andré murat e lucas ferreira bilate

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NOTAS SOBRE A CIDADANIA LGBT E A RELIGIÃO N A BAIXADA FLUMINENSE André Murat 1 Lucas Ferreira Bilate 2 Todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao  público, independentemente de autorização, desde que não frustre m outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo exigido prévio aviso à autoridade competente. Constituição da República Federativa do Brasil, Artigo !, " #$% &CF art'1(), %$ *sta co+unicação ea+ina e+bates na es-era pública, relativos aos direitos e cidadania de pessoas não .eterosseuais, to+ando co+o ob/eto aç0es, reaç0es e discursos de di-erentes atores, grupos e organiaç0es' roble+atia distintas vis0es de +undo, conceituaç0es de liberdade, viol3ncia, de+ocracia e /ustiça, a partir das tens0es entre u+a proposta de universaliação dos direitos .u+anos e a eist3ncia de distintas co+unidades locais' 4 ponto e+ 5uestão é /usta+ente a co+preensão do +odo co+o u+a proposta global de direitos é apropriada e+ n6veis locais' ara tanto, elege+os o +unic6pio de 7u5ue de Caias, na Baiada Flu+inense ( , na região +etropolitana do *stado do Rio de 8aneiro, co+o -oco de nosso trabal.o' 1  8ornalista, 9raduando e+ Ci3ncias :ociais pelo Centro de es5uisa de ;ist<ria Conte+por=nea do Brasil >C74C?, F9$@ colaborador e+ pes5uisa /unto ao :%MMFR8@ pes5uisador do rogra+a de estudos e+ gestão social, *9:, *BA*, F9$' 2  9raduando e+ Ci3ncias :ociais pelo %FC:FR8 e Bolsista Faper/ pelo 9A:MFR8' 3  A concepç ão de Drea 5ue utili a+os abrange 1( +unic 6pios E%tagua 6, :eropé dica, araca+bi, 8ape ri, uei+ados, ova %guaçu, Mes5uita,il<polis, Bel-ord Roo, :ão 8oão do Meriti, 7u5ue de Caias, Magé e 9uapi+iri+E 5ue, /unta+ente co+ as cidades do Rio de 8aneiro, iter<i e :ão 9onçalo, a Região Metropolitana do Rio de 8aneiro ou o 9rande Rio' Co+ u+a população de +ais de ( +il.0es de .abitantes, a Baiada Flu+in ense te+ co+o núc leo os +unic6p ios de 7u5ue de Caias, :ão 8oão de Meriti, Bel-ord Roo, il<polis e ova %guaçu E este últi+o tendo sido .istorica+ente des+e+brado e+ 5uase todos os de+ais 5ue .o/e co+p0e+ a região, por +eio das e+ancipaç0es 5ue tivera+ in6cio na década de 1)GH >7u5ue de Caias, :ão 8oão de Meriti e il<polis?@ as últi+as tendo ocorrido na década de 1))H, logo ap<s a pro+ulgação da Constituição de 1)II' >Bel- ord Roo, uei+ados, 8ape ri e Mes5uita? 1

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NOTAS SOBRE A CIDADANIA LGBT E A RELIGIO NA BAIXADA FLUMINENSE

NOTAS SOBRE A CIDADANIA LGBT E A RELIGIO NA BAIXADA FLUMINENSE

Andr Murat

Lucas Ferreira Bilate

Todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao pblico, independentemente de autorizao, desde que no frustrem outra reunio anteriormente convocada para o mesmo local, sendo exigido prvio aviso autoridade competente.

Constituio da Repblica Federativa do Brasil,

Artigo 5, XVI

CF art.139, IV

Esta comunicao examina embates na esfera pblica, relativos aos direitos e cidadania de pessoas no heterossexuais, tomando como objeto aes, reaes e discursos de diferentes atores, grupos e organizaes. Problematiza distintas vises de mundo, conceituaes de liberdade, violncia, democracia e justia, a partir das tenses entre uma proposta de universalizao dos direitos humanos e a existncia de distintas comunidades locais. O ponto em questo justamente a compreenso do modo como uma proposta global de direitos apropriada em nveis locais. Para tanto, elegemos o municpio de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, na regio metropolitana do Estado do Rio de Janeiro, como foco de nosso trabalho.

