anatomia dentária - cap 6 - 13

176
  À  t Capítulo G MORFOLOGIA DOS DENTES DECÍDUOS

Upload: natal-esteves

Post on 05-Oct-2015

626 views

Category:

Documents


14 download

DESCRIPTION

Anatomia dentária

TRANSCRIPT

  • t

    Captulo G

    MORFOLOGIA DOS DENTES DECDUOS

  • Capitulo (>

    MORFOLOGIA DOS DENTES DECDUOS

    GENERALIDADES

    Os dentes decduos, cuja sinonmia extensa (dentes de leite, tem- porrios, provisrios, caducos, da primeira dentio ou da infncia), so elementos que surgem a partir do segundo semestre de vida da criana e terminam de aparecer em torno dos 24 meses.

    CLASSIFICAO

    Recebem os mesmos nomes que os dentes permanentes, isto , incisivos, caninos e molares. Faltam, na dentio decdua, os premolares. Estes dentes substituem os molares de leite nas arcadas definitivas, ocupando quase exala mente os seus lugares. Por outro lado, os molares permanentes no substituem nenhum dente de leite e no so substitudos por nenhum elemento, da denominarem-se dentes monofisrios.

    NUMERO DE DENTES

    A dentio decdua se compe de 20 dentes, 10 superiores e 10 inferiores, distintos em incisivos, caninos e molares. Destes dentes, somente os molares decduos no tm substitutos permanentes homlogos, pois eles so substitudos pelos premolares permanentes.

    Possuindo menor nmero de peas dentrias, a dentio decdua ocupa um arco de comprimento bem menor que o da dentio permanente.

    Em outras palavras, o osso alveolar, at os 4 anos de idade, menor do que o dos 6 anos em diante. fato bem compreensvel, pois nesta idade os ossos suportes aumentam o ritmo de crescimento, a fim de receberem os primeiros molares'permanentes, isto , os chamados dentes dos seis anos". ' -

  • COR E'RESISTNCIA

    170 A NA TOM IA DENTRIA

    Possuindo menor percentagem de sais calcreos que os dentes permanentes, os dentes de leiie apresentam-se com uma colorao branco* azulada ou branco-leitosa. Ainda em decorrncia desta menor mineralizao dos tecidos dentrios, os dentes decduos tm uma dureza bem inferior dos permanentes. Por esta razo os processos patolgicos surgem, muitas vezes, precocemente, destruindo parcial ou totalmente a parte coronria do dente.

    DIMENSES

    Os dentes de leite tm dimenses absolutas menores que os permanentes. A relao volumtrica de 1 para 3, aproximadamente.

    As razes dos dentes decduos, com relao s coroas, so muito maiores que a dos dentes permanentes. A relao volumtrica entre a coroa e a raiz uma caracterstica diferencial entre decduos e permanentes. Nos decduos, a raiz muito maior que a coroa, enquanto que nos permanentes esta relao bem menor.

    MORFOLOGIA GERAL DAS COROAS

    As coroas dos dentes decduos so muito semelhantes s dos permanentes, especialmente nu grupo dos dentes incisivos e caninos. Quanto aos molares, observa-se que o primeiro molar de leite de ambas as arcadas no tem correspondente na dentadura permanente; so os nicos dentes decduos que possuem caractersticas prprias e inconfundveis. Os segundos molares de leite mostram uma semelhana muito grande com os primeiros molares permanentes, os quais irrompem imediatamente atrs dos decduos, aos 6 anos (veja fig. 6-12).

    O que chama a ateno na morfologia geral dos dentes decduos a forma caracterstica da coroa. Ela intumecida, principalmente na altura do segmento cervical, onde a espessura do esmalte mais se acentua, fazendo com que o colo fique estreitado em relao coroa. A transio entre o esmalte coronrio e a poro radicular d-se bruscamente, formando-se salincia sui-generis conhecida por tubrculo do esmalte. O tubrculo de esmalte bem evidente nas faces de contacto, porm nas laces vestibulares, principalmente dos molares, assume tais propores que recebe o nome particular de tubrculo molar (de Zuckerkandl). O tubrculo molar representa um elemento importante para o diagnstico do dente decduo, que associado ao aspecto informe confere-lhe morfologia distintiva dos dentes permanentes.

  • URFOLOGIA DOS DENTES DECDUOS

    MORFOLOGIA GERAL DAS RAZES

    171

    A raiz do dente de leite mais delgada do que a do dente permanente e, relativamente, maior.

    As razes variam muito de aspecto, medida que se processa a evoluo. No incio, isto , imediatamente aps a sua calcificao, elas se apresentam com o pice truncado e terminam por um orifcio largo, cm forma de funil. Mais tarde, quando se apresentam completamente calcificadas, ficam com a forma definitiva na qual se percebe a agudeza dos pices. Esta lorma delinitiva dura pouco tempo, pois alguns meses aps a sua completa formao, a raiz sofre o fenmeno da reabsoro, que se inicia no tero apical. a rizlise dos dentes decduos. Esta reabsoro radicular vai aumentando aos poucos. O diagnstico diferencial com o funil de formao dos dentes jovens, laz-se pelo aspecto bastante irregular das bordas que se esto reabsorvendo. Quando o dente decduo est prestes a ser eliminado, quase toda a raiz encontra-se reabsorvida, restando somente um pequeno segmento cervical bastante irregular.

    Nos dentes molares decduos, as razes (trs para os superiores e duas para os interiores) so achatadas e recurvadas. Esta curvatura, por vezes acentuada, serve para abrigar o germe do dente permanente : em evoluo.

    As razes dos dentes anteriores apresentam-se desviadas para o lado vestibular, a partir do tero mdio, porque os germes dos dentes permanentes correspondentes situam-se lingualmente em relao a essas razes.

    ESTUDO INDIVIDUAL DOS DENTES DECDUOS

    Com poucas excees (primeiros molares) desnecessria a descrio detalhada dos dentes de leite, pois eles so muito parecidos em sua iorma aos dentes permanentes correspondentes. Entretanto, iremos descreve-los sucintamente, chamando a ateno ^mente para os detalhes caractersticos de cada pea dentria.

    DENTES INCISIVOS

    Os dentes incisivos decduos so ern nmero de quatro para cada arcada dentria. A situao e os caracteres morfolgicos destes dentes so iguais aos dos permanentes. Diferena importante a inclinao dos dentes decduos em relao aos ossos maxilares e mandbula.' Enquanto os dentes permanentes possuem inclinaes linguais maiores ou menores, os dentes de leite situam-se quase verticalmente nos ossos alveolares. Esta implantao vertical deve-se ao fato dos germes dos

  • >. K. J>. S- A

    A NA TOM!A DENTARIA

    dentes permanentes situarem-se Iingualmente is razes dos dentes decduos, ocasionando tambm uma curvatura vestibular do tero apical oeste segmento dentrio.

    As pocas de erupo dos dentes decduos foram adotadas do tra- oalho realizado por Vono e col. em 1.545 crianas de ambos os sexos, orasileiras, cujas idades variaram de 2 meses a 4 anos. As cifras Representam as mdias de idades obtidas aps a anlise estatstica, podendo, por isso, parecerem um tanto altas para o conseno geral sobre este assunto. natural que na observao diria de crianas nesta idade, verifique-se a antecipao da erupo dos primeiros dentes decduos em muitos casos, porm, deve-se considerar, com primazia, a mdia gerai estatstica como a mais aceitvel e que melhor exprime o lato real.

    INCISIVO CENTRAL SUPERIOR

    inicio da ealcificao ................ -l 4,5,meses vidu in tr-uterinaErupo .......................... ................ 9 mesesMuda .............................................. 6,5 7 anos

    Coroa Este dente, quando observado pela face vestibular, possui um contorno semelhante ao de um quadrado, pois a distncia msio-dis-

    Fig. G-l Incisivo central superior direito decduo, a, b, c, d: faces vestibular, lingual, rnesial e distai.

  • MORFOLOGIA DOS DENTES DECDUOS 173

    tal quase igual distncia crvico-incisal. de se notar nesta face o rebordo de esmalte acentuado, junto ao colo do dente. Das quatro bordas que delimitam esla face, destacam-se a borda distai e a incisai. A primeira muito mais curta que a mesial e a incisai inclinada que permite identilicar o lado a que o dente pertence. Esta caracters- :ica recebe o nome de sinal do ngulo" do incisivo central superior.

    As demais faces no apresentam nada digno de nota.

    Raiz A raiz do incisivo central superior nica, cnica, ligeiramente achatada no sentido vestbulo-lingual e apresenta, no tero apical, um acotovelamento voltado para o lado vestibular. Este desvio est relacionado com a pz^esso que exerce o germe do incisivo central permanente, que se localiza no lado lingual do decduo.

    INCISIVO LATERAL SUPERIOR

    O incisivo lateral superior possui dimenses mais reduzidas que o incisivo central superior, porm com algumas caractersticas diferenciais.

    Incio da calcificao ................ 4,5 5 msses vida in tra-uterinaErupo .................... ................. ... 11 mosesMuda ................ .............................. 7 8 anos

    Coroa A coroa do incisivo lateral de silhueta mais alongada que o dente anterior. Isto se tdeve que a distncia crvico-incisal de dimenses mais acentuadas que a msio-distal, o que no acontece com o incisivo central.

    A face vestibular, por possuir dimenses menores que o incisivo central, aparenta str bem . mais convexa nos dois sentidos, transversal e vertical. A face lingual profundamente escavada em virtude do grande desenvolvinenlo das crislas marginais. O que torna inconfundvel este dente a grande inclinao para o lado dislal da borda incisai, fazendo com que. o ngulo dista l.fique.de tal modo arredondado e evidente que, por si s, serve paia o diagnstico. O ngulO mesial mais arredondado do que o correspondente do incisivo central e' mais' aberto ou obtuso.

    Raiz A raiz do incisivo lateral superior nica, conide, mais delgada que a do incisivo central. Apresenta-se recurvada para o lado distai e vestibular, semelhana do dente anterior.

  • 174 A NA TOM!A DENTX.RAf (

    rG-2 Incisivo lateral superior direito decduo. a, b, c, d: faces vestibular,

    lingual, mesial e distai.

    ; V. ..INCISIVO CENTRAL INFERIOR

    O incisivo central inferior apresenla. morfologia muito semelhante do incisivo permanente correspondente, mas os detalhes coronrios (sulcos de desenvolvimento, por exemplo) esto ausentes.

    4 4,5 meses, vida n tra-uterina8 meses (i, - - 7 anos

    Coroa A coroa deste dente, conquanto seja mais delgada e achatada no sentido vestbulo-lingual, tem, proporcionalmente, dimenses maiores que o incisivo central inferior permanente. Devido ao dimetro msio-distal ser mais acentuado que o do seu sucessor, torna- se difcil, s vezes, diagnostic-lo com preciso.

    As demais faces so em tudo semelhantes- s do incisivo permanente.

    Incio da calcificaoErupo ......................Muda ..........................

    Raiz A ai/, deste dentre achatada no sentido msio-distal, afilada e com desvios distai e vestibular.

  • MORFOLOGIA DOS DENTES DECDUOS 175

    : \z 8-3 Incisivo central inferior direito decduo, a, b, c, d: faces vestifcu lar, _^g:ua;. mesial e distai.

    INCISIVO LATERAL INFERIOR

    Inicio da calcificao ................ 4 4,5 meses vida intra-uterL naErupo ........................................... 13 mesesMuda ............................................... 7 8 anos

    Coroa O incisivo lateral inferior o segundo dente z a r i ^ d a .^ndibular e muito semelhante ao seu sucessor, porm as d im er . *oes so bem mais reduzidas.

