analise do indice de resto ingestao em uma unidade de alimen
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FACULDADE ASSIS GURGACZ
GIOVANA FAVERO MATTIELO
ANÁLISE DO ÍNDICE DE RESTO-INGESTÃO EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO HOSPITALAR
CASCAVEL/PR 2008
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FACULDADE ASSIS GURGACZ
GIOVANA FAVERO MATTIELO
ANÁLISE DO ÍNDICE DE RESTO-INGESTÃO EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO HOSPITALAR
Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Nutrição da Faculdade Assis Gurgacz.
Orientadora: Thais Mariotto Cezar
CASCAVEL/PR 2008
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FACULDADE ASSIS GURGACZ
GIOVANA FAVERO MATTIELO
ANÁLISE DO ÍNDICE DE RESTO-INGESTÃO EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO HOSPITALAR
Trabalho apresentado no Curso de Nutrição da Faculdade Assis Gurgacz, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Nutrição, sob orientação da Professora Especialista Thais Mariotto Cezar.
BANCA EXAMINADORA
__________________________________ Professora Orientadora Thais Mariotto Cezar
Faculdade Assis Gurgacz - FAG Especialista em Gestão de Qualidade em Alimentos
__________________________________ Professor Avaliador
Adriana Hernandes Martins Faculdade Assis Gurgacz - FAG
Especialista em Gestão de Qualidade e Segurança dos Alimentos
__________________________________ Professor Avaliador
Janesca Alban Roman Universidade Tecnológica do Paraná – UTFPR
Doutora em Alimentos e Nutrição
Cascavel, 19 de novembro de 2008.
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ANÁLISE DO ÍNDICE DE RESTO-INGESTÃO EM UMA UNIDADE DE
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO HOSPITALAR
CEZAR, Thais Mariotto1 MATTIELO, Giovana Favero2
RESUMO
Uma forma de monitorar a qualidade de uma Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN), é através do controle do resto-ingestão, que é o resto de alimentos devolvidos nas bandejas/pratos pelo cliente. Quanto maior o índice de resto-ingestão, maior o desperdício de alimentos e perdas financeiras, portanto o objetivo do estudo foi analisar o índice de resto-ingestão em uma UAN hospitalar, visando distinguir a preparação mais rejeitada, quantificando o valor desperdiçado e aplicando medidas para evitar o desperdício na unidade. No período de outubro a novembro de 2007, foi realizada a pesagem de todo alimento servido, por tipo de dieta, além do resto-ingestão, calculando posteriormente o índice de resto-ingestão, quantidade de pessoas que poderiam ser alimentadas com o resto-ingestão e o custo deste desperdício. Foi constatada a média do índice de resto-ingestão de 31,5%, sendo a sopa a preparação mais rejeitada, denotando um grande desperdício de aproximadamente 195 kg por mês, representando uma perda financeira anual de R$ 12.746,29, e que poderia estar alimentando 502 pessoas, aproximadamente 10 dias de almoço, na própria unidade. Fazem-se necessárias medidas corretivas, como, treinamento constante dos funcionários responsáveis pelo porcionamento, pesquisas de aceitação das preparações pelos pacientes, metas para diminuição do resto-ingestão, e outras que se acharem necessárias.
Palavras chave: Unidades de Alimentação e Nutrição. Resto-Ingestão. Medidas de Controle.
INTRODUÇÃO
De acordo com Sousa et al (2005), uma Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN),
pode ser encontrada no subsetor trabalho (refeições para trabalhadores), subsetor ensino
(desde a pré-escola até a universidade), subsetor saúde e assistência (ambulatórios, hospitais,
1 Nutricionista. Docente do curso de Nutrição da Faculdade Assis Gurgacz – FAG, Cascavel – PR. 2 Acadêmica do curso de Nutrição da Faculdade Assis Gurgacz – FAG, Cascavel – PR.
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asilos), e outros (prisões, catering). Segundo Proença (1999), quando a Unidade de
Alimentação e Nutrição está ligada à coletividades enfermas denomina-se de Serviço de
Nutrição e Dietética (SND).
