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Seminário Reabilitação de Fachadas, Vasconcelos&Lourenço (eds.), 2016 129 ANCORAGENS EM PAREDES DE ALVENARIAS: ENSAIOS, PROJETO E APLICAÇÃO Rosana MUÑOZ Professora Universidade Federal da Bahia, Brasil Paulo B. LOURENÇO Professor Catedrático Universidade do Minho, Guimarães SUMÁRIO Muitos edifícios antigos encontram-se degradados e com colapsos parciais, restando-lhes apenas as fachadas e/ou o as paredes laterais. A consolidação e reutilização destas paredes são de fundamental importância para o significado do património histórico. Por outro lado, muitos edifícios recentes possuem paredes de alvenaria, estruturais ou não estruturais, que, em muitos casos, necessitam de ancoragens. O presente trabalho aborda o estudo do comportamento mecânico de ancoragens metálicas utilizadas para ligações a paredes de alvenarias, sejam, provisórias, com fins de escoramento ou sejam definitivas, associadas a reparações, reforço ou reabilitação em geral da construção. Apresenta também aspetos relativos e aplicações em edificações situadas no Centro Histórico de Salvador, no Brasil, e em Portugal, que utilizaram esse sistema de ligação. Para a obtenção dos resultados experimentais, foram realizados, nomeadamente, ensaios de pull-out com ancoragens adesivas e mecânicas em alvenarias de pedra e também de tijolo maciço construídas em laboratório, cujos resultados foram comparados com previsões de acordo com a regulamentação. Este trabalho contribui para a escolha da ligação mais eficiente a paredes de alvenaria em termos de aderência. 1. INTRODUÇÃO Muitos edifícios antigos, construídas em alvenaria argamassada de pedra e/ou tijolo, apresentam-se deterioradas pela ação do tempo e pela falta de manutenção, contando apenas com a fachada e as paredes laterais. Por outro lado, na generalidade dos edifícios recentes estão presentes paredes de alvenaria, estruturais ou não estruturais, com tijolos com furação horizontal, vertical ou maciços. O escoramento ou a consolidação estrutural em reabilitação pode ser feito de diversas formas e com vários materiais, sendo habitual recorrer a elementos metálicos. Uma possibilidade da ligação entre estes elementos e as paredes de alvenaria é o recurso a ancoragens metálicas, podendo estas ser de três tipos: adesivas (bonded anchors), de expansão (expansion anchors) e de segurança (undercut anchors), sendo que estas duas últimas são designadas ancoragens mecânicas [1]. Os conectores do primeiro tipo podem utilizar resina, recebendo a denominação de ancoragem química, ou ligantes inorgânicos, usualmente designados por grout. A ancoragem química consiste habitualmente em dois tipos de adesivos que são misturados durante a aplicação. Esse sistema pode ser de cápsula ou de injeção. A ancoragem com grout emprega habitualmente uma base cimentícia para preencher os vazios no material de suporte e realizar a adesão do

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  • Seminário Reabilitação de Fachadas, Vasconcelos&Lourenço (eds.), 2016 129

    ANCORAGENS EM PAREDES DE ALVENARIAS:

    ENSAIOS, PROJETO E APLICAÇÃO

    Rosana MUÑOZ

    Professora

    Universidade Federal da Bahia, Brasil

    Paulo B. LOURENÇO

    Professor Catedrático

    Universidade do Minho, Guimarães

    SUMÁRIO

    Muitos edifícios antigos encontram-se degradados e com colapsos parciais, restando-lhes

    apenas as fachadas e/ou o as paredes laterais. A consolidação e reutilização destas paredes são

    de fundamental importância para o significado do património histórico. Por outro lado, muitos

    edifícios recentes possuem paredes de alvenaria, estruturais ou não estruturais, que, em muitos

    casos, necessitam de ancoragens. O presente trabalho aborda o estudo do comportamento

    mecânico de ancoragens metálicas utilizadas para ligações a paredes de alvenarias, sejam,

    provisórias, com fins de escoramento ou sejam definitivas, associadas a reparações, reforço ou

    reabilitação em geral da construção. Apresenta também aspetos relativos e aplicações em

    edificações situadas no Centro Histórico de Salvador, no Brasil, e em Portugal, que utilizaram

    esse sistema de ligação. Para a obtenção dos resultados experimentais, foram realizados,

    nomeadamente, ensaios de pull-out com ancoragens adesivas e mecânicas em alvenarias de

    pedra e também de tijolo maciço construídas em laboratório, cujos resultados foram

    comparados com previsões de acordo com a regulamentação. Este trabalho contribui para a

    escolha da ligação mais eficiente a paredes de alvenaria em termos de aderência.

    1. INTRODUÇÃO

    Muitos edifícios antigos, construídas em alvenaria argamassada de pedra e/ou tijolo,

    apresentam-se deterioradas pela ação do tempo e pela falta de manutenção, contando apenas

    com a fachada e as paredes laterais. Por outro lado, na generalidade dos edifícios recentes estão

    presentes paredes de alvenaria, estruturais ou não estruturais, com tijolos com furação

    horizontal, vertical ou maciços. O escoramento ou a consolidação estrutural em reabilitação

    pode ser feito de diversas formas e com vários materiais, sendo habitual recorrer a elementos

    metálicos. Uma possibilidade da ligação entre estes elementos e as paredes de alvenaria é o

    recurso a ancoragens metálicas, podendo estas ser de três tipos: adesivas (bonded anchors), de

    expansão (expansion anchors) e de segurança (undercut anchors), sendo que estas duas últimas

    são designadas ancoragens mecânicas [1].

    Os conectores do primeiro tipo podem utilizar resina, recebendo a denominação de ancoragem

    química, ou ligantes inorgânicos, usualmente designados por grout. A ancoragem química

    consiste habitualmente em dois tipos de adesivos que são misturados durante a aplicação. Esse

    sistema pode ser de cápsula ou de injeção. A ancoragem com grout emprega habitualmente

    uma base cimentícia para preencher os vazios no material de suporte e realizar a adesão do

  • Ancoragens em paredes de alvenaria: ensaios, projeto e aplicação 130

    conector. O grout possui propriedades similares às argamassas ou betões, permitindo bom

    desempenho a altas temperaturas e condições de humidade [1]. Ambas as ligações exigem um

    período de cura para ganho de resistência, sendo que este período é reduzido no caso de

    ancoragens químicas.

