anÁlise mecanicista de estruturas de pavimentos · básicos para a determinação de materiais...
TRANSCRIPT
ANÁLISE MECANICISTA DE
ESTRUTURAS DE PAVIMENTOS
Universidade do Estado de Santa Catarina
Pós-Graduação em Engenharia Civil – Mestrado Acadêmico
Profa. Adriana Goulart dos Santos
NECESSIDADE DA ANÁLISE ESTRUTURAL
DE PAVIMENTOS
Os critérios de dimensionamento fundamentados no
método do CBR e na perda de serventia não consideram
o fato de camadas de revestimentos asfálticos e de
bases e sub-bases, asfálticas ou cimentadas,
trabalharem a flexão e ficarem assim sujeitas a esforços
de tração na flexão
FADIGA
Do ponto de vista puramente de resistência de materiais,
elementos da estrutura sujeitos a esforços de quaisquer
natureza devem ser verificados quanto à sua capacidade
de resistir a tais esforços
Contemplar os critérios de resistência à ruptura e de
resistência à fadiga para camadas asfálticas e tratadas
com cimento === foco de várias pesquisas, em especial
entre 1983 a 1993
Os avanços futuros vão se concentrar na questão da
progressiva deformação plástica dos materiais
Um ferramental básico para a análise mais completa das
estruturas de pavimentos é a:
Teoria de Sistemas de Camadas Elásticas
(TSCE)===que permite a determinação de estados de
deformações e tensões em vários pontos das camadas
do pavimento
Teoria de Sistemas de Camadas Elásticas
(TSCE)
Conhecidos os estados de deformações e tensões em
vários pontos das camadas do pavimento
Modelos de degradação por fadiga ou por deformação
plástica dos materiais de pavimentação
Podem ser relacionados
Nesta parte do curso vamos nos pautar pelo
encaminhamento das análises estruturais, que são
denominadas análises mecanicistas
Atendimento de critérios de fadiga, ainda que não
normativos
Para isso é necessário fixar algumas ideias básicas,
pois mesmo esses critérios possuem limitações
bastante visíveis
Devem-se considerar os seguinte questionamentos
para uma análise mecanicista consistente:
Visando o:
Respondidas as questões sugeridas, ter-se-ia melhor
consciência nos processos de análise estrutural, com
escolhas de programas de computador adequados, bem
como na especificação a priori de materiais cujo
comportamento à fissuração seja algo mais real
Em obras urbanas e rurais, que demandam
investimentos pesados, nada melhor que estudos
básicos para a determinação de materiais passíveis de
emprego e um programa consistente
É necessário o apoio de laboratório especializado, na
análise de fadiga e de plastificação dos materiais
Para uma análise geral de comportamento estrutural de
pavimentos asfálticos flexíveis, foi escolhida a seguinte
estrutura:
RESPOSTAS ESTRUTURAIS DE UM PAVIMENTO COM
BASE EM SIMULAÇÕES FEITAS EM PROGRAMAS DE
TSCE:
BACIA DE DEFLEXÃO – MEDIÇÃO DO
DESLOCAMENTO ELÁSTICO EM VÁRIOS PONTOS A
PARTIR DA CARGA
Fonte: Bernucci et al, 2007
As simulações foram realizadas com variações de espessuras de
camadas e módulos de resiliência típicos de materiais de pavimentação
empregados em obras rodoviárias e urbanas nacionais
RESPOSTAS ESTRUTURAIS DE UM PAVIMENTO COM
BASE EM SIMULAÇÕES FEITAS EM PROGRAMAS DE
TSCE:
Fonte: Balbo, 2007 Revestimento em CAUQ convencional = 3.500 MPa
CAMP = 2.000 MPa
CAUQ de alto módulo = 6.000 MPa
Resultados de análises de pavimentos asfálticos
flexíveis com a TSCE:
Fonte: Balbo, 2007
As análises foram realizadas para se obterem respostas estruturais em linha vertical
que passa pelo centro geométrico de um dos pares de roda do eixo
Contribuição percentual na deflexão total de cada uma das
camadas de pavimentos (%):
Fonte: Balbo, 2007
As contribuições das camadas de base e de subleito são calculadas,
respectivamente, pelas expressões:
As deflexões totais em pavimentos asfálticos flexíveis mantiveram-se na faixa
entre 50 a 80 centésimos de milímetros===padrão comum em rodovias
brasileiras
Os revestimentos asfálticos (elementos mais rígidos) praticamente não
sofreram deformações específicas verticais em suas camadas===contribuição
para a deflexão total quase inexistente
Os subleitos (elementos mais deformáveis elasticamente) respondem pela
maior parcela de contribuição para a formação de deflexões totais===variando
entre 60% e 85%
Nos casos 6 e 7, a menor contribuição do subleito ocorreu pelo aumento do
seu MR=== o que torna a estrutura menos deformável
O aumento do MR de base, como nos casos 8 e 9, gerou uma melhor
distribuição de pressões sobre o subleito (menores valores de
σv)===garantindo níveis de deformações menores do subleito
Quanto menos deformável for a base, mais esta passa a contribuir para a
mobilização das deformações (caso 8 e 9). A base é mais exigida nesse
