa realizada neste artigo conclui-se que a integração das

informações financeiras e não financeiras em um único relatório é uma tendência para

os próximos anos.

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191

EVOLUÇÃO DA TECNOLOGIA BICOMBUSTÍVEL NO BRASIL: UMA

ANÁLISE DO SEGMENTO AUTOMOBILÍSTICO E A SUA CORRELAÇÃO

COM O SETOR SUCROALCOOLEIRO

Paula Meyer Soares95

Fabio Konishi96

Marcelo Santana97

Resumo

Ao longo de quatro décadas a indústria do etanol aprimorou seus processos

produtivos graças ao apoio da iniciativa pública e a ampla utilização de incentivos

fiscais. As melhorias tecnológicas na produção de biocombustíveis alcançaram a

indústria automobilística. A produção de automóveis bicombustíveis cresceu

significativamente nesse período e o etanol se estabelece internamente e

internacionalmente como uma importante fonte alternativa de energia. O presente

trabalho realizará um estudo sobre a produção de etanol e produção de automóveis

bicombustíveis, com o intuito de verificar as possíveis correlações existentes entre os

segmentos automobilístico e sucroalcooleiro. A metodologia utilizada baseou-se em

analise de correlação e regressão multivariada utilizando dados estatísticos anuais

durante o período de 2003 a 2012. A realização do estudo utilizou o software SPSS -

Statistical Package for the Social Sciences – versão 16.0. Os resultados demonstram

uma correlação entre produção de cana de açúcar e etanol, associada à produção

automobilística.

Palavras-chave: Bicombustíveis, Indústria Automobilística, Etanol, Cana-de-açúcar.

Abstract

Over four decades the ethanol industry has improved the production processes by

the support of public initiative and the wide use of tax incentives. Technological

improvements in biofuel production reached the auto industry. The flex-fuel car

production grew significantly during this period and ethanol is established internally

and internationally as an important alternative source of energy. This paper will conduct

a study on the production of ethanol and flex-fuel production car, in order to verify

possible correlations between the automobile and sugarcane sector. The methodology

used was based on correlation analysis and multivariate regression using annual

statistical data during the period 2003-2012. The proposed study used SPSS - Statistical

Package for the Social Sciences - 16.0 version. The results demonstrate a correlation

between the production of sugarcane and ethanol with production automobile.

Key-words: Flex-fuel, Automobile Industry, Ethanol, Sugar cane.

95 Universidade de Brasilia, UnB 96 FATEC-SP 97 Instituto Federal da Bahia, IFBA

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192

1. Introdução

O cultivo da cana-de-açúcar no Brasil data do período Colônia. Na época a

atividade açucareira influenciou de forma positiva outras atividades como a têxtil e a

manufatureira levando o desenvolvimento econômico para diversas regiões do país.

Durante o século XVII, Portugal detinha experiência na produção de açúcar nas ilhas do

Atlântico e uma posição favorável na comercialização do açúcar nos países da Europa.

Neste período, o cultivo da cana-de-açúcar em solo brasileiro consolidou a posição

portuguesa na venda de açúcar, produto tão cobiçado e valorizado nos mercados dessa

região.

Essa interação de Estado e iniciativa privada acompanhou o desenvolvimento do

setor açucareiro no século passado até os dias de hoje. Segundo Paulillo et al (2008) a

intervenção estatal passa pelo processo de regulação da atividade e estabelecimento de

subsídios até o desenvolvimento de novas tecnologias e aproveitamento de subprodutos

como forma a definir o que é relevante em um contexto concorrencial.

A avaliação da interação entre agentes públicos e privados requer uma leitura

dos arranjos institucionais e a relação dos interesses dos grupos privados e estruturas de

decisão situados dentro do aparelho estatal. (PAULILLO et al, 2007)

A efetivação das politicas públicas são tomada a partir do adensamento de

decisões estratégicas de alguns grupos de interesses e o Estado. Ou seja, tais decisões

não consideram apenas o aspecto técnico envolvem consequências politicas, financeiras,

jurídicas, tecnológicas e constitucionais. (PAULILLO et al 2007)

Com a eclosão dos choques I e II do petróleo nos idos dos anos 70 e a escassez

mundial de oferta do combustível fóssil deram um novo impulso ao setor

sucroenergético e tecnológico na busca outras fontes de energia. Na época as políticas

públicas visavam incentivar o cultivo e o desenvolvimento agrícola, tecnológico no

segmento de etanol.

Passadas quatro décadas, o Brasil colhe os frutos dessas iniciativas de fomento

tecnológico e de apoio à indústria produtora de etanol, dominando amplamente a

tecnologia de plantio, processos, produção e também na fabricação de motores

automobilísticos bicombustíveis.

Tal gênese e desenvolvimento de uma tecnologia automotiva para o uso de

biocombustíveis impactou na indústria automobilística observando uma sinergia nas

cadeias produtivas de etanol e automobilística.

Historicamente, o setor sucroalcooleiro brasileiro sempre ocupou posição de

destaque. Segundo estudo de Neves (2010), desenvolvido pela Markestrat do Centro de

Pesquisas e Projetos em Marketing e Estratégia da USP, o setor em 2008 gerou riqueza

na ordem de US$ 28,15 bilhões correspondendo a aproximadamente 2% do PIB e se

somados aos diversos sistemas de produção agroindustrial chega-se ao valor de US$

86,8 bilhões. O setor mantém ainda 1,28 milhões de postos de trabalho formais com

uma massa salarial de US$ 738 milhões.

Já o segmento automobilístico segundo dados da Associação Nacional dos

Fabricantes de Veículos Automotores, a Anfavea, o setor fechou 2012 com uma

participação de 18,7% do PIB industrial com uma produção de 3,3 milhões de veículos

e 150.000 empregos formais.

Desta forma o inicio do séc. XXI é marcado pelo retorno do etanol a posição de

destaque como combustível não somente pela nova tecnologia, mas também como fonte

de energia alternativa ao combustível fóssil, como uma das maneiras de contenção dos

chamados GEE (Gases de Efeito Estufa). Para Macedo (2007, p. 157), “os países

comprometidos com as metas do Protocolo de Kyoto, o uso de bicombustíveis

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193

representa uma das formas mais efetivas de reduzir as emissões líquidas de gases de

efeito estufa associadas ao consumo energético no setor de transporte”.

O atual cenário contempla o Brasil em uma posição estratégica no campo

tecnológico e como grande produtor mundial no desenvolvimento global de uma fonte

alternativa de energia. Para Macedo (2007) a produção associada ao uso do etanol no

Brasil pode ser considerada um bom exemplo para o mundo na introdução de energia de

uma fonte renovável em grande escala de produção.

O referido artigo divide-se em quatro seções. A primeira seção tratará sobre a

tecnologia do biocombustível e suas relações com o crescimento da indústria

automobilística no Brasil. A segunda seção abordará sobre a tecnologia do etanol

ressaltando os tipos de etanol existentes e os seus usos. A terceira seção discorre a

metodologia utilizada e o modelo de correlação multivariada utilizada e seus resultados.

E por fim, as considerações finais.

2 A Tecnologia bicombustível

Com o advento de novas tecnologias associadas à políticas governamentais, os

carros flexíveis se consolidam no mercado brasileiro. Para Goldemberg (2007, p. 163)

“a tecnologia de produção de etanol de cana-de-açúcar no Brasil avançou de modo

importante nos últimos trinta anos e nos próximos dez ou vinte anos, o uso eficiente de

biomassa de cana poderá aumentar significativamente a gama de produtos e seu

valor”.

A partir de 2003, a produção nacional de automóveis bicombustíveis apresentou

crescimento significativo, consolidando a tecnologia de produção de etanol, uma vez

que no contexto brasileiro, os motores não passaram por adaptações para o uso de

ambos os combustíveis (etanol e gasolina). Conforme Nigro (2010 p.156) “o veiculo

flex, lançado em 2003 e que hoje responde por cerca de 90% das vendas, é o ponto alto

da história de sucesso do etanol brasileiro nesta década”.

O crescimento das vendas da indústria automobilística associado ao aumento da

produção de etanol, decorrente das ações governamentais e da nova tecnologia,

impulsionou o segmento sucroalcooleiro. Esta relação se consolida com indicadores

econômicos favoráveis, com o aumento do consumo, face aos índices baixos de

inflação.

Ressalta-se um futuro promissor, seja no âmbito nacional como no internacional,

onde acordos poderão surgir no segmento sucroalcooleiro com países desenvolvidos, na

transferência desta tecnologia, principalmente com aqueles comprometidos com o

protocolo de Kyoto para redução de gases de efeito estufa.

A partir de 1999 o preço do álcool como combustível passou a ser competitivo

novamente, porém as vendas ainda não eram satisfatórias, tal como nos anos 80, uma

vez que os motores eram desenvolvidos exclusivamente para um tipo de combustível.

Segundo Nigro (2010) “em março de 2003 foi lançado o primeiro veículo flexível

brasileiro, capaz de consumir etanol hidratado, gasolina C ou qualquer mistura entre

dois combustíveis”. Esta revolução em termos tecnológicos trouxe ao mercado

brasileiro uma opção de escolha no consumo de combustíveis, uma vez que para Nigro

(2010) ainda, a tecnologia brasileira baseou-se no conceito de não se modificar os

motores de gasolina original.

Esta nova fase para o etanol com a introdução dos veículos bicombustíveis é um

novo marco para o setor sucroalcooleiro, uma vez que 90% dos veículos produzidos

pela indústria automobilística, segundo dados da Anfavea (2012), são automóveis

Page 194: Anita Kon (PUC/SP) Luiz Guilherme de Oliveira (FATEC ... · Trabalho, Economia Industrial e Tecnologia, Economia da Serviços e Atuária e Economia da Sustentabilidade. A mesa de

194

bicombustíveis, totalizando mais de 17,3 milhões de veículos no período de 2003 a

2012.

3 Tecnologia do Etanol

É importante ainda destacar algumas questões técnicas envolvendo o etanol

como combustível veicular, uma vez que estas características serão um fator decisivo na

expansão da cultura da cana-de-açúcar e consequentemente da possibilidade de aumento

da produção de etanol. Segundo Nigro (2010, p.158) “o principal vetor de

desenvolvimento da tecnologia de motores a álcool na época era o aumento da

eficiência energética, coerente com os aspectos estratégico e econômico que pautaram

a criação do Proálcool.”

O etanol cuja formula molecular C2H6O, denominado também como álcool

etílico, é uma substância que pode ser utilizada como combustível em motores de

combustão interna, possuindo duas características básicas no país. A Portaria da ANP

nº 2, de 16/01/2002 –Dou 17/01/2002, classifica o etanol em duas categorias: a) o álcool

etílico anidro combustível, o AEAC, utilizado na mistura com a gasolina e b) o álcool

etílico hidratado combustível, o AEHC, como etanol puro, utilizado diretamente nos

veículos.

Em conformidade com a legislação supracitada, as diferenças entre o AEAC e

AEHC reside na composição dos teores. O AEAC possui em sua composição menos de

0,6% de água, enquanto AEHC esses índices são de 6,2% a 7,4% de água

respectivamente (Fonte: Regulamento Técnico ANP nº 5 de 2001)

Embora seja uma questão estritamente técnica, é importante salientar tais

características e especificações haja vista o progresso tecnológico ocorrido no

desenvolvimento dos motores fabricados para este tipo de combustível.

A tecnologia automotiva esta suficientemente desenvolvida

para permitir que veículos de etanol puro hidratado tenham

desempenho, dirigibilidade, condições de partida a frio e

durabilidade absolutamente similares aos motores a gasolina,

especialmente em países com invernos moderados.(BNDES

2008, p.42)

Desta forma com o desenvolvimento de tecnologia que permite a utilização de

ambos os combustíveis - gasolina e etanol, seja hidratado ou não em quaisquer

proporções, permitiu por sua vez a abertura e ampliação de um mercado para a cultura

da cana-de-açúcar e seus derivados

Nigro (2010) reitera a importância da tecnologia brasileira de motores flexíveis,

baseada no conceito de não modificação do motor a gasolina original. No inicio, a

primeira geração de motores exigia a adoção de modificações e adaptações para

atendimento dos requisitos de emissões sem a preocupação de consumo do etanol.

Experiências em diversos países como nos Estados Unidos onde a

proporcionalidade com etanol não ultrapassa a 10% na gasolina, ou mais conhecido com

E10, serviu de padrão para as demais indústrias em outros países como China,

Tailândia, Austrália e Colômbia, uma vez que não há necessidade de alterações nos

componentes dos motores, segundo o BNDES (2008), estas experiências, servirão de

base para que esta mistura possa ser introduzida sem a necessidade de maiores

alterações no parque veicular existente.

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195

Segundo BNDES (2008) na visão da EMA (Engines Manufacturers

Association), que representa a indústria automobilística mundial, a proposta de etanol

em até 10% da mistura com a gasolina é bem aceita, desde que se cumpram ás

especificações de qualidade.

