anatomia funcional da coluna vertebral

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CAPÍTULO 8 ANATOMIA FUNCIONAL DA COLUNA VERTEBRAL 1. INTRODUÇÃO A coluna vertebral é o eixo ósseo do corpo, situada no dorso, na linha mediana, capaz de sustentar, amortecer e transmitir o peso corporal. Além disto, supre a flexibilidade necessária à movimentação, protege a medula espinhal e forma com as costelas e o esterno o tórax ósseo, que funciona como um fole para os movimentos respiratórios. A freqüência de problemas clínicos ou cirúrgicos é alta. Pesquisas mostram que 50 a 80% dos adultos serão vítimas, no decurso de suas vidas, de alguma forma de dor decorrente de afecções da coluna vertebral, muitas vezes, por uma postura errada durante o trabalho ou o repouso. A coluna é formada de 33 vértebras: 24 pré-sacrais, sendo 7 cervicais, 12 torácicas e 5 lombares; pelo sacro composto de 5 vértebras fundidas e pelo cóccix formado de 4 vértebras rudimentares fundidas entre si, sendo que a 1 a . vértebra coccígea, um pouco mais volumosa, se articula com o ápice do sacro através de um disco intervertebral rudimentar. 2. CURVATURAS No embrião, a coluna vertebral tem a forma de “C” com concavidade anterior. Com o desenvolvimento a curvatura muda progressivamente. A medida que o recém-nascido adquire controle sobre seu corpo a forma da coluna progressivamente se altera. Nas regiões torácica e sacral, a curvatura original permanece, ou seja, com concavidade anterior e nas regiões cervical e lombar a curvatura primitiva desaparece e, gradualmente, aparecem as curvaturas em sentido oposto. A curvatura cervical desenvolve-se à medida que a criança tenta erguer a cabeça - por volta dos 3 meses - e se consolida na época de sentar e do engatinhar; ocasião em que estende a cabeça e o pescoço para olhar para frente. A curvatura lombar, só observada no ser humano, desenvolve-se quando tracionada anteriormente pelos músculos iliopsoas e ligamentos nos esforços de ficar de pé, porém, torna-se firme, bem consolidada, por volta dos 2 anos de idade. 79

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Anatomia Funcional Da COLUNA VERTEBRAL

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Page 1: Anatomia Funcional Da COLUNA VERTEBRAL

CAPÍTULO 8

ANATOMIA FUNCIONAL DA COLUNA VERTEBRAL

1. INTRODUÇÃO

A coluna vertebral é o eixo ósseo do corpo, situada no dorso, na linha mediana,

capaz de sustentar, amortecer e transmitir o peso corporal. Além disto, supre a

flexibilidade necessária à movimentação, protege a medula espinhal e forma com as

costelas e o esterno o tórax ósseo, que funciona como um fole para os movimentos

respiratórios.

A freqüência de problemas clínicos ou cirúrgicos é alta. Pesquisas mostram que

50 a 80% dos adultos serão vítimas, no decurso de suas vidas, de alguma forma de dor

decorrente de afecções da coluna vertebral, muitas vezes, por uma postura errada

durante o trabalho ou o repouso.

A coluna é formada de 33 vértebras: 24 pré-sacrais, sendo 7 cervicais, 12

torácicas e 5 lombares; pelo sacro composto de 5 vértebras fundidas e pelo cóccix

formado de 4 vértebras rudimentares fundidas entre si, sendo que a 1a. vértebra

coccígea, um pouco mais volumosa, se articula com o ápice do sacro através de um

disco intervertebral rudimentar.

2. CURVATURAS

No embrião, a coluna vertebral tem a forma de “C” com concavidade anterior.

Com o desenvolvimento a curvatura muda progressivamente.

A medida que o recém-nascido adquire controle sobre seu corpo a forma da

coluna progressivamente se altera. Nas regiões torácica e sacral, a curvatura original

permanece, ou seja, com concavidade anterior e nas regiões cervical e lombar a

curvatura primitiva desaparece e, gradualmente, aparecem as curvaturas em sentido

oposto.

A curvatura cervical desenvolve-se à medida que a criança tenta erguer a cabeça

- por volta dos 3 meses - e se consolida na época de sentar e do engatinhar; ocasião em

que estende a cabeça e o pescoço para olhar para frente.

