verificação de carga em ancoragens

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FAILURES ON TIES OF TIEBACK WALLS – FUNDAÇÃO GEO-RIO CASE STUDIES Antônio C. GUEDES - MSc, Civil Engineer, Professor at Universidade Veiga de Almeida, Engenheiro da Fundação Geo-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected] Vicente C.M. DE SOUZA - PhD, M. Sc., Civil Engineer, Professor at Curso de Pós-Graduação em Engenharia Civil, UFF, Rua Passo da Pátria, 156, CEP 24210-240, Niterói, Brasil, [email protected] Leandro M. COSTA FILHO - PhD, MSc, Civil Engineer, Professor at Curso de Pós-Graduação em Engenharia Civil, UFF, Rua Passo da Pátria, 156, CEP 24210-240, Niterói, Brasil, [email protected] ABSTRACT Residual loads on ties of tieback walls undergo changes with time, and, because of that, they need periodical checking and maintenance. In comparison to other constructions, tieback walls are the ones with very high probabilities of accident occurrences, because of difficulties of execution related to the construction sites, aggressive environments and material degradation with time. Tie loading plays an important role on this. In this paper it is shown, through case studies of tieback walls tested by the Fundação GEO-RIO in order to verify residual load on ties, using the Represtressing Method, that many ties have lost all his loads, and even so no damage has occurred to the tieback walls. Furthermore, the reasons for deterioration of those constructions are analysed, and maintenance procedures are suggested.

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Verificação de Carga Em Ancoragens

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RECUPERAO DE UM CONJUNTO HABITACIONAL HISTRICO NO RIO DE JANEIRO

FAILURES ON TIES OF TIEBACK WALLS FUNDAO GEO-RIO CASE STUDIES

Antnio C. GUEDES - MSc, Civil Engineer, Professor at Universidade Veiga de Almeida, Engenheiro da Fundao Geo-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected] C.M. DE SOUZA - PhD, M. Sc., Civil Engineer, Professor at Curso de Ps-Graduao em Engenharia Civil, UFF, Rua Passo da Ptria, 156, CEP 24210-240, Niteri, Brasil, [email protected] M. COSTA FILHO - PhD, MSc, Civil Engineer, Professor at Curso de Ps-Graduao em Engenharia Civil, UFF, Rua Passo da Ptria, 156, CEP 24210-240, Niteri, Brasil, [email protected]

ABSTRACT

Residual loads on ties of tieback walls undergo changes with time, and, because of that, they need periodical checking and maintenance. In comparison to other constructions, tieback walls are the ones with very high probabilities of accident occurrences, because of difficulties of execution related to the construction sites, aggressive environments and material degradation with time. Tie loading plays an important role on this.

In this paper it is shown, through case studies of tieback walls tested by the Fundao GEO-RIO in order to verify residual load on ties, using the Represtressing Method, that many ties have lost all his loads, and even so no damage has occurred to the tieback walls. Furthermore, the reasons for deterioration of those constructions are analysed, and maintenance procedures are suggested.

1. INTRODUO

As estruturas de conteno apresentam-se como obras vivas, onde as cargas residuais variam com o tempo, necessitando de revises peridicas e manutenes. A Fundao GEO-RIO realiza, desde 1988, instrumentao e verificao das cargas atuantes nas estruturas ancoradas, o que exigido pelas normas de obras de conteno, das quais a mais rigorosa a DIN 4125, que exige experincias reconhecidas e ensaios de qualificao para as empresas e os tcnicos envolvidos.

A primeira experincia da GEO-RIO na verificao de carga residual em ancoragens foi em 1966/67, no Morro do Encontro, que revelou que o processo rudimentar existente - protenso em tirantes atravs de chaves de torque, era desaconselhvel, pois as ancoragens assim realizadas tinham cargas residuais que, embora corretamente determinadas atravs de clculos numricos, eram muito pequenas ou nulas na estrutura, em virtude da impreciso na avaliao da carga instalada no tirante e da falta de equipamentos precisos para medio da carga real incorporada.