    As ancoragens de adesão com resina, utilizadas, geralmente, em situações onde é requerido

    tempo de endurecimento rápido, exigem furos de pequenos diâmetros (tipicamente 10 a 25 %

    maiores que o diâmetro do conector); já nas ancoragens que utilizam grout, o diâmetro do furo

    deverá ser de 50 a 200 % o diâmetro do conector [2].

    Os ligadores de expansão alargam-se na instalação e compreendem duas categorias: por

    controlo do momento torsor (binário ou aperto) e por controlo da deformação. Para os

    ligadores de aperto, o aperto da porca ou parafuso ativa o mecanismo de expansão; para os de

    deformação, o grau de ampliação é controlado pelo deslocamento relativo do cone de expansão

    dentro de uma manga. Os conectores de segurança assemelham-se a pequenas estacas e

    possuem a parte inferior expansiva [1]. De forma geral, a ancoragem mecânica fundamenta-se

    no atrito desenvolvido entre as laterais do furo e as saliências do conector para a transferência

    de cargas.

    Os tipos de ancoragens recomendados tanto para as alvenarias de pedra, como para as de tijolo

    maciço, são de adesão e de expansão controlada por aperto [1]. Para a sua instalação, devem

    ser adotados alguns procedimentos que visam a qualidade das ligações, tais como: executar os

    furos nos diâmetros e profundidades especificados; assegurar a limpeza dos mesmos; garantir a

    centralidade do conector no furo; garantir que os adesivos, se aplicável, mantenham as suas

    propriedades na aplicação, principalmente em relação ao fator água/cimento, em função da

    capacidade de absorção de água do material; entre outros [1,3,4, 5].

    A ligação entre elementos estruturais (estrutura metálica/alvenaria) merece especial atenção,

    uma vez que, na prática, diversos fatores internos e externos podem afetar o comportamento da

    ligação, reduzindo sua capacidade de carga. Neste contexto, o presente trabalho, pretende:

    a) apresentar resultados sobre o comportamento mecânico, em termos de aderência, de três

    tipos de ligações: química, com grout cimentício, e mecânica em paredes de alvenaria de pedra

    e de tijolo confecionadas em laboratório; e b) relatar experiências de aplicação de sistemas de

    ancoragem: uma localizada no Centro Histórico de Salvador, Brasil, e duas em Portugal.

    Os procedimentos metodológicos realizados compreenderam, além da revisão bibliográfica

    sobre o tema e da apresentação de três casos de estudos, a execução de um programa

    experimental com a realização de ensaios para: a) definição do traço da argamassa de

    assentamento a ser utilizada nas paredes; b) caracterização dos materiais utilizados;

    c) realização das paredes de alvenaria de pedra e de tijolo; d) execução de ensaios de

    compressão diagonal, axial e de pull-out em alvenarias; e e) análise dos resultados,

    contemplando avaliação comparativa entre os valores obtidos nos ensaios e os valores obtidos

    pela regulamentação aplicável.

    O presente trabalho contribui para a escolha da ligação mais eficiente em termos de aderência,

    para alvenaria, utilizando conectores mecânicos e de adesão. Realça-se que este tipo de

    ancoragem é recomendado para a consolidação de estruturas antigas, por permitir baixo

    impacto estético e intervenção mínima, e permite a reparação e reforço de estruturas recentes.

    2. ASPECTOS TEÓRICOS DE LIGAÇÕES METÁLICAS SUJEITAS À TRAÇÃO

    A utilização de ancoragens metálicas na reparação da alvenaria tem a sua fundamentação na

    transferência de forças de tração que não podem ser suportadas pela alvenaria isoladamente e

    no reforço metálico a aplicar, bem como na promoção de ligação entre paredes e outras

    estruturas de suporte existentes. Na prática, o uso de ancoragens está usualmente associado a

    aspetos como: a estabilização de alvenarias fissuradas ou deformadas; a ligação entre novas e

    antigas estruturas ou elementos estruturais; a transmissão de forças de tração, por exemplo,

    durante a construção; o reforço de paredes e fundações; e o reforço para suporte de cargas

    dinâmicas [4].

    A consolidação de alvenarias com uso de conectores metálicos sujeitos à tração tem sido

    realizada há séculos e é amplamente aceite no campo da conservação do património construído

    com valor cultural e em operações correntes de reparação e reforço. Alguns aspetos normativos

  • R. Munoz, P.B. Lourenço 131

    relacionados com o cálculo analítico de valores estimados de resistência à tração, obtidos por

    meio de fórmulas para ensaios de pull-out, são apresentados em seguida. Grande parte desses

    modelos foi desenvolvida especificamente para o betão, no entanto podem ser feitas analogias

    para a alvenaria.

    A formulação analítica foi estabelecida em função dos possíveis tipos de rotura de ligação,

    nomeadamente: a) aço do conector; b) cone do material do substrato; c) arrancamento do

    conector; d) combinação de arrancamento e rotura do cone; e) secção transversal do material

    do substrato e f) cone lateral, como se mostra na Figura 1 [6,7].

    Figura 1 : Tipos de rotura: (a) conector; (b) cone do substrato; (c) arrancamento do

    conector; (d) combinação de arrancamento e cone; (e) secção transversal

    do material do substrato; (f) cone lateral.

    A resistência da ligação depende das propriedades dos materiais existentes e da tecnologia de

    aplicação [4]. De acordo com a EN 1992-4, a força de tração resultante de projeto não deve

    exceder à resistência de projeto obtida pela divisão da resistência característica pelo coeficiente

    de segurança do material [7]. A Tabela 1 apresenta as resistências características de um

    conector para os principais tipos de rotura, de acordo com a pesquisa bibliográfica, utilizando

    ancoragem adesiva. Informações detalhadas das expressões e dos símbolos utilizados podem

    ser encontrados na referência indicada.

    Tabela 1 – Resistências características de ancoragens adesivas.