Em outubro de 2009, a proibio da Parada LGBT do municpio de Duque de Caxias gerou uma controvrsia. O prefeito impedira a realizao do evento e apresentara como argumento em entrevistas concedidas a jornais e pginas de internet o fato de ter recebido cartas de lderes religiosos com posicionamentos contrrios a manifestao, alegando que a Parada feria os valores da famlia. O fato foi percebido por diferentes segmentos sociais como relacionado ao de setores fundamentalistas e conservadores. A mdia retratou o acontecimento como atitude de preconceito e discriminao, ligado a presso de grupos catlicos e evanglicos que rechaavam tal manifestao coletiva em nome dos valores da famlia e da religio. Na seqncia dos eventos, novas negociaes entre o prefeito e os militantes LGBT do municpio foram responsveis pela definio de uma nova data para a Parada. Para isso, ele convocou duas reunies com os lderes do movimento social local.

cabeceira de uma enorme mesa, o Prefeito do Municpio de Caxias conversou com militantes LGBT, acompanhado de secretrios da Casa. Em tom alterado, o chefe do Executivo dizia se sentir pressionado pela repercusso que a proibio do evento havia gerado. Procurava esclarecer que em momento algum havia sido preconceituoso, at porque conhecia Tatiana [transexual, presidente do Grupo Pluralidade e Diversidade de Caxias, ONG militante LGBT do municpio] e gostava dela. No entanto, reclamara ter sido apenas avisado sobre o evento. O prefeito ento disparou: Est errado comunicar o evento! Aqui as pessoas pedem autorizao e a Prefeitura autoriza! Voc [dirigindo-se a Tatiana] distribuiu o panfleto sem nem conversar comigo! Sabe como eu vi isso? Como uma queda de braos! Prontamente, Tatiana argumentou que no se tratava de uma queda de braos e pediu: Por favor, me ajuda.

A cena descrita sugere algumas pistas para elucidar as relaes entre movimento social, diversidade sexual e Poder Pblico, nesse contexto local. Esta comunicao tem como objetivo explorar algumas das controvrsias que se estabelecem na interseo entre os temas religio e cidadania de pessoas LGBT. Reflete sobre uma proposta de Direitos Humanos universais e o modo como estas repercutem e so apropriadas em contextos locais. A partir dos embates encenados em torno da Parada LBGT em Duque de Caxias, procura explorar as configuraes do poder local, apontando as especificidades da atuao poltica dos movimentos sociais e relao entre distintos atores sociais. Este recorte est inserido em uma preocupao ampla com a anlise de respostas sociais ao reconhecimento dos direitos das pessoas LGBT, na regio metropolitana do Rio de Janeiro, focalizando a Baixada Fluminense. Partindo da constatao de uma pluralidade de aes do Poder Pblico voltada para reduo do preconceito e discriminao contra a diversidade sexual na sociedade brasileira (Natividade e Oliveira, 2009), o interesse discutir formas locais de organizao coletiva e apropriao desses discursos, bem como relaes de poder nesse contexto.Desde a Conferncia Mundial de Direitos Humanos, realizada em junho de 1993, na cidade de Viena, setores do Poder Pblico brasileiro e entidades de defesa de direitos de minorias iniciaram um movimento de definio de ideais, medidas e metodologias a serem aplicadas em mbito nacional. Tais resolues buscavam um lugar de comunho entre a poltica interna do pas com a Declarao e Programa de Ao de Viena, consensualmente reconhecida pelo Brasil na Conferncia. elaborao de uma Agenda Nacional de Direitos Humanos seguiu-se, em 1996, o lanamento de um Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH I). Em 2002, a implementao do PNDH II, seguida pelo Programa Brasil sem Homofobia, representa um avano das polticas sociais, que tm como fundamento, o posicionamento do Estado brasileiro em uma perspectiva internacional. Isto no s aponta, como destaca o compromisso nacional com uma poltica que vise reduo do preconceito e discriminao contra minorias sexuais (Guimares, 2008).

A partir deste contexto, voltamo-nos investigao das reverberaes que a internalizao de direitos universais geram em comunidades locais distintas. Em especial, apreciamos em nossas anlises, lgicas culturais religiosas que legitimam, num espao pblico, lugares assimtricos e hierrquicos de poder. Discursos esses que apontam, fundamentalmente, para mecanismos de estigmatizao de populaes LGBT.