2. A EVOLUO DAS ANCORAGENS INJETADAS

O conceito do funcionamento das ancoragens injetadas praticamente no mudou desde a sua concepo. O que tem mudado, nas ltimas dcadas, a capacidade destas ancoragens de resistirem a cargas cada vez maiores, com o conseqente aumento da sua eficincia, a diminuio de custos e principalmente o aumento da durabilidade. Isto acontece graas ao aumento das resistncias dos aos empregados e confeco de barras com roscas em toda a extenso, como, por exemplo, o sistema Dywidag. Outro ponto importante observado a proximidade entre os comportamentos previstos nos projetos e os obtidos no campo, durante a execuo, confrontados atravs da realizao de ensaios de campo e/ou do comportamento em servio

Uma ancoragem injetada somente eficiente quando parte do seu comprimento total fixado alm da superfcie crtica de ruptura do solo (trecho ancorado), e o restante permanece livre, possibilitando, atravs de deformaes, a transferncia da carga aplicada na extremidade, em contato com o exterior, ao trecho ancorado. Desta forma, obtido o efeito de protenso da barra na massa de solo contida. Portanto, o funcionamento correto da ancoragem fator de mxima importncia para a segurana da obra.

Como elemento final, tem-se a durabilidade, que fator de especial ateno, uma vez estes elementos esto colocados no interior do terreno, submetidos variao do nvel dgua, em solo contendo elementos qumicos que favorecem o ataque constante da corroso. Deste modo, o elemento primordial de toda a evoluo por que tem passado as ancoragens injetadas o tratamento anticorrosivo eficiente, eficaz e de baixo custo, procurando utilizar produtos encontrados no mercado.

3. SINTOMAS PATOLGICOS CARACTERSTICOS E SUAS CAUSAS

COSTA NUNES (1988) classifica as causas de acidentes nas obras de conteno em causas estruturais e causas geotcnicas.

Causas estruturais:Insuficincia estrutural, seja por baixo fator de segurana ou fadiga: existe a possibilidade de falhas, decorrente do processo de execuo, ou na avaliao das sobrecargas atuantes, sejam das ancoragens ou dos elementos estruturais de concreto armado destinados a conter o solo, que provocam pontos fracos, suscetveis aos ataque da corroso, como nas ancoragens e nos elementos estruturais de concreto.

Esforos provenientes de recalques diferenciais de seu apoio sobre o solo: quando uma cortina sofre recalques diferenciais em seu apoio sobre o solo, isto acarreta distoro angular no paramento, podendo ocasionar uma nova configurao de cargas nos tirantes, e adicionar esforos de flexo no paramento vertical de concreto, o que pode provocar um quadro de fissurao devido flexo, com perda de resistncia e de rigidez deste painel e, consequentemente, da rigidez relativa do conjunto cortina-solo Outro ponto que deve ser ressaltado que as ancoragens (tirantes) so dimensionadas para resistir a esforos de trao, portanto no absorvendo momentos, e, devido distoro angular sofrida pelo painel, pode ocorrer, neste caso, duas situaes distintas: a reduo da aderncia entre o bulbo de ancoragem e o terreno e a ruptura da barra por flexo-trao.

Esforos adicionais ocasionados pelo apoio lateral de um painel da estrutura que se deslocou mais do que as juntas permitem, sobre outro painel: o fato do painel da cortina sofrer um giro no seu prprio plano, ou seja, uma distoro angular, ter como efeito o surgimento de esforos horizontais no previstos nos demais painis, podendo acarretar o rompimento de tirantes, seja por corte simples da barra de ao, seja por deslocamento da ancoragem do solo.

Ruptura ou recalques diferenciais elevados de apoio sobre estacas da estrutura: este dano est associado a dois tipos de deslocamentos na estrutura: vertical e distoro angular do painel da cortina. Estes efeitos, como nos casos anteriores, conduzem a danos nos tirantes, como o corte da seo transversal e a ruptura do conjunto bulbo-terreno, por causa da reduo da aderncia.