    Suas medidas nos sentidos longitudinal, transversal e a n t e r o p os' lerior so maiores que as do incisivo central inferior. E n t r e t a n t o , as vezes dificlimo o diagnstico diferencial com o dente a n le r o r r r - -n te descrito.

    Apresenta em sua face lingual lm cngulo mais evidente y.zt.:ra- inente desviado para o lado distai desta face. De suas faces de eo n ^ s- to a tace distai bastante reduzida, tendo uma altura que c, aprox .r~ - a_

  • 176 ANATOMIA DENTRIA

    mente, a metade da face mesial. A borda incisai deste dente, quando bem conformada, bastante inclinada para baixo e distalmente, o que toma o ngulo distai obtuso, arredondado. Outra consequncia desse fato que o segmento distai do incisivo lateral apresenta a morfologia do dente canino.

    Raiz Apesar de ser um pouco mais longa que a do incisivo central, o diagnstico diferencial entre as pores radiculares dos dois dentes difcil.

    Fig. 6-4 Incisivo lateral inferior direito decduo, a, b, c, d: faces vestibular, lingual, mssial e distai.

    DENTES CANINOS

    O grupo dos dentes caninos decduos possui situao, nmero e caracteres morfolgicos muito semelhantes aos respectivos dentes permanentes.

  • MORFOLOGIA DOS DENTES DECDUOS 177

    CANINO SUPERIOR

    Inicio da calcificao ................ 5 m eses vida intra-uterinaErupo ............... ........................... 18 mesesMuda .... .......................................... 1 0 11 anos

    Coroa A poro coronria do canino superior mostra-se lan- ceolada, quase to alta quanto larga. Comparada com a coroa do canino permanente, a cspide deste dente evidencia-se mais longa e aguada. O segmento mesial da borda incisai no desce tanto quanto a do dente permanente. Isto faz com que este segmento da borda incisai seja mais inclinado que o do seu sucessor.

    A face vestibular, muito convexa nos dois sentidos, tem uma bossa vestibular acentuada por causa do maior espessamento do esmalte neste nvel. Sulcos incompletos, rasos e poucos ntidos dividem esta face em trs segmentos, dos quais o mediano o maior e corresponde cspide do dente.

    Fig 6-5 Canino superior direito decduo, a. b. c, d: faces vestibular, lingual.mpsial e tiEia.

  • 178 ANATOMIA DENTARIA

    A borda oclusal, livre e em forma de V, apresenta-se de ramos mais fechados e mais inclinados que os do dente permanente. Quando a ponta da cspide no est muito desgastada, este fato perfeitamente perceptvel. O segmento mesial da borda incisai pode apresentar-se maior que o distai, apesar de alguns autores admitirem o contrrio. Isto acontece, provavelmente, devido ao desgaste provocado durante a ocluso com o seu homnimo inferior.

    A face lingual convexa junto ao tero cervical e escavada no restante da face. O cngulo bem desenvolvido. As cristas marginais tambm so bem evidentes. Na maioria dos caninos superiores, a partir do cngulo, desce uma crista em direo ponta da cspide, que divide a face lingual em dois segmentos distintos: um msio-lingual e outro disto-lingual, que representariam duas fossas linguais rasas.

    As faces de contacto so iguais s dos caninos permanentes.

    Raiz A raiz do canino superior nica, volumosa, cnica ou ligeiramente prismtico-triangular, apresentando normalmente sulcos proximais. Ela est frequentemente desviada para o lado distai, mas seu tero apical desvia-se para o lado vestibular.

    CANINO INFERIOR

    Inicio da calcificao ................ 5 meses vida intra-uterinaErupo ........................................... 18 mesesMuda ............................................... 9 10 anos

    Coroa O canino inferior o terceiro dente da arcada mandi- bular. menos volumoso que o superior, porm mais do que os incisivos inferiores.

    A coroa deste dente tambm lanceolada. Observa-se, entretanto, que a dimenso vertical maior que a transversal, e no to bojuda quanto a do canino superior.

    Neste dente, que possui um modelado menos evidente que o superior, chamam a ateno a borda incisai e a face lingual. A borda incisai, tambm em forma de V, constitudo por duas arestas msio- -distais que se unem na ponta da cspide, no muito aguada. Existem variaes na extenso e na inclinao destas arestas, talvez ocasionadas pelo desgaste durante a ocluso. Estas variaes provocam diferenas na altura das faces de contacto. As faces mesial e distai tm dimenses muiio semelhantes; e o vrtice da cspide encontra-sc mais prximo v face mesial.

  • MORFOLOGIA DOS DENTES DECDUOS 179-

    Fig. 6-6 Canino inferior direito decduo, a, b, c, d: faces vestibular, lingual, mesial e distai.

    A face lingual no possui modelado to ntido quanto a do canino superior, o que serve para distinguir ambos os caninos.

    Raiz Geralmente nica, mais curta que a do superior e mais achatada no sentido msio-distal. Os sulcos proximais so bem maisevidentes.

    MOLARES DECDUOS

    Os molares de leite so os dentes mais volumosos das arcadas temporrias. Os segundos molares sao muito semelhantes aos primeiros molares permanentes, o que no acontece com os primeiros molares decduos, que no tm correspondentes nas arcadas definitivas.

  • 180 ANATOMIA DENTRIA

    Os molares decduos so substitudos pelos premolares da dentio permanente. O espao que eles ocupam corresponder quase exatamen- te ao espao que ser preenchido pelos premolares. Admite-se que a distncia msio-distal dos molares decduos seja maior que a dos premolares permanentes. A coroa dos molares decduos irregularmente cbica, pouco alta e bastante alongada no sentido msio-distal.

    A srie dos molares decduos, em ambas as arcadas, crescente, ao contrrio do que acontece com os molares permanentes, em que a srie de volume decrescente.

    A coroa dos molares de leite tosca, intumescida e o tubrculo molar (de Zuckerkandl) tem nestes dentes o seu maior desenvolvimento.

    As razes so trs, nos molares superiores e duas, nos inferiores.

    PRIME SUPERIOR DECDUO

    Inicio da calcificao ................ 5 5,5 meses vida intra-uterinaErupo ........................................... 12 mesesMuda ............................................... 9 10 anos

    o menos volumoso dos dentes molares. Ceder lugar ao primeiro premolar superior. Em ocluso, as cspides vestibulares ultrapassam as correspondentes inferiores.

    Coroa irregularmente cbica, mais larga do que alta, com grande estrangulamento ao nvel do colo, tornando a face oclusal funcional bem maior que a cervical.

    A face vestibular convexa no tero apical, tornando-se plana nos dois teros oclusais. Seu contorno trapezoidal. Um sulco muito raso divide esta face em dois segmentos pouco ntidos. Das quatro bordas que a limitam, a cervical ondulada e obliquamente dirigida para cima, em sentido mesial. A maior convexidade desta face observa-se ao nvel do ngulo triedro msio-vestbulo-cervical, onde se encontra uma salincia volumosa, o tubrculo molar.

    A borda distai menor, bem mais convexa e menos inclinada que a borda mesial. A borda livre ou oclusal irregular. Apresenta dois sulcos pequenos e rasos que separam segmentos correspondentes aos segmentos da face vestibular. Destes segmentos ou lobos, o mesial o maior.

    A face lingual do primeiro molar menor, porem bem mais convexa que a vestibular e bem mais inclinada para o lado vestibular. As suas bordas limitantes so semelhantes aos da face vestibular, porm menores.

  • MORFOLOGIA DOS DENTES DECDUOS 181

    Fig. 6-7 Primeiro molar supsrior direito decduo, a b, c, d: faces vestibular, lingual, mesial e distai; e: face oc".usal.

    Suas faces de contacto so trapezoidais, com maior largura ao nvel do colo. Nada apresentam de particular, a no ser que a face distai bem menor, mais convexa e menos inclinada do que a face mesial.

    Sua face oclusal possui a forma de um trapzio de bordas e ngulos arredondados, cuja grande base vestibular. As bordas mesial e distai desta facc convergem para o lado lingual, e as bordas vestibular e lingual convergem para o lado distai. So numerosos os detalhes desta face:

    1) cspides: normalmente em nmero de trs, das quais duas so vestibulares e uma lingual, sendo a mais volumosa a lingual, e a menor a disto-vestibular.

  • 182 ANATOMIA DENTRIA

    2) fossetas: existem duas fossetas triangulares principais, mesial e distai, e duas ou trs acessrias encontradas nos cruzamentos do sulco principal com os sulcos acessrios.

    3 ) sulcos: h um sulco principal msio-distal, que divide esta face em duas partes, vestibular e lingual. Aparecem, nesta face, outros sulcos, denominados secundrios, bastante irregulares e pouco profundos. Alguns deles desaparecem logo aps a erupo do dente.

    4) cristas marginais: so bordeletes de esmalte que unem as cspides vestibulares lingual. Algumas vezes, o sulco distai invade as cristas e atinge as faces de contacto, mas alguns autores contestam este fato.

    Razes So em nmero de trs, longas, delgadas e achatadas. Suas faces interradiculares so profundamente escavadas ou sulcadas longitudinalmente, servrindo para alojar o germe do dente permanente que o substituir. So razes divergentes, destacando-se todas elas de um bulbo radicular pequeno, junto ao colo dentrio. Frequentemente existem pontes de cemento que unem as razes entre si. A raiz palatina a maior e a mais inclinada; a raiz disto-vestibular a menor das trs

    a msio-vestibular mais larga e volumosa que a disto-vestibular.

    SEGUNDO MOLAR SUPERIOR DECDUO

    Quinto dente da arcada e o ltimo da srie dos molares. Mais volumoso que o primeiro. substitudo pelo segundo premolar. Em posio de ocluso, engrena-se unicamente com o segundo molar inferior, pelo menos at a erupo do primeiro molar permanente.

    Incio da calcificao ................. 5,5 6 meses vida intra-uterinaErupo ............................................ 24 mesesMuda ............................................... 10 11 anos

    Coroa semelhante, em sua forma e em seus detalhes principais, ao primeiro molar permanente, j descrito. Chamamos a ateno, apenas, para a maior frequncia do tubrculo anormal (ou de Carabelli), que em alguns dentes desenvolve-se a ponto de imitar uma verdadeira cspide lingual. Este fato transforma a face lingual deste dente, tornando-a maior que a face vestibular. Afora a presena do tubrculo molar, o resto da coroa do segundo molar decduo uma cpia exata do primeiro molar permanente.

    Razes So em nmero dc trs, bem longas, recurvadas e esca vadas nas faces interradiculares. Acolhem o germe do segundo premolar, que o substituir na arcada permanente.

  • MORFOLOGIA DOS DENTES DECDUOS 183

    Fig. 6-8 Segundo molar superior direito decduo, a. b. c, d, e: faces vestibular, lingual, mesial, distai e oclusal.

    PRIMEIRO MOLAR INFERIOR DECDUO

    o quarto dente da arcada inferior e o menor da srie. Este dente ceder o seu lugar ao primeiro premolar inferior.

    Inicio da calcificaoErupo ......................Muda ..........................

    5 5.5 meses vida in tra -u tenna 16 meses10 11 anos

  • 184 ANATOMIA DENTRIA

    Em ocluso normal, o primeiro molar inferior decduo engrena-se com a poro distai do canino superior e a poro mesial do primeiro molar superior. Morfologicamente, ele difere de qualquer dente decduo ou permanente.

    Coroa Irregularmente cbica, alongada no sentido msio-distal e estreita no sentido vestbulo-lingual.

