análise das técnicas de estofamento das esculturas policromadas

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1. Análise das técnicas de estofamento das esculturas policromadas do acervo de arte sacra do Museu Solar Monjardim (Vitória-ES) FUVIANE GALDINO MOREIRA 1 Segundo o livro Devoção e Arte: Imaginária Religiosa em Minas Gerais, “o termo estofamento é originário da palavra francesa étoffe, que abrange todos os tecidos de lã e algodão, significando pintura que imita os brocados, bordados etc”. (COELHO, 2005: 238). No Glossário de Arquitetura e Ornamentação, “o estofamento seria o processo de policromia usado para fingir a indumentária de imagens de santos e anjos” (ÁVILA; CONTIJO; MACHADO, 1996: 144). Na concepção de Beatriz Coelho, temos a seguinte assertiva: [...] o que chamamos policromia está dividido em duas partes: a carnação, cujo nome vem de carne, ou seja, pintura da anatomia aparente da figura, quando se dá a cor da pele, e o estofamento, que é a imitação dos tecidos da época, feita em várias camadas. (COELHO, 2005, p. 238). No Brasil, diversas técnicas foram utilizadas na fatura do estofamento, sendo as mais encontradas o esgrafiado, as punções, os relevos e a aplicação de materiais diversos, como pedras e rendas douradas. Cabe lembrar que essas técnicas de ornamentação trazidas de Portugal só foram possibilitadas no Brasil após a descoberta de ouro e diamante no centro e no oeste do país. Essa riqueza, advinda das jazidas, caminhou entrelaçada com a fé religiosa, o que desencadeou o aumento da produção de imagens sacras. Essas, que inicialmente vinham de Portugal ou eram feitas aqui pelas ordens religiosas, não eram suficientes para atender à demanda, daí o surgimento de artistas laicos para suprir o mercado em ascensão. Minas Gerais, juntamente com a Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e Maranhão, se tornaram os principais centros produtores da imaginária religiosa do século XVIII, formando “escolas” regionais com características técnicas e formais específicas, identificando o estilo barroco e rococó no Brasil. Então, nesse século, com o auge do ouro em Minas Gerais, acentuou-se a diversidade de técnicas empregadas nas esculturas brasileiras. Mais tarde, diante da ascendente industrialização do século XIX, a imaginária em gesso viria a se sobressair na fatura das esculturas sacras. 1 Universidade Federal do Espírito Santo. Mestre em Artes – PPGA.

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Análise das técnicas de estofamento das esculturas policromadas

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  • 1. Anlise das tcnicas de estofamento das esculturas policromadas do acervo de arte sacra do Museu Solar Monjardim (Vitria-ES)

    FUVIANE GALDINO MOREIRA1

    Segundo o livro Devoo e Arte: Imaginria Religiosa em Minas Gerais, o termo estofamento originrio da palavra francesa toffe, que abrange todos os tecidos de l e algodo, significando pintura que imita os brocados, bordados etc. (COELHO, 2005: 238). No Glossrio de Arquitetura e Ornamentao, o estofamento seria o processo de policromia usado para fingir a indumentria de imagens de santos e anjos (VILA; CONTIJO; MACHADO, 1996: 144). Na concepo de Beatriz Coelho, temos a seguinte assertiva:

    [...] o que chamamos policromia est dividido em duas partes: a carnao, cujo nome vem de carne, ou seja, pintura da anatomia aparente da figura, quando se d a cor da pele, e o estofamento, que a imitao dos tecidos da poca, feita em vrias camadas. (COELHO, 2005, p. 238).

    No Brasil, diversas tcnicas foram utilizadas na fatura do estofamento, sendo as mais encontradas o esgrafiado, as punes, os relevos e a aplicao de materiais diversos, como pedras e rendas douradas. Cabe lembrar que essas tcnicas de ornamentao trazidas de Portugal s foram possibilitadas no Brasil aps a descoberta de ouro e diamante no centro e no oeste do pas. Essa riqueza, advinda das jazidas, caminhou entrelaada com a f religiosa, o que desencadeou o aumento da produo de imagens sacras. Essas, que inicialmente vinham de Portugal ou eram feitas aqui pelas ordens religiosas, no eram suficientes para atender demanda, da o surgimento de artistas laicos para suprir o mercado em ascenso.