Desta forma, abre-se um leque de oportunidades para o mercado brasileiro, tanto

na questão de transferência da tecnologia de carros flexíveis, como no incremento a

exportação de álcool etílico para motores de combustão, uma vez que o Brasil ocupa

uma posição privilegiada no plantio e produção de etanol.

Na perspectiva da indústria automobilística, os fabricantes instalados no parque

industrial brasileiro, já aderiram de forma contundente, uma vez que a produção de

carros com a tecnologia bicombustível vem crescendo substancialmente no contexto

nacional, como demonstra o gráfico 1, na evolução das vendas de carros desde 2003, no

lançamento do carro.

Gráfico 1 – Produção de automóveis por Tipo de Combustível

Fonte: ANFAVEA 2012

Elaboração: Autores

Embora a produção de automóveis mantivesse crescente até o ano de 2010,

observamos uma inflexão no período de 2010-2012. Nesse período, o mercado mundial

de commodities entrou em crise devido a alterações climáticas.

Em 2010, o consumo no Brasil de etanol teve uma queda acumulada de 13%,

totalizando 7,1 bilhões de litros, ante os 8,2 bilhões de litros de igual intervalo de 2009.

(Jornal Valor Econômico, 2010)

O arrefecimento da demanda é um reflexo dos preços mais elevados do etanol,

que acabou perdendo competitividade para a gasolina - para ser viável ao consumidor

final nos postos, o etanol tem que custar até 70% do preço da gasolina.(Jornal Valor

Econômico, 2010)

Essa elevação no preço do etanol refletiu na produção de automóveis nos anos

subsequentes como verificamos no gráfico 1.

A reação do setor automobilístico era esperada uma vez que o etanol é um

elemento determinante nas vendas de automóveis. Assim como as mudanças de

impostos – estaduais ou de produção – que incidem no setor automobilístico.

0,00

1000000,00

2000000,00

3000000,00

4000000,00

5000000,00

6000000,00

7000000,00

20

03

20

04

20

05

20

06

20

07

20

08

20

09

20

10

20

11

20

12

TOTAL AUTO

FLEX

ALCOOL

GASOLINA

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196

O gráfico 2 mostra que tal aumento no preço de mercado do etanol não pode ser

observado também do lado da oferta . A diminuição do consumo reflete no espírito de

cautela do produtor nacional e isso é claramente percebido na oferta de etanol em 2010.

A recuperação ocorre no ano seguinte de forma vigorosa vindo a diminuir em 2012

novamente. A diminuição em 2012 deve-se a diminuição da atividade econômica no

país em decorrência do desaquecimento e desaceleração mundial.

Gráfico 2 – Produção de Etanol

Fonte: ANFAVEA 2012

Elaboração: Autores

4. Metodo de Pesquisa

4.1. Fonte de Dados

Os dados utilizados para a execução desta pesquisa são originários de fontes

secundárias, provenientes de publicações específicas de órgãos reguladores e de

anuários estatísticos especializados em produção de automóveis e etanol.

4.2.Método de Análise

Para a realização do estudo acerca das relações entre a produção de etanol e a

produção de automóveis bicombustíveis, foram utilizadas ferramentas de análise

multivariada, em especial de correlação e regressão linear para apoiar a interpretação de

dados secundários históricos relativos ao período estudado.

Para a análise multivariada de dados foi utilizado o software SPSS – Statistical

Packge for the Social Sciences versão 16.0., Segundo Cooper e Schindler (2003, p.

454), “define-se análise multivariada como uma técnica estatística que focaliza e

apresenta destaque a estrutura de relações simultâneas entre três ou mais fenômenos”.

Segundo Hair et al (2009, p.23) a análise multivariada considera “ [...] todas as

variáveis devem ser aleatórias e inter-relacionadas de tal maneira que seus diferentes

efeitos não podem ser significativamente interpelados em separado” A seleção da

técnica de analise multivariada correta leva em consideração o fato de termos um

conjunto de dados que são interdependentes.

A determinação de um número ou coeficiente de correlação (r ) expressa

metricamente um grau ou força da relação entre as variáveis. Para Hair et al. (2009,

0,00

10000,00

20000,00

30000,00

40000,00

50000,00

60000,00

TOTAL

HIDRA

ANIDRO

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197

p.150), “o sinal (+ ou -) indica a direção da relação. O valor pode variar de -1 a +1 onde

+1 indica uma perfeita relação positiva, 0 (zero) indica nenhuma relação e -1 uma

perfeita relação negativa ou reversa.”

O r de Pearson determina o efeito de colinearidade (entre duas) ou

multicolinearidade (mais de duas) variáveis independentes. Segundo Hair et al. (2009),

é a expressão de duas ou mais variáveis independentes, demonstrando sua força de

associação - altamente correlacionada variando de 0 (zero) a 1 (um) ou -1 (menos um),

ou seja, quanto mais próximo de um ou menos um, maior a correlação e quanto mais

próximo de 0 menor a correlação.

Para uma melhor análise dos resultados, foi calculado o r² ou coeficiente de

determinação que expressa o quadrado da correlação r de Pearson.

O coeficiente de determinação r² explica a equação da regressão onde se assume

que quanto maior o valor, melhor a previsibilidade da equação. Conforme Hair et al.

(2009, p.182) “o r² ajustado é particularmente útil na comparação entre equações de

regressão que envolvem diferentes números de variáveis independentes ou diferentes

tamanhos de amostra, pois ele dá um desconto para os graus de liberdade para cada

modelo.”

Para aplicação correta de uma análise de regressão e correlação é importante

destacar alguns cuidados para que se possa a validar as hipóteses do modelo. Hair

(2009) et al. destacam três suposições visando evitar erros de previsão ou uma ausência

das relações estudadas: 1) linearidade de um fenômeno; 2) variância constante

(homocedasticidade ou heterocedasticidade) e 3) normalidade.

4.3.Procedimentos Metodológicos: modelo

Para a realização do estudo foi adotado o seguinte modelo econômico:

Y= β1x1+β2x2+β3x3+β4x4+β5x5+β6x6+β7x7+β8x8, em que:

Y: produção de automóveis biocombustíveis

x1: produção de etanol anidro

x2: produção de etanol hidratado

x3: produção total de etanol

x4: produção de cana-de-açúcar

x5: produção de automóveis a gasolina

x6:produção de automóveis a etanol

x7:produção de automóveis bicombustíveis

x8:produção total de automóveis

4.4. Resultados e Discussão

Utilizou-se a técnica de correlação com dados secundários no período de 2003 a

2012 totalizando 10 observações para as variáveis: ANIDRO (produção de etanol

anidro), HIDRATADO (produção de etanol hidratado), TOTAL_ETANOL(produção

total de etanol), P_CANA (produção de cana-de-açúcar), PA_GAS (produção de

automóveis a gasolina), PA_ETANOL (produção de automóveis a etanol), PA_FLEX

(produção de automóveis bicombustíveis), PA_TOTAL (produção total de automóveis),

e de regressão para as variáveis TOTAL_ETANOL (produção total de etanol)

independente e PA_FLEX (produção de automóveis bicombustíveis) dependente.

Page 198: Anita Kon (PUC/SP) Luiz Guilherme de Oliveira (FATEC ... · Trabalho, Economia Industrial e Tecnologia, Economia da Serviços e Atuária e Economia da Sustentabilidade. A mesa de

198

A tabela 1 apresenta os coeficientes de correlação r = 0,908 de determinação r²

= 0,824, r² ajustado = 0,802 e de erro padrão de estimação = 4,45506E5, com todos os

valores positivos demonstrando uma associação crescente na produção total de etanol.

Destaca-se o valor de r² = 0,824 representando que aproximadamente 80% da produção

de etanol poderia ser explicada em relação à variável independente.

Tabela 1- Coeficientes de correlação e de determinação

Modelo R R2 R

ajustado

Erro

padrão

1 0,98 0,824 0,802 4,4556E5

O valor apresentado aponta uma forte multicolinearidade, que segundo Hair et

al. (2009, p.190), a presença de elevadas correlações (geralmente 0,90 ou maiores) é a

primeira indicação de colinearidade substancial.

A Analise Multivariada de Variância (MANOVA) apresentada na tabela 2

demonstra um valor F = 37,348 e um nível de significância igual a 0,000, este resultado

indica que pelo menos um dos coeficientes é significativamente diferente de 0 (zero).

H0: β1 = β2 = 0,00

H1: pelo menos um dos coeficientes β ≠ 0,00

Tabela 2- Análise de Variância

Modelo Soma dos

quadrados

df F Sig

Regressão

Residual

Total

7,413E12

1,588E12

9,000E12

1

8

9

37,348 0,000

Fonte: Pelo SPSS. Elaboração: Autores

Notas: a. Predictors: (Constant),

TOTAL_ET

b. Dependent Variable: PA_FLEX

De acordo com a tabela 3, podemos observar uma forte correlação entre a

produção de automóveis bicombustíveis e a produção total de etanol com valor de 0,908

e a produção total de automóveis com 0,979, neste ultimo caso justifica-se em função da

produção de carros bicombustíveis representar aproximadamente 90% da produção

automóveis, consequentemente a correlação entre produção de automóveis a gasolina

possui uma correlação negativa de -0,977 uma vez que sua representatividade destes

diminuiu significativamente.

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199

Tabela 3 – Matriz de Correlação de Pearson ® para variáveis do estudo.

Fonte: pelo SPSS. Elaboração: Autores

O estimulo a produção nacional de automóveis é um traço da politica industrial

brasileira da década de 70 e que se perpetua nos dias atuais. Tais incentivos

capitaneados por isenções fiscais e linhas de credito de longo prazos para o consumidor

são exemplos de iniciativas adotadas pelo Estado visando o crescimento do setor e

demais segmentos atrelados ao automotivo.

Em 2012, o Brasil possuía uma frota de 31 milhões de automóveis sendo 17,3

milhões de automóveis bicombustíveis, mais da metade da frota nacional de autos. Em

2007, o numero total de automóveis biocombustíveis era de 4,5 milhões sendo que o

país possuía uma frota total de automóveis de 21,5 milhões. Um crescimento

significativo em 5 anos de quase 200%, (ÚNICA, 2012)

Na perspectiva da indústria automobilística, os fabricantes instalados no parque

industrial brasileiro, já aderiram de forma contundente, uma vez que a produção de

carros com a tecnologia bicombustível vem crescendo substancialmente no contexto

nacional.

Em relação a produção total de cana-de-açúcar os resultados apresentam uma

forte correlação entre produção de automóveis bicombustíveis com 0,929 a produção de

etanol hidratado com 0,981. Apesar da forte correlação obtida no estudo, o período pós-

crise mundial em 2008 e em 2010/11 a produção de etanol e cana-de-açúcar desacelerou

em relação aos anos anteriores. Tal retração deveu-se a mudança de cenário externo e a

baixa credibilidade dos agentes do setor com relação a reversão de tal quadro. A

produção de cana-de-açúcar caiu em 10% no período de 2008/09 (569.216 mil ton para

541.962 mil ton). A produção total de etanol também sofreu uma queda, passando de

27.526 mil m3 para 25.691 mil m3. (UNICA, 2013).

Em 2010, o consumo no Brasil de etanol sofreu uma queda acumulada de 13%,

totalizando 7,1 bilhões de litros, ante os 8,2 bilhões de litros de igual intervalo de 2009.

(Jornal Valor Econômico, 2010)

PA_FLEX ANIDRO HIDRATADO TOTAL_ET P_CANA PA_GAS PA_ETANOL

PA_FLEX Pearson Correlation 1

Sig. (2-tailed)

N 10

ANIDRO Pearson Correlation 0,231 1

Sig. (2-tailed) 0,521

N 10 10

HIDRATADO Pearson Correlation 0,903 0,153 1

Sig. (2-tailed) 0,000 0,674

N 10 10 10

TOTAL_ET Pearson Correlation 0,908 0,280 0,992 1

Sig. (2-tailed) 0,000 0,434 0,000

N 10 10 10 10 10

P_CANA Pearson Correlation 0,926 0,187 0,981 0,978 1

Sig. (2-tailed) 0,000 0,605 0,000 0,000

N 10 10 10 10 10

PA_GAS Pearson Correlation -0,977 -0,259 -0,874 -0,883 -0,882 1

Sig. (2-tailed) 0,000 0,471 0,001 0,001 0,001

N 10 10 10 10 10 10

PA_ETANOL Pearson Correlation -0,839 0,381 -0,879 -0,485 -0,514 0,979 1

Sig. (2-tailed) 0,161 0,619 0,121 0,515 0,486 0,021

N 4 4 4 4 4 4 4

PA_TOTAL Pearson Correlation 0,979 0,202 0,894 0,895 0,932 -0,913 -0,555

Sig. (2-tailed) 0,000 0,575 0,000 0,000 0,000 0,000 0,445

N 10 10 10 10 10 10 4

**. Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed).

*. Correlation is significant at the 0.05 level (2-tailed).