Discursos sobre a Parada Proibida

Voltemos descrio etnogrfica para explorar mais atentamente os episdios ocorridos em 2009. A reunio estava marcada para as 14 horas na Prefeitura de Duque de Caxias, no prprio gabinete do prefeito. O assunto em pauta era as paradas gays do municpio, especificamente a do dia 15 de Novembro do mesmo ano. Como a controvrsia da no realizao da primeira parada permanecia, o ento prefeito do municpio marcara uma reunio com o Grupo Pluralidade e Diversidade de Caxias, GPD, presidido por Tatiana, para conversar sobre o acontecido.

A reunio teve incio por volta das 14h20min, numa sala de gabinete, com uma mesa de uns 12 lugares, onde se sentaram s pontas: o representante do Estado, prefeito; e a representante de um segmento social, Tatiana. Prximos a ele estavam seus assessores e secretrios de cultura e segurana. Prximos a ela estavam a presidente e o vice-presidente do Grupo Arco-ris [ONG LGBT do municpio do Rio de Janeiro]; o vice-presidente do GPD; um integrante do GPD e uma advogada. volta da mesa, tambm nas cadeiras, estava um fotgrafo (funcionrio da Prefeitura).

O prefeito comeou a reunio, dizendo mais de uma vez que em nenhum momento fora preconceituoso, e ressaltou algumas vezes o fato de conhecer Tatiana e gostar dela. Sua primeira fala dizia justamente que no havia sido preconceituoso porque ali na prefeitura havia muitas coisas que uma grande parcela das pessoas no tem coragem de falar, ali existiriam, segundo ele, os assumidos e os escondidos referindo-se a existncia de homossexuais sob seu comando o que, para ele, demonstraria sua simpatia.

Dois assuntos estiveram basicamente permeando todo o encontro. O primeiro, abordado a todo o momento e evocado principalmente pelo prefeito, era a autorizao que deveria ter sido solicitada prefeitura para a realizao da Parada Gay. Ele logo dizia: Est errado comunicar o evento, aqui as pessoas pedem autorizao e a prefeitura autoriza o evento!. Ou seja, para o prefeito, o GPD deveria ter pedido autorizao para o Estado a fim de realizar o evento e no ter decidido por si prprio. Outra grande questo foi a proposta da Prefeitura da mudana da localizao da Parada. O prefeito props que ela fosse realizada na Avenida Presidente Kennedy e no mais na Avenida Brigadeiro Lima e Silva (principal avenida da cidade).

Do lado da prefeitura, alguns secretrios e o prprio prefeito defendiam a realizao na Presidente Kennedy com argumentos muito concretos; o representante dizia que l que se fazem os desfiles carnavalescos e, tambm por ser um lugar estritamente comercial, iria amenizar as possveis crticas ao evento. Segundo ele, a Brigadeiro uma rua muito residencial e tambm com muitas transversais. Como o que acontecia era que os participantes das Paradas cometiam atos de atentado ao pudor, e muitos inclusive transavam nas ruas transversais o evento no poderia ser realizado l. Por isso, as crticas dos moradores contra a realizao do evento, ele argumentava. Sua sugesto era fazer a Parada noutro lugar, mais comercial e isolado, para que assim ningum reclamasse e todos fazerem o que quiserem.

Tatiana argumentava que a Brigadeiro era uma avenida maior e justamente por ser a principal do municpio garantiria maior visibilidade ao evento. O vice-presidente do Grupo Arco-ris, falou da importncia histrica das paradas pelo orgulho LGBT e usou o exemplo da Parada de Copacabana para demonstrar tanto a lucratividade quanto importncia poltica do evento: Caxias no pode ficar atrs do que j est acontecendo no Brasil. A secretria de cultura do municpio logo contra-argumentou dizendo: H o direito da manifestao, mas h o dever de coibir o que atentado ao pudor. Isso os organizadores devem ter na mo. Se a parada piora isso a cada ano pode ser que ano que vem possa no ser interessante ter a parada aqui.

O tema do atentado ao pudor mobilizou grande parte dos debates mesa. Tatiana tambm defendia a coibio deles: A preocupao com os preservativos no para ter sexo no meio da rua, eu vou pedir a todos para no fazerem coisa errada para que depois o senhor [referindo-se ao prefeito] no me ameace. Dizia que na presidente Kennedy j havia prostituio e que isso s vai piorar, enquanto o prefeito contra-argumentava: Mas a no um lugar residencial, ali no vai ningum poder falar. L comercial, o que acontecer tudo bem.