Corroso da estrutura ou das ancoragens: a corroso das estruturas enterradas depende de vrios fatores, tais como aerao, umidade e sais minerais, pH do solo, presena de poluentes e presena de bactrias. No caso dos tirantes, em especial os constitudos por fios ou cordoalhas, tambm deve ser analisada a possibilidade da ocorrncia da corroso por tenso, que especfica para aos que so submetidos a grandes esforos mecnicos, e que ocorre em nveis de tenso bem inferiores ao limite elstico. um processo corrosivo que progride da superfcie para o interior, perpendicularmente direo da solicitao mecnica, provocando a fratura do material. Considerando-se o solo como um meio corrosivo como qualquer outro, a proteo das ancoragens , sem dvida, de fundamental importncia. Em qualquer ponto, a proteo dever sempre ser dada em vrias camadas, assegurando a durabilidade nas mais variadas condies. A proteo anti-corrosiva consiste na aplicao de duas camadas de pintura industrial, complementada pela blindagem ou proteo em todo o do tirante.

Causas geotcnicas:

Empuxos excessivos (m estimativa dos parmetros do solo e presso da gua): a escolha do mtodo de determinao dos empuxos laterais de solo sobre as estruturas, sem considerar a interao solo-cortina, associado ao alto custo das investigaes geotcnicas, limitando-se a utilizao de sondagens e eventuais ensaios de campo ou de laboratrio, e o pouco tempo para a sua realizao, acarreta danos nestas obras, como, por exemplo, deformaes excessivas. Outro aspecto marcante na estabilidade da obra a influncia da gua, j que o acmulo de gua por deficincia de drenagem pode provocar at mesmo a duplicao do empuxo atuante. O efeito da gua pode atuar em uma obra de conteno de duas maneiras distintas: acmulo de gua diretamente junto no tardoz interno do arrimo, ou pelo encharcamento do terrapleno, produzindo uma reduo da resistncia ao cisalhamento do macio em decorrncia do acrscimo de presses intersticiais e perda de suco. O efeito direto da gua pode ser solucionado atravs de um sistema de drenagem eficaz.

Insuficincia da resistncia ao tombamento da conteno (a extremidade superior da estrutura se afasta para jusante mais do que permissvel): este tipo de acidente refere-se possibilidade de ruptura do macio, segundo CRAIZER (1981) apud RANKE E OSTERMAYER (1968), chamado de ruptura interna, por se dar internamente ao macio, entre a ancoragem e a cortina. Ela ocorre por deficincia do comprimento livre geral.

Insuficincia da resistncia ao cisalhamento na interface estrutura-terreno (a extremidade inferior da estrutura se desloca mais do que permissvel, para jusante): este tipo de acidente, tambm referido por CRAIZER(1981) apud RANKE E OSTERMAYER (1968), o segundo tipo de ruptura que pode ocorrer no macio, e independe da capacidade de carga da ancoragem, embora dependa de sua localizao. A denominao ruptura externa deve-se ao fato de que a ruptura ocorre externamente ao volume constitudo pelo solo, ancoragens e cortina. Este tipo de acidente ocorre por perda da resistncia ao cisalhamento ao longo da superfcie de ruptura, para um determinado fator de segurana. Desta forma, a verificao da estabilidade global da estrutura no atendida (ruptura global).

Insuficincia das ancoragens (ruptura da aderncia do tirante): outro tipo de acidente que pode ocorrer refere-se ligao entre o bulbo e o terreno. As cargas atuantes sobre o bulbo, ao longo do seu eixo longitudinal, so transferidas ao terreno circunvizinho pelas tenses de cisalhamento desenvolvidas entres as duas superfcies. Para o dimensionamento do bulbo o que se deseja conhecer qual a carga de ruptura da ligao. Pode acontecer que o bulbo, de forma aproximadamente cilndrica com geratriz circular, se desloque em relao ao terreno, que sofre, sem romper, as deformaes devidas s tenses atuantes. O bulbo arrancado do terreno, provocado por insuficincia de comprimento de ancoragem. Tambm pode-se ter a ruptura da barra, que no resiste aos esforos solicitantes.

Eroso interna, atravs do sistema de drenagem e de juntas mal vedadas da estrutura: a eroso interna pode provocar diversos danos s obras de conteno, como o surgimento de deformaes na estrutura, podendo ocasionar recalques diferencias e deformao lateral. Acrescido ao fato de que os empuxos laterais do solo sobre a estrutura depende do deslocamento imposto, com a presena da eroso a distribuio dos empuxos na interface solo-estrutura poder sofrer modificao, induzindo a danos na conteno. Para o caso de obras ancoradas, esta eroso poder promover o deslocamento do paramento vertical, e trazer como conseqncia o afrouxamento do tirante (perda de carga de protenso).