    Tipos de rotura Resistência característica (em N) Material base Referência

    T1.Rotura do aço

    do conector

    0,75.As.fu

    0,90.As.fy

    (1)

    (2)

    Betão/Alvenaria

    Betão/Alvenaria

    [8,9]

    [10]

    T2.Rotura do

    cone

    k.(fck cube)0,5.hef1,5.(Ac,N/A0c,N) (3)

    Betão [8]

    T3.Rotura por

    arrancamento

    τ.π.d.hef

    τo.π.do.hef

    (4)

    (5)

    Betão/Adesivo

    Adesivo/Betão

    [11]

    [12]

    T4.Combinação

    de arrancamento

    e cone

    τ.π.d.hef.(Ap,N/A0p,N)

    0,85.hc2.(fcc,200)0,5 + π.τ.d.(hef –

    hc),

    Se hef > hc e

    hc = τ.π.d/[1,7.(fcc,200)0,5]

    (6)

    (7)

    Betão

    Betão

    [8]

    [11]

    A rotura do aço dos conectores em aplicações em alvenaria é raramente observada, e ocorre

    nos casos em que a profundidade de ancoragem e a resistência da alvenaria são significativas

    [13]. A resistência característica T1 é dada pela área da secção transversal efetiva do parafuso

    (As) e a tensão resistente à tração do aço (fu) [8, 14, 15]. O ACI 318 recomenda o uso do

    coeficiente 0,75 [9], enquanto o ACI 530 propõe a utilização da tensão de cedência (fy) no

    lugar da tensão última e a aplicação de coeficiente de redução de 0,90 [10].

    No que diz respeito à rotura do cone, T2, a bibliografia sobre o tema considera principalmente

    o material betão. Este tipo de rotura ocorre geralmente para profundidades de ancoragem curtas

    e betões de baixa resistência. De forma geral, a capacidade do conector é influenciada pela

  • Ancoragens em paredes de alvenaria: ensaios, projeto e aplicação 132

    resistência do betão, pela proximidade a outros conectores e bordos, e também pela presença de

    fissuras [16]. A equação (3), apresentada na Tabela 1, depende: do valor de k, sendo

    7,2 N0,5/mm0,5 para betões fissurados e 10,1 N0,5/mm0,5 para betões não fissurados [8] ou, ainda,

    7,7 N0,5/mm0,5 e 11 N0,5/mm0,5, respetivamente [6]; do valor da resistência do betão obtida em

    cubos de 200 mm (N/mm2) e do comprimento efetivo da ancoragem hef (mm). Essa equação

    pode levar em conta a sobreposição de áreas, quando se tem dois ou mais conectores

    adjacentes, por meio de um fator de redução Ac,N/A0c,N1. A área de betão A0c,N de um conector

    individual distante dos bordos, na superfície de betão, idealizando o cone como uma pirâmide

    com altura igual à profundidade de embebimento, hef, é dada por 9.hef2 [8, 14], como mostra a

    Figura 2.

    Figura 2 : Cone de betão e área A0c,N de um conector individual.

    A rotura por arrancamento do conector ou pull-out, no caso de ancoragens químicas, ocorre

    entre o adesivo e a superfície ou entre o adesivo e o conector [16]. Para este tipo de rotura, T3,

    apresenta-se o recomendado pelo fib Bulletin 58 [6], EN 1992-4 [7] e TR 029 [8] que adotam o

    modelo de tensão de aderência uniforme para descrever o comportamento da interface entre o

    conector e o grout (Eq. (4)) e o grout e o betão (Eq. (5)). Ambas as resistências dependem do

    comprimento efetivo da ancoragem, hef, e levam em consideração diferentes diâmetros: d, do

    conector, e do, do furo, ambos em milímetros. As resistências diferem também quanto à tensão

    de aderência uniforme a considerar: a primeira usa o valor nominal τ na interface

    conector/grout e a segunda usa o valor τo na interface grout/betão. A desvantagem deste

    método é a reduzida informação sobre a resistência adesiva na interface, uma vez que a mesma

    é afetada por fatores internos, de difícil controlo, e externos, como a condição do furo durante a

    instalação. As equações podem ser multiplicadas pelo fator Ac,N/A0c,N, caso seja necessário.

    Em laboratório, a rotura da interface conector/grout pode ser verificada pelo deslocamento

    definido do elemento tracionado na parte livre; já o deslocamento do material injetado reflete a

    rotura na interface entre este e o furo (material do substrato). Estudos realizados indicam que a

    adesão entre o material injetado e a face do furo depende da capacidade de absorção de água do

    substrato e da restrição às extensões transversais. Adicionalmente, devem ser levados em conta

    o comprimento da adesão, o tempo de injeção e a influência das juntas [4].

    1 Quando o conector é localizado próximo à bordo ou existem interceções de cones, a redução da tração é levada em

    conta pela introdução do fator geométrico Ac,N/A0

    c,N, onde Ac,N é a área projetada de um conector ou grupo de

    conectores na superfície de betão e A0c,N é a área de betão projetada por um conector, não limitada por bordos ou influências dos conectores adjacentes. Para um conector individual, não situado numa bordo, a área Ac,N torna-se igual

    à A0c,N.

  • R. Munoz, P.B. Lourenço 133

    Para a combinação de modos de rotura pelo arrancamento e desenvolvimento do cone, T4, a

    fórmula (6) apresentada na Tabela 1 foi adaptada à situação do presente estudo, considerando

    apenas um conector distante dos bordos. Esta equação contempla a resistência característica de

    aderência do betão, τ, podendo ser 2,3 para betões fissurados ou 3,2 para betões não fissurados

    [8]. Se for o caso, pode ser consideradas: a distribuição de tensões no betão relativa aos bordos,

    a rotura da superfície por grupos de conectores, a excentricidade e o efeito de reforços [8].

    Outro valor de estimativa de carga, a equação (7), compreende a resistência nominal do betão à

    compressão de cubos de 200 mm e a profundidade do cone, hc. Se o seu valor for igual ou

    superior à altura de embebimento efetivo da ancoragem, haverá apenas a formação do cone ou

    a sua combinação, se for menor.

    Em relação à ancoragem mecânica, no que se refere à capacidade de carga, os tipos de rotura

    podem ser do conector, como já abordado na Tabela 1, do cone, de arrancamento, e de

    fissuração da secção transversal do material [6]. As resistências características relativas à

    rotura do cone e ao arrancamento são apresentadas na Tabela 2.

    Tabela 2 – Resistências características de ancoragens mecânicas.

