anatomia funcional da coluna vertebral
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CAPÍTULO 8
ANATOMIA FUNCIONAL DA COLUNA VERTEBRAL
1. INTRODUÇÃO
A coluna vertebral é o eixo ósseo do corpo, situada no dorso, na linha mediana,
capaz de sustentar, amortecer e transmitir o peso corporal. Além disto, supre a
flexibilidade necessária à movimentação, protege a medula espinhal e forma com as
costelas e o esterno o tórax ósseo, que funciona como um fole para os movimentos
respiratórios.
A freqüência de problemas clínicos ou cirúrgicos é alta. Pesquisas mostram que
50 a 80% dos adultos serão vítimas, no decurso de suas vidas, de alguma forma de dor
decorrente de afecções da coluna vertebral, muitas vezes, por uma postura errada
durante o trabalho ou o repouso.
A coluna é formada de 33 vértebras: 24 pré-sacrais, sendo 7 cervicais, 12
torácicas e 5 lombares; pelo sacro composto de 5 vértebras fundidas e pelo cóccix
formado de 4 vértebras rudimentares fundidas entre si, sendo que a 1a. vértebra
coccígea, um pouco mais volumosa, se articula com o ápice do sacro através de um
disco intervertebral rudimentar.
2. CURVATURAS
No embrião, a coluna vertebral tem a forma de “C” com concavidade anterior.
Com o desenvolvimento a curvatura muda progressivamente.
A medida que o recém-nascido adquire controle sobre seu corpo a forma da
coluna progressivamente se altera. Nas regiões torácica e sacral, a curvatura original
permanece, ou seja, com concavidade anterior e nas regiões cervical e lombar a
curvatura primitiva desaparece e, gradualmente, aparecem as curvaturas em sentido
oposto.
A curvatura cervical desenvolve-se à medida que a criança tenta erguer a cabeça
- por volta dos 3 meses - e se consolida na época de sentar e do engatinhar; ocasião em
que estende a cabeça e o pescoço para olhar para frente.
A curvatura lombar, só observada no ser humano, desenvolve-se quando
tracionada anteriormente pelos músculos iliopsoas e ligamentos nos esforços de ficar de
pé, porém, torna-se firme, bem consolidada, por volta dos 2 anos de idade.
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No adulto, as curvaturas com mesma direção da coluna embrionária são
denominadas primárias e as curvaturas de direção oposta, com concavidade posterior
são secundárias. As curvaturas secundárias (cervical e lombar) são extremamente
móveis em relação às primárias (torácica e sacral). Das três curvaturas pré-sacrais, a
torácica é a menos móvel, enquanto que o sacro, formado de vértebras soldadas, não
apresenta qualquer movimentos entre os seus segmentos.
As curvaturas cervical e lombar são compensatórias da postura ereta assumida
pelo ser humano. A cervical suporta o peso da cabeça e alivia, em parte, a ação dos
músculos da nuca em manter a extensão da cabeça e do pescoço. A lombar compensa a
desvantagem da curvatura torácica - de concavidade anterior - e sustenta o peso do
corpo. Nas mulheres, a curvatura cervical é mais branda e a lombar mais acentuada.
Na intimidade de cada curvatura, a curva é suave e gradual e a estes níveis a
coluna é relativamente forte; porém as áreas de transição de uma curvatura para outra
são mais agudas, estão sujeitas à maior força de tração, possuem maior mobilidade e são
potencialmente mais vulneráveis.
Na transição lombossacral, o ângulo é de 37o a 48o ( no sexo feminino os
valores, em média, são maiores que no masculino) e está sujeito a grande tensão e
também à maior freqüência de lesões.