Reggiolli e Gonsalves (2002) acrescentam que estes estabelecimentos devem oferecer
uma alimentação adequada no ponto de vista nutricional, microbiológico e econômico,
especialmente as UAN’s hospitalares, que segundo Smidt (2004, apud MILET 2000),
contribuem diretamente na prevenção, melhora e/ou recuperação da população atendida.
Morimoto (2002) ressalta que a alimentação desta clientela faz parte do tratamento clínico, a
qual estando de boa qualidade será mais bem aceita pelos pacientes, contribuindo, assim com
o seu tratamento.
Segundo Souza & Proença (2004) e Santana (2002), as refeições hospitalares além da
qualidade nutricional e sanitária, devem agregar também características psicossensoriais e
simbólicas aos pacientes, pois a alimentação para o ser humano envolve aspectos além do
atendimento às necessidades fisiológicas, como também psicológicas, sociais e econômicas.
Reduzindo, assim, o sofrimento do paciente pela doença e/ou internação, com diminuição das
carências nutricionais, através de dietas individualizadas e especializadas (GARCIA, 2006).
Uma forma de monitorar esta qualidade é o controle e acompanhamento pelas UAN’s,
do resto-ingestão, que é a relação entre o resto devolvido nas bandejas ou pratos pelo cliente e
a quantidade de alimentos fornecida expressa em percentual (CORRÊA; SOARES;
ALMEIDA, 2006), sendo eficiente para indicar a qualidade da refeição servida, além de
controlar os desperdícios e custos (RIBEIRO & JUSTO, 2003), pois o excesso de sobras pode
significar falhas no porcionamento, planejamento, preparo das refeições e aceitação do
cardápio (TEIXEIRA et al, 2004; BRADACZ, 2003), refletindo de forma direta da
recuperação do paciente.
Quando o percentual de resto-ingestão for superior a 10%, para população sadia, e
acima de 20% para população enferma, Mezomo (2002) afirma que os cardápios são
considerados inadequados e/ou mal planejados e executados.
Portanto, o objetivo deste trabalho foi analisar o índice de resto-ingestão de uma
Unidade de Alimentação e Nutrição hospitalar da cidade de Cascavel/PR, visando distinguir
qual preparação tem maior rejeição, quantificando o valor desperdiçado e aplicando medidas
para evitar o desperdício na unidade.
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METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada em um hospital geral, particular, da cidade de Cascavel/PR. A
UAN do hospital é responsável por produzir e distribuir as refeições aos pacientes, sendo que
a dieta é individualizada conforme cada patologia, ela é prescrita pelo médico e
supervisionada por uma nutricionista. As dietas mais ofertadas na unidade são: livre, líquida,
leve, pastosa, branda, diabética e hipossódica. A dieta livre, também chamada de dieta
normal, não possui restrições em relação às quantidades, como também tipos de alimentos e
forma de preparo. A dieta líquida, normalmente usada em pós-operatórios de cirurgias no
trato gastrointestinal é considerada uma dieta hipocalórica, devendo ser utilizada apenas em
espaço curto de tempo. A dieta pastosa tem o objetivo de minimizar o esforço no trato
digestório, normalmente indicada quando há alterações na boca ou esôfago, pacientes
neurológicos, etc. A dieta branda é utilizada na transição entre a dieta líquida e normal, sendo
normal em todos os nutrientes, com alimentos abrandados pela cocção e isenta de alimentos
flatulentos. A dieta para diabéticos é normal em todos os nutrientes, e tem objetivo de manter
o controle da glicose sanguínea. Por fim, a dieta hipossódica tem como objetivo fornecer uma
dieta restrita em sódio.
O cardápio do almoço oferecido na UAN é dividido em 05 semanas diferentes, portanto
foram realizadas as coletas dos dados em um período de 05 semanas, exceto feriados e
recessos, totalizando 22 dias, sendo estes, de 29 de outubro a 30 de novembro de 2007,
somente no almoço.
A pesagem de cada preparação por tipo de dieta produzida foi realizada ao término da
cocção, sendo pesada cada panela, e descontado posteriormente o peso da mesma. As
balanças utilizadas foram Plenna, com capacidade de 5kg e graduação de 01g e Mimo Style
com capacidade de 130kg. Ao final do porcionamento das bandejas pelas copeiras
responsáveis, a pesagem foi novamente realizada para descontar o peso da sobra limpa.