A curvatura lombar, só observada no ser humano, desenvolve-se quando

tracionada anteriormente pelos músculos iliopsoas e ligamentos nos esforços de ficar de

pé, porém, torna-se firme, bem consolidada, por volta dos 2 anos de idade.

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Page 2: Anatomia Funcional Da COLUNA VERTEBRAL

No adulto, as curvaturas com mesma direção da coluna embrionária são

denominadas primárias e as curvaturas de direção oposta, com concavidade posterior

são secundárias. As curvaturas secundárias (cervical e lombar) são extremamente

móveis em relação às primárias (torácica e sacral). Das três curvaturas pré-sacrais, a

torácica é a menos móvel, enquanto que o sacro, formado de vértebras soldadas, não

apresenta qualquer movimentos entre os seus segmentos.

As curvaturas cervical e lombar são compensatórias da postura ereta assumida

pelo ser humano. A cervical suporta o peso da cabeça e alivia, em parte, a ação dos

músculos da nuca em manter a extensão da cabeça e do pescoço. A lombar compensa a

desvantagem da curvatura torácica - de concavidade anterior - e sustenta o peso do

corpo. Nas mulheres, a curvatura cervical é mais branda e a lombar mais acentuada.

Na intimidade de cada curvatura, a curva é suave e gradual e a estes níveis a

coluna é relativamente forte; porém as áreas de transição de uma curvatura para outra

são mais agudas, estão sujeitas à maior força de tração, possuem maior mobilidade e são

potencialmente mais vulneráveis.

Na transição lombossacral, o ângulo é de 37o a 48o ( no sexo feminino os

valores, em média, são maiores que no masculino) e está sujeito a grande tensão e

também à maior freqüência de lesões.

3.0. ESTRUTURA GERAL DAS VÉRTEBRAS

Embora existam características particulares para as vértebras de cada uma das

porções da coluna, todas elas possuem uma estrutura básica, comum (figura 1). Assim,

cada vértebra está constituída por um anel ósseo que circunda um forame, o forame

vertebral, o qual pode ser considerado como um segmento do canal vertebral, onde se

aloja a medula espinhal. A parte anterior do anel é o corpo vertebral, cilindróide e com

superfícies superior e inferior planas. A parte posterior do anel, denominada arco

vertebral, consiste em um par de pedículos e em um par de lâminas. Os pedículos

projetam-se posteriormente da parte superior do contorno posterior do corpo vertebral e

se unem com as lâminas que se fundem no plano mediano. No ponto de fusão das

lâminas no plano mediano, projeta-se posteriormente o processo espinhoso; no ponto

de fusão dos pedículos com as lâminas projetam-se três processos adicionais com

direções diferentes: o processo transverso, lateralmente; o processo articular

superior, cranialmente, e o processo articular inferior, caudalmente. Estes dois

últimos processos apresentam uma face articular.

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Page 3: Anatomia Funcional Da COLUNA VERTEBRAL

A face superior e inferior do pedículo apresentam uma denteação, as incisuras

vertebrais, superior e inferior. Cada incisura, com a vizinha da vértebra adjacente,

forma um forame intervertebral para a passagem do nervo espinhal e de vasos

(figura 2).

3.1. VÉRTEBRAS CERVICAIS

Das vértebras cervicais, a 1ª e a 2ª vértebras (C1 e C2) são consideradas atípicas

e denominadas, respectivamente, atlas e áxis. As quatro seguintes são consideradas

típicas, como a 7ª , embora esta apresente algumas particularidades: o forame

transversário pode não existir e o processo espinhoso é longo e não-bifurcado, sendo

facilmente palpável.

Observando um livro texto e um atlas, descreva todas as estrurutas ósseas

presentes no ATLAS, ÁXIS e demais vértebras cervicais. Numere cada uma delas.

Forame intervertebralIncisura vertebral inferior

Incisura vertebral inferior

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Figura 1. Estruturas gerais das vértebras.

Figura 2. Incisuras vertebrais e forame intervertebral.

Page 4: Anatomia Funcional Da COLUNA VERTEBRAL

3.2. VÉRTEBRAS TORÁCICAS

Articulam-se com as costelas e estas o fazem com o corpo vertebral e com o

processo transverso. Para isto apresenta uma fóvea costal superior, oval, situada na

emergência do pedículo, e pode apresentar uma fóvea costal inferior, pois a cabeça da

costela pode ultrapassar o corpo vertebral da vértebra subjacente e alcançar o corpo da

vértebra suprajacente (figura 3). Por sua vez, o processo transverso apresenta a fóvea

costal do processo transverso para articular-se com o tubérculo da costela.