Os dois lados acordavam que coisas erradas aconteciam nas Paradas Gays; do lado da prefeitura esse argumento era usado como uma acusao e um forte motivo para a mudana do endereo do evento. J para o GPD, o atentado ao pudor era objeto de mea-culpa e deveria ser combatido pela conscientizao dos participantes da Parada. Seria papel do movimento informar aos presentes o carter de reivindicao poltica da Parada e reprimir, com forte esquema de segurana, o atentado ao pudor. A presidente do Grupo Arco-ris comentou os esforos em coibir os crimes durante o evento no Rio de Janeiro: A parada gay bem mais tranqila, por exemplo, que os rveillons em Copacabana. L os heteros transam fazendo rodinha e praticamente impossvel de se conter. Na Parada Gay acontece, mas a gente tem segurana para isso e se tiver que coibir a gente cobe.

A comparao feita irritou o prefeito. Batendo com a palma da mo estendida na mesa, interrompeu: Aqui ns queremos falar de realidade, vamos falar de realidade!. Por a se desviou o foco dos atentados ao pudor para outra importante questo: a autorizao da Prefeitura. O representante explicou como um evento deveria ser organizado na Prefeitura de Caxias: As pessoas fazem o pedido e depois a gente autoriza. Ns fizemos o contrrio. Eu vou fazer um documento onde a prefeitura no se responsabiliza por nada e tambm no vai atrapalhar nada. Voc [referindo-se a Tatiana] distribuiu o panfleto sem nem conversar comigo. Sabe como eu vi isso? Como uma queda de braos. Eu no sou contra, mas as coisas foram mal encaminhadas. Prontamente, Tatiana argumentou que no se tratava de uma queda de braos e pediu: Por favor, me ajuda.

Como durante a reunio poucos acordos foram efetivamente firmados, o prefeito decidiu marcar outra reunio para a semana seguinte onde apresentaria seu projeto para a realizao da Parada na Avenida Presidente Kennedy. Tatiana defendeu a permanncia do evento na Brigadeiro Lima e Silva e exps suas razes. Se, por um lado, a Kennedy era distante, de percurso curto e garantiria pouca visibilidade, por outro (usando o argumento do prefeito), a realizao na Kennedy tambm propiciaria uma efuso dos atentados ao pudor, visto que ali era um conhecido ponto de prostituio.

A princpio o segundo encontro, na segunda-feira seguinte ao primeiro, seria na prpria Prefeitura, com a presena do prefeito, mas fomos at a Secretaria de Segurana Pblica do municpio. Eram perto de 16 horas e a reunio seria s 17, esperamos l at que Tatiana chegasse acompanhada de lideranas do movimento social LGBT do Rio de Janeiro e Niteri. Quando chegaram, fomos at a sala do coronel da Guarda Municipal de Duque de Caxias. Ali ele nos esperava acompanhado do Secretrio de Transportes e Trnsito para conversarem sobre a realizao da Parada. Na primeira reunio a indeciso tinha sido quanto ao lugar onde ela seria realizada. A presidente do GPD e os outros ainda se perguntavam onde seria, na Brigadeiro ou na Kennedy.

Logo quando entramos na sala o secretrio pediu desculpas pela ausncia do Prefeito justificando-a com a ida dele Braslia. Tanto um (secretrio) quanto o outro (coronel) pareciam conhecer Tatiana. O prprio secretrio a chamou diversas vezes de dedo de ouro num tom que parecia ser de brincadeira. Ele e o coronel logo pediram que todos se acomodassem e discutiram: Quem vai dar a notcia? Eu ou voc?, dizia o secretrio e logo ele mesmo respondia: D logo voc. O coronel ento disse que o prefeito tinha mantido o projeto de realizar a Parada na Presidente Kennedy e assim seria feito. Logo depois, desmentindo a sua brincadeira, retomou: O evento ser mesmo na Brigadeiro, mas vocs no podero ir at a praa Roberto Silveira.

Tatiana, agradecendo, perguntou o por qu do trajeto interrompido e o secretrio de transportes e trnsito informou: Teremos nesse mesmo dia dois grandes eventos ali na mesma rea. O teatro estar sendo utilizado e tambm tem a festa ali mais adiante. Se vocs foram muito mais a frente vai acontecer uma circulao muito maior de veculos e pessoas por ali, e ns no podemos fazer isso. A justificativa era, portanto, relatada como uma questo de circulao e trnsito.

