anÁlise morfolÓgica pela microscopia eletrÔnica de...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPRITO SANTO CENTRO DE CINCIAS DA SADE
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CLNICA ODONTOLGICA
KLEBER BORGO KILL
ANLISE MORFOLGICA PELA MICROSCOPIA ELETRNICA DE
VARREDURA DA SUPERFCIE APICAL DE DENTES PORTADORES
DE LESES PERSISTENTES AO TRATAMENTO ENDODNTICO
VITRIA 2009
KLEBER BORGO KILL
ANLISE MORFOLGICA PELA MICROSCOPIA ELETRNICA DE
VARREDURA DA SUPERFCIE APICAL DE DENTES PORTADORES
DE LESES PERSISTENTES AO TRATAMENTO ENDODNTICO
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Clnica Odontolgica do Centro de Cincias da Sade da Universidade Federal do Esprito Santo, como requisito parcial para obteno do Grau de Mestre em Clnica Odontolgica. Orientador: Prof. Dr. Francisco Carlos Ribeiro
VITRIA 2009
Dados Internacionais de Catalogao-na-publicao (CIP) (Biblioteca Central da Universidade Federal do Esprito Santo, ES, Brasil)
Kill, Kleber Borgo K48a Anlise morfolgica pela microscopia eletrnica de varredura da
superfcie apical de dentes portadores de leses persistentes ao tratamento endodntico / Kleber Borgo Kill. 2009.
120 f. : il. Orientador: Francisco Carlos Ribeiro Dissertao (mestrado) Universidade Federal do Esprito Santo,
Centro de Cincias da Sade. 1. Apicectomia. 2. Endodontia. 3. Microscopia eletrnica de
varredura. 4. Traumatismos dentrios. 5. Cisto radicular. 6. Doenas periapicais. I. Ribeiro, Francisco Carlos. II. Universidade Federal do Esprito Santo. Centro de Cincias da Sade. III. Ttulo.
CDU: 616.314
Autorizo exclusivamente para meios acadmicos e cientficos, a reproduo total ou
parcial desta dissertao.
Assinatura
Vitria / / .
Dedico este trabalho
A Deus,
pela oportunidade da vida;
pelos irmos que colocaste em meu caminho;
pelo aconchego nos momentos difceis;
pelas vitrias que me proporcionaste.
minha esposa, Kssila,
por todo amor, carinho, amizade e companheirismo que me estimulam a seguir
sempre em frente, dando sentido obra de nossas vidas.
Aos meus filhos, Joo Pedro e Amanda,
donos do meu amor incondicional, pela graa e alegria que do minha vida.
Aos meus pais, Guido e Ivete,
pelo amor e dedicao ao longo do caminho que me ajudaram a trilhar,
estendendo-me sempre suas mos nos momentos mais difceis. Recebam todo
o meu amor e gratido, e mesmo que estejam hoje longe de mim, estaremos
juntos por toda a eternidade.
AGRADECIMENTO ESPECIAL
Ao Prof. Dr. Francisco Carlos Ribeiro,
que contribuiu decisivamente para a minha formao profissional, pela
inestimvel orientao a este trabalho, pelos conhecimentos transmitidos,
pela amizade e confiana que sempre me dispensou, meu respeito,
reconhecimento e agradecimento.
Agradecimentos
Ao Doutorando Lucas Zago Naves,
por sua valiosa colaborao na realizao deste trabalho. Seu empenho e
dedicao a esta pesquisa tornaram possvel a sua realizao.
Aos professores da disciplina de endodontia da UFES, Armelindo Roldi, Francisco
Carlos Ribeiro, Nevelton Heringer e Rosana de Souza Pereira,
meu respeito e admirao aos que sempre me guiaram pelos caminhos da
cincia.
Aos professores, Adauto Emmerich Oliveira, Ana Maria Martins Gomes, ngelo Gil
Rangel, Antnio Mello Cabral, Carlos Alberto Redins, Fernando Meira Menandro,
Francisco Carlos Ribeiro, Joo Carlos Padilha de Menezes, Lenize Zanotti Soares,
Liliana Pimenta de Barros, Marco Antnio Masioli, Maria Hermenegilda Grasseli
Batitucci, Maria Jos Gomes Loureiro, Raquel Baroni de Carvalho, Rogrio
Albuquerque Azeredo, Rosana de Souza Pereira, Selva Maria Gonalves Guerra,
Silvana dos Santos Meirelles, Snia Maria de Souza Kitagawa, pelos conhecimentos
compartilhados.
Prof. Dr. Rosana de Souza Pereira,
meu respeito e gratido pelo incentivo profissional, carinho e amizade.
Ao Prof. Dr. Rivail Antonio Srgio Fidel,
Pela competncia, simpatia e disponibilidade dispensadas.
Ao Prof. Dr. Elliot Watanabe Kitagima,
por disponibilizar generosamente o Laboratrio do Ncleo de Apoio Pesquisa
em Microscopia Eletrnica Aplicada Pesquisa Agropecuria da Escola
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de So Paulo
(ESALQ) para que fosse possvel a realizao da parte experimental deste
trabalho.
Aos meus companheiros do curso de mestrado, Cristiane Vasconcelos Cspar
Nobre, Helio Emanoel de Mattos Barreto, Marcelo Massaroni Peanha, Nevelton
Heringer, Rodrigo Resende Brando, Rodrigo Schwab Rasseli, Tatiany Bertollo
Coser Ribeiro Costa, Valria da Penha Freitas, Vnia Azevedo de Souza, Viviany
Bertollo Coser Ferrari, pelos conhecimentos compartilhados, pelo convvio e pela
amizade.
Aos amigos Joo Batista Gagno Intra e Bruno Valentim Fabri, por colaborarem
gentilmente com parte do material biolgico necessrio para a execuo deste
estudo.
Ao amigo Christian Spagnol, por seu auxlio no desenvolvimento desta dissertao.
Aos funcionrios do Instituto de Odontologia da Universidade Federal do Esprito
Santo, por toda presteza.
Agradecimentos institucionais direo da Universidade Federal do Esprito Santo,
na pessoa do Magnfico Reitor, Prof. Rubens Srgio Rasseli.
Coordenao do Programa de Ps-Graduao em Clnica Odontolgica - Curso
de Mestrado Profissionalizante em Clnica Odontolgica do Centro de Cincias da
Sade da Universidade Federal do Esprito Santo, na pessoa da Prof. Dr. Selva
Maria Gonalves Guerra.
direo do Instituto de Odontologia da Universidade Federal do Esprito Santo, na
pessoa de seu superintendente, Prof. Joo Helvcio Xavier Pinto.
KLEBER BORGO KILL
ANLISE MORFOLGICA PELA MICROSCOPIA ELETRNICA DE
VARREDURA DA SUPERFCIE APICAL DE DENTES PORTADORES
DE LESES PERSISTENTES AO TRATAMENTO ENDODNTICO
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Clnica Odontolgica
do Centro de Cincias da Sade da Universidade Federal do Esprito Santo, como
requisito parcial para obteno do Grau de Mestre em Clnica Odontolgica.
Aprovada em 02 de outubro de 2009.
COMISSO EXAMINADORA
________________________________________ Prof. Dr. Francisco Carlos Ribeiro Universidade Federal do Esprito Santo Orientador
________________________________________ Prof. Dr. Rivail Antonio Srgio Fidel Universidade Estadual do Rio de Janeiro
________________________________________ Prof. Dr. Rosana de Souza Pereira
Universidade Federal do Esprito Santo
RESUMO
Este estudo realizou, mediante microscopia eletrnica de varredura (MEV), a anlise
morfolgica da superfcie apical de vinte pices radiculares obtidos por cirurgia
parendodntica em dentes portadores de leses periapicais persistentes ao
tratamento endodntico. Os tratamentos endodnticos dos dentes estudados
apresentavam-se radiograficamente satisfatrios, imagens radiogrficas sugestivas
de leses periapicais e um tempo de tratamento endodntico igual ou superior a
quatro anos, ou a presena de sinais e/ou sintomas clnicos que justificassem a
interveno cirrgica imediata. Aps os procedimentos cirrgicos, os segmentos
apicais coletados foram acondicionados em glutaraldedo a 2,5% e armazenados at
o momento da anlise, as amostras foram ento montadas em stubs, metalizadas e
observadas ao microscpio eletrnico de varredura. Os resultados evidenciaram
uma elevada ocorrncia de reabsores apicais, seguidas da presena de espaos
mortos, fraturas radiculares longitudinais e sobreobturaes endodnticas,
respectivamente. Do ponto de vista dos aspectos anatmicos apicais, foram
observados um mesmo percentual de pices radiculares posicionados apicalmente e
parapicalmente ao longo eixo da raiz e apenas um quarto das amostras com
presena de foraminas apicais. Conclui-se que as alteraes morfolgicas na
superfcie apical, no contorno do forame apical e nas paredes do canal cementrio,
tanto de natureza patolgica quanto iatrognica, assim como a falta de contato do
material obturador com as paredes do canal radicular contribuem para a persistncia
dos processos infecciosos periapicais ps-tratamento endodntico.
Palavras-chave: apicetomia, endodontia, microscopia eletrnica de varredura,
traumatismos dentrios, cisto radicular, doenas periapicais.
ABSTRACT
This study by a scanning electronic microscopy (SEM) performed a morphological
assessment of apical surface of twenty root apex taken by paraendodontic surgery in
teeth with periapical lesions persistent to endodontic therapy. The endodontic
treatments of these teeth were satisfactory radiographycaly, and with images
suggesting periapical lesions and a treatment time equals or higher than four years,
or the evidence of clinical signals and/or symptoms that justified the immediate
surgical intervention. After the surgical procedures, the apical segments obtained
were kept in a 2.5% glutaraldehyde and stored until the analysis, the samples then
were mounted on stubs, and covered in metal and observed under scanning
electronic microscope. The results showed an increased occurrence of apical
resorption, followed by presence of dead spaces, longitudinal root fractures and
endodontic overfilling, respectively. From a perspective of the apical anatomy
features, it was noted a same percentage of root apex placed apically and parapically
to long axis of the root and only one-quarter of the samples presenting apical
foramina. It was concluded that the morphological changes on the apical surface, the
apical foramen contour and the walls of the cementum canal, both pathologic and
iatrogenic nature, as well as the lack of contact of the filling material with the root
canal walls contribute to the persistence of periapical infectious process post-
endodontic treatment.
