análise geométrica e cinemática dos elementos litoestruturais das

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA GEO 064 TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO Asafe dos Santos Santana ANÁLISE GEOMÉTRICA E CINEMÁTICA DOS ELEMENTOS LITOESTRUTURAIS DAS FORMAÇÕES AÇURUÁ, TOMBADOR E CABOCLO NA REGIÃO NORTE DE LENÇÓIS CHAPADA DIAMANTINA - BAHIA SALVADOR 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA GEO 064 – TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

Asafe dos Santos Santana

ANÁLISE GEOMÉTRICA E CINEMÁTICA DOS ELEMENTOS LITOESTRUTURAIS DAS FORMAÇÕES

AÇURUÁ, TOMBADOR E CABOCLO NA REGIÃO NORTE DE LENÇÓIS – CHAPADA DIAMANTINA - BAHIA

SALVADOR 2011

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA GEO 064 – TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

Asafe dos Santos Santana

ANÁLISE GEOMÉTRICA E CINEMÁTICA DOS ELEMENTOS LITOESTRUTURAIS DAS FORMAÇÕES

AÇURUÁ, TOMBADOR E CABOCLO NA REGIÃO NORTE DE LENÇÓIS – CHAPADA DIAMANTINA - BAHIA

Monografia apresentada à disciplina TFG II (Trabalho final de graduação), como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia, orientado pelo professor Dr. Carlson de Matos Maia Leite.

SALVADOR 2011

TERMO DE APROVAÇÃO

ASAFE DOS SANTOS SANTANA

ANÁLISE GEOMÉTRICA E CINEMÁTICA DOS ELEMENTOS LITOESTRUTURAIS DAS FORMAÇÕES

AÇURUÁ, TOMBADOR E CABOCLO NA REGIÃO NORTE DE LENÇÓIS – CHAPADA DIAMANTINA – BAHIA

Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora: Prof. Dr. Carlson de Matos Maia Leite – Orientador Petrobrás/Instituto de Geociências – UFBA Prof. Dra. Simone Cerqueira P. Cruz Instituto de Geociências – UFBA Geólogo. Reginaldo Alves dos Santos CPRM

Salvador, 15 de Julho de 2011

i

AGRADECIMENTOS

Primordialmente gostaria de agradecer a Aquele que me deu o dom da vida, e me

guiou em todos os meus caminhos, ao meu maior mestre, eu dirijo toda a minha gratidão.

Deus, obrigado por tudo!

Dedico este trabalho aos meus pais Emídio Santana e Irene Santana e agradeço-os

pelo grande incentivo, o apoio moral, a boa educação, as orações e o apoio financeiro onde

que por muitas vezes abriram mão deles mesmos para investirem em mim, eles são a razão

disso tudo.

Agradeço também ao amor da minha vida, minha namorada Maisa por ter estado todo

esse tempo comigo me ajudando chegar aqui. Aos meus amigos e professores da faculdade

que foram de grande importância para um maior enriquecimento intelectual. Agradeço aos

professores Carlson Leite e Antônio Jorge Magalhães pelos ensinamentos, a ANP (Agência

Nacional do Petróleo) pelo apoio financeiro, ao parceiro Caio Mueller pelo companheirismo e

a grande ajuda no meu TFG, a Antonia, Danilo, Antonio Jorge, Paulo, Nelise, Gleice, Walter,

Pedro, aos que já são geólogos e todos os outros que são muitos, fica o meu muito

OBRIGADO.

ii

“As derrotas se tornarão adubos para a vitória e

as falhas irrigarão a

capacidade de aprender”.

Augusto Cury

iii

RESUMO

A região à norte de Lençóis localizada na Chapada Diamantina, Bahia, é caracterizada

por mega-dobramentos suaves que definem o anticlinal da Serra do Sincorá. As litologias

são expostas a partir de uma janela erosional no meio do anticlinal, que pertencem à

Formação Açuruá, composta por metarenitos deltáicos; à Formação Tombador, composta

por metarenito fluviais, estuarinos, eólico e os metaconglomerados de leques aluviais do

Membro Lavras; e a Formação Cabloco, constituída por metassíltitos e metarenitos finos de

ambiente marinho raso. As análises dos lineamentos estruturais de relevo adquiridos em

feições lineares de drenagem e vales, permitiram diferenciar três direções de falhas e

fraturamento: NW-SE, N-S e W-E, agrupadas em dois estágios deformacionais D1 e D2. O

anticlinal da Serra do Sincorá foi a primeira estrutura deformacional a ocorrer no estágio D1,

formado a partir de um esforço E-W e, concomitante à mesma, foram geradas as fraturas

diagonais com as orientações nas direções NE-SW e NW-SE. As estruturas quais foram

geradas ao longo dos flancos do mega-anticlinal que serve como rampa de cavalgamento,

para o desenvolvimento das dobras subsidiárias pelo mecanismo do tipo fault-propagation-

fold. O estágio D2 representa a fase transcorrente sinistral e transtrativa, de tensão principal

NNW – SSE. Este estágio favoreceu a geração da falha do Rio São João. O padrão das

falhas associadas segue o sistema de cisalhamentos Riedel, com zonas de cisalhamentos

sinistrais e dextrais bem marcadas, representando assim o R (Riedel) marcado pela direção

N350 à N 300 e a R’ (Antiriedel) representadas pelas direções de aproximadamente de

N270 à N240. Intrusões básicas sob forma de diques cortam as formações sedimentares,

com orientação preferencial NW – SE.

PALAVRAS CHAVES: Anticlinal da Serra do Sincorá, estágio D1, Estágio D2, fault-

propagation-fold, cisalhamento Riedel.

iv

ABSTRACT

The northern of Lençóis city in Chapada Diamantina – Bahia, is characterized by gentle

folds with N-S orientation. All structures are included within the anticline of the Sincorá

Serra. The lithologies are exposed from an erosion window in the middle of the anticline,

when there are Açurua Formation, composed by deltaic metarenites, Tombador Formation

composed by fluvial metarenites, estuarine, eolic origins and alluvial metaconglomerates

from Lavras Member and Cabloco Formation that consists of siltstones and thin metarenites

of shallow marine origin. The analysis of structural relied lineaments has defined in three

classes of lineaments, that are NNW-SSE, N-S and W-E, grouped in two deformation stages

D1 and D2. The anticline of the Sincorá was the first structure deformation that occurred in

the D1 stage, where was formed directly from an effort E-W and the concomitantly occurred

the diagonal fractures in the directions of NNE-SSW, NNW-SSE and E-W. The structures

were created along the flanks of the anticline that serves as a thrust to development folds by

mechanism type as fault-propagation-fold. D2 stage represents a transcurrent, with the σ1

possitioned in the direction NNW - SSE. The são João Fault is releter to D2 stage and

associeted fault and fratures fallowed the Riedel shear model, with sinistral and dextral

kinematicas, where the R (Riedel) marked the direction N350 N300 and R' (Antiriedel)

represented the directions of approximately N270 to N240. The intrusions that cut through all

the basic sedimentation these are bodies of dykes, oriented NW – SE.

Keywords: Sincorá Sierra Anticline, D1 Stage, D2 Stage, Fault-propagation-fold, Riedel

shear.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: a) Mapa de situação da área de estudo no estado da Bahia; b) Mapa de

localização, com as principais vias de acesso. .................................................................... 16

Figura 2: Mapa tectônico simplificado do Cráton do São Francisco. CD- Chapada

Diamantina, ES- Espinhaço Setentrional, BSF- Baciado São Francisco e suas Faixas

Marginais (Orógenos Brasilianos). Modificado de Alkmim et al. (1993) e Alkmim (2004). .... 20

Figura 3: Mapa Geológico Regional Simplificado da Região da Chapada Diamantina.

Modificado por Cruz, 2004. BG – Bloco Gavião, BJ – Bloco Jequié, BRP – Bacia Rio Pardo,

ES – Espinhaço Setentional, CD – Chapada Diamantina. ................................................... 21

Figura 4: Mapa geológico da região da Chapada Diamantina, Bahia, Brasil. Compilado por

A.J. Pedreira em 1999, de diversas fontes. .......................................................................... 23

Figura 5: Coluna estratigráfica simplificada da Bacia Espinhaço – (Modificado de Guimarães

et al., 2005, por Santana, 2009). .......................................................................................... 24

Figura 6: Anticlinal do Pai Inácio e sua geologia. Fonte: Pedreira 1999, modificado de Kegel

(1959). ................................................................................................................................. 29

Figura 7: Domínios estruturais do grupo Chapada diamantina. Fonte: Danderfer 1990. ...... 30

Figura 8: Principais estruturas e relações entre os padrões de fraturamento na região da

Chapada Diamantina a sudeste de Mucugê. Fonte: Pedreira (1990). .................................. 31

Figura 9: Mapa geológico – estrutural simplificado da Chapada Diamantina com as

cinemáticas dextral e sinistral nas falhas que limitam a bacia de Irecê configurando um par

conjugado que converge para a região de Lençóis. Fonte: Danderfer et. al (1993). ........... 32

Figura 10: Imagem Landsat, com os traçados das principais lineamentos estruturais na área

de estudo. INPE, 2009. Fonte: Silva Filho 2009. .................................................................. 33

Figura 11: Imagem Landsat, mostrando os principais lineamentos traçados na área de

estudo. EMBRAPA 2009. Fonte: Silva Filho (2009). ............................................................ 34

Figura 12: Roseta com direções dos lineamentos estruturais traçados a partir da imagem

Landsat. N= 554. Fonte: Silva Filho (2009). ......................................................................... 35

Figura 13: Dobra e sua morfologia conhecida como sinclinal e anticlinal. Fonte: Subelj,

2006. ................................................................................................................................... 36

Figura 14: Morfologia de uma dobra. Fonte: Machado (2009). ............................................. 37

Figura 15: Classificação das dobras com base na linha de charneira. a. horizontal; b.

vertical; c. inclinada Fonte: Machado (2009). ....................................................................... 38

Figura 16: Classificação das dobras com base nos inter-flancos. Fonte: Machado (2009). . 39

Figura 17: Antiforme definido por dobras parasíticas assimétricas definidas como Z e S nos

flancos e simétrica em M na charneira. Fonte: Hobbs, Means & Williams (1976). ............... 39

Figura 18: kink band simples e seus respectivos planos. Fonte: Faill (1969). ...................... 40

Figura 19: Modelo de classificação de falha segundo Anderson (1942). .............................. 40

Figura 20: Movimentação relativa das falhas sinistral e dextral em relação ao observador. . 41

Figura 21: Cisalhamento conjugado Riedel (R1 e R2) em zona de cisalhamento sinistral,

resultando em desenvolvimento de falhas secundárias. Fonte: Ramsay (1987). ................. 42

Figura 22: Fraturas de cisalhamento R, R’ e P. Fonte Twiss (1992). ................................... 42

Figura 23: Bandas de deformação em arenitos porosos no Platô do Colorado. Fonte Aydin,

1978 .................................................................................................................................... 42

Figura 24: Tension gash com cinemática dextral, sendo preenchido por veios de quartzo.