Após o almoço dos pacientes, todas as bandejas foram recolhidas e levadas à área suja
da cozinha para a correta higienização, nessa hora todo o resto-ingestão foi colocado em sacos
plásticos identificados para cada preparação de cada dieta, sendo descartados todos os
materiais não comestíveis, como guardanapos, ossos, copos, etc. Em seguida, cada saco
plástico correspondente a cada preparação das diferentes dietas oferecidas foi pesado e os
resultados anotados em planilhas, para cálculos posteriores no Software Excel.
Foram avaliadas a quantidade consumida, o índice de resto-ingestão (%), consumo per
capta, per capta de resto-ingestão e o número de pessoas que poderiam ser alimentadas com o
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resto-ingestão. Os dados foram calculados usando as fórmulas a seguir, propostas por Corrêa
et al (2006).
Para descobrir a quantidade de alimentos consumida foi somado o total produzido de
alimentos, diminuindo-se a soma total do resto-ingestão e da sobra limpa.
A porcentagem do resto-ingestão foi calculada segundo a fórmula:
O consumo per capta foi calculado pela quantidade total de alimentos consumidos
divididos pelo número de refeições do dia.
Para quantificar o per capta do resto-ingestão, foram divididos o resto-ingestão total dos
pacientes pelo número de refeições do dia.
O número de pessoas que poderiam ser alimentadas com o resto-ingestão foi calculado
pela soma total de resto-ingestão dividido pelo consumo per capta.
Por fim, foram ainda calculados os valores em reais das refeições servidas nos 22 dias
úteis estudados, bem como o valor do resto-ingestão, e foram propostas medidas para
diminuir os desperdícios baseados no resto-ingestão dentro da UAN.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante os 22 dias de coleta de dados, foram servidas 1097 dietas, destas 597 (54,42%)
livres, 182 (16,59%) brandas, 134 (12,21%) hipossódicas, 77 (7,01%) leves, 44 (4,01%) para
diabéticos, 41 (3,73%) pastosas e 22 (2%) líquidas. As dietas livres e para diabéticos foram
agrupadas devido que as preparações servidas no almoço são as mesmas, assim como as
dietas leves, pastosas e líquidas, onde a preparação no almoço é a sopa, modificando apenas a
Quantidade consumida = Total produzido – (sobra + resto)
Índice de Resto-ingestão (%) = (Resto-Ingestão / quantidade consumida) x 100
Consumo per capta = quantidade consumida / número de refeições
Per capta resto-ingestão = resto-ingestão / número de refeições
Número de pessoas = resto-ingestão / consumo per capta
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consistência. Na dieta branda não foi avaliado o feijão, sendo que nesta preparação é servido
apenas o caldo, o qual pertence à dieta livre, não conseguindo assim ser quantificado.
Em relação à dieta livre e para diabéticos, pode-se observar no quadro 1 que o índice de
resto-ingestão foi acima do proposto por Mezomo (2002) para coletividades enfermas (20%),
sendo que a média obtida foi de 26,02%, onde a preparação mais rejeitada foi o arroz com
33,81%, seguida da guarnição (27,7%) e feijão (26,2%). Apenas a carne teve o índice de
resto-ingestão de 18,54%, estando dentro do padrão recomendado.
Os resultados encontrados diferem-se de alguns estudos em UAN’s que fabricam
alimentos para coletividades sadias, como em Amorim et al (2005) e Ricarte et al (2008) que
verificaram nas empresas avaliadas que o rejeito foi de 6,6% e 8,39%, respectivamente,
índices estes inferiores ao adotado como padrão para coletividades sadias, de 10%.
QUADRO 1. Valores totais obtidos no almoço nas dietas livres e para diabéticos.