Keywords: apicetomy, endodontics, scanning electronic microscopy, dental trauma,
root cyst, periapical diseases.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Dessecador utilizado na desidratao das amostras 66
Figura 2 Amostras fixadas em stub de alumnio com o auxlio de fita
dupla face de carbono 66
Figura 3 Stub posicionado no interior do metalizador 67
Figura 4 Metalizador Denton Vaccum, modelo Desk II em funcionamento 67
Figura 5 Aspecto das amostras aps metalizao com ouro/paldio 68
Figura 6 Microscpio eletrnico de varredura modelo LEO 435 VP 68
Figura 7 Aspectos morfolgicos da superfcie radicular apical externa
evidenciados pela MEV 71
Figura 8 Aspectos morfolgicos da superfcie radicular apical externa
em MEV 71
Figura 9 Aspectos morfolgicos do forame apical em MEV 72
Figura 10 Aspectos morfolgicos do forame apical em MEV 73
Figura 11 reas de reabsoro da superfcie radicular apical externa
em MEV 74
Figura 12 Eletromicrografia apresentando extensa rea de reabsoro apical
externa com exposio de tbulos dentinrios em MEV 74
Figura 13 rea de reabsoro da superfcie radicular apical externa em
MEV em amostra contendo exposio de tbulos dentinrios 75
Figura 14 Aspectos morfolgicos do forame apical mostrando a presena de
desvio ou zip apical 76
Figura 15 Aspectos morfolgicos do forame apical em MEV
evidenciando o segmento apical do canal sem vestgios de
interveno endodntica 77
Figura 16 Aspectos morfolgicos do forame apical em MEV 77
Figura 17 Eletromicrografia evidenciando a presena de espaos mortos 78
Figura 18 Morfologia da regio apical em MEV 78
Figura 19 Amostra observada em MEV evidenciando a sobreobturao do
canal radicular 79
Figura 20 Aspecto morfolgico da superfcie apical observado
em MEV evidenciando fratura radicular longitudinal da raiz 80
Figura 21 Eletromicrografia evidenciando fratura radicular longitudinal
da raiz 81
Figura 22 Imagem em MEV mostrando fratura radicular longitudinal da raiz 81
Figura 23 Morfologia da superfcie apical em MEV evidenciando o forame
apical localizado apicalmente em relao ao longo eixo da raiz 82
Figura 24 Morfologia da superfcie apical em MEV evidenciando a
presena de forames apicais localizados parapicalmente em relao
ao longo eixo da raiz 83
Figura 25 Aspecto morfolgico da superfcie apical evidenciado em MEV
mostrando amplo forame e sua localizao parapical em relao
ao longo eixo da raiz 83
Figura 26 Aspecto morfolgico da superfcie apical evidenciado em
MEV apresentando dois forames apicais 84
Figura 27 Eletromicrografia apresentando dois forames apicais em raiz nica 85
Figura 28 Imagem da morfologia da superfcie apical em MEV apresentando
amostra com dois forames apicais 85
Figura 29 Vista panormica do pice radicular em MEV mostrando relao
entre os forames e as foraminas apicais 86
Figura 30 Foramina apical localizada lateralmente ao forame apical vista
em MEV 87
Figura 31 Eletromicrografia revelando foramina apical lateralmente ao forame
apical com extruso de cimento obturador 87
Figura 32 Eletromicrografia evidenciando foramina apical com extruso de
cimento obturador 88
Figura 33 Aspectos morfolgicos da superfcie apical visto em MEV 88
LISTA DE GRFICOS
Grfico 1 Percentual de amostras com relao presena de
Reabsoro radicular apical externa 70
Grfico 2 Percentual de amostras com relao reabsoro
radicular apical localizada internamente ao forame apical 72
Grfico 3 Percentual de amostras com relao s reas de reabsoro
radicular apical externa com exposio tbulos dentinrios 73
Grfico 4 Percentual de amostras com relao presena de desvio
ou zip apical 75
Grfico 5 Percentual de amostras com relao presena de
espaos mortos 76
Grfico 6 Percentual de amostras com relao presena de
sobreobturao do canal radicular 79
Grfico 7 Percentual de amostras com relao presena de
fratura radicular longitudinal 80
Grfico 8 Percentual de amostras quanto posio do forame apical
em relao ao longo eixo da raiz 82
Grfico 9 Percentual de amostras com relao ao nmero de forames
apicais por raiz 84
Grfico 10 Percentual de amostras com relao ao nmero de
foraminas apicais 86
LISTA DE QUADRO
Quadro 1 Amostras relacionadas de acordo com os aspectos morfolgicos
observados nas eletromicrografias obtidas em MEV 90
SUMRIO
1 INTRODUO 18
2 REVISO DE LITERATURA 20
3 PROPOSIO 63
3.1 OBJETIVO GERAL 63
3.2 OBJETIVOS ESPECFICOS 63
4 MATERIAL E MTODOS 64
4.1 AMOSTRAGEM 64
4.1.1 Obteno das amostras 64
4.1.2 Seleo das amostras 64
4.1.3 Preparao das amostras 65
4.1.3.1 Armazenamento e fixao das amostras 65
4.1.3.2 Limpeza e secagem das amostras 65
4.1.3.3 Montagem e cobertura 66
4. 2 ANLISE MICROSCPICA 68
4. 3 OBTENO DAS ELETROMICROGRAFIAS 69
5 RESULTADOS 70
5.1 OBSERVAO DOS ASPECTOS MORFOLGICOS DAS SUPERFCIES
APICAIS EVIDENCIADOS PELAS ELETROMICROGRAFIAS 70
5.1.1 Presena de reas de reabsoro radicular apical externa 70
5.1.2 Presena de reas de reabsoro radicular apical interna ao forame
apical 72
5.1.3 Presena de reas de reabsoro radicular apical externa com
exposio de tbulos dentinrios 73
5.1.4 Presena de desvio ou zip apical 75
5.1.5 Presena de espaos mortos 76
5.1.6 Sobreobturao do canal radicular 79
5.1.7 Fratura radicular longitudinal 80
5.1.8 Posio do forame em relao ao longo eixo da raiz 82
5.1.9 Nmero de forames apicais por raiz 84
5.1.10 Presena de foraminas apicais por raiz 86
5.2 APRESENTAO DAS AMOSTRAS COM RELAO AOS ASPECTOS
MORFOLGICOS OBSERVADOS POR MEIO DAS
ELETROMICROGRAFIAS 89
6 DISCUSSO 91
6.1 DISCUSSO DA METODOLOGIA 92
6.2 DISCUSSO DOS RESULTADOS 93
6.2.1 Presena de reabsoro inflamatria apical externa 93
6.2.2 Presena de reabsoro inflamatria vista internamente ao forame
apical 95
6.2.3 Presena de reabsoro inflamatria da superfcie apical externa com
exposio dos tbulos dentinrios 96
6.2.4 Presena de desvio ou zip apical 97
6.2.5 Presena de espaos mortos 99
6.2.6 Sobreobturao apical 102
6.2.7 Fratura radicular longitudinal 104
6.2.8 Posio do forame apical em relao ao longo eixo da raiz 105
6.2.9 Nmero de forames apicais 106
6.2.10 Nmero de foraminas apicais 107
7 CONCLUSES 109
8 REFERNCIAS 110
ANEXO A 120
18
1 INTRODUO
Relatos da prtica endodntica existem desde o sculo I, quando Arquimedes
descreveu pela primeira vez um tratamento para pulpites, aconselhando a extirpao
da polpa dental para preservar o dente. Iniciou-se assim a primeira fase da histria
da endodontia, que se caracterizou pelo empirismo. O desconhecimento dos fatores
biolgicos que envolvem a endodontia resultou numa teraputica em que o conceito
de tratamento do canal radicular era sinnimo de obturao endodntica
(LEONARDO, 1991).
At o final do sculo XIX, no se tinha conhecimento da importncia do
envolvimento bacteriano sobre as patologias pulpares e perirradiculares. Foi ento
que Miller (1894), examinando restos necrticos pulpares, observou uma grande
variedade de clulas bacterianas, associando pela primeira vez a presena
bacteriana aos processos patolgicos pulpares e perirradiculares. A partir de ento,
a aspirao mxima da endodontia passou a ser a de encontrar um medicamento
capaz de destruir todos os microrganismos e resolver os problemas dos dentes
despolpados e infectados.
Observou-se dessa maneira, que bactrias e seus produtos exerciam um papel de
extrema relevncia na etiologia dos principais problemas endodnticos, dentre os
quais se destaca o fracasso da terapia endodntica convencional. Na maioria das
vezes, o insucesso endodntico resultante da permanncia de uma infeco
instalada na poro apical do canal e/ou nos tecidos perirradiculares, mesmo nos
casos em que os canais foram tratados de forma aparentemente adequada
(SIQUEIRA JR.; LOPES, 1998).
Uma leso periapical pode persistir quando os procedimentos endodnticos no
alcanaram um padro satisfatrio no controle da infeco. Controle assptico
inadequado, cirurgia de acesso pobre, falta de manuteno do comprimento de
trabalho, instrumentao insuficiente, infiltrao do selamento temporrio ou da
restaurao permanente, fratura de instrumentos que dificultam a ao de
antimicrobianos so intercorrncias comuns durante a terapia endodntica e podem
contribuir negativamente para o processo de cura. A complexidade anatmica do
sistema de canais radiculares dificulta sobremaneira alcanar a excelncia.
19
Microrganismos resistentes terapia endodntica, ou mesmo aqueles que invadem
o sistema de canais radiculares ps-tratamento, so considerados os principais
agentes a sustentar ou desenvolver uma leso perirradicular. A esse quadro, em que
estamos diante de infeco em dente tratado endodonticamente, denominamos de
periodontite apical secundria. Tal periodontite apical secundria somente
considerada persistente se ocorrer em dentes com tratamento endodntico bem
conduzido, onde ainda persiste uma reao inflamatria periapical, caso em que o
diagnstico denominado periodontite apical secundria persistente.
Microrganismos podem permanecer no sistema de canais radiculares, em reas
intocadas pelos instrumentos ou pelas substncias qumicas empregadas, ainda que
em canais radiograficamente bem obturados.
Essas reas so representadas por anfractuosidades, istmos, ramificaes e por
lacunas de Howship oriundas dos processos reabsortivos. Outros microrganismos
podem realmente apresentar resistncia a medicamentos utilizados, ou ainda
adentrar o sistema endodntico via microinfiltrao coronria, alojar-se em espaos
vazios no ocupados pelo material obturador e, encontrando substrato livre das
defesas do hospedeiro, passar a colonizar espaos do endodonto, perturbando o
processo de reparo tecidual (FERRARI; CAI; BOMBANA, 2007).