De um modo geral, pode-se considerar dois tipos de acontecimentos em funo do mau desempenho das estruturas (COSTA NUNES (1988)): mau desempenho, que pode levar at destruio da estrutura, muito comumente pela falta de observao da estrutura; e mau desempenho, corrigido a tempo, pelo aviso trazido pela observao da obra.

O acompanhamento da obra por meio de instrumentao ou at mesmo por observaes visuais permite a correo do comportamento da estrutura, impedindo o agravamento do problema. Pode-se acrescentar que os acidentes em obras de conteno, no Municpio do Rio de Janeiro, esto abaixo da estatstica francesa, mas no obstante essencial prosseguir com o controle e o monitoramento das estruturas de conteno e drenagem das encostas.

4. ENSAIO DE VERIFICAO DE CARGA RESIDUAL DE ANCORAGEM

As medies das cargas residuais nas ancoragens podem ser feitas utilizando-se clulas de carga mecnica ou eltrica ou pelo mtodo de reprotenso (COSTA NUNES, 1966), conforme descrito por GUEDES, DE SOUZA E COSTA FILHO (1999).

Foto 1 Instalao do conjunto de estrutura de reao, macaco hidrulico e bomba de leoNo mtodo de reprotenso, a carga residual determinada pela verificao da que inicia o deslocamento da placa de apoio da ancoragem. No instante do incio do deslocamento da placa (a ligao placa-parede fissura) feita a leitura no manmetro. Porm, este um processo impreciso, devido ao fato de ser difcil determinar a carga no momento exato em que o deslocamento tem incio. O processo pode ser refinado com a utilizao de deflectmetros mecnicos presos a estrutura fixa e indeformada. A metodologia para a verificao de carga residual nas ancoragens de tirantes de barras da Fundao GEO-RIO implica inicialmente na escolha aleatria, em cada painel, de cerca de 25 a 30% dos tirantes, para serem ensaiados. O critrio implica na escolha dos tirantes que apresentem algum problema, como proteo da ancoragem quebrada; placa ou cabea oxidada; placa solta; placa com deformao (cargas elevadas); e fissuras ou deformaes no paramento de concreto, no entorno do tirante. Obrigatoriamente estes tirantes so ensaiados. Dependendo dos resultados, outros tirantes so escolhidos, por propagao do ensaio, centrado neste tirante, para todos os demais no seu entorno. Os equipamentos utilizados so os mesmos que os de protenso e constam de macaco com furo central (Foto 1); bomba; manmetro; mangueira; estrutura metlica de apoio na cortina do conjunto macaco-bomba; barra de extenso; cunhas; paqumetros ou deflectmetros; conjunto de chaves de grifa; e marreta e ponteiro. Para cada ensaio elabora-se uma ficha com os dados obtidos no campo: cargas aplicadas; alongamentos ocorridos; informaes sobre o equipamento e aferio do conjunto macaco-bomba; e carga residual observada. A carga do macaco aplicada em estgios no superiores a 10% da carga de trabalho (NBR 5629/96), e dever ser observado o deslocamento da placa do tirante e o ponteiro do manmetro da bomba (Quadro 1). O carregamento deve prosseguir at ultrapassar o ponto de desligamento da ancoragem viva ou da porca da placa de apoio da cortina, ou no mximo at a carga de ensaio (Quadro 2).

QUADRO 1 Tabela de cargas nos tirantes

ANCORAGEMAO(CARGA MX. DE ENSAIO (kN)CARGA DE TRABALHO (kN)CARGA DE INCORPORAO (kN)

BARRACA-50B1"18010080

BARRACA-50B1 1/8"230130100

BARRACA-50B1 1/4"280160120

BARRAGEWI 50/5532 mm350200160

BARRAST-85/10532 mm610350280

QUADRO 2 - Previso de carga para verificao de carga residual de ancoragem

DIMETROESTGIO DE CARGA (kN)