    A face vestibular convexa em todos os sentidos, podendo ser inscrita num trapzio irregular, pois o seu lado distai bem menor que o lado mesial devido a grande inclinao da linha do colo, para cima e para distai. Esta face apresenta uma ligeira depresso em sua poro mdia, que a divide em dois segmentos o lobo mesial e o lobo distai.

    Fig. 6-9 Primeiro m olar inferior direito decduo, a. b. c. d. e: faces vestibular, lingual, mesial. distai e ociusal.

  • MORFOLOGIA DOS DENTES DECIDUOS 185

    que correspondem, respectivamente, s cspides msio-vestibular e disto- -vestibular. O lobo mesial maior. A convexidade desta face bem mais evidente ao nvel da borda cervical, prximo ao ngulo msio-ves- tibular, onde encontramos o tubrculo molar, que serve para o diagnstico do lado a que pertence o dente. O bordo distai bem menor que o mesial e mais convexo. O bordo livre ou oclusal, apresenta um sulco no muito acentuado, que separa as duas cspides vestibulares msio-vestibular, maior, e disto-vestibular, menor. Pode existir um segundo sulco, quando h na face oclusal o tubrculo disto-vestibular. Esta face vestibular tem uma grande inclinao no sentido crvico-oclusal ou seja, em direo lingual.

    A face lingual bem menor que a anterior, porm bem mais convexa e menos inclinada. A borda livre desta face apresenta um sulco que se vai perder na metade da mesma, dividindo-a em dois segmentos ou lobos, mesial e distai, que iro corrsponder s duas cspides linguais, sendo a msio-lingual maior que a disto-lingual. A borda cervical desta face pouco saliente, ondulada e com um a ponta que se intromete entre as razes.

    Das duas faces de contato, que tambm so convexas, a distai bem mais convexa e menor. A maior convexidade est prxima da borda oclusal. Das quatro bordas das faces de contacto, a cervical maior que a oclusal. A borda oclusal sulcada na parte mdia e mostra as silhuetas das cspides vestibular e lingual correspondentes. Estas faces de contacto so inclinadas para baixo, em direo ao colo dentrio.

    A face oclusal possui a forma de uma elipse comprimida no sentido vestbulo-lingual e alongada no sentido msio-distal. Apresenta quatro cspides: duas vestibulares e duas linguais, das quais as mesiais so as mais volumosas.

    Podemos encontrar primeiros molares inferiores decduos com cinco cspides. Nestes casos, a quinta .cspide tem forma aproximada de tu brculo e fica situada junto ao ngulo disto-vestibular.

    Na face oclusal encontram-se sulcos que a dividem em vrios segmentos: o sulco msio-distal, algumas vezes interrompido por uma ponte de esmalte ou crista oblqua, separando a cspide vestibular da lingual; o sulco vestbulo-oclusal e o sulco lnguo-oclusal, muito variveis por suas localizaes, mas diferindo entre si por ser o sulco lnguo-oclusal pouco ntido e prximo ao segmento mesial do dente.

    Sulcos secundrios podem ser encontrados nesta face, porm mais rasos e menores. Eles desaparecem rapidamente aps a erupo do dente.

    Existem fossetas nos entrecruzamentos dos diversos sulcos. Duas delas so mais constantes e se acham situadas junto s cristas marginais, mesial e distai. As cristas marginais so resistentes, sendo a mesial mais ntida e mais volumosa que a distai.

    v

    Jlaizes Em nmero de duas, mesial c distai, so alongadas, alargadas no sentido vestbulo-lingual e achatadas no sentido msio-

  • 186 ANATOMIA DENTRIA

    -distai. Saem do bulbo radicular divergindo fortemente, com tendncia a convergirem junto ao pice. Suas faces inter-radiculares so escavadas para acolherem o germe dentrio do primeiro premolar inferior. A raiz mesial sempre mais desenvolvida e, normalmente, possui dois canais radiculares em seu interior.

    SEGUNDO MOLAR INFERIOR DECDUO

    o quinto dente do arco decduo. Seu volume maior que o primeiro e ceder lugar ao segundo premolar inferior. Em ocluso normal,

    Fig. 6-10 Segundo molar inferior direito decduo, a, b. c. d. e: faces vestibular, lingual. mesial. distai e oclusal.

  • MORFOLOGIA DOS DENTES DECDUOS 187

    engrena-se com a poro distai do primeiro molar superior e toda a face oclusal do segundo molar da arcada oposta.

    Inicio da calcificao ................. 5,5 6 meses vida intra-uterinaErupo ........................................... 25 mesesMuda ............................................... 10 11 anos

    Coroa O segundo molar inferior tem uma coroa alongada no sentido msio-distal e estreita no sentido vestbulo-lingual. muito semelhante ao primeiro molar inferior permanente. Toma-se desnecessrio, portanto, repetir a descrio dos detalhes anatmicos que caracterizam ambos os dentes. evidente que apenas o volume do dente, e a presena do tubrculo molar, diferenciam estes dois elementos.

    Razes Em nmero de duas, uma mesial e outra distai, so longas e achatadas no sentido msio-distal e escavadas nas faces inter- -radiculares, onde se situa o germe do segundo premolar inferior. So razes divergentes junto ao bulbo radicular e convergentes nos teros apicais.

    Caractersticas diferenciais entre a dentio decdua e a permanente

    Alguns detalhes morfolgicos permitem a diferenciao entre os dentes decduos e os permanentes:

    cQ1. A dentadura permanente se compe de 32 dentes, ao passo qe a de leite s possui 20 dentes (ausncia dos premolares e terceiros molares).

    2. A srie dos molares permanentes decrescente, isto , o primeiro molar maior do que o segundo e este, por sua vez, maior do que o terceiro. A srie dos molares decduos crescente, ou seja, o primeiro menor do que o segundo.

    3. Apesar da morfologia semelhante de quase todos os dentes, os primeiros molares decduos de ambas as arcadas no tm iguais na arcada permanente.

    4. Os dentes decduos so, em todos os sentidos, menores que os dentes permanentes, pois representam, aproximadamente, um tero do volume daqueles.

    5. Enquanto que os dentes permanentes possuem uma cor mais carregada para o amarelo, os dentes decduos so de colorao mais leitosa ou azulada, distribuda por toda a coroa.

  • Fig. 6-11 Incisivos e caninos, permanentes e decduos, em confronto. H semelhana de forma, porm diferena de tamanho.

    ANATOMIA DENTRIA

    Fig. G-12 Confronto entre dentes jugais. perm anen tes e decduos. Os premo- lares no tm correspondentes decduos. Ao invs, os l . molares decduos no tm correspondentes permanentes. Os 2.K molares decduos assemelham-se aos1.* molares permanentes. E. enfim, os 2.- molares permanentes no tm correspondncia na dentio lctsa.

  • MORFOLOGIA DOS DENTES DECDUOS 189

    6. Os dentes decduos tm o colo muito marcado devido maior espessura do esmalte neste nvel, enquanto os permanentes se apresentam com a regio cervical mais discretamente marcada.

    7. Presena do anel de esmalte (incisivos e caninos) e tubrculo molar, nos decduos. Nos dentes permanentes no existem tais formaes de esmalte.

    8. Comparados com os dentes permanentes, os dentes decduos so morfologicamente mais grosseiros no seu modelado, intumescidos e com distribuio mais irregular da camada de esmalte.

    9. As razes dos dentes de leite so longas, mais afiladas, recurvadas, para receberem os germes dos dentes permanentes entre os molares, e recurvadas para o lado vestibular nos dentes anteriores.

    10. Os dentes decduos so menos calcificados, menos duros e menos resistentes que os permanentes. A menor percentagem de sais calcreos permite maior percentagem de eroses coronrias nos dentes de leite.

  • Captulo 7

    CAVIDADE PULPAR

  • Captulo 7

    CAVIDADE PULPAR

    A polpa dentria, o nico tecido mole do dente, est protegida no interior dos tecidos calcificados numa cavidade denominada cavidade pulpar. Esta limitada pela dentina coronria e pela dentina radicular. Devido morfologia e situao especiais deste espao co, ele dividido em duas partes, anatmica e clinicamente importantes cmara coronria e canal radicular. A continuidade entre ambas as pores bem evidente nos dentes anteriores e unirradiculados, onde a parte dilatada da cmara coronria tem continuidade com o canal radicular, ao nvel de um estrangulamento sempre visvel. s vezes, a linlia demarcatria entre ambas as partes cavitrias no bem perceptvel devido dilata-

    F ij:. 7-1 Cavidade pulpar de um primeiro molar superior, preparado por diafa- nizao Observar a cm ara coronria com seus cornos bem evidenciados: o canal radicu:ar palatino recurvado: o canal distai v pequeno e situado entre a bifur- cao do canai mesial que se apresenta nico na origem (com pequena ilhota

    dc n in a ) e dividido em 2/3 da raiz.

  • 194 ANATOMIA DENTARIA

    o inicial da poro radicular, principalmente nos dentes com certo grau de achatamento do bulbo da raiz.

    A cavidade pulpar abre-se para o exterior somente no extremo do pice radicular atravs de um orifcio, ao qual se d o nome de orifcio apical. Este pode ser nico ou estar acompanhado de outros de menor calibre, que recebem a denominao genrica de orifcios apicais. Alguns autores, inadvertidamente, usam o termo foramina, latino, para indicar vrios orifcios em tom o do orifcio apical principal. Mas, o termo foramina , pura e simplesmente, o plural de "foramen", que significa, em portugus, somente orifcio ou buraco. O orifcio apical principal nem sempre se localiza na ponta da raiz e os seus deslocamentos so constantes, como demonstram as observaes em dentes uni e mul-

    radiculados. atravs dos orifcios apicais, principal e acessrios, que penetram e saem vasos e nervos que se dirigem para a polpa.

    MTODOS DE ESTUDO

    A partir de 1842 que se dedicou maior ateno ao estudo das cavidades dentrias, o que hoje constitui a Endodontia. Vrios mtodos foram empregados para estudar o endodonto. Um dos mais primitivos, e ainda hoje usado, o dos cortes longitudinais e transversais, substi-

    'do atualmente pelo desgaste em pedra-pome. A verificao feita por e mtodo puramente anatmica, simples, tendo-se uma idia da

    conf igurao geral da cmara coronria e do canal radicular. Serve para comprovar que a anatomia interna do dente reproduz a sua morfologia exterior.

    Outro mtodo de estudo que d uma viso razovel do interior do dente o radiogrfico. O uso de radiografias em vrias posies constitui um precioso auxiliar para a verificao da forma, do nmero e dos desvios das cavidades pulpares. Apesar de ser .um mtodo que no reproduz detalhes, largamente difundido na clnica diria. Alguns autores utilizam injees prvias de substncias radiopacas para melhor

    ;sibilizarem a cmara coronria e o canal radicular.

    A fim de lograrem resultados satisfatrios, os utores idealizaram cnicas para o estudo morfolgico e topogrfico das cavidades pulpa

    res. Estas tcnicas tendem a evidenciar as particularidades de configurao, a capacidade, as relaes e as variaes das cavidades dentrias. Entre estes mtodos devem ser citados o dos moldes com vulca- nite (Hess), para os dentes permanentes, e o dos moldes de Zurcher para os dentes de leite, que serviram de base para numerosos outros que se seguiram. O mtodo de injeo de substncias coradas no interior do dente, e posterior diafanizao, hoje em dia um dos mais difundidos e o que melhor resultados oferece. A injeo de tinta nanquim, preconizada por Okumura, seguida pela diafanizao do dente, permite um estudo minucioso do canal radicular, coisa que no era to facilmente verificvel.

    v

    Em 1954, Picosse introduziu uma modificao neste mtodo original de impregnao pela tinta nanquim, cenlrifugando os dentes e, depois,

  • CA VIDADE PULPAR 195

    diafanizando-os, o que reduz sobremodo o tempo de preparo das peas e preenche os canalculos radiculares, mesmo no estando livres de tecido pulpar seco.