Devido a esses fatores, muitas vezes se faz necessria a cirurgia perirradicular na
tentativa de solucionar tais periapicopatias. Portanto, este trabalho tem por finalidade
estudar, por meio da microscopia eletrnica de varredura, pices radiculares obtidos
pela cirurgia parendodntica provenientes de dentes portadores de leses
persistentes ao tratamento endodntico, com vistas a analisar a morfologia da
superfcie desses pices, quanto aos aspectos anatmicos, patolgicos e
iatrognicos, assim como, a relao do material obturador com as paredes do canal
radicular.
20
2 REVISO DE LITERATURA
Neste captulo, sero abordados aspectos referentes ao estudo das leses
persistentes ao tratamento endodntico, incluindo aqueles relacionados MEV,
microbiologia, anatomia, diagnstico e tratamento do sistema de canais radiculares.
Este captulo caracteriza-se pela sntese das informaes dos principais trabalhos
relativos ao assunto relacionados cronologicamente.
Kuttler (1955) realizou um estudo por meio de estereomicroscopia e da microscopia
tica, utilizando duzentos e sessenta e oito dentes, dentre esses, 95% removidos de
cadveres, com o objetivo de estudar a anatomia do pice radicular. Foram includos
no estudo, dentes que no eram portadores de leses periapicais divididos em dois
grupos de acordo com a faixa etria. O grupo I era constitudo por dentes de
cadveres com idade de 18 a 25 anos, e o grupo II de 55 anos ou mais. A seguir os
pices foram analisados quanto distncia entre o vrtice apical e o centro do
forame e o dimetro do forame apical. Os resultados evidenciaram que no grupo I
(18 a 25 anos de idade), em 68% dos casos o centro do forame no coincidia com o
vrtice apical, o que tambm pode ser verificado em 80% dos dentes analisados no
grupo II. A distncia mdia entre o vrtice apical e o centro do forame foi de 495
micrometros no grupo I e 607 micrometros no grupo II. O dimetro mdio do forame
no grupo I foi de 502 micrometros e no grupo II de 681 micrometros. Pde-se
concluir que, com a idade, devido deposio de novas camadas de cemento, o
forame desvia-se do vrtice apical, assim como ocorre o aumento do dimetro do
forame apical, e tambm que o dimetro do forame, tanto no grupo I quanto no
grupo II, foi ligeiramente mais largo no sentido vestbulo-lingual que no msio-distal.
Tronstad, Kreshtool e Barnett (1990) confirmaram a presena de microrganismos na
superfcie apical de um dente portador de leso periapical crnica persistente ao
tratamento endodntico convencional. Placas bacterianas constitudas de cocos
apresentavam-se firmemente aderidas superfcie apical por um material
extracelular, provavelmente polissacardeo, que alm da nutrio, servia de abrigo
s influncias externas, consequentemente contribuindo para a manuteno do
processo infeccioso nos tecidos periapicais.
21
Garrocho et al. (1991) desenvolveram um trabalho por meio da microscopia tica,
com o objetivo de estabelecer a incidncia das diferentes leses periapicais
(granulomas e cistos) persistentes aps o tratamento endodntico, fazendo um
estudo comparativo do nmero de mastcitos dessas leses com o daquelas que
no sofreram tratamento endodntico prvio. Para isso utilizaram quarenta leses
periapicais aps tratamento endodntico indicadas para cirurgia endodntica
complementar. As amostras foram fixadas e coradas com hematoxilina-eosina e azul
de toluidina. Foram diagnosticadas como granulomas, 75% das leses e como cistos
periapicais, 25% delas. O grupo controle foi constitudo de treze leses periapicais
curetadas aps exodontias, sem tratamento endodntico prvio. No foi encontrada
diferena estatisticamente significante entre o nmero de mastcitos das leses
persistentes e do grupo controle e entre os grupos separadamente: cistos e
granulomas das leses persistentes e cistos e granulomas do grupo controle.
Manifestaes clnicas, como dor, tumefao e fstula, foram observadas em 75%
dos pacientes. Os resultados sugerem que a persistncia da leso periapical est
relacionada com a permanncia do fator irritante no canal radicular, e no
necessariamente com a natureza da leso. Em leses persistentes, o tratamento
endodntico no implica em aumento ou diminuio do nmero de mastcitos
nessas leses.
De Deus (1992) definiu como zona crtica apical a importante rea apical do canal
radicular, ou do sistema de canais radiculares, durante o tratamento e a obturao
do canal radicular. Anatomicamente, a zona crtica apical compreende o canal
radicular apical, o forame apical e as ramificaes apicais prprias (deltas ou
foraminas apicais e canais acessrio e secundrio) situados no interior dos 3-4
milmetros da raiz apical ou pice radicular. pois, constituda pelos milmetros
finais do sistema de canais radiculares, onde se deve controlar toda a interao do
tratamento e da obturao do canal radicular no seu limite apical.
Felipini (1996) selecionou 353 casos de cistos com a finalidade de determinar a
localizao e distribuio dos macrfagos marcados imunocitoquimicamente e
correlacionar os modelos da localizao e distribuio com o grau de destruio do
epitlio cstico associado, a fim de evidenciar mecanismos imunopatolgicos na
regresso no cirrgica de cistos periodontais apicais. Os cistos foram distribudos
em trs grupos. Grupo I: cistos periodontais apicais de dentes sem tratamento
22
endodntico (248 casos), subdividido em grupo IA, correspondente a cistos
incipientes (47casos), e grupo IB, relativo a cistos instalados (201 casos); Grupo II:
cistos periodontais apicais de dentes tratados endodonticamente (71 casos); Grupo
III: cistos residuais removidos de reas edntulas (37 casos). Para as anlises
microscpicas e imunocitoqumicas, foram selecionados, aleatoriamente, por sorteio,
dez casos de cada situao. Utilizou-se a marcao imunocitoqumica com o
anticorpo monoclonal HAM-56 para a identificao de macrfagos que, nos cistos
periapicais incipientes tratados endodonticamente se encontraram localizados e
distribudos mais difusa e intensamente no tecido conjuntivo capsular,
imediatamente abaixo do epitlio de revestimento cstico e no interior de sua
estrutura. A concentrao e relao direta dos macrfagos com o epitlio de
revestimento cstico se fazem especialmente nas reas onde o revestimento se
encontra em intensa desorganizao e/ou ulcerado. Nos cistos periodontais apicais
instalados em dentes sem tratamento endodntico, a distribuio dos macrfagos se
faz menos intensa e aleatoriamente focal ao longo do conjuntivo capsular
subepitelial. Nos cistos residuais, o nmero de macrfagos pequeno e sua
distribuio focal e intraepitelial. Conclui-se que os macrfagos esto intimamente
relacionados com o reconhecimento antignico do epitlio cstico, pois sua
localizao e distribuio denotam uma associao com os eventos
imunopatolgicos e uma regresso no cirrgica dos cistos periodontais apicais.
Ribeiro (1997), com o objetivo de analisar a distribuio das bactrias nas estruturas
mineralizadas de dentes portadores de necrose pulpar e nos granulomas apicais,
utilizou 32 razes dentrias de pacientes adultos, entre 21 e 72 anos de idade, de
ambos os sexos, com leses periapicais firmemente aderidas aos seus pices e
dezesseis leses isoladas, em cortes obtidos para fins de diagnstico microscpico
com laudos histopatolgicos conclusivos de granulomas apicais. Aps o preparo das
amostras, os espcimes foram analisados pela microscopia tica, utilizando-se
tcnicas de colorao pela hematoxilina-eosina de Harris e de Brown e Brenn. Os
resultados evidenciaram alta frequncia de bactrias Gram-positivas e Gram-
negativas no lume do canal principal e das ramificaes constituintes do delta apical,
e tambm, em menor proporo, nos tbulos dentinrios, nos cementoplastos, na
superfcie radicular externa e nos granulomas apicais.
23
Sundqvist et al. (1998) desenvolveram um estudo objetivando determinar o ndice de
sucesso do retratamento endodntico, identificar fatores que influenciam no
prognstico, bem como obter dados sobre composio da microbiota dos dentes
previamente tratados com leso periapical persistente. Cinquenta e quatro dentes
tratados endodonticamente com evidncia radiogrfica de leso ssea periapical
assintomticos foram selecionados. Todos os dentes foram radiografados e o
dimetro de cada leso foi calculado pela mdia das dimenses de sua largura e
comprimento. O material obturador dos canais radiculares foi removido por meio de
instrumentao com brocas e limas e sem uso de solventes. Foram tomadas
amostras bacteriolgicas inicialmente, aps sete dias, perodo no qual os canais
foram deixados vazios, e de 7 a 14 dias aps a segunda consulta, onde os dentes
foram instrumentados e irrigados com hipoclorito de sdio a 0,5% e ficaram com
curativo de hidrxido de clcio. As amostras foram analisadas em condies
anaerbias, simulando as condies dos canais devidamente selados. As bactrias
foram identificadas. A espcie bacteriana mais comumente encontrada foi o
Enterococcus faecalis. Aps um controle, feito radiograficamente, foi constatada
cicatrizao das leses em 74% das amostras. O ndice de sucesso em dentes,
onde o Enterococcus faecalis foi observado, foi de 66%. Observou-se que, nos
dentes em que, no momento da obturao, foram constatadas amostras bacterianas
(6 dentes), o ndice de sucesso foi inferior: 4 dentes no tiveram cicatrizao da
leso (33% de sucesso somente). O Enterococcus faecalis parece ser mais
resistente aos medicamentos usados durante o tratamento e um dos poucos
microrganismos que tm mostrado resistncia, in vitro, ao efeito antibacteriano do
hidrxido de clcio. Alm disso, tem habilidade para sobreviver em canais
radiculares sem suporte de outras bactrias. Neste estudo, foi isolado em 38% dos
dentes, o que sugere ser um importante agente nos fracassos endodnticos. Os
resultados demonstram, tambm, que possvel alcanar alto ndice de sucesso
quando as causas intra e extrarradiculares so tratadas, devendo se retratar o canal
da forma convencional, fazendo complementao cirrgica quando necessrio.