3.0. ESTRUTURA GERAL DAS VÉRTEBRAS
Embora existam características particulares para as vértebras de cada uma das
porções da coluna, todas elas possuem uma estrutura básica, comum (figura 1). Assim,
cada vértebra está constituída por um anel ósseo que circunda um forame, o forame
vertebral, o qual pode ser considerado como um segmento do canal vertebral, onde se
aloja a medula espinhal. A parte anterior do anel é o corpo vertebral, cilindróide e com
superfícies superior e inferior planas. A parte posterior do anel, denominada arco
vertebral, consiste em um par de pedículos e em um par de lâminas. Os pedículos
projetam-se posteriormente da parte superior do contorno posterior do corpo vertebral e
se unem com as lâminas que se fundem no plano mediano. No ponto de fusão das
lâminas no plano mediano, projeta-se posteriormente o processo espinhoso; no ponto
de fusão dos pedículos com as lâminas projetam-se três processos adicionais com
direções diferentes: o processo transverso, lateralmente; o processo articular
superior, cranialmente, e o processo articular inferior, caudalmente. Estes dois
últimos processos apresentam uma face articular.
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A face superior e inferior do pedículo apresentam uma denteação, as incisuras
vertebrais, superior e inferior. Cada incisura, com a vizinha da vértebra adjacente,
forma um forame intervertebral para a passagem do nervo espinhal e de vasos
(figura 2).
3.1. VÉRTEBRAS CERVICAIS
Das vértebras cervicais, a 1ª e a 2ª vértebras (C1 e C2) são consideradas atípicas
e denominadas, respectivamente, atlas e áxis. As quatro seguintes são consideradas
típicas, como a 7ª , embora esta apresente algumas particularidades: o forame
transversário pode não existir e o processo espinhoso é longo e não-bifurcado, sendo
facilmente palpável.
Observando um livro texto e um atlas, descreva todas as estrurutas ósseas
presentes no ATLAS, ÁXIS e demais vértebras cervicais. Numere cada uma delas.
Forame intervertebralIncisura vertebral inferior
Incisura vertebral inferior
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Figura 1. Estruturas gerais das vértebras.
Figura 2. Incisuras vertebrais e forame intervertebral.
3.2. VÉRTEBRAS TORÁCICAS
Articulam-se com as costelas e estas o fazem com o corpo vertebral e com o
processo transverso. Para isto apresenta uma fóvea costal superior, oval, situada na
emergência do pedículo, e pode apresentar uma fóvea costal inferior, pois a cabeça da
costela pode ultrapassar o corpo vertebral da vértebra subjacente e alcançar o corpo da
vértebra suprajacente (figura 3). Por sua vez, o processo transverso apresenta a fóvea
costal do processo transverso para articular-se com o tubérculo da costela.
Além dessas particularidades das vértebras torácicas, há também:
• os processos espinhosos são muito inclinados em relação ao plano do corpo da
vértebra,
• os corpos vertebrais têm volume intermediário entre o das vértebras cervicais e
lombares,
• as faces articulares situam-se principalmente em um plano frontal.
3.3. VÉRTEBRAS LOMBARES
São as vértebras mais volumosas da coluna vertebral. Seus processos espinhosos
são curtos e quadriláteros, situando-se no mesmo plano horizontal dos corpos vertebrais.
Não apresentam fóveas costais e forame transversário e as faces articulares estão
situadas em plano antero-posterior, de modo que se articulam quase em plano sagital.
3.4. SACRO E CÓCCIX
No adulto, o sacro é formado pela fusão de cinco vértebras sacrais que
diminuem de tamanho no sentido craniocaudal. Desse modo, é um osso triangular
recurvo, de base superior e ápice inferior, com concavidade anterior. Situa-se em cunha
entre os ossos do quadril e fecha, posteriormente, o cíngulo do membro inferior.
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Figura 3. Vértebra torácica típica.