    Tipos de rotura Resistência característica (em N) Material base Fonte

    T5.Rotura do cone k.(fck)0,5.hef1,5 (8) Betão [6]

    T6.Rotura por

    arrancamento

    k.π.(dh2 – d2).fck/4 (9) Betão [7]

    Em relação à rotura do cone, T5, de acordo com o fib Bulletin 58, o valor de k deve ser 7,0

    N0,5/mm0,5 para betões fissurados e 11,0 N0,5/mm0,5 para betões não fissurados [6]. Segundo a

    EN 1992-4 [7], estes valores são 7,7 e 11, respetivamente; ou, ainda; 7,2 e 10,1 [14].

    A rotura por arrancamento para a ancoragem mecânica ocorre para profundidades de

    embebimento moderadas em betões de baixa resistência ou furos com diâmetros superiores aos

    conectores [16] e depende do tipo e forma do ligador [14].

    A fórmula T6, apresentada na Tabela 2, está em função de k, cujos valores devem ser 7,5 para

    betões fissurados e 10,5 para betões não fissurados. A fórmula depende ainda da área de

    suporte do conector Ah, que considera o diâmetro da cabeça do conector, dh, e o diâmetro do

    conector d. Outro tipo de rotura característico da ancoragem mecânica, que ocorre na secção

    transversal, pode ser evitada durante a instalação do conector, providenciando distância

    suficiente dos bordos e entre conectores [6].

    Têm sido realizadas vários trabalhos experimentais para identificar as resistências de

    ancoragens com conectores metálicos ao longo do tempo [4, 11, 12, 16]. Mais recentemente,

    observam-se estudos voltados para alvenaria [4,5, 17, 18, 19, 20] e para a consolidação de

    estruturas sujeitas a sismos [21, 22, 23] e a ações dinâmicas [24].

    3. PROGRAMA EXPERIMENTAL

    Para a etapa experimental, foi realizada uma revisão bibliográfica em artigos científicos e

    normas técnicas relativa ao tema em questão e definidos os materiais a serem utilizados. Essa

    escolha fundamentou-se no objetivo principal de trabalhar com alvenarias antigas, ainda que as

    conclusões possam ser parcialmente aplicáveis a alvenarias moderna, portanto foram

    selecionados materiais representativos.

    Para a caracterização mecânica da ligação, foram realizados ensaios de pull-out em paredes de

    pedra e de tijolo, construídas no Laboratório de Estruturas LEST, da Universidade do Minho,

    em Guimarães, além de outros testes de caracterização de materiais.

    3.1. Caracterização dos materiais

    Os materiais utilizados para a construção das paredes foram: a) argamassa de cal hidráulica

    NHL 3,5, fornecida pela empresa SECIL, e areia proveniente de pedreira, com traço 1:2,5, (em

  • Ancoragens em paredes de alvenaria: ensaios, projeto e aplicação 134

    volume) estabelecido a partir de ensaios prévios realizados em laboratório, de acordo com

    Veiga [25]; b) tijolos maciços, com dimensões 0,065 x 0,095 x 0,200 m3, e c) pedras

    irregulares de granito, extraídas no norte de Portugal. Os conectores foram fornecidos pela

    HILTI Portugal e o grout cimentício utilizado foi o Mapefill P, da MAPEI. A caracterização

    mecânica dos materiais utilizados na construção das paredes, com o coeficiente de variação

    dado em percentagem, entre parênteses, ao lado dos valores médios, é apresentada na Tabela 3.

    Tabela 3 – Caracterização mecânica dos materiais utilizados nas paredes.

    Material

    Resistência à

    compressão

    (MPa)

    Resistência à

    tração

    (MPa)

    Módulo de

    elasticidade

    (GPa)

    Argamassa alvenaria pedra (28 dias) 1,63 (14,2) 0,59 (7,5) 2.42 (13,3)

    Argamassa alvenaria tijolo (28 dias) 1,42 (10,5) 0,41 (14,1) 2.15 (4,7)

    Granito 74,4 (18,0) 6,20 (12,3) 58.7 (23,0)

    Tijolo 19,9 (4,5) 2,13 (16,3) 9.74 (6,9)

    Apesar das argamassas destinadas ao assentamento de pedras e tijolos possuírem o mesmo

    traço e índice de espalhamento, nota-se que as resistências daquelas destinadas às alvenarias de

    tijolo são inferiores que as das alvenarias de pedra. Isto pode ser explicado pelo teor de

    humidade e água necessária na composição. Os dados relativos ao índice de absorção por

    imersão do tijolo apontam uma média de 23,4% (CoV 1,5 %), enquanto para a pedra este valor

    é de apenas 1,92 % (CoV 16 %).

    Observam-se coeficientes de variação significativos relativos à compressão e ao módulo de

    elasticidade das pedras, uma vez que foi utilizado granito alterado, cujas tensões de

    compressão variaram entre 28,7 e 86,7 MPa e módulos de elasticidade de 48.0 a 110.0 GPa.

    3.2. Execução de alvenarias

    Tomando como base que as paredes a serem testadas deveriam ser representativas de

    alvenarias antigas e compatíveis com o espaço dos equipamentos de ensaios, foi inicialmente

    determinada a altura limite de 1,20 m para as paredes que seriam ensaiadas ao arrancamento. A

    definição da espessura das paredes adotou as recomendações apresentadas por Segurado [26],

    ficando em 0,40 m. A largura estabelecida, de 0,80 m, foi calculada a partir do diâmetro do

    cone de arrancamento esperado como resultado do pull-out de conectores metálicos, indicado

    por normas e diretrizes consultadas [8, 14,15] e elucidado na Figura 2. A disposição das pedras

    e tijolos seguiu as recomendações [26] para alvenarias antigas (Figura 3).

    (a) (b)

    Figura 3 : Construção das paredes com 0,40 m de espessura: (a) em alvenaria de pedra;

    (b) em alvenaria de tijolo.

    Foram preparadas duas paredes para cada tipo de ancoragem – química, com grout e mecânica,

    perfazendo o total de 6 paredes de ensaio por material. Executaram-se, ainda, outras paredes

    para caracterizar as alvenarias de estudo em relação à compressão, tração e corte, como

    disposto na Tabela 4. As dimensões e quantidades de paredes adotadas seguiram o estabelecido

    pelas normas e recomendações E 519-02 [27], LUMB6 [28], C 1314-03b [29] e EN 1052-1

    [30]. Todos os modelos ficaram armazenados na cave do Laboratório de Estruturas LEST da

    Universidade do Minho antes dos ensaios.