quesito quando apoiada sobre subleitos menos resilientes (menos
deformáveis)
O aumento da espessura de revestimento alivia as pressões sobre as bases
=== deformam menos, contribuindo menos para a deflexão total
Em contrapartida, os revestimentos apresentam aumento em sua contribuição
quando são mais espessos (casos 2 e 3)
O efeito dessa espessura é inverso no caso dos subleitos, pois, com as bases
contribuindo menos, as camadas de fundação arcam com o ônus (casos 2 e 3)
Forma das bacias de deflexões:
Observam-se alterações importantes nos valores de deflexões centrais nas bacias com o aumento da espessura do revestimento:
A redução na deformabilidade proporcionada pela espessura do revestimento reflete muito pouco a partir de distâncias de 0,30m da carga, que resulta em bacias semelhantes
Bacias de deflexão segundo as espessuras dos revestimentos:
Forma das bacias de deflexões:
A variação do MR do revestimento asfáltico é pouco significativa na influencia do módulo de elasticidade do revestimento no resultado das distribuições de esforços nas camadas inferiores
Para a diminuição da deformabilidade das estruturas, é mais importante a espessura do revestimento asfáltico que o próprio MR==causam reduções, porém de menores magnitudes
Bacias de deflexão segundo o MR do revestimento:
Forma das bacias de deflexões:
Quando o MR do subleito aumenta, as deflexões diminuem e tal decréscimo é sentido em toda a área de influência da carga
Os decréscimos são menos sensíveis à medida que os módulos aumentam
Bacias de deflexão segundo o MR do subleito:
Forma das bacias de deflexões:
A variação de 150mm para 300mm na espessura da base causa uma
pequena melhora na reposta do pavimento, com redução das deflexões
A forma geral das bacias não se altera com variações na espessura da
base granular=== as pressões sobre o subleito reduzem com o
aumento da espessura da base
Bacias de deflexão segundo a espessura da base:
Para se aplicar o cálculo de tensões e deformações para um
dimensionamento apropriado do reforço do pavimento, é necessário se
conhecer a rigidez de todas as camadas do pavimento e do subleito.
===Como a maioria dos pavimentos, em uso, foi dimensionado pelo
método do CBR (ou ISC), não se conhece a princípio essa
característica dos materiais em cada trecho.
Mesmo se conhecendo os valores dos módulos de resiliência da época do
projeto e construção, eles tendem a ser variáveis com o tempo e o uso e, em
alguns casos, pelo clima.
Noções de Retroanálise:
Método que permite inferir os módulos de elasticidade das camadas do pavimento e do subleito por interpretação das bacias de deformação – A retroanálise.
===Usa-se o termo módulo de elasticidade por ser nesse caso um parâmetro retrocalculado e não determinado em laboratório por meio do ensaio de carga repetida, como é o caso do módulo de resiliência.
Noções de Retroanálise:
Os valores de módulos de resiliência (MR) obtidos em laboratório refletem uma condição de preparação do material e de aplicações de carga, diferentes das condições normais observadas em pista
===MR medidos por meio de amostras recolhidas de pista poderiam, em certos casos, melhor expressar suas reais características e com maior precisão seus parâmetros elásticos
Exemplo: Caso de uma brita graduada compactada, em laboratório, por soquetes e aquele de uma mesma brita graduada compactada, em pista, por meio de rolos vibratórios, nas quais são presentes o confinamento e as tensões residuais de compactação
RETROANÁLISE DE MÓDULOS DE RESILIÊNCIA COM A
TSCE:
Para projetos de restauração de pavimentos, por exemplo, é difícil obter o MR que os materiais apresentam em pista
===Os materiais granulares sofreram degradação por erosão e bombeamento de finos
===Os materiais cimentados, quando menos resistentes, sofreram fissuração intensa por fadiga, originando um conjunto de blocos e peças que podem estar trabalhando de forma independente
Nestes casos torna-se equivocada a prática de se estimar o MR dos materiais em laboratório, mesmo com amostras retiradas de pista, já que tais amostras não refletem o comportamento conjunto de todas as peças que compõem uma camada
RETROANÁLISE DE MÓDULOS DE RESILIÊNCIA COM A
TSCE:
Recursos em que são testados, analiticamente, valores de
módulo de elasticidade das camadas do pavimento de
maneira que, também, analiticamente, as respostas das
deflexões simuladas se aproximem o máximo possível das
medidas de deflexões medidas em campo para uma
condição de carregamento conhecida
Balbo, 2007
RETROANÁLISE:
Como proceder em tal situação, se deseja-se empregar a TSCE para uma análise do pavimento existente para finalidades de verificação de esforços em camadas de reforço estrutural em CAUQ?