Parecendo compreender os motivos evocados pelos dois, Tatiana seguiu a conversa perguntando dos trios: por onde passariam? Haveria um esquema de trnsito para garantia a passagem deles? Suas respostas foram afirmativas, o secretrio e o coronel disseram que haveria toda a estrutura tanto de trnsito quanto de guarda municipal, tal como era feito antigamente.

Decididas e acertadas as questes do trnsito e da presena da guarda municipal, o coronel e o secretrio alertam: Agora, Tatiana, por favor: cuidado que o Ministrio Pblico est de olho nisso tudo. A irritao de quem assiste pode vir contra o prefeito e tem uma jogada poltica a... eles vo estar l de espio. O tom suspenso de advertncia parecia significar que o Ministrio Pblico estaria pressionando o prefeito por conta da proibio da primeira Parada e que por isso ele seria capaz de jogar a culpa na organizao do evento. Combinados os prazos e ressaltados os documentos ainda faltosos, o secretrio e o coronel se despediram ainda alertando a todos sobre a fragilidade daquele momento. Segundo eles, o Ministrio Pblico manda cartas toda semana para a Prefeitura cobrando irregularidades e respostas a elas, dizia o secretrio: Eu mesmo a cada semana recebo umas trs, e o coronel dizia: A coisa que eu mais fao aqui responder ao Ministrio Pblico. Para eles o evento deveria ser muito bem organizado para que no desse margem a crticas e aes no Ministrio.

Consideraes Finais: relaes polticas na Baixada Fluminense

Creonte:

em nome de outrem que estou governando esse pas?

Hmon:

Ouve, no h estado algum que pertena a um nico homem.

Creonte

No pertence a cidade, ento, a seu governante?

Hmon:

S num pas inteiramente deserto terias o direito de governar sozinho!

(Sfloces, Antgona c.496 AC-406 AC).

[...] mas, seja pela ineficcia com que tem funcionado entre ns esses mecanismos, seja pela urgncia na soluo da questo social, h necessidade de corrigir a natureza privatizada de nosso Estado pela organizao da sociedade, e desenvolver mecanismos alternativos de representao e implementao de polticas. No poderemos construir uma cidadania, leia-se democracia, slida sem dar maior embasamento social ao poltico, isto , sem democratizar o poder.

(Jos Murilo de Carvalho ,2001D.C..)

A controvrsia que envolveu a proibio da Parada Gay de Caxias ilustra como as configuraes de poder locais organizam lgicas prprias segundo as quais as aes polticas e as relaes so orientadas. A expresso das tenses entre os representantes da militncia LBGT e representantes do Estado destaca uma configurao de poder que pode ser vista como caracterstica de uma cultura poltica localista, centralizada no Estado patrimonialista, de slidos laos clientelsticos em sua estrutura de representao de interesses. Porm, cabe aqui explorar os modos como, nessa regio, as idias do que e como seja poltica (aes, relaes e instituies polticas) foram delimitados culturalmente e entend-los como estruturas culturais com as quais os indivduos e grupos lidam para agir.

A Baixada Fluminense constituiu historicamente um modo sui generis de vida poltica, cuja caracterstica mais marcante um destacamento, s vezes radical, de um contexto nacional. Uma conjuntura de aguda carncia de direitos sociais, existentes desde a poca da ocupao colonial da rea, somando-se a outros advindos da no absoro do grande nmero de migrantes nordestinos que vieram a se estabelecer no entorno do Rio de Janeiro entre 1950 e 1980 so as condies que construram o terreno para o desenvolvimento da poltica baixadense.

Neste contexto, o sentido de cidadania para essa comunidade consistia em associar-se personagens de aes polticas quase todas relacionadas a alguma tentativa de resolver problemas prticos e imediatos sobreviventes devido inexistente, pequena ou incmoda presena estatal (MONTEIRO, 2007). Sintetizando a dinmica e a configurao de poder que se alocava nas comunidades da Baixada Fluminense, Monteiro (2007) desenvolve o conceito de Rede de resoluo de problemas prticos, que, em suas palavras, busca:

[...] explicar a forma como a populao dos bairros proletrios da Baixada Fluminense organizava-se a fim de realizar a grande quantidade de servios de natureza pblica no efetivados pelos rgos estatais, nos bairros originrios dos loteamentos baixadenses. (MONTEIRO, 2007, P.20)