    Minas Gerais, juntamente com a Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e Maranho, se tornaram os principais centros produtores da imaginria religiosa do sculo XVIII, formando escolas regionais com caractersticas tcnicas e formais especficas, identificando o estilo barroco e rococ no Brasil. Ento, nesse sculo, com o auge do ouro em Minas Gerais, acentuou-se a diversidade de tcnicas empregadas nas esculturas brasileiras. Mais tarde, diante da ascendente industrializao do sculo XIX, a imaginria em gesso viria a se sobressair na fatura das esculturas sacras.

    1 Universidade Federal do Esprito Santo. Mestre em Artes PPGA.

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    No Esprito Santo, h ainda uma carncia de informaes acerca de sua imaginria, o que refora a necessidade de estudos, como o que propomos aqui, dos elementos formais, tcnicos estilsticos que caracterizam o acervo de arte sacra do Museu Solar Monjardim. A partir desse estudo e de anlises comparativas com imagens de outras regies do pas, como tambm, do exterior (Portugal e Espanha), podemos sugerir hipteses para a sua procedncia, lembrando que no havia comprovaes de santeiros ou imaginrios na capitania do Esprito Santo at a realizao de minha dissertao de mestrado, concluda em 2012, intitulada Estudos sobre a talha: panejamento e cabelos da imaginria do acervo de arte sacra do Esprito Santo permitindo a identificao da existncia do santeiro Domingos Gonalves de Abreu e Lima que teria trabalhado na Fazenda de Monte Lbano, atual cidade de Cachoeiro de Itapemirim- ES.

    2. Critrios de anlise das esculturas do acervo de arte sacra do Museu Solar Monjardim

    A partir do projeto Mapeamento, Catalogao e Anlise do Estado de Conservao do Acervo de Arte Sacra do Esprito Santo, elaborado pelo professor Attlio Colnago Filho, em 1995, quando o acervo ainda pertencia ao Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (IPHAN), e, baseando-se tambm no Livro de Tombo do Museu de Arte Sacra e em um arrolamento anterior das obras, foi possvel identificar na poca (2009) um grupo de 217 peas, das quais 3 tinham o paradeiro desconhecido, hoje, aps a dissertao de mestrado, identificamos que na verdade existem 240 peas, sendo que 5 no foram encontradas.

    Para maior exatido na anlise das vestimentas das imagens, reproduzimos na monografia, intitulada Anlise Tipolgica dos Estofamentos das Esculturas Policromadas do Acervo de Arte Sacra do Museu Solar Monjardim, (2009), desenhos da ornamentao das esculturas, utilizando como moldes as prprias peas e tendo como auxlio o melinex, um plstico transparente e malevel comumente utilizado na restaurao e que no iria danificar a estrutura fsica da pea, processo exemplificado nas fotografias abaixo:

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    Desse modo, a partir de uma maior preciso acerca das ornamentaes, com a elaborao de desenhos pela observao organolptica (feita a olho nu), tal como o auxlio de lupa, houve a possibilidade de melhor estudarmos as imagens, dividindo-as em dois grupos, conforme a presena ou no de policromia. E, ao nos atermos a essa ltima caracterstica, estabelecemos quatro critrios para seleo da amostragem, como nos mostra o esquema abaixo, resultando em um total de 40 imagens:

    Dessa forma, a nossa anlise, conforme o esquema acima, se d a partir de um mtodo comparativo que teve como parmetro a existncia de semelhanas e diferenas entre algumas

    ESTADO DE CONSERVAO.

    COM POLICROMIA.

    SEM POLICROMIA

    AMOSTRAGEM

    PRESENA DE ORNAMENTAO.

    ICONOGRAFIA

    DOURAMENTO INTEGRAL.

    DOURAMENTO EM RESERVA.

    ESCULTURAS DO ACERVO DE ARTE

    SACRA

    PRESENA DE VESTIMENTA.

    Figura 1 Exemplo da elaborao dos desenhos imagem de So Francisco

    de Assis.

    Figura 2 Detalhe da elaborao dos desenhos imagem de So Francisco de

    Assis.

