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ANÁLISE DO USO DA ENERGIA NUCLEAR: ASPECTOS INSTITUCIONAIS, SOCIAIS, AMBIENTAIS, ECONÔMICOS E SEGURANÇA ENERGÉTICA Marcelo Aires Moreira (UFCG) [email protected] Yuri Laio Teixeira Veras Silva (UFPB) [email protected] Ewerton Esdras Rodrigues de Araujo (UFPB) [email protected] Josilene Aires Moreira (UFPB) [email protected] Ricardo Moreira da Silva (UFPB) [email protected] Os estudos sobre a energia nuclear moderna datam do fim do século XIX. É a energia liberada em processos de transformação de núcleos atômicos. Baseia-se no princípio da equivalência de energia e massa (observado por Albert Einstein), segunddo a qual durante reações nucleares ocorre transformação de massa em energia. A energia nuclear pode ser gerada através da fusão ou fissão nuclear cujos processos e impactos são distintos. Quando átomos se unem, há a fusão nuclear e o processo da fissão nuclear ocorre quando o núcleo parte-se em partes, transformando-se em átomos mais leves. Em ambos casos, há liberação de energia. A princípio essa energia deveria ser limpa, barata e inesgotável, mas existem problemas ainda não elucidados e esse artigo trata de agrupar as principais características da energia nuclear em quatro dimensões: a institucional, social, ambiental e econômico, além de apresentar os acidentes e discutir sobre segurança energética. O método de levantamento dos dados que norteou essa pesquisa (embora não mostrado explicitamente) foi o sistema de indicadores driving force - state - responsive desenvolvido pelas nações unidas. Conclui-se que a preocupação com segurança das instalações nucleares deve ser extrema. Fukushima relembrou que nenhuma central nuclear está segura contra manifestações da natureza. A rigor, no Brasil a energia nuclear é dispensável pois possui energia hidrelétrica e outras possibilidades energéticas abundantes. Assim, a energia nuclear apenas deve ser opção para países que não têm outras disponibilidades. Assim, este país deve investir mais no uso da biomassa e nas hidrelétricas, pois ainda há muito potencial para ser aproveitado. Por outro lado, é impossível esquecer que, mesmo cara e poluente, a energia nuclear tem qualidade de tensão e freqüência XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

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ANÁLISE DO USO DA ENERGIA

NUCLEAR: ASPECTOS

INSTITUCIONAIS, SOCIAIS,

AMBIENTAIS, ECONÔMICOS E

SEGURANÇA ENERGÉTICA

Marcelo Aires Moreira (UFCG)

[email protected]

Yuri Laio Teixeira Veras Silva (UFPB)

[email protected]

Ewerton Esdras Rodrigues de Araujo (UFPB)

[email protected]

Josilene Aires Moreira (UFPB)

[email protected]

Ricardo Moreira da Silva (UFPB)

[email protected]

Os estudos sobre a energia nuclear moderna datam do fim do século

XIX. É a energia liberada em processos de transformação de núcleos

atômicos. Baseia-se no princípio da equivalência de energia e massa

(observado por Albert Einstein), segunddo a qual durante reações

nucleares ocorre transformação de massa em energia. A energia

nuclear pode ser gerada através da fusão ou fissão nuclear cujos

processos e impactos são distintos. Quando átomos se unem, há a

fusão nuclear e o processo da fissão nuclear ocorre quando o núcleo

parte-se em partes, transformando-se em átomos mais leves. Em ambos

casos, há liberação de energia. A princípio essa energia deveria ser

limpa, barata e inesgotável, mas existem problemas ainda não

elucidados e esse artigo trata de agrupar as principais características

da energia nuclear em quatro dimensões: a institucional, social,

ambiental e econômico, além de apresentar os acidentes e discutir

sobre segurança energética. O método de levantamento dos dados que

norteou essa pesquisa (embora não mostrado explicitamente) foi o

sistema de indicadores driving force - state - responsive desenvolvido

pelas nações unidas. Conclui-se que a preocupação com segurança das

instalações nucleares deve ser extrema. Fukushima relembrou que

nenhuma central nuclear está segura contra manifestações da

natureza. A rigor, no Brasil a energia nuclear é dispensável pois possui

energia hidrelétrica e outras possibilidades energéticas abundantes.

Assim, a energia nuclear apenas deve ser opção para países que não

têm outras disponibilidades. Assim, este país deve investir mais no uso

da biomassa e nas hidrelétricas, pois ainda há muito potencial para ser

aproveitado. Por outro lado, é impossível esquecer que, mesmo cara e

poluente, a energia nuclear tem qualidade de tensão e freqüência

XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção

Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

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reconhecidas e possui grande capacidade de escala de produção.