1"203550658095110125140155

1 1/8"25456585105125145165185200

1 1/4"30507090110130150170190210

32 mm356595125155185215245275-

32 mm60110160210260310360410460-

Com os resultados obtidos, traa-se o grfico deslocamento do mbolo x carga aplicada, para determinar a carga atuante na ancoragem, que corresponde ao ponto de interseo das duas curvas de declividades diferentes que unem os pontos medidos, confirmando-se a observao visual efetuada no campo. Estas curvas apresentam um trecho inicial reto com deformaes reduzidas em relao s cargas aplicadas, o que indica o comportamento de deformao da haste de protenso junto com as deformaes resultantes da acomodao do sistema de reao, isto , placa, porca, grade de apoio e o trecho de tirante entre a placa e a garra da haste. Na regio da carga residual nota-se uma mudana sensvel na inclinao da reta. Este trecho corresponde influncia do comprimento livre, indicando o comportamento da variao de alongamento existente ao longo dele. Este comportamento bem prximo ao linear. Considera-se como carga residual atuante na ancoragem o valor correspondente ao da interseo das retas representativas dos dois trechos acima descritos.

Para cada tirante podem ocorrer as seguintes hipteses: carga residual prxima da carga de incorporao; carga residual inferior carga de incorporao; carga residual bem inferior carga inicial de incorporao (ou nula); no agenta a carga de ensaio; rompimento da ancoragem, preexistente ou durante o ensaio. Se no houver evidncia de redistribuio de carga ou de carregamentos acima dos previstos, a rotina consiste em reaplicar as cargas originais: para carga residual inferior carga de incorporao, faz-se a reprotenso, at esta ser atingida; para carga residual superior carga inicial de incorporao, reduz-se a carga de protenso at os valores da carga de incorporao.

5. ESTUDO DE CASOS

As obras aqui comentadas fazem parte de contrato da Fundao GEO-RIO para recuperao estrutural e verificao de cargas residuais em ancoragens Recuperao e Verificao de Carga e Ancoragens de Obras de Conteno em Diversos Locais da AP-3.1, AP-3.2 e AP-3.3. Foram realizados 175 ensaios de verificao de carga residual em vrias obras de conteno existentes no Municpio. Deste conjunto fizeram parte as da rua Alaska 107 e rua Alaska 121, na Ilha do Governador, e a da rua Dr. Joviniano, em Madureira, aqui escolhidas com exemplo dos ensaios. Em cada painel de cortina seguiu-se a metodologia descrita, fazendo-se uma ficha para cada teste realizado, e, com os dados de carga e o grfico, determinaram-se as cargas atuais nas ancoragens. Os resultados dos ensaios esto mostrados na Figura 1. Aps anlise dos resultados, foram tomadas as medidas adequadas, tais como a reincorporao das ancoragens com carga de projeto, ou seja, reprotenso a uma carga mais alta (atual abaixo da necessria), ou o alvio da carga (caso contrrio).

Rua Alaska 107A cortina tinha 10 anos e seus tirantes so de ao CA-50, de 1 1/4", com carga de incorporao de 120 kN (Quadro 1). Ensaiados os tirantes do painel A da cortina, encontrou-se carga zero em todos os tirantes da linha inferior. Este fato pode ter sido provocado pela presena de armaduras corrodas neste trecho do painel, junto faixa dos tirantes, apresentando baixa resistncia estrutural e ocasionando deformaes da estrutura e redistribuiro das cargas, conforme pode ser observado na planta de distribuio de cargas (Figura 1). Os tirantes da linha superior se mantiveram com carga alta.

Figura 1 - Testes na rua Alaska 107

Rua Alaska 121As cortinas tinham 10 anos, com tirantes de ao CA-50, de 1 1/4", e carga de incorporao de 120 kN (Quadro 1). Nestes quatro painis de cortina foram encontrados 6 tirantes sem carga, 2 tirantes com carga igual ou maior do que a carga de incorporao e o restante, 18 tirantes, com carga abaixo da carga de incorporao - total de 26 tirantes. Como no se observou deformaes ou fissuras na estrutura, e por no se ter o acompanhamento das cargas dos tirantes ao longo do tempo, pde-se concluir que o nvel de presses laterais, devido ao empuxo, no foi mobilizado na forma concebida no projeto original (Figura 2).