    Esquema 1 Critrios de anlise

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    das imagens do acervo, isso de acordo com os elementos formais, tcnicos e estilsticos caractersticos das diferentes tcnicas de ornamentao. Dentro da amostra selecionada, foram observadas, inicialmente, as imagens detentoras de douramento na vestimenta, depois, as que tinham douramento disposto em todo o panejamento, e aquelas em que o doutoramento foi utilizado parcialmente, ou seja, em reas delimitadas, chamadas de douramento em reserva e ainda com um tipo de pintura a pincel destacando formatos de flores chamados de ressados, caracterstica estilstica j estudada pela autora Cludia Guanais, em seus estudos sobre a imaginria baiana (2007-2010). Tambm verificamos a presena de pastiglia, puno, esgrafito, alm da pintura a pincel, como mostraremos a seguir.

    3. O douramento e as tcnicas de ornamentao

    Conforme afirmamos acima, o estofamento pode consistir da aplicao de pintura sobre o douramento da pea. Para Bettina Collaro G. Loureno (apud BRAGA, 2003:75).

    [...] o princpio bsico do douramento consiste em se obter um revestimento brilhoso com aparncia metlica que se iguala quele do ouro. No caso de um douramento em folha de ouro, seu aspecto se refere diretamente e depende de sua prpria natureza2 e de sua aplicao.

    A partir disso, temos uma variedade de tcnicas de decorao. Dessas, foram analisadas no trabalho as mais comuns na imaginria brasileira.

    A fim de se entender melhor a utilizao das folhas de ouro na produo de diferentes tcnicas de ornamentao, tal como as estudadas aqui, detalhamos cada etapa desse processo, desde o suporte at a utilizao da folha na execuo da tcnica.

    Portanto, sobre a madeira, posta a encolagem, que consiste na aplicao de uma ou mais camadas de cola protica produzida a partir de cartilagem, ossos ou peles de animais desprovidos de pigmento e carga. Segundo Raquel Teixeira (2002: 51), usa-se a encolagem com o objetivo de impregnar, proteger e impermeabilizar o suporte (madeira), evitando-se que as camadas posteriores sejam absorvidas, portanto, fazendo o papel de isolante entre o suporte e a base de preparao. 2 Compreende-se natureza da folha de ouro, como sendo o estado fsico natural, referindo-se espessura da folha

    e a seu quilate, como tambm ao estado fsico artificial, referindo-se, sobretudo ao pigmento inferior, ou seja, da preparao inferior, denominada entre os tcnicos de bolo. (LOURENO, 2003, apud Braga, p.75).

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    Esquema 3 - Modelo de estratigrafia

    Quanto composio dessa base, pode consistir na aplicao de uma camada de gesso grosso (carga + cola protica) para corrigir as imperfeies do suporte (madeira) e tambm agir como isolante. Em seguida, aplica-se uma camada de gesso fino, de mesma constituio, mas, nesse caso, a carga hidratada antes de misturada ao aglutinante, formando uma camada de gesso lisa e fina. Quando essa est seca, aplica-se uma camada de bolo armnio3.

    Na aplicao das folhas metlicas, a utilizao do bolo sobre a camada de preparao determina uma aderncia aquosa, assim como na tcnica do ouro de concha, quando a folha aplicada com pincel.

    Na estratigrafia abaixo, verificamos as camadas que precedem aplicao da camada pictrica e as tcnicas de ornamentao, neste caso, relacionadas s folhas metlicas.

    Camada de acabamento

    Veladuras ou vernizes para proteger ou promover efeito cromtico

    Camada Pictrica

    Folhas Metlicas Ouro Prata

    Dourao

    Prata velha

    Prata nova

    Bolo Armnio Amarelo Vermelho terra Preto Azul e Verde

    Base de Preparao

    Translcida (Gesso fino) Opaca (Gesso grosso)

    Encolagem Suporte

    3.1 - Tcnicas de ornamentao

    3.1.1 - Pintura a Pincel

    A tcnica de ornamentao da pintura a pincel um tipo de pintura feita com pincis que s vezes tm espessura mais fina para destacar motivos fitomorfos em representaes de flores, ramos e folhas, ou em espessura variada para a representao completa desses elementos.

    3 Bolo armnio s.m. variedade de argila hoje empregada como corante pelos pintores e como mordente pelos

    douradores e encadernadores [No passado, utilizada como medicamento de uso interno, com funo adstringente, e externo, como absorvente.]

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    Abaixo exemplos desse tipo de ornamentao, cuja fonte das fotografias o Ncleo de Conservao e Restaurao do Centro de Artes da UFES.