Fonte: Larson (2003). .......................................................................................................... 43

Figura 25: a) diagrama de plano e (b) diagrama de isodensidade polar para anticlinal do Pai

Inácio, estrutura S0, com máximo 750p/254, plano máximo N344/150NE e Lb 60/150. ......... 50

Figura 26: Diagrama de contorno para os estratos dobrados da Formação Cabloco (n=13),

máximo 730p/315, plano máximo N45/160 SE e Lb 1.00p/052. ............................................. 52

Figura 27 : Diagrama de contorno para as estruturas dúcteis com (n=33), máximo 60p/058,

plano máximo N148/300 SW e Lb 020p/340. ........................................................................ 53

Figura 28: diagrama de contorno para as dobras fechadas com n=25, máximo 38p/248,

plano máximo N338/52 NE e Lb 07p/004. ............................................................................ 55

Figura 29: a) Diagrama de roseta (b) diagrama de isodensidade polar para as estruturas

rúpteis dúcteis (tension gashes, shear bands, diques e fraturas preenchida por quartzo),

máximo 110p/227 e plano máximo N317/790 NE. ................................................................. 58

Figura 30: a) Diagrama de roseta (b) Diagrama de isodensidade polar para as estruturas

rúpteis com n=44, máximo 340p/060 e plano máximo N1500/56 SW. ................................... 61

Figura 31: Estágio deformacional D1 para a parte norte da região de Lençóis. Caracterizada

pelo anticlinal da Serra do Sincorá com direção do esforço principal E-W e geração de

fraturas longitudinais, diagonais ao plano axial. No flanco do mega-anticlinal desenvolveram

dobas tipo Kink com os flancos evoluídos como falhas reversas. ........................................ 63

Figura 32: Estágio deformacional D2 transcorrente sinistral e transtrassivo, com a orientação

de campo de tensão principal NW – SE. .............................................................................. 65

Figura 33: a) Diagrama de roseta n = 94 (b) Diagrama de plano para as falhas dextrais e

sinistrais para a área de estudo. .......................................................................................... 66

Figura 34: Elipsóide de deformação uma zona de cisalhamento Riedel com as fraturas R –

R’. A falha de empurrão na direção do esforço principal, e perpendicular a esse esforço

ocorre a formação de falhas normais. .................................................................................. 66

LISTA DE FOTOS

Foto 1: Formação Açuruá em afloramento constituído por meta-arenito e metasiltito na BR –

242 próximo ao Morro do Pai Inácio. Ponto As 9. ................................................................ 45

Foto 2: Formação Açuruá com a paleocorrente em perfil composto por meta-arenito e

metassiltito na BR – 242 próximo ao Morro do Pai Inácio. Ponto As 10. .............................. 45

Foto 3: Estratificação planoparalela nos meta-arenitos com níveis de conglomerado na

Formação Tombador. Ponto As22. ...................................................................................... 46

Foto 4 e 5: Estratificações cruzadas nos meta-arenitos da Formação Tombador na trilha do

sossego. Marcas de onda nos meta-arenito da Formação Tombador do rio Mucugezinho.

Pontos AS29 e As20 respectivamente. ................................................................................ 47

Foto 6: Metaconglomerado do Membro Lavras da Formação Tombador. Ponto As21 ......... 47

Foto 7: Greta de ressecamento na Formação Tombador na Gruta do Lapão. Ponto As23. 48

Foto 8: Bandas de Maré no Morro do Pai Inácio Formação Tombador. Ponto As12 ............ 48

Foto 9: Formação Caboclo composto pela alternância de camadas de argilito e siltito. Ponto

As18. ................................................................................................................................... 49

Foto 10: Kink e dobra de arrasto reversa (dobra por propagação de falha inversa), na

Formação Caboclo, afloramento, próximo à cidade de Lençóis. Ponto: As18. .................... 51

Foto 11: Dobra em Kink nas camadas da Formação Tombador, Gruta do Lapão. Ponto

As23. ................................................................................................................................... 52

Foto 12: Dobra isoclinal na Formação Tombador, ao lado da estrada da BR-242, trecho

entre Lençóis e o Morro do Pai Inácio. Ponto As56 ............................................................. 54

Foto 13: Dobra isoclinal com o plano axial N340/50 NE na Formação Tombador, ao lado da

estrada da BR-242, trecho entre lençóis e o Morro do Pai Inácio. Ponto As56 .................... 54

Foto 14: Estilólitos na Formação Açuruá sendo observado em perfil. Ponto As1. ................ 55

Foto 15: Shear bands nos metarenitos fluviais da Formação Tombador. Ponto As50. ......... 56

Foto 16: Tension gashes com direção N190 nos meta-arenitos fluviais da Formação

Tombado trilha que segue para a gruta do Lapão. Ponto As27. .......................................... 57

Foto 17: Fratura aberta com o preenchimento por veios de quartzo recristalizado. Ponto As

29 ........................................................................................................................................ 57

Foto 18: Plano de falha com degraus na Formação Açuruá com atitude N190/70 SW. Ponto

As9. ..................................................................................................................................... 59

Foto 19: Falha reversa encontrada na dobra da Gruta do Lapão na Formação Tombador de

ambiente estuarino. ............................................................................................................. 59

Foto 20: Falhas de cisalhamento formando par conjugado, orientados segundo a direção

N10 e N315 no arenitos fluviais da Formação Tombador no Morro do Pai Inácio. Ponto

As13 .................................................................................................................................... 60

Foto 21: Cinemática dextral na falha que corta os metaconglomerados do Membro Lavras.

As61 .................................................................................................................................... 60

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 13

1.1 Objetivo ................................................................................................................. 14

1.2 Justificativa ............................................................................................................ 15

1.3 Localização e Acesso ............................................................................................ 16

1.4 Metodologia ........................................................................................................... 17

a) Fase pré-campo .................................................................................................... 17

b) Fase campo ........................................................................................................... 17

c) Fase pós-campo .................................................................................................... 18

2 GEOLOGIA REGIONAL ............................................................................................... 19

2.1 Introdução ............................................................................................................. 19

2.2 Cráton do São Francisco ....................................................................................... 19

2.3 Aulacógeno do Paramirim ...................................................................................... 20

2.4 Unidades Litológicas .............................................................................................. 23

2.4.1 Embasamento Pré-Espinhaço ........................................................................ 25

2.4.2 Supergrupo Espinhaço ................................................................................... 25

2.4.3 Supergrupo São Francisco ............................................................................. 27

2.4.4 Intrusões Básicas ........................................................................................... 28

2.5 Geologia Estrutural Regional ................................................................................. 29

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................................... 36

4 LITOESTRATIGRAFIA DA ÁREA DE ESTUDO ........................................................... 44

4.1 Introdução ............................................................................................................. 44

4.2 Unidades Geológicas da Área de Estudo .............................................................. 44

4.2.1 Formação Açuruá ........................................................................................... 44

4.2.2 Formação Tombador ...................................................................................... 46

4.2.3 Formação Cabloco ......................................................................................... 49

5 ANÁLISE DESCRITIVA E CINEMÁTICA DAS LITOESTRUTURAS DA ÁREA DE

ESTUDO .............................................................................................................................. 50

5.1 Estruturas Dúcteis - Rúpteis .................................................................................. 50

5.2 Estruturas Rúpteis ................................................................................................. 58

5.3 Fases Deformacionais ........................................................................................... 61

5.3.1 Estágio deformacional D1 ............................................................................... 62

5.3.2 Estágio deformacional D2 ............................................................................... 64

6 CONCLUSÃO ............................................................................................................... 68

7 REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 70

8 ANEXO I ....................................................................................................................... 75

9 ANEXO II ...................................................................................................................... 76

13

1 INTRODUÇÃO

A região da Chapada Diamantina possui vários registros sedimentares cíclicos,

que vem sendo depositados a bilhões de anos. Porém, nem toda a parte dessa

região possui um trabalho litoestrutural e cronoestratigráfico de detalhe. Com base

nas análises bibliográficas de trabalhos já realizados na área de estudo e visitas de

campo para a coleta de dados foi elaborado este Trabalho Final de Graduação, cuja

área abrange a região da Chapada Diamantina nos arredores da cidade de Lençóis.

Geologicamente, a área está situada no domínio das rochas

metassedimentares terrígenas da Sinéclise da Chapada Diamantina, e é

caracterizada por dobramentos suaves com eixos orientados norte-sul. As litologias

predominantes são arenitos finos, siltitos e argilitos do Grupo Paraguaçu,

representados pela formação Açuruá, sobrepostos por arenitos, conglomerados e

pelitos do Grupo Chapada Diamantina, representado pela Formação Tombador,

onde tempos atrás foram explorados diamantes (Pedreira, 1999) e a Formação

Caboclo constituído por metapelitos e metasiltito de ambiente marinho raso.

Nesta parte do trabalho serão descritas as principais unidades litológicas que

ocorrem na região da Chapada Diamantina, com ênfase na Chapada Diamantina

Oriental, onde ocorrem rochas relacionadas ao Cráton do São Francisco e

coberturas sedimentares cratônicas.