Assim, a energia nuclear é ainda indispensável em muitos países por

ser alternativa de suprimento de eletricidade em grande escala.

Palavras-chaves: Energia Nuclear, Acidentes nucleares, Insegurança

nuclear

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1. Introdução

As questões ambientais ligadas ao aquecimento global têm levado alguns países a adotarem

uma política energética que contribua para a redução de gases ligados ao efeito estufa,

preservação de seus ecossistemas e suprir sua demanda por energia (T. ROGERS-HAYDEN

et.al, 2011). De acordo com BP (2011), a demanda por energia primária mundial aumentou

em 5,6% entres os anos de 2009 e 2010. No Brasil, cerca de 70% da sua matriz elétrica é

movida a força das águas e sua frota automobilística depende de combustíveis fosseis,

também ocorre esse problema. Debates sobre como proceder para suprir a maior demanda por

energia primária sem devastar seus recursos naturais tem sido os principais temas debatidos.

(CARVALHO; SAUER, 2012)

Assim o Brasil vive uma situação de amplo crescimento econômico e social e apesar da crise

financeira internacional vivenciada desde 2008, o cenário político e econômico brasileiro

favorecem o crescimento industrial.. Houve um aumento de 8,5% no mesmo período, o que

reforça a idéia de que o crescimento vem ocorrendo. O gráfico 1 ilustra o consumo da energia

primária do Brasil:

Figura 1- Consumo de Energia Primária – (Milhões toneladas de óleo equivalente)

Fonte: BP (2011).

Com o consumo em alta, há necessidade de aumentar a produção de energia e o governo

brasileiro sinaliza investimentos pesados na área da energia nuclear. A questão é: A energia

nuclear é segura do ponto de vista do ser humano? E a questão da segurança energética? Esse

artigo busca levantar dados através de rastreamento bibliográfico e trazer à discussão a

questão da segurança física e a questão do provimento de energia no sentido de aumentar a

oferta.

2. O uso da energia nuclear no mundo

No ano de 2010 a representatividade da energia nuclear no Brasil foi de aproximadamente

1%, enquanto a energia oriunda das hidrelétricas, representa cerca de 35% do mix energético,

que por sua vez representa 74% de toda oferta interna de energia (BP, 2011 e BEL, 2010).

Apesar das hidrelétricas fornecerem uma energia livre de CO2, a área na qual estas são

construídas geralmente sofrem um forte impacto ambiental devida aos lotes de terra que

devem ser inundados. Além disso, a produção de energia fica a mercê das condições

climáticas, o que pode gerar uma crise relacionada a segurança energética. (D.M, Rosenberg

et.al, 2012 e HARRISON; WHITTINGTON, 2012).

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Preocupações com o meio ambiente, principalmente relacionadas ao aquecimento global,

além das exigências do protocolo de Kyoto, tem levado Governos a diminuírem a fatia

participativa de combustíveis fosseis em suas matrizes energéticas.

O gráfico 2 a seguir nos mostra a evolução da participação da energia nuclear de alguns países

europeus desde a década de 1970 (BP, 2011).

Figura 2 – Evolução da Energia Nuclear nos Países Europeus

Fonte: Adaptado de BP Statistical Review of World Energy (2011).

De acordo com o figura 2 percebemos que a ascendência ocorre a partir dos anos 80,

possivelmente em resposta as crises de fornecimento de petróleo ocorridas nos anos 70, o que

fortalece a ideia de que a segurança energética tem levado muitos países a investirem pesado

em tecnologias que possibilitem a produção de energia nuclear.

3. Os acidentes nucleares declarados no mundo

Um terremoto e um tsunami causaram o acidente nuclear de Fukushima, ou seja, sem se

apropriar do pensamento sistêmico, o ser humano em nada foi responsável. Por causa de

Fukushima, Tanimoto et.al.(2011) afirmam que a indústria de energia nuclear do Japão está

enfrentando sua pior crise. As autoridades relacionadas com Fukushima parecem relutantes

em admitir a gravidade do problema para proteger a reputação do setor nuclear tanto quanto

possível. Duffield e Woodall (2011) já colocam que as consequências podem ser comparadas

com Three Mile Island (EUA) e Chernobyl (ex-União Soviética).