Wada et al. (1998) desenvolveram um trabalho por meio de microscopia tica com o
objetivo de avaliar a morfologia de pices radiculares, incluindo as ramificaes,
obtidos por tratamento endodntico cirrgico em pacientes com periodontite
refratria que no responderam ao tratamento endodntico no cirrgico. Foram
24
selecionados 22 pacientes (25 dentes, 27 razes) com periodontite refratria. Os
elementos foram submetidos resseco da raiz e reimplantao intencional
combinada com apicetomia. O procedimento foi considerado como sucesso, quando
se observou a ausncia de sinais ou sintomas durante o perodo de
acompanhamento e ocorreu a resoluo completa da leso apical com a formao
de uma lmina dura contnua, ou a diminuio parcial, com um decrscimo no
tamanho da leso. Foi considerado como resultado incerto, quando se observou a
ausncia de sinais ou sintomas, porm a presena de uma leve dor, a leso inicial
vista radiograficamente no desapareceu completamente, porm, permaneceu do
mesmo tamanho ou reduziu. Foi considerado como fracasso quando se observou
sinais ou sintomas como dor espontnea ou sensao de dor e/ou presena de
fstula durante o acompanhamento, ou o tamanho radiogrfico da leso inicial
aumentou depois do tratamento. As amostras foram preparadas e observadas num
microscpio tico com vistas a estudar a morfologia anatmica do pice radicular. As
ramificaes do sistema de canal radicular estavam presentes em dezenove (70%)
das 27 razes e ausentes em oito razes (30%). O acompanhamento ps-operatrio
revelou que o resultado da cirurgia endodntica foi um sucesso para dezoito dentes
(72%). Entre os dentes com resultados favorveis, as ramificaes foram
encontradas em treze, enquanto seis apresentavam morfologia normal (a
inconsistncia no nmero total de dentes explicada por um primeiro molar superior
que apresentou ramificaes nos canais palatino e disto-vestibular, mas no tinha
ramificaes no canal msio-vestibular). Espera-se que a taxa de fracasso do
tratamento endodntico seja baixa quando o clnico faz a limpeza e a formatao
adequada do canal e obtura o sistema de canais radiculares. Todos os casos
refratrios descritos neste estudo foram considerados como sendo o resultado da
limpeza ou obturao inadequada.
Rocha et al. (1998) objetivaram por meio de um estudo microbiolgico, determinar o
perfil de sensibilidade a antimicrobianos das amostras de Fusobacterium nucleatum
isoladas de trinta leses periapicais de dentes extrados e comparar os dados
obtidos nesse estudo com os da literatura. Os dentes foram submetidos exodontia,
isolando-se 137 cepas bacterianas. Fusobacterium nucleatum foi encontrado em 28
dos trinta casos estudados. Nas trinta culturas realizadas, foi observado que as
leses apresentavam infeces polimicrobianas. Fusobacterium nucleatum
25
apresentou-se uniformemente sensvel cefoxitina, a tetraciclina e ao metronidazol.
Os percentuais de resistncia penicilina e a eritromicina das amostras foram de
12,5 e 68,8%, respectivamente. Sabe-se atualmente que Fusobacterium nucleatum
uma espcie bacteriana produtora de polissacardeo extracelular, possui o
lipopolissacardeo endotxico convencional e capaz de produzir betalactamase. A
escolha do antimicrobiano no tratamento das leses periapicais emprica, dado o
fato de que o estudo dos microrganismos presentes nas leses de cada paciente
atendido no factvel. Por esse motivo, faz-se necessrio que cada centro ou
regio tenha seus prprios dados sobre os microrganismos prevalentes em
processos infecciosos para que uma terapia mais adequada possa ser aplicada.
Relatos de crescente resistncia bacteriana a antimicrobianos tambm tm
contribudo para sedimentar a necessidade de que estudos de sensibilidade a
antimicrobianos devam ser realizados com periodicidade. Assim, um monitoramento
peridico faz-se necessrio para que seja possvel evidenciar alteraes ou aumento
nos percentuais de resistncia a esses antibiticos.
Siqueira Jr. e Lopes (1998) realizaram uma reviso de literatura com o objetivo de
definir e explicar a estrutura do biofilme, analisar a sua implicao no fracasso
endodntico e discutir estratgias de tratamento que permitam elimin-lo. O arranjo
em biofilmes uma das formas mais comuns em que microrganismos so
observados na natureza. Os biofilmes podem ser definidos como uma populao
bacteriana aderida a um substrato orgnico ou inorgnico, envolvida por produtos
extracelulares, os quais formam uma matriz intermicrobiana. Os biofilmes podem ser
compostos por uma nica espcie ou por vrias espcies microbianas.
Frequentemente, bactrias esto tendo que se adaptar s condies ambientais
para sobreviver. Os microrganismos que compem um biofilme apresentam elevada
resistncia aos efeitos de agentes antimicrobianos e aos mecanismos de defesa do
hospedeiro. O estado em gel e a estrutura da matriz polissacardica limitam o acesso
de molculas de defesa, clulas fagocitrias e agentes antimicrobianos. Os biofilmes
so suficientemente grandes para escapar da fagocitose. Clulas bacterianas
individuais que se destacam do biofilme so imediatamente combatidas pelas
clulas e molculas de defesas concentradas no tecido adjacente, o que impede a
disseminao do processo infeccioso. Desta forma, uma relao de equilbrio
estabelecida, ficando a infeco confinada aos tecidos perirradiculares.
26
Microrganismos de um biofilme apresentam elevada resistncia a antibiticos,
mesmo aps exposio a concentraes mais elevadas da droga. O extravasamento
proposital de uma pasta contendo hidrxido de clcio para os tecidos
perirradiculares muito provavelmente no eliminara o biofilme. A atividade
antibacteriana dessa substncia extremamente dependente do seu pH alcalino.
Quando extravasada a pasta entra em contato com fluidos teciduais que contm
sistemas e molculas com capacidade tampo, que impedem a elevao
significativa da concentrao de ons OH-. A concentrao final alcanada no
suficiente para eliminar tais microrganismos. O profissional deve estar ciente de que
a nica modalidade de tratamento eficaz disponvel na atualidade, para eliminar o
biofilme perirradicular a cirurgia parendodntica. Todavia, como a infeco
perirradicular apenas diagnosticada aps a remoo do espcime, antes de optar
pela cirurgia o profissional deve buscar outras provveis causas do insucesso
endodntico, as quais podem ser passveis de soluo pelo tratamento endodntico.
Ferlini Filho e Garcia (1999) realizaram estudo morfolgico das reabsores
radiculares utilizando 72 dentes humanos extrados portadores de periodontite apical
crnica, procurando relacionar sua identificao microscpica com a presena ou
no do fenmeno na radiografia inicial de diagnstico. Numa primeira etapa,
procederam anlise das radiografias correspondentes as 72 amostras, para, num
segundo momento, submet-las a anlise microscopia tica. Numa terceira fase,
confrontaram os achados radiogrficos e microscpicos da amostragem, observando
os aspectos ocorridos nas duas anlises ou em uma s delas. Os resultados da
anlise radiogrfica mostraram que 63,88% das amostras no permitiram identificar
reabsoro radicular, por isso foram includas na categoria reabsoro radicular no
observvel. O restante da amostragem, 36,11%, permitiu ver, na radiografia,
alguma forma de reabsoro, denominada reabsoro radicular observvel. Na
anlise microscpica, 5,55% das razes mantiveram contorno radicular ntegro,
sendo includas na categoria de reabsoro radicular ausente. Cerca de 95%
mostraram algum tipo de reabsoro, sendo includas no grupo com reabsoro
radicular presente. Considerando a metodologia empregada, concluiu-se que
dentes portadores de processos apicais crnicos apresentam frequentemente
alguma forma de reabsoro radicular e que as tcnicas radiogrficas convencionais
27
no so recursos eficientes para o diagnstico de reabsores radiculares em
estgios iniciais.
No intuito de trazer mais esclarecimentos sobre os motivos da persistncia de
radiolucncia aps o tratamento endodntico em casos bem tratados, Nair et al.
(1999), por meio de microscopia eletrnica de transmisso e microscopia tica,
estudaram seis casos que demonstraram o fracasso da reparao ssea aps o
tratamento endodntico. Aps a constatao de persistncia de reas radiolcidas,
foram obtidas as bipsias de dois dentes que haviam sido tratados
endodonticamente em sesso nica, e de quatro casos de retratamento. Fez-se o
tratamento cirrgico periapical de todos os casos cujas leses no sofreram
alterao ou tinham seu tamanho aumentado, e o acompanhamento clnico e
radiogrfico anual desses casos foi realizado por um perodo de cinco anos. Os
resultados revelaram que, dos casos tratados endodonticamente em sesso nica,
um era cisto periapical, que se mostrou em processo de reparao durante o
acompanhamento; o outro era um abscesso, com a presena das bactrias
Actinomyces odontolyticus, Propionibacterium acnes, Streptococcus, e
Campylobacter species no canal completamente reparado aps cinco anos. Os
casos de retratamento exibiram na microscopia cisto periapical (um caso) tecido
cicatricial do pice (um caso), e granuloma (dois casos). Depois que foram
realizadas as cirurgias periapicais, todos os casos de retratamento fracassado
exibiram reparo radiograficamente. Segundo os autores, as evidncias apresentadas
demonstram que a infeco persistente no canal radicular apical e uma condio
cstica da leso periapical podem ter sido os fatores etiolgicos responsveis pelo
fracasso dos tratamentos. Os fatores situados dentro do canal, como, por exemplo, a
infeco bacteriana, pode ser afetada pelo retratamento convencional, porm, os
fatores externos ao canal tais como cistos, infeco extrarradicular, corpos
estranhos, e cristais de colesterol so solucionados de um modo mais eficaz com o
tratamento cirrgico periapical.
Sauaia, Pinheiro e Imura (2000) realizaram reviso de literatura para discutir a
etiologia, diagnstico, classificao e tratamento dos cistos perirradiculares, alm de
apresentar um caso clnico. As alteraes perirradiculares crnicas so classificadas
em granulomas e cistos, e seu diagnstico s possvel atravs da anlise
microscpica. Nos casos de cistos apicais verdadeiros, que tm cavidades
28
completamente fechadas, revestidas por epitlio e separadas do pice dentrio pela
interposio de reas granulomatosas ou conjuntivas da parede fibrosa,
improvvel que ocorra reparo somente com o tratamento endodntico, havendo
necessidade da complementao cirrgica. Os cistos em baa, que apresentam
cavidades com revestimentos epiteliais que se abrem ou continuam com os canais
radiculares, colocando-os em contato com o contedo cstico, podem regredir mais
facilmente aps o tratamento endodntico convencional, mesmo sendo extenso, por
apresentarem uma comunicao com o sistema de canais radiculares. O granuloma
e o cisto so entidades patolgicas apicais de origem crnica que provocam lises
sseas. Alm disso, suas imagens so conflitantes. Clinicamente, os sinais e
sintomas geralmente esto ausentes ou so semelhantes. A terapia endodntica
convencional tem sido eleita como tratamento de primeira escolha dos dentes com
leses periapicais sugestivas de cistos. Se na proservao houver ausncia de
reparo clinico-radiogrfico, h necessidade da complementao cirrgica.
