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Autocracia burguesa e colonial-bonapartismo na consolidação da socialdemocracia brasileiraTRANSCRIPT
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Marx e o Marxismo 2011: teoria e prtica Universidade Federal Fluminense Niteri RJ de 28/11/2011 a 01/12/2011
TTULODOTRABALHO
AutocraciaBurguesaeColonialBonapartismonaConsolidaodaSocialDemocraciaBrasileira1
AUTOR INSTITUIO(POREXTENSO) Sigla VnculoAndersonDeo2 UniversidadeEstadualPaulistaJliode
MesquitaFilhoUNESP/Marlia
ProfessorSubstituto
RESUMO(AT20LINHAS)OpresentetrabalhoanalisaaconsolidaodasocialdemocracianoBrasil.OperododiscutidodizrespeitoaosdoismandatosdeFernandoHenriqueCardoso(19952002)eaoprimeiromandatodeLuizIncioLuladaSilva(20032006).Observamosqueasocialdemocracia,talcomoestaformadeorganizaosociometablicado capital se concretizou no pas, absorve e reproduz os elementos condicionantes da particularidadehistrica brasileira, conformadas em torno da via prussianocolonial de objetivao do capitalismo. Aoabsorver, ampliar, aprofundar e reproduzir, sobre novas bases e condicionantes histricos, os contornoscaractersticos dessa particularidade, o projeto socialdemocrata apresenta um carter anmalo e tardio,sendoo responsvelpelo resgatedaortodoxia liberal como fundamentode sociabilidade.Assim,oblocohistrico capitaneadopela socialdemocracia representa ahegemoniadaburguesia, cuja frao financeiradeterminaa lgicadareproduocapitalistaemsuaatual fasede internacionalizao.Asocialdemocraciano rompe, pelo contrrio, reproduz aperfeioando a autocracia burguesa no pas. Esta autocracia seexpressa atravs de um contedo polticoinstitucional legalizado, que lhe atribudo pelo parlamentobrasileiro. A autocracia burguesa , portanto, autocracia do parlamento, que se desenvolve a partir daconsolidaodocolonialbonartismo, fenmenopolticoprpriodaorganizaodegovernosburguesesemperodosabertamenteconservadorese/oureacionrios.Dessaforma,oSentidodaColonizaosereproduznoBrasilatravsdoprojetosocialdemocrataque,aopromoverumamodernizaodecarterconservador,resgatae reafirmaoselementosessenciaisdaparticularidadebrasileira, transmutadasemetamorfoseadasemSentidodaModernizao.
PALAVRASCHAVE(ATTRS)Socialdemocraciaanmala.Modernizaoconservadora.Colonialbonapartismo
ABSTRACTThisworkanalizestheconsolidationofthesocialdemocracyinBrazil.TheperiodwediscussisrelatedtobothmandatesofFernandoHenriqueCardoso (19952002)and to the firstmandateof Luiz Incio LuladaSiva(20032006).Weobservedthat thesocialdemocracy,as thiswayofsocialmetabolicorganizationhasbeenconsolidated in Brazil, absorbs and reproduces the conditioning elements of the Brazilian historicalparticularity,conformedaroundthePrussiancolonialwayofcapitalismobjectification.Asitabsorbs,amplify,deepens and reproduces, on the new historical basis and conditioning, the characteristic outlines of thisparticularity,thesocialdemocratprojectpresentsananomalousandlatecharacter,whichistheresponsiblefortheredemptionoftheliberalorthodoxyasasociabilitysubstance.Thisway,thehistoricalbloc,capitainedbythesocialdemocracyrepresentsthebourgeoisiehegemony,whosefinancialfractiondeterminesthelogicofthecapitalistreproductioninitscurrentstepofinternationalization.Thesocialdemocracydoesntbreak,onthecontrary,itreproduces,improvesthebourgeoisieautocracyinthecountry.ThisautocracyisexpressedthroughalegalizedpoliticalandinstitutionalcontentwhichisattributedtoitbytheBrazilianparliament.Thebourgeois autocracy is, therefore,parliament autocracywhich isdeveloped from the consolidationof the
1 O presente trabalho um excerto de minha Tese de Doutorado, intitulada A consolidao da social democracia no Brasil: forma tardia de dominao burguesa nos marcos do capitalismo de extrao prussiano-colonial, defendida junto ao Programa de Ps-Graduao Em Cincias Sociais da UNESP/Marlia, em 2011. Publica-se aqui o texto na ntegra, de acordo com a tese. Uma primeira verso resumida deste artigo foi publicada na Revista Lutas Sociais, n 25/26, So Paulo: NEILS, 2011, sob o ttulo Social democracia e colonial-bonapartismo: apontamentos sobre a autocracia burguesa no perodo 1995-206. 2 Doutor em Cincias Sociais. Professor Substituto do Departamento de Cincias Polticas e Econmicas da UNESP/Marlia.
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colonialbonapartism,apoliticalphenomenonthatbelongstothebourgeoisiegovernmentsinperiodsopenlyconservativeand/orreactionary.Thisway,theSenseoftheColonizationisreproducedinBrazilthroughthesocialdemocratproject that,whenpromotes amodernizationof the conservative character, redeem andreaffirmtheessentialelementsoftheBrazilianparticularity,transmutedandmetamorphosedinSenseoftheModernization.
KEYWORDSAnomaloussocialdemocracy.Conservativemodernization.Colonialbonapartism
Introduo
Com a chegada do PT ao Palcio do Planalto em 2003, algumas fraes da burguesia
principalmente aquelas que ocuparam uma posio subordinada no interior do bloco histrico
passam a criticar alguns aspectos do projeto econmico-poltico capitaneado por Luiz Incio. Em
linhas gerais, a crtica apontava para o acerto do novo governo em manter o ncleo central da
poltica econmica do PSDB, mas sinalizava como um erro a manuteno da elevada carga
tributria e a elevao das taxas de juros como mecanismo de controle inflacionrio. Alis, esta
sempre fora a maior diferena entre as fraes industriais e agrrias da burguesia com relao aos
mecanismos de estabilizao da moeda brasileira introduzidos com o governo Fernando Henrique
(Boito Jr., 2006: 54)3. No entanto, durante o primeiro mandato de Lula, a elevao da arrecadao
foi um pressuposto fundamental manuteno e ampliao do programa de bolsas sociais. Com a
retomada do crescimento da economia mundial e seus respectivos efeitos sobre o mercado interno
brasileiro a partir de 2003, o governo ampliou o programa Bolsa Famlia beneficiando milhares
de famlias brasileiras excludas do mnimo acesso aos bens materiais elementares sua
sobrevivncia. Paralelamente, o Poder Executivo retoma alguns investimentos em obras pblicas,
tendncia que se intensificou, sobretudo, no segundo mandato de Lula (2007-2010) com o
Programa de Acelerao do Crescimento (PAC).