Apresenta uma base, um ápice, parte lateral e faces, pélvica e dorsal. Na base está a
abertura do canal sacral, que corresponde ao canal vertebral na coluna. A face pélvica
apresenta uma área óssea mediana, uma série de forames de cada lado, os forames
intervertebrais e sacrais anteriores, e as duas massas laterais. A área mediana é
composta pelos cinco corpos vertebrais fundidos. As linhas de fusão são conhecidas
como linhas transversas e correspondem aos discos intervertebrais ossificados. O corpo
da primeira vértebra sacral articula-se com a quinta vértebra lombar por um disco
intervertebral. Na margem superior do contorno anterior do corpo da primeira vértebra
sacral (S1), no plano mediano, há o promontório sacral. Nos extremos das linhas
transversas situam-se os forames sacrais anteriores, por onde emergem os ramos
ventrais dos quatro primeiros nervos sacrais. O canal sacral se comunica com os
forames sacrais anteriores e posteriores. Os nervos sacrais se dividem, ainda dentro de
um túnel ósseo de comunicação, nos seus ramos anteriores e posteriores que emergem
então pelos forames. Lateralmente, cinco robustos processos ósseos contornam os
forames e fundem-se para formar as partes laterais, direita e esquerda, do sacro,
constituindo as asas do sacro.
A face dorsal do sacro é acidentada e convexa, enquanto a pélvica é lisa e
côncava. A fusão das peças sacrais esconde o canal sacral, mas ele é visível no extremo
inferior como uma abertura triangular, o hiato sacral, pois não há fusão da quarta e
quinta lâminas sacrais. No plano mediano está a crista sacral mediana, resultante da
fusão de processos espinhosos. De cada lado da crista sacral mediana há uma crista
sacral medial, produto da fusão dos processos articulares. Esta apresenta pequenos
tubérculos articulares, lateralmente aos quais se situam os forames sacrais posteriores,
por onde emergem os ramos posteriores dos quatro primeiros nervos sacrais (o quinto
sai pelo hiato sacral).
A face lateral do sacro é alargada até o nível de SIII, mas se estreita
consideravelmente em direção caudal para converter-se, inferiormente, em simples
margem. A porção alargada é áspera em seu terço dorsal, mas apresenta uma faceta
articular nos dois terços pélvicos, a face auricular para articular-se com o ílio na
articulação sacroilíaca.
O cóccix deriva da fusão de três ou quatro peças coccígeas, constituindo um
osso irregular, afilado, que representa o vestígio da cauda no extremo inferior da coluna
vertebral. Articula-se com o sacro por meio de um disco intervertebral.
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4.0. ARTICULAÇÕES INTERVERTEBRAIS
As vértebras articulam-se umas com as outras de modo a conferir rigidez, mas
também flexibilidade à coluna, qualidades necessárias para o suporte do peso,
movimentação do tronco e ajuste de posição indispensáveis para o equilíbrio e a
postura.
4.1. ARTICULAÇÕES DOS CORPOS VERTEBRAIS (SINCONDROSES)
Os corpos das vértebras unem-se por discos intervertebrais e ligamentos
longitudinais anterior e posterior.
Os discos intervertebrais, principais meios de união dos corpos das vértebras,
estão presentes desde a superfície inferior do corpo do áxis até a junção lombossacral.
Nas regiões torácica e lombar, os discos são numerados e denominados de
acordo com a vértebra sob a qual se encontram, por exemplo, o disco L3 é aquele que
une as vértebras L3 e L4. Na região cervical, este critério não é usado para a
identificação do disco intervertebral, pois o primeiro disco cervical une os corpos das
vértebras C2 (áxis) e C3.
Os discos inserem, acima e abaixo, nas delgadas camadas de cartilagem hialina
(placas cartilaginosas) que revestem o osso esponjoso das superfícies superior e inferior
dos corpos das vértebras e nas suas bordas superior e inferior de osso compacto.
O disco intervertebral consiste de duas partes; uma porção periférica de
fibrocartilagem, o anel fibroso e uma parte central, mucóide, o núcleo pulposo.