Haapasalo et al. (2000) estudaram a inativao pela dentina da atividade
antibacteriana de quatro medicamentos comumente usados no interior dos canais
radiculares. Os medicamentos testados foram soluo saturada de hidrxido de
clcio, hipoclorito de sdio a 1%, acetato de clorexidina a 0,5% e a 0,05%, e iodeto
de potssio de 2 a 4% e 0,2 a 0,4%. Foi utilizado p de dentina estril com uma
granulometria de 0,2 a 20 micrometros, incubada com o medicamento e selada em
tubos de ensaio a 37C por 24h ou 1h antes da adio das bactrias. Em alguns
experimentos, as bactrias foram adicionadas simultaneamente com o p de dentina
e o medicamento. Enterococcus faecalis foi o microrganismo utilizado no
experimento. Amostras da cultura bacteriana foram tomadas a partir de 5 minutos,
1h e 24h aps a adio das bactrias. A dentina em p teve um efeito inibitrio
sobre todos os medicamentos testados. O efeito foi dependente da concentrao do
medicamento, bem como do tempo em que o medicamento foi manipulado com
dentina em p antes da adio das bactrias. Em controle experimental sem a
dentina em p presente, todos os medicamentos eliminaram efetivamente o
Enterococcus faecalis. O efeito do hidrxido de clcio sobre Enterococcus faecalis
foi totalmente abolido pela presena de dentina em p. As diluies de iodeto de
potssio tambm perderam o seu efeito durante a pr-incubao de pelo menos 1h
com dentina, antes da adio das bactrias. O efeito da clorexidina a 0,05% e do
29
hipoclorito de sdio a 1% sobre o Enterococcus faecalis foi reduzido, mas no
totalmente eliminado pela presena da dentina. No inibio dos medicamentos
pde ser observada quando solues concentradas de clorexidina e iodeto de
potssio foram utilizadas. Reduo da contagem bacteriana no foi detectada
quando gua estril foi utilizada, em vez de medicamentos. Os resultados do
presente estudo indicam que o modelo de dentina em p pode oferecer uma nova e
eficiente ferramenta para se estudarem as interaes entre medicamentos
endodnticos locais, dentina e microrganismos.
Noda et al. (2000), atravs do mtodo de pr-cultura, objetivaram investigar a
suscetibilidade dos antibiticos sobre as bactrias detectadas em casos de leses
endodnticas persistentes. Quinze pacientes foram selecionados para esse estudo.
As amostras de exsudato intracanal foram obtidas, processadas e inoculadas em
meios de cultura anaerbios e aerbios. As bactrias foram detectadas em todos os
quinze casos e os testes de suscetibilidade ao antibitico foram realizados para as
espcies de bactrias identificadas. Os canais radiculares produziram
individualmente de uma a quatro espcies. As espcies detectadas com mais
frequncia foram cocos facultativos Gram-positivos, tais como -Streptococcus (8
casos) e Enterococcus faecalis (8 casos). Os anaerbios obrigatrios detectados
foram Bacteroides, Fusobacterium, Peptostreptococcus e Propionibacterium. O
Enterococcus faecalis revelou maior resistncia cefalosporina e tendeu a ser mais
resistente aos produtos de penicilina do que outras espcies detectadas, enquanto
as bactrias Gram-negativas pareceram ser sensveis aos antibiticos utilizados no
estudo (penicilinas, cefalosporinas, aminoglicosdeos, tetraciclinas). Nos casos de
leses endodnticas persistentes, deve-se considerar a prescrio de antibiticos
especficos para se obterem informaes sobre as bactrias causadoras de
infeco, particularmente quando o resultado sugere o envolvimento de bactrias
como o Enterococcus faecalis, que apresenta alta resistncia a muitos antibiticos.
Vier, Figueiredo e Lima (2000) por meio da microscopia tica e eletrnica de
varredura, avaliaram trinta e um dentes extrados associados presena de um
tecido proliferativo compatvel com uma alterao patolgica periapical, com o
objetivo de comparar a presena e a extenso de reabsoro de cemento e dentina
em dentes portadores de diferentes patologias periapicais. Seces das leses
periapicais foram obtidas e coradas pela tcnica hematoxilina-eosina. As patologias
30
periapicais foram classificadas em tecido conjuntivo denso, granulomas e cistos
periapicais. As superfcies apicais dos dentes foram avaliadas por meio de MEV. A
reabsoro radicular apical externa foi classificada em diferentes graus, de acordo
com a presena e extenso da rea reabsorvida. Um total de 29,04% das amostras
de tecido resultou em tecido conjuntivo denso, que foi utilizado como controle
negativo para reabsoro. Dos casos remanescentes, 81,82% foram granulomas,
enquanto 18,18% foram cistos. Os pices dos dentes com granulomas e cistos
mostraram frequentemente, a presena de lacunas de reabsoro com aparncia de
favos de mel. Em alguns espcimes, a reabsoro encontrava-se generalizada ao
redor de todo o forame apical, enquanto, em outros, havia grupamentos de lacunas
de tamanhos variados, em stios especficos, separados por reas de cemento no
reabsorvido. Alguns espcimes de cistos e granulomas no mostraram nenhuma
reabsoro cementria. As reabsores encontradas em tecido conjuntivo denso e
granulomas no diferiram estatisticamente, apresentando uma distribuio de
frequncia similar. O cisto diferiu estatisticamente dos demais, apresentando valores
maiores de reabsoro. O granuloma abscedido foi estatisticamente superior ao
simples quanto presena e severidade de reabsoro apical externa. Parece haver
correlao entre o agudecimento de leses periapicais e a presena de reabsoro
apical externa.
Hancock III et al. (2001) realizaram estudo com o propsito de determinar a
composio da microbiota em dentes cujo tratamento endodntico tinha fracassado.
Foram selecionados para retratamento cinquenta e quatro dentes que apresentavam
periodontite apical notada radiograficamente, cujo ltimo tratamento fora executado
trs anos antes do incio do estudo. A anlise microbiolgica das amostras coletadas
revelou que as leses poderiam ter microrganismos isolados ou em conjunto (duas a
cinco espcies bacterianas). Em seis dos dez casos em que Enterococcus faecallis
foi isolado, ele era o nico microrganismo presente. Predominaram as bactrias
anaerbias Gram-positivas (80,4%), dentre as quais Enterococcus faecallis (18,5%),
Peptostreptococcus, Actinomyces e Streptococcus principalmente. Os autores
afirmaram que o nmero de espcies isoladas de um caso de retratamento
provavelmente dependente da qualidade do tratamento inicial e da obturao do
canal radicular. Os dados indicam que as bactrias Gram-positivas podem ser mais
importantes nos casos de periodontite apical persistente do que elas so em
31
infeces anteriores ao tratamento inicial. A predominncia de Enterococcus
faecallis parece ser devida assepsia inadequada, ao isolamento ruim ou
infiltrao coronal durante o tratamento inicial.
Ribeiro et al. (2001), com o objetivo de avaliar o comportamento clnico e os
aspectos radiogrficos do Mineral Trioxide Aggregate MTA (Dentsply) em
procedimentos cirrgicos parendodnticos, selecionaram treze dentes portadores de
leses periapicais crnicas refratrias ao tratamento endodntico convencional,
caracterizados por terem sido submetidos ao retratamento endodntico por
especialistas e proservados por perodo de tempo entre trs a quatorze anos, exceto
um caso em que os procedimentos cirrgicos parendodnticos foram realizados
imediatamente aps o retratamento endodntico. Todos os casos apresentaram
imagens radiogrficas sugestivas de persistncia de leso periapical. Os espcimes
foram submetidos apicetomia, com remoo de 2 a 3mm do pice radicular de
cada espcime, e retropreparados por meio de pontas ultrassnicas (Enac). Os
espaos provenientes do retropreparo, variando de 2 a 3mm de profundidade, foram
retrobturados com MTA e, ento, submetidos periodicamente anlise clnica e
radiogrfica. No final do perodo de um ano de proservao, puderam ser
observados sinais clnicos e radiogrficos de reparao tecidual em todos os
espcimes. Em funo dos resultados obtidos, o MTA parece apresentar-se vivel
como material retrobturador nos procedimentos cirrgicos relacionados com dentes
portadores de infeces periapicais persistentes ps-terapia endodntica.
Kalfas, Fidgor e Sundqvist (2001), baseados no conhecimento de que o insucesso
do tratamento endodntico pode ser o resultado de um cisto verdadeiro ou de uma
leso persistente mantida por bactrias no tecido periapical, tais como espcies de
Actinomyces e Propionibacterium propionicum, tiveram como objetivo, por meio de
anlise microbiolgica e da MEV de fragmentos apicais removidos cirurgicamente,
apresentar um relato de dois casos cujo tratamento endodntico foi malsucedido,
nos quais descobriram uma nova espcie de Actinomyces, a Actinomyces
radicidentis, relacionada s leses persistentes. Os autores coletaram amostras
bacteriolgicas e obtiveram uma informao comum a esses dois casos: a ausncia
de isolamento absoluto com lenol de borracha e de assepsia desse dispositivo
durante os tratamentos iniciais, bem como a falta de um selamento coronrio eficaz
entre as sesses. As amostras bacterianas foram coletadas, cultivadas, isoladas e
32
caracterizadas por testes de identificao. A MEV revelou que em relao aos dois
casos, por ser esta a primeira descrio da bactria Actinomyces radicidentis, no se
sabe se ela faz parte da microbiota inicial de canais infectados, nem se o habitat
natural da espcie identificada. Tambm incerto o seu modo de entrada nos
canais. No se sabe se j estava presente na infeco inicial do canal radicular, ou
se havia entrado durante a fase de tratamento, em que a assepsia era deficiente, de
modo que poderia ter-se utilizado de uma oportunidade para sobreviver quando
outros microrganismos foram removidos durante o tratamento endodntico. Certo
que a persistncia desse microrganismo implica que havia um nicho de infeco
intrarradicular ou extrarradicular. O que os autores descobriram foi que a A.
radicidentis foi eliminada de um modo eficaz pela soluo de hipoclorito de sdio a
0,5% e apresentou uma tolerncia relativamente alta soluo de hidrxido de
clcio. Mais estudos sero necessrios para esclarecer melhor a origem da A.
radicidentis nos casos de fracasso do tratamento endodntico.