Correlations

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200

O arrefecimento da demanda é um reflexo dos preços mais elevados do etanol,

que acabou perdendo competitividade para a gasolina - para ser viável ao consumidor

final nos postos, o etanol teria que custar até 70% do preço da gasolina.(Jornal Valor

Econômico, 2010)

A oscilação dos mercados financeiros mundiais influenciou de forma

significativa a atividade do setor sucroalcooleiro.

Em 2010 o BNDES lançou o Plano de Apoio Conjunto à Inovação Tecnológica

Agrícola no Setor Sucroenergético, o PAISS em parceria com o Finep com o objetivo

da dar fomento e incentivos as iniciativas que promovessem o desenvolvimento, a

produção pioneira e a adaptação de sistemas industriais nas cadeias produtivas da cana-

de-açúcar e de outras culturas energéticas compatíveis, complementares e/ou

consorciáveis com o sistema agroindustrial da cana-de-açúcar. A adoção de iniciativas

de fomento a inovação e aumento de produtividade estiveram presentes objetivando

uma reversão do quadro recessivo de produção agrícola vivido pelo setor pós-crise

2008.

Esse período de inflexão que o setor sucroalcooleiro passou nesse período pós-

crise. Essa inflexão é reflexo das dificuldades enfrentadas pelos produtores – politica

setorial fraca e desalinhada aos interesses do setor – e consumidores cujo grau de

confiança de consumo encontrava-se em patamares baixos.

5 Considerações Finais

O Brasil é um país reconhecido mundialmente pela capacidade de inovação

tecnológica no ramo de biocombustíveis. Na década de 70, com a adoção do Programa

Nacional de Álcool, o Proálcool, objetivando o fomento de novas tecnologias

combustíveis para o enfrentamento da enorme crise energética deflagrada nesse período,

o Brasil sai a frente e hoje colhe os frutos dessa iniciativa.

Em 2012, segundo dados da ÚNICA, o Brasil possuía uma frota de 31 milhões

de automóveis sendo 17,3 milhões de automóveis bicombustíveis, mais da metade da

frota nacional de autos. Em 2007, havíamos 4,5 milhões de automóveis bicombustíveis

e 21,5 milhões de automóveis no país. Um crescimento significativo em 5 anos de quase

200%,

A realização do estudo aponta para uma correlação positiva e forte para a

produção de automóveis bicombustíveis e a produção de etanol com valor de r de

Pearson = 0,908 e a produção total de automóveis com r = 0,979, demonstrando

efetivamente o reflexo da produção de aproximadamente em 90% de carros

bicombustíveis, em contrapartida uma correlação negativa para a produção de

automóveis a gasolina com r = -0,977.

Ainda se apresenta no estudo a relação positiva e para a produção de cana-de-

açúcar e etanol hidratado com r = 0,981, demonstrando que a produção destina-se ao

abastecimento da frota nacional de automóveis, em contrapartida uma baixa correlação

com o etanol anidro com r = 0,187 que pertence a mistura da gasolina.

É fato que o aumento da produção esta relacionada não somente com os índices

macroeconômicos favoráveis e políticas publicas para os setores, uma vez que existem

outras variáveis que impactam em conjunto como a capacidade de produção da

indústria, taxa de câmbio, renuncia fiscal, PIB entre outros, bem como a própria

maturidade do segmento.

A discussão é ampla e podendo gerar resultados diferenciados se associado com

outras variáveis e mesmo levando-se em consideração algumas perspectivas,

considerando o etanol como uma fonte de energia renovável e a possibilidade de

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201

expansão do setor, seja para a produção ou pela transferência de tecnologia, know-how

adquirido pelo país ao longo dos últimos quarenta anos de programa.

O tema é abrangente possibilitando trabalhos futuros diante da perspectiva de

crescimento do setor sucroalcooleiro e do segmento automobilístico. E por essa

magnitude o presente trabalho não se finda nestas considerações, outros estudos

poderão ser desenvolvidos e novas contribuições poderão ser apresentadas no contexto

em análise.

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(org.). Etanol e Bioeletricidade: A Cana-de-Açúcar no Futuro da Matriz Energética.

São Paulo: ÚNICA, 2010.

ÚNICA, Estatísticas sobre produção de etanol, 2011. http://www.unica.com.br.

Acesso em 23 de junho de 2013.

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O PAPEL SOCIOAMBIENTAL DA VEGETAÇÃO URBANA: CUSTOS E

BENEFÍCIOS

Luciana Schwandner Ferreira98

RESUMO

A necessidade de cidades mais verdes parece consensual, porém faz-se necessário

compreender com maior profundidade os papéis da vegetação nas cidades e o impacto

de sua presença no cotidiano de seus habitantes.

Ao levantar os principais benefícios e custos associados à presença da vegetação nas

cidades este artigo objetiva contribuir com o planejamento das áreas verdes urbanas e

com a valorização do verde nas cidades.

Palavras-chave: Vegetação Urbana; Floresta Urbana; Microclima Urbano;

Conforto Ambiental; Impactos Ambientais.

INTRODUÇÃO

A importância geral da vegetação na ecologia urbana parece inquestionável, porém

seus benefícios e os papéis que a vegetação desempenha nas cidades ainda carecem de

maiores detalhamentos (SPANGENBERG, 2009).

A vegetação interage sobre o conjunto de elementos climáticos, contribuindo com

diversos aspectos tais como controle da radiação solar, temperatura, umidade, poluição

atmosférica, entre outros. Tipo, porte e idade da vegetação, bem como o período do ano

são parâmetros importantes para determinar o grau de influência da vegetação no clima

(MASCARÓ, 1996). Aparecem ainda como fatores determinantes dessa influência a

relação área vegetada/área construída e a forma e arranjo do plantio (GIVONI, 1998).

Comumente classificados em ambientais ou sociais, os benefícios da vegetação

urbana não receberão tal distinção no presente artigo por entendermos que em muitos

aspectos os benefícios ambientais e sociais estão relacionados, sendo por vezes

indissociáveis.

Distinção necessária é aquela a ser feita entre os efeitos ambientais de áreas verdes

em geral e plantas em particular. Grandes áreas verdes, como parques, geralmente

desempenham importante papel no estabelecimento da imagem da cidade e na provisão

de área para atividades sociais. Porém, sua influência nos aspectos climáticos não vai

muito além dos limites da área vegetada (GIVONI, 1998). Outra distinção necessária é

aquela entre os efeitos das plantas no clima global da área urbana e os efeitos das áreas

verdes nas condições microclimáticas do entorno dos edifícios e no desempenho

térmico das construções (GIVONI, 1998).

A seguir serão apresentados alguns dos mais citados aspectos influenciados pela

vegetação em áreas urbanas e os custos diretos e indiretos associados à sua presença nas

cidades.

98 Arquiteta, Urbanista e Mestra na área de Tecnologia da Arquitetura pela Faculdade de

Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.

Email: [email protected]

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POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA

Figura 1. Poluição atmosférica na cidade de São Paulo. Fonte: Agência Brasil,

2010.

A poluição atmosférica nas cidades compromete a saúde humana e já é considerada

uma das principais causas de mortalidade por enfarto agudo do miocárdio e doenças

respiratórias. Cardoso (2011) realizou um estudo na Zona Norte da cidade de São Paulo

correlacionando os óbitos registrados pelas duas doenças citadas com a localização das

vias de tráfego intenso, concluindo que há relação entre a concentração de poluentes e a

mortalidade por enfarto e doenças respiratórias (informação verbal)99i.

De acordo com Falcón (2007), em países desenvolvidos uma cidade de dimensões

médias produz entre três e oito toneladas de dióxido de carbono (CO2) /habitante/ano,

sendo o tráfego de veículos responsável por aproximadamente 40% do total de

emissões. Além do CO2, a poluição atmosférica é formada ainda por óxidos de enxofre

e de nitrogênio, monóxido de carbono, compostos orgânicos voláteis e partículas em

suspensão.

Por reter temporariamente as partículas suspensas no ar e absorver alguns gases

nocivos aos seres humanos, a vegetação é capaz de amenizar os efeitos indesejáveis da

poluição nas cidades. (NOWAK, 1994; LLARDENT, 1982).

A taxa de remoção de poluentes depende da quantidade destes na atmosfera, do

vigor e porte da vegetação, do tipo e densidade de galhos e folhas e de condições

climáticas (SPIRN, 1995; NOWAK, 1994; FALCÓN, 2007), sendo variável entre

espécies e entre indivíduos da mesma espécie (MASCARÓ, 2010). Estudos conduzidos

na cidade de Chicago (EUA) verificaram que árvores de grande porte são capazes de

remover 60 a 70 vezes mais poluentes que as árvores menores (NOWAK, 1994). É

importante ressaltar que quando os contaminantes atmosféricos são excessivos eles

também podem prejudicar a vegetação.

Apesar de a vegetação possuir grande contribuição na remoção de poluentes da

atmosfera, sua dispersão depende ainda do fluxo dos ventos no nível da rua para gerar a

mistura com as camadas de ar menos poluído. Em ruas com vegetação muito densa, a

dispersão pode ficar comprometida pela diminuição dos ventos, sendo importante

considerar este efeito em ruas de tráfego intenso (GIVONI, 1998).

99 Estudo apresentado pela Profa. Dra. Maria Regina Alves Cardoso no Seminário

Metrópoles: Políticas, Planejamento e Gestão em Saúde e Ambiente, realizado na Faculdade de

Saúde Pública da Universidade de São Paulo em 31/05/2011.

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Outra importante influência da vegetação na composição atmosférica é a capacidade

de fixação e produção de determinados gases, como o sequestro e armazenamento de

CO2 na biomassa vegetal, que ocorre durante o crescimento das plantas.

Apesar de reduzir as quantidades de CO2 e de partículas suspensas no ar, a

vegetação é responsável pela emissão de compostos orgânicos voláteis (COV)100ii. De

acordo com Aquino (2006 apud SCHIRMER E QUADROS, 2010) a emissão de COV

biogênicos (emitidos pela vegetação) é aproximadamente sete vezes maior que a

emissão de COV antropogênicos (em termos globais). Os COV, juntamente com os

óxidos de nitrogênio (NOx) e a radiação solar, são responsáveis pela formação do

ozônio troposférico (i.e. aquele que ocorre na camada mais baixa da atmosfera),

importante poluente responsável por problemas respiratórios e nevoeiros fotoquímicos,

também chamados de smogs (do inglês smoke, fumaça, e fog, neblina).

Por esse motivo, na cidade de São Paulo é comum que as estações de

monitoramento do ar localizadas no Parque do Ibirapuera e na Cidade Universitária,

locais densamente vegetados, registrem altos níveis de concentração de ozônio.

A emissão de COV pela vegetação varia de acordo com a espécie e o metabolismo

da planta, a temperatura do ar, a temperatura das folhas, a umidade, a densidade foliar, a

radiação solar, a concentração de CO2 e de poluentes no ar (SCHIRMER e QUADROS,

2010). Apesar de a vegetação ser a principal responsável, em termos globais, pelas

emissões de compostos orgânicos voláteis, para que a transformação em ozônio ocorra

são necessários os óxidos de nitrogênio, emitidos principalmente pelos automóveis.

POLUIÇÃO DA ÁGUA E DO SOLO

De acordo com Morinaga (2007), em áreas urbanas o solo é o meio mais afetado

pela contaminação, superando o nível de contaminantes das águas dos rios e córregos.

Sua poluição apresenta baixa mobilidade de contaminantes (ainda que estes possam

passar para as águas subterrâneas) e está relacionada principalmente às regiões

industrializadas e aos locais de disposição de resíduos.

Por meio da absorção dos contaminantes pelas raízes e/ou concentração em sua

biomassa, a vegetação pode atuar na remoção ou imobilização desses contaminantes. As

plantas são capazes de remover metais pesados, pesticidas e outros contaminantes do

ambiente. Trata-se da fitorremediação, técnica caracterizada pela utilização de

processos naturais das plantas para a remoção de poluentes do solo, de lodos, de

sedimentos e das águas. De baixo custo e fácil implementação, esta técnica é indicada

para grandes áreas com pequeno nível de contaminação e que não apresentem riso

iminente à saúde (MORINAGA, 2007).

Morinaga (2007) alerta que o transporte de contaminantes para a superfície,

absorvidos pelas raízes e conduzidos às partes aéreas das plantas, pode ocasionar a

introdução desses contaminantes na cadeia alimentar da fauna local.

TEMPERATURA E UMIDADE

As temperaturas mais altas verificadas em áreas densamente construídas quando

comparadas a seu entorno rural vegetado configuram o fenômeno conhecido como “ilha

de calor”.

100 De acordo com Schirmer e Quadros (2010) compostos orgânicos compreendem todos os

compostos que, à exceção do metano, possuam carbono e hidrogênio, sendo os COV aqueles

facilmente vaporizados às condições de temperatura e pressão ambientes.

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Esse fenômeno é predominantemente noturno, sendo as maiores diferenças de

temperatura entre áreas urbanas e não urbanas verificadas em noites de céu claro e

pouco vento. (GIVONI, 1998).

Figura 2– Ilha de calor urbana. Fonte: Bearkeley Lab.