O anel fibroso é composto de 12 a 20 camadas fibrosas concêntricas, que passam
do corpo da vértebra superior para a inferior em diagonal, ou seja, cada camada fibrosa
tem uma obliqüidade diferente. O cruzamento em “X” destas camadas dá elasticidade
ao anel fibroso: no estiramento do disco o “X“ fica alongado e estreito e o oposto ocorre
na compressão, o “X” diminui de comprimento e se alarga.
O núcleo pulposo é um material mucóide de cor amarelada “in vivo”, altamente
elástico e compressível; no entanto, quando o disco é comprimido o núcleo pulposo
libera o material aquoso que embebe o anel fibroso e a reabsorção deste material ocorre
quando o disco não está sob tensão, por exemplo, quando a pessoa está deitada. O
núcleo pulposo é a melhor fonte de nutrição do disco intervertebral, devido ao seu baixo
metabolismo e à sua irrigação praticamente ausente no adulto. Dentro do anel fibroso, o
núcleo pulposo localiza-se posteriormente. Portanto, o anel fibroso - em corte
transversal - é mais espesso anterior e delgado posteriormente ao núcleo pulposo.
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Os discos intervertebrais são responsáveis por 25% do comprimento da coluna
pré-sacral que, aproximadamente, mede 70 cm no homem e 60 cm na mulher.
Os discos são os únicos responsáveis pela curvatura cervical, porque os corpos
das vértebras são ligeiramente mais baixos na parte anterior; já na curvatura torácica os
corpos das vértebras são os principais responsáveis pois os discos são de espessura
uniforme (anterior e posteriormente).
Os discos cuneiformes, mais altos anteriormente, são os responsáveis pela
curvatura lombar na parte superior; mas na parte inferior tanto o disco como o corpo da
vértebra contribuem para a curvatura (o corpo da 5a vértebra lombar, por exemplo, é
mais alto na frente do que atrás e o mesmo ocorre com o 5o disco).
A coluna cresce até os 25 anos e diminui na velhice, devido à redução na altura
dos discos e dos corpos vertebrais. Com a idade, o núcleo pulposo perde a capacidade
de reter água, diminui em altura e tende a tornar-se fibrocartilagíneo. Devido à
osteoporose, os corpos vertebrais sofrem microfraturas ou por ação de traumatismos
leves ou mesmo sem uma causa aparente, levando à compressão de seus corpos e às
suas conseqüências associadas como a cifose, lordose, diminuição da capacidade
respiratória, protrusão do abdome, etc.
O ligamento longitudinal anterior (figura 4) é uma faixa larga e espessa de tecido
conjuntivo denso que une as faces anteriores dos corpos das vértebras e dos discos
intervertebrais, amarrando-os, desde o arco anterior do atlas até a face pélvica do sacro.
Atua reforçando o contorno anterior dos discos intervertebrais, durante o levantamento
de objetos pesados e limitando a extensão da coluna, fato que é particularmente
importante na região lombar, onde o peso do corpo tende a acentuar a curvatura normal
da região.
O ligamento longitudinal posterior (figura 4) é uma faixa de tecido conjuntivo
denso que une as faces posteriores dos corpos de todas vértebras e discos pré-sacrais, e
portanto, está localizado na parede anterior do canal vertebral e termina na face superior
do canal sacral. Ele é largo e espesso na região cervical e, gradualmente, torna-se
estreito e delgado nas regiões torácica e lombar. Nestas regiões estreita-se ao nível dos
corpos das vértebras; fixando-se em suas bordas superior e inferior, mas na porção
média do corpo une-se ao mesmo por tecido conjuntivo frouxo. Ao nível dos discos, o
ligamento expande-se bilateralmente e insere nos mesmos, sendo esta a parte mais fraca
do ligamento e de pouco valor para a proteção dos discos lombares. Atua limitando o
movimento de flexão da coluna.