Siqueira Jr. e Lopes (2001) desenvolveram trabalho, por meio da MEV, objetivando
examinar a presena de bactrias na superfcie radicular apical de dentes sem
tratamento endodntico associados a leses periapicais crnicas. Foram
empregados 27 dentes extrados com leses perirradiculares assintomticas. Todos
os dentes selecionados tinham extensas leses cariosas, leses radiolcidas de
tamanhos variados e aderidas aos pices aps a extrao. Nenhum dos dentes
tinha bolsa periodontal com mais de 3mm. Trs pices radiculares com leses
perirradiculares tinham reas com reabsoro lacunar. Numerosas cavidades de
reabsoro com bordas relativamente delimitadas foram observadas ocupando uma
extensa rea apical em uma amostra. Clulas bacterianas estavam presentes
prximos ao forame apical em alguns exemplares. Morfologicamente, elas
constavam de cocos e bacilos; microrganismos filamentosos foram escassos. Os
autores encontraram infeco extrarradicular em apenas uma amostra (4% dos
casos). Essa infeco foi caracterizada por um denso agregado bacteriano,
localizado ligeiramente alm do forame apical e aderido superfcie radicular,
predominado por bacilos. Cocos tambm foram visualizados coagregados com
filamentosos. Os resultados desse estudo sugerem que uma infeco extrarradicular
no uma ocorrncia comum em dentes sem tratamento endodntico.
33
Vier et al. (2001) realizaram um estudo cujo objetivo foi avaliar a anatomia interna de
dentes incisivos inferiores, com relao ao nmero de canais radiculares e forames
apicais. Utilizaram para isso cem incisivos centrais e laterais humanos extrados.
Aps a abertura coronria, os espcimes foram diafanizados. Apresentaram canal
radicular nico 62 (64,6%) dos dentes, desde a cmara pulpar at o pice. O
segundo tipo de anatomia mais prevalente, 23 dentes (24%), foi um canal dividindo-
se e unindo-se dentro da raiz, para ento se exteriorizar apicalmente. Apresentaram
um canal que se dividia em dois no pice radicular, oito dentes (8,3%), enquanto
dois dentes (2,1%) portavam dois canais que se uniam em apenas um forame
apical. Somente num caso, o canal principal se dividia e se unia e, novamente,
dividia-se antes do pice radicular. Concluiu-se que 64,6% dos incisivos inferiores
apresentaram apenas um canal principal ao longo de todo o canal radicular.
Exteriorizaram-se no pice radicular em apenas um canal principal 90,7% dos
espcimes, enquanto 9,3%, na forma de dois canais principais.
Furusawa e Asai (2002) desenvolveram um trabalho pela MEV, objetivando observar
o forame apical de dentes com periodontite apical crnica. Foram examinados 25
dentes com reas periapicais radiolcidas visveis radiograficamente. Todas as
apicetomias foram realizadas com o auxlio de um microscpio cirrgico. Os pices
radiculares foram cuidadosamente cortados a um comprimento de 3mm. Os pices
foram processados e examinados por meio de um microscpio eletrnico de
varredura. Observou-se que os dimetros das foraminas apicais variaram de 1,5 a
26m, contudo, o eixo principal dos forames apicais foi maior que 350m em 80%
dos casos. Alm disso, 64% dos casos exibiram um canal acessrio. Nesse estudo,
a reabsoro irregular e as extremidades agudas foram observadas ao redor do
pice radicular nos casos em que o eixo principal dos forames apicais foi maior que
350m. A reabsoro foi mais provavelmente atribuvel sobreinstrumentao no
tratamento do canal radicular, o que acarreta ainda mais eroso com expanso da
leso. Isso sugere que um forame apical com um eixo principal maior que 350m
(devido reabsoro patolgica ou manipulao do forame apical com um
instrumento maior que o de nmero 35) pode gerar leses periapicais persistentes
terapia endodntica convencional, as quais requerem tratamento endodntico
cirrgico complementar. A estrutura anatmica complexa do pice radicular parece
provavelmente contribuir, em algum grau para o prolongamento da leso. O
34
conhecimento de anatomia do canal radicular e da rea apical, em particular, e a
capacidade de determinar o comprimento do canal radicular precisamente podem
representar fatores importantes no prognstico da terapia endodntica.
Siqueira Jr. (2002), por meio de reviso de literatura, avaliou os conceitos, os
paradigmas e as perspectivas envolvidos nas infeces endodnticas. No que
concerne s infeces persistentes, cujos microrganismos causadores provm de
infeco primria ou de uma infeco secundria, verificaram que fatores ambientais
operam no sistema de canais radiculares durante e depois do tratamento e podem
selecionar determinados microrganismos que vo sobreviver em condies
adversas, portanto, poderiam estar envolvidos no fracasso do tratamento
endodntico. A microbiota associada s infeces secundrias persistentes
geralmente composta de espcies isoladas, ou, pelo menos, em menor nmero de
espcies se comparada s associadas s infeces primrias. As bactrias
predominantes so as Gram-positivas, podendo tambm ser encontrados fungos em
maior quantidade que os achados nas infeces primrias. A anlise da
susceptibilidade do hospedeiro infeco e dos fracassos endodnticos mostra que,
alm dos fatores genticos dos microrganismos, alguns fatores do hospedeiro
estariam envolvidos na patognese das infeces periapicais e na susceptibilidade a
essas leses. Como exemplos, foram citados: a susceptibilidade gentica infeco
operando no sistema imunolgico, as deficincias na resposta imune, as deficincias
nutricionais graves que interferem no sistema imunolgico, fatores hormonais, o
estresse, a infeco por vrus HIV, o uso de drogas imunossupressoras e doenas
debilitantes, como o diabetes e o cncer. Esses fatores ainda no foram discutidos
plenamente, havendo necessidade de mais estudos para responder questo sobre
maior susceptibilidade ao fracasso endodntico em pacientes com resistncia
prejudicada.
Noiri et al. (2002) objetivaram avaliar morfologicamente, por meio da MEV, a
participao de biofilme extrarradicular nas periodontites apicais persistentes. Para
isso, utilizaram cinco pontas de guta-percha que ultrapassaram o limite radicular
apical, removidas durante o retratamento endodntico para a leso periapical
crnica, e seis dentes extrados devido patologia periapical refratria. Em todos os
casos, o tratamento endodntico tinha sido realizado previamente e existia
radiolucncia periapical. No momento da amostragem, fstulas foram vistas em cinco
35
casos. Aps o preparo das amostras, a observao em MEV revelou presena de
biofilmes extrarradiculares em nove das onze amostras examinadas. A reabsoro
externa evidenciou-se em duas das seis amostras. Nas paredes internas do forame
apical dos canais radiculares, foram observadas bactrias fusiformes e filamentosas.
Bastonetes longos e filamentos formaram predominantemente os biofilmes
bacterianos sobre a superfcie radicular periapical. Em ambas as espcies, dentes
extrados e guta-percha, estruturas similares ao biofilme foram vistas sobre
estruturas extrarradiculares dentro do corpo da leso. Nos casos de periodontite
periapical refratria, as bactrias no canal infectado poderiam invadir as reas
extrarradiculares e formar um biofilme sobre a superfcie radicular periapical. Os
resultados desse estudo, em que os biofilmes bacterianos foram detectados na rea
extrarradicular, constituem evidncia circunstancial da presena de bactrias dentro
das leses.
Leonardo et al. (2002) avaliaram ao microscpio eletrnico de varredura a presena
do biofilme bacteriano sobre a superfcie externa do pice radicular em dentes
portadores de necrose pulpar, com e sem leses periapicais visveis
radiograficamente, e em dentes portadores de polpa vital. Foram extrados 21
dentes, dos quais oito com necrose pulpar e leses periapicais, oito com necrose
pulpar sem leses periapicais visveis radiograficamente e cinco com polpa vital. As
razes foram seccionadas e os pices radiculares com aproximadamente 3mm foram
preparados para a avaliao em MEV. Nos dentes com polpa vital e naqueles com
necrose pulpar sem leso periapical visvel radiograficamente, no existia cemento
radicular apical exposto e as superfcies de cemento estavam cobertas com fibras e
clulas. Contudo, em dentes com necrose pulpar e leso periapical crnica, reas de
reabsoro de cemento radicular eram profundas e envolviam todo o pice radicular,
apresentavam uma grande quantidade de microrganismos nas reas de reabsoro
de cemento e adjacente ao forame apical, ou sozinhos (cocos, bacilos e
filamentosos) ou em associao. O biofilme apical estava presente em todos os
espcimes. O biofilme apical clinicamente importante porque inerentemente
resistente aos agentes antimicrobianos, no pode ser removido pelo preparo
biomecnico isoladamente e pode provocar como consequncia de infeco
persistente, o fracasso do tratamento endodntico.
36
Vier e Figueiredo (2002) objetivaram determinar a prevalncia de vrias patologias
periapicais e a sua associao com a presena e extenso da reabsoro apical
inflamatria externa em dentes humanos. Examinaram para isso 104 pices
radiculares extrados de dentes portadores de leses periapicais. As leses de
tecidos moles periapicais foram removidas, e cortes semisseriados foram realizados
e corados com hematoxilina-eosina para anlise por meio da microscopia tica, com
vistas classificao das leses. Essas leses foram ento classificadas como no
csticas ou csticas. Os pices radiculares foram analisados por MEV, e as
reabsores radiculares externas, bem como a extenso da rea reabsorvida, foram
classificadas, de acordo com a localizao, como periforaminais ou foraminais.
Cistos representaram 24,5% das amostras; a maior parte das leses periapicais
(84,3%) apresentou inflamao aguda e foi classificada como cstica ou no cstica.
O diagnstico mais prevalente foi abscesso periapical no cstico, com diferentes
graus de severidade (63,7%). Granuloma periapical no foi um achado frequente. A
anlise ao microscpio eletrnico de varredura revelou que a reabsoro
periforaminal esteve presente em 87,3% dos casos, e a reabsoro foraminal, em
83,2%. Aproximadamente 42% dos pices radiculares apresentavam extensas
reabsores periforaminais superiores a 50% de sua circunferncia. As reabsores
foraminais representavam 28,7%, afetando mais de 50% de sua periferia. Apenas
8,9% das amostras no apresentaram reabsores foraminais ou periforaminais.
Concluiram os autores que as reabsores periforaminais e foraminais foram
achados independentes, no havendo associao entre as reabsores radiculares
externas e a natureza das leses periapicais.
