andanças 20011 jornal #3

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PARA. LÊ... DEVOLVE. ALENTEJO NO ANDANÇAS EMENTA Almoço Vegetariano Paelha de Legumes Almoço Omnívoro Rancho Jantar Vegetariano Lasanha de Legumes Jantar Omnívoro Carne de Porco à Alentejana 3 4 de Agosto 2011 | Terça-feira METEOROLOGIA Sol 27 0 / 14 0 6ªa f: céu nublado - 24º/ 12º

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Jornal #3 Andanças 2011

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PARA. LÊ... DEVOLVE.

alentejo no andanças

EMENTA

Almoço VegetarianoPaelha de LegumesAlmoço OmnívoroRancho

Jantar VegetarianoLasanha de LegumesJantar OmnívoroCarne de Porco à Alentejana

Nº 34 de Agosto 2011 | Terça-feira

METEOROLOGIA

Sol270/ 140

6ªa f: céu nublado - 24º/ 12º

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Imaginem uma aldeia escondida no início das montanhas, onde a serra se junta com a planície e o ar fresco do mar. É uma aldeia no Alentejo, esta de que vos falo. E neste espaço de fronteira entre três paisagens moram pessoas desde há dois mil anos. Muito antes disso já aqui viviam os sobreiros e os medronheiros com as genetas e saca-rabos e águias e cegonhas e muitos muitos mais. Já a rainha D. Maria I aqui parava para trocar de cavalos , mas agora, há cinco anos atrás foram para lá umas pessoas da cidade e puseram a aldeia no mapa.

A Aldeia das Amoreiras tem 160 moradores e mais umas 20 pessoas que moram nos montes em volta. Estas que vieram da cidade são cerca de 8. Há muitas hortas e dois cafés, uma Comissão de Melhoramentos da Aldeia e um Centro de Convergência.

Nesta aldeia moram pessoas como todas as outras mas aqui há algo de especial: todos conhecemos os sonhos de toda a gente. E os sonhos estão a transformar-se em realidade.O nosso sonho é que os sonhos de todos façam da Aldeia das Amoreiras uma aldeia sustentável.

Vem conhecer toda a história e ver um filme sobre o nosso trabalho esta sexta feira no salão às 12h15m. E visita-nos lá ou em qualquer lado em www.centrodeconvergencia.org . André Vizinho Centro de Convergência

É muito comum o Andanças apostar no reanimar de tradições culturais antigas, esquecidas pelo tempo.

Na presente edição, essa tendência estará bem patente no Baile de Mastro. O evento, que se realiza hoje às 18h00 (TM), é-nos trazido por Bruno Cintra. O monitor da actividade falou-nos sobre ela e sobre as suas origens: “Esta dança é uma adaptação do baile da pinha: fixando umas fitas num mastro móvel, os homens mascaravam-se e dançavam nos montes para ganhar algum dinheiro durante o Entrudo.

Com o desaparecimento desta prática, abandonou-se o Baile do Mastro. Contudo, podemos repescá-lo, não o deixar morrer, fazer algo novo com este património”.

Victor Melo

BAILE DE MASTRO

ERA UMA VEZ UMA ALDEIA SUSTENTÁVEL

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As canecas são uma conquista brutal dos participantes no Andanças: conseguimos eliminar toneladas de resíduos de plástico e manter um ambiente onde milhares se divertem sem ter que tropeçar em copos pelo chão.

A frente seguinte têm sido os copos usados para servir bebidas quentes. Anos de negociação resultaram no fornecimento de copos de cartão para café. Como o cartão fica sujo, não pode ir para o papelão (azul), mas pode seguir para compostagem, outra conquista do Andanças que muitos participantes pedem para ver de perto em visitas guiadas. Inicialmente com um logo publicitário cujos químicos impossibilitavam a sua compostagem, temos hoje copos de café que podem ser decompostos sem problema. Assim, por favor, deposite-os nos contentores castanhos (Recinto e Cozinha dos Campistas) ou saco de lixo creme (Bar da Escola). Os copos para leite/galão que o Bar da Escola serve, também são de cartão e como ficam sujos devem seguir para compostagem (saco creme).

Já os copos fornecidos na zona de restauração afecta ao Restaurante S. Tiago têm demasiada tinta (químicos) e não podem ser usados na compostagem (biológica) do Andanças, pelo que devem ser depositados nos contentores pretos (lixo indiferenciado).

Copos e garrafas de vidro são proibidos em festivais, por isso o vinho só deve ser servido nas canecas de cada um.