Além dessas particularidades das vértebras torácicas, há também:

• os processos espinhosos são muito inclinados em relação ao plano do corpo da

vértebra,

• os corpos vertebrais têm volume intermediário entre o das vértebras cervicais e

lombares,

• as faces articulares situam-se principalmente em um plano frontal.

3.3. VÉRTEBRAS LOMBARES

São as vértebras mais volumosas da coluna vertebral. Seus processos espinhosos

são curtos e quadriláteros, situando-se no mesmo plano horizontal dos corpos vertebrais.

Não apresentam fóveas costais e forame transversário e as faces articulares estão

situadas em plano antero-posterior, de modo que se articulam quase em plano sagital.

3.4. SACRO E CÓCCIX

No adulto, o sacro é formado pela fusão de cinco vértebras sacrais que

diminuem de tamanho no sentido craniocaudal. Desse modo, é um osso triangular

recurvo, de base superior e ápice inferior, com concavidade anterior. Situa-se em cunha

entre os ossos do quadril e fecha, posteriormente, o cíngulo do membro inferior.

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Figura 3. Vértebra torácica típica.

Page 5: Anatomia Funcional Da COLUNA VERTEBRAL

Apresenta uma base, um ápice, parte lateral e faces, pélvica e dorsal. Na base está a

abertura do canal sacral, que corresponde ao canal vertebral na coluna. A face pélvica

apresenta uma área óssea mediana, uma série de forames de cada lado, os forames

intervertebrais e sacrais anteriores, e as duas massas laterais. A área mediana é

composta pelos cinco corpos vertebrais fundidos. As linhas de fusão são conhecidas

como linhas transversas e correspondem aos discos intervertebrais ossificados. O corpo

da primeira vértebra sacral articula-se com a quinta vértebra lombar por um disco

intervertebral. Na margem superior do contorno anterior do corpo da primeira vértebra

sacral (S1), no plano mediano, há o promontório sacral. Nos extremos das linhas

transversas situam-se os forames sacrais anteriores, por onde emergem os ramos

ventrais dos quatro primeiros nervos sacrais. O canal sacral se comunica com os

forames sacrais anteriores e posteriores. Os nervos sacrais se dividem, ainda dentro de

um túnel ósseo de comunicação, nos seus ramos anteriores e posteriores que emergem

então pelos forames. Lateralmente, cinco robustos processos ósseos contornam os

forames e fundem-se para formar as partes laterais, direita e esquerda, do sacro,

constituindo as asas do sacro.

A face dorsal do sacro é acidentada e convexa, enquanto a pélvica é lisa e

côncava. A fusão das peças sacrais esconde o canal sacral, mas ele é visível no extremo

inferior como uma abertura triangular, o hiato sacral, pois não há fusão da quarta e

quinta lâminas sacrais. No plano mediano está a crista sacral mediana, resultante da

fusão de processos espinhosos. De cada lado da crista sacral mediana há uma crista

sacral medial, produto da fusão dos processos articulares. Esta apresenta pequenos

tubérculos articulares, lateralmente aos quais se situam os forames sacrais posteriores,

por onde emergem os ramos posteriores dos quatro primeiros nervos sacrais (o quinto

sai pelo hiato sacral).

A face lateral do sacro é alargada até o nível de SIII, mas se estreita

consideravelmente em direção caudal para converter-se, inferiormente, em simples

margem. A porção alargada é áspera em seu terço dorsal, mas apresenta uma faceta

articular nos dois terços pélvicos, a face auricular para articular-se com o ílio na

articulação sacroilíaca.

O cóccix deriva da fusão de três ou quatro peças coccígeas, constituindo um

osso irregular, afilado, que representa o vestígio da cauda no extremo inferior da coluna

vertebral. Articula-se com o sacro por meio de um disco intervertebral.

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Page 6: Anatomia Funcional Da COLUNA VERTEBRAL

4.0. ARTICULAÇÕES INTERVERTEBRAIS

As vértebras articulam-se umas com as outras de modo a conferir rigidez, mas

também flexibilidade à coluna, qualidades necessárias para o suporte do peso,

movimentação do tronco e ajuste de posição indispensáveis para o equilíbrio e a

postura.