Politicamente, o governo petista abre espao pequeno, verdade participao dos
movimentos sociais nas esferas centrais do poder estatal, alm de levar consigo para o Planalto as
principais lideranas da aristocracia do trabalho, representadas pelo prprio PT e pela CUT. Nunca
demais afirmar que essa frao do proletariado brasileiro passou por um processo de cooptao
ideolgico-poltica identificada como transformismo4, negando suas origens histricas ao se
transformar em instrumentos do capital. Sendo assim, a composio do bloco histrico, cujo 3A anlise de Armando Boito Jr. a esse respeito esclarecedora: [...] Em resumo, da perspectiva da frao hegemnica no bloco do poder, a produo deve ser estimulada na direo (comrcio externo) e na medida em que interesse aos banqueiros. [...] Tal fato tem gerado alguns atritos no seio do Governo, ou seja, a aliana entre o capital financeiro e a grande burguesia interna industrial e agrria no exclui disputa por espao na definio da poltica econmica. [...]. 4 Na apreenso gramsciana, o transformismo diz respeito absoro ou cooptao pelo bloco histrico hegemnico de indivduos, ou mesmo grupos (partidos), de classes sociais rivais, anulando sua direo ideolgica e poltica. Gramsci argumenta ainda que fraes de uma mesma classe podem ser agregadas em torno de interesses da frao hegemnica no bloco de poder. Para uma discusso aprofundada sobre o transformismo ver: Gramsci (2000, vol. 3, passim); Portelli (1977:69-74); Coutinho (2007: 206-207).
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comando partidrio estava nas mos do PT, contava com as mais diversas fraes da burguesia e
com o apoio de frao especfica do proletariado, que descambou para o lado do inimigo de classe
com vistas a se deleitar no banquete burgus oferecido pela hegemonia do capital financeiro.
Progressivamente, a crtica de fraes da burguesia passou a cunhar uma srie de expresses
para identificar a forma por meio da qual o PT governava. Amplamente absorvida pela
manifestao rancorosa, raivosa e, antes de tudo, preconceituosa da pequena burguesia, e
propagandeada pelos monoplios privados que controlam os meios de comunicao no pas, a
pretensa anlise expressou um contedo ideolgico de combate aos trabalhadores, ao apontar o
lulismo ou o petismo como uma forma de resgate da poltica populista brasileira, fantasma
do passado que teria renascido nas paragens sul-americanas com os governos de esquerda de Hugo
Chavez, na Venezuela, Evo Morales, na Bolvia, e de Rafael Correa, no Equador. Segundo a crtica
ideolgica burguesa, a demagogia tinha retornado com toda fora ao pas, pois atravs da esmola
do Bolsa Famlia, o lulismo manipulava os pobres da nao com vistas a promover todos os
desmandos possveis no cenrio poltico brasileiro, como por exemplo os casos de corrupo5, o
clientelismo e o corporativismo, que serviriam como arrimo da governabilidade petista. A
fraseologia miditica cunhou ento a expresso neopopulismo para identificar o projeto liderado
por Lula.
Prprio do vocbulo rarefeito dos ps-modernos, que introduzem o prefixo neo para
indicar uma pseudo novidade nas relaes sociais contemporneas, descartando assim, a
processualidade histrica que as originaram, o conceito de neopopulismo to ou mais frgil do
que o j debilitado desde sua origem conceito que o originou, o populismo. Para demonstrar a
falcia ideolgica do neopopulismo, nada melhor do que ir as suas origens e analisar a partir de
sua imanncia os equvocos e distores germinais que permeiam a temtica. Passemos analise do
conceito de populismo. Porm, em funo dos limites do presente trabalho, poderemos to
somente tecer aproximaes crtica da teoria do populismo6, notadamente daquela vertente
desenvolvida por Francisco Weffort7.
Neopopulismo: falcia terica e contedo ideolgico
5 Lembremo-nos que em 2005 vem tona um esquema de compra de votos de deputados, montado a partir do Palcio do Planalto, conhecido popularmente como Mensalo. Importantes membros do PT, no poder executivo e legislativo, tiveram seus nomes associados ao esquema, o que levou a perda de seus cargos, seja atravs de cassaes, ou das renncias. 6 Maiores desdobramentos de nossa anlise sobre o tema podem ser encontrados em Anderson (2011), especialmente s pginas 271-292. 7 Trata-se sobretudo dos textos constantes de Weffort (1978).
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A teoria do populismo passou a ganhar importncia nos meios polticos e acadmicos a
partir do Golpe Civil-Militar de 1964. Naquele contexto, pretendia desempenhar um carter de
proposio crtica aos caminhos tomados pela esquerda brasileira no pr-1964, principalmente
poltica de alianas desenvolvida pelo principal partido de esquerda, o PCB. Os crticos do
populismo apontavam que a principal consequncia daquele tipo de estratgia da esquerda teria
comprometido decisivamente a suposta independncia da classe trabalhadora, pois esta passou a
apoiar a frao nacional do capital industrial e, ao faz-lo, teria abandonado as bandeiras
revolucionrias. Nesse sentido, defendiam o resgate da radicalidade operria, que abrira mo de
uma concepo de classe, para apoiar a poltica de massas da burguesia industrial crescente.
Mesmo que o carter politicista da teoria do populismo esteja presente desde a sua origem,
nesse momento tal formulao pretendeu expressar um contedo analtico histrico, ao se lanar
como uma teoria que buscava explicitar o desenvolvimento brasileiro no interregno de 1930-1964.
Assim, caracterizou-se como uma tentativa de explicar a transio do pas agrrio-exportador sua
fisionomia urbano-industrial, a partir de noes marxistas que tomadas abstratamente e sob a
influncia weberiana, as transformou em noes amplamente genricas [...] na sua ecltica e
incriteriosa converso a tipos ideais. (Chasin, 2000: 249-250).
As teses da teoria do populismo propugnavam que o perodo que vai de 1930 a 1964 se
configurou como momento de transio da estrutura econmico-poltica agrrio-exportadora, para o
modelo urbano-fabril, ou seja, o momento da consolidao do capitalismo industrial no Brasil.