A sustentabilidade do Andanças tem sido conseguida graça ao esforço dos participantes: sejam vocês a colaborar (por exemplo ajudando a esclarecer quem precise) e exigir que se cumpram as estratégias em que investimos para, juntos, diminuirmos o impacto ambiental que causamos com o nosso Festival.

Eco Andanças

Parece que este vai ser o meu testemunho do Andanças 2011.Resumidamente, vou escrever sobre a minha experiência como voluntária neste festival.  Foi difícil encontrar alguns instrumentos de escrita mas fez-se um esforço. A minha curta experiência neste campo apenas traduz a vontade de me integrar num grupo e, neste caso, numa grande família. Aqui, até nas horas vagas se encontra algo para fazer e um sítio para dançar.  «Horas mortas» é um conceito que não entra neste quotidiano porque há sempre algo que nos desperta e que nos cativa. Até a chuva e o mau tempo se tornam um obstáculo engraçado.  As multidões formam-se sem trazer inconvenientes, o que nos facilita o trabalho. Com a ajuda dos chefes, todos os contratempos se resolvem e deixam de ser problemas.Falando agora em particular, e no meu caso especificamente, o meu posto (controle de entradas) é óptimo porque ao fim de pouco tempo começamos a estabelecer laços com as pessoas, muitas amizades começaram com um sorriso de boas-vindas!  Por fim, todas estas expressões e descrições já podem ter sido ditas, mas na realidade é apenas a energia que circula e que se difunde por todos nós!

 Maria Torres Lopes(controlo de entradas)

SER VOLUNTÁRIO

COPOS NO ANDANÇAS

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É sabido que o Alentejo é uma região do país muito rica a nível cultural e humano. No entanto, a grande maioria das pessoas continua ainda alheia à sua diversidade cultural.

O cante alentejano está já bastante difundido, mas é um dos poucos exemplos. Ao longo de todas as edições o Andanças tem vindo a estreitar a sua relação com esta região a Sul. A associação que está por trás do festival – PédeXumbo – tem sede em Évora e uma relação muito próxima com a área.

Tendo sido criada em Lisboa, acabou por se mudar para esta cidade da qual já faz parte, sentindo-se não só erborense mas também alentejana. Por reconhecer a sua riqueza e como resultado do trabalho que tem desenvolvido com a população local, decidiu honrar esta relação e apresentar aos participantes o Alentejo, em Carvalhais.

A PédeXumbo é uma associação que trabalha desde 1998 na promoção da música, instrumentos e danças de raíz tradicional, com especial destaque para o património português. Uma equipa profissional dedica-se à recuperação e divulgação destas práticas culturais, através de registos, co-produções, investigação, formação de formadores, e ensino informal destinado a todas as idades. Mais do que registar relíquias do passado, a PédeXumbo propõe-se reavivar hábitos sociais de viver a música, reproduzindo bailes tradicionais participados por novas gerações que vão beber em práticas antigas.

A PédeXumbo nasceu da necessidade de criar uma estrutura profissional que pudesse acompanhar o crescimento do Andanças. Facto interessante que contraria a tendência. Embora seja o ponto alto da sua programação, o Andanças não é a única proposta que a PédeXumbo - sediada em Évora no espaço Celeiros - tem para apresentar.

Organiza um plano de actividades que se realiza ao longo de todo o ano, divindindo a sua acção em 6 vectores principais: programação de festivais, formação de formadores, agenciamento, edição de livros, Cds, DVDs, criação artística, investigação.

Mafalda Duarte 

ÉS PEDEXUMBO?

O ALENTEJO EM CARVALHAIS

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Durante meses, a PédeXumbo viajou pelo Alentejo – e descobriu que as danças tradicionais podem caber num livro. Caderno de Danças do Alentejo, Vol.01 é apresentado hoje no salão. “Há o mito de que no Alentejo não se dança – nós queremos mostrar ao público que existem danças tradicionais!”, diz Celina, presidente da PédeXumbo. Com Domingos Morais, colaborou com a investigadora Lia Marchi para fazer nascer o primeiro Caderno de Danças do Alentejo. Trata-se da primeira publicação do Arquivo das Danças do Alentejo, um projecto antigo da PédeXumbo para documentar e divulgar as danças tradicionais e populares. “Durante meses viajámos pela região, a conhecer músicos, dançadores…”, recorda Celina.