4.1. ARTICULAÇÕES DOS CORPOS VERTEBRAIS (SINCONDROSES)

Os corpos das vértebras unem-se por discos intervertebrais e ligamentos

longitudinais anterior e posterior.

Os discos intervertebrais, principais meios de união dos corpos das vértebras,

estão presentes desde a superfície inferior do corpo do áxis até a junção lombossacral.

Nas regiões torácica e lombar, os discos são numerados e denominados de

acordo com a vértebra sob a qual se encontram, por exemplo, o disco L3 é aquele que

une as vértebras L3 e L4. Na região cervical, este critério não é usado para a

identificação do disco intervertebral, pois o primeiro disco cervical une os corpos das

vértebras C2 (áxis) e C3.

Os discos inserem, acima e abaixo, nas delgadas camadas de cartilagem hialina

(placas cartilaginosas) que revestem o osso esponjoso das superfícies superior e inferior

dos corpos das vértebras e nas suas bordas superior e inferior de osso compacto.

O disco intervertebral consiste de duas partes; uma porção periférica de

fibrocartilagem, o anel fibroso e uma parte central, mucóide, o núcleo pulposo.

O anel fibroso é composto de 12 a 20 camadas fibrosas concêntricas, que passam

do corpo da vértebra superior para a inferior em diagonal, ou seja, cada camada fibrosa

tem uma obliqüidade diferente. O cruzamento em “X” destas camadas dá elasticidade

ao anel fibroso: no estiramento do disco o “X“ fica alongado e estreito e o oposto ocorre

na compressão, o “X” diminui de comprimento e se alarga.

O núcleo pulposo é um material mucóide de cor amarelada “in vivo”, altamente

elástico e compressível; no entanto, quando o disco é comprimido o núcleo pulposo

libera o material aquoso que embebe o anel fibroso e a reabsorção deste material ocorre

quando o disco não está sob tensão, por exemplo, quando a pessoa está deitada. O

núcleo pulposo é a melhor fonte de nutrição do disco intervertebral, devido ao seu baixo

metabolismo e à sua irrigação praticamente ausente no adulto. Dentro do anel fibroso, o

núcleo pulposo localiza-se posteriormente. Portanto, o anel fibroso - em corte

transversal - é mais espesso anterior e delgado posteriormente ao núcleo pulposo.

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Page 7: Anatomia Funcional Da COLUNA VERTEBRAL

Os discos intervertebrais são responsáveis por 25% do comprimento da coluna

pré-sacral que, aproximadamente, mede 70 cm no homem e 60 cm na mulher.

Os discos são os únicos responsáveis pela curvatura cervical, porque os corpos

das vértebras são ligeiramente mais baixos na parte anterior; já na curvatura torácica os

corpos das vértebras são os principais responsáveis pois os discos são de espessura

uniforme (anterior e posteriormente).

Os discos cuneiformes, mais altos anteriormente, são os responsáveis pela

curvatura lombar na parte superior; mas na parte inferior tanto o disco como o corpo da

vértebra contribuem para a curvatura (o corpo da 5a vértebra lombar, por exemplo, é

mais alto na frente do que atrás e o mesmo ocorre com o 5o disco).

A coluna cresce até os 25 anos e diminui na velhice, devido à redução na altura

dos discos e dos corpos vertebrais. Com a idade, o núcleo pulposo perde a capacidade

de reter água, diminui em altura e tende a tornar-se fibrocartilagíneo. Devido à

osteoporose, os corpos vertebrais sofrem microfraturas ou por ação de traumatismos

leves ou mesmo sem uma causa aparente, levando à compressão de seus corpos e às

suas conseqüências associadas como a cifose, lordose, diminuição da capacidade

respiratória, protrusão do abdome, etc.

O ligamento longitudinal anterior (figura 4) é uma faixa larga e espessa de tecido

conjuntivo denso que une as faces anteriores dos corpos das vértebras e dos discos

intervertebrais, amarrando-os, desde o arco anterior do atlas até a face pélvica do sacro.

Atua reforçando o contorno anterior dos discos intervertebrais, durante o levantamento

de objetos pesados e limitando a extensão da coluna, fato que é particularmente

importante na região lombar, onde o peso do corpo tende a acentuar a curvatura normal

da região.