Politicamente, contudo, a burguesia industrial no teria se consolidado hegemonicamente, tendo que
dividir o poder com outras fraes de proprietrios, inclusive com seus antigos adversrios a
derrotada oligarquia rural. A esta configurao poltica veio se somar o elemento fundamental da
poltica de massas, cuja participao poltica passa a ser uma realidade, embora subordinada aos
interesses dominantes. Esta seria a configurao final de uma forma poltica que os defensores da
teoria denominaram democracia populista. Como especificidade, o populismo aponta para uma
forma de dominao que se estrutura no contexto de um vazio de poder, onde nenhuma classe
conseguiu efetivar sua hegemonia, em decorrncia da crise da hegemonia oligrquica e do
contexto liberal do pr-1930. Mas ao mesmo tempo em que aponta para o vazio de poder, indica
que esse seria um perodo de fortalecimento do executivo, em que o Estado passa a atuar como
principal impulsionador da atividade econmico-industrial do pas.8
8 Chasin argumenta que o conceito de populismo se caracteriza como uma armao terica que no vai alm do descritivismo empirista, permeado por conceitos muito problemticos. Assim, a elaborao do conceito de populismo muito mais do que uma eventual contradio nos termos. O problema reside no fato de o conceito operar somente com universais, pretensamente de orientao marxista, tendo a pretenso de expressar a conscincia terica da imanente radicalidade operria. (Ibid., p. 250). Corroborando com a argumentao do autor, afirmamos que ao
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Entendemos que esse pressuposto contm um equvoco irremedivel, qual seja, a presuno
de que diante da debilidade poltica da frao industrial, esta elabora uma grande artimanha para,
ao mesmo tempo, obter o apoio das massas, mantendo-a sob seu controle e anulando, portanto,
sua radicalidade imanente9. Nesse sentido, as massas passariam a ser responsveis pela
legitimao da ordem dominante, uma vez que reconheceriam e corroborariam com a dominao
constituda num quadro de ausncia de poder. Observemos que tal armao terica no leva em
conta a real diviso da sociedade em classes, distintas e antagnicas entre si. Ao empreender
tamanho esforo gnosiolgico, apia suas teses a partir dos conceitos se que assim podemos
caracteriz-los de povo ou nao, cujo contedo identificado como comunho de
interesses, como se todos os segmentos sociais da nao pudessem desenvolver interesses
comuns, abrindo mo das prerrogativas particulares de classe em favor da solidariedade prpria
das comunidades. Assim, para a teoria do populismo, a grande artimanha deve ser revelada, pois
a partir de seu desmascaramento seria possvel resgatar a radicalidade espontnea dos
trabalhadores, servindo, ao mesmo tempo, como instrumento de denncia dos equvocos da
esquerda tradicional.
Como desdobramento desse engodo, no s as massas, mas a prpria esquerda teria sido
atada pelas amarras do populismo, o que teria impossibilitado a superao da poltica de massas
em direo poltica de classes. Como a esquerda sucumbiu ao populismo, no teria sido
apresentada aos trabalhadores uma formulao alternativa que levasse em conta a rebeldia que
seria supostamente prpria do proletariado, ou seja, a esquerda tradicional no elaborou um
projeto original de superao do capitalismo. Aqui, encontramos dois equvocos: o primeiro diz
respeito ao suposto carter natural, portanto espontneo, da rebeldia do proletariado. As
formulaes do populismo no levaram em considerao que a rebeldia, como forma de construo
permanente e consciente-prtica da crtica ao capital, resultado de um processo de educao10 de
classe, de superao da conscincia em si, simultaneamente construo da conscincia para si do
proletariado. Assim, na tentativa de apontar os equvocos que de fato existiram da esquerda
brasileira, tomaram como referncia a insatisfao imediata da classe trabalhadora como
necessariamente e no potencialmente revolucionria, e ao assim faz-lo, desprezaram o poder
concreto da ideologia hegemnica. A partir desse equvoco, desdobra-se o segundo: tais
formulaes se amparavam o que pior na genrica tese de que as condies sociais para uma
operar com universais, sem a mediao da particularidade brasileira, a teoria do populismo no apreende o complexo de complexos da reproduo sociometablica do pas ao modo de sua totalidade concreta. Sendo assim, escapa-lhe o carter anmalo da reproduo social internamente constituda. 9 [...] para a teoria do populismo, a democracia, o partido e o lder populista so em conjunto ou cada um per si o feiticeiro nefasto, que executa a mgica insupervel de atar as massas aos setores dominantes [...]. (Ibid., p. 250). 10 Obviamente, no nos referimos educao oficialmente reproduzida pelos aparelhos ideolgicos do Estado.
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revoluo de carter socialista no pas estavam dadas no contexto do pr-1964. Talvez o fato que
melhor comprove o descolamento dessa formulao em relao situao concreta daquele
momento histrico, seja o de a sociedade civil reagir ou melhor, no reagir passivamente no
momento imediatamente posterior ao golpe.
Contudo, se no momento de seu surgimento, a teoria do populismo tinha pouco a dizer, com
o passar do tempo suas formulaes ficaram, cada vez mais, sem significao real, no refletindo os
processos de reproduo sociometablicos da realidade brasileira. A prova cabal do que afirmamos
se verifica ao constatarmos que o arcabouo terico elaborado pela teoria do populismo serve de
arrimo s anlises da prpria burguesia, alm daqueles remanescentes de esquerda que privilegiam
as anlises politicistas11. Ou seja, aquilo que seria o instrumento necessrio da crtica, passou a ser o
instrumento necessrio da ordem, onde todo e qualquer lder ou partido poltico que possua alguma
identidade ideolgica ou histrica com a classe trabalhadora, passa a ser identificado pela
burguesia como populista e, sendo assim, extremamente malfico e manipulatrio, de cujo
combate depende o futuro da democracia. Isso se deve ao fato da teoria do populismo se revestir de
um aspecto alegrico no perodo ps-1964. Nesse sentido, alm de no contribuir compreenso do
processo brasileiro aps a tomada de poder pelos militares, utilizada como uma forma de recordar
que o demnio existe e precisa ser evitado e combatido permanentemente.
O golpe sado das casernas seria sempre segundo as teses do populismo o esgotamento
do assim denominado colapso do populismo, perodo este iniciado logo aps o governo de
Juscelino Kubitschek. Em outras palavras, significou o esgotamento de uma fase de acumulao
capitalista, esta arrimada no processo de substituio de importaes, que teve uma forma de
dominao poltica que tambm se esgota, qual seja, a democracia populista. Assim, a prpria
teoria determina seu prazo de validade (1930-1964), sendo substituda nas anlises polticas da
ditadura civil-militar do ps-1964 por outro ismo, o da teoria do autoritarismo. Observamos
que a anlise opera uma espcie de readequao de suas finalidades ideolgicas, pois combina-se
com a teoria do autoritarismo, fundindo-se a esta e, ao faz-lo, perde substncia. Esta perda de
substncia pode ser visualizada a partir do abandono em relao anlise histrica presente em
sua origem e da pretenso de resgate da radicalidade operria. Acompanhando a teoria do
autoritarismo, o populismo passou a proceder uma autonomizao e um seccionamento do circuito
poltico (Chasin, 2000: 253-54), reafirmando seu carter politicista na anlise da realidade
11 [...] Como tantas vezes ocorre, sua vitria coincide com sua derrota. Reduzida a cadver formal, impera como um parasita da inteligncia e da sensibilidade polticas, e enquanto tal vem exercendo na sucesso presidencial um papel de enorme importncia. (CHASIN, op. Cit., p. 253). Apesar do trecho citado se referir ao contexto das eleies de 1989, o mesmo se reveste de plena atualidade quando o comparamos com as circunstncias e os debates dos pleitos de 2002, 2006 e 2010.
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brasileira12. A partir de ento, a teoria populista e a artimanha poltica que esta compreende
passou a valorizar elementos secundrios que vo ser fundamentais na construo do esteretipo
dos lderes e partidos ditos populistas. A elaborao final dessa simbiose entre as duas formulaes
a construo terica que transcende a tese da democracia populista, ao elaborar o conceito de
autoritarismo populista.