14

1.1 Objetivo

O objetivo deste trabalho é a descrição litoestrutural de afloramentos dos

Grupos Paraguaçu e Chapada Diamantina na região de Lençóis, visando a

interpretação cinemática e dos processos responsáveis pela deformação de suas

rochas metassedimentares de baixo grau e a elaboração de um modelo estrutural

evolutivo associado ao evento orogênico subseqüente à deposição das fácies

sedimentares.

Como metas de trabalho, pretendem-se, com este trabalho final de graduação:

Aprimorar a formação profissional teórica, através da realização de

trabalhos de campo, analise estrutural, estudos e descrições micro e

macroscópica.

Desenvolver metodologia de pesquisa científica, favorecendo a

continuidade dos estudos em nível de pós-graduação e/ou a inserção no

mercado de trabalho.

Desenvolver competência em análise de feições estruturais (fraturas,

falhas, dobras, determinação do campo dos esforços e de seus efeitos

na mineralogia e nas microestruturas das fácies deformadas).

15

1.2 Justificativa

A análise descritiva e cinemática litoestrutural constitui importante metodologia

teórica para o entendimento dos eventos geológicos pretéritos, na compreensão da

dinâmica dos ambientes, e conseqüente história geológica evolutiva de uma

determinada área de estudo, logo devido a falta de um estudo estrutural de detalhe

este trabalho busca um entendimento estrutural mais apurado para a área da

chapada diamantina.

A proposta deste trabalho é a análise das estruturas nessa região, de modo a

contribuir na construção do conhecimento científico da análise estrutural, e a

influência na estruturação geomorfológica local.

16

1.3 Localização e Acesso

A área de estudo do Trabalho Final de Graduação está inserida na região da

Serra do Sincorá, situada no central do Estado da Bahia, na borda oriental da

Chapada Diamantina. A figura 1 indica a extensão longitudinal 12027’0” e 12031’30”

e transversal da área 41030’0” e 41022’30”, bem como os municípios situados ao

redor como Palmeiras, Seabra e Andaraí. Para chegar até a área de estudo, deve-se

seguir, a partir de Salvador, pela BR-324 até Feira de Santana e depois pela BR-116

até o entroncamento com a BR- 242.

Figura 1: a) Mapa de situação da área de estudo no estado da Bahia; b) Mapa de localização, com as

principais vias de acesso.

17

1.4 Metodologia

A metodologia utilizada no desenvolvimento deste trabalho final de graduação

constou em três etapas inter-relacionadas.

a) Fase pré-campo

Ao longo desta etapa de trabalho foram desenvolvidas as seguintes atividades:

Levantamento de pesquisa bibliográfica com a finalidade de atualizar os

conhecimentos já adquiridos e novos conhecimentos acerca do tema e área

propostos.

Sensoriamento remoto, utilizando imagens de satélite e fotografias aéreas,

além de mapas existentes.

Interpretação das imagens Landsat, com traçado das megaestruturas e

tratamento dos dados com o programa ARCGIS, para a confecção de diagrama de

freqüência das direções dos lineamentos.

b) Fase campo

Foram feitas 04 campanhas ao campo, incluindo a de reconhecimento da área

e de treinamento da metodologia de análise descritiva e cinemática das estruturas.

Nessas campanhas coletaram-se medidas de azimute e mergulho de acamamento e

das feições estruturais que ocorrem na área de estudo para confecção de diagramas

e seções estruturais.

Foram coletadas dez amostras de rocha em locais definidos como zonas de

cisalhamento, zonas de charneiras e flancos de dobras e estudos da composição

mineral e das microestruturas presentes.

18

c) Fase pós-campo

Nesta fase do trabalho foram desenvolvidas atividades referentes ao:

Tratamento dos dados estruturais obtidos no campo utilizando o geosoftware

STEREONET e interpretação cinemática das estruturas e elaboração da monografia.

19

2 GEOLOGIA REGIONAL

2.1 Introdução

Nesta parte do trabalho são descritas as principais unidades litológicas que

ocorrem na região da Chapada Diamantina, com ênfase na Chapada Diamantina

Oriental, onde ocorrem rochas do embasamento do Cráton do São Francisco e suas

coberturas metassedimentares.

2.2 Cráton do São Francisco

O Cráton do São Francisco (CSF) corresponde a um segmento crustal

consolidado no Paleoproterozóico, representado na parte nordeste pelos blocos

Gavião, Jequié e Serrinha, todos de idade arqueana com retrabalhamento

paleoproterozóico. Segundo Almeida (1967, 1977), o Craton do São Francisco

abrange principalmente os estados da Bahia e de Minas Gerais e é a mais bem

exposta e estudada unidade tectônica do embasamento da plataforma sul-

americana. Seus limites são definidos pelas faixas móveis: Brasília, Rio Preto,

Riacho do Pontal, Sergipana e Araçuaí (Fig. 2).

De acordo com Barbosa (2003), no interior do CSF tem-se o Aulacógeno do

Paramirim, que representa um rifte abortado, invertido e orientado segundo N-S, no

qual se depositaram as rochas metassedimentares dos Supergrupos Espinhaço

(Mesoproterozóico) e São Francisco (Neoproterozóico). A bacia na qual se

acumularam as rochas siliciclásticas do Supergrupo Espinhaço originou-se por volta

de 1,7 Ga (Barbosa et al, 2003). Neste rifte seis seqüências deposicionais se

acumularam: Paraguaçu, Rio dos Remédios, Tombador-Caboclo e Morro do Chapéu

(Província Chapada Diamantina), além das seqüências da Borda Leste, Espinhaço e

Gentio do Ouro (Província do Espinhaço Setentrional).

Os limites do CFS foram recentemente redefinidos por Alkmim (2004), a partir

dos trabalhos de Cruz (2004), considerando o envolvimento crustal na parte sul do

embasamento do Aulacógeno do Paramirim durante o Evento Brasiliano de

formação do Orógeno Araçuaí.

20

Figura 2: Mapa tectônico simplificado do Cráton do São Francisco. CD- Chapada Diamantina, ES-

Espinhaço Setentrional, BSF- Baciado São Francisco e suas Faixas Marginais (Orógenos

Brasilianos). Modificado de Alkmim et al. (1993) e Alkmim (2004).

2.3 Aulacógeno do Paramirim

O Aulacógeno do Paramirim (Fig. 3), localizado na porção nordeste do Cráton

do São Francisco, é um rifte parcialmente invertido e representa o sítio deposicional

das duas maiores unidades de cobertura, os supergrupos Espinhaço e São

Francisco, de idades paleo/mesoproterozóica e neoproterozóica, respectivamente.

Segundo Cruz & Alkmim (2006), esse aulacógeno evoluiu a partir de riftes

superpostos e parcialmente invertidos de idades paleo e neoproterozóica. Ainda de

acordo com os mesmos autores, é possível individualizar, no aulagóceno, uma zona

de máxima inversão de orientação NNW-SSE, o Corredor de Deformação do

Paramirim (Alkmim et al, 1993), que abrange a porção oeste do Bloco do Gavião e

as unidades dos supergrupos Espinhaço e São Francisco depositados nas bacias do

Espinhaço Setentrional e Chapada Diamantina Ocidental.

O Aulacógeno do Paramirim possui como substrato rochas arqueanas e

paleoproterozóicas e um grande volume de plutônicas. A colocação dos plútons se

deu por volta de 1.75 Ga, em concomitância com a primeira fase evolutiva do

21

aulacógeno, a qual é registrada na cobertura vulcânica e por sedimentos

continentais do Grupo Rio dos Remédios.

Figura 3: Mapa Geológico Regional Simplificado da Região da Chapada Diamantina. Modificado por

Cruz, 2004. BG – Bloco Gavião, BJ – Bloco Jequié, BRP – Bacia Rio Pardo, ES – Espinhaço

Setentional, CD – Chapada Diamantina.

A região da Chapada Diamantina, denominada Bacia de Lençóis por Inda &

Barbosa (1978), compreende dois domínios um Ocidental e outro Oriental, sendo

separados pelo Lineamento Barra do Mendes-João Correia (Sá et al, 1976). No

Domínio Ocidental, os dobramentos são apertados e o vulcanismo intenso; no

Oriental, as dobras são suaves e o magmatismo restrito principalmente à intrusões

básicas.

A Chapada Diamantina é uma bacia do tipo rifte-sinéclise, com o estágio rifte

representado pelo vulcanismo Rio dos Remédios e o estágio sinéclise pelos

depósitos continentais e marinhos dos grupos Paraguaçu e Chapada Diamantina,

22

este último composto pelas formações Tombador, Caboclo e Morro do Chapéu

(Guimarães et.al.2005).

A Chapada Diamantina Oriental é uma bacia do tipo foreland, preenchida por

sedimentos provenientes da Faixa Jacobina-Contendas-Mirante) (Pedreira et. al.

1999). O início dessa evolução é marcado por magmatismo datado pelo método U-

Pb em zircão em 1748 Ma e 1752 Ma (Babinsky et al.1994, apud Pedreira 1999) e

(Schobbenhaus et al.1994).

Guimarães et al, (2005) sugerem a existência de duas bacias superpostas e

diacrônicas na Chapada Diamantina numa bacia do tipo rifte-sag de idade

estateriana (1.8-1.6 Ga) sendo este rifte-sag do Espinhaço e outra bacia do tipo

sinéclise, de idade caliminiana (1.6-1.4 Ga) sendo este a fase sinéclise Chapada

Diamantina.

Segundo Guimarães et al, (2005) o Espinhaço Oriental evoluiu segundo três

fases tectônicas: pré-rifte, sin-rifte e pós-rifte. A fase pré-rifte, representada pela

Formação Serra da Gameleira é composta de depósitos eólicos relacionados a uma

seqüência deposicional, acumulada num espaço bacinal raso, derivado de flexura

litosférica. A fase sin-rifte compreende duas seqüências estratigráficas: a primeira é

representada por rochas vulcânicas/ subvulcânicas ácidas e vulcanoclásticas,

pertencentes à Formação Novo Horizonte, e a segunda seqüência é constituída por

rochas metassedimentares constituídas por fácies lacustres, flúvio-deltáicos eólicos

e leques aluviais agrupadas nas formações Lagoa de Dentro e Ouricuri do Ouro. A

fase pós-rifte (sag) compreende depósitos eólicos da Formação Mangabeira e

marinhos rasos da Formação Açuruá, que integram o Grupo Paraguaçu.