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4.2. ARTICULAÇÕES DOS PROCESSOS ARTICULARES
4.2.1. Ligamentos dos Corpos Vertebrais
Os arcos vertebrais adjacentes unem-se através de articulações sinoviais, entre as
facetas das zigoapófises (ou processos articulares) denominadas articulações
zigoapofisárias e por articulações fibrosas que unem as lâminas, os processos
espinhosos e transversos adjacentes.
A forma e o plano de orientação das facetas das zigoapófises é que determinam
os tipos de movimentos entre duas vértebras. As facetas são planas e estão orientadas
obliquamente - de superior e anterior para inferior e posterior - na curvatura cervical;
são planas e orientadas quase no plano frontal na curvatura torácica. Na região lombar,
as facetas das zigoapófises superiores são ligeiramente côncavas e voltadas
medialmente, enquanto aquelas das zigoapófises inferiores são ligeiramente convexas e
voltadas lateralmente, de forma que o plano destas articulações é quase sagital.
No entanto, entre a 5a vértebra lombar e a 1a sacral as facetas são quase planas;
com orientação oblíqua, entre os planos sagital e frontal, e isso ajuda a prevenir o
deslizamento anterior da 5a lombar sobre a superfície muito inclinada da face superior
do sacro.
As articulações zigoapofisárias possuem cápsulas articulares delgadas e
suficientemente frouxas para permitir uma amplitude de movimento normal nas
articulações. As cápsulas, geralmente, não contribuem para orientar ou limitar
movimentos; esta função é realizada pelos ligamentos longitudinais anterior ou
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Ligamento longitudinal
anterior
Ligamento longitudinal
posterior
Figura 4. Ligamentos dos corpos vertebrais.
posterior, pelos ligamentos que unem as diversas partes de arcos vertebrais adjacentes,
pelos músculos e discos intervertebrais. No entanto, as cápsulas tornam-se muito tensas
em um movimento excessivo ou anormal e contribuem para limitá-lo; sendo que na
flexão máxima da coluna lombar, suportam aproximadamente 40% do peso corporal.
4.2.2. Ligamentos dos Arcos Vertebrais
As lâminas de vértebras adjacentes são unidas internamente por fortes
ligamentos elásticos denominados amarelos (flavos), que realmente são amarelos “in
vivo”, devido a sua riqueza em fibras elásticas. Os ligamentos flavos ficam tensos em
qualquer posição assumida pela coluna vertebral, sendo importante em sua
estabilização.
São melhor visualizados do interior do canal vertebral, pois estão localizados na
parede posterior do mesmo. Estendem lateralmente sobre as cápsulas articulares,
constituindo o limite posterior do forame intervertebral e assim protegem os nervos de
serem pinçados (ou beliscados) durante os movimentos de flexão da coluna.
As pontas dos processos espinhosos, desde a 7a vértebra cervical até o sacro são
unidas pelo ligamento supraespinhal, - tecido conjuntivo denso encorpado com
orientação longitudinal -, que limita a flexão da coluna. Ele se continua superiormente
como o ligamento da nuca, de formato triangular, com a base fixada na protuberância e
crista occipitais externas e o ápice na ponta do processo espinhoso da 7a vértebra
cervical.
Os ligamentos interespinhais são delgadas membranas de tecido conjuntivo
denso que unem os corpos dos processos espinhosos adjacentes e são contínuos com os
ligamentos amarelos e supra-espinhais. Os ligamentos interespinhais são bem
desenvolvidos na região lombar, não estão sob tensão e portanto não limitam o
movimento de flexão.
Os ligamentos intertransversais unem lateralmente os processos transversos
vizinhos e são mais desenvolvidos na região lombar inferior e tendem a faltar,
principalmente, na região cervical.
4.3. ARTICULAÇÕES ATLANTO-AXIAIS
As facetas superiores dos processos articulares do áxis e as inferiores das massas
laterais do atlas formam articulações planas. O arco anterior e o ligamento transverso do
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atlas formam com o dente do áxis uma articulação cilindróide. As três articulações
funcionam como uma unidade e permitem a rotação da cabeça.