Chves de Paz et al. (2003), com o objetivo de determinar se h um padro para
certas bactrias permanecerem aps o tratamento qumico-mecnico de canais
radiculares em dentes com periodontite apical, estudou atravs de anlise
microbiolgica amostras de canais radiculares de duzentos dentes tratados
endodonticamente em 196 pacientes. As amostras foram coletadas durante dez
meses. Para ser includa no estudo, cada amostra tinha que apresentar evidncia
clnica e/ou radiogrfica de periodontite apical e tratamento endodntico j iniciado
em uma, duas ou mais sesses anteriores amostragem. Aps os procedimentos
de coleta de amostras dos canais radiculares, foram elas distribudas em duas
placas de gar Brucella. Uma placa foi utilizada para a incubao aerbica e a outra,
37
para a incubao anaerbica. As espcies isoladas eram identificadas e
classificadas pela tcnica de Gram. O material das amostras foi distribudo em dois
grupos: o das bactrias presentes e o de nenhum crescimento. Os resultados
bacteriolgicos foram ligados aos parmetros clnicos e radiogrficos, incluindo o
estado do canal radicular antes do tratamento, a saber, polpa vital, polpa necrtica
ou raiz obturada. Ao todo, foram isoladas 248 cepas de 107 dentes que
apresentaram crescimento bacteriano e de 93 que no apresentaram nenhum
crescimento. Das isoladas nos dentes com um diagnstico inicial de necrose pulpar,
os anaerbios Gram-negativos situavam-se abaixo de 20% do total de isoladas
recuperadas. Os resultados sugerem que os procedimentos de tratamento
realizados, especialmente em dentes com polpas necrticas, foram mais efetivos
contra bactrias Gram-negativas que contra as Gram-positivas. Por isso, parecem
fornecer sustentao para a hiptese de que os procedimentos endodnticos podem
selecionar os organismos mais resistentes, enquanto os anaerbios Gram-negativos
so mais facilmente eliminados. Os microrganismos Gram-positivos predominaram
(85%): Lactobacillus spp. (22%), Estreptococus do tipo no-mutans (18%) e
Enterococcus spp. (12%) foram os isolados mais comuns. Perante o exposto, o
autor concluiu que os Estreptococcus no-mutans, os Enterococos e os Lactobacilos
parecem usualmente sobreviver aps o tratamento endodntico em dentes com
sinais clnicos e radiogrficos de periodontite apical.
Fristad, Molven e Halse (2004) objetivaram em seu estudo determinar, mediante
anlise radiogrfica, se ocorriam reparos nos casos de retratamentos no cirrgicos,
em um perodo de acompanhamento de vinte a 27 anos. Cento e doze razes em
setenta indivduos, retratadas por alunos em uma clnica de ensino, puderam ser
avaliadas. As mesmas razes tinham sido estudadas dez anos antes e 68 delas
tambm foram acompanhadas por 3,5 anos. Vinte e oito razes retratadas foram
extradas no perodo de vinte a 27 anos. Os resultados radiogrficos das 112 razes
retratadas no cirurgicamente, avaliadas aps dez a dezessete anos e vinte a 27
anos, indicaram uma mudana no sentido de mais casos bem sucedidos quando o
perodo de observao foi ampliado. Sete razes inicialmente registradas com
espessamento do espao periodontal foram finalmente classificadas como cinco
casos bem-sucedidos e dois fracassados. Um caso, registrado a princpio como
bem-sucedido, agora se apresentou como um fracasso, muito provavelmente em
38
consequncia da infiltrao coronal. Nenhum caso mudou de incerto para fracasso
tardio. O sucesso radiogrfico foi percebido em 95,5% das razes retratadas
endodonticamente em um acompanhamento de vinte a 27 anos, relacionado aos
85,7% de sucesso obtido dez anos antes para os mesmos pacientes. O resultado
indica tratamentos favorveis tardios. Os autores concluiram que dentes tratados
endodonticamente assintomticos, com pequenas radioluscncias periapicais, em
particular aqueles com excesso de obturao, geralmente no devem ser
classificados como fracasso. Os longos perodos de observao e os resultados
obtidos nesse estudo indicam que muitas dessas leses vo estar reparadas aps
um longo perodo.
Salonski et al. (2004) tiveram como propsito no estudo que realizaram avaliar visual
e radiograficamente a posio do forame e a mensurao quando este no se
posicionasse no pice. Foram utilizados cem caninos superiores unirradiculares
extrados. Aps a realizao do acesso endodntico, os dentes foram explorados
com uma lima tipo K, de nmero 10, at sua observao no forame. Em seguida, os
dentes foram radiografados e realizaram-se as medidas com um paqumetro digital
tanto nos dentes como nas radiografias. Os resultados mostraram que 58% dos
dentes apresentaram razes curvas: em 22% a curva era por vestibular. Na anlise
radiogrfica, verificou-se que em 64% o forame se localizava no pice; j
visualmente, apenas 44% encontravam-se no pice. Com relao distncia visual
versus radiogrfica, constatou-se que em 43% dos casos havia correspondncia
entre elas. Concluiu-se com o presente estudo, que a visualizao radiogrfica do
forame no pice nem sempre condiz com a realidade, devendo-se levar em
considerao o conhecimento anatmico durante o tratamento endodntico.
Adib et al. (2004), com o propsito de identificar a microbiota cultivvel nos dentes
obturados com leses periapicais persistentes e localizar sua distribuio dentro do
canal radicular, coletaram oito dentes com razes obturadas recm-extrados de sete
pacientes adultos. Os critrios de seleo da amostra foram: tratamento endodntico
completo h mais de quatro anos (ou evidncia clara de fracasso do tratamento, se
no tivessem decorridos quatro anos), evidncia clnica ou radiogrfica de
periodontite apical, ausncia de envolvimento periodontal e restaurao coronria
permanente com evidncia clnica de infiltrao marginal. Duas amostras foram
obtidas, uma da dentina e outra da restaurao ou da obturao de guta-percha.
39
Uma nica amostra radicular representativa foi tirada de cada rea da raiz ou da
superfcie dos molares. Ao todo, 252 espcies bacterianas foram isoladas de todos
os dentes. Dessas, prevaleceram as anaerbias facultativas Gram-positivas (75%),
com Estafilococos (19%), Estreptococos (17%), Enterococos (8%) e Actinomyces
species (8%), encontradas na maioria dos dentes. Das anaerbias obrigatrias
(17%), Peptoestreptococos (7%) tambm estavam presentes na maioria dos dentes
(7/8). Uma associao estatstica entre a microbiota e o stio ou superfcie dental
no pde ser mostrada. O grupo predominante de bactrias em dentes portadores
de razes obturadas com periodontite apical persistente e infiltrao coronal era de
anaerbias facultativas Gram-positivas, das quais os Estafilococos, seguidos por
Estreptococos e Enterococos, eram as mais prevalentes.
Alves (2004) desenvolveu um trabalho por meio de reviso de literatura, objetivando
pesquisar a importncia das bactrias nas patologias de origem endodntica. Nessa
reviso de literatura, relatou que, embora agentes fsicos e qumicos possam estar
envolvidos, fortes evidncias determinam o papel essencial dos microrganismos na
etiopatogenia das patologias pulpares e perirradiculares. Entre esses, somente as
bactrias esto comprovadamente relacionadas etiologia dessas doenas,
exercendo papel de extrema relevncia na induo e perpetuao de processos
inflamatrios na polpa e no peripice. Um grupo restrito de quinze a trinta espcies
em cerca de quinhentas que colonizam a cavidade bucal. mais prevalente nas
infeces endodnticas. Nas infeces primrias, foram encontradas
prevalentemente Fusobacterium, Streptococcus, Prevotella, Eubacterium,
Actinomyces, Campylobacter, Propionibacterium, Porphyromonas e
Peptostreptococcus. Nas infeces secundrias, foram encontradas principalmente,
Enterococcus, Klebsiella, Enterobacter, Pseudomonas, Acinetobacter, Escherichia e
Fungos. Nas infeces persistentes, destacaram-se os Actinomyces, Enterococcus,
Eubacterium, Propionibacterium e Fungos. A resposta inflamatria desencadeada
pelo hospedeiro no suficiente para promover a eliminao completa dos agentes
agressores e restabelecer a sade dos tecidos pulpares e perirradiculares.
necessria, ento, a interveno endodntica, a fim de promover a mxima reduo
de bactrias, favorecendo assim o reparo.
Vier e Figueiredo (2004) avaliaram, por meio da MEV, a presena e extenso da
reabsoro interna no tero apical em 75 pices radiculares de dentes com leses
40
periapicais, extrados e correlacionaram a presena e a extenso desse processo
com o diagnstico histolgico da leso periapical. Cortes semisseriais do tecido mole
das leses foram corados com hematoxilina-eosina. Ento, as leses foram
classificadas histologicamente como no csticas ou csticas. Os pices foram
reduzidos a 3mm de comprimento e cortados longitudinalmente, de modo que a rea
interna pde ser analisada ao microscpio eletrnico de varredura para visualizao
das reabsores radiculares internas. Seis dentes vitais extrados por motivos
ortodnticos foram utilizados como controle. Somente 25,3% das amostras estavam
livres de reabsoro apical interna. Ao todo, 74,7% das amostras tinham reabsoro
radicular apical interna. No grupo-controle, a reabsoro apical interna esteve
presente somente em um espcime. No existiu diferena estatstica entre o tipo de
leso periapical e a presena e o grau de reabsoro apical interna (P > 0.05). A
presena de reabsores na superfcie apical do canal radicular em dentes com
leses periapicais pode estar associada ao fracasso do tratamento endodntico
porque as bactrias, particularmente as anaerbias, permanecem nos espaos
criados pela reabsoro de dentina e no podem ser totalmente eliminadas.
aliskan (2004) avaliou clnica e radiograficamente o resultado, em longo prazo, do
tratamento endodntico no cirrgico, utilizando hidrxido de clcio como medicao
intracanal em dentes com extensas leses csticas periapicais. Foram includos no
estudo 42 dentes anteriores permanentes nos quais nenhum tratamento endodntico
anterior tinha sido realizado em razes com grandes leses radiolcidas. Todos os
dentes receberam preparo qumico cirrgico, tendo como irrigante hipoclorito de
sdio a 5,25% sob isolamento absoluto. As amostras dos fluidos das leses
continham cristais de colesterol, os quais foram identificados por meio de
microscopia tica. Pasta de hidrxido de clcio foi aplicada nos canais radiculares,
trocada duas vezes em intervalos de trs semanas e mantida por trs meses. Todos
os casos foram acompanhados por um perodo de dois a dez anos. O tratamento foi
classificado como bem-sucedido, reparo incompleto ou fracasso. O reparo total foi
observado em 73,8% dos casos e o parcial, em pouco mais de 9,5%. O fracasso foi
notado em 16,7%. O mecanismo exato pelo qual os cistos periapicais so reparados
no est claramente compreendido. O estudo sugere que o dimetro de uma leso
periapical no um fator determinante na deciso de realizar o tratamento
endodntico convencional ou a remoo cirrgica da leso. Os resultados favorveis
41
desse estudo de longa durao demonstram que o tratamento no cirrgico do canal
radicular em que se utiliza hidrxido de clcio em dentes com grandes leses
csticas periapicais contendo cristais de colesterol pode ser um tratamento
alternativo terapia cirrgica.