    3.1.2 - Esgrafito

    O esgrafito, palavra de origem italiana, a remoo de partes da camada pictrica com um instrumento pontiagudo, antes de sua secagem completa, que deixa visvel a superfcie metlica - douramento e/ou prateamento subjacentes.

    O esgrafito provoca um ligeiro relevo e um contraste que permite uma variedade de efeitos desenvolvidos em forma de desenhos inspirados nas estamparias e tecidos, muito frequentes no sculo XVIII, ou acentuados com ornamentaes prprias a determinados locais.

    No Brasil, segundo Beatriz Coelho (2005:240), os motivos utilizados so fitomorfos, geomtricos ou mistos, variando suas formas e dimenses de acordo com a regio, a poca e o artista. Desse modo, as caractersticas tcnicas e estilsticas, evidenciadas a partir do panejamento, possibilitam identificar a origem e procedncia das imagens. Abaixo exemplificamos a tcnica:

    Figura 2 Pintura a pincel sobre a camada pictrica da vestimenta Detalhe do verso do manto de uma Nossa Senhora da Conceio.

    Figura 3 Pintura a pincel azul contornando o douramento Detalhe da Tnica de uma Nossa Senhora da Conceio.

    Figura 4 Exemplo da pintura a pincel sobre o douramento Detalhe da tnica de uma Nossa Senhora.

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    3.1.3 - Punes

    Punes so incises feitas por meio de instrumentos em metal, com pontas de tamanhos e formatos variados sobre as folhas metlicas, o que possibilita, a partir de desenhos de crculos, esferas, flores de ptalas redondas, tringulos e etc., aspectos de rendas e brocados nas bordas e em outras partes da decorao da vestimenta. Essa percepo intensificada pelo efeito da luz que incide sobre os relevos. Golpeadas s folhas de ouro e/ou prata, desencadeiam depresses e formam texturas que se distinguem das reas de dourado liso e brilhante. As punes podem contornar folhas e ptalas de flores, ou ainda formar ziguezagues em barras de tnicas e manto. Podemos tambm encontr-las concentradas em uma determinada rea, variando de tamanho e formato, como mostra a fig. 6.

    Figura 5 Esgrafito - Detalhe de Nossa Senhora da Conceio.

    Fonte: Ncleo de Conservao e Restaurao do Centro de Restaurao do Centro de Artes da UFES.

    Figura 6 Puno Detalhe da tnica de um So Francisco de Assis.

    Fonte: Ncleo de Conservao e Restaurao do Centro de Artes da UFES.

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    3.1.4 Pastiglia

    Esta tcnica corresponde a relevos que resultam da sobreposio das camadas de preparao em elementos decorativos (geomtricos ou fitomorfos). Conforme Coelho (2005: 242), os relevos foram encontrados, at agora, quase exclusivamente em Minas Gerais, em peas da procedentes ou de Portugal, no tendo sido habitual o seu emprego em outras regies do Brasil.

    Esses relevos so chamados no Brasil de pastilhos, mas segundo essa autora o termo pastilha ou pastiglia (termo em italiano) seria o mais correto a se utilizar, pois esse existe no dicionrio, enquanto pastilhos no.

    Um de seus significados bordado em ponto cheio, que lembra pastilha. Ela utilizada sempre nas bordas da vestimenta, onde a alternncia de claro e escuro em seus relevos cria a iluso de que so rendas ou brocados, como mostra a figura 7.

    3.1.5 - Incises ou Ranhuras

    As incises, ou ranhuras so outro tipo de ornamentao usada em folhas metlicas que Giles Perrault (1992:66), chama de reparures. Tais incises so feitas sobre a camada de preparao antes da aplicao da folha, em linhas paralelas ou que se cruzam, em crculos formando desenhos, como folhas e flores, sendo que s vezes escava-se um pouco para destacar alguma ptala, concha ou flor e assim termos um baixo-relevo.

    Conforme Coelho (2005: 241), esta tcnica, apesar de rara, era conhecida em Minas Gerais, tendo como exemplo a regio do Campo das Vertentes, em imagens de Valentim Correa Paes, com policromias feitas pelo pintor Jos Joaquim da Natividade. A figura 8 exemplifica esta tcnica.

    Figura 7 Pastiglia Detalhe do manto de Nossa Senhora do Rosrio.