ITENS AVALIADOS PREPARAÇÕES TOTAL MÉDIA
ARROZ FEIJÃO GUARNIÇÃO CARNE SALADA 1 SALADA 2 Quantidade Distribuída (g) 112.081 83.171 74.106 83.724 13.675 18.454 385.211 Resto-Ingestão (g) 37.895 21.771 20.558 15.526 3.555 4.402 103.707 Quantidade Consumida (g) 74.186 61.400 53.549 68.198 10.120 14.052 281.505 Índice de Resto-Ingestão (%) 33,81 26,18 27,74 18,54 26 23,85 26,02%
Distribuição Per capta (g) 174,85 101,06 115,6 130,6 21,33 28,8 572,24 Consumo Per capta (g) 115,73 74,6 83,54 106,4 15,79 22 418,06
Resto-Ingestão Per capta (g) 59,12 26,45 32,07 24,22 5,55 6,87 154,28
Fonte: dados coletados.
A dieta hipossódica obteve uma média de resto-ingestão de 28,64%, onde a preparação
com maior rejeição foi o arroz com 37,04%, e a preparação com menor rejeição foi a carne
com 20,15%, resultados que coincidem com o obtido na dieta livre. A relação total de cada
índice avaliado encontra-se no quadro 2.
Comparando com outros estudos de coletividades sadias, devido à deficiência de
trabalhos com coletividades enfermas, encontram-se também resultados acima da média para
população sadia de 10%, como encontrado por Castro (2002), onde todas as amostras
apresentaram índice de resto-ingestão superior a 10%, Bradacz (2003), encontrou um
percentual de resto-ingestão de 15% e Ribeiro (2002), que deparou com um rejeito de
20,83%, em uma das empresas analisadas.
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QUADRO 2. Valores totais obtidos no almoço na dieta hipossódica.
ITENS AVALIADOS PREPARAÇÕES TOTAL MÉDIA
ARROZ FEIJÃO GUARNIÇÃO CARNE LEGUMES Quantidade Distribuída (g) 30.177 14.417 12.202 18.482 10.866 86.144
Resto-Ingestão (g) 11.177 4.141 3.504 3.724 3.106 25.652
Quantidade Consumida (g) 19.000 10.276 8.698 14.758 7.760 60.492
Índice de Resto-Ingestão (%) 37,04 28,72 28,72 20,15 28,58 28,64%
Distribuição Per capta (g) 225,2 107,6 91,1 137,9 81,1 642,9
Consumo Per capta (g) 141,8 76,69 64,9 110,1 58 451,49
Resto-Ingestão Per capta (g) 83,41 30,9 26,15 27,8 23,2 191,46
Fonte: dados coletados.
A sopa, junção das dietas leves, pastosas e líquidas, de um total de 140 dietas servidas,
teve um índice de resto-ingestão de 41,9%. Índice este muito elevado, indicando grande
rejeição do prato. Essa grande porcentagem encontrada pode estar associada com a idéia pré-
formada pela maioria da população, de que a sopa é “alimento de doente”.
QUADRO 3. Valores totais obtidos no almoço na junção das dietas leves, pastosas e líquidas.
ITENS AVALIADOS PREPARAÇÃO
SOPA
Quantidade Distribuída (g) 63.760
Resto-Ingestão (g) 26.724
Quantidade Consumida (g) 37.036
Índice de Resto-Ingestão (%) 41,91%
Distribuição Per capta (g) 455,43
Consumo Per capta (g) 264,54
Resto-Ingestão Per capta (g) 190,88
Fonte: dados coletados.
Em relação à dieta branda, podemos observar no quadro 4 que o índice de resto-ingestão
foi de 33,29%, onde a preparação mais rejeitada foi o arroz com 43,19%, e o menor índice foi
na carne com 25,67%.
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QUADRO 4. Valores totais obtidos no almoço na em relação à dieta branda.
ITENS AVALIADOS PREPARAÇÕES TOTAL MÉDIA
ARROZ GUARNIÇÃO CARNE LEGUMES Quantidade Distribuída (g) 40.671 26.673 24.524 19.393 111.261
Resto-Ingestão (g) 17.564 9.508 6.295 5.558 38.925
Quantidade Consumida (g) 23.107 17.164 18.229 13.835 72.335
Índice de Resto-Ingestão (%) 43,19 35,65 25,67 28,66 33,29%
Distribuição Per capta (g) 223,47 146,5 134,7 106,55 611,22
Consumo Per capta (g) 127 94,3 100,1 76,02 397,42
Resto-Ingestão Per capta (g) 96,5 52,24 34,59 30,54 213,87
Fonte: dados coletados.