    Mais recentemente, est se tentando obter verificaes do endo- donto atravs dos radioistopos. Alguns pesquisadores, como Kasse Acta, Roig Tarin e Alari, esto utilizando o iodo radioativo para a visi- bilizao da topografia interna dos canais radiculares. A auto-radio- grafia dever constituir-se, no futuro, num mtodo de muitas vantagens, pois que o iodo radioativo na cmara pulpar poder mostrar detalhes que, pelos mtodos usuais, talvez continuem inatingveis.

    CMARA CORONRIA

    O interior da coroa dentria tem uma s cavidade a cmara coronria, que reproduz, quase fielmente, a morfologia exterior desta parte do dente. Nos moldes, nos cortes ou nas diafanizaes, percebe-se que a cmara coronria formada de um teto, de um assoalho e de paredes vestibular, lingual, mesial e distai.

    O teto da cavidade da coroa corresponde face oclusal dos dentes premolares e molares ou ao bordo incisai dos dentes anteriores. Esta parte caracteriza-s pela presena de depresses que nos moldes surgem como elevaes correspondentes s cspides ou s bordas incisais. Cada prolongamento pulpar, ou corno pulpar, comunica-se amplamente com a cavidade central; e acompanha (o corno pulpar) o maior ou menor aguamento da cspide. Se h um desgaste' das pontas das cspides ou bordas incisais, o mesmo acontece com as pontas dos cornos pulpares, devido formao de novas camadas de dentina destinadas a compensar o desgaste exterior. Os cornos 'Alpares so tantos quanto as cspides (Fig. 7-1).

    A despeito da posio do dente nos ossos maxilares e mandbula, o soalho da cmara pulpar acha-se situado ao nvel de um plano que secciona o colo, seguindo a linha sinuosa que caracteriza esta parte do dente. Deste soalho originam-se os prolongamentos radiculares da cavidade pulpar. Quando o dente unirradiculado, o orifcio de entrada para o canal radicular amplo, central e de fcil acesso para a explorao clnica. Porm, nos dentes multirradiculados, entre os vrios orifcios que do entrada aos canais radiculares, formam-se elevaes separadoras de dentina.

    As demais paredes da cmara coronria recebem as mesmas denominaes das faces da coroa e assemelham-se morfologia exterior.

    CANAL RADICULAR

    O canal radicular a cavidade contida no interior da raiz dentria, que prolonga a cmara coronria em direo extremidade apical do dente, at o orifcio apical.

  • 196 ANATOMIA DENTARIA

    Geralmente nico nos dentes unirradiculares, inicia-se no soalho coronrio, altura do colo do dente, por um orifcio amplo, arredondado, ovalar (ou em forma de fenda, quando o achatamento radicular acentuado).

    Fig. 7-2 Ilhotas de dentina. era canais radiculares.

    Nos dentes multirradiculados existe um canal para cada raiz. preciso lembrar, porm, que a duplicidade de canais ocorre em razes que tm um certo grau de achatamento msio-distal. Esta duplicidade pode ser parcial ou total e em ambos os casos interpe-se, entre os dois aspectos, uma ilhota de dentina que dificulta a sondagem radicular nos tratamentos endodnticos.

    A reduo do calibre do canal tambm est na dependncia da neoformao de dentina, de maneira semelhante ao que ocorre na cm ara coronria. Esta reduo leva, ao mesmo tempo, modificao da forma do canal.

    Pode-se fazer uma diviso dos vrios tipos de canais radiculares principais, visando cham ar a ateno para a diversidade morfolgica desta parte da cavidade dentria. Frequentemente, esta diversidade torna difcil o acesso endodntico nos processos infecciosos que atingem esta parte radicular.

  • CA VIDADE PULPAR 197

    Fig. 7-3 Canal radicular com brusca reduo do calibre, recurvado e terminando em orifcio no apical.

    Pig. 7-4 Infiltrao dentinria pela tin ta nanquim aps centrifugao do dente, permitindo visualizar grande quantidade de canalculos dentinrios em toda a extenso do canal radicular.

  • 198 ANA TOM IA DENTARIA

    Pig. 7-5 Detiuhe da figura anterior, onde pode perceber-se, com mais detalhes, os canalculos dentinrios delicadssimos, partindo do canal principal do dente.

    O mtodo da dialanizao auxilia a descrio dos diversos aspectos canaliculares dos dentes uni ou multirradiculares. Os seis tipos de canais mais habituais, so:

    1 canal simples \ retil |^curvilne'

    f te ro apicalfprrnineo .i ^ tero mdioeo ou recurvado ,tero basal

    j total3 canal fusionado { parcial

    ^ apical

    4 canal colateral ou paralelo

    5 canal reticular ou plexiforms

    complelo J baixo "\_alto

    ' tero apical incompleto < tero mdio

    tero basai

    o canal atrsico

  • CAVIDADE PU LEAR 20.1

    A 1: canal principal. 2: canal paralelo. 3: canal adventcio. 4: canal en\ fundo cego. 5: canal secundrio. 6: canal acessrio. 7: intercanal (interconduto).

    li 1: canal principal. 2: canais paralelos. Observe-se na parte inferior, unindo os canais paralelos ao principal, um plexo de intercanais.

    C 8: canal recorrenta. 9: delta apical.

    Fig. 7-6 Representao esquemtica dos canais radiculares.

    III... i ..................................MM

  • 202 ANATOMIA DENTRIA

    exterior, mas pode permanecer totalmente no interior da dentina radicular, constituindo o canal em fundo cego (Figs. 7-6, A, n.s 3 e 4 e

    2 Canal secundrio

    Pequena ramificao que abandona o canal principl na altura do tero apical e se dirige para o exterior, podendo ramificar-se e abrir-se prximo ao pice radicular aumentando o nmero de orifcios peri-api- cais (Fig. 7-6, A, n. 5).

    3 Canal acessrio

    Canal que se origina de um canal .secundrio e termina no tero apical da raiz. Pode ser simples ou bifurcado (Fig. 7-6, A, n. 6).

    4 Canal recorrente

    Destaca-se do canal principal num determinado ponto, transita um certo trecho e desemboca no mesmo canal principal, prximo ao pice radicular. Quando existe, forma pequena ilhota de dentina, podendo confundir-se com a bifurcao do canal principal alta ou mdia, porm, o seu calibre bem menor que nesta ltima eventualidade (Fig. 7-6, C, n. 8).

    Fig. 7-7).

    t i

    Fig. 7-7 Canal em undo cego, do lado lingual.

  • C A V I D A D E PULPAR

    5 Intercanal

    203

    Tambm chamado interconduto, uma pequena ramificao que une o canal principal e colateral ou colaterais entre si. A presena desses intercanais pode dar o aspecto rendilhado ou emaranhado plexiforme, formando o j mencionado canal reticular ou plexiforme (Fig. 7-6, B).

    li Delta apical

    Vrios canalculos que se destacam do cana) principal no tero apical. Apresenta o aspecto de uma arborizao, abandonando o tronco principal e ocasionando o aparecimento de vrios orifcios menores que substituem o orifcio apical nico (Figs. 7-6, C e 7-8).

    Fig. 7-8 Delta apical. Fig. 7-9 Canais secundrios, do lado vestibular da

    raiz.

    EVOLUO DAS CAVIDADES PULPARES

    O tamanho da cmara coronria e o calibre dos canais radiculares sofrem a influncia da idade do dente, da sua atividade funcional e da sua histria clnica. A deposio de dentina contnua at o dente atingir o seu tamanho normal. Esta recebe o nome de dentina primria. Entretanto, devido aos fatores apontados, decorrentes da prpria evoluo dos dentes e do indivduo, novas camadas de dentina so deposi

  • 204 ANATOMIA DENTRIA

    tadas sobre a dentina primria, as quais podem ser divididas em: 1) dentina secundria e 2) dentina esclerosada.

    1. A dentina secundria forma-se em condies normais, constantemente, devido atrio que as faces dentrias sofrem na mastigao; ou ento, em condies patolgicas. Assim, pode dividir-se a dentina secundria em dois tipos:

    a) dentina secundria fisiolgica

    r b) dentina formativa ou reparadora

    m*

    a) A den tina secundria fisiolgica vai se depositando sobre a dentina primria, quer na cmara coronria, quer no canal radicular, acompanhando a evoluo do dente e, ao mesmo tempo, modificando a capacidade destas cavidades. Esta deposio dentinria serve para manter sempre uma certa distncia entre a superfcie do dente e a polpa do rgo. Quando se examina um dente, onde se nota o depsito de dentina fisiolgica pode-se perceber, com o microscpio, que os canalculos dentinrios tm uma direo diversa dos da dentina pr-e.\istente, apesar de haver continuidade tubular.

    b) A den tina fo rm a tiva forma-se secundariamente a processos patolgicos que incidem sobre o dente, tais como eroso, crie, briquismo ou irritao por substncias irritativas. Nesta variedade, os tbulos dentinrios dispem-se ao acaso, destoando da orientao geral dos canais primrios, sernpre bem ordenados. Esta dentina formativa no deve ser confundida com a dentina secundria fisiolgica, como ainda fazem alguns autores.

    Quer a neoformao dentinria se faa fisiolgica ou repara- tivamente, a tendncia geral da cmara coronria reduzir-se a ponto de desaparecer completamente. Quando isto acontece, o dente permanece vitalizado somente graas ao periodonto.

    A dentina esclerosada ou transparen te pode surgir em qualquer outro lipo de dentina e em qualquer parte do dente. Caracteriza-se por reas esbranquiadas, translcidas, bem visveis sob luz transmitida, e por apresentar um alto teor de sais minerais. Sendo mais mineralizada do que a dentina primria, a dentina esclerosada tor- na-se mais transparente, semelhana do esmalte dentrio. Ela e muito frequente em leses cariosas ou em eroses dentrias acentuadas, mas parece estar relacionada com a idade porque achada com maior frequncia em dentes'velhos (Fig. 7-1Q). "

  • CA VIDADE PULPAR 205

    Kig. 7-10 Seco longitudinal de premolar inferior que mostra dentina escle- rosada (setas) na poro radicular. Observe-se o aspecto translcido da dentina esclerosami como se verifica psla grelha subjacente (Kraus, Jordan e A bram s).

    DISTANCIAS DAS SUPERFCIES DAS VRIAS FACES CAMARA CORONRIA

    da maior importncia o conhecimento que o cirurgio-dentisja, e principalmente o endodontista, deve ter das distncias que medeiam entre a superfcie das faces e a cmara coronria. No estado normal, isto , sem atrio ou desgaste patolgico dos dentes jovens, estas dimenses foram tomadas em dentes seccionados ou desgastados. Poucos autores dedicararn-se a estas verificaes e, por isso, temos de nos valer de suas observaes, apesar de no se conhecerem as condies em que foram determinadas essas distncias, Dieulaf-Herpin, Aprile-Fign e Garino, nos indicam cifras que diferem entre si, o que bem mostra as dificuldades que existem nestas observaes. Menezes, em nosso meio realizou trabalho incompleto, o que rio permite comparaes.