    Fonte: Museu Solar Monjardim

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    3.2 - Anlise comparativa

    A partir do estudo da imaginria do acervo de arte sacra do Museu Solar Monjardim, por meio de observaes organolpticas, feitas a olho nu e com o auxlio de lupa, verificamos, em relao natureza e concentrao de ouro, que 2% das imagens possuem douramento feito com pintura a pincel; 33%, douramento integral, em toda a vestimenta; e 65%, douramento em reserva, tal como explicitado no grfico seguinte:

    2%

    33%

    65%

    Levantamento dos Tipos de Douramento

    Douramento feito com

    pintura a pincel

    Douramento integral

    Douramento em reserva

    Figura 8 Incises ou ranhuras - Detalhe da Imagem de uma Santana Mestra de Valentim Correa Paes.

    Fonte: COELHO, Beatriz. Materiais, Tcnicas e Conservao. In:______. Devoo e Arte: imaginria religiosa em Minas Gerais. So Paulo: Editora da Universidade de So Paulo, 2005. p.273.

    Grfico 1 Levantamento dos tipos de douramento.

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    A partir dessa premissa, passamos a identificar a quantidade de cada tipo de ornamentao presente nas peas. Da, constatou-se, que no foram encontradas imagens com a tcnica das incises ou ranhuras (reparure) e que das tcnicas encontradas, 1% das imagens apresenta pedras, 1% rendas, 1% pastiglia, 17% esgrafito, 35% punes e 45% pintura a pincel.

    0%1%1%1%

    17%

    35%

    45%

    Levantamento das Tcnicas de Ornamentao

    Incises ou ranhuras

    Pedras

    Rendas

    Pastiglia

    Esgrafito

    Punes

    Pintura a pincel

    Dado o exposto, a tcnica predominante na ornamentao das imagens em estudo a pintura a pincel. Sabemos em vista das caractersticas dessa tcnica, que ela pode ser a nica identificada na escultura, pode imitar o douramento, como tambm pode acompanh-lo ou at mesmo encim-lo. Considerando-se, portanto, suas possibilidades, e, sabendo-se que nem todos tinham acesso ao ouro, resulta da sua predominncia dentre as demais. Outra observao feita foi o percentual de punes em douramento em reserva. Constatamos que 81,48% das imagens que possuem douramento em reserva tambm tm punes. Essas observaes esto apresentadas em tabela na monografia.

    4. CONCLUSO

    Dentre as imagens do acervo de arte sacra, verificou-se que a maioria de pequeno porte, caracterizando imagens de oratrio, cuja aquisio, conforme documento do IPHAN, se deu por meio de doaes.

    Apesar das peculiaridades existentes nessas imagens, nos foi possvel estabelecer a formao de trs grupos principais, sendo que num deles, as caractersticas ornamentais so bem semelhantes, dotadas do que chamamos douramento em reserva. Esse tipo de ornamentao,

    Grfico 2 Levantamento das tcnicas de ornamentao.

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    devido decadncia do ouro em Minas Gerais, se configura em algumas regies do Brasil. Porm, ele caracterstico mais especificamente da Escola regional da imaginria baiana, o que nos levou a sugerir que esse grupo de esculturas do Esprito Santo, seja de provenincia baiana, como nos mostra abaixo a ilustrao de uma imagem do acervo de arte sacra do Esprito Santo e outra do acervo de arte sacra da Bahia.

    Tambm sugerimos, em nossa concluso, que uma imagem de Nossa Senhora do Rosrio (fig. 13) seria proveniente de Minas Gerais ou de Portugal, tendo em vista que esta escultura apresenta uma tcnica de ornamentao chamada pastilha que, segundo Beatriz Coelho (2005) designa relevos encontrados quase exclusivamente em Minas Gerais, em peas da procedentes ou de Portugal.

    Figura 11 - Nossa Senhora Fonte: Museu da Casa dos Sete Candeeiros, Salvador BA.

    Figura 12 - Nossa Senhora Museu da Casa dos Sete Candeeiros, Salvador BA.

    Figura 9 - Nossa Senhora Fonte Museu da Casa dos Sete Candeeiros, Salvador - BA.

    Figura 10 So Jos Fonte: Acervo de Arte Sacra do Museu Solar Monjardim - ES.