O ligamento longitudinal posterior (figura 4) é uma faixa de tecido conjuntivo

denso que une as faces posteriores dos corpos de todas vértebras e discos pré-sacrais, e

portanto, está localizado na parede anterior do canal vertebral e termina na face superior

do canal sacral. Ele é largo e espesso na região cervical e, gradualmente, torna-se

estreito e delgado nas regiões torácica e lombar. Nestas regiões estreita-se ao nível dos

corpos das vértebras; fixando-se em suas bordas superior e inferior, mas na porção

média do corpo une-se ao mesmo por tecido conjuntivo frouxo. Ao nível dos discos, o

ligamento expande-se bilateralmente e insere nos mesmos, sendo esta a parte mais fraca

do ligamento e de pouco valor para a proteção dos discos lombares. Atua limitando o

movimento de flexão da coluna.

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Page 8: Anatomia Funcional Da COLUNA VERTEBRAL

4.2. ARTICULAÇÕES DOS PROCESSOS ARTICULARES

4.2.1. Ligamentos dos Corpos Vertebrais

Os arcos vertebrais adjacentes unem-se através de articulações sinoviais, entre as

facetas das zigoapófises (ou processos articulares) denominadas articulações

zigoapofisárias e por articulações fibrosas que unem as lâminas, os processos

espinhosos e transversos adjacentes.

A forma e o plano de orientação das facetas das zigoapófises é que determinam

os tipos de movimentos entre duas vértebras. As facetas são planas e estão orientadas

obliquamente - de superior e anterior para inferior e posterior - na curvatura cervical;

são planas e orientadas quase no plano frontal na curvatura torácica. Na região lombar,

as facetas das zigoapófises superiores são ligeiramente côncavas e voltadas

medialmente, enquanto aquelas das zigoapófises inferiores são ligeiramente convexas e

voltadas lateralmente, de forma que o plano destas articulações é quase sagital.

No entanto, entre a 5a vértebra lombar e a 1a sacral as facetas são quase planas;

com orientação oblíqua, entre os planos sagital e frontal, e isso ajuda a prevenir o

deslizamento anterior da 5a lombar sobre a superfície muito inclinada da face superior

do sacro.

As articulações zigoapofisárias possuem cápsulas articulares delgadas e

suficientemente frouxas para permitir uma amplitude de movimento normal nas

articulações. As cápsulas, geralmente, não contribuem para orientar ou limitar

movimentos; esta função é realizada pelos ligamentos longitudinais anterior ou

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Ligamento longitudinal

anterior

Ligamento longitudinal

posterior

Figura 4. Ligamentos dos corpos vertebrais.

Page 9: Anatomia Funcional Da COLUNA VERTEBRAL

posterior, pelos ligamentos que unem as diversas partes de arcos vertebrais adjacentes,

pelos músculos e discos intervertebrais. No entanto, as cápsulas tornam-se muito tensas

em um movimento excessivo ou anormal e contribuem para limitá-lo; sendo que na

flexão máxima da coluna lombar, suportam aproximadamente 40% do peso corporal.

4.2.2. Ligamentos dos Arcos Vertebrais

As lâminas de vértebras adjacentes são unidas internamente por fortes

ligamentos elásticos denominados amarelos (flavos), que realmente são amarelos “in

vivo”, devido a sua riqueza em fibras elásticas. Os ligamentos flavos ficam tensos em

qualquer posição assumida pela coluna vertebral, sendo importante em sua

estabilização.

São melhor visualizados do interior do canal vertebral, pois estão localizados na

parede posterior do mesmo. Estendem lateralmente sobre as cápsulas articulares,

constituindo o limite posterior do forame intervertebral e assim protegem os nervos de

serem pinçados (ou beliscados) durante os movimentos de flexão da coluna.

As pontas dos processos espinhosos, desde a 7a vértebra cervical até o sacro são

unidas pelo ligamento supraespinhal, - tecido conjuntivo denso encorpado com

orientação longitudinal -, que limita a flexão da coluna. Ele se continua superiormente

como o ligamento da nuca, de formato triangular, com a base fixada na protuberância e

crista occipitais externas e o ápice na ponta do processo espinhoso da 7a vértebra

cervical.