Comprometida em sua origem, a teoria do populismo no ultrapassa a mera condio de
operador na abstratividade, pois se apoiou em elaboraes mentais que buscaram evidenciar
caractersticas empricas da realidade brasileira, sem compreender sua dimenso imanente e
essencial. Alm da insuficincia desta empiricidade, os construtos ideais operaram a partir de
uma abstrao todo-poderosa, de onde a realidade passou a ser deduzida. Cria-se o modelo, ou,
para utilizarmos a linguagem acadmica, o ideal tipo, a partir de singularidades que podem ser
empiricamente identificadas na histria, para, em seguida, aplic-lo realidade e atribuir um sentido
cognitivo s aes sociais dos indivduos. Eis o fundamento de corte idealista que afasta, em todos
os seus momentos, a teoria populista das formulaes marxianas13. Chasin assim se refere a esta
caracterstica: To extenso quanto vago, to imprprio quanto dctil e indutor de mltiplas absurdidades analticas, o conceito de populismo no mais, enquanto conceito, do que um nome. Em verdade, no mais do que um rtulo ou apelido, um frouxssimo tipo ideal, que para se enformar no mbito mais geral partiu de uma atrocidade, perpetrando o embaralhamento de eventos histricos especficos como o movimento dos granjeiros norte-americanos, o narodnichestvo russo e fenmenos urbano-industriais diversos da periferia do sistema do capital. (CHASIN, op. Cit., p. 254).
Se em suas origens a teoria do populismo apresenta os equvocos que sumariamente
expusemos, sua verso neo aprofunda tais deformaes conceituais, assumindo contornos que lhe
conferiram um teor conservador e em alguns aspectos reacionrios , refletindo a atual fase da
ofensiva do capital, arrimada pelo resgate da ortodoxia liberal (Cf. Sader e Gentili, 1995). Agora,
aqueles que arvoram a bandeira do neopopulismo como forma de identificao de alguns
governos na Amrica Latina e, em especfico, do Brasil, o fazem no no sentido de revelar as
artimanhas polticas da burguesia na manipulao do proletariado, e muito menos como forma de
apontar criticamente os erros das anlises de esquerda. No pretendem resgatar a radicalidade da
classe trabalhadora, pelo contrrio, identificam qualquer governo que mantenham alguma
12 Vale afirmar que, desde sua origem, os ndulos policitistas j se fazem presentes. A diferena fundamental das anlises populistas do pr e do ps-1964, que as primeiras ainda se valiam de fundamentos da anlise histrica, ao passo que as segundas descambam para o determinismo poltico. 13 Pelo contrrio, tais formulaes esto muito mais prximas das conceituaes weberianas, sobretudo aquelas desenvolvidas pelo autor quando este trata dos trs tipos puros de dominao legtima, especificamente o tipo de dominao carismtico. esse tipo de armao terica deformadora que permite identificar uma mirade de governos e seus lderes como populistas.
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identidade com a perspectiva do trabalho como autoritrio, portanto, antidemocrtico, que deve
ser combatido como um fantasma do passado, em nome da liberdade e da igualdade entre os
cidados. Valorizam em suas anlises, exclusivamente, aqueles aspectos secundrios, enfatizando o
esteretipo dos lderes neopopulistas, obedecendo e aprofundando a readequao das finalidades
ideolgicas a que nos referimos anteriormente. Na presente verso, a teoria do populismo
resgatada sem muito critrio, verdade como expresso ideolgica que procura sepultar
qualquer perspectiva de transformao profunda da sociedade, atuando como repositrio tico-
moral dos direitos naturais e inalienveis dos indivduos.
a partir dessa perspectiva que, ao analisarem o governo Lula, vo identific-lo como de
tipo neopopulista. Os instrumentos de propagao desta deformao analtica sero os aparelhos
privados de hegemonia burguesa, sobretudo os monoplios dos meios de comunicao. Atravs da
grande imprensa, argumentam que a manipulao dos trabalhadores e dos miserveis da nao foi
garantida pelo programa Bolsa Famlia; teria contribudo para essa manipulao o discurso
demaggico da liderana carismtica exercida pelo presidente, que se apoiou em suas origens
histricas para construir a imagem de lder das massas. A legitimidade alcanada teria permitido
que os antigos lderes sindicais se incrustassem na estrutura estatal em busca da realizao de
interesses corporativos e pessoais, utilizando-se da corrupo como ferramenta para tal fim. Nesse
contexto, os devotos do neopopulismo argumentam que as centrais sindicais, a CUT
principalmente, exerceram o papel de correias de transmisso, prprias do modelo sovitico
stalinista que, por motivos ideolgicos identificam como bolchevismo para manter a classe
trabalhadora sobre controle. Ao buscar o apoio de outros setores sociais, o governo petista teria se
utilizado do expediente da corrupo e do clientelismo, garantindo o apoio de antigos inimigos,
supostamente derrotados, apoio este caracterizado na ampla maioria que Lula alcanou no
Congresso Nacional. Eis o carter atual da artimanha poltica, que deveria ser desvendada e
denunciada pelos crticos do neopopulismo como forma de garantir as premissas de um Estado
democrtico de direito.
Desde j, afirmamos que a crtica do neopopulismo no passa de um arremedo terico que
no contribui para o desvendamento da particularidade histrica brasileira em seu presente processo
de desenvolvimento. Ao invs disso, exerce um papel de reafirmao ideolgica burguesa, com vis
conservador-reacionrio, ao postular a incapacidade dos trabalhadores em governar o pas.
O carter da autocracia burguesa no Brasil: o colonial-bonapartismo
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A organizao do bloco histrico burgus durante o perodo de 1995-2006 est diretamente
relacionada forma pela qual a autocracia burguesa (Cf. Fernandes, 1987) se estrutura e se
reproduz no pas em perodos de legalidade constitucional. Esta, por sua vez, manifesta-se a partir
de uma forma de organizao poltica que a aproxima daquele fenmeno identificado por Marx e
Engels como bonapartismo (Cf. Marx, 1974)14. Condicionado pelas particularidades prprias do
desenvolvimento do capitalismo brasileiro, o bonapartismo absorve contornos especficos e
reproduz uma forma tambm especfica de autocracia parlamentar que aqui denominamos
colonial-bonapartismo (Cf. Mazzeo, 1999).
O bonapartismo um regime poltico que nasce a partir do esgotamento das possibilidades
revolucionrias do projeto burgus. Na Frana, sua terra natal, as jornadas revolucionrias de
1848 explicitaram os limites da emancipao poltica sob o comando da burguesia, que passou a
defender o poder que alcanara, lanando mo de uma forma de governo autocrtica. Era preciso
manter a ordem burguesa conquistada a partir de 1789; ampliar as conquistas burguesas em direo
ao proletariado seria o equivalente a cavar a prpria cova. Portanto, era necessrio interromper a
revoluo, como forma de defender as conquistas burguesas at ali alcanadas, e a melhor
forma encontrada foi o estabelecimento de um regime autocrtico, baseado no brao militar do
Estado, que passou a concentrar todos os poderes em torno da liderana do Executivo (Cf. Marx,
1974 e 1987). Nesse sentido,
Fica clara, a caracterizao do bonapartismo como um regime poltico defensivo, de conteno e represso luta de classes e de reafirmao da ordem social vigente. Este despotismo policial e militar cumpre o papel de salvador da sociedade, colocando-se aparentemente acima das classes e de qualquer instituio parlamentar como rbitro exclusivo das contendas sociais (Barsotti, 1996: 239).