Segundo IAEA (2012) a International Nuclear Event Scale INES, foi criada em 1990 e desde

então tem sido utilizada na classificação de eventos nucleares. O INES tem como principal

objetivo comunicar ao público “informações consistentes sobre a importância dos acidentes e

incidentes radiológicos sob o ponto de vista da segurança”. Esta escala é composta por 7

níveis, onde o nível mais baixo significa uma “anomalia” e o nível mais alto “um grande

acidente”. Apesar de serem pouco comuns os acidentes nucleares, quando ocorrem, causam

grande repercussão e alarde tanto pela mídia quanto pelas populações circunvizinhas, como

pode ser visto a seguir:

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Acidente Descrição

2011

Fukushima

Japão

Nível7

Ocorrido em março de 2011, o acidente de Fukushima foi o resultado de um terremoto

seguido de tsunami. Segundo WNA (2012), no momento do terremoto a usina foi desligada

automaticamente, com exceção do sistema de resfriamento dos reatores. Ao ser atingido pelo

tsunami o sistema de resfriamento falhou o que levou os operadores a injetarem água do mar

para continuar o resfriamento dos reatores. Mesmo com as medidas de segurança ocorreram

3 explosões com vazamento de material radioativo. A região localizada em até 40 km do

local dos reatores foi devidamente evacuada e estima-se que cerca de 7.000 pessoas foram

expostas ao dobro do nível de radiação permitido, porém não houve nenhuma morte devido

a radiação (WNA, 2012).

1986

Chernobyl

Ucrânia

(URSS)

Nível7

Exposição do núcleo do reator. É considerado o acidente mais grave da história (The

Guardian, 2012), ocorreu devido a explosão do quarto reator da usina atômica ucraniana e

lançou na atmosfera 200 toneladas de material nuclear com a radioatividade equivalente a

500 bombas atômicas de Hiroshima (WNA,2012; CHERNOBYL, 2012).

A catástrofe teve como primeiras vítimas as pessoas que trabalhavam com a limpeza e o

isolamento do reator. A nuvem radioativa gerada pela explosão contaminou solos e águas

nos territórios da Ucrânia, Rússia e Bielorússia, então repúblicas soviéticas e se estendeu

pela Europa contaminando frutas, legumes e água. De acordo com dados oficiais do governo

Ucraniano (apud Nunes, 2012) o acidente teria causado mais de 7.000 mortes, sendo 29 no

instante da explosão (LUKE, 2012).

1979

Three

Mile

Island

EUA

Nível 5

Graves danos ao núcleo do reator. O acidente se deu devido a uma pane no sistema de

resfriamento do reator. Um sistema de emergência foi ativado automaticamente, porém seu

funcionamento foi desativado por um operador. Este erro poderia ter causado a explosão do

reator. (WNA, 2012). Devido ao aquecimento parte do reator foi derretido expondo o

conteúdo radioativo. Uma área de 16 km foi afetada, mas só foi evacuada dois dias após o

acidente. (DW, 2012). Uma comissão instaurada pelo presidente Jimmy Cater, revelou que o

acidente foi ocorrido devido uma falha humana. Pesquisas recentes apontam que apesar do

acidente ter contaminado 6 funcionários, os índices de câncer na região não obteve aumento

significante (DW, 2012; EHP, 2012)

1957

Kyshtym

Rússia

nível 6

Ocorreu devido a uma falha no compartimento de resíduos nucleares resultando numa

explosão que onde são liberadas aproximadamente 70 toneladas de material radioativo (THE

GUARDIAN, 2012; NRPA, 2012). A nuvem radioativa liberada pela explosão contaminou a

região em um raio de 800 km. Cerca de 200 pessoas morreram vítimas de câncer decorrente

da exposição à radiação

1957

Windscale

Reino

Unido

nível 5

Liberação de material radioativo após um incêndio em um núcleo do reator. Foi considerado

o mais grave de sua época, se deu devido a um incêndio no núcleo de grafite de um reator.