Os ligamentos interespinhais são delgadas membranas de tecido conjuntivo

denso que unem os corpos dos processos espinhosos adjacentes e são contínuos com os

ligamentos amarelos e supra-espinhais. Os ligamentos interespinhais são bem

desenvolvidos na região lombar, não estão sob tensão e portanto não limitam o

movimento de flexão.

Os ligamentos intertransversais unem lateralmente os processos transversos

vizinhos e são mais desenvolvidos na região lombar inferior e tendem a faltar,

principalmente, na região cervical.

4.3. ARTICULAÇÕES ATLANTO-AXIAIS

As facetas superiores dos processos articulares do áxis e as inferiores das massas

laterais do atlas formam articulações planas. O arco anterior e o ligamento transverso do

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Page 10: Anatomia Funcional Da COLUNA VERTEBRAL

atlas formam com o dente do áxis uma articulação cilindróide. As três articulações

funcionam como uma unidade e permitem a rotação da cabeça.

4.4. ARTICULAÇÕES ATLANTO-OCCIPITAIS

Ocorrem entre os côndilos occipitais e as faces superiores das massas laterais do

atlas. As duas articulações funcionam como uma unidade, elipsóide e biaxial,

permitindo assim os movimentos de flexão, extensão e flexão lateral da cabeça.

4.5. ARTICULAÇÕES COSTOVERTEBRAIS

A maioria das costelas se articula com a coluna vertebral em dois pontos: a

articulação costovertebral, entre a cabeça da costela e as fóveas costais superior e

inferior dos corpos de duas vértebras adjacentes e a articulação costotransversal, entre

o tubérculo da costela e a fóvea costal transversal do processo transverso da vértebra

correspondente.

Na articulação costovertebral, sinovial, envolvida pela cápsula articular, a

cavidade articular é dividida em duas, superior e inferior, pela presença de um

ligamento intra-articular, curto, situado horizontalmente, que vai da cabeça da costela

para o disco intervertebral. A cápsula articular está reforçada anteriormente, pelo

ligamento radiado.

A articulação costotransversal, também sinovial, é revestida por uma cápsula

articular que é espessa, inferiormente, mas delgada nas outras porções. Os ligamentos

costotransversais próprio, lateral e superior reforçam a articulação.

4.6. ARTICULAÇÃO SACROILÍACA

São articulações sinoviais simples do tipo plano e portanto capazes de

movimentos em várias direções, mas de amplitude muito limitada. São formadas pelas

faces auriculares do íleo e do sacro. A cavidade articular constitui apenas uma parte da

articulação entre o sacro e o íleo. Uma grande área póstero-superior, a face auricular do

íleo, entre a tuberosidade ilíaca e o sacro está ocupada pelo forte ligamento sacroilíaco

interósseo, o qual posteriormente se confunde com o ligamento sacroilíaco dorsal, um

forte espessamento da cápsula articular. Anteriormente a cápsula articular também

apresenta um espessamento, o ligamento sacroilíaco ventral, que é bem menos espesso

que o dorsal. Além destes, a articulação sacroilíaca apresenta dois ligamentos a

distância: o ligamento sacrotuberal e o ligamento sacroespinhal.

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Page 11: Anatomia Funcional Da COLUNA VERTEBRAL

5.0. ANORMALIDADES CONGÊNITAS E ADQUIRIDAS DA COLUNA

VERTEBRAL

5.1. CIFOSE

Geralmente, é um aumento exagerado na curvatura torácica. Uma pessoa

cifótica, em linguagem popular, é conhecida como corcunda. A cifose torácica pode ser

uma compensação de uma lordose lombar ou devido à compressão dos corpos

vertebrais, como na osteoporose.

5.2. LORDOSE

A lordose é um aumento exagerado nas curvaturas cervical e lombar. Pode ser

uma compensação de uma cifose ou à flacidez muscular com ou sem aumento de peso

anterior à coluna - como na obesidade e na gravidez.

5.3. ESCOLIOSE

A escoliose é a deformidade em que existe uma ou mais curvaturas laterais da

coluna. Pode ser funcional (ou fisiológica) e estrutural (ou patológica). No primeiro

caso, a coluna curva-se lateralmente devido à diferença de peso nas duas metades do

corpo em conseqüência: a) da poliomielite; b) da diferença de comprimento dos

membros inferiores, devido à fraturas mal reduzidas, à uma prótese mal adaptada ou a

um joelho valgo unilateral, c) de uma má postura.