Algumas características das estruturas urbanas, como a relação entre a largura das

ruas e a altura dos edifícios, os tipos de materiais construtivos utilizados e a quantidade

e localização das áreas verdes afetam a intensidade da ilha de calor (GIVONI, 1998;

LOMBARDO, 1985).

De acordo com Lombardo (1985), as maiores temperaturas dos centros urbanos

podem provocar uma alteração na distribuição de chuvas, fazendo com que ocorram de

maneira mais intensa sobre as áreas mais densamente construídas. Essa dinâmica, aliada

ao alto grau de impermeabilização de algumas cidades provoca o aumento das

inundações.

Em seu estudo sobre a região metropolitana de São Paulo, Lombardo (1985)

verificou diferenças de até 10°C entre o centro e as áreas rurais, sendo que as

temperaturas mais altas foram medidas nas áreas mais densamente construídas e com

pouca quantidade de vegetação e as temperaturas mais amenas nas regiões com maior

concentração de espaços livres vegetados e junto aos reservatórios de água.

No ambiente urbano, a vegetação barra a radiação solar, evitando que ela incida

sobre o solo e as construções, diminuindo assim o acúmulo e a irradiação de calor por

essas superfícies. A radiação absorvida pela vegetação é utilizada para a fotossíntese e

para a evapotranspiração; apenas uma porcentagem muito pequena é convertida em

calor sensível (SANTAMOURIS, 2001).

Givoni (1998) ressalta que é durante o processo de evapotranspiração, e não durante

a fotossíntese, que ocorre a maior parte do consumo de energia das plantas. Durante

esse processo as folhas são resfriadas, assim como o ar ao redor delas, ao mesmo tempo

em que ocorre o aumento de umidade do ar. A importância e o desejo de que esse

processo ocorra dependem das condições de temperatura e umidade locais.

De acordo com Magalhães e Crispim (2003), o processo de evapotranspiração é

responsável pelo consumo de 60% a 75% da energia solar incidente na vegetação, sendo

que uma árvore isolada saudável e com bom suprimento de água pode transpirar 400

litros de água/dia.

Spangenberg (2009) alerta para o fato de que a definição das frações de absorção,

transmissão e reflexão dos dosséis vegetais é mais complexa do que a dos materiais de

construção devido à arquitetura da copa das árvores, à distribuição heterogênea de

folhas, à diferença entre as espécies etc.

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Labaki, et al. (2011) observam que a informação existente sobre o comportamento

da transmissão da radiação solar através de árvores, isoladas ou agrupadas, é bastante

reduzida, principalmente no que se refere às espécies da flora brasileira.

O impacto da vegetação no consumo de energia para aquecimento e resfriamento

dos edifícios pode ser bastante significativo. Em relação ao resfriamento, a sombra

produzida pela vegetação localizada próxima às paredes e janelas reduz o ganho de

calor solar sem obstruir completamente a circulação de ar. Ademais, áreas gramadas ao

redor dos edifícios reduzem a radiação solar refletida pelo solo e pavimentos,

diminuindo também os ganhos de calor da edificação. Em relação à diminuição do

consumo de energia para aquecimento, dependendo do arranjo de plantio e da

localização da vegetação ela é capaz de diminuir a velocidade do vento ao redor das

construções, minimizando assim as taxas de infiltração de ar (GIVONI, 1998).

Spangenberg (2009) ressalta que os benefícios proporcionados pelo sombreamento

durante o verão podem se converter em desvantagens durante o inverno em

determinados locais. Nessas situações, o plantio de espécies caducifólias pode

maximizar os benefícios.

VENTILAÇÃO

De acordo com Llardent (1982), as massas arbóreas conseguem reduções

importantes na velocidade do vento, entre 20% e 50%. Tais reduções ocorrem de

maneira gradual e, ao contrário das barreiras sólidas, não provocam zonas de

turbulências, sendo, portanto, mais eficientes. Segundo Givoni (1998), o impacto da

vegetação no fluxo de ar ocorre com maior intensidade próximo ao solo e depende do

arranjo de plantio e das espécies utilizadas.

O deslocamento do ar regula a sensação térmica, pois estimula a evaporação e as

perdas de calor por convecção (MASCARÓ, 1996). Em climas quentes e úmidos, a

redução da velocidade do vento pode gerar desconforto; porém, em climas frios é um

dos fatores mais benéficos da vegetação (GIVONI, 1998).

Além do efeito de obstrução mencionado acima, a barreira vegetal possui outros três

efeitos básicos: filtragem, deflexão e condução.

Figura 3. Efeitos da barreira vegetal. Fonte: Elaboração própria baseada em

Mascaró, 1996.

Acima de 1,5m/s e, sobretudo acima de 5m/s, a incidência de vento diminui as

diferenças de temperatura e umidade relativa do ar entre as áreas sombreadas e

ensolaradas, sendo mais significativa em relação à umidade do que em relação à

temperatura (MASCARÓ, 1996).

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DRENAGEM

O problema das inundações em áreas urbanas está diretamente relacionado à

excessiva impermeabilização do solo, à escassez de áreas vegetadas e à canalização

maciça de rios e córregos, medidas que em conjunto contribuem para o aumento da

quantidade e da velocidade do escoamento superficial.

Figura 4 – Impacto da urbanização na vazão e no tempo do escoamento superficial. Fonte:

Netto (2004).

A vegetação impacta a drenagem urbana por meio da retenção da água de chuva em

sua copa, galhos e tronco, da contribuição para infiltração da água no solo, da proteção

do solo ao ravinamento e da diminuição da velocidade do escoamento superficial

(MAGNOLI,1982). A infiltração de água no solo depende diretamente do tipo de solo e

não apenas da presença da vegetação.

[...] a distribuição, estrutura espacial, estrutura de ramificação e

folhagem, densidade de ‘arquitetura’ foliar e da galharia, bem como a

distribuição, em extensão e profundidade, do raizame tem influência

direta na rapidez de formação da superfície do espelho d’água a

escoar. Após o encharcamento a influência se relaciona somente à

proteção do solo ao ravinamento (MAGNOLI, 1982, p.91).

Segundo a Agência Americana de Proteção Ambiental (EPA, 2003), a velocidade de

escoamento num quarteirão urbanizado pode ser cinco vezes maior do que em áreas de

mesmo tamanho com vegetação e solo exposto. A alta velocidade do escoamento

aumenta a erosão e a quantidade de sedimentos carreados para os rios e córregos,

diminuindo a vazão destes e provocando inundações (HOUGH, 1998).

Llardent (1982) alerta para o fato de que a grama fornece porosidade ao solo apenas

até 10cm de profundidade e com o tempo as raízes podem se entrecruzar de tal maneira

que deixam o solo compactado. Assim, uma superfície gramada pode não ser tão

permeável quanto se imagina, evidenciando que a análise do tipo de solo e do tipo de

vegetação a ser implantada é importante para determinar a contribuição da vegetação à

drenagem urbana.

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Estabilidade do Solo

Figura 5. Deslizamento de terra em área urbana. Fonte: R7 Notícias.

As intervenções urbanas, ao promoverem a impermeabilização parcial da superfície,

modificam o regime hídrico do solo, soerguendo ou rebaixando o lençol freático. Tais

alterações podem provocar a destruição das estruturas do solo e causar abatimentos em

sua superfície (MANFREDINI, FERREIRA e QUEIROZ NETO, 2004).

Em grandes aglomerados urbanos, a estabilidade do solo é de fundamental

importância para a segurança da população e das construções, estando relacionada

também ao assoreamento de rios e córregos, como mencionado no item “drenagem”.

A vegetação contribui para a manutenção da umidade do solo, atenuando o

aquecimento e evitando a irradiação (LLARDENT, 1982). Quanto maior a temperatura

do solo, maior é a sua oxidação e maior é a sua decomposição, gerando, assim, maior

erosão em lençol e lixiviação (PENHALBER et al., 2004). Ademais, a presença de

vegetação pode diminuir o carregamento de materiais particulados durante chuvas

intensas, dependendo da granulometria do solo, bem como amortecer a força do impacto

da chuva, evitando a formação de sulcos ou ravinamento.

Segundo Falcón (2007), a vegetação mais indicada para a fixação do solo são as

gramíneas e os arbustos, pois suas raízes são pouco profundas e bastante densas. Já a

vegetação arbórea é indicada para diminuir o impacto da força da chuva no solo.

RUÍDO

A atenuação do ruído pela vegetação é um benefício bastante citado; porém, mesmo

em áreas densamente arborizadas a redução é pequena, especialmente em médias e

baixas frequências, devendo-se principalmente ao aumento da distância entre a fonte de

ruído e as edificações e à diminuição da intensidade do vento (GIVONI, 1998).

Diversos trabalhos citam diferentes níveis de redução conseguidos com a utilização

de barreira vegetal; porém, tais reduções podem ser consequência do aumento da

distância da fonte, efeitos da topografia, da direção e da intensidade dos ventos etc. Para

Givoni (1998), apesar da pequena capacidade na redução dos níveis de ruído, a

vegetação tem um importante papel psicológico, ao atuar como barreira visual, uma vez

que se o ruído não é visível ele se torna psicologicamente menos perceptível.

SAÚDE E BEM-ESTAR HUMANO

Um dos principais aspectos associados às áreas verdes em meio urbano é seu uso

recreacional e esportivo. A promoção de áreas de convívio social e de áreas

contemplativas está relacionada ao bem-estar e saúde da população, diminuindo o

estresse, a ansiedade e a depressão, e contribuindo no tratamento de pacientes

hospitalizados (GIVONI, 1998; ULRICH, 1984; ULRICH, et al., 1991).

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Figura 6. Trilha da Pedra Grande. Parque Estadual da Cantareira. Imagem da

autora, mai. 2011.

Ao analisar pacientes em internação hospitalar após cirurgia Ulrich (1984) verificou

que aqueles que estavam em quartos com janelas voltadas para áreas verdes tinham

menor período de internação em relação àqueles cujas janelas estavam voltadas para

edifícios. Além do menor tempo de internação, esses pacientes utilizavam menor dose

de medicamentos e tinham avaliação mais favorável por parte das enfermeiras.

Diversas instituições de saúde estão incorporando “jardins de cura” em suas

instalações. Esses jardins, que devem incentivar o convívio e o apoio social e oferecer a

possibilidade de atividades físicas e contato com a natureza, podem desempenhar papel

complementar aos tratamentos medicamentosos, diminuindo o stress, a ansiedade, a

pressão sanguínea e a insônia, aumentando, assim, a qualidade de vida dos pacientes

(TEXAS A&M UNIVERSITY, 2003).

Os benefícios verificados nos jardins dos hospitais também se estendem às áreas

vegetadas e aos espaços livres da cidade, porém desde que estes recebam manutenção,

utilização e segurança adequados, oferecendo condições propícias para o

desenvolvimento de atividades sociais; do contrário, essas áreas podem aumentar a

sensação de insegurança gerando stress.

Para Lima (1996), o desenho da vegetação na cidade também deve considerar as

diversas formas de apropriação dos espaços urbanos. Dependendo da situação, uma

cobertura arbórea densa pode não ser desejável, como no caso de locais de grande

aglomeração de pessoas ou lugares onde o sombreamento é indesejável.

Ao atenuar a poluição da atmosfera, da água e do solo e contribuir com o conforto

térmico dos espaços abertos, a vegetação também contribui com a saúde humana. Os

benefícios associados à estabilidade dos solos e amortecimento de enchentes pela

vegetação também podem ser considerados como benéficos ao bem-estar dos habitantes

da cidade.

BIODIVERSIDADE101

De acordo com Spirn (1995), a transformação dos ambientes silvestres em centros

urbanos inviabilizou a manutenção de habitats para a fauna local, pois os resquícios de

vegetação nativa são poucos e dispersos. Assim, as espécies que prosperam no

101 101 De acordo com a Lei Federal n° 9.985/2000 biodiversidade, ou diversidade biológica

é: “a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os

ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de

que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de

ecossistemas” (Art. 2° da Lei Federal n° 9.985/2000).

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empobrecido ambiente urbano são espécies oportunistas, que adaptaram o seu

comportamento à uma paisagem dominada pelos homens.

Porém, o mosaico de ambientes encontrados em São Paulo ainda oferece locais

adequados ao abrigo, à alimentação e à reprodução da fauna, sendo significativo o

número de espécies cadastradas na cidade (SÃO PAULO (CIDADE), SVMA, 2004).

A adaptação da flora e da fauna ao hostil ambiente urbano, bem como a preservação

de áreas vegetadas, são fatores que colaboram para a existência de um número

significativo de espécies vegetais e animais em algumas cidades. De acordo com o

último Inventário da Fauna do Município de São Paulo (SÃO PAULO (CIDADE),

SVMA, 2010), a cidade possui 700 espécies catalogadas, das classes: Malacostraca

(caranguejo e lagostim), Arachnida (aranhas), Insecta (borboletas e grilo), Osteichthyes

(peixes), Amphibia (rãs, sapos e pererecas), Reptilia (cágados, crocodilos, lagartos e

cobras), Aves e Mammalia. Em relação à flora, segundo dados do Herbário Municipal

de São Pauloiii a cidade possui 4.037 espécies vegetais de 231 diferentes famílias.