Segundo J. Radiol (2012), o acidente de Windscale pode ter causado cerca de 300 casos de

câncer, onde 100 foram fatais

1987

Goiana

Considerado o mais grave ocorrido em área urbana (IAEA, 2012). O acidente ocorreu

devido uma contaminação por césio-137. Naquele caso o material foi utilizado por um

Instituto de Radioterapia que se transferiu para outras instalações deixando o aparelho de

radioterapia que continha césio-137 em seu interior. Duas pessoas, desmontaram o aparelho

e venderam as peças para um ferro-velho, abrindo também o recipiente de chumbo que

continha o césio-137. O pó foi distribuído para outras pessoas, incluindo crianças. Segundo a

Secretaria de Saúde do estado de Goiás (2012), foram monitoradas 112.800 pessoas, onde

249 apresentaram algum tipo de contaminação. Oficialmente, o acidente causou 4 mortes

devido a exposição à radiação. Segundo o Greenpeace outras 60 mortes ocorreram e 6.000

pessoas foram contaminadas pelo césio-137 (GREENPEACE, 2012)

Fontes: Adaptado de The Guardian, 2012 e WNA, 2012

Quadro 1- Os cinco maiores acidentes nucleares

Depois de Fukushima, Saenko et al. (2011) afirmam que há pouca previsão sobre número de

vítimas nucleares, mas estimam que a radiação possa ter chegado diretamente a 200 mil

pessoas. Segundo Marques (2011), a primeira reação da Alemanha ao acidente nuclear de

Fukushima foi, em teoria, abandonar essa alternativa energética, fechando duas plantas em

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funcionamento e anunciar o fechamento de todas as plantas nucleares até 2030. Em reunião de

emergência em Bruxelas, o governo Suíço suspendeu novas licenças, o que foi acompanhado

por vários países da União Européia, que colocaram em reavaliação a carteira de suas

matrizes energéticas (já que a Europa concentra a maior quantidade de usinas nucleares do

planeta).

A China, desacelerou a construção de 28 usinas. Ocorre que Zhou e Zhang (2010) colocam

que naquele país, os limitados recursos de matéria prima, o custo crescente da energia fóssil e

os problemas ambientais na mineração de carvão, fazem da energia nuclear ser uma opção

estratégica inevitável, mesmo consciente dos problemas da segurança dos reatores, do

tratamento de resíduos nucleares, e o risco de proliferação de material nuclear.

4. As dimensões institucional, social, ambiental e econômica da energia nuclear

O indicador driving force- state – responsive permitiu distribuir a análise de uso da energia

nuclear sob quatro dimensões:

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Dimensão Institucional: É a dimensão que analisa as externalidades e políticas publicas.

Segundo Lepecki (2011) a energia nuclear em países como a Alemanha, França, Bélgica,

Finlândia, Japão, Coréia e outros onde há ausência de outras fontes primárias, seu uso

intensivo não é uma opção, é uma decisão estratégica, mesmo considerando suas

inseguranças e desafios. No Brasil, esta fonte representa apenas 2% da matriz energética

(Silva 2005). A energia nuclear é intensiva em capital, tecnologicamente complexa e

ambiental e globalmente impactante.

• Intensiva em capital quando requer vultosos investimentos iniciais até ser

transformada em eletricidade. Além disso, os custos de sua construção acabam por

envolver, não raro, mais investimentos dos inicialmente previstos. Por isso, a propriedade

sempre é do Estado ou de grupos financeiros de expressão mundial.

• Tecnologicamente complexa, pois requer pessoal altamente qualificado, estrutura

de poder centralizada, hierarquizada, à semelhança das mais rígidas organizações criadas

para o controle da sociedade.

• Ambiental e globalmente impactante, pois requer rígido acompanhamento e livre

acesso por parte de instituições supranacionais encarregadas de fiscalizar as etapas da

cadeia produtiva da energia nuclear. Esse caráter globalizado tem fortalecido o organismo

internacional criado para o acompanhamento de seu desenvolvimento e controle: A

International Atomic Energy Agency (IAEA).

A respeito do uso da energia nuclear no Brasil com objetivo comercial, o programa nuclear

brasileiro, teve início em 1968, quando foi firmado um convenio entre CNEN (Comissão

Nacional de Energia Nuclear) e a Eletrobrás para a construção da usina nuclear Angra 1,

localizada na cidade de Angra dos Reis no estado do Rio de Janeiro, a qual entrou em

funcionamento no ano de 1984 (KURAMOTTO & APPOLONI, 2011; WNA, 2012).

No ano de 1975, mais um acordo é realizado com a Alemanha com o intuito de serem

construídas mais duas usinas nucleares (Angra 2 e 3), porém, devido às dificuldades

operacionais e econômicas este acordo foi desfeito em 1978. Em 1988, através de um

decreto presidencial, as obras de Angra 2 e 3 tiveram continuidade, fazendo com que a

usina de Angra 2 entrasse em funcionamento em 2000 e Angra 3 fosse construída, na qual

encontra-se em construção, com funcionamento previsto para 2015. (WNA, 2012; WNN,

2012).