Ferreira et al. (2004), em relato de um caso, examinaram a superfcie de um pice
removido durante tratamento endodntico cirrgico para avaliar a presena de
microrganismos. O paciente apresentava-se com fstula persistente na regio do
segundo pr-molar superior direito, aps duas tentativas anteriores de tratamento
dos canais desse dente. Radiograficamente havia grande radioluscncia periapical.
O tratamento endodntico foi inadequado. O retratamento foi iniciado, e pasta de
hidrxido de clcio foi inserida nos canais e mantida por quinze dias com o dente
temporariamente selado. A medicao intracanal foi substituda mensalmente
durante treze meses. Nesse perodo, houve uma contnua drenagem atravs da
fstula e do canal palatino. Apesar de a fstula no ter cicatrizado, os canais foram
secos aps treze meses de medicao e obturados. A fstula continuou a drenar, e a
cirurgia parendodntica foi realizada. Uma amostra microbiolgica foi coletada por
meio de ponta de papel absorvente estril inserida na fstula. Uma segunda amostra
microbiana foi obtida por meio de esfregaos contra o pice radicular, durante a
cirurgia. A amostra da superfcie radicular externa no produziu crescimento
microbiano; a amostra da fstula produziu Propionibacterium acnes. O pice radicular
apresentou um forame palatino amplo e trs forames vestibulares menores.
Radiografias foram obtidas oito meses e dois anos aps a cirurgia, mostrando reparo
sseo promissor. Clinicamente, a fstula cicatrizou. Essa leso foi mantida pelas
combinaes microbianas nas lacunas de reabsoro extrarradicular, incluindo
fungos. A cirurgia apical pode ser o nico mtodo para a remoo definitiva de uma
infeco extrarradicular estabelecida (salvo a exodontia), para promover o reparo
nos casos persistentes terapia endodntica.
Gaetti-Jardim Jnior et al. (2004) objetivaram estudar, atravs de cultura
microbiolgica, a influncia do preparo biomecnico sobre a microbiota presente no
interior do sistema de canais radiculares de dentes com polpa necrtica. Espcimes
de 58 dentes foram coletados aps a abertura coronria e o preparo biomecnico. A
coleta dos espcimes clnicos foi realizada introduzindo-se limas endodnticas e
pontas de papel absorvente esterilizado no interior do canal radicular at atingir sua
42
poro mais apical. Aps a primeira coleta dos espcimes clnicos, realizou-se o
preparo biomecnico, empregando-se suspenso aquosa saturada de hidrxido de
clcio para irrigao. Os canais radiculares foram preenchidos com pasta de
hidrxido de clcio em propilenoglicol. Antes do preenchimento do sistema de canais
radiculares com hidrxido de clcio, uma nova coleta de espcimes clnicos foi
realizada para avaliar o efeito do preparo biomecnico e da irrigao sobre a
microbiota original do canal radicular. Os isolados foram identificados de acordo com
caractersticas morfocoloniais, morfocelulares e bioqumicofisiolgicas. Os
microrganismos isolados antes do preparo constituam-se de anaerbios obrigatrios
(71,74%), anaerbios facultativos (17,66%) e microaerfilos e capnoflicos (10,60%).
Aps o preparo biomecnico, ocorreu reduo significativa dos microrganismos
anaerbios obrigatrios. Culturas negativas foram obtidas de 24,13% dos sistemas
de canais radiculares. Concluiu-se que a microbiota associada aos sistemas de
canais de dentes com polpa necrtica apresentou predomnio de anaerbios
obrigatrios, e que esses anaerbios se mostraram mais sensveis aos
procedimentos empregados no preparo biomecnico.
Arajo (2005) avaliou, in vitro, a aderncia de Enterococcus faecalis na superfcie de
alguns cimentos de obturao utilizados em endodontia. Enterococcus faecalis
representa um dos principais microrganismos correlacionados com o insucesso dos
tratamentos endodnticos. Os cimentos utilizados para obturao dos canais
radiculares devem ter propriedades antimicrobianas, de modo a prevenir o
crescimento bacteriano na superfcie dos canais. Foram confeccionados dez corpos
de prova de cinco tipos de cimentos endodnticos (Sealer 26, N-Rickert, Sealapex,
Pulp Canal Sealer e AH Plus), em cuja superfcie foi observada a aderncia de
Enterococcus faecalis. Cada corpo de prova foi imerso em cultura do microrganismo
durante 24 horas e, a seguir, foram quantificadas mdias das unidades formadoras
de colnias de microrganismos aderidos aos corpos de prova de cada material
obturador. Os resultados foram submetidos anlise de varincia ANOVA, que
evidenciou haver diferena estatisticamente significante (p
43
Noguchi et al. (2005) objetivaram investigar a identificao e localizao de bactrias
nos biofilmes extrarradiculares humanos. As amostras foram obtidas em 27
pacientes portadores de dentes com leses periapicais refratrias ao tratamento
endodntico. Vinte amostras foram utilizadas para anlise microbiolgica pelo
mtodo Poliymerase Chain Reaction (PCR). Para os procedimentos histopatolgicos
e imunohistoqumicos, foram selecionados cinco dentes extrados e dois pices
radiculares obtidos atravs de apicetomias. Alguns dos cortes histolgicos foram
corados pelo mtodo de Brown e Brenn, enquanto outros foram submetidos
fosfatase alcalina e observados atravs de microscopia ptica. Pela identificao de
bactrias do biofilme extrarradicular, DNA bacteriano foi encontrado em quatorze
das vinte amostras analisadas. Identificaram-se 113 gneros e espcies bacterianas.
Bactrias Gram-negativas foram predominantemente observadas nos biofilmes. Em
todas as amostras analisadas, detectaram-se microrganismos obstruindo a
passagem dos canais radiculares para o pice radicular. As espcies bacterianas
detectadas a partir do biofilme extrarradicular tambm foram detectadas no canal
radicular dos mesmos dentes em 86,7% dos casos. Esses resultados sugerem
fortemente que bactrias que habitam no s o canal radicular, mas tambm a rea
extrarradicular apical so uma das causas das periodontites apicais refratrias. As
correlaes entre essas bactrias detectadas e os sintomas clnicos permanecem
indeterminadas. Na prtica odontolgica, necessrio o desenvolvimento de novos
mtodos de diagnstico e tratamento para os biofilmes extrarradiculares, uma vez
que estes so difceis de eliminar pela terapia endodntica rotineira, e assim sua
presena incentiva e sustenta infeces locais.
Silveira, Danesi e Baischc (2005) estudaram a anatomia interna da raiz mesial de
molares inferiores e verificaram as variaes anatmicas do canal radicular. Para
tanto avaliaram in vitro 93 espcimes, utilizando na pesquisa a descalcificao e a
diafanizao associada injeo de tinta nanquim no interior da cavidade pulpar.
Essa tcnica favorece a deteco de detalhes anatmicos com mais acuidade que
outras tcnicas, pois confere transparncia aos dentes estudados, alm de preservar
a sua forma anatmica original e permitir uma viso tridimensional do elemento
dentrio. As razes foram avaliadas atravs de um negatoscpio e de uma lente de
aumento de 10X, tanto no sentido proximal quanto no sentido vestbulo-lingual, e
analisadas com relao distribuio e frequncia do nmero de canais principais.
44
Nesse procedimento, observou-se a predominncia de dois canais independentes
com dois forames. Tambm se avaliou a distribuio e frequncia dos tipos de
ramificaes independentes e dependentes do tero em que se encontram,
constatando-se a predominncia de canais secundrios e intercanais. Atravs desse
estudo foi possvel mostrar que existem cavidades e comunicaes entre os canais
mesiais, impossveis de serem observadas com o auxlio de outros mtodos,
caractersticas anatmicas estas que podem comprometer o sucesso de um
tratamento endodntico.
Fabri (2005) verificou a incidncia de cisto periodontal apical em 107 dentes
portadores de leses periapicais persistentes ps-terapia endodntica convencional
em pacientes de faixa etria entre 18 a 60 anos, cuja anamnese no apontava
comprometimentos sistmicos. As leses periapicais persistentes foram removidas
por meio de cirurgia parendodntica (apicectomia seguida de retropreparo com
pontas ultrassnicas e retrobturao com MTA), armazenadas em formol a 10% e
encaminhadas para o Servio de Anatomia Patolgica da FOB-USP e da UFES para
anlise microscpica, pela tcnica de cortes semisseriados. As periapicopatias foram
estudadas mediante exame histopatolgico das leses periapicais persistentes.
Constatou-se nesta pesquisa maior incidncia de cistos (44,8%), seguida pelos
granulomas (40,3%) e outras patologias (14,9%). Concluiu que houve maior
incidncia de cistos periodontais apicais do que de granulomas apicais, quando
foram observadas histopatologicamente leses periapicais persistentes ps-terapia
endodntica.
Eleftheriads e Lambrianidis (2005) em uma clnica odontolgica de graduao
desenvolveram um trabalho com o objetivo de avaliar a qualidade tcnica de
tratamento do canal radicular e deteco de erros iatrognicos. Pelas radiografias
presentes nas fichas clnicas, observaram que trezentos e quarenta e trs dos 620
canais avaliados (55,3%) apresentavam obturaes aceitveis. A frequncia de
canais com obturaes aceitveis foi significantemente maior em dentes anteriores
(72,1%) quando comparados com pr-molares (55,2%) ou com molares (46,7%).
Cento e cinquenta e quatro (24,8%) dos canais apresentavam desvio apical interno e
17 (2,7%), perfuraes radiculares. A frequncia de canais com desvio apical interno
foi significativamente maior em molares que nos dentes anteriores. Nestes molares,
105 dos 270 canais radiculares (38,9%) apresentavam desvio apical. A curvatura do
45
canal foi o fator mais importante associado aos desvios e s perfuraes radiculares.
Os autores assinalaram que a tcnica Step-back pode ter sido responsvel pelo alto
ndice de desvios, devido impactao de raspas de dentina no peripice. As
perfuraes esto associad