A segunda bacia superposta, que corresponde à sinéclise Chapada Diamantina

é composta pelas Formações Tombador, Caboclo e Morro do Chapéu, do Grupo

Chapada Diamantina. A Formação Tombador é composta por metarenitos e

metaconglomerados de fácies fluviais, eólico e deltaico, a Formação Cabloco é

composta por metapelitos e metasiltito interpretado como fácies marinho raso a

litorânea e a Formação Morro do Chapéu compostos por metarenitos e

metaconglomerados de fácies flúvio - estuarina.

23

2.4 Unidades Litológicas

As unidades presentes no âmbito regional estão representadas pelo:

Embasamento Pré-Espinhaço representado Complexo Gavião e Paramirim; O

Supergrupo Espinhaço representado pelos grupos Grupo Rios dos Remédios,

Paraguaçu e Chapada Diamantina. O mapa Geológico Regional (Fig. 4) mostra os

principais compartimentos geológicos na região da Chapada Diamantina e a coluna

estratigráfica regional (Fig. 5).

Figura 4: Mapa geológico da região da Chapada Diamantina, Bahia, Brasil. Compilado por A.J.

Pedreira em 1999, de diversas fontes.

Gnaisse & Migmatitos

Gnaisse & Migmatitos

Gr. Rio dos remédios

Fm. Bebedouro

Fm. Salitre

24

Figura 5: Coluna estratigráfica simplificada da Bacia Espinhaço – (Modificado de Guimarães et al.,

2005, por Santana, 2009).

25

2.4.1 Embasamento Pré-Espinhaço

O Bloco Gavião situado a Oeste da Chapada Diamantina, representa uma

vasta área de exposição do embasamento arqueano e é um dos segmentos crustais

mais antigos até aqui reconhecidos na América do Sul, com idades radiométricas

variando entre 3,5 a 2,7Ga (Cunha et al., 2000). Leal (1998) evidenciam dois grupos

de TTG’s, datados por U-Pb em zircões metamorfisados na fácies anfibolito. No

primeiro grupo, com idades entre 3,4–3,2 Ga, (TTG Sete Voltas/Boa Vista Mata

Verde e Tonalito Bernarda) e no segundo, com idades de 3,2-3,1 Ga. (Granitóides

Serra do Eixo/Mariana/Piripá).

Esses dois grupo de rochas constituídos essencialmente por ortognaisses

migmatítcos de composição tonalito-trondhjemitico-granodiorio, remanescentes de

seqüências vulcanosedimentar tipo greenstone belt e por associações supracrustais

que abrangem gnaisses leptitos e anfibolitos de médio grau metamórfico. Estes

ortognaisses são interpretados como produto da fusão parcial da crosta continental

antiga, durante o fechamento das bacias intercratônicas.

Pelo menos dois eventos de migmatização estão presentes no Bloco Gavião:

um, ocorrido no Mesoarqueano, em 2,9 Ga (Leal et al., 1996), e outro datado em 2,1

Ga, no Riaciano (Cunha et al, 2000).

Segundo Guimarães et al, (2005) os ortognaisses migmatíticos do Bloco

Gavião guardam registros de eventos tectônicos pré-brasilianos que são superposto

pela deformação de idade brasiliana.

2.4.2 Supergrupo Espinhaço

Rocha & Dominguez (1993) e outros interpretam o Supergrupo Espinhaço

como um rifte abortado que sofreu deformação e metamorfismo somente na

Orogênese Brasiliana.

Segundo Guimarães et al, (2005) o Supergrupo Espinhaço consiste de uma

megassequência depositado em riftes estaterianos segmentados pelos domínios

Espinhaço Setentrional e Chapada Diamantina. Esse Supergrupo engloba uma

sucessão de sedimentos de natureza predominantemente terrígena, com

contribuições vulcânicas ácidas a intermediárias em sua base.

26

O Supergrupo Espinhaço é subdividido nos Grupos Rio dos Remédios,

Paraguaçu e Chapada Diamantina (Fig. 6).

a) Grupo Rio Dos Remédios

O Grupo Rio dos Remédios è composto por rochas metavulcânicas ácidas e

metassedimentares. As rochas vulcânicas são representadas por metariolitos,

metadacitos, metatraquitos, metatufitos, metaconglomerados e metabrechas

vulcânicas. Em certos locais elas têm intercalações de quartzitos, quartzitos

sericíticos, conglomerados constituídos por seixos de quartzo, bem como xistos com

alumínio-silicatos. Grande parte dessas rochas vulcânicas está transformada em

xistos quartzosos e sericíticos, geralmente com evidências de catáclase (Guimarães

et al, 2005).

b) Grupo Paraguaçu

O Grupo Paraguaçu datado entre 1,6 e 1,7 Ga, é representados pelas

Formações Mangabeira (Schobbenhaus & Kaul, 1971 Guimarães et al, 2005) e

Açuruá (Inda & Barbosa, 1978; Guimarães et a., 2005), esta ultima equivale à

Formação Guiné, definida por Montes (1977).

A Formação Mangabeira é composta em sua parte inferior por metarenitos

finos a médios e por níveis de metarenitos conglomeráticos, e na parte superior

consiste de metarenitos finos a médios, bimodais, intercalados a camadas

decimétricas de metargilitos. O paleoambiente interpretado para esta formação é

fluvial e eólico.

A Formação Guiné é composta na base, por metasedimentos finos,

principalmente siltitos, em sua parte superior é constituída por arenitos médios, com

matriz argilosa. A sedimentação é interpretada como tendo ocorrido em ambiente

transicional e marinho (Pedreira, 1994; Guimarães et al, 2005).

27

c) Grupo Chapada Diamantina

O Grupo Chapada Diamantina, datado entre 1,6 e 1,0 Ga, compreende as

Formação Tombador, Caboclo e Morro do Chapéu. Este grupo representa o estágio

sinéclise do Supergrupo Espinhaço.

A Formação Tombador é constituída essencialmente por arenitos intercalados

com fácies argilosas, bem como, por conglomerados sustentados por matriz e

seixos. Sua deposição teria ocorrido em ambientes de leque aluvial, fluvial e eólico e

de ambientes transicionais marcando períodos transgressivos segundo Savini &

Raja Gabaglia (1997).

A Formação Caboclo é composta por metarenitos com marcas onduladas

sobrepostos por arenitos maciços e por argilitos. No topo, ocorrem siltitos e argilitos

com marcas onduladas e siltitos retrabalhados por ondas de tempestade

(estratificação cruzada hummocky) com pequenas lentes de carbonato dolomítico

(Pedreira, 1994). O paleoambiente da Formação Caboclo é interpretado como

ambiente marinho (Guimarães et al, 2005).

A Formação Morro do Chapéu (Pedreira, 1994), tem caráter continental e aflora

na região da cidade de Morro do Chapéu, a norte de Palmeiras e na região entre

Wagner e Tanquinho. A Formação Morro do Chapéu abrange diversos ciclos de

sedimentação que começam por conglomerados polimíticos com estratificação

cruzada acanalada de grande porte e terminam com argilitos ou arenitos finos

formando estratificações cruzadas e plano-paralelas. A sedimentação é interpretada

como tendo ocorrido em ambientes fluvial e eólico

2.4.3 Supergrupo São Francisco

O Supergrupo São Francisco compreende sedimentos glacio-marinhos

recobertos carbonatos com intercalações de siliciclásticos, que correspondem,

respectivamente, às formações Bebedouro e Salitre do Grupo Una (Fig 4).

A Formação Bebedouro, segundo Pedreira (1994), é composta por diamictitos,

siltitos calcíferos e pelitos de origem glacial. Os diamictitos podem ser maciços ou

estratificados apresentando clastos de gnaisse, pegmatito, sílex, argilito, quartzito e

calcário. A deposição da Formação Bebedouro ocorreu em ambiente plataformal

marinho, com influência glaciogênica (Guimarães, 1996).

28

Segundo Pedreira (1994), a Formação Salitre consiste em calcilutitos,

calcissiltitos, calcarenitos, dolomitos e silexitos. Os três primeiros, em geral, estão

associados à laminitos algais e a calcários intraclásticos. Os calcarenitos,

juntamente com os silexitos, podem ser oolíticos / oncolíticos. Alguns estromatólitos

estão associados aos silexitos com colunas cilíndricas. A deposição da Formação

Salitre ocorreu em ambiente marinho raso, do tipo rampa carbonática, em ambiente

do tipo planície de maré (Leão & Dominguez 1992).

2.4.4 Intrusões Básicas

Ocorrem como diques e sills com ampla distribuição regional e intrudem todo o

conjunto vulcanosedimentar do Supergrupo Espinhaço e domínios da Chapada

Diamantina. Constituem corpos verticalizados, com orientação preferencial NNW e

dimensões variadas, podendo alcançar até 400m de largura aflorante e extensão de

45km. Duas gerações de rochas máficas são definidas (Danderfer 2000): a primeira

representada por leucogabro cinza – escuro e cinza - esverdeado, fino, foliado,

constituindo corpos de dimensões reduzidas. A segunda geração é constituída por

gabro isotrópico, cinza-escuro e verde, de granulação média a grossa, com textura

inequigranular e cristais de até 1 cm de comprimento de plagioclásio saussuritizado

e augita parcialmente tremotilizada,envolvidos em uma matriz de plagioclásio.

Sá et. al ( 1976b) apontaram um intervalo entre 1.200 e 500 Ma para essas

intrusões básicas, a partir de determinações geocronológicas K-Ar, Babinsk et al.