  • 206 ANATOMIA DENTRIA

    DISTANCIA (EM mm) NOS DENTES PERMANENTES DAS SUPERFCIES DAS VRIAS FACES A CAVIDADE PULPAR

    Dentes Faces Dieulaf-llerpin' ' Aprile-Fign

    O 3,5 5,0V 2,0 2,5

    ICS L 1,5 1,5M 1,5 2,0 D 1,5 2,0

    O 1,0 5,0V 2.5 2,0

    ILS L 2,0 1,5M 1.5 1,4D 1,5 1,4

    O 5,0 5,0V 3,5 3,0

    CS L 2,5 2,6M 2,0 2,0D 2,0 2.0

    O 3.5 3,2V 2,5 _ 2,5

    I. PS L 2,5 2,5M 2,0 2,0D

    _ '

  • CAVIDADE PULPAli 207

    DISTANCIA (EM mm) NOS DENTES PERMANENTES DAS SUPERFCIES DAS VRIAS FACES A CAVIDADE PULPAR

    Dentes Faces Dieulu-llorpii;-f..

    Aprile-Fign

    O 2,5 3,0V 2,0 2,0

    ICI L 1,0 1,5' M 1,0 1,2

    D 1,0 1,2

    O 2,0 3,0V. 1,5 2,0

    ILI L i.o l.ffM 1,0 1,2 'D 1,0 1,2

    O 4,0 4,8V 2,5 3,0

    Cl L 3,0 2,5M 1,5 1,5D 1,5 1,5

    O 2,0 3,9V 2,5 2,5

    1. PI L 2,5 2,0M 1,5 1,5D 1,5 1,5

    ~'r -O 2,5 3,9V 2,5 2,5

    2. PI L 2,0 2,0M 1,5 1,5D 1.5 1.5

    O 4,0 5,0V 3,0 3,0

    1. MI L 2,5 2,5M 2,0 3,0D 2,0 2,7

    O 3,0 5,3V 2,5 3,0

    2. MI L 2,0 2,5M 1,5 2,8D 1,5 2,6

    O 2,0 _V 1,5

    3. Ml L 1,5

  • 208 A NA TOMIA DENTARIA

    Observando-se o quadro anterior, podem-se obter algumas deduesde ordem geral:

    1. Das laces dos dentes permanentes, a que tem maior distncia da superfcie cmara coronria a fuce oclusal e suas dimenses vo de um mnimo de 2,0 mm a um mximo de 5,3 mm, sendo que esta medida mxima corresponde ao segundo rnolar inferior.

    2. Das faces vestibulares e linguais, as vestibulares possuem maior distncia que as linguais, em todos os dentes, e vo de 1,5 mm a3.0 mm.

    3. As laces proximais so as que apresentam menor distncia entre as superfcies e a cmara coronria, e ambas se equivalem de maneira quase absoluta, variando de 1,0 a 3,0 mm.

    4. A face oclusal dos dentes superiores tem um mnimo de 2,5 mm (1. MS) e um mximo de 5,0 mm (CS), enquanto que as faces oclu- sais dos dentes inferiores tm um mnimo de 2,0 rnm (ILI, 1. PI e3. Ml) e um mximo de 5,3 mm (2. MI).

    5. A face vestibular dos dentes superiores varia de um mnimo de2.0 mm (ICS) a um mximo de 3,5 mm (CS) e dos inferiores de um mnimo de 1,5 mm (ILI, 3. MI) a um mximo de 3,0 mm (Cl, 1. A4I e 2. MI).

    6. A ace lingual dos dentes superiores tem como distncias mnimas 1,5 mm (ICS) e um mximo de 2,6 mm (CS). A face lingual dos dentes inferiores tem distncias mnimas de 1,0 mm (CI, ILI) e mximas de 3,0 mm (Cl).

    7. As faces proximais dos dentes superiores Um distncias mnimas de 1,0 mm (2. MS) e mximas de 2,5 mm (1. MS, 3. MS). Dos dentes inferiores, as distncias mnimas so de 1,0 mm (ICI, ILI) e mximas de 3,0 mm (1. MI).

    8. Para um mesmo dente, a face oclusal a mais espessa, a vestibular mais do que a lingual e as proximais so as mais delgadas de todas. ,

    Complementando este assunto, de valr inestimvel para a Endo-dontia, convir reproduzir as concluses de Hess e Zurcher, que- realizaram laboriosa pesquisa em dentes permanentes e decduos.

    1 . No obstante o canal radicular acompanhar a forma geral da raiz, complicado pelo aparecimento de septos divisionrios, de ramificaes e de canais acessrios.

    2. Os septos dentinrios frequentemente duplicam os canais radiculares, particularmente nas razes achatadas dos incisivos inferiores, caninos inferiores, premolares superiores e inferiores, razes mesiais dos molares superiores e inferiores.

  • 3 As ramificaes apicais so comuns nos premolares superiores e inferiores e na raiz mesial dos molares superiores e inferiores.

    t Canais aberrantes ou suplementares so encontrados em qualquer dente. Podem servir de anastomose entre canais principais, terminar em fundo cego ou desembocar na superfcie da raiz.

    5. Estas complicaes aparecem depois do dente ter o seu pice completado, ou seja, aps o trmino da calcificao.

    No seria exagerado afirmar que cerca de dois teros dos canais radiculares so tratados inadequadamente. Devemos ter sempre e.m mente a complexidade morfolgica das cavidades radiculares.

    CAVIDADE PULPAR 209

    CAVIDADES PULPARES DOS DENTES PERMANENTES

    Desgastando-se os dentes em vrios sentidos, obtm-se uma idia aproximada da morfologia das cavidades pulpares. Simultaneamente, podem praticar-se cortes em diversos nveis, a fim de demonstrar que a morfologia interna corresponde forma externa da coroa e da raiz (ou razes).

    Neste estudo, devem preferir-se dentes jovens ou com muito pouco desgaste pois a atrio dentria diminui as dimenses da cmara coronria e dos canais radiculares, em virtude da deposio contnua de camadas de dentin'neoformada.

    Incisivos superiores

    As cavidades pulpares dos incisivos superiores so muito semelhantes. Nos eorles vestbuio-linguais observa-se que a cmara coronria afilada na extremidade incisai; mas, prximo ao colo lo dente, a cmara se alarga devido salincia do cngulo. A partir deste ponto, a cavidade pulpar continua, com calibre aproximadamente uniforme, at o pice radicular. E termina, com a luz j bem estreitada, no orifcio apical.

    No sentido msio-distal, a cmara coronria alargada, reproduzindo assim a morfologia exterior do dente. Se o dente for suficientemente jovem, podero perceber-se, at, os pequenos corpos pulpares que correspondem ao denticulado incisai. Nos dentes com algum desgaste, o teto da cmara liso e apresenta dois pequenos prolongamentos laterais, que desaparecero, aos poucos, com a deposio de dentina secundria. Neste sentido, nota-se melhor a distino entre cmara coronria e canal radicular. Este surge mais alargado do que no sentido vestbulo-lingual e vai-se afilando 'medida que se aproxima do pice dentrio.

  • 210 A NA TOM1A DENTARIA

    Os canais radiculares dos incisivos superiores so de fcil acesso, graas grande percentagem de razes retilneas (triangulares ou arredondadas, em seco transversal) (Fig. 7-11).

    Incisivos inferiores

    As cavidades dos incisivos inferiores pouco se diferenciam entre si.

    No sentido insio-distal, a cmara coronria apresenta-se corno uma cavidade estreita. No se observa, pois, o alargamento caracterstico j assinalado nos incisivos superiores. No h limites ntidos entre cmara coronria e canal radicular. Este canal estreito, retilneo; apresenta, s vezes, pequeno desvio distai, perto do tero apical. A distncia entre o canal radicular e a superfcie externa da raiz pequena, o que pode motivar perfuraes radiculares nas sondagens canaliculares.

    Fig. 7-12

    No sentido vestbuJo-lingual, a cmara coronria comea afilada e alarga-se paulatinamente at o tero apical, onde si adelgaar-se, s vezes, acentuadamente. Em virtude do grau de achatamento radicular dos incisivos inferiores, . comum notarem-se ilhotas de dentina, ou bifurcaes do canal radicular, que terminam em orifcios apicais diferentes. Em seco transversal, o canal achatado lateralmente, ou em forma dum 8, dependendo do grau de achatamento radicular (Fig. 7-12).

  • Canino superior

    A cavidade pulpar do canino superior ampla, sobretudo quando .observada no sentido vestbulo-lingual. Sempre nica, acompanha a direo geral da raiz volumosa e longa (Fig. 7-13).

    No sentido msio-distal, chama a ateno o fato de o teto da cmara coronria apresentar-se quase pontiagudo, diferena do que ocorre com os incisivos. A cmara estreita, no se percebendo o limite entre ela e o canal radicular.

    No sentido vestbulo-lingual, a cmara coronria comea em ponta e alarga-se imediatamente. No lado lingual aparece a dilatao correspondente ao volumoso cngulo e ao tubrculo que o continua. Os teros cervical e mdio do canal sao largos; mas o tero apical afina-se repentinamente, apresentando em alguns casos um aspecto filiforme caracterstico. So frequentes os desvios e acotovelamentos da raiz do canino superior; e o canal radicular acompanha estas variaes radiculares. O orifcio apical costuma terminar em ponta aguada e, por isso, menor que o do incisivo superior.

    Em seco transversal, o canal radicular do canino superior ovalar na maioria dos casos, tornando-se arredondado no tero apical.

    Fig. 7-13

    Canino inferior

    A cavidade pulpar do canino inferior muito semelhante do canino superior. H, porm, detalhes que distinguem um do outro.

    No sentido msio-distal a semelhana quase absoluta. Mas no sentido vestbulo-lingual, nota-se que a maior diferena reside na largura do canal radicular. O canal radicular do canino inferior menos amplo e possui, frequentemente, ilhota de dentina merc do mior grau de achatamento da raiz. Outra caracterstica deste canal encontra-se na sua duplicidade, que devida ao maior achatamento externo da raiz ou presena de sulcos proximais bastante pronunciados (Fig. 7-13).

  • 212 ANATOMIA DENTARIA

    Em seco transversal, o canal pode ser ovide, bastante achatado lateralmente, ou em forma de 8.

    Premolares superiores

    Os premolares superiores diferem bastante entre si, sobretudo pela constante duplicidade radicular do primeiro premolar.. Nu parte coronria, porm, ambos os premolares so muito semelhantes.

    Na seco msio-distal, os premolares m ostram ,um a cmara-coronria afilada, que termina em ponta em dois dos lados, o vestibular e o lingual. No lado radicular, porm, o canal estreito e vai diminuindo gradativamente, medida que se aproxima do pice dentrio.

    No sentido vestbulo-lingual, ambos os premolares divergem somente na poro radicular; na parte coronria so iguais. A cmara coronria destes premolares mostra um corno vestibular e um corno lhgil, bem acentuados nos dentes jovens. Estes cornos vo diminuindo com a idade, enquanto progride a dentinificao essencial.

    Fig. 7-14

    : r ~.

    O canal radicular difere substancialmente de um para outro dos premolares superiores. O do primeiro premolar duplo em quase 80% dos casos; e quando no h duplicidade, a sua raiz achatada mostra a bifidez canalicular, total ou parcial. O canal do segundo premolar mais largo, quase sempre nico e, com alguma frequncia, apresenta ilhota de dentina uu bilidez apical.

    Em seco transversal, os canais radiculares dos premolares superiores tm forma ovalar.

    Os desvios radiculares so mais comuns no segundo premolar superior. No primeiro premolar, a tingual a mais tortuosa das duas razes (Fig. 7-14).

  • CA V ID A DE PU LEAR

    Premolares inferiores

    213

    Os premolares inferiores quanto cavidade pulsar so mais semelhantes, entre si, do que os premolares superiores. Ambos os premolares inferiores so unirradiculados, sendo-lhes comum um certo grau de achatamento msio-distal da raiz. Por isto, o canal radicular, que fino em quase toda a sua extenso, destaca-se nitidamente da cmara coronria (Fig. 7-15).

    Fig. 7-15

    A maior diferena entre as "cavidades pulpares dos premolares inferiores encontra-se na cmara coronria: o segundo premolar tem a cspide lingual bem mais desenvolvida que a do primeiro, o que ocasiona a formao de dois cornos coronrios evidentes, sendo o vestibular mais acentuado que o lingual. Por sua vez, o primeiro premolar inferior apresenta uma cmara coronria nica, na qual s vezes existe um pequenino corno lingual, mas muito difcil de perceber.

    Os canais radiculares de ambos os premolares inferiores so sempre nicos e estreitos, quer no sentido vestbulo-lingual, quer no msio-distal.

    Em seco transversal, os dois canais radiculares so ovalares.

    Molares superiores

    Os molares superiores apresentam morfologia cavitria sumamente variada e complexa, devido presena de vrias formaes coronrias. Acresce o fato de possurem duas ou mais razes, o que possibilita uma numerosa combinao de variaes canaliculares.

    Os cortes efetuados so o vestbulo-lingual (para mostrar as razes mesial e palatina) e o vestibular (a fim de evidenciar as razes distai e mesial). No segundo molar superior, praticou-se um corte isolado na raiz palatina, pois esta volumosa e muito varivel na sua morfologia.

  • .. 'HM

    |7

    Fig. 7-iG

    No corte da raiz palatina observa-se a exiguidade da cmara coronria, da qual se destaca o canal radicular amplo, recurvado para o lado vestibular, que termina abaixo do pice da raiz palatina (Fig. 7-16, B).

    Terceiro molar

    0 dente do siso, em virtude da sua morfologia muitas vezes sui generis, apresenta cavidades pulpares extremamente variveis. A cma-

    214 ANA TOM IA DENTARIA

    Primeiro molar

    No corte vestbulo-lingual nota-se ampla cmara, coronria, sendo o corno vestibular mais baixo que o lingual, e mais pontiagudo. Entre ambos os cornos: duas salincias de dentina, correspondentes ao sulco longitudinal do dente. Do soalho da cmara destacam-se os dois canais radiculares: o mesial e o palatino. O canal radicular mesial mais amplo, ligeiramente recurvado, de calibre constante,, e termina num largo orifcio apical. O canal radicular palatino de menor calibre, recurvado vestibularmente e vai-se afilando em direo a um orifcio apical pun ti forme.

    No corte vestibular, a cmara coronria rnost,ra-se ampla, com os dois cornos vestibulares bem evidentes. Ao estreitamento cervical, seguem-se os dois canais radiculares (das razes mesial e distai). Ambos os canais so ligeiramente recurvados entre si,~3e pequeno calibre, e terminam em orifcios apicais puntiformes. nos pices das razes (Fig. 7-16).

    : r

    Segundo molar

    No corte vestibular do segundo molar observa-se a m conformao da cmara coronria, a qual apresenta pequeno corno distai, enquanto o corno mesial amplo e bastante baixo. Do soalho da cmara partem os dois canais radiculares que, primitivamente, acham-se unidos numa s poro bulbar ampla. Os dois pequenos canais radiculares so reti- lneos, do mesmo calibre, e se abrem em orifcios apicais amplos, exa- tamente nos pices das respectivas razes (Fig. 7-16, B).

  • CA VIDADE PULPAIi 215

    ra coronria pequena e os cornos pulpares acham-se mal delimitados. Como a proporo coroa-raiz no segue a regra geral dos outros molares, os canais radiculares e a cmara coronria pouca diferena apresentam quanto altura. Os canais so largos e, geralmente, abrem-se em orifcios amplos. Todavia, o que os caracteriza a quase constante sinuosi- dade, semelhana das razes. Mesmo nos terceiros molares tpicos, a variabilidade uma constante. Pode-se afirmar que difcil encontrar canais radiculares muito semelhantes (Fig. 7-16).

    M olares in fer iores

    Os molares inferiores, birradiculados, devem ser observados mediante cortes vestbulo-linguais numa das razes; e, no sentido vestibular, mediante corte simultneo das duas razes.

    Primeiro molar

    O primeiro molar inferior, pentacuspidado, apresenta uma cmara coronria alargada no sentido vestbulo-lingual, na qual no se nota o estrangulamento cervical caracterstico. Por isso, o canal radicular mostra-se de aspecto peculiar: alargado em quase toda a sua extenso, adelgaando-se bruscamente no tero apical. As razes mesial e distai possuem, freqiienlemunte, ilhota de dentina que divide o interior do canal (parcial ou totalmente) em dois canalculos estreitos.

    No sentido msio-distal o corte mostra uma cmara coronria bastante larga, na qual se destacam dois cornos afilados, mesial e -distai. De cada extremo da cmara partem os canais radiculares finos, comu- mente recurvos para um ou outro lado, mas que terminam quase sempre no pice dentrio (Fig. 7-17).

    Segundo molar

    O segundo molar reproduz, quase inteiramente, a morfologia cavi- tria do primeiro molar. A diferena que mais chama a ateno acha-se na amplitude da cmara coronria, quando vista em corte msio-distal e do lado vestibular. Neste caso, a cmara coronria tem dimenses mais reduzidas que as do primeiro molar, com predomnio do corno mesial sobre o distai (Fig. 7-17).

    i"

    Terceiro molar

    O terceiro molar inferior possui caractersticas inconfundveis, que se equiparam s do terceiro molar superior. Tambm aqui, 110 dente do siso inferior, falta a proporo geral entre cmara coronria e canais radiculares. A cmara varia de forma, segundo se trate dum dente tetra

  • 216 A NA TOM1A DENTA R IA

    ou pentacuspidado. No caso em' apreo verifica-se a presena duma diviso do canal radicular mesial, formando um acentuado fuudo-de-saco canalicular no tero apical da raiz. Como o dente jovem, pode observar-se a grande abertura apical, quando vista no corte proximal (Fig. 7-17)

    Fig. 7-17

    ?,VASOS E NERVOS DOS DENTES

    Graas a polpa, os dentes so rgos com abundante irrigao sangunea e uma sensibilidade extremamente acentuada, em relao ao seu volume. Muitos dos vasos e nervos que os nutrem e os tornam to sensveis, dirigem-se tambm aos tecidos periodontais, mantendo a integridade anatmica desse conjunto maxilo-mandibular.

    Curioso enigma, ainda no elucidado, o fracasso que s vezes se observa na anestesia dos dentes inferiores, mesmo aps a anestesia total dos nervos alveolar inferior, bucinador e lingual. Apesar das muitas hipteses aventadas, das pesquisas e das tentativas realizadas por muitos autores, o problema continua insolvel. um interro- gante que desafia a pertincia e a argcia dos cirurgies-dentistas.

    Artrias

    Os vasos arteriais dos dentes e de todo o periodonto provm das artrias alveolares super iores e in feriores e das in fraorbitrias, ramos da artria maxilar interna.

    Cada artria a lveolar superior, aps abandonar a ,m axilar interna na lossa inlra-temporal, en lta no canal mandbular pelo orifcio superior do mesmo e percorre-o em toda a extenso, terminando por bifurcar-se nos seus ramos terminais artrias incisiva e m en ton iana . Exterioriza-se na regio do mento pelo orifcio mentoniano. Esta artria vai emitindo, no seu trajeto intra-sseo, ramos que penetram no interior dos dentes pelos orifcios apicais artrias den trias ao mesmo tempo que outros ramsculos irrigam o periodonto.

  • CAVIDADE PULPAR 217

    Ao atingir a cavidade pulpar, cada arterola resolve-se em rica rede ou plexo capilar de onde o sangue ir irrigar a dentina. Este plexo silua-se na regio basal dos odontoblastos e estabelece relaes com a camada de pr-dentina (Fig, 7-18).

    Fig. 7-18 Vascularizao arterial e venosa da polpa dentria. As arteriolas (em claro) e as vnulas (em escuro) formam, ao nvel da pr-dentina, riqussima rede em fornia de arcadas (segundo Stowell).

    As arteriolas abandonam o tronco de origem em ngulo reto ou agudo, e depois de um trajeto disto-mesial entram pelo orifcio apical principal. Em alguns dentes, pequenos ramos colaterais penetram por orifcios periapicais.

    A artria alveolar superior emite dois a trs ramos alveolares posteriores e superiores, que penetram no interior do osso atravs dos orifcios correspondentes da tuberosidade maxilar. No osso, alm dos ramos para o antro maxilar, ramos sseos e gengivais, estas arteriolas fornecem ramos para os dentes molares e premolares superiores. No interior dos dentes superiores, s vasos comportam-se de igual maneira que nos dentes inferiores.

    A artria infra-orbitria fornece a artria alveolar anterior e superior. Aps transitar, no interior do canal prprio, na parede ntero-ex- terna do antro maxilar, este vaso emite ramsculos dentrios para os dentes caninos e incisivos superiores, alm de outros antrais, sseos e periodontais. s vezes, um ramo suplementar surge de cada artria alveolar superior e anterior e comporta-se como artria alveolar mdia, que completa o crculo arterial superior no interior do osso maxilar.

    Qualquer artria alveolar, superior ou inferior, jamais se anasto- mosa com a do lado oposto, pois estes vasos se comportam como elementos isolados e do tipo terminal.

  • 218 ANATOMIA DENTRIA

    O conhecimurita da origem e da direo geral dos ramos arteriais no interior do osso, antes de penetrarem nos dentes, tem grande valor antomo-funcional, visto que muitos autores tentam explicar a origem da curvatura distai, normal., das razes dentrias, baseados na influncia dos vasos sanguneos sobre esla orientao radicular. Procura-se levar em considerao os fatores que, de um ou de outro modo, possam influir nos germes dentrios e seus sacos foliculares, durante o ciclo eruptivo.

    Os conceitos emitidos at o momento, basearam-se em observaes de hemodinmica, segundo as quais o fenmeno de ordem geral. Sua explicao estaria na adaptao da raiz dentria direo primitiva dos vasos sanguneos (Fig. 7-19).

    Fig. 7-19 Representao esquemtica da influncia dos vasos na direo geral da raiz.

    Para Schrder, o orifcio apical acolhe o feixe vscuJo-nervoso e, por este motivo, o pice tem de estar em correlao com o mesmo feixe durante a evoluo do dente. A disposio e a ramificao dos vasos, na regio das artrias alveolares, so condicionadas pelo prprio dente durante o perodo de formao. A direo dos ,ramos de um vSo -sanguneo a resultante da presso lateral, da velocidade sangunea e do ngulo formado pelo ramo com o tronco arterial. Como as artrias alveolares tm uma direo disto-mesial, suas ramificaes, a fim de facilitar a hemodinmica, tomam direo oblqua entre sua origem e o pice dentrio. Durante certo tempo, este fato no tem consequncia para a formao da raiz porque o cmal radicular muito amplo e no oferece resistncia penetrao do vaso. A raiz dentria jovem , portanto, quase retilnea. Mas, medida que a calcificao progride, e para que no haja estrangulamento do vaso arterial,- a mineralizao da raiz e a sua direo devero ser a do prprio vaso, acrescentando a mesiali- zao dos dentes durante a erupo.

  • CAVIDADE PULPAR 219

    A curvatura normal do pice uma adaptao funcional direo hemodinmica das artrias que alimentam o dente. Desta maneira, podem explicar-se todos os. desvios sofridos pela raiz, tais como as angu- laes, curvaturas apicais e, principalmente, as inclinaes distais dos eixos radiculares.

    Simultaneamente, Dolamare chegou s mesmas concluses de Schrder, achando que as anomalias de posio de qualquer dente dependem da direo desviada dos vasos arteriais. .Como prova desta afirmativa, lembra as razes dos dentes molares que' podem apresentar desvios e at entrecruzamcntos, por causa das inclinaes mais variadas dos vasos arteriais, lista seria a causa das diversas variantes de direo das razes dentrias.

    Veias

    As veias tm um traje lo contrrio ao das artrias e recebem as mesmas denominaes dadas a estas. .

    Todas as veias dentrias tm incio numa rede capilar pulpar que se continua com a rede capilar arterial, no interior da cavidade dentria. A rede capilar rene-se em vnulas e estas surgem pelo orifcio apical dirigindo-se para as veias periodontais (Fig. 7-18).

    Em trabalho recente, Bennett e cols. demonstraram que a rede vascular sofre modificaes de acordo com a evoluo da polpa em funo da idade. H um decrscimo das estruturas vasculares com a idade, principalmente uma reduo dos vasos situados na camada sub-odon- toblstica da polpa. Alm do mais, estes autores constataram a existncia de um sistema de an a s to m o se artrio-venosa natural entre vasos arteriais e venosos pulpares, completando observaes iniciais de Kramer.

    f' .Todas as veias alveolares, superiores e inferiores, podem desembo

    car em dois troncos principais: o p lexo venoso p ter igopa la tino e a veia facial pro funda . De qualquer desses troncos, as veias mais calibrosas iro ter, finalmente, ou veia facial c o m u m ou veia jugu lar interna.

    Linfticos

    A presena dos vasos linfticos no interior dos dentes, negada por muito tempo, foi evidenciada aps os trabalhos de Sassier e Schweitzer, que conseguiram visibilizar longos vasos, seguidos, na medida do possvel, at grupos de gnglios linfticos cervicais.

    Os vasos l in f ticos m and ibu lares seguem, via canal mandibular, para os gnglios da cadeia jugular interna. "Porm, alguns poucos vasos foram vistos atingindo gnglios retrovasculares do grupo sub-mandibular.

  • 220 ANATOMIA DENTRIA

    Os linfticos dos dentes superiores transitam na espessura do osso maxilar, ganham o buraco infra-orbitrio e, juntamente com os vasos linfticos da gengiva, dirigem-se para os gnglios submandibulares pr e retrovasculares. Verificou-se que os linfticos-da polpa dentria se comunicam com os linfticos do desmodonto e estes, com os das gengivas.

    : r ~.Nervos

    A inervao da polpa e da dentina dada por fibras mielnicas e amielnicas que acompanham os vasos que entram pela raiz dentria. Estas fibras provm de filetes nervosos sensitivos e autnomos que se originam do nervo trigmio e do sistema simptico, respectivamente.

    Os nervos sensitivos surgem como' ramificaes dos ramos maxilar e mandibular do trigmio, isto , dos ramos alveolares superiores e posteriores, do alveolar anterior e, s vezes, do alveolar mdio do nervo maxilar. E do nervo alveolar inferior para todos os dentes inferiores.

    Os filetes nervosos penetram na raiz dentria pelo orifcio apical e se distribuem na polpa. As ltimas ramificaes das fibras mielnicas, sensitivas, distribuem-se na rea da pr-dentina, em conexo com os prolongamentos odontoblsticos que entram no interior dos canalculos dentinrios. Segundo trabalhos recentes, os fenmenos dolorosos ao nvel da dentina, estariam relacionados com as presses que estes prolongamentos sofreriam no interior dos canais dentinrios. Estes odon- toblastos funcionariam como verdadeiros receptores sensitivos nos limites enti'e a cavidade pulpar e a dentina.

    As fibras amielnicas situam-se em torno dos vasos e inervam as fibras lisas dos ramsculos arteriais, controlando o fluxo sanguneo no interior do dente.

    Cada hemi-arcada dentria recebe sua inervao correspondente do nervo do mesmo lado, nunca havendo anastomose entre filetes nervosos na altura da linha mdia facial. A clnica odontolgica comprova, saciedade, a inervao homolateral dos ramos nervosos oriundos de um nervo trigmio.

  • Captulo 8

    OCLUSO DENTRIA

  • Captulo 8

    OCLUSO DENTRIA

    O aparelho mastigador acha-se constitudo, anatmicamente, pelos dentes e suas estruturas vizinhas de proteo e suporte, pela articulao temporomandibular, msculos, ligamentos, vasos e nervos.

    ' "Para que seja possvel a inter-relao entre a forma e a funo das p a r te s ' componentes deste aparelho, as pores triturantes dos rgos dentrios devero apresentar um equilbrio morfolgico entre si, a fim de permitir o desenvolvimento da atividade funcional do conjunto mastigador.

    Neste particular, que se torna necessria a anlise anatmica da morfologia dentria, com vistas ao seu inter-relacionamento fisiolgico, ou seja a ocluso dentria. Com efeito, parece haver uma ntima relao das (ormas oclusais com referncia movimentao dos maxilares e da mandbula, talvez determinada pela interdependncia entre a forma da articulao temporomandibular e as superfcies oclusais dos dentes, provavelmente pela ao seletiva dos msculos mastigadores ou pelos prprios elementos determinantes oclusais (vertentes, sulcos, vrtices, etc.) para os diferentes trajetos funcionais do rgo mastigador.

    De acordo com a prpria etimologia da palavra (do baixo latim occlusio, ao de fechar, fechamento, derivado por sua vez de occludere, fechar), a ocluso seria o encontxo dos dentes superiores e inferiores, quando a mandbula se aproxima dos maxilares, pela ao dos msculos mastigadores.

    Esta expresso, ocluso dentria, tem sido utilizada indiferentemente .para exprimir a relao de contacto entre dentes antagnicos..ou para significar as relaes durante o ato de aproximao dos ossos suportes dos dentes. O vocbulo ocluso poder revelar as diferentes relaes estticas de contacto das superfcies oclusais, enquanto que o termo articulao representar os diferentes contactos entre dentes, porm em funcionamento.

  • 224 ANATOMIA DENTARIA

    Na ocluso dentiia, alm do conhecimento detalhado da anatomia do aparelho mastigador, devem considerar-se determinados itens, que se transformam em um complexo fundamental para a perfeita compreenso deste verdadeiro alicerce da odontologia moderna. Assim, deve estudar-se:

    1. Arcadas dentrias.

    2. Equilbrio dos dentes.

    3. Direo geral dos dentes. '

    4. Engrenamento dos dentes (relaes recprocas).

    5. Ocluso dentria propriamente dita.

    1. ARCADAS DENTRIAS

    Os dentes superiores e inferiores dispem-se ordenadamente formando, no conjunto, duas arcadas dentrias: superior e inferior.

    , * 1 .A arcada dentria superior formada pela srie de 16 dentes implantados nos ossos maxilares, enquanto a arcada inferior constituda por outros 16 dentes, implantados no nico osso mvel da face, a mandbula (Figs. 8-1 e 8-2).

    As arcadas dentrias apresentam-se com diferentes curvaturas, quando observadas nos dislinlos planos ortogonais do espao: plano horizontal, plano Ironlal e plano sagital (lig. 8-3).

  • OCLUSO DENTARIA 225

    Fig. 8-2 Arcada dentria inferior permanente.

    Fig. 8-3 Arcada dentria superior vista nos trs pianos ortogonais espaciais: horizontal P.H., frontal P.F. e sagital P.S. Observar, tambm, que o plano sagital divide a arcada em dois segmentos, sendo uma a imagem especular da outra.

    Como os prprios nomes indicam, quando observadas pelo plano horizontal a morfologia normal das arcadas dentrias semelhante nos dois casos, pois ambas descrevem segmentos de curvas que, no dizer dos autores, lembram elipses, parbolas, hiprboles, semicrculos, em

  • 226 ANATOMIA DENTARIA

    orma de letra U e em forma de V. Na realidade, as arcadas dentrias formam uma linha fortemente curva de concavidade posterior, onde as peas dentrias se tocam por suas laces de contacto ou proximais.

    A morfologia variada das arcadas dentrias uma decorrncia do exame visilafr subjetivo, muito comum, nas descries anatmicas. Entretanto, PICOSSE, em trabalho realizado com o auxlio da geometria analtica, demonstrou que as arcadas dentrias superiores, livres de malposies dentrias, conformam sempre um- segmento de elipse, apesar de que o exame simples vista possa dar idia de outi'os tipos de curvas (Fig. 8-4). A arcada dentria inferior, segundo trabalhos de outros, pode adotar a forma elptica na maioria dos casos, e a forma parablica numa minoria de indivduos.

    A elipse desenhada pela arcada dentria superior, ou arco dentrio, mais larga ou mais estreitada, est intimamente relacionada com a maior ou menor largura da face. Nos euriprsopos, onde a distncia bi-zigo- mtica bem acentuada, as arcadas superiores formam elipses, onde o

    K

    -:1 V:

    K l; r-'-l

    8'

    Fig. 8-4 esquerda: desenho esquemtico do arco dentrio superior obtido de modelo de arcada dentria ( tam anho natura l) .

    A direita: elipse tragada segundo o arco obtido anteriormente. Este segmento de elipse corresponde, oxatamente, curva formada pela unio das pontas das cspides dos dentes jugais e das bordas incisais dos caninos e incisivos.

    F e F : focos da elipse.

  • OCLUSO DENTRIA

    pequeno eixo, ou eixo transversal, bem maior que nos indivduos lep- toprsopos, ou de faces altas e estreitas. Esta variabilidade entre ambos os eixos da elipse que determina as diversas morfologias, descritas como habituais. So aspectos enganadores, puramente descritivos, sem fundamento cientfico, que, por isso, devem ser abandonados.

    As arcadas dentrias, ao longo das partes coronrias, no apresentam, normalmente, interrupes sensveis entre seus elementos. s vezes, porm, h intervalos mais ou m enosacentuados: so os diastemas. O diastema frequente na maioria dos mamferos. No homem existe como norma na criana, aps os quatro anos de idade, porque os dentes decduos e o crescimento do esqueleto taciai, preparam espao para os elementos permanentes que viro a.seguir.

    O adulto tambm pode apresentar diastemas. Estes espaos, quando existem, no perturbam o normal funcionamento mastigatrio, nem a ocluso dentria, porque os septos inlcralveolares desenvolvem-se a tal ponto que os dentes no sofrem deslocamentos, fato que acontece quando h diastemas devido a perdas de peas dentrias.

    Fig. 8-5 Arcada dentria superior decdua. Observem-se os primeiros molares superiores em crescimento e ainda no irrompidos na arcada.

    Durante o crescimento do indivduo, as arcadas dentrias evoluem para dois estdios absolutamente distintos: a arcada decdua e a arcada permanente. A arcada decdua adota uma s forma, quando se considera o aspecto normal: a de semicrculo (figs. 8-5 e 8-6). As modificaes deste tipo circular da arcada da criana s so possveis quando outros fatores (hbito de chupar os dedos, o uso de chupeta em excesso, interposio da lngua) agem sobre a posio normal dos dentes decduos. No segundo estdio, ou estdio permanente, a forma da arcada evoluicrrnrliinlmpnt* n a r a n cnn f n r m u nit iwi 1 1 nI ir*u P c f n Hif

  • 228 A NA TO M I A DENTA RIA

    torna-se patente aps os dez anos de idade, no momento da erupo dos dentes caninos e premolares. A arcada dentria definitiva completa a sua evoluo aps a erupo dos segundos molares permanentes, pois os terceiros molares so dentes por demais inconstantes e variados.

    Fig. 8-6 Arcada dentria inferior decdua. Observar a inclinao lingual dos dentes molares e a formao dos primeiros molares permanentes.

    As duas arcadas dentrias tm um dimetro transversal maior que o anteroposterior ou longitudinal. O dimetro transversal mximo situa-se ao nvel dos segundos molares ou dos primeiros molares, segundo demonstrou Picosse. Esta maior distncia tem correlao com a largura da face, que tambm maior do que a altura total ou altura nsio-gncio. O dimetro transversal mais acenluado na arcada superior, o que traz como consequncia o envolvimento dos dentes ine- riores pelos superiores, quando h engrenameno dentrio. Ao oclui- rem-se as arcadas dentrias, os dentes superiores recobrem uma poro varivel da face ^esitibular dos dentes inferiores. Em outras palavras, a arcada superior envolvente e a inferior envolvida.

    Curva sagital cie ocluso

    Quando a observao feita pelo plano sagital, isto , pela norma vertical anteroposterior, as duas arcadas dentrias apresentam curvas bem delineadas.

    Se colocarmos uma placa de vidro entre as arcadas dentrias de uma criana, todos os dentes tocam esla placa. No adulto, porm, tal fato no ocorre. Isto se deve a que os dentes permanentes se acham orientados de maneira tal que, nov conjunto, descrevem uma curva de concavidade superior, que se inicia nos molares e toca a ponta da cspi-

  • OCL USA O DEN TA i IA 229

    Fig. 8-7 Vista lateral da hemi-arcada superior permanente, pondo em evidncia a curva de compensao (de Spee) dos dentes jugais.

    f .

    Quando a observao feita com as arcadas em contacto, verifica-se que a arcada inferior possui um plano curvo que cncavo, enquanto a' arcada superior forma um arco convexo, Ambas as arcadas adaptam-se perfeitamente na ocluso normal porque os seus planos oclusa. ? so idnticos.

    Devido aos movimentos mandibulares, s possvel o contacto perfeito dos planos oclusais quando os mesmos so curvos. Graas a isto que, durante a mastigao, h maior contacto de dentes das duas arcadas estabilizando stes elementos e impedindo que os mesmos se desloquem pela fora mastigadora.

    Em 1889, Bonwill chamou a ateno para o fato de que a arcada dentria inferior e a arcada ssea mandibular formavam um tringulo equiltero, tomando-se como reparos os pontos mais salientes dos cn- dilos mandibulares e o ponto incisivo inferior ou alveolar inferior. Este tringulo, segundo o referido autor, teria 4 polegadas (10,16 cm) de

    de do canino. Esta curva denominada curva sagital de ocluso ou Balkwill-Spee. uma verdadeira curva de compensao ou de estabilidade (vide figs. 5-30, 5-31 e 8-7).

    A curva de compensaao inicia-se aps os 10-11 anos de idade, quando os dentes caninos e premolares comeam a irromper na arcada. E completa-se entre os 13 e 15 anos, com a erupo dos segundos molares. , -

  • 230 ANATOMIA DENTRIA

    lado e daria arcada dentria inferior uma perfeita simetria, fundamental na perfeita ocluso. Trabalhos recentes, porm, vieram demonstrar que tal tringulo se apresenta quse sempre como isceles, acompanhando a natural assimetria facial, que a norma.

    Posteriormente, Monson, seguindo a teoria de Bonvvill, descreveu a arcada dentria inferior como adaptando-se a um segmento de esfera de 4 polegadas (10,16 cm) de raio. Este segmento de esfera passaria pela superfcie oclusal dos dentes inferiores, tangenciaria a vertente anterior do cndilo mandibulai- c leria oino centro o ponto craniomtrico denominado dero, no canto interno da rbita.

    As tentativas para demonstrar a validade da -esfera de Monson falharam, porque a disposio, dos dentes faz-se segundo duas linhas curvas: uma anteroposterior, ou sagital, e outra transversal.

    Curva transversal de ocluso

    Como consequncia da direo geral dos dentes, implantados nos alvolos com suas inclinaes caractersticas, pode notar-se a existncia de outra curva de concavidade superior, porm orientada no sentido transversal a curva transversal de ocluso. Esta curva pode ser notada quando se observam as arcadas dentrias pelo plano frontal. Da mesma forma que a anterior, s existe no adulto e nos dentes que no sofreram desgaste acentuado, pois a atrio pronunciada leva ao maior desgaste das cspides vestibulares, invertendo-se a orientao das faces oclusais dos dentes molares. Esta curva transversal tem funo nos movimentos laterais da articulao temporomandibular, porque, do lado em que o cndilo da mandbula desce na lateralidade, h a separao dos denles das duas arcadas (figs. 8-8 e 8-9).

    Fig. 8-8 Corte xio-vestbulo-lingual (frontal), indicando a relao transversal determ inada pelas faces oclusais.

  • l.USO DENTRIA 231

    Fig. 8-9 Corte frontal para mostrar o deslize funcional dos dentes no lado de trabalho (T) e o desengrenamento do lado de balanceio (B), motivado pela caracterstica do movimento de lateralidade.

    Pig. 8-10 - Vista frontal representando o deslocamento para baixo do cndilo de balanceio (seta), em oposio situao funcional de trabalho (T).

  • 232 ANATOMIA DENTARIA

    Superfcies oclusais das arcadas dentrias

    No estudo individual dos dentes molares permanentes, ficou bem caracterizado que as cspides vestibulares e linguais apresentam arestas longitudinais ou msio-distais, que separam as faces vestibulares e linguais das respectivas faces oclusais. Esta rea assim delimitada a face oclusal propriamente dita dos dentes molares. Se admitirmos que nos dentes anteriores houve a involuo das cspides, a rea compreendida entre os bordos incisais dos caninos e incisivos e os seus cngulos corresponderia, por analogia, face oclusal destes dentes (vide lig. 5-21). A reunio das faces oclusais propriamente ditas, nas hemi- -arcadas superiores e inferiores, delimitam superfcies inclinadas semelhantes a canais, que recebem as denominaes de .superfcies oclusais. A parte mais em declive das superfcies oclusais corresponde, na regio dos premolares e molares, unio dos sulcc s msio-distais. Se traarmos trs linhas longitudinais, uma passando pelas arestas longitudinais das cspides vestibulares dos dentes molares e bordas incisais dos dentes anteriores, outra passando pelas arestas semelhantes das cspides linguais e cngulos dos dentes anteriores, e uma terceira unindo os sulcos centrais msio-ditais dos dentes multicuspidados, observar-se- que as trs so quase paralelas. O paralelismo entre as bordas vestibulares e linguais vai-se modificando, principalmente custa das cspides linguais, que tm volume dife;ente medida que nos distalizamos nas arcadas dentrias (vide fig. 5 30).

    Ao observar os dentes pelas faces oclusais, devido s inclinaes das faces vestibulares e linguais, percebe-se que um segmento maior ou menor destas faces aparece envolvendo: as faces oclusais propriamente ditas. O conjunto destas faces oclusis, mais os segmentos vcs-

    Pig. 8-11 Vista frontal do engrenameno dentrio. Cspides de suporte e de ataque.

  • OCL USA O DEN TA R IA 233

    tibulares e linguais visveis, constitui o que se convencionou chamar de faces oclusais funcionais. Isto tem sua razo de ser, porque na ocluso normal, alm das faces oclusais prprias de cada dente, os segmentos vestbulo-linguais citados tambm tomam parte nos movimentos migratrios. O grau de engrenamento dos dentes que ir determinar a maior ou menor extenso do contato oclusal funcional.

    Resta tambm notar que as cspides vestibulares dos dentes superiores e linguais dos inferiores so chamadas de cspides de ataque. E, por sua ve/, as linguais dos superiores e vestibulares dos inferiores so denominadas cspides de suporte (fig. 8-1 1 ).

    Contacto dos dentes

    Os dentes de cada arcada esto dispostos numa srie contnua e se locam por suas laces de contacto. Isto fundamental ria esttica e na dinmica dentrias. Pela lorma peculiar das faces mesial e distai dos dentes, cada uma delas tem sempre a maior convexidade no tero oclusal, nos locais conhecidos por bossas proximais. por meio destas pores mais salientes que os dentes da mesma arcada entram em contacto entre si. Nos dentes jovens formam-se, nestes locais, pequenssimas reas de unio, que so denominadas erradamente de pontos de contacto. Estes locais de contacto so reconhecidos por sua forma circular como duas esleras aproximadas. Todavia,, existem duas-excees nestas relaes entre laces proximais: os incisivos centrais, que esto em contacto pelas faces mesiais, aos lados da linha mediana das arcadas dentrias, e os terceiros molares, os nicos que tm contacto somente por intermdio de suas laces mesiais, pois as laces distais licam livres nos extremos das arcadas.

    A localizao dos contados deve sei' verificada no sentido vertical e 110 sentido horizontal, isto , crvico-oclusal e vestbulo-lingual, respectivamente.

    Fig:' 8,-12 Localizao da rea de conjacto num corte xio-msio-distal. Acima do local de contacto forma-se o sulco interdentrio, enquanto abaixo do mesmo, existe o espago interdentrio com k papila gengival.

  • 234 ANATOMIA DENTRIA

    No sentido vertical, em Iodos os dentes tais locais de contacto situam-se prximos s faces oclusais ou bordas incisais dos dentes. Isto determina que, interior e superiormente ao local de contacto, as faces proximais se afastam delimitando espaos. O espao inferior ao local de contacto, sulco interdentrio, menor, triangular, e seu pice o prprio contacto. O espao superior, espao inter dentrio, piramidal, triangular, e sua base corresponde ao septo inter-alveolar no crnio seco, ou papila gengival no vivo. O espao interdentrio de dimenses e de importncia maiores que o sulco interdentrio, e na sua constituio entra tambm o segmento inicial das razes dentrias (ig. 8-1 2 ).

    No sentido horizontal, o ponto de contacto situa-se no tero vestibular das coroas dentrias, bem prximo s respectivas faces nos dentes anteriores e na bossa prxima das cspides vestibulares dos dentes posteriores. Esta disposio tpica produz, no sentido vestbulo-lingual, dois espaos que resolvemos denominar anteias vestibular e lingual. A ameia lingual , obviamente, um espao maior que a vestibular, em razo da prpria situao do local de contacto (Figs. 8-13 e 8-14).

    Os pontos de contacto vo-se modificando medida que os dentes se tornam mais desgastados pelo uso constante no ato mastigatrio.

    Pig. 8-13 Representao esquemtica, a fim de m ostrar o prejuzo para papila in terdentria quando falta a rea de contacto interproximal.

    Fig. 8-14 Situao da rea de contacto no sentido horizontal. O pont de contacto interproximal situa-se prximo das faces vestibulares, delimitando as duas ameias, vestibular e lingual.

  • OCLUSO DENTRIA 235

    Fig. 8-15 Ameias. Na figura superior, o aspecto anatmico em vista vestibular: A e B representam as paredes laterais das ameias; C e a base da ameia.

    Na figura inferior, a correspondncia aniuiletnica das ameias (a modo de seteiras de uma m u ra lh a ) .

    Esta ao contnua leva a modificaes que alteram o aspecto circular, punctiforme, do contacto interdentrio. Por est' razo, surgem nos locais de contacto, pequenas reas ovides superfcies de contaclo, que indicam que os dentes se movimentam constantemente, atritando uma lace proximal contra a outra.

    Geralmente, nos dentes incisivos e caninos a superfcie