A escoliose estrutural, geralmente, aparece na infância e é progressiva. A causa é

o crescimento desigual das vértebras, como a presença de vértebras em cunha ou

hemivértebras.

5.4. ESPINHA BÍFIDA

A espinha bífida é um defeito de fechamento do arco vertebral: falta o processo

espinhoso e, às vezes, parte das lâminas adjacentes. Na maioria dos casos, aparece na 5a

vértebra lombar ou no sacro. A forma benigna, chamada espinha bífida oculta, às vezes

é assintomática e o defeito ósseo é um achado radiológico. A pele relacionada ao defeito

ósseo, às vezes, apresenta uma mancha avermelhada e com uma quantidade maior de

pêlos. Nos casos graves, denominada espinha bífida aberta, as meninges e o líquor se

exteriorizam e formam uma hérnia, denominada meningocele e em casos mais graves

herniam, além das meninges e do líquor, a medula espinhal - é a mielomeningocele.

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Page 12: Anatomia Funcional Da COLUNA VERTEBRAL

5.5. ESPONDILÓLISE

A espondilólise é um defeito de fechamento do arco vertebral ao nível da

lâmina, logo posterior ao pedículo. Quando a falha é bilateral, uma parte anterior da

vértebra (incluindo corpo, pedículos, processos transversos e zigoapófises superiores)

está unida, por tecido conjuntivo denso, com o restante do arco vertebral (lâminas,

zigoapófises inferiores e processo espinhoso). Ou seja, não há continuidade óssea entre

as duas zigoapófises superiores com as inferiores.

Em conseqüência de um trauma ou de uma hiperextensão, a parte anterior da 5a

lombar pode deslizar junto com o restante da coluna sobre a 1a vértebra sacral. A este

deslizamento patológico denomina-se espondilolistese

5.6. OSTEOFITOSE

A osteofitose é o crescimento de esporões ósseos com forma e tamanho

variáveis, denominados osteófitos (bicos de papagaio, em linguagem leiga), nas bordas

superior e ou inferior dos corpos das vértebras. Os osteófitos podem se desenvolver nos

contornos anteriores, ântero-laterais, posteriores ou póstero-laterais das bordas dos

corpos vertebrais e além de limitar movimentos, podem comprimir a medula espinhal

ou suas raízes nervosas. A doença pode estar circunscrita a duas ou três vértebras de

uma região ou ser universal, ou seja, acometer todas as vértebras pré-sacrais.

5.7. HÉRNIA DE DISCO

A hérnia de disco é o extravasamento do núcleo pulposo, devido a uma fraqueza

do anel fibroso: o núcleo pulposo hernia e pode comprimir a medula espinhal ou suas

raízes nervosas. A protrusão pode ser precipitada por trauma, mas a degeneração - por

envelhecimento do disco - é um fator importante.

A compressão do disco em uma direção, movimenta, o núcleo pulposo em

direção oposta. Assim, a herniação pode acontecer em diversas direções (anterior,

posterior, ântero-lateral e póstero-lateral). Na curvatura cervical, a hérnia é mais

freqüente no disco entre as vértebras C5 e C6. Na curvatura lombar, a maior freqüência

acontece no 5o disco, seguido em ordem decrescente no 4o e 3o discos.

6.0. O MITO DA POSIÇÃO ERETA

É um erro comum considerar o ser humano mal adaptado à postura ereta e

apontá-la como causa de várias patologias, entre as quais destacam-se as hérnias de

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Page 13: Anatomia Funcional Da COLUNA VERTEBRAL

disco e os osteófitos. Os estudos paleontológicos mostram que a postura ereta é uma

característica dos nossos antepassados antropóides e hominídeos há cerca de 25 a 30

milhões de anos. Tanto a postura quanto a forma de locomoção bípede se tornaram uma

constante no Plioceno, há uns 12 milhões de anos atrás e estavam completamente

estabelecidos nas formas humanas ancestrais há mais de 1 milhão de anos. Com esta

longa história de evolução progressivamente mais eficiente é difícil imaginar

circunstâncias nas quais patologias atribuíveis à postura ereta pudessem ter persistido no

reservatório genético do qual surgiu a moderna humanidade.