O conceito de cidadania, que utilizamos no presente trabalho, contempla o sentido moderno, descrito por Jos Murilo de Carvalho (2001) como a integrao das pessoas no governo via participao poltica, na sociedade, via garantia de direitos individuais, e no patrimnio coletivo, via justia social . Ainda apoiado nas reflexes do autor, percebe-se que, apartados do acesso aos centros de poder, a sociedade baixadense desenvolvera, ao longo dos anos, uma Estadania, ou seja, uma rede clientelista de distribuio particularista de bens pblicos, em que a figura do Executivo demasiadamente valorizada face aos demais artifcios de representao de interesses.

Primeiramente, os lideres populares elegeram-se vereadores e prefeitos dos municpios emancipados na dcada de 90. Logo em seguida, estes mesmos lderes ocuparam a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, migrando, progressivamente, para o Legislativo Federal, atravs de padrinhos polticos e novas associaes (MONTEIRO 2007). Este alargamento da dinmica foi acompanhado pela crescente solidificao das configuraes de poder local, ou seja, a massiva ocupao destes lderes nos cargos Executivos locais. Como consequncia destes movimentos:

Paralelamente, as lideranas no relacionadas diretamente com estes novos agentes polticos ou se eclipsaram ou passaram a gravitar em torno das figuras destacadas dos lderes comunitrios.(MONTEIRO, 2007, P.46)

O fenmeno no recente. Obedece a matrizes antigas dentre as quais se pode destacar o caso de Tenrio Cavalcanti. Importante personagem poltico, seguindo a regra, outrora lder comunitrio e matador, Tenrio criou ao longo de sua carreira poltica um sistema assistencialista e apoiou-se flagrantemente na prtica da violncia como estratgia de ganho e manuteno de poder poltico (MONTEIRO, 2007, P.58). Tenrio Cavalcanti era proclamado, pela mdia local, como O Homem da capa preta , sempre acompanhado pela sua metralhadora, Lurdinha; podendo ser considerado como modelo[...] emblemtico da visibilidade do fazer poltico na baixada Fluminense entre as dcadas de 1950 e 1970 (BARRETO, 2006).

Tal considerao nos redireciona para a observao da superfcie cultural em que se fora construda a simbologia de liderana e de representao de interesses na baixada: entorno de polticos patrimonialistas, em que o chefe executivo, ou lder, tem seu poder reforado pelo amplo apoio de sua comunidade. Contudo, as metamorfoses acompanhadas, especialmente as advindas da legitimidade destes chefes polticos encontram no maior relacionamento do poder local com o Estado, que pode ser visto como bem destacou Weber como, por si, burocrtico e impessoal possui uma forma prpria se configurar. Desta maneira, atravs da adequao dos discursos, e no mais apenas em aes, que possvel observar a dinmica de relacionamento entre o poder local com a crescente investida das polticas globais:

Se na bruxaria lacte, cest le verbe (Favret-Saada, 1998), na poltica no seria diferente. O bruxo, o mgico, o profeta e o poltico tm em comum a palavra como fora-motriz de uma ao distncia. A palavra engendra uma rede de aes, reaes e relaes. Assim, na guerra da poltica a palavra sua ferramenta por excelncia. Mas no somente a palavra, a ela soma-se o gesto, a imagem. A publicidade (aqui entendida como englobando o marketing poltico) torna-se assim o instrumento por excelncia dessa guerra. (BARRETO, 2006)

O conceito de Rede de resoluo de problemas prticos (MONTEIRO, 2007) tambm pode ser utilizado para pensar a especificidade da atuao poltica da militncia LGBT nesse contexto de modo a observar alm das relaes polticas entre militncia e Poder Pblico. Durante a pesquisa etnografamos dezenas de eventos realizados pelas ONGs em diversos municpios do Estado do Rio de Janeiro, o que possibilitou que observssemos mais atentamente as lgicas culturais especificas de atuao. No Dia Mundial de Luta contra a Homofobia, em Mesquita, o modo como a militncia LGBT parece se posicionar e atuar nesse contexto foi posto em evidncia. O evento, realizado pela ONG Amigos e Gays de Nova Iguau e Mesquita tinha o propsito, de acordo com os informantes, de distribuir folderes e ofertar dois servios populao, verificando a presso arterial e receitando remdios homeopticos: hoje estamos distribuindo folderes, panfletos e folhetos e fazendo essa ao comunitria, disse uma das integrantes da ONG. A ao comunitria a qual se referia era percebida como um atrativo para a populao. A oferta de servios de sade era compreendida, portanto, como parte da atuao poltica contra a homofobia, como podemos perceber na fala de outra informante que ressalta o carter especfico da atuao da militncia na Baixada Fluminense em comparao a cidade do Rio de Janeiro: Na verdade isso funciona melhor, atrai a populao. Na medida do possvel que voc faz a conscientizao, melhor do que vir e ficar gritando o que a homofobia. Aqui a populao to carente de tudo que qualquer coisa que voc oferea para a populao j uma festa. O que funciona no Rio aqui no funciona. Percebemos, portanto, que tanto as relaes e aes polticas da esfera que pode ser vista como do Estado quanto aquelas da militncia social so orientadas pelo modo como a poltica pensada e praticada nesse contexto.