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    Cabe lembrar que nossa busca por procedncia externa para as imagens encontradas no Esprito Santo, se deve neste trabalho, sobretudo, ausncia de documentos que ratifiquem a existncia de santeiros neste Estado, fato que sofreu uma modificao com a publicao de minha dissertao de mestrado,

    No mais, esta pesquisa foi realizada com o intento de ampliar os dados sobre a imaginria religiosa no Brasil, como tambm de contribuir para a sua preservao, buscando fornecer subsdios para a realizao de pesquisas congneres.

    REFERNCIAS

    ARAJO, Antnio Luiz de. Arte no Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Revan, 2000.

    Figura 13 Frente de Nossa Senhora do Rosrio. Fonte: Museu Solar Monjardim.

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    BONICENHA, Walace. Capela de Santa Luzia. In:______. Devoo e Caridade: as Irmandades Religiosas na Cidade de Vitria. 1. ed. Vitria: Multiplicidade, 2004. p.63-64. COELHO, Beatriz. Materiais, Tcnicas e Conservao. In:______. Devoo e Arte: imaginria religiosa em Minas Gerais. So Paulo: USP, 2005. p. 233-280. ECO, Umberto. O hbito fala pelo monge. In: ______ Psicologia do vestir. Lisboa: Assrio e Alvim, 1975. p.7-20. ETZEL, Eduardo. O Barroco no Brasil. 2. ed. So Paulo: Melhoramentos, 1974. FAUSTO, Cludia Maria Guanais Aguiar. Padres, Cromatismos e Douramentos na Escultura Sacra Catlica Baiana nos sculos XVIII e XIX. 2010. Dissertao. ( Mestrado em Artes Visuais) Programa de Ps-Graduao em Artes Visuais, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2010. HOUAISS, Antnio. Bolo armnio. In: Dicionrio Houaiss da lngua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva Ltda, 2004. LOURENO, Bettina Collaro G. de. Douramento. In: BRAGA, Mrcia. Conservao e restauro: madeira, pintura sobre madeira, douramento, estuque, cermica, azulejo, mosaico. Rio de Janeiro: Rio, 2003. p. 73-86. MEDEIROS, Gilca Flores de. Tecnologia de Acabamento de Douramento em escultura em madeira policromada no perodo barroco e rococ em Minas Gerais: estudo de um grupo de tcnicas. 1999. Dissertao (Mestrado em Artes) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1999. MOREIRA, Fuviane Galdino. Anlise Tipolgica dos Estofamentos das Esculturas Policromadas do Acervo de Arte Sacra do Museu Solar Monjardim. 2009. 149 f. Monografia (Bacharelado em Artes Plsticas) - Trabalho de Concluso do Curso de Artes Plsticas da Universidade Federal do Esprito Santo, Vitria, 2009. _____Estudos Sobre a Talha: panejamento e cabelos da Imaginria do Acervo de Arte Sacra do Esprito Santo. 2012. 202 f. Dissertao (Mestrado em Artes) Universidade Federal do Esprito Santo, Vitria, 2012. MUSEU SOLAR MONJARDIM. Vitria: [s.n.],[199-]. Catlogo de exposio. PEREIRA, Cristina. Algumas Questes para o Estudo da Imaginria Sacra no Esprito Santo. In: JORNADAS DO PATRIMNIO CULTURAL DO ESPRITO SANTO, 1., 2006. Vitria. 1 CD-ROM. PERRAUT, Gilles. Dorure et polychromie sur bois. Dijon: Faton, 1992. RIBEIRO, Miriam Andrade. A Imagem Religiosa no Brasil, Arte Barroca. Mostra do Descobrimento, So Paulo: 2000. SALGUEIRO, Heliana Angotti. A Singularidade da Obra de Veiga Valle. Goinia: Universidade Catlica de Gois, 1983. TEIXEIRA, Raquel. So Miguel Arcanjo: complexidade da tcnica construtiva de uma policromia. 2002. Monografia apresentada ao 14 Curso de Conservao/ Restaurao da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2002.

    Publicaes em meio eletrnico GUANAIS, Cludia. Descrio da tcnica e anlise formal da policromia na imaginria baiana. Revista Ohun, Salvador, ano 3, n. 3, p. 37-71, 2007. Disponvel em: . Acesso em: 28 ago. 2008.