A urbanização não afeta somente a diversidade biológica pela diminuição das áreas

vegetadas e alteração dos habitat naturais, mas também pela criação de novos habitats

que proporcionam o aparecimento de espécies indesejáveis ao convívio humano, como

insetos e ratos (SÃO PAULO (CIDADE), 2008).

Se a manutenção de áreas vegetadas em meio urbano colabora positivamente para a

manutenção da biodiversidade, a falta de conexões entre essas áreas e as dificuldades de

gestão das áreas que não possuem proteção efetiva tornam-se um impasse a ser vencido

para a proteção de animais e plantas. Nesse sentido, o Instituto Socioambiental

(INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL, 2008) recomenda as seguintes ações para a

ampliação da proteção à biodiversidade: ampliação e manutenção das áreas

efetivamente protegidas; fiscalização das áreas preservadas; manejo da biodiversidade e

apoio à pesquisa para diminuição de lacunas de conhecimento.

Penhalber et al. (2004) mencionam a dependência entre a fauna e a flora. Segundo

os autores, a fauna silvestre é de suma importância para a sobrevivência das espécies

vegetais e vice-versa, sendo que a qualidade do verde depende da manutenção da fauna.

Abordar o papel da vegetação na cidade a partir dos benefícios fornecidos aos seres

humanos pode ser considerado uma visão antropocêntrica caso uma perspectiva mais

abrangente na gestão dos recursos não seja analisada. De acordo com Lima (1996), a

nossa relação com a natureza necessita mudanças. Não apenas o bem-estar humano é

importante, mas igualmente a utilização dos recursos em ritmos e escalas nas quais se

propiciem condições temporais e espaciais para uma regeneração da própria natureza

(LIMA, 1996).

CUSTOS, DESVANTAGENS OU INCONVENIENTES ASSOCIADOS À

VEGETAÇÃO URBANA

A presença da vegetação em meio urbano proporciona diversos benefícios

socioambientais aos habitantes da cidade, como mencionado nos itens anteriores.

Contudo, existem custos diretos e indiretos que devem ser considerados no seu

planejamento e implantação.

Como aponta Spirn (1995), a vegetação urbana tem que conviver com enormes

pressões biológicas, físicas e químicas que dificultam sua sobrevivência no ambiente

urbano, fazendo com que as árvores na cidade vivam menos. Estudos desenvolvidos nos

Estados Unidos pela American Forest Association concluíram que a sobrevida média de

uma árvore urbana (plantada em regiões centrais) é de apenas 13 anos, tempo

insuficiente para que atinja um porte capaz de desempenhar de forma plena os

benefícios citados nos itens anteriores. (ROTERMUND, MOTTA e ALMEIDA, 2012).

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Essa diminuição da sobrevida das árvores em meio urbano deve-se à sua conflituosa

convivência com a massa edificada da cidade e seus habitantes.

As árvores das ruas [...] levam uma vida marginal, suas raízes presas

entre as fundações das edificações e das ruas, enroscadas entre as linhas de

telefones, eletricidade, gás e água, e envoltas por um solo tão compacto e

infértil como o concreto. Seus troncos são entalhados pelos para-choques

dos automóveis, correntes de bicicletas e até pelas grades instaladas para

protegê-las. Seus galhos são podados pelos ônibus. Folhas e cascas são

tostadas no calor refletido pelo calçamento e pelos muros ou condenadas a

uma sombra perpétua pelos edifícios adjacentes. As raízes são encharcadas

ou ressecadas pelo excesso ou pela falta de água; em qualquer caso, sua

capacidade de fornecer nutrientes essenciais à árvore é drasticamente

reduzida. [...] O fato de a árvore de ruas e calçadas sobreviver de alguma

forma é mais surpreendente do que o de ser tão curta sua média de vida

(SPIRN, 1995, p.193 e 194).

Parte dos custos associados à presença de vegetação nas cidades advém justamente

dos conflitos mencionados por Spirn (1995).

CUSTOS DIRETOS

A implantação e a perpetuação da vegetação em áreas urbanas demandam diversas

ações de planejamento e administração a cargo principalmente do poder público

municipal. Ações de plantio e manutenção, incluindo podas, irrigação e varrição,

demandam pessoal habilitado e equipamentos específicos.

A integração com a infraestrutura existente na cidade é um dos problemas mais

recorrentes associados à vegetação urbana. A interferência com as redes aéreas, a

proximidade com as edificações, gerando sombreamento excessivo e insegurança, o

entupimento de bueiros e bocas de lobo pelas folhas das árvores, a interferência com a

iluminação pública e com a sinalização, muitas vezes encoberta por galhos, além de

danos a pisos e pavimentos causados por raízes superficiais são alguns dos problemas

verificados.

A queda de árvores é um dos maiores transtornos que acometem as cidades

brasileiras durante o período de chuvas (que, podem ser mais intensas nas áreas

urbanas). De acordo com reportagem veiculada no jornal O Estado de São Paulo,

segundo dados da AES Eletropaulo, “mais da metade dos casos de apagões na cidade de

São Paulo acontece por culpa de queda de árvores ou galhos que se enroscam na fiação”

(O ESTADO DE SÃO PAULO, 2011).

CUSTOS INDIRETOS

Spangenberg (2009) cita como custos indiretos relacionados à presença de

vegetação nas cidades a possível diminuição da dispersão de poluentes ocasionada pela

diminuição da intensidade dos ventos, a diminuição dos níveis de luz natural provocada

pelo sombreamento da vegetação, o desconforto térmico no inverno, o possível aumento

da umidade nos edifícios e as questões ligadas à segurança, que, como mencionado no

item Saúde e Bem-Estar Humano, podem estar associadas à falta de manutenção e uso

das áreas vegetadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quantitativamente, os benefícios associados à vegetação citados nos itens anteriores

dependem da densidade das folhas, dos tipos de folhas e galhos (e.g. folhas pilosas ou

lisas, grandes ou pequenas etc.), do porte da vegetação e de sua localização. Essas

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características, com exceção da localização, variam conforme a idade, a espécie e a

época do ano.

Spangenberg (2009) cita a área de cobertura vegetal e a área foliar como

parâmetros-chave para a avaliação dos benefícios da floresta urbana. De acordo com

Nowak (1994), a maioria dos benefícios da vegetação urbana cresce com o aumento da

área foliar.

A área foliar varia conforme a espécie, a arquitetura da copa, o microclima, as

condições de crescimento da árvore e com as estações do ano, sendo considerada um

parâmetro dinâmico. Consequentemente, cada avaliação da área foliar descreve um

momento específico (SPANGENBERG, 2009).

De acordo com Givoni (1998) o efeito da vegetação no clima das áreas urbanas

depende da relação entre área vegetada (pública ou privada) e área construída, sendo

mais intenso na área vegetada e em seu entorno imediato. Dessa forma, é mais

significativo para o clima das áreas urbanas um maior número de áreas com dimensões

reduzidas do que poucas áreas verdes de grandes dimensões.

Os custos diretos associados à presença de vegetação são, aparentemente, mais

fáceis de serem quantificados e, como são mais perceptíveis no cotidiano da população

urbana, acabam, muitas vezes, deturpando a imagem da árvore na cidade, que fica

conhecida apenas pelos transtornos que causa. “Custos e benefícios calculados sem uma

avaliação do sistema como um todo e dos processos que o impelem subestimam

invariavelmente o valor da natureza na cidade” (SPIRN, 1995, p. 255).

Como mencionado por Lima (1996), faz-se necessária uma visão mais abrangente

da questão da vegetação urbana, que contemple aspectos ecológicos, paisagísticos,

culturais e sociais, aliando as necessidades da vegetação para um desenvolvimento

pleno e a diversidade de espaços urbanos e suas diferentes apropriações.

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A Questão da Sustentabilidade Urbana na Baixada Santista

Profª Drª Elizabeth Borelli *

Resumo

Este artigo é parte de uma pesquisa acadêmica que se propõe a investigar aspectos sociais,

econômicos e ambientais importantes para a compreensão da nova realidade da Região

Metropolitana da Baixada Santista, tendo por objetivo propor uma reflexão inicial em termos

da problemática da sustentabilidade urbana. Essa preocupação se justifica pela nova

configuração do mercado regional que se vislumbra, com a descoberta de petróleo e gás, na

Bacia de Santos, e com a escolha do local para abrigar a sede administrativa da Unidade de

Negócios de exploração e produção da Petrobrás, no Estado de São Paulo, o que deverá

alterar sensivelmente a matriz econômica da região, tradicionalmente voltada ao turismo e às

atividades portuárias, com relevantes repercussões sobre a questão urbana.

Palavras-chave: sustentabilidade urbana; região metropolitana;

transformações urbanas.

Abstract

This article is part of an academic research that aims to investigate important for

understanding the new reality of the metropolitan area of Santos, aiming to propose an initial

reflection in terms of the problem of urban sustainability social, economic and environmental

aspects. This concern is justified by the new configuration of the regional market in sight,

with the discovery of oil and gas in the Santos Basin, and the choice of where to house the

administrative headquarters of the Business Unit Petrobras exploration and production in

State of Sao Paulo, which should substantially change the economic matrix of the region

traditionally geared towards tourism and port activities, with significant impact on the urban

question.

Keywords: urban sustainability; metropolitan area; urban transformations.

* Professora do Programa de Estudos Pós-Graduados em Economia Política da PUC-SP

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Introdução

A proposta deste artigo, enquanto produto parcelar de uma pesquisa complexa e

diversificada, que pretende ter por escopo as relações de transformações urbanas e

econômicas da região administrativa da Baixada Santista, é promover uma reflexão inicial

em torno da questão da sustentabilidade urbana.

Hoje, a polarização da cidade de Santos em relação aos demais municípios é

indiscutível e a economia regional reforça o seu papel central nessa área metropolitana.

Nos últimos anos, o crescimento urbano da região ganhou novo impulso. A

divulgação da descoberta do petróleo na Bacia de Tupis, pela Petrobrás, em 2007, na

chamada camada Pré - Sal1- área localizada entre os Estados de Santa Catarina e Espírito

Santo - atraiu novos investimentos imobiliários e de negócios para a região.

E assim, em janeiro de 2006, a Petrobrás inaugurou a sua sede em Santos, para

gerenciar a área de produção de petróleo na Bacia do Pré-Sal. Foi anunciado um

investimento de cerca de U$ 73 bilhões até 2015 na cidade, com a implantação do Plansal

- Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado do Polo Pré-sal da Bacia de Santos - que

prevê a construção da sede da empresa em bairro do centro histórico da cidade, próximo ao

Porto, que vem sendo cenário de grandes transformações urbanas.

Esses novos investimentos, particularmente no setor imobiliário no município de

Santos, estão transformando a paisagem e alterando o modo de vida da cidade. Observa-se,

no município de Santos, um notório crescimento de novos empreendimentos imobiliários,

com características bem diferentes das que existiam até então, como áreas de lazer internas

nos edifícios, apartamentos compactos e funcionais, empreendimentos com funções

comerciais e residenciais, aumento do número de vagas por unidade habitacional e, com

maior destaque, grande crescimento do número de pavimentos nos edifícios, fortalecendo o

processo de verticalização.

A partir destes fatos, a proposta que norteia esta reflexão é indagar até que ponto a

região está preparada, do ponto de vista da sustentabilidade, para enfrentar as

transformações urbanas inerentes à mudança na sua forma de inserção no grande capital.

Para tanto, o referencial teórico será pautado no conceito de sustentabilidade urbana,

procurando identificar as diversas visões sobre o tema. Em seguida, serão apresentadas

informações institucionais sobre as questões de região administrativa e política pública de

saneamento. Serão então levantados aspectos demográficos, econômicos e de

infraestrutura, na tentativa de se delinear um perfil das condições socioeconômicas da

região da Baixada Santista, à luz do processo de transformações urbanas.

Para a pesquisa que embasou este artigo, foi adotada a metodologia de análise

exploratória, para uma identificação de fatos e vertentes, em torno da literatura referente a

sustentabilidade e urbanização, e consultada a documentação oficial existente.

Sustentabilidade urbana e dinâmica socioeconômica

O conceito de sustentabilidade urbana, ao longo da década de 1990, consolidou a

convergência da questão ambiental e da questão urbana, ou seja, da oposição entre o natural

e o não-natural. Essa nova conceitualização surge com a mudança do enfoque do

ambientalismo, que passou de uma vertente preservacionista e conservacionista, em sua

origem, para a temática da sustentabilidade, nos anos 1980.

Assim, as questões vinculadas a desenvolvimento urbano, controle da poluição

atmosférica e hídrica nas cidades, e ainda, à utilização sustentável de recursos naturais - e

conservação de espaços verdes no interior dos espaços urbanos - ganharam relevo na agenda

das principais organizações multilaterais, voltadas para o desenvolvimento e para a questão

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urbana na década de 1990, bem como nos critérios para aprovação de projetos e concessão de

financiamentos (BRAGA, 2006).