=== A maneira mais simples de avaliação da capacidade mecânica da estrutura de um pavimento, em função das cargas aplicadas, é a medida de deflexões por meio de instrumento adequado (viga de Benkelman ou FWD)
A deformação da superfície do pavimento sob a ação da carga do tráfego, a bacia de
deflexão, é determinada com uma simples prova de carga sobre o pavimento
existente com uma das duas técnicas de medidas de deflexão citadas
RETROANÁLISE DE MÓDULOS DE RESILIÊNCIA COM A
TSCE:
A carga atuante sobre o pavimento cria um campo de tensões ou
pressões na estrutura do pavimento
Nas proximidades do ponto de aplicação da carga, todas as
camadas, em todos os seus pontos, da superfície a um ponto limite
em profundidade no subleito, deforma-se e, portanto, deslocam-se
À medida que se afasta da carga, há inúmeros pontos na superfície
que se deslocam, porém praticamente não se deformam, dada a
distância da carga
RETROANÁLISE DE MÓDULOS DE RESILIÊNCIA COM A
TSCE:
Fonte: Balbo, 2007
Abaixo desses pontos mais superficiais que não se deformam
(embora se desloquem verticalmente) há pontos das camadas que
ainda se encontram sob o efeito do bulbo de pressões, do campo de
tensões impostos pela carga
Quanto mais se afasta da carga, há mais pontos, da superfície para o
fundo, que não se deformam, porém ainda se deslocam, pois há
camadas materiais e camadas se deslocando abaixo destes
A determinadas distâncias, existem condições nas quais o campo de
tensões não afeta a primeira camada===os deslocamentos verticais
(deflexões) na superfície são consequência apenas das deformações
sofridas pelas demais camadas do pavimento
Quanto mais se afasta, menos as camadas mais superiores contribuem
nas deflexões de superfície === não se deformam
RETROANÁLISE DE MÓDULOS DE RESILIÊNCIA COM A
TSCE:
A retroanálise consiste na representação teórica da bacia
de deflexões obtida em campo
Admitem-se conhecidas as espessuras das camadas do pavimento
em análise=== é bastante simples a determinação dessas alturas em
campo=== abertura de poços de inspeção
A abertura de poços de inspeção permite a verificação da existência
de contaminação em bases granulares
A avaliação de defeitos na superfície do pavimento permite detectar
a ocorrência de fadiga em revestimentos e em bases cimentadas
(fissuras de reflexão em blocos) === fundamental para uma pré-
determinação das faixas de módulos de elasticidade dessas
camadas em pista
Devem ser conhecidas a carga aplicada sobre rodas (eixo-padrão de
80 kN) e a pressão dos pneumáticos durante os testes
RETROANÁLISE DE MÓDULOS DE RESILIÊNCIA COM A
TSCE:
Obtidos todos os dados em campo === espessuras e condições de
camadas e deflexões para várias distâncias a partir do ponto de
aplicação da carga
O engenheiro precisa conseguir responder as seguintes questões a
fim de estimar as faixas de valores de Módulo de Elasticidade de cada
material das camadas do pavimento:
O revestimento asfáltico encontra-se íntegro ou fissurado?
A base está contaminada? E a sub-base? A base já sofreu fadiga?
Qual é o tipo de subleito, laterítico ou saprolítico?