Assim, patologias como hérnias abdominais, prolapso uterino, lesões de discos

intervertebrais e varizes dos membros inferiores e do testículo, que trazem consigo

claras desvantagens para a sobrevivência e a reprodução do seu portador, ainda mais nos

tempos pré-históricos, se decorrentes de uma mal adaptação à postura ereta, já teriam

sido eliminadas, sendo extintas pela seleção natural.

Desta forma, é necessária uma outra explicação, que não a postura ereta, para

tais patologias. Uma boa teoria é a de que elas são decorrentes de uma recente (em

termos evolutivos) alteração ambiental à qual o ser humano ainda não se adaptou bem.

Esta alteração ambiental foi a passagem da vida nômade à sedentária que trouxe consigo

a realização de esforços repetitivos e constantes, geralmente acompanhados da

manipulação e do transporte de objetos de grande peso.

Em síntese, a postura e a locomoção eretas não trazem por si maiores problemas.

Estes são decorrentes do trabalho constante e repetitivo com objetos de grande peso

e/ou da execução também repetitivas de movimentos, que constituem fenômenos

evolutivamente recentes.

7.0. MOVIMENTOS DA COLUNA VERTEBRAL

Os movimentos da coluna vertebral são o resultado de pequenos movimentos

permitidos entre as vértebras adjacentes. A amplitude de movimento entre duas

vértebras depende, fundamentalmente, da altura do disco: quanto mais alto o disco,

maior seu grau de compressão e, em conseqüência, maior a amplitude de movimento

permitida. A direção do movimento, no entanto, depende particularmente da forma e do

plano de orientação das facetas zigoapofisárias. Os fatores limitantes de movimento nas

articulações em geral, como os ligamentos e o grau de alongamento dos músculos

antagonistas aqui também são importantes.

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Page 14: Anatomia Funcional Da COLUNA VERTEBRAL

A amplitude do movimento de flexão é limitada pelos ligamentos posteriores

(longitudinal posterior, flavo, supraespinhal e da nuca) e pelos músculos posteriores (ou

extensores); limitam a amplitude do movimento de extensão o ligamento longitudinal

anterior, o contato entre os processos espinhosos e os músculos anteriores (ou flexores).

A amplitude do movimento de flexão lateral é limitada, na curvatura lombar,

pelos músculos e ligamentos intertransversais do lado convexo - o oposto ao

movimento, e na região cervical, pelos músculos do lado convexo e pelo contato entre

os processos unciformes do lado côncavo - o do movimento.

A extraordinária mobilidade da região cervical deve-se à altura dos discos, ao

plano de orientação das facetas das zigoapófises e ao número proporcionalmente grande

de articulações para um segmento curto da coluna.

A curvatura torácica permite movimentos limitados na parte superior e é mais

móvel próxima à junção toracolombar. A pouca mobilidade nas porções superior e

média da curvatura é devida à união das dez vértebras superiores com o esterno através

das costelas e os discos serem baixos. A direção quase frontal das facetas das

zigoapófises limitam a flexão e a extensão, exceto na parte inferior em que as facetas

dispõem-se em um plano que se aproxima do sagital. A extensão além de ser limitada

pelo ligamento longitudinal anterior, pela superposição dos processos espinhosos,

também o é pela superposição das lâminas. As lâminas das vértebras torácicas são as

mais altas da coluna e mais altas que os corpos de suas respectivas vértebras. A flexão

lateral e a rotação são mais amplas próximo à junção toracolombar.

Na parte superior da curvatura lombar, a flexo-extensão e a flexão lateral têm

relativamente grande amplitude devido às facetas estarem dispostas no plano sagital e

suficientemente afastadas e à altura dos discos. Nesta porção da curvatura lombar o

movimento de rotação é limitado, porque as facetas - neste movimento - se trancam

quase de imediato. A 4ª e 5ª vértebras lombares possuem facetas dispostas

obliquamente, entre os planos sagital e frontal, que permitem maior amplitude do

movimento de rotação. A flexão lateral é acompanhada de certo grau de rotação para o

mesmo lado e vice-versa, devido à obliqüidade das facetas das zigoapófises. Os

movimentos lombares são sincrônicos com os do quadril e os do pescoço com os da

cabeça. No ato de tocar os dedos no chão, ocorre inicialmente flexão lombar, seguida da

inclinação anterior da pelve no quadril, o que amplia o movimento.

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