No âmbito das Conferências Internacionais, a questão ambiental no espaço urbano foi

incluída como um dos cinco grandes temas do Hábitat II102, e discutida na Rio 92103 , tendo

seus pontos principais sistematizados na Agenda 21 , que elegeu o tema cidades sustentáveis

como um dos seis pilares de construção da sustentabilidade ambiental, social e econômica dos

países. (NOVAES, 2000).

Acselrad (1999) define a sustentabilidade urbana como a capacidade das políticas

urbanas em se adaptarem à oferta de serviços, à qualidade e à quantidade das demandas

sociais, buscando o equilíbrio entre as demandas de serviços urbanos em investimentos em

estrutura. Considera, também, imprescindível para a sustentabilidade urbana, o uso racional

dos recursos naturais, além das respostas às necessidades urbanas com o mínimo de

transferência de dejetos e rejeitos para outros ecossistemas atuais e futuros.

Ele investiga os diversos discursos sobre a sustentabilidade urbana e identifica três

matrizes. A primeira, a que chamou de representação tecnomaterial da cidade, combina

modelos de racionalidade energética com modelos de equilíbrio metabólico e reduz a

sustentabilidade urbana a seu aspecto estritamente material. A segunda, conceituada como

representação da cidade como espaço da qualidade de vida, combina modelos de pureza, de

cidadania e de patrimônio e remete a sustentabilidade a um processo de construção de

direitos, que possam equacionar as externalidades negativas, responsáveis pela

insustentabilidade urbana. A terceira matriz centra-se na reconstituição da legitimidade das

políticas urbanas, combinando modelos de eficiência e equidade, e remete a sustentabilidade à

construção de pactos políticos capazes de reproduzir suas próprias condições de legitimidade.

( ACSELRAD,1999).

Em consonância com essa terceira matriz, o Urban World Forum (2002) define

sustentabilidade urbana a partir de um conjunto de prioridades, tais como: superar a pobreza,

promover a equidade, melhorar a segurança ambiental e prevenir a degradação. (BRAGA,

2006).

Por outro lado, para ser considerada sustentável, não é suficiente que uma cidade

confira aos seus habitantes, condições ambientais equilibradas, mas é necessário que isso

ocorra sem gerar externalidades negativas para outras regiões e para as gerações futuras.

(MCGRANAHAN e SATTERTHWAITE, 2002; MILLER e SMALL, 2003).

Nessa perspectiva, considera-se a escala regional - constituída pela cidade e suas

relações com o entorno - e a escala global - constituída pelos seus impactos sobre os

problemas ambientais globais, bem como por questões relativas aos impactos agregados da

rede mundial de grandes cidades.

Contudo, observa-se grande dificuldade de sistematização de informações para a

gestão ambiental urbana. A partir disso, desde o final da década de 1980, vêm surgindo

diversas iniciativas de construção de índices e indicadores, quase sempre aplicados à escala

nacional, com o objetivo de fornecer subsídios à formulação de políticas e acompanhar a

implementação de acordos internacionais.

No seu conteúdo, procuram descrever e mensurar a interação entre a atividade

antrópica e o meio ambiente, conferindo à ideia de sustentabilidade, uma maior

operacionalidade e funcionalidade.

No Brasil, destaca-se o trabalho: Indicadores de Desenvolvimento Sustentável- Brasil

2004, do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - que calcula indicadores de

102 Conferência internacional da ONU sobre as cidades. 103 Conferência internacional da ONU sobre meio ambiente e desenvolvimento.

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sustentabilidade nas dimensões ambiental, social, econômica e institucional para os Estados

brasileiros (IBGE, 2004).

Para a construção de medidas de sustentabilidade urbana são incluídos índices

tradicionais, como o Produto Interno Bruto (PIB) e o Índice de Desenvolvimento Humano

(IDHM); considere-se, ainda, a inexistência de consenso em relação aos conceitos de

sustentabilidade e de qualidade ambiental, o que dificulta o processo de escolha de variáveis

para a composição dos indicadores urbanos de sustentabilidade (ENVIRONMENTAL

SUSTAINABILITY INDICATORS, 2002).

Para Rogers e Gumuchdjian (2001), o processo de expansão das cidades não tem

considerado a fragilidade do ecossistema, evidenciando seu caráter predominantemente

quantitativo – associado à ideia de “modernização” - em detrimento do aspecto qualidade,

registrando-se, no mundo, um aumento global de riqueza, paralelamente ao aumento do grau

de pobreza e da população pobre. Consideram, ainda, que a problemática urbana assume

diferentes contornos, conforme o nível de industrialização de cada país. Nos países em

desenvolvimento, os problemas ambientais e sociais são agravados pelo aumento do tamanho

das cidades sem o acompanhamento de infraestruturas capazes de suportar tal crescimento.

Em todo o mundo, a pobreza ainda é um dos principais problemas enfrentados pelas

sociedades, e, geralmente, a camada mais pobre da população é amplamente negligenciada.

Diante disso, torna-se necessário um desenvolvimento urbano sustentável, diferente do

modelo atual, que é baseado no lucro e privilegia uma pequena parte da sociedade.

Diversos autores vêm discutindo acerca de uma base teórica da interdependência entre

as trajetórias do desenvolvimento urbano regional e as políticas territoriais em suas diversas

dimensões. A teoria da regulação (BOYER, 1990; BENKO, 1996) e a teoria do urbanismo

industrial (SCOTT, 1998; STORPER, 1997) enfatizaram a transição dos regimes fordistas

para os pós-fordistas de acumulação e regulação, bem como suas implicações territoriais,

enquanto Harvey (1989) analisou a mudança dos regimes urbanos gerenciais para um estilo

empresarial de governança. Swyngedouw (1997) enfocou as dimensões escalares desse debate

e elaborou o conceito de glocalização, visando destacar a natureza política interdependente

das escalas territoriais de poder.

Brenner (2004) fundamentou a reestruturação produtiva e territorial em uma análise

mais geral sobre a transformação dos “regimes de políticas públicas territoriais”, a partir da

década de 1970. Seu principal argumento é que, a partir desse período, o regime keynesiano

de organização e intervenção do Estado na produção do espaço, composto por projetos e

estratégias, evoluiu para um regime competitivo e reescalonado de organização e intervenção

territorial do Estado. Nessa ótica, projetos significam a organização administrativa interna das

políticas públicas territoriais, enquanto as estratégias seriam as intervenções efetivas do

Estado na produção do espaço, especialmente através de programas de investimento e

modelos de regulação.

Ainda que a pobreza medida por indicadores nacionais diminua com a urbanização, de

um modo geral, o número absoluto de moradores de favelas aumenta mais do que o

crescimento da população urbana (Un-Habitat, 2010). A concentração de pobres em

gigantescas favelas – que contam com domicílios congestionados e insalubres, sem água

potável, sem esgotos, sem coleta de lixo – com baixa taxa de emprego, com elevados índices

de violência, representa um aspecto qualitativo que caracteriza a pobreza urbana.

Em relação às cidades brasileiras, Maricato (2011), pontua que sua imagem está

drasticamente associada à violência, à poluição, ao tráfego caótico, às enchentes, à

desigualdade social, entre outros pontos de caracterização urbana e destaca a importância do

Sistema Financeiro habitacional nesse processo.

“O Sistema Financeiro da Habitação (SFH) e seu gestor, o Banco

Nacional da Habitação (BNH), foram, na verdade, os organismos

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que mais impactaram o crescimento e o padrão de urbanização

brasileira, disseminando o apartamento de classe média,

fortalecendo os negócios de incorporação imobiliária e a

indústria da construção. Com a habitação social localizada fora

do tecido urbano, de um modo geral, o BNH e seu sistema

financeiro não só contribuíram para segregar as camadas sociais

de menor renda, como impediram o mercado de terras urbanas,

potencializado pelos recursos do financiamento residencial

oriundos da poupança privada (Sistema Brasileiro de Poupança e

Empréstimo - SBPE) e da poupança compulsória (Fundo de

Garantia por Tempo de Serviço - FGTS), de operar de forma

sustentável.” (MARICATO, 2011,11).

Em sua colocação, as transformações capitalistas, orientadas pelo pensamento

neoliberal (no Brasil, em 1980, 1990 e 2000), tiveram forte impacto sobre as cidades. A falta

de regulamentação do mercado imobiliário, o desemprego, a competitividade, a guerra fiscal,

o abandono de políticas sociais, como o transporte coletivo, as privatizações de serviços

públicos, o planejamento estratégico, o marketing urbano, entre outros, se uniram a uma

tradição histórica de falta de controle sobre o uso do solo e de segregação territorial e urbana.

A violência nas metrópoles se evidencia pelo aumento da taxa de homicídios, nesse

período, de forma inédita. Tragédias provocadas por enchentes e desmoronamentos tornam-

se, progressivamente, mais frequentes. (SALDIVA et al., 2010). A ocupação irregular de

beira de córregos, encostas desmatadas, mangues, dunas e áreas de proteção de mananciais

mostram a precariedade das condições de vida de uma grande parcela da população.

No âmbito das políticas socioeconômicas brasileiras, foram implementados, mais

recentemente, programas dirigidos à população mais miserável, com o objetivo de retirá-la do

nível de subsistência precário em que se encontravam, através de programas de transferência

de renda (Bolsa Família) e de um conjunto de políticas sociais destinadas a aumentar as

oportunidades de empreendedorismo e desenvolvimento econômico (ALMEIDA, 2005).

Por outro lado, cabe destacar a retomada do papel dos bancos e fundos públicos na

provisão de crédito e na alavancagem dos investimentos públicos e privados, através de

programas como o PAC - Programa de Aceleração do Crescimento , Minha Casa, Minha Vida

e o fomento a outros setores econômicos específicos. (SANT’ANNA, BORÇA Jr &

ARAUJO, 2009).

Do ponto de vista institucional, foram verificados avanços no campo do Direito à

Moradia e Direito à Cidade, a partir da incorporação à Constituição, em 1988, de um capítulo

de política urbana, estruturado em torno da noção de função social da cidade e da propriedade,

do reconhecimento dos direitos de posse de milhões de moradores das favelas e periferias das

cidades do país e da incorporação direta dos cidadãos aos processos decisórios sobre esta

política. O boom da construção civil reflete os sinais do crescimento econômico, ganhando

visibilidade em diversas cidades e metrópoles brasileiras. (ROLNIK, 2010).

As dinâmicas econômicas recentes vêm oferecendo um desafio às cidades, no sentido

de converter este crescimento em melhoria nas condições de urbanização, não apenas em

termos de expansão da infraestrutura das cidades para absorver um crescimento futuro, mas,

sobretudo, de mudança do modelo financeiro e de gestão sobre a qual se constituiu o processo

de urbanização, marcado por disparidades socioespaciais e grande degradação ambiental.

Apesar dos ganhos da política econômica e do Estatuto das Cidades, as marcas deste modelo

continuam presentes em várias dimensões do processo de urbanização. (ROLNIK 2010).

O padrão de investimentos em obras metropolitanas mostra a falta de integração entre

as ações de cada município que compõe as metrópoles. Macrodrenagem, coleta e distribuição

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de água tratada, coleta e tratamento de esgoto, habitação, uso e ocupação do solo, transporte

de cargas e passageiros, são temas que exigem um tratamento integrado na metrópole.

Regiões Metropolitanas e Política de Saneamento

Há uma opinião generalizada, expressa em vários estudos acadêmicos e técnicos,

acerca da precariedade do quadro legal de Regiões Metropolitanas (RM) no Brasil,

advindos da diversidade de critérios - convencionados em cada Estado, após a Constituição

Federal de 1988. As trinta e cinco Regiões Metropolitanas, definidas legalmente em 2010,

às quais se somam três Regiões Integradas de Desenvolvimento Econômico (Rides) que

abrangem mais de um Estado, constituem um conjunto heterogêneo, dentro do qual

figuram aglomerações urbanas com importância demográfica, econômica, social e política

bastante diferenciada.

Na Baixada Santista, o processo de urbanização gerou a fusão de núcleos urbanos,

transformando-a em região metropolitana, com a cidade de Santos incorporando núcleos

vizinhos e estabelecendo com eles, relações correspondentes a um único núcleo urbano de

grandes proporções.(REIS FILHO, 1987).

Do ponto de vista urbanístico, a região é densamente urbanizada na faixa mais

próxima do mar, possuindo áreas de preservação de Mata Atlântica nos trechos mais

próximos à serra e em suas escarpas. Como unidade espacial, em função de suas

características políticas, socioeconômicas e urbanísticas, veio a se constituir na segunda

Região Metropolitana do Estado de São Paulo.

Nesse processo de conurbação, tanto os bairros nobres como os populares

ultrapassam os limites político-administrativos de seu município e ocupam áreas dos

municípios vizinhos, polarizados pelo centro urbano mais importante.

No processo de urbanização da Baixada Santista, as atividades urbanas –

industriais, portuárias, comerciais e residenciais- têm gerado efeitos negativos no sistema

natural, descaracterizando ou mesmo eliminando ecossistemas terrestres e estuarinos e

comprometendo os processos naturais. A condição de elevada poluição das águas, devido

aos efluentes e resíduos urbanos, tem provocado mudanças na diversidade biológica,

agravando a condição natural de estresse típica dos estuários. (AFONSO, 2006).