Quanto ao programa para TSCE em uso, o engenheiro deverá ter
conhecimento prévio de seu funcionamento, bem como boa
sensibilidade quanto de como o programa responde às deflexões em
função das variações nos parâmetros elásticos
PROCESSO DE RETROANÁLISE MANUAL:
O avaliador impõe os valores de partidas para os módulos de
elasticidades das camadas, simulando o programa e analisando a
saída dos dados referentes às deflexões teóricas===para as mesmas
coordenadas de avaliação em pista
Compara os resultados teóricos com aqueles obtidos em campo
(deflexões)
Com base nessa comparação, em um processo de tentativa e erro,
por aproximação dos valores dos módulos, a análise permite que se
aproxime cada vez mais dos valores de deflexões obtidos em pista
O critério de parada das interações é definido pelo engenheiro que
realiza as análises===em geral não se tolerando mais de 10% de
variação entre cada deflexão para cada coordenada de medida
PROCESSO DE RETROANÁLISE MANUAL:
A sistemática de retroanálise se justifica por permitir:
• inferir os módulos de elasticidade “E” nas condições de campo;
• eliminar ou minimizar coleta de amostras;
• caracterizar com rapidez as camadas em termos de elasticidade;
• verificar a condição estrutural de cada camada e subleito.
As desvantagens de obtenção dos módulos de elasticidade por retroanálise são:
• a sensibilidade do cálculo dos valores dos módulos de elasticidade aos valores das bacias deflectométricas que possuem uma imprecisão inerente aos levantamentos de campo;
• a confiabilidade dos instrumentos e dos procedimentos operacionais de medição das deflexões deve ser continuamente verificada;
As desvantagens de obtenção dos módulos de elasticidade por retroanálise são:
os módulos de elasticidade retroanalisados não representam necessariamente os módulos reais dos materiais das camadas e sim “módulos equivalentes” (igualdade depende de diversos fatores, como por exemplo número de camadas, grau de trincamento, homogeneidade de material e regularidade de espessura);
• o conjunto de módulos retroanalisados não é único, depende do programa utilizado para obtê-los, das hipóteses simplificadoras, dos níveis de ajustes atingidos etc.
Tela do programa RETRAN2CL (Albernaz,1997) onde é possível
observar o ajuste entre a bacia medida e a calculada e os
módulos retroanalisados do pavimento e do subleito.
RETROANÁLISE – CASO DE UM PAVIMENTO
FLEXÍVEL RECÉM-CONSTRUÍDO:
RODOVIA DE BAIXO VOLUME DE TRÁFEGO:
REVESTIMENTO EM CAUQ = 40MM
BASE EM BGS = 150MM
SUBLEITO ARGILOSO NÃO LATERÍTICO (NG’)
===AS MEDIDAS DE CAMPO FORAM REALIZADAS
COM VIGA BENKELMAN E ESRD COM 80KN
RETROANÁLISE – DIFERENTES CONDIÇÕES DE BASES
CIMENTADAS COM BGTC EM RODOVIA:
VALORES DE DEFLEXÕES E MÓDULOS DE RESILIÊNCIA
RETROANÁLISADOS SÃO BASTANTES ÚTEIS PARA SE
DIFERENCIAREM PAVIMENTOS APARENTEMENTE IDÊNTICOS
EM UMA MESMA RODOVIA
RETROANÁLISE – DIFERENTES CONDIÇÕES DE BASES
CIMENTADAS COM BGTC EM RODOVIA:
PARA ESSA ANÁLISE, O PROBLEMA FOI TRATADO COMO UM
PAVIMENTO DE TRÊS CAMADAS:
REVESTIMENTO EM CAUQ = 170MM
BASE EM BGTC = 160MM
SUBLEITO EM SOLO RESIDUAL DE QUARTZITO
===A PARTIR DOS RESULTADOS É EVIDENTE QUE, NA FAIXA DA
DIREITA, POR ONDE TRAFEGAM AS CARGAS PESADAS, HÁ
COMPLETA ESTADO DE FALÊNCIA DA BGTC
NA FAIXA DA ESQUERDA, A BGTC APRESENTA MÓDULOS DE
ELASTICIDADE AINDA RAZOÁVEIS PARA UM MATERIAL
CIMENTADO
RETROANÁLISE – DIFERENTES CONDIÇÕES DE BASES
CIMENTADAS COM BGTC EM RODOVIA:
Na pista da direita, a camada de base apresenta características de
pavimento flexível e não de semirrígido convencional
A perda de rigidez implica maiores esforços no subleito
Com esses valores é possível avaliar a capacidade estrutural do pavimento e calcular a eventual espessura de reforço necessária para o trecho avaliado
A retroanálise não serve somente para avaliação estrutural e projeto de reforço, já tendo sido usada para o desenvolvimento de método de dimensionamento de pavimentos novos de vias de baixo volume de tráfego
Os dados da retroanálise podem contribuir para a elaboração de projetos mais confiáveis, para pavimentos mais duráveis, representando um ganho de tempo nos projetos e minimizando a coleta de amostras.
A retroanálise é o procedimento de projeto de reforço que mais evolui no momento no mundo.