“Não é a autora que decide o que são as danças do Alentejo: são as pessoas com quem ela fala”, explica Sophie, da PédeXumbo. “Não é um olhar exterior, é dar voz à população na forma de um livro.”Este primeiro volume desvenda os bailes cantados do Baixo Alentejo, à volta de Castro Verde, e as valsas mandadas na região de Grândola. Página a página, descobre-se a história das danças, as descrições de várias delas (escolhidas de entre centenas!) e as memórias daqueles que, há tantos anos, as bailavam.

O DVD Manda Adiante, também sobre as valsas da Serra de Grândola, foi o primeiro resultado concreto deste trabalho que a Pédexumbo vem desenvolvendo a partir de Évora. Agora, a ideia era criar um documento que sirva para escolas, professores, monitores… “Para divulgar e fazer chegar a um público que de outra forma não teria contacto com as danças tradicionais. É um livro para ser ensinado”, esclarece Celina. E não se esgota no papel das páginas: na internet encontram-se as músicas e os vídeos das danças documentadas.

“Apenas um site ficaria perdido na selva informática”, observa Celina. “Um livro, mesmo que as pessoas mudem, está lá sempre – como um baú de saber.” Descobre mais na Internet: memoriamedia.netarquivodancasalentejo.wordpress.com Ou na apresentação desta tarde - seguida de baile alentejano! (17h15, Salão)

Francisco Pedro

DANÇAR PELO ALENTEJO…DE PÁGINA EM PÁGINA

UM SALÃO, um mundo de partilhas. No edifício da escola, entre uma caixa de multibanco e um espaço para carregar telemóveis, há duas portas que já deves ter visto fechadas. Abri-las é abrir horizontes.

No espaço do salão, através da música, dança, debates, filmes ou histórias, a ideia é só uma: “transmitir saber”.

“É um espaço mais pequeno e intimista - para aprofundar aquilo que existe nos outros locais do festival”, conta Sophie, da PédeXumbo. “Aqui vêm-se filmes, as bandas apresentam-se e partilham os seus projectos, conversa-se sobre como sermos actores da mudança…”

Dos documentários de Giocometti aos bailes de valsas mandadas, o Alentejo também vai marcando presença neste salão – que durante uma semana parte de Viseu para acolher um mundo de partilhas.

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DIA

DE

ON

TEM

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Manuel Araújo é, no contexto de valsas mandadas, um grande mandador. Com uma vida ligada ao ensino das danças populares portuguesas, foi integrante do Grupo de Valsas Mandadas de São Francisco da Serra, onde aprendeu a dançar e a mandar. O monitor da oficina fala sobre cultura popular e explica como são estas valsas que se dançam ao contrário.

As valsas mandadas são uma dança tradicionalmente alentejana em que alguém manda, conduz a dança. Mas em termos gerais, pode explicar o que são as valsas mandadas?As valsas mandadas são umas danças que se circunscrevem apenas aos concelhos de Grândola e Santiago do Cacém. São providas de uma certa complexidade, o que fez com que elas se mantivessem naquela zona e sem uma maior divulgação. A valsa mandada é uma dança de roda em que existe um mandador, ou até vários mandadores. Mandar é algo muito complicado, difícil. O baile inicia-se com uma figura que é a base da valsa mandada que é o singelo, e a partir da qual evoluem as outras figuras.

Figura? Singelo?Uma figura corresponde a um determinado gesto, por exemplo: uma volta à direita, uma volta à esquerda, um passo à frente. Uma figura para mim é uma sequência de movimentos que determinam um gesto, pode considerar um movimento. Há figuras que se misturam, o mandador diz qual é a figura e depois, quando essa é executada, manda outra. Há várias valsas e há uma imensidão de figuras impossíveis de praticar numa dança só. O singelo é uma figura, um movimento que é constante na valsa, com a qual se inicia a dança.

Qual é a dinâmica das valsas mandadas?Na valsa normal, quando os pares se colocam em posição de dança voltados um para o outro, o homem normalmente oferece a mão esquerda e a mulher a mão direita. A valsa mandada é o contrário. A mulher está colocada do lado esquerdo do homem. Esta situação oposta complica um pouco. Tem a vantagem de não ser uma dança pré-concebida. Ninguém sabe o que é que vem a seguir. Há uma espécie de jogo. Por exemplo: eu mando uma determinada figura, depois mando outra, e outra diferente, e posso voltar à mesma. Há alguma emotividade, uma surpresa. Os dançantes acabam por se encontrar numa situação de jogo à qual têm de dar uma resposta imediata. Em termos de reflexo é muito importante, e de memória também. Quando o mandador troca de figura eu tenho de saber o que é de imediato. Nas figuras em que há mudança de par a roda pode ficar comprometida se alguém não souber o que é.