Figura 2 - Testes na rua Alaska 121

Rua Dr. JovinianoAs cortinas tinham 21 anos, com tirantes de ao CA-50, de 1 1/4", e carga de incorporao de 120 kN (Quadro 1). Nos oito painis da cortina foram encontrados 20 tirantes sem carga, 3 tirantes com carga igual ou maior do que a carga de incorporao e os outros 35, com carga abaixo da carga de incorporao - total de 58 tirantes. Por no se ter observado deformaes ou fissuras na estrutura, pde-se concluir que o nvel de presses laterais devido ao empuxo no foi mobilizado conforme concebido no projeto original (Figura 3).

Figura 3 - Testes na rua Dr. Joviniano

6. MODIFICAES NO COMPORTAMENTO DA ESTRUTURA APS A PERDA DE CARGA NOS TIRANTES

Como resultado dos ensaios de verificao de carga residual nas ancoragens, pode-se concluir que, de um modo geral, as ancoragens apresentam-se com bom funcionamento, tendo em vista que em todos os ensaios realizados no se encontrou ancoragens rompidas, ou com deformaes exageradas que as condenassem.

A partir dos quadros resumos, mostrados de forma grfica nas plantas indicativas dos resultados dos ensaios de verificao de carga residual, observa-se que as cargas dos tirantes apresentam valores inferiores (at nulas), s suas cargas de incorporao fixadas nos projetos executivos, sem contanto apresentarem as estruturas formas deformadas ou com trincas, mostrando que o nvel de presses laterais, devidos aos empuxos, no foram mobilizados conforme concebidos no projeto original, podendo indicar que a carga prevista a ser absorvida por cada tirante no foi mobilizada. Pela falta de dados do comportamento desta ancoragem ao longo do tempo, uma vez que no se tm os resultados de ensaios de carga destas ancoragens ao longo do tempo, possvel que estas estruturas de cortinas ancoradas tenham alterado o seu comportamento, e este solo passou a comportar-se como um solo grampeado, em que os tirantes representam um elemento de reforo in situ, transformando-se em ancoragens passivas que sero mobilizadas caso haja algum deslocamento do macio. Neste caso, o paramento ou face exposta de concreto armado utilizado pode assumir esforos pequenos provocados pelos grampos.

7. CUIDADOS DE MANUTENO COM AS OBRAS ANCORADASDestaca-se que, para serem durveis, as estruturas de concreto armado devem passar por um programa de manuteno peridica, que no poder ser negligenciado pelos seus rgos responsveis, principalmente no que se refere a obras de conteno na Cidade do Rio de Janeiro, que cercada de morros e favelas por toda parte. Caso haja algum acidente com estas obras, o impacto social que pode provocar incalculvel.

As inspees tcnicas e estratgicas de manuteno so as ferramentas bsicas para dar as informaes do comportamento da estrutura com o decorrer do tempo de utilizao, definindo como est se degradando a estrutura e permitindo, com isto, o estabelecimento de condutas de reparos, a fim de se estender a vida til destas estruturas o maior tempo possvel. No caso de obras de conteno, esta inspeo tem mostrado ser de difcil realizao, quer seja pela localizao destas obras, uma vez que uma grande parte delas situa-se em reas de difcil acesso, ou esto cobertas pela vegetao, impossibilitando a sua visualizao, ou pela dificuldade que imposta pela presena de quadrilhas de traficantes e de "guerras" contra a polcia, pondo em risco a vida das pessoas que executam os servios. Porm, este fato no pode ser um inibidor para a realizao destes servios.A partir do conhecimento das respostas as perguntas como: o que deve ser feito? em quais locais? e o que ser obtido das inspees tcnicas e do conhecimento transmitido pela manuteno regular, novas perguntas formam-se, como: como est a sade da obra? quando fazer? em que prioridade? quanto custa? As respostas a esse conjunto de perguntas s podero ser obtidas, com o conhecimento das patologias apresentadas pela obra, indicando o tipo, a localizao e a extenso. O mapeamento das patologias uma ferramenta bsica para que o tcnico decida os procedimentos a serem tomados e estabelea o diagnstico e as causas provveis do surgimento destes problemas. Como conseqncia, pode-se estabelecer de forma mais realista a prioridade quanto necessidade da execuo da obra. Esta prioridade poder ser estabelecida em diversos nveis, conforme o estado da obra, ou a sua projeo no tempo, adequando as necessidades de recuperao com as verbas existentes. Com o mapeamento das patologias, a elaborao dos oramentos fica mais simples, como tambm as medies dos servios executados, porque se conhece os problemas que sero tratados e as suas extenses. Vale a pena destacar que o mapeamento sozinho no permite a definio globalizada dos procedimentos a serem seguidos, pois muitas vezes so necessrios ensaios nas estruturas, sejam eles destrutivos ou no destrutivos, e eles devem constar do oramento, no caso de obra pblica.