No entanto, se em suas origens o bonapartismo se caracteriza como um regime poltico
defensivo, estruturado para frear a ascenso revolucionria do proletariado, em sua variante
colonial-legalizada, no momento de consolidao da social democracia brasileira, estas questes
no esto colocadas, ou seja, no havia nenhuma ameaa revolucionria de esquerda em processo
no Brasil quando PSDB e PT estiveram frente do poder executivo. O colonial-bonapartismo, em
sua manifestao nos quadros da legalidade burguesa, foi a forma mais bem acabada de domnio
poltico que a burguesia internamente instalada logrou arquitetar no atual contexto mundial, diga-
14 Como sabido, Marx desenvolve o conceito de bonapartismo a partir da anlise do governo de Lus Napoleo, na Frana, governo este que deu origem ao II Imprio Francs, sob o comando do auto-intitulado Napoleo III. Alm da discusso da variante bonapartista na Alemanha de Bismarck, Engels foi responsvel direto pelo desenvolvimento do prprio conceito, contribuindo de forma decisiva compreenso do fenmeno poltico em suas origens. o que nos demonstra BARSOTTI, P., Engels e o bonapartismo. In: COGGIOLA, O. (org.) Marx e Engels na histria. So Paulo: Xam, 1996, p. 231-248.
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se de passagem de ofensiva do capital sobre as conquistas histricas dos trabalhadores. Os anos de
governo Fernando Henrique Cardoso e, principalmente, Luiz Incio Lula da Silva, foram os mais
prsperos para a burguesia que se instalou no pas, sobretudo sua frao financeira hegemnica. O
que nos permite identificar ambos os governos como de corte bonapartista a forma particular
como este se reproduz no pas, que pode ser expresso atravs do conceito de bonapartismo soft,
desenvolvido por Domenico Losurdo (Cf. Losurdo, 2004)15. Faremos aqui uma breve caracterizao
e respectiva identificao com o caso brasileiro.
Diferentemente do bonapartismo clssico, cuja liderana mantida no poder a partir de um
golpe de estado, em sua verso suave, esta forma de domnio poltico burgus capaz de se
assegurar no tempo sem a necessidade de uma interveno militar. Mas o fundamento para que isso
ocorra o mesmo em todas as variantes bonapartistas, qual seja, a legitimidade atribuda pelo apoio
da maioria. Se na Frana de Lus Bonaparte o consenso, ou melhor dizendo, a legitimidade veio
atravs da verificao plebiscitria, no Brasil governado pela social democracia tal apoio se
manifesta atravs do sufrgio universal. Este passa a ser o princpio que legitima as lideranas
que assumem a presidncia do pas. A identificao com as massas verificada atravs de
eleies regulares. No Brasil, devido s caractersticas do sistema poltico-eleitoral, que se baseia no
colgio uninominal, valoriza-se amplamente o candidato, em detrimento da discusso de seus
projetos polticos. Enquanto o voto em lista possivelmente colocaria num segundo plano a figura da
liderana, abrindo espao para o debate partidrio, o voto uninominal personaliza a luta eleitoral,
transformando o partido em mero veculo institucional, ao mesmo tempo em que valoriza e
reproduz a relao da liderana com o povo, onde o lder passa a investir em sua imagem com o
intuito de criar uma identidade com a massa dos eleitores. Esta, dado o baixssimo grau de
formao e conscincia poltica, ser facilmente influenciada pelo carisma exercido pelas
lideranas. Nesse sistema, os representantes eleitos para o Poder Legislativo aparecem ao eleitorado
como representantes de interesses locais, abrindo espao ao presidente, ao lder propriamente
dito, para que este surja como o verdadeiro representante da nao, como seu nico intrprete e
que somente a ela deve responder (Idem: 64).
Nesse contexto, o discurso hegemnico reproduz as formulaes ideologicamente orientadas
que apontam para a inexistncia de interesses de classes antagnicas, ou, de outra forma, coloca o
Presidente da Repblica acima e imune aos interesses particulares e aos conflitos sociais. Mas, ao
15 A anlise de Losurdo recai sobre o caso estadunidense, onde o autor procura demonstrar como o modelo democrtico daquele pas se aproxima das formas clssicas de bonapartismo, desenvolvendo caractersticas especficas que permitem identific-lo como uma forma suave de sua manifestao. Entendemos que muitas das caractersticas presentes na realidade poltica dos EUA podem ser encontradas no Brasil, como por exemplo, aquilo que Losurdo define como monopartidarismo competitivo e o carter plebiscitrio do sufrgio universal das democracias atuais. Discutiremos estes conceitos ao longo de nossa argumentao.
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contrrio, este aparece como o representante dos interesses do povo brasileiro, da nao como um
todo, pois exerce a funo de representante nico e supremo do pas. Subjaz a esse tipo de discurso,
a concepo de que a massa carece de um lder, de um grande tutor para orient-la nos caminhos
corretos rumo ao desenvolvimento e ao progresso. Trata-se na verdade, de garantir a ordem
socialmente existente, pautada na propriedade privada dos meios de produo, e proteg-la de
qualquer tipo de ameaa derivada da ampliao das lutas dos trabalhadores (Idem: 67).
As massas devem participar da poltica atravs do sufrgio, mas no podem estar
organizadas atravs dos sindicatos ou partidos que ampliem e aprofundem o debate poltico, que
envolvam grandes temas e projetos de interesse nacional, qui em polmicas que pretendam
superar o capitalismo. a reduo da discusso poltica ao mero jogo institucional, dos meandros
parlamentares, da anlise cotidiana das estruturas de governo e de todas as mazelas que a mesma
reproduz. Para utilizarmos a conceituao gramsciana, trata-se do predomnio ou da hegemonia da
pequena poltica sobre a grande poltica.16 Reproduz-se dessa forma o princpio liberal da
multido criana, onde os subalternos devem ser guiados politicamente devido sua incapacidade
de pensar as grandes questes polticas.