4.4. ARTICULAÇÕES ATLANTO-OCCIPITAIS
Ocorrem entre os côndilos occipitais e as faces superiores das massas laterais do
atlas. As duas articulações funcionam como uma unidade, elipsóide e biaxial,
permitindo assim os movimentos de flexão, extensão e flexão lateral da cabeça.
4.5. ARTICULAÇÕES COSTOVERTEBRAIS
A maioria das costelas se articula com a coluna vertebral em dois pontos: a
articulação costovertebral, entre a cabeça da costela e as fóveas costais superior e
inferior dos corpos de duas vértebras adjacentes e a articulação costotransversal, entre
o tubérculo da costela e a fóvea costal transversal do processo transverso da vértebra
correspondente.
Na articulação costovertebral, sinovial, envolvida pela cápsula articular, a
cavidade articular é dividida em duas, superior e inferior, pela presença de um
ligamento intra-articular, curto, situado horizontalmente, que vai da cabeça da costela
para o disco intervertebral. A cápsula articular está reforçada anteriormente, pelo
ligamento radiado.
A articulação costotransversal, também sinovial, é revestida por uma cápsula
articular que é espessa, inferiormente, mas delgada nas outras porções. Os ligamentos
costotransversais próprio, lateral e superior reforçam a articulação.
4.6. ARTICULAÇÃO SACROILÍACA
São articulações sinoviais simples do tipo plano e portanto capazes de
movimentos em várias direções, mas de amplitude muito limitada. São formadas pelas
faces auriculares do íleo e do sacro. A cavidade articular constitui apenas uma parte da
articulação entre o sacro e o íleo. Uma grande área póstero-superior, a face auricular do
íleo, entre a tuberosidade ilíaca e o sacro está ocupada pelo forte ligamento sacroilíaco
interósseo, o qual posteriormente se confunde com o ligamento sacroilíaco dorsal, um
forte espessamento da cápsula articular. Anteriormente a cápsula articular também
apresenta um espessamento, o ligamento sacroilíaco ventral, que é bem menos espesso
que o dorsal. Além destes, a articulação sacroilíaca apresenta dois ligamentos a
distância: o ligamento sacrotuberal e o ligamento sacroespinhal.
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5.0. ANORMALIDADES CONGÊNITAS E ADQUIRIDAS DA COLUNA
VERTEBRAL
5.1. CIFOSE
Geralmente, é um aumento exagerado na curvatura torácica. Uma pessoa
cifótica, em linguagem popular, é conhecida como corcunda. A cifose torácica pode ser
uma compensação de uma lordose lombar ou devido à compressão dos corpos
vertebrais, como na osteoporose.
5.2. LORDOSE
A lordose é um aumento exagerado nas curvaturas cervical e lombar. Pode ser
uma compensação de uma cifose ou à flacidez muscular com ou sem aumento de peso
anterior à coluna - como na obesidade e na gravidez.
5.3. ESCOLIOSE
A escoliose é a deformidade em que existe uma ou mais curvaturas laterais da
coluna. Pode ser funcional (ou fisiológica) e estrutural (ou patológica). No primeiro
caso, a coluna curva-se lateralmente devido à diferença de peso nas duas metades do
corpo em conseqüência: a) da poliomielite; b) da diferença de comprimento dos
membros inferiores, devido à fraturas mal reduzidas, à uma prótese mal adaptada ou a
um joelho valgo unilateral, c) de uma má postura.
A escoliose estrutural, geralmente, aparece na infância e é progressiva. A causa é
o crescimento desigual das vértebras, como a presença de vértebras em cunha ou
hemivértebras.