Os investimentos feitos para construção e funcionamento das usinas brasileiras foram:

Angra 1 R$ 1,2 bi - Angra 1 R$ 3,7 bi - Angra 3 R$ 9,9 bi. Apesar dos altos investimentos,

a produção nuclear brasileira contribui atualmente com apenas 1% de todo o mix energético

nacional.

Quadro 2: Dimensão Institucional da energia nuclear

Fonte: Silva (2011)

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Dimensão Social É a dimensão que questiona os efeitos na sociedade.

Segundo Pereira (2001), além do lixo nuclear prejudicando o ser humano, o acesso a

qualquer um desses estoques de plutônio, seja por indivíduos inescrupulosos ou seguidores

de movimentos radicais da sociedade, pode instaurar um comércio clandestino e/ou mesmo

espalhar o terror em escala global, não propriamente pela energia aproveitável que o

elemento encerra, mas pelo potencial destruidor que concentra. A esse respeito,

Goldemberg (2011) coloca que, independente se a causa foram eventos imprevisíveis da

natureza como em Fukushima, ou apenas uma válvula que travou, como na usina

americana; de qualquer modo as usinas nucleares são perigosas:

A questão atualmente presente nos estudos sobre a gestão energética é: se o Japão, que era

um dos países mais preparados tecnologicamente para gerir plantas atômicas, experimentou

a “insegurança” nuclear por causa de um evento da natureza, quais as chances de ocorrer

uma catástrofe nuclear de proporções intercontinentais no caso de uma usina entrar em

processo semelhante em outra parte do planeta? Tornou-se claro que a insegurança nuclear

existe e, embora seja matematicamente impossível de mensurar, é probabilisticamente

possível e significativa. A recomendação é de se optar pela prudência, pelo estudo, e pela

avaliação das conseqüencias ao se tratar de decisões relacionadas à geração de energia a

partir de fontes nucleares.

Quadro 3: Dimensão Social da energia nuclear

Fonte: Silva (2011)

Dimensão Ambiental É a dimensão que analisa as interações com o meio ambiente.

A energia nuclear não emite CO2 para atmosfera. Aliás, essa vertente foi responsável pela

“ilusão” da energia nuclear ser limpa, mesmo considerando os acidentes já ocorridos.

Lovelock (2006) chega a afirmar que a energia nuclear é “a” fonte de energia capaz de

atender as expectativas do ser humano. Mesmo considerando a gravidade dos acidentes

citados, o mundo os enxergavam apenas como acidentes locais e o aquecimento é

reconhecidamente global, assim, não jogar CO2 por si só, seria “uma boa” razão para seu

uso. Na verdade, o processo produtivo da energia nuclear não libera nenhum gás do efeito

estufa em quantidades apreciáveis, nem enxofre ou nitrogênio e isso não podem ser

desprezados.

Apesar dessa não-liberação de poluentes na atmosfera, a energia nuclear não é limpa. Ela

produz rejeitos de natureza radioativa, mas contribuem para o aumento do risco

tecnológico, ambiental e humano. De todo o modo, a indústria nuclear precisa resolver pelo

menos dois problemas decorrentes dos resíduos que libera: o lixo atômico e os estoques de

plutônio. Na verdade, a energia nuclear apresenta fortes impactos ambientais, não apenas

em casos dos acidentes citados, mas em sua normalidade de funcionamento, onde se produz

um lixo atômico que atualmente, ainda não possui tratamento eficaz.

Ora, segundo Pereira (2001) há um acúmulo de muitos materiais radioativos que deverão

ser acomodado em repositórios definitivos. Esse lixo pode ser enterrado em edifícios

subterrâneos que possuam escavações profundas (como na Suécia) ou em áreas de

escavação em granitos de áreas tectonicamente estáveis. Fato é que um destino ao lixo

precisa ser dado e isso tem custos elevadíssimos.

Assim, se diz que a energia nuclear é considerada energia limpa por conta da não emissão

do CO2 na atmosfera, pois ela realmente não contribui para o aquecimento global.

Entretanto na conta ambiental muitas vezes, para explicar as racionalidades dos jogadores

no desenvolvimento da ação, é “esquecido” o passivo deixado via lixo nuclear, e dessa

forma, apenas a avaliação da “emissão de CO2” é pouco significante para se garantir uma

energia limpa.

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Quadro 4: Dimensão Ambiental da energia nuclear

Fonte: Silva (2011)

Dimensão Econômica: É a dimensão que analisa as taxas de retorno, investimentos,

custos, tarifas e afins.