Para alm destas dimenses, temos verificado, em mbito nacional e local, partindo dos resultados de diversas pesquisas, a interferncia de valores e instituies religiosas em movimento contrrio aquisio de direitos por lsbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (Natividade e Lopes, 2009). Tal perspectiva interventiva se apresenta como atitude de forte rejeio moral em face de comportamentos e estilos de vida percebidos como ameaadores aos seus valores e vises de mundo, expressando, muitas vezes, pnicos morais (Natividade e Oliveira, 2009). A esse respeito, o socilogo Mikolsci (2007) esclarece ao reconstituir historicamente o desenvolvimento de medos coletivos que tais rejeies se ancoram em temores relativos aos resultados que grandes mudanas possam ter sobre os padres normativos dominantes. Desta forma, a disputa poltica local incorpora em seu arsenal discursivo elementos que fazem com que o clientelismo utilizado para pensar o funcionamento das instituies brasileiras no possa mais ser acionado exclusivamente para explicar a conjuntura poltica em vigor na Baixada.

Nosso interesse voltou-se para a Baixada Fluminense por ser uma rea de intensa vitalidade religiosa. Registros dos Dirios Oficiais desta regio apontam que so criados 05 templos evanglicos por semana, para cada templo de matriz africana (Fernandes, 1998). Considerando que [...] a retrica religiosa apregoa que a destruio dos valores da famlia brasileira avana na mesma medida que os homossexuais conquistam seus direitos [...], faz se urgente o estudo das relaes destes discursos com o Poder Pblico em suas distintas instncias.

Outras diferentes articulaes sugerem uma participao religiosa mais direta em instncias decisrias do pas. Dados obtidos em pesquisa apontam a existncia de uma impermeabilidade do Poder Legislativo s questes LGBT em Cmaras Municipais da Baixada Fluminense (NATIVIDADE & BILATE, 2010). Percebe-se que so aprovados poucos Projetos de Lei que contemplem populaes no heterossexuais, principalmente quando comparados s demandas de reconhecimento de associaes, grupos e igrejas evanglicas como Utilidades Publicas. Entrevistas realizadas nesta pesquisa apontaram a dificuldade de polticos locais quanto apresentao de propostas legislativas que contemplem os direitos de gays e lsbicas, bem como evidenciaram o receio quanto perda de apoios, coligaes e votos, caso estes endossassem questes LGBTs. Tal fato se d devido ao cultivo de uma percepo de que direitos das minorias sexuais so contrrios aos valores de uma maioria religiosa. Considera-se que reaes religiosas so, comumente, insufladas por sujeitos que percebem a expanso da visibilidade e aceitao da diversidade sexual como ameaadora, tanto de seus valores, como da prpria ordem social (NATIVIDADE & LOPES, 2009). Desprovidos de jurisprudncia favorvel e de corpo legislativo representativo, a construo da cidadania LGBT, nesse contexto, se encontra vulnervel lgica localista de gesto pblica. Ainda de acordo com Carvalho (2001), A ineficincia do Judicirio e a inadequao do sistema policial excluem a maior parte da populao do gozo dos direitos individuais.

Esta comunicao traz luz, atravs da anlise da proibio da Parada LGBT, o debate de como lutas sociais ocorrem em contextos locais. Ao ordenar a proibio da Parada em nome da preservao da famlia e da religio, representantes do Poder Executivo compareceram esfera pblica, revelando uma percepo da diversidade sexual como imoral e a-social.