Os resultados obtidos demonstram que a sopa (junção das dietas leves, pastosas e
líquidas) é a preparação mais rejeitada, porém analisando as outras dietas nota-se que os
resultados de rejeito foram equivalentes, sendo que o alimento mais rejeitado foi o arroz e o
menos rejeitado foi a carne (Gráfico 1).
GRÁFICO 1. Resumo dos índices de resto-ingestão (%) de todas as dietas analisadas.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
Arroz
Feijã
o
Guarn
ição
Carne
Salad
a 1
Salad
a 2
Legu
mesSo
pa
Dietas Livre e Diabéticos
Dietas Hipossódica
Dietas Leves, Pastosas e Líquidas
Dieta Branda
Fonte: dados coletados.
A média de resto-ingestão na unidade em questão foi de 31,5%, índice este semelhante
ao encontrado por Nonino-Borges, et al (2006), onde analisando o desperdício de alimentos
intra-hospitalar, verificou uma quantidade excessiva de restos alimentares, na média de 33%
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da quantidade total dos alimentos oferecidos, classificando o serviço como de baixa
qualidade.
Com os resultados obtidos durante o estudo, consegue-se afirmar que o desperdício
dentro do Serviço de Nutrição e Dietética é muito elevado, pois somando a quantidade
desprezada pelos pacientes durante os 22 dias de coleta de dados, poder-se-ia alimentar 502
pessoas, o que daria aproximadamente 10 dias de almoço, na própria unidade (Quadro 5). O
que acarreta em um desperdício de alimentos de aproximadamente 195 kg por mês,
representando uma perda financeira em torno de R$ 768,27, em 22 dias, o que somaria R$
12.746,29 em um ano. Augustini et al (2008), obteve índices de rejeito dentro da porcentagem
recomendada para coletividades sadias, em uma UAN de uma empresa metalúrgica do estado
de São Paulo, onde resultados encontrados no almoço, jantar e ceia, respectivamente, foram
5,83%, 6,87% e 6,64%, porém mesmo dentro do padrão estabelecido, o autor considerou o
desperdício como elevado, pois unindo as sobras e os rejeitos, 11.442 pessoas poderiam ser
alimentadas, o que correspondeu a duas vezes o número de consumidores que a UAN atende
diariamente, perdas essas significantes que acarretam altos custos e baixa lucratividade para
as empresas. Assim como, Santana (2002), onde analisando a produtividade em UAN’s,
encontrou 14% no índice de resto-ingestão, o que representou uma perda de 1000 kg de
alimentos por mês, com um prejuízo financeiro em torno de R$1.200,00 mensais.
QUADRO 5: Quantidade de pessoas que poderiam ser alimentadas por tipo de dieta com o resto-ingestão acumulados durante os 22 dias de coleta de dados.
Dieta Resto-Ingestão Consumo Pessoas
(g) Per capta (g) Alimentadas Livre 103.707 418,06 248 Hipossódica 25.652 451,49 56 Leve, Pastosa e Líquida 26.724 264,54 101 Branda 38.925 397,42 97 TOTAL 195.008 502
Fonte: dados coletados.
Pesquisas diretas com os pacientes são necessárias para saber o real motivo de índices
de resto-ingestão tão elevados, pois além dos pacientes, a unidade oferece refeições a vários
colaboradores em geral, inclusive médicos, os quais não reclamam das preparações.
Analisando estudos em que foram realizadas entrevistas diretas com os pacientes, como de
Fonseca (2006) sobre a adequação da ingestão alimentar em pacientes com câncer, verificou-
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se nas respostas obtidas dos próprios pacientes, que a ingestão incompleta dos alimentos se
dava por fatores como: falta de apetite, vômitos, sabor ruim do alimento, náusea, aversão ao
alimento oferecido e gases. Além de alterações no paladar devido ao uso de medicamentos,
fatores emocionais como distância da família, horários das refeições não correspondentes a
rotina, entre outros fatores (MORIMOTO, 2002).