  • R. Munoz, P.B. Lourenço 135

    Após a execução e o período de cura das paredes, estabelecido em trinta dias, e providenciados

    os materiais e equipamentos necessários para a fixação das ancoragens, foi montado o setup a

    ser usado nos ensaios de compressão diagonal (Figura 4a) e compressão axial (Figura 4b).

    Terminados esses ensaios, partiu-se para a montagem do setup destinado à colocação dos

    conectores e para realização do pull-out (Figura 4c). Para este último ensaio, foram executadas

    peças de encaixe para arranque do conector mecânico e uma estrutura de fixação da parede ao

    pórtico.

    Tabela 4 – Dimensões e quantidades de paredes utilizadas na campanha experimental e os

    ensaios a que se destinaram.

    Tipos

    Dimensões (largura

    x comprimento x

    altura) (m3)

    Quantidades Ensaios destinados

    0.30 x 0.80 x 0.80 3 Compressão diagonal

    0.40 x 0.60 x 0.80 3 Compressão axial

    Alvenaria de pedra 0.20 x 0.40 x 0.40 5 Compressão axial

    0.40 x 0.80 x 1.20 6 Pull-out

    0.30 x 0.80 x 0.80 3 Compressão diagonal

    Alvenaria de tijolo 0.40 x 0.40 x 0.502 3 Compressão axial

    0.20 x 0.40 x 0.40 5 Compressão axial

    0.40 x 0.80 x 1.20 6 Pull-out

    (a) (b) (c)

    Figura 4 : Setups para os ensaios: (a) compressão diagonal; (b) compressão axial da alvenaria

    de pedra (esquerda) e de tijolos (direita); (c) pull-out.

    3.3. Ensaios de compressão diagonal e axial das paredes

    O ensaio de compressão diagonal foi realizado com controlo de deslocamento em ambos os

    lados e velocidade de deformação foi de 3 /seg, quarenta dias após a execução das paredes.

    Este ensaio foi utilizado para avaliar as tensões de tração e de corte dos prismas, tanto da

    alvenaria de pedra (Figura 5a), quanto da alvenaria de tijolo (Figura 5b), considerando

    propriedades elásticas isotrópicas. Os mesmos parâmetros de deslocamento e velocidade foram

    utilizados para os ensaios de compressão axial (Figura 5c e Figura 5d), executados 60 dias após

    a construção das paredes. Os resultados médios e coeficientes de variação, apresentado entre

    parênteses, em percentagem, dos ensaios referenciados nesta secção estão indicados na Tabela

    5. As últimas duas colunas referem-se à resistência média à compressão dos prismas de 0,40 m

    de espessura (A) e das paredes de 0,20 m de espessura (B).

    2 Observa-se que estas dimensões diferem daquelas consideradas para as paredes de alvenaria de pedra, uma vez que, em função da maior resistência prevista para a alvenaria de tijolo, foram ensaiadas em outra prensa com maior

    capacidade de carga, porém com diferente limite de altura.

  • Ancoragens em paredes de alvenaria: ensaios, projeto e aplicação 136

    (a) (b) (c) (d)

    Figura 5: Ensaios de compressão diagonal e compressão axial para as alvenarias de pedra e de

    tijolo.

    Tabela 5 – Resistências médias das paredes ensaiadas.

    Paredes

    Resistência à

    tração

    (MPa)

    Resistência ao

    cisalhamento

    (MPa)

    Resistência à

    compressão

    (A) (MPa)

    Resistência à

    compressão

    (B) (MPa)

    Alvenaria de pedra 0,083 (18,33) 0,179 (17,35) 1,71 (19,68) 1,76 (20,02)

    Alvenaria de tijolo 0,101 (12,82) 0,212 (12,81) 8,82 (7,91) 9,84 (2,63)

    A rotura das paredes submetidas à compressão diagonal, tanto de alvenaria de pedra como da

    alvenaria de tijolo, ocorreu de forma progressiva, sendo nestas últimas mais próxima da

    superfície superior. No caso da compressão axial, a rotura deu-se de forma cônica, como

    ilustrado em C 1314 – 03b [29].

    Em relação aos valores obtidos nos ensaios, observa-se certa semelhança com o apresentado

    por Moreira [21] para a compressão axial de alvenarias de pedras argamassadas, 1,7 MPa,

    porém há divergência em relação à tração e ao corte, 0,14 MPa e 0,29 MPa, respetivamente,

    sendo esses valores 70 % e 62% superiores aos obtidos neste trabalho. Isto pode ser explicado,

    em parte, pela utilização de argamassas com composições diferentes, uma vez que estas

    desempenham um papel relevante no comportamento mecânico das alvenarias. Apesar de

    Moreira ter usado cal hidráulica, também utilizou cimento na composição da argamassa, na

    proporção 1:3:10:6 (cimento: cal hidráulica: areia tipo 1: areia tipo 2) [21].

    Lumantarma et al. [31] desenvolveram um programa experimental para calcular expressões

    preditivas e modelos numéricos tendo em vista determinar o comportamento à compressão de

    paredes de tijolo. Para argamassas de cal e areia os valores encontrados em laboratório foram

    8,5 MPa e 10,6 MPa, compatíveis com os obtidos neste trabalho, apesar das diferentes

    características dos materiais utilizados.

    3.4. Ensaios de pull-out em paredes

    As ancoragens utilizadas no presente estudo, especificadas na Tabela 6, a seguir, em função da

    adequação, do comprimento (l) e do embutimento efetivo (hef), possuíam 10 mm de diâmetro e

    foram fornecidas pela HILTI Portugal.

    Ressalta-se que, para a execução dos furos e colocação da ancoragem, assim como durante a

    realização dos ensaios de pull-out, a parede esteve submetida a uma tensão de compressão de

    0,2 MPa, para reproduzir o efeito de confinamento associado à compressão vertical existente

    em uma fachada real.

    A resina foi injetada por meio de equipamento específico cedido pela empresa HILTI Portugal

    (dispensador a bateria Hilti HDE 500-A22) e o grout foi aplicado manualmente. Em relação a

    este último tipo de ancoragem, ressalta-se a soldagem de anilha na extremidade do conector

    para permitir a sua centralidade no furo e adesão adequada (Figura 6). Destacam-se ainda na

    referida imagem, os tubos de injeção e de saída de ar para a garantia do efetivo preenchimento

    do furo de 20 mm de diâmetro, 100% superior ao diâmetro do conector, como já abordado

    anteriormente.