Genericamente, a causa mais frequente de degradação das águas costeiras próximas

às praias é a poluição por esgotos domésticos. A expansão urbana vem provocando

condições inadequadas de balneabilidade das praias, uma vez que não há sistemas

adequados de coleta e tratamento dos esgotos. Observa-se a ocorrência de lançamentos de

esgotos clandestinos nas galerias de águas pluviais, canais e córregos, com a afluência de

grande quantidade de dejetos no mar. A Baixada Santista apresenta similaridades com esse

cenário, com exceção do município de Santos, que conta com, praticamente, a totalidade

dos domicílios ligada à rede coletora de esgotos. Nos demais municípios da região, menos

da metade da população conta com esse serviço público, com córregos, canais e galerias de

águas pluviais recebendo esgotos clandestinos. (CETESB, 2012).

Por outro lado, a temática do saneamento básico surgiu em decorrência do grande

processo de urbanização e desenvolvimento das cidades, quando suas estruturas

habitacionais, terrenos, prestações de serviços à comunidade e emprego passaram a

configurar problemas socioambientais. Com a edição da Lei nº 11.445/07, saneamento

básico foi conceituado como o conjunto de serviços, infraestruturas e instalações de

abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos

sólidos e drenagem de águas pluviais urbanas.

O modelo de gestão de saneamento revela a predominância da gestão por

Companhias Estaduais; dos municípios que integram regiões metropolitanas, em

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aproximadamente 77% destes, a responsabilidade é de um prestador regional – as

companhias estaduais de saneamento (CESBs). Em 20% dos municípios, o serviço é

prestado por uma empresa local de direito público, e o restante é dividido entre empresas

de abrangência local de direito privado e empresas estritamente privadas.

Segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, as regiões

metropolitanas são responsáveis por um mercado de aproximadamente R$ 20,76 bilhões,

restando aos demais municípios brasileiros uma receita operacional total de R$ 11,08

bilhões. O mercado metropolitano corresponde a aproximadamente 65% do total

brasileiro, sendo deste total 65% concentrados nos municípios núcleos das metrópoles.

(SNIS, 2010). Estes dados atestam a predominância de uma gestão metropolitana do

saneamento.

O Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab), aprovado pelo Conselho

Nacional das Cidades (Concidades) em Junho de 2013, prevê um investimento de R$ 508,5

bilhões em obras de abastecimento de água potável, coleta e tratamento de esgoto e lixo e

em ações de drenagem, entre 2014 e 2030. O Plano orienta o planejamento para os

próximos 20 anos, e projeta que serão investidos entre R$ 10 bilhões e R$ 12 bilhões por

ano, até 2030. O documento é dividido em uma série de metas de curto, médio e longo

prazos – para 2018, 2023 e 2030 - e inclui as respectivas estratégias, ações e recursos

considerados necessários. As metas foram definidas a partir da evolução histórica e da

situação atual dos indicadores de cobertura destes serviços, com base na análise situacional

do déficit em todo o país. ( MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2013).

A proposta expressa que esse documento sirva como um guia para os gestores,

com diretrizes e estratégias, metas, resultados esperados e programas de investimentos. A

implementação requer a atuação integrada do governo federal, estados e municípios, além

de todos os agentes públicos e privados, sob a coordenação do Ministério das Cidades.

Com isso, se anuncia uma nova forma de gestão para a questão do saneamento, rompendo

com o mecanismo de centralização que, até agora, vem caracterizando esta política. Para o

abastecimento de água potável, o Plansab prevê a universalização nas áreas urbanas no

decorrer dos próximos dez anos; para as ações de coleta e tratamento de esgoto, a meta é

atender 93% das áreas urbanas, no período de vinte anos.

O documento coloca, ainda, como objetivo, extinguir os esgotos sem tratamento -

de forma a não ser mais permitido o escoamento de esgotos no meio ambiente, visando

diminuir a contaminação de rios e córregos. O Plano Nacional de Saneamento Básico

determina, também, a extinção dos lixões, a partir de 2014, já que, além de contaminar e

degradar muitas áreas ambientais, também colaboram para a proliferação de doenças,

implicando na necessidade de se pesquisar novos processos de condução dos resíduos para

aterros sanitários. (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2013).

As políticas públicas voltadas para a melhoria das condições de saneamento básico

das comunidades são eficazes para diminuir a mortalidade infantil pós-neonatal, período

este em que os óbitos ocorrem, principalmente, devido a doenças relacionadas às condições

ambientais. Esse fato confirma que o aumento da cobertura populacional por sistemas de

esgotamento sanitário, pode contribuir para reduzir a mortalidade infantil no Brasil

(HOLCMAN, LATORRE e SANTOS, 2004).

Neste contexto, evidenciam-se os efeitos positivos do saneamento no crescimento

econômico e na redução da pobreza. Segundo um estudo da Organização Mundial da

Saúde, cada dólar investido na melhoria do saneamento para o alcance dos Objetivos de

Desenvolvimento do Milênio gera, em média, um benefício econômico de US$ 12

(PRÜSS-ÜSTÜN et al., 2008).

As deficiências de saneamento redundam em prejuízos à saúde, reduzem a

produtividade do trabalho e impactam a atividade econômica. A investigação dos reflexos

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econômicos da ausência de saneamento básico revela, no entanto, uma consequência

relacionada à qualidade da ocupação urbana. Portanto, o saneamento qualifica o solo

urbano, pois possibilita construções de maior valor agregado e a valorização de

construções existentes, o que implica no aumento do capital imobiliário das cidades.

Contudo, as famílias de mais baixa renda são as que mais sofrem com problemas de

saneamento, em especial com a falta de coleta de esgoto. Dessa forma, avanços na

qualificação do espaço urbano em razão de investimento em infraestrutura de saneamento

implicam em valorização no capital residencial, inclusive, para as famílias de baixa renda.

Caracterização Regional da Baixada Santista

A Região Metropolitana da Baixada Santista – RMBS – localizada na porção

central do litoral do Estado de São Paulo, foi criada em 1996 por um decreto estadual,

abrangendo áreas insulares e continentais, sendo composta por nove Municípios: Bertioga,

Cubatão, Guarujá, Itanhaém, Mongaguá, Peruíbe, Praia Grande, Santos e São Vicente,

conforme mostrado no Mapa 1.

Mapa 1: Região Metropolitana da Baixada Santista (RMBS)

Fonte: EMPLASA (2007)

As tendências demográficas da Baixada Santista podem ser analisadas sob a ótica

da teoria da polarização, de Perroux (1950), como referência, que segmenta a organização

regional a partir da cidade-polo, sendo, portanto, perfeitamente aplicável às regiões

metropolitanas. A cidade-polo possui como característica principal as forças de atração

para novos investimentos, em função de seu histórico e de atividades econômicas

consolidadas; em contrapartida, apresenta os espaços de repulsão – ou seja, aqueles que

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incluem atividades incompatíveis com suas características originais e desenvolvidas ao

longo dos anos.

Adaptando esta teoria ao caso da RMBS, Santos será considerada a cidade-polo.

Para este município, importa considerar a abordagem a partir de sua área insular, uma vez

que o índice populacional da área continental é pouco significativo. A área insular de

Santos conta com apenas 39 km2, onde vivem mais de 95% da população municipal .

(VAZQUEZ e VAZ ,2012).

A expansão imobiliária ocorrida entre os anos de 1960 e 1970, em função de

importantes fatores, tais como, a acessibilidade pelas rodovias Anchieta e Imigrantes, o

crescimento das atividades turísticas e a influência do polo industrial de Cubatão,

transformaram a paisagem e conduziram um processo de urbanização desordenado.

Mesmo com a criação da RMBS, em 1996, os municípios continuam pouco integrados,

especialmente na questão do trânsito. (VAZQUEZ e VAZ ,2012).

A região apresenta um recorte regional com características especiais, condicionadas

por obstáculos geográficos significativos, apresentando áreas de urbanização continental e

insular e uma malha urbana bastante densa.

A região é fortemente influenciada pela dinâmica econômica e social do Porto de

Santos, que se constitui, desde a origem da urbanização regional, no fator principal do

desenvolvimento dos processos de urbanização.

A presença de um polo energético, petroquímico, siderúrgico e industrial de grande

porte no município de Cubatão também foi fator importante no desenvolvimento regional,

contribuindo para atrair grande contingente populacional.

Em termos de especulação e de valorização imobiliária, verifica-se uma situação

diferenciada de processos que podem ser colocados como especiais, por serem ocasionados

pela existência de um mercado imobiliário turístico altamente desenvolvido e sua intensa

utilização, pelo fenômeno da segunda residência. Além do aspecto imobiliário e dos

processos econômicos, verifica-se, no caso das regiões metropolitanas em geral, e

especialmente no da Baixada Santista, que a conurbação das áreas urbanas dos vários

municípios que a compõem é grande e bastante significativa. A existência da conurbação

não chega a ser considerada um fato extraordinário, pois é uma exigência constitucional e

legal da Constituição do Estado, para a implementação do recorte institucional denominado

Região Metropolitana.(JACOB,2012).

No caso da RMBS, aliados ao alto grau de conurbação das cidades, existem ainda

uma gama de fatores limitadores de ordem física, geológica, geográfica e ambiental, que

facilitaram a implantação do processo de mobilidade populacional e da alteração do uso e

ocupação do solo.

A região apresenta cerca de 65 km contínuos de extensão litorânea, com cerca de

122 praias.

Em relação à acessibilidade à região, no modo ferroviário, dá-se por meio da

utilização de duas malhas ferroviária distintas – a antiga malha da Rede Ferroviária Federal

S.A., atualmente concessionada à empresa MRS Logística S.A., e pelo antigo acesso das

Ferrovias Paulista S.A. – Fepasa, atualmente concessionado à empresa Ferrovia dos

Bandeirantes S.A. – Ferroban.

Os acessos rodoviários são feitos entre sua parte mais central e a Região

Metropolitana de São Paulo – RMSP, através da Rodovia Anchieta (SP 150), Rodovia dos

Imigrantes (SP 160) - por onde ocorre o maior volume de tráfego, pela Rodovia Dom

Paulo Rolim Loureiro (Mogi—Bertioga/SP 098), ligando a região à RMSP e ao vale do

Rio Paraíba do Sul, pela Rodovia Prestes Maia (Rio—Santos/SP 055), fazendo a ligação

entre a RMBS e o litoral norte e a Padre Manoel da Nóbrega (SP 055), ligando a região

com o litoral sul e o vale do rio Ribeira do Iguape.

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O município de Santos caracteriza-se como polo regional, porém, em função de sua

limitação geográfica e pelo fato de ser um município basicamente insular, pois sua área

continental é pouco ocupada e utilizada, o município exerce influência em toda a região,

pois concentra, além da maior parte das instituições estaduais e federais, a maior

população, comércio e serviços.

A influência da cidade é exercida, inclusive, em relação aos municípios próximos,

mas situados fora dos limites da região metropolitana, como no caso dos litorais sul e

norte, o que o caracteriza como um polo supra-regional.

A área de influência é mais forte e sentida nos municípios mais próximos, na região

conformada pela aglomeração dos municípios de São Vicente, Guarujá, Cubatão e Praia

Grande, onde o primeiro tem sua sede localizada na ilha de São Vicente; o segundo, na ilha

de Santo Amaro, e os demais estão localizadas em áreas continentais.

Numa área de mais de 2mil km2, vivem cerca de 1,8 milhão de habitantes, segundo

dados do Censo Demográfico do IBGE de 2010 - número esse que atinge, praticamente, o

dobro, no período de temporada de férias. Os turistas concentram-se em certos municípios,

com grande destaque para Praia Grande e Guarujá e em menor quantidade nos municípios

de Peruíbe, Bertioga, Itanhaém e Mongaguá.

Os municípios de Santos e São Vicente, apesar de apresentarem incrementos

populacionais muito pequenos, entre os Censos Demográficos de 2000 e 2010, são os

municípios que apresentam os maiores dados de populações residentes, como pode ser

observado na Tabela 1.

Tabela 1: População, taxas de crescimento populacional, saldos e taxas

anuais de migração – 1991/2010

Fonte: IBGE. Censo demográfico / SEADE (2010).

As maiores taxas de incremento populacional estão nos municípios de menor

população residente, como Bertioga e Mongaguá, enquanto nos municípios com população

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superior, a taxa de incremento é pequena, como Santos, São Vicente e Cubatão. Esses três

municípios apresentam inclusive, como pode ser observado na Tabela 1, uma taxa de

incremento populacional inferior à média da região metropolitana.

Ainda no caso do município de Santos, sua taxa de incremento populacional é

inferior à média do Estado de São Paulo, chegando, na década de 1990, a apresentar, em

determinados anos, uma taxa negativa de crescimento populacional.