Em outra pesquisa de satisfação aplicada em 215 clientes (pacientes e acompanhantes)
dos serviços de Divisão de Nutrição e Dietética em 05 dos 07 hospitais da Santa Casa de
Porto Alegre, mostrou que as médias mais baixas para as refeições foram em relação ao
sabor/tempero e a temperatura da preparação (PFAFFENZELLER , 2003).
Morimoto (2002), verificou ainda em seu estudo que os motivos da recusa alimentar dos
pacientes eram devido à falta de apetite em virtude da doença e do tratamento, quantidade
exagerada da refeição servida, além de consistência inadequada da preparação e refeição
contrária às preferências do paciente.
Todos os motivos apresentados pelos autores são de conhecimento público, pois é
sabido a todos, que quando da internação de um paciente, este apresenta-se debilitado,
estando na maioria das vezes com ausência de apetite, náuseas, vômitos, entre outras reações
adversas da patologia e do tratamento oferecido, tornando-se óbvia uma diminuição na
ingestão alimentar do mesmo, porém não podemos esquecer de que os autores já preconizam
uma porcentagem de 10% a mais para coletividades enfermas, justamente sabendo dessas
intercorrências, portanto soluções são propostas para a diminuição deste percentual elevado
de resto-ingestão.
Ribeiro (2002) propôs no seu estudo que algumas formas de diminuir os desperdícios
baseados em sobras-limpas e resto-ingestão, seriam: verificar a estrutura física do local, a
análise de per captas, avaliar o consumo e os hábitos alimentares da clientela, padrões e
aceitabilidade do cardápio e especificamente no caso hospitalar como plano de intervenção.
Pfaffenzeller (2003), diz que seria importante definir o cardápio levando em consideração a
idade, tratamento dos pacientes, temperatura, tempero e sabor adequados nas refeições, além
de revisão da padronização das etapas existentes no processo.
Ribeiro e Justo (2003), em análise do controle do resto-ingestão em uma UAN
hospitalar, orienta a controlar a quantidade servida das preparações durante o porcionamento,
substituição de preparações não muito aceitas, monitoramento constante da temperatura dos
alimentos até a distribuição ao paciente, criação de pesquisas de satisfação e estabelecimento
de metas para diminuição do índice de resto-ingestão. Além é claro de individualização
dietoterápica a qual poderia ser eficaz no aumento da ingestão alimentar (FONSECA, 2006).
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Como medidas de intervenção, no hospital estudado, foi proposta e aceita a troca das
bandejas térmicas, as quais eram antigas e com divisórias muito grandes, as quais, por
conseqüência eram servidas maiores quantidades de alimentos, para bandejas térmicas mais
modernas e com divisórias um pouco menores, diminuindo assim a quantidade de alimentos
porcionados. Além disso, foi realizada uma reunião com as copeiras para conscientização da
quantidade servida nas bandejas, respeitando o estado clínico do paciente, prestando maior
atenção no atendimento individualizado, para saber como esta o apetite do mesmo, se este
está comendo bem ou não. Do mesmo modo, seria importante a contratação de outra
nutricionista no local, ajudando a nutricionista já existente, numa avaliação e
acompanhamento mais intensivo e individualizado dos pacientes, devido ao alto número de
enfermos. Deve-se ainda, fazer treinamentos constantes sobre porcionamento junto às
copeiras responsáveis, além de pesquisas com os pacientes sobre aceitação das preparações,
mudanças de cardápio sempre que necessário e metas para a diminuição do resto-ingestão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados mostram significativo índice de resto-ingestão no hospital estudado,
incompatível com o preconizado pela literatura para coletividades enfermas, o que ocasiona
perdas financeiras e desperdício significativo de alimentos. Fazem-se necessárias medidas
corretivas, como, treinamento constante dos funcionários responsáveis pelo porcionamento,
pesquisas de aceitação das preparações pelos pacientes, metas para diminuição do resto-
ingestão, e outras que se acharem necessárias.
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