8. CONCLUSES

A anlise dos resultados obtidos mostrou que, de um modo geral, as ancoragens vm funcionando bem, porm ocorreu perda de protenso na maioria dos tirantes, acompanhada, por vezes, de um maior carregamento de tirantes vizinhos. No ocorreu o rompimento de tirantes em nenhum dos testes de carga realizados.

A justificativa da perda de protenso, ou at mesmo do tirante apresentar-se com carga nula, uma vez que o conjunto de porca, contra-porca e placa admite o giro por um simples torque manual, um processo difcil de ser explicado, tendo em vista que no se tem um acompanhamento permanente destas ancoragens atravs de instrumentao com clula de carga, ou at mesmo a verificao de carga residual com maior freqncia. Desta forma, atribui-se esta perda de protenso a alguns agentes provveis, tais como: caractersticas reolgicas do tirante e da ligao da ancoragem, obtida pela aderncia do tirante com o bulbo, formada pela nata de cimento injetada, devidas retrao e deformao lenta, gerando perda de protenso ao longo do tempo, o que pode gerar danos estrutura de concreto, como o surgimento de trincas e fissuras por acomodao da estrutura; pode ocorrer a perda das tenses cisalhantes ao longo do tempo no solo (deformao lenta), que pode ser afetada por fatores tais como a geometria da cunha de deslizamento, as propriedades dos diagramas tenso x deformao e as condies de poro-presso do solo ou rocha; m compactao do talude junto e atrs ao tardoz da cortina, gerando trechos de solo no confinados e, com o passar do tempo, ocorrendo a sua acomodao e conseqente deformao deste paramento e alterao da distribuio dos empuxos; possibilidade da protenso do tirante no ter sido executada de acordo com os procedimentos necessrios para a incorporao da carga.

Outro ponto a ser salientado o de algumas estruturas no apresentarem danos estruturais, como fissuras e trincas, mesmo quando os seus elemento de ancoragem encontram-se com carga zero nos tirantes. Nestes casos, tem-se os empuxos provavelmente superestimados e, com a acomodao do terreno, no h necessidade de se reprontender estas ancoragens at o seu valor de incorporao. Para estes casos, mantida a carga de incorporao devido possibilidade de ocorrerem sobrecargas no previstas at aquela data, ou a possibilidade de acrscimo de presso de gua no drenada por colmatao dos drenos.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem Fundao de GEO-RIO, pelos dados fornecidos, e Universidade Veiga de Almeida, pelo apoio concedido ao Prof. Antnio Carlos Guedes.

BIBLIOGRAFIA

1. ABNT NBR 5629 Execuo de Tirantes ancorados no Terreno Procedimentos Rio de Janeiro, 1996.

2. NUNES, A . J. C. Verificao da Estabilidade, Recuperao Estrutural e Cadastro Tcnico de Construes Existentes Relatrio Tcnico Cliente Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro Secretaria Municipal de Obras, Rio de Janeiro, 1988.

3. NUNES, A . J. C. Verificao da Estabilidade, Recuperao Estrutural e Cadastro Tcnico de Construes Existentes Relatrio Tcnico Cliente Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro Secretaria Municipal de Obras, Rio de Janeiro, 1988.

4. CRAIZER, W. Micro-ancoragens Reproduo da Tese para Obteno do Grau de Mestre em Cincia 1. Parte COPPE/UFRJ Tpicos de Geomecnica Tecnosolo (39): 1-68, Rio de Janeiro, 1981.

5. GUEDES, A. C; DE SOUZA, V.C.M.; COSTA FILHO, L. M. Test for Verification of Residual Loads on ties of tieback Walls Fundao GEO-RIO Case Studies- Anais, NDTISS99, Torres, RS, 1999.

_1009694471.dwg

_1009695918.dwg

_1009692541.dwg