O esperado baixo custo de produção também não existe, pois o custo do KW produzido via

energia nuclear é um dos mais altos dentre das fontes conhecidas. Pereira (2001) mostra

que no início da década de 90 o custo do KW nuclear instalado era em torno US$2.000,00

enquanto os de termelétricas a gás natural sequer alcançam US$1.000 por KW instalado.

Quando comparada com tecnologias tradicionais, os custos em plantas nucleares demandam

o dobro do capital de investimento. Por isso, em países onde o setor elétrico foi privatizado,

as empresas de energia se negam a assumir usinas nucleares em seus parques geradores.

Goldemberg (2011b) coloca que os altos custos da energia nuclear estão associados a três

riscos: econômicos, estratégicos e físicos que oneram o valor final do MW produzido.

a) Os riscos econômicos: Tem haver com a produção em si de eletricidade. As

preocupações com a segurança dos reatores nucleares aumentam muito seu custo, assim a

eletricidade produzida por eles tem dificuldades em competir com a eletricidade gerada de

outras fontes como carvão, gás e hidroeletricidade.

b) Os riscos estratégicos: Nesse caso considera-se a questão da possibilidade de usar os

produtos usados no ciclo nuclear (urânio enriquecido) ou os subprodutos formados pelo

funcionamento dos reatores nucleares (plutônio), para produzir armas nucleares.

c) Os riscos físicos: Consideram-se aqueles que resultam da produção e uso de grandes

quantidades de radioatividade, o que é inerente ao uso de energia nuclear. Eles incluem a

produção de combustível nuclear (urânio enriquecido), seu uso nos reatores nucleares, onde

podem ocorrer acidentes que liberem radioatividade no meio ambiente, e na armazenagem

dos resíduos altamente radioativos. Cerca de 400 reatores no mundo usa “urânio

enriquecido” e a explosão nuclear (dentro ou fora dos reatores) produz uma imensa

radioatividade que é ativa milhares de anos.

Goldemberg (2011b) acrescenta que outras formas de energia também têm riscos, mas não

na escala da energia nuclear; barragens de usinas hidroelétricas já ruíram, inundando vastas

áreas e provocando mortes, mas esses foram acidentes com impactos localizados. Usinas

termoelétricas que utilizam gás já foram paralisadas devido a problemas políticos

relacionados com os fornecimentos (como já ocorreu na Ucrânia, quando a Rússia cortou o

fornecimento de gás), mas eram mais relacionados com o preço do gás do que com

problemas estratégicos.

Já Kessides (2010) analisa os custos e benefícios da energia nuclear em relação a

investimentos em tecnologias de base da alternativa e conclui que: i. Os custos de geração

nuclear são bastante insensíveis aos preços de petróleo, gás e carbono; ii. Nenhum estudo é

capaz de prever com exatidão os custos da energia nuclear no que diz respeito aos riscos

relacionados à saúde do ser humano e aos impactos ambientais. iii.A padronização dos

reatores pode baixar os custos.

Nessa direção também há os custos da construçãodos depósitos do lixo nuclear. Os custos

são altíssimos e devem ser incorporados ao custo da produção de energia. A Suécia, por

exemplo, criou um sistema de “premio de créditos verdes” que prevê o pagamento de uma

taxa pelas unidades geradoras que de alguma maneira prejudicam a natureza, como é o caso

da energia nuclear. Com esse imposto verde, conseguiu construir o abrigo para seu lixo

nuclear.

Quadro 5: Dimensão Econômica da energia nuclear

Fonte: Silva (2011)

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5. Análise das dimensões e segurança energética

Santos (2011) coloca que a energia nuclear, apesar de cara, sempre foi aceita por ser energias

de massa. Por isso “os altos custos são tolerados e mascarados, nas palavras e ações que são

geradas escondendo suas fraquezas, lacunas, e vícios, disfarçando o caos econômico da

energia nuclear”.

Dessa forma, observando-se apenas a vertente “custos de produção”, a energia nuclear é uma

opção de uso apenas na França, Finlândia, Japão, Coréia e outros países onde há ausência de

outras fontes primárias. (LEPECKI, 2011), mas fica claro a “exigência de sistemas de

segurança mais eficientes e uma alta no preço” (COSTA, 2011).

Por exemplo, sobre a mitigação dos riscos, na Suécia foi instalado em Oskarshamn, o SKB

(Svensk Kärnbränslehantering AB/Swedish Nuclear Fuel and Waste Management Company)

que é um abrigo para todo o lixo nuclear para os próximos 60 anos, com custo final planejado

de 3 bilhões de euros.