É, portanto, uma mistura entre uma dança de pares e de roda…É uma dança de pares, de roda, mandada. Na valsa existe o compasso ternário, de três tempos, mas ao ser marcado com os pés é cansativo. A valsa pode ser dançada nesse tempo mas normalmente, principalmente as pessoas mais idosas, acabam por dançar no tempo forte ternário. Podemos estar a dançar uma hora e não nos sentimos cansados. É uma espécie de dança aeróbica.

São os homens que mandam. Porquê?Havia situações em que as mulheres mandavam, mas estavam normalmente no lugar do homem. Há mandadores que dizem que podem mandar do lado contrário. Mas se o homem estiver de um lado, ao mandar, a figura nunca é igual do outro lado, sofre sempre alterações. O par natural

“A VALSA MANDADA ÉUM DESAFIO”

“Tem a vantagem de não ser uma dança pré-concebida. Ninguém sabe o que é que vem a seguir.”

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tem o homem do lado direito e a mulher do lado esquerdo.

Onde se aprendem as valsas mandadas no Alentejo?É uma dança originária do litoral do Alentejo. No interior não se dança. Existem pessoas que aprenderam a valsa mandada naturalmente, nos bailes. Dança-se nos bailaricos na zona de São Francisco da Serra, Melides, onde há um grupo de valsa mandada, com pessoas entre os setenta e os oitenta anos. Recentemente entraram duas jovens com cerca de vinte anos, o que é bom para renovar. A valsa mandada também é dançada nos ranchos folclóricos da região, mas no rancho é diferente, não se pode fazer muitas figuras porque o público está à espera de outras coisas.

Considera que a tradição corre o risco de se perder?Corre, por ser uma dança difícil. Se recuarmos vinte anos, tínhamos cem mandadores. Hoje, se tivermos vinte é muito.

É preciso conhecer bem os passos de antemão para conseguir fluir nas valsas mandadas?Nós costumamos dizer que isto é como as cantigas: a pessoa, ao cantar, tem que meter a voz dentro do compasso da música. Na valsa mandada o mando tem que estar dentro do compasso da música. O grande problema reside nas figuras. Memorizar o que cada figura quer dizer. Para quem é estrangeiro a dificuldade é maior.

Como tem sido a experiência no Andanças?Há muita gente a querer aprender. Acho interessante o facto de haver pessoas no Andanças que dominam muito bem a expressão corporal, o que lhes facilita a percepção da forma como se executa os movimentos. As pessoas aderem com facilidade e mais ou menos com facilidade conseguem executar. O problema é que só há de ano a ano. Quando chega o ano seguinte já a pessoa se esqueceu.

Mas é interessante na mesma, muita gente vai aprendendo, vai conhecendo a existência da valsa mandada. Aconselho o Caderno de Danças do Alentejo, onde está descrita a movimentação de cada figura. E na internet, no Youtube, basta escrever “valsas mandadas” e ver os vídeos sobre a iniciação à valsa mandada. Com o livro na mão e com os vídeos dá muito bem para perceber e executar. Para mandar é que é mais complicado.

O Caderno é um projecto da PédeXumbo. Uma óptima forma de divulgação.Não me canso de elogiar a PédeXumbo. Foi sem dúvida a associação responsável pelo renascimento da valsa mandada. Antes de a PédeXumbo chegar e conhecer a valsa mandada, esta era uma ilustre desconhecidíssima. A única forma de saber da sua existência era o site de Santiago do Cacém, que informava que existia um grupo. Hoje o Youtube está repleto de trechos da dança e encontra-se com facilidade. Manifesto o meu apreço à PédeXumbo, pela forma como se interessa pela cultura popular e de uma forma particular pela valsa mandada.

Porque é que aconselha os participantes do Andanças a fazer a oficina de valsas mandadas?Em primeiro lugar, vão entrar em contacto com uma dança que é muito diferente de todas as outras. Nós temos as quadrilhas, que não são em valsa, têm uma movimentação diferente. A valsa mandada é um desafio. É difícil e aconselho por isso. Não cansa, dança-se o tempo que for necessário, e depois é uma espécie de jogo no qual se foge ao habitual. De uma dança pré-concebida para uma dança aleatória em que o mando pode alterar a reacção. Treina a atenção e treina a reacção ao movimento.