A personificao do poder uma caracterstica central do fenmeno bonapartista, pois a
celebrao do lder carismtico uma espcie de culto ao heri passa a ser o principal
instrumento de controle das massas. E o sufrgio universal o termmetro necessrio para
identificar o grau de adeso das massas a um determinado lder. O colonial-bonapartismo em sua
forma de manifestao legalizada, apresenta esta caracterstica de forma explcita. Ao
identificarmos os governos de Fernando Henrique e Luiz Incio como de corte bonapartista, nos
referimos ao controle que estes lderes exerceram sobre a massa da populao brasileira. Ambos
os presidentes cumpriram dois mandatos consecutivos, o que indica grande adeso aos seus
governos muito maior ao de Lula, verdade. O consenso criado em torno das duas lideranas
permitiu a configurao de um bloco histrico de hegemonia financeira, mas ambos, em seus
discursos, colocavam-se acima dos interesses particulares, vangloriando-se como interlocutores da
nao, representantes mximos do Brasil.17 Ao mesmo tempo em que se sustentam atravs do
16 Para uma discusso sobre o tema, em uma anlise sobre o Governo Lula, ver COUTINHO (2010). 17 Losurdo (Idem: 77), chama ateno para a forma como o sufrgio utilizado, ao aproximar os governos de Disraeli, na Inglaterra, Bismarck na Alemanha e Lus Bonaparte, na Frana, dizendo que [...] ignorando a burguesia liberal, todos os trs se dirigem diretamente s massas, qual concedem o sufrgio em medida mais ou menos ampla e da qual obtm ou buscam obter apoio, fazendo concesses no plano da poltica econmica e social, estimulando a excitao nacional e chauvinista e fomentando, nesta base, o culto ao lder carismtico, acima das partes, intrprete e lder indiscutvel da nao. possvel identificar o mesmo mecanismo de controle das massas no caso brasileiro. Tais caractersticas, como apontadas acima, so muito mais visveis no Governo Lula, mas j esto presentes no Governo de Fernando Henrique. O principal mecanismo de concesso ao povo brasileiro foi o assistencialismo atravs dos programas de bolsas sociais, e o estmulo ao sentimento nacional pode ser representado, por exemplo, atravs de
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sufrgio universal e as pesquisas ao longo dos mandatos que medem a popularidade dos
presidentes, exercem o mesmo papel que o sufrgio reprimem todas as formas de contestao
social, combatendo duramente os ncleos radicais da sociedade. No Brasil, esta caracterstica
pode ser visualizada a partir da vigorosa escalada do Estado, em todos os nveis, contra os
movimentos sociais. Escalada esta que se utiliza da violncia fsica, policial-militar, para reprimir
de forma explcita, ou da criminalizao judicial como meio de desarticular a organizao daqueles
que elaboram algum tipo de crtica, ou mesmo se manifestam contrariamente em relao violncia
com a qual o Estado trata as comunidades pobres no Brasil18.
Um dos principais mecanismo para garantir amplo apoio das massas, sobretudo em perodos
eleitorais, o que a cincia poltica moderna denomina marketing poltico, mas que ns aqui
identificamos como uma das caractersticas dos aparelhos ideolgicos do Estado. As cifras
destinadas s campanhas eleitorais so, cada vez mais, gigantescas; agncias de publicidade se
especializaram em criar a imagem perfeita do candidato, valorizando os atributos de carter
moral, de personalidade, ou mesmo fsico, de acordo com pesquisas que medem as preferncias
do eleitorado. Assim, a lgica de criao da imagem de uma grande liderana consiste em repetir
mentiras at que elas se transformem em verdades. Essa fora extraordinria da publicidade e
seu papel fundamental nas democracias contemporneas revelam o carter discriminatrio e
censitrio do sufrgio universal. Contraditoriamente, ao mesmo tempo em que o sufrgio universal
garante a participao de todas as classes sociais no processo de escolha de seus representantes, o
fenmeno poltico colonial-bonapartista, atravs da manipulao publicitria, garante destaque a
uns poucos concorrentes, imprimindo um carter plebiscitrio s eleies, isto porque as regras do
jogo eleitoral no contemplam a todos os partidos de forma idntica, e os recursos disponveis
campanha so gigantescos para os partidos da ordem (provenientes de doaes privadas), ao passo
que qualquer proposta alternativa tem de se estruturar a partir de seus prprios recursos. Junte-se a
isso, o fato de a legislao eleitoral brasileira prever a realizao de eleies em dois turnos para os
cargos do Poder Executivo, em todos os nveis da Federao, transformando o sufrgio universal
em plebiscito, onde uma entre duas candidaturas dever ser nomeada.19 Os monoplios privados
dos meios de comunicao completam o quadro acima exposto, imprimindo uma espcie de um slogan de pea publicitria produzida pelo governo federal, onde se l sou brasileiro e no desisto nunca, entre tantos outros mecanismos de manipulao ideolgica. 18 A forma pela qual as foras policiais brasileiras, em nvel federal, estadual ou municipal, agem em operaes de invases de morros e favelas, exemplifica claramente o afirmado por ns. Contrariando o preceito constitucional em vigor, todos so culpados at que se prove o contrrio. 19 A legislao eleitoral brasileira estabelece que em nvel federal e estadual as eleies sejam realizadas em dois turnos. Nos municpios, esta regra s aplicada quando o nmero de eleitores for igual ou superior a duzentos mil. No que diz respeito aos gastos com campanha, apenas como forma de ilustrar o que afirmamos, vale apontar que em 2002 o PT declarou um gasto de R$ 52,4 milhes com a campanha nacional, sendo que na campanha de 2006 o montante dobrou, alcanando a cifra de R$ 104,3 milhes; o PSDB declarou um gasto de, respectivamente, R$ 46,6 milhes e R$ 81,9 milhes. Isso para nos restringirmos aos dois maiores concorrentes em nvel nacional dos dois pleitos.
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discriminao censitria em um regime de sufrgio ampliado, ao noticiar o cotidiano daqueles
candidatos comprometidos com o status quo, ao mesmo tempo em que negligenciam e omitem
qualquer informao dos candidatos contrrios ordem.
Outra caracterstica que prpria do colonial-bonapartismo em sua forma de manifestao
legalizada o papel exercido pelo parlamento no interior do bloco histrico. Se na forma
clssica de bonapartismo o poder se concentra em torno do Executivo, do lder que governa com
poderes irrestritos graas ao contedo militar de seu governo e ao apoio das massas , no Brasil
comandado pela social democracia, a autocracia burguesa se consubstancia a partir da combinao
entre o papel exercido pelo lder mximo, frente do Poder Executivo, e a autocracia do
parlamento, que garante a aparncia de legalidade constitucional a esta forma de governo.
A autocracia do parlamento prpria de governos democrticos (Cf. Agnoli, 1971). Ao
absorver para seu interior as discusses e debates de interesse nacional, o parlamento promove uma
desideologizao do discurso poltico-partidrio, estatizando os partidos polticos, ou seja,
absorvendo-os para o interior de sua lgica, que se restringe observncia e a obedincia das
regras do jogo. Ao institucionalizar a luta poltica, o parlamento promove um deslocamento e um
distanciamento dos partidos de sua base social, principalmente os partidos que defendem um projeto
caracterizado como de esquerda. O parlamento manifesta, portanto, um carter conservador, pois
seus mecanismos institucionais priorizam o consenso, eliminando as posturas antagonistas de
classe ao mesmo tempo em que reafirmam a valorizao conciliadora contratual do consenso.
O objetivo fundamental dessa forma de organizao poltica do parlamento o
estabelecimento de uma democracia constitucional sem a participao direta do proletariado.