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Galeria de acesso

Fonte: Pacini (2009)

Figuras 3 e 4: Fotos do SKB/Swedish Nuclear Fuel and Waste Management Company

Pacini (2009) esclarece que o peso da capsula é cerca de 20 toneladas e que o custo individual

é em torno 200 mil euros. Para abrigar o lixo nuclear, a Suécia planeja construir 6700

capsulas de cobre, que serão seladas em processo de alta tecnologia de soldagem, cobertas

com betonita e esquecidas por 100.000 anos.

Já sobre os acidentes, segundo Marques (2011) no Brasil, o acidente japonês levou a

presidente pedir uma revisão do Plano Decenal de Energia, que estabelecia a conclusão de

Angra Três e o investimento em outras quatro usinas semelhantes – duas no Nordeste e duas

no Sul. O aludido autor, Goldemberg (2011b), BEN (2010) garantem que o Brasil pode

manter sua matriz energética sem o uso de energia nuclear por algum tempo.

Inicialmente, o Brasil em sua matriz energética, nunca precisou dos MW produzidos pelas

usinas de Angra. Na verdade, a implantação de uma tecnologia dessa natureza carrega em seu

bojo de aspirações, muito mais que a quantidade de MW produzidos, trata-se também da

questão de exercício de poder (Portilho, 2005). O governo militar da época de contratação das

usinas de Angra contrariou as indicações técnicas do uso de urânio em natura abundante no

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Brasil para usar o combustível enriquecido. O propósito era capacitar o governo a dominar a

tecnologia de enriquecimento do urânio (SILVA, 2005).

Para piorar o argumento do uso da energia nuclear, Costa (2011) coloca que as condições de

financiamento de Angra 3 são controversas, já que a Eletronuclear assumiu uma taxa de

retorno para o investimento entre 8% e 10% – muito abaixo das praticadas pelo mercado, que

variam de 12% a 18%. Assim, o referenciado autor afirma que os subsídios governamentais

ocultos são disfarçados nas contas de energia. Segundo o aludido autor, os custos de Angra 3

que eram de R$ 7,2 bilhões em 2008, aumentaram para R$ 10,4 bilhões em 2010, isso sem

contar os R$ 1,5 bilhão já empregados na construção.

Os recursos energéticos mostram uma grande variação tanto de gêneros, como de

quantidades, de acordo com a distribuição territorial, como por exemplo, metade do gás

natural produzido atualmente, encontram-se na Rússia e países do leste europeu, enquanto

aproximadamente metade das reservas de petróleo do mundo estão localizadas no Oriente

Médio. Fatores como estes, implicam na necessidade de um estudo sobre a segurança

energética de forma detalhada em cada região. (AIE, 2005).

De acordo com a UNDP (2000), segurança energética pode ser compreendida como a

capacidade do fornecimento energético, de maneira adequada, em quantidades que supram as

necessidades de abastecimento de determinada região, a preços acessíveis por todos. Para

Blyth e Lefevre (2004), a disponibilidade aos recursos energéticos são importantes no

crescimento das nações, e sua definição se passa pelo fato da energia ser um fator vital na

industrialização.

Pesquisadores em geral vêm, ultimamente, passando a estudar e detalhar quais os pontos que

contribuem para as mudanças na intensidade energética dos países ao longo dos anos, a fim de

melhor mapear as necessidades energéticas, visando um estudo mais completo sobre a

segurança energética de cada região. Para a ANG (2004), a intensidade energética pode ser

definida como uma relação entre o índice de desenvolvimento da economia de um país com

seu uso de energia, em outras palavras, a razão entre o consumo médio energético do país e o

seu determinado produto interno bruto (PIB).

Os grandes aumentos das tarifas de petróleo mostrou o quão vulnerável são os países

industrializados em relação a crescente demanda energia para suprir as necessidades

energéticas impostas. Estudos mostram que a confiabilidade nas dependências energéticas na

grande maioria dos países tem estado bastante abalada, e se tornado um dos problemas mais

debatidos pelas políticas públicas. (BIELECKI, 2002; MONTEIRO, 2006). No Brasil, a partir

do problema com abastecimento ocorrido em 1989, a segurança energética ganhou força e

uma nova relevância na política do país, quando começou a ser debatido a possibilidade de

haver uma elevação na participação do etanol na matriz energética.