5.4. ESPINHA BÍFIDA
A espinha bífida é um defeito de fechamento do arco vertebral: falta o processo
espinhoso e, às vezes, parte das lâminas adjacentes. Na maioria dos casos, aparece na 5a
vértebra lombar ou no sacro. A forma benigna, chamada espinha bífida oculta, às vezes
é assintomática e o defeito ósseo é um achado radiológico. A pele relacionada ao defeito
ósseo, às vezes, apresenta uma mancha avermelhada e com uma quantidade maior de
pêlos. Nos casos graves, denominada espinha bífida aberta, as meninges e o líquor se
exteriorizam e formam uma hérnia, denominada meningocele e em casos mais graves
herniam, além das meninges e do líquor, a medula espinhal - é a mielomeningocele.
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5.5. ESPONDILÓLISE
A espondilólise é um defeito de fechamento do arco vertebral ao nível da
lâmina, logo posterior ao pedículo. Quando a falha é bilateral, uma parte anterior da
vértebra (incluindo corpo, pedículos, processos transversos e zigoapófises superiores)
está unida, por tecido conjuntivo denso, com o restante do arco vertebral (lâminas,
zigoapófises inferiores e processo espinhoso). Ou seja, não há continuidade óssea entre
as duas zigoapófises superiores com as inferiores.
Em conseqüência de um trauma ou de uma hiperextensão, a parte anterior da 5a
lombar pode deslizar junto com o restante da coluna sobre a 1a vértebra sacral. A este
deslizamento patológico denomina-se espondilolistese
5.6. OSTEOFITOSE
A osteofitose é o crescimento de esporões ósseos com forma e tamanho
variáveis, denominados osteófitos (bicos de papagaio, em linguagem leiga), nas bordas
superior e ou inferior dos corpos das vértebras. Os osteófitos podem se desenvolver nos
contornos anteriores, ântero-laterais, posteriores ou póstero-laterais das bordas dos
corpos vertebrais e além de limitar movimentos, podem comprimir a medula espinhal
ou suas raízes nervosas. A doença pode estar circunscrita a duas ou três vértebras de
uma região ou ser universal, ou seja, acometer todas as vértebras pré-sacrais.
5.7. HÉRNIA DE DISCO
A hérnia de disco é o extravasamento do núcleo pulposo, devido a uma fraqueza
do anel fibroso: o núcleo pulposo hernia e pode comprimir a medula espinhal ou suas
raízes nervosas. A protrusão pode ser precipitada por trauma, mas a degeneração - por
envelhecimento do disco - é um fator importante.
A compressão do disco em uma direção, movimenta, o núcleo pulposo em
direção oposta. Assim, a herniação pode acontecer em diversas direções (anterior,
posterior, ântero-lateral e póstero-lateral). Na curvatura cervical, a hérnia é mais
freqüente no disco entre as vértebras C5 e C6. Na curvatura lombar, a maior freqüência
acontece no 5o disco, seguido em ordem decrescente no 4o e 3o discos.
6.0. O MITO DA POSIÇÃO ERETA
É um erro comum considerar o ser humano mal adaptado à postura ereta e
apontá-la como causa de várias patologias, entre as quais destacam-se as hérnias de
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disco e os osteófitos. Os estudos paleontológicos mostram que a postura ereta é uma
característica dos nossos antepassados antropóides e hominídeos há cerca de 25 a 30
milhões de anos. Tanto a postura quanto a forma de locomoção bípede se tornaram uma
constante no Plioceno, há uns 12 milhões de anos atrás e estavam completamente
estabelecidos nas formas humanas ancestrais há mais de 1 milhão de anos. Com esta
longa história de evolução progressivamente mais eficiente é difícil imaginar
circunstâncias nas quais patologias atribuíveis à postura ereta pudessem ter persistido no
reservatório genético do qual surgiu a moderna humanidade.
Assim, patologias como hérnias abdominais, prolapso uterino, lesões de discos
intervertebrais e varizes dos membros inferiores e do testículo, que trazem consigo
claras desvantagens para a sobrevivência e a reprodução do seu portador, ainda mais nos
tempos pré-históricos, se decorrentes de uma mal adaptação à postura ereta, já teriam
sido eliminadas, sendo extintas pela seleção natural.