Combinado com a variante colonial do bonapartismo, isso seria o equivalente ao expurgo das
massas dos processos decisrios, pois estas atriburam ao chefe do Executivo o poder de
represent-las, [...] O que conduziria definitivamente e de modo plenamente consciente a uma
democracia sem demos.(Idem: 51). Mais uma vez, encontramos aqui o discurso ideologicamente
orientado que aponta para o parlamento como o representante da nao, como o frum de discusso
par excellence dos problemas do pas. A reproduo dessa ideologia constitui o mecanismo
essencial de manipulao para a criao de uma conscincia cidad neutra, que busca a
observncia da pluralidade dos grupos sociais, livre de interesses particulares, negando dessa
forma e, portanto, fetichizando as relaes sociais as contradies de classe inerentes diviso
social. As instituies estabelecidas parlamento, partidos, justia, polcia, etc. so
constitucionalmente investidas de poderes para representar os interesses do povo:
[...] Em outros termos: o Estado poltico pode integrar socialmente, da maneira mais eficaz, as massas que se mantm alijadas do processo de deciso, incorpor-
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las a subordinao e concili-las assim com sua dependncia cabal, quando no aparece como rgo do governo, mas como coisa pblica. [...]. (Idem: 53 e 54).
Portanto, segundo Agnoli, h uma forma de estatizao da conscincia, pois a negao da
diviso da sociedade em classes reconduz a conscincia das massas condio de cidados. Toda
forma de dominao burguesa se realiza atravs de um Estado que garanta a reproduo
sociometablica do capital. Diante do exposto, entendemos que no Brasil da social democracia, o
Parlamento imprime um contedo de legalidade institucional ao bonapartismo, tal como esta forma
de domnio se manifesta internamente. Assim, a autocracia burguesa, em sua forma institucional-
legalizada, arrima-se no s no domnio exercido pelo poder Executivo, mas, tambm, no domnio
exercido pelo Parlamento. Atravs da esfera parlamentar, as mais diversas fraes da burguesia se
fazem representar a partir de seus interesses especficos. As lutas intestinas que do formato ao
bloco histrico dependem diretamente das disputas intra-classe burguesa que se desdobram no
interior do Poder Legislativo. A formao de oligarquias polticas no interior do parlamento
garante a hegemonia determinada frao da burguesia durante as disputas pela configurao de
seu projeto poltico-econmico (Idem: 71-72). Conjugando os interesses dessas oligarquias s
decises do Poder Executivo, a frao hegemnica no interior do bloco histrico consegue aprovar
as medidas necessrias realizao de seu projeto.
O exemplo mais ntido, que ilustra de forma exemplar esse mecanismo no Brasil, tanto no
Governo de Fernando Henrique Cardoso, como no de Luiz Incio Lula da Silva, a conformao de
uma base de deputados e senadores aliados ao Poder Executivo no interior do Parlamento. Essa
maioria legislativa foi fundamental aprovao de uma srie de mecanismos legais que permitiu a
reconfigurao jurdica do Estado brasileiro de acordo com as prerrogativas da frao financeira do
capital desde a aprovao de medidas provisrias, at a reformulao da Constituio Brasileira
durante o processo da reviso/reforma constitucional (1993-94 / 1995-99). O mecanismo utilizado
para compor tal maioria foi a j conhecida distribuio de cargos pelo Executivo entre os partidos
da base aliada, reforando uma prtica bem conhecida na estrutura autocrtica brasileira. Mas, ao
mesmo tempo em que a frao financeira se fez hegemnica no interior do bloco histrico liderado
por ambos os partidos, PSDB e PT, as outras fraes da burguesia tambm se fizeram representar
atravs dos poderes Executivo e Legislativo, e o principal instrumento para sua realizao foi e
a influncia do lobby. Apesar de legalmente proibido no Brasil, a atividade lobbysta mais que
uma realidade na poltica brasileira, faz parte do processo decisrio do Estado, em todas as suas
esferas. As principais entidades representativas da burguesia brasileira possuem escritrios na
Capital Federal que atuam diretamente junto a deputados, senadores e membros do alto escalo do
Poder Executivo (Cf. Diniz & Boschi, 2004). Utilizam-se de uma linguagem eufemstica para
designar suas prticas, arvorando-se como empresas de consultoria que prestam servios ao poder
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pblico. Tal caracterizao tem como finalidade driblar a justia, que faz vistas grossas quando os
interesses envolvidos esto de acordo com a ordem do capital. Na verdade, reproduzem as mais
velhas prticas que fazem do Estado o escritrio da burguesia20. essa mesma atividade lobbysta
que garante as doaes faranicas aos principais candidatos que disputam a Presidncia da
Repblica. E essa questo nos remete uma ltima caracterstica do bonapartismo soft, conceito
que nos permite uma aproximao com o que aqui denominamos colonial-bonapartismo. Trata-se
do monopartidarismo competitivo.
Podemos afirmar que o sistema de representao partidria no Brasil caminhou para uma
estruturao, durante as ltimas duas dcadas, semelhante ao bipartidarismo observado nos Estados
Unidos da Amrica. O fato de a Constituio Brasileira prever a liberdade de organizao partidria
no contradiz o argumento. Isso se deve incapacidade financeira de os partidos se organizarem de
forma representativa. No Brasil, PT e PSDB monopolizam as maiores cifras destinadas pela
atividade lobbysta aos processos eleitorais. Ambos os partidos se constituram como paladinos do
capital financeiro, o que explica as generosas doaes no s dessa frao da burguesia para
suas campanhas e devem ser analisados como variaes de uma mesma forma de estruturao do
domnio econmico-poltico da burguesia. Assim, observamos um esvaziamento programtico dos
partidos, onde o debate se restringiu constatao do melhor nome entenda-se o mais capacitado
para administrar o capitalismo brasileiro. O espao deixado pelo abandono do debate politizado
foi ocupado pela disponibilidade financeira, viabilizada a partir do marketing poltico. Como
argumentado, o sistema eleitoral uninominal imprime um carter plebiscitrio ao sufrgio. Tomadas
em seu conjunto, tais caractersticas edificam os contornos do monopartidarismo competitivo,
demonstrando que
[...] se no plano ttico so concorrentes, dadas as diferentes dimenses e os interesses e clculos diversos e discrepantes dos partidos e das foras polticas em jogo, por outro lado, no plano mais propriamente estratgico, mostram-se entrelaados e convergentes. (LOSURDO, 2004: 318)
O que procuramos demonstrar com as argumentaes aqui desenvolvidas pode ser assim
resumido: a consolidao da social democracia no Brasil reproduz a forma particular do colonial-
bonapartismo no pas em sua variante autocrtico-legalizada. Se o governo de Fernando Henrique
Cardoso, pela argumentao por ns apresentada, pode ser caracterizado como de corte
bonapartista, o primeiro perodo em que Luiz Incio Lula da Silva esteve frente do poder se
20 Um minucioso e detalhado estudo sobre o papel desempenhado pelas associaes empresariais junto ao Congresso Nacional, pode ser encontrado em Diniz & Boschi (Idem). Mesmo que a proposta da obra seja muito mais descritiva do que propriamente analtica, orientando-se a partir de uma metodologia sociolgica compreensiva, o texto nos apresenta informaes claras de como a burguesia internamente instalada (a denominao por nossa conta) organiza seus interesses e se faz representar atravs da atividade do lobby.
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caracteriza como o momento de coroamento e consolidao desta forma burguesa de dominao.