(1999) obtiveram idade U-Pb, em zircões de anfibólio-gabro na Formação

Mangabeira (Grupo Paraguaçu), de 1.514 Ma. Essas idades podem representar o

registro de dois diferentes pulsos extensionais, durante a evolução do Supergreupo

Espinhaço. Schobbenhaus (1993) considera que esse magmatismo básico tardio

assinala o início da fase extensional pós-Espinhaço, ocorrido em torno de 1.000 Ma,

que provocou a geração do rifte Santo Onofre.

29

2.5 Geologia Estrutural Regional

A região da Chapada Diamantina é caracterizada por dobramentos suaves com

eixos orientados na direção N-S. Pedreira (1999) considera a Chapada Diamantina

Oriental como uma bacia foreland, preenchida por sedimentos provenientes da Faixa

Jacobina/Contendas-Mirante. Dominguez (1993) classificou a mesma como uma

bacia polifásica, contendo mais de um ciclo tectônico/sedimentar. Está região e

conhecida por apresentar dobras moderadamente fechadas, na porção ocidental,

que passam em direção a leste, para dobras suaves e abertas (Danderfer, 1990).

Um exemplo de dobra desse tipo é o anticlinal do morro do Pai Inácio (Fig. 6).

Legenda : 1 – Grupo Una; 2 – Formação Caboclo; 3 – Formação Tombador; 4 – Grupo

Paraguaçu.

Figura 6: Anticlinal do Pai Inácio e sua geologia. Fonte: Pedreira 1999, modificado de Kegel (1959).

Danderfer (1990) foi o primeiro a estudar a Chapada Diamantina com foco

estrutural mais detalhado. Em seu trabalho, a região foi dividida em quatro domínios

estruturais, com base na distribuição espacial, orientação, freqüência e estilos dos

elementos tectônicos de cada um deles. Os domínios foram: (1) Morro do Chapéu;

(2) Gentio do Ouro; (3) Piatã; e (4) Bacia de Irecê (Fig. 7). Silva (1994) preferiu

separar a bacia de Una-Utinga do domínio estrutural de Piatã, pelo fato da bacia

apresentar características tectônicas peculiares.

E W

30

Figura 7: Domínios estruturais do grupo Chapada diamantina. Fonte: Danderfer 1990.

Danderfer (1990) observou a presença de dois padrões estruturais distintos. O

primeiro corresponde a um sistema de dobras e falhas de empurrão, de abrangência

regional com orientação NNW-SSE a N-S. O segundo, de ocorrência restrita nos

sedimentos do Grupo Una na bacia de Irecê, corresponde a um sistema de dobras e

falhas de empurrão com orientação E-W. Danderfer (1990) conclui que existem dois

eventos de compressão regional (E1 e E2) ambos os eventos seriam de idade

brasiliana, observados nos litotípos do Grupo Chapada Diamantina (E1), e registrado

também registrados nos sedimentos do Grupo Una (E2). As rochas sedimentares

carbonáticas da bacia de Irecê estão estruturadas formando um sinclinal regional e

contato entre o flanco desse sinclinal com as unidades do super - Grupo Espinhaço

é de natureza tectônica resultante do empurrão e/ou deslizamento das rochas

carbonáticas sobre o as unidades do Super - Grupo Espinhaço.

Do ponto de vista geomorfológico, Pedreira (1990) e Danderfer Filho (1990)

consideram que os vales se instalaram segundo estruturas do padrão de

cisalhamento do tipo Riedel, a partir da observação das orientações dos diques que

31

cortam nos vales e preenchem as fraturas, que são controladas por um esforço

regional de cinemática sinistral na Serra do Sincorá. Na subzona central na figura 9,

devido à alta taxa de deformação ocorre um alinhamento das fraturas no sentido

NNE-NNW, as quais são cortadas por fraturas transversais que ligam as suas

extremidades a outras de direção NNW-NSE, formando um sigmóide (Riedel Shear,

Apud G. Wilson, 1982). Abaixo são vistas as relações entre os padrões de

fraturamento em uma zona de cisalhamento, na região à sudeste da cidade de

Mucugê (Fig. 8).

Figura 8: Principais estruturas e relações entre os padrões de fraturamento na região da Chapada

Diamantina a sudeste de Mucugê. Fonte: Pedreira (1990).

32

Bonfim & Pedreira (1990), no projeto Seabra descreveram a falha do Rio São

João que se estende desde sudeste da cidade de Palmeiras, bordejando pelo leste a

“bacia” de Irecê até o limite setentrional da Folha Seabra. Estes autores sugerem

que essa falha possui movimento transcorrente, sinistral, indicado por sigmóides e

fraturas conjugadas em conglomerados da Formação Tombador. Bonfim & Pedreira

(1990) consideram que a abertura se deu concordante com a cinemática sinistral da

Falha do Rio São João, enquanto Danderfer et. al (1993) interpreta a mesma como

sendo parte de um par conjugado com cinemática sinistral e dextral (Fig. 9).

Figura 9: Mapa geológico – estrutural simplificado da Chapada Diamantina com as cinemáticas

dextral e sinistral nas falhas que limitam a bacia de Irecê configurando um par conjugado que

converge para a região de Lençóis. Fonte: Danderfer et. al (1993).

33

Silva Filho (2009), a partir do tratamento das fotografias aéreas e imagens de

satélites, sugeriu a presença de falhas e fraturas com orientação preferencial N-S

subordinadamente segundo um padrão NW – SE em Lençóis (Fig. 10 e 11).

Figura 10: Imagem Landsat, com os traçados das principais lineamentos estruturais na área de

estudo. INPE, 2009. Fonte: Silva Filho 2009.

34

Figura 11: Imagem Landsat, mostrando os principais lineamentos traçados na área de estudo.

EMBRAPA 2009. Fonte: Silva Filho (2009).

35

O tratamento para as direções dos lineamentos dos traçados estruturais

sugerem uma direção principal NW-SE para as orientações dos relevos (Fig. 12).

Figura 12: Roseta com direções dos lineamentos estruturais traçados a partir da imagem Landsat. N=

554. Fonte: Silva Filho (2009).

36

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A fundamentação teórica terá como base apenas as estruturas que serão

apresentadas neste trabalho, ordenadas apartir de um modelo evolutivo

geotectônico que a mesma se ocorrem na área. A principal mega-estrutura estuda

neste trabalho é conhecida como o anticlinal da Serra do Sincorá. Os anticlinais são

dobras cujos flancos mergulham em sentido oposto e etimologicamente anticlinal

significa mergulhando para lados opostos (Subelj, 2006). Se os flancos mergulharem

para o mesmo sentido, a dobra é chamada de sinclinal (Fig.13).

Figura 13: Dobra e sua morfologia conhecida como sinclinal e anticlinal. Fonte: Subelj, 2006.

Os anticlinais e sinclinais são megadobras onde outrora eram superfícies

planares que quando submetidas ao deformação dúctil tornaram-se curve planares.

Os elementos geométricos de uma dobra são (Fig.14):

Linha de crista (Lc): É o elemento geométrico mais elevado de uma dobra. Esta

linha em geral coincide com a charneira das dobras.

Plano ou superfície axial (Sa): Pode ser definida como uma superfície que

divide a dobra o mais simetricamente possível sendo também conhecida por conter

o traço axial da dobra.

37

Flancos ou limbos (Fl): Superfícies que se estendem por ambos os lados da

charneira, ou seja, que são separadas pelo plano axial.

Plano de inflexão da dobra (Li): É o ponto máximo em que a dobra muda de

direção.

Figura 14: Morfologia de uma dobra. Fonte: Machado (2009).

A classificação de uma dobra pode ser feita a partir da posição espacial de

seus elementos geométricos (linha de charneira e superfície axial), na combinação

entre estes elementos, na variação da superfície dobrada e combinando estas

classificações com critérios geométricos ou estratigráficos (Machado, 2009).

As dobras se classificam de acordo com a posição da linha de charneira, que

podem ser divididas em três tipos principais: horizontais, verticais e inclinadas (Fig.

15). São consideradas dobras horizontais quando o caimento do eixo situa-se entre

o intervalo de 0° a 10°, inclinadas de 10° a 80° e verticais de 80° a 90°.

38

Figura 15: Classificação das dobras com base na linha de charneira. a. horizontal; b. vertical; c.

inclinada Fonte: Machado (2009).

Esta classificação pode ser feita em relação à simetria da dobra ou em relação

à sua posição no espaço. De acordo com Machado (2009) no primeiro caso a

superfície axial corresponde a uma superfície bissetora, com as dobras sendo

divididas em dois grupos: simétricas e assimétricas. No segundo caso as dobras

podem ser definidas como normais, inversas e recumbentes.

As dobras normais possuem suas superfícies axiais sub-verticais, ou seja, com

ângulo entre 80° e 90°.

As dobras inversas ou inclinadas possuem suas superfícies axiais com ângulo

entre 10° e 80°.

Podemos classificar as dobras de acordo com o ângulo interno formado pelos

seus flancos através de duas tangentes que passam pelos pontos de inflexão da

superfície dobrada (Fig. 16) sendo classificadas como:

Suaves com ângulos de 180° a 120°; Abertas com ângulos de 120° a 70°;

Fechadas com ângulos de 70° a 30°; Apertadas ou cerradas com ângulos de 30° a

0.

39

Figura 16: Classificação das dobras com base nos inter-flancos. Fonte: Machado (2009).

Na dobra maior (Dobra de primeira ordem) são encontradas as dobras

parasíticas ou dobras de segunda ao longo de seus flancos e região de charneiras.

Estas dobras parasítica possuem geometria em Z, S e M (Fig.17).

Figura 17: Antiforme definido por dobras parasíticas assimétricas definidas como Z e S nos flancos e

simétrica em M na charneira. Fonte: Hobbs, Means & Williams (1976).

Outra estrutua localizada na região interflanco do anticlinal de Sincorá são as

estruturas tipo Kink band que ocorrem em rochas que já possuíam uma estrutura

acamadada que desenvolveram bandas de torção. São estruturas de pequena à

grande escala, onde são observadas mudanças das orientações planares pré-

40

existentes de forma abrupta (Fig.18), e as estruturas das mesmas podem ser

simples e conjugados.

Figura 18: kink band simples e seus respectivos planos. Fonte: Faill (1969).