Bárbara Abraúl

Alguns mandos executados e ensinados por Manuel Araújo:Singelo

Meia cadeia à esquerda

Meia cadeia começada em cima e acabada em baixo

Voltinha à direita, no fim da volta passa e fica à esquerda

Três corridos à direita

Três corridos à esquerda, furta um mais três

Três corridos à direita, mais três arrecuados, outros três

avançados

Dois rasteirinhos à frente

Cadeamos por cima à direita

Passo e dobrado à esquerda

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O relógio do velho pub em Praga marcava 2008 em numerais góticos. Mikulas recorda perfeitamente o momento que a namorada portuguesa lhe tentou descrever, embriagada de entusiasmo, um festival diferente, único, onde as pessoas dançavam e se divertiam como em nenhum outro lado do mundo. Mikulas ouvia atentamente. A curiosidade seduzia-o, palavra a palavra. Alguns meses depois viajaram ambos para Portugal. Destino: Carvalhais.

“Rock, hip hop, techo, reggae, jazz, estive em todo o tipo de festivais. Nunca vi nada como o Andanças”, afirma. “Centenas, milhares de jovens a dançar e a vibrar com música tradicional, foi uma visão surpreendente”, complementa Mikulas.

Na altura era repórter de uma rádio checa e foi nesse âmbito que visitou o festival. Gostou tanto do que viu e ouviu que fez várias gravações em áudio. Levou o Andanças na mala e na memória e, meses depois, sonoridades de grupos como

os Uxukalhus ecoavam pelos ares checos em 91.9 FM.

Os meses passavam e a nostalgia apoderava-se. Sentia-se triste por não ter algo do género no seu país de origem. Revela que a única tradição musical lá existente é uma “coisa estúpida e retrógada”, onde os adolescentes são “praticamente obrigados” na escola a aprender danças “formais e aborrecidas como a Polka ou a Mazurka”, envergando fatos todos iguais. A seu ver, resquícios de um “tradicionalismo comunista” anterior à II Grande Guerra que ainda pairam na Rep. Checa, que fomentam a “formatação” e amputam a diversidade, individualidade e criatividade do espírito humano.

Desde então, todos os Verões têm sido estações de Andanças. Especialmente este ano, onde Mikulas pôde dar azo à sua paixão de sempre: O sampling musical. “ O princípio de criação musical a partir de música já existente”. Realizou uma oficina sobre o tema nas Actividades Paralelas. É sobre

SAMPLING IS FUN!

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isso que falamos, em Inglês, língua onde o jovem checo se sente mais confortável. Embora meio ano no Rio de Janeiro e uma namorada lisboeta lhe tenham oferecido um domínio razoável da língua de Camões, perceptível quando o questionei pelas peculiaridades do Andanças e ele levou instintivamente a mão à cintura gerando um som metálico e um “the caneca”, impecavelmente pronunciado.

A paixão pela mistura de músicas surgiu na infância, quando gravava canções que passavam na rádio com o leitor de cassetes do pai e editava-as para eliminar a publicidade e a locução. Depois vieram os CDs. Tinha mais de 100 originais, que desapareceram num ápice, num roubo na sua viatura. “Deu-me vontade de chorar”. Mas o percalço revelar-se-ia positivo. “Acabei por começar a comprar vinis e isso mudou a minha vida”. Hoje tem uma loja de vinis usados em Praga. É a sua actividade principal, secundada pelas sessões como DJ.

Remete a origem do sampling para o movimento de breakdance do final dos anos 70, onde os jovens do bairro do Bronx ouviam os velhos discos dos pais, como James Brown. “Gostavam particularmente das partes instrumentais, onde aproveitavam para dançar. Com o passar do tempo, os DJs começaram a utilizar apenas essas partes. E nasceu o sampling.”

Foi isso que Mikulas fez no workshop. Na primeira noite do Andanças, assistiu ao concerto dos Karrossel. Gravou algumas músicas, cortou-as, editou-as, inseriu-as no sampler. E tocou-as, numa nova versão, para o grupo de andantes. “Estavam muito curiosos com o processo e a sua parte criativa”, diz. “Basicamente basta criatividade para fazer isto… e bom ouvido”.

Mostra-me esse trabalho, onde a fusão de percussão é intervalada por diversas intervenções dos artistas. “Podem berrar à vontade”, “Pausa!”, “Shiu!”. É incrível como ele mescla isso tudo e gera um som não só interessante, mas imperante, que nos usurpa o controlo motor sobre os membros. “Lot’s of Groove, isn’t it?”.