Incapaz de reproduzir de forma direta sua dominao, a burguesia recorre a um ex-operrio para
exercer o papel de lder, que foi o responsvel pela manipulao das classes subalternas, ao mesmo
tempo em que realiza um governo de acordo com os interesses do capital. Eis a frmula pela qual a
autocracia burguesa se reproduz no Brasil em perodos de legalidade, caracterstica imanente do
bonapartismo em sua variante colonial.21
A social democracia e a plena hegemonia burguesa no Brasil
Portanto, ao empreendermos tal esforo analtico, nos distanciamos daquelas proposituras
que identificam no Governo Lula uma forma especfica de hegemonia s avessas, exercida por uma
nova classe social, e que identifica a social democracia como uma forma de dominao, por assim
dizer, diferente da capitalista. Aqui, nos referimos s formulaes de Francisco de Oliveira,
sobretudo aos seus escritos O ornitorrinco (Cf. Oliveira, 2003) e Hegemonia s avessas (Cf.
Oliveira, Braga e Rizek, 2010).
Segundo as formulaes de Oliveira, a partir da posse de Lula, observou-se uma
modificao ou um truncamento na estrutura de classes no Brasil. A antiga aristocracia do
trabalho, as capas mais altas do antigo proletariado, deu origem a uma nova classe social,
juntamente com a tecnocracia, os doubls de banqueiros, herdada do perodo em que Fernando
Henrique governou. Esta nova classe passou a atuar como os gestores dos fundos de penso das
empresas estatais, movimentando bilhes de dlares no mercado financeiro; administradores que
passam a se preocupar com a rentabilidade desses fundos que, paralelamente, financiam a
reestruturao produtiva que produz desemprego. O autor argumenta ainda que a partir da
estruturao dessa nova classe no poder estatal, observamos a confluncia programtica entre
PSDB e PT, ou seja, a identidade que os dois partidos foram criando, est diretamente relacionada
forma semelhante pela qual prope o controle do acesso aos fundos pblicos (Oliveira, 2003:
146-147).
21 A poltica bonapartista a alternativa utilizada pela burguesia diante do impasse, fracasso ou impossibilidade de realizao e continuidade da sua dominao direta e de classe. Forma autocrtica de poder poltico, o bonapartismo leva s ltimas consequncias a tendncia, contida no Estado moderno, de representar os interesses gerais e estar acima dos interesses privados, de abstrair e querer eliminar as diferenas dos homens reais dispostos na vida cotidiana concretamente em classes sociais. Iluso extrema na fora, imparcialidade e autonomia do Estado diante da sociedade, condio de sua arbitragem desptica sobre toda a nao, que em momento algum nega o seu carter de classe frente s classes subalternas e que garante s fraes da classe dominante a paz social necessria para o desenvolvimento de seus negcios. Ela representa efetivamente a forma mais prostituda e repressiva do poder estatal burgus que se transforma em meio de escravido do trabalho pelo capital. (Barsotti, 1996: 245).
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Para Oliveira, no caso especificamente do governo petista, houve uma espcie de inverso
dos sentidos e significados do poder poltico na relao entre dominantes e dominados: os
dominados chegaram ao poder, portanto exercem a direo moral da sociedade, pois esto
frente inclusive fisicamente da estrutura de poder estatal; controlam cargos pblicos, fundos de
penso, as grandes empresas estatais, etc. E exatamente por controlarem esta estrutura econmica,
sobretudo os fundos de penso das estatais que para o autor se constituem como o corao do
novo sistema financeiro brasileiro que se d a inverso, pois o fazem no da perspectiva dos
de baixo, mas segundo a lgica dos de cima. Em outras palavras, apesar de os dominados
controlarem o processo de reproduo econmico-social, eles o fazem de acordo com a lgica dos
dominantes22.
Entendemos que as formulaes de Oliveira so precisas quando este aponta a forma como a
aristocracia operria, do PT e da CUT, arvorou-se nas entranhas do Estado. De fato, os antigos
sindicalistas passam a ter em suas mos o controle de grandes cifras que envolvem a administrao
dos fundos de penso s no afirmaramos que estes constituem o corao do sistema, diramos
que uma de suas principais artrias. Esse controle se manifesta atravs do poder que expressam,
pois possuem em suas mos mecanismos fundamentais reproduo do capital na sua atual fase de
internacionalizao. No entanto, entendemos que no se trata de uma nova classe social, e muito
menos de uma hegemonia s avessas, pelo contrrio, na atual fase de reproduo do capital, o
colonial-bonapartismo brasileiro reorganiza o bloco histrico de hegemonia burguesa. Com Lula e o
PT frente do Palcio do Planalto, as antigas lideranas sindicais e dos trabalhadores passam a
exercer o papel da burguesia, e o que explica esta metamorfose o processo de transformismo
pelo qual passou o principal partido na esquerda brasileira, surgido no ps-1964. Suas principais
lideranas e quadros foram cooptados e se deixaram cooptar pela burguesia. Esta adeso no
s poltica, mas tambm ideolgica, intelectual, o que no caso do PT foi um problema menor para a
burguesia, dado o baixo grau e at mesmo desprezo de elaborao terica produzida pelo
partido. De qualquer forma, os antigos membros do proletariado passam a reproduzir uma postura
de classe burguesa, at chegarem ao poder e colaborarem diretamente com a reproduo da ordem
capitalista. Trata-se de uma hegemonia burguesa, de uma forma de organizao do Estado que
atenda lgica financeira e, portanto, de reproduo do modo de produo capitalista.
O perodo que analisamos e que identificamos como o da consolidao da social
democracia no Brasi, representa o momento de coroamento da autocracia burguesa no pas. Esta
22 (Oliveira, Braga e Rizek, 2010: 8).
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transitou de sua forma militar-ditatorial (1964-1985) para a forma legalizada-institucional (ps-
1985), reproduzindo o colonial-bonapartismo brasileiro, sem sofrer grandes abalos, nem ameaas
significativas por parte de seu inimigo de classe, o proletariado. Pelo contrrio, a presente ofensiva
do Capital em relao ao Trabalho alcanou enorme xito internamente a partir do transformismo
operado nas principais lideranas da classe trabalhadora. A autocracia do parlamento, presente na
democracia brasileira, imprime contornos de legalidade aos governos de corte bonapartista. Toda
essa estrutura poltica reproduz a lgica do capital na sua atual fase de internacionalizao, onde a
frao financeira ocupa posio hegemnica no bloco histrico burgus. O Brasil moderniza-se
economicamente, transformando-se em protagonista no cenrio internacional, onde o capital-
imperialismo brasileiro se expande pelo mundo. Contudo, as marcas indelveis da reproduo
sociometablica brasileira no so superadas. A referida autocracia burguesa se consolida e se
reproduz sobre novas bases, a subordinao econmica em relao aos plos centrais do capital no
rompida apesar de seus novos elementos condicionantes , reproduzindo a lgica desigual e
combinada do desenvolvimento capitalista. Paralelamente, antigos e novos problemas reproduzem
um quadro de ampla misria social no pas, manifestao da crise de sociabilidade prpria do
capitalismo. Assim, observamos que o Sentido da Colonizao se reproduz sobre novas bases e
novos condicionantes histricos, reafirmando o caminho prussiano-colonial de objetivao do
capitalismo no Brasil, que agora se manifesta como Sentido da Modernizao, processo este
capitaneado pela social democracia brasileira.
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