As falhas são uma descontinuidade planar entre blocos de rocha, os quais

apresentam-se deslocados entre si. Suas dimensões variam da escala mineralógica

às escalas continentais. São classificadas segundo Anderson (1942) como sendo

normal, reversa e transcorrente (Fig. 19).

Figura 19: Modelo de classificação de falha segundo Anderson (1942).

41

As falhas normais ou de gravidade são aquelas produzidas pela compressão

vertical (e portanto por forças de extensão entre os blocos) causada devido à

expansão da crosta terrestre.

Falhas reversas (ou contrárias), ou cavalgamento, ou compressão: são aquelas

que resultam das forças compressoras horizontais causadas pela contracção da

crosta terrestre, ou por encolhimento. Falhas associadas a dobramentos podem

gerar falhas de baixo ângulo.

A falha transcorrente ocorre quando os blocos de rocha se movimentam em

direções horizontais opostas. A movimentação relativa das falhas em relação ao

observador pode possuir cinemática dextrais e sinistrais. A cinemática dextral ocorre

quando a falha se move em direção ao lado esquerdo do observador. A cinemática

sinistral ocorre quando a falha se move em direção do lado direito do observador

(Fig. 20).

A estrutura mais significativa da área, pois na área de estudo temos uma

importante falha transcorrente de cinemática sinistral conhecida como a falha do Rio

São Jõao.

Figura 20: Movimentação relativa das falhas sinistral e dextral em relação ao observador.

As falhas transcorrentes possuem estruturas associadas que incluem, fraturas

de cisalhamento, shear bands e Tension gashes.

Riedel em 1929, em experimento com camada de argila sobre placas rígidas,

descobriu que ao movimenta - las formava-se na argila um sistema conjugado de

fraturas de cisalhamento, sendo estas R ou R1, sintética em relação a falha principal

e R’ ou R2 antitética a falha principal (Fig. 21). Fraturas de cisalhamento tipo P são

sintéticas e simetricamente orientadas em relação à zona de cisalhamento principal,

apartir das orientações das fraturas de cisalhamento R e R’ (Fig. 22).

Sinistral Dextral

42

Figura 21: Cisalhamento conjugado Riedel (R1 e R2) em zona de cisalhamento sinistral, resultando

em desenvolvimento de falhas secundárias. Fonte: Ramsay (1987).

Figura 22: Fraturas de cisalhamento R, R’ e P. Fonte Twiss (1992).

Shear band é extreita faixa de cisalhamento intenso, geralmente em condições

rúpteis – dúcteis ou rúpteis (Fig. 23).

Figura 23: Bandas de deformação em arenitos porosos no Platô do Colorado. Fonte Aydin, 1978

43

Tension gashes são um tipo de fratura extensional aberta, que é preenchida

por fluido mineral. São encontrados ao longo de zonas de cisalhamento rúpteis -

dúcteis (Fig.24).

Os tension gashes são formados por fraturas extensionais que são

perpendiculares a região de mínimo esforço compressivo (σ3). Essas fraturas podem

rotacionar apartir de uma deformação dúctil e durante ou depois da fase de

formação.

Figura 24: Tension gash com cinemática dextral, sendo preenchido por veios de quartzo. Fonte:

Larson (2003).

44

4 LITOESTRATIGRAFIA DA ÁREA DE ESTUDO

4.1 Introdução

Na área de estudo foram observadas três unidades geológicas, sendo elas as

Formações Açuruá, Tombador e Cabloco. O mapeamento destas unidades além dos

levantamentos de campo, contou com o apoio de fotografias aéreas em escala

1:60.000, de imagens de satélites e do mapa geológico da Folha Seabra (1:100.000)

(Bonfim & Pedreira, 1990).

As unidades geológicas estão representadas no mapa geológico (anexo I) e

suas estruturas no mapa estrutural (anexo II). As unidades descritas foram: Unidade

F correspondente à formação superficial que representa cerca de 5% da área

estudada, unidade E, correspondente ao metassiltitos e metarenitos finos de

ambiente marinho raso da Formação Cabloco, que representa cerca de 25% da área

estudada; unidade D representa por metarenitos fluviais, estuarinos e eólicos,

unidade C, com os metaconglomerados do Membro Lavras da Formação Tombador,

que representam cerca de 50% da área estudada, unidade B com os metarenitos

deltaicos e unidade A com os metapelitos laminados marinho da Formação Açuruá,

que representam cerca de 20% da área estudada.

4.2 Unidades Geológicas da Área de Estudo

4.2.1 Formação Açuruá

Na área de estudo existe um contato entre a Formação Açuruá e Formação

Tombador (Foto 1), onde a mesma se encontra no mapa representada por uma

janela erosional onde aflora a Formação Açuruá. É composta por meta-arenito e

metasiltitos bem selecionados, com pouca matriz, apresenta estratificação plano-

paralela com cruzada de baixo ângulo, com evidências de fendas de ressecamento

(mud cracks) e marca de onda. A paleocorrente nesta unidade indica direção de

transporte para NE (Foto 2).

45

Foto 1: Formação Açuruá em afloramento constituído por meta-arenito e metasiltito na BR – 242

próximo ao Morro do Pai Inácio. Ponto As 9.

Foto 2: Formação Açuruá com a paleocorrente em perfil composto por meta-arenito e metassiltito na

BR – 242 próximo ao Morro do Pai Inácio. Ponto As 10.

Açuruá

Tombador

46

4.2.2 Formação Tombador

A Formação Tombador é composta por meta-arenito com estratificação

planoparalela (Foto 3), estratificação cruzada formadas pelo retrabalhamento dos

sedimentos característico de ambiente fluvial (foto 4), sendo que na área de estudo

também são observada estratificação cruzada pelo retrabalhamento do vento,

marcas de ondas unidirecionais, que são formadas por ondas assimétricas com

distância entre as cristas de aproximadamente 5 cm e altura de 1cm, a

granulometria varia de média a conglomerática e sugere deposição em ambiente

fluvial (Foto 5), além de níveis de arenitos metaconglomeráticos sustentado por

matriz e de natureza polimítica, correspondente ao Membro Lavras (Foto 6).

Foto 3: Estratificação planoparalela nos meta-arenitos com níveis de conglomerado na Formação

Tombador. Ponto As22.

47

Foto 4 e 5: Estratificações cruzadas nos meta-arenitos da Formação Tombador na trilha do sossego.

Marcas de onda nos meta-arenito da Formação Tombador do rio Mucugezinho. Pontos AS29 e As20

respectivamente.

Foto 6: Metaconglomerado do Membro Lavras da Formação Tombador. Ponto As21

As gretas de ressecamento ou mud cracks (Foto 7) são observadas na

Formação Tombador, revelam exposição subaérea dos sedimentos argilosos, típicos

de planície fluvial ou de maré.

48

Foto 7: Greta de ressecamento na Formação Tombador na Gruta do Lapão. Ponto As23.

Estruturas de bandas de maré (tidal bundles) ocorrem na base da Formação

Tombador (Foto 8). As espessuras das bandas representadas em forma de um

sigmóide indicam variações cíclicas entre a maré de sizígia e a de quadratura.

Foto 8: Bandas de Maré no Morro do Pai Inácio Formação Tombador. Ponto As12

A paleocorrente nesta unidade indica direção para NW contrária á da

Formação Açuruá, indicando uma inversão da bacia por efeito tectônico. Os

ambientes de sedimentação desta formação são tidos como de origem fluvial com

49

retrabalhamento eólico. Os metaconglomerados polimíticos do Membro Lavras são

tidos como depósitos leques aluviais (Pedreira 1994).

4.2.3 Formação Cabloco

A Formação Cabloco é constituída por alternância de metargilito e metasiltito

(Foto 9) que segundo Pedreira (1994) correspondem a depósitos de planície de

maré, o que corresponde a uma subida relativa do nível do mar sobre os depósitos

continentais da Formação Tombador.

Foto 9: Formação Caboclo composto pela alternância de camadas de argilito e siltito. Ponto As18.

50

5 ANÁLISE DESCRITIVA E CINEMÁTICA DAS LITOESTRUTURAS DA ÁREA DE ESTUDO

5.1 Estruturas Dúcteis - Rúpteis

A Serra do Sincorá é conhecida por se apresentar mais significativamente

dobrada na parte oeste, enquanto na porção leste apresenta dobras suaves e

abertas (Pedreira, 1994). O acamamento S0 na área de estudo está dobrado no

mega-anticlinal da serra do Sincorá, o qual na parte ocidental possui baixos ângulos

de mergulho que variam entre 200 a 300 e na parte oriental com mergulhos que

variam de 100 a 150 e ângulo interflanco de 1600. O diagrama de isodensidade polar

dessa mega estrutura (Fig. 25) apresenta configuração com valor máximo de

N750p/254, plano de máximo N344/150 NE, plano axial e Lb 6/150, sendo a mesma

classificada como sendo uma dobra suave e segundo a classificação do caimento do

plano axial normal horizontal.

Figura 25: a) diagrama de plano e (b) diagrama de isodensidade polar para anticlinal do Pai Inácio,

estrutura S0, com máximo 750p/254, plano máximo N344/15

0NE e Lb 6

0/150.

As estruturas dúcteis da área ocorrem ao longo dos flancos do anticlinal da

Serra do Sincorá, nos quais se desenvolveram dobras na forma de kinks que

evoluíram para dobra de arrasto associadas à falha reversa, que dobraram as

camadas das Formações Tombador e Cabloco.

Plano axial a)

b) n=134 n= 134

Anticlinal do Pai Inácio S0

Máximo: 750p/254

Plano Máximo: N344/150NE

Lb: 60/150

51

Na Formação Cabloco, entrada de Lençóis afloramento As18 ocorre uma dobra

assimétrica kink, fechada com ângulo interflanco de 900 e mergulho da superfície

axial N55/50SE moderadamente inclinado. Para a formação dessa dobra o próprio

flanco serve com rampa de cavalgamento, cujo caimento do plano máximo se dá em

direção à zona de charneira da dobra maior pelo mecanismo do deslizamento

flexural intra-estratal (foto 10).