Por pertencer a uma região global diferenciada, as condições de segurança energética no

Brasil são tratadas com menos intensidade, uma vez que, por ter um poderio energético amplo

em função de uma matriz bastante complexa e extensa, além da grande reserva natural como

campos viáveis para construção de hidrelétricas, utilização de termoelétricas no

processamento do carvão mineral, extensa área geológica para a realização da atividade

energética através de biomassa, além das recentes pesquisas e planejamentos acerca do pré

sal, que de acordo com a Agência Brasil (2009), são reservas de petróleo encontradas na

camada pré-sal do litoral brasileiro. Segundo a API (2010) essas reservas podem garantir a

segurança energética brasileira por um longo período.

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A matriz energética do Brasil tem sofrido pequenas alterações desde 1980, com a produção

elétrica total crescendo gradativamente. A biomassa não-renovável foi o único ponto que

decresceu de forma contínua, enquanto a renovável teve sua produção aumentada. O

percentual de petróleo cresceu até a década de 90 e após permaneceu quase que constante,

com uma pequena regressão, assim como as fontes energéticas hidraúlicas e de gás natural. O

que ocorre é que a oferta de energética no país é bastante ampla, o que é um fator expressivo

de poder de produção e autosustentação energética durante muito tempo, sem a necessidade

da implantação de energia nuclear no país.

6. Conclusões

Lepecki (2011) e Goldemberg (2011b) afirmam que a energia nuclear é perigosa e tem custos

elevados. Com Fukushima, ela oferece mais uma mostra de sua insegurança e de seu poder

destrutivo. Sobre a inesgotabilidade, a expectativa de uso da matéria prima são 500 anos.

Pereira (2001) colocou que “países que há muito tempo se mostram desfavoráveis à opção

nuclear como a Bélgica, hoje apresenta 60% de sua energia proveniente de fonte físsil, e a

Suécia 46,2% ... a Alemanha 31,8%, e continuam dela depender em altíssimo grau para

atender suas demandas de energia como um todo e de eletricidade mais particularmente”.

Mesmo com os acidentes ocorridos, na prática, nenhum país citado pode prescindir de

imediato de seu uso, inclusive na Alemanha, que investe pesado em parques eólicos. Na

Suécia houve um plebiscito em 1980, onde mais de 80% determinou pelo fechamento de

todas as usinas nucleares. Ocorre que o governo anunciou naquela ocasião que não poderia

atender o plebiscito, mas prometeu não abrir novas usinas (Kåberger, 2007). Ocorre que em

fevereiro de 2009, o governo sueco anunciou que o país necessitaria de mais energia, e,

precisaria construir cinco novas usinas nucleares.

Pereira (2001) afirmou ser absolutamente impossível em curto/médio horizonte, substituir as

quantidades de energia atualmente geradas pelas fontes físseis. De fato, a preocupação com

segurança que as instalações nucleares exigem deve ser extrema. É prudente seguir por saídas

energéticas menos arriscadas. Evidenciados pelo desastre em Fukushima, Goldemberg

(2011b) e Costa (2011) concluíram que nenhuma central nuclear do planeta está segura contra

eventos sísmicos, tsunamis ou quaisquer outras manifestações da natureza.

Cara e insegura o uso da energia nuclear ainda carece de muitos estudos, muito embora,

segundo o MME 2010, ao contrário do que poderia se esperar, já que de acordo com os

próprios dados mostram uma auto sustentabilidade com uma longevidade bastante ampla no

setor energético do país, o Brasil pretende aumentar a escala de produção de energia nuclear

através do urânio de forma gradativa até 2030, aumentando em cerca de 76,4% a parcela atual

representativa da energia nuclear na oferta interna brasileira.

Goldemberg (2008) considera esse planejamento em nucleares no Brasil, desnecessário, uma

vez que o Brasil possui outras formas de produzir energia com custos mais reduzidos e mais

seguros como a energia eólica ou o uso intensivo dos bicombustíveis. Segundo esse autor:

“esse tipo de geração deve ser a última das opções, restrita a países que não têm outra opção,

como a França.Quando Angra 3 ficar pronta, a energia gerada será menor que o potencial de

produção de energia do bagaço de cana, que só em São Paulo é de 2GW. Devemos apostar

mais na biomassa e nas hidrelétricas, ainda há muito potencial para ser aproveitado”.

O ocorrido em Fukushima, num país de primeiro mundo, mostrou que o uso da energia

nuclear é inseguro, entretanto o país precisa de energia para se re-erguer. O que fazer?

Segurança energética e insegurança física? O assunto não esgota, a polêmica continua...

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