  • R. Munoz, P.B. Lourenço 137

    Tabela 6 – Especificações das ancoragens utilizadas nas alvenarias.

    Alvenaria

    Ancoragem mecânica Ancoragem química Ancoragem com grout

    Tipo l

    (mm)

    hef

    (mm) Tipo

    l

    (mm)

    hef

    (mm) Tipo

    l

    (mm)

    hef

    (mm)

    Pedra Conector

    HUS 3 100 85

    Resina

    HIT-RE

    500;

    Conector

    HIT-V-

    8.8

    M10x190

    190 150

    Grout

    Mapefill

    P;

    Conector

    HIT-V-

    8.8

    M10x190

    190 150

    Tijolo Conector

    HUS 33 100 85

    HIT-HY

    270;

    Conector

    HIT-V-

    8.8

    M10x190

    190 150

    Grout

    Mapefill

    P;

    Conector

    HIT-V-

    8.8

    M10x190

    190 150

    Figura 6: Sistema usado na ancoragem com grout.

    Após a fixação dos conectores, feita de forma horizontal, e após o período de cura das

    ancoragens químicas e de grout, foram executados os ensaios de pull-out. Para evitar que a

    parede sofresse deslocamentos quando da realização do ensaio, a mesma era fixada ao pórtico

    com a utilização de estrutura metálica, varões e roscas. A seguir, era colocada uma rótula para

    ligar a ancoragem ao atuador e eram fixados os LVDTs, de forma a medir os deslocamentos na

    área interna e externa ao provável cone de arrancamento que poderia ser formado. A Figura 7

    elucida a realização dos ensaios nas alvenarias.

    Figura 7: Ensaios de pull-out em alvenarias de pedra e de tijolos.

    3 A empresa HILTI não disponibiliza comercialmente conector mecânico para alvenarias de tijolo. Por esta razão,

    optou-se por utilizar o mesmo da alvenaria de pedra, com o intuito de poder realizar comparações de resultados.

  • Ancoragens em paredes de alvenaria: ensaios, projeto e aplicação 138

    4. RESULTADOS E ANÁLISES

    Os resultados obtidos após a realização dos ensaios de pull-out são apresentados nas Tabelas 7

    e 8 para alvenarias de pedra e de tijolo, respetivamente, em termos de força e deslocamento.

    Nas tabelas, mostram-se, também, as resistências características estimadas, calculadas em

    função do tipo de rotura, como abordado na Secção 2 do presente trabalho.

    A identificação do tipo de rotura foi baseada nos resultados dos deslocamentos obtidos por

    meio de LVDTs colocados nas paredes e também na inspeção visual realizada durante e depois

    da execução do ensaio de pull-out. No total, foram fixados cinco LVDTs nas áreas interna e

    externa ao cone de rotura estimado (ver Figura 2) e também sobre o conector. Em seguida, o

    tipo de rotura foi classificado tal como estabelecido na Secção 2, sendo a resistência

    característica calculada de acordo com as Tabelas 1 e 2.

    Nas fórmulas que contemplam o valor da resistência à compressão do betão, esta foi

    substituída pela da resistência à compressão da alvenaria, fazendo-se uma média entre os

    montantes das colunas (A) e (B) da Tabela 5. Tomou-se, adicionalmente, o valor de k = 7,2

    para as ancoragens adesivas, e 7,0 para as mecânicas, com o intuito de considerar a situação

    mais desfavorável; e a resistência na interface grout/alvenaria, τo, como 2,3 MPa para betões

    fissurados [8]. Como o conector estava centrado e distante mais de 3hef dos bordos, a relação

    Ac,N/A0c,N foi igual a um.

    No que respeita à alvenaria de pedra, comparando-se as forças médias dos três tipos de

    ligações, observa-se que as ancoragens químicas e com grout evidenciaram melhor

    desempenho em relação à aderência, com forças máxima de pull-out semelhantes. No entanto,

    o coeficiente de variação foi 35%, indicando que a média, neste caso, não reflete corretamente

    o comportamento. Como esse tipo de alvenaria contempla muitas especificidades (tamanho e

    disposição das pedras, irregularidade das juntas, entre outras), pode-se concluir que as ligações

    adesivas são melhores que as mecânicas, sendo as ancoragens químicas as mais adequadas,

    uma vez que apresentaram pequena diferença daquelas executadas com grout e maior

    uniformidade. As conexões mecânicas revelaram bons resultados para forças pequenas.

    As fórmulas de previsão para as ligações adesivas, apresentadas na Secção 2 do presente

    trabalho, encontram-se mais apropriadas do que aquelas direcionadas para as ancoragens

    mecânicas, apesar de grande parte ser específica para substratos de betão. Os modelos para as

    ligações mecânicas não levam em consideração, principalmente, o tipo de conector, os seus

    formatos e ranhuras, e as diferenças de atrito.

    Uma das paredes apresentou uma combinação de arrancamento e rotura do cone. Como, para

    as ancoragens mecânicas, a bibliografia consultada não apresenta fórmulas específicas para

    este tipo de rotura, fez-se uma aproximação, utilizando a equação (7) da Tabela 1.

    Para as alvenarias de tijolo, as ligações adesivas também apresentaram melhores resultados do

    que a mecânica, com destaque para as ancoragens químicas. A diferença entre as ligações com

    resina e com grout foi de 16 %. Da mesma forma que nas alvenarias anteriores, o coeficiente

    de variação da ancoragem com grout apresentou quase a mesma magnitude, mostrando grande

    variabilidade nesse tipo de conexão. Isto pode ser explicado por alguns fatores: a) presença de

    vazios internos, gerando deslocamento de parte do grout e diminuição de seu contato com o

    conector; b) absorção, de forma diferenciada, de parte da água do grout pelo substrato,

    alterando as resistências; c) heterogeneidade das alvenarias de pedra, resultando em ancoragens

    fixadas ora em apenas pedra, ora em pedra e argamassa; d) aplicação manual do grout,

    podendo não ser uniforme para todas as paredes; d) limpeza dos furos e/ou molhagem

    inadequadas em algumas alvenarias; entre outros.

    Apesar de as paredes de tijolo serem menos heterogéneas que as de pedra, as fórmulas de

    previsão não foram adequadas para este tipo de alvenaria, sendo necessários estudos adicionais

    nessa área, principalmente em relação a valores de constantes e resistências de interfaces.