Desta forma, é necessária uma outra explicação, que não a postura ereta, para
tais patologias. Uma boa teoria é a de que elas são decorrentes de uma recente (em
termos evolutivos) alteração ambiental à qual o ser humano ainda não se adaptou bem.
Esta alteração ambiental foi a passagem da vida nômade à sedentária que trouxe consigo
a realização de esforços repetitivos e constantes, geralmente acompanhados da
manipulação e do transporte de objetos de grande peso.
Em síntese, a postura e a locomoção eretas não trazem por si maiores problemas.
Estes são decorrentes do trabalho constante e repetitivo com objetos de grande peso
e/ou da execução também repetitivas de movimentos, que constituem fenômenos
evolutivamente recentes.
7.0. MOVIMENTOS DA COLUNA VERTEBRAL
Os movimentos da coluna vertebral são o resultado de pequenos movimentos
permitidos entre as vértebras adjacentes. A amplitude de movimento entre duas
vértebras depende, fundamentalmente, da altura do disco: quanto mais alto o disco,
maior seu grau de compressão e, em conseqüência, maior a amplitude de movimento
permitida. A direção do movimento, no entanto, depende particularmente da forma e do
plano de orientação das facetas zigoapofisárias. Os fatores limitantes de movimento nas
articulações em geral, como os ligamentos e o grau de alongamento dos músculos
antagonistas aqui também são importantes.
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A amplitude do movimento de flexão é limitada pelos ligamentos posteriores
(longitudinal posterior, flavo, supraespinhal e da nuca) e pelos músculos posteriores (ou
extensores); limitam a amplitude do movimento de extensão o ligamento longitudinal
anterior, o contato entre os processos espinhosos e os músculos anteriores (ou flexores).
A amplitude do movimento de flexão lateral é limitada, na curvatura lombar,
pelos músculos e ligamentos intertransversais do lado convexo - o oposto ao
movimento, e na região cervical, pelos músculos do lado convexo e pelo contato entre
os processos unciformes do lado côncavo - o do movimento.
A extraordinária mobilidade da região cervical deve-se à altura dos discos, ao
plano de orientação das facetas das zigoapófises e ao número proporcionalmente grande
de articulações para um segmento curto da coluna.
A curvatura torácica permite movimentos limitados na parte superior e é mais
móvel próxima à junção toracolombar. A pouca mobilidade nas porções superior e
média da curvatura é devida à união das dez vértebras superiores com o esterno através
das costelas e os discos serem baixos. A direção quase frontal das facetas das
zigoapófises limitam a flexão e a extensão, exceto na parte inferior em que as facetas
dispõem-se em um plano que se aproxima do sagital. A extensão além de ser limitada
pelo ligamento longitudinal anterior, pela superposição dos processos espinhosos,
também o é pela superposição das lâminas. As lâminas das vértebras torácicas são as
mais altas da coluna e mais altas que os corpos de suas respectivas vértebras. A flexão
lateral e a rotação são mais amplas próximo à junção toracolombar.
Na parte superior da curvatura lombar, a flexo-extensão e a flexão lateral têm
relativamente grande amplitude devido às facetas estarem dispostas no plano sagital e
suficientemente afastadas e à altura dos discos. Nesta porção da curvatura lombar o
movimento de rotação é limitado, porque as facetas - neste movimento - se trancam
quase de imediato. A 4ª e 5ª vértebras lombares possuem facetas dispostas
obliquamente, entre os planos sagital e frontal, que permitem maior amplitude do
movimento de rotação. A flexão lateral é acompanhada de certo grau de rotação para o
mesmo lado e vice-versa, devido à obliqüidade das facetas das zigoapófises. Os
movimentos lombares são sincrônicos com os do quadril e os do pescoço com os da
cabeça. No ato de tocar os dedos no chão, ocorre inicialmente flexão lombar, seguida da
inclinação anterior da pelve no quadril, o que amplia o movimento.
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