Foto 10: Kink e dobra de arrasto reversa (dobra por propagação de falha inversa), na Formação

Caboclo, afloramento, próximo à cidade de Lençóis. Ponto: As18.

O diagrama de contorno mostra que os planos mergulham tanto para NW

quanto para SE com ângulos que variam entre 300 e 450 (Fig. 26). Esta configuração

indica dobramento com valor máximo de 730p/315 e o seu plano máximo com

N45/160 SE com o eixo da dobra Lb 1.00p/052. Em função do mergulho do plano

axial a dobra pode ser classificada como inclinada com caimento.

52

Figura 26: Diagrama de contorno para os estratos dobrados da Formação Cabloco (n=13), máximo

730p/315, plano máximo N45/16

0 SE e Lb 1.0

0p/052.

Esse padrão de dobramento em kink com uma das bandas kink evoluída como

falha reversa e dobra de arrasto associada é também observado na Gruta do Lapão,

na Formação Tombador, em um ambiente estuarino, ocorrem dobras classificadas

como abertas com o ângulo interflanco de 1200. A superfície axial com atitude de

N150/450 NW indica uma dobra moderadamente inclinada (Foto 11).

Foto 11: Dobra em Kink nas camadas da Formação Tombador, Gruta do Lapão. Ponto As23.

Dobra do Cabloco Dobra

Máximo: 730p/315

Plano Máximo: N45/160SE

Lb: 1.00/052

n = 13

53

O diagrama de isodensidade polar (Figura 27) mostra que os planos

mergulhando tanto para NE quanto para SW, segundo ângulos de mergulho que

variam entre 400 e 600. Esta configuração indica dobra com valor de So possui

máximo em 600p/058 e plano máximo com N148/300 SW com eixo da dobra (Lb)

(representado pela estrela) com orientação 020p/340.

Figura 27 : Diagrama de contorno para as estruturas dúcteis com (n=33), máximo 60p/058, plano

máximo N148/300 SW e Lb 02

0p/340.

Na BR-242, trecho entre Lençóis e o Morro do Pai Inácio na Formação

Tombador de ambiente fluvial, ocorrem dobras isoclinais com o ângulo inter-flancos

próximo de 00 e caimento da linha de charneira moderadamente inclinada com o

eixo com caimento médio do plano axial PA1 com N360/100E, onde a mesma mostra

um redobramento gerando um plano axial PA2 N25/100. (Foto 12 e 13).

Dobra da Gruta do Lapão Dobra

Máximo: 600p/058

Plano Máximo: N148/300SW

Lb: 020p/340

54

Foto 12: Dobra isoclinal na Formação Tombador, ao lado da estrada da BR-242, trecho entre Lençóis

e o Morro do Pai Inácio. Ponto As56

Foto 13: Dobra isoclinal com o plano axial N340/50 NE na Formação Tombador, ao lado da estrada

da BR-242, trecho entre lençóis e o Morro do Pai Inácio. Ponto As56

O diagrama de contorno mostra que os flancos mergulham tanto para SE

quanto para NW, ou ainda para ENE. Esta configuração indica dobras com valor

PA1 N360/100

Fraturas

Plano Axial N340/50

PA2 N25/100

SE

55

máximo de 380p/248 e seu plano máximo N338/520 NE (Fig. 28). O eixo da dobra

(Lb) (representado pela estrela) possui orientação 070p/004.

Figura 28: diagrama de contorno para as dobras fechadas com n=25, máximo 38p/248, plano máximo

N338/52 NE e Lb 07p/004.

Como estruturas dúcteis – rúpteis tem – se também os estilólitos que são

formados por dissolução devido a tensão local exercida sobre os meta-arenito.

Apresentam formas irregulares, ora com pontas agudas, ora mais arredondadas,

isso devido a dissolução diferencial ao longo da superfície tensionada (Foto 14).

Foto 14: Estilólitos na Formação Açuruá sendo observado em perfil. Ponto As1.

Dobra da BR - 242 Dobra

Máximo: 380p/248

Plano Máximo: N338/520NE

Lb: 070p/340

n = 25

56

Foto 14: Representação esquemática da orientação do σ1 vertical em relação aos estilólitos da

Formação Açuruá. Ponto As1

Estruturas como banda de cisalhamento Shear bands formado pela cominuição

da textura constituinte (Foto 15), também são encontrados nos arenitos fluviais da

Formação Tombador.

Foto 15: Shear bands nos metarenitos fluviais da Formação Tombador. Ponto As50.

Juntas extensionais escalonadas preenchidas por quartzo (tension gashes,

Foto 16) com movimento aparente sinistral, relacionadas a zona de cisalhamento

transcorrente N190 que ocorrem no meta-arenito fluviais da Formação Tombador.

57

Foto 16: Tension gashes com direção N190 nos meta-arenitos fluviais da Formação Tombado trilha

que segue para a gruta do Lapão. Ponto As27.

Outras fraturas de tração não se mostram totalmente preenchidas veio de

quartzo, onde foi recristalizado também são observados entre os estratos

obedecendo a configuração de um saddle reef (Foto 17).

Foto 17: Fratura aberta com o preenchimento por veios de quartzo recristalizado. Ponto As 29

No tratamento estatístico no diagrama de roseta para as estruturas rúpteis –

dúcteis (tension gashes, shear bands, diques e fraturas com preenchida com veio de

quartzo) (Fig. 29a). Essas estruturas possuem uma forte direção preferencial NW -

N340

58

SE, e no diagrama de isodensidade polar mostra um plano com valor máximo de

110p/227 e seu plano de máximo segundo N317/790NE (Fig. 29b).

Figura 29: a) Diagrama de roseta (b) diagrama de isodensidade polar para as estruturas rúpteis

dúcteis (tension gashes, shear bands, diques e fraturas preenchida por quartzo), máximo 110p/227 e

plano máximo N317/790 NE.

5.2 Estruturas Rúpteis

As estruturas rúpteis observadas na área de estudo, como falhas e fraturas,

apresentam uma grande importância no entendimento da evolução deformacional da

área, no que tange à interpretação da evolução cinemática e dinâmica

experimentada pelas formações metassedimentares.

Na área de estudo, as falhas são comumente do tipo normal ou reversa.

Associados aos planos de falha ocorrem degraus perpendiculares ao plano de falha

com alto Rake, que definem cinemática normal com atitude é N190/70 NW (Foto 18).

a) b) n = 117

Estruturas rúpteis dúcteis Máximo: 11

0p/227

Plano Máximo: N317/790NE

n = 117

59

Foto 18: Plano de falha com degraus na Formação Açuruá com atitude N190/70 SW. Ponto As9.

As estrias e lineações (Lx) estão sempre acompanhadas de steps reversos

onde possuem uma cinemática sinistral reversa e rake com uma média para todas

as falhas encontradas na área de estudo com 050p/200 (Foto 19).

Foto 19: Falha reversa encontrada na dobra da Gruta do Lapão na Formação Tombador de ambiente

estuarino.

60

Pares de falhas conjugadas ocorrem nos arenitos fluviais da Formação

Tombador no Morro do Pai Inácio e estão associados à falha de direção N50. Essas

fraturas mostram orientação N100 e N3150, sendo que a primeira evolui como falha

com movimentação relativa sinistral (Foto 20).

Foto 20: Falhas de cisalhamento formando par conjugado, orientados segundo a direção N10 e N315

no arenitos fluviais da Formação Tombador no Morro do Pai Inácio. Ponto As13

Falhas que cortam os seixos do Membro Lavras mostram direção N270 com

cinemática dextral (Foto 21).

Foto 21: Cinemática dextral na falha que corta os metaconglomerados do Membro Lavras. As61

N50

N10

000

sinistral

N315

sinistral

Dextral

sinistral

61

O diagrama de roseta (Fig. 30a), mostra que as falhas rúpteis apresentam

também direção preferencial NW – SE. No diagrama de isodensidade polar,

observa-se grande dispersão na distribuição dos dados com baixo a médio mergulho

tanto para NE, quanto para SW. Esta configuração nos mostra um plano com valor

máximo de 340p/060 SE e seu plano de máximo orientado N150/560SW (Fig. 30b).

Figura 30: a) Diagrama de roseta (b) Diagrama de isodensidade polar para as estruturas rúpteis com

n=44, máximo 340p/060 e plano máximo N150

0/56 SW.

5.3 Fases Deformacionais

Todas as fases deformacionais possuem idades de geração no

neoproterozóico, atribuída ao Ciclo Brasiliano (Danderfer 1990), o qual promoveu a

inversão parcial da bacia. As deformações relacionada com o Brasiliano ocorreram

nas bordas no Craton do São Francisco, que levou o desenvolvimento das faixas

móveis, tais como as de Rio Preto e Riacho do Pontal, que formaram cinturões de

cavalgamentos de dobramentos que afetaram as coberturas

paleo/mesoproterozóica da área de estudo. Trata-se de um estágio progressivo que

formam o sistema de dobramento e empurrões da Chapada Diamantina.

Na área de estudo, as estruturas identificadas sugerem um evolução seguindo

dois estágios deformacionais progressivos, foram eles: o (D1), estágio dúctil a rúptil

predominantemente compressiva; (D2), estágios rúptil - dúctil a rúptil e transcorrente.

a) b) n = 434

Estruturas rúpteis Máximo: 34

0p/060

Plano Máximo: N150/560SW

n = 434

62

5.3.1 Estágio deformacional D1

Este estágio é caracterizado pelo mega-anticlinal da Serra do Sincorá de

expressão regional com orientação preferencial do seu plano axial na direção N-S.

As estruturas mais freqüentes a esse estágio são as dobras em Kink assimétricas,

juntas de alívio associada ao dobramento, falhas reversas e dobras subsidiárias que

foram geradas ao longo dos flancos do mega-anticlinal que servem como rampas de

cavalgamento, para o desenvolvimento dessas dobras pelo mecanismo de

deslizamento intra-estratal.

As fraturas relacionadas a fase deformacional D1 são representadas pelas

fraturas longitudinais orientadas preferencialmente com direção aproximadamente

N-S, paralela ao eixo da dobra regional.