    Como conclusão, observa-se, de forma geral, que as fórmulas analíticas, abordadas na revisão

    bibliográfica, precisam de ser revistas, especificamente na definição de coeficientes empíricos

    apropriados para alvenarias e, dentro delas, para os distintos materiais constituintes.

  • R. Munoz, P.B. Lourenço 139

    Tabela 7 – Valores experimentais de pull-out das alvenarias de pedra e os obtidos por fórmulas

    estimativas.

    Co

    rpo

    de

    pro

    va

    Tip

    o d

    e li

    gaç

    ão

    Car

    ga

    ob

    tid

    a no

    pu

    ll-o

    ut

    Np (

    N)

    Des

    loca

    men

    to

    (mm

    )

    Tip

    o d

    e ro

    tura

    Imag

    em d

    a

    rotu

    ra

    Val

    or

    cara

    cter

    ísti

    co

    esti

    mad

    o N

    c (N

    )

    Nc/

    Np (

    %)

    W_Stone_2 Química 19050 4,20 T2

    17423 91,5

    W_Stone_5 Química 22550 32,35 T4

    9673 42,9

    Média 20800 N

    CoV 11,90 %

    W_Stone_3 Grout 16880 4,17

    T3

    (co

    nec

    ./

    ades

    ivo

    )

    10838 64,2

    W_Stone_6 Grout 28040 5,81 T2

    17423 62,1

    Média 2250 N

    CoV 35,1 %

    W_Stone_1 Mecânica 12550 2,17 T5

    5497 43,8

    W_Stone_4 Mecânica 11140 17,28 T4

    4976

    44,7

    Média 11800 N

    CoV 8,4 %

  • Ancoragens em paredes de alvenaria: ensaios, projeto e aplicação 140

    Tabela 8 – Valores experimentais de pull-out das alvenarias de tijolo e os obtidos por fórmulas

    estimativas.

    Co

    rpo

    de

    pro

    va

    Tip

    o d

    e li

    gaç

    ão

    Car

    ga

    ob

    tid

    a no

    pu

    ll-o

    ut

    Np (

    N)

    Des

    loca

    men

    to

    (mm

    )

    Tip

    o d

    e ro

    tura

    Imag

    em d

    a

    rotu

    ra

    Val

    or

    cara

    cter

    ísti

    co

    esti

    mad

    o N

    c (N

    )

    Nc/

    Np (

    %)

    W_Brick_2 Química 27000 3,06 T2

    40403 149,6

    W_Brick_6 Química 23110 2,84 T3

    (ad

    esiv

    o/a

    lv.)

    13548 58,6

    Média 25100 N

    CoV 11,0 %

    W_Brick_3 Grout 26290 10,02 T3

    (co

    nec

    ./al

    v.)

    10838 41,2

    W_Brick_4 Grout 17060 2,02 T2

    40403 236,8

    Média 21700 N

    CoV 30, 1 %

    W_Brick_1 Mecânica 12550 2,17 T5

    16756 133,5

    W_Brick_5 Mecânica 12880 2,05 T5

    16756

    130,1

    Média 12700 N

    CoV 1,8 %

  • R. Munoz, P.B. Lourenço 141

    5. APLICAÇÕES

    Esta secção apresenta casos de estudo de uso de ligações com conectores metálicos, no Brasil e

    Portugal. O primeiro exemplo de utilização desse tipo de ancoragem, ainda em execução,

    localiza-se na Rua do Tijolo, no 35, no Centro Histórico de Salvador, Bahia, Brasil, e consiste

    na estabilização da fachada da referida edificação (Figura 8a) e o seu grampeamento nas

    paredes laterais (ver Figura 8b, mostrando o deslocamento da fachada em vista externa e

    Figura 8c, na vista interna) com utilização de perfis metálicos, do tipo U, de chapa dobrada,

    com 0,30 de altura, colocados vertical e horizontalmente na fachada interna, como uma grelha.

    Esses perfis serão chumbados nas alvenarias de tijolo com conectores roscados de aço inox

    304, de 12,5 mm de diâmetro, com utilização de grout quartzolit, da Weber, injetado por meio

    de bomba (Figura 8d), desenvolvida no Núcleo de Tecnologia da Preservação e da Restauração

    (NTPR), laboratório vinculado à Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia.

    Em fase preliminar, realizaram-se, em obra, testes de arrancamento de varões de aço A 500, de

    menor resistência que o acima citado, com esticador e células de carga (Figura 8e), para

    verificar a capacidade de carga da alvenaria. Foram utilizados dois tipos de adesivos: uma

    resina da VEDACIT (compound) (Figura 8f) e o grout acima mencionado (Figura 8g). Os

    resultados foram interrompidos com 3015 N e 2610 N, respetivamente, uma vez que já eram

    superiores à carga de projeto de 900 N para cada conector. Destaca-se que a alvenaria não

    apresentou danos durante a execução dos ensaios in situ e a escolha do grout para a realização

    da consolidação foi baseada no custo.

    (a) (b) (c)

    (d) (e) (f) e (g)

    Figura 8 : Consolidação da fachada do casarão no 35 em Salvador.

    O segundo exemplo é dado por danos excessivos em paredes cortina alvenaria face á vista,

    devido à expansão irreversível do tijolo. Estas paredes com cerca de 250 m de

    desenvolvimento curvo em planta e 15 m de altura apresentavam fendilhação e movimentos

    para fora do plano muito apreciáveis (ver Figura 9). A solução passou por um reforço pelo

  • Ancoragens em paredes de alvenaria: ensaios, projeto e aplicação 142

    exterior, com colocação de varão roscado fixado no suporte interior de betão e na parede por

    resinas epoxídicas, bem como pela abertura de juntas de dilatação na parede.

    (a) (b)

    (c)

    (d)

    Figura 9 : Reparação de uma parede face à vista: (a) solução prevista; (b) fendilhação existente;

    (c) deformação existente; (d) solução de reparação.

    A terceira aplicação é nos bairros municipais do Porto. São cerca de 50 bairros municipais

    construídos entre 1950 e 2008, resultando em cerca de 13150 fogos e alojando cerca de 30515

    pessoas. A reabilitação dos edifícios e dos espaços públicos dos bairros municipais teve por

    principais objetivos valorizar o parque habitacional municipal e melhorar as condições de vida

    dos seus inquilinos. A reabilitação dos bairros municipais englobou trabalhos não estruturais,

    tais como remoção de elementos construtivos com amianto, pintura dos edifícios, substituição

    dos pavimentos, e fecho das galerias comuns e das caixas de escadas através da aplicação de

  • R. Munoz, P.B. Lourenço 143

    envidraçados. Além disso, a reabilitação incluiu a avaliação e reforço estrutural das consolas

    dos edifícios municipais.