A conversa decorre na relva, com copos de café tombados, sonoridades próximas de acordeão e uma brisa aprazível numa tarde de 27 graus. E um sampler no chão, com o qual o jornalista se diverte como uma criança deslumbrada. “Sampling is fun , isn’t it?”, pergunta Mikulas. “Dava um bom título para o teu artigo”. Indeed.

Victor Melo

Baile ao Improviso (Sexta-feira - 18h30) SL

Mikulas vai realizar uma Jam Session no Salão com um sampler. Todos estão convidados a aparecer e a participar, seja com instrumentos ou para cantar. Pretende-se um momento de convívio, recheado de cumplicidade rítmica e espontaneidade musical.

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Colaboradores Mafalda Duarte, Ágata Melquíades, Sandra Santos, Victor Melo, Bárbara Abraúl, Francisco Pedro, Ana Mateus, Daniel Azevedo, Manuel Galrinho, Maria do Carmo Galrinho e Sara Correia | Colaboradores do Centro de Promoção Social de Carvalhais Marisa Araújo | Design Ana Mateus e Daniel Azevedo | Fotografia Manuel Galrinho e Maria do Carmo Galrinho | Fotografia da Capa Manuel Galrinho | Edição e Impressão Centro de Promoção Social de Carvalhais | Tiragem 18 exemplares A4 + 3 exemplares A5

JORNAL DISPONÍVEL EM PDF EM WWW.ANDANCAS.NET

ENCONTRADO LINCE-IBÉRICO BALEADO COM 32 CHUMBOS NO CORPOAs autoridades espanholas encontraram este domingo um lince-ibérico morto em Aznalcázar, Sevilha. O animal, da espécie de felino mais ameaçada do planeta, tinha no corpo 32 chumbos.

GOVERNO NOMEOU 51 ESPECIALISTAS EM 42 DIAS O Governo de Pedro Passos

Coelho tinha, até terça-feira, contratado 51 especialistas para os seus gabinetes. A admissão de especialistas foi dos aspectos mais criticados pelo Tribunal de Contas na primeira e única “Auditoria aos Gabinetes Governamentais”.

ESTADO ENDIVIDOU-SE A TRÊS MESES COM JUROS A ROÇAR CINCO POR CENTO O Estado obteve a totalidade dos 750 milhões de euros que

pretendia pedir no mercado de dívida.

HOSNI MUBARAK COMEÇOU A SER JULGADO Começou nesta quarta-feira o julgamento de Hosni Mubarak, dos seus dois filhos e de outros sete responsáveis do antigo regime egípcio. O ex-Presidente declarou-se inocente de todos os crimes de que está acusado.G

LOB

AL

DESPERDÍCIO DE COMIDA NA CANTINA

Processo que move os seres humanos, os corpos e os corações para uma maior consciência da sua própria cultura – valores, atitudes, relações – através da imersão numa outra cultura ou referente é um conceito sempre presente no Andanças.A abordagem intercultural das relações entre culturas diversas caracteriza-se por dar ênfase ao conhecimento mútuo e ao diálogo entre elas e por reconhecer igual valor às culturas que coexistem.O efeito da nossa cultura na leitura do mundo que nos rodeia assemelha-se à utilização de “óculos culturais” de uma determinada cor. A nossa visão do mundo é sempre tingida pelos mesmos tons. Mudando de cultura, mudamos o filtro dos óculos e apercebemo-nos que a nossa forma de ver as coisas não é única.

PES - ANDANÇAS INTERCULTURAL

Nº Refeições

Alm Jan

Quarta 984 1298

DICA ECOLÓGIC

A

ARMADILHA PARA MOSCAS

Precisas de um garrafão de água, onde despejas restos de líquidos que não queres: das salsichas, do atum, de uma garrafa…

Fechas a tampa do garrafão e perfuras o plástico de maneira a abrir dois buracos, um de cada lado. Também precisas do cartão de um rolo de papel

de cozinha. No centro do cartão, fazes um orifício (grande o suficiente para as moscas passarem por

lá). O rolo tem de ser colocado no centro, entre os dois buracos, criando uma espécie de túnel onde

as “meninas” se vão enfiar. Uma vez dentro do garrafão, acabam todas a boiar! E sem

aerossóis.

0

37,5

75,0

112,5

150,0

2ª F 3ª F 4ª F

g