As fraturas diagonais constituem uma hipotética bissetriz do sistema que

formam pares conjugados com orientações nas direções NE-SW e NW-SE

relacionadas ao esforço E-W. Fraturas trativas na direção E-W são também

relacionadas ao esforço E-W caracterizando esta direção como a orientação do

vetor de tensão compressivo principal. Os veios de quartzo muita das vezes estão

localizados nos flancos das dobras menores posicionando – se ortogonalmente a

charneira do anticlinal e são resultado de um deslizamento intrestratais “saddle reef”

(Fig. 31).

63

Figura 31: Estágio deformacional D1 para a parte norte da região de Lençóis. Caracterizada pelo

anticlinal da Serra do Sincorá com direção do esforço principal E-W e geração de fraturas

longitudinais, diagonais ao plano axial. No flanco do mega-anticlinal desenvolveram dobas tipo Kink

com os flancos evoluídos como falhas reversas.

N

64

5.3.2 Estágio deformacional D2

O estágio D2 representa o estágio transcorrente sinistral e transtrassivo, ou

seja, corresponde a um estágio evolutivo colisional obliquo com orientação de

campo de tensão principal NNW – SSE (Fig. 32). Segundo Lagoeiro (1990, apud

Danderfer et al, 2003) a deformação das rochas metassedimentares na região de

Lençóis, se deve a aos processos geradores das faixas móveis Rio Preto e Riacho

de Pontal, que geraram dobras de empurrão e falhas transcorrentes com vergência

para N-S. Neste evento colisional Brasiliano os metacarbonatos do Grupo São

Francisco foram transportados para o interior do cráton, enquanto que nas rochas

metassedimentares do Super-Grupo Espinhaço foram deformados ao longo da zona

de cisalhamento transcorrente rúpteis – dúcteis.

Neste estágio, evoluíram falhas subsidiarias com orientação NNW – SSE e

geração da falha do Rio São João de orientação NNE. As estruturas desenvolvidas

neste estágio foram as falhas rúpteis – dúcteis, banda de cisalhamento (shear band),

tension gashs e estiramento mineral (Lx). Os tension gashs quase sempre indicam a

transição dos campos deformacionais de rúptil para rúptil – dúctil, onde geralmente

expressam uma deformação anti-horária (sinistral) que ocorreu após a nucleação da

dobra no estágio D1.

As estrias e lineações (Lx) estão sempre acompanhadas de steps reversos

onde possuem uma cinemática sinistral reversa e rake com uma moda de 05p/200.

A falha com movimento tanscorrente, sinistral do Rio São João, se estende

desde sudeste da cidade de Palmeiras, bordejando pelo leste a bacia de Irecê até o

limite setentrional de Seabra.

65

Figura 32: Estágio deformacional D2 transcorrente sinistral e transtrassivo, com a orientação de

campo de tensão principal NW – SE.

Este padrão de lineamento segue o padrão de cisalhamento Riedel, (Bonfim &

Pedreira 1990, Danderfer, 1990). A observação de imagem de modelo de relevo

aliadas aos dados de campo, indicam que as zonas de cisalhamentos sinistrais (NW-

SE) e dextrais (NE-SW), marcam o R e o R’ respectivamente, do padrão Riedel. Nos

diagramas de roseta (Fig. 33a) são evidenciados dois padrões de direções: a)

direções N350 à N300 estão representadas o conjunto de falhas sinistrais do tipo R

ou riedel e b) falhas dextrais R’ ou antiriedel, são representadas pela direção

aproximadamente N270 à N240. O diagrama de planos mostra que essas falhas

possuem direções variadas e alto ângulo de mergulho (Fig. 33b). Este padrão

gerado apartir da análise das estruturas dextrais e sinistrais de campo obedecem a

um modelo teórico para a formação de uma estrutura tipo Riedel (Fig. 34).

66

Figura 33: a) Diagrama de roseta n = 94 (b) Diagrama de plano para as falhas dextrais e sinistrais

para a área de estudo.

R - Fratura de cisalhamento sintética Riedel R’ - Fratura de cisalhamento antitética Antiriedel P - Fratura de cisalhamento sintética subordinada a R – R’

Figura 34: Elipsóide de deformação uma zona de cisalhamento Riedel com as fraturas R – R’. A falha

de empurrão na direção do esforço principal, e perpendicular a esse esforço ocorre a formação de

falhas normais.

Sinistrais

Dextrais

a)

b)

N

σ1

σ1

67

As intrusões básicas que cortam as rochas sedimentares, na forma de diques,

possuem orientação preferencial NW - SE e dimensões variadas, podendo alcançar

até 400m de largura aflorante. Os diques preenchem fraturas de tração que se

posicionam, paralelamente ao σ1 do estágio D2 da deformação Brasiliana.

68

6 CONCLUSÃO

A partir da análise geométrica e cinemática dos elementos litoestruturais da

porção centro-norte da região de Lençóis, pode-se concluir que:

Todas as estruturas estão inseridas dentro do anticlinal da Serra do Sincorá, o

qual foi caracterizado a partir da análise da disposição dos pólos no diagrama de

contorno relacionado ao acamamento (S0), que forneceu importante informação

quanto a sua geometria. A partir dos ângulos inter-flanco obtidos esterográficamente

foi-se possível caracterizá-la como sendo uma dobra suave e normal pelo caimento

do seu plano axial.

As análises dos lineamentos estruturais de relevo adquiridos em feições

lineares de drenagem, vales, falhas e fraturamento permitiram diferenciar três

classes de lineamento: NNW-SSE, N-S e W-E, agrupadas em dois estágios

deformacionais D1 e D2.

O anticlinal da Serra do Sincorá foi a primeira estrutura deformacional a ocorrer

no estágio D1, quando foi formado a partir de um esforço E-W, o qual gerou uma

dobra assimétrica com fraturas longitudinais com orientação preferencial N-S,

paralela ao eixo principal da dobra, e concomitante a mesma foram geradas as

fraturas diagonais com as orientações nas direções NNE-SSW e NNW-SSE com

outras na direção E-W.

As estruturas mais freqüentes associadas ao anticlinal da Serra do Sincorá a

são as dobras em Kink Band assimétricas, juntas de alívio associada ao

dobramento, falhas reversas e dobras subsidiárias que foram geradas ao longo dos

flancos do mega-anticlinal que serviram como rampas de cavalgamentos, para o

desenvolvimento de mecanismo de deslizamento intra-estratal.

O estágio D2 representa a fase transcorrente sinistral e transtrassivo, ou seja,

corresponde a um estágio evolutivo colisional obliquo com orientação de campo de

tensão principal NNW – SSE, os quais estão associados aos processos geradores

das faixas Rio Preto e Riacho de Pontal, que geraram dobras e falhas de empurrão

transcorrentes.

Este estágio favoreceu a abertura dos vales com orientação NNW – SSE e a

geração da falha do Rio São João. E geraram falhas rúpteis – dúcteis, banda de

cisalhamento (shear band), tasion gashs e estiramento mineral (Lx), cuja cinemática

relativa quase sempre sinistral.

69

O padrão de cisalhamento Riedel, na área de estudo mostra zonas de

cisalhamentos sinistrais e dextrais bem marcadas, que representa as fraturas R

(Riedel) marcado pela direção N350 à N 300 e R’ (Antiriedel) representadas pelas

direções de aproximadamente de N270 à N240.

As intrusões básicas que cortam todas as sedimentações tratam-se de corpos

de diques, com orientação preferencial NW - SE e dimensões variadas, podendo

alcançar até 400m de largura aflorante, as quais preenchem fraturas de tração,

paralelas ao σ1 do estágio D2 da deformação Brasiliana.

70

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As 1As 2As3

As 4As 5As 6

As7As 8

As 9

As 10

As11As 12

As 13

As 14As 15

As16

As17

As18As 19

As20

As 21

As 22As 23As 24

As25

As26

As 27

As 28

As29As 30

As 31

As 32

As 33

As 34

As 35

As 36

As37

As38

As39

As40

As41

As42

As43

As44

As45

As46

As 47

As48

As49

As50As51

As52

As53As54

As55As56

As57

As58

As59

As60

15º

10º

20º

15º

10º20º

15º

50º

40º

30º

Data: 25/05/2011

Anexo II

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

Mapa Estrutural da parte Norte da Região de Lençois-Ba

Autor: Asafe Santana

Orientador: Carlson Leite

15

20

N340

N320

N 340

Par conjugado de cisalhamento

Kink

Dobra reversa

Mapa geologico da parte Norte da Região de Lençois

Autor: Asafe Santana

Orientador: Carlson Leite Anexo: I

Data: 17/05/2011

Universidade Federal da Bahia

As1As2As3

As4As5As6As7

As8As9

As10

As11

As12

As13

As14 As15

As16

As17

As18As19

As 20As 21

As 22

As 23

As 24

As 25

As 26

As 27

As 28

As 29

As 30

As 31

As 32

As 33

As 34

As 35

As 36

As 37

As 38

As 39

As 40

As 41

As 42

As 43 As 44

As 45

As 46

As 47

As 48

As 49

As 50As 51

As 52

As 53As 54

As 55

As 56

As 57

As 58As 59

As 60

Mapa de localização

Mapa geológico modificado apartir da folha SD. 24 V A Seabra - Edgar Filho et. al (1986).

UNIDADES GEOLÓGICA

Terciário/quaternário 0 – 65Ma

Unidade F - Depósitos superficiais aluvionares.

Mesoproterozóico 1.2 – 1.6 Ga

Unidade D - Formação Tombador metarenito fluviais eólico e estuarino.

Unidade C - Formação Tombador metaconglomerados polimítico.

Paleoproterozóico 1.6 – 1.7 Ga

Unidade B - Formação Açuruá metarenitos deltaico.

Unidade A - Formação Açuruá metapelitos laminado marinho.

Unidade E - Formação caboclo constituído por metassiltito e metarenito com estratificação plano paralela, de ambiente marinho raso.

75

8 ANEXO I

76

9 ANEXO II