    A reabilitação estrutural teve por principal objetivo a avaliação e reforço das consolas de betão

    armado de 21 bairros municipais, uma vez que correspondiam aos elementos mais vulneráveis.

    Os edifícios dos bairros municipais apresentam três tipos de consolas de betão armado:

    (a) Consolas das galerias comuns de acesso aos fogos existentes na fachada principal;

    (b) Consolas dos patamares das caixas de escadas comuns; (c) Consolas individuais dos fogos

    (Figura 1c). A primeira fase dos trabalhos de reabilitação das consolas correspondeu ao

    diagnóstico e avaliação dos critérios de estabilidade. O diagnóstico inclui o levantamento do

    dano através da inspeção visual, o levantamento geométrico, ensaios não destrutivos e

    moderadamente destrutivos.

    Uma das soluções aplicadas nas consolas das galerias comuns está apresentada na

    Figura 10 a,b, com aplicação de chapas em “L” na superfície superior das consolas. O processo

    construtivo englobou a execução de rasgos na superfície superior da consola, limpeza das

    superfícies, aplicação de chapas com 6 mm de espessura com recurso a argamassa de epóxi e

    ancoragens químicas (M16), ligação à parede de alvenaria de granito através de ancoragens

    químicas inclinadas e reparação da superfície superior. Nos pórticos de entrada (caixas de

    escadas comuns), o reforço foi efetuado com um pórtico metálico, ligado às paredes de

    alvenaria de tijolo também com buchas químicas, ver Figura 10 c,d.

    6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Conectores metálicos para estabilização de paredes de alvenaria têm sido usados ao longo do

    tempo, quer para escoramento e/ou para reabilitação de edificações. O comportamento

    mecânico em relação à aderência da ancoragem na interface conector/alvenaria ainda apresenta

    lacunas de estudos, não só no campo teórico, com desenvolvimento de modelos preditivos,

    principalmente destinados a alvenarias antigas, mas também no experimental. A

    heterogeneidade característica desses tipos de alvenarias conduz à necessidade de trabalhos

    específicos sobre o tema.

    O presente trabalho avaliou a capacidade de carga de três tipos de ligações (química, com grout

    e mecânica), fornecidas pela empresa HILTI, em alvenarias argamassadas de pedra e de tijolo,

    executadas em laboratório. Para isto foram realizados ensaios de pull-out, entre outros

    adicionais de caracterização dos materiais e alvenarias utilizados na campanha experimental.

    A partir dos dados obtidos, para as alvenarias de pedra, observou-se, em termos de força,

    valores equivalentes para as ligações adesivas com resina ou grout. Desta forma, as conexões

    adesivas apresentam bons resultados quando comparadas com as mecânicas. No que respeita à

    alvenaria de tijolo, nota-se um melhor desempenho da ligação química, uma vez que a força

    média obtida foi superior 16 % à do grout. As ligações mecânicas apresentaram, novamente,

    resultados aquém do esperado.

    Aplicações práticas com uso de conectores metálicos em alvenarias antigas e recentes foram

    apresentadas, abordando questões de projeto e de execução, no Brasil e em Portugal.

    Outros estudos experimentais deverão ser desenvolvidos, variando: em relação aos conectores:

    diâmetros, aplicações (horizontais e inclinadas), tipos; em relações às paredes: dimensões,

    materiais, tensões de confinamento; posições de atuador, entre outros aspetos; além de estudos

    analíticos, com execução de modelos preditivos específicos para alvenarias.

    7. AGRADECIMENTOS

    Os autores agradecem à CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

    Superior, agência pública de pesquisa do Brasil, que proporcionou a realização de pós-

    doutorado da primeira autora, bem como à HILTI Portugal pela disponibilidade dos conectores

    e equipamentos envolvidos no trabalho.

  • Ancoragens em paredes de alvenaria: ensaios, projeto e aplicação 144

    (a)

    (b)

    (c)

    (d)

    Figura 10 : Reparação de bairros sociais no Porto: (a) consolas das galerias; (c,d)

    entrada dos edifícios.

  • R. Munoz, P.B. Lourenço 145

    8. REFERÊNCIAS

    [1] Bussel, M., Lazarus, D., Ross, P. - "Retention of masonry façades – best practice guide", CIRIA C579, London, 2003.

    [2] Cook, R., Burtz, J. L., Ansley, M. H. - "Design Guidelines and Specifications for Engineered Grouts", Report of University of Florida, Gainsville, Florida, 2003.

    [3] Pinho, F., Lúcio, V., Moura, L., Travassos, N., Almeida, I. A. - "Avaliação das condições de durabilidade de ancoragens metálicas em paredes de alvenaria",

    Conferência Internacional sobre Reabilitação de Estruturas Antigas de Alvenaria,

    Universidade Nova de Lisboa, pp. 81-92, Portugal, 2012.

    [4] Gigla, B., Wenzel, F. - "The Bond Strength of Supplementary Injection Anchors in Historic Masonry", 5th International Masonry Conference, British Masonry Society,

    pp. 327-336, England, 1998.

    [5] Gigla, B. - "Structural Design of Supplementary Injection Anchors Inside Masonry", 15th International Brick and Block Masonry Conference, Florianópolis, Brasil, 2012.

    [6] CEB - "Design of anchorages in concrete", fib Bulletin 58, 2011. [7] FprEN 1992-4 - "Eurocode 2 - Design of concrete structures - Part 4: Design of

    fastenings for use in concrete", CEN/TC 250 N 1342, 2015.

    [8] TR 029 - "Design of Bonded Anchors", EOTA European Organisation for Technical Assessment, 2010. Disponível em http://www.eota.eu/en-GB/content/technical-

    reports/28/

    [9] ACI 318 - "Building Code Requirements for Structural Concrete (ACI 318-05)", ACI Committee 318, 2005.

    [10] ACI 530 - "Building Code Requirements for Masonry Structures (ACI 530-05)", Masonry Standards Joint Committee, 2005.

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