A partir de uma densa descrio etnogrfica dessa controvrsia, pretendemos ter iluminado especificidades das relaes entre cidadania LGBT e discursos religiosos nesse contexto local. Deste modo, vlida a indagao: o que os vetos, Executivos e Legislativos, como os que foram apreciados na Parada de Caxias, revelam sobre as lgicas locais de poder na Baixada Fluminense? Refletimos que as estruturas sociais e culturais so significadas, praticadas e re-elaboradas, no apenas no acontecimento das paradas, mas em todo seu processo de negociao. Os episdios aqui apresentados, apesar de demandarem anlises mais aprofundadas sobre diversas dimenses, ilustram os modos como as relaes de poder so, o tempo todo, configuradas e re-configuradas a partir de uma lgica cultural prpria.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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WEBER, Max. Cincia e Poltica: duas vocaes. So Paulo: Martin Claret, 2002. Jornalista, Graduando em Cincias Sociais pelo Centro de Pesquisa de Histria Contempornea do Brasil (CPDOC), FGV; colaborador em pesquisa junto ao NUSIM/MN/UFRJ; pesquisador do Programa de estudos em gesto social, PEGS, EBAPE, FGV.

Graduando em Cincias Sociais pelo IFCS/UFRJ e Bolsista Faperj pelo PPGAS/MN/UFRJ.

A concepo de rea que utilizamos abrange 13 municpios Itagua, Seropdica, Paracambi, Japeri, Queimados, Nova Iguau, Mesquita,Nilpolis, Belford Roxo, So Joo do Meriti, Duque de Caxias, Mag e Guapimirim que, juntamente com as cidades do Rio de Janeiro, Niteri e So Gonalo, a Regio Metropolitana do Rio de Janeiro ou o Grande Rio. Com uma populao de mais de 3 milhes de habitantes, a Baixada Fluminense tem como ncleo os municpios de Duque de Caxias, So Joo de Meriti, Belford Roxo, Nilpolis e Nova Iguau este ltimo tendo sido historicamente desmembrado em quase todos os demais que hoje compem a regio, por meio das emancipaes que tiveram incio na dcada de 1940 (Duque de Caxias, So Joo de Meriti e Nilpolis); as ltimas tendo ocorrido na dcada de 1990, logo aps a promulgao da Constituio de 1988. (Belford Roxo, Queimados, Japeri e Mesquita)

Os nomes citados nesta comunicao so fictcios.

Referimos aqui ao Projeto de Pesquisa Diversidade sexual e religio: um estudo sobre direitos LGBT na Baixada Fluminense, coordenado por Marcelo Natividade, ps-doutorando do PPGAS/MN/UFRJ e Professor Visitante da FSS/UERJ.

Este material demanda anlises mais profundas sobre questes igualmente relevantes. Entendendo o carter pontual desta comunicao, optamos por restringir nosso foco s dinmicas das relaes polticas nesse ambiente. Faz-se necessria, por exemplo, a anlise dos modos como, tambm nessa relao entre Poder Pblico e militncia LGBT, percepes da diversidade sexual so acionadas e elaboradas; parte desta anlise j foi empreendida em outras oportunidades.

A criao da Comisso de Saneamento da Baixada e do Departamento Nacional de Obras de Saneamento, em 1930, fora um momento crucial de ocupao da rea da Baixada. As inmeras mudanas desenvolvidas na rea, provocaram uma enorme leva populacional principalmente de migrantes nordestinos que desejavam estabelecerem-se perto de uma das reas mais ricas do pas , municpio do Rio de Janeiro, bem como adquirir um lote prprio de terra. As dcadas de 1950 e 60 foram as de maior ndice de crescimento populacional da regio, principalmente quando comparadas s taxas de crescimento do Estado . (em 1950 a rea da Baixada cresceu o dobro da taxa do crescimento do Estado do Rio de Janeiro)

Carvalho, Jos Murilo de. Cidadania, estadania, apatia. Jornal do Brasil, 24/06/2001,p.8

BARRETO, Alessandra Siqueira. Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 13, n. 27, p. 183-212, jan./jun.2007. pag.186

WEBER, Max. (1946).

Ibid. Pg.190

Diversidade sexual e religio: um estudo sobre direitos LGBT na Baixada Fluminense, coordenado por Marcelo Natividade, ps-doutorando do PPGAS/MN/UFRJ e Professor Visitante da FSS/UERJ.

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