A densidade demográfica destes municípios é outro dado que merece atenção: os

municípios de Guarujá, Santos, São Vicente e Praia Grande apresentam uma elevada

densidade demográfica, com respectivamente 1851 hab/km2, 1488 hab/km2, 2089 hab/km2

e 1345 hab/km2.( JAKOB ,2012).

Essas elevadas densidades demográficas indicam um aspecto peculiar da

urbanização dessas áreas: a elevada concentração urbana e a falta de espaços livres na área

urbana desses municípios

A partir destes dados, constata-se que, desde 1980, Santos já estava com sua

população consolidada em virtude “da estagnação da população, da elevada densidade e

da preservação da área continental como reserva natural”. (VAZQUEZ, 2012, p. 271).

Entre os anos 2000 e 2010, há uma crescente migração intrametropolitana, como

uma “força centrífuga”, que parte de Santos em direção à periferia metropolitana, em

virtude de dois fatores: o preço do solo e o custo de vida mais baixo. Os municípios de

Bertioga e Praia Grande aumentaramm significativamente suas proporções de residentes

neste período..

Essa região abriga o maior porto em volume de comercialização da América Latina

e, conforme apresentado na Tabela 1, verifica-se que sua população é superior a 1,6 milhão

de habitantes. Com o décimo maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) das regiões

metropolitanas do Brasil, a região se destaca pelos índices elevados de escolaridade,

alfabetização, expectativa de vida e PIB (Produto Interno Bruto) per capita, sendo

identificada, no Brasil, como uma região de alta qualidade de vida, o que historicamente

tem atraído uma migração com perfis etários e socioeconômicos muito diferentes.(

IBGE,2010).

Urbanização e Transformação Ambiental da Baixada Santista

Até meados do século XIX, a economia da região baseava-se na agricultura

e na pesca de subsistência, além da atividade portuária, ainda incipiente e não

organizada. A partir do início do século XX, a base agrícola e extrativa regional foi sendo

paulatinamente substituída pela bananicultura e pela atividade portuária organizada, que

passa a ter importância cada vez maior na região e no Estado. Essa atividade sofre grande

impulso no final do século XIX, com a implantação da ferrovia ligando a região - mais

especificamente o porto ao interior do Estado - fator este que veio a acelerar o processo de

urbanização e desenvolvimento econômico.

Inicialmente, as atividades que desencadearam mais fortemente o processo

de desenvolvimento econômico regional foram a bananicultura e, posteriormente, o

comércio e a exportação de café, através do porto. Essas atividades foram responsáveis

pelo crescimento da população urbana de Santos e pelo espalhamento e fixação da

população no entorno, especialmente nas áreas onde havia produção de banana visando à

exportação, situadas na parte mais ao sul da região. A cultura da banana foi responsável,

inclusive, pela extensão da malha ferroviária em direção ao sul da região e do Estado,

através do ramal Juquiá, da Estrada de Ferro Sorocabana.(BARROCAS,2013).

Por outro lado, a atividade portuária foi sendo ampliada conforme ocorriam o

crescimento das cidades do interior e o avanço da agricultura, especialmente a cultura do

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café, no planalto paulistano, em direção ao interior. O aumento da produção, o comércio e

a exportação do café propiciaram, também, condições para a implantação e extensão das

estradas de ferro, para escoamento dos produtos agrícolas e importação e comércio de

produtos manufaturados do exterior.

A proximidade do Porto de Santos com São Paulo – aproximadamente 68 km, entre

o principal centro industrial e consumidor de produtos – assim como as propriedades do

porto, foram condicionantes significativas do desenvolvimento da própria cidade de São

Paulo, bem como de todo o Estado.

A partir da 2ª metade do século XX, com a instalação da Refinaria de Petróleo

Presidente Bernardes, no município de Cubatão, no sopé da serra do Mar, inicia-se a

implantação do ainda hoje importante polo petroquímico e siderúrgico de Cubatão, que

também foi o responsável pela atração e fixação de outro fluxo de migrantes e

imigrantes.(GONÇALVES,2006).

No contexto histórico atual, conjuntamente com o Porto de Santos, a economia da

região também se encontra fortemente alicerçada no polo industrial de Cubatão, que conta

com grandes instalações industriais de base, nos setores petroquímico e siderúrgico,

polarizados pela existência da Refinaria de Petróleo Presidente Bernardes e pela

Companhia Siderúrgica Paulista – Cosipa, onde se produz o maior percentual de aço

utilizado nas indústrias automobilísticas instaladas no Brasil.

A localização desse polo em Cubatão deveu-se, basicamente, aos fatores:

disponibilidade energética, localização estratégica e acessibilidade. A disponibilidade

energética foi viabilizada pelo aproveitamento dos desníveis topográficos, existentes entre

o planalto no alto da serra do Mar e a região litorânea, que se configuram num plano de

baixada, com grande disponibilidade energética.

Desde o início do século XX, são aproveitados os potenciais e condições favoráveis

à geração de energia elétrica para abastecimento residencial, portuário e industrial da

região, como também da Grande São Paulo, com a instalação do complexo hidroelétrico

Billings e Henry Borden. A disponibilidade hídrica formada pelos rios que nascem no

planalto e descem a vertente da serra, bem como a água resultante do processo de geração

de energia que é lançada no canal de fuga da usina, também proporcionaram uma farta

oferta de água para uso nos processos industriais. (AFONSO,2006).

Outro fator de desenvolvimento do polo foi a disponibilidade de transporte,

representada pela proximidade do Porto de Santos, que permitia a exportação de produtos e

a importação de matéria-prima e equipamentos, bem como o transporte ferroviário que

permitia o acesso à capital e, a partir daí, para o interior do país.

Por outro lado, lamentavelmente, ainda hoje, permanece a triste memória dos

graves problemas de descontrole da poluição ocorridos na década de 1970 e 1980, com

episódios críticos de poluição aérea, que geraram casos de anencefalia, chuva ácida, perda

de vegetação e escorregamentos na serra; contudo, após volumosos investimentos nos

processos e métodos de produção e controle ambiental, a situação foi revertida.

O polo industrial de Cubatão ainda se caracteriza por ser um dos mais importantes

do país, mantendo sua atratividade no tripé formado pela disponibilidade de energia – hoje,

não mais produzida pela usina Henry Borden, que funciona a plena carga somente em

momentos de pico – mas pelo sistema interligado de energia elétrica, o gás natural da bacia

de Merluza e do petróleo refinado na Refinaria Presidente Bernardes; o transporte

rodoviário e ferroviário, bem como pela localização estratégica, que permite a proximidade

com o mercado globalizado, representado pelo Porto de Santos, e o acesso fácil ao

mercado representado pela cidade e pelo Estado de São Paulo, bem como com os demais

mercados do país e do Mercosul. O polo industrial de Cubatão continua a ter sua base na

indústria petroquímica e siderúrgica. (GONÇALVES,2006).

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O Porto de Santos – após o grande período de expansão e crescimento físico e de

movimentação de cargas, experimentado na primeira metade do século XX, nas décadas de

1980 e 1990, coincidindo com as crises econômicas conjunturais do país, com o processo

de estatização do porto e com o final da concessão à Companhia Docas de Santos – passou

por um período de reestruturação e concessão das áreas portuárias para empresas privadas,

que, de certa forma, tem resultado em sucessivos recordes de movimentação de carga,

embora com grande redução de empregos.

Com as concessões de operação para a iniciativa privada, houve um melhor

desempenho das cargas movimentadas, com uma significativa redução da massa de

trabalhadores na atividade, que passou de, aproximadamente, 16.000, no final da década de

1980, para cerca de 12.600, no final da década de 1990.(GONÇALVES,2006).

A pujança econômica propiciada pelas atividades portuárias e industriais, aliadas à

construção de infraestruturas de energia, abastecimento e acessibilidade à região, ocorridas

a partir da segunda metade do século XX - culminando com a construção da segunda pista

da Rodovia dos Imigrantes - atraiu uma grande massa de trabalhadores da construção civil

que, sem qualificação, findas as obras, se instalaram na região, acomodando-se na indústria

da construção civil, principalmente aquela voltada ao turismo de veraneio.

Recentemente, a região da Baixada Santista, com destaque para a sua maior cidade

– Santos – tem apresentado um crescimento urbano vultuoso que está associado aos

investimentos da indústria do petróleo no Brasil. A descoberta de novos campos de

exploração do recurso natural está atualmente alterando a paisagem e o espaço da área

metropolitana, com importantes transformações se refletindo na dinâmica demográfica

regional.

Considerações Finais

A indústria de transformação da RMBS encontra-se bastante concentrada na

produção do polo petroquímico, químico e siderúrgico de Cubatão e, em menor escala, na

fabricação de equipamentos de transporte – segmentos que deverão ter expressivo

desenvolvimento com o apoio às atividades de exploração de petróleo e gás.

O porto de Santos, o turismo de veraneio e a indústria do polo de Cubatão

caracterizaram, até recentemente, a estrutura econômica, a cultura, a urbanização e a

paisagem da região. Recentemente, a indústria extrativa vem ganhando espaço, em função

da exploração de petróleo e gás, contando com investimentos maciços por parte da

Petrobrás e empresas parceiras, em águas profundas da bacia de Santos. Vislumbra-se,

portanto, um novo ciclo econômico, trazendo, em seu bojo, diversos impactos sobre a

região.

A própria indústria de base de Cubatão, dentro da perspectiva de subsidiar a

exploração do petróleo e gás, vem se estruturando para agregar maior valor aos produtos

que fabrica. Nessas condições, a Baixada Santista enfrentará o desafio de interiorizar as

novas atividades de apoio requeridas pela Petrobrás e empresas parceiras, sem, contudo,

descaracterizar o meio ambiente e comprometer as demais atividades econômicas,

particularmente, o turismo.

Os ecossistemas costeiros estão constantemente expostos ao risco da degradação

ambiental, sob pressão do fluxo de transporte de cargas do Porto de Santos e de seu

entorno, da disposição de resíduos e esgotos do Porto e das cidades da região, dos

derramamentos de óleo e outras substâncias tóxicas. Some-se a isso, o aumento

populacional nos períodos de pico turístico sazonal, em alguns de seus municípios, além da

grande massa de trabalhadores da construção civil que se instalou nas encostas e nos

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manguezais, ou ainda, em áreas periféricas, dada a inviabilidade de construção de

habitação popular na zona costeira.

A verticalização e a valorização imobiliária crescentes, aliadas às condições

naturais de uma área insular e com falta de espaço físico para a expansão horizontal da área

urbana, tem provocado uma intensificação do adensamento urbano no núcleo central da

região metropolitana. Com isso, observa-se uma elevação da renda da terra urbana,

transformando-a, cada vez mais, em um valor de troca pouco acessível à população de

baixa renda.

Na Baixada Santista, como em todas as áreas urbanas do litoral brasileiro, o preço

do solo é alto e as áreas centrais são ocupadas pelas camadas de maior poder aquisitivo; na

periferia, se concentram os imóveis de baixo valor imobiliário, próximo às áreas de

subemprego ou mais afastados, como os aterros ferroviários e rodoviários, encostas

serranas e manguezais, ou ainda, áreas sem interesse imediato para os empreendedores

imobiliários - essas terras vêm sendo ocupadas por bairros populares ou por assentamentos

espontâneos, não planejados. (AFONSO, 2006).

Do ponto de vista demográfico, dois movimentos contraditórios podem ser

observados: se, por um lado, há hoje uma migração de uma parcela da população de alto

poder aquisitivo e social para a região, atraída pela oportunidade de desfrutar de uma boa

qualidade de vida, associada às novas opções de moradia, lazer e trabalho na região, há

uma outra parcela da sociedade - a de menor poder aquisitivo - que vem sendo

gradualmente excluída desse espaço metropolitano central. A opção deste segmento da

população é migrar para os demais municípios da região metropolitana, como os

municípios de São Vicente, Praia Grande e Guarujá, que, forçosamente, também irão

passar por um processo de transformação urbana para acolher esses migrantes, que buscam

uma renda da terra menor e um custo de vida mais baixo.

Ou seja, as complexas transformações urbanas e demográficas da região irão

ocorrer no escopo da lógica social excludente e de fragmentação regional.

Confinada entre o litoral e a Serra do Mar, a região é dotada de complexa relação

ambiental, populacional e econômica, reunindo vocações econômicas aparentemente

contraditórias, como os complexos portuário e industrial de grande porte e a atividade

turística, em meio a reservas e áreas de proteção ambiental.

Retomando nossa questão inicial, acerca das condições de sustentabilidade urbana

de uma região, cabe ressaltar que, conforme fartamente explorado pela literatura, a

sustentabilidade urbana é definida a partir de um conjunto de prioridades, tais como:

superar a pobreza, promover a equidade, melhorar a segurança ambiental e prevenir a

degradação, sem gerar externalidades negativas para outras regiões e para as gerações

futuras.

A partir disso, prospecta-se para a RMBS um longo trabalho de gestão pela frente,

embasado em políticas públicas consistentes, de forma a vencer os aspectos sociais,

econômicos e ambientais deficitários, do ponto de vista da sustentabilidade.

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