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Intemporalidade de "Felizmente H Luar!" de Lus Sttau Monteiro
Aps a leccionao de "Felizmente H Luar!" de Lus de Sttau Monteiro, pedi aos alunos queescrevessem um texto de opinio sobre a Intemporalidade desta obra. Surgiram textosmuito bons, mas houve um que eu gostaria de ver divulgado, desejo do prprio aluno, pois
quer partilhar com outros aquilo que lhe desagrada no Portugal do sculo XXI.A obra Felizmente H Luar! uma pea pica, que apela reflexo dos
leitores/espectadores, no s na forma (diferente) de representao, mas tambm nasociedade em que se insere a narrativa. O teatro de Brecht pretende representar o mundoe o homem em constante evoluo, de acordo com as relaes sociais da poca,caractersticas que inspiraram Lus de Sttau Monteiro a redigir esta obra.
Estas caractersticas so completamente opostas ao teatro conhecido at ento, quepretendia despertar emoes, levando o espectador a identificar-se com o heri. Esta novaforma de teatro tem como preocupao fundamental levar os espectadores a pensar, a
reflectir sobre os acontecimentos passados e a tomar posio na sociedade em que seinsere. Assim, existe um afastamento entre o actor e a personagem, entre o espectador e ahistria narrada, para que, de uma forma mais real e autntica, possam fazer-se juzos devalor sobre o que est a ser representado. Lus Sttau Monteiro pretende envolver oespectador no julgamento da sociedade, tomando contacto com o sofrimento dos outros.Para isso, sabiamente, soube estabelecer um conjunto de comparaes entre o perodoposterior s Invases Francesas e a poca em que a obra foi escrita.
Em relao aco de Felizmente H Luar!, esta passa-se nos primeiros anos do sc. XIX,no incio das lutas liberais, e serve de pretexto, a Sttau Monteiro, para denunciar o
presente (em que viveu) atravs da metfora do passado. Escrita em 1961, no contextosocial e poltico do Estado Novo, esta obra pretende retratar um perodo de opresso, aomesmo tempo que nos cultiva, permitindo-nos o conhecimento da histria do pas eadvertindo-nos para os problemas de um sistema repressivo.
A ditadura que se vivia no incio do sc. XIX e os consequentes mecanismos de denncia etraio, permitiram a Lus Sttau Monteiro comparar este perodo com o da ditadura deSalazar, na qual viveu. Evocando personagens do passado, Sttau Monteiro usou-as comopretexto para explicar o presente em que vivia. Ambos os perodos ficaram marcados pelasperseguies, levadas a cabo pela Junta de Regncia (sc. XIX) e pela PIDE (o sustentculo
do regime de Salazar sc. XX) e pela consequente tirania, opresso, censura, misria,medo, agitao social e obscurantismo, mas a crena na mudana, essa, estava semprepresente (porque felizmente h luar), o que levou revolta liberal de 1820, no tempo daHistria e Revoluo dos Cravos de 25 de Abril de 1974, no tempo da Escrita.
No incio do sc. XIX, Portugal vivia o descontentamento do povo, motivado no s pelaausncia da corte, mas tambm pelas dificuldades acrescidas advindas da guerra. Apassividade, a opresso e o clima de suspeio que se sentia, contriburam para a vontadede mudar, procurando um lder capaz de mudar os acontecimentos. Esse lder era GomesFreire, idolatrado pelo povo e respeitado pelos amigos e companheiros, mas perseguido pelo
Governo. Foi o sacrificado para que a mudana se pudesse dar, pois representava umenorme perigo para o Governo. Mortos pela Junta de Regncia, os conspiradores e
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traidores do Governo (como exemplo Gomes Freire), foram os grandes heris de que opovo necessitava. A morte de Gomes Freire, sem provas que o incriminassem, fomentou achegada do Liberalismo, que se iniciou no dia 24 de Agosto de 1820, na cidade do Porto,com levantamento popular liderado pelo Manuel Fernando Toms.
No sc. XX, em comparao com o sc. XIX, surge um pas espelhando as mesmasdificuldades: um povo oprimido, que necessitava de mudanas significativas. Salazar,governador de ento, era disciplinador, autoritrio, um ditador! Liderava o povo atravs dosilncio e da invisibilidade, vivia-se no escuro, na obscuridade, sujeitos a perseguies,censura e tirania. O Estado Novo de Salazar no trazia nada de novo ditadura damonarquia sucedia a ditadura do Estado, Inquisio sucedida a PIDE, cujo encargo erainterrogar, prender, torturar, exilar, censurar e assassinar todos os elementosperturbadores da paz e da ordem.
A Revoluo dos Cravos, em 25 de Abril de 1974, derrubou a ditadura de Salazar, mas at
que ponto esta revoluo alterou o rumo de Portugal?Deixou de existir censura ou perseguies, mas continuamos a viver no obscurantismoTodos os dias temos conhecimento de manifestaes de populares contra o encerramentode uma fbrica, contra a actual poltica do governo, contra o atraso de uma obra ou aconstruo de outra; todos os dias conhecemos novos arguidos em processos de corrupo,em Cmaras ou no Mundo do Futebol Continuamos a ser um dos pases mais pobres daEuropa, com piores ndices de aprendizagem! E o que se faz para combater estes factos?Poucoou nada!
A revolta contnua, a crena num Portugal melhor permanente, pois existiro sempre
homens e mulheres, como Gomes Freire, Matilde, Manuel ou Sousa Falco, que batalharocontra a opresso e obscurantismo, porque felizmente, felizmente h luar!.
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I Carcter pico da pea /Distanciao histrica (tcnica realista; influncia de
Brecht)
Felizmente H Luar! um drama narrativo, de carcter social, dentro dos princpios do
teatro pico. Na linha do teatro de Brecht, exprime a revolta contra o poder e a convicode que necessrio mostrar o mundo e o homem em constante devir. Defende ascapacidades do homem que tem o direito e o dever de transformar o mundo em que vive.Por isso, oferece-nos uma anlise crtica da sociedade, procurando mostrar a realidade emvez de a representar, para levar o espectador a reagir criticamente e a tomar posio.
O teatro encarado como uma forma de anlise das transformaes sociais queocorrem ao longo dos tempos e, simultaneamente, como um elemento de construo dasociedade. A ruptura com a concepo tradicional da essncia do teatro evidente: odrama j no se destina a criar o terror e a piedade, isto , j no a funo catrtica,purificadora, realizada atravs das emoes, que est em causa, pela identificao do
espectador com o heri da pea, mas a capacidade crtica e analtica de quem observa.Brecht pretendia substituir sentir por pensar.
Observando Felizmente H Luar!verificamos que so estes tambm os objectivos deSttau Monteiro, que evoca situaes e personagens do passado (movimento liberaloitocentista em Portugal), usando-as como pretexto para falar do presente (ditadura nosanos 60 do sculo XX) e assim pr em evidncia a luta do ser humano contra a tirania, aopresso, a traio, a injustia e todas as formas de perseguio.
II "Trgica apoteose" da histria do movimento liberal oitocentista
Felizmente H Luar! uma trgica apoteose da histria do movimento liberaloitocentista, interpretando as condies da sociedade portuguesa no incio do sculo XIX ea revolta dos mais esclarecidos, muitas vezes organizados em sociedades secretas, contra opoder absolutista e tirnico dos governadores e do generalssimo Beresford. Como afirmaLuciana Stegagno Picchio, retratada a conspirao, encabeada por Gomes Freire deAndrade, que se manifestava contrria presena inglesa (Manuel V-se a gente livredos Franceses e zs!, cai na mo dos Ingleses!), na pessoa de Beresford, e ausncia dacorte no Brasil. Coloca-se em destaque ao longo de toda a pea a situao do povo oprimido,
as Invases Francesas, a proteco britnica, iniciada aps a retirada do rei D. Joo VIpara o Brasil, e a falta de perspectivas para o futuro.Para que o movimento liberal se concretize, necessria a morte de Gomes Freire,
dos seus companheiros e tambm de muitos outros portugueses, que em nome dos seusideais so sacrificados pela ptria. Conspiradores e traidores para o poder e para asclasses dominantes, que sentem os seus privilgios ameaados, so os grandes heris de queo povo necessita para reclamar a justia. Por isso, as suas mortes, em vez de amedrontar,tornam-se num estmulo. A fogueira acesa na noite para queimar Gomes Freire, que osgovernadores querem que seja dissuasora, torna-se na luz para que os oprimidos einjustiados lutem pela liberdade. Na altura da execuo, as ltimas palavras de Matilde,companheira de todas as horas do general Gomes Freire, so de coragem e estmulo para
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que o Povo se revolte contra a tirania dos governantes: (Matilde Olhem bem! Limpem osolhos no claro daquela fogueira e abram as almas ao que ela nos ensina! / At a noite foifeita para que a vsseis at ao fim/ (Pausa) Felizmente felizmente h luar!).
III Paralelismo passado/condies histricas dos anos 60: denncia da violncia
Felizmente H Luar!tem como cenrio o ambiente poltico dos incios do sculoXIX: em 1817, uma conspirao, encabeada por Gomes Freire de Andrade, que pretendia oregresso do Brasil do rei D. Joo VI e que se manifestava contrria presena inglesa, foidescoberta e reprimida com muita severidade: os conspiradores, acusados de traio ptria, foram queimados publicamente e Lisboa foi convidada a assistir.
Lus de Sttau Monteiro marca uma posio, pelo contedo fortemente ideolgico, edenuncia a opresso vivida na poca em que escreve a obra, em 1961, precisamente sob aditadura de Salazar.
O recurso distanciao histrica e descrio das injustias praticadas no sculoXIX em que decorre a aco permitiu-lhe, assim, colocar tambm em destaque as injustiasdo seu tempo e a necessidade de lutar pela liberdade.
Em Felizmente H Luar!percebe-se, facilmente, que a Histria serve de pretextopara uma reflexo sobre os anos 60, do sculo XX. Sttau Monteiro, tambm ele perseguidopela PIDE, denuncia assim a situao portuguesa, durante o regime de Salazar,interpretando as condies histricas que mais tarde contriburam para a Revoluo dosCravos, em 25 de Abril de 1974. Tal como a conspirao de 1817, em vez de desaparecercom medo dos opressores permitiu o triunfo do liberalismo, tambm a oposio ao regime
vigente nos anos 60, em vez de ceder perante a ameaa e a mordaa, resistiu e levou implantao da democracia.
Tempo da Histria (sculo XIX 1817)
- agitao social que levou revolta liberal de 1820 conspiraesinternas;- revolta contra a presena da Corte no Brasil e influncia do exrcitobritnico- regime absolutista e tirnico
- classes sociais fortemente hierarquizadas- classes dominantes com medo de perder privilgios- povo oprimido e resignado- a misria, o medo e a ignorncia- obscurantismo, mas felizmente h luar- luta contra a opresso do regime absolutista- Manuel, o mais consciente dos populares, denuncia a opresso ea misria- perseguies dos agentes de Bereford- as denncias de Vicente, Andrade Corvo e Morais Sarmento que, hipcritas, e sem escrpulo denunciam
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- censura imprensa- severa represso dos conspiradores- processos sumrios e pena de morte- execuo do General Gomes Freire
Tempo da escrita(sculo XX 1961)- agitao social dos anos 60 conspiraes internas; principal irrupo daguerra colonial- regime ditatorial de Salazar- maior desigualdade entre abastados e pobres- classes exploradas, com reforo do seu poder- povo reprimido e explorado- misria, medo e analfabetismo- obscurantismo, mas crena nas mudanas
- luta contra o regime totalitrio e ditatorial absolutista- agitao social e poltica com militares populares, denuncia a opresso e a misria- Perseguies da PIDE- denncias dos chamados bufos, que surgem na sombra e sedisfaram, para colher informaes e denunciar
- censura- priso e duras medidas de represso e de tortura- condenao em processos sem provas
IV Carcter interpretativo e simblico
1. A saia verde" A felicidade a prenda comprada em Paris (terra da liberdade), no
Inverno, com o dinheiro da venda de duas medalhas;" Ao escolher aquela saia para esperar o companheiro aps a morte,
destaca a alegria do reencontro (agora que acabaram as batalhas,
vem apertar-me contra o peito)." A saia uma pea eminentemente feminina e o verde esthabitualmente conotado com tranquilidade e esperana, traduzindouma sensao de repouso, envolvente e refrescante.
2. O ttulo/a luz/a noite/o luarO ttulo duas vezes mencionado ao longo da pea, inserido nas falas daspersonagens:
I. D. Miguel salienta o efeito dissuasor que aquelasexecues podero exercer sobre todos os que discutem as ordensdos governadores: Lisboa h-de cheirar toda a noite a carne assada.
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() Sempre que pensarem em discutir as nossas ordens, lembrar-se-odo cheiroLogo de seguida afirma: verdade que a execuo se prolongar pelanoite, mas felizmente h luar - esta primeira referncia ao ttulo
da pea, colocada na fala do governador, est relacionada com odesejo expresso de garantir a eficcia desta execuo pblica: a noite mais assustadora, as chamas seriam visveis de vrios pontos dacidade e o luar atrairia as pessoas rua para assistirem ao castigo,que se pretendia exemplar.
II. Na altura da execuo, as ltimas palavras deMatilde, companheira de todas as horas do general Gomes Freire deAndrade, so de coragem e estmulo para que o povo se revolte contraa tirania dos governantes: -Olhem bem! Limpem os olhos no claro
daquela fogueira e abram as almas ao que ela nos ensina! /At a noitefoi feita para que a vsseis at ao fim/ (Pausa) / Felizmente felizmente h luar!
Na pea, nestes dois momentos em que se faz referncia directa aottulo, a expresso felizmente h luar pode indiciar duas perspectivasde anlise e de posicionamento das personagens:
1. As foras das trevas, do obscurantismo, do anti-humanismo
utilizam, paradoxalmente, o lume (fonte de luz e de calor) parapurificar a sociedade (a Inquisio considerava a fogueira comofonte e forma de purificao);
2. Se a luz redentora, o luar poder simbolizar a caminhada dasociedade em direco redeno, em busca da luz e da liberdade.
Assim, dado que o luar permite que as pessoas possam sair de suas casas(ajudando a vencer o medo e a insegurana na noite da cidade), quantomaior for a assistncia isso significar:
- Para os opressores, que mais pessoas ficaro avisadas e o efeitodissuasor pretendido ser maior;- Para os oprimidos, que mais pessoas podero um dia seguir essa luz elutar pela liberdade.
3. A fogueira/o lume
Aps a priso do general, num dilogo de tom proftico e com voz triste(segundo a didasclia), o Antigo Soldado, afirma: Prenderam o generalParans, a noite ainda ficou mais escura. A resposta ambgua do 1 Popularpode assumir tambm um carcter de profecia e de esperana: por pouco
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tempo, amigo. Espera pelo claro das fogueiras. Matilde, ao afirmar queaquela fogueira de S. Julio da Barra ainda havia de incendiar esta terra!,mostra que a chama se mantm viva e que a liberdade h-de chegar.
V Personagens:
GOMES FREIRE: protagonista, embora nunca aparea evocado atravs da esperana dopovo, das perseguies dos governadores e da revolta da sua mulher e amigos. acusado deser o gro-mestre da maonaria, estrangeirado, soldado brilhante, idolatrado pelo povo.Acredita na justia e luta pela liberdade.
D. MIGUEL FORJAZ: primo de Gomes Freire, assustado com as transformaes que nodeseja, corrompido pelo poder, vingativo, frio e calculista.
PRINCIPAL SOUSA: fantico, corrompido pelo poder eclesistico, odeia os franceses
BERESFORD: poderoso, interesseiro, calculista, trocista, sarcstico
VICENTE: sarcstico, demagogo, falso humanista, movido pelo interesse da recompensamaterial, hipcrita, despreza a sua origem e o seu passado.
MANUEL: denuncia a opresso a que o povo est sujeito.
MATILDE DE MELO: corajosa, exprime romanticamente o seu amor, reage violentamenteperante o dio e as injustias, sincera, ora desanima, ora se enfurece, ora se revolta, masluta sempre.
SOUSA FALCO: inseparvel amigo, sofre junto de Matilde, assume as mesmas ideias queGomes Freire, mas no teve a coragem do general.
MIGUEL FORJAZ + BERESFORD + PRINCIPAL SOUSA = perseguem, prendem e mandamexecutar o General e restantes conspiradores na fogueira. Para eles, a execuo noite,
constitua uma forma de avisar e dissuadir os outros revoltosos, mas para MATILDE erauma luz a seguir na luta pela liberdade.Topo
VI A linguagem em Felizmente H Luar!
" Natural, viva e malevel, utilizada como marca caracterizadora eindividualizadora de algumas personagens;
" Uso de frases em latim, com conotao irnica, por aparecerem aquando dacondenao e da execuo;
" Frases incompletas por hesitao ou interrupo;" Marcas caractersticas do discurso oral;
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" Recurso frequente ironia e ao sarcasmo.
VII A didasclia
A pea rica em referncias concretas (sarcasmo, ironia, escrnio, indiferena,galhofa, adulao, desprezo, irritao normalmente relacionadas com os opressores;tristeza, esperana, medo, desnimo relacionadas com as personagens oprimidas).
As marcaes so abundantes: tons de voz, movimentos, posies, cenrios, gestos,vesturio, sons (o som dos tambores, o silncio, a voz que fala antes de entrar no palco, umsino que toca a rebate, o murmrio de vozes, o toque de uma campainha, o murmrio damultido) e efeitos de luz (o contraste entre a escurido e a luz; os dois actos terminamem sombra, de acordo, alis, com o desenlace trgico).
De realar que a pea termina ao som de fanfarra (Ouve-se ao longe umafanfarronada que vai num crescendo de intensidade at cair o pano.) em oposio luz
(Desaparece o claro da fogueira.); no entanto, a escurido no total, porquefelizmente h luar.
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Anlise da obra de Sttau Monteiro - "Felizmente H Luar!"Felizmente H Luar!, de Lus de Sttau Monteiro
Contextualizao
A histria desta pea passa-se na poca da revoluo francesa de 1789.As invases francesas levaram Portugal indeciso entre os aliados e os franceses.
Para evitar a rendio, D. Joo V foge para o Brasil. Depois da primeira invaso, a corte
pede auxilio a Inglaterra para reorganizar o exrcito. Estes enviam-nos o general
Beresford.
Lus de Sttau Monteiro denuncia a opresso vivida na poca do regime salazarista
atravs desta poca particular da histria. Assim, o recurso distanciao histrica e
discrio das injustias praticadas no inicio do sculo XIX, permitiu-lhe, tambm, colocarem destaque as injustias do seu tempo, o abuso de poder do Estado Novo e as ameaas da
PIDE, entre outras.
Felizmente H Luar! um texto bifronte, um texto entre dois contextos, relativo
a dois tempos, o passado e o presente, estando aquele ao servio deste. Trata-se de uma
metfora, no sentido em que muitas das situaes apresentadas no seu contexto
oitocentista se podem transpor para o tempo da escrita e da representao, as dcadas de
50 e 60 do sculo XX. Pode ser considerado uma metfora do seu prprio tempo, metfora
didctica que apela razo para que atravs desta se atinja uma conscincia social epoltica.
Uma leitura atenta do texto, com o objectivo de encontrar pontes de sentido que
permitam a ligao dos dois contextos referidos, pode iniciar-se com as referncias que a
didasclia Comea a ouvir-se, ao longe, o rudo de tamboresindica, conjugada com Ouve o
som dos tambores e (Todos se levantam e escutam a medo [...] e preparam -se para fugir
[...]). O rudo dos tambores funciona como metonmia de um poder repressor, sempre
presente tanto no contexto poltico absolutista como no fascista. Repare-se que os
tambores so ouvidos por populares que esto reunidos para comentar a situao poltica efazem-no a medo: a mesma situao ocorria frequentemente sob o regime salazarista onde
qualquer reunio era tida como potencialmente suspeita consequentemente, reprimida.
Esta questo da falta de liberdade de reunio e expresso surge logo de seguida no
texto quando o Antigo Soldado entoa uma quadra onde se refere explicitamente a
liberdade.
Na continuao da conversa entre os populares, surge a referncia ao general
Comes Freire, classificado entusiasticamente pelo Antigo Soldado como Um amigo do
povo!. Atravs de Manuel que diz, referindo-se ao general, Se ele quisesse, lana-se a
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semente da esperana com a possibilidade de aco do general em direco liberdade
ansiada. Ora este momento precisamente que mais deve ter tocado o leitor/espectador
da obra, as pessoas empenhadas na luta antifascista em Portugal nas dcadas atrs
referidas: de facto, rapidamente tero estabelecido uma relao de proximidade, seno de
identificao, entre o general Gomes Freire e o general Humberto Delgado.
Esta analogia ter sido pois apreendida pelos primeiros leitores da obra. O
contributo do general Gomes Freire para a alterao da situao poltica do seu tempo
possibilitado pela didasclia a propsito do silncio que as palavras ousadas de Manuel
provocaram: Este silncio pesado. [...] Ainda tm nos ouvidos o rudo dos tambores,
smbolo de uma autoridade sempre presente e sempre pronta a interferir. contra esta
autoridade repressiva que Gomes Freire se poder eventualmente levantar; do mesmo
modo que Humberto Delgado o tentou fazer: a identificao indiscutvel. E se se atentar
nas palavras de Vicente, logo de seguida, Se ele quisesse? Mas se ele quisesse o qu?
Vocs ainda no esto fartos de generais?, melhor se pode aprofundar a leitura que v em
Gomes Freire o general Humberto Delgado: de facto, tambm aquando da sua candidatura,
havia sectores da esquerda portuguesa que no o viam com bons olhos, precisamente por
ser um militar sado do exrcito que sustentava o regime.
o mesmo Vicente que lana uma acusao a Gomes Freire, indiciando-o como
estrangeirado, referindo-se sua formao austraca e francesa: como se sabe, ele
tomou nesses pases contacto com as novas ideias polticas sadas da Revoluo Francesa.
Tambm Humberto Delgado ter tomado conscincia das virtudes da liberdade poltica
enquanto adido militar nos Estados Unidos.
A concepo da personagem Vicente contribui para estabelecer identificaes
entre os dois tempos. Ela pode ser considerada um bom exemplo do tipo pidesco que pululou
em Portugal durante o Estado Novo: de origem popular, trai o povo a que pertence para
subir na vida. Tambm a grande maioria da polcia poltica fascista passou por um percurso
semelhante. E, se se atentar nas palavras da mesma personagem mais adiante, pode
afirmar-se que elas remeteram sem dvida os leitores de Sttau Monteiro para a figuramxima do regime nesse tempo: Salazar. De facto o percurso social e poltico do ditador
est bem sintetizado por Vicente: Os degraus da vida so logo esquecidos por quem sobe a
escada... Pobre de quem lembre ao poderoso a sua origem... Do alto do poder, tudo o que
ficou para trs vago e nebuloso.
precisamente o poder que aparece seguidamente na pea: absolutista, com
caractersticas que permitem imediata aproximao ao fascismo do Estado Novo. O
governo absolutista apresenta-se como uma trindade: uma componente civil (D. Miguel), uma
religiosa (Principal Sousa) e uma militar (Beresford), que sustenta as duas anteriores.Tambm o regime fascista apresentava esta estrutura: Salazar no poder civil, Cerejeira no
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religioso e o exrcito como sustentculo do regime. De tal modo que, quando o exrcito no
quis, o regime caiu.
A ligao entre o poder poltico e o religioso proclamada pelo Principal Sousa: Diz
oEclesiastes
que, tendo Deus dividido o gnero humano em vrias naes, a cada uma delasdeu um prncipe que a governasse... de origem divina o poder dos reis e portanto a sua
e no a do povo a voz de Deus .
Estes trs esteios do poder conspiram entre si para manter o estado de coisas a
nvel poltico. Num contexto social que d indcios de agitao por comunho com as ideias
de liberdade que sopram de Frana e do Brasil no ser por acaso que D. Miguel fala da
revolta de Pernambuco, movimento que punha em causa a origem divina do poder real, uma
revolta passada na colnia que era uma democracia ao tempo da escrita da pea num
contexto em que, nas palavras de D. Miguel, o povo fala abertamente em revoluo,reflecte-se o ambiente de esperana na liberdade que se vivia em Portugal nos ltimos anos
da dcada de 50, exacerbada pela candidatura de Humberto Delgado Presidncia da
Repblica.
Outra referncia que permite a identificao dos dois tempos, e que funciona como
denncia do obscurantismo em que o poder fascista mantinha o povo, ocorre quando,
propondo Vicente ao Principal Sousa que se ensine o povo a ler, o prelado responde: [...] a
sabedoria to perigosa como a ignorncia!: ora o mesmo pressuposto fez com que o poder
ditatorial em Portugal investisse muito pouco na alfabetizao das camadas populares, comoainda hoje se sente. Esta questo do ensino abordada de novo mais adiante pelo Principal
Sousa, que informa os colegas de triunvirato que [...I cada vez maior o nmero dos que s
pensam aprender a ler... .
A mesma personagem prenuncia o orgulhosamente ss que ser anos mais tarde
bandeira do regime salazarista, quando afirma: Temos uma misso a cumprir, uma misso
sagrada e penosa: a de conservar no jardim do Senhor este pequeno canteiro portugus.
Enquanto a Europa se desfaz, o nosso povo tem de continuar a ver, no Cu, a Cruz de
Ourique.A unio dos trs poderes referidos, existente tanto no estertor do absolutismo
como durante os anos da ditadura em Portugal, aparece ntida na didascl ia (Ilumina-se o
palco. D. Miguel Forjaz, Beresford e o Principal Sousa esto sentados em trs cadeiras
pesadas e ricas com aparncia de tronos).
O poder discricionrio absolutista/fascista, o tipo de justia
programada/manipulada que em ambos os regimes ocorre, est patente na conjura que se
arma contra Gomes Freire. Diz D. Miguel, dirigindo-se ao Principal Sousa: Reverncia, asprovas judiciais pertencem ao domnio da razo e, se no pudermos condenar nesse domnio,
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faremos com que o julgamento decorra no outro, o da emoo, j que a emoo, Reverncia,
nem carece de provas, nem se apoia na razo. Pouco depois D. Miguel e o Principal Sousa
traaro o programa desta irrupo da emoo como contributo para destruir Gomes
Freire.
Um dos momentos do texto em que melhor se verifica a identificao entre
Humberto Delgado e Gomes Freire ocorre quando Morais Sarmento adverte os governantes
de que a conspirao de Gomes Freire se destina a implantar neste reino o sistema das
cortes, isto , a democracia representativa; ora tambm Humberto Delgado no fizera
segredo do destino que pretendia dar a Salazar no caso de ser eleito, e sabe-se que o
objectivo do derrube da ditadura implicava o aparecimento da democracia parlamentar tal
como quase toda a Europa ocidental a conhecia ento e como a conhecemos ns desde o 25
de Abril de 1974.
Outras situaes que nos permitem ainda a transposio de tempos referida so as
seguintes: Gomes Freire e os outros onze presos funcionam como denncia dos presos
polticos do regime salazarista; Beresford representa a ajuda estrangeira ao regime do
Estado Novo, ajuda que, embora consciente da natureza poltica fascista deste, sempre
existiu; Andrade Corvo e Morais Sarmento, juntamente com Vicente e os dois polcias, so
o espelho de organizaes de denncia e represso como a Legio Portuguesa ou a
PIDE/DGS; Matilde pode ser considerada o reflexo de mes, esposas, irms de presos
polticos, que vo adquirindo conscincia poltica com a situao do familiar; populares como
Manuel, Rita ou o Antigo Soldado representam a populao que, embora acreditando na
aco do general Humberto Delgado, no apresenta capacidade de aco e acaba marcada
pela desesperana; de Sousa Falco se pode dizer que aponta para todos aqueles que,
embora amigos de presos polticos e conscientes da ditadura e da necessidade de agir, no
ousam actuar; finalmente, Frei Diogo, pode ser entendido como metonmia dos elementos do
clero catlico que, conhecedores da situao de opresso e misria do povo, no ousam
levantar a voz.
Carcter picoFelizmente H Luar! um drama narrativo, de carcter social, dentro dos princpios
do teatro pico, na linha do teatro de Brecht exprime a revolta contra o poder e a
convico de que necessrio mostrar o mundo e o homem em constante devir. Defende as
capacidades do homem que tem o direito e o dever de transformar o mundo em que vive.
Por isso, oferece-nos uma anlise crtica da sociedade, procurando mostrar a realidade em
vez de a representar, para levar o espectador a reagir criticamente e a tomar posio.
Inspirado na teoria marxista, que apela s reflexo, no s no quadro da representao,
mas tambm na sociedade em que se insere.
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De acordo com Brecht, Sttau Monteiro pretende representar o mundo e o homem
em constante evoluo de acordo com as relaes sociais. Estas caractersticas afastam-se
da concepo do teatro aristotlico que pretendia despertar emoes, levando o publico a
identificar-se com o heri. O teatro moderno tem como preocupao fundamental levar os
espectadores a pensar, a reflectir sobre os acontecimentos passados e a tomar posio nasociedade em que se inserem. Surge, assim, a tcnica do distanciamento que propem um
afastamento entre o actor e a personagem e entre o espectador e a histria narrada, para
que, de uma forma mais real e autntica, possam fazer juzos de valor sobre o que se est a
ser representado.
Desta forma, o teatro j no se destina a criar terror ou piedade, isto , j no tem
uma funo purificadora, realizada atravs das emoes, tendo, ento, uma capacidade
crtica e analtica para quem o observa. Brecht pretendia substituir o sentir por pensar,
levando o pblico a entender de forma clara a sua mensagem por meio de gestos, palavras,
cenrios, didasclicas e focos de luz.
Estes so, tambm, os objectivos de Sttau Monteiro, que evoca situaes e
personagens do passado (movimento liberal oitocentista), usando-as como pretexto para
falar do presente (ditadura salazarista) e, assim, pr em evidencia a luta do ser humano
contra a tirania, a opresso, a injustia e todas as formas de perseguio.
Paralelismo entre passado e as condies histricas dos anos 60: denuncia daviolncia
Sculo XIX 1817 Sculo XX anos 60
Agitao social que levou
revolta de 1820Agitao social: conspiraes
internas; principal erupo da
guerra colonial
Regime absolutista e tirano Regime ditatorial salazarista
Classes hierarquizadas,dominantes, com medo de
perder privilgios
Classes exploradas;desigualdade entre abastados
e pobres
Povo oprimido e resignado Povo reprimido e explorado
Misria, medo, ignorncia,
obscurantismo mas
felizmente h luar
Misria, medo, analfabetismo,
obscurantismo mas crena nas
mudanas
Luta contra a opresso do Luta contra o regime
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regime totalitrio e ditatorial
Perseguies dos agentes de
BeresfordPerseguies da PIDE
Denuncias de Vicente,Andrade Corvo e Morais
Sarmento
Denuncias dos bufos
Censura imprensa Censura total
Represso dos
conspiradores; execuo
sumaria e pena de morte
Priso; duras medidas de
represso e tortura;
condenao sem provas
Execuo de Gomes Freire Execuo de HumbertoDelgado
Revoluo de 1820 Revoluo do 25 de Abril de1974
- Caractersticas da obra:
- personagens psicologicamente densas e vivas
- comentrios irnicos e mordazes- denncia da hipocrisia da sociedade
- desfesa intransigente da justia social
- teatro pico: oferece-nos uma anlise crtica da sociedade, procurando mostrar a
realidade em vez de a representar, para levar o espectador a reagir criticamente e a tomar
uma posio
- intemporalidade da pea remete-nos para a luta do ser humano contra a tirania, a
opresso, a traio, a injustia e todas as formas de perseguio - preocupao com o homem e o seu destino
- luta contra a misria e a alienao
- denncia a ausncia de moral
- alerta para a necessidade de uma superao com o surgimento de uma sociedade solidria
que permitia a verdadeira realizao do homem
Personagens
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A anlise das personagens em Felizmente H Luar!leva a questionar o seu estatuto.
Com efeito, Gomes Freire de Andrade assume centralidade na obra, apesar de nunca surgir
em cena, O autor coloca-o na lista das personagens, dizendo que est sempre presente,
embora nunca aparea.
Gomes Freire apresentado como smbolo da defesa da liberdade, bipolarizando todas
as outras personagens contra ou a seu favor, mesmo quando no tm a coragem de o seguir
abertamente, como o caso dos populares ou de Sousa Falco.
neste mbito que podemos dividir as personagens em dois grupos distintos: as que
detm o poder autoritrio e repressivo ou colaboram com ele, e as que esto ligadas ao
desejo e luta pela liberdade e, nessa medida, constituem um contrapoder.
Esta diviso das personagens mostra, tambm, como o mundo ideolgico independente
do mundo social.Cada personagem representa, no um grupo social ou profissional, mas uma atitude
ideolgica, activa ou passiva.
Em Felizmente H Luar!, mais importante do que a histria das personagens
propriamente dita, a tomada de conscincia de uma problemtica social geral.
Nesta perspectiva, as oposies ricos vs. pobres e oprimidos vs. opressores so as mais
fortes e evidentes. Outra h, no entanto, que, passando mais despercebida, est
nitidamente marcada na obra: masculino vs. feminino.O mundo da aco poltica e social era masculino. A mulher era a sombra do homem e
tinha como tarefas cuidar do seu bem-estar e criar-lhe e educar-lhe os filhos.
Na obra, perante um mundo masculino, encontram-se duas mulheres de estatuto social
diferente, mas que apresentam o mesmo tipo de relao com este. O afecto de Manuel por
Rita evidente no carinho com que ele a trata quando a v partilhar o desespero de
Matilde, assim como o afecto do general por Matilde o tambm quando, no tendo
dinheiro, em Paris, Gomes Freire vende duas medalhas e lhe compra uma saia. No entanto,v-se que Rita obedece sempre ao marido sem qualquer contestao, mesmo quando se
pressente que esse comportamento no lhe agrada, e Matilde, para alm de andar na
esteira de Gomes Freire, mantida numa redoma, no sabendo nada do que se passa sua
volta, nem como reagir perante a priso do general. Este desconhecimento do mundo
masculino impede-a de partilhar sonhos idealistas e acaba por perturbar, tambm, o seu
mundo afectivo, ao provocar distanciamento entre ela e Comes Freire. Para alm disso,
traz-lhe a incapacidade de reagir quando esse mundo exterior se abate sobre o seu mundo.
H trs grupos importantes de personagens no poema:
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1. Povo
Rita, Antigo Soldado, Populares
Personagens colectiva
Representam o analfabetismo e a misria
Escravizado pela ignorncia
No tem liberdade
Desconfiam dos poderosos
So impotentes face situao do pas (no h eleies livres, etc.)
Manuel
Denuncia a opresso
Assume algum protagonismo por abrir os dois actos
Papel de impotncia do povo
Matilde
Personagem principal do acto II
Companheira de todas as horas de Gomes Freire
Forte, persistente, corajosa, inteligente, apaixonada
No desiste de lutar, defendendo sempre o marido
Pe de lado a auto-estima (suplica pela vida do marido)
Acusa o povo de cobardia mas depois compreende-o
Personifica a dor das mes, irms, esposas dos presos polticos
Voz da conscincia junto dos governadores (obriga-os a confrontarem-se com os
seus actos)
Desmascara o Principal Sousa, que no segue os princpios da lei de Cristo
Sousa Falco
Amigo de Gomes Freire e Matilde
Partilha das mesmas ideias de Gomes Freire mas no teve a sua coragem
Auto-incimina-se por isso
Medroso
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Delatores
Representam os bufos do regime salazarista.
Vicente
do povo mas trai-o para subir na vida
Tem vergonha do seu nascimento, da sua condio social
Faz o que for preciso para ganhar um cargo na polcia
Demagogo, hipcrita, traidor, desleal e sarcstico
Falso humanitrio
Movido pelo interesse da recompensa
Adulador do momento
Andrade Corvo e Morais Sarmento
Querem ganhar dinheiro a todo o custo
Funcionam como bufos tambm pelo medo que tm das consequncias de estar
contra o governo
Mesquinhos, oportunistas e hipcritas
2. Governadores
Representam o poder poltico e so o crebro da conjura que acusa Gomes Freire de
traio ao pas; no querem perder o seu estatuto; so fracos, mesquinhos e vis; cada um
simboliza um poder e diferentes interesses; desejam permanecer no poder a todo o custo
Beresford
Representa o poder militar
Tem um sentimento de superioridade em relao aos portugueses e a Portugal Ridiculariza o nosso povo, a vida do nosso pas e a atrofia de almas
Odeia Portugal
Est sempre a provocar o principal Sousa
No melhor que aqueles que critica mas sincero ao dizer que est no poder s
pelo seu cargo que lhe d muito dinheiro
Tem medo de Gomes Freire (pode-lhe tirar o lugar)
Oportunista, severo, disciplinar, autoritrio e mercenrio
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Bom militar, mau oficial
Principal Sousa
demagogo e hipcrita
No hesita em condenar inocentes
Representa o poder clerical/Igreja
Representa o poder da Igreja que interfere nos negcios do estado
No segue a doutrina da Igreja para poder conservar a sua posio
No tem argumentos face ao desmascarar que sofre de Matilde
Tem problemas de conscincia em condenar um inocente mas no ousa intervir
para no perder a sua posio confortvel no governo Fantico religioso
Corrompido pelo poder eclesistico
Desonesto
Odeia os franceses
Defende o obscurantismo
D. Miguel Forjaz
Representa o poder poltico e a burguesia dominadora
Quer manter-se no poder pelo seu poder poltico-econmico
Personifica Salazar
Prepotente, autoritrio, calculista, servil, vingativo e frio
Corrompido pelo poder
Primo de Gomes Freire
v Gomes Freire de Andrade
Representa Humberto Delgado
Personagem virtual/central
Sempre presente nas palavras das outras personagens
Caracterizado pelo Antigo Soldado, por Manuel; D. Miguel e Beresford
Idolatrado pelo povo
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Acredita na justia e na luta pela liberdade
Soldado brilhante
Estrangeirado
Smbolo da esperana e liberdade
v Polcias: representam a PIDE
v Frei Diogo de Melo: representam a Igreja consciente da situao do pas...
Tempo
Tempo histrico ou tempo real (sculo XIX - 1817)
Invases francesas (desde 1807): rei no Brasil
Ajuda pedida aos ingleses (Beresford)
Regime absolutista
Situao econmica portuguesa m: dinheiro ia para a corte no Brasil
Regncia, influenciada por Beresford (smbolo do poder britnico em Portugal)
Primeiros movimentos liberais (1817), com a conspirao abortada de Gomes
Freire
25 De Maio de 1817 priso de Gomes Freire; 18 de Outubro de 1817 enforcado,
datas condensadas em dois dias na pea (tempo de aco dramtica)
Governadores viam na revoluo a destruio da estrutura tradicional do Reino e a
supresso dos privilgios das classes favorecidas
O povo via na revoluo a soluo para a situao em que se encontrava
Revoluo liberal de 1820
Implantao do liberalismo em 1834, com o acordo de vora-Monte Tempo metafrico ou tempo da escrita (sculo XX - 1961)
Permanentemente presente (implcito)
poca conturbada em 1961: guerra colonial angolana; greves; movimentos
estudantis; pequenas guerrilhas internas; crescente aparecimento de
movimentos de opinio organizados; oposio poltica
Situao poltica, social e econmica de desagrado geral
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Regime ditatorial salazarista: desigualdade entre abastados e pobres muito
grande; povo reprimido e explorado; misria, medo; analfabetismo e
obscurantismo
PIDE, bufos; censura; medidas de represso/tortura e condenao sem provas Sttau Monteiro evoca situaes e personagens do passado como pretexto para
falar do presente.
Grande dualidade de conceitos entre os dois tempos: Gomes Freire Humberto
Delgado; os governadores trs so o regime salazarista; Vicente e os delatores
so os bufos; os homens de Beresford so a PIDE
O futuro
A projeco do tempo no futuro importante para a revelao do mundo interior e, porisso, tem grande destaque emFelizmente H Luar!
1) Desejos para o futuro
Para a compreenso das personagens e dos seus comportamentos importante conhecer os
desejos para o futuro que norteiam os seus objectivos.
o Vicente recorre denncia para obter o cargo de polcia que realizar o seu sonho de bem-estar socioeconmico.
o Morais Sarmento e Andrade Corvo planeiam o futuro discorrendo no s sobre asvantagens que a denncia lhes trar, mas tambm sobre os inconvenientes sociais dessa
traio e modo de os ultrapassar.o Beresford revela que o seu sonho de poder viver em Inglaterra como um gentleman que
motiva o seu comportamento.o D. Miguel afirma que a sua aco visa a construo de um Portugal prspero e feliz, com
um povo simples, bom e confiante, que viva lavrando e defendendo a terra, com os olhos
postos no Senhor, um pas em que a nobreza dirija sem qualquer limitao.
2) Medos e projectosDa incapacidade de aceitar as mudanas (D. Miguel) ou da percepo de que os seus
interesses esto em jogo (Beresford e Principal Sousa) nascem vises medonhas do futuro
e projectos maquiavlicos de aco para manter o poder a todo o custo.
D. Miguel tem medo de um mundo em que se no distinga, a olho nu, um prelado dum nobre ,
ou um nobre dum popular, em que o taberneiro da esquina possa discutir a opinio del -
rei, em que a sua opinio valha tanto como a de qualquer arruaceiro, isto , teme perder a
sua posio se o povo puder escolher os seus chefes. Por isso, tendo e m conta o seu
conhecimento da psicologia popular, planeia minuciosamente uma aco contra-
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revolucionria que envolver, tambm, o clero e o exrcito e, mais tarde, planifica,
igualmente, o julgamento de Gomes Freire, de modo a tornar inevitvel a sua condenao.
3) Esperana
O final da pea demonstra que o passado e o presente determinam os acontecimentosseguintes, j que, devido morte de Comes Freire, o futuro, que na sequncia do presente
se antevia como pouco esperanoso, ir tornar-se, na perspectiva de Matilde, um tempo de
esperana e de luta eficaz pela liberdade.
O passado irreal
Uma das facetas mais complexas do tempo o passado irreal, isto , o tempo imaginado do
que poderia ter sido e no foi. EmFelizmente H Luar!revela-se assim o universo
idealizado, de tranquilidade familiar, sonhado por Matilde, que no passa de uma ilusodesesperada e cega, prpria de quem tem a conscincia de que a realidade est
completamente desfasada do desejo.
Tempo psicolgico
Para Matilde, o passado, que comeou por ser tempo de anulao, tornou-se tempo de
felicidade, em Paris, apesar das dificuldades financeiras. O presente , assim, um tempo
marcado pela saudade do passado. O futuro, que inicialmente se apresenta negro, devido
priso e provvel morte do seu homem, acaba por transformar-se em tempo de esperana,
quando ela assume os valores sociais que so atribudos a Gomes Freire.Tambm para o Antigo Soldado, que tem em comum com Matilde a convivncia com Gomes
Freire, o passado tempo de saudade; no entanto, os restantes populares, marcados pelo
determinismo, vivem exclusivamente o momento presente, ou melhor, sem passado nem
futuro de relevo, limitam-se a sobreviver. Para eles, o passado apenas a memria de
momentos em que a esmola foi maior. At Manuel, o elemento que mais se destaca, se deixa
dominar pela fatalidade perante a priso de Gomes Freire.
Vicente, pelo contrrio, marcado pelo passado de misria igual ao dos outros, mas que eleconsciencializa. este facto que vai ditar o seu presente de delator, tendo em vista no s
a fuga ao determinismo do futuro, mas tambm procurando apagar o prprio passado e
mesmo o presente.
Envelhecimento
O tempo um factor de desgaste fsico e evoluo psicolgica. Se para Gomes Freire o
tempo trouxe um processo de amadurecimento j que a idade lhe aumentou a fome e a
sede de justia, para o Principal Sousa o envelhecimento ser um processo gradativo de
remorsos a praga, de provvel realizao, com que Matilde o amaldioa. O tempo
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desenvolveu capacidades em Vicente, particularmente a de compreender os mecanismos do
poder. Mas, desenvolveu, tambm, o esprito crtico com que observa o envelhecimento dos
outros por ele que se sabe que os velhos soldados, j sem prstimo para o exrcito, so
obrigados a pedir esmola pelas igrejas. Aflora-se, assim, a problemtica socioeconmica da
velhice.
Espao
Espao fsico: a aco desenrola-se em diversos locais, exteriores e interiores,
mas no h nas indicaes cnicas referncia a cenrios diferentes
Espao social: meio social em que esto inseridas as personagens, havendo vrios
espaos sociais, distinguindo-se uns dos outros pelo vesturio e pela linguagem
das vrias personagens
Estrutura
A aco da pea est dividida em dois actos (estrutura externa), o primeiro com
onze sequncias e o segundo com treze (estrutura interna). No acto I trama-se a morte de
Gomes Freire; no acto II pe-se em prtica o plano do acto I.
Simbologia Trinta moedas
o Gesto de traio por no conseguirem ajudar o General Saia verde
o Em vida esperana, felicidade, liberdade da sua relao
o Na morte alegoria ao reencontro e tranquilidade (Matilde acredita navida depois da morte)
Fogueira
o Presente tristeza, escurido
o Futuro esperana, liberdade
Luar
o Noite morte, mal, infelicidade
o Luz vida, sade, felicidade
o Lua dependncia (da luz do sol), periocidade e rejuvenescimento(ciclo lunar) e renovao (crescimento)
Felizmente H Luar!
o Para os opressores efeito dissuasor
O luar servir para fazer com que as pessoas saiam rua
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Fogueira purificadora da sociedade
Serve de exemplo eficcia da execuo
o Para os oprimidos coragem e estmulo para a revolta contra a tirania
Fogueira alerta e luz que ilumina o caminho da liberdade
Estmulo e encorajamento para que o povo se possa revoltar.
Moeda de 5 reis: smbolo de desrespeito que os mais poderosos
mantinham para com o prximo, contrariando os mandamentos de Deus
Tambores: smbolos da represso
Didasclias Explicaes do autor
Posio das personagens
Caracterizao do tom de voz
Indicao das pausas
Sada ou entrada das personagens
Movimentaes cnicas
Expresso do estado de esprito
Expresso fisionmica e gestual
Linguagem e estilo
Recursos estilsticos: enorme variedade (tomar espacial ateno ironia e ao
sarcsmo)
Funes da linguagem: apelativa (frase imperativa); informativa (frase
declarativa); emotiva [frase exclamativa, reticncias, anacoluto (frases
interrompidas)]; metalingustica
Marcas da linguagem e estilo: provrbios, expresses populares, frases
sentenciosas
natural, viva e malevel, utilizada como marca caracterizadora e individualizadora
de algumas das personagens
uso de frases em latim com conotao irnica, por aparecerem no momento da
condenao e da execuo
frases incompletas por hesitao ou interrupo
marcas caractersticas do discurso oral
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Texto principal: As falas das personagens
Texto secundrio: as didasclias/indicaes cnicas (tm um papel crucial na pea)
A didasclia
A pea rica em referncias concretas (sarcasmo, ironia, escrnio, indiferena,
galhofa, adulao, desprezo, irritao relacionadas com os opressores; tristeza,
esperana, medo, desnimo relacionadas com os oprimidos). As marcaes so abundantes:
tons de voz, movimentos, posies, cenrios, gestos, vesturio, sons (tambores, silncio, voz
que fala antes de entrar no palco, sino que toca a rebate, murmrio de vozes, toque duma
campainha) e efeitos de luz (contraste entre a escurido e a luz; os dois actos terminam em
sombra). De realar que a pea termina ao som de fanfarra (Ouve-se ao longe uma
fanfarronada que vai num crescendo de intensidade at cair o pano.) em oposio luz
(Desaparece o claro da fogueira.); no entanto, a escurido